Del-Corso e Trivelato
Del-Corso e Trivelato
Del-Corso e Trivelato
Resumo
O presente trabalho apresenta argumentos para se considerar Ilustrações Científicas (ICs) de
plantas como Prática Epistêmica (PE) típica da ciência botânica. Investiga também o
potencial de uma Sequência Didática (SD) com ICs para o combate a Cegueira Botânica (CB).
O corpus de dados foram desenhos produzidos por alunos de licenciatura em Ciências da
Natureza. Estes foram considerados ICs por apresentarem preocupação estética e rigor
científico. Para análise dos aspectos estéticos foram considerados: Verossimilhança,
Detalhamento, Textura, Coloração, Volume, Variação do posicionamento, Preenchimento e
Ampliação de estruturas. A evolução em relação ao rigor científico foi aferida pelo aumento
da quantidade de estruturas das flores e folhas representadas. Concluiu-se que engajamento na
PE de IC tem potencial na promoção da Alfabetização Científica (AC), tanto no que tange a
construção do conteúdo conceitual (primeiro eixo da AC) como em relação a Natureza da
Ciência (segundo eixo).
Abstract
The present work presents arguments to consider Scientific Illustrations (SIs) of plants as
Epistemic Practice (EP) typical of botanical science. It also investigates the potential of a
Didactic Sequence (DS) with SIs to combat Plant Blindness (PB). There are justifications for
why SI are considered as botany EP. The data corpus were drawings produced by
undergraduate students in Natural Sciences. These were considered Sl because they present
aesthetic concern and scientific rigor. For analysis of the aesthetic aspects were considered:
Likelihood, Detailing, Texture, Coloring, Volume, Variation of positioning, Fill and
Expansion of structures. The evolution in relation to the scientific rigor was verified by the
increase in the quantity of structures of the flowers and leaves properly represented. It was
concluded that engagement in the PE of SI has the potential to promote Scientific Literacy
(SL), both in terms of the construction of the conceptual content (first axis of SL) and in
relation to the Nature of Science (second axis).
Introdução
A primeira parte da introdução desse trabalho expõe brevemente os problemas enfrentados em
relação ao ensino de Botânica e apresenta a ideia de Cegueira Botânica (CB) e seu
significado. Salatino e Buckeridge (2016) têm um interessante artigo que já no título diz a que
veio, “Mas de que te serve saber botânica?”. Os autores apresentam que a Botânica foi
considerada, dos tempos de Carolus Linnaeus (século XVIII) até o início do século XX, como
Scientia amabilis, termo inclusive criado por Lineu. Acontece que na escola, e mesmo para
muitos graduandos de licenciatura em ensino de Ciências/Biologia, essa ciência passou, nos
dias de hoje, a ser melhor associada a Scientia neglecta, vide o descaso, indiferença e até
mesmo aversão existente. A parte do ensino que lhe cabe é considerada árida, complicada e
entediante (GUERRA e FIUZA, 2015; SALATINO e BUCKERIDGE, 2016; WANDERSEE
e SCHUSSLER, 2001). Milach et. al (2015) afirma ser perceptível haver uma maior
dificuldade no ensino e aprendizagem de Botânica que em outras áreas da Biologia. Os
autores creditam isso ao desinteresse dos estudantes por esta área e o despreparo dos
professores. Towata et al (2010) relaciona estas dificuldades a má formação dos professores.
Relatam inclusive ter encontrado em suas revisões que as preocupações com o ensino de
Botânica são antigas, encontraram referências a estes problemas desde o 3º Congresso
Nacional da Sociedade Brasileira de Botânica e até anteriormente, já que em 1937 Rawitscher
(apud Towata et al, 2010) já apontava a dificuldade de tornar o ensino de Botânica menos
“enfadonho”.
