Técnicas
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TOPS
Sádico
Sadomasoquismo e romantismo, a capacidade mágica de erotizar o planeta. 256
CKJ
DOMINAÇÃO A arte do poder 258
Votan
BD (BONDAGE E DISCIPLINA) 259
MasterDreams
Sonho Real 269
Ulysses
Testando a Candidata 271
Lord Conrad
Como me tornei um dominador 271
BOTTOMS 273
RELATOS
Flavinha
Nosso Primeiro Encontro 273
Cadella
A Despedida 274
A Viagem 280
Entalada 283
Te aceito sempre… 285
O Plug 287
Ser tua… Apenas tua… 289
william
No Seu Castelo 292
lan@
Dependência Ou Submissão 295
Liu
A Mumificação 297
Mégara
A Alma Submissa 299
A Entrega 302
TEORIAS
Ian@
Confiança 309
Relações BDSM 312
Sedução: Esse Estranho Poder 316
O Simbolismo Da Coleira Para Um Submisso(A) 320
A Condição Dialética Da Relação D/S 324
Danna
Ciúme 326
Vitar@
Limites e Segurança 328
De iniciante para iniciante 329
Autora anônima
Direitos de uma escrava 330
TEORIAS 332
Dez Pontos Básicos Sobre A Liberdade Sexual 332
Além Do Bem E Do Mal 333
Arthur Koestler E Cynthia Jefferies: Um Caso De 24/7 Inconsciente? 335
Abuso E Consenso Numa Relação D/S (Edgeh) 340
Abuso E Consenso Numa Relação D/S (bee_a) 343
Os Alicerces De Um Relacionamento São, Seguro E Consensual 344
Mentor? 345
Bdsm X Comportamento 1ª Parte 348
Bdsm X Comportamento 2ª Parte 350
Bdsm X Comportamento 3ª Parte 352
Bdsm X Comportamento 4ª Parte 354
Bdsm E A Lei Brasileira 357
Bdsm E Suas Afinidades Com O Jogo 358
O Emblema Bdsm 362
Consciente, Seguro E Consensual 1ª Parte 363
Consciente, Seguro e Consensual 2ª Parte 368
Bem-Vindo Ao Jogo Parte 1 374
Aproximações Bdsm Às Reflexões De Sartre Referentes À Atitude Para Com 377
O Outro Parte 1
Aproximações Bdsm Às Reflexões De Sartre Referentes À Atitude Para Com 378
O Outro Parte 2
Pensando O Sm Gay No Brasil (Porque Não Saímos Do Armário Ainda!) 381
Um Estudo Sobre A Fisiologia Do Desejo Sexual Masculino 383
Um Estudo Sobre A Fisiologia Da Resposta Sexual Feminina 387
Moral E Bdsm 1ª Parte 389
Moral E Bdsm 2ª Parte 395
Neo-Sexualidade E Sobrevivência Psíquica 400
O Poeta, Nós E O Teatro Da Mente 407
Prazer E Dor 409
Práticas Sexuais Ditas “Desviantes”: Perversão Ou Direito À Diferença? 412
Regressão Vs Submissão 425
Tabus E Sadomasoquismo: Ruptura E Inspiração 426
Amor E Bdsm - Condição Essencial? 439
Para Que Serve O Amor? 441
Vai Passar? 444
O Que É Gor? 445
TÉCNICAS
Conhecendo Os Mistérios Do Shibari 448
Conhecendo Os Mistérios Do Shibari 2ª Parte O Shinju 450
Informações Básicas Sobre Spanking Parte 1 451
Informações Básicas Sobre Spanking Parte 2 454
Técnicas de "Spanking" 458
Características De Utilização Dos Diferentes Instrumentos De Spanking: 462
Mãos, Raquetes E "Paddles"
Características De Utilização Dos Diferentes Instrumentos De 464
Spanking Açoites E "Flogs"
Características De Utilização Dos Diferentes Instrumentos De Spanking: 465
Chicotes De Montaria (E As "Guascas")
Características De Utilização Dos Diferentes Instrumentos De 466
Spanking Chicotes De Couro Trançado (De Tamanho Variável)
Características De Utilização Dos Diferentes Instrumentos De Spanking Vara 467
De "Rattan" (Também Existem Modelos Em Acrílico E Em Fibra De Vidro)
Características De Utilização Dos Diferentes Instrumentos De 468
Spanking Fotos De Meus "Brinquedinhos"
Eletro-Estimulação - Parte I 471
Eletroestimulação - Parte II 477
A Lista Eletrostim & Faqs 489
A Compra De Acessórios E Equipamentos Em Sex-Shops: Cuidados E 491
Precauções Parte 1
A Compra De Acessórios E Equipamentos Em Sex-Shops: Cuidados E 496
Precauções Parte 2
Acessórios Eróticos - Explorando E Conhecendo Sua Intimidade 499
Dildos Silenciosos E Cenas Públicas – Como Evitar Ser Denunciado 504
256
TOPS
Teoria
Sadomasoquismo e romantismo, a capacidade mágica de
erotizar o planeta
Sádico
Sabemos que a sexualidade humana é humana na medida em que nos afasta da função
da reprodução. Iidentificamos o prazer sexual com este afastamento - quanto menos animal,
mais prazer.
Um desses afastamentos nos interessa particularmente: a capacidade de erotizar o
planeta.
Só nós humanos podemos fazer isto, e apenas dois estilos de erotismo o fazem de
maneira sistemática e consciente: o Romantismo e o Sadomasoquismo. Senão, vejamos.
Quando o romântico recolhe no alto do morro uma flor para sua amada, empresta
àquela flor o poder de falar por seu amor. Quando a amada leva a flor consigo, a deposita
dentro de um livro de cabeceira, olha lânguida para ela antes de dormir, imantou a flor com o
seu amor, com o seu amado; ou ainda, recebeu e aceitou a simbologia que o amado inventou.
O casal foi capaz de extravasar seu amor, seus desejos, seu erotismo para o resto do planeta,
para os objetos - qualquer objeto: roupas, presentes de todos os tipos, o guardanapo do
restaurante onde ele/a me disse "sim". Tudo está à disposição e é utilizado para representar,
expandir, re-significar o amor e o desejo do casal.
Ao contrário do romantismo, no sadomasoquismo o uso de objetos variados é portador
de um certo preconceito, principalmente pela falta de conhecimento de sua função (e diga-se
de passagem que por vezes o preconceito assalta inclusive os praticantes do BDSM).
Mas o que ocorre aqui é exatamente a mesma coisa que ocorre com o romantismo. Ao
penetrar sua parceira com um objeto comprado em um sex-shop (eu particularmente prefiro
257
BD - (Bondage e Disciplina)
Votan
"As únicas liberdades às quais os seres
humanos são sensíveis são aquelas que
jogam 'o outro' numa servidão
equivalente. E, aliás, como se sabe, uma
paixão incondicional pela liberdade
certamente provocará no mundo, e
bem depressa, conflitos e guerras não
menos incondicionais."
Jean Paulhan
Coação erótica
"A força não faz parte do contexto do sadismo ou do masoquismo, nem faz parte
do fetichismo, da dominação ou da submissão. Mas é uma atividade normal e
corriqueira. Faz parte do dia-a-dia das pessoas. A força é parte da relação de
poder, mas no BDSM o poder não é tomado, é concedido. E não há sequer um
adepto do BDSM que não se sinta, de alguma forma, fascinado por esta relação."
(Delmonica).
A atitude de segurar ou restringir o(a) parceiro(a) durante o sexo é tão velha quanto o
mundo. Um número incalculável de espécies segura ou imobiliza o(a) parceiro(a) durante o ato
sexual. Escorpiões, aranhas, leões e alguns macacos têm um complexo jogo de imobilização e
sujeição erótica durante o acasalamento. Mas não podemos assumir que estes animais têm
atividades BDSM. Este é um jogo elaborado e executado exclusivamente pelos humanos.
Um aspecto aparentemente contraditório do BDSM é a coerção erótica.
O(a) submisso(a) que deseja viver uma relação BD, em seu sentido de escravidão e
disciplina, aceita e, portanto, torna consensual, a condição de 'escravo'. Leve-se em
consideração que para atingir esse ponto, a relação, o conhecimento mútuo, o entrosamento e
a maturidade entre os parceiros deve estar em um patamar elevado. Ou seja, tornar-se BD
requer tempo. Pois só o tempo trará o conhecimento (associado ao autoconhecimento), e só o
conhecimento levará, neste caso, à consensualidade específica do BD.
Explico melhor: quando o desejo de possuir ou ser possuído vem à tona na relação é
preciso que fique claro que a consensualidade aqui assume um caráter definitivo. O(a)
'escravo(a)' é uma propriedade, portanto faço com ele o que quero, pois ele aceitou a
condição de ser possuído, de ser meu. Por outro lado, assumo um voto extremo de confiança
que me foi dado (porque sabe que o conheço, porque tem confiança em minha experiência,
260
novos elementos para serem trabalhados, conversados, para o próximo momento em que se
'estará' BD.
Podemos estabelecer cenas ou períodos de tempo determinados em que situações de
escravidão podem ser aplicadas: um fim de semana, um dia, uma cena em uma Play Party. Mas
não uma situação de escravidão permanente. Até porque dentro da cultura SM, o Bondage
está quase sempre associado à disciplina. Onde o prazer de castigar para corrigir é mútuo. De
quem imputa e de quem recebe o castigo.
Popularmente, Bondage está associado com restrição de movimentos, com o uso de
cordas, algemas e uma infinidade de aparatos que visam a imobilização do(a) submisso(a). E,
através da imobilização, pode-se aplicar castigos e medidas de disciplina.
Tolher movimentos desde os mais remotos tempos de nossa civilização representa uma
imposição da vontade do senhor para com o submisso. Era assim nas galés romanas, onde
remadores eram escravos presos aos remos; depois, na Idade Média, com os escravos
africanos e a desumanidade dos navios negreiros e o trabalho forçado tanto na Europa como
no novo mundo.
Disciplina
Na comunidade BDSM a disciplina e os castigos advindos como corretivos pelas faltas
são os objetivos de muitos dominadores e submissos.
Os dominadores disciplinam para treinarem seus escravos e vivenciarem o que lhes dá
prazer (dominar), e estes para agradarem seus donos e, de uma maneira simplista,
vivenciarem situações que lhes causem prazer. O ato de se colocar um submisso em seu colo e
aplicar palmadas nas nádegas como forma de disciplina (aliás, a mais básica e antiga) ,
atravessa pelo menos 3 aspectos importantes dentro do BDSM, passa pelo BD, onde se está
aplicando um castigo para corrigir uma falta, passa pelo DS no dipolo do dominador(a) -
submisso(a) e passa pelo SM no ato físico de provocar a dor pelas palmadas. Dissociá-los? Não
há como.
Podemos intuir, então, que não existe BD exclusivamente. Mas, sim, que BD está
contido dentro da filosofia do DS e do SM, onde BD é meio, e não fim. Meio de se atingir
propósitos ou fronteiras. Meio de humilhação.
"Poucos são os dominadores que não sonharam possuir um personagem Sadeano
como Justine. Mas nenhum(a) submisso(a), que eu saiba, desejou ser Justine. Não
em voz alta, com esta altivez do gemido e das lágrimas, com esta violência
conquistadora, com esta avidez pelo sofrimento e com esta vontade feita de uma
tensão que leva ao dilaceramento e à desintegração."
Porque aí estaríamos falando de ficção, o que, certamente, terminaria em patologias e,
portanto, em uma realidade contrária à filosofia do BDSM, que é o erotismo saudável e a
realização de fantasias com segurança.
262
Realidade x ficção
Dentro da literatura de Sade temos a vítima, não o escravo ou o submisso. E, a partir do
momento que a vítima se identifica, tem prazer, aprecia (como em Filosofia na Alcova, a
personagem Eugénie), passa para o grupo dos libertinos e começa a ser iniciada na filosofia. A
virgem Eugénie, em sua ansiedade, fala à Senhora de Saint-Ange: "Oh, minha boa amiga, achei
que jamais chegaria, tanta a pressa de estar em seus braços...".
Eugénie ficará apenas dois dias com a Senhora de Saint-Ange, e esta acha o tempo
curto, ao que Eugénie replica: "Ah, se não souber de tudo ficarei... Vim aqui para instruir-me e
só irei embora quando for sábia".
Um dos maiores perigos dentro do BD é um(a) dominador(a) ou submisso(a) novato ler
a famosa "História de O", de Dominique Aury, e acreditar que aquela situação irreal e
inverossímil deve ser o seu modelo de dominação ou que todos os dominadores serão Sir
Stephens e todas as submissas serão "O's" ou Justines de Sade.
"Leio a história de O como se fosse um conto de fadas (todos sabem que os
contos de fadas são os romances eróticos das crianças), como nesses castelos que
parecem completamente abandonados, mas onde, entretanto, as poltronas com
seus couros, os tamboretes e os leitos de colunas não têm um grão de poeira e
onde já encontramos as chibatas e os chicotes; eles aí estão, como se estar aí
fosse próprio de sua natureza. Não há suspeita de ferrugem nas correntes, nem
de umidade nos azulejos de todas as cores." - Jean Paulhan.
Estas cenas são irreais. Não existem no dia-a-dia dos envolvidos com o BDSM.
Relacionamento?
A sinergia do relacionamento, qualquer que seja ele, faz com que limites, anseios,
frustrações e desejos devam ser conversados, expressos e explicitados. Ninguém tem uma
"bola de cristal" para adivinhar o que se passa na cabeça do parceiro.
E ninguém põe a entrega ao outro acima de si próprio. Para dominar, exercer ou
elaborar uma cena de punição, assim como para ser punido ou participar de uma cena de
escravidão e disciplina, deve existir segurança, consensualidade e sanidade.
Não deixa de haver grandeza e, inclusive, alegria em abandonar-se à vontade de um
outro (como acontece com os apaixonados e os místicos) e em ver-se, enfim!, aliviado de seus
prazeres, interesses e complexos pessoais.
Alguém pode então lembrar-se de masoquismo. Seja, não é mais que acrescentar ao
verdadeiro mistério um mistério falso, de linguagem. Que quer dizer "masoquismo"? Que a
dor é ao mesmo tempo prazer, e o sofrimento, alegria? Pode ser. Dizem os masoquistas, trata-
se realmente de uma dor, mas que estes sabem "transformar" em prazer; trata-se de um
sofrimento do qual se desprende, por alguma química cujo segredo eles possuem, uma pura
alegria.
263
Introdução
Conceitos básicos
Tendo em mente esse preâmbulo, necessário para que não se entenda o que vem a
seguir como um conjunto de "regras ou normas" absolutas, coloco alguns pontos de como vivo
(experiência vivida) um relacionamento 24/7 (ou seja, não existem apenas em "cenas com
hora marcada" ), sob a égide da Dominação Feminina como estilo de vida, tendo como
embasamento conceitual o que pode ser chamado de "Femina Suprema".
importante e deve existir, mas ser canalizada para o bem comum, para a agregação
interpessoal, e não para uma competição desenfreada em busca de valores materiais,
predatórios, autoritários que criam uma ilusão de poder. Deixemos a solidariedade, a
compreensão, a generosidade, a bioética, direcionarem nossa existência.
Além de mulher, mãe, filha, atuando profissionalmente na área da educação, cultura e
saúde, sou também uma dominadora não profissional que vive há quase 10 anos a Dominação
Feminina como estilo de vida, desenvolvendo com meu marido/escravo, uma relação D/s,
onde componentes SM são utilizados porque ambos temos prazer em praticar tais métodos,
numa maneira consensual (portanto há limites acordados e não impostos por nenhum de nós),
sã e sadia, pois há a preservação da integridade física e psíquica, com especial atenção à
preservação do ego de cada um de nós.
E vivemos também, consensualmente e de um modo que procuramos aprofundar a cada
dia, uma relação interpessoal instigante para nós mesmos, a muito comentada relação 24/7. E
o que é isso em nossa vivência? Trata-se de uma opção consciente de "troca de poder", ou
seja, procuramos aprender e desenvolver como estilo de vida, valores que são, digamos,
divergentes dos paradigmas vigentes em nossa sociedade de cultura predominantemente
patriarcal, autoritária e competitiva. Essa ruptura de paradigmas ou troca de poder segue um
norte dado por valores ditos femininos, que podem ser sintetizados no conceito "Femina
Suprema". Esse conceito, insisto, não é a colocação competitiva de que "a mulher é superior
ao homem", o que apenas trocaria de sinal o que existe no bojo da cultura patriarcal que, em
seus preconceitos seculares, advoga uma absurda superioridade de gênero. O conceito
de "Femina Suprema" é o de supremacia do Feminino. O "poder que está acima de tudo"
dentro do humano (não falo em divindades) é o Feminino, são os valores femininos. É a
entrega do homem e seu ancestral poder cultural, ao poder de acolhimento, orientação,
direção, que tem como sentido os valores femininos. A agressividade, a competição, a ânsia
pelo poder passam a ter menos valor que a cooperação, a solidariedade, a generosidade, a
ética nos relacionamentos. Isso parece utópico, mas se lembrarmos que a sociedade é
construída por ações cotidianas, poderemos estar contribuindo para a transformação de
consciências, e daí, da realidade. Portanto, o fato de nós vivermos o 24/7 significa que
embasamos nossa vida nessa "troca de poder". E isso trouxe paz, benquerença e felicidade a
nós (e a algumas pessoas que nos cercam, sejam parentes, amigos ou companheiras(os) de D/s
SM).
Assim, 24/7 é, para nós, a vivência de novos paradigmas no cotidiano de um casal que se
respeita, admira e, fundamentalmente, se ama. Não é a absurda fantasia de uma "cena
eterna" de chicoteamentos, castigos, punições, obediência cega de um masoquista destituído
de vontades e castrado em sua personalidade para uma Dominadora insanamente sádica. Esse
é o meu ( e também de zepierre) modo de entender a D/s, onde a mulher é a figura dominante
da relação, e não somente de uma cena eventual.
E também é útil assinalar que, como qualquer outra relação interpessoal, trata-se de
um processo contínuo e dinâmico, onde os eventos e, principalmente, os sentimentos e as
sensações são captadas e discutidas, com o sentido maior de promover, sempre e sempre, a
melhoria da própria relação em si, onde nossa felicidade e nosso prazer possam ser cada vez
266
minha presença constante, muitas vezes ordenando que vá ao banheiro e se masturbe, sem
gozar. Algumas vezes, especialmente quando ele tem alguma reunião noturna, ou um evento
especial em seu trabalho diurno, mando que ele vá trabalhar vestindo alguma calcinha de
minha coleção, ou mesmo seu cinto de castidade de couro. Essas providências sempre o
mantém ligado à sua Dona, e são excitantes para nós dois.
Chegando em casa, à noite, e minha filha não estando, zepierre toma um banho, e
permanece sempre nu, ou, quando a temperatura está mais fria, mantém os genitais à mostra.
Devo ressaltar que a cada 15 dias, ele faz a depilação do saco e da região perianal, alem de
aparar os pêlos pubeanos, que só são raspados totalmente por ocasião dos encontros com
outras Dominadoras.
Cuida do jantar e da louça, e depois, em geral, vai ao computador da manutenção da
homepage. [A exceção ocorre quando precisa completar algum trabalho profissional em casa,
geralmente recorrendo ao computador].
Fica trabalhando nisso, e/ou servindo minhas necessidades, geralmente massageando
meus pés ou sendo usado como tapete enquanto falo ao telefone, leio ou trabalho no
computador.
Por volta das 23 horas determino que vamos dormir. Faço uso do banheiro sempre
antes dele. No inverno, nesse tempo, ele deita-se no meu lado da cama ( dormimos em cama
de casal) para aquecer o leito. Nessa função, ele também é instruído a se masturbar, sempre
sem poder gozar, para facilitar a produção de calor e aquecer melhor meu lugar na cama. No
verão dorme inteiramente nu, e apenas com uma camiseta nos dias mais frios.
Nossos finais de semana começam na 6ª feira. Se não saímos para programas SM ou
vanila, zepierre sabe que haverá cenas, de punição e/ou treinamento. Em tais sessões coloco
roupas de fetiche, e ele sua coleira, algemas e tornozeleiras de couro. Posso ou não definir que
use o "cachê-sex" ou seu arreio de escravo. Confessa eventuais erros ou mau comportamento
que tenha tido durante a semana, e eu defino os castigos a serem administrados. Os
treinamentos são mais específicos - treinamento anal, alvo para treinamento de minhas
habilidades com o chicote, treinamento de excitação prolongada (esse tipo tem, geralmente, a
duração de todo o final de semana ou até de 7 a 10 dias), e outros. Algumas vezes utilizo jogos
para que as ações SM sejam definidas pelo acaso. Tenho um jogo que utiliza dados (está em
minha HP na seção correspondente), e um interessante jogo no computador, que ele está
adaptando para colocar na HP. Esses jogos permitem que os castigos sejam escolhidos ao
acaso.
Nas compras que geralmente efetuamos aos sábados, após os exercícios no clube,
zepierre está sempre usando algum item que lembra sua condição de submisso, sejam as
calcinhas que escolho, o "caché-sex", o cinto de castidade, o "sutiã de tachinhas" ou até
mesmo um "plug" anal. Aos sábados à noite, quando em reuniões "vanila" com amigos não
SM [geralmente encontros com grupos musicais], zepierre também usa, escondidos pela roupa
comum, tais "adereços".
268
Os domingos geralmente são reservados para encontros com amigos ou familiares, e/ou
para curtirmos o clube, um cinema, teatro, etc. Quando ficamos em casa, o comportamento
adotado é o D/s SM já descrito.
Algumas regras comportamentais básicas que defini para zepierre:
1. As regras de etiqueta que definem um "cavalheiro" nas relações com as mulheres
em geral, em quaisquer circunstâncias.
2. Nunca usar açúcar em bebidas em geral, incluindo café.
3. Em reuniões sociais, bebidas alcoólicas até duas doses (destiladas), ou dois copos
(fermentadas). Depois somente com minha autorização, que deve ser solicitada.
4. Em casa, como já foi mencionado, os genitais devem estar sempre expostos e
adequadamente depilados. Urinar sempre sentado, exceto em banheiros públicos.
5. Em reuniões D/s SM, sentar-se sempre em nivel inferior à(s) Dominadora(s),
exceto quando eu der ordem contrária. Nessa ocasiões somente dirigir a palavra à(s)
Dominadora(s), quando tiver autorização explícita, e nunca cortar a palavra feminina, nem
comandar a conversação, salvo com meu consentimento.
6. Sexo somente sob meu comando explícito, inclusive quanto à penetração e à
ejaculação. Masturbação terminantemente proibida, exceto quando sob meu comando.
Manter-se em ereção sempre que comandado, em quaisquer circunstâncias.
Essas são as regras básicas gerais. Outras existem, mas são mais específicas e dependerão
das circunstâncias de momento.
É claro que existem ocasiões onde nosso comportamento D/s é menos explícito, ou
ganha importância não primordial. Isso ocorre em situações tais como as provocadas por
eventos externos a nós - preocupações profissionais ou administrativas ocasionais, eventuais
doenças próprias ou na família, problemas sérios com membros da família - ou nos finais de
semana e feriados que passamos com familiares e/ou amigos "não engajados".
Considerações finais
Nas decisões de administração doméstica, aplicações financeiras, relacionamento com
irmãos e filhos (meus e dele) os assuntos são discutidos como em qualquer casal. As decisões
em geral são tomadas em conjunto, num consenso. Quando não se obtém tal consenso nesses
casos, o que tem sido muito raro, a decisão final é minha.
Hoje procuramos divulgar essa nossa experiência, como algo concreto que poderá ser
útil a quem se interessar por tais temas. Daí a construção de uma home page
(www.helgavany.org), onde são mostradas as experiências que vivemos no mundo D/s SM. E
também as que compartilharmos com amigas e amigos que têm os mesmos fetiches.
O criador deste "Desejo Secreto", em e-mail privado, fez algumas considerações em
relação à vivência que tenho com zepierre, correlacionando-a como uma utopia possível. E o
enfoque, digamos, "filosófico" de nosso estilo de vida ficou muito bem explicitado de maneira
269
clara, límpida, com as seguintes palavras de Lord Conrad: "A utopia é sonho, sim, mas o sonho
que move o homem a fazer do seu cotidiano algo melhor, mais justo, mais humano, mais
solidário. A utopia não é futuro, mas presente ... Isso, essa forma de encarar o presente, mais
que construir cotidianamente a utopia, é vivê-la intensamente" (grifo meu).
São Paulo, janeiro de 2001
Sonho Real...
MasterDreams
O telefone toca...
A voz suave da minha Kashmir sussurra a intenção de
fazer com que aquele sonho comece a ser transformado no
mais real dos momentos...
Já não existe espaço para medos, receios ou falsos
pudores... a única coisa que importa agora é que cada um
daqueles minutos que iremos viver sejam aproveitados
como se fossem os últimos de nossos mais profundos
desejos...
Um horário... o aeroporto... isso é tudo o que nos
separa agora de um possível momento supremo de
felicidade... com a certeza de que tudo o que havia sido
sentido e planejado anteriormente estava a um instante de
ser provado...
Um atraso providencial no vôo... serve para que
sejam reavidos detalhes que havíamos perdido em meio a
promessa de sermos felizes... E, estranhamente, vem uma calma, uma certeza de que tudo
aquilo realmente irá acontecer...
No meio da multidão surge seu rosto, seu sorriso encobre tudo que está à sua volta... e
ela vem, linda, como já havia se mostrado... em passos tensos, mas elegantes...
O coração dispara...
No corpo correm gotas de suor, como se fossem lágrimas oriundas de um momento de
forte emoção... O sangue corria quente no corpo, ávido para saber a verdade sobre aquela
sincronia que havia sido imposta por nossos corações, pelo nosso destino... Mas que ainda
haveria de ser reafirmada pelo toque de nossa pele...
Um olhar aprova o que não poderia jamais ser desaprovado, renegado... ela era tudo o
que eu mais poderia querer... E, como combinado, ela manifestou o desejo de beijar-me... Esse
era o gesto que havíamos concordado que fosse o símbolo do agrado mútuo... o gesto que
daria início a que tudo agora fosse vivido de maneira plena, intensa... sem mais nenhum
270
limite... A partir daquele instante estaríamos entrando num caminho em busca do prazer e da
alegria em estarmos juntos, onde não faríamos questão alguma de encontrar a saída...
Como testemunhas, agora só existiam paredes e alguns móveis que pareciam sorrir
felizes por estarem fazendo parte daquele momento mágico...
Uma palavra de ordem... e seu corpo foi descoberto... As mãos do Mestre não hesitaram
em percorrê-lo com fortes movimentos, como quem estivesse tomando posse definitivamente
de algo que há muito já lhe pertencia...
O corpo de Kashmir retorcia-se, obedecendo aos toques... palavras de entrega saíam de
sua boca...
Seu corpo era agora beijado e admirado...
Seu sexo lambido, sugado, devorado...
Seu cheiro inebriava o ambiente, transtornava...
Os olhos da menina já suplicavam que o seu sexo fosse preenchido, revirado com a força
do Homem que estava diante dela...
Mas o Mestre queria mais...
Queria cada detalhe daquele corpo indefeso, queria cada palavra de entrega que aquela
boca fosse capaz de sussurrar...
De repente os corpos misturaram-se numa loucura lúcida, violenta, de movimentos
constantes e agressivos...
A linda menina agora tinha um olhar perdido, apaixonado... e da sua boca vinham
palavras de amor e adoração ao Mestre...
Ela foi levada pelos cabelos... sua língua percorria a parede, enquanto pelo seu corpo
ficava o relevo do contorno do cinto... A língua agora percorria também o chão, em busca do
néctar que fora propositadamente jogado...
O sangue da menina deixava pequenos rastros nas mãos do Mestre, que exibia um
sorriso sádico... e não hesitava em mostrar o domínio que exercia sobre aquela doce
criatura...
Seu pescoço, agora envolto por uma coleira lúdica, obedecia à direção forte das mãos
do Homem, levando-a de volta ao ninho... onde ela clamava pelo gozo...
Seu corpo era cuspido, submetido, invadido... seus gemidos vinham em tom alto... O
Mestre a conduzia sob a linha tênue do limite entre a dor e o prazer... seu gozo era anunciado
por várias vezes... Ela já não tinha noção do que estava sendo explorado em seu corpo... mas
queria, queria mais... Sem poupá-la, o Mestre a fez mergulhar num gozo profundo... seu corpo
tremia, latejava, ardia... Palavras de agradecimento chegavam aos ouvidos do Mestre... que as
retribuía com um sorriso aberto e um olhar satisfeito....
A menina carregava no rosto as marcas da completa satisfação de seu Mestre, que
naquele momento a vislumbrava no olhar cúmplice daquela mulher...
271
Testando a Candidata1
Ulysses
1
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272
BOTTOMS
Bottoms: Submissos e
Masoquistas
Relatos:
num chat... nossa conversa fluía na intensidade que sentíamos o desejo tomar conta de nossos
corpos... já tínhamos marcado onde nos encontraríamos e eu me via sendo conduzida ao seu
encontro... O local era um estacionamento situado no meio de uma grande avenida... carros
paravam e iam a todo instante.
Encostei o carro ao lado do dele. Mal conseguia disfarçar minha
ansiedade, desci e fui ao seu encontro... seu sorriso demonstrava a
satisfação de me encontrar... trazia em suas mãos uma singela flor...
agradeci... A sensibilidade daquele homem me fascinava... fui conduzida
ao seu carro e, por alguns momentos, senti seus olhos sobre mim...
nossos corpos se aproximaram e seguiram num terno beijo... Senti uma
das mãos de Meu Dono puxar meu cabelo, enquanto a outra abria
caminho em minha calça... seus dedos tocaram com suavidade meu
sexo... um misto de medo e tesão tomou conta de mim... ouvia Meu
Senhor mandar que eu tirasse a calça, a calcinha e que abrisse minhas
pernas... Meu olhar demonstrava o medo que tinha em ficar assim tão
exposta, uma vez que o local possuía um movimento discreto. Ele
tranquilizou-me, dizendo que não havia razão para me preocupar, pois
ele estava ali para cuidar de mim... Com minhas pernas entreabertas
senti o estalo da mão de Meu Dono em minha carne... em seguida um afago... minha
respiração ofegante demonstrava o tesão que estava sentindo e isto em muito o agradava...
outro tapa... e mais outro... não consegui conter o impulso de me encolher... seus olhos me
fitavam e nada precisava ser dito... voltei à posição que havia me sido indicada anteriormente.
Um taxista encostou ao lado do carro... novamente fiquei apreensiva, mas a situação inusitada
nos excitava muito... Foi me ordenado que me masturbasse colocando meus pés sobre o
painel... Que sensação! Sentia-me completamente nua, exposta, mas confiava naquele homem
que estava ao meu lado... O gozo veio intenso, arrebatador... senti meu corpo se abater sobre
o banco, enquanto Meu Senhor me observava... curvei-me a seus pés para lhe agradecer o
prazer proporcionado... Fui colocada de quatro sobre o banco... coração acelerado.. olhei para
o lado e o táxi ainda estava ali, parado... certamente assistia a nossa cena, muito embora as
luzes fossem muito fracas e pouco pudessem iluminar dentro do carro... Olhei para meu
Dono... sorrimos... senti meu corpo invadido... nossos movimentos se coordenavam... e ali...
naquele momento... senti o quão sua eu já era... como se tivesse nascido para ser por ele
encontrada ... E assim poder amá-lo ... poder servi-lo...
A Despedida
Cadella
Saio do banho atrasada, no som do meu quarto Chico, CD novo, não me prendo ao que
toca. Olho no relógio. São 20h10 - estou muito atrasada. Deveria estar no teatro para a Tua
276
chegar à porta da recepção, vira-se e me diz em tom autoritário: "Arrume tudo aí antes de
entrar". Me calo e obedeço.
A festa transcorre sem grandes novidades, todas as músicas que tocam nos fazem rir e
nos entreolhamos mesmo de longe. Na hora do champanhe, do brinde, brindamos os dois
antes de todos. Minhas palavras são de uma devoção que durou 7 anos e que agora terminava
como um ciclo da vida. As pessoas também se entreolham, absortas por nossos gestos e
formas de agir - parecíamos um casal comemorando 30 anos de casados, tamanha a sincronia
de tudo que fazíamos e falávamos. Em um momento você passa por mim e me pede que te
acompanhe até o banheiro, pois "crianças" sempre babam na roupa e havia caído algumas
gotas de Fontana na sua. Você vai antes, pego uns guardanapos e te sigo, no som um CD novo
do George Martin que te dei (comemorações merecem músicas inéditas). E eu sabia que você
iria adorar.
No banheiro, seco teu blazer, enquanto Você se diverte passando as pontas dos dedos
nos bicos dos meus seios sob o vestido, Você bem sabe que isso me arrepia e os deixa
eriçados, e rimos os dois. É muita cumplicidade, não sabemos parar, nossos limites estão um
no outro. Termino de secar teu blazer e levanto a cabeça, Você me abraça como há muito
tempo eu não te sentia, entregue, feliz. O volume dentro da sua calça também nos faz rir, e
Você diz que todo homem sente o cheiro de uma boa fêmea por perto - por isso a excitação.
Agradeço o elogio, sem palavras corretas, apenas um beijo de canto de boca e um sorriso.
Nessa hora a festa já passa das 4h da manhã e nos olhamos como recém-casados querendo a
noite de núpcias. Os últimos convidados se vão, eu preencho o cheque, você assina. Ao sair
ganhamos mais uma garrafa de Fontana Freda e um sorriso mais que malicioso do barman.
Estamos perto da minha casa, e em dois carros. Você comenta "deixe teu carro ai,
amanhã você pega". Eu havia bebido muito, estava feliz, radiante por Você, também era uma
vitória minha. Disse que tudo bem, perguntei ao rapaz do estacionamento, ele me disse que
não havia qualquer problema, mesmo porque somos clientes do mesmo bar desde que
começamos a namorar e isso data de... nem me lembro mais.
Pegamos os presentes, o champanhe, o CD e entramos no carro. Você apenas comenta
que fiz um bom trabalho. Estava tudo como Você gostava, nos devidos lugares e como Você,
metódico, sempre apreciou. Coloco os presentes no banco de trás, ao me virar me deparo com
Você tirando um cabresto debaixo do banco, novo, lindo, o mordedor da boca de silicone
transparente, as amarras de correntes finas, delicadas, e o fecho com um pequeno cadeado.
Apenas arregalo os olhos, mas nada falo. Além da bebida, me sentia molhada com a
possibilidade do que aquela noite poderia render. Você passa a mão no meu rosto suave,
delicado e como num sussurro me pergunta se ainda quero ser tudo o que fomos, por mais
uma noite. Como sempre fiz, nada falo - apenas abaixo os olhos e espero que me coloque o
presente novo na cabeça. Você entende, passa a mão pelo meu pescoço e sente meu coração
bater na boca, coloca de um lado sobre a orelha, depois da outra, arruma as correntes atrás,
então traz sua boca de encontro a minha, me beija voraz e molhadamente, passa a língua
pelos meus lábios e se afasta. Ergo um pouco o rosto e Você encaixa o mordedor na minha
boca, aperta com força, de maneira que não consigo nem morde-lo direito, fico com a boca
entreaberta. Você testa para ver se não há nenhuma fresta e tranca o cadeado. Coloca a
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chavinha prateada no chaveiro do carro e partimos. Vamos direto para nossa casa (digo, sua
casa). No caminho você alterna elogios surpreendentes e vulgares. Diz que agora sua vida
precisa de uma mulher mesmo e não de uma puta como eu, para em seguida dizer que serei
sempre a única vadia que você foi capaz de amar de verdade.
Subimos, ao passar a porta Você ordena que tire o vestido e permaneça de salto e
lingerie apenas. Tiro o vestido em um único movimento. Vou até a cozinha e pego uma taça
para que beba seu champanhe gelado. Você me pede que lhe dispa, afinal o terno já esta
incomodando. Afrouxo a gravata e vou abrindo os botões da camisa, enquanto você passa com
os dedos champanhe em meus lábios e por cima de meu corpete. Meu corpo está arrepiado,
uma mescla de tesão e frio. Tiro a gravata e a camisa, o blazer já havia ficado no carro, me
ajoelho, lhe tiro os sapatos e as meias, com cuidado, sei que seus pés doem. Ainda de joelhos,
ergo o tronco e tiro seu cinto. Abro sua calça, o zíper, e ela cai no chão, Você apenas
movimenta os pés. Sinto meu coração disparado, diante de teu membro rijo dentro da cueca
que também escolhemos para a ocasião da festa. Meus braços os sinto cansados, minha
cabeça gira e o cabresto está fazendo minha cabeça doer, não me atrevo a pedir que solte um
pouco.
Você senta na cama, há música agradável no som, eu me movo de quatro pela casa, os
saltos enroscam e você me zomba, chamando-me de atrapalhada. Me pede que acaricie seus
pés. Deixo um pé acomodado entre meus seios ainda cobertos, enquanto começo a massagear
o outro com carinho. Você nunca teve muita paciência para isso e logo troca os pés como que
dissesse que aquilo deveria terminar logo. Cuido deles com carinho, passando as mãos em
harmonia pela sola, cada um dos dedos, calcanhar. Você geme baixinho enquanto me observa.
Meus polegares massageando seu ego estou entregue a seus caprichos, não consigo sequer
falar e Você bem sabe que aquilo é quase como a morte, me manter muda. Permanecemos
assim enquanto acaba sua taça de champanhe.
Ao terminar, você levanta, manda que eu permaneça com as pernas para fora da cama e
apóie nela apenas o tronco. Obedeço sem sequer erguer os olhos, sinto tua respiração, e posso
ver mesmo de cabeça baixa seu vulto a mover-se. Encaixo minha pelve na quina da cama,
deixando as pernas para fora, e os joelhos apoiados no chão. Viro meu rosto para um dos lados
e espero.
Já perdi a noção de tempo, percebo que você troca o CD, e volta, à meia-luz do quarto e
o zunido que escuto, fazem minha respiração cessar por alguns segundos. Reconheceria Você
com aquele chicote em qualquer momento. Você senta ao meu lado, desabotoa o corpete com
cuidado, um por um dos pequenos botões, enquanto canta uma música que não me recordo.
Meus braços largados ao lado do corpo são cuidadosamente arrumados por Você, ficam
abertos, estendidos sobre a cama. Com um estilete você tira minha calcinha, e eu só penso
que esta deve ser a terceira desse mesmo jogo que compro em vão. Você me beija as costas,
acaricia a pele, passa sua língua, deixando meu corpo estremecer, e os gemidos quase afônicos
saem de minha boca, como uma súplica. No instante seguinte sinto o couro tocar minhas
costas, depois as diversas pontas do chicote fazem barulho de folhas ao vento, e depois
novamente me atingem, e outra vez e outra, em toda a região das costas e nádegas.
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E começo a sentir um latejar profundo, Você esta batendo muito mais forte que o
habitual e teus movimentos não param - e por um momento, junto com tesão, senti medo.
Não posso falar - como vou dizer para você que o meu limite está próximo? Pela primeira vez
você me pergunta se quero que pare, não consigo sequer erguer os olhos, Você por um minuto
pára de chicotear minhas costas e nádegas e ordena que eu abra as pernas, me mantendo na
posição. Meu corpo esfria. O chicote nos meus grandes lábios iria ser uma dor que
desconheço. Mas não, você coloca a mão quente e sente meu sexo pulsar, já escorrendo de
tesão, brinca um pouco com os dedos e comenta: "Eu achando que estava te machucando, e
você aqui quase gozando". Consigo erguer a cabeça e lhe fitar os olhos de baixo como em
forma de agradecimento por cada sensação que agora sinto em meu corpo. Então continua me
batendo, agora só nas nádegas, em determinados golpes algumas pontas do chicote entram
virilha adentro pois não fechei as pernas e elas continuam afastadas.
Você já ri alto, é sinal que tua excitação é imensa, pára de me chicotear e senta na
"berger" ao lado da cama, me ordena que me aproxime sem ficar em pé ou erguer os olhos, já
está nu, lindo, e diz: "menininha, como está com a boca ocupada, me faça gozar com mãos.
Mas quero carinho. E não o deixe flácido, quero sentir você".
Nem sei como conseguia mover os braços, sento sobre meus pés, sinto a meia fina roçar
as marcas nas nádegas e arde muito, respiro fundo e nesta posição começo a masturbá-lo com
carinho. Coloco minhas duas mãos ao redor dele e começo os movimentos ritmados, Você se
encosta na poltrona e apenas me observa. Os movimentos são feitos com cuidado e firmeza
como Você mesmo me ensinou, pressão na palma da mão para que o contato não se perca, o
movimento toma um ritmo ainda maior, sinto Você gemendo mais alto, sinto minhas pernas
meladas, não sei mais se estou em um gozo continuo ou se não consigo parar de me excitar.
Observo na cabeça uma leve secreção, além do latejar mais forte entre meus dedos, sinto que
teu gozo se aproxima.
Então diminuo um pouco os movimento e lhe observo. Você apenas diz: no rosto. Eu
não havia me esquecido, tínhamos alguns tratos implícitos que jamais deixaríamos de cumprir,
esse era um deles, Você sempre escolheria onde gozar e para isso eu deveria, sempre com as
mãos, com o corpo ou com a boca, diminuir os movimentos para que Você escolhesse.
Movimentei mais rápido apenas uma mão agora, e aproximei meu rosto, esperando que teu
esperma me aquecesse a face e o colo. E em poucos minutos podia sentir, sua porra
escorrendo no meu rosto, eu não conseguia por a língua para fora, queria engolir mas não
conseguia e Você, relaxado ria, eu parecia uma cadela com sede que não conseguia alcançar o
pote de água. Sua porra escorreu sobre meu colo, meus seios, você não me deixou sequer
passar a mão nela.
Apenas de ver essa cena, eu desesperada tentando sentir mais de Você dentro de mim,
já te deixou excitado de novo. Não sei se Você estava sem transar a muito tempo ou se a falta
dessas ações te deixaram assim, obcecado, sorridente, mais viril que de costume. Me mandou
pegar mais champanhe na cozinha - isso era sim uma novidade, sempre transamos lúcidos,
sem qualquer bebida, e já estávamos bebendo há horas. Peguei a garrafa e lhe servi, você
pegou a taça e derramou quase todo o líquido dentro da minha boca, me afogando, comecei a
tossir engasgada e Você se servindo calmamente. Eu sentia meu pulmão sair pela boca até que
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a tosse foi diminuindo e passou. Enquanto bebia sua taça, me mandou voltar a antiga posição
e tirou meus sapatos e minha meia, suavemente. Suas mãos pareciam de veludo e eu me
extasiava com sua respiração próxima ao meu corpo.
Já estava achando que aquele cabresto fazia parte de mim, que sempre tinha sido assim.
Num momento olhei para o relógio que estava sob a mesa. Passava das 9h da manhã, eu
estava com aquilo em mim fazia mais de 4 horas. Você mandou que não me mexesse, senti teu
vulto se afastar por alguns segundos, e no minuto seguinte senti você derramando aquela
champanhe gelado nas marcas das minhas costas e nádegas, ardia muito. Queria erguer o
tronco, mexer as mãos, mas te desobedecer nem passava pela minha cabeça. A sensação de
desespero foi passando, substituída por uma de conforto que me tomava. O latejar era intenso
e Você acariciava meus cabelos como quem brinca com um bichinho de estimação. Comecei a
tremer de frio, a bebida estava mesmo muito gelada.
Você começou a lamber-me inteira, as costas, as coxas, abriu minhas ancas, e passava a
língua como que secando o que ainda restava de champanhe. Minhas unhas estavam fincadas
nos lençóis, e eu já conseguia emitir sons mais altos com aquilo na boca. Gozava
alucinadamente na tua boca, e você a sorver tudo que conseguia de mim e eu sem poder me
movimentar, mesmo não estando atada sabia que Você jamais aprovaria um movimento meu.
Minhas pernas fraquejaram e no momento seguinte senti Você de pé, erguendo meu
quadril para que ficasse com as pernas esticadas e as mãos apoiadas na cama. Como a cadela
que sempre fui pra você, sentíamos o nosso limite ali. Minha cabeça mesmo nessa posição
permanecia baixa, Você estava rude, sem cerimônia ou grande tato, me penetrou por trás em
um só movimento, e neste exato momento senti meu corpo vir para frente. Outra pessoa
poderia pensar que doía além do suportável, ou que eu estava exausta, mas não Você, e
continuou fazendo movimentos ritmados e cada vez mais fortes até que senti Você inteiro em
mim. Como teu corpo pulsava muito, eu tentava relaxar os músculos mas não conseguia, tinha
perdido o controle sobre meus movimentos, apenas reagia aos teus.
Então Você parou de se mover, eu estava em uma posição que não há como descrever.
E sentia tuas mãos, uma em meu quadril, outra puxando e maltratando meu seio, e tua voz a
dizer que eu era mesmo um brinquedo desfrutável e que era isso que te fazia tão viciado em
mim, a forma como eu me deixava ficar te fascinava. E ao terminar de falar gozou como nunca
em todo esse tempo eu havia sentido dentro de mim. Parou de mover as mãos e saiu de
dentro de mim sorrindo. Éramos perfeitos, meus olhos lacrimejavam, era felicidade que eu não
conseguia esconder.
Depois me pediu que lhe desse um banho rápido, porque estava exausto. Fiz com
carinho, uma boa ducha, lhe sequei o corpo, e nu Você se dirigiu para a cama de hóspedes que
sempre foi nossa, visto que por causa do que fazíamos na nossa, nunca conseguíamos dormir
nela... Deitou-se, e eu lhe cubro, está frio mesmo em fevereiro - olho no relógio, já são 13h20.
Em um rompante, Você me pede a chave do carro, suspiro aliviada, estava acreditando já que
ia dormir assim.
Você solta o cabresto, me ordena um banho e a volta aos teus braços em 10 minutos.
Obedeço, recompensada por tudo que vivemos. Um banho rápido, minha camiseta velha
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escondida no lugar de sempre, e teus braços enlaçados em mim, dormimos como conchinhas,
encaixados e ternos. Sabíamos que seria a última vez, algo dentro de nós delatava o final de
tudo que vivemos - mas tínhamos tido um final à altura das dores e amores que vivemos
juntos.
Toca o telefone, atendo assustada, olho Você lindo, um anjo dormindo, me viro para o
relógio, 19h - o baile começa às 23h... nos falta tempo...
Amei Você!!!
A Viagem
Cadella
Estamos indo para Florianópolis, carro pronto, me preocupo com você, poderá passar
frio, afinal não está acostumado com a temperatura. Separamos os cd's, e partimos. Será um
bom passeio, meu coração bate forte, queria muito aquele homem que havia conhecido de
volta, mas não sei se ele virá.
Você está monossilábico, fala pouco mas me olha mais. Sorrio com ar sacana, pegamos a
BR, música alta, estrada cheia, noite alta. Viagens à noite são sempre deliciosas. O ar quente
do carro ligado coloco minha mão em tua coxa como prova de carinho, você a pega e a coloca
sobre o volume de sua calça, sorrio, emudeço e mantenho minha mão no local que você
determinou. Meu coração na boca, minhas pernas se abrem lentamente. Minha respiração
aumenta lentamente os movimentos. Você manda que eu abra a jaqueta, tire a blusa e fique
de sutiã apenas. Olho descrente.
A estrada esta movimentada, passam carros e
caminhões mas você não havia pedido, era uma ordem
- que obedeço com os olhos brilhando. Tiro a jaqueta,
a blusa de lã, coloco a jaqueta novamente, aberta,
com sutiã meia taça a mostra. Você manda que eu
pegue os clamps dourados da tua mochila (eu nem
sabia que eles existiam), minha mão voltou a se
acomodar sob teu membro já pulsante, e não consigo
sequer manter a boca fechada.
Pego os clamps, são lindos... Em formato de sol,
com uma abertura no meio onde se encaixa o bico do
seio. Você, em tom solene, manda que os coloque.
Respiro fundo sinto teu membro crescer mais na
minha mão sob a calça, minha respiração acelera, tiro
um seio de dentro do bojo do sutiã, minhas mãos
tremem. E você grita: "Coloca, vagabunda!". Encaixo o
clamp no bico seio, que minha mão gelada deixou
282
duro. Coloco primeiro no esquerdo, sei que é teu preferido, é maior que o direito já, de tanto
ser deliciosamente maltratado. Os raios de sol do clamps forçam a massa do seio para dentro,
com força. Para apertá-lo e encaixá-lo começo a gemer baixinho. Dói. Sinto uma ardência e
você sorri com o canto da boca, percebendo que alguns caminhões que passam ao nosso lado
vêem o que acontece.
Pronto, um clamp colocado, o bico do meu seio esquerdo roxo já, minha respiração
ofegante, minha boca seca, passo a língua e começo a forçar minha mão sob seu membro.
Você apenas olha para baixo e volta dirigir. Entendo e abro o botão e o zíper da tua calça,
coloco a mão por dentro da cueca e toco seu membro, você se excita mais enquanto reage ao
frio toque. Tua mão sai do volante e me dá um tapa com força no rosto, que lateja. Você grita:
"Que mão gelada sua puta! Você sabe que não gosto". Mas continuo te acariciando e você
pára o carro no acostamento próximo a um destes telefones públicos de beira de estrada, e
em tom incisivo manda que eu lhe chupe.
Enquanto me abaixo em direção ao seu membro, você pega o outro clamp e o coloca em
meu outro seio. Tua mão é muito mais pesada que a minha e busca o efeito imediato. Muito,
muito mais apertado que o da esquerda... Meu corpo se contorce de dor, respiro quase em
espasmos. Minha boca alcança teu membro, duro, pulsante, passo minha língua molhada em
todo ele, bem devagar. Sinto você empurrar teu banco para trás, assim ficará mais confortável.
Coloco agora teu membro inteiro na boca e começo a sugá-lo lentamente, sentindo teu gosto
na minha boca, é como se teu coração pulsasse nela. Meu corpo estremecido pelo tesão e pela
dor se apavora ao ver suas mãos indo diretamente brincar com os clamps. Você me machuca
muito e a cada movimento teu, mais coloco teu membro dentro da minha boca, me afogo,
meus olhos lacrimejam, meu corpo sente você ali, próximo. E você sorri, geme baixo também e
tece um elogio que me faz ainda mais feliz: "Vadia, você tem uma habilidade de profissional
com a boca, chupa como uma puta mesmo". Meu corpo se excita com tuas palavras e sinto
minha buceta encharcada.
Continuo te sugando com força, a saliva escorre de minha boca aberta, minha língua
para fora dói, para que teu pau entre mais fundo e me afogue mesmo. Minha respiração quase
não acontece, meu corpo reage às tuas mãos mexendo nos clamps, deixando meus seios mais
e mais roxos e doloridos. Você puxa, torce os bicos, as garras do clamp cortam a pele e deixam
vergões. Você está muito excitado e goza deliciosamente em minha boca, sinto tua porra
escorrer dentro da minha garganta, golfadas quentes e deliciosas. Você força mais minha
cabeça e me debato e você delira. Então, com teu pau limpo, levanto a cabeça e me encosto
no banco, cansada, tentando fazer minha respiração voltar ao normal, mas não consigo, estou
muito excitada e você também está. Teu membro continua duro, grande como se não tivesse
gozado minutos antes.
Você me agride com palavras deliciosas, me chama de puta e de vadia como quem me
chama de querida. Manda que eu saia do carro e me apoie no capô do meu lado, feche os
olhos e espere. Olho apavorada, você ri alto e diz que bichinhos são tratados assim. Assusto-
me, você nunca gostou disso, não assim, na rua, mas te obedeço.
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Coração na mão, corpo latejando, respiração ofegante, saio do carro e fico na posição
que você mandou. O frio deve estar perto de 4 graus, há neblina, e só consigo te ver porque há
luz perto do telefone. O tempo passa, meu corpo começa a tremer de frio, de falta, os bicos
dos meus seios doem mais por causa do frio, os filetes feitos com os aros do clamps ardem,
fechos os olhos e tento não pensar. Você, de dentro do carro, fica observando, posso sentir,
teus olhos me fitando com ar de dono de brinquedo, descartável, desfrutável. Não sei quanto
tempo passa, meu corpo se anestesia e de repente sinto tua mão nos meus cabelos, puxando
minha cabeça para cima. Pronto, meu corpo não sente mais frio, sou sua e estou aqui nesta
posição para servi-lo e adorá-lo sempre, em todos os seus atos.
