Sociologia Geral Apontamentos1
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Sociologia Geral
Sociologia – o que é? Qual o objecto de estudo?
O termo sociologia foi criado por Auguste Comte para designar uma ciência geral da
organização e evolução da sociedade. A vontade de conferir a esse conhecimento um
carácter positivo e objectivo levou a sociologia a aplicar aos problemas sociais os méto-
dos de pesquisa e formas de análise que permitissem estabelecer relações de causa-efeito
entre os problemas e regras ou até ‘leis’ da organização social humana. O objecto de
estudo da sociologia é muito abrangente e diversificado e os seus métodos e técnicas de
análise também o são. A sociologia pretende demonstrar como os comportamentos sociais
são afectados por factores estruturais e conjunturais e de como os indivíduos interagem
nesses contextos.
O pensamento sociológico é de tipo científico pelo que pressupõe uma ruptura epistemo-
lógica com a maneira de pensar aprendida em comum na sociedade. A importância do
estudo da sociologia fundamenta-se na crença dos sociólogos de que as representações,
os hábitos, as maneiras de agir e de pensar estão estreitamente ligadas com os meios
sociais nos quais se inserem os indivíduos. O indivíduo, sendo único, é também um ele-
mento construtivo do fenómeno social. De acordo com Giddens “é tarefa da sociologia
investigar o que a sociedade faz de nós e o que é que nós fazemos de nós próprios.”
A estrutura social é anterior a cada indivíduo mas depende de cada um (imanência e
transcendência). Ela está em permanente mudança ou reestruturação, pela influência do
desempenho de cada um em sociedade.
A Espécie Humana
A teoria da evolução de Charles Darwin reforça a importância do património genético e
da relação dos homens no meio envolvente para a explicação das sociedades humanas,
defendendo que muitos aspectos da vida social resultam do processo natural de adaptação
do homem.
Muitos cientistas não aceitam que o termo instinto seja aplicado ao homem. O instinto é
definido como um comportamento geneticamente determinado e a sociologia prefere dar
ênfase aos factores sociais do comportamento. A sociologia prefere falar em reflexos e
necessidades biológicas.
Do ponto de vista cultural, a tendência é para o etnocentrismo, ou seja, o homem tende a
ver a sua cultura como um modelo em prejuízo de outras. O conhecimento sociológico
pressupõe, por parte dos investigadores a superação do seu natural etnocentrismo. Só
esta ruptura permite alguma objectividade à sociologia e outras CS.
No entanto, apesar da diversidade, existem aspectos universais nas culturas humanas. A
linguagem é um exemplo. Apesar de existirem diferentes línguas, a necessidade de
comunicação é comum a todas as culturas. Existem outros exemplos de características
univerais: partilha, inter-ajuda, relações afectivas, religião, etc.
Socialização
É o processo pelo qual os homens aprendem as normas das culturas de origem, e que lhes
permite o contacto social com as gerações passadas e futuras, pela partilha dessas nor-
mas. A socialização transforma os seres humanos em seres sociais. Sendo um processo de
construção da identidade social não destrói a identidade individual, passa a fazer parte
dela.
O desenvolvimento do homem apresenta alguns padrões comuns: o reconhecimento pelo
ser que dispensa cuidados (geralmente a mãe), o desenvolvimento de respostas sociais e a
aprendizagem da linguagem. A privação da figura da mãe durante a primeira infância
parece apresentar características altamente negativas, e uma das consequências pode ser
a dificuldade de aprendizagem da linguagem.
Teóricos do desenvolvimento infantil
Sigmund Freud – Criou a psicanálise. Insiste na importância das primeiras experiências
afectivas da criança para a definição da sua personalidade futura e para a existência ou
não de futuros problemas neuróticos. Freud sublinha a importância do inconsciente no
desenvolvimento humano, nomeadamente o que nele ocorre durante a chamada fase do
Complexo de Édipo (antagonismo sexual do rapaz em relação ao pai pelo desejo de posse
da mãe).
George Herbert Mead – Criou o chamado interaccionismo simbólico. Este modelo anali-
sa o comportamento humano em termos de símbolos e de interpretação de significados.
Para Mead a fase mais crucial do desenvolvimento ocorre quando a criança aprende a
distinção entre “eu” e “mim”. O eu é não socializado, enquanto o “mim” é o self social.
