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Sociologia Geral

Apontamentos de: Clara Palma e Elisabete Barroso


Email: [email protected]
Data: 2001/02
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Sociologia Geral
Sociologia – o que é? Qual o objecto de estudo?
O termo sociologia foi criado por Auguste Comte para designar uma ciência geral da
organização e evolução da sociedade. A vontade de conferir a esse conhecimento um
carácter positivo e objectivo levou a sociologia a aplicar aos problemas sociais os méto-
dos de pesquisa e formas de análise que permitissem estabelecer relações de causa-efeito
entre os problemas e regras ou até ‘leis’ da organização social humana. O objecto de
estudo da sociologia é muito abrangente e diversificado e os seus métodos e técnicas de
análise também o são. A sociologia pretende demonstrar como os comportamentos sociais
são afectados por factores estruturais e conjunturais e de como os indivíduos interagem
nesses contextos.
O pensamento sociológico é de tipo científico pelo que pressupõe uma ruptura epistemo-
lógica com a maneira de pensar aprendida em comum na sociedade. A importância do
estudo da sociologia fundamenta-se na crença dos sociólogos de que as representações,
os hábitos, as maneiras de agir e de pensar estão estreitamente ligadas com os meios
sociais nos quais se inserem os indivíduos. O indivíduo, sendo único, é também um ele-
mento construtivo do fenómeno social. De acordo com Giddens “é tarefa da sociologia
investigar o que a sociedade faz de nós e o que é que nós fazemos de nós próprios.”
A estrutura social é anterior a cada indivíduo mas depende de cada um (imanência e
transcendência). Ela está em permanente mudança ou reestruturação, pela influência do
desempenho de cada um em sociedade.

Origens da Sociologia (fundadores e suas bases teóricas)


É uma ciência que se pode considerar recente, tendo a sua origem após as transformações
sociais originadas pela Revolução Francesa e Revolução Industrial (séc. XVIII e XIX).
Augusto Comte (1798-1857) – Francês, é geralmente considerado o pai da sociologia
pelo facto de ter sido o autor do termo que a designa. Inscreve-se no pensamento positi-
vista e entendeu que a sociologia deveria constituir uma espécie de ciência física aplica-
da ao Homem. A sociologia seria o estudo do social com vista à reorganização dos modos
de vida segundo padrões racionais, metódicos e positivos.
Émile Durkheim (1858-1917) – Foi o primeiro catedrático de sociologia em França e
editor durante vários anos da revista sociológica “L’Année Sociologique”. Aprofundou as
convicções positivistas do fundador da disciplina e desenvolveu importantes estudos e
conceitos, considerados centrais na história da sociologia (facto social, regras explicati-
vas dos factos sociais, anomia, divisão do trabalho, suicídio, etc.) A grande preocupação
de Durkheim era a estabilidade social (coesão social) e considerava que a sociologia ti-
nha um papel importante na garantia dessa estabilidade. Debruçou-se também sobre as
patologias sociais que, de alguma forma, poderiam prejudicar a ordem e o progresso (u m
dos mais importantes marcos nesta matéria são os seus estudos sobre o suicídio).
Karl Marx (1818-1893) – Alemão, além de influenciar o pensamento sociológico tornou-
se um marco da história mundial. Marx baseia as suas teorias no facto dos aspectos eco-
nómicos serem determinantes de todos os outros aspectos da vida humana. A sua grande
preocupação é a desigualdade social e, nesse sentido, opõe-se a Comte e Durkheim cuja
grande preocupação era a ordem social. Para Marx a ordem social é transitória e injusta
uma vez que assenta na dominação social de uma classe que explora outra (capitalistas –
proletários), por isso para este autor não há que manter a ordem social mas sim promover
a mudança social. Debruçou-se como ninguém sobre o capitalismo e os problemas sociais
que ele gera.
Max Weber (1864-1920) – Alemão, intelectual de primeira linha, Weber parece ter sido
um dos últimos sábios. Capaz de um pensamento global que abarcava da economia à his-
tória, da filosofia ao direito e à sociologia, apresenta uma leitura integrada da história
humana e uma reflexão sistemática sobre os problemas e características da sociedade do
seu tempo. Tal como Marx preocupa-se em compreender a mudança social, mas por uma
via oposta. Enquanto Marx é um materialista que considera que a parte material da vida
humana é determinante da sociedade, Weber demonstra que o mundo das ideias, das con-
vicções religiosas e dos valores pode contribuir para a mudança de forma decisiva.
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Sociologia Geral
Pensadores Contemporâneos
Depois da época da fundação, a evolução da sociologia pautou-se pela diversidade de
perspectivas e muitas vezes pela própria oposição. Não se pode dizer que exista um para-
digma sociológico ou uma sociologia fundamental, tal como se diz de outras ciências
como a física por exemplo, uma vez que a maior parte das abordagens do social não che-
garam a co nstituir verdadeiros sistemas de ideias e limitaram-se a ser contributos no seio
de grandes problemáticas. As sociologias contemporâneas desenvolveram-se por reacção
a alguns impasses da sociologia clássica e segundo uma ruptura conceptual, designada
por construtivismo. O construtivismo é considerado por autores como Denzin e Lincoln
um paradigma, mas n em aí há consenso. Boaventura dos Santos considera-o apenas um
“rombo no paradigma positivista” e um sinal do surgimento de uma “ciência pós-
moderna”. A diversidade de posições é definida por Sedas Nunes como conflitualidade
interna e subdesenvolvimento científico das ciências sociais.

A Sociologia como Ciência


Na época da sua fundação a sociologia tinha que se caracterizar por uma abordagem posi-
tiva, matematizada, objectiva, pois eram esses os requisitos para a aceitação dos estudos
sociológicos no seio da sociedade científica. Actualmente, são integrados na ciência
alguns conceitos que não constavam dos manuais das ciências exactas (historicidade,
revolução).
Na história da Sociologia encontramos períodos em que se dá primazia à unicidade do
método científico e outros em q ue se afirma a necessidade da existência de metodologias
diferentes para as ciências sociais e ciências físicas ou biológicas (dualidade).
Os positivistas e funcionalistas americanos aceitaram a unicidade. Os Neo-Kantianos (in-
cluindo Weber) aceitaram a dualidade.
Actualmente o grupo dos dualistas que defendem a especificidade própria das CS incluem
os fenomenologistas, os etnometodologistas e interaccionistas.
Os partidários da unicidade epistemológica (Bachelard, Tourraine, Giddens, Piaget, Há-
bermas) adaptaram as suas posições e aceitam dentro da unicidade alguns aspectos
particulares que lhe conferem uma certa especificidade, sem no entanto levar a uma dua-
lidade epistemológica.

Contributo da Sociologia para as nossas vidas


A mais importante característica do pensamento sociológico chama-se reflexibilidade. A
reflexibilidade assenta no facto do estudo do social se reflectir na forma como esse soci-
al evolui e se organiza. Assim, quanto mais se estuda mais há para estudar, uma vez que
esse estudo leva a mudanças no próprio social e desactualiza permanentemente o saber
acerca dele. Em suma, o estudo sociológico é constitutivo do social e contribui para o
transformar.
As instâncias políticas fazem um uso permanente do saber social para tomar decisões que
afectam a vida humana. Essas decisões reflectem as convicções dos sociólogos acerca das
realidades que estudaram. As relações da sociologia com a política são um importante
campo de reflexão. Max Weber na sua obra “O Político e o Cientista” aborda estas duas
vocações e as relações desejáveis entre elas.

Sociedade, Cultura e Indivíduo


Os conceitos de homem e sociedade são práticamente indissociáveis. O homem é um ser
social e não pode existir sozinho. O homem começa por se integrar no grupo familiar que
por sua vez estabelece relações com outros grupos, constituindo as sociedades. As socie-
dades, por sua vez, delimitam-se por territórios que correspondem a Estados soberanos.
O conceito de sociedade foi desenvolvido dentro dos limites impostos pelas fronteiras
territoriais. No entanto, esta delimitação é incompleta uma vez que o homem relaciona-se
para além das fronteiras estabelecidas.
Nas suas relações os homens criam regras e modos de viver que dão origem às culturas
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humanas. Estas culturas variam no espaço e no tempo, a ritmo mais lento do que o desen-
volvimento das fronteiras territoriais. Assim, os limites de uma cultura pode estar muito
além ou muito aquém do espaço político da sociedade onde ela existe. Podemos falar de
culturas nacionais, transnacionais e ainda de sub-culturas.

A Espécie Humana
A teoria da evolução de Charles Darwin reforça a importância do património genético e
da relação dos homens no meio envolvente para a explicação das sociedades humanas,
defendendo que muitos aspectos da vida social resultam do processo natural de adaptação
do homem.
Muitos cientistas não aceitam que o termo instinto seja aplicado ao homem. O instinto é
definido como um comportamento geneticamente determinado e a sociologia prefere dar
ênfase aos factores sociais do comportamento. A sociologia prefere falar em reflexos e
necessidades biológicas.
Do ponto de vista cultural, a tendência é para o etnocentrismo, ou seja, o homem tende a
ver a sua cultura como um modelo em prejuízo de outras. O conhecimento sociológico
pressupõe, por parte dos investigadores a superação do seu natural etnocentrismo. Só
esta ruptura permite alguma objectividade à sociologia e outras CS.
No entanto, apesar da diversidade, existem aspectos universais nas culturas humanas. A
linguagem é um exemplo. Apesar de existirem diferentes línguas, a necessidade de
comunicação é comum a todas as culturas. Existem outros exemplos de características
univerais: partilha, inter-ajuda, relações afectivas, religião, etc.

