Humanização PDF
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Natal
2004
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Luciana de Medeiros
Natal
2004
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de MESTRE EM PSICOLOGIA.
BANCA EXAMINADORA
Agradecimentos
Sumário
1. Introdução................................................................................................................ 11
8. Considerações finais................................................................................................ 91
9. Referências ............................................................................................................. 96
Apêndices
7
Lista de figuras
Figura Página
Lista de tabelas
Tabela Página
Resumo
Abstract
The creation of the Humanization Program of Hospital Care and the increasing number
of academic works and journal articles that discuss more humane practices in the health
care services express the emphasis given to the theme in Brazil. In these discussions,
however, it is not usual to find reference to architecture as a relevant factor in the
humanization of hospitals, even though it is known that the physical structure of the
building may help the recovering of the patients; elements such as gardens, the use of
colors and open spaces may soften the impact caused by the hospital routine on patients.
Considering the contribution the architectural project may bring to the humanization of
hospitals, the aim of this study was to verify how the architects perceive the hospital
humanization process. Besides having searched for subsides in informal interviews with
health professionals, in visits to hospitals and in related seminars, the study was based
on semi-structured interviews with architects of Natal, Rio Grande do Norte, who are
specialists in this kind of projects. The content analysis of the interviews showed that
physical space and attendance are essential to the humanization process. Those
professionals see two humanization tendencies: while private hospitals have the
structural physical appearance considered as humanized, public hospitals emphasize the
humanization in attendance, fact that illustrates the contradictions in Brazilian health
system. The interviewees consider the post-occupancy evaluation of the building as a
learning exercise that contributes to new projects, but surprisingly they do not mention
the patients’ opinion as part of it. Two annoying facts have emerged from the
interviews, as also seen in preliminary stages of the study: rare are the works that focus
on the person-environment relationship, and the definition of humanized hospital
environments is still broad and inaccurate. This suggests the need of new studies in
order to better understand how the two factors shown in this study – attendance and
physical space – interact towards a true hospital humanization.
1. Introdução
“Por uma Medicina mais humana”. Essa era a mensagem escrita numa faixa,
daquelas fixadas nos postes das vias públicas, que indicava a realização de um encontro
dirigir até o local do evento e entrar, afinal de contas, também estava escrito na faixa
quinhentos hospitais da rede pública do país, sendo sete aqui no Estado. Como eu não
era da área da saúde, nem tinha feito inscrição, tive que conversar com os funcionários
em humanização hospitalar, fosse deixar aquelas pessoas tão confusas. No entanto, após
todos os esclarecimentos, tive permissão para entrar, não só nesse, mas em outros
Assim como as pessoas do exemplo acima, o leitor também deve estar esperando
interessada nas relações pessoa-ambiente, pois esta havia sido uma das disciplinas
planejado para tantas atividades diferentes poderia trazer para as pessoas que o
1
A partir desse trecho, sempre que o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar for
mencionado, será utilizada a abreviação PNHAH.
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utilizavam. O grande dilema do profissional que projeta esse tipo de edifício, ainda que
cliente, detalhes específicos e ainda idealizar espaços ditos “humanizados”. Mas o que é
Logo, uma assistência voltada para os cuidados com o paciente, deve incluir aspectos
Ensberg, Jacobs, & Mehlenbeck, 2001; Devlin & Arneill, 2003). Porém, na ênfase dada
2
Organização espacial pode ser entendida como o conjunto de características físico-funcionais dos
ambientes necessárias ao desenvolvimento das atividades previstas na edificação.
3
Ambientação: projeto que indica os materiais de acabamento, cores e disposição e desenho detalhado do
mobiliário a ser utilizado na composição de um ambiente.
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para atrair cliente, essa é uma marca garantida de um padrão superior de qualidade. Há
quem diga ainda, que um ambiente humanizado é aquele no qual existem pessoas
país, diversos autores têm se dedicado à humanização, seja afirmando sua prática
questionando sua definição (Deslandes, 2004). Além disso, a criação do PNHAH, cuja
Por outro lado, em Arquitetura, parece não haver interesse nesta discussão, dado
o número reduzido de trabalhos que só agora começam a ser publicados (Fontes, Alves,
Santos, & Cosenza, 2004). De acordo com a literatura pesquisada até o momento, o
assunto é explorado superficialmente, sem apresentar uma definição clara do que seja
e os estudos pessoa-ambiente (Corbioli, 2002; Rogar, 2002). Além disso, existe uma
humanização hospitalar?
Sendo assim, esta pesquisa tem como base as entrevistas com os arquitetos
especialistas, mas também outras evidências empíricas, como informações colhidas com
Pública. Portanto, as páginas que seguem serão um diálogo entre a literatura, a minha
assistenciais de saúde.
As partes que compõem este documento têm início com um capítulo sobre o
paciente e ao PNHAH.
para a humanização.
literatura.
questionamentos sobre este trabalho e futuras possibilidades que surgem à luz da sua
realização.
16
de Saúde (SUS). Não se trata de uma recapitulação histórica prolongada, mas da seleção
uma espécie de hospedaria, daí o termo “hospital”. Dada a sua ligação com a religião,
traço mantido até hoje em diversos estabelecimentos, eram como uma espécie de casa
de caridade, não para curar, mas para cuidar das pessoas abandonadas, pobres e
hospitais, também chamados de “Santa Casa”, ainda que não sigam inteiramente o
propósito de servir para a caridade, guardam algumas das características desse período,
considerados um lugar para morrer, já que o seu principal personagem não era o doente
que precisava ser curado, mas o pobre que estava morrendo. Durante a Idade Média,
religiosos e leigos detinham o poder e cuidavam das pessoas, buscando sua salvação
eterna através das obras de caridade. O médico, subordinado ao pessoal religioso, só era
chamado em último caso, apenas como uma garantia e não como uma prática regular.
As consultas médicas eram privilégio dos que podiam pagar e a qualidade do médico
1979).
concentração de pessoas vindas de diferentes regiões e por isso mesmo, foco de doenças
contexto. Parte dessa trajetória política e social teve continuidade nos países colônias e a
Ainda não havia, até o século XVIII, a intenção de buscar uma ação positiva do
hospital sobre o doente (Foucault, 1979). Começava-se a acreditar que a doença era
proveniente das ações do meio sobre o indivíduo e que os ambientes “não naturais”
organização dos equipamentos urbanos pela cidade, como os hospitais, por exemplo. A
medicina tornava-se social, urbana e coletiva, porque passava a ser, além dos homens e
conhecimentos sobre patologia. Para que essa experiência clínica fosse possível como
seu início quando estudiosos – não arquitetos - realizaram viagens pela Europa a fim de
das roupas limpas e sujas dentro do hospital, além da relação entre os fenômenos
passou a ser importante, objeto do saber e da prática médica, porque era observado,
recuperação dos pacientes também é pensada por uma enfermeira, Florence Nightingale
(Malkin, 1992; Verderber & Fine, 2000). Em meados do século XIX, alguns hospitais
Para que isso fosse possível, as enfermarias deveriam estar agrupadas em pavilhões,
como pequenas partes separadas, mas fazendo parte do mesmo conjunto hospitalar.
iluminação naturais.
criando um novo arranjo dos leitos e posto de enfermagem dentro da internação. Suas
teorias implicaram no planejamento dos hospitais dos próximos cem anos e, segundo
saúde.
