Lingua Portuguesa
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SUMÁRIO
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Pensamento mecanicista
No pensamento mecanicista, herdado dos
filósofos da Revolução Científica do século XVII, como
Descartes, Bacon e Newton, “[…] o valor do novo
homem que surge se encontra não mais na família ou
linhagem, mas no prestígio resultante do seu esforço
e capacidade de trabalho [...] e a ciência deixa de ser um saber contemplativo, formal
e finalista para que, indissoluvelmente ligada à técnica, possa servir à nova classe
[ao novo modo de produção – o capitalismo]”. A natureza e o próprio homem são
comparados a uma máquina. As considerações a respeito do valor, da perfeição, do
sentido e do fim são excluídas da ciência. (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 148).
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linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001), no entanto para a produção deste livro
nos utilizamos da versão anterior, a de 1989.
Ontogênese
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Reflexão
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de interação, o que faz com que a cultura escolar perpetue formas de comunicação
bastante diferentes daquelas usadas fora da escola. São modos de uso da língua
empregados apenas no ambiente escolar.
O desenvolvimento dos meios de comunicação e as mudanças por que passa
a sociedade tornam-na cada vez mais grafocêntrica, e o avanço dos recursos
tecnológicos de comunicação (web, internet) impõem novos modos de uso da
linguagem verbal, o que constitui desafio ao trabalho docente no sentido de
possibilitar que os alunos tenham acesso a esse conhecimento e possam assim
participar das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita.
Embora continuem persistindo modos de ensinar como aqueles que Paulo
Freire denominava de educação bancária, em que o professor se julga o único
conhecedor do assunto e o transmite/entrega aos alunos como se o saber fosse uma
mercadoria, há outros em que os professores ousam mudar tal condição, como
aqueles em cujas interações em sala de aula o professor se coloca como mediador,
no processo de aprendizagem, entre o conhecimento que os alunos já possuem e o
que precisa ser ensinado. Vygotsky fala da passagem necessária de conceitos
cotidianos a conceitos científicos, aqueles que a escola necessariamente tem de
ensinar, aumentando assim as experiências de linguagem dos alunos, promovendo
sempre mais a inclusão social e provocando aprendizagem e desenvolvimento.
Sociedade Grafocêntrica
Dizemos que uma sociedade é grafocêntrica quando nela a escrita
desempenha papel importante; as atividades nas instâncias sociais são centradas na
escrita, ou seja, a escrita faz parte das situações do cotidiano da maioria das
pessoas.
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dos resultados das avaliações nacionais de alunos e cursos, sem uma análise das
variáveis que interferem nesses dados, continuam perpetuando o fracasso da escola.
Assim como diferentes teorias filosófico-educacionais, as mudanças na
sociedade têm repercussão na esfera educativa. Isso, evidentemente, requer dos
professores posicionamentos e reflexões diante do que se está atualizando ou
mudando. Há sempre uma cobrança de trabalho de qualidade, por parte da
sociedade, e as políticas públicas, como já dissemos, ainda não chegaram em nível
de resgatar a valorização do profissional da educação. Os salários continuam aquém
do piso salarial de outras profissões e não tem havido estímulos à construção de
ambientes de trabalho que favoreçam o desenvolvimento de projetos pedagógicos
com continuidade, capazes de promover mudanças significativas na formação dos
alunos. Por outro lado, há larga produção de material bibliográfico, tanto para
professores como para alunos, e a maioria das escolas dispõe de internet, o que
possibilita acessar a vasta produção de bibliografia digital. O ambiente virtual oferece
ainda sites educativos, destinados exclusivamente a professores, portais
institucionais, os quais possibilitam a atualização constante.
Pensar no ensino de Língua Portuguesa e Literatura implica, portanto,
considerar todas as questões mencionadas, levando em conta, sobremaneira, o
avanço tecnológico que vem propiciando novos modos de sentir, de ver e de pensar
as realidades vivenciadas. A internet chegou às escolas e temos outro desafio:
incorporá-la como ferramenta imprescindível de acesso à informação e à produção
de conhecimento. Afinal, nesse meio encontram-se instrumentos básicos de
trabalho, de desenvolvimento social, de participação política, além de possibilitar o
domínio de competências capazes de proporcionar práticas de letramento contínuo,
entendidas como atividades estruturantes do “pensamento-linguagem” e da cultura
(SILVA, 2003, p. 13).
O contexto cultural, econômico, científico e educacional impõe, por
conseguinte, que a prática pedagógica incorpore, principalmente no que diz respeito
ao ensino de Língua Portuguesa e Literatura, outros conceitos, tais como os de
letramento e de gêneros do discurso. Como explicitado anteriormente, entendemos
por letramento “[...] o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever,
mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita” (SOARES, 1998, p. 47);
e por gêneros do discurso, os tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN,
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Neste capítulo vamos tratar dos documentos que têm sido referência para o
ensino de Língua Portuguesa e Literatura em nossas escolas. Eles visam a orientar
gestores escolares e professores no planejamento das ações educacionais e
atividades de sala de aula.
O ensino público no Brasil, como já vimos, é regido por leis específicas. A lei
mais importante, atualmente, é a Lei No 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
denominada de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que
estabelece da educação em todos os níveis. Ela institui os dois níveis de educação
que temos hoje: a educação básica, formada pela educação infantil e pelo Ensino
Fundamental e Médio; e a educação superior.
Para atender aos princípios e objetivos estabelecidos nesta lei, o artigo 9o da
LDB estabelece que a União, os Estados e os Municípios devem elaborar, em
cooperação, o Plano Nacional de Educação (PNE), para um período de 10 anos,
estabelecendo metas para a década em questão. O PNE em vigor foi elaborado em
2001, com prazo até 2010. Destacamos que duas metas do PNE foram alcançadas
nesse período: a implantação do Ensino Fundamental de 9 anos e o aprimoramento
dos sistemas de informação e avaliação.
Para poder avaliar a qualidade do ensino no Brasil, foram criados a Prova
Brasil e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que são exames
complementares. Essas avaliações são diagnósticas e visam a orientar o ensino para
que se tenha educação de mais qualidade, por meio de possíveis mudanças das
políticas públicas e de paradigmas utilizados nas escolas de Ensino Fundamental e
Médio.
A Prova Brasil é aplicada a cada dois anos, para quase todas as crianças e
jovens matriculados na quarta e na oitava séries (quinto e nono ano). A primeira
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aplicação ocorreu em 2005, depois em 2007, e a última foi em 2009. Ela visa a medir
as competências relacionadas à leitura e aos conhecimentos de matemática.
Por serem instrumentos de avaliação de amplitude nacional, tanto a Prova
Brasil quanto o Saeb exigem a construção de uma matriz de referência, para a
elaboração e avaliação dos testes que lhes confiram transparência e legitimidade,
informando aos envolvidos, professores e alunos, o que e como o ensino e a
aprendizagem serão avaliados. Essas matrizes têm por referência os Parâmetros
Curriculares Nacionais e, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), também foram consultados professores
regentes de classe de diferentes redes de ensino municipal, estadual e privado.
Hoje, portanto, são documentos de referência para o ensino da Língua
Portuguesa o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), a Prova Brasil, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e os documentos dos estados e
municípios, que são as Propostas Curriculares Estaduais e Municipais.
Dentre as Propostas Curriculares de interesse para esta disciplina de
Metodologia do Ensino de Português e Literatura, destacamos aquelas cujos estados
e municípios estão envolvidos no curso de EaD, Letras/ Português: Proposta
Curricular de Santa Catarina, Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná
e Proposta Curricular – CBC (Conteúdo Básico Comum) de Minas Gerais. Além das
propostas estaduais, alguns municípios e a federação elaboraram seu Plano
Municipal de Educação, e Pato Branco, no Paraná, é um deles.
No caso dos documentos que orientam o ensino de Língua Portuguesa e
Literatura no Ensino Fundamental e Médio, vamos destacar, de modo genérico, o
que estabelecem os documentos com relação a objetivos, conteúdos, metodologias
e formas de avaliação. Com relação aos objetivos de ensino, os Parâmetros
Curriculares Nacionais para os anos finais do Ensino Fundamental estabelecem o
seguinte:
No trabalho com os conteúdos previstos nas diferentes práticas, a escola
dever organizar um conjunto de atividades que possibilitem ao aluno desenvolver o
domínio da expressão oral e escrita em situações de uso público da linguagem,
levando em conta a situação de produção social e material do texto (lugar social do
locutor em relação ao(s) destinatário(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade
ou intenção do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) e selecionar,
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conta das demandas de uso da linguagem oral e escrita (leitura e escritura) do meio
social em que se insere, de forma crítica e criativa. Da mesma forma, os documentos
propõem que os conteúdos não sejam ensinados como um fim em si mesmos, porém
como “[...] meio para que os alunos desenvolvam capacidades que lhes propiciem
produzir e usufruir os bens culturais, materiais e econômicos” (BRASIL, 1997a, p.
73). Assim, estarão “[...] ampliando o domínio ativo do discurso nas diferentes
situações
Buscando sintetizar o que dizem os documentos de referência sobre o ensino
de Língua Portuguesa e Literatura e no intuito de orientar a ação docente, propomos
encaminhamentos por meio dos quais julgamos ser possível contribuir para que a
formação desse sujeito, pela e na interação com o outro, mediada pela linguagem,
possa exercer de forma crítica e criativa sua cidadania.
Assim, não faremos distinção entre metodologias para os anos finais do
Ensino Fundamental e o Ensino Médio, nem proporemos formas de avaliação
específicas para um ou outro ensino. Apenas procuraremos traçar certos princípios
que orientem a atividade da docência em Língua Portuguesa e Literatura, indicando
o que se considera adequado à consecução dos objetivos propostos, frente à
produção acadêmico científica, pedagógica e aos documentos oficiais em circulação
na nossa contemporaneidade.