Isto quer dizer que a auto-consciência se forma quando os indivíduos se vêm tal como os
outros os vêm. O seguinte estádio crucial é o da aprendizagem do “outro generalizado”,
no qual a criança aprende as normas e os valores da cultura em que vive.
Jean Piaget – Enfatiza a cognição ou a capacidade que a criança tem para atribuir senti-
do ao mundo em que vive. Piaget distingue quatro estádios de desenvolvimento:
1º. Sensório-Motor - o conhecimento resulta do contacto directo com o mundo exterior.
2º. Pré-Operacional - permite à criança aprender a linguagem e representação simbólica.
Este estádio caracteriza-se pelo egocentrismo.
3º. Operacional Concreto – permite interiorizar abstracções e noções lógicas.
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4º. Operacional Formal – interiorizam-se grandes abstracções e hipóteses.
Enquanto as primeiras três fases são comuns a todas as pessoas, a quarta fase não é atin-
gida por todos (desenvolve-se na escola e não na vida quotidiana). O egocentrismo e a
incapacidade de ultrapassar um pensamento concreto caracterizam muitos adultos que
nunca tiveram a formação necessária para atingir o estádio final.
O Ciclo de Vida
Os indivíduos percorrem ao longo das suas vidas vários estádios de desenvolvimento com
características diferentes. A origem dos ciclos de vida é simultaneamente biológica e
social. Ciclos biológicos iguais são tratados socialmente de maneira diferente. Ser crian-
ça num determinado país numa determinada época é completamente diferente do ser cri-
ança nesse mesmo país e numa outra época.
Face aos ciclos de vida conclui-se que o processo de socialização decorre ao longo de
toda a vida uma vez que os indivíduos necessitam aprender de forma permanente a sua
integração social (é preciso aprender a ser jovem, a ser pai, a ser reformado, etc.)
Tipos de Sociedade
Sociedades de Recolectores
As primeiras sociedades humanas viviam da caça e da recolecção. A divisão do trabalho
baseava-se no sexo. Dispunham de uma hierarquia de poder e prestígio baseada na idade
e no sexo. Os homens dispunham de poder político e funcionavam em assembleias parti-
cipadas por todos os homens adultos que habitavam os limites do seu território. Hoje
0,001% da população da terra ainda vive neste tipo de sociedade. É o caso dos pigmeus
Mbuti. As sociedades de recolectores são consideradas sociedades de abundância. Geral-
mente são pacíficas e sem desigualdades sociais significativas ao nível da riqueza e do
poder. Estabelecem predominantemente relações de cooperação.
Sociedades Pastoris
São sociedades que migram ao longo do ano, à procura de pastos para os seus rebanhos.
São mais complexas que as sociedades de recolectores e nelas já se verificam fenómenos
de desigualdade social. Estabelecem grande número de contactos com outras sociedades
uma vez que se deslocam por grandes áreas. Nos nossos dias ainda existem em grande
número, este tipo de sociedade que se dedica à criação de gado.
Sociedades Agrárias
Predominam ainda hoje em grande parte da terra. São comunidades autónomas na subsis-
tência e tendem a acumular os seus excedentes uma vez que são sedentárias. Este tipo de
vida leva à criação de laços comerciais e políticos entre aldeias. O trabalho da terra ocu-
pa homens e mulheres de todas as idades. A posse da terra é o principal critério de pres-
tígio e riqueza.
Sociedades Não Industriais ou Estados Tradicionais
6000 anos antes de Cristo começaram a surgir sociedades mais complexas, urbanas, co m
grandes desigualdades sociais e políticas. A escrita e a arte faziam parte do seu quotidia-
no e foram governadas por reis e imperadores. Normalmente designam-se apenas por Ci-
vilizações. Estes estados tradicionais tiveram vocações expansionistas e de algumas delas
surgiram autênticos impérios (Romano e Chinês). O sistema ocupacional destas
sociedades era complexo, com rigorosa divisão do trabalho e forte especialização profis-
sional e segregação sexual no trabalho. Esta divisão e especialização conduziu a grande
diferenciação social. Os estratos sociais distinguiam a aristocracia rica e ociosa que dis-
punha de muitos escravos. O resto da população vivia uma vida dura de trabalho e pobre-
za. Muitos estados tradicionais estabelecidos foram depois colonizados pelos europeus, a
eles submetidos e nalguns casos exterminados, transformando-se em colónias europeias
(Índia, Paquistão, Aztecas e Incas).
