Os Melhores Contos de Fadas Cel - Joseph Jacobs
Os Melhores Contos de Fadas Cel - Joseph Jacobs
Os Melhores Contos de Fadas Cel - Joseph Jacobs
Os melhores contos de fadas celtas / curadoria de Marina Avila; prefácio de Alexander Meireles da Silva.
– São Caetano do Sul, SP: Wish, 2020. Vários autores. Vários tradutores. 1.Contos de fadas 2. Literatura
celta 3. Literatura inglesa 4. Antologia (Contos de fadas) I. Avila, Marina II. Silva, Alexander Meireles da
CDD 398.2 Índice para catálogo sistemático: 1. Contos de fadas 398.2 2. Literatura celta 891
Este livro possui direitos de tradução e projeto gráfico e não pode ser distribuído, de forma comercial ou
gratuita, ao todo ou parcialmente, sem a prévia autorização da editora.
Editora Wish
www.editorawish.com.br
São Caetano do Sul - SP - Brasil
Importante:
Esta edição digital não inclui as ilustrações presentes na versão física. A versão digital também não
inclui a noveleta A Princesa Leve, disponível em um e-book separado, por ser um conto extra especial
para a primeira edição impressa.
Sumário
Sumário
Prefácio
Os autores
Agradecimentos
Contos de fadas
A história de Deirdre
Filhos de Lir
O Lobo-Cinzento
O Rei do Deserto Negro
Lis Amarela
Tam Lim
A Floresta de Dooros
O caçador de focas e o sereiano
A Donzela do Mar
O Gigante Egoísta
A Tosa da Lã Encantada
O Dragão Relutante
O Gatinho Branco
A Dama da Fonte
O Cavalo Preto
Os animais gratos
As mulheres chifrudas
As três coroas
O violino de nove centavos
A caverna encantada
A visão de MacConglinney
Nuckelavee
Princesa Finola e o Anão
Oisin na Terra da Juventude
Prefácio
As origens celtas e seus personagens literários
Era uma vez, seres mágicos do oeste que, ao voltarem para casa
depois de uma partida de hurling com as fadas dos lagos,
descansaram por três dias e três noites na Floresta de Dooros.
Eles passavam os dias comendo e as noites dançando à luz da
lua, e dançaram tanto que gastaram os sapatos, e por uma
semana inteira depois disso, os leprechauns — sapateiros das
fadas — trabalharam dia e noite fazendo novos, e o bater, raspar
e martelar de seus martelinhos eram ouvidos em todas as cercas
vivas.
Os seres mágicos se banqueteavam com frutinhas
vermelhas que eram tão parecidas com as que nascem na
sorveira brava que, só de olhar, era possível confundir uma com
a outra; mas as frutas dos seres mágicos nascem apenas na
terra mágica, e são mais doces do que qualquer fruta que nasce
neste mundo, e se um idoso, grisalho e curvado, comesse uma
delas, passaria a ser jovem, ativo e forte de novo; e se uma
idosa, desgastada e enrugada, comesse uma delas, passaria a
ser jovem, vivaz e bela; e se uma moça que não fosse bonita
comesse uma delas, ela se tornaria mais linda do que uma flor
cheia de beleza.
Os seres mágicos guardavam suas frutinhas com o mesmo
cuidado de guardas escondendo ouro, e sempre que estavam
prestes a sair da terra mágica, tinham que prometer, na presença
do rei e da rainha, que não dariam nenhuma fruta a nenhum
homem mortal, nem permitiriam que uma delas caísse na terra,
pois se uma única fruta caísse na terra, uma árvore fina de
muitos galhos, carregada de frutos, surgiria de uma vez, e os
homens mortais poderiam comê-las.
Mas, por acaso, eles estavam na Floresta de Dooros e
continuaram comendo e dançando por muito tempo, e estavam
tão felizes por terem derrotado os seres mágicos do lago que um
ser muito pequeno, não muito maior do que meu dedo, perdeu a
cabeça e soltou uma frutinha na mata.
Quando o banquete terminou, os seres mágicos voltaram à
terra mágica, e estavam em casa há mais de uma semana
quando souberam do erro do amigo, e vamos contar como foi.
Um grande casamento estava prestes a acontecer, e a
rainha dos seres mágicos mandou seis de seus escudeiros à
Floresta de Dooros para pegar cinquenta borboletas com
manchas douradas nas asas roxas, e cinquenta brancas sem
manchas nem bolinhas, e cinquenta douradas, amarelas como a
prímula, para fazer um vestido para si, e cem brancas, sem
manchas nem bolinhas, para fazer vestidos para a noiva e as
madrinhas.
Quando os escudeiros chegaram perto da mata, ouviram a
música mais incrível, e o céu acima deles se tornou muito escuro,
como se uma nuvem tivesse encoberto o sol. Eles olharam para
cima e viram que a nuvem era formada por abelhas que,
reunidas, voavam em direção à mata e zuniam sem parar. Ao ver
isso, sentiram medo até virem as abelhas pousando em uma
árvore, e observando a árvore de perto, viram que estava coberta
com frutinhas mágicas.
As abelhas não viram os seres mágicos, por isso eles não
sentiram mais medo, e caçaram as borboletas até capturarem
toda a quantidade das muitas cores. Então, voltaram para a terra
mágica e contaram à rainha a respeito das abelhas e das frutas,
e a rainha contou ao rei.
O rei ficou muito bravo, e mandou seus escudeiros aos
quatro cantos da terra mágica para reunir todos os súditos à sua
frente, para que ele pudesse saber logo quem era o culpado.
Todos eles compareceram, exceto o pequeno que soltou a
frutinha, e claro que todo mundo disse que ele não tinha ido
porque estava com medo, e que devia ser o culpado.
Os mensageiros saíram todos à sua procura e, depois de um
tempo, eles o encontraram escondido em uma samambaia e o
levaram ao rei.
O pobre rapaz estava tão assustado que a princípio mal
conseguia falar mas, depois de um tempo, disse que só sentiu
falta da frutinha quando chegou à terra mágica, e que sentiu
medo de dizer algo às pessoas sobre o ocorrido.
O rei, que não queria saber de desculpas, sentenciou que o
culpado deveria ser levado para a terra dos gigantes, que ficava
além das montanhas, e ali ficar para sempre, a menos que
conseguisse encontrar um gigante disposto a ir para a Floresta
de Dooros e guardar a árvore mágica. Quando o rei determinou a
sentença, todo mundo ficou triste, porque o réu era muito querido
por todos. Nenhum harpista com sua harpa, nenhum flautista
com sua flauta, nenhum violinista com seu violino conseguia
tocar tão bem quanto ele tocava uma folha; e quando eles se
lembravam de todas as noites de luar agradáveis nas quais
tinham dançado ao ritmo de sua música, acharam que nunca
mais a ouviriam nem dançariam mais, e seus coraçõezinhos
foram tomados por pesar. A rainha estava tão triste quanto
qualquer um de seus súditos, mas a palavra do rei tinha que ser
obedecida.
Quando chegou o momento de o rapaz partir para o exílio, a
rainha mandou seu principal mensageiro com ele com um
punhado de frutinhas. Ela disse que ele deveria oferecê-las ao
gigante, e dizer ao mesmo tempo que o gigante que estivesse
disposto a proteger a árvore poderia se esbaldar com as frutinhas
doces desde a manhã até a noite.
Quando o serzinho seguiu seu caminho, quase todos os
seres mágicos o seguiram até as fronteiras da terra, e quando
eles o viram subir a montanha em direção à terra dos gigantes,
todos tiraram as capas vermelhas e as chacoalharam até ele
desaparecer de vista.
Ele seguiu caminhando dia e noite, e, quando o sol nasceu
numa manhã, ele estava no topo da montanha, e podia ver a
terra dos gigantes no vale que se estendia bem à sua frente.
Antes de começar a descer, ele se virou para olhar para a terra
mágica uma última vez; mas não conseguiu ver nada, pois uma
nuvem pesada e escura tampava a vista. Ele estava muito triste,
cansado e com os pés doloridos e, conforme descia pela encosta
acidentada, não conseguia parar de pensar na mata verdejante e
nos caminhos da linda terra que tinha deixado para trás.
Quando acordou, o chão estava tremendo, e seus ouvidos
captaram um barulho parecido com trovão. Ele olhou para cima e
viu, partindo em sua direção, um gigante assustador, com um
olho que ardia como brasa no meio da testa, a boca arreganhada
de orelha a orelha, os dentes compridos e tortos, a pele do rosto
escura como a noite, e os braços e peito cobertos com pelos
pretos arrepiados; enrolado em seu corpo, havia uma liga de
ferro, e pendendo dela, com uma corrente, havia um porrete com
pontas de ferro. Com um golpe do porrete, ele conseguia quebrar
uma rocha em pedaços, e o fogo não podia queimá-lo, e a água
não podia afogá-lo e armas não podiam feri-lo, e não havia como
matá-lo, exceto se o acertassem com três golpes de seu próprio
porrete. E ele era tão mal-humorado que os outros gigantes o
chamavam de Sharvan, o Ranzinza. Quando o gigante viu a capa
vermelha do ser mágico, deu um grito parecido com um trovão. O
pobre rapazinho tremia da cabeça aos pés.
— O que o trouxe aqui? — perguntou o gigante.
— Por favor, sr. Gigante — disse o ser mágico —, o rei dos
seres mágicos me baniu para cá, e aqui devo ficar para sempre,
a menos que o senhor vá guardar a árvore dos seres mágicos na
Floresta de Dooros.
— A menos que o quê? — vociferou o gigante, e deu um
chute no ser mágico, fazendo-o rolar para longe e cair de cabeça
para baixo.
O serzinho ficou deitado como se estivesse morto, e então o
gigante, sentindo pena pelo que tinha feito, o segurou
delicadamente entre o indicador e o polegar.
— Não tema, homenzinho — disse ele. — Agora, conte-me
tudo sobre a árvore.
— É a árvore dos frutos mágicos que cresce na Floresta de
Dooros — disse o serzinho —, e trouxe alguns deles comigo.
— Ah, sim? — disse o gigante. — Quero vê-los.
O serzinho pegou três frutos do bolso de seu casaquinho
verde e os entregou ao gigante.
O gigante olhou para eles por um segundo. Então, ele
engoliu os três juntos, e depois de fazer isso sentiu-se tão feliz
que começou a gritar e dançar de alegria.
— Mais, seu ladrãozinho! — disse ele. — Mais, seu… qual é
seu nome? — perguntou o gigante.
— Pinkeen, a seu dispor, sr. Gigante — disse o serzinho
enquanto entregava os frutos.
O gigante gritou mais alto do que antes, e seus gritos foram
ouvidos por todos os outros, que partiram correndo na direção
dele.
Quando Sharvan os viu chegar, ele pegou Pinkeen e o
colocou dentro do bolso, para que não o vissem.
— Por que você está gritando? — perguntaram os gigantes.
— Porque — disse Sharvan — aquela pedra ali caiu no meu
dedão.
— Seu grito não parecia o grito de um homem ferido —
disseram eles.
— Como você pode saber o jeito com que gritei? —
perguntou ele.
— É preciso dar uma resposta civilizada para uma pergunta
civilizada — disseram eles —, mas, claro, você sempre foi
Sharvan, o Rabugento. — E eles se foram.
Quando os gigantes desapareceram, Sharvan tirou Pinkeen
de sua carteira.
— Mais umas frutas, seu ladrãozinho… ou melhor, pequeno
Pinkeen — disse ele.
— Não tenho mais — disse Pinkeen —, mas, se você for
guardar a árvore na Floresta de Dooros, pode se esbaldar com
elas até a noite.
— Vou guardar toda árvore na floresta, se precisar — disse o
gigante.