Você manda que abaixe a calça e a calcinha e mantenha as pernas abertas. Obedeço
sem sequer emitir um som, o frio aumenta, mas tento não senti-lo. Sua presença me basta e
não há frio ou calor ou medo, mesmo estando em pânico com o corpo doído e sem sequer
imaginar o que você fará. Começa brincando com meu cuzinho, coloca a ponta de uma garrafa,
de leve e tira, observa ele contrair em sua mão, meu corpo inteiro se contrai contra o carro,
você sente e grita "Pára de frescura, sua escrota, você bem que gosta. Piranhas gostam de
servir assim". Tento relaxar mas não consigo, não sei se é medo, ou frio ou tesão. Descubro
que é tesão, por que apenas ouvir tua respiração me dá a mesma sensação, e me delicio com
ela.
Percebo então que você saiu em viagem já pensando em fazer isso, talvez não aqui mas
pensou, tinha objetos na tua mochila incomuns para uma viagem. Continua brincando com a
garrafa, pede que empine mais o rabo e derrama o conteúdo da garrafa dentro de mim. Reajo,
está muito gelado. Você sorri e adora. Sinto reações que nunca havia sentido, sinto meu gozo
escorrer por minhas pernas e você sequer tocou minha buceta, meus seios latejam numa
constante, deliciosa e cruel, minha boca esta vermelha e doída do frio. Sinto sua respiração
ofegante, teu corpo quente próximo ao meu e teus atos cada vez mais insanos.
Coloca então a garrafa mais para dentro um pouco e me diz que ela vai ficar ali,
enquanto você faz xixi, fico quietinha e não entendo. Você então me puxa pelos cabelos, me
faz ajoelhar no chão, olhos abertos, calças arriadas, seios descobertos, e coloca teu pau na
minha boca. Tento fechar os olhos porque não acredito no que você está fazendo, você me
manda abri-los. Obedeço. De olhos abertos, fitando você, como mandou, sinto um jato forte
de urina em minha boca, você delira alto e se excita mais com a situação. Ela entra quente e
em grande quantidade, não consigo pensar. Meu corpo repulsa a atitude, mas nunca
repudiaria você, por isso engulo, numa mescla de tesão e nojo. Você solta palavras
desconexas, em tom baixo de voz, como um sussurro. Faz-me gozar assim nessa posição, sem
sequer me tocar ou realizar qualquer movimento para que isso aconteça.
Minha boca fica quente, não sobra nada, tudo foi engolido, a porra, a urina e sinto
minha boca como qualquer coisa, onde você joga o que quiser, me conforta a situação, me
realiza o tesão te ver satisfeito assim. A garrafa ainda dentro de mim...Você manda que me
vire, me apoio no carro e fique quietinha. Coloco-me na posição, a garrafa sai um pouco, com
o movimento dos músculos do rabo. Você sorri, vendo ele agir sozinho, e em um único
movimento, a tira de dentro de mim. Solto um grito agudo, por causa do vácuo que se fez.
284
Imediatamente depois de tirar a garrafa, você enfia seu membro inteiro, maior ainda que ela
dentro de mim.
Grito mais alto, como um soluço, meu corpo implora e dói, meus seios estão roxos, meu
rabo esta ardendo muito e você não liga, mete sem parar, sinto tuas bolas baterem em mim, e
não consigo imaginar como esta meu cu, afinal ele nunca havia sentido você inteiro dentro
dele, é grande, meu cu está dilacerado, sinto escorrer filetes de dentro e não sei se é sangue,
liquido ou porra. Você puxa meus cabelos e geme alto, vadia é um nome singelo perto dos
adjetivos que você usa. Gozamos juntos, como há muito tempo não acontecia, sorrimos em
tom de cumplicidade, meu rabo ainda lateja, você tira teu membro de dentro dele devagar, só
para me fazer sentir dor, mais dor. Sinto você fora de mim, me viro, você comenta em tom de
ordem que quer se vestir limpo me ajoelho novamente, chupo teu membro, lambo ele todo,
deixando limpo como estava. Você se veste, e manda que eu também me vista e volte ao
carro.
Você entra no carro e me espera, coloca o cd novamente, me levanto, subo minha
calcinha e minha calça, meu corpo está melado de porra e suor. Meu coração ainda bate
descompassado, sorrio de canto de boca, fecho a jaqueta, me mantendo de sutiã e clamps nos
seios. Abro a porta do carro, você brinca, "Entra, minha cadelinha, boa menina". Sorrio como
quem aceita e idolatra essa situação, não consigo sentar, me posiciono de lado, você só pede
que deixe a jaqueta um pouco aberta para que veja meus seios sendo "estragados" pelos
clamps. Obedeço como sempre, sempre... Partimos, você está deliciosamente feliz, uma
música boa no som, eu sentada mesmo sentindo dor, pois sei que você está adorando saber
que dói e que estou assim para te satisfazer, invadimos a estrada e a noite, a caminho da
viagem programada para um descanso de feriado.
Entalada
Cadella
Isso aqui parece uma masmorra, fria, úmida e sombria. Estou sozinha há tempo, nem
me lembro quanto; durmo e acordo em intervalos de dores e fome.
Quando cheguei era noite, tinha tua mão a me guiar, teus olhos brilhavam e tudo
parecia mágico. Você usava uma roupa linda, solta, mas os movimentos torneavam teu corpo;
eu usava um vestido largo, longo, echarpe de seda em cores pastéis, sandálias. Bebíamos algo
doce, nada alcoólico. Você queria cada ato com total consciência. Em um determinado
momento nos afastamos da festa, você me deu um tapa maroto na bunda, virei, sorri e
comecei a correr em direção a uma luz que via no meio da escuridão. Você me seguiu até me
alcançar, me envolveu em seus braços e um beijo ardente se fez. Meu corpo se esfregava em
você, minha boca queria engoli-lo se pudesse, meu coração disparado, mais pelo tesão do que
pela corrida. Você seguro, teus braços me apertavam e tua boca comandava os movimentos
da minha língua, os olhos abertos também me engoliam, como que suplicando mais, muito
mais.
285
altera de novo o tom da voz. E enfio, dois, quatro dedos, meu corpo agora dói muito, muito
mais que na boceta. Você urra perto de mim, se delicia com o que vê. Me sinto ridícula, não
consigo imaginar o que estou fazendo, mas faço e sentir você gemer me excita muito e forço
mais e mais.
Você me avisa que vai gozar, me manda abrir a boca que quer gozar dentro dela; enfia
teu pau, duro, teso dentro dela. Começo a chupar, vou colocar a outra mão, você me diz que
não, só minha boca em contato com ele. Sugo, lambo, com força. Me afogo com a força que
você faz com ele dentro da minha boca. Movimentos compassados, respiração forçada, minha
mão lateja dentro do meu rabo e agora brinco com a outra mão na estátua.
Sinto teu gozo se aproximar, chupo com mais volúpia, você goza, me engasgo com a
quantidade de porra, me lambuza, minha mão no rabo pára de mexer, minha outra mão passa
em minha boca deliciosamente.
Você tira ele da minha boca, me manda tirar a mão do rabo, dói muito tirar. Suspiro
forte, prendo a respiração e tiro devagar, você grita... Me assusta e tiro... Grito de dor. Volto a
respirar. Me mandar virar, enfia sem dó um plug em meu rabo, grito novamente, suspiro em
seguida. Me manda deitar assim, entalada por dois buracos, com coisas, objetos sem tesão,
sem calor. Me sinto usada, como porta objetos, constrangida, você ri muito.
Me deito, você me diz que vai buscar algo para bebermos. Que mantenha os olhos
vendados, o corpo com os objetos enfiados, que você já volta e me fará gozar com calor, com
tesão. Escuto você sair, trancar a porta. Se passaram horas, já adormeci e acordei e você não
voltou. Desobedeci, tirei a venda dos olhos, o lugar não tem janelas, o som ainda na mesma
batida insuportável, aquilo enfiado em mim e você ausente.
Volto a mexê-los dentro de mim, e gozo deliciosamente sozinha. Tiro a estátua, o plug,
ambos doem muito, assaram meu corpo, por dentro e por fora. Gemidos ao tirar. Sensação de
alívio ao sair. Em cima da mesa, água e frutas. Se passaram muitas horas eu acho, a água
acabou, ainda há frutas. E você não voltou...
Te aceito sempre...
Cadella
Cansada, chego do trabalho... Você ainda não chegou e nem sei se vai chegar. Teus
amigos são sempre uma ótima companhia. Brinco com o cãozinho. Tomo um banho
demorado, sinto meu corpo relaxar dentro da banheira. Massageio meus pés e a cada toque
vem uma pontinha de excitação - mas o relaxamento vem em seguida, e eu mesma acaricio
meu pescoço, buscando os músculos contraídos.
O som toca algo instrumental, alto,
delicioso. Nosso cachorro me observa tomar banho
e eu penso no que vou deixar para você comer na
287
cozinha. Saio do banho, completamente relaxada. Foram muitos minutos de puro deleite,
mesmo que sozinha. Me enxugo e passo creme pelo meu corpo - sem cheiro, porque você
odeia odores fortes de perfumes. Penteio meu cabelo, ainda ouvindo o mesmo CD, e agora o
cãozinho já está sentado, olhando para porta da rua. Termino de me cuidar no banheiro, saio
nua até o quarto, pego uma camiseta qualquer, coloco, vou até a cozinha e faço um mate
gelado para mim. Deixo tudo pronto no caso de você chegar com fome - pães fatiados sobre a
mesa,queijo.Volto para o quarto e me deito. Só então percebo que estou sem calcinha, mas já
estava embaixo das cobertas, totalmente entregue, com a respiração lenta, deliciando-me com
Pappilon no som, as luzes baixas...
Meu corpo queria você, mas está quase dormindo sozinho. Passou um pouco da meia-
noite, fecho os olhos, abaixo a música e adormeço. Acordo algum tempo depois com a luz do
banheiro acesa, mas é aquele despertar lento e volto a dormir. Então sinto teu peso na cama.
Estou deitada de lado, e teu corpo está molhado - você tomou uma ducha antes de vir deitar, e
se encosta em mim por trás, me beijando o pescoço, um beijo carinhoso mas forte, e minha
boca se entreabre do outro lado, imediatamente.
Você mantém a boca molhada em meu pescoço, passa a língua com força, estou
despertando bem naquela fase do sono pesado. Sinto teu corpo se forçar contra o meu, você
me abraça na cintura e minha respiração se compassa à tua, meu corpo treme, mas continuo
meio sonolenta. Você força teu corpo contra o meu, e mesmo meio dormindo arrebito minha
bunda em sua direção. Você pára de lamber meu pescoço, vem até meu ouvido e fala
baixinho: "Vadia, você é muito vagabunda sabia???" Sorrio sem emitir sons. Teu corpo agora
está ainda mais próximo ao meu, nosso calor se confunde com o calor das cobertas, você força
tua perna entre as minhas, lentamente levanto uma delas sobre a tua, e como que por
descuido sinto teu pau me penetrar com força e precisão. Solto um suspiro generoso, sinto
você ofegante em meu pescoço e tua boca sorri, mesmo sem vê-la. Meu corpo se contrai a
cada respiração, remexo lentamente o quadril como quem quer mais... Tua mão, que antes
apenas me abraçava, e forçava teu corpo contra o meu, agora alcança o bico do meu seio
esquerdo e brinca com ele. Aperta, com força, gira só a pontinha... emito um som um pouco
mais alto, de prazer e satisfação. Sinto teu pau pulsar dentro de mim, como que me rasgando
por dentro, ele lateja... eu remexo... você força... eu contraio.. Meu seio dói, arde. Você passa
os dedos na minha boca, enche de saliva e volta a brincar com o bico do meu seio. Ele arde
mais e você não pára. Gemo mais alto, quase um grito. Você me morde as costas e goza
deliciosamente dentro de mim. Eu já havia gozado minutos antes, em tuas mãos e corpo. Sinto
você escorrer dentro de mim, e a se misturar comigo, minhas pernas ficam meladas...
adoravelmente meladas. Permanecemos na mesma posição, corpos grudando, respirações
alternadas, mãos atadas como as almas. A música que estava no repeat ainda toca e suaviza a
dor que meu corpo sente. Você extasiado, continua atado a mim,coxas enroscadas, teu peito
quente em minha costas suadas. Falamos bobagens, tolices que nos fascinam como sempre,
nos fazem sorrir ainda mais. Lembramos de uma propaganda idiota da TV que nos deixou
conversando por horas e nos admiramos com a sintonia que se faz presente.
Num determinado momento, no meio da conversa sem nexo, fecho os olhos, respiro
fundo e suspiro forte. Sinto você novamente excitado, duro, viril, forçando a entrada no meu
288
rabo. Você me arromba com força, me sinto invadida por algo maior que meu corpo pode
suportar. Não me perguntou nada, não fez qualquer menção de que o ato iria acontecer, agora
apenas me chama de cadela, de vulgar. Não falo nada, sussurro palavras desconexas, meu
corpo magoado por teus atos treme, meu olhos lacrimejam a dor que sentem e meu coração
disparado adora se sentir forçado, entregue às tuas vontades e caprichos.
Começo a mexer o quadril devagar, dói mais, muito mais. Você percebe e então, com a
mão que não está no bico do meu seio esquerdo, segura meu quadril e força o movimento.
Agora um grito de dor sai de meus lábios, imediatamente após lhe peço desculpas. Mas é
tarde - você está fora de si e se mexe muito e sente as paredes do meu corpo forçarem o
corpo do teu pau. Respiro mais rápido, sem parar, como uma cadela mesmo... e você treme
dentro de mim, posso sentir, tua mão aperta mais meu seio e torce e belisca e enfia os dedos
na minha boca e volta ao seio e arde mais. Somos um só corpo, deleitando-se com limites e
dores inexistentes. Você sussurra mais palavras em meu ouvido, me lambe o pescoço, não
sinto quase nada, meu corpo está anestesiado pela dor de uma enrabada incisiva, penetrante
e sem palavras. O tom da tua voz me excita como tua mão, como teu pau. Meus olhos ficam
baixos e você adora a posição de cabeça baixa, coração na mão e alma entregue.
Teu corpo se contrai com força, está prestes a gozar. Você tira de uma só vez, me
causando ainda mais sensação de dor, agora pela perda do que me causava aquela sensação.
Apenas manda que abaixe ainda mais a cabeça até a altura do teu pau pulsante e que sinta tua
porra escorrer em meu rosto, meus lábios. Não posso tocá-lo, apesar de sentir uma vontade
quase incontida de senti-lo dentro de minha boca. Você observa minha vontade, mas não me
deixa aproximar e goza... um jato forte, enorme, em meu rosto... abro a boca e consigo
algumas gotas dentro dela, mas a maior parte me lambuza o rosto e escorre pelo meu pescoço
e colo. Sorrimos, mais uma noite deliciosa, às vezes acredito que poderíamos viver assim,
entre conversas e boas sacanagens. Você, pela primeira vez me beija suavemente os lábios, e
deita agora como quem vai dormir.
O cãozinho dorme no chão ao lado da cama. Te cubro com um ededron limpo, me
levanto e vou tomar uma ducha. Ligo o chuveiro, mudei agora a faixa do mesmo CD, um
pouquinho mais alto, tomo um banho rápido, vou até a cozinha, pego o restinho de mate na
geladeira e volto pra cama. Olho no relógio - passam das 5h da manhã.
Sorrio enternecida ao te ver dormir. Me deito, te beijo a fronte, me viro de lado e
cochilo... São 6h10 da manhã, sinto teu corpo grudar de novo no meu.... sorrio novamente... te
aceito sempre...
O Plug
Cadella
289
Acabei de entrar no shopping, um calor gostoso em contraste ao vento frio que corta os
lábios. Entro, dou uma volta pelas lojas - ainda é cedo, marcamos às 17h em frente ao cinema
e meu relógio acusa 15h10min. A espera, a longa espera.
Me sento em um banquinho qualquer e por algum motivo sinto teu cheiro no ar. Meus
olhos se fecham e meu corpo se agita, te procurando. Não te acho, sei que você não está, mas
me excito com a ideia de sentir teu cheiro junto de mim. Sinto minhas coxas se contraírem
sozinhas, e me delicio com a sensação. Meu coração pulsa mais forte, passo minha língua
molhada em meus lábios secos, e eles ardem.
Permaneço na mesma posição, sentindo minha virilha pulsar forte. Um frio me sobe
pelo estômago, e minha respiração se altera. Tua voz ecoa em flashes sonoros pela minha
cabeça, as cenas se sobrepõem. Sinto-me suando, meu corpo já está molhado, e eu ali no meio
de uma multidão, sentindo você. Os bicos dos meus seios estão intumescidos e transparecem
na camisa cinza que uso. Não ligo, são apenas sintomas do frio para quem estiver observando.
O bico de meu seio esquerdo está maior, e sorrio sozinha lembrando como ele chegou a ficar
deste tamanho. Pareço louca eu sei, mas meu
corpo ainda se contrai e eu já não me importo
nem vejo as pessoas ao meu redor.
Por um momento me lembro que dentro da
minha bolsa está aquele plug grande, de silicone,
que você conhece e sabe manusear como
ninguém. Meu corpo se contrai mais. Queria você
dentro de mim - mas como?? Estou sozinha e meu
corpo precisa sentir algo forte, precisa das tuas
ordens. Meu calor quase escorre pelas pernas.
Levanto, olho para os lados. Ninguém me
vê, ou todos me vêem, não sei. Vou até o
banheiro do shopping, entro, o espaço é grande,
penduro minha bolsa, me sento. Meu corpo
continua latejando. Num impulso, coloco minha
mão por baixo da blusa e começo a brincar com
meu seio, apertando o bico entre os dedos, e puxando-o. Solto um gemido baixinho, uma
súplica, implorando pela tua maneira de me fazer doer. Continuo com uma das mãos a torcer,
apertar, magoar meu bico esquerdo. Me sinto mais vadia que o habitual - afinal estou me
satisfazendo sozinha, de uma forma bem pouco peculiar.
nquanto uma mão brinca em meu seio e faz minha respiração se alterar, e meus lábios
estão molhados, e minhas coxas estão se roçando, pego dentro da bolsa o plug e sorrio
sozinha, um sorriso com laivos de solidão, meio Monalisa, meio tesão. Não consigo associar
minha ação a algo impulsivo, meu corpo agora sente você, teus movimentos, teu cheiro está
impregnado em mim. Me apoio na parede do banheiro, coloco o plug na boca, encho de saliva,
muita, muita saliva, queria mesmo era teu pau na minha boca. Mas você está longe, e eu
sozinha.
290
me entrego... sem forças a seus devaneios. Sinto delírio puro com tua boca... e quero mais... e
você quer mais...
Manda-me abrir os olhos e, com eles abertos... nos fitamos com uma cumplicidade
única, você quer forçar e eu quero ser forçada... passo minha língua em meus lábios... isso te
excita ainda mais... mas não era minha língua que meus lábios deveriam querer e você, com a
determinação do teu limite, me bate com força no rosto, tua mão em meus cabelos e a outra a
fazer o meu rosto arder, latejar... fecho os olhos, gemo baixinho e entreabro novamente os
lábios como que suplicando tua boca.
Você observa cada reação do meu corpo e sorri maliciosamente. Estou totalmente
entregue, submissa a teus caprichos... você acaricia meu corpo, como quem agrada um
bichinho de estimação, e lentamente me coloca na posição que você quer. Ainda vestida, saia
curta, meia 7/8, salto alto, agora com o blazer aberto e os seios presos em um sutiã meia taça
preto, sentada em uma mesa, pernas abertas e você dentro delas. Não consigo controlar a
respiração, estou latejando inteira, lasciva, vulnerável a você, o tremor aumenta, me apoio
com as mãos na mesa e inclino meu corpo levemente para trás, você se aproxima ainda mais...
tira meu seio para fora do sutiã, sem desabotoá-lo, desce tua boca até ele e começa a lambe-
lo... um frio me percorre o corpo, minhas pernas automaticamente se abrem e tua boca agora
morde o bico do meu seio, deliro... gemo baixinho... tua mão procura minha vulva e, tirando a
calcinha de lado... enfia um dedo, deixando ela ainda mais encharcada.
Meu seio começa a latejar em tua boca... abro os olhos ainda com a boca entreaberta e
vejo o bico de meu seio esticado... pulsante... entre teus dentes... me assusto... mas não tenho
forças para lutar contra a dor lancinante que agora me consome. Você morde, puxa com
força... me fazendo gemer mais alto com a dor que agora sinto, mas a sensação de entrega me
assusta tanto que não sei como reagir e permaneço adorando tua boca em meu seio, e teu
dedo dentro de mim.
Você, de olhos bem abertos, apenas constata minhas reações, e se satisfaz me vendo
gozar na tua mão, deixando meu sumo correr entre teus dedos. Tua boca, agora não mais no
meu seio, sobe e me beija os lábios com força, tua mão prende minha cabeça para trás,
enquanto teus outros dedos vão me invadindo... como quem responde afirmativo, vou abrindo
mais minhas pernas, tremo, desfaleço em tuas mãos quentes. Meu corpo sente o pulsar,
gemendo cada vez mais, você me xinga, sorrio... tua... só tua vadia... e você força mais teus
dedos, são quatro que me arrombam e me fazem delirar de tesão, de puro êxtase, tuas
mordidas se alternam... agora um grito de dor... o retorno da tua boca ao meu seio que esta
sensível, dolorido, quase me enlouquece de dor, mas fico... eu quero... mais...
Permanecemos na mesma posição durante vários minutos... tua boca a dilacerar meu
seio... minhas pernas a tremerem em tuas mãos... e teus olhos a me consumirem... em um
único rompante você pára... tira tua mão de dentro de mim em um movimento brusco...
assustador... me sinto vazia... uma sensação de perda... meu corpo relaxa... meus olhos
lacrimejam...
Sinto meu corpo se contrair, como que implorando você... suas ações... suas palavras...
ordens ou não... o silêncio agora é aterrador... mas permaneço em silêncio... te observo
292
mover-se dentro da sala... você vai em direção à cozinha... e volta com gelo em uma travessa...
num impulso totalmente idiota... pergunto o que vai fazer com ele... você se aproxima... me
bate no rosto e enfia duas pedras de gelo em minha boca... meu olhos lacrimejam ainda mais...
tento cuspir as pedras... você avisa que se as pedras caírem no chão as coisas podem piorar...
mas meus dentes doem... muito... e tento então morder a pedras... você se aproxima... puxa o
bico do meu seio... até me levantar da mesa... e vai me levando pelo seio até o quarto... já não
estou em silêncio... dói muito... sou tua vagabunda... só tua... mas dói muito ser tua escrota...
mas você quer... e eu suplico... meu coração pulsa... na boca... tua respiração acelera nas
mãos... nos atos...
Você me joga na cama... me manda abrir as pernas... os braços... e fechar os olhos... lhe
obedeço prontamente... entreabro a boca... você me xinga: sua puta... não pode ver uma
cama... (sorrio...suavemente...) e abro mais minhas pernas e boca... você se aproxima e enfia
dentro de mim... uma pedra de gelo... meu corpo se contorce... e você me gira de lado... e
coloca outra pedra de gelo em meu ânus... esse dói... mas deliro... e você se diverte.. como se
eu fosse um brinquedo desprezível... escuto teu corpo gargalhar das sensações que o meu
corpo te proporciona.
Enquanto as pedras de gelo derretem, você me escala o corpo e sobe até ficar de
joelhos na altura da minha boca... e apenas com os olhos me ordena que chupe... sem a menor
possibilidade ou vontade de me mover levanto o pescoço e levo minha boca até ele, passo
minha língua na cabeça, molhada... você me enfia um tapa na cara... com força... meu rosto
lateja forte... e diz que me mandou chupar e não lamber... enfio ele inteiro dentro da boca e
começo a sugar... abro os olhos e observo você a me fitar com carinho... sugo com vontade...
você geme baixinho... segurando minha cabeça pelos cabelos... sinto teu coração pulsar na
minha boca... sua pele quente... ardente... me enlouquece... contrai minha virilha... e sinto a
água do gelo escorrer entre minhas pernas...
Você força ainda mais teu pau para dentro da minha boca... me afogo... lágrimas saem
de meus olhos, minha língua para fora... e você força... e dói a garganta... mas você não pára e
eu não paro... nossos limites estão além de uma simples chupada... me mexo na cama... o gelo
já derreteu... e meu corpo ainda contrai... muito...
Ainda com teu pau na boca... e chupando... muito... inteiro... entalado... atolado na
minha boca... você solta o bico do meu seio... que estava puxando... e enfia os dedos
novamente em mim... com força.. não sem antes colocar dentro do meu rabo um plug...
grande... muito... muito desconfortável... grito alto... me sinto invadida por aquele pedaço de
silicone... que entra e fere... e magoa... e destrói... tudo por dentro... você me manda rebolar...
para que entre mais... o plug... teus dedos... me mexo... como uma serpente que rasteja... e
você delira... o sorriso no canto da tua boca... me sufoca... e você não pára... dobra os dedos...
dentro de mim... já são os cinco... e tira com força... me arreganha... adoro... meu corpo
continua clamando por você... quero mais... do que o teu limite pode me dar... a dor... a
humilhação... o tesão de te satisfazer assim... você me estraga e eu peço mais... gozo
exaustivamente em tua mão... teu corpo... meu corpo suado... gruda... e sinto teu pau rijo em
minha boca... duro... latejante... pulsar...
293
No Seu Castelo
william
A noite acabou de cair e eu ainda estou dirigindo. Chove muito, muito mesmo, mas a
vontade de chegar logo é maior. O que será que você, minha rainha, tem guardado para mim
esta noite? A música no carro se mistura com meus pensamentos em você, causando um
misto de hipnose e ansiedade. Estaciono o carro, olho para o prédio onde você mora, que para
mim é seu castelo, seu reino, um lugar onde toda vez que entro não quero mais sair, pois lá eu
294
posso ser eu mesmo, eu posso ser todo seu, anulando minha individualidade, podendo assim
atingir o máximo, que para mim é lhe servir.
Toco a campainha, uma secura invade minha boca, minha pulsação acelera, toda vez
que te vejo minha Rainha, sinto como se fosse a primeira vez, pois você, como divina que é,
sabe sempre me surpreender, a cada dia você se torna uma mulher diferente, uma deusa
diferente, uma Rainha diferente, sempre melhor, sempre maior, sempre fazendo me sentir
menor diante de sua grandeza, sempre me deixando mais e mais em suas mãos, explorando
cada vez mais o limite de minha entrega, que, a cada vez, mais se aproxima do infinito.
Você abre a porta, instantaneamente sinto seu maravilhoso perfume no ar, seu divino
sorriso se abre, me aproximo, beijando sua boca, seus lábios tocando os meus, sentindo o
calor de seu corpo contra o meu, sua mão tocando minhas costas, sinto com a mão sua nuca e
cabelos; quando nossos lábios se afastam, sinto-me mais confortável, mais em suas mãos para
servi-la até onde sua vontade almejar.
Entro fechando a porta, você se senta no sofá, eu
ao seu lado no chão, começo a fazer a massagem em seus
pés que tanto te alegra, que tanto te instiga. Minhas
mãos tocando a macia pele de sua sola, fazendo
movimentos circulares com os dedos, seu calcanhar
sempre macio me faz delirar a cada toque. Sem dizer
nada, apenas com seu olhar, entendo que você quer que
eu beije seus pés, começo beijando-os na parte de cima,
e leve e vagarosamente escorrego minha língua para os
dedos, passando-a calmamente entre cada um deles. Ao
chegar em seu dedão, coloco-o em minha boca, sugando-
o, felando-o, tentando sugar dele o néctar da sua
essência de Rainha; passo ao dedo do lado, e um após
outro, tento fazer o mesmo. Paro, levanto um pouco mais
seu delicado pé, esfregando a sola deste em meu rosto...
sentindo sua sedosa pele contra a sensível pele de meu rosto. Nisto minha língua percorre a
sola de seu pé, dos dedos ao calcanhar, chegando nele levemente toco-o com os dentes, numa
muito suave mordida, no que sou interrompido... você o tira de minha boca, me lançando um
olhar de reprovação, quando ameaço dirigir minha palavra a você sou repreendido com um
tapa no rosto. Obviamente percebo que me excedi.
Conhecendo você já sei o que me espera, apenas acompanhando seu olhar me dispo;
estando em pelo, sigo seu olhar até o sofá, ajoelhando-me. Com o corpo sobre o sofá deixo
minhas nádegas à mercê de sua repreensão. Não olho para trás, sei que isto não me é
permitido. Após um breve silêncio sinto minha nádega direita explodir num ardor intenso, logo
após a esquerda, e assim sucessivamente, uma após a outra… Após isto repetido algumas
vezes sinto que lágrimas me vêem aos olhos, não lágrimas de dor, e, sim, lágrimas de alegria,
pois eu sei que o que estás fazendo comigo é para me tornar melhor. Melhor na minha única
razão de existir que é lhe servir, com isto lhe fazer feliz. E que maior alegria eu posso ter que
ser um instrumento seu, na sua busca por felicidade.
295
Repreensão feita, espero por seu próximo desejo. Afinal esta lição por mim já foi
apreendida… mas não, eu me excedi demais, cometi a indelicadeza de morder seu calcanhar e,
pior, de dirigir-lhe a palavra sem me ter sido autorizado. Continuo na mesma posição, com as
nádegas em fogo, agora percebo que há mais por vir. Neste momento você me ordena que
abra minhas pernas, afastando as minhas nádegas com as mãos… já sei o que me espera, mas
se você assim acha que eu mereço, nada posso fazer além de aceitar seu desejo. Neste
pensamento, sinto algo começar a me violar, sinto como se meu corpo estivesse sendo partido
em dois. A dor se intensifica, misturando-se com um prazer estranho, misto da excitação que
me causa, com a consciência que está te estimulando mais ainda… seus movimentos ora
bruscos, ora delicados me deixam na prazerosa angústia de estar em suas mãos. Não bastasse
você possuir minha alma, possui meu corpo também. A dor misturada com a excitação é
intensa, nesta posição você me puxa pelos cabelos ordenando-me mirar seu rosto. Vejo sua
feição de satisfação, e por esta satisfação eu faria qualquer esforço. Isto me é fácil, abdicar de
mim para te fazer feliz.
Nisto você interrompe minha sodomização. Sei que você está com um prazer imenso,
um prazer que te queima por dentro. Um prazer que almeja o derradeiro gozo. Seu olhar me
dirige ao chão…. Deito-me olhando fixamente para o teto de seu castelo, sei que não me é
permitido observar enquanto se despe, apenas aguardo inerte. Você se aproxima, se põe na
direção de meu olhar, e aproxima seu sexo, mais e mais perto de minha boca sedenta por seu
gosto. Quando minha boca a toca, sinto o quão excitada você já está, minha língua toca seu
divino botão, e começa a massagiá-lo, meus lábios sentem seu néctar abençoado os
umedecendo…. Sinto ele escorrendo por minha boca, me invadindo o corpo e a alma, me
regenerando, me redimindo, minha língua percorre sua gruta, a explorando, sabendo que cada
centímetro seu é abençoado, e por isto tem de ser aproveitado neste momento único de
prazer. Seu botão, de tanta excitação parece que desaflora a cada toque de minha língua, a
cada toque de meus lábios. Sinto seu corpo se contorcendo, prestes a explodir de luxúria e
desejo, você geme alto, o que me gratifica por estar sendo um objeto na busca de seu divino
orgasmo, até que ele chega, intenso, explosivo, como se seu corpo todo fosse consumido por
um fogo que queimasse fugazmente, sinto isto em você. Não paro - sei que se seguirão vários
êxtases até minha Rainha se dar por saciada e, um após o outro, eles te invadem, levando a
mais pura alegria a sua alma.
Estando saciada você se levanta e me ordena que eu me vista. Eu sei: hoje, a mim, será
negado o privilégio de atingir o gozo. Você me olha com carinho e ternura, eu não tenho
palavras para dizer o que seria capaz de fazer por este olhar. Já é tarde, como sempre horas
passaram-se em sua companhia, como se fossem um fugaz piscar de olhos… Dirijo-me até a
porta, você me segura pelo braço, dando-me um beijo. O jeito com que sua boca toca a minha
e que nossas línguas se acariciam me faz saber o quanto feliz e realizada minha Rainha está.
Quando atravesso sua porta e me dirijo ao elevador sinto você me observando com carinho…
com amor… Ao sair do prédio olho para cima e vejo você me observar pela última vez hoje, e
em seguida fechar sua janela. Entro no meu carro e já começo a sentir a pior dor que você me
causa, a dor de não saber quando você me presenteará com sua companhia novamente, a dor
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da ansiedade que novamente começa, que só passará quando de novo eu olhar em seus lindos
olhos e sentir o seu mágico perfume.
Nisso um sentimento invade inteiramente meu corpo, como seu um raio caísse sobre
meus ombros e eu começo a chorar, chorar muito, copiosamente, mas de felicidade, ao sentir
em mim a bênção divina que é poder te servir, que é poder te fazer feliz. Ao me lembrar de
todas as camas em que dormi e da única que me dá conforto. Ao lembrar de todas as bocas
que beijei e da única que me faz feliz. Ao lembrar de todas noites que chorei e de que agora
não existe mais a tristeza em meu coração. Ao lembrar de todas as mulheres que amei e da
única que eu entreguei minha alma.
Dependência Ou Submissão?
lan@
atrás" do que nos apetece. Mas não é sobre beleza/feiúra que trata nossa história... Nossa
história trata da confusão que fiz entre os conceitos dependência/submissão.
Eu sempre lutei muito pela minha independência. Sempre achei importante ter meu
próprio dinheiro, minha própria profissão, minhas próprias opiniões. No meu simplório
entendimento, as pessoas submissas se tornavam dependentes das outras. Acho que quanto
mais meu inconsciente me enviava sinais, tentando me alertar sobre minha submissão latente;
mais eu me apegava a minha independência, mais eu fazia por não depender de nada, nem de
ninguém. Pura defesa psíquica. Criei uma imagem maravilhosa: independente, segura, auto-
suficiente. Uma postura até certo ponto invejada.
Mas havia alguma coisa que não estava no seu devido lugar. Umas vontades estranhas,
uns desejos contraditórios com a imagem, umas fantasias perturbadoras. Foi nesse estado de
espírito que me encontrei com ele.
Como dizia antes de me perder em divagações, eu não tinha escolha: ou o acompanhava
sem reservas ou não o acompanhava. Não havia o "mas", minha conjunção favorita... Adoro
orações coordenadas sindéticas adversativas...
Fui com ele. O coração aos saltos. Apesar de nunca ter tido um dono, já conhecia as
regras básicas e pensava: "não vou conseguir me ajoelhar...". Devo esclarecer aqui que esse
temor não era o único sentimento manifesto. Havia também outras sensações aparecendo e
tomando conta da situação: havia a curiosidade, havia uma atração mútua, havia um desejo
intenso, impossível de ser reprimido.
Quando me ajoelhei aos seus pés e ofereci meu pescoço para a coleira, senti como se
estivesse fazendo uma encenação. Não era real. No entanto, essa sensação desapareceu
rapidamente, no momento em que ele me segurou pela coleira e puxou com força, fazendo
meu rosto ficar bem perto do seu... Nossos lábios quase se tocando... E falou: "Você é minha
agora! Você me pertence!" A voz que não permitia hesitação. Concordei placidamente.
Minha memória não é precisa no que diz respeito aos acontecimentos daquela noite. Sei
que me submeti às vontades Dele sem nenhum vacilo e, durante o tempo que durou aquela
sessão, deixei de lado minhas preocupações com a minha independência. Entreguei-me aos
Seus caprichos, que - descobri depois -, não deixavam de ser os "meus caprichos"... - servir e
ser servido - apenas dois aspectos diferentes da mesma ordem de fatos.
Depois que nos separamos, ansiei por novos encontros, novas conversas e, uma vez livre
das dúvidas e dos preconceitos sobre a condição de "submissa", tenho levado a vida assim:
explorado o tempo todo - na companhia do meu Dono - esse meu lado submissa, que por
tanto tempo reprimi e, o que é mais importante: aprendi a diferença entre os dois conceitos.
Posso - e devo - manter minha independência, minha segurança, meus pontos de vista; sem
que isso afete a minha submissão. Posso me submeter ao meu Senhor, sem que isso me torne
dependente Dele. Obviamente, sob alguns aspectos sempre serei dependente da Sua vontade,
mas não todos os aspectos, nem tampouco aqueles aspectos de que dependem a minha
individualidade.
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Tenho descoberto o prazer ilimitado de me ajoelhar, de usar Sua coleira, de servir aos
Seus caprichos, realizar Suas fantasias, me submeter aos castigos; afinal, a dor e o prazer - a
exemplo do "servir e ser servido" ou do "bem e o mal" ou do "amor e o ódio" - também são
apenas duas espécies contrárias do mesmo gênero.
Seres fictícios povoam minha realidade: em lugares imagináveis; em situações claras; em
labirintos de cores precisas.
A Mumificação
Liu*
Eu não conseguia ver nada, pois a pressão do plástico me obrigou a fechar os olhos, o
som era abafado pelo silicone no meu ouvido e pelo plástico. Meu nariz atrapalhava, exalando
ar quente que se transformava em água ao encontrar o calor do meu corpo. Minha boca
estava aberta, claro, e secou imediatamente.
O que aconteceu depois é ainda muito confuso, mas sei que já levara umas boas
chibatadas nas coxas, que estavam marcadas, e eu sentia a ponta de um canivete me
cutucando nos pontos da coxa que mais ardiam. Agora entendo porque elas ficaram
descobertas... Sei que era um canivete, pois, antes da mumificação, ele já o usara em meu
corpo, cutucando-me de forma muito irritante.
Depois, passaram-se momentos de total silêncio, longos momentos. Eu só ouvia a minha
respiração e as batidas do meu coração. Num determinado instante percebi que ele deitou-se
ao meu lado, acariciava meus cabelos, passava a mão em meu rosto embrulhado e eu apenas
gemia. Não conseguia mexer nada.
Então senti sua mão chegando perto da minha boca, daquele pequeno buraco por onde
o ar entrava, e meu coração imediatamente disparou. O que imaginava que iria acontecer,
ocorreu: ele tampou minha boca. Entrei em segundos de desespero, sei que foram segundos.
Dava pulos na cama deitada, sentia o peso da sua mão em minha boca e, num grito abafado,
senti sua mão sair, liberando a entrada de ar.
Respirei pela boca, ofegante. Senti o ar gelado, entrando. Estava bastante alterada e ele,
em silêncio, um silêncio que só era quebrado pelo calor do seu corpo ao lado do meu.
Essa sequência, de bloquear a entrada de ar, aconteceu várias vezes. Não podia me mexer,
meus poros estavam alagados de suor, o calor era intenso, não enxergava, não escutava e
respirava de maneira alternada...
Então, algo mágico aconteceu: comecei a me sentir profundamente sozinha, num escuro
intenso; as batidas do meu coração soavam altíssimas e me senti leve, quente, exausta. Uma
onda de prazer me arrepiou inteira e eu não me sentia mais ali. Havia entrado no tão famoso
"subspace". Fiz uma viagem interior, ao som das batidas do meu coração, que agora estavam
longe... Eu não sentia dor ou qualquer incômodo... Apenas uma sensação ótima de estar
dentro de mim mesma. Perdi as noções de espaço e tempo; perdi a noção do que fazia, se é
que fazia algo. Sentia carícias, minhas mãos sendo tocadas e minhas coxas, na parte interna,
cutucadas com a ponta de um canivete. Sei que respirava fundo e era como um transe. E,
mesmo estando naquela situação de total entrega e exposição, sentia-me protegida, pois a
confiança que tenho em meu Senhor é que me proporcionou essa viagem sensorial. Senti que
ele me puxou para que me sentasse, levei tapas no rosto e a explosão de mais adrenalina,
causada pelos tapas, aumentou a imensidão onde me encontrava. Era como se estivesse num
local imenso, no espaço mesmo. Um local que você não sabe onde termina. Tudo
completamente escuro.
Além do consensual
300
Esta experiência só pode ser vivida por casais que tenham total conhecimento entre si. É
uma experiência para além do consensual, pois eu não estava no controle de mim mesma. Eu
estava totalmente dependente de alguma ação externa para me tirar daquela situação.
Safeword alguma poderia ser mencionada, já que eu nem sabia onde estava e havia perdido a
noção de tempo. Não conseguia sequer me manter sentada. E tal situação só foi quebrada
quando meu Senhor, percebendo minha "exaustão", começou a rasgar o plástico.
Para mim foi uma entrega de corpo, força e alma. Afinal, se não confiássemos muito um
no outro eu não teria alcançado um prazer tão intenso e tão completo.
Só vivi a situação de "subspace" porque me entreguei e relaxei. E isso só se consegue
com maturidade e experiência.
Não recomendo a ninguém os jogos de asfixia. Nunca deixei que fizessem comigo.
Principalmente porque sou asmática. O que aconteceu foi algo muito leve, mas que se
multiplicou pela situação e tornou-se algo maravilhoso.
Meu Senhor possuía o controle da situação. Respeitou minha entrega, porque mais que
entregar meu corpo e minha alma, entreguei-lhe meus sonhos, minhas fantasias e meus
desejos. Entreguei a ele o poder que toda sub tem: o da coragem de realizar suas fantasias e o
da adoração e do amor por aquele que nos leva pelos caminhos do autoconhecimento e da
felicidade.
A Alma Submissa
Mégara*
"Coloque-a."
Coloquei-a. Instantes depois, minha bolsa foi tirada do meu ombro e posta no chão, ao
meu lado. Ele estava atrás de mim e mexia em meus cabelos, sentindo seu perfume. Levou-me
pelo braço mais adiante.
"Tira a roupa devagar, sem mexer na venda. Quero te ver".
Eu queria morrer. Despir-me sem ver sua reação? Obedeci, tremendo; meus sentidos
estavam aumentados, eu podia ouvir sua respiração, mas não sabia onde ele estava. Fiquei
nua o tempo todo. Fui encoleirada e ele usou a guia para, além de muitas outras coisas,
passear comigo pelo quarto, sempre com a venda.
Ficamos juntos por quase quatro horas, ele não se despiu. Deixou-me tocar seu rosto,
sentir sua barba macia, seu perfume. Implorei, durante as quase quatro horas, para ver seu
rosto. Não obtive resposta. Não fui amarrada, não fui algemada, estava livre o tempo todo,
porém cativa, cativa psicologicamente deste homem sem rosto, apenas voz, cheiro, gosto e
respiração. Eu era cativa do meu desejo, do meu único desejo naquela hora: Viver minha
submissão intensamente.
Foram longos momentos de silêncio absoluto, longos momentos de tapas, que não sei
de onde vinham, nem quando. A cada tapa era um susto e a cada susto um beijo, um carinho.
Carinhos e tapas vindos pela frente, por trás. Perdi completamente a noção de espaço e tempo
nessas quase quatro horas. Meus olhos eram suas palavras, seus atos. Eu estava totalmente
entregue.
E eu chorava, ajoelhada naquele quarto; chorei por me sentir sozinha num dos longos
momentos de silêncio, mas, logo em seguida, senti um abraço apertado dele, ajoelhando-se na
minha frente e me elogiando por eu viver tão intensamente aquele momento que era único
em nossas vidas e tão esperado por ele e por mim.
Nos entregamos aos nossos desejos e foi lindo.
Eu estava exausta, lutei por quase quatro horas contra meus limites de visão e medo do
escuro. Lutei contra a vontade louca de arrancar a venda e ver seu rosto.
"Se quiser se lavar, vá até o banheiro, feche a porta, tire a venda e fique à vontade. Um
táxi vai te esperar lá embaixo. Não tenha pressa. Fique o quanto quiser."
Senti um abraço, um beijo longo, mais forte que todos os que recebi naquelas quase
quatro horas, um afago nos cabelos, um aperto na nuca.
"Você é maravilhosa, uma sub como poucas e uma mulher inesquecível, eu te ligo..."
Ouvi a porta se abrir e fechar. Ele foi embora.
Não vi seu rosto, sei que tinha uma barba macia, um perfume de banho tomado, uma
respiração de fumante e um gosto de tabaco misturado com desejo que jamais vou esquecer.
Ele podia ter-me matado? Ele podia ter-me machucado? Sim, podia, mas não aconteceu.
Será que foi sorte minha? Sim, pode ter sido.
302
A submissão pode parecer uma situação inferior para alguns, mas ela guarda essa força
interior que é enorme e que poucos têm.
Entregar-se de verdade, sentir prazer nisso e não sentir-se menor como ser humano
requer essa força, personalidade e equilíbrio.
Uma submissa que tenha alguns desses requisitos fragilizados, pode sofrer e se
machucar interiormente. Se não tiver força, vai desistir. Se não tiver personalidade, vai cair na
mesmice de um jogo que pode se tornar desinteressante. Se não tiver equilíbrio, vai confundir
os sentimentos, não vai perceber seus limites e vai sofrer sem ter prazer.
Todo exagero traz consequências e no BDSM estas podem ser perigosas. Se há um
desequilíbrio, uma das partes pode se machucar, física e psicologicamente. Não esconder
sentimentos é a regra número um de uma submissa. Não conversar, não entregar seus
pensamentos ao seu Senhor, é um risco que não vale a pena correr.
A consensualidade deve sempre ser soberana na relação BDSM.
O seu desejo é o desejo do seu Senhor, mas o limite sempre deve ser respeitado. E só a
observação detalhada das atitudes do seu Senhor pode te dar a confiança necessária nesse
tipo de entrega.
Junto com o consenso vem o respeito. Não andam separados. Como se submeter a
alguém que não te respeita, tanto como submissa quanto como mulher? Você entrega seus
sentimentos, suas fantasias a alguém que vai saber cuidar delas, respeitá-las. Ele vai cuidar de
você, vai te preservar, vai te proteger. E você, como submissa, vai venerá-lo, vai adorá-lo, vai
respeitar seus limites, vai honrá-lo.
Uma vez alcançado esse grau de consciência, de que a entrega é força e há prazer nisso,
um Senhor consciente e experiente saberá retribuir a entrega, mostrando prazeres e abrindo
caminhos na alma submissa.
A Entrega
Mégara*
Ah... Mudar de posição com esses pregadores pendurados!! Aiiiiii!!!! Não conseguia
parar de chorar. Não conseguia porque eu sabia que ia apanhar. Não tive coragem de levantar
a cabeça. Esperei.
Então senti algo queimando minha bunda. Abri os olhos e não me mexi. Depois fiquei
sabendo que era uma cinta.
Senti mais um ardor e uma dor forte. Soltei um gemido.
Na terceira vez não aguentei e gritei.
Na quarta virei a bunda para o outro lado.
Volta para a posição!
Voltei rapidamente e levei mais uma! E outra e outra, rápida!
Aiiiiiiiiiiiii!!! O que era aquilo!!!! Eu não ia aguentar! Mas como!? Impossível o que
estava acontecendo??? Ele tem muita força!!! Não acredito que mais uma vez ia ter que dizer
a safe word!
E falei, aos prantos... E imediatamente ele parou
Por que você está chorando minha linda, hein?
Os pregadores... Chorando.
Os pregadores estão doendo, minha linda?
Estão... Soluçando.
E porque você não pede para eu tirar?
E virando-me para ele sentado na cadeira, com o rosto todo molhado, falei: por favor
Senhor, tira os pregadores.
Claro, minha linda! Com aquela voz irônica...
E começou a tirar. Claro, a pior parte! Mas juro que foi um alívio.
Obrigada meu Senhor. Falei, sorrindo.
E ele sorriu e me abraçou e me beijou e eu apoiei minha cabeça no seu peito e era uma
delicia. Ficamos assim por algum tempo, ele mexendo nos meus cabelos e eu sentindo seu
perfume delicioso.
Pega as luvas, pega...
Levantei e fui até o sofá, onde estavam meus objetos, e peguei o pacote de luvas.
Coloca em mim.
Comecei a abrir o pacote de papel , coloquei primeiro a mão direita, depois a esquerda.
Pega o KY.
Obedeci.
307
mordidas nos lábios. Sua barba com meu cheiro me deixava louca. E foi entre gemidos e
movimentos penetrantes de dedos e quadril rebolando, que lambi seu ombro direito, expondo
meu lado de fêmea novamente. Provoquei aquele homem maravilhoso com minha língua,
como uma puta querendo mais. E ele entendeu sentou-se na cama e imediatamente enfiou
dois dedos em mim, encontrando-me molhadissima de tesão. Ele arregaçava o prepúcio do
clitóris expondo-o e eu rebolava em seus dedos, gemendo. Então, toquei seus dedos com os
meus dedos e comecei a me masturbar, mexendo no clitóris na sua frente. Aquilo era uma
delicia. Ele me apertava, e eu gemia. E por um momento tirou seus dedos de mim, me
ajudando com os movimentos no clitóris.
Enfia, por favor...
Eu implorei que ele enfiasse seus dedos novamente. A ausência deles era um martírio. E
com todo o desejo do mundo ele me invadiu com vontade. Sua força, quase em pequenos
socos, provocaram uma dor muito forte. Pensei que não conseguiria gozar, mas apertando
seus dedos com os músculos o senti deslizar forte entre minhas secreções e com meus dedos
se chocando com os dedos dele, gozei novamente.
Prendi a respiração, não emiti som algum, explodi internamente e mais felicidade,
prazer e tranquilidade encheram meu coração e alma. Fiquei ali quieta em seus braços
novamente, torcendo para tudo aquilo não ser um sonho.
E no meio de nossa deliciosa conversa, eu fiz um pedido.
Eu adoraria levar umas palmadas na bunda.
Ahhhhh...... Mas com o maior prazer!!!!
Posicionei-me na borda da cama, perto da cadeira e esperei.
Senti uma dor forte começando ardida, passando por doída e terminando numa pressão
assustadora. Caramba!!!!!! Isso doía muito!!!
Recebi a segunda na nádega direita e estava profundamente arrependida. Não vou
aguentar, ele bate muito forte!!!!!!! Que força!
E comecei a dar uns gritos de dor e a virar a cabeça para trás e comecei a sentir uma
raiva daqueles tapas e, depois do segundo, veio um terceiro e mais um e mais outro e perdi o
controle e já não aguentando falei a safe word novamente, aos prantos. Ele parou, massageou
minha bunda quente e eu, respirando fundo, me virei de joelhos, com as mãos nas coxas e os
olhos molhados para agradecer, sorrindo.
Obrigada, Senhor... E beijei seus lábios.
Ele me pegou pelos cabelos, acariciou meu rosto, sorriu, me beijou novamente, passou a
mão pelo meu rosto... Soltou-me, sorriu e me deu um tapa no rosto que me tirou o ar com a
surpresa. Voltei o rosto e senti mais um! Mais outro. E logo um carinho, que me fez fechar os
olhos de susto. Minha respiração aumentou. Outro tapa e um puxão pela guia e um beijo
forte. Ele me engolia. Na volta, outro tapa, que me fez levantar a mão esquerda.
Abaixa a mão!!!!!!!
309
mãos. Sou respeitada, amada, protegida e a tranquilidade invadiu meu coração. Vou adorá-lo,
amá-lo, respeitá-lo e fazê-lo muito, mas muito feliz, para poder retribuir o que me é dado com
muito desejo, amor, dedicação e seriedade.
Obrigada, Senhor, por este lindo começo de uma longa caminhada.
TEORIAS:
Confiança
lan@
Segundo Peirce, "o sentimento de crença é uma indicação mais ou menos segura de se
encontrar estabelecido na nossa natureza algum hábito que determinará as nossas ações. A
dúvida nunca tem tal efeito."
Para este autor a dúvida é um estado de desconforto e insatisfação do qual lutamos
para nos libertar e passar ao estado de crença. Este é um estado calmo e satisfatório que não
desejamos evitar ou alterar por uma crença noutra coisa qualquer. Pelo contrário, agarramo-
nos tenazmente, não meramente à crença, mas a acreditar exatamente naquilo em que
acreditamos. Assim, tanto a dúvida como a crença tem efeitos positivos sobre nós, embora
muito diferentes. A crença não nos faz agir imediatamente, mas coloca-nos numa posição em
que nos comportaremos de certa forma, quando surge a ocasião. A dúvida não tem qualquer
efeito deste tipo, mas estimula-nos a agir, até que é destruída. Em outras palavras, a dúvida
nos coloca num estado de irritação.
