Ba Ii Módulo I

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1.

INTRODUÇÃO AO DIMENSIONAMENTO DE LAJES EM BETÃO


ARMADO

Nas construções de concreto armado, sejam elas de pequeno ou de grande porte, três
elementos estruturais são bastante comuns: as lajes, as vigas e os pilares. As lajes são os
elementos planos que se destinam a receber a maior parte das ações aplicadas numa
construção, como de pessoas, móveis, pisos, paredes, e os mais variados tipos de carga que
podem existir em função da finalidade arquitetônica do espaço físico que a laje faz parte. As
ações são comumente perpendiculares ao plano da laje (Figura 1.1), podendo ser divididas
em: distribuídas na área (peso próprio, revestimento de piso, etc.), distribuídas linearmente
(paredes) ou forças concentradas (pilar apoiado sobre a laje). As ações são geralmente
transmitidas para as vigas de apoio nas bordas da laje, mas eventualmente também podem ser
transmitidas diretamente aos pilares.

a) Planta de forma b) Corte A-A


Fig. 1.1 – Laje maciças de concreto armado.

1.1 Classificação de Lajes


Actualmente há diversos tipos de lajes que formatam o diversificado mercado da
construção civil. Cada tipo de laje pode ser utilizada em um determinado ramo de construção
ou necessidade. Umas têm o carácter de reduzira carga das estruturas sendo mais leves, como
as lajes pré-moldadas, outras têm a função de serem mais resistentes, como as maciças
(totalmente em ferro e concreto), algumas têm o formato propício a economizar a quantidade
de concreto, como as nervuradas, outras mais esbeltas ou espessas. Portanto há diversas
formas e tipos de lajes, prontas a atender as reais situações especiais em cada canteiro.

1.1.1 Tipo de Apoio


• Lajes vigadas (apoiadas em vigas);
• Lajes fungiformes (apoiadas directamente em pilares);
• Lajes em meio elástico (apoiadas numa superfície deformável – ensoleiramentos, por
exemplo)
1.1.2 Constituição
• Monolíticas (só em betão armado):
• Maciças (com espessura constante ou de variação contínua);
• Aligeiradas;
• Nervuradas;
• Mistas (constituídas por betão armado, em conjunto com outro material):
• Vigotas pré-esforçadas;
• Perfis metálicos.

1.1.3 Modo de flexão dominante


- Lajes armadas numa direcção (comportamento predominantemente unidireccional);
- Lajes armadas em duas direcções (comportamento bidireccional).
1.1.4 Modo de fabrico
• Betonadas “in situ”;
• Pré-fabricadas;
• Totalmente fabricadas (exemplo: lajes alveoladas);
• Parcialmente fabricadas (exemplo: pré-lajes).
1.2 Pré-Dimensionamento de Lajes
A espessura das lajes é condicionada por:
- Resistência – flexão e esforço transverso;
- Características de utilização – Deformabilidade, isolamento sonoro, vibrações,
protecção contra incêndio,etc.
A espessura das lajes varia em função do vão. No que se refere a lajes maciças
vigadas, em geral, a sua espessura varia entre 0.12 m a 0.30 m.
1.3 Verificação Da Segurança
1.3.1 Estados Limites Últimos
• Flexão
* Numa laje, as armaduras de flexão são calculadas por metro de largura, ou seja,
considerando uma secção com 1 m de base, e altura igual à altura da laje.
O momento flector reduzido (µ) deve estar contido no intervalo entre 0.10 < µ< 0.20.
• Esforço Transverso
Efeito de arco
Em lajes, a transmissão de cargas para os apoios faz-se por efeito de arco e consolas,
conforme ilustrado na figura seguinte.

Fig.1.2- Transmissão de esforços de lajes nos apoios.