As mudanças na área da educação a partir da década de 1990, ocasionadas,
dentre outros fatores, pelas teorias filosófico-educacionais e linguísticas que passam
a sustentar os documentos orientadores do ensino, conforme já referido em capítulo
precedente, vêm acompanhadas também de discussão, iniciada na Europa, mais
precisamente na França, sobre os conceitos de transposição didática
(CHEVALLARD, 1985; 1991) e de elaboração didática (HALTÈ, 1998).
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A avaliação
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Nos capítulos que seguem, serão abordadas questões sobre a leitura, o papel
da escola e do professor de Língua Portuguesa na formação de leitores, a
especificidade da leitura literária no espaço escolar, o ensino da escrita na escola, a
análise linguística e o ensino da gramática.
Viremos outras páginas e escutemos novas vozes neste livro e fora dele: “[...]
Quando eu comecei na faculdade, eu tinha uma visão, trabalhava observando o livro
didático, era o meu limite. E a faculdade me fez enxergar além, assim oh!”.
Esperamos que a voz dessa professora encoraje-nos a alçar voos nessa trajetória
de formação.
A LEITURA NA ESCOLA
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(re)escreve sobre sua história de leitura e a importância que o livro, tanto seu
conteúdo escrito como sua materialidade, teve em sua vida:
Quase não tínhamos livros em casa / E a cidade não tinha livraria / Mas os
livros que em nossa vida entraram / São como a radiação de um corpo negro
/Apontando para a expansão do Universo / Porque a frase, o conceito, o enredo, o
verso / (E, sem dúvida, sobretudo o verso) / É o que pode lançar mundos no mundo.
(VELOSO, 1997).
As dificuldades de acesso ao objeto livro também aparecem no conto
“Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector. A menina (porventura podemos
imaginar Clarice) corre pelas ruas do Recife em busca do tão almejado livro:
Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, que lhe escorrega sistematicamente
das mãos pelo não empréstimo da amiga perversa. Quando a protagonista enfim se
apodera do livro, a leitura é protelada e temos toda uma descrição de afeto e gesto
de amorosidade na relação da menina com o livro: “Às vezes sentava-me na rede,
balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não
era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.”
(LISPECTOR, 1996).
Encontramos na produção poética de Carlos Drummond de Andrade várias
incursões pelo seu mundo iniciático da leitura. Poderíamos dizer que ele vai deixando
escorregar de seus poemas uma memória de leitura. No poema “Iniciação literária”,
observa-se a relação entre a leitura ficcional de Júlio Verne em contraposição ao livro
Cultura dos campos, de Assis Brasil:
Como quem diz: Navios... sair pelo mundo voando na capa vermelha de Júlio
Verne. Mas por que me deram para livro escolar a Cultura dos Campos de Assis
Brasil? O mundo é só fosfatos – lotes de 25 hectares – soja – fumo – alfafa – batata
doce – mandioca – pastos de cria – pastos de engorda. Se algum dia eu for rei,
baixarei um decreto condenando este Assis a ler a sua obra. (ANDRADE, 1973, p.
126).
No poema “Assinantes” (ANDRADE, 1973, p. 127), somos apresentados a
dois meninos assinantes da Revista Tico-tico, o que lhes qualifica e lhes dá um grau
de importância na pequena cidade; em “Infância” (ANDRADE, 1999, p. 10-11), o
poeta contrapõe seu cotidiano familiar à leitura de Robinson Crusoé; em “Biblioteca
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Vale lembrarmos que nem todo leitor é leitor do código escrito, uma vez que
temos ainda no mundo um grande número de analfabetos. Conforme Bortoni-Ricardo
et al. (2010, p. 12), os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
2008, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam
que temos no Brasil uma taxa de 10% de analfabetos acima de 15 anos, o que
corresponde a 14,2 milhões da população que não sabe ler e escrever. Já com
relação ao analfabetismo funcional, aquele definido como grau de alfabetização
insuficiente para exercer funções básicas da sociedade moderna, há, segundo os
mesmos autores, dados fornecidos pelo Instituto Paulo Montenegro, divulgados em
2009, referentes à população com idade entre 15 e 64 anos, indicam outros números.
Os dados desse instituto apontam 7% da população brasileira, residente nas zonas
urbana e rural, como analfabeta, 21% alfabetizada rudimentar, 47% alfabetizada
básica, perfazendo um total de 75% da população considerada analfabeta funcional,
com apenas 25% da população considerada alfabetizada funcionalmente.
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A leitura em sala de aula deve servir para tudo isso. No entanto, como muitos
professores não selecionam os textos que entram na sala de aula, nem sempre
conseguem dar conta dos objetivos da ampla tarefa a que a leitura se ocupa. Se
pensarmos no livro didático, por exemplo, notaremos, como bem o pontua Geraldi
(1997, p.168-169), que
[...] toda a lição ou unidade destes livros, organizados em unidades e, em
geral, sem unidade, iniciam-se por um texto para leitura. Como tais leituras não
respondem a nenhum interesse mais imediato daqueles que sobre os textos se
debruçam, a relação interlocutiva a ocorrer deverá se legitimar fora dela própria.
Como resolver essa questão se, em algumas escolas, o livro didático é o único
livro a que os alunos têm acesso?
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CONCEPÇÕES DE LEITURA
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O ensino da leitura
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dos estudantes. Isso ajudará, por certo, a priorizar determinados textos e a definir
objetivos para as atividades de ensino de leitura.
Esses objetivos estarão também claros para os alunos. A cada atividade de
leitura o professor estabelecerá com que finalidade o texto selecionado será lido. Por
uma abordagem cognitivista, por exemplo, o aluno poderá apreender as estratégias
de leitura, ter consciência destas e valer-se desse conhecimento nas mais diferentes
circunstâncias que envolvam atos de leitura.
Antes de iniciar a leitura, é importante o professor, além de explicitar o objetivo
da atividade, procurar ativar os conhecimentos prévios dos alunos acerca do assunto
que será tratado. As atitudes responsivas ativas dos alunos são pistas sobre o seu
conhecimento, o que ajudará no estímulo para a leitura e ainda favorecerá o trabalho
do professor no direcionamento da atividade, já que este terá condições de atentar
para o que os leitores ainda não sabem. Bakhtin (2003[1920-1924]), discorrendo
sobre “O enunciado como unidade da comunicação discursiva”, do diálogo, diz que
no processo de interlocução os participantes ocupam sempre “posição ativa
responsiva”; ou seja:
[...] o ouvinte, ao perceber e compreender o significado (linguístico) do
discurso, ocupa simultaneamente em relação a ele [falante] uma ativa posição
responsiva: concorda, discorda dele (total ou parcialmente), completa-o, aplica-o,
prepara-se para usá-lo, etc., essa posição responsiva do ouvinte se forma ao longo
de todo o processo de audição e compreensão desde o seu início [...] toda
compreensão é prenhe de resposta [...] o ouvinte se torna falante (BAKHTIN, 2003
[1920-1924], p. 271).
A compreensão é um processo ativo e responsivo; é, portanto, um processo
de relação entre locutor e interlocutor. Já está no horizonte do enunciado do locutor
a possível reação-resposta daquele a quem esse enunciado está sendo dirigido e lhe
orienta sentidos e estrutura (aspectos da língua).
Os PCNs sugerem, em vista disso, uma série de conceitos e procedimentos
subjacentes às práticas de linguagem. Afinal, para o trabalho com a leitura não basta
que tenhamos recursos materiais disponíveis, é preciso enfatizar o uso que fazemos
desses recursos. Consideramos esses conceitos e procedimentos bastante
relevantes e, por isso, reproduzimos a seguir, a partir dos PCNs (1998), aqueles que
se relacionam à leitura de textos escritos:
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indo.... Perdi. Ali, sim: arte eu não sei. Não é isso das festas na escola? Acho que na
escola não carece disso, não. Essa arte, não. Os meninos precisam ir levando jeito
p’ra aguentar o trabalho daqui de fora. Se fica muito animado, aquela coisa frouxa,
eles amolecem e.. Aqui fora isso vinga, não. (LINHARES, 2003, p. 99).
A definição dessa mãe sobre o que seria Arte tem uma abrangência geral e
não a especificidade do literário, mas podemos aqui nos aproximar da literatura, arte
da palavra, apresentada por ela como: um trabalho “maneiro” capaz de inventar
alegrias. Palavras definidoras, carregadas de sentido e coerência: a arte com seu
poder de inventividade é capaz de promover festas no cotidiano escolar. Essa
mesma mãe nega, no entanto, a possibilidade da alegria, inserindo trabalho e escola
no mesmo conjunto de atividades que não deleitam, mas se constituem como espaço
de “dor”. Ela ainda destaca que a escola não precisa de “festa”, pois a animação e a
não rigidez do que seria artístico amolece a criança/jovem, não o preparando para a
vida fora da escola.
Tal depoimento aproxima em dois polos distintos a escola/utilidade e a
arte/prazer. A literatura, sendo a arte da palavra, constituir-se-ia num fazer inútil.
Esse debate sobre a utilidade ou não da literatura permeia a sua história.
Apresentaremos a você algumas posições para que perceba que este assunto desde
cedo gerou debates e polêmicas, cremos ainda não resolvidos. Na Antiguidade
Clássica, por exemplo, vários pensadores, entre eles Aristóteles e Platão,
debruçaram-se sobre o tema.
O filósofo Platão, no século IV a.C., ao construir uma cidade ideal para as
novas gerações de Atenas, bane a poesia desse território. O filósofo divide a
literatura em duas espécies: uma verdadeira e outra falsa. Na literatura falsa inclui
primeiramente as fábulas que são ensinadas às crianças, pois, segundo ele, “[...] é
sobretudo nessa altura que se é moldado, e se enterra a matriz que alguém queira
imprimir numa pessoa” (PLATÃO, 1990, p. 87). Ele aconselha, ainda, uma vigilância
aos autores desse gênero, porque em seu conjunto contam mais mentiras que
verdades. Nega, assim, a maioria das fábulas contadas nesse período de discussão,
mas propõe que se deva selecionar, acolhendo as que forem boas.
