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Gnosticismo

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O gnosticismo (do grego Γνωστικισμóς; romaniz.: gnostikismós; de Γνωσις, gnosis: 'gnose', e gnostikos:
'conhecedor, sábio'), é um conjunto de correntes filosófico-religiosas sincréticas oriundas da região do
mediterrâneo durante os séculos I e II d.C., alicerçado em interpretações de relatos bíblicos e apócrifos pelo
viés filosófico médio-platônico e de cultos de mistérios greco-romanos e orientais. Mesclara-se ao cristianismo
primitivo dos primeiros séculos desta era, e fora condenado como heresia após um período de prestígio entre
os intelectuais cristãos.[1]

Com base em interpretações heterodoxas e alternativas do pentateuco e doutros relatos da Escritura hebraica e
cristã, os gnósticos afirmam que o universo material (cosmo) foi criado por uma emanação imperfeita do Deus
supremo chamada demiurgo, para prender a centelha divina (espírito) no corpo humano. Esta centelha divina
poderia, então, ser liberta através da gnose: que seria o conhecimento intuitivo sobre o espírito e a natureza da
realidade.

As ideias e ramos gnósticos floresceram no mundo mediterrâneo no século II d.C., em conjunto e trocando
influências com os primeiros movimentos cristãos e médio-platônicos. Mesmo com um considerável declínio
após o século II, o gnosticismo sobreviveu sub-repticiamente ao longo dos séculos na cultura ocidental,
remanifestando durante o Renascimento através do esoterismo ocidental, assumindo a proeminência com a
espiritualidade moderna. Do Império Persa, o gnosticismo se alastrou até a China através do maniqueísmo, ao
passo que o mandeísmo ainda vive no Iraque.

As primeiras definições e tentativas de destrinchar o gnosticismo ocorreram no contexto da Era cristã.[2][3]


Embora alguns estudiosos suponham que o gnosticismo seja anterior ou contemporâneo ao cristianismo, todos
os textos gnósticos até hoje descobertos são posteriores à primeira metade do século I, época em que o
cristianismo já estava estabelecido como religião através dos apóstolos.[4]

O estudo do gnosticismo e do cristianismo primitivo de Alexandria foram ambos reacesos após a descoberta da
Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945.[5]

Índice
O termo gnosticismo
Características gerais
Dualismo e monismo
Conceitos e termos
Escolas gnósticas
Gnosticismo persa
Gnosticismo sírio-egípcio
Seitas e grupos gnósticos
Neoplatonismo e gnosticismo
Filosofia grega antiga e gnosticismo
Relações filosóficas entre o neoplatonismo e o gnosticismo
Estudos sobre o gnosticismo
Século XIX até 1930
Depois da descoberta de biblioteca de Nag Hammadi, 1945
"Gnosticismo" como uma categoria potencialmente falha
Gnosticismo no século XXI
Ver também
Referências
Bibliografia
Ligações externas

O termo gnosticismo
A terminologia gnosticismo, ipsis litteris, não consta em fontes antigas.[6] Cunhado
por Henry More em um comentário sobre as Sete Igrejas do Apocalipse,[7]
gnosticisme foi o neologismo escolhido por More para descrever a heresia tiatirense
(Apocalipse 2:18-29), no mesmo sentido que seu contemporâneo Henry Hammond
usou a expressão gnostick-heresi. Esta última expressão vem da literatura patrística
e heresiológica do início do cristianismo, especialmente a do Bispo Ireneu de
Lião.[8]

Isto ocorre no contexto do tratado do Pe. Ireneu, Contra as heresias, (em grego:
ἔλεγχος καὶ ἀνατροπὴ τῆς ψευδωνύμου γνώσεως; elenchos kai anatrope tes
Bispo Ireneu, quem
pseudonymou gnoseos) onde o termo pseudonymos gnosis ("falsamente chamada
usou pela 1ª vez o
gnose") abrange vários grupos tachados por Ireneu como sectários da Igreja (não
termo "gnóstico" para
apenas o do heresiarca Valentim), e é uma citação direta da exortação paulina para
descrever as heresias
manter "horror aos clamores vãos e profanos da falsamente chamada ciência
(coiné: Γνωσις, gnosis), a qual professando-a alguns, se desviaram da fé." (I
Timóteo 6:20-21)[9][10]

