Iaba Carybé PDF
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NOVELA DE CARYBÉ
A safra chegara a seu fim e ca- tempo rondavam a casa deviam ser
da dia o peixe era mais escasso. ljichos azarentos, não deviam de
Voltara para a jangadinha e pas- ter dono porque a não ser assim
sava o dia jogando tarrafa, arre- algudm teria reclamado e, magros
ou não, alguma coisa deviam ren- Debaixo dele, na casa, comia-se
der. Não disse nada a Iaba, apron- sarapatel. Seu Juca da venda fora
tou um porrete de braúna, jogou convidado com sua mulher e trou-
um resto de feijão perto da porta xera um garrafão de vinho portu-
da cozinha e ficou na espera. Os guês. Cada gargalhada que subia
dois compadres tiraram os longo; arrepiava mais e mais o papagaio
focinhos do mato, cheiraram e fo- que no cúmulo do desespero roga-
ram vindo. Foi rápido como o va pragas tremendas contra o An-
raio, as duas porretadas soaram tônio e Iaba. Seu Juca e Dona
quase ao mesmo tempo e os por- Massu desceram de madrugada tro-
cos caíram fulminados . Foram peçando e rindo alto rumo à
sangrados a facão e a água que venda.
fervia na lata os deixou em pouco De manhã cedo Antônio colocou
tempo r6seos como carne de gingo. os porcos na canga do jegue e, de-
Quando Iaba ia voltando da ca- pois de um cafe amargo para curar
sa de Norma onde fora passar à a ressaca, desceu para a feira.
máquina uma batata viu sobre a A vingança dos compadres foi
mesa da cozinha o fato e os miú- um forte desarranjo gástrico mas
dos de porco que Antônio estava não valeu de consolo, porque foi
tratando. Alegrou-se: "Obal Va- atribuído ao garrafão de vinho com
mos ter sarapatel!" Mas quando grande desespero do papagaio.
reconheceu os compadres pendu- Na manhã que Antônio saíra
rados pelos pCs teve um vexame. com os porcos o papagaio desceu
- Menino, como tu fez uma coi- da cumeeira para o seu poleiro e
de lá começou:
sa dessas? Virgem Nossa Senho-
ra... .
são eles?. . - Iaba, você está perdida; aban-
- São. Amanhã vendo esses ba- donou sua classe e a mais dessa
gaços, já pedi emprestado o jegue .
barrigona arran. . (Uma garrafa
do Juca. passou zunindo pela cabeça dele,
s6 teve tempo de voar gritando) ....
Iaba voltou a olhar para os por-
cos e, ao vê-los tão brancos, tão
Burra, sinhá burra, traidora!. ..
Levou três dias subido num
desnudos e cômicos passou do ve- dendezeiro mas teve que voltar en-
xame para um riso nervoso que joado do menu único e pensando
começou baixinho e foi em cres- no jeito que daria para que Iaba
cendo até uma gargalhada alegre voltasse a ser o instrumento de
que nem cachoeira. Antônio con- tortura do AntBnio, aquilo era a
tagiou-se e os dois ficaram um tem- desmoralização completa e já sou-
pão se acabando de rir da ridícula bera que Zulmira-Marrom fizera
figura dos compadres. passar vergonha a Pai Cosme nu-
O papagaio ia e voltava da ma sessão.
cilmieira do telhado, arrepiado, Meteu a cabeça pelo cantinho da
dando nomes horríveis mas baixi- porta da cozinha. Iaba bordava
nho, s6 para que os vagalumes e cantarolando no outro quarto. To-
os morcegos que estavam dando no mando coragem atravessou a cozi-
sapotizeiro pudessem ouvir. r ~ h ae parou no vão da porta, fi-
cou alerta esperando que Iaba Cada vez que ele voltava, exaus-
olhasse para ele, mas como ela to, e contava a Iaba as peripkcias
continuava ensimesmada bordando do dia e a má sorte nos negócios
e cantando baixinho, deu um "boa o papagaio ria baixinho, com uma
tarde" muito tímido e melífluo. alegria perversa a brilhar-lhe nos
Ela levantou a cabeça e sem res- o1hos amarelos.
ponder continuou com o bordado. Iaba, vendo que Maria precisava
Ele tomou coragem, carraspeou e de um mundão de coisas e que a
disse: mh sorte de Antônio não abran-
- Iaba! dava, resolveu lavar para fora.
