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EQUIPES DE NOSSA SENHORA

Equipe Responsável Internacional

Casal
Santo:
Alegria da Igreja,
Testemunho
para o Mundo

Super-Região Brasil 2020


EQUIPES DE NOSSA SENHORA
Equipe Responsável Internacional

Casal
Santo:
Alegria da Igreja,
Testemunho para o Mundo

Não tenham medo, saiamos...

Tema de Estudo 2020


Equipes de Nossa Senhora

Responsabilidade
Equipe da Super-Região Brasil

Av. Paulista, 352 • 3o andar • cj. 36


01310-905 • São Paulo • SP
Fones: (11) 3256.1212 • 3257.3599
www.ens.org.br • [email protected]

Coordenação Geral
Lu e Nelson Pereira

Elaboração de Conteúdo
Mariola e Eliseu Calsing, Maria Regina e Carlos Eduardo Heise, Graciete e
Avelino Gambim e Pe. Paulo Renato F. G. Campos

Revisão de Conteúdo
Mariola e Eliseu Calsing, Maria Regina e Carlos Eduardo Heise, Graciete e
Avelino Gambim, Lu e Nelson Pereira, Cristiane e Luiz Antonio Brito, Leila e
Antonio Carlos Oliva, Pe. Paulo Renato F. G. Campos e Pe. Antonio Xavier

Edição e Produção
Nova Bandeira Produções Editoriais Ltda.
R. Turiassu, 390 • 11o andar • cj. 115
05005-000 • São Paulo • SP • (11) 3473.1282
www.novabandeira.com • [email protected]

Direção de Arte
Maria Alice e Ivahy Barcellos

Revisão de Texto
Jussara Lopes
ENS _TEMA2020 _capa/miolo_102019_NB_Bmf

Projeto Gráfico, Diagramação


e Tratamento de Imagens
Nádia Tabuchi

Imagens
Fonte: Wikimedia Commons / Wikimedia

Shutterstock - Capa

Edição exclusiva para distribuição interna sem finalidade comercial

Impresso no Brasil
Sumário
Apresentação............................................................. 5
Introdução ao Tema de Estudo ................................... 7
a) A convocação do
Encontro de Fátima 2018 .................................... 7
b) Estrutura geral................................................ 10
c ) Estrutura de cada reunião.............................. 15
Ressignificando as imagens....................................... 20
Capítulo I - Santidade............................................... 22
Capítulo II –
Caminho de santidade em casal .............................. 38
Capítulo III – Fragilidades:
cultura atual e desigualdades sociais......................... 52
Capítulo IV – Inimigos da santidade:
gnosticismo e pelagianismo...................................... 68
Capítulo V – Oração: exigência de santidade............ 86
Capítulo VI – Eucaristia: fonte de santidade............ 102
Capítulo VII – Ser casal santo hoje.......................... 118
Capítulo VIII – Espiritualidade conjugal:
contribuição específica das ENS
para a santidade do casal....................................... 134
Balanço.................................................................. 150
Anexo I – Como fazer
a Leitura Orante da Bíblia?...................................... 161
Anexo II – Carta de Fátima 2018............................. 166
Anexo III – Oração pela
Canonização do Pe. Henri Caffarel.......................... 174
Apresentação
O Papa Francisco, ao publicar a Exortação Apostólica Gau-
dete et Exsultate – sobre o chamado à santidade no mun-
do atual –, em março de 2018, assim concluía:
“Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a
Igreja se dedique a promover o desejo da santidade. Pe-
çamos ao Espírito Santo que infunda em nós um desejo
intenso de ser santos para a maior glória de Deus; e ani-
memo-nos uns aos outros neste propósito. Assim, com-
partilharemos uma felicidade que o mundo não poderá
tirar-nos”. (GE, 177)
Este também é o objetivo do Tema de Estudo deste ano:
promover sempre mais o desejo de santidade, uma santi-
dade encarnada na vida – no nosso cotidiano – de todos
os casais das Equipes de Nossa Senhora.
Assim se referia o Pe. Henri Caffarel em 1949:
“As Equipes de Nossa Senhora têm por objetivo essencial
ajudar os casais a caminhar para a santidade. Nem mais,
nem menos”.1
Por isto, a razão de ser das Equipes de Nossa Senhora é a
de ajudar os casais a desenvolver as riquezas do sacramen-
to do matrimônio e de viver uma espiritualidade que brota
deste estado de vida matrimonial e familiar. E, deste modo,
estimular os casais a ser testemunhas do casamento cristão
– este grande patrimônio espiritual e social – na Igreja e no
mundo, como um caminho de amor, felicidade e santidade.
Este Tema de Estudo está ligado às orientações do Movi-
mento para o período 2018-2024, que nos encoraja a sair

