Desenvolvimento e Aprendizado

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Desenvolvimento e aprendizado.

Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala
de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla
Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo:
Martins Fontes, 2007.

A preocupação de Vygotsky foi estudar a origem e o desenvolvimento


dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da
história individual, adotando para isso a abordagem psicogenética
comum a outras teorias psicológicas.

No entanto, diferentemente desses outros autores (Piaget e Wallon) que


apresentam teorias genéticas do desenvolvimento psicológico, completas
e articuladas, Vygotsky não chegou a formular uma concepção
estruturada do desenvolvimento humano, com a descrição das
características e do percurso do ser humano do nascimento até a vida
adulta. Sua obra apresenta reflexões e dados de pesquisa sobre vários
aspectos do desenvolvimento, que permitem compreender como esse
processo ocorre e de que maneira epistemológica compreende o
conhecimento no homem.

Nesse sentido, afirma que o desenvolvimento é determinado pelos


processos de aprendizado pelos quais o sujeito passa ao longo da vida.
Embora não negue a importância do processo de maturação do
organismo individual, afirma que é o aprendizado que possibilita o
despertar destes processos internos de desenvolvimento, que se não
fosse o contato do indivíduo com o ambiente, não ocorreriam.

Nesse sentido, para Vygotsky a aprendizagem é um processo de


conhecimento individual e o aprendizado é resultado da mediação,
portanto, das relações do sujeito em seu ambiente sociocultural,
fundamental no processo de internalização do conhecimento pelo
sujeito. Esta é a importância que Vygotsky atribui ao papel do outro no
desenvolvimento psicológico, fundamentada pelo conceito de zona de
desenvolvimento proximal.

Com isso Vygotsky afirma que há dois níveis de desenvolvimento que


ocorrem de maneira simultânea durante toda a vida psicológica do
sujeito.

O nível de desenvolvimento real sem ajuda do outro. Por exemplo: uma


criança de 5 anos sabe andar, alimentar-se sozinha, tomar
banho. consiste nos conhecimentos já construídos pelo sujeito, o que ele
consegue fazer sozinho.

O nível de desenvolvimento potencial é o nível onde estão os


conhecimentos que o sujeito ainda não construiu e que, portanto, ele
precisa da ajuda do outro para realizá-los. Por exemplo: uma criança de
cinco anos precisa de alguém para ler e escrever para ela, nadar em
uma piscina, andar de patins. Nesse sentido, precisa de alguém para
ensiná-la a fazer essas coisas, pois são conhecimentos ainda não
internalizados.

Entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento


potencial, há a zona de desenvolvimento proximal, que consiste no
espaço entre os dois níveis, onde atuam os mediadores como
desencadeadores de processos de aprendizado.

Segundo Vygotsky o desenvolvimento fica impedido de ocorrer na falta


de situações propicias ao aprendizado. Nesse sentido, o ser humano
cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é
essencial ao seu desenvolvimento.

Vygotsky analisa a relação entre aprendizagem e desenvolvimento. O


autor considera que a melhor definição para esta relação é:
O processo de desenvolvimento não coincide com o processo de
aprendizagem; o processo de desenvolvimento segue o processo de
aprendizagem criando a zona de desenvolvimento proximal.

Para ele, o aprendizado antecipa-se ao desenvolvimento; o processo de


desenvolvimento segue o processo de aprendizagem criando a zona de
desenvolvimento proximal, onde atuam os mediadores possibilitando
que o conhecimento em nível potencial seja internalizado em nível real.

O conceito de zona de desenvolvimento proximal.

Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala
de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla
Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo:
Martins Fontes, 2007.

De acordo com Oliveira, a possibilidade de alteração no desempenho de


uma pessoa pela interferência de outra é fundamental na teoria de
Vygotsky, levando-se em consideração as condições do sujeito em se
beneficiar (ou não) dessa mediação.
Sendo assim, Vygotsky salienta a importância da interação social no
processo de construção das funções psicológicas superiores. Em outras
palavras, o desenvolvimento individual ocorre na relação com o outro
em um ambiente social determinado, sendo o mesmo fundamental para
a construção deste ser psicológico individual.

Nesse sentido, o conceito de zona de desenvolvimento proximal assume


um papel de relevância em sua teoria. Vygotsky define ZDP como sendo
a distância entre o nível de desenvolvimento real (solução independente
de problemas) e o nível de desenvolvimento potencial (solução de
problemas com auxilio); é o caminho que o sujeito irá percorrer no
processo de internalização do conhecimento com auxílio dos mediadores
que irão atuar neste espaço.

A ZDP é um domínio psicológico em constante transformação, pois o que


em um momento o sujeito precisa de ajuda de mediadores para realizar,
amanhã já conseguirá fazer sozinho, pois já foi internalizado e está em
nível real.

Nas palavras de Oliveira: Interferindo constantemente na ZDP das


crianças, os adultos e as crianças mais experientes contribuem para
movimentar os processos de desenvolvimento dos membros imaturos da
cultura.

O papel da intervenção pedagógica no desenvolvimento.

Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala
de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla
Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo:
Martins Fontes, 2007.

