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Nº 5
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Abril/ .Junho de 2002 Papus,
Diretor !11rer11acio11a/
Y\'éS-Fred Boisset (França)
��ii!!-l?�t�E!�?:iq:rl"é:§�í�pjJi!Jf1, 'ftllrL4
Papus
Editor
Mário Willmersdorf Jr.
Design e Diagramaçctn
J .C. Mdlo & Arthur Fróes I ldéoa Digital
Haniel
Jonwlisra responsável
Marco Antonio Coutinho (MT: 13518)
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lliií!Z!JJi!f'tó ·;��!!!!�'Mff
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Révistn fundada em 1888 por Papus L.-C de Saint-Martin
<Dr. Gérard Encausse) e reativada
ém 1953 por Philippe Encausse.
Dirf'tores
Carlos Alberto S. Almeida
Luiz Carlos Fraga René Caillié
Mário Willmersdorf Jr.
Pedidos de Assinatura
Jean Tourniac
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1
EDITORI!\L
MOMENTO DE UNIÃO
Sinal dos tempos? Sem dúvida. E que fazemos nós, os iniciados, diante desse
quadro' A atitude mais cômoda é o alheamento. Mas não podemos fugir da
nossa consciência. E podemos muito mais do que possamos eventualmente
imaginar. O momento é de tomada de posição, de conscientização.
Conscientização inerente à nossa formação esotérica. Àquele dia em que nos pro
pusemos a portar o archote da luz, defendendo a sua chama de rodos os ventos.
Mário Wi!lmersdorfjr.
2
A DEFINIÇÃO DO MESTRE1
Papus
omos guiados passo a passo em nossa evolução, e os guias que nos são
S enviados pelo invisível vêm de diferentes planos - em linguagem mística
"apartarnenros", segundo o gênero de faculdade que eles devem evoluir.
Tudo isto constitui a banda dos queridos Mestres, horda sagrada que defende
jusramenre suas prerrogativas e eleva diante do profano a barreira das ciên
cias técnicas e dos exames.
1 Este artigo foi publicado no número 1 de 1967. Trata-se da reprodução de uma conferência dada
por Papus em Paris, em junho de 1912.
2 E Papus ainda ni!o conhecia a televisi!o! (NDLA).
3
A DEFINIÇÃO DO MESTRE
Seja qual for o nome que lhe dermos, ele chega a certo período manifes
tando-se abertamente, a outros períodos ocultando-se em meio aos
humanos e agindo desconhecido para o bem coletivo, e rodos os que podem
entrar em contato com ele guardam uma tal lembrança, que seu coração
permanece comovido por várias encarnações.
É dele que Sédir diz, em uma de sua'.; conferências: "Mas quando o Mestre
aparece. é como um sol que se ergue no coração do discípulo; rodas as
nuvens se desfazem; rodas as gangues se desagregam; uma nova claridade, ao
que parece, se expande no mundo; esquecem-se dissabores, desesperos e
ansiedades; o pobre coração tão infeliz se lança rumo às radiosas paisagens
entrevistas, sobre as quais o tranqüilo esplendor da Eternidade estende suas
glórias; nada mais terno lança sombras na Natureza; tudo, enfim, se conci
lia na admiração, na adoração e no amor". É aquele que provoca discípulos
ardorosos ou adversários impiedosos e que recebe, como Cagliostro, cartas
desse tipo: "Eu ficaria feliz, então, se p::desse dar-lhe provas dessa afeição
terna e respeirosa da qual foi penetrado, dessa afeição da alma que não sei
dar e que sinto tão vivamente. Minha existência física e moral pertence a ele;
que ele disponha dela como do mais legítimo apanágio... Minha mulher,
meus irmãos, meus pais, a Senhora du Piquet e sua família, que também lhe
devem grandes obrigações, querem ... Que o Senhor Conde de Cagliostro
esteja persuadido de que fomos afetados além da expressão de rudo o que os
aconreci.mentos imprevistos lhe fazem sofrer, e que nossa ambição e nossa
glória estariam satisfeitas se pudéssemos encontrar ocasiões de servir-lhe de
3
maneira útil, é a homenagem simples e espontânea de nossos corações".
Assim vosso servidor, que não passa na realidade de um pobre soldado desse
exército, não tendo sequer podido nele obter os galões de cabo, fica desagra
davelmente impressionado cada vez que lhe enfiam goela abaixo o título de
"Mestre".
Consolo-me imaginando que estou fazendo uma viagem à Itália. Nesse país
encantador, recebe-se um título nobiliário segundo o valor da gorjeta que se
distribui aos empregados dos trens; por cinqüenta centavos é-se cavalheiro;
por um franco, duque ou excelência; e por cinco francos, é-se pelo menos
príncipe. O número de Mestres que são mestres como o viajante à ltáli;. é
príncipe, é de tal forma grande na terra, principalmente nos centros in
telectuais, que o verdadeiro Mestre tem razão de permanecer desconhecido.
5
A DEFINIÇÃO DO MESTRE
Se, deixando de lado as chaves hebraicas r:: o tarô, dos quais acabamos de nos
servir, nos voltarmos ao sânscrit0, obteremos duas palavras:
MaGa, que quer dizer "felicidade e sacrifício" com seu derivado
"Magoni", a aurora, e
!sTa, qu e quer dizer "o corpo do sacrifício", a oferenda.
O M estre , o Maga lsta, ou o Magisto, o Mago, é pois aquele que vem sa
crificar-se, que dá seu ser em oferenda para a felicidade de seus discípulos.
Compreender-se-á agora o símbolo maçônico do Pelicano e a lei misteriosa
"O iniciado matará o Iniciador".
(i
A REENCARNAÇÃO
Papus
O homem é de tal forma orgulhoso, que não pode admitir que é ele próprio
que se pune, e lança a culpa de sua vida de provações sobre sua família, ou
seja, sobre seus ancestrais, sobre o l!leio social, sobre seu corpo físico e
mesmo sobre Deus.
Ora, é neste último sentido que o ensinamento secreto dos mistérios é dado,
e que se mostra a reencarnação como origem das diferenças sociais.
Aquele que se conduziu mal em uma existencia artterior, será punido c:m
urna existência ulterior. Inútil dizer que essa existência pode se passar em
diferentes planetas, pois rodos os planetas são habitados e a terra é um dos
7
A REENCARNAÇÃO
Lê-se em Phédon:
"Os que se a bandonaram a 111r,'mperança, aos excessos do amor e
da mesa, e que não tiveram nenhuma moderação, entram, ao que
rudo indica, no corpo de animais semelhantes, e aqueles que só
praricaram a injustiça, a rirania e as rapinas, vão animar corpos de
lobos, gaviões e falcões. O destino das ourras almas é relativo à vida
que elas levaram."