O significado comumente aceito de gnostikós em clássicos gregos é "aquele que sabe" ou "que entende",
como na comparação entre "o que pratica" (praktikós) e "o que entende" (gnostikós) usada no colóquio entre
Platão, Sócrates e o jovem estrangeiro no tratado Político (258e).[11] A preferência de Platão pelo vocábulo
gnostikós é muitíssimo típica nos clássicos.[12]

Durante o período helenístico, gnostikós passou também a ser associado aos cultos de mistérios greco-
romanos, tornando-se até sinônimo de mistério (gr. μυστήριον, mustḗrion). Gnostikós não é usado no Novo
Testamento para se referir a grupos ou indíviduos específicos além da supracitada e genérica mênção paulina
em Timóteo, mas Clemente de Alexandria no Livro Sétimo do Stromata enaltece o "culto" gnostikós
autenticamente cristão. A aplicação de gnostikós na forma pejorativa e associada às heresias começa com as
análises críticas de Ireneu. Alguns estudiosos, por exemplo A. Rousseau e L. Doutreleau, tradutores da edição
francesa (1974),[13] consideram que Ireneu às vezes escrevia gnostikós querendo dizer apenas "entendedor",
como em 1.25.6, 1.11.3, 1.11.5, e "seitas de entendedores" (Adv. Haer. 1.11.1) quando queria criticar
designações e seitas específicas. Evidências em favor disso aparecem quando Ireneu começa a utilizar
comparativos como gnostikeron (i.e. "mais entendido" ou "mais sábio"), já que nunca existiu a forma "mais
gnóstico" como nome próprio de uma seita.[14] Dentre os grupos que Ireneu identificou como "seitas de
entendedores" (gnostikós), estavam os marcelinos e os setianos ou barbelognósticos, um dos mais notórios a se
autoidentificar com o nome gnostikós.[15] Mais tarde, o Bispo Hipólito aplicou gnostikós indiscriminadamente
como labéu contra heresiarcas como Cerinto e os ebionitas, enquanto Epifânio fez o mesmo somente contra
seitas específicas.

Per se, a aplicação do termo gnosticismo como categoria genérica é problemática, pois mesmo Ireneu e seus
sucessores conceituaram uma única tipologia para os vários grupos existentes à época. Essa noção varia um
pouco ao perceber-se que o gnosticismo admite muitas exceções.[16] E ainda, o termo "gnosticismo" tem sido
aplicado como labéu a diversas seitas modernas com cerimoniais arcanos e iniciáticos, ou mesmo
ressignificado para enquadrar ideologias políticas e facções sociais (como faz Eric Voegelin), mesmo que
muitas delas não explicitem nenhuma autoidentificação com os gnósticos históricos. Longe de esclarecerem,
essas generalizações só obscurecem ainda mais o conceito e dificultam a verdadeira compreensão histórica do
gnosticismo enquanto movimento.[17]

Características gerais
Não existe um sistema gnóstico único e uniforme. No entanto, há semelhanças suficientes para justificar uma
caracterização geral, lembrando que nem todos os sistemas incluem todos os elementos e nesses termos.[18]
Estas características são particulares ao gnosticismo cristão (de forma antagónica ou não à figura de Cristo):

A estimativa do mundo, devido ao que precede, como uma falha ou produto de um "erro", mas,
possivelmente, benévolo na medida do que o limite material permitir;[19]
A introdução de um deus criador distinto ou demiurgo, que é uma ilusão e depois emanação a
partir do único mónada ou fonte. Este segundo deus é um deus menor, inferior ou falso. Esse
deus criador é comumente referido como o demiourgós.[20] O demiurgo gnóstico apresenta
semelhanças com as figuras de Platão em Timeu e A República. No primeiro caso, o
Demiurgo é uma figura central, um criador benevolente do universo que trabalha para tornar o
universo tão benevolente quanto possível dentro do que as limitações da matéria permitirão,
neste último, a descrição de um desejo "leonino" no modelo de psique de Sócrates tem
semelhança com as descrições do demiurgo como tendo a forma de um leão, a passagem
relevante de A República foi encontrada dentro da Biblioteca de Nag Hammadi;[21]

Jesus é identificado por alguns gnósticos como uma encarnação do Ser Supremo para trazer a
gnōsis para a terra.[22] Entre os mandeístas, Jesus foi considerado um mšiha kdaba ou "falso
messias", que perverteu os ensinamentos que lhe foram confiados por João Baptista.[23]
Outras tradições identificam Maniqueu e Sete, como o terceiro filho de Adão e Eva, como a
figura de salvação;[24]

