Jogos Musicais

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Jogos Musicais: Implicações e Incentivo Baseados em um Relato de

Experiência

Inaldo Mendes de Mattos Junior


Universidade Federal do Maranhão
[email protected]

Resumo: Este trabalho analisa as atividades musicais com regras no contexto da educação
básica. Tem como objetivo fundamentar os jogos musicais como uma estratégia pedagógica
eficaz para o desenvolvimento do aluno e encorajar o seu uso nos espaços escolares. Isso se
fará a partir da exposição de uma experiência que se deu com crianças do ensino fundamental
menor. Para a construção da fundamentação teórica, este trabalho vale-se de pesquisa
bibliográfica e fichamentos. A elaboração do relato de experiência se utilizou de relatórios das
aulas experimentais. Os resultados desse artigo apontam para a constatação de que os jogos
musicais servem substancialmente a maturação infantil e que constituem uma estratégia que
pode ser seguramente utilizada no contexto educacional.
Palavras chave: crianças, jogos musicais, relato de experiência

Uma Breve Introdução aos Jogos Musicais

Etimologicamente a palavra jogo vem do latim “incus” e significa diversão,


brincadeira. É uma atividade presente desde as grandes e antigas culturas. Os gregos e
romanos, por exemplo, reconheciam a sua magnitude para a educação de crianças. O próprio
Platão atribuiu um grande valor pedagógico a esse tipo de atividade. Nessas sociedades os
jogos se constituíam um meio de se tomar consciência de papeis sociais e de assimilar
valores, conhecimentos e leis (JESUS, 2010, p.3).
Entretanto é na Renascença, no século XVI, que os jogos assumem definitivamente
sua função educativa, com o advento da educação humanista. No Brasil, por exemplo, a
educação jesuítica começou a perceber o valor didático dessa atividade e foi a primeira a
experimentá-los em salas de aula. Nos Estados Unidos, na virada dos séculos XVIII e XIX, se
adere à proposta de Froebel que confiava no uso dos jogos na educação infantil, e sua ideia se
fortaleceu em vários países (JESUS, 2010, p.4).
Apesar da História comprovar a utilidade pedagógica dos jogos no contexto
educacional, ainda há fortes preconceitos em relação a esse tipo de atividade. E não se pode
deixar de observar, que muitos professores se sentem inseguros quanto à utilização dessa

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estratégia de ensino e preferem evitá-la em sala de aula, principalmente pelo medo de errar
(GIOCA, 2001, p.15).
Assim o objetivo deste artigo é quebrar preconceitos e incentivar a prática de jogos
musicais na educação de crianças. Para isso se fará uma exposição temática e um relato de
experiência, que se deu numa escola particular de São Luís, com crianças de primeiro ano do
ensino fundamental menor.

O que é Jogo Musical?

Segundo Ger Storms (1996, p.15), jogo musical deve ser entendido como atividade
regulamentada por regras. O autor acrescenta ainda que jogar é sair da rotina e convergir as
atenções para uma situação desafiadora; é sentir e pensar. É uma atividade pedagógica que
coloca a música e seu elementos como protagonistas da cena. O jogo deve visar o
desenvolvimento da criança e a estruturação do conhecimento.
Maria Gioca (2001, p.23) nos afirma, à luz da teoria de Piaget, que o jogo é
organização de conhecimento. Pois através do processo de assimilação, a criança integra um
novo dado motor ou conceitual às estruturas cognitivas de que já dispõe. Entretanto quando
não existe esquemas suficientes para receber esse novo dado, uma nova estrutura se forma
pelo processo de acomodação. Assim, jogar é construir conhecimento.
Teca Brito (2003, p.31) vai além e afirma que o fazer musical é um jogo sensório-
motor, simbólico e com regras. A criança no seu desenvolvimento transcorre pelos três
momentos. O primeiro está relacionado ao ato de explorar o som e o gesto. Ulteriormente a
ela brinca do jogo simbólico ao começar a definir significantes e significados. E ao
compreender o que é permitido e proibido, ingressa no jogo das regras sociais.
Há diversos tipos de jogos musicais: jogos de escuta e concentração, de criação, de
improvisação, de desenvolvimento da percepção, da sociabilidade, da comunicação, da
confiança etc. (STORM, 1996). Assim sendo, cabe ao professor pesquisar as diversas
possibilidades disponíveis nas redes sociais e principalmente em livros específicos de
educação musical. O docente pode também ser criativo e construir seus próprios jogos ou
adaptar os que já conhece a um determinado objetivo ou conteúdo pedagógico.

