Resenha Trump
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Resenha Trump
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Doutorando em História Comparada (PPGHC – UFRJ). Contato: [email protected].
Resenha: Revelando Trump
A obra também analisa o perfil de Trump durante sua passagem pelo Exército norte-
americano a partir de 1959. Seu estilo centralizador e autoritário fora um dos aprendizados
pessoais absorvidos nos seis anos de Forças Armadas, de acordo com os seus biógrafos. Suas
atitudes, entretanto, já revelavam alguns dos trejeitos que o caracterizam sua
personalidade.
Os autores portanto fazem um enfoque mais voltado à sua personalidade
megalomaníaca, excêntrica do que às suas habilidades de oratória. As intimidações
constantes e o lobby fazia contra seus opositores incluem até trotes de Donald Trump contra
redações de jornais usando o pseudônimo de John Barron para plantar notícias falsas.
Por várias vezes, os autores põem em xeque a licitude de suas transações financeiras e
inclusive o uso de mão-de-obra escrava em alguns de seus empreendimentos. Ambos
também questionam episódios de racismo em relação ao aluguel de imóveis das
Organizações Trump, que supostamente privilegiariam inquilinos brancos em relação à
pretendentes negros.
A abordagem dos fatos é claramente provocativa em relação à sua pessoa, revelando
egos, extravagâncias e agressividades de Donald Trump em relação à seus próprios
subordinados. O estilo biográfico dos jornalistas revela um homem que faz qualquer coisa
por poder e dinheiro, inclusive passando por cima de quaisquer valores morais e éticos.
Sua sede por glamour e beleza feminina já era antiga e o fizeram adquirir o concurso de
Miss Universo nos anos 1990. Na mesma época iniciava-se uma série de escândalos amorosos
como a traição pública à sua primeira esposa, Ivana Trump, com um caso extraconjugal com
sua futura esposa, Marla Maples.
Seu estilo de auto promoção e viés megalomaníaco vem desde a infância, mas seus
biógrafos alegam que o mesmo só se tornou um grande empresário amparado na fortuna de
seu pai, Fred Trump. Seu êxito enquanto empresário está ancorado nas figuras não muito
ilibadas como o advogado Roy Cohen, conhecido lobista e contraventor de Nova York.
Trump criou um estilo pessoal que se tornou-se sua marca própria e um atrativo para a
imprensa, que ele mesmo soube redirecionar em proveito próprio. Sua extravagância ajudou
decisivamente nos seus negócios pessoais e na construção de sua fortuna. Diferente de seu
pai que investia em habitações em bairros pobres e médios, Trump sempre se concentrou
em construções imobiliárias suntuosas e luxuosas com o máximo de publicidade possível.
Sua figura se tornara caricatural na opinião pública norte-americana, com diversos
jornalistas duvidando da sua capacidade de ir mais longe em uma hipotética eleição. Desde
sempre, Trump tinha planos de se catapultar na política com sua marca pessoal de homem
de negócios exitosos e aparições em diversos filmes, seriados e shows de televisão.
Criava-se assim uma espécie de “showman” sem papas na língua que aproveitava-se da
mídia para aparecer diante a opinião pública. Independentemente da repercussão (positiva
ou negativa) das aparições públicas, o objetivo de Trump era sempre se fazer presente
independentemente de que fosse criando factoides ou com notícias sensacionalistas.
Seu auge publicitário fora durante a apresentação de “O Aprendiz” a partir de 2002,
quando sua popularidade de celebridade nova-iorquina local se transformou em aparição
nacional. De fato, os autores atribuem à imprensa norte-americana a construção de uma
figura conhecida em todo país, com presença constante nas colunas sociais.
Em determinado momento, os autores chegam até a relacionar os seus negócios
imobiliários com a máfia de Chicago. A obra também aponta que Trump fez se valer de
amizades pessoais, patrocínio paterno, favores governamentais de conhecidos no “show
business” de Nova York e negociatas suspeitas para obter a sua fortuna.
A obra cita a falência das Organizações Trump em fins dos anos 80 e início dos anos 90
como um momento em que a megalomania chegou ao seu limite. Trump, na época, possuía
cassinos em Atlantic City, hotéis em Nova York e até mesmo uma companhia aérea (em que
seu nome aparecia com letras garrafais na fuselagem das aeronaves).
Vários bancos credores tiveram que ceder em suas cobranças para evitar que Trump
fosse à falência e o dinheiro não fosse revisto. O futuro presidente entretanto não mudou
seu comportamento ostentador e continuou perante a opinião pública como um exemplo de
gestor e empresário bem sucedido, apesar de seus negócios estarem em frangalhos.
Os jornalistas alegam que Trump se transformou em inspiração para os americanos
médios por conta de sua prosperidade pessoal. Seu discurso dito “populista”, de fácil
aceitação e compreensão pelo senso comum e baseado no discurso do “Make America Great
Again”, agrada a setores sociais internos insatisfeitos com a globalização.
Os autores dos prefácio e posfácio, professores de relações internacionais no Brasil,
atribuem à uma onda antiliberal nacionalista pós-crise de 2008 como responsável pela
vitória de Trump. Insere-o portanto numa perspectiva global de ascensão de líderes
direitistas em várias partes do mundo.
Tido pelos jornalistas do Washington Post como um “mestre das bravatas e das
hipérboles” e capaz de fazer de tudo para “vencer a qualquer custo”, Trump desenvolveu
uma capacidade de falar a “língua das massas”, sobretudo, aos desempregados de Estados
industriais que sofrem com a concorrência chinesa como Ohio e Michigan.
“Revelando Trump: a história de ambição, ego e poder do empresário que virou
presidente”, portanto, é uma obra feito por detratores, o que condiciona sua credibilidade.
No entanto, é um trabalho pioneiro ao expor as permanentes e constantes hostilidades entre
imprensa e o presidente Donald Trump.