ENS Tema 2020 1 PDF
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Casal
Santo:
Alegria da Igreja,
Testemunho
para o Mundo
Casal
Santo:
Alegria da Igreja,
Testemunho para o Mundo
Responsabilidade
Equipe da Super-Região Brasil
Coordenação Geral
Lu e Nelson Pereira
Elaboração de Conteúdo
Mariola e Eliseu Calsing, Maria Regina e Carlos Eduardo Heise, Graciete e
Avelino Gambim e Pe. Paulo Renato F. G. Campos
Revisão de Conteúdo
Mariola e Eliseu Calsing, Maria Regina e Carlos Eduardo Heise, Graciete e
Avelino Gambim, Lu e Nelson Pereira, Cristiane e Luiz Antonio Brito, Leila e
Antonio Carlos Oliva, Pe. Paulo Renato F. G. Campos e Pe. Antonio Xavier
Edição e Produção
Nova Bandeira Produções Editoriais Ltda.
R. Turiassu, 390 • 11o andar • cj. 115
05005-000 • São Paulo • SP • (11) 3473.1282
www.novabandeira.com • [email protected]
Direção de Arte
Maria Alice e Ivahy Barcellos
Revisão de Texto
Jussara Lopes
ENS _TEMA2020 _capa/miolo_102019_NB_Bmf
Imagens
Fonte: Wikimedia Commons / Wikimedia
Shutterstock - Capa
Impresso no Brasil
Sumário
Apresentação............................................................. 5
Introdução ao Tema de Estudo ................................... 7
a) A convocação do
Encontro de Fátima 2018 .................................... 7
b) Estrutura geral................................................ 10
c ) Estrutura de cada reunião.............................. 15
Ressignificando as imagens....................................... 20
Capítulo I - Santidade............................................... 22
Capítulo II –
Caminho de santidade em casal .............................. 38
Capítulo III – Fragilidades:
cultura atual e desigualdades sociais......................... 52
Capítulo IV – Inimigos da santidade:
gnosticismo e pelagianismo...................................... 68
Capítulo V – Oração: exigência de santidade............ 86
Capítulo VI – Eucaristia: fonte de santidade............ 102
Capítulo VII – Ser casal santo hoje.......................... 118
Capítulo VIII – Espiritualidade conjugal:
contribuição específica das ENS
para a santidade do casal....................................... 134
Balanço.................................................................. 150
Anexo I – Como fazer
a Leitura Orante da Bíblia?...................................... 161
Anexo II – Carta de Fátima 2018............................. 166
Anexo III – Oração pela
Canonização do Pe. Henri Caffarel.......................... 174
Apresentação
O Papa Francisco, ao publicar a Exortação Apostólica Gau-
dete et Exsultate – sobre o chamado à santidade no mun-
do atual –, em março de 2018, assim concluía:
“Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a
Igreja se dedique a promover o desejo da santidade. Pe-
çamos ao Espírito Santo que infunda em nós um desejo
intenso de ser santos para a maior glória de Deus; e ani-
memo-nos uns aos outros neste propósito. Assim, com-
partilharemos uma felicidade que o mundo não poderá
tirar-nos”. (GE, 177)
Este também é o objetivo do Tema de Estudo deste ano:
promover sempre mais o desejo de santidade, uma santi-
dade encarnada na vida – no nosso cotidiano – de todos
os casais das Equipes de Nossa Senhora.
Assim se referia o Pe. Henri Caffarel em 1949:
“As Equipes de Nossa Senhora têm por objetivo essencial
ajudar os casais a caminhar para a santidade. Nem mais,
nem menos”.1
Por isto, a razão de ser das Equipes de Nossa Senhora é a
de ajudar os casais a desenvolver as riquezas do sacramen-
to do matrimônio e de viver uma espiritualidade que brota
deste estado de vida matrimonial e familiar. E, deste modo,
estimular os casais a ser testemunhas do casamento cristão
– este grande patrimônio espiritual e social – na Igreja e no
mundo, como um caminho de amor, felicidade e santidade.
Este Tema de Estudo está ligado às orientações do Movi-
mento para o período 2018-2024, que nos encoraja a sair
5
em missão, procurando concretizar a nossa condição de
discípulos missionários de Jesus Cristo.
Com o Tema de Estudo, o Movimento quer nos ajudar
a crescer em nossa fé, a iluminar nossa vida a partir do
Evangelho, a fortalecer nossa identidade cristã, isto é, de
acordo com o estilo de vida de Jesus Cristo.
Ninguém é chamado a viver uma vida medíocre, mas, sim,
uma vida repleta de espiritualidade e de amor a Deus e aos
irmãos, como um caminho de santidade.
Desejamos que todos os casais das Equipes de Nossa Se-
nhora aproveitem bem este Tema de Estudo. Cada reunião
deverá ser um momento ou um degrau no nosso esforço
de santificação como pessoa, como casal e como equipe.
E não nos esqueçamos o que nos diz o Papa Francisco:
"A santidade é o rosto mais belo da Igreja". (GE, 9) E,
certamente, é o rosto mais belo de um movimento eclesial
como as Equipes de Nossa Senhora, que tem em seu ca-
risma o crescimento na espiritualidade conjugal como um
objetivo de santidade e de felicidade conjugal e familiar.
É necessário, contudo, que cada um compreenda e faça
o seu próprio caminho de santidade, vivendo com amor
e testemunhando, onde quer que se encontre, o amor a
Deus e aos irmãos.
Não desanimes, nos diz o Papa Francisco, “porque tens a
força do Espírito Santo para tornar possível a santidade”,
uma vez que ela é fruto da graça e da presença de Deus
em tua vida. (GE, 15)
Clarita e Edgardo Bernal
Equipe Responsável Internacional
Paris, abril de 2019
6
Introdução ao Tema de Estudo
a) A Convocação do Encontro de Fátima 2018
7
significa que cada homem e mulher, que cada
criança, jovem, adolescente, adulto ou idoso, que
cada casal é uma missão, e esta é a razão pela qual
todos vivemos neste momento aqui na Terra.
Somos atraídos e enviados por Deus para cumprir
nossa vocação e missão como um grande desafio. Vo-
cação e missão são partes do nosso ser humano: “Eu
sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste
mundo. É preciso considerarmo-nos como que mar-
cados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar,
vivificar, levantar, curar, libertar. Nisto uma pessoa
se revela a enfermeira autêntica, o professor au-
têntico, o político autêntico..., ou seja, pessoas que
decidiram, no mais íntimo de si mesmas, estar com
os outros e ser para os outros. Mas, se uma pessoa
coloca a tarefa de um lado e a vida privada do ou-
tro, tudo se torna cinzento e viverá continuamente à
procura de reconhecimentos ou defendendo as suas
próprias exigências”.3
Portanto, continua o Papa Francisco: “Não é saudá-
vel amar o silêncio e esquivar o encontro com o ou-
tro, desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar
a oração e menosprezar o serviço. Tudo pode ser
recebido e integrado como parte da própria vida
neste mundo, entrando a fazer parte do caminho
de santificação. Somos chamados a viver a contem-
plação mesmo no meio da ação, e santificamo-nos
no exercício responsável e generoso da nossa mis-
são”. (GE, 26)
8
Este Tema de Estudo – Casal Santo: Alegria da Igreja
– quer chamar nossa atenção para o seguinte fato:
quanto mais nos santificarmos como pessoa, como
casal e como Equipe de Base – nossa vocação últi-
ma – tanto mais fecundos nos tornaremos para a
Igreja e para o mundo; portanto, mais fecunda será
nossa missão. Vocação e missão!
Para nós, equipistas, a santificação é um caminho
a dois, em equipe, em comunidade eclesial. Cada
cônjuge é um instrumento de santificação do outro
cônjuge. Cada equipista é um instrumento para a
santificação do outro equipista.
O Papa Francisco afirma categoricamente: “Não
acredito na santidade sem oração”. Portanto, “o
santo é uma pessoa com espírito orante, que tem
necessidade de comunicar-se com Deus”. (GE, 147)
É isto que procuramos também numa reunião de
equipe, quando nos reunimos em nome de Cristo:
santificarmo-nos e santificar a cada um dos presen-
tes pela oração e meditação da Palavra de Deus.
Quando formamos uma equipe de base – de ver-
dade – no Movimento das Equipes Nossa Senho-
ra, Cristo está presente. Como uma ecclesia,4 não
se realiza uma reunião qualquer a cada mês, mas
um verdadeiro encontro com Cristo, para que os
casais possam percorrer um caminho comunitário
de santificação, e transformar toda equipe em uma
comunidade eclesial santa e missionária, uma co-
munidade eclesial. Vocação e missão!
4 - O termo Ecclesia é utilizado por Pe. Caffarel para explicar o verdadeiro sentido
da reunião de equipe. O significado deste termo será explicado ao longo de cada
uma das reuniões deste Tema de Estudo.
9
b) Estrutura Geral
É com este cenário que foi concebida a sequência das
reuniões do Tema de Estudo, sempre tendo presente
que a santidade é um caminho em construção, gra-
dual e dinâmico, que nos impele para a missão.
As duas primeiras reuniões abordam em linhas gerais
os fundamentos conceituais da santidade, situando-a
na vida do casal.
As duas próximas reuniões se debruçam sobre algu-
mas fragilidades e empecilhos que podem dificultar
a vivência da santidade e da missão que dela brota.
Estas dificuldades são de ordem concreta (econômica,
social, política e cultural) ou ideológica.
Em contrapartida, a quinta e a sexta reuniões abordam
a oração e a Eucaristia como exigências da santidade,
pois não existe santidade sem oração e sem Eucaristia.
A sétima reunião nos propõe sermos santos hoje, na
condição em que nos encontramos: casais unidos
pelo sacramento do matrimônio, rodeados de ale-
grias, realizações, fragilidades, sofrimentos.
Já a oitava reunião aponta, de forma positiva e encora-
jadora, o carisma das Equipes de Nossa Senhora como
uma possibilidade real de se alcançar a santidade.
Na Reunião de Balanço propõe-se um olhar constru-
tivo sobre a caminhada pessoal, do casal e da equipe
em direção à santidade e à missão.
Eis, esquematicamente, para este ano equipista a
proposta das nove reuniões:
10
1 Santidade
Objetivos:
● Refletir sobre a vocação de todo ser humano de alcan-
çar a santidade como um dom de Deus e uma tarefa
de cada um.
● Reconhecer que a santidade, graça de Deus, está ao
alcance de todos – do “mais frágil” ao “mais forte”.
● Comprometer-se a fazer de sua vida um caminho de
santidade no contexto em que está inserido e com as
características do seu próprio ser.
● Compreender que ninguém se santifica sozinho, mas
em comunidade.
Objetivos:
● Reconhecer o sacramento do matrimônio como um ca-
minho de santidade.
● Agradecer, como casal, pela conjugalidade que se cons-
trói nesta caminhada espiritual rumo à santidade.
● Comprometer-se como casal, um com o outro, no
aperfeiçoamento diário de seu caminho de santidade.
11
3 Fragilidades: cultura atual e
desigualdades sociais
Objetivos:
• Tomar consciência de que o caminho de santidade é
trilhado na concretude da vida, dentro de um contexto
cultural, socioeconômico e político específico.
• Identificar as fragilidades da cultura em contraponto
aos valores do Evangelho (as bem-aventuranças).
• Perceber que a vida de santidade é possível, apesar das
fragilidades de um mundo marcado por tantas desi-
gualdades entre pessoas e nações.
4 Inimigos da santidade:
gnosticismo e pelagianismo
Objetivos:
● Ter presente que a ação de Deus realiza a santificação
em nós.
● Reconhecer que a arrogância intelectual – gnosticismo
– e a prepotência farisaica – pelagianismo – são obstá-
culos no caminho de santidade.
● Reconhecer o gnosticismo e o pelagianismo como fra-
gilidades que muitas vezes nos afastam do nosso cami-
nho de santidade.
12
5 Oração: exigência de santidade
Objetivos:
● Compreender que não existe caminho de santidade
sem oração.
● Reconhecer que na oração e com a oração aprendemos
a servir o outro, caminhar na fé e fazer a vontade de
Deus.
● Comprometer-se com a vida de oração pessoal, conju-
gal e familiar.
Objetivos:
● Entender que a Eucaristia é o coração (o centro da vida)
da Igreja; que é a Eucaristia que faz a Igreja.
● Compreender que na Eucaristia estão o segredo e a for-
ça da santidade.
● Compreender que a Eucaristia não pode jamais ser se-
parada da vida concreta da pessoa, do casal, da família.
● Conscientizar-nos de que toda a nossa vida deve ser
eucarística.
13
7 Ser casal santo hoje
Objetivos:
● Agradecer a Deus pela nossa vocação à santidade como
casal.
● Reconhecer que o caminho de santidade se constrói na
gradualidade.
● Entender que a santidade deve ser vivida hoje, no nosso
tempo, diante dos nossos desafios.
8 Espiritualidade conjugal:
contribuição específica das ENS
para a santidade do casal
Objetivos:
● Alegrar-se pela espiritualidade conjugal, caminho de
santidade do casal.
● Comprometer-se com a vivência do carisma das ENS.
● Reconhecer a importância do Sacramento da Ordem, e
do acompanhamento espiritual, no caminho de santi-
dade dos casais.
14
9 Balanço
Objetivos:
● Compartilhar e revisar o caminho de santidade pessoal
e do casal vivido ao longo do ano.
● Compartilhar e revisar a caminhada da equipe durante
este ano, e sua contribuição para a santificação de cada
casal equipista.
● Realizar na equipe uma revisão do ano que termina em
relação à mística dos PCE e da Partilha.
● Reconhecer que o chamado à santidade do casal está
intimamente ligado à missão.
15
3) Palavra de Deus5
Depois do texto bíblico escolhido para cada reunião,
segue uma pequena reflexão, sendo desejável que a
Palavra de Deus seja vivida intensamente no período
que antecede a reunião mensal propriamente dita.
Está sendo proposta a Leitura Orante da Palavra de
Deus, ou Lectio Divina, como um elemento funda-
mental da vida espiritual de todo cristão casado.
Em anexo existe uma breve explicação do signifi-
cado dos quatro momentos ou degraus da Leitura
Orante da Palavra de Deus, que são:
a) Leitura:
ler, estudar, familiarizar-se com o texto;
b) Meditação:
descobrir o que Deus tem a me dizer;
c) Oração:
entrar em diálogo e comunhão amorosa com Deus;
d) Contemplação:
pôr em prática a Palavra de Deus, descobrindo
um “jeito novo” de ser e assumir a vida (compro-
misso transformador), especialmente naquele mês.
4) Textos de apoio
São apresentados dois textos que representam o nú-
cleo central do tema de cada reunião: um do Papa
Francisco e outro do Pe. Caffarel, e que permitem per-
ceber a grande proximidade de seus pensamentos.
Precede uma pequena apresentação dos textos ofe-
5 - O texto de referência da Bíblia Sagrada utilizada nas diversas reuniões corresponde
à tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, 1ª edição, 2018.
16
recidos, com o propósito de iniciar um aprofunda-
mento da temática abordada em cada reunião.
5) Orientações para preparar a Reunião de Equipe
Antecedendo algumas sugestões para a reunião
mensal, são transcritas reflexões do Pe. Caffarel
a partir do texto Ecclesia, conferência dirigida a
casais responsáveis das ENS do Brasil, em 1957,
que propõe um “olhar teológico” sobre a reunião
de equipe.6
Trata-se de um texto de extrema relevância para o
Movimento das Equipes de Nossa Senhora e para
cada equipe em particular, na medida em que es-
tabelece as condições básicas para que a reunião
de equipe seja uma verdadeira comunidade reunida
em nome de Cristo, ou seja, uma “pequena Igreja”.
É importante recordar, de acordo com o Guia das
Equipes de Nossa Senhora, que a reunião de equipe
se desenvolve em cinco partes:
a) A refeição
b) A oração e meditação
c) A Partilha dos Pontos Concretos de Esforço
d) A coparticipação
e) A troca de ideias sobre o tema de reflexão
Esta ordem pode mudar, de acordo com a vontade
e/ou necessidade da equipe. Contudo, são partes
ou momentos que precisam ser vividos dentro de
uma única reunião de equipe, com o objetivo de
preservar e fortalecer a pedagogia do Movimento.
17
5.1 - Acolhida e Motivação Inicial
Para o início da reunião de equipe é oferecido um
pequeno texto de motivação, para ser lido, por
exemplo, pelo casal animador da reunião.
5.2 - Coparticipação
Para a coparticipação, como um momento forte de
ajuda mútua, são oferecidas algumas pistas – de ca-
ráter vivencial – para cada reunião.
O objetivo é refletir – e dar-se a conhecer – sobre fa-
tos relevantes que aconteceram na vida de cada um
dos equipistas ao longo do mês que passou.
5.3 - Oração e Meditação da Palavra de Deus
Para cada reunião é sugerido um texto bíblico, sobre
o qual, e a partir da Leitura Orante realizada, cada
um deverá fazer a sua meditação e oração pessoal.
Ao final da meditação sugere-se que seja feita a Ora-
ção Litúrgica, preferencialmente a do Salmo Respon-
sorial da missa do dia da reunião. Essa oração em
comum nos coloca em sintonia com toda a Igreja.
5.4 - Partilha
A cada mês será destacado um PCE para ser vivi-
do de um modo mais especial em casal ou como
equipista. Desse modo, ao final do ano, teremos
a oportunidade de aprofundar a vivência de todos
os PCEs, e ser mais capazes de acolher o Espírito
Santo que age em nós e nos faz crescer na espiritu-
alidade conjugal.
Destaca-se, também, uma frase do Pe. Caffarel ou
de algum outro Sacerdote Conselheiro Espiritual das
ENS a respeito deste PCE, como também se sugere
a leitura de um documento sobre o PCE destaca-
18
do, em geral disponível na biblioteca ou livraria da
Super-Região ou Região ligada diretamente à ERI.