1 - Guia das Equipes de Nossa Senhora, 1ª edição de 2001, capítulo III –


A razão de ser das ENS.

5
em missão, procurando concretizar a nossa condição de
discípulos missionários de Jesus Cristo.
Com o Tema de Estudo, o Movimento quer nos ajudar
a crescer em nossa fé, a iluminar nossa vida a partir do
Evangelho, a fortalecer nossa identidade cristã, isto é, de
acordo com o estilo de vida de Jesus Cristo.
Ninguém é chamado a viver uma vida medíocre, mas, sim,
uma vida repleta de espiritualidade e de amor a Deus e aos
irmãos, como um caminho de santidade.
Desejamos que todos os casais das Equipes de Nossa Se-
nhora aproveitem bem este Tema de Estudo. Cada reunião
deverá ser um momento ou um degrau no nosso esforço
de santificação como pessoa, como casal e como equipe.
E não nos esqueçamos o que nos diz o Papa Francisco:
"A santidade é o rosto mais belo da Igreja". (GE, 9) E,
certamente, é o rosto mais belo de um movimento eclesial
como as Equipes de Nossa Senhora, que tem em seu ca-
risma o crescimento na espiritualidade conjugal como um
objetivo de santidade e de felicidade conjugal e familiar.
É necessário, contudo, que cada um compreenda e faça
o seu próprio caminho de santidade, vivendo com amor
e testemunhando, onde quer que se encontre, o amor a
Deus e aos irmãos.
Não desanimes, nos diz o Papa Francisco, “porque tens a
força do Espírito Santo para tornar possível a santidade”,
uma vez que ela é fruto da graça e da presença de Deus
em tua vida. (GE, 15)
Clarita e Edgardo Bernal
Equipe Responsável Internacional
Paris, abril de 2019

6
Introdução ao Tema de Estudo
a) A Convocação do Encontro de Fátima 2018

A Carta de Fátima nos faz um alerta e um chama-


do: Não tenham medo, saiamos. Saiamos para agir
na Igreja e no mundo a partir dos desafios que es-
tão à nossa volta, tendo o carisma das Equipes de
Nossa Senhora – que é a espiritualidade conjugal e
a santificação do casal a partir do sacramento do
matrimônio – como essência e catalizador de nos-
sa missão como casais equipistas. Portanto, somos
estimulados a tomar maior consciência de nossa
vocação e missão, e de assumir um espírito missio-
nário como membros de uma equipe de base no
Movimento das ENS.
Queridos casais: não tenham medo, saiamos, signifi-
ca que não devemos ter medo de Jesus Cristo, de sua
Igreja e do próprio Movimento das Equipes de Nossa
Senhora. Neles está o tesouro que enche nossa vida
de alegria e nos dá forças para realizar – graças à
fé – nossos sonhos e oferecer-nos, nós mesmos, em
favor dos mais necessitados do amor divino, parti-
lhando generosamente com os “mais pequenos”,
que se encontram nas periferias da Igreja.2
Como nos diz o Papa Francisco na Exortação Apostó-
lica Gaudete et Exsultate (sobre o chamado à santi-
dade no mundo atual), “não é que a vida tenha uma
missão, mas a vida é uma missão”. (GE,27) O que

2 - Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões de 2018.