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Mas para que um jogo musical seja bem sucedido é necessário observar algumas
dicas práticas. Ele deve ser revestido de informalidade para que o ambiente seja livre,
desinibido e confiante para o participante. O professor deve explicar claramente as regras
antes de inicia-lo e certificar-se de que todos entenderam. Ele está incumbido de ser o
organizador e o árbitro. Deve servir de suporte à todos, administrar bem o tempo e o espaço e
escolher ou adaptar o jogo de acordo com a faixa etária e capacidades dos alunos. O educador
precisa também estar preparado para contornar e controlar quaisquer dificuldades que possam
surgir durante o jogo. É substancial também que o educador ajude seus alunos, motivando-os
e ajudando-os a superar as dificuldades e os resultados insatisfatórios (STORMS, 1996, p. 22-
27).

As implicações dos Jogos Musicais para o Desenvolvimento de Crianças

O jogo musical é uma oportunidade para a criança brincar e vivenciar a


aprendizagem de forma lúdica, livre e alegre (JESUS, 2010, p.7), tornando a aprendizagem
prazerosa. Por meio do jogo de improvisação musical, por exemplo, a criança explora sua
espontaneidade criativa e utiliza suas potencialidades. Miranda (2010, p.372) afirma que ao
brincar, a criança organiza o mundo à sua volta, assimilando experiências, informações e
valores.
Segundo Tezani, (2006, p.1-2) o jogo é uma atividade que estimula o
desenvolvimento e crescimento, a coordenação motora, a iniciativa pessoal, as faculdades
intelectuais e o domínio da comunicação. Numa atividade grupal o jogo cria laços afetivos
entre os participantes, assim podem construir sentimentos e valores tornando assim o
ambiente pedagógico, uma experiência significativa aos alunos.
A participação em jogos musicais é uma oportunidade de desenvolver aptidões,
capacidade de escuta e concentração, comunicação e trabalho em grupo. Jogar promove o
autoconhecimento, ajuda a se pôr à vontade e vencer a timidez, cria sentimento de segurança e
faz desaparecer o receio, além de ser uma forma de aprender a considerar os sentimentos e
individualidades dos outros (STORMS, 1996, p.19-20).
Exposto a fundamentação teórica acerca de jogos musicais que contextualiza a sua
prática na educação infantil, define o termo, aponta dicas práticas e expõe as suas implicações

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ao desenvolvimento dos participantes, convém agora relatar uma experiência que se deu numa
escolar particular de São Luís com alunos do primeiro ano do ensino fundamental, onde os
jogos musicais se fizeram a principal metodologia da aula.

O Relato de Experiência

Inicialmente procurou-se planejar as duas aulas, que se dariam separadas por um


intervalo de uma semana. Nesse momento definiu-se objetivos, conteúdo, jogos musicais,
recursos e avaliação. Como objetivo geral das aulas consentiu-se por vivenciar atividades
musicais de forma significativa. O conteúdo envolveu principalmente, ritmo, canto e timbres.
As atividades propostas foram jogos de improvisação, jogos rítmicos com copos e mãos e
jogos de concentração e escuta. A avaliação procurou analisar os alunos, as atividades e a
atuação do professor em meio as variáveis da prática educativa.
Em seguida partiu-se para a experimentação dos dois planos de aula no ambiente
acadêmico tendo como participantes, universitários voluntários. Durante este laboratório
pedagógico constatou-se que algumas atividades poderiam se apresentar complexas demais
para as crianças e outras, não tão empolgantes o suficiente para manter o interesse de todas
elas. À vista disso, as atividades foram modificadas ou substituídas por outras que
satisfizessem às averiguações.

