Catecismo AULA 38 A 70
Catecismo AULA 38 A 70
Catecismo AULA 38 A 70
O Catecismo diz que o homem não pecou por iniciativa própria. A narração da
Criação corrobora essa ideia. O homem pecou porque se deixou seduzir por
Satanás. Mas, quem é Satanás?
Mais uma vez é o Catecismo quem oferece a resposta dizendo que se trata de
"… uma voz sedutora que se opõe a Deus e que, por inveja", seduziu os
primeiros pais. Trata-se de um "anjo destronado". Ora, se é um anjo foi criado
por Deus e, se foi criado por Deus, foi criado naturalmente bom. Trata-se,
portanto, de uma criatura, não de um deus mau – um demiurgo -, ou de um ser
que se encontra em igual paridade com Deus. Não. Esta é a primeira verdade
que precisa ser absorvida: Lúcifer é um anjo, portanto, uma criatura inferior a
Deus.
A pergunta que deve ser formulada em seguida é o que teria acontecido para
que Lúcifer, um anjo bom, tenha decidido virar as costas para Deus e se tornar
Satanás/Diabo. O Catecismo fala de uma desobediência angélica, de um
pecado cometido por ele, que originou a Queda propriamente dita. Ele e os
demais anjos que pecaram não foram poupados por Deus: "Com efeito, Deus
não poupou os anjos que pecaram, mas lançou-os nos abismos tenebrosos do
Tártaro, onde estão guardados à espera do Julgamento"(2 Pe 2, 4).
A Sagrada Escritura fala sobre uma batalha no céu, assim, com o auxílio da
teologia de Santo Tomás de Aquino e da Summa Daemoniaca, do Padre José
Antonio Fortea, é possível traçar algumas considerações. Em primeiro lugar, a
narração da batalha contida no capítulo 12, do Apocalipse:
Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o
Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e
não se encontrou mais um lugar para eles no céu. Foi expulso o grande
dragão, a antiga serpente, o chamado Diabo ou Satanás, sedutor de toda a
terra habitada – foi expulso para a terra, e seus anjos foram expulsos com ele.
Nesse espaço de tempo anterior ao pecado, estima-se que Deus não havia se
mostrado completamente aos anjos. O pecado só pode ocorrer quando não se
vê a Deus, que é a verdade fulgurante, o sumo bem e cuja face é tão atraente
e irresistível que o conceito de pecado não pode se aproximar. Assim, os anjos
não tinham visto a Deus antes de pecarem. Apesar disso, os anjos são puro
espírito e foram dotados com dons superiores aos concedidos aos homens,
conforme já estudado. Eles tinham pleno conhecimento e entendimento. O que
teria motivado, então, a desobediência deles? Santo Tomás sugere que Deus
lhes revelou o plano de salvação dos homens, ou seja, que Jesus haveria de
encarnar-se no seio de uma virgem, viver de forma humana e morrer na cruz.
Tal plano teria sido encarado como absurdo, dado a majestade divina frente à
pequenez humana. Lúcifer teria se recusado a servir o Deus Encarnado e
convencido, por meio de mentiras, outros anjos. Isso teria motivado o "não
servirei" proferido por ele e que precipitou a batalha narrada em Apocalipse.
Deus não desejava que os seus anjos se perdessem. Por isso, durante um
certo tempo, mandou-lhes a sua graça. Porém, sistematicamente eles a
recusaram. E, como Deus respeita a liberdade de suas criaturas, em dado
momento, cessou de mandar a graça. Deus virou as costas a Lúcifer e seus
anjos. A partir daí, irrevogavelmente, eles se transformaram em Satanás e os
seus demônios. Não havia mais o que se fazer, pois, a vontade deles estava de
tal forma empedernida que somente existia um ódio profundo contra Deus e a
criação.
A lição mais importante dessa batalha para o ser humano é que Deus envia a
cada um a sua graça, desejando ardentemente que, livremente, o homem
escolha amá-lo. Porém, essa chance encerra-se com a morte, quando então o
destino do homem é selado para toda a eternidade. Cada homem é livre para
escolher de que lado ficará.
AULA 39
O pecado original
A doutrina do pecado original é uma verdade de fé, portanto, deve ser crida.
Infelizmente, a teologia liberal moderna, representada principalmente pela
Teologia da Libertação, insiste em negar a existência do pecado original. Isso
acontece porque esta teologia deseja implantar o reino do céu neste tempo.
Porém, isso somente seria possível se o pecado original não existisse, caso
contrário, o homem continuaria pecando e não poderia ser implantado o
“paraíso” aqui na terra. Isso é óbvio, mas a ideia de que o pecado original é
uma invenção de Santo Agostinho tomou corpo e vem seduzindo a muitos na
Igreja Católica. Dizer que Santo Agostinho criou a doutrina do pecado original é
outra afirmação sem lógica, pois, como se explicam as diversas referências a
ele nas cartas paulinas?
No seu plano original, Deus queria dar ao homem a divinização. Isso seria feito
por meio da graça, pois desejava que o homem fosse filho, como o filho Jesus.
Porem, o homem quis ser Deus, mas sem Deus. Bastava ao homem submeter-
se com confiança a Deus, para seu próprio bem, para permanecer em
harmonia com Ele e com a criação, entretanto, deixou-se seduzir pela mentira
de Satanás.
Deus tem ciúme do homem, isso é fato comprovado até mesmo nas Sagradas
Escrituras, mas não é o tipo de ciúme doentio que se vê pelo mundo. O ciúme
de Deus não é por causa da usurpação de suas prerrogativas, por medo de
que algo ou alguém lhe tome o lugar. Essa ideia é absurda, até mesmo cômica,
pois Deus é Deus, infinitamente maior e mais poderoso que qualquer outra
realidade.
O ciúme de Deus é por receio de que sua criação se perca. Deus não quer que
nenhum homem deixe de salvar-se. A todos destinou o céu. Para isso deu seu
filho Jesus, para a salvação dos homens. Ora, Ele sabe que o homem só
poderá salvar-se se O obedecer, se trilhar o caminho da obediência, do “sim”
ao seu projeto. Amar a Deus é bom para o homem. Obedecer a Deus garante
ao homem o caminho da salvação. O contrário é a morte, a perdição certa.
Este é o ciúme de Deus.
Referências
1. fenomenologia: fe.no.me.no.lo.gi.a: sf (fenômeno+logo2+ia1) 1 p us
Ramo de uma ciência, o qual trata da descrição e classificação de seus
fenômenos. 2 Med O mesmo que sintomatologia. 3 Filos Em Hegel,
espécie de autobiografia do espírito, que transita do conhecimento sensível
ao verdadeiro saber; em Husserl, método filosófico que visa a apreender as
essências absolutas das coisas.
AULA 40
Consequências do pecado de
Adão para a humanidade
Nesta aula, falaremos sobre o pecado original "originado", ou seja, de como é
que o pecado original age em cada ser humano. A doutrina do pecado original
originado, ou seja, aquele primeiro pecado cometido por Adão, encontra seu
fundamento bíblico básico na Carta de São Paulo aos Romanos: "de modo
que, como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores,
assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos. (5,19)"
Assim, todo ser humano, de alguma forma, recebe a herança negativa dos
primeiros pais e a retransmite para todas as gerações. Como essa herança é
transmitida o próprio Catecismo adianta que é um mistério, porém, é possível
adiantar que isso não se dá por imitação, nem por contágio social, mas pela
natureza humana. Ou seja, juntamente com outras características humanas, de
alguma forma a mancha do pecado original e suas consequências são
transmitidas ao homem.
Dessa forma, todos os seres humanos são influenciados pela situação de
decadência representada pelo pecado original originado, todos, sem exceção,
recebem essa herança negativa. O modo pelo qual essa herança é transmitida
é um mistério, porém, é possível refletir sobre isso.
Realmente não consigo entender o que faço; pois não pratico o que quero, mas
faço o que detesto. Ora, se faço o que não quero, eu reconheço que a Lei é
boa. Na realidade, não mais eu que pratico a ação, mas o pecado que habita
em mim. Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o
querer o bem está ao meu alcance, não porém o praticá-lo. Com efeito, não
faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que eu não quero. (Rm 7, 15-19)
Esta tendência para praticar o mal é pouco ou mal explicada por outras
religiões que não têm a doutrina do pecado original. A Igreja Católica explica a
miséria que oprime os homens e a inclinação para o mal que toda a
humanidade possui por meio dela. Inclusive é a doutrina do pecado original
uma verdade de fé. É por causa dela que a Igreja batiza as crianças ainda
bebês, porque todos os homens "nascem" com a mancha do pecado original
originado pelo primeiro ato de desobediência a Deus cometido por Adão.
Esse primeiro ato foi um pecado pessoal de Adão e de Eva e não cometido por
cada ser humano nascido após eles. Isso é óbvio. Assim, esse pecado causou
uma desordem na natureza humana, tornando-a decaída. Portanto, a natureza
humana decaída é transmitida como característica, como herança. É possível
afirmar, então, que o pecado original é um "estado" e não um ato.