5.5 - Perguntas para a troca de ideias e experiências
Este momento não é para fazer reflexões teóricas
ou acadêmicas, porque a santidade é existencial, e
precisamos refletir em equipe como estamos confi-
gurando o nosso coração ao coração de Jesus Cristo
em nosso cotidiano.
Como a santidade é um caminho que se faz de for-
ma gradual, as perguntas foram elaboradas, na me-
dida do possível, para sugerir uma reflexão ao longo
das etapas de vida da pessoa ou do casal.
5.6 - Oração pela Canonização do Pe. Caffarel,
Magnificat e envio dos casais em missão
Concluindo a reunião, sugere-se que seja feita a ora-
ção pela canonização do servidor de Deus Pe. Henri
Caffarel (oração que se encontra em anexo), seguida
da oração do Magnificat e da bênção final.
A bênção no final da reunião é um ato de envio para
a missão e de despedida com as graças de Deus, que
é a Perfeição/Santidade que procuramos.
É de suma importância que todos retornem às suas
casas/famílias e ao convívio social, profissional e
eclesial com um compromisso, com esperança, com
a experiência de terem crescido na espiritualidade,
na fraternidade e com a decisão de ser testemunhas
do amor e da fidelidade de Deus.
19
Ressignificando Imagens
Quando estudamos as parábolas de Jesus e procuramos enten-
der cada uma delas, estamos, ainda que pertencentes a culturas
diferentes, procurando descobrir os pontos de semelhança entre
as situações da realidade e o significado espiritual. E Jesus quer ir
além, quer, através de uma história contada, apresentar uma ver-
dade singular, já que ainda não conhecemos completamente quem
é Deus e qual seu plano para nós. Para tanto, a Escuta da Palavra
aliada à linguagem da oração desperta-nos para a possibilidade da
Santidade, que jamais pode ser roubada ou afastada de nós cris-
tãos. Não desanimes, nos diz o Papa Francisco,”porque tens a força
do Espírito Santo para tornar possível a santidade”. (GE 15)
A imagem do 1º capítulo sugere a criação do primeiro casal,
Adão e Eva abrindo o caminho para nossa descendência
humana, e com este ato fazer-nos o convite para sermos Filhos
do Pai. ”Não é bom que o homem esteja só”. (Ge 2,18-24)
No 2º capítulo somos chamados à Santidade, deixando trans-
parecer que podemos participar do aconchego de um lar no
dia a dia e nos espelhar no exemplo da doação e santificação
de São José ao lado de Jesus Menino.
A possibilidade de Santidade, não como uma frágil meta visua-
lizada só no final de nossa existência, mas como um meio de
aperfeiçoamento cultivado diariamente, que nos faça abraçar
nossos entes queridos e aconchegá-los com o encanto e beleza
da história humana, é destacada no 3º capítulo.
Localizamos no 4º capítulo que a Palavra de Deus é Criadora, res-
ponde a nós todos com a primazia da Graça. Chama Santa Ana e
São Joaquim para participarem, também como criadores, do grande
mistério da Natividade, assegurando para a humanidade a certeza
de que na relação do amor entre o casal, encontra-se a Santidade.
No 5º capítulo o amor conjugal deve se estruturar na busca
de maior aproximação entre o casal e os dois com Deus. “Não
acredito na Santidade sem Oração”. (GE 147) Esta frase dita
20
pelo Papa Francisco é um alerta para nos dar credibilidade
nesta experiência. Momentos silenciosos de oração precisam
ser cultivados em solo firme, mas sempre acolhedor!
E no 6º capítulo, a chave é intensificar as qualidades positivas
desta experiência, através da Eucaristia, fonte inesgotável da
Santidade que nos impulsiona e nos completa como seres huma-
nos. Diz o Papa Francisco: “A Eucaristia ocupa um lugar central
na Igreja porque é precisamente ela que faz a Igreja”. (CCE 49)
O aspecto fundamental no 7º capítulo é afirmar que o sacra-
mento da Eucaristia, presente no matrimônio... é um dom
recebido de Deus para a santificação dos esposos (AL, 72) tor-
nando-os responsáveis um pelo outro. “Eis que estou convosco
todos os dias até o fim dos tempos”. (Mt 28,20)
No 8º capítulo a possibilidade de vida espiritual garante um
equilíbrio existencial, é realizada na Igreja, ativada ao lado do
outro e da comunidade. Desse modo, aproximamo-nos cada vez
mais de uma espiritualidade conjugal animada e iluminada pela
disponibilidade da Graça. Diz o Padre Caffarel: “A ciência e a
arte de se santificar no e pelo matrimônio... é a espiritualidade
conjugal”. (L' Anneau d' Or, 84)
A PEDRA Fundamental foi lançada, Deus criou o primeiro casal.
Adão e Eva não corresponderam, não entenderam a proposta da
santificação. Mas Deus enviou outros mensageiros que foram nos
preparando e traçando, ao longo da História, linhas de condutas
cristãs para assimilarmos enquanto pessoas, casal e comunidades.
Um aprendizado difícil, doloroso, mas vitorioso quando então nos
envia Jesus seu Filho que vem nos acompanhando espiritualmente
com mensagens, nos ajudando a vencer as diversas rupturas de
elos que nos unem uns aos outros e que frequentemente nos afas-
tam da reconciliação com nosso Pai. O reencontro com a alma rea-
liza o encontro com Deus e é desta experiência de contato que se
cria a possibilidade da Santidade. ”Pois esta é a vontade de Deus:
a vossa santificação”. (LG 39) A alma é a ponte pela qual se tem
acesso ao Espírito e coloca-nos de volta para casa , onde o poder
da beleza de uma vida cristã pode estar adormecido, mas "existem
belas e impetuosas forças dentro de nós" (São Francisco de Assis).
Maria Alice do Val Barcellos
21
William Blake
(1757-1827)
Adão e Eva
(O Anjo da presença divina
vestindo Adão e Eva com peles)
Introdução Geral
É lapidar esta frase do Pe. Henri Caffarel, referindo-se aos
objetivos das ENS: “As Equipes de Nossa Senhora têm
por objetivo essencial ajudar os casais a caminhar para
a santidade: nem mais, nem menos”.7
É como o Papa Francisco inicia sua Exortação Apostólica
Gaudete et Exsultate: “Deus quer-nos santos e espera que
não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e
indecisa”. (GE, 1)
Trata-se de um chamado a todos, sem distinção: “Pois esta
é a vontade de Deus: a vossa santificação”. 8
24
A vocação à santidade, aspiração e desejo dos seguidores
de Jesus Cristo, decorre do desígnio e da graça de Deus,
uma vez que pelo batismo todos se tornam filhos de Deus e
participantes da natureza divina. Por isso, é necessário que
todo batizado – pela graça de Deus – guarde e aperfeiçoe
em sua vida a santidade que recebeu.9
Não é necessário que pensemos na santidade como um
conjunto de gestos extraordinários ou modos de agir inco-
muns, raros, distantes da vida das pessoas simples com as
quais convivemos.
Cada um de nós é chamado à santidade. Cada um é chama-
do à santidade no seu estado de vida. Cada um percorre um
caminho próprio e particular de santidade. É importante,
portanto, compreender que cada um tem seu próprio cami-
nho, único e irrepetível, de acordo com sua missão: seja a
pessoa individualmente ou o casal.
“Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com
pequenos gestos” (GE, 16), de amor e partilha, de doação, de
abnegação, de oração, de participação nos sacramentos, de
vida em comunidade, de testemunho, de cuidado do outro,
vivendo e realizando a mensagem de Jesus que Deus quer de
cada um ao longo de sua vida aqui no mundo. Tudo sendo
realizado a partir de um “espírito de santidade”, aberto à
ação sobrenatural que purifica e ilumina. (GE, 31)
A vocação de todo batizado à santidade está ligada a Cristo.
N’Ele tem seu fundamento e sua razão de ser, e somente
n’Ele pode ser adequadamente compreendida. Jesus Cris-
to é o protótipo, o paradigma, o critério e o parâmetro da
busca de santidade de cada cristão. Somos chamados a dei-
xar transparecer no dia a dia da nossa vida o rosto do Mes-
tre, isto é, a nos configurarmos a Ele.
9 - Idem, nº 40.
25
Capítulo
1
O Papa Francisco ressalta: “Não tenhas medo da santidade.
Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo con-
trário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te
criou e serás fiel ao teu próprio ser". (GE, 32)
E continua o Papa: “Não tenhas medo de apontar para mais
alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas
medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade
não te torna menos humano, porque é o encontro da tua
fragilidade com a força da graça. No fundo, (...) na vida
‘existe apenas uma tristeza: a de não ser santo’”. (GE, 34)10
Texto Bíblico
Mateus 5, 43-48
Ouvistes o que foi dito: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu
inimigo!" Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso
Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e
bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somen-
te aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os
publicanos o mesmo? E se saudais somente os vossos irmãos,
que fazeis de extraordinário? Não fazem os gentios o mesmo?
Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito.
10 - Nesta passagem, o Papa Francisco cita León Bloy, escritor católico francês em:
A Mulher Pobre (Régio Emília 1978), II, 375.
26
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. (Mt 5,48)
Cristo convida-nos a amar sem medida, que é a medida
do amor verdadeiro. Não o amor interesseiro, que usa de
uma “calculadora” para ver se vale a pena ajudar o outro.
Assim, a perfeição proposta por Jesus é o amor gratuito,
incondicional, magnânimo, e não o que convém por espe-
rar algo em troca.
Esta Palavra nos ensina que a fonte original e a medida da
santidade estão em Deus, porque só pelo amor divino é
que podemos ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito.
Como somos humanos, imperfeitos e pecadores, Jesus
nos pede a perfeição (a santidade) por meio da prática do
amor, amando nossos inimigos, orando por aqueles que
nos perseguem, sendo diferentes dos gentios e publica-
nos. Na verdade, devemos então amar sem distinção.
Na cruz, Jesus perdoou todos aqueles que tiraram sua
vida. Do mesmo modo, para sermos perfeitos, temos
que perdoar aqueles que tiram vidas; aqueles que co-
metem violências contra indefesos e inocentes; aqueles
que nos ofendem e nos tratam mal; aqueles que não
são gentis; aqueles que são indiferentes; aqueles que
nos prejudicam.
“Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece
em Deus e Deus nele”. (1Jo 4,16) De acordo com o Papa
Bento XVI, em sua Carta Encíclica Deus Caritas Est, “essas
palavras exprimem, com singular clareza, o centro da fé
cristã [...]”. (nº 1)
27
Capítulo
1
Por que será que Lucas, ao tratar do mesmo tema – o
amor aos inimigos –, substitui a expressão de Mateus:
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” pela:
“Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordio-
so”? (Lc 6,36)
Na verdade, é para nos mostrar que é na proximidade
compassiva com os pequeninos, os rejeitados e os pecado-
res que Jesus revela de maneira especial a “perfeição” e a
“santidade” de Deus como Pai. E nos convida a aprender
a agir no estilo do Pai e Dele mesmo, com a finalidade de
nos tornarmos “filhos do Pai que está nos céus”.
A santidade de Deus não é somente exemplo inspirador
para cada um de nós cristãos. Ela atua a partir do nos-
so interior quando traduzimos nossos gestos concretos de
amor e partilha, no cotidiano da vida, em favor do outro,
seja de alguém que nos ama ou de nossos inimigos.
Cristo nos sugere que o “caminho cristão” rumo à per-
feição, à santidade, é um caminho nunca acabado, e que
precisamos percorrê-lo com nossos olhos postos neste
Deus santo que nos espera no final de nossa viagem ter-
rena. Nunca seremos perfeitos igual a Deus. Contudo, o
chamado à perfeição deve ser o parâmetro a nos guiar em
nossa jornada rumo à pátria celeste.
Por isso, temos que pedir ao Senhor que derrame sobre
nós um “espírito decidido”, espírito que anime e santi-
fique, todos os dias, as nossas novas proposições, pois é
preciso decidir-se pela santidade todos os dias, escolhê-la
a cada dia.
28
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Com frequência somos levados a pensar que a santidade é
uma meta reservada a poucos escolhidos. A pergunta que
se coloca, então, é a seguinte: o que significa ser santo?
Quem é chamado a ser santo?
O Papa Francisco afirma que “não há nada de mais escla-
recedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu
modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a
simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou
as bem-aventuranças”.11 (GE, 63)
Para Jesus, “a palavra ‘feliz’ ou ‘bem-aventurado’ torna-se
sinônimo de ‘santo’, porque expressa que a pessoa fiel a
Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si
mesma, a verdadeira felicidade”. (GE, 64)
O papa Bento XVI, em uma de suas catequeses sobre a
santidade, diz que “a santidade, a plenitude da vida cristã,
não consiste em realizar empreendimentos extraordiná-
rios, mas em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios,
em fazer nossas as suas atitudes, pensamentos e compor-
tamentos. A medida da santidade é dada pela estatura que
Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Es-
pírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a sua”.12
Neste contexto, as bem-aventuranças são como que o “bi-
lhete de identidade do cristão”. Ser um bom cristão, que
procura viver uma vida santa, é fazer “aquilo que Jesus
disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está deli-
neado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar
transparecer no dia a dia da nossa vida”. (GE, 63)
29
Capítulo
1
Quando olhamos para a vida e obra do Pe. Caffarel,
vemos que ele tinha a santidade como uma exigência
pessoal, tanto para o serviço que realizava quanto para
sua vida espiritual.
Era um “sedento de Deus”.13 Esta sede do Deus vivo, que
era uma de suas obsessões, ele queria que os casais das
Equipes de Nossa Senhora também a tivessem e que fos-
sem verdadeiros “buscadores de Deus”, apaixonados por
Deus, para os quais Deus interessa acima de tudo, e que
sempre procurassem o essencial: Jesus Cristo.14
O que é, então, santidade? Como nos esclarece a Exortação
Apostólica Gaudete et Exsultate: (67-94)
• Ser pobre no coração: isto é santidade.
13 - Jean Allemand. Henri Caffarel: um Homem Arrebatado por Deus. São Paulo,
ENS – Super-Região Brasil.
14 - Pe. Henri Caffarel. “Um amor que dá testemunho do Deus amor”, publicado em
Centelhas de sua Mensagem. São Paulo, ENS – Super-Região Brasil, p. 30.
30
Texto do Papa Francisco 15
31
Capítulo
1 Texto do Pe. Caffarel
A “tentação da santidade”.16
Proponho-me, pois, a dar-vos uma introdução à “espi-
ritualidade do cristão casado”. Mas, desde o início, rea-
firmemos que: não há várias santidades; há apenas uma
perfeição cristã. São Tomás de Aquino definiu-a assim:
“Todo ser é perfeito desde que atinja a sua finalidade, que
é a sua última perfeição; ora, a última finalidade da vida
humana é Deus e é a caridade que nos une a Ele, segundo
as palavras de S. João: ‘Aquele que permanece na carida-
de está em Deus e Deus nele’. É, pois, especialmente na
caridade que consiste a perfeição da vida cristã”. Para o
leigo, para o religioso, a santidade é a mesma, define-se
do mesmo modo.
Todo cristão – e, portanto, também todo cristão casado –
é chamado à perfeição.
No entanto, é necessário reconhecer que, quando tomam
consciência disso, os leigos entram por vezes em pânico
diante desta perspectiva da santidade. Nada é tão impres-
sionante [e reveladora deste pânico] como esta confissão
de Jacques Rivière: “Meu Deus, afasta de mim a tentação
da santidade. Não é para mim. Contentai-vos com uma
vida pura e paciente que eu farei todos os esforços para
vos dar. Não me priveis das alegrias deliciosas que conhe-
ci, que tanto amei, que tanto aspiro a reencontrar. Não
confundais. Eu não sou da espécie que precisas. Eu sou
casado e pai, sou escritor. Não me tenteis com coisas im-
possíveis. Perderia o meu tempo nisso – tempo que posso
empregar de outra forma ao teu serviço!”.
16 - Pe. Henri Caffarel. Por uma Espiritualidade do Cristão Casado. L’Anneau d’Or,
nº 84, 1958.
32
Orientações para Preparar
a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:
33
Capítulo
1
Ao iniciarmos nossa primeira reunião, devemos ter bem
presente que a santidade não é algo que nós procuramos,
que obtemos com as nossas qualidades e as nossas ca-
pacidades. A santidade é um dom que nos dá o Senhor
Jesus, quando nos toma consigo e nos reveste de si mes-
mo, quando nos torna como Ele.
A santidade é a face mais bela da Igreja: é viver em comu-
nhão com Deus, na plenitude da sua vida e do seu amor. A
santidade é um dom que é oferecido a todos; ninguém é ex-
cluído, pelo qual constitui o caráter distintivo de cada cristão.
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar de forma simples e concreta pelo menos
um gesto ou atitude simples que tivemos (pessoal e/ou
do casal) e que contribuiu para o nosso caminho rumo
à santidade.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
34
Partilha
Devemos nos lembrar que na origem dos Pontos Concre-
tos de Esforço (PCEs) está a convocação do Senhor de
“sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. É o
apelo audacioso a ser radicalmente fiel a Deus, a andar
nos seus caminhos, a responder ao seu Amor. Portanto,
os PCEs constituem uma verdadeira pedagogia para a fe-
licidade, a santidade e o crescimento na vida espiritual do
casal cristão.
Vamos nos lembrar de que a vivência dos PCEs leva em
conta três linhas mestras sugeridas pela pedagogia do
Movimento das ENS:
• A gradualidade: querer (desejo de) progredir em seu
crescimento espiritual.