Desejo de conhecimento especial e íntimo dos segredos do universo. A salvação gnóstica era
da ignorância e não do pecado. O conhecimento não era apenas o meio de salvação, era a
única real salvação. O conhecimento era o conhecimento do verdadeiro self, seu lugar no
Pleroma e um retorno de lá.[25]

Dualismo e monismo

Normalmente, os sistemas gnósticos são vagamente descritos como sendo de natureza "dualista" , o que
significa que eles têm a visão de que o mundo é composto ou explicável através de duas entidades
fundamentais. Hans Jonas escreve: "A característica fundamental do pensamento gnóstico é o dualismo radical
que rege a relação de Deus e do mundo, e, correspondentemente, a do homem e do mundo".[26]

Dualismo radical
Ou dualismo absoluto, postula duas forças divinas co-iguais. O maniqueísmo concebe dois reinos
anteriormente coexistentes de luz e de escuridão que se envolveram em um conflito, devido às ações caóticas
desses últimos. Posteriormente, alguns elementos de luz tornaram-se presos dentro de trevas, o propósito da
criação material é decretar o lento processo de extração destes elementos individuais, ao final do qual o reino
da luz prevaleça sobre as trevas.[27][28]

Monismo qualificado

Onde se discute se a segunda entidade é divina ou semi-divina. Os elementos das versões do mito gnóstico
valentiniano sugerem para alguns que a sua compreensão do universo pode ter sido monista, em vez de
dualista. Elaine Pagels afirma que "gnosticismo valentiniano [...] difere essencialmente do dualismo"[29]
enquanto que de acordo com Schoedel: "um elemento padrão na interpretação do valentinianismo e formas
semelhantes de gnosticismo é o reconhecimento de que eles são fundamentalmente monistas".[30] Nesses
mitos, a malevolência do demiurgo é mitigada; sua criação de uma materialidade falha não é devido à falta de
qualquer moral de sua parte, mas devido a sua imperfeição em contraste com as entidades superiores de que
ele não tem conhecimento.[19] Como tal, os valentinianos já tem menos motivos para tratar a realidade física
com o igual desprezo que os gnósticos setianistas. A tradição valentiniana concebe materialidade, não como
sendo uma substância separada do divino, mas atribuída a um "erro de percepção" que foi simbolizado mítica
e poeticamente como o ato da criação material.[19]

Conceitos e termos
Note que o texto a seguir é formado por resumos das várias interpretações gnósticas reunidas. Os papéis de
alguns seres mais familiares, como Jesus, Sofia e o Demiurgo geralmente compartilham os temas centrais entre
os vários sistemas, mas pode haver algumas diferentes funções ou identidades atribuídos a eles em cada uma.

Æon

Em muitos sistemas gnósticos, os aeons são várias emanações de um deus superior, que também é conhecido
por nomes como Mônada, Aion teleos (grego: "O Perfeito Aeon"), Bythos (grego: Βυθος - 'profundidade') e
muitos outros (veja o artigo principal). Deste ser inicial, também um Aeon, uma série de diferentes emanações
ocorreram, começando em alguns textos gnósticos com o hermafrodita Barbelo[31][32][33] de quem sucessivos
pares de Aeons emanam, frequentemente em pares masculino-feminino chamados de sizígias;[34] o número
destes pares varia de texto para texto, embora alguns identifiquem seu número como sendo trinta.[35]

Arconte

Arconte no singular, (em grego: ἄρχων, pl. ἄρχοντες; "alto oficial", "chefe", "magistrado") seria qualquer um
dos seres que foram criados juntamente como mundo material por uma divindade subordinada chamada o
Demiurgo (Criador). Os gnósticos eram dualistas religiosas, que considerou que a matéria é má e o espírito
bom e que a salvação é alcançada através do conhecimento esotérico, ou gnose. Porque os gnósticos do
segundo e terceiro séculos - geralmente originadas dentro do cristianismo - consideravam o mundo material
como definitivamente mal ou como o produto de erro, os arcontes eram vistos como forças maléficas.[36]

Abraxas / Abrasax

Abraxas ou Abrasax é o nome gnóstico para o semideus que governa o 365o aeon, a esfera final e mais alta.
Os demonologistas cristãos colocam Abraxas no mesmo patamar de demônios. Jung chamou Abraxas de "o
realmente terrível" por sua habilidade em gerar verdade e falsidade, bem e mal, luz e sombra com as mesmas
palavras e o mesmo empenho.[37]

