Português - 01
Português - 01
Português - 01
PORTUGUESA A 01
Gêneros e Tipos Textuais
A COMUNICAÇÃO HUMANA: a personagem aparece medindo a própria cabeça e não
há nenhuma indicação verbal do que ela esteja fazendo,
NOÇÕES DE LINGUAGEM a imagem é que deve abarcar todos os sentidos. No último
quadrinho, em que há presença de linguagem verbal, Mafalda
E LÍNGUA se questiona a respeito da própria capacidade de apreender
Para que possamos iniciar nossos estudos acerca do as informações que serão transmitidas a ela durante a vida.
Se esse quadrinho fosse retirado, certamente o leitor teria
texto, seus tipos e gêneros, é necessário que entendamos
dificuldade em compreender o sentido pretendido, já que o
um pouco o processo de comunicação humana e o uso das
desfecho e a crítica feita pelo quadrinista sobre o excesso e
linguagens.
a superficialidade das informações estão na fala da menina.
A linguagem que utilizamos para nos comunicar é produto Essa heterogeneidade linguística é um elemento típico dos
de uma cultura e, por isso, pode ser transmitida através das quadrinhos, das charges, dos cartuns e da publicidade de
gerações; é considerada uma “capacidade humana”, ou seja, maneira geral, como veremos nos exemplos a seguir.
Divulgação
Texto: “Agora você vê.” / “Agora não.”
Já o exemplo anterior apresenta uma campanha contra o consumo de álcool por quem dirige, patrocinada por uma marca
de automóveis. Para compreender essa propaganda, o leitor precisa mobilizar vários conhecimentos, a fim de construir o
significado pretendido. Nela, há a imagem de duas latas de cerveja, que representam os retrovisores de um carro. No primeiro
quadro, a lata / retrovisor reflete a imagem de uma bicicleta, que estaria atrás do veículo cujo retrovisor é representado.
No segundo, a lata aberta indica que o motorista consumiu a bebida contida ali. Nesse momento, a imagem da bicicleta não
aparece mais, indicando que, ao ingerir uma bebida alcoólica, os sentidos do motorista ficam comprometidos e ele passa a
não mais enxergar os veículos que transitam ao seu redor, podendo provocar, por isso, algum acidente. No plano verbal, os
dizeres “agora você vê” e “agora não” indicam essa alteração causada pela bebida. Tais inferências são acionadas rapidamente
e permitem ao leitor apreender o sentido pretendido no texto.
Quando nos comunicamos, fazemo-lo por alguma razão, com algum objetivo, porque temos algo a dizer a alguém e
esperamos ser compreendidos. Dessa maneira, para que a comunicação se efetive, é necessário que a mensagem faça
sentido, não só para quem a está produzindo, mas também para quem a está recebendo.
Essa ideia de língua como instrumento de interação social pode ser reconhecida na tirinha anterior, em que o garoto
Calvin diz para o seu pai que a língua não é fixa e qualquer palavra pode ter qualquer significado, dependendo de quem
a usa. Logo, como o pai não entenderá o significado das palavras que ele inventou, não poderão mais se comunicar.
Por outro lado, o garoto não sabe que o pai também é detentor de um conhecimento linguístico que ele não compreende
(gírias antigas, por exemplo). Isso mostra como a língua é mutável, adaptável, e como a sua apreensão é importante na
interação sociocomunicativa.
A flexibilidade da língua, que se adapta às situações comunicativas nas quais ela se realiza, relaciona-se com a função
exercida pela linguagem na construção de sentidos no mundo. No poema a seguir, de Manoel de Barros, o tema da atribuição
de sentidos pela língua é abordado de maneira poética, por meio de metáforas. Leia-o.
4 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
As coisas todas inominadas. • o interlocutor (leitor ou ouvinte), que, diante
Água não era ainda a palavra água. das pistas deixadas no texto, dos conhecimentos
Pedra não era ainda a palavra pedra. mobilizados ou adquiridos e do contexto, pode ser
E tal. capaz de construir os sentidos que concretizam
a comunicação.
As palavras eram livres de gramáticas e
KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto.
podiam ficar em qualquer posição.
7. ed. São Paulo: Cortez, 2011. [Fragmento]
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor. Diante disso, pode-se afirmar que usar a língua é uma
Podia dar ao canto formato de sol.
forma de interagir com o outro, de agir socialmente, e isso
só acontece por meio de textos.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse infância da língua.
O que é língua
CANÇÃO DO VER – In: Poesia Completa, de Manoel de Barros,
Leya, São Paulo © by herdeiros de Manoel de Barros. Nessa videoaula, vamos discutir os diferentes
SWW1
conceitos de língua.
Para exemplificarmos o que foi dito, observemos os Assim, por não ser coeso, coerente e não apresentar bom
exemplos: nível de informatividade, não haverá, também, por parte
de possíveis interlocutores, sua aceitabilidade. Contudo, se
o contexto no qual esse conjunto fosse veiculado deixasse
entrever uma intenção comunicativa (um anúncio publicitário
ou a apresentação de palavras-chave acerca de determinado
tema em um seminário, por exemplo), ele passaria a
ser considerado um texto, pois atenderia ao princípio
da intencionalidade.
Nesse caso, o texto está correto, é socialmente compreendido, Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando
mas a sua função e seu sentido na situação comunicativa são pra frente. Ou para o lado. Ou para trás. Ou não se toca.
inadequados, e a sinalização pode provocar acidentes, em Parado. Encostado. Sentado. Deitado. De cócoras. Olhando.
vez de preveni-los. Sofrendo. Amando. Calculando. Dormindo. Roncando.
Pesadelando. Fungando. Bocejando. Perregando. Adiando.
assimsessão
Morrendo.
tempo mundo
colibri que
capacidade feriado Em redor, não cessam explosões interjetivas. Coitado!
belo Tadinho... Canalha! Cachorro! Pilantra! Dedo-duro! Bandido!
chá vírgula emprego
texto
para caderno foi brasil arroz
carro jantar
Querido! Amoreco! Peste! Boneco! Flor!
porém
mulher
caderno biblioteca E vêm outras vozes breves, no vão do vaivém:
o
chocolate
hotel
lhe [...]
6 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
aquelas colocadas de forma clara e evidente na superfície essa frase fosse dita na seguinte situação:
textual – e implícitas – as que não se mostram na superfície, “– Maria, meu irmão Pedro tornou-se triste. Ele fez exame
mas que exigem do leitor manobras intelectuais para serem de direção ontem. Ele se tornou uma pessoa triste.
vistas, reveladas. Em casos como este que está a dificuldade
– Coitado, Ana, foi reprovado?
de compreensão das questões do Enem e de outros
vestibulares. Dada a dificuldade para enxergá-las, será o – Na verdade, não. Mas nem a aprovação o fez feliz;
foco desse capítulo a leitura das informações implícitas. anda triste desde que vovó faleceu.”
Ler implícitos textuais dialoga intimamente com a Percebemos que nesse diálogo há uma expectativa de
habilidade de inferir. A inferência é um mecanismo de leitura inicial que não se sustenta no fim da narrativa.
conclusão, de dedução, por meio das pistas textuais, as quais O contexto da primeira fala leva tanto nós leitores quanto
se mostram em elementos linguísticos, no contexto em que a personagem Maria a entender que Pedro teria sido
o texto foi escrito, no estilo intrínseco ao autor, no gênero reprovado; há uma forte insinuação para isso. Percebemos,
textual e na tipologia predominante, entre outros fatores. entretanto, que não há marcas linguísticas evidentes que
sinalizam a reprovação, não há pressupostos. Tanto é assim
Pressupostos e subentendidos que a expectativa é quebrada, já que na verdade a tristeza se
relaciona à perda do ente querido, e não à reprovação, a qual
A seguir são apresentados os dois mecanismos principais nem existiu, pois Pedro foi aprovado. Na última fala, porém,
de implicitação, para que sejam analisadas quais são as há um pressuposto, o de que era esperado que a aprovação
leituras impossíveis, as possíveis e as eventualmente do exame revigorasse a alegria (por meio da superação da
possíveis em um tecido textual. São dois os implícitos tristeza) no sujeito Pedro; a personagem usa a expressão
principais: o pressuposto e o subentendido. “mas nem”, instaurando esse pressuposto.
Subentendidos
Reinaldo Rocha
A imagem anterior ilustra bem a ideia de que a Uma leitura inadmissível aqui seria a que interpretasse que
comunicação acontece, frequentemente, mais por aquilo o autor do texto defende que cachorros não precisam acessar
que está implícito ou insinuado que por aquilo que está tais bens. Inadmissível porque, no texto que finaliza a
campanha – “Apadrinhe. Igual ao João, milhares de crianças
explícito ou na superfície do texto. O autor desse texto
também precisam de um melhor amigo. Seja o melhor amigo
define subjetivamente o sentimento amoroso e, por meio de uma criança.” –, o advérbio “também” deixa pressupor
do marcador de pressuposição “mesmo quando”, leva-nos que as crianças precisam desses pertences, assim como os
a inferir (pressupor, nesse caso) que irritabilidade não é, cães, ou vice-versa. Em outras palavras, o autor não quer
de fato, um estorvo à prática do amor. A locução “mesmo retirar os bens dos cães, mas mostrar que são necessários
também às crianças. O autor, ainda, ao colocar como melhor
quando” tem valor concessivo, isto é, suaviza uma
amigo qualquer cidadão (e não o cachorro, como é feito no
contradição: poderíamos esperar que, ao estarmos com senso comum), leva-nos a inferir (por subentendido) que
raiva, zangados, não nos preocuparíamos com o cuidar do possibilitar à criança o acesso a bens (inclusão social) é uma
outro; o sentimento amoroso, entretanto, anula essa ideia atitude amiga, altruísta, por isso digna.
ao sempre exigir estar atento ao outro. Disso, surge uma Muitos são os caminhos para a construção eficiente da
insinuação, um subentendido, o de que o amor é talvez um interpretação de textos. A figuratividade e a implicitação
estão nos textos independentemente do gênero. Interpretar,
sentimento mais nobre. Essa ideia está subentendida porque
obviamente, envolve muitos outros conhecimentos, como
não conseguimos atestar ter sido de fato a intenção de quem já dito. Quando falamos sobre redação, por exemplo,
elaborou o texto. Socioculturalmente, contudo, a leitura, a explanamos sobre vários conceitos, como tese, argumentos,
interpretação, é permitida. coesão, coerência, fatores de textualidade, etc., tudo de
maneira a concorrer para uma leitura eficaz de textos.
Texto II O importante é que o leitor, quando colocado sob o teste de
questões, fique atento aos aspectos linguísticos e ao recorte
sinalizado pelos enunciados. Quando nos perguntam, por
exemplo, sobre inferência, a análise será mais abrangente
do que se tivessem nos perguntando especificamente sobre
pressuposição. É importante, enfim, estar sempre lendo,
sejam jornais com sua multiplicidade de gêneros, sejam
as manifestações artísticas – cinema, literatura, música,
teatro –, tudo como forma de adquirir amplo repertório
para perceber as figuras, os temas, os pressupostos e os
subentendidos, bem como o universo interpretativo de
informações a que esses conceitos nos conduzem.
OS GÊNEROS TEXTUAIS
Conforme estudamos até agora, a língua é produto das
ações e interações sociais e históricas e materializa-se por
Divulgação
8 Coleção 6V
Veja um exemplo de duas das inúmeras instâncias sociais e Para: [email protected]; [email protected]; [email protected]
os gêneros que nelas são produzidos, que se caracterizam
principalmente por seus aspectos sociocomunicativos e Cc:
LÍNGUA PORTUGUESA
de literatura, tá?
artigo N consegui escrever grandes coisas pq esse
Instância apresentação livro é complicado demais :p
educacional resumo Mas sei q vcs vao fazer coisas lindas <3 e
redação salvar nossa apresentação q já é quinta :O
resenha, etc. n se esqueçam!!!
Bjs!
Luh
anúncios
notícias
reportagens Os dois textos representam o gênero textual digital /
Instância
propagandas virtual e-mail. O que possibilita esse reconhecimento são os
jornalística
crônicas
atributos próprios desse gênero textual e que o caracterizam:
resenha
artigos, etc. a forma composicional, ou seja, a recorrência de
estruturas semelhantes, como o endereço dos destinatários,
Como podemos perceber, existem dentro dessas instâncias o uso de vocativo e assinatura, a delimitação de um assunto.
(ou domínios discursivos) gêneros em comum, como o artigo Contudo, os textos se distanciam quanto ao estilo, que
e a resenha. Eles podem aparecer nas duas, entretanto,
é a linguagem adequada à situação de produção, que,
possivelmente vão apresentar uma ou outra característica
diferente, e já que estarão circulando em outro meio, talvez no primeiro caso, é formal, por se tratar de um contexto
tenham outro propósito comunicativo ou precisem adequar o institucional, e, no segundo, é informal e apresenta traços
estilo de linguagem ao público e à situação. Essa adaptação à da linguagem comumente utilizada na Internet, como as
situação em que são produzidos é o que faz os gêneros textuais abreviações, o uso de emoticons e a proximidade com o
serem “relativamente estáveis”. Mesmo adaptados a outras
registro oral nos usos de “tô” e do marcador “tá”. Nota-se
condições, eles ainda serão reconhecidos e aceitos como um
gênero textual determinado. Observe os dois textos a seguir: que a organização textual desempenha a função de modelar
o gênero, enquanto o contexto de produção guiará as
Texto I escolhas relacionadas à linguagem. Por exemplo, os gêneros
presentes em documentos públicos, cartoriais, de registros
enviar apagar X salvar
(como os escolares, matrículas, lista de presença, boletins
Para: [email protected]; [email protected]; e as certidões) possuem características mais controladas,
[email protected]
o que quer dizer que sofrem menos interferência de quem os
Cc: [email protected];
[email protected]
produz. Outros gêneros, por sua vez, possuem características
Assunto: Reunião de planejamento primeiro semestre 2018
mais flexíveis (principalmente as de estilo) e podem sofrer
interferências do seu autor. Alguns desses gêneros são a
Prezados analistas,
crônica, o conto, a piada, o bilhete e o próprio e-mail.
A reunião marcada para quinta-feira, dia 19/10, foi adiada para
a próxima quarta-feira, dia 25/10, pois a Coordenação estará
participando de um treinamento para gestores em São Paulo. Hibridização dos gêneros textuais
Seguem, ainda, novo local e horário: Outra propriedade dos gêneros textuais é a sua capacidade
Sala de Reuniões IV (terceiro andar) de hibridização. Como eles não são puros e sofrem influência
do contexto em que são produzidos, do sentido que querem
Das 14:00 às 16:00
provocar e do seu propósito comunicativo, podem apresentar
Atenciosamente,
uma “aparência” diferente daquela esperada. Por isso, muitas
Fabrícia Borges vezes, deparamo-nos com alguns textos com a “cara” de
Coordenadora de Marketing outros. Esse novo jeito de apresentar um gênero pode
ser relativo ao estilo, à composição ou ao suporte (lugar
MTP Tecnologias
físico – ou virtual, no caso de gêneros digitais – em que os
gêneros se encontram).
Um exemplo disso é a “Carta-Poema”, de Manuel Bandeira, Entretanto, não é só na Literatura que encontramos essa
em que o poeta, contrariando a composição do gênero subversão tipológica. Nos gêneros do nosso cotidiano,
adequado ao seu propósito (uma carta, uma solicitação), também ocorre essa constituição híbrida com a intenção de
escreve um poema ao prefeito pedindo vistoria e limpeza provocar efeitos de humor, de surpresa, de criatividade, ou,
ainda, para chamar a atenção do leitor, como no exemplo
do pátio do apartamento em que mora. Observem a escolha
a seguir.
das palavras para conseguir desenvolver a temática no estilo
formal e respeitoso exigido pela situação comunicativa com
o interlocutor em questão.
Carta-Poema
Excelentíssimo Prefeito
Um poeta já sexagenário,
Divulgação
A este pátio para onde dá
Esse texto é uma campanha contra a dengue que foi
O apartamento que ele habita redigida em forma de carta, tendo como remetente o
No Castelo há dois anos já. Governo Federal e, como destinatários, prefeitos de cidades
brasileiras. Ela apresenta uma linguagem clara e objetiva,
[...] como se fosse dirigida a um gestor em especial. Da metade
do texto em diante, o tom é mais imperativo, indicando o que
deve ser feito e de que forma. Essa campanha é uma maneira
Excelentíssimo Prefeito de chamar a atenção da população para o fato de que o
controle da doença é fator social, de responsabilidade de
Hildebrando Araújo de Góis
cada munícipio, e, ainda, de induzir os cidadãos a cobrarem
A quem humilde rendo preito, da prefeitura ações efetivas.
10 Coleção 6V
Tipo narrativo
Esse tipo de texto tem como característica as sequências
que indicam ações e eventos presentes, passados e futuros,
privilegiando os verbos no pretérito perfeito e imperfeito
do indicativo, que relatam fatos concretizados, o uso de
expressões que apresentem decorrência de tempo (o antes,
o durante e o depois), assim como a localização dos espaços
e ambientes, a referência aos seres (personagens concretos
ou abstratos) e a presença de um sujeito do enunciado
LÍNGUA pORTUGUESA
(narrador).
Conto de Natal
Arquivo Bernoulli. Foto: Istockphoto
Meu primo Santiago (filho dos meus primos) tem três anos Exemplo 2:
de idade. Perguntaram o que é que ele ia pedir ao Papai Noel.
Ele disse que não queria nada. Explicaram que o Papai Noel Estágio em Marketing Digital
podia conseguir qualquer coisa que ele quisesse. Era só pedir. Descrição: Estagiário ficará responsável pela
Seus olhos brilharam, fascinados com tanto poder. E disse: curadoria de conteúdo das redes sociais de uma
“Então pede pra ele um empadão”. empresa de automóveis. Desejamos alguém com
E de repente o Natal voltou a fazer sentido. E meu avô, familiaridade no uso da Internet e das redes sociais
depois de 20 anos de férias, vai voltar a desempenhar seu Twitter, Facebook e Instagram, espírito criativo e boa
papel. Acho que meu ceticismo não resiste a uma aparição escrita para criação de textos também para o blog
na carroça, trazendo um empadão. da empresa. Desejável conhecimento dos programas
DUVIVIER, Gregório. Conto de Natal. Folha de S.Paulo.
Photoshop e Illustrator, além do Pacote Office. Boa
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ comunicação, agilidade no cumprimento de prazos e
gregorioduvivier/2013/12/1389265-conto-de-natal.shtml>. metas, organização e autogerenciamento. Desejável
Acesso em: 10 out. 2017. conhecimento em inglês.
A crônica “Conto de Natal” é uma narrativa que tem como Requisitos: Estar cursando entre o 2º e o 6º
situação inicial (em azul) um período da infância do narrador, período dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo
em que ele ainda acredita em Papai Noel e, nos Natais em ou Publicidade e Propaganda. Disponibilidade para
família, assistia empolgado ao avô que se fantasiava da trabalhar das 13:00 às 17:00.
personagem, sem que, no entanto, ele soubesse da farsa.
A complicação (em vermelho) apresenta o fato que perturba Salário: R$ 800,00 (+ vale transporte)
o equilíbrio inicial: o narrador se dá conta de que era o
avô que se vestia de Papai Noel, e que essa personagem, Os textos anteriores são característicos do tipo
realmente, não existia, fato que todos sabiam, exceto ele. descritivo por trazerem um ente descrito (um local,
A sequência do clímax (em laranja) apresenta os fatos biblioteca Clarice Lispector; e uma pessoa, Estagiário
decorrentes da complicação: o narrador passa mal com a ceia em Marketing Digital) e as características e propriedades
devido à decepção, além de questionar a própria inteligência, desse ente referencial. No exemplo 1, são descritas
uma vez que sua irmã mais nova já não acreditava em Papai as características físicas da biblioteca apresentada
Noel. A resolução (em verde) diz respeito à solução do
(feita de concreto, com portas amarelas e azuis, meia
conflito, quando o narrador se torna um indivíduo cético, que
dúzia de mesas redondas), a sua localização (bairro
duvida de todas as coisas. Por fim, a situação final (em roxo):
a suspensão da descrença ao ver o primo de três anos pedir da Lapa, em São Paulo) e o perfil dos visitantes do
ao Papai Noel um empadão. local (principalmente pessoas idosas). No exemplo 2,
por sua vez, são apresentadas as características
esperadas de um futuro estagiário de uma empresa de
Tipo descritivo automóveis (familiaridade com a Internet e as redes
O texto descritivo é a apresentação das características sociais, espírito criativo, boa escrita, conhecimento de
de um lugar, uma pessoa (suas características físicas e programas específicos da área, agilidade, organização,
psicológicas), uma situação ou um objeto, em que não há autogerenciamento e conhecimento de inglês); além
uma progressão temporal. As referências são estáticas e disso, a própria vaga oferecida é descrita (horário de
os verbos normalmente estão no presente ou no pretérito
trabalho, salário e benefícios, função principal – curadoria
imperfeito do indicativo. Leia os exemplos a seguir, tentando
reconhecer neles os elementos da tipologia descritiva. de conteúdo). Percebe-se que não há, nos textos,
nenhuma relação temporal, e, se há, ela está em uma
Exemplo 1: sequência narrativa, como no último período do exemplo 1.
Às vezes, essa tipologia pode apresentar também
Clarice Lispector em 2017: o segredo mais
popular da literatura brasileira uma sequência relacional, em que se compara o ente
referencial com o outro.
A biblioteca Clarice Lispector, em São Paulo, é um edifício
público de concreto localizado na Lapa, um bairro de classe Em textos literários, a descrição é comumente utilizada
média relativamente próximo ao centro da cidade. Tem para a contextualização do enredo da obra, os lugares
portas amarelas e azuis por fora; por dentro, principalmente e as personagens que o compõem, além de contribuir
pessoas idosas sentadas em meia dúzia de mesas redondas.
para a construção de sentidos na medida em que deixa
Quase todo mundo sabe que a tal Lispector que dá o nome ao
prédio era alguém importante, embora nem todos consigam transparecer questões psicológicas e sociais abordadas
identificá-la como a escritora brasileira mais traduzida e pelo autor. No exemplo a seguir, retirado do romance
aclamada em décadas. O cortiço, de Aluísio Azevedo, é possível, ainda, por meio
AVENDAÑO, Tom C. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/
da descrição do amanhecer no cortiço, principal cenário
brasil/2017/09/20/cultura/1505923237_969591.html>. da obra, reconhecer características do estilo e da época
Acesso em: 28 set. 2017. [Fragmento] a que se veicula o texto. Leia-o.
12 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros,
umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão
ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da
lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam
uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de
espumas secas.
Divulgação
e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se
ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
O texto anterior faz parte de uma campanha educativa
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf>. do governo para conscientizar a população acerca do uso
Acesso em: 06 out. 2017. de bebida alcoólica por quem dirige. O próprio título do
anúncio já sugere o tipo textual, “Manual do Pegador”, que,
No fragmento, a descrição do amanhecer é feita a partir da com verbos no imperativo, ensina como “pegar”. O texto
brinca com o uso da gíria e a polissemia do verbo, que, no
personificação do cortiço e dos elementos que o compõem.
sentido conotativo, quer dizer “ficar”, “paquerar”, mas que,
São utilizados, principalmente, verbos no pretérito, os quais,
nesse contexto, refere-se às alternativas de transporte para
apesar de indicarem o tempo da narrativa, desenham para
alguém que decidiu beber, mas não deve dirigir.
o leitor cenas e situações. As características dos elementos
que formam o acordar do cortiço apontam, ainda, para as
características do estilo de época denominado Naturalismo, Tipo dissertativo / expositivo
que tinha como objetivo a reflexão acerca da vida em O tipo dissertativo / expositivo é de natureza temática.
sociedade e da constituição do ser humano. Nesse sentido, os Ele explica, analisa, classifica, avalia determinado tema
autores desse período disseminavam a ideia de determinismo, ou assunto, fazendo referência ao mundo por meio de
isto é, as características e o caráter dos indivíduos eram considerações amplas, exemplos comuns, muitas vezes
determinados pelo ambiente no qual eles estavam inseridos. separados do tempo e do espaço. Embora apareçam nele
No fragmento lido, esses aspectos são identificáveis nas mudanças de situação, não são importantes as relações de
descrições, por exemplo, do sabão com que eram lavadas as posterioridade e anterioridade entre os enunciados, mas
roupas, das pedras de “uma palidez grisalha e triste” e dos as relações lógicas estabelecidas entre eles: causalidade,
louros que, como os donos, se cumprimentavam, exemplo da pertinência, finalidade, etc. Assim, a progressão dos
zoomorfização do ser humano, recurso bastante utilizado pelos enunciados obedece a uma relação lógica, e não cronológica
autores naturalistas. (como é o caso dos textos narrativos). Por isso, quando
há a presença de sequências narrativas ou descritivas em
um texto dissertativo, elas ocorrem apenas para ilustrar
Tipo injuntivo afirmações gerais ou para esclarecê-las, explicá-las.
No tipo injuntivo, prevalecem as formas verbais O objetivo desse tipo textual é expor definições,
imperativas, que estão presentes nos gêneros instrucionais, ideias e conceitos, fazer com que o leitor / ouvinte tome
ou seja, aqueles que indicam como executar uma ação ou conhecimento de informações ou interpretações dos
seguir determinada norma ou programa. Observe o exemplo. fatos, sem necessidade de um forte convencimento.
O poder da literatura
14 Coleção 6V
De outro lado, a universidade – em uma direção oposta, Se deseja correr riscos e perder-se um pouco no instável e
mas igualmente improdutiva – transforma a literatura no precário, leia. Se você acha a vida insuficiente e deseja
em uma “especialidade”, destinada apenas ao gozo dos o inesperado, leia. Este é o pequeno, mas também precioso,
pesquisadores e dos doutores. Vou dizer com todas as letras: poder da literatura.
são duas formas de matá-la. A primeira, por banalização. CASTELLO, José. O poder da literatura. Disponível em:
A segunda, por um esfriamento que a asfixia. Nos dois casos, <http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-
a literatura perde sua potência. Tanto quando é vista como da-literatura-444909.html>. Acesso em: 13 ago. 2017.
“distração”, quanto quando é vista como “objeto de estudos”,
a literatura perde o principal: seu poder de interrogar, Nos primeiros parágrafos (em azul), o autor transgride
interferir e desestabilizar a existência. a forma do seu texto, trazendo como estratégia
argumentativa a apresentação da tese (em negrito) que
Contudo, desde os gregos, a literatura conserva um poder
LÍNGUA PORTUGUESA
aponta para a inutilidade da literatura em um mundo
que não é de mais ninguém. Ela lança o sujeito de volta
interativo e virtual, cercado pelo movimento. Assim,
para dentro de si e o leva a encarar o horror, as crueldades,
ele prende a atenção do leitor, que espera encontrar a
a imensa instabilidade e o igualmente imenso vazio que
justificativa – ou uma nova argumentação – que sustente
carregamos em nosso espírito. Somos seres “normais”, como
a tese apresentada.
nos orgulhamos de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias
e padrões. Emprestamos um grande valor à repetição e ao No terceiro parágrafo (em vermelho), o autor começa
Mesmo. Acreditamos que somos donos de nós mesmos! a apresentar o real motivo da negação da utilidade da
literatura. Ele inicia sua contra-argumentação declarando
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa, leia Clarice –
que “a literatura não serve para nada – é o que se pensa”,
e você verá que rombo se abre em seu espírito. Verá o quanto
já deixando clara a intenção de mostrar que essa não é
tudo isso é mentiroso. Vivemos imersos em um grande
uma verdade. Em seguida, afirma que a indústria editorial
mar que chamamos de realidade, mas que – a literatura
e a universidade estão matando a literatura, mas que ela
desmascara isso – não passa de ilusão. A “realidade” é
conserva um poder que é só dela: o de lançar o leitor ao
apenas um pacto que fazemos entre nós para suportar o
seu próprio interior. Trata-se do primeiro argumento a
“real”. A realidade é norma, é contrato, é repetição, ela é o
favor (em negrito) do “poder da literatura”, que parte de
conhecido e o previsível. O real, ao contrário, é instabilidade,
surpresa, desassossego. O real é o estranho. uma oposição: o esvaziamento de sentido dado à literatura
pelo mercado editorial e pelo meio acadêmico frente à
É nas frestas do real, como uma erva daninha, que a literatura sua capacidade de expor o sujeito a vários níveis de si
nasce. A literatura não é um divertimento; tampouco é um mesmo e do mundo.
saber especializado. Ela é um instrumento, precário e sutil, de
interrogar a vida. Desloca nossas certezas, transformando-as Continuando o desenvolvimento do texto (em laranja),
em incertezas. Em vez de nos oferecer respostas, nos e como prova para a argumentação do parágrafo anterior,
faz novas perguntas – desagradáveis e perturbadoras. o autor sugere que se faça uma leitura dos grandes
Leia Crime e castigo, O castelo, o Livro do desassossego, clássicos, pois eles são capazes de uma mostrar que
ou A paixão segundo GH. Se você ler para valer, se neles o real é a instabilidade, a surpresa, que abre nossos
mergulhar como quem se lança em um abismo, e a literatura olhos para um mundo sem uma ilusão ou uma realidade
é um abismo, sairá da leitura transformado e atordoado, confortavelmente construída. Ao mencionar grandes
sairá um outro homem, ainda que no corpo do mesmo nomes da literatura, o articulista também imprime força
homem. e credibilidade à sua argumentação, uma vez que esses
autores são reconhecidamente importantes.
A literatura é, antes de tudo, uma máquina de
transformação. Se você não deseja se modificar; se não Por fim, para o convencimento acerca do poder da
pretende correr riscos; se teme as perguntas que não leitura, o articulista, nos dois últimos parágrafos (em
comportam respostas – então, eu aconselho, afaste-se da verde), conclui o seu texto dizendo que a literatura não
literatura. A literatura é, sim, perigosa, porque tem o poder é só para os “letrados”, mas para todos, principalmente
de nos desestabilizar e desassossegar. Se você aprecia sua para os corajosos (em negrito). O texto inteiro é marcado
vida banal e rotineira, fuja! Ao contrário, se você sente um por adjetivos e figuras de linguagem que enriquecem as
grande incômodo com o mundo, se você se incomoda com marcas argumentativas. Ao construir sua argumentação,
o tédio das imagens e da repetição, se você deseja se realizando um movimento contrário ao comumente
modificar e modificar o pequeno mundo que o cerca, feito em textos de opinião – apresentando, primeiro, os
então leia. “defeitos” da literatura, para depois apontá-los como
qualidades –, o autor apresenta um texto que se destaca
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos exércitos pela criatividade argumentativa, com forte marca de
e das grandes redes de informação. Seu poder é limitado: autoria, uma vez que foge do comum.
é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não para fora, ela
se infiltra, como um veneno, nas pequenas frestas de
seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da leitura, que
escândalos, que estragos, mas também que descobertas e
que surpresas ela pode deflagrar!
Tipos e gêneros textuais
Não é preciso ser um especialista para ler uma ficção.
Não é preciso ostentar títulos, apresentar currículos, ou Você sabe diferenciar tipo textual e gênero textual? Essa é
credenciais. A literatura é para todos. Dizendo melhor: uma questão que deixa muitos alunos confusos.
é para os corajosos ou, pelo menos, para aqueles que A videoaula ao lado trabalha ambos os conceitos e BJA3
ainda valorizam a coragem. Se você deseja sair de si e a relação entre eles, mostrando vários exemplos.
experimentar novas possibilidades do existir, então leia.
Ingredientes e procedimentos adequados são fundamentais A partir dessa coletânea, elabore um texto narrativo
para o sucesso de uma receita culinária, universo a que ou um texto dissertativo-argumentativo explorando o
estão relacionados os textos I e II. seguinte tema: O jeitinho brasileiro é uma forma de
A) Quanto ao modo de olhar as receitas culinárias, o que resiliência ou falta de honestidade?
distingue a gastronomia molecular da gastronomia
Orientações
tradicional?
Narração – explore adequadamente os elementos desse
B) Elabore o Modo de fazer do molho maionese,
gênero: fato(s), personagem(ns), tempo e lugar.
considerando a lista de ingredientes do texto II e o
trecho instrucional na fala de Hervé This, no texto I. Dissertação – selecione, organize e relacione os argumentos,
fatos e opiniões para sustentar suas ideias e pontos de vista.
02. (Fatec-SP–2018) Ao elaborar seu texto:
• Atribua um título para sua redação.
Texto I
• Não o redija em versos.
Inicialmente, nos anos 1960 e 1970, a resiliência
• Organize-o em parágrafos.
esteve associada à definição dada pela Física. No final dos
anos 1980, vemos que o termo já estava se ampliando • Empregue apenas a norma-padrão da Língua
[...] e passava a se apresentar como a capacidade de Portuguesa.
ser flexível diante da adversidade. Nas últimas décadas, • Não copie os textos apresentados na coletânea e na
resiliência vem sendo apresentada como uma capacidade prova.
de ser flexível ao atribuir novos significados aos fatos e • Utilize apenas caneta de tinta azul ou preta para
que pode ser desenvolvida em todo ser humano. elaborar a versão definitiva.
Disponível em: <https://tinyurl.com/y8gkfxqe>. • Faça um rascunho antes de passar para a Folha de
Acesso em: 09 mar. 2018 (Adaptação). Redação.
16 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
Acesso em: 30 jun. 2011 (Adaptação).
Uma boa tentativa é o recém-lançado livro do escritor
e jornalista Dan Gardner. As passagens mais divertidas 1
american way: estilo americano de vida
do livro são sem dúvida aquelas em que o autor mostra, 2
auspícios: prenúncios, presságios
com exemplos e pesquisas científicas, quão precária é a
previsão econômica e política.
Num célebre discurso de 1977, por exemplo, o Texto II
então presidente dos EUA, Jimmy Carter, ancorado nos
conselhos dos principais experts do planeta, conclamou Há uma diferença entre esses movimentos de jovens
os americanos a reduzir drasticamente a dependência educados nos países do Ocidente, onde, em geral, toda
de petróleo de sua economia, porque os preços do a juventude é fenômeno de minoria, e movimentos
hidrocarboneto subiriam e jamais voltariam a cair, similares de jovens em países islâmicos e em outros
o que inevitavelmente destruiria o “american way”¹. lugares, nos quais a maioria da população tem entre
Oito anos depois, as cotações do óleo despencaram e 25 e 30 anos. Nestes países, portanto, muito mais
permaneceram baixas pelas duas décadas seguintes. do que na Europa, os movimentos de jovens são
Alguém pode alegar que Gardner escolhe de propósito politicamente muito mais massivos e podem ter maior
alguns exercícios de futurologia que deram errado apenas impacto político. O impacto adicional na radicalização
para ridicularizar a categoria toda. Para refutar essa objeção, dos movimentos de juventude acontece porque os
vamos conferir algumas abordagens do problema. Em 1984, jovens hoje, em período de crise econômica, são
uma revista britânica pediu a 16 pessoas que fizessem desproporcionalmente afetados pelo desemprego e,
previsões sobre taxas de crescimento, câmbio, inflação e portanto, estão desproporcionalmente insatisfeitos.
outros dados econômicos. Quatro dos entrevistados eram Mas não se pode adivinhar que rumos tomarão esses
ex-ministros de finanças; quatro eram presidentes de movimentos. Mas eles só, eles pelos seus próprios
empresas multinacionais; quatro, estudantes de economia meios, não são capazes de definir o formato da política
de Oxford; e quatro, lixeiros de Londres. Uma década nacional e todo o futuro. De qualquer modo, devo dizer
depois, as predições foram contrastadas com a realidade e que está a fazer-me perguntas enquanto historiador,
classificadas pelos níveis de acerto. Os lixeiros terminaram mas sobre o futuro. Infelizmente, os historiadores
empatados com os presidentes de corporações em primeiro
sabem tanto sobre o futuro quanto qualquer outra
lugar. Em último, ficaram os ministros – o que ajuda a
pessoa. Por isso, as minhas previsões não são fundadas
explicar uma ou outra coisinha sobre governos.
em nenhuma especial vocação que eu tenha para prever
A razão para tantas dificuldades em adivinhar o o futuro.
futuro é de ordem física. Nós nos habituamos a ver a
HOBSBAWN, Eric.
ciência prevendo com enorme precisão fenômenos como
Disponível em: <http://historica.me>
eclipses e marés. Só que esses são sistemas lineares ou, (Adaptação).
pelo menos, sistemas em que dinâmicas impostas pelo
caos podem ser desprezadas. E, embora um bom número A fala do historiador Eric Hobsbawn também apresenta
de fenômenos naturais seja linear, existem muitos que uma reflexão sobre o futuro e suas possibilidades,
não o são. Quando o homem faz parte da equação, relacionando o tema à ação da juventude, tradicionalmente
pode-se esquecer da linearidade. Nossos cérebros considerada o futuro próximo das sociedades.
também trazem de fábrica alguns vieses que tornam A partir da leitura dos textos e de suas elaborações
nossa espécie presa fácil para adivinhos. Procuramos tão pessoais sobre o tema, redija um texto argumentativo
avidamente por padrões que os encontramos até mesmo em prosa, com no mínimo 20 e no máximo 30 linhas,
onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias,
em que discuta a seguinte questão:
além de um desejo irrefreável de estar no controle. Assim,
É possível, para a juventude de hoje,
alguém que ofereça numa narrativa simples e envolvente
alterar o futuro?
a previsão do futuro pode vendê-la facilmente a incautos.
Não é por outra razão que oráculos, profecias e augúrios Utilize o registro padrão da língua e atribua um título
estão presentes em quase todas as religiões. ao seu texto.
18 Coleção 6V
a calça é que era como a de todos na cidade – de brim, Instrução: Leia o texto a seguir para responder às questões
a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento – de 04 a 07.
então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito
Cinema
bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver:
Entre os meios de comunicação que padronizam o
O passo vagaroso de quem não tem pressa – o mundo
podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos comportamento de milhões, e são por isso chamados de
lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja massa, o cinema é o mais antigo, entre nós. A imprensa
cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que o antecedeu, certamente, mas o problema cronológico
por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas 5 não é o essencial no caso. Exigindo a alfabetização,
vezes só para vê-lo passar. a imprensa, ainda que exercendo enorme influência,
LÍNGUA PORTUGUESA
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, não teve, particularmente no passado, característica
descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. de meio de comunicação de massa. A antecedência do
Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: cinema, assim, parece ser indiscutível. E cinema pode
não era, dava sempre a impressão de uma grande e 10 ser apresentado, e deve, sob o aspecto cultural e sob
ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem o aspecto econômico, material. Nos dois, fomos, por
as trazia abertas, esticava-as feito medisse os passos, longos decênios, aqui, protagonistas de papel passivo:
quebrando os joelhos em reto. consumimos influências culturais estranhas, sofremos
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra de sua penetração e domínio, ao mesmo passo que
Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado 15 constituímos mercado consumidor de proporções
e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que crescentes para a produção estrangeira de filmes. [...]
enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros antigos,
Há que pensar, também, na deformação cultural: há
fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam
mais de meio século, o cinema norte-americano trabalha o
para a guerra armados cavaleiros.
espírito de massas brasileiras apresentando o seu way of
Ópera dos mortos. 1970.
20 life, isto é, o cowboy, o gangster, a violência desenfreada,
e as suas glórias, os seus mitos, os seus heróis – a sua
01. (Unesp–2015) No primeiro parágrafo, com a frase “então cultura, em suma. Que isso tenha sido assim, e continue
LAER
era parelho mesmo, por igual”, o narrador faz referência a ser assim, constitui, por si só, anomalia indiscutível,
ao fato de o coronel das mais graves e profundas a que foi já submetida
A) vestir em certos eventos sociais a calça também de 25 a cultura, em qualquer época, em qualquer país; mas
casimira. que, além disso, essa gigantesca deformação tenha
B) ser par para qualquer desafio que lhe fizessem. sido financiada pelas próprias vítimas – como se aos
C) usar também em certas ocasiões o jaquetão de brim. condenados coubesse pagar o serviço dos carrascos –
D) usar roupas iguais às de todos na cidade. constitui um dos problemas da singular época histórica em
E) demonstrar sua humildade por meio das roupas. 30 que vivemos. A deformação se apresenta com dimensões
tão extraordinárias e com duração tão longa que chegou
02. (Unesp–2015) No terceiro parágrafo, a comparação do ao cúmulo de ganhar foros de naturalidade, como se o
T68X
coronel com uma ave pernalta representa contrário é que fosse absurdo.
