2018 - Novela, Albertina Orlínia Jaime

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Departamento de Organização e Gestão da Educação

Análise do Abandono Escolar nas Zonas Rurais: O caso da Escola Primária


Completa Chigubuta “B” no Distrito de Namaacha, 2014-2016

Monografia

Albertina Orlínia Jaime Novela

Monografia apresentada à Faculdade de Educação em cumprimento dos requisitos parciais para a


obtenção do grau de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação.

Maputo, Dezembro de 2018


FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Departamento de Organização e Gestão da Educação

Análise do Abandono Escolar nas Zonas Rurais: O caso da Escola Primária


Completa Chigubuta “B” no Distrito de Namaacha, 2014-2016

Licencianda: Albertina Orlínia Jaime Novela


Supervisora: Dra. Ana Maria Fijamo Uarrota

Maputo, Dezembro de 2018


1
Comité de júri

Presidente
------------------------------------------------
Supervisor
------------------------------------------------
Oponente
------------------------------------------------

i
Declaração de Honra

Eu, Albertina Orlínia Jaime Novela, declaro por minha honra que esta monografia nunca foi
apresentada, na sua essência, para a obtenção de qualquer grau e que constitui o resultado da
minha investigação pessoal, estando no texto e na bibliografia as fontes utilizadas.

--------------------------------------------------------

(Albertina Orlínia Jaime Novela)

Maputo, Dezembro de 2018

ii
Agradecimentos

Os meus especiais agradecimentos a:

À Deus por ter zelado por mim desde o início desta jornada até o presente momento. À minha
família maravilhosa que sempre estive comigo quando precisei durante o período da minha
formação.

Aos meus pais, pela dedicação, esforço e sobre tudo, por me terem proporcionado uma boa
educação desde criança. Agradeço igualmente, aos docentes do curso de Licenciatura em
Organização e Gestão da Educação da Universidade Eduardo Mondlane, por me terem
transmitido o perfil adequado a um profissional de educação e, em especial, a minha
Supervisora, DrªAna Fijamo, por ter contribuído em larga medida na transmissão de
conhecimentos que culminaram com a elaboração do presente trabalho.

Este agradecimento estende-se a todos os meus colegas do curso de Licenciatura em


Organização e Gestão da Educação pela peculiaridade de serem como são e pelas discussões e
debates ao longo da formação.

Agradeço também a todos os amigos que me apoiaram na realização do trabalho, ao pessoal da


EPC de Chigubuta (director e professores) e aos pais e encarregados de educação por me terem
transmitido informações relacionadas com o fenómeno de abandono escolar, que foram bastante
valiosas na elaboração do presente trabalho.

iii
Abreviaturas
EP1 …………………………….………………………………… Escola Primária do 1º Grau

EPC ………………………….…………….……………………… Escola Primária Completa

ODM …………………………………………… Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

PEEC ……………………………….……………... Plano Estratégico de Educação e Cultura

PQG ………………………………….……………..……. Programa Quinquenal do Governo

SNE ………………………………………….………………. Sistema Nacional de Educação

iv
Resumo
O presente trabalho analisa o fenómeno de abandono escolar nas zonas rurais, tomando como
estudo de caso a Escola Primária Completa de Chigubuta ʺBʺ, localizada no Distrito da
Namaacha, no Sul da Província de Maputo. A pesquisa baseou-se na combinação de metodologia
quantitativa e qualitativa, tendo como principais questões de fundo perceber os factores que
influenciam o abandono escolar e as estratégias adoptadas para a sua redução na escola em
alusão. Da análise de dados concluiu-se que este fenómeno ganha contornos alarmantes nesta
escola. Ao longo da pesquisa foi possível perceber que a substituição da escola pelo trabalho
infantil e a falta de condições financeiras das famílias levam as crianças a procurar pelo emprego
fora da sua povoação, causando a sua desvinculação com a escola. Este fenómeno atinge mais as
raparigas em detrimento dos rapazes.

Palavras-chave: Abandono escolar, Ensino Primário, Zona Rural, Educação.

v
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
1.1. Contextualização .............................................................................................................. 2
1.2. Problema........................................................................................................................... 3
1.3. Objectivos......................................................................................................................... 5
1.4. Perguntas de pesquisa....................................................................................................... 5
1.5. Justificativa....................................................................................................................... 5
1.6. Estrutura do trabalho ........................................................................................................ 6
2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 7
2.1. Fundamentos sobre a importância da educação ............................................................. 10
2.1.3. Causas do abandono escolar ....................................................................................... 13
2.2. Quadro conceptual............................................................................................................ 7
3. METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................... 16
3.1. Tipo de pesquisa ............................................................................................................. 16
3.2. Método de abordagem-metodológica ............................................................................. 16
3.3. Método de Procedimento ............................................................................................... 16
3.4. Técnicas de Recolha de Dados ....................................................................................... 17
3.5. Amostra da Pesquisa ...................................................................................................... 18
3.6. Tratamento de dados ...................................................................................................... 19
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ..................................................................... 20
4.1. Caracterização da EPC de Chigubuta B ......................................................................... 20
4.2. Factores que influenciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B ........................ 20
4.3. Nível de abandono escolar na EPC de Chigubuta B ...................................................... 26
4.4. Estratégias adoptadas pela Direcção da EPC de Chigubuta B para reduzir o abandono
escolar........................................................................................................................................ 27
5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ............................................................................... 29
5.1. Conclusão ....................................................................................................................... 29
5.2. Recomendações .............................................................................................................. 30
6. Referências bibliográficas ..................................................................................................... 31
Apêndices
CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi realizado no cumprimento dos requisitos para obtenção do grau de
licenciatura em Organização e Gestão da Educação e procura analisar o fenómeno do abandono
escolar na Escola Primária Completa de Chigubuta B, localizada no Distrito de Namaacha na
Província de Maputo.

O abandono escolar é um tema que ocupa maior debate na actualidade e, literalmente pode ser
entendido como uma relegação das actividades escolares sem que o aluno tenha completado o
percurso obrigatório e/ou atingindo a idade legal para o fazer.

De acordo com Caetano (2013), na actualidade considra-se abandono escolar quando os alunos
que por algum motivo não palpável deixam de frequentar a escola, ou por outro, abandono
escolar refere-se aos alunos que frequentam a escola e num determinado período do ano lectivo
abandonam os estudos para se dedicarem em outras actividades de natureza caseira como por
exemplo o comércio, o casamento prematuro entre outras actividades.

A luta pela redução do abandono escolar é também uma luta pela erradicação do analfabetismo
que o governo manifesta desde a introdução do Sistema Nacional de Educação (SNE). PEEC
(2012-2016) projectou como um dos seus objectivos, reduzir o abandono escolar. Porém, este
fenómeno tende a ganhar maior espaço não se sabendo a verdadeira causa do seu surgimento,
não obstante a preocupação pela redução dos níveis do abandono escolar que se reflecte nas
políticas, estratégias e acções do sector da educação nos diversos níveis.

Embora se perceba que o abandono escolar é um factor de retrocesso ao desenvolvimento social


e cultural do país, ainda continua a atingir níveis extremamente preocupantes, principalmente nas
zonas rurais. É por esta razão que este estudo incide sobre uma escola localizada no meio rural a
fim de perceber as motivações deste fenómeno.

1
1.1. Contextualização

Moçambique, como outros países africanos (ex-colónias portuguesas) teve sua independência na
década de 1970 e na altura, era considerado um dos países culturalmente mais atrasado do
continente e da região, com uma taxa de analfabetismo de 93%, o que significa dizer que à altura
da proclamação da independência, poucos moçambicanos sabiam ler e escrever, que corresponde
a 7%.

Para se sobressair dessa situação, foi desde então incumbido o Ministério da Educação e Cultura
uma dura missão de erradicar o analfabetismo através de extensão da rede escolar, para que todas
crianças em idade escolar pudessem ter acesso ao ensino.