Sociedades Industriais – o mundo moderno
A industrialização começou na Inglaterra mas estendeu-se a todo o mundo, levando ao
desaparecimento da grande maioria das sociedades recolectoras, caçadoras, pastoris e
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agrárias e a totalidade dos Estados Tradicionais. Dispondo de produção mecanizada, as
sociedades de tipo industrial acumularam mão-de-obra no sector secundário retirando-a
ao sector primário e dando origem a um povoamento concentrado nas cidades industriais
que, cresceram até se tornarem grandes metrópoles com a população a trabalhar em fábri-
cas, escritórios e lojas. As sociedades industriais permitiram o desenvolvimento dos Es-
tados Nacionais. Com o desenvolvimento das comunicações e dos transportes dá-se uma
homogeneização das culturas criando identidades culturais no espaço dos Estados-Nação.
O estado-nação está associado ao desaparecimento das culturas regionais e dialectos lo-
cais, e ao surgimento de governos fortes, definição clara de fronteiras, aplicação de le-
gislação nacional capaz de controlar muitos aspectos da vida dos cidadãos. Estes estados
muito poderosos estenderam a sua supremacia para além das suas fronteiras europeias.
Exemplos: Grã-Bretanha, Japão, Estados Unidos, Alemanha.
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por laços de sangue); para haver casamen to tem de haver reconhecimento social. Sarra-
ceno diz que “a estrutura da família se define pelo modo como as pessoas que a com-
põem se colocam ao longo de dois eixos, respectivamente horizontal e vertical, pelas
relações de sexo e pelas relações geracionais.”
Existem vários tipos de famílias, entre as quais destacamos as principais: Família Nucle-
ar e Família Extensa.
Nas sociedades ocidentais o casamento é sinónimo de monogamia, facto estabelecido por
lei, ao contrário do que se passa em muitas outras sociedades extra-europeias em que
podemos encontrar a poligamia quer poligínica (um homem – várias esposas) quer
poliândrica (uma mulher – vários maridos).
A Família na História
Ao longo dos tempos tem existido uma imensa diversidade de maneiras de constituir
família. A estabilidade da família não está mais ameaçada no nosso tempo do que o este-
ve no passado. As altas taxas de divórcio e a recomposição familiar não afectam mais a
estabilidade da família do que os elevados níveis de mortalidade ameaçaram no passado.
O chamado “Grupo de Cambridge” debruçou-se nos anos 70 sobre a evolução das famí-
lias europeias. Nos seus estudos contrapuseram a visão de Durkheim de que a família se
foi tornando progressivamente nuclear por força do processo de industrialização e urba-
nização. Autores como Stone ou Lasllett consideram que a família nuclear existiu na Eu-
ropa desde os séculos XV e XVI, ou seja, muito antes da Revolução Industrial. Dizem
mesmo que a existência deste tipo de famílias foi favorável ao desenvolvimento da
industrialização. Outros autores consideram que não existe um tipo único de família que
possa ser aplicado a toda a Europa e que é preciso considerar uma grande diversidade de
situações, com maior incidência no caso da Europa Meridional. (ver quadro pág. 67)
A família de tipo nuclear tem vindo a crescer em desfavor dos tipos extensos de família,
pela influência do modelo ocidental levado a outras paragens aquando da expansão das
sociedades europeias.
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Agregados Monoparentais
As famílias nas quais vive só um dos progenitores estão a crescer na Europa. Normal-
mente são famílias encabeçadas por mulheres que ficaram com os filhos após um proces-
so de divórcio. Uma em cada cinco famílias com filhos são deste tipo e constituem u m
dos grupos sociais mais pobres. Na maioria dos casos o divórcio tem fortes implicações
económicas na vida das famílias e são as famílias monoparentais as que mais sofrem este
impacto negativo. Por outro lado há uma maior tendência para o surgimento de casos de
marginalidade, violência e delinquência nestas famílias em que os filhos são vítimas da
chamada situação de “pai ausente”. No entanto, e apesar de alguns indicadores neste sen-
tido, os cientistas ainda não têm ideias muito claras acerca da influência do divórcio na
crescente violência e criminalidade. Preferem associar estes problemas à pobreza e à ex-
clusão social.