Já a Santa Igreja Católica crê que nem o otimismo radical do pelagianismo nem
o pessimismo radical dos protestantes estão corretos. Ela crê que embora a
natureza humana esteja decaída, ainda é humana e pode, por meio da graça,
da virtude e de uma vida reta chegar à santidade.
AULA 41
Um duro combate
O pecado original é um tema bastante complexo e, atualmente, é um dos
dogmas da fé que estão sendo atacados, principalmente no Brasil. Algumas
correntes teológicas deixaram de acreditar no pecado original. Contudo, o
pecado original é uma verdade de fé, assim, não pode ser negada. Mais que
isso, o pecado original, segundo Chesterton "constitui a única parte da teologia
cristã que pode realmente ser provada". Basta olhar para dentro de si mesmo
para perceber que existe uma espécie de escravidão relacionada com o
pecado de Adão, com o próprio pecado de cada um e também relacionada com
o Demônio. É isso que será estudado hoje.
Não é possível negar a doutrina do pecado original e nem que ele permitiu a
entrada do Maligno no mundo. A Tradição já ensina essa verdade há bastante
tempo:
O poder do Diabo é o domínio sobre a morte, porque ele quer matar o ser
humano, mas não com a morte fisicamente somente. Acima de tudo, ele quer a
morte eterna, pois, é homicida desde o princípio. Para conseguir seu intento, o
Demônio se utiliza da tentação, ou seja, de incutir ideias nas mentes humanas,
sugerindo situações que levem direta ou indiretamente à prática do pecado,
com o fim único de tirar aquela alma de Deus. Assim, é possível dizer que o
fenômeno mais terrível da ação demoníaca é a tentação e não, como muitos
pensam a possessão. É da tentação que as pessoas têm que se prevenir, pois
é aí, quando o homem é livre é que é seduzido e diz livremente "eu quero"
pecar.
O teólogo Padre José Antonio Sayez, em seu livro "O demônio: realidade ou
mito", diz que o pecado original que entrou no mundo tem a ver com a entrada
do demônio no mundo, afirmando isso a partir de um texto da Carta de São
Paulo aos Romanos, no capítulo 5. Embora seja uma explicação teológica e,
por isso, não se tratar de uma verdade de fé, é importante para esclarecer a
compreensão do tema. O Padre pergunta como é que se dá a transmissão do
pecado original. O Catecismo diz que é um mistério, porém, na referida Carta,
São Paulo diz que foi pela transgressão de Adão entrou no mundo o pecado.
Ou seja, o pecado era uma realidade que já existia fora do mundo, portanto, o
pecado não é o pecado, mas sim, o Diabo, o Pecador.
Adão abriu uma porta com sua liberdade e por ela o pecado entrou no mundo.
Deus criou o mundo sem a presença do Diabo e foi através da liberdade do
primeiro homem que o Diabo entrou. Por isso ele é chamado de Príncipe,
Dominador. Foi o homem quem conferiu a ele o domínio, o poder de agir. O
mundo passa a ser o local de ação do Diabo. Assim, segundo José Antônio
Sayez, o pecado original em sua natureza mais íntima, aquele originado, seria
uma presença demoníaca.
Uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história universal da
humanidade. Iniciada desde a origem do mundo vai durar até o último dia,
segundo as palavras do Senhor. Inserido nesta batalha, o homem deve lutar
sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade interior senão
com grandes labutas e o auxílio da graça de Deus. (409)
AULA 42
Vós não o abandonastes ao
poder da morte
Hoje se encerra o Capítulo 7, que trata da Queda, da transgressão de Adão. O
que aconteceu após os primeiros pais terem comido do fruto proibido? O Livro
do Gênesis, ainda no capítulo 3 diz que após terem pecado, Adão e Eva
esconderam-se Deus, que passeava na brisa da tarde. Deus sabia que tinham
desobedecido, por isso mandou que saíssem do paraíso e postou na entrada
os querubins, impedindo-lhes a volta.
Após deparar-se com o pecado de Adão, Deus não vira as costas a ele, pelo
contrário, anuncia "de modo misterioso a vitória sobre o mal e o soerguimento
da queda. (410)" Assim, depois da má notícia, percebe-se a primeira Boa
Nova. Os teólogos chamam a esse trecho de "proto-evangelho".
Da mesma forma, a mãe de Jesus, Maria, é tida como a nova Eva, pois: "ela foi
preservada de toda mancha do pecado original e durante toda a vida terrestre,
por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado.
(411)"
Outro questionamento que tem sido formulado ao longo dos tempos e que o
Catecismo tentará responder é "por que Deus não impediu o primeiro homem
de pecar?". Adão e Eva tinham acabado de ser criados, eram inocentes,
ingênuos, como crianças espirituais, mas não tinham "experiência", é claro que
tinham a graça e a revelação de Deus com todas as armas para não pecarem.
Mas o Tentador os seduziu e por que Deus não impediu? Por que Deus não
resolveu passear antes e impediu a sedução? A resposta vem dos Santos,
conforme cita o Catecismo. Então, é preciso que o homem se entregue
totalmente à bondade e à Divina Misericórdia de Deus, pois Ele permite que
dos males saia um bem maior.
Essa característica divina é uma boa notícia para os homens, pois, a cada cruz,
a cada decepção sofrida na vida é preciso pensar que é sempre possível tirar
um bem maior desse mal. Para isso, São Tomas Moore nos diz que as coisas
de Deus, embora pareçam más, na verdade, são ótimas. É por isso que Deus
permite certas situações na vida do homem. É porque sabe que pode tirar
disso um bem superabundante. Afinal, "onde abundou o pecado superabundou
a graça". Por esse motivo Deus não impediu que Eva pecasse, por isso não
impediu a serpente de aproximar-se, porque sabia que um bem maior seria
extraído. Sem contar a liberdade plena e, de certa forma trágica, com que
dotou os homens.
Deus, portanto, não abandonou o homem à própria sorte. Poderia tê-lo feito, já
que houve a desobediência de fato, mas não o fez. Pelo contrário, do mal
cometido extraiu um bem maior, uma vitória completa sobre o Inimigo. Quanto
ao homem, permite que situações negativas aconteçam, mas dá também a
graça de suportá-las.
AULA 43
Conforme diz o Papa Bento XVI, no início da carta encíclica Deus Caritas Est:
"ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo
horizonte e, dessa forma, o rumo decisivo". Portanto, Jesus é um
acontecimento histórico, é Deus que se fez carne e habitou entre os homens.
Essa é a razão pela qual o Cristianismo tem algo que nenhuma outra religião
possui: um Deus que se fez homem. É por isso também que não é possível
dizer que todas as religiões são iguais, pois nenhuma outra tem um Deus que
se fez carne. Em todas as outras religiões do mundo Deus está fora da
História, está longe, porém no Cristianismo, Deus é real, viveu, morreu e
ressuscitou. Ele é referência histórica real.
Mas, o que significa dizer que "Jesus se fez carne"? É São João quem
responde, por meio de uma profissão de fé "empírica" em sua primeira Carta:
São João enfatiza os aspectos físicos de Jesus para livrar os primeiros cristãos
da heresia docetista, que dizia que Jesus não havia sido homem, mas tão
somente Deus. Afirmavam que a morte e a ressurreição de Jesus havia sido
uma ilusão. Portanto, esta era a grande dificuldade dos primeiros cristãos:
acreditar que Jesus havia sido homem.
Assim, todo o ensinamento católico deve ocorrer tendo como centro a Pessoa
de Jesus Cristo. A finalidade da catequese não pode ser outra que não "levar à
comunhão com Jesus Cristo: só ele pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e
fazer-nos participar da vida da Santíssima Trindade" (426)
AULA 44
O nome de Jesus
O centro da fé católica é Jesus Cristo. O que quer dizer "Jesus Cristo"? Em
primeiro lugar, é preciso saber que Jesus é o nome que ele recebeu quando
nasceu. Cristo é um título que lhe foi atribuído. A partir da profissão de fé de
Pedro, os discípulos tomaram consciência de Jesus é o Ungido, o Messias,
aquele previsto por Deus para salvar a humanidade. Assim, Jesus não é um
nome qualquer, pelo contrário, é programático e designa a sua verdadeira
identidade: "Deus salva". Foi o próprio Deus Pai, por meio do anjo Gabriel
quem deu o nome a Jesus.
Logo no início desse estudo, tem-se a identidade de Jesus como o "salvador",
aquele veio ao mundo para salvar a humanidade dos pecados e das misérias.
A realidade da Redenção que Jesus traz está imbuída também na pronúncia
que o nome traz. Quando se diz que o "nome de Jesus tem poder", não é uma
espécie de fetichismo, de magia. Para formular uma "imagem" de Deus,
atribuindo-lhe características, é preciso recorrer ao imaginário pessoal, já que
"ninguém nunca viu a Deus", portanto, não existe nada com que se possa
compará-lo. Os nomes a Ele atribuídos (bom, justo, fiel, misericordioso etc.)
são retirados de realidades concretas, mas nessas mesmas realidades podem
ser inseridas as experiências de cada pessoa. É importante lembrar que os
conceitos que cada um traz consigo podem ter sido, de certa forma, deturpados
por causa da natureza humana lesada. Nesse caso, atribuir a Deus um
conceito puramente humano, implica em atribuir-lhe um conceito lesado, que
não condiz com o que Ele realmente é.