A Primeira Aula: Jogo Rítmico com Copos

Sequenciando a etapa de experimentos houve então a primeira aula, onde as crianças


vivenciaram dois jogos musicais: “pirulito que bate-bate” e “escravos de Jó”. O primeiro jogo
consistia em cantar a música acompanhada de batidas com as mãos, ora na coxa, ora na mão
do colega e ainda com palmas, em determinadas sílabas da canção. O segundo jogo foi
realizado com copos, onde havia formas específicas de acompanhamento para cada parte da
música escravos de Jó. Em alguns momentos os alunos passavam o copo ao colega da direita,
em outros, deixavam o copo parado e ainda faziam gestos em alusão à letra da canção.
Durante o jogo rítmico, “pirulito que bate-bate”, as crianças mostraram-se envolvidas
num ambiente descontraído, alegre e prazeroso. E na outra brincadeira elas demonstraram
dificuldades para cumprir as regras de passagem de copos, mas esse problema foi contornado

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pela divisão do jogo por etapas e pela diminuição do grau de dificuldades dos movimentos.
Tenha-se como exemplo: ao invés de passar todos os copos dentro da roda, optou-se por
diminuir o número de copos; noutro momento decidiu-se formar duplas em substituição à
grande roda formada e assim trabalhar os movimentos do jogo. Apesar dos impasses, as
crianças empolgaram-se com as atividades do começo ao fim da aula, sem perder o interesse.

A Segunda Aula: Jogo Rítmico com Copos e de Escuta e Concentração

Uma semana depois, na segunda aula, procurou-se retomar as atividades anteriores e


propor novos desafios. Assim repetiu-se o jogo rítmico da canção “pirulito que bate-bate”,
acrescentou-se uma atividade de improvisação chamada “esse copo vai virar”, retomou-se a
brincadeira com copos “escravos de Jó” e foi proposto, ao final da aula, um jogo de escuta e
concentração. Na atividade de improvisação as crianças, uma por uma, sugeriam o que o copo
iria virar e então todos teriam que utilizá-lo para demonstrar a sugestão dada.
Durante a execução do “pirulito que bate-bate” as crianças apresentaram progresso
no domínio dos movimentos sincronizados à letra da canção. E na brincadeira “escravos de
Jó” lograram êxito ao executar o jogo de acordo com as regras adaptadas às suas reais
capacidades, desta feita, os alunos estavam dispostos em uma grande roda. O jogo de
improvisação foi o ápice da aula. Nele os alunos puderam improvisar movimentos com os
copos, de acordo com as proposições que os participantes sugeriam ao cantar a canção.
O último jogo consistia numa atividade de improvisação onde as crianças
adivinhavam os sons que eram postos em apreciação, como por exemplo, o timbre de um
piano, de um trovão, campainha, etc. Nesse jogo as crianças se mantiveram bem concentradas
e intensamente envolvidas com a brincadeira, num sentimento de alegria, entusiasmo e
vontade de ganhar, devido à atmosfera de competividade estabelecida ao dividir a turma em
dois grupos.

Resultados e Análises da Experiência

No último dia observou-se o progresso dos alunos em vários aspectos. As crianças


demonstraram evolução na manutenção do pulso regular, na execução rítmica com as mãos e
copos e na afinação ao cantar as canções. Pode-se destacar também outros resultados que