Segundos Casamentos
No início do século XX a maioria dos segundos casamentos resultava do casamento de
viúvos. Hoje em dia, de acordo com Guiddens, “vinte e oito em cem casamentos envol-
vem pelo menos uma pessoa que já foi casada. Até à idade de 35 anos a maior parte dos
segundos casamentos envolve pessoas divorciadas. A partir dessa idade, aumenta o nú-
mero de novos casamentos de viúvas e viúvos e pelos 55 anos o número de casamentos de
viúvos é maior do que a de novos casamentos entre pessoas divorciadas.”
Os divorciados casam-se em maior número que os solteiros da mesma idade e, curiosa-
mente, a taxa de divórcio dos segundos casamentos é ainda maior que a dos primeiros.
Famílias Recompostas
São aquelas famílias em que pelo menos um adulto é padrasto ou madrasta. Estas famí-
lias apresentam problemas específicos pois têm de lidar com situações para as quais não
tiveram qualquer aprendizagem uma vez que em princípio não cresceram em famílias
desse tipo.
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A Norma
A norma é uma construção social e refere-se sempre a um universo social particular, uma
vez que varia de grupo para grupo, de sociedade para sociedade, no tempo e no espaço.
Desvio
Inconformidade em relação a determinado conjunto de normas, aceite por um número si-
gnificativo de pessoas de uma comunidade ou sociedade. O desvio é um atributo que
pode aplicar a pessoas individuais ou a grupos, neste último caso fala-se em subcultura
desviante. O desvio pode ser ignorado, aceite, tolerado ou perseguido e punido.
Às punições chamamo s sanções, e estas variam em tipo e importância:
Sanções de tipo informal – olhares desagradáveis, juízos feitos por terceiros, advertên-
cias, censuras várias, rejeições, etc.
Sanções de tipo formal – aplicação de posturas, códigos e leis.
Sanções ligeiras – com pouca repercussão na vida e comportamento dos indivíduos.
Sanções fortes – que afectam muito o indivíduo e o seu modo de vida.
Um desvio em relação às leis de um país considera-se crime. O crime é uma ordem de
desvio e dele ficam excluídos os desvios que não infrinjam qualquer lei escrita.
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secundário e a teoria de que o desvio é definido pelas reacções sociais. Estabeleceu
uma distinção entre comportamento desviado (desvio primário) e papel social desvia-
do (desvio secundário). O primeiro é o comportamento propriamente dito e o segundo
é a interacção do indivíduo e a sociedade onde se insere.
Prisões e Punições
O surgimento da liberdade individual como valor central das sociedades após o séc.
XVIII, fez surgir também uma nova forma de punição: a perda dessa liberdade. Até aí as
punições eram de outro tipo e, normalmente, assumiam um carácter público. O carácter
privado das penas está também associado à convicção de que as cadeias servem para
recuperar pessoas. A principal finalidade da prisão é “melhorar” os comportamentos indi-
viduais (meio de ressocialização).
No entanto, as condições físicas e psicológicas em que decorre a privação da liberdade
podem levar a resultados completamente opostos. A reabilitação é comprometida pelas
especificidades do espaço prisional. Por um lado a punição tem de ser suficientemente
desagradável para desincentivar o crime e por outro, a socialização é amplamente condi-
cionada pelo ambiente e o espaço. Esta contradição é fonte de problemas e insucessos.
Diversos estudos sobre esta temática têm demonstrado que o sucesso na reabilitação de
criminosos é diminuto e, em mu itos casos, as cadeias servem para potenciar futuras rein-
cidências.
Face à ineficácia das prisões na reabilitação de comportamentos desviantes, pensa-se em
alternativas à cadeia que sejam individualmente mais eficazes e socialmente mais úteis e
menos dispendiosas: pena suspensa, liberdade condicional, liberdade sob fiança, presta-
ção de serviços à comunidade, indemnizações à vítima, etc.
Note-se que falamos em comportamentos desviantes e não em indivíduos desviantes.
Todo o indivíduo por mais marginal que seja tem alguns comportamentos absolutamente
conformes às leis.