Socialização
É o processo pelo qual os homens aprendem as normas das culturas de origem, e que lhes
permite o contacto social com as gerações passadas e futuras, pela partilha dessas nor-
mas. A socialização transforma os seres humanos em seres sociais. Sendo um processo de
construção da identidade social não destrói a identidade individual, passa a fazer parte
dela.
O desenvolvimento do homem apresenta alguns padrões comuns: o reconhecimento pelo
ser que dispensa cuidados (geralmente a mãe), o desenvolvimento de respostas sociais e a
aprendizagem da linguagem. A privação da figura da mãe durante a primeira infância
parece apresentar características altamente negativas, e uma das consequências pode ser
a dificuldade de aprendizagem da linguagem.
Teóricos do desenvolvimento infantil
Sigmund Freud – Criou a psicanálise. Insiste na importância das primeiras experiências
afectivas da criança para a definição da sua personalidade futura e para a existência ou
não de futuros problemas neuróticos. Freud sublinha a importância do inconsciente no
desenvolvimento humano, nomeadamente o que nele ocorre durante a chamada fase do
Complexo de Édipo (antagonismo sexual do rapaz em relação ao pai pelo desejo de posse
da mãe).
George Herbert Mead – Criou o chamado interaccionismo simbólico. Este modelo anali-
sa o comportamento humano em termos de símbolos e de interpretação de significados.
Para Mead a fase mais crucial do desenvolvimento ocorre quando a criança aprende a
distinção entre “eu” e “mim”. O eu é não socializado, enquanto o “mim” é o self social.
Isto quer dizer que a auto-consciência se forma quando os indivíduos se vêm tal como os
outros os vêm. O seguinte estádio crucial é o da aprendizagem do “outro generalizado”,
no qual a criança aprende as normas e os valores da cultura em que vive.
Jean Piaget – Enfatiza a cognição ou a capacidade que a criança tem para atribuir senti-
do ao mundo em que vive. Piaget distingue quatro estádios de desenvolvimento:
1º. Sensório-Motor - o conhecimento resulta do contacto directo com o mundo exterior.
2º. Pré-Operacional - permite à criança aprender a linguagem e representação simbólica.
Este estádio caracteriza-se pelo egocentrismo.
3º. Operacional Concreto – permite interiorizar abstracções e noções lógicas.
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4º. Operacional Formal – interiorizam-se grandes abstracções e hipóteses.
Enquanto as primeiras três fases são comuns a todas as pessoas, a quarta fase não é atin-
gida por todos (desenvolve-se na escola e não na vida quotidiana). O egocentrismo e a
incapacidade de ultrapassar um pensamento concreto caracterizam muitos adultos que
nunca tiveram a formação necessária para atingir o estádio final.

O Ciclo de Vida
Os indivíduos percorrem ao longo das suas vidas vários estádios de desenvolvimento com
características diferentes. A origem dos ciclos de vida é simultaneamente biológica e
social. Ciclos biológicos iguais são tratados socialmente de maneira diferente. Ser crian-
ça num determinado país numa determinada época é completamente diferente do ser cri-
ança nesse mesmo país e numa outra época.
Face aos ciclos de vida conclui-se que o processo de socialização decorre ao longo de
toda a vida uma vez que os indivíduos necessitam aprender de forma permanente a sua
integração social (é preciso aprender a ser jovem, a ser pai, a ser reformado, etc.)

Tipos de Sociedade
Sociedades de Recolectores
As primeiras sociedades humanas viviam da caça e da recolecção. A divisão do trabalho
baseava-se no sexo. Dispunham de uma hierarquia de poder e prestígio baseada na idade
e no sexo. Os homens dispunham de poder político e funcionavam em assembleias parti-
cipadas por todos os homens adultos que habitavam os limites do seu território. Hoje
0,001% da população da terra ainda vive neste tipo de sociedade. É o caso dos pigmeus
Mbuti. As sociedades de recolectores são consideradas sociedades de abundância. Geral-
mente são pacíficas e sem desigualdades sociais significativas ao nível da riqueza e do
poder. Estabelecem predominantemente relações de cooperação.
Sociedades Pastoris
São sociedades que migram ao longo do ano, à procura de pastos para os seus rebanhos.
São mais complexas que as sociedades de recolectores e nelas já se verificam fenómenos
de desigualdade social. Estabelecem grande número de contactos com outras sociedades
uma vez que se deslocam por grandes áreas. Nos nossos dias ainda existem em grande
número, este tipo de sociedade que se dedica à criação de gado.
Sociedades Agrárias
Predominam ainda hoje em grande parte da terra. São comunidades autónomas na subsis-
tência e tendem a acumular os seus excedentes uma vez que são sedentárias. Este tipo de
vida leva à criação de laços comerciais e políticos entre aldeias. O trabalho da terra ocu-
pa homens e mulheres de todas as idades. A posse da terra é o principal critério de pres-
tígio e riqueza.
Sociedades Não Industriais ou Estados Tradicionais
6000 anos antes de Cristo começaram a surgir sociedades mais complexas, urbanas, co m
grandes desigualdades sociais e políticas. A escrita e a arte faziam parte do seu quotidia-
no e foram governadas por reis e imperadores. Normalmente designam-se apenas por Ci-
vilizações. Estes estados tradicionais tiveram vocações expansionistas e de algumas delas
surgiram autênticos impérios (Romano e Chinês). O sistema ocupacional destas
sociedades era complexo, com rigorosa divisão do trabalho e forte especialização profis-
sional e segregação sexual no trabalho. Esta divisão e especialização conduziu a grande
diferenciação social. Os estratos sociais distinguiam a aristocracia rica e ociosa que dis-
punha de muitos escravos. O resto da população vivia uma vida dura de trabalho e pobre-
za. Muitos estados tradicionais estabelecidos foram depois colonizados pelos europeus, a
eles submetidos e nalguns casos exterminados, transformando-se em colónias europeias
(Índia, Paquistão, Aztecas e Incas).
Sociedades Industriais – o mundo moderno
A industrialização começou na Inglaterra mas estendeu-se a todo o mundo, levando ao
desaparecimento da grande maioria das sociedades recolectoras, caçadoras, pastoris e
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agrárias e a totalidade dos Estados Tradicionais. Dispondo de produção mecanizada, as
sociedades de tipo industrial acumularam mão-de-obra no sector secundário retirando-a
ao sector primário e dando origem a um povoamento concentrado nas cidades industriais
que, cresceram até se tornarem grandes metrópoles com a população a trabalhar em fábri-
cas, escritórios e lojas. As sociedades industriais permitiram o desenvolvimento dos Es-
tados Nacionais. Com o desenvolvimento das comunicações e dos transportes dá-se uma
homogeneização das culturas criando identidades culturais no espaço dos Estados-Nação.
O estado-nação está associado ao desaparecimento das culturas regionais e dialectos lo-
cais, e ao surgimento de governos fortes, definição clara de fronteiras, aplicação de le-
gislação nacional capaz de controlar muitos aspectos da vida dos cidadãos. Estes estados
muito poderosos estenderam a sua supremacia para além das suas fronteiras europeias.
Exemplos: Grã-Bretanha, Japão, Estados Unidos, Alemanha.

Sociedades de Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos


A origem destas designações deve ser associada à criação de impérios coloniais por parte
das nações europeias a partir do séc. XVII. O expansionismo destes estados levou à sub-
missão de territórios não europeus, exploração dos seus recursos em favor das respecti-
vas metrópoles. Este sistema colonial gerou grandes desigualdades entre aquilo a que se
convencionou chamar o Primeiro Mundo (colonizadores) e Terceiro Mundo (coloniza-
dos).
O Segundo Mundo refere-se às antigas sociedades comunistas de economia planificada e
propriedade colectivizada. Desapareceu completamente com o desmembramento da
U.R.S.S..
A situação do terceiro mundo é consequência da existência do primeiro e do que se pas-
sou no segundo, enquanto que a situação do primeiro só é possível graças à sua relação
com o terceiro.
Embora o terceiro mundo não tenha um nível de vida como o dos países do norte, as suas
sociedades não são de tipo tradicional, pois seguem modelos ocidentais mal sucedidos.
Entre os principais problemas do terceiro mundo contam-se: a fome, subnutrição, pobreza
extrema, baixa esperança média de vida, más condições de habitação, baixa produtivida-
de, grande desigualdade social entre sexos, problemas culturais, lutas internas, proble-
mas sanitários, epidemias, falta de água potável, electricidade, saneamento básico, etc.
A situação dos diferentes países do terceiro mundo é desigual. O México, Brasil, Hong
Kong, Coreia do Sul, Singapura e Formosa são exemplos de países do terceiro mundo que
já iniciaram processos de industrialização dando origem a uma mudança social, enquanto
outros não conseguiram ainda sair da situação de dependência total.