O modelo que o poeta deveria seguir para cumprir e compor bem sua fábula
é aquele que apresenta um exemplo correto de moral e religiosidade aos guardiões
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marcadamente histórico; sendo assim, receberá o texto e o lerá dentro dos protocolos
estabelecidos/construídos pelas práticas sociais do seu tempo.
Se pensarmos que os suportes e instrumentos da e para escrita foram
influenciados e adaptados conforme a tecnologia presente na sua criação – dos rolos
de papiro, pergaminhos manuscritos, textos em papel à tela do computador –,
perceberemos que as práticas de leitura também foram se metamorfoseando: novas
formas de escrever propiciam novas formas de ler.
O leitor de literatura
Personagens que saltam das páginas dos livros e ganham vida, este foi um
dos recursos utilizados pela livraria Tcheca Anagram para sua campanha de
marketing que tem o slogan “Palavras criam Mundos”. Sem sombra de dúvidas, esta
é uma imagem que remete ao poder da palavra literária: conferir ao leitor o
deslocamento de um mundo ao outro ou a outros. No entanto, devemos lembrar que
este mundo do (im)possível só é vivificado pelas mãos do leitor; isto é, cabe ao leitor
instituir vida à narrativa que o livro guarda ao descerrá-lo e abrir as suas páginas.
Contemporaneamente podemos dizer que a
leitura literária é valorizada socialmente.
Provavelmente você não ouviu falar que a leitura de
um romance pode lhe fazer mal física e
psicologicamente, no entanto até o século XVIII era
temerário valorizar a leitura literária, em especial
aquela realizada pelo público feminino. Supunha-se
que a identificação com as personagens provocaria
reações desautorizadas socialmente, isto é, o
devaneio da leitura poderia levar as mulheres a se
identificarem com as personagens e atentar contra a
moral e os bons costumes (ABREU, 2010).
Na unidade anterior, quando apresentamos a possibilidade de (re)visitar as
memórias de leitura e trouxemos para a cena as memórias de leitura de alguns
escritores, você por acaso lembrou das leituras literárias realizadas? Você é um leitor
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e nos tribunais. Lia-se em voz alta nas escolas para controlar a qualidade de sua
leitura silenciosa – objetivo final da aprendizagem. No passado, a leitura tomava
parte em um conjunto de práticas culturais que passavam pelo livro: a escuta dos
textos, sua memorização, o reconhecimento, nas letras impressas no papel, do texto
repetidas vezes ouvido, sua recitação para si ou para um grupo. (ABREU, 2010, não
paginado).
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ser definidos como se ligando, sucessivamente, aos três elementos que constituem
o fato literário: o autor, a obra e o leitor.
Num primeiro momento, concentraram-se na produção da obra, destacando a
figura do autor e o seu contexto histórico (críticas biográficas e deterministas); num
segundo momento, sobrevalorizaram o texto e o que ele tinha para dizer por si só,
confiante na sua autossuficiência, uma visão imanentista que se utilizou da linguística
como ciência prioritária (Formalismo Russo, New Criticism e mesmo a Crítica
Estilística, para chegar ao Estruturalismo). Dessa forma, as pesquisas voltaram-se
para o polo da textualidade, em detrimento do aspecto comunicativo. No terceiro
momento, surgem as reflexões sobre a figura ativa do leitor.
Estudos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin (1895-1975) e Hans Robert Jauss
(1921-1997) ampliam essa discussão e levam em conta, no ensino da literatura, a
teoria literária que prioriza o leitor, tornando-o protagonista.
Bakhtin, começa a publicar suas reflexões na segunda década do século XX,
período de grande efervescência cultural, regido pelo futurismo e por outras vertentes
literárias, enquanto os estudos literários vivem sob a égide do formalismo. No campo
político e social, crescentes transformações se processam na Rússia marcada pela
Revolução Socialista. Sua produção científica está vinculada ao espaço da pesquisa
docente, como professor no Instituto Pedagógico de Saransk e em colégios locais de
Kímri, até culminar sua carreira na Universidade de Saransk. Em Problemas da
Poética em Dostoiévski (1929), o pensador introduz na discussão literária termos
como polifonia e carnavalização. Suas obras chegam ao Ocidente a partir da década
de 1970. Como você já deve ter percebido, os estudos de Bakhtin são referências
importantes para o desenvolvimento do ensino de Língua e de Literatura.
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pelo diálogo com o leitor. Para o primeiro, o texto deve ser vislumbrado na sua
tradição literária e na sua comunicabilidade, pois toda produção textual presente
incorpora, de forma mais ou menos intensa, a produção passada. Para o segundo, é
o leitor que, por meio da leitura, estabelece a relação dialógica com o texto.
Jauss vivencia a revolução de costumes da década de 1960, a emergência
dos movimentos estudantis e as adaptações e reformas universitárias motivadas por
essas transformações. Autor de alguns ensaios sobre a literatura medieval, suas
ideias tornam-se públicas após a conferência inaugural do ano letivo de 1967, na
Universidade de Constança, em 13 de abril, denominada de Was ist und zu welchem
ende atudiènt man literaturgeschichte? (O que é e com que finalidade se estuda
história literária?). Jauss desenvolve sete teses através das quais se propõe a
fundamentar metodologicamente e reescrever a história da literatura, pois seu
objetivo não consistia em banir a história dos estudos literários, mas reorganizá-la
sob outro viés.
Jauss (1994) propõe uma história da arte e da literatura fundada em outros
princípios: as análises literárias deveriam mudar o enfoque, não mais se centrando
no texto ou no autor, e sim no que denominou de “terceiro estado”: o leitor. Tal
perspectiva colocaria em foco a figura do sujeito produtor (destinador) interagindo
com a do consumidor (receptor). A arte obedeceria, assim, a uma função dialética:
formadora e modificadora de percepção (ZILBERMAN, 1989, p. 32).
Na concepção de Bakhtin (1990, 2003), a palavra constitui um elo entre vários
discursos. Ela não é estática, mas um signo social dialético, dinâmico e vivo, por isso
ativa e mutável; portanto, nunca é neutra e está sempre a serviço de algo, carregando
consigo as interpretações e pressões dos contextos que já integrou. Bakhtin vinculou
o texto literário à história e à sociedade, vistos como outros “textos” possíveis de
leitura. Assim, todo texto comportaria o diálogo de vários discursos: do emissor, do
destinatário e do contexto e/ou contextos anteriores.
O escritor já não é o “Adão bíblico” em busca do verbo primeiro, à medida que
todo discurso está sempre habitado por outras vozes, por outros discursos.
Percebemos, desse modo, que a essência do princípio dialógico se
fundamenta como tal numa relação de alteridade, ou seja, o processo de
comunicação exige o reconhecimento do outro. Na perspectiva bakhtiniana, o
permanente processo de dialogização vai refletir na relação dinâmica estabelecida
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entre o autor, o texto literário e o leitor, pois a palavra, como criação ideológica, vai
desenvolver-se de forma diversa das normas estabelecidas. A pluralidade de vozes
inseridas no discurso romanesco revela, por conseguinte, ao leitor um horizonte
diverso do habitual.
Ivanda Martins, estudiosa da área de Língua Portuguesa e Literatura, no artigo
“A literatura no Ensino Médio: quais os desafios do professor” (2006), destaca que a
discussão sobre o ensino nesse nível passa pela reflexão dos subsídios teórico-
metodológicos que contribuem com a prática pedagógica. Para ela,
A sistematização de certos conceitos específicos da teoria e crítica literária
precisa alcançar maior profundidade, exigindo-se do aluno um repertório mais amplo
de leituras e o conhecimento da organização estética da obra literária. A carência de
noções teóricas e a escassez de práticas de leituras literárias são fatores que
contribuem para que o aluno encare a literatura como objeto artístico de difícil
compreensão. (MARTINS, 2006, p. 83).
Martins (2006, p. 84) salienta ainda que a leitura literária é pouco valorizada
em todos os níveis de ensino da educação Básica (da Educação Infantil ao Ensino
Médio) e as contribuições das teorias literárias contemporâneas pouco têm sido
contempladas nas escolas, persistindo as abordagens formalistas, estruturalistas,
biográficas.
Ela traz para seu discurso as contribuições de Beach e Marshall, que fazem
distinção entre leitura da literatura e ensino da literatura, porém enfatiza que tanto a
leitura como o ensino da literatura devem estar presentes em todos os níveis de
ensino.
Leitura da literatura: “Relacionada à compreensão do texto, à experiência
literária vivenciada pelo leitor no ato da leitura.”
Ensino da literatura: “O estudo da obra literária, tendo em vista uma
organização estética.”
Esses dois níveis dialogicamente relacionados deveriam conviver na escola
de modo articulado. (MARTINS, 2006, p. 84-85)
Martins (2006) também destaca que a relação literatura e escola é marcada
por mitos e nos apresenta três deles: 1) literatura é muito difícil; 2) é preciso ler obras
literárias para escrever bem; e 3) a linguagem literária é marcada por especificidade.
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Desse modo, a discussão sobre a linguagem literária e não literária deveria recair
sobre os “[...] pontos de confluência entre a literatura e os discursos que produzimos
cotidianamente” (MARTINS, 2006, p. 96).
Tendo isso em vista, cabe questionarmos: No que esses mitos contribuiriam
para um tratamento inadequado do literário no espaço escolar? Segundo Martins
(2006, p. 96),
Disseminam perspectivas preconceituosas subjacentes à prática pedagógica
que precisa ser repensada. Ao perpetuar esses mitos, a escola contribui para a
formação de leitores possivelmente acríticos, com uma visão reduzida do fenômeno
literário e promove a manutenção do status daqueles que encontram, na leitura
literária e nas habilidades intelectuais, uma forma de poder, discriminando aqueles
que não percebem a dimensão polissêmica, simbólica, transgressora do fazer
artístico literário.