Demiurgo
O termo Demiurgo deriva da forma latinizada do termo grego
dēmiourgos (δημιουργός), literalmente, "artesão", "alguém com
habilidade específica", de dēmios do povo, popular (dēmos,
pessoas ou povo) e ourgos, trabalhador (ergon, trabalho).[38] No
gnosticismo, o Demiurgo não é Deus mas o arconte ou chefe da
ordem dos espíritos inferiores ou éons. De acordo com os
gnósticos, o Demiurgo era capaz de dotar o homem apenas com
psiquê (alma sensível) - o pneuma (alma racional) seria adicionada
por Deus. Os gnósticos identificaram o Demiurgo com Jeová dos
hebreus.[39][40]

Gnose

Gnose vem da palavra grega gnosis (γνῶσις) "conhecimento"


significando o conhecimento direto sobre o divino que por si só
provê a salvação (assim conquistando o codinome de "Alta
Teologia"). Para os gnósticos antigos, a gnosis existia no âmbito da
cosmologia, do mito, da antropologia e da prática usada dentro de
seus grupos. Assim, a gnose não era apenas a iluminação mas viria Demiurgo, (em grego: δημιουργός)
acompanhada por uma compreensão - como expressado nos "Aurora do Mundo" de William
Resumos de Teódoto de Bizâncio- sobre "quem éramos, o que nos Blake,1794
tornamos, onde estávamos, para onde fomos lançados, para onde
estamos indo, do que estamos libertos, o que é o nascimento e o
que é renascimento".[41]

Mônada

Do latim monad, monas, do grego monos,[42] no sentido de "unidade última e indivisível", aparece bem cedo
na história da filosofia grega. Nos relatos antigos das doutrinas de Pitágoras, ocorre como o nome da unidade a
partir do qual - como no princípio de arquétipo - todos os números e multiplicidades são derivados.[43]

Pleroma

Pleroma (πληρωμα) geralmente se refere à totalidade dos poderes de deus. O termo significa "plenitude" e é
usado em vários contextos teológicos cristãos: tanto gnósticos em geral, como também no cristianismo (como
em «Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade» (Colossenses 2:9)).

Sofia

Sofia ou Sophia (em grego: Σοφία) é aquilo que detém o "sábio" (σοφός; "sofós"). Na tradição gnóstica, Sofia
é uma figura feminina, análoga à alma humana e simultaneamente um dos aspectos femininos de Deus. Os
gnósticos afirmam que ela é a sizígia de Jesus (veja a Noiva de Cristo) e o Espírito Santo da Trindade.
Ocasionalmente é referenciada pelo equivalente hebreu Achamōth (Ἀχαμώθ) e como Prouneikos (Προύνικος,
"A Libidinosa"). Nos textos da Biblioteca de Nag Hammadi, Sofia é o mais baixo dos Aeons ou a expressão
antrópica da emanação da luz de Deus.[44]

Escolas gnósticas
As escolas gnósticas podem ser definidas como sendo membros de duas vertentes, a Escola Persa ou do Leste
e da Escola Sírio-Egípcia. [45]

Gnosticismo persa
A Escola Persa possui tendências dualistas mais fáceis de serem
demonstradas e que refletem a influência das crenças dos
zoroastras (seguidores de Zoroastro) persas. Aparecendo na
Babilônia, seus escritos foram produzidos originalmente em
dialetos aramaicos locais e são representativos das crenças e
formas mais antigas do gnosticismo. Esses movimentos são
considerados pela maioria dos estudiosos como religiões, não
apenas emanações do cristianismo ou do judaísmo.[45]