1993). A cirurgia, por exemplo, até então praticada nas residências dos pacientes, passa
infecção hospitalar, aumentavam a crença dos cirurgiões de que o mal estava além dos
agentes microbianos e das bactérias. Tal fato culminou na adoção de vários métodos de
anti-sepsia, sendo um deles, a lavagem das mãos, empregado até os dias atuais. O
hospital só começou a ser utilizado pelas pessoas mais abastadas após a queda da
De acordo com Freire (2002), hoje já se sabe que o agente infeccioso de grande
parte dos casos de infecção hospitalar é a flora natural do indivíduo infectado e não o
profissional que interage com ele é ainda maior porque se sabe que as mãos e os
transformações sofridas pelo hospital (Verderber & Fine, 2000). A expansão dos
Canadá, teve seu início firmado a partir do aumento da demanda por leitos hospitalares
racionalidade e funcionalidade, bases dos ideais modernistas (Verderber & Fine, 2000).
nos materiais do novo tempo, como concreto armado, aço e vidro, satisfazendo as
perfeita para esses novos hospitais, também chamados de “máquinas de curar”. Cada
fortes repercussões no setor, como será visto nos próximos capítulos. A partir dos anos
empresários dispostos a financiar parte das construções, que teriam fins lucrativos. É
neste cenário que surgem os questionamentos acerca das políticas de saúde em prática e
habitantes de uma região. Por serem menores, essas unidades atenderiam também ao
lucro, como uma empresa que deve oferecer algo para atrair seus clientes. No início,
essas duas correntes funcionavam como ponto de vistas separados, mas em seguida
sistema de saúde que garantisse o direito universal à assistência, tiveram como palco de
ser substituído e reestruturado no início dos anos de 1980, quando surgiu na Europa,
estabelecimentos.
contratados, distribuídos nas capitais e grandes centros urbanos (Conh & Elias, 2001;
Pensões eram organizadas por empresas, em sua maioria com recursos insuficientes
médico. A conseqüência desse vínculo foi a privatização precoce dos serviços de saúde.
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raros. Como a população não inclusa nas relações formais de emprego ficava excluída
de uma possível reforma sanitária (Conh & Elias, 2001). As propostas tiveram êxito nos
de 1970, tanto nos principais centros urbanos, como nas principais cidades do interior
A Previdência Social era compradora quase exclusiva dos seus serviços e ainda hoje se
buscava meios para sua consolidação e expansão, quer vendendo seus serviços, como já
foi dito, quer organizando a assistência suplementar através das cooperativas médicas
farmácias. Durante esse período, as normas sofreram diversas críticas quanto aos
problemas não previstos no documento e quanto aos modelos de hospital que eram
nesses modelos, como uma cópia dos projetos apresentados no instrumento normativo.
Em 1994, outra norma foi lançada pelo Ministério da Saúde, em que não existia mais o
planejamento da instituição foi enfatizada com base nas demandas por serviços
determinada região.
hospital, centro ou posto de saúde da rede pública faria parte de um sistema integrado,
direito à saúde, com participação direta dos municípios. Se posto em prática em sua
podem ser divididos em três níveis conforme o grau de diferenciação das atividades que
postos e centros de saúde. No nível secundário estão os hospitais que oferecem atenção
ambulatorial com todo o suporte nas quatro especialidades básicas (clínica médica,
terciário estão os hospitais que possuem uma capacidade resolutiva maior dos casos
Aqui cabe ressaltar que, de acordo com os critérios do SUS quanto ao nível de
Porém, existem mais diferenças do que semelhanças entre os dois, a começar pela
lógica na sua distribuição nas cidades. As instituições particulares não têm sua estrutura
investir seus recursos na construção de um novo edifício da saúde para que os planos
saiam do papel e se transformem em realidade. É também por este motivo que tantos
hospitais particulares fecham suas portas ou mantém parcerias com outros grupos de
Segundo Conh e Elias (2001), outra diferença entre a organização dos serviços
públicos e privados reside no fato de que, ao contrário do que deveria acontecer, o setor
privado termina sendo responsável pela parcela de atendimento mais rentável, que se
onerosos. Dada a primazia do setor particular lucrativo sobre o setor público, ocorre
poderia ser resolvido nas unidades básicas, mas a população termina sendo atendida
Previdência.
Diante desse contexto, vemos que o SUS apresenta grandes contradições e ainda
não conseguiu ser implantado em sua totalidade. Além disso, o próprio modelo
essa questão, num processo denominado de humanização hospitalar. De que forma isso
aconteceu e de que forma vem se desenvolvendo nas redes pública e privada, será o
definir um movimento em busca da valorização da pessoa que faz uso dos serviços de
A dificuldade gerada pela hospitalização pode ser observada na maior parte dos
como:
uma subcultura hospitalar, que freqüentemente são inconsistentes com ele mesmo.
consideradas infantis.
o próprio entorno físico do mesmo podem causar emoções negativas na maioria dos
pacientes.
despersonalizante com que isso acontece é criticável. Como o hospital tem a função
e da instituição, nem sempre o paciente fica totalmente só. Geralmente isso ocorre nas
visitá-lo por um período de tempo estabelecido pelo hospital; enquanto nos dois
últimos, os familiares podem permanecer por mais tempo com o paciente, mas também
devem obedecer normas internas e horários de visitas. Para cada instituição, esses
regulamentos variam, assim como varia o tipo de alojamento. Em alguns locais, nos
pagos pelos planos de saúde, as visitas e a permanência dos familiares já assumem outro
caráter: pacientes e familiares podem ficar juntos durante todo o dia (apartamentos
diferenças entre os que podem pagar mais, os que podem pagar menos e os que não
diferentes. Se por um lado são processos biológicos, por outro recebem influência direta
das condições de vida das comunidades, além de assumirem, para cada um de nós, um
sentido pessoal. O que hoje se sabe, apesar de serem fenômenos bastante abrangentes, é
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que saúde não é só ausência de doença, pelo menos não quando observada sob a ótica
1988).
por fatores sociais. Segundo o autor, ainda no século XVIII surgiam na Alemanha os
primeiros estudos acerca dessa relação, existente em virtude das condições precárias de
saúde, como já foi citado no início deste trabalho. Em seguida, na segunda metade do
século XIX, a preocupação com os aspectos sociais da doença foi transferida para os
bacteriologia. A doença então passou a ser tratada como uma variação somente de
deveriam ser baseadas apenas nos processos biológicos ou ecológicos, mas nos
processos sociais.