- Que é? Descia o morro, equilibrando a
- Quero falar-lhe de igual a trouxa na cabeça, e levando, es-
igual... canchada nos quartos, a Maria.
- Ora me deixe compadre, por Na beira do dique punha-se ao tra-
.
favor não comece.. estou muito balho, enquanto Maria brincava
com barquinhos de folha seca ou
cansada de sua rabugice, as coisas
estão muito bem como estão, por com uma bruxa de pano. Punha
seu próprio bem fique sossegadi- as roupas a quarar no sol e sen-
nho em seu poleiro; se não quiser tõva debaixo da jaqueira pensan-
é bom dar o fora, o mundo é mui- do na vida: quase se esquecera que
to grande. afinal de contas era diaba enviada
O compadre mais não disse. para espicaçar com a vida de An-
Subiu sem piar ao poleiro e pu- tônio, mas quem podia imaginar
xou uma soneca já livre dos co- que ser mulher mesmo era tão bom
quinhos de dendê que já lhe da- assim? Antônio era muito homem
vam azia só de pensar. e além disso via os esforços que
fazia para levar avante a casa e
Quando Antônio chegou foi di-
zendo! que se não conseguia era por causa
dos diabos, bombojiras que viviam
- Ué, esse peste já voltou?
a atrapalhar-lhe o caminho. Ela
O papagaio nem piou, Iaba é mesmo não era uma panjira envia-
que disse: da para atormentá-lo? O diabo era
- Deixe o bichinho. Afinal de que a carne era fraca demais para
contas é bem engraçado. Diz mui- resistir e por causa disso ali estava
ta bobagem mas, apesar dos pesa- Maria brincando feliz. Sentia que
res, é de es.cimação. cada vez estava mais longe de sua
Quem nasceu foi Maria. condição de diaba, que do que
Moreninha clara, linda como o gostava mesmo era sol, de sam-
sol, num instante foi crescendo e bar e de ver o povo feliz. Adora-
o dinheiro de Antônio não dando s a as cantorias das lavadeiras e a
para os gastos, tentava todo tra- roupa se quarando, alva de doer
balho mas a caipora estava ali. nos olhos ou das cores violentas
Andava o dia inteiro e o que con- das saias abertas como flores no
seguia ganhar era um dinheirinho capim; de Antônio chegando sua-
magro que mal dava para não do e sempre alegre, contando OS
passar fome. acontecimentos do dia, enquanto
as cuias d'água escorriam encachoei- gara, sentara na cadeira de vime
radas pelo corpo musculoso; de do terreiro, e Maria veio a fazer-
seu peso em cima dela, do amor lhe dengos. Ele estava triste, pen-
melado de onde nasciam as Ma- sando que por primeira vez sua
rias. Ficava cismando nessas coi- filhinha não ia ter com que matar
sas e chegando à conclusão que era a fome e pensou em roubar alguém,
feliz. assassinar algum milionário, £a-
De tardinha subia o morro, es- zer-se gigolô de mulher-dama .
guia e flexível e banhava-se na Nesta altura chegou de dentro de
enorme bacia de folha-de-flandres casa a voz alegre de Iaba:
junto com Maria e era uma farra - Antônio, Mariiia, o jantar es-
danada das duas a brincar com tA na mesa!
água. Surpreso entrou com Maria no
Compadre papagaio é que não colo, sentou à mesa e Iaba apare-
afrouxava, dava nomes feios, xin- ceu trazendo com muita pompa a
gava, ameaçava com coisas horrí- travessa na ponta dos dedos, depo-
veis e para sua desgraça um dia sitou-a no centro da mesa e com
ameaçou Maria com doença braba. um gesto quase de prestidigitador
Fazia três dias que Antônio não arrancou um guardanapo que co-
ganhara um tostão. Fora de puro bria a comida. "É Pombo?" per-
desespero catar sururus nos baixios guntou Antônio.
