Envelhecimento Da Populaçao e Politicas Publicas

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ENVELHECIMENTO POPULACIONAL:
EPIDEMIOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
© 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
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Camila Braga de Oliveira Higa
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Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Hâmila Samai Franco dos Santos
Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Freitas, Denise Cuoghi de Carvalho Verissimo


F862e Envelhecimento populacional : epidemiologia e políticas públicas /
Denise Cuoghi de Carvalho Verissimo Freitas, – Londrina : Editora
e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
99 p.
ISBN 978-85-522-0651-4
1. Geriatria. 2. Gerontologia. I. Freitas, Denise Cuoghi de
Carvalho Verissimo. II. Título.
CDD 610
Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL: EPIDEMIOLOGIA E
POLÍTICAS PÚBLICAS

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 4

Tema 01 – Transição demográfica do envelhecimento 6

Tema 02 – Características da população que envelhece:


expectativa de vida 19

Tema 03 – Epidemiologia do envelhecimento 32

Tema 04 – Políticas públicas e gestão para a pessoa idosa 45

Tema 05 – Envelhecimento ativo: políticas públicas (OMS) 59

Tema 06 – A Política Nacional do Idoso 76

Tema 07 – O Estatuto do Idoso 89

Tema 08 – Tipos de violência contra a pessoa idosa 101

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 3


Apresentação da disciplina

O envelhecimento populacional é uma realidade de países desenvolvidos,


subdesenvolvidos e em desenvolvimento, por isso, as discussões e os de-
safios acerca deste tema vêm sendo discutidos em esfera mundial, onde
as questões biopsicossociais do envelhecimento populacional diferem de
acordo com a realidade de cada país.

Os aspectos do envelhecimento populacional abarcam questões não ape-


nas biológicas, mas também sociais, econômicas e psicológicas, visto que
são fatores de fundamental importância para planejamento, implantação
e acompanhamento de políticas nas esferas do poder público e privado.

Trata-se de uma realidade que interfere em vários setores da comunida-


de, tal qual na oferta de profissionais e setores qualificados para atender
esse público, já que apresenta características e necessidades diferencia-
das quando comparados à população geral.

A disciplina “Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas pú-


blicas” vem apresentar como temas a serem discutidos: as características
demográficas da população que envelhece; os aspectos de uma pirâmide
populacional que está em plena mudança, marcada por um índice de na-
talidade que está diminuindo, estruturas familiares diversas: compostas
por um único filho, sem filhos ou com várias gerações presentes; aborda
também a questão da crescente expectativa de vida.

Outras questões apresentadas neste contexto dizem respeito aos avan-


ços tecnológicos, às condições e acompanhamento de saúde com diag-
nósticos precoces das doenças, tratamento medicamentoso e cirúrgico,
convênios médicos privados e atendimento público voltado à saúde do
idoso, discussão e implantação da política pública para o envelhecimento
ativo na terceira idade - que é um programa da Organização Mundial de
Saúde (OMS) - e a alimentação, entre outras questões que contribuem
para um envelhecimento saudável.

4 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Neste sentido, o aumento da longevidade, as características diversas de
condições de saúde, condições sociais e dos aspectos demográficos ge-
rais, contribuem na tomada de decisão e acompanhamento das políticas
públicas voltadas para a população tal como se encontra atualmente e,
também, orienta as projeções futuras, visto que a mudança da estrutura
etária no país é uma realidade em curso.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 5


TEMA 01
TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
DO ENVELHECIMENTO

Objetivos

• Apresentar os aspectos da transição demográfica da


população idosa;

• Caracterizar a população idosa segundo variáveis


demográficas;

• Abordar as demandas e desafios do envelhecimento


populacional.

6 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Introdução

O tema a ser abordado nesta aula refere-se à transição demográfica do


envelhecimento. A transição demográfica ocorre em ciclos diferentes
para cada país, estado e cidade, apresenta características e necessidades
distintas para cada ciclo de vida e para a população como um todo. O
processo de desenvolvimento populacional é natural, assim como o nas-
cer, crescer, reproduzir-se, envelhecer e morrer, onde a terceira idade é
o último ciclo de desenvolvimento humano. A demografia utiliza-se de
alguns indicadores para poder distinguir e medir os diferentes tipos e in-
tensidades de crescimento de uma população, dentre os indicadores es-
tão: as taxas de fecundidade, de natalidade, de migração da população
e a mortalidade. Nestes indicadores considera-se a influência de outros
fatores como a economia, as mudanças climáticas, as características cul-
turais, educacionais e de saúde de uma população. Um dos instrumentos
da demografia que representa graficamente a composição etária dividida
por sexo ou faixas etárias de uma população é a pirâmide populacional,
nela as idades são representadas fornecendo um panorama populacio-
nal, descrevendo suas características e sua história. No decorrer desta
disciplina serão apresentados os aspectos da transição demográfica do
envelhecimento com suas especificidades.

1. Transformações no padão demográfico no Brasil

A partir dos anos 1940 a estrutura da sociedade brasileira passou por


profundas transformações em seu padrão demográfico, de maneira sutil.
Estas modificações tornaram-se mais expressivas depois da década de
1960, período marcado por um declínio expressivo nos níveis de fecundi-
dade, diminuição na taxa de crescimento populacional e modificações na
pirâmide etária, consequentemente, o número de crianças e adolescentes

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 7


diminuiu e, ao mesmo tempo que isto ocorreu, a população ativa e idosa
aumentou continuamente.

Após 1970 o Brasil passou por uma transformação demográfica mais in-
tensa, evidenciada por indicadores de natalidade, fecundidade e mortali-
dade drasticamente reduzidos. Na década de 1980, as taxas de natalidade
e mortalidade continuaram caindo. Em 1991 a esperança de vida do brasi-
leiro chegou a 65,8 anos e a estrutura etária continuou a envelhecer.

Deste modo, no país, passou-se de uma faixa etária extremamente jovem,


no período de 1940 a 1960, iniciou-se o processo de envelhecimento na
década de 1970 e, após vários decréscimos da taxa de natalidade, a base
da pirâmide etária foi se estreitando progressivamente, ou seja, ocorreu
um aumento relativo da população em idades ativas e idosos.

Definitivamente, a alta fecundidade não é mais uma realidade da contem-


poraneidade e nem a elevada mortalidade. O avanço tecnológico, as con-
dições sanitárias e de saúde resultarão em um crescimento elevado da po-
pulação idosa nos próximos 30 anos, onde a população de 80 anos ou mais
crescerá e os desafios deste crescimento implicarão em questões relevan-
tes a serem discutidas quanto à implementação tanto de políticas públicas,
quanto dos setores privados (CAMARANO e KANSO, 2011, p.58-67).

PARA SABER MAIS


A taxa de fecundidade no Brasil apresentou uma queda expressiva,
assim como a taxa de mortalidade, e uma das consequências disto é o
aumento da população idosa. O envelhecimento da população coloca
o nosso país numa situação desafiadora. É necessário repensar polí-
ticas públicas de saúde, sociais, econômicas, enfim, modelos de aten-
ção à esta população que cresce e demanda cuidados diferenciados.

8 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


LINK
“O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências
sociais atuais e futuras” os autores analisam os desafios atuais rela-
cionados ao planejamento das políticas públicas e o envelhecimen-
to populacional. Disponível em: <http://scielo.br/pdf/rbgg/v19n3/pt_
1809-9823-rbgg-19-03-00507.pdf>. Acesso em: 27 mar.2018.

A dimensão e a dinâmica demográfica do envelhecimento populacional


abarcam questões referentes a condições de crescimento da população
idosa, os arranjos familiares e a mortalidade. Analisam questões da in-
serção deste grupo populacional na família com as dificuldades para a
vida diária, o perfil de mortalidade e as possibilidades de crescimento da
expectativa de vida deste grupo.

PARA SABER MAIS


Nos estudos da área de demografia, os demógrafos avaliam e anali-
sam a população como um todo e em diversas faixas etárias e regiões
do país. Conhecer as diferenças regionais de uma população contribui
para melhor compreender e avaliar as condições de uma população
que envelhece.

Os desafios regionais de uma população que envelhece são distintos, apre-


sentam especificidades como, por exemplo, região de moradia na área
urbana, na área rural, qual o índice de desenvolvimento humano (IDH)
da cidade, os recursos para esta população idosa, enfim, todas essas são
questões a serem abordadas juntamente com os recursos socioeconômi-
cos e de saúde, para uma melhor qualidade de vida desta população.

Para poder entender melhor o processo de envelhecimento da uma popu-


lação é necessário definir o conceito de população idosa: trata-se de um
grupo populacional que vive a última fase do desenvolvimento humano,

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 9


havendo processos biológicos característicos do envelhecimento normal,
tais como: surgimento de doenças crônicas, perda de capacidade física
que pode comprometer a funcionalidade do idoso, redução da capacida-
de mental, entre outros.

ASSIMILE
Do ponto de vista físico, as alterações do aparelho locomotor do idoso
apresentam alterações que afetam a capacidade funcional para reali-
zar as atividades de vida diária (AVDs). Conceitualmente, a capacidade
funcional está relacionada à medida do grau de preservação da ap-
tidão do indivíduo para realizar atividades de vida diária (AVDs) e do
grau de capacidade para desempenhar as atividades instrumentais de
vida diária (AIVDs).

EXEMPLIFICANDO
As atividades de vida diária referem-se às atividades de autocuidado
como vestir-se, tomar banho, usar o banheiro, ter controle fecal e uri-
nário, subir e descer escadas, entre outras, onde o idoso deve cuidar
de si mesmo e responder por si só em seu ambiente cotidiano como
o seu lar. Já as atividades instrumentais são aquelas relacionadas, por
exemplo, com o cuidado e administração da casa, cuidado com fami-
liares, controlar a própria medicação, entre outras atividades.

Para compreender o processo de envelhecimento populacional partimos


da queda da fecundidade já citada anteriormente, o que leva à redução na
proporção da população jovem e um consequente aumento da proporção
da população idosa. As figuras 1 e 2 a seguir apresentam pirâmides etá-
rias da população brasileira segundo sexo e faixa etária. Ao comparar a
representação da população em 1980 com 2016, podemos verificar o au-
mento do número da população idosa entre este período e que o número
de mulheres idosas é maior que o de homens em faixas etárias iguais.

10 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Figura 1 – Pirâmide Etária do Brasil – 1980
•·
•••
•••
•••
•••
·-·--
•••
•••
•••
• ••
...
•••
•••
•••
•••
.....
•••,

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1980.

Figura 2 – Pirâmide Etária do Brasil – 2016.

.......-
-........
~,..
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.,.

--
......
.....
:..-»
»:• ..
, ,
•• ••
......
........ ,.., O 00 1 75 2.50 3.7 $

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2016.

1.1 Caracterização da população idosa segundo variáveis


demográficas

A caracterização de uma população, seja ela de um município, do Estado


ou da Federação, tem como metodologia a elaboração de estudos para

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 11


obter dados estatísticos e demográficos da população como, por exem-
plo: numa região, para determinar o seu tamanho populacional e poder
acompanhar indicadores e taxas de desenvolvimento socioeconômico e
de saúde, obter dados de mortalidade, expectativa de vida, dentre outros.

Ao estudar a população, uma das áreas que contribui na avaliação e aná-


lise dos dados é a demografia, ela trata de aspectos estáticos (tamanho
da população e composição) e aspectos dinâmicos da população (morta-
lidade, fecundidade, migração). O conjunto destas variáveis estáticas e
dinâmicas é considerado dado importante da população, pois serve para
justificar, acompanhar e implementar políticas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são consideradas ido-


sas as pessoas com idade entre 60 e 74 anos; anciãos as com 75 a 89
anos e velhice extrema a partir dos 90 anos de idade. Já para o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as pessoas com idade entre 60 e
70 anos são consideradas idosos jovens, as com idade entre 70 e 80 anos
medianamente idosos e, aqueles com idade acima de 80 anos são consi-
derados muito idosos. Para cada faixa etária as implicações e necessida-
des com relação a aspectos socioeconômicos, de saúde e implementação
de políticas públicas são diferentes.

No Brasil, observa-se que a proporção da população muito idosa, ou seja,


de 80 anos ou mais, vem aumentando, conforme ilustrado nas Figuras 1
e 2. Em países desenvolvidos, como o Japão, o contingente de idosos mui-
to idosos é maior que aquele observado em países não desenvolvidos,
porque o acompanhamento da população idosa é considerado relevante
para gestores e administradores que desenvolvem políticas públicas efi-
cazes e eficientes voltadas para estes indivíduos.

A população idosa no Brasil era de 170,7 mil pessoas em 1940 e passou


para 2,8 milhões em 2010. A contínua redução da mortalidade - especi-
ficamente nas idades avançadas, devido a fatores socioeconômicos, tec-
nológicos, de saúde, dentre outros – promove uma expectativa de que o

12 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


contingente de idosos alcance, em 2040, o total de 13,7 milhões, o que
significa 6,7% da população total (CAMARANO E KANSO, 2009).

As necessidades específicas, com relação ao envelhecimento populacio-


nal, são questões que vêm adquirindo representatividade nas socieda-
des. Discussões que abarcam avaliações minuciosas das necessidades no
âmbito econômico, social, de saúde, dentre outros, são conduzidas nas
diferentes instituições, tanto do poder público quanto privado (UNITED
NATIONS, 2004).

1.1.1Demandas, desafios e inovações do envelhecimento populacional

Um grande desafio, considerado uma questão de saúde pública, que en-


volve a população idosa ao redor do mundo é o suicídio, visto que as taxas
se apresentam mais elevadas em pessoas com idade acima de 70 anos.
Este fenômeno é observado mundialmente (CONWELL, 2014 e AMERICAN
ASSOCIATION OF SUICIDOLOGY, 2016). Dentre os desafios da população
idosa no Brasil, podem ser citados: a feminilização da velhice, a solidão, os
arranjos familiares e a intergeracionalidade.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


a população idosa é composta predominantemente pelo sexo feminino,
fenômeno este tipicamente urbano, sendo que nas áreas rurais o predo-
mínio é de homens. As mulheres idosas experimentam mais a condição
de ficarem sozinhas, devido a maior probabilidade de ficarem viúvas, e
muitas vezes desamparadas economicamente, residindo sozinhas ou em
casa com outros parentes ou com os filhos, ou ainda em Instituições de
Longa Permanência (CAMARANO e KANSO, 2011, p. 61-66).

Outro desafio na velhice é a solidão, esta é crescente tanto em homens


quanto mulheres, gerada por algumas condições e situações como as
relações e laços familiares rompidos ou fragilizados, o residir sozinho,
a viuvez, a aposentadoria, a diminuição do contato social. Deste modo,
o suporte social é de grande relevância neste contexto, assim como a

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 13


personalidade do idoso e a forma como este promove estratégias de co-
ping para lidar com a solitude. Quando os sentimentos de solidão não são
superados, este indivíduo fica mais susceptível à uma institucionalização
precoce, à aceleração do processo de fragilidade e até mesmo de morte
(AZEREDO, 2013).

A família é a fonte primária do ser humano para o desenvolvimento, cres-


cimento e amparo. Um determinante importante na condição de vida do
idoso é a inserção familiar. Neste espaço, muitas vezes intergeracional,
os desafios podem estar no gerenciamento dos cuidados prestados ao
idoso, que pode estar convivendo como adolescentes e/ou crianças pe-
quenas, e a manutenção da dinâmica familiar, que muitas vezes depende
dos laços emocionais e afetivos pregressos.

Pode-se concluir que, atender as demandas desta parcela da população


que cresce em todo o mundo é uma questão que emerge, para isso, tor-
na-se fundamental a compreensão e o entendimento de suas especifici-
dades, assim como a atenção interdisciplinar e multiprofissional prestada
a estes indivíduos.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Como você viu, a população está envelhecendo, isto é uma realidade.
Os desafios são grandes e pesquisadores da área da demografia nos
apresentam estes dados. Para refletir: a contribuição da demografia
enquanto análise de indicadores e condições da população idosa te-
ria quais desafios ou dados a serem pesquisados para poder caracte-
rizar melhor essa população?

2. Considerações finais

• O envelhecimento populacional é uma realidade para países desen-


volvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos.

14 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


• O processo de desenvolvimento populacional são fatores indisso-
ciáveis como o nascer, crescer, reproduzir-se, envelhecer e morrer,
onde a terceira idade é o último ciclo de desenvolvimento humano.

• No envelhecimento há diferenças de gênero, a população brasilei-


ra é predominantemente feminina na área urbana e masculina na
área rural.

• É fundamental a compreensão e o entendimento das especifici-


dades, assim como a atenção interdisciplinar e multiprofissional
prestada ao idoso.

Glossário

• Demografia: é o estudo da estrutura, composição e movimento


das populações humanas, principalmente em relação à estrutura,
tamanho e desenvolvimento.

• Expectativa de vida: é o número estimado de anos que um grupo


de pessoas nascidas no mesmo ano irá viver, se mantidas as mes-
mas condições desde o seu nascimento.

• Indicador: refere-se a elementos que têm como objetivo apontar


ou mostrar algo. Trata-se de um instrumento utilizado por vários
profissionais para caracterizar, por exemplo, no caso do demógra-
fo, a população.

• Estratégias de coping: conjunto das estratégias usadas pelos indi-


víduos para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou estressan-
tes as quais estão expostos crônica ou agudamente.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 15


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. Marque V para alternativas verdadeiras e F para alternati-
vas falsas e assinale a alternativa correta:
( ) A transição demográfica ocorre em ciclos idênticos em
cada país, estado e cidade.
( ) A demografia utiliza-se de alguns indicadores para po-
der distinguir e medir os diferentes tipos e intensida-
des de crescimento de uma população.
( ) As taxas de fecundidade, de natalidade, de migração
da população e a mortalidade são indicadores usados
para medir o crescimento populacional.
a) V, V, V.
b) V, V, F.
c) V, F, V.
d) F, F, F.
e) F, V, V.
2. Para caracterizar a população a nível de representação
gráfica é utilizado qual recurso?
a) O gráfico e desempenho
b) O fluxograma
c) O gráfico de linha
d) O gráfico de barras
e) A pirâmide populacional
3. Complete a lacuna:

No Brasil, a taxa de __________ apresentou uma queda ex-


pressiva, assim como a taxa de mortalidade, uma das con-
sequências disto é o aumento da população idosa.

16 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


a) gestação
b) nascidos vivos
c) fecundidade
d) morbimortalidade
e) natimortos

Referências bibliográficas

AMERICAN ASSOCIATION OF SUICIDOLOGY (Internet). Elder Suicide Facts Sheet (cited


2018 março 01). Disponível em: <http://sciencedaily.com>. Acesso em: 21 jun. 2018.
AZEREDO, Z. O Idoso fragilizado e a prevenção da fragilidade. Rev Iberoam Gerontol,
v. 2, p. 70-8, 2013.
CAMARANO, AA.; KANSO, S. Cap. 5 - Envelhecimento da Popula-
ção Brasileira/Uma Contribuição Demográfica. A.A. In: In: FREI-
TAS, E.V.; PY, L. (Editoras); CANÇADO, F.A.X.C.; DOOL, J.; GORZONI,
M.L. (Coautores). Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. ed. Editora Guanabara
Koogan, 2011.
CAMARANO, AA.; KANSO, S. Perspectiva de Crescimento para a População
Brasileira: Velhos e Novos Resultados. Texto para Discussão, n. 1.426, Rio de
Janeiro: Ipea, 2009.
CONWELLl, Y. Suicide in later life: Challenges and priorities for prevention. Am J Prev
Med., v.3s2, n. 47, p. 244-250, 2014. Disponível em: <https://www.ajpmonline.org/
article/S0749-3797(14)00260-8/pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.
UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs/Population
Division. World Population to 2300. New York, 2004.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 17


Gabarito – Tema 01

Questão 01 – Resposta: E

Resolução:

• A transição demográfica ocorre em ciclos diferentes para cada país,


estado e cidade, apresenta características e necessidades distintas
para cada ciclo de vida e para a população como um todo.

• A demografia utiliza de alguns indicadores para poder distinguir e


medir os diferentes tipos e intensidades de crescimento de uma
população.