Resultados experimentais apontam para:


É necessária uma translação do diagrama de momentos flectores de aL = 1.5d;
Para “atirantar o arco”, é necessário prolongar até aos apoios, pelo menos, ½ da
armadura a meio vão.
Estas indicações são tidas em conta, indirectamente, nas regras de pormenorização.
1.3.1.1 Verificação ao Estado Limite Último de Esforço Transverso
De acordo com o EC2 (parágrafo 6.2.2), para elementos que não necessitam de
armadura de esforço transverso,

onde,

( AsL representa a área de armadura de tracção, prolongando-se não menos do que d + Lb,net
para além da secção considerada) , k1 = 0.15

(Nsd representa o esforço normal devido a cargas aplicadas ou ao pré-esforço, e deve ser
considerado positivo quando for de compressão).
1.3.2 Estados Limites de Utilização
• Fendilhação
A verificação ao estado limite de fendilhação pode ser efectuada de forma directa ou
indirecta.
A forma directa consiste no cálculo da abertura característica de fendas e comparação
com os valores admissíveis.
O controle indirecto da fendilhação, de acordo com o EC2, consiste em:
Adopção de armadura mínima
Imposição de limites ao diâmetro máximo dos varões e/ou afastamento máximo dos
mesmos (EC2 Quadros 7.2 e 7.3).
• Deformação

Tal como acontece para o caso da fendilhação, a verificação ao estado limite de


deformação pode ser efectuada de forma directa ou indirecta. A forma directa consiste no
cálculo da flecha a longo prazo (pelo Método dos Coeficientes Globais, por exemplo) e
comparação com os valores admissíveis. Conforme preconizado no EC2, o cálculo das flechas
poderá ser omitido, desde que se respeitem os limites da relação vão / altura útil estabelecidos
no Quadro 7.4N. Na interpretação deste quadro, deve ter-se em atenção que:

- Em geral, os valores indicados são conservativos, podendo os cálculos revelar


frequentemente que é possível utilizar elementos menos espessos;

- Os elementos em que o betão é fracamente solicitado são aqueles em que ρ < 0.5%,
podendo na maioria dos casos admitir-se que as lajes são fracamente solicitadas (o betão é
fortemente solicitado se ρ > 1.5%).

- Para lajes vigadas armadas em duas direcções, a verificação deverá ser efectuada em
relação ao menor vão. Para lajes fungiformes deverá considerar-se o maior vão.

1.4 LAJES VIGADAS ARMADAS NUMA DIRECÇÃO

1.4.1 Pré-Dimensionamento
No projecto de lajes armadas numa direcção, a primeira etapa consiste em determinar os vãos
livres (lo), os vãos teóricos (l) e a relação entre os vãos teóricos.
Vão livre é a distância livre entre as faces dos apoios. No caso de balanços, é a distância da
extremidade livre até a face do apoio (Figura 1.3).
O vão teórico (l) é denominado vão equivalente, que o define como a distância entre os
centros dos apoios, não sendo necessário adoptar valores maiores do que:
• Em laje isolada, o vão livre acrescido da espessura da laje no meio do vão;
• Em vão extremo de laje contínua, o vão livre acrescido da metade da dimensão do
apoio interno e da metade da espessura da laje no meio do vão.
Nas lajes em balanço, o vão teórico é o comprimento da extremidade até o centro do apoio,
não sendo necessário considerar valores superiores ao vão livre acrescido da metade da espessura da
laje na face do apoio.
Em geral, para facilidade do cálculo, é usual considerar os vãos teóricos até os eixos dos
apoios (Figura 1.3).

Fig. 1.3 – Vão livre e vão teórico

1.4.1 Definição
Considera-se que as lajes são armadas numa direcção (ou funcionam
predominantemente numa direcção) se:
• As condições de apoio o exigirem;
• Conhecidos os vãos teóricos considera-se lx o menor vão, ly o maior e λ = ly/lx
(Figura 1.4). De acordo com o valor de λ A relação entre vãos respeitar a condição λ≥
2 → laje armada em uma direção.

Fig.1.4– Vãos teóricos lx (menor vão) e ly (maior vão).

Para sobrecargas correntes em edifícios (SC < 5 kN/m2), a espessura das lajes armadas numa
direcção pode ser determinada a partir da seguinte relação:

Esta expressão tem por base o controlo indirecto da deformação e o nível de esforços na laje.
1.4.3 Pormenorização De Armaduras
1.4.3.1 Disposição De Armaduras
As armaduras principais devem ser colocadas por forma a funcionarem com o maior braço, tal
como se encontra ilustrado nas figuras seguintes.