Mudança Social hoje: A Globalização


A globalização caracteriza-se pela interdependência do mundo, que não permite a ne-
nhuma sociedade humana viver completamente isolada das demais. O estabelecimento da
produção e do comércio em redes mundiais pôs em relação todas as partes do mundo de
modo que qualquer alteração regional ou local pode provocar, ou ter sido provocada, por
um fenómeno ocorrido do outro lado do mundo.
O facto de se falar em globalização não nos leva a falar em homogeneidade cultural e
social. A interdependência não é igual para todos e chega a acentuar as desigualdades
herdadas da era industrial. As nações ricas tornam-se mais ricas e as nações pobres tor-
nam-se mais pobres e, ao mesmo tempo, geram-se maiores desigualdades no seio de cada
nação. Um outro problema grave da globalização são as migrações de pobres e desempre-
gados para os países mais desenvolvidos, co m os consequentes problemas de integração.

Família, Casamento e Vida Pessoal


A família deve ser considerada como uma instituição social. Para Guiddens as principais
questões sociológicas acerca da família partem da relação entre família, laços de paren-
tesco e casamento. Para haver família tem de haver parentesco (seja por casamento, seja

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por laços de sangue); para haver casamen to tem de haver reconhecimento social. Sarra-
ceno diz que “a estrutura da família se define pelo modo como as pessoas que a com-
põem se colocam ao longo de dois eixos, respectivamente horizontal e vertical, pelas
relações de sexo e pelas relações geracionais.”
Existem vários tipos de famílias, entre as quais destacamos as principais: Família Nucle-
ar e Família Extensa.
Nas sociedades ocidentais o casamento é sinónimo de monogamia, facto estabelecido por
lei, ao contrário do que se passa em muitas outras sociedades extra-europeias em que
podemos encontrar a poligamia quer poligínica (um homem – várias esposas) quer
poliândrica (uma mulher – vários maridos).

A Família na História
Ao longo dos tempos tem existido uma imensa diversidade de maneiras de constituir
família. A estabilidade da família não está mais ameaçada no nosso tempo do que o este-
ve no passado. As altas taxas de divórcio e a recomposição familiar não afectam mais a
estabilidade da família do que os elevados níveis de mortalidade ameaçaram no passado.
O chamado “Grupo de Cambridge” debruçou-se nos anos 70 sobre a evolução das famí-
lias europeias. Nos seus estudos contrapuseram a visão de Durkheim de que a família se
foi tornando progressivamente nuclear por força do processo de industrialização e urba-
nização. Autores como Stone ou Lasllett consideram que a família nuclear existiu na Eu-
ropa desde os séculos XV e XVI, ou seja, muito antes da Revolução Industrial. Dizem
mesmo que a existência deste tipo de famílias foi favorável ao desenvolvimento da
industrialização. Outros autores consideram que não existe um tipo único de família que
possa ser aplicado a toda a Europa e que é preciso considerar uma grande diversidade de
situações, com maior incidência no caso da Europa Meridional. (ver quadro pág. 67)
A família de tipo nuclear tem vindo a crescer em desfavor dos tipos extensos de família,
pela influência do modelo ocidental levado a outras paragens aquando da expansão das
sociedades europeias.

Separação e Divórcio no Ocidente


O divórcio é um dos factores que mais contribui para a instabilidade da família ociden-
tal. O casamento é baseado no amor romântico e a fundação da família baseia-se na con-
jugalidade, o que faz com que a degradação das relações conjugais afectem a estabilidade
familiar. Uma vez que o amor romântico implica o envolvimento afectivo e a cumplici-
dade, o facto destes serem bastante efémeros leva a que os casamentos se degradem, con-
duzindo à crise da conjugalidade e, por consequência, à crise da família.
O divórcio e a reconstituição familiar são duas tendências paralelas, o que demonstra que
as pessoas não estão descontentes com o casamento, mas em muitos casos não estão dis-
postos a sacrificar a sua vida afectiva para manter a família unida. Preferem dissolver a
família e, tão rápido quanto possível, refazer a sua vida afectiva através de outra relação
conjugal que traga satisfação pessoal e que se torne um novo eixo de reconstituição fami-
liar. A independência económica da mulher tem também contribuído para o aumento dos
divórcios, já que o facto de ter um salário lhe permite a possibilidade de viver sozinha.

Atitudes de Mudança no Seio das Famílias


O desempenho dos diferentes papéis e a distribuição da autoridade no seio das famílias
variam de classe para classe. As classes trabalhadoras mantêm-se mais tradicionalistas e
intransigentes no que toca a comportamentos sexuais antes do casamento, liberdade das
raparigas, etc.; as classes médias são mais permissivas e os comportamentos potenciam
mais a mudança social. As classes mais baixas estão mais expostas ao conflito de gera-
ções, enquanto as classes médias estão mais expostas ao individualismo e egoísmo.

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Agregados Monoparentais
As famílias nas quais vive só um dos progenitores estão a crescer na Europa. Normal-
mente são famílias encabeçadas por mulheres que ficaram com os filhos após um proces-
so de divórcio. Uma em cada cinco famílias com filhos são deste tipo e constituem u m
dos grupos sociais mais pobres. Na maioria dos casos o divórcio tem fortes implicações
económicas na vida das famílias e são as famílias monoparentais as que mais sofrem este
impacto negativo. Por outro lado há uma maior tendência para o surgimento de casos de
marginalidade, violência e delinquência nestas famílias em que os filhos são vítimas da
chamada situação de “pai ausente”. No entanto, e apesar de alguns indicadores neste sen-
tido, os cientistas ainda não têm ideias muito claras acerca da influência do divórcio na
crescente violência e criminalidade. Preferem associar estes problemas à pobreza e à ex-
clusão social.

Segundos Casamentos
No início do século XX a maioria dos segundos casamentos resultava do casamento de
viúvos. Hoje em dia, de acordo com Guiddens, “vinte e oito em cem casamentos envol-
vem pelo menos uma pessoa que já foi casada. Até à idade de 35 anos a maior parte dos
segundos casamentos envolve pessoas divorciadas. A partir dessa idade, aumenta o nú-
mero de novos casamentos de viúvas e viúvos e pelos 55 anos o número de casamentos de
viúvos é maior do que a de novos casamentos entre pessoas divorciadas.”
Os divorciados casam-se em maior número que os solteiros da mesma idade e, curiosa-
mente, a taxa de divórcio dos segundos casamentos é ainda maior que a dos primeiros.

Famílias Recompostas
São aquelas famílias em que pelo menos um adulto é padrasto ou madrasta. Estas famí-
lias apresentam problemas específicos pois têm de lidar com situações para as quais não
tiveram qualquer aprendizagem uma vez que em princípio não cresceram em famílias
desse tipo.

Estarão os Filhos em Extinção?


Se por um lado o casamento continua a ser fortemente procurado, a maternidade tem vin-
do a decrescer. Cada vez as mulheres desejam ter menos filhos e muitas optam por não
ser mães. Este facto pode ser atribuído a questões culturais mas também às condições
económicas e sociais que afectam a vida das mu lheres. É normal relacionar-se a materni-
dade com implicações negativas na liberdade, realização pessoal e profissional das mu -
lheres.
No passado, a maior parte das mulheres não exercia uma profissão e a sua realização
residia exactamente na maternidade. Hoje em dia, tendo as mulheres deixado a esfera
doméstica estrita e tendo ascendido a carreiras profissionais, verificam que não dispõem
do apoio que os homens (grandes profissionais do passado) dispuseram. Por isso as car-
reiras profissionais femininas ou são muito limitadas ou então levam à opção de não ter
filhos.

O lado sombrio da Família


Actualmente pode dizer-se que a família se baseia no amor e na afectividade. No entanto,
muitas famílias há em que persistem graves problemas afectivos (incesto, abuso sexual
de crianças, violência familiar). Estes problemas são difíceis de estudar uma vez que os
envolvidos têm tendência para os ocultar. Relativamente à violência doméstica o facto de
haver uma certa tolerância cultural, facilita a sua não punição, não contribuindo para a
redução de casos.

Alternativas ao casamento e à família


As comunas; a coabitação; famílias homossexuais; ficar só.

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Sociologia Geral

A Norma
A norma é uma construção social e refere-se sempre a um universo social particular, uma
vez que varia de grupo para grupo, de sociedade para sociedade, no tempo e no espaço.

Desvio
Inconformidade em relação a determinado conjunto de normas, aceite por um número si-
gnificativo de pessoas de uma comunidade ou sociedade. O desvio é um atributo que
pode aplicar a pessoas individuais ou a grupos, neste último caso fala-se em subcultura
desviante. O desvio pode ser ignorado, aceite, tolerado ou perseguido e punido.
Às punições chamamo s sanções, e estas variam em tipo e importância:
Sanções de tipo informal – olhares desagradáveis, juízos feitos por terceiros, advertên-
cias, censuras várias, rejeições, etc.
Sanções de tipo formal – aplicação de posturas, códigos e leis.
Sanções ligeiras – com pouca repercussão na vida e comportamento dos indivíduos.
Sanções fortes – que afectam muito o indivíduo e o seu modo de vida.
Um desvio em relação às leis de um país considera-se crime. O crime é uma ordem de
desvio e dele ficam excluídos os desvios que não infrinjam qualquer lei escrita.