da Invasão dos Alagados com a in- Iaba riu e mostrou um cocarzi-
tenção de vendê-los nos restauran- nho de penas verdes que enfei-
tes, mas ninguém comprou. Co- tava a cabeça de Maria. Antonio
meram de moqueca. olhou, olhou depois para o poleiro
Fora com Mestre Alodsio bus- e deu uma gargalhada sem tama-
car uma carga em Nazaré das Fa- nho.
rinhas. Tudo ia muito bem quan- Os dentes trituravam com fero-
do, parecia coisa do diabo, levan- cidade o corpo do finado compa-
tou-se um temporal que molhou dre.
toda a carga de açúcar. O prejuí- - 6 peste dura. . . Este diabo
zo foi total. Cadê coragem para parece de sola!. . .
cobrar seu trabalho a Mestre Aloí- - Mãe, será que ele não vai fa-
sio? O coitado do homem só não lar dentro da barriga da gente.. .
chorou porque não era de seu fei- E falou.
tio. Mastigou corana, vendo o bojo Deu um desarranjo em todos que
do saveiro cheio de melaço de sal- foi um deus-nos-acuda. Tudo que
moura e açúcar. Antônio s6 fez foi mezinha eles tomaram, mas OS
bater nas costas e dizer: maus fluidos de compadre só pas-
- Não há de ser nada mestre, saram depois de três dias. Apesar
noutra nós tira a forra. do desarranjo, riam sem parar.
Voltara para casa ensopado de Iaba feliz, pois estava livre dos
água do mar e sem um tostão. diários sermões e não havia mais
Sabia que não havia nada na des- ninguém a lembrar-lhe sua condi-
pensa e que o dinheiro da roupa ção de diaba que viera à terra para
só viria dali a uma semana. Che- desgraçar a vida de quem tanto
amava. Agora era esquecer o pas- tos de Iaba e dormiam sorrindo. A
sado todo, criar Maria e o outro casa ia se tornando pequena. An-
que vinha a caminho, e fazer uni tdnio pensava puxar um quarto
ebó paar que acabasse a urucuba- para os meninos; traria os caibros
ca do Antbnio. Ela continuaria no Tira-Teima e as telhas ele com-
lavando e a vida correria feliz. praria em Marágojipinho; faria
Antônio era contra-mestre do uma feijoada para reunir os ami-
Tira-Teima, o saveiro de Mestre gos na hora de levantar as paredes
Aloísio. Trabalhava com gosto de sopapo e o quarto sairia o mais
pois ao sol e ao vento não tinha barato possível.
a sensação horrível de estar traba- Foi aí que o Tira-Teima arrom-
lhando; era mais uma aventura bou o casco na coroa do Pombo.
constante, um se livrar de coroas Uma coroa besta perto da Gam-
perigosas, um lutar contra o vento. boa. Tinha passado por ali cen-
Ou chamá-lo com assovios lon- tenas de vezes, mas esse dia a ma-
gos nas horas de calmaria e quan- rola de um enorme navio inglês
do soprava de popa, na glória do jogou o saveiro sobre a coroa.
sol ou na escurama da noite. Era Mestre Aloisio se distraíra vendo o
bom temperar a viola, tomar uns naviozão tão claro, tão enorme,
goles de cachaça e pensar em Iaba. com aqueles bigodões alvos de es-
Mestre Aloisio fazia a segunda voz puma. Bonito!. . . ele pensou e na
agarrado ao leme. Iam pela noite mesma hora as tábuas do Tira-Tei-
adentro cantando sambas e toadas ma estalaram nas pedras.
ou contando casos de Iemanjá ou Voltar foi um custo. Antônio e
Fedro Malazarte, de cangaceiros e os outros dois tripulantes tirando
de mulheres. Vinham fieiras inter- água, entupindo os rombos com
mináveis delas tripular o saveiro sacos, fazendo escoras, se mexeme-
pelo caminho do pensamento, den- xendo feito raios para salvar o
gosas, gordas, magras, safadas, bra- saveiro e Aloisio catando vento nos
bas, pretas e brancas, muitas já panos para que o saveiro corresse
niortas outras casadas, outras por emborcado do lado contrário dos
este mundão de Deus. O saveiro rombos.
gemia de sua madeira agüentando Foram três horas de luta atC que
o vento no pano, inchado que nem encalharam na Praia do Forte.