Wandersee e Schussler (2001) identificaram como grande desafio ao ensino e aprendizagem
de Botânica o fato de que parte das pessoas não conseguem perceber as plantas que existem
no ambiente, cunhando então o termo Plant blindness. Em português tratado como Cegueira
Botânica (CB) (GUERRA e FIUZA, 2015; SALATINO e BUCKERIDGE, 2016; MILACH
et. al, 2015; TOWATA et al, 2010). A Cegueira Botânica pode ser definida como:
A incapacidade de ver ou perceber as plantas no próprio ambiente, levando
a: (a) incapacidade de reconhecer a importância das plantas na biosfera e nos
assuntos humanos; (b) a incapacidade de apreciar as características
biológicas estéticas e únicas das formas de vida pertencentes ao Reino
Vegetal; e (c) a classificação equivocada e antropocêntrica das plantas como
inferiores aos animais, levando à conclusão errônea de que elas são indignas
da consideração humana. (WANDERSEE e SCHUSSLER, 2001, pg 3,
tradução nossa)
Salatino e Buckeridge (2016) trazem também que o ensino de Botânica no Brasil, e em outros
países, está em um círculo vicioso. Os professores comumente apresentam CB e desta forma
não têm como motivar seus alunos. A consequência é que a Botânica acaba tornando-se uma
matéria árida, difícil e desinteressante para os alunos, dos quais uma parcela pode vir a se
tonar também professores. Mas quais as consequências do comprometimento do ensino-
aprendizagem de botânica? As plantas têm importância, ecológica (são a base da cadeia
alimentar), econômica (ex: agrobusiness), cultural (ex: lendas indígenas e conhecimento
tradicional), medicinal (tanto em relação a sua toxicidade como ao seu potencial médico),
alimentar (trigo, arroz, milho, são as culturas agrícolas mais importantes do planeta e
sustentam a civilização hoje), histórico e etc. O comprometimento do ensino-aprendizagem de
Botânica – “(...) pode levar a população a deixar de se importar com o meio ambiente, o que
nos colocaria no rumo de destruição dos biomas, levando os animais e a nós mesmos à
extinção”- (SALATINO e BUCKERIDGE, 2016, pg 180).
Towata et al (2010) dizem ser importante buscar e discutir estratégias para combater a CB.
Guerra e Fiuza (2015) relatam que os desenhos têm presença marcante nos atuais materiais
didáticos de biologia, mas de acordo com Salatino e Buckeridge (2016) há uma predileção por
mostrar exemplos com animais tanto no ensino como na mídia.
Tudo parece ser arte e tudo parece ser ciência (Milach et al, 2015)
De acordo com Milach et. al (2015) as ICs são imagens produzidas por ilustradores que
apresentam ao mesmo tempo valor estético e rigor científico. Isso pois se dirigirem não só ao
público geral (apreciação pelo estético), mas também à comunidade científica (exigência de
rigor)4.
Hickman et al (2017) afirma que as representações realistas das plantas teriam surgido no
primeiro século para ilustrar as ervas monásticas, e durante 1000 anos seriam produzidas
principalmente por cópias subsequentes. Daí que apenas no Renascimento o naturalismo seria
trazido de volta à ilustração botânica, com artistas importantes da época, como Leonardo da
Vinci (1452-1519) e Albrecht Dürer (1471-1528), dando importantes contribuições. Essas
ilustrações da Renascença teriam então sido precursoras da era de ouro da ilustração botânica,
nos cerca de cem anos de 1750 a 1850. Os autores afirmam que a ilustração botânica tornar-
se-ia nos anos seguintes, durante o Iluminismo, cada vez mais importante, já que as potências
coloniais, e empreendedores, financiavam viagens de descoberta. Os cientistas precisavam de
artistas que pudessem registrar fielmente o caráter e as características das coleções de
espécies enquanto estivessem frescas. Vale ressaltar que, antes da fotografia, a ilustração
botânica era a única maneira de registrar visualmente como era uma planta. E os autores
afirmam, após revisar seis importantes publicações da área, que apesar do papel expandido
das fotografias, elas não tomaram o lugar das ilustrações botânicas na literatura científica
(HICKMAN et al, 2017). Milach et. al (2015) trazem também que por mais que tenham
havido avanços tecnológicos, como a facilidade e qualidade das fotografias digitais, estas
ainda não foram capazes de substituir o olho humano e sua habilidade em lidar com
profundidade, campo, exposição, processamento de detalhes ou a capacidade de dar ênfase a
certos detalhes.
Silva (2009) entende que as imagens facilitariam a compreensão da ciência, e que – “a ciência
sempre usou imagens para pensar, comunicar entre pares, ensinar (...)”-. Também que - “O
desenho seria uma linguagem universal que, frequentemente, dispensaria o texto descritivo e
a oralidade para explicar os objetos; a ilustração científica, portanto, funcionaria como
ferramenta de apoio à imaginação para explicar ciência”-. Fiuza e Guerra (2015) afirmam
que na tradição ocidental, a pintura e o desenho têm sido tratados como ciência, reforçando
inclusive que no século XVIII a ilustração científica representacional tinha uma grande força
na história natural.