Estudo Sociológico do Desvio


É a construção de problemas e modelos conceptuais para compreender e explicar compor-
tamentos que se afastam das normas. O estudo sociológico do desvio baseia-se na aceita-
ção de que a desigualdade social está presente em qualquer grupo humano. Os modelos
de representação do comportamento desviante articulam os conceitos de norma, desvio,
classe social, rendimento, identidade e poder.
O estudo do desvio não é exclusivo da sociologia, uma vez que os conceitos a ele subja-
cente são partilhados por outras áreas do pensamento. As principais perspectivas não so-
ciológicas são: Perspectiva Biológica – relaciona o desvio com factores naturais transmi-
tidos por hereditariedade; Perspectiva Psicológica – relaciona o desvio com tipos de per-
sonalidade e com psicopatias.
Os estudos sociológicos do desvio foram feitos no âmbito de diversas teorias:
- A Associação Diferencial – Edwin Sutherland centra-se no processo pelo qual se dá o
comportamento desviado. Em parceria com Cressey apresenta este processo de génese
do comportamento criminoso em 9 pontos: o comportamento criminoso é aprendido
(não é inato); é aprendido pela interacção com outros indivíduos num processo de
comunicação; a aprendizagem mais importante é feita em grupos primários; a apren-
dizagem envolve as técnicas e motivações ao crime; os motivos são aprendidos
segundo a definição legal do que é favorável e desfavorável; um indivíduo torna-se
delinquente pela razão de encontrar um excesso de definições favoráveis à violação
da lei; a associação diferencial varia em termos de frequência, duração, proximidade
e intensidade; o processo de aprendizagem de comportamentos criminosos integra
todos os aspectos envolvidos em qualquer tipo de aprendizagem; as necessidades sub-
jacentes ao crime não o justificam.
- A Pressão Estrutural – Robert Merton, baseado em Durkheim que definia anomia
como sendo a ausência de normas, refere o desfasamento entre metas culturais a atin-
gir e os meios que a sociedade proporciona para o efeito. Este desfasamento dá ori-
gem a 4 tipos de adaptação individual: Inovação (metas mantidas, utilizam-se novos
meios para as alcançar – roubar, subornar); Ritualismo (renuncia-se às metas, sobre-
valorizam-se os meios); Evasão (tantos meios como metas são renunciados – alcoo-
lismo); Rebelião (quando se pretende instaurar novas estruturas de metas e meios).
- Combinação das duas perspectivas anteriores – utilizada por Richard Cloward e
Lloyd Ohlin.
- Teoria da Rotulagem - Edwin Lemert introduziu os conceitos de desvio primário e

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secundário e a teoria de que o desvio é definido pelas reacções sociais. Estabeleceu
uma distinção entre comportamento desviado (desvio primário) e papel social desvia-
do (desvio secundário). O primeiro é o comportamento propriamente dito e o segundo
é a interacção do indivíduo e a sociedade onde se insere.

Crimes mais frequentes nas sociedades modernas


O estudo quantitativo do crime cinge-se aos casos participados à polícia, o que pode
constituir uma redução de cerca de 50% dos casos. No sentido de obter informação com-
plementar fazem-se amostragens nacionais onde se incluem perguntas específicas às fa-
mílias, quando se realizam recenseamentos gerais da população.
Os estudos mostram uma tendência crescente do crime nas sociedades modernas, mais
associado a subculturas urbanas e à deficiente integração na comunidade, do que à po -
breza. A existência de crimes violentos tem de ser explicada pela combinação de uma
pluralidade de factores sociais em simultâneo.

Prisões e Punições
O surgimento da liberdade individual como valor central das sociedades após o séc.
XVIII, fez surgir também uma nova forma de punição: a perda dessa liberdade. Até aí as
punições eram de outro tipo e, normalmente, assumiam um carácter público. O carácter
privado das penas está também associado à convicção de que as cadeias servem para
recuperar pessoas. A principal finalidade da prisão é “melhorar” os comportamentos indi-
viduais (meio de ressocialização).
No entanto, as condições físicas e psicológicas em que decorre a privação da liberdade
podem levar a resultados completamente opostos. A reabilitação é comprometida pelas
especificidades do espaço prisional. Por um lado a punição tem de ser suficientemente
desagradável para desincentivar o crime e por outro, a socialização é amplamente condi-
cionada pelo ambiente e o espaço. Esta contradição é fonte de problemas e insucessos.
Diversos estudos sobre esta temática têm demonstrado que o sucesso na reabilitação de
criminosos é diminuto e, em mu itos casos, as cadeias servem para potenciar futuras rein-
cidências.
Face à ineficácia das prisões na reabilitação de comportamentos desviantes, pensa-se em
alternativas à cadeia que sejam individualmente mais eficazes e socialmente mais úteis e
menos dispendiosas: pena suspensa, liberdade condicional, liberdade sob fiança, presta-
ção de serviços à comunidade, indemnizações à vítima, etc.
Note-se que falamos em comportamentos desviantes e não em indivíduos desviantes.
Todo o indivíduo por mais marginal que seja tem alguns comportamentos absolutamente
conformes às leis.
Podem acontecer casos em que a sociedade já não acredita na reabilitação do indivíduo e
então ele é segregado formalmente da sociedade, obtendo penas de prisão de duração su-
perior à própria vida ou mesmo a pena de morte. No entanto, a maioria dos indivíduos
que pratica crimes é considerada como socialmente recuperável, por se considerar que se
tratou de um comportamento desviante e o que interessa é banir esse comportamento, não
a pessoa.

O Crime e a Masculinidade
As mulheres executam muito menos crimes que os homens. Assim, os estudos tendem a
desprezar o desvio das mulheres. Em Inglaterra, por exemplo, a população prisional con-
tém apenas 3% de mu lheres. Mesmo as mulheres que cometem crimes raramente usam de
violência. Apesar de existirem gangs de raparigas eles são em número reduzido se com-
parados com os rapazes.

As vítimas do crime
Grande parte das vítimas de crimes são mulheres, quer em contexto doméstico, quer fora
dele. A violência doméstica é um tipo de crime muito específico porque se encontra as-
9
Sociologia Geral
associado a factores culturais e a estereótipos quanto aos papéis masculinos e femininos.
O assédio sexual é extremamen te comum, é um tipo de crime em que se usa o poder ou
autoridade laboral no sentido de forçar favores sexuais.
As características do crime de violação tornam ainda mais difícil o conhecimento do
fenómeno. O julgamento destes casos tem a ver com factores de ordem cultural e das
representações do desempenho de papel feito pelas sociedades. Embora a violação seja
considerada crime, em muitos casos pode ser julgado como tendo sido provocada pela
própria vítima, em resultado de um desempenho de papel (ele próprio desviado).
A violação masculina é mais comum nas cadeias e outras instituições fechadas.

Crimes dos abastados e poderosos


Chamam-se crimes de colarinho branco (fuga aos impostos, fraudes, desfalques, fabrico e
comercialização de produtos perigosos, práticas comerciais ilegais, poluição do ambiente
e roubo) e designam crimes co metidos por pessoas pertencentes a sectores prósperos das
sociedades. Os factores sociais do crime não são desprezíveis e não nos devemos ficar só
pelas explicações ligadas à existência de propensões ou psicopatias, devemos também
confirmar os factores sociais que levam ao crime.
Este tipo de crime é mais tolerado pelas autoridades do que outros que envolvam violên-
cia, embora possam prejudicar ou pôr em risco muitas pessoas em simultâneo.

Crimes Governamentais
Os maiores crimes da História foram cometidos por Estados. As perseguições políticas,
extermínios, campos de concentração de Estaline e o holocausto nazi são grandes exem-
plos deste tipo de crime. Podem ainda estar ligados à exploração colonial, desempenho
fraudulento das políticas, tráfico, falsificações, desvios, etc.

O Crime Organizado
Nesta categoria incluem-se o jogo ilegal, prostituição, roubo em grande escala e esque-
mas de extorsão, tráfico de armas, drogas e materiais nucleares. É aquilo a que se pode
chamar um trabalho “profissional” a que muitos se dedicam como forma de vida. Por
todo o mundo existe crime organizado, em modelos de funcionamento do tipo “familiar”
(Máfia) e com sede nas principais capitais onde há oportunidades de “lavagem de dinhei-
ro” (investimento dos rendimentos do crime em negócios legais).

Crime, Desvio e Ordem Social


Tal como já vimos o processo de desvio é inerente à vida social. A sociedade está em
constante mudança e é precisamente o desvio que leva à procura de adaptações e melho-
ramentos e por isso à mudança (se não houvesse desvio, não havia necessidade de mu-
dar).
Os grupos dominantes têm maior possibilidade de estabelecer normas e de as fazer cum-
prir, pelo seu acesso ao poder político. Os outros grupos, divergentes, ficam prejudicados
tornando-se maiores potenciais de desvio. Ou seja, é fácil cumprir as regras quando elas
nos dão jeito, mas o inverso já se torna difícil.
Segundo Guiddens, as sociedades mais tolerantes com os desvios às normas não sofrem
uma ruptura se conseguirem níveis significativos de justiça social.