Tende em vós o mesmo sentido de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e
não considerou ser igual a Deus como algo a se apegar ciosamente, mas
esvaziou-se de si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a
semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi
obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o sobreexaltou
grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo o nome, para que, ao
nome de Jesus, se dobre todo joelho dos seres celestes, dos terrestres e dos
que vivem sob a terra, e, para a gloria de Deus, o Pai, toda língua confesse:
Jesus é o Senhor. (Fl 2, 5-11)
É importante, então, que todo cristão tenha sempre nos lábios o nome de
Jesus. O exercício oriental da oração monológica, ou seja, da invocação do
nome de Jesus é um meio eficaz para obedecer ao mandamento do próprio
Jesus: "orai sem cessar".
AULA 45
Os títulos de Jesus
Jesus também é chamado de "ungido". Essa palavra nem sempre é bem
compreendida no mundo ocidental, mas, no oriental, ela é usada de forma
reverente. Ungir significa passar óleo, untar. Na cultura ocidental, onde vivia o
povo de Deus, moravam no deserto e lá, não costumavam tomar banho, mas
apenas fazer abluções, que consistia em lavar o rosto e as mãos. O clima do
deserto ressecava a pele e o óleo servia como hidratante. O óleo servia
também como perfume. Após ser ungida com esse óleo hidratante e
perfumado, a pessoa sentia-se revigorar, sentia a recuperação de suas forças.
Assim, o óleo sempre foi considerado como uma força, uma unção. Também
consolação, por causa do perfume.
O óleo era ainda utilizado como sinal de consagração. Inúmeras passagens
bíblicas dão conta da importância da unção. Reis, sacerdotes e profetas eram
ungidos. Justamente essas três realidades fazem parte das características de
Jesus Cristo. Os três múnera de Jesus são esses: ele é sacerdote, porque é
separado do meio dos homens, para salvar os homens; Ele é profeta, porque é
chamado a ouvir a Palavra de Deus e repassá-la aos demais homens e é Rei
porque é chamado a lutar contra o Mal, ele tem a força para combater o mal.
Assim, "Jesus realizou a esperança messiânica em sua tríplice função de
sacerdote, profeta e rei." (436)
Dos títulos de Jesus, o de "Filho de Deus" é aquele que ele tem desde a
eternidade, pois desde sempre foi ungido pelo Pai. O título Cristo se aplica
mais ao Filho encarnado, pois o Espírito Santo que é derramado de forma
especial nos reis, profetas e sacerdotes, em Jesus não só foi derramado, mas
permaneceu Nele.
No nome de Cristo está impressa também a Santíssima Trindade. É Santo
Irineu de Lyon quem explica que "… está subentendido Aquele que ungiu,
Aquele que foi Ungido e a própria Unção com que ele foi ungido." Jesus é
Messias desde o ventre de Maria, no batismo de João houve uma confirmação
dessa Unção que já estava lá desde o início. Os vários acontecimentos na vida
terrena de Jesus podem ser lidos como um crescimento na unção, sendo que a
ressurreição seria o momento da unção máxima da humanidade de Cristo. Em
alguns sermões dos Atos dos Apóstolos é possível perceber como, na
ressurreição, o Senhorio de Jesus foi realizado plenamente na natureza
humana de Jesus, que se torna régia, majestosa, divinizada.
No início de seu ministério, Jesus faz todos os esforços para que as pessoas o
reconheçam como o Messias, título este a que tinha direito. Porém, a partir da
profissão de fé de Pedro, quando ele afirma: "tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo", Jesus passa a pedir para que os apóstolos não mais se referissem a ele
dessa forma. Isso aconteceu porque a vinda do Messias, para os judeus, tinha
uma forte conotação política. Desse momento em diante, Jesus passou a falar
de sua morte, de sua morte na cruz. Para os discípulos o tipo de morte
anunciada por Jesus era algo inconcebível. Eles esperavam um Messias
triunfante, nada de messias crucificado. Tanto é que os judeus até hoje não
acreditam em Jesus Messias justamente pela morte que sofreu e também
porque o mundo continua igual.
Nos Atos dos Apóstolos está escrito que os cristãos foram chamados assim
pela primeira vez em Antioquia. Cristão quer dizer alguém que partilha da
unção de Jesus Cristo. Essa unção, porém, não é um "sentimento", "um
arrepio", "uma emoção". A unção, porém, não é necessariamente algo de
caráter positivo. Ela pode acontecer numa denúncia clara, como é o caso de
João Batista.
Cada cristão, ao receber a unção de Jesus, torna-se sacerdote, profeta e rei.
Sacerdote quando oferece no dia a dia os seus sofrimentos; profeta porque
com seu exemplo de vida, colocando em prática a Palavra de Deus, leva outros
para Cristo; e, finalmente, rei porque todos são chamados a derrotar o
Demônio, rei é aquele que luta contra a iniquidade e a injustiça. Assim, todos
os cristãos recebem as três funções de Cristo.
AULA 46
Alguns teólogos dizem que essa profissão de fé de Pedro na verdade foi uma
constatação ocorrida após a Páscoa de Jesus, anacronicamente colocado
antes do tempo. Historicamente, em Cesaréia, a profissão teria sido aquela que
consta no Evangelho de são Marcos. Embora pareça lógico, o então Cardeal
Joseph Ratzinger diz que a razão pela qual Jesus foi condenado foi justamente
porque ele se fez Deus. Os Evangelhos noticiam esse fato:
Quando se fez dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo e chefes dos
sacerdotes e escribas, e levaram-no para o Sinédrio, dizendo: “Se tu és o
Cristo, dize-nos!” Ele respondeu: “Se eu vos disser, não acreditareis, e se eu
vos interrogar, não respondereis. Mas, desde agora, o Filho do Homem estará
sentado à direita do Poder de Deus!” Todos então disseram: “És, portanto, o
Filho de Deus?” Ele lhes declarou: “Vós dizeis que eu sou” Replicaram: “Que
necessidade temos ainda de testemunho? Ouvimo-lo de sua própria boca.” (Lc
22, 66-71)
São Pedro e também São Paulo foram iluminados por Deus para reconhecer
em Jesus, o Cristo. Essa assistência divina continua na iluminação dos Papas
ao longo do tempo. Todos os católicos devem pedir a Deus a iluminação de
Deus sobre esse fato crucial de toda a fé: que Jesus Cristo é verdadeiramente,
realmente o Filho Único de Deus. Os homens são filhos de Deus por graça,
mas Jesus é filho de Deus por natureza. O batismo faz o homem corpo de
Cristo, por isso torna-se filho de Deus. Por adoção.
Os apóstolos sabiam que Jesus era o filho de Deus, não somente pela
profissão de fé de Pedro, feita antes da Páscoa, mas também porque ele sobre
com Jesus ao monte Tabor e presencia quando Deus Pai apresentou a Jesus
como seu filho. Portanto, Jesus sempre foi, desde toda a eternidade, filho de
Deus. Ele não se tornou filho de Deus após o batismo. Esta é uma heresia
denominada adopcionismo 01. Ela tem sido utilizada atualmente pela teologia
da libertação que quer transformar a filiação de Jesus e o seu batismo num
“símbolo”, desprovido da ação divina.
Assim, Jesus é filho de Deus de um jeito que o homem não é. Ele é filho por
natureza, enquanto o homem é por graça. Uma característica do inferno é
justamente essa: a orfandade, o não ser filho de ninguém, o pensar com a
própria cabeça, não querer ninguém a indicar o caminho, não querer ter um pai
que disciplina e ensina. Então, quando o homem se sabe “filho”, ele se deixa
modelar, cada vez mais se conforma com Deus, adentrando ao corpo de Cristo
e se tornando filho de Deus por graça.
Referência
Senhor
Continuando a investigação acerca dos títulos atribuídos a Jesus, tem-se agora
o de "Senhor". Os judeus evitam a todo custo pronunciar o nome Iahweh, que é
o tetragrama sagrado revelado por Deus a Moisés no deserto. Esse nome era
pronunciado somente uma vez por anos pelos sacerdotes, conforme já visto
em aulas anteriores. Assim, quando um judeu se põe a ler as Sagradas
Escrituras, ele não pronuncia as quatro letras sagradas e em seu lugar,
pronuncia "Adonai", que quer dizer "meu senhor", portanto, este é o título mais
utilizado pelos judeus para referir-se a Deus. Às vezes utilizam "O NOME" ou
"rachém", em hebraico, porém, sempre no sentido de contornar a questão e
não pronunciar as quatro letras sagradas.
Todo cristão sendo servo, escravo de Deus se tornará senhor do mundo. É por
isso que os três múnero (múneras) que Jesus oferece a todo cristão quando
este consegue reagir de forma soberana à tentação do Inimigo. Maria tornou-se
escrava de Deus de forma perfeita. O próprio Jesus submeteu-se a ela durante
trinta anos e isso mostra claramente o quanto Maria foi submissa a Deus, pois
ele, sendo Deus não seria submisso e obediente a qualquer pecador ou
alguém que não fizesse a vontade do Pai. Assim, Jesus é Senhor pela sua
divindade, Maria é Senhora por sua humildade e submissão.