Conforme discute Martins (1996), esse tipo de abordagem social analisa saúde e
doença com uma visão materialista histórica, utilizando somente as categorias de classe
antiga, até mesmo no âmbito das Ciências da Saúde, área que ainda não conseguiu
fisiológicos do ser humano, continuam agindo como se a causa da doença fosse somente
fatores de produção, isto é, como se o indivíduo produtivo fosse aquele que tem um
médicas. Angerami-Camon (2001) cita que “(...) a especialização clínica, na maioria das
Este tipo de idéia pode ser considerada fruto do modelo biomédico vigente,
influenciado pelas ciências naturais - e portanto com uma visão única, objetiva e
Yépez, 2001). Os profissionais da saúde trabalham com uma visão muito fragmentada
corpo, desconsiderando todo o contexto no qual a pessoa está inserida, sua história de
vida, aspectos psicológicos e sociais. De acordo com a autora, uma das razões para a
encontra doente. A mesma doença pode significar coisas distintas para cada um de nós e
As diferenças entre as classes sociais e a forma de lidar com saúde e doença são
comentadas por Boltanski (1989). Segundo o autor, os membros das classes populares
acreditam que os médicos possuem conhecimentos, meios materiais e direitos que lhes
Quando adoecem, os membros das classes populares expressam suas sensações através
médico, acrescidos dos seus próprios termos, fundamentados no que faz sentido para
sem receitas, principalmente quando se trata de algo considerado por eles como sendo
efeito das emoções como causa das doenças, explicando que, quando as emoções não
psicossomática, por exemplo, aparece ainda nos anos de 1940 relocando a questão da
sentimento e requer uma vida com qualidade, calor, amizade, propósito, humor e
esperança. A ruptura desse equilíbrio, aliado às nossas escolhas e uso que fazemos do
nosso corpo, afeta os três aspectos da pessoa e ocasiona a doença, seguida de dor e
apontam que a doença é “(...) a desarmonia orgânica ou psíquica, que, através de sua
de sujeito como ser integral e de uma nova concepção do processo saúde-doença, o que
Segundo Remen (1993), confiamos mais no que pode ser expresso por números,
objetivamente, do que no que pode ser expresso por palavras. Enxergamos a doença e
não o doente; vemos as pessoas como se fossem suas doenças e não como se estivessem
“sou asmática”, servem para ilustrar rotulações que provocam a sensação de uma
mudança. “(...) o rótulo pode até definir a doença, mas o paciente geralmente é definido
por aquilo que ele acredita ser” (p.34). A autora arrisca comentar que a atribuição dos
rótulos por parte dos profissionais pode ser um esforço para adquirir imunidade contra a
“horizontal” com os pacientes, que terminam ficando cada vez mais distantes na relação
populares reprovam – mas por vezes se conformam e aceitam – o fato de existir tantos
esse processo, o local das consultas e procedimentos era a casa da pessoa doente, com
sua família envolvida nas decisões que eram tomadas. A partir do momento em que a
lado, a remuneração dos profissionais fica aquém de um mínimo respeitável, por outro
lado, na maioria dos casos, falta infra-estrutura suficiente para prestar um atendimento
satisfatório. A própria clientela, por vezes conformada com o que recebe, não se dá
dos impostos.
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A complexidade dessas questões já se estende por décadas, antes mesmo das leis
para a aplicação do SUS, considerações que servem para reafirmar que o fato de estar na
aspectos envolvidos.
sua razão de ser no ser humano, sujeito e beneficiário dos serviços e não objeto dos
cuidados que lhe são prestados. O esforço em humanizar a relação entre o médico e o
paciente já pode ser visto a partir das modificações dos currículos universitários. Dentre
como objetivo principal a promoção da pessoa como valor fundamental nas práticas
(Brasil, 2000).
hospitais no ano de 2002, seguidos de outros dois no ano de 20034. Além dos sete
pretende humanizar todos os hospitais, até mesmo as demais unidades de saúde. Cada
diferenciadas. Entre as ações comentadas nos encontros sobre o tema, podem ser citadas
como exemplo: trabalho com as mulheres que abortam e são vítimas de violência
somente os hospitais da rede pública, mas isso não significa que os da rede privada não
4
Informações obtidas no IV Encontro por uma Medicina mais humana, no dia
31/05/2003.
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incentivos e, na maioria dos casos, de boa vontade por parte dos profissionais. Segundo
forças da sua humanidade para aceitar a fragilidade e a força dos outros. Apesar destes
saúde já foram dados e o esforço deve ser contínuo, tanto por parte desses profissionais,
apesar de óbvio porque trata de práticas de saúde feita para e por seres humanos, deixa
subentendido que tais práticas estão (des) humanizadas. Os eixos principais de sua
possibilita-o a se relacionar bem com os clientes nos serviços e influi nos resultados da
assistência prestada, não é nenhuma novidade. Apesar disso, comenta o autor, “(...)
necessário que uma pesquisa formal evidencie o óbvio para que ele possa ser levado em
relação aos significados atribuídos pelos usuários dos serviços públicos de Natal/RN
sobre a assistência que lhes é prestada, seus direitos e expectativas acerca do contato
atendimento “acolhedor” por parte dos profissionais. Outro fato que merece ênfase, é o
A partir dos estudos supracitados, vemos que os autores não utilizam o termo
“paciente”, mas “usuários” para fazer referência à pessoa que utiliza os serviços ou é
atendido pelos profissionais de saúde. Nos capítulos seguintes, que também focalizarão
o espaço físico, esses “usuários dos serviços” também serão “usuários do ambiente”.
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4.1. Antecedentes
dos aspectos funcionais da arquitetura e pela rejeição dos aspectos estéticos. Os projetos
repetia na maior parte dos edifícios. Ao adotar a forma de cubo, círculo ou triângulo
para a torre de internação dos pacientes, como era chamado esse setor, os profissionais
concentrar em lotes menores e mais baratos. Além disso, os custos com sistemas
funcionava um setor e dependendo do caso, o deslocamento por setores era feito pelos
utilizada durante as guerras, nos hospitais militares, e que começava a ganhar espaço em
várias regiões do mundo. No Brasil, por exemplo, a construção de um hospital com tais
Manaus. Naquela época, final dos anos 1960, a população local passou a ser melhor
42
Fine, 2000).
mudanças nos serviços de saúde, uma gama enorme de equipamentos e alguns setores
Assim, num edifício com vários andares, alguns destes eram destinados somente
responsáveis por projetos dessa natureza (Góes, 2004). Na época em que foram
idealizados, esses espaços entre um pavimento e outro eram o que mais se aproximava
de saúde deve oferecer condições para expansão e mudança, ou seja, quanto mais
construções da época sofreram críticas e foram modificados a partir dos anos de 1980.
Pessoas envolvidas numa perspectiva mais humanista sugeriam a aplicação das ciências
43
hospital.
pacientes que até então não recebia nenhum tipo de cuidado diferenciado. Os novos
cidade. Apesar deste ser um aspecto que mostra o isolamento da pessoa doente, neste
caso era uma tentativa de oferecer um serviço de melhor qualidade, porque envolvia
às novas políticas de saúde. Projeto e administração hospitalar passam a ter uma nova
esse fim, arquitetos e demais planejadores devem considerar a interação das pessoas
elementos citados anteriormente e também pode ser apreendido através dos sentidos.
45
No arranjo ou organização dos espaços, lembrar que pacientes e visitantes podem levar
consigo uma imagem positiva ou negativa do que foi visto, tocado, cheirado e ouvido
aspectos semelhantes aos anteriores, apesar de seu modelo apresentar uma lista mais
exemplo, pode ser trabalhada com elementos que permitam, ou não, o contato do
paciente com outros (box individuais) ou ainda que possibilitem esse paciente não ser
visto do lado de fora do hospital (controle das janelas). Com isto, também estará sendo
cores e as texturas dos materiais (incluindo piso, parede, teto, mobília e acessórios)
como locais para acomodação dos familiares, no caso salas, jardins internos e
lanchonetes.
Sabendo que Malkin (1992) utiliza o termo “healing environment” e que sua
tecer alguns comentários sobre esse assunto. Em primeiro lugar, quando a tradução é
feita, nem sempre trabalhamos com o que a palavra quer dizer originalmente. Em
46
termo. Nesse caso, a autora também faz uso do termo “potencial terapêutico dos
importantes para a “recuperação” do paciente. Isto posto, torna-se claro que o ambiente
não vai curar, mas vai auxiliar no tratamento. Kellman (1995) questiona o papel de cura
diferente de cuidar. O cuidado com o paciente é tão importante quanto a sua cura,
premissa de que o paciente deve ter poder de escolha e controle sobre vários aspectos
ambiente físico um deles. Para que o projeto arquitetônico se aproxime das necessidades
se essenciais e devem fazer parte das etapas do projeto (Carpman et al., 1986; Malkin,
1992).