"A irritação da dúvida é o único motivo para a luta por atingir a crença. É
certamente melhor para nós que as nossas crenças sejam tais que possam
verdadeiramente guiar as nossas ações de forma a satisfazer os nossos desejos; e
esta reflexão far-nos-á rejeitar qualquer crença que não pareça ter sido formada
para assegurar este resultado. Mas o fará criando uma dúvida no lugar dessa
crença. Logo, com a dúvida a luta inicia, e com o cessar a dúvida termina. Donde o
único objeto da inquirição é o estabelecimento da opinião. Podemos ter a
impressão de que isto não é o suficiente para nós, e que procuramos, não
meramente uma opinião, mas uma opinião verdadeira. Mas ponha-se esta
impressão à prova, e ela revelar-se-á infundada; pois assim que uma crença firme
é alcançada, ficamos inteiramente satisfeitos, quer a crença seja verdadeira, quer
seja falsa. E é claro que nada fora da esfera do nosso conhecimento pode ser
nosso objeto, pois nada que não afete a mente poderá ser motivo de esforço
mental. O máximo que pode ser sustentado é que buscamos uma crença que
julgaremos verdadeira. Mas pensamos que cada uma das nossas crenças é
verdadeira, e, na verdade, é uma mera tautologia dizê-lo." (Pierce, 1877)
"De um modo geral não conhecemos as coisas. Conhecemos nas coisas: escolhemos
nelas algo que responda à ordem dos nossos interesses. Não vemos o nome de um ônibus:
vemos se ele nos leva aonde queremos ir. Não vemos as horas no relógio: vemos quanto
tempo temos para realizar o que pretendemos fazer. Não lemos um livro: procuramos
identificar nele o que corresponda ao que já pensamos ou queremos pensar. Nossa visão do
real é geralmente marcada por algum interesse prático. Com relação às ideias que nos são
expostas, em geral julgamos se são verdadeiras ou não apenas conferindo se correspondem ou
não ao que já pensamos sobre o assunto exposto. (...) Tudo isso é expressão de uma falta de
objetividade, que prende o homem a si mesmo, e o aliena da existência, fazendo-o deixar de
pensar a realidade, mas apenas pensando a pretexto dela."
Até aqui já é possível concluir que na definição de confiança é impossível evitar a
circularidade. Se a definimos em termos de crença, logo temos que definir crença, que é
melhor explicada em termos de confiança. E não sabemos sequer se é mensurável.
Quando falei para minha amiga Danna que ia escrever sobre confiança, ela me enviou
um mail (Obrigada, querida!!!) com algumas de suas ideias sobre esse assunto: "Claro, confio
no meu Mestre, acredito que nunca fará nada que coloque minha integridade física e mental
em risco, mas confio baseada no que ele me passou, portanto não adianta querermos jogar
pra eles um sentimento que é nosso, uma responsabilidade nossa, na verdade confiamos no
nosso modo de vê-los; podemos errar, quantas não erraram???"
A frase da Danna que parece resumir tudo é: "na verdade confiamos no nosso modo de
vê-los..." Eis aqui o que toda teoria filosófica acima quis dizer. Quando confiamos nossa vida e
nossa integridade física nas mãos de nosso Dono, na verdade estamos é acreditando que o que
esperamos Dele não nos será traído. Estamos confiando no nosso felling, na nossa percepção
do mundo. No que acreditamos, naquele momento, ser a realidade incontestável: "Posso
confiar Nele!!!!" Talvez apenas uma questão de instinto que, por vezes, pode falhar...
Ainda no mail de Danna: "Acredito de verdade que jogamos um jogo perigoso, onde
tudo pode ser o esperado, pode deixar a desejar ou pode ultrapassar, existe sempre o risco.
Pra isso existem certos cuidados, na verdade usamos de estratégias, conversamos com alguma
sub que já tenha sido dele, analisamos alguns comportamentos sociais, caráter na vida
particular, mas nada é 100% garantido. Quantas pessoas em alguns momentos não tiveram
reações diferentes e até únicas na sua vida??"
Danna toca num ponto importante: os cuidados que tomamos em relação às pessoas
com quem travamos contato, não passam de pequenas estratégias que garantem alguma
segurança, mas não a certeza de que nossa percepção está correta. Corremos sempre o risco
de estarmos enganadas, de nossa visão da realidade estar comprometida com o grau da nossa
necessidade, com o grau da nossa vontade.
E Danna finaliza: "Porque confiar 100% só um animal, e nesses momentos somos, de
fato, umas cadelas."
A frase de Danna é espetacular e parece que resume tudo o que, de fato, sentimos,
mas... Se pararmos para pensar - como a própria Danna pensou: Se estamos na sessão...
313
amarradas... amordaçadas e ele resolve mudar as regras do jogo... O que fazemos com toda
aquela confiança que depositamos nele?
Está me parecendo que a grande realidade é: "confiança não existe". O que existe é uma
crença numa determinada pessoa, ou num determinado fato; até que uma nova crença, por
qualquer motivo, venha substituir a original.
Quantas de nós não ouvimos falar, ou temos uma amiga que tem um marido (ou
namorado) que é um verdadeiro "galinha"? E ficamos assistindo incrédulas ela acreditar nele o
tempo todo. Que confiança é essa que ela tem nele? Será que é confiança? Ou será que ela
apenas acredita nele porque naquele momento, dentro dela, existe a necessidade de acreditar
em algo? Um dia qualquer... uma evidência incontestável aparece... ou alguns meses de
terapia... e ela deixa de acreditar... deixa de confiar.
Confiança é uma coisa complicada!!!
Uma amiga mandou pra mim um conto e tive minha atenção presa a uma fala da
personagem. Ela dizia: "Não posso confiar em ninguém... não posso sequer confiar em mim
mesma... pois já me traí várias vezes..."
Lembro-me também de uma música de Raul Seixas: "Porque quando eu jurei meu amor/
eu traí a mim mesmo..."
O que entendemos por confiança, ou crença para a filosofia, não passa de uma
conveniência, uma necessidade de, naquele momento, acreditarmos naquilo que se expõe a
nós. E se o fazemos de forma tão firme, tão resoluta é porque, naquele momento, nada no
mundo nos provará o contrário do que acreditamos. Isso é confiança!!!! Seja a premissa falsa
ou verdadeira.
Referências Bibliográficas:
MENDONÇA E. P. O mundo precisa de filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1976.
PEIRCE, C. S. A fixação da crença. In: Popular Science Monthly. 12/nov/1877. pp. 1-15.
Tradução de Anabela Gradim Alves, Universidade da Beira Interior. Disponível na
internet: http://bocc.ubi.pt/pag/peirce-charles-fixacao-crenca.html. Em 04/06/01.
30/06/01 - tarde fria em Curitiba.
Relações Bdsm
lan@
E, aqui, não estou entrando no mérito da descrição - brilhante - que Mestre Jota fez (na
lista de contos e poemas) das falsas submissas e dos falsos Mestres. Estou falando das falsas
relações entre pessoas que se denominam, "efetivamente", Mestres e submissas.
Faz-se necessário ressaltar que isso não é regra no meio BDSM. Misturado com o que
acabei de descrever, também percebo relações sérias, de Mestres e submissas que cumprem o
real papel de cada um, na teoria e na prática.
Talvez, a causa dessa "confusão" de papéis que percebo, seja em função de as pessoas
envolvidas não saberem exatamente qual é o seu papel.
Segundo Silva Filho, o sadismo e o masoquismo constituem lados opostos de uma
mesma moeda (1987, p. 31). Se entendermos essa premissa como verdadeira, concluiremos
que todos temos, dentro de nós, os dois aspectos do sadomasoquismo. Temos o sadismo e o
masoquismo igualmente dentro de nós. O autor continua: "Se no sadista fica patente a
necessidade de triunfo sobre um objeto (...), no masoquismo, embora pareça haver
autopunição no sofrimento e sujeição ao objeto, existe todo um jogo controlador da dor,
atuando também no sentido de, através do penar, controlar e triunfar." (p. 32).
"O sadista (ou, melhor falando, o sadomasoquista em fase sádica, pois os dois extremos
estão sempre juntos) projeta sua parte fraca no objeto e se identifica com o superego tirânico
(...)" (p.37).
O que, talvez, aconteça nesses relacionamentos "confusos", seja em função dessa
dificuldade. Temos os dois lados extremos dentro de nós e, embora um sempre vá
predominar, pode ser difícil aceitar o que parece óbvio. Ilustrando: tenho os dois lados dentro
de mim e já percebi que o meu lado masoquista é o predominante. Mas não quero ser
masoquista!!!! Então, vou lutar contra isso da seguinte forma: vou adotar um nick de
Dominadora e vou sair por aí, torcendo para que a minha fase sádica seja eterna.
Pelo lado da submissa, a premissa funciona da mesma forma: "O masoquista, (...), sob a
máscara da afirmação teatral de não ser nada, de fato domina o sádico, forçando-o a
desempenhar o papel que ele, o masoquista, parece ter. O poder do sádico é um simulacro;
serve apenas como instrumento controlado." (...) "A onipotência do masoquista decorreria de
ele não temer mais nada, mesmo a castração, e poder desejar tudo, mesmo esta." (p.43)
Já tive a oportunidade de escrever outro texto sobre isso: a dialética da relação D/s. Mas o
fato é que quando o escrevi, não achava que se juntássemos o fato da relação ser dialética e o
fato de as pessoas trazerem "hábitos ou vícios" ruins das relações baunilhas, pudessem
transformar a relação BDSM numa "brincadeira baunilha apimentada".
Também os limites ficam numa situação esquisita nessas relações. Em princípio, é difícil
entender como um sádico/dominador pode aceitar limites impostos por um
masoquista/submisso. Entendo perfeitamente que essa prática seja por uma questão de
segurança; mas, perguntando sobre isso para outras pessoas com quem costumo trocar ideias,
recebi um mail de Messalina {W}, no qual ela assim se expressa:
"Em função da minha experiência pessoal, não consigo conceber uma relação
316
Quando recebi esse mail, fiquei pasma. Messalina conseguiu escrever tudo o que penso
sobre limites. Compreendo perfeitamente o que ela quis dizer, pois eu também, na minha
pouca experiência real, tive a oportunidade de descobrir práticas muito prazerosas e que, até
pouquíssimo tempo atrás, não conseguia conceber. Coisas que eu achava que fariam parte da
minha lista de limites. Como não houve, no meu relacionamento, uma lista "oficial" de
limites... tudo o que foi praticado, foi acontecendo de forma natural.
Faço aqui uma diferenciação entre limites e limitações. Os limites (entendo eu) seriam
aquelas práticas que não quero ou às quais não gostaria de me submeter. Limitações seriam
práticas que, de alguma forma, não dependem apenas da minha vontade ou do meu gosto
pessoal (por exemplo: eu sofro de claustrofobia, portanto asfixia é um jogo que não posso
praticar).
E é ainda com as palavras de Messalina {W} que eu gostaria de fechar esse texto. Até
porque acho que ela conseguiu resumir o que é o ideal (para mim) de uma relação D/s:
317
Referências Bibliográficas:
SILVA FILHO, A. C. P. e. Perversões Sexuais - Um estudo psicanalítico. São Paulo: EPU, 1987.
Como explicar o que faz com que voltemos nossos olhos quando um deles chega no
recinto? Nesse caso, os conceitos literários pouco ajudam. Tive oportunidade de "ver" e
"observar" isso num lugar onde estavam reunidos vários Dominadores/Dommes. Não se trata
de atração sexual (embora também não se descarte a possibilidade), também não se trata de
conceito estético satisfeito. Segundo Danna (num mail enviado para mim):
"seja feio ou bonito, corpo escultural ou não... é uma força que eles têm no olhar,
no jeito de falar, no jeito de nos tocar, de nos pegar, na maneira de teclar,
sedução é mistério que envolve, é algo que está escondido, mas que te puxa
fortemente e você não sabe o que é, e isso nos atrai mais e mais, é um imã...
parece que existe uma aura os envolvendo, sente-se a energia que emana deles."
Concordo plenamente com a descrição dela e acrescento que, quando nos encontramos
com um(a) Dominador/Domme, mesmo não sendo ele/ela nosso Dono/Dona, não somos
imunes ao seu poder de sedução. Isso é fácil perceber no chat, em conversas aparentemente
superficiais. Um Dominador relativamente conhecido (ou não) entra na sala. Mesmo que não o
conheçamos pessoalmente, somos capazes de pressentir seu poder de sedução, na sua
maneira de teclar, de se dirigir às pessoas, etc. Mesmo os mais brincalhões (sem citar nomes,
certo?) que, num primeiro momento, parecem alheios a essas considerações. É natural num
Dominador ou numa Domme esse magnetismo, essa notoriedade. Ainda que alguns discutam
esse "natural".
Um amigo, que é Mestre, me disse que esse poder de sedução a que me refiro, serve ao
Dominador para que a escolha da submissa por quem ele se interessou, recaia sobre ele.
Nesse caso concluiríamos que o Dominador não escolhe... É escolhido. Aqui entra o contexto
social da escolha (referido por Danna... again). Experimentamos, das mais diversas maneiras, o
poder de sedução de todos os Dominadores, mas elegemos o nosso Dono por alguns motivos
específicos: altivez, respeitabilidade, confiança, inteligência, sutilezas, educação, perspicácia,
sensualidade, convicção, generosidade, equilíbrio... Atributos que eles são capazes de
personificar sem esforço algum.
Num relato publicado no site do Desejo Secreto, Cadella assim se expressa: "Senti teus
olhos me engolindo... fortes... incisivos...".
Para nossa amiga Estrela-do-mar é encantamento, feitiçaria...
Esse poder (quase uma provocação), que num primeiro momento nos seduz, é o mesmo
poder que depois vai fazer com que sejamos encontradas aos pés desse homem ou dessa
mulher: "É o jogo da caça e do caçador... a gente foge (louca pra ser pega), eles correm atrás,
sabendo que depois farão o que quiserem de nós.... acredito que tenhamos que nos manter
sempre caça, mesmo quando a relação já está consolidada, é necessário se manter o jogo
ATIVO." (Danna)
O magnetismo inerente ao Dominador é aquele que faz com que a gente se sinta, por
vezes, confusa e atrapalhada. Algumas vezes nos sentimos hipnotizadas apenas com o seu
320
olhar. Olhar esse que não assegura nada, apenas sugere. Que, ao mesmo tempo em que
despoja nossa alma, também nos coloca no chão firme; lembrando-nos da nossa condição de
criaturas de carne, ossos e desejos. Noutras vezes, pode ser a voz que nos arrebata para
caminhos desconhecidos; porém, sempre iluminados pela sua presença, sempre aquecidos
pelo seu toque, sempre perfumados pelo seu refinamento, sempre repleto de prazeres
provocados pela sua sensualidade.
É esse poder que nos faz, ao seu capricho, chorar de dor e prazer; nos torna menina e
mulher; nos qualifica de santa e de puta; nos provoca medo e nos dá coragem para desafiar
limites; nos submete, humilha e quer orgulho na nossa submissão... Sem que nunca... Em
momento algum... Se possa dizer onde começa e onde termina cada um desses opostos.
Para isso nos servem um pouco as teorias. Para que, conhecendo melhor os conceitos,
nunca sejamos capazes de evitar esse jogo. Que sejamos, antes, capazes de nos entregar a ele
(ao jogo) sem restrições. Conseguindo agir assim, poderemos nos entregar a ele (o eleito)
incondicionalmente; gozando de todos os requintes a que uma relação BDSM pode chegar.
Para terminar, um poema enviado por Danna (lógico!!!), onde fica claro, mais uma vez,
como nos sentimos quando envoltas nesse poder de sedução...
"que uma palavra tem tantos sentidos quantos sejam as suas diversas realizações
contextuais. De outro lado, pode-se interpretar que a indeterminação inerente ao
significado decorre de uma palavra ter um sentido básico, a que se somam fatores
contextuais lógicos, emotivos, combinatórios, evocativos e associativos, que
introduzem nuances interpretativas diversas, no mesmo significado básico."
Isto posto, percebi que tinha encontrado no dicionário apenas o sentido denotativo do
termo, então precisava encontrar o(s) sentido(s) conotativo(s), que obviamente deveriam
existir e que, provavelmente, viriam ao encontro de tudo que realmente sinto quando tenho
uma coleira em meu pescoço.
Impávida, fui atrás de Dicionários de Símbolos. A primeira dificuldade foi encontrar o
termo "coleira" descrito em algum dicionário. Não o encontrei. Em Chevalier & Cheerbrant
(1999, p. 263), encontrei em "colar" uma referência à coleira:
"Afora seu papel de ornamento, o colar pode significar uma função, uma
dignidade, uma recompensa militar ou civil, um laço de servidão: escravo,
prisioneiro, animal doméstico (coleira). De modo geral, o colar simboliza o elo
entre aquele ou aquela que o traz e aquele ou aquela que o ofertou ou impôs.
Nessa qualidade, liga, obriga, e se reveste, por vezes, de uma significação erótica.
Num sentido cósmico e psíquico, o colar simboliza a redução do múltiplo ao uno,
uma tendência a pôr em seu devido lugar e em ordem uma diversidade qualquer,
mais ou menos caótica. (...)".
Aqui encontrei mais uma definição que se afina com os meus sentimentos: "um laço de
servidão: escravo, prisioneiro, animal doméstico(...)". Ter com alguém um laço de servidão
implica sempre numa entrega sem reservas. Essa entrega, por vezes, cria uma situação
contraditória:
"a sensação de que quanto mais me ajoelho aos seus pés, quanto mais o
reverencio, quanto mais te pertenço... mais sou livre. Livre para me entregar pra
você sem reservas, livre para viver essa fantasia, livre para recusar o que não mais
me apetece na vida, livre para erguer a cabeça e me orgulhar de ser sua escrava.
Parece contraditório: uma escrava se sentindo livre, orgulhosa. Mas eu tenho
orgulho, meu Dono!!! Tenho sim!!! Tenho muito orgulho de pertencer a você, de
323
ser para você que entrego minha fantasia, tenho orgulho do homem maravilhoso
a quem reverencio. Não me sinto diminuída por me ajoelhar aos seus pés; pelo
contrário: quando me ajoelho aos seus pés, sou a escrava que você escolheu; sou
a mulher que compartilha suas fantasias; sou a puta que te dá prazer; sou a
cadela que se entrega a você. Por essas e por outras várias razões é que tenho
orgulho da minha condição. Não da minha condição de escrava; mas da minha
condição de SUA escrava... não por ter um Dono, mas por VOCÊ ser esse Dono...".
"De modo geral, o colar simboliza o elo entre aquele ou aquela que o traz e aquele ou
aquela que o ofertou ou impôs. Nessa qualidade, liga, obriga, e se reveste, por vezes, de uma
significação erótica". Sobre a significação erótica, encontrei também em Cirlot (1984): "Por sua
colocação no pescoço ou sobre o peito adquire relação com estas partes do corpo e os signos
zodiacais que lhes concernem. Como o pescoço tem relação astrológica com o sexo, o colar
simboliza também um vínculo erótico".
A ideia de que a coleira crie um vínculo erótico, não causará surpresa a nenhum(a)
submisso(a). Qual de nós, submissas, ainda não sentiu no ritual de colocação da coleira, aquele
desejo. Aquele desejo que se espreme garganta abaixo e acaba por se derreter em secreções
ovarianas. Qual de nós nunca ficou molhada durante o ritual de colocação da coleira????
Ah!!!!! Sem dúvida há o vínculo erótico, inquestionável.
Aqui falamos de mais uma maneira de entender o uso da coleira, ainda segundo Danna -
num texto inédito: "(...) É deixar que todo esse envolvimento mude minha maneira de ser, e
verificar que isso afetou para muito melhor meu relacionamento com outras pessoas (...)".
Também não causa nenhuma surpresa a um(a) submisso(a), perceber como o uso da
coleira altera, por via de regra para melhor, nosso comportamento de maneira geral. É como
se, realmente, as coisas fossem colocadas em seus devidos lugares. Dúvidas desaparecem,
sentimentos menores são deixados de lado, picuinhas perdem sua importância. Nos tornamos
mais belos, mais sensuais, mais receptivos. E como a linguagem corporal é poderosa,
recebemos de volta, das outras pessoas, tudo de bom que passamos para elas, mesmo
inconscientemente.
Chevalier & Cheerbrant sugerem que se veja o significado de "círculo" (1999, p. 254). O
círculo apresenta uma quantidade enorme de significações, mas uma determinada parte do
324
A coleira me dá essa sensação de que minha alma não pertence mais somente a mim...
minha alma tem um Dono... o mesmo que me colocou a coleira em torno do pescoço. É um
pacto. Esse pacto, simbolizado pela coleira, me protege. É como um lembrete: lembra aos
outros, que não pertenço a mim mesma; lembra a mim, a quem devo reverenciar.
Referências Bibliográficas:
CHEVALIER, J; CHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos. 14a ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1999.
325
A Condição Dialética Da
Relação D/S
lan@
2
Por questões de padronização, o itálico foi retirado e os fragmentos da carta foram colocados
em estilo de parágrafo diferentes
326
maioria dos casais; quando observamos uma sala de aula, percebemos professores e alunos,
investidos cada qual no seu papel; num orfanato encontramos pessoas investidas nos seus
papéis de boas e caridosas, tentando ajudar outras pessoas investidas nos seus papéis de
humildes necessitados, etc.
É preciso que se entenda que esses papéis que desempenhamos com tanta naturalidade
- ainda em Berger (1972, p. 112-113) - não foram escolhidos livremente por nós. Esses papéis
nos são designados pela sociedade. A sociedade nos ensina desde a infância a representar os
papéis e crescemos dando para a sociedade exatamente o que ela espera de nós.
Particularmente sempre fui um pouco embirrada com essa realidade da distribuição de
papéis. E questiono essa distribuição. Não questiono a existência da distribuição em si, ela
existe; é fato. O que questiono é a necessidade dela. Não a necessidade dela para a sociedade
(Berger afirma e prova que a sociedade precisa dela); questiono a necessidade dela para mim
mesma.
Por isso, gosto de analisar as coisas pela lógica dialética. Quando falo em dialética, estou
me referindo a uma maneira de analisar a realidade, colocando em evidência as suas
contradições com o objetivo de superá-las.
Senão vejamos: meu Dono me domina e eu sou dominada por ele. Como ele me
domina? A resposta é fácil: eu me submeto a ele. Nada é feito sem o meu assentimento. Tudo
é muito discutido, esclarecido e respeitado; principalmente os limites. A segunda questão é:
Por que eu me submeto? Por que eu o sirvo? Por que sou sua escrava? A resposta também é
fácil: porque gosto, porque me dá prazer. Satisfazer seus caprichos, servi-lo, é o meu grande
tesão. Certo até aqui? Então vamos ilustrar!
Quando (eventualmente) eu falo alguma coisa que o desagrada, por uma questão de
disciplina, sou castigada. E o castigo pode variar muito: desde chicotadas, humilhações ou toda
uma série de punições que a imaginação dele alcançar. Digamos que num desses castigos, ele
escolha o chicote. Ora!!! Eu gosto do chicote!!! Não cabe aqui investigar o porquê exato que
eu gosto do castigo com chicote: pode ser que eu goste da angústia provocada pela ameaça;
pode ser que eu goste da adrenalina que a tensão coloca em movimento; pode ser que eu
goste da dor; pode ser que eu goste de me submeter ao poder que eu consinto a ele nesse
momento; pode ser que eu goste das marcas que fiquem depois... Enfim, não é esse o ponto.
O ponto é: quando eu provoco um castigo (e todos sabemos que um submisso(a) pode fazer
isso - ainda que inconscientemente) ou quando eu peço por uma humilhação ou ainda quando
eu sugiro um castigo; podemos dizer que ele está fazendo exatamente o que eu (a dominada)
quero que ele faça... Então... Quem está servindo quem nesse momento? Quem está
dominando quem? Ou quem está realmente obedecendo a quem?
Nesse ponto, é bom esclarecer que não pretendo reivindicar o sumário
desaparecimento dessa classificação (dominador/dominado); até porque a classificação facilita
o entendimento do processo da relação.
O que pretendo é expor uma outra maneira de ver as coisas: para Mircea Eliade (1991,
p.127-129), "o ser humano sofre de uma nostalgia do Paraíso perdido e o desejo de recuperar
327
essa Unidade perdida o obriga a conceber os opostos como aspectos complementares de uma
realidade única". No nível desse pensamento, há um esforço do homem para ter acesso a uma
perspectiva na qual os contrários se anulem (como foi o caso de Goethe, que procurou
durante toda a sua vida, o verdadeiro lugar de Mefistófeles, a perspectiva na qual o Demônio
que negava a Vida se mostrasse, paradoxalmente, seu mais precioso e incansável
colaborador).
Minha pretensão com o exposto é investigar a possibilidade de não lutarmos contra isso,
contra o que Eliade chama de coincidentia oppositorum (reunião dos contrários). Assumir o
papel de submissa, não me tira a possibilidade de, sob alguns aspectos, estar dominando. Acho
mesmo que uma relação de BDSM pode ser muito mais rica, quando entendida como a
reunião de duas pessoas, criando um estado contraditório no qual os contrários coexistem sem
confrontar-se e que não seja tão importante à distribuição dos papéis. Que sejamos capazes
de perceber que durante uma sessão de BDSM não há quem domina e quem é dominado. O
que há são duas pessoas vivendo uma relação intensa, onde segundo Danna: "Em BDSM nos
concentramos no que sentimos de verdade, vivendo relacionamentos muito fortes em termos
de emoções. Existe extrema confiança e cumplicidade em todas as práticas, além de entrega
total. Por estarmos completamente expostos, vulneráveis, ligados um ao outro em todos os
minutos, o BDSM se torna algo mágico, que engloba conquista, sedução em todos os
momentos, um verdadeiro ritual... Tudo para que o prazer, em toda a sua plenitude,
exploda!...".
Referências Bibliográficas:
BERGER, P. Perspectivas sociológicas - uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1972.
DANNA. Ciúme. Disponível na
Internet: www.desejosecreto.com.br/bottoms/bottoms04.htm. Em 19/02/01.
ELIADE, M. Mefistóteles e o andrógino. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Ciúme
Danna
motivação. Quando mal dosado, uma doença, uma tortura, uma tristeza!!!...
No Aurélio: sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de
posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém.
Emulação, competição, rivalidade, despeito invejoso, inveja, receio de perder alguma coisa,
cuidado zelo.
Dentre algumas línguas pesquisadas, o alemão, aparentemente tão frio, foi o que
melhor traduziu a singularidade desse sentimento: Eifersucht indica uma relação com o fogo,
como queimar... E não é verdade? Ciúme queima! Queima a gente, queima o outro, queima a
relação!!!
Sejamos francos: que sentimento é esse que quase ninguém consegue controlar? Ele
vem das entranhas e explode como uma bola de fogo cuspida por um dragão. Não escolhe
hora, nem lugar. Simplesmente vem... Trata-se de um sentimento visceral.
Um sentimento feio? É, sim, muito feio... Mas, tudo bem... Só acontece em
relacionamentos tidos como "normais"... No BDSM não acontece, pois estamos todos
envolvidos no e pelo prazer. Um prazer consciente, onde tudo é consensual e seguro. Com
envolvimento, sim, mas um envolvimento emocional diferente, no qual, portanto, não cabe o
ciúme...
Em BDSM nos concentramos no que sentimos de verdade, vivendo relacionamentos
muito fortes em termos de emoções. Existe extrema confiança e cumplicidade em todas as
práticas, além de entrega total. Por estarmos completamente expostos, vulneráveis, ligados
um ao outro em todos os minutos, o BDSM se torna algo mágico, que engloba conquista,
sedução em todos os momentos, um verdadeiro ritual... Tudo para que o prazer, em toda a
sua plenitude, exploda!...
Com todas essas emoções e sentimentos à flor da pele sendo, momento a momento,
testadas, provadas, você acha mesmo que o ciúme também não ronda o mundo BDSM?
Ronda, sim! E ronda marcando forte!... Por que, então, tantas escravas fazem questão
de exclusividade? Tudo bem que o seu Dominador, o seu Mestre, o seu Dono tenha uma
sessão esporádica com outra, mas desde que a verdadeira relação seja vivida só com ela!...
Mas, existem casos em que outras existem... E aí? O que se pensa? Que as atenções e o
tempo estão sendo divididos certinhos? Ninguém está nem com menos, nem com mais? Na
verdade, são pensamentos que atordoam dia e noite! De quem ele gosta mais? O que será
que ela - a outra - faz com ele?
Não é brincadeira. Você entendeu, aceitou as regras e quis entrar. Mas, agora, como
dizer que sente ciúme? Que sofre com isso? Disfarça, se faz de forte, finge que não está nem
aí, mas quando se lembra que aquela boca que te diz coisas que te levam à loucura sem
mesmo ser tocada, aquele beijo carinhoso que te acalma, aquelas mãos que te pegam forte e
depois acariciam teu corpo, também fazem parte de um outro relacionamento, com outra
pessoa, que possivelmente sente as mesmas coisas que você, o que você sente?...
***
329
Doce ciúme, bendito sejas, porque vives em mim em dose construtiva, faz-me querer
sempre ser melhor, motiva-me a mudar, faz-me evoluir. Sei que um dia olharei para você e não
mais te acharei... Então saberei que aquele fogo que eu sentia, aquela emoção tão forte que
chegava a me atormentar, a tirar meu sono, acabou... Ai... Que coisa sem graça será viver sem
você... Mas, nunca se esqueça: venha sempre, mostre-me que estou viva, mas não me
sufoque, não me mate de overdose, pois tenho limites, sei que tenho!
Limites e Segurança
Vitar@
Quando decidi escrever sobre segurança, a primeira coisa que me veio à mente foi o
sustentáculo do BDSM: os princípios São, Seguro e Consensual. Como tive a oportunidade de
escrever num texto anterior, a relação BDSM, para ser plena, tem que conter um mínimo de
cumplicidade entre o Dominador e o /Dominado, de forma que exista a consensualidade e,
principalmente, que ela seja sadia...
Outro ponto, que todos aprendemos desde cedo, é que nosso limite acaba quando
começa o limite dos nossos semelhantes. Isso quer dizer que limite e respeito sempre
caminham juntos. Todos temos limitações e se não fosse assim, seríamos super-homens ou
super- heroínas, pois cada pessoa tem um nível de sensibilidade, seja psicológico ou físico.
No BDSM as coisas são da mesma forma condicionadas: antes de estabelecer-se uma
relação, seja ela de que tipo for, lá estão eles novamente, os nossos limites, pois os
estabelecendo estaremos, de certo modo, nos assegurando.
A literatura erótica mostra personagens desprovidos de limites ou que vão além de seus
limites apenas para ver seus Donas e Donas satisfeitos. Na História de O, de Pauline Reagè, por
exemplo, isso fica evidente pela forma da entrega de O a Renè, da mesma forma ocorrendo em
outros contos, nos quais a escrava se entrega e rompe seus limites sem pensar nas
consequências que isso pode trazer para ela mesma.
Creio que, na vida real, não é bem por aí...O prazer tem que ser mútuo, em primeiro
lugar. Outro fato importante é nunca comparar nossos limites com os de outras pessoas.
Aquele papo de que "fulano de tal" aguenta e você também tem que aguentar está fora de
questão... Apenas nós sabemos o que sentimos. Portanto, é de nossa responsabilidade nunca
burlar nossos limites, para que a relação possa ser a mais saudável possível.
É importante que cada um de nós, Submissas e Submissos, deixemos bem claro aos
nossos Donos e Donas o que queremos - ou não - durante uma sessão ou cena. Cada um tem
que expor o que sente e o que não gostaria que acontecesse, para que não fuja do seu
controle a situação. Sem dúvida alguma, também cabe a nossos donos respeitar nossos
limites. Limites que não são meramente impostos, mas sim discutidos e apresentados da
forma clara, para que a relação possa, desta forma, ser a mais sadia possível.
330
E a segurança?
Toda relação em BDSM tem, por objetivo único, criar formas de prazer através de
algumas práticas, muitas das quais provocando dor. Para tanto, desde o início da relação, o
ideal é que sejam estabelecidos e discutidos os limites. Tem que se deixar bem claro o que
deve-se e ou não se deve ser feito. Um papo aberto e franco entre o Dominador e o Dominado
pode esclarecer bem esta questão. Isso é super importante para que sejam evitados possíveis
situações que coloquem em risco a nossa própria segurança, valendo lembrar que devemos
nos entregar apenas a quem realmente confiamos e conhecemos muito bem.
Outro ponto da segurança é o estabelecimento de uma safeword. Uma safeword (ou
savecode) é uma palavra ou um código que tem por finalidade a interrupção de uma
determinada prática dentro de nossas cenas. Assim que a(o) submissa(o) a pronuncia, seja por
dor ou por qualquer motivo que fira a sua integridade física, a cena é interrompida. Uma
palavra ou expressão utilizada e previamente combinada entre o Dom e Sub para que nossos
limites sejam respeitados. É como jogar a toalha, no boxe, ou pedir tempo, no voleibol...
Segurança também inclui outros fatores, que independem da posição que cada um de
nós ocupa na cena BDSM. Cabe ao Dominador zelar por nossa segurança através dos
equipamentos que ele utiliza nas sessões, incluindo-se aí o cuidado com a higinene. Segurança
inclui saúde e, portanto, sexo seguro. Ou seja, mesmo que você use os mais variados métodos,
o uso de preservativos, seja qual for sua posição na cena, é fundamental.
Como sempre digo: tudo que é exagero, prejudica. Estabeleça seus limites, ponha sua
segurança em dia, faça de sua relação BDSM um porto seguro e... Seja Feliz!
exagere logo de cara na forma de tratamento e nas formalidades. Nunca chegue, também, se
auto-promovendo no aberto ou gritando aquelas frases, do tipo: "- Me ajoelho a seus pés...",
"Estou entregue à sua mercê..." ou, pior ainda, se descrever por completo, dizer suas
preferências, mas, erroneamente, mandar a mensagem para um(a) sub... Lamentável!
Tente também não se iludir com abordagens galanteadoras, com Mestres ou
Submissos(as) maravilhosos. Existem pessoas que usam desses artifícios para ludibriar as
outras, para promover encontros e, até mesmo, cometer atrocidades, distorcendo
completamente a verdadeira relação BDSM, que deve ser sã, segura e consensual.
Particularmente, já passei por esse tipo de situação e jamais gostaria que outra pessoa
passasse pelo mesmo. A sensação de ter sido "enganada" é horrível. E o pior é não poder fazer
nada. Seja realista e tenha em mente que num chat você nunca sabe quem está do outro lado,
o que a pessoa quer realmente e se as intenções dela realmente são as melhores.
Se quer ter um encontro real, com pessoas sérias, procure participar dos encontros
promovidos pelo Grupo SoMos ou busque sempre, para os primeiros encontros, lugares
públicos, movimentados e seguros. E, atenção: uma pessoa com boas intenções nunca vai
obrigar você a fazer algo no primeiro encontro.
Estas dicas são de uma amiga iniciante para os amigos iniciantes... Sejam felizes!
Tenho o direito de pedir que contribua para o nosso relacionamento, tanto quanto eu o
faço. Assim como minhas súplicas também sejam atendidas, esperando que meu Senhor as
considere, como faria em relação a qualquer amigo ou colega.
Tenho o direito de perguntar quais os motivos dele não atender as minhas súplicas,
porém com o devido respeito.
Tenho o direito de esperar que ele administre seu castigo com cuidado e precaução. E
tenho o direito de pedir que pare a qualquer momento, se considerar necessário.
Tenho o direito de levantar e ir embora de uma sessão se o meu Senhor não respeitar
meus limites.
Tenho o direito de esperar que respeite minhas decisões e que não pense mal de mim
ou me abandone por esse motivo.
Tenho o direito de reclamar se considerar que nosso relacionamento não me dá o que
preciso.
Tenho o direito de dizer o que preciso de uma maneira respeitosa.
Tenho o direito de esperar que entenda meus motivos e que seja ouvida com a mente
aberta. E tenho o direito de abandonar o relacionamento se não conseguirmos chegar a um
acordo nessas questões.
Tenho o direito de esperar carinho, amor e uma completa compreensão depois de uma
sessão.
Tenho direito de pedir carinho se tive um dia ruim ou se sinto que necessito de uma
atenção especial. Sei que existirão momentos em que discordaremos sobre esse assunto - por
exemplo, quando o Senhor quiser uma sessão e eu não. Mas tenho o direito de exigir uma
conversa sobre isso e esperar que ele me escute e considere meus motivos.
Espero que o meu Senhor tenha a palavra final, mas também espero sua compreensão
ao considerar meus sentimentos, sejam eles quais forem.
Tenho o direito de esperar que o nosso relacionamento progrida, que nossa confiança
sempre se renove e que nossas mentes estejam tão perto como estão nossos corpos.
Tenho o direito de dizer se necessito mais do Senhor e esperar que ele respeite minhas
decisões sobre o que quero e o que preciso. Espero que meu Senhor deseje que nosso
relacionamento avance, a não ser que, antes, ele decida o contrário.
Espero que ele entenda que essa profunda confiança pouco a pouco se converte em
amor e espero que não me evite se digo que o amo. E tenho o direito de esperar que me diga,
a qualquer momento, se não pode corresponder a esses sentimentos, para que eu decida
sobre o que quero e o que preciso.
É por isso que o prazer do meu Senhor aumenta o meu prazer, tornando-o real e
permitindo que o meu junte-se ao seu.
333
Teorias
Ideias, Teorias e Conceitos
Este espaço está reservado à defesa de ideias e
teorias, bem como à análise dos conceitos os mais variados,
que se relacionem ao mundo BDSM. Novos textos e sugestões serão sempre muito bem
recebidos.
3
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335
Dominador preexiste o Dom, aquele que denota poder e frente ao qual os súditos vêm curvar-
se.
É terrível perceber como séculos de Cristianismo só conseguiram ampliar os atos de
submissão dos povos às disciplinas inculcadas pela política ou pela religião, pelo Estado ou pela
Igreja, interferindo até mesmo no espaço da sexualidade doméstica. Contudo, nem mesmo a
criação da ideia de pecado, o mais criminoso ato de covardia já perpetrado contra o imaginário
humano, e da Inquisição, o braço armado da teologia católica, conseguiu afastar os homens
dos seus fetichismos. A libido foi mais forte que o sangue dos cristãos derramado no coliseu
romano.
E por que tem sido assim? Porque, ainda que tenhamos nos esquecido, somos animais.
E, como animais, impregnados das regras da Natureza, obedecemos aos ditames da vida; nos
orientamos, como os vegetais supostamente cegos, na direção do Sol.
Na oposição artificial que os séculos de civilização criaram, tão bem detectada por
Nietzsche - de um lado, o instinto degenerador, contrário à vida, do Cristianismo; de outro, um
exuberante dizer Sim à vida, sem nada desconsiderar ou dispensar - venceu o Sim da coragem
e do excesso, através do qual ousamos avançar. (I)
Dessa forma, Dominadores(as) e submissas(os), além de uma infinita gama de
fetichistas, nada mais fazem do que perseverar em seu infatigável Sim ao que clama em suas
naturezas. Quando a chibata - ou apenas a mão - do Dominador desce, inflexível, leve ou
pesada, rápida ou compassadamente, mas sempre fustigante, sobre a carne da sua escrava,
esse gesto reafirma uma pulsão em direção à vida. É um Sim ao que a Natureza lhes exige. E
quando a submissa, consensualmente, oferece a sua vontade, deixando que a sua carne abra-
se às marcas daquele que ela escolheu, é como se o seu corpo inteiro, em uníssono ao do seu
Senhor, almejasse o desmedido, o ponto mais extremo da vida.
Aqui, quando esses dois animais - como felinos na selva - constróem a cena
sadomasoquista, cada gesto e cada anuência urdem uma dança de força, no centro da qual
uma vontade maior se cria. E, quando a cortina das pupilas se ergue, e os olhos do Dominador
e da submissa se encontram, a imagem que invade os membros jamais morre no coração, mas
insufla uma força e um desejo ainda maiores. (II)
Trata-se de um jogo de exaustão, no qual o consenso pode estabelecer regras que - sem
a mínima perda de prazer - dissipam e/ou esgotam toda e qualquer força física. Trata-se,
portanto, de um jogo no qual se vivencia, através do mais íntimo dos acordos, da mais íntima
cumplicidade, a dor, o medo e, até mesmo, o horror. Tudo para erguer um Sim irrepreensível à
vida. Tudo para, no dizer de Georges Bataille, "chegar ao fundo do êxtase em cujo gozo nos
perdemos". (III)
Trata-se de um Sim desmedido, dionisíaco, se pensarmos aqui nas inúmeras variantes
que a relação D/s pode tomar. Amarro minha serva e ela sussurra: ata-me. Esbofeteio-a e ela,
oferecendo a outra face, pede: beije-me. Humilho-a e ela vem beijar minhas mãos, os olhos
voltados para o chão. E, mais uma vez, o que aos olhos dos tolos ganha os contornos de uma
perversão, para nós é apenas beleza e exuberância, ainda que extenuantes.
336
Muitas vezes, ao ser questionado sobre tais relações, costumo dizer que entendo o SM,
em última instância, como uma espécie de cosmovisão, ou uma weltanschauung, pois ele me
concede um prazer verdadeiramente filosófico: quando bato ou submeto, descubro mais de
mim mesmo e conheço os limites e as faces ocultas das outras pessoas... É como se, passo a
passo, eu pudesse desvendar um pouco mais o gênero humano.
É impossível não residir beleza na relação D/s. Fazemos um contrato e nos dizemos,
reciprocamente: - Vou revelar-me para você... - Por favor, faça tudo com que sonho... -
Respeite minha vontade mais íntima... - Aceite meu pavor... - Aceite minha violência... - Vamos
nos permitir a verdade, um pouco... E cada golpe que passo a desfechar sobre a minha escrava
passa a ser um atestado de que estamos vivos e somos grandes; que podemos ir onde
nenhuma espécie foi... E voltar. Que somos soberanos da nossa própria vontade. Assim,
quando o chicote vergasta a carne ou quando a parafina quente escorre pela pele que se
retrai, inexiste o ódio, mas vibra uma violência pura, uma compulsão de violência maior do
que o Dominador ou do que a submissa, uma sensação ancestral, muito anterior a todos nós,
algo que nos liberta, nos salva e nos torna melhores, ou maiores... Sem medo de usar da
retórica, a mesma violência que fundou nossa espécie e nos preserva até hoje...
Bataille dirá que "o ser em nós só existe em excesso, na coincidência entre a plenitude
do horror e da alegria". O olhar de espanto e dor da submissa é um abismo aberto não só à
dor, mas também à alegria. Uma alegria semelhante ao Sim nietzschiano, sem qualquer
reserva.
Seria possível, no entanto, sintetizar, numa única frase, isenta de qualquer raciocínio
extravagante - que, porventura, pudesse obscurecer a radiante luz do SM -, a verdade do que
afirmamos até aqui? Nietzsche dita, com a simplicidade dos que só frequentam as alturas: "O
que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal." (IV)
I Nietzsche, Friedrich. Ecce Homo. Como Alguém se Torna o que é. Editora Cia. das Letras, 1995,
São Paulo.
II A imagem da pantera enjaulada, no poema de Rilke, foi minha indisfarçável inspiração aqui,
ainda que recusando o final derrotista. O original pode ser lido em: Rilke, Rainer Maria.
Poemas. Editora Cia. das Letras, 1993, São Paulo.
III Bataille, Georges. Prefácio. In História do Olho (seguido de Madame Edwarda e O Morto).
Editora e Livraria Escrita, São Paulo, 1981.
IV Nietzsche, Friedrich. Além do Bem e do Mal. Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Editora Cia.
das Letras, 1992, São Paulo
verdadeiramente infeliz foi durante os primeiros seis anos, época em que, de vez em quando,
Arthur quis romper os vínculos que os atavam... Não será exagero dizer que, para Cynthia, a
vida de Koestler converteu-se em sua própria vida; que ela viveu a vida dele. E quando chegou
o momento de Arthur abandonar esta vida, também para ela chegou o seu fim."
Apesar de ser um sinal de evidente dependência, o suicídio concedeu a essa mulher
aparentemente frágil uma aura de força suave, de um meigo vigor. Assumindo uma completa
submissão - "contagiavam-me também os estados de ânimo de Arthur, suas depressões e sua
melancolia", diz ela -, Cynthia encontrou a forma de conciliar o seu sentimento de adoração e
a sua necessidade de ser amada.
Talvez ainda reste-nos alguma dúvida no que se refere à personalidade de Koestler...
Teria ele, realmente, o perfil de um dominador? A resposta encontra-se nas páginas de seu
diário, escritas em junho de 1954, pouco depois da morte de Mamaine: "É verdade, sempre
me atraiu um tipo de mulher: as belas gatas-borralheiras, infantis e inibidas, as quais devemos
subjugar, intimidando-as."
São Paulo, junho de 2001.
Bibliografia:
Avishai, Bernard. Anales del matrimonio (los riesgos de la devoción). La Gaceta del Fondo de
Cultura Económica; número 315, março, 1997.
Arthur Koestler: un crosé sans croix http://authologies.free.fr/koestler.html (com links para
outras páginas importantes)
Serviço:
• A obra Stranger on the Square, que também é assinada por Arthur Koestler e Henry
Irving Jorgensen, apesar de estar fora de catálogo, pode ser adquirida através
da www.amazon.com.
Em jogos de BDSM, a linha que separa o que é consensual do que é abuso é muito,
muito fina. A própria natureza do jogo inclui esse risco e, em essência, ela se baseia num
"abuso consensual", por mais paradoxal que isso possa parecer.
Em outras palavras, um submisso sente prazer em ser humilhado. E ser humilhado, por
qualquer conceito, inclui inevitavelmente o fato de sofrer algum tipo de abuso, seja ele físico,
mental ou emocional. Dentro dos limites estabelecidos - ou seja, dentro das regras pré-
estipuladas entre dominador e submisso -, esse abuso é o que chamamos de consensual. O
submisso sabe que será humilhado - ou abusado - dentro de determinados parâmetros, com
os quais ele próprio concorda e sabe que serão respeitados pelo dominador.
Até aqui, tudo muito tranquilo. Mas, suponhamos que, no decorrer de uma cena
excepcionalmente excitante, um ou outro (submisso ou dominador) presuma, por si mesmo,
que pode ir um pouquinho além daquilo que foi previamente combinado. Suponhamos, por
exemplo, que um casal (homem e mulher) tenha seguido toda a cartilha de segurança,
combinando tudo o que fariam, e que em nenhum momento se tenha falado numa penetração
anal da mulher. E suponhamos que, no ápice do jogo, o homem tenha, de repente, por
qualquer motivo, a impressão nítida de que a parceira concordaria com essa penetração,
mesmo estando ela amarrada, amordaçada e vendada, incapaz de reagir.
Aí é que o problema começa. Se o casal combinou uma palavra ou sinal que indica que o
submisso já está no limite de sua resistência - e que, portanto, é hora do dominador encerrar a
sessão imediatamente -, ainda há uma chance. Mas, se eles deixaram de lado essa "válvula de
segurança" absolutamente indispensável numa cena de BDSM, torna-se virtualmente
impossível ao submisso indicar ao dominador que este está indo longe demais.
Debater-se, gemer mais alto, tentar gritar ou se livrar das cordas: tudo isso faz parte da
cena e nada disso indica coisa alguma, servindo, para a maioria dos dominadores, apenas para
excitá-lo ainda mais e tornar mais evidente (para ele) que o submisso está gostando cada vez
mais do jogo, quando na realidade ocorre exatamente o contrário.
Nessa situação, com as endorfinas afogando o cérebro, é muito pouco provável que o
dominador vá se dar conta de que rompeu os limites do submisso. Ele só se aperceberá disso
mais tarde, quando a cena estiver encerrada - e provavelmente a relação com o submisso
também, porque se terá perdido a relação de confiança mútua, sem a qual ninguém, em sã
consciência, pode manter um jogo de BDSM.
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Pode também ocorrer o contrário. Um submisso que goste de ser espancado, por
exemplo, pode, da mesma forma, perder o controle sobre si mesmo, permitindo ao dominador
que vá longe demais, causando até ferimentos sérios. Neste caso, embora não se possa falar
propriamente em abuso, o resultado pode ser deprimente para ambos. Para o submisso, que,
ao notar que foi longe demais consigo mesmo, tenderá a culpar o próprio dominador por não
ter notado isso, podendo acusá-lo, inclusive, de ter se aproveitado da situação de excitação em
que ele, submisso, se encontrava (e daí a acusá-lo de abuso vai apenas um pequeno passo). E
para o dominador, que tendo ou não notado que as coisas estavam saindo de controle, irá se
recriminar depois, porque ele próprio saiu de controle. Ou seja, ao dar um, dois, três passos
além do que se havia preiamente combinado, o dominador estará se mostrando fraco demais
para exercer seu papel. Dominadores, acima de tudo, têm de ter controle total sobre a cena.
Não apenas sobre o parceiro, mas especialmente sobre si mesmo. Sem isso, ele se torna muito
mais uma ameaça do que qualquer outra coisa.
Vê-se, portanto, que a questão é sutil. E, portanto, complexa. Determinar onde termina
o consensual e onde começa o abuso é tarefa delicada, que implica em alguma experiência de
ambas as partes envolvidas no jogo. Cabe ao submisso saber exatamente até onde ele quer e
pode ir; e cabe ao dominador interpretar isso corretamente, além de, claro, saber também ele
os próprios limites.
É por conta disso que muitas relações de BDSM tornam-se verdadeiramente
traumáticas. Temos visto alguns casos de iniciantes no jogo que, sem ter noções de seus
próprios limites, acabam indo longe demais - e depois culpam os dominadores, quando a
culpa, na verdade, é de ambos. Um iniciante não tem parâmetros para mensurar coisa
nenhuma. E tolo é o dominador que acredita o contrário. Não se trata aqui de duvidar da
resistência ou de subestimar os desejos de ninguém. Trata-se simplesmente de um fato: um
submisso iniciante simplesmente não sabe se, de fato, poderá chegar até onde sua imaginação
e suas fantasias lhe sugerem, porque ele nunca experimentou aquilo antes.
Não são raros os casos de pessoas que acham que adorariam transar amarradas (para
ficar num exemplo bem simples) e que, na hora em que tentam fazê-lo, descobrem que a
realidade é bem diferente do sonho... E que elas, afinal, não curtem aquilo. O que dizer então
de quem acha que vai amar ser humilhado ou chicoteado? Achar, disse certa vez um vilão num
filme, é a mãe de todos os erros...
Portanto, agir com cuidado - algo que, como praticantes mais experientes,
recomendamos o tempo todo - torna-se ainda absolutamente imprescindível na questão
abuso x consenso. E se isso vale para nós mesmos, deve valer muito mais ainda para quem
está começando, agora, a explorar suas fantasias dentro do BDSM.
Iniciantes precisam entender três coisas: primeiro, que devem ir devagar, por mais que
os instintos lhes gritem que podem ir mais e mais longe.
Segundo, que jamais devem participar de uma cena se não for com um dominador no
qual tenham a mais absoluta confiança. E é bom lembrar que essa confiança não se adquire
em conversas em chats nem em um único encontro real. A comunidade BDSM é pequena, e as
pessoas que a integram geralmente se conhecem. A recomendação é que se procure
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São todas experiências muito individuais, pessoais, cuja finalidade é o prazer mútuo. E
este, é claro, depende das fantasias e das necessidades de cada um. Assim, tudo vai depender,
em última instância, da capacidade de explorar as fronteiras da imaginação dentro de um
ambiente são. Independente de como e porque agem dessa forma, há um elemento comum a
todas essas relações, elemento muito caro à comunidade BDSM: o fascínio pelo jogo da troca
de poder.
na vida real essas pessoas têm o mesmo valor, o mesmo peso, os mesmos direitos que
qualquer pessoa. Apesar do clichê, vale a pena repetir. Se a pessoa do/a submisso/a não se
amar, não se respeitar, não tiver auto estima, o que ele está transferindo ao dominador/a??
Entregando o quê? Troca erótica de que mesmo? De nada!!!
O controle assumido é igual a responsabilidade aceita: é o próximo ponto ressaltado por
Molly. É preciso que o dominador/a conheça e entenda muito bem a dinâmica contida num
relacionamento BDSM. E saiba que no estado de submissão, durante uma cena, o/a
submissa/o está atuando em estado de diminuição de capacidade e habilidade de tomar
decisões. É o chamado "subspace". Este é exatamente o ponto da transferência, da troca. O
que, convenhamos, não é pouco. Daí a necessidade de uma negociação cuidadosa, cautelosa,
pois a/o submissa/o entrega seu corpo, mente e espírito aos cuidados do/a parceiro/a
dominador/a. Recado claro aos(às) dominadores/as: se você não quer aceitar as
responsabilidades por seus atos, não aceite o poder.
