Revista Iniciação n.7
Revista Iniciação n.7
Revista Iniciação n.7
OS i R 1 S
1
vamos nos aproximando mansamente do final de mais um ano civil. Para
E nossa mãe Terra um período bastante doloroso, com novas e incessantes
agressões ao meio ambiente; inundações e queimadas por todo o mundo;
seca, correntes marinhas e calor canicular alterando os ciclos da agricultura.
Amém'
Mrfrio Wi!fmersdo1fjr.
� ---
DISCURSO DE INICIAÇÃO
Papus
HOMEM,
Quiseste conhecer nossa fé, quiseste ser dos nossos. Nossa porta não está
fechada, ela encontra-se aberta para todos aqueles que sabem penetrar no
templo. Não temos sacerdotes e tanto podes chegar à fé só, como com a
ajuda de um adepto.
Escuta.
És infeliz e queres ser feliz. Crês que a ciência irá dar-te esta felicidade que
cobiças; crês, pelo trabalho, vencer o tédio que te oprime.
Escuta.
Tudo isto é verdade. Poderás ser feliz; mas não deves acreditar que a ciência,
a verdadeira ciência te tornará feliz pelo dinheiro. Não deves vir a nós se
Se contas com a ciência para chegar, vai para as faculdades. Se queres tra
balhar, lá te ensinarão todo o necessário para seres muitas coisas. Por lá
chegarás às dignidades, mas nunca à felicidade.
Sofrerás tudo o que se pode sofrer em teu espírito pois professarás. Se fores
independente serás infeliz, pois sentirás que o que te fazem dizer é falso. Se
fores submisso serás infeliz, pois verás que, chegado às mais altas honrarias,
serás tão infeliz quanto antes.
Essa felicidade que buscavas quando jovem, irás ainda buscá-la na velhice e
perdido nos dédalos da ciência atual; sentirás sempre, contemplando a
natureza, que te falta alguma coisa.
Escuta.
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DISCURSO DE INICIAÇÃO
A alquimia não irá dar-te a fortuna corpor;i.l; eb te dad uma fortuna mais
durável, uma fortuna que as infelicidades não podem abalar: a fortuna
espiri tua!.
Por mais que sofras serás sempre mais feliz que o sábio corroído pelo ciúme
ou pelo orgulho e que o rico corroído pelo tédio. O tédio, a ambição e o
orgulho passarão longe de ti e por aí serás superior a todos os homens.
Cada dia irá trazer-te um novo quinhão de riqueza intelectual e teu traba
lho irá parecer-te cada dia mais leve.
Os dois caminhos se encontram abertos para ri, podes escolher. Repito que
não podemos dar-te nenhum bem estar material, só podemos conceder-te a
felicidade espiritual.
Escuta.
Olha esse amigo que vende seu amigo pelo ouro, olha esses homens que
se destroem entre si pelo ouro, olha os sacerdotes que são corroídos pela
ambição das honras, olha esse médico que mata os homens para ganhar
mais e não se confessar impotente, olha ao teu redor; só verás em toda
parte a caça ao ouro. Tu mesmo vieste a nós acreditando enriquecer
mais rápido. Crês então, insensato, que nós também nos tenhamos
lançado na corrente que conduz ao desespero? Crês então que os
alquimistas são tão infelizes quanto os outros homens' Digo-te que
somos felizes em meio a todos os infelizes febris de hoje. Não crê, pois,
que pensemos no ouro.
4
DISCURSO DE INICIAÇÃO
Se estudas a natureza, não esqueças que as descobertas não devem ser con
tadas a todos indiferentemente.
Vê que os adeptos desconfiam dos homens e que tão logo tenham dado
alguns conselhos àquele que lhes parece digno, deixam-no sozinho na
natureza.
O orgulhoso não deve conhecer nossa língua, ele deve rir dela e aí está a sua
punição.
5
Z°ARATUSTRA
Uma Mensagem Grandiosa!