Podem acontecer casos em que a sociedade já não acredita na reabilitação do indivíduo e
então ele é segregado formalmente da sociedade, obtendo penas de prisão de duração su-
perior à própria vida ou mesmo a pena de morte. No entanto, a maioria dos indivíduos
que pratica crimes é considerada como socialmente recuperável, por se considerar que se
tratou de um comportamento desviante e o que interessa é banir esse comportamento, não
a pessoa.
O Crime e a Masculinidade
As mulheres executam muito menos crimes que os homens. Assim, os estudos tendem a
desprezar o desvio das mulheres. Em Inglaterra, por exemplo, a população prisional con-
tém apenas 3% de mu lheres. Mesmo as mulheres que cometem crimes raramente usam de
violência. Apesar de existirem gangs de raparigas eles são em número reduzido se com-
parados com os rapazes.
As vítimas do crime
Grande parte das vítimas de crimes são mulheres, quer em contexto doméstico, quer fora
dele. A violência doméstica é um tipo de crime muito específico porque se encontra as-
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associado a factores culturais e a estereótipos quanto aos papéis masculinos e femininos.
O assédio sexual é extremamen te comum, é um tipo de crime em que se usa o poder ou
autoridade laboral no sentido de forçar favores sexuais.
As características do crime de violação tornam ainda mais difícil o conhecimento do
fenómeno. O julgamento destes casos tem a ver com factores de ordem cultural e das
representações do desempenho de papel feito pelas sociedades. Embora a violação seja
considerada crime, em muitos casos pode ser julgado como tendo sido provocada pela
própria vítima, em resultado de um desempenho de papel (ele próprio desviado).
A violação masculina é mais comum nas cadeias e outras instituições fechadas.
Crimes Governamentais
Os maiores crimes da História foram cometidos por Estados. As perseguições políticas,
extermínios, campos de concentração de Estaline e o holocausto nazi são grandes exem-
plos deste tipo de crime. Podem ainda estar ligados à exploração colonial, desempenho
fraudulento das políticas, tráfico, falsificações, desvios, etc.
O Crime Organizado
Nesta categoria incluem-se o jogo ilegal, prostituição, roubo em grande escala e esque-
mas de extorsão, tráfico de armas, drogas e materiais nucleares. É aquilo a que se pode
chamar um trabalho “profissional” a que muitos se dedicam como forma de vida. Por
todo o mundo existe crime organizado, em modelos de funcionamento do tipo “familiar”
(Máfia) e com sede nas principais capitais onde há oportunidades de “lavagem de dinhei-
ro” (investimento dos rendimentos do crime em negócios legais).
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Etnicidade
O conceito de etnicidade refere-se às diferenças culturais entre grupos sociais ao longo
de tempos e espaços diferentes. O sentimento de diferença cultural é aprendido social-
mente como meio de identidade de um grupo, que se define pelas diferenças que apresen-
ta em relação a outros. Nos processos de socialização são estimulados nos indivíduos os
recursos que permitem afirmar as diferenças culturais no sentido de reforçar a identidade
dos grupos.
As desigualdades sociais entre grupos étnicos tem a ver com a sua situação política e
social, com o poder de que dispõem os diferentes grupos e, consequentemente, a capaci-
dade de materializarem os seus interesses específicos.
Aos grupos cultural e numericamente em desvantagem numa sociedade chamamos mino-
rias étnicas. O sentido de unidade e de diferença em relação aos outros é reforçado pelos
mecanismos de segregação social de que são alvo. É frequente que se encontrem isolados
espacialmente em áreas desfavorecidas.
As minorias étnicas podem não apresentar diferenças físicas em relação ao grupo domi-
nante. A Ciência acaba de confirmar a inoperacionalidade do conceito de raça que, sendo
infundado cientificamente, serve de suporte a um fenómeno social altamente lesivo que é
o racismo. O racismo é a crença na superioridade intelectual de certos grupos humanos
com características físicas particulares.
Preconceito e Descriminação
O preconceito permite compreender que as representações que os grupos sociais fazem
acerca de outros grupos não têm necessariamente um fundamento de verdade. Estas opi-
niões e atitudes constroem-se em função dos interesses específicos desses grupos e por-
tanto obedecem a critérios oportunistas.
A descriminação não é uma opinião ou atitude, é uma prática, um comportamento tido em
relação a indivíduos pertencendo a grupos diferentes.