• Dentre os indicadores utilizados para medir o crescimento popula-


cional estão: as taxas de fecundidade, de natalidade, de migração
da população e a mortalidade.

Questão 02 – Resposta: E

Resolução: A pirâmide populacional é um gráfico utilizado para carac-


terizar uma população em diversas apresentações de dados, compa-
ração de indicadores e índices.

Questão 03 – Resposta: C

Resolução: A taxa de fecundidade no Brasil apresentou uma queda


expressiva, assim como a taxa de mortalidade, uma das consequên-
cias disto é o aumento da população idosa.

18 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


TEMA 02
CARACTERÍSTICAS DA
POPULAÇÃO QUE ENVELHECE:
EXPECTATIVA DE VIDA

Objetivos

• Definir as características da população que envelhece;

• Conceituar expectativa de vida e os desafios para a


população que envelhece;

• Abordar expectativa de vida e a diferença entre


gênero.

19 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Introdução

A população está envelhecendo rapidamente para alguns países, e para


outros permanece em aumento gradativo. Os desafios e demandas espe-
cíficas da velhice são aspectos que vêm sendo discutidos, analisados mun-
dialmente, abarcando especificidades e características distintas da popu-
lação ao considerar o local de residência, a região, o estado, o município
e um país como um todo. Os setores públicos, privados, os conselhos de
saúde (Federal, Estadual e Municipal); os conselhos do idoso a nível Federal,
Estadual e Municipal, bem como as universidades, contribuem com levan-
tamentos, discussões e pesquisas para melhor caracterizar esta população
e atuar de forma efetiva nas demandas emergentes e urgentes de curto,
médio e longo prazo. Aspectos de saúde, socioeconômicos; previdenciá-
rio, cultural, educacional, os arranjos de moradia, dentre outros, são fa-
tores importantes para tomada de decisões e, posteriormente, para im-
plementação de políticas públicas para esta população. Segundo dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), estimativas mostram que estudos
demográficos apontam a marca de 7 bilhões de pessoas no mundo, onde a
tendência de crescimento da população com 60 anos ou mais deve triplicar
nos próximos 40 anos, isto quer dizer, até 2050. Há no mundo 893 milhões
de pessoas com mais de 60 anos, com características distintas quanto a
gênero, saúde, condições socioeconômicas, escolaridade, aposentadoria e
moradia, impactando na qualidade de vida destes idosos. A expectativa de
vida da população idosa a nível mundial aumentou, os idosos estão viven-
do mais, e com esta realidade, desafios e demandas caminham juntos para
melhor compreender as características desta população.

1. Características da população que envelhece

Para caracterizar uma população, deve-se compreender primeiro o signi-


ficado da palavra população. Em termos biológicos, população é o nome

20 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


atribuído a um grupo de indivíduos da mesma espécie que vivem em um
determinado ambiente. No caso do envelhecimento, a população é medi-
da em termos de crescimento populacional, utilizando-se de indicadores
demográficos e dados estatísticos quantitativos e qualitativos para des-
crever a população que envelhece. Para a análise estatística, os testes e
elementos utilizados são as porcentagens ou proporção, a prevalência, a
incidência da população alvo estudada.

PARA SABER MAIS


Na Pesquisa elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), órgão da Secretaria do Desenvolvimento Humano,o
estudo populacional apresenta dados do número de idosos no Brasil,
que vem crescendo a cada década.

LINK
Como curiosidade e aprofundamento do tema da pesquisa realizada
pelo (IBGE) acesse o link disponível em: <https://www.scielosp.org/
pdf/csp/2003.v19n3/725-733>. Acesso em: 21 jun. 2018.

As características da população que envelhece devem ser consideradas


e compreendidas como um todo, em seu aspecto biopsicossocial, de
qualidade de vida, as condições de saúde, a proteção social, as condi-
ções de habitação, a composição e inserção do idoso na família, como se
dá os arranjos familiares, qual o estado ou condição psicológica e cogni-
tiva do idoso. Essas informações e considerações sobre a população que
envelhece são de fundamental importância para profissionais, gestores
e esferas do poder público e privado, para ações sociais, econômicas e
de saúde para poderem atuar com esta população que apresenta ca-
racterísticas e necessidades distintas das demais faixas etárias e tipo de
população.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 21


PARA SABER MAIS
O envelhecimento populacional brasileiro apresenta desafios em di-
versos setores. Minayo, 2012, pesquisadora sobre o envelhecimento,
destaca em seu estudo os desafios no setor da saúde, sendo este um
setor importante para a qualidade e expectativa de vida com saúde da
população idosa.

LINK
Como aprofundamento do assunto e para saber mais sobre o enve-
lhecimento populacional brasileiro com relação aos desafios do setor
da saúde, acesse o link: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v28n2/01.pdf>.
Acesso em: 21 jun. 2018.

A grande heterogeneidade dos idosos vem acompanhada de característi-


cas e condições físicas, biológicas, comportamentais e cognitivas diversas.
Alguns conceitos sobre o envelhecimento são importantes para se poder
caracterizar e compreender a identidade desta população que envelhece,
dentre eles, entender o conceito de idade cronológica e psicológica e a
idade social, o envelhecimento bem sucedido, a senescência e senilidade
e o envelhecimento normativo.

ASSIMILE
Apresentados alguns conceitos relacionados à população
que envelhece, um dos pilares da área da gerontologia é o
conceito de senescência e senilidade. A senescência ou enve-
lhecimento primário, assim definido, é o fenômeno que atin-
ge todos os seres humanos pós-reprodutivos, trata-se de um
processo progressivo, gradual e acumulativo do organismo
humano, não é uma doença. Agora, a definição de senilidade

22 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


ou envelhecimento secundário ou patológico é definido como
o processo do envelhecimento primário ou normal que vem
associado a uma ou várias comorbidades e doenças.

O processo de envelhecimento normal dentre a população de idosos é


uma característica relevante da população brasileira, nesta população
uma das condições encontradas é o aumento da expectativa de vida em
que os idosos estão vivendo mais. Porém, os idosos estão vivendo mais
com características distintas, onde as comorbidades e problemas de saú-
de crônicos como as demências, as doenças osteomusculares, as doenças
psiquiátricas e neurológicas, neuroendócrinas, são comumente encontra-
das em uma parcela relevante da população. Quando o idoso é acometido
por várias comorbidades, obtêm-se o prejuízo funcional para a realização
das atividades e tarefas do cotidiano, bem como em casos de demência,
onde o idoso necessita de um cuidador ou de membros da família para
ajudar ou até realizar de forma total as tarefas e atividades do cotidiano.

EXEMPLIFICANDO
No processo de envelhecimento normal ou primário o idoso tem au-
tonomia, é independente para desempenhar suas atividades dentro e
fora de casa sem a ajuda de outra pessoa. O idoso com comorbidades
ou doença pode estar dependente, por exemplo fisicamente, impedi-
do de andar mais, ser autônomo em suas decisões e escolhas quando
não acometido por demência que afete gravemente a cognição.

O envelhecimento populacional é um cenário atual emergente, com as


características e demandas dos idosos que estão vivendo mais e isto
requer cuidado, conhecimento das necessidades e atribuições que esta
demanda apresenta. Pesquisas científicas de diversos modelos devem
ser elaboradas pelas áreas do conhecimento com temas relacionados
a esta população, para melhor caracterizá-la e distingui-la, inclusive

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 23


entre as diferentes faixas etárias da população idosa (CAMARANO E
KANSO, 2009).

1.1 Conceito de expectativa de vida e os desafios para a


população que envelhece

A expectativa de vida ou esperança de vida dos idosos está crescendo


no Brasil, para ambos os sexos, no período de 1940-2015, passando de
45,5 anos para 75,5 anos, ou seja, um aumento de 30 anos. Esse aumen-
to é notado em todas as idades, quer dizer, desde os nascidos vivos cuja
mortalidade diminuiu, principalmente para os mais jovens a expectativa
de vida aumentou, ao compararmos o sexo, a população feminina é de
maior intensidade do que a masculina.

Quando analisamos dados sobre a expectativa de vida de uma população,


observa-se que em 1940 um indivíduo ao completar 50 anos tinha uma
expectativa de vida de mais 19,1 anos, vivendo em média 69,1 anos. Com
o declínio da mortalidade neste período um mesmo indivíduo em 2015
tem uma expectativa de vida de mais 30,2 anos e, consequentemente,
uma vida média de 80,2 anos, vivendo em média 11 anos a mais do que
em 1940 (CAMARANO e KANSO, 2011).

A expectativa de vida da população, que é medida pela média dos anos de


vida, deve ser acompanhada pelas condições de qualidade de vida, viven-
ciadas desde o momento do nascimento. Estas condições estão relaciona-
das com a qualidade de vida que um país possui, fatores como educação,
saúde, assistência social, saneamento básico, segurança no trabalho, ín-
dices de violência, ausência de guerras ou presença de guerras; conflitos
internos de um país, estado ou município.

Um país pode influenciar na expectativa de vida de uma população,


por diferentes condições, fazendo-a variar de acordo com o momento
e o contexto histórico. A Revolução Industrial iniciada a partir do século
XVIII foi o marco na evolução das taxas de expectativa de vida em todo

24 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


o mundo, com o progresso da medicina e o surgimento de infraestrutu-
ra de saneamento básico e higiene, reduzindo as taxas de mortalidade
mundial, provocando o crescimento demográfico e, consequentemente,
o aumento da expectativa de vida.

Nos países desenvolvidos a expectativa de vida tende a ser maior do que


em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, questões econô-
micas acompanham os padrões e a expectativa de vida da população,
em que as diferenças entre os países quanto à vulnerabilidade social é
uma das realidades que interfere nas taxas de expectativa de vida de uma
população.

Em países como o Japão a expectativa de vida chega a (89,79 anos); na


Suíça (82,50 anos), na França (81,75 anos), Espanha (81,57 anos) e na
Alemanha (80,57 anos), todos são exemplos de países desenvolvidos cuja
expectativa de vida supera os 80 anos. Já nos países subdesenvolvidos
como Nigéria (53,02 anos) a expectativa de vida cai, em Moçambique é de
(52,94 anos) e no Afeganistão (50,87 anos), onde nem sequer a população
chega a 60 anos de idade (RIGOTTI, 2012).

O gênero abarca uma expectativa de vida desigual, as mulheres apresen-


tam uma maior expectativa de vida do que a dos homens na maioria dos
países, em decorrência e virtude dos seguintes fatores:

• as mulheres cuidam mais de sua saúde, procuram mais os médi-


cos do que os homens, esse motivo faz com que as doenças sejam
diagnosticadas de início, resultando em menor mortalidade entre
as mulheres;

• a elevada taxa de criminalidade entre os jovens do sexo masculino


aumenta as taxas de mortalidade dos homens nesta faixa etária, não
vivendo por muito tempo, tendo uma expectativa de vida reduzida;

• os homens trabalham em atividades mais pesadas e de alta pericu-


losidade, o que faz com que os indivíduos do sexo masculino sejam
mais propensos a acidentes de trabalho fatais.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 25


A perspectiva do aumento da expectativa de vida vem acompanhado de
questões relacionadas às possibilidades de uma vida com autonomia físi-
ca e mental, apoio intergeracional e familiar; de políticas públicas, condi-
ções de vida dos idosos e de suas famílias e ainda perspectiva futura dos
idosos longevos, os que vivem acima de 80 anos e mais de idade, e de
quais são as perspectivas em termos de qualidade de vida.

O conhecimento das comorbidades e condições de saúde dos idosos é


um preditor importante de qualidade e expectativa de vida, contribuindo
para poder atuar de maneira preventiva em alguns casos e/ou curativa,
quando já instaladas as condições crônicas.

Para a qualidade dos serviços e recursos de saúde prestados à população


idosa, estratégias para o atendimento e o desenvolvimento de programas
preventivos são fundamentais, o acompanhamento com a equipe multi-
profissional como (médico, enfermeiro, assistente social, fisioterapeuta,
educador físico, agente de saúde, psicólogo) deve fazer parte de um pro-
grama de atendimento ao idoso, conhecendo as suas especificidades, as
diferenças de gênero quanto às condições de saúde e comorbidades pre-
sentes, fazendo com que a mortalidade por causas evitáveis seja reduzida
e a dependência não se instale ou acentue, contribuindo para uma expec-
tativa de vida com saúde, apesar da presença de comorbidade. O estudo
de [Rutstein (1976) e Charlton (1983) apud EASP(s.d)] definiu as causas de
saúde evitáveis para a população idosa, com o objetivo de desenvolver
estratégias de atendimento e atenção dos serviços de saúde. Os autores
dividiram estas causas em 3 grupos:

Grupo I - causas evitáveis por meio da prevenção primária: incluem as


patologias que podem ser diagnosticadas primariamente, permitindo
uma intervenção na prevenção, reduzindo a incidência da doença;

Grupo II – causas evitáveis por meio do diagnóstico precoce e trata-


mento oportuno – requerem prevenção secundária;

26 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Grupo III – causas evitáveis por meio de melhoria nos tratamentos e
cuidados médicos - incluindo as doenças suscetíveis de tratamento e
os avanços na medicina.

A atuação na prevenção, diagnóstico precoce das doenças e tratamentos


são fundamentais para a população idosa. Os desafios do envelhecimen-
to populacional apresentam realidades distintas quando falamos em um
país onde a população envelhece ou que já está envelhecida.

O ganho futuro na expectativa de vida dos países desenvolvidos virá com


a redução da mortalidade dos idosos através da intervenção no processo
de envelhecimento, para países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos
o acompanhamento da população idosa com a utilização de estratégias de
prevenção e diagnóstico precoce são desafios ainda presentes quanto à
expectativa de vida, qualidade de vida e atenção à população idosa.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


As características do envelhecimento e da expectativa de vida são
diferentes entre os países, estados e municípios. Na composição da
população idosa há distinção de sexo, de raça, de condições econô-
micas e sociais, de saúde. A heterogeneidade da população idosa é
real, a expectativa de vida está crescendo, os idosos estão vivendo
mais. A condição de qualidade e expectativa de vida de uma popula-
ção remete às condições que este sujeito teve em sua vida pregres-
sa, remete-se ao meio onde ele viveu, as oportunidades de educa-
ção, trabalho, de cuidados com a saúde. A partir desta colocação, a
reflexão que surge é: os órgãos e sistemas de saúde, os gestores,
administradores públicos e privados, os profissionais estão atuando
de que maneira? E com quais recursos, para que as condições de
vida dos mais jovens hoje (criança, adolescente, adulto) possam ter
uma melhor qualidade, elevando a expectativa de vida quando esta
população se tornar idosa?

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 27


2. Considerações finais

• A população está envelhecendo com características distintas entre


os países, apresentando desafios e demandas específicas da velhi-
ce, que vem sendo discutidas a nível mundial.
• Os aspectos como saúde, economia, educação, cultura, sistema
previdenciário, habitação estão sendo um desafio para a implemen-
tação de estratégias de políticas públicas para a população idosa.
• A nível mundial a expectativa de vida aumentou na presença de
características desiguais no que se refere aos homens e às mulheres;
também para as condições de saúde e na capacidade de autonomia,
independência e dependência.
• A presença da vulnerabilidade social e econômica da população que
envelhece ainda é crescente, em destaque para países em desenvol-
vimento e subdesenvolvidos, condições ainda precárias para uma
melhor qualidade e atenção para os idosos.

Glossário

• Organização Mundial da Saúde (OMS): é uma organização inter-


nacional com o objetivo de facilitar a cooperação em termos de
direito e segurança internacional, desenvolvimento  econômico,
progresso social, direitos humanos e da paz mundial, fundada em
1945, logo após a Segunda Guerra Mundial.

• Prevalência: é usada em estatística e em epidemiologia, refere-se


a: número total de casos existentes numa determinada população
e num determinado momento temporal. A prevalência permite
compreender o quanto é comum, ou rara, uma determinada do-
ença ou situação numa população.

28 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


• Expectativa de vida: também pode ser definida como esperança
de vida. É o número médio de anos que a população de um país
pode esperar viver.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. A população está envelhecendo a nível mundial com ca-
racterísticas distintas. Qual alternativa abaixo representa
uma distinção populacional a ser considerada para esta
população que envelhece?
a) O local de residência
b) Oferta de alimento saudável
c) A oferta de emprego
d) A captação de recursos de saúde
e) O ambiente inadequado
2. Marque qual fator dos listados abaixo é o mais importante
para a tomada de decisão e implementação de políticas
públicas para a população idosa:
a) Aposentadoria precoce
b) Renda econômica suficiente
c) Arranjo de moradia
d) A desaposentadoria
e) O meio ambiente salubre
3. Para uma população que envelhece, qual aspecto abrangen-
te desta população deve ser considerado e compreendido?
a) Aspecto estético
b) Aspecto de linguagem figurativa
c) Aspecto dentário
d) Aspecto de riqueza
e) Aspecto biopsicossocial

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 29


Referências bibliográficas

CAMARANO, AA.; KANSO, S. Cap 5 - Envelhecimento da População Brasileira/Uma


Contribuição Demográfica. A.A. In: In: FREITAS, E.V.; PY, L. (Editoras); CANÇADO,
F.A.X.C.; DOOL, J.; GORZONI, M.L. (Coautores). Tratado de Geriatria e Gerontologia.
3. ed. Editora Guanabara Koogan, 2011.
CAMARANO, AA.; KANSO, S. Perspectiva de Crescimento para a População
Brasileira: Velhos e Novos Resultados. Texto para Discussão n. 1.426, Rio de
Janeiro: Ipea, 2009.
EASP. Escuela Andaluza de Salud Pública, Banco Interamericano de Desarollo,
Federación Internacional de la Vejez, Organización Panamericana de la Salud. Estudio
del Adulto Mayor en Argentina, Chile y Uruguay: Situación y Estrategias de
Intervención (s.d.)
MINAYO, MCSouza. O Envelhecimento da População Brasileira e os Desafios para
o Setor Saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 28, n. 2, p. 208-209. Rio de Janeiro, fev.
2012.
RIGOTTI, JIR. Transição Demográfica. Educação & Realidade, v. 37, n. 2, p. 467-490.
Porto Alegre, maio/ago 2012.
RIOS-NETO, ELG; MARTINE, GA; Diniz, JE. Oportunidades Perdidas e Desafios Críticos:
a Dinâmica Demográfica Brasileira e as Políticas Públicas. Demografia em Debate, v.
3.ABEP: UNFPA: CNPD. Belo Horizonte, 2009.
RIOS-NETO, ELG. Questões Emergentes na Análise Demográfica: o Caso Brasileiro.
Revista Brasileira de Estudos da População, v. 22, n. 2, p. 371-408. São Paulo, 2005.

Gabarito – Tema 02

Questão 01 – Resposta: A

Resolução: As características de uma população que envelhece são


distintas entre vários aspectos. O local de residência é um aspecto
importante para a população que envelhece, os recursos ofertados

30 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


pelo local de residência contribuem para uma melhor qualidade de
vida e atenção a esta população, tais recursos como posto de saúde,
saneamento básico, asfalto, entre outros.

Questão 02 – Resposta: C

Resolução: Na tomada de decisão e implementação de políticas pú-


blicas o arranjo de moradia é uma das questões que deve ser con-
templada na avaliação (social, econômica e de saúde), caracterizan-
do a dinâmica familiar, onde o idoso está inserido para tomadas de
decisão, e implementação de políticas públicas que contemplem a
necessidade dos idosos frente às condições do arranjo de moradia.

Questão 03 – Resposta: E

Resolução: Os aspectos do envelhecimento para ser compreendido


e estudado deve considerar questões biológicas, psicológicas e físi-
cas, características fundamentais para poder atuar nos aspectos do
envelhecimento de forma integral.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 31


TEMA 03
EPIDEMIOLOGIA DO
ENVELHECIMENTO

Objetivos

• Descrever a transição epidemiológica no Brasil;

• Caracterizar as causas mais prevalentes de morbi-


mortalidade na população idosa; - Apresentar as
implicações e impacto das morbimortalidades na capa-
cidade funcional do idoso.