Mandeísmo é ainda praticado por pequenos grupos


no sul do Iraque e na província iraniana do Cuzistão.
O nome do grupo deriva do termo Mandā d-Heyyi,
que significa "Conhecimento da Vida". Embora a
origem exata deste movimento não seja conhecida,
João Batista eventualmente se tornaria uma figura
chave nesta religião, assim como ênfase no batismo
se tornou parte do cerne de suas crenças. Assim
como no maniqueísmo, apesar de certos laços com o
cristianismo,[46] os mandeanos não acreditam em
Moisés, Jesus ou Maomé. Suas crenças e práticas
também tem poucas sobreposições com as religiões
fundadas por eles. Uma quantidade significativa das Sacerdotes maniqueístas escrevendo em
Escrituras originais Mandeanas sobreviveram até a suas mesas, há uma inscrição em Língua
era moderna. O texto principal é conhecido como sogdiana no painel central. Manuscrito de
Genzā Rabbā e tem trechos identificados pelos Khocho, Bacia do Tarim
estudiosos como tendo sido copiados já no século II
d.C.. Existe também o Qolastā, ou "Livro Canônico de
Oração" e o sidra ḏ-iahia, o "Livro de João Batista".
Maniqueísmo, que representa toda uma tradição religiosa e que agora está quase extinto, foi
fundado pelo profeta Manes (216–276 d.C.). Embora acredite-se que a maior parte das
Escrituras dos maniqueístas tenha se perdido, a descoberta de uma série de documentos
originais ajudou a lançar alguma luz sobre o assunto. Preservados agora em Colônia,
Alemanha, o Codex Manichaicus Coloniensis contém principalmente informações biográficas
sobre o profeta e alguns detalhes sobre seus ensinamentos. Como disse Mani, "O Deus
verdadeiro não tem nada a ver com o mundo material e o cosmos", e "É o Príncipe das Trevas
que falou com Moisés, os judeus e seus sacerdotes. Portanto, cristãos, os judeus e os pagãos
estão envolvidos no mesmo erro quando adora este Deus. Pois ele os leva para perdição
através dos desejos que lhes ensinou".[47][48]

Gnosticismo sírio-egípcio

As doutrinas da escola sírio-egípcia tendem ao monoteísmo e, entre as exceções, estão movimentos


relativamente modernos que incluem elementos de ambas as categorias, como os cátaros, os bogomilos e os
carpocracianos. Elas são derivadas de influências platônicas que, em geral, retratam a criação como uma série
de emanações de uma força única primal. Como resultado desta crença, há uma tendência em enxergar o mal
em termos materiais e desprovido de intenções benévolas, algo oposto à ideia mais comum de que o mal seria
uma força equivalente ao bem. Essas escolas usam os termos "bem" e "mal" como relativos e autodescritivos.

Seitas e grupos gnósticos


Simão Mago e Marcião de Sinope: ambos
tinham tendências gnósticas, mas as ideias que
eles apresentaram estavam ainda em formação;
por isso, eles podem ser descritos como
pseudo- ou proto-gnósticos. Ambos
desenvolveram um considerável conjunto de
seguidores. O pupilo de Simão Mago,
Menandro de Antioquia também pode ser
incluído neste grupo. Marcião é popularmente
identificado como gnóstico, porém a maior parte
dos estudiosos não entende assim.[49]
Cerinto (c. 100 d.C.), o fundador de uma escola
herética com elementos gnósticos. Como
gnóstico, Cerinto mostrou Cristo como um
espírito celeste separado do homem Jesus e
citou o Demiurgo como criador do mundo
material. Porém, ao contrário dos gnósticos,
Cerinto ensinava os cristãos a observar a lei
judaica; seu demiurgo era sagrado e não
inferior; e acreditava na segunda vinda de
Cristo. Sua gnosis era um ensinamento secreto
atribuído a um apóstolo. Alguns estudiosos
acreditam que a Primeira Epístola de João foi
escrita em resposta a Cerinto.[50] "A morte de Simão Mago" na Crónica de
Nuremberg ("Liber Chronicarum", 1493).
Ofitas, assim chamados por reverenciarem a
serpente do Gênesis como um fonte de
conhecimento.
Cainitas, que como o nome implica, veneravam Caim, assim como Esaú, Coré e os
sodomitas. Há pouca evidência sobre a natureza deste grupo; porém, é possível inferir
que eles acreditavam que indulgência no pecado era a chave para a salvação, pois dado
que o corpo é intrinsecamente mau, é preciso depreciá-lo com atitudes imorais (veja
libertinismo). O nome 'cainita' não é utilizado aqui no sentido bíblico de "descendentes
de Caim" (que segundo a Bíblia foram exterminados no Dilúvio).
Carpocracianos, uma seita libertina que acreditava unicamente no Evangelho dos
Hebreus.
Borboritas, uma seita libertina gnóstica, que acredita-se ser uma derivação dos nicolaítas
Paulicianos, um grupo adocionista, também acusado por fontes medievais como sendo
gnóstica e quasi-maniqueísta. Eles floresceram entre 650 e 872 na Armênia e nas
províncias (ou temas) orientais do Império Bizantino.
Bogomilos, a síntese (no sentido do sincretismo) entre o paulicianismo armênio e o
movimento reformista da Igreja Ortodoxa Búlgara, que emergiu durante o Primeiro
Império Búlgaro entre 927 e 970, e se espalhou pela Europa.
Cátaros (Cathari, Albigenses ou Albigensianos) são tipicamente vistos como imitadores
do gnosticismo. Se os cátaros possuíam ou não uma influência histórica direta do antigo
gnosticismo ainda é tema disputado, embora alguns acreditem que numa transferência
de conhecimento dos bogomilos.[51]