vestido de mulher prenha. Antb Antônio agora trabalhava num
nio ganhava bem mas pesava-lhe trapiche de fumo. Era o dia todo
andar fora de casa dias e dias e ;I dentro daquele cheiro espesso, en-
maresia cheirando, entrando pelas joado, que entranhava na pele e
ventas e ele sabendo que s6 daí a rias ventas. Trabalhava nas pren-
três ou quatro dias estaria subin- sas de enfadar, enormes, com um
do a ladeira, vendo-a no topo do bruto parafuso de madeira que eles
barranco vermelho a lhe acenar. faziam girar correndo em círculo,
Ela e Maria contra o cCu azul. atC que as folhas de fumo iam-se
Nasceram mabaças . comprimindo; ai corriam e davam
Dois machinhos roliços cor de uma volta no ar, agarrados às cor-
canela que sugavam os peitos far- das como se fosse carrossel, meio
nus, voando nos ares, pareciam dia- em poucos meses a construção ci-
bos. As vezes cantavam, outras vil se fez carne nele.
davam berros para acompassar a Iaba estava no último mês. A
carreira. Mas que esse trabalho casa já tinha seu quarto novo e
era chato, era! E aquele cheiro gru- nada faltava na despensa pois ga-
dado dia e noite chegava a dar nhava muito bem. Até comprara
enjôo. uns óculos raibã e um chapéu do
Os mabaças já estavam taludi- Chile, tinha relógio de pulso e um
nhos e Iaba esperava outro. travessão de ouro para segurar a
Resolveu mudar de trabalho. gravata com escudo do Flamengo
Aquele negócio de estar o dia in- esmaltado a fogo, presente do do-
teiro trancado no trapiche dando no da obra.
a voltinha de carrossel, vendo a Nasceu Antônia .
cara amarela dos espanhóis da Uns meses depois o mestre-geral
Real Tabacalera a cheirar folhas de se aposentara e ele foi escolhido
fumo e contar fardos, não era de para o cargo.
seu feitio, não agüentava mais. Esse dia chegou em casa com gar-
Um sábado recebeu a semana e rafas de vinho e cachaça, conten-
nunca mais apareceu. te e risonho, num começo de pile-
Agora era operário de constru- que. Combinou uma feijoada para
ção. Arranjara serviço. Trepar nos o sábado. Houve feijoada e escal-
andaimes, torcer os ferros para as dado de carangueijo. Vieram mes
estruturas, levantar as formas, dar tre Aloísio, Seu Juca e mais al-
berros, subir e descer pelo guin- guns amigos da obra e do tempo
daste. Tanto gostava daquela de malandro. As onze horas, con-
bagunça que na hora que batia a forme combinara, um bruto cami-
campa sempre estava despreveni- nhão encostou no pé da ladeira e
do, fazendo alguma coisa que o os carregadores começaram a subir
obrigava a demorar mais. Adora- com a geladeira de dez p b que
va resolver problemas, estava em comprara a prestação. Foi a admi-
todas partes e em pouco tempo a ração do morro inteiro, quase que
obra não tinha mais segredos para não passava pela porta.
ele. Havia certa dose de perigo Seu Juca mandou buscar dois en-
que, somado ao estar exposto ao gradados de cerveja para a inau-
sol e h chuva, excitava sua vonta- guração e a feijoada rodou pela .
de de fazer coisas. Não havia ro- noite adentro; violas, cavaquinhos
tina no trabalho cheio de impre- e pandeiros bolindo com os qua-
vistos e jeitos a dar. Tanto era dris das mulheres e com o juizo
seu entusiasmo que depois de um dos homens. ZC Sampaio chegou
tempo um dos engenheiros propôs alto, com a flauta encostada no
o cargo de contra-mestre. Antônio beiço grosso e os dedões a tapar
adorou. Nas horas de almoço es- e destapar furinlios. O samba ani-
tudava as plantas, guardava na ca- mou, mulatas e crioulas rodopia-
beça os conceitos dos operários vam, suavam, bebiam, brincavam.
velhos, as maneiras de resolver Tudo era uma bruta alegria.