2ª PARTE 1
Robert Delefolie
1 A primeira parte deste artigo foi publicada no número anterior da revista (N� 6 - Julho/Setembro de 2002.)
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ZARATUSTRA
7
ZARATUSTRA
Então, diante do mundo que não pára de mover-se, mas que não .muda,
Zaratustra ergue o estandarte da revolta "de uma não-perturbação integral e
da paz total". Ele não se insurge contra o estado de coisas de um país ou de
uma época, de um modo de vida particular ou de um regime social, políti
co ou econômico; nem também a favor ou contra tal ou qual categoria de
indivíduos, de seres viventes, porque segundo sua visão todas são pegas pela
engrenagem desse mundo deteriorado (o nosso) que crê ser o mundo.
Aliás, do ponto de vista do profeta, não fica claro que boas e más ações rião
constituem, por si só, o Bem e o Mal, mas as expressões do Bem e do Mal.
Pensemos no rei Amfortas que se serviu da lança divina, com toda a sin
ceri da de , como de uma arma para salvar o Graal, ao invés de servi-la, a ela,
à luz divina! Amfortas quis servir o Céu através de meios terrestres. Ora, será
que o fim justifica os meios? Mas o fim divino não está nos meios. Eis a ver
dade! E o enigma é esclarecido pela fé casta de Parsifal, que leva a mão ao
seu flanco, porque ele sofre o sofrimento de Amfortas por uma compaixão
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ZARATUSTRA
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ZARATUSTRA
10 --·--
ZARATUSTRA
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ZARATUSTRA
Trata-se aqui, de fato, DA quescão vital. É exatamente por isto que os ensi
namentos primordiais, preocupações essenciais de Zaratustr1 e de todos os
seu.s suce.ssores (mais ou menos próximos), dão prioridade ab.soluta e
incondicional à natureza do ser (humano ou outro), à conduta mornl, ge
nerosa, fraterna, atenciosa e misericordios:1 para com todos os que sofrem,
sem qualquer exceção, restrição ou seleção.
Cuidar dos animais, por exemplo, implica aqui toda a recusa de escolher
entre animais domésticos, companheiros incômodos ou selvagens. O
mesmo se aplic1 a toda a natureza. O humano é naturalmente considerado,
antes de tudo, por sua bondade, seu sofrimento, e não por ser ele útil ou
bom para a marcha da sociedade. Uma ética superior é, segundo Zaratustra,
a do respeito completo, da doçura, da caridade e da benevolência em relação
a toda a existência. Zaratustra vê e vive em toda parte a individualidade di
vina, condição intrínseca da única e verdadeira Paz.
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ZARATUSTRA
Caridade e benevolência
:.Il���
indizíveis regram a vida coti
Torres do Fogo - aqui os persas faziam arder
diana zoroastriana e se dirigem um fogo perpétuo para Ahura-Mazda.
aos animais, à natureza inteira,
como aos humanos, da mesma maneira, sem qualquer exceção, com o reco
nhecimento da dignidade absoluta de todos os seres, humanos ou outros.
A partir daí, parece muito natural que o homem não esteja nesta terra para
a preocupação prosaica de seus objetivos, bens e necessidades práticas, nem
de seus objetivos egoístas ou de um altruísmo limitado. A questão não é,
portanto, a do "super-homem", já que simplesmente o homem, o homem
verdadeiro, humano, ainda não se encontra lá. Para Zaratustra, o humano,
o puramente humano, está ainda e sempre "por vir".
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ZARATUSTRA
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ZARATUSTRA
É um mundo de amor puro, de um amor que não crê, que não escolhe, que
não conclui e não exclui, porque ele abraça - e inflama - todas as espe
ranças e todas as aparências do homem e do mundo, ao mesmo tempo que
aniquila as pretensões de não importa que objetivos terrestres, os quais, dos
menores aos maiores, são sempre pequenos e irrisórios diante de uma ele
vação espiritual tão integral, porque celestial, e da amplitude desconhecida
de uma fraternidade que não esquece jamais nenhum ser de qualquer espé
cie e de qualquer reino. Que relativiza, e mesmo ridiculariza, toda vaidade e
toda satisfação pessoais, sejam elas merecidas, herdadas ou monopolizadas.