A autora continua citando outro ponto de importância fundamental: O único poder que
um/a dom/mme tem é aquele entregue pelo seu/sua parceiro/a submisso/a, colocando, de
forma muito clara e explícita, na roda, a consensualidade. Dominadores não podem, de
maneira unilateral, ter mais poder do que o que já foi negociado, da mesma maneira que subs
não podem resolver de maneira unilateral que querem mais controle do que aquele já
acordado. Entretanto, ambos os parceiros podem, a qualquer momento, acabar com a troca
de poder. Quaisquer mudanças de nível, duração ou circunstâncias do controle devem ser
negociadas fora de cena, em situação de calma, não importando se este acordo é para uma
cena especifica ou para um relacionamento mais duradouro.
Molly Devon não acabaria a listagem do que considera importante sem mencionar o
abuso, lembrando que uma relação que funciona para uma pessoa em detrimento de outra é
sempre abusiva. Com isso reforça novamente a diferença da fantasia em relação à realidade,
onde as vontades e necessidades da pessoa que se encontra no papel de sub têm igual
importância. Não podemos esquecer que a transferência de controle e de tomada de decisão
que o/a submisso(a) entrega a(o) seu(sua) Dominador(a) é para o benefício e prazer de ambos
os parceiros envolvidos.
A capacidade que Molly teve, como submissa, de continuar sozinha o trabalho e a obra
iniciados com seu companheiro, Philip, é mais uma demonstração de que o BDSM não castra
pessoas, personalidades ou vontades. Ao contrário, permite que cada um cresça e assuma, de
maneira responsável, o que de mais caro existe no substrato do ser humano: a sua
sexualidade.
Mentor
Delmonica
347
"Mentor, sinônimo de pessoa que guia, ensina ou aconselha outro, mestre, conselheiro,
guia." (Dicionário Aurélio)
Etimologicamente falando, a palavra 'mentor', no sentido que atualmente conhecemos,
é usada desde 1873 no francês, 'mentor', derivado do latin mentor-is , que, por sua vez, vem
do grego, antropônimo (nome próprio de pessoa) 'Méntor'. (Dicionário Etimológico Nova
Fronteira)
Mentor (ou Mentes, em outra edições) é o amigo de Ulisses na famosa Odisséia (séc. VIII
a.C.) e ocupa posição de relevo como preceptor e também conselheiro do filho de Ulisses,
Telêmaco. Fato curioso: a deusa Palas Atena, a deusa da sabedoria, escolhe "a figura exterior e
a fala" de Mentor para "dirigir-lhe as palavras aladas" (Odisséia, Livro II).
Minerva ou Atena: "símbolo do conhecimento racional com a percepção da luz lunar por
reflexo, opondo-se, destarte, ao conhecimento intuitivo com a percepção direta da luz solar".
(Junito Brandão, Mitologia Grega)
Estive em uma palestra, tempos atrás, de um famoso diretor de teatro, Jerzy Grotowski,
e ele dizia: "Sou um professor de performers. Falo no singular. O professor é alguém através
de quem passa o ensinamento; o ensinamento deve ser recebido, mas a maneira do aprendiz
redescobri-lo, lembrar-se, é pessoal."
Professor, chefe religioso ou mentor SM, todos estes têm um nódulo comum de
concentração de energia, todos estes têm uma base psíquica comum a todos os seres
humanos.
O Mentor tornou-se uma imagem na mente humana, uma matriz arcaica, onde
configurações análogas ou semelhantes tomam forma. A figura do Mentor é arquetípica.
Bem, você pode estar se perguntando: "- E daí? O que tudo isso tem em comum com
SM?"
Foi a partir da observação da importância que se atribui ao Mentor no BDSM, que me
motivei a procurar estas raízes, estes fundamentos anteriores, e que, justamente por isso,
encontram também seu peso dentro do universo BDSM.
O jovem Telêmaco é guiado por Mentor em sua longa viagem, cheia de receios, dúvidas
e aventuras até a ilha de Ítaca, em busca de seu pai, Ulisses.
Outra referência está na Divina Comédia (Séc. XVI), na figura de Virgílio. Dante escolhe
Virgílio para guia e mestre em sua viagem através do Inferno e do Purgatório, tornando
"Virgílio símbolo da razão, que pode tornar o homem senhor das quatro virtudes cardeais".
Contudo, é Beatriz quem conduz Dante ao Paraíso, que é o símbolo da teologia. Mas
nem só a razão conduzirá Dante a Deus; aqui surge a figura de S. Bernardo, já que o homem
jamais poderá estar diante de Deus servindo-se exclusivamente do instrumento da razão. A
razão humana, em um certo ponto, torna-se impotente para conduzi-lo a Deus.
É preciso notar momentos de passagens em ambos os exemplos, tanto na Odisséia
quanto na Divina Comédia. O caminho pode ser conduzido até certo ponto pela figura do
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mentor, entretanto, as buscas do pupilo tomam seus próprios rumos e outras intervenções
surgem... E me parece importante notar, que surgem partindo do próprio pupilo. Ou,
curiosamente, nos exemplos citados, simbolizados pela figura feminina de Palas Atena ou
Beatriz, que podem ser a representação psíquica da feminilidade inconsciente do homem, que
Jung denomina de anima (na mulher falaríamos em animus).
A anima ou animus, um outro olhar contido em todos nós, na verdade uma projeção de
si mesmo, como num espelho, conteúdos de nossa própria psique. Esse tipo de instrumental
deve ser de conhecimento do pupilo, é esse tipo de conteúdo que o propulsiona a alçar vôo
próprio, na tentativa de alcançar os próprios objetivos ou, melhor definindo, um processo de
auto conhecimento: o que quero, como quero, o que gosto, quais meus limites, no que
acredito, quem sou EU nisto tudo. Mais uma vez, na Odisséia e na Divina Comédia, o mito
encarna o ideal de do ser humano: a conquista da própria individualidade.
E, da mesma forma, o Mentor dentro do BDSM tenta orientar e aconselhar um(a)
noviço(a) nas descobertas e nos primeiros estágios perpassados de dúvidas e angústias. E,
acima de tudo, prepará-lo para dar seus próprios passos, com auto estima, domínio e auto
conhecimento.
O Mentor, no SM, além de ter domínio de técnicas e práticas, deve ter a sensibilidade
para perceber as potencialidades inatas de seu pupilo.
Por outro lado, quem procura um Mentor e o aceita verdadeiramente, não está dando
mostras de incompetência, ignorância ou qualquer sentido menor, muito pelo contrário, esta
pessoa busca completar-se, o que é muito diferente. E para completar-se terá que enfrentar a
si próprio, seja em suas qualidades ou defeitos, seja em aprender a conviver com estas
'tendências', em alguns casos irreconciliáveis.
São nestes momentos que o Mentor está presente, tentando questionar e conduzir,
como disse, não apenas no que toca à prática, porém numa tarefa mais árdua... no que
permeia os meandros da alma.
É indiscutível que esta figura no SM tenha conhecimento e experiência, pois a prática do
SM necessita de consciência e técnica. Ser são, seguro e consensual é muito sedutor para os
que se interessam pela prática, mas essa realidade deve passar pelo processo de introspecção.
Trazer para dentro de si a verdade de que o BDSM é uma prática de RISCO, sim. E que isso não
afasta as possibilidades de realização. BDSM, é um 'esporte' radical.
O papel do Mentor é o de orientar, informar, incentivar a busca do domínio das técnicas
destes jogos eróticos e alertar, chamar atenção sobre as regras de segurança que fazem destes
jogos realização e prazer de uma forma segura.
Em minha opinião, o Mentor não é ser um altruísta ou algo que lembre sacerdócio. Até
porque o sacerdote é investido através de ritos e/ou cerimônias, tendo uma autoridade
institucionalmente concedida. Já o mentor tem sua autoridade reconhecida naturalmente, seu
poder advém daí, do seu comprometimento com a ética, a filosofia e o conhecimento. Ele não
dissemina uma crença ou tem como objetivo "converter" pessoas ao SM, mas é um
pesquisador constante e faz seus mentorados na constante busca de aprofundamento.
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Não se deve esperar paternalismo de um Mentor. Manter uma relação produtiva com
um Mentor requer maturidade. E está ai uma qualidade difícil de se reconhecer
essencialmente, assimilar, lidar e adquirir: MATURIDADE.
E pego carona nas palavras de J. Grotovisk: "O Mentor é alguém através de quem passa
o ensinamento, o ensinamento deve ser recebido, mas a maneira do aprendiz redescobri-lo,
lembrar-se, é pessoal."
É famosa a afirmação de que "quem sabe faz, quem não sabe ensina". Pois está aí o
paradoxo do Mentor. Ele não pratica com seu pupilo, orienta-o; não direciona, acompanha-o;
também não estabelece vínculos de dependência, LIBERTA.
E há de se ter "quilha interior" para abraçar a liberdade, a liberdade com
responsabilidade, (tão proclamada... risos), e tão factual quando se fala em BDSM são, seguro
e consensual, seja na posição de dominador(a) ou submissa(o).
Encontrar um verdadeiro Mentor SM não é fácil. Reconhecer um Mentor não é difícil.
Ter um Mentor no BDSM é muitas vezes aconselhável e necessário. Se o Mentor é um
"escravo(a)", "submissa(a)", "dominador(a)" ou "Mestre/Mistress"... realmente acredito não
ser o mais importante, não vou discutir isso agora. Mas, uma coisa é certa: cada praticante ou
candidato a praticante de SM tem o Mentor que merece.
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Você pode conhecer alguém em uma reunião social com adeptos ou simpatizantes SM,
em uma festa, num grupo... Mas nada disso "avaliza" uma pessoa. As pessoas não vêem com
nenhuma espécie de "painel" onde apresentam um "detector" de caráter, um "medidor" de
intenções, um "localizador" de objetivos ou, ainda, um "indicador" de equilíbrio mental.
Você pode pensar: "Mas em determinado grupo sei que encontrarei pessoas sérias e
comprometidas...". Este é um erro recorrente por parte dos novatos. Não caia nessa.
Um grupo renomado, um clube sério, ou uma comunidade reconhecida não são
garantias. Ou seja, você não pode adotar, automaticamente, a postura de que lá encontrará
pessoas confiáveis.
Nenhuma dessas organizações funciona como um filtro que, eventualmente, pudesse
barrar a frequência de pessoas indesejáveis.
Sendo assim, não há nenhum motivo para imaginarmos que qualquer tipo de
organização que congregue, seja de maneira real ou virtual, pessoas com interesses comuns,
como no BDSM, seja diferente de todo o resto do mundo, onde encontramos pessoas com
uma grande variedade de valores, atitudes e objetivos.
Alguns incidentes no SM, em certos casos, inclusive, desastrosos, acontecem -
inevitavelmente - quando as pessoas não têm o conhecimento suficientemente claro de quem
é a outra pessoa com a qual estão se relacionando.
É sempre importante lembrar que antes de alguém ser um(a) bom(boa) Mestre(a) ou
Submisso(a), ele(a) é um ser humano. E conhecer esse ser humano é de grande valia.
Portanto, valem a pena umas perguntinhas, do tipo:
- Qual é a história desta pessoa dentro do SM?
- Qual a experiência que ela tem?
- Qual a visão que o restante do grupo tem dela?
E mais:
- Quem é esta pessoa em todos os aspectos? Como ela pensa? Quais suas opiniões sobre
os mais diferentes assuntos?
- Ele(a) é uma pessoa confiável?
- É um bom ser humano?
Conheci o caso de uma submissa que, entusiasmada com uma sala de chat, por
exemplo, estabeleceu contato com um dominador. Depois de algumas conversas, sabendo que
ele frequentava reuniões de um determinado grupo SM, resolveu sair do virtual para uma
sessão real. O resultado é que esta sessão aconteceu completamente fora de suas expectativas
e ela veio a sofrer práticas absolutamente não consensuais por parte de um sádico que
aparentou ser um sério e respeitável dominador.
Não podemos, inocentemente, pressupor que, por estarmos batendo papos virtuais,
trocando e-mails, ou mesmo frequentando um determinado grupo, estamos em contato com
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pessoas que respeitam, por exemplo, a pedra fundamental do SM, que é o São, Seguro e
Consensual.
É muito fácil uma pessoa se aproveitar da credibilidade de um grupo ou de novatos
inexperientes, para colocar para fora seus conceitos equivocados ou seus impulsos violentos.
Mesmo que durante os encontros de um grupo, sejam virtuais ou reais, essa pessoa pareça
emitir opiniões sérias ou ter comportamento responsável, nem isso avaliza tal criatura.
É quando estamos sozinhos com tal pessoa que percebemos o perigo que ela pode
representar.
A comunidade SM, seja nacional ou internacional, vem se expandindo e com isso surge a
necessidade de estarmos orientando a todos, principalmente para que os novatos conduzam
suas relações BDSM de uma forma segura e consensual, a fim de que a sua forma de expressão
do prazer sexual seja preservada de forma saudável.
E lembrem-se: SM e maltratos são tão opostos quanto relação sexual e estupro.
Praticantes responsáveis e comprometidos na comunidade BDSM repudiam qualquer forma de
atividade não consensual.
(Continua na próxima semana)
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continua sendo uma vantagem da relação olhos nos olhos, ação/reação, que só a vida real
oferece.
Observe que a única diferença entre um relacionamento D/s e os outros
relacionamentos interpessoais é o "tempero" SM.
Mesmo que sua opção seja uma companhia passageira, insisto na recomendação de que
você faça todo o possível para saber com quem realmente você está saindo. Até uma mera
conquista fica mais interessante quando temos o tempo a nosso favor.
Um bom tempo para você perceber o outro deve girar algo em torno de três meses, mas
você descobrirá seu próprio tempo, seja um pouco mais ou um pouco menos.
Este tempo oferece a oportunidade de você ver o outro em uma série de circunstâncias.
E se durante este tempo eu descubro que, por exemplo, fulano é dissimulado, tem conceitos
ou opiniões muito divergentes de mim dentro do BDSM, ou que não fala a verdade sobre as
coisas, é irresponsável ou direciona as coisas e elabora jogadas para alcançar exclusivamente
seus "objetivos", ou qualquer outra característica que me desagrada, isto tornará essa pessoa
um companheiro incompatível. Para mim, os encontros terminarão e eu não estarei
comprometida, emocionalmente desgastada ou me arriscando à toa.
Pode parecer um processo lento, mas todas as recompensas serão provenientes deste
processo de investimento de tempo. E quando se sentir pronto(a) para assumir um
compromisso com um submisso ou dominador, um Mestre ou escravo, permanente, estará
certo(a) que conhece realmente aquela pessoa. Saberá reagir às situações, terá sensibilidade
para reconhecer e desenvolver códigos, compreender ou intuir melhor como a mente do seu
parceiro funciona; e, com todos estes aspectos a relação só tende a crescer.
E por outro lado, um(a) submisso(a) terá bases firmes para depositar maiores doses de
confiança em seu(sua) dominador(a) e menores chances de decepções.
Ao observar o outro, também estamos nos observando. É através do outro que
descobrimos quem somos.
Veja um exemplo: se um(a) determinado(a) dominador(a) tem um comportamento em
sua vida diária em que é capaz de demonstrar equilíbrio, sentir-se confortável nas diversas
situações cotidianas e/ou que tem uma posição de domínio em seu mundo real, isso será
altamente tranquilizador para um(a) submisso(a), aumentará a confiança e a credibilidade
nele. Por outro lado, se houver um(a) submisso(a) que esteja apenas procurando viver uma
aventura, ou viver seus fetiches 24 horas por dia, logo perceberá que você não é o(a)
dominador(a) que ele(a) procura.
Enumeramos algumas regrinhas simples e objetivas que não devem ser deixadas de
lado:
- Tenha certeza de ter o telefone da casa e do trabalho do(a) parceiro(a);
- Certifique-se de ter pelo menos uma pessoa de sua confiança sabendo que você irá
a um encontro;
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- Deixe que seu parceiro saiba que outras pessoas estão sabendo de seu
relacionamento e/ou encontro;
- Se possível, evite que situações íntimas já se desenrolem no primeiro encontro.
Quer minha resposta? DESESPERO. E nada justifica isso. Mesmo compreendendo que
todos nós temos ansiedade para obtermos experiência e conhecermos o(a)
submisso(a)/dominador(a) de nossos sonhos.
Para algumas pessoas o impulso SM está reprimido ou se torna um desejo sublimado
por muito tempo, mas o fato é o seguinte: NÃO HÁ ATALHOS NO BDSM.
Se você quiser um relacionamento com segurança e qualidade, você deve investir tempo
e ter compromissos com você mesmo(a), para não queimar etapas, para não se expor, para
não perder oportunidades por estar envolvido(a) com a coisa errada.
Nem todas as oportunidades são iguais. E, mesmo com todos esses cuidados, algumas
experiências ainda podem causar algum desconforto emocional.
- Você deve confiar apenas no que eu digo, não ouça o que as pessoas falam sobre
mim.
- Sim, o que as pessoas falaram sobre mim é verdade, mas agora eu mudei, sou outro.
- Tudo que as pessoas falam sobre mim é mentira.
Mesmo que uma pessoa seja conhecida, e até "famosa" dentro de um grupo, se ela for
madura o suficiente e realmente comprometida com o BDSM ela entenderá e até achará
prudente seu questionamento e não ficará chateado(a), ressentido(a) ou receberá isso como
uma ofensa.
A primeira responsabilidade dentro do SM é a sua saúde e o seu bem-estar.
Esperamos que os novatos sejam cautelosos e incentivamos para que eles tomem suas
próprias decisões, de maneira independente e sem pressão de ninguém.
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dominador(a). Ou, ainda, pode ter tanta vontade de viver suas fantasias ou é tão inexperiente
que acredita que o simples fato daquela pessoa ser um(a) dominador(a) significa que "sabe de
tudo". É por esse motivo que o(a)s submisso(a)s acabam muitas vezes assumindo mais riscos.
Ele(a)s preferem sofrer um pouco mais do que colocar em risco o relacionamento ou
decepcionar o(a) dominador(a).
É importante lembrar que uma das características mais bonitas e estimulantes de um(a)
submisso(a), é o desejo de servir e agradar, e é o que precisamente as pessoas de má-fé
buscam para concretizar seus maus propósitos.
Existe um crime famoso nos Estados Unidos, ocorrido em Nova York há alguns anos,
quando um dominador costumava abordar submissos em um bar da comunidade BDSM gay,
assegurando a eles o respeito aos limites e o uso garantido da safe word. Certa vez, quando
estivam sozinhos no apartamento ele ignorou o uso da safe word e até impossibilitou a
articulação da plavra ( o rapaz foi amordaçado com uma fita silver type). Acho que não preciso
dizer como termina o caso.
É claro que toda moeda tem dois lados: nem todos(as) os(as) submisso(a)s são
verdadeiros(as) e dignos de confiança. Existe uma porção de submissos de ocasião por aí
(pessoas que não estão procurando um relacionamento SM verdadeiro, mas meramente
momentos fortuitos, de modo a, no instante seguinte, estarem livres, descomprometidos e
longe de qualquer responsabilidade).
Existem novatos que não fazem a menor ideia de quando e onde usarem a safe word
(vamos insisitir: invista tempo para ter certeza que será compreendido e preserve-se de
mágoas e sentimentos amargos no futuro). Como também há o(a)s submisso(a)s experientes
que usam a safe word muito mais para manipular e controlar o(a) dominador(a) do que para
indicar quando eles(as) atingiram um limite real.
As situações mais problemáticas ocorrem quando o(a) submisso(a) não se utiliza da safe
word quando deveria e o(a) dominador(a) fica achando que está tudo tranquilo. Contudo, no
futuro (horas, dias ou mesmo meses depois) o(a) submisso(a) achará que que o(a)
dominador(a) foi longe demais...
Ora, por que não usar a safe word se ela existe??? Às vezes, é um desejo irresistível por
parte do submisso de que o(a) dominador(a) tenha a capacidade de ler pensamentos! Em
certos momentos, um(a) submisso(a) é ingenuamente transparente e, em outros, é um(a)
cabeça dura orgulhoso(a). Alguns subs se colocam à prova, para mostrar que aguentam
qualquer coisa que o(a) dominador(a) os obrigue, mesmo que isso os magoe ou machuque.
Isto é algo extremamente perigoso para todos os envolvidos. E esta relação está fadada ao
desgaste e ao término, muitas vezes, desastroso.
Tanto subs quanto doms devem ter a responsabilidade de nunca deixar a safe word
perder seu sentido primeiro, que é complacência e confiança mútua. Repetimos: a safe word é
uma das ferramentas da prática segura, mas não é uma garantia de segurança.
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6 - É possível usar a Internet como veículo para estabelecer contatos para relações
BDSM? Há uma maneira segura para isso?
É uma questão complexa, mas tentarei fazer algumas sugestões que nos cerquem de
alguma segurança no momento de fazer a passagem do virtual para o real, e tentar, assim,
evitar más experiências.
Encontrar qualquer estranho, como vimos até agora, é algo que envolve uma parcela de
risco. Portanto, todo cuidado é pouco. E encontrar um estranho com propósitos BDSM não é
exceção.
Existem riscos adicionais para qualquer um na posição de submisso, sejam homens ou
mulheres. Assim, devemos desenvolver alguns mecanismos básicos de segurança:
A) Dominadores sérios e conscienciosos não se sentem incomodados em fornecer
referências. Para partir para o real, recomenda-se que você pergunte a ele(a) de parceiros que
já praticaram com ele(a). Você deve buscar estas referências contatando essas pessoas. Este
sistema é normalmente usado na comunidade BDSM no exterior e nenhum dominador(a)
repeitável se sentirá ofendido(a) ao ser questionado(a) nesse sentido.
B) A Internet tem espaço para você abordar outras pessoas que conheçam este(a)
dominador(a) ou submisso(a) de seu interesse e, desta forma, obter informações sobre essa
pessoa. Tenha um certo distanciamento, mas leve em consideração os comentários feitos em
salas de bate-papo a respeito de atos ou situações que envolvam a tal pessoa. Caso você fique
sabendo de algo que realmente lhe deixe de sobreaviso, coloque a questão para o
dominador(a) ou submisso(a) sem identificar a fonte de tal informação. Lembrando que
estamos, até então, lidando apenas com um "nick".
C) Leve em consideração tudo que você já aprendeu ou experimentou das regras de
segurança. Utilize-se dos tempos despendidos em chat e das trocas de e-mail de uma maneira
dirigida. Procure entender a pessoa e saber como funciona o mecanismo das fantasias dele(a).
Peça para que lhe explique a sua técnica favorita. Converse sobre opiniões e conceitos dentro
do BDSM. Proponha jogos virtuais. Coloque situações cotidianas de problemas e observe como
o outro reage (tente colocá-lo o mais próximo possível de uma situação real). Aqui também
vale pedir conselhos de como agir numa determinada situação, ou contar uma reação sua
diante de um fato e observar o comentário dele(a).
D) Use sua sensibilidade para ir trazendo a pessoa para o real. O primeiro passo é um
telefonema. Evite nesse primeiro momento fornecer seu telefone do trabalho, por exemplo.
Estabeleça um horário conveniente para receber as ligações e observe como o outro usa esse
direito cedido por você.
E) Tenha claro para você mesmo o que significa um "alerta vermelho" . Não desrespeite
estes avisos internos. Se você acha que existe algo estranho ou errado, reavalie a relação.
Lembre-se, você está lidando com um desconhecido. Mais vale desistir em caso de dúvida do
que dar um passo incerto, que venha a comprometer seu emocional ou físico. Um(a)
dominador(a) que, ao telefone, concorda com o uso da safe word mas, ao encontrar você,
repentinamente diz que quer uma sessão sem safe word, ou um dominador(a) que usa uma
358
faca numa sessão onde facas não foram negociadas ou são inegociáveis, são exemplos que
devem disparar seu alerta vermelho e sua habilidosa saída de cena.
F) Use a Internet como meio de pesquisa para livros, técnicas e grupos de discussão que
abordem as práticas seguras e questões comportamentais dentro do BDSM. Dessa forma você
será capaz de reconhecer se seu possível parceiro está falando de uma maneira correta e se
segue a linha do São, Seguro e Consensual. Outra boa maneira é encontrar pessoas da
comunidade BDSM em munches ou wokshops para trocar experiências.
G) Desde o virtual até o real, sendo dominador(a) ou submisso(a), sempre deixe claro
suas intenções, do que gosta e até onde pretende ir. Deixe explícito seus limites, o que aprecia
e o que DE JEITO NENHUM TOLERARIA.
Por fim, volte e leia todas as outras questões colocadas anteriormente antes de partir
para uma sessão real! Pratique BDSM de maneira sadia, consensual e sinta-se seguro(a). E não
deixe que seu sexo fale antes de sua razão, pois será a sua saúde que estará em jogo. Smaks!
Caso tenha alguma dúvida, por favor, escreva para [email protected]. Gostaria de
saber o que você pensa sobre o que está aqui colocado. Também pretendo anexar alguns
relatos ou depoimentos em versões futuras deste texto. Caso queira contribuir, conte com
minha total discrição. Você poderá optar por usar um nick diferente de seu habitual, se achar
conveniente.
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excludente de ilicitude, como a legítima defesa (prevista em lei). Note-se que, nesse caso, o
agente feriu o tipo penal (matou um ser humano), mas não cometeu crime.
No entanto, as excludentes que constam no Código Penal (legítima, defesa, estado de
necessidade, etc.) não são exaustivas, isto é, comportam outras formas similares de situações
que podem definir que determinado fato proibido seja, eventualmente, permitido. É o que
acontece nas situações que envolvem parceiros que desenvolvem jogos ou brincadeiras
sexuais, entre pessoas adultas e capazes (no sentido jurídico do termo), que consentem em
serem dominados, aprisionados ou em sofrer lesões leves, que não lhes cause maiores
gravames à saúde.
Assim, a excludente de antijuridicidade (ilicitude) chamada pela doutrina
de consentimento do ofendido é plenamente aceita pelo ordenamento pátrio e permite que as
pessoas possam dispor de suas vidas como bem queiram, na medida em que não transijam
com bens jurídicos indisponíveis, como a vida, a saúde ou integridade física (lesões corporais
graves, não pode!).
De modo que os fetichistas podem continuar fruindo a sua herança de prazer, sem peias
(agora a dúvida: melhor com peias?), na busca da felicidade como sentido real da existência
humana.
Que modelos buscamos nos jogos eróticos? O que nosso mundo interior procurar
elaborar a partir deles?
Quando jogamos, acreditamos naquela realidade como autônoma; ela encerra um
mundo em si mesma. Uma possibilidade de estar sendo, sem ser o tempo inteiro. Ao se jogar
se estabelece uma ordem na imperfeição do mundo, uma perfeição temporária e limitada.
Será que o BDSM por lidar com tanta intimidade e tentar ordenar a relação de poder
pode estar 'ameaçando' de alguma forma as quest&oatilde;es sociais e políticas do poder
constituído a serviço do sistema?
O que o homem fez ao elaborar a linguagem? Veja, de uma maneira ou de outra, ao dar
expressão à vida, o homem criou um outro mundo que melhor o ajudasse a compreender o
que e onde ele vive.
Será que o BDSM não participa deste mesmo princípio?
"O jogo é fundamentalmente um símbolo de luta, luta contra a morte." (Dicionário dos
Símbolos)
Os mitos são outro exemplo, bem mais elaborados, da capacidade de transformação de
uma "imaginação" do mundo exterior pelo homem.
Se BDSM é jogo erótico não deveria representar risco. Jogo, afinal, não é brincadeira?
Diversão?
Percebemos que jogos comuns, como o xadrez, o nosso futebol e mesmo os jogos feitos
pelas crianças, são realizados dentro da mais profunda seriedade, não se vê nos participantes a
menor tendência para o riso ou descaso.
Claro, isso varia de jogador para jogador. Ocorre o mesmo entre os praticantes do
BDSM.
(Talvez o problema seja não limitarmos nossos "brinquedos" a um tabuleiro de xadrez,
com suas pecinhas tão interessantes ou a uma simples bola... risos)
uma cena de spanking ela deixaria de ser uma cena, passaria a quebrar todas as regras de SSC.
Estaria se tornando uma legítima vítima, digna de estar na galeria dos personagens do
Marquês de Sade. Estaria sendo submetida apenas à violência, à coação.)
Para uma pessoa adulta e responsável o jogo poderia ser completamente dispensável.
Mas por que não acabam com os campeonatos de xadrez? E por que o BDSM não é
tratado pelos seus adeptos como algo supérfluo?
Tem-se uma necessidade urgente do prazer por ele proporcionado, transformando-o em
necessidade.
O jogo jamais é imposto pela necessidade física ou por dever moral. É possível adiá-lo ou
suspendê-lo a qualquer momento. Não é tarefa. Liga-se à noção de obrigação e é dever apenas
quando constitui uma função cultural reconhecida, como no culto ou ritual.
Mas, uma coisa é certa, o jogo não é vida corrente ou vida real. É uma evasão da vida
real para uma esfera temporária de atividade com orientação própria.
Costuma-se dizer que jogos são tensos. Tensão significa incerteza, acaso e emoção. O
jogador quer acabar com a tensão.
Que tensão queremos encerrar ao nos envolvermos nos jogos eróticos do BDSM?
Embora o jogo, enquanto jogo, esteja para além do bem e do mal, o elemento de tensão
lhe confere um certo valor ético, na medida que está se colocando em prova as qualidades do
jogador: seja habilidade e técnica ou coragem e tenacidade.
E, apesar de nosso tremendo desejo de "ganhar" o jogo, de satisfazermos nosso desejo,
de darmos vazão à tensão... temos que seguir as regras. A desobediência às regras implica na
derrocada de toda imaginação... O jogo acaba, o apito do árbitro quebra o feitiço e a vida real
recomeça.
Um jogador que ignore as regras, é um "desmancha- prazeres". E há os que fingem jogar
honestamente, fingem seguir as regras, mas não o fazem. São os "desonestos".
Engraçado perceber que tanto num jogo convencional, quanto no BDSM, aceitamos com
mais facilidade o jogador que é desonesto... mas não toleramos o "desmancha-prazeres".
Provavelmente pelo fato do "desonesto" aparentar reconhecer o círculo mágico do jogo e o
"desmancha- prazeres" abalar a existência ou continuidade do jogo. Felizmente, nenhum dos
dois está apto a integrar uma comunidade permanente, mesmo depois de acabado o jogo.
Quando partimos para uma cena BDSM, ou uma Play Party, vemos repetir-se mais uma
das características do jogo: o ar de mistério. É difícil para um novo "jogador" dar este passo.
Fazemos do jogo um segredo. E o encanto do jogo aumenta por isso. Fazer dele um segredo é,
no mínimo, conferir-lhe ilusão... (palavra cheia de sentido que significa "em jogo"- deinlusio,
illudere ou inludere).
As comunidades de "jogadores" tendem a tornar-se permanentes, mesmo depois de
acabado o jogo. A sensação de estar separadamente juntos, numa situação excepcional, de
362
partilhar algo importante afastando-se das regras habituais, conserva sua magia para além da
duração do jogo.
O encanto do BDSM está, sem dúvida, na mágica de nos transportar para longe de nosso
"eu" cotidiano, sem contudo nos deixar perder inteiramente o sentido da "realidade habitual".
A qualquer momento é possível à vida quotidiana reafirmar seus direitos, seja devido a um
'impacto exterior' que venha interromper o jogo, por um afrouxamento das intenç&oatilde;es,
uma perda do espírito do jogo, uma desilusão ou desencantamento ou devido a uma quebra
das regras.
O BDSM esbarra, necessariamente, em valores morais, que implicam na noção do
binômio vício-virtude.
Mas o conceito de jogo, enquanto atividade não material, não desempenha função
moral.
Ora, se o jogo, como nas fantasias sexuais, se baseia na manipulação de certas imagens,
numa certa imaginação da realidade (ou seja, a transformação desta imaginação em
realidade), nossa preocupação deverá voltar-se para o valor e o significado dessas imagens e
dessa "imaginação".
Sendo assim, o BDSM pode ser tratado como fenômeno cultural? Será que o BDSM não
é uma forma de expressão de uma sexualidade que só escandaliza por estar vinculada a uma
"estética" ainda não compreendida ?
Mas é importante notar que o jogo erótico deixa sempre transparecer a espontaneidade
mais profunda, as reaç&oatilde;es mais pessoais às press&oatilde;es de nossa vida externa, e
talvez aí resida sua complexidade.
Bem, esse foi apenas mais um exercício de reflexão sobre a natureza e significado do
jogo para o BDSM, aliás, com mais questionamentos do que afirmaç&oatilde;es, uma tentativa
de situar o BDSM para além dos parâmetros da 'doença' ou 'anormalidade'. Talvez, juntando
mais elementos possamos começar a formar as bases que levem à compreensão dessa prática
e de nós mesmos!
O Emblema BDSM10
Órion
Para muitas pessoas, uma simples imagem; para outros, um desenho bonito.
Mas, pra nós, adeptos do BDSM, este símbolo tem muitos significados, além de todo um
enigma por trás dele. Por isso, vejamos o que ele vem a ser.
O emblema do BDSM na verdade não tem nenhum significado óbvio. Ele foi criado para
gerar todo esse clima de mistério em torno de si.
Uma pessoa comum, que não está a par da prática BDSM e do mundo que ele
representa, não saberá, de imediato, o significado da imagem - a não ser a superficialidade
comum de se apreciar uma bela jóia ou um objeto interessante, não indo além disso.
Nós, praticantes, podemos usar este símbolo livremente como um "sinal" para outras
pessoas que o conhecem, identificando o adepto BDSM onde quer que ele vá.
As três divisões do emblema podem ser analisadas sob 3 aspectos.
1º aspecto - a filosofia BDSM
BD (Bondage - Disciplina)
DS (Dominação - Submissão)
SM (Sadismo - Masoquismo)
10
O link para a imagem deste texto estava quebrado
364
Segundo o texto oficial sobre este emblema, este último aspecto citado é o que
fundamenta a existência das aberturas colocadas em cada uma das divisões do símbolo. Tais
aberturas também significam que um completa o outro numa relação BDSM, integrando o
Dominador e o Dominado.
A forma desse símbolo não é, por mera coincidência, semelhante ao símbolo do Yin e
Yang, os pólos de equilíbrio, segundo a filosofia oriental. Com as curvas mostrando onde
começa um e onde termina o outro, dá toda a profundidade de significação do que o BDSM
representa para seus adeptos.
Dessa maneira, tem-se a representação concreta dos desejos do que busca completar-se
e do que completa, numa ciranda em permanente movimento e evolução.
E o curioso deste símbolo, foi a forma que ele foi idealizado. De acordo com o site oficial
do detentor de seus direitos de uso, nos tempos em que a AOL (America Online - poderoso
provedor de acesso internet da américa) era um "gigante odiado" pelos norte-americanos, o
símbolo foi inspirado em uma jóia usada por O em "A História de O", um clássico BDSM
francês, de Pauline Reage.
Mistérios a parte, o símbolo foi todo desenhado em função de todos estes significados
demonstrados acima (SSC, Comunidade e Aspecto/Filosofia).
Por isso, qualquer semelhança com o símbolo da Revolução Chinesa ou coisa parecida,
será mera coincidência.
Para maiores informações, fica aí uma dica do site oficial do emblema. Importante ver
também que nesse site a autora do emblema mostra todos os procedimentos de como usar a
imagem em outros sites especializados, onde encontrar jóias com este símbolo, FAQS
(perguntas mais frequentes) e outros temas ligados ao assunto.
Serviço:
The Emblem Project http://members.aol.com/quagmyr/emblem.htm (em inglês) - site
oficial do emblema BDSM.
Se você demonstra algum interesse em ler este texto, então certamente é porque
pratica sexo sadomasoquista ou, no mínimo, tem curiosidade em conhecê-lo um pouco melhor
- o que indica que, mais cedo ou mais tarde, como podem comprovar praticamente todos os
que optaram por este tipo de prazer, você vai querer experimentá-lo.
365
Partimos do princípio que, no primeiro caso - o das pessoas que já são adeptas deste
tipo de sexo - as regras para um relacionamento sadio, seguro e consensual já são
perfeitamente conhecidas e entendidas. Por isso, nosso trabalho, aqui, será o de procurar
explicar ao leitor menos afeito à pratica o que é e como se pratica o sexo sadomasoquista.
Gostaríamos, assim, de construir um texto que
seguisse do mais básico ao mais complexo, de maneira
didática e clara, permitindo que os curiosos possam
compreender melhor sobre o que estão curiosos.
Portanto, pedimos aos leitores que já conhecem um
pouco do assunto uma pequena dose de paciência, se
porventura nos alongarmos em termos e situações as
quais, para eles, nada têm de novo. Mesmo para esses,
porém, temos a pretensão de tocar em um ou outro
ponto de interesse, de forma a fazê-los perceber novas
perspectivas dentro de seus relacionamentos atuais ou
futuros. É essa, em resumo, a nossa intenção: colocar o
assunto sobre a mesa, sem anteparos ou disfarces, e
discuti-lo de maneira direta. Se conseguirmos fazer isso a
contento, nosso trabalho já estará plenamente
justificado.
A questão, evidentemente, é mais complexa do que isso - mas não pretendemos fazer
nenhuma apologia do certo e do errado. Há que se considerar, de fato, que o termo "sadismo"
engloba extremos repletos de violência, em que a morte por tortura lenta e cruel não se exclui,
até por conta da tese central do próprio Sade: a de que o mais forte, ou mais inteligente, ou
mais rico, ou mais poderoso, teria o direito natural a fazer do mais fraco, do mais estúpido, do
mais pobre ou do menos poderoso o que bem entendesse - torturá-lo e matá-lo para sua
própria diversão e prazer, inclusive. Vê-se logo porque o homem era visto como uma ameaça
pelas autoridades do seu (e do nosso) tempo...
Por outro lado, o sadismo encontra no masoquismo a sua "cara metade". E se
admitirmos que um sádico encontra um masoquista para juntos poderem explorar as suas
fantasias, e se o fazem de maneira segura e de comum acordo, ora, isso não seria mais
extraordinário do que, por exemplo, admitirmos um casal de homossexuais vivendo juntos.
Trata-se de mera preferência sexual, a qual não diz respeito a mais ninguém além dos
envolvidos nela.
No entanto, aceita-se com mais naturalidade o homossexualismo do que o
sadomasoquismo. Por quê? Porque o primeiro é mais comum do que o segundo? Nem tanto.
Acreditamos que o problema é muito mais de desconhecimento das pessoas do que qualquer
outra coisa. Todo mundo sabe o que significa ser um gay. Mas pouca gente sabe o que quer
dizer ser, de fato, um sádico ou um masoquista - ambos os termos usados depreciativamente e
sempre significando algo anormal, doentio, abjeto.
Para os parceiros de SM, porém, a sua relação é apenas uma forma de se obter prazer,
tão válida e natural quanto qualquer outra. As pessoas se excitam das mais variadas maneiras.
Pode ser observando um casal fazendo sexo. Pode ser praticando sexo em lugares pouco
convencionais. Pode ser fazendo amor com uma pessoa do mesmo sexo. E pode ser
participando de uma cena em que ela seja imaginariamente atacada, agredida, humilhada,
violentada, etc, etc. Enfim, para não nos alongarmos mais sobre esse aspecto: SM é
simplesmente uma modalidade de fantasia sexual. Não é doentio, nem errado, nem
escandaloso. Desde que praticado de forma consciente, desde que praticado de forma segura
e desde que praticado de forma consensual, perde imediatamente qualquer tipo de rótulo de
"anormalidade" ou "doença".
E é sobre esses três aspectos que passaremos a falar agora.
2. SM Consciente
O leitor já terá percebido que, numa relação SM, é indispensável que haja uma perfeita
e clara noção entre os parceiros do que eles estão fazendo e porque o estão fazendo. Num
casal SM, haverá sempre quem exerça o papel de dominador e quem exerça o de submisso.
Mas é de ambos o papel de terem sempre em mente que estão ambos ali pelo mesmo motivo:
querem sentir e dar prazer. A partir do momento em que essa troca se rompe, a relação,
imediatamente, deixa de ser válida, para tornar-se uma via de mão única. E aí, adeus à fantasia
367
- a coisa cai realmente num processo degenerativo, cujo resultado final será sempre o mesmo:
o rompimento da relação.
Mas sobre o que é que estamos falando exatamente? O assunto, caro leitor, é um tanto
extenso. Por isso, vamos tentar não nos alongar demais sobre ele.
Antes de qualquer outra coisa, uma relação SM tem várias, vamos dizer assim,
categorias. Há os que preferem punições físicas, onde entra uma enorme gama de acessórios;
há os que preferem punições psicológicas, onde os acessórios podem até ser dispensáveis,
bastando uma ou outra ordem humilhante, que tem de ser cumprida sem questionamentos ou
protestos. Em ambos os casos, há variações de intensidade e limites a serem respeitados por
ambos os lados.
Falemos primeiro da punição física, onde entrará aquele já referido chicote da Tiazinha...
Para alguns praticantes de SM, o ideal é que as punições sejam leves, quase que simbólicas:
uma ou outra chicotada dada com cuidado, uma corda passada sem nenhuma brutalidade por
aqui ou por ali, um puxão significativo dos cabelos - e está perfeito.
Para outros, há que haver severidade: chicotadas violentas, a ponto de marcar a pele,
cordas, correntes e coleiras apertados e o corpo dobrado ou distendido em posições que
provocam dores intensas, pingos de vela sendo espargidos sobre o corpo, prendedores de
metal colocados nos mamilos ou nos órgão genitais, choques elétricos, agulhas - a lista é
enorme.
Mas o importante disso tudo é apenas um ponto: não há definições do que é correto ou
incorreto na relação. Ou seja: nenhum praticante de SM mais pesado tem o direito de dizer a
um praticamente de SM leve que ele está "errado", ou que o que ele pratica não é SM. Esse
tipo de discussão, além de inútil, vai contra os princípios dos próprios praticantes, que prezam,
acima de tudo, a liberdade - sua e dos outros - de exercerem o direito às suas fantasias. Sejam
elas mais ou menos intensas.
A única regra é que, seja o SM leve ou pesado, ele deve proporcionar prazer a quem o
pratica. E isso quer dizer: aos dois. Os limites e a intensidade desse prazer dizem respeito
apenas e tão somente a quem o procura. E o procura conscientemente, o que implica em que
o faça usando, acima de tudo, o seu próprio bom-senso.
A mesma argumentação vale para os praticantes que dispensam a punição física, mas
não a psicológica - que pode ser igualmente prazerosa, se essa é a fantasia que se quer
vivenciar. Nela, o dominador poderá mostrar o seu poder sobre o submisso das mais variadas
maneiras: impedindo-o de ir ao banheiro, exceto em determinadas horas, forçando-o a
permanecer no mais absoluto silêncio quando em sua presença (mesmo que estejam, por
exemplo, num local público), expondo-o a situações de medo ou suspense, e uma série de
outras regras que podem ser criadas por ambos. Mas sempre e invariavelmente usando o
bom-senso.
Ora, o SM consciente nada mais é do que o reconhecimento desse simples fato: o de
que se estará partindo para um tipo de relação que envolverá, sempre, algum tipo de punição,
sendo essa punição programada para que dela advenha prazer.
368
Que tipo de punição será, qual a sua intensidade, até onde ela poderá ir e onde ela irá
parar - isso é tarefa para o casal que se propõe a procurá-la, devendo discutir e estabelecê-la
de comum acordo.
É absolutamente inútil querer convencer alguém a participar de uma relação dessas de
maneira brusca e achando que, só porque você acha sensacional colocar um par de algemas e
uma mordaça em uma pessoa, essa pessoa também achará isso sensacional. Pode ser que o
resultado seja exatamente o oposto - nem todo mundo gosta de se sentir tão indefeso assim. E
nenhum argumento será capaz de fazer a pessoa mudar de ideia: ela não gosta, e pronto. Por
outro lado, pode ser que essa mesma pessoa adore a ideia de ser obrigada a cumprir ordens e
obedecer sem discutir, fazendo coisas que não faria de livre e espontânea vontade...
Portanto, use o seu bom-senso. O SM é um mundo para ser explorado com calma e de
maneira - insistimos no ponto - consciente. Não é algo a ser encarado como uma mera
brincadeira. Trata-se de uma opção, de uma escolha - e como qualquer escolha, exige que se
pense um pouco sobre ela antes de se tomar a decisão.
O termo consciente tem também um outro aspecto igualmente importante a ser
considerado - este, mais relacionado à sanidade mental dos praticantes de SM. Falando
claramente: a relação SM sempre incorrerá em algum tipo de risco. Pode ser do mais
inofensivo (uma marca indesejada sobre os pulsos, por exemplo) até algo mais sério (um
ferimento decorrente de uma relação mais agressiva, por exemplo). Ou mesmo casos de danos
extremos ao organismo - chegando ao ápice de se correr um sério risco de vida. Para quem
acha isso um exagero, basta lembrar que já foram noticiados casos de gente que marcou um
encontro com parceiros desconhecidos e acabou tendo o seu corpo encontrado boiando num
rio ou enterrado no quintal de alguma casa...
Quase sempre, os praticantes de SM são pessoas absolutamente comuns. Eles
trabalham, muitas vezes são casados, algumas vezes têm filhos. Suas vidas são perfeitamente
produtivas e nada nelas chama atenção para esse aspecto. Eles não andam com roupas de
couro preto, cheias de algemas e chicotes pendurados... Simplesmente assumiram um lado de
sua sexualidade que diz respeito só a eles mesmos (daí porque não precisam ficar exibindo isso
para mais ninguém). E eles têm sempre em mente que essa é uma opção sexual, e não de
vida.
Há um limite além do qual as coisas deixam de se tornar conscientes para se tornar
patológicas ou, no mínimo, com sérios riscos de danos emocionais graves - e querer viver as 24
horas do dia dentro de uma fantasia, francamente, é algo que qualquer médico pode
classificar como patológico. Por isso, se você encontrar alguém que insista em fazer de seu dia-
a-dia um exercício constante de SM, cuidado: a sanidade, aqui, já estará beirando
perigosamente aquele limite.
E pessoas que não conseguem mais distinguir as duas coisas também serão incapazes de
fazer isso pelo parceiro. Para elas, ele também deverá viver o tempo todo dentro do universo
SM. Logo, o que importa se ele ficar marcado ou não? O que importa se ele se ferir ou não? O
que importa se ele se machucar gravemente ou não? E, finalmente, o que importa se ele
369
correr risco de vida ou não? A vida, afinal, se resume a servir de objeto de prazer para o
dominador - e se isso significa torturar ou ser torturado perigosamente, pouca diferença faz.
Por conta disso, a sanidade mental do parceiro é um aspecto extremamente importante,
que jamais deve ser negligenciado. Mas, infelizmente, é um risco que nunca será 100%
afastado, até que se tenha o primeiro encontro.
Para os submissos, entretanto, é importante ter em mente alguns cuidados. É preciso
tentar conhecer o dominador antes de se entregar a ele. Sair para um passeio, observar seu
comportamento no mundo "real", ver como ele se relaciona com as pessoas no seu dia-a-dia,
saber se ele usa drogas ou se bebe além dos limites, verificar se é equilibrado nas coisas que
faz, se tem manias estranhas - enfim: é preciso checar muitas coisas antes de se dispor a
vivenciar a fantasia.
A comunidade SM geralmente conhece os seus membros. E, atualmente, boa parte
dessa comunidade se comunica pela Internet. Pode-se encontrar parceiros confiáveis na rede,
especialmente porque, na própria rede, é possível obter informações sobre a pessoa com
outros integrantes desse universo. O que jamais se deve fazer é aceitar um encontro a sós logo
na primeira conversa. Deve-se buscar um encontro, sim, mas em primeiro lugar num local
público - um almoço num restaurante, por exemplo (esse assunto é explorado em detalhes no
capítulo "Relacionamentos").
Evidentemente isso não basta, já que a pessoa pode parecer absolutamente confiável ali
e se mostrar totalmente descontrolada depois. Não há um padrão a ser seguido, infelizmente.
O que há são meios de se reunir o maior número de informações possíveis sobre o provável
parceiro. Algo que o bom-senso recomenda que se faça não apenas em relações SM, mas em
qualquer tipo de relacionamento mais íntimo.
Considere ainda que uma relação SM não pode ser admitida se qualquer um dos
parceiros não estiver plenamente de posse de suas faculdades. Em outras palavras: nada de
álcool e muito menos de drogas. Nada deve interferir com a capacidade de percepção e reação
dos envolvidos. Eles precisam estar integralmente senhores de suas ideias, sensações e
reflexos, por motivos óbvios. Tome isso como inegociável - e não abra mão de forma alguma.
Lembre-se que SM pressupõe sempre e invariavelmente que um dos parceiros estará
irremediavelmente à mercê do outro. E isso é literal. Portanto, cautela redobrada antes de
querer partir para qualquer relação real. Tome todas as precauções que achar necessárias - e
faça isso antes do primeiro encontro. No mínimo, essas precauções ajudarão que esse
encontro não seja também o último...
continua...
3. SM Seguro
Antes que o leitor pense que esse item irá repetir o anterior, vamos esclarecer logo de
uma vez: estamos falando aqui de segurança física, incluindo nessa noção o sexo seguro, pura
e simplesmente. Como já dissemos, a relação SM tem diversos matizes e graus. Mas em todos
é preciso levar em conta o risco real de se contrair doenças sexualmente transmissíveis, de
qualquer espécie. E nem precisamos dizer que a Aids está incluída na lista.
Acontece que, nesse universo, é preciso estar mais atento do que quando se trata de
sexo convencional. A relação SM pode incluir atos de "humilhação" que incluam, por exemplo,
obrigar o submisso a engolir o esperma do dominador. Ora, para quem ainda não sabe, o vírus
da Aids se contenta com qualquer microscópico ferimento na boca para se infiltrar. Basta um
canal de contato com a corrente sanguínea e o mal está feito. Isso, claro, sem falar em engolir
o esperma...
Portanto, siga as regras de sempre: camisinha é indispensável, mesmo que o dominador
diga que não. Se isso acontecer é melhor desistir e procurar outro parceiro. Se a relação for
incluir qualquer tipo de objeto cortante ou perfurante (como agulhas, por exemplo), o mínimo
que se exije é que elas sejam novas e nunca tenham sido usadas antes. Nunca compartilhe
seringas com quem quer que seja. E jamais abra mão desses direitos. Qualquer dominador que
queira obrigar um submisso a fazê-lo não merece confiança e deve ser imediatamente
descartado.
Sobre a segurança física é bom também
destacarmos alguns pontos de importância. Em
primeiro lugar, é preciso ter sempre em mente que
nada em nossas vidas é 100% previsível e 100%
sem riscos. Sempre existe a possibilidade de que
alguma coisa saia errada. Saber disso, claro, não
deve servir de pretexto para que não procuremos
extrair o máximo que pudermos de nossas vidas.
O risco faz parte do dia-a-dia de cada um de
nós, em suas mais variadas formas: corremos risco
ao andar pela rua, de perdermos o emprego, de
deixar passar uma boa oportunidade... O que
fazemos, nesse caso - e nem sempre de maneira
consciente - é encontrar formas de administrar
esses riscos, avaliando as possibilidades e
alternativas, e escolhendo aquele caminho que nos
pareça mais seguro.
E "seguro", nesse caso, é um conceito
bastante relativo e basicamente individual. Depende do que cada um considera como sendo
um risco e de quanto desse risco é aceitável para cada um.
371
Por outro lado, quando, por qualquer motivo, somos incapazes de identificar os riscos
em potencial, deixando de considerar suas consequências, estamos agindo de maneira
totalmente incoerente. Estamos assumindo uma atitude não-segura. E atitudes não-seguras
geram situações inevitavelmente desagradáveis.
Em outras palavras, é preciso saber reconhecer e evitar os riscos. Especificamente numa
relação SM eles são perfeitamente detectáveis e perfeitamente contornáveis. Basta não fingir
que eles não existem...
Portanto, além daquelas recomendações referentes ao sexo seguro - seja qual sexo for -
há que se considerar também a questão da segurança relativa à prática do SM.
Por exemplo: numa relação em que se vai amarrar o parceiro, é preciso ter em mente
que não se deve apertar demasiadamente as cordas ou correntes, sob o risco de interromper a
circulação sanguínea para determinadas partes do corpo - o que pode ter consequências
bastante graves. Se ambos quiserem partir para nós mais apertados, devem sempre se lembrar
que, de tempos em tempos, é preciso afrouxá-los, para que a circulação se normalize.
Saber amarrar corretamente é também uma tarefa que exige algum tempo de prática.