Todo cristão é chamado a aceitar o senhorio de Jesus em sua vida, pois, "o
nome Senhor designa a soberania divina. Confessar ou invocar Jesus como
Senhor é crer em sua divindade. Ninguém pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’ a não
ser no Espírito Santo" (455).
AULA 48
Se alguém disser que o homem é absolvido dos pecados e justificado pelo fato
mesmo de se crer com certeza absolvido e justificado, ou que ninguém é
realmente justificado, senão quem crê que está justificado, e que por esta fé
sozinha se opera a absolvição e a justificação: seja anátema.
Jesus é filho de Deus por natureza, mas Ele também quer todos os homens
sejam filhos de Deus, assim, ao fazer-se homem, adotando a natureza
humana, Ele faz de todos os homens filhos de Deus por graça. Rebaixando-se
à criatura, Ele eleva todos os homens a Deus.
O homem foi criado para participar da natureza divina e isso se daria pela
graça. Contudo, Adão e Eva quiseram ser deuses, sem Deus. É por isso que o
pecado original atinge de forma tão profunda, pois está arraigado na própria
natureza humana. Quando assumiu a natureza humana Jesus possibilitou que
o homem cumprisse o projeto inicial de Deus, o de participar da natureza
divina, mas, desta vez, com Deus, por meio da graça. O homem passa a ser,
de alguma forma, Deus também, participante da glória divina. Santo Atanásio é
que resume bem essa condição: “O Filho de Deus se fez homem para que nos
fazer Deus”. O homem será Deus não por seu próprio mérito, mas por pura
graça divina, propiciada pela encarnação de Jesus.
O Verbo se fez carne também para que o homem pudesse conhecer o amor de
Deus. Este amor é algo já suspeitado pelas narrativas do Antigo Testamento,
mas jamais poderá ser compreendido em sua plenitude. É o que São Paulo
chama de “o mistério escondido” ao longo dos séculos. A revelação do amor de
Deus tem um caráter salvífico porque quando o homem conhece o amor de
Deus é imediatamente atraído para Deus. São Bernardo de Claraval diz que
todo ser humano tem o dever de amar a Deus e que o cristão tem essa missão
facilitada, pois, ao olhar o quanto Deus amou o homem na cruz, percebe-se
amado por Ele. O conhecimento do amor de Deus propicia amar de volta.
Por fim, é preciso perceber que o amor é uma espécie de morte vivificante, ou
seja, morrendo é possível adquirir vida. Olhar para o mistério pascal e aplicá-lo
no dia a dia é uma experiência de santificação. A vida humana do homem se
torna muito mais realizada quando ele se esquece de si mesmo e passa a se
doar ao outro. É por isso que Deus diz que quem se perder, irá se salvar. É o
mistério da sarça ardente, uma chama que arde, mas não se consome. O
mistério pascal: morte e ressurreição.
AULA 49
A Encarnação
A encarnação do Filho de Deus é um dos dogmas centrais da fé católica. Mas,
o que vem a ser a "encarnação"? Entende-se por encarnação "a unidade da
natureza divina e da natureza humana na pessoa de Cristo" 01. Ou seja, Jesus
Cristo, filho de José e de Maria, nascido em Belém, é, ao mesmo tempo,
homem e Deus. Como isso acontece? Trata-se da chamada união hipostática
que consiste no fato de que "em Deus, a essência ou natureza divina é idêntica
ao ser; logo, Cristo, que tem natureza divina subsiste como Deus, como pessoa
divina, e é uma só pessoa, a divina. Por outro lado, a possibilidade de separar
a natureza humana da existência faz que Cristo possa assumir a natureza
humana (que é alma racional e corpo), sem ser pessoa humana", ensina Santo
Tomás de Aquino, na Suma contra os Gentios.
Jesus Cristo é total e verdadeiramente homem e Deus ao mesmo tempo. Isso
não quer dizer que Ele tinha conhecimento de tudo o que lhe aconteceria ao
longo de sua vida entre os homens. Ele viveu plenamente sua condição
humana, inclusive nas fases de crescimento. Teve que ser amamentado,
cuidado, educado pelos seus pais. Durante sua vida foi preparado para a
missão a que se propôs enquanto Segunda Pessoa da Trindade Santa. É por
isso que não procedem as informações constantes em alguns evangelhos
apócrifos de que o Menino Jesus teria feito milagres durante a infância. Os
Evangelhos Canônicos são unânimes em narrar a passagem em que informa
que foi justamente em Nazaré que Ele fez menos milagres:
Ora, se Jesus tivesse sido um garoto com "poderes", sua fama teria se
espalhado, ele seria conhecido e não causaria esse escândalo narrado na
Escritura. O fato de Jesus ser Deus não teve influência psicológica no "homem"
Jesus a não ser naquilo que era importante para a sua missão. Assim diz o
Catecismo:
A segunda heresia que a Igreja teve que combater foi a chamada "adoci
onista", que professava que Jesus nasceu e cresceu somente com a natureza
humana e, por ocasião do batismo é que a natureza divina teria sido nele
impregnada.
Este Filho é também Filho por natureza, não por adoção, ele que Deus Pai,
como se deve crer, gerou não por vontade, nem por necessidade, já que em
Deus não cabe qualquer necessidade, nem a vontade precede a sabedoria.
(DS 526)
Assim, com a vitória sobre essas primeiras heresias a doutrina católica foi se
firmando ao longo do tempo crendo que a "fé na Encarnação verdadeira do
Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã". (CIC 463)
Referências
AULA 50
A heresia nestoriana diz que Jesus tem duas pessoas e manifestou-se com a
oposição ao título de Maria, Mãe de Deus, ou seja, Maria é mãe do quê? É
mãe da natureza humana. Mas quando se pergunta: "é mãe de quem?", só há
uma pessoa divina, portanto, só uma resposta: Maria é Mãe de Deus porque
Jesus é a segunda pessoa da Santíssima Trindade.
Assim, é interessante frisar que, para afirmar uma verdade a respeito de Jesus
tenha sido preciso utilizar um título de Maria. Pelo Concílio de Éfeso foi
confirmada a substância cristológica que "Maria é a Mãe de Deus" –
Theotokos, Deípara:
Não dizemos, de fato, que a natureza do Verbo foi transformada e se fez carne,
mas também não que foi transformada em um homem completo, composto de
alma e de corpo; antes, porém, que o Verbo uniu segundo a hipóstase a si
mesmo uma carne animada por alma racional e veio a ser homem, de modo
inefável e incompreensível, e foi chamado filho do homem, não só segundo a
vontade ou o beneplácito, nem tampouco como assumindo somente a pessoa;
e que são diversas as naturezas que se unem numa verdadeira unidade, mas
um só o Cristo e Filho que resulta de ambas; não porque a diferença das
naturezas tivesse sido cancelada pela união, mas, ao contrário, porque a
divindade e a humanidade, mediante seu inefável e arcano encontro na
unidade, formaram para nós um só Senhor e Cristo e Filho…
Com efeito, não nasceu antes, da santa Virgem, um homem qualquer, sobre o
qual depois desceria o Verbo, mas se diz que este, unido desde útero materno,
assumiu o nascimento carnal, apropriando-se o nascimento de sua própria
carne… Por isso, os santos Padres não duvidaram chamar a Santa Virgem de
Deípara, não no sentido de que a natureza do Verbo ou sua divindade tenham
tido origem da santa Virgem, mas no sentido de que, por ter recebido dela o
santo corpo dotado de alma racional ao qual também estava unido segundo a
hipóstase, o Verbo se diz nascido segundo a carne. (DS 250, 251)
AULA 51
Conforme já foi estudado antes, Deus criou o homem para que este participe
de sua vida bem-aventurada. Apesar disso, o homem não tem o direito de
participar dessa vida, pois é uma criatura e, como tal, está muitíssimo distante
do Criador. Mesmo antes de Adão pecar, o ser humano já estava distante de
Deus, porém, por causa da desobediência primeira o abismo entre Deus e o
homem se tornou maior ainda. O homem, por si só, não é capaz de transpor
esse abismo, mas ele precisa da salvação, pois sua natureza é, de certa forma,
indigente.
Para romper esse abismo, Deus enviou Jesus Cristo. Nele, o abismo deixa de
existir. A graça de Deus trazida por Jesus Cristo é sanante e elevante. Sanante
porque lava o homem do pecado, o redime. E elevante porque eleva o homem
ao céu, ao encontro de Deus, apaga o abismo existente entre Criador e
criatura.
Deus, no mesmo ato em que o criou [Adão], colocou-o acima do simples nível
natural, elevou-o a um destino sobrenatural conferindo-lhe a graça santificante.
Pelo pecado original, Adão perdeu essa graça para si e para nós. Jesus Cristo,
pela sua morte na cruz, transpôs o abismo que separava o homem de Deus. O
destino sobrenatural do homem foi restaurado. A graça santificante é
comunicada a cada homem individualmente no sacramento do Batismo.