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
Robert Ambelain
"Os egípcios representam o céu, que por ser eterno não pode
envelhecer, por um coração pousado sobre um braseiro, cu;a
chama mantém seu ardor. .. "
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TÉCNIGA DA VIA CARDÍACA
f .i
Osíris preside o tribunal onde os deuses infernais pesam numa balança as virtudes e pecados
do morto. que avança vestido de branco (Museu do Louvre).
durante sua vida, "um homem justo, verdadeiro, bom, tendo colocado o
Deus supremo em seu coração. ". .. É por isto que, quando de seu
Julgamento póstumo, quando, diante de Osíris, Maat, a deusa da Verdade,
for pesar seu coração de defunto, este não mais temerá os castigos do
Amenti, porque um homem em cujo coração reside a Divindade não poderia ser
condenado. Mais tarde São Paulo nos diria: "Não sou mais eu que vivo, é o
Cristo que vive em mim... . "
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
"OM.MA.NJ.PA.DME.H'UM.I-IR'!."
que geralmente se traduz por "Oh, a jriirt no Lrítus... ", o que não quer dizer
rigorosamente nada de claro! Na verdade, esses sons são evocativos de idéias
- nada mais do que isto - e é nesta qualidade que aco mpanham toda
medi ração.
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
Alguns gomtchen (eremitas tibetanos) dormem nesta caixa sem jamais esten
der-se. O que chamamos de gremial no Ocidente, e que eles chamam de
sgom thag (pronúncia: gom thag), larga estola de pano encorpado, às vezes
uma simples corda de tecido, serve-lhes de sustentáculo e permite-lhes man
ter o busto reto durante a meditação, o samadhi, ou o simples sono.
Durante suas meditações, os tântricos têm geralmente diante dos olhos uma
espécie de p antáculo, chamado yantra, traçado geométrico d e cores precisas,
cujas figuras são acompanhadas por letras sânscritas, tudo colocado sobre
um suporte apropriado, geralmente de casca de bétula. Quando de seu esta
belecimento, o yantra foi, necessariamente, "animado" no decorrer de um
ritual comportando oferendas: flores, água lustral, e para que essa animação
seja efetivamente realizada, os elementos da realização do yantra devem ser
extraídos de substâncias vivas. É o caso da tinta colorida com a qual se
traçam, principalmente, os esquemas e as letras. Enfim, tanto quando do
estabelecimento do yantra, como quando de sua vitalização ou de seu
emprego ulterior, o tântrico fará uso abundante de mantras e de fumigações
odoríficas (incenso, óleos, etc ... ), de um rosário e de objetos diversos, sem
pre peculiares ao lamaísmo.
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
* *
Quando se sabe que esses fenômenos sobrevêm sempre de forma brutal, sem
qualquer progressão, sem que o "suporte" tenha sido prevenido, sem que os
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
Isto exige uma maestria especial, uma técnica de oração, toda uma crencia
espiritual, à qual os monges se consagram inteiramente. O método da orarão
interior ou espiritual, conhecido sob o nome de "hisechasma" ou "hisechis-
1no", pertence à tradição ascética d<t Igreja do Oriente e ren1onta - segun
21
TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
São João Crisóstomo já nos dizia que: "Para que o Nome de Nosso Senhor
Jesus Cristo desça na profundeza de teu coração, para que lá ele vença o
Dragão que devasta seus pastos, e para que, por outro lado, ele salve a alma
e a vivifique, apega-te para isto incessantemente ao Nome do Senhor Jesus,
a fim de que teu coração beba o Senhor e o Senhor teu coração, e que assim, os
dois, formem um todo iínico .. " (São João Crisóstomo: Centiíria, 21).
.
* *
O yantra tântrico tem sua equivalência na liturgia oriental, com o ikone, que
se escreve ícone no Ocidente.
-- 22 --
TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
em cada uma das 64 contas ordinárias, e pronunciar a fórmula longa: " KYRIE
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
ISSOU CHRlSTE !E THEOU ELEISON !MAS AMARTANON" nas oito contas que
separam as séries.
Da mesma forma que o verdadeiro iogue foge dos siddis (os poderes
psíquicos), como dos meios utilizados pelas entidades inferiores para
entravá-lo em seu caminhar espiritual, também o hisechasta rejeita qualquer
desejo de prodígio. Eis o que nos diz São Nilo do Sinai a propósito disto:
Porque, nos diz São Simeão o Novo Teólogo (século XI): "É então que
começa a guerra. Com grandes rugidos, os demônios aparecem desencade
ando, através das paixões, as revoltas e as tempestades no coração. . ". A esse
.