35
Capítulo
1
Afirma o Pe. Bernard Olivier:17
“A Partilha quer ser uma comunicação em profundidade
sobre a vida centrada sobre os PCEs. São justamente es-
ses pontos que são as vigas mestras da vida interior do
casal. É preciso, portanto, centrar a Partilha sobre esses
pontos, sabendo, porém, ultrapassá-los para comunicar
verdadeiras experiências de vida e para poder ajudar-se
mutuamente em profundidade. Não se deve, portanto,
contentar-se em dizer se observaram ou não os PCEs,
mas, partindo daí, fazer uma verdadeira partilha de vida”.
Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é santidade, ou uma discussão acadêmica
de como cada um deve se comportar ou viver no seu
dia a dia para aperfeiçoar seu caminho de santidade.
Vamos conversar em equipe – como forma de entreajuda
– sobre como vivemos ou procuramos viver a santidade
no nosso cotidiano.
17 - Pe. Bernard Olivier foi Conselheiro Espiritual da ERI – Equipe Responsável
Internacional no período de 1986-1994. Coordenou um projeto sobre
Sexualidade Conjugal no âmbito do Movimento das ENS.
36
• Você, na sua juventude, alguma vez pensou que gosta-
ria de ser santo? Seja afirmativa ou negativa a respos-
ta, conte para sua equipe.
Magnificat
37
Murillo
Bartolomé Esteban Murilo (1617-1682)
La Sagrada Família del Pajarito
Nascido em Sevilha, na Espanha, Murillo pertencia a
uma família numerosa, mas logo cedo ficou órfão, sen-
do criado por sua irmã. Iniciou seus estudos artísticos aos
17 anos. Seu talento começa a aparecer em abordagens
bem realistas. Tornou-se um pintor de grande expressão
e um dos mais conhecidos de toda a Europa. Morreu
em Sevilha, aos 64 anos. Mais detalhes da vida de
Murillo podem ser encontrados no Livro Tema de
2019 – (Reconciliação, Sinal de Amor, pág. 111).
O título da obra em questão origina-se no detalhe
do passarinho que Jesus segura na mão. A cena é
um ambiente bem familiar da época, como se o
pintor retratasse a sua própria casa. Ausência de
elementos celestes ou divinos, como se costuma-
va apresentar em temas dessa natureza. Jesus
brincando é a figura principal, e é apresenta-
do sob uma luz intensa, provocando muitos
contrastes de luz e sombra. Acompanhado
pelo pai e pela mãe. José é retratado nesta
obra também como uma das principais fi-
guras da cena, e isso foi graças a um deba-
te teológico sobre o papel que José havia
desempenhado na vida de Jesus. Inicial-
mente, pensava-se que ele não tivesse
participado da educação de Jesus. No
entanto o tempo mostrou que ele teve
papel muitíssimo importante na vida
de Jesus e, como resultado, nessa
obra ele é representado como o pai
ideal, com um rosto inteligente, pa-
ciente e amoroso.
Capítulo
2 Caminho de
Santidade em Casal
Objetivos
• Reconhecer o sacramento do matrimônio como um ca-
minho de santidade.
Introdução Geral
O objetivo da vida conjugal, que une os corações de um
homem e de uma mulher que se amam pelo sacramento
do matrimônio, e que os une na unidade e na indissolu-
bilidade, “não é apenas (o de) viver juntos para sempre,
mas (o de) amar-se para sempre. [...] Só à luz da loucura
da gratuidade do amor pascal de Jesus é que parecerá
compreensível a loucura da gratuidade de um amor con-
jugal único e usque ad mortem” (até a morte).18
40
O casal alcança pouco a pouco, dia a dia, com a graça de
Deus, sua santidade através da vida matrimonial e familiar,
enquanto participante da cruz de Cristo, que transforma
as dificuldades e os sofrimentos em oferenda de amor.
Os esposos tornam-se capazes de levar uma vida santa
pela graça de Deus.19
Pe. Caffarel dizia que “as graças do matrimônio serão
estéreis sem a cooperação dos esposos”, isto é, suas
riquezas espirituais ficam soterradas e improdutivas
quando o casal não coopera com as graças conjugais
recebidas de Deus pelo sacramento. Por isso, o caminho
de santidade do casal cristão é um “caminho do amor”,
em que os esposos se amam sempre mais e melhor. É a
graça de Deus que “convida ao melhor amor; e o me-
lhor amor abre-se mais largamente à graça de Deus”.20
Como afirma Pe. Olivier, “a comunhão profunda no
seio de um verdadeiro casal é, sem dúvida, uma das
experiências mais ‘gratificantes’ e das que mais con-
tribuem para o desabrochar do casal. É uma fonte de
grande felicidade”. 21
Portanto, a vida conjugal é um pacto de amor, com
elevado significado espiritual, em que cada cônjuge é
para o outro sinal e instrumento da proximidade do
Senhor, que não os deixa sozinhos neste caminho de
santidade. “Estou convosco todos os dias, até o fim
dos tempos”. (Mt 28,20)
41
Capítulo
2 Texto Bíblico
Gênesis 2,18-24
42
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá
à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. (Gn 2,24)
43
Capítulo
2
O Catecismo da Igreja Católica (CIC), ao afirmar que Deus
criou o homem e a mulher em perfeita igualdade, ensi-
na que foram criados e feitos um para o outro: “Criou-os
para uma comunhão de pessoas, na qual cada um dos dois
pode ser ‘ajuda’ para o outro, por serem ao mesmo tem-
po iguais enquanto pessoas (“osso de meus ossos...”) e
complementares enquanto masculino e feminino. No ma-
trimônio, Deus os une de maneira que, formando ‘uma só
carne’ (Gn 2,24), possam transmitir a vida humana: ‘Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra’ (Gn 1,28). Ao
transmitirem a seus descendentes a vida humana, o ho-
mem e a mulher, como esposos e pais, cooperam de forma
única na obra do Criador”. (CIC, 372)
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
O matrimônio cristão é um sacramento de santificação mú-
tua para cada um dos cônjuges. Por isso, a vida conjugal é
um caminho de santidade, um meio original de santificação
para os cônjuges. O amor conjugal é purificado e santifica-
do em virtude do mistério da morte e ressurreição de Cristo,
dentro do qual se insere o matrimônio cristão, afirma São
João Paulo II.23
Não se pode falar em santidade na vida conjugal sem viver,
segundo o espírito de Cristo, a realidade que a constitui e
as exigências que traz consigo, o que significa dizer que do
sacramento do matrimônio derivam para os cônjuges tanto
o dom e a graça de Deus quanto a obrigação de viver no
dia a dia a santificação recebida por meio deste pacto ou
aliança de amor.
23 - Exortação Apostólica Familiaris Consortio (A Missão da Família Cristã no
Mundo de Hoje), nº 56.
44
O dom de Deus não se esgota na celebração do matrimô-
nio, mas acompanha os cônjuges ao longo de toda sua
existência, o que fez São João Paulo II afirmar que “quem
não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar
deveras um só dia”.24
O amor conjugal, que marca um estilo de vida, é uma exi-
gência interior, “é uma pertença do coração”, lá onde só
Deus vê. (cf. Mt 5, 28) Assim, “cada manhã, quando se
levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta decisão de
fidelidade, suceda o que suceder ao longo do dia. E cada
um, quando vai dormir, espera levantar-se para continuar
esta aventura, confiando na ajuda do Senhor”. (AL, 319)
45
Capítulo
2
O Papa Pio XI ensinava que este amor permeia todos os
deveres da vida conjugal e “detém como que o prima-
do da nobreza”. Com efeito, este amor forte, derramado
pelo Espírito Santo, é reflexo da aliança indestrutível en-
tre Cristo e a humanidade que culminou na entrega até
ao fim na cruz. “O Espírito, que o Senhor infunde, dá um
coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se
amarem como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge
assim aquela plenitude para a qual está interiormente or-
denado: a caridade conjugal”. (AL, 120)
46
querem aprender a amar cada vez mais, só existe um bom
conselho: procurem Deus, amem Deus, unam-se a Deus,
cedam-Lhe todo o espaço.
Quem se separa de Deus, perde o amor. Pelo contrário, este
cresce à medida que cresce o amor a Deus. A união conju-
gal vale, em qualidade humana e em qualidade de eternida-
de, o que vale a união dos esposos com Deus.
Quanto mais se abrirem ao Deus de amor, tanto mais rica
será a troca de amor entre eles. À sua frente existem pers-
pectivas infinitas: seu amor nunca deixará de crescer, visto
que podem unir-se mais totalmente ao dom de Deus. Se
quiserem que seu amor seja uma chama viva, sempre mais
alta, que amem cada dia mais a Deus.
É pela oração e pelos sacramentos que os esposos bebem
nas fontes da graça divina. A Penitência mantém a transpa-
rência dos seus corações, e o germe de fogo que a Eucaris-
tia deposita em cada um ilumina e aquece a vida conjugal.
O declínio de muitos amores explica-se pelo esquecimento
desse princípio fundamental, que é afastar-se de Deus e pe-
car contra Ele; é pecar contra o amor separando-se da fonte
do amor. Recusar-se a Deus é recusar ao cônjuge seu pão
cotidiano: o amor. Mente aquele que diz que tem estima
pelo amor enquanto despreza o amor.
47
Capítulo
2
Quando vocês estão reunidos, à noite, em casa de um
equipista para a reunião mensal, escutem Cristo perguntar
a todos: “Credes? Será feito na medida da vossa fé”. De-
pende de sua fé que a reunião seja uma Ecclesia.
Daí a necessidade, muito importante, de fazer adquirir aos
membros de sua equipe esta visão de fé. Que não olhem a
sua reunião como um encontro qualquer, mas que, pouco
a pouco, tenham acesso a esta visão de fé de que falamos;
que tomem consciência desta misteriosa presença de Cris-
to entre eles.
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, um gesto ou
atitude que tivemos, e que contribuiu para o nosso ca-
minho rumo à santidade em casal.
48
Leitura da Palavra de Deus e Meditação
Gênesis 2,18-24
Ver o texto bíblico na página 42.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
Partilha
• Os PCEs, ao serem assumidos e vivenciados pelo casal,
vão provocar um novo modo de pensar, sentir e agir,
criando nele algumas atitudes de vida. Essas atitudes
são essencialmente três:
49
Capítulo
2
• Se os casais desejarem saber um pouco mais sobre
como melhorar a vivência dos PCEs e realizar com mais
fidelidade a Partilha durante a reunião de equipe, pro-
curem ler o documento MÍSTICA DOS PONTOS CON-
CRETOS DE ESFORÇO E PARTILHA, disponível no site:
ens.org.br (Livraria).
O que é a Partilha?27
Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
50
• Como a chegada e o cuidado com os filhos influenciam
na busca e na vivência da santidade do casal?
• Os vários anos de casados – ou os poucos anos de ca-
sados – ajudam ou dificultam na vivência da santidade?
Quais são as principais dificuldades?
• A aposentadoria e o “ninho vazio”28 facilitam ou atra-
palham o anseio de viver a santidade em casal?
Magnificat
51
Gustav Klimt (1862-1918)
A Família
Klimt foi um pintor simbolista austríaco, líder do Movimento
da Secessão de Viena – grupo de artistas contrários ao aca-
demismo da pintura. Ele nasceu em Viena, Áustria Impe-
rial, filho de Ernest e Anna, o segundo de sete filhos.
Ingressou na Escola de Artes e Ofícios de Viena, aos 14 anos,
e em 1879, juntamente com outros, começa a auxiliar seu
professor na pintura de murais para o átrio do Museu de
História da Arte de Viena. Em 1880 recebe encomendas de
trabalhos, entre elas quatro alegorias para o Palácio Stu-
rany em Viena, as Termas de Karlsbad na Tchecoslováquia
e a decoração da Villa Hermès.
Em 1886, o estilo de Gustav começou a se diferenciar, ini-
ciando um processo de afastamento de todo o academismo
aprendido na escola. E assim, engajado numa nova pers-
pectiva, desenvolveu trabalhos de cunho decorativo, ga-
nhando grande visibilidade e sendo solicitado para decorar
prédios e instituições, como a decoração do teto e das esca-
darias do imponente Teatro Municipal de Viena.
Em 1894, recebeu a tarefa de pintar diversos painéis para o
auditório da Universidade de Viena representando as figu-
ras da Filosofia, Medicina e Jurisprudência.
Seus trabalhos mais famosos pertencem à “fase dourada”,
em que utiliza folhas de ouro e retrata principalmente mu-
lheres adornadas por pequenos objetos e formas geométri-
cas, como no “Retrato de Adele Bloch-Bauer” (1907) e “O
Beijo” (1907-1908), sua obra-prima.
Com seu estilo rebelde de viver, Gustav Klimt tornou-se
uma figura exótica, por muitos anos tentou, sem sucesso,
ser admitido na Academia de Arte de Viena, mas só em
1917 recebeu o devido reconhecimento. Faleceu em Viena,
em fevereiro de 1918.
Capítulo
3
FRAGILIDADES:
Cultura Atual e
Desigualdades Sociais
Objetivos
• Tomar consciência de que o caminho de santidade é
trilhado na concretude da vida, dentro de um contexto
cultural, socioeconômico e político específico.
• Identificar as fragilidades da cultura em contraponto
aos valores do Evangelho (as bem-aventuranças).
• Perceber que a vida de santidade é possível, apesar das
fragilidades de um mundo marcado por tantas desi-
gualdades entre pessoas e nações.
Introdução Geral
Vivemos hoje, em cada um de nossos países, uma realida-
de marcada por grandes mudanças que afetam profun-
damente a sociedade e suas instituições. São diversos os
fatores determinantes dessas mudanças, que acontecem
de forma cada vez mais vertiginosa em quase todos os
setores e que são comunicadas com grande velocidade a
todos os cantos do planeta.
54
Essas mudanças atingem as pessoas, as famílias e os ca-
sais, os seus valores, o seu estilo de vida, a sua maneira
de julgar as coisas e de se relacionar com Deus, com o
próximo e com a natureza.
55
Capítulo
3
Como cristãos e discípulos de Jesus, temos que cuidar das
diferentes situações de fragilidade e vulnerabilidade hu-
manas, onde podemos reconhecer Cristo sofredor. Como
cristãos e discípulos de Jesus, somos convocados, na espe-
cificidade do papel que cada um ocupa na Igreja e na so-
ciedade, a respeitar e promover os direitos fundamentais de
cada ser humano, especialmente os direitos daqueles que
passam fome e sede, estão doentes e nus, são estrangeiros
ou migrantes, estão presos ou sofrem tortura, são excluídos
de uma educação adequada, são privados de um trabalho
digno ou forçados a trabalhar como escravos, sofrem de
abuso sexual, vivem à margem da sociedade e em condi-
ções desumanas.
O que Jesus Cristo mais buscou, quando esteve entre nós,
foi a felicidade das pessoas, anunciando-lhes o Reino de
Deus e sua presença entre nós, quando praticamos em nos-
so dia a dia as bem-aventuranças.
Somos chamados, pela nossa fé e testemunho, a contribuir
e a encorajar as pessoas no seu desejo de Deus e em sua
vontade de sentir-se plenamente parte de uma Igreja viva e
comprometida com os valores do Evangelho. No contexto
cultural atual, marcado por tantas desigualdades sociais, pre-
cisamos primeiramente nos reencantar com a beleza da vida
humana, do matrimônio cristão e da família e, consequente-
mente, reencantarmos o mundo com esses mesmos valores.
Eis o nosso desafio! Não tenhamos medo, saiamos...”
Texto Bíblico
Mateus 5, 1-12
Ao ver as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os
seus discípulos aproximaram-se dele. Então, abrindo a boca,
começou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres
56
no espírito, pois deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados
os que choram, pois eles serão consolados. Bem-aventura-
dos os mansos, pois eles herdarão a terra. Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão
misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, pois
eles verão Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz,
pois eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados
os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino
dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem
e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós
por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a
vossa recompensa nos céus, pois deste modo perseguiram
os profetas que vos precederam.
57
Capítulo
3
Ao tempo de Jesus, no seio da cultura do judaísmo, tam-
bém estavam presentes costumes contrários à santidade.
Nesse ambiente, Jesus inicia sua pregação que atrai mul-
tidões. Um dia, “subiu à montanha” e pôs-se a ensinar
à multidão reunida. E resume nas bem-aventuranças um
plano de santificação. Jesus é radical na sua proposta, mas
quem adere a ela, e se esforça em pô-la em prática, é feliz.
Ele nos apresenta a santidade como felicidade, a verdadei-
ra alegria do discípulo, alegria que se torna missão.
Muitas vezes podemos ler as bem-aventuranças perceben-
do nelas uma obrigação pesada, e não escutamos a pala-
vra “felizes”, nem os porquês da felicidade. O chamado de
Jesus que refletimos na primeira reunião, “sede perfeitos
como o Pai Celeste é perfeito” (MT 5,48), tem nas bem-
-aventuranças uma plataforma de ações para “tendermos
à santidade”. Na verdade, é uma proposta para termos
atitudes contra a cultura das várias formas do “politica-
mente correto”, um plano para “nadar contra a corrente”
dos comportamentos que esquecem Deus e os seus filhos.
São comportamentos inadequados, vestidos de roupagens
atraentes, que, se não houver vigilância, acabarão se tor-
nando o agir de muitos cristãos.
Ao “escutar” as bem-aventuranças, temos um conselho
do Papa Francisco: “Permitamos-Lhe (a Jesus) que nos
fustigue com as suas palavras, que nos desafie, que nos
chame a uma mudança real de vida. Caso contrário, a san-
tidade não passará de palavras”. (GE, 66)
O Papa Francisco, falando sobre os grandes problemas so-
ciais e econômicos do mundo hoje, em especial a fome e as
migrações dos que fogem da fome, das guerras e persegui-
ções, coloca as ações em favor dos necessitados como atos
de misericórdia, atos de amor, cujos primeiros beneficiados
são os que doam, são os que acolhem. E cita Santo To-
más de Aquino: “...a misericórdia, pela qual socorremos as
58
carências alheias, ao favorecer mais diretamente a utilidade
do próximo, é o sacrifício que mais agrada a Deus”. (GE, 106)
Este Evangelho convida a refletir sobre as desigualdades
existentes em nossa sociedade e como a Palavra de Deus,
diante dos fatos, ilumina a atitude de quem busca a san-
tidade; ilumina as ações de quem deseja estar em com-
panhia dos que receberão de Jesus o chamado: “Vinde
benditos de meu Pai”.