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autor, o arquiteto não deveria impor suas preferências aos outros e, por isso mesmo,
deveria procurar conhecer mais seus clientes e os seus desejos, bem como o resultado
por equipes interdisciplinares e por meio de métodos e técnicas também utilizadas nas
como uma forma de verificar se o que foi projetado está atendendo às necessidades dos
usuários do ambiente. Esse exercício deve ser uma etapa inerente ao processo de
espaço físico e sobre o paciente, já que possui um contato direto com este último.
Apesar de serem profissionais com baixo nível de controle das decisões, possuem um
de saúde brasileiros, grande parte do que foi comentado se aplica à construção dos
de serem bastante mencionadas por alguns autores da área, ainda são pouco realizadas
necessário, pois é preciso conhecer boas soluções para reutilizá-las, se for o caso,
aparece nas entrelinhas de alguns trabalhos que não têm esse assunto como foco, mas o
respeito, como veremos a seguir, existe uma inclinação por parte de alguns autores em
somente a partir dos anos 1980, ocasião em que os sistemas de saúde foram
principal dos estabelecimentos. Segundo Miller e Swensson (1995), foi uma forma de
dos primeiros, além de possibilitar uma vantagem a mais para atrair “clientes”.
restaurantes e lavanderias.
De acordo com Godoi (2004), a semelhança existente entre hotel e hospital não
está somente nas suas estruturas físicas. Embora tenham funções diferentes e
semelhança pode ser vista nos diversos setores e funcionários que eles têm em comum,
deslocamento. O autor comenta que, enquanto vários hospitais do Brasil já contam com
esse tipo de serviço, outros ainda pecam na forma de apresentar suas instalações e seus
até os que trabalham com o espaço, como arquitetos e decoradores, já que a estrutura
física do prédio exerce forte impacto visual sobre o público externo e deve primar pelo
conforto para o público interno. Além disso, determinados espaços do hospital podem
culturais.
departamentos mais importantes na prática da hotelaria e enfatiza que tudo deve ser
pensado antes da construção do hospital. Em alguns casos, quando isso não é possível,
51
alguns setores isolados podem ser focalizados dentro dessa tendência, como por
ser um setor, mas deve contar com uma ou mais pessoas encarregadas de ouvir queixas
camareiras também já pode ser vista pelos hospitais da rede particular do Brasil,
nas residências.
os pacientes, gerou a procura cada vez maior pelos estudos pessoa-ambiente, como
(Ittelson, Proshansky, Rivlin & Winkel, 1974; Pinheiro & Elali, 2001).
para a coleta de dados (Sommer & Sommer, 1997). Assim, a escolha de métodos e
Amérigo (1998), existem mais dois aspectos que são característicos da Psicologia
psicólogos Barker e Wright (Barker, 1987), no final dos anos de 1940. Influenciados
pelas idéias do psicólogo Kurt Lewin e suas teorias sobre comportamento como função
dia-a-dia.
crianças nos seus mais variados contextos. A partir desse trabalho, sugerem métodos
como o de behavior setting. Foi o que Valera (1996) chamou de primeiro nascimento da
Psicologia Ambiental.
expansão das ideologias humanistas, como vimos no caso dos hospitais. Nesse período,
sua área de interesse aos aspectos mais sociais relacionados com a satisfação residencial
e a qualidade de vida.
denominada por Pol (1993) de Psicologia Ambiental Verde. Tais estudos discutem
e condutas pró-ambientais.
Não é de admirar que uma área ainda jovem seja questionada entre os seus
(Altman, 1997; Kaminski,1983). Isto porque é uma área que oscila entre diversos
vertente que a torna aplicável. Autores como Sommer (1990) e Proshansky (1990)
desencadeando uma série de questões que deram início ao conceito de espaço pessoal
55
emocionalmente carregada em torno de cada pessoa, uma área com limites invisíveis
que cerca nosso corpo e que é defendida contínua e ativamente. O segundo, refere-se
aos processos através dos quais as pessoas marcam e personalizam os espaços nos quais
Canadá para descobrir o que havia de errado no local. Mesmo com o piso, esquadrias,
iluminação e mobiliário reformados, não permitia interação entre os pacientes. Uma das
primeiras questões levantadas por Sommer foi o fato dos usuários do ambiente não
os mais antigos nem mencionavam. Odores, ruídos e alguns detalhes da rotina hospitalar
que incomodavam visitantes, não eram percebidos pelos funcionários, pois com o
tempo, por mais estranho e desagradável que pareça, o costumeiro torna-se fixo e
natural.
trabalho realizado. Nesse sentido, Sommer dá início a uma série de discussões a respeito
dos métodos de pesquisa a serem adotados nos estudos pessoa-ambiente, o que inclui
No mesmo período, outro trabalho dentro dessa mesma vertente é conduzido nos
& Rivlin, 1970; Proshansky, 1990). Inicialmente, os profissionais deveriam realizar uma
revisão de literatura sobre o projeto físico dos hospitais psiquiátricos e sua possível
forma o ambiente físico poderia interferir no tratamento desses últimos. Pesquisas nessa
área eram escassas, portanto, tiveram de desenvolver sua própria orientação conceitual e
utilizados.
ambiente. Essas pesquisas também geraram a elaboração de artigos e livros sobre a área
portas, janelas e desenhos de piso. Além disso, trouxeram à tona diferentes problemas
espaço físico (San Juan, 1998). Como exemplo, o autor aponta o problema existente na
requerem maior iluminação e temperaturas mais baixas. Na maior parte das vezes, a
desenho dos hospitais, quando deveria estar no mesmo patamar do cuidado com o bem-
interação entre pacientes, é reforçada com a ressalva de que a interação não deve ser um
dessa natureza, seja nas avaliações do ambiente, seja em relação à percepção das
edifícios que primam pelo conforto oferecido ao paciente. Sabendo que vários fatores
espaços.
hospital infantil em San Diego, Estados Unidos, com o objetivo de avaliar a utilização e
restabelecimento dos pacientes e reduzia o estresse dos funcionários, mas que não era
hospital como medida terapêutica, até mesmo porque pode diminuir os gastos com
empregados tanto dentro do hospital como nas áreas externas. Esse tipo de medida era
comumente utilizada nos hospitais psiquiátricos e começa a ser retomada nos hospitais
diferentes maneiras (Arneill & Devlin, 2002). Uma delas é através dos procedimentos
médicos utilizados, que o paciente geralmente não entende, e a outra é pela forma como
O ambiente hospitalar também pode ser avaliado no que diz respeito à questão
temporal, ou seja, também pode ser visto como um local que manifesta um sentido de
tempo muito peculiar: o presente e o imediatismo. Para Ribeiro (1993), o “aqui e agora”
executadas rapidamente. Mas não deve ser o único modo de enxergar o hospital, pois
ele não está congelado no tempo e nem no espaço e deve ser observado através da
história para que muitas questões possam ser compreendidas e melhoradas para o
futuro.
no que ele denomina por “vivência ambiental”. Todos os ambientes têm um tempo
próprio, que é o seu período de existência, mas também têm um tempo que depende das
Além disso, as pessoas se relacionam num mesmo ambiente com coordenadas de tempo
completamente diferentes, como é o caso dos médicos - sempre apressados para atender
vários pacientes em vários hospitais – e do paciente internado que ainda vai permanecer
Discorrendo sobre o tema, Tuan (1983) sugere que uma paisagem, um panorama
ou avançar no tempo. Sendo assim, o fato de vislumbrar uma paisagem através de uma
janela de um hospital e imaginar a volta para casa, faz o paciente internado se mover em
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duas direções: um futuro promissor, com a volta para o lar; mas também passado, já que
a família e o lar ficam no centro da vida e tem a ver com origem e começo.
conteúdo e valor, e o tempo da vida, um tempo que deveria ter mais qualidade. Em
geral, as pessoas têm a ilusão de que se houvesse mais tempo cuidariam melhor da sua
saúde e vivem com a idéia de que ficar doente é uma das maneiras socialmente aceitas
pessoas não dão tempo para si próprias e quando estão internadas num hospital e presas
à cama, ficam deprimidas porque se desacostumaram a dar tempo e espaço para os seus
pensamentos e energias.