32 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Introdução

A mudança demográfica no Brasil é nítida e similar a de outros países


nas últimas décadas. A população vem crescendo de forma rápida des-
de o início da década de 60, devido à aceleração na queda da taxa de
fecundidade, o que tem aumentado a expectativa de vida da população
(VERAS, 2007). O Brasil em 2020 terá a sexta maior população idosa do
mundo, estimativa esta encontrada em países desenvolvidos, com pro-
jeção de cerca de 32 milhões de pessoas (MATOS, GIATTI & LIMA-COSTA,
2004). As mudanças na pirâmide populacional são evidentes para a faixa
etária da população de 60 anos e mais de idade, os idosos representam
uma proporção crescente e, consequentemente, grandes desafios para
os sistemas de saúde pública. Com essas mudanças, as doenças próprias
do envelhecimento ganharam maior prevalência, implicando em inves-
timentos, assistência médica e recursos tecnológicos para atender este
tipo de população. Os padrões de morbidade, invalidez e morte da po-
pulação idosa vem acompanhado de transformações sociais, econômicas
e demográficas. A transição epidemiológica do envelhecimento engloba
processos de mudanças básicas como a substituição da causa morte de
décadas passadas por doenças transmissíveis para as doenças não trans-
missíveis. Na população idosa as doenças crônicas não transmissíveis são
prevalentes, o crescente aumento da esperança de vida e a condição de
apresentar doenças crônicas impactam na funcionalidade, provocando
dependência em situações de agravamento de saúde. Os elevados cus-
tos de assistência médica para a população idosa implicam em maiores
recursos socioeconômicos do setor público e privado para atender as de-
mandas dessa população que está envelhecendo e que emerge da tran-
sição epidemiológica do envelhecimento e do prevalente acometimento
das grandes síndromes geriátricas presentes na população idosa.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 33


1. Transição epidemiológica no Brasil

A transição epidemiológica está relacionada ao perfil de adoecimento e


morte, isto é, com as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de mor-
te, morbidade e invalidez por condições precárias de saúde, a população
envelhecida apresenta características de mudanças e transformações do
perfil demográfico, social e econômico, sendo estas distintas entre os pa-
íses, os estados e os municípios (OMRAM, 2001).
No processo de transição epidemiológica e demográfica existe uma cor-
relação a se destacar, primeiro com o declínio da mortalidade por doen-
ças infectocontagiosas que afetavam grupos mais jovens da população e
que não chegavam à velhice; passada esta transição o segundo aspecto
foi o aumento da população que não mais morria por doenças infeccio-
sas e que agora vive mais, porém com condições crônicas de saúde. Esta
mudança de transição demográfica e epidemiológica associadas passou
a ser caracterizada pela prevalência de doenças crônico-degenerativas,
portanto, na medida em que cresce o número de idosos na população e
aumenta a expectativa de vida, tais doenças se tornam mais frequentes.

PARA SABER MAIS


A transição demográfica e epidemiológica da população idosa impacta
em vários setores de atendimento e atenção ao idoso, como setores
da saúde, administração de recursos financeiros e prioridades e ges-
tão das políticas públicas, abarcando as diferenças regionais e nacionais
que abrangem o envelhecimento. Dentre as demandas de atenção es-
tão as internações hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS).

LINK
Como curiosidade e aprofundamento do tema da pesquisa acesse o
link disponível em: <http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/sau-
desantacatarina/article/viewFile/3803/2033>. Acesso em: 21 jun. 2018.

34 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


A transição epidemiológica não tem ocorrido de forma igual entre os pa-
íses desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento com refe-
rência às doenças crônicas degenerativas como a Doença de Parkinson,
a Doença de Alzheimer, e não degenerativas tais como a hipertensão, o
diabetes mellitus, as doenças agudas (pneumonia, infecção urinária) e su-
bagudas e as doenças infectocontagiosas.

No Brasil, as doenças que acometem o idoso, de modo geral, se sobre-


põem, ainda são encontradas doenças infectocontagiosas e crônico-dege-
nerativas, criando uma realidade onde a morbimortalidade persiste ele-
vada para ambas as causas.

PARA SABER MAIS


A caracterização da morbimortalidade nos idosos vem acompanhada
pelos desafios e demandas da assistência à saúde, em casos de hos-
pitalizações por períodos longos e internações constantes, o cuidado
familiar e domiciliar composto de uma equipe multiprofissional são
situações frequentes relacionadas aos idosos.

LINK
Como curiosidade sobre o perfil de morbimortalidade e os desafios da
atenção domiciliar do idoso, acesse o link disponível em: <https://re-
vistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/view/32058/22192>. Acesso
em: 21 jun. 2018.

A morbimortalidade é prevalente nos idosos, apresenta-se com caracte-


rística silenciosa e que compromete a mobilidade, a capacidade funcional,
acarretando preocupação da família, necessitando de cuidadores e cuja
perspectiva de morte é presente nos idosos.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 35


ASSIMILE
Assimile: No envelhecimento, a saúde do idoso pode vir acompanha-
da com várias comorbidades, tais como: hipertensão arterial, infarto,
diabetes, problemas com o hipotireoidismo ou hipertireoidismo; do-
enças osteomusculares; neurológicas; entre outras, sendo morbida-
des prevalentes na população idosa.

EXEMPLIFICANDO
Os problemas de saúde dos idosos modificam-se ao longo da vida e as
doenças também apresentam características e comprometimentos di-
versos. A morbimortalidade é compreendida e utilizada para designar
o conjunto de casos de uma afecção ou soma dos agravos à saúde que
atingem a população idosa, sendo usada pelos profissionais para ob-
tenção de uma estimativa quantificada de doenças numa população.

A transição epidemiológica, como panorama mundial, vem acompanha-


da pelo aumento expressivo das doenças crônico-degenerativas como as
demências, a Doença de Parkinson, o acidente vascular encefálico, e dos
agravos não transmissíveis como a osteoporose e a doença pulmonar
obstrutiva crônica na população idosa. A prevenção dessas doenças tem
sido o maior desafio para a saúde pública e privada.

1.1 Caracterizar as causas mais prevalentes de


morbimortalidade na população idosa

O envelhecimento populacional e as características de saúde dos idosos


não são uniformes, portanto, não é possível escolher um único indicador
de morbidade para caracterizar a população idosa.

Dentre as morbimortalidades mais prevalentes com agravos da saúde do


idoso estão as doenças isquêmicas do coração, que envolvem as doenças

36 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


do aparelho circulatório, e são apresentadas como a principal causa de
óbito nos últimos anos no Brasil (OMS, 2006). Em países como França,
Espanha, Argentina, Japão e Estados Unidos os casos dessas doenças tam-
bém se apresentam extremamente elevados devido ao crescente aumen-
to do envelhecimento populacional, com prejuízo à saúde e tendo como
nítida relação o estilo de vida moderno (MELO et al., 2006).

Outras morbidades prevalentes na população idosa e de grande impac-


to são a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), a pneumonia, o
câncer, a infecção urinária, a osteoporose, o diabetes, a osteoartrose, a
Doença de Parkinson, a Doença de Alzheimer e a Doença Renal Crônica
(DRC). São comorbidades que requerem grande atenção, cuidado prolon-
gado quanto à recuperação e reabilitação.

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) como o enfisema pulmo-


nar, a bronquite crônica e a asma, é uma das comorbidades mais fre-
quentes e mundialmente conhecida como uma doença crônica não trans-
missível. O quadro clínico desta comorbidade e a presença de sintomas
como a tosse, catarro e o comprometimento das via aéreas impactam nas
atividades de vida diária como caminhar, realizar tarefas simples como
tomar banho, vestir-se. Esta comorbidade está relacionada aos hábitos
de alguns idosos como o tabagismo, a exposição a fumaças, o trabalho
em carvoaria, sendo mais frequente em homens do que em mulheres
(BARBOSA et al, 2017, p. 67-73).

O câncer na população idosa é uma das comorbidades prevalentes, em


destaque o câncer de próstata e pulmão para os homens; nas mulheres o
de mama, útero, colo do útero e reto; e outros tipos de câncer que podem
acometer ambos os sexos, como o câncer de pele, os melanomas, cân-
cer de estômago. Esta morbidade quando presente nos idosos impacta
na qualidade de vida, na funcionalidade, no tratamento a ser realizado.
Dependendo do tipo de câncer, que varia de acordo com o estágio em
que se encontra o tumor e o prognóstico, a vida social e cotidiana do ido-
so pode ser impactada (INCA, 2011).

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 37


No envelhecimento uma das comorbidades com prejuízo na capacidade
funcional e impacto na vida social do idoso é a osteoartrose, pois esta do-
ença reumática degenerativa afeta o sistema musculoesquelético, com-
prometendo as articulações e mobilidade do idoso. É prevalente entre
idosos com 65 anos e mais de idade, acomete mais as mulheres do que
os homens, a dor é um dos sintomas presentes e a perda da mobilidade,
afeta também o equilíbrio e reduz a força muscular (SACHETTI, et al, 2010,
p. 212-215).

A Doença Renal Crônica (DRC) no idoso é uma comorbidade importante, é


um problema de saúde pública, é um grande risco e um desafio na saúde
da população idosa, devido à prevalência de fatores de risco para a DRC
como o diabetes, a hipertensão arterial, as doenças cardíacas e o acidente
vascular encefálico que pode levar à incapacidade e o acometimento da
função renal (TONELLI e RIELLA, 2014, p. 1-5).

A doença degenerativa do cérebro quando acomete o idoso causa grande


impacto em sua saúde. Dentre as doenças degenerativas e progressivas
do cérebro está a Doença de Alzheimer, que ainda no Brasil não se tem
pesquisas específicas com dados oficiais do número de pessoas acome-
tidas com a doença. A capacidade funcional em idosos com a Doença de
Alzheimer é comprometida, a presença de alterações comportamentais
e cognitivas são comuns, repercutindo na saúde do idoso que pode ser
acometido com outras comorbidades presentes cuja sobrecarga e o ônus
do cuidado recaem sobre a família, e as vezes necessita de um cuidador
para ajudar nas tarefas de autocuidado do idoso (GARCIA et al, 2015, p.
409-426).

A característica das morbimortalidades nos idosos vem acompanhada de


prejuízo da sua funcionalidade, abarca especificidade quanto ao acome-
timento de órgãos e funções do corpo, que são prejudicados pela doen-
ça e/ou sintomas presentes, sendo que a atenção no cuidado do idoso
pode ser de curto, médio ou longo prazo para que seja restabelecida a
sua saúde.

38 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


1.1.1 Apresentar as implicações e impacto das morbimortalidades na
capacidade funcional do idoso

As morbimortalidades são condições de saúde em que as doenças crôni-


cas transmissíveis ou não transmissíveis estão presentes, estas impactam
na saúde do idoso e na sua capacidade funcional para realizar as ativida-
des de vida diária. A capacidade funcional é compreendida como a capaci-
dade de preservação ou manutenção funcional para realizar as tarefas de
vida diária como as de autocuidado, que podem ser executadas no local
da residência ou fora dela, num ambiente externo (NERI, 2005, p. 29-33).

O idoso com comorbidades pode acarretar ônus para a família quando


este apresenta condições de saúde precárias, que necessitam de cuida-
dos para realizar suas tarefas básicas de vida, podendo ser esta ajuda
parcial ou total dependendo do comprometimento.

No idoso com comorbidades, a avaliação funcional é importante para po-


der analisar as habilidades preservadas e comprometidas que ele apre-
senta, e através da avaliação poder direcionar a atenção adequada a sua
saúde, proporcionando melhor qualidade de vida, autonomia e indepen-
dência perante os agravos a sua saúde (FERREIRA et al, 2012).

O envelhecimento com autonomia e independência são frutos de condi-


ções saudáveis da saúde do idoso, a prevenção e promoção da saúde são
estratégias que devem ser contempladas em programas de saúde dos
idosos, para poder avaliar e conhecer os fatores determinantes e desen-
cadeantes que impactam e comprometem a sua saúde.

Nos diversos níveis de atenção à saúde do idoso, seja ele primário, se-
cundário ou terciário, a dependência da capacidade funcional pode estar
comprometida com maior ou menor prejuízo funcional. Verificar o grau
em que esta se apresenta e a característica da comorbidade presente
contribui para o prognóstico e diagnóstico da saúde do idoso.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 39


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
A transição epidemiológica e demográfica da população apresentam
mudanças significativas, onde o aumento do número de idosos na
população é uma realidade que vem acompanhada dessas mudan-
ças. Aspectos epidemiológicos de saúde da população idosa reque-
rem atenção, cuidados especiais dos profissionais quanto às caracte-
rísticas e o acometimento que as comorbidades e doenças causam.
O impacto na qualidade de vida do idoso, na presença de doenças
crônicas degenerativas e não degenerativas, é avaliado em estudos
na área da epidemiologia, que buscam caracterizar esta população
para compreensão das condições prevalentes de saúde dos idosos.
Para reflexão: dentre as comorbidades apresentadas neste texto,
quais acarretariam maior prejuízo funcional e impacto socioeconô-
mico para o idoso e para a família? Quais aspectos poderiam ser
destacados e relevantes desta condição crônica degenerativa e não
degenerativa?

2. Considerações finais

• A transição demográfica no Brasil é uma realidade semelhante a


outros países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Os desa-
fios em lidar com o rápido aumento da população idosa, com o
sistema de saúde pública e com o aumento da expectativa de vida.

• O acometimento das doenças crônicas próprias do envelhecimento


são prevalentes e impactam na qualidade de vida dos idosos, reque-
rem investimentos tecnológicos e serviços de saúde especializados
para atender esta população.

• A transição epidemiológica do envelhecimento abarca processos de


mudança de um paradigma cujas doenças infectocontagiosas foram
prevalentes por décadas, todavia, na atualidade, as doenças crônicas

40 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


degenerativas e não degenerativas se fazem presentes na condição
de saúde dos idosos, impactando em sua funcionalidade e, conse-
quentemente, na interação da família com o cuidado para com eles.

• O elevado custo, a atenção social e de saúde para atender as neces-


sidades dos idosos com doenças crônicas são demandas presentes.
Os aspectos da transição epidemiológica e a característica da morbi-
mortalidade nos idosos passou a ser uma realidade para a população
que envelhece.

Glossário

• Doenças infectocontagiosas: são doenças transmissíveis por


contato direto ou indireto com indivíduos infectados, são causadas
por diferentes agentes como vírus, bactérias, fungos, protozoários
e vermes.

• Doenças isquêmicas do coração: é a doença que afeta as artérias


coronárias diminuindo a circulação sanguínea do coração, provo-
cando isquemia (diminuição do oxigêncio que chega ao coração), o
que causa angina ou infarto.

• Prognóstico: em medicina é definido como o conhecimento ou juízo


antecipado, prévio, feito pelo profissional médico com base no diag-
nóstico e nas possibilidades terapêuticas acerca de duração, evolu-
ção e quadro clínico de uma doença, quais seriam as chances de cura.

• Transição epidemiológica e demográfica: refere-se aos efeitos


que as mudanças dos níveis de natalidade e mortalidade provocam
sobre o ritmo de crescimento populacional e sobre a estrutura por
idade e sexo, traduzindo-se por um envelhecimento da população
(maior proporção de idosos).

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 41


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 03
1. A população idosa vem crescendo. Qual taxa demo-
gráfica que se encontra em queda e contribui para este
crescimento?
a) Taxa de nascidos vivos
b) Taxa de fecundidade
c) Índice de doenças
d) Taxa de cesareana reduzido
e) Índice de mortalidade de HIV/AIDS
2. Na população idosa fatores como a morbidade, invalidez e
morte vêm acompanhadas de condições de vulnerabilida-
de. Qual fator pode estar relacionado a estas condições?
a) Fator de sobrevida
b) Fator socioambiental
c) Fator social
d) Fator parasitário
e) Fator epistemológico de saúde
3. A transição epidemiológica é considerada como uma tran-
sição ocorrida das taxas de fecundidade e mortalidade na
população. Ocorre de forma heterogênea para qual tipo
de território demográfico?
a) País em desenvolvimento
b) Setor econômico
c) Setor ambiental
d) Países asiáticos
e) Setor de alimentação

42 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Referências bibliográficas

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Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 43


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Gabarito – Tema 03

Questão 01 – Resposta: B

Resolução: A taxa de fecundidade vem diminuindo no Brasil, o que


contribuiu para o aumento do envelhecimento populacional.

Questão 02 – Resposta: C

Resolução: O fator social é um dos aspectos da população idosa que


contribuem para as condições de morbidade do idoso, devido precá-
ria atenção de serviços sociais voltados para esta população, levan-
do–o à vulnerabilidade.

Questão 03 – Resposta: A

Resolução: Os países em desenvolvimento são territórios demográ-


ficos onde a transição epidemiológica é distinta no que se refere à
caracterização, especificidades das doenças e período de transição,
tanto a nível epidemiológico como demográfico da população idosa.

44 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


TEMA 04
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO PARA
A PESSOA IDOSA

Objetivos

• Apresentar o marco histórico das políticas públicas


para pessoa idosa;

• Descrever as ações estratégicas das políticas públicas


para a pessoa idosa;

• Apresentar os tipos de gestão no Brasil para a pessoa


idosa.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 45


Introdução

As pessoas idosas tornam-se mais vulneráveis à medida que envelhecem,


o aumento da população idosa caracteriza-se pela heterogeneidade. A
nação brasileira teve seus direitos assegurados pela primeira vez com a
Constituição Federal de 1988, destacando-se nela o enfoque social e de
saúde com caráter universal. O aspecto legal do desenvolvimento de po-
líticas públicas de atenção ao idoso no Brasil está relacionado e contextu-
alizado em questões sociopolíticas e históricas visando aspectos que de-
lineiam o bem-estar para a pessoa idosa. O marco legal das articulações
das políticas inicia-se com temas discutidos através da Lei Elói Chaves de
1923, que já previa a discussão e a atenção da sociedade voltada para o
sistema previdenciário com os direitos dos trabalhadores. Dentre 1923 a
1965 destacam-se dois períodos de governo de Getúlio Vargas que mar-
caram no Brasil o início da preocupação com o desenvolvimento das po-
líticas públicas voltadas para o desenvolvimento da economia. A implan-
tação de uma política pública para as pessoas idosas no Brasil é recente,
pois data de janeiro de 1994, com a implantação do modelo neoliberal,
cuja repercussão foi a adesão ao Consenso de Washington, realizado em
1989 para discutir junto aos países da América Latina temas econômi-
cos e de desenvolvimento dos países. Vários economistas com perfil li-
beral do Institute for Internacional Economics, bem como funcionários
do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), se reuniram para formar o
Consenso de Washington, forçando os países a repensar seus processos
de gestão pública e processos de gerações de riquezas para refinar os
conhecimentos sobre os aspectos econômicos das nações. Através de
marcos históricos, a evolução das políticas públicas com referência aos
aspectos socioeconômicos de saúde e previdenciário vem se consolidan-
do para a implementação, organização e gestão de políticas públicas que
atendam ao envelhecimento populacional contemporâneo.

46 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


1. Marco histórico das políticas públicas para a
pessoa idosa

Na população brasileira o número de pessoas idosas está aumentando


continuamente, a nação está envelhecendo com o grande desafio de pro-
porcionar aos idosos a garantia de direitos no setor da saúde, economia,
setor social, em direitos previdenciários com qualidade.
As políticas públicas voltadas para a pessoa idosa visam estabelecer os
direitos para um público que se encontra em vulnerabilidade com relação
ao cumprimento de seus direitos que são elementos básicos prescritos na
Constituição Federal.
A implantação de uma política pública voltada para a pessoa no Brasil é recen-
te, destacando-se a partir de 1994 com a implantação do modelo neoliberal,
cuja consequência deste modelo foi a adesão ao Consenso de Washington,
quando foi inaugurada a economia globalizada (SANTOS, 2001).
Neste mesmo período, a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) es-
tava em andamento com a seguridade dos direitos à saúde adquirida pela
Lei 8.080/1990, tendo como característica a universalização dos direitos à
saúde da população. Já em termos de proteção do segmento populacional
- a pessoa idosa - em 1923, o marco registrado foi a Lei Eloy Chaves.
Durante o período de 1923 a 1965 da era do governo Getúlio Vargas, no
Brasil a preocupação voltou-se para o desenvolvimento das políticas pú-
blicas com relação ao desenvolvimento da economia, em destaque para
atender a anseios da classe industrial brasileira, não considerando as ne-
cessidades básicas da população, porém, o Estado era o principal finan-
ciador dessa industrialização, impotente para o investimento em tal em-
preitada de demanda da população. Como resultado, as políticas públicas
tornam-se fragmentadas ao invés de minimizar e atender as demandas
da população, passando ao processo de exclusão social e garantia de ser-
viços e benefícios apenas para poucos.
A lacuna deste período de fragmentação das políticas públicas existentes
permitia apenas o favorecimento de uma parcela pequena da população

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 47


com acesso aos representantes do Estado, os quais eram responsáveis
pela elaboração das políticas de desenvolvimento econômico. Na área da
saúde as políticas públicas foram direcionadas para uma população de
um país na época de jovens, a base demográfica voltava-se para políticas
públicas sociossanitárias direcionadas à população materno-infantil, nos
anos 1970 o processo sociopolítico começou a operar mudanças diante
do perfil da população, com a taxa de fecundidade diminuindo, o aumen-
to da população idosa apresentava-se como cenário de transição demo-
gráfica populacional importante, com demandas e recursos a serem im-
plantados quanto às políticas públicas (SANTOS, 2001).

