Hinduísmo: Origens e Tendências Doutrinárias
Hinduísmo: Origens e Tendências Doutrinárias
Hinduísmo: Origens e Tendências Doutrinárias
O hinduísmo alega que toda ação (ou manifestação natural) no tempo, pode ser
explicada pela combinação de inúmeros fatores (ou determinantes) naturais –
opostos, mas complementares – que atuam, concomitantemente, num mesmo plano. Para
ilustrar este fato, tomemos um exemplo fundamental: <b>em oposição a "Brahma",
temos "Maya" - que teria a função de conferir aos seres humanos a falsa ilusão de
que estamos distantes da "Verdade", ou seja, nos dá a permanente ilusão de que
estamos separados de Brahma – que, além de representar a unidade de todas as
coisa, também é nossa verdadeira natureza humana, enterrada como um tesouro no
interior de nossas almas. Quando longe de Brahma, encontramo-nos iludidos,
enfraquecidos e fragmentados, tendo que enfrentar, em mundos materiais inferiores,
os ciclos encarnatórios e reencarnatórios impostos por Maya.
Logo, só pode considerar Maya uma ilusão aquele que permanece prisioneiro nas
cadeias das excessivas racionalizações – as correntes da razão que nos levam a ter
uma medida precisa para tudo, a categorizar todas as coisas, a definir, teorizar,
etc., enfim, de toda forma perceptiva viciosa de se analisar a realidade imediata
que nos cerca. Maya nos faz acreditar que nossos sentidos (percepções) – assim
como nossas manifestações racionais – são as únicas realidades nas quais podemos
contar. Esta é a ilusão de Maya.
Por outro lado, um espírito iluminado (acordado) – intocado pelas mãos de Maya –
perceberá, além da razão e da percepção dos cinco sentidos, que todos os elementos
que compõem a realidade imediata são apenas sombras (a serem iluminadas), enigmas
(a serem desvendados) – reflexos manifestos em nossas mentes ocupadas com a
realidade imediata, que só tendem a esvaziar nossas almas do verdadeiro
significado interno que buscamos em nós mesmos. Estas mentes ocupadas estão
constantemente se utilizando da razão a fim de desvendar as realidades imediatas
e, pelo que parece, nunca parecem estar satisfeitas com suas descobertas, pois
nunca encontraram de fato a Verdadeira e Una Verdade enterrada em cada um de nós.
O senso de unidade – representado por Brahma – traria sossego e paz de espírito ao
homem, lhe conferindo felicidade e a tão esperada completude integral do ser.
“Houve um tempo em que os homens eram deuses. Mas eles abusaram tanto de sua
divindade que Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o
poder; resolveu escondê-los num lugar onde seria absolutamente impossível
encontrá-los. Mas o grande problema era encontrar um esconderijo. Brahma convocou
então um conselho dos deuses menores para resolver o problema: ‘Enterremos a
divindade do homem na terra’, foi a primeira idéia dos deuses. ‘Não, isto não
basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la’, respondeu Brahma. Então os deuses
retrucaram: ‘Então joguemos a divindade no fundo dos oceanos’. Mas Brahma não
aceitou a proposta, pois achou que o homem um dia iria explorar as profundezas dos
mares e acabaria por recuperá-la. Então, concluíram os deuses menores: ‘Não
sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar onde o homem não
possa alcançar um dia’. Então Brahma se pronunciou: ‘Eis o que vamos fazer com a
divindade humana: vamos escondê-la na maior profundeza dele mesmo, pois é o único
lugar onde ele jamais pensará em procurá-la. Desde este tempo, concluiu a lenda, o
homem fez a volta da Terra, explorou, escalou, mergulhou e cavou, em busca de algo
que se encontrava, todo este tempo, no interior dele mesmo”.
_________________________________________________________________Lenda da religião
Hindu
Assim, um homem que se torne capaz de “desenterrar” seu tesouro interior estará
livre das ilusões de Maya e, consequentemente, livre das correntes kármicas (vida
biológica, destino terreno, nascimento...), não precisando mais encarnar,
desencarnar ou reencarnar. Tal homem estará livre das influências do Karma, bem
como das ilusões de Maya.
Contudo, podemos concluir que o principal objetivo do hinduísmo é fazer com que o
homem enfrente a vida material – com todas as suas dores e alegrias – a fim de
que, algum dia, este mesmo homem possa libertar-se das armadilhas ilusórias de
Maya e, consequentemente, paralisar os efeitos kármicos de seu ser (evolução
espiritual), redescobrindo sua verdadeira identidade cósmica no Ser.