A sociologia utiliza três conceitos na explicação destas atitudes e comportamentos: etno-
centrismo, fechamento de grupo e repartição de recursos.
Status
O status, para Weber, diz respeito às diferenças entre indivíduos na esfera social e ao
prestígio que cada indivíduo tem aos olhos dos outros. O poder pessoal depende do pres-
tígio social. As classes e os estatutos sociais são diferentes facetas do sistema de estrati-
ficação, um indivíduo pode pertencer a uma classe económica elevada e ter um baixo
estatuto social. O estatuto pode desempenhar um papel mais relevante na aquisição de
recursos do que uma classe. Os grupos de status, tais como os de classe, não são perma-
nentes, mas muito mutáveis.
Partido
Os partidos são organizações de indivíduos com interesses comuns com o objectivo de
em conjunto atingirem fins comuns. Esta divisão, apesar de não corresponder a uma divi-
são de classes pode afectá-la. Apesar de não terem os mesmos critérios, os partidos não
deixam de ser um mecanismo de estratificação, baseado na religião ou em ideiais políti-
cos.
Mobilidade Social
O conceito de mobilidade social refere-se aos movimentos individuais e de grupos entre
diferentes posições socioeconómicas. Podemos considerar uma mobilidade de tipo verti-
cal ascendente ou descendente e uma mobilidade lateral ou horizontal relativa a movi-
mentos geográficos. Podemos ainda considerar uma mobilidade intra-geracional quando
nos referimos aos movimentos que decorrem durante uma vida ou de mobilidade inter-
geracional, quando as alterações de classe ou estatuto se dão de uma geração para outra.
A intensidade da mobilidade vertical indica-nos o grau de abertura à mudança de uma
sociedade. Grande parte da mobilidade social resulta da mobilidade profissional.
Desigualdade e Pobreza
Pobreza Absoluta – incapacidade de aceder ao mínimo de subsistência de modo a ter
acesso a uma existência psicologicamente equilibrada.
Pobreza Relativa – comparação das diferentes condições de vida dos indivíduos.
No passado os pobres eram os que tinham maus empregos, nos quais ganhavam mal e
eram explorados. Hoje, grande parte dos que trabalham, embora relativamente pobres,
não têm as condições de miséria e dureza que tinham os operários do séc. XIX e, hoje,
têm acesso a um conjunto de bens muito maior. Hoje em dia os pobres são os excluídos
do sistema de emprego, marginais e delinquentes, toxicodependentes, velhos, doentes,
mulheres chefes de família monoparentais, que ficam à margem do sistema económico e
vivem no limiar da pobreza.
A observação histórica tem demonstrado que quando a economia se organiza em função
do mercado, de forma completamente liberal, agudizam-se as assimetrias sociais entre
um vasto grupo de muito pobres e um pequeno grupo de muito ricos.
Embora a pobreza possa ser combatida e os indivíduos não tenham de viver toda a sua
vida em estado de pobreza, convém lembrar que para certos grupos sociais desfavoreci-
dos é muito difícil ultrapassar esse estado e que, nestes casos, pode dizer-se que a pobre-
za tal como a riqueza, também se herda. O equilíbrio via estatal também é desigual, uma
vez que há Estados mais capazes do que outros de fazer face ao problema da pobreza e
promover o bem estar e o equilíbrio colectivo
O modelo Japonês
A maioria das empresas japonesas tem um modelo organizacional diferente do europeu.
Não há uma hierarquia piramidal e os gestores de topo consultam regularmente os traba-
lhadores de níveis mais baixos acerca das suas determinações. O desenvolvimento de car-
reiras faz-se da seguinte forma: os gestores passam por todas as áreas da organização e
ficam a co nhecê-la profundamente; a garantia de trabalho é vitalícia e o ordenado depen-
de da antiguidade e não da responsabilidade; todos os funcionários trabalham em grupo e
participam activamente numa tarefa colectiva; a vida pessoal está ligada à vida da em-
presa e a lealdade é levada ao limite; a empresa oferece muito mais do que o ordenado
(os diferentes estádios da vida são apoiados pela empresa). Este modelo já foi testado
fora do Japão e demonstrou ser igualmente eficiente.
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Tendências no Sistema Ocupacional
A tendência actual continua a ser a diminuição de ocupações manuais como resultado da
desindustrialização.