O Quadro 1 a seguir apresenta os marcos históricos relevantes das políti-


cas públicas voltadas para a população idosa e que na contemporaneida-
de faz-se importante a compreensão de fatores que impactam na saúde
pública para a pessoa idosa com seus ganhos.

Quadro 1 – Marcos históricos consagrados

Por meio da Lei nº 6.179, foi criada a Renda Mensal Vitalícia, através do
1974 então Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, e de decretos, leis,
portarias, referentes, principalmente, à aposentadoria.

Foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS),


(Lei nº 6.439) integrando: o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS,
o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS,
a Fundação Legião Brasileira de Assistência – LBA, a Fundação Nacional do
1977
Bem-Estar do Menor FUNABEM, a Empresa de Processamento de Dados
da Previdência Social – DATAPREV, o Instituto de Administração Financeira
da Previdência e Assistência Social – IAPAS, para unificar a assistência pre-
videnciária.

Foi realizada a I Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento (ONU), em


Viena, que traçou as diretrizes do Plano de Ação Mundial sobre o Enve-
lhecimento, publicado em Nova York em 1983. Esse Plano de Ação al-
1982 mejou sensibilizar os governos e sociedades do mundo todo para a
necessidade de direcionar políticas públicas voltadas para os idosos,
bem como alertar para o desenvolvimento de estudos futuros sobre os
aspectos do envelhecimento.

Foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde que propôs a elaboração


1986
de uma política global de assistência à população idosa.

48 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Foi promulgada a Constituição Cidadã – Constituição Federal, que des-
tacou no texto constitucional a referência ao idoso. Essa foi, de fato,
a primeira vez em que uma constituição brasileira assegurou ao ido-
so o direito à vida e à cidadania: A família, a sociedade e o Estado têm o
1988 dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação
na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantin-
do-lhe o direito à vida. - § 1º Os programas de amparo aos idosos serão
executados preferencialmente em seus lares. - § 2º Aos maiores de 65 anos é
garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (CF, art. 230, 1988).

Foi aprovada a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS – Lei


8.742/93, que regulamenta o capítulo II da Seguridade Social da Cons-
tituição Federal, que garantiu à Assistência Social o status de políti-
ca pública de seguridade social, direito ao cidadão e dever do Estado.
A LOAS inverte a cultura tradicional dos programas vindos da esfera fede-
1993 ral e estadual como pacotes, e possibilita o reconhecimento de contextos
multivariados e, por vezes universais, de riscos à saúde do cidadão idoso.
Cita o benefício de prestação continuada, previsto no art. 20 que é a garan-
tia de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso com setenta anos ou mais e que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família.

Foi aprovada a Lei nº 8.842/1994 que estabelece a Política Nacional do Ido-


so (PNI), posteriormente regulamentada pelo Decreto nº 1.948/96.6, e cria
o Conselho Nacional do Idoso. Essa Lei tem por finalidade assegurar direi-
tos sociais que garantam a promoção daautonomia, a integração e a par-
ticipação efetiva do idoso na sociedade, de modo a exercer sua cidadania.
Estipula o limite de 60 anos e mais, de idade, para uma pessoa ser conside-
rada idosa. Como parte das estratégias e diretrizes dessa política, destaca-
-se a descentralização de suas ações envolvendo estados e municípios, em
parceria com entidades governamentais e não governamentais. A Lei em
1994
discussão rege-se por determinados princípios, tais como: assegurar ao
idoso todos os direitos de cidadania, com a família, a sociedade e o Estado
os responsáveis em garantir sua participação na comunidade, defender
sua dignidade, bem-estar e direito à vida. O processo de envelhecimento
diz respeito à sociedade de forma geral e o idoso não deve sofrer discri-
minação de nenhuma natureza, bem como deve ser o principal agente e
o destinatário das transformações indicadas por essa política. E, por fim,
cabe aos poderes públicos e à sociedade em geral a aplicação dessa lei,
considerando as diferenças econômicas e sociais, além das regionais.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 49


Foi implantada a Política Nacional da Saúde do Idoso pela Portaria
1.395/1999 do Ministério da Saúde (MS) que estabelece as diretrizes es-
senciais que norteiam a definição ou a redefinição dos programas, pla-
nos, projetos e atividades do setor na atenção integral às pessoas em
processo de envelhecimento e à população idosa. Essas diretrizes são:
a promoção do envelhecimento saudável, a prevenção de doenças, a
1999
manutenção da capacidade funcional, a assistência às necessidades de
saúde dos idosos, à reabilitação da capacidade funcional comprometida, a
capacitação de recursos humanos, o apoio ao desenvolvimento de cuida-
dos informais, e o apoio aos estudos e pesquisas. E ainda, tem a finalidade
de assegurar aos idosos sua permanência no meio e na sociedade em que
vivem desempenhando suas atividades de modo independente.

Foi realizada a II Assembleia Mundial sobre Envelhecimento em Ma-


drid – Plano Internacional do Envelhecimento – que tinha o objetivo
de servir de orientação às medidas normativas sobre o envelhecimen-
to no século XXI. Esperava-se alto impacto desse plano nas políticas e
programas dirigidos aos idosos, principalmente, nos países em desen-
2002
volvimento, como o Brasil. Dessa feita, ele foi fundamentado em três
princípios básicos: 1) participação ativa dos idosos na sociedade, no de-
senvolvimento, na força de trabalho e na erradicação da pobreza; 2)
promoção da saúde e bem-estar na velhice; e 3) criação de um ambiente
propício e favorável ao envelhecimento.

Foi realizada a Conferência Regional Intergovernamental sobre Envelheci-


mento da América Latina e Caribe, no Chile, na qual foram elaboradas as
estratégias regionais para implantar as metas e objetivos acordados em
Madrid. Foi recomendado aos países que, de acordo com suas realidades
2003 nacionais, propiciassem condições que favorecessem um envelhecimento
individual e coletivo com seguridade e dignidade. Na área da saúde, a meta
geral foi oferecer acesso aos serviços de saúde integrais e adequados à
necessidade do idoso, de forma a garantir melhor qualidade de vida com
manutenção da funcionalidade e da autonomia.

No Brasil, entra em vigor a Lei nº 10.741, que aprova o Estatuto do Ido-


so destinado a regular os direitos assegurados aos idosos. Esse é um
2003 dos principais instrumentos de direito do idoso. Sua aprovação represen-
tou um passo importante da legislação brasileira no contexto de sua ade-
quação às orientações do Plano de Madri.

Foi realizada a I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, na qual


foram aprovadas diversas deliberações, divididas em eixos temáticos, que
2006
visou garantir e ampliar os direitos da pessoa idosa e construir a Rede Na-
cional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa – RENADI.

Fonte: FERNANDES e SOARES, 2012 (apud, p. 1497)

50 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


No Brasil, nas últimas décadas, estão sendo discutidas sobre o processo
de envelhecimento as mudanças sociais, econômicas, políticas e de saúde
para esta população, porém ainda não são bem claras, nem pela socieda-
de e nem pelas instituições governamentais públicas e privadas, quanto
à efetividade das ações e às demandas emergentes da população idosa.
Quanto às questões de normatização legal, que dizem respeito ao enve-
lhecimento, os idosos estão protegidos, mesmo que algumas diretrizes a
serem seguidas e suas implementações estejam de forma incompleta.

Os poderes públicos, gestores e a sociedade em geral devem acompa-


nhar a aplicabilidade das políticas públicas para a pessoa idosa, conside-
rando-se as diferenças econômicas, regionais, sociais e educacionais que
abarcam especificidades.

PARA SABER MAIS


No Brasil, a respeito do crescente aumento da população idosa, as po-
líticas públicas são reconhecidas como políticas que garantem a me-
lhor qualidade de vida e maior expectativa de vida. Como curiosidade
desta informação, acesse o link: <http://brasil.gov.br/saude/2014/01/
brasil-e-reconhecido-por-politicas-publicas-em-favor-de-idosos>.
Acesso em: 21 jun. 2018.

O envelhecimento populacional é proveniente do sucesso das políticas


públicas das diversas áreas como: saúde, previdência, área social, econô-
mica, cultural e educacional, propiciando melhores condições de vida.

PARA SABER MAIS


O envelhecimento deve ser considerado uma conquista, onde a chan-
ce e oportunidade de viver com saúde, dignidade, habitação, mora-
dia, transporte, educação, respeito e autonomia devem estar con-
templadas em políticas públicas onde o cuidado da pessoa idosa seja

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 51


alcançado. A gestão de programas para a pessoa idosa deve ser con-
templada nas políticas públicas, bem como no terceiro setor. Como
curiosidade sobre os projetos e programas voltados para a pessoa
idosa, acesse: Link: <http://conteudojuridico.com.br/artigo,politicas-
-e-programas-voltados-para-o-idoso,37873.html>. Acesso em: 21
jun. 2018.

Para a operacionalização das políticas públicas faz-se importante a siste-


matização, sendo esta um processo que deve ser contínuo, com acom-
panhamento, avaliação e reavaliação de um programa de uma política
implantada para a pessoa idosa. A elaboração de indicadores para carac-
terizar e acompanhar a proposta deve ser realizada por gestores e admi-
nistradores das políticas públicas para melhor caracterizar o serviço ou a
implantação de uma política pública.

ASSIMILE
O processo de sistematização e operacionalização das políticas públi-
cas deve ser conduzido e apoiado a partir da aferição dos resultados
fornecidos pela avaliação dos indicadores, selecionados pelos serviços
prestados ou por uma política pública implantada, para qualificar e
quantificar . A conclusão dos resultados dos indicadores apresentados
fornecerá subsídio para que gestores e administradores sejam capa-
zes de avaliar e discutir as estratégias que necessitam ser ajustadas ou
complementadas e as que não obtiveram resultados esperados.

EXEMPLIFICANDO
Dentre os indicadores que podem ser avaliados e elaborados por ges-
tores e administradores dentro das políticas públicas e dos serviços
de proteção da pessoa idosa estão o indicador de violência física, ca-
racterizar a violência física, por exemplo, quando o idoso é atendido

52 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


no serviço de atenção primária, a caracterização dos dados obtidos
do indicador irá subsidiar ações do idoso a serem implementadas e
acompanhadas, e servir de alerta e atenção para os demais idosos
atendidos ou que estejam em vulnerabilidade.

Os marcos históricos das políticas públicas para a pessoa idosa foram


significativos para algumas áreas de cuidado e atenção da pessoa idosa,
e com o decorrer das décadas a transição demográfica abarca distinções
quanto às necessidades da pessoa idosa em termos de políticas públicas
voltadas para melhor qualidade de vida na contemporaneidade.

1.1 Tipos de gestão e estratégias das políticas públicas no Brasil


para a pessoa idosa

A gestão e estratégias das políticas públicas voltadas para a pessoa idosa


abrangem as três esferas do poder (Federal, Estadual e Municipal) com
atribuições distintas e complementares quanto à implementação e exe-
cução dos serviços voltados para a pessoa idosa.
Na área da saúde do idoso uma das políticas públicas elaboradas a ní-
vel nacional foi a implementação do Pacto pela Vida, que abarca três di-
mensões (Pacto pela Vida, Pacto pela Gestão e Pacto em Defesa do SUS),
juntamente com o Sistema Único de Saúde. Esta política busca atender a
pessoa idosa, pessoas a partir de 60 anos de idade, com qualidade e aten-
ção integral da saúde. As diretrizes estabelecidas neste programa são as
seguintes: a promoção do envelhecimento ativo e saudável, atenção inte-
gral e integrada à saúde da pessoa idosa, o acolhimento, o provimento de
recursos das esferas do poder para assegurar a qualidade de vida, o for-
talecimento da participação social, a formação continuada para gestores
e profissionais do SUS, divulgação e informação sobre a Política Nacional
do idoso, promoção e cooperação nacional e internacional das experiên-
cias na atenção à saúde da pessoa idosa e apoio ao desenvolvimento de
estudos e pesquisas (BRASIL, 2006).

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 53


Dentre as ações estratégicas do Pacto pela Vida devem estar contem-
pladas: a implementação da Política Nacional de Saúde da pessoa idosa
(com divulgação para profissionais, gestores e usuários do SUS), implan-
tar a caderneta e o caderno de saúde da pessoa idosa, disponibilizar
aos municípios as cadernetas e os manuais de preenchimento, capaci-
tar profissionais da rede básica, programas de educação permanente à
distância para profissionais que trabalham na rede de atenção básica à
saúde, o acolhimento da pessoa idosa nas unidades básicas de saúde
que tenham dificuldades quanto ao acesso aos serviços, assistência far-
macêutica, imunização e atenção diferenciada na internação hospitalar
e/ou domiciliar, instituindo avaliação geriátrica e programa de atenção
de doenças sexualmente transmissíveis (DST/AIDS).

As políticas públicas voltadas para a pessoa idosa estão previstas no


Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), e em demais programas como no
Pacto pela Vida, pela Política Nacional da pessoa idosa com suas dire-
trizes e estratégias. Ainda que estas políticas públicas não encontrem
condições ideais para a sua efetivação e desenvolvimento devido a fato-
res como as diferenças regionais, o desenvolvimento socioeconômico,
recursos financeiros e de saúde, falta de profissionais especializados e
pela própria heterogeneidade dos idosos.

Com o envelhecimento populacional abarcam questões múltiplas e va-


riadas dos diversos setores - públicos, privados, terceiro setor -, as di-
ficuldades de integração estão presentes, o caráter multidisciplinar e
institucional deve ser discutido e relacionar-se entre os pares na busca
por melhoras condições e qualidade de vida para a população idosa, a
oportunidade de aprendizado desta heterogeneidade que o envelheci-
mento apresenta é um desafio para o mundo todo com especificidades
e demandas distintas.

54 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Este tema apresentou as questões relacionadas às políticas públicas
e gestão para a pessoa idosa. O contexto histórico com a presença de
fatos importantes na política pública está sendo discutido pelo mun-
do todo na busca de estratégias e diretrizes para melhor atender ao
público idoso. Em seus vários aspectos as questões relacionadas ao
envelhecimento são discutidas por gestores, administradores e pro-
fissionais das diversas áreas como (humanas, saúde, biológicas). Para
reflexão: no mundo contemporâneo e globalizado, que apresenta
distinções regionais, locais, estaduais e federais de condições socioe-
conômicas, quais seriam a(s) demanda(s) emergentes com referência
à saúde da população idosa? Seria o acesso a serviços com enfoque
na prevenção por uma equipe especializada nas demandas de saúde
específicas do envelhecimento?

2. Considerações finais

• A pessoa idosa torna-se vulnerável à medida que envelhece. A hete-


rogeneidade presente no envelhecimento abarca necessidades
específicas para o seu desenvolvimento e requer atenção dos seto-
res públicos.
• Ao longo dos anos, as políticas públicas no mundo todo foram dis-
cutidas, implementadas e elaboradas para a população idosa, por
causas e interesses sociais, econômicos e de saúde do Governo
Federal, de instituições públicas e privadas.
• No Brasil, a implantação das políticas públicas voltadas para as pes-
soas idosas é recente. Alguns marcos históricos foram importantes
para a população idosa, a contribuição do modelo neoliberal, o
mundo globalizado, a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS),
a Política Nacional da pessoa idosa (PNI), o Pacto pela Vida a nível
mundial e o Estatuto do Idoso.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 55


• As políticas públicas para a pessoa idosa ainda é um desafio quanto
à execução dos serviços e demandas especializadas que a popu-
lação idosa requer. O aumento do envelhecimento populacional é
uma realidade, e diferenças regionais, mundiais e federais quanto
aos recursos é desafio que as políticas públicas e gestores enfren-
tam para a melhor atenção da pessoa idosa.

Glossário

• Modelo neoliberal: é um termo utilizado a partir de 1980, empre-


gado em economia política e economia do desenvolvimento.
• Lei Eloy Chaves: publicada em 24 de janeiro de 1923, esta lei insti-
tuiu a base do sistema previdenciário brasileiro, por meio da cria-
ção da Caixa de Aposentadoria e Pensões para empregados das
empresas ferroviárias.
• Pacto pela Vida: é um compromisso entre os gestores do Sistema
Único de Saúde em torno de prioridades que apresentam impacto
sobre a situação de saúde da população brasileira, dentre elas a
saúde do idoso.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 04
1. A população brasileira teve seus direitos assegurados a
partir da iniciativa de qual documento oficial ?
a) Política de Segurança Alimentar
b) Constituição Federal do Brasil
c) Política Nacional do Idoso
d) Constituição de Direitos Humanos
e) Política de Desenvolvimento Social

56 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


2. Qual lei brasileira foi o marco histórico das articulações
políticas com referência à população brasileira?
a) Lei do Silêncio
b) Lei do Código Civil
c) Lei do Apartheid
d) Lei Eloy Chaves
e) Lei de Biossegurança
3. Questão 03 - Qual a lei que rege o Sistema Único de Saúde
(SUS) implantado no Brasil?
a) Lei 6.179/1974
b) Lei 6.439/1977
c) Lei 8.080/1990
d) Lei 8.842/1994
e) Lei 10.741/2001

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Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 57


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In: FREITAS, Elizabete Viana et al. (orgs.). Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio
de Janeiro, 2006.

Gabarito – Tema 04

Questão 01 – Resposta: B

Resolução: A Constituição Federal do Brasil de 1988 apresenta-se


como o marco histórico dos direitos assegurados pela população bra-
sileira, destacando aspectos sociais e de saúde com caráter universal.

Questão 02 – Resposta: D

Resolução: A Lei Eloy Chaves de 24 de janeiro de 1923 instituiu a base


do sistema previdenciário brasileiro, por meio da criação da Caixa de
Aposentadoria e Pensões para empregados das empresas ferroviá-
rias. Apresenta-se como o marco histórico da Previdência Social no
Brasil.

Questão 03 – Resposta: C

Resolução: O Sistema Único de Saúde (SUS) foi regulamentado pela


Lei 8.080 de 1990, nela contém os direitos à saúde como universal,
para todos os brasileiros nos níveis de baixa, média e alta complexi-
dade de saúde.

58 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


TEMA 05
ENVELHECIMENTO ATIVO: POLÍTICAS
PÚBLICAS (OMS)

Objetivos

• Definir o envelhecimento ativo e saudável segundo a


Organização Mundial da Saúde (OMS);

• Apresentar os fatores determinantes do envelheci-


mento ativo;

• Descrever as políticas públicas para o envelhecimen-


to ativo.