De acordo com Pinheiro (2002), essa noção de um tempo embutida nas pessoas
ainda é pouco analisada nos estudos pessoa-ambiente, talvez porque essa área do
muito mais com o espaço. Em sua pesquisa sobre comprometimento ambiental, aponta
que indiquem como está acontecendo a interação com o ambiente, o que incluiria o
tempo. Segundo o autor, quanto cada um de nós está disposto a ceder ou reivindicar nas
Baier (1995) comenta que estar internado num hospital significa repensar o que
passou e o que vem em seguida, numa relação com o tempo que implica passado,
uma visita querida, de uma decisão médica importante ou fazendo planos para o futuro,
por isso as janelas também são elementos importantes. Através delas – do contato com o
tem sido tema de diversas discussões no campo da Psicologia Ambiental. Apesar deste
fato, Devlin e Arneill (2003) chamam a atenção para a ausência de estudos dessa
natureza que sejam testados empiricamente dentro da Arquitetura, talvez por não existir,
nesta área do conhecimento, uma tradição em pesquisa. Por outro lado, as ciências
usuários do hospital.
do Brasil, podemos dizer que essa “descrença” da classe médica também é encontrada
no nosso país e pode ser um dos motivos para a ausência de trabalhos sobre
relação com o ambiente, bem como os benefícios por ele proporcionados, deveriam ser
igualmente enfatizados.
pessoal, sugere que tais aspectos começam a ser levados em consideração pela categoria
sono e descanso, entrada no espaço físico sem permissão, toque e proximidade íntima.
Com base nos estudos de Hall e na sua teoria da proxêmica (1977), todos nós
expressão de status. Entre nós, seres humanos, variam conforme a cultura e sistemas
sensoriais (visual, auditivo, olfativo, tato). Dentro da proxêmica, o espaço pode ter
(mobiliário ou obstáculos) e ainda ser informal, que é o espaço ao redor do corpo e que
Partindo desta base, a regulação do espaço ao redor das pessoas também pode
ser entendida a partir do estudo da territorialidade. Segundo Valera e Vidal (1998), este
conceito tem a ver com a defesa de uma área contra invasões e pode ou não envolver as
pessoal e grupal.
alcançar esse nível ideal de privacidade, diferente para cada indivíduo, incluem os
sentido, grande parte dos estudos sobre privacidade apresenta relação com
interações sociais.
63
seletivo de acesso ao eu” (p.18) e pode ser considerada como um dispositivo que cada
um de nós tem para regular nossas fronteiras pessoais, portanto perpassada sempre pela
essencial na sua relação com a doença. Se é assim, cada um fica doente ao seu modo e
(1975), existe uma dialética natural da privacidade que envolve restrição e procura da
Característico, mas que pode e deve ser amenizado. Estabelecendo uma ligação com os
apesar de não possuir o mesmo poder de decisão dos médicos, apresenta maior
por novos métodos de pesquisa que envolvam o usuário dos edifícios ou espaços
abertos, vem se intensificando a cada dia. Vários trabalhos de Arquitetura que levam em
a ligação entre as duas áreas e a preocupação dos profissionais que trabalham com o
et al., 2001).
64
que diz respeito a estudos que tratam do ambiente hospitalar, é a pesquisa de Fontes et
al. (2004), cujo objetivo foi verificar a percepção dos usuários do ambiente – pacientes,
afirmação, pouco aprofundada, é o conjunto de trabalhos que tratam dos benefícios dos
destacada por Jácome (1999). Sua pesquisa apresenta uma comparação entre os
Ambiental.
A partir do que foi exposto até o momento, vimos a diversidade de fatores que
recuperação dos pacientes e satisfação dos demais usuários do hospital. Além disso, tais
dessas instituições.
65
Até aqui podemos dizer que, quanto maior o enfoque nessas relações, mais o
hospitalar.
66
6.1. Participantes
desta pesquisa.
implicaria na exposição dos mesmos, optei por apresentar apenas alguns dados
considerados relevantes para o trabalho, sendo cada uma dessas pessoas identificadas
Entre as oito pessoas entrevistadas, cinco são mulheres e três são homens. Seis
sujeitos estão compreendidos numa faixa etária entre 42 e 48 anos e terminaram o curso
estudou durante os anos 1970 e outro no início dos anos 1990. Dos oito arquitetos, sete
6.2. Instrumento
literatura da área e inspirado por minhas reflexões, estruturado de modo a abarcar três
alterações na ordem das perguntas e na redação das mesmas só foi possível após uma
6.3. Procedimento
Para cada um dos arquitetos, o primeiro contato foi feito via telefone, ocasião em
que marcamos data e local para a realização das entrevistas. Antes de perguntar se as
mais uma vez sobre o objetivo da pesquisa. Explicitei o fato de que a entrevista seria
conteúdo foi separado por respostas e, de cada uma delas, retirados os temas de maior e
Sommer, 1997; Quivy & Campenhoudt, 1998). Esses eixos temáticos não obedeceram o
fim, a análise das relações obtidas (intra e inter-blocos) e seus respectivos conteúdos,
Humanização
Hospitalar
Projeto
Arquitetônico
veremos de que forma esses dados se relacionam entre si e com a literatura da área. A
(Tabela 1)5.
Tabela 1
Componentes da humanização hospitalar mencionados
Componentes mencionados Freqüência
Atendimento + ambiente físico 7
Ambiente físico 1
que trabalham com o espaço, atentariam somente para o projeto de arquitetura como
caminho rumo à humanização. Porém, como mostram seus depoimentos, isso não
aconteceu:
Eu acho que é uma coisa muito ampla. Envolve vários aspectos desde físicos
como comportamentais de quem está se servindo, de quem está prestando o
serviço. É o ambiente como um todo.(Arquiteto G)
maneira geral:
5
Dependendo do contexto de análise, algumas tabelas têm como total o número de participantes (N=8),
enquanto outras consideram o número total de ocorrência das categorias em questão.
71
Eu fiz uma cirurgia lá, uma coisa simples. Eu entrei num dia, fiz a cirurgia e saí
no outro dia. Achei, assim, o tratamento da enfermagem, frio, distante. Quanto
ao ambiente não. (...) O ambiente físico tá (...) bem mantido, bem organizado.