É uma descoherr" reçon h eci d a por toda a antiguidade, que se a alma comete
e rr o s ela é condenada a expiá-los submetendo-se a punições nos infernos tene
,
brosos. Depois ela é admitida a passar a novos corpos para recomeçar suas provas.
- A REENCARNAÇÃO
Pode-se dizer, em geral, que a vida social atual é determinada pelo estado ante
rior do espírito e que ela determina o estado social faturo. Um assaltante que
atacava e deixava sem nada muitos seres humanos em sua encarnação ante
rior. é freqüentemente obrigado a retornar ulteriormente para ajudar e
cuidar daqueles que havia anteriormente molestado. Um Rei ou um líder
social que renha feiro mau uso dos seus poderes, volta para enfrentar o cas
tigo das leis injustas por ele promulgadas. É a lei de airain, a ação do desti
no sobre o espírito; mas o espírito humano tem uma particularidade: se ele
nada pode sobre a constituição do seu corpo e sobre as leis que a dirigem -
salvo através da higiene e de treinamentos psíquicos - ele tudo pode na
constituição das leis sociais e na criação das sociedades, que são quase
inteiramente saídas da vontade do homem.
1 Em seu Antre des Nymphes (Antro das Ninfas), Porfírio relata que os egípcios reconhecem duas
portas no céu: uma, situada no trópico de Câncer, era chamada de a Porta dos Homens, ou seja, rumo
aos Homens. Era por ela que as almas vi11ham p a ra a terra animar os corpos dos Homl'!ns. A segun
da porta, denominada a Porta dos Deuses, ou rumo aos Deuses. encontrava-se no signo de
Capricórnio e seu papel era dar passagem às almas que, após a mo rte, retornavam ao céu. A primeira
porta era a Porta da Vida, a outra, a Porta da Morte ou do Inferno (De Briêre).
9
A REENCARNAÇÃO
A análise simbólica das letras sânscriras que compõem esse nome seria das
mais interessantes, mas fora de nosso rema. Os Orientais, ou melhor, os pro
fanos cbs doutrinas orientais, dos quais os budistas são a represemação atual,
ensinam que esse destino só pode ser modificado pela conduta atual do
homem agindo sobre seu destino futuro.
2 Ver Le MaTtre Philippe, de Lyon, thaumaturge et "Homme de Dieu", ses prodiges. ses
guérisons, ses enseignements (O Mestre Felipe de Lyon. taumaturgo e "Homem de Deus", seus
pwctrgios, suas curil s. seus ensinamemos/- 8' edição, 1973, 416 páginas, ilustrado. Editions
Trnrlitionrielles, 32. rue des Fossés Saint-Bernard, 75005, Paris.
3 SéOir: Les Evangiles (Os Evangell1os}. Obras diversas.
10
A REENCARNAÇÃO
4 Ver La Science des Nombres (A Ciência dos Números), de Papus. (La Diffusion Scientifique,
Paris. 1976)
5 Para maiores detalhes. ver a notável obra La Mission de /'lnde (A Missão da Índia), O Mahatma,
de Saint-Yves d'Alveydre (Edições Dorbon).
11
A REENCARNAÇÃO
Ao dizer: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje" - ensinou-nos nosso
mestre espirirual - pedimos provações, e essas provações são esrnrarnenre
adaptadas à nossa resisrência.
Aquele que conhece a origem secreta da vida que circula em todos os planos
de encarnação, sabe perfeiramenre que, excetuando-se casos excepcionais, o
Pai jamais deixará seus filhos morrerem em nenhum plano, desde que esses
filhos renham deixado a "porra" entreaberra entre eles e seu guia espiritual.
6 Ce que deviennent nos morts (O que se tornam nossos mortos). de Papus. Nova edição IEditions
DanglesJ. (Pl1 Encausse).
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A RHNCARNAÇÃO
Então uma primeira prova, bem suave, nos é dada: podemos apenas resistir
a ela. Se o fizermos, o clichê se apaga e retorna mais forte uma segunda vez.
Nosso espírito, aguerrido pela primeira resistência pode ainda se opor à su
gestão do clichê, mas é necessário que ele coloque nisto rodo o seu poder de
ação. Suponhamos que ele volte a Vt:ilcer. O clichê retorna, mais intenso,
uma terceira vez, e nesse momento o espírito só pode vencer com o apelo às
forças divinas, quando o apelo ao seu guia teria sido suficiente no segundo
caso. Se o clichê é definitivamente rompido sob a influência da prece e da
vontade, a piedade entra no coração do espírito encarnado, e é por aí que se
reconhece a idade real de um espírito: aquele que condena os outros por
qualquer coisa é um espírito recentemente encarnado, que rompeu poucos
"clichês" e que também pouco os enfrentou. "Aquele que tem piedade, ter
se-á dele piedade", diz a Gnose. E encontramos na doutrina gnóstica, como
na igreja católica (assim como na igreja brâmane): Maria, a Virgem de luz,
a virgem Maria, Maha Mayah, que é a piedade celeste viva e que é a grande
reformadora dos julgamentos do destino; ela esmaga com seu pé a cabeça da
serpente Carma, Nahash, Schanah, ou o tempo, o passado e sua fatalidade.
13
A REENCARNAÇÃO
Não é nosso papel ditar moral, porque nada é imoral na vida privada como
um moralista na vida pública, e conhecemos bastante nosso estado inferior
do ponto de vista espiritual, para querermos julgar os outros. Assim sendo,
colocamos rodas essas idéias como um ideal vivo que o Homem deve bus
car atingir através das diversas encarnações.
Papus
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REFLEXÕES SOBRE O NOVO HOMEM
DE SAINT-MARTIN
Haniel, S. I. ·. ·.
idéia cenual desta obra é a aliança que o homem deve fazer com Deus.
A Para tanto ele tem que trabalhar, a fim de suprimir todas as impurezas
que obstruem a porta pela qual a eterna palavra da Divindade deseja entrar.
Assim, o velho homem deve abandonàr a torrente de iniqüidade e se
empenhar na purificação. Esta tarefa é uma verdadeira gestação espiritual
pela qual o buscador - o Homem de Desejo - faz nascer nele um Novo
Homem.
15
REFLEXOES SOBRE O NOVO HOMEM
inimigo. Dois pilares sustemam esse templo. É por entre eles que o novo
homem deve avançar com cuidado, pois ambos têm o poder de atraí-lo, mas
é a fr o n te i r a desses dois mundos que m mi festa a Sabedoria e a Força. Por
isso este camin h o deve ser percorrido sob o manco da prudência.
ria que já expressa o filho nascido, mas que a i n da não alcançou a idade adul
ta. e a arca sagrada que aguarda a construção do templo.