Efrrivan1e11.te, aquele que, fto decorrer de evoca s;ões mágicas, tiver con
seguido ver o mundo demoníaco, ou bem será por ele possuído, ou (manten
do-se mestre de si mesmo), terá sua fé fortalecida para sem.pre.
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
É por isto que acreditamos ser vantajoso purificá-lo por uma fumigação,
cuja fórmula de sacralização seja, ela mesma, um curto mas eficaz exorcis
mo. Fornecemos esta fórmula no Rituel Opératijet Général (Ritual Operativo
e Geral), destinado aos membros das diversas Ordens Martinistas; não ire
mos retornar a ele.
Há, de foro, um duplo aspecto desse fogo. Sabe-se que o Templo de Salomão,
réplica do Taberndculo, foi realizado por Salomão segundo os planos recebidos
pot' ""'u pai, Davi, das n1!los do profeta Natan, depositário t.!o csotcrisn10 de
Israel. Sabe-se que o Templo foi construído "à imagem de Deus, do Homem e do
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TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
* *
Essas confrarias trazetn o nome de seu fundador, um m:uabuto que sem pre
27
TÉCNICA DA VIA CARDÍACA
28
A PEDRA BRUTA
Frater ,Zelator
Em toda parte na Antigüidade a Arquitetura foi uma arte sagrada e muito inti
mamente ligada aos sacerdotes e à religião. Posteriormente foi na Idade Média,
com a arte dos Maçons Operativos e dos construtores das grandes catedrais da
época, ta1nbém conhecida como a A.rte Real dos Talhadores de Pedra, que a
29
A PEDRA BRUTA
rcvolucionáriosn com o
estilo Gótico, tendo
adquirido junto à Or
dem dos Templários os
fundamentos desse estilo
de construção que ainda
hoje vemos nas catedrais
mais famosas do mundo,
con10 as Notre-Dames
de Paris e de Chartres,
ambas na França. Lem
bremos que no cerne dos
Templários encontra
vam-se os Irmãos Rosa
cruzes do Oriente, de
tentores do saber que
deu origem à atual Tradição Rosa-cruz.
30 - --
A PEDRA BRUTA
Por isso, tão logo o novo Irmão tivesse recebido a primeira fresta de Luz dos
Mistérios, o Mestre de Obras, representante dos Trabalhos iniciáticos da
corporação, completava a instrução acompanhando-o, então, até a citada
Pedra Bruta onde, entregando-lhe o Malho, ensinava-lhe a dar os golpes
misteriosos com os quais deveria chamar no futuro às portas dos Templos,
explicando-lhe ao mesmo tempo o seu significado Crístico: busca e encon
rrarás; c hama e re abrirão; peça e te darão.
31
A PEDRA BRUTA
Todo esse engajamento iniciático obriga o novato a repensar sua vida, suas
atitudes do passado e do presente, moldando uma nova personalidade para
o futuro. Algun s antigos Construtores ::i.firmavam, também, que a Pedra
Bruta er::i. análoga à Matéria-Prima dos Hermetistas, devendo ser talhada
com cuidado com o Malho para que chegasse a apresentar a forma de um
cubo, sendo esta uma forma mais perfeita e que estaria em melhores
condições de servir e de "encaixar-se na construção da Humanidade" e nas
Obras daquele que era conhecido por muitos como o Grande Arquiteto do
Universo. Isso caracteriza o desejo de se chegar à conquista da Pedra
Filosofal que nos remete à Alquimia do eu interior - a Pedra Cúbica dos
Maçons. A Alma, transmutando todos os seus defeitos em virtudes, trans
formando assim o homem comum naquele revivido como verdadeiro
Estado Rosacruz, como nos ensina René Guenon em suas obras.
Talvez por isso nossos Mestres do passado tenham deixado gravados nas
pedras das Catedrais e das pirâmides tantos símbolos secretos, pois o
homem que renasce na Iniciação não morre jamais, como jamais morrerão
tais obras que servem como verdadeiros livros de pedra para ::i. posteridade.
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OTARÔ
Estudo sumário dos 22 arcanos maiores
Suzy Vandeven
33
O TARÔ
Por que esta Balança de Ouro na mão esquerda da Jusriça? Porque é por sua
Feminilidade, sua Virgindade, sua Pureza, que o Homem poderá realizar sua
reintegração total, utilizando igualmenre, para tanto, sua Virilidade (repre
sentada pelo GLí.dio), sua Direita, seu Verbo, sua Lei. O homem, assim
como a mulher, deve dar à luz Por Ele. Nele, para Ele.