Certamente você já ouviu comentários ou leu a expressão “escolarização”
vinculada à arte como sinônimo de negatividade. Magda Soares, com relação à
escolarização da literatura infantil e juvenil, afirma que:
Não há como ter escola sem ter escolarização de conhecimentos, saberes,
artes: o surgimento da escola está indissociavelmente ligado à constituição de
‘saberes escolares’, que se corporificam e se formalizam em currículos, matérias e
disciplinas, programas, metodologias, tudo isso exigido pela invenção, responsável
pela criação da escola, de um espaço de ensino e de um tempo de aprendizagem.
(SOARES, 1999, p. 20, grifos da autora).
Soares (1999) assevera que não devemos atribuir conotação pejorativa à
escolarização, pois ela é inevitável e necessária. Negar a escolarização seria negar
a própria escola, no entanto existe uma escolarização adequada e outra inadequada
no trato com o conhecimento, nesse caso, o literário. A primeira seria
[...] aquela que conduza mais eficazmente às práticas de leitura que ocorrem
no contexto social e às atitudes e valores que correspondem ao ideal de leitor que
se quer formar - e uma escolarização inadequada, errônea, prejudicial da literatura
- aquela que antes afasta que aproxima de práticas sociais de leitura, aquela que
desenvolve resistência ou aversão à leitura. (SOARES, 1999, p. 25).
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Vários locais, no Brasil e fora dele, possuem espaços de leitura que, num
primeiro momento, parecem sui generis, mas acabam sendo fundamentais para a
formação de leitores. Vejamos alguns desses projetos e iniciativas: Barca do livro
(Florianópolis), Ônibus biblioteca (São Paulo, Rio Grande, Recife, Uberlândia,
Contagem e outras cidades), empréstimos em terminais de ônibus (Curitiba, Passo
Fundo) e metrôs (São Paulo, Belo Horizonte); Burro biblioteca (Etiópia, Colômbia).
Uma das ações necessárias para a educação e a promoção da cultura escrita
é o desenvolvimento e a permanência de políticas públicas. Como professor de
Língua Portuguesa e Literatura, é importante que você conheça algumas políticas
que estão sendo desenvolvidas no País com o objetivo de promover a leitura. Como
cidadãos e profissionais da Educação, devemos acompanhar a implementação
dessas ações e verificar se estão sendo concretizadas a contento.
O Ministério da Educação brasileiro, no
que se refere ao livro e à sua circulação no
espaço escolar, tem se voltado preferencialmente
para o desenvolvimento de políticas de acesso ao
livro didático. Das ações que dizem respeito à
biblioteca escolar, ao incentivo à leitura e à
formação de leitores, podemos mencionar o que
segue.
Entre os anos de 1984 e 1996, ocorreu o
Programa Nacional Salas de Leitura (PNSL), instituído pela Resolução MEC/FAE nº
14, de 26 de julho de 1984. Esse programa tinha como finalidade a criação de um
espaço alternativo nas escolas públicas que fugisse ao formato da biblioteca
tradicional.
Em 1997 foi instituído o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE
(Portaria Ministerial nº 584). Em 2000, o PNBE privilegiou a distribuição de obras
voltadas para a formação do professor às escolas de 1ª a 4ª séries do Ensino
Fundamental. Cabe lembrar que, de 2001 a 2003, o PNBE desenvolveu o projeto
Literatura em Minha Casa e Palavra da Gente, focado na distribuição de coleções de
literatura diretamente ao aluno, com objetivo de oportunizar ao estudante e seus
familiares o acesso ao livro literário. As coleções compunham-se de um conjunto de
títulos de gêneros variados.
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Embora não sejam títulos de literatura, neste período também foi lançado o
edital PNBE Professor 2010, com o objetivo de subsidiar teórica e
metodologicamente os docentes no desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem nos respectivos campos disciplinares, áreas do conhecimento e
etapas/modalidades da educação básica. Foram selecionados 154 títulos divididos
em cinco categorias: 53 para os anos iniciais do Ensino Fundamental; 39 para anos
finais do Ensino Fundamental; 45 para o Ensino Médio e educação de jovens e
adultos; e 17 para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental da educação de
jovens e adultos.
Importa frisarmos que, embora tenhamos essas ações, ainda existe carência
de bibliotecas escolares. Há, todavia, esperança de que se reverta este quadro, pois
foi sancionada a Lei nº 1.244/2010, publicada no Diário Oficial da União, em 25 de
maio de 2010, que determina que toda escola pública e privada tenha um acervo
mínimo de livros nas bibliotecas escolares, correspondente a um título por aluno
matriculado. A referida lei estabelece o prazo de 10 anos para a criação de espaço
exclusivo para a guarda do acervo e a admissão de profissional habilitado para
administrar esse acervo.
Acompanhemos o levantamento sobre o índice de bibliotecas públicas e
fiquemos atentos à implementação da Lei nº 1.244/2010, exigindo de nossos
governantes que a executem em prol da melhoria da qualidade do ensino em nossas
escolas e, consequentemente, da educação no Brasil.
Faz-se necessário destacar que, a partir de 2003, com a Lei nº 10.753, que
institui a Política Nacional do Livro, desenvolveu-se um Plano Nacional do Livro e
Leitura (PNLL) e várias ações de promoção da leitura foram desencadeadas.
Leia a matéria sobre os dados do déficit de bibliotecas escolares em nosso
País em http://www.cultura.gov.br/site/2010/06/03/ faltam-93-mil-bibliotecas/.
Outras instituições não governamentais têm se aliado em prol de reflexões
sobre a leitura literária no Brasil, entre elas podemos citar o Movimento por um Brasil
literário e a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
O Movimento por um Brasil Literário teve início em 2009, com a publicação do
Manifesto por um Brasil Literário, lançado em julho daquele ano durante a Festa
Literária de Paraty (FLIP). O movimento se constitui a partir da iniciativa da união de
instituições e pessoas físicas, envolvidas com a temática da literatura no País. O
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Poesia
Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate
(Carlos Drummond de Andrade, 1967)
A luta com a palavra, considerada como a batalha mais vã, é trazida para este
espaço de reflexão como algo possível e aprazível, pensar a leitura do poema, bem
como a sua escrita, como exercício de prazer que deve ganhar espaço na sala de
aula. O objetivo do ensino do poema não se constitui em formar escritores/poetas,
mas em aproximar e sensibilizar os alunos, quer do Ensino Fundamental, quer do
Ensino Médio, em relação à leitura da palavra poética e, se possível, à escrita.
Gostaríamos de retomar aqui a proposta do poeta catarinense Lindolfo
Bell, que, na década de 1960, juntamente com o poeta Rubens Jardim, concretizou
o exercício de levar a poesia às ruas, movimento conhecido como Catequese
Poética. A poesia ganha as ruas na boca do poeta que recita no Viaduto do Chá (SP);
nas camisetas com novas estampas: a palavra poética; nos painéis-poema, nos
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papéis de carta poema; nos poemas escritos no chão das praças. É a poesia livre de
amarras, solta no ar.
Essas estratégias de vivificar as palavras construídas pelo poeta podem,
evidentemente, ser aplicadas por nós professores. Assim, vale questionarmos: Por
que não lançar para os alunos a proposta de retirar os poemas dos livros e apresentá-
los em outros suportes? Isso pode ser solicitado a qualquer grupo,
independentemente da faixa etária ou do nível de ensino. Em 2008, na Universidade
do Sul de Santa Catarina (UNISUL), estudantes do Curso de Letras realizaram, por
exemplo, atividade com fim de dar visibilidade à palavra poética. O grupo de alunos
emoldurou os poemas de Lindolfo Bell em pequenos quadros e em sacolas poéticas,
conforme podemos constatar na imagem a seguir.
Varal literário
Exercício Dadaísta
O movimento Dadaísta, como você estudou em Teoria Literária, valorizava o
acaso e o absurdo, buscava “libertar a imaginação via destruição das noções
artísticas convencionais”.
O poeta Tristan Tzara deixou uma receita para fazer um poema dadaísta.
Vejamos:
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam
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Limerique
Limerique é uma construção poética com temática maluca, absurda, surreal.
Compõe-se de cinco versos e o primeiro, o segundo e o último verso têm de terminar
com a mesma rima. O terceiro e quarto versos são mais curtos e apresentam rimas
diferentes dos demais versos. Não se sabe ao certo a origem de sua estrutura, mas
seu sucesso se deve ao escritor inglês Edward Lear (1812-1888). A seguir,
apresentamos um exemplo desse tipo de poema:
Poema traduzido por José Paulo Paes: There was an Old man on whose nose/
most birds of the air could repose;/But they all flew away/at the closing of Day,/ Which
relieved that Old Man and his nose.
Poesia visual
Para introduzir as crianças e adolescentes na poesia visual, nada mais
interessante do que o livro Poesia Visual, de Sérgio Capparelli e Ana Claudia
Gruszynski. Além dos poemas impressos, o leitor poderá brincar com os poemas e
interagir com eles no site: www.ciberpoesia. com.br.
Narrativa
No trabalho com a narrativa, apresentaremos, a seguir, algumas sugestões
metodológicas que, acreditamos, podem contribuir para o exercício da leitura literária
em prosa na escola. É necessário lembrar que estas atividades não excluem
informações básicas e necessárias já estudadas por você durante o curso,
explicitando os gêneros literários dentro do estilo narrativo: o romance, o conto, a
crônica, a fábula, entre outros; e as categorias da narrativa ação, tempo, espaço,
personagens e narrador.
O Romance
Martins (2006) sugere a análise comparativa entre textos por autores em
tempo e espaço diferentes, o que incentiva o trabalho com os diferentes níveis de
compreensão de intertextualidade. O quadro a seguir, elaborado pela autora,
apresenta sugestão de como trabalhar os diferentes níveis de intertextualidade:
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O Conto
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O Miniconto
Outras possibilidades
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No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao
mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
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cada palavra dita, nesse instante, estando onde estivermos, – no lugar ou no tempo
–, estejamos envolvidos com o apanhar a palavra no seu efeito mais profundo ou na
fantasia para não nos fatigarmos da informação, com ela possamos “cirandar” pela
nossa unidade de trabalho pedagógico.