Se para Vygotsky o conceito de zona de desenvolvimento proximal é


fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, podemos depreender o significado da escola nessa teoria. Ao
afirmar que é na ZDP que a interferência de outros indivíduos é a mais
transformadora, chama a atenção para o papel da mediação da escola
nesse processo, indicando inclusive o momento ideal para ocorrer esta
atuação.

Se o sujeito já tem um conhecimento em nível real e, portanto,


internalizado, não há necessidade de uma medição na ZDP desse
sujeito, pois ensinar o que já se sabe não tem significado para o
processo de desenvolvimento psicológico. Ao mesmo tempo,
conhecimentos ainda não possíveis de serem reconhecidos pelo sujeito
podem também não serem reconhecidos como mediadores nesse
processo (ensinar uma criança de um ano a amarrar o sapato, mesmo
com ajuda).

Sendo assim, somente se beneficia do auxilio na tarefa (mediação) o


sujeito que ainda não aprendeu, mas que possui um processo de
desenvolvimento para essa habilidade ou aprendizagem. Nesse sentido,
é fundamental a compreensão do professor em relação a isso e a
implicação de sua atuação, em escolher os mediadores que irão
beneficiar o processo de desenvolvimento e aprendizado do sujeito.

A escola, portanto, tem um papel muito importante como mediadora,


atuando na zona de desenvolvimento proximal do aluno, pois por meio
da interação com o professor, com os colegas e o contato com diferentes
signos, conhecimentos em nível potencial são internalizados e tornam-se
conhecimentos em nível real.

Concluindo, o professor tem o papel explícito de intervir na ZDP dos


alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente, pois
segundo Vygotsky o único bom ensino é aquele que se adianta ao
desenvolvimento.

Brinquedo e desenvolvimento.

Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala
de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla
Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo:
Martins Fontes, 2007.

Além da escola, Vygotsky afirma que o brinquedo e o jogo simbólico


também são importantes no desenvolvimento psicológico do sujeito, pois
atuam como mediadores e favorecem o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores.

O brinquedo e a situação de brincadeira, aparentemente sem um papel


importante no desenvolvimento, possibilita a criação de uma zona de
desenvolvimento proximal na criança, uma vez que é levada a imaginar
e vivenciar uma situação muitas vezes impossível de ser experimentada
concretamente.
Por isso Vygotsky refere-se especialmente ao jogo de faz de conta
(simbólico) como brincar de casinha, escolinha, etc., em que a criança
utiliza a representação simbólica, liberando o funcionamento psicológico
das experiências concretas. Sendo assim, numa situação imaginária
como a brincadeira de faz de conta, a criança é levada a agir em um
mundo de fantasia, portanto, imaginário, onde a situação é definida pelo
significado estabelecido pela brincadeira - ônibus, motorista, passageiros
- e não pelos elementos reais concretamente presentes – cadeiras da
sala onde está brincando de ônibus. (Oliveira, 2010:66)

Ao brincar com a boneca a criança se relaciona com o significado e não


com o objeto concreto. O brinquedo provê, assim, uma situação de
transição entre a ação da criança com objetos concretos e suas ações
com significados. (Oliveira, 2010:66)

Além disso, a brincadeira e o brinquedo são organizados em um sistema


de regras e são justamente essas regras que permitem a criança se
comportar de forma mais avançada do que aquela correspondente à sua
idade: ao brincar de escolinha assume o papel de professora e para isso
tem que utilizar o modelo de professora que conhece e extrair dele um
significado geral e abstrato de professora. E também precisa brincar
conforme as regras e desempenhar o papel desta profissional, o que a
impulsiona para além de seu comportamento como criança.

Concluindo, no brinquedo a criança comporta-se de forma mais


avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a
separar o objeto do significado. (...) Sendo assim, a promoção de
atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras,
principalmente aquelas que promovem a criação de situações
imaginárias, tem nítida função pedagógica. (Oliveira, 2010:67)

Acompanhe o seguinte exemplo:

Uma menina está brincando de casinha. Uma caixa de sapatos


emborcada faz às vezes de fogão. Cozinha em cima da caixa, usando
suas panelas: um cinzeiro, uma pequena vasilha e uma tampa de
garrafa. Num dado momento, muda a posição da caixa, põe dentro dela
sua boneca e canta para que a boneca durma.

De acordo com a teoria do desenvolvimento de Lev Vygotsky podemos


analisar o comportamento dessa menina e é possível perceber que:
Ao brincar com a caixa de sapato como se fosse fogão, a criança se
relaciona com o significado em questão e não com o objeto concreto que
tem em suas mãos.
Na brincadeira a criança comporta-se de forma mais avançada do que
nas atividades da vida real e também aprende a separar o objeto do
significado, possibilitando o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores.
A evolução da escrita na criança.

Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala
de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla
Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo:
Martins Fontes, 2007.

Os estudos de Vygotsky sobre a evolução da escrita são muito


contemporâneos e partem da concepção de que é um sistema simbólico
de representação da realidade, assumindo junto com outros conceitos
(linguagem, mediação simbólica) papel central em sua teoria.