Não se trata simplesmente de passar a corda aqui ou ali e apertá-la. Deve-se saber por onde
ela pode passar sem provocar qualquer tipo de dano, e sem que, por causa disso, permita mais
conforto ou liberdade de movimentos para o parceiro. Há centenas de sites sobre o assunto
que podem ser encontrados na rede. E há os praticantes mais experientes, que sempre podem
fornecer algumas dicas valiosas sobre o assunto.
Os órgãos vitais devem sempre ser deixados de fora de uma relação SM. E isso inclui
uma longa lista de cuidados, que vão desde a não-ingestão de tóxicos ou remédios de qualquer
espécie até o completo abandono da prática de bater com a cabeça do submisso na parede...
Falando sério, para os masoquistas que preferem ser espancados, há que se respeitar
não os seus limites, mas os limites de segurança de seu próprio corpo. Ninguém deve chegar
ao extremo de ter ossos quebrados ou hemorragias internas...
E por favor, passe sempre o mais longe possível da asfixia, que exige um conhecimento
quase clínico para ser praticada, e ainda assim com extremo cuidado, para não resultar na pura
e simples morte do parceiro.
Nenhum tipo de lesão irreversível é aceitável, seja ela da natureza que for e por mais
inofensiva que pareça. Se fosse realmente inofensiva, não se chamaria lesão, como é óbvio.
Marcas de chicote são perfeitamente aceitáveis, desde que não rompam a pele até o
sangramento; pingos de vela sobre o corpo são aceitáveis, desde que não signifiquem
queimaduras sérias; e assim por diante.
No mais, siga as regras de praxe para garantir a sua saúde. Jamais se arrisque, por
qualquer motivo ou argumento. SM é apenas uma variação sobre o mesmo tema: sexo. E as
regras de sexo seguro não devem ser nunca postas de lado.
4. SM Consensual
372
Pelo que já dissemos até agora, é evidente que qualquer relação SM tem que ser
também consensual. É preciso que os parceiros tenham isso sempre em mente. Correndo o
risco de nos tornarmos repetitivos, usamos a mesma imagem acima: SM é uma variação sobre
o mesmo tema: sexo. E para ele vale também a velha máxima que, se um não quer, dois não
fazem.
Os parceiros devem ser perfeitamente capazes de compreender e concordar com esse
tipo de relacionamento. Uma das piores coisas que se pode propor a um adepto sério do SM é
querer incluí-lo na relação das pessoas que, por qualquer motivo - pouca idade, inclusive - não
saibam do que estão falando. Tampouco interessa querer convencer quem quer que seja a
participar desse universo, se a ideia for inaceitável para o parceiro. Isso resultará em uma
experiência sempre frustrante para o dominador e revoltante para o submisso.
Se, porém, o parceiro demonstrar algum interesse - geralmente, as pessoas admitem
que têm "curiosidade" sobre o assunto - e aceitar participar de uma relação SM, ainda que a
título de experiência, a chance deve ser aproveitada. Mas tudo - absolutamente tudo - deve
ser muito bem explicado antes.
E para os que já fazem parte do universo SM, nunca é bom deixar de lembrar que, para
um novato neste universo, tudo é também novo. Trata-se de uma pessoa que não tem
nenhum tipo de conhecimento anterior sobre o assunto, e muito menos é capaz de
estabelecer limites para si mesma ou para o dominador - o que eleva a responsabilidade do
dominador à enésima potência.
Temos que considerar que, nesses casos, o conceito de "consensual" assume novas
facetas. Como uma pessoa pode consentir com algo que não conhece? A resposta é simples:
ela não pode. Portanto, cabe ao mais experiente da relação assumir totalmente as rédeas da
situação. E ir com calma. Com muita calma.
A ideia é apresentar, aos poucos, as técnicas e conceitos do SM. Sem jamais forçar nada,
sem querer criar uma situação que não existe. O parceiro, nessas relações iniciais, estará
apenas experimentando coisas novas, que não sabe ainda com certeza se irá gostar ou não. E
ele tem todo o direito do mundo de não gostar. Portanto, não é admissível fazer do consenso
uma "carta branca" e extrapolar a relação apenas porque, no início, o parceiro aceitou as
regras.
Aceitar regras é uma coisa, mas ter de vivenciá-las é outra, completamente diferente. O
"sim" dito pelo iniciante deve soar, aos ouvidos do mais experiente, apenas e sempre como
um "sim, quero experimentar e descobrir se gosto ou não". Não se deve querer tratar um
submisso iniciante como se trata um submisso já experiente. É o mesmo que querer dar o
mesmo tratamento de um adulto para uma criança: não funciona.
Contudo, há algumas regras que mesmo o mais inexperiente dos submissos deve aceitar
- e tem todas as condições de cumprir: a relação SM não deverá ser vista como uma
brincadeira. Nenhum dominador consegue manter o clima de fantasia se o submisso começar
a achar tudo muito engraçado durante o ato e soltar gostosas gargalhadas.
373
Uma vez que ele aceitou desempenhar o seu papel, deve cumprí-lo até o fim - quando
mais não seja, ao menos para agradecer a oportunidade de estar experimentando uma coisa
nova. Se, depois, ele quiser comentar o que achou, e resolver morrer de rir, tudo bem - o
dominador terá tido a oportunidade de um bom encontro e saberá que ele provavelmente não
se repetirá.
Por outro lado, se o submisso tiver gostado da experiência, o dominador terá tido o
duplo prazer de não apenas haver conseguido um encontro agradável, como também de ter
descoberto um novo parceiro, que ainda tem muito que aprender. Portanto, antes de partir
para a relação, coloque tudo sempre de forma muito clara. E tenha certeza de duas coisas: que
o provável parceiro entendeu o que você disse e que ele concorda com o que foi explicado.
Isso é o consensual.
Para casais que já têm alguma experiência, o consensual tem também um outro
aspecto: o do respeito mútuo aos limites de cada um. Aqui, trata-se apenas de definir até onde
cada um dos parceiros poderá ir. Se uma das partes não concordar ou tiver a intenção secreta
de desrespeitar esses limites, é melhor simplesmente desistir da relação ou encontrar alguma
alternativa. A confiança de um no outro precisa ser sempre total - e quebrá-la significará
quebrar o próprio relacionamento.
O consentimento do parceiro é o que separa a relação SM do simples e puro abuso. E
isso faz toda a diferença. Assim como faz também em qualquer outro tipo de relacionamento:
nenhuma relação, seja ela SM ou não, deixa de ser abuso quando uma das partes é obrigada,
contra sua vontade, a viver determinadas situações. E abuso, para nós, só é aceitável no nível
da fantasia, nunca no da realidade.
6. Conclusão
O leitor poderá, neste momento, estar pensando que a relação SM é muito complexa.
Afinal, ela exige muitas coisas - respeito, cumplicidade, bom-senso, segurança, confiança...
375
A essa ponderação, respondemos com uma pergunta: não seriam essas, por acaso, as
mesmas premissas sobre as quais se constroem qualquer tipo de relação? Qual desses fatores
pode ser dispensado em qualquer tipo de relacionamento que envolva intimidade?
Portanto, não estamos tratando de nada assim tão extraordinário. Simplesmente, por
envolver uma fantasia que, em maior ou menor grau, de forma real ou imaginária, presume
algum tipo de violência, é preciso que cada um desses fatores seja visto com um pouco mais
de cautela do que o usual.
As fantasias contidas no universo SM são numerosas demais para serem citadas aqui.
Todas elas, no entanto, exigem essa cautela adicional. Muitas mulheres fantasiam ser
estupradas, por exemplo. Algumas delas com direito até a espancamentos ou penetrações
brutais. Mas nenhuma delas, certamente, gostaria de ver rompida aquela linha que traçaram
para sua fantasia - linha além da qual a coisa deixa de ser prazerosa para se tornar incômoda
ou efetivamente ofensiva. Até determinado ponto, extravasar um desejo reprimido é uma
sensação simplesmente vertiginosa (como podem dizer aqueles que tiveram a coragem de
fazê-lo). Mas, além desse ponto, as coisas se invertem com a rapidez de um raio - e o que era
prazer se torna desconfortável e desagradável.
Saber respeitar esse limite, saber chegar até esse preciso ponto, sem no entanto
ultrapassá-lo, é a verdadeira arte do dominador. Conhecer esse limite e saber que, além dele,
tudo se tornará apenas uma sensação ruim é a verdadeira arte do submisso. E estabelecer o
equilíbrio em que haverá prazer para os dois dentro desse limite é a verdadeira arte da relação
SM. Quando se consegue isso, tem-se em mãos uma das mais intensas e profundas formas de
prazer que o sexo é capaz de proporcionar. Aprender a fazê-lo é um trabalho que vale a pena.
11
A parte 2 deste texto não consta no site
376
No BDSM, não negamos nossas fantasias; lidamos com elas. Para isto, utilizamos
algumas práticas físicas e psicológicas que certamente são incomuns, intensas e que podem
até causar danos, se forem mal-conduzidas.
BDSM - Bondage, ou amarração, Dominação/submissão e Sadomasoquismo, ou SM -
não é, portanto, apenas deixar o inconsciente agir. Uma relação só é BDSM se for SSC: Sã,
Segura e Consensual. E se, no fim das contas, for capaz de transformar até a dor em prazer.
Normalmente, quando seguimos estes princípios, começamos a conhecer não só
técnicas; mas também a conhecer-nos melhor. Neste sentido, a relação de Dominação e
Submissão, ou D/s, é uma das práticas mais estimulantes do BDSM.
(Na próxima parte, uma segunda reflexão sobre D/s, autoconhecimento e uso seguro de
mecanismos psicológicos no BDSM).
378
Lá pelo meio de L'Être et le Néant, Jean-Paul Sartre expõe dois tipos de atitudes para
com o outro que me fizeram pensar bastante. São indagações filosóficas de um existencialista
que, ao menos para mim, tem muito a contribuir no debate que se propõe aqui neste espaço.
Sartre descreve a primeira das duas possibilidades como sendo o amo, a linguagem, o
sadismo. Ele afirma que tudo que vale para mim vale para o outro. Enquanto tento livrar-me
do domínio do outro, o outro tenta livrar-se do meu; enquanto procuro subjugar o outro, o
outro procura me subjugar. Não se trata, aqui, de modo algum, de relações unilaterais com um
objeto-em-si, mas sim de relações recíprocas e moventes. A partir daí ele faz descrições que
revelam o eterno conflito de nossa existência.
Entre as três grandezas que ele propõe como sendo parte desta primeira atitude para
com o outro, prefiro destacar somente a do masoquismo - obviamente uma categoria
fundante de nossas discussões. Sartre começa esta parte afirmando que quanto mais sou
amado, mais perco meu ser, mais sou devolvido às minhas próprias responsabilidades, ao meu
próprio poder de ser. Em segundo lugar, o despertar do outro é sempre possível; a qualquer
momento ele pode fazer-me comparecer como objeto: daí a perpétua insegurança do amante.
Em terceiro lugar, o amor é um absoluto perpetuamente feito relativo pelos outros. Seria
necessário estar sozinho no mundo com o amado para que o amor conservasse seu caráter de
eixo de referência absoluto. Daí a perpétua vergonha do amante, ou seu orgulho, o que neste
caso, dá no mesmo.
Assim, foi em vão que tentei me perder no objetivo: minha paixão para nada serviu; o
outro - seja por si mesmo, seja pelos outros - devolveu-me à minha injustificável subjetividade.
Tal constatação, segundo o filósofo francês, pode provocar um desespero total e uma nova
tentativa para realizar a assimilação entre o outro e eu. Seu ideal será o inverso daquele que
acabamos de descrever: em vez de projetar absorver o outro preservando a sua alteridade, irei
projetar ser absorvido pelo outro e perder-me em sua subjetividade para desembaraçar-me da
minha. O empreendimento será traduzido no plano concreto pela atitude masoquista.
O masoquismo, tal como o sadismo, é assunção de culpabilidade. Sou culpado, com
efeito, pelo simples fato de que sou objeto. Culpado frente a mim mesmo, posto que consinto
em minha alienação absoluta; culpado frente ao outro, pois lhe dou a ocasião de ser culpado,
ou seja, de abortar radicalmente minha liberdade enquanto tal. O masoquismo é uma
tentativa, não de fascinar o outro por minha subjetividade, mas de fazer com que eu mesmo
me fascine por minha objetividade-para-o-outro, ou seja, fazer u me constitua em objeto pelo
outro, de tal modo que apreenda não-teticamente minha subjetividade como um nada, em
12
A imagem deste texto estava com o link quebrado
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presença do Em-si que represento aos olhos do outro. O masoquismo caracteriza-se como
uma espécie de vertigem: não a vertigem ante o precipío precipício de rocha e terra, mas
frente ao abismo da subjetividade do outro.
Mas o masoquismo é e deve ser um fracasso em si mesmo: para fazer-me fascinar por
meu eu-objeto seria preciso que eu pudesse realizar a apreensão intuitiva deste objeto tal
como é para o outro, o que, por princípio, é impossível. Sartre conclui dizendo que, assim, o eu
alienado, longe de que eu possa sequer começar a fascinar-me por ele, permanece, por
princípio, inapreensível. Em vão o masoquista arrasta-se de joelhos, mostra-se em posturas
ridículas, faz-se utilizar como simples instrumento inanimado; é para o outro que será obsceno
ou simplesmente passivo, é para o outro que irá padecer essas posturas; para si, está
eternamente condenado a dá-las a si mesmo. Em particular o masoquista que paga a uma
mulher que ela o açoite, trata-a como instrumento e, por isso, coloca-se em transcendência
em relação a ela. Assim, o masoquista acaba por tratar o outro como objeto e por transcendê-
lo rumo à sua própria objetividade.
O que é interessante, também, é a lembrança de Sartre no finalzinho. Ele utiliza o
exemplo de Sacher Masoch, que, para se fazer depreciado, insultado, reduzido a uma posição
humilhante, via-se obrigado a utilizar o grande amor que lhe professavam as mulheres, ou
seja, a agir sobre elas na medida que elas se experimentavam como objeto para ele. Assim, de
qualquer modo, a objetividade do masoquista lhe escapa, e pode até ocorrer, como
geralmente ocorre, que, buscando captar sua própria objetividade, ele venha a encontrar a
objetividade do outro, o que libera, a despeito de si mesmo, a sua subjetividade.
O masoquismo é, portanto, para Sartre, por princípio, um fracasso. Isso em nada pode
nos surpreender, se pensarmos que o masoquismo é um "vício" e que um vício é, por
princípio, o amor do fracasso. Mas Sartre não descreve as estruturas próprias do vício. Apenas
sublinha que o masoquismo é um perpétuo esforço para nadificar a subjetividade do sujeito,
fazendo com que seja reabsorvida pelo outro, e que este esforço é acompanhado pela
fatigante e deliciosa consciência de fracasso, a ponto de ser o próprio fracasso aquilo que o
sujeito acaba buscando como sua meta principal.
Até aqui a discussão sobre masoquismo. O texto continua com as ideias de Sartre sobre o
sadismo na parte II. Até lá
O fracasso da primeira atitude para com o outro pode ser ocasião para que se adote
uma segunda. Mas cabe lembrar aqui que nenhuma das duas é realmente primordial: cada
uma é uma reação fundamental ao ser-Para-outro como situação originária. Portanto, pode
acontecer que, pela própria impossibilidade de identificar-me com a consciência do outro por
380
intermédio de minha objetividade para ele, eu seja levado a me voltar deliberadamente para o
outro e olhá-lo. Nesse caso, o que Sartre chama de olhar o olhar do outro é colocar-se a si
mesmo em sua própria liberdade e tentar, do fundo desta liberdade, afrontar a liberdade do
outro.
Minha tentativa original de apossar-me da subjetividade livre do Outro através de sua
objetividade-para-mim é o desejo sexual. Diz-se que o homem é um ser sexual porque possui
um sexo. E se for o contrário? E se o sexo não for mais que o instrumento e, por assim dizer, a
imagem de uma sexualidade fundamental? E se o homem só possuir um sexo por ser originária
e fundamentalmente um ser sexual, enquanto ser que existe no mundo em conexão com
outros homens? A sexualidade infantil precede a maturação fisiológica dos órgãos sexuais; os
eunucos, por assim serem, não deixam de sentir desejo. Nem como muitos idosos. O fato de
poder dispor de um órgão sexual apto a fecundar e buscar o prazer só representa uma fase e
um aspecto de nossa vida sexual.
Há um modo de sexualidade "com
possibilidade de satisfação", e o sexo constituído
representa e concretiza esta possibilidade.
A partir deste ponto, Sartre mostra os
mecanismos das relações de desejo. Mas, de novo,
vamos nos ater aqui, por circunstâncias óbvias,
somente ao tema do sadismo. E aí o célebre
existencialista francês nos lembra que o desejo está
na origem de seu próprio fracasso, na medida que é
desejo de tornar e apropriar-se. Com efeito, não
basta que a turvação faça nascer a encarnação do
Outro: o desejo é desejo de se apropriar desta
consciência encarnada.
Portanto, prolonga-se naturalmente, não
mais por carícias, mas por atos de preensão e
penetração. A carícia só tinha por objetivo
impregnar de consciência e liberdade o corpo do
outro. Agora é preciso capturar esse corpo saciado,
segurá-lo e penetrar nele. Mas pelo simples fato de que, neste momento, procuro apossar-me
dele, puxá-lo contra mim, agarrá-lo, mordê-lo, meu corpo deixa de ser carne e volta a ser o
instrumento sintético que sou eu; e, ao mesmo tempo, o Outro deixa de ser encarnação: volta
a converter-se em instrumento no meio do mundo, instrumento que apreendo a partir de sua
situação. Sua consciência, que aflorava à superfície de sua carne e que eu tentava saborear
com minha carne, desvanece ante meus olhos: conserva-se apenas como objeto com imagens-
objetos em seu interior. Ao mesmo tempo, minha turvação desaparece: não significa que eu
deixe de desejar, mas sim que o desejo perdeu sua matéria, tornou-se abstrato; é desejo de
manusear e agarrar; obstino-me em agarrar, porém minha própria obstinação faz desaparecer
minha encarnação: agora, transcendo novamente meu corpo rumo às minhas próprias
possibilidades (aqui, a possibilidade de agarrar), e, igualmente, o corpo do Outro, transcendido
381
rumo às suas potencialidades, cai o nível de carne ao nível de puro objeto. Esta situação
implica a ruptura da reciprocidade de encarnação, que era precisamente o objetivo próprio do
desejo: o Outro pode permanecer turvo, pode continuar sendo carne para si mesmo, e posso
compreendê-lo, mas é uma carne que já não apreendo com a minha, uma carne que já não é
mais senão propriedade de um Outro-objeto, e não a encarnação de uma Outro-consciência.
Assim, sou corpo (totalidade sintética em situação) frente a uma carne. Encontro-me
novamente quase na situação da qual tentava justamente sair Poe meio do desejo; ou seja,
tento utilizar o objeto-Outro para que preste contas de sua transcendência, e, precisamente
por ser todo objeto, ele me escapa com toda a sua transcendência. Chego a perder, de novo, a
compreensão nítida daquilo que busco, e, no entanto, acho-me comprometido na busca.
Agarro e me descubro no processo de agarrar, mas o que agarro em minhas mãos é algo
diferente daquilo que queria agarrar, porque, juntamente com minha turvação, a própria
compreensão de meu desejo me escapa; sou como um adormecido que, ao despertar, vê-se a
ponto de crispar as mãos sobre a borda do leito, sem lembrar-se do pesadelo que provocou
seu gesto. Esta situação está na origem do sadismo.
O sadismo é paixão, secura e obstinação. É obstinação porque é o estado de um Para-si
que se capta como comprometido e persiste em seu compromisso sem ter clara consciência do
objetivo a que se propôs, nem lembrança precisa do valor que atribuiu a esse compromisso. É
secura porque aparece quando o desejo foi esvaziado de sua turvação. O sádico recuperou seu
corpo enquanto totalidade sintética e centro de ação; recolocou-se na fuga perpétua de sua
própria facticidade; faz experiência de si mesmo frente ao outro enquanto pura
transcendência; tem horror à turvação para si mesmo e considera-a um estado humilhante;
pode até ocorrer, simplesmente, que não consiga realizá-la em si mesmo.
O sadismo é um esforço para encarnar o Outro pela violência, e esta encarnação "à
força" já deve ser apropriação e utilização do outro. O sádico procura - tal como o desejo -
despir o Outro dos atos que o disfarçam. Procura descobrir a carne por baixo da ação. Na dor,
com efeito, a facticidade invade a consciência e, por fim, a consciência reflexiva é fascinada
pela facticidade da consciência irrefletida. Portanto, há de fato uma encarnação pela dor. Mas,
ao mesmo tempo, a dor é procurada por meio de instrumentos; o corpo do Para-si torturador
já nada mais é que um instrumento para provocar dor. Assim, o Para-si, desde a origem, pode
nutrir a ilusão de apoderar-se à maneira instrumental da liberdade do Outro, ou seja, de verter
esta liberdade na carne, sem deixar de ser aquele que provoca, que agarra, que captura. Vê-se
logo o sentido da exigência sádica: a graça revela a liberdade como propriedade do Outro-
objeto e remete, de modo obscuro, tal como fazem as contradições do mundo sensível, no
caso da reminiscência platônica, a um Para-além transcendente, do qual só retemos nebulosa
recordação e que só podemos alcançar por uma modificação radical de nosso ser, ou seja,
assumindo resolutamente nosso ser-Para-outro. O sádico, portanto, visa destruir a graça para
construir realmente outra síntese do Outro: quer fazer aparecer a carne do Outro; na sua
própria aparição, a carne será destruidora da graça, e a factibilidade irá reabsorver a liberdade-
objeto do Outro. O ideal do sádico, enfim, irá consistir em alcançar o momento em que o
Outro seja da carne; o momento em que as coxas, por exemplo, já se oferecem em uma
passividade obscena e expansiva e continuam sendo instrumentos que se pode manejar,
382
separar, arquear, a fim de ressaltar mais as nádegas e, por sua vez, encarná-las. Mas não
sublinha uma última advertência: não nos iludamos. O que o sádico busca com tal tenacidade,
o que almeja amassar com as mãos e submeter com os punhos é a liberdade do outro;
portanto, é da liberdade que o sádico tenta apropriar-se. Assim, o esforço do sádico consiste
em enviscar o Outro em sua carne através da violência e da dor, apoderando-se do corpo do
Outro pelo fato de tratá-lo como carne nascida da carne, mas esta apropriação transcende o
corpo de que se apropria, porque só quer possuí-lo na medida em que enviscou em si a
liberdade do Outro. Eis porque o sádico irá exigir provas manifestas desta servidão da
liberdade do Outro pela carne; seu propósito será fazer com que ele peça perdão, obrigará o
Outro se humilhar por meio da tortura e da ameaça, irá forçá-lo a renegar o que lhe é mais
caro. Essas poucas indicações não visam esgotar o problema do sadismo. O que Sartre quis foi
apenas mostrar que o sadismo está como em germe no próprio desejo, como sendo o fracasso
de desejo: com efeito, a partir do momento que busco possuir o corpo do Outro, o qual levei a
encarnar por meio de minha encarnação, rompo a reciprocidade de encarnação e transcendo
meu corpo rumo às suas próprias possibilidades e me oriento na direção do sadismo. Assim, na
opinião de Sartre, sadismo e masoquismo são os dois obstáculos do desejo, quer eu
transcenda a turvação rumo a uma apropriação da carne do Outro, quer dê atenção somente à
minha carne, inebriado que esteja por minha própria turvação, e nada mais exija do Outro
senão o olhar que me ajude a realizar minha carne. Devido a esta inconsistência do desejo e
sua perpétua oscilação entre esses dois obstáculos é que Sartre passou a designar a
sexualidade "normal" como "sadomasoquista".
Obs.: O leitor atento não deve ter percebido que, quando Sartre lança mão do termo
"encarnação", obviamente não está se referindo à rasa teoria kardecista.
13
O link para a imagem do texto estava quebrado
383
poderem estar protegidos pela tela de seus computadores. Isso é facilmente comprovado pelo
baixíssimo número de sites e home pages em português dedicados exclusivamente a esse tipo
de público. Ou seja, a Internet, no Brasil, em termos de SM GAY, ainda não possui o mesmo
número e qualidade de informações que já temos disponíveis no resto do mundo.
Infelizmente, os gays brasileiros ainda não tiveram a coragem de se expor por completo,
ainda não perceberam que ser sadomasoquista nada tem a ver com o fato de ser
homossexual, ou melhor, tem tudo a ver. Pois, assumir o fato de ser sadomasoquista é tão
normal quanto assumir o fato de se ser homossexual, uma vez que também há
sadomasoquistas heterossexuais e bissexuais.
SER SADOMASOQUISTA, INDEPENDE DA OPÇÃO SEXUAL DE CADA UM!
Ser SM e GAY são apenas duas nuances das características sexuais de alguém, não é nem
um demérito assumir e/ou vivenciar sua verdadeira "personalidade sexual".
Quando entendermos isso e, também, que SER MÁSCULO É DIFERENTE DE SER MACHO,
ACHAREMOS A NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE SEXUAL e, assim, poderemos nos orgulhar de
pertencer a uma comunidade que tanto fez e faz pelo sadomasoquismo em todo o mundo.
I
Veja, em Desejo Secreto, mais informações sobre David Stein.
Fase de Desejo
As três fases sucessivas no ciclo de resposta sexual masculina normal são:
(1) desejo;
(2) lubrificação-intumescência (as fases de excitação e nivelamento);
(3) fase orgásmica.
Embora as bases fisiológicas do desejo sexual sejam precariamente conhecidas, diversos
fatos já ficaram estabelecidos.
Primeiro, o desejo sexual masculino geralmente exige quantidades suficientes de
testosterona, embora não seja simples estabelecer a relação entre o nível de desejo e a
quantidade de hormônio.
Segundo, o impulso sexual está relacionado, de algum modo, com o funcionamento do
sistema límbico, posto que alguns pacientes com convulsões psicomotoras experimentam
alterações substanciais no impulso sexual; o uso de medicamentos que reduzem a atividade
convulsiva ou a execução de uma lobotomia temporal alteram ainda mais o impulso sexual.
386
Fase Orgásmica
Ambos os componentes da ejaculação masculina foram descritos por Masters e
Johnson. O primeiro componente, que consiste nas contrações dos órgãos acessórios internos
da reprodução, é acompanhado pela sensação de ejaculação iminente e, em seguida,
inevitável. Esse aspecto da fase orgásmica é chamado "emissão".
Durante o segundo componente, denominado "ejaculação propriamente dita", ocorrem
contrações de recorrência regular do esfíncter uretral e dos músculos bulboesponjosos,
isquíocavernoso e transverso superficial e profundo do períneo, todos dando origem a diversos
jorros ejaculatórios a intervalos de 0,8 segundo.
As sensações mais intensamente prazerosas são experimentadas nesse estágio. A
emissão ocorre um ou dois instantes antes da ejaculação propriamente dita. Acredita-se que
os órgãos internos se contraiam de modo a que os vários componentes do ejaculado possam
acumular-se na uretra bulbar, imediatamente antes da expulsão efetuada pelo poderoso
mecanismo muscular bulbar.
387
Estágios de Resolução
Durante a resolução, as modificações que acompanham a tensão sexual aumentada
retrocedem, à medida que o organismo volta a seu estado de repouso, não-estimulado. Tendo
ocorrido o orgasmo, a respiração, o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea retornam
rapidamente ao nível basal. Os testículos decrescem de tamanho e voltam a sua posição
habitual de repouso.
Exceto nos homens jovens, o pênis detumesce em duas etapas após o orgasmo. Há uma
redução imediata de 50% do tamanho, provavelmente em vista do esvaziamento dos corpos
cavernosos. A detumescência da segunda etapa é mais retardada, em decorrência do
esvaziamento mais lento do corpo esponjoso e da glande.
A primeira etapa da involução do pênis prolonga-se quando os estágios de excitação e
nivelamento do ciclo da resposta sexual são deliberadamente estendidos. A segunda etapa é
retardada quando há alguma estimulação sexual residual, tal como ocorre quando o pênis
permanece no interior da vagina.
Quando o período imediatamente pós-ejaculatório é desprovido de estímulos sexuais,
como pode acontecer se o homem levantar-se e andar, falando sobre algum assunto diferente,
a detumescência completa ocorre com maior rapidez.
Fontes:
Patologia e Terapia Sexual - 1ª Ed. - 1994.
Guyton - Fisiologia Humana - 13º ed - 2001
388
Fase do desejo
A fisiologia do desejo sexual feminino é precariamente compreendida. Entretanto, está
razoavelmente esclarecido que é o androgênio, e não o estrogênio, que fornece a base
hormonal para o impulso sexual feminino. A queda dos níveis de estrogênio, por si mesma,
como ocorre durante a menopausa ou em decorrência de castração cirúrgica ou por radiação,
não afeta o interesse sexual feminino.
389
Fase de platô
Durante a fase de platô, a vasocongestão local atinge sua extensão máxima e os
pequenos lábios, ingurgitados, assumem uma intensa coloração arroxeada ou cor de vinho. O
terço anterior, ou inferior, da vagina atinge sua vasocongestão máxima, formando uma
"plataforma orgásmica". As modificações adicionais, durante a fase de nivelamento ou platô,
incluem uma ascensão ainda maior do útero e a retração do clitóris de sua posição
protuberante, colocando-se por trás da sínfise pubiana.
Nesse ponto, a mulher tende a aumentar a lordose e retroprojetar seu corpo, a fim de
melhor encaixar o pênis dentro do canal e facilitar a movimentação.
Fase orgásmica
O orgasmo feminino consiste em contrações reflexas e ritmadas dos músculos
perivaginais e perineais, que circundam a vagina, a intervalos de 0,8 segundo. Essas contrações
são particularmente visíveis no terço inferior da vagina, a plataforma orgásmica. O útero
390
Fase de resolução
Na fase de resolução, as alterações fisiológicas, ocorridas durante a resposta sexual,
regridem e os tecidos reativos retornam a um estado de repouso. Embora o clitóris geralmente
retorne à sua posição normal em 10 segundos e a plataforma orgásmica sofra uma rápida
detumescência, 10 a 15 minutos podem transcorrer antes que a vagina retorne a seu estado
habitual não-estimulado e para que o útero desça até sua posição basal. Os pequenos lábios
começam a perder sua intensa coloração arroxeada momentos após o orgasmo.
Fontes:
Patologia e Terapia Sexual - 1ª Ed. - 1994.
Guyton - Fisiologia Humana - 13º ed - 2001.
Pretendemos aqui abordar o tema "moral" e associa-lo com o BDSM - embora saibamos
que o termo "associar" não seria o mais adequado, tendo em vista o que moral e BDSM
representam. Não vamos partir do princípio de que o conceito de moral e suas variações na
sociedade sejam perfeitamente conhecidas e entendidas, embora todos já tenham ouvido
falar nisso em algum momento de suas vidas. Também não pretendemos esgotar o assunto
porque ele é inesgotável e ricamente diversificável. Entretanto acreditamos que aqui estamos
fornecendo alguns subsídios para a flexibilização do tema e para que as pessoas possam
conduzir suas relações BDSM (ou não) da melhor forma possível dentro do SSC.
"A comunidade SM, seja nacional ou internacional, vem se expandindo e com isso
surge a necessidade de estarmos orientando a todos, principalmente para que os
novatos conduzam suas relações BDSM de uma forma segura e consensual, a fim
de que a sua forma de expressão do prazer sexual seja preservada de forma
saudável." (Delmônica, BDSM e suas afinidades com o jogo)
"As pessoas não vêm com nenhuma espécie de 'painel' onde apresentam um
'detector' de caráter, um 'medidor' de intenções, um 'localizador' de objetivos ou,
ainda, um 'indicador' de equilíbrio mental." (Delmônica, BDSM x Comportamento
- 2a parte)
392
E é por essas palavras transcritas acima, de Delmônica, que temos que ser perspicazes e
abertos para nos conhecermos e buscarmos de forma prazerosa a nossa satisfação através do
BDSM e devemos ter muito cuidado e atenção ao escolhermos os nossos parceiros nesse jogo.
Embora isso não seja uma tarefa simples, não é, contudo, impossível de se fazer de forma um
pouco mais segura.
Entretanto, cabe aqui ressaltar, antes de entrarmos no assunto propriamente dito, que
não pretendemos "ensinar" nada a ninguém, nem "criar uma moral" e muito menos fazer
apologia sobre o que é certo ou errado. Cada um, dentro do seu contexto, é que melhor sabe,
sempre, o que é ou não adequado para si.
Reiteramos que os conceitos e definições aqui expostos são, antes de tudo, um estudo
fundamentado sobre o tema proposto, estando citados no final do artigo toda bibliografia
utilizada. Entendemos que o leitor, leigo ou não, poderá e deverá buscar sempre maiores
informações, outras fontes sobre o assunto e inclusive contribuir com ideias e sugestões -
desde que não sejam meros "achismos" sem sentido e que não se desvinculem da realidade
que ora vivemos.
Há bilhões de anos atrás o homem primitivo relaciona-se com outros de sua espécie e
interage com a natureza buscando submetê-la. A própria fraqueza de suas forças diante do
mundo que o rodeia determina que, para enfrentá-lo e tentar domina-lo, reúnam todos seus
esforços com o objetivo de multiplicar o seu poder. A fragilidade de seus filhotes, que exigem
um período de cuidados mais prolongado do que outras espécies, leva o homem primitivo a
permanecer mais tempo junto a fêmea e assim, garantir a perpetuação da espécie. Dessa
forma, agrupam-se em tribos, clãs, num arranjo semelhante ao que entendemos hoje por
família, onde passam a conviver.
Notamos aqui que a "família" não surge de uma imposição externa ao homem, mas de
uma necessidade natural por ele internalizada de manter-se, de viver mais, de impor-se sobre
o mundo hostil daquela época e assim perpetuar a espécie. E dessa "vida social" em tribos e
clãs e da observação das atividades de seus integrantes, surge a compreensão comum de
todos os membros da tribo do que são valores bons e maus para a harmonia da clã/tribo.
Valores como coragem/covardia, força/fraqueza, bondade/maldade, altruísmo/egoísmo... O
trabalho do homem primitivo assume, na tribo, um caráter coletivo e o fortalecimento da
coletividade se transforma numa necessidade vital. Somente o caráter coletivo do trabalho e,
em geral, da vida social, garante a subsistência e a afirmação da tribo. Assim, cada membro da
tribo recebe atividades para desempenhar para que a mesma possa se desenvolver em
harmonia. A mãe a cuidar dos filhos, da comida, os mais velhos a ensinar os mais novos, os
bravos a cuidarem da segurança e caça, etc.
Então uma série de normas, mandamentos ou prescrições não escritas surgem a partir
dos atos ou qualidades dos membros da tribo que beneficiam a comunidade. Essas normas são
aceitas por todos e por todos cumpridas para o bem da comunidade. Nascia então, lá naquele
tempo distante e primitivo, o que chamamos hoje de MORAL, do latin "mos" (costume) ou
"mores" (costumes), com a finalidade de assegurar a concordância do comportamento de cada
393
Dentro deste conceito podemos ver que a moral compreende um aspecto normativo
(regras de ação) e um aspecto factual (atos que se conformam num sentido ou no outro com
as normas mencionadas). E que mesmo a moral possuindo um caráter social, o indivíduo tem
um papel essencial, visto que exige primeiro a interiorização dessas normas em cada homem
individual, sua adesão íntima ou reconhecimento interior dessas normas estabelecidas e
sancionadas pela comunidade. Natural isso porque para que existe uma comunidade é preciso
que cada ser individual a componha. Podemos dizer, observando o desenvolvimento da
humanidade, que a moral aparece primeiro em seu aspecto factual e posteriormente, com o
surgimento do Estado, aparece em seu aspecto normativo.
Exemplificando o aspecto factual da moral, podemos dizer que "não mentir" é uma
postura internalizada pela grande maioria das pessoas e por elas aceita naturalmente, não
havendo uma regra escrita para todos onde diga que "Não se deve mentir." Vamos excluir aqui
os dogmas religiosos porque eles fariam referência a um grupo específico de pessoas (as que
professam aquela religião) não abrangendo os demais. Ninguém é preso, na sociedade atual,
por ter dito uma mentira sem grandes consequências. No entanto o mentiroso inveterado,
identificado por um grupo, sofre as restrições morais factuais daquele grupo: exclusão do
mesmo, descrédito, desconfiança, etc. Já a afirmativa "não matar" é um aspecto normativo da
moral de nossa atual sociedade, escrito na Constituição e imposto aos membros da sociedade
pelo poder coercitivo do Estado. Mas sabemos, pela história, que em outros tempos, em
algumas sociedades, a disponibilidade sobre a vida de outras pessoas era bastante natural
para os que detinham o poder. Matar, nessas sociedades, era aceitável, desde que da vontade
do Senhor.
Quando o indivíduo age de acordo com "uma moral", ele pratica um ato moral. O ato
moral é o resultado concreto do comportamento moral dos indivíduos e os
aspectos/elementos que o integram são: motivos, intenção, decisão, meios e resultados. A
moral, assim como as sociedades, se sucedem e substituem umas as outras, através dos
tempos, e por isso possuem um caráter histórico, não podendo ser concebida como dada de
uma vez para sempre e sim considerada como um aspecto da realidade humana mutável com
o tempo. Por isso, observando o desenvolvimento das sociedades historicamente, podemos
ver sociedades com costumes diferentes que foram "progredindo" através dos tempos e,
inclusive, costumes que foram abolidos. Um claro exemplo disso era a sociedade escravagista,
que não considerava os escravos (negros) como pessoas que pudessem ter uma alma e serem
394
considerados como humanos. Naquela época este pensamento era perfeitamente aceitável.
Hoje, estudando tal sociedade, achamos que aquela prática era errada e que o pensamento
estava errado. Mas precisamos também considerar que nós, hoje, somos o fruto evoluído
daquela sociedade. E precisamos também observar que em muitas pessoas ainda existe o forte
sentimento daquela sociedade, traduzida pelo preconceito, transmitido por seus ascendentes
e internalizado por elas. É óbvio que hoje entendemos perfeitamente que os escravos (negros)
são seres humanos com alma e com os mesmos direitos que nós. Talvez hoje, nós mesmos
tenhamos certos conceitos tão arraigados em nós e tenhamos tanta certeza que estejam
certos e daqui a dez, quinze anos tais conceitos sejam considerados "errados" pela sociedade
evoluída daquela época. Tais análises de sociedades, tomando épocas diferentes, é bastante
interessante e digna de ser abordada em texto posterior, considerando os vários aspectos das
mudanças das sociedades.
A moral não exige só que o homem esteja em relação com os demais, mas também
exige certa consciência - por limitada e imprecisa que seja - desta relação, para que se possa
comportar de acordo com as normas ou prescrições que o governam.
Uma distinção é importante que se faça aqui entre moral e ética, para que no decorrer
do texto se entenda melhor quando nos referimos a um e a outro. Todos os
problemas práticos reais, surgidos das relações propriamente ditas entre os indivíduos são
problemas morais que o indivíduo busca resolver utilizando as normas comportamentais que
lhe foram ensinadas no meio em que vive (família, sociedade). E estas normas são aceitas
internamente por ele e reconhecidas como obrigatórias e de acordo com elas o indivíduo
entende que tem o dever de agir desta ou daquela maneira.
Então, quando numa prática BDSM o/a Dominador/a escolhe parar com a cena
combinada com a/o submissa/o mesmo que a/o submissa/o não peça ou queira a interrupção,
o/a Dominador/a está agindo de acordo com normas que por ele/a foram aceitas e
internalizadas - porque ele/ela pressente que se continuar com a prática indiscriminadamente
poderá advir algum problema que atente contra a integridade física e/ou moral de sua/seu
submissa/o e isso lhe parece errado. Outras pessoas refletindo sobre essa atitude do/a
Dominador/a poderiam julgar e formular juízos, aprovando ou não a atitude tomada ("- O
Dominador X agiu corretamente ao parar naquele momento.")
Então vemos que temos de um lado atos e formas de comportamento dos homens
diante de determinados problemas (problemas morais) e de outro lado, juízos que aprovam ou
desaprovam esses mesmos atos. Consequentemente, esses atos e formas de comportamento
humano e os juízos feitos sobre eles pressupõem a existência de uma norma - a de que deve-
se respeitar a vida acima de tudo (o "não matar"). E pressupõem também que eu vivo em
sociedade porque eu quero e assim sendo me preocupo com o que possam pensar de mim
aqueles que comigo convivem. Inevitavelmente seremos seres sociais para o resto de nossas
vidas porque quer queiramos ou não, vivemos em busca de aprovação daqueles que nos
cercam. Só podemos fazer o que quisermos se esse nosso querer não agredir a outrém.
Na vida real, constantemente, defrontamo-nos com problemas práticos e para resolvê-
los recorremos às normas, cumprimos determinados atos, formulamos juízos e nos utilizamos
395
de argumentos ou razões para justificar a decisão tomada ou os passos dados. Assim, esse
comportamento efetivo, tanto dos indivíduos quanto dos grupos sociais, de ontem ou de hoje,
é chamado de comportamento humano prático-moral, mesmo sujeito a variação de uma
época para a outra e de uma sociedade para outra e vem desde as próprias origens do homem
social, lá na sua clã/tribo.
Se por um lado esse comportamento prático-moral acompanha o homem desde as suas
origens, já a reflexão sobre esse comportamento surge muitos milênios depois. Assim, o
homem age moralmente e também reflete sobre esse comportamento, passando da moral
práticapara a teoria da moral. Isto é, ele reflete e questiona um ato que pode ter sido feito no
presente ou no passado, emitindo juízos sobre ele. Essa reflexão sobre o comportamento
prático moral do homem se verifica com o início do pensamento filosófico e caracteriza o
surgimento dos problemas teóricos morais ou éticos. Então, quando precisamos agir num
determinado momento usando apenas nossa própria concepção e critérios de moral,
enfrentamos um problema prático-moral. E quando refletimos sobre as atitudes que tivemos,
estamos diante de um problema teórico moral ou ético. Então a ética é a ciência que estuda a
moral e que nos diz o que é um comportamento ditado por normas ou em que consiste o fim -
bom - visado pelo comportamento moral.
Como diz Vázquez:
mudanças ocorrem, tendo um intervalo de tempo curto demais entre elas, às vezes de apenas
dez, quinze anos (com a tendência a diminuir esse espaço), a consequência é uma "mistura" de
gerações com concepções diferentes do que seria o "bom" para o todo e com conceitos novos
que ainda não foram totalmente assimilados por todos. E nessa mistura de "gerações" (que
implica numa "mistura" de morais) os parâmetros para a reflexão sobre os atos morais se
tornam numerosos demais para que se consiga traçar rumos claros e que agradem a todos.
continua...
conseguirmos, para qualquer problema que nos surja, nos apresentar mais de duas opções...
então estamos com um grande problema, com toda certeza!
Continuando, não basta julgar determinado ato por uma norma ou regra de ação;
precisa-se saber das condições concretas nas quais o ato acontece, a fim de verificar se existe a
possibilidade de opção e de decisão necessárias para que se possa imputar a responsabilidade
moral. E quando nos perguntamos em que condições alguém pode ser louvado ou censurado
por sua maneira de agir, buscamos a resposta que Aristóteles já possuía:
1) o comportamento tem que possuir um caráter consciente por parte do indivíduo, isto
é, que não ignore as circunstâncias nem as consequências da sua ação;
2) a conduta tem que ser livre, isto é, que a causa da conduta seja interior, esteja no
próprio indivíduo (que ele não seja obrigado/coagido a fazer).
Só se pode responsabilizar o indivíduo que escolhe, decide e age
conscientemente. A ignorância não exime o indivíduo da responsabilidade moral em todos os
casos. Existem circunstâncias em que o indivíduo ignora o que poderia ter conhecido ou o
que tinha obrigação de conhecer. Então a ignorância não pode eximi-lo da responsabilidade já
que o indivíduo é responsável por não saber o que deveria saber.
Assim, decidir e agir numa situação concreta é um problema prático-moral; mas
investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com a liberdade e com o
determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos é um problema teórico, cujo estudo é de
competência da ética. Logo, o objeto de estudo da ética é constituído por um tipo de atos
humanos: os atos conscientes e voluntários dos indivíduos que afetam outros indivíduos,
determinados grupos sociais ou a sociedade em seu conjunto.
Assim, sendo a moral flexível e variando de sociedade para sociedade de acordo com a
sucessão das mesmas, podemos dizer que o comportamento humano é que varia e se
diversifica com o tempo, tanto vertical como horizontalmente, isto é, tanto no seu
relacionamento com membros da mesma sociedade, como na sucessão de novas sociedades.
Mas, e porque isso poderia ser importante para a prática BDSM? Simples: porque se
antigamente o tempo era muito grande para que mudanças pudessem ocorrer numa
sociedade como um todo sem perturbar o desenvolvimento de seus membros; hoje temos
uma sociedade onde ocorrem mudanças num intervalo de tempo muito pequeno, fazendo
com que diferentes grupos com morais diferentes coexistam sob um mesmo “estado” e sob
mesmas “leis” que visam o bem de todos, propiciando os choques entre os membros da
grande sociedade e a desestabilização da mesma. Mas esse aspecto das mudanças e como
elas ocorrem e assunto para análise posterior.
Mas o que determina o progresso moral? Não se pode considerar o progresso moral
sem considerar os fatores sócio-econômicos, culturais e políticos que fazem com que as
sociedades progridam e se sucedam umas as outras, no tempo. Não vamos discorrer aqui
sobre esses fatores porque não é esse nosso objetivo, mas podemos dizer, basicamente, que o
progresso moral se mede de duas formas: primeiro, pela expansão do próprio aspecto moral
na vida social. (Entendam sempre o termo “moral” como as regras que regem uma
determinada relação social de indivíduos).
Essa expansão se dá quando as relações entre os indivíduos, que eram regidas por
normas externas, passam a ser regidas apenas pela moral interna de cada um. Isto é, quando
as relações entre os indivíduos passam a se dar dentro do padrão moral intimamente
assumido por cada membro da sociedade e tido como certo e coerente para essa sociedade.
Por exemplo, não vou praticar determinado ato porque entendo e aceito internamente que
esse ato é errado para o grupo e não porque existe uma norma externa me obrigando a agir
assim.
Segundo, pela elevação do caráter consciente e livre do comportamento dos indivíduos
ou dos grupos sociais e, consequentemente, pelo aumento da responsabilidade desses
indivíduos ou grupos no seu comportamento moral.
Vejam que não estamos citando regras morais específicas, nem estabelecendo
comparações e nem dizendo quais são corretas e quais não são corretas. Estamos apenas
discorrendo sobre a moral em si, existente em cada grupo, comunidade, sociedade e a forma
com que ela molda o comportamento de cada indivíduo em cada sociedade. Que todos temos
uma moral, isso é indiscutível. Se ela é a mais adequada ao momento atual, isso sim é
discutível, devendo-se sempre considerar que caminhos de evolução a humanidade toma.
Bem, mas surge novamente a pergunta: “- Porque falar em moral num contexto BDSM?”
Ora, moral tem tudo a ver com BDSM porque tem tudo a ver com o homem e seus “atos”.
Como vamos avaliar nosso parceiro para uma cena? Para um relacionamento? Que valores
vamos apreciar que ele tenha? Que tipo de comportamento moral vamos querer que ele
tenha conosco? A resposta as vezes é básica: vamos olhar o outro sob o prisma
da nossa moral, do que aprendemos a valorizar e a cultivar e esperar que ele se comporte da
forma que nós achamos que ele deveria se comportar! Sempre, absolutamente sempre que
emitimos um juízo, o fazemos basicamente considerando o que nós entendemos como
correto, considerando a nossa moral. Se nos reportássemos para a era da agricultura, onde as
mudanças ocorriam de forma tão lenta que dezenas de gerações viviam e morriam com pouca
ou nenhuma alteração nos seus hábitos de vida, poderíamos sim avaliar o outro sobre o
“nosso” prima moral, porque a moral seria uniforme para todos.
Entretanto hoje, quando as mudanças ocorrem vertiginosamente, não podemos
esquecer que o nosso parceiro é um indivíduo inserido numa comunidade que “muta” a cada
segundo com a diversidade de processamento das informações e que os princípios morais dele
podem (e provavelmente serão) completamente diferentes dos nossos. E se não tivermos essa
compreensão, poderemos vir a nos arrepender em algum momento de nossa vida.
399
Bibliografia:
CHÂTELET, François. A filosofia e a história. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1974.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 5.ed. São Paulo, Makron
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Collier Books, 1982.
GRAVES, Clare. The Graves Technology. Denton , New York , Viking, 1988. Texas, National
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GLEICK, James. Caos: a criação de uma nova ciência. Trad.: Waltensir Dutra. Rio de Janeiro,
Editora Campus, 1990.
LYNCH, Dudley & KORDIS, Paul. L. A Estratégia do Golfinho: a conquista de vitórias num mundo
caótico. São Paulo, Editora Cultrix, 1988.
401
Da internet:
Bee_a, Erotismo e Poder
http://www.desejosecreto.com.br/pagteoria3.html
BondageRS, BDSM e a lei brasileira
http://www.desejosecreto.com.br/pagteoria10.html
Delmonica, BDSM e suas afinidades com o jogo
http://www.desejosecreto.com.br/pagteoria11.html
Delmonica, BDSM x Comportamento – 2a.
partehttp://www.desejosecreto.com.br/pagteoria7.html
Edge, Abuso e consenso numa relação D/s http://www.desejosecreto.com.br/pag4.1.html
O que é vida?
http://acd.ufrj.br/consumo/disciplinas/tl_capra.htm
Visões da ciência na era do complexismo
http://www.geocities.com/Paris/Bistro/5657/argigo2.html
Introdução
A análise de algumas práticas sexuais "patológicas" revelam que estas últimas
representam não somente uma solução afim de evitar sofrimentos psíquicos insuportáveis -
uma forma de sobrevivência psíquica - mas que constituem também uma tentativa de
construir um sentimento de identidade sexual. Este sentimento, como tive oportunidade de
14
O link para a imagem estava quebrado
402
mostrar em outro lugar, pode encontrar-se em desacordo com a anatomia do sujeito, desaf_
famosa afirmação de Freud: "a anatomia é o destino". Aqui, o conceito de neo-sexualidade(1)
é muito útil pois descreve organizações psíquicas inovadoras resultantes de intensos
investimentos libidinais.
Nesta perspectiva, certas práticas sexuais ditas perversas podem representar, para o
sujeito, a única possibilidade de atividade sexual e, ao mesmo tempo, de construir um
sentimento de identidade sexual. Por outro lado, renunciar a tais práticas pode significar uma
verdadeira ameaça de castração, no sentido de uma fantasia de inexistência total e
permanente de toda capacidade sexual. Não é de se estranhar que estas práticas sejam, por
muito tempo, mantidas em segredo, e o sujeito só seja capaz de analisá-las quando o vínculo
transferencial está bem estabelecido. Além disto, raramente, tais práticas constituem a razão
de procura da análise.
Uma pergunta nos acompanhará ao longo deste texto: em quais circunstâncias uma
manifestação da sexualidade - por mais "perversa" que ela seja em relação a uma normalidade
dentro de um contexto cultural - deve ser considerada uma "versão modificada" da
sexualidade adulta, e quando ela deve ser considerada sintomática? O que motiva esta
pergunta é a noção mesmo de perversão antes de Freud e o remanejamento que esta noção
sofreu após a ruptura freudiana, embora paradoxalmente alguns psicanalistas se esqueçam
disto. Para deixar bem claro a perspectiva deste trabalho, uma rápida incursão na noção de
perversão se faz necessária.
A palavra "perversão", (perversio em latim), define a "ação de perverter", "transformar
em mal", "depravação", "corrupção": perversão dos costumes, do gosto artístico... Na esfera
do sexual, fala-se de perversão quando determinada prática desvia-se de uma finalidade dada
à sexualidade humana.
O que sustenta este julgamento é a noção de uma sexualidade normal segundo a
natureza - união de dois orgãos sexuais diferentes para a preservação da espécie - cujo desvio,
a depravação (pravus) é definido como "contra a natureza". Tal concepção, herdeira d_` mento
grego em particular de Aristóteles, apoia-se na concepção teológica de uma Natureza (physis),
onde existiriam inclinações naturais nas coisas. Logo, todo ato sexual que desvia da finalidade
primeira da sexualidade - pedofilia, necrofilia, masturbação, heterossexualismo separado da
procriação, homossexualismo, sodomia - é perverso.