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transcendem os objetivos estabelecidos nos planos de aula, como o aperfeiçoamento da noção
de lateralidade, o aprimoramento do trabalho em equipe, da iniciativa, da cooperação e do
estabelecimento de relacionamentos de qualidade.
Ademais, as crianças mostraram-se alegres e satisfeitas com as vivências musicais
promovidas através dos jogos. Após as duas aulas soube-se de comentários interessantes entre
eles. Eles perguntavam a professora titular, por exemplo, quando haveria outra aula de música
e comentavam que tinham gostado muito das brincadeiras. Isso prova que a vivência musical
ali promovida foi significativa para eles.
Antoni Zabala (1998, p.13-16) defende a necessidade da reflexão da prática
educativa antes e depois da ação, para que se aprimore a atuação educativa do professor.
Embora se tenha refletido bastante antes da execução das aulas supracitadas no tópico
anterior, se faz necessário uma outra análise, posterior à experiência, afim de avaliar a
funcionalidade das atividades e atitudes e posturas pedagógicas do educador.
Os jogos musicais escolhidos, de forma geral, mostraram-se realizáveis com o
público-alvo. Entretanto constatou-se que nem sempre às expectativas que se têm às respeito
das capacidades das crianças são reais. Assim sendo, não se pode subestimar ou superestimar
o aluno nas escolhas das atividades. Constatou-se também a importância do professor ser
hábil para flexibilizar as regras dos jogos musicais de acordo com as circunstâncias do
ambiente. E não se pode revestir as brincadeiras de caráter técnico em detrimento de uma
atividade alegre, prazerosa e lúdica.
Depreende-se também que as simulações das atividades musicais, em laboratórios
pedagógicos das universidades, não se comparam com a realidade concreta das salas de aulas
e dos alunos da educação básica. Porque nos experimentos ocorrentes ao longo desta
pesquisa, por exemplo, tudo aconteceu com um número mínimo de dificuldades no ambiente
universitário, entretanto, na sala de aula com os alunos surgiram muitos impasses. Por isso
não se pode apoiar-se só nas experiências segregadas dos espaços acadêmicos, mas
principalmente na realidade concreta do aluno. A sala de aula com os alunos é o melhor
laboratório.

Considerações Finais

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Tendo em vista toda a exposição temática e o relato de experiência infere-se uma
relação coerente entre jogo, educação e desenvolvimento infantil, conforme as culturas
clássicas nos atestam. Através desta experiência vivida e relatada, pôde-se constatar as
contribuições que os jogos musicais podem dar ao desenvolvimento das crianças. Vale
observar que se numerosos resultados ocorreram só em duas aulas, há possibilidade de muitos
mais resultados ocorrerem onde os jogos musicais sejam constantemente propostos pelos
professores.
Mencionou-se no início, o receio que os educadores têm de realizar jogos musicais
nas classes. Entretanto este relato de experiência atesta que é possível operar com segurança
esse tipo de atividade, mediante o bom planejamento, habilidade para lidar com as variáveis
do ambiente pedagógico e muita reflexão pedagógica antes, durante e depois. Por isso os
educadores podem se sentir motivados e encorajados a lançar mão dessa metodologia de
ensino.
Portanto, jogos musicais é uma estratégia embasada nas culturas passadas e no atual
cenário de discussões sobre metodologias de ensino. Este trabalho não busca esgotar a
discussão sobre o tema, pois o assunto é um leque de outras vertentes que podem ser
especificadas e discutidas em futuros artigos. Ao contrário, convém abrir a discussão para
futuras pesquisas por partes de outros autores. A seguir indica-se as bases bibliográficas de
que se valeu este trabalho.

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Referências

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil. 2.ed. São Paulo: Peirópolis, 2003.

JESUS, Ana Cristina Alves de. Histórico dos jogos na educação. In: JESUS, Ana Cristina
Alves de. Como aplicar jogos e brincadeiras na educação infantil. Rio de Janeiro: Brasport,
2010. Cap. 1. p. 3-5.

JESUS, Ana Cristina Alves de. As diferentes formas do brincar. In: JESUS, Ana Cristina
Alves de. Como aplicar jogos e brincadeiras na educação infantil. Rio de Janeiro: Brasport,
2010. Cap. 1. p. 7-9.

MIRANDA, Paulo César Cardozo de. Jogos musicais: conhecimento, competências e


habilidades dos professores em atividades de sala de aula. Simpósio Brasileiro de Pós-
graduandos em Música, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.370-378, nov. 2010.

STORMS, Ger. 100 Jogos Musicais. Rio Tinto – Portugal, Asa, 1996.

TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. O jogo e os processos de aprendizagem e


desenvolvimento: aspectos cognitivos e afetivos. Educação em Revista, Marília, v. 7, n. 1/2,
p.1-16, 2006.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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