Fig.1.5- Exemplos da disposição das armaduras principais e de distribuição.

Determinação da altura útil:

1.4.3.2 Armadura de bordo simplesmente apoiado


Pelo facto das vigas de bordo impedirem a livre rotação da laje quando esta se
deforma, surgem tracções na face superior, nas zonas de ligação entre os dois elementos. Em
geral, estas tracções não são contabilizadas no cálculo já que se despreza a rigidez de torção
das vigas no cálculo dos esforços em lajes. Caso não seja adoptada armadura específica para
este efeito podem surgir fendilhações, conforme se ilustra na figura seguinte.

Fig.1.6 Efeito de fendilhações em vigas de bordo.

Deste modo, é necessário dispor de armadura na face superior da laje junto às vigas de
bordo, na direcção perpendicular às mesmas, cuja disposição se apresenta.

Fig.1.7 – Armadura de bordo sinplesmente apoiado.


A quantidade de armadura a adoptar deverá respeitar a seguinte condição:

1.4.3.3 Armadura de bordo livre


Num bordo livre de uma laje deve ser adoptada armadura longitudinal e transversal,
conforme ilustrado na figura seguinte.

Fig.1.8 – Armadura de bordo livre.


Para o reforço longitudinal do bordo livre pode ser utilizada a armadura longitudinal
superior ou inferior da laje.

1.5 LAJES VIGADAS ARMADAS EM DUAS DIRECÇÕES


Nas lajes armadas em duas direcções, as duas armaduras são calculadas para resistir
os momentos fletores nessas direções. A armadura principal, na direção do menor vão, é
calculada para resistir o momento fletor nessa direcção, obtido ignorando-se a existência da
outra direcção. Portanto, a laje é calculada como se fosse um conjunto de vigas-faixa na
direção do menor vão.
Na direção do maior vão, coloca-se armadura de distribuição, com secção transversal
mínima. Como a armadura principal é calculada para resistir à totalidade dos esforços, a
armadura de distribuição tem o objetivo de solidarizar as faixas da laje na direcção principal,
prevendo-se, por exemplo, uma eventual concentração de esforços.

1.5.1 Métodos De Análise E Dimensionamento


A análise e dimensionamento das lajes vigadas pode ser efectuada recorrendo a
modelos elásticos ou a modelos plásticos.
• Análise elástica (Teoria da Elasticidade)
A análise elástica pode ser efectuada recorrendo a tabelas de esforços elásticos ou a
métodos numéricos (exemplo: modelo de grelha, elementos finitos).
Pode efectuar-se uma redistribuição dos esforços elásticos, não devendo esta
ultrapassar mais ou menos 25% do valor dos momentos elásticos nos apoios.
• Análise plástica (Teoria da Plasticidade)
Pode ser aplicada quando a ductilidade do comportamento à flexão é garantida, ou
seja, quando o dimensionamento das armaduras de flexão é efectuado por forma a que a
posição da L.N. correspondente a este E.L.U. seja tal que:
x/d ≤ 0.25.
O dimensionamento, recorrendo à Teoria da Plasticidade, pode ser efectuado por dois
métodos distintos:
• Método estático: o valor da carga que satisfaz as equações de equilíbrio, de forma a
que em nenhum ponto seja excedida a capacidade resistente, é um valor inferior da
carga última (método conservativo) – exemplo: método das bandas.
• Método cinemático: o valor da carga associado a um mecanismo cinematicamente
admissível é um valor superior da carga última – exemplo: método das linhas de
rotura.
1.5.2 Método Das Bandas - Método Estático Da Teoria Da Plasticidade
Equação de equilíbrio em lajes (Equação de Lagrange):

Por forma a não exceder em nenhum ponto a capacidade resistente da laje, m(q)< mR,
onde, m(q) - momento da distribuição equilibrada de esforços devido à carga q; mR - momento
resistente da laje;
Se mxy = 0, a equação de equilíbrio toma a forma,

Pode então admitir-se que a carga é suportada em bandas nas direcções x e y, ou seja,

