Colaborar - Cw1 - Libras - Língua Brasileira de Sinais 2

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20/04/2020 Colaborar - Cw1 - Libras - Língua Brasileira de Sinais

Libras – Língua Brasileira de Sinais


Abordagens de ensino e concepções de surdez

Unidade 1 – Seção 2

Nesta disciplina, você já compreendeu que a história da educação de surdos está ligada a três
principais abordagens de ensino: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. Nesta webaula,
detalharemos cada uma dessas abordagens, pois é importante que haja clareza no delineamento da
prática pedagógica.

Oralismo
Fundamenta-se no ensino da fala oral, no treino da leitura orofacial (ou leitura labial) e no uso de
Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) ou do Implante Coclear (IC). A visão inscrita nesse
contexto social oralista reproduz e naturaliza expressões como:

“deficiente auditivo (DA)”

“tratar a deficiência auditiva”

“reabilitar o deficiente auditivo ou paciente”

Segundo Goldfeld (1997), dentro dessa vertente, apenas a língua oral é reconhecida como
mediadora da comunicação e da interação.

O que defendem os oralistas?

Além da proibição do uso de sinais, Poker (2008) afirma que os oralistas acreditam que seja
importante respeitar as seguintes orientações:

1. Intervenção precoce do tratamento fonoaudiológico.

Durante o treinamento auditivo a criança surda é estimulada a aprender a ouvir, visto que, diante de
uma perda auditiva, ela não realizou esse aprendizado de forma natural, tal como ocorre com seus
pares ouvintes.
Assim, as terapias fonoaudiológicas podem intervir com o estímulo à:

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consciência auditiva

atenção auditiva

localização auditiva

identificação auditiva

discriminação auditiva

memória auditiva (e sequencial) e evocação

Leitura orofacial (LOF)


O conceito de leitura orofacial é mais amplo que o de leitura labial, cuja representação está associada a
uma atenção dedicada apenas à articulação dos lábios. A LOF entende que a leitura dos lábios é uma
das habilidades comunicativas que o surdo deve apresentar, mas que as expressões faciais, tais como o
olhar e o movimento da cabeça, são fundamentais para se conseguir interpretar adequadamente
entonações e sentidos contidos na mensagem verbalizada, como ironia e sarcasmo (KOZLOWSKI,
1997).

O oralismo é, portanto, uma abordagem educacional com base no ensino da fala oral e no
aproveitamento do resíduo auditivo dos surdos, por meio do AASI ou do implante coclear.

Pessoas com perda auditiva leve ou moderada tendem a apresentar ótimos resultados na aquisição da
língua oral sob os pressupostos oralistas. Entretanto, o êxito é menor entre aqueles com perda auditiva
mais grave. Assim, é preciso ter cautela e não generalizar os resultados da abordagem
oralista.

Comunicação Total
Segundo Ciccone (1990), reconhecendo a insuficiência e a rigidez do Oralismo no atendimento às
necessidades da criança surda, surgiu na década de 1960 a Comunicação Total.

Conforme Paccini (2007), a Comunicação Total foi considerada no Brasil não apenas uma
metodologia, mas, sobretudo, uma filosofia educacional, apoiada em:

• língua falada oralmente

• alfabeto manual

• sinais
• imagens

• apontamentos

• língua escrita

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A Comunicação Total não visava ao desenvolvimento linguístico, mas, sim, à comunicação, à interação,
ao desenvolvimento afetivo e cognitivo do surdo (CICCONE, 1990). No entanto, a expressão da fala
oral concomitante ao uso dos sinais produziu o que muitos denominaram “bimodalismo” ou
“português sinalizado”.

Bimodalismo
A prática da fala oral acompanhada de sinais desconsidera e desrespeita as especificidades da estrutura
da língua de sinais, que não ocorre sob a mesma organização da fala oral. Os sinais dentro dessa
prática tornam-se um amontoado de palavras sem uma estrutura clara e bem definida, usados
simplesmente de forma complementar para apoiar a oralidade e/ou a escrita.

Bilinguismo
Em oposição à Comunicação Total, o Bilinguismo no Brasil defende o uso da Libras de forma
autônoma, ou seja, respeitando o fato de que a estrutura linguística da Libras se organiza de forma
diferente da língua portuguesa. A abordagem de ensino bilíngue considera:
Libras:
primeira língua dos surdos

Fonte: iStock.

Língua portuguesa (oral e escrita):


segunda língua dos surdos

Fonte: iStock.

Outra premissa do bilinguismo é a de que o aprendizado da língua portuguesa e dos demais


conteúdos escolares ocorre por meio da primeira língua do aluno surdo, ou seja, por meio da
Libras.

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O bilinguismo envolve muito além da presença de duas línguas no contexto educacional de aprendizes
surdos, pois defende que o surdo é um sujeito bilíngue e bicultural, com especificidades linguísticas,
culturais e identitárias. Nessa direção, apoia o contato e a comunicação precoce de crianças surdas com
pares e adultos também surdos, com os quais podem compartilhar vivências e experiências visuais de
mundo por meio da língua que lhes é natural: a Libras (QUADROS, 1997).

Legislação
Vamos agora compreender como a legislação vigente respalda a abordagem de ensino bilíngue.

A Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005 determinam a obrigatoriedade da disciplina de


Libras em cursos de Educação Especial, Licenciatura e Fonoaudiologia (e como optativa nos demais
cursos de graduação).

O Plano Nacional de Educação, regulamentado pela Lei nº 13.005/2014, estabeleceu como meta uma
educação bilíngue para surdos promovida por professores de Libras (prioritariamente surdos) e
professores bilíngues (que ministram as demais disciplinas curriculares em Libras e na modalidade
escrita da língua portuguesa).

Medidas como essas foram conquistas do fortalecimento das comunidades surdas brasileiras que
reivindicam maior reconhecimento da condição bilíngue dos cidadãos surdos.

Antes de finalizar esta webaula, deve ficar claro que, ao realizar a escolha lexical entre “deficiente
auditivo” e “surdo”, você está implicitamente se posicionando entre uma ou outra abordagem de
ensino. Geralmente, os sujeitos educados dentro da abordagem oralista identificam-se com a expressão
"deficiente auditivo", enquanto aqueles que cresceram sob a influência da língua de sinais costumam
se reconhecer como "surdos". Na dúvida, lembre-se de que os surdos, usuários da Libras, em sua
grande maioria, preferem ser chamados de surdos, e não de deficientes.

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