59 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Introdução

O envelhecimento demográfico da população é um fenômeno relevante


da contemporaneidade. A população idosa vem crescendo nas últimas
décadas, resultado da redução da taxa de fecundidade e do aumento da
expectativa de vida, isso se deve à melhoria do acesso aos serviços de
saúde, aos avanços tecnológicos da medicina, às campanhas de vacina-
ção, aos investimentos em infraestrutura de saneamento básico, dentre
outros fatores (BATISTA et al., 2011; BRASIL, 2010). No Brasil, o marco efe-
tivo das discussões relacionadas ao idoso surge como prioridade com o
desenvolvimento de Políticas Públicas de Saúde e com a Política Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa (PNSI) no ano de 2006. Ainda neste mesmo ano
de 2006, o Conselho Nacional de Saúde aprovou o Pacto pela Saúde, este
pacto foi constituído com base em um conjunto de compromissos sani-
tários, provenientes da situação de saúde da população e definido como
prioridade pelos governos federais, estaduais e municipais com referên-
cia à saúde do idoso. Embora o processo de envelhecimento já estivesse
ocorrendo há algumas décadas anteriores a 2006, prioridades na organi-
zação da sociedade e dos serviços de saúde necessitavam de uma gestão
na qual a nova realidade da população envelhecida passava a ser um de-
safio. Os idosos são as pessoas com mais problemas complexos de saúde
com características de longa duração, necessitando de acompanhamento
constante. Para o suporte e atenção da população idosa que adoece e
necessita de cuidados, foi elaborado um documento pela área Técnica da
Saúde do Idoso do Ministério da Saúde (Brasil, 2010), propondo o desen-
volvimento de ações estratégicas, objetivando o envelhecimento ativo e
saudável, para atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa com
ações intersetoriais de fortalecimento da participação popular e da co-
munidade com enfoque também na educação permanente voltada para
a população idosa.

60 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


1. Definição de envelhecimento ativo e saudável
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)

A Organização Mundial da Saúde já estimava que o Brasil, em 2015, seria


o sexto país do mundo em número de idosos. Os desafios e a desinfor-
mação sobre a saúde pública com respeito à saúde do idoso e suas par-
ticularidades no contexto social brasileiro ainda é grande, devido à hete-
rogeneidade dos idosos e do desenvolvimento socioeconômico, cultural e
educacional, que não é homogêneo no Brasil.

Com o intuito de promoção de saúde e envelhecimento saudável, o


Ministério da Saúde com seu programa “Brasil Saudável” envolveu uma
ação nacional para criar políticas públicas que promovessem modos de
viver mais saudável em todas as etapas de vida. Estes programas objeti-
vam estabelecer algumas atitudes e práticas para a melhor saúde e qua-
lidade de vida, dentre as iniciativas propostas pelos programas, estão: a
prática de atividades físicas no cotidiano e no lazer, o acesso a alimentos
saudáveis e a redução do consumo de tabaco, sendo estas algumas das
questões que servem de base para o envelhecimento ativo e saudável,
um envelhecimento que possa significar também um ganho em qualida-
de de vida e saúde.

No contexto destes programas estão inseridos os seguintes ministérios:


da saúde, da educação, do desenvolvimento social, do esporte, da agricul-
tura, da cultura e a secretaria especial de comunicação social de governo
(SECOM).

A Política Nacional de Promoção da saúde apresenta como característica


uma política transversal, integrada e intersetorial favorecendo o diálogo
das diversas partes, dentre elas o setor sanitário, a sociedade e o governo,
compondo-se como uma rede de compromissos e co-responsabilidades
com a qualidade de vida da população onde são partícipes no cuidado
com a vida.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 61


No contexto de Promoção à saúde e de um “Brasil saudável”, a Secretaria de
Vigilância em Saúde reproduziu um documento chamado “Envelhecimento
Saudável – Uma Política de Saúde”, que foi elaborado pela Unidade de
Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS),
como uma contribuição para a Segunda Assembleia Mundial das Nações
Unidas sobre Envelhecimento, realizada em abril de 2002, em Madri,
Espanha. Neste evento foi adotado pela Organização Mundial da Saúde o
termo “envelhecimento ativo”.

PARA SABER MAIS


O termo envelhecimento ativo foi adotado pela Organização Mundial
da Saúde, o qual expressa o processo de conquistas da visão de pro-
moção à saúde como universal, integrado e intersetorial.

LINK
Como curiosidade e aprofundamento do que foi discutido na Segunda
Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre envelhecimento em
2002, em Madri, na Espanha, acesse o link disponível em: <https://
nacoesunidas.org/acao/pessoas-idosas/>. Acesso em 19 de fev. 2018.

O envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos po-


pulacionais, permite que as pessoas percebam o seu potencial para o
bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida. A participação
das pessoas na sociedade com a apresentação e relato de seus desejos,
anseios, das suas capacidades e necessidades propicia e permite uma
participação cidadã efetiva no grupo e nas instituições, possibilitando que
estas sejam protagonistas e que sejam atendidas suas demandas, bem
como os cuidados adequados a sua saúde, à proteção e à segurança para
uma melhor qualidade de vida e inclusão.

62 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


PARA SABER MAIS
O termo envelhecimento ativo refere-se à participação contínua nas
questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não so-
mente a capacidade física de estar fisicamente ativo ou de fazer parte
da força de trabalho. Manter a autonomia e independência durante o
processo de envelhecimento é uma meta fundamental para os idosos
e governantes.

LINK
Como curiosidade e aprofundamento no tema da participação social
e a velhice, o artigo de Pinto e Neri, 2017, apresenta a trajetória de
participação social na velhice, destacando as experiências, conquis-
tas e desafios. Para saber mais acesse o link disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/rbgg/v20n2/pt_1809-9823-rbgg-20-02-00259.pdf>.
Acesso em: 19 de fev. de 2018.

O envelhecimento ocorre dentro de um contexto global, no qual envol-


vem outras pessoas como os membros da família, que podem ser ainda
jovens ou crianças e/ou adultos; os amigos, vizinhos, colegas de trabalho,
colegas aposentados, apresentando como característica a solidariedade e
a interdependência entre as gerações. Esta interdependência é que con-
tribui para que o envelhecimento ativo seja relevante e positivo para o
idoso, caracteriza-se como sendo de mão dupla, em que os indivíduos
trocam experiências, dão e recebem atenção.

ASSIMILE
O envelhecimento ativo é contextualizado de forma global, como por
exemplo, as condições sociais, econômicas, prevenção de agravos à
saúde e vulnerabilidade, envolve aspectos de participação do idoso

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 63


como protagonista de suas necessidades. Como reforço do tema en-
velhecimento ativo e suas características, o aspecto da interdependên-
cia, o acompanhamento da pessoa idosa para o seu desenvolvimento,
assim como o conhecimento das questões relacionadas ao envelheci-
mento contribuem para melhor qualidade de vida.

EXEMPLIFICANDO
Para o envelhecimento ativo do idoso, por exemplo, as condições de
funcionalidade e independência para realizar e desempenhar as ativi-
dades de vida diária, sem ajuda de outra pessoa, são fundamentais,
bem como condições preservadas de cognição.

O envelhecimento ativo como Política Pública e definido segundo a


Organização Mundial da Saúde destaca alguns fatores determinantes que
envolvem o envelhecimento ativo, a seguir serão destacados estes fatores
e suas características.

1.1 Fatores determinantes do envelhecimento ativo

Os fatores do envelhecimento ativo dependem de uma diversidade de de-


terminantes que envolvem os indivíduos, familiares e países. Compreender
as evidências desses fatores auxilia e contribui para o êxito das políticas
públicas e programas na área do envelhecimento ativo.

Esses determinantes do envelhecimento ativo têm como aspecto funda-


mental a saúde e a qualidade de vida dos idosos, que surgem como fatores
integrados (saúde, educação, ambiente) para a população que envelhece.

A necessidade de pesquisas clínicas e populacionais para poder melhor


esclarecer e especificar cada determinante, como eles se interagem no
processo do envelhecimento ativo e como eles afetam a saúde e bem-
-estar dos idosos. A perspectiva de poder avaliar durante o curso de vida,

64 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


uma vez que a transição demográfica e epidemiológica trará influências e
desafios para a população que envelhece.

Dentre os fatores determinantes e considerados transversais do envelhe-


cimento ativo está a cultura e o gênero. Na Figura 1, a seguir, estão repre-
sentados os fatores determinantes do envelhecimento ativo.

Figura 1 – Determinantes do envelhecimento ativo.


01 dtuTmuw.nlfl do erm:lhcocil1'Cnto atÍ'f'O

~nvtfh~c:•mtnto
ativo

Fonte: World Health Organization, 2005 (apud tradução de Suzana Gontijo)

Os fatores do envelhecimento como ilustrados acima apresentam espe-


cificidades, ou seja, diversas características para atenção às necessidades
dos indivíduos, representando o envelhecimento ativo na perspectiva do
curso de vida, ou seja, são condições em que a população como um todo,
ou em particular, deveria considerar para refletir em como será a sua
velhice.

Os fatores do envelhecimento ativo como condições importantes a serem


destacadas, a partir do tema transversal (a cultura e o gênero), englobam
também: serviços sociais e de saúde (referem-se a sistemas de atenção
à saúde e perspectiva de curso de vida); determinantes comportamen-
tais (adoção de estilo de vida saudável e a participação ativa no cuidado

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 65


da própria saúde); determinantes pessoais (biologia e genética sobre a
influência do envelhecimento); ambiente físico (moradia segura, água
limpa, ar puro, alimentos seguros); determinantes sociais (apoio social,
violência e maus tratos contra o idoso, educação e alfabetização) e deter-
minantes econômicos (renda, proteção social, trabalho).

No envelhecimento ativo, fatores culturais e as tradições determinam o


quanto uma sociedade encara as pessoas idosas e o processo de enve-
lhecimento. As sociedades atribuem e determinam quanto aos sintomas
e processos do envelhecimento, com referência à oferta de serviços de
prevenção, tratamento precoce e apropriado ao idoso.

Os serviços socias ligados à saúde são determinantes para o envelheci-


mento ativo e os mesmos precisam estar coordenados e integrados, agin-
do de forma eficaz em termos de custo e com prioridade para medidas de
prevenção e proteção, buscando dignidade e respeito a todas as idades.

Porém, no envelhecimento, as necessidades quanto a estes serviços de-


vem ser especializadas, com enfoque nas condições próprias e específi-
cas da população idosa que com a idade as condições crônicas de saúde
são uma realidade e a atenção a nível primário, secundário e terciário.,
que se não elaboradas adequadamente podem impactar no envelheci-
mento ativo e saudável, cuidados a longo, médio e curto prazo deve ser
contemplados.

Da assistência a longo prazo na atenção à saúde do idoso, com foco no


envelhecimento ativo, a assistência e os serviços de saúde mental desem-
penham um papel muito importante no tocante às condições de saúde
que são subdiagnosticadas, tais como a depressão, e os fatores que le-
vam às altas taxas de suicídio entre os idosos (OMS, 2001).

A adoção de estilos saudáveis e a participação ativa no cuidado da própria


saúde são importantes em todas as etapas de vida, no envelhecimento
não é diferente, muito pelo contrário, o envolvimento em atividades físi-
cas adequadas à idade, alimentação saudável, a abstinência do fumo e do

66 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


álcool e fazer uso de medicamentos para prevenir e cuidar das doenças
são imprescindíveis para manter a funcionalidade, aumentar a longevida-
de e a qualidade de vida dos idosos.

Quanto aos determinantes relacionados a aspectos pessoais, a biologia e


a genética com a predisposição a diabetes, hipertensão, doenças cardía-
cas, câncer; influenciam sobre o processo de envelhecimento, represen-
tam um conjunto de processos geneticamente determinados, em outras
palavras, a razão dos idosos ficarem doentes com mais frequência do que
os jovens é que devido à vida mais longa e à expectativa de vida crescente,
os idosos estão expostos e por mais tempo aos fatores externos, compor-
tamentais e ambientais que causam as doenças. Os fatores psicológicos e
cognitivos também podem impactar no envelhecimento ativo, tais como
a capacidade de adaptar-se a mudanças e perdas da velhice, o luto e as
demências, como a Doença de Alzheimer.

As questões relacionadas ao ambiente físico do idoso são determinantes


para o envelhecimento ativo, tais como a moradia protegida onde o idoso
pode residir próximo aos familiares, manter uma casa segura, com elimi-
nação de obstáculos como escadas e degraus, o piso escorregadio e irre-
gular deve ser corrigido e/ou removido, e deve ser oferecido saneamento
básico adequado.

Quanto ao apoio social e econômico para o idoso, este é um determinante


fator para o envelhecimento ativo, como exemplos, a rede de relaciona-
mentos, participação de grupos sociais, na igreja, comunidade; as oportu-
nidades de educação e aprendizagem permanentes, a proteção contra a
violência e maus tratos no ambiente familiar e institucional, as condições
econômicas com a proteção social previdenciária.

O envelhecimento ativo e saudável é uma política pública que ao ser im-


plantado estabelece fatores determinantes que a população de todas as
faixas etárias se beneficia. A atenção no desenvolvimento, execução dessa
política pública para a pessoa idosa é uma prioridade do envelhecimento

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 67


populacional e da expectativa de vida crescente, que são realidades con-
temporâneas. Os setores públicos envolvidos nesta política como, por
exemplo, a Secretaria de Meio Ambiente, Educação, Saúde, entre outras;
juntamente com os gestores e administradores e com a participação da
comunidade, são atores importantes no acompanhamento desta política
pública para um envelhecimento ativo e saudável.

1.1.1 Políticas Públicas para o envelhecimento ativo

A função do Estado em relação à sociedade é de desempenhar um papel


importante nas tomadas de decisões e na elaboração de projetos de polí-
ticas públicas voltados para a população. Com as mudanças demográficas
da população, o crescente aumento do número de idosos é uma realidade.

O desenvolvimento das políticas públicas para a pessoa idosa necessi-


ta ser pautado em ações e atuações diretamente relacionadas às áreas
como saúde, educação, segurança, meio ambiente; sendo assim, alcançar
metas e ações para o bem-estar da sociedade e da população idosa será
contemplado.

As políticas públicas são produtos de uma realidade que configuram de-


mandas da sociedade e que se efetivam na forma de ações, programas,
projetos e regulamentos, e leis que o Estado elabora para defender os
diversos interesses de diferentes grupos sociais.

Para o envelhecimento ativo, as políticas públicas nacionais e internacionais


são amplas, e vêm evoluindo, uma vez que o conceito de envelhecimento
vem sendo inserido nas agendas nacionais e internacionais dos governan-
tes devido ao cenário do aumento da população idosa que se instala nos
países. Outra discussão está sobre o envelhecimento ativo para que medi-
das sejam implementadas e ampliadas para a população idosa.

A tabela 1, abaixo, apresenta os instrumentos utilizados, a abrangência e


os pontos relevantes discutidos na agenda das políticas públicas para o
envelhecimento ativo.

68 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Tabela 1 – Instrumentos norteadores, ano, nível de abrangência e pon-
tos relevantes para a inserção da pessoa idosa na agenda de políticas
públicas para o envelhecimento ativo.

Instrumentos Ano Instituição Abrangência Pontos relevantes


Declaração 1948 ONU Internacional Garantias inerentes a
Universal dos todo e qualquer sujeito,
Direitos Humanos independentemente de
sua condição, proclama
os direitos fundamen-
tais do homem e reco-
nhece a dignidade ine-
rente a todos os indiví-
duos, o valor da pessoa
humana e os seus direi-
tos iguais e inalienáveis,
constituindo o funda-
mento da liberdade, da
justiça e da paz no mun-
do. Menciona especifi-
camente o idoso no arti-
go XXV, como um grupo
socialmente vulnerável
que passa, desta forma,
a ser suscetível de pro-
teção especial.
Assembleia de 1982 ONU Internacional Recomendações para
Viena os estados-membros
referentes a sete áreas:
saúde e nutrição, pro-
teção ao consumidor
idoso, moradia e meio
ambiente, família, bem-
-estar social, previdên-
cia social, trabalho e
educação.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 69


Declaração sobre 1986 ONU Internacional O Direito ao Desenvol-
o Direito ao vimento é reconhecido
Desenvolvimento como um direito huma-
no fundamental e indis-
ponível, assim como os
demais, e reconhece-o
como um direito a igual-
dade de oportunidades
para as pessoas e as na-
ções.
1988 Nacional BRASIL Constituição Federal
Brasileira garante aos
idosos o direito à vida, à
igualdade, à cidadania,
à dignidade humana, à
previdência social e à
assistência social.
Princípio das 1991 ONU Internacional Princípios relativos aos
Nações Unidas direitos humanos: in-
em Favor das dependência, participa-
Pessoas Idosas ção, cuidados, realiza-
ção pessoal e dignidade.
Lei nº 8.842: 1994 BRASIL Nacional Assegurar os direitos so-
Política Nacional ciais do idoso, criando
do Idoso condições para promo-
ver sua autonomia, in-
tegração e participação
efetiva na sociedade.

70 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Assembleia de 2002 ONU Internacional Objetivos e recomen-
Madri dações para a adoção
de medidas dirigidas
aos governos nacionais,
onde foram adotadas
medidas em todos os
níveis, nacional e inter-
nacional e em três di-
reções prioritárias: ido-
sos e desenvolvimento,
promoção da saúde e
bem-estar na velhice e
criação de um ambiente
propício e favorável.
I Conferência 2003 ONU CEPAL Regional Metas, objetivos e reco-
Regional da mendações para a ação
América Latina e em favor das pessoas
Caribe idosas em cada uma
das três áreas prioritá-
rias: pessoas idosas e
desenvolvimento, saú-
de e bem-estar na velhi-
ce, e entornos propícios
e favoráveis.
Lei 10. 741 2003 BRASIL Nacional Lei voltada especifica-
Estatuto do Idoso mente para os idosos
com medidas que visam
proporcionar o bem-es-
tar dos idosos.
Política do 2005 OMS Internacional Pilares básicos: saúde,
Envelhecimento participação e segu-
Ativo rança.
Fonte: Cavalcanti-Bandos, P.M., et al., 2013 (apud).

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 71


Em resumo, as políticas públicas para o envelhecimento ativo delimitam-
-se na necessidade de esforços e tomadas de decisões dos poderes públi-
cos para que sejam compreendidas as necessidades de uma população,
em destaque para a pessoa idosa, garantindo a interação do indivíduo/
Estado e sociedade para melhor qualidade de vida.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


A população idosa está crescendo, e com ela os desafios para me-
lhor qualidade de vida. O envelhecimento ativo como política pública
mundial é uma das iniciativas que contribui de forma positiva e pro-
põe a participação do sujeito como protagonista na interação com vá-
rios aspectos como saúde, educação, economia, entre outros. Como
reflexão: no Brasil, um país em desenvolvimento e com heterogenei-
dade da população idosa, quais poderiam ser a(s) barreira(s) para um
envelhecimento ativo?

2. Considerações finais

• No Brasil, o marco efetivo das discussões relacionadas ao idoso sur-


ge como prioridade com o desenvolvimento de Políticas Públicas de
Saúde e com a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSI) e
do Pacto pela Saúde, ambas no ano de 2006.

• No Brasil, no ano de 2010, a Área Técnica da Saúde do Idoso do


Ministério da Saúde propôs o desenvolvimento de ações estratégi-
cas objetivando o envelhecimento ativo e saudável.

• O envelhecimento ativo e saudável atende a atenção integral e


integrada à saúde da pessoa idosa, com ações intersetoriais de for-
talecimento da participação popular e da comunidade, com enfoque
também na educação permanente voltada para a população idosa.

• Os fatores determinantes do envelhecimento ativo são discutidos a


partir de um tema transversal que é a cultura e o gênero, os demais

72 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


determinantes são: os serviços sociais e de saúde, determinantes
comportamentais, determinantes pessoais, ambiente físico, deter-
minantes sociais e determinantes econômicos.

Glossário

• Política transversal (ou transversalidade): segundo o dicionário


Aurélio, significa “linha que corta ou que atravessa outra linha ou
um plano”. No Sistema Único de Saúde (SUS) a transversalidade
é um dos princípios da Política Nacional Humanização (PNH), que
visa estar presente em todos os programas e políticas do SUS, e
com isso o resultado esperado é um grau de contato e comunica-
ção entre pessoas e grupos ampliados, sem hierarquia, reforçando
a produção de qualidade.

• Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSI): é uma polí-


tica pública com o objetivo de permitir um envelhecimento saudá-
vel, isto é, preservar a capacidade funcional e sua autonomia.