A) um recurso expressivo para ilustrar sua aparência e Por longos e longos decênios, foram familiares aos
sua presença física. 35 brasileiros padrões de comportamento inteiramente
B) uma figura de retórica sem grande significado diversos dos aqui vigentes, e hábitos, e normas,
descritivo. e regras. Por longos e longos decênios, nossas crianças
C) uma imagem visual de seu temperamento amável, adoraram heróis estrangeiros, sentiram-se fascinadas
mas perigoso. por seus feitos, incorporaram impressões e sentimentos
D) uma imagem que busca representar sua impressionante 40 deles derivados à sua cultura. Por longos e longos
beleza. decênios, as massas brasileiras aprenderam histórias
E) um modo de chamar atenção para o ambiente rústico norte-americanas, cultuando feitos norte-americanos,
em que vivia. adotando posições norte-americanas. E, por tudo isso, há
longos e longos decênios, vêm pagando, e pagando caro
03. (Unesp–2015) Em seu conjunto, a descrição do coronel
45 [...]. Nossos jovens assimilam padrões culturais de uma
sugere uma figura que
civilização em crise, angustiada entre o sexo e a violência.
A) exibe um temperamento tímido e fechado.
Esse tem sido o papel de descaracterização cultural que o
B) manifesta desprezo por tudo à sua volta. cinema norte-americano vem desenvolvendo, há mais de
C) demonstra humildade em tudo o que fazia. meio século, no Brasil. Não há talvez, em toda a história,
D) revela nos gestos e comportamento segurança 50 exemplo tão gigantesco de alienação cultural.
e poder. SODRÉ, Nélson Werneck. Síntese de História da Cultura
E) inspira certo receio aos habitantes da cidade. Brasileira. 15. ed. 1988. p. 79-80; 91-92 (Adaptação).
20 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
conotar intimidade com o destinatário. PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.
recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, comuns. Entretanto, como fonte dessa vitamina,
mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. certos alimentos são melhores do que outros. Alguns
possuem uma quantidade significativa de vitamina D,
MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas.
naturalmente, e são alimentos que talvez você não queira
São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
exagerar: manteiga, nata, gema de ovo e fígado.
Predomina nesse texto a função da linguagem que se
Disponível em: <http://saude.hsw.uol.com.br>.
constitui
Acesso em: 31 jul. 2012.
A) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
B) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. Texto II
C) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. Todos nós sabemos que a vitamina D (colecalciferol)
D) no papel da vida do cronista no processo de escrita da é crucial para sua saúde. Mas a vitamina D é realmente
crônica. uma vitamina? Está presente nas comidas que os
E) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio humanos normalmente consomem? Embora exista em
de uma crônica. algum percentual na gordura do peixe, a vitamina D
não está em nossas dietas, a não ser que os humanos
04. (Enem) artificialmente incrementem um produto alimentar, como
o leite enriquecido com vitamina D. A natureza planejou
A diva
que você a produzisse em sua pele, e não a colocasse
Vamos ao teatro, Maria José? direto em sua boca.
Quem me dera, Então, seria a vitamina D realmente uma vitamina?
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, Disponível em: <www.umaoutravisao.com.br>.
tou podre. Outro dia a gente vamos. Acesso em: 31 jul. 2012.
22 Coleção 6V
Texto III
História em chamas
Jorge Andrade / Creative Commons; Dornicke / Creative Commons; Dornicke / Creative Commons; JorgeBRAZIL / Creative Commons. Arte: Rodrigo Almeida
Foto: Baspereira / Creative Commons; Dornicke / Creative Commons; Dornicke / Creative Commons; Ana Nascimento/ABr / Domínio Público;
LÍNGUA PORTUGUESA
PALEONTOLOGIA LUZIA ARTEFATOS ACERVO
Mais de 56 mil Fóssil mais antigo Grande coleção de Grande acervo
exemplares e do continente ameríndios e africanos bibliográfico e documental
18,9 mil registros
400
98
200
0
2013 2014 2015 2016 2017 2018
(até agosto)
Fonte: Conof
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto
dissertativo-argumentativo em norma-padrão da Língua Portuguesa sobre o tema: A importância da conservação do
passado para o futuro do país. Apresente proposta de ação social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
• A) A gastronomia tradicional cria e executa receitas culinárias seguindo procedimentos que se repetem ao longo do tempo, e a
molecular cria e testa receitas com base em critérios científicos.
• B) Bata no liquidificador as gemas de ovo. Em seguida, junte a mostarda, o suco de limão e o vinagre. Continue batendo e
acrescente o azeite em fio até que a mistura esteja com a consistência desejada. Adicione o sal.
• 02. Essa proposta apresenta uma temática objetiva a ser desenvolvida: “O jeitinho brasileiro é uma forma de resiliência ou falta
de honestidade?”. Independentemente da escolha do tipo textual (narrativo ou dissertativo-argumentativo), é preciso refletir
sobre esse “jeitinho brasileiro”, definindo-o e respondendo à questão proposta. Na narrativa, deve-se, por exemplo, compor
uma personagem e situá-la dentro de um contexto que esteja de acordo com o tema. Na dissertação, por sua vez, deve-se,
por exemplo, expor fatos e argumentar com consistência. Embora a proposta peça a escolha de uma das duas formas de escrita,
é interessante desenvolver ambas não somente para apreender bem as características delas, mas também para observar as
adequações de linguagem necessárias a cada tipologia. Vale lembrar que o texto deve ser organizado de modo coeso, coerente e
adequado à norma-padrão da Língua Portuguesa.
• 03. Para atender a essa proposta de redação, deve-se central que o homem ocupava e abrindo mais espaço
refletir sobre o potencial dos jovens contemporâneos para o diálogo entre seus componentes. Desse modo,
de alterar o futuro. Deve-se, assim, posicionar-se é possível relacionar essa mudança com o contexto
em relação a esse potencial e expor sua opinião em
social, uma vez que ela é, simultaneamente, fruto
uma tese clara, bem como apresentar argumentos
de outras modificações sociais, como a emancipação
consistentes que a sustentem. Caso se acredite que
feminina, e impulsionadora de novas mudanças, como
a juventude de hoje é capaz de alterar o futuro,
pode-se utilizar a estratégia da exemplificação para o número cada vez maior de filhos em idade adulta
sustentar sua opinião. É possível citar, por exemplo, que não abandonam a casa dos pais. Essas são apenas
alguns movimentos recentemente ocorridos no mundo algumas sugestões de abordagem, de modo que se
islâmico contra regimes totalitários, como a oposição pode apresentar outra concepção sobre a família, bem
popular aos ditadores do Egito, da Líbia e da Síria como desenvolver outros aspectos relacionados a esse
– e, nesse caso, como o texto motivador informa
assunto, desde que sejam coerentes com a realidade.
que as populações de países árabes é composta,
O texto composto deve ser bem organizado, coeso e
em sua maioria, por jovens, pode-se inferir que tais
movimentos foram feitos principalmente por jovens. redigido de acordo com as regras da norma-padrão da
É possível, também, fazer referências históricas que Língua Portuguesa.
corroborem a ideia de que a juventude pode alterar o
futuro, citando, por exemplo, o movimento das Diretas propostos Acertei ______ Errei ______
Já!, ocorrido no início da década de 1980 no Brasil,
o qual foi essencial para a restauração da democracia
no país. Se optar-se por defender a ideia de que a
• 01. A
•
Vale observar que, independentemente do ponto de
02. E
vista e dos argumentos que escolher, deve-se compor
•
um texto coeso e coerente e redigi-lo em linguagem
03. E
padrão.
24 Coleção 6V
PORTUGUESA A 02
O Texto Dissertativo-argumentativo
Textos de natureza dissertativo-argumentativa são muito
comuns no cotidiano. As reportagens, escritas ou faladas,
COMPOSIÇÃO do texto
os artigos publicados em jornais e revistas, os editoriais,
algumas cartas, como a argumentativa e a do leitor,
dissertativo-
são gêneros cujas características discursivas e formais
predominantes coincidem com as do tipo dissertativo-
-argumentativo
-argumentativo. A produção desse tipo de texto é, também, Como dito anteriormente, considera-se que um texto é
a mais comumente solicitada na escola e nas provas para dissertativo-argumentativo quando apresenta, de maneira
ingresso em instituições de nível superior de todo o país. lógica, um tema e as ideias e opiniões acerca desse tema,
Algumas vezes, solicita-se que se produza um gênero com vistas a modificar uma crença (visão de mundo) ou um
específico; outras, apenas um texto de opinião sobre certo comportamento.
tema. O Enem, por sua vez, solicita a produção de um texto
Essa tipologia apresenta a seguinte sequência, já esperada
dissertativo-argumentativo em sua proposta de redação.
pelo leitor, que facilita a compreensão das ideias a serem
Quando se estudam tipos e gêneros textuais, o tipo discutidas:
dissertativo é, às vezes, apresentado separadamente do
• Introdução – momento em que o tema a ser
tipo argumentativo. Teoricamente, o que os diferencia
discutido é proposto e a tese é contextualizada.
é o fato de este ser opinativo, e aquele, expositivo.
Na prática, entretanto, os tipos textuais não se manifestam • Desenvolvimento – parte em que há uma
isoladamente. Um gênero textual, como um artigo de problematização das ideias referentes ao tema,
opinião, mistura características desses dois tipos textuais com a abordagem dos pontos de vista e dos
e, muitas vezes, até de outros. Sendo assim, sua estrutura questionamentos, na tentativa de esclarecer e afirmar
pode ter variações. Neste módulo, você vai aprender um a proposição ou tese.
pouco mais detalhadamente os modos de estruturar textos • Conclusão – reafirmação das ideias debatidas e, em
dissertativo-argumentativos. casos de vestibulares, sugestão de uma intervenção
Produzir um bom texto dessa natureza requer algum para o problema, nova proposição a ser refletida.
trabalho. Por se tratar de um discurso que opera com Para construir essa estrutura, é necessário selecionar as
ideias abstratas, conceitos, convenções, ele exige que seu informações a serem utilizadas, a fim de provar e sustentar
produtor tenha a capacidade de analisar o tema, de formar os argumentos do que se defende, pois elas é que serão
uma opinião, de selecionar argumentos que sustentem a base dessa fundamentação. Além disso, para qualquer
essa opinião e de apresentar tudo isso organizadamente. texto opinativo, não só é importante a escolha cuidadosa
A leitura desse todo organizado deve possibilitar ao leitor das informações, como também é preciso relacioná-las
compreender o raciocínio proposto pelo autor. e organizá-las para que possam conduzir e fortalecer a
argumentação textual.
Desse modo, é muito difícil que alguém seja capaz de
compor um bom texto dessa natureza sem antes planejar o Observe, a seguir, como o autor desenvolveu seu texto,
que vai escrever. Pode-se dizer que a redação propriamente cujo tema era “Caminhos para combater a intolerância
dita é apenas a última etapa – e nem por isso menos religiosa no Brasil”.
importante – de um processo que se inicia, em casos de
Entender para combater a intolerância
vestibulares, com a leitura do enunciado da proposta. religiosa no Brasil
É o enunciado que define – às vezes, apenas parcialmente –
o objetivo do texto a ser produzido. (1) Agressões físicas a pessoas nas saídas dos cultos,
agressões verbais na internet contra aqueles que não
No caso da redação de um texto dissertativo-argumentativo professam a mesma crença, discriminações por causa
para um exame como o Enem ou outro vestibular, é da escolha religiosa. Todas essas ações são comuns,
importante que, além do enunciado, faça-se uma leitura mas não aceitáveis em um país que se diz laico, em
atenta dos chamados “textos motivadores”, os quais que há a liberdade de fé. Diante de tanta violência,
normalmente acompanham essa proposta. Esses textos há que se afirmar que existe, sim, uma grande e
geralmente apresentam aspectos ou abordagens diferentes perturbadora intolerância religiosa no Brasil e que
do mesmo assunto, como dados estatísticos, opiniões as medidas na luta contra esse problema ainda são
divergentes, relatos, enfim, elementos que podem esclarecer deficientes. Diante disso, é preciso entender as
o enfoque do tema, nortear o caminho a ser adotado por suas verdadeiras causas para tentar solucionar
quem escreve ou trazer contribuições para a escrita. essa questão.
(2) Inicialmente, pode-se atribuir uma das causas intolerância religiosa (nas ruas, na Internet). Ele afirma
desse problema a questões socioculturais. que as medidas para combater esse tipo de intolerância
Durante o processo de formação do Estado brasileiro, são deficientes e que, para solucionar essas questões,
a presença dos povos indígenas e a vinda dos é necessário, primeiramente, entendê-las. Também na
escravos africanos para esse território gerou uma introdução, a autora propõe elencar as causas desse
série de discriminações e intolerâncias religiosas fenômeno.
e culturais, advindas das ideologias que tratavam Desenvolvimento
da superioridade da raça branca e da religião
Primeiro argumento: questões históricas e culturais
católica, próprias dos portugueses colonizadores.
Tais ideologias estão presentes até hoje, exemplo No segundo parágrafo, são abordadas as questões
disso são os dados que indicam ser os adeptos de socioculturais, que dizem respeito à persistência de
religiões de matrizes africanas as maiores vítimas discriminações e atos de intolerância contra as religiões
dessa intolerância. Nessa perspectiva, percebe-se afro-brasileiras e indígenas, os quais são reflexos de
que esse preconceito religioso é uma herança do preconceitos do período de formação da sociedade brasileira,
período colonial da nossa história, no qual as atitudes essencialmente branca e católica.
discriminatórias impediam a expressão da fé e da
cultura desses povos. Segundo argumento: questões políticas e
administrativas
(3) Outro fator que confirma a existência dessa
situação são as atuais questões políticas O terceiro parágrafo é dedicado a apresentar as questões
e administrativas, uma vez que não há uma políticas e administrativas (como são chamadas pela autora)
punição efetiva para ações que manifestem que provocam a intolerância religiosa, as quais dizem
discriminação religiosa. Quando esses atos acontecem respeito às circunstâncias de discriminação religiosa, que são
e não são punidos, abrem-se precedentes para minimizadas pela atuação ineficaz da laicidade do Estado,
que novas ações ocorram, e o combate a elas da qual é exemplo a presença de uma bancada religiosa no
fica, dessa forma, minimizado e banalizado. Tal poder público.
situação intensifica-se ainda mais quando o Estado, Conclusão – Retomada e proposta de intervenção
em nome de sua insuficiente laicidade, permite No quarto e último parágrafo, a autora reafirma a presença
a existência de uma “bancada evangélica” no de obstáculos no combate à intolerância religiosa no Brasil
Congresso Nacional, que interfere na aprovação de e propõe uma solução (que é razoavelmente executável),
leis e decisões políticas, com atitudes arbitrárias, apresentando as ações, os agentes, a forma / local de
desrespeitosas e, algumas vezes, violentas. execução e o alvo dessas ações, e ainda detalhando os
A omissão do Estado nos assuntos religiosos coloca efeitos da proposta. Essa solução é típica da redação cobrada
em dúvida o direito à liberdade religiosa, impresso pelo Enem, nem sempre outros vestibulares vão exigir que
no Art. 5º da Constituição Brasileira, mas que não se proponha uma intervenção. Entretanto, se ela for bem
é encontrado nas ruas, nos meios de comunicação alinhada às ideias desenvolvidas no texto, não há problema
e nem nas instâncias políticas e administrativas do em formulá-la.
nosso país. Isso só evidencia ainda mais as falhas
que permeiam as ações contra a intolerância religiosa Esse é um texto exemplar de dissertação em que o
no Brasil. autor introduz o tema ilustrando-o com cenas descritivas
e, em seguida, apresenta uma linha de raciocínio coerente
(4) Diante disso, pode-se afirmar que existem muitos com o que propõe desde o início (entender as causas do
obstáculos a serem superados nos caminhos para problema da intolerância religiosa). A redação apresenta
combater a intolerância religiosa no Brasil. Assim, informatividade e configura autoria ao extrapolar os textos
uma das alternativas para tentar combatê-la seria motivadores, trazer o artigo 5º da Constituição brasileira,
uma ação efetiva por parte do Governo Federal, que trata da liberdade de crença, e analisar criticamente o
que consistiria em realizar uma campanha de cunho contexto atual em relação ao passado.
informativo, imparcial (como deve ser o Estado
laico), de amplo alcance, em parceria com agências A autora também seleciona um vocabulário (destacado
publicitárias e utilizando o poder das mídias sociais no texto) que contribui para a força argumentativa, como o
na Internet e meios de comunicação (televisão, uso de advérbios e expressões que enfatizam o pensamento
rádio, anúncios inseridos em revistas e jornais), desenvolvido e a posição assumida. A escolha do título,
com a finalidade de apresentar à população as “Entender para combater a intolerância religiosa”, que
características de cada religião e esclarecer a antecipa claramente o assunto, também está bem alinhada
realidade de cada uma. Ao promover a desmistificação com o que foi discutido ao longo do texto.
de ideias preestabelecidas e preconceituosas, seria Diante dessa análise, é possível observar que, para
fomentado o respeito e a tolerância entre as pessoas ser bem estruturado, um texto do tipo dissertativo-
de crenças diferentes, mostrando que todas possuem -argumentativo deve ter um objetivo claro, uma tese
o seu espaço na sociedade e podem conviver em paz. definida e ser desenvolvido com base em um raciocínio
que possa ser facilmente reconstruído pelo leitor. Por isso,
Introdução – Apresentação do tema e como será
nos módulos seguintes, você vai estudar a fundo como
conduzida a argumentação
se dá a estruturação desse tipo textual; os modos de
No primeiro parágrafo, o autor, com a finalidade de construir um texto coerente e coeso; quais são os recursos
introduzir o tema e contextualizá-lo, apresenta a argumentativos disponíveis e como utilizá-los em favor de
ideia por meio de cenas cotidianas em que se reconhece uma argumentação consistente.
26 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
de vista.
• colocação de pronomes oblíquos (átonos e tônicos); De modo geral, é necessário organizar as ideias em uma
estrutura consistente e coerente, de fácil entendimento
• grafia das palavras (acentuação gráfica, emprego de
para o interlocutor. A coerência também deve existir entre
letras maiúsculas e minúsculas e uso do hífen);
a introdução e a conclusão do texto, que precisam estar
• divisão silábica na mudança de linha (translineação). afinadas com a tese elaborada.
28 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
discrepâncias relacionadas à empregabilidade e ao pontos do texto dissertativo-argumentativo, com
proposição, argumentação e conclusão.
salário, principalmente se a mulher for casada e tiver filhos.
Desenvolve o tema recorrendo à cópia de
Outra forma explícita de violência é aquela que diz trechos dos textos motivadores ou apresenta
respeito às agressões físicas, em que o agressor, seja ele 80
domínio insuficiente do texto dissertativo-
pontos
companheiro, marido, namorado ou amante, independente -argumentativo, não atendendo à estrutura com
do grau de proximidade, se aproveita do argumento de que proposição, argumentação e conclusão.
“estava defendendo sua honra”, ou que “a mulher não tinha Apresenta o assunto, tangenciando o tema,
uma postura adequada” e a agride, de forma bruta e cruel, 40 ou demonstra domínio precário do texto
ocasionando muitas vezes a morte, ou o enclausuramento, pontos dissertativo-argumentativo, com traços
constantes de outros tipos textuais.
em que as mulheres se refugiam por medo dos seus parceiros.
Antigamente, esse tipo de agressão, na maioria das Fuga ao tema / não atendimento à estrutura
vezes doméstica, era tratado com sigilo pela família e 0 ponto dissertativo-argumentativa. Nestes casos, a
redação recebe nota zero e é anulada.
sempre a vítima era dada como culpada, no entanto,
na atualidade, esse quadro já se mostra diferente e BRASIL. MEC; INEP; DAEB. Redação no Enem 2017 –
providências mais efetivas têm sido adotadas para conter Cartilha do participante. Brasília-DF: [s.n.], 2017. p. 19.
essa violência. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/ educacao_basica/
enem/guia_participante/2017/manual_de_ redacao_do_
O surgimento de órgãos defensores como o Disque 180, enem_2017.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2018.
delegacias especializadas na defesa da mulher e, acima de
Competência 3. Selecionar, relacionar, organizar e
tudo, a Lei Maria da Penha, que protege a vítima e agiliza a
interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos
punição ao agressor, são medidas que têm dado resultado.
em defesa de um ponto de vista
Mas os índices estatísticos da violência contra a mulher
ainda são muito altos e alarmantes. Por isso, é preciso que Essa competência trata do modo como o candidato apresenta
o Estado aplique punições mais efetivas, com a detenção sua tese e as ideias que vão sustentar sua argumentação em
do agressor, combinada com a proteção à vítima durante os relação ao ponto de vista a ser defendido. Também avalia
trâmites do julgamento, de forma que ela não tenha receio a compreensão e a possibilidade de construção de sentidos
de denunciar e levar o caso até o final. Assim, sentindo-se pelo leitor por meio das ideias apresentadas no e pelo texto.
protegida certamente ela conseguirá refazer sua vida longe Dessa forma, são avaliadas na produção: a precisão vocabular;
de violência. a progressão temática do desenvolvimento do tema, revelando
o planejamento da redação e o encadeamento lógico das
Esse texto defende o ponto de vista de que as mulheres
ideias; e, por fim, a adequação entre o conteúdo do texto e o
sempre foram agredidas e inferiorizadas e que, no Brasil, há
mundo real. No próximo módulo, serão mais aprofundadas as
violência tanto “explícita” como “implícita”, que teve início
questões relativas à coerência, à progressão e à manutenção
com a colonização e com a cultura trazida pelos portugueses,
temática.
os quais tratavam as mulheres com humilhação e com regras
de comportamento rígidos. Como exemplo da seleção, organização e relação entre as
ideias apresentadas no texto, leia a redação a seguir, cujo
Em seguida, embora reconheça avanços em fatos como
tema proposto também foi o do Enem de 2015.
a conquista do direito ao voto e o surgimento da pílula
anticoncepcional, o autor apresenta o primeiro argumento, Muitos eventos importantes marcaram a história do nosso
que é a violência no trabalho, em que a mulher sofre país, mas em relação à mulher e seus direitos, o marco maior
preconceitos e tem condições diferentes das masculinas. aconteceu no dia 24 de fevereiro de 1932, no governo de
Outro argumento diz respeito às agressões físicas, que Getúlio Vargas. Depois de muitos anos de reinvindicações
antigamente ficavam só no sigilo do lar, mas que agora são e luta, nesse dia foi assegurado às mulheres o direito de
tratadas com medidas mais firmes. votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo.
Entretanto esse foi apenas um passo no longo percurso que
Por fim, conclui apresentando o cenário atual de violência
a mulher precisou – e ainda precisa – percorrer todos os dias
e propõe punições mais rígidas para os agressores e medidas
para ser respeitada e ter garantidos seus direitos como cidadã,
mais protetivas para as vítimas.
pois, até hoje, com tanto avanço científico e tecnológico, por
Por trazer informatividade e um repertório sociocultural trás de uma camada de civilidade ainda existe uma parcela
produtivo, organizado e articulado com consistência, o texto considerável da população brasileira com pensamentos e
configura autoria, o que faz com que ele seja avaliado no atitudes machistas, fato facilmente comprovado pelos índices
nível cinco dessa competência. altíssimos de violência contra a mulher.
Ao compararmos a situação de violência contra a mulher A tese defendida é a de que, apesar da obtenção de um
no Brasil a outros países do mundo, a qual indigna pela avanço na situação da mulher no Brasil, o machismo e as
brutalidade dos atos, verificamos que o nível de violência ocorrências de ações agressivas contra mulheres ainda
aqui não fica muito distante deles. Basta verificar o quadro persistem e devem ser combatidos. Para a argumentação,
como o que foi apresentado no Mapa da Violência de 2012, o autor apresenta os dados estatísticos da violência contra a
apresentando o aumento de 230% na quantidade de mulher, os componentes sócio-históricos da inferiorização e
mulheres vítimas de assassinato em 30 anos (entre 1980 e um repertório sociocultural produtivo e autoral ao mencionar
2010), além do número alarmante de mulheres que pedem mulheres feministas como Nízia Floresta e Bertha Lutz. Ele
ajuda todos os dias à polícia, por sofrerem agressões dos também apresenta outras formas de violência na atualidade,
próprios companheiros. como o assédio e as agressões psicológicas, inclusive no
Apesar de haver dados estatísticos apresentando um âmbito do trabalho. Por fim, conclui trazendo uma proposta
quadro atual preocupante da violência física, esse é um bem alinhada à argumentação desenvolvida. Há, nesse texto,
problema de raízes sócio-históricas. No Brasil dos séculos coerência tanto na tese defendida, em relação à argumentação,
passados, a mulher era violentada todos os dias ao ser quanto em um argumento em relação a outro.
tratada como um ser inferior, que devia servir ao marido, Esse pode ser considerado um texto do nível cinco nessa
cuidar unicamente da casa e dos filhos, sem direito a uma competência.
educação que não fosse ligada às prendas do lar. A maioria
não sabia ler e escrever e tampouco poderiam envolver-se Níveis de desempenho
em assuntos que não “eram para mulher”. Foi preciso
que mulheres fortes e determinadas como Nízia Floresta, Apresenta informações, fatos e opiniões
escritora e educadora e Bertha Lutz, responsável direta pela relacionados ao tema proposto, de forma
200 pontos
conquista do direito ao voto feminino, reconhecidas entre consistente e organizada, configurando
as primeiras feministas do Brasil, lutassem para que hoje autoria, em defesa de um ponto de vista.
as mulheres possam ter o direto de estudar, trabalhar e ser Apresenta informações, fatos e opiniões
reconhecidas como parte integrante da sociedade. relacionados ao tema, de forma
160 pontos
Entretanto, todo esse percurso, toda essa luta de tantas organizada, com indícios de autoria, em
mulheres por direitos torna-se sem sentido ao se permitir defesa de um ponto de vista.
que a violência esteja presente nos lares, nos escritórios, Apresenta informações, fatos e opiniões
nas ruas, nos locais de lazer, em forma de agressões físicas, relacionados ao tema, limitados aos
de assédios, de desrespeito, de violações físicas, morais e argumentos
120 pontos
psicológicas. Ao se consentir que a mulher seja julgada pela dos textos motivadores e pouco
roupa que veste, pelo batom que usa; ao se permitir que ela organizados, em defesa de um ponto de
precise trabalhar o dobro para receber metade do salário vista.
de um homem; ao se ignorar tantas formas de abusos sem Apresenta informações, fatos e opiniões
que haja punição para isso. Infelizmente, a sociedade ainda relacionados ao tema, mas desorganizados
corrobora, ainda que de forma velada, com a permanência ou contraditórios
dessas formas de violência. 80 pontos
e limitados aos argumentos dos textos
Contudo, apesar do quadro pungente que ainda somos motivadores, em defesa de um ponto de
obrigados a constatar, muitas ações já estão sendo feitas vista.
para, pelo menos, avançar na minimização da violência Apresenta informações, fatos e opiniões
contra a mulher, e a implantação da Lei Maria da Penha pouco relacionados ao tema
40 pontos
foi uma delas. Mas ainda é necessário mais. Muitas vezes ou incoerentes e sem defesa de um
as mulheres continuam em relacionamentos violentos e ponto de vista.
abusivos por não ter para onde ir e nem como sustentar elas
Apresenta informações, fatos e opiniões não
mesmas e seus filhos. Assim, o governo federal, em conjunto 0 ponto relacionados ao tema e sem defesa de
com o Estado e a Prefeitura poderia construir mais centros um ponto de vista.
de acolhimento a essas mulheres que sofrem agressão,
como forma de executar as medidas protetivas, dando-lhes BRASIL. MEC; INEP; DAEB. Redação no Enem 2017 –
segurança e trabalho, para que possam refazer suas vidas Cartilha do participante. Brasília-DF: [s.n.], 2017. p. 21.
dignamente. Seria muito bom que não fosse necessário esse Disponível em: <http://download.inep.gov.br/ educacao_
basica/enem/guia_participante/2017/manual_de_ redacao_
tipo de intervenção, mas enquanto houver violência, que
do_enem_2017.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2018.
haja pelo menos uma maneira de se libertar dela.
O autor da redação demonstra um excelente domínio do Competência 4. Demonstrar conhecimento dos
tipo dissertativo-argumentativo, pois seu texto mostra-se mecanismos linguísticos necessários para a construção
bem organizado, com introdução, desenvolvimento e da argumentação
conclusão. Ele apresenta, no primeiro parágrafo, uma Essa competência exige do candidato o conhecimento
informação referente à História do Brasil (a instituição do dos recursos linguísticos utilizados na construção de um
voto feminino no governo de Getúlio Vargas, na década texto. Nesse sentido, deve-se atentar para a estruturação
de 1930), elemento que denota repertório sociocultural lógica e formal entre as partes do texto, em que frases,
produtivo e introduz o tema, que é desenvolvido por meio orações e parágrafos estabeleçam relação entre si, de modo
de argumentação consistente, articulada ao ponto de a dar um sequenciamento ao texto e a tornar as ideias
vista defendido. interdependentes, ligadas umas às outras.
30 Coleção 6V
O encadeamento de ideias, do ponto de vista linguístico, Porém, também é visível alguns problemas relacionados
deve ser feito por meio da utilização de preposições, à falta de investimento público em uma conscientização
conjunções, advérbios e locuções adverbiais. É importante, extra. Precisamos desestigmatizar o costume de beber
ainda, utilizar os diversos mecanismos de referenciação, e dirigir presente em nossa sociedade, mas precisamos
evitando a repetição de termos e atentando para a forma fazê-lo de forma efetiva e não somente provisória, como
correta de retomar palavras ou ideias anteriormente ocorre em casos de alguns motoristas que são penalizados
apresentadas. com a lei, mas que não são sensibilizados a mudar de
Tanto a competência 3 quanto a 4 avaliam a composição atitude, podendo, assim, repetir a ação.
textual. No entanto, a 3 avalia aspectos mais relacionados à O texto apresenta uma boa paragrafação, períodos bem
estrutura profunda do texto, isto é, à coerência; já a 4 avalia desenvolvidos e estruturados, com a presença de orações
LÍNGUA PORTUGUESA
aspectos mais relacionados à estrutura superficial do texto, isto intercaladas e explicativas, e um repertório bastante
é, à coesão. No módulo A03 deste volume, apresentam-se, diversificado de recursos coesivos referenciais (referência
de modo mais detalhado, a coerência e a coesão. ao que já foi ou que ainda será dito) e sequenciais (que
Para demonstrar a boa utilização dos recursos coesivos dão sequência às ideias do texto e que podem ser internos
e mecanismos de referenciação na coesão textual, ou externos).
apresentamos a redação sobre o tema do Enem de 2013: Essa redação é um exemplo típico do nível cinco dessa
“Os efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”. competência, pois o texto é fluente, o aluno articula bem as
A Lei 11 705, aprovada no ano de 2008, surgiu como uma ideias e utiliza os recursos coesivos com propriedade, como
solução para os desastres no trânsito que se tornaram as retomadas referenciais do primeiro parágrafo: “desastres
comuns no território brasileiro. Antes de 2008, a situação no trânsito” e “a situação”, “Lei 11 705” e “Lei Seca”.
estava crítica e, apesar das evidentes melhoras em relação à No segundo parágrafo, ele introduz sua argumentação
conscientização da população, ainda continua sendo foco de utilizando o advérbio “primeiramente” (suscitando a ideia
preocupação. Diante desse quadro, a aprovação da chamada
de que haverá pelo menos um segundo lado da questão).
Lei Seca aconteceu rodeada de polêmicas.
Ele explica isso dentro do próprio parágrafo, ao trazer a
Primeiramente, não se pode negar a importância dessa conjunção “logo” para esclarecer o seu argumento.
lei para o atual cenário nacional. A história daquele vizinho
No terceiro parágrafo, os conectivos (marcados no texto)
ou conhecido que pegou o volante depois de beber e sofreu
são utilizados como recursos sequenciais, e as retomadas
um acidente transformou-se em rotina. O problema é quando
do tema por “esse problema” e “esse fato” sugerem uma
a combinação da desejada bebida alcóolica com a direção
escolha proposital das substituições que enriquecem o texto.
causa a morte, muitas vezes não somente daquele que se
propôs a conduzir um veículo estando alcoolizado. Logo, o O quarto parágrafo também apresenta boa articulação e
surgimento da Lei Seca veio com o objetivo de diminuir a continuidade interna, com o uso de expressões como “quanto
frequência dessas tragédias. Porém, alcançar resultados a isso” para retomar e continuar com a argumentação.
satisfatórios não depende apenas da boa intenção de uma
legislação. O quinto parágrafo é iniciado com uma expressão
articuladora que indica a síntese do que foi dito, “nessa
Esse problema possui uma origem histórico-cultural, perspectiva”, e continua com outras substituições, mantendo
pois, como não havia punições graves para quem dirigisse a coesão e a articulação interna dos períodos.
alcoolizado, esse comportamento tornou-se, para muitos,
um hábito. Esse fato pode propiciar uma idealização de que Níveis de desempenho
os acidentes causados pela combinação álcool e direção
são raros, o que nos leva à discussão de que é essencial 200 Articula bem as partes do texto e apresenta
uma campanha de conscientização adjunta à aplicação da pontos repertório diversificado de recursos coesivos.
lei, assim como ocorre na educação ambiental, em que as
pessoas precisam entender a importância de não se cortar Articula as partes do texto com poucas
160
uma árvore, pois, se elas o fizerem, serão penalizadas. inadequações e apresenta repertório
pontos
diversificado de recursos coesivos.
Na implantação da Lei Seca, a maioria das contraposições
veio dos comerciantes de bebidas, que argumentaram Articula as partes do texto de forma mediana,
uma possível perda nas vendas, já que com essa lei as 120
com inadequações, e apresenta repertório pouco
pessoas poderiam optar por consumir bebidas alcoólicas pontos
diversificado de recursos coesivos.
em seus próprios domicílios, deixando de comprar os
acompanhamentos oferecidos e até ingerindo menos pela Articula as partes do texto de forma insuficiente,
80
influência do meio. Quanto a isso, vale lembrar a existência com muitas inadequações, e apresenta
pontos
de táxis, ônibus e outros meios de transportes, com pessoas repertório limitado de recursos coesivos.
capacitadas para dirigir, que podem permitir aos indivíduos 40
Articula as partes do texto de forma precária.
frequentarem lugares em que se consuma álcool sem a pontos
necessidade de dirigir depois. Basta que o comerciante
0 ponto Não articula as informações.
seja astuto, faça parcerias com “moto-taxis”, “vans”, ou
motoristas, para que possam transportar o seu cliente BRASIL. MEC; INEP; DAEB. Redação no Enem 2017 –
com segurança, e ofereçam a ele esse serviço. Cartilha do participante. Brasília-DF: [s.n.], 2017. p. 24.
Disponível em: <http://download.inep.gov.br/ educacao_
Nessa perspectiva, são perceptíveis os impactos basica/enem/guia_participante/2017/manual_de_ redacao_
positivos dessa legislação em nosso cotidiano. do_enem_2017.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2018.
Competência 5. Elaborar proposta de intervenção para Como é possível visualizar, foi elaborada apenas uma
o problema abordado, respeitando os direitos humanos proposta na qual o autor do texto:
A proposta de intervenção social solicitada na redação • nomeia os agentes (“o Ministério da Educação, em
do Enem deve estar apoiada na tese defendida e nos parceria com os governos estaduais e municipais”);
argumentos utilizados. É necessário que a proposta seja
• especifica a ação (“aulas de sociologia, filosofia ou
detalhada, específica e coerente com a realidade, ou seja,
religião”);
deve ser plausível, apresentar uma execução viável e
demonstrar o conhecimento de mundo do candidato sobre • aponta os meios (abordagem do “tema com
questões de ordem social, política e cultural. O texto da imparcialidade”);
proposta deve respeitar os direitos humanos, bem como a
• apresenta as finalidades (“expor e esclarecer
diversidade, a cidadania e a liberdade. Além disso, deve ser
informações”, estimulando o respeito às diferentes
articulado em mais de um período para que a ideia não se
vertentes religiosas);
apresente de modo confuso.
• assinala os detalhamentos (“desenvolver um
Para ser considerada completa, a proposta deve
pensamento crítico”).
apresentar: a ação interventiva (o que deve ser feito),
o agente (quem executa a ação), o modo ou o meio
Diante da análise, verifica-se que é produtivo, ao
em que essa ação será executada (por meio de que
organizar as ideias do texto, perguntar-se: qual seria
ou quem? Como?), a finalidade da ação (o que ela vai
a maneira de solucionar essa questão? Quem poderia
provocar, quais são / serão as consequências dessa ação?)
fazer isso e de que forma? Qual seria o objetivo dessa
e o detalhamento (a explicação da ação, sua justificativa).
ação? Assim, certamente, você conseguirá elaborar uma
Alguns participantes acham que expressões como proposta que também seja exemplar.
“é preciso conscientizar”, “devemos lutar”, “é preciso ficar Níveis de desempenho
atento” são formas de proposta, entretanto essas assertivas
ficam somente no campo das ideias, pois não há a proposição
de uma ação efetiva e específica. Por isso, deve-se evitar Elabora muito bem proposta de
200 pontos
esse tipo de colocação como proposta de intervenção. intervenção, detalhada, relacionada
4 elementos +
ao tema e articulada à discussão
detalhamento
Outros candidatos, por sua vez, acreditam que várias desenvolvida no texto.
ações irão enriquecer sua proposta. Entretanto, se nenhuma
delas for devidamente desenvolvida, mesmo que sejam
Elabora bem proposta de
exequíveis, a proposta estará inadequada. Igualmente, se 160 pontos intervenção, relacionada ao tema e
ela não estiver alinhada com a discussão desenvolvida no 4 elementos articulada à discussão desenvolvida no
texto, também não será bem avaliada. Assim, é preferível texto.
que se faça uma boa proposta de intervenção, com todos os
elementos já mencionados, do que várias ações incompletas.
Elabora de forma mediana proposta
Como exemplo de proposta que contém todos os elementos 120 pontos de intervenção, relacionada ao tema e
3 elementos articulada à discussão desenvolvida no
necessários para ficar no nível cinco dessa competência,
texto.
apresentamos o trecho de uma redação sobre o tema do
Enem de 2016: “Caminhos para combater a intolerância
religiosa no Brasil”. Elabora de forma insuficiente proposta
80 pontos de intervenção, relacionada ao tema
Diante da discussão apresentada, fica clara a necessidade 2 elementos ou não articulada à discussão
de se combater a intolerância religiosa no Brasil. Para isso, desenvolvida no texto.
o Ministério da Educação, em conjunto com os governos
estaduais e municipais [agentes], deveria desenvolver
Apresenta proposta de
ações nas escolas, como aulas de sociologia, filosofia ou 40 pontos
intervenção vaga, precária
religião [ação], que abordassem o tema com imparcialidade 1 elemento
ou relacionada apenas ao assunto.
[meio / modo], de maneira a expor e esclarecer
informações sobre cada vertente religiosa [finalidade].
Não apresenta proposta de
Dessa forma, o aluno poderia desenvolver um pensamento
0 ponto intervenção ou apresenta proposta não
crítico, que não fosse baseado no senso comum, mas relacionada ao tema ou ao assunto.
no conhecimento histórico-social adquirido nessas aulas
[detalhamento da ação]. É somente por meio da educação BRASIL. MEC; INEP; DAEB. Redação no Enem 2017 –
e do conhecimento acerca da importância da religião (em Cartilha do participante. Brasília-DF: [s.n.], 2017. p. 25.
suas mais diversas manifestações) que se pode construir Disponível em: <http://download.inep.gov.br/ educacao_basica/
uma sociedade igualitária, que respeite as crenças e consiga enem/guia_participante/2017/manual_de_ redacao_do_
vencer os preconceitos. enem_2017.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2018.
32 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
pesquisados. Os crimes interpessoais e de organizações
Como vou aprender algo que já tenho como certo e que pesam nas contas do país que enfrenta deterioração das
agora está errado? Como vou ensinar os meus filhos a
instituições e se afundou na crise decorrente da corrupção
falar se a pronúncia está diferente?
generalizada.
Alguns desses pensamentos sobre o acordo ortográfico
Gazeta do Povo. Edição semanal
estão equivocados, principalmente o da última pergunta!
de 10 a 16 de junho de 2017. p. 28.
É importante saber que o modo como as palavras são
pronunciadas continua da mesma maneira, bem como Texto II
o vocabulário e a sintaxe (a organização dos termos na
A história da humanidade é uma história de lutas de
oração).
guerras. Temos uma cultura de violência herdada de
A reforma ortográfica era para entrar em vigor desde nossos antepassados. Mas a história de humanidade
1990, no entanto, somente três países tinham assinado o também é a história de homens e mulheres que
protocolo modificativo do acordo ortográfico: Brasil, Cabo mostraram, através de uma vivência pessoal, ser possível
Verde e Portugal. De acordo com o Ministério da Educação,
desenvolver uma Cultura de Paz. Os chamados pacifistas
o acordo ortográfico visa simplificar e aprimorar a língua
vivenciaram a solidariedade, e mostraram como as lutas
em todos os países da comunidade lusitana. Além disso,
individuais e de grupos podem gerar a paz. Muitos dizem
o governo poderá reforçar acordos de cooperação entre
que eles são seres especiais, porque ousaram propor e
os países que falam português, como ampliar o acordo de
sonhar com um mundo sem violência. Eles nos mostraram
ensino com o Timor Leste, por exemplo. Todo processo de
caminhos e modos de vida que podem nos levar a Cultura
mudança exige adaptação e há fatores positivos e negativos.
de Paz.