Para uma acção concertada com os objectivos do governo para o sector da educação, várias
reformas começaram, desde então, a ser introduzidas, cujo principal marco foi a aprovação pela
então Assembleia Popular, da primeira Lei do SNE1, que tinha como principal objectivo
proporcionar a todo o povo, o acesso ao conhecimento científico e o desenvolvimento pleno das
suas capacidades.

Com a introdução do SNE em 1983 e sua revisão em 1992, verificou-se avanços no sector da
educação. O Plano Estratégico da Educação 2012-2016 apresenta esses avanços em três
períodos, a saber: 1975-1981, 1981-1992 e 1992- a actualidade.

1975 - 1981

Neste período assistiu-se a uma forte expansão da rede e dos efectivos escolares2, como resultado
da nacionalização da Educação no período pós independência;

1981 – 1992

Esta fase corresponde ao período do conflito armado, no qual se verificou a redução significativa
da rede escolar3 e uma estagnação do número de alunos devido ao crescente abandono escolar
motivado pela fuga das famílias das zonas com maior tensão armada.

1
Lei nº 4/83, de 23 de Março.
2
Em 1975, havia 600.000 crianças e jovens nas escolas, contingente que, em 1980 (ano do primeiro recenseamento
nacional pós-independência), atingia já 2.3 milhões de crianças e jovens.

2
1992 à actualidade

A partir desta fase, com a assinatura do Acordo de Paz, até aos nossos dias, voltou-se a registar
uma sublinhada tendência de expansão da rede e dos efectivos escolares4.

Embora o número dos efectivos escolares demonstrem tendências de subida no período pós-
guerra civil, o sector da educação debate-se com problemas crónicos para retenção dos alunos no
ensino primário, sobretudo nas zonas rurais, onde não raras vezes a educação é relegada e
substituída pelo trabalho infantil.

1.2. Problema

Moçambique assume como um dos objectivos do Sistema Nacional de Educação, erradicar o


analfabetismo de modo a proporcionar a todo o povo o acesso ao conhecimento científico e o
desenvolvimento pleno das suas capacidades.

Nessa perspectiva, o PQG (2015-2019), preconiza que a educação escolar básica é indispensável
para dar continuação da construção de uma sociedade moçambicana, baseada nos ideais da
liberdade, da democracia e da justiça social, e também como instrumento principal da formação e
preparação da juventude para a sua participação efectiva na edificação do país.

O PEEC (2012-2016) deu igualmente maior prioridade à educação básica, no âmbito do


cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) que estabelecia que até
2015, todas crianças em idade escolar pudessem ter acesso universal à escolarização primária
gratuita, obrigatória e de boa qualidade.

O plano acima referido, levava na agenda das suas prioridades a inclusão e equidade no acesso e
"retenção dos alunos" na escola bem como a melhoria da aprendizagem destes nos diversos
subsistemas de ensino.

3
No período de 1981 a 1987, foram encerradas aproximadamente 50% das escolas primárias, 13% da rede escolar
secundária, 22.5% dos centros de formação de professores e vários centros ou unidades de alfabetização de adultos.
Em 1992, o ensino primário contava com apenas 1.2 milhão de alunos, um número equivalente ao existente em
1983.
4
A partir de 1992, o número de alunos passou de 1,2 milhões para 4,4 milhões (2011) no EP1, e de 130 mil para 871
mil no EP2 (2011).

3
Atendendo que na agenda do governo, o ensino primário completo é obrigatório conforme
estabelecem os Planos Estratégicos do Sector da Educação e que esforços conjuntos são
empreendidos desde o ministério até as direcções de escolas com vista a retenção dos alunos nas
classes iniciais, o problema que se verifica é que os índices de abandono escolar continuam
sendo assustadores, principalmente nas escolas localizadas no meio rural.

“Em muitas escolas do país tem se verificado a cada ano que passa a desistência dos
alunos das escolas. Este fenómeno tem acontecido no segundo e terceiro trimestre, uma
vez que só resta um trimestre para o fim do ano lectivo. Não se percebendo a real causa
motivadora do abandono escolar e, isso tem influenciado negativamente no plano do
governo na redução do analfabetismo em Moçambique, porque os alunos desistem
mesmo antes de concluir o Ensino Primário que é de carácter obrigatório e gratuito”
(Caetano, 2013:2).

Esta realidade inquieta as autoridades governamentais na medida em que o abandono escolar


continua sendo a razão que justifica os altos índices do analfabetismo que se verifica nas zonas
rurais.

No caso da Escola Primária Completa de Chigubuta B, as taxas de abandono escolar são também
assustadoras, com maior incidência para as raparigas. Aliás, tendo em conta o período em análise
(2014-2016) a informação pedagógica desta escola revela que (do universo de 2424 raparigas
matriculadas, 158 interromperam os seus estudos) e (do universo de 1668 rapazes matriculados
no mesmo período, 32 interromperam os seus estudos).

Estes dados deixam muito a desejar sobre aquilo que são os objectivos estratégicos do sector da
educação no que concerne à retenção dos alunos no sentido de concluírem pelo menos as sete
primeiras classes gratuitas e obrigatórias no nosso Sistema Nacional de Educação.

Diante da situação problemática acima exposta, a presente pesquisa procura responder a seguinte
questão de partida: Quais são as causas do abandono escolar na Escola Primária Completa de
Chigubuta B?

4
1.3. Objectivos
1.3.1. Geral

Analisar o abandono escolar na Escola Primária Completa de Chigubuta B no Distrito de


Namaacha.

1.3.2. Específicos:

 Identificar os factores que influenciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B.


 Descrever o nível de abandono escolar na EPC de Chigubuta B.
 Identificar as estratégias adoptadas pela Direcção da EPC de Chigubuta B para reduzir o
abandono escolar.

1.4. Perguntas de pesquisa

Como forma de dar resposta aos objectivos acima mencionados temos como base as seguintes
perguntas de pesquisa:

 Quais são os factores que influenciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B?


 Qual é o nível de abandono escolar na EPC de Chugubuta B?
 Que estratégias a Direcção da EPC de Chigubuta B adopta para a redução do abandono
escolar?

1.5. Justificativa

Em Moçambique, a educação é um direito que deve ser assegurado pelo Estado aos cidadãos na
sua responsabilidade de combate ao analfabetismo. Por esta razão, o Sistema Nacional de
Educação concebe o ensino primário como gratuito e obrigatório para todos os cidadãos.

Assim, desde os primeiros anos da independência moçambicana, as políticas do sector da


educação sucedem-se e sua preocupação actual tem sido a retenção dos alunos na escolarização.
Entretanto, as taxas de abandono escolar continuam a preocupar com maior incidência nas zonas
rurais.

Dependendo da realidade de cada região, tendo em conta que a sociedade moçambicana é


heterogenia, as causas que explicam o abandono escolar são múltiplas e variáveis. Sendo assim,

5
pesquisar sobre "Abandono Escolar nas Zonas Rurais: O caso da Escola Primária Completa
Chigubuta B, 2014-2016", julgamos ser um tema que merece uma reflexão académica a fim de
analisar este fenómeno nas escolas localizadas no meio rural.

Este tema é relevante do ponto de vista científico na medida em que procura enriquecer o debate
e compreender o abandono escolar, sendo uma questão que preocupa todos os actores envolvidos
no sistema de educação. Do ponto de vista prático, este tema é também relevante pois, a partir do
estudo de caso seleccionado, serão sugeridas medidas com vista a reduzir o abandono escolar.

E de ponto de vista pessoal, pesquisar sobre este tema é relevante, não apenas por ser estudante
do Curso de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação, mas também como profissional
do sector da educação é fundamental ter a visão sobre as motivações por detrás do abandono
escolar.