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semelhante ao que estamos dizendo? É, mas essa é uma longa história, que trata
de uma prática pedagógica que ocupou (ainda ocupa?) Uma boa fatia dos modelos
de ensino. E quanto à correção do que produzíamos? Ou recebíamos uma avaliação
(nota/conceito) ou observações generalistas (sua redação não está boa, reescreva-
a; tente melhorar o final; sua redação não tem começo, meio e fim; falta coesão;
melhore a ortografia, reveja a pontuação e a concordância verbal, etc.). Poderíamos
nos alongar nessas descrições que habitam as memórias de ensino, mas as
trouxemos para começar a falar sobre a aprendizagem de ministrar aulas, cujo
objetivo é ensinar a linguagem verbal escrita; não aos moldes das memórias acima
resgatadas. Vamos atuar nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino
Médio, mas acima desse nosso compromisso está o necessário entendimento do
objeto de ensino da Língua Portuguesa e Literatura. Com essa consideração temos,
então, de tocar em questões que dizem respeito ao acesso à cultura da escrita pelo
ensino sistematizado e intencional desse conhecimento, sem esquecer que isso
implica olhar para o ser que escreve, o Ser humano.
os textos de cartilhas (1A, 2A) do texto do aluno (1B) e algo que difere dessas três
produções em 2B (texto de aluno). Os dois textos da primeira coluna (cartilha) trazem
uma frase a cada linha, repetição de palavras e concentração de certas sílabas de
“famílias silábicas”. O texto do aluno “1B”, na segunda coluna, traz as marcas de um
ensino pela cartilha, aquele que objetivava a ensinar a escrita mediante o uso de
texto, isto é, do que se compreendia ser texto à época e o ensino adequado à
alfabetização escolar: um ensino por modelos, pela repetição de frases criadas com
esse fim. Traz uma configuração típica de textos de cartilhas.
Na produção de Lucas (1B) há marcas evidentes desse modo de ensino com
base em uma linguagem criada exclusivamente para esse fim e que é representativa
do que ora expomos: frases simples; justapostas; uma escrita sem elementos
coesivos, sem preocupação com a coerência; palavras repetidas; coesão sustentada
pela manutenção da palavra que é tema da escrita. Enfim, um modelo de ensino que,
apoiado em uma determinada compreensão desse fenômeno que é a linguagem,
gradua o conhecimento do fácil ao difícil, do simples ao complexo. Há, portanto, no
que o aluno produz as marcas dos processos de ensino.
No caso que ora discutimos – o texto de Lucas –, as evidências põem à mostra
um processo de ensino assumido por um número importante de professores, que
considera pouco (ou desconsidera) a compreensão que as crianças têm sobre a
linguagem verbal quando chegam à escola; e, em nome de uma concepção de
linguagem, de organização e sistematização de conteúdos de linguagem a ensinar,
gradua conteúdos: do concreto ao abstrato, do simples ao complexo, do particular ao
geral, entre outros procedimentos, como já observamos. Escolariza-se o
conhecimento. E aqui uma ressalva quanto à crítica feita há pouco, pois não se
intenta um ensino sem organização e planejamento, pelo contrário, sem tais
condições, entende-se, não há como interagir para o desenvolvimento do
conhecimento da língua materna de estudantes. A questão para a qual convocamos
a reflexão interroga sobre a concepção de linguagem que traça nossos atos
educativos. Voltando nossa observação para os textos de cartilhas (1A e 1B) e a do
aluno Lucas, avalia-se que esse estudante opera com sua escrita ao modo como
autores de cartilhas operam com seus textos-exemplares. Há, podemos dizer, certa
homogeneização na escrita de textos de cartilhas que se faz representar na escrita
de alunos (alunos de escolas nas quais se ensina desse modo; caso do aluno Lucas).
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singularidade das relações sociais e discursivas nas salas de aula: um ambiente com
a finalidade do ensino intencional do português nas suas diferentes modalidades,
cuja finalidade põe em perspectiva a responsabilidade social para com a formação
do cidadão com vistas a uma sociedade mais justa e solidária. A escola, como
instituição social, é parte de uma complexa formação social e preconiza por meio de
seus projetos de ensino particulares um determinado modo de educação não
desarticulado daqueles que circulam em outras esferas sociais. Como profissionais
responsáveis pela ação pedagógica, professores lidam com a memória do que é o
ensino, do que é a aprendizagem, constituídos, ambos os processos, ao longo de
um tempo e espaço históricos. Nesse tempo e espaço, lida-se, portanto, com a
memória dos sentidos que foram sendo construídos sobre o que se compreende
como uma aula de língua materna (no caso, o português).
Pelas aulas os estudantes passam a se vincular a essas comunidades
sociodiscursivas e passam também a construir sentidos do processo educativo (do
que é ser professor, do que é ser aluno, do que é a leitura (ser leitor), escrita (ser
escritor), entre outros). Não passamos, portanto, impunes pelas salas de aula, pelas
instituições que se ocupam com a educação formal ou que com elas estabelecem
elos sociais. Os textos de cartilhas e de alunos apresentados neste capítulo expõem
– ainda que de modo singelo e pontual –, a relação de consequência entre posturas
filosóficas, teóricas e metodológicas e a prática pedagógica na sala de aula. Ainda:
que mudanças dessas posturas levam a processos e a produtos distintos e nos
indicam a necessidade de articulação das pesquisas (conhecimento produzido) com
o ensino (conhecimento produzido e socializado) e a aprendizagem e
desenvolvimento do conhecimento.
Pensar em metodologias de ensino da escrita ou de quaisquer das
modalidades da língua implica considerar que quaisquer desses processos de
conhecimento não iniciam necessariamente no espaço da instituição escolar. É,
contudo, desse espaço que, como futuros professores, temos a responsabilidade de
responder socialmente pelos estudantes que formamos nessa disciplina denominada
Língua Portuguesa. E, como diz Bakhtin (2010 [1920-1924]), referindo-se à dimensão
ética do agir humano, não temos álibi para escapar dessa responsabilidade. Ainda,
nessa direção, a metodologia assumida para essa pedagogia requer a definição de
uma unidade de fundamento para o ato educativo. Assumir uma determinada
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cotidianos que lhes estivessem mais próximos e certamente com uma configuração
discursiva muito distinta dessa apresentada pela linguagem do método. As crianças
na sua relação com as práticas sociais de escrita, fora de espaços específicos para
essa aprendizagem, produzem textos com sentidos, ainda que não tenham
aprendido a convenção alfabética da escrita. Dificilmente uma criança falaria ou
escreveria uma sequência discursiva como a apresentada nesse suposto “texto” de
cartilha.
Bortolotto (2001[1998], p. 23), discutindo o processo de ensino para produzir
texto escrito no âmbito da sala de aula de alfabetização, alertava sobre o uso, pelo
professor, de métodos com passos previstos e predeterminados para esse ensino:
A literatura mostra que muitos professores apoiam o trabalho de alfabetização
em métodos específicos, seguindo uma forma de ação que tem certo caráter de
legalidade e segurança por ser o método reconhecido como um caminho que
apresenta alguma garantia de resultado. [...]
Trata-se, na terminologia de Charaudeau (1983), do discurso do método, que
pressupõe um “contrato de fala” propondo um ideal de “como fazer” para demonstrar
a “verdade”. O sujeito que o enuncia se constitui, assim, em “Conselheiro” de um
programa que deve ser seguido, e esta autoridade lhe é assegurada pelo
reconhecimento e pela experiência anterior bem-sucedida – e mais, o programa de
“Fazer” é apresentado de tal modo que pode ser desligado do “Conselheiro” quanto
às suas condições de realização.
[...]quando o professor seleciona um método, está selecionando juntamente
com ele um discurso delimitador que enquadra o desenvolvimento das atitudes e
atividades escolares. Ali tudo parece estar definido. O professor fala pela voz
memorial de um discurso (legitimado) que não é seu, mas que passa a assumir como
seu. É a voz técnica, a fala prevista para ser dita por e para qualquer locutor nos
limites de uma situação pedagógica.
[...]O efeito da fala do método no contexto real é uma enunciação circunscrita
ao preestabelecido. Esta forma de organizar o processo de ensino aprendizagem da
leitura e da escrita desencadeia uma situação que dificulta o fluir da interlocução, que
fere o princípio discursivo da linguagem como efeito de sentido produzido na relação
de interlocução, privilegiando, em nome de uma fala técnica supostamente eficiente,
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fragmento de um texto literário selecionado para estudo (diga-se, sem mencionar tal
situação de produção escrita).
Ademais, o texto é tratado como um conjunto preciso de informações, levando
o aluno a possíveis equívocos, como o de ser a leitura um ato de reprodução do
sentido do texto (leitura parafrástica), de a garantia da leitura passar
necessariamente por exercícios de entendimento e análise (respostas excludentes;
objetivas – sem espaço para outras posições interpretativas). Esse modo de ensino
pode imprimir uma rotina pouco saudável àqueles jovens estudantes partícipes da
rica produção humana nos usos e práticas de linguagem na realidade concreta da
comunicação discursiva.
As propostas de escrita de textos expostas pelos livros didáticos – até sem
eles – sustentavam-se nessa “preparação” pela leitura de um dado “texto”
(normalmente fragmento de algum gênero de discurso) como momentos de “estudo
do texto” para que o aluno exteriorizasse em momentos subsequentes sua produção
escrita, baseando-se no estudo proposto no livro didático; ou ainda que escrevesse
um texto com base em “tema livre”, como experimentou Santiago na sua aula de
Português.