Os conflitos que opõem trabalhadores e patrões têm evoluído, desde formas espontâneas
de protesto até à presente reivindicação por via institucional. As organizações sindicais,
espalhadas por todos os países ocidentais, têm conhecido grande desenvolvimento após a
II Guerra Mundial. Os sindicatos organizam formas de protesto colectivas e recorrem à
greve como forma de atingir os seus objectivos, quase sempre de natureza salarial. Actu-
almente a capacidade negocial dos sindicatos encontra-se enfraquecida em face dos altos
níveis de desemprego, do declínio das indústrias fabris mais antigas e da concorrência
internacional, especialmente dos países asiáticos onde a mão-de-obra é mais barata que
no Ocidente. A somar a tudo isto temos ainda as políticas de vários países europeus que
tenderam nos anos 70 e 80 do séc. XX a limitar o poder dos sindicatos.
A greve é uma expressão de conflito laboral organizado na qual um grupo de trabalhado-
res pára o seu trabalho com o objectivo de obter a satisfação de uma reivindicação.
Existem outras formas de protesto nas situações de conflito laboral. O Lock-out é o opos-
to da greve, ou seja, quem pára são os patrões e não os trabalhadores.
As Mulheres e o Trabalho
Até à era industrial as mulheres trabalharam ao lado dos homens para o sustento da famí-
lia. Durante a idade média ocupavam-se nos campos e oficinas de artesanato dos maridos.
No princípio da industrialização trabalhava toda a família, incluindo as crianças, em
condições e períodos de tempo in aceitáveis nos dias de hoje.
Com o desenvolvimento do capitalismo industrial a mulher foi afastada das fábricas e
passou a dedicar-se ao cuidado da casa e dos filhos. Esta situação voltou a alterar-se
depois das guerras mundiais e hoje a maior parte das mulheres trabalha em empregos
remunerados fora de casa.
A situação da mulher no trabalho foi sempre inferior à dos homens bem como o salário
auferido. Aos homens atribuem-se funções de maior responsabilidade, ligadas a desem-
penhos mais interessantes, menos rotineiros e aos quais correspondem melhores remune-
rações.
Um dos maiores obstáculos à progressão profissional das mulheres continua a ser a
maternidade. Muitas mulheres preferem trabalhos a tempo parcial para se poderem dedi-
car aos filhos o que impede que lhes sejam confiadas funções de grande responsabilida-
de.
Embora as funções tradicionalmente atribuídas aos homens tenham tendência para se
abrir cada vez mais às mulheres, o que é certo é que ainda hoje existem diferenças muito
significativas. Na Europa, através de legislação específica, tenta alterar-se esta situação.
A situação de discriminação é particularmente notória e dolorosa para aquelas mulheres
que sendo chefes de família e tendo os filhos a seu cargo, não conseguem auferir salários
que lhes permita fazer face às necessidades.
O trabalho doméstico não remunerado constitui uma importante parcela do trabalho soci-
al e representa uma contribuição não contabilizada para qualquer economia. Um dos seus
aspectos mais penosos é o facto de não trazer qualquer prestígio social a quem o desem-
penha.
Desemprego
O desemprego é uma variável muito flutuante e que apresenta comportamentos diferentes
de grupo social para grupo social no interior de uma sociedade. Nas sociedades actuais é
fundamental ter um emprego para a realização individual e para o sentido de identidade
dos indivíduos, ou seja, além de afectar as pessoas do ponto de vista financeiro, o de-
semprego afecta-os também do ponto de vista da interacção social e da identidade.
Actualmente o desemprego constitui um dos maiores problemas sociais europeus. Princi-
pais causas do desemprego na Europa: grande concorrência internacional; crise do petró-
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leo 1973; reforço da utilização de novas tecnologias; crescente número de mulheres que
chegam ao mercado de trabalho.
A formação profissional que permita uma maior flexibilidade profissional (polivalência)
parece ser uma das soluções para atenuar este problema.
Algumas alterações na organização do trabalho tentam compensar a tendência para o
crescimento do desemprego, nomeadamente com a redução das horas de trabalho e a an-
tecipação das idades de reforma.