T iphereth ou CRISTO).
O trabalho é todo interior. Sobre a Lâmina a Vitalidade (Verde) está apenas
aparente; a Justiça está inteiramente vestida de Rosa e de Azul. É o Amor, a
Inteligência, o Raciocínio a serviço da C:uidade, do Parto divino, da Luz...
Amém'
34
O TARÔ
IX - o EREMITA - o THETH
35
OTARÔ
Pelo esquema das Eneadas e suas noções de valor, podemos seguir o proces
so dos Princípios e dizer, como L.-C. de Saint-Martin: "O 9 é uma realiza
ção perfeita na matéria: é o Retorno à Unidade".
Oswald Wirth nos diz: "O manto escuro do Eremita, tirante sobre o mar
rom, forro azul, é a vestimenta da natureza aérea, dotada de propriedades
i sol ante s, é o manco de Apolônio".
36
O TARÔ
Amém!
37
A FÉ - FACULDADE ESPIRITUAL'
Con.stant Chevillon
38 ---
sobre a qual forjamos duramente nosso porvir, porque o homem, malgrado
as contingências individuais ou coletivas, é o artesão de seu próprio destino;
ele o faz grande, mesquinho ou miserável, ao ritmo da fé que o anima.
39
O ROMANTISMO
Robert Delafolie
Talvez fosse bom destacar que esse grande acontecimento na arte, na lite
ratura, no teatro e em todo o pensamento foi, entre outros, lembrar-nos que
temos todos imaginação, mas que a deixamos muito freqüentemente dormir
ou cochilar, ou então que a despertamos quase sempre unicamente para
deixá-la vagabundear rumo às fantasias leves, frívolas, às vezes insignifi
cantes ou artificiais, mas de qualquer maneira superficiais.
40
O ROMANTISMO
Esta é uma séria constatação que nos traz de volta a nós mesmos e recoloca
em questão o conjunto das nossas opiniões e das apreciações arbitrárias e
aleatórias - que nos fazem às vezes considerar como sendo ultrapassada ou
do passado - das coisas que nos superam infinitamente e que, afinal de con
tas, não são nem do passado, nem do presente, nem mesmo do futuro, mas
de todos os tempos.
O que mais nos falta é, provavelmente, não ver o que c.;tá ao nosso alcance,
no interior de cada um de nós. Portanto, despertemos! E logo o poeta (no
sentido divino e infinito), o homem verdadeiro e real revelado a si mesmo,
não ira mais aqui ou acolá para buscar a imensidão, a unidade e a
eternidade, mas irá descobri-las lá, aonde elas se encontram, ou seja, em
toda parte.
A Balsa da Medusa (1819) - a tela de Géricault é tida como um dos principais marcos da ·
41
O ROMANTISMO
42
O ROMANTISMO
Enfim, por que não citar espíritos abertos e tão mais elevados que seu
mundo e seu tempo, quanto Pascal meditando tão profundamente entre os
dois infinitos (estranhamente moderno ainda hoje)? E que dizer de Fénelon,
preceptor do Duque da Borgonha, cujo Telêmaco é a apologia contínua de
uma natureza pura e ideal, idílica?
Por outro lado, que reflexões nos sugere Bossuet com seus "sermões sobre a
morte"? O preceptor do Delfim, predicador na corte do Rei Sol, estava cer
tamente mais próximo dos espíritos atormentados de 1800/1830 que de sua
época! Quanto a Corneille, ele parece constituir-se no vínculo mais seguro
e mais evidente entre as duas sublimes utopias,
cavalheiresca e romântica.
43
entra em cena Mme. de Stael. A filha de Jacques Necker, antigo ministro de
Luís XIV, havia contraído núpcias com o barão de Stael, embaixador da
Suécia. Após numerosas viagens à Rússia, Suécia, Itália, Inglaterra e Áustria,
ela escrevera várias obras, uma delas sobre a literatura e as instituições soci
ais. Mas ela fizera, principalmente, sucessivas viagens à Alemanha, freqüen
tando assiduamente os meios poéticos e filosóficos com Schlegel, Goethe e
S chiller.