Neoplatonismo e gnosticismo

Filosofia grega antiga e gnosticismo


As primeiras origens do gnosticismo são obscuras e ainda contestadas. Por esta razão, alguns estudiosos
preferem falar de "gnosis" ao se referir às ideias do século I que mais tarde evoluíram para o gnosticismo e
reservar o termo "gnosticismo" para a síntese dessas ideias em um movimento coerente, no século II.[52]
Influências prováveis incluem Platão, o Médio platonismo e as escolas ou academias de pensamento
neopitagóricas e isto parece ser verdade em ambos os gnósticos do setianismo e os do valentianismo. [53] Além
disso, se compararmos diferentes textos setianistas uns aos outros em uma tentativa de criar uma cronologia do
desenvolvimento do Setianismo durante os primeiros séculos, parece que os textos posteriores continuam a
interagir com o platonismo. Textos anteriores, como o Apocalipse de Adão mostram sinais de ser pré-cristão e
se concentram em Sete, o terceiro filho de Adão e Eva. Estes primeiros setianistas podem ser idênticos ou
relacionados com a Nazarenos, Ofitas ou aos grupos sectários chamados de herético por Fílon de
Alexandria.[54][55]

Textos setianos tardios como Zostrianos e Alógenes criam sobre as imagens de textos setianos mais antigos
mas utilizam "um grande fundo de conceituação filosófica derivada do platonismo contemporânea, (médio
platonismo tardio) com vestígios de conteúdo cristão ".[56] Na verdade, a doutrina do "um único formado por
três" (a trindade) é encontrada no texto de Alógenes, como descoberto na Biblioteca de Nag Hammadi e é "a
mesma doutrina encontrada nos comentários anônimos em Parmênides (Fragmento XIV) que são atribuídos
por Hadot a Porfírio e também, a encontramos na Enéadas de Plotino 6.7, 17, 13-26".[53]

No entanto, os neoplatônicos do século III, como Plotino, Porfírio e Amélio da Toscana atacam os Setianistas.
Parece que o Setianismo começou como uma tradição pré-cristã, possivelmente sincrética[57] que incorporou
elementos do platonismo e do cristianismo à medida que crescia, apenas para que ambos o cristianismo e o
platonismo os rejeitassem se voltassem contra eles. O professor John Turner acredita que este duplo ataque
levou à fragmentação do Setianismo em numerosos grupos menores como arcônticos, audianos, borboritas,
fibionitas, estratiônicos e outros.[58]

O estudo sobre o gnosticismo tem avançado muito desde a descoberta e a tradução dos textos de Nag
Hammadi que lançam alguma luz sobre alguns dos comentários mais intrigantes feitos por Plotino e Porfírio
sobre os gnósticos. Mais importante ainda, as versões ajudam a distinguir os diferentes tipos dos primeiros
gnósticos. Parece claro que os gnósticos setianistas e valentinianos[59] tentaram "se esforçar para uma
conciliação e mesmo afiliação" com filosofia antiga final,[60] mas foram rejeitados por alguns neoplatônicos,
incluindo Plotino.

Relações filosóficas entre o neoplatonismo e o gnosticismo

Os gnósticos emprestaram várias idéias e termos do platonismo, eles exibem uma profunda compreensão dos
termos filosóficos gregos e do idioma grego koiné em geral; utilizam conceitos filosóficos gregos em todo o
seu texto, incluindo conceitos como hipóstase (a realidade, a existência), ousia (essência, substância, ser), e
demiurgo (Deus criador). Bons exemplos incluem textos como a Hipóstase dos Arcontes ("Realidade dos
Governantes") ou Protenoia Trimórfica ("O primeiro pensamento em três formas").