É importante viver em casal o espírito de pobreza. Quantas
desavenças, brigas e até separações de casais acontecem
por um apego excessivo ao dinheiro, ou pela sua falta!
Quanto sofrimento, quando não há mansidão no relacio-
namento diário do casal e deste com os filhos! Quanto
rancor e quantas brigas no casal e na família, se não reinar
entre eles um espírito de amor misericordioso e compassi-
vo com quem errou, capaz de perdoar! A felicidade passa
pela cruz, mas está além dela, como testemunha o próprio
Jesus Cristo.
Durante o mês podemos refletir, a cada vez, sobre uma
bem-aventurança, e meditar sobre como os cônjuges a
estão vivenciando, como casal, como pais, avós... como
membros de uma comunidade, como cidadãos da pátria...
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
59
Capítulo
3
Podemos então afirmar que as bem-aventuranças nos infor-
mam onde devemos olhar para descobrir os sinais da pre-
sença deste Reino de Deus no mundo em que vivemos e nos
falam da necessidade de cuidar do outro, principalmente
dos mais vulneráveis, de ser uma Igreja em saída, isto é,
ser um cristão e discípulo de Jesus que vai ao encontro do
irmão e da irmã feridos em sua dignidade, em seus direitos,
em sua natureza humana e divina.
30 - Papa Bento XVI. Carta Encíclica Deus Caritas Est (sobre o amor cristão).
60
Texto do Papa Francisco
[...] Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser san-
to; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5,
3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que o bilhete de identi-
dade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre
“como fazer para chegar a ser um bom cristão”, a respos-
ta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo –
aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças.
Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chama-
dos a deixar transparecer no dia a dia da nossa vida. (GE, 63)
A palavra “feliz” ou “bem-aventurado” torna-se sinônimo
de “santo”, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e
que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a
verdadeira felicidade. (GE, 64)
Estas palavras de Jesus, não obstante possam até parecer
poéticas, estão decididamente na contracorrente ao que é
habitual, àquilo que se faz na sociedade; e, embora esta
mensagem de Jesus nos fascine, na realidade o mundo
conduz-nos para outro estilo de vida. As bem-aventuran-
ças não são, absolutamente, um compromisso leve ou su-
perficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito
Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da
fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho. (GE, 65)
Poder-se-ia pensar que damos glória a Deus só com o culto
e a oração, ou apenas observando algumas normas éticas
(é verdade que o primado pertence à relação com Deus),
mas esquecemos que o critério de avaliação da nossa vida
é, antes de mais nada, o que fizemos pelos outros. A ora-
ção é preciosa, se alimenta uma doação diária de amor.
O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os
61
Capítulo
3
propósitos de viver com generosidade e quando deixamos
que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos ir-
mãos. (GE, 104)
Pela mesma razão, o melhor modo para discernir se o nos-
so caminho de oração é autêntico será ver em que medida
a nossa vida se vai transformando à luz da misericórdia.
(...) A misericórdia “é a chave do Céu”. (GE, 105)
31 - Pe. Henri Caffarel. Carta Mensal francesa, nº 3, março de 1948. Este texto
também pode ser encontrado em Textos Escolhidos do Padre Caffarel, Tema
de Estudo de 2009, capítulo 4.
62
Não esqueçamos as palavras de Cristo: “Se alguém quer vir
após mim, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz
e siga-me” (Lc 9,23), nem as de São Paulo: “Os judeus pe-
dem sinais e os gregos andam em busca de sabedoria; nós,
porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus é
escândalo e para os gentios loucura.” (1 Cor 1, 22-23).
O equilíbrio cristão exprime-se pelo binômio paulino: Mor-
te-Ressurreição. Se eliminarmos ou subestimarmos um dos
dois termos, deformaremos a espiritualidade cristã.
Vocês estão certos em querer apresentar aos não crentes
a face alegre e forte do amor e da fé. Não esqueçam, con-
tudo, que a Paixão precede a Ressurreição, que a alegria é
fruto da Cruz. “Aquele que não toma cada dia a sua cruz”,
ou seja, aquele que não mortifica constantemente um ego-
ísmo sempre renascente, que não acolhe os sofrimentos,
pequenos ou grandes, como sendo meios de purificação,
não oferecerá jamais o espetáculo de um amor radiante, de
uma religião sedutora.”
2ª Condição: Ruptura
Quem diz Ecclesia, diz convocação: convocação de Deus,
chamamento aos seus.
Se vamos à reunião de equipe, é porque Deus, é porque
Cristo convocam. Ora, quem diz convocação, chamado, diz
também partida, ruptura com aquilo a que estamos ligados.
63
Capítulo
3
Quando Cristo passa e diz ao funcionário da alfândega
Levi: “Vem e segue-me!”, Levi deixa os seus companheiros
e segue a Cristo. [...]
Da mesma forma, não há reunião cristã que não deva ser
uma partida, uma ruptura com tarefas que, muitas vezes,
nos prendem um pouco longe de Deus. Uma ruptura, em
todo o caso, com preocupações que não são mais cabíveis
quando se está na assembleia cristã, ou, simplesmente,
uma ruptura com a casa e com os filhos. Ruptura exterior,
sim, mas que significa uma ruptura interior, que quer dizer
partir em direção a Deus, para conhecer a Deus, para dele
nos aproximarmos e, portanto, uma purificação. [...]
Acentuemos aqui que seria preciso que cada um dos mem-
bros da equipe tivesse a preocupação de levar para a reu-
nião uma alma disponível.
64
vida com o Senhor (vida interior) com a prática das obras
de misericórdia e de promoção da justiça, pois o amor a
Deus nos remete, necessariamente, ao amor ao próximo.
Oração e obras de misericórdia são exigências imprescindí-
veis e inseparáveis da santidade de vida. A misericórdia é o
“coração pulsante do Evangelho”. (GE, 98)
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante
o mês, as quais foram significativas para a vida de
cada um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, como con-
vivemos com valores culturais diferentes dos nossos,
e como esta convivência afeta nosso caminho rumo
à santidade.
• Podemos coparticipar, ainda, se, alguma vez, situa-
ções de privações econômico-sociais em casal e famí-
lia nos afastaram da Igreja e nos levaram ao questio-
namento da fé.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
65
Capítulo
3 Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
• De um modo especial, partilhe sobre a escuta da Pala-
vra de Deus. Como você se coloca em relação a Cris-
to neste momento da Escuta da Palavra de Deus? A
Palavra de Deus é a base da alimentação de sua vida
espiritual como casal cristão no seu dia a dia?
• Procure, neste mês, reservar mais tempo – do que o ha-
bitual – no seu dia a dia para criar silêncio, com o objeti-
vo de escutar o que o Senhor diz a você, ao seu cônjuge,
à sua família, à sua comunidade de fé. Esta relação com
Ele é o pilar de toda a nossa vida espiritual.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Escuta da Palavra de Deus no dia a dia,
procure ler o documento A ESCUTA DA PALAVRA DE
DEUS, disponível na livraria de sua Super-Região.
66
do lar, na vida de equipe. Doravante, há necessidade de se lan-
çar mais deliberadamente. Veremos então os milagres resultan-
tes da Palavra de Deus, porque ela é criadora: ela faz viver aque-
les que se abrem à sua virtude, ela faz surgir a alegria no lar”.
Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é santidade. Vamos conversar em equipe –
como forma de entreajuda – sobre como vivemos ou pro-
curamos viver a santidade no nosso cotidiano.
• O que mais lhe incomoda na cultura atual em seu caminho
de santidade? E o que mais aprecia ou ressalta de positivo?
• Quais são as desigualdades sociais mais visíveis no am-
biente em que vocês vivem no seu dia a dia? Acreditam
que elas representam um obstáculo para a santidade
destas pessoas imersas nesta realidade?
• O que vocês – como casal, como família, como co-
munidade eclesial – fizeram, até hoje, para ajudar a
reduzir estas desigualdades sociais? Podem citar algum
exemplo bem concreto de ajuda em caráter permanen-
te, e não apenas pontual, transitório?
• Você individualmente, ou como casal, testemunha seu
modo de vida cristão baseado nos valores do Evangelho?
67
Giotto di Bondone
(1266-1337)
Objetivos
• Ter presente que a ação de Deus realiza a santificação
em nós.
• Reconhecer que a arrogância intelectual – gnosticismo
– e a prepotência farisaica – pelagianismo – são obstá-
culos no caminho de santidade.
• Reconhecer o gnosticismo e o pelagianismo como fra-
gilidades que muitas vezes nos afastam do nosso cami-
nho de santidade.
Introdução Geral
No capítulo II da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate,
o Papa Francisco reflete sobre duas falsificações da santida-
de que poderiam nos desviar do caminho: o gnosticismo
e o pelagianismo.33 O Papa refere-se a essas duas heresias
70
“que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo, mas
que continuam a ser de alarmante atualidade”. (GE, 35)
71
Capítulo
4 Texto Bíblico
Mateus 23, 13-15 . 23-28
72
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
Em várias ocasiões, Jesus já se defrontara com fariseus e
escribas. Estes não aceitavam ações e ensinamentos de Je-
sus a favor dos pobres e doentes, principalmente as curas
em dia de sábado. Os escribas eram estudiosos das Sa-
gradas Escrituras, das quais se julgavam ser os fiéis intér-
pretes. Já os da seita dos fariseus eram zelosos pelo fiel
cumprimento das leis.
No texto proposto para Leitura Orante nesta reunião, Jesus
interpela diretamente esses dois grupos, lançando contra
eles “ais” que, mais do que condenar, eram exclamações
de dor, porque, com suas atitudes, como condutores re-
ligiosos, coibiam o povo de praticar a verdadeira religião,
tornando-a um peso para o povo e não uma ocasião de
louvor ao Senhor.
Pior, impunham excessivas leis e regras a cumprir, como se
somente delas dependesse a santidade, mas faziam “vis-
tas grossas” quanto à prática dos mandamentos da lei de
Deus, em especial o mandamento maior de “amar a Deus
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Há quem prega uma religião muito espiritual, sem consi-
derar a condição humana das pessoas, feitas de corpo e
espírito, condição dignificada pelo próprio Verbo de Deus,
que se fez homem, não para ajudar anjos, mas para liber-
tar os humanos do pecado (cf. Hb 2,15-16). São pessoas
sem humildade ou com falsa humildade que pretendem,
somente pelo estudo, desvendar os mistérios de Deus.
Pensam que é pelo conhecimento adquirido que serão sal-
vas, esquecendo a prática da caridade e da oração humil-
de. Pelo conhecimento intelectual julgam-se superiores ao
povo simples. Colocam-se de forma antagônica à simplici-
dade do Evangelho.
73
Capítulo
4
Outro elemento presente na Igreja nos dias atuais, que im-
pede a vivência autêntica da religião, é o que põe a salvação
na vontade humana. Considera que é pelo próprio esfor-
ço que a pessoa se salva, esquecendo o mistério da graça
misericordiosa de Deus e as próprias fragilidades humanas.
É uma atitude orgulhosa, semelhante à dos fariseus, que
impunham ao povo o cumprimento rigoroso das regras reli-
giosas, como se a salvação viesse da lei e não de Deus.
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
O Papa Francisco, no seu magistério ordinário, referiu-se
muitas vezes a duas tendências que representam os dois
desvios no caminho da santidade, e que se assemelham, em
alguns aspectos, a duas antigas heresias, isto é, o pelagia-
nismo e o gnosticismo.
Afirma o Papa: “Prolifera em nossos tempos um neo-pe-
lagianismo em que o homem, radicalmente autônomo,
pretende salvar-se a si mesmo sem reconhecer que ele de-
pende, no mais profundo do seu ser, de Deus e dos outros.
A salvação é então confiada às forças do indivíduo ou a es-
truturas meramente humanas, incapazes de acolher a novi-
dade do Espírito de Deus. Um certo neo-gnosticismo, por
outro lado, apresenta uma salvação meramente interior,
fechada no subjetivismo. Essa consiste no elevar-se ‘com o
intelecto para além da carne de Jesus rumo aos mistérios
da divindade desconhecida’. Pretende-se, assim, libertar a
74
pessoa do corpo e do mundo material, nos quais não se
descobrem mais os vestígios da mão providente do Criador,
mas se vê apenas uma realidade privada de significado, es-
tranha à identidade última da pessoa e manipulável segun-
do os interesses do homem”. [...]35
Pe. Caffarel, em seu texto a seguir, faz um alerta sobre o
perigo de um casal pertencer ao Movimento das Equipes de
Nossa Senhora. E qual seria este perigo, ou quais seriam estes
perigos? São vários: julgar que, por esta razão, ou seja, por
pertencer ao Movimento, o casal já esteja com a salvação
garantida; transformar sua pertença ao Movimento como um
fim em si mesmo; transformar os PCEs (as “obrigações”) em
fins e não em meios de felicidade e de santificação; acreditar
que ser casal cristão é praticar a “lei”, ou seja, os PCEs; julgar
que sua missão na Igreja se resume ao Movimento; conside-
rar que sua Equipe de Base “é um clã de justos e santos”, etc.
Em outro artigo, intitulado “Desconfiem do Afonso”, ressal-
ta que a ascese é indispensável para o casal das ENS. A fim
de evitar o farisaísmo, afirma que a oração tem que ter um
papel central na vida do casal. E, quanto ao Movimento,
ressalta que é extremamente perigoso um “agrupamento
religioso que não for uma escola de oração”; “não passa de
uma fábrica de fariseus”.36
35 - Congregação para a Doutrina da Fé. Carta Placuit Deo sobre alguns aspectos
da salvação cristã. Roma, fevereiro de 2018.
36 - Pe. Henri Caffarel. Desconfiem do Afonso. Publicado na Carta Mensal
francesa, janeiro de 1958, e em Textos Escolhidos Padre Caffarel. Tema de
Estudo 2009, capítulo 4.
75
Capítulo
4 A) GNOSTICISMO ATUAL:
O gnosticismo supõe “uma fé fechada no subjetivismo,
onde apenas interessa uma determinada experiência ou
uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamen-
te confortam e iluminam, mas, em última instância, a pes-
soa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou
dos seus sentimentos”. (GE, 36)
B) PELAGIANISMO ATUAL:
O gnosticismo deu lugar a outra heresia antiga, que está
presente também hoje. Com o passar do tempo, muitos
começaram a reconhecer que não é o conhecimento que
nos torna melhores ou santos, mas a vida que levamos. O
problema é que isto foi sutilmente degenerando, de modo
que o mesmo erro dos gnósticos foi simplesmente transfor-
mado, mas não superado. (GE, 47)
77
Capítulo
4
que tudo se pode com a vontade humana, como se esta
fosse algo puro, perfeito, onipotente, a que se acrescen-
ta a graça. Pretende-se ignorar que “nem todos podem
tudo”, e que, nesta vida, as fragilidades humanas não
são curadas, completamente e de uma vez por todas,
pela graça. (...) (GE, 49)
c. Os novos pelagianos
Ainda há cristãos que insistem em seguir outro cami-
nho: o da justificação pelas suas próprias forças, o da
adoração da vontade humana e da própria capacida-
de, que se traduz numa autocomplacência egocêntrica
e elitista, desprovida do verdadeiro amor. Manifesta-se
em muitas atitudes aparentemente diferentes entre si:
a obsessão pela lei, o fascínio de exibir conquistas so-
ciais e políticas, a ostentação no cuidado da liturgia, da
doutrina e do prestígio da Igreja, a vanglória ligada à
78
gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas
de autoajuda e realização autorreferencial. É nisto que
alguns cristãos gastam as suas energias e o seu tempo,
em vez de se deixarem guiar pelo Espírito no caminho
do amor, apaixonarem-se por comunicar a beleza e a
alegria do Evangelho e procurarem os afastados nessas
imensas multidões sedentas de Cristo. (GE, 57)
d. O resumo da lei
Para evitar isso, é bom recordar frequentemente que
existe uma hierarquia das virtudes, que nos convida
a buscar o essencial. A primazia pertence às virtudes
teologais, que têm Deus como objeto e motivo. E, no
centro, está a caridade. São Paulo diz que o que conta
verdadeiramente é “a fé agindo pelo amor” (Gal 5,6).
Somos chamados a cuidar solicitamente da caridade:
“quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. [...]
Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da lei”
(Rm 13,8.10). “Amarás o teu próximo como a ti mes-
mo” (Gal 5,14). (GE, 60)
79
Capítulo
4
pelas obrigações (PCEs). Mas, atenção para este novo pe-
rigo: esvaziar as obrigações de seu espírito. É preciso, de
fato, temer que a prática das obrigações se torne um fim,
um ideal, o máximo, e que pareça aos membros das equi-
pes de que a perfeição cristã consiste em cumprir as obri-
gações da Carta. Eles se considerarão perfeitos e dormirão
confortavelmente sobre o travesseiro da autossatisfação e
da consciência tranquila...
Recentemente, recebi uma carta provando-me que este
perigo não é ilusório. Ela vem de um casal de grande es-
tatura humana e espiritual. Eis o que ele me escreveu:
“Deixamos a nossa Equipe de Nossa Senhora depois de ter
feito parte dela por muitos anos. Sentíamo-nos sufocados:
tínhamos a impressão de que vivíamos em um mundo fe-
chado em seus pequenos problemas, em um mundo que
não queria ver as reais necessidades do ideal evangélico.
