Teste História Trágico-Marítima
Teste História Trágico-Marítima
Teste História Trágico-Marítima
Grupo I
Apresente as suas respostas de forma clara e bem estruturada.
Como se sabe, no tempo do rei D. João III foi o Brasil dividido em capitanias, cada uma
concedida a um donatário. A de Pernambuco, uma das que primeiro se povoaram e que logo
alcançou grande importância, coube a um fidalgo de reto espírito, nobre, perseverante,
trabalhador, que tinha por nome Duarte Coelho. Parece que dispunha de consideráveis recursos
5 e é de supor que esses seus haveres fossem o resultado de trabalhos longos que passou em
África e no Oriente. Alcançada a mercê real, transferiu-se logo para o Brasil, acompanhado de
muitos dos seus parentes. Sob a sua hábil administração, a capitania prosperou. Passados alguns
anos, resolveu vir até à metrópole, a fim de angariar colonos novos e contratar industriais
10 competentes com que pudesse desenvolver a sua empresa. Confiou a um seu cunhado, Jerónimo
de Albuquerque, o governo da capitania, e embarcou acompanhado de seus filhos: Duarte
Coelho de Albuquerque e Jorge de Albuquerque Coelho, que tivera de sua mulher, Dona Brites
de Albuquerque.
Na metrópole veio a falecer Duarte Coelho em 1554; e, já no tempo em que a rainha Dona
15 Catarina, avó do rei D. Sebastião, governava Portugal durante a menoridade do seu neto, chegou
nova do Brasil, e especialmente de Pernambuco, de que a maior parte das tribos indígenas se
levantara ali contra os Portugueses, pondo cerco aos principais lugares daquela colónia de
Pernambuco.
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Ordenou pois Dona Catarina que Duarte de Albuquerque Coelho, herdeiro da capitania, a
fosse sem demora socorrer; e, entendendo ele que lhe seria utilíssima a companhia e ajuda de
seu irmão, Jorge de Albuquerque Coelho, suplicou à rainha-regente que lhe desse ordem de o
acompanhar; e assim ela fez.
Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando mais de vinte anos de idade; e, havendo
25 chamado a conselho alguns padres da Companhia de Jesus e várias personagens entre as
principais da terra, assentou-se entre todos, ponderado o lance, que se elegesse por chefe militar
da capitania a Jorge de Albuquerque Coelho, o qual, como lhe disseram que cumpria ao bem
público o aceitar ele e servir tal cargo, o aceitou, e se aventurou, e se esforçou muitíssimo,
correndo risco de perder a vida no zeloso cumprimento dos seus deveres.
30 Começou o ataque aos inimigos naquele mesmo ano de 1560, com tropa de soldados e de
criados seus, que alimentava vestia e calçava à sua custa. Prosseguiu nas operações de guerra
através de montes e de desertos, durante Verões e durante Invernos, de noite e de dia, passando
grandíssimos trabalhos, sendo ele e os seus soldados feridos pelo gentio muitas vezes, e
35 combatendo a pé e a cavalo. Frequentemente, não tinham mais para comer do que os
caranguejos do mato que encontravam, cozinhados de farinha-de-pau e fruta selvagem daqueles
campos. Quando acampavam, faziam os escravos choupanas de palma, em que se agasalhava
toda a tropa. Com estes cuidados que sempre tinha e com as boas palavras que lhes dizia,
consolava e contentava a sua gente. Entrada uma aldeia dos inimigos, corria logo sobre a mais
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próxima e a tomava assim com facilidade, por não terem tempo de se fazerem prestes.
Com esta diligência e brevidade pacificou em cinco anos a capitania. Quando chegara, não
ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que duas léguas pela terra dentro, e ao longo
da costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, podiam ir até vinte pelo interior, e sessenta
léguas ao longo da costa, − as que tinha a capitania no seu âmbito.
Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e pacíficos com pedirem
paz que lhes outorgaram, embarcou para a metrópole na nau «Santo António», na qual viagem
se deram os casos que nesta narrativa se contêm.
História Trágico-Marítima, adaptação de António Sérgio, Sá da Costa, 2008.
1. Identifica os três momentos principais em que o texto se organiza.
2. Seleciona expressões no texto que apresentam Jorge de Albuquerque Coelho como o verdadeiro
protagonista da narrativa que se anuncia.
3. Explica o sentido da frase: «Quando chegara, não ousavam os moradores da vila de Olinda sair
mais que duas léguas pela terra dentro, e ao longo da costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, podiam
ir até vinte pelo interior, e sessenta léguas ao longo da costa – as que tinha a capitania no seu âmbito.»
4. Explicita a relação que se pode estabelecer entre este relato e Os Lusíadas.
B. Lê o seguinte texto.
Então, deixando essa colónia [Pernambuco] conquistada, e os indígenas quietos e
pacíficos com pedirem paz que lhes outorgaram, embarcou para a metrópole na nau
«Santo António», na qual viagem se deram os casos que nesta narrativa se contêm.
História Trágico-Marítima, adaptação de António Sérgio, Lisboa: Sá da Costa, 2008.
[“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”, p. 181.]
5. Explicita em que medida os relatos de naufrágios completam a visão das descobertas marítimas
portuguesas.
6. Indica em que medida os protagonistas dos relatos de naufrágios podem também ser considerados
heróis.
Grupo II
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1. Os pais, segundo o texto,
A. falham sempre que tentam ensinar os filhos.
B. sofrem a influência de fatores afetivos.
C. resolvem sempre as suas divergências com os filhos.
D. acabam por reconhecer que os filhos possuem conhecimentos diferentes.
1.2. Segundo Carlos Vaz Marques, o livro O Japão É Um Lugar Estranho
A. é o resultado da paixão do filho de Peter Carey pela cultura japonesa.
B. foi inspirado pela paixão do seu filho pelo Japão.
C. foi inspirado pelo seu desejo de conhecer continentes culturais ignorados.
D. foi inspirado pelas suas leituras enciclopédicas.
1.3. O filme «O Verão de Kikujiro»
A. é uma adaptação de O Japão É Um Lugar Estranho.
B. conta que o jovem Charley procura a mãe, que não conhece.
C. demonstra uma das coincidências da vida de Charley e Alexandre.
D. é um exemplo de literatura «séria».
1.4. O autor deste texto considera que muitos adolescentes ocidentais
A. não conhecem nada da cultura japonesa.
B. crescem sujeitos a más influências.
C. têm fascínio pela cultura da manga e do anime.
D. rejeitam a cultura pop norte-americana.
1.5. A frase: «Peter Carey conduz o filho e é conduzido (…) pelos labirintos de uma cultura cheia de
códigos mais ou menos impenetráveis para um estrangeiro.» (ll. 25-26) significa que
A. pai e filho se deparam com uma situação embaraçosa.
B. os labirintos japoneses são impenetráveis.
C. Peter Carey, no estrangeiro, aceita códigos culturais diferentes.
D. a cultura japonesa é difícil de compreender devido à sua especificidade.