VILARINHO. Sabrina. Acordo ortográfico da Língua
Portuguesa. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/ Disponível em: <http://wvw.londrinapazeando.org.br/index.
acordo-ortografico/acordo-ortografico--língua-portuguesa-1. php/apresentacao>. Acesso em: 13 jun. 2017.
htm>. Acesso em: 25 jul. 2017.
Texto III
Texto II Caetano Veloso, poeticamente, revela: “Enquanto os
homens exercem seus podres poderes. Morrer e matar
de fome, de raiva e de sede, são tantas vezes gestos
naturais.” (Podres poderes)
Texto IV
[...] A cidadania para poucos, a pobreza, a falta de uma
cultura de respeito aos direitos humanos, a discriminação
racial e o racismo, a inacessibilidade, a justiça, o
machismo e as práticas inadequadas de segurança pública
resultam em índices de violência extremamente elevados.
Disponível em: <http://professoracurtiaulaparticular.blogspot.
com.br/2013/06/dicas-e-charges.html>. Historicamente, as enormes desigualdades sociais,
Acesso em: 25 jul. 2017. econômicas e culturais expressam uma das características
mais marcantes do país. Em anos recentes, percebe-se
Considerando os textos I e II, assim como os seus
um crescimento da consciência da sociedade e do governo
próprios conhecimentos sobre a temática, redija um
texto dissertativo-argumentativo sobre Vantagens e quanto à necessidade de reverter-se essa condição,
desvantagens do Acordo Ortográfico da Língua criando-se mecanismos de participação e controle social,
Portuguesa. Não se esqueça de apresentar proposta de programas, projetos e ações que indicam um movimento
intervenção em conformidade com os Direitos Humanos. de transformações positivas.
Apesar de possuir grande número de pessoas pobres,
02. (PUCPR–2018) Com base na leitura dos fragmentos o Brasil não é um país pobre, mas precisa superar um
que compõem a coletânea de textos motivadores quadro de injustiça social e desigualdade.
e em suas reflexões sobre o tema, redija um texto Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/
dissertativo-argumentativo em norma-padrão da Língua social-and-human-sciences/social-lransformations/>.
Portuguesa, apresentando seu ponto de vista sobre: Acesso em: 15 jun. 2017.
34 Coleção 6V
No avanço do conhecimento científico, vemos um 02. (UERJ–2018) Marcelo Gleiser expõe em seu texto
conceito que tem um papel essencial: simetria. Já desde argumentos que se contrapõem à ideia de simetria como
os tempos de Platão, há a noção de que existe uma
verdade absoluta na ciência.
linguagem secreta da natureza, uma matemática por trás
15 da ordem que observamos. Um desses argumentos é identificado em:
Platão – e, com ele, muitos matemáticos até hoje – A) Nossos instrumentos de pesquisa, que tanto ampliam
acreditava que os conceitos matemáticos existiam em nossa visão de mundo, (l. 3-4)
uma espécie de dimensão paralela, acessível apenas
através da razão. Nesse caso, os teoremas da matemática B) há a noção de que existe uma linguagem secreta da
20 (como o famoso Teorema de Pitágoras) existem como natureza, (l. 14-15)
LÍNGUA PORTUGUESA
verdades absolutas, que a mente humana, ao menos C) a matemática é uma descoberta, e não uma invenção
as mais aptas, pode ocasionalmente descobrir. Para os humana. (l. 23-24)
platônicos, a matemática é uma descoberta, e não uma
invenção humana. D) nossas explicações mudam de acordo com o
25 Ao menos no que diz respeito às forças que agem nas conhecimento acumulado (l. 38-40)
partículas fundamentais da matéria, a busca por uma
teoria final da natureza é a encarnação moderna do sonho 03. (UERJ–2018) Ao longo do texto, são mencionadas teorias
platônico de um código secreto da natureza. As teorias que partem do princípio da unificação das forças da
de unificação, como são chamadas, visam justamente natureza.
30 a isso, formular todas as forças como manifestações de
uma única, com sua simetria abrangendo as demais. Em relação a essas teorias, Marcelo Gleiser apresenta,
Culturalmente, é difícil não traçar uma linha entre as no último parágrafo, uma atitude de
fés monoteístas e a busca por uma unidade da natureza
A) indiferença.
nas ciências. Esse sonho, porém, é impossível de ser
35 realizado. B) concordância.
Primeiro, porque nossas teorias são sempre C) neutralidade.
temporárias, passíveis de ajustes e revisões futuras. Não
D) discordância.
existe uma teoria que possamos dizer final, pois nossas
explicações mudam de acordo com o conhecimento
40 acumulado que temos das coisas. Um século atrás, um Instrução: Leia o texto a seguir para responder às questões
elétron era algo muito diferente do que é hoje. Em cem 04 e 05.
anos, será algo muito diferente outra vez. Não podemos O mundo como pode ser:
saber se as forças que conhecemos hoje são as únicas
uma outra globalização
que existem.
45 Segundo, porque nossas teorias e as simetrias que Podemos pensar na construção de um outro mundo
detectamos nos padrões regulares da natureza são em a partir de uma globalização mais humana. As bases
geral aproximações. Não existe uma perfeição no mundo, materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da
apenas em nossas mentes. De fato, quando analisamos técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento
com calma as “unificações” da física, vemos que são do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital
50 aproximações que funcionam apenas dentro de certas
se apoia para construir uma globalização perversa.
condições.
Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir a
O que encontramos são assimetrias, imperfeições que
outros objetivos, se forem postas a serviço de outros
surgem desde as descrições das propriedades da matéria
até as das moléculas que determinam a vida, as proteínas fundamentos sociais e políticos. Parece que as condições
55 e os ácidos nucleicos (RNA e DNA). Por trás da riqueza históricas do fim do século XX apontavam para esta última
que vemos nas formas materiais, encontramos a força possibilidade. Tais novas condições tanto se dão no plano
criativa das imperfeições. empírico quanto no plano teórico.
GLEISER, Marcelo. Folha de S.Paulo, Considerando o que atualmente se verifica no plano
25 ago. 2013 (Adaptação).
empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um
certo número de fatos novos indicativos da emergência
01. (UERJ–2018) Marcelo Gleiser sustenta que a ciência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a
descreve a realidade por meio de uma série de
enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em
aproximações.
todos os continentes. A isso se acrescente, graças ao
Desse modo, ele recusa a compreensão de que o objetivo
progresso da informação, a “mistura” de filosofia, em
da ciência seja estabelecer
detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado
A) cálculos complexos.
de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças,
B) certezas imutáveis. é a produção de uma população aglomerada em áreas
C) observações subjetivas. cada vez menores, o que permite um ainda maior
D) propostas interpretativas. dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias.
As massas, de que falava Ortega y Gasset na primeira 05. (UEG-GO–2018) O processo argumentativo do texto é
S9LF
metade do século (A rebelião das massas, 1937), ganham construído a partir do seguinte procedimento:
uma nova qualidade em virtude de sua aglomeração
A) são expostas, de forma detalhada, duas consequências
exponencial e de sua diversificação. Trata-se da existência
econômicas de um determinado modelo de organização
de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente
de produção.
muito mais significativa que a própria biodiversidade.
Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura B) relata-se o conjunto de ações desenvolvidas por uma
popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos instituição pública como fundamento e justificativa de
da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta um projeto de lei.
última uma verdadeira revanche ou vingança. C) elabora-se um quadro comparativo, no qual se
É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da apresentam a aproximação e os contrastes de dois
escassez, afinal descoberta pelas massas. A população, tipos de pesquisa social.
aglomerada em poucos pontos da superfície da D) faz-se a explanação dos dados de um relatório
Terra, constitui uma das bases de reconstrução e de
técnico-científico de uma pesquisa desenvolvida por
sobrevivência das relações locais, abrindo a possiblidade
dois cientistas sociais.
de utilização, ao serviço dos homens, do sistema
E) são apresentadas, de forma paralela, duas dimensões
técnico atual.
teórico-conceituais como argumentos em defesa de
No plano teórico, o que verificamos é a possiblidade
uma tese.
de produção de um novo discurso, de uma nova
metanarrativa, um grande relato. Esse novo discurso
06. (Unicamp-SP–2016) No livro Veneno Remédio – o futebol
ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na
e o Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 14),
história do homem, se pode constatar a existência de uma
o músico, compositor e ensaísta José Miguel Wisnik afirma
universalidade empírica. A universalidade deixa de ser
que o futebol se tornou uma espécie de “língua geral”,
apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos
válida para todos, que põe “em contato as populações
para resultar da experiência ordinária de cada pessoa. De
tal modo, em mundo datado como o nosso, a explicação de todos os continentes”. Leia a seguir dois trechos em
do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma que o autor explora essa analogia:
história concreta. É isso, também, que permite conhecer [...] Nada nos impede de dizer que os lances
as possiblidades existentes e escrever uma nova história. criativos mais surpreendentes não dispensam a prosa
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 13. ed. São corrente do “arroz-com-feijão” do jogo, necessário a
Paulo: Record, 2006. p. 20-21 (Adaptação). toda partida. Ou de constatar, na literatura como no
futebol, que a “prosa” pode ser bela, íntegra, articulada
04. (UEG-GO–2018) O segundo parágrafo é construído a e fluente, ou burocrática e anódina, e a ‘poesia’,
KDR9
partir da enumeração de uma série de fatos sociais que, imprevista, fulgurante e eficaz, ou firula retórica sem
segundo o autor, indicam possibilidade de emergência de nervo e sem alvo.
uma nova história. Esses fatos são:
[...] o futebol é o esporte que comporta múltiplos
A) racionalismo filosófico; globalização socioeconômica;
registros, sintaxes diversas, estilos diferentes e
popularização da tecnologia; recrudescimento das
opostos, e gêneros narrativos, a ponto de parecer
políticas e práticas nacionalistas e xenófobas.
conter vários jogos dentro de um único jogo. A sua
B) precarização da vida urbana como consequência narratividade aberta às diferenças terá relação, muito
da alta demografia; retração e baixa qualidade dos
possivelmente, com o fato de ter se tornado o esporte
serviços públicos essenciais; miscigenação étnica.
mais jogado no mundo, como um modelo racional e
C) aumento dos fluxos migratórios; diversificação de universalmente acessível que fosse guiado por uma
teorias filosóficas na educação básica; empobrecimento ampla margem de diversidade interna, capaz de
contínuo das periferias urbanas; cultura do consumo. absorver e expressar culturas.
D) hibridismo étnico-cultural; mescla filosófica;
A) O autor vê o futebol como formas de “prosa”
concentração e diversificação demográfica em pequenos
e de “poesia”. Embora ambas as formas sejam
espaços urbanos; apropriação das tecnologias por parte
consideradas necessárias, cada uma tem um lado
da cultura popular.
negativo. Indique-os.
E) convergência das mídias; expansão do uso das redes
sociais na vida cotidiana; segregação dos espaços B) Apresente dois argumentos por meio dos quais o
urbanos por meio da expansão dos condomínios; autor justifica sua afirmação de que o futebol é uma
elitismo político. espécie de “língua geral”.
36 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
capitalistas. Se no governo dominavam os capitalistas, da obesidade infantil.
nas universidades predominavam as ideias e os métodos E) alertar para a contribuição da mídia no aumento da
de Karl Marx, o pai do comunismo científico. Mas o tempo obesidade infantil no Brasil.
passou. Aos poucos, os pesquisadores ficaram um pouco
mais longe das ideologias e passaram a tirar conclusões 03. (Enem–2016) Centro das atenções em um planeta cada
sem tanto medo de aderir a um ou outro lado da política. vez mais interconectado, a Floresta Amazônica expõe
inúmeros dilemas. Um dos mais candentes diz respeito
A visão clássica do Brasil colonial nasceu com o
à madeira e sua exploração econômica, uma saga que
intelectual paulista Caio Prado Júnior em 1933. No livro
envolve os muitos desafios para a conservação dos
Evolução política do Brasil, ele afirma que a sociedade recursos naturais às gerações futuras.
brasileira era simples e desigual. Tudo girava em torno
Com o olhar jornalístico, crítico e ao mesmo tempo
do latifúndio, que deixava só a miséria por aqui. Até que, didático, adentramos a Amazônia em busca de histórias e
na década de 1990, historiadores descobriram dados que sutilezas que os dados nem sempre revelam. Lapidamos
não batiam com a teoria. Registros dos portos do Rio de estatísticas e estudos científicos para construir uma
Janeiro e de Salvador mostravam que, em épocas de síntese útil a quem direciona esforços para conservar
crise na Europa, quando os preços do açúcar e algodão a floresta, seja no setor público, seja no setor privado,
desabavam pelo mundo, no Brasil eles mudavam pouco. seja na sociedade civil.
Esses dados sugerem que havia um bom mercado Guiada como uma reportagem, rica em informações
consumidor no Brasil. ilustradas, a obra Madeira de ponta a ponta revela a
diversidade de fraudes na cadeia de produção, transporte
NARLOCH, L. Superinteressante, n. 6, 2014 (Adaptação).
e comercialização da madeira, bem como as iniciativas
O autor do texto “A nova história do Brasil” apresenta de boas práticas que se disseminam e trazem esperança
uma posição crítica sobre as narrativas históricas. Essa rumo a um modelo de convivência entre desenvolvimento
posição se fundamenta no argumento de que e manutenção da floresta.
A) os livros didáticos devem ser reformulados VILLELA, M.; SPINK, P. In: ADEODATO, S. et al. Madeira de
ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo.
regularmente.
São Paulo: FGV RAE, 2011 (Adaptação).
B) os novos dados podem reconstruir as narrativas da
A fim de alcançar seus objetivos comunicativos, os autores
história brasileira.
escreveram esse texto para
C) o distanciamento ideológico deve estar presente nos
A) apresentar informações e comentários sobre o livro.
livros de história.
B) noticiar as descobertas científicas oriundas da
D) a narrativa da história brasileira está organizada entre pesquisa.
antes e depois de 1933.
C) defender as práticas sustentáveis de manejo da
E) a história brasileira está dividida entre os grupos que madeira.
a narram, comunistas e capitalistas. D) ensinar formas de combate à exploração ilegal de
madeira.
02. (Enem–2017) Entre as crianças brasileiras, 30% E) demonstrar a importância de parcerias para a
apresentam sobrepeso e 15% delas já são obesas. A má realização da pesquisa.
alimentação começa cedo: 56% dos bebês com menos
de um ano de idade no Brasil consomem refrigerantes. 04. (Enem–2015)
Dados como esses ganham rosto no documentário Muito
Rede social pode prever
além do peso (2012), de Esteia Renner: o filme mostra desempenho profissional, diz pesquisa
como a alta ingestão de açúcar, pais desinformados e
Pense duas vezes antes de postar qualquer item
a publicidade voltada para o público infantil criam uma
em seu perfil nas redes sociais. O conselho, repetido à
geração de crianças com problemas como colesterol alto exaustão por consultores de carreira por aí, acaba de
e diabetes tipo 2. O documentário pode servir como ponto ganhar um status, digamos, mais científico. De acordo
de partida para abordar a questão com professores e pais. com resultados da pesquisa, uma rápida análise do perfil
Obesidade infantil. Revista Escola Pública, nas redes sociais pode prever o desempenho profissional
n. 31. fev./mar. 2013. do candidato a uma oportunidade de emprego.
38 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
ENCCEJA nacional teve 53,4% de ausentes... G1.
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/
noticia/2018/08/06/encceja-nacional-teve-534-de-ausentes-
gabarito-esta-previsto-para-ser-divulgado-neste-mes.ghtml>. Região do país
Acesso em: 14 set. 2018.
A média da taxa de pessoas
analfabetas é maior nas
Texto II
regiões Nordeste e Norte,
[...] seguidas do Centro-Oeste,
Sudeste e Sul. As diferenças
“Primeiramente, é preciso superar a ideia de que regionais são grandes, o número
basta boa vontade para ensinar jovens, adultos e idosos, do Nordeste (14,5%)
é quatro vezes maior do
concepção esta que se difundiu junto com as práticas
que o do Sudeste (3,5%),
de voluntariado disseminadas pelas campanhas de por exemplo.
0 2 4 6 8 10 12 14
*As porcentagens em cada estado são referentes
alfabetização (que até o presente não exigem habilitação às médias de suas regiões e não ao índice
próprio estadual.
para a docência).
Contrariando o que mostram as pesquisas, as diretrizes IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e
nacionais para as licenciaturas não exigem que a EJA Rendimento, Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios
seja abordada nos currículos da formação inicial dos Contínua 2017.
pedagogos ou professores especialistas. Estudos recentes
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos
mostram que há IES públicas e privadas que incluem ao
conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
menos uma disciplina obrigatória ou eletiva no currículo
redija texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão
da Pedagogia, mas elas não são a maioria, e não há
da Língua Portuguesa sobre o tema: A importância e os
qualquer registro de que o tema seja abordado nas demais
desafios da educação de jovens e adultos. Apresente
licenciaturas. A experiência mais sistemática de formação
proposta de ação social que respeite os direitos humanos.
de docentes para a EJA de que eu tenho notícia são os
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
cursos de especialização promovidos pelos Institutos
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto
Federais no âmbito do PROEJA.
de vista.
[...]
A formação específica é rara também porque não há
um mercado de trabalho estruturado para a EJA, é raro GABARITO Meu aproveitamento
que existam concursos públicos e cargos específicos.
A docência na EJA é quase sempre exercida como Aprendizagem Acertei ______ Errei ______
complementação da jornada do docente em período
noturno, o que resulta grande rotatividade e desperdício
• 01. Nessa proposta, deve-se analisar e tomar como base a
visão ponderada sobre a reforma ortográfica apresentada
dos esforços de formação realizados pelas redes de ensino no texto I e a crítica evidenciada no texto II (charge).
ou pelos próprios professores. Além disso, é preciso pensar também em outros
A meu ver, deveria haver menção específica à inclusão aspectos para a construção da argumentação. Algumas
da EJA na formação docente nas diretrizes para os cursos possibilidades de aspectos positivos são: intercâmbio
cultural e científico entre os países lusófonos; divulgação
de Licenciatura; os concursos públicos de seleção de
do idioma e da literatura portuguesa; entre outros.
docentes deveriam incluir conteúdos sobre EJA; e aqueles
Algumas possibilidades de aspectos negativos são: as
docentes com alguma especialização e experiência
pessoas têm de aprender as novas regras; surgimento
acumulada deveriam ser mais valorizados na atribuição
de dúvidas; entre outros. Vale lembrar que o texto deve
de aulas da modalidade”. ser organizado de modo coeso, coerente e adequado à
PIERRO, Maria Clara. Entrevista com Maria Clara de Pierro norma-padrão da Língua Portuguesa.
(USP) | Educação de Jovens e Adultos (EJA). 2017. Entrevista
concedida a Anped. Disponível em: <http://www.anped.org.
• 02. Os textos de apoio dessa proposta apresentam
informações relevantes sobre o tema. O primeiro
br/news/entrevista-com-maria-clara-de-pierro-usp-educacao- trata da relação entre violência e nível de corrupção,
de-jovens-e-adultos-eja>. Acesso em: 14 set. 2018. livre acesso à informação e distribuição de renda.
O segundo trata da história da humanidade não como A questão pede explicitamente que se discuta essa
uma história permeada só de guerras, mas também de necessidade, sendo, portanto, possível que se defenda
a noção de que é ou de que não é realmente necessário
uma cultura de paz. O terceiro trata do poder sendo a
que a sociedade tenha contato mais profundo com
causa para situações como matar e morrer de fome. as pesquisas científicas produzidas. Caso se deseje
O quarto contém dados que mostram a desigualdade defender a necessidade de a sociedade entrar em
social nas origens da violência no Brasil. O quinto, contato com os estudos feitos no meio científico,
pode-se, por exemplo, apresentar a consequência
assim como o segundo, aponta que os homens também
de que, possuindo esse conhecimento, a sociedade
desenvolvem as defesas da paz. Com base nessas estará cada vez mais consciente da realidade em que
ideias, é possível delimitar um posicionamento para vive, podendo atuar proativamente diante do mundo.
a produção do texto dissertativo-argumentativo. Vale Ao contrário, caso se deseje defender que não há
essa necessidade, pode-se mencionar o fato de
lembrar que o texto deve ser organizado de modo
que o universo científico – e, portanto, as pesquisas
coeso, coerente e adequado à norma-padrão da Língua
científicas – é muito amplo, de forma que muitos temas
Portuguesa. pesquisados não tangenciam a vida cotidiana das
outras atividades ligadas à arte e ao entretenimento. • B) O autor compara o futebol a uma “língua geral” por
ser um esporte que faz uso de diversas formas de
Caso se defenda que não é possível conciliar trabalho
narrar, de diversas sintaxes, e é capaz de absorver
e tempo livre, pode-se fundamentar nas ideias que e expressar culturas diversas nessa espécie de
iniciam o texto II e que chamam atenção para a língua de todos.
supervalorização do trabalho, atrelado, na atualidade,
às ideias de sucesso, realização e felicidade. Nesse Seção Enem Acertei ______ Errei ______
sentido, vale colocar em foco conceitos bastante • 01. B
valorizados no mundo dos negócios, como os de • 02. C
competitividade e eficiência, ressaltando a sobrecarga
• 03. A
física e emocional a que se submetem os indivíduos que
• 04. D
se propõem a efetivá-los em seu cotidiano profissional.
• 05. D
Essas são apenas algumas sugestões de abordagem
• 06. A
e, portanto, pode-se fundamentar em outros dados
e argumentos, desde que estes sejam pertinentes.
• 07. A proposta de redação segue o modelo de avaliação
do Enem e solicita que se aponte a importância e os
O texto elaborado deve ser coeso, coerente e redigido desafios da educação de jovens e adultos. A coletânea
apresentada indica algumas possibilidades que poderão
em acordo com as regras da língua culta formal.
ser exploradas na elaboração do texto. É possível
• 04. Para atender a essa proposta, deve-se redigir um texto utilizar algumas dessas ideias para compor a redação.
dissertativo-argumentativo a respeito da necessidade de É necessário que sejam apresentadas propostas
efetivas sobre a educação de jovens e adultos, dando
que a sociedade em geral, e não somente os cientistas,
destaque àquelas que envolvam a participação de toda
tenha acesso às pesquisas científicas, seja em relação
a sociedade. Vale lembrar que os argumentos devem
aos seus resultados, motivações ou usos. Como se trata estar organizados em um texto coeso, coerente e
de um texto argumentativo, deve-se, necessariamente, adequado à norma-padrão.
apresentar dados, opiniões e raciocínios que corroborem
com o ponto de vista que se desejar apresentar. Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %
40 Coleção 6V
PORTUGUESA A 03
Coerência e Coesão
COERÊNCIA Adequação à situação Contexto
(externa)
sociocomunicativa
Conforme estudamos no primeiro módulo deste volume,
no processo de interação verbal, incidem alguns fatores que Coerência
Istockphoto
sabe como fazer essas retomadas, por desconhecer as
estruturas necessárias ou não saber utilizá-las corretamente.
O resultado é um texto com lacunas de sentido entre
O texto do anúncio é um exemplo em que há a falta
as ideias, ou então cansativo. Observe o exemplo
intencional de coerência externa. Nesse caso, percebe-se
a seguir:
a incoerência do texto “Publicidade não funciona” veiculado
em um outdoor, suporte característico de textos publicitários. A Internet tem sido cada vez mais utilizada, justamente
Reconhece-se, no entanto, que essa falta de coerência por ser um recurso acessível para muitas pessoas. Ela é
externa com o contexto sociocomunicativo provavelmente muito útil para a maior parte das tarefas cotidianas, mas
foi utilizada como recurso persuasivo por uma empresa também pode ser uma grande vilã para quem não sabe
que estava divulgando seus serviços. A suposta incoerência aproveitá-la com bom senso.
funcionou como uma estratégia persuasiva, em que se Desde que foi criada, a Internet objetiva mais praticidade
pretendia chamar a atenção do interlocutor por meio em diversas situações, sobretudo na comunicação. Através
da curiosidade. No entanto, quando não intencional, dela, pessoas de diferentes países conseguem manter
a incoerência externa configura um erro. Observe a contato, sendo assim, ela é um bom recurso.
introdução da redação a seguir, em que o aluno deveria se
No entanto, se não for bem utilizada, a Internet pode
posicionar em relação às cotas raciais em universidades.
causar vários problemas. Muitas pessoas, por exemplo,
A evolução da vida humana, de acordo com os conceitos perdem boa parte de seu tempo nas redes sociais,
de Darwin, mostra que está longe de existir equilíbrio entre tornando-se dependentes dessa realidade virtual.
as sociedades e não haverá harmonia entre as diferentes
Sabendo dos benefícios e prejuízos que a Internet e as
etnias. Atualmente a questão da diversidade social vem à
redes sociais causam, é preciso utilizá-las corretamente,
tona e leva as pessoas a pensarem sobre a igualdade entre
com equilíbrio, tornando-as uma ferramenta de auxílio e /
as etnias que deve ser buscada pelas sociedades. ou lazer e não uma vilã.
Identificam-se, no trecho anterior, duas incoerências: Na produção textual, vários são os elementos que devem
1) a afirmação de que a evolução comprova a não ser mobilizados pelo redator para transmitir ao leitor os
possibilidade de equilíbrio e harmonia entre as etnias sentidos desejados de maneira clara. Entre esses elementos,
e sociedades, o que está incorreto, pois esse conceito, estão os conhecimentos de mundo e o acervo lexical
estabelecido por Darwin, mas não criado por ele, não acumulado. No caso do exemplo anterior, pode-se dizer que
trata de questões sociais e antropológicas e não deve ser os conhecimentos semânticos e morfológicos do autor, além
usado por esse viés, visto que a evolução apenas ocorre do vocabulário e dos mecanismos de coesão, tornaram as
na natureza; 2) a afirmação seguinte de que as sociedades repetições coerentes.
devem buscar a igualdade, que contraria o posicionamento
Relação: Ao escrever um texto, não se pode apenas
anterior de que o equilíbrio entre os povos não é possível.
enumerar ideias sobre um mesmo tema; deve-se relacioná-las
A segunda ocorrência trata, ainda, de um caso de
de modo que componham uma linha de raciocínio, ou seja,
incoerência interna, que se realiza no nível intratextual.
as ideias apresentadas devem guardar relações lógicas e
Observe no tópico seguinte.
semânticas umas com as outras, caso contrário, não haveria
um texto, e sim um amontoado de frases soltas.
Coerência interna
O exemplo a seguir é uma redação de aluno do Ensino
A coerência intratextual estabelece-se a partir das relações Médio sobre o tema “O jeitinho brasileiro é uma forma de
entre as ideias em um texto e está fundada em quatro corrupção?”. Leia-o observando como as ideias apresentadas
princípios: repetição, relação, progressão e não contradição. pelo autor se relacionam no interior do texto.
42 Coleção 6V
A corrupção na política brasileira é um tema muito discutido foi necessário o desenvolvimento das ideias (progressão do
pela mídia na atualidade, pois trata-se de uma ação danosa tema, assunto do próximo tópico) e a utilização de elementos
para a sociedade. As pessoas pagam seus impostos para que as interligassem umas com as outras – os mecanismos
que haja melhoria em seus direitos e não para que de coesão abordados a seguir –, o que contribuiu, ainda,
sejam usados em benefícios particulares dos políticos. para os efeitos de sentido pretendidos pelo autor e também
Se esse dinheiro fosse empregado devidamente, as coisas para o embasamento de sua argumentação.
funcionariam melhor e, talvez, nem seriam necessários Progressão: Embora a repetição seja um princípio
tantos impostos assim. importante para manter a coerência e a coesão de um
LÍNGUA PORTUGUESA
texto, o uso exaustivo da mesma ideia não é aconselhável.
Embora seja fácil identificar esse modo de corrupção “em
Devem-se acrescentar, progressivamente, novas ideias
larga escala”, é responsabilidade também da sociedade agir
e informações que deem continuidade às que já foram
para reverter essa situação. É visto que até em pequenas
apresentadas e tragam informatividade à produção. Mais
coisas dá-se um “jeitinho brasileiro”, que nada mais
adiante serão apresentados os modos pelos quais é possível
é que uma forma de querer levar vantagem em tudo,
organizar a progressão das ideias em um texto. Por ora, leia
uma corrupção “em menor escala”. São exemplos disso:
a redação a seguir, cujo tema é “Viver em rede no século
furar filas, não respeitar as sinalizações de trânsito, não se
XXI: entre o público e o privado”.
submeter às regras, etc.
Vivemos, de alguma forma, em rede. Estamos 24 horas
Quando uma pessoa se vê diante de uma situação em que conectados. Passamos boa parte do tempo em nossos
está sendo prejudicada e / ou não está sendo beneficiada smartphones, seja em casa, no trabalho, na rua, na escola,
como gostaria, ela tende a dar um “jeitinho” para que isso enfim, estamos constantemente com nossos celulares,
mude. No caso de furar filas, por exemplo, quem o faz tablets e computadores.
normalmente pensa ser o seu tempo o mais importante, sem
Essa conectividade pode ser muito benéfica se
se preocupar com o do outro; ao não respeitar uma placa
pensarmos que temos, em nossas mãos, a oportunidade
de “proibido estacionar”, a pessoa ignora completamente
de manter contato com as pessoas, ler notícias,
a necessidade de fluidez daquela via e considera seu
pesquisar assuntos, compartilhar informações, entre
conforto como prioridade; em suma, no momento em que
outros. Diante disso, porém, a questão é: será que estamos
se descumpre alguma das diversas regras sociais, com
utilizando esse recurso de maneira adequada?
o “jeitinho brasileiro”, há corrupção.
A título de curiosidade, temos que 78% dos usuários
Fazer esse exercício de repensar as próprias atitudes de internet estão em alguma das várias redes sociais.
a fim de analisar se há algum tipo de desonestidade Com base nisso, vemos diariamente o seguinte problema:
viabiliza uma nova maneira de mudança social. Afinal, o algumas pessoas estão confundindo o que pode e o
futuro da política é exatamente a sociedade de hoje. que não pode ser publicado. Mesmo que a linha entre o
público e o privado seja tênue para alguns, uma regrinha
No exemplo apresentado, o aluno inicia o texto dentro do
básica é: coisas que não são ditas para todos não
assunto cobrado na proposta, afirmando que a corrupção
devem ser ditas em uma rede social.
é uma ação danosa para a sociedade”; em seguida, ele
fala a respeito dos impostos pagos pelos cidadãos, mas Precisamos manter um limite entre o que deve
consumidos pela corrupção. Depois afirma que as pessoas ser guardado para nós mesmos e o que pode ser
também são, de certa forma, corruptas, ao, por exemplo, publicado. Por exemplo, se estamos chateados com alguém
furar filas, etc., desenvolvendo essa ideia, que é justamente por determinado motivo, não é adequado que essa situação
o tema da redação. seja exposta em uma rede social; ao contrário, o ideal é que
saibamos resolver as pendências particulares justamente no
No terceiro parágrafo, o autor desenvolve os exemplos, âmbito particular. Em contrapartida, se lemos uma notícia
relacionando-os às ideias que vinha discutindo. No último incrível sobre nossa série favorita, não há problema algum
parágrafo, ele menciona necessidade de repensar os próprios em compartilhá-la em nossas redes.
atos, articulando-a de maneira lógica, com as demais ideias
Por mais que a Internet nos proporcione uma série de
apresentadas e, principalmente, com o tema da corrupção.
benefícios, precisamos atentar para esses detalhes de
Percebe-se que os trechos marcados no texto exemplificam exposição desnecessária de nós mesmos. Quanto mais
ideias cuja relação de sentido está clara. Para que essas filtrarmos o que “postamos”, mais resguardada nossa vida
relações fossem estabelecidas de modo lógico e coerente, privada estará.
Essa redação exemplifica bem como fica estruturado um Conforme será abordado adiante, a coesão “trabalha”
texto em que há progressão das ideias. Nela, reconhece-se em função da coerência, no sentido de que é ela que
a elaboração de uma tese (1º e 2º parágrafos), “Vivemos, interliga todas as palavras, frases e parágrafos. Como o
texto anterior tem muitos problemas coesivos, a conexão
de alguma forma, em rede [...]. Diante disso, porém,
entre as ideias ficou prejudicada. Talvez, se o aluno tivesse
a questão é: será que estamos utilizando esse recurso
mais propriedade no uso de articuladores textuais e quanto
de maneira adequada?”, a qual é desenvolvida, pois há
ao sentido que eles provocam, ele conseguisse fazer com
novas informações ou dados que conduzam à progressão que suas ideias fossem mais claras e, consequentemente,
do assunto discutido. O autor faz algumas afirmações fizessem mais sentido. Por isso, o leitor sente dificuldade
em relação ao problema levantado, como em “algumas em entender mais nitidamente a tese defendida.
pessoas estão confundindo o que pode e o que não pode
ser publicado”, e as detalha. Trata-se, enfim, de um texto
que possui informatividade.
INCOERÊNCIA EM TEXTOS DE
Não contradição: As ideias apresentadas em um texto NATUREZA DISSERTATIVO-
não podem se contradizer, ou seja, não se pode fazer uma
afirmação e, em seguida, afirmar algo em sentido oposto.
-ARGUMENTATIVA
Você estudou que textos dissertativo-argumentativos
O exemplo a seguir ilustra como não a contradição entre
cumprem a função de informar e / ou convencer e que,
as ideias pode viabilizar a coerência textual.
para isso, devem oferecer informações consistentes e bem
Acredita-se que o acesso à rede é essencial para evolução fundamentadas, além de apresentá-las de modo organizado
e melhoria de vida das pessoas do século XXI. Ao acessarmos para que o leitor possa compreender o raciocínio desenvolvido.
Nesse caso, a coerência externa precisa ser entendida
a rede estamos expostos ao conhecimento, porém, há a
como a compatibilidade entre o que se afirma no texto e
alienação ao meio em qual estamos inseridos, calúnias e
a realidade, assim como o nexo entre as ideias deve ser
danos morais. facilmente apreendido pelo receptor. A linguagem, por sua
A proposta governamental, aprovada pela ONU é vez, deve estar de acordo com a norma-padrão. A seguir,
apresentamos um texto com diversos tipos de incoerência.
encarada como uma forma bem conveniente para
integração de pessoas, como também a igualdade Leia-o, atentando para as observações que o acompanham.
de acesso à informação, tornando a expansão da
As influências da Internet
rede a espaços públicos um ato beneficente a todos,
sobre os jovens e adolescentes
igualando a forma de conhecimento e informação de
indivíduos. Há, hoje, muitos teóricos defendendo a tese de que a
Internet é responsável por “jovens superficiais”. Fatos
A privatização da rede a quem detém a possibilidade comprovam o contrário do que afirmam, pois nunca
de acesso, faz com que se torne desigual a construção de se viu desenvolvimento tão grande como na medicina
ideias e a atualização de acontecimentos a quem não tem e na educação (1). Ainda na gestação são realizadas
possível acesso, afetando ainda aos impossibilitados o acesso intervenções em bebês para curar problemas de coração (2).
E isso é possível através das tecnologias criadas por
a oportunidades de crescimento, estudos e empregos, pois
jovens nas escolas ou nas escolas de ensino médio (3).
não tem acesso a essas disponibilidades, impedindo também
E estes mesmos jovens proporcionam educação a distância
a integração social dos indivíduos a outros internautas. a outras crianças em locais longínquos da Amazônia (4).
No entanto, não é garantida a disponibilidade de A tecnologia sendo usada como ferramenta que rompe
barreiras (5).
acesso aprovada pela ONU e ela não trará a igualdade
dos conhecimentos e informação a todos, tornando Há outros teóricos que afirmam o contrário e dizem que
mais difícil a equiparação nas disputas de emprego e a Internet é ferramenta importantíssima na formação das
habilidades cognitivas dos jovens, mas que produz “perda
estudos a todos os indivíduos.
de memória” (6). Isso necessariamente não é verdade.
Nessa redação, o estudante não consegue fazer uma O mundo aliou-se às novas tecnologias justamente para que
relação entre suas próprias ideias. Nela, ele utiliza o os cérebros fossem explorados como nunca foram antes (7).
argumento de que a proposta da ONU de considerar o Pesquisas provam que pessoas da 3ª idade melhoram sua
capacidade de guardar informações, utilizando jogos ou
acesso à Internet um direito fundamental do ser humano
apenas explorando as facilidades da Internet (8).
(informação do texto motivador) é boa e vai trazer mais
oportunidades para quem não tem acesso. Entretanto, na Assim, podemos perceber que as teses apresentadas são
positivas, como negativas, porém os jovens as transformam
conclusão, ele considera que não há garantia desse acesso
em benefício para o desenvolvimento da humanidade (9).
e que isso não trará igualdade de oportunidades.
44 Coleção 6V
1. O fato de existir atualmente um grande desenvolvimento 9. Os jovens não “transformam” as teses apresentadas
na medicina e na educação não “comprova” que a Internet (avaliação de teóricos relacionada à influência da
não é responsável por jovens superficiais. Internet sobre os jovens) a fim de “desenvolverem
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS IDEIAS. a humanidade”; além disso, as ideias apresentadas
2. O fato de que bebês podem ser operados antes de nesse parágrafo não podem ser concluídas a partir
nascerem é um exemplo da evolução da tecnologia daquilo que se desenvolveu no texto.
aplicada à medicina, mas não se relaciona com a Internet
AS IDEIAS DESENVOLVIDAS NO TEXTO NÃO
nem com o uso que os jovens fazem dela.
CONDUZEM O LEITOR A ESSA CONCLUSÃO.
LÍNGUA PORTUGUESA
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS IDEIAS.
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE A CONCLUSÃO DESSE produção textual e exige do escritor o domínio dos recursos
PARÁGRAFO E O TEMA A SER DESENVOLVIDO. coesivos disponibilizados pela língua para o exercício dessa
tarefa. A coesão permite o texto caminhar à frente sem
6. Não há contradição entre o que afirmam estes
perder de vista o que está atrás, num processo de acréscimos
teóricos e os citados no primeiro parágrafo, pois o
mesclados a retomadas. Escrever um texto coeso, que
fato de a Internet poder desempenhar um importante
papel no desenvolvimento cognitivo dos jovens não garante a manutenção por meio da uma progressão lógica
implica que estes a usem de forma proveitosa, de de ideias, significa fazer uso diversificado desses expedientes
modo a se tornarem menos superficiais. coesivos, ou seja, em um texto bem redigido, espera-se do
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS IDEIAS. escritor a exploração da coesão textual, que ocorre dentro
de frases, entre frases e entre parágrafos.
7. “O mundo” não desenvolveu tecnologias apenas
para explorar “cérebros”; além disso, a suposta Para começar o estudo, observe atentamente os exemplos
“exploração de cérebros” não garante que a memória a seguir.
dos jovens não se torne dependente de extensões
Armandinho, de Alexandre Beck.
eletrônicas.
O QUE SE AFIRMA NO TEXTO É INCOMPATÍVEL COM
A REALIDADE E NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE ESSA IDEIA
E A QUE FOI ANTERIORMENTE APRESENTADA.
Divulgação
Um mecanismo de coesão textual também está presente
nessa campanha do governo do estado de São Paulo.
Podemos observar que o pronome “isso” está retomando a
frase “Não use celular ao volante”, demonstrando que tal
hábito pode causar um acidente até fatal. Esses mecanismos
são muito importantes para que produza no leitor um
entendimento “rápido” da ideia central da imagem.
Divulgação
Divulgação
Nessa campanha do Ministério da Justiça, no mesmo
campo semântico, a palavra “imigração”, com sentido mais
amplo, relaciona-se às palavras “angolano” e “ganês”,
ambas com sentido mais específico. A coesão encontra-se
justamente nessa relação de sentido entre essas palavras,
o que contribui para que o objetivo do texto seja alcançado:
demonstrar que todos nós temos ascendência de outras
Divulgação
nacionalidades.
46 Coleção 6V
LÍNGUA pORTUGUESA
veremos detalhadamente quais são os mecanismos de
coesão textual.
MECANISMOS DE
COESÃO TEXTUAL
A coesão está intimamente ligada à coerência textual.