10
Sociologia Geral
Etnicidade
O conceito de etnicidade refere-se às diferenças culturais entre grupos sociais ao longo
de tempos e espaços diferentes. O sentimento de diferença cultural é aprendido social-
mente como meio de identidade de um grupo, que se define pelas diferenças que apresen-
ta em relação a outros. Nos processos de socialização são estimulados nos indivíduos os
recursos que permitem afirmar as diferenças culturais no sentido de reforçar a identidade
dos grupos.
As desigualdades sociais entre grupos étnicos tem a ver com a sua situação política e
social, com o poder de que dispõem os diferentes grupos e, consequentemente, a capaci-
dade de materializarem os seus interesses específicos.
Aos grupos cultural e numericamente em desvantagem numa sociedade chamamos mino-
rias étnicas. O sentido de unidade e de diferença em relação aos outros é reforçado pelos
mecanismos de segregação social de que são alvo. É frequente que se encontrem isolados
espacialmente em áreas desfavorecidas.
As minorias étnicas podem não apresentar diferenças físicas em relação ao grupo domi-
nante. A Ciência acaba de confirmar a inoperacionalidade do conceito de raça que, sendo
infundado cientificamente, serve de suporte a um fenómeno social altamente lesivo que é
o racismo. O racismo é a crença na superioridade intelectual de certos grupos humanos
com características físicas particulares.

Preconceito e Descriminação
O preconceito permite compreender que as representações que os grupos sociais fazem
acerca de outros grupos não têm necessariamente um fundamento de verdade. Estas opi-
niões e atitudes constroem-se em função dos interesses específicos desses grupos e por-
tanto obedecem a critérios oportunistas.
A descriminação não é uma opinião ou atitude, é uma prática, um comportamento tido em
relação a indivíduos pertencendo a grupos diferentes.
A sociologia utiliza três conceitos na explicação destas atitudes e comportamentos: etno-
centrismo, fechamento de grupo e repartição de recursos.

Conflitos Étnicos: perspectiva histórica


Desde a época moderna, contingentes de desalojados, desfavorecidos, voluntariamente ou
à força, como no caso dos escravos, deixaram as su as terras para se fixarem em países
estrangeiros onde se tornaram minorias dominadas.
O desenvolvimento do racismo moderno tem raízes na cultura europeia, nomeadamente
no valor simbólico das cores preto e branco; no desenvolvimento equívoco do conceito
de raça e, nas relações coloniais que levaram à exploração dos negros e outros grupos
por parte dos brancos colonizadores.
Apesar da universalidade do etnocentrismo a História mostra que as relações de miscige-
nação (mistura de povos) podem apresentar variantes muito diferentes. Os colonizadores
portugueses actuaram de um modo muito diferente, relativamente a holandeses, ingleses
e espanhóis. Recorde-se o sistema de segregação racial (apartheid) instaurado na África
do Sul após a II Guerra Mundial.
A escravatura é um dos exemplos mais cruéis de discriminação. Mesmo depois da sua
abolição os negros continuaram a ser segregados das mais diversas formas. Nos EUA uma
longa história de luta pelos direitos de cidadania teve início. Destaca-se a actuação de
milhares de negros sob a orientação de Martin Luther King.

Prováveis desenvolvimentos nas relações étnicas


O estudo dos problemas relativos às minorias étnicas apresenta diversos problemas uma
vez que a situação de clandestinidade de muitos imigrantes faz com que a informação
estatística seja incompleta. Os conflitos nacionalistas e a precariedade económica de
muitos países tem trazido grandes contingentes de imigrantes à Europa. Estes grupos
afectados de grandes problemas do ponto de vista económico e social são os mais expos-
11
Sociologia Geral
tos a fenómenos racistas do tipo “bodes expiatórios”. As estatísticas demonstram que os
imigrantes africanos continuam a sofrer os maiores problemas no trabalho, mesmo quan-
do as legislações os protegem relativamente. Outros estudos, de ordem qualitativa, ten-
dem a mostrar as dificuldades e experiências negativas por que passam especialmente os
imigrantes africanos.

Desigualdade Social: sistemas de estratificação social


A desigualdade social é, em última análise, a razão de ser da sociologia, pois ela é o
elemento fundamental da vida social. Não há sociedade sem desigualdade. O estudo da
estratificação refere-se ao estudo dos sistemas estruturais de desigualdade entre grupos
de indivíduos.
Basicamente existem quatro sistemas de estratificação social:
Esclavagismo – existem homens que são propriedade de outros homens e tratados com
estatuto de grave inferioridade cívica, moral, política e económica.
Castas – grupos fechados de indivíduos hierarquizam-se rigidamente, os estatutos são
inalteráveis e adquiridos por hereditariedade.
Estados – grupos também fortemente hierarquizados, mas mais flexíveis do que as castas,
estruturam a distribuição dos indivíduos ao longo de posições sociais dificilmente alterá-
veis.
Classes – os grupos distinguem-se pela posição que ocupam no processo produtivo e n a
posse dos bens. Este sistema de estratificação é típico das sociedades industrializadas. A
grande diferença em relação às duas anteriores é o facto da posição não ser estatutaria-
mente herdada mas adquirida. As três classes mais importantes das sociedades ocidentais
modernas são a classe alta (patrões e dirigentes executivos), a classe méd ia (colarinhos
brancos) e a classe trabalhadora (colarinhos azuis). Nalguns países existe ainda a classe
dos camponeses (que praticam a agricultura tradicional).

Teorias sobre a estratificação nas sociedades modernas


Perspectiva Marxista
Os marxistas explicam a desigualdade social a partir do pensamento de Marx. A desi-
gualdade advém da divisão do trabalho. A teoria marxista das classes sociais diz que: a
organização social depende da económica; o grupo dominante socialmente é o que con-
trola as forças de produção e detém o capital; o grupo dominado detém apenas força de
trabalho; esta desigualdade gera descontentamento social e gera conflitos (estes conflitos
são o motor que faz mudar a sociedade; a posição de classe é independente da consciên-
cia de pertença a essa mesma classe; as principais classes sociais são os capitalistas e os
proletários mas u m grande número de posições intermédias são responsáveis por um sis-
tema complexo e de grande conflitualidade.
Perspectiva Weberiana
A teoria de Max Weber parte da de Max mas introduz alguma complexidade: as classes
resultam da distribuição desigual do poder; o poder é variável quer a nível económico,
quer a nível social e político; a posição de classe é determinada na esfera económica
(existe uma enorme variedade de posições de classe que reflectem as diversas capacida-
des económicas e de acesso a bens materiais); a localização dos indivíduos numa classe é
determinada pela sua posição face ao mercado, a sua capacidade económica para aceder a
saberes, títulos, qualificações, prestígio, honra, bens, empregos e propriedades; a combi-
nação destes critérios resulta numa grande variedade de estatutos sociais (status); exem-
plos de classes podem ser os proprietários, intelectuais, etc.; a posição de classe não é
herdada e deriva dos recursos que o indivíduo desenvolve ao longo da sua vida, o proces-
so é fluido e flexível; as classes não são permanentes, os indivíduos entram e saem delas;
o conflito de classes surge do desejo de equidade social.
Actualmente as diferenças de classes têm vindo a esbater-se, no entanto a desigualdade
social permanece. O género é uma das grandes dimensões da desigualdade. Não existem
sociedades modernas em que as mulheres tenham mais riqueza e status que os homens.
12
Sociologia Geral

Status
O status, para Weber, diz respeito às diferenças entre indivíduos na esfera social e ao
prestígio que cada indivíduo tem aos olhos dos outros. O poder pessoal depende do pres-
tígio social. As classes e os estatutos sociais são diferentes facetas do sistema de estrati-
ficação, um indivíduo pode pertencer a uma classe económica elevada e ter um baixo
estatuto social. O estatuto pode desempenhar um papel mais relevante na aquisição de
recursos do que uma classe. Os grupos de status, tais como os de classe, não são perma-
nentes, mas muito mutáveis.

Partido
Os partidos são organizações de indivíduos com interesses comuns com o objectivo de
em conjunto atingirem fins comuns. Esta divisão, apesar de não corresponder a uma divi-
são de classes pode afectá-la. Apesar de não terem os mesmos critérios, os partidos não
deixam de ser um mecanismo de estratificação, baseado na religião ou em ideiais políti-
cos.

Mobilidade Social
O conceito de mobilidade social refere-se aos movimentos individuais e de grupos entre
diferentes posições socioeconómicas. Podemos considerar uma mobilidade de tipo verti-
cal ascendente ou descendente e uma mobilidade lateral ou horizontal relativa a movi-
mentos geográficos. Podemos ainda considerar uma mobilidade intra-geracional quando
nos referimos aos movimentos que decorrem durante uma vida ou de mobilidade inter-
geracional, quando as alterações de classe ou estatuto se dão de uma geração para outra.
A intensidade da mobilidade vertical indica-nos o grau de abertura à mudança de uma
sociedade. Grande parte da mobilidade social resulta da mobilidade profissional.