A observância da Carta tornava-se, em determinados dias,
como um biombo de hipocrisia que deixava que cada um
ficasse contente consigo mesmo de forma barata e fechas-
se os olhos e os ouvidos para todos os questionamentos
da sociedade atual”.
Da mesma forma, aconteceu comigo mais de uma vez, em
viagem, ouvir críticas relacionadas com uma equipe: acu-
savam-na de ser fechada, de constituir “o clã dos justos”,
a “seita dos puros”.
Eu sei que a maioria das equipes não merecem essas crí-
ticas. Mesmo assim, não posso deixar de me fazer essa
pergunta angustiante: Nossas equipes são elas formadoras
de cristãos, ou produzem fariseus? [...]
A finalidade (das equipes) é a vida cristã em sua ple-
nitude, assim como é definida na primeira página
da Carta: “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é
perfeito”.
80
Orientações para Preparar
a Reunião de Equipe
Reunião de Equipe como uma Ecclesia:
3ª Condição: Convocação em nome de Cristo
Notem bem o que diz Nosso Senhor. Ele não diz: “Quando
estais dois ou três reunidos, eu estou no meio de vós”,
mas Ele acentua: “Quando dois ou três estais reunidos em
meu nome”. Eis aí o fato importante. Convocados por Ele,
respondemos ao seu apelo, estamos ali em seu nome.
Por conseguinte, se vamos à reunião de equipe por causa
das boas amizades, das simpatias, não vamos em nome
de Cristo. E é por este motivo que, por vezes, equipes for-
madas com casais que não se conheciam têm uma ótima
partida: o que é que os reunia, senão esta vontade de en-
contrar Cristo?
E eis que no fim de um ano, dois anos, três anos, tais casais
já se conhecem muito bem, já houve o intercâmbio de nu-
merosos serviços: a amizade cresceu, o que é uma felicida-
de, mas por vezes esta amizade pode eliminar a intenção,
pode levar os casais a se encontrarem apenas porque são
ótimos amigos e, diante disto, não estão mais reunidos em
nome de Cristo e, diante disto, verifica-se nessas equipes o
que eu chamei tantas vezes: a tentação da amizade.
Cristo não pode agir com a mesma plenitude porque, pre-
cisamente, não é em primeiro lugar para Ele, para O en-
contrar, que os casais estão reunidos.
Daí a necessidade de purificar a intenção, de fortificar esta
intenção. É em nome de Jesus Cristo que viemos e pare-
ce-me que o papel do Conselheiro Espiritual e o papel do
Casal Responsável (de Equipe) são importantes para que
não haja uma queda de nível na reunião.
81
Capítulo
4 Acolhida e Motivação Inicial
Nossa quarta reunião trata de duas heresias antigas, que
continuam sendo dois sutis inimigos para se alcançar a san-
tidade, cujas propostas enganadoras, ainda hoje, talvez in-
conscientemente, seduzem muitos cristãos (talvez até casais
equipistas): o pelagianismo e o gnosticismo.
No pelagianismo, o homem busca salvar-se a si mesmo,
com suas próprias forças (e talvez confiando demais em
suas estruturas e estratégias), sem reconhecer que depende
de Deus e que necessita constantemente de sua ajuda, além
da relação com os outros. No neo-gnosticismo, a salvação
torna-se algo “meramente interior, fechada no subjetivis-
mo”, exaltando o intelecto para além da “carne de Jesus”.
Precisamos reconhecer que Jesus é Salvador: “Ele não se
limitou a mostrar-nos o caminho para encontrar Deus, isto
é, um caminho que poderemos percorrer por nós mesmos,
obedecendo às suas palavras e imitando o seu exemplo.
Cristo, todavia, para abrir-nos a porta da libertação, tornou-
-se Ele mesmo o caminho”.
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
82
Leitura da Palavra de Deus e Meditação
Mateus 23, 13-15 . 23-28
Ver na página 72.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
Partilha
• A prática dos PCEs, como uma mera formalidade ou
obrigação, não garante a santificação do casal. Tam-
bém é necessário sair em missão, e ser testemunha do
casamento e da família.
83
Capítulo
4 Afirma o Pe. Henri Caffarel 38
Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
84
• Vocês sabiam o que é o gnosticismo? Agora que sabem,
avaliem se colocam preceitos e regras acima do manda-
mento do amor misericordioso de Deus.
• Como podemos usar nosso raciocínio e nosso conheci-
mento para compreender e analisar, e não nos julgar-
mos “donos da verdade”?
Magnificat
85
Van Gogh (1853-1890)
A Sesta
Van Gogh foi um pintor holandês considerado uma das figuras mais
famosas e influentes da história da arte ocidental. Criou mais de
2 mil trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta
de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últi-
mos anos de vida.
Aos 16 anos, Van Gogh vai para Haia trabalhar com o tio numa im-
portante galeria que comercializava obras e livros. Viaja para Bru-
xelas, onde passa dois anos e em seguida vai para Londres, sempre
a serviço da galeria.
Em 1875, obtém sua transferência para Paris, onde julgava poder
libertar-se de todas as suas frustrações, mas não consegue se rela-
cionar bem com os clientes e é demitido.
De volta a Paris, época mais sociável do pintor, familiariza-se com
os impressionistas, Monet, Renoir e Pissarro, mais tarde se aproxi-
ma de Gauguin. A influência dos impressionistas e a sua admiração
pela arte oriental levaram Van Gogh a desenvolver um estilo pró-
prio. O artista chega a pintar nessa época perto de 200 quadros.
A tela do casal de camponeses deitado no feno, aqui apresentada,
expressa todo o lirismo e a inocência no merecido descanso do tra-
balho. Com grande delicadeza paisagística, esta pintura coloca as
figuras na simplicidade da vida rural. Com todos os objetos, botas,
ferramentas, animais, que compõem a paisagem do campo, deixan-
do entretanto destacado no alto a faixa de céu azul projetado ao
fundo que nos remete à relação do divino e do terreno.
Capítulo
5
Oração:
Exigência de Santidade
Objetivos
• Compreender que não existe caminho de santidade
sem oração.
Introdução Geral
O Papa Francisco coloca a oração constante como um re-
quisito essencial para a santidade. Afirma: “Não acredito
na santidade sem oração, embora não se trate necessaria-
mente de longos períodos ou de sentimentos intensos”.
Mas “o santo é uma pessoa com espírito orante, que tem
necessidade de se comunicar com Deus”. (GE, 147)
88
Os apóstolos viam Jesus rezando constantemente e ma-
nifestaram a Ele sua vontade de aprender a orar: Senhor,
ensina-nos a rezar. E Jesus não se recusou, não era ciu-
mento da sua intimidade com o Pai, pois veio precisa-
mente para nos introduzir nesta relação com o Pai. E as-
sim torna-se Mestre de oração dos seus discípulos, como
certamente quer sê-lo para todos nós. Também nós deve-
mos dizer: Senhor, ensina-me a rezar. Ensina-me.39
89
Capítulo
5
Como afirma Dom José Tolentino Mendonça, “Jesus
não nos transmite fórmulas; Jesus introduz-nos numa
dimensão existencial e prática, dá-nos aceso a uma expe-
riência filial. Jesus não nos dá um saber. Dá-nos o sabor
de Deus. Um saborear”.41
Texto Bíblico
Mateus 6, 5-13
Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, como no céu,
assim também na terra. O pão nosso de cada dia dá-nos
hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós per-
doamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em
tentação, mas livra-nos do mal.
41 - Idem, p. 103.
90
Leitura Orante da Bíblia
Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir do
texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura Orante da
Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Contemplação, confor-
me esquema e perguntas apresentados no Anexo 1. (p. 162-c)
91
Capítulo
5
Nesta oração fazemos sete pedidos ao Pai. No primeiro, pe-
dimos que seu Nome seja santificado. Deus é santo, nenhu-
ma santidade lhe pode ser acrescentada. Santificar o Nome
de Deus significa honrá-lo, sacralizando o nosso agir e dan-
do-lhe graças. Os demais pedidos decorrem do primeiro.
92
Grande é Deus, que apesar de nossas fraquezas e peca-
dos, em Jesus Cristo nos santifica e nos torna seus filhos,
e se alegra quando conversamos a sós com Ele e O cha-
mamos de Nosso Pai.
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Padre Caffarel escreve: “Um santo não é, acima de tudo,
como muitas pessoas imaginam, um campeão que realiza
proezas de virtude, façanhas espirituais. É, sobretudo, um
homem seduzido por Deus. E que entrega a Deus toda a
sua vida”.42
Incansavelmente, Pe. Caffarel fazia questão de destacar
que o Movimento das ENS é uma escola de formação na
vida cristã e, por isso mesmo, uma escola de oração, de
adoradores de Deus.
Fez, certa vez, uma reflexão sobre os 96 quartos de hora
que compõem um dia. E pediu para cada um contar como
distribuía seu tempo durante o dia: horas de sono, de tra-
balho (profissional ou doméstico), de refeições, de deslo-
camentos, de leitura de jornal, etc. E, por fim, o tempo
dedicado à oração. Pediu para comparar o tempo que era
dedicado a cada uma destas atividades diárias.
E pondera: se todas estas atividades são necessárias e vi-
tais, a oração não o é?
Chama atenção para o estado de “anemia espiritual” ou
para a “baixa resistência” na vida dos que pouco se de-
dicam à oração diária, e faz o seguinte alerta: “O cristão
que não dedica diariamente 10 a 15 minutos (1/96 avos do
42 - Pe. Henri Caffarel. L’Anneau d’Or, número especial 111-112, maio-agosto de 1963.
93
Capítulo
5
seu dia) a essa forma de oração, que chamamos de oração
interior, permanecerá infantil; ou melhor, definhará”.43
Pe. Caffarel vivia com exigência sua vida de oração; e dese-
java com insistência e exigência que assim fosse para todos
os casais equipistas, pois a oração é o local privilegiado de
encontro com Deus.
94
é uma resposta do coração que se abre a Deus face a face,
onde são silenciados todos os rumores para escutar a voz
suave do Senhor que ressoa no silêncio. (GE, 149)
Neste silêncio, é possível discernir, à luz do Espírito, os cami-
nhos de santidade que o Senhor nos propõe. Caso contrá-
rio, todas as nossas decisões não passarão de “decorações”,
que, em vez de exaltar o Evangelho na nossa vida, acabarão
por o recobrir e sufocar. Para todo discípulo, é indispensá-
vel estar com o Mestre, escutá-Lo, aprender d’Ele, aprender
sempre. Se não escutarmos, todas as nossas palavras serão
apenas rumores que não servem para nada. (GE, 150)
95
Capítulo
5
vindo para outra coisa senão para acender o fogo na terra
e para que ele se comunique de um ao outro, transfor-
mando todas as árvores de floresta em tochas vivas? Esse
fogo é a minha oração. Consinta com o fogo”.
O Cristo está presente no pequeno batizado assim como
no grande místico. Mas a vida de Cristo num e noutro não
está no mesmo estágio de desenvolvimento. Se na alma
do recém-batizado já vibra a oração de Cristo, ela está ali
presente apenas em germe, um germe de fogo. Será ao
longo de toda a existência, na mesma medida de nossa
cooperação, que ela irá intensificando-se e, aos poucos,
tomando posse de todo o nosso ser.
Nossa cooperação consiste, em primeiro lugar, em aderir,
com o mais profundo do nosso querer, à oração de Cristo
em nós. Notem bem o sentido muito forte que eu dou
a essa palavra aderir; não designa um acordo mole, uma
aquiescência da boca para fora, mas um dom total, assim
como a acha de lenha que se entrega ao fogo para se tor-
nar, por sua vez, fogo.
Nossa cooperação consiste ainda em buscar com toda a
nossa inteligência de que é feita a oração de Cristo em nós
seus grandes componentes: louvor, ação de graças, oferen-
da, intercessão... a fim de assumi-los mais perfeitamente.
96
A sua responsabilidade, penso eu, consiste em fazer todo o
possível para que haja este amor cristão, isto é, este amor
que não exclui ninguém, que derruba todas as fronteiras,
todas as barreiras. Amor cristão que leve a pôr tudo em
comum. Líamos há pouco: “Entre eles tudo era comum”.
Isto define a primeira Ecclesia apostólica e isto deve definir
as suas reuniões.
Já no plano material, este amor deve ser praticado. Se vo-
cês querem manter-se na linha dos primeiros cristãos, pa-
rece realmente impossível que se contentem com o auxílio
mútuo espiritual. Eles, os primeiros cristãos, nos deram
sem dúvida o exemplo deste auxílio mútuo material.
Entretanto, o essencial é evidentemente o auxílio mútuo
espiritual: é posto em prática na Partilha. Com efeito,
penso que a “Partilha” sobre as obrigações dos Estatutos
(Pontos Concretos de Esforço), quando é bem-feita e bem
compreendida, é um auxilio fraternal.
O auxílio mútuo manifesta-se ainda naquilo que chama-
mos de coparticipação (“pôr em comum”): das alegrias,
das tristezas, dos problemas da vida, das descobertas... de
toda a nossa vida, em suma. É para este ideal que é preciso
tender cada vez mais, sem o que não serão irmãos que se
amam, pois que guardam dentro de si aquilo que os inte-
ressa. Caso não se abram uns aos outros, não estarão na
reunião senão para trabalhar, quando muito, num plano
meramente intelectual.
97
Capítulo
5
a oração diária e permanente que é a vida do coração
novo, redimido por Jesus Cristo. Ela deve nutrir nossos co-
rações e nos animar a cada momento de nossa vida.
Na oração, nós abrimos a nossa alma ao Senhor a fim de
que Ele venha habitar em nossa fraqueza, transformando-a
em força para o Evangelho.
Num mundo em que corremos o risco de confiar somente na
eficiência e na força dos meios humanos, no consumismo, em
imagens e aparências, neste mundo somos chamados a redes-
cobrir e a testemunhar a força de Deus que nos comunica na
e pela oração, com a qual crescemos cada dia para conformar
a nossa vida com a de Jesus Cristo, nosso Mestre na oração.
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, uma experi-
ência de vida em que a oração foi marcante e decisiva.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
98
Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
• Cada casal fale um pouco mais sobre como é feita a
Oração Conjugal, e sobre como ela ajuda no cresci-
mento da espiritualidade conjugal.
• Como sugestão concreta para este mês, propomos
que marido e mulher intensifiquem sua Oração Con-
jugal, para se aproximarem cada vez mais um do ou-
tro, e os dois com o Senhor.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Oração Conjugal no dia a dia, procure
ler o documento A ORAÇÃO CONJUGAL, disponível
no site ens.org.br (Livraria).
99
Capítulo
5
“Quando rezamos juntos, formamos uma comunidade
orante. Não há melhor base para o nosso casamento e a
nossa família!”
Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
100
Oração pela Canonização do Pe. Caffarel
Magnificat
101
Giacomo Palma
il Giovane (1548-1628)
A Eucaristia Adorada pelos Quatro Evangelistas
Foi um pintor italiano e um notável expoente da escola veneziana.
Giacomo nasceu em Veneza em uma família de pintores. Era filho de
Antonio Nigretti e sobrinho do pintor Palma Vecchio. Tornou-se o artis-
ta de maior influência de Veneza, firmando seu estilo e fama logo após
a morte do grande Tintoretto (1594).
Logo cedo seu talento é reconhecido pelo Duque de Urbino que o envia
para Roma por quatro anos para estudar, e nesse período adotou os
estilos do maneirismo de Tintoretto. Trabalhou muito tempo na antiga
oficina de Ticiano e, quando de sua morte, ele assume a finalização da
obra do mestre Ticiano – ”Pietá”.
Trabalhou ao lado de Veronese e Tintoretto nas decorações do Palácio
Ducal, onde conheceu a tradição veneziana. De 1580 a 1590, pintou ci-
clos de grandes telas para os edifícios sagrados (a sacristia de San Gia-
como dall'Orio, pintura aqui apresentada que tinha como foco princi-
pal ser um contraponto entre a ignorância e conhecimento, traçando
a história do Antigo Testamento, com episódios simbólicos do mistério
eucarístico da Páscoa judaica e da travessia do Mar Vermelho, até os
Evangelhos. Com destaque para a Eucaristia, que é apresentada no
centro e ao alto sob a forma de um imenso sol e protegida por quatro
colunas sobre o altar e cercada pelos quatro evangelistas.
Giacomo produziu uma série de pinturas religiosas e alegóricas que
podem ser encontradas em toda a Veneza.
Capítulo
6
Eucaristia:
Fonte de Santidade
Objetivos
• Entender que a Eucaristia é o coração (o centro da
vida) da Igreja; que é a Eucaristia que faz a Igreja.
• Compreender que na Eucaristia está o segredo e a for-
ça da santidade.
• Compreender que a Eucaristia não pode jamais ser
separada da vida concreta da pessoa, do casal, da
família.
• Conscientizar-nos de que toda a nossa vida deve ser
eucarística.
Introdução Geral
O Concílio Vaticano II afirmou que a Eucaristia é “fonte
e centro de toda a vida cristã”, na medida em que é a
união com a vida de Cristo, que transforma a vida do
homem. Portanto, na “santíssima Eucaristia está conti-
do todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio
Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens
a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo
Espírito Santo”.46
104
Receber Jesus Cristo na Eucaristia nos impele a nos trans-
formar n’Ele, a nos conformar com Ele, pois “quem come
a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim,
e Eu nele” (Jo 6,56).
Como afirma o Papa Francisco, “nutrir-se da Eucaristia
significa deixar-se transformar naquilo que recebemos”.
Por isso, cada vez que recebemos a Eucaristia, “asseme-
lhamo-nos mais a Jesus, transformamo-nos mais em Je-
sus”. Enfim, “tornamo-nos aquilo que recebemos”.47 A
Eucaristia é a fonte de nossa santidade.