Hickman et al (2017) traz exemplos icônicos de ilustradores botânicos que nos séculos XVII e
XVIII viajaram pela América do Sul, citando entre outros os botânicos Jose Celestino Mutis
(1732–1808), Don Hipolito Ruiz Lopez (1754–1816), Don Jose Pavon Jimenez (1754–1840)
e Joseph Dombey (1742–1794). Para aqueles que viajaram pelo Brasil Carl Friedrich Philipp
von Martius (1794–1868), Aimée Bonpland (1773–1858) e Friedrich Wilhelm Heinrich
Alexander Freiherr von Humbolt (1769–1859). Já em relação ao século 20 os autores afirmam
que a mais importante personalidade na arte botânica na América do Sul foi Margaret Mee,
reconhecendo em relação a essa também seu papel como ambientalista com sua enorme
contribuição para a conscientização global do que estava sendo perdido na Amazônia por
meio da degradação ambiental.
Milach et al (2015) identificam o diálogo entre arte e ciência muito remotamente, as autoras
vêm os primórdios desse diálogo já nas pinturas rupestres pré-históricas do Paleolítico
Superior (aproximadamente 40000 a.C.), isso pois identificam nessas uma interpretação da
natureza. Para Fiuza e Guerra (2015) – “(...) toda imagem, seja ela desenhada ou fotografada,
é expressão do nosso entendimento da realidade e não seu reflexo, ou seja, as imagens são
signos que são produzidos para comunicar algo a alguém”. Ao invés de “simples”
representações da realidade, as imagens revelariam dimensões do conhecimento e intelecto,
mediados por aspectos sensoriais. Em específico ao que tange a botânica, afirmam que a
produção das imagens teria o potencial de aumentar a semiose a respeito das plantas (folhas,
flores, frutos, raízes) ampliando suas significações e reflexões a respeitos de suas funções. Os
autores defendem o uso de ICs para explorar questões de Natureza da Ciência (NdC).
Azevedo e Del-Corso (2017) tratam os desenhos produzidos por alunos em uma sequência
didática como PE, identificando grande potencial no uso desses para a promoção da
Alfabetização Científica (AC). Mais especificamente no que diz respeito à produção e
comunicação do conhecimento científico, ou seja, relacionados aos aspectos epistemológicos
da construção do conhecimento científico, os quais Sasseron e Carvalho (2011) consideram
como um dos eixos estruturantes da própria AC (Natureza da Ciência).
A AC é atualmente considerada um objetivo central no que tange o ensino de ciências, e de
acordo com Sasseron e Duschl (2016), para promover a AC, à escola não pode se pautar
apenas na explicitação dos conceitos, leis e teorias científicas, mas deveria trabalhar aspectos
epistemológicos que permeiam e permearam os processos da construção do conhecimento
científico. De acordo com Kelly e Licona (2018), considerar a AC como uma visão de
Objetivos
Primeiramente este trabalho apresentou argumentos para considerar Ilustrações Científicas
(ICs) de plantas como Prática Epistêmica (PE) típica da ciência botânica e, por conseguinte,
ter potencial para promoção da Alfabetização Científica (AC). Após estabelecida esta
premissa o trabalho investiga o potencial de uma Sequência Didática (SD) com ICs de plantas
para a promoção da AC e combate a Cegueira Botânica (CB).
Metodologia
A primeira parte da metodologia apresenta a Sequência Didática (SD) produzida, seu contexto
de aplicação e o tipo de dado que foi produzido. Depois é apresentada a metodologia de
análise das ICs produzidas pelos alunos na SD. Estes constituíram o corpus de dados do
trabalho.
A SD foi aplicada na Faculdade SESI de Educação (FASESP) para a turma do segundo ano
de Licenciatura em Ciências da Natureza. O referido curso tem como objetivo a formação de
professores de Ciências para o ensino fundamental II e ensino de Física, Química ou Biologia
para o ensino médio. Um dos autores deste trabalho é professor da instituição desde o
segundo semestre de 2017 e foi o aplicador da SD. A classe continha à época (2018) 16
licenciandos de perfis diversos, havendo graduandos recém-saídos do ensino médio e com as
idades condizentes, 17 ou 18 anos, até alunos formados a muitos anos, sendo pais ou mães de
família e alguns inclusive cursando sua segunda graduação.