E a delimitação temporal da pesquisa (2014-2016) justifica-se pela necessidade de verificar o


nível de abandono escolar, tendo em conta que 2015 foi declarado tanto nos Objectivos do
Desenvolvimento do Milénio, como nos Planos Sectoriais da Educação como o ano limite em
que deveriam estar criadas as condições para o acesso universal e a retenção das crianças em
idade escolar no sistema de ensino.

1.6. Estrutura do trabalho

Qualquer trabalho de pesquisa requer uma organização com vista a facilitar a sua leitura e
compreensão e este não foge à regra. Assim, tendo em conta os objectivos preconizados, o
presente trabalho estrutura-se em quatro capítulos. O primeiro capítulo aborda questões
meramente introdutórias que sustentam a pertinência da pesquisa efectuada nos meandros
acadêmicos. Especificamente, são apresentados neste capítulo os seguintes elementos:
contextualização, problematização, objectivos da pesquisa e justificativa.

O segundo capítulo trata da revisão da literatura, onde são abordados questões como causas do
abandono escolar, suas consequências, bem como são definidos vários conceitos tais como:
abandono escolar, ensino primário e zona rural. O terceiro capítulo trata da metodologia de
investigação e o último trata da análise de dados, concluão e recomendações, tendo em conta as
constatações do trabalho de campo (EPC de Chigubuta B).

6
CAPÍTULO II

2. REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo trata da revisão da literatura e dos conceitos básicos. Na visão de Hart (1998), a
revisão da literatura tem como objectivo demonstrar competência para a pesquisa, entendimento
do fenómeno e justificar a pertinência do estudo. Assim, consideramos que para entendermos
melhor o objecto deste estudo é necessário fazer uma abordagem teórica sobre os conceitos-
chave da pesquisa.

2.1. Quadro conceptual

A definição de conceitos básicos é fundamental para a compreensão do problema da pesquisa.


Para esta pesquisa considera-se os seguintes conceitos: educação, abandono escolar, ensino
primário e zona rural.

2.1.1. Educação

Na concepção de Flowers et al (2000), educação é toda a aprendizagem que desenvolve o


conhecimento, as capacidades e os valores dos direitos humanos, que promove a equidade, a
tolerância, a dignidade e o respeito pelos direitos e pela dignidade dos outros.

O mesmo conceito é discutido por Durkheim (2011), para que educação é o esforço das gerações
adultas em moldar as gerações mais jovens, fazendo com que estas aprendam a funcionar em
sociedade.

Para Brandão (2005), educação é uma prática social cujo fim é o desenvolvimento do que na
pessoa humana pode ser aprendido entre os tipos de saber existentes numa cultura, para a
formação de tipos de sujeitos, de acordo com as necessidades e exigências de sua sociedade.

Este autor afirma ainda que, a educação é um dos meios de realização de mudança social, assim
tendo como finalidade a de promover a transformação social. A ideia de educação está também
associada a noção de escola, tal como se explica:

"A educação é uma educação formal capaz de humanizar, instruindo os homens que não
nascem com aptidões, sua natureza é dada de acordo com as condições de vida e
mediações específicas para seu desenvolvimento enquanto ser humano, portanto a

7
mediação estabelecida no interior da escola precisa ser de fato uma mediação que visa à
humanização do homem, por meio de aprendizagens significativas" (BUENO et al,
2013:354).

Embora a educação possa ser definida de diversas formas conforme se acabou de expor, quase
todos os autores convergem no facto dela servir como meio de transformação dos indivíduos
como sujeitos de direitos e deveres na sociedade.

Ademais, a discussão em torno deste conceito evidencia o facto de a educação basear sempre nos
valores de cada sociedade. Nesse processo, a escola é indispensável, pois, é o espaço da
transformação do individuo de modo a ajustar o seu comportamento às necessidades da
sociedade como todo.

2.1.2. Abandono escolar

O conceito de abandono escolar é muito discutido na actualidade, principalmente pelas


autoridades de educação e por aqueles que delas fazem parte. Segundo Rosa (2004) apud
Oliveira (2009:66), abandono escolar é um conceito aplicável aos jovens que, por imperativo
legal, deveriam estar na escola mas não estão.

Para Benavente et al, (1994), o abandono escolar corresponde ao abandono das actividades
escolares sem que o aluno tenha completado o percurso obrigatório e/ou atingindo a idade legal
para o fazer. Na perspectiva de Tavares (1990), o abandono escolar se concretiza no final do ano
lectivo por razões que não sejam a transferência ou a morte.

Já na visão de Mucopela (2016), a definição do abandono escolar centra-se no aspeto oficial ao


observar que,

"Na maioria dos casos, o abandono escolar define-se estritamente pela não frequência
escolar em idade definida como obrigatória. Por exemplo, no contexto europeu, o
abandono escolar define-se exactamente pela não frequência escolar em idade definida
como obrigatória, idade que pode variar entre os 15 (Alemanha, Áustria e Bélgica) e os
18 anos (Portugal, Holanda e Hungria). Neste caso, o abandono escolar surge ligado aos
objectivos e metas traçados pelas instituições nacionais, materializados num limite de
escolaridade compulsiva e universal, evoluindo de acordo com a instituição formal de
períodos ou idades de escolarização obrigatória cada vez mais longos".

Esta visão mostra não haver consenso entre os critérios para determinar se um determinado
afastamento da escola é ou não abandono escolar. Entretanto, é necessário observar que
independentemente do critério adoptado, o abando escolar implica interrupção dos estudos por
8
motivos diferentes a doença ou morte, pois, assim chamar-se-ia desistência. Desta forma,
abandono significa a não conclusão de um determinado nível de ensino obrigatório pelo aluno.

Todas as definições apresentadas se enquadram na abordagem adoptada nesta pesquisa na


medida em que convergem na ideia de que abandono escolar significa a não conclusão, seja por
desistência ou mesmo falta de frequência do nível de escolaridade obrigatório.

2.1.3. Ensino primário

Em Moçambique, o ensino primário é definido como a educação básica ou ensino básico e


corresponde ao nível de ensino correspondente aos primeiros anos de educação escolar ou
formal.

Na visão de Tavares (1990), o ensino primário corresponde, consoante o sistema educativo que o
ministra, a um conjunto específico de anos de escolaridade, correspondendo, na generalidade dos
casos, aos primeiros quatro a nove anos.

Para o autor, alguns sistemas educativos, em particular os de países em desenvolvimento,


incluem na educação básica a educação pré-escolar e os programas de ensino de segunda
oportunidade destinados à alfabetização de adultos.

E na visão de Ferreira (2003), ensino primário designa o conjunto de actividades educativas,


formais e informais, destinadas a satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, em geral
correspondentes aos primeiros estágios do processo de alfabetização. Olhando para estas
definições percebe-se que o ensino primário é a designação dada às primeiras classes do sistema
de ensino de qualquer país.

2.1.4. Zona rural

Para Candiotto e Corrêa (2008) apud Lindner et al (2009), o conceito de zona rural inclui
aspectos como a territorialidade de indivíduos e grupos sociais, tanto socioculturais, como
económicas e/ou políticas. Seguindo Sorokin (2010) existem determinados traços que
caracterizam as zonas rurais, que estão assente na dimensão económica. Para este, zona rural
seria aquela que se caracteriza pela produção de alimentos através da criação de plantas e de
animais. O autor explica o conceito de zona rural assenta nas seguintes características:

9
i) Os habitantes ocupam-se com agricultura (cultivo de plantas e criação de animais);
ii) As pessoas trabalham ao ar livre e estão em contacto com a natureza;
iii) A densidade populacional é muito baixa;
Com base nos autores supracitados a zona rural é uma zona de carência tratando-se de uma zona
ou sociedade pré-industrial sendo uma zona oposta a urbana, pois esta última é caracterizada pela
maior densidade populacional e industrial.