Mas para que isto possa de fato acontecer, longa costuma ser a jornada: torna-se
necessário um certo grau de disciplina espiritual, que seria conseguida através da
constante domesticação dos instintos primários – o que levaria ao controle da
ilusão que a percepção imediata da realidade nos confere, e o conseqüente proceso
de abertura da mente à realidade suprasensível. É uma ação espiritual direta que
libera naturalmente a alma das cadeias do mundo material; é a vitória do espírito
através da liberação dos desejos mundanos (e de tudo que envolve e perfaz sua
realidade) – e que tendem, por sua vez, a serem gradativamente substituídos por
uma completa liberação da alma humana em direção à consciência de sua verdadeira
identidade cósmica.
De qualquer forma, este parece ser um caminho muito difícil para o homem moderno –
principalmente para o homem ocidental moderno, que encontra-se viciado no conforto
material que a tecnologia de hoje é capaz de lhe proporcionar. Há uma espécie de
vazio, bastante árido, envolvendo o ambiente do homem moderno – um vazio que um
dia pôde ser preenchido pelas religiões e que, agora, está tentando ser preenchido
pelas modernas concepções da psicologia moderna que, por sinal, aprendeu muito com
a cultura e tradição dos povos antigos.
<b>- Arjuna:</b> servir-te, Senhor, como Deus Único, Manifesto, ou servir-te como
Único, Imanifesto, Eterno e Universal? Qual o melhor caminho para os fiéis?
<b>- Krishna:</b> aquele que com fé firme, adora-me em seu coração, simplesmente
como pode compreender-me, esse me é querido e santo.
Mas quem compreende como o Eterno, o Anônimo, o Imanifesto, o Inconcebível, o
Supremo, não limitado de forma alguma, o Infinito; quem me adora desse modo e,
contudo, vê a minha presença em todos os seres e, praticando o bem, vive
alegremente, esse acabará por unir-se a mim.
Entretanto, difícil é este caminho para aqueles que procuram encontrar o
Imanifesto em todas as coisas por meio de um amor afetivo. Difícil é este caminho
para os que vivem ainda em corpo carnal. Mas quem, de coração puro, se voltar para
mim e em meu nome fizer tudo quanto costuma fazer, quem renunciar a si mesmo e,
dia e noite, firmado em mim, me servir, esse será salvo por mim do tempestuoso mar
da existência, desse inconstante mundo do nascer e do morrer, por que buscou
refúgio em mim.
Por isto, volve para mim teu coração, apreende-me com toda a tua vontade, repousa
em mim o teu espírito e encontra em mim a tua felicidade.
Mas, se não fores capaz de atingir em tão grande altura, se tua mente te levar às
baixadas, filho da terra, por seres ainda fraco demais para esta doação total,
então, procura seguir o caminho menos árduo auxiliado pelo do amor afetivo.
Se nem deste amor fores capaz, adora-me com as tuas atividades e, assim, também
atingirá a meta da perfeição.
Se mesmo disto fores incapaz, refugia-te em mim, renunciando aos frutos do teu
trabalho, e serve-me com perfeita humildade.
Verdade é que o saber espiritual é maior do que o fazer material, porém, maior que
ambos é o amor integral e isto requer total desapego. Quem consegue renunciar tudo
por amor está perto da meta final.
Quem não deseja mal a ser algum e, liberto do ódio e do egoísmo, é bom para com
todas as criaturas, quem a tudo renuncia por amor está perto da meta final. Quem
permanece fiel a si mesmo, no prazer e no sofrimento, sempre sereno e paciente,
quem tem fé em mim e vontade reta, quem controla o coração e mantém a mente fixa
em mim, e se consagra inteiramente a mim, com reverência e amor, esse é querido
por mim. Quem a ninguém ofende neste mundo, nem se sente ofendido por ninguém, mas
paira acima do gozo e da dor, liberto da cólera e do temor, esse é querido por
mim. Quem é sereno e equilibrado, diante do amigo e do inimigo, impertubável
diante dos elogios e das ofensas, do calor e do frio, da alegria e do sofrimento,
livre de toda a escravidão, esse é amado por mim. Porém, o mais querido de todos é
aquele que me ama acima de tudo, aquele cuja a vida é amor, e esse amo acima de
tudo e [permanentemente] o alimento com o meu amor.
Trabalho realizado pelo Professor Elias Celso Galvêas, em 1996, para a PROFESSORES
ASSOCIADOS - CONSULTORIA EDUCACIONAL.