A primeira aula da SD foi uma introdução ao curso de Botânica, iniciando-se com uma
apresentação do conceito, de forma dialogada expositiva, de CB (baseado em Wandersee e
Schussler, 2001), seus motivos e implicações para o ensino de ciências e na formação de
professores. No final da aula foi pedido que cada licenciando desenhasse, de memória, uma
planta, preferencialmente com sua respectiva flor ou uma planta e uma flor. O desenho
produzido nesta primeira aula foi intitulado D1. Foram 14 desenhos, já que dois alunos
haviam faltado. Ainda no final da primeira aula foi pedido para cada licenciando desenhar
uma planta observando a mesma diretamente, preferencialmente in loco ou coletando parte da
mesma. Como parte da comanda foi dito que esta planta deveria ser de fácil acesso para um
posterior retorno. Apenas 10 desenhos constituíram o segundo conjunto de dados e foram
chamados de D2, já que quatro licenciandos fotografaram as flores ao invés de desenha-las
com observação direta. E dois não entregaram os desenhos.
Na segunda aula da SD foi usado como estratégia didática a projeção do documentário
“Margareth Mee e a Flor da Lua”. Sendo então solicitado que os licenciandos fizessem,
inspirados pelas ICs da personagem, um terceiro D3, novamente com observação direta e se
possível da mesma planta desenhada em D2. Uma aluna desenhou outra flor. O quarto e
último desenho (D4) foi feito após terem sido trabalhados a anatomia macroscópica das
plantas, também com observação direta da planta e das mesmas plantas anteriormente
desenhadas. Apenas cinco licenciandos entregaram D4. Para abordar a anatomia
macroscópica de folhas e flores foram usados roteiros dirigidos e exemplares coletados de
plantas. As aulas se deram no laboratório de Biologia. Para o reconhecimento das partes e
arranjos das flores (cálice, corola, androceu, gineceu e suas estruturas constituintes) foram
trazidos exemplares de plantas ornamentais comuns (Azálea - Rhododendron sp. –
provavelmente simsii, Pata-de-vaca, Bauhinia forficata e Hibiscus – Hibiscus sp.
provavelmete rosa-sinensis). Esta atividade prática foi adaptada da 6ª atividade da “Proposta
para o ensino de botânica: curso para atualização de professores da rede pública de ensino”,
Antera Verossimilhança
Flor e seus Verticilos Filete Detalhamento
Estigma Textura
Estilete Cores
Pétalas Volume
Variação
Sépalas
posicionamento
Pedicelo Preenchimento
A1
Formato Ampliação de
Limbo estruturas
Nervuras Total
Folha
Borda
Pecíolo
Filotaxia
Estípula
Total
Resultados
Verificou-se melhoria das ICs produzidas pelos alunos ao longo da SD em relação tanto aos
aspectos estéticos quanto ao rigor científico. Em relação aos critérios usados para análise dos
aspectos estéticos (Verossimilhança, Detalhamento, Textura, Coloração, Volume, Variação
do posicionamento, Preenchimento e Ampliação de estruturas) foi observado incremento no
compito final da pontuação dos desenhos de seis entre oito licenciandos quando comparados
D2 e D3. Também é possível verificar aumento na pontuação final quando comparados D2
(77) e D3 (105). Não é possível estabelecer uma relação causa e efeito direta entre a projeção
do documentário “Margareth Mee e a Flor da Lua” e um maior esmero nos desenhos, mas é
plausível acreditar haver correlação, já que a planta modelo era a mesma, e o documentário
foi projetado após os licenciandos terem feito D2 e anteriormente a D3.