2.2. Fundamentos sobre a importância da educação

Segundo Cury (2002), o Direito à Educação Escolar é fundamental porque permite assegurar o
desenvolvimento socioeconómico, político e cria consciência cívica aos cidadãos de um
determinado país. O autor defende igualmente na sua abordagem que o direito à educação
escolar é um pré-requisito necessário da liberdade civil e, como tal, um pré-requisito do exercício
de outros direitos.

Num outro ponto de vista, Rizzi et al (2011), referem que o direito à educação escolar permite
aos cidadãos desenvolverem-se e continuarem aprendendo ao longo da vida e, também é um bem
público da sociedade.

Considerando as ideias dos autores acima, mostra-se necessidade do Estado intervir como
provedor de igualdade de acesso à educação escolar aos cidadãos na base de políticas
específicas. Cury (2002:249), defende que:

“A ligação entre o direito à educação escolar e a democracia terá a legislação como um


de seus suportes e invocará o Estado como provedor desse bem, seja para garantir a
igualdade de oportunidades, seja para, uma vez mantido esse objectivo, intervir no
domínio das desigualdades, que nascem do conflito da distribuição capitalista da
riqueza, e progressivamente reduzir as desigualdades”.

Em Moçambique, a CRM (2004, art.88, n.º 1 e 2), preconiza que a educação constitui direito e
dever de cada cidadão e que o Estado promove a extensão da educação à formação profissional
contínua e a igualdade de acesso de todos os cidadãos ao gozo deste direito.

Portanto, a educação é um direito fundamental de todo o cidadão e constitui um instrumento para


a afirmação e inserção do indivíduo na vida social, política e económica de Moçambique5.

5
Cf. Estratégia de Alfabetização e Ensino de Adultos (2010-2015).

10
Nivagara (2013) avança que, o governo de Moçambique assume como um dos objectivos do
Sistema Nacional de Educação erradicar o analfabetismo de modo a proporcionar a todo o povo
o acesso ao conhecimento científico e o desenvolvimento pleno das suas capacidades.

Na mesma perspectiva, o PQG (2015-2019), preconiza que a educação escolar é indispensável


para dar continuação da construção de uma sociedade moçambicana, baseada nos ideais da
liberdade, da democracia e da justiça social, e também como instrumento principal da formação e
preparação da juventude para a sua participação efectiva na edificação do país.

Em suma, todos os fundamentos sobre a importância da educação mostram a necessidade dela


ser assegurada pelo Estado por ser um direito de todos os cidadãos. Desta forma, é imperioso que
o Estado e demais actores envolvidos no sistema de educação coloquem como desafio, a redução
dos índices de abandono escolar com vista a assegurar o analfabetismo e a construção de uma
sociedade justa e assente nos valores morais.

2.2.1. Características do direito à educação

Cada país tem liberdade para definir como oferecerá à população o acesso à educação e ao
ensino. Para Rizzi et al (2011), em qualquer país o direito à educação tem como características as
seguintes:

i) Disponibilidade – significa que a educação gratuita deve estar à disposição de todas as


pessoas;
ii) Acessibilidade – significagarantia de acesso à educação pública, disponível sem qualquer
tipo de discriminação;
iii) Adaptabilidade –requer que a escola se adapte a seu grupo de alunos; que a educação
corresponda à realidade das pessoas, respeitando sua cultura, costumes, religião e
diferenças; assim como possibilite o conhecimento das realidades mundiais em rápida
evolução;
iv) Aceitabilidade – significa que o Estado está obrigado a assegurar que todas as escolas se
ajustem aos critérios qualitativos elaborados e a certificar-se de que a educação seja
aceitável tanto para as famílias como para os alunos.

11
2.2.2. Perspectivas do direito à educação

O direito à educação encontra-se subdividido em perspectivas com especificidades de


significados, que compreendem, ao que afirma Gonçalves et al (2005), os seguintes:

i) O direito à educação numa perspectiva legal: O direito à educação é visto como o


direito a frequentar a escola, que deve ser obrigatório e grátis no seu nível elementar e
fundamental.
ii) O direito à educação numa perspectiva ética: A perspectiva ética reflecte sobre o direito
à educação enquanto direito humano, centrando-se naquilo que justifica a proclamação da
educação como um direito disponível a todos.

iii) O direito à educação numa perspectiva pedagógica: Segundo esta perspectiva, cada ser
humano está integrado num contexto específico, o desenvolvimento individual não pode
ser separado dos conteúdos educacionais, pois o direito à educação ultrapassa os limites
da escola, alvejando a participação do indivíduo num ambiente de interpretação.

De acordo com a Convençãosobre os Direitos da Criança, o direito àeducação abrange a


obrigação não apenasde proporcionar acesso a educação, mastambém de eliminar a
discriminação a todos os níveis, definir padrões mínimos e melhorar a qualidade. Além disso,a
educação constitui uma importante prioridade do desenvolvimento global.6

Segundo Rizzi et al (2011), o direito à educação tem um sentido amplo, não se refere somente à
educação escolar. O processo educativo começa com o nascimento e termina apenas no momento
da morte. A aprendizagem acontece em diversos âmbitos, na família, na comunidade, no
trabalho, no grupo de amigos, na associação e também na escola.

E Moreira (2012) afirma que para se assegurar o direito a educação, os Estados têm a obrigação
de respeitar, proteger e implementar o direito à educação. A obrigação de respeitarproíbe o
Estado de agir em contravenção de reconhecidos direitos e liberdades, interferindo ou
constringindo o exercício de tais direitos e liberdades. Os Estados devem em coordenação,
respeitar a liberdade dos pais de escolher escolas privadas ou públicas para os seus filhos e de

6
http://www.unicef.org.mz, consultado 28 Abril 2018.

12
assegurar a educação religiosa e moral das suas crianças, em conformidade com as suas próprias
convicções.

Por fim, Cury (2002), afirma que a educação é uma das coisas que é admissível, em princípio, ao
governo ter de proporcionar ao povo. Trata-se de um caso ao qual não se aplicam necessária e
universalmente as razões do princípio da não-interferência, é pois, um exercício legítimo dos
poderes do governo impor aos pais a obrigação legal de dar instrução elementar aos filhos.

Enfim, seguindo esta perspectiva pode-se entender que a tarefa de garantir a continuidade dos
estudos das crianças até à conclusão do nível elementar não é apenas do Estado, mas antes dos
pais e/ou encarregados de educação.

2.2.3. Causas do abandono escolar


Relativamente aos factores que estão na base do abandono escolar pode-se adiantar, pegando na
afirmação de Jimerson (1999), que defende diversos factores, pertencendo a diferentes
dimensões da experiência humana, influenciam o abandono escolar. Assim, o autor explica o
impacto que os factores sociais e familiares podem ter para o abandono escolar.

Os factores socias, uma posição também defendida por Guerreiro 1998 apud Rosa (2013), estão
relacionados com as crenças dos pais, que podem em grande medida influenciar a construção da
personalidade e crenças dos filhos.

Dissertando em torno destes factores, Rosa (2013:34) é da opinião de que "o valor atribuído
pelos pais à escola e às aprendizagens vai influenciar a representação que os alunos fazem das
mesmas".

O autor vai mais adiante com a sua explicação e diz que a sociedade influencia na maneira como
as crianças olha para escola e consequentemente julgam a necessidade de permanecer ou não na
escola. Conclui na sua abordagem que uma sociedade rica culturalmente fornece à criança uma
diversidade de estímulos que lhe permite viver na escola uma continuidade do ambiente familiar
ao invés de vivenciar um fosso entre ambos.

No que concerne aos factores familiares, Machado (2011) apud Rosa (2013:36) considera que "o
ambiente familiar influencia o desenvolvimento do jovem, e pode contribuir para a afirmação e
permanência ou desistência da escola". Assim, para esta autora cabe à família garantir os

13
cuidados, afectos e valores adequados, assim como as normas de conduta que em conjunto
permitirão ao aluno atingir prestações mais elevadas.