— Você vai ter que guardar uma só — disse Pinkeen.
— Como devo chegar a ela? — perguntou Sharvan.
— Primeiro você deve ir comigo em direção à terra mágica
— disse o serzinho.
— Muito bem — concordou Sharvan —, vamos. — E ele
pegou o serzinho e o colocou dentro de sua carteira, e em pouco
tempo eles estavam no topo da montanha. Então, o gigante
olhou ao redor em direção à terra dos gigantes; mas uma nuvem
escura a escondia, enquanto o sol brilhava no vale à frente dele,
e ele conseguia ver, a distância, as matas e as águas cristalinas
da terra mágica.
Não demorou para ele chegar às fronteiras, mas, quando
tentou atravessá-las, seus pés se prenderam no chão e ele não
conseguiu dar nem um passo. Sharvan deu três gritos que foram
ouvidos em toda a terra mágica, e fizeram as árvores nas matas
tremerem, como se o vento de uma tempestade os estivesse
atingindo.
— Ah, por favor, sr. Gigante, deixe-me sair — disse Pinkeen.
Sharvan pegou o serzinho e, assim que viu que estava nas
fronteiras da terra mágica, o pequeno correu o mais rápido que
suas pernas conseguiram, e antes que pudesse se afastar
demais, encontrou todos os seres encantados que, ao ouvirem
os gritos do gigante, desceram das samambaias para ver o que
estava acontecendo. Pinkeen disse a eles que aquele gigante iria
guardar a árvore, e os gritos eram porque ele estava preso nas
fronteiras, e eles não precisavam temê-lo.
Os seres mágicos estavam tão felizes por terem Pinkeen de
volta, que eles o carregaram em seus ombros e o levaram ao
palácio do rei, e todos os harpistas, flautistas e violinistas
marcharam à sua frente, tocando a música mais alegre que se
pôde ouvir. O rei e a rainha estavam no gramado na frente do
palácio quando a procissão alegre se aproximou e parou diante
deles. Os olhos da rainha brilharam de prazer ao ver o pequeno
preferido, e o rei também ficou feliz, mas parecia muito sério ao
dizer:
— Por que você voltou, sirrah?
Então Pinkeen disse à vossa majestade que trouxera
consigo um gigante disposto a guardar a árvore mágica.
— E quem ele é e onde ele está? — perguntou o rei.
— Os outros gigantes o chamavam de Sharvan, o
Rabugento — disse Pinkeen —, e ele está preso fora das
fronteiras da terra mágica.
— Está tudo bem — disse o rei —, você está perdoado.
Quando os seres mágicos ouviram isso, jogaram suas
touquinhas vermelhas no ar, e aplaudiram tão alto que uma
abelha que estava agarrada a um botão de rosa perdeu os
sentidos e caiu no chão.
Em seguida, o rei ordenou que um de seus servos buscasse
os frutos, fosse até Sharvan e mostrasse a ele o caminho para a
Floresta de Dooros. O servo, levando os frutos consigo, foi até
Sharvan, cujo rugido quase assustou o pobre coitado. Mas assim
que o gigante provou os frutos, ele ficou de bom humor e
perguntou ao mensageiro se este podia retirar o feitiço dele.
— Posso — disse o servo — e farei isso se prometer que
não vai tentar atravessar as fronteiras da terra mágica.
— Prometo isso, do fundo do coração — disse o gigante. —
Mas vamos, meu rapaz, pois minhas pernas estão doendo.
O mensageiro arrancou uma prímula e puxando os cinco
botõezinhos vermelhos do vaso, ergueu um ao norte, um ao sul,
um ao leste e um ao oeste, e um para o céu, e o feitiço foi
quebrado, e os membros do gigante se libertaram. Então,
Sharvan e o mensageiro mágico partiram para a Floresta de
Dooros, e não demorou muito para que vissem a árvore mágica.
Quando Sharvan viu os frutos brilhando ao sol, gritou tão alto e
tão forte que o vento soprou o serzinho de volta para a terra
mágica. Mas ele teve que voltar à mata para contar ao gigante
que ele tinha que ficar o dia todo ao pé da árvore pronto para
batalhar com quem quisesse roubar os frutos, e que durante a
noite ele teria que dormir entre os galhos.
— Tudo bem — disse o gigante, que mal conseguia falar, já
que estava com a boca cheia de frutos.
Bem, a fama da árvore mágica se espalhou muito, e todos
os dias chegava um aventureiro para tentar levar embora alguns
dos frutos; mas o gigante, como prometeu, estava sempre alerta,
e nem um dia se passava sem que ele lutasse e matasse um
invasor ousado, e o gigante nunca foi ferido, porque o fogo não o
queimava, nem a água o afundava, nem arma alguma o feria.
Agora, naquele momento, Sharvan estava alerta, guardando
a árvore, e um rei cruel reinava nas terras que davam para o sol
nascente. Ele havia assassinado o rei legítimo de maneiras
horrendas, e seus súditos, por amarem o soberano assassinado,
odiavam o usurpador; mas, por mais que o detestassem, eles o
temiam ainda mais, pois ele era corajoso e habilidoso, e estava
armado com capacete e escudo que nenhuma arma feita por
mãos mortais poderia atravessar, e sempre levava consigo duas
lanças que nunca erravam o alvo, e eram tão fatais que eram
chamadas de “as lanças da morte”.
O rei assassinado tinha dois filhos — um garoto, cujo nome
era Niall, e uma garota, que se chamava Rosaleen — ou melhor,
Rosinha; mas nenhuma rosa já desabrochou com metade da
beleza ou da doçura dela. Por mais cruel que o rei tirano fosse,
ele temia o povo e não matou as crianças. Mandou o garoto à
deriva no mar em um barco aberto, esperando que as ondas
engolissem a embarcação; e pediu para uma velha bruxa lançar
um feitiço de deformidade em Rosaleen, e, sob o feitiço, sua
beleza desapareceu, até, por fim, ela se tornar tão feia e
assustadora que quase ninguém falava com ela. E, rejeitada por
todos, ela passava os dias no celeiro com o gado, e todas as
noites ela chorava até dormir.
Um dia, quando ela estava se sentindo solitária, um pequeno
pintarroxo se aproximou para pegar as migalhas que tinham
caído aos pés dela. Ele parecia tão dócil que ela lhe ofereceu o
pão na palma da mão, e quando ele aceitou, ela chorou de
alegria por descobrir que havia um ser vivo que não a rejeitava.
Depois disso, o pintarroxo a visitava todos os dias, e ele cantava
com tanta doçura que quase se esqueceu de sua solidão e
tristeza. Mas, certa vez, enquanto o pintarroxo estava com ela, a
filha do rei tirano, que era muito bonita, passou com suas damas
de companhia e, ao ver Rosaleen, a princesa disse:
— Ah, ali está aquela coisa horrorosa.
As damas riram e disseram nunca ter visto nada tão horrível.
A pobre Rosaleen sentiu como se seu coração fosse
explodir, e quando a princesa e as damas de companhia estavam
longe, ela quase morreu de tanto chorar. Quando o pintarroxo a
viu chorando, pousou em seu ombro e encostou a cabeça em
seu pescoço, e cantou baixinho, e Rosaleen se sentiu consolada,
pois sentia que pelo menos tinha encontrado um amigo no
mundo, apesar de ser um pequeno pintarroxo. Mas o pintarroxo
podia fazer mais por ela do que ela seria capaz de imaginar. Ele
escutou o comentário feito pela princesa, e viu as lágrimas de
Rosaleen, e agora ele sabia por que ela era rejeitada por todos, e
por que era tão infeliz. E naquela noite, ele voou para a Floresta
de Dooros, chamou um primo e contou tudo sobre Rosaleen para
ele.
— E você quer um pouco dos frutos mágicos, acredito —
disse o primo, Robin da Floresta.
— Quero — disse o pequeno amigo de Rosaleen.
— Ah — disse Robin da Floresta —, as coisas mudaram
desde que você esteve aqui pela última vez. A árvore agora é
guardada dia e noite por um gigante ranzinza. Ele dorme nos
galhos durante a noite, e respira nos galhos e entre os galhos
toda manhã, e sua respiração é veneno para aves e abelhas. Só
há uma chance possível, e se você tentar, pode lhe custar sua
vida.
— Então, me diga o que é, pois eu daria cem vidas por
Rosaleen — disse o pintarroxo.
— Bem — disse Robin da Floresta —, todos os dias, um
guerreiro vem lutar com o gigante, e o gigante, antes de começar
a luta, coloca um galho de frutos no cinto de ferro ao redor de
sua cintura, para que, ao se sentir cansado ou sedento, possa se
refrescar, e existe uma pequena chance, enquanto ele está
lutando, de pegar um dos frutos do galho; mas se ele respirar em
cima de você, a morte é certa.
— Vou correr o risco — disse o pintarroxo de Rosaleen.
— Muito bem — falou o outro. E os dois pássaros voaram
pela mata até aparecerem perto da árvore mágica. O gigante
estava deitado, esticado aos pés dela, comendo os frutos; mas
não demorou muito para um guerreiro aparecer e desafiá-lo à
batalha. O gigante ficou de pé e, enfiando um galho da árvore em
seu cinto, balançando a barra de ferro acima da cabeça, seguiu
em direção ao guerreiro, e a luta começou. O pintarroxo pousou
em uma árvore atrás do gigante, observando e esperando sua
chance, mas demorou muito, porque os frutos estavam na parte
da frente do cinto do gigante. Por fim, o gigante, com um golpe
muito forte, derrubou o guerreiro, mas, ao fazer isso, tropeçou e
caiu em cima dele, e antes que tivesse tempo de se recuperar, o
pintarroxo partiu na direção dele como um raio e pegou um dos
frutos, e então, o mais rápido que as asas conseguiram carregá-
lo, voou em direção à casa e, no caminho passou por uma tropa
de guerreiros em cavalos brancos como neve. Todos os
cavaleiros, exceto um deles, usavam capacetes prateados e
mantos brilhantes de seda verde, presos por broches de ouro
vermelho, mas o líder deles, que seguia à frente da tropa, usava
um capacete dourado, e seu manto era de seda amarela, e ele
parecia, de longe, ser o mais nobre deles. Quando o pintarroxo
deixou os cavaleiros muito para trás, ele espiou Rosaleen
sentada do lado de fora do palácio, lamentando seu destino.
O pintarroxo pousou em seu ombro, e quase antes que ela
percebesse que ele estava ali, ele colocou o fruto entre seus
lábios, e o gosto era tão delicioso que Rosaleen comeu de uma
vez, e naquele momento o feitiço da bruxa passou, e ela se
tornou adorável, uma flor de formosura. Naquele momento, os
guerreiros nos cavalos brancos como neve se aproximaram, e o
líder, com o manto de seda amarela e o capacete dourado, saltou
do cavalo e se ajoelhou à sua frente, dizendo:
— Mais linda de todas as moças, certamente a senhorita é a
filha do rei destas paragens, apesar de estar fora dos portões do
palácio, sem uma corte, sem roupas da realeza. Sou o Príncipe
dos Vales Ensolarados.
— Sou filha de um rei, sim — disse Rosaleen —, mas não do
rei que governa estas paragens.
E, dizendo isso, ela correu, deixando o príncipe se
perguntando quem ela podia ser. O príncipe, então, mandou os
tocadores de trombeta avisarem sobre sua presença do lado de
fora do palácio, e em poucos instantes o rei e todos os nobres
foram cumprimentar o príncipe e seus guerreiros, dar a eles as
boas-vindas. Naquela noite, um grande banquete foi organizado
no salão, e o Príncipe dos Vales Ensolarados se sentou ao lado
do rei, e ao lado do príncipe sentou-se a bela filha do rei, e então,
na ordem certa, sentaram-se os nobres da corte e os guerreiros
que tinham chegado com o príncipe e, na parede atrás de cada
nobre e guerreiro, seu escudo e seu capacete estavam
pendurados, iluminando a sala. Durante o banquete, o príncipe
falou de modo gracioso com a adorável moça ao seu lado, mas,
durante todo o tempo, ele pensava na bela desconhecida que
tinha visto do lado de fora do palácio, e seu coração desejava vê-
la de novo.