(...) Agora eu achei a falta de calor humano do pessoal da enfermagem, sabe,
assim, impressionante. (Arquiteto A)
entrevistados, é no quesito atendimento que aparecem suas maiores queixas. Será que os
pacientes, independente de quão especializada seja a instituição (Arneil & Devlin, 2002;
& Morais, 2004). Tais aspectos também apareceram nos depoimentos dos respondentes,
indicando ser esse um tipo de preocupação que, pelo menos em tese, deveria ser
incorporada pelos prestadores dos serviços de saúde, reforçando o fato de que só uma
Passa primeiro pelo pessoal qualificado. Não adianta você ter um espaço bem
organizado, projeto bem feito, cores adequadas, equipamentos e mobiliários
muito bons, se o pessoal não estiver treinado para isso. Então, primeiro, a
humanização é a forma que você é tratado desde o médico e o enfermeiro, até o
atendente de enfermagem, o pessoal do hospital. (Arquiteto F)
recupera mais rapidamente se souber o que lhe vai acontecer e porque vai acontecer. No
período em que o livro foi escrito, as discussões sobre o assunto não tinham as
proporções atuais, nem os estudos haviam comprovado esse tipo de relação direta como
paciente vai se sentir melhor ou mais descontraído sabendo para onde o estão levando e
incorporadas como meta de trabalho nas instituições de saúde, seja para melhorar o
administrativo, a segunda parece definir melhor o que deve ser incluído no contato entre
profissionais e pacientes.
73
Tabela 2
Ações apontadas para humanizar os serviços
Ações Freqüência
Treinamento 3
Prestar informação ao paciente 2
Mudança do uniforme dos profissionais 2
Implantação de hotelaria 2
Chamar o paciente pelo nome 1
Apoio psicológico ao funcionário 1
Caixa de sugestões 1
mantêm um contato mais freqüente com o paciente, são direcionadas a eles as maiores
queixas dos entrevistados. Esses profissionais poderiam ter em vista que seu trabalho e
sua relação com os pacientes têm efeitos sobre o processo de recuperação destes últimos
e podem atenuar ou não as implicações geradas pelas rotinas hospitalares e pelo próprio
Primeiro, o atendimento: você tem que fazer o médico voltar a pegar no doente,
porque hoje quem pega são as máquinas. (Arquiteto F)
(...) naquela situação de paciente, a gente está entregue nas mãos de um médico,
então é muito importante como esse médico também vai lidar com o cliente. Se
ele tem realmente um tratamento humanizado ou se ele ainda é aquela figura que
está ali quase como um semideus e o paciente afastado. Então, tudo isso envolve
e eu acho que favorece um atendimento humanizado, um atendimento mais com
calor humano.(Arquiteto G)
serviços de saúde. Por um lado, está a relação entre o atendimento prestado ao paciente
74
utilizados a favor dos avanços da ciência, mas que por vezes dificultam esse contato
profissional-paciente.
Se você pedir uma informação, essa deveria ser dada, porque às vezes as pessoas
estão tão atarefadas, que a gente pergunta uma coisa e elas não querem nem
parar para responder. Eu acho que seria interessante em cada ambiente de
trabalho haver algumas reuniões. Alguma coisa que relaxasse. Porque é só
trabalho, trabalho, e de repente parar um pouquinho e daí ter algum tipo de
apoio, até com psicólogos ou uma pessoa que saiba lidar com essa parte. Estão
sempre querendo otimizar o tempo, mas que parasse um pouquinho para
conversar um pouco sobre as relações, sobre o que o outro está fazendo, como
agiu, seria interessante.(Arquiteto C)
Sobre isso, Remen (1993) comenta que as pressões do tempo são culpadas pelas
parecem não estar presentes quando cuidam do paciente e interagem com ele. Em
hospitalar.
Eu acho isso uma coisa boa e que houve uma mudança de uns 5 anos para cá
aqui em Natal. (...) Que isso vai interferir nessa história da humanização e eu
acho que já há uma preocupação hoje com isso. Então o usuário se sente bem,
até parece que não é hospital. (Arquiteto C)
75
modificado de alguns anos para cá e metade dos arquitetos diz que a evolução dos
projetos pode ser vista principalmente nos saguões de entrada e conforto nos
apartamentos dos hospitais. Além disso, existe uma forte tendência em dizer que esses
shoppings e hotéis:
No meu projeto mais recente, que foi o hospital Z, a gente buscou resolver esses
problemas, dotar o hospital de uma estrutura que lembre um hotel 5 estrelas, um
shopping, um ambiente pra cima, iluminado. (Arquiteto B)
Godoi (2004), começou a ser utilizado a partir dos anos 1980 para oferecer ao paciente
conforto e opções de serviço, bem como oferecer aos empreendedores mais uma opção
hospitalar:
76
(...) porque já tem os cheiros e se você consegue dar uma aparência melhor ou
com vegetação, apenas em alguns lugares, e até mesmo com quadros, com cores,
com mobiliário, então humanizar, em termos de espaço físico, é isso.(Arquiteto
C)
paciente que vivencia determinada situação num local como esse, leva consigo algumas
imagens positivas ou negativas do que foi visto, ouvido, cheirado ou tocado. Sendo
dos hospitais, pode ser conseqüência de sua formação profissional. Não é minha
pretensão fazer generalizações, mas como a maioria estudou Arquitetura nos anos 1980
77
e fez especialização depois dos anos 1990, fica evidente que as transformações no
padrão construtivo dos hospitais a partir dessa época, exerceram forte influência na
forma dessas pessoas verem e projetarem esses edifícios. Portanto, tendo os arquitetos
participado desse período de mudanças, não é de admirar que façam referências a esse
momento.
Tabela 3
Sensações associadas ao hospital do passado e do presente
Tipo de hospital Resposta
Aconchegante
Hospitais do presente Agradável
Bem-estar
construído há alguns anos tinha que ser branco e que o de hoje já pode ter a presença de
várias cores.
Nós temos a antiga imagem dos hospitais (...) sombrios, escuros, de ambientes...
é... sem vida, sem uma ambientação que deixe a pessoa se relacionar com aquele
espaço, ambiente frio. Então nos nossos hospitais a gente procura dar à pessoa
aquilo que ela procura, que é um ambiente feliz, alegre, pra cima, colorido, com
materiais que ela se identifique, materiais nobres, que está dando qualidade ao
espaço.(Arquiteto B)
Antigamente, o hospital era o que? Quanto mais sem nada, quanto mais fácil de
limpar e lavar, melhor. E hoje isso mudou um pouco mais, principalmente
quando se trata da parte ambulatorial, onde você não precisa ter esse controle tão
rígido. Você pode ter uma urbanização dentro, você pode ter hoje cortina, alguns
tipos de tapetes e que isso aí deixa o ambiente mais aconchegante.(Arquiteto D)
78
humanização é um aspecto que diferencia tais informações das que foram obtidas na
literatura pesquisada até o momento, uma vez que, entre os autores citados, não aparece
humanização, foi um ponto marcante nas respostas dos arquitetos. De acordo com a
Tabela 4
Tipo de estabelecimento e freqüência de citação
Tipo e localização de estabelecimento Freqüência
Público
em Natal 2
em outras cidades 1
Privado
em Natal 4
em outras cidades 4
6
De um universo de vinte e cinco estabelecimentos existentes em Natal (ver Apêndice B), as respostas
representaram apenas 1/4 do total, focalizando as construções mais recentes e que se fizeram presentes
em grande parte das respostas dos especialistas. Para que o leitor pudesse ver o número de hospitais do
Brasil, tentei uma busca em banco de dados do Ministério da Saúde e junto ao IBGE – Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística. Contudo, as informações disponíveis contemplam apenas os estabelecimentos
públicos e ainda misturam hospitais e outras unidades de saúde, como por exemplo, os laboratórios. Além
disso, os dados do IBGE apresentam somente o número de leitos hospitalares e não de hospitais.