(TRESE, Leo J., A Fé Explicada, pg. 94, Ed. Quadrante, 1985)
Se alguém não confessa que nosso Senhor Jesus cristo, crucificado em sua
carne, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e um da santa Trindade: seja
anátema. (DS 432)
Com isso, cai por terra também a heresia monofisita que propunha que a
natureza humana de Jesus misturou-se com a divina, tornando-se uma só
coisa. Ela também não procede.
No final dos tempos, quando Jesus cristo voltar haverá a união entre a
natureza humana e a divina de forma plena. Essa união está descrita no Livro
do Apocalipse – as núpcias do Cordeiro – , porém, ela já aconteceu na pessoa
de Jesus Cristo, é por isso que Ele também é chamado de "Esposo".
Como já foi dito em aulas anteriores, Jesus é uma Pessoa, com duas
naturezas, ou seja, é a segunda pessoa da Trindade e possui em si mesmo a
natureza divina e a humana. Então, para se saber como age uma pessoa
divina é preciso olhar para Jesus Cristo, pois, tanto "… em sua alma como em
seu corpo, Cristo exprime humanamente os modos divinos de agir da
Trindade." (470)
Daí se diz também que só o Pai o conhece, já que o Filho, consubstancial a ele
por sua natureza, pela qual está acima dos anjos, tem como saber o que os
anjos ignoram. Daí se pode compreender também de maneira mais precisa que
o Unigênito, encarnado e feito homem perfeito em prol de nós, conhecia o dia e
a hora do juízo na natureza da humanidade, todavia não o conhecia a partir da
natureza da humanidade. Assim, o que em esta conhecia, não o conhecia por
esta, pois o Deus feito homem conhecia o dia e hora do juízo mediante o poder
de sua divindade… (DS 475)
Por causa dessa união é que Jesus "… mostrava também em seu
conhecimento humano a penetração divina que tinha dos pensamentos
secretos do coração dos homens" (473). Jesus é Deus que se fez homem,
sabia das coisas e o que era necessário acontecer para o cumprimento de sua
missão. O que não exclui o fato de que ele, enquanto ser humano, não saber,
por exemplo, o dia e a hora de seu juízo, pois isso só o Pai sabia e não era
necessário saber para cumprir a missão.
Durante o século VII algumas heresias ganharam força. Uma delas foi o
monotelismo, que pode ser definida como uma interpretação errônea do dogma
da Encarnação, pois diz que "… existe em Cristo uma única vontade, a divina,
que constitui o traço de união das duas naturezas que há nele, a divina e a
humana". E também a heresia do monoenergismo, que dizia que somente uma
energia movia a vontade de Jesus Cristo. Para combater essas duas heresias
a Igreja manifestou-se no VI Concílio de Constantinopla dizendo:
AULA 53
"(...) como que andando pela via régia e seguindo a doutrina teológica de
nossos santos Padres e a tradição da Igreja católica – pois reconhecemos que
ela é do Espírito Santo que a habita -, definimos com todo o rigor e cuidado
que, à semelhança da figura preciosa e vivificante, assim os venerandos e
santos ícones, quer pintados, quer em mosaico ou em qualquer outro material
adequado, devem ser expostos nas santas igrejas de Deus, sobre os sagrados
utensílios e paramentos, sobre as paredes e painéis, nas casas e nas ruas;
tanto o ícone do Senhor Deus e Salvador nosso Senhor Jesus Cristo como da
Imaculada nossa, a santa Deípara, dos venerandos anjos e de todos os varões
santos e justos." (DH 600)
"De fato, quanto mais os santos são contemplados no ícone que o reproduz,
tanto mais os que os contemplam são levados à recordação e ao desejo dos
modelos originais e a tributar-lhes, beijando-os, respeito e veneração; não, é
claro, a verdadeira adoção própria de nossa fé, reservada só à natureza divina,
mas como se faz para a representação da cruz preciosa e vivificante, para os
santos evangelhos e os outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de
incenso e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois "a honra prestada
ao ícone passa para o modelo original", e quem venera o ícone venera a
pessoa de quem nele é produzido." (DH 601)
[Consta que] o motivo pelo qual a Igreja tributa ao coração do divino Redentor
o culto de latria ... é duplo: o primeiro, que é comum também aos demais
sacrossantos membros do corpo de Jesus Cristo, funda-se no fato de que o
seu coração, sendo parte nobilíssima da natureza humana, está unido
hipostaticamente à pessoa do Verbo de Deus, e, portanto, é mister tributar-lhe
o mesmo culto de adoração com que a Igreja honra a pessoa do próprio Filho
de Deus encarnado...
Maria não é somente o receptáculo da ação do Espírito Santo. Não, ela é ativa,
pois, a humanidade de Jesus é proveniente dela. Portanto, Ele é totalmente
filho do Pai, ao mesmo tempo em que é filho de Maria, não na mesma
proporção ou da mesma maneira, é evidente, uma vez que não é possível dizer
que Maria e Deus estão no mesmo nível. Porém, é possível afirmar sim, que
ela é a verdadeira Mãe de Jesus.
Maria é mãe de Jesus, isto faz parte da Revelação. Mas, como se isso
ocorreu? É um mistério. O que é sabido é que Maria, aqui na Terra, participou
de algo que Deus faz no céu. Assim, no mistério da Encarnação, Maria se
torna, de alguma forma, um ícone, uma imagem de Deus Pai. Ela é a
expressão histórica da fecundidade de Deus na eternidade. Maria é a única
fonte biológica do Filho de Deus. Toda a humanidade de Cristo vem da
humanidade de Maria, de uma maneira que não nos foi dado conhecer. Da
mesma maneira que no céu é Deus Pai a única fonte geradora de Jesus Cristo,
aqui na Terra é Maria a única fonte biológica Dele, submetida, evidentemente,
à ação extraordinária de Deus Pai pelo Espírito Santo.
Existe uma tal docilidade de Maria à ação do Espírito Santo que ela pode ser
também chamada de ‘a esposa do Espírito Santo’. Entretanto, nenhum desses
dois títulos pode ser reconduzido ao momento da Encarnação, são coisas
diferentes que ocorrem em diferentes momentos da história da salvação.
AULA 55
O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de
Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em
Cristo. (487)
"Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela
missão de santas mulheres. No princípio está Eva: a despeito sua
desobediência, ela recebe a promessa de uma descendência que será vitoriosa
sobre o Maligno e a de ser mãe de todos os seres viventes. Em virtude dessa
promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda
expectativa humana, Deus escolheu o que era tido como impotente e fraco
para mostrar sua fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel, Débora,
Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. Maria sobressai entre esses
humildes e pobres do Senhor, que dele esperam e recebem com confiança a
Salvação. Com ela, Filha de Sião por excelência, depois de uma demorada
espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova economia."
(489)
Assim, Maria foi longamente preparada porque a sua missão era grande e
importante. É o que será estudado nas próximas aulas.
AULA 56
Introdução ao Catecismo da
Igreja Católica e ao Ano da Fé
A Igreja Católica, portanto, crê que Maria Santíssima foi
preservada do pecado original e suas consequências, como,
de fato, aconteceu não é possível precisar. Contudo, é
preciso recordar que Deus é onipotente e tudo pode fazer,
inclusive preservar Maria da mancha do pecado primeiro.
Aliás, Maria não foi a primeira. Da mesma forma, Adão e Eva
foram também imaculados.
"E certamente era de todo conveniente que uma mãe tão venerável refulgisse
sempre adornada dos esplendores da santidade mais perfeita e, inteiramente
imune da mancha da culpa original, alcançasse o mais completo triunfo sobre a
antiga serpente. A ela, Deus Pai decidiu dar seu Filho único, ao qual, gerado do
seu coração, igual a ele mesmo, ama como a si mesmo, e decidiu dar de modo
tal que ele fosse, por natureza, um só e o mesmo Filho comum de Deus Pai e
da Virgem; a ela, o mesmo Filho a escolheu para fazê-la sua mãe de modo
substancial, e o Espírito Santo quis e atuou para que por ela fosse concebido e
nascesse aquele do qual ele mesmo procede." (DS 2801)
Maria foi redimida desde o momento de sua concepção. Ela foi salva por
Jesus, quando este morreu na cruz. Isso só é possível porque Deus olha as
coisas fora do tempo. Assim, o olhar do Pai sobre os méritos do Filho, preserva
Maria de todo o pecado ainda no ventre de sua mãe. Trata-se de uma
dificuldade intelectual, pois é muito difícil entender como isso se dá, mas,
nesse caso, a fé busca a intelecção.
"De fato, a Igreja de Cristo, diligente guardiã e vindicadora das doutrinas a ela
confiadas, nelas nada jamais altera, nada omite, nada acrescenta, mas, com
todo o zelo, tratanto fiel e sabiamente os velhos dados que desde tempos
remotos tomaram forma e que a fé do Padres semeou, procura limá-los e poli-
los de tal mdo que aqueles antigos dogmas da doutrina celeste recebam
evidência, luz e precisão, mas conservem sua plenitude, integridade e
característica e se desenvolvem somente segundo seu próprio gênero, ou seja,
no mesmo dogma, no mesmo sentido, na mesma sentença." (DS 2802)
Isso quer dizer que a Igreja sempre creu na Imaculada Conceição de Maria,
contudo, antes do pronunciamento oficial era permitido que houvesse debate,
que as pessoas não acreditassem, porém, a partir do momento em que a Igreja
afirmou sempre ter crido na concepção sem pecado de Maria cessaram-se as
discussões.