Desigualdade e Pobreza
Pobreza Absoluta – incapacidade de aceder ao mínimo de subsistência de modo a ter
acesso a uma existência psicologicamente equilibrada.
Pobreza Relativa – comparação das diferentes condições de vida dos indivíduos.
No passado os pobres eram os que tinham maus empregos, nos quais ganhavam mal e
eram explorados. Hoje, grande parte dos que trabalham, embora relativamente pobres,
não têm as condições de miséria e dureza que tinham os operários do séc. XIX e, hoje,
têm acesso a um conjunto de bens muito maior. Hoje em dia os pobres são os excluídos
do sistema de emprego, marginais e delinquentes, toxicodependentes, velhos, doentes,
mulheres chefes de família monoparentais, que ficam à margem do sistema económico e
vivem no limiar da pobreza.
A observação histórica tem demonstrado que quando a economia se organiza em função
do mercado, de forma completamente liberal, agudizam-se as assimetrias sociais entre
um vasto grupo de muito pobres e um pequeno grupo de muito ricos.
Embora a pobreza possa ser combatida e os indivíduos não tenham de viver toda a sua
vida em estado de pobreza, convém lembrar que para certos grupos sociais desfavoreci-
dos é muito difícil ultrapassar esse estado e que, nestes casos, pode dizer-se que a pobre-
za tal como a riqueza, também se herda. O equilíbrio via estatal também é desigual, uma
vez que há Estados mais capazes do que outros de fazer face ao problema da pobreza e
promover o bem estar e o equilíbrio colectivo

Classe, desigualdade e competitividade económica


O sistema capitalista produz enormes assimetrias sociais. No entanto a distância que se-
para ricos e pobres em todo o mundo capitalista não é a mesma. Guiddens fala em dois
modelos: Americano – fortemente individualista e regido pelo mercado, nele existem for-
tes desigualdades sociais, com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais
pobres. Renano – tem maior tradição comunitária e nele os interesses colectivos sobre-
13
Sociologia Geral
põem-se aos individuais, encontrando-se por isso menores diferenças entre as várias
classes sociais.
A escolha do modelo de desenvolvimento económico tem importantes efeitos na estrutura
social.

Os Grupos Sociais – As Organizações


No desenvolvimento da sua vida o homem integra diversos grupos sociais (grupos primá-
rios e grupos secundários). A família e o grupo de amigos são exemplos de grupos primá-
rios, as organizações são exemplos de grupos secundários. Entende-se por organização
um vasto grupo de pessoas, estruturado em linhas impessoais e constituído para se alcan-
çarem objectivos específicos. Cada vez mais as organizações enquadram vastos sectores
da vida humana. Sendo múltiplas as organizações de que depende a nossa vida, o nosso
espaço individual precisa adaptar-se às diversas inter-relações entre as diferentes organi-
zações. As organizações, são assim, uma fonte de poder que se impõe ao indivíduo.

Teoria das Organizações de Max Weber: a burocracia


Pertence a Max Weber a primeira teoria das organizações modernas. O estudos das orga-
nizações em Weber está estreitamente ligado ao estudo da burocracia. O autor considera
que as organizações tendem a ser de tipo burocrático, isto é, constituídas por funcioná-
rios. Segundo Max Weber em todas as sociedades existem organizações (incluindo as tra-
dicionais), sendo no entanto mais frequente a sua proliferação nas sociedades modernas.
Para o seu estudo Weber utiliza modelo idealtípico e nele destaca os seguintes aspectos
como sendo característicos da burocracia:
1. a autoridade encontra-se hierarquizada de forma piramidal e estabelecida por de-
veres oficiais;
2. as normas encontram-se escritas sob a forma de regulamentos que orientam os de-
sempenhos profissionais esperados;
3. os funcionários são trabalhadores a tempo inteiro e os seus serviços são remunera-
dos de acordo com o seu estatuto na organização, onde se espera que façam uma
progressão na carreira de acordo com a capacidade técnica e antiguidade;
4. a vida privada dos funcionários é independente do seu desempenho e decorre fora
do espaço de trabalho;
5. os recursos utilizados para trabalhar não pertencem ao funcionário.
Para Weber a eficácia da organização depende da sua aproximação a este modelo.

Relações formais e informais nas burocracias


De acordo com Weber, nas organizações predominam as relações formais entre os indiví-
duos, aliás, conforme os regulamentos. Apesar disso, as relações de tipo informal nunca
estão completamente ausentes das organizações.
Quanto mais relações de tipo informal existirem dentro da organização mais flexível ela
será. Estudos posteriores a Weber chamaram a atenção para o facto do desenvolvimento
de redes informais ser tanto ou mais importante para o funcionamento das organizações,
do que as redes formais.

Teoria das Organizações de Michel Foucault: o controlo do espaço e do tempo


Para Foucault é possível conhecer a lógica das organizações a partir da análise do seu
espaço exterior, pois este reflecte todo o sistema de ordenação social e de autoridade da
organização. O espaço onde se instala a organização é concebido de forma hierárquica,
sendo que o espaço dos andares superiores é reservado aos que detêm maior autoridade.
A distribuição dos próprios funcionários condiciona fortemente o seu funcionamento: se
estão próximos uns dos outros facilita a criação de grupos primários, se se encontram
muito separados tendem a constituir-se relações de antagonismo.
Foucault mostra ainda que os espaços abertos no local de trabalho facilitam a supervisão
14
Sociologia Geral
e o controlo dos desempenhos, impedindo as relações informais. A vigilância é um traço
característicos de todas as organizações modernas. Existem dois tipos de vigilância: su-
pervisão directa do trabalho de subordinados de forma a obter o resultado desejado e
supervisão subtil e referente à manutenção de arquivos, registos e historial dos indiví-
duos.
Relativamente ao tempo, as organizações possuem horários de trabalho que organizam as
actividades dos funcionários no espaço e no tempo. O horário é o mecanismo que torna
possível o uso intensivo do tempo e do espaço.

O modelo Japonês
A maioria das empresas japonesas tem um modelo organizacional diferente do europeu.
Não há uma hierarquia piramidal e os gestores de topo consultam regularmente os traba-
lhadores de níveis mais baixos acerca das suas determinações. O desenvolvimento de car-
reiras faz-se da seguinte forma: os gestores passam por todas as áreas da organização e
ficam a co nhecê-la profundamente; a garantia de trabalho é vitalícia e o ordenado depen-
de da antiguidade e não da responsabilidade; todos os funcionários trabalham em grupo e
participam activamente numa tarefa colectiva; a vida pessoal está ligada à vida da em-
presa e a lealdade é levada ao limite; a empresa oferece muito mais do que o ordenado
(os diferentes estádios da vida são apoiados pela empresa). Este modelo já foi testado
fora do Japão e demonstrou ser igualmente eficiente.

A influência das grandes empresas


As grandes empresas que operam por todo o mundo, cruzando o espaço de várias nações
designam-se de transnacionais ou multinacionais. A sua maioria é de origem americana,
mas é de notar que o Japão tem vindo a aumentar consideravelmente a sua importância
relativa desde os anos sessenta. O desenvolvimento deste tipo de empresas está associado
às características da sociedade industrial e pós-industrial e aos progressos nas comunica-
ções e nos transportes. Grande parte de todos os negócios do mundo estão concentrados
nas mãos de um pequeno número de grandes empresas – oligopólios. Os principais secto-
res desenvolvidos nos últimos trinta anos pelas empresas multinacionais foram: fabrico
de automóveis, microprocessadores e indústria electrónica.
Perlmutter considera que existem três tipos de empresas transnacionais:
Etnocêntricas – dirigidas a partir do país fundador e em que os modelos de gestão e ac-
tuação reproduzem o modelo cultural da empresa-mãe. São as empresas japonesas as que
mais adoptam este mo delo.
Policêntricas – as filiais no estrangeiro são geridas por firmas de cada país.
Geocêntricas – têm uma estrutura de gestão internacional e os gestores deslocam-se per-
manentemente pelas diversas unidades.

Tendências das Organizações: “downsizing” e descentralização


A hiperdimensão traz problemas de gestão e de competitividade a nível global pelo que
se assiste a uma rápida adaptação ao mercado por parte das multinacionais, cada vez mais
fragmentadas, para dar lugar a várias pequenas empresas altamente flexíveis e coordena-
das pela empresa global. Como resultado dessa fragmentação observa-se a organização da
empresa em redes de pequenas e médias unidades, onde a gestão hierarquizada de tipo
piramidal já não é eficaz e onde se aplica cada vez mais uma tomada de decisão de baixo
para cima. Parece que o modelo burocrático se mostra demasiado pesado e antiquado e
incapaz de responder às necessidades da economia global.

O reordenamento da tecnologia e as organizações modernas


A organização espacio-temporal das actividades empresariais está directamente ligada à
tecnologia disponível. A possibilidade de encurtar o espaço através do tempo de comuni-
cação cada vez menor, permite uma distribuição espacial dos diferentes sectores das em-
presas que os recursos técnicos antigos não permitiam.
15
Sociologia Geral
O trabalho como instituição social
O trabalho é uma instituição social. É um produto social constituído por normas que re-
gulam as actividades humanas fundamentais, mediante maneiras de fazer, aceites pela
sociedade no sentido de satisfazer as necessidades sociais. As instituições sociais orde-
nam os aspectos principais da vida das sociedades, indicando formas de comportamento
aceites e socialmente valorizadas para a integração social.
A instituição trabalho organiza a vida dos indivíduos no que respeita aos seguintes as-
pectos: Aquisição de dinheiro; Gestão do nível de actividade – obrigando os indivíduos a
desempenhar tarefas que gastam a sua energia de modo racional e útil; Variedade de
situações em que se movem (para lá do espaço doméstico); Estrutura temporal (organiza-
ção do tempo como função social e não pessoal); Contactos Sociais; Identidade pessoal
(garantia de equilíbrio emocional e auto-estima).