É neste discurso teológico que se apoiam determinadas ações jurídicas destinadas a
reprimir todo ato perverso: certos atos ditos "contra a natureza" são considerados_` _tado ao
pudor ou à opinião pública, o que acarreta sanções. Ao definir a perversão em função de uma
finalidade natural e universal, o discurso psiquiátrico vigente no século XIX, o da época de
Freud, dá continuidade às posições teológicas e jurídicas e faz com que o penal passe a ser da
ordem médica. Surgem então novas patologias que vêm juntar-se à infindável nosografia
psiquiátrica da época: voierismo, exibicionismo, sadismo, masoquismo...
O Sexual Perverso
403
A partir de 1896, e sobretudo no começo de 1897, Freud começa a inverter este quadro
ao interessar-se, através da análise das psiconeuroses em particular da histeria, pelas
manifestações ditas perversas da sexualidade. Freud(2) observa que as construções e os
fantasmas apresentados pelos pacientes, correspondiam às perversões descritas pelos grandes
clínicos da época. Ou seja, o que aparece nas perversões está, mascarado, recalcado nas
psiconeuroses. "A histeria, escreve Freud(3), não é uma sexualidade repudiada, mas, antes,
uma perversão repudiada."
A grande contribuição de Freud para a compreensão da perversões não vem do tipo de
material clínico observado (Freud cita, nos Três Ensaios , os autores que já haviam falado de
perversão, sobretudo Havelock Ellis), mas da afirmação escandalosa de que as tendências
perversas minuciosamente catalogadas pelos seus colegas como aberrações humanas
assombram o espíritos de todos os homens, inclusive daqueles que as catalogaram estando
também presentes nas crianças: "a criança é um perverso polimorfo".
O inconsciente dos homens, afirma Freud, é animado pelos desejos que os perversos
põem em cena. Se na perversão as pulsões inconscientes estão "a céu aberto"; na neurose elas
agem na clandestinidade, disfarçadas nos sintomas: "a neurose é o negativo da perversão". As
perversões sexuais deixam então de ser uma prática que só eles - os perversos - exibem e
passam a ser entendidas como algo presente, ainda que no inconsciente, em todos os seres
humanos. Como diz Hamlet no final do segundo ato: "a se tratar cad_` _segundo seu
merecimento, quem escapará do açoite?"
As raízes da sexualidade humana,constata Freud, se encontram nas pulsões parciais e o
objetivo destas pulsões múltiplas e anárquicas é simples: o prazer; o prazer imediato e ao
menor preço possível.
O objeto nos fantasmas eróticos, sublinha Freud, é o que há de mais intercambiável,
parcial, instável: tudo é bom desde que se obtenha prazer! Pode ser que o sujeito se faça
objeto para gozar de um outro objeto; ou que o outro seja utilizado sem a menor consideração
daquilo que ele realmente é. (Uma reflexão se impõe: ora, se a sexualidade se baseia em
pulsões parciais cujo objetivo é o prazer e se o objeto da pulsão é variável, como definir, do
ponto de vista da psicanálise, o que seria normal em sexualidade? O que é uma fantasia
normal?)
Outro escândalo vem contrariar a visão que a biologia, a moral, a religião e a opinião
popular têm da natureza da sexualidade: o objetivo da sexualidade humana não é a
procriação; ela escapa à ordem da natureza, agindo a serviço próprio: ela é contra a natureza.
Em suma, o que Freud denuncia aqui e que foi, e continua sendo, tão difícil a digerir é a
ideologia que está por trás da definição tradicional, e em vigor até hoje, de "perversão". Freud
vai mostrar, vale a pena insistir, que todas estas perversões são manifestações da sexualidade
e, como tal, integram o psiquismo humano. Ou seja, o estudo das perversões mostra que a
pulsão não possui um objeto fixo; que a normalidade é uma ficção; que não existe mais
diferença qualitativa entre o normal e o patológico.
404
Caso Clínico
João, 35 anos, procurou-me para um trabalho analítico encaminhado por uma colega
que tinha em análise o seu companheiro. Este última ameaçara de deixá-lo pois ele - João -
estava levando ___`0áticas sado-masoquistas "um pouco longe demais". João teria, num
excesso de excitação, quase quebrado o braço de seu namorado.
João, a princípio, não achou que, devido ao acontecido, precisasse ver alguém. Por outro
lado, esta seria uma boa ocasião visto que, há algum tempo vinha sentindo um tanto
deprimido e que a vida sua vida estava meio vazia. As vezes tinha crises de angústia quando
sentia algo que definia como "medo de tudo".
Ao mesmo tempo, ele não dava muito crédito ao trabalho analítico, e os primeiros
meses de nosso trabalho foram marcados por uma intensa transferência negativa que se
manifestava por um desfile de queixas e de reservas quanto a eficacidade da psicanálise e a
competência profissional do analista. Ele faltou algumas sessões dizendo que estava pensando
seriamente a interromper a análise.
Entre ameaças de abandono e ausências - chegou a faltar duas semanas sem avisar -
João, aos poucos, estabeleceu uma relação transferencial. A medida que trabalho analítico
avançava, ele expressava sua angústia dizendo que tinha muito medo de mudar com a análise;
de não mais se reconhecer; e mais, que começava a compreender que tinha perdido muito
tempo e que se dava conta que era impossível recuperar o tempo perdido. Que seu grande
medo, disse após muita hesitação, era de perder a sua sexualidade que, afinal, dava-lhe muito
prazer.
Um detalhe fundador da história de João merece ser contado:
O lugar de João na economia libidinal da família é peculiar. Ele relato um fato, que pode
ser entendido como seu mito fundador: a mãe de João, tinha uma irmã dois anos mais nova
que ela. Quando essa irmã tinha 4 anos, logo a mãe de João 6, a irmã ficou gravemente
doente, com febre alta, diarreia, etc, provavelmente devido à uma infecção. A avó de João,
figura central em toda a dinâmica familiar, sentida como distante, ausente, fria, recusou a
levar a menina para o hospital sem a presença do marido. Segundo a historia corrente, o avô
de João tinha uma amante e estaria com ela naquela noite. Enfim, o que aconteceu foi que
quando levaram a criança para o hospital, era tarde demais e esta veio a falecer. (Esta avó
morreu num hospital psiquiátrico e foi João que autorizou que os aparelhos que a mantinham
viva fossem desligados.)
Quando a mãe de João engravidou-se, o então namorado, tentou convencê-la de
abortar; como ela recusou-se a fazê-lo, ele se viu obrigado a casar. Quando João nasceu, diz
ele, a mãe o "deu" para a avó para que ela cuidasse dele pois sentia-se incapaz de fazê-lo.
405
(Pode-se aqui conjecturar-se sobre os sentimentos de culpa da mãe quando da morte da irmã
pequena, que de certa forma forma apaziguados neste ato de "doação do filho.)
João apresenta sua mãe como "era uma mulher obcecada por limpeza, sobretudo pela
higiene pessoal". Precocemente, João foi obrigado a aprender a controlar os esfincteres e cada
vez que isto não acontecia era severamente punido: João vivia esta punição como uma ameaça
de perda do amor maternal. Seu pai, sentido como uma ausência constante, partira de casa
quando João tinha 8 anos. Ele só veio a revê-lo quando já era adolescente e nunca o perdoou
por "tê-lo abandonado deixando-o só com sua mãe".
De sua sexualidade, ele me dá a seguinte apresentação: "trepar nunca foi um problema
para mim: quando estou afim, vou e trepo. É isto aí". A vida sexual de João começou bem
cedo, e aos 20 anos tinha uma intensa atividade sexual com parceiros de ambos os sexos.
Contudo, à medida que o tempo passava ele "optou" por uma orientação exclusivamente
homossexual. "Com os homens, disse-me, consigo viver melhor minhas fantasias". Para isto,
era preciso encontrar um parceiro que ele procurava nas boates Hard, e que se prestasse a
participar a um cenário bem preciso, em vários atos, no qual cada detalhe era cuidadosamente
preparado para que o "prazer máximo" fosse alcançado. Este cenário sexual, francamente
sodo-masoquista, consistia em dominar o parceiro. Tudo começava por uma luta corpo-a-
corpo, até que o adversário fosse totalmente subjugado para ser, em seguida, amarrado.
A etapa seguinte consistia em torturar o pênis do vencido. Quando maior esse fosse,
mais intensa eram as torturas infligidas e, consequentemente, mais gloriosa a vitória. "Meu
parceiro, disse-me ele, enquanto pessoa, não conta em nada: a única coisa que conta é seu
pinto."
(Esta separação entre pulsão e objeto foi, em determinado momento, central na análise
de João)
Um dia, durante seu segundo ano de análise, ele começou a sessão dizendo: "Há algum
tempo hesito em falar sobre algumas de minhas fantasias sexuais". Agora acho que tenho a
confiança necessária para falar disso, e acho que você é forte o bastante para suportá-lo",
acrescentou.
Para atingir o "prazer máximo", o que nem sempre acontecia, era necessário dar vazão a
suas fantasias escatofílicas. "Defecar em alguém, evacuar toda minha sujeira em cima da
pessoa, é a pior humilhação que se pode infligir a alguém: este é o meu maior prazer." Várias
vezes ele participou de "surubas escato", se bem que, segundo ele, isto não lhe interessava
muito: "sou obrigado, disse, a mostrar em público as coisas que eu produzo. Entretanto, eu
sempre tive a impressão que minhas fezes são mais limpas que as dos outros."
Todo seu prazer corria o risco de ser aniquilado caso fosse o parceiro que tomasse a
dianteira. Quer dizer, se seu parceiro pedisse que João defecasse nele. "Nesta situação, ele
disse, sou tomado por uma grande angústia, pois tenho a impressão que estou fazendo isto
para ele e não para meu próprio prazer." Uma fantasia de "impotência fecal" aparecia quando
ele tinha_` _as intestinas pois em tais circunstâncias, "minhas fezes podem estar líquidas. E aí,
não tenho nenhum controle sobre elas. Quando está sólida, pode-se controlá-la e limpá-la. Ela
406
é limpa. Mas a merda líquida escorre por toda parte. É impossível limpá-la." Um dia ele chega
muito agitado, e angustiado: tinha-se apaixonado pela primeira vez. Esta relação aconteceu
durante as férias de verão.
Discussão
A análise permitiu a João de elaborar as fantasias subjacentes as suas práticas sexuais e
de se libertar de seu jugo. Por exemplo, ele compreendeu que torturar o pênis do parceiro era
uma maneira de se vingar, e ao mesmo tempo de se defender, de seu pai e dos homens em
geral. O pênis, objeto parcial, foi transformado, por condensação e deslocamento, em objeto
total, ao mesmo tempo idealizado e persecutório: controlando-o ele podia, finalmente,
possedê-lo.
Ele associou sua angústia face a demanda escatofílica de seu parceiro aos momentos
quando, ainda criança, sua mãe o acompanhava ao banheiro, que se encontrava fora da casa,
para seu "cocô matinal". Sua mãe, o esperava de fora e, às vezes, reclamava do frio que fazia.
João se sentia então obrigado a fazer um grande esforço para evacuar rapidamente "toda
minha sujeira para deixar minha mãe contente" e também para que ela pudesse, em seguida,
utilizar o toalete. "Que coisa mais doida, disse, não era eu que tinha vontade de fazer cocô, era
minha mãe!" Suas fezes, assim como tudo que ele produzia - sua capacidade de amar, de ser
amado - tudo isto era sujo. Por associação, o interior de seu corpo era também sujo.
Sua análise revelou que, para João, toda esta sujeira vinha de sua mãe, ou melhor de seu
interior. Mas, João, que esteve no interior daquele corpo não seria ele também sujo? De fato,
isto constituía uma fantasia fundamental para ele. A partir daí, ele compreendeu que as "scato
parties" às quais ele participava tinham por objetivo, dentre outros, o de saber se aquilo que
ele produzia era mais sujo que os produtos dos outros. Quanto às fezes líquidas, tão temidas,
João as associou, através de sonhos e de devaneios, ao leite maternal que, segundo ele, nunca
o alimentara realmente pois "este leite que vinha do interior do corpo de minha mãe era
seguramente sujo."
O fato que João achasse que suas fezes eram mais limpas que as dos outros indica que
ainda que a relação com sua mãe não tenha sido "suficientemente boa"(4), João pôde, ao
menos obter o mínimo de afeto necessário, evitando assim arranjos psíquicos mais
catastróficos.
A erotização das fezes, e seu contrário, o excesso de limpeza, criaram entre João e sua
mãe uma território privilegiado de trocas sem que, no entanto, as fezes tenham sido
transformadas em objeto fetiche.(5)
A medida que João compreendia os significados inconscientes de suas práticas sexuais,
estas últimas tornaram-se menos compulsivas e ele pode encontrar outras formas de prazer
em suas relações. A angústia que sentiu quando se apaixonou pela primeira vez, foi associada
ao fato que foi-lhe muito difícil se reconhecer em sua nova vida sexual: a fantasia subjacente
era que ao mudar sua sexualidade, ele correria o risco de perdê-la completamente. Ao mesmo
tempo, as associações à partir de seu relacionamento amoroso que começou quando eu "o
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abandonei" para sair de férias, permitiu-lhe elaborar sua raiva em relação a seu pai que,
também, o abandonara.
Finalmente, o afeto que se manifestava em forma de angústia ligado ao medo de
mudanças, de não mais se reconhecer, enfim, de perder suas referências identificatórias, pôde
ser lentamente reinvestido em relações afetivas mais estáveis, menos persecutórias
permitindo, ao mesmo tempo, um aumento de investimentos não erotizados.
Manifestações da sexualidade
A economia libidinal do ser humano, assim como as manifestações da sexualidade - a
maneira como cada sujeito leva concretamente sua vida sexual - é o resultado de um longo
percurso pulsional que repousa sobre as relações - sempre em movimento - estabelecidas
entre as identificações ao pai e à mãe.(6) É isso que permitirá ao sujeito investir
libidinalmente, de maneira manifesta ou latente, os objetos dos dois sexos, de criar
imaginariamente o fantasma do sexo que ele não possui, assim como de construir a
representação psíquica de corpo próprio.(7) O que se pode chamar de "saúde psíquica" reside
no equilíbrio dinâmico das tendências pulsionais homossexuais e heterossexuais; a
dissociação, ou a denegação, desses elementos pode levar a graves distúrbios. "Em todos nós,
no decorrer da vida, escreve Freud, a libido oscila normalmente entre objetos masculinos e
femininos."(8)
A identidade sexual representa uma criação particular e única que cada sujeito tem que
fazer na tentativa de dar soluções aos conflitos - reais ou imaginários - presentes desde o início
da vida, uma forma de escapar ao sofrimento psíquico(9): não podemos compreender as
construções identitárias, sem levar em conta o equilíbrio singular de cada sujeito. As diversas
manifestações da sexualidade, por mais sintomáticas que possam parecer, são parte
integrante do sentimento de identidade sexual. Isso não exclui, entretanto, a possibilidade de
que a sexualidade possa ter um uso defensivo. Ou seja, uma prática sexual compulsiva, ou seu
oposto uma total falta de sexualidade, pode constituir uma defesa contra o perigo de se entrar
em contato com representações inconscientes cujos conteúdos são potencialmente
depressivos.
Se certas manifestações da sexualidade podem surpreender por seu caráter insólito, a
análise de tais práticas mostram que estas "invenções" são, no fundo, rearranjos de velhos
conflitos que, quando criança, o sujeito teve que enfrentar em suas primeiras trocas com o
mundo.
Quando a libido se fixa nestes pontos conflituais, a sexualidade infantil se perpetua, de
forma que a sexualidade adulta torna-se uma repetição empobrecida da infantil. A angústia
que então se manifesta, reduz consideravelmente as possibilidades relacionais do sujeito
assim como sua capacidade sublinatória.
Notas Bibliográficas:
408
McDOUGALL, J., As múltiplas faces de Eros, Rio de Janeiro, Martins Fontes, 1997, p. 188.
FREUD, S., Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). Vol VII, E. S. B., , 1972.
MASSON, J., A correspondência completa Freud-Fliess, 1887-1904. Rio de Janeiro, Imago, 1986,
213.
WINNICOTT, D., W., Collected Papers, London, Tavistock Publications, 1958.
STEWART, S., "Quelques aspects théoriques du fétichisme", in La sexualité perverse, Paris,
Payot, 1972.
CECCARELLI, P. R. "A construção da Masculinidade", Percurso 19, São Paulo: Sedes Sapientiae,
1998
CECCARELLI, P. R. "Os destinos do Corpo", in Psicossoma II. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998..
FREUD, S., A psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher (1920). Vol XVIII, E. S.
B., 1976, p. 196.
McDOUGALL,J.,As múltiplas faces de Eros, Rio de Janeiro,MartinsFontes, 1997
* in Psychê, ano II, 2,Univ. de São Marcos, São Paulo, 61-69, 1998.
** Psicólogo; psicanalista; Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela
Universidade de Paris VII; Co-fundador do Laboratório de Psicopatologia Fundamental do
Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP; Membro da Rede Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental;
Membro Praticante da "Société de Psychanalyse Freudienne", Paris, França; Consultor científico
(Editorial Reader) do "International Forum of Psychoanalysis"; Membro do Conselho Científico
da Revista Psychê (Revista do Centro de Estudos e Pesquisas em Psicanálise Univ. São Marcos -
SP); Membro Fundador da ONG TVer (ONG fundada pela Dra. Marta Suplicy que discute a
qualidade da TV brasileira); , Ex-consultor e colaborador no projeto PRO-SEX (Projeto
Sexualidade) do Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP; Ex-colaborador do
Ambulatório de Endocrinologia do HC-SP; Professor no Departamento de Psicologia da PUC-
MG; Membro Efetivo do X Plenário do Conselho Regional de Psicologia da Quarta Região -
CRP/O4
http://www.geocities.com/HotSprings/Villa/3170/PauloCeccarelli.htm
15
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409
Não foi pensando em BDSM que o poeta inglês - considerado maldito na sua época -
Samuel Taylor Coleridge cunhou, um belo dia, o seu mais famoso conceito - the willed
suspension of disbelief - ou seja, a suspensão voluntária da descrença.
O que ele pretendia era discorrer sobre o "acordo tácito" entre o criador de uma obra e
seu público, que permitiria a este público manter sua mente aberta e mergulhar na obra que
lhe é apresentada, de maneira a se identificar com os personagens, passando de um público
expectador ou leitor a um público participante. Tal condição sugerida por Coleridge, no
entanto, nada mais é do que a capacidade de deixarmos de lado, temporariamente, a nossa
realidade, o mundo em que vivemos, para entrarmos de cabeça e de coração na realidade e no
mundo que o autor coloca à nossa frente, aproveitando o sonho que ele criou para o nosso
próprio prazer.
Trata-se, portanto, de algo que todos nós já fizemos - e mais de uma vez - na vida. Quem
nunca se emocionou com um filme, um livro, uma novela ou qualquer outra obra do gênero,
mesmo que momentaneamente, mesmo que disfarçadamente, deve ter algum tipo de
bloqueio emocional. Pois é exatamente isso o que acontece numa cena BDSM. Trata-se de
deixar de lado a nossa vida "normal", para entrarmos temporariamente em um outro mundo,
igualmente feito de fantasia. Uma fantasia mais palpável, é verdade, pois nossa referência não
será uma tela, a página de um livro ou o palco do teatro, mas estará ao alcance de nossas
próprias mãos. E ainda mais: um mundo de fantasia no qual temos o poder de escrever o
roteiro, de determiná-lo, de fazer acontecer o que desejamos dentro dos limites de sanidade,
da segurança e da consensualidade, bases nas quais se baseiam os nossos relacionamentos
sadomasoquistas.
Uma cena BDSM, portanto, deve ter para seus praticantes este mesmo caráter de
fantasia que tem um filme ou uma peça de teatro. A diferença principal é que estaremos
participando ativamente dela - e participar ativamente implica em uma responsabilidade
maior do que ser meramente um expectador. E é isso o que os nossos amigos baunilhas (e
infelizmente, devemos dizer, alguns de nossos amigos BDSMistas) não são capazes de fazer.
Viver uma cena BDSM é se desligar temporariamente do mundo real para se entregar a um
prazer (no caso, sexual) envolto em fantasia, do qual se pode voltar depois, sem que isso
signifique que se está louco (ou será que alguém já ficou louco vendo um filme ou assistindo
uma novela?).
Para os baunilhas, o grande problema é simplesmente a questão sexual. Na mente
deles, ao que parece, mergulhar num mundo fictício de um livro ou de um filme é simples e
aceitável. Fazer isso no mundo BDSM - embora o conceito, repito, seja exatamente o mesmo -
é algo complexo e indesculpável. Pecaminoso, se quiserem.
A grande maioria dos baunilhas - estatisticamente chutando, aí por uns 90% - jamais
cogitaram da possibilidade de se libertar de suas próprias amarras para experimentar outras
sensações (no caso, sexuais), simplesmente por incapacidade para compreender um ponto
essencial: tais sensações outras são, ao fim e ao cabo, fantasias a serem exploradas.
Embora isso possa parecer óbvio, para muita gente continua sendo algo invisível. Ou
que passa debaixo de seus próprios narizes, sem que se dêem conta disso. De fato, todos nós -
410
baunilhas ou não - temos a capacidade de fantasiar as coisas. E fazemos isso desde sempre; e
com tamanha naturalidade, que nem percebemos mais. E o fazemos, vale repetir, em relação a
muitas coisas: um filme de Spielberg, uma novela global, um livro, uma peça de teatro -
situações que requerem de nós a tal suspensão voluntária da descrença. Uma pena para eles,
os baunilhas, porque estão perdendo a chance de vivenciar uma outra realidade, da qual,
assim como num livro ou num filme, voltariam, depois, enriquecidos. Em conhecimentos, em
ideias, em conceitos e, o principal, em prazer.
Para alguns BDSMistas, o grande problema é que eles se recusam a vivenciar suas
experiências como fantasias. Querem que aquilo seja sua vida real. Querem inverter as coisas.
E aí começam a aparecer conflitos sérios, primeiro com seus próprios amigos e parceiros,
depois com as demais pessoas de seus círculos de amizade e, por fim, com eles mesmos. Daí a
importância - e a nossa insistência - de afirmar que o jogo BDSM é uma fantasia, tanto quanto
o é uma peça de teatro ou um filme. Para além de seu aspecto lúdico, a prática do BDSM se
move, perigosamente, na direção das patologias. Assim como na leitura de um livro ou no ato
de se assistir a um filme, as coisas terminam quando se chega à última página ou quando as
luzes se acendem. No jogo BDSM isso também acontece: o livro vai acabar, as luzes vão
acender... e a cena vai terminar.
A realidade, ao final da cena, continua no mesmo lugar de antes - e é fácil voltar para
ela, quando se desejar. O que mudou de lugar foi a nossa mente, mergulhada
temporariamente em novas sensações, em novas emoções, em um novo mundo, com
segurança e de livre vontade, exatamente como se estivéssemos confortavelmente instalados
numa poltrona de cinema... E é por isso que o BDSM é tão sedutor: ele mexe com dois dos
mais essenciais elementos que nos tornam humanos: a imaginação e o sexo praticado de
maneira consciente.
Prazer e Dor16
Mestre Votan
Este tópico me fez pensar algum tempo, e coloco aqui minha opinião pessoal, baseada
em reflexões, experiências e pesquisa sobre o tema. E espero que possamos aprofundar a
ideia.
Para entender o conceito de dor e prazer, fui dar uma passeada pela definição clássica de
sadomasoquismo.
Kraftt Ebing, médico alemão, foi quem primeiro utilizou os termos Sadismo e
Masoquismo no seu livro "Psycopathia Sexualis", em 1885. Sade já era falecido, mas Masoch
16
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411
ainda estava vivo, e isso gerou bastante polêmica na época. Kraftt Ebing substituiu o termo
"algolagnia", que estava em vigor na época, para as inexplicáveis relações de prazer e dor que
ele começara a documentar e que eram estudadas na época. (Noto que este
termo,"algolagnia", é usado até os dias de hoje...embora tenha mais de 150 anos..)
Por Sadismo, Kraftt Ebing referiu-se a busca de prazer sexual através do sofrimento
imposto à pessoa que lhe faz companhia. É o prazer com o sofrimento alheio. Aqui cabe outra
discussão, porque a concepção do personagem e comportamento Sadeano é completamente
diferente do que praticamos e acreditamos hoje. Sade era muito mais libertino do que sádico.
Mas isto fica para outra hora.
Masoquismo, a grosso modo, foi definido como a incapacidade para obter prazer sexual
sem sofrimento. É sentir prazer com a dor. O sado-masoquismo é (ainda?) considerado dentro
da psiquiatria como sendo uma Parafilia (para = desvio; filia = atração) ou transtorno da
conduta sexual em que há preferência por atividades sexuais que impliquem dor, humilhação
ou subserviência. Comumente, os indivíduos com esse transtorno obtêm a excitação sexual
por comportamentos tanto sádicos como masoquistas.
E a dor no BDSM?
Muitas pessoas fora do BDSM, acreditam ainda, inocentemente, que o(a) masoquista é
aquele(a) capaz de sentir toda e qualquer dor como prazer. Bom, mas se fosse assim, eles(as)
412
Concluí, depois de todo este discurso que, a dor pela dor, não tem sentido. Ela, no
universo BDSM precisa estar erotizada e elaborada, para ter nexo e alcançar à que se propõe:
aumentar o prazer seja do sujeito ativo, o que proporciona: (dominador(a)/sádico(a)) seja do
sujeito passivo (masoquista/submisso(a)). Logo o(a) masoquista/submisso(a) tem a capacidade
de erotizar a dor, utilizando-a como elemento amplificador do prazer. E contextualizada na
relação com seu sádico(a)/dominador(a) alcança seu ponto máximo, permitindo novos
horizontes e sensações.
Mestre Votan
Introdução
A Internet tornou-se mais um veiculo onde pessoas, de forma ocasional ou rotineira,
podem desfrutar e realizar fantasias e desejos muitas vezes inconfessáveis e frustrados em
seus relacionamentos amorosos e sexuais, de forma segura e anônima sem que suas
identidades reais sejam reveladas. Da mesma forma, a Internet propicia oportunidades para
que homens e mulheres, independente de orientação sexual, estado civil, idade e com
distintas preferências sexuais, possam tornar concreto no mundo "real", um contato iniciado e
mantido através da comunicação on-line (Martins & Grassi, 2001). Partindo-se da premissa
que a definição de "normalidade" é histórica e culturalmente construída, conceitos como
"normal", "saudável" e "patológico" estão sendo questionados por todos os profissionais que
se interessam pelo estudo e compreensão da sexualidade humana. As inúmeras manifestações
da sexualidade humana, assim como as mais variadas buscas de prazer, confirmam uma vez
mais que no ser humano a sexualidade não está vinculada á procriação. A dinâmica da
sexualidade humana - o que leva um sujeito a ter a sexualidade que tem - vem sendo objeto de
414
estudo desde a Antiguidade sem que um consenso tenha sido alcançado, o que têm levado à
busca de novos paradigmas para compreender os comportamentos sexuais ditos "desviantes".
Uma das razões que dificulta a compreensão dos interesses sexuais não convencionais é que o
paradigma sexual tradicional, baseado na psicologia, psiquiatria como também na opinião
popular, assume que a procriação é a mais importante função biológica (Fog, 1992). A maioria
dos dados coletados e estudados sobre comportamentos ditos "desviantes" foram baseados
em casos considerados patológicos. Tais estudos foram feitos sob a ótica médica forense, ou
tendo como referência pessoas que procuravam tratamento psiquiátrico e/ou psicológico por
suas preferências sexuais "desviarem" do comportamento sexual "normal" (Ceccarelli, 2000).
Este último entendido como o relacionamento sexual heterossexual, finalizado com a
penetração genital e com o intuito de procriar. Certas práticas sexuais ditas "desviantes" como
o Sadismo e o Masoquismo Sexual, como também o Fetichismo são categorizados como
"parafilias" e comportamentos disfuncionais pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais - 4a Edição (1995) da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e pela
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados á Saúde -10th
Revisão (1999) da Organização Mundial da Saúde, o que tem gerado muitos debates em
relação ao seu critério diagnóstico, com o qual muitos profissionais que se interessam pelo
estudo das práticas sexuais "alternativas", não concordam.
O objetivo do presente estudo é explorar a sexualidade humana nas suas mais diversas
variações como o BDSM ( Bondage/Disciplina, Dominação/Submissão, Sadismo/Masoquismo)
ou SM e Fetichismo, através de um questionário on-line enviado á um grupo de pessoas que se
descrevem como praticantes de BDSM e Fetichismo e que tem na Internet o seu referencial
para a troca e procura de informações, assim como para a procura de parceiros que partilham
das mesmas fantasias sexuais.
Este estudo não tem a intenção de incentivar ou condenar a escolha de práticas sexuais,
mas explorar a diversidade da sexualidade humana adulta de um grupo de pessoas dentro do
contexto da sociedade brasileira contemporânea.
Método
Um e-mail foi enviado ás várias listas de discussão e classificados postados em websites
dirigidos aos praticantes de BDSM consensual e Fetichismo do Brasil e que utilizam a Internet
como um meio para a troca e obtenção de informações e contatos com pessoas que partilham
das mesmas fantasias sexuais. Explicou-se o caráter exploratório do estudo, o qual seria
basicamente conduzido por e-mail, onde a identidade real dos participantes seria preservada.
Os interessados deveriam ter mais de 18 anos de idade, não importando sua orientação sexual
e estado civil. Aos voluntários foi pedido que entrassem em contato replicando ao e-mail
enviado. Cento e onze pessoas de vários estados brasileiros manifestarem interesse em
participar. Foi-lhes enviado, então, um questionário abordando questões como: o que os
levava á usar a Internet; quais as práticas sexuais em que estavam envolvidos; como e quando
se interessaram por atividades sexuais consideradas "diferentes" e como se sentiam em
relação a ter prazer com práticas consideradas não convencionais.
415
Informações sobre a idade, formação religiosa, sexo, estado civil, nível de escolaridade,
e orientação sexual, também foram objeto de interesse para a pesquisa. Não foi objetivo do
presente estudo, estabelecer critérios diagnósticos da amostra pesquisada nem tampouco
descrever em detalhes as práticas sexuais não convencionais.
Revisão
Apesar da crescente evolução observada ao longo dos anos nas ciências humanas e nas
áreas tecnológica e científica, a sexualidade ainda é objeto de muita especulação, preconceitos
e tabus. Se observarmos as diversas reações da atualidade frente às manifestações sexuais,
veremos o quanto tais reações permanecem imutáveis ao longo da história. Embora a
"revolução sexual" dos anos sessenta e os inúmeros movimentos objetivando o
reconhecimento dos direitos humanos, sobretudo os feministas, tenham mudado o cenário
social, a sexualidade continua sendo um enigma para o ser humano e objeto de muitas
discussões desde a Antiguidade.
No séc. V, a partir dos grandes Padres da Igreja - Agostinho, Jerônimo e Tomás de
Aquino, o cristianismo passa a vincular sexualidade e procriação: o exemplo inquestionável a
seguir é a vida "naturalmente heterossexual" dos animais. Toda prática sexual que escapasse a
esta norma traria o chamado "estigma negativo do prazer". Surge a partir de então, uma forma
de moralidade que é essencialmente uma moralidade sexual. As práticas "contra a natureza" -
consideradas atentado ao pudor, aos bons costumes, e à opinião pública - acarretam severas
sanções para que o "normal" seja mantido. Entretanto, a história assim o mostra, tal objetivo
nunca foi alcançado: a sexualidade sempre escapou a toda e qualquer tentativa de
normatização (Ceccarelli, 2000).
Na segunda metade do século XIX aparece o discurso psiquiátrico contemporâneo que,
marcado pela mesma visão moralista, dá continuidade às posições teológicas e jurídicas,
trazendo para a ordem médica o que, até então, era do jurídico. Os grandes psicopatólogos da
época, dentre eles, Havellock-Ellis (1888) e Kraftt-Ebing (1890), classificaram e etiquetaram as
práticas sexuais que escapavam aos ditames morais. Traçou-se um minucioso inventário das
sexualidades ditas desviantes, onde novas formas de práticas sexuais, que utilizam o outro
para a obtenção de prazer e a finalidade natural da sexualidade - a procriação - é subvertida,
são criadas: homossexualismo, voyeurismo, exibicionismo, sadismo, masoquismo, juntando-se
á infindável nosografia psiquiátrica da época. É também nesta época que termos que, mais
tarde, tornaram-se clássicos, são aí introduzidos: perversão (1882, Charcot e Magna),
narcisismo (1888, Havellock-Ellis), auto-erotismo (1899, Havellock-Ellis), sadismo e
masoquismo (1890, Krafft-Ebbing) [Ceccarelli, 2000].
No final do Séc. XIX, e de forma ainda mais contundente no início do XX, Sigmund Freud
em seu texto mais importante sobre a sexualidade, os "Três Ensaios sobre a Teoria da
Sexualidade" publicado em 1905, sustenta que subordinar a sexualidade á função reprodutora
é "um critério demasiadamente limitado". Na perspectiva freudiana, a sexualidade é contra a
natureza, ou seja, em se tratando de sexualidade, não existe uma "natureza humana".
(Ceccarelli, 2000).
416
algumas vezes mais velho ou mais novo (representando um bebê, por ex.); a feminização
forçada ou voluntária dos submissos masculinos que vestem saltos altos, cintas-ligas e
vestimentas femininas (crossdressing) e também jogos sexuais que envolvem urinas e
excrementos. Paschoal (2002, p 16) sustenta que "cada um desses conceitos tem aspectos
pessoais, individuais e únicos, tais como as pessoas que os praticam...Cada um é livre para
escolher qual deles prefere e como prefere....Não há como seguir os vários conceitos de forma
literal, já que a criatividade humana e as liberdades individuais são o que há de mais precioso
no ser humano".
Com a mesma criatividade, a comunidade BDSM criou o termo "baunilha" ("vanilla"),
para se referir ás práticas sexuais convencionais que não envolvem nenhum componente SM
(Scott, 1997, p 3). A tríade "Sanidade, Segurança e Consensualidade" (Brame G, Brame W &
Jacobs, 1993, p 49) é considerada uma norma básica das práticas não convencionais
consensuais e jamais pode ser ignorada ou negligenciada. Paschoal (2002, p 22) afirma que a
não existência de qualquer um dos aspectos SSC, torna toda e qualquer relação BDSM
totalmente inviável.
Por "Consensualidade", Moser (1996, p 31), entende o acordo voluntário firmado entre
os participantes do jogo erótico, no qual os limites de cada participante são honrados.
Esclarece que, não se pode chamar o abuso doméstico que ocorre entre um casal de SM, pois
o SM é consensual e o abuso imposto á um parceiro não é. Podemos usar como exemplo o
intercurso sexual e o estupro, onde o primeiro é consentido e o segundo é imposto sob
coação. Portanto, a diferença entre o sadomasoquismo e a verdadeira violência, encontra-se
no consentimento informado ("informed consent") [Moser, 1996, p31]. A "Sanidade" refere-se
á conscientização do que os participantes estão fazendo numa cena SM: trata-se de uma
fantasia e que não corresponde á realidade. Certas práticas BDSM implicam em riscos
consideráveis. Nesse sentido, o conhecimento do parceiro, o estabelecimento de limites e
saber os riscos inerentes á cada prática, são fatores importantíssimos para que o jogo erótico
BDSM seja seguro e prazeroso. Vale dizer também, que segurança engloba também algumas
proibições. Como é extremamente importante que se tenha completa consciência sobre o que
se está fazendo, o uso do álcool e de qualquer tipo de droga é severamente desaconselhado
antes ou durante a cena ou jogo BDSM (Paschoal, 2002, p 27). Caso algum limite físico ou
psicológico seja ultrapassado, o uso da "safeword" ou "palavra de segurança" restabelece os
limites da segurança física e emocional dos participantes e o jogo é imediatamente
interrompido.(Paschoal, 2002, p 25).
Segundo Brame, G, Brame, W & Jacobs (1993, p 358), a origem da palavra fetish vêm da
palavra em português feitiço e consta que foi usada pela primeira vez por exploradores
portugueses do séc. XV para descrever figuras sagradas. No seu sentido antropológico o
fetiche está ligado á artefatos sagrados investidos de poderes espirituais. Para os fetichistas, o
fetiche erótico é o próprio símbolo do divino, podendo excitar e mesmo induzir os seus
devotos ao êxtase. Exemplos de fetiches eróticos são encontrados naqueles que admiram um
par de sapatos, ao invés do pé que o veste; ou então o próprio pé é considerado
extremamente excitante, em detrimento do corpo humano como um todo. Todos os seres
humanos são fetichistas em algum grau. Na cultura brasileira, as nádegas são objeto de
419
adoração nacional, enquanto na cultura americana, há uma extrema valorização dos seios. Na
China, um pé feminino pequeno é extremamente sexy. Isso demonstra que diferentes culturas
elegem seus próprios fetiches. Como Paschoal (2002, p 68) muito bem ilustra, "um fetiche
seria uma preferência específica dentro de um universo de possibilidades...o BDSM está mais
para uma fantasia repleta de fetiches. Assim como um masoquista prefere (ou tem o fetiche
de) receber dor, ou ser torturado exclusivamente com cordas; ou com velas; ou com gelo; ou
com todas as alternativas; ou com nenhuma delas. O sádico prefere ( ou tem o fetiche de )
causar dor. Tudo são fetiches".
No tocante á realidade brasileira, a Internet tornou-se um poderoso veículo para a
procura de informações e contatos de pessoas que se interessam pelas práticas eróticas
sadomasoquistas e fetichistas, contribuindo largamente para a formação de uma subcultura
"virtual" de minorias sexuais. O movimento BDSM brasileiro encontra-se num estágio
embrionário, mas crescente, com centenas de websites (vide www.associacaoBDSM.com.br) e
listas de discussões (www.yahoo.com.br e www.msn.com.br), na tentativa de se formar um
movimento agregador que proporcione reconhecimento, visibilidade e contatos fora da
realidade "virtual", seguindo uma tendência internacional proposta pela organização
americana "The National Coalition for Sexual Freedom" (NCSF) que luta para garantir direitos
iguais nas áreas legal, política e social para os adultos que estão engajados na práticas de
expressões sexuais alternativas. Segundo os artigos sobre SM disponibilizados em seu website
(www.ncsfreedom.org.), a NCSF esclarece que o Sadomasoquismo não é abuso nem violência
doméstica, sendo este último "um padrão de comportamento intencional de intimidação com
o objetivo de coagir ou isolar o outro parceiro sem o seu consentimento
"(www.ncsfreedom.org/what.htm), opostamente ao que ocorre nas práticas BDSM, onde os
parceiros envolvidos concordam sobre tudo o que vai acontecer no jogo erótico, além de
serem pessoas muito bem informadas sobre as possíveis consequências na troca erótica do
jogo de poder. Esclarece ainda que a violência doméstica pode ocorrer em qualquer grupo de
pessoas, inclusive entre os que praticam SM, mas com a diferença de que dentro da
comunidade sadomasoquista, a violência doméstica não é perdoada e suas vítimas e
abusadores são encorajados a procurar ajuda especializada.
RESULTADOS
Tabela 1
Dados quantitativos da amostra pesquisada (n = 111) %
Sexo
Masculino 93,7
Feminino 6,3
Idade
18-25 18,9
26-35 41,4
36-45 30,6
46-55 8,1
+55 0,9
420
Orientação Sexual
Heterossexuais 84,7
Bissexuais 9,9
Gays 5,4
Estado Civil
Casados 31,5
Solteiros 52,3
Separados/ Divorciados 16,2
Escolaridade
Nível Secundário 16,2
Nível Universitário Completo 70,3
Pós - Graduados 13,5
Religião
Católica 53,2
Protestante 2,7
Espírita 12,6
Agnóstico 5,4
Ateus 5,4
Nenhuma 14,4
Outras 6,3
Práticas
Dominação/ Sadismo 32,4
Submissão/ Masoquismo 43,3
Switchers ("role reversal") 15,3
Crossdressing 1,8
Podolatria 4,5
Outras 2,7
Participação da parceria
Sim 36,1
Não 25,2
Sem parceria fixa 38,7
Conclusão
Abaixo citaremos recortes de alguns relatos para ilustrar a parte qualitativa do estudo,
onde os respondentes falam a respeito de como se sentem em relação ás suas vivências
sexuais e aos tópicos que foram abordados no questionário por eles respondido.
-SS, pós-graduado, fetichista, 35 anos, casado: "Quando tinha aproximadamente 5 anos,
lembro-me que tinha tesão em vestir camisolas de cetim, gostava de urinar nelas e sentir o
cheiro da urina por vários dias.....Desde criança percebi que tinha desejos "diferentes", mas só
fui entender de fato que esses fetiches não são uma "aberração da natureza", há uns três anos
com o advento da Internet....na net, vi, conversei e sei que tem gente com os mesmos gostos".
- S, administrador de empresas, masoquista, 34 anos, casado, lembra: "Tinha uma
brincadeira de policia e ladrão onde as meninas eram sempre da polícia e os meninos ladrões.
As meninas corriam, pegavam e prendiam os meninos. Lembro que quando eu era preso
sempre pedia para ser amarrado, pois senão fugiria, assim fui sem perceber desenvolvendo
meu instinto de submissão ao sexo feminino...Uma fantasia que me marcou muito na infância
e na adolescência foi a figura da "Mulher Gato" do seriado Batman.....hoje ao rever com olhos
mais experientes dá para perceber uma explicita citação fetichista. A Mulher Gato era linda,
aquela roupa em látex, bem justa e colada ao corpo...sempre que capturava os heróis , eles
eram amarrados e ficavam aos pés dela ...sempre era mostrado a Mulher Gato em seu
esconderijo sentada em uma cadeira tipo trono em um pedestal e seus ajudantes ficavam
sentados no chão aos seus pés...ás vezes ela dava um jeito de pisar em um ajudante...fetiche
puro".
- Fbond, importador, fetichista bondagista, 31 anos, casado, lembra: "Levo o bondage e
o fetichismo extremamente a sério, não sou adepto de nada que provoque dor, mas gosta da
sedução aliada á bondage, cinta-liga, roupas insinuantes (mas não vulgares), sou
culto....descobri que era fetichista aos 8 anos de idade assistindo um filme do Jerry Lewis e
hoje tenho um acervo com mais de 150 fitas do gênero....Considero-me uma pessoa
extremamente amiga, por isso acho um absurdo comparações que coloquem um fetichista na
casa dos "anormais". Talvez até haja casos assim, mas não se trata da grande maioria".
- Al Z, dominador, pós-graduado em análise de sistemas, 38 anos, casado, relata: "Desde
pequeno eu apreciava quando via cenas em que apareciam mulheres presas, amarradas ou
surradas (normalmente em filmes), mesmo desconhecendo totalmente o sexo... acho que era
instintivo.....Despertei totalmente para minhas fantasias há uns cinco ou seis anos atrás
quando entrei acidentalmente num site ...na época eu tinha 32 ou 33 anos e esse fato mudou
totalmente a minha vida...O bondage e o spanking ( bumbum feminino), me excitam bastante
e também outras formas de dominação física e psicológica, como por exemplo, transformar a
parceira em uma cadelinha colocando correia e correntinha guia....Meu relacionamento com
minha esposa é do tipo "padronizado", ou seja, segundo ditam as regras religiosas e sociais
para um casamento...Ela não sabe das minhas incursões no mundo virtual, nem tampouco que
procuro alguém para realizar minhas fantasias no "real". Sinto-me uma pessoa absolutamente
normal....O que penso é que a sociedade é quem realmente tem medo de admitir que quem
422
gosta de BDSM ( dentro do contexto erótico, é claro), é um ser humano normal. As pessoas
buscam sempre viver cada vez com mais tesão e o BDSM é apenas mais uma forma alternativa
de alcança-lo plenamente. ...Nunca abri o livro da minha vida tanto assim como estou fazendo
com você, mas me sinto muito bem, porque isso estava me sufocando demais".
- J, analista de sistemas, submisso, 32 anos, solteiro: "Sinto-me perfeitamente normal e
até porque não privilegiado, por saber explorar a minha sexualidade de uma forma
diferenciada e muito mais intensa do que a maioria das pessoas. Fico muito feliz por ter
capacidade suficiente em entender o meu fetiche e tirar proveito dele de forma sadia, segura e
muito peculiar".
- N, assistente administrativa, bondagista, 26 anos, solteira: "Gosto de ser amarrada e
imobilizada completamente, me sentir completamente vulnerável nas mãos do meu parceiro,
mas não ficar passiva e sim relutar em estar amarrada, como se estivesse sendo obrigada a
estar naquela situação, não aceitar passivamente que o outro me amarre, mas "fugir", tentar
me soltar, mas acabar sendo "vencida" pela força e técnica do meu parceiro...a privação dos
sentidos como a visão e a fala....assim os mesmos ficam ainda mais aguçados, mas não saber o
que a pessoa vai fazer é uma excitação sem igual... estar amordaçada é uma sensação
incrível... Juntar tudo isso é uma sensação inexplicável ... Sinceramente, me sinto mais normal
do que as outras pessoas, eu me sinto assumida. Acho que o que não é normal é as pessoas se
podarem, ou mesmo viverem um relacionamento de aparências e procurarem fora do
relacionamento a realização de suas fantasias...acredito que uma pessoa será completamente
feliz quando procurar um relacionamento que lhe complete no todo... difícil, mas acho que
mais difícil ainda é viver duas vidas...em uma delas você vai encenar... A sociedade em que
vivemos é hipócrita... todos têm suas fantasias, mas para se encaixar no padrão "normal",
ninguém se assume e ainda critica e se escandaliza coma opção do próximo. Acredito que cada
um é dono da sua vida e não tem que dar satisfação para ninguém do que gosta ou deixa de
gostar dentro de quatro paredes, ou melhor, acho que devemos ser livres para vivenciar
nossas fantasias e outras coisas cotidianas também, é claro, respeitando o limite e espaço do
outro. Para mim o BDSM é uma forma de prazer, é um mundo vasto com muitas ramificações
e cada pessoa escolhe dentro dessas a que lhe dá prazer ...eu escolhi a minha e não me
incomoda o fato da sociedade não aceitar ou me achar uma aberração... eu me sinto mais
normal que todos, pois sou sincera comigo mesma, me assumo e me aceito assim e isso me faz
feliz ...".
- M.H, dentista, crossdresser, submissa, 39 anos, casado: "Sou casada e minha esposa
participa de tudo e me domina há mais de um ano...Como você pode perceber sou uma
crossdresser submissa e como tal me porto. Sou uma sissy da minha esposa. Me visto sempre
que posso feminina, tenho todos os afazeres da casa e sou uma mulher para minha esposa.
Sou totalmente passiva e ela é ativa ....frequentemente apanho e sou humilhada, o que
adoro...fui descobrir que o que eu sentia e fazia estava em total sintonia com o universo
BDSM, mais ou menos aos 18 anos. Mas sem saber que era uma postura BDSM, desde que me
conheço por gente ...aos 6 ou 7 anos de idade...Adorava brincar de casinha com meus primos e
primas e sempre eu era a empregadinha, sempre trabalhando e humilhada. Este era o papel
que eu escolhia. Isto me dava prazer e no meu ponto de vista encaixa no BDSM...Aos 10 anos
423
gozei a primeira vez quando pus uma saia de uma tia...gozei sem ao menos me tocar. Desde
então sempre fui fora dos padrões , mas aos 16 anos notei que era "diferente". Seria eu gay?
Mas como ser gay se não me interessava e nunca me interessei por homens? Mas se não era
gay, por que me fantasiava no papel feminino? ...As pessoas infelizmente vivem num padrão
proposto hipócritamente por esta sociedade machista e repressora em que vivemos."
- ZZ, assistente de faturamento, podólatra submisso, 34 anos, casado: "O meu
relacionamento com minha esposa é o melhor possível em todos os sentidos. Ela sabe de
minha atração por pezinhos, tanto é que começou a trata-los bem melhor e de vez em
quando, quando transamos, ela me dá umas boas chineladas e eu gosto muito. Desde que não
prejudique física ou emocionalmente ninguém e ambos estejam de acordo, vale tudo na
prática sexual entre um casal. Sobre como a sociedade vê e julga os meus atos, isso para mim
não tem a mínima relevância".
- JP, advogado, sádico, 38 anos, casado: "Sinto-me um privilegiado por ter certos
interesses sexuais diferentes da maioria das pessoas e sempre conseguir realizá-los. O BDSM é
muito complexo, pois existem diferentes níveis de SM e me incluo em um
intermediário...algumas práticas me soam indigestas, como por exemplo a coprofagia,
humilhação em público, perfurações, cortes ou queimaduras, mas como diz o ditado, " se feito
com o consentimento de ambos o problema é deles...".
Podemos sugerir que as pessoas que fizeram parte da amostra pesquisada, longe de
representar a totalidade de indivíduos com práticas sexuais não convencionais na sociedade
brasileira, sentem-se em sintonia com suas diversas preferências sexuais, as quais são
experienciadas como prazeirosas , sentindo-se também privilegiadas por terem uma
sexualidade "diferenciada " daqueles que vêem no sexo e nos papéis convencionais , a única
forma de expressão para o amor, intimidade e para a realização de suas fantasias sexuais. Não
podemos afirmar pelos dados colhidos e relatados, que os praticantes de BDSM e Fetichismo
que participaram desse estudo, possam ser chamados de "parafílicos". Preferimos descreve-los
como praticantes esclarecidos, bem informados, e conscientes daquilo que consideramos
como variações na expressão da complexa sexualidade humana adulta.
É muito clara a importância do uso da Internet na formação de uma subcultura BDSM
consensual no Brasil, não só para a comunicação, obtenção de informações entre praticantes
afins, mas também como um mecanismo de inclusão social, reunindo milhares de pessoas que
compartilham das mesmas fantasias e práticas sexuais não convencionais. Esse estudo foi
possível, justamente pela facilidade de acesso, anonimato e a facilidade que a Internet
proporciona para todos os seus usuários. Cooper et al (2000, p 6), sustenta que a Internet
oferece a oportunidade para a formação de comunidades virtuais, onde indivíduos isolados e
discriminados, como por exemplo, gays e lésbicas, podem se comunicar entre si sobre
assuntos sexuais que sejam de interesse dessa comunidade.
Ao se darem conta do número de pessoas "iguais", a sensação de isolamento e de ser
"diferente" diminui ou desaparece e um novo sentido de "pertinência" ("belonging") e
identidade surge para aqueles que, anteriormente ao advento da Internet, sentiam-se
424
"anormais" e "fora do padrão" por não terem com quem compartilhar e dividir seus anseios e
suas fantasias devido ao preconceito e estigma em relação á tudo o que se desvia da "norma"
ou "padrão". Podemos sugerir que a Internet pode servir como um "salva-vidas" virtual" , pois
ao dar aos praticantes de BDSM, fetichismo e outras minorias sexuais, a oportunidade de "sair
do armário", proporciona um ambiente onde não há repressão, preconceito e onde tudo é
possível no mundo da fantasia, dando também a oportunidade para que essas fantasias saiam
da "virtualidade" e possam ser concretizadas no mundo "real". Segundo Bader (2002, p 259), o
porque de algumas pessoas "atuarem" ( "act out") suas fantasias e outras não, não encontra
uma resposta fácil. Ainda segundo a perspectiva teórica deste autor, é mais fácil compreender
porque uma pessoa desenvolve determinada fantasia ou prática sexual, mas raramente pode-
se afirmar o porquê ela "atuou" ou simplesmente a manteve a nível de fantasia.
O mundo tem passado por mudanças tecnológicas quase impossíveis de serem
acompanhadas na área da concepção da vida humana: o bebê de "proveta" e a inseminação
artificial são práticas corriqueiras antes impossíveis de serem imaginadas e concretizadas,
como o é agora, a possibilidade da clonagem de seres humanos em laboratórios. O novo
assusta, provoca medos e inseguranças e sentimentos de desproteção. Mas é inegável que
mudanças nas mentalidades estão a caminho nesse novo milênio. A tradição judaico-cristã que
forma a base religiosa da sociedade brasileira há séculos, mostra-se anacrônica perante os
fatos mencionados e pelo o que ainda está por vir. A tão propagada vida "naturalmente
heterossexual" dos animais, que serviu como justificativa para o encarceramento do desejo
sexual e do prazer pela instituições religiosas, começa a cair por terra com as últimas pesquisas
científicas sobre a vida sexual dos animais, as quais demonstram que as "práticas contra a
natureza", são parte também da sexualidade animal
(www.subversions.com/french/pages/science/animals.html). Para onde vamos, já que os
conceitos e normas psico-sociais, religiosas e culturais, que definiam a noção de
"normalidade", não mais se aplicam á sociedade pluralista que se nos apresenta? A nossa
tradicional ética sexual seguida há centenas de anos, não mais se adequa ás mudanças sócio-
culturais e aos novos desafios do Século XXI. Vivemos numa sociedade plural, onde começam a
se tornar visíveis as mais diversas expressões da sexualidade humana adulta, as quais querem
ser aceitas, reconhecidas e legitimizadas. Expressões sexuais que demonstram maturidade,
respeito e consciência entre aqueles que as praticam.Cabe salientar que, por se sentirem
confortáveis e em egossintonia com suas práticas sexuais, tenha sido este o motivo que tenha
levado esses indivíduos a participarem desse estudo A linha que separa as práticas consensuais
BDSM e as práticas sexuais ditas "perversas" "é muito tênue. Mas é importante que se saiba
distinguir umas das outras.