Em outra etapa o Novo Homem é a l ertado quanto aos perigos que rondam
a adolescência do ser que está se formando: as contrariedades espirituais
c o mo obstáculo para a construção do templo, a dificuldade em estabelecer
a paz p a r a a elaboração da obra, a e ntr ega ao culrn das coisas ilusórias, os
prazeres do ego oriundos dos apetites sensuais, as iniqüidades, os obstáculos
ao dese nvo lvi m e n to das faculdades espirttuais.
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REFLEXOES SOBRE O NOVO HOMEM
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REFLEXÓES SOBRE O NOVO HOMEM
Fonte bibliográfica:
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18 -
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O _ EN_TO
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"O mundo não conhece o meio termo entre a falsa devoção e a impiedade".
"Algumas vezes eu disse a Deus: combate contra mim como Jacó contra o
anjo, até que eu te tenha abençoado".
"Pela maneira como as pessoas mundanas passam seu tempo, dir-se-ia terem
medo de não serem suficientemente estúpidas".
"Era a Igreja que devia ser o padre, e foi o padre que quis ser a Igreja. Eis a
fome de todos os males".
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O MUNDO ARTURIANO VIA INICIÁTICA ATUAL
Marielle-Frédérique Turpaud
20 - ---
O MUNDO ARTURIANO
Pode-se dizer que tudo começou em 1135, com um livro de história escrito
em latim, Historia Regum Britanniae, redigido por um clérigo galês,
Geoffroy de Monmouth.O autor retomava, ampliando-a, a narrativa de um
chefe guerreiro do século VI, Artus, cujo nome em celta significa o urso. Ele
o representa acompanhado, no início de sua vida, por seu tutor e conse
lheiro, o mago Merlin, adaptado de um personagem histórico: um rei da
Baixa Escócia, Lailoken ou Wylit, que enlouquecera e que, errando numa
floresta, fazia profecias.
A biografia de Artus
Se tentarmos permanecer no plano de verdade concreta, Artur ou Artus
nasceu por volta de 490 d.C., sem dúvida no País de Gales. As legiões
romanas haviam abandonado a ilha da Bretanha em 410, deixando se desen
volverem rivalidades e conflitos. As invasões dos germanos pelo mar, dos
pictos e dos escoceses pelo norte, a partir do desmoronamento do "Muro de
Adriano", importunavam as tribos celtas chamadas também de britones. Os
saxões, contratados como mercenários a serviço do rei dos bretões,
Vortigern, voltaram-se contra ele. O chefe guerreiro romano-bretão
Aureliano Ambrósio começou, no entanto, a conquistar algumas vitórias.
Seu l u ga r-tenent e e posteriormente sucessor foi Artus, que bateu os saxões,
estabelecendo um longo período de paz. Arrus morreu por volta de 535,
quando da baralha de Camlan.
O sueesso desse livro de: "história" foi consided.vel. Cópias e traduções cir
cularam em roda a Europa. Uma tradução em anglo-normando, ainda mais
enfrirada por Wace, acentuou o caráter encantado do personagem.
21
O MUNDO ARTURIANO
As biografias de Artur
Na seqüência desta narrativa, vieram enxercar-se poemas legendários, que
acabaram por criar um Rei mítico, exemplo e sustentáculo, que viria
polarizar as esp eran ças das jovens nações' Para consrruir esse super-herói, os
aurores civeram apenas que me rgulhar em um enorme fundo de explo
rações, avenwras e símbolos, constituídos pela saga oral céltica, que hoje
chamamos a Matéria da Bretanha.
1 A dinastia dos Plantagenetas precisava apenas desta legitimidade mítica. Notemos que Chrétien
de Troves dirigiu-se inicialmente a Aliénor d'Aquitaine. esposa de Henrique li Plantegeneta. antes de
3er o florào da ctJrte de sua fil�1a, a princesa Marie de Champagne.
2 Ela será reforçada pelo Merlin cristianizado do Robert de Boron: Merlin /e prof/Jéte (Merlin. o pro
feta). e c l i to ra Stock-Plus (França).
22
O MLINDO ARTURIANO
cavaleirescos.
23
O MUNDO ARTURIANO
Aqui a ressurgência céltica começa cada vez mais a desaparecer. Seu último
traç o é o Perceval de Chrétien de Troyes, onde o jovem ingênuo e puro
cruza o ca min h o de uma raça de abundância servida em gran de cerimônia
a um rei ferido; como Perceval não faz pergunta a seu respeito, a taça desa
parece para sempre. Perceval evolui e cresce à medida que se desenvolvem
suas a ve n turas mas o romance desei:volve também as explorações de
,
Gawain, e pára antes que a demanda de Perceval para encontrar o Graal nos
tenha sido contada ...
- - - 24
O Ml:JNDO ARTURIANO
6 A única mulher realmente implicada na Demanda, que explica aos cavaleiros o sentido dos fatos e
objetos sobrenaturais. Ela é, mesmo assim, afastada da Demanda pelo sacrifício de seu sangue para
uma leprosa, em um romance tardio.
7 Na sua esteira, Robert de Boron escreverá obras do ciclo do Graal onde José de Arimatéia
desempenha um papel preponderante.
25
O MUNDO ARTURIANO
"Uma o urra legenda sugere que a cabeça de Artur teria sido enterrada numa
ilha ao sul da Inglaterra", esclarece-me um amigo, o historiador Jacques P.
"Enquanto essa cabeça estiver lá, nenhuma invasão terá sucesso. Nas últimas
novelas, os franceses teriam cavado um túnel sob a Mancha para virar a
sorte. Parece que ainda não ficou bem n0 ponto". Comparar-se-á esta lenda
com a da cabeça de Bran o Bendito, sob?.. Torre de Londres.
A legenda arturiana
Pode-se dizer que roda essa b as e do mundo arruriano foi inreiramente
redigida no século XII: ele faz <l pome entre o mundo celta que desaparecia
e o mundo medieval emergente, e instala, após os conflitos, invasões e con
quistas, as noçóes de reino e de nação, de religião e de ideal.
Vamos reconstituir, a partir desses romances, a vida de Artur, tal como está
fixada na sua forma medieval.
26
O MUNDO ARTURIANO
MERLIN
27
O MUNDO ARTURIANO
Merlin d�í-lhe então uma Távola (mesa) Redonda mágica, com 150 assen
ros marcados com os nomes dos futuros cavaleiros - salvo para o 150°, o
Assenro Perigoso, reservado a um cavaleiro desconhecido.