A Eucaristia “está colocada no centro da vida eclesial”,
porque “a Igreja vive de Jesus eucarístico, por Ele é nutri-
da, por Ele é iluminada”.48 Como afirma o Papa Francis-
co, “a Eucaristia ocupa um lugar central na Igreja, porque
é precisamente ela que faz a Igreja“.49
É como sintetiza o Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia:
fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. Isto porque “a
Igreja vive da Eucaristia desde as suas origens. Nela, en-
contra a razão da sua existência, a fonte inesgotável da sua
santidade, a força da unidade e o vínculo da comunhão, o
vigor da sua vitalidade evangélica, o princípio de sua ação
de evangelização, a fonte da caridade e o impulso da pro-
moção humana, a antecipação da sua glória no banquete
eterno das núpcias do Cordeiro” (cf. Ap 19,7-9).50
Por isso que “o domingo é um dia santo para nós cató-
licos, pois ele é santificado pela celebração eucarística,
presença viva do Senhor entre nós e para nós. Portanto,
47 - Papa Francisco. Catequese sobre a Eucaristia, 21 de março de 2018. Site da Santa Sé.
48 - Papa João Paulo II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia – sobre a Eucaristia
na sua relação com a Igreja, nº 2 e 6.
49 - Discurso do Papa Francisco aos participantes na plenária da Pontifícia Comissão
para os Congressos Eucarísticos Internacionais, 27 de setembro de 2014.
50 - Sínodo dos Bispos. XI Assembleia Geral Ordinária. A Eucaristia: fonte e ápice
da vida e da missão da Igreja. Instrumentum Laboris, Prefácio.
105
Capítulo
6
é a missa que faz o domingo cristão. O domingo cristão
gira em torno da missa. Que domingo é, para o cristão,
aquele no qual falta o encontro com o Senhor?”51
Tudo isto é dom e tarefa; comungar o Cristo é uma gra-
ça, e assemelhar-se a Ele é uma tarefa. Eis a lógica mais
clara do caminho de santidade!
Texto Bíblico:
1 Coríntios 11, 23-26
106
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
De fato, todas as vezes que comerdes desse pão e beber-
des desse cálice, proclamais a morte do Senhor, até que
ele venha. (1Cor,11,26)
Os cristãos de Corinto haviam se desviado da boa conduta,
manchando a celebração da Ceia do Senhor com jantares
suntuosos de alguns, suscitando divisões entre eles. São
Paulo repreende aquela comunidade e reafirma o que já
lhes havia ensinado: que na Ceia do Senhor o pão e o
vinho são transformados (transubstanciados) no Corpo e
no Sangue do Senhor, como Jesus Cristo o disse e fez na
véspera da sua paixão e morte.
A instituição da Eucaristia é o ato culminante da missão
de Jesus Cristo: nela, Ele anuncia sua morte iminente para
a remissão dos pecados da humanidade: “Isto é o meu
corpo, que é entregue em favor de vocês”; “Este cálice é a
nova aliança ... garantida pelo meu sangue”. Mais do que
isso, Jesus anuncia a sua ressurreição: ao mandar repetir
o que ele mesmo está fazendo (“fazei isto em memória
de mim”), está mandando celebrar até o fim dos tempos
este mistério, no qual ele se faz vivo, em corpo e sangue:
“De maneira que, cada vez que vocês comem deste pão e
bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor,
até que ele venha”.
No Evangelho segundo Lucas (22,15), Jesus, ao celebrar a
sua última páscoa judaica, assim fala aos apóstolos: “Dese-
jei ardentemente comer esta páscoa convosco”, pois que
estava concluindo sua missão visível no meio da humani-
dade e em favor dela: dar a vida para remissão de todos os
pecados. Mais: realiza uma nova aliança com a humanida-
de, uma aliança definitiva, selada com o próprio sangue.
Porque seu amor é infinito, o desejo ardente de Jesus é dar
107
Capítulo
6
vida eterna a cada pessoa, pois com sua morte Ele vence o
pecado e com a sua ressurreição ele dá vida plena a quem
adere à sua pessoa. Jesus é e estabelece a nova Páscoa, a
páscoa da verdadeira vida, a vida eterna em Deus. Por isso
a Eucaristia é também um anúncio do banquete celestial
do “Cordeiro” no Reino do Céu.
Esse mistério é celebrado pelos cristãos desde os primeiros
dias da Igreja (cf. At 2,42) e, fiel à ordem de Jesus Cristo, a
Igreja continua a celebrá-lo até a sua vinda gloriosa no fi-
nal dos tempos (cf. CIC 1333). A Eucaristia torna presente
a morte e a ressurreição de Jesus Cristo e é a perfeita ação
de graças e louvor, pois é o próprio Filho que se oferece ao
Pai, pela ação do Espirito Santo que transforma o pão e o
vinho no corpo e sangue de Jesus.
Na Eucaristia, o pão e o vinho são de fato corpo e sangue,
por isso Jesus manda comer “deste pão” e beber “deste
cálice”. Ele mesmo o afirma: “Pois a minha carne é a co-
mida verdadeira, e o meu sangue é a bebida verdadeira”
(Jo 6,55). Entretanto, não é a razão que nos fará compre-
ender este mistério. Somente a fé pode aceitar esta ver-
dade da qual Jesus fala insistentemente no capítulo 6 do
Evangelho de João (cf. Jo 6, 26ss).
Quando recebemos o pão eucarístico, fazemos comunhão
com Jesus Cristo: “Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue vive em mim, e eu vivo nele” (Jo 6,56). A
Eucaristia revela o imenso amor de Deus por nós. Na Eu-
caristia, Jesus Cristo, o Santo, se une a nós pecadores,
quer viver em nós, para que vivamos nele e nos tornemos
santos. É na Eucaristia que o cristão encontra forças para
realizar em sua vida as bem-aventuranças, para cumprir o
mandamento cristão: “Eu lhes dou este novo mandamen-
to: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem
também uns aos outros” (Jo 13,34).
108
A Eucaristia é o sacramento da unidade e do amor. “Ó
sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da
caridade!” (CIC, 1.398), exclamava Santo Agostinho.
A Eucaristia é grande auxílio à vida conjugal, pois o ma-
trimônio é também sacramento de amor e de unidade;
por isso, o casal encontra nela a plenitude do amor para
viver plenamente o seu casamento. A Eucaristia celebra
e torna presente a definitiva e fiel aliança de Deus com a
humanidade e os casais testemunham esta aliança quan-
do vivem intensamente a aliança de amor e fidelidade
que um dia fizeram entre si. A Eucaristia une os fiéis a
Cristo e aos irmãos, quanto mais fortalecerá a união do
casal que busca a santidade.
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Os textos selecionados do Papa Francisco e de Pe. Caffarel
não têm dúvida em afirmar que a Eucaristia é o centro e a
raiz da vida espiritual do cristão. É o alimento espiritual de
nossa caminhada para Deus. É o meio mais poderoso para
nossa santificação, pois pela Eucaristia nos unimos com o
“Santo” e somos nele transformados; assumimos a “ima-
gem e semelhança” do Senhor.
Na Eucaristia está o segredo da santidade. É esta união
com Jesus Cristo na Eucaristia que nos move e nos en-
coraja à santidade pessoal, conjugal e familiar, à vivência
comunitária de nossa fé e ao dinamismo apostólico.
É por isso que tanto o Papa Francisco quanto o Pe. Caffarel
insistem na participação frequente no mistério eucarísti-
co, pois é onde encontramos a energia espiritual que pre-
cisamos como discípulos missionários de Jesus Cristo no
109
Capítulo
6
cumprimento do preceito do amor. O convite é: sejamos
homens e mulheres eucarísticos.
Também nos lembram que a Eucaristia, para que seja re-
almente Eucaristia, não pode jamais ser separada da vida
concreta, do cotidiano da pessoa, do casal, da família. A
Eucaristia nos faz sair rumo à vida real, à vida humana,
em direção aos necessitados da sociedade, em direção ao
próximo. A Eucaristia também tem um caráter social. Ser
homem e mulher eucarísticos e comungar o Cristo é viver
como Ele viveu no meio dos homens.
Toda a vida de Jesus Cristo foi eucarística, pois realizou a
vontade do Pai oferecendo vida em abundância para todos.
A Igreja, que somos todos nós, possui a missão de conti-
nuar o projeto eucarístico de Jesus, e terminará sua missão
quando o mundo estiver eucaristizado.
110
a cada um para que “examine-se cada um a si mesmo”
(1Cor11, 28), a fim de abrir as portas da própria família a
uma maior comunhão com os descartados da sociedade
e depois, sim, receber o sacramento do amor eucarísti-
co que faz de nós um só corpo. Não se deve esquecer
que “a ‘mística’ do sacramento tem um carácter social”.
Quando os comungantes se mostram relutantes em dei-
xar-se impelir a um compromisso a favor dos pobres e
atribulados ou consentem diferentes formas de divisão,
desprezo e injustiça, recebem indignamente a Eucaristia.
Ao contrário, as famílias, que se alimentam da Eucaristia
com a disposição adequada, reforçam o seu desejo de
fraternidade, o seu sentido social e o seu compromisso
para com os necessitados. (AL, 186)
A comunidade é chamada a criar aquele “espaço teologal
onde se pode experimentar a presença mística do Senhor
ressuscitado”. Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eu-
caristia nos tornam mais irmãos e vão nos transformando
pouco a pouco em comunidade santa e missionária. (...)
(GE, 142)
A Palavra de Deus convida-nos, explicitamente, a resistir
“contra as maquinações do diabo” (Ef 6, 11) e a “apagar
todas as flechas incendiadas do Maligno” (Ef 6, 16). Não
se trata de palavras poéticas, porque o nosso caminho
para a santidade é também uma luta constante. Quem
não quiser reconhecê-lo, ver-se-á exposto ao fracasso ou
à mediocridade. Para a luta, temos as armas poderosas
que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na oração, a
meditação da Palavra de Deus, a celebração da missa,
a adoração eucarística, a Reconciliação sacramental, as
obras de caridade, a vida comunitária, o compromisso
missionário. (...) (GE, 162)
111
Capítulo
6 Texto do Pe. Caffarel:
O pão de cada dia52
[...] Um admirável privilégio vocês possuem, leigos do sé-
culo XX, do qual parece que não avaliam o preço: a possi-
bilidade de comungar todos os dias. (...)
112
Mas estou convencido de que se poderão esperar dias mag-
níficos para a nossa Cristandade se, enfim, se chegar a com-
preender que a missa e a comunhão de cada dia são o
regime normal do cristão; que, se dispensar deste conví-
vio sagrado sem razão, é prova de um incrível pouco caso
para com este dom prodigioso do amor divino: a Eucaristia.
113
Capítulo
6
precisamente, como que o eco da Palavra de Deus. Daí a
necessidade de, nas nossas reuniões de equipe, dar lugar
à Palavra de Deus. É nessa ocasião que o sacerdote ocu-
pa inteiramente o lugar que lhe cabe; ele é então, como
o diziam os primeiros discípulos, “o ministro da Palavra”.
Ministro da Palavra, do mesmo modo que é Ministro da
Eucaristia. Ele lhes dá o Corpo Eucarístico de Cristo, ele
lhes dá a Palavra de Cristo que é uma outra maneira de
comunicar-lhes a vida de Cristo.
Ora, não se trata de ouvir esta Palavra com um ouvido
mais ou menos distraído, mas sim de escutar, no sentido
forte do termo. Dizem do rei Salomão que ele dirigia a
Deus esta oração: “Senhor, fazei-me um coração que
escute!” É com o coração que se escuta a Palavra de
Deus. Por isso mesmo, na oração da equipe, nas nos-
sas reuniões de equipe, fazemos questão que haja este
momento de silêncio em que, realmente, cada coração,
pouco a pouco, deixa penetrar em si a Palavra de Deus,
como a terra que recebe a chuvinha miúda que, lenta-
mente, a fecunda.
Não é somente a oração que lhes permitirá escutar a
Palavra de Deus, mas também a troca de ideias. Numa
reunião de equipe, a troca de ideias, não é ela, preci-
samente, esta procura em comum do pensamento de
Deus sobre as grandes realidades da família, da vida lei-
ga e sobre os seus problemas?
114
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante
o mês, as quais foram significativas para a vida de
cada um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, o que a
Eucaristia tem representado para você, individu-
almente, e como casal, ao longo dos anos. É mero
cumprimento de um preceito ou, de fato, tem sido
transformadora?
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
115
Capítulo
6
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Meditação da Palavra de Deus no dia
a dia, procure ler o documento MEDITAÇÃO DA
PALAVRA DE DEUS, disponível na livraria de sua
Super-Região.
116
• Vocês já pensaram, alguma vez, na relação que existe
entre o Sacramento da Eucaristia e o Sacramento do
matrimônio? Como explicariam esta relação?
• Vocês saberiam explicar o caráter pessoal, eclesial e so-
cial da Eucaristia?
Magnificat
117
Felix Schadow (1819-1861)
Matrimônio de Sara e Tobias
Pintor de retratos e gêneros diversos, filho mais novo do escultor
Johann Gottfried, nasceu em Berlim. Cresceu convivendo com tra-
balhos e impressões artísticas na casa de seus pais, e logo teve um
desejo precoce de também se tornar um pintor. Ele foi estimulado
muito cedo por seu pai para o mundo da pintura. Desde pequeno
muitas vezes ficava no ateliê da rua Schadowstraße e aprendia
com seu pai, seus assistentes e alunos.
No início dos anos 40, ele foi para Dresden para estudar mais, onde
seu cunhado também o influenciou sobremaneira em trabalhos artís-
tico de grande elegância e graciosidade e em suas aulas de pintura.
Lá ele pintou alguns retratos e pequenas composições, entre elas "O
Casamento do Jovem Tobias e Sarah“, pintura aqui apresentada.
Seu pai fez algumas viagens a Leipzig e o levou consigo, onde es-
tudou com Julius Hübner durante o inverno de 1838/1839. Viajan-
do para Dresden, pintou um de seus principais trabalhos "Cristo,
Maria e Marta".
Felix casa-se com a bela Eugenie d'Alton e em maio de 1854 recebe
o privilégio de viajar para a Itália com o velho mestre da escultura,
Rauch, para comemorar o seu 79º aniversário. Em 1858, ele com-
pletou os quadros "O Adorno da Noiva" e "O Retorno do Mercado".
Uma de suas últimas pinturas de 1860 com motivo da comédia,
"Donna Diana", é adquirida pelo príncipe herdeiro da Prússia.
Um sofrimento pesado e demorado o levou ao leito dos doentes na
primavera de 1860. Morreu em Berlim em 25 de junho de 1861, e foi
enterrado nessa cidade, próximo ao túmulo de seu pai.
Capítulo
7
Ser Casal Santo Hoje
Objetivos
• Agradecer a Deus pela nossa vocação à santidade
como casal.
• Reconhecer que o caminho de santidade se constrói na
gradualidade.
• Entender que a santidade deve ser vivida hoje, no nos-
so tempo, diante dos nossos desafios.
•
Introdução Geral
São bem conhecidas as palavras do Papa Francisco, de que
não existe marido perfeito, esposa perfeita, cônjuges per-
feitos, casal perfeito, família perfeita; apesar disto, o Papa
ressalta que não é preciso ter medo da imperfeição, da fra-
gilidade, nem mesmo dos conflitos; é preciso aprender a en-
frentá-los de forma construtiva, a partir do amor, do diálogo,
da compreensão, da aceitação de cada um, do perdão.54
O amor conjugal verdadeiro não se impõe com dureza e
agressividade, mas com cortesia, com palavras generosas,
com diálogo, com o hábito de dar real importância ao ou-
tro, com alegria. Para que isso aconteça, são necessárias
três palavras-chave: “licença”, “obrigado”, “desculpa”.55
120
A Exortação Apostólica Amoris Laetitia nos apresenta o ma-
trimônio como uma vocação, na medida em que representa
um chamado específico para viver o amor conjugal – comu-
nhão de pessoas – como um sinal imperfeito do amor entre
Cristo e a Igreja. Este sacramento é um dom recebido de
Deus para a santificação e salvação dos esposos. (AL, 72)
Por isso, também, não é salutar apresentar o amor conju-
gal como algo “mágico” e perfeito – pois não existe casal
perfeito –, como o fazem “certas fantasias consumistas”,
privando deste modo todo o estímulo de crescimento do
casal em seu amor, relacionamento e crescimento espiri-
tual. Temos que ter em mente que o melhor ainda não
foi alcançado.
Diz o Papa Francisco: Como recordaram os bispos do Chi-
le, “não existem as famílias perfeitas que a publicidade
falaciosa e consumista nos propõe. Nelas, não passam os
anos, não existem a doença, a tribulação nem a morte. (...)
A publicidade consumista mostra uma realidade ilusória
que não tem nada a ver com a realidade que devem en-
frentar no dia a dia os pais e as mães de família”. É mais
saudável aceitar com realismo os limites, os desafios e as
imperfeições, e dar ouvidos ao apelo para crescer juntos,
fazer amadurecer o amor e cultivar a solidez da união, su-
ceda o que suceder. (AL, 135)
Da mesma forma, o Pe. Caffarel insiste que o amor conjugal
é uma fonte de graça, mas que não é propriamente o amor
conjugal que se torna sacramento; é o compromisso mútuo
e a união que se segue. O amor, contudo, é inspirador deste
compromisso e alma viva desta união conjugal. E concluiu:
o amor conjugal não é apenas santificado, como é santifi-
cante, quando os cônjuges compreendem que ele é uma
“obra comum”.