Portanto, que cada um esteja pronto a aceitar e a defender essa verdade de fé,
proclamando a Imaculada Conceição de Maria Santíssima. Que cada um traga
nos lábios e no coração este belo Hino do oficio das leituras:
AULA 57
Sempre que a Igreja Católica refere-se à Maria dois adjetivos são utilizados:
Virgem e Mãe. Os filósofos modernos tendem a resolver a tensão gerada por
essa aparente contradição simplesmente eliminando um dos dogmas. A
realidade é que existem os dois dogmas: o dogma da Maternidade Divina e o
dogma da Virgindade Perpétua de Maria, e que, aparentemente, ambos
constituem um paradoxo que gera uma espécie de tensão intelectual. Antes de
tentar resolver essa tensão é preciso crer.
O Concílio de Éfeso, em 431, proclamou que Maria é a geradora de Deus
(Theotókos, em grego ou Deípara, em latim):
"Com efeito, não nasceu antes, da Santa Virgem, um homem qualquer, sobre o
qual depois desceria o Verbo, mas se diz que este, unido desde o útero
materno, assumiu o nascimento carnal, apropriando-se o nascimento de sua
própria carne... Por isso, os santos Padres não duvidaram chaamr a santa
Virgem de Deípara, não no sentido de que a natureza do Verbo ou sua
divindade tenham tido origem da Santa Virgem, mas no sentido de que, por ter
recebido dela o santo corpo dotado de alma racional ao qual também estava
unido segundo a hipóstase, o Verbo se diz nascido segundo a carne." (DH 251)
Deus Eterno enquanto natureza divina não tem mãe, mas Deus Encarnado
quis tê-la. Essa é a grande dificuldade de entendimento dos protestantes, o
pensamento deles assemelha-se e muito ao pensamento da heresia nestoriana
(separação do humano e do divino), cujo fim foi justamente a resolução
oferecida pelo Concílio de Éfeso, acima citado.
O referido Concílio, ao pronunciar-se, nada mais fez do que repetir o que Santa
Isabel disse no Evangelho de Lucas. O Catecismo da Igreja Católica diz que:
"Os relatos evangélicos entendem a conceição virginal como uma obra divina
que ultrapassa toda compreensão e toda possibilidade humanas. O que foi
gerado nela vem do Espírito, diz o anjo a José acerca de Maria, sua noiva. A
Igreja vê aí o cumprimento da promessa divina dada pelo profeta Isaías: ‘Eis
que a virgem conceberá e dará à luz um filho’." (497)
AULA 58
A virgindade de Maria
Foi, de fato, concebido do Espírito Santo no útero da virgem
mãe, que o deu à luz, permanecendo intacta a sua
virgindade, assim como com intacta virgindade o concebeu..."
(DH 291)
Foi, de fato, concebido do Espírito Santo no útero da virgem mãe, que o deu à
luz, permanecendo intacta a sua virgindade, assim como com intacta
virgindade o concebeu..." (DH 291)
3. Maria concebeu Jesus mais por causa de sua fé do que por causa da
sua cooperação carnal;
É por tudo isso que a Igreja Católica com muita veneração e amor, em
uníssono, diz:
AULA 59
"Os Evangelhos foram escritos por homens que estiveram entre os primeiros a
ter fé e que queriam compartilhá-la com outros. Depois de term conhecido na fé
quem é Jesus, puderam ver e fazer ver os traços de seu mistério em toda a sua
vida terrestre. Desde os paninhos de sua natividade até o vinagre de sua
Paixão e o sudário de sua Ressurreição, tudo na vida de Jesus é sinal de seu
Mistério. Por meio de seus gestos, de seus milagres, de suas palavras, foi
revelado que nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Sua
humanidade aparece, assim, como "sacramento", isto é, o sinal e o instrumento
de sua divindade e da salvação que ele traz: o que havia de visível em sua vida
terrestre apontava para o mistério invisível de sua filiação divina e de sua
missão redentora." (515)
A vida toda de Jesus Cristo constitui-se um mistério, como já foi dito. É possível
perceber alguns traços comuns neles. O Catecismo aponta os três principais:
a. Toda a vida de Cristo é Revelação do Pai;
"... já em sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos enriqueceu por sua
pobreza, em sua vida oculta, que, por sua submissão, serve de reparação para
a nossa insubmissão; em sua palavra, que purifica seus ouvintes, em suas
curas e em seus exorcismos, pelos quais ‘levou nossas fraquezas e carregou
nossas doenças’; em sua Ressurreição, pela qual nos justifica." (517)
AULA 60
Jesus veio ao mundo por e para o homem. Para servir de modelo ao homem,
pois é o "homem perfeito". Aceitá-lo dessa maneira implica em uma mudança
de vida, pois, configurando os fatos cotidianos à vida, aos sofrimentos que
Jesus viveu, sem dúvida, ocorrá uma mudança de perspectiva. Todos os
sofrimentos físicos ou morais que o homem possa sofrer em sua vida não se
comparam com o que Jesus sofreu. Todas as situações da vida podem ser
respondidas pela pergunta: o que Jesus faria nesse caso? E isso muda tudo.
Todas as intercorrências da vida ganham nova dimensão e importância.
Dá, assim, aos que acreditam no amor de Des, a certeza de que o caminho do
amor está aberto para todos e que o esforço por estabelecer a fraternidade
universal não é vão. Adverte, ao mesmo tempo, que este amor não se deve
exercitar apenas nas coisas grandes, mas antes de mais, nas circunstâncias
ordinárias da vida.
Suportanto a morte por todos nós pecadores, ensina-nos com o seu exemplo
que também devemos levar a cruz que a carne e mundo fazem pesar sobre os
ombros daqueles que buscam a paz e a justiça. Constituído Senhor pela sua
ressurreição, Cristo, a quem foi dado todo o poder no céu e na terra, atua já
pela força do seu Espírito nos corações dos homens; não suscita neles apenas
o desejo de vida futura, mas, por isso mesmo, anima, purifica e fortalece
também aquelas generosas aspirações que levam a humanidade a tentar
tornar a vida mais humana e a submeter a esse fim toda a terra." (DS 4338)
São João Batista, juntamente com a Virgem Maria são os grandes precursores
da vinda de Jesus Cristo ao mundo. A exemplo dos grandes Padres do Deserto
e, mais atualmente, dos cartuxos, sabidamente homens da estirpe de São João
Batista são exteriormente duros, mas interiormente são homens de grande
sensibilidade da alma, sensíveis às realidades divinas. Dela, não há o que
dizer, é pura doçura, obediência e mansidão que, com seu sim, deu sua carne
para Aquele que É e sempre Será o Sumo Bem.
AULA 61
O mistério do Natal
O mistério do Natal deve ser saboreado e, para isso, o
Catecismo começa esse tópico apresentando dois textos
litúrgicos, um da Igreja Oriental e outro da Ocidental. O
objetivo dessa apresentação é mostrar justamente que Deus
inefável, Criador do universo, fez-se pequeno, um menino na
gruta em Belém.
Existe uma corrente atual que tem dificuldade em crer que Deus Criador tenha
se feito homem. Negando este fato, esta corrente - bastante numerosa - nega
também tudo o que é decorrente dessa verdade, por exemplo, a virgindade de
Maria, a concepção, a encarnação, os milagres etc. Eles querem reduzir tudo
ao padrão empírico e tudo o mais é metáfora.
São Leão Magno, no famoso Tomo a Flaviano, diz que “Deus sem perder o que
tinha, assumiu o que não tinha”, ou seja, Deus não perdeu a sua divindade,
mas assumiu a nossa humanidade. Não perdeu nada, a raça humana é que
ganhou, foi elevada.
AULA 62
"... Chegou até nós de vossa região a triste notícia de que alguns bispos que
por lá vivem, a saber, Elipanto e Ascarico com os seus companheiros, não se
envergonham de professar o Filho de Deus como adotivo, se bem que nenhum
heresiarca tenha ainda ousado ladrar tal blasfêmia, exceto aquele pérfido
Nestório, que professava o Filho de Deus como mero homem..." (DH 595)
Por fim, no Sínodo de Frankfurt, em junho de 794, houve a refutação formal da
heresia adocionista:
O homem é perfeito só com a alma e o corpo...; também nós não negamos que
em Cristo haja verdadeiramente estes três, a saber, a divindade, a alma e o
corpo. Mas já que verdadeiramente é chamado Deus e homem, no nome
‘Deus’ é designado tudo o que é de Deus, no nome ‘homem’ ao invés é
entendido tudo que é do homem. Portanto, é suficiente pensar nele uma, a
perfeita substância da divindade, e outra, a perfeita substância da
humanidade... O costume eclesiástico sói nomear em Cristo duas substâncias,
isto é a, de Deus e a do homem. …
Se, portanto, é verdadeiro Deus aquele nasceu da Virgem, como pode ser
adotivo ou servo? Com efeito, não ousais absolutamente designar Deus como
servo ou adotivo; e mesmo se o profeta o chamou servo, não foi todavia por
causa da condição de servidão, mas por causa da obediência da humildade,
pela qual ele se fez ‘obediente’ ao Pai ‘até à morte’." (DH 612-614)
No batismo, Jesus inaugura a sua missão, com o Pai que manifestando o seu
amor por ele. Esta manifestação e unção de Cristo é mais para os homens do
que para ele próprio. E esse fato mostra ainda que Jesus é o Filho amado, mas
também é o servo sofredor. Não é somente o Messias, mas também a figura
misteriosa do servo sofredor presente no Antigo Testamento.