44
O GRAAL
HenryBac
45
O GRAAL
Ao lado dela, abandonou por um instante a sua lança sagrada que o torna
va invencível. O mago Klingsor apoderou-se da arma e abriu-lhe no flanco
uma horrível ferida.
Ao deixar cair em mãos criminosas uma das relíquias sob sua guarda,
Amfonas profana o Graal por seu pecado, quando das cerimônias.
Sua ferida só poderá fechar-se quando a lança for reconquistada por um ser
livre de qualquer mácula, que irá tornar-se então o rei do Graal.
Kundry, a sedutora, parece ter duas almas, e mesmo duas existências, alter
nando uma com a outra. Numa fase voluptuosa, nada :i.tingc o amargor de
seus desejos; numa fase de arrependimento, sente uma necessidade ardente
de humilhar-se e de servir aos bons: ela traz um bjJsamo misterioso para o
rei sofredor. Klingsor volta, cm seguida, a apode rar- se dela, para utilizá-la a
serviço de sua ação tenebrosa.
4() --- -·
O GRAAL
Parsifal nada sabia; mas Kundry irá revelar-lhe seu nascimento e informar
lhe da morte de sua mãe que ele abandonara.
Fazer o bem a quem nos faz mal - tal parece ser o preceito do Graal.
Kundry evoca a fatalidade pensando nela. A inspiração divina a toca ainda
timidamente. Assim sendo ela logo voltará a cair sob o poder do tenebroso
Klingsor.
Retine o som dos sinos. Parecendo entrever em Parsifal "o Simples, o Puro" cuja
chegada foi predita ao Rei, Gurnemanz o conduz na direção do Templo, rumo à
escalada do Graal. Penetrainos na parte mais profundainente esotérica do drama
musical, aquela em que se exprime, em harmonias sobre-humanas, o mistério da
evolução do mundo; o material, evolução do homem; o espiritual, evoluç.'io da alma .
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O GRAAL
Caminhamos assim além dos limites do tempo, nos libertando dos remos
inferiores da natureza para elevar-nos às alturas espirituais.
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O GRAAL
O homem atrai para si próprio o castigo se não obedece mais à lei: reen
contramos aqui a concepção bíblica.
Toda Espiritualidade vem dele. Como não sonhar, uma vez mais, com os
primeiros versículos do Evangelho de São João: " ... Nele estava a vida. E a
vida era a luz dos homens" ...
A partir daí, sejam quais forem as provas que tiver que enfrentar, a estrela
do Graal o guiará.
Bem que ela gostaria de não desempenhar esse triste papel, mas Klingsor a
tem. em seu poder.
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O GRAAL
Eia exclama: "Parsifal, o puro simples. Assim te chamou teu pai quando,
expirando nas distantes terras da Arábia, dirigiu a saudação suprema ao seu
filho, ainda encerrado no seio de tua mãe".
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O GRAAL
Como no Evangelho de São João, onde é dito: ''A luz brilha nas Trevas e as
Trevas não a receberam". Kundry percebe enfim esta luz que ela buscava sem
descanso através das trevas da sua consciência. Ela se torna vidente pelo
excesso da dor e do Amor.
Porém falta ainda a Parsifal a plenitude do saber. Mas Kundry irá revelar-lhe
que ele deve apoderar-se da lança sagrada que feriu Amfortas e da qual se
serviu Klingsor.
E quando este último pensa em lançar a arma contra aquele que desafia o
seu poder, Parsifal apodera-se dela. Imediatamente jardins encantados e
castelo desaparecem. Klingsor despenca no abismo. Do alto da construção
em ruínas, Parsifal diz a Kundry: "Sabes onde me encontrarás1"
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O GRAAL
Toda a idéia filosófica do drama reside nesta frase. O jovem Cavaleiro sente
sempre aquela ferida que representa para ele uma dor reveladora.
Parsifal toca com um beijo a testa da servidora e diz: "Tuas flores fecundam
a terra que elas regam; de tuas lágrimas, as flores desabrocham".
52
O GRAAL
Toda a idéia filosófica do drama reside nesta frase. O jovem Cavaleiro sente
sempre aquela ferida que representa para ele uma dor reveladora.
Parsifal toca com um beijo a testa da servidora e diz: "Tuas flores fecundam
a terra que elas regam; de tuas lágrimas, as flores desabrocham".