79
Vale salientar que a referência aos hospitais de Natal e de outros estados implica
responsável pelo projeto. Creio que, por essa razão, não houve menção a nenhum
humanizados, ao lado de apenas três da rede pública, o que mostra que os arquitetos
estão visitando, projetando e/ou utilizando mais os primeiros. Além desses motivos,
como alguns relataram, está o fato de que ao longo da suas vidas profissionais, esses
referência aos dois hospitais públicos de Natal fez parte apenas das respostas dos
arquitetos que participaram de tais projetos e não porque utilizaram seus serviços.
Aqui cabe acrescentar que, quando os arquitetos falam a respeito dos hospitais
tendo um atendimento dessa natureza. Por outro lado, quando falam dos
pessoais, muito mais freqüentes em estabelecimentos privados. Mas a que se deve o fato
de mencionarem o atendimento prestado nos hospitais públicos como uma prova da sua
voluntários foi lembrado por apenas um arquiteto, que hesitou em afirmar que a
presença de palhaços e músicos seja de fato um aspecto válido para o paciente e que
infantis como forma de distrair as crianças, mas em seguida se estendeu aos demais
instrumentos, ler ou levar pequenos animais para o hospital acreditando que estão
sem dúvida nenhuma, um ato extremamente humano, mas não significa que confere ao
todas as pessoas que prestam seus serviços dentro da área da saúde, na tentativa de
recuperação do paciente.
81
Tabela 5
Elementos do projeto arquitetônico mencionados
Elementos Freqüência
Ambientação
cores 8
mobiliário 8
Paisagismo 6
Janela 2
estar. Quanto aos ambientes ou setores do hospital, a UTI foi bastante mencionada,
A maioria das UTI’s de hospitais são quase como um grande ambiente,(...) com
todo mundo ali dividido por pequenas cortinas, que faz com que qualquer
paciente sinta, perceba e passe pelo problema do seu vizinho. Então, nos nossos
hospitais, a gente buscou uma forma de eliminar isso. (...) Cada paciente fica
realmente num espaço completamente isolado dos demais, interligados todos a
um sistema de controle e monitoramento. (Arquiteto B)
característico, mas que pode ser atenuado. Porém, em entrevistas informais com pessoas
que passaram pela experiência de internação em UTI, nem sempre a falta de privacidade
receio em relação à morte são fatores tão marcantes, que a possibilidade de ser visto ou
82
ouvido pelos demais pacientes num momento de dor e angústia, superam a necessidade
por privacidade. Sendo assim, o ambiente deveria estar preparado para oferecer mais ou
menos privacidade para cada paciente na medida em que fosse mais ou menos
componente inerente a qualquer projeto, são citadas nesse caso com a ressalva de que
Dessa forma, quem tá ali internado tem noção do dia e da hora. (...) A maioria
das UTIs não dá ao paciente essa possibilidade de você sentir a relação do dia e
da hora. (Arquiteto B)
Em especial nas nossas UTIs, nós temos um projeto bem interessante. Temos
box individualizado onde você tem toda privacidade, onde você não precisa estar
ouvindo, sentindo, participando do que o paciente do lado está sentindo, da dor
do vizinho, você tem toda privacidade. Você tem amplas janelas que você está
vendo um jardim florido, toda a cidade, o sol (...) (Arquiteto G)
O que parece curioso é o fato desses componentes terem sido citados apenas por
duas pessoas, ao passo que na literatura internacional são bastante destacados (Baier,
1995; Devlin & Arneil, 2003; Malkin, 1992). Mesmo assim, ao focalizar alguns detalhes
expressaram o porquê dessa ênfase, apenas o fato de que é assim que um hospital
humanizado e voltado para as necessidades do paciente deve ser. Penso que isso se dá,
em parte, pela ausência de trabalhos na área no Brasil ou então pela falta de interesse,
(Verderber & Fine, 2000). No entanto, a importância da noção de tempo para quem está
internado, bem como as questões relativas à privacidade, vem à tona por ocasião dos
estudos pessoa-ambiente nesse contexto, enfatizados por Baier (1995) e Devlin e Arneil
Tabela 6
Base para o projeto arquitetônico
Componentes Freqüência
Equipe médica 8
Normas 8
Congressos 2
Literatura 2
Pequegnat, 1991), os enfermeiros foram citados como os profissionais que mais sabem a
(...) principalmente o diretor do hospital e a equipe. Eles são a nossa linha mestra
para a gente seguir(...) a gente pede para conversar também com a enfermagem,
com a nutrição, porque são eles que lidam direto e tem mais informação (...) O
pessoal da enfermagem sabe melhor as necessidades dos usuários, porque lidam
diretamente com eles.(Arquiteto C)
84
Mas uma área que muito auxilia a gente, é a equipe de enfermagem, porque o
médico como cliente [do arquiteto] às vezes não consegue passar bem o que o
seu paciente precisa.(Arquiteto H)
lhes passam as instruções para o projeto. Já na rede pública, os médicos também fazem
forma, os arquitetos expressaram opiniões opostas no que diz respeito à participação dos
E a gente briga, realmente briga com os médicos, porque eles têm uma visão
muito do trabalho dele. Então ele quer espaço de trabalho e o arquiteto, além do
espaço de trabalho, quer criar um ambiente (...) para, não só o médico, mas para
o paciente. (Arquiteto B)
(...) eu procurei conversar muito com quem me contratou. Aí, tudo depende da
visão do empresário. Se ele tem uma visão humanizada, se ele está voltado para
o cliente ou se ele está voltado para o lucro. É complicado (...) (Arquiteto E)
equipamentos e funcionários presentes no hospital, não parece que são as atividades dos
médicos que devem se ajustar ao ambiente feito para o paciente, mas alguns elementos
outros aspectos.
médica, seja porque está só fazendo o seu trabalho, seja porque confia nas instruções do
seu cliente. O que há para se destacar é a relação estabelecida pelo arquiteto entre a
85
Quem não gosta de trabalhar num ambiente agradável, num ambiente mais
humano? Antigamente você entrava no consultório que não tinha nem janela.
Agora, como é que as pessoas conseguem trabalhar 4 horas presas sem janelas?
Então tem tido alguns avanços nisso aí. (Arquiteto D)
O médico, que é o cliente indireto, não vai ser tratado, mas vai utilizar o espaço.
Vai tratar, vai operar, vai utilizar outras áreas do hospital e não o quarto.
(Arquiteto G)
nos quais o médico circula ou “ocupa” com mais freqüência. Até então, segundo
aspectos comentados pelos próprios arquitetos, esse parecia ser um movimento somente
Vimos nos capítulos introdutórios (Focault, 1979; Ribeiro, 1993) que, a partir do
momento em que o médico passou a exercer suas funções no hospital e este último
passou a contribuir para a eficiência das atividades, estava firmado o compromisso com
a recuperação do paciente, mesmo que a cura não fosse alcançada. Seguindo esse
raciocínio, como o espaço físico poderia trazer alguma conseqüência negativa para o
contratou e todos os outros que utilizarão o espaço, entre eles, o paciente. Para esse
dilema parece não haver outra solução senão as discussões sobre o assunto entre as
86
partes envolvidas. Segundo autores como San Juan (1998), por exemplo, esse conflito
Na realidade a gente parte da direção e das pessoas que estão mais próximas da
direção; são elas quem nos orienta. A gente pergunta muito mais no sentido
prático da coisa do que no sentido da humanização. (Arquiteto D)
Entre esses entrevistados, também merece ênfase a relação existente entre o sucesso dos
pressupõe a volta do arquiteto ao local por ele projetado. Porém, contrariando minhas
Tabela 7
Motivos para ter retornado ao edifício
Motivos Freqüência
Reforma 5
Precisou dos serviços de saúde 1
Trabalha no local 1
Não retornou ao local 1
87
verificar se o que foi projetado está dentro das expectativas iniciais; se vale a pena ser
reproduzido; em que circunstâncias isso pode ser feito e se está agradando aos usuários.