É de notar que, se a distribuição de esforços adoptada no dimensionamento diferir


significativamente dos esforços em serviço (próximo dos elásticos), podem surgir problemas
no comportamento em serviço da laje. De qualquer modo, a segurança em relação ao estado
limite último está assegurada.
Em geral, um bom comportamento em serviço pode ser garantido através da
conveniente:
• Escolha do modelo de cálculo e dos caminhos de carga a adoptar por forma a
simularem aproximadamente o comportamento elástico da laje;
• Escolha dos coeficientes de repartição de carga (α) de acordo com o mesmo critério;
• Pormenorização adequada de armaduras.
Indicações qualitativas quanto à escolha dos coeficientes de repartição (α)
• Para Lmaior/Lmenor ≥ 2 e visto tratar-se de flexão cilíndrica, α = 1;
• Para iguais condições de fronteira nas duas direcções, o valor de α a considerar para
a menor direcção (Lx) deve variar entre 0.5 e 1, para relações de vãos entre 1 e 2. Sendo os
momentos mx dados por k × a × Lx2. Deve verificar-se que,
α × Lx2 > (1 – α) × Ly2;
• As direcções com condições de fronteira mais rígidas absorvem mais carga α maior.

1.5.3 Pré-Dimensionamento
Para sobrecargas correntes em edifícios (SC < 5 kN/m2), a espessura das lajes armadas
em duas direcções pode ser determinada a partir da seguinte relação:

Esta expressão tem por base o controlo indirecto da deformação e o nível de esforços
na laje.
Indicações mais detalhadas em relação ao valor de L/h podem ser vistas no Quadro 7.4
N do EC2.
1.5.4 Pormenorização de Armaduras
• Disposição de armaduras

Fig.1.9 - Exemplos da disposição das armaduras principais e de distribuição.

1.5.5 Armaduras de Canto em Lajes

Considere-se um painel de laje apoiado no contorno. Se não estiver impedido o


levantamento da laje, e o referido painel for solicitado por uma carga no seu interior,
conforme indicado, os cantos terão tendência a levantar.
Fig.1.10 – painel de laje
Como, nas situações usuais, o deslocamento dos cantos está impedido (por vigas ou
paredes), surgem forças de reacção (R0), associadas a momentos torsores nas direcções dos
bordos.
A acção deste esforço produz uma superfície torsa “tipo sela de cavalo”, com
curvatura nas duas direcções, de sinais contrários.

Fig.1.11- superfície torsa num painel de laje.

Na figura seguinte apresenta-se a deformação de um canto de uma laje apoiada no


contorno (com deslocamentos verticais impedidos em dois dos bordos e rotação livre).
A acção da reacção de canto produz uma curvatura negativa segundo a direcção AA’,
enquanto o carregamento distribuído vertical provoca uma curvatura positiva segundo a
direcção BB’.

Fig.1.12- deformação de um canto de uma laje apoiada no contorno.

Este efeito é equivalente à aplicação de momentos flectores segundo as direcções


principais de inércia do elemento (as quais fazem um ângulo de 45° com a direcção do
momento torsor), um positivo e outro negativo, de igual valor.
Fig.1.13-efeito da deformação de um canto de uma laje apoiada no contorno

Este comportamento provoca fendilhação nas faces superior e inferior das lajes, junto
aos cantos, conforme se ilustra na figura seguinte.

a) Face inferior da laje b) face superior da laje


Fig.1.14- fendilhação nas faces superior e inferior das lajes.

Para absorver as tracções e controlar a fendilhação, é necessário adoptar armadura


específica para este efeito, junto às duas faces da laje (armadura de canto), segundo a direcção
das tensões de tracção ou, simplesmente, uma malha ortogonal.
• Disposições das armaduras de canto em lajes
Apresentam-se nas figuras seguintes, as armaduras de canto geralmente adoptadas na
face superior das lajes, e sua disposição, para os casos mais correntes de condições de apoio.
Considere-se que os casos apresentados se referem aos cantos de uma laje com vãos
Lx e Ly, tais que mx ≥ my

a) Canto apoiado-apoiado b) Canto apoiado-encastrado


Fig.1.14- Disposições das armaduras de canto em lajes.
Numa laje quadrada, apoiada em todo o contorno, o valor do momento torsor é da
ordem de grandeza do momento flector positivo no vão. Nos cantos em que apenas um dos
bordos é apoiado o momento torsor é menor, pelo que se adopta apenas metade da armadura
do vão. Se os dois bordos forem encastrados, não existe momento torsor.