52
O GRAAL
1�.
"Surgiu então um resplendor divino e brilhou com
• a céltica, que se reporta à con
fogo na Sagrada Taça".
quista da "bacia mágica", do vaso
que contém sabedoria e poder. Encontra-se aí a idéia antiga da iniciação
pelo esforço conservada pelos druidas e pelos bardos;
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O GRAAL
Henry Bac
55
NICOLAS IVANOVICH NOVIKOV
Um dos fundadores do Martinismo
Robert Ambelain
Como homem prático, havia instituído toda uma série de escolas popu
lares, abrindo em seguida gráficas onde fazia imprimir manuais para essas
escolas, assim como outras obras instrutivas e morais que cuscavam apenas
alguns copeques, e às vezes absolutamente nada. Depois organizou hospi
tais, mas como uma parte ínfima da população podia aproveitá-los. estab
eleceu farmácias que forneciam gratuitamente aos indigentes os remédios
exigidos por seu estado. Fez ainda sllrgir diferentes bairros de Moscou
em
56
por objetivo fornecer pão e víveres de primeira necessidade aos pobres dos
vastos territórios da Rússia, no caso, bastante freqüente, de más colheitas.
Eis aí uma tarefa que, antes dele, nenhum homem, agindo a título priva
do, havia conduzido com sucesso. Deve-se admitir que a imensa fortuna de
alguns de seus irmãos, os martinistas e os franco-maçons russos, permiti
ram-no fazer. Foi assim que o discurso que pronunciou na abertura desta
última instituição foi bastante inspirado e convincente a ponto de levar um
rico negociante de Moscou a remeter-lhe vários milhões de rublos.
57
NICOLAS IVANOVICH NOVIKOV
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CARTA -PREFÁCIO À REEDIÇÃO DO QUADRO
NATURAL DE CLAUDE DE SAINT-MART IN
Papus
Aproveitando a oportunidade do recente lançamento da
ediçáo em língua portuguesa, pelas Éditions Rosicruciennes,
de O Quadro Natural de Saint-Martin, publicamos a
"carta prefacio" ou introduçáo à segunda ediçáo da obra do
"Filósofo desconhecido" assinada por Papus.
E não temos nesta via guia melhor do que o Filósofo Desconhecido e sua
encarnação efetiva em nosso mestre Claude de Saint-Martin 1•
Mas as obras do mestre são raras e, portanto, nem sempre ao alcance dos
meios materiais dos membros de uma ordem cuja pobreza física é a honra.
Assim sendo devemos agradecer aos nossos mestres que o escolheram
como o instrumento da difusão de suas idéias, inspirando-lhe a idéia de
colocar o Quadro Natural ao alcance de rodos os nossos irmãos2•
1 Note-se que na época era comum a omissão do primeiro nome de Saint-Martin, cujo nome com
pleto é Louis-Claude de Saint-Martin.
2 Papus se dirige ao irmão martinista que assumiu o encargo da reedição desta obra de Saint-Martin.
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CAR TA-PREFACIO A REEDIÇÃO DO QUADRO NATURAL
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CARTA-PREFACIO A REEDIÇÃO DO QUADRO NATURAL
intenção deles que nosso velho mestre escreveu o Crocodilo, pois soube
ocultar seu pensamento sob o triplo véu iniciático sempre que quis fazê-lo.
Que cada um dos irmãos da Ordem Martinista medite sobre esses comen
tários dos vinte e dois arcanos escritos por Saint-Martin, aguardando a
breve edição das outras obras do célebre realizador de nossa Ordem, que
outros irmãos devotados se preparam para trazer novamente à luz do dia.