Estado
Aparelho de poder político legitimamente instituído e reconhecido por outros Estados
que, exerce a soberania dentro dos limites de um dado território. A legitimidade de um
Estado é-lhe conferida por um sistema jurídico próprio e pela existência de um exército
capaz de impor a ordem e proteger as fronteiras.
Actualmente todas as sociedades são Estados-nação, que corresponde a uma concepção
territorial do poder político. De acordo com Antony Smith “as nações devem possuir ter-
ritórios compactos e bem definidos. Povo e território devem pertencer um ao outro ...
Mas a terra em questão não pode ser em qualquer lado; não é uma questão de terra
qualquer. É, e deve ser, a terra ‘histórica’, a ‘terra natal’, o ‘berço’ do nosso povo ... a
terra natal torna-se o depósito de memórias e associações históricas, o local onde vive-
ram trabalharam, oraram e lutaram os ‘nossos’ sábios, santos e heróis. Tudo isto torna
única a terra natal ... as riquezas da terra também se tornam exclusivas do povo.”
Principais características dos Estados-nação:
- Posse de um território “histórico” próprio e exclusivo, merecido pelo esforço colecti-
vo de construção e preservação e transmitido por herança colectiva.
- Soberania nacional ou capacidade de exercer o poder político de forma autónoma em
relação a outros Estados, dentro das fronteiras desse território.
- Cidadania, ou seja, participação do povo de forma directa ou indirecta no exercício
do poder político. Nas sociedades actuais a participação indirecta exerce-se por via
do sufrágio (democracias representativas). O conceito de cidadania supõe que todos
os cidadãos são iguais perante a lei e têm direitos e deveres consagrados num docu-
mento que contem os princípios que constituem a nação (constituição).
Nacionalismo
Diz respeito aos aspectos mais ideológicos do exercício do poder. Implica a existência de
uma narrativa de nação, configurada por mitos e símbolos e uma crença na eternidade da
mesma, que serve para legitimar a sua autonomia política. Nacionalismo e cultura nacio-
nal andam de mãos dadas.
Democracia
A democracia é um termo que significa “governo do povo” no sentido da participação do
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Sociologia Geral
povo no poder político do Estado.
Podemos distinguir três tipos de democracias:
- Democracia Participativa: todas as decisões são tomadas colectivamente (Grécia Na-
tiga). Este sistema não se ajusta a sociedades muito numerosas. Hoje ainda restam
traços deste tipo de democracia quando se recorre ao referendo.
- Monarquia Democrática Liberal: o poder real é muito limitado ou mesmo simbólico
(Bélgica ou Grã-Bretanha). O poder real está condicionado à Constituição que o in-
veste no povo.
- Democracias Liberais: regimes multipartidários ligados ao capitalismo liberal em que
o povo escolhe os seus representantes para o Estado e Governo através de sufrágio.
A Crise da Democracia
Apesar da democracia de ser um sistema político em expansão por todo o mundo, tem no
entanto associados, diversos problemas.
A crise da democracia tem a ver com os resultados não previstos do estabelecimento des-
te regime político. Ao estar associada ao sistema capitalista, a democracia torna-se res-
ponsável moral pelos problemas económicos, pelo acentuar das desigualdades sociais,
pelo desemprego, pelas grandes movimentações de migrantes pobres e excluídos. Estes
problemas sociais gerados em grande parte pelas estratégias de globalização económica
do capitalismo, recaem sobre os Estados democráticos que se tornam incapazes de lidar
com a sua dimensão cada vez maior e se tornam desacreditados junto dos seus povos,
cada vez mais afectados.
Comportamento Eleitoral
O final do séc. XX caracteriza-se por uma redução da confiança dos eleitores nos parti-
dos políticos e nos governos, marcada pelo desinteresse na participação política e pelo
aumento da abstenção eleitoral, praticamente em todas as democracias europeias. O elei-
torado tornou-se céptico relativamente ao desempenho de partidos políticos e governos à
medida que assistiu ao declínio dos seus direitos e ao aumento do poder dos diferentes
grupos de interesse.
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Sociologia Geral
Forças Globais
A democracia generalizou-se em todo o mundo. Por outro lado a globalização tem vindo
a reduzir o poder dos Estados-nação que, incapazes de manter o seu poder estratégico e
inseguros quanto ao desenrolar da violência tem procurado formas de associação. A Co-
munidade Europeia é uma resposta dos Estados-nação.
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