Quando o banquete terminou, e os copos enfeitados com
joias foram distribuídos pela mesa, os pássaros cantaram felizes,
acompanhados por harpas, o “Cortejo à Lady Eimer”, e enquanto
eles viam sua beleza radiante ofuscando a de suas damas, o
príncipe pensou que, por mais bela que Lady Eimer fosse, havia
alguém ainda mais bela.
Quando o banquete terminou, o rei perguntou ao príncipe o
que o levava àquelas paragens.
— Venho — disse o príncipe — à procura de uma noiva, pois
me foi dito, em minha terra, que apenas aqui eu encontraria a
moça que está destinada a dividir meu trono, e seu reino é
famoso por ser o local onde moram as moças mais adoráveis do
mundo todo, e eu acredito muito nisso — acrescentou o príncipe
— depois do que vi hoje.
Quando a filha do rei ouviu isso, ela abaixou a cabeça e
corou como uma rosa, pois, claro, pensou que o príncipe se
referia apenas a ela, pois não sabia que ele tinha visto Rosaleen,
e ela não tinha ouvido falar sobre a recuperação de sua beleza.
Antes que outra palavra pudesse ser dita, um grande barulho
e o bater de espadas foram ouvidos do lado de fora do palácio. O
rei e seus convidados se levantaram de onde estavam e
empunharam a espada, e os bardos deram início à canção da
batalha; mas suas vozes foram abafadas e as harpas silenciadas
quando viram um guerreiro na entrada do salão , e em seu rosto
eles reconheceram os traços do rei assassinado.
— Tis Niall voltou para assumir o trono de seu pai! — disse o
bardo líder. — Vida longa a Niall!
— Vida longa a Niall! — responderam os outros.
O rei, pálido de ira e surpresa, virou-se para os líderes e
nobres de sua corte e gritou:
— Não há nenhum homem leal o suficiente para mandar
embora esse invasor de nosso banquete?
Mas ninguém se mexeu, nenhuma resposta foi dada. Então,
o rei avançou sozinho, mas antes que pudesse chegar ao ponto
em que Niall estava de pé, foi segurado por uma dezena de
homens e desarmado de uma só vez.
Durante essa cena, a filha do rei tinha fugido assustada; mas
Rosaleen, atraída pelo barulho, e ouvindo o nome do irmão e os
gritos dados, entrara no salão sem ser notada por ninguém. Mas
quando sua presença foi descoberta, todos os olhos ficaram
encantados com sua beleza. Niall olhou para ela por um
momento, tentando entender se a senhorita radiante diante dele
poderia ser sua irmã de quem ele tinha sido separado muitos
anos antes. No segundo seguinte, ela estava nos braços dele.
Então, o banquete foi servido de novo, e Niall contou a
história de suas aventuras; e quando o Príncipe do Vale
Ensolarado pediu a mão de Rosaleen, Niall pediu para a adorável
moça decidir por si mesma. Com olhos tímidos e sorridente, ela
disse “sim”, e aquele foi o dia mais feliz e iluminado que já
aconteceu, e Rosaleen se tornou a noiva do príncipe.
Em sua felicidade, ela não se esqueceu do pequeno
pintarroxo, que foi seu amigo na tristeza. Ela o levou para casa
consigo, em Vales Ensolarados, e todos os dias ela o alimentou
com suas mãos, e todos os dias ela cantava as músicas mais
doces que já tinham sido ouvidas por uma moça.
O caçador de focas e o sereiano
Elizabeth W. Grierson
Era uma vez um homem que morava não muito longe da casa de
John o’ Groat25, que, como todos sabem, fica no extremo norte
da Escócia. Ele vivia numa pequena choupana à beira-mar e
ganhava a vida caçando focas e vendendo suas peles, que são
muito valiosas.
Conseguia um bom dinheiro assim, pois essas criaturas
costumavam vir do mar em grande número e deitar-se nas
rochas perto da casa dele, aquecendo-se à luz do sol, de modo
que não era difícil se esgueirar por trás delas e matá-las.
Algumas dessas focas eram maiores que outras, e as
pessoas do campo costumavam chamá-las de Roane e sussurrar
que não eram focas, mas sereianos e sereias que vinham de um
país próprio, bem no fundo do mar, e adotavam esse estranho
disfarce para poder atravessar a água e subir para respirar o ar
da nossa terra.
Mas o caçador só ria das histórias e dizia que compensava
muito matar aquelas focas, pois suas peles eram tão grandes
que ele ganhava pagamento extra por elas.
Acontece que, um dia, quando exercia sua profissão, ele
atingiu uma foca com sua faca de caça e, se o golpe foi certeiro o
bastante, não sei dizer, mas, com um grito alto de dor, a criatura
escorregou da rocha para o mar e desapareceu debaixo d’água,
levando a faca consigo.
O caçador de focas, muito irritado com sua falta de jeito e
também com a perda da faca, foi para casa jantar num estado de
espírito muito abatido. No caminho, encontrou um cavaleiro tão
alto, de aparência tão estranha e montado num cavalo tão
gigantesco, que parou e olhou para ele, assombrado, imaginando
quem era e de que país vinha.
O estranho parou também, perguntou-lhe qual era sua
ocupação e, ao ouvir que era caçador de focas, imediatamente
encomendou um grande número de peles. O caçador ficou
encantado, pois aquela encomenda significava uma enorme
quantia para ele. Mas foi tomado pelo desânimo quando o
cavaleiro acrescentou que era absolutamente necessário que as
peles fossem entregues naquela noite.
— Não consigo fazer isso — disse ele num tom
decepcionado —, pois as focas só voltarão às rochas amanhã de
manhã.
— Posso levá-lo a um lugar onde há inúmeras focas —
respondeu o estranho —, se você montar na garupa do meu
cavalo e vier comigo.
O caçador de focas concordou e montou atrás do cavaleiro,
que balançou as rédeas, e o grande cavalo galopou num ritmo tal
que ele teve muita dificuldade para continuar sentado.
Adiante seguiram, voando como o vento, até chegarem
finalmente à beira de um imenso precipício, cuja face descia até
o mar. Aqui, o cavaleiro misterioso deteve o cavalo com um
puxão.
— Agora, desça — disse ele simplesmente.
O caçador de focas fez o que ele pediu e, quando se viu
seguro no chão, espiou com cuidado além da beira do penhasco,
para ver se havia alguma foca nas rochas lá embaixo.
Para sua surpresa, não viu rochas, só o mar azul, que
chegava até o pé do penhasco.
— Onde estão as focas de que você falou? — perguntou ele
ansioso, desejando nunca ter saído numa aventura tão
precipitada.
— Logo você verá — respondeu o estranho, que estava
cuidando das rédeas do cavalo.
Agora o caçador de focas estava completamente apavorado,
pois tinha certeza de que algum mal estava prestes a se abater
sobre ele, e, num lugar tão ermo, sabia que seria inútil gritar por
socorro.
E parecia que seus medos se revelariam verdadeiros
demais; no momento seguinte, a mão do estranho pousou no seu
ombro e ele sentiu que era jogado com vigor além do penhasco,
e caiu com estardalhaço no mar.
Pensou que sua última hora havia chegado e imaginou como
alguém poderia cometer um ato tão injusto contra um homem
inocente.
Mas, para seu espanto, descobriu que devia ter passado por
alguma transformação, pois, em vez de se afogar na água,
conseguia respirar com facilidade, e ele e seu companheiro, que
ainda estava bem ao seu lado, pareciam estar afundando tão
rapidamente no mar como se voassem pelos ares.
Mais e mais fundo eles foram, ninguém sabe até que ponto,
até finalmente chegarem a uma enorme porta em arco, que
parecia ser feita de coral rosa, cravejada de conchas de
berbigão. Ela se abriu por conta própria e, ao entrar, eles se
viram num enorme salão, cujas paredes eram formadas por
madrepérola, e o piso, por areia do mar, macia, firme e amarela.
O salão estava cheio de ocupantes, mas eram focas, não
homens, e, quando o caçador se voltou ao companheiro para
perguntar o que tudo aquilo significava, ficou horrorizado ao
descobrir que ele também assumira a forma de uma foca. Ficou
ainda mais horrorizado quando se avistou num grande espelho
pendurado na parede e viu que também não exibia mais a
aparência de um homem, mas fora transformado numa bela foca
marrom e peluda.
— Ah, ai de mim — disse consigo —, sem que eu tivesse
culpa, esse estranho ardiloso lançou-me um feitiço funesto, e
nesta forma terrível ficarei pelo resto da minha vida.
No começo, nenhuma das enormes criaturas falou com ele.
Qualquer que fosse a razão, pareciam estar muito tristes e se
deslocavam brandamente pelo salão, conversando aos
murmúrios e lamentos, ou deitavam-se tristonhas no chão
arenoso, enxugando grandes lágrimas dos olhos com as
barbatanas macias e felpudas.
Mas logo começaram a notá-lo, a sussurrar umas para as
outras, e seu guia se afastou dele e desapareceu por uma porta
no final do salão. Quando voltou, trazia uma faca enorme na
mão.
— Já a viste? — perguntou ele, oferecendo-a para o infeliz
caçador de focas, que, para seu horror, reconheceu a própria
faca de caça, com a qual atingira a foca de manhã e que fora
levada pelo animal ferido.
Ao vê-la, ele caiu de bruços e implorou por misericórdia, pois
chegou na mesma hora à conclusão de que os habitantes da
caverna, enfurecidos com o mal causado ao seu camarada,
haviam, de algum modo mágico, conseguido capturá-lo e levá-lo
à sua morada subterrânea, a fim de se vingar dele, matando-o.
Mas, em vez disso, as focas o rodearam, esfregando os
narizes macios no pelo dele para demonstrar compaixão, e
imploraram que ele não ficasse consternado, pois nenhum mal
lhe aconteceria, e elas o amariam por toda a vida se ao menos
fizesse o que lhe pediam.
— Dizei-me o que é — pediu o caçador de focas —, e eu o
farei, se estiver ao meu alcance.
— Vem comigo — respondeu seu guia, e abriu caminho até
a porta pela qual havia passado quando fora buscar a faca.
O caçador de focas o seguiu. E lá, numa sala menor,
encontrou uma grande foca marrom deitada num leito de algas
marinhas rosa-pálidas, com uma ferida aberta no lado do corpo.
— Este é o meu pai — disse o guia —, a quem feriste hoje
pela manhã, pensando que ele fosse uma das focas comuns que
vivem no mar, em vez de um sereiano capaz de falar e entender,
assim como vocês, mortais. Eu te trouxe aqui para curar as
feridas dele, pois nenhuma outra mão que não a tua pode fazer
isso.
— Não tenho habilidade na arte de curar — disse o caçador
de focas, admirado com a clemência daquelas estranhas
criaturas a quem ele havia inconscientemente injustiçado —, mas
vou enfaixar a ferida da melhor maneira possível, e só posso
lamentar que tenham sido minhas mãos a causá-la.
Ele foi até o leito e, curvando-se sobre o sereiano ferido,
lavou e enfaixou a ferida como pôde; e o toque de suas mãos
pareceu funcionar como mágica, pois, assim que terminou, a
ferida pareceu se fechar e secar, deixando apenas a cicatriz, e a
velha foca se levantou, plenamente recuperada.