61
GERME
Ponto de Encontro de Martinistas
• 30 de novembro - sábado
Cabala - palestra apresentada pelo lrm:ío Adílio Jorge M�uqucs
Local: Hotel Mengo Pabce - Ru:i Corrca Outra, 31 r:Iamcngo
-
Horário: l 7:00h
• 21 de dezembro - sábado
O Simbolismo do Natal- palestra apresentada pelo estudioso Marco
Antonio Coutinho
Local: Hotel Mengo Palace - Rua Corrca Outra, 31 - Flamengo
Horário: l 7:00h
Entradrt gnrtuitll
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As Preces de Louis-Claude de Saint-Martin1
PRECE V
63
AS PRECES DE L.C. DE SAINT-MARTIN
não pode dela afastar-se sem ver-se no campo entregue a todos os horrores
da incerteza, dos perigos e da morte. Apressa-te, Deus de consolação, Deus
de poder; apressa-te em fazer descer em meu coração um desses puros movi
mentos divinos para estabelecer em mim o reino de tua eternidade, e para
resistir constantemente e universalmente a todas as vontades estranhas que
vierem reunir-se para combatê-lo em minha alma, em meu espírito e em
meu corpo. É então que me abandonarei ao meu Deus na doce efusão de
minha fé, e que publicarei suas maravilhas. Os homens não são dignos de
tuas maravilhas, nem de contemplar a doçura de tua sabedoria e a profun
didade de teus conselhos! Mas serei eu mesmo digno de pronunciar palavras
tão belas, vil inseto que sou, e que só merece as vinganças da justiça e da
cólera? Senhor, Senhor, faz repousar um instante sobre mim a estrela de
Jacó, e tua santa luz irá estabelecer-se em meu pensamento, como tua von
tade pura em meu coração.
PRECE VI
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INTRODUÇÃO AO MARTINISMO
J. de Luquere, S.I.
* .•
Mas não devemos nos deter nas escórias que bóiam em toda fervura e que o
vulgo tem a tendência a considerar como o resulrado do fenômeno. Houve
pen.�ndorcs modc.:st:os e s.Íncct"o.'!i: 9uo, por umn vc:.t'dndeirn n1oiduticc.t - teria
dito Sócrates - se debruçaram sobre os grandes problemas merafísicos.
Ape;;a1· de u dencia fazer recuar incessantemente os limites do dornfnio de
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exploração, tantas obscuridades permanecem inexplicáveis pelo método
racional, que é permitido a buscadores guiados pela intuição fornecer expli
cações válidas para elas. Ora, essas pesquisas levam à luz por uma senda
ornada por belas flores inebriantes, mas venenosas, porque elas não têm
senão o odor de uma falsa ciência: é necessário abandoná-las se não se qui
ser enlouquecer e afastar-se da verdadeira via da sabedoria.
* *
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INTRODUÇÃO AO MARTINISMO
certo número de obras, as mais célebres das quais foram os Arcanos Celestes
e a Nova Jerusalém e sua doutrina celeste, onde desenvolve uma interpretação
mística dos livros sagrados e do apocalipse. Durante sua longa existência
Swedenborg teve muitos discípulos, dos quais o mais célebre na França foi
incontestavelmente Don Martinez de Pascallis.
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Não temos que tomar partido em todas as querelas suscitadas pela cronolo
gia da descendência espiritual de Martinez, mas se negligenciamos a dos dis-
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INTRODUÇÃO AO MARTINISMO
cípulos cuja ação foi nula e sem posteridade, conservamos apenas o nome
de dois grandes iniciados que recolheram a tocha do mestre:
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'------------------------------ 11/t:
"As leis civis são favoráveis aos trapaceiros, necessárias aos maldosos e humilhantes
para os sábios".
"Eu disse há muito tempo que era necessário :icautelar-se no dia seguinte de um
dia feliz. Posso dizer com a mesma veracidade que podemos contar com consolos
no dia seguinte de um dia ruim. Esse princípio se baseia na lei das alternativas".
"O homem fogoso e insensato é forte tão somente pela ferocidade; ó homem sábio
o é pela razão e pela virtude; um náo é forre senão irritando o ardor dos sentidos;
o outro o é acalmando-o".
"A ciência é para o temporal. O amor é par;;. o divino. Pode-se passar sem a ciên
cia, mas náo sem o amor, e é pelo amor que rudo acabará, porque é pelo amor que
tudo começou e que tudo existe".
"Nao canso de repeti-lo: deve-se temer Deus com medida, mas deve-se amá-lo sem
medida".
"Da mesma forma que o sol faz germinar as plantas na superfície terrestre e d:í
vida ao que não a tinha, o homem pode animar tudo o que o cerca e fazer fruti
ficar todos os germes invisíveis que enchem sua tenebrosa morada".
"Se o homem crê em Deus, ele náo pode jamais cair em desespero; e se o ama, náo
"
pode estar uni instante sem ge1ncr .
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