121
Capítulo
7
Assim, o amor conjugal nunca é um repouso, não é obra
de um dia, não é tarefa fácil. A santificação do casal “exige
dos esposos que não sejam preguiçosos”, que combatam
as tentações, o amor-próprio, o orgulho, aceitem as pro-
vações inerentes à vida conjugal e familiar, e façam que
sua vida de amor seja um constante louvor a Deus. Deste
modo, o amor conjugal é referência que nos ajuda a com-
preender o amor divino.56
A santificação do casal é um caminho comunitário, uma
responsabilidade recíproca, que se deve fazer a dois, pois é
uma missão divina recebida pelo sacramento do matrimônio.
É pelo sacramento do matrimônio que você – esposa e espo-
so – se torna responsável pela santificação de seu cônjuge.
Texto Bíblico
Tobias 8, 1-9
Quando terminaram de comer e beber, quiseram dormir.
Levaram o jovem e o acompanharam até o quarto. Tobias
então lembrou-se das palavras de Rafael, e retirou da sua
bolsa o coração e o fígado do peixe e os colocou sobre as
brasas do incenso. O odor do peixe manteve à distância
o demônio, e ele fugiu para as regiões mais remotas do
Egito. Rafael foi até lá, prendeu-o e logo voltou. Os outros
tinham saído e fecharam a porta do quarto. Tobias levan-
tou-se do leito e disse a Sara: “Levanta-te, minha irmã!
Oremos e supliquemos a nosso Senhor, para que nos con-
ceda misericórdia e saúde”. Ela levantou-se, e começaram
a orar e suplicar ao Senhor, para que lhes fosse concedida a
saúde. Esta foi a sua oração: “Tu és bendito, Deus de nos-
sos pais, e é bendito o teu Nome pelos séculos dos séculos.
122
Bendigam-te os céus e toda a tua criação por todos os sé-
culos. Tu fizeste Adão e lhe deste como auxiliar e amparo
Eva, e de ambos surgiu a descendência humana. Foste tu
que disseste que não era bom o homem ficar só: Faça-
mos para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante. Agora,
não é por desejo impuro que me caso com esta minha
irmã, mas com reta intenção. Sê misericordioso com ela,
e concede-nos envelhecermos juntos”. Disseram ambos:
“Amém, Amém”, e dormiram a noite inteira.
123
Capítulo
7
Tobias, embora sabendo que já sete maridos de Sara ha-
viam morrido na noite de núpcias, confia em Deus, pois
seu amor por Sara é sincero. Ele convida Sara para pedir a
Deus misericórdia e saúde.
124
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
O Papa Francisco nos propõe alguns “segredos” ou pe-
quenas “regras”, que bem conhecemos, para nos santifi-
carmos em nosso dia a dia como casal, como pais, como
profissionais, como pessoas que vivem neste mundo atual.
Quando refletimos sobre o texto do Pe. Caffarel – santifica-
ção recíproca –, podemos perceber indicações semelhan-
tes para que um casal possa se santificar no seu cotidiano.
Ao refletir sobre o casal de Nazaré como um exemplo que
se propõe a todo casal cristão, que funda seu casamento em
Cristo e sobre a rocha que é Cristo, afirma que este é um
exemplo e, ao mesmo tempo, uma mensagem de esperan-
ça. “Se os esposos cristãos não se esquivarem da pedagogia
divina que age em sua vida, como agiu no casal Maria e
José, Deus os conduzirá ‘com mão forte e braço estendido’
até essa terra prometida, onde Ele os espera. O casamento
terá sido para eles um caminho de santidade”.58
Pe. Caffarel, em mensagem aos equipistas brasileiros,
para o EACRE de janeiro de 1958, ele insiste: “Meu con-
selho é o mesmo: máximo de mística e máximo de disci-
plina. O Brasil precisa de santos. É preciso que cada um
de vocês, a cada dia, procure a perfeição cristã para a
qual Cristo nos convidou. É preciso que vocês se ajudem
mutuamente a tender para essa perfeição”.
Dizia também o Pe. Caffarel que “uma das condições
para se entrar nas Equipes de Nossa Senhora é ter o de-
sejo de progredir espiritualmente – pessoalmente e em
casal”. Mas, porque sabe que este é um caminho difícil,
125
Capítulo
7
adverte logo em seguida: “Este desejo pode enfraquecer
e perder-se nas areias do hábito e da rotina. É indispen-
sável mantê-lo e renová-lo”.59
O caminho de santificação do casal e da família é um tra-
balho artesanal que se realiza nas inumeráveis luzes e som-
bras do cotidiano, lugar para amar de manhã à noite, assu-
mindo e ultrapassando as suas imperfeições próprias e dos
outros; uma realidade que se transforma ao longo da vida,
sem perder a sua própria essência; um compromisso defini-
tivo e duradouro que requer e provoca a união com Deus.
126
b. Alegria e sentido de humor
O que ficou dito até agora não implica um espírito re-
traído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil su-
mido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria
e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os
outros com um espírito positivo e rico de esperança.
Ser cristão é “alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17),
porque, “do amor de caridade, segue-se necessaria-
mente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na
união com o amado. [...] Daí que a consequência da
caridade seja a alegria”. (...) (GE, 122)
c. Ousadia e ardor
Ao mesmo tempo, a santidade é parresia: é ousadia,
é impulso evangelizador que deixa uma marca neste
mundo. Para isso ser possível, o próprio Jesus vem
ao nosso encontro, repetindo-nos com serenidade
e firmeza: “não temais!” (Mc 6,50). “Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt
28,20). Estas palavras permitem-nos partir e servir
com aquela atitude cheia de coragem que o Espírito
Santo suscitava nos apóstolos, impelindo-os a anun-
ciar Jesus Cristo. Ousadia, entusiasmo, falar com li-
berdade, ardor apostólico: tudo isto está contido no
termo parresia, uma palavra com que a Bíblia expres-
sa também a liberdade de uma existência aberta, por-
que está disponível para Deus e para os irmãos (cf.
At 4,29; 9,28; 28,31; 2Cor 3,12; Ef 3,12; Heb 3,6;
10,19). (GE, 129)
d. Em comunidade
A santificação é um caminho comunitário, que se deve
fazer dois a dois. Reflexo disto temos em algumas
comunidades santas. Em várias ocasiões, a Igreja canoni-
127
Capítulo
7
zou comunidades inteiras, que viveram heroicamente o
Evangelho ou ofereceram a Deus a vida de todos os seus
membros. (...) De igual modo, há muitos casais santos,
onde cada cônjuge foi um instrumento para a santifica-
ção do outro. Viver e trabalhar com outros é, sem dúvi-
da, um caminho de crescimento espiritual. São João da
Cruz dizia a um discípulo: estás a viver com outros “para
que te trabalhem e exercitem na virtude”. (GE, 141)
Santificação recíproca
É para com seu cônjuge que Deus quer, em primeiro lugar,
que você seja seu cooperador. [...] Quando um jovem ca-
sal toma a feliz e edificante iniciativa de assumir o encargo
espiritual mútuo dos esposos, não se trata, portanto, de um
luxo. É uma missão, uma missão divina. Pelo Sacramento do
Matrimônio, você se torna responsável pela santificação de
seu cônjuge, a exemplo de Cristo que se encarna e que se
constitui responsável pela salvação da humanidade.
Uma palavra que vocês conhecem bem sublinha essa mis-
são recíproca: “ministro”. Vocês são ministros não so-
mente no dia da celebração do matrimônio, mas, em outro
sentido, vocês o são, em verdade, cada dia. Um ministro
é uma pessoa que age, em uma determinada tarefa, em
nome de outra. Ou, mais exatamente ainda, é por meio de
quem essa outra pessoa age. No matrimônio, esse outro
é Cristo. Marido e mulher, vocês são encarregados pelo
Cristo de uma missão para com seu cônjuge. É uma obra
que Cristo quer realizar por você e com você junto àquele
128
ou àquela que Ele lhe confiou. Ele quer se dar por cada
um que se dá ao outro, Ele quer que cada um O acolha ao
acolher o dom do outro.
Portanto, não se deve hesitar em usar a palavra forte “mi-
nistério” para caracterizar a sua vida conjugal. Assim como
se fala de ministério sacerdotal, deve-se falar de ministério
conjugal, único, original, insubstituível, recebido de Cristo.
Esse ministério não é somente um dever, é também um
poder e ainda uma graça. O dever de trabalhar na santi-
ficação de seu cônjuge; o poder dado por Cristo para este
trabalho; a graça, o auxílio de Cristo que nunca os deixará
sós nessa tarefa.
Entendam bem esse ministério, entendam como devem
trabalhar na sua santificação mútua. Não é como se fossem
dois pregadores que ficam edificando um ao outro fazen-
do sermões, mas é no exercício de sua própria vocação de
cônjuge e pais. Não se trata de fazer esforços para fazer o
bem para o outro, mas sim de se amarem, de se ajudarem
mutuamente, de amarem seus filhos e de assistirem um ao
outro no exercício da paternidade e da maternidade. [...]
129
Capítulo
7
momento em que se apresentam diante de Deus, logo se
põem a falar-lhe. E perguntamo-nos quando é que Deus po-
derá por sua vez lhes falar. Na realidade, Deus não lhes fala.
Escutemos em primeiro lugar Deus que fala e, em segui-
da, respondamos-Lhe. A resposta do homem à Palavra de
Deus é a sua fé. Infelizmente para nós, ocidentais do sé-
culo XX, a fé não é mais do que uma adesão do espírito,
ao passo que, em termos bíblicos, a fé é o impulso de uma
vida inteira, vivida segundo a Palavra de Deus. A fé nos
toma de Deus e nos entrega integralmente a Deus. [...]
O que me leva muitas vezes a perguntar a mim mesmo se
as nossas reuniões de equipe são verdadeiramente assem-
bleias cristãs, e se o Cristo está aí presente, é que não en-
contro nenhuma vibração da religião do Cristo nas poucas
fórmulas de oração que são pronunciadas em voz alta. É
verdadeiramente aí que o papel do Responsável e do Con-
selheiro Espiritual é importante para que, pouco a pouco,
tendo ouvido o Cristo que fala, a assembleia inteira lhe
apresente uma resposta que seja digna d’Ele.
130
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, um gesto
ou atitude que tivemos em relação à busca da santida-
de do seu cônjuge.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a vi-
vência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês que
passou.
• Neste mês, cada casal partilhe um pouco mais sobre
sua Regra de Vida. Sem precisar falar desta Regra de
Vida, partilhe como ela o ajudou no exercício de re-
conhecimento de que “somos de barro” nas mãos
de Deus e que precisamos continuar progredindo em
nossa vida cristã, conjugal e familiar para atingirmos a
perfeição-santidade que Ele quer de nós.
131
Capítulo
7
• Por isso, faça um esforço maior para neste mês propor
uma Regra de Vida nova ou rever a que já estabeleceu,
de modo que ela seja uma salvaguarda e um suporte
para crescer na espiritualidade conjugal.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Regra de Vida no dia a dia, procure ler o
documento A REGRA DE VIDA, disponível no site: ens.
org.br (Livraria).
62 - ENS. A Regra de Vida. Publicado pela Super-Região Brasil, 2017. Pe. Caffarel.
L’Anneau d’Or, nº 87-88, 1959; Número especial “Mille foyers à Rome”.
132
• Vocês consideram que o vosso matrimônio é realmen-
te um caminho de santidade em casal? Está sendo um
caminho fácil ou difícil?
Magnificat
133
John Faed (1819-1902)
Póstumo e Imogênia
(uma cena de Cymbeline de Shakespeare)
Introdução Geral
Nos vários escritos do Padre Caffarel, lemos com insistência
que “estar no Movimento (das ENS) é procurar Cristo e, en-
contrando-O, segui-Lo com toda a determinação”. Assim,
o objetivo nº 1, para utilizar a expressão do fundador, é a
união com Cristo.63 Diz com impressionante acuidade: “A
única intenção verdadeira (para se entrar nas ENS), a que
corresponde à finalidade das equipes, é a vontade de co-
nhecer Deus melhor, de O amar melhor, de O servir melhor.
Vem-se para as equipes por Deus e fica-se nelas por Deus.
O motivo da entrada e da permanência nas equipes é reli-
gioso, ou seja, diz respeito a Deus”.64
63 - Cf. Que vindes fazer nas equipes? in: Carta Mensal francesa, novembro de 1948.
64 - Por Deus, in: Carta Mensal, dezembro de 1962.
136
É o que podemos ler nas primeiras linhas do Guia das ENS:
“Os casais cristãos, unidos pelo sacramento do matrimô-
nio, são chamados a seguir o Cristo no caminho do amor,
da felicidade e da santidade. As Equipes de Nossa Senhora,
dom do Espírito Santo, são oferecidas aos casais do mundo
inteiro para ajudá-los a desenvolver e a viver a sua espiritu-
alidade conjugal”.65
Portanto, aí encontramos a contribuição específica das ENS
no caminho de santidade do casal. Em sua pedagogia e mís-
tica são estabelecidas algumas “regras”, “obrigações” ou
“pontos concretos de esforço” a fim de guardar a fidelida-
de e unidade à inspiração original (carisma) do Movimento
e à sua “internacionalidade” (para casais do mundo todo),
e que dizem respeito aos leigos casados, que receberam o
sacramento do matrimônio.
Conduzir cada casal unido pelo sacramento do matrimônio
a transformar em Cristo a sua vida conjugal e familiar é cla-
ramente a intuição de base do nosso Movimento.
O que é a espiritualidade conjugal? Como nos responde Pe.
Caffarel: é “a arte de viver no casamento o ideal evangéli-
co que Cristo propõe a todos os seus discípulos”.66 Ou, a
ciência e a arte de se santificar no e pelo matrimônio é a
espiritualidade conjugal.
A espiritualidade conjugal não é constituída pela soma de
duas espiritualidades, do marido e da esposa; a espirituali-
dade conjugal não exclui, de forma nenhuma, a espiritua-
lidade pessoal de cada um dos cônjuges; a espiritualidade
conjugal é um caminho a dois para chegar à santidade
com a força da graça de Deus, no cotidiano do casal e
na sua vida guiada pelo amor; portanto, a espiritualidade
conjugal não pode ser uma soma do potencial espiritual de
65 - ENS. Guia das Equipes de Nossa Senhora, Introdução.
66 - Henri Caffarel. Viens et Suis-Moi. Carta Mensal francesa, Ano XVI – nº 2 –
novembro 1962.
137
Capítulo
8
cada um dos cônjuges, mas uma possibilidade de multipli-
cação deste potencial espiritual.
Para nós equipistas, praticar a espiritualidade conjugal con-
siste em viver a ação sacramental, ou seja, fazer agir o sa-
cramento do matrimônio por gestos, palavras e atos espe-
cíficos do amor natural que une o casal; a espiritualidade
conjugal é essencialmente uma existência sacramental de
duas pessoas – homem e mulher – apaixonadas por Cristo
e unidas pelo sacramento do matrimônio para viver um ca-
minho de santidade.
É importante destacar a presença do Sacerdote Conselheiro
Espiritual nas ENS. Ele faz parte do carisma do Movimento e
seu papel é ajudar os casais a serem fiéis a esse carisma. Ele
exerce na equipe de base seu ministério pastoral e espiritu-
al: ensinar, santificar, reger. O SCE participa de uma equipe
para ajudar os casais em sua santificação.67
Texto Bíblico:
Efésios 5, 21-33
Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo. As
mulheres o sejam aos maridos, como ao Senhor, pois o
marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a
cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual ele é o Salvador. Por
outro lado, como a Igreja se submete a Cristo, que as mu-
lheres também se submetam, em tudo, a seus maridos.
Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também
amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela
palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele
quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem
ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito. É assim
que os maridos devem amar suas esposas, como amam seu
67 - ENS/ERI. O Padre Conselheiro e o Acompanhamento Espiritual nas Equipes
de Nossa Senhora. Paris, março de 2017. (disponível no site da ERI)
138
próprio corpo. Aquele que ama sua esposa está amando a
si mesmo. Ninguém jamais odiou sua própria carne. Pelo
contrário, alimenta-a e a cerca de cuidado, como Cristo faz
com a Igreja; e nós somos membros do seu corpo! Por isso,
o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mu-
lher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande –
eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja. Enfim, cada
um de vós também ame a sua esposa como a si mesmo; e
que a esposa tenha respeito pelo marido.
139
Capítulo
8
É nesse contexto que deve ser lido o texto epigrafado: Olhan-
do para a meta, a perfeição em Cristo, mas sabendo que há
uma longa estrada a percorrer, para cujo caminho Paulo faz
um ensinamento comportamental: à imitação de Cristo.
“Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo” é
um ensinamento dirigido a todos os cristãos. Aqui pode-
-se olhar para Cristo, que foi submisso à vontade do Pai,
ou para Maria, que se coloca como escrava de Deus. Essa
submissão não é um rebaixamento, e sim um ato de amor;
é disponibilidade para o serviço aos irmãos.
É este também o sentido de as mulheres serem “submissas
a seus maridos”. Embora influenciado pela cultura da épo-
ca, quando as mulheres eram consideradas propriedades
dos seus maridos, Paulo eleva essa submissão, dando-lhe
um sentido de servir amando. Também sob influência da
cultura de então, Paulo dá várias atribuições ao marido:
a ele cabe amar a sua mulher como Cristo amou a Igreja,
cuidar dela, nutri-la, amá-la como a seu próprio corpo e
ser capaz de “morrer” por ela.
Na verdade, todas essas obrigações são mútuas: marido e
mulher devem se amar e servir um ao outro. Assim, ambos
devem proceder à imitação de Jesus Cristo, que deu sua
vida para purificar e santificar a Igreja, “para apresentar a
si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou
qualquer outro defeito, mas santa e imaculada” (5, 27; cf.
Ap 19, 7-8).
Aqui se assenta a razão principal da espiritualidade conju-
gal: Cristo quer que sua esposa, a Igreja, seja toda santa,
e para tanto lhe dá as graças no seu tempo. Também ma-
rido e mulher devem se amar mutuamente, auxiliando-se
concretamente um ao outro, para que ambos, como “uma
só carne”, cresçam em santidade, e alcancem a meta: a
plenitude em Cristo. Eis o “grande mistério”.