Quando Jesus manifesta a sua glória na montanha o que está por trás é a
manifestação da liberdade de Deus. Jesus livremente assumiu a forma de
servo e se fez humilde, contudo, a qualquer momento Ele poderia deixar de ser
vulnerável. O Catecismo ensina:
AULA 63
O mistério pascal (Paixão, Morte e Ressurreição) foi muito mais que uma
injustiça processual, foi algo que estava nos desígnios de Deus. Os homens
pecaram, mas Deus soube utilizar-se desse pecado para salvar estes mesmos
homens.
A acusação dos judeus contra Jesus foram de cunho religioso: "por causa de
certos atos por ele praticados (expulsão de demônios, perdão dos pecados,
curas em dia de sábado, interpretação original do preceitos de pureza da Lei,
familiaridade com os publicanos e com os pecadores públicos), Jesus pareceu
a alguns mal-intencionado, suspeito de possessão demôníaca. Ele é acusado
de blasfêmia e de falso profetismo, crimes religiosos que a Lei punia com a
pena de morte sob forma de apedrejamento." (574)
Assim, é bem claro que Jesus não foi condenado à morte por razões políticas
ou porque pregava contra o sistema opressor do Império Romano, pelo
contrário, estes motivos foram apenas subterfúgios usados pelos fariseus para
que Pôncio Pilatos o condenasse.
Todavia, embora tivesse havido essa afinidade entre Jesus e o povo de Israel,
prevaleceu a impressão de que ele estava agindo contra as instituições
basilares dos judeus:
Jesus veio para realizar a Lei. Isso significa que Ele é a realização total da lei,
pois é o único homem que viveu o que estava previsto na Aliança com Deus.
Ele se fez homem justamente para cumprir e levar às últimas consequências
tudo aquilo que havia sido previsto no Antigo Testamento. Não veio para abolir,
mas para realizar. Contudo, os judeus o viam como um rabino, um simples
mestre da Lei, mas a pregação Dele em todos os evangelhos tinha autoridade,
não era apenas uma explicação.
"O cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido
sujeito à Lei na pessoa do Filho. Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada
nas tábuas de pedra, mas no fundo do coração do Servo, o qual, pelo fato de
trazer fielmente o direito, se tornou a Aliança do povo. Jesus cumpriu a Lei até
o ponto de tomar sobre si a maldição da Lei, na qual incorreram aqueles que
não praticam todos os preceitos da mesma, pois a morte de Cristo aconteceu
para resgatar as transgressões cometidas no Regime da Primeira Aliança."
(580)
Jesus é Deus. E isso não significa que existam vários deuses. Deus é um só,
porém não é sozinho. A unidade de Deus por conta da Trindade é ainda maior,
muito mais completa e dinâmica. Jesus esclarece com muita precisão: "Eu e o
Pai somos um" (Jo 10,30). "Mas foi particularmente ao perdoar os pecados que
Jesus deixou as autoridades religiosas de Israel diante de um dilema. Foi isto
que disseram com razão, cheios de espanto: "Só Deus pode perdoar os
pecados". Ao perdoar os pecados, ou Jesus blasfema - pois é um homem que
se iguala a Deus -, ou diz a verdade, e sua pessoa tona presente e revela o
nome de Deus." (589) "Somente a identidade divina da pessoa de Jesus pode
identificar uma exigência tão absoluta quanto esta: [...]." (590) "Jesus pediu às
autoridades religiosas de Jerusalém que cressem nele por causa das obras de
seu Pai que ele realiza. (...) Essa exigência de conversão ante um
compromisso tão surpreendente das promessas permite compreender o trágico
desprezo do sinédrio ao estimar que Jesus merecia a morte como blasfemo."
(591)
AULA 64
O homem não é capaz de compreender isso, pois tem a mente discursiva, que
funciona dentro da temporalidade. Não é dado ao homem enxergar uma
realidade eterna a partir de uma mente temporal. Isso é impossível.
Sabe-se, portanto, Jesus devia morrer na cruz porque isso foi revelado como
desígnio de Deus, ao mesmo tempo, é sabido também que Deus não queria o
pecado, não queria a morte. Essas duas realidades são, de fato, paradoxais,
por causa disso é necessário um esforço teológico para explicar a tensão
criada.
É essa capacidade de Deus que está por trás da frase de São Paulo: "tudo
concorre para o bem daqueles que amam a Deus".
AULA 65Morto
pelos nossos
pecados segundo as Escrituras
Jesus morreu segundo as Escrituras, o que isso significa? Em primeiro lugar é
preciso recordar que os cristãos não rejeitam o Antigo Testamento, mas que o
que está anunciado nele se realizou plenamente na pessoa de Jesus Cristo e
que Jesus é a sua verdadeira chave de leitura. É o que claramente se percebe
no relato da caminhada de Jesus com os discípulos para Emaús.
O que Jesus devia passar estava previsto nas páginas do Antigo Testamento.
Ele tentou, por diversas vezes, alertar os discípulos, mas eles não entenderam.
E não entenderam porque estava tudo previsto, mas previsto sem a clareza
devida, pois JESUS é a luz que ilumina e dá clareza aos textos. Por isso, até
hoje a forma que os judeus lêem o Antigo Testamento não é a mesma que um
cristão, pois é como disse São Paulo na carta aos Romanos, eles o lêem como
se tivessem um véu diante dos olhos. Assim, olhando para tudo o que a
aconteceu, na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus e olhando para o Antigo
Testamento é possível perceber que já estava tudo previsto. Contudo, nem
mesmo os profetas tinham a visão clara do que aconteceria.
É o caso da figura do servo sofredor anunciado pelo profeta Isaías. Jesus joga
luz sobre essa figura enigmática mostrando que era o Messias esperado.
Nessa passagem se esclarece o desígnio de Deus para a morte redentora de
Cristo. É o cumprimento da profecia de Isaías.
"§603 Jesus não conheceu a reprovação, como se Ele mesmo tivesse pecado.
Mas, no amor redentor que sempre o unia ao Pai, nos assumiu na perdição de
nosso pecado em relação a Deus a ponto de poder dizer em nosso nome, na
cruz: "Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?" (Mc 15,34). Tendo-o
tornado solidário de nós, pecadores, "Deus não poupou seu próprio Filho, mas
o entregou por todos nós" (Rm 8,32), a fim de que fôssemos "reconciliados
com Ele pela morte de seu Filho" (Rm 5,10)."
É a mesma ideia contida na passagem do filho pródigo, quando o pai o
encontra ele está totalmente maltratado pela privação, pela fome, pela doença
vivida. E o pai apenas o abraça, joga-se em seu pescoço e o cobre de beijos.
Essa é a imagem de Cristo crucificado, Jesus que se faz igual aos pecadores
por amor. Os místicos afirmam que Jesus na cruz, sofreu as penas do inferno.
É como se ele tivesse ido ao inferno para que o homem não tivesse que ir.
"604. Entregando o seu Filho pelos nossos pecados, Deus manifesta que o seu
plano sobre nós é um desígnio de amor benevolente, independente de
qualquer mérito da nossa parte: «Nisto consiste o amor: não fomos nós que
amámos a Deus, foi Deus que nos amou a nós e enviou o seu Filho como
vítima de propiciação pelos nossos pecados» (1 Jo 4, 10) (458). «Deus prova
assim o seu amor para conosco: Cristo morreu por nós quando ainda éramos
pecadores» (Rm 5, 8)."
AULA 66
São Máximo o Confessor sofreu duras penas ao defender que em Jesus havia
duas vontades - a humana e a divina - caso não fosse assim, a vontade
humana não teria sido redimida por ele, pois o que 'não foi assumido não foi
redimido', dizia o Santo. E a remissão é necessária porque é com ela que o
homem ama a Deus. E a vontade humana de Jesus que se entregou a Deus
suou sangue. Portanto, não basta saber o que deve ser feito. É preciso curvar
a vontade humana ao que deve ser feito.
Continuando o mesmo parágrafo, o Catecismo fala sobre o sacrifício de Jesus.
Normalmente, a ideia de sacrifício é negativa, como se fosse uma tragédia,
mas, na verdade, é o melhor que pode ocorrer, pois sacrifício nada mais é do
que entregar algo a Deus. Quando se descobre um tesouro, diz a Sagrada
Escritura, o homem é capaz de vender tudo e entregar-se alegremente.
Numa outra análise, se Deus quisesse, poderia exigir a Justiça dos homens,
nesse caso, o lugar da humanidade seria no inferno. Mas, ele não se revelou
somente como Justiça, mas também como misericórdia. Por ser Deus quer e
precisa fazer justiça, pois é Deus, mas, para fazê-la (a Justiça) ele mesmo se
faz homem. E com esse tipo de Justiça, Ele demonstra sua infinita misericórdia.