De acordo com Irandé Antunes, “a coesão está em função
Divulgação
da coerência, no sentido de que as palavras, os períodos, os
parágrafos, tudo, qualquer segmento se interliga no texto
para que ele faça sentido, se torne interpretável” (2005,
p. 177). Então, para garantir a coesão textual, devem ser
observados determinados princípios, como a estruturação
dos períodos e dos parágrafos.
Paralelismo / Repetição
Um parágrafo é uma unidade textual formada por uma
ideia principal à qual se ligam ideias secundárias. Essa No texto publicitário, foram utilizados dois recursos
estrutura é formada por períodos que podem ser mais coesivos: a repetição e o paralelismo. Como é uma
ou menos complexos, dependendo do tipo textual e da propaganda de prevenção ao câncer de mama, ao repetir
“eu posso”, o homem reafirma uma ideia de parceria, ajuda
intenção do autor.
e companheirismo. O paralelismo está nas formas verbais
No caso do texto dissertativo-argumentativo, essa no presente do indicativo, indicando uma ação regular, que
estruturação é mais complexa, tendo em vista que o tem validade permanente: posso lavar, trocar, mudar.
autor expõe e desenvolve uma ideia com o objetivo de No trecho do texto “Em nome dos filhos”, a seguir, o autor
convencer o interlocutor. As relações estabelecidas entre utilizou o “porque” como recurso para enumerar os motivos
as ideias e os argumentos em tal tipo de texto podem pelos quais se nomeia um filho, além de dar continuidade e
ser de comparação, causa-consequência, contradição, enfatizar a ideia que pretendia construir. Leia:
exemplificação, conclusão, entre outras possibilidades.
Em nome dos filhos
Assim, deve haver uma boa articulação entre os
É difícil nomear algo. Pior ainda quando se trata de nomear
períodos, que formam os parágrafos, e destes entre si,
uma pessoa. E complica ainda mais se for uma pessoa com
promovendo o nexo, ou seja, a continuidade entre as ideias quem você vai conviver a vida toda. Mais difícil do que dar
e sentidos, que se expressa, geralmente, pelas relações nome aos bois é dar nome aos filhos. Já imaginou, seu
de reiteração, associação e conexão. Essas relações rebento querido, no auge da rebeldia, se virar para você e
se dão por meio de vários procedimentos, os quais, por soltar a clássica frase, “eu não pedi pra nascer”, acrescida
sua vez, se desdobram em distintos recursos, conforme de um “muito menos ter essa m**** de nome”?
apresentados a seguir.
Gerar um outro ser e, ainda por cima, criar uma alcunha para
ele, é brincar de deus. Mas a grande maioria não aprendeu
Reiteração com o Homem-Aranha, que “grandes poderes trazem grandes
responsabilidades”. Então, as pessoas saem por aí desferindo
No processo de coesão por reiteração, os elementos nomes no impulso, ao bel-prazer, sem pensar no futuro do
que compõem um texto vão sendo retomados em um cidadão que o ostentará por toda uma vida. Apenas nomeiam,
movimento de “voltar atrás”, de forma que nada fique porque acham que soa bem, porque viram o nome na
sem uma referência ou descontextualizado. As referências TV, porque é o nome do pai misturado com o da mãe
a pessoas, coisas, lugares e fatos são introduzidas e, ou, simplesmente, porque SIM.
depois, retomadas, à medida que o texto progride. AMÂNCIO, Luiz Fernando. Disponível em:
Portanto, as informações são adequadamente reiteradas, <http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.
confirmadas. asp?codigo=4367&titulo=Em_nome_dos_filhos>. [Fragmento]
48 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
Para ilustrar os elementos de coesão referentes à dinheiro; acondicionam cocaína e maconha em invólucros
associação e à conexão, faça uma leitura atenta do artigo de impermeáveis, introduzidos na vagina para atender a
opinião a seguir, em que o médico e escritor Drauzio Varella solicitações de maridos, namorados e familiares que as
faz uma análise da desigualdade judiciária para com os chantageiam com súplicas de ajuda, para não morrer nas
presos pobres e sem condição de defesa justa. O ambiente mãos de assassinos impiedosos.
carcerário é um local já conhecido do médico, que trabalha
há anos em penitenciárias e convive com essa realidade Eventualmente surpreendidas pelas encarregadas de
bem de perto. revistá-las, são encaminhadas para lavrar o flagrante na
delegacia mais próxima, de onde serão transferidas para a
Desigualdade judiciária Penitenciária à espera do julgamento. Essas mulheres
costumam ter vários filhos. Na Penitenciária, já atendi
Site Drauzio Varella
uma avó aos 28 anos e uma mulher de 40 que tem dois
Já vivi o suficiente para aprender que a igualdade entre bisnetos, “por enquanto”, conforme assegura. Ao ir para a
seres humanos só é atingida depois da morte, em qualquer delegacia, a mãe deixa em casa três ou quatro crianças na
parte do mundo. Nos países desenvolvidos, no entanto, agonia da espera, até que um parente ou vizinho apareça
existe preocupação do aparato judiciário em aplicar para levá-los.
as leis com mais rigor e punir os que as infringem, de
Como é pequena a probabilidade de que alguém possa
modo a transmitir aos cidadãos a sensação de que condições cuidar de tantas crianças, uma vai para a casa de um
sociais privilegiadas não lhes garante a impunidade. vizinho, outra para a da avó, outra vai morar com a tia no
No Brasil, o emaranhado de leis, jurisprudências interior. Na falta de acolhimento, ficarão sob a guarda
e recursos cabíveis à aplicação delas asseguram, aos do Conselho Tutelar. Qual será o futuro dos filhos? O que
bons escritórios de advocacia, a possibilidade de manter a sociedade ganha com essas prisões? Que impacto tem,
criminosos longe das grades por muitos anos – ou na economia do tráfico, a quantidade de droga que cabe
para sempre. Por despreparo técnico, não vou discutir numa vagina?
as incoerências de nosso Código Penal antiquado. Nem Você não pode imaginar, caro leitor, a revolta das
pretendo falar do péssimo exemplo dado à população por mulheres na Penitenciária, quando foi libertada a esposa
servidores públicos ladrões, corrompidos por uma do ex-governador do Rio de Janeiro, com a justificativa de
elite empresarial de marginais sem escrúpulos, que ser mãe de um menino de catorze e outro de doze anos
lhes dão gorjetas em troca de contratos bilionários, carentes de cuidados maternos. Como explicar que elas
superfaturados. Vou me ater a um universo que me é mais não têm direito à lei da qual se valeu essa senhora, cujo
familiar: o das prisões. marido roubou muitos milhões a mais do que a somatória de
todos os furtos e assaltos praticados pelas 2 200 prisioneiras
Domingo passado, o Fantástico apresentou o caso de
da cadeia?
um traficante preso com 120 quilos de maconha.
As imagens iniciais mostravam os pacotes com a droga VARELLA, Drauzio. Desigualdade judiciária. Disponível em:
e uma centena de balas enormes, que imagino serem de <https://drauziovarella.com.br/drauzio/desigualdade-
fuzil. Em seguida, aparecia a mãe do rapaz (por acaso, judiciaria/>. Acesso em: 04 out. 2017.
uma desembargadora) indo buscar o filho na porta Nesse texto, além de elementos de reiteração, é fácil
da cadeia, com o alvará de soltura expedido por um identificar a teia semântica construída por meio de relações
colega de trabalho. A justificativa dada ao repórter pelo textuais de associação e conexão estabelecidas pelo autor
desembargador e pelo advogado de defesa foi a mesma: para criar as imagens pretendidas, construir os sentidos e
o réu seria transferido para uma clínica por ser portador argumentar a favor do seu ponto de vista.
de uma enfermidade denominada transtorno borderline,
patologia de diagnóstico incerto, fonte de discussões e Em relação à associação semântica dos sentidos, é ela
desacordos entre os psiquiatras. que constitui a coesão lexical do texto, ou seja, a unidade
temática proveniente da aproximação e da semelhança
No dia seguinte, dei uma aula sobre saúde para cerca entre as palavras. No artigo “Desigualdade judiciária”,
de 200 mulheres presas na Penitenciária Feminina da o autor constrói essa unidade a partir do título, que, de
Capital, em Santana, na Zona Norte. No final, quando me certa forma, antecipa o que será tratado no texto: a questão
coloquei à disposição para as perguntas, uma senhora que da desigualdade judiciária, com o recorte para o sistema
aparentava 50 anos ficou em pé: prisional, contexto já conhecido do médico.
Por meio da escolha de unidades do léxico como 7º parágrafo – A conjunção adversativa “mas” é utilizada
substantivos, adjetivos e verbos, é construída uma cadeia, para contrapor a figura da mulher traficante profissional
em que as palavras vão se inserindo para formar o núcleo daquela que leva drogas para cadeias por pedido de maridos
temático do texto. Observe, em verde, as escolhas feitas pelo ou familiares.
autor para introduzir o tema e contextualizá-lo, apontando as 8º parágrafo – O advérbio “eventualmente” inicia o
incoerências do código penal brasileiro e a corrução do país. parágrafo, indicando o sentido de possibilidade, suposição.
Todas essas palavras e expressões referem-se ao universo Depois, o autor utiliza “conforme” para indicar conformidade
da lei, do judiciário. Com base nelas, o leitor vai construindo e acordo.
uma imagem da situação apresentada pelo autor, que, por
meio dos adjetivos, vai também desenvolvendo sua opinião.
Em seguida, na sequência narrativa em que constrói seu
classificação
primeiro argumento, o autor aborda a injustiça da prisão
e soltura de um traficante filho de uma desembargadora, Podemos classificar a coesão textual e seus mecanismos
comparando-o a homens e mulheres pobres presos por em três modalidades: referencial, sequencial e
tráfico (às vezes para consumo próprio e em quantidade recorrencial. A primeira é responsável pelas remissões
mínima) e sem perspectiva de libertação. Para isso, as de palavras, expressões e ideias dentro do próprio texto;
escolhas lexicais, em azul, recaem sobre palavras do a segunda, pela progressão e ligação dessas ideias; e a
universo criminal e penitenciário. terceira, pela articulação de uma informação nova.
No segundo argumento, sobre a injustiça no universo
prisional feminino, é aludido o caso da mulher de um
Coesão referencial
ex-governador do Rio de Janeiro que foi libertada “para Esse expediente articula partes de um texto, mantendo-lhe
cuidar dos filhos”, comparando-o ao de outras que a continuidade temática, por meio de processos de
cometeram delitos menores, mas cujos filhos pequenos são substituições, em que o termo substituinte assume o
levados para custódia de parentes, amigos ou do Estado, significado do termo que substitui. São os pronomes os
visto que suas penas não são alteradas por terem de cuidar protagonistas desse mecanismo, pois eles vão assumir o
deles. Para essa construção argumentativa, o autor, além de significado do termo a que se referirem; disso a nomenclatura
utilizar palavras do campo semântico do encarceramento, “coesão referencial”. O pronome “ele”, por exemplo, pode
em laranja, utiliza também as ligadas à maternidade. referir-se a uma pessoa, a um objeto, a um sentimento;
o contexto vai conferir-lhe o significado. Observe:
São essas escolhas, aliadas ao sentido que se quer dar a
elas dentro do texto, que constituem a organização temática Um novo estudo publicado no periódico Acta Dermato-
do gênero. Cada escolha é de ordem sociocognitiva, ou seja, Venereology advertiu que talvez ∅ estejamos recebendo
relaciona-se aos sentidos e propósitos compartilhados pelos menos proteção do filtro solar do que ∅ imaginamos. Não
falantes em determinados contextos sociocomunicativos. porque ele não funcione, mas, sim, porque ∅ aplicamos de
maneira errada.
A conexão, por sua vez, é construída por articuladores
(conjunções, advérbios, locuções adverbiais) que unem o FILTRO solar não protege se aplicado da forma errada.
“arranjo temático” do texto de forma a construir sua teia Disponível em: <https://catracalivre.com.br/saude-bem-
sintático-semântica. Esses elementos coesivos constroem estar/filtro-solar-nao-protege-se-aplicado-da-forma-errada/>.
a coesão interna dos parágrafos e também a relação entre Acesso em: 04 out. 2018.
eles. A seguir, será analisado como esses elementos foram
utilizados no artigo de Drauzio Varella.
Coesão sequencial e recorrencial
1º parágrafo – Há dois conectivos. A conjunção de valor
adversativo “no entanto”, que foi usada para comparar duas No processo sequencial, a escrita vale-se de conectores
ideias diferentes: a de que não existe justiça no mundo e que juntam partes do texto, num processo de colagem, em
a de que os países desenvolvidos se preocupam mais em que inexistem substituições, mas apenas uniões. Para isso,
aplicar as leis e punir com rigor; e a locução prepositiva “de acionam-se as conjunções e as preposições. As primeiras
modo a”, que tem valor consecutivo e, no texto, exprime o conectam frases, orações, períodos e parágrafos; as segundas
sentido de justiça dado aos cidadãos dos países em que há juntam palavras e termos. No processo recorrencial, há
rigor na aplicação da lei, levando-os a entender que melhores articulação de uma informação nova para a progressão textual.
condições socioeconômicas não é sinônimo de impunidade. Para que você também possa construir essa teia coesiva
2º parágrafo – Há a presença da conjunção “nem”, que nos textos que produzir, segue aqui uma lista de conectivos,
indica negação e, no texto, é utilizada pelo autor para agrupados pelo sentido, a qual deve ser consultada sempre
indicar temas que não serão tratados em seu texto (no que necessário, pois a escolha inadequada desses conectivos
caso, a incoerência do código penal brasileiro e a corrupção pode ocasionar a deturpação do sentido do texto.
no poder público).
Adição, continuação: além disso, demais, ademais,
3º parágrafo – O autor faz a passagem de tempo na outrossim, ainda mais, por outro lado, também, e, nem, não
sequência narrativa por meio das expressões “As imagens só... mas também, não só... como também, não apenas...
iniciais” e “Em seguida”, construindo a cena enunciativa que como também, não só... bem como, com, ou (quando não
deu origem ao primeiro argumento. for excludente).
4º parágrafo – O mesmo processo temporal é construído Causa e consequência, explicação: por consequência,
nesse parágrafo, iniciando com a locução adverbial “no dia por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em
seguinte” e, em seguida, por “no final”, que introduz uma virtude de, assim, de fato, com efeito, tão (tanto, tamanho)...
explicação do autor acerca do que ocorreu após o término que, porque, porquanto, pois, já que, uma vez que, visto que,
da aula que dava para mulheres presas. como (= porque), portanto, logo, que (= porque).
50 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
Ideias alternativas: ou, ou... ou, quer... quer, ora... ora. pó espectral. Logo te ajuntarás ao barro da terra. Logo
a terra abrirá a fecunda e profunda boca para te tragar.
Ilustração, esclarecimento: por exemplo, só para ilustrar,
Oleiro. Logo, meu velho. Logo. Lembras-te que eras tão
só para exemplificar, isto é, quer dizer, em outras palavras,
bom na pontaria, que não erravas uma formiga na mira
a saber, ou seja, aliás.
da tua espingarda, que ficavas a escorar-te em qualquer
Lugar, proximidade, distância: perto de, próximo a ou
pilastra por onde pousavas e passavas, em varandas de
de, junto a ou de, dentro, fora, mais adiante, aqui, além,
casebres e casas grandes? Lembras-te, meu velho, que
acolá, lá, ali, este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela,
aquilo, ante, a. eras tão bom na composição de versos, nos improvisos
de belos repentes? Tuas pernas já não suportam o peso
Prioridade, relevância: em primeiro lugar, antes de mais
de teu corpo, mesmo que tu queiras: magro, seco feito
nada, antes de tudo, em princípio, primeiramente, acima
de tudo, precipuamente, principalmente, primordialmente, imbaúba. Triste é sofrer. O tempo passou devagar, voraz,
sobretudo, a priori, a posteriori. amigo. O tempo não espera que o acompanhemos. Segue
sozinho os caminhos da vida e vai a todos os lugares e
Propósito, intenção, finalidade: com o fim de, a fim de,
com o propósito de, com a finalidade de, com o intuito de, direções: atalhos.
para que, a fim de que, para. LOURENÇO, Rosival. Pelos engenhos.
Resumo, recapitulação, conclusão: em suma, em Maceió: Edufal, 2011. p. 12.
síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim,
dessa forma, dessa maneira, desse modo, logo, pois (entre 01. (IFAL–2018) Considerando as relações de coerência e
vírgulas), assim sendo.
coesão, bem como as relações sintáticas de concordância
Semelhança, comparação, conformidade: igualmente, do português, assinale a alternativa que apresenta uma
da mesma forma, assim também, do mesmo modo, afirmação errada quanto ao trecho a que se refere.
similarmente, semelhantemente, analogamente, por
analogia, de maneira idêntica, em conformidade com, de A) “Já faz algum tempo que não conversamos” / se o
acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de sujeito do primeiro verbo fosse plural, a forma verbal
vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, como se, deveria permanecer no singular, de acordo com o
bem como. português culto.
Surpresa, imprevisto: inesperadamente, de súbito, subita- B) “Tuas débeis mãos fremem” / as concordâncias
mente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente. nominal e verbal obedecem à norma-padrão do
Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, português escrito.
anterioridade, posterioridade): então, enfim, logo, C) “eras tão bom na composição de versos, nos
logo depois, imediatamente, logo após, a princípio,
improvisos de belos repentes” / os adjetivos
no momento em que, pouco antes, pouco depois,
anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por concordam adequadamente com os nomes a que se
fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, ligam, observando-se o padrão da Língua Portuguesa.
constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, D) “Segue sozinho os caminhos da vida e vai a todos
ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo os lugares e direções” / os dois verbos não estão
tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo,
adequados na sua flexão número-pessoal, pois
nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois que, logo
deveriam flexionar-se na segunda pessoa do singular.
que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que,
cada vez que, apenas, já, mal, nem bem. E) “Tuas pernas já não suportam o peso de teu corpo,
mesmo que tu queiras” / no português padrão, o
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 14. ed.
último verbo não deve ser flexionado na terceira
Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1988.
pessoa do singular, embora isso seja aceito em
situação de coloquialidade.
03. (UEMA–2015) O poema a seguir foi extraído da obra 04. (FGV-SP) Leia o texto.
“Alguma Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade, em Glória Pires retorna ao Brasil após três anos na França
que o autor põe em evidência a desconstrução da imagem na pele de uma personagem vingativa na novela “Insensato
de um ícone natalino. Leia-o para responder às questões Coração”, fazendo lembrar seus melhores momentos na TV
como vilã.
propostas.
BEM-ESTAR. Diário da Região, 23 jan. 2011.
Papai Noel às Avessas
A Afonso Atinos (sobrinho) Observe que o texto apresenta uma ambiguidade.
52 Coleção 6V
Isso pode ser verdade, mas elas não deveriam basear Instrução: Leia, com atenção, o texto a seguir, pois as questões
suas conclusões no que diz o filme. No mínimo, 04 e 05 referem-se a ele.
o cinema pode servir como mecanismo de alerta para
Vivendo e...
45 questões científicas importantes: o aquecimento global,
a inteligência artificial, a engenharia genética, as guerras Eu sabia fazer pipa e hoje não sei mais. Duvido que se
nucleares, os riscos espaciais como cometas ou asteroides hoje pegasse uma bola de gude conseguisse equilibrá-la
etc. Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da letra. na dobra do dedo indicador sobre a unha do polegar,
A arte distorce para persuadir. E o cinema moderno, quanto mais jogá-la com a precisão que tinha quando
50 5 era garoto. [...]
com efeitos especiais absolutamente espetaculares,
distorce com enorme facilidade e poder de persuasão. Juntando-se as duas mãos de um determinado
jeito, com os polegares para dentro, e assoprando pelo
O que os cientistas podem fazer, e isso está virando
LÍNGUA PORTUGUESA
buraquinho, tirava-se um silvo bonito que inclusive
moda nas universidades norte-americanas, é usar filmes
variava de tom conforme o posicionamento das mãos.
nas salas de aula para educar seus alunos sobre o que
10 Hoje não sei mais que jeito é esse. Eu sabia a fórmula
55 é cientificamente correto e o que é absurdo. Ou seja,
de fazer cola caseira. Algo envolvendo farinha e água e
usar o cinema como ferramenta pedagógica. Os alunos
muita confusão na cozinha, de onde éramos expulsos sob
certamente prestarão muita atenção, muito mais do que
ameaças.
em uma aula convencional. Com isso, será possível educar
a população para que, no futuro, um número cada vez Hoje não sei mais. A gente começava a contar depois
15 de ver um relâmpago e o número a que chegasse quando
60 maior de pessoas possa discernir o real do imaginário.
ouvia a trovoada, multiplicado por outro número, dava a
GLEISER, Marcelo. distância exata do relâmpago. Não me lembro mais dos
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br> (Adaptação). números. [...]
Lembro o orgulho com que consegui, pela primeira
20 vez, cuspir corretamente pelo espaço adequado entre os
01. (UERJ) Na construção argumentativa, uma estratégia
comum é aquela em que se reconhecem dados ou fatos dentes de cima e a ponta da língua de modo que o cuspe
contrários ao ponto de vista defendido, para, em seguida, ganhasse distância e pudesse ser mirado. Com prática,
negá-los ou reduzir sua importância. O fragmento do texto conseguia-se controlar a trajetória elíptica da cusparada
que exemplifica essa estratégia é: com uma mínima margem de erro. Era puro instinto.
25 Hoje o mesmo feito requereria complicados cálculos de
A) Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho balística, e eu provavelmente só acertaria a frente da
algum no espaço. (l. 1-2) minha camisa. Outra habilidade perdida.
B) Pode ser que existam alguns, mas se existirem não Na verdade, deve-se revisar aquela antiga frase.
fizeram muito sucesso. (l. 3-4) É vivendo e ___________ . Não falo daquelas coisas que
C) Para um produtor de cinema, a questão não passa 30 deixamos de fazer porque não temos mais as condições
pela ciência. (l. 9-11) físicas e a coragem de antigamente, como subir em bonde
andando – mesmo porque não há mais bondes andando.
D) Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da letra.
Falo da sabedoria desperdiçada, das artes que nos
(l. 48)
abandonaram. Algumas até úteis. Quem nunca desejou
35 ainda ter o cuspe certeiro de garoto para acertar em
02. (UERJ) Ao longo do texto, o autor procura evitar algum alvo contemporâneo, bem no olho, e depois sair
generalizações, admitindo, após algumas conclusões, correndo? Eu já.
a possibilidade de exceções. Essa atitude do autor está
exemplificada em: VERISSIMO, Luis F.
Comédias para se ler na escola.
A) Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos
fantásticos. (l. 4-5)
B) Recentemente, o debate sobre as liberdades científicas
04. (FUVEST-SP) A palavra que o cronista omite no título,
substituindo-a por reticências, ele a emprega no
tomadas pelo cinema tem aquecido. (l. 15-16)
último parágrafo, na posição marcada com pontilhado.
C) Óbvio, documentários devem retratar fielmente a Tendo em vista o contexto, conclui-se que se trata da palavra
ciência, educando e divertindo a população, (l. 30-32)
A) desanimando. D) brincando.
D) As pessoas não vão ao cinema para serem educadas,
B) crescendo. E) desaprendendo.
ao menos como via de regra. (l. 33-34)
C) inventando.
03. (UERJ) “Mas, se existirem exageros, eles não deverão ser
criticados como tal.” (l. 37-38) Essa afirmação, embora 05. (FUVEST-SP) Um dos contrastes entre passado e presente
pareça contraditória, sugere um elemento fundamental que caracterizam o desenvolvimento do texto manifesta-se
na oposição entre as seguintes expressões:
para a compreensão do ponto de vista do autor.
O fragmento que melhor sintetiza o ponto de vista A) “precisão” (l. 4) / “fórmula” (L. 10).
expresso pela frase citada é:
B) “muita confusão” (l. 12) / “distância exata” (l. 17).
A) Até recentemente, defendia a posição mais rígida, (l. 25) C) “trajetória elíptica” (l. 23) / “mínima margem de erro”
B) Filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência (l. 24).
têm enorme valor cultural. (l. 35-36) D) “puro instinto” (l. 24) / “complicados cálculos” (l. 25).
C) A arte distorce para persuadir. (l. 49) E) “habilidade perdida” (l. 27) / “artes que nos
D) Os alunos certamente prestarão muita atenção, (l. 56-57) abandonaram” (l. 33-34).
06.
Z5EK
(FUVEST-SP) A civilização “pós-moderna” culminou
em um progresso inegável, que não foi percebido
Seção Enem
antecipadamente, em sua inteireza. Ao mesmo 01. (Enem–2016)
tempo, sob o “mau uso” da ciência, da tecnologia e da
5 capacidade de invenção nos precipitou na miséria moral Pérolas absolutas
inexorável. Os que condenam a ciência, a tecnologia e a Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que
invenção criativa por essa miséria ignoram os desafios imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-sepela fissura
que explodiram com o capitalismo monopolista de sua uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as
paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem
terceira fase.
medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora
10 Em páginas secas premonitórias, E. Mandel apontara tais penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria
riscos. O “livre jogo de mercado” (que não é e nunca foi “livre”) substância. A ostra reage, imediatamente. E começa
rasgou o ventre das vítimas: milhões de seres humanos nos a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma
países ricos e uma carrada maior de milhões nos pobres. tentativa de purificação contra a partícula invasora.
O centro acabou fabricando a sua periferia intrínseca e Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada
continua seu trabalho incansável, secretando por anos a
15 apossou-se, como não sucedeu nem sob o regime colonial
fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa
direto, das outras periferias externas, que abrangem
solidificação que nascem as pérolas.
quase todo o “resto do mundo”.
As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação.
FERNANDES, Florestan. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a
Folha de S.Paulo, 27 dez. 1993. transformação da dor. [...] Escrever é preciso. É preciso
continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez
No trecho “nos precipitou na miséria moral inexorável” seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva
(l. 5-6), a palavra sublinhada pode ser substituída, sem para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas,
prejuízo para o sentido do texto, por as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas
intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem
A) inelutável. D) inominável.
em si uma parcela faiscante da eternidade.
B) inexequível. E) impensável.
SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro.
C) inolvidável. Rio de Janeiro: Record, 2009. [Fragmento]
02. (Enem–2015)
Por que as formigas não morrem
quando postas em forno de micro-ondas?
54 Coleção 6V
Os textos constroem-se com recursos linguísticos que As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo
materializam diferentes propósitos comunicativos. relações que atuam na construção do sentido. A esse
Ao responder à pergunta que dá título ao texto, o autor respeito, identifica-se, no fragmento, que
tem como objetivo principal A) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação
A) defender o ponto de vista de que as ondas de ideias.
eletromagnéticas são inofensivas.
B) o conectivo “mas também” inicia a oração que exprime
B) divulgar resultados de recentes pesquisas científicas ideia de contraste.
para a sociedade.
C) o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”,
C) a p r e s e n t a r i n f o r m a ç õ e s a c e r c a d a s o n d a s introduz uma generalização.
eletromagnéticas e de seu uso.
LÍNGUA PORTUGUESA
D) o termo “Também” exprime uma justificativa.
D) alertar o leitor sobre os riscos de usar as micro-ondas
E) o termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de
em seu dia a dia.
colesterol e de glicose no sangue”.
E) apontar diferenças fisiológicas entre formigas e
seres humanos. 05.
03. (Enem) Gripado, penso entre espirros em como a palavra Texto I
gripe nos chegou após uma série de contágios entre
línguas. Partiu de Itália em 1743 a epidemia de gripe “Encontre seu pai aqui.” O inscrito chama atenção
que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente ao lado do balcão de informações do Poupatempo de
dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o Itaquera em São Paulo. O anúncio é parte da divulgação
francês grippe. O primeiro era um termo derivado do do serviço gratuito de “reconhecimento e investigação
latim medieval influentia, que significava “influência dos de paternidade”, que pode ser encontrado em todas as
astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma unidades do órgão estadual. O objetivo? Reverter os altos
nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se índices de abandono paterno e registros “incompletos”.
que fizesse referência ao modo violento como o vírus Segundo dados colhidos pelo IBGE – Instituto Brasileiro
se apossa do organismo infectado. de Geografia e Estatística, de 2015, o Brasil ganhou mais
de 1 milhão de famílias compostas por mãe solo, em
RODRIGUES, S. Sobre palavras.
um período de dez anos. Só no estado de São Paulo, há
Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.
750 mil pessoas, de 0 a 30 anos, sem o nome do pai no
Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, registro, de acordo com dados do governo estadual.
é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus elementos.
“O abandono paterno precisa ser olhada com mais
Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela
atenção”, diz o promotor de Justiça Maximiliano Roberto
retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse.
Ernesto Fuhrer, da Promotoria de São Bernardo do Campo.
O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:
‘Vivemos uma epidemia social’. Ele foi responsável por
A) “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de criar o serviço, em 2005, na época, oferecido apenas em
contágios entre línguas.” escolas públicas do ABC”.
B) “Partiu de Itália em 1743 a epidemia de gripe [...]”. Disponível em: <https://universa.uol.com.br/noticias/
C) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval redacao/2018/04/10/vivemos-uma-epidemia-social-de-
influentia, que significava ‘influência dos astros sobre abandono-paterno-diz-promotor.htm>.
os homens’.”
D) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo Texto II
gripper [...]”. “’Os prejuízos vão muito além do nome que não
E) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como consta na certidão. O abandono material acarreta sérias
o vírus se apossa do organismo infectado.” consequências na subsistência da criança, que depende
só da mãe para ser provida. No entanto, a longo prazo,
o abandono afetivo acarreta traumas que jamais serão
04. (Enem) Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente
mensurados, já que a ausência paterna pode trazer
importante para diminuir o risco de infarto, mas também
inúmeros danos psicológicos’, ressalta Thaís Perico,
de problemas como morte súbita e derrame. Significa que
advogada especializada em assessoria para mulheres e
manter uma alimentação saudável e praticar atividade
sócia do escritório Lima Perico Sociedade de Advogadas,
física regularmente já reduz, por si só, as chances de de São Paulo.
desenvolver vários problemas. Além disso, é importante
Realmente, as consequências desse ato irresponsável
para o controle da pressão arterial, dos níveis de colesterol
se refletem na vida do pequeno, prejudicando-o de
e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o
diversas maneiras [...]. ‘Desde o útero, a criança já
estresse e aumentar a capacidade física, fatores que,
escuta e discrimina a voz dos pais devido à diferença
somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se,
de tonalidade. Portanto, o vínculo do bebê com a figura
nesses casos, com acompanhamento médico e moderação,
paterna se inicia ainda na vida intrauterina’, afirma a
é altamente recomendável. psicóloga Isis Pupo.”
ATALIA, M. Nossa vida. Disponível em: <https://bebe.abril.com.br/familia/abandono-
Época, 23 mar. 2009. paterno-relatos/>.
Texto III
CERTIDÃO DE NASCIMENTO
RORAIMA
Último do ranking
19 203 crianças
O Brasil tem
5,5
milhões
de crianças sem
o pai no registro
São Paulo Rio de Janeiro
Segundo do ranking Líder do ranking
663 375 crianças 677 676 crianças
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com base no senso escolar de 2011.
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija
texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da Língua Portuguesa sobre o tema: O abandono paterno no Brasil.
Apresente proposta de ação social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
GABARITO Meu aproveitamento “Após três anos na França, Glória Pires retorna ao
Brasil na pele de uma personagem vingativa [ , ] na
Aprendizagem Acertei ______ Errei ______ novela ‘Insensato Coração’, fazendo lembrar seus
melhores momentos na TV como vilã.”
• 01. D
• •
de um pronome relativo que representa um nome já
02. D 05. D
mencionado anteriormente e com o qual se relaciona.
Introduz uma oração subordinada adjetiva. • 03. C • 06. A
04.
Seção Enem Acertei ______ Errei ______
• A) A ambiguidade está na possibilidade de entender
que • 01. C • 02. C • 03. E • 04. A
1. a atriz retorna ao Brasil após viver três anos na
França na pele de uma personagem vingativa
• 05. A proposta de redação pede que se discurse sobre o
abandono paterno no Brasil. Na redação, deve-se ser
na novela “Insensato Coração” (portanto, ela capaz de introduzir o tema do assunto de maneira
interpretou a personagem na França); clara e objetiva, desenvolvendo-o com uma proposta
2. após viver na França por três anos, a atriz retorna argumentativa por meio de raciocínios claros e
ao Brasil na pele de uma personagem vingativa diretos. Um dos mecanismos de auxílio ao raciocínio
na novela “Insensato Coração” (portanto, ela e à argumentação apresentada é a inserção de
interpreta a personagem no Brasil). exemplos, para que o leitor seja capaz de acompanhar
56 Coleção 6V
PORTUGUESA B 01
Figuras de Linguagem e Figuras Sonoras
LITERATURA: PARA QUÊ? Ezra Pound, poeta nascido nos Estados Unidos, afirmou que
a “grande” [ou boa] literatura é a linguagem impregnada
A literatura propicia ao ser humano o desenvolvimento de significado no mais alto grau. Já o italiano Ítalo Calvino
das habilidades de ler e fazer inferências, do raciocínio nos afirma que um clássico literário é aquele que nunca
e da cognição, colaborando para o desenvolvimento do termina de dizer algo.
pensamento crítico e da capacidade de apreensão de
outros conteúdos. Segundo Benedito Antunes, professor da O estudo da literatura, a arte da
Unesp, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, “Literatura
não é importante porque cai no vestibular, mas cai no
palavra
vestibular porque é importante. Ela melhora a sensibilidade, A matéria-prima da literatura é a linguagem, representada
a compreensão do mundo. Habilita o leitor a ter uma pela letra e pela palavra. O artista explora a palavra em
percepção do meio social, histórico e até pessoal muito sua totalidade, por meio do sentido, do som, da forma e
mais complexa do que sem essa experiência de linguagem”. das combinações, ou seja, de seu potencial de significação.
A literatura é uma das várias formas de arte existentes Por isso a literatura é considerada a “arte da palavra”. Por
no mundo. Ela dialoga com a época e o contexto em que é sua vez, o leitor possui importante papel nessa espécie de
produzida e também com o futuro e o passado. Todo autor é “jogo”, ou “pacto”, que se estabelece entre ele e o autor.
influenciado pela época em que vive e pelo meio em que se Ao ser enlaçado por determinada obra, o leitor reconstrói
insere, seja familiar, cultural, social ou político, e, por isso, os sentidos do texto original, refazendo, de certa forma, o
imprime certa ideologia em suas composições, ou seja, percurso do autor, convocando sua própria experiência no
o escritor possui função social definida. Já pensou nisso? entendimento e na fruição.
Uma das funções da educação formal é aparelhar o O objeto de estudo da literatura são os textos literários
indivíduo para que ele se constitua cidadão e autônomo. de um país ou época. Esses textos refletem a realidade,
Ser autônomo significa conhecer a si mesmo, ter uma mas não necessariamente precisam ser fiéis a ela. Como
visão crítica do que o cerca e agir no mundo tomando transfiguração do real, a literatura recria uma nova
decisões e atitudes. “‘Torne-se quem você é’, murmura-me realidade, um mundo diferente, que traduz a compreensão
a literatura” – essa frase, retirada do livro Literatura para e o julgamento do poeta, provocando a reflexão do leitor.
quê?, de Antoine Compagnon, importante professor francês,
Ao estudar a literatura, que compreende seus textos e
instiga-nos a buscar a nossa própria identidade, por meio da
a história literária, é necessário partir de certos conceitos,
leitura, seja prosa ou poesia. Ainda na fala desse autor, “[...]
considerações e princípios estéticos. Seja em prosa ou em
ele [o romance moderno] não ilustra um sistema, mas inventa
verso, o estudo da literatura abarca o estudo da forma do
uma reflexão indissociável da ficção, visando menos enunciar
texto, seu sentido e o diálogo com o tempo, com outros
verdades que introduzir em nossas certezas a dúvida,
textos, outras ideologias e outras obras de arte.
a ambiguidade e a interrogação”. Ou seja, é necessário
refletir antes de admitir como certa uma informação, uma Como em toda área do conhecimento, parâmetros
opinião ou um fato. Só se é autônomo exercitando-se o foram estabelecidos para estudar a literatura. Para isso,
pensamento, lendo romances ou poesia, sabendo um pouco é essencial compreender alguns conceitos, como conotação /
da vida nos séculos passados, como ela era em momentos denotação, intertextualidade, gêneros literários, dentre
distintos da História. O olhar para o passado nos faz refletir outros que vamos explorar no decorrer dos módulos da
sobre o presente e sobre quem somos, e assim nos ajuda Coleção 6V referentes à literatura. Ler e comparar textos,
a nos tornar sujeitos. obras de arte, recriações; estabelecer diálogos entre a
Uma das formas de se constituir sujeito é conhecer os literatura e manifestações artísticas variadas, tais como as
clássicos da literatura, pois se costuma dizer que a “boa artes plásticas, o teatro, o cinema, os vídeos; relacionar
literatura” dura para sempre. Além do prazer estético com os textos literários ao contexto de produção e recepção;
o texto, leitor e escritor reconstroem a realidade, num e compreender os signos e os sentidos são algumas das
diálogo intrínseco entre ambos e entre épocas e culturas. estratégias que utilizaremos no decorrer desse aprendizado.
com a simbologia, com apego à criatividade. A primeira é Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal
empregada quando queremos comunicar objetivamente, Não tem a lividez sinistra da montanha
com o cuidado de evitar ruídos comunicativos entre autor e
Quando a noite a inunda dum manto sem igual
leitor (enciclopédias, notícias, bulas de remédio, leis, etc.);
De neve branca e fria onde o luar se banha.
a segunda, por sua vez, é usada quando visamos explorar a
forma, a mensagem, os duplos sentidos, os efeitos de estilo No entanto que fogo, que lavas, a montanha
(poema, charges, propagandas, etc.), como é comum ver Oculta no seu seio de lividez fatal!
em textos de natureza literária. Tudo é quente lá dentro... e que paixão tamanha
Por mais que haja a separação desses conceitos, há uma A fria neve envolve em seu vestido ideal!
convivência de um no outro. Para entender essa lógica, é preciso No gelo da indiferença ocultam-se as paixões
recorrer a outros dois conceitos: o de texto figurativo e o de
Como no gelo frio do cume da montanha
texto temático.
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões...
Texto Figurativo
Assim quando eu te falo alegre, friamente,
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
e texto temático Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!
O texto figurativo tem íntima ligação com a linguagem Espanca, Florbela. A mensagem das violetas.
conotativa, por ser ele composto de elementos de natureza Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/bv000094.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2018.
concreta, que simbolizam, representam. Os símbolos que
esse tecido traz nos conduzem a ideias abstratas, a que
chamamos temas. Por outro lado, o texto temático é Nesse poema de Florbela Espanca, vemos conviver
aquele que diz de maneira objetiva, não usa figuras para diferentes recursos estéticos, como as rimas, metáforas,
explorar assuntos, temas; trabalha com elementos de símiles e outras figuras de linguagem, as quais, pelo percurso
natureza abstrata. da conotação e da figuratividade, camuflam a temática do
O que seriam elementos concretos então? Tudo universo de sujeitos que deixam de se mostrar, que, de certa
aquilo que funcionar, no contexto, como elemento que maneira, reprimem seus sentimentos interiores. Observe
traz em seu interior, em sua referência, um assunto. como se chega a esse tema.
58 Coleção 6V
O texto elenca uma série de elementos concretos que Nessa breve análise, não restam dúvidas de que a
vão se transformando em abstrações, em temas. Vulcões, conotação, a figuratividade e a denotação atuam de
gelado, gume, punhal, montanha, noite, fria, neve, vestido, maneira complementar. Encadeiam-se e formam o enredo,
gelo, cume, alegre, tudo são exemplos do percurso figurativo
a mensagem, o discurso do texto. A primeira confere à
presente no texto. Pode-se observar que o poema se resume
segunda um estilo que acentua a temática da segunda.
a duas figuras centrais: o frio e o quente. Tematicamente,
essas duas figuras criam a categoria tímica (oposição) do Acentua no sentido de provocar no leitor sensações talvez
exterior versus o interior, ou seja, os versos querem, na impossíveis se o texto falasse secamente, objetivamente.
verdade, cantar o tema de como o sujeito se mostra e de
LÍNGUA PORTUGUESA
Essas figuras não se limitam ao poema ou à poesia, elas
como ele é de fato, uma espécie de aparência e essência.
estão em muitos outros gêneros textuais, ora mais discreta,
Percebe-se uma recorrência de contradições: o título
“vulcões” recupera a ideia de calor, de quentura, porém, os ora mais explicitamente reveladas.
quatro primeiros versos trazem a temática do frio. Parece
Observe agora esta ilustração:
haver um conflito intencionalmente criado pelo eu lírico.
É o conflito vivido por ele mesmo, o conflito de mostrar
ser um sujeito e de esconder sua essência: lava, vulcão.