140
É importante observar o sentido de “carne”. Não se trata
de carne de açougue, mas corpo carnal vivo. “O Verbo
se fez carne” significa que Deus, puro espírito, se fez um
ser humano, que veio santificar também o corpo humano.
Sendo “uma só carne”, o casal se torna a união de duas
vidas, vidas de corpo e espírito. Como Cristo se fez corpo
humano vivo para salvar a humanidade, também marido
e mulher, com seu corpo e seu espírito, devem ser instru-
mento de salvação um para o outro, no amor mútuo, uni-
do ao amor de Cristo pela sua Igreja. Toda a ação de Jesus
Cristo se funda no amor de Deus, que deseja a felicidade
para a humanidade. Também o casal encontra no amor a
razão do agir de ambos a serviço da felicidade (santidade)
um do outro.
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Na origem da espiritualidade conjugal há um apelo de
Cristo ao casal, e por isso, assim escreve Pe. Caffarel, ci-
tando um jovem camponês, interlocutor seu: “Para nós, os
esposos, a nossa vocação é caminhar juntos para Cristo,
um e o outro, um com o outro, um pelo outro”.68
A fonte do amor cristão, afirma também o Pe. Caffarel,
“não está no coração do homem. Está em Deus. Para os
esposos que querem amar, que querem aprender a amar
cada vez mais, há um único bom conselho: procurem
Deus, amem Deus, sejam unidos a Deus, deixem-Lhe todo
o espaço”.69 Deus está na origem do amor do casal, mas
é também o seu termo. O amor vem de Deus e vai para
Deus; Deus é o alfa e o ômega do amor conjugal.
68 - Henri Caffarel. “Por uma espiritualidade do cristão casado”.
In: Espiritualidade Conjugal, p. 38.
69 - Henri Caffarel. Lotissements. L’Anneau d'Or, no 35, setembro-outubro 1950,
p. 310 a 311 [1- p. 4] Ver também: O Amor e a Graça, capítulo I, p. 28-29.
141
Capítulo
8
Como podemos observar nos textos a seguir, a vivência
da espiritualidade conjugal equivale a cristianizar toda a
vida do casal e fazer resplandecer a glória de Deus em
suas vidas, pois é uma comunhão sobrenatural, um vínculo
habitado pelo Espírito Santo. Na intimidade do amor con-
jugal está presente a Trindade, fazendo-se presente neste
“templo da comunhão matrimonial”. Como afirma o Papa
Francisco, “a espiritualidade matrimonial é uma espiritua-
lidade do vínculo habitado pelo amor divino”.70
Como nenhum casal é uma realidade perfeita, e “confec-
cionado” de uma vez para sempre, o desafio de viver a
espiritualidade conjugal representa este requisito, esta ne-
cessidade de um progressivo amadurecimento em sua ca-
pacidade de amar em duas dimensões: humana e espiritual.
142
a. Espiritualidade da comunhão sobrenatural
A presença do Senhor habita na família real e concreta,
com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propó-
sitos diários. Quando se vive em família, é difícil fingir e
mentir, não podemos mostrar uma máscara. Se o amor
anima esta autenticidade, o Senhor reina nela com a sua
alegria e a sua paz. A espiritualidade do amor familiar
é feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus
tem a sua própria habitação nesta variedade de dons e
encontros que fazem maturar a comunhão. Esta dedica-
ção une “o humano e o divino”, porque está cheia do
amor de Deus. Em suma, a espiritualidade matrimonial
é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor di-
vino. (AL, 315)
143
Capítulo
8
c. Espiritualidade do amor exclusivo e libertador
No matrimônio, vive-se também o sentido de perten-
cer completamente a uma única pessoa. Os esposos
assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gas-
tar-se juntos, e assim refletem a fidelidade de Deus.
Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é
uma “exigência interior do pacto de amor conjugal”,
porque, “quem não se decide a amar para sempre, é
difícil que possa amar deveras um só dia”. Mas isto
não teria significado espiritual se fosse apenas uma lei
vivida com resignação. É uma pertença do coração, lá
onde só Deus vê (cf. Mt 5,28). Cada manhã, quando
se levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta de-
cisão de fidelidade, suceda o que suceder ao longo do
dia. E cada um, quando vai dormir, espera levantar-se
para continuar esta aventura, confiando na ajuda do
Senhor. Assim, cada cônjuge é para o outro sinal e
instrumento da proximidade do Senhor, que não nos
deixa sozinhos: “Eu estarei sempre convosco, até o fim
dos tempos”. (AL, 319)
144
jugal”. Assim, os dois são entre si reflexos do amor
divino, que conforta com a palavra, o olhar, a ajuda, a
carícia, o abraço. Por isso, “querer formar uma família
é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a co-
ragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com
Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de cons-
truir um mundo onde ninguém se sinta só”. (AL, 321)
Espiritualidade Conjugal:
A ciência e a arte de se santificar no e pelo sacerdócio é a
espiritualidade sacerdotal. A ciência e a arte de se santifi-
car no e pelo matrimônio é a espiritualidade conjugal.
Trata-se de cristianizar toda a vida familiar. Primeiro, pes-
quisar o sentido cristão de todas as realidades familiares
e de se questionar: “No fundo, qual é o pensamento de
Deus sobre o amor, sobre a paternidade e a maternidade,
a sexualidade, a educação, sobre todas as grandes reali-
dades do lar?” E não apenas descobrir, mas ainda querer
realizar a ideia de Deus em todos esses campos.
É preciso ainda pesquisar o que se gosta de chamar de um
estilo cristão de família: o estilo cristão das relações entre
pessoas, entre os esposos, entre pais e filhos, entre pais
e avós, entre a família e os amigos; um estilo cristão do
contexto: da casa, das refeições, das despesas; um estilo
cristão das atividades cotidianas: o trabalho, o lazer, o le-
vantar-se, o deitar-se, as vigílias, a hospitalidade.
Como fazer para que tudo isso seja cristão, pareça cristão,
que tudo isso reverbere a luz da graça de Cristo?
71 - Pe. Henri Caffarel. Publicado em L’Anneau d’Or, nº 84. Encontra-se também publicado
em: Padre Caffarel – Profeta do Matrimônio, capítulo IV, Tema de Estudo 2009.
145
Capítulo
8
Um estilo cristão dos dias: o domingo não se vive como o
sábado, o sábado como a quinta-feira, a quinta-feira como
os outros dias da semana; um estilo cristão nos grandes
eventos: o nascimento, a enfermidade, as provações, o ca-
samento, a morte... Viver de maneira cristã esses aconte-
cimentos. E tudo isso “para que Deus seja glorificado em
todas as coisas”, como dizem os beneditinos.
Finalmente, a família não sendo isolada na cidade e na
Igreja, essa espiritualidade conjugal e familiar é também
a espiritualidade do engajamento da família nas tarefas
humanas e nas tarefas eclesiais.
146
É preciso que na pequena Ecclesia a alma da grande Ec-
clesia se encontre toda, vibrando. É bem por isso que nos
Estatutos das Equipes de Nossa Senhora acha-se escrito:
“Evocam-se na oração, para adotá-las, as grandes inten-
ções da grande Igreja”.
Em uma palavra, se a pequena Ecclesia não lançar raízes
na Igreja, não passará de uma seita. Todo o seu sentido lhe
vem da sua relação com a Igreja e, quando falo da Igreja,
eu penso naquela da terra, mas penso também na do céu.
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, um gesto ou
atitude que tivemos para fortalecer nossa espiritualida-
de conjugal.
147
Capítulo
8 Leitura da Palavra de Deus e Meditação
Efésios 5, 21-33
Ver na página 138.
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
• É muito possível que, até o presente momento, o ca-
sal já tenha participado de um Retiro nesse ano equi-
pista. Do contrário, programe-se e participe do pró-
ximo Retiro.
• Neste momento, partilhe a importância que o Retiro
tem para vocês.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como me-
lhorar sua participação em um Retiro, procure ler o docu-
mento O RETIRO, disponível no site: ens.og.br (Livraria).
72 - ENS. O Retiro. Publicado pela Super-Região Brasil, 2017. Ver também em:
Carta Mensal francesa, n° 5, fevereiro de 1960.
148
se robustece, readquire vida. É no Retiro que se torna possí-
vel abrirmo-nos, nós mesmos, ao sopro da Palavra de Deus”.
Magnificat
149
Balanço
Balanço
Objetivos
• Compartilhar e revisar o caminho de santidade pesso-
al e do casal vivido ao longo do ano.
Texto Bíblico
Lucas 13, 6-9
151
figos, mas não encontrou. Então disse ao agricultor: Já faz
três anos que venho procurando figos nesta figueira e
nada encontro. Corta-a! Para que ela ocupa inutilmente
o terreno? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda
este ano. Vou cavar em volta e pôr adubo. Pode ser que
venha a dar fruto; caso contrário, tu a cortarás.
152
frutos bons para o “Dono da vinha”. Mesmo assim, há
uma “figueira” que só ocupa espaço na vinha, suga
egoisticamente a fertilidade da terra, obstaculizando o
bom desenvolvimento da vinha à sua volta e causando
prejuízos.
Apesar disso, essa “figueira” é muito especial: o Dono da
vinha se preocupou com ela, mas por muito tempo ela
não produziu frutos, e o tempo final chegará de surpresa.
O texto, intencionalmente, não diz se, depois do reforço
na adubação, irrigação etc., a figueira deu ou não frutos.
O final dessa parábola está em cada pessoa humana, até
o final dos tempos. O resultado está no esforço individual
de cada pessoa. Deus sempre disponibiliza a graça, mas
deixa a pessoa livre para servir-se desse “adubo”.
O final de ano equipista é sempre propício para verificar
como a “figueira” está produzindo frutos. O solo onde a
figueira da parábola estava plantada era bom, pois ficava
no meio da vinha; mesmo assim, ela não produzia.
Talvez, apesar da “terra fértil”, também o casal e a equipe
não estejam dando bons frutos. Talvez estejam conven-
cidos de que se bastam a si mesmos, ou que já são bons
o suficiente; talvez, inconsciente e comodisticamente, di-
gam: “ser mais santo atrapalha”; por isso, também não se
preocupam com quem está à sua volta na vinha do Senhor.
A parábola é um convite misericordioso de Deus à con-
versão, neste caminho de busca da santidade. O casal
cristão sabe que é fraco, que sozinho não vai dar frutos
bons; por isso conta com o “Agricultor”. Jesus Cristo,
Misericórdia do Pai, está sempre disponível, insistindo
mesmo para dar-lhe os dons do Espírito Santo, para que
produza frutos de santidade.
153
Texto do Pe. Caffarel
73 - Lettre Mensuelle, ano VIII, no 1, outubro 1954 – Je me suis fatigué pour trouver
Dieu. Publicado no Brasil, "Raízes do Movimento, Carta Mensal, n° 469,
fevereiro/março de 2013; Carta Mensal, n° 1, ano III, março 1955.
154
de garagem, mas verdadeira estrada real que nos conduz
a Deus; que o mistério do Amor nos leva em cheio ao
mistério de Cristo e da Igreja!
155
E se tendes fome de Cristo, de fato O procurais? Consa-
grais ao menos um momento todos os dias para ler as Es-
crituras? Sabeis reservar, em vossas vidas sobrecarregadas,
algum tempo para aprofundar a vossa fé?
156
Partilha
A Partilha, como vimos ao longo de nossas reuniões nes-
te ano equipista, tem por objetivo ser uma comunicação
em profundidade sobre a vida do casal, centrada sobre
os Pontos Concretos de Esforço (PCEs). Estes PCEs são
as colunas ou as vigas mestras da vida interior do casal
pertencente às ENS, ou seja, da espiritualidade conjugal.
Quanto ao casal:
157
Quanto à equipe:
Quanto ao Movimento:
Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
158
• Os textos do Pe. Caffarel, utilizados neste Tema de Es-
tudo, possuem uma distância de mais ou menos 50 a
70 anos em relação aos escritos atuais do Papa Fran-
cisco. O que você achou da atualidade do pensamento
do Pe. Caffarel em relação à santidade do casal? Re-
presenta, ainda hoje, uma contribuição à teologia do
matrimônio?
Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)
Magnificat
159
Anexos
Anexo I
Como fazer a Leitura Orante da Bíblia
Lectio Divina – Os quatro degraus
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“Devemos exercer a Lectio Divina, escutar nas escrituras
o pensamento de Cristo, aprender a pensar com Cristo,
a pensar o pensamento de Cristo e, desta maneira, ter os
pensamentos de Cristo, ser capazes de dar aos demais
também o pensamento de Cristo e os sentimentos de
Cristo”, disse o Papa Bento XVI.
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1º) Leitura: “O homem é aquilo que ele lê”
O primeiro passo é a escolha do texto bíblico. Escolhido
o texto, comece a leitura, leia quantas vezes for neces-
sário até que a Palavra de Deus ressoe dentro de você
e te absorva para dentro Dela. É na leitura que o texto
sagrado começa a se realizar; a Palavra que está sendo
lida com fé se atualiza naquele momento.
Perceba também do que se trata no texto. O que este
trecho diz? De quem está falando? A quem está sendo
dirigido? No próximo degrau, que é a meditação, você
traz o texto para a realidade que você vive hoje.
Escreva em poucas palavras o que você percebeu do
texto até este momento. Por exemplo: no texto de hoje
Jesus está visitando uma casa, e já pode fazer uma pre-
ce: Jesus visita também minha casa.
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3º) Oração: “A oração é um caminho seguro para a
santificação”
Quem ora assiduamente com a Palavra de Deus perce-
be que Alguém vem ao seu encontro. Concretamente,
na oração devemos responder o que o texto lido e me-
ditado nos leva a dizer a Deus.
Pode louvar, agradecer, suplicar ou interceder; enfim, é
hora especialmente de pedir que a graça aconteça e seja
abundante. Que a Palavra venha a cumprir sua missão.
As Sagradas Escrituras dizem: “…a palavra que minha
boca profere não volta sem ter produzido seu efeito,
sem ter executado a minha vontade e cumprido sua mis-
são…” (Is 55,10-11). A oração é a resposta ao que Deus
falou na leitura e na meditação. O que Deus falou? Qual
a sua resposta?
Escreva sua oração.
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“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a
criatura.” (Mc 16,15)
Por último é hora de tornar a oração eficaz, testemu-
nhando com atitudes as mudanças que a Palavra de
Deus provocou em sua vida.
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Anexo II
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começarmos a traçar o nosso roteiro de vida em sintonia
com o caminhar da Igreja, com fidelidade às nossas fon-
tes e na mística da nossa adesão total a Cristo e à nossa
Mãe Maria, que nos conduz e nos encoraja.
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assumir. Parafraseando o Papa Francisco no EG nº171: Hoje
a Igreja e o mundo precisam de nós, casais das Equipes de
Nossa Senhora, para que, através da nossa formação e da
nossa experiência de acompanhamento, do nosso conheci-
mento de um modo de proceder onde reina a prudência, a
capacidade de compreensão, a arte de esperar, a docilidade
ao Espírito, nos ajudemos entre todos a defender as ovelhas
a nós confiadas dos lobos que tentam desgarrar o rebanho.
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1 º “Não tenhas medo, porque estou con-
tigo, não te aflijas porque sou o teu
Deus. Eu te darei forças e ajudarei…”
(Is 41,10). É uma promessa que nos dá
coragem a dar o passo que nos afasta das nos-
sas seguranças, mas que ao mesmo tempo nos
reveste de uma autoridade que não vem de
nós mesmos, mas da confiança n'Aquele que
nos chama e a quem nós queremos imitar.
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1. Discernir sobre os desafios à nossa volta a que
poderemos dar resposta como Movimento
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através de iniciativas isoladas, mas com nossa estrutu-
ra organizacional e de animação, programas específi-
cos de acompanhamento de casais em situações cau-
sadas pelo mundo de hoje. Esta é a nossa fortaleza e a
contribuição concreta que podemos oferecer à Igreja
e ao mundo de hoje.
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ser aproveitados e adaptados a cada cultura a partir da
compreensão do seu pensamento, das suas expectati-
vas e das suas necessidades.
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trazer à Igreja, que necessita hoje, mais do que nunca,
de discípulos missionários formados, campo em que
nas Equipes de Nossa Senhora jamais deixaremos de
concentrar os nossos esforços. Como sempre, no nos-
so agir, confiemos na nossa Mãe Maria, intercessora e
guia no caminho que nos leva a poder ser como San-
ta Madre Teresa queria, esse lápis nas mãos de Deus,
pronto a escrever o que Ele quiser.
Tó e Zé Clarita e Edgardo
Moura Soares Bernal Fandiño
Responsáveis Internacionais Responsáveis Internacionais
2012-2018 2018-2024
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Anexo III
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Orientou as viúvas:
o amor mais forte que a morte.
Levado pelo Espírito,
conduziu muitos fiéis pelo caminho da oração.
Arrebatado por um fogo devorador,
era habitado por Vós, Senhor.
Deus nosso Pai,
pela intercessão de Nossa Senhora,
pedimos que apresseis o dia
em que a Igreja há de proclamar
a santidade de sua vida,
para que todos encontrem
a alegria de seguir Vosso Filho,
cada um segundo sua vocação no Espírito.
Deus nosso Pai, invocamos o Padre Caffarel para...
(especificar a graça a pedir)
Amém.
No Brasil: [email protected]
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“Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a Igreja
se dedique a promover o desejo da santidade. Peçamos ao
Espírito Santo que infunda em nós um desejo intenso de
ser santos para a maior glória de Deus; e animemo-nos uns
aos outros neste propósito. Assim, compartilharemos uma
felicidade que o mundo não poderá tirar-nos”. (GE, 177)