Então houve grande alegria em todo o Palácio das Focas.
Elas riram, conversaram e se abraçaram à sua maneira estranha,
amontoando-se em volta do camarada e esfregando o nariz no
dele, como se para mostrar o quanto estavam felizes com sua
recuperação.
Mas tudo isso aconteceu enquanto o caçador de focas ficava
sozinho num canto, com a mente tomada por pensamentos
sombrios, pois, ainda que agora entendesse que não tinham
intenção de matá-lo, ele não gostava da ideia de passar o resto
da vida na forma de uma foca, a muitas braças de profundidade
no oceano.
Naquele momento, porém, para sua grande alegria, o guia
se aproximou dele e disse:
— Agora estás livre para voltar para casa, para tua esposa e
filhos. Vou levar-te até eles, mas apenas com uma condição.
— E qual é? — perguntou o caçador de focas, ansioso e
enlevado com a ideia de voltar em segurança ao mundo superior
e à sua família.
— Que faças um juramento solene de nunca mais ferir uma
foca.
— Farei isso de bom grado — respondeu ele, pois, embora a
promessa significasse abrir mão de seu sustento, ele sentia que,
se ao menos recuperasse sua forma correta, sempre poderia se
voltar para outra ocupação.
Por isso, fez o juramento exigido com toda a solenidade,
erguendo a barbatana enquanto jurava, e todas as outras focas o
rodearam como testemunhas. E um suspiro de alívio percorreu
os salões quando as palavras foram ditas, pois ele era o caçador
de focas mais famoso do norte.
Então, disse adeus aos estranhos companheiros e,
acompanhado por seu guia, passou mais uma vez pelas portas
de coral, subiu, subiu e subiu pela água verde e sombria, até
começar a ficar cada vez mais leve, e por fim emergiram à luz do
sol.
Com um salto, chegaram ao topo do penhasco, onde o
grande cavalo preto os esperava, mordiscando em silêncio a
relva verde.
Quando deixaram a água, seu estranho disfarce sumiu, e
agora estavam como antes, um simples caçador de focas e um
cavaleiro alto e bem vestido com traje de montaria.
— Monta atrás de mim — disse o último enquanto montava
na sela. O caçador de focas fez o que ele pediu, segurando com
firmeza o casaco do companheiro, pois se lembrava de ter quase
caído na jornada anterior.
Então, tudo aconteceu como acontecera antes. O cavaleiro
balançou as rédeas e o cavalo saiu a galope, e não demorou
muito para que o caçador de focas se visse de pé diante do
portão do seu jardim.
Levantou o braço para acenar, mas, quando o fez, o
estranho pegou um enorme saco de ouro e o colocou na sua
mão.
— Cumpriste a tua parte da barganha; devemos cumprir a
nossa — disse ele. —Os homens jamais dirão que tiramos o
trabalho de um homem honesto sem compensá-lo por isso, e
aqui está o que sustentará teu conforto até o fim da tua vida.
Ele então desapareceu e, quando o assombrado caçador de
focas levou o saco para dentro de sua choupana e despejou o
ouro na mesa, descobriu que o estranho dissera a verdade e que
ele seria rico pelo resto de seus dias.
A Donzela do Mar
Joseph Jacobs e J. F. Campbell
Dia após dia, o rei tinha ouvido os relatos incoerentes que o povo
da montanha e o povo do vale traziam. Vendo o medo que
espreitava por trás dos olhos arregalados das pessoas, os do rei
se estreitaram ao pensar em como esse pânico que havia se
apoderado de seus súditos poderia ser minorado. Não duvidava
que houvesse, na verdade, um motivo grave para todo aquele
padecimento mental. Ouvira com eles o balido das ovelhas
fantasmas ecoando dos picos altos e longínquos das montanhas
e, olhando da porta de seu dún real, vira os rebanhos brancos
como a neve andando para lá e para cá pela relva, onde o povo
das montanhas morava nas cavernas envoltas na névoa. Seus
druidas buscaram o conhecimento das estrelas em vigílias
noturnas e voltaram com o rosto assombrado para revelar a
inutilidade de suas pesquisas.
— Não cabe a nós sondar, ó rei, os desígnios dos imortais. A
mão de Manannan-Mac-Lir26 está visível no céu, e esses são
seus rebanhos encantados, que só muito raramente aparecem
diante dos olhos dos homens no decorrer das eras. Se é para o
bem ou para o mal que ele os mostra para nós agora, não
sabemos, mas é imprudência interferir nas manifestações dos
deuses.
— Ai! Minha gente definha diante dos meus olhos — disse o
rei —, e os doentes gemem em seus leitos enquanto o medo
pálido abala seus corações. Não há nada a fazer para apaziguar
a ira do Deus do Mar? Ou vós conseguis descobrir se a ira dele é
contra nós?
— Voltaremos à nossa vigília, ó monarca, e ao amanhecer
vos traremos qualquer notícia que nos seja entregue —
responderam humildemente os druidas, retirando-se da presença
real; estavam cansados das longas vigílias noturnas, mas
ansiosos para desvendar o mistério da temível aparição que
causara tanta angústia ao povo de Sorcha.
O rei, pensativo, olhou para a multidão ajoelhada,
demorando-se mais nos montanheses hirsutos, com seus trajes
bárbaros de pele e couro curtido. Os cabelos e barbas desse
povo cresciam numa profusão selvagem; no cabo das suas
lanças de caça havia vestígios de sangue seco. Começaram a
falar depressa, usando palavras rudes e levantando as mãos
numa súplica.
— O que foi que vistes e o que temeis? — falou-lhes o rei
num tom tranquilizador.
O clamor da resposta veio como o rugido de um rio
caudaloso:
— Ouvimos perto de nossas casas, ao anoitecer, nos
recantos secretos das colinas, ó rei, o balido de um grande
rebanho de ovelhas e, quando seguimos para onde ele levava,
fomos pegos em nuvens de névoa, de modo que muitos de nós,
escorregando de trilhas estreitas, caíram e se despedaçaram nas
rochas lá em baixo. O balido e um som de passos ainda vinham
da névoa até nossos ouvidos, como se houvesse uma multidão
atrás de nós, e, quando esticamos os braços, a névoa se abriu e
subiu como enormes flocos de neve. Agora, o som ecoa em
todas as montanhas. Nossa gente está paralisada de horror e
não se atreve a caçar os animais selvagens que lhe servem de
comida. Nossos rebanhos fugiram para o vale, assim como nós,
aterrorizados. A fome nos assola e a doença se apoderou de
nossas mulheres e crianças. E os demnaeoir, os demônios do ar,
gritam no vento ao nosso redor, e os geinte glindi, o povo
selvagem dos vales, seguem nossos passos por toda parte, até
não sabermos para onde ir, e, por puro horror, pedimos aos
deuses que nos deem a morte.
— E nós — contaram os moradores do vale — também
vivemos à sombra desse grande medo, ó rei, pois nossos olhos
estão sempre voltados para as montanhas, enquanto nossos
campos ficam sem cultivo e nosso trabalho por terminar, tamanha
é a cruel fascinação que nos toma. O lamento da bean-sidhe27 se
faz ouvir de um lado a outro do vale, afugentando nosso sono à
noite, e os cães se encolhem, trêmulos e arrepiados, quando
nossas mulheres os expulsam do canto da lareira para a luz do
dia.
O rei gemeu, cansado, balançando-se de um lado para o
outro no trono dourado. Seu coração se comovia até pelo mais
humilde dos súditos, e seu governo sábio mantivera a paz na
terra por muitos anos. Esse desastre não fora causado por ele,
tampouco algum daqueles rostos arrasados pelo medo o
encarava com os olhos da culpa.
— Quando o próximo dia raiar — disse-lhes num tom terno
—, subirei até o alto daquelas montanhas convosco, meus filhos,
e, se os deuses forem gentis, talvez Manannan-Mac-Lir me
conceda uma audiência. Além disso, meus druidas farão
oferendas de expiação: ouro, prata e pedras preciosas, e ainda
holocaustos do gado dos meus pastos, para que essa maldição
abandone a mim e aos meus.
Beijando a bainha do manto real, os súditos deixaram o
salão de audiências, silenciados pela tristeza na voz do rei.
O território de Sorcha ficava numa longa cadeia de
montanhas que o protegia a leste, norte e oeste, mas se inclinava
rumo ao sul, onde o mar chegava a uma praia de areia branca ao
abrigo de grandes falésias. Ali, a casa real postava-se como
sentinela. De sua atalaia, via-se o vasto horizonte, de modo que
nenhuma frota de navios hostis podia se aproximar da terra sem
que alguém a avistasse, nem um único estranho conseguiria
atravessar a fronteira mais distante sem que os capitães do
exército soubessem, tão atenta e minuciosa era a segurança do
território contra invasões estrangeiras. Foi por meio desse zelo
extremado para com seu povo e suas terras que o Rei Feredach
passou a ser conhecido como O Generoso, e a fama universal
coroou seu nome de glórias.
Agora, sua alma adoecia no íntimo ao ver as aflições
toldarem seu reino. Ainda estava sentado, depois que o último
requerente deixou o salão, meditando sobre o pânico inexplicável
que prometia transformar seu país belo e fértil num deserto de
solidão e penúria. Quando ele se inclinou para a frente, a barba
grisalha cobrindo o peito e os olhos vítreos voltados para baixo,
um estranho entrou pela porta ampla, cruzou o salão coberto de
juncos e curvou-se numa saudação diante dele.
— Salve, ó Rei Feredach! — disse ele. — Eu gostaria de
falar contigo.
O rei ergueu o olhar e viu um homem com um traje
belíssimo, colorido como a pele cambiante de uma serpente
marinha. Ao redor da cintura, uma serpente dourada se enrolava
como cinto, enquanto um manto verde, com os tons reluzentes e
inconstantes do mar à luz da lua, cobria seus ombros e arrastava
no chão. Seus cabelos eram de um dourado avermelhado e
lustroso, e sobre eles havia uma coroa prodigiosa de algas, ainda
cintilando com a umidade salgada das profundezas. Seu rosto
era jovem, bonito e acolhedor, com olhos claros, de movimentos
ágeis. Era mais alto que qualquer homem em Sorcha e trazia na
mão um par de imensas tesouras de tosquia, afiadas e
brilhantes.
— Quem és tu? — perguntou Feredach. — E como passaste
por meus guardas lá embaixo? Ninguém vem à minha presença
sem que eles o anunciem.
— Nenhum de teus guardas me viu, ó rei, pois esconderam
o rosto do sol e seus ouvidos ficaram surdos aos meus passos.
Vim de longe para tirar do teu povo o pânico que se abateu sobre
ele.
— Qual é o teu nome?
— Meu nome é apenas o de um andarilho, ó rei; um viajante
do mar, vendedor de sedas maravilhosas e curiosidades de
muitas terras. Onde quer que se possa encontrar uma raridade,
para lá irei; e, tendo ouvido falar de como teu reino está aflito
com os sinais da inimizade dos deuses, eu, que não conheço o
medo, vim encontrar o rebanho encantado e tosquiar sua lã para
que o sofrimento se acabe.
— Será a tua morte — disse o rei —, pois ninguém o
consegue encontrar.
— Mas eu descobrirei onde o rebanho se esconde —
respondeu o estrangeiro do mar — e tu permanecerás aqui no
teu trono até eu voltar.
Ao comando daquela voz, o rei ficou sentado, imóvel, e os
guardas diante do salão de audiências não pareceram ver nem
ouvir nada.