28 ·--- ---
O MUNDO ARTURIANO
Lancelot em prosa
O jovem Galaad - rebatizado Lancelot por Viviane, a Dama do Lago que
o havia criado - vem tomar seu lugar entre os Cavaleiros da Távola
Redonda, apesar de ser um estrangeiro na Grã-Bretanha. Seu amor pela
rainha Guinevere é total e correspondido.
O rei Artur não se perturba, pois não suspeita de relações físicas. Manda
seus Cavaleiros percorrerem o mundo em busca de proezas a serem contadas
anualmente no Pentecostes, na corte de Camelor.
O cavaleiro do leão
É da í que nascerão as diversas aven
turas de Gawain, sobrinho do rei e,
portanto, seu herdeiro'2, lvanhoé,
PercevaL Kai, ramado senescal do
rei, Lancelot e tantos outros.
A morte de Artur
Mas o velho conselheiro Merlin
deixa-se enfeitiçar por Viviane
(Nirnue), e ela o tranca, por sortilé
gio, numa câmara de cristal, até o
tlm dos tempos - ou até a invasão
da ilha da Bretanha...
A demanda do Graal
No Pentecostes seguinte, o Graal
;:iparece acima da Távola Redonda.
Artur vê nele o objetivo último das
12 Dentro da tradição celta, a filiação da irmã é mais forte que a da mulher. Mas Mordret também
pode reivindicar esse direito.
29
O MUNDO ARTUR/ANO
A 1norte de Artur
Mas o tempo dos sinais prodigiosos, dos encantamentos e dos prodígios está
acabado. As cadeiras vazias da T;í.vola Redonda não podem ser renovadas,
apesar de jovens recrutas... corno Mordret. É nesse momento que Artur sur
30
O MUNDO ARTURIANO
31
O MUNDO ARTURIANO
Cuchulain e Lug
Lancelot é baseado no herói cel ta Cuchulain. Ele servirá mais à rainha
Gui n ev ere que ao rei Anur, como bom celta, mas não pertence ao reino de
Logres. Apesar de n ão - b ret ão 11• ele pode se r acei rn p e l a Rainha-Soberana,
devido :l sua valentia. Ela lhe ofrrece "a amizade de sua coxa" (sic), o que faz
dele um camp eão incondicional e invencível. Suas cóleras são irresistíveis e
devastam tudo. ,.,
Ele tem também as características m ;í gicas d() deus Lug, padroeiro da cidade
d e Lyon e m od elo do Crisrn glorioso de Cl i a rr res : ele p od e ter por esposa
sua mãe a rainha, ele é "Lug da longa lança", é filho da união i m possível de
um deus bom (do povo Th uat ha ) e de urna deusa má (do povo Fomoreu).
Ele age quando de sua fesra, em 1" de agosto.
Myrdynn
Merlin é inicialmente extraído de Myrdynn, druida e profeta. Sua lógica é basea
da 110 interesse da prosperidade do reino em harmonia com as estações e com a
terra - daí sua ausência de moral com Uter Pendragon, por exemplo. Hesitando
alternadamente entre o mal e o bem, entre seu pai diabo e sua mãe santa, ajudan
do e cm seguida combatendo as mesmas pessoas. Merlin é ambíguo, mesmo para
um celta. É por isro que se perde pela paixão e pela revelação de seus segredos.
Diarmaid
Tristão está rnuHo p rox1mo das aventuras do herói celta irlandês
Diarmaid ou do Drystan galês, mas o miro é da Cornualha. Sobrinho do
rei Marc. está ligado a Isolda por um "gueis"1', que a serva de Isolda -
32
O MUNDO ARTURIANO
Morgana disfarçada? - lançou sobre ele. Deus lunar, ele deve unir-se a
Isolda, a loura solar, uma vez por mês. Após numerosas aventuras abalado
ras, um julgamento solene é decidido. Para decidir entre Tristão e Marc,
Arru r pede-lhes que escolham o período durante o qual cada um será o
esposo de Isolda. Marc escolhe o tempo das árvores sem folhas, porque as
noires são as mais longas. Isolda observa então que cerras árvores guardam
suas folhas todo o ano: portanto ela ficará com Tristão para sempre.
A evolução da saga para o romance cortês dará um fim mais trágico ao seu
amor. Há igualmente toda uma série de fábulas cômicas onde a astúcia dos
dois amantes confunde as precauções do rei ridicularizado.
Gwalc'h-mai
Grn/lrzin é o sobrinho de Artur, filho de sua irmã. No celtismo, a filiação pela
irnü é mais forre do que a pela esposa. O filho de Artur e de Guinevere,
Loholr, rerá apenas um papel obscuro. Gawain é pois o verdadeiro delfim
do rei (apesar de Mordret também poder reivindicar esse título). É o celta
Gwalc'h-mai, o apaixonado de todas as mulheres. Sua força cresce com o
amanhecer, culn1ina ao meio-dia e decresce à noite. Os romances franceses
farão dele um corredor de saiote.
Peredur
Perceval é Peredur, o que quer dizer "caldeirão de aço". Sua peculiaridade é
progredir apenas pela experiência pessoal nesse mundo ou no outro, a fim
de atingir toda a sua estatura e de poder em seguida proteger os homens de
todos os acontecimentos, seja qual fo,. a sua fonte.
O que acabo de evocar aqui é, para muitas pessoas, uma realidade tão con
creta quanto o papel da revista que você tem em mãos. Sem chegar aos nos
tálgicos da Céltia independente que aprendem o bretão, há realmente, espe
cialmente na Grã-Bretanha, confrarias baseadas no mundo arturiano como
nossos n1onges no da Igreja.
33
O MUNDO ARTURIANO
hoje. Nos anos 40, T.H. W hite i maginou como Merlin ensinava seu pupilo
servindo-se da magia. É nesta obra, The Sword in the Stone (A Espada n a
Pedra), que iria inspirar-se o grande iniciado contemporâneo Walt Disney,
rosa-cruz e franco-maçom, para idealizar seu desenho animado.
A narrativa de algumas dessas reuniões está esboçada nos livros de R.J. Steward
(não traduzidos, como Hallowquest) e em Vivre aujourd'hui la quête arthurienne
(Viver hoje a demanda arturiana) e Vivre aujourd'hui la quête du Graal (Viver
hoje a demanda do Graal), ed. Dangles, que lhe permite fazer, você mesmo,
meditações visualizadas guiadas, análogas às que se passam em seus trabalhos.