Ainda a mesma fonte considera que alunos oriundos de famílias de nível socioeconómico e
cultural baixos apresentam valores mais notórios do abandono escolar precoce, fundamentado
através dos alunos pela necessidade de ingressar no mercado de trabalho e/ou pelas dificuldades
económicas da família. O que é muito característico nos bairros circunvizinhos da escola em
estudo.

Para terminar, a autora acredita que muitas das vezes a família não tem consciência que o seu
comportamento e atitudes prejudica o sucesso escolar dos filhos, todavia não é fácil para nenhum
professor, psicólogo ou director da escola comunicar este assunto abertamente aos pais, pois esta
situação provocaria certamente reacções de agressividade, ou por outro lado, de tristeza e
amargura, que indirectamente recairiam novamente sobre a criança.

Num outro ponto de vista, Machado (2007:312) considera que a relação conjugal entre os
progenitores afecta o comportamento e atitudes dos alunos. Assim considera-se, com base em
vários estudos, que as famílias cuja dinâmica foge ao tradicional (pais casados) podem contribuir
para que se instale um clima precário que leve a criança às baixas prestações, por exemplo
quando os pais da criança tendem mudar sempre de régios proporcionando transferências
frequente da criança pode fazer que o sucesso escolar da possa ser colocado em causa.

Por outro lado, o autor explica que numa situação em que os encarregados de educação da
criança não têm um emprego fixo, isto pode colocar a criança em eminência de abandono escolar
uma vez que a questão económica é importante na educação da criança.

Fora dos factores acima discutidos, Benavente et al (1994) fazem uma reflexão em torno das
zonas com maior registo de abandono escolar. Para eles, as periferias urbanas e as zonas rurais
são as mais atingidas pelo abandono escolar.

No mesmo estudo, adiantam que os filhos de trabalhadores agrícolas, de operários e de artesãos,


os filhos de emigrantes e os pertencentes a minorias étnicas como aqueles que mais
frequentemente abandonam a escolaridade obrigatória. E Almeida e Ferrão (2000) apontam

14
como principais causas de abandono escolar: a entrada precoce dos alunos na vida activa; as
situações de pobreza das famílias, e as distâncias entre escolas-casa e vice-versa.

2.2.4. Consequências do abandono escolar


Considerando todas as causas do abandono escolar anteriormente referidas, urge também a
necessidade de fazer referências as consequências que este fenómeno provoca nos mais variados
domínios. De acordo com Moroso (2003), o abandono escolar pode ter consequências físicas,
emocionais, socias e educativas.

i) Física – os alunos possuem um auto conceito depreciativo, pois, acham –se feios e
sem jeitos; Sentimentos de estigmatização (Auto – desvalorização)
ii) Emocionais – os alunos revelam problemas de comportamentos, sentimentos de
incompetência, danos de personalidade e de identidade, bem como a ausência de
construção de sonhos e projectos.

iii) Sociais - os alunos acham-se maus e revelam dificuldades de integração social. Ainda
no domínio social, o abandono escolar arrasta consigo consequências que se
correlacionam com o uso de drogas e álcool, com doenças sexualmente
transmissíveis, com início precoce da vida sexual, baixa auto-estima e auto-eficácia.

iv) Educativo - o abandono escolar é um fenómeno que causa prejuízos no campo


educativo, uma vez que as crianças que não concluem a escolaridade mínima, vão
engrossar a lista de analfabetismo e vão diminuir a lista dos que concluem a
escolaridade mínima, contribuindo, deste modo, para o insucesso escolar.

Com base no que se acabou de apresentar observa-se que o abandono escolar traz apenas
desvantagens que afectam a vida das pessoas de forma integrada, ou seja remete o individuo ao
analfabetismo pelo que essa pessoa provavelmente terá fracas capacidades de resolução de
problemas sociais, culturais, sanitários, económicos, políticos o que prejudica não só a vida dela,
assim como prejudica aos próximos e a nação em geral.

15
CAPÍTULO III

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo desenvolve-se a metodologia utilizada para a realização desta pesquisa, com
enfoque para o seu tipo, métodos de abordagem e de procedimento. De seguida, descrevem-se as
técnicas de recolha de dados e a forma do seu tratamento. Segundo Marconi e Lakatos (2008:83),
metodologia é “um conjunto das actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança
e economia, permite alcançar o objectivo - conhecimentos válidos e verdadeiro, traçando o
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”.

3.1. Tipo de pesquisa

Esta pesquisa é combinação da metodologia qualitativa e quantitativa. De acordo com Teixeira


(2005), na pesquisa qualitativa, o investigador procura reduzir a distância entre a teoria e os
dados, entre o texto e a acção, usando a lógica da análise fenomenológica, isto é, a compreensão
dos fenómenos pela sua descrição e interpretação.

Na pesquisa quantitativa, conforme este autor, o investigador utiliza descrição matemática como
uma linguagem, ou seja, a linguagem matemática é utilizada para descrever as causas de um
fenómeno, as relações entre variáveis, etc.

3.2. Método de abordagem-metodológica

A pesquisa baseou-se no método indutivo, que segundo Marconi e Lakatos (2008) é um método
de análise que parte do particular para o geral. O uso do método indutivo nesta pesquisa reflecte
a necessidade de a partir de um estudo realizado numa escola (EPC de Chigubuta B), se possa
perceber o fenômeno de abandono escolar em todas escolas, sobretudo, as localizadas na zona
rural.

3.3. Método de Procedimento

Como método de procedimento, recorreu-se ao estudo de caso, um método que na visão de


Marconi e Lakatos (2008), privilegia o estudo de um caso com profundidade para ser
considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes.

16
Nesta ordem de ideias, esta pesquisa é um estudo de caso uma vez que procurou perceber o
fenômeno de abandono escolar, estudando com profundidade uma unidade escolar, neste caso a
EPC de Chigubuta no Distrito da Namaacha.

3.4. Técnicas de Recolha de Dados

Para a realização deste trabalho recorreu-se a técnicas de pesquisa bibliográfica, documental,


entrevista e inquérito. Segundo Marconi (2001), as técnicas de recolha de dados correspondem a
parte prática da colecta de dados e divide-as em:

• Documentação indirecta: abrange a pesquisa documental e a bibliográfica;


• Documentação directa subdivide-se em: abrange entrevistas, questionário, formulário,
teste, medidas de opinião e de atitudes, análise de conteúdo etc. Para esta pesquisa
recorreu-se às seguintes técnicas de recolha de dados:

3.4.1. Pesquisa Bibliográfica

Segundo Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado


desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes electrónicas, isto
é, material acessível para o público bem geral.

Este trabalho iniciou com a pesquisa bibliográfica, ou seja, recolha e selecção de livros e artigos
sobre o assunto pesquisado (abandono escolar). Alguns desses livros foram consultados nas
bibliotecas e os artigos foram acessos na internet.

3.4.2. Pesquisa Documental

Após a pesquisa bibliográfica, seguiu-se a pesquisa documental que consistiu no levantamento,


consulta e interpretação de documentos como legislação ou políticas do sector de educação sobre
a necessidade de retenção dos alunos no sistema de ensino. De seguida, analisou-se os
documentos relativos a informação pedagógica da EPC de Chigubuta B, neste caso, a escola que
acolheu a pesquisa.

17
3.4.3. Entrevista

Para Vergara (2000), a entrevista é um procedimento no qual o investigador faz perguntas a


alguém que, oralmente, lhe responde, onde a presença física de ambos é geralmente necessária. E
para Gil (2008:112) pode-se definir entrevista como:

"Uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula


perguntas, com o objectivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A
entrevista é, portanto, uma forma de interacção social. Mais especificamente, é uma
forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se
apresenta como fonte de informação".

Portanto, a entrevista constituiu técnica de recolha de dados para esta pesquisa. Esta foi
realizada na EPC de Chigubuta com pessoal da Direcção da Escola, afim de situar a pesquisadora
sobre o nível de abandono escolar. A entrevista assumiu-se como do tipo semi-estruturada para
permitir que, fora das questões pré-seleccionadas, pudesse se fazer outras no decurso da
entrevista.