Enquanto o rei esperava, sentado ereto como uma estátua
de pedra, a manhã deu lugar ao meio-dia e a tarde dirigiu-se
devagar aos braços do pôr do sol. Então, quando os vastos
portais do Ocidente se abriram para a passagem do Deus do Dia,
o estrangeiro voltou a entrar no salão do palácio ao esplendor da
luz minguante. Nos braços ele trazia, numa pilha alta e branca, a
lã mais fina e sedosa que já se vira em Sorcha, tão macia, tão
longo seu comprimento e tão alva a cor.
Ele deixou os tosões diante do rei.
— A praga afastou-se do teu povo, ó Feredach; os balidos
dos rebanhos não o molestarão mais. Os teus vales hão de
verdejar outra vez e os javalis voltarão às tuas montanhas.
Quanto a mim, vou à Terra de Eirinn, aos teares dos Dé-
Danaans28, no âmago de uma colina isolada, para tecer uma
capa invisível com estes tosões para meu filho adotivo, o jovem
Campeão de Uladh, Cuchulainn29. Tal capa o protegerá das
feridas na batalha e das doenças na paz, e nada terá poder
sobre ela senão o povo do mar. Esta lã foi tosquiada das Ovelhas
de Manannan, que vagam invisíveis por muitas montanhas do
mundo; diante dos olhos dos homens, sua aparição é
acompanhada por grandes desastres, mas não pela inimizade
dos deuses. Despeço-me de ti, ó rei; minha tarefa está
terminada.
— Fica, ó sábio estrangeiro! — exclamou Feredach,
agarrando a capa verde-mar, mas sua mão se fechou no ar vazio
e, em vez de passos, ouviu-se apenas um murmúrio leve e
plácido como o das ondas quebrando numa praia de seixos.
— Era Manannan-Mac-Lir em pessoa — disseram os
druidas, pálidos de espanto. — Era a Divindade das Águas, pois,
quando olhamos da atalaia, vimos uma onda longa, estreita e
branca subir a costa até a porta de vosso dún, ó rei, e na crista
da onda subia e descia uma carruagem prateada, com quatro
cavalos brancos de patas velozes atrelados a ela, e na
carruagem vinha ele carregando os tosões, e, enquanto
forçávamos a vista, a onda branca quebrou no oceano com uma
grande quantidade de espuma avermelhada quando o Sol
atravessava os Portões de Ouro.
— Louvados sejam os Deuses! — disse Feredach.
— Louvados sejam. E vós também, ó rei! — entoaram os
druidas.
O Dragão Relutante
Kenneth Grahame
Era uma vez um rei que teve três filhos. Quando o soberano
morreu, os filhos mais velhos não deram nem sombra da herança
para o caçula, a não ser um garrano velho, branco e manco.
— Se não ganho nada além disso — disse ele —, parece
que é melhor aceitá-lo.
Foi andando com ele diante de si, ora a pé, ora cavalgando-
o. Quando já havia cavalgado por um bom tempo, pensou que o
garrano precisaria comer um pouco, por isso apeou à terra, e o
que viu surgir do oeste em direção a ele, senão um cavaleiro a
cavalgar imponente e muitíssimo bem?
— Saudações, meu rapaz — disse ele.
— Salve, filho do rei — respondeu o outro.
— Quais são as novas? — perguntou o filho do rei.
— Ganhei isto — respondeu o rapaz que chegava. — Venho,
depois de partir meu coração, montado neste cavalo que mais
parece um asno; mas você trocaria o garrano branco e manco
por ele?
— Não — disse o príncipe —, seria mau negócio para mim.
— Não precisa temer — disse o homem que chegava. —
Digo apenas que ele pode ser mais útil a você do que a mim. Ele
tem um valor: não há um único lugar em que você possa pensar
nos quatro cantos da roda do mundo aonde o cavalo preto não
possa levá-lo.
Então o filho do rei ficou com o cavalo preto e deu o garrano
branco e manco.
Quando montou, onde poderia pensar em estar, senão no
Reino Sob as Ondas? Ele foi e, antes de o sol nascer no dia
seguinte, estava lá. O que encontrou ao chegar, senão o filho do
Rei do Reino Sob as Ondas, que convocara a corte? O povo do
reino se reuniu para ver se havia alguém que se incumbisse de
buscar a filha do Rei dos Gregos32 para ser a esposa do príncipe.
Ninguém se ofereceu, e quem deveria se apresentar senão o
cavaleiro do cavalo preto?
— Você, cavaleiro do cavalo preto — disse o príncipe —, eu
o ponho sob cruzes e feitiços para que traga a filha do Rei dos
Gregos aqui antes de o sol nascer amanhã.
Ele saiu, pegou o cavalo preto, apoiou o cotovelo na crina
dele e soltou um suspiro.
— O suspiro do filho de um rei sob feitiços! — disse o
cavalo. — Mas não se aflija: faremos a tarefa que foi posta diante
de você.
E assim partiram.
— Agora — disse o cavalo —, quando nos aproximarmos da
grande cidade dos gregos, você notará que as quatro patas de
um cavalo nunca estiveram na cidade. A filha do rei me verá do
alto do castelo, olhando pela janela, e não ficará contente se não
der uma volta montada em mim. Diga que ela pode fazer isso,
mas o cavalo não aceitará outro homem senão você cavalgando
nele à frente de uma mulher.
Aproximaram-se da grande cidade, e ele mostrou sua
habilidade de equitação. A princesa estava olhando pela janela e
notou o cavalo; a equitação a agradou, e ela saiu exatamente na
hora em que o cavalo chegou.
— Deixe-me dar uma volta no cavalo — disse ela.
— Pode fazer isso — respondeu ele —, mas o cavalo não
permitirá que ninguém além de mim monte nele à frente de uma
mulher.
— Tenho meu próprio cavaleiro — disse a princesa.
— Se é assim, ponha-o na frente — respondeu ele.
Antes mesmo que o cavaleiro montasse, quando tentou se
levantar, o cavalo ergueu as patas e deu-lhe um coice.
— Venha você, então, e monte à minha frente — disse ela.
— Não vou deixar de cavalgar.
O rapaz montou o cavalo, a princesa foi atrás dele e, antes
que ela se desse conta, estava mais perto do céu que da terra.
Ele estava no Reino Sob as Ondas com ela antes de o sol
nascer.
— Você veio — disse o Príncipe do Reino Sob as Ondas.
— Eu vim — respondeu ele.
— Muito bem, meu herói — disse o príncipe. — Você é filho
de um rei, mas eu sou filho do sucesso. De todo modo, agora
não teremos demora nem descuido, e sim casamento.
— Vá com calma — disse a princesa. — Seu casamento não
será tão rápido quanto imagina. Até eu pegar o cálice de prata
que minha avó usou em seu casamento, e que minha mãe usou
também, não me casarei, pois preciso usá-lo em meu próprio
casamento.
— Você, cavaleiro do cavalo preto — disse o Príncipe do
Reino Sob as Ondas —, eu o ponho sob feitiços e cruzes, a
menos que a taça de prata esteja aqui antes de o sol nascer
amanhã.
Ele saiu, pegou o cavalo preto, apoiou o cotovelo na crina
dele e soltou um suspiro.
— O suspiro do filho de um rei sob feitiços! — disse o
cavalo. — Monte e conseguirá o cálice de prata. O povo do reino
está reunido em torno do rei esta noite, pois ele sente falta da
filha, e, quando você chegar ao palácio, entre e me deixe de fora;
a taça estará com eles, circulando de mão em mão. Entre e
sente-se no meio deles. Não diga nada e aja como uma das
pessoas do lugar. Mas, quando o copo chegar até você,
esconda-o embaixo do seu braço, saia e traga-o até mim, e
partiremos.
Lá foram eles, e chegaram à Grécia, e ele entrou no palácio
e fez o que o cavalo preto dizia. Pegou o cálice, saiu e montou, e
antes de o sol nascer estava no Reino Sob as Ondas.
— Você veio — disse o Príncipe do Reino Sob as Ondas.
— Eu vim — respondeu ele.
— É melhor nos casarmos agora — disse o príncipe à
princesa grega.
— Sem pressa nem afobação — disse ela. — Não me
casarei até receber o anel de prata que minha avó e minha mãe
usaram quando se casaram.
— Você, cavaleiro do cavalo preto — disse o Príncipe do
Reino Sob as Ondas —, cuide disso. Teremos esse anel aqui
amanhã ao nascer do sol.
O rapaz foi até o cavalo preto, apoiou o cotovelo na crina
dele e contou o caso.
— Nunca houve diante de mim problema mais difícil do que
esse que agora está à minha frente — disse o cavalo —, mas
não há como evitá-lo. Monte em mim. Há uma montanha de
neve, uma montanha de gelo e uma montanha de fogo entre nós
e a conquista desse anel. Será bem difícil ultrapassá-las.
Assim, partiram como sempre e, a cerca de um quilômetro e
meio da montanha de neve, estavam enfraquecidos de tanto frio.
Ao se aproximarem, ele bateu no cavalo preto e, com o salto que
deu, o cavalo foi parar no alto da montanha de neve; no salto
seguinte, estava no alto da montanha de gelo; no terceiro salto,
atravessou a montanha de fogo. Depois de passar pelas
montanhas, o rapaz ficou agarrado ao pescoço do cavalo, como
se estivesse prestes a cair. Ele foi em frente até uma cidade lá
embaixo.
— Desça — disse o cavalo preto — e vá até uma ferraria;
faça um cravo de ferro para cada ponta de osso em mim.
Ele desceu como o cavalo queria, mandou fazer os cravos e
com eles voltou.
— Espete-os em mim — disse o cavalo —, todos os cravos
em todas as pontas de osso que eu tiver.
Assim ele fez; espetou os cravos no cavalo.
— Há um lago aqui — disse o cavalo — com seis
quilômetros de comprimento e seis de largura, e, quando eu
entrar na água, o lago pegará fogo e arderá. Se você vir o Lago
de Fogo se apagar antes de o sol nascer, espere por mim; se
não, siga seu caminho.
Lá se foi o cavalo preto para o lago, e o lago se tornou fogo.
Por muito tempo ele andou em torno do lago, batendo as palmas
das mãos e rugindo. O dia chegou e o lago não se apagou.
Mas, na hora em que o sol estava surgindo da água, o lago
se apagou.
E o cavalo preto se ergueu no meio da água com um único
cravo no corpo, e o anel na ponta dele.
Ele chegou à margem e desabou ao lado do lago.
Então veio o cavaleiro. Pegou o anel e arrastou o cavalo até
a encosta de uma colina. Abaixou-se para protegê-lo, com os
braços em volta dele, e, à medida que o sol se erguia, ele ficava
cada vez melhor, até o meio-dia, quando se levantou.
— Monte — disse o cavalo —, e vamos embora.
Ele montou no cavalo preto e os dois partiram.
Alcançou as montanhas, fez o cavalo pular na montanha do
fogo e chegou ao topo. Da montanha de fogo ele saltou para a
montanha de gelo, e da montanha de gelo para a montanha de
neve. Deixou as montanhas para trás e pela manhã estava no
reino no fundo do mar.
— Você veio — disse o príncipe.
— Eu vim — respondeu ele.
— É verdade — disse o Príncipe do Reino Sob as Ondas. —
O filho de um rei é você, mas o filho do sucesso sou eu. Não
teremos mais erros e atrasos, mas um casamento desta vez.
— Vá devagar — disse a Princesa dos Gregos. — Seu
casamento ainda não está tão próximo quanto você pensa. Até
que construa um castelo, não me casarei com você. Nem no
castelo de seu pai nem no de sua mãe hei de morar; faça para
mim um castelo ao qual o castelo de seu pai não se equipare.
— Você, cavaleiro do cavalo preto, faça isso — disse o
Príncipe do Reino Sob as Ondas — antes do próximo nascer do
sol.