Essa não é, contudo, uma crítica negativa a estudos de textos que tenham
como ponto de partida para escritas “estudos dos textos”, afinal é essa uma das
nossas tarefas na profissão, mas tal opção de trabalho alerta para que se pense o
que estamos entendendo como leitura, como escrita, como leitura para estudo de um
“texto”, leitura para “escrita de textos”. Necessitamos pensar com profundidade sobre
os manejos pedagógicos, buscando a compreensão, mas reagindo reflexivamente e
com atitudes, nutridos pela concepção de língua que se assume com essa ou com
aquela ação. Mesmo porque também podemos nos deparar com alunos com seus
processos de aprendizagem e de desenvolvimento do conhecimento da escrita
distante do que é esperado. Então, se temos de compreender a natureza da
linguagem e dessa concepção traçar nosso ato pedagógico, se temos de olhar a
comunicação discursiva no seu fluxo ininterrupto, também temos de olhar para os
interlocutores desse processo, para o professor (e sobre ele já falamos um pouco,
mas destinaremos um espaço especial neste livro), sobre sua condição de aprendiz
do ensinar; sobre suas condições sociais, históricas, ideológicas de trabalho
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de uma metodologia da Língua Portuguesa. Daí que precisamos ter também, ainda
que de modo amplo, a compreensão do processo de apreensão da linguagem escrita
no complexo da cadeia da comunicação discursiva (como já vimos), pois podemos
nos deparar com alunos que, mesmo não estando em classes de alfabetização ou
frequentando outras séries iniciais do Ensino Fundamental, estão sob a nossa
responsabilidade e necessitam de conhecimentos de alfabetização, situação para a
qual não temos álibi para não considerá-la.
Para traçarmos nossos projetos de ensino de escrita, necessitamos saber de
onde partir e onde pretendemos chegar, portanto, saber o que nossos alunos
dominam ou necessitam saber. Esse é também um dos pontos a serem postos em
consideração quando falamos de ensino da escrita: não perder de vista os sujeitos
do processo nas práticas de escrita. Necessitamos de conhecimentos sobre o objeto
do nosso ensino, mas também sobre a aprendizagem dos sujeitos, sobre nossa
mediação na relação social escolar (porque também somos aprendizes do ensinar).
Isso para ficar nessas relações mais imediatas envolvidas na produção do
conhecimento da escrita em uma instituição especializada para tal tarefa. Não iremos
encontrar turmas homogêneas com pessoas com as mesmas necessidades de
conhecimento, portanto nossos desafios no ensino da escrita são importantes e
instigadores e requerem saber o que os sujeitos sabem (tanto professores quanto
alunos).
Os textos apresentados anteriormente demonstram tal desafio. Temos, sim,
muito a ensinar e muito a aprender quando a relação social se instaura em uma sala
de aula, em uma escola, em uma instituição. Embora esses dois alunos estejam no
sexto ano de escolaridade, o que dominam – e aí não precisamos ser especialistas
para atingir tal conclusão – ainda não atende aos objetivos requeridos para um
ensino e aprendizagem daqueles que estão, há seis anos, envolvidos com a
linguagem escrita; especialmente, no caso, em razão dos problemas com o padrão
normativo da língua ou da textualidade requerida na escrita de um gênero como o
comentário. O objetivo precípuo do ensino da escrita é encaminhar para uma escrita
com autoria, o que demanda um longo processo de ensino e de aprendizagem. Se
no caso das crianças em processo de alfabetização, pelo método com passos
previstos e predeterminados da cartilha (casos aqui exemplificados), os textos são
praticamente isentos de lapsos da norma da língua, distantes de uma escrita
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espontânea e próximos da escrita dos autores das cartilhas, nesses dois casos da
escrita dos dois convites (anteriormente apresentados), os alunos não escreveram
pelo rigor da norma porque exercitaram a escrita visando à adequação ao gênero em
ensino: convite para evento artístico.
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enunciados produzidos para neles fazer emergir tais condições: o sujeito, sua
história, seus pontos de vista, suas articulações com o convívio de outros, fazendo a
ponte de diálogo constante do texto que agora se produz com os textos já existentes.
(GERALDI, 1997, p. 225-226).
As colocações de Geraldi e o que se faz representar na escrita desses dois
estudantes do sexto ano nos indicam que a escrita é movimento, é processo e
sempre temos a aprender ocupando o lugar do aluno (para olhar de um lugar
exotópico) ou de professor. Até porque se escrita é trabalho e trabalho entendido
como construção social, este nos exige empenho, mas também sutileza no trato tanto
do processo quanto do que é produto, já que lidamos com produção humana. Da
mesma forma, o necessário cuidado com o sentido construído pelo outro (nosso
aluno), pelo que ele disse ou desejou dizer, mas ainda não disse, não apenas em
sua relação indivíduo-conhecimento, mas na relação indivíduo-conhecimento
social/coletivo, já que entendemos a aprendizagem da escrita como uma experiência
social, isto é, mediada pelo outro (escritor-leitor), em que ambos compartilham de um
universo de sentidos e representações no interior de uma dada coletividade. Ou o
cuidado de provocar aprendizagens que não firam a palavra do outro, que não
alterem os sentidos trazidos ou que anulem a palavra desse outro (interlocutor-aluno)
pela imposição de sua própria (a de professor), mas antes assuma uma postura de
mediação pela contrapalavra (de professor), esse é nosso papel magisterial.
É no curso dessa disciplina Metodologia do Ensino de Português e Literatura
que poderemos desenvolver, aprofundar os conhecimentos, as experiências
necessárias ao nosso futuro desempenho profissional, colhidas durante as mais
variadas disciplinas do curso. Nessas diferentes disciplinas vocês estudaram teorias
que discutiam a Língua Portuguesa e a Literatura. Agora, estamos diante do desafio
de pensar a atuação profissional e provocar-lhes aprendizagens e desenvolvimento
de conhecimentos sobre a linguagem escrita. Necessitamos agir, então,
necessitamos saber como agir. Necessitamos, então, de um método? De uma
metodologia? Ou, antes de tudo, de uma concepção de linguagem, de entender o
que é linguagem?
A tradição do ensino escolar da escrita já nominou de muitos modos o objeto
de seu ensino, como retórica, poética, gramática, gramática histórica, composição,
redação, produção textual e, em um tempo histórico mais próximo do nosso, perfilam
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a) gramática tradicional;
b) o estruturalismo e o transformacionismo;
c) a linguística da enunciação. (GERALDI, 1984, p. 43).
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gesto). Como unidade complexa, pode ser apresentado sob vários ângulos: é uma
unidade de sentido, com tema específico; é objeto linguístico, histórico e ideológico;
tem autor; relaciona-se com outros textos e com a memória dos discursos sociais; é
produzido numa forma de gênero, correspondente ao espaço onde se origina:
relatório, ofício, artigo de opinião, artigo científico, resenha, notícia, receita, bula,
piada, e todas as formas mais ou menos conhecidas de produção textual.
Os gêneros, em suas formas concretas textuais, com certo acabamento (a
unidade textual, a coesão de seus elementos, sua coerência semântica, dando-lhe
um tema) emergem, circulam e produzem seus efeitos no tecido social. Representam
os valores sociais.
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Retomemos aquela fala que tanto perturbou Santiago, nosso personagem que
abriu as páginas desta unidade, proferida pela voz de autoridade de seu professor e,
sabemos, de muitos outros professores toda vez que iniciavam ou reiniciavam mais
uma etapa escolar. Vozes que certamente ainda ecoam nos ouvidos de muitos de
nós, alunos que já fomos: – Peguem os seus cadernos e escrevam com esferográfica
azul e com letra legível uma composição sobre as férias. No mínimo uma página, de
margem a margem, sem pular nenhuma linha. Cuidado com a ortografia e com a
pontuação. Vocês têm quarenta e cinco minutos. Alguma pergunta?
Assim, indagamos: será que falas como essa inquietam ainda hoje ouvidos e
corações sensíveis (ansiosos para dizerem a sua palavra) como os de Santiago? E
nosso aluno, como fica em situações como essa? Será que ele entende sua escrita
como uma oportunidade de constituir-se como escritor, autor, interlocutor, ou ainda
como produto de interação entre ele e seu leitor? Mas eis a grande questão: quem é
o seu leitor? O professor? Sempre o professor? Se for apenas este, o aluno, de
antemão, entende, ou poderá entender, pelo que está instituído por tradição que seu
texto servirá apenas como pretexto, um meio de exercitar-se no uso do “certo”, do
“correto” da escrita, na letra, na pontuação; ou, quando muito, no desenvolvimento
da criatividade e do raciocínio e, finalmente, um meio para melhorar a nota (a
avaliação). Será este o destino dos textos escolares? A mesa do professor, as mãos,
e finalmente a pasta do professor? E, diante da natureza dialógica da linguagem,
como fica a situação de interlocução? Onde está o interlocutor do aluno, real ou
imaginário, para que ele possa posicionar-se perante sua escrita, ajustá-la de acordo
com esse interlocutor; enfim, desencadear a bipolaridade necessária ao processo de
interlocução? Não estaria, em grande parte, na escola a causa para o fracasso de
muitos alunos na produção escrita? Não estaria nas condições de produção que
orientam a produção escrita na escola?
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265). Nosso desafio é olhar para os textos com olhos de observadores, com atitudes
na direção da compreensão ativa (com a possibilidade de resposta), com apreciação
(consciente), pelo trabalho na lida da palavra falada, lida, escutada, escrita, analisada
nos seus mais diversos e diferentes níveis, aprendendo a ser autores e a formar
autores; olhando, perscrutando, procurando conhecer o trabalho da docência, o
trabalho na docência com a palavra (o verbo) e de lá aprender a encontrar o outro
(as vozes) tecendo a sua própria formação de aprendiz do ensinar. Tendo isso em
vista, destacamos que “A palavra quer ser ouvida, entendida, respondida e mais uma
vez responder à resposta, e assim ad infinitum” (BAKHTIN, 2003, p. 334).
Apresentamos alguns movimentos na tentativa de ensinar e aprender a
produzir textos orais e escritos; e, ao nos entrelaçar a muitas dessas vozes,
construímos nosso texto para, no aguardo de contra palavra de vocês, caros alunos,
apreendermos a tessitura das atividades humanas, sem álibi quanto a nossa
responsabilidade de ensinar a ler e a escrever àqueles que nos forem destinados
neste tempo e espaço históricos, pela proposição de uma comunicação discursiva
real, em nada anônima.