34
O MUNDO ARTURIANO
Não iremos cão longe quanro eles, mas renraremos fazer cessar nosso uaba
lho inrelectual para escurar o que nosso Ser interior tem a nos dizer auavés
do rei Artur.
Gosraria de lembrar que se trata de uma simples meditação sobre arq uétipos
imaginários e não de um contato (channeling) com entidades autônomas.
Camelot - ilustração
de Arthur Rackham
para The Romance
of King Arthur and
His Knights of The
Round Table - 1917
Entrada: agora, os olhos sempre fechados, olhe ao seu redor: você está numa
floresra verdejante. Ao seu lado, os outros membros da sua Comunidade,
vestidos como você. Sua espada brilha com um fulgor particular. Um cami
nho se estende à sua frente, rumo a uma clareira. Você o segue. Respira o ar
da floresta, escuta os passarinhos, segue com os olhos o sol na ramagem.
35
O MUNDO ARTURIANO
Vocc avança.
Ele franqueia a sua entrada. Você entra num salão ornado com tapeçarias
suntuosas. e se aproxima para olhá-las. Vê então que urna tapeçaria da
parede re pr e sent a urna cena da sua vida. Olhe-a bem (5 minutos)*****
3(i
O MUNDO ARTURIANO
Depois ele e a Rainha se levantam e saem pela porta por onde haviam entra
do.
O guarda lhe indica a saída. Você se levanta, saúda os outros cavaleiros, e sai
para o átrio. Caminha até a poterna e se encontra do lado de fora, na
clareira. Você retoma o caminho da floresta.
En qu ant o caminha, você sente uma grande paz e uma alegria profunda.
Sabe que pode retornar à Távola Redonda quando desejá-lo. Um dia será a
sua vez de contar uma aventura a Artur e aos seus cavaleiros, e eles o escu
carão com atenção e respeito.
Saída:
Você está de volta à floresta. Irá deixar o reino de Logres para voltar à França
(011 ao seu país), a .. . .. (cidade), neste ano de 200... .., em ... .. (mês), no dia
...... Você traz sempre em si esta alegria e esta paz.
.. Sir Lancelnt .. ·ilustração de M. Bowley para Tales from Tennyson de Nora Chesson
37
A SINARQUIA
René Caillié
a be m os agora o que quer dizer esse belo e puro diamante do Verbo divi
S no: SrNARQUIA. A Sinarquia é a ordem em roda parte na superfície da
Terra; é a Justiça, a Alegria e a Paz entre os homens; é o Reino de Deus. Éa
imagem, no seio das sociedades humanas, da ordem e da hierarquia que se
vê reinar no Céu em meio aos Astros, onde reina um sol central, aleitando
com sua Luz e seus Raios rndos os outros Sóis das Nebulosa que eles mes
mos, Reis de Justiça e de Amor, inunda:n com todos os benefícios da vida
as milhares de Terras que gravitam ao seu redor com as Humanidades que
as cobrem. Imensa Assembléia de Sríis! Ó divino Empíreo de luz e de Fogo,
onde vão habitar as almas glorificadas, os grandes servidores do Deus social
do universo! - lançai pois, enfim, cm meio à nossa pobre Humanidade ter
rena devorada pela guerra fratricida e pela anarquia política, um pouco da
vossa ciência e da vossa sabedoria; um pouco do vosso amor, a fim de que a
fraternidade não seja mais uma palavra vã. E vós, SENHOR V IVO do espaço
e da eternidade, que sois a alma e o espíriro do GRANDE TODO que vos dá
a rodos um pouco de sua vida, escutai a prece que vos fazem nossos corações
rodos unidos no espíriro divino de nosso Cristo:
VENHA A NÓS O VOSSO REINO, QUE SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA
TERRA COMO NO CÉU.
Faz-se m i ste r que no centenário de 89 o Povo francês, esse povo tão ge
neroso, tão bom, sempre pronto a versar seu sangue por uma idéia, escreva
esta divina prece sobre um lado de sua bandeira, e sobre o outro:
38
A SINARQUIA
E o Porvir não será mais para nós um pavoroso fantasma; o Progresso não
provocará mais medo como sendo o espírito do mal; e a evolução da vida
parecer-lhes-á como um dom divino que nos deve tornar sábios e retendo
no fundo de nossas almas a CIÊNCIA e a VERDADE, ou seja, o Amor, a Justiça
e a Bondade.
Esra Sinarquia, que deve regenerar e salvar o mundo, que deve restabele
cer a Paz e a Fraternidade entre todos os povos, deve ser realizada, e desde
já, trabalhar por ela. Sursum corda! Raças cristãs: judeus, franco-maçons,
livres pensadores, católicos romanos e protestantes. Sursum corda! E que
rodos os povos formem uma única alma para amar e respeitar a Vida em
toda parte e realizar o reino de Deus na humanidade. Tornemo-nos todos
aliados do Criador, todos sinarquistas. Mas nada de destruição nem de
violência; porque nada é mais fácil do que realizar a Sinarquia por simples
transformação, por simples jogo de evolução, sem nada destruir, absoluta
mente nada, do que atualmente existe. CIÊNCIA, JUSTIÇA, ECONOMIA; eis
as pedras de mármore e de pórfiro Ci'.le queremos deslizar sob o edifício e
nas fundações. Nada mais de cesarismo, nada mais de política, nada mais
de revolução presidindo as relações dos Estados entre si e minando a vida
orgânica da Humanidade terrena; mas três grandes conselhos impessoais
em toda parte: CIÊNCIA, JUSTIÇA, ECONOMIA SOCIAL em cada comuna,
em cada nação, em toda a Humanidade terrena restaurada e devolvida à
sua unidade divina.
Nunca, em nenhuma época, a Europa foi cão bela em inteligência, cão ri..:a
em ciência, cão moral no fundo do coração. Jamais se viu nela canta sabedo
ria e razão e se a paz não reina entre as nações do globo, a culpa é toda do
cesarismo que se tornou lei dos governos, do arbítrio, regra única de seus
atos. da política cega e sem consciência que trabalha seus cérebros sem
sabedoria e sem freio.
39
A SINARQUJA
GOVERNO GERAL
É pois a ela mesma que caberia depor armas. É realmente ao poder político
qu e cabe rnmar a iniciativa da reforma, se ele quer evitar sua ruína, se quer
manter suas posições na pessoa de seus representantes atuais. É necessário
que os chefes de rodos os governos da Europa compreendam a necessidade
de subordinar o Empiri s mo políti co à Ciência, à Justiça, à Economia e que
eles vejam que é chegada a época do inaugurar da nova era, organizando os
uês po de res sociais da sinarquia, as três CÂMARAS correspondendo a estas
três divisões da Biologia plane tá ria .