Trabalho Remunerado e Não Remunerado


Anteriormente falámos do trabalho como base do sistema económico de uma sociedade.
No entanto, o homem produz muito trabalho remunerado não registado oficialmente (eco-
nomia informal) e trabalho não remunerado que resulta de esforço social e cria relações
sociais, riqueza e bem estar (trabalho doméstico e voluntário).
O tipo de trabalho que assume maior importância está estreitamente ligado à natureza da
própria sociedade. Nas sociedades pré-modernas predomina o trabalho agrícola; nas soci-
edades modernas o trabalho industrial e, actualmente, nas chamadas sociedades pós-
modernas predomina o trabalho ligado ao sector terciário (serviços).

A divisão do trabalho e a dependência económica


As sociedades modernas caracterizam-se por uma grande divisão do trabalho, ou seja,
especialização de tarefas. A principal consequência desta divisão é a interdependência
económica: para se obter um produto final é necessária a complementaridade de inúmeras
prestações sociais de trabalho especializado.
Adam Smith (séc. XVIII) um dos fundadores da economia moderna, evidenciou o facto
do trabalho especializado permitir um índice de produção por trabalhador muito superior
ao índice de produção em organizações não especializadas. No séc. XIX Taylor teorizou
a gestão científica do trabalho o que permitiu o início da produção em massa nas unida-
des industriais através do sistema de linha de montagem (Fordismo). Este sistema consti-
tuiu um modo surpreendente de produzir a baixo custo, enormes quantidades de produto.
No entanto tem algumas limitações: só pode ser aplicado a indústrias que fabriquem pro-
dutos standardizados para grandes mercados; implica avultados investimentos para o
estabelecimento da linha de montagem; o sistema é rígido e a alteração das característi-
cas do produto implica novamente avultados investimentos; as cópias e imitações de pro-
dutos são muito fáceis; países com mão-de-obra cara não conseguem competir com países
de mão-de-obra barata.
O Tay lorismo e o Fordismo são sistemas de produção em que cada trabalhador tem pouca
margem de acção e responsabilidade o que implica consequências negativas para o nível
de satisfação dos trabalhadores, o que gera absentismo e conflitos laborais.
Desde os anos 70 do séc. XX que se aplicam sistemas de trabalho baseados na responsa-
bilização dos trabalhadores e nos quais estes podem controlar o seu ritmo de trabalho.
Com o desenvolvimento do microprocessador e a sua introdução na indústria surgiu a
utilização de robots com especial destaque para a industria automóvel.
As linhas de montagem tendem actualmente a ser substituídas pela “produção em grupo”
que tem como principal vantagem a motivação dos trabalhadores. A “produção flexível”
difere radicalmente da produção em série uma vez que pretende obter grandes quantida-
des de produção individualizadas permitindo dar resposta a pedidos de clientes específi-
cos.

16
Sociologia Geral
Tendências no Sistema Ocupacional
A tendência actual continua a ser a diminuição de ocupações manuais como resultado da
desindustrialização.
Os conflitos que opõem trabalhadores e patrões têm evoluído, desde formas espontâneas
de protesto até à presente reivindicação por via institucional. As organizações sindicais,
espalhadas por todos os países ocidentais, têm conhecido grande desenvolvimento após a
II Guerra Mundial. Os sindicatos organizam formas de protesto colectivas e recorrem à
greve como forma de atingir os seus objectivos, quase sempre de natureza salarial. Actu-
almente a capacidade negocial dos sindicatos encontra-se enfraquecida em face dos altos
níveis de desemprego, do declínio das indústrias fabris mais antigas e da concorrência
internacional, especialmente dos países asiáticos onde a mão-de-obra é mais barata que
no Ocidente. A somar a tudo isto temos ainda as políticas de vários países europeus que
tenderam nos anos 70 e 80 do séc. XX a limitar o poder dos sindicatos.
A greve é uma expressão de conflito laboral organizado na qual um grupo de trabalhado-
res pára o seu trabalho com o objectivo de obter a satisfação de uma reivindicação.
Existem outras formas de protesto nas situações de conflito laboral. O Lock-out é o opos-
to da greve, ou seja, quem pára são os patrões e não os trabalhadores.

As Mulheres e o Trabalho
Até à era industrial as mulheres trabalharam ao lado dos homens para o sustento da famí-
lia. Durante a idade média ocupavam-se nos campos e oficinas de artesanato dos maridos.
No princípio da industrialização trabalhava toda a família, incluindo as crianças, em
condições e períodos de tempo in aceitáveis nos dias de hoje.
Com o desenvolvimento do capitalismo industrial a mulher foi afastada das fábricas e
passou a dedicar-se ao cuidado da casa e dos filhos. Esta situação voltou a alterar-se
depois das guerras mundiais e hoje a maior parte das mulheres trabalha em empregos
remunerados fora de casa.
A situação da mulher no trabalho foi sempre inferior à dos homens bem como o salário
auferido. Aos homens atribuem-se funções de maior responsabilidade, ligadas a desem-
penhos mais interessantes, menos rotineiros e aos quais correspondem melhores remune-
rações.
Um dos maiores obstáculos à progressão profissional das mulheres continua a ser a
maternidade. Muitas mulheres preferem trabalhos a tempo parcial para se poderem dedi-
car aos filhos o que impede que lhes sejam confiadas funções de grande responsabilida-
de.
Embora as funções tradicionalmente atribuídas aos homens tenham tendência para se
abrir cada vez mais às mulheres, o que é certo é que ainda hoje existem diferenças muito
significativas. Na Europa, através de legislação específica, tenta alterar-se esta situação.
A situação de discriminação é particularmente notória e dolorosa para aquelas mulheres
que sendo chefes de família e tendo os filhos a seu cargo, não conseguem auferir salários
que lhes permita fazer face às necessidades.
O trabalho doméstico não remunerado constitui uma importante parcela do trabalho soci-
al e representa uma contribuição não contabilizada para qualquer economia. Um dos seus
aspectos mais penosos é o facto de não trazer qualquer prestígio social a quem o desem-
penha.

Desemprego
O desemprego é uma variável muito flutuante e que apresenta comportamentos diferentes
de grupo social para grupo social no interior de uma sociedade. Nas sociedades actuais é
fundamental ter um emprego para a realização individual e para o sentido de identidade
dos indivíduos, ou seja, além de afectar as pessoas do ponto de vista financeiro, o de-
semprego afecta-os também do ponto de vista da interacção social e da identidade.
Actualmente o desemprego constitui um dos maiores problemas sociais europeus. Princi-
pais causas do desemprego na Europa: grande concorrência internacional; crise do petró-
17
Sociologia Geral
leo 1973; reforço da utilização de novas tecnologias; crescente número de mulheres que
chegam ao mercado de trabalho.
A formação profissional que permita uma maior flexibilidade profissional (polivalência)
parece ser uma das soluções para atenuar este problema.
Algumas alterações na organização do trabalho tentam compensar a tendência para o
crescimento do desemprego, nomeadamente com a redução das horas de trabalho e a an-
tecipação das idades de reforma.

Conceitos relacionados com política


Governo – determinações políticas regularmente tomadas pelos Estados por meio de enti-
dades, no seio do aparelho político.
Política – meios pelos quais o poder é usado, de modo a influenciar as intenções e con-
teúdos das actividades governamentais.
Poder – capacidade que todos os indivíduos, em diferentes medidas, têm, para fazer valer
os seus interesses na sociedade, em concorrência com os interesses de outros indivíduos.
Todas as relações sociais implicam poder, pois os indivíduos encontram-se em situações
diversas e cada um pretende fazer valer os seus interesses pelos quais, em geral, está
disposto a lutar.
Autoridade – uso do poder de forma legítima porque é aceite por aqueles sobre os quais
se exerce.

Estado
Aparelho de poder político legitimamente instituído e reconhecido por outros Estados
que, exerce a soberania dentro dos limites de um dado território. A legitimidade de um
Estado é-lhe conferida por um sistema jurídico próprio e pela existência de um exército
capaz de impor a ordem e proteger as fronteiras.
Actualmente todas as sociedades são Estados-nação, que corresponde a uma concepção
territorial do poder político. De acordo com Antony Smith “as nações devem possuir ter-
ritórios compactos e bem definidos. Povo e território devem pertencer um ao outro ...
Mas a terra em questão não pode ser em qualquer lado; não é uma questão de terra
qualquer. É, e deve ser, a terra ‘histórica’, a ‘terra natal’, o ‘berço’ do nosso povo ... a
terra natal torna-se o depósito de memórias e associações históricas, o local onde vive-
ram trabalharam, oraram e lutaram os ‘nossos’ sábios, santos e heróis. Tudo isto torna
única a terra natal ... as riquezas da terra também se tornam exclusivas do povo.”
Principais características dos Estados-nação:
- Posse de um território “histórico” próprio e exclusivo, merecido pelo esforço colecti-
vo de construção e preservação e transmitido por herança colectiva.
- Soberania nacional ou capacidade de exercer o poder político de forma autónoma em
relação a outros Estados, dentro das fronteiras desse território.
- Cidadania, ou seja, participação do povo de forma directa ou indirecta no exercício
do poder político. Nas sociedades actuais a participação indirecta exerce-se por via
do sufrágio (democracias representativas). O conceito de cidadania supõe que todos
os cidadãos são iguais perante a lei e têm direitos e deveres consagrados num docu-
mento que contem os princípios que constituem a nação (constituição).