O rapaz foi até o cavalo, apoiou o cotovelo no pescoço dele
e suspirou, pensando que aquele castelo nunca poderia ser feito.
— Nunca houve uma curva no meu caminho mais fácil de
passar do que essa — disse o cavalo preto.
Mal olhou à sua volta e o rapaz viu tudo o que se passava,
tantos artífices e tantos pedreiros trabalhando que o castelo
estava pronto antes do nascer do sol.
Ele chamou o Príncipe do Reino Sob as Ondas e este viu o
castelo. Tentou arrancar um dos olhos, imaginando ter uma visão
falsa.
— Filho do Rei do Reino Sob as Ondas — disse o cavaleiro
do cavalo preto —, não pense que essa é uma falsa visão; a
visão é verdadeira.
— É verdade — respondeu o príncipe. — Você é filho do
sucesso, mas eu também sou. Agora não haverá mais erros nem
atrasos, e sim um casamento.
— Não — disse ela. — É chegada a hora. Não devemos ir
ver o castelo? Há tempo suficiente para o casamento antes de a
noite chegar.
Foram até o castelo, e o castelo não tinha nenhum senão.
— Eu vejo um senão — disse o príncipe. — Pelo menos um
defeito a ser corrigido. Um poço a ser feito lá dentro, para que
não se precise ir muito longe buscar água quando houver um
banquete ou casamento no castelo.
— Isso não há de demorar — disse o cavaleiro do cavalo
preto.
O poço foi feito, e tinha sete braças de profundidade e duas
ou três de largura. Eles o viram a caminho do casamento.
— Está muito bem-feito — disse ela —, a não ser por um
pequeno defeito acolá.
— Onde está? — perguntou o Príncipe do Reino Sob as
Ondas.
— Ali — respondeu ela.
Ele se inclinou para olhar. Ela deu um passo atrás, pôs as
duas mãos nas costas dele e o atirou dentro do poço.
— Queda-te aí — mandou ela. — Se vou me casar, não será
contigo. O homem que empreendeu cada façanha concluída, se
ele desejar, é com quem me casarei.
E lá se foi a princesa com o cavaleiro do cavalinho preto
para o casamento.
E ao final de três anos depois disso, ele se lembrou pela
primeira vez do cavalo preto e de onde o deixou.
Levantou-se e saiu, e lamentou muito sua negligência para
com o cavalo preto. Ele o encontrou exatamente onde o havia
deixado.
— Boa sorte para você, cavalheiro — disse o cavalo. —
Parece que encontrou uma coisa de que gosta mais do que de
mim.
— Não encontrei, nem encontrarei, mas me aconteceu de
esquecê-lo — disse ele.
— Não me importo — disse o cavalo —, não fará diferença.
Levante sua espada e corte minha cabeça.
— A sorte não permitirá que eu faça uma coisa dessas —
respondeu ele.
— Faça isso agora mesmo, ou serei eu a cortar sua cabeça
— insistiu o cavalo.
Então o rapaz desembainhou a espada e cortou a cabeça do
cavalo; depois, ergueu as mãos e soltou um grito doloroso.
E o que ouviu atrás de si?
— Saudações, meu cunhado.
Olhou para trás e lá estava o homem mais belo no qual já
pusera os olhos.
— O que o fez chorar pelo cavalo preto? — perguntou ele.
— É que neste mundo nunca nasceu, nem de homem nem
de animal, uma criatura que eu apreciasse mais — disse o
jovem.
— Você me aceitaria no lugar dele? — perguntou o estranho.
— Se eu pudesse pensar que você é o cavalo, aceitaria;
mas, se não, preferiria o cavalo.
— Pois eu sou o cavalo preto — disse o homem. — Se não
fosse, como você poderia ter conseguido todas as coisas que
saiu a procurar na casa de meu pai? Desde que fui enfeitiçado, a
muitos homens acorri antes de você me encontrar. Diziam todos
as mesmas palavras: não podiam ficar comigo, nem cuidar de
mim, e nunca ficaram comigo por mais que um dia. Mas, quando
nos encontramos, você esteve comigo até o tempo se esgotar e
os feitiços chegarem ao fim. E agora deve ir para casa comigo, e
faremos um casamento na casa de meu pai!
Os animais gratos
Patrick Kennedy
Era uma vez um rei que tinha três filhas. As duas mais velhas
eram muito orgulhosas e brigavam muito, mas a mais jovem era
tão boa quanto as outras eram más. Bem, três príncipes foram
cortejá-las, e dois deles eram exatamente como as moças mais
velhas, e um deles era tão adorável quanto a mais jovem. Um
dia, todos desciam em direção a um lago que ficava no fim do
gramado quando viram um mendigo. O rei não quis dar nada a
ele, e as princesas mais velhas também não, nem seus
namorados; mas a filha mais jovem e seu verdadeiro amor lhe
deram algo, juntamente com palavras gentis, que foram o melhor
de tudo.
Quando chegaram à beira do lago, encontraram o mais lindo
barco que já tinham visto na vida; e a mais velha disse:
— Vou navegar nesse lindo barco.
E a do meio disse:
— Vou navegar nesse lindo barco.
E a mais jovem disse:
— Não vou navegar nesse lindo barco, pois temo que seja
encantado.
Mas as outras a convenceram a entrar, e o pai delas estava
quase entrando quando um homenzinho de apenas vinte
centímetros de altura apareceu na proa e exigiu que o rei se
afastasse. Bem, todos os homens levaram a mão às suas
espadas; e, como se as espadas fossem de brinquedo, eles não
as conseguiram empunhar, pois estavam sem força nenhuma
nos braços. O tampinha soltou a corrente de prata que prendia o
barco e empurrou. Depois de sorrir para os quatro homens, disse
a eles:
— Despeçam-se de suas filhas e de suas noivas por ora.
Você — disse ele apontando o mais jovem — não tema, pois vai
rever sua princesa no momento certo, e vocês serão felizes, isso
é certo. Pessoas más, ainda que rolassem nuas em cima do
ouro, não seriam ricas. Adeus.
Eles partiram, e as moças estenderam as mãos, mas não
conseguiram dizer nada.
Bem, eles não podiam atravessar o lago, assim como um
gato não lambe as próprias orelhas, e os pobres homens não
conseguiram se mexer para segui-las. Eles viram o tampinha tirar
as três princesas do barco e descê-las dentro de um cesto por
um poço, mas o rei e as princesas nunca tinham visto aquilo
naquele ponto. Quando a última moça desapareceu de vista, os
homens voltaram a ter força nos braços e nas pernas de novo.
Eles correram ao redor do lago, e não pararam enquanto não
chegaram ao poço e à manivela; e havia a corda enrolada no
eixo, e o belo cesto branco pendurado nela.
— Deixe-me descer — disse o príncipe mais jovem. — Morro
se for preciso para recuperá-las.
— Não — disse o namorado da segunda filha. — É minha
vez.
E o terceiro disse:
— Sou o mais velho.
Então, eles abriram caminho para ele. O príncipe entrou no
cesto e foi descido. Primeiro, eles o perderam de vista, em
seguida, depois de descer cem nós da corda de seda, ela se
esticou e a manivela parou de girar. Eles esperaram por duas
horas, e então foram jantar, porque ninguém deu um puxão na
corda.
Os guardas ficaram de prontidão até a manhã seguinte, e
então o segundo príncipe desceu e, como se esperava, o mais
jovem deles entrou no terceiro dia. Ele desceu por nós e mais
nós da corda, cercado por uma escuridão que fazia parecer que
estava dentro de uma panela grande com tampa. Por fim, ele viu
um brilho distante, e em pouco tempo caiu no chão. Ele saiu do
grande forno de calcinação e imaginem só! Havia uma mata e
campos verdejantes, e um castelo em um gramado, e céu azul
acima de tudo.
— Estou em Tír na nÓg34 — disse ele. — Vamos ver que tipo
de pessoas há no castelo. — Ele seguiu caminhando,
atravessando campos e gramados, e não havia ninguém ali para
mantê-lo fora ou deixá-lo entrar no castelo, mas a grande porta
do corredor estava escancarada. Ele foi de um belo cômodo a
outro ainda mais belo, e por fim, chegou ao mais belo de todos,
com uma mesa no meio. E havia um belo jantar sobre ela! O
príncipe estava com muita fome, mas era educado demais para
comer sem ser convidado. Por isso, ele se sentou ao lado da
lareira, e não demorou muito para ouvir passos, e o tampinha
entrou de mãos dadas com a irmã mais nova. Bem, príncipe e
princesa se abraçaram na hora, e o homenzinho disse:
— Por que você não está comendo?
— Eu acho, senhor — disse o príncipe —, que seria sinal de
boa educação esperar ser convidado.
— Os outros príncipes não acharam a mesma coisa — disse
ele. — Cada um deles comeu sem se preocupar, e apenas me
disseram palavras rudes quando eu disse que não tinham sido
convidados. Bem, acho que eles não estão com muita fome
agora. Ali estão eles, mármore em vez de carne e osso — disse
ele, apontando duas estátuas, uma em cada canto da sala. O
príncipe ficou assustado, mas sentiu medo de dizer alguma
coisa, e o tampinha fez com que ele se sentasse para jantar
entre ele e sua noiva; e ele estaria feliz como o dia é claro, não
fossem os homens transformados em pedra no canto. Bem,
aquele dia passou, e quando o dia seguinte chegou, o tampinha
disse a ele:
— Agora, você vai ter que ir por ali — e apontou para o sol
—, e vai encontrar a segunda princesa em um castelo do gigante
esta noite, quando estiver bem cansado e faminto, e a princesa
mais velha amanhã à noite; e pode trazê-las aqui com você. Não
precisa pedir licença, e quando elas chegarem em casa, talvez
olhem para as pessoas pobres como pessoas de carne e osso,
assim como elas.
O príncipe se foi, e sim! Estava cansado e faminto quando
chegou ao primeiro castelo, ao pôr do sol. Ah, como a segunda
princesa ficou feliz ao vê-lo! E ela preparou um bom jantar para
ele. Mas ela ouviu o gigante ao portão e escondeu o príncipe em
um armário. Bem, quando ele entrou, cheirou e cheirou, e disse:
— Minha nossa! Sinto cheiro de carne fresca!
— Ah — disse a princesa —, é só o bezerro que matei hoje.
— Ai, ai — disse ele —, o jantar está pronto?
— Está — disse ela. E antes que ela se levantasse da mesa,
ele comeu três quartos de um bezerro e tomou um jarro de vinho.
— Ainda sinto cheiro de carne fresca — disse ele, quando
terminou de comer.
— Você está com sono, não é? Vá se deitar — disse ela.
— Quando você vai se casar comigo? — perguntou o
gigante. — Está postergando há muito tempo.
— Na noite do dia de São Nunca – disse ela.
— Gostaria de saber quanto tempo falta até lá — disse ele, e
adormeceu com a cabeça dentro do prato.
No dia seguinte, ele saiu depois do café da manhã, e ela
mandou o príncipe ao castelo onde estava a irmã mais velha. A
mesma coisa aconteceu lá; mas, quando o gigante estava
roncando, a princesa acordou o príncipe, e eles selaram dois
garanhões nos estábulos e foram ao campo montados neles.
Mas os cascos dos cavalos bateram nas pedras do lado de fora
do portão, e o gigante despertou e os perseguiu. Ele vociferou e
gritou, e quanto mais gritava, mais depressa os cavalos se
afastavam, e quando o dia estava raiando, ele estava a apenas
sessenta metros. Mas o príncipe não foi embora do castelo do
tampinha sem oferecer algo de bom. Ele montou no garanhão, e
prendeu no ombro uma faca afiada, e subiu por uma mata
fechada com o gigante. Eles sentiram o vento que soprava à
frente deles, e o vento que soprava atrás deles não os alcançou.