1'1fa.5 " si11ar�1uia é umn lei cicntifica1nente exata. Saint-Yves d'Alveydre segu-
40
A SINARQUIA
4° Condição sine qua non a ser preenchida pelo candidato a qualquer grau
solicitado:
O CONCURSO
41
A SINARQUIA
Bem entendido, para que não haja qualquer direito adquirido lesado, os
sen;idores e depurados que não se enqundrnrem nessas três categorias, serão
a elas integrados por assimilação, tão aproximada quanto possível.
42
A SINARQUIA
Como se vê, nada mais fácil, nada mais prático do que essa reforma, essa
transmuração do governo anárquico em governo sinárquico.
Toda essa coalizão dos reis contra ela (não dos povos), não torna a verdade
grita nte aos olhos do pensador? Os governos a detestam, porque a França,
É mais que um Povo, é o mundo, que os reis buscam pregar, morno e san
grento, na cruz.
Mas a França é forte através do apoio de todos os Povos que sentem nela o
Salvador prometido; e ela só morrerá se quiser. Para viver e levar a bom
rermo seu nobre papel, basta-lhe realizar, nela mesma, o governo
si n :.í r qui c o ', mas não de maneira apaixonada e menos ainda com
ingenuidade, mas de maneira sábia. Ela deve precaver-se contra um desar
mamento hipócrita do Cesarismo, que a deixaria sem defesa. Ela também
nJ.o se deve desarmar sem que as outras Nações a imitem ao mesmo tempo.
É preciso que ela clame bem alto o que quer. Ela quer para o mundo inteiro
urna verdadeira Paz, sob cercas condições, e não a falsa, incondicional. É
nec ess ário que todos os Povos saibam bem que ela quer a Paz social univer
1 A Sinarquia não é mais um culto. A Sinarquia é a Lei Científica do organismo das Sociedades. tal
como destacaram os Sábios da Antiguidade, numa época onde a Ciência e a Religião não passavam
de uma mesma e única Verdade. e tal como no-la mostra, tão bela e tão evidente. o Marquês de
Saint-Yves d'Alveydre em suas Missões.
43
A SINARQUIA
44 ---- -
OTARÔ
Estu do sumá rio dos 22 arcanos ma10res
Su"91 Vandeven
IV 0 IMPERADOR (Daleth)
"Eu sou a Pedra Angular" - disse o
Crisro.
Hierogliflcamenreo 4 simboliza o
ângulo do quadrado; a p arte venical,
por sua própria posição, indica o
1nov1menro.
45
O TARÔ
mcnto em ação, é a cruz estática+ que gira para formar uma roda X, a Rota.
Luz poder transferido pelo Fogo. Sem Fogo não há mais Luz. Luz, Fogo,
=
Cot-isidcrcn,os nosso Da/,.t:h ((l :, lu7. do que vem de ser dito: sentado sobre
a Pedra Filosofal, assinalada por uma Águia aprisionada pela retidão cúbica,
4Ci ---
OTARÔ
Quanto à mão direita, ela porta o Cetro, imagem do Poder total, poder do
alto, unido ao poder de baixo, triângulo em flor-de-lis, ideal de Bondade
reunido pelo Centro (.) ao Bastão, à Copa e à Espada. É o Espírito unido à
alma, é o Equilíbrio Perfeito.
Sua cabeça está recoberta pela Sabedoria (amarelo), e pelo Amor (vermelho).
Toda a parte superior está protegida m:.>ta lâmina simbólica: a cabeça, o peito,
o pescoço, os ombros, o bulbo raquidiano, indicando por aí que o Iniciado
está "protegido" em toda parte e sempre, até que seu trabalho esteja concluí
do, mas indicando também, por conseqüência, que há um trabalho a ser feito,
trabalho que consiste na Maestria total de nosso Eu. Observe-se as malhas da
cadeia, "vínculo que não se rompe e não poderia afrouxar", diz Oswald Wirrh.
47
OTARÔ
arrai nossa arenção sobre esce crabalho alquímico i nte rior. que faz com que
a Fênix renasça perperuamenre de suas cinzas pelo poder de seu Pensamenro
e de sua Vonrade de Amor.
V. o PAPA
Deus disse: "Criemos o Homem :1
nossa Imagem e 3. nossa Sernclhanç1".
48
OTARÔ
Jacob Boehme diz: "O Pentagrama é a Vontade retomada que deseja o livre
jogo de Deus".
49
OTARÔ
O Papa porta luvas brancas, suas mãos são livres de qualquer mácula, o que
é confirmado pelas cruzes azuis. Tudo é Amor e Fidelidade nos três Planos
simbolizados pela tiara de rrês coroas de ouro e pela cruz pomificai que lem
bra a Árvore Sefirótica. Esta tripla cruz setenária harmônica, completa as
cores Azul e Púrpura, idealismo e espiritualidade, das quais o Papa está
revestido: é a Religião Esclarecida. A mão direita erguida, cujos dedos estão
dispostos esotericamente, tem o poder de benzer, porque o Papa, por sua
própria Vontade, recebeu a Autoridade de comandar, e a si mesmo e aos ele
mentos. É por esta razão que ele é o mediador entre Deus e o Universo.
.50
FLAMMARION E O OCULTISMO
Jean-Christophe Faure
1 Este artigo se encontra sob a forma de um recorte de jornal nos arquivos de Camille Flammarion,
Observatório de Juvisy.
51
FLAMMARION E O OCULTISMO
"Os ocultistas, que são em sua maioria recrutados nas escolas de ciência ou
d<.: medicina, che gam assim, suavemente mas com segurança, ao coroamen
to do s seus desejos, que eram os de ver os homens de valor se ocuparem, na
França. desses fenômenos psíquicos, para enfim recolocá-los nos da c iê n c ia
psicológica. Para chegar a este resultado, os defensores da antiga ciência ocul
ta n:í.o pouparam tempo nem sofrimenw e organizaram sua propaganda, seu
ensinamento e seu recrutamenw sobre bases muirn severas , nas quais o
exame p rest ad o pelo esrudante, em wdos os graus da hierarquia, desempenha
o principal papel.
52 ---
FLAMMARION E O OCULTISMO
"Senhor Diretor,
53
FLAMMARION E O OCULTISMO
"Queira aceirar, por favor, senhor diretor, a expressão de meus mais s1m
páocos sen ttmentos".
Camille Flammarion
Observatório de Juvisy, 8 de julho de 18994
4 M Flammarion et les spirites (0 Sr. Flammario n e os espíritas}. recorte de jornal encontrado nos
arquivos de Camille Flammarion situados no Observatório de Juvisy.