Na unidade seguinte, para fechar o quadro das reflexões até aqui efetuadas
sobre esse objeto de conhecimento complexo que é a linguagem, você encontrará
importantes subsídios que poderão nortear seu posicionamento quanto ao ensino da
gramática ancorado nos princípios sociointeracionista aqui defendidos.
Análise linguística
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Assim como a criança lê o mundo desde muito cedo, ela também se apropria
da linguagem verbal e opera sobre esta desde muito pequena. Ela percebe as
diferentes entonações da linguagem, seja no momento em que ouve uma história
contada para ela em que o contador varia o tom de voz de acordo com o personagem,
seja no momento em que a mãe se refere a ela com carinho ou com repreensão.
Percebe ainda que, dependendo do seu interlocutor, deve reagir de forma diferente:
com um parente que se dirige a ela, reagirá de certa forma; com o médico que a
examina, reagirá de outra forma; e com uma pessoa estranha, também reagirá de
forma diferente.
Esses conhecimentos dos quais a criança vai se apropriando no
desenvolvimento da sua linguagem, por meio da interação com pessoas mais
experientes no uso da língua, com os quais ela chega à escola e que lhe possibilitam,
além do domínio da língua e do saber usá-la para falar sobre as coisas do mundo,
desenvolver reflexões sobre o uso da própria língua; é o que denominamos análise
linguística.
Como vimos discutindo ao longo deste material pedagógico, o objeto de
ensino da disciplina Língua Portuguesa é a linguagem em uso. Assim sendo, as
atividades de análise linguística que se fazem na escola têm como função refletir
sobre essa linguagem em uso, favorecendo seu domínio, tanto na escuta e na leitura
quanto na produção de textos orais e escritos.
Quando falamos em reflexão sobre a língua em uso, temos claro que a prática
de análise linguística “não pode ficar reduzida apenas ao trabalho sistemático com a
matéria gramatical” (BRASIL, 1998, p. 27), Ao contrário, temos de [...] criar situações
em que os alunos possam operar sobre a própria linguagem, construindo pouco a
pouco, no curso dos vários anos de escolaridade, paradigmas próprios da fala de sua
comunidade, colocando atenção sobre similaridades, regularidades e diferenças de
formas e de usos linguísticos, levantando hipóteses sobre as condições contextuais
e estruturais em que se dão. (BRASIL, 1998, p. 28).
Embora estejamos falando de reflexão sobre a língua em uso como se fosse
algo intrínseco às aulas de Português, sabemos que, de fato, a tradição da disciplina
de Língua Portuguesa é o trabalho com a gramática tradicional. Esse trabalho
manteve-se durante muitos anos, e ainda se mantém em algumas salas de aula, na
crença de melhorar o desempenho linguístico dos alunos, seja na leitura, seja na
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produção escrita. Ao longo dos anos, tem-se percebido, no entanto, que esse objetivo
pouco tem sido alcançado. Como ressalta Geraldi (1996, p.129-130), a
sistematização dos conteúdos gramaticais
[...] não se dá, na prática de sala de aula, de forma tão sistemática. O simples
manuseio de alguns livros didáticos, ou de materiais alternativos produzidos para
substituí-los, nos mostra que a sequência em que são trabalhados tais conteúdos
gramaticais dificilmente permitirá, ao final de oito anos de estudos, que o aluno tenha
um quadro sinóptico de ao menos uma proposta gramatical. O conteúdo é distribuído,
nas diferentes séries, de uma forma tão irracional que a uma lição sobre o plural de
substantivos compostos pode se seguir uma lição de análise sintática. Qual é, então,
a sistematização que se oferece à reflexão prévia do estudante? Tratar-se-ia de uma
sistematização a cada vez local? Por conta de quem ficaria, então, a construção de
uma visão geral da teoria gramatical estudada? Por conta do estudante?
Como vimos evidenciando, tomamos o texto como unidade de ensino e, assim
sendo, os aspectos a serem elencados para as atividades de análise linguística não
poderão se referir apenas à dimensão gramatical. A dimensão discursiva será
necessariamente levada em conta, pois essa prática requer interpretação e produção
de texto. Dessa forma, temos de ter em mente que “[...] prática de análise linguística
não é uma nova denominação para ensino de gramática” (BRASIL, 1998, p. 78).
O modo de ensinar, sugerido pelos PCNs de Língua Portuguesa, [...] não
reproduz a clássica metodologia de definição, classificação e exercitação, mas
corresponde a uma prática que parte da reflexão produzida pelos alunos mediante a
utilização de uma terminologia simples e se aproxima, progressivamente, pela
mediação do professor, do conhecimento gramatical produzido. Isso implica, muitas
vezes, chegar a resultados diferentes daqueles obtidos pela gramática tradicional,
cuja descrição, em muitos aspectos, não corresponde aos usos atuais da linguagem,
o que coloca a necessidade de busca de apoio em outros materiais e fontes.
(BRASIL, 1998, p. 29).
Tendo como objeto de ensino a linguagem em uso, a prática de análise
linguística, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, tem de estar
articulada às práticas de linguagem. Assim, “Deve-se ter claro, na seleção dos
conteúdos de análise linguística, que a referência não pode ser a gramática
tradicional. A preocupação não é reconstruir com os alunos o quadro descritivo
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constante dos manuais de gramática escolar [...]” (BRASIL, 1998, p. 29); ao contrário,
temos de selecionar como conteúdos para nossas aulas de análise linguística
dificuldades apresentadas pelos nossos alunos nas atividades de produção, leitura e
escuta de textos.
Os PCNs apontam que
[...] quando se toma o texto como unidade de ensino, ainda que se considere
a dimensão gramatical, não é possível adotar uma categorização preestabelecida.
Os textos submetem-se às regularidades linguísticas dos gêneros em que se
organizam e às especificidades de suas condições de produção: isto aponta para a
necessidade de priorização de alguns conteúdos e não de outros. Os alunos, por sua
vez, ao se relacionarem com este ou aquele texto, sempre o farão segundo suas
possibilidades: isto aponta para a necessidade de trabalhar com alguns desses
conteúdos e não com todos. (BRASIL, 1998, p.78-79).
Reproduzimos, a seguir, alguns procedimentos metodológicos, sugeridos
pelos PCNs, para a prática de análise linguística:
Ӳ isolamento, entre os diversos componentes da expressão oral ou escrita, do
fato linguístico a ser estudado, tomando como ponto de partida as capacidades já
dominadas pelos alunos: o ensino deve centrar-se na tarefa de instrumentalizar o
aluno para o domínio cada vez maior da linguagem;
• construção de um corpus que leve em conta a relevância, a
simplicidade, bem como a quantidade de dados, para que o aluno possa perceber o
que é regular;
• análise de corpus, promovendo o agrupamento dos dados a partir dos
critérios construídos para apontar as regularidades observadas;
• organização e registro das conclusões a que os alunos tenham
chegado;
• apresentação da metalinguagem, após diversas experiências de
manipulação e exploração do aspecto selecionado, o que, além de apresentar a
possibilidade de tratamento mais econômico para os fatos da língua, valida
socialmente o conhecimento produzido. Para esta passagem, o professor precisa
possibilitar ao aluno acesso a diversos textos que abordem os conteúdos estudados;
• exercitação sobre os conteúdos estudados, de modo a permitir que o
aluno se aproprie efetivamente das descobertas realizadas;
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Para tanto, há que se ter cuidado para que o aluno não tenha a sensação de
que sua variedade linguística deverá ser substituída pela variedade da escola. O
trabalho a ser desenvolvido visa somar uma nova variedade àquela que o aluno já
domina.
O livro infantil Uma escola assim eu quero para mim, de Elias José, representa
muito bem situações vivenciadas em muitas escolas por alunos e professores. Na
história, a escola é o espaço central da narrativa. Nela se desenvolve o conflito do
menino Rodrigo, que vem do meio rural e tem como expectativa a aprendizagem das
letras na cidade, mas não encontra apoio na professora Marisa e nos colegas, os
quais satirizam o seu modo “caipira” de falar.
Observemos o diálogo:
- Rodrigo, trouxe os exercícios da semana passada? – perguntou ela,
cumprindo a promessa de cobrar.
- Eu truce, mas o di onti eu num consegui...
Nem acabou a frase e dona Marisa berrou:
- Repita: eu trouxe, mas o de ontem não consegui.
Rodrigo repetiu certinho, mas tremendo, vermelho e gaguejando. A sala
morria de rir. Rodrigo queria morrer, sumir, virar inseto e voar. (JOSÉ, 1999, não
paginado).
A cena entre o menino Rodrigo e a professora Marisa descrita por Elias José,
embora esteja no plano do ficcional, nos possibilita visualizar uma prática comum no
espaço escolar: o desrespeito à linguagem coloquial, ao dialeto que a criança traz do
seu cotidiano. Tal discriminação pelos seus pares, crianças como ele, e pelo adulto,
a professora, é um dos fatores que muitas vezes leva o aluno à exclusão, ao
abandono escolar.
E os problemas se acumulavam, somavam com o ódio da escola, da
professora e da turma. Ele não conseguia ler, escrever ou entender por que “Ivo viu
a Eva. A Eva viu a uva. Didi deu um dado ao Dodô. A bola bateu bem na boca do
Beto” (JOSÉ, 1999, não paginado).
Assim como os PCNs, alguns autores da área da sociolinguística apontam a
necessidade de se trabalhar a variação linguística em sala de aula.
A seguir, evidenciaremos algumas propostas, discutidas em Monguilhott
(2006), de estudiosos brasileiros que têm se dedicado a aplicar o conhecimento que
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que sua produção linguística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação
social, positiva ou negativa (BAGNO, 2002, p. 75).
Scherre (2005, p. 66) aponta que, para a discussão do preconceito linguístico,
pode-se usar resultados de pesquisas sociolinguísticas, [...] apresentando fatos
interessantes, que evidenciam que os políticos e as autoridades brasileiras – falantes
nativos do português brasileiro – não estão simplesmente “nocauteando a
concordância”, “tropeçando” ou cometendo “gafes”, mas, sim, deixando seu
vernáculo emergir [...].