Por fim, chegaram perto do castelo onde a outra irmã vivia; e ali
estava ela, esperando por eles embaixo de um arbusto alto,
montada em um belo cavalo.
Mas o gigante agora já estava à vista, vociferando como
uma centena de leões, e o outro gigante apareceu em um
momento, e a perseguição continuou. A cada dois pulos que os
cavalos davam, os gigantes davam três, e por fim, estavam a
apenas duzentos metros de distância. Então, o príncipe parou de
novo, e lançou a segunda faca atrás de si. Desceu pelo campo
até encontrar uma pedreira entre eles, de quatrocentos metros de
profundidade, e o fundo cheio de água escura; e antes que os
gigantes pudessem contorná-la, o príncipe e as princesas
estavam dentro do reino do grande mágico, onde o arbusto alto e
espinhoso se abria para todos que ele permitia que entrassem.
As três irmãs ficaram felizes, até que as duas mais velhas viram
seus namorados transformados em pedra. Mas, enquanto
choravam por eles, o tampinha chegou e os tocou com sua
varinha. Então, eles voltaram a se tornar pessoas de carne e
osso e vida de novo, e eles se abraçaram e beijaram, e todos se
sentaram para tomar o café da manhã, com o tampinha à
cabeceira da mesa.
Quando o café da manhã terminou, ele os levou a outra sala,
onde não havia nada além de montes de ouro, prata e
diamantes, e também sedas e cetins; e sobre uma mesa havia
três conjuntos de coroas: uma coroa dourada estava dentro de
uma coroa de prata, que estava dentro de uma coroa de cobre.
Ele pegou um conjunto de coroas e o entregou à princesa mais
velha; e outro conjunto, deu à princesa do meio; e outro, deu à
mais nova de todas. E disse:
— Agora, todos vocês podem ir ao fundo do poço, e não
precisam fazer nada além de balançar o cesto, e as pessoas que
estiverem observando de cima os puxarão. Mas lembrem-se,
moças, vocês precisam proteger suas coroas, e se casar com
elas, todas no mesmo dia. Se vocês se casarem em dias
separados, ou sem as coroas, uma maldição virá… lembrem-se
do que estou dizendo.
Então, elas se despediram dele com muito respeito, e foram
de braços dados até o fundo do poço. Havia um céu e um sol
acima deles, e um grande muro, coberto com heras, à sua frente,
e era tão alto que eles não conseguiam ver o topo; e havia um
arco nesse muro, e o fundo do poço ficava dentro do arco. O
casal mais jovem foi por último; e a princesa disse ao príncipe:
— Tenho certeza de que os dois príncipes não querem o seu
bem. Mantenha as coroas sob sua capa, e se for obrigado a ficar
por último, não entre no cesto, mas coloque uma pedra grande,
ou qualquer coisa pesada dentro, para ver o que acontece.
Assim que eles entraram na caverna escura, eles colocaram
a princesa mais velha primeiro, remexeram o cesto, e ela subiu.
Então, o cesto voltou a descer, e a segunda princesa subiu, e
depois, a mais jovem subiu; mas, primeiro, ela abraçou o príncipe
e o beijou, e também chorou um pouco. Por fim, chegou a vez do
príncipe mais jovem, e em vez de entrar no cesto, ele colocou
uma pedra grande. Ele se encolheu em um lado e ficou ouvindo,
e depois que o cesto subiu cerca de sessenta metros, o cesto
desceu com a pedra como um trovão, e ela se despedaçou em
muitos pedaços.
Bem, o pobre príncipe não podia fazer nada além de
caminhar de volta ao castelo; e ao atravessá-lo e circundá-lo,
comeu e bebeu do melhor, e conseguiu uma cama na qual
dormir, e fez longas caminhadas por jardins e gramados, mas
não conseguiu ver nada, nadinha, do tampinha. Antes de uma
semana, ele ficou cansado, sentia muita saudade de seu
verdadeiro amor; e no fim de um mês, não sabia o que fazer.
Certa manhã, ele entrou na sala de tesouros e viu uma bela
caixa sobre a mesa que não se lembrava de ter visto antes. Ele a
pegou e abriu, e tampinha andou sobre a mesa.
— Eu acho, príncipe — disse ele —, que você está se
cansando do meu castelo.
— Ah! — disse o outro —, se eu tivesse minha princesa
comigo, e pudesse ver você de vez em quando, meus dias nunca
seriam ruins.
— Bem, você já está aqui há bastante tempo, e querem você
lá em cima. Mantenha as coroas de sua noiva em segurança e,
quando quiser minha ajuda, abra essa caixa. Agora, dê um
passeio pelo jardim e volte quando se cansar.
O príncipe estava descendo um caminho de cascalho com
sebes dos dois lados, e olhando para o chão, e pensando em
algumas coisas. Por fim, ele olhou para a frente, e estava do lado
de fora do portão de uma ferraria diante da qual ele passara
antes, cerca de dois quilômetros do palácio de sua princesa
prometida. As roupas que estava usando estavam muito puídas,
mas ele mantinha as coroas em segurança por baixo de sua
capa escura.
Então, o ferreiro saiu e disse:
— É uma pena que um homem forte e grande como você
seja preguiçoso, com tanto trabalho a fazer. Você tem habilidade
com martelo e pregos? Entre e ajude, e lhe darei casa e comida,
e algumas moedas quando merecê-las.
— Não precisa dizer de novo — disse o príncipe. — Não há
nada que eu queira mais do que me ocupar. — Então, ele pegou
o martelo e bateu na barra incandescente que o ferreiro estava
moldando para fazer um par de ferraduras.
Não fazia muito tempo que eles estavam trabalhando
quando o alfaiate entrou, e ele se sentou e começou a falar.
— Vocês todos souberam que as duas princesas se
recusaram a se casar enquanto a princesa mais jovem não
estivesse pronta com as coroas e seu amor. Mas depois que a
manivela se soltou por acidente quando eles estavam puxando
seu noivo, não houve mais sinal de um poço, nem de corda, nem
de manivela. Então, os príncipes que estavam namorando as
moças mais velhas não deram paz a suas namoradas nem ao rei
enquanto não conseguiram permissão para o casamento, que
deveria ocorrer esta manhã. Eu desci por curiosidade, e para me
deliciar com os lindos vestidos das duas noivas, e com as três
coroas que elas usavam — dourada, prateada e acobreada, uma
dentro da outra. A mais jovem estava ali perto, bem triste, e tudo
estava pronto. Os dois noivos chegaram orgulhosos e ótimos, e
estavam subindo até o altar quando as tábuas se abriram mais
de um metro sob seus pés e eles caíram entre os homens mortos
e os caixões nos buracos. Ah, os gritos das moças! E houve
muita correria, pressa e pessoas espiando! Mas o recepcionista
logo abriu a porta do alçapão e subiram os dois príncipes, com as
belas roupas cobertas com teias de aranha e bolor. Então, o rei
disse que eles deveriam adiar o casamento. ‘Pois’, disse ele, ‘eu
não vejo por que pensar nisso enquanto a mais nova não vier
com as três coroas se casar juntamente com as outras. Darei
minha filha mais nova como noiva de quem quer que traga três
coroas para mim como as outras; e se essa pessoa não quiser se
casar, alguma outra desejará, e eu farei isso por ela.’
— Gostaria de poder fazer isso — disse o ferreiro. — Mas eu
estava observando as coroas quando as princesas chegaram em
casa, e acho que não há um ferreiro na face da terra que possa
imitá-las.
— Coração fraco nunca conquistou moça de valor — disse o
príncipe. — Vá ao palácio e peça um quarto de meio quilo de
ouro, um quarto de meio quilo de prata e um quarto de meio quilo
de cobre. Pegue uma coroa como modelo, e minha cabeça como
apoio, e eu direi o que é preciso.
— Está falando sério? — perguntou o ferreiro.
— Creio que sim — disse ele. — Vá! Você não tem o que
perder.
Para resumir a história, o ferreiro conseguiu um quarto de
meio quilo de ouro, e o quarto de meio quilo de prata e o quarto
de meio quilo de cobre, e entregou tudo e um modelo de coroa
ao príncipe. Ele fechou a entrada da forja à noite, e os vizinhos
todos se reuniram no quintal e ouviram enquanto ele martelava,
martelava e martelava, desde aquele momento até o amanhecer;
e de vez em quando, ele lançava pela janela pedaços de ouro,
prata e cobre; e os ociosos corriam para pegá-los, e xingavam
uns aos outros, e torciam pela sorte do trabalhador.
Bem, quando o sol estava pensando em nascer, ele abriu a
porta e tirou de lá as três coroas que pegou com seu amor
verdadeiro, e foram ouvidos gritos e urros! O ferreiro pediu que
ele o acompanhasse ao palácio, mas ele se recusou; então, o
ferreiro partiu, e a cidade toda com ele; e como o rei ficou feliz
quando viu as coroas!
— Bem — disse ele ao ferreiro —, você é um homem
casado. O que deve ser feito?
— Acredite, majestade, eu não fiz as coroas. Foi um cara
grande que me ajudou ontem.
— Bem, filha, você se casará com o homem que fez essas
coroas?
— Deixe-me vê-las antes, pai — disse ela, mas, quando
examinou as coroas, ela as conhecia muito bem, e imaginou que
tinha sido seu verdadeiro amor quem as enviara. — Eu vou me
casar com o homem que mandou essas coroas — disse ela.
— Bem — disse o rei ao mais velho dos dois príncipes —, vá
à forja do ferreiro, leve minhas melhores carruagens e traga o
noivo para casa. — Ele não queria fazer isso, era muito
orgulhoso, mas não podia se recusar.
Ao chegar à forja, ele viu o príncipe de pé à porta e fez um
gesto para a carruagem.
— Você é o homem que fez essas coroas? — perguntou ele.
— Sim — disse o outro.
— Bem, então, talvez você queira se arrumar e entrar nesta
carruagem. O rei quer vê-lo. Sinto pena da princesa.
O jovem príncipe entrou na carruagem, e enquanto eles
seguiam, ele abriu a caixa e dali saiu o tampinha, que parou em
sua coxa.
— Bem — disse ele —, o que está acontecendo agora?
— Senhor — disse o outro —, por favor, permita que eu volte
à minha forja, e faça com que esta carruagem fique cheia de
paralelepípedos. — Assim que ele pediu, aconteceu. O príncipe
estava sentado em sua forja, e os cavalos não entenderam o que
estava acontecendo com a carruagem.
Quando chegaram ao pátio do palácio, o próprio rei abriu a
porta da carruagem, por respeito a seu novo genro. Assim que
virou a maçaneta, uma chuva de pedras pequenas caiu em sua
peruca grisalha e em seu casaco de seda, e ele caiu junto.
Houve medo generalizado e algumas risadas, e o rei, depois de
limpar o sangue da testa, olhou bravo para o príncipe mais velho.
— Meu senhor — disse ele —, sinto muito por esse acidente,
mas não tive culpa. Vi o jovem ferreiro entrar na carruagem e não
paramos nem um minuto desde então.
— Você foi mal-educado com ele. Vá — disse o rei ao outro
príncipe — e traga o jovem ferreiro aqui, e seja educado.
— Pode deixar — disse ele.
Mas algumas pessoas não conseguem ser boas nem
tentando, e o novo mensageiro não foi mais educado do que o
antigo, e quando o rei abriu a porta da carruagem pela segunda
vez, tomou um banho de lama.
— Não adianta ir por esse caminho — disse ele. — A raposa
nunca conseguiu um mensageiro melhor do que ela própria.