5 Frédéric Courjeaud. Fu/canelll'. une fdentfte revélee (fulcanelli. uma Identidade revelada}. Paris.
1996. Claire Vigne.
54
FLAMMARION E O OCULTISMO
Cento e dois anos mais tarde, quis o céu que os buscadores tivessem tanto dis
cernimento quando seu ilustre predecessor. Se o espiritismo encontra-se em
baixa muito sensível, pelo menos na França, a mentira e o engano voltaram um
quarto de século depois, revestidos de uma nova máscara, armada de uma luz
tenebrosa, espécie de saco sem fundo inominável, que é, ainda assim, chama
do de "New Age". No entanto, o canal possui uma vantagem cerra sobre o
espiritismo: permite aos seus adeptos e,-:onomizar uma mesa! Da grande maio
ria dos escritos pseudo-espirituais, apenas alguns títulos nos parecem dignos de
.interesse, como por exemplo os de Jane Roberrs, transmitindo ensinamentos
emanados de uma entidade denominada "Seth". Papus, Flammarion e seus
correligionários ficariam certamente aterrorizados de ver o público sendo
enganado por esse gênero de literatura (e de estágios pagos... e caros!).
Àqueles que buscam uma doutrina séria, escorada num estudo intelectual pro
fundo, e desejosos de colocar em prática estes elementos, só podemos aconselhá
los a consultar Ordre Martiniste, Programme de travai/ (Ordem Martinista, Pro
grama de trabalho), publicado por Ignifer no número 4 de 1968 de L1nitiatiorf.
55
AS COMUNIDADES DE LUZ
:Jean Tourniac
s corrences espiriruais origi11:.írias do rnarrinesisrno e do martinismo
A aprcsenram uma csrrurura ao mesmo cernpo clo11trinal - pela con
junção do Ti<7tado da Rcintegraçfio e da obra dê Louis-Claude de Saint
M:ircin - e ritual quanto aos cmpré.scirnos fciros aos "Elus Cohen", a Saint
M:inin e aos elementos maçônico-cristáos pescados nessas duas fonres.
Mas há um ponto particular que merece nossa atenção: saber o lugar que
ocupa nesra inciação a noção de "luz" e a de "comunidade luminosa".
5(i
AS COMUNIDADES DE LUZ
A tarefa do iniciado é, desde então, receber a Luz "que as trevas não com
preenderam", segundo a expressão evangélica e, dir-nos-á Saint-Martin, de
dissolver "esse princípio das trevas inumeráveis, multidões de combinações
diferentes que tendem todas a obscurecer a simplicidade da luz". É somente
assim que a luz pode "brilhar nas trevas" e "ordenar o caos", para retomar
agora uma expressão maçônica bem conhecida.
57
AS COMUNIDADES DE LUZ
Ora, esta luz polar é, por comparação com a do Orieme geográfico, uma
Treva superior, uma Noire mais clara que o dia. Sempre do ponto de vista
rnerafísico, ela é a Toda Possibilidade primordial que contém o ser "antes"
mesmo de sua manifestação e ro do o "não sendo".
Mas esra expressão "Nuvem" evoca também - e para retomar o fio de nosso
artigo - uma ourra grande figura da época de Saim-Martin, tanto em razão
do paralelismo da inspiração quanro em razão do período histórico que lhe
serve de quadro. Queremos falar de Eckhartshausen, cujas "Amitiés
Spiriruelles" (Amizades Espirituais) acabam de reeditar a Nuée sur !e
Sanctuaire (Nuvem sobre o Santuário)
NJ. apresentação desra reedição Marcel Renébon revela que sem haverem
combinado e numa época em que vacilavam tronos e altares, três homens se
referem à mesma comunidade de espírito: Louis-Claude de Saint-Martin na
França. Eckhartshausen na Alemanha, Lopukhin na Rússia; e poderíamos
acr e scentar Boehme a esse trio.
ss.
AS COMUNIDADES DE LUZ
porque ele habita uma zona intermediária entre a luz e a sombra, zona dese
jada pelo Céu". O tema é quase o mesmo que o exposto por Saint-Martin,
mas e curioso ver a que ponto esta consideração se aparenta a certas
descrições simbólicas próprias das comunidades tradicionais da Ásia Menor,
resultando das misturas étnicas e religiosas entre descendentes do antigo
masdeísmo, nestorianos cristãos e xiitas muçulmanos. É importante assi
nalar-se o fato, mesmo que não seja ainda a hora de falar-se dele.
Compreende-se que esta luz deificante seja a prodigalizada pelo Verbo Divino,
e Eck.hartshausen assegura-nos que: "Deus fez-se homem para divinizar o
homem". Esca luz é, no entanto, mais intensamente recebida pela "Sociedade
dos eleitos", "comunidade daqueles que têm maior receptividade pela luz".
59
AS COMUNIDADES DE LUZ
Fica-se su rp reso com a nitidez destas descrições, neste século de grandes per
rurbaçôcs no seio da religião cristã e da maçonaria especulariva, século que
é ao mesmo rempo o de Saint-Martin, Joseph de Maistre, Willermoz,
Marri nez e outros ... Será necessário espc rar o século XX para ver exprinür
se. de uma maneira excepcional pela elevação e a amplidão, a doutrina tradi
cional completa. metafísica e cosmológica, com rodos os seus aspectos rela
ti vo s �t iniciação e ao esoterismo, na obra de René Guénon. Se às vezes se
pôde considerá-la corno o "testamento do Oriente declinante" - da mesma
forma que a obra de Dance podia ser definida como o testamento da Idade
i\1édia em seu declínio - deve-se acrescentar ainda precisamente que um
vínculo de ordem espiritual, observando uma genérica parricular, une ao
acaso e arravés de uma compreensão da iniciação e da gnose ortodoxa, o
Ori en te e: o Ocidente, como o pass ado ao presente.
GO -----
AS COMUNIDADES DE LUZ
61
AS COMUNIDADES DE LUZ
"Foi o que acomeceu sob Constantino, alcunhado "o Grande". Tão logo adorou
o cristinnisn10 con1c<j'<-iram os Condlios gerais, e esse tempo pode ser considerado
como a primeira época da decadência das virtudes e das luzes entre os cristãos".