esta ou aquela dificuldade e Antônio sentara num banquinho ao
pé das bananeiras e olhando o céu gos de bengala, bombas, vulcões,
cheio de estrelas achou-o parecido tudo de bom ia aparecendo aos
com Iaba, não sabia bem porque, olhos do povo que a essa altura da
com uma Iaba cheia de jóias e de noite já estava numa alegria car-
mistério, uma mulher total, imeii- navalesca devido à cachaça que não
sa como a noite. parara de rodar. Aquilo é que era
Gente ia chegando para apreciar Eesta, nunca se vira no morro uma
a festa, o arrasta-pé chiando no assim nem mesmo na cidade. O
terreiro coberto de areia branca e primeiro foguetão subiu na linde-
folhas de pitanga. As bandeiri- ta da noite. Viva Seu Antônio!
nhas que Maria cortara enfeita- Vivaaal Uma excitação tremenda
vam os ares e os pés limavam a, apossou-se dos festeiros vendo as
chão no compasso. luzes verdes e vermelhas que apa-
Faltando quinze para meia-noi- reciam entre pipocos. A pedra con-
te apareceu um homem alto, ma- tinuava aromando mas Antônio
gro e vermelho carregando um em- estava num entusiasmo s6 vendo o
brulho comprido. Perguntou pelo sucesso de sua festa. O segundr>
dono da festa e quando Iaba foi queimou a mão de Severino, ele
soltou e o foguete caiu no centro .
atendê-lo teve um arrepio nas cos-
tas. Aquele homem nojento, de do pacote. Foi um deus-nos-acuda:
pele encarquilhada que nem teiu luzes, estrondos, chuvas de prata e
e assim vermelho não lhe pareceu de ouro, gritos e gargalhadas de
boa coisa. mulheres perseguidas por buscapés,
- Tenho que entregar esta en- correndo pelas barrocas. A cena
era dantesca. Uma hora tudo fi-
comenda ao dono da casa - O ho-
cava vermelho e outra hora verde.
mem disse.
Subiam estrelas em parafuso, es-
Antônio foi chegando e a pedra trondavam as bombas, todos meio
cheirou mas ele estava com uns bêbados dando vivas e ohs! Cada
copinhos a mais e tão alegre que vez pipocava um foguete diferen-
nem ligou. Iaba é que continua- tc no meio da fumaceira, dos gri-
va arrepiada espiando para o ho- tos e do fedor a pólvora.
mem.
Quando perceberam que a casa
- Que é isso? cstava pegando fogo já era tarde.
- Uma encomenda que o geren- -4s labaredas estavam comendo tu-
te lhe mandou. CIO. Como não havia jeito a dar fi-
- Qual gerente? caram vendo a casa se consumir.
- Eu sei só que me deram sei1 Muitos dos convivas, chamuscados
endereço e cd estou, faço-lhe a en- com a pólvora ainda davam vivas,
trega e vou andando que jd C tarde. mas a maioria foi-se retirando As
Antônio deu-lhe vinte cruzeiros quedas e gargalhadas.
e chamou Mestre Aloísio para De madrugada toda a família
abrir o pacote pois a pedra con- estava sentada no terreiro e os res-
tinuava aromando. Eram fogos: tos do barracão fumegavam que
foguetões de cinco estrondos, fo- nem chão do inferno. Iaba, cochi-
lando no ombro de Antônio, ainda vam-lhe adeus. Dobrou pela cer-
disse: ca de peregum de Seu Floro e sen-
- Mas que a festa foi boa, foi] tiu a pedra aromar. Olhou para
Foram morar provisoriamente na todos os lados e não viu ninguem.
casa de Mestre Aloísio e no dia De repente o coração pulou no
seguinte todos estavam dispostos a peito. Vinha subindo uma mulata
recomeçar. Antônio pensando na linda que nem a lua, passou por
nova casa que seria taqueada e com ele com um sorriso devasso no can-
forro de concreto ia rabiscando a to da boca carnuda e foi indo
futura planta na mesa do café. Pe- num rebolado lento, magnético.
gou na marmita e foi descendo Antônio disse "i i i i i i I" e saiu
pensando que até banheiro com- atrás.
pleto teria. Do alto do barranco A moça trazia na mão uma gaio-
vermelho laba e os meninos da- la com um papagaio.