E com base nesta distinção, o presente estudo demonstrou que, apesar de limitado no
seu alcance, é um direito humano legítimo ser "diferente" da maioria e consequentemente, ter
essa "diferença" respeitada e aceita pelos demais.
Referências:
Animals prefer Homossexuality to Evolution. Retrieved January 17, 2003, from
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425
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426
Regressão X Submissão17
Ms Rika
(texto gentilmente traduzido por ^gato^)
17
O link para a imagem desse texto não estava disponível no período da coleta do material
427
fáceis, a tensão na vida deles não existia e todo o prazer deles estava nas mãos de pessoas que
eram amadas incondicionalmente, e de absoluta confiança. O fato bem conhecido de que
homens procuram Dommes profissionais para "escapar" da realidade corrobora isso. O
bondage usado nessas cenas adiciona um senso de realismo físico à sua falta de alternativa.
Falta de alternativa, que eles não conseguiram mais sentir, apos terem crescido e se tornado
maiores e mais fortes que suas mães.
Então agora eu entendo como algumas mulheres conseguem lidar com esse tipo de
solicitações e eu não! De uma certa forma, muitas das mulheres dominantes talvez se sintam
muito gratificadas com esse tipo de relacionamento. Ele pode preencher uma carência.
Pessoalmente eu sinto (eu tenho dois filhos jovens) que a maternidade é uma tarefa dura! Ë
um monte de trabalho (mesmo contando com um sub residente que me auxilia
consideravelmente). A ÚLTIMA coisa que eu desejo é uma enorme criança dependente. Eu já
escrevi como sobre eu foco os meus subs em tornar a minha vida mais fácil, não mais difícil.
Esse é o porque de eu ser tão adepta da submissão orientada ao servir. Como já defini
em outros artigos, submissão para mim é sobre o que o sub possa fazer POR MIM, não sobre o
que eu faça PELO SUB. Ela é centrada na Domme. Eu insisto em que o sub trabalhe para me
dar prazer, que se esforce para antecipar os meus desejos e necessidades e para que seja um
pensador INDEPENDENTE cujo único objetivo seja o meu prazer. Eu não desejo que ele seja
uma criança teleguiada que aguarda ordens ou tenta descobrir brechas nas regras da casa ou
ainda pior, que desobedece para ganhar atenção. Eu desejo que ele seja um homem, seguro
dos seus desejos e inteligente o suficiente para raciocinar por si próprio, para obter a
autodisciplina requerida para servir sem a ameaça de punições. Eu não sou um repositório
para ele aliviar o seu stress (a não ser que eu deseje isso).
Com isso eu encontrei uma nova forma de entendimento e um novo nível de tolerância
para "homens que querem ser dominados quando não possuem alternativas". Entretanto, na
minha opinião, tentar recriar a infância perdida é algo que pode ser razoável...mas não é
submissão.
Com Amor,
Rika
http://www.tiedmoments.com/rika/
Ms Rika mora nos USA e vive o D/s como um estilo de vida. Gentilmente nos permitiu a
reprodução deste seu texto.
1. Introdução
428
Essa série de "análises" foi iniciada a partir de uma pergunta: Por que várias submissas,
ao longo do tempo, se transformavam em dominadoras? Por que essa passagem do
masoquismo ao sadismo?
Disso resultou a discussão dos itens 1 e 2, nos quais surgiu a tese de que as experiências
sadomasoquistas tinham como um tema original a ruptura de um tabu estabelecido pela
civilização.
Essa "tese" se fundamenta na necessidade contínua e dupla do sadomasoquismo de
ritualizar e transgredir em suas formas de expressão.
O resultado é um texto completamente desigual e heterogêneo. Não foi resultado de
um plano ou um estudo mas uma reflexão feita diante do teclado, "pensando em voz alta".
O objetivo é ser muito mais um texto sugestivo do que científico. Mais retórico, no
sentido de querer fixar motivações, do que lógico, ou seja, nos prover de demonstrações.
Não é o caso de agradar ou aprovar, mas apenas, pensar sobre esses tabus...
anteriormente estava nas mãos de deusas uterinas como Hathor ou Kali...Lembremos ainda
que tanto Hathor quanto Kali somente contêm o seu poder ao encontrar um consorte
masculino que as limite, no caso de Hathor, um deus que lhe oferece cerveja no lugar de
sangue e no caso de Kali, Shiva, que se permite pisar por Kali, que dança sobre seu corpo. Por
ser visceralmente destruidora, o que contém e satisfaz essa impetuosidade feminina é um
submisso-forte, presente no masculino, daí sempre aparecer nas relações esse tema de
mulher-dominadora, homem-dominado, pois é um tema que já manifestou equilíbrio em
vários mitos. Observe como Masoch se refere diretamente a Vênus e não a Hécate...
Evidentemente, nas relações pessoais, fatores bem mais complexos que os mitos se
manifestam e encontraremos parcerias de homens-dominadores e mulheres-dominadas,
como tanto apreciava Sade. Parece-me que o que está se constatando é, sim, a
*potencialidade* destrutiva e dominadora de toda mulher, através do arquétipo (modelo) da
mãe uterina, presente em *toda* a mulher que tem, ou teve, um útero. A concretização dessa
potencialidade, dependerá de outros fatores e escolhas, que dependerão das trilhas de
individuação de cada mulher. O que se observa com frequência, é que ao *experimentar*
concretamente o sadomasoquismo, muitas submissas se reconectam com a violência. Entram
num ambiente onde a violência e a destruição são consentidas e de alguma forma, seguras. E
essa experiência tem um poder liberador (eu diria até, em alguns casos, catártico) da ira da
mãe uterina, desse aspecto do feminino bastante recalcado pela cultura patriarcal...
O resgate desse aspecto da personalidade lhes traz a possibilidade de Dominar, na
plenitude de todos os aspectos femininos...uma experiência integradora, então gradualmente
se "transformam" em Dominadoras(a dominadora sempre esteve ali, como mito da mãe
uterina recalcado), como realização desse prazer.
Em seguida, discutiremos a dinâmica da submissão masculina, apenas antecipo que ela
tem muito do retorno do homem à essa mesma vida intra-uterina e da construção de seus
símbolos de renascimento.
Por hora, basta concluir que a Dominação Feminina foi contida moral e religiosamente
por meio de uma limitação legal e mítica ao aborto. A ruptura da energia contida nesse tabu se
expressa de forma civilizada nas formas de Dominação Feminina.
Vimos no item anterior que a mulher tem uma questão aberta com relação ao poder
que lhe confere o útero. Porque diferentemente do pênis, externo ao homem (tem até nome
próprio: Bráulio, o que mostra quão dissociado é do homem), o útero está no âmago da
mulher e representa fisicamente sua essência, que, muito além da maternidade social, é a
essência do poder de vida ou morte que está presente na natureza. Porém...todos, mulheres e
homens, passamos pela experiência de completa exposição e dependência ante o poder do
útero e de sua Senhora, a Grande Mãe que, bem depois, descobrimos ser apenas a nossa mãe.
Bem, é verdade, alguns nunca descobrem isso e continuam com A Mãe...mas isso é outra
neurose J.
Nus, dependentes, expostos, despossuídos de nós mesmos, fragilizados ante o poder
infinito de quem, com um simples comprimido, agulha, cirurgia, injeção poderia, a qualquer
tempo, eliminar qualquer chance de nosso futuro. Ela pode nos transformar de possíveis
pessoas em restos de tecido misturado com restos de placenta em algum recipiente de lixo
hospitalar, em poucos minutos. Não é à toa que, de todos os pecados, o que insiste em
permanecer como tal é o aborto. Demolimos a moral sexual (afinal adolescentes de 12/13
anos "ficam" e nenhum pai vai à delegacia dizer que alguém violentou seus filhos...), liberamos
o casamento e fizemos do divórcio uma realidade, contam-se os dias para que se
descriminalizem as drogas, mas o aborto, ah...o aborto.
O aborto criminalizado é o último bastião da solidariedade que resta na nossa sociedade
de formação cristã... todos nós já estivemos lá um dia... desprotegidos, implorando para que
aquela grande mãe não resolvesse usar a solução final... Claro que, nascidos e crescidos,
gostamos de negar essa dependência, nosso ego inflado e adolescente gosta de repetir que
"não pediu para nascer" e nos abismos de depressão acha sempre "melhor não ter nascido".
Nada mais falso. Passamos nove meses na *inocência*, no saudável desconhecimento psíquico
de que podíamos acabar a qualquer tempo...
Nascer é morrer. Na hora do parto, não tínhamos como saber se aquilo era um parto ou
um aborto. Somente o espanto do ar nos pulmões, a luz perturbadora, a proximidade dos
conhecidos ruídos abdominais da Grande Mãe nos deram a certeza de que havíamos nascido.
A satisfação dessa vitória fruída nos lábios e no morder (sem dentes!) dos seios que traziam
enfim, o leite... É mítico: se precisamos renascer, retornamos ao ventre. Jonas ao ventre da
baleia, Perséfone no inferno de Hades, Jesus na mansão dos mortos e todos os renascidos e
ressuscitados das várias religiões.
De fato, há os que como Grof, acreditam que na raiz do sadomasoquismo, ou ao menos
na raiz do fetiche por merda e sangue, está o prazer de conseguir nascer, pois antigamente,
dada a falta de preparação da mãe, não raro ela defecava durante o parto, fazendo com que o
nascituro associasse o prazer de viver com o aroma de merda e sangue que estava no seu
quarto de nascimento. A primeira impressão é a que fica.
Examinem as inúmeras fotos de cenas sadomasoquistas. Imobilização, restrição de
movimentos, constrição a espaços exíguos, uma frequente busca da posição fetal, sem falar
em masmorras e cavernas escuras, que dispensam uma óbvia interpretação uterina. Observem
como frequentemente ao ficar de quatro os submissos se curvam sobre o ventre.
431
vivido simbolicamente numa relação sm, onde o alívio da Dominadora seria o de se sentir
Senhora Absoluta de outrem e, ainda assim, não matá-lo.
Recordem de Vênus das Peles, como Wanda conduz Severin a ponto de poder matá-lo
sem que fosse punida se o fizesse... O poder masculino, representado pelo falo - sempre
"outro" - emerge da dinâmica social e cultural de convivência.
Diferentemente do útero, que é uma questão posta no corpo, o poder fálico precisa de
expressão social, precisa "se exibir". Isso vai desde a divertida brincadeira de "mostrar o pipi",
passa por tormentosas medidas em centímetros (atire a primeira pedra quem não levou régua
escolar para o banheiro na adolescência) para se consolidar e se difundir em objetos de status
para os quais se "difunde" o poder fálico.
Esse caráter "social" do poder masculino dá uma cor diferente ao dominador. Deixamos
agora o cenário de Masoch e adentramos ao cenário de Sade. Enquanto para Masoch há a
importância do contrato e do privado(oculto), para Sade predomina a Sociedade (do Crime) e
seu caráter público-institucional ("exibido"). Deste modo, Sade desenha o modelo da
dominação masculina e, nesse modelo, o dominador transita por diferentes papéis sociais, seja
de padre, seja de patrão (Senhor, Rei), que até etmologicamente desembocam no primeiro
papel fundamental masculino: pai. 6. O incesto como tabu e eixo da dominação masculina.
Indo diretamente ao ponto, o tema chave da dominação masculina será, em alguma medida,
uma forma de incesto.
O prazer da submissa nasce desde o momento em que ela cuidadosamente escolhe um
"novo" pai, não mais o biológico, mas que terá do pai original a projeção do poder que ela
busca e que ela teme, na dúvida se ela merecerá o falo para que seu útero desperte (daí o que
vimos antes: ao despertar o poder do útero, o poder do falo provoca às vezes o emergir de
uma dominadora). Ela será a escrava-puta, a filha "do outro", que tinha dignidade mas que,
descuidada, foi aprisionada e agora é castigada e simplesmente usada. Para o dominador, é o
incesto com a filha "do outro". Preso sempre pelas normas sociais que justificam seu poder
fálico, o homem se vê, repentinamente, pela entrega e presa da submissa em suas mãos, livre
dos limites morais, podendo exercer e viver sob o império do imediatismo, inconsequência,
narcisismo e, sobretudo, voracidade dos desejos masculinos...
Da escrava-puta não se espera família, apenas a satisfação do instinto. Por um outro
caminho, diferente do submisso, a submissa adentra à despersonalização: cadela, égua,
vaca...animais domesticados e reprodutores por excelência, mas numa relação que lhe nega a
reprodução. Compete ao dominador a difícil tarefa de negar o útero e seu poder.
Observem como é frequente na manipulação e disciplina da submissa o treinamento
anal. Diferente do homem, que é levado à feminização; a submissa é liberta do seu "fardo de
poder" transferin do o prazer genital-uterino para o anal. Não há masculinização forçada, mas
ela é despersonalizada como mulher: ao ter prazer anal, ela não é distinta de um homem
(entre outros motivos mais dolorosos, essa é *uma* das razões latentes que leva mulheres
baunilha a recusar sexo anal). A escrava-puta é o modelo favorito de Sade, pois qualquer traço
de moralidade e virtude é severamente punido.
434
lado, a subserviência completa ao pai, vivida no plano afetivo moral, como Antígona, que
enfrenta as leis e a civilização para dar sepultura digna a seu irmão e, simbolicamente, a seu
pai, Édipo e seus ancestrais. O chicote ainda descerá sobre o corpo dessa submissa moral, mas
a dor será sempre a experiência de liberdade ante a civilização. A liberdade de Antígona se
rebela ante a civilização representada pelas leis de Creonte, seu tio, que não se esquece de
castigar-lhe devidamente a virtude.
Poderíamos pensar que o tema Dominador-submissa fosse o mais conservador, por se
fundamentar em regras vigentes do patriarcalismo. Isso é falso, ao menos em parte.
Dominador e submissa pervertem o patriarcalismo, fundado no princípio de "foder a filha dos
outros" e "não deixar que fodam minha filha".
Ao se passar por filha e escrava-puta, a submissa abre ao Dominador a perspectiva do
incesto, da corrupção do eixo de toda a moral patriarcal, que deu tudo ao homem apenas para
que ele não fodesse as próprias filhas. Quando amadurecida e bem sucedida, a relação
Dominador-submissa é a denúncia escancarada da insuficiência da civilização: o tesão vence a
ordem, o pai fode a filha, ela consente e tem orgasmos...
as mulheres, como um igual; outro, atraído pelos homens e buscando atraí-los explicitando já
na adolescência sua "homossexualidade", assumidamente o "viado" da turma.
Há um terceiro, que nós não vemos: o que tem um aspecto socialmente masculino, que
como as colegas do primeiro, o protege das gozações dos outros garotos e que, nas festas do
segundo, fica com ele, num quarto, no banheiro da escola e que, confuso, se sente atraído
mesmo pelas meninas...
Esses três garotos, presentes em praticamente todas as escolas do país, jogam por terra
o determinismo biológico da sexualidade. Para que caibam nos rótulos dessa visão sexista, na
vida adulta, o primeiro será chamado de enrustido, o segundo de assumido, o terceiro de
bissexual.
A falsidade desses rótulos está em aplicá-los apenas aos que se interessam, em algum
momento, pelos iguais.
O olhar um pouco mais seletivo sobre essa mesma classe de adolescentes encontraria
entre os "heterossexuais" as mesmas categorias: enrustidos, assumidos e bissexuais. Mas,
como aos olhos da cultura, a heterossexualidade "não é problema", essas três categorias
aplicadas ao heteroerotismo, passam desapercebidas. Ou, se algum garoto for heteroerótico e
enrustido, teremos a triste confusão de achar que, por ele ser enrustido, é homoerótico, o que
é um desastre frequente, pois buscará continuamente os parceiros errados.
A garota heteroerótica enrustida é tida por "normal", pois espera-se na sociedade
patriarcal que a mulher seja o mais frígida possível. Nesse caso, se ela for heteroerótica
assumida é que passará por "biscate", por "puta" da turma e até, por "sapatão" mesmo que
nunca chegue perto de outra garota.
Essa digressão toda vem para que coloquemos de lado o determinismo biológico e
voltemos nossa atenção para o fato de que a sexualidade, e não apenas o gênero, é também
uma construção cultural.
Livres da perspectiva procriativa, o que temos são corpos com capacidade de obter
estímulos que produzem prazer. Que estímulos são esses e o significado do prazer é tarefa
para os sexólogos e "psicocoisicos" (psicólogos, psiquiatras, psicanalistas...) discutir. Aos
demais, basta sentir.
O par "escolha do estímulo-significado do prazer" compõe a chave inicial do que
chamaremos de erotismo, o conjunto de fatores que nos leva a uma vivência do prazer
corporal que produz uma reação física determinada, o orgasmo.
Infelizmente não temos espaço aqui para discutir essas definições de orgasmo e
erotismo, que têm lá seus defeitos, mas que estamos usando para enfatizar bem o que é o
prazer corporal: uma reação obtida de estímulos *e* os significados que atribuímos a essa
reação (de nada adianta agora a "mecânica" do orgasmo, dissociada de sua significação).
Gostaria que me desculpassem por dar somente agora essa definição, mas a construção
desses textos foi absolutamente hipertextual: pulamos de um assunto a outro, sem a
linearidade que a lógica textual exige.
437
Pela definição acima vimos que o que fizemos, em todos os outros textos foi discutir o
*significado* da experiência de prazer corporal obtida ao se infligir ou receber dor ou
simplesmente dominar e ser dominado, em diferentes dinâmicas sadomasoquistas, a partir
das construções culturais mais primitivas, o ser mãe, o ser pai - transmutando, mas não
superando completamente a perspectiva procriativa, dado que isso beira o impossível.
Compreendido o que é o erotismo, para fins desse texto :), podemos falar em
homoerotismo, heteroerotismo e pan-erotismo, sado-erotismo, maso-erotismo, verbo-
erotismo (um dos meus fetiches, por sinal....:)).
Em particular, como a dinâmica erótica masculina é definida, no patriarcalismo, em sua
identidade, por construções culturais - lembremos mais uma vez a interioridade do útero e a
exterioridade do pênis - a dinâmica homoerótica em geral e a dinâmica homerótica
sadomasoquista, em particular, passarão por análise semelhante à da dominação masculina
heteroerótica, fortemente baseada em *papéis sociais*, para, então, desembocar nos
aspectos físico-corporais.
Também é verdade que, enquanto nossa cultura tem um repertório de papéis bem
definidos nas relações heteroeróticas que permitem uma clareza na hora de "romper" com
esses papéis, essa mesma cultura não propõe um repertório padrão para a relação
homoerótica, ou seja, o simples acontecer de uma relação homoerótica, já é, por si, a ruptura.
O que vamos encontrar nas relações homoeróticas é um padrão de dispersão de formas e
papéis. Tentaremos aqui achar elementos comuns nesses vários papéis que vão desde uma
relação incestuosa pai-filho (um padrão que aparece em alguns pares de gays-ursos) até à
relação de completa despersonalização do outro em objeto (os glory-holes, paredes onde um
parceiro passa seu pênis sem saber se há outro parceiro do outro lado e quem é ele).
Uma tendência inquietante do sadomasoquismo homoerótico masculino (abreviarei
para SHM) é que homens entre homens rompem facilmente com a civilização e retornam à
selvageria. Isso vai desde a queixa dos parceiros pela instabilidade e traições nos
relacionamentos (o casamento é uma instituição civilizada) e chega até a pratica do
sadomasoquismo, muitas vezes coletiva ou impessoal, em sessões de fisting ou spanking que
mais parecem uma matilha reunida numa darkroom do que uma organizada play-party. Há o
fato da expectativa de, entre homens, se esperar uma maior resistência à dor, resquício
machista ou patriarcal. Porém a prática sadomasoquista toma a relação Senhor-escravo a
partir da memória da relação de Guerra: Guerreiro-prisioneiro. O destino do guerreiro
derrotado é o de ser escravo. Ao poupar-lhe a vida, o vitorioso o aprisiona numa dívida sem
fim... e é assim, em última análise, que Senhor e escravo se posicionam. Entre esses guerreiros,
a civilização está rompida e o caminho da selvageria e da violência sem limites está aberto. O
destino da punição de um prisioneiro deveria ser o canibalismo. E eis aí o tabu envolvido na
relação SHM. Cabe ao mestre "comer" de formas simbólicas e físicas o escravo que o destino
lhe entrega nas mãos. É uma relação de dominação diversa da heteroerótica. Senhora-escravo
se relacionam por um útero e seu poder de vida e morte. Senhor-escravo se relacionam pela
guerra, pelo aprisionar e devorar o outro, o igual e o diferente, ao mesmo tempo, há apenas o
elemento comum da face da morte, em ambos os casos.
A coletividade e impessoalidade da guerra fazem com que as ligações Senhor-escravo
sejam bem mais fracas do que os pares heteroeróticos, pois seu pressuposto é o curto prazo. O
fim da guerra, a decisão de quem vence e quem é derrotado, o espólio, o estupro e o
canibalismo. Fim.
Nada de relações muito duradouras, como acontece inclusive no homoerotismo
"baunilha". Esse tema, selvagem e violento, é repetido à exaustão até mesmo nos filmes de
SHM. Impressiona o apego do masculino ao desempenho. O escravo se esforça por se superar
na tolerância a dor. Um guerreiro que quer ser provado. O Mestre se esforça por se superar na
crueldade, na exibição do domínio, em deixar claro quem domina... Sobre esse tema intenso e
de curta duração, se constrói, à semelhança da relação Mestre-empregada, uma relação
Senhor-servo, de mais longa duração. O caráter servil é diferente do prisioneiro condenado ao
canibalismo, Já é um indício de civilização, de relação que se institui em torno à propriedade.
Porém, a violência física será sempre bem mais explícita e as violações bem mais fortes do que
as que cercam a sub-empregada ou a sub-escrava-puta. Enquanto uma Dominadora castra
para que o filho não a violente, o Mestre castra apenas para exibir poder, para provocar mais
439
uma morte simbólica. Castrado, mas não morto, o prisioneiro passa a servo e mantém a
relação de subserviência ao mestre. Observem que, curiosamente, no estágio mais próximo da
civilização, a relação pai-filho, que é por si complicadíssima (Édipo, lembrem-se, *matou* o
próprio pai), *diminui* a intensidade SHM.
A temática ursina - os gays ursos - é antes de tudo uma temática de proteção, de afeto,
de tudo o que o patriarcalismo vetou aos pais e filhos. Nesse caso, o carinho é a ruptura do
tabu de que "homem não pode ser afetivo com homem". Notem como na relação de incesto
Pai-filha, acontecia o oposto: castigar a filha, discipliná-la, chicoteá-la eram formas simbólicas
do estupro paterno desejado pela filha, que muitas vezes o Senhor consuma na serva desejosa.
Agora, entre pai-filho, abre-se uma via de afeto, que quase distancia essa experiência da
dominação SHM, por se enojar da violência que a cultura entende como "masculina".
Por #dumuz#_RF
Bem, essa questão é bem pessoal, mas creio que no âmago de cada resposta em maior
ou menor grau está um pouco do ideal do amor romântico, aquele amor sublime, que não traz
o paradoxo do ódio dentro de si, que é apenas enlevo e alegria, que é celebrado nos
matrimônios, nas letras de música, nos poemas de todos os tempos, nos romances, no cinema,
no palpitar dos corações adolescentes (e dos nem tanto). Dentro do ideal do amor romântico é
impossível pensar que alguém que me ame possa comprazer-se em êxtase como meu
sofrimento. E como eu posso amar alguém que me tortura? Desse modo, muitas vezes foi
preciso questionar (e negar) muito esse ideal de amor para se chegar à possibilidade da
experiência BDSM. E aí, muitos de nós vangloriam-se por dissociar o amor (qualquer amor) do
BDSM, inclusive tratando com um certo desprezo, mais ou menos sutil, aqueles que se dizem
amorosamente envolvidos com os seus parceiros nos jogos BDSM, pressupondo que quando
tais sentimentos não estão presentes nas relações, o jogo é mais maduro, mais puro, mais
"essencialmente" BDSM.
No entanto, nesse ponto, acho que me cabe comentar, há amores e amores. Formas
inúmeras de amar, talvez tantas quanto sejam as pessoas no mundo. Dizendo isso não
pretendo me eximir do cerne da questão, relativizando tudo e portanto não afirmando nada.
Afirmo, sim, que no meu entender o amor é condição essencial para viver o BDSM. Mas não
me refiro aqui ao ideal do amor romântico, até porque nesse eu não acredito. Também com
isso não pretendo retroceder no que a maioria de nós, mulheres, conquistamos nas últimas
décadas, ou seja, a capacidade de dissociar sexo de amor. Embora algumas espécimes
remanescentes ainda não tenham tido o prazer dessa descoberta, a maioria de nós já sabe que
é possível (e muito prazeroso) o sexo pelo sexo, sem necessidade de maiores sentimentos
envolvidos. Inclusive o sexo BDSM.
Não é disso que trato aqui. Para dizer do que trato aqui, tentarei falar sobre o que
significa o BDSM, do meu ponto de vista:
5. Por fim, é preciso um respeito profundo, muito tesão e um interesse constante pelo
outro para que palavras seguras sejam ditas e sejam recebidas, sem que a natural e
mútua frustração se transforme em mágoa, ressentimento, cansaço ou desânimo.
Vai passar?
Beea
Beea
[email protected]
A íntegra do artigo de Charles Moser e Peggy Kleinplatz, "DSM-IV-TR and the Paraphilias:
An argument for removal", está a disposição de quem tenha interesse no assunto.
O que é Gor?
tavi{CS}
Literatura
447
Essa pergunta admite várias respostas porque GOR não se limita a uma única
compreensão. A forma mais simples de responder talvez seja dizendo que GOR é um mundo
de ficção, criado pelo filósofo e escritor John F Lange, sob o pseudônimo de John Norman.
Nesse planeta ele ambienta sua série de 26 livros conhecidos também como “As Crônicas da
Contra-Terra”. Em GOR, a escravidão é instituída e bem aceita como um dos três pilares da
sociedade. As escravas Goreanas são conhecidas como kajiras e pertencem, sem qualquer
reserva ou condição, a seus Mestres.
Os livros de John Norman não estão mais sendo publicados. Nos Estados Unidos, a
editora de John Norman sofreu grande pressão e vários boicotes até falir por completo. Com
medo de terem o mesmo fim, os editores passaram a rejeitar essas obras. A ilusão da
liberdade de expressão na América foi desmentida por esses eventos. Há uma frase de John
Norman bastante conhecida: “Não é preciso queimar os livros se os impedimos de serem
publicados”.
Grupos Goreanos
Os leitores, fascinados pela ideia e pela filosofia contida nos livros, criaram grupos em
diversos países. As sociedades Goreanas tem crescido e se espalhado pelo mundo em três
formatos: Algumas delas são puramente virtuais e realizam sua existência apenas em salas de
chat onde a liturgia Goreana é a regra obrigatória. Isso é chamado de “Online Gor” e é um
ótimo meio para se aprender um pouco mais sobre o tema (ainda que de maneira superficial).
Alguns grupos reais também vivem como em um jogo, aplicando regras tal como se
apresentam nos livros em seus encontros. Esses (tanto os virtuais quanto os reais) constituem
o primeiro tipo de Goreanos, chamado de ROLE PLAYER (JOGADOR) Mas é comum que alguém
que realmente se interesse pelo assunto busque, mais cedo ou mais tarde, por um
aprofundamento filosófico. Isso só se dará com a leitura e análise dos livros. Existem então,
para esse fim, grupos destinados ao estudo da FILOSOFIA. Por último teremos os LIFESTYLERS,
que aplicam a Filosofia Goreana a sua vida quotidiana e muitas vezes em seus grupos
fechados.
Esses três formatos admitem combinações e, embora dificilmente um Filósofo seja um
Role Player, é bastante comum que haja algum tipo de Role Playing entre os Lifestylers, em
maior ou menor quantidade, dependendo do grupo. Muitos Filósofos aplicam o que aprendem
na sua vida, passando de estudiosos a Lifestylers também. As classificações servem apenas
para facilitar o entendimento sobre três tendências. Porém sabemos que essas tendências, na
vida real não são puras. Existe uma certa mobilidade entre os estilos
Uma pessoa pode ter lido vários livros da série Goreana sem nunca entender o que eles
refletem. Existem dois tipos básicos de leitores: Os que lêem por entretenimento apenas e os
que buscam compreender o que há por trás da história (observando o contexto histórico, a
biografia do autor, o simbolismo intrínseco do livro e o uso de ironia, por exemplo). O leitor
filósofo deve ver sempre além das palavras e situações descritas. O importante não é a história
que se apresenta, mas o que ela quer dizer de forma mais global, como obra, crítica social e
representação de certa forma de se ver o mundo.
Um exemplo clássico onde as pessoas se confundem muito frequentemente diz respeito
a uma das bases inegáveis da Filosofia Goreana.Uma das grandes preocupações de John
Norman é a de expressar que Homens e Mulheres são diferentes, não apenas na biologia. No
BDSM, temos apeptos da FEM DOM, que acreditam na dominção como sendo papel do sexo
feminino. Já para John Norman, existe uma natureza masculina e uma feminina. A masculina é
a de liderança. A feminina é de submissão (resumindo-se muito, apenas para concluir). Para
argumentar em favor dessa teoria, John Norman permite em seus livros a existência de
Mulheres Livres e de Escravos. O objetivo é demonstrar que o ser, fora de seu lugar natural é
incompleto. As mulheres livres nos livros frequentemente resenten-se por não terem a seu
lado uma figura masculina forte para conduzi-las. Um ótimo exemplo disso é a Tatrix de
Tharna, Lara, que governa a cidade, mas sonha com um homem que a domine. Quando Tarl
(personagem condutor da saga) parte, Lara o pede para que se algum dia ele tiver interesse
em ter uma escrava, que ele se lembre dela, a Tatrix de Tharna.
Técnicas
Esta seção abrigará textos referentes às diversas técnicas que
tornam o mundo BDSM extremamente sedutor. Cada uma delas, com suas
particularidades, será aqui analisada e discutida de forma séria e
responsável. As contribuições que contemplarem tais requisitos básicos
serão muito bem recebidas.
18
Não consta neste texto o nome do autor
450
E como você pode, muito facilmente, usar o shibari básico em qualquer situação,
inclusive na rua, as oportunidades deste jogo aumentam de maneira incrível. Estonteante,
seria uma palavra adequada, não?
Uma outra característica interessante do shibari é que a corda, ao contrário do couro ou
das algemas de metal, sempre deixará sua parceira com a ideia de que poderá escapar.
Contudo, se o seu bondage for bom, ela poderá se debater, mas não vai
conseguir escapar. Mas sempre tentará. Isso deixa a maioria das mulheres
brigando com a questão de submeter-se de vez (frustrante) ou colocar mais
esforço ainda para livrar-se das cordas. Com um detalhe: quanto mais se
debater, maior será a estimulação erótica a que estará submetida.
Existe no shibari, uma integração complexa de vários objetivos: a
imobilidade, a instabilidade, a exposição, a dor, o desconforto, a
humilhação, a incerteza e a estimulação erótica sem alívio.
Óbvio que nem todas as cenas de bondage conseguem combinar todos esses estímulos
ao mesmo tempo. Mas todo bondage tem, sempre, a combinação de dois ou mais desses
elementos.
Não é para menos que, de uma maneira geral, o bondage é, disparado, a prática com
maior número de amantes dentro do universo BDSM.
No Japão, o shibari tem um sucesso imenso. Existem literalmente centenas de
publicações de todo o tipo: revistas semanais, livros, filmes, exposições de fotos em galerias de
arte e programações ao vivo. E por programação ao vivo entenda-se tanto locais de encontro
como exposições com modelos ao vivo. Que pagam para serem amarradas(os) por mestres do
shibari. E não é barato!
Mas, é claro, para a boa prática do bondage é
necessário treino, treino, e treino. De quem amarra e
de quem é amarrado.
A pessoa envolvida no papel receptivo (passivo,
botton, submisso, escravo) deve ter noção do que é
estar imobilizada, do que é estar exposta, do estar sem
defesa, saber negociar, ter muito respeito próprio,
confiança no parceiro, e ambos precisam aprender a se
entenderem da maneira mais completa possível.
Mas o parceiro ativo (dominador, top, mestre)
também tem muito a aprender e treinar. Precisa ter
uma personalidade balanceada e ser capaz de abrir mão
de suas motivações pessoais em favor do esforço do
"grupo". Apesar de estar no papel ativo e de ser líder do, digamos , time, e líder na ação, ele
tem que entender que só existe liderança se houver
alguém para ser liderado. Time é isso. Grupo é isso.
451
Este treino é, por si só, um dos aspectos mais importantes e chamativos do bondage
japonês. Treinando juntos para conseguir seus objetivos, o que pode demorar anos, é mais um
motivo de prazer para os parceiros envolvidos neste processo. Porque é um processo contínuo
de aprendizado e melhora. O shibari diz respeito a encontrar um equilíbrio, encontrando
o optimum entre os parceiros, não omaximum. Nunca esquecendo que o perfeito equilíbrio
entre parceiros, o optimum, na maneira japonesa de pensar, é o máximo!
(continua na próxima semana)
O shinju
Chegando lá, puxe os dois pedaços de cordas o suficiente para levantar um pouco os
seios (lembre-se onde está ancorada esta corda) e termine amarrando ambas as pontas em
cada lado da espinha, tendo o cuidado, novamente, de não deixar que os nós se fixem sobre
ela.
O shibari, que tem suas origens na Idade Média, quando foi criado como uma técnica de
tortura, conserva regras que, como em outras tantas torturas orientais, são as mesmas: tempo
e repetição. No moderno bondage erótico oriental o tempo também
é um fator muito importante. Use o tempo... com tempo. E dê
tempo ao tempo para o efeito do shinju se fazer sentir.
Esta simples técnica de amarração que acabamos de aprender
cria uma certa tensão erótica, causada principalmente pelas cordas
envolvendo os seios e passando pelos ombros, além dos nós, que
estão colocados em pontos conhecidamente sensíveis. Aos poucos,
quase que com a lentidão própria do zen,
os seios e os mamilos vão ficando cada
vez mais sensibilizados, chegando a
ponto da própria roupa ser um estímulo
demasiado forte para a sua submissa.
Você está começando a descobrir por qual motivo a
combinação dos efeitos já conhecidos do bondage ocidental, como
o poder e a vulnerabilidade, somados à beleza, à estética e à
intensa massagem erótica causada pelas cordas fazem
do shibari uma arte apaixonante.
I. Da posição e postura
Um dos fatores que diferencia o spanking das outras formas
de punições corporais é o deliberado e, às vezes, cerimonial
453
Conforto
Seja de pé ou sentado, o espancador se posiciona de maneira a permanecer confortável
durante o desenrolar da prática. Ele pode movimentar seu braço em um ângulo natural e é
capaz de conduzir uma longa sessão de spanking com facilidade devido à sua posição.
Força
Considerando que o espancador pode movimentar seu braço de maneira livre e natural,
ele pode aplicar castigos em sua sub com força. Enquanto de pé, o espancador não apenas tem
liberdade para mover o braço, mas também pode rotacionar o tronco para aumentar a força
do golpe no ansioso "bum-bum" de sua sub.
Segurança
Visto que o espancador está em uma posição facilitada para o espancamento das
nádegas da submissa no ângulo adequado, é muito menos provável que um golpe irá acertá-la
fora do alvo.
Controle
A posição do espancador é vantajosa o suficiente para permitir o controle da submissa.
Sentado ou em pé, ele se encontra acima da submissa e esta posição lhe dá a capacidade de
contê-la.
Relativo comforto
Exceção feita às nádegas, considero importante que a pessoa espancada esteja
relativamente confortável, para que possa se concentrar nas sensações inflingidas em seu
traseiro.
Antecipação
Inclinar-se e assumir a posição para que seu traseiro ganhe algumas marcas indica o
início do spanking e constrói um clima de antecipação. Aumenta a sensação. Uma sub
devidamente posicionada tenderá a ser espancada com mais força e de maneira mais
completa na sensível região de se sentar.
Humilhação
Ser colocada sobre os joelhos de alguém é uma postura infantil e humilhante. Ter que
"assumir a posição" é humilhante em sua submissão e esfrega na cara de pessoas submissas
que elas estão sendo espancadas.
Exposição
Um traseiro devidamente posicionado está completamente exposto. As nádegas estão
completamente visíveis, abertas e empinadas. No caso de submissos homens, o ânus e as
costas do saco escrotal aparecem. Mulheres submissas encontram-se ainda mais expostas,
pois seus retos e vulvas aparecem completamente.
Ênfase na submissão
Posições de spanking colocam a submissa no centro das atenções, e isso é sempre
notado pela pessoa em questão. A submissa é realçada pela sua exposição e sua postura em
relação ao espancador.
Submissão
Assumir mansamente a posição de spanking é o ato primário de submissão durante esta
prática.
455
Segurança
Embora possa oferecer pouco consolo, a submissa pode relaxar sabendo que seu
posicionamento garante segurança contra ferimentos. Evidentemente, este fato pode ser
desconcertante se elas souberem que serão espancadas com muito mais rigor.
Perda de controle
Uma vez posicionada, a pessoa espancada abdica de qualquer controle e não o
reconquistará até que o spanking esteja terminado. Elas podem ter dificuldade removendo
seus traseiros da linha de fogo, se tentarem.
No colo
456
O espancador está sentado ereto em uma cadeira sem braços. A pessoa espancada deve
deitar-se com o rosto virado para baixo no colo do espancador, sua cabeça à esquerda e seus
pés à direita. Deve estar de maneira tal no colo do espancador que seu traseiro esteja
convenientemente acima da coxa direita do espancador.
Em uma tentativa de reservar seu pudor, a submissa pode tentar simplesmente se deitar
com a cabeça erguida e as pernas soltas... Porém, pessoas preocupadas com seu pudor não
deveriam se colocar em uma cena de espancamento, para começar. A cabeça e os ombros da
pessoa espancada devem estar virados para baixo e seus joelhos dobrados e fora do caminho,
para que seu traseiro esteja bem saliente. Pressionar a mão na nuca da submissa e golpes
aplicados em suas coxas ajudam a posiciona-la corretamente.
Os joelhos devem estar separados por pelo menos 15 centímetros e a região inferior das
costas deve estar arqueada para melhor empinar o traseiro. Para uma mulher, isso resultará
na exposição completa de sua vulva. Dependendo do tamanho da pessoa, seus dedos dos pés
estarão ou rentes ao chão, ou pairando alguns centímetros acima. O peso da submissa deve se
concentrar no colo do Dominador.
As mãos podem estar no chão ou agarrando as pernas da cadeira. Se a mão direita se
debater muito durante o espancamento, esta deve ser contida pela mão esquerda do
Dominador e presa na região inferior das costas da submissa.
Antes do início do espancamento, o Dominador deve puxar firmemente a submissa para
junto de si com a mão esquerda, pela cintura da submissa; assim, esta não escorregará de seu
colo durante a prática. Depois, o cotovelo esquerdo deve ser colocado entre os ombros para
impedir que a cabeça e os ombros se levantem.
O espancador deve erguer ligeiramente seu joelho direito, aumentando a elevação do
traseiro da pessoa espancada. No caso de uma mulher espancando um garoto, ela deve se
certificar que o pênis dele esteja prensado firmemente contra a sua coxa direita e virado para
a esquerda.
Rotacionando seu corpo para a direita, o espancador pode conseguir um arco maior
para seu braço e, confortavelmente aplicar, um golpe mais forte.
Combinando-se todas estas táticas - o joelho levantado, o cotovelo para trás, a mão nas
costas - o espancador pode efetivamente conter a submissa e espancá-la a granel.
Sobre o joelho
Similar ao espancamento sobre o colo; exceto que a submissa se dobra por sobre o
joelho esquerdo com suas pernas contidas pela perna direita do Dominador.
os joelhos e as costas retos, a estudante deve se curvar e agarrar seus próprios tornozelos,
com ambas as mãos. Quem espanca pode querer osbervar as mãos da estudante durante
o paddling, para se assegurar que estas não soltem os tornozelos, ato que lhe valeria alguns
golpes extras.
O espancador se situa ao lado esquerdo da estudante. Ele deve manter a distância
necessária para que o paddledificilmente ultrapasse a nádega direita dela. Ele deve se
assegurar que ambas as nádeas sejam atingidas ao mesmo tempo (partindo-se do pressuposto
que sejam paddles que estejam sendo usadas. Canes e cintas garantem um posicionamento
ligeiramente mais distante).
Não é possível que um traseiro esteja mais exposto do que nesta posição. Quando
alguém é ordenada a se inclinar e agarrar seus tornozelos, essa pessoa está na verdade
ouvindo: "Eu pretendo fustigar completamente seu traseiro com umapaddle. Então, você não
apenas vai apresentar suas nádegas, mas vai se esforçar o máximo para que elas se
mantenham inteiramente expostas. E, durante o castigo, você vai manter um esforço
constante para se manter exposta para a paddle."
Levando-se em consideração que o ângulo das pernas - em função da parte superior do
corpo - está bem abaixo de 90º, esta posição abre as nádegas e expõe o reto e genitália mais
do que qualquer outra posição.
Esta é uma grande posição em fantasias, mas creio que funciona com segurança apenas
para submissas que possuam o corpo flexível (especialmente quando uma paddle mais grossa
é utilizada). Pessoas inflexíveis não podem alcançar seus tornozelos sem dobrar os joelhos.
Homens correm o risco de serem atingidos nos testículos. Bumbuns mais magros deixam o
osso pélvico se sobressair de maneira à não protegê-lo quando uma paddle mais grossa é
usada.
Outra posição que remete a fantasias escolares. A estudante deve se inclinar por sobre
uma escrivaninha com o nariz ou os peitos pressionados contra a superfície da mesma. Mãos e
braços devem ser colocados na mesa, acima de sua cabeça, para provocar um maior
arqueamento das costas. Para maior elevação do traseiro a ser espancado, ela deve
permanecer nas pontas dos pés. Golpes extras podem ser acrescidos à penalidade original
para cada vez que os pés da estudante tocarem completamente o chão. Dica: preste atenção
depois do último golpe, antes de dizer para a estudante que ela já pode relaxar.
Deitada na cama
Outra posição confortável para longos espancamentos e diversões subsequentes. A
pessoa a ser espancada deve deitar-se de bruços na cama. Seu rosto deve estar afundado no
colchão enquanto seus quadris e traseiro estão elevados por travesseiros. Já que travesseiros
são moles, podem ser necessários três ou quatro destes para atingir a eleveção necessária.
Ajoelhada na cadeira
Uma de minhas posições prediletas para submissas com bumbuns bonitos, porque,
quando propriamente gerenciada, apresenta o traseiro em sua luz mais atraente. O truque
está na sua execução. A submissa deve ajoelhar no assento de uma cadeira estofada, voltada
para o encosto da mesma; suas coxas devem estar alinhadas verticalmente com o encosto e a
região superior do corpo deve se inclinar por sobre o mesmo. Novamente, a submissa deve
arquear bem suas costas.
Dois fatores conspiram para moldar o formato do traseiro dela (ou dele) de maneira
atraente. Primeiro, o encosto da cadeira impede ele (ou ela) de se inclinar além do necessário
para um bom arqueamento das costas. Segundo, do mesmo jeito que saltos altos deixam os
pés em um ângulo que contrai a batata da perna, ajoelhar-se com as panturrilhas em ângulos
corretos em função das coxas parece permitir que o bumbum se contraia de maneira a ficar
mais "cheio".
IV. Táticas
Descobri que as seguintes táticas podem ser utilizadas para incrementar e focar o
posicionamento:
459
Ajuste e reajuste
Acredito que seja importante, deliberadamente, posicionar e ajustar a pessoa a ser
espancada antes do início da sessão. Deve-se enfatizar o posicionamento e a completa
exposição das nádegas. Ao longo do espancamento, a pessoa espancada deve ser reajustada
caso sua postura mude.
Instruções verbais
Acho que é melhor requisitar que a submissa assuma espontaneamente sua posição
sem interferência física do Dominador, especialmente em sessões onde ela deve permanecer
em pé. Portanto, comunicação verbal é necessária ao longo do espancamento, para encorajar
a submissa a se manter devidamente posicionada.
"Frescura"
Finalmente, um dos aspectos disciplinários do spanking é que, não importa quão
perfeita esteja a posição da submissa, sempre haverá espaço para melhorias. O Dominador
não deve se sentir culpado se suas exigências quanto à posição forem, talvez, um tanto
"frescas" ou irreais.
TÉCNICAS DE "SPANKING"
Helga Vany Freyja
"Este é o primeiro texto de uma série que mostrará como utilizo as surras no
treinamento e na punição do escravo, e também, é claro, para minha diversão e
entretenimento. Como sempre ressalvo, essa é a minha maneira de atuar nestes casos. Não é a
única, nem a mais certa, mas é a que sei e que quero transmitir a todas as pessoas que se
interessam pelo BDSM".
Introdução
Talvez o principal método para disciplina e treinamento, largamente usado na cultura
ocidental e oriental, especialmente no século passado, o "spanking" , como aqui considerarei
(*), pode ser empregado nas mais variadas formas e com diferentes instrumentos.
(*) - O termo "spanking" ou surra é usualmente empregado na literatura de língua
inglesa apenas como o "bater nas nádegas com as palmas das mãos" ou, para algumas
460
Regras Gerais
O local mais natural e seguro para ser alvo do "spanking" é o traseiro (nádegas) do
escravo. Abaixo da pele daquela região, uma grossa camada de gordura protege os músculos e
demais estruturas mais profundas.
As coxas também são um ótimo alvo, seja em
sua face interna como naexterna. Neste caso,
especialmente na parte interna, a sensibilidade é
maior. A região entre as coxas e as nádegas
também constitui um excelente alvo,
especialmente quando se quiser que o escravo
traga, por mais alguns dias, a "recordação" do
castigo, especialmente nos momentos em que ele
se sentar
Outra região que utilizo muito é a próxima
dos mamilos do escravo, especialmente quando
quero incrementar a punição já em curso com
prendedores de mamilos ou com o "sutiã" de tachinhas. Neste caso, um instrumento que
permita uma direção segura ao alvo é mais recomendável: além das próprias mãos, uso
frequentemente o chicote de montaria.
A face, a região posterior do tórax, o abdome e os genitais requerem alguns cuidados
especiais que devem ser destacados em nome da segurança do "spanking".
A face deve ser usada apenas para os humilhantes "tapas na cara". Estes devem ser bem
dosados quanto à intensidade e frequência, para se evitar danos aos sensíveis órgãos dos
sentidos aí localizados, e também nas pequenas alterações cumulativas que a repetição de
golpes na face, especialmente os de intensidade forte, podem provocar no cérebro.
Obs.: deve-se também alertar que, dependendo da existência de defeitos anatômicos
não sabidos - principalmente malformações vasculares no cérebro ou descolamento de retina -
461
golpes fortes e repetidos na face poderão provocar acidentes mais graves e altamente
indesejados. Portanto muito cuidado nessa região!
Sempre evite bater contra as superfícies ósseas com instrumentos rígidos (coluna
vertebral, costelas, osso esterno, clavículas, ossos do quadril, osso do púbis, parte anterior das
pernas e dorso das mãos e dos pés), pois assim poderão ser provocadas lesões na pele, tecido
sub-cutâneo, periósteo (membrana que recobre os ossos) e até no próprio osso.
Evite também bater com instrumentos rígidos no tórax anterior e posterior e na região
dos rins. Nestes casos, como já mencionei anteriormente, a região próxima aos mamilos
(peitoral) pode receber golpes leves ou moderados com chicotes de montaria, varas ou
"paddles". Dê preferência aos "flogs" quando optar por castigar seu escravo no tronco como
um todo. Mesmo assim, procure evitar a região dos rins e a administração de golpes profundos
na região do abdome
Os genitais masculinos podem ser castigados com "flogs" ou chicotes próprios ("penis
whips"), bem leves. Não bata com força, nem repetidamente, no membro ereto pois poderá
provocar lesão grave nos tecidos responsáveis pela ereção (corpos esponjoso e cavernoso).
A região escrotal pode ser castigada com os chicotes próprios para os genitais.
Entretanto, tenha o cuidado de prender os testículos, de modo que a pele do saco fique bem
esticada, impedindo que haja um balanço muito intenso dos testículos quando receberem os
golpes. Isso evita a possibilidade de torção desses órgãos.
aconselhada a aplicação de compressas ou bolsas frias (bolsa de gelo) sobre o local. Caso tenha
perguntas específicas sobre tais cuidados, escreva-me no endereço eletrônico mostrado no
final desta página.
Obs.: Essas indicações que estou fazendo são fruto de Minha experiência pessoal, de pesquisas
em outras publicações SM e de conversas com pessoas que praticam a Arte do "Spanking".
Também procurei consultoria médica para Me sentir mais segura e habilitada em realizar esta
técnica de punição.
O escravo
Sempre que o escravo vai ser punido, mesmo nas demonstrações de técnicas, deixo-o
inteiramente nu, exceto pelo uso da coleira. A única exceção é a utilização de um colete de
couro que protege a região dos rins, quando do uso de chicotes longos tipo "bull whip".
Também exijo silêncio absoluto por parte dele, exceto quando mando contar o número
de golpes que está recebendo, agradecendo por cada um deles, o que aumenta sua sensação
de humilhação. É evidente que ele poderá falar, a qualquer momento, a palavra de segurança.
Se o escravo for do tipo "barulhento", a mordaça é bem indicada (Neste caso a palavra de
segurança é substituída por um sinal previamente
combinado).
Pode-se também vedar os olhos e tapar seus ouvidos,
de modo que o isolamento de outros sentidos permitirá que a
mente do escravo esteja concentrada quase que
exclusivamente nas sensações provocadas pelo "spanking",
aumentando o componente psicológico do castigo.
As posições em que coloco o escravo dependem do tipo
de castigo a ser empregado, do instrumento escolhido e das
partes do corpo que escolhi como alvo. Descrevo tais posições
nos itens por instrumento, nas páginas seguintes.
O escravo poderá ser amarrado a um gancho do teto, às
barras de separação de membros, ao banco ou à mesa de
castigos, para impedir movimentos indesejados, ou manter-se
livre, mas com a ordem de estrita imobilidade, sob pena que,
no caso de se mover, haja incremento do castigo que está sendo administrado.
A quantidade de golpes também deverá ser previamente conhecida pelo escravo, salvo
se a punição for parte de um jogo de resistência ou de competição.
Também mando que o escravo repita, de tempos em tempos, o porque ele está sendo
punido "Diga porque v. está apanhando?".
Quando o castigo deve ser administrado imediatamente após a falta cometida
(geralmente tapas na cara e/ou surra na bunda com as mãos, chinelos ou "paddles"), sempre
se acompanha de "broncas", mostrando o erro e o modo de como quero que seja o
comportamento do escravo. Nesses casos, do castigo físico costumo mandar o escravo de
castigo por alguns minutos em pé ou de joelhos num canto, face contra a parede e exposição
ampla das nádegas vermelhas.
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Mãos
Posição do Motivação
Método Técnica Advertência
escravo básica
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2 - Açoites ou "Flogs"
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Chicoteamento Corpo arcado As batidas são quase Punições severas ou Deixa marcas bem
nas nádegas. para frente e sempre fortes, em demonstração da nítidas na pele do
amarrado no razão de que os habilidade da escravo. Pode
banco de chicotes são Dominadora no manejo romper a pele, o que
punições. pesados, feitos de desse tipo de chicote, leva à necessidade
couro trançado em especialmente os de se ter o cuidado
Em posição de sua maioria, e a longos (estes utilizados de desinfetar o local
castigo (tórax força do movimento no jogo de apagar a atingido, lavando-o
encostando no dos braços e da mão vela colocada entre as com água e sabão,
chão ou na cama) da Dominadora se nádegas do escravo, além de usar
e nádegas amplia até a ponta como ocorre nas pomada cicatrizante.