Então, ele trocou de roupa e se lavou, e partiu para a forja
do príncipe e pediu que ele se sentasse consigo. O príncipe
implorou para poder ir na outra carruagem e, quando eles
estavam no meio do caminho, ele abriu a caixa.
— Senhor — disse ele —, eu gostaria de estar vestido
apropriadamente agora.
— Você terá isso — disse o tampinha. — Agora, vou me
despedir. Continue sendo bom e gentil como sempre foi; ame sua
esposa, e é este o conselho que dou. — Então, o tampinha
desapareceu; e quando a porta da carruagem foi aberta no pátio,
o príncipe saiu muito bonito, e a primeira coisa que fez foi correr
até sua noiva e abraçá-la.
Todos ficaram muito felizes, menos os outros dois príncipes.
Não houve muito atraso nos casamentos, e todos foram
celebrados no mesmo dia. Em seguida, os dois casais mais
velhos foram para suas casas, mas o casal mais jovem ficou com
o velho rei, e eles foram felizes como não foi nenhum outro casal
que conhecemos das histórias.
O violino de nove centavos
Seosamh Mac Cathmhaoil
Andrew Lang
Andrew Lang foi um escritor escocês. Dono de vasta erudição,
tornou-se uma autoridade em literatura grega, francesa e inglesa,
folclore, antropologia, história escocesa, telepatia e em outros
campos. Realizou inúmeras pesquisas e publicou também alguns
livros de poesia. Foi autor e editor de uma das maiores coleções
de contos de fadas e histórias do mundo – junto com sua esposa,
Leonora Blanche Alleyne –, com 25 publicações entre 1889 e
1913, incluindo The Lilac Fairy Book (1910) compreendendo
contos irlandeses, escoceses e de outros países. No total, a
coleção contempla 798 contos e 153 poemas. É um dos maiores
compiladores de contos de fadas, disponibilizando o acesso
traduzido a histórias raras e selecionadas.
Douglas Hyde
Douglas Hyde, pseudônimo de An Craoibhín Aoibhinn, foi um
escritor, linguista e político irlandês, presidente da República da
Irlanda entre 1938 e 1945.
Kenneth Grahame
Kenneth Grahame foi um escritor escocês de ficção e fantasia
escritos para crianças. Seu principal trabalho é O Vento nos
Salgueiros (1908), um dos maiores clássicos da literatura infantil,
influenciando muitos outros autores. Morou a maior parte de sua
vida na Inglaterra.
Oscar Wilde
Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde, ou simplesmente Oscar
Wilde, foi um influente escritor, poeta e dramaturgo irlandês.
Depois de escrever de diferentes formas ao longo da década de
1880, tornou-se um dos dramaturgos mais populares de Londres,
em 1890. Hoje ele é lembrado por seus epigramas, peças e
livros, como O Retrato de Dorian Gray (1890) e O Fantasma de
Canterville (1887).
Lady Wilde
Mãe de Oscar Wilde, nascida Jane Francesca Agnes, Lady Wilde
foi uma poetisa irlandesa e apoiadora do movimento nacionalista.
Ajudou a compilar os contos populares irlandeses, que eram de
seu particular interesse.
George Macdonald
George MacDonald foi um escritor, poeta e ministro cristão
escocês. Suas obras foram uma inspiração para muitos autores
notáveis, como Lewis Carroll, C. S. Lewis, W. H. Auden, J. R. R.
Tolkien, Madeleine L’Engle, G. K. Chesterton e Mark Twain. Sua
obra mais conhecida é The Princess and the Goblin (A Princesa
e o Duende) de 1872, na qual a animação de 1994 foi baseada.
Edmund Leamy
Nascido em Munster, na Irlanda, Edmund Leamy foi jornalista,
advogado, político e autor de contos de fadas. Seus contos foram
reimpressos diversas vezes nos Estados Unidos e Irlanda.
Brian O’Looney
Nascido em Ennistymon, perto da costa oeste da Irlanda, Brian
O’Looney foi um proeminente poeta, editor e tradutor. Compilou
diversas coleções de poemas e contos de fadas.
Patrick Kennedy
Foi um importante folclorista e educador que virou vendedor de
livros, além de contribuir com vários artigos e resenhas como
escritor. Acabou se tornando mais conhecido como colecionador
de folclore e editor de contos irlandeses, principalmente de sua
cidade natal, County Wexford. Legendary Fictions of the Irish
Celts (1867) foi a obra mais importante de Kennedy, junto com
Fireside Stories of Ireland (1870), e Bardic Stories of Ireland
(1871). Foi um dos pioneiros a publicar materiais folclóricos da
Irlanda.
Anna MacManus
Anna foi uma jornalista, escritora e poeta irlandesa. Foi casada
com o folclorista Seumas MacManus, mas faleceu apenas um
ano após seu casamento. Suas obras incluem, entre outras, The
Four Winds of Eirinn (1902), The Passionate Hearts (1903) e In
the Celtic Past (1904). Utilizava o pseudônimo Ethna Carbery
para seus livros. Suas poesias foram publicadas pelo marido
após a morte de Anna, e se tornaram um grande sucesso
durante os anos seguintes. Ele também escreveu memórias
dedicadas a ela.
1 (JENKINS, 1994)
2 (SILVA, 2005, p. 92)
3 (O’NEILL, 2006, p. 42)
4 (MONAGHAN, 2004, p. V)
5 (O’NEILL, 2006, p. 42)
6 (SILVA, 2005, p. 20)
7 (JONES,, 2002, p. 110)
8 (Ó HÓGÁIN, 2002, p. 66)
9 (MONAGHAN, 2004, p. V)
10 (Ó HÓGÁIN, 2002, p. 63)
11 (SILVA, 2005, pp. 19-20)
12 (SILVA, 2010, p. 19)
13 (Apud MANTOVANI, 1974, p. 10)
14 (SILVA, 2019)
15 (ROSE, 1996, p. 108)
16 (ROSE, 1996, p. 108)
17 (SILVA, 2019)
18 (ZIPES, 2012, p. 23)
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São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1994.
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ZIPES, Jack. The Irresistible Fairy-Tale: The Cultural and Social History of a Genre.
Princeton: Princeton University Press, 2012.
FONTES EXTRAS RECOMENDADAS PARA PESQUISA
CHEVALIER, Jean, GHEERBRANT, Alain. “Fada”. In: CHEVALIER, Jean,
GHEERBRANT, Alain. (Eds.). Dicionário de símbolos. Trad: Vera da Costa e Silva, et
all. 11ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997, pp. 415-416.
MACK, Carol K., MACK, Dinah. A Field Guide to Demons, Fairies, Fallen Angels and
Other Subversive Spirits. New York: An Owl Book, 1999.
MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: Origens, história e permanência no mundo
moderno. São Paulo: Claridade, 2010.
ROSE, Carol. Giants, Monsters & Dragons: An Encyclopedia of Folklore. Legend and
Myth. New York: W. W. Norton Company, 2001.
SIMPSON, Jacqueline, ROUD, Steve. A Dictionary of English Folklore. Oxford: Oxford
University Press, 2000.
20 Do original irlandês Éirinn – uma espécie de nome afetuoso para a Irlanda. [N.E.]
21 Bebida feita de água quente, mel ou açúcar, suco de limão e uísque ou outra bebida
alcoólica forte, às vezes temperada com cravo e canela. [N. T.]
22 Pseudônimo do autor Douglas Hyde. Significa “o lindo raminho” em irlandês. [N. T.]
23 Raça de cavalo pequena, resistente e antiga. [N. T.]
24 Loch Lein, Loch Léin ou Lough Leane é o maior dos lagos de Killarney, no Condado
de Kerry, no sudoeste da Irlanda. [N. T.]
25 A cidade de John O’Groats (grafia correta) fica no extremo norte da Escócia. Na
época do rei Jaime IV (1488-1513), o holandês Jan de Groot teria construído uma casa
no lugar e operado a balsa que a ligava às Ilhas Orkney. [N. T.]
26 Deus irlandês do mar. [N. T.]
27 Bean sidhe (irlandês), ban sith (gaélico) ou banshee (inglês) é uma entidade
feminina cujo grito é um presságio de morte. [N. T.]
28 Referência aos Tuatha Dé Danaan, “povo da deusa Danu” em irlandês médio, povo
mágico que teria habitado a Irlanda. [N. T.]
29 Lendário herói irlandês. [N. T.]
30 Robinson Crusoé, personagem principal do romance homônimo de Daniel Defoe.
31 Aqui, o autor (desconhecido) não fala sobre a etnia do gigante, e sim sobre sua cor,
sendo referido mais tarde como “Black Master of the Beasts”. No período vitoriano,
época em que Lady Charlotte Guest traduziu este conto diretamente do gaélico, a
palavra usada para se referir à etnia ainda seria “negro” (lê-se nigro em inglês) e sua
escolha foi usar “black”. Em alguns casos, ainda no período vitoriano, a palavra “negro”
não era usada apenas para afrodescentes, mas também para indígenas.
Os celtas tiveram contato com a África a partir do século III a.C., agindo como apoio
para o Reino Ptolemaico no Egito. Portanto, os povos celtas possivelmente conheciam
a cultura africana, embora as civilizações tenham permanecido distantes. [N. E.]
32 Durante o século III a.C houve a invasão gaulesa dos Bálcãs, na qual os gauleses
(povos de idioma gaélico, nativos da atual Inglaterra e Escócia, previamente
conhecidos como celtas), invadiram a Grécia e territórios adjacentes. Pausânias, um
geógrafo grego, descreveu a terra de origem dos gauleses como a mais remota da
Europa, banhada por um grande mar que não era navegável nas suas extremidades,
com criaturas diferentes das criaturas dos outros mares. Baseando-se no fato de que
os barcos eram mais primitivos e o tempo necessário para a navegação era longo entre
as terras celtas e gregas, supõe-se que este conto, que se trata de reinos submarinos,
baseie-se nesta época e na troca de experiências e cultura entre os dois povos. [N. E.]
33 A Irmandade Feniana foi uma organização interessada em fazer da Irlanda uma
república democrática independente do Reino Unido no século XIX. O nome foi
inspirado pelo Fianna, grupo de guerreiros liderados pelo herói mítico Fionn mac
Cumhaill. [N. T.]
34 A Terra da Eterna Juventude é a mais popular dos Outros Mundos da mitologia
irlandesa. Foi onde os Tuatha Dé Danann, ou sídhe, se fixaram depois de abandonar a
superfície da Irlanda, e foi visitada por alguns dos maiores heróis irlandeses. Tír na
nÓg é similar a outras terras míticas irlandesas.
35 Leprechaun é uma figura folclórica irlandesa. [N. T.]
36 Barco antigo, pequeno e arredondado, com armação de vime ou ripas de madeira
coberta de couro, usado em partes das Ilhas Britânicas. [N. T.]
37 Um novelo de cordas de palha, geralmente com cerca de um metro de diâmetro [N.
T.]
38 Uma das diversas baladas irlandesas. Sua primeira aparição foi em The Ancient
Music of Ireland (1840), de Edward Bunting. [N. E.]
Table of Contents
Ficha catalográfica
Sumário
Prefácio
A história de Deirdre
Filhos de Lir
O Lobo-Cinzento
O Rei do Deserto Negro
Lis Amarela
Tam Lim
A Floresta de Dooros
O caçador de focas e o sereiano
A Donzela do Mar
O Gigante Egoísta
A Tosa da Lã Encantada
O Dragão Relutante
O Gatinho Branco
A Dama da Fonte
O Cavalo Preto
Os animais gratos
As mulheres chifrudas
As três coroas
O violino de nove centavos
A caverna encantada
A visão de Mac-Conglinney
Nuckelavee
Princesa Finola e o Anão
Oisin na Terra da Juventude
Os autores
Agradecimentos