• Grupos sociais: é formado por pessoas que apresentam caracte-


rísticas similares e que realizam atividades e projetos cotidianos
em companhia de outras pessoas.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 05
1. A população idosa no Brasil é crescente. Qual contribuição
na área da saúde que esta população se beneficia?
a) Os serviços de hotelaria
b) O atendimento ao consumidor

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 73


c) As campanhas de controle de fertilidade
d) As campanhas de vacinação
e) Os serviços de controle da temperatura
2. O processo de envelhecimento no Brasil é heterogêneo,
há necessidade do acompanhamento das condições de
saúde e de qual outro fator?
a) Desemprego
b) Qualidade de vida
c) Qualidade de emprego
d) Violência contra os jovens
e) Qualidade da alimentação enteral
3. O Ministério da saúde, com o objetivo do envelhecimento
saudável, desenvolveu qual programa que antecede ao do
envelhecimento ativo?
a) Alimentação para todos
b) Política Nacional da Pessoa Idosa
c) Brasil feliz e saudável
d) Brasil para os necessitados
e) Brasil saudável

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74 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


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/ World Health Organization. Trad. Suzana Gontijo. Brasília: Organização Pan-
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Gabarito – Tema 05

Questão 01 – Resposta: D

Resolução: A área da saúde, como recurso de prevenção de doenças


e de agravos à saúde da pessoa idosa, realiza campanhas de vaci-
nação, por exemplo, contra a gripe, contra tétano, entre outras, das
quais os idosos se beneficiam.

Questão 02 – Resposta: B

Resolução: No processo heterogêneo que o Brasil apresenta quanto


ao envelhecimento populacional, o acompanhamento das condições
de saúde e da qualidade de vida dos idosos é um fator fundamental.

Questão 03 – Resposta: E

Resolução: O programa Brasil Saudável do Ministério da Saúde foi um


dos programas e projetos iniciais de atenção à pessoa idosa, surgin-
do, posteriormente, a política pública para o envelhecimento ativo.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 75


TEMA 06
A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Objetivos

• Conceituar os aspectos que envolvem a Política


Nacional do Idoso;

• Descrever a implementação da Política Nacional do


Idoso;

• Apresentar as perspectivas da Política Nacional do


Idoso.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 76


Introdução

As mudanças demográficas em curso no país, o crescimento da população


idosa, os desafios e enfrentamentos das questões relacionadas ao envelhe-
cimento são pautas de discussões em nível das Políticas Públicas voltadas
para a pessoa idosa. Como uma das respostas dada pelo Estado Brasileiro
e em conjunto com a sociedade, a Política Nacional da Pessoa Idosa (PNI) foi
implantada por meio da Lei n0 8.842/1994 e regulamentada pelo Decreto
n0. 1.948/1996. Com a implantação da PNI, um passo importante foi dado
para a garantia de direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
As demandas por políticas públicas, as discussões das necessidades da pes-
soa idosa se intensificaram através da aceleração do processo demográfico
do envelhecimento brasileiro. Mudanças sociais e estruturais quanto à área
da saúde, economia e quanto às políticas públicas ocorreram e estão em
curso neste processo de envelhecimento. A atenção dada às políticas pú-
blicas deve contemplar não só a análise da efetivação dos preceitos legais
mas também a sua pertinência quanto ao aspecto atual que a contempo-
raneidade apresenta de necessidades da pessoa idosa. O enfoque inter-
disciplinar na discussão das políticas públicas a nível de país permite uma
visão panorâmica e de efetivação das leis e decretos, por meio das políticas
setoriais envolvidas nas questões relacionadas à pessoa idosa com suas
devidas especificidades, quanto ao desenvolvimento e recursos socioeco-
nômicos, de saúde, educação e do próprio envelhecimento populacional
que não é heterogêneo, até mesmo entre os países.

1. A Política Nacional do Idoso (PNI): aspectos


conceituais

Os princípios de organização de uma sociedade democrática envolvem


questões como justiça, equidade e igualdade, estas devem ser previstas

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 77


a partir do reconhecimento e da valorização da diferença humana garan-
tindo que, ao lançar estratégias de políticas, sejam assegurados a todos
os direitos humanos e sejam reconhecidos suas especificidades quanto
às necessidades e características do ser humano.

No contexto de exercício da democracia vistas à promoção dos Direitos


Humanos das pessoas idosas, a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República realizou a III Conferência Nacional dos Direitos da
Pessoa Idosa, com o tema “Compromisso de Todos por um Envelhecimento
Digno no Brasil”. O objetivo deste evento foi debater avanços e desafios
da Política Pública do Idoso e demais assuntos referentes ao envelheci-
mento, na perspectiva de promoção dos Direitos Humanos sob o prisma
do dever do Estado e da responsabilidade social (ONU, 1948).

O Brasil já se aproxima do perfil demográfico de países da Europa, segundo


dados do IBGE (2012), a população de pessoas com 60 anos ou mais de idade
passou de 15,5 milhões para 23,5 milhões em 2011, com taxa de crescimen-
to anual de 3,7% e esta taxa, prevista até 2020, será de 4% ao ano, havendo
um crescimento médio de mais de 1,0 milhão de idosos na população.

Quanto à implementação de políticas públicas relacionadas ao crescimen-


to populacional de pessoas idosas há um descompasso, embora tenha ha-
vido um marco legal para defini-las sem a espera e a necessidade proativa
do poder público na responsabilização da família e do próprio idoso por
seu bem-estar. A Constituição Federal de 1988 foi o marco da cidadania
dos direitos e deveres do cidadão e principalmente da Política Nacional
do Idoso (PNI) de 1994 e do Estatuto do Idoso em 2003 (FALEIROS, 2016).

A atenção à pessoa idosa ainda vem sofrendo modificações e incursões


quanto à configuração da política pública voltada para esta população,
com referência à articulação, abrangência e eficiência (FALEIROS, 2012).

A PNI constitui uma inovação na formulação de um paradigma de política


para pessoa idosa, definindo princípios que contribuem para a mudança
da cultura e da superestrutura jurídico-política, conforme a CF/1988.

78 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Entre os princípios da Lei n0 8.842 de janeiro de 1994, está estabelecido que:

• a família, a sociedade e o Estado devem assegurar ao idoso todos os


seus direitos à cidadania com participação na comunidade e defen-
der sua dignidade, bem-estar e direito à vida, conforme o art. 230,
da CF/1988;

• o envelhecimento diz respeito à sociedade em geral;

• a discriminação de qualquer natureza contra o idoso deve ser


combatida;

• a pessoa idosa deve se tornar protagonista na proposição e na des-


tinação de políticas específicas; e

• as diferenças sociais, econômicas e regionais devem ser considera-


das na aplicação da política.

Esses princípios de lei da PNI combinam dimensões que asseguram os di-


reitos e elegem como protagonista e com ação participativa a pessoa ido-
sa na definição de políticas públicas para o envelhecimento. Os conselhos
de direitos humanos, de saúde, da assistência e da previdência exercem
papel fundamental na articulação das políticas públicas para o bem-estar
da população idosa.

O desenvolvimento das políticas públicas para a pessoa idosa no Brasil


tem sido destaque em nível de organizações internacionais e nacionais
com relação à proposição e diretrizes dos programas sociais e assisten-
ciais para poder atender as necessidades emergentes da população idosa.

PARA SABER MAIS


As políticas públicas de atenção à pessoa idosa no Brasil, bem como
o seu desenvolvimento, remetem-se ao contexto histórico para a sua
implantação, pois ao longo do tempo questões sociopolíticas apresen-
tam uma relação importante para o contexto dessas políticas.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 79


LINK
Como curiosidade e aprofundamento da construção histórica das
políticas públicas no Brasil, a qual originou a Política Nacional do
Idoso (PNI), acesse o link disponível em: <http://scielo.br/pdf/reeusp/
v46n6/29.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2018.

A Política Nacional do Idoso apresenta princípios norteadores e condensa


eixos dos quais são seguidos, como as diretrizes, organização e estraté-
gias de gestão cuja execução compete aos estados e municípios com refe-
rência ao atendimento ao idoso. A integração e articulação de setores mi-
nisteriais e secretariais na elaboração do Plano de Ação Governamental
para a integração da PNI envolve instâncias governativas como: Ministério
da Previdência e Assistência Social, Educação e Desporto, Justiça, Cultura,
Trabalho e Emprego, Saúde, Esporte e Turismo, Planejamento, Orçamento
e Gestão e Secretaria de Desenvolvimento Urbano. A integração dessas
instâncias delimita estratégias para cada órgão das diversas políticas so-
ciais e a negociação de recursos financeiros entre as três esferas do go-
verno, com a necessidade de acompanhamento, controle e avaliação das
diretrizes da PNI tais como:

• viabilizar formas alternativas de participação, ocupação e convívio


do idoso, proporcionando-lhe integração às demais gerações;

• promover a participação e a integração do idoso, por intermédio


de suas organizações representativas na formulação, implementa-
ção e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem
desenvolvidos;

• priorizar o atendimento ao idoso na sua família, em detrimen-


to do atendimento asilar, à exceção do que não dispõe de
condições de garantir sua sobrevivência; descentralizar as ações
político-administrativas;

80 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


• capacitar e reciclar os recursos humanos em geriatria e gerontologia;
implementar o sistema de informações visando divulgar a Política,
serviços oferecidos, planos e programas em cada nível de governo;

• estabelecer mecanismos que favoreçam a divulgação de informa-


ções de caráter educativo sobre aspectos do envelhecimento;

• priorizar o atendimento ao idoso em serviços públicos e/ou privados;

• apoiar estudos e pesquisas sobre questões do envelhecimento


(BRASIL, 1994).

PARA SABER MAIS


Para o acompanhamento das políticas do idoso a Fundação Fiocruz,
juntamente com o Ministério da Saúde e o SUS, tem uma plataforma
que fornece dados através de indicadores de saúde da pessoa idosa.

LINK
Para conhecer a plataforma da Fiocruz (SISAP – Sistema de Indicadores
de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso) e saber dos indi-
cadores de acompanhamento das condições de saúde e de políticas
do idoso, acesse o link disponível em: <https://sisapidoso.icict.fiocruz.
br/>. Acesso em: 05 mar. 2018.

A interconexão da PNI e outras determinações legais e intersetoriais na


ampliação de recursos e possibilidades de direcionamento do atendimen-
to à pessoa idosa são aspectos que devem estar contemplados como ques-
tões de natureza universal na atenção aos aspectos do envelhecimento.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 81


ASSIMILE
A PNI foi constituída com a Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe
sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso
e dá outras providências. Nesta política os direitos e deveres quanto
ao idoso, família, sociedade, e a atribuição das três esferas do poder
são constituídos e contemplados para que a necessidade do idoso e o
acompanhamento das ações sejam efetivas e voltadas para o bem–es-
tar desta população.

EXEMPLIFICANDO
O Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI), definido pelo
Decreto n0 5.109 de 17 de junho de 1994, dispõe sobre sua compo-
sição, estruturação, competências e funcionamento. Conforme o
Decreto, o CNDI tem por finalidade elaborar as diretrizes para a for-
mulação e implementação da Política Nacional do Idoso, observadas
as linhas de ação e as diretrizes conforme dispõe a Lei nº 10.741, de
1º de outubro de 2003, que se refere ao Estatuto do Idoso, bem como
acompanhar e avaliar a sua execução.

Na busca pela implementação e acompanhamento da PNI são realizadas


discussões e reflexões sobre o envelhecimento, desta forma têm ocor-
rido fóruns, seminários, encontros, cursos de qualificação e capacitação
de recursos humanos envolvendo discussão sobre direitos dos idosos
visando efetivar e ampliar a política. A referida Política apresenta ações
inovadoras como referência na abordagem sobre o idoso, em destaque
para a população de 80 anos e mais de idade que está crescendo dentre a
população brasileira - a demanda por cuidadores de idosos para atender
as necessidades e ajudar nas atividades de vida diária, o envelhecimento
ativo como política pública de atenção para melhor qualidade de vida dos
idosos.

82 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


A garantia dos direitos sociais, todavia, não tem se concretizado efetiva-
mente, pois a implementação da mesma tem ocorrido de maneira lenta
e gradativa e este fato implica-se em questões governamentais quanto à
distribuição de recursos para atender a população que está envelhecida.
Cabe aos idosos, as famílias e à sociedade ampliar a conscientização e
participação política para que possa ser ampliada esta efetivação, visando
garantir seus direitos assegurados na PNI e no Estatuto do Idoso.

Cabe às entidades públicas determinar obrigações, como: estimular a


criação de locais de atendimento aos idosos; centros de convivência; ca-
sas-lares, oficinas de trabalho; atendimentos domiciliares e outros; apoiar
a criação de universidade aberta para a Terceira Idade; e impedir a discri-
minação do idoso e sua participação no mercado de trabalho.

1.1 Perspectivas da Política Nacional do Idoso

A questão da velhice passou a ter visibilidade e atenção com o crescimen-


to populacional da faixa etária de 60 anos e mais de idade, com a expec-
tativa de vida crescente deste grupo etário que necessita de cuidados e
implicam ações particulares quanto a políticas públicas de saúde, de as-
sistência social e econômica, de educação, de habitação e segurança para
que seus direitos sejam constituídos e alcançados para melhor qualidade
de vida no envelhecimento.

O reconhecimento das políticas públicas existentes e dos programas de


atenção à pessoa idosa estão disponíveis a nível nacional, estadual e muni-
cipal, porém os desafios que enfrentam são as diferenças regionais e locais
onde a prática e execução das políticas públicas deve contemplar ações
diferenciadas quanto às necessidades e recursos para esta população.

Outro desafio quanto à população idosa e a perspectiva de políticas públi-


cas refere-se ao gênero - dados demográficos apresentam que a popula-
ção feminina é mais prevalente que a masculina. As mulheres apresentam

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 83


em termos de condições de saúde doenças crônicas que requerem aten-
ção a longo prazo, quanto às questões da seguridade social e da previ-
dência, uma parcela das mulheres nunca contribuiu com o sistema pre-
videnciário e tem no envelhecimento esta garantia por lei, o que onera o
setor econômico tornando-se um desafio para os cofres públicos. Como
perspectiva de políticas públicas de atenção aos homens segue o desafio
na área da saúde, estes cuidam menos da saúde do que as mulheres e
políticas públicas de atenção a esta população masculina devem ser em-
pregadas e implantadas para que atendam as necessidades e consigam
acompanhar sua saúde, onde doença pulmonar crônica, câncer de prós-
tata, insuficiência renal e cardíaca são mais prevalentes.

Os direitos garantidos pelas leis e decretos das políticas públicas volta-


das para a pessoa idosa existem, estes são reconhecidos nas três esfe-
ras do poder, bem como dos seus vários órgãos e setores. A garantia da
autonomia e a participação da população idosa como protagonista de
sua realidade quanto às questões relacionadas ao envelhecimento e suas
necessidades são condições fundamentais para que as políticas públicas
consigam se desenvolver e consigam atingir a população idosa, e que a
participação como ser integrante de nossa sociedade se faça presente na
voz da pessoa idosa.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


A Política Nacional do Idoso (PNI) é uma conquista que a população
idosa teve devido a longas discussões a nível nacional e internacio-
nal sobre o envelhecimento e através da CF/1988. A população idosa
vem crescendo, em destaque a faixa etária de 80 anos e mais de ida-
de. A expectativa de vida está aumentando, os idosos estão vivendo
mais, porém com condições crônicas de saúde, o que requer cuida-
dos, há presença da vulnerabilidade social e econômica tanto com as
despesas para o cuidado com a saúde quanto as condições do esta-
do para atender as demandas desta população. Como reflexão: ao

84 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


serem abordados os indicadores de acompanhamento das políticas
públicas para a pessoa idosa, baseado nas modificações na estru-
tura etária da população idosa, quais os indicadores mais robustos
quanto às características e realidade desta população que os gesto-
res e administradores públicos deveriam acompanhar e considerar
na atualidade? E com referência a PNI, quais indicadores poderiam
ser avaliados de acordo com os princípios regulatórios que a política
apresenta e que são a princípio de direitos adquiridos da população
idosa?

2. Considerações finais

• Devido às mudanças demográficas em curso no país, com o cres-


cimento da população idosa, os desafios e enfrentamento das
questões relacionadas ao envelhecimento são pautas de discussões
em nível de políticas públicas voltadas para a pessoa idosa.

• O Estado Brasileiro em conjunto com a sociedade elaborou a Política


Nacional da Pessoa Idosa (PNI), esta foi implantada por meio da Lei
n0 8.842/1994 e regulamentada pelo Decreto n0 1.948/1996.

• As mudanças sociais e estruturais quanto à área da saúde, econo-


mia e quanto às políticas públicas, ocorreram e estão em curso neste
processo de envelhecimento.

• O enfoque interdisciplinar na discussão das políticas públicas a nível


de país permite uma visão panorâmica e de efetivação das leis e
decretos por meio das políticas setoriais envolvidas nas questões
relacionadas à pessoa idosa com suas devidas especificidades,
quanto ao desenvolvimento e recursos socioeconômicos, de saúde,
educação, e do próprio envelhecimento populacional que é hetero-
gêneo, até mesmo entre os países.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 85


Glossário

• Decreto n0 1.948/1996: este decreto regulamenta a Lei n° 8.842,


de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do
Idoso, e dá outras providências.

• Plano de Ação Governamental: pode ser dividido em plano anual


ou plurianual. É um instrumento previsto no art. 165 da Constituição
Federal destinado a organizar e viabilizar a ação pública, com vistas
a cumprir os fundamentos e os objetivos da República. Por meio
dele, é declarado o conjunto das políticas públicas do governo para
um período de 4 anos e os caminhos trilhados para viabilizar as
metas previstas.

• Políticas públicas:  é a soma das atividades dos governos, que


agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a
vida dos cidadãos. De uma forma ainda mais abrangente, pode-se
considerar as políticas públicas como “o que o governo escolhe fa-
zer ou não fazer”. Vargas Velasques define o termo como “conjunto
de sucessivas iniciativas, decisões e ações do regime político frente
a situações socialmente problemáticas e que buscam a resolução
delas, ou pelo menos trazê-las a níveis manejáveis”.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 06
1. Com a mudança demográfica da população e com o au-
mento do número de idosos, desafios referentes à ques-
tão do envelhecimento são discutidos a nível de:
a) Políticas da administração privada
b) Políticas de incentivo fiscal
c) Políticas públicas de controle de natalidade

86 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


d) Políticas públicas para a pessoa idosa
e) Políticas privadas de desenvolvimento
2. O Estado Brasileiro em conjunto com outra entidade civil
implantou a Política Nacional da Pessoa Idosa (PNI). Qual
seria essa entidade?
a) Recursos humanos
b) Sociedade
c) Previdência Privada
d) Planos de saúde
e) Planos de desenvolvimento
3. Com a implantação da Política Nacional do Idoso, os ido-
sos passaram a ter quais direitos adquiridos?
a) Direitos à alimentação gratuita
b) Direitos a planos privados de saúde
c) Direitos de cirurgia bariátrica
d) Direitos à consulta geriátrica
e) Direitos sociais

Referências bibliográficas

BRASIL. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do


Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, 5 jan. 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8842.htm>. Acesso em: 06 mar. 2018.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações
Unidas em 10 de dezembro de 1948. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2018.
FALEIROS, V. P. Cap. 22 - A Política Nacional do idoso em questão: passos e impasses na
efetivação da cidadania. In: ALCÂNTARA, A.O, CAMARANO, A.A., GIACOMINI, K.C. Política
Nacional do Idoso: Velhas e Novas Questões. Rio de JANEIRO: Ipea, 2016, p. 537-569.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 87


FALEIROS, V. P. A pessoa idosa e seus direitos: sociedade política e constituição. In:
BERZINS, M.V., BORGES, M.C. (Org). Políticas Públicas para um País que Envelhece.
São Paulo: Martinari, 2012, p. 46-66.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de Indicadores
Sociais: uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira – 2012.
Rio de Janeiro: IBGE, 2012. (Estudos e Pesquisas – Informação Demográfca e
Socioeconômica, n. 29). Disponível em: <http:// biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
livros/liv62715.pdf>. Acesso em: 05 mar. 2018.

Gabarito – Tema 06

Questão 01 – Resposta: D

Resolução: As políticas públicas para a pessoa idosa, antes de sua


implantação, foram discutidas a nível nacional com destaque às ne-
cessidades e direitos a serem assegurados para a pessoa idosa.