1.5.7 Sistemas de painéis contínuos de lajes – compatibilização de esforços nos


apoios de continuidade
Considerem-se dois painéis de laje adjacentes com vãos diferentes, LA e LB, na
direcção x.

Fig.1.14- Sistemas De Painéis Contínuos De Lajes.

Já que o método mais correntemente utilizado para a análise de sistemas de lajes


contínuas consiste na análise isolada de cada painel, obtêm-se momentos diferentes MA e MB,
no bordo de continuidade, conforme ilustrado na figura abaixo.

Dado que a rigidez de torção da viga não é significativa, o momento MAB terá que ser
o mesmo, à esquerda e à direita. O momento MAB será intermédio entre MA e MB e
dependente da rigidez dos painéis adjacentes:

com,
Simplificadamente, poderá considerar-se

Obtém-se então o seguinte diagrama de momentos flectores final

É de referir que no tramo onde se diminui o momento negativo é necessário, por


equilíbrio, aumentar o momento positivo.

1.5.8 Alternâncias de Sobrecarga – Método De Marcus


Conforme se referiu anteriormente, para o cálculo dos esforços em sistemas contínuos
de lajes, procede-se à análise isolada de cada painel. Deste modo, para ter em conta a
alternância de sobrecargas, poderá recorrer-se à técnica por vezes denominada de “Método de
Marcus”. Esta técnica é aplicável nos sistemas de lajes, sujeitos a cargas uniformemente
distribuídas e com vãos adjacentes semelhantes.
Considere-se o seguinte sistema de lajes contínuas representado na figura seguinte:

1.5.8.1 Momentos negativos


Para a obtenção do máximo momento negativo no bordo de continuidade entre os
painéis 4 e 5, a sobrecarga deverá actuar, simultaneamente nestes dois painéis.
Admitindo que estes têm vãos semelhantes e que estão ambos carregados, conforme
ilustrado na figura anterior, a rotação na direcção perpendicular ao bordo é pequena, pelo que
se poderá admitir que estes se encontram encastrados.

Deste modo, os momentos negativos nos bordos em que existe continuidade são
calculados considerando os painéis encastrados e actuados pela carga permanente e pela
sobrecarga.
1.5.8.2 Momentos positivos
Indica-se na figura seguinte a distribuição de sobrecargas que produz um momento
flector máximo no painel 5.

Nesta situação, a rotação dos bordos do painel já é significativa. A técnica proposta


por Marcus consiste em decompor a carga da seguinte forma:
Deste modo, os momentos positivos são calculados da seguinte forma:
cp+sc/2 a actuar em painel de laje igual em dimensões e condições de apoio à laje em
análise; sc/2 a actuar em painel de laje simplesmente apoiada nos quatro bordos.

1. 6 Aberturas Em Lajes
Quando as dimensões das aberturas não excederem determinados limites, podem
adoptar-se regras simplificadas para a pormenorização das zonas próximas das aberturas.
1.6.1 Laje armada numa direcção
1.6.2 Laje armada em duas direcções

Se estes limites não forem excedidos, o dimensionamento das lajes pode ser efectuado
admitindo que não existem aberturas. As armaduras que forem interrompidas na zona da
abertura deverão ser colocadas como se indica em seguida.
Em aberturas de dimensões relativamente grandes (superiores a 0.5m), é conveniente
dispor uma armadura suplementar junto aos cantos, segundo a diagonal, para controlar uma
eventual fendilhação.

Fig.1.16-pormenor de armadura em abertura de lajes.