Eu já voltei, mas não com esse objetivo. Voltei como usuária. (...) O projeto era
nosso e aí eu me coloquei do outro lado, né? A intenção não era analisar, mas
como usuário a gente termina fazendo isso.(Arquiteto A)
Eu voltei (...) porque a gente fez outros serviços, ampliações, reformas. Agora a
gente acabou de fazer uma ampliação. (...) por causa disso a gente começa a
conversar. (Arquiteto E)
possibilitam a visualização em uso do que foi planejado e é uma forma de aprender mais
Apenas um arquiteto insere-se numa situação distinta dos demais: como trabalha
(...) Na hora que põe para funcionar, tem sempre ajustes. Os ajustes são sempre
feitos pela equipe que trabalha aqui.(...) Algumas adaptações, quando não vêm
da equipe, vêm do cliente.(Arquiteto G)
Para esses dois arquitetos, é difícil incorporar aos hospitais da rede pública o
caso, os únicos elementos de projeto que já se encontram presentes nos hospitais da rede
pública são as cores e alguns mobiliários, como as cadeiras das salas de espera:
A gente está tentando mudar essa filosofia daqueles bancos de concreto para
colocar cadeiras móveis, para que as pessoas possam ter um pouco mais de
individualidade (...) O uso de cores já é uma realidade. Hoje dificilmente você
encontra um hospital branco como era antigamente. (Arquiteto D)
projetos hospitalares, mencionou que concorda com a sugestão feita pelo colega de
profissionais envolvidos neste movimento, assim como as pessoas que usufruem do seu
produto, são seres humanos, aspecto já comentado neste trabalho (DeMarco, 2003;
Deslandes, 2004).
como profissional e como se essa já fosse uma realidade. Pode até ser em alguns casos,
mas não foi isso que os arquitetos mencionaram quando se colocaram na posição de
paciente ou acompanhante.
ou não, humanizado parece ilustrar muito bem a abrangência do termo. Isso porque,
segundo ele, apesar do projeto estar dentro das normas e ter todos os elementos
considerados por ele como expressão da humanização, a instituição faz distinção entre
também colabora para essa segregação porque foi executado dentro desse padrão.
para a gente fazer, é muito chato”. Tem o lado cultural também, que as pessoas
se acham superiores a outras e aí, pessoas também que são de baixa renda, têm
pouca cultura e às vezes tumultuam um pouco o ambiente. É muito difícil você
avaliar isso. (...) não sei nem se não está humanizado por causa disso, mas a
tradição é separar e de qualquer forma existe isso.(Arquiteto E)
A partir desse relato, podemos perceber que a humanização envolve mais do que
um projeto bem feito, dentro das normas, com especificação de materiais de acabamento
O principal é mais que uma legislação, mais do que exigências, normas; passa
por uma questão ética. Após a ética entra o objetivo do hospital. O que você vai
faturar é conseqüência disso e também ter uma população atenta para exigir a
melhoria e a qualidade, porque se a população não ficar atenta, o Governo só
não vai resolver o problema.(Arquiteto F)
Isto posto, vemos que, se por um lado, a maior parte dos arquitetos concentram
seus relatos nas mudanças da aparência dos novos hospitais, por outro, percebem que o
humanização. Além disso, com os dois últimos depoimentos, vemos que alguns
arquitetos enxergaram seus projetos com uma visão mais crítica e perceberam que o
processo inclui aspectos que estão fora do limite do seu trabalho, embora relacionados a
ele.
8. Considerações finais
hospitalar. Para tanto, além das entrevistas com os arquitetos, a construção deste estudo
contou com outras evidências empíricas, como conversas com profissionais de saúde e a
91
informações, foi possível refletir sobre as circunstâncias que deram origem a todo esse
envolve uma série de aspectos que perpassam pelas discussões a respeito das práticas de
saúde e das atitudes dos profissionais frente aos processos saúde-doença e às relações
estabelecidas com seus pacientes. Essa é a idéia mais explícita quando relacionamos os
anteriormente, parece não haver ainda, nas ciências médicas, a crença nos benefícios
humanização, acreditando que seus trabalhos traduzem parte desse movimento. A outra
parte estaria nas mãos dos profissionais de saúde, que ainda não conseguiram humanizar
no IV Encontro por uma Medicina mais humana, no dia 31/05/2003. Lembro-me muito
bem quando ela expressou sua decepção ao ver que todo esse movimento nada mais era
do que a busca de algo que é uma obrigação dos profissionais da saúde. Segundo seu
nessa área. De fato, como vimos neste trabalho, o termo parece óbvio, mas seu uso vem
país no qual não há um sistema único e igualitário, também não pode haver uma
e ver de perto o que eu só ouvia falar sobre o PNHAH. O acesso a esses hospitais é
corredores é um aspecto marcante. O ritmo das pessoas parece mais acelerado do que
nos estabelecimentos particulares, talvez pela falta de espaço disponível para tanta
médicos, incluindo os de caráter não emergencial, podem ser realizados na sua presença
93
e na de quem estiver no local. Nesse caso, o que não compreendi foi como um
atendimento dito “humanizado” pode ter sido feito sem que a equipe médica e de
a presença de tantas pessoas ao seu redor. Até que ponto o atendimento é de fato
“humanização”?
Aqui, cabe uma ressalva. A princípio, poderíamos dizer que o hospital, assim
como qualquer outro estabelecimento dessa categoria, não é condição para a promoção
da saúde. Dessa forma, a humanização que trago à tona também não deveria ser da
determinados locais, mas às atitudes dos profissionais. Porém, como o PNHAH surgiu
inicialmente suas ações e nada impede que continue funcionando com essa
denominação.
para realizarmos nosso trabalho. Vimos no decorrer deste estudo que o edifício de
atenção à saúde passou – e ainda passa - por diversas mudanças ao longo do tempo e
teve seu funcionamento repensado em função dos avanços científicos da área e das
tinham sido escondidas pela tecnologia, pelo excesso de funcionalidade dos edifícios e
pelos modelos universais, como se todos tivessem mais ou menos o mesmo padrão. De
desempenhadas, o edifício hospitalar passa, mas ainda em pequena escala no nosso país,
94
bem-estar a todos os usuários do ambiente. Mas não é só isso. Quando, por exemplo, os
das respostas dos entrevistados, percebi que os elementos de ligação entre os blocos que
uma “receita de como deve ser decorado o hospital”, mas de outros componentes
determinam sua humanização, mas as respostas dos usuários a todo esse conjunto, cenas
Humanização
Hospitalar
Respostas
ligadas à
humanização do
Hospitais Públicos e ambiente físico: Passado e Presente
Privados Bem-estar
Agradável
Aconchegante
Projeto
Arquitetônico
9. Referências
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utilization and consumer satisfaction. Journal of Environmental Psychology, 21, 301-
314.
101
APÊNDICE A
Roteiro de entrevistas
1. Da sua experiência nos hospitais por onde você já esteve (como paciente ou como
acompanhante), quais os pontos positivos dessa experiência? E os negativos?
8. Em relação ao item anterior, já que seu cliente não é o usuário do ambiente, em que
você se baseou ou com quem você conversou antes ou durante o processo projetual?
9. E depois que o edifício ficou pronto, você chegou a verificar se estava atendendo às
suas expectativas? (Se sim, como fez isso e se não, por que)
102
APÊNDICE B
Hospitais de Natal/RN