Esse eu poemático tem sua lava, sua paixão, recoberta
pela montanha e pela neve que cobre a montanha. Ele se
compara ao vulcão que tem a lava quente escondida no
interior da montanha fria, encoberta de neve “Como no gelo
frio do cume da montanha / Se oculta a lava quente do seio
dos vulcões... “. Mas o que seria, então, tematicamente
essa montanha fria? O próprio poema deixa-a evidente:
é a indiferença sentida pelo eu lírico. Este parece viver uma
relação opressora afetivamente, em que se é tratado com
frieza, e isso o impede de ser o vulcão, liberar a paixão que
tem internamente. Os três últimos versos comprovam essa
leitura:
Pawel Kuczynski
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
figuras vão revelando os temas do interior versus o exterior, conotativa, composta de elementos simbólicos que sugerem
da opressão versus a liberdade. reflexão sobre o comportamento humano nos dias de hoje.
60 Coleção 6V
A porca do parafuso
[...]
A língua da fechadura
LÍNGUA PORTUGUESA
©iStock.com / rmnunes
Pra fazer este pagode
Eu me virei do avesso
Catacrese Metonímia
É o emprego de uma certa expressão metafórica, com um Consiste na utilização de um termo por outro, tendo
caráter mais coloquial, que ficou consagrado na língua para como sustentação um raciocínio de prolongamento de
denominar algo concreto. São exemplos de catacrese as
sentido. é a figura que representa a parte pelo todo.
seguintes expressões: pé da mesa, asa da xícara, braço do
As relações metonímicas podem ser de:
rio, cabeça de alfinete, céu da boca, batata da perna, orelha
do livro, pé de página, maçã do rosto, embarcar no trem, Parte / Todo
tomar um ônibus, dente de alho, boca do estômago, etc.
Na seguinte música, os autores empregaram • O bonde passa cheio de pernas... (pessoas)
simultaneamente a catacrese e a metáfora de modo lúdico • As velas do Mucuripe vão sair para pescar. (barcos /
e criativo. Tente identificá-las e diferenciá-las:
pescadores)
Perífrase
Consiste na substituição de um nome curto por uma
expressão mais longa que o caracterize. É muito semelhante
à antonomásia, mas, enquanto esta diz respeito às
expressões que permitem identificar os nomes próprios,
a perífrase – ou circunlóquio – envolve as expressões que
caracterizam também os nomes comuns.
Exemplos:
PICASSO, Pablo. Guernica. 1937. Óleo sobre tela, • O rei da selva (= leão)
350 x 782 cm. Museu Rainha Sofia, Madri.
• A cidade luz (= Paris)
Os pictogramas são também uma forma de metonímia, • A última flor do Lácio (= Língua Portuguesa)
pois compactam o signo (significante / significado) em
um desenho, uma forma gráfica sem muitos detalhes, Hipérbole
a fim de captar a atenção do observador com o mínimo Ocorre quando se emprega uma expressão exagerada
de esforço e com o mínimo de tempo despendido para para traduzir uma ideia. Na maioria das vezes, isso se dá
compreender o que ele significa. Outros exemplos são os porque o autor ou falante quer impressionar, comover ou
“chocar” seu interlocutor.
signos do zodíaco, os desenhos das placas de trânsito,
Exemplo:
entre outros. Observe ao seu redor e, certamente, irá
descobrir várias metonímias. • Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio a Salvador
FREJAT, R.; BARROS, M.; CECÍLIA, M. S. Por você.
Intérprete: Frejat. In: FREJAT, R. Frejat ao vivo. Sony Music.
2012. CD, faixa 9.
Eufemismo
O eufemismo é empregado para abrandar uma informação,
evitando a utilização de termos que possam agredir ou
assustar o receptor da mensagem.
Exemplos:
• No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele
pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas
©iStock.com / krystiannawrocki
62 Coleção 6V
Antítese Prosopopeia
Emprego de termos antagônicos para reforçar a ideia de Atribuição, a seres inanimados, de capacidade dos seres
oposição. animados, ou atribuição de características humanas a animais
e coisas, por isso é também chamada de personificação.
Exemplo:
Os textos de literatura infantil e as fábulas empregam
Nasce o sol e não dura mais que um dia
frequentemente essa figura de linguagem, o que garante o
Depois da luz se segue a noite escura caráter fantástico e lúdico a tais produções literárias.
Em tristes sombras morre a formosura, Exemplos:
LÍNGUA PORTUGUESA
Em contínuas tristezas, a alegria (Gregório de Matos) • As casas espiam os homens / que correm atrás
de mulheres. (Carlos Drummond de Andrade)
Paradoxo ou oxímoro • Rios magros obrigados a trabalhar (Raul Bopp)
Expressão absurda que pode ser gerada por imagens
antitéticas inconcebíveis. O paradoxo consiste na Pleonasmo
possibilidade da realização simultânea dos opostos. Também recebe o nome de redundância, pois se repete
Leia a seguir trechos de poema escrito por Fernando a mesma ideia com palavras similares. O pleonasmo pode
Pessoa, que utilizava com frequência o paradoxo em seus ser um recurso estilístico que poeticamente é explorado
versos. pelo autor, ou pode ser considerado um vício de linguagem
quando é pronunciado equivocadamente em algumas
1)
situações coloquiais da fala. Veja exemplos dos dois casos:
Na ribeira deste rio
Exemplos:
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio. • Me sorri um sorriso pontual. (Chico Buarque)
Nada me impede, me impele,
• Quero converter-vos a vós. (Padre Antônio Vieira)
Me dá calor ou dá frio.
• Amanheci minha aurora. (Guimarães Rosa)
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada. • Como exemplos de pleonasmos viciosos, podem-se
Vejo os rastros que ele traz, citar as expressões: subir para cima, hemorragia de
Numa sequência arrastada, sangue, narcisismo egocêntrico, estabelecer um elo
Do que ficou para trás. de ligação, repetir de novo, monopólio exclusivo, novo
2) lançamento, principal protagonista, latifundiário de
Ah, ser os outros! Se eu pudesse muitas terras, encarar de frente, etc.
Sem outros ser!
Enquanto o harmônio* minha alma enchesse Sinestesia
De o não saber.
Fusão de sensações, confluência dos sentidos (audição,
*
Harmônio: instrumento de teclas
tato, visão, paladar, olfato). Essa figura de linguagem foi
3) marcadamente utilizada pelos escritores do Simbolismo,
Em meus momentos escuros no final do século XIX, e pelos neossimbolistas da Segunda
Em que em mim não há ninguém, Fase do Modernismo brasileiro.
E tudo é névoas e muros Exemplos:
Quanto a vida dá ou tem
• Um ser pertence à música infinita
Pessoa, Fernando. Obra poética. São Paulo: Companhia
José Aguilar Editora, 1974. p. 174, 176-177. [Fragmento] das Esferas, pertence à luz sonora
Como exemplo de intertextualidade, aprecie a adaptação • Ela estava usando um perfume doce.
de Dori Caymmi, importante cantor e compositor da música • O delírio do verbo estava no começo, lá / onde a
brasileira, para o poema do exemplo 1. Assista ao vídeo em:
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
https://www.youtube.com/watch?v=ZsK-6itsY54.
(Manoel de Barros)
Ironia Gradação
Expressão de sentido inverso que é reconhecida por uma
É a apresentação de uma série de ideias em progressão
entonação sarcástica ao se pronunciar a ideia. É a afirmação
ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax).
de algo diferente do que se deseja comunicar. A ironia é
um modo debochado, paródico e satírico de ridicularizar Exemplos:
ou insultar alguém, um contexto político ou alguma obra • Amor é assim – o rato que sai dum buraquinho:
de arte. É uma forma crítica utilizada por meio do humor, é um ratazão, é um tigre leão! (Guimarães Rosa)
por isso é tão utilizada nas revistas em quadrinhos.
• O trigo nasceu, cresceu, espigou, amadureceu,
Veja como ela aparece na seguinte tirinha:
colheu-se, mediu-se. (Padre Antônio Vieira)
Peanuts, Charles Schulz © 1976 Peanuts Worldwide LLC. / Dist. by Andrews McMeel Syndication
Hipérbato
Consiste na alteração da ordem direta dos termos de uma
oração, por isso é chamado também de inversão.
Exemplos:
Na primeira, que foi curta, regemos o Xavier e eu, Quem dinheiro tiver, pode ser Papa;
64 Coleção 6V
Apóstrofe Zeugma
É uma interpelação da voz poética às divindades, pessoas, Omissão de algum vocábulo já mencionado anteriormente.
ou coisas personificadas. A apóstrofe traduz uma sensação Exemplo:
de súplica e lamentação.
• Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais
Veja o emprego dessa figura no seguinte fragmento do amores. (Gonçalves Dias)
poema “Vozes d’África”, de Castro Alves:
Zeugma do vocábulo tem no segundo verso, que já
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
LÍNGUA PORTUGUESA
havia aparecido no primeiro.
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
É uma figura sintática que privilegia a concordância com a têm uma autonomia e um valor equivalente, sem qualquer
ideia e não com as palavras escritas. Há silepse de: ideia de superioridade ou subordinação.
Exemplos:
Gênero
• A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos.
• Vossa Excelência parece magoado. (Machado de Assis)
• Conheci uma criança... mimos e castigos pouco • Eu tinha a fama, a palavra, a carreira política...
podiam com ele. (Almeida Garrett) (Joaquim Nabuco)
Número Polissíndeto
• – E o povo de Maravalha? Perguntava ele aos
Como o próprio nome já indica, é o emprego de vários
canoeiros.
conectivos, que aparecem reiteradamente no texto.
– Estão em São Miguel. (José Lins do Rego)
• O quinhão que me coube é humilde, pior do que isto:
Pessoa nulo. Nem glória, nem amores, nem santidade,
nem heroísmo. (Otto Lara Resende)
• Dizem que os cariocas somos pouco dados aos
jardins públicos. (Machado de Assis) • Vão chegando as burguesinhas pobres, e as crianças
das burguesinhas ricas, e as mulheres do povo e as
Exemplos:
FIGURAS SONORAS
Além das figuras apresentadas, temos as figuras sonoras,
• Veio sem pinturas, um vestido leve, sandálias
que dizem respeito ao sentido e ao ritmo dos textos.
coloridas. (Rubem Braga)
Para que você possa perceber isso, vejamos algumas figuras
Elipse do conectivo com, que aparece subentendido:
sonoras vinculadas ao sentido de suas produções:
Veio sem pinturas, com um vestido leve,
com sandálias coloridas.
66 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
Passa boi
A repetição do fonema vocálico /u/ remete à exacerbação,
Passa boiada
supremo sentimento de paixão, que vai além daquilo que o
eu lírico pode suportar. Passa galho
Anáfora De ingazeira
Debruçada
É a repetição de uma mesma palavra ou expressão
utilizada para traduzir uma ideia de rotina, mesmice, No riacho
circularidade, ou reiterar a importância de algo. Observe a
presença anafórica de “É brando” e “Assim fosse” nos versos Que vontade
de Fernando Pessoa.
De cantar!
É brando o dia, brando o vento.
[...]
É brando o sol e brando o céu.
Assim fosse meu pensamento! BANDEIRA, Manuel. Trem de ferro. In: . Estrela da vida
inteira. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, [1900?]. 447 p.
Assim fosse eu, assim fosse eu!
Virge Maria que foi isto maquinista? pelo autor para intensificar o sentido de seu texto. Assim,
o estrato fônico pode reiterar os aspectos semânticos do
[...] poema, o que torna a obra muito mais enriquecedora e criativa.
A
Nesses casos, o som e o sentido estão extremamente próximos,
Ôo...
cabe ao leitor conseguir fazer as associações entre eles.
Meus olhos são pequenos para ver O que o canavial sim aprende do mar:
68 Coleção 6V
Exercícios Texto II
Mãe gentil
01. (UERJ)
[...] O artigo do doutor Miguel Srougi de domingo (“Pátria
Todas as mulheres que andam na moda amada, mãe gentil?”, Tendências / Debates) é um
grande alento, principalmente por tratar-se de alguém
são iguais.
que, sendo um dos nossos mais ilustres e respeitados
Todas as experiências de sexo
profissionais da medicina, optou por não se omitir,
LÍNGUA PORTUGUESA
são iguais.
colocando sua liderança e credibilidade a serviço da
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós
cidadania ativa e da justiça social.
[são iguais
Sua voz qualificada renova as esperanças de que o
e todos, todos
Estado brasileiro, sistematicamente saqueado ao longo
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais. de sua história por vorazes minorias públicas e privadas,
ANDRADE, Carlos D. de. Nova reunião: 19 livros de poesia. que o manipulam em benefício próprio, venha a tornar-se,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1985 (Adaptação).
um dia, a mãe gentil de todos os brasileiros.
e todos, todos
José Benjamim de Lima – Promotor de Justiça aposentado
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais. (Assis, SP). Folha de S.Paulo.
Os versos livres são aqueles que não se submetem a Opinião, 08 set. 2009.
um padrão.
Relacione os trechos da coluna A aos recursos de
Considerando essa definição, identifica-se nos versos linguagem presentes na coluna B:
anteriores a figura de linguagem denominada
A) antítese. C) metonímia. COLUNA A
B) metáfora. D) eufemismo.
1. Ela é o tesouro do Brasil [texto I]
[...] A linguagem
na ponta da língua,
Braga, Rubem. Pequena antologia do Braga.
tão fácil de falar
Org. de Domício Proença Filho.
e de entender.
Rio de Janeiro: Record, 1997.
A linguagem
Imprudente ofício é este, de viver em voz alta. na superfície estrelada de letras,
O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu próprio, sabe lá o que ela quer dizer?
o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
“imprudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em e vai desmatando
voz alta”. o amazonas de minha ignorância.
O sentido dessa metáfora, relativa ao ofício de escrever, Figuras de gramática, esquipáticas,
pode ser entendido como atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
A) superar conceitos antigos. Já esqueci a língua em que comia,
B) prestar atenção aos leitores. em que pedia para ir lá fora,
70 Coleção 6V
LÍNGUA pORTUGUESA
Fábio Moon e Gabriel Bá
FOLHA DE S.PAULO, 15 jun. 2013.
05. (UERJ–2016) As ausências da moldura e da imagem são recursos gráficos que contribuem para o sentido do texto.
A relação entre esses recursos gráficos e a mensagem contida no terceiro quadrinho possui um sentido de
A) ironia.
B) reforço.
C) negação.
D) contradição.
06. (UERJ–2016) No último quadrinho, formula-se uma analogia moral, quando se sugere que não é possível ver tudo o que
acontece à frente dos olhos.
A partir dessa analogia, pode-se chegar à seguinte conclusão:
A) A verdade absoluta não existe. C) O homem não é o centro do mundo.
B) A existência não tem explicação. D) O curso da vida não pode ser mudado.
07. (UERJ–2016) O personagem presente no último quadrinho é um ácaro, um ser microscópico. Suas falas têm relação direta
com seu tamanho. No contexto, é possível compreender a imagem do personagem como uma metonímia.
Essa metonímia representa algo que se define como
A) invisível. C) inexistente.
B) expressivo. D) contraditório.
Ó mar salgado, quanto do teu sal Valeu a pena? Tudo vale a pena
São lágrimas de Portugal! Se a alma não é pequena.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quem quer passar além do Bojador
Quantos filhos em vão rezaram! Tem que passar além da dor.
Quantas noivas ficaram por casar Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Para que fosses nosso, ó mar! Mas nele é que espelhou o céu.
09. (UNIFESP) Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas
VEX7 reclama sempre que o prato está rachado.
O nada que é
Considerada no contexto, essa frase indica, em sentido
Um canavial tem a extensão figurado, que, para o autor,
ante a qual todo metro é vão. A) a forma e o conteúdo são indissociáveis em qualquer
mensagem.
Tem o escancarado do mar
que existe para desafiar B) a forma é um acessório do conteúdo, que é o essencial.
C) o conteúdo prescinde de qualquer forma para se
que números e seus afins apresentar.
possam prendê-lo nos seus sins.
D) a forma perfeita é condição indispensável para o
Ante um canavial a medida sentido exato do conteúdo.
Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo DELEGADO – Então desce ele. Vê o que arrancam desse
eu lírico formaliza-se em sacana.
A) uma assimetria entre a ideia de nada e a de SARARÁ – Só que tem um porém. Ele é menor.
anonimato. DELEGADO – Então vai com jeito. Depois a gente
B) uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de entrega pro juiz.
canavial. (Luz apaga no delegado e acende no repórter, que se
C) uma contradição entre a ideia de extensão e a dirige ao público.)
de canavial. REPÓRTER – E o Querô foi espremido, empilhado,
D) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão. esmagado de corpo e alma num cubículo imundo, com
outros meninos. Meninos todos espremidos, empilhados,
E) um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida.
esmagados de corpo e alma, alucinados pelos seus
desesperos, cegados por muitas aflições. Muitos
10. (Fuvest-SP) Sou feliz pelos amigos que tenho. meninos, com seus desesperos e seus ódios, empilhados,
Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. espremidos, esmagados de corpo e alma no imundo
Por alguns anos ele sistematicamente me enviava cubículo do reformatório. E foi lá que o Querô cresceu.
missivas eruditas com precisas informações sobre as
MARCOS, P. Melhor teatro.
regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre
São Paulo: Global, 2003. [Fragmento]
a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo
sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra no último No discurso do repórter, a repetição causa um efeito de
“Quarto de Badulaques”. Acontece que eu, acostumado sentido de intensificação, construindo a ideia de
a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em A) opressão física e moral, que gera rancor nos meninos.
“varreção” – do verbo “varrer”. De fato, tratava-se de
B) repressão policial e social, que gera apatia nos
um equívoco que, num vestibular, poderia me valer
meninos.
uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua
portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da C) polêmica judicial e midiática, que gera confusão entre
página 827 do dicionário [...]. O certo é “varrição”, e não os meninos.
“varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da D) concepção educacional e carcerária, que gera
roça façam troça de mim, porque nunca os ouvi falar de comoção nos meninos.
“varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar E) informação crítica e jornalística, que gera indignação
mostrar-lhes o xerox da página do dicionário [...]. Porque entre os meninos.
para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o
povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção”, 02. (Enem)
quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre Capítulo LIV – A pêndula
esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o
que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me
sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas
todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono,
o prato está rachado.
o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-
ALVES, Rubem. Disponível em: <http://rubemalves.uol. -taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a
com.br/quartodebadulaques>. cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida.
72 Coleção 6V
Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois 04. (Enem) Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de
sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim: retórica em que se combinam palavras de sentido oposto
– Outra de menos... que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no
– Outra de menos... contexto, reforçam a expressão.
– Outra de menos...
– Outra de menos... Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe Considerando a definição apresentada, o fragmento
corda, para que ele não deixasse de bater nunca,
poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em
e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos.
Invenções há, que se transformam ou acabam; 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de
retórica é:
LÍNGUA PORTUGUESA
as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e
perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol
A) “Dos dois contemplo
frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber
a hora exata em que morre. Naquela noite não padeci rigor e fixidez.
essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. Passado e sentimento
As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas me contemplam” (p. 91).
sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam
para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os B) “De sol e lua
instantes perdidos, mas os minutos ganhados. De fogo e vento
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Te enlaço” (p. 101).
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. [Fragmento]
C) “Areia, vou sorvendo
O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive
A água do teu rio” (p. 93).
a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com
Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio D) “Ritualiza a matança
desconstrói certos paradigmas românticos, porque
de quem só te deu vida.
A) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em E me deixa viver
seus encontros adúlteros.
nessa que morre” (p. 62).
B) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a
inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo. E) “O bisturi e o verso.
06. (Enem) Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros 02. A figura sintática mais evidente nos dois primeiros
da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema sobre a versos é a inversão (hipérbato ou, mais precisamente,
sua relação com as pequenas e grandes cidades. anástrofe), que ocorre nos trechos “da alface a verde
pétala” e “da cenoura as hóstias desbotadas”. Já
Bicho urbano a figura semântica é a metáfora, que se verifica em
Se disser que prefiro morar em Pirapemas “pétala” (em lugar de “folha”) e “hóstias” (em lugar de
“fatias” ou “rodelas”).
ou em outra qualquer pequena cidade do país
O efeito de sentido é poetizar elementos
estou mentindo
tradicionalmente não poéticos, no caso, “alface” e
ainda que lá se possa de manhã
“cenouras”, ao transformar o primeiro numa flor e o
lavar o rosto no orvalho segundo num símbolo religioso, para, ironicamente,
e o pão preserve aquele branco valorizar o que o eu lírico recusa, em contraste com o
sabor de alvorada. que ele prefere.
................................................................ Obs.: Serão aceitas também as indicações de elipse
A natureza me assusta. (zeugma) e ironia.
Com seus matos sombrios suas águas 03. As duas paisagens retratadas no poema guardam
suas aves que são como aparições entre si semelhanças e diferenças, percebidas pelo
me assusta quase tanto quanto eu lírico como resultado de um processo de ensino e
esse abismo aprendizado. No primeiro poema, “O mar e o canavial”,
a ênfase está no processo de aprendizagem, diz-se do
de gases e de estrelas
que mar e canavial aprendem ou não aprendem um
aberto sob minha cabeça.
com o outro. Já no segundo poema, “O canavial e o
GULLAR, Ferreira. Toda poesia. mar”, o enfoque está no processo de ensino. Diz-se do
Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991. que mar e canavial ensinam ou não ensinam ao outro.
O que pode ser ensinado e / ou aprendido é o que o mar
Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta
e o canavial compartilham: a elocução horizontal do
reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas
canavial (que o mar aprende) e o avançar em linha reta
comunidades. Para expressar a relação do homem do mar (que o canavial aprende). Outras características
com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, não podem ser ensinadas ou aprendidas porque são
construção de linguagem em que se mesclam impressões muito próprias.
sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa
esse recurso. propostos Acertei ______ Errei ______
A) “e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada.”
B) “ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho” 01. A
07. A
GABARITO Meu aproveitamento
08. A
10. B
01.
A) A alusão é uma figura de linguagem que faz referência
a um fato exterior. Assim, pode-se dizer que o título
Seção Enem Acertei ______ Errei ______
do poema faz alusão ao ano de 1944, uma referência 01. A
à Segunda Guerra Mundial. Essa afirmação é
02. D
comprovada ao longo do próprio poema, no qual há
vários elementos que aludem à guerra, por exemplo: 03. A
“passagem dos soldados”, “tanques e granadas”. 04. D
B) A antítese é uma figura de linguagem que associa ideias 05. C
contrárias. Portanto, as expressões “beijo cancelado”
e “produção de tanques e granadas” contrastam as 06. A
74 Coleção 6V
PORTUGUESA B 02
Os Gêneros Literários
Na Antiguidade Clássica, Aristóteles tentou organizar os
Vede a luz, não busqueis, desesperados,
gêneros literários de acordo com o conteúdo e a forma.
No mudo esquecimento a sepultura;
No Renascimento, essa divisão foi reconhecida e continua
sendo usada até hoje. No entanto, essas formas se renovam, Se os ditosos vos lerem sem ternura,
atualizam-se e são também questionadas, já que são tênues Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:
as fronteiras nas classificações de manifestações artísticas.
Não vos inspire, ó versos, cobardia
A partir de agora, você aprenderá as principais características
dos gêneros lírico, épico e dramático, além das espécies Da sátira mordaz o furor louco,
mais clássicas de cada um deles. Preste atenção nas Da maldizente voz a tirania:
particularidades existentes, pois em muitos textos os
traços distintivos se encontrarão mesclados. Diante de Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
tal confluência, o leitor deve distinguir o que é típico de Que não pode cantar com melodia
cada gênero para entender a intencionalidade do texto ao Um peito, de gemer cansado e rouco.
apresentá-los em diálogo.
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000059.pdf>.
76 Coleção 6V
Esse é o caso do herói Vasco da Gama, de Os Lusíadas, que O filme Gladiador (Gladiator), dirigido por Ridley Scott e lançado
sai de Portugal para conquistar os “mares nunca dantes em 2000, é um bom exemplo de epopeia. Não confundindo os
navegados” e as terras do oriente. É importante ressaltar que, gêneros cinematográficos com os literários, é possível verificar
muito mais que o próprio Vasco da Gama, Camões, em sua no filme a presença de um herói (uma das condições para se
epopeia, procurou cantar e exaltar o próprio povo português. caracterizar o gênero épico) que retrata a condição humana, com
suas qualidades e fraquezas, e é defensor das virtudes, tais como
A exaltação da pátria e do povo que a constitui é um dos
lealdade, firmeza de caráter e honestidade.
principais elementos na formação de um texto épico, além
de indispensável recurso para se forjar um sentimento e uma
ideia de nacionalidade. No Brasil, por exemplo, vários textos
como O Uraguai, de Basílio da Gama, Caramuru, de Santa
LÍNGUA PORTUGUESA
Rita Durão, e tantos outros de tonalidade épica como I–Juca
Pirama, de Gonçalves Dias, Cobra Norato, de Raul Bopp,
e Martim Cererê, de Cassiano Ricardo, demonstram como a
construção de uma nação está diretamente interligada a uma
literatura épica. Muitos autores modernistas parodiaram os
textos épicos por meio de uma narrativa anedótica, cômica
e caricatural, como exemplificam os livros Macunaíma,
Divulgação
de Mário de Andrade, e História do Brasil, de Murilo Mendes.
Entre as principais variações do gênero épico, merecem
destaque as epopeias e, entre os textos em prosa, a fábula,
a novela, o conto, a crônica, o diário, entre outros. Literatura de cordel
Também é um texto narrativo produzido em versos, o que
Epopeia o aproxima das antigas epopeias. Amplamente divulgada no
Nordeste do Brasil, a literatura de cordel é uma manifestação
Texto narrativo (ainda que escrito em versos) que se literária produzida pelo povo e para o povo, o que legitima
constitui de cinco partes: proposição, invocação, dedicatória, o seu intuito didático, moralizante e lúdico. O cordelista é
narração e epílogo. A primeira parte evidencia a proposta do um poeta popular que se vê no direito e no dever de alertar,
autor, o tema que será apresentado; a segunda se estrutura a conscientizar e instigar a população contra os desmandos
partir de um clamor às musas (especialmente a mnemosine, do mundo: quer seja sobre as questões políticas, quer
a musa da memória) para que elas ajudem o poeta / aedo seja a respeito do êxodo para os grandes centros urbanos.
a se lembrar dos feitos para cantá-los com toda a glória Mas, juntamente com essa retratação da dura realidade
necessária; a terceira corresponde a um agradecimento e miserável do sertanejo, que é martirizado pela seca ou
a uma dedicatória que se destinam, na maioria das vezes, pela injusta política, o cordel também procura diverti-lo,
idolatrando-o nas histórias de aventuras ou ridicularizando-o
aos mecenas que financiaram a composição da obra. Depois
como um “corno”, nas narrativas sobre traição. Além disso,
de todas essas partes introdutórias é que se inicia a quarta
destaca-se a função do cordel de ser uma “história” em
etapa, na qual realmente ocorre a narrativa das andanças e
versos que retrata heróis do sertão, como Lampião, Maria
das façanhas do herói. Na quinta e última parte, há o epílogo,
Bonita, Antônio Silvino, Padre Cícero e Antônio Conselheiro.
trecho em que o narrador retoma, sucintamente, todo o Outra riqueza da literatura de cordel encontra-se nas
enredo da epopeia e retrata o desfecho. No famoso trecho ilustrações dos folhetos, feitas pelos próprios autores,
a seguir, retirado do “Canto I”, de Os Lusíadas, Camões na maioria das vezes, com o emprego da xilogravura. Veja
explicita qual a sua proposição ao escrever essa epopeia: a capa e os primeiros versos produzidos por Abraão Batista
exaltar as armas e os barões assinalados, ou seja, louvar em seu cordel “Luta de um homem com um lobisomem”:
a coragem e o poderio bélico dos portugueses durante o
período do Expansionismo Marítimo nos séculos XV e XVI:
CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. BATISTA, Abraão. Luta de um homem com um lobisomem.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
Xilogravura. In: ______. Literatura de Cordel: antologia.
São Paulo: Global, 1976. v. 2, p. 102-103.
78 Coleção 6V
Os fatores que diferenciam o conto da crônica, por Ao eliminar a figura do narrador, o texto dramático, em vez
exemplo, são: a temática (o conto é mais lúdico enquanto de contar um fato, descrevendo-o, opta por encená-lo diante
a crônica é mais verossímil) e a linguagem empregada do público, por vivenciá-lo cenicamente.
(o conto utiliza expressões mais metafóricas, enquanto a As principais espécies do gênero dramático são:
crônica trabalha com um vocabulário mais literal). Os contos
têm origem na cultura oral.
Tragédia
Edgar Allan Poe, Jorge Luis Borges e Murilo Rubião são Teve seu ápice no século V a.C., na Grécia. É a mais
autores consagrados de contos e estão associados aos antiga espécie do gênero dramático, que buscou representar,
contos fantásticos (ou maravilhosos), isto é, narrativas que de modo catastrófico, acontecimentos que causavam no
contêm mistérios, fantasias e elementos inexplicáveis. Por público não só terror, mas também compaixão. Sempre
LÍNGUA PORTUGUESA
sua vez, há também os contos que retratam o cotidiano de pressionado por forças antagônicas, o herói da tragédia tem,
maneira poética e subjetiva. Nessa concepção, destacam-se na maioria das vezes, de se sacrificar, ou sacrificar a própria
Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Caio família, para proteger ou salvar a sociedade como um todo.
Fernando Abreu, entre outros. Essa atitude é que o torna um herói, livre do egoísmo humano,
que privilegia o individual em detrimento do coletivo. Diante
Fábula da atitude nobre do herói e de sua vida trágica, os homens
reconhecem como o destino é algo dado, ao qual todo ser deve
A fábula é uma narrativa de cunho didático-pedagógico,
se resignar. Assistir à dor do outro, aos sacrifícios aos quais
em que as personagens (animais personificados) encenam
o herói é submetido, faz com que as tragédias tenham um
uma “moral da história”. Ela é, portanto, um texto produzido
caráter catártico. Entre as principais tragédias, destacam-se:
para conscientizar e educar os leitores. Os mais clássicos
Édipo Rei e Antígona, de Sófocles; Prometeu acorrentado,
autores de fábulas de todos os tempos são: Esopo e
de Ésquilo; e Medeia, de Eurípedes.
La Fontaine.
GÊNERO DRAMÁTICO uma nova classe social que aparece na Modernidade, bem
como aos novos interesses do homem. Diferentemente
do que ocorre na comédia e na tragédia, no drama, as
A palavra drama, em sua etimologia, significa ação, por personagens assemelham-se às pessoas do cotidiano.
isso, nas espécies do gênero dramático, há o privilégio Além disso, as ideias de destino, estagnação e manutenção
da ação sobre a narração, o emprego do tempo presente de normas são substituídas pela força de vontade e pela
e a estruturação textual feita a partir de diálogos. liberdade.
A mudança se fez não só no aspecto temático, mas Na literatura brasileira, também merece destaque
também no estrutural, propiciando a confluência de o trabalho Morte e vida severina: auto de natal
tempos, espaços, ações e vozes na construção teatral. pernambucano, de autoria de João Cabral de Melo Neto –
Isso proporcionou uma enriquecedora modificação no gênero um texto dramático que funde aspectos dos gêneros épico
dramático, que, utilizando-se dessas técnicas, encontra-se (pela presença da narração em vários trechos) e lírico
cada vez mais consagrado na arte contemporânea, (pois é escrito em versos). Nesse auto, o nascimento
originando frutos como as produções de Dias Gomes, Millôr de “Cristo” é encenado por meio de um novo nordestino
Fernandes, Flávio Rangel, Chico Buarque, Paulo Pontes, (Severino) que surge no mundo. O autor constrói, no
Nelson Rodrigues e tantos outros. cenário do sertão, uma encenação da bíblia a partir da
dura realidade nordestina.
Auto Observe um trecho do início desse poema:
Essa espécie dramática, muito comum desde a Idade Somos muitos Severinos
Média, esteve inicialmente vinculada aos interesses religiosos
iguais em tudo na vida:
do cristianismo. Por isso, o que caracteriza um auto é o fato
de suas cenas e personagens serem bíblicas. na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
No caso brasileiro, o trabalho de catequização realizado
pelo Padre Anchieta foi o marco do teatro na historiografia no mesmo ventre crescido
nacional, o que comprova como os autos estiveram a serviço sobre as mesmas pernas finas,
da Igreja e diretamente vinculados a um “projeto civilizatório”. e iguais também porque o sangue
Anchieta construía peças, mesclando os deuses indígenas
que usamos tem pouca tinta.
ao Deus cristão, à Virgem Maria e aos santos. Por meio de
um processo gradual, os índios encenavam a nova fé que E se somos Severinos
deveriam assimilar e cultuar. iguais em tudo na vida,
Entretanto, os autos mais contemporâneos rompem e até morremos de morte igual,
ridicularizam os moralismos hipócritas dos representantes mesma morte severina:
da fé católica, ainda que permaneçam sustentando o que é a morte de que se morre
caráter moralizante desse gênero, como exemplifica o
de velhice antes dos trinta,
Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Mas esse
moralismo aparece conciliado ao riso, ao humor educativo de emboscada antes dos vinte,
e edificante. O riso no Auto da Compadecida propõe-se, de fome um pouco por dia
portanto, a ferir a sociedade, desmascarando as vilezas do (de fraqueza e de doença
clero, satirizando o egoísmo da burguesia, hiperbolizando
é que a morte Severina
a arrogância dos coronéis para que, assim, se possa ceder
lugar ao discurso da minoria, aos inúmeros Joões, Chicós e ataca em qualquer idade,
Severinos que buscam, cada um a seu modo, pelo riso ou e até gente não nascida).
pela dor, se incluir na misericórdia dos homens e dos santos.
É nisso que reside o sentimento cristão na obra de
Suassuna: levar a caridade e a misericórdia aos ouvidos
e aos olhos dos homens por meio de um teatro cômico.
Misto de auto e comédia, Auto da Compadecida mostra-se
como uma obra de cunho social, moralizante e pedagógico.
Por isso, nela, o riso é instrumento que educa, conscientiza,
sensibiliza e leva os seres humanos a saírem dos estados
de alienação e indiferença impostos pela lógica burguesa.
Divulgação
80 Coleção 6V
CONFLUÊNCIA DOS tanto que o umbigo ficou esticado, depois foi duro pra
durmi, tive que durmi de lado, e pra metê, meu chapa,
GÊNEROS LITERÁRIOS nem se fala, eu e a Lazinha, dois bumbo se batendo,
sabe Antonão, a vida é tão cheia de tranquera, porca
sapa velha, que se a gente não enche o bucho e não
É possível que em um único texto ocorra o emprego de
dá uns mergulho nos buraco das mulhé, vezenquando
características dos vários gêneros literários. Nesse caso, o
uns murro numas gente, cuspidas escarradas,
leitor deverá identificar os elementos típicos do lírico, do
uma paulada no cachorro, esses descanso, se a gente
épico e do dramático, além de conseguir visualizar como
não faz isso Antonão, a vida fica triste é, tá certo,
o autor promove a mescla dos gêneros. Veja alguns casos
isso de comer e de meter faz muito gosto, que coisa
frequentes:
que tem mais na vida? que coisa? depois da morte os
LÍNGUA PORTUGUESA
bicho, nem fumo pra pito, nem meteção nem nada,
1º) Um poema (portanto, espécie do gênero lírico) que
depois da morte aquela fome, aquela escuridão,
tenha em sua estrutura elementos típicos do gênero
tu acredita em alma de defunto seu Tunico? besteira,
épico, como enredo, narrador, personagens, tempo
o mundo tá muito voluído, não tem mais disso não e
e espaço, pode ser classificado como uma poética-
Deus? olhe, isso é assunto de padre, de ministro, de
-prosaica. Veja:
político, é Deus todo dia dentro da boca, de dia Deus,
O bombeiro de noite a teta de uma, a pomba de outra, eles é que
se regaleiam, viu?
Os vespertinos de hoje divulgam rapidamente a morte
Miudez, quentura, gosto. Mover-se pouco. Não dizer.
[do bombeiro João Cristóvão da Silva As mãos na parede. No corpo. Pensar o corpo, tentar
ocorrida durante o violento incêndio de ontem. nitidez. Hillé menina tateia Ehud menino. Dedos dos
pés. Se a gente mastigasse a carne um do outro, que
Nunca mais o veremos em seu carro vermelho gosto? e uma sopa de tornozelo? E uma sopa de pés?
Na comida não se põe de porco? Por que tudo deve
junto a escadas que subiam para o céu e para o fogo.
morrer hen Ehud? Por que matam os animais hen?
No Méier, alguém chorará o companheiro morto. Pra gente comer. É horrível comer, não? Tudo vai
descendo pelo tubo, depois vira massa, depois vira
[...]
bosta. Fecha os olhos e tenta pensar no teu corpo
IVO, Lêdo. Antologia poética. Organização de Walmir Ayala. lá dentro. Sangue, mexeção. Pega o microscópio.
2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. Ah, eu não. Que coisa a gente, a carne, unha e
p. 21. [Fragmento] cabelo, que cores aqui por dentro, violeta vermelho.
Te olha. Onde você está agora? Tô olhando a barriga.
O poeta Lêdo Ivo, ao relatar em versos subjetivos É horrível Ehud. E você? Tô olhando o pulmão.
a história do bombeiro João Cristóvão, constrói Estufa e espreme. Tudo entra dentro de mim, tudo
uma poética-prosaica. Esse recurso também é sai. Não tem nada que só entra? Não. E Deus?
amplamente empregado na música. Tente lembrar-se Deus entra e sai, Ehud? Isso não sei. O padre diz
de alguns exemplos. que Deus está dentro do coração. Então espia o teu,
vê se ele tá lá dentro. Tô espiando. Taí? Não. Deixa
2º) Um texto narrativo (portanto vinculado ao gênero eu escutar o teu coração. Nossa, tá batendo. Claro,
épico) que utiliza uma linguagem subjetiva, o teu também, deixa eu escutar. Sabe, Hillé,
conotativa e sonora (aspectos característicos você tem cheiro diferente do meu, tem cheiro de
do gênero lírico) pode ser considerado uma leite. Imagine. Tem sim. Te cheira. O pai tem cheiro
prosa-poética. Identifique, no fragmento a seguir, da bom, a mãe também. Eles usam perfume. Por quê?
obra A obscena senhora D, como a autora Hilda Hilst Não é bom a gente cheirar o cheiro da gente? Não sei.
construiu uma prosa dotada de aspectos não só líricos, Por que a gente se veste? É feio ficar pelado?
mas também dramáticos, confluindo os três gêneros Eles dizem que é. Por quê? Olha a lagarta, ela tá
literários em seu discurso. Observe: pelada, coitada. Ehud, escuta: você já viu Deus?
Eu não, Deus me livre. Por quê? Ah, sei lá,
É uma sapa velha. Viu a pele pintada? É sarda. a gente não conhece. Ehud, escuta: você também vai
Ainda tem umas boas tetas. Credo, teta de sapa. morrer? Eu não. Como é que você sabe? Só gente
Podemos botar fogo na casa durante a lua nova. Com velha é que morre. Você vai ficar velho também.
as casas quase coladas? Dá-se um jeito, fogaréu que vai Eu não.
dar gosto. O Nonô metido a demo, a polícia, tu sabe que
vive enfiando prego no cu do gato, pois é, pois o Nonô HILST, Hilda. A obscena senhora D.
se mijô quando viu a caretona dela na janela. Casa da São Paulo: Globo, 2001. [Fragmento]
porca. Olhe, eu tive um porco que era um outro, era
um porco de bem, macio, gordo como poucos, atendia
pelo nome de Nhenhen, foi ficando tão gordo tão
macio tão delicadeza, que foi servido só de sobremesa.
Olha, eu comi outro dia uma carne, o sangue na tigela Nessa videoaula, você vai conhecer um pouco
era sangue grosso, uma beleza, a Lazinha se lambuzava mais sobre a classificação das obras literárias em 3NGY
toda, passava até no rosto, ficou corada como imagem gêneros e ver alguns exemplos.
da virgem, uma que tinha lá na minha cidade, comemos
(pela de dicção ela começa as aulas). III. Essa modalidade de texto literário prende-se a uma
vasta área de vivência, faz-se geralmente de uma
A lição de moral, sua resistência fria
história longa e apresenta uma estrutura complexa.
ao que flui e a fluir, a ser maleada; IV. Nos textos do gênero, o narrador parece estar ausente
a de poética, sua carnadura concreta; da obra, ainda que, muitas vezes, se revele nas
rubricas ou nos diálogos; neles impõe-se rigoroso
a de economia, seu adensar-se compacta:
encadeamento causal.
lições da pedra (de fora para dentro,
V. Espécie narrativa entre literatura e jornalismo,
cartilha muda), para quem soletrá-la. subjetiva, breve e leve, na qual muitas vezes autor,
narrador e protagonista se identificam.