Para Vygotsky a escrita apenas pode ser investigada por meio de uma
abordagem genética que inicia muito antes da criança entrar na escola e
se estende por muitos anos depois, por isso, afirma a importância de se
estudar a pré-história da linguagem escrita. (Oliveira, 2010:68)

A fim de conhecer esse processo, Vygotsky e Luria, solicitaram a


crianças que não sabiam ler e escrever que memorizassem uma série de
sentenças ditadas por eles. Como não conseguiam se lembrar das
sentenças faladas, foi sugerido que ‘escrevessem’ as sentenças como
auxílio da memória. As estratégias utilizadas pelas crianças permitiu que
identificassem um percurso para a pré-história da escrita.

- Rabiscos Mecânicos é a imitação do formato da escrita do adulto e


para isso a criança utiliza como forma de representação cobrinhas.
- Marcas Topográficas é a distribuição dos registros no espaço do
papel, possibilitando a lembrança pelo local marcado.
- Representações Pictográficas são desenhos estilizados usados
como forma de escrita.
- Escritas Simbólicas é o momento em que a criança passa a inventar
formas para representar informações difíceis de serem desenhadas,
surgindo assim os signos que não necessariamente tem uma relação
lógica com os objetos e situações representadas. Será a partir daqui que
irá aprender a língua escrita propriamente dita.

A questão da evolução da escrita na criança é bastante importante no


conjunto das colocações de Vygotsky sobre desenvolvimento e
aprendizado, por duas razões: suas ideias sobre esse tema são
contemporâneas e porque sua concepção sobre a escrita está
estreitamente associada a questões centrais de sua teoria. Dessa forma,
constitui-se a ‘pré-história da linguagem escrita’ as seguintes fases:
Rabiscos mecânicos, marcas topográficas, representações pictográficas e
escrita simbólica, que apresenta os momentos desta psicogênese.

A mediação da percepção, atenção e memória.

Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala
de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla
Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo:
Martins Fontes, 2007.

Os estudos de Vygotsky sobre a gênese, função e estrutura dos


processos psicológicos superiores em uma perspectiva interdependente
do desenvolvimento e aprendizagem, levou-o a compreender os
mecanismos mais simples (funções psicológicas elementares) e os mais
sofisticados (funções psicológicas superiores) no funcionamento
psicológico.

Em função disso, estudou temas clássicos da psicologia, como a


percepção, atenção e memória e as implicações no funcionamento
psicológico.

A mediação simbólica e a origem sociocultural dos processos psicológicos


superiores são fundamentais para explicar o funcionamento
da percepção. O bebe nasce com características do sistema sensorial
humano, mas pela internalização da linguagem, pelos conceitos e
significados culturalmente desenvolvidos, transforma a percepção de
uma relação direta entre o indivíduo e o meio, para uma relação
mediada por conteúdos culturais. (Oliveira, 2010:73)

Sendo assim, nossa relação perceptual com o mundo não se dá em


termos de atributos físicos isolados, mas em termos de objetos, eventos
e situações rotulados pela linguagem e categorizados pela cultura.
(Oliveira, 2010:74)

Dessa forma, há uma interpretação dos dados perceptuais a partir do


conhecimento de mundo, uma percepção do objeto como um todo, uma
realidade completa, articulada e não simplesmente um conjunto de
informações sensoriais.

A atenção segue também o mesmo princípio. O homem nasce com uma


bagagem inata que gradativamente vai sendo submetida a processos
conscientes em grande parte pela mediação simbólica. Ao longo do
desenvolvimento, o sujeito passa a ser capaz de dirigir voluntariamente
sua atenção para elementos do ambiente que ele tenha definido como
relevante.

Em relação à memória Vygotsky apresenta uma distinção: memoria


natural, aquela não mediada e a memória mediada por signos.
A memória não mediada assim como a percepção sensorial e a atenção
involuntária é mais elementar, presente nas determinações inatas da
espécie humana. A memória mediada é a ação voluntária do sujeito em
utilizá-la como mediadora para lembrar-se de conteúdos específicos.

Portanto, as funções psicológicas superiores, típicas do ser humano, são,


por um lado, apoiadas nas características biológicas da espécie humana
(funções psicológicas elementares) e, por outro lado, construídas ao
longo de sua história social. (Oliveira, 2010:78)

Ex: Um indivíduo está caminhando por uma longa rua, procurando uma
farmácia onde já esteve uma vez. Vai olhando todos os edifícios, dos
dois lados da rua, mas sua atenção está deliberadamente focalizada na
busca de uma determinada farmácia. Isto é, não é qualquer edifício na
rua que chama sua atenção: as casas, lojas e prédios é uma espécie de
‘pano de fundo’, no qual vai se destacar a farmácia que está sendo
intencionalmente procurada. (In: Vygotsky; Aprendizado e
Desenvolvimento, um processo sócio histórico, p.77).

Neste fragmento, como podemos perceber que o conhecimento anterior,


já construído, dirige a atenção e a memória do sujeito, orientando sua
percepção e facilitando a realização da tarefa.

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