3.4.4. Inquérito

Segundo Vergara (2000), o inquérito é o meio-termo entre o questionário e a entrevista. É


apresentado por escrito, como no questionário, mas é o pesquisador quem assinala as respostas
que o respondente da oralmente.

O inquérito foi dirigido aos professores e pais e/ou encarregados de educação com vista a captar
a sua percepção em torno do abandono escolar na EPC de Chigubuta B no distrito da Namaacha.

3.5. População e amostra

Segundo Gil (2008), entende-se por amostra, o subconjunto do universo ou da população, por
meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população.
Marconi e Lakatos (2008), entendem por amostra como uma parcela convenientemente
selecionada do universo (população), ou seja, é um subconjunto do universo.

Tendo em conta a complexidade do fenómeno estudado e a necessidade da sua compreensão em


todas dimensões, recorreu-se a amostragem estratificada. Segundo Vergara (2000), a
amostragem estratificada é aquela que consiste na selecção de uma amostra de cada subgrupo da
população considerada.

18
Na visão da autora, o fundamento para delimitar os subgrupos ou estratos pode ser encontrado
em propriedades como sexo, idade ou; classe social. Neste caso os subgrupos destra amostra são
os seguintes intervenientes no processo de ensino e aprendizagem (Professores, Direcção da
Escola e Pais e/ou Encarregados de Educação7). Embora não possa ser representativa ao universo
escolar, a nossa amostra é de 38 elementos, distribuídos da seguinte forma:

Gráfico 1: Estratificação da amostra

Fonte: Autora (2018)

3.6. Tratamento de dados

Na primeira fase, procedeu-se a uma transcrição das entrevistas realizadas de forma integral e
fiel ao que foi dito, face ao resultado das gravações em formato áudio. Seguidamente, as
entrevistas foram lidas de acordo com o que foi dito pelos entrevistados, onde foi feita uma pré-
análise ao conteúdo existente nas mesmas.

Concluída esta etapa, sucedeu-se a análise descritiva, em que se contemplou uma metodologia de
análise de conteúdo das entrevistas concedidas. Num outro desenvolvimento, foram trabalhados
os inquéritos através do método quantitativo recorrendo-se ao SPSS com vista a analisar com
profundidade, com recurso à identificação e à contagem de variáveis. Sendo assim, os testes
realizados foram as frequências e estatística descritiva. Para todo o caso, no que diz respeito aos
dados recolhidos por entrevista, foram em algum momento apresentados em citações curtas. E os
dados recolhidos por inquérito foram apresentados em gráficos de frequência e, ambos foram
analisados por meio de triangulação científica que consistiu em relacionar os dados com a
revisão da literatura e a opinião pessoal da autora do trabalho.

7
No caso dos pais que não sabem ler e escrever, o inquérito foi preenchido pela pesquisadora mediante a colocação
de perguntas em sua língua loca.

19
CAPÍTULO IV

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

O presente capítulo inicia com a descrição e caracterização do local de pesquisa. De seguida, faz
a apresentação e discussão de dados recolhidos junto à direcção da escola em estudo, aos
professores e por fim, aos encarregados de educação.

4.1. Caracterização da EPC de Chigubuta B

A Escola Primária Completa de Chigubuta B localiza-se no Posto Administrativo de Changalane,


no Distrito da Namaacha. Esta exactamente localizada no Bairro com mesmo nome, há
aproximadamente 18 Km da Sede do Distrito de Boane.

Esta é uma das escolas com um efectivo escolar muito reduzido, com pelo menos uma turma por
cada classe e ainda com poucos alunos que variam de 20 a 35 por turma. Por essa razão, a escola
dispõe também de um número muito reduzido de professores8.Actualmente, a escola conta com
um efectivo de 7 professores e 4 funcionários administrativos que assistem a 1193 alunos da 1ª a
7ª classes.

Associado aos factores acima mencionados, a EPC de Chigubuta possui apenas quatro salas de
aulas, das quais, três construídas com material local (convencionais) e uma construída de
madeira e zinco. Conta também com um bloco administrativo, no qual funciona o gabinete do
director e a secretaria da escola.

4.2. Factores que influenciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B

O objectivo desta secção é de identificar e explicar os principais factores que influenciam o


abandono escolar neste estabelecimento de ensino primário. Para tal, foram recolhidas diversas
opiniões aos principais intervenientes no processo de ensino nesta escola (direcção da escola,
pais e/ou encarregados de educação e professores). Nesta ocasião, a direcção da escola
representada pelo respectivo director manifestou maior preocupação pelo abandono escolar, se
não vejamos o seguinte depoimento:

8
Actaulmente, a escola dispõe apenas de 7 professores. Devido ao número reduzido de alunos, a escola não dispõe
de Director Adjunto Pedagógico.

20
"(…), o número de alunos começa a diminuir-se há medida que as classes aumentam,
principalmente de 5ª a 7ª classes. Isto deve-se das crianças trocarem as carteiras e salas de
aulas pelo trabalho, dedicando-se os rapazes a pastorícia e outros zeladores de quintas de
pequenos empresários locais e, as meninas ao trabalho doméstico na Vila de Boane ou
Cidades de Maputo e Matola" (Director da EPC de Chigubuta, 15 de Maio de 2018).

A partir deste depoimento, pode-se tirar duas ilações que caracterizam o abandono escolar na
EPC de Chigubuta B. Primeira, é que se verifica nas últimas classes do ensino primário e, a
segunda é que o abandono escolar é causado pelo trabalho infantil.

Desta realidade observa-se também que, o abandono escolar não é uma culpa que se pode
atribuir apenas aos encarregados de educação, já que se verifica mais à medida que os alunos vão
adquirindo mais níveis e anos de idade, salvo em algumas situações em que são os próprios pais
a obrigá-los a abandonar para exercer actividades com remuneração.

Portanto, o que na verdade pode estar a acontecer considerando o que foi dito na entrevista
anteriormente citada, é que a busca pela independência financeira e pelo auto-sustento através do
trabalho é o principal factor que influencia no abandono escolar. Este factor é apresentado
também por Almeida e Ferrão (2000), quando explicam que a pobreza das famílias pode levar as
crianças a abandonar precocemente a escola para procura emprego para sobrevivência.

4.2.1. Respostas do questionário dirigido aos professores da EPC de


Chigubuta

Como já se disse no início, foram também recolhidas percepções de professores e encarregados


de educação sobre os factores que propiciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B. Para
estas categorias privilegiou-se a aplicação de um inquérito devido ao elevado número da sua
amostra. Assim, das questões colocadas obteve-se os resultados apresentados em forma de
gráfico de frequência abaixo:

Questão 1:Desde que lecciona nesta escola houve registo de casos de abandono escolar nas
suas turmas?

O gráfico que se segue ilustra as percepções dos professores sobre casos de abandono escolar nas
turmas que leccionaram na EPC de Chigubuta B. De um modo geral, todos os professores

21
afirmam ter registado casos de abandono escolar nas suas turmas, conforme se ilustra no gráfico
a seguir:

Gráfico 2: Respostas do inquérito sobre registo de casos de abandono escolar

Não
16%

Sim
84%

Como se pode ver, dos professores inquiridos, maior parte correspondente a 84% afirma ter
registado casos de abandono escolar nas suas turmas. Ademais, a avaliar pela percentagem
ilustrada neste gráfico, observa-se que o abandono escolar é um fenómeno muito comum na EPC
de Chigubuta B.

Questão 2:Na sua percepção, quais são os factores que influenciam no abandono escolar na
EPC de Chibubuta B?