Outra educação pela pedra: no Sertão ( ) Poema lírico A) II – I – V – III e IV.
(de dentro para fora, e pré-didática). ( ) Conto B) II – I – V – IV e III.
( ) Crônica C) II – I – III – V e IV.
No Sertão a pedra não sabe lecionar, ( ) Romance D) I – II – V – III e IV.
e, se lecionasse, não ensinaria nada; ( ) Texto teatral E) I – IV – II – V e III.
82 Coleção 6V
02. (UFU-MG) Leia o poema transcrito a seguir: C) A atmosfera onírica que percorre o texto confere um
caráter sobrenatural aos acontecimentos, permitindo
A vida é uma viagem
que coisas impossíveis se realizem, tais como “lustra
Pena eu estar
cuidadosamente seu próprio caixão” e “No quintal,
Só de passagem.
um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai
LEMINSKI, Paulo. La vie em close.
rachando lenha”.
Assinale a alternativa correta. D) Este poema em prosa narra em primeira pessoa a
A) O texto pode ser considerado um haicai, pois celebra história de um menino assombrado pela presença
a relação harmoniosa e equilibrada entre o homem e dos mortos de sua família. Tendo em vista o clima
a natureza. onírico em que os acontecimentos se desenrolam,
não é possível saber quem é esse “menino medroso
LÍNGUA PORTUGUESA
B) O eu poético não se manifesta neste poema, uma vez
que espia todos eles”.
que se trata de um haicai, gênero literário constituído
de 17 sílabas poéticas.
04. (UEM-PR) Tendo em vista os gêneros literários, assinale
C) Há uma tentativa do eu poético de refletir sobre a o que for correto.
rápida passagem do tempo, preocupação comum a
01. Uma das principais características do gênero lírico é
todo haicai contemporâneo.
a tendência à objetividade, encontrada na expressão
D) Este texto pode ser considerado um haicai, mesmo do mundo exterior por parte de um eu lírico que dele
não seguindo de forma tradicional as regras antigas não participa.
da poética oriental.
02. No gênero épico, verifica-se um distanciamento
entre sujeito e objeto, e o mundo representado é
03. (UFU-MG) Leia o poema a seguir, de José Paulo Paes,
48EU trabalhado por meio de categorias como tempo,
e faça o que se pede.
espaço, personagem, foco narrativo e enredo.
A casa
04. Uma vez que “drama” equivale à “ação”, o gênero
Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas. dramático caracteriza-se por obras feitas para serem
encenadas (no caso, a encenação das ações das
Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas
personagens no palco), de modo que o espetáculo é
com corações de purpurina.
um dos elementos fundamentais desse gênero.
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e
08. O s o n e t o , c u j a c o m p o s i ç ã o p r e s s u p õ e o
programas de circo. acompanhamento musical e a participação do coro,
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até é um dos elementos expressivos do espetáculo teatral.
o fim dos tempos. 16. Apesar de cada gênero literário possuir características
No quarto, uma mãe que está sempre parindo próprias, de modo que seja possível separá-los, essa
a última filha. separação não é precisa, havendo obras em que são
notados elementos de mais de um gênero.
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o
seu próprio caixão. Soma ( )
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas
da família. 05. (UEM-PR) Assinale o que for correto sobre o gênero lírico.
WCKP
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do 01. O gênero lírico, em comparação com o gênero épico ou
outro mundo. narrativo, mostra-se marcado por um filtro subjetivo
No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do que favorece a expressão individual, bem como a
Paraguai rachando lenha. intensificação de sentimentos e emoções.
02. Embora marcado por grande liberdade temática,
E no telhado um menino medroso que espia todos eles;
o gênero lírico é bastante rigoroso no tocante às
só que está vivo: trouxe-o até ali o pássaro dos sonhos.
formas fixas, de modo que se manifesta apenas em
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na sonetos, odes, elegias, contos e novelas.
depressa.
04. Em contraste com a presença de um narrador no
Antes que ele acorde e se descubra também morto. gênero épico, na lírica nota-se a presença de um eu
lírico, que tanto permite a expressão de um mundo
PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas.
interior quanto serve de filtro para a realidade externa.
Assinale a alternativa incorreta. 08. Uma das principais subdivisões do gênero lírico
A) A atitude fundamental da lírica é a recordação, encontra-se no par “comédia” e “tragédia” que,
o que pode resultar numa sobreposição temporal. presente desde as primeiras manifestações do gênero,
Desta forma, o tempo se embaralha e presente e deu origem, já no fim do século XVIII, à “tragicomédia”,
passado se fundem. No poema, são os fatos e não os com a utilização de versos livres e brancos.
verbos que determinam essa fusão temporal. 16. Recursos formais como a rima, a métrica e o ritmo,
B) O texto é uma fusão de características da épica e embora possam ser verificados em outros gêneros
da lírica. No que diz respeito à lírica, sobressaem a literários, encontram-se especialmente ligados ao
repetição, a concisão, a fusão entre sujeito e mundo gênero lírico, favorecendo sua sonoridade e sua
evocado. E, sobre a épica, destacam-se a presença expressividade.
de personagens, uma história que se conta. Soma ( )
06. (CEFET-MG–2015) Sobre os gêneros literários, afirma-se: Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre
OGQK brasileiros e mexicanos, e a de todos os jogos: à maneira
I. O gênero dramático abrange textos que tematizam o
sofrimento e a aflição da condição humana. de Homero. Mas o estilo atual é outro, e o sentimento
dramático se orna de termos técnicos.
II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a
expressão subjetiva de estados interiores. ANDRADE, Carlos Drummond de.
Quando é dia de futebol. Rio de Janeiro: Record, 2002.
III. O g ê n e r o é p i c o c o m p r e e n d e t e x t o s s o b r e
acontecimentos grandiosos protagonizados por Ao narrar o jogo entre brasileiros e mexicanos “à maneira
heróis. de Homero”, o autor adota o estilo
IV. Em literatura, o romance e a novela são formas A) épico. D) técnico.
narrativas pertencentes ao gênero dramático. B) lírico. E) teatral.
Estão corretas apenas as afirmativas C) satírico.
A) I e II. C) II e III.
Instrução: O conto a seguir é classificado como fantástico.
B) I e IV. D) III e IV. O conto fantástico se constitui de uma narrativa em que
se chocam o plano do natural e o plano do sobrenatural
07. (UEM-PR–2015) Os gêneros literários são empregados (vocábulo que indica somente o que não é natural, não tem
com finalidade estética. Leia os textos a seguir. conotação religiosa). Nesse conflito, o âmbito do sobrenatural
Busque Amor novas artes, novo engenho, invade o âmbito do natural, geralmente desestruturando-o.
Para matar-me, e novas esquivanças; O desfecho de uma narrativa fantástica não deve proporcionar,
ao contrário do desfecho da narrativa de mistério, um
Que não pode tirar-me as esperanças,
esclarecimento, no texto, para o fato sobrenatural. Leia-o para
Que mal me tirará o que eu não tenho. responder às questões 09 e 10.
CAMÕES, L. V. de. Sonetos. Lisboa:
Livraria Clássica Editora, 1961. [Fragmento] A lua
Porém já cinco sóis eram passados “Seja aquela uma noite solitária, e não digna de louvor.”
(Jó, III, 7)
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados, Nem luz, nem luar. O céu e as ruas apareciam escuros,
prejudicando, de certo modo, os meus desígnios. Sólida,
Prosperamente os ventos assoprando,
porém, era a minha paciência e eu nada fazia senão vigiar
Quando uma noite, estando descuidados os passos de Cris. Todas as noites, após o jantar, esperava-o
Na cortadora proa vigiando, encostado ao muro de sua residência, despreocupado
Uma nuvem, que os ares escurece, em esconder-me ou tomar qualquer precaução para
fugir aos seus olhos, pois nunca se inquietava com
Sobre nossas cabeças aparece.
o que poderia estar se passando em torno dele.
Camões, L. V. de. Os Lusíadas. A profunda escuridão que nos cercava e a rapidez com
São Paulo: Abril Cultural, 1979. [Fragmento] que, ao sair de casa, ganhava o passeio jamais me
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, permitiram ver-lhe a fisionomia. Resoluto, avançava
a classificação dos textos. pela calçada, como se tivesse um lugar certo para ir.
Pouco a pouco, os seus movimentos tornavam-se lentos
A) Épico e lírico. C) Lírico e dramático.
e indecisos, desmentindo-lhe a determinação anterior.
B) Lírico e épico. D) Dramático e épico. Acompanhava-o com dificuldade. Sombras maliciosas
e traiçoeiras vinham ao meu encontro, forçando-me a
08. (FGV-RJ) Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou enervantes recuos. O invisível andava pelas minhas mãos,
da cobiçada esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe partiu enquanto Cris, sereno e desembaraçado, locomovia-se
ao encalço, mas já Brandãozinho, semelhante à chama, facilmente. Não parasse ele repetidas vezes, impossível
lhe cortou a avançada. A tarde de olhos radiosos se fez seria a minha tarefa. Quando vislumbrava seu vulto,
mais clara para contemplar aquele combate, enquanto depois de tê-lo perdido por momentos, encontrava-o
os agudos gritos e imprecações em redor animavam os agachado, enchendo os bolsos internos com coisas
contendores. A urna investida de Cárdenas, o de fera impossíveis de serem distinguidas de longe.
catadura, o couro inquieto quase se foi depositar no arco
Na volta, de madrugada, Cris ia retirando de dentro do
de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma,
paletó os objetos que colhera na ida e, um a um, jogava-os
de aladas plantas, rompe entre os adversários atônitos, e
fora. Tinha a impressão de que os olhava com ternura
conduz sua presa até o solerte Julinho, que a transfere ao
antes de livrar-se deles.
valoroso Didi, e este por sua vez a comunica ao belicoso
Pinga. [...] ***
84 Coleção 6V
Alguns meses decorridos, os seus passeios obedeciam II. A narrativa é feita por um narrador-personagem
ainda a uma regularidade constante. Sim, invariável era onisciente, que penetra no interior das outras
o trajeto seguido por Cris, não obstante a aparente falta personagens e consegue ler seus pensamentos.
de rumo com que caminhava. Atingia a zona suburbana Essa técnica narrativa não é apropriada ao
da cidade, onde os prédios eram raros e sujos. Somente conto fantástico, uma vez que o narrador, sendo
estacava ao deparar uma casa de armarinho, em consciente de tudo, sabe qual o mistério que dá
cuja vitrina, forrada de papel crepom, encontrava-se sustentação ao sobrenatural.
permanentemente exposta uma pobre boneca. Tinha os
III. A narração é feita da perspectiva da personagem
olhos azuis e um sorriso de massa.
não-narradora. Essa personagem, participando
*** dos acontecimentos, segue as outras personagens
LÍNGUA PORTUGUESA
Uma noite – já me acostumara ao negro da noite – e pode narrar tudo o que elas fazem e até prever
constatei, ligeiramente surpreendido, que os seus passos o que estão escondendo e guardando para ser
não nos conduziriam pelo itinerário da véspera. (Havia revelado somente no final, o que aumenta a
algo que ainda não amadurecera o suficiente para sofrer sensação do mistério.
tão súbita ruptura.) Está correto o que se diz somente em
Nesse dia, o andar firme, seguiu em linha reta. Atravessou o
A) I.
centro urbano, deixou para trás a avenida em que se localizava
o comércio atacadista. Apenas se demorou uma vez – assim B) I e III.
mesmo momentaneamente – defronte a um cinema, no qual C) II e III.
meninos de outros tempos assistiam filmes em série. Fez menção D) II.
de comprar entrada, o que deveras me alarmou. Contudo,
sua indecisão foi breve e prosseguiu a caminhada. Enfiou-se
pela rua do meretrício, parando a espaços, diante dos portões,
espiando pelas janelas, quase todas muito próximas do solo. Seção ENEM
Em frente a uma casa baixa, a única da cidade
01. (Enem–2017)
que aparecia iluminada, estacionou hesitante. Tive a FZJK
impressão de que aquele seria o instante preciso, pois, O mundo revivido
se Cris retrocedesse, não lograria outra oportunidade.
Sobre esta casa e as árvores que o tempo
Corri para seu lado e, sacando do punhal, mergulhei-o nas
suas costas. Sem um gemido e o mais leve estertor, caiu esqueceu de levar. Sobre o curral
no chão. Do seu corpo magro saiu a lua. Uma meretriz que de pedra e paz e de outras vacas tristes
passava, talvez movida por impensado gesto, agarrou-a chorando a lua e a noite sem bezerros.
nas mãos, enquanto uma garoa de prata cobria a roupa
do morto. A mulher, vendo o que sustinha entre os dedos,
se desfez num pranto convulsivo. Abandonando a lua, que Sobre a parede larga deste açude
foi varando o espaço, ela escondeu a face no meu ombro. onde outras cobras verdes se arrastavam,
Afastei-a de mim. E, abaixando-me, contemplei o rosto de
e pondo o sol nos seus olhos parados
Cris. Um rosto infantil, os olhos azuis. O sorriso de massa.
iam colhendo sua safra de sapos.
RUBIÃO, Murilo. Contos reunidos. p. 133-135.
09. (UECE) Faz parte da teoria do conto a ideia de que Sob as constelações do sul que a noite
esse tipo de narrativa não permite os excessos;
armava e desarmava: as Três Marias,
se aparecer um detalhe aparentemente sem importância,
ele terá uma função em algum momento do texto. Por o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo.
exemplo: se uma espingarda aparecer encostada a
um canto, pode-se ter certeza de que ela vai disparar. Sobre este mundo revivido em vão,
No conto em pauta, essa teoria se confirma por meio do
a lembrança de primos, de cavalos,
aparecimento do(s) / da
de silêncio perdido para sempre.
A) objetos colhidos na rua por Cris.
B) boneca vista na vitrine do armarinho. DOBAL, H. A província deserta.
C) prédios raros e sujos do subúrbio. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
D) cinema onde Cris parou.
No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu
10. (UECE) Observe o que se diz sobre a técnica da narrativa lírico projeta um conjunto de imagens cujo lirismo se
em foco. fundamenta no
I. A narrativa é feita em primeira pessoa, por um A) inventário das memórias evocadas afetivamente.
narrador que, sendo também personagem, narra B) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância.
somente de sua perspectiva. A narrativa em primeira
C) sentimento de inadequação com o presente vivido.
pessoa é apropriada ao conto fantástico porque quem
narra é a mesma pessoa que viveu o episódio narrado. D) ressentimento com as perdas materiais e humanas.
Não o ouviu de terceiros. E) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena.
02. (Enem–2015) Em junho de 1913, embarquei para a Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressivos,
Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi essa crônica tem um caráter
o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito A) filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos
dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com vizinhos.
a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir B) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento
no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo da vizinhança.
Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais
C) irônico, pois apresenta com malícia a convivência
belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de
entre vizinhos.
“Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro
de 1914. D) crítico, pois deprecia o que acontece nas relações
de vizinhança.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. E) didático, pois expõe uma conduta a ser evitada na
relação entre vizinhos.
No relato de memórias do autor, entre os recursos
usados para organizar a sequência dos eventos narrados,
destaca-se a
GABARITo Meu aproveitamento
A) construção de frases curtas a fim de conferir
dinamicidade ao texto. Aprendizagem Acertei ______ errei ______
B) presença de advérbios de lugar para indicar a
01.
progressão dos fatos.
A) A personagem Ana do conto de Clarice Lispector
C) alternância de tempos do pretérito para ordenar os
depara-se com um cego que mascava chicles
acontecimentos.
tranquilamente. Diante dessa realidade, ela
D) inclusão de enunciados com comentários e avaliações experimenta sensações perturbadoras e reflexões
pessoais. sobre a existência que desestabilizam a normalidade
E) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida da sua vida.
do escritor. B) A frase “olhava o cego profundamente, como se
olha o que não nos vê” sugere a nova forma com
03. (Enem) que a personagem Ana sente e percebe a vida por
meio de algo tão corriqueiro.
O negócio
02. A antilira, como o nome sugere, se caracteriza por uma
Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe oposição ao lirismo. Assim, a antilira de João Cabral se
às donas que se abastecem de pão e banana: verifica na construção de uma poética áspera, objetiva,
– Como é o negócio? concisa, desprovida de sentimentalismo, marcada pela
De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde precisão vocabular. Essas características de sua poética
ou é uma promessa a recusa: são bem representadas pela metáfora da pedra,
recorrente em sua obra, que diz respeito à vida dura no
– Deus me livre, não! Hoje não...
sertão, mas que também evoca, metalinguisticamente,
Abílio interpelou a velha: as características de sua poética: dura, compacta,
– Como é o negócio? prosaica.
Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também 03. No trecho citado, verifica-se a presença de um narrador
aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. de primeira pessoa, que conta uma história. Pode-se
Ele se chegou: dizer, portanto, que o trecho apresenta características
– Como é o negócio? do gênero narrativo. A presença do discurso direto do
padre, no entanto, que dinamiza o relato, constitui uma
Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa
marca do gênero dramático.
partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado,
duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o
quintal, cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a
Propostos Acertei ______ errei ______
capa de viagem, estendida na grama orvalhada. 01. A 06. C
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar 02. D 07. B
a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes 03. D 08. A
na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio. 04. Soma = 22 09. B
Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu: 05. Soma = 21 10. A
– Como é o negócio?
Diante da recusa, ele ameaçou: Seção enem Acertei ______ errei ______
– Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe
01. A 02. C 03. C
que eu conto!
TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba.
Rio de Janeiro: Record, 1979. [Fragmento] Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %
86 Coleção 6V
PORTUGUESA B 03
Trovadorismo, Humanismo e Classicismo
TROVADORISMO Tendo em vista que a maioria da população não sabia
ler nem escrever, a oralidade foi o traço marcante dessa
literatura, ajudando a difundi-la por toda a Europa. Nesse
A luz da Idade Média sentido, destaca-se a importância linguística das cantigas,
Entender o passado nos faz refletir sobre o presente, afirma que consolidaram, em solo lusitano, a língua popular, em
detrimento do latim, já que eram escritas no idioma local, o
Jacques Le Goff, historiador francês especialista em Idade
galego-português. Era o nascimento da literatura portuguesa
Média. Ao contrário do que se difundiu equivocadamente,
e também da língua portuguesa. Vale ressaltar que a literatura
a Idade Média não foi um período de trevas, tampouco
produzida na região de Portugal foi fortemente influenciada
de escassa produção literária. No entanto, essa produção
pela literatura provençal, oriunda da região correspondente
esteve, durante um bom tempo, restrita aos mosteiros e ao sul da França. Essas cantigas foram compiladas em
bibliotecas eclesiásticas, além de ser escrita em latim, idioma cancioneiros medievais, manuscritos preservados e guardados
limitado também a esses ambientes. pelas maiores bibliotecas do mundo.
O Trovadorismo, fenômeno literário que, na Península A poesia seguia o código de cortesia e a lírica dividia-se em
Ibérica, marca essa época, é também conhecido como cantigas de amor e de amigo, cujos temas eram o amor não
Primeira Época Medieval e abrange o período de 1189 a 1434. correspondido e o sofrimento advindo dessa coita amorosa.
Esse estilo reflete uma sociedade dominada pelo clero Outras cantigas são do gênero satírico – escárnio e maldizer –,
católico, pelo movimento das Cruzadas em direção ao que ridicularizavam nobres ou costumes da sociedade.
As cantigas
A sociedade medieval se reunia nos castelos, onde ocorriam
festas em que se declamavam poesias acompanhadas por
músicos e bailarinas profissionais, as soldadeiras, que
Biblioteca Nacional
Cantigas de amor Apesar disso, muitas podem ser consideradas como gêneros
independentes, como as cantigas de alba, que lamentavam
O amor não correspondido era o tema dessas cantigas.
o amanhecer anunciado por um pássaro, ou mesmo um
Geralmente a dama não era identificada, o que fazia parte
vigia (gaita), logo após uma noite de amor; as cantigas
do código de amor cortês. A vassalagem amorosa, copiada
de romaria, cujo eu lírico convida à romaria, louvando os
do modelo feudal, exigia que o eu lírico expressasse seu fiel
santos ou os milagres feitos por eles, tais como as louvações
amor e dedicação à grande dama, oferecendo a ela toda a
à virgem Maria, nas cantigas de Santa Maria, ou, ainda,
sua obediência e ressaltando as características superiores
convocando a todos para ir aos bailados nos pátios das
de seu físico e caráter, se comparada às demais senhoras
igrejas; e as cantigas marinhas ou de barcarola, em que as
da corte. O eu lírico é sempre masculino, e sofre da coita
súplicas são dirigidas ao mar, confidenciando a ele a saudade
amorosa, sofrimento de amor, já que é cativo de sua dama.
que a dama sente do seu amado.
Geralmente, esse amor não é correspondido, ou é proibido,
por ser a dama já casada. Por sua dama, o trovador despreza É importante perceber a relevância dessas composições
os títulos, riquezas e posses, prometendo-lhe fidelidade literárias, as quais, muitas vezes, descrevem o cenário
extrema. No texto, a amada é denominada com o uso de medieval, caracterizando os ambientes e trazendo para as
senhal, espécie de pseudônimo, que tem a finalidade de gerações futuras preciosas informações sobre a época, como
resguardá-la. Nesse tipo de composição, o mundo interior a constante luta, na Península Ibérica, contra os mouros,
do poeta era colocado em evidência. que obrigavam os amados a ir para a guerra, e, ainda,
Observe este fragmento de uma canção de amor composta o potencial explorador desses povos, que estavam sempre
por Martim Soares, trovador português da primeira metade partindo para alguma viagem.
Formosa senhora, não queres, pois Levad’, amigo que dormide’las frias manhanas
tôdalas aves do mundo d’amor cantavam:
acreditar na coita [sofrimento] que Amor me dá,
leda m’and’eu.
para meu mal é que te pareces tão bela
e, para meu mal, tu és minha senhora Tôdalas aves do mundo d’amor diziam,
e para meu mal maior ouço dizer bem de ti do meu amor e do voss[o] em ment’haviam:
e para meu mal te vi, leda m’and’eu.
pois meu mal é que tu és muito boa.
Tôdalas aves do mundo d’amor cantavam,
(Tradução do autor) do meu amor e do voss[o] i enmentavam:
leda m’and’eu.
Cantigas de amigo
Do meu amor e do voss[o] em ment’haviam
O ambiente campestre é retratado nessas cantigas, vós lhi tolhestes os ramos em que siíam:
cujo tema central é a saudade do namorado, chamado leda m’and’eu.
de amigo, cantada por um eu lírico feminino, ainda
que a composição tenha sido feita por um homem. Do meu amor e do voss[o] i enmentavam
vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam:
Alguns estudiosos dividem as cantigas de amigo de
leda m’and’eu.
acordo com a temática paralela apresentada nelas.
88 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
Medievais, FCSH/NOVA. Disponível em: <http://cantigas.
fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=662&pv=sim>. GUILHADE, João Garcia de. A Dom Foam quer’eu gram mal.
Acesso em: 03 out. 2018. Cantigas Medievais Galego-Portuguesas [base de dados
online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/
Ergue-te amigo que dormes nas manhãs frias!
NOVA. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.
Ergue-te amigo que dormes nas manhãs frias!/ Todas as aves asp?cdcant=1533&pv=sim>. Acesso em: 03 out. 2018.
do mundo, de amor, diziam:/ alegre eu ando.
A Dom Foam eu quero grande mal
Ergue-te amigo que dormes nas manhãs claras!/ Todas as
aves do mundo, de amor, cantavam:/ alegre eu ando. e quero à sua mulher grande bem
grande paixão que por ela me vem
Todas as aves do mundo, de amor, diziam;/ do meu amor e
do teu se lembrariam:/ alegre eu ando. e nunca a ela farei algum mal;
Todas as aves do mundo, de amor, cantavam;/ do meu amor Desde quando sua mulher eu vi,
e do teu se recordavam:/ alegre eu ando. se pude, sempre a servi
Do meu amor e do teu se lembrariam;/ tu lhes tolheste os e sempre a ele desejei mal.
ramos em que eu as via:/ alegre eu ando.
(Tradução do autor)
Cantigas de escárnio e de maldizer
Diferentemente das cantigas líricas, a sátira trovadoresca Novelas de cavalaria
critica os costumes dos nobres e da sociedade medieval.
Surgidas no século XII, as novelas de cavalaria são
Geralmente falava-se mal de damas que não correspondiam as primeiras narrativas em prosa. A visão e os valores
ao amor do trovador, de senhores mesquinhos, ou mesmo medievais também foram transmitidos por meio dessas
dos maridos dessas damas, conforme pode ser observado na composições literárias, que acompanharam o declínio da
cantiga transcrita a seguir, que une o elogio de uma dona com o poesia trovadoresca. Destacam-se as do Ciclo Clássico,
ataque ao seu marido, mostrando os bastidores do amor cortês. narrativas da guerra de Troia e das aventuras de Alexandre,
o Grande; e as do Ciclo Arturiano ou Bretão, que envolve
A Dom Foam quer’eu gram mal as histórias do rei Artur e os cavaleiros da Távola
e quer’a sa molher gram bem; Redonda. Essas novelas serviram de inspiração a romances
gram sazom há que m’est’avém contemporâneos, jogos (RPG), séries televisivas e filmes,
e nunca i já farei al; como o Cruzada (Kingdom of Heaven), dirigido por Ridley
Scott, que narra a jornada do jovem Bailan, que se torna
ca, des quand’eu sa molher vi,
um cavaleiro e parte para Jerusalém, a fim de conquistar
se púdi, sempre a servi
uma provável paz entre judeus, cristãos e muçulmanos na
e sempr’a ele busquei mal.
terra santa.
é agora o Santo Vaso da Última Ceia onde é recolhido o coletivas são apresentadas nas festas e saraus, afastando-se
90 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
pelo anjo, o barqueiro do paraíso, e pelo diabo, o barqueiro nova forma de pensar, daí o nome Classicismo. O termo
do inferno, decidirão o destino das personagens e a cada designa o retorno aos valores clássicos da Antiguidade e
uma será dado segundo as suas obras, ou seja, elas serão batiza o movimento ou escola literária de Renascimento.
julgadas de acordo com seus atos. Observe: Nele valorizam-se as realizações humanas e há o abandono
das manifestações divinas. A razão é agora o principal
Vem um Frade com üa Moça pela mão, e um broquel e
parâmetro para se observar e interpretar a realidade e
üa espada na outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele
transpô-la para a arte.
mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:
A ascensão da burguesia promove os artistas nascidos
FRADE − Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; ta-rai-rai-rai-rã;
no seio dessas famílias, os quais não tinham títulos de
tai-ri-ri-rã: tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
nobreza e tentavam se sobressair por meio dos estudos.
DIABO − Que é isso, padre?! Que vai lá? Se no Trovadorismo eram os nobres os agentes do
FRADE − Deo gratias! Som cortesão. discurso, no Classicismo surge a figura dos mecenas, ricos
DIABO − Sabês também o tordião? comerciantes que financiavam artistas e poetas. A cultura
FRADE − Porque não? Como ora sei! passa a ser considerada um bem precioso e, assim, surgem
DIABO − Pois entrai! Eu tangerei e faremos um serão. universidades e mais bibliotecas, dessa vez desvinculadas
Essa dama é ela vossa? dos mosteiros e igrejas. O advento da imprensa facilita a
publicação e a popularização da escrita. O corpo humano
FRADE − Por minha la tenho eu, e sempre a tive de meu,
torna-se o principal tema dos escultores e pintores.
DIABO − Fezestes bem, que é fermosa! E não vos
punham lá grosa no vosso convento santo? Em Portugal, o Classicismo se inicia com o retorno do
FRADE − E eles fazem outro tanto! poeta Francisco Sá de Miranda de uma viagem à Itália, onde
DIABO − Que cousa tão preciosa... Entrai, padre conheceu a poesia de Petrarca, poeta renascentista. Como
reverendo! bagagem, Sá de Miranda, influenciado pelos poetas italianos,
precursores do novo estilo, trouxe uma espécie de renovação
FRADE − Para onde levais gente?
das regras poéticas, bem como dos temas abordados. Dessa
DIABO – Pera aquele fogo ardente que nom temestes
maneira, o Renascimento chega ao país luso. O principal
vivendo.
expoente do Classicismo em Portugal é Luís Vaz de Camões,
FRADE − Juro a Deus que nom t'entendo! E este hábito
cujo poema épico Os Lusíadas, com 1 102 estrofes e mais
no me val?
de 8 000 versos, celebra os feitos dos portugueses.
DIABO − Gentil padre mundanal, a Berzebu vos
encomendo!
Camões
FRADE − Corpo de Deus consagrado! Pela fé de Jesu
Cristo, que eu nom posso entender isto! Eu hei-de Luís de Camões provavelmente nasceu em Lisboa no ano
ser condenado?!... Um padre tão namorado e tanto de 1524, ingressou no Exército da Coroa de Portugal e, em
dado à virtude? Assi Deus me dê saúde, que eu estou 1547, embarcou para a África, onde combateu como soldado
maravilhado! em Ceuta, no Marrocos. Durante o combate perde o olho
DIABO − Não curês de mais detença. Embarcai e direito. Morre completamente pobre em 1580.
partiremos: tomareis um par de ramos. A própria vida de Camões, segundo as biografias que
FRADE − Nom ficou isso n'avença. circulam, teria sido uma verdadeira epopeia. Viajou e serviu
DIABO − Pois dada está já a sentença! como soldado, tendo participado de expedições militares.
VICENTE, GIL. Auto da barca do inferno. Disponível em:
Sobre ele, circula a lenda de que teria sofrido naufrágio e se
<http://www.dominiopublico.gov.br/ salvado nadando com uma só mão, pois com a outra segurava
download/texto/bv000107.pdf>. Acesso em: o manuscrito de Os Lusíadas, publicado posteriormente com
23 ago. 2017. [Fragmento] o patrocínio de D. Sebastião, rei de Portugal.
Sua poesia é composta de sonetos e redondilhas (versos O lirismo presente na obra de Camões não se resume
com 5 ou 7 sílabas poéticas), demonstrando perfeição e a determinada época, uma vez que exprime sentimentos
humanos universais, identificados em qualquer época
preocupação com a forma. Sua inspiração vem das cantigas
e lugar da História. A essa característica, denomina-se
e trovas medievais, porém os temas são mais profundos,
Universalismo.
existenciais ou amorosos, retratando as preocupações do
Leia agora o trecho de uma letra de música contemporânea,
seu próprio tempo.
de autoria de Djavan e Caetano Veloso.
as pessoas que submetem o sensível ao inteligível. A poesia Mas é doce morrer nesse mar de lembrar
lírica de Camões reflete também o conflito entre dois tipos E nunca esquecer
de amor: o espiritualizado, que não visa à consumação dos Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria
desejos, e o carnal. Leia a seguir. Isso pra mim é viver
De vós me aparto, ó vida! Em tal mudança, Nos versos “Mas é doce morrer nesse mar de lembrar e
sinto vivo da morte o sentimento. nunca esquecer/ Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria/
92 Coleção 6V
A cena representa uma donzela vestida luxuosamente É interessante notar que o poeta critica a cobiça dos
de noiva, sentada junto a Cupido e sendo assistida pela governantes e da burguesia, interessados nos lucros
deusa Vênus. A figura vestida traz nas suas mãos uma advindos das novas descobertas em contraposição à
vasilha cheia de ouro e gemas, que simboliza “a efêmera situação dos navegantes, gente do povo que morria nas
felicidade da Terra” (analogia para o amor carnal, de expedições.
posses e cobiça), e a deusa, nua, sustém uma lamparina
O autor divide o poema em dez cantos, organizados
com a chama ardente de Deus, a qual simboliza “a
em proposição, na qual se identifica o motivo e o herói;
felicidade eterna do Céu” (representando o amor ideal,
invocação, em que o poeta invoca proteção às musas;
LÍNGUA PORTUGUESA
sagrado). É uma cena alegórica influenciada pela
concepção neoplatônica renascentista, segundo a qual a dedicatória, feita a D. Sebastião, rei de Portugal; narração,
beleza terrena é um reflexo da beleza celestial e a sua em que se dá o desenvolvimento dos relatos e da viagem;
contemplação é um prelúdio da sua realização ultraterrena. e epílogo, em que o poeta confessa sua desilusão com a
Não significaria, pois, a contraposição de duas formas de cobiça dos homens e com a pátria.
amar, mas o diálogo entre elas, possivelmente a fusão
Canto I
entre duas concepções amorosas que não se excluem,
mas se fundem. O elemento que promoveria essa fusão, As armas e os Barões assinalados
retratado no quadro, é a figura da criança, que representa Que da Ocidental praia Lusitana
Em Os Lusíadas, Camões narra a viagem de Vasco da a sua pátria, vangloriando-a e afirmando valer mais o
Gama às Índias e a descoberta da rota marítima que levaria que agora os portugueses farão do que já valeu o que
àquelas terras. Fatos verídicos da história portuguesa os gregos e troianos fizeram por suas pátrias. As vitórias
são mesclados a episódios fantásticos, envolvendo lusitanas tornam-se, nesse momento, superiores às de
deuses pagãos, anjos e ilhas perdidas. Esses deuses ora seus antecessores. Os Lusíadas é uma epopeia grandiosa,
ajudam ora atrapalham a expedição. Na época, o poema em termos literários, assim como A Odisseia, que narra o
enfrentou problemas com a inquisição, por misturar temas retorno de Ulisses a Ítaca, sua pátria, após a guerra de Troia.
sacros a temas profanos próprios da mitologia grega. Vale ressaltar, mais uma vez, que a literatura vai se
No entanto, entendeu-se que eram apenas recursos apropriando e retomando épocas anteriores, reformulando-as.
poéticos, e não ideologia do artista, dessa forma, o poema Por esse motivo, é fundamental conhecer e reconhecer estilos
foi publicado e permanece até hoje como um dos épicos anteriores para poder compará-los. Nesse diálogo é que se
mais famosos da literatura portuguesa e mundial. constitui o estudo e o entendimento da matéria literária.
94 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
com riqueza de detalhes. É citado pelos historiadores como símbolo solene de sua união. Provavelmente o pintor
da arte como o criador da pintura a óleo, já que buscou foi chamado a registrar esse importante momento como
novas experiências com pigmentos coloridos e os inseriu testemunha, tal como um notário poderia ser chamado
no seu ofício. para declarar que esteve presente num ato solene idêntico.
Leia, a seguir, o que o historiador da arte Eric Gombrich Isso explicaria por que o mestre apôs seu nome numa
analisa em uma de suas mais famosas obras de arte, posição de destaque no quadro, com as palavras latinas
O casal Arnolfini. É interessante perceber, por meio do “Johannes de eyck fuit hic” (Jan van Eyck esteve presente).
comentário do estudioso, como a vida cotidiana e a No espelho ao fundo do quarto vemos toda a cena refletida
felicidade terrena tornaram-se temas artísticos, revelando por trás e aí, ao que parece, também vemos a imagem do
a ascensão da nova classe, a burguesia, e definindo a pintor e testemunha. Ignoramos se foi o mercador italiano
produção estética do período. ou o artista setentrional quem concebeu a ideia de fazer tal
uso do novo gênero de pintura, o qual pode ser comparado
ao uso legal de uma fotografia, adequadamente endossada
por uma testemunha idônea.
anteriormente. Nisso reside a excelência e o estilo da pintura: O pintor deve deixar ao espectador algo para adivinhar. Se os
retratar os sentimentos humanos em figuras sacralizadas. contornos não são desenhados com a maior firmeza de traço,
Certamente um outro olhar foi inaugurado sobre esse se a forma é deixada um pouco indefinida, como desaparecendo
numa sombra, essa impressão de secura e rigidez será evitada.
acontecimento cristão a partir da obra de Leonardo.
96 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
características: os cantos da boca e os cantos dos olhos.
Ora, foram justamente essas partes as que Leonardo deixou
deliberadamente indistintas, fazendo com que se esfumassem
num sombreado suave. Por isso é que nunca estamos muito
certos quanto ao estado de espírito realmente refletido na
expressão com que a Mona Lisa nos olha. Sua expressão
parece ser sempre esquiva.
SIMONI, Michelangelo di Lodovico Buonarroti. Teto da Capela
GOMBRICH, E. A história da arte. Disponível em: Sistina no Vaticano. 1508-1512. Afresco. Itália. [Detalhe]
<http://www.artevisualensino.com.br index.php?
Mas o material de predileção do artista era o mármore.
option=com_docman&task=doc_details&gid=
268&Itemid=19> Acesso em: 31 ago. 2017. Com ele, Michelangelo esculpiu Davi, estátua de 5,17 metros
de altura que foi exposta no dia 8 de setembro de 1504
ao público e até hoje desafia quem a contempla. Segundo
a Bíblia, o jovem Davi teria derrotado o gigante Golias.
A alma da pedra: Michelangelo Diferentemente de outras representações da personagem,
Michelangelo foi contemporâneo de Leonardo da Vinci, o Davi de Michelangelo não está segurando a cabeça do
embora 23 anos mais jovem e tendo vivido mais 45 anos gigante. Ele não é um jovem indefeso, mas tem traços
depois da morte de Da Vinci. Sua técnica sólida de pintura vigorosos, é um homem comum, cuja força interior é
reconhecida no primeiro olhar do espectador para a grande
de afrescos e o completo domínio da arte de desenhar foram
figura exposta hoje no Museu de Belas Artes de Florença.
aprendidos no ateliê de outro grande artista, o pintor italiano
A mão colossal e os traços da face revelam sua origem: Davi
Domenico Ghirlandaio (1449-1494). Depois de passar um é o homem do Renascimento, que enfrenta não apenas uma
tempo com o artista, o jovem se cansou e buscou o estudo batalha contra o gigante Golias, mas também a vida humana,
dos mestres do passado, como Giotto, Masaccio, Donatello, com todas as suas intempéries. Observe:
e dos escultores gregos e romanos que eram exibidos
nas coleções dos Medici, importante família de mecenas
de Florença.
98 Coleção 6V
B) as cantigas de escárnio e maldizer têm temáticas Pois, senhora, conquanto apenas dor
LÍNGUA PORTUGUESA
se soubésseis o mal que me fazeis,
C) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre feminino.
posso jurar – perdoa-me. Senhor! –
D) as cantigas de amigo têm estrutura poética
que sentiríeis compaixão de mim.
complicada.
E) as cantigas de amor são de origem nitidamente Não me querendo nenhum bem, embora,
popular. se soubésseis a pena que dais,
e quanta dor há nos meus tristes ais,
02. (IFSP–2017) Inspiradas na poesia provençal, as posso jurar – de boa-fé, senhora! –
cantigas trovadorescas são consideradas as primeiras que sentiríeis compaixão de mim.
manifestações literárias portuguesas. O movimento
literário em que elas surgiram ficou conhecido como E mal seria, se não fosse assim.
Trovadorismo. Sobre o Trovadorismo, assinale a D. DINIS. In: BERARDINELLI, Cleonice.
alternativa correta. Cantigas de trovadores medievais em português moderno.
Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1953. p. 21.
A) As cantigas trovadorescas foram transmitidas apenas
em cópias e recolhidas somente em duas importantes A cantiga de D. Dinis é representativa do trovadorismo
antologias, denominadas Cancioneiros, únicos português e, como ocorre em outras produções literárias
documentos que restam para o conhecimento do do período, enfatiza:
B) O Trovadorismo foi um movimento artístico literário C) o sentimento de culpa pelo amor perdido.
que predominou no século XVII, na Europa. Esse D) o sofrimento amoroso do eu lírico.
estilo surgiu em Roma, na Itália, se expandiu por
outros países da Europa, como Portugal, logo após 04. (IFSP–2016) Assinale a alternativa correta no que se
seu surgimento, mas foi na Espanha que ele se tornou refere às cantigas de amor trovadorescas.
05. (PUC RS–2015) Leia o excerto do texto dramático O auto 06. (UFRGS-RS) Assinale a alternativa incorreta sobre a obra
Y977
da Compadecida, de Ariano Suassuna. de Gil Vicente.
MANUEL — Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de A) Gil Vicente tem suas raízes na Idade Média, mas
Davi. Levantem-se todos pois vão ser julgados. volta-se para o Renascimento, aliando o humanismo
religioso à atitude crítica diante dos problemas sociais.
JOÃO GRILO — Apesar de ser um sertanejo pobre e
B) Variada na forma, a obra vicentina desvenda os
amarelo, sinto que estou diante de uma grande figura.
costumes do século XVI, satirizando a sociedade
Não quero faltar com o respeito a uma pessoa tão
feudal sem perder o caráter moralista e resguardando
importante, mas, se não me engano, aquele sujeito acaba o sentido de intervenção social.
de chamar o senhor de Manuel.