Quando os limites atrás referidos são excedidos, as zonas adjacentes às aberturas


poderão ser analisadas pelo método das bandas.
1.7 LAJES FUNGIFORMES
Alguns dos tipos mais comuns de lajes são: maciça apoiada nas bordas, nervurada, lisa
e cogumelo.
Laje maciça é um termo que se usa para as lajes sem vazios apoiadas em vigas nas
bordas. As lajes lisa e cogumelo também não têm vazios, porém, tem outra definição.
“Lajes cogumelo são lajes apoiadas directamente em pilares com capitéis, enquanto lajes
lisas são as apoiadas nos pilares sem capitéis” As lajes lisa e cogumelo também são
chamadas como lajes sem vigas. Elas apresentam a eliminação de grande parte das vigas
como a principal vantagem em relação às lajes maciças, embora por outro lado tenham maior
espessura. São usuais em todo tipo de construção de médio e grande porte, inclusive edifícios
de até 20 pavimentos. Apresentam como vantagens custos menores e maior rapidez de
construção. No entanto, são suscetíveis a maiores deformações (flechas).

1.7.1 Vantagens Da Utilização De Lajes Fungiformes

• Menor espessura - menor altura do edifício;


• Tectos planos - instalação de condutas mais fácil;
• Facilidade de colocação de divisórias;
• Simplicidade de execução - menor custo.
1.7.2 Problemas Resultantes Da Utilização De Lajes Fungiformes

(muitas vezes associadas ao facto dos apoios terem dimensões reduzidas)


• Concentração de esforços nos apoio
- Flexão
- Punçoamento
• Concentração de deformações nos apoios e deformabilidade em geral;
• Flexibilidade às acções horizontais;
• Comportamento sísmico.
A laje fungiforme é calculada quer para as acções verticais, quer para as acções
horizontais.

1.7.3 Tipos De Lajes Fungiformes


• Maciças
• Aligeiradas
• com moldes recuperáveis ou embebidos;
• com ou sem capitel (ou espessamento).
1.7.4 Principais Características Do Comportamento Para Acções Verticais

As cargas encaminham-se para as zonas mais rígidas. As lajes fungiformes funcionam


predominantemente na maior direcção.
1.7.5 Análise Qualitativa Do Cálculo De Esforços Numa Laje Fungiforme
Considere-se o modelo de cálculo para a laje fungiforme que se ilustra na figura
seguinte:

No quadro seguinte apresenta-se a parcela de carga transmitida em cada direcção nas


zonas do vão, das bandas entre pilares e na totalidade da laje (soma da parcela transmitida na
zona do vão com a da zona das bandas).
1.7.6 Concepção E Pré-Dimensionamento De Lajes Fungiformes
Para sobrecargas correntes em edifícios (sc < 5 kN/m2), a espessura das lajes
fungiformes pode ser determinada a partir das seguintes relações:

Estas expressões têm por base o controlo indirecto da deformação e o nível de


esforços na laje (nomeadamente no que se refere ao punçoamento e flexão).
No quadro seguinte apresenta-se quer a gama de vãos em que se utiliza cada um dos
tipos de lajes fungiformes, quer as espessuras adoptadas em cada situação.

1.7.7 Modelos de análise de lajes fungiformes


Modelo de grelha
• Vantagens:
- Permite obter directamente o valor dos esforços por nó
• Desvantagens
- Apenas permite a análise para cargas verticais;
- É difícil conseguir uma boa simulação da rigidez de torção da laje.
Discretização

Secção transversal da barra A

• Simulação da rigidez de torção da laje

Em geral, para que não surjam momentos torsores nas barras (equilíbrio apenas com
momentos flectores), atribui-se às barras rigidez de torção nula (GJ = 0). Como consequência,
o modelo é mais flexível o que leva à obtenção de maiores deslocamentos verticais do que os
que na realidade se verificam.
Caso se pretenda simular mais aproximadamente a deformabilidade da laje, deverá atribuir-se
às barras, uma inércia de torção

Obtenção dos momentos flectores

1.7.8 Modelos de elementos finitos de laje


Este tipo de modelos permite:
i) Análise do sistema global com a consideração das acções horizontais e da interacção
laje – pilares;
ii) Análise do pavimento, sendo o efeito dos pilares tido em conta nas condições de
fronteira.
• Vantagem
- Melhor simulação da deformabilidade da laje, relativamente aos modelos de grelha
Desvantagem
• Os esforços são fornecidos por nó e por elemento, ou seja, num mesmo
nó existem diferentes valores dos esforços por elemento (os elementos finitos de laje
são compatíveis em termos de deslocamentos, mas não de esforços) - é necessário
fazer a média dos vários momentos no mesmo nó.
Discretização