Questão 02 – Resposta: B

Resolução: A sociedade civil teve participação quanto às discussões


e na implantação da Política Nacional da Pessoa Idosa, com o co-
nhecimento das realidades da sociedade quanto ao envelhecimento
populacional e das necessidades das pessoas idosas.

Questão 03 – Resposta: E

Resolução: Os direitos sociais na implantação da Política Nacional da


Pessoa Idosa foram direitos adquiridos pelos idosos, tendo também
na CF/1988 seus direitos fundamentais previstos como princípios a
serem seguidos pelas demais políticas públicas voltadas para a pes-
soa idosa.

88 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


TEMA 07
O ESTATUTO DO IDOSO

Objetivos

• Apresentar os fundamentos do Estatuto do Idoso;

• Descrever os diretos assegurados pelo Estatuto do


Idoso;

• Apresentar os aspectos legais e institucionais referen-


tes ao Estatuto do Idoso.

89 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Introdução

O idoso é considerado como todo o cidadão (homem e mulher) com idade


igual ou acima de 60 anos. Com o envelhecimento populacional, a popula-
ção de idosos já soma mais de 9% de toda a nossa população, além de que
a expectativa de vida dos brasileiros está crescendo, na contemporaneida-
de há uma tendência de encontrarmos idosos com 80 anos e mais, o que
em décadas passadas não ocorria, pois os idosos morriam antes de chegar
a esta idade. Como o aumento da população idosa, as demandas e desafios
voltados à essa população passaram a ser pauta de discussões conduzidas
no sentido de garantir os direitos dos idosos nos níveis Federais, Estaduais
e Municipais e com referência às políticas públicas que atendessem aos
idosos. Dentre as conquistas que os idosos tiveram quanto à garantia de
seus direitos e atenção, o Estatuto do Idoso (Lei n0 10.741/2003) foi uma de-
las, sendo esta lei mais abrangente do que a Política Nacional do Idoso de
1994, que institui apenas garantias à terceira idade, entretanto, o Estatuto
do Idoso de forma mais abrangente assegura aos idosos os direitos rela-
cionados à saúde, ao transporte público, ao trabalho, à violência e aban-
dono. Para esta disciplina, neste tema Estatuto do Idoso serão abordados:
os fundamentos legais que envolvem o Estatuto do Idoso, as conquistas
dos idosos quanto aos seus direitos, abarcando especificidades, o papel da
família, bem como as esferas jurídica, administrativa e previdenciária de
programas e políticas públicas para o envelhecimento.

1. O envelhecimento e o Estatuto do Idoso

Uma população idosa cada vez maior é uma realidade mundial. A identifi-
cação pela sociedade de que o idoso é um cidadão que necessita de aten-
ção diferenciada das demais faixas etárias, bem como o papel que esses
indivíduos representam na atualidade ou que representaram ao longo
da vida, como ser reprodutivo e contributivo com a sociedade, tem sido
destaque desde a Constituição Federal de 1988 como carta magna dos
direitos dos cidadãos.

90 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


O Estatuto do Idoso, Lei n0 10.741 de setembro de 2003, representa a ga-
rantia dos direitos inerentes à pessoa idosa em destaque com suas es-
pecificidades, atendendo os direitos desta população, promovendo a au-
tonomia, integração e sua participação ativa como voz integrante na so-
ciedade em vários aspectos como saúde, previdência, educação, cultura,
lazer, dentre outros.
Desta forma, o Estatuto do Idoso vem contribuir na construção de uma
realidade cuja figura do idoso é central no que se refere às práticas de
atenção das políticas públicas, aos espaços de convivência desses idosos,
ao ser participativo na sociedade e às novas tecnologias para o envelheci-
mento, tanto da gestão pública ou privada.
O conhecimento das necessidades da população idosa e o marco de di-
reitos legais como o Estatuto do Idoso com suas diretrizes e normas con-
tribuem para o compromisso da sociedade para com as pessoas idosas e
a conscientização dos próprios idosos para a efetivação dos mecanismos
legislativos de proteção. A importância das ações articuladas e integra-
das incluem o vínculo familiar, equipe multiprofissional e interdisciplinar,
conselhos dos direitos humanos, de saúde, a nível Federal, Estadual e
Municipal; gestores e administradores que estão envolvidos na área do
envelhecimento da pessoa idosa.
O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção, um di-
reito social. É dever do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida
e à saúde mediante a efetivação de políticas públicas que permitam um
envelhecimento saudável e com condições de dignidade.

PARA SABER MAIS


A implantação do Estatuto do Idoso com a garantia dos direitos da
pessoa idosa levou a atenção de equipe multiprofissional voltada à
assistência humanizada ao idoso, passando a ser empregada nos di-
versos setores como, por exemplo, a área da saúde.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 91


LINK
Como curiosidade e para saber mais referente ao atendimento profis-
sional de hospital geriátrico com atenção ao idoso após o Estatuto do
idoso, acesse o link disponível em: <http://egov.ufsc.br/portal/sites/de-
fault/files/anexos/30280-31160-1-PB.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2018.

O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, apresenta


a seguinte estrutura quanto aos direitos, medidas de proteção, política de
atendimento, acesso à justiça e crimes cometidos contra a pessoa idosa.

Tabela 1 - Estatuto do Idoso. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.


Títulos e Capítulos.
Título I – Disposições Preliminares

Título II – Dos Direitos Fundamentais


Capítulo I – Do Direito à Vida
Capítulo II – Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Capítulo III – Dos Alimentos
Capítulo IV – Do Direito à Saúde
Capítulo V – Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
Capítulo VI – Da Profissionalização e do Trabalho
Capítulo VII – Da Previdência Social
Capítulo VIII – Da Assistência Social
Capítulo IX – Da Habitação
Capítulo X – Do Transporte

Título III – Das Medidas de Proteção


Capítulo I – Das Disposições Gerais
Capítulo II – Das Medidas Específicas de Proteção

92 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Título IV – Da Política de Atendimento ao Idoso
Capítulo I – Disposições Gerais
Capítulo II – Das Entidades de Atendimento ao Idoso
Capítulo III – Da Fiscalização das Entidades de Atendimento
Capítulo IV – Das Infrações Administrativas
Capítulo V – Da Apuração Administrativa de Infração às Normas de Proteção
ao Idoso
Capítulo VI – Da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de
Atendimento
Título V – Do Acesso à Justiça
Capítulo I – Disposições Gerais
Capítulo II – Do Ministério Público
Capítulo III – Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e
Individuais Indisponíveis ou Homogêneos

Título VI – Dos Crimes


Capítulo I – Disposições Gerais
Capítulo II – Dos Crimes em Espécie

Título VII – Disposições Finais e Transitórias

Fonte: BRASIL, 2013, p. 1-70.

O Estatuto do Idoso contempla direitos nas diversificadas áreas desde a


proteção à vida, à dignidade, justiça e o respaldo quanto aos maus-tratos
e negligência contra a pessoa idosa desde questões institucionais quanto
a família da pessoa idosa com seus deveres quanto núcleo primário de
convivência do idoso.

PARA SABER MAIS


A família é a fonte primária de atenção à pessoa idosa, nela o idoso
deve ser acolhido e integrado, atendendo as suas necessidades bási-
cas com respeito a sua autonomia e independência.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 93


LINK
Para saber mais das responsabilidades da família perante o idoso e
conflitos familiares que podem surgir desta convivência, acesse o link
disponível em: <https://idosos.com.br/direitos-do-idoso-na-familia/>.
Acesso em: 09 mar. 2018.

O conhecimento dos idosos sobre seus direitos adquiridos no Estatuto do


Idoso e se estes estão sendo considerados e aplicados é de fundamental
importância para que eles possam reivindicar seus direitos.

ASSIMILE
A pessoa é considerada idosa a partir da idade igual ou superior a
60 anos. O Estatuto do Idoso apresenta esta definição e consideração
com referência a esta faixa etária, atribuindo direitos e condições de
vida digna com qualidade.

EXEMPLIFICANDO
A população idosa, em sua maioria, conhece seus direitos ao transporte
público gratuito instituído pelo Estatuto do Idoso, direito este adquirido
para a idade igual ou superior a 60 anos de idade para países em desen-
volvimento ou subdesenvolvidos e 65 anos e mais para países desen-
volvidos. O idoso contemporâneo assume o papel de fiscalizador deste
direito e revindica quando não é cumprido e desrespeitado, ou necessi-
ta de melhorias para que seja seguro o uso do transporte público.

Ainda que os idosos tenham seus direitos adquiridos por um estatuto


próprio que contempla as necessidades da pessoa idosa, avanços e desa-
fios permanecem quanto aos direitos totais de acesso ao idoso em algu-
mas necessidades básicas como a saúde, por exemplo. A atenção ao en-
velhecimento com qualidade e saudável deve ser visto de maneira global,
contemplando os aspectos biopsicossociais dos idosos.

94 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


1.1 Aspectos legais e institucionais do Estatuto do Idoso

O aspecto institucional do Estatuto do Idoso é compreendido como um


conjunto de aspectos e normas intersetoriais e interdisciplinares para as
ações em prol da qualidade de vida e assistência à pessoa idosa.

Para que se estabeleçam constituições legais e institucionais favoráveis


aos direitos dos idosos, bem como a repercussão das discussões sobre os
direitos ao envelhecimento saudável e digno, devem ser consideradas as
ações e acompanhamento a nível nacional, internacional e das três esfe-
ras do poder.

O Estatuto do Idoso é no ordenamento jurídico brasileiro a norma que


realiza de modo mais amplo a discriminação ou ação para superar as de-
sigualdades existentes entre os idosos, como grupo vulnerável e como
parte integrante da sociedade. Este serve de base e é estabelecido através
de leis os direitos fundamentais a todos os idosos de forma integral para
a sua proteção.

O Estatuto do Idoso em seus 118 artigos assegura uma série de direitos


aos idosos, dentre eles estão:

• atendimento preferencial, imediato e individualizado junto aos


órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população;

• fornecimento gratuito de medicamentos pelo Poder Público, espe-


cialmente os de uso contínuo, assim como próteses, órteses e outros
recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação;

• proibição de discriminação do idoso nos planos de saúde pela


cobrança de valores diferenciados em razão da idade;

• criação de cursos especiais para idosos, com inclusão de conteúdo


relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços
tecnológicos, para sua integração à vida moderna;

• descontos de 50% em atividades culturais, de lazer e esporte;

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 95


• proibição de discriminação do idoso em qualquer trabalho ou
emprego, por meio de fixação de limite de idade, inclusive para con-
cursos, ressalvados os casos específicos devido à natureza do cargo;

• fixação da idade mais elevada como primeiro critério de desempate


em concurso público;

• estímulo à contratação de idosos por empresas privadas;

• reajuste dos benefícios da aposentadoria na mesma data do reajus-


te do salário mínimo;

• concessão de um salário mínimo mensal para os idosos acima de 65


anos que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de
tê-la provida por sua família;

• prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, em progra-


mas habitacionais públicos ou subsidiados com recursos públicos;

• gratuidade nos transportes coletivos públicos aos maiores de 65


anos, com reserva de 10% dos assentos para os idosos;

• reserva de duas vagas no sistema de transporte coletivo interesta-


dual para idosos com renda mensal de até dois salários mínimos,
com desconto de 50%, no mínimo, no valor das passagens, para os
idosos que excederem as vagas gratuitas;

• reserva de 5% das vagas nos estacionamentos públicos e privados. 


O Estatuto prevê ainda punição para quem:

• discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a ope-


rações bancárias ou aos meios de transporte, por motivo de idade;

• deixar de prestar assistência ao idoso, ou recusar, retardar ou difi-


cultar que outros o façam;

• abandonar idosos em hospitais, casas de saúde, entidades de longa


permanência ou congêneres;

96 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


• expor em perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes, privando-o
de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo,
ou sujeitando-o a trabalho excessivo e inadequado;

• apropriar-se ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro


tipo de rendimento do idoso;

• induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procu-


ração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente;

• coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outor-


gar procuração.
Os desafios estão presentes quanto ao envelhecimento da população, os
idosos ao longo das décadas tiveram seus direitos garantidos e adquiri-
dos com o Estatuto do Idoso, a Política Nacional da Pessoa Idosa (PNI), os
Conselhos de Assistência Social (CREAS), o Sistema Único de Saúde (SUS),
Sistema Unificado de Assistência Social (SUAS), dentre outros, porém a in-
terlocução entre as instâncias e os órgãos e conselhos ainda permanece
deficitária e fragmentada diante das ações de atenção integral e dos aspec-
tos biopsicossociais do idoso para um envelhecimento com qualidade.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Os idosos ao longo das décadas tiveram seus direitos adquiridos com
a promulgação da Lei do Estatuto do Idoso e das demais políticas pú-
blicas voltadas para o envelhecimento com qualidade e atenção às
necessidades da pessoa que envelhece. Para reflexão: qual(is) seriam
os desafios dos órgãos legisladores quanto às políticas públicas? Para
os gestores, conselhos a nível federal, municipal e estadual, o fazer
cumprir e fiscalizar os diretos dos idosos adquiridos com o Estatuto
do Idoso, sendo este elaborado há décadas passadas com uma reali-
dade onde a população idosa de 80 anos não era prevalente, é hoje é
uma realidade crescente com o aumento da expectativa de vida?

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 97


2. Considerações finais

• A população idosa cada vez mais é uma realidade mundial. A identifi-


cação pela sociedade de que o idoso é um cidadão que necessita de
atenção diferenciada das demais faixas etárias faz parte do mundo
contemporâneo.
• O Estatuto do Idoso, Lei n0 10.741 de setembro de 2003 representa a
garantia dos direitos inerentes à pessoa idosa em destaque com suas
especificidades, atendendo os direitos desta população.
• O Estatuto do Idoso promove o direito à autonomia, integração e a par-
ticipação ativa dos idosos como voz integrante na sociedade em vários
aspectos como saúde, previdência, educação, cultura e lazer, dentre
outros.
• O conhecimento das necessidades da população idosa e o marco de
direitos legais como o Estatuto do Idoso com suas diretrizes e normas
contribuem para o compromisso da sociedade para com as pessoas
idosas e a conscientização dos próprios idosos para a efetivação dos
mecanismos legislativos de proteção.

Glossário

• Gestão pública: é o termo que designa um campo de conheci-


mento (ou que integra um campo de conhecimento) e de trabalho
relacionados às organizações cuja missão seja de interesse públi-
co ou afete o mesmo. Abrange áreas como Recursos Humanos,
Finanças Públicas e Políticas Públicas, entre outras.
• Diretrizes: diretrizes  são  orientações, guias, rumos. São  li-
nhas que definem e regulam um traçado ou um caminho a seguir.
Diretrizes são instruções ou indicações para se estabelecer um pla-
no, uma ação, um negócio, etc.

98 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


• Normas: é um termo que vem do latim e significa “esquadro”.
Uma  norma  é uma regra que deve ser respeitada e que permi-
te ajustar determinadas condutas ou atividades. No âmbito do
Direito, uma norma é um preceito jurídico.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 07
1. Como é considerado o indivíduo integrante de uma
sociedade?
a) Voluntário
b) Administrador
c) Gestor
d) Cidadão
e) Profissional
2. Qual foi a conquista em termos de direitos que os idosos ti-
veram em décadas passadas e que está em vigor até hoje?
a) A administração pública
b) O Estatuto do Idoso
c) Direito à alimentação
d) O Conselho de Previdência
e) A segurança pública
3. Qual a lei magna que legisladores seguem para elaborar
as demais políticas públicas e estatutos com referência à
pessoa idosa?
a) Lei Orgânica da Assistência Social
b) Constituição Internacional
c) Lei das Diretrizes e Bases
d) Constituição Federal do Idoso
e) Constituição Federal

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 99


Referências bibliográficas

BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de setembro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do


Idoso e dá outras providências. São Paulo, 2003. Disponível em: <http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 9 mar. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso. 3. ed.,, 2. reimpr. Brasília: 2013, p. 70.
CAROLINO, J.A.; SOARES, M.L.; CÂNDIDO, G.A. Envelhecimento e Cidadania:
Possibilidades de Convivência no Mundo Contemporâneo.  Revista Eletrônica da
Universidade Estadual da Paraíba  - ISSN 1677 4280 v. 1, n. 1, 2011. Disponível em:
<http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/viewFile/1182/597>. Acesso em:
09 mar. 2018.
EL TASSA, K.O.M. Saúde e Qualidade de Vida na Terceira Idade.  Revista Digital
Buenos Aires, ano 13, n. 119, abr. 2008. Disponível em: <http://efdeportes.com/>.
Acesso em: 9 mar. 2018.

Gabarito – Tema 07

Questão 01 – Resposta: D

Resolução: Um indivíduo integrante de uma sociedade, seja homem


ou mulher, é considerado cidadão com seus direitos e deveres cons-
titucionais preservados perante as esferas do poder.

Questão 02 – Resposta: B

Resolução: O Estatuto do Idoso foi uma das conquistas que os idosos


tiveram iniciada a partir das discussões sobre o envelhecimento po-
pulacional e as necessidades específicas desta população.

Questão 03 – Resposta: E

Resolução: A Constituição Federal é considerada a carta magna em


que as políticas públicas e os estatutos seguem para poder elaborar
as demais leis e diretrizes de uma sociedade ou de uma população.

100 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


TEMA 08
TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA
A PESSOA IDOSA

Objetivos

• Definir a tipologia da violência contra a pessoa idosa;

• Caracterizar os sinais indicadores de violência contra


a pessoa idosa;

• Apresentar as estratégias de ação contra a violência


da pessoa idosa.

101 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Introdução

A violência contra a pessoa idosa constitui um dos maiores desafios e obs-


táculos para a plena realização de um estado democrático de igualdade
de direitos. Os tipos de violência contra a pessoa idosa podem ser mutidi-
mensional e multifatorial, compreendendo multidimensional como: ques-
tões sociais, econômicas, judiciais, educacionais, culturais, direitos huma-
nos, entre outros; e considerada multifatorial a violência relacionada a
condições de saúde, vulnerabilidade física, aspectos comportamentais e
cognitivos prejudicados; problemas psiquiátricos, fragilidade das relações
familiares, entre outros. A conscientização social sobre esse fenômeno é
unânime ao qualificar essa violência como um atentado contra os direitos
humanos. As razões que estão por traz da violência contra a pessoa idosa
são superpostas e merecem uma atenção e aprofundamento sobre as
relações sociais e os aspectos de vulnerabilidade da pessoa idosa. O con-
texto da violência e as razões produzidas por ela são difusas e às vezes de
difícil identificação. Os maus-tratos e abusos que ocorrem contra a pes-
soa idosa muitas vezes são concretos, como nos casos de violência física
que pode deixar marcas corporais como hematomas, arranhões, cortes,
afetando alguma parte do corpo ou algum órgão; já no caso da violência
psicológica e emocional estas são mais difíceis de serem detectadas. O
preconceito contra a pessoa idosa é um fenômeno abrangente que às
vezes pode ser invisível e implícito, ora visível e concreto. Poder vencer o
preconceito e discriminação contra a pessoa idosa é almejar que o cum-
primento das leis, o respeito, o amor, o cuidado, sendo este compreen-
dido como cuidado profissional e cuidado familiar, possam ser atingidos.
Os gestores públicos e privados, os agentes e profissionais de saúde, de
segurança pública, da defesa dos direitos humanos e a família são funda-
mentais para o acolhimento, avaliação e defesa contra os maus-tratos e
violência dos diversos tipos contra a pessoa idosa.

102 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


1. Tipologia da violência contra a pessoa idosa

Com o crescente aumento do número de idosos na população a questão


da violência contra a pessoa idosa passou a despertar interesse na comu-
nidade científica para caracterizá-la. Ao longo das décadas alguns fatores
como a Constituição Federal de 1988, a implantação da Política Nacional
da Pessoa Idosa e o Estatuto do Idoso foram conquistas em termos de di-
reitos dos idosos, dentre eles o de proteção contra a violência e maus-tra-
tos à pessoa idosa, seja esta no domicílio (violência doméstica), em órgãos
públicos ou privados, ou em Instituição de Longa Permanência (ILPI).