No que concerne aos factores que influenciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B, as
respostas ao inquérito dirigido aos professores produziu os resultados ilustrados no gráfico que
se segue:

22
Gráfico 3: Resposta do inquérito sobre factores que contribuem para o abandono escolar

47% 49%

2% 2% 0%

Trabalho Infantil Falta de interesse Dificuldades Distância entre Outros


dos pais Financeiras das escola e casa
famílias

Este gráfico ilustra que a opinião dominante dos professores inquiridos é de que o abandono
escolar que se verifica na EPC de Chigubuta é causado pelas dificuldades financeiras das
famílias, que leva as crianças a preferir pela busca de auto-sustento e até mesmo dos próprios
pais, a avaliar pelos 49% das respostas.

Verifica-se também, na mesma percepção que trabalho infantil ocupa uma maior Porcão dos
factores que influenciam o abandono escolar na EPC em alusão. E a falta de interesse dos pais
pela frequência à escola por parte dos seus filhos e a distância entre escola e casa são factores
pouco determinantes no abandono escolar.

Para todo caso, constata-se que os dois factores mais influentes desaguam num único ponto, isto
é, de que a falta de condições das famílias para cuidar os seus filhos faz com que estes releguem
a escola para o segundo plano em detrimento do trabalho (infantil). Estes factores foram também
considerados por Almeida e Ferrão (2000) como os mais responsáveis pelo abandono escolar,
principalmente nas zonas rurais.

4.2.2. Respostas ao questionário dirigido aos pais e/ou encarregados de


educação dos alunos da EPC de Chigubuta
A estratégia utilizada para colher percepções junto dos pais e/ou encarregados de educação dos
alunos da EPC de Chigubuta foi a mesma para os professores, neste caso, a aplicação do
inquérito com perguntas fechadas e abertas.

23
Questão 1: Alguma vez teve caso de abandono escolar por parte dos seus filhos?

Relativamente à esta questão, tivemos três grupos de respostas conforme se ilustra abaixo.
Entretanto, como ainda se pode ver, a partir das respostas dadas, em muitas famílias parece ser
normal uma criança abandonar a escola sem concluir o nível primário.

Gráfico 4:Respostas de inquérito dos pais ou encarregados de educação sobre abandono

Não
responderam Sim
39% 48%

Não
13%

Da leitura deste gráfico, observa-se que um número significativo dos pais e/ou encarregados de
educação correspondente a 30 inquiridos afirmaram ter filhos ou educandos que abandonaram a
escola nos últimos anos. Contudo, uma parte também significativa recusou-se a responder a esta
questão.

Em síntese, o abandono escolar é um fenómeno que os pais e/ou encarregados de educação


reconhecem haver por parte dos seus educandos na EPC de Chigubuta. Embora se possa
perceber que para eles é normal, há consciência por parte de alguns que o abandono escolar é um
mal, razão pela qual resistiram de se pronunciar sobre esta questão.

24
Questão 2:Na sua percepção, quais são os factores que influenciam no abandono escolar?

Inquiridos os pais e/ou encarregados de educação dos alunos da EPC de Chigubuta sobre a
questão acima, obteve-se os resultados apresentados no gráfico que se segue:

Gráfico 5:Respostas de inquérito dos pais e/ou encarregados de educação

Com base nos resultados apresentados acima, observa-se que muitos factores influenciam no
abandono escolar na EPC de Chigubuta na percepção dos pais e/ou encarregados de educação.

De modo geral, a opinião dominante é de a procura pelo trabalho é o principal factor que leva as
crianças a abandonar a escola. Além disso, na óptica dos pais e/ou encarregados de educação há
pouco interesse pelos estudos por parte das crianças e por fim, as dificuldades financeiras das
próprias famílias têm impacto negativo sobre a frequência das crianças à escolo.

Fazendo um cruzamento entre as percepções dos pais e/ou encarregados de educação, do director
da escola e dos professores pode-se constatar que as dificuldades financeiras das famílias e
consequentemente, a opção pelo trabalho infantil é o principal factor que influencia nas altas
taxas de abandono escolar na EPC de Chigubuta.

25
4.3. Nível de abandono escolar na EPC de Chigubuta B

O abandono escolar é um problema cuja solução requer intervenção conjunta entre os diferentes
actores que participam no processo de ensino e aprendizagem (pais e/ou encarregados de
educação, professores, autoridades do governo, etc).

Nas classes iniciais, os pais e/ou encarregados de educação são os que devem desempenhar um
papel fundamental na familiarização dos seus educandos com a nova vida (estudantil),
acompanhando a sua assiduidade e aproveitamento. Se isso não for levado em conta, o abandono
escolar no ensino primário e precisamente nas classes iniciais poderá aumentar, pois, as crianças
não têm consciência sobre a necessidade da educação.

Como se disse na justificativa, o abandono escolar continua sendo um fenómeno que atinge
contornos alarmantes em muitas escolas localizadas na zona rural. Os dados que seguem ilustram
essa realidade, no caso concreto da EPC de Chigubuta B, no Distrito da Namaacha:

Tabela 1: Taxa de desistência na EPC de Chigubuta

Taxa de desistência
Ano Início Final do Ano Desistências (%)
Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas
2014 627 823 612 758 15 65 2.3% 7.8%
2015 528 808 518 753 10 55 1.8% 6.7%
2016 513 793 506 755 7 38 1.3% 4.8%

Fonte: Secretaria da EPC de Chigubuta B

Os dados acima demonstram haver uma disparidade em termos das taxas de permanência no
ensino primário completo na escola em estudo, pois, o número de efectivo matriculado, bem
como as taxas de desistência variam de ano para ano, embora com uma tendência decrescente.

Da leitura dos mesmos dados pode-se constatar que durante o período (2014-2016), maior parte
do efectivo matriculado é do sexo feminino em detrimento do masculino. Outro dado que merece
análise nesta tabela é o facto de as raparigas apresentarem altas taxas de desistência em
comparação com os rapazes.

26
Esta situação permite-nos ficar entre duas hipóteses, sendo uma delas a de que maior parte dos
rapazes não chegam a frequentar escola e, a segunda é de que as raparigas são as que
interrompem cedo os seus estudos.

Estas questões não são de fácil análise, devido a falta de dados sobre o número de crianças em
idade escolar, por sexo arredores da EPC de Chigubuta. Contudo, observa-se que esta escola
promoveu a participação da rapariga no processo de ensino, porém, não assegurou a sua retenção
com vista a concluir o ensino primário completo, sendo que o período em análise foi marcado
por elevado número de abandono da escolar parte das raparigas.

Em suma, quanto à questão do nível de abandono escolar na EPC de Chigubuta B é preocupante


e atinge mais as raparigas, cuja taxa média anual é 6,4% contra 1,8% para os rapazes. É notória
também uma tendência de redução do efectivo que se ingressa nos últimos anos, facto ainda mais
preocupante do que o abandono escolar.

4.4. Estratégias adoptadas pela Direcção da EPC de Chigubuta B para reduzir o


abandono escolar

Baseando-se nas políticas do sector da educação formuladas antes de 2015, a exemplo do Plano
Estratégico da Educação implementado até ao ano 2016, é possível perceber que entre os
factores mais críticos que influenciavam o abandono escolar na óptica dos diversos actores
(governamentais ou não) eram a distância entre escola e casa, e vice-versa; casamentos
prematuros, entre outros.

Segundo a informação recolhida na EPC de Chigubuta, no caso do Distrito da Namaacha, o


Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia tentou criar em cada Zona de Influência
Pedagógica (ZIP), pelo menos uma EPC a leccionar dois regimes (diúrno e nocturno), com vista
a reduzir o abandono escolar explicado pela ocupação das crianças durante o dia.

“A decisão de introdução do curso nocturo em pelo menos uma das EPC, que
normalmente coincide com a Sede da ZIP visa garantir que os educandos, sobretudo, as
raparigas que venham a contrair gravidez ao longo do ano lectivo, independentemente da
escola em que se encontre a frequentar, possa ser transferido para continuar seus estudos
a noite” (Jamal Domingos Chavane – Director da EPC de Chigubuta, 15 de Maio de
2018).