Dimensões de um elemento finito

• Obtenção dos momentos flectores


Visto surgirem momentos torsores, simplificadamente, as armaduras de flexão são
dimensionadas para os seguintes valores de momento:

1.7.9 Método dos Pórticos Equivalentes


• Processo simplificado para a determinação dos esforços actuantes nas lajes
Fungiformes;
• Pode considerar-se o efeito das acções horizontais e verticais.
• Considerar a estrutura, constituída pela laje e pelos pilares de apoio, dividida em dois
conjuntos independentes de pórticos em direcções ortogonais;

• As cargas actuantes em cada pórtico correspondem à largura das suas travessas (não se
considera qualquer repartição de cargas entre pórticos ortogonais);

(pórtico na direcção x)
• Após a determinação dos momentos flectores, estes devem ser distribuídos nas faixas
central e lateral, de acordo com as seguintes regras:

Esta repartição tem em consideração, de forma simplificada, a distribuição real dos


esforços.
Nota: Para a análise às acções horizontais utiliza-se apenas 40% da largura da travessa
(40% da rigidez), por forma a reduzir os momentos flectores transmitidos entre a laje e o pilar
(modelo mais realista).
1.7.10 Estado Limite Último De Punçoamento
Definição: tipo de rotura de lajes sujeitas a forças distribuídas em pequenas áreas.
• Mecanismos de rotura de punçoamento

- Mecanismo de colapso local associado a uma rotura frágil (essencialmente


condicionada pela resistência à tracção e à compressão do betão)

- Pode gerar um colapso progressivo da estrutura (rotura junto a um pilar implica um


incremento da carga nos pilares vizinhos).
- As acções sísmicas, em sistemas estruturais com lajes fungiformes, aumentam a
excentricidade da carga a transmitir ao pilar agravando as características resistentes por
punçoamento.

1.7.10.2 Mecanismos de resistência ao punçoamento

Forças que equilibram a força de punçoamento:


• Componente vertical da compressão radial;

• Componente vertical da força atrito entre os inertes na fenda;


• Componente vertical da força do efeito de ferrolho.

1.7.10.3 Verificação da segurança ao punçoamento

A verificação da segurança ao punçoamento, de acordo com o EC2, consiste na


verificação dos pontos seguintes:

1. Não é necessário adoptar armaduras específicas para resistir ao punçoamento caso


Vsd ≤VRd,c, ao longo do perímetro de controlo considerado;

2. Se Vsd ≥VRd,c, será necessário adoptar armaduras específicas de punçoamento ou


um capitel, por forma a satisfazer o critério 1.;

3. Caso se adoptem armaduras, será necessário verificar a condição Vsd ≤VRd,max


(considerando o perímetro do pilar ou o perímetro da área carregada).

• Indicações para o dimensionamento


• Tentar que as dimensões da laje e pilar sejam tais que não haja necessidade de
armadura (vsd < vRd,c), em particular para as cargas verticais totais.
• Se não for possível, prever capiteis (caso sejam esteticamente aceitáveis) por forma a
garantir que vsd < vRd,c.
• O dimensionamento de armaduras só deverá ser adoptado para a combinação de
acções sísmicas.
1.7.10.4 Cálculo do esforço de corte solicitante

• Carga centrada:

Onde: u1 – perímetro básico de controlo


• Carga excêntrica:

Onde: ui– perímetro de controlo considerado


1.7.10.5 Perímetro básico de controlo
Definição: linha fechada que envolve a área carregada a uma distância não inferior a 2d e
cujo perímetro é mínimo.
Exmplo:

• Consideração de aberturas junto ao pilar


Uma abertura localizada junto a um pilar pode reduzir substancialmente o valor da capacidade
resistente ao punçoamento, Deverá então reduzir-se o perímetro de controlo de acordo com as
indicações da figura abaixo.