Porfírio em A vida de Plotino estabelece uma diferença entre os genuínos seguidores de Cristo e um outro
grupo de mesclava a filosofia (gnosis) com elementos cristãos e Plotino é antagônico a esta situação ao dizer
"Eles (gnósticos) tiraram algumas ideias de Platão, mas todas as novidades que acrescentaram para criar uma
filosofia original, são fora da verdade",[61] no mesmo tratado, Plotino critica o elitismo ao dizer que os
gnósticos "visam à formação de uma doutrina especial", Plotino repreende os gnósticos por desfigurarem a
filosofia de Platão e apesar de sempre sereno em suas exposições fala de modo áspero: "Quando esses
gnósticos afirmam que desprezam a beleza terrena, fariam melhor se desprezassem a dos meninos e das
mulheres, para não sucumbirem à incontinência". É preciso observar que se os gnósticos, sem exceção
tivessem sido libertinos, Plotino nunca os teria admitido, já que levava uma vida de virtudes[62]
Outro epíteto dado por Plotino aos gnósticos é o de charlatães ao "se vangloriaram em poder expulsar doenças
com fórmulas" e ainda segundo Plotino, que as doenças eram consideradas seres (ou obras) de entidades
demoníacas pelo gnósticos de sua época, "Só a plebe ignara se deixa iludir(...) as doenças não são algo
demoníaco".[63] Plotino assevera que a moral dos gnósticos é inferior à de Epicuro o qual "aconselha procurar
a satisfação no prazer" e ainda adverte que a doutrina é temerária porque ridiculariza a virtude e só pensa em
interesses próprios. Para chegar a essas acusações graves, com certeza Plotino levou algum tempo, ao chegar
em Roma, ele encontrou entre seus ouvintes sectários do gnosticismo com os quais discutia seus pontos de
vista.[64]

Estudos sobre o gnosticismo


É difícil obter informações sociais sobre os gnósticos, a maior
parte da literatura gnóstica consiste de pseudoepígrafos - isto é,
obras atribuídas à uma figura respeitada do passado tal como
Adão, Sete ou o Apóstolo João: essa convenção literária não
deixa muito espaço para a descrição sobre as atividades
sectárias. Os outros registros são descrições breves e
preconceituosas da doutrina e prática gnósticos feitas por
adversários cristãos. O estudo gnosticismo requer muito cuidado
com a precisão e a verdade das fontes sobre o assunto - na maior
parte heresiólogos, Ireneu de Lyon, Clemente de Alexandria e
Hipólito de Roma são o exemplo de descrição franca e
constantemente hostil. Seu estilo é frequentemente irônico visto
que seu objetivo não é descrever, mas destruir.[65]

Século XIX até 1930

Antes da descoberta de Nag Hammadi, a evidência de


movimentos gnósticos era apenas vista através do testemunho
Clemente de Alexandria foi um crítico dos
dos heresiologistas da igreja primitiva. O "modelo histórico da
gnósticos, em especial de Valentim
igreja", representado por Adolf von Harnack entre outros, viu o
gnosticismo como um desenvolvimento interno da igreja, sob a
influência da filosofia grega.[66]

Depois da descoberta de biblioteca de Nag Hammadi, 1945

O estudo do gnosticismo e do cristianismo primitivo da Alexandria recebeu um forte impulso a partir da


descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945. O estudo do gnosticismo atualmente se faz impossível
sem o total conhecimento dos escritos de Nag Hammadi e consequentemente da Língua copta. [67]

"Gnosticismo" como uma categoria potencialmente falha

Em 1966, em Messina, Itália, foi realizada uma conferência sobre sistema da gnosis.[68]

A "proposta cautelosa" alcançada na conferência sobre o gnosticismo é descrita por Markschies:

“ No documento final de Messina a proposta foi "pela aplicação simultânea dos


métodos históricos e tipológica" para designar "um determinado grupo de sistemas
do segundo século depois de Cristo" como "gnosticismo", e use "gnosis" para

definir uma concepção de conhecimento que transcende os tempos, que foi descrito
como "o conhecimento dos mistérios divinos para uma elite.