C) Embora critique o clero, a nobreza e seu séquito
MANUEL — Foi isso mesmo, João. Esse é um dos meus ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação heroica dos
nomes, mas você pode me chamar também de Jesus, de reis, atitude comum na Idade Média.
Senhor, de Deus... Ele gosta de me chamar de Manuel D) Ao mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a
ou Emanuel, porque assim quer se persuadir de que sou produção vicentina aponta para a necessidade de
somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar reforma da Igreja, devido aos abusos do clero.
de Jesus. E) Trabalhando com uma verdadeira galeria de tipos, Gil
JOÃO GRILO — Jesus? Vicente adapta o uso da linguagem coloquial ao estilo
e à condição social de cada um deles.
MANUEL — Sim.
JOÃO GRILO — Mas espere, o senhor é que é Jesus? 07. (Unicamp-SP–2018)
KSV9
MANUEL —Sou. Transforma-se o amador na coisa amada,
JOÃO GRILO — Aquele a quem chamavam Cristo? Por virtude do muito imaginar;
JESUS — A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou, Não tenho, logo, mais que desejar,
por quê? Pois em mim tenho a parte desejada.
JOÃO GRILO — Porque... não é lhe faltando com o respeito Se nela está minha alma transformada,
não, mas eu pensava que o senhor era muito menos Que mais deseja o corpo de alcançar?
queimado. [...] A cor pode não ser das melhores, mas o Em si somente pode descansar,
senhor fala bem que faz gosto. [...] Pois com ele tal alma está liada.
MANUEL — Muito obrigado, João, mas agora é sua vez. Mas esta linda e pura semideia,
Você é cheio de preconceito de raça. Vim hoje assim de Que, como o acidente em seu sujeito,
propósito, porque sabia que ia despertar comentários.
Assim como a alma minha se conforma,
Que vergonha! Eu, Jesus, nasci branco e quis nascer
judeu, como podia ter nascido preto. Para mim tanto faz Está no pensamento como ideia;
um branco ou um preto. Você pensa que sou americano E o vivo e puro amor de que sou feito,
para ter preconceito de raça? Como a matéria simples busca a forma.
Com base no diálogo e na obra literária de Ariano CAMÕES, Luís de. Lírica: redondilhas e sonetos.
Suassuna, analise as afirmativas. Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997. p. 85.
I. João Grilo mostra-se desrespeitoso diante de um Jesus
Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões
negro, que não corresponde às suas expectativas.
é a retomada renascentista de ideias do filósofo grego
II. Na sua fala, Manuel demostra que o valor das pessoas Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que
independe da cor da pele. o chamado “neoplatonismo” camoniano
III. O companheiro inseparável de João Grilo, Chicó, é um A) é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez
contador de estórias que se caracteriza como uma que a união entre amador e pessoa amada resulta
espécie de mentiroso ingênuo. em uma alma única e perfeita.
IV. A obra dramática de Ariano Suassuna mostra-se B) é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que
alinhada a uma tradição literária Ibérica que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na matéria
apresenta obras fundacionais, como o Auto da barca simples que deseja.
do Inferno, de Gil Vicente. C) é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que
a consequência da união entre amador e coisa amada
Estão corretas as afirmativas
é a ausência de desejo.
A) I e II, apenas. D) II, III e IV, apenas.
D) é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que
B) III e IV, apenas. E) I, II, III, IV. a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na sua
C) I, II e III, apenas. condição de ideia.
100 Coleção 6V
Instrução: Texto para as questões de 08 a 10. C) Camões produziu uma teoria da castidade, ao
[...] o professor e escritor português Helder Macedo, defender o amor puro, não material, não carnal.
que, no ensaio Camões e a viagem iniciática, irá contestar D) a busca da conciliação entre matéria e espírito, corpo
a teoria da castidade do poeta Camões, argumentando e alma, é um traço típico da lírica camoniana.
que o autor Luís de Camões, à frente do seu tempo, teria, E) a consciência das tensões entre corpo e alma, “estar”
na verdade, procurado e desenvolvido uma nova filosofia e “não estar”, faz de Camões um poeta à frente de
na qual os valores até então inconciliáveis do homem seu tempo.
(o corpo e a alma) pudessem, na sua poesia, finalmente
se combinar. 10. (ESPM-SP–2017) Baseando-se estritamente no ponto de
vista teorizado no texto acima (e não no sentido amplo
LÍNGUA PORTUGUESA
Ora, Camões estava, sim, inserido numa Europa
quinhentista, que ainda apresentava como grandes ícones da obra camoniana), Camões poderia ser vinculado a
poéticos os renascentistas italianos Dante e Petrarca, que, uma das definições abaixo, que caracterizam períodos
como dissemos, eram defensores do amor não carnal e da História da Literatura.
D) Camões não seguiu rigidamente os cânones crítico das ideias e opiniões. O sonho de Kant era que cada
renascentistas da época: o platonismo e o petrarquismo. um fosse ao mesmo tempo leitor e autor, que emitisse
juízos sobre as instituições de seu tempo, quaisquer
E) paira uma incerteza sobre a genuína influência da
que elas fossem, e que, ao mesmo tempo, pudesse
filosofia platônica nos clássicos renascentistas Dante
e Petrarca. refletir sobre o juízo emitido pelos outros. Aquilo que
outrora só era permitido pela comunicação manuscrita
09. (ESPM-SP–2017) Ainda segundo o texto: ou a circulação dos impressos encontra hoje um suporte
A) Camões não se enquadra cronologicamente no poderoso com o texto eletrônico.
quinhentismo, mas sim ideologicamente.
CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador.
B) alvos da crítica literária, as contradições semânticas São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo:
são frequentes na produção poética camoniana. Unesp, 1998.
O poema tem, como característica, a figura de linguagem Propostos Acertei ______ errei ______
denominada antítese, relação de oposição de palavras 01. C 04. D 07. A 10. C
ou ideias. Assinale a opção em que essa oposição se faz 02. C 05. D 08. D
claramente presente. 03. D 06. C 09. E
A) “Amor é fogo que arde sem se ver.”
Seção enem Acertei ______ errei ______
B) “É um contentamento descontente.”
01. A
C) “É servir a quem se vence, o vencedor.”
02. B
D) “Mas como causar pode seu favor.”
E) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?” Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %
102 Coleção 6V
PORTUGUESA C 01
Acentuação e Ortografia
A principal e mais original forma de manifestação de uma língua é a oralidade. A escrita, que surgiu apenas no século IV a.C.,
é uma forma de representar graficamente diversas sequências de sons que falantes reconhecem como significantes,
ou seja, a parte material, sonora de um signo linguístico. Segundo o linguista Ferdinand de Saussure, um signo linguístico
é formado pela associação que se faz entre um significante e um significado, ou seja, um conceito que pode aludir a
coisas, ações, qualidades, circunstâncias, etc. Observe:
Signo Significado
= =
linguístico Significante / ‘ahvorI /
No esquema, usa-se a transcrição fonética / ‘ahvorI /, e não a sua forma escrita “árvore”, porque um significante deve ser
entendido como uma sequência de sons; a forma escrita “árvore”, por sua vez, é a representação gráfica dessa sequência
sonora, feita segundo as normas de ortografia da Língua Portuguesa.
É preciso observar, também, que a relação entre significante e significado em um signo linguístico não é motivada, e sim
convencionada. Tanto é assim que um mesmo significado – como o conceito de “árvore” identificado no esquema – é associado
a diferentes significantes, dependendo do idioma em que é expresso. Esses diferentes significantes serão representados
na escrita também de modos distintos. Além disso, na grafia das palavras, ainda incidem outras variantes, como o tipo de
alfabeto utilizado, certas regras fonológicas e normas de ortografia. Observe o quadro a seguir, que mostra como as palavras
“árvore”, “casa” e “galinha” são representadas de modos distintos em diferentes idiomas.
As traduções do russo, do árabe e do chinês foram feitas por meio do Google Tradutor e são apenas ilustrativas.
A escrita é uma forma de representação gráfica dos utilização de um acento agudo na penúltima sílaba para que
significantes e, tal como outras formas de representação, a palavra seja lida como paroxítona. Se não houvesse esse
é não mais que uma convenção. Essa convenção é acento, os falantes tenderiam a ler a palavra como oxítona,
determinada por uma série de regras ortográficas – as quais tal como ocorre em caqui.
se encontram listadas em gramáticas normativas. Se se analisarem as palavras tatu e vírus, será possível
Neste módulo, serão relembradas algumas das regras para observar que ocorre o mesmo em relação ao u.
se representarem palavras na Língua Portuguesa. Não todas, Saber disso é muito útil, pois ajuda a entender algumas
porque isso seria exaustivo e pouco prático. Na verdade, regras básicas de acentuação das palavras oxítonas,
serão retomadas as regras de acentuação e, no que diz paroxítonas e dos monossílabos. Observe, a seguir,
respeito à ortografia, serão focadas algumas especificidades como as regras são coerentes com o que foi descrito:
do português, como o uso do hífen e de algumas expressões.
A) Monossílabos tônicos: são acentuados os
A ortografia de cada idioma possui suas especificidades e terminados em:
dificuldades. A partir do momento em que o falante aprende – a, as: pá, vá, gás, Brás;
a ler e a escrever, vai se familiarizando cada vez mais com
– e, es: pé, fé, mês, três;
a forma como a língua oral é representada na escrita. Para
que você domine cada vez melhor a ortografia, procure ler – o, os: só, xô, nós, pós.
bastante e escrever também; sempre que errar, reveja seu
erro e memorize a ortografia correta. Os monossílabos que contêm i ou u, como ti e tu,
não precisam receber acento, pois já são tônicos.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA B) Oxítonas: são acentuadas as que terminam em:
• Proparoxítonas: são aquelas cuja sílaba tônica é – us, um, uns: vírus, bônus, álbum, parabélum
a antepenúltima: lágrima, trânsito, xícara, úmido, (arma de fogo), álbuns, parabéluns.
mágico, lâmpada, ótimo, médico, fanático.
Caso essas palavras não recebessem acento, seriam
lidas como oxítonas, dada a presença do i e do u na
Nossa língua não contém palavras com acento na
última sílaba.
pré-antepenúltima sílaba, isto é, palavras bisesdrúxulas.
Somente algumas formas verbais seguidas de pronome Acentuam-se, ainda, as paroxítonas terminadas em:
oblíquo são bisesdrúxulas: fazíamo-lo, amávamo-la, etc.
– l, n, r, x: incrível, útil, próton, elétron, éter, mártir,
Você observou que, nos exemplos dados para os três tórax, ônix; para guardar melhor essa regra, observe
casos, só há palavras com mais de uma sílaba. As palavras que l, n, r e x são as consoantes da palavra rouxinol.
de apenas uma sílaba são chamadas monossílabos.
– ps: bíceps, fórceps.
Quando tais palavras apresentam tonicidade, como nos – ã, ãs, ão, ãos: ímã, órfã, ímãs, bênção, órgão,
casos de má, pó e fé, são consideradas monossílabos órfãos, sótãos.
tônicos. Quando não apresentam tonicidade, como de, por, – ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido
mas, são denominadas monossílabos átonos. ou não de “s”: água, árduo, pônei, vôlei, cáries,
mágoas, pôneis, jóqueis.
As regras básicas
Na Língua Portuguesa, temos as vogais a, e, i, o, u. Entre Para simplificar, pode-se dizer: “Acentuam-se todas as
essas vogais, o i e o u são vogais tônicas, fortes, ou seja, paroxítonas, exceto as terminadas em a, e, o, am e em,
tendem a tornar tônica a sílaba em que aparecem. seguidos ou não de s”: palha, deixa, peixe, entre, caldo,
Por exemplo, na palavra caqui, a simples presença desenvolvimento, falaram, vieram, vertigem, voltagem, etc.
do i na última sílaba torna a palavra uma oxítona,
não sendo necessário o uso de um acento agudo para D) Proparoxítonas: são todas acentuadas: lâmpada,
indicar a tonicidade. Por outro lado, em táxi, é necessária a Júpiter, ótimo, flácido, relâmpago, trôpego, lúcido, etc.
104 Coleção 6V
Se depois do “i” ou do “u” vier “nh”, o acento não ocorrerá. – modelo e protótipo.
É o caso de rainha, moinho, unha, tainha, campainha.
Antônimas
LÍNGUA PORTUGUESA
Também não haverá acento se a vogal “i” ou a vogal “u”
se repetirem, o que ocorre em poucas palavras: vadiice,
São palavras de significação oposta.
sucuuba, mandriice, xiita.
Exemplos:
• Não se acentuam i e u tônicos em paroxítonas
quando são precedidos de ditongo: baiuca, – calmo e agitado;
feiura, feiume. – extrovertido e introvertido;
B) Ditongos – defender e atacar.
• Ocorre acento na vogal tônica dos ditongos
éu, éi e ói desde que sejam abertos e que se Homônimas
encontrem na última sílaba da palavra ou em
São palavras que têm, às vezes, a mesma pronúncia e,
monossílabos: céu, chapéu, réu, véu, troféu,
às vezes, a mesma grafia, mas significação diferente.
anéis, aluguéis, coronéis, dói, constrói, destrói.
Nesse caso, é o contexto que determina a significação dos
C) Acento diferencial homônimos. Palavras homônimas podem ser:
• pôr (verbo) e por (preposição);
• pôde (pretérito perfeito) e pode (presente do
Homógrafas heterofônicas
indicativo); Iguais na escrita, mas diferentes na pronúncia.
• que (conjunção, pronome) e quê (substantivo
Exemplos:
ou pronome em fim de frase);
• porque (conjunção) e porquê (substantivo). – colher (forma verbal) e colher (substantivo);
Com a Reforma Ortográfica, foram incorporadas as letras – ascender (subir) e acender (pôr fogo);
“k”, “w” e “y” ao nosso alfabeto, que passa a ter 26 letras:
a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, – cela (prisão) e sela (forma verbal).
x, y e z.
Homófonas homográficas
Uso de K, W e Y
Iguais na escrita e na pronúncia.
Essas letras são usadas em siglas, símbolos, nomes
próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Exemplos:
Exemplos: km (quilômetro), K (potássio), Kr (criptônio), – cedo (forma verbal) e cedo (advérbio);
kg (quilograma), kw (quilowatt), kwh (quilowatt-hora),
watt, kantismo, kepleriano, byroniano, taylorista, etc. – manga (fruta) e manga (parte de uma blusa, paletó
ou vestido).
acender pôr fogo, alumiar cerração nevoeiro denso emergir vir à tona
ascender subir serração ato de serrar, cortar imergir mergulhar
acento tom de voz, sinal gráfico cerrar fechar emigrar sair da pátria
assento lugar de sentar-se serrar cortar imigrar entrar num país
cessão
acerca de sobre, a respeito de ato de ceder notável, célebre,
seção ou eminente
cerca de aproximadamente corte, divisão elevado
secção iminente
há cerca de faz aproximadamente reunião prestes a acontecer
sessão
bebida
acurado feito cuidadosamente chá esbaforido ofegante, cansado
título do ex-soberano
apurado seleto, fino, refinado xá espavorido apavorado, assustado
do Irã
aferir conferir, comparar cheque ordem de pagamento esperto ativo, inteligente, vivo
auferir colher, obter xeque lance no xadrez, perigo experto perito, entendido
alívio
calda xarope descargo genitor pai
desobrigar de um
cauda rabo desencargo progenitor avô
encargo
cavaleiro que sabe andar a cavalo descriminar inocentar história narrativa de fatos reais
cavalheiro homem educado discriminar distinguir estória narrativa de ficção
inflação alta dos preços, expansão lustre candelabro, brilho ratificar confirmar
infração violação, transgressão lustro período de cinco anos retificar corrigir
hora do descanso
infligir aplicar pena ou castigo mal antônimo de bem sesta redução de sexta-feira;
infringir transgredir, violar mau antônimo de bom sexta hora canônica; intervalo
musical
106 Coleção 6V
ordem judicial
intemerato puro, íntegro mandado tráfego trânsito
período de missão
intimorato destemido, corajoso mandato tráfico negócio ilícito
política
LÍNGUA PORTUGUESA
laço nó vultoso volumoso
visão
lasso frouxo, gasto, cansado vultuoso inchado
óptico relativo à visão
1
Atualmente, “moradia” e “morada” são consideradas sinônimas por alguns dicionaristas. Deve-se observar, entretanto, que há
contextos em que essa sinonímia não procede. Por exemplo, na frase “Qual é o tempo de moradia nesta residência?”, não seria
possível substituir “moradia” por “morada”.
Exemplos:
Não se deve usar o hífen quando ocorrer um prefixo
terminado em vogal + palavras iniciadas por “r” ou “s”. além além-mar, além-vida,
Nesse caso, o “r” ou o “s” devem ser dobrados. além-morte
108 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
– Por que não vieram os computadores? (Por qual – Virá ali o Samorim, porque em pessoa veja
motivo não vieram?) a batalha.
2. Em interrogações indiretas, nas quais o que equivale – Mas não julgamos, porque não venhamos a
a qual razão ou qual motivo. ser julgados.
3. Quando for equivalente a pelo qual, pela qual, 1. Como substantivo, com o sentido de causa, razão
pelos quais e pelas quais. ou motivo, admitindo pluralização (porquês).
– Ninguém atinava com o porquê daquela
– Ignoro o motivo por que ele se demitiu.
afirmação.
(pelo qual)
– Os jovens querem saber o porquê de tudo.
– Eis as causas por que não venceremos.
(pelas quais) – Procuremos respostas aos nossos porquês.
– Estranhei a forma por que o estudante reagiu. – É uma criança cheia de porquês.
(pela qual)
4. Quando for equivalente a motivo pelo qual ou razão CASOS ORTOGRÁFICOS
pela qual.
– O arquiteto não concordou, e nós perguntamos Nos dois últimos exemplos, como se percebe, a palavra
por quê. “tempo” vem subentendida.
Usa-se a em todos os demais casos, ou seja, quando a
– Não sei por quê, mas ela estava sorrindo feito
referida substituição não é possível.
uma boba.
– Daqui a pouco serão dez horas.
2. Quando isolado, numa frase interrogativa.
– O meu marido chegará daqui a três dias.
– Por quê?
– O Cruzeiro marcou o seu gol a dois minutos do final do
Porque (em uma só palavra, sem acento) jogo.
– Cobramos a nota promissória a 30 dias do seu
É usado nos seguintes casos:
vencimento.
1. Como conjunção coordenativa explicativa, quando
equivale a pois, porquanto, uma vez que. Uso de “se não” (em duas palavras) e
– Compre agora, porque há poucas peças. “senão” (em uma só palavra)
– Não chore, porque os olhos ficam vermelhos.
Se não (em duas palavras) é uma conjunção subordinativa
– Convém agir com inteligência e discrição, condicional, seguida por um advérbio de negação. Nesse
porque as pessoas envolvidas são muito caso, é possível substituir a expressão por caso não ou,
desconfiadas. então, por ou.
110 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
– Estava mais cansado ainda do que ontem. A) incipiente, insipiente, descrição, retificar.
B) incipiente, insipiente, discrição, ratificar.
Uso de “a par” e “ao par” C) insipiente, incipiente, descrição, ratificar.
D) insipiente, incipiente, discrição, ratificar.
A par tem o sentido de “bem informado”, “ciente”. E) incipiente, insipiente, descrição, ratificar.
– Mantenha-me a par de tudo o que acontecer.
03. (Insper-SP) Levando em conta as informações do primeiro
– É muito importante manter-se a par das decisões quadrinho, identifique a alternativa que apresenta a
parlamentares. palavra que também sofreu alterações na acentuação
Ao par é uma expressão usada para indicar relação gráfica devido à regra mencionada.
de equivalência ou igualdade entre valores financeiros
(geralmente em operações cambiais).
– As moedas fortes mantêm o câmbio praticamente
ao par.
Orlandeli / Grump
Uso de “ao encontro de” e
“de encontro a”
Disponível em: <http://blogdoorlandel.zip.net/
Ao encontro de significa “ser favorável a”, “aproximar-se”. arch2009-01-11_2009-01-17.html>.
Observe os exemplos:
A) plateia C) gratuito E) caiu
– Ainda bem que sua opinião veio ao encontro da B) heroico D) baiuca
minha. Podemos, assim, unir nossas reivindicações.
– Quando a viu, foi rapidamente ao seu encontro e 04. (UniFOA-RJ) Assinale a alternativa em que uma das
a abraçou afetuosamente. palavras não foi grafada de acordo com o sistema
ortográfico vigente.
De encontro a significa “oposição”, “choque”, “colisão”.
A) transmissor – assessor – professor
Veja: B) tachado – rachado – enfaixado
– Como você queria que o ajudasse se as suas opiniões C) impugnar – advertir – advinhar
sempre vieram de encontro às minhas? D) terrível – maleável – incansável
– O caminhão foi de encontro ao muro. Ninguém se E) cafezinho – chazinho – lapisinho
machucou, mas os prejuízos foram grandes.
À medida que indica proporção, desenvolvimento Disponível em: <www.uol.com.br>. 05 jun. 2014 (Adaptação).
simultâneo e gradual. Equivale a à proporção que.
Em conformidade com a norma-padrão da Língua
– Os verdadeiros motivos da renúncia foram ficando Portuguesa e com o Novo Acordo Ortográfico, as lacunas
claros à medida que as investigações iam obtendo do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com
resultados. A) por que – auto-retrato. D) por que – auto retrato.
– A ansiedade aumentava à medida que o prazo fixado B) porque – auto-retrato. E) por quê – autorretrato.
ia chegando ao fim. C) porquê – autorretrato.
Texto II
112 Coleção 6V
A palavra “jeito”, aliás, mostra que ninguém fala de qualquer jeito (ao contrário do que se diz). Vejamos: é cada vez mais comum
a eliminação de ditongos. Melhor, de certos ditongos: diz-se [pexe], [caxa], [dexa], [otro], [ficô], etc.
Observe-se que há uma regra comandando a variação: é sempre a semivogal que cai; a vogal não cai nunca. Fixemo-nos
em [pexe], variável de “peixe”, que contém o ditongo [ey]. Pode-se dizer sem medo de errar que a maioria das pessoas fala
[pexe] na maioria das vezes em que pede esse alimento no mercado ou informa que comeu... [pexe]. Alguém poderia arriscar
a generalização, dizendo que a língua está mudando e um exemplo dessa mudança é que ninguém mais diz o ditongo [ey].
Mas quem dissesse isso cometeria grave erro de observação, pois, se é verdade que quase todos dizem [pexe], [dexe] etc.,
LÍNGUA PORTUGUESA
ninguém diz [jeto] por “jeito” nem [peto] por “peito”. A consoante que segue o ditongo tem papel decisivo para deixar ou não
deixar cair a semivogal. E os falantes seguem essa regra, que nunca estudaram...
POSSENTI, Sírio. Língua Portuguesa, São Paulo, ano 5, n. 60, p. 26-27, 2010 (Adaptação).
05. (PUC Minas) “A palavra ‘jeito’, aliás, mostra que ninguém fala de qualquer jeito (ao contrário do que se diz).”
No trecho em destaque, a argumentação desenvolvida pelo linguista visa defender que
A) sempre se segue uma regra gramatical para usar a língua.
B) as pessoas muitas vezes escrevem “jeito” de forma errada.
C) ninguém fala sem prestar atenção ao que vai falar.
D) é cada vez mais comum entre as pessoas do povo a eliminação dos ditongos.
06. (PUC Minas) Assinale a alternativa correta, com base nas informações do texto.
A) A forma como muitas pessoas pronunciam as palavras peito e feito indica que a língua está mudando.
B) A pronúncia que muitas pessoas dão à palavra jeito indica que a língua pode estar em processo de mudança.
C) A consoante que segue a palavra direito tem papel decisivo para deixar cair a semivogal no ditongo [ey].
D) A pronúncia de peixe mais comum no português atual se dá com a eliminação do ditongo [ey].
07. (PUC Minas) A discussão desenvolvida pelo autor somente não ajudaria a explicar a pronúncia indicada em:
A) [oro], para ouro. C) [etinocêntrico], para etnocêntrico.
B) [eleto], para eleito. D) [adevogado], para advogado.
08. (Unicamp-SP) É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no universo rural brasileiro.
A) Explique o recurso utilizado para
caracterizar o modo de falar das
personagens na tira.
Mauricio de Souza Produções Ltda
SEÇÃO ENEM
01. (Enem–2017) Pode um idioma considerado extinto e pouco documentado ser novamente parte ativa do patrimônio linguístico?
A melhor maneira de saber como ocorre uma revitalização linguística é examinando um marco na luta indígena: a recuperação
da língua pataxó. Eni Orlandi, da Universidade Estadual de Campinas, esteve na equipe que coletou e analisou evidências
linguísticas que ajudaram a reconstituir a variante do pataxó falada mais ao norte da região de Porto Seguro (BA), a hãhãhãe.
“Os pataxós viveram perseguições e movimentos de dispersão. A partir dos anos 1980, entretanto, conseguiram criar um
espaço em que reivindicaram seu direito ao território tradicional que haviam perdido. Outras perdas acompanharam essa.
Entre os bens perdidos, estava a língua. A posse da língua significa para eles o seu desejo de ser índio, em um momento de
ameaça de extermínio”, diz a pesquisadora.
“A pesquisa foi feita em condições difíceis: uma só informante, Baheta, muito idosa, sem interlocutores reais (só os da
memória, imaginados), e dificuldades de lembrar; em condições de guerra à sua cultura; uma parte da identidade estigmatizada,
já voltada ao esquecimento”, diz Orlandi no livro Terra à vista. Graças às reminiscências de Baheta, foram coletados Dados
suficientes para comparar as listas de palavras que já se possuía e estabelecer paralelos com línguas próximas.
Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br>. Acesso em: 28 jul. 2012 (Adaptação).
O processo de busca de dados sobre a língua pataxó Após discutirem pronúncia, regras de acentuação e
evidencia a importância da pesquisa voltada para a escrita, três alunos apresentaram as seguintes conclusões
A) reconstituição da língua de um povo, por meio de a respeito da palavra PAPALIA:
dados históricos. I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a escrita deveria ser
B) preservação da cultura de um povo, por meio do PAPÁLIA, pois a palavra seria paroxítona terminada em
resgate de sua história oral. ditongo crescente.
C) comparação de línguas consideradas “mortas”, por II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALÍA,
meio de registros escritos. pois “i” e “a” estariam formando hiato.
D) catalogação do léxico de uma língua, por meio da III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALIA,
recuperação de documentos. pois não haveria razão para o uso de acento gráfico.
E) valorização dos povos indígenas, por meio da tentativa
A conclusão está correta apenas em
de unificação de línguas próximas.
A) I. C) III. E) I e III.
02. (Enem) B) II. D) I e II.
Antigamente
Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando
perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois,
ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas
GABARITO Meu aproveitamento
fedorentas. Doença nefasta era a phtísica, feia era o
gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações,
Aprendizagem Acertei ______ Errei ______
os meninos, lombrigas [...] 01. C 02. D 03. D 04. C
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1 184. Propostos Acertei ______ Errei ______
O texto anterior está escrito em linguagem de uma época
01. E 03. C 05. A 07. B
passada. Observe uma outra versão, em linguagem atual.
02. A 04. B 06. D
Antigamente
Acontecia o indivíduo apanhar um resfriado; ficando mal, 08.
mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à farmácia A) O recurso utilizado é a transgressão da ortografia ou,
para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. dito de outra forma, o uso da grafia como transcrição
Doença nefasta era a tuberculose, feia era a sífilis. literal da fala; ou seja, a tira apresenta uma
Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os
forma de escrita que tenta reproduzir a fala das
meninos, vermes [...]
personagens. Esse recurso pode ser exemplificado
Comparando-se esses dois textos, verifica-se que, na de três maneiras: pela troca da consoante “l” por “r”
segunda versão, houve mudanças relativas a
(como em “prantando”); pela supressão da vogal na
A) vocabulário. D) fonética. proparoxítona (como em “árv[o]re”), processo muito
B) construções sintáticas. E) regência verbal. comum na fala; e pela troca da vogal “e” por “i” (como
C) pontuação. em “di” e “isperança”).
B) Não. Os fenômenos representados na tira encontram-se
03. (Enem) Diante da visão de um prédio com uma placa também em regiões urbanas e não refletem,
indicando SAPATARIA PAPALIA, um jovem deparou com necessariamente, escolaridade ou classe social do
a dúvida: como pronunciar a palavra PAPALIA? falante. Por exemplo, a troca da consoante “l” por “r” é
um processo bastante recorrente nas regiões urbanas.
A supressão da vogal em palavras proparoxítonas
(xícara, abóbora, etc.) faz parte de um processo
fonológico amplamente presente no português
brasileiro, de forma geral. Finalmente, a elevação
da vogal átona (de “e” para “i”) é uma marca de
diferenciação regional e não de oposição rural / urbano.
114 Coleção 6V
PORTUGUESA C 02
Classes de Palavras
Classes de palavras
As palavras da Língua Portuguesa distribuem-se em dez Todos os antigos empregados da empresa...
classes gramaticais.
Pronome Artigo Adjetivo Substantivo Locução
Considerando, sobretudo, o critério sintático, podemos adjetivo adjetiva
fazer, a seguir, o estudo dessas classes gramaticais.
DETERMINANTES NÚCLEO DETERMINANTE
01. Substantivo
02. Artigo Repare que, no exemplo anterior, o substantivo
03. Adjetivo Classes do Nome “empregados” está no plural. Com ele estão concordando
VARIÁVEIS
04. Numeral (masculino plural) as palavras “todos”, “os” e “antigos”.
05. Pronome Se o nome “empregados” estivesse no singular, todos os
outros termos teriam de ficar no singular. A esse fenômeno
06. Verbo
Classes do Verbo é que se nomeia concordância nominal, pois todas as
07. Advérbio
palavras acompanham o nome (substantivo).
08. Preposição
INVARIÁVEIS Classes Relacionais Em um grupo verbal, o núcleo é um verbo. As palavras
09. Conjunção
e expressões de natureza adverbial são modificadores
10. Interjeição Classe Independente dos verbos.
Não se pode afirmar que as palavras e expressões de
natureza adverbial são determinantes de verbos, uma vez
que são invariáveis.
DETERMINANTES E
DETERMINADOS – GRUPOS ... viajarão amanhã bem cedo.
NOMINAL E VERBAL Advérbio Advérbio de Advérbio
Verbo
de tempo intensidade de tempo
O contexto em que a palavra é empregada é fundamental
para a identificação de sua classe gramatical. Desse modo,
NÚCLEO MODIFICADORES
perceber a relação que as palavras mantêm entre si, dentro da
frase, é o caminho mais curto para a correta análise gramatical.
As palavras de natureza adverbial também são
A frase se organiza em pequenos grupos. modificadores de adjetivos e de orações e períodos,
e as que expressam intensidade também modificam
Em cada grupo, existe sempre uma palavra mais outros advérbios.
importante, que é o núcleo do grupo. O núcleo é o termo
determinado, elemento modificado por outras palavras.
RELAÇÃO ENTRE AS
As palavras que acompanham o núcleo são chamadas
de determinantes e modificam-no, acrescentando-lhe CLASSES DE PALAVRAS
informações, especificando seu sentido. O substantivo e seus determinantes
Em um grupo nominal, o núcleo é um termo de natureza
Determinado Determinantes
substantiva (substantivos, pronomes substantivos,
numerais substantivos e termos substantivados). O núcleo • Artigo
Substantivo • Adjetivo
exige a concordância de seus determinantes que, por • Locução adjetiva
(pronome substantivo /
sua vez, têm natureza adjetiva (artigo, adjetivo, locução numeral substantivo) • Pronome adjetivo
• Numeral adjetivo
adjetiva, pronome adjetivo, numeral adjetivo).
116 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
• advérbio + adjetivo: cortinas branco-acinzentadas
o alto-falante → os alto-falantes
sapatos verde-escuros
• adjetivo + adjetivo: olhos azul-claros
o latino-americano → os latino-americanos
torcidas rubro-negras
• palavra invariável + substantivo:
o vice-presidente → os vice-presidentes 2. Quando o nome de cor é originário de um substantivo,
fica invariável, quer se trate de palavra simples ou
3. Flexiona-se somente o primeiro elemento quando o composta.
substantivo é formado por:
tons pastel
• substantivo + de + substantivo:
pé de moleque → pés de moleque vestidos vinho
sapatos areia
substantivo + substantivo, e o segundo
•
colchas rosa
elemento determina o primeiro elemento:
caneta-tinteiro → canetas-tinteiro blusas verde-musgo
118 Coleção 6V
Consideremos os dois enunciados seguintes: A) ausência, falta: Uma vida sem alegrias é mais
difícil.
a) A ajuda de um país é essencial para a nova
geopolítica mundial. B) Assunto: Mostram-se indecisos acerca do propósito
da reunião.
b) A ajuda a um país é essencial para a nova geopolítica
mundial. C) Causa ou motivo: O velho morreu de fome.
D) Companhia: Sempre estudava com eles.
Tanto em “A” quanto em “B”, a ligação do termo “ajuda”
LÍNGUA PORTUGUESA
(núcleo do sujeito) ao termo “país” (núcleo do adjunto E) Concessão: Com apenas dois anos, já sabia ler.
adnominal e do complemento nominal, respectivamente) F) Conformidade: Era capaz de viver conforme seus
faz estabelecer entre eles uma relação de dependência, objetivos.
primeiramente sintática. Afinal, o leitor é conhecedor G) Direção: Dirigiu-se para o centro da cidade.
intuitivo do idioma e saberá que “de um país” e “a um país” H) Especialidade: É perito em casos de homicídio.
são estruturas que só podem estar relacionadas ao termo I) Estado ou qualidade: Prédio em decadência.
“ajuda”. Qualquer alteração nesse relacionamento trará como
J) Finalidade: Parou para descansar.
consequência imediata a dissolução do enunciado tal como
o apresentamos e a criação de outro. Mas a dependência é K) Instrumento: Prenderam-no com algemas.
também semântica. Para provar isso, basta que percebamos L) Lugar: Passei a viver em Curitiba.
a diferença de sentido provocada pela troca efetuada entre M) Matéria: Bebi suco de laranja.
“de” e “a”. Enquanto em “A”, o país é o agente da ação de N) Meio: Assistiu ao comício pela televisão.
ajudar, em “B” ele é alvo da ação feita por outrem. O mesmo O) Oposição: Gostaria de levantar um protesto contra
se pode dizer para o relacionamento entre “essencial” e “nova a poluição do ar.
geopolítica mundial”: só será possível alcançar o objetivo
P) Origem: O poder emana do povo.
de se construir uma nova ordem mundial caso os países se
conscientizem de que é preciso concentrar esforços para a Q) Posse: Os livros do professor estão sobre a mesa.
adoção de políticas mais eficientes de ajuda humanitária. R) Tempo: Nasci em 1960.
Palavras como “a”, “de”, “para” são usadas nos atos
comunicativos para cumprir esse papel. São as preposições. Conjunção
Preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra,
Critério Definição Exemplos
de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.
e, mas, portanto, porque,
Preposições acidentais: são palavras que, embora
Morfológico • Não varia. quando, embora, se, que,
pertençam a outras classes gramaticais, podem exercer o etc.
papel de preposição: como, conforme, consoante, durante,
exceto, salvo, segundo. • Liga palavras Lúcia e Paulo saíram.
ou orações,
Quando as preposições se ligam a artigo, pronome ou coordenando ou
advérbio, sem perda de elementos fonéticos, temos o que Sintático subordinando
se chama de combinação. É o caso de a + o (ao), a + onde uma à outra.
(aonde), de + esse (desse), etc. Se essa ligação produz • Não exerce Eu disse que eles saíram.
perda fonética, temos a contração. É o caso de em + o (no), função sintática.
de + aí (daí), por + as (pelas), em + aquelas (naquelas), O bom relacionamento entre as orações de um texto
a + as (às), etc.
garante a perfeita estruturação de suas frases e parágrafos.
Se duas ou mais palavras se unem com o valor de
preposição, temos as chamadas locuções prepositivas: Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
abaixo de, a respeito de, em cima de, junto a, por cima de, essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e
acerca de, de acordo com, em frente a, junto de, por trás textos, as conjunções fazem parte daquilo que se pode chamar
de, acima de, dentro de, em redor de, perto de, ao lado de, “arquitetura textual”: um conjunto de relações que garantem
graças a, por causa de. a coesão do enunciado. O sucesso desse conjunto de relações
depende muitas vezes do valor relacional das conjunções.
Locução prepositiva Locução adverbial
• Termina sempre por • Não termina por preposição Nos textos dissertativos, elas evidenciam, muitas vezes,
preposição, sendo de a – “De longe em longe, a linha expositiva ou argumentativa adotada – é o caso,
mais comum. sinto-me fatigado.” por exemplo, das exposições e argumentações construídas
– Não quero você perto – Às vezes, sinto-me
por meio de contrastes e oposições que conduzem ao uso
de nós. cansada.
– Agiu de acordo com – Ele estava perto de nós. de adversativas e concessivas.
seus princípios. As conjunções são classificadas em coordenativas ou
subordinativas, de acordo com a relação que estabelecem
Termo
+ Preposição
+ Termo regido entre as frases que relacionam. Entretanto, não se deve
memorizar tal classificação, mas descobri-la a partir das
brisa de verão relações semânticas de enunciados reais, ou seja, a partir
precisar de você do efetivo emprego dessas palavras em frases da língua.
Nos textos narrativos, as conjunções estão muitas vezes ligadas à expressão de circunstâncias fundamentais à conclusão
da história, como noções de tempo, finalidade, causa e consequência.
e, nem,
adição,
(não só) mas também,
Aditiva acréscimo,
como, como também,
sucessividade
(tanto) como, quanto
mas, porém,
oposição,
contudo,
contraste,
todavia,
Adversativa ressalva,
entretanto,
adversidade,
no entanto,
advertência
não obstante
exprime alternância,
ou, ou... ou, ora... ora, já... já, umas
Alternativa ligando pensamentos
vezes, outras vezes, talvez... talvez
que se excluem
acordo,
conforme, consoante,
Conformativa concordância,
segundo, como (= conforme), que (conforme)
conformidade
120 Coleção 6V
● “Pois” conclusivo
Causa X Explicação
Deve ser colocado após o verbo da oração em que
Conjunções explicativas Conjunções causais
aparece.
que, pois, porque, uma – Ganhou muito dinheiro; comprou, pois, a casa.
que, pois, porque vez que, já que, com o
(= já que), visto que
LÍNGUA PORTUGUESA
escutando bem. indicam fato anterior a
outro. estabelecem relação entre orações, por isso pertencem a
uma classe considerada independente.
Aparecem em orações que – Os olhos da menina estão
indicam fato posterior vermelhos / porque ela
a outro. chorou. Interjeição
Critério Definição Exemplos
– A menina chorou / porque
seus olhos estão vermelhos. Semântico • Exprime emoções. Ai! Oba! Oh!
Morfológico • Não varia.
•N
ão exerce função
fato posterior fato anterior Sintático Oh! Ele chegou!
sintática.
• Só Deus é perfeito.
Limitação apenas, somente, só, unicamente
• Apenas um aluno teve nota boa.
• Eu cá me arranjo.
• Você é que não se mexe!
cá, lá, só, é que, sobretudo, • É isso mesmo!
Realce
mesmo, embora • Veja só!
• Vá embora!
• Eu sei lá o que ele pretende?
• O
s elementos do mundo físico são quatro, a saber: terra,
Explanação isto é, a saber, por exemplo
fogo, água e ar.
B) Hoje, não é preciso saber escrever pra votar. Hoje, O vocábulo “ora”, empregado no segundo verso, se
somente não é preciso saber escrever. classifica como
C) Hoje, não é preciso somente saber escrever pra votar. A) conjunção subordinativa.
Hoje, não é preciso saber escrever. B) conjunção coordenativa.
D) Hoje, não é preciso saber escrever pra votar. Hoje, C) advérbio de tempo.
ao menos, não é preciso saber escrever.
D) preposição.
02. (PUC-SP) Há, em Língua Portuguesa, algumas palavras E) verbo “orar” (pres. do indicativo).
que admitem ou não flexão de número (singular / plural),
dependendo de seu valor morfológico. 05. (Unesp)
No texto em questão, aparece uma dessas palavras: O enterrado vivo
“[...] BASTANTE experimentei depois a verdade É sempre no passado aquele orgasmo,
deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de
é sempre no presente aquele duplo,
criança...”
é sempre no futuro aquele pânico.
Considerando a possibilidade de flexão ou não da palavra,
em função de seus diferentes empregos, assinale a É sempre no meu peito aquela garra.
alternativa incorreta. É sempre no meu tédio aquele aceno.
A) Bastantes verdades experimentei anos depois do aviso É sempre no meu sono aquela guerra.
que meu pai me deu. É sempre no meu trato o amplo distrato.