"empinadas", do chicote. celebrações do OWK).
468
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Castigo Corpo arcado para Esse é um castigo forte, muito Punições Deixa marcas
forte nas frente, amarrado no difundido como método de educação severas ou bem nítidas
nádegas e banco de punições escolar na Inglaterra vitoriana. em jogos de na pele do
nas coxas ou em pé. resistência escravo. Pode
(parte A intensidade é variável. Inicio o castigo à dor. romper a
externa) Em posição de com múltiplas batidas leves, pele, o que
castigo (tórax acompanhadas de um discurso sobre a leva à
encostando no chão razão da punição. Essa batidas são necessidade
ou na cama) e entremeadas, ao acaso, por batidas de se ter o
nádegas fortes e firmes, cujo número dou a cuidado de
"empinadas", com as conhecer previamente. Após cada uma desinfetar o
pernas separadas. dessas batidas fortes, o escravo diz o local atingido,
número correspondente e agradece o lavando-o
Deitado na maca de castigo. com água e
massagens ou na sabão, além
469
cama. de usar
pomada
cicatrizante.
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9. "Flog" de couro leve com cabo giratório para açoite de genitais, adquirido no Club
Doma, em Haia, Holanda.
10. "Flog" de couro cru médio, fabricação holandesa e adquirido no "Atelier Eliana" em
São Paulo, que carrego em minha bolsa diariamente.
11. "Flog" de camurça leve, meu primeiro instrumento de "spanking", adquirido no
"Atelier Eliana", em São Paulo.
12. "Flog" de couro macio, leve,
adquirido no Club Doma, em Haia,
Holanda.
13. "Flog" de borracha, leve, de
procedência holandesa, adquirido no
OWK, República Checa, cujo cabo também
serve como dildo.
14. "Flog" de couro macio,
prateado, adquirido no OWK, República
Checa, excelente para demonstração de
técnicas.
15. "Flog" de couro cru, pesado, adquirido em Praga, República Checa.
16. "Guasca" de couro cru, adquirida em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
17. "Guasca" de couro cru, pesada, adquirida em Praga, República Checa.
18. "Guasca" pequena de couro cru, leve, para os genitais, adquirida em Porto Alegre,
Rio Grande do Sul.
19. Chicote de montaria de couro trabalhado com ponta triangular, pesado, adquirido
em São Paulo.
20. Chicote de montaria coberto com couro vermelho sobre fibra de vidro, pesado,
(sobre "echarpe" preta) fabricado na Inglaterra e adquirido no OWK, República Checa.
21. Chicote de montaria de couro preto, pesado, fabricado no OWK, Republica Checa,
prêmio no concurso de "pinturas com cera de velas" durante as celebrações do OWK em
2001.
22. Chicote de montaria de couro cru, pesado, adquirido em Porto Alegre, Rio Grande do
Sul.
23.Chicote com formato de "mãozinha", pesado, feito de couro e tachas de um lado e
espículas de plástico duro na face oposta, adquirido no OWK, República Checa.
24. Chicote de couro trançado, pesado, com cabo trabalhado com filetes de ouro,
presente da Rainha Patrícia I, do OWK.
25. Chicote longo de couro trançado, pesado, utilizado pelos húngaros para levar tropas
de cavalos, adquirido em Budapeste, Hungria.
471
Eletro-Estimulação - Parte I
Mestre Votan
CAPÍTULO 1
Os impulsos enviados pelos órgãos dos sentidos ao cérebro, e os impulsos que o cérebro
envia aos órgãos e músculos em resposta, são de natureza elétrica.
Tensões de algumas dezenas de milivolts (milésima parte do volt), são responsáveis por
tudo o que sentimos, e por todas as nossas reações. É claro pois, que qualquer diferença de
potencial (DDP), aplicada externamente, possa interferir no nosso sistema nervoso, tanto nos
estímulos que são enviados ao cérebro, como nos estímulos que o cérebro envia para os
órgãos e músculos.
O perigo do choque elétrico pode ser explicado justamente por esta "interferência"
provocada em nosso organismo. Em alguns casos, por exemplo, o choque não só causa a
sensação de dor, como também pode inibir as reações que nos livram do perigo.
Em suma, o cérebro pode enviar aos órgãos o impulso que nos faz retirar a mão do fio
que está causando o choque, mas este impulso não chega até lá por sofrer interferência da
corrente que está sendo responsável pelo choque. A pessoa nesta situação sente-se "presa "
ao local que lhe causa o choque, não podendo sozinha, livrar-se do perigo.
473
CAPÍTULO 1.1
Estimulação Elétrica
Em primeiro lugar, os fisiologistas necessitavam de fontes estáveis e confiáveis de
corrente elétrica, de modo a estimular os nervos e músculos de suas preparações. Quando
Luigi Galvani começou seus experimentos pioneiros, existia apenas um pequeno número de
técnicas à sua disposição: jarros de Leyden, geradores eletrostáticos e eletricidade natural (ou
seja, raios !). Não havia pilhas!!!
O gerador eletrostático (Fig. 03) era feito de um
disco de vidro vertical ou horizontal, que podia ser girado
rapidamente usando uma manivela manual, ligada a uma
polia. Uma escova metálica, em contato com o disco,
coletava cargas elétricas, criadas pelo atrito. Duas bolas
metálicas conectadas aos pólos eram então usadas para
transferir essa carga para um jarro de Leyden.
A garrafa, ou jarro, de Leyden também era feita de
vidro e forrada internamente com folha fina de estanho, e
um pino de metal com uma bola, inserido através de uma
rolha isolante. Ela funcionava como um condensador
elétrico, e era usada para armazenar cargas elétricas, bem
como para ministrar choques elétricos aos tecidos que se queria estimular. Infelizmente, a
quantidade de corrente elétrica não era controlável e quantificável, portanto as garrafas de
Leyden eram pouco confiáveis quando se queria fazer experimentos replicáveis. Isto era o mais
perto do que se podia chegar de uma pilha!
A invenção definitiva se originou diretamente da disputa cientifica de Galvani com seu
colega Alessandro Volta. (A palavra Volt, vem de uma homenagem a Volta).
Volta interpretou corretamente que as rãs de Galvani contraiam seus músculos quando
estavam penduradas por ganchos de cobre de grades de ferro, porque a junção entre dois
metais diferentes funcionava como um dispositivo de geração de eletricidade. (É por isso que
não pomos em nossa casa canos de ferro junto com canos de cobre!).
Volta montou então um dispositivo, ao qual chamou de "pilha "(Fig.
04), porque realmente ele empilhava uma série de discos de prata e de
zinco alternadamente, separados entre si por discos de papelão
embebidos em água com sal
476
Uma corrente elétrica se produzia quando o disco de prata no topo da pilha era
conectado por um fio ao último disco de zinco na parte de baixo.
A bateria de células voltaicas deu inicio a uma revolução abrangente nos anos que se
sucederam, não apenas na física, mas também na fisiologia. Controlando cuidadosamente a
área e o material de suas partes constituintes, a concentração das substâncias químicas e o
número de discos na pilha, voltagens conhecidas e precisas podiam ser ministradas aos tecidos
que se queria estimular. Claude Bernard, o famoso fisiologista francês, chegou a fabricar
engenhosas "pinças elétricas", que usava para segurar e tocar nervos delicados, estimulando-
os, ao mesmo tempo.
Posteriormente, os fisiologistas tiveram que inventar interruptores mecânicos especiais,
de modo a aplicar pulsos de corrente elétrica aos nervos e músculos, em instantes
precisamente determinados, e com durações conhecidas e muito curtas. Normalmente esses
interruptores eram feitos de piscinas de mercúrio, bastonetes pontiagudos de metal e botões
acionados por molas fortes.
Quando o experimento exigia estimulações repetidas regularmente de forma precisa,
um disco giratório era usado para acionar o interruptor a instantes precisos. Já pensaram a
trabalheira que dava?
CAPÍTULO 1.2
Medindo a Bio-eletricidade
As correntes e potenciais elétricos gerados pelos tecidos biológicos são muito pequenos,
da ordem de micro- ou milivolts. Portanto, chega a ser espantoso constatar como os aparelhos
primitivos usados pelos fisiologistas no século XIX eram capazes de registrar variações tão
minúsculas. Em uma certa ocasião, um fisiologista foi capaz de discernir meros 10 mV (mais
tarde termos uma boa ideia de o quanto isto representa!) de alteração positiva na "corrente
de ação do nervo", que mesmo hoje é difícil de se conseguir usando modernos amplificadores
eletrônicos e osciloscópios.
Um melhor instrumento de medida foi conseguido apenas por volta de 1820, com o
galvanômetro (cujo nome, evidentemente, homenageava Galvani). Ele utilizava o princípio do
eletromagnetismo, descoberto por Oersted e Faraday.
Consistia de uma bobina enrolada de fio isolado de
cobre, em volta de um magneto colado à uma agulha (Fig.
05). Ao se passar uma corrente elétrica pela bobina, um
campo eletromagnético era provocado, o qual interagia
com o campo magnético do ímã e fazendo-o girar em torno
de um eixo.
O valor do desvio da agulha era medido sobre uma
escala impressa, permitindo assim uma medida mais exata
da corrente ou potencial elétrico. Quanto maior fosse o
477
20
Ver página 387
478
ELETROESTIMULAÇÃO PARTE II
Mestre Votan
1.0 A ELETRICIDADE
A eletricidade é uma forma de energia que existe em todas as coisas, em seu próprio
corpo, no papel onde eu imprimi este texto, na cadeira em que voce está sentado, no ar que
voce respira e em todas as coisas que tem massa e ocupam lugar no espaço. A razão pela qual
não percebemos sua presença é porque nestes objetos, a eletricidade não está em
movimento.
Não precisamos saber a fundo o que é a eletricidade ou do que ela é feita, para
aproveitá-la na prática. Precisamos saber, no entanto, como ela atua e como pode ser utilizada
para realizar o que desejamos.
A principal parte da eletricidade com a qual devemos familiarizar-nos é a que se refere
ás suas características e aos efeitos que produz em certas circunstâncias. Precisamos aprender
as qualidades da eletricidade para aplicá-la eficientemente e sem perigos.
Podemos observar na
Fig. 1 dois tanques cheios de
água, no mesmo nível. Os
tanques estão ligados entre
si por meio de canos, em
cujo sistema incluí uma
Figura 1
479
válvula e uma turbina. Se neste desenho, abrirmos a válvula, as palhetas da turbina não se
moverão, porque não existe diferença de pressão entre um tanque e outro para que se tenha
um fluxo de água. (As duas estão no mesmo nível.)
Mas quando o nível da água em um dos tanques for mais alto, existirá uma diferença de
pressão entre eles, e a água passará do tanque mais alto para o mais baixo, fazendo a turbina
girar. A diferença de alturas na caixa d'água, produz a força eletro motriz.
homenagem ao físico francês André Marie Ampére. As unidades menores que um Ámpére, são
divididas em miliampéres e microamperes. (mA e mA, respectivamente.)
O Ampére é a indicação da quantidade de eletricidade que se movimenta em um
condutor, em um determinado instante de tempo. E este fenômeno recebe o nome
de corrente elétrica. Então por analogia, o Ampére é a quantidade de água que circula entre as
caixas d'água? Certo de novo!
Bem, você pode estar se perguntando... – E o que isso tudo tem a ver com eletro
estimulação?
Costumo dar como exemplo, nos encontros sobre eletroestimulação aos quais sou
convidado, que, o que mata, ou é prejudicial, não é a tensão (Volts), mas sim, a corrente
elétrica. (Ampéres). Querem um exemplo pensando na água?
Se você entrar debaixo de uma cachoeira com 800 metros de altura, mas com um filete
mínimo de água, nada lhe acontecerá. No entanto, se você entrar embaixo de uma cachoeira
de 20 metros de altura, mas com um volume de água muito grande, certamente você sairá
machucado, ou mesmo, poderá morrer.
Na prática, isto significa que você pode tomar um choque de 10.000 Volts e somente
sentir uma agulhadinha, (às vezes, quando saímos do carro em um dia de verão e encostamos
na porta, ou em alguma parte metálica, tomamos um choque desta ordem de grandeza.). Ou
tomar um choque de 90 Volts e morrer.
- Quer dizer....o que pode causar danos é a corrente, e não a tensão?, ou Seja o mais
importante é saber a "Amperagem" e não a "Voltagem"?
- Certíssimo!!
7.0 FREQUÊNCIA
A frequência, fenômeno físico que não abordaremos em profundidade aqui, pode ser
definida como quantas vezes por segundo um fenômeno se repete.
A frequência é o segundo mais importante parâmetro dentro da eletro-estimulação.
Variando-se a frequência, podemos variar o tipo de sensação e de resultado que queremos
obter. Com a variação da frequência, pode-se induzir músculos á fadiga, pode-se induzir
ereções e orgasmos.
As frequências altas são nocivas para o corpo humano. Um aparelho de eletro
estimulação, deve trabalhar na faixa entre 4 e 200 Hertz, admitindo-se uma variação de mais
ou menos 15%.
Se as frequências de trabalho são muito altas, o corpo humano oferece pouca
resistência á passagem da corrente elétrica, podendo ocasionar queimaduras e lesões.
8.0 SEGURANÇA
Para um aparelho ser seguro e eficiente, o mesmo precisa possuir um limitador de
corrente. É um circuito que impede o aparelho, caso haja algum problema, de aplicar uma
corrente passível de causar danos ao nosso parceiro(a). Todo bom circuito de eletro-
estimulação tem um limitador de corrente.
Normalmente os aparelhos de eletro-estimulação não oferecem controle manual sobre
a corrente. Isto os encareceria bastante.
Já vimos que o que pode ocasionar danos ou até mesmo matar, é a corrente elétrica.
Estudos determinaram o seguinte:
Acima de 10 mili-ampéres nosso corpo já sente os efeitos da eletricidade
Entre 30 e 70 mili-ampéres é o limite seguro para eletro-estimulação abaixo da linha
da cintura em uma pessoa sadia.
483
9.0 ELETRODOS
Aqui está uma parte do segredo de uma boa ou má experiência com eletro-estimulação.
Eletrodos são os componentes que fazem a ligação entre seu corpo e o aparelho de eletro-
estimulação. Servem para entregar a eletricidade no local que desejamos aplicá-la. Por isso
têm várias formas e tamanhos.
Difíceis de serem encontrados, normalmente recorremos à criatividade e habilidade
para confeccioná-los. Os eletrodos encontrados facilmente em lojas de equipamentos
cirúrgicos e que podem ser usados, são os de borracha condutiva, alguns contém uma
pequena bomba de sucção de borracha, próprios para eletrocardiograma. (ver: "Mais
Eletrodos")
Os eletrodos de borracha condutiva, daqueles usados em
fisioterapia, ou em eletrocardiogramas, são inadequados para
aplicações de eletro-estimulação internas.
Os eletrodos podem ser unipolares, ou bipolares.
Eletrodos unipolares só tem uma conexão para a ligação com o
aparelho de eletro-estimulação, e devem ser usados aos pares.
Você precisará de dois eletrodos para estabelecer o circuito de
Eletrodo Anal de Inox - peso
eletro-estimulação.
aprox 1,3 Kg
Os eletrodos bipolares tem
dois pontos de contato isolados entre si. E basta um único eletrodo
com os dois fios para se estabelecer o circuito.
Eletrodos bipolares são muito difíceis de serem conseguidos.
Um dois maiores cuidados que devemos tomar é não
provocarmos o curto-circuito, inutilizando o aparelho de eletro-
estimulação. Curto-circuito?
484
Eletrodos Uretrais
10.0 CURTO-CIRCUITO
Devemos nos lembrar que a regra básica da eletricidade, é que ela sempre vai fazer o
menor caminho para fechar o circuito. Ou seja: ela vai fazer o caminho que oferecer menor
resistência, que tiver menos obstáculos.
A pele seca tem uma resistência na ordem de alguns mega ohms. (Ver resistência
elétrica)
Quanto mais úmida estiver a pele, melhor a eletricidade vai andar por ela. É por isso
que devemos sempre usar um gel entre a pele e os eletrodos. Pois se a eletricidade encontrar
uma resistência grande para andar pela pele, ela pode queimar.
Mas voltemos ao curto-circuito. Se o aparelho de eletro-estimulação estiver ligado, e os
dois eletrodos se encostarem, teremos um curto-circuito, e o aparelho queimará.
Mesmo que os dois eletrodos estiverem em contato com a pele, a eletricidade sempre fará o
menor caminho, o que oferecer menos resistência, portanto, ela vai passar de um eletrodo
para outro. Era uma vez um aparelho de eletroestimulação.
Querem um exemplo? Dois eletrodos unipolares inseridos no ânus ou na vagina.
Você não consegue ver o que está acontecendo lá dentro, e de repente seu/sua submisso(a)
misteriosamente se aquieta.
O que aconteceu? Você se pergunta. Você aumenta a intensidade nos controles do
aparelho e nada acontece.
Bem, o mais provável, é que os eletrodos se encostaram lá dentro dele(a), e houve um
curto-circuito, danificando o aparelho.
Eletrodo de sucção
Estimulação anal – clitoriana externa 11.
485
MAIS ELETRODOS
Se desejarmos eletro-estimular o ânus ou vagina, precisaremos de um eletrodo em
forma de butt plug, ou vibrador, onde o mesmo NÃO pode ter um diâmetro grande. Por que
não? Porque poderemos causar uma lesão muscular, não dando espaço para o músculo se
contrair. E a última coisa que desejamos é um feixe muscular vaginal ou anal lesado, não é?
Evite eletrodos de cobre, latão ou bronze. Estes metais são prejudiciais á saúde.
Os melhores eletrodos são de ouro ou aço inox cirúrgico.
A maior parte da eletroestimulação masculina é feita entre a próstata, atingida por via
anal e o pênis. Também pode-se alcançar bons resultados com eletro-estimulação por uma
sonda uretral (um pólo) e próstata (outro pólo), ou na região escrotal.
Na eletroestimulação feminina, normalmente um eletrodo é aplicado no ânus, e outro
na vagina. Outra forma bastante comum é um eletrodo externo na região clitoriana e outro,
inserido no ânus ou internamente na vagina.
Sempre deve haver um gel condutor entre o eletrodo e a pele, para se evitar
queimaduras, e para diminuir a resistência elétrica da pele, proporcionando uma boa interface
entre pele e eletrodo. Lembre-se que a eletricidade sempre faz o caminho mais curto, ou que
oferecer menor resistência.
- Espera!!! Você falou em resistência elétrica? Que negócio é esse?
Não devemos nos esquecer que a pele seca tem uma resistência da ordem de 2
MegaOhms ( dois milhões de Ohms), e que quando molhada, esta resistência cai para 30
Ohms.
Portanto, quanto menor a resistência, maior a corrente elétrica que passa por ela!
– Pára! Estou em um site BDSM, não quero estudar matemática e muito menos física do
segundo grau!
Mas você vai precisar entender resistência elétrica, porque é ela que está diretamente
envolvida em eletroestimulação, e se não entendermos como ela funciona, poderemos
provocar umas boas queimaduras em seu(sua) submisso(a).
Explicando dentro do BDSM, podemos dizer assim:
Quanto maior for a resistência que a pele do submisso(a) oferecer, mais corrente e
tensão (amperagem e voltagem) precisaremos fornecer, para causar alguma sensação.
O problema é que se aumentarmos a corrente e a tensão, podemos obter alguns efeitos
físicos interessantes, que na sua maioria levam a um mesmo lugar:
Queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau.
- Bom, e como resolver este problema?
De uma forma muito simples: Se a pele não está suficientemente umedecida, basta
molharmos a pele. Uma possibilidade, é que se prepare uma solução de água com sal de
cozinha ( 1 colher de sobremesa para um litro de água). E aplica-se esta solução com um
vaporizador de água. (Você pode encontrá-los em lojas de jardinagem).
Este método é muito bom para a pele externa.
Para uso interno (ânus, vagina, uretra) deve-se usar o gel KY ou similar, que é a base de
água. Não use óleo mineral do tipo Johnson Baby gel, ou algo parecido.
Fique atento: a cada 20 ou 30 minutos você deve acrescentar mais gel lubrificante,
porque primeiro: tanto a vagina como o ânus, que são ricos em mucosas, absorvem por
osmose a água contida no gel, e depois, porque, devido á eletricidade, ocorre uma dissociação
iônica nos componentes do gel.
Tendo estes cuidados, reduzimos muito a possibilidade de queimaduras por
eletroestimulação, além de aumentar a sensação e o efeito desejado.
· Portadores de marca-passo
· Portadores de qualquer doença cardíaca
· Portadores de próteses ou pinos de metal nas pernas, pés, braços e pelve
· Grávidas
Depois, iremos precisar de um aparelho que produza eletricidade. Estes
aparelhos NÃO podem ser do tipo ABTronics, ElyzeeBelt (da feiticeira) ou similares.
Esta é a forma mais rápida de voce ter um acidente com eletroestimulação em suas
mãos.
No Brasil não existem aparelhos específicos para isso, e os importados são caríssimos.
Existem duas linhas distintas de eletroestimulação, mas que no final buscam a mesma
coisa:
Os que usam aparelhos para produzir os estímulos
Os que usam ondas sonoras convertidas em sinais elétricos
Neste artigo tratamos principalmente do primeiro tópico. Na falta destes, sobram os
aparelhos para fisioterapia, que embora não sejam os mais adequados, podem gerar bons
resultados, embora seu preço seja alto.
A maioria dos aparelhos trabalha com corrente alternada.
Qualquer que seja a opção que faça, ainda falta um componente fundamental. O
eletrodo, que, como vimos anteriormente, é o dispositivo que entrega e eletricidade produzida
pelo aparelho no local do corpo que queremos estimular. Podem ser agulhas, pedaços de
borracha condutiva, objetos metálicos, etc...
As agulhas são usadas para estimular feixes de fibras nervosas diretamente, e requerem
uma técnica aprimorada.
Determine se os eletrodos que irá usar são unipolares ou bi-polares.
Lembre-se que você irá precisar de no mínimo dois eletrodos caso estes sejam
unipolares.
Se for aplicar eletro-estimulação no ânus ou vagina, precisará de um Gel condutor.
Certifique-se que os eletrodos não estejam encostando um no outro após fixados, e que
não estejam provocando um curto circuito, que irá danificar seu aparelho.
Não utilize eletrodos unipolares para eletro-estimulação somente anal ou somente
vaginal. Isto não dá certo, pois os eletrodos entrarão em contato no interior do corpo.
Não aplique eletro-estimulação acima da linha da cintura. Eletroestimulação nos
seios NÃO se faz!!!! Estas fotos que vemos são pura tapeação.
Se aplicar uma corrente elétrica no tórax, você pode, dependendo da corrente utilizada,
induzir uma fibrilação cardíaca.
488
Resumindo, o aparelho
entregará na saída, os 9
Volts originais em
Corrente Contínua da
pilha, transformados em
até 250 Volts, Corrente
Alternada, com uma
corrente entre 50 e 80
miliamperes (mA),
através de dois
conectores, onde se
inserem os bornes ou
pinos, com fios e que vão
ligados a(os) eletrodos.
Existem aparelhos que podem fornecer duas saídas independentes, com controles
independentes. Observe o eletrodo bi-polar branco no protótipo 3. em um único eletrodo tem-
se dois polos isolados. Usei tinta condutiva para confeccioná-lo.
Diagrama 1
Protótipo 01 referente ao diagrama 01 Protótipo 02 com eletrodos de borracha Protótipo 03 com eletrodo bi-polar
(branco
15.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se você pretende iniciar-se nas práticas de eletroestimulação, siga três regras básicas:
Nunca faça nada acima da linha de cintura
490
Por último, o autor lembra que este artigo não habilita ninguém a sair praticando
eletro estimulação por aí.
O autor também não é responsável por lesões, acidentes, ferimentos ou traumatismos
que incapacitem ou venham a tirar a vida de alguém.
Este artigo é meramente ficcional e em hipótese nenhuma pode ser tomado como
referência para prática ou aplicação de eletroestimulação por quem quer que seja.
Este artigo não dá base nem capacita ou habilita pessoas para exercerem a eletro
estimulação.
Mestre Votan
21
O FAQ não fazia parte deste texto, mas foi acrescido aqui por não constar em nenhum menu
do site
491
produtos de melhor qualidade e preços mais elevados que não estão vindo para o País, em
razão da instabilidade cambial, etc)
Deixando de lado as críticas, pretende-se fazer uma abordagem prática, para que
usuários destes produtos não "queimem dinheiro", comprando equipamentos que depois se
mostram pouco funcionais.
Escolhendo a finalidade
Claro que o fato do "desenho" ser "peculiar" não impede que "dildos" sejam utilizados
por via anal ou "plugues" em via vaginal. Mas não se aconselha que um mesmo "acessório"
seja compartilhado nos dois fins: as borrachas de silicone são porosas e a higienização deste
tipo de acessório jamais será perfeita. Portanto, ao adquirir um "dildo" ou "plugue", escolha
sua "finalidade" definitiva e não a altere, principalmente se inserido primeiramente por via
anal.
Uma vez definida a finalidade do "acessório" em questão, convém ter em mente alguns
fatores relevantes: formato, diâmetro, material, etc. É comum ver pessoas entrarem em "sex-
shops" e ficarem completamente desnorteadas em meio a um mundo de acessórios tão
diversificados. Antes de pedir para testar todos os tipos de aparelhos, tente mentalizar onde
será utilizado e qual a sensação que se deseja obter. Se for utilizar em si, lembre-se das suas
próprias "dimensões" ou corre o risco de adquirir um equipamento completamente inútil!
494
Se for presentear alguém, isto se torna ainda mais crítico: a maioria dos "acessórios"
possui dimensões acima daquelas que se poderia considerar "adequadas" e serve mais para
impressionar o presenteado do que para o uso, principalmente de iniciantes. Lembre-se que
um "dildo" de borracha certamente não acomodará tão facilmente como um pênis de
verdade, das mesmas dimensões. Tenha isso em mente antes de sair comprando...
Por fim, seja criativo! Não é necessário se fiar plenamente nas finalidades expostas nas
embalagens para adquirir equipamentos em "sex-shops" (os "dildos" de um modo geral são
muito bons para estimulação peniana - coisa que pouca gente sabe. fui informado também
que alguns "G-reacher" podem ser utilizados para "massagem prostática" - quem diria? Mas
não tenho certeza do resultado...) Não aconselho que proceda a modificações "gratuitas" por
sua conta e risco nos "aparelhos", por mais engenhosa que possa parecer...
Escolhendo o acabamento
Higienizar um "acessório" de plástico ABS é bastante fácil: basta um pouco de água
morna e espuma de sabonete neutro, sem imergí-lo totalmente na água. Não molhe a
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tampinha de trás, onde está o potenciômetro, pois este é muito sensível à umidade. Se tiver
"vib" e entrar água por ter sido submergido, poderá danificar o motor ou o potenciômetro
(como a higienização é complicada, não se aconselha repartir "dildos" ou "plugues" com
parceiros). Pessoalmente, não gosto muito da sensação de contato do ABS (plástico duro),
principalmente diretamente sobre os genitais. Para inserção anal, ainda são os mais
aconselháveis, pelo motivo da fácil higienização.
Já os acessórios com acabamento em borracha de silicone ou análogo, são mais difíceis
de serem higienizados: a superfície é um tanto porosa, retendo partículas de fluidos/matéria
orgânica. A sensação de contato, no entanto, é mais próxima à da pele humana, tornando-os
bem mais "agraváveis". Uma solução para a higienização é adquirir acessórios deste tipo em
que a borracha de silicone seja destacável (há vários no mercado). A borracha pode ser
totalmente imersa em água com um pouco de solução bactericida à base de amoníaco ("pato
purific") por meia hora e depois lavada em água corrente com sabonete neutro.
Depois de lavado em água corrente, deixar secar naturalmente na sombra, sobre uma
toalha limpa e macia antes de guardar. Aconselha-se sempre a lavar os equipamentos com
água e sabonete neutro antes do uso. Se tiver "vib", deixe-o após ter sido lavado, ligado por
uns 15 minutos sobre a toalha. Isso evitará que o motorzinho, se tiver recebido gotículas
d'água durante a lavagem, oxide, travando e perdendo-se para sempre o "equipamento"
(nenhuma loja irá substituí-lo por um novo...)
Observação: nunca desmonte o aparelho para lavar sua parte interna: você poderá estar
molhando o motorzinho do "vib", o potenciômetro e o "holder" de pilhas e ele nunca mais irá
funcionar...
Vibradores, etc
A maioria dos acessórios eróticos possui dentro dele, um vibrador encapsulado, movido
de uma a quatro pilhas de 1,5V. O sistema de vibração funciona da seguinte maneira: as pilhas
fornecem energia a um motorzinho de corrente contínua (parecido com aqueles que existem
em brinquedos para crianças), que irá girar. No eixo deste motorzinho, existe uma pequena
massa descentralizada que ao ser impressa a rotação, causará trepidação (mais ou menos
como uma roda de automóvel desbalanceada).
Um outro sistema de "vib" é por "indução eletromagnética". Este é mais usado naqueles
massageadores musculares, que são ligados à tensão de 127V. Nestes, não há parte móvel.
Existe uma espécie de bobina, enrolada na forma de um transformador. Ao ser carregada com
uma tensão oscilante, fará oscilar um "induzido" de ferro, que produz as vibrações. São
aparelhos bem maiores e como dependem de uma fonte de energia AC (corrente contínua),
não existem nas versões para "estimulação erótica" (embora alguns destes aparelhos possuam
acessórios adaptáveis "interessantes")...
Se for comprar um equipamento com "vibro", verifique cautelosamente se o motorzinho
está funcionando adequadamente. As lojas de "sex-shop" não trocam equipamentos
defeituosos e a maioria dos "acessórios" é feito na China, com baixo ou nenhum controle de
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qualidade. Os motorzinhos utilizados são os mais baratos que existem em produção (até agora
não encontrei nenhum que utilizasse motores de melhor qualidade).
Verifique principalmente o funcionamento do potenciômetro. O potenciômetro é um
resistor colocado em série, rotativo (montado na parte de trás do aparelho) ou translativo
(montado no "holder" das pilhas), que permite "variar a velocidade" do motorzinho,
implicando em sensações de vibração diferentes. Se for montado no "holder" das pilhas, pode-
se depois de ajustar o aparelho ao usuário, ir "variando repentinamente" a velocidade,
criando-se assim, sensações pulsativas interessantes...
Muitas vezes, é exatamente o potenciômetro que vem defeituoso, principalmente os
translativos (sobe-desce). O vendedor provavelmente irá colocar pilhas no "acessório" e lhe
mostrar na mão que "está funcionando". A maior parte das pessoas se contenta com isso e
"fecha o negócio" (normalmente estão tensos demais exatamente por estarem dentro de um
"sex-shop", para pensarem adequadamente).
Ao invés disso, pegue um pouco o aparelho na mão e sinta por um instante se a vibração
é realmente agradável: não se apresse em comprar... Depois vá variando a velocidade do
"zero" ao "máximo" e retornando ao "zero" e verifique se a mudança é constante. Se a
transição não for suave, provavelmente o potenciômetro está com defeito... Aliás, ficar tenso
por se estar adentrando um "sex-shop" no fundo é uma imensa besteira: quem me dera ver
chegar o dia em que as pessoas adentrarem estas lojas como o fazem num supermercado ou
numa loja de roupas...
Dica: se o aparelho for "encapsulado", verifique se não há orifícios abertos na saída do
fio (vibradores tipo "bullet" - as pilhas ficam num "holder" à parte e o "vib" tem o formato
aproximado de uma grande cápsula de medicamento). Caso exista algum orifício, o aparelho
não poderá ser usado para inserção anal/vaginal. Diga o que quiser o fabricante na
embalagem: os fluidos penetram através do orifício deixado para a passagem do fio,
"contaminando" internamente o aparelho.
Além de não poder ser higienizado adequadamente (se imerso na água, provavelmente
nunca mais voltará a funcionar), os próprios fluidos que penetrarem na cápsula causarão com
o tempo, oxidação do motorzinho, que irá parar de uma hora para outra...
Uma solução para os "bullet" (que aliás, são bastante divertidos) é comprar uma bisnaga
de silicone em uma loja de material de construção (de preferência, marcas conhecidas) e vedar
a saída do fio com silicone. Pode-se também aplicar silicone sobre o "bullet", revestindo-o com
uma camada que irá propiciar um melhor contato físico. Se fizer isso, para obter uma camada
"lisa", aplique por cima um filme de PVC tipo "perfex", com o material recém-aplicado
(demanda certa habilidade manual). E não se esqueça: deverá deixar a borracha de silicone
"curar" por aproximadamente 48 horas antes do uso, pois o solvente é ácido acético que é
muito irritante...
(Alguns usuários também tiveram a ideia de utilizar "bullets" inseridos em uma dessas
"camisinhas de dedo", que é uma ideia interessante; ou cortando-se o dedão de uma luva
cirúrgica, para que possa ser "encapsulado com borracha".)
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A Compra De Acessórios E
Equipamentos Em Sex-
Shops: Cuidados E Precauções
Parte 2
Senhor Carlos
Chegando em casa
Com o aparelho recém-adquirido, lave o aparelho com água corrente morna e sabonete
neutro, seque-o externamente com uma toalha, coloque pilhas novas, teste-o contra a sua
mão. Antes de tentar utilizar qualquer equipamento BDSM, você deverá conhecê-lo muito
bem, estar familiarizado com seu funcionamento, com suas peculiaridades. Com isso, poderá
evitar muitos acidentes por mau uso...
Depois disso, deixe-o funcionando por aproximadamente 1 hora a uma velocidade
"mediana". De vez em quando, varie a velocidade, suavemente do "mínimo" ao "máximo".
Com isso, estará "amaciando" o motorzinho que vem dentro do aparelho. Como um motor de
automóvel, só que muito mais simplório, o motorzinho dos "vibs" também precisa ser
"amaciado". Pouca gente sabe disso, mas farpas, defeitos de fabricação, irregularidades irão
ser "desgastados" com essa operação simples e o funcionamento do aparelho irá ficar mais
"macio"...
Se for usar em alguém, estude antes como irá fazer isso. Ensaie, perceba as dimensões
reais do equipamento, pois "na hora-H" isso será realmente muito mais difícil...
gôndolas do Pão de Açúcar, junto com cosméticos – não é nenhuma vergonha comprar e tem
pessoas que necessitam dele, mesmo se não estiverem praticando sexo...) Experimentei certa
feita um da Preserv, que é mais difícil de encontrar e com bons resultados (a lubrificação me
pareceu mais durável). Existe também KY em líquido, que ainda não experimentei.
Não recomendo aqueles lubrificantes comercializados em "sex-shops": não sabemos em
quais condições foram transportados até o Brasil, nem ao certo a formulação contida. Tenha
em mente que algumas pessoas são muito sensíveis e eu, por exemplo, sou muito alérgico – e
não sou exceção na população brasileira. Jamais se deve usar "lubrificante com anestésico"
para prática anal, pois se pode estar mascarando danos reais e graves aos tecidos, que ao
cessar o "efeito anestésico", irão ficar evidentes... Lubrificantes vaginais com "aquecimento"
ou penianos com "excitante", aconselho a correr destes produtos!
Lembre-se que o KY "vence" depois de um tempo: se for abrir a embalagem e ao invés
de gel, se apresentar como líquido, está vencido e deve ser descartado. Pode ser usado
normalmente com preservativos de borracha; não tem odor e praticamente não tem gosto
(embora acredite que não deve ser ingerido - não encontrei indicações a respeito na bula, que
não é lá muito "kinky"...).
Usando aparelhos.
Cuidado! Aparelhos para inserção anal/vaginal podem provocar muito mais estragos do
que imagina! Portanto, use com cautela, considerando que irá inserir algo em regiões muito
sensíveis do corpo humano. Lembre-se também que os aparelhos devem ser guardados sem
pilha e cuidadosamente lavados antes e depois do uso...
Dicas para inserção. Se for inserir um "dildo" via vaginal, antes de iniciar a inserção
propriamente dita, teste antes o aparelho, escolhendo a velocidade desejada (dificilmente
poderá alterar isso posteriormente). Lubrifique com abundância a extremidade do aparelho e
aplique-o suavemente sobre a vulva, clitóris, etc.. Não tenha pressa... Algumas mulheres
preferem gozar com "dildos" apenas na estimulação clitoriana. Você terá que descobrir o
caso..
Se este for o caso, continue a fazer movimentos circulares na região do clitóris,
exercendo ligeira pressão constante. Quando perceber que começou a gozar, encoste a
superfície do "dildo" ao longo da vulva (mantendo a extremidade sobre o clitóris), de maneira
a estimular externamente também os grandes lábios. Enquanto estiver gozando, mantenha o
"dildo" parado nesta posição. À menção de "retirar", cesse o contato imediatamente e isso
poderá acontecer "de uma hora para outra". Não tente fazer sexo logo em seguida a uma
prática desta natureza... (se fizer bem feito, a pessoa fica como que "exaurida").
Se não "resolveu parar" na estimulação clitoriana, agora "vá descendo" o aparelho, até
encontrar os grandes lábios. Provavelmente, nessa altura, terá que reforçar a lubrificação do
aparelho - sempre aplique o KY sobre o aparelho, não sobre as partes íntimas, pois o contato
"frio" é fortemente desestimulante... Vá fazendo movimentos ligeiramente circulares, até que
comece a observar o aparecimento dos pequenos lábios. Continue os movimentos, até que
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possa "encontrar a posição" para inserção. Nessa altura, a vagina ficará com uma conformação
bem particular, como "de espera".
Antes de inserir, lembre-se agora de lubrificar o "dildo" completamente, até a base
(mesmo se não for inserir completamente)... Insira mantendo o aparelho na posição
adequada, fazendo ligeira pressão na base, constante, até que penetre inteiramente na vagina.
Atenção: se encontrar resistência, não force - poderá ter chegado ao final do "comprimento"
da vagina antes de terminar o do aparelho... Mantenha o aparelho inserido, fazendo ligeira
massagem no clitóris e movimentos de "sobe-e-desce" com a base do aparelho, até obter o
orgasmo. Depois disso, comece a operação inversa, movimentando com muito cuidado o
aparelho para fora, bem lentamente... Só tente desligar depois que estiver totalmente
removido. Lave-o em seguida.
Para inserção anal, lembre-se que é uma espécie de variação da prática de "fisting": o
objetivo é tornar a musculatura do esfíncter "complacente", antes de começar a inserção
propriamente dita. Lubrifique abundantemente, inclusive aplicando KY sobre o ânus, com uso
do indicador (cuidado para não contaminar a bisnaga – esprema o KY sobre o dedo e não o
inverso). Massageie lentamente com o indicador e o dedo maior, fazendo ligeira pressão
contra o esfícter. Segure a pressão por uns 5 segundos, depois relaxando novamente.
Massageie novamente, sempre com muito cuidado. Faça pressão novamente. Não tenha
pressa: em determinado momento, a musculatura irá naturalmente "se abrir" e poderá
introduzir um dedo, previamente lubrificado (recomenda-se o uso de luvas descartáveis para
esse procedimento). Quando tiver "ganho confiança", é ora de experimentar o "plugue"...
Alguns "kits" contêm plugues de três tamanhos: "iniciante", "médio" e "expert". Não
subestime: há produtos que servirão apenas para "os mais experimentados"... Se for a
primeira vez, recomenda-se iniciar com o plugue correto. Lubrifique-o inteiramente e
abundantemente. No ato de inserção, não force sua passagem: comece lentamente mais a
"posicioná-lo" corretamente, do que a "empurrar para dentro".
No processo, se o esfíncter se fechar, não insista: deixe que o plugue "deslize para fora"
naturalmente. Depois, limpe tudo com papel e tente tudo de novo... Uma dica: se estiver já no
meio da inserção, pode mandar à pessoa que estiver "recebendo" o plugue, que "empurre".
Mantenha apenas com a sua mão, o plugue na posição: ao ser "empurrado", irá penetrar um
tantinho de cada vez... Se tiver sistema para inflar, recomenda-se tomar o máximo de cautela:
os danos que podem ser causados são muito extensos e o aparelho deve ter medidor preciso
do nível de pressão a que está submetendo as paredes do reto...
Para remover o plugue, basta segurá-lo firmemente pela base. A pessoa deverá fazer
força, como se estivesse expelindo fezes. O aparelho deverá sair tranquilamente. Se não for
possível, tente a operação novamente, sem jamais forçar. Se for totalmente impossível,
procure ajuda médica imediatamente...
Por fim, já que os "dildos" também servem para estimulação peniana, por quê não falar
dela?
500
Sim, apenas não se recomenda que sejam aplicados diretamente sobre os testículos:
podem causar micro-lesões irreversíveis - isso é sério! Mas, lubrificando-se bem o pênis, pode-
se estimular a base do pênis, pressionando o "dildo" na região de saída da bolsa estrotal (sem
tocar testículos). É uma estimulação bastante interessante e a vibração na base faz com que
fique bem ereto.
Depois, pode-se estimular a glande, aplicando a extremidade do "dildo" diretamente
sobre ela. Estimular a pele do prepúcio, com a glande totalmente exposta é também bastante
excitante (lembre-se de manter sempre um bom nível de lubrificação). Por fim, para gozar,
basta pressionar o "dildo" contra a parte anterior do pênis, na região do "freno", ligeiramente
abaixo da glande. Colocar o "vib" no máximo e manter a pressão até ocorrer a ejaculação. O
difícil é conseguir manter o "dildo" em posição por ainda mais um ou dois minutos, durante e
um pouco depois da ejaculação, para forçar uma "ejaculação total" do parceiro... (o que é bem
"kinky")
A primeira questão que tentaremos abordar é: "por que o uso de acessórios eróticos?".
O que eles têm a ver com nossa sexualidade? Em quê eles poderiam nos ajudar, se é que isso
acontece?
Para a maioria das pessoas, o simples uso de um vibrador é entendido como
"descontentamento sexual". Ou seja, ou o parceiro não está "dando conta do recado", ou é
por "efeito da solidão"... Veremos que não é bem assim.
Na civilização greco-romana, o uso de
acessórios eróticos foi grandemente difundido.
Escavações das décadas de 1960 e 1970 em
Herculano e em Pompéia recolheram material
suficiente para equipar um pequeno "museu
erótico", mas que infelizmente está com visitação
restrita. Nas culturas árabe clássica, chinesa,
japonesa, indiana antigas e em outras, o uso de
acessórios nas cortes era bastante difundido e até
estimulado.
O que são "acessórios eróticos"? Basicamente, qualquer objeto que insinue, ou que seja
definitivamente usado para excitar a si ou ao parceiro. Um simples pedaço de napa vermelha e
muito macia poderia ser um acessório erótico para alguém que se excite com aquela textura
501
macia do couro tratado. Há também acessórios que se podem apenas simular, não sendo
recomendável seu uso. A exemplo, frutas e legumes frescos, objetos de uso quotidiano como
canetas e outros que como não foram desenhados para o objetivo, poderiam causar lesões por
perfuração ou corte, portar bactérias e outros agentes nocivos/irritantes, etc..
Qual o conceito que está por trás de "estimulação erótica"? Em primeiro lugar, explorar
e conhecer seu próprio corpo. Nos orgulhamos de termos nascido em uma "sociedade livre de
preconceitos", mas o fato é que nunca se falou tanto e nunca se praticou tão mal a
sexualidade humana. Não conhecemos nosso corpo, não sabemos nossos limites. Nunca nos
ensinaram na escola a segurar o gozo, esperando o parceiro atingir igual excitação. Nunca
disseram para nós o que fazer após o ato sexual. É tudo isso que precisamos redescobrir.
Como fazer isso? Em primeiro lugar, você deve estar disposto a se conhecer melhor, a
ensaiar na frente de um espelho. Aconselho a arranjar um espelhinho portátil e uma fonte de
iluminação adequada. Com as mãos, você deverá explorar seus órgãos sexuais, conhecer
melhor seu próprio corpo. Explore outros ângulos de visão, com ajuda do espelho é possível
conhecer melhor as dobras da vagina, bolsa escrotal, ânus e região próxima. Dificilmente
alguém que não se conhece aprenderá a se amar. Quem não se ama, não poderá fazer o
mesmo com o parceiro.
Para quê servem os acessórios eróticos? Basicamente, enumerei seis utilidades: 1-
voyerismo; 2-excitar e prolongar as prévias antes da cópula melhorando a ereção; 3-produzir
excitação e gozar, ou prolongar o clímax; 4-iniciação em práticas "avançadas"; 5-jogos BDSM.
Abordarei brevemente algumas delas:
estabelecimente é o limite sua garantia... (ah, e não esqueça de dar as pilhas junto com o
aparelho!)
No caso de homens, presenteie com algum acessório peniano. A educação masculina
obriga a repudiar o erotismo anal, que na maioria dos casos permanece latente. Portanto, não
comece dando logo de cara um plugue anal para seu namorado/noivo/marido. Não são
aconselháveis: bombas de vácuo (perigosas demais - apenas para experientes), anéis metálicos
(entalam com frequência e devem ser retirados num serviço de saúde), vibradores para
escroto (podem causar lesões irreversíveis/impotência). Recomendo pequenos vibradores (são
fantásticos para estímulação da glande), vibradores com adaptador para cabeça do pênis,
anéis de borracha macia para base de pênis (com ou sem vib) e principalmente: uns
masturbadores em borracha macia. Estes possuem a forma de um cilindro transparente e dão
sensações eróticas indescritíveis (não são aquelas "vaginas de silicone"). Importante: não
esqueça de comprar também um tubo de KY na farmácia (normalmente é mais barato).
Plugues anal - se a prática já for conhecida entre os parceiros, aconselho começar com
um plugue pequeno. A adaptação aos acessórios de borracha dever ser feita com muita
cautela, com o risco de causar danos irreversíveis. Se for presentear com um vibrador em
formato de pênis e acabamento em borracha, aconselho de seja inserido por esta via com uso
de camisinha. Cuidado com plugues metálicos (devem ser totalmente lisos e ausentes de
farpas). O problema da borracha é que é porosa e será quase impossível higienizar o acessório
após o uso. O uso de acessórios infláveis comporta riscos e deve ser considerado uma prática
BDSM "avançada" - cuidado!
4-Iniciação em "práticas avançadas". Pode ser que seu objetivo seja por exemplo,
explorar o sexo anal ou o "fisting" (introdução de membros na vagina ou ânus). Neste caso,
deve buscar acessórios eróticos que irão gradualmente ajudá-lo a explorar esta dimensão da
504
sua sexualidade. Não considere anormalidade também o homem buscar o prazer anal. A nossa
sexualidade exclui os "anormais" (gays, lésbicas, sadomasoquistas e outros) e dependendo da
educação recebida, a "purificação" vai ainda mais longe, proibindo estimulação na zona anal,
felação (masturbação), exploração sensual do próprio corpo e até mesmo negando a própria
libido (desejo sexual).
Se você segue este caminho, muito bem. Não deveria estar lendo este texto. Mas se
você acredita que as coisas poderiam tomar outros rumos, então é possível explorar outras
dimensões na sua forma de encarar o prazer erótico. Hoje os "sex-shops" estão mais abertos e
a importação garantiu a entrada de equipamentos antes desconhecidos no mercado brasileiro.
Para os iniciantes em sexo anal, por exemplo, há "kits" de plugues anal de tamanhos
progressivos, indo desde o "iniciante", até o "avançado" e em diversas cores. Para praticantes
do "fisting", já vi mãozinhas e braços de todos os tamanhos e não mais é necessário começar
com um acessório de tamanho inconveniente. O mundo BDSM é um universo à parte e a
criatividade atinge níveis indescritíveis. Infelizmente, ainda há quem pense que "bolinhas
tailandesas", por exemplo, servem apenas aos "depravados"...
Dica: se for começar uma prática nova, seja ela "pumping" (uso de bombas de vácuo),
"fisting" (introdução de dedos e punho) ou qualquer outra, aconselho a buscar ajuda de
pessoas mais experientes. Não tenha pressa em se iniciar em uma prática que desconheça os
efeitos. Se possível, converse com um médico da sua confiança para esclarecer eventuais
dúvidas. Cuide muito bem do aspecto da higienização dos equipamentos e no caso de surgir
qualquer tipo de lesão por efeito mecânico (acidente físico) ou por agente microbiano
(infecções), procure seu médico imediatamente.
"ato". É possível se "inverter papéis", desde que todos saibam precisamente qual o papel que
está desempenhando.
Mas há os 10% que não tem nada de encenação. Para isso, é necessária muita prática ou
os acessórios não irão funcionar. Se for chicotear, aprenda antes com alguém que saiba fazer
isso muito bem. Experimente antes em você mesmo, até que tenha certeza do que está
planejando, que não irá colocar em risco ou comprometer a saúde do parceiro(a). Se for usar
"eletroestim", pratique muito em você mesmo antes e não tenha seu limite como parâmetro
universal, pois há pessoas mais e outras menos sensíveis. Muita dor não significa
necessariamente muito prazer; o resultado ideal está em um casamento perfeito das duas
coisas e na medida exata. Jamais use eletricidade "acima da cintura" e eletroestimulação de
mamilos definitivamente não é uma boa ideia!
Assim, pretendo encerrar estes breves comentários sobre o uso de acessórios eróticos
na prática sexual. Não pretendi esgotar o tema e certamente, muitas dúvidas irão surgir. Na
medida do possível, tentarei esclarecer algumas delas. Certamente o texto deve conter erros -
peço desculpas aos leitores mais aguçados. Por fim, não levem ao pé da letra tudo o que foi
escrito. O espírito crítico ainda é a melhor arma do homem.
Por fim, espero não ter cometido nenhuma injustiça com os diversos grupos/opções
sexuais. Da mesma maneira, espero que os leitores aceitem as diversidades que possam estar
contidas nas ideias aqui expostas.
Um abraço a todos,
Senhor Carlos
jan/2003
Senhor Carlos
Outra coisa ruim nos "bullet" é que normalmente não possuem uma "cordinha para
puxar" e o fio de energia dever servir também como "cordinha". Isto é inadequado, pois se
submetido à tração, o núcleo do condutor pode se romper e o "vib" pára de funcionar. Fora o
risco de ficar sem o meio mais natural para o retirar ... Resolvi o problema reformando meu
bullet.
Com duas ampoulas daquelas de PET que usam para guardar tempero, cortei as partes
arredondadas, na forma de duas semi-cápsulas. Furei com um Dremmel para passar os
condutores e o fio "de retirada" e fixei por pressão o motorzinho à parede do novo "bullet",
com auxílio de um courinho bem fino. Soldei as cápsulas e vedei as saídas dos fios com
borracha de silicone. Ficou um "bullet" transparente.
Se for experimentar um "bullet", lubrifique muito bem a via anteriormente. Use KY com
abundância e massageie lentamente com o indicador. Quando estiver relaxado(a), insira o
"bullet" com cuidado (se for usar com camisinha, acondicione-o dentro da camisinha antes de
inserir). Com o indicador, garanta que está em uma posição confortável e que os fios não
ficaram tensionados. Lubrifique muito bem a passagem do ânus ou vagina, para que o contato
dos fios não seja desconfortável.
Fixe a caixinha de comandos à cintura, presa na cueca/calcinha ou mesmo na aba da
calça. A caixinha de comandos, dificilmente alguém sabe o que é. Não precisa ter muito
cuidado, pois o desenho a confunde com a de um controle remoto. Teste antes de ir à "cena".
Em público, aja sempre com a maior naturalidade...
Na velocidade máxima, provavelmente irá trepidar um pouco e não será confortável.
Acelere-o para que ganhe inércia e em seguida escolha uma velocidade menor. Se perceber
que está parando, aumente discretamente a velocidade. Não deixe-o parar completamente,
pois terá que refazer a manobra da aceleração. Em uso e com pilhas alcalinas novas,
normalmente dá para um "jogo" de uma hora, ou um pouco mais.
Após o uso, lave-o muito bem com água morna corrente e espuma de sabão. Tente
remover toda a água com uma toalha macia e sacudindo a cápsula, para que não reste água
em contato com o motor. Deixe-o funcionando sobre a toalha por cêrca de 30 minutos,
variando a velocidade de vez em quando, para que o motor se aqueça e perca a umidade.
Guarde-o em local sêco e ventilado e sem as pilhas. Se não fizer isso, provavelmente não irá
funcionar da próxima vez.
Se seguir estes conselhos, dificilmente será denunciado. No caso de quartos de hotel, há
outra dica: acione o "vib" somente depois do "dildo" ter sido inserido. Quando em contato
com a pele, o ruído tende a cair ao quase imperceptível...
Um abraço a todos,
Senhor Carlos