Em essência, foi decidido que "gnosticismo" seria um termo historicamente específico, restrito a significar os
movimentos gnósticos prevalentes no século III, enquanto "gnosis" seria um termo universal de um sistema de
conhecimento retido "para uma elite privilegiada". No entanto, este esforço no sentido de dar clareza na
verdade criou mais confusão conceitual, já que o termo histórico "gnosticismo" era uma construção
inteiramente moderna, enquanto o novo termo universal "gnosis" foi um termo histórico: "alguma coisa estava
sendo chamada de "gnosticismo" que os teólogos antigos tinham chamado de" gnosis"... [um] conceito de
gnose tinha sido criado por Messina e este era quase inutilizável em sentido histórico".[69] Na antiguidade,
todos concordaram que o conhecimento era centralmente importante para a vida, mas poucos entraram em
acordo sobre o que exatamente constituía o "conhecimento", a concepção unitária que a proposta de Messina
pressupôs não existiu.[69]

Estas falhas significam que os problemas relativos a uma definição exata do gnosticismo ainda persistem.[70]

Permanece como convenção atual usar "gnosticismo" em um sentido histórico, e "gnosis" universalmente.
Deixando de lado as questões com o último mencionado acima, o uso de "gnosticismo" para designar uma
categoria de religiões do século III foi recentemente questionado também. Digno de nota é o livro da autoria de
Michael Allen Williams Rethinking "Gnosticism": An Argument for Dismantling a Dubious Category, em que
o autor examina os termos pelos quais o o gnosticismo está definido como categoria e compara estas
suposições com o conteúdo dos textos gnósticos reais (a biblioteca de Nag Hammadi recém-recuperada foi de
importância central para o argumento).[71]

Williams argumenta que as bases conceituais sobre as quais a categoria gnosticismo se apoia são os restos da
agenda dos heresiologistas. Muita ênfase tem sido colocada sobre as percepções do dualismo, corpo - e matéria
- ódio e anticosmismo[72] sem que essas suposições tenham sido "devidamente testadas". Em essência, a
definição interpretativa do gnosticismo que foi criado pelos esforços antagônicos dos heresiologistas da igreja
primitiva foi retomado por estudiosos modernos e refletido em um "definição categórica", apesar de hoje
existirem meios de se verificar sua precisão. Ao tentar fazer isso, Williams revela a natureza dúbia da categória
"gnosticismo" e conclui que o termo precisa ser substituído, a fim de refletir com mais precisão os movimentos
que o compõem.[73]

Gnosticismo no século XXI


O chamado gnosticismo moderno se desenvolveu a partir das origens no Ocultismo do século XX onde
Eliphas Levy traz todo o espectro de assuntos do gnosticismo à tona por meio da discussão da cabala
judaica.[17] Uma série de pensadores do século 19, como William Blake, Arthur Schopenhauer,[74] Albert
Pike e Madame Blavatsky estudaram o pensamento gnóstico extensivamente e foram influenciados por ele, até
mesmo figuras como Herman Melville e W. B. Yeats foram mais tangencialmente influenciados.[75] A
fundação da Sociedade Teosófica em 1875 por Blavatsky e o trabalho de seu aluno G.R.S Mead (tradutor
especializado em texto gnósticos e herméticos), tornou o gnosticismo acessível ao público fora da academia, o
que preparou o caminho para o gnosticismo para as massas no século seguinte.[17] Jules Doinel "restabeleceu"
uma Igreja Gnóstica, na França, em 1890, o que alterou a forma como o gnosticismo passou por vários
sucessores diretos (principalmente Fabre des Essarts como Tau Synésius e Joanny Bricaud como Tau Jean II) e
que, apesar de pequeno, ainda está ativo até os dias de hoje.[76]

A descoberta e a tradução da Biblioteca de Nag Hammadi depois de 1945 teve um enorme impacto sobre o
gnosticismo desde a Segunda Guerra Mundial. Pensadores que foram fortemente influenciados pelo
gnosticismo neste período incluem Hans Jonas, Philip K. Dick e Harold Bloom, com Albert Camus e Allen
Ginsberg sendo mais moderadamente influenciados.[75]
Ver também
Agnosticismo Cristianismo místico Teosofia
Livros apócrifos Paganismo

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Ligações externas
Canção Nova - O que é gnosticismo (http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/inter
nas.php?id=&e=3987)
The Gnostic Society Library (http://www.gnosis.org/library/grs-mead/mead_index.htm) (em
inglês)
Pistis Sophia (http://gnosis.org/library/pistis-sophia/index.htm) (em inglês)
Artigo teosófico - Os Evangelhos Gnósticos (http://www.levir.com.br/artigo34.php)
The Internet Encyclopedia of Philosophy (http://www.iep.utm.edu/gnostic/) (em inglês)

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