"616. É o «amor até ao fim» (497) que confere ao sacrifício de Cristo o valor de
redenção e reparação, de expiação e satisfação. Ele conheceu-nos e amou-
nos a todos no oferecimento da sua vida (498). «O amor de Cristo nos
pressiona, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto,
morreram» (2Cor 5, 14). Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo,
estava em condições de tornar sobre si os pecados de todos os homens e de
se oferecer em sacrifício por todos. A existência, em Cristo, da pessoa divina
do Filho, que ultrapassa e ao mesmo tempo abrange todas as pessoas
humanas e O constitui cabeça de toda a humanidade, é que torna possível o
seu sacrifício redentor por todos.
AULA 67
624. «Pela graça de Deus, ele experimentou a morte, para proveito de todos»
(Heb 2, 9). No seu plano de salvação, Deus dispôs que o seu Filho, não só
«morresse pelos nossos pecados» (1 Cor 15, 3), mas também «saboreasse a
morte», isto é, conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre a
sua alma e o seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento em
que expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado de Cristo
morto é o mistério do sepulcro e da descida à mansão dos mortos. É o mistério
do Sábado Santo, em que Cristo, depositado no túmulo, manifesta o repouso
sabático de Deus depois da realização da salvação dos homens, que pacifica
todo o universo."
É por isso que a ideia propagada atualmente por diversos pregadores de que
ao morrer, a pessoa já está ressuscitada em outro plano não é, de forma
alguma, adequada. Isto é muito diferente do que Cristo viveu e, portanto,
improvável que seja assim. Jesus permaneceu por três dias no sepulcro, num
estado de morte, assim também o homem morre, sua alma fica separada do
corpo e a ressurreição se dará apenas no último dia. Aquilo que para jesus
levou três dias, para o homem durará até o fim dos tempos. Qualquer coisa
fora dessa linha não é católica, não pertence à fé da Igreja.
Jesus foi para o sepulcro, mas o seu corpo não conheceu a corrupção. Embora
a alma tenha se separado do corpo, a pessoa divina de Jesus não se separou
de seu corpo. Jesus é uma pessoa (a Segunda da Ssma. Trindade), com duas
naturezas, a humana e a divina. Trata-se do mistério da união hipostática.
627. A morte de Cristo foi uma verdadeira morte, na medida em que pôs fim à
sua existência humana terrena. Mas por causa da união que a Pessoa do Filho
manteve com o seu corpo, este não se tornou um despojo mortal como os
outros, porque «não era possível que Ele ficasse sob o domínio» da morte (Act
2, 24) e, por isso, «o poder divino preservou o corpo de Cristo da corrupção»
(521). De Cristo pode dizer-se ao mesmo tempo: «Foi cortado da terra dos
vivos» (Is 53, 8) e: «A minha carne repousará na esperança, porque Tu não
abandonarás a minha alma na mansão dos mortos, nem deixarás que o teu
santo conheça a corrupção» (Act 2, 26-27) (522). A ressurreição de Jesus «ao
terceiro dia» (1 Cor 15, 4;Lc 24, 46) (523) era disso sinal, até porque se julgava
que a corrupção começava a manifestar-se a partir do quarto dia (524)."
Em sua morte, Jesus desceu aos infernos. No texto do Credo em português vê-
se: 'desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia', porém, no texto
em latim o que se vê é passus sub Pontio Pilato, crucifixus, mortuus, et
sepultus,descendit ad ínferos, tertia die resurrexit a mortuis".
Um grande silêncio reina hoje sobre a terra; um grande silêncio e uma grande
solidão. Um grande silêncio, porque o rei dorme. A terra estremeceu e ficou
silenciosa, porque Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que
dormiam há séculos [...]. Vai à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha
perdida. Quer visitar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte. Vai
libertar Adão do cativeiro da morte. Ele que é ao mesmo tempo seu Deus e seu
filho [...] "Eu sou o teu Deus, que por ti me fiz teu filho [...] Desperta tu que
dormes, porque Eu não te criei para que permaneças cativo no reino dos
mortos: levanta-te de entre os mortos; Eu sou a vida dos mortos"»."
AULA 68
Referência
1. http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/actividades-noticias-
doctrina/2682-notificaciones-sobre-algunas-obras-del-prof-andres-torres-
queiruga.html
AULA 69
O estado da humanidade
ressuscitada de Cristo
Continuando a falar sobre a ressurreição de Jesus, o Catecismo traz as
considerações sobre o estado da humanidade ressuscitada de Cristo. Para
melhor entender sobre esse tema delicado nada melhor que as palavras do
próprio Catecismo:
A vida que Jesus perdeu foi a biológica - a biós - e o que ele ganhou foi a vida
eterna - a zoé - ou seja, passou de um estado de morte para uma outra vida,
para além do tempo e do espaço.
647. «Oh noite bendita! – canta o «Exultet» pascal – única a ter conhecimento
do tempo e da hora em que Cristo ressuscitou do sepulcro». Com efeito,
ninguém foi testemunha ocular do acontecimento da ressurreição propriamente
dita e nenhum evangelista o descreve. Ninguém pôde dizer como ela se deu,
fisicamente. Ainda menos a sua essência mais íntima, a passagem a uma outra
vida, foi perceptível aos sentidos. Acontecimento histórico comprovado pelo
sinal do túmulo vazio e pela realidade dos encontros dos Apóstolos com Cristo
Ressuscitado, nem por isso a ressurreição deixa de estar, naquilo em que
transcende e ultrapassa a história, no próprio centro do mistério da fé. Foi por
isso que Cristo Ressuscitado não Se manifestou ao mundo, mas aos
discípulos, «aos que com Ele tinham subido da Galileia a Jerusalém» e que
«são agora testemunhas de Jesus junto do povo» (At 13, 31).
A parte histórica da Ressurreição é acessível para quem não tem fé, vide o
sepulcro vazio. Mas, o Ressuscitado apareceu somente para aqueles que
tinham fé. O verdadeiro significado dela requer a fé.
AULA 70
Porém, restam ainda estas dificuldades: Deus não está em lugar algum e ao
mesmo tempo está em todos os lugares. Ele não é limitado pelo espaço. A
humanidade de Cristo, embora seja uma humanidade espiritualizada,
representada pelo corpo divinizado de Jesus, este corpo promove uma relação
com o espaço. Ele pode entrar e sair de lugares, por comer e beber, pode
aparecer da forma que quiser (um jardineiro, um viajante, um menino etc.). É
um corpo que ocupa um lugar e ao mesmo tempo Deus que não se limita ao
espaço. Trata-se de um problema teológico que deve ser analisado, porém,
antes de resolvê-lo é preciso esclarecer qual é a fé católica e o que não se
deve discutir.
Jesus, quando ressuscita tem um corpo glorioso e real. Esse corpo tem a ver
com aquele corpo que foi crucificado e sepultado, porque o sepulcro estava
vazio. Quando Ele aparece está com a chagas, o que significa que é a
continuidade daquele corpo crucificado e sepultado, porém o corpo está
transformado, de forma que Jesus é livre para aparecer onde e quando quiser.
E quarenta dias após a Páscoa, Jesus encerra o ciclo das aparições como o
Ressuscitado e inaugura uma nova forma de presença no mundo. Após subir
aos céus, nenhuma aparição de Jesus será como aquelas aparições da
Páscoa, de tal forma que mesmo quando aparece a São Paulo, é descrita
como 'abortiva', ou seja, fora do tempo. Esta é a fé da Igreja.
"'E o Senhor Jesus, depois de ter-lhes falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-
se à direita de Deus'. O corpo de Cristo foi glorificado desde o instante de sua
Ressurreição, como provam as propriedades novas e sobrenaturais de que
desfruta a partir de agora seu corpo em caráter permanente. Mas, durante os
quarenta dias em que vai comer e beber familiarmente com seus discípulos e
instruí-los sobre o Reino, sua glória permanece ainda velada sob os traços de
uma humanidade comum. A última aparição de Jesus termina com a entrada
irreversível de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo
céu, onde já desde agora está sentado à direita de Deus. Só de modo
totalmente excepcional e único Ele se mostrará a Paulo 'como a um abortivo'
em uma última aparição que o constitui apóstolo." (659)
Na sequência, o Catecismo fala sobre as diferenças entre as manifestações de
Jesus durante os quarenta dias e as posteriores à ascensão. "Isso indica uma
diferença de manifestação entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo
exaltado à direita do Pai." (660) O mistério da ascensão inaugura uma nova
fase de Jesus no meio dos homens.
No Último Dia será necessário um lugar para os corpos daqueles que forem
glorificados e, da mesma forma, um lugar para aqueles corpos condenados ao
Inferno. Assim, ainda que Céu e Inferno sejam um estado precisam ser
também um lugar.
O mistério do Credo no tempo presente é que Cristo reina no Céu e quer reinar
na vida de todos, para isso envia o seu Espírito. Na próxima aula iniciaremos o
mistério futuro "de onde virá para julgar os vivos e os mortos".