A tipologia da violência contra a pessoa idosa é definida de acordo com a


sua característica de delito. Dentre elas estão:

• Violência física ou maus-tratos – são expressões que se referem


ao uso da força física para compelir os idosos a fazerem o que não
desejam, para feri-los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte.

• Abuso/violência sexual – é caracterizada como ato ou jogo sexu-


al de caráter homo ou hétero-relacional, utilizando pessoas idosas.
Esses abusos visam obter excitação, relação sexual ou práticas eró-
ticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.

• Violência psicológica ou maus-tratos psicológicos – correspon-


dem às agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar
os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do con-
vívio social.

• Violência econômica/financeira ou patrimonial – se expressa na


exploração indevida ou ilegal dos idosos ou ao uso não consentido
por eles de seus recursos financeiros ou patrimoniais. Esse tipo de
violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar.

• Negligência – refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos


e necessários aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 103


institucionais. A negligência é uma das formas de violência contra os
idosos mais presentes no país.

• Violência institucional – é aquela exercida pelos próprios serviços,


por ação ou omissão. Pode incluir desde a dimensão mais ampla da
falta de acesso à má qualidade dos serviços. Abrange abusos come-
tidos em virtude das relações de poder desiguais entre usuários e
profissionais dentro das instituições.

• Autonegligência – diz respeito à conduta da pessoa idosa que ame-


aça sua própria saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados
necessários a si mesmo.

• Violência medicamentosa – é a administração por familiares, cui-


dadores e profissionais dos medicamentos prescritos de forma
indevida, aumentando, diminuindo ou excluindo os medicamentos.

Os vários tipos de violência e expressões de violência constituem práticas


sociais de violação de direitos a que esse grupo social sofre, são frequen-
tes as denúncias de impessoalidade, maus-tratos e negligência contra a
pessoa idosa.

Na Lei n0 12.461 de 26 de julho de 2011 é definida a violência contra a


pessoa idosa como qualquer ação ou omissão, praticada em local público
ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.

PARA SABER MAIS


Esta Lei n0 12.461 de 26 de julho de 2011 foi decretada pelo Congresso
Nacional e Presidência da República e prevê a notificação compulsória
dos atos de violência praticados contra idosos atendidos em estabele-
cimentos de saúde, sejam eles públicos ou privados.

104 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


LINK
Como curiosidade e conhecimento do que foi sancionado por esta lei,
acesse o link disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12461.htm>. Acesso em: 14 mar. 2018.

Na família, abusos e negligências, discriminações e preconceitos, choque


de gerações, problemas de espaço físico, dificuldades financeiras, costu-
mam se somar a um imaginário social que considera a velhice e o idoso
como decadência do ser humano, prejudicando o envelhecimento saudá-
vel da pessoa idosa inserida no seio familiar.

PARA SABER MAIS


A violência, a agressão e maus-tratos contra a pessoa idosa no am-
biente familiar podem acarretar ao idoso o sentimento de solidão,
abandono, depressão, entre outros comprometimentos em sua saú-
de física e emocional. As motivações e sentimentos do agressor nem
sempre são compreendidas e destacadas de maneira explícita.

LINK
Como aprofundamento e conhecimento das motivações e sentimen-
tos quanto ao agressor familiar, acesse o link disponível em: <http://
scielo.br/pdf/pcp/v36n3/1982-3703-pcp-36-3-0637.pdf>. Acesso em:
14 mar. 2018.

No envelhecimento, os idosos estão mais vulneráveis à ocorrência de al-


guns tipos de violência doméstica ou institucional, isto decorre de condi-
ções precárias de saúde em alguns casos, do comprometimento da ca-
pacidade funcional para realizar as atividades de vida diária, devido tam-
bém às alterações cognitivas e comportamentais e isolamento social, que

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 105


necessitam ser cuidados no âmbito familiar e institucional quando o idoso
reside em uma ILPI ou participa de grupos de sociabilidade.

ASSIMILE
O isolamento social é um dos estados de vulnerabilidade no envelhe-
cimento que mais afeta o bem-estar do indivíduo idoso e contradiz a
sua necessidade de socialização e convivência intergeracional. A soli-
dão e o isolamento são fenômenos que precisam ser avaliados de for-
ma diferenciada. Cada pessoa enfrenta o fato de se encontrar sozinha
de maneiras diversas.

EXEMPLIFICANDO
A solidão seria o conjunto de uma série de fatores como o isolamen-
to social, familiar, de amigos, entre outros, e as próprias perdas que
decorrem do envelhecimento. As situações de isolamento social faci-
litam a ocorrência da angústia de solidão que pode levar o idoso aos
estados depressivos e regressivos quanto à interação com as pessoas,
às doenças psicossomáticas e inclusive levar à morte quando o distan-
ciamento das relações e da família se torna muito acentuado.

Em resumo, quando falamos da tipologia da violência contra a pessoa


idosa é fundamental compreender as razões que estão por traz da violên-
cia, o aprofundamento sobre as relações sociais e sobre o contexto em
que essas relações de violência são produzidas merecem ser avaliadas
por equipe multiprofissional e pesquisadores.

1.1 Sinais indicadores de violência contra a pessoa idosa

Os sinais e sintomas indicativos da violência contra a pessoa, para serem


diagnosticados, precisam de profissionais das diversas áreas (médico, psi-
cólogo, assistente social, fisioterapeuta, enfermeiro), cada um com suas

106 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


especificidades porem centrados no idoso, devem realizar uma avaliação
e acompanhamento de forma integral.

Na violência contra a pessoa idosa nem sempre os sinais são evidentes,


em destaque para a violência psicológica que pode apresentar-se como
invisível, porém os sinais podem ser sutis como mudança de comporta-
mento que o idoso não tinha antes, a depressão, a apatia, entre outros.

O idoso pode apresentar alterações em seu comportamento que antes


não apresentava, como por exemplo, ficar mais quieto, ter dificuldade em
se expressar, dentre outros comportamentos, que servem de alerta para
serem avaliados.

No quadro 1, a seguir, estão relacionados os principais sinais que podem


indicar que o idoso está sofrendo algum tipo de violência:

Quadro 1 – Sinais indicadores de violência contra a pessoa idosa: relativo


aos idosos e relativos às pessoas que cuidam dos idosos.
INDICADORES
INDICADORES RELATIVOS AOS IDOSOS
RELATIVOS ÀS
COMPORTA- PESSOAS QUE
FÍSICOS MENTAIS E SEXUAIS FINANCEIROS CUIDAM DOS
EMOCIONAIS
IDOSOS
• Queixas de ter • Mudanças no • Queixas de • Retiradas de • A pessoa que cuida
sido fisicamente padrão da ali- ter sido sexual- dinheiros que são do idoso aparece can-
agredido. mentação ou mente agredido. incomuns ou atípi- sada ou estressada.
• Quedas e problemas de •C o m p o r t a - cas do idoso. • A pessoa que cuida
lesões inexplicá- sono. mento sexual • Retiradas de do idoso parece
veis. • Medo, confu- que não com- dinheiro que não excessivamente pre-
• Queimaduras são ou apatia. bina com os estão de acordo ocupada ou despreo-
e hematomas • Passividade, relacionamen- com os meios do cupada. A pessoa que
em lugares inco- retraimento tos comuns do idoso. cuida do idoso cen-
muns ou de tipo ou depressão idoso e com a • Mudança de tes- sura o idoso por atos
incomum. crescente. personalidade tamento ou de tais como incontinên-
antiga. títulos de proprie- cia.
dade para deixar a • A pessoa que cuida
casa ou bens para do idoso se comporta
"novos amigos ou agressivamente.
parentes".

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 107


INDICADORES
INDICADORES RELATIVOS AOS IDOSOS
RELATIVOS ÀS
COMPORTA- PESSOAS QUE
FÍSICOS MENTAIS E SEXUAIS FINANCEIROS CUIDAM DOS
EMOCIONAIS
IDOSOS
• Cortes, mar- • Desamparo, • Mudanças de • Bens que faltam. • A pessoa que cuida
cas de dedos ou desesperança comportamento • O idoso "não con- do idoso o trata como
outras evidên- ou ansiedade. inexplicáveis, segue encontrar" uma criança ou de
cias de domina- • Declarações tais como agres- as jóias ou perten- modo desumano.
ção física. contraditó- são, retraimento ces pessoais. • A pessoa que cuida
•P r e s c r i ç õ e s rias ou outras ou automutila- do idoso tem uma
• Atividade suspeita
excessivamente ambivalências ção. história de abuso de
em conta de cartão
repetidas ou que não resul- • Queixas fre- de cré- dito. substâncias ou de
subutilização de tam de confu- quentes de dores abusar de outros.
• Falta de conforto
medicação. são mental. abdominais; san- • A pessoa que cuida
quando o idoso
•Desnutrição •R e l u t â n c i a gramento vagi- do idoso não quer que
poderia arcar com
ou desidrata- para falar aber- nal ou anal inex- o idoso seja entrevis-
ele.
ção, sem causa tamente. plicável. tado sozinho.
• Problemas médi-
relacionada à • Fuga de con- • Infecções geni- • A pessoa que cuida
cos ou de saúde
doença. tato físico, de tais recorren- do idoso responde
mental que não são
• Evidência de olhar ou verbal tes ou ferimen- de modo defensivo
tratados.
cuidados ina- com a pessoa tos em volta quando questionada;
dos seios ou da • Nível de assistên-
dequados ou que cuida do ela pode ser hostil ou
região genital. cia incompatível
padrões precá- idoso. evasiva.
com a renda e os
rios de higiene. • O idoso é • Roupas de • A pessoa que cuida
bens do idoso.
• A pessoa pro- isolado pelos baixo rasgadas do idoso tem estado
cura assistência outros. com nódoas ou cuidando dele por
médica de médi- manchadas de um longo período de
cos ou centros sangue. tempo.
médicos varia-
dos.

Fonte: Caderno de Violência contra a Pessoa Idosa. CODEPPS, São Paulo: SMS, 2007.

1.1.1 Estratégias de ação contra a violência da pessoa idosa

As estratégias para atuar na violência contra a pessoa idosa segundo


apontamentos e estudo de profissionais envolvidos no envelhecimento,
em destaque para a violência contra a pessoa idosa, juntamente com a
Secretaria de Direitos Humanos (BRASIL, 2014), elaborou as seguintes
estratégias que devem ser contempladas com relação às questões da
violência:

108 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


• Investir numa sociedade para todas as idades;

• Convenções internacionais e governos devem priorizar os direitos


das pessoas idosas;

• Contar com a pessoa idosa: respeitando a pessoa idosa sempre em


primeiro lugar, como protagonista;

• Apoiar as famílias que abrigam pessoas idosas em sua casa;

• Criar espaços sociais seguros e amigáveis fora de casa;

• Formar profissionais de saúde, assistência e cuidadores, profis-


sionais para detectar a violência contra a pessoa idosa em ILPI,
centro-dia, equipes de saúde da família;

• Prevenir dependências (comorbidades, funcionalidade).

2. Considerações finais

• A violência contra a pessoa idosa constitui um dos maiores desafios


e obstáculos para gestores, administradores e profissionais.

• Os tipos de violência contra a pessoa idosa apresentam caráter mul-


tidimensional e multifatorial quanto a sua caracterização.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

Essa disciplina abordou os aspectos do envelhecimento populacional,


a transição epidemiológica, o envelhecimento ativo e as políticas pú-
blicas para a pessoa idosa, os direitos dos idosos quanto ao estatuto
do idoso e a violência contra a pessoa idosa, o que amplia o conhe-
cimento do aluno sobre estas questões importantes relacionadas ao
envelhecimento populacional.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 109


Poder compreender e estudar os aspectos biopsicossociais do idoso,
as legislações e políticas públicas voltadas para a pessoa idosa, que
ao longo das décadas tiveram seus direitos adquiridos, contribuem
para o profissional que trabalha com o envelhecimento e, consequen-
temente, favorecem a população idosa, atendendo as suas necessi-
dades e atuando de forma adequada e qualificada.
Desta maneira, os gestores, administradores e profissionais estão
munidos e passam a ter subsídios teóricos e práticos de forma qua-
lificada e organizada para poder melhor atender a população idosa
que está crescendo mundialmente.
Na atenção básica de saúde, a educação permanente é uma das es-
tratégias utilizadas e respaldada nas diretrizes da política pública do
envelhecimento ativo e saudável dos idosos e na Política Nacional da
Pessoa Idosa.
É comum e faz parte do serviço da atenção básica ter equipes de agen-
tes de saúde da família, onde visitas periódicas são realizadas. A ava-
liação e o acompanhamento dos idosos são fundamentais para poder
caracterizar as condições de saúde e vulnerabilidade da pessoa idosa.
As comorbidades na população idosa são prevalentes, dentre elas a
hipertensão arterial e o diabetes mellitus devido a vários fatores como
alimentação inadequada, obesidade, sedentarismo, hereditariedade.
Maria Antonia é uma das agentes de saúde que visita os idosos do bair-
ro de uma cidade. Na região onde ela é responsável, a prevalência de
idosos com hipertensão arterial é acentuada. Uma das estratégias que
o serviço da atenção básica oferece na região é o atendimento ao gru-
po de idosos que são portadores de hipertensão. Nesta ocasião, são
distribuídos os remédios para o controle da hipertensão e este grupo
se reúne com a equipe de agentes de saúde: médico, enfermeiro, nu-
tricionista, assistente social, em que cada profissional, nos encontros
mensais, oferece uma palestra de prevenção da hipertensão e sobre

110 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


como ter um envelhecimento ativo e saudável, tudo com o objetivo de
realizar o acompanhamento destes idosos com hipertensão.
Maria Antonia tem como tarefa ser a intermediadora junto à equipe,
com informações das visitas domiciliares que realiza com os idosos
semanalmente. Ela informa sobre a saúde dos idosos que visitou e a
avaliação do controle da hipertensão arterial através de um relatório,
e convida os idosos a participar do grupo. Porém, como uma das es-
tratégias de acompanhamento mensal com as reuniões de grupo de
idosos hipertensos verificou pela equipe multiprofissional envolvida
uma baixa adesão da participação dos idosos no grupo. Em visita do-
miciliar dos agentes de saúde aos idosos que não participam do grupo,
observaram que estes idosos não estavam com o controle adequado
da hipertensão arterial. Na reunião da equipe multiprofissional en-
volvida no grupo discutiram e avaliaram o relatório que os agentes de
saúde elaboram como controle dos idosos atendidos, relatando onde
foi exposto esta situação de baixa adesão da participação dos idosos
no grupo e o não controle da hipertensão arterial.
Diante deste cenário, reflita sobre as seguintes questões:

• Quais devem ser os fatores da baixa adesão na participação dos


idosos no grupo de hipertensão arterial?

• A equipe multiprofissional e a agente de saúde dispõem ou ela-


boram alguma estratégia adequada para a melhor adesão dos
idosos no grupo?

• Caso Maria Antonia e os profissionais detectassem que os idosos


que participavam do grupo estão com dificuldade de locomoção
para participar, o que poderia ser realizado?

• Quais devem ser as estratégias do serviço de saúde, onde Maria


Antonia trabalha, para o acompanhamento da medicação de
controle da hipertensão distribuída durante o grupo, que é

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 111


realizado mensalmente?

• O gestor responsável pelo local de atenção básica onde Maria


Antonia reside poderia dispor de mais equipe de saúde para
poder acompanhar os idosos em suas residências, em destaque
aos idosos com mais comorbidades, que os impossibilitam de
participar do grupo de hipertensão?

A partir das questões levantadas elabore um plano de ação/resolução


para esta situação, juntamente com a equipe multiprofissional, para a
maior adesão de participantes e controle da hipertensão arterial dos
idosos atendidos.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


A violência contra a pessoa idosa é um tema que sucinta compre-
ensão de vários fatores como família, o próprio idoso, os profissio-
nais e órgãos de defesa da pessoa idosa, como o conselho do idoso,
a defensoria pública, dentre outros. Como reflexão: os profissionais
da área da saúde, de uma maneira geral, que atentem os idosos na
instituição pública, estão desempenhando o papel de denunciar os
maus-tratos e a negligência da pessoa idosa?

• As razões que estão por traz da violência contra a pessoa idosa são
superpostas e merecem uma atenção e aprofundamento sobre as
relações sociais e os aspectos de vulnerabilidade da pessoa idosa

• Na violência contra a pessoa idosa, conhecer e avaliar os sinais indica-


dores são fundamentais para caracterizar a violência. As estratégias
de ação devem ser sempre contempladas nos serviços de atendi-
mento à pessoa idosa, à família e profissionais.

112 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


Glossário

• Hematoma: é um aglomerado de sangue. Ele pode aparecer em


um órgão, nos tecidos situados em torno desses órgãos, ou dire-
tamente sob a pele. Ele se origina geralmente de uma ruptura de
um vaso sanguíneo, que despeja seu conteúdo quase ao mesmo
tempo em que a coagulação se faz.

• Violência doméstica: é caracterizada por qualquer forma de vio-


lência praticada dentro do contexto familiar, seja ela física, sexual,
psicológica, moral ou patrimonial. Qualquer comportamento que
ocasione dano ou comprometimento à integridade física e/ou à
saúde do corpo.

• Instituição de Longa Permanência (ILPI): é definida pela Agência


Nacional de Vigilância Sanitária na Resolução da Diretoria Colegiada
(RDC) nº 283 (Brasil, 2005) como - instituições governamentais ou não
governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio cole-
tivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem
suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 08
1. A violência contra a pessoa idosa pode ser considerada
como:
a) Um fator indissociável
b) Um fator multidimensional
c) Um fator genético
d) Um fator de saúde
e) Um fator de riqueza

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 113


2. A violência contra a pessoa idosa pode ser considerada de
acordo com princípios básicos com referência aos:
a) Profissionais
b) Agentes de saúde
c) Sobreviventes de enchentes
d) Direitos humanos
e) Policiais aposentados
3. A violência contra a pessoa idosa é considerada a partir
de uma visão geral de direitos adquiridos e constituídos
para sua proteção, sendo assim ela pode ser considerada
como de :
a) Retrocesso aos direitos adquiridos
b) Fácil identificação
c) Difícil identificação
d) Ordem genética
e) InstitucionalizadaVerificação de leitura

Referências bibliográficas

BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Brasil:


Manual de Enfrentamento à Violência Contra a Pessoa Idosa. É Possível
Prevenir. É Necessário Superar. Texto de Maria Cecília de Souza Minayo. Brasília,
DF: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 2014. p. 90.
ISBN: 978-85-60877-47-8. Disponível em: <www.sdh.gov.br>. Acesso em: 15 mar.2018.
JÚNIOR PAIXÃO, C.M., ROCHA, S.M. Violência Doméstica Contra Idosos. In: FREITAS,
E.V., PY, L. (Editoras); CANÇADO, F.A.X., DOOL, J., GORZONI, M.L. (Coautores). Tratado
de Geriatria e Gerontologia, 3. ed. Editora Guanabara Koogan, 2011, p. 1324-1334.
Lei n0 12.461 de 26 de julho de 2011. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia
para Assuntos Jurídicos.
MACHADO,L., QUEIROZ, Z.P.V. Negligência e Maus-Tratos em Idosos. In: Freitas,

114 Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas


EPV (coord). Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2006, p. 1152-59.
MINAYO, M.C. Violência Contra Idosos: o Avesso do Respeito à Experiência e à
Sabedoria. Cartilha da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2. ed., 2005.

Gabarito – Tema 08

Questão 01 – Resposta: B

Resolução: A violência contra a pessoa idosa é considerada como


multidimensional, abarca questões relacionadas aos direitos huma-
nos, à família, às instituições que atendem aos idosos, dentre outras.

Questão 02 – Resposta: D

Resolução: A violência contra a pessoa idosa pode ser considerada


em princípio como um atentado aos direitos humanos, nos quais
todos os cidadãos são assegurados de seus direitos desde décadas
passadas.

Questão 03 – Resposta: C

Resolução: A violência contra a pessoa idosa é de difícil reconheci-


mento por profissionais devido a fatores como o silêncio do idoso e
a negligência e violência da família.

Envelhecimento populacional: epidemiologia e políticas públicas 115


Bons estudos!

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