62
AS COMUNIDADES DE LUZ
Nenhuma dúvida quanto a ser a Luz - que a partir de então servirá de guia
e de órgão da visão do coração a comunidades de eleitos - a primeira ma
nifestação do Princípio assim colocac1o. Saint-Martin também concluirá o
capítulo XX do Quadro Natural com esta observação: "E aí está esta bri
lhante luz que o homem pode fazer brilhar em si mesmo, porque ela é a
palavra de rodos os enigmas, a chave de todas as religiões e a explicação de
rodos os mistérios ... .
"
63
AS COMUNIDADES DE LUZ
64
AS COMUNIDADES DE LUZ
mas damos aqui o título completo para destacar que a palavra Universo,
sendo ali tomada no sentido de "natureza" em geral, contém a menção
explícita do ternário "Deus, Homem, Natureza".
No seio desta via, a do Islã imamista, que parece haver recebido o legado de
tradições anteriores - platonismo pitagoriciano, masdeísmo dos Reis
M:igos, gnose judaico-cristã - ainda presente nas comunidades nestorianas
e m:indeanas do século VI ao século VIII, existe um verdadeiro apelo à Luz
e à iluminação do coração.
65
AS COMUNIDADES DE LUZ
Sem d ú v i d a haveria ainda muito a ser dito sobre esses diferentes pontos de
1 Terc111u,; " ucasii'lo de voltar a esses pontos orn uma obra consagrada às relações entre o ma
(j(j
AS COMUN!DADES DE LUZ
Mas não poderíamos encerrar esta digressão sobre as comunidades de luz sem
acrescentar alguns comentários relativos ao simbolismo da Divina Comédia e
ao tema iniciático da Luz. Sabe-se, de fato, que Dante coloca em cena um
ptrsonagem enigmático, o DUX, considerado às vezes como o detentor do
"Santo Império", chefe supremo dos Fiéis do Amor, e denominado igual
menre o "5 1 5", pelo valor de suas letras latinas invertidas sob a forma DXV2.
2 Cf. L'Esotérisme de Dante de René Guénon. Encontrado em tradução portuguesa sob o título O
Esoterismo de Dante (Editorial Vega - Coleção Janus) N. T.
-
67
AS COMUNIDADES DE LUZ
Esse número foi rido como indicativo de uma descendência templária dos
Fiéis do Amor, resultando a adição de suas cifras no número templário onze.
Além disto, esse número do "Veltro", que deve destruir a loba e restabelecer a
ordem do Santo Império, é igualmente suscetível de revestir uma significação
cabalística que vê no 515 o equivalente hebraico de "Asheer Daí" (aquele que
não se basta), forma desenvolvida de "Schaddai'', o Todo Poderoso.
A mesma intervenção dessas letras dá, com efeito, o número LXV de valor
65. A adição destas duas últimas cifras repete o número templário onze.
Enfim o número 65 é o que designa o Senhor: Adonai e está contido, com
o número 26 do Tetragrama, no "Santo Palácio", de valor 91, do nome
"Amém" comum a rodas as confissües cristãs e a todos os monoteísmos
derivados de Abraão.
68
GERME EM EXPANSÃO
69
As Preces de Lou/.s-Gfaude de Saint-1\Aartin
PRECE 1
onre ererna de rudo o que é, ru, que envias aos prevaricadores espíriros de
F erro e de rrevas que os separam de reu amor, envia àquele que re busca
urn espíriro de verdade que o aproxime de ri para sempre .
Que o fogo desse espíriro consuma em r.iim até os menores traços do velho
homem. e que após havê-lo consumido, ele faça nascer desse monte de cin
zas um novo homem sobre quem tua m:io sagrada não desdenhe mais ofere
cer a sanra unção.
Que csrcja aí o rerrno dos longos trabalhos da penitência e que tua vida uni
versalmcnre una transforme rodo o meu ser na unidade de tua imagem, meu
coração na unidade de reu amor, minha ação numa unidade de obras e de
justiça, e meu pensamenro numa unidade de luzes.
Disseste também que era somente no coração do homem que podias encontrar
teu repouso; não inrerrompas um instante sequer tua ação sobre mim, para
que eu possa viver, e ao n1esmo tempo para que teu nome possa ser conheci
do pelas nações: teus profetas nos ensinaram que os mortos não podiam lou
var-te; não permite pois, nunca, que a morte se aproxime de mim; porque
ardo por tornar imortal rua louvação, ardo do desejo que o sol ererno da ver
dade não possa censurar o coração do homem de rer trazido a menor nuvem
e causado a menor interrupção na plenirude de teu esplendor.
70
reaprenderão que somente tu és seu Deus e a vida essencial, como o
móvel e o movimento de todos os seres.
Semeia teus desejos no coração do homem, nesse campo que é teu domínio
e que ninguém pode contestar-te, pois que foste tu que lhe deste seu ser e sua
existência. Semeia nele teus desejos, a fim de que as forças do teu amor o
arranquem inteiramente dos abismos que o retêm e que gostariam de tragá
lo para sempre com eles.
Abole para mim a religião das imagens; dissipa essas barreiras fantásticas que
interpõem um imenso intervalo e uma espessa escuridão entre tua viva luz e
eu. e que projeram sobre mim a sombra de suas trevas.
PRECE II
rei para ti, Deus de meu ser; irei para ti, rodo corrompido como sou; irei
I apresentar-me diante de ti com confiança. Irei apresentar-me em nome de
tua eterna existência, em nome de minha vida, em nome de tua santa aliança
com o homem; e esta tripla oferenda será para ti um holocausto de agradá
vel o d or, sobre o qual teu espírito fará descer seu fogo divino para consumi-
71
lo e rerornar em seguida à rna sa nra morada, carregada e roda plena dos desejos
de um:.i. :.i.lma indigente que s ó s us p ir :.i. por [i. Senhor, Senhor, quando ouvirei
pronunciar, no fundo de minh':.i.lma cs[a pal a vra cons o lad ora e viva, com a
q ual [U ch a mas o homem por seu nome, para anunciar-lhe escu ele ins crirn
na mi l íc i a sanra e que queres ad mi[i- l o na fi leira de [eus servidores? Pela ale
gria desra palavra sanra encontrar-me-ei logo cercado pe las lembranças erer
nas de [ll::t força e de teu amor, com ::ts quais marcharei corajosamente con
tra teus inimigos, e eles empalidecerão diante dos remíveis raios que sairão de
tua palavra. v i wr io sa . Ai de mim, Senhor, cabe ao homem de miséria e de
uevas formular semelhantes votos e conceber tão soberbas esperanças? Ao
invés de poder ferir o inimigo, não seria necessário que ele quisesse, ele
mesmo, evirar seus golpes? Ao invés de parecer, como outrora, coberto de
armas gl o rios ::ts não está ele reduzido, como um objeto de opróbrio, a versar
,
72