Aluno D2 D3 D4 Aluno D2 D3 D4
A1 13 12 15 A1 4 4 5
A2 6 11 13 A2 6 6 7
A3 13 18 20 A3 8 9 13
A4 12 13 10 A4 6 7 10
A5 8 12 9 A5 5 7 9
A6 1 9 Total 29 33 44
A7 10 9
A8 14 21
Total 77 105
Quanto ao rigor científico pode ser observado que para todos os licenciandos que entregaram
os quatro desenhos ocorre um aumento na quantidade das estruturas representadas. Também
pode-se perceber que em cindo desenhos D2 foram representadas 29 estruturas, em D3 33, já
em D4 foram 44. Novamente não é possível estabelecer uma relação causa e efeito direta
entre o aumento da quantidade de estruturas representadas e as aulas teórico práticas sobre as
formas e estruturas das flores e folhas, mas também parece ser plausível haver alguma
correlação. Vale lembrar que as aulas que versavam sobre as estruturas e os componentes das
flores e folhas ocorreram após os licenciandos terem feito o 3º desenho (D3) e antes de
fazerem a 4ª ilustração (D4). Outro fator que apoia a plausibilidade da correlação é o fato de
que ocorre um aumento mais significativo da quantidade de estruturas representadas na
comparação de D3 e D4 (11) do que entre D2 e D3 (3). Essa maior diferença apoia a
suposição de que as aulas teórico práticas sobre as formas e estruturas das flores e folhas
podem ter relação com o aumento da quantidade de estruturas representadas. Por fim há o fato
de que dois de cinco licenciandos representaram a mesma quantidade de estruturas em D2 e
D3, mas nenhum deixou de representar mais estruturas após as aulas teórico práticas em
comparação com o desenho anterior (comparação entre D3 e D4).
Figura 1: Exemplos do segundo (D2) e terceiro (D3) desenhos de uma aluna para ilustrar o incremento nos
aspectos estéticos.
Figura 2: Ilustrando o incremento no rigor científico e da esquerda para a direita, foto da planta utilizada como
modelo e enviada pela aluna, segundo desenho (D2), terceiro desenho (D3) e quarto desenho (D4).
Conclusão
Autores como Milach et al (2015) Moura et. al (2016) e Almeida (2014) afirmam que a IC
consiste na produção de desenhos para representar a biodiversidade em que a aplicação de
conhecimentos científicos se soma a preocupações com aspectos estéticos para melhorar a
fidedignidade, o que teria grande importância para identificação, análise e classificação.
Acreditamos que os desenhos produzidos pelos licenciandos apresentaram incrementos no
que tange a estes dois aspectos, ou seja, tanto em relação ao rigor científico, quanto aos seus
aspectos estéticos.
Mesmo não podendo ser garantida uma relação direta de causa e efeito, é válido supor haver
correlação entre o amadurecimento estético dos desenhos produzidos pelos licenciandos e a
projeção do documentário “Margareth Mee e a Flor da Lua”. Isso já que após a projeção do
referido documentário houve significativa melhora dos desenhos em relação aos critérios
usados para análise dos aspectos estéticos (Verossimilhança, Detalhamento, Textura,
Coloração, Volume, Variação do posicionamento, Preenchimento e Ampliação de estruturas).
Admitimos haver subjetividade na avaliação de aspectos estéticos e um número reduzido de
desenhos analisados.
A evolução em relação ao rigor científico foi aferida pelo aumento da quantidade de
estruturas das flores e folhas (Antera, Filete, Estigma, Estilete, Pétalas, Sépalas, Pedicelo,
Formato do limbo, Nervuras, Borda, Filotaxia e Estípulas), quando adequadamente
representadas, nos desenhos. Novamente não é possível estabelecer uma relação causa e efeito
direta, mas é plausível considerar haver correlação com as aulas teórico-práticas, já que o
progresso se deu principalmente após essas aulas.
Consideramos que os desenhos dos licenciandos podem ser considerados ICs, já que há
evidências de preocupação tanto com relação aos aspectos estéticos como quanto ao rigor
científico. O progresso no esmero dos aspectos estéticos e no rigor científico permite
considerar que houve engajamento na produção das ICs. E já que ICs podem ser consideradas
como uma PE característica da ciência biologia e, em especial, da botânica, entendemos então
que houve engajamento em PE e por conseguinte aprendizagem sobre NdC.
Com isso posto concluímos que o engajamento na PE da IC Botânica têm potencial para a
promoção da AC, tanto no que tange a construção do conteúdo conceitual (primeiro eixo da
AC) como em relação a NdC (segundo eixo da AC). Acreditamos que promoção da AC em
conteúdos conceituais de Botânica e em NdC Botânica teria o potencial de combater a CB. O
combate a CB se dá também pelo aumento da percepção das plantas que existem no entorno e
por proporcionar oportunidade de apreciação das características biológicas estéticas e únicas
das formas de vida pertencentes ao Reino Vegetal.
Agradecimentos e apoios
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
financiamento, ao Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade de
São Paulo e a Faculdade SESI de Educação.
Referências
ALMEIDA, A. S. D., “O desenho de Margaret Mee: Contribuições para a taxonomia
botânica”. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana, Bahia, 2014.