Nacionalismo
Diz respeito aos aspectos mais ideológicos do exercício do poder. Implica a existência de
uma narrativa de nação, configurada por mitos e símbolos e uma crença na eternidade da
mesma, que serve para legitimar a sua autonomia política. Nacionalismo e cultura nacio-
nal andam de mãos dadas.

Democracia
A democracia é um termo que significa “governo do povo” no sentido da participação do
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Sociologia Geral
povo no poder político do Estado.
Podemos distinguir três tipos de democracias:
- Democracia Participativa: todas as decisões são tomadas colectivamente (Grécia Na-
tiga). Este sistema não se ajusta a sociedades muito numerosas. Hoje ainda restam
traços deste tipo de democracia quando se recorre ao referendo.
- Monarquia Democrática Liberal: o poder real é muito limitado ou mesmo simbólico
(Bélgica ou Grã-Bretanha). O poder real está condicionado à Constituição que o in-
veste no povo.
- Democracias Liberais: regimes multipartidários ligados ao capitalismo liberal em que
o povo escolhe os seus representantes para o Estado e Governo através de sufrágio.

A Crise da Democracia
Apesar da democracia de ser um sistema político em expansão por todo o mundo, tem no
entanto associados, diversos problemas.
A crise da democracia tem a ver com os resultados não previstos do estabelecimento des-
te regime político. Ao estar associada ao sistema capitalista, a democracia torna-se res-
ponsável moral pelos problemas económicos, pelo acentuar das desigualdades sociais,
pelo desemprego, pelas grandes movimentações de migrantes pobres e excluídos. Estes
problemas sociais gerados em grande parte pelas estratégias de globalização económica
do capitalismo, recaem sobre os Estados democráticos que se tornam incapazes de lidar
com a sua dimensão cada vez maior e se tornam desacreditados junto dos seus povos,
cada vez mais afectados.

Os Partidos Políticos e os Sufrágios Ocidentais


Os partidos políticos são organizações que visam aceder ao Governo através da sua elei-
ção legítima por parte do povo. Os partidos estão associados a interesses sociais e re-
gem-se por ideologias particulares (socialismo, conservadorismo, etc.) Há partidos de
denominação religiosa, étnica, nacionalista e outras, segundo os interesses que defendem
e a sua orientação ideológica.
Na Europa, desde a 2ª. Guerra Mundial, os partidos que mais têm acedido aos governos
são os trabalhistas ou os socialistas. Existem também partidos de centro, direita e parti-
dos comunistas, estes em franco declínio desde a queda do muro de Berlim.

Comportamento Eleitoral
O final do séc. XX caracteriza-se por uma redução da confiança dos eleitores nos parti-
dos políticos e nos governos, marcada pelo desinteresse na participação política e pelo
aumento da abstenção eleitoral, praticamente em todas as democracias europeias. O elei-
torado tornou-se céptico relativamente ao desempenho de partidos políticos e governos à
medida que assistiu ao declínio dos seus direitos e ao aumento do poder dos diferentes
grupos de interesse.

Participação Política das Mulheres


As mulheres nem sempre tiveram direito a votar, pelo que quase se pode dizer que existe
uma cultura de não votar por parte das mulheres e isso vê-se na adesão às urnas. As pro-
porções de participação feminina nos sufrágios tendem a ser inferiores às masculinas,
embora a diferença tenda a diminuir. As mulheres têm também tendências políticas dife-
rentes dos homens, notando-se a sua preferência por partidos conservadores.
As mulheres envolvem-se em movimentos de defesa dos seus direitos e dos direitos das
crianças e progressivamente vão conseguindo alterar o seu estatuto e até uma igualdade
relativa aos homens. Uma das lacunas das democracias modernas reside no facto das
sociedades democráticas não terem mecan ismos para estimular a igual participação de
mulheres e homens na vida política.

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Sociologia Geral

Forças Globais
A democracia generalizou-se em todo o mundo. Por outro lado a globalização tem vindo
a reduzir o poder dos Estados-nação que, incapazes de manter o seu poder estratégico e
inseguros quanto ao desenrolar da violência tem procurado formas de associação. A Co-
munidade Europeia é uma resposta dos Estados-nação.

A União Europeia e o novo mapa da Europa


Depois da 2ª. Guerra Mundial a Europa compreendeu que tinha de se unir e contrariar a
tendência beligerante que alimentou durante séculos. A Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço (CECA) criada pelo tratado de Paris de 1951, constituiu o primeiro passo na
cooperação económica do Continente. Depois dela foi constituída a Agência Europeia de
Energia Atómica e finalmente em 1958, o tratado de Roma deu origem ao que actualmen-
te se chama Comunidade Europeia (CE) e que na altura tinha o nome de CEE (Comunida-
de Económica Europeia).
A comunidade passou assim de uma cooperação estritamente económica para uma coope-
ração cultural, política, militar, etc.
A União Europeia está organizada em aparelhos burocráticos:
- Conselho Europeu – reúne 3 vezes por ano os chefes de estado ou de governo dos paí-
ses membros.
- Conselho de Ministros – reúne os ministros dos negócios estrangeiros e alguns fun-
cionários, tomando decisões legislativas.
- Comissão Europeia – composta por comissários nomeados pelos estados membros, a
quem cabe propor políticas para o conselho adoptar ou alterar.
- Parlamento Europeu – com 518 deputados eleitos que emite pareceres sobre as pro-
postas apresentadas ao Conselho e os discute.
- Tribunal Europeu de Justiça – faz jurisprudência e assegura o cumprimento das leis
comunitárias.
A comunidade europeia teve início com seis Estados e hoje é constituída por 15 e prevê-
se o seu alargamento.

Mudanças na Europa de Leste


A configuração política do continente europeu alterou-se profundamente com a queda dos
regimes comunistas na Europa de Leste. Os regimes de partido único deram lugar a sis-
temas multipartidários e os sistemas colectivistas da propriedade deram origem a siste-
mas de propriedade privada. A principal nota positiva desta mudança é o facto dela se ter
dado praticamente se se recorrer à violência; a principal nota negativa é a profunda crise
em que esses países se viram mergulhados, pela dificuldade de adaptação aos novos mo-
delos económicos de mercado. As transformações produziram também grandes níveis de
exclusão social, sendo mais afectadas as mulheres.

A Guerra e o Poder Militar


A guerra, por ser um dos fenómenos que mais duramente tem afectado a humanidade
também é objecto de estudo por parte da sociologia.
As sociedades de caçadores e recolectores, bem co mo as sociedades agrárias e pastoris
não dispunham de exércitos, mas tão somente de uma tecnologia destrutiva muito rudi-
mentar. O desenvolvimento dos Estados-nação levou à constituição dos primeiros exérci-
tos regulares.
Enquanto até ao séc. XX as guerras eram limitadas à resolução de conflitos entre dois ou
três estados, a história europeia do séc. XX foi moldada pela guerra total.
A guerra total resulta da industrialização da guerra e da aquisição de uma tecnologia des-
trutiva maciça e altamente especializada, bem co mo do desenvolvimento de uma organi-
zação bélica altamente sofisticada. As organizações militares tornaram-se burocráticas,
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Sociologia Geral
com corpos permanentes de profissionais especializados e um serviço militar obrigatório
para todos os homens, imposto pelos estados.
O séc. XX foi o mais destrutivo de toda a história da humanidade.
Hobsbawm diz que o séc. XX “foi o século mais assassino de que temos registo, tanto na
escala, frequência e extensão da guerra”. Este autor diz ainda que tanto a 1ª. como a 2ª.
Grande Guerra foram globais envolvendo praticamente todos os estados independentes do
mundo, e “todo o mundo foi beligerante ou ocupado, ou as duas coisas. Quanto aos cam-
pos de batalha, os nomes de ilhas melanésias e povoações nos desertos norte-africanos,
na Birmânia e nas Filipinas, tornaram-se tão conhecidos dos leitores de jornais e radi-
ouvintes como os nomes de batalhas no Ártico e no Caucaso, na Normandia, em Estali-
negrado e em Kursk. A 2ª. Guerra Mundial foi uma lição de geografia do mundo.”
Durante as guerras mundiais e durante a Guerra Fria, a indústria de armamento tornou-se
um importante sector da economia mundial e os orçamentos militares não pararam de
crescer até ao final dos anos 80. O fim da guerra fria representou um abrandamento nos
gastos militares do Ocidente, continuando no entanto a gastar-se muito nos países do
Terceiro Mundo.
Apesar do fim da Guerra Fria, continuam a colocar-se sérios problemas de segurança mi-
litar no mundo, considerando a proliferação de armas nucleares e químicas por toda a
Terra. A segurança internacional ainda vive sob a ameaça do retorn o à guerra total.

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