27
O entrevistado avançou, igualmente, que há alguns anos o que acontecia é que se registava
também abandono escolar que era causado pelas dificuldades de continuidade de estudos quando
terminassem o primeiro grau, na medida em que as EPC, em certos casos se localizavam
distantes devido ao seu número que era reduzido.

Nesta óptica, as autoridades de educação optaram por uma reforma, que culminou com a
transformação de todas Escolas Primárias do 1º grau em Escolas Primárias Completas, uma
estratégia que abrangeu todo o país.

Como se pode perceber, as autoridades de educação em geral e do Distrito da Namaacha, em


particular estão cientes da necessidade da erradicação do abandono escolar, tendo em conta as
reformas ocorridas no sistema de ensino.

Contudo, o que se pode constatar é que entre as estratégias concebidas pelo governo para manter
os alunos no sistema, como por exemplo, a introdução do curso nocturno para garantir a
continuidade de estudos daqueles que por algum motivo (trabalho ou gravidez precoce) não se
verifica na EPC de Chigubuta, o que pode estar na razão dos altos índices de abandono escolar
nesta instituição de ensino primário do Distrito de Namaacha.

28
5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Esta parte representa a etapa conclusiva da pesquisa e consta de duas secções. Na primeira são
apresentadas as principais constatações da pesquisa em função dos dados recolhidos no campo
de investigação e, na segunda são apresentadas as recomendações com vista a aperfeiçoar as
estratégias de redução do abandono escolar.

5.1. Conclusão

Com esta pesquisa procurou-se analisar o fenómeno de abandono escolar escolar na EPC de
Chigubuta B no Distrito da Namaacha, tendo-se estabelecido como objectivos específicos, os
seguintes: i) identificar os factores que infuenciam o abandono escolar na EPC de Chigubuta B;
ii) descrever o nível de abandono escolar na EPC de Chigubuta B e, iii) identificar as estratégias
adoptadas pela Direcção da EPC de Chigubuta B para reduzir o abandono escolar.

Tendo realizado a pesquisa de campo, pode-se referir que estes objectivos foram alcançados na
medida em que concluiu-se que os níveis de abandono escolar nesta escola são elevados e vários
são os factores que o influenciam.

Especificamente, constatou-se em relação ao primeiro objectivo que, embora existam vários


factores que influenciam nos altos níveis do abandono escolar, a substituição da escola pelo
trabalho infantil e a falta de condições das famílias que levam as crianças a procurar pelo
emprego fora da sua povoação, são os factores mais determinantes para este fenómeno.

Em relação ao segundo objectivo, constatou-se que o nível de abandono escolar na EPC de


Chigubuta B é preocupante e atinge mais as raparigas em detrimento dos rapazes. É notória
também que durante o período em análise o efectivo matriculado nesta escola esteve muito
abaixo, sendo mais agravado na medida em que pode estar na razão disso, a falta de interesse
pela escola por parte das famílias locais.

No último objectivoverificou-se que embora o sector da educação tenha adoptado várias medidas
com vista a reduzir o abandono escolar, entre as quais, a transformação das antigas EP1 em EPCs
na última década, bem como a introdução do curso nocturno em muitas escolas primárias do
país, a EPC de Chigubuta não leva a cabo nenhuma medida para tal.

29
5.2. Recomendações

Tendo em conta os constrangimentos identificados que constituem um impulso para o abandono


escolar na EPC de Chigubuta, é pertinente formular as seguintes recomendações:

a) As autoridades locais devem sensibilizar as comunidades sobre a necessidade de


matricular todas as crianças em idade escolar, de modo que o efectivo escolar volte a
aumentar na EPC de Chigubuta B.
b) As autoridades locais devem desencorajar os pais ou encarregados de educação sobre o
trabalho infantil.
c) O governo e parceiros devem providenciar lanche escolar com vista a manter as crianças
durante o período lectivo.

30
6. Referências bibliográficas

Benavente, A., Seabra, T., Sebastião, J. (1994). Renunciar à Escola: O Abandono Escolar no
Ensino Básico. Lisboa: Fim do Século.

Brandão, Z. (1983). O estado da arte da pesquisa sobre evasão e repetência no ensino de 1º


grau no Brasil. In Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 64, nº 147, Maio/Agosto, p. 38-
69.

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Tempo de Transição. Revista Sociedade e Trabalho, nº 10, 9-21.

Gil, A. C. (2008). Como elaborar projectos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas.

Hart, I. (1998). Revisão da literatura. São Paulo: Atlas.

Jimerson, S. (1999). A prospective longitudinal study of high school dropouts examining


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Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto: Porto.

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Nivagara, C. (2013). O papel da regulação nas políticas educativas ao nível da zona de


influência pedagógica. Maputo: s/e.

Teixeira, E. (2005). As três metodologias em Ciência. São Paulo: Atlas.

Vergara, S. (2000). Projectos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas.

31
APÊNDICES

32
Guião de entrevista para Director da EPC de Chigubuta B

Caro Senhor Director!

A presente entrevista tem como finalidade recolher informação sobre abandono


escolar e suas motivações na Escola que dirige. A pesquisa a ser desenvolvida tem
fins meramente acadêmicos, daí que todas as questões éticas serão salvaguadadas.
Desta forma, pretendemos saber em torno das seguintes questões:

1. Tendo em conta que o abandono escolar é um fenómeno que ganha


contronos alarmantes dos últimos anos, sabe se existem algumas estratégias
que estão sendo levadas a cabo pelo governo com vista a estancar este
fenómeno? Quais são?
2. A EPC de Chigubuta está a par da implementação dessas estratégias?
3. Qual é actual taxa de desistência ou de abandono escolar nestas unidade de
ensino?
4. Tendo em conta a realidade que se assiste nesta escola, quais são na sua
opinião, as principais causas do abandono escolar?

FIM
Muito obrigada!

33
Guião de inquérito para pais e/ou encarregados de educação

Caro pai e/ou encarregado de educação!

A presente entrevista tem como finalidade recolher informação sobre abandono


escolar e suas motivações na Escola que dirige. A pesquisa a ser desenvolvida tem
fins meramente acadêmicos, daí que todas as questões éticas serão salvaguadadas.
Desta forma, pretendemos saber em torno das seguintes questões:

1. Qual é a sua percepção sobre o abandono escolar?


2. Desde que lecciona nesta escola, teve casos de aluno (os) que abandonaram
a escola?
a) SIM ( )
b) NÃO ( )
3. Na sua percepção, quais são os factores que influenciam no abandono
escolar?
a) Distância entre escola e casa ( )
b) Trabalho Infantil ( )
c) Falta de interesse dos pais ( )
d) Dificuldades financeiras das famílias ( )
e) Outros
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
FIM
Muito Obrigada!

34
Guião de inquérito para Professores

Caro professor da EPC de Chigubuta!

A presente entrevista tem como finalidade recolher informação sobre abandono


escolar e suas motivações na Escola que dirige. A pesquisa a ser desenvolvida tem
fins meramente acadêmicos, daí que todas as questões éticas serão salvaguadadas.
Desta forma, pretendemos saber em torno das seguintes questões:

4. Alguma vez ouviu falar de abandono escolar? Qual é a sua percepção sobre
esse fenómeno?
5. Tem quantas crianças a frequentar o ensino?
6. Na sua expectativa, que grau gostaria de ver concluído pelos seus filhos?
7. Alguma vez teve caso de abandono escolar por parte dos seus filhos ou
educandos?
a) Sim ( )
b) Não ( )
8. Na sua percepção, quais são os factores que influenciam no abandono
escolar?
f) Longa distância para escola ( )
g) Necessidade de trabalho por parte das crianças ( )
h) Falta de interesse por parte das crianças ( )
i) Trabalho doméstico ( ).

FIM
Muito Obrigada!

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