B) Meu pai me falou bastante sobre verdades que eu Sempre na minha firma a antiga fúria.
encontraria anos depois.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
C) Bastante tempo depois, eu encontraria muitas das
É sempre nos meus pulos o limite.
verdades anunciadas no aviso de meu pai.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
D) Bastantes anos depois, eu experimentaria as verdades
do aviso de meu pai. É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
E) Anos depois, bastantes verdadeiros se tornaram
também outros avisos de meu pai. Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
03. (UFJF-MG) Considerando-se o fragmento “[...] nessa
ANDRADE, Carlos Drummond de. Obras completas.
questão de engenharia genética, que promete ser a questão
Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. p. 81.
do próximo milênio”, o artigo definido “a” indica que
A) a questão da engenharia genética será apenas uma A palavra “sempre”, no último verso do poema de
das questões do novo milênio. Drummond, é repetida, porém manifestada em classes
B) a questão da engenharia genética apresenta ironias gramaticais diferentes.
implícitas. A) Quais são essas classes gramaticais?
C) a questão da engenharia genética será a principal B) Que efeito de sentido essa diferença de classe
questão do novo milênio. gramatical provoca no poema?
D) a questão da engenharia genética é a única questão
do novo milênio.
Exercícios
04. (Unifor-CE) Propostos
Paráfrase de Ronsard
Instrução: As questões de 01 a 04 referem-se ao texto a
Foi para vós que ontem colhi, senhora,
seguir ou tomam-no como ponto de partida. Leia-o.
Este ramo de flores que ora envio.
Não no houvesse colhido e o vento e o frio A garagem de casa
Tê-las-iam crestado antes da aurora.
Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões
Meditai nesse exemplo, que se agora de livros, a garagem de casa lembra uma biblioteca
Não sei mais do que o vosso outro macio p ú b l i c a p e r m a n e n t e m e n t e a b e r t a p a ra a r u a .
Rosto nem boca de melhor feitio, Mas não são adeptos de literatura os indivíduos que
A tudo a idade afeia sem demora. 5 ali se abrigam da chuva ou do sol a pino de verão.
122 Coleção 6V
Esses desocupados matam o tempo jogando porrinha, III. A introdução do artigo indefinido “um” antes do
ou lendo os jornais velhos que mamãe amontoa num substantivo “casa” – garagem de uma casa – indicaria
canto, sentados nos degraus do escadote com que que o referente “casa”, representado pelo vocábulo
ela alcança as prateleiras altas. Já quando fazem o “casa”, ainda não aparecera no texto, portanto seria
10 obséquio de me liberar o espaço, de tempos em tempos novo para o leitor.
entro para olhar as estantes onde há de tudo um pouco, Está correto o que se diz em
em boa parte remessas de editores estrangeiros que A) I e II apenas. C) I e III apenas.
têm apreço pelo meu pai. Num reduto de literatura tão
B) I, II e III. D) II apenas.
sortida, como bem sabem os habitués de sebos, fascina
15 a perspectiva de por puro acaso dar com um livro bom.
03. (UECE–2015) Atente ao enunciado: “Mas não são adeptos
LÍNGUA PORTUGUESA
Ou by serendipity, como dizem os ingleses quando
de literatura os indivíduos que ali se abrigam da chuva
na caça a um tesouro se tem a felicidade de deparar ou do sol a pino de verão”. (linhas 4-5) Indique a opção
com outro bem, mais precioso ainda. Hoje revejo na correta em relação ao enunciado.
mesma prateleira velhos conhecidos, algumas dezenas
A) No enunciado, o advérbio “ali” aponta para os
20 de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que papai é
sintagmas nominais “a garagem de casa” e “uma
capaz de um dia querer destrinchar. Também continua biblioteca pública”.
em evidência o livro do poeta romeno Eminescu, que
B) O advérbio “ali”, no enunciado em pauta, retoma
papai ao menos tentou ler, como é fácil inferir das
somente o sintagma “uma biblioteca pública”.
folhas cortadas a espátula. Há uma edição em alfabeto
C) O “ali” refere-se a um lugar imaginário ideal, que só
25 árabe das Mil e Uma Noites que ele não leu, mas cujas
existe na mente do enunciador.
ilustrações admirou longamente, como denunciam os
filetes de cinzas na junção das suas páginas coloridas. D) O “ali” é um elemento de coesão no texto em estudo,
Hoje tenho experiência para saber quantas vezes meu como o é também o pronome relativo “que”.
pai leu um mesmo livro, posso quase medir quantos
30 minutos ele se deteve em cada página. E não costumo 04. (UECE–2015) Entre as linhas 9 e 11, lê-se “Já quando
fazem o obséquio de me liberar o espaço, de tempos
perder tempo com livros que ele nem sequer abriu,
em tempos entro para olhar as estantes onde há de
entre os quais uns poucos eleitos que mamãe teve
tudo um pouco”. Atente ao que se diz sobre a expressão
o capricho de empilhar numa ponta de prateleira,
“Já quando”.
confiando numa futura redenção. Muitas vezes a vi
I. Essa expressão dá, à oração que inicia, o valor
35 de manhãzinha compadecida dos livros estatelados
semântico de tempo.
no escritório, com especial carinho pelos que trazem
a foto do autor na capa e que papai despreza: parece II. “Já” acrescenta à oração um caráter de comparação,
cujo elemento comparado vem implícito no texto:
disco de cantor de rádio.
(Os desocupados enchem o recinto de tal maneira
BUARQUE, Chico. O irmão alemão. 1. ed. São Paulo: que me impedem de aproximar-me das estantes). “Já
Companhia das Letras, 2014. p. 60-61 (Adaptação). quando fazem o obséquio de me liberar o espaço,
de tempos em tempos entro para olhar as estantes
01. (UECE–2015) “Mas não são adeptos de literatura os onde há de tudo um pouco”. Comparam-se duas
indivíduos que ali se abrigam da chuva ou do sol a pino de situações: o que acontece quando os desocupados
verão.” (linhas 4-5) O “mas” que inicia o período introduz não dão espaço para o enunciador passar, e o que
acontece quando lhe dão esse espaço. Quando não
uma oposição
dão, ele não se aproxima das estantes; quando dão,
A) à ideia, explicitada na superfície textual, de que o ele entra “para olhar as estantes”.
portão da garagem estava enguiçado.
III. Omitindo-se o “Já”, a oração nada perderia: nem no
B) à ideia implícita de que os frequentadores de uma plano semântico nem no plano estilístico-expressivo.
biblioteca são adeptos da literatura.
Está correto o que se diz em
C) à expressão “ladrões de livros” (linha 1-2).
A) I e III apenas. C) I, II e III.
D) à ideia implícita de que os frequentadores de uma
biblioteca não são ladrões de livros. B) I e II apenas. D) II e III apenas.
06. (UERJ)
08. (UnB)
6YUH
124 Coleção 6V
B) Está presente no texto a ideia de que os países que A) A palavra “público” é empregada no texto ora como
compuseram o Tribunal de Nürembergue, na condição substantivo, ora como adjetivo. Exemplifique cada
de vitoriosos na Segunda Guerra, poderiam ter um desses empregos com passagens do próprio texto
adotado procedimentos de vingança. e apresente o critério que você utilizou para fazer a
distinção.
09. (UERJ) B) Qual é, no texto, a diferença entre o que é chamado
W17L Natal de “interesse público” e o que é chamado de “interesse
do público”?
Jesus nasceu! Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Seção Enem
LÍNGUA PORTUGUESA
Dentro daquela pobre estrebaria...
01. (Enem)
Não houve sedas, nem cetins, nem rendas Tarefa
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Morder o fruto amargo e não cuspir
Mas os pobres trouxeram oferendas
Mas avisar aos outros quanto é amargo
Para quem tinha de morrer na Cruz.
Cumprir o trato injusto e não falhar
Sobre a palha, risonho, e iluminado Mas avisar aos outros quanto é injusto
Pelo luar dos olhos de Maria,
Sofrer o esquema falso e não ceder
Vede o Menino-Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria. Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis...
Não nasceu entre pompas reluzentes;
E quando em muitos a noção pulsar
Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes, – do amargo e injusto e falso por mudar –
Foi para os pobres seu primeiro olhar. então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presepe os guia, CAMPOS, G. Tarefa.
Vêm cobrir de perfumes e de flores Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
O chão daquela pobre estrebaria.
Na organização do poema, os empregos da conjunção
Sobem hinos de amor ao céu profundo; “mas” articulam, para além de sua função sintática,
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
A) a ligação entre verbos semanticamente semelhantes.
Sobre esta palha está quem salva o mundo,
Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal! B) a oposição entre ações aparentemente inconciliáveis.
C) a introdução do argumento mais forte de uma
Natal! Natal! Em toda Natureza
sequência.
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve, Deus da Humildade e da Pobreza, D) o reforço da causa apresentada no enunciado
Nascido numa pobre estrebaria! introdutório.
BILAC, Olavo. In: BUENO, Alexei (Org.). Olavo Bilac: E) a intensidade dos problemas sociais presentes no
obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. mundo.
03. (Enem)
GabariTo Meu aproveitamento
05.
08.
126 Coleção 6V
PORTUGUESA C 03
Pronomes Pessoais
Os pronomes pessoais, classe que será estudada neste Leia, a seguir, um fragmento do romance A carne,
módulo, são grandes aliados para estabelecer coesão em publicado pelo escritor naturalista Júlio Ribeiro em 1888.
um texto. São, normalmente, pronomes anafóricos, porque Essa obra chocou a sociedade da época por tratar de temas
quase nunca abordados, como o divórcio, o amor livre e o
retomam e substituem termos já mencionados –
papel da mulher na sociedade.
em oposição aos catafóricos, que introduzem termos
Aos quatorze anos Helena ou Lenita, como a chamavam,
novos. Além de conhecermos esses pronomes, vamos
era uma rapariga desenvolvida, forte, de caráter formado e
aprender a empregá-los corretamente segundo suas funções
instrução acima do vulgar.
e a posicioná-los corretamente na estrutura frasal.
[...]
1ª pessoa: quem fala raro se achava, ela sabia rodear-se de uma como aura
de simpatia, escondendo com arte infinita a sua imensa
2ª pessoa: com quem se fala
superioridade.
3ª pessoa: de quem / que se fala
Quando, porém, algum bacharel formado de fresco,
Singular algum touriste recém-vindo de Paris, ou de New York
queria campar de sábio, queria fazer de oráculo em sua
Pessoas do Oblíquos Oblíquos presença, então é que era vê-la. Com uma candura
Retos
discurso Átonos Tônicos adoravelmente simulada, com um sorriso de desdenhosa
bondade, ela enlaçava o pedante em uma rede de
mim, comigo
1ª pessoa eu me perguntas pérfidas, ia-o pouco a pouco estreitando em
ti, contigo
2ª pessoa tu te
si, consigo, um círculo de ferro e, por fim, com o ar mais natural do
3ª pessoa ele, ela o, a, lhe, se
ele, ela
mundo, obrigava-o a contradizer-se, reduzia-o ao mais
Plural vergonhoso silêncio.
nós, conosco – Ei-los despedindo, meu pai, respondia ela. Escusa que
1ª pessoa nós nos vós, con- me consulte. Já sabe, eu não me quero casar.
2ª pessoa vós vos vosco
3ª pessoa eles, elas os, as, lhes, se si, consigo, – Mas, filha, olha que mais cedo ou mais tarde é preciso
eles, elas
que o faças.
Os pronomes pessoais participam da construção da coesão – Algum dia talvez, por enquanto não.
textual de duas maneiras: – Sabes que mais? estou quase convencido de que errei
e muito na tua educação: dei-te conhecimentos acima da
A) Relacionam o enunciado à enunciação, distribuindo
bitola comum e o resultado é ver-te isolada nas alturas a
os papéis de falante (quem fala), ouvinte (com quem
que te levantei. O homem fez-se para a mulher, e a mulher
se fala) e assunto (de quem / que se fala).
para o homem. O casamento é uma necessidade, já não
B) Substituem nomes já mencionados na frase ou digo social, mas fisiológica. Não achas, de certo, homem
no texto. algum digno de ti?
– Não é por isso, é porque ainda não sinto a tal necessidade Vale observar que, no português brasileiro, não é
do casamento. Se eu a sentisse casar-me-ia. comum que os falantes tratem seus interlocutores em
segunda pessoa. Ainda que em algumas regiões do país
– Mesmo com um homem medíocre?
seja corriqueiro ouvir os pronomes “tu”, “ti”, “contigo”,
– De preferência com um homem medíocre. Os grandes não é comum que os falantes conjuguem os verbos
homens em geral não são bons maridos. Demais, se os tais nessa pessoa. Há, sim, uma mistura entre pronomes de
senhores grandes homens escolhem quase sempre abaixo segunda pessoa e formas verbais de terceira pessoa.
de si, por que eu que, na opinião de papai, sou mulher Entretanto, essa mistura deve restringir-se à modalidade
superior, não faria como eles, escolhendo marido que me oral, em que são aceitáveis desvios. Na língua escrita,
fosse inferior? deve-se atentar para a coerência entre os pronomes e as
formas verbais para garantir a clareza e a uniformidade de
– Sim, para teres uns filhos palermas... tratamento, evitando-se possíveis ambiguidades.
– Os filhos puxariam por mim: a filosofia genésica ensina
que a hereditariedade direta do gênio e do talento é mais EMPREGO DOS
comum da mãe para o filho.
PRONOMES PESSOAIS
RIBEIRO, Júlio. A carne. Disponível em: <http://www.
OBLÍQUOS
dominiopublico.gov.br/download/texto/br000112.pdf>. PRONOMES RETOS
ÁTONOS TÔNICOS
[Fragmento]
S
1ª pessoa EU ME MIM, COMIGO
Nesse trecho do romance, o narrador utiliza pronomes I
de terceira pessoa para se referir às personagens (“a” e N
G 2ª pessoa TU TE TI, CONTIGO
“ela”, para se referir a Helena, a protagonista; “o” para se
U
referir aos pretendentes de Helena). No diálogo entre pai e
L
SI, ELE, ELA,
filha, esta utiliza pronomes de primeira pessoa (“eu”, “me” A 3ª pessoa ELE O, A, LHE, SE
CONSIGO
e “mim” para se referir a si mesma; e de terceira pessoa – R
“los”, “si” e “eles” – para se referir aos homens), enquanto
P 1ª pessoa NÓS NOS NÓS, CONOSCO
o pai utiliza pronomes de segunda pessoa (“te” e “ti”) para L
se referir a Helena. Ao permitirem sucessivas remissões, U 2ª pessoa VÓS VOS VÓS, CONVOSCO
os pronomes pessoais contribuem para a coesão do texto, R
evitando repetições lexicais excessivas: “a” e “ela”, usados A OS, AS, SI, ELES, ELAS,
3ª pessoa ELES
L LHES, SE CONSIGO
pelo narrador, retomam Helena, e “o” retoma “algum
bacharel formado de fresco”; “me” retoma “eu” nas falas
Funcionam como sujeito e, às vezes, como predicativo.
de Helena.
Funcionam como objetos diretos ou como sujeitos do
O jogo eu-tu-ele determina a escolha dos pronomes de
infinitivo.
primeira, segunda e terceira pessoa. No trecho, o narrador
utiliza os pronomes “ela” e “a” para fazer referência a Funcionam como objetos indiretos, adjuntos adnominais
Helena, personagem que será apresentada, o assunto do indicando posse ou complementos nominais.
texto. As duas formas se diferem de acordo com a função Funcionam como objetos diretos ou indiretos, de acordo
que elas desempenham na frase: a forma “ela”, caso reto, com a transitividade do verbo, ou como adjuntos
é empregada sem preposição na função de sujeito (“ela adnominais indicando posse, ou o sujeito do infinitivo.
sabia”, “ela enlaçava”, “respondia ela”); já a forma oblíqua
Funcionam como objetos indiretos ou complementos
átona “a” (assim como “o” e “los”) é específica da função de
nominais ou agentes da passiva ou adjuntos adverbiais
objeto direto. Observe, por outro lado, que a personagem
e aparecem sempre preposicionados.
Lopes Matoso utiliza diferentes pronomes de segunda pessoa
para dialogar com a filha: a forma “te” funciona ora como Funcionam como adjuntos adverbiais e nunca aparecem
objeto direto, ora como indireto; e a forma “ti” aparece preposicionados, pois já são uma contração entre a
preposicionada e funciona como objeto direto. Como é preposição “com” e os pronomes arcaicos “migo”, “tigo”,
“sigo”, “nosco” e “vosco”.
possível perceber, o uso adequado das formas dos pronomes
pessoais depende da função sintática que esses termos Funcionam como objetos diretos, indiretos ou como
desempenham na frase. sujeitos do infinitivo.
128 Coleção 6V
Emprego dos pronomes pessoais 5. O pronome oblíquo átono lhe exerce a função de
objeto indireto.
1. Os pronomes pessoais do caso reto são usados
– Entreguei-lhe o documento.
como sujeito e, algumas vezes, como predicativo
do sujeito. ↓
objeto indireto
– Nós ouvíamos a exposição atentamente.
O pronome lhe só poderá ser empregado como objeto
↓ indireto quando se referir a pessoa. Ao se referir a coisa
sujeito ou objeto, deve ser substituído pelas formas: a ele,
a ela, a eles, a elas, como se pode ver em: “José obedece
– Eu não sou ela.
LÍNGUA PORTUGUESA
às leis de trânsito” (= José obedece a elas).
↓ ↓
sujeito predicativo do sujeito 6. Os pronomes oblíquos átonos podem assumir
valor possessivo, exercendo a função sintática
– Eu não sou eu quando estou a seu lado. de adjunto adnominal. Isso ocorre quando se
↓ ↓ puder substituir o pronome oblíquo e o artigo
sujeito predicativo do sujeito definido posposto a ele pelos pronomes possessivos
correspondentes, como se pode ver a seguir.
Quando precedidos de preposição, os pronomes retos – Escutei-lhe os conselhos. = Escutei os conselhos dele.
(exceto “eu” e “tu”) passam a funcionar como oblíquos, – Roubaram-me o livro. = Roubaram meu livro.
como se vê em: Deixaram o livro para ela. 7. Os pronomes se, si e consigo assumem valor
reflexivo. No Brasil, os dois últimos devem ser
empregados unicamente com este valor.
2. As formas tu e vós podem exercer a função sintática
de vocativo. – Ele feriu-se.
– Cada um termine por si mesmo o exercício.
– Tu, mulher amada!
– O professor levou as provas consigo.
3. Os pronomes oblíquos átonos o, a, os, as exercem 8. Conosco e convosco são utilizados normalmente
a função sintática de objeto direto. em sua forma sintética. Caso haja palavra de
– Ela encontrou-o exausto naquele dia. reforço, devem ser substituídos pela forma
– Nós não a ouviremos hoje. analítica (com nós / com vós).
nos + as = no-las vos + as = vo-las lhes + as = lhas Vossa Majestade V.M. Para reis e rainhas
Vossa Majestade
V.M.I. Para imperadores
Exemplos: Imperial
Para príncipes,
– Recebi os livros e gratifiquei o rapaz que mos Vossa Alteza V.A.
princesas e duques
entregou.
Esses pronomes devem ser usados com as formas verbais
– Se ele pedir a moto, eu lha emprestarei. e os pronomes possessivos da 3ª pessoa. Veja os exemplos:
– Vossa Majestade pode partir tranquilo para a sua
– Meu pai, que mas impôs inexoravelmente,
expedição.
considerava-as maravilhas. (Vivaldo Coaraci)
– Gostaria de solicitar a Vossa Excelência que resolva
– Punha a cereja, e a rir ma ofertava sem pejo. o impasse entre os deputados de sua Câmara.
(Raimundo Correia) Quando não se referem ao interlocutor, mas ao assunto
da conversa (3ª pessoa), apresentam-se com o possessivo
– O coração humano tem seus abismos e às vezes
sua: Sua Senhoria, Sua Excelência, Sua Majestade, etc.
no-los mostra com crueza. (Cyro dos Anjos)
Exemplos:
– Comeríamos à mesa, se no-lo ordenassem as – Sua Excelência volta hoje para Brasília.
escrituras. (Carlos Drummond de Andrade) – Certa manhã, Sua Majestade, o Rei Marcos I,
acordou ao som de tiros.
– O que os santos têm de mais sagrado são os pés.
Por isso os antigos fiéis lhos beijavam. (Mario
Quintana) Colocação pronominal
O emprego desses conglomerados pronominais restringe-se Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, se, lhe,
à língua escrita, nas modalidades literária e científica. o, a, nos, vos, lhes, os, as podem vir antes, no meio ou
Em geral, os autores brasileiros de hoje os evitam, dado o depois do verbo.
artificialismo de tais contrações. Observe:
130 Coleção 6V
LÍNGUA PORTUGUESA
Com gerúndio precedido da preposição em X Em se lembrando, venha.
Com futuro do presente sem caso de próclise. Quando
não há, na frase, um dos elementos acima menciona- X Chamar-nos-ão para o teste.
dos.
Com futuro do pretérito sem caso de próclise X Dar-lhe-iam o prêmio.
Com orações imperativas afirmativas X Traga-me a água.
Com gerúndio (sem preposição) X ... encontrando-nos.
Com infinitivo impessoal e com preposição X ... a ouvi-la.
Período iniciado por verbo X Disseram-me a verdade.
Período iniciado pela partícula eis X Eis-me aqui.
Meu caro, deram-me muitas
Período iniciado por termo seguido de vírgula e de verbo X
esperanças.
Quando eu dis- Vou distraí- Estou esperando G) Sabeis Vossa Senhoria de suas responsabilidades
VAI! Você não
ser “vai!” você los e cobrir
está indo!
pra ver se você vai neste momento.
ataca! você. distraí-los bem.
01. (UFTM–MG) Considere as seguintes frases, formuladas a IV. Entregou as fotografias para _____ selecionar as
melhores.
partir do texto:
V. É muito incômodo para _____ durante uma hora
I. Se eu o dissesse que fosse ataca-los, você os atacava? seguida.
II. Distraia-os, que eu o cobrirei. A) eu – eu – mim – eu – eu
III. Estou esperando a fim de ver se você os distraí bem. B) mim – mim – mim – mim – mim
IV. Se caso você, inadvertidamente, os distraem mal, C) eu – eu – mim – mim – mim
eu não posso atacar.
D) eu – mim – mim – eu – mim
V. Você não os está atacando por quê? E) mim – eu – mim – eu – mim
Estão redigidas de acordo com a norma culta apenas
as frases
A) I e III. D) II, III e IV. EXERCÍCIOS
B) II e V. E) II, IV e V.
C) I, III e IV. PROPOSTOS
02. (UFTM–MG) Ocorre quebra da uniformidade de tratamento 01. (Unesp) “Ou não lhe ensinaram, ou ensinaram e ele
no texto, própria de soluções da língua coloquial, JKVN não aprendeu. O certo é que ele se formou no curso
A) na escolha do tratamento “você” para referir-se aos secundário.”
dois interlocutores. As palavras colocadas em negrito, nesta passagem,
B) na combinação de “-los” (em “distraí-los”) com I. são pronomes pessoais.
“cobrir você”.
II. são pronomes pessoais do caso reto.
C) no emprego de “vai” associado ao pronome de
III. apresentam no contexto o mesmo referente.
3ª pessoa “você”.
IV. pertencem à terceira pessoa do singular.
D) no emprego indistinto de verbos em 3ª pessoa para
os dois interlocutores. As afirmações corretas estão contidas apenas em
E) na intercalação de frases declarativas e exclamativas, A) I e II.
aleatoriamente. B) II e III.
132 Coleção 6V
03. (UEPB)
Guardião da brasilidade na América
Na primeira vez em que esteve no Brasil, o historiador Thomas Cohen não estava entendendo nada. Logo ao chegar,
tinha um encontro com um renomado professor da história da Universidade de São Paulo. O professor chegou uma hora e meia
atrasado e anunciou que precisava viajar em seguida. Convidou o jovem Cohen, então com 25 anos, para acompanhá-lo à
cidade de Franca, onde passaria o fim de semana dando palestras. Cohen pensou que o professor fizera o convite apenas para
5 compensá-lo pelo desencontro e, polidamente, recusou. “Só depois descobri que os brasileiros são assim mesmo, disponíveis,
espontâneos”, diz. Cohen acabou encantando-se com a informalidade dos intelectuais brasileiros, e hoje, passados trinta anos,
entende muito do Brasil. Já visitou o país dezenas de vezes, é fluente em português, especialista na obra do padre Antônio
Vieira (1608-1697) e guardião de uma preciosidade: a única biblioteca dedicada exclusivamente às coisas do Brasil e de
LÍNGUA PORTUGUESA
Portugal em solo americano – a The Oliveira Lima Library. [...]
PETRY, André. Revista Veja. São Paulo: Abril, ed. 2 317, ano 46, n. 16, p. 93, 17 abr. 2013.
Em “Convidou o jovem Cohen, então com 25 anos, para acompanhá-lo à cidade de Franca, onde passaria o fim de semana
dando palestras” (linhas 3-4), pode-se afirmar que
A) o uso do pronome indica uma referência ao historiador, que também vai para a cidade de Franca.
B) em “acompanhá-lo”, o pronome utilizado faz referência ao jovem Cohen, que viajará com o palestrante.
C) o pronome oblíquo em “acompanhá-lo” substitui o termo “professor” sem alterar o sentido do texto.
D) o sentido do enunciado é construído devido ao emprego do pronome que faz referência ao convite feito pelo professor.
E) o pronome oblíquo foi usado para se referir ao convidado do intelectual brasileiro.
04. (Insper-SP–2015)
BO1I
Haroldo, eu preciso que Você não precisa matar Ele geralmente aparece Claro Droga. Bem,
você vá para a escola ele.Só faça ele se nos intervalos, então que não. eu acho que
comigo e mostre suas lembrar de você vem e pega ele. ele deveria
garras pro você quando Você tem raiva? pelo menos
Moe, ok? levarem pegar tétano.
ele para
cirurgia.
Nessa tirinha, Calvin faz uso de uma linguagem coloquial, empregando os pronomes em desacordo com a prescrição da norma
gramatical. Essa construção sintática é considerada inadequada ao padrão culto da língua, porque os pronomes
A) oblíquos não devem ser usados na função de sujeito.
B) possessivos não podem ser pospostos a verbos.
C) relativos não devem ser usados na função de sujeito.
D) retos não podem exercer função sintática de complemento.
E) indefinidos não podem exercer função sintática de objeto direto.
05. (Insper-SP)
O blá-blá-blá das empresas
O que você entende da frase “tal colaborador foi desligado”? Antes de pensar que um consultor de sua empresa se mostra
desatento ou que um colega que tem contrato temporário foi dispensado de um projeto, experimente trocar a palavra
“colaborador” por “funcionário” e “desligado” por “demitido”. Captou a mensagem? Cada vez mais, palavras usadas no discurso
das companhias – seja no trato com o funcionário, cliente ou fornecedor – vêm sendo substituídas por outras, capazes de
amenizar o que realmente significam.
Apontada por especialistas em recursos humanos (RH) como uma ferramenta aplicada para manter um bom clima
organizacional, esse vocabulário também é entendido como um reflexo da falta de transparência, gerando imprecisão.
Resumo da ópera: se você faz, bem, mil coisas diferentes ao mesmo tempo no trabalho, não adianta reclamar que está
“sobrecarregado”. A empresa provavelmente gosta e considera você um funcionário “multifuncional”.
O Globo, 29 jul. 2009.
O pronome de tratamento “você”, tal como foi usado 07. (Unifesp) Na oração do 4º parágrafo “[...] para que
no texto, lhe seja atribuído sentido.”, o pronome “lhe” substitui a
A) é uma marca da linguagem coloquial e refere-se expressão
genericamente a qualquer pessoa, não apenas àquela A) um recobrimento.
que esteja lendo o texto. B) uma redução.
B) é uma forma desrespeitosa de se dirigir ao leitor, C) linguagem e significação.
já que cria uma falsa relação de intimidade.
D) qualquer matéria significante.
C) refere-se exclusivamente aos funcionários que
E) o silêncio.
trabalham em companhias que tenham aderido ao
fato mencionado no texto. 08. (FUVEST-SP) Leia o seguinte texto:
D) pode ser substituído, sem que haja qualquer alteração Era o que ele estudava. “A estrutura, quer dizer, a
no efeito de sentido do texto, por “tu”. estrutura” – ele repetia e abria as mãos branquíssimas
ao esboçar o gesto redondo. Eu ficava olhando seu
E) revela que o texto tem como público-alvo os
gesto impreciso porque uma bolha de sabão é mesmo
adolescentes que ainda irão ingressar no mercado
imprecisa, nem sólida nem líquida, nem realidade nem
de trabalho.
sonho. Película e oco. “A estrutura da bolha de sabão,
compreende?” Não compreendia. Não tinha importância.
Instrução: Leio o texto a seguir para responder às questões
Importante era o quintal da minha meninice com seus
06 e 07.
verdes canudos de mamoeiro, quando cortava os mais
O silêncio é a matéria significante por excelência, tenros que sopravam as bolas maiores, mais perfeitas.
um continuum significante. O real da comunicação é o
TELLES, Lygia Fagundes.
silêncio. E como o nosso objeto de reflexão é o discurso, A estrutura da bolha de sabão. 1973.
chegamos a uma outra afirmação que sucede a essa: o
A “estrutura” da bolha de sabão é consequência das
silêncio é o real do discurso. propriedades físicas e químicas dos seus componentes.
O homem está “condenado” a significar. Com ou As cores observadas nas bolhas resultam da interferência
sem palavras, diante do mundo, há uma injunção à que ocorre entre os raios luminosos refletidos em suas
“interpretação”: tudo tem de fazer sentido (qualquer que superfícies interna e externa.
ele seja). O homem está irremediavelmente constituído Considere as afirmações a seguir sobre o início do conto
pela sua relação com o simbólico. de Lygia Fagundes Telles e sobre a bolha de sabão:
Numa certa perspectiva, a dominante nos estudos dos I. O excerto recorre, logo em suas primeiras linhas, a
signos, se produz uma sobreposição entre linguagem um procedimento de coesão textual em que pronomes
(verbal e não verbal) e significação. pessoais são utilizados antes da apresentação de seus
referentes, gerando expectativa na leitura.
Disso decorreu um recobrimento dessas duas
II. Os principais fatores que permitem a existência da
noções, resultando uma redução pela qual qualquer
bolha são a força de tensão superficial do líquido e a
matéria significante fala, isto é, é remetida à linguagem
presença do sabão, que reage com as impurezas da
(sobretudo verbal) para que lhe seja atribuído sentido.
água, formando a sua película visível.
Nessa mesma direção, coloca-se o “império do verbal” III. A ótica geométrica pode explicar o aparecimento de
em nossas formas sociais: traduz-se o silêncio em palavras. cores na bolha de sabão, já que esse fenômeno não
Vê-se assim o silêncio como linguagem e perde-se é consequência da natureza ondulatória da luz.
sua especificidade, enquanto matéria significante distinta Está correto apenas o que se afirma em
da linguagem.
A)
I. C)
I e III. E)
III.
ORLANDI, Eni. As formas do silêncio. 1997.
B) I e II. D) II e III.
06. (Unifesp) Ao analisar a prevalência da linguagem verbal 09. (FUVEST-SP) Ao se discutirem as ideias expostas na
na comunicação social, a autora enfatiza que assembleia, chegou-se à seguinte conclusão: pôr em
confronto essas ideias com outras menos polêmicas
A) a exigência da comunicação implica o fim do silêncio.
seria avaliar melhor o peso dessas ideias, à luz do
B) a essência do silêncio se perde, quando ele é traduzido princípio geral que vem regendo as mesmas ideias.
pelas palavras. A) Transcreva o texto, substituindo as expressões
C) a verdadeira linguagem prescinde do silêncio e das destacadas por pronomes pessoais que lhes sejam
palavras. correspondentes e efetuando as alterações necessárias.
B) Reescreva a oração “ao se discutirem se as ideias
D) as palavras recuperam satisfatoriamente os sentidos
expostas na assembleia”, introduzindo-a pela
silenciados.
conjunção adequada e mantendo a correlação entre
E) a comunicação pelo silêncio é, de fato, irrealizável. os tempos verbais.
134 Coleção 6V
10. (FGV-SP) O fragmento a seguir, extraído do conto Na Língua Portuguesa, a escolha por “você” ou
KHI5 “Conversão de um Avaro”, de Machado de Assis, é a base “senhor(a)” denota o grau de liberdade ou de respeito
para esta questão. que deve haver entre os interlocutores. No diálogo
Quando ele apareceu à porta, José Borges esfregou os olhos apresentado, observa-se o emprego dessas formas.
como para certificar-se que não era sonho, e que efetivamente A personagem Sílvia emprega a forma “senhora” ao
o colchoeiro ali lhe entrava pela sala. Pois quê! Onde, quando, se referir à Irene. Na situação apresentada no texto,
de que modo, em que circunstâncias Gil Gomes calçara nunca
o emprego de “senhora” ao se referir à interlocutora
luvas? Trazia um par de luvas, – é verdade que de lã grossa,
ocorre porque Sílvia
– mas enfim luvas, que na opinião dele eram inutilidades. Foi
a única despesa séria que fez; mas fê-la. A) pensa que Irene é a jardineira da casa.
LÍNGUA PORTUGUESA
ASSIS, Machado de. Contos fluminenses II. B) acredita que Irene gosta de todos que a visitam.
In: Obras completas de Machado de Assis.
C) observa que Irene e Eulália são pessoas que vivem
São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1957. p. 293.
em área rural.
A) Classifique morfologicamente o termo destacado
D) deseja expressar por meio de sua fala o fato de sua
em negrito na passagem “que na opinião dele eram
inutilidades.” e aponte a quem ele se refere. Justifique família conhecer Irene.
sua resposta. E) considera que Irene é uma pessoas mais velha, com
B) Tendo em vista o termo em negrito do trecho “Quando a qual não tem intimidade.
ele apareceu à porta, José Borges esfregou os olhos
como para certificar-se que não era sonho, e que 03. (Enem) Páris, filho do rei de Troia, raptou Helena, mulher
efetivamente o colchoeiro ali lhe entrava pela sala.”,
de um rei grego. Isso provocou um sangrento conflito de
explique seu uso e seu efeito de sentido.
dez anos, entre os séculos XIII e XII a.C. Foi o primeiro
02. (Enem) Vera, Sílvia e Emília saíram para passear pela Pronominais
chácara com Irene.
Dê-me um cigarro
– A senhora tem um jardim deslumbrante, dona Irene! –
Diz a gramática
comenta Sílvia, maravilhada diante dos canteiros de
rosas e hortênsias. Do professor e do aluno
– Para começar, deixe o “senhora” de lado e esqueça E do mulato sabido
o “dona” também – diz Irene, sorrindo. – Já é um custo
aguentar a Vera me chamando de Tia o tempo todo. Mas o bom negro e o bom branco
Meu nome é Irene. da Nação Brasileira
Todos sorriem. Irene prossegue: – Agradeço os elogios Dizem todos os dias
para o jardim, só que você vai ter de fazê-los para a
Deixa disso camarada
Eulália, que é quem cuida das flores. Eu sou um fracasso
Me dá um cigarro
na jardinagem.
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.
São Paulo: Contexto, 2003 (Adaptação). São Paulo: Nova Cultural, 1988.
– É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem 07. D
calça. 08. A
– Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
09.
– Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental,
algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma A) [...] pô-las em confronto [...] / [...] avaliar melhor
pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas? o seu peso ou avaliar melhor o peso delas [...] /
que as vem regendo ou que vem regendo-as ou
– Pode.
que vem regendo a elas.
– Uma saudação para a minha progenitora.
– Como é? B) Assim que se discutiram as ideias expostas na
assembleia [...] ou Logo que se discutiram as
– Alô, mamãe!
ideias expostas na assembleia [...]
– Estou vendo que você é um, um...
– Um jogador que confunde o entrevistador, pois não 10.
corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser A) A contração da preposição “de” e do pronome “ele”
algo primitivo com dificuldade de expressão e assim se refere a Gil Gomes. Isso se justifica pelo fato de
sabota a estereotipação? Gil Gomes ser o antecedente mais próximo que o
– Estereoquê? pronome “ele” pode retomar.
– Um chato? B) O uso do pronome “lhe” nesta frase dá ideia de
– Isso. posse. Significa dizer: “[...] o colchoeiro entrava
CORREIO BRAZILIENSE, 13 mai. 1998. pela sua sala”. O termo deve ser classificado,
portanto, como adjunto adnominal de “porta”.
A expressão “pegá eles sem calça” poderia ser substituída,
sem comprometimento de sentido, em língua culta,
formal, por
Seção Enem Acertei ______ Errei ______
A) pegá-los na mentira. 01. B 03. E 05. B
B) pegá-los desprevenidos. 02. E 04. E
C) pegá-los em flagrante.
D) pegá-los rapidamente. Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %
E) pegá-los momentaneamente.
136 Coleção 6V
Referências
Página 63
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poema de Sete Faces. In: Alguma Poesia. Belo Horizonte: Edições Pindorama, 1930.
BOPP, Raul. Cobra Norato. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
LÍNGUA PORTUGUESA
BUARQUE, Chico. Cotidiano. In:______. A arte de Chico Buarque. LP. Universal Music Japan, 2004.
MATOS, Gregório de. Inconstância dos bens do mundo. In:______. Seleção de Obras Poéticas. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000119.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 22. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
SOUZA, Cruz e. Obra completa: poesia. Jaraguá do Sul: Avenida, 2008. v. 1, p. 548. Disponível em: <http://fcc.sc.gov.br/cruzesousa/
cruzesousa_vol1_poesia.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000031.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
Página 64
BILAC, Olavo. Via-Láctea soneto IX. In:______. Poesias (Via-Láctea). 1888. Disponível em: <http://www.biblio.com.br/defaultz.
asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/OlavoBilac/vialactea.htm >. Acesso em: 16 out. 2017.
DUQUE-ESTRADA, Osório. MANUEL DA SILVA, Francisco. Hino nacional Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/hino.htm>. Acesso em: 16 out. 2017.
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 22. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermões I. In:______. Sermão da Sexagésima. Edições Loyola, 2008.
Página 65
ALVES, Castro. Vozes d’África. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000010.pdf>.
Acesso em: 16 out. 2017.
BANDEIRA, Manuel. Balõezinhos. In:______. O ritmo dissoluto. São Paulo: Global, 2014.
BRAGA, Rubem. A feira. In: _____. Coisas simples do cotidiano. São Paulo: Global, 2013. Disponível em: <https://books.google.
com.br/books?id=8sVcBAAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>.
Acesso em: 16 out. 2017.
NABUCO, Joaquim. Passagem pela política. In: ______. Minha formação. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/ua00137a.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. Disponível em: <https://edmundomonte.com.br/
wp-content/uploads/2015/02/Menino-de-Engenho_Jos%C3%A9-Lins-do-Rego.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
GARRETT, Almeida. Da educação. 1. ed. Londres: Sustenance e Stretch, 1829. Disponível em: <http://purl.pt/2/4/l-24848-p_PDF/
l-24848-p_PDF_24-C-R0150/l-24848-p_0000_1-314_t24-C-R0150.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
Página 66
MORAES, Vinicius de. Soneto de fidelidade. In: ______. Poemas, sonetos e baladas. São Paulo: Edições Gavetas, 1946.
SOUZA, Cruz e. Violões que Choram. In: _____. Obra completa: poesia. Jaraguá do Sul: Avenida, 2008. v. 1, p. 454. Disponível em:
<http://fcc.sc.gov.br/cruzesousa/cruzesousa_vol1_poesia.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017.
VELOSO, Caetano; ALBUQUERQUE, Perinho. Clara. In: Caetano Veloso. Caetano Veloso. CD. Polygram / Philips, 1990.
Página 67
BALEIRO, Zeca. Vô Imbolá. In: Zeca Baleiro. Zeca Baleiro: Vô Imbolá. CD. MZA Music, 1999.
DJAVAN; VELOSO, Caetano. Linha do Equador. In: Djavan. Coisa de acender. CD. Sony Music Entertainment, 1991.
Página 79
ESOPO. A cigarra e as formigas. In: LA FONTAINE, Jean de. A cigarra e a formiga. São Paulo: Girassol, 2008.
Página 80
MELO NETO, João Cabral de. Obra Completa. São Paulo: Nova Aguilar, 1999.
Página 90
A DEMANDA do Santo Graal. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/
pluginfile.php/34647/mod_page/content/17/52341123-Demanda-Santo-Graal.pdf >. Acesso em: 16 out. 2017.
Página 92
DJAVAN; VELOSO, Caetano. Linha do Equador. In: Djavan. Coisa de acender. 1991. CD. Sony Music Entertainment, 1991.
138 Coleção 6V