Scherre apresenta uma discussão a respeito do conceito do certo e do errado
em português, afirmando que não são conceitos absolutos, pois não há usos
linguísticos melhores ou superiores a outros, “[...] existem, sim, línguas e dialetos
diferentes, igualmente complexos e sistemáticos, bem como culturas diferentes [...].
A idéia [...] da superioridade linguística ou [...] cultural não resiste a qualquer análise
científica” (SCHERRE, 2005, p. 128). Ainda sobre a noção de certo e errado, ela
evidencia que tendemos a “[...] rotular de erradas predominantemente as formas que
fazem correlação estreita com classe social, mesmo que, consciente ou
inconscientemente, façamos uso destas mesmas formas na fala espontânea e na
escrita revisada” (SCHERRE, 2005, p. 117).
Bortoni-Ricardo (2004, p. 34), assim como Bagno e Scherre, aponta como
compromisso da escola trabalhar a língua de forma a desfazer qualquer tipo de
preconceito linguístico, advindo da noção acientífica do erro. Evidencia que as
variedades linguísticas ganham prestígio em função de fatores históricos, políticos
ou econômicos, já que “[...] nada têm de intrinsecamente superior às demais”. Ela
salienta que a escola deverá estar atenta às diferenças entre a cultura que os alunos
trazem para a escola e a cultura da escola, conscientizando-os dessas diferenças.
Ressaltamos, no entanto, que Bortoni-Ricardo reconhece a dificuldade que os
professores apresentam em relação a essa questão, pois não sabem se devem
corrigir os alunos ou não, que “erros” devem corrigir ou até mesmo se podem falar
em erros (Bortoni-Ricardo, 2004, p. 38). Dessa forma, a autora sugere que “[...] diante
da realização de uma regra não-padrão pelo aluno, a estratégia do professor deve
incluir dois componentes: a identificação da diferença e a conscientização da
diferença” (BortoniRicardo, 2004, p. 42). A conscientização implica que o aluno passe
a monitorar seu próprio estilo, para adequá-lo às situações exigidas.
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O ENSINO DA GRAMÁTICA
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Um conceito simples e que tem dado conta do que entendemos por gramática
é o que a considera um conjunto de regras que especifica o funcionamento de uma
língua. Isso significa dizer que toda língua tem uma gramática e que os falantes, de
algum modo, dominam as regras da língua que falam. Caso contrário, não haveria
entendimento entre as pessoas por meio da linguagem verbal. Possenti (1996), no
entanto, propõe três definições para gramática, a partir desse conceito básico, no
sentido de encaminhar uma opção de ensino que contemple o conhecimento que
possibilite ao falante, produtor de textos orais e escritos, usar a linguagem verbal nas
diferentes esferas sociais de modo desejável e adequado.
Esse primeiro conhecimento de regras da língua de que falamos, aquele que
torna as pessoas capazes de se comunicarem com seus pares e se fazerem
entender e serem entendidas, ainda que não tenham frequentado a escola, Possenti
(1996, p.69) denomina de gramática internalizada: “[...] refere-se à hipótese sobre os
conhecimentos que habilitam o falante a produzir frases ou sequências de palavras
de maneira tal que essas frases e sequências são compreensíveis e reconhecidas
como pertencendo a uma língua”. Uma segunda definição de gramática apresentada
pelo autor, nós a conhecemos bem, é a de gramática normativa. Ela é comum aos
livros didáticos e às gramáticas pedagógicas. Trata-se do “conjunto de regras que
devem ser seguidas” (POSSENTI, 1996, p. 64, grifos do autor) cujo objetivo é fazer
com que os usuários da língua falem e escrevam corretamente. A tradição escolar
tem privilegiado esse ensino sem, no entanto, ter alcançado o êxito desejado, como
já discutimos em unidade anterior. E uma terceira definição diz respeito ao “conjunto
de regras que são seguidas” (POSSENTI, 1996, p. 65, grifos do autor), que é a
gramática que orienta o trabalho de linguistas – descrição e explicitação das línguas
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como elas são faladas –, gramática descritiva. Essas definições de gramática são
importantes para orientar o ensino que se deseja desenvolver.
Antunes (2003) salienta outras questões que são igualmente importantes.
Partindo do princípio de que todo falante tem domínio de regras de funcionamento
de sua língua e de que, ao usá-la, ele faz uso de enunciados aos quais subjazem
conhecimentos de organização das estruturas linguísticas que são compartilhados
pelos interlocutores, a autora afirma que todos têm uma gramática internalizada. Ela
reforça sua posição considerando que são múltiplas as situações de uso da
linguagem verbal e que cada uma delas requer “tipos relativamente estáveis de
enunciados”, o que a faz reafirmar: não existe falante sem conhecimento de
gramática (ANTUNES, 2003, p. 86, grifo da autora). Isso não significa, porém, que
os falantes saibam o que são complementos nominais, quais são as desinências
verbais e assim por diante. Eles sabem as regras de uso de modo a tornar inteligíveis
os textos que produzem. Por isso, diz Antunes, o necessário é ter clareza sobre o
que são regras gramaticais e o que não são regras gramaticais.
As regras gramaticais são as orientações de “[...] como usar as unidades da
língua, de como combiná-las, para que se produzam determinados efeitos, em
enunciados funcionalmente inteligíveis, contextualmente interpretáveis e adequados
aos fins pretendidos na interação” (ANTUNES, 2003, p. 86, grifos da autora). São
regras gramaticais aquelas referentes às concordâncias nominais e verbais, ao uso
e emprego dos pronomes, ao uso das flexões verbais para indicar diferenças de
modo e de tempo de ocorrência das ações, ao emprego adequado de palavras que
indicam relações semânticas entre partes do texto (relações de causa, de tempo, de
oposição, etc.), enfim, são os saberes que garantem, como já enfatizado, que seja
dito o que se deseja de forma adequada, considerando a situação de interlocução
dada àquela comunicação. Em contraposição à regra gramatical, têm-se as
“questões metalinguísticas de definição e classificação das unidades da língua” que
“não são regras de uso” (ANTUNES, 2003, p. 87, grifos nossos), tais como o nome
das conjunções e sua classificação, as denominações para os diferentes tipos de
oração; a função sintática das classes de palavras e toda a nomenclatura constante
dos compêndios de gramática. Os conhecimentos que não são regras de uso são
aqueles que rotulam, dão “nome às coisas da língua” (ANTUNES, 2003, p. 87).
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A autora ressalta ainda que a questão não é “[...] ‘ensinar ou não ensinar
gramática’ [...] é discernir sobre o objeto de ensino: as regras (mais precisamente as
regularidades) de como se usa a língua nos mais variados gêneros de textos orais e
escritos” (ANTUNES, 2003, p. 88, grifos da autora). Coloca-se, então, ao professor
a tarefa de decidir quais regras ensinar e em que perspectiva esse ensino dar-se-á
para que os objetivos de ensino da língua sejam atingidos, na perspectiva da
formação de um leitor e produtor de textos, consciente da importância de ampliar
sempre mais sua competência discursiva, ampliando suas experiências de
letramento. E, se necessário, questões metalinguísticas também serão ensinadas,
desde que relevantes, contextualizadas e de algum interesse para os alunos.
Considerada a gramática internalizada do aluno, seu conhecimento implícito
pode ser ampliado e enriquecido por um ensino que explicite o funcionamento desse
saber internalizado, referente ao léxico, à sintaxe, à pragmática, à gramática, ao
contexto de uso da língua.
Como mencionado em seção anterior, a atividade de análise linguística
possibilitará o desenvolvimento do ensino referente a essas questões. Assim,
[...] pode-se dizer que a [análise linguística] é parte das práticas de letramento
escolar, consistindo numa reflexão explícita e sistemática sobre a constituição e o
funcionamento da linguagem nas dimensões sistêmica (ou gramatical), textual,
discursiva e também normativa, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento
de habilidades de leitura/escuta, de produção de textos orais e escritos e de análise
e sistematização dos fenômenos linguísticos. (MENDONÇA, 2006, p. 208).
Ressaltamos, portanto, que se advoga um ensino de gramática em que o
professor selecione conteúdos que sejam relevantes ao desenvolvimento da leitura
e da produção textual em curso; deve fazer uso, inclusive, da metalinguagem que se
fizer necessária ao saber dizer, pois a “[...] escola valoriza não apenas o ‘saber’, mas
o ‘saber dizer’, [resultado] de uma prática discursiva privilegiada” cuja consequência
é “[...] a maior capacidade para verbalizar o conhecimento e os processos envolvidos
em uma tarefa” (KLEIMAN, 1995, p. 27).
Propomos, para o fechamento desta unidade, uma reflexão sobre como foi o
ensino de gramática vivenciado por você ao longo de sua vida escolar. Discuta com
seus colegas se ele foi produtivo e em que medida se relacionou com as atividades
de leitura e escritura que eram realizadas em sala de aula e fora dela.
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Você tem desenvolvido práticas de análise linguística com seus alunos? Que
efeitos tem observado no processo de ensino e aprendizagem?
O que tem mudado em sua prática docente a partir das questões que vêm
sendo levantadas sobre esse novo olhar para o ensino da Língua Portuguesa?
As discussões levantadas ao longo desta disciplina de Metodologia do Ensino
da Língua Portuguesa e Literatura não se esgotam nesta etapa do curso. Assim como
anunciamos na apresentação do livro, o exercício de escrever, o exercício de ler e o
exercício de ensinar, aqui tratados, entrelaçam-se e se anunciam como
imprescindíveis no pensar o ensino da Língua Portuguesa e da Literatura.
Esperamos que os conhecimentos teórico-metodológicos que partilhamos
com você o motivem a contínuas reflexões e a promover mudanças, e que possa,
em suas aulas, alcançar seus objetivos de ensino de Língua Portuguesa e Literatura
de modo que os alunos desenvolvam aprendizagens mais efetivas e eficientes e com
mais autonomia.
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REFERÊNCIAS
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