Caso a abertura se encontre a uma distância superior a 6d, não é necessário considerá-la para
efeitos de verificação da segurança ao punçoamento.

• Resistência ao punçoamento de lajes sem armadura específica de punçoamento


1.7.10.6 Verificação ao punçoamento em lajes com capiteis
• Perímetros de controlo para capiteis de forma cónica

• Perímetros de controlo para espessamentos

1.7.10.7 Armaduras de punçoamento


• Cálculo das armaduras de punçoamento

onde,
Asp representa a área total de armadura de punçoamento necessária;
fywd,ef = 250 + 0.25 d ≤ fywd e representa a tensão de cálculo efectiva da armadura de
punçoamento.
• Pormenorização das armaduras
A armadura de punçoamento pode ser constituída por varões inclinados ou por
estribos, sendo esta última a solução mais utilizada.

Fig.1.17 – pormenor de armaduras de punçoamento em lajes.

Esta armadura deve ser distribuída conforme ilustram as figuras seguintes:

• Armadura longitudinal inferior junto ao pilar (de colapso progressivo)


É conveniente adoptar uma armadura inferior sobre o pilar, por forma a gerar um
mecanismo secundário de resistência, e evitar uma rotura em cadeia, caso se verifique uma
rotura por punçoamento num dos pilares.

Fig.1.18- pormenor de armadura longitudinal inferior junto ao pilar.


• Valor de cálculo do máximo esforço de corte

onde ʋ representa um factor de redução da resistência ao corte do betão fendilhado, podendo


ser calculado através da expressão:

com fck em MPa.


1.7.10.8 Punçoamento excêntrico
Conforme referido, o valor de cálculo do esforço de corte solicitante pode ser obtido pela
expressão:

Onde: ui representa o perímetro de controlo considerado e β pode ser calculado através


das expressões que se apresentam em seguida.
• Pilares interiores
1.Pilares rectangulares com excentricidade numa direcção

Onde: k é um coeficiente que depende da relação entre as dimensões c1 e c2 da secção


transversal do pilar, e cujos valores se indicam no quadro seguinte:

W1 é função do perímetro básico de controlo e corresponde à distribuição do


esforço de corte ao longo desse perímetro. Genericamente,

• Para pilares interiores rectangulares,

onde c1 e c1 representam as dimensões do pilar nas direcções paralela e perpendicular à


excentricidade da carga.
• Pilares circulares
Onde: D representa o diâmetro do pilar.

• Pilares rectangulares com excentricidades nas duas direcções

onde, eY e eZ representam as excentricidades Msd / Vsd segundo os eixos y e z,


respectivamente; by e bZ representam as dimensões do perímetro de controlo.

• Pilares de bordo
• Excentricidade para o interior (na direcção perpendicular ao bordo da laje)
• Excentricidade numa direcção
Simplificadamente, pode considerar-se a força de punçoamento uniformemente distribuída ao
longo do perímetro de controlo equivalente u1*, (ver figura seguinte), ou seja, b = u1 / u1*.

• Excentricidade nas duas direcções

Onde: epar representa o valor da excentricidade na direcção paralela ao bordo da laje; k


é um coeficiente que depende da relação entre as dimensões c1 e c2 da secção transversal do
pilar, e cujos valores se indicam no quadro seguinte:

• Para pilares rectangulares

• Excentricidade para o exterior (na direcção perpendicular ao bordo da laje)


Neste caso, W1 deverá ser calculado considerando a excentricidade em relação
ao centro de gravidade do perímetro de controlo.

• Pilares de canto
• Excentricidade para o interior
Simplificadamente, pode considerar-se a força de punçoamento uniformemente distribuída ao
longo do perímetro de controlo equivalente u1*, (ver figura seguinte), ou seja, b = u1 / u1*.

• Excentricidade para o exterior

Neste caso, W1 deverá ser calculado considerando a excentricidade em relação ao


centro de gravidade do perímetro de controlo.
BIBLIOGRÁFIA BASE
1. Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos (2003) Lajes Maciças
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas.
2. Carla Marchão Júlio Appleton (2008/2009) lajes de betão armado Instituto Superior
Técnico De Lisboa. Ano lectivo 2008/2009.

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