7
significa que cada homem e mulher, que cada
criança, jovem, adolescente, adulto ou idoso, que
cada casal é uma missão, e esta é a razão pela qual
todos vivemos neste momento aqui na Terra.
Somos atraídos e enviados por Deus para cumprir
nossa vocação e missão como um grande desafio. Vo-
cação e missão são partes do nosso ser humano: “Eu
sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste
mundo. É preciso considerarmo-nos como que mar-
cados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar,
vivificar, levantar, curar, libertar. Nisto uma pessoa
se revela a enfermeira autêntica, o professor au-
têntico, o político autêntico..., ou seja, pessoas que
decidiram, no mais íntimo de si mesmas, estar com
os outros e ser para os outros. Mas, se uma pessoa
coloca a tarefa de um lado e a vida privada do ou-
tro, tudo se torna cinzento e viverá continuamente à
procura de reconhecimentos ou defendendo as suas
próprias exigências”.3
Portanto, continua o Papa Francisco: “Não é saudá-
vel amar o silêncio e esquivar o encontro com o ou-
tro, desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar
a oração e menosprezar o serviço. Tudo pode ser
recebido e integrado como parte da própria vida
neste mundo, entrando a fazer parte do caminho
de santificação. Somos chamados a viver a contem-
plação mesmo no meio da ação, e santificamo-nos
no exercício responsável e generoso da nossa mis-
são”. (GE, 26)

3 - Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho,


do Papa Francisco), nº 273.

8
Este Tema de Estudo – Casal Santo: Alegria da Igreja
– quer chamar nossa atenção para o seguinte fato:
quanto mais nos santificarmos como pessoa, como
casal e como Equipe de Base – nossa vocação últi-
ma – tanto mais fecundos nos tornaremos para a
Igreja e para o mundo; portanto, mais fecunda será
nossa missão. Vocação e missão!
Para nós, equipistas, a santificação é um caminho
a dois, em equipe, em comunidade eclesial. Cada
cônjuge é um instrumento de santificação do outro
cônjuge. Cada equipista é um instrumento para a
santificação do outro equipista.
O Papa Francisco afirma categoricamente: “Não
acredito na santidade sem oração”. Portanto, “o
santo é uma pessoa com espírito orante, que tem
necessidade de comunicar-se com Deus”. (GE, 147)
É isto que procuramos também numa reunião de
equipe, quando nos reunimos em nome de Cristo:
santificarmo-nos e santificar a cada um dos presen-
tes pela oração e meditação da Palavra de Deus.
Quando formamos uma equipe de base – de ver-
dade – no Movimento das Equipes Nossa Senho-
ra, Cristo está presente. Como uma ecclesia,4 não
se realiza uma reunião qualquer a cada mês, mas
um verdadeiro encontro com Cristo, para que os
casais possam percorrer um caminho comunitário
de santificação, e transformar toda equipe em uma
comunidade eclesial santa e missionária, uma co-
munidade eclesial. Vocação e missão!

4 - O termo Ecclesia é utilizado por Pe. Caffarel para explicar o verdadeiro sentido
da reunião de equipe. O significado deste termo será explicado ao longo de cada
uma das reuniões deste Tema de Estudo.

9
b) Estrutura Geral
É com este cenário que foi concebida a sequência das
reuniões do Tema de Estudo, sempre tendo presente
que a santidade é um caminho em construção, gra-
dual e dinâmico, que nos impele para a missão.
As duas primeiras reuniões abordam em linhas gerais
os fundamentos conceituais da santidade, situando-a
na vida do casal.
As duas próximas reuniões se debruçam sobre algu-
mas fragilidades e empecilhos que podem dificultar
a vivência da santidade e da missão que dela brota.
Estas dificuldades são de ordem concreta (econômica,
social, política e cultural) ou ideológica.
Em contrapartida, a quinta e a sexta reuniões abordam
a oração e a Eucaristia como exigências da santidade,
pois não existe santidade sem oração e sem Eucaristia.
A sétima reunião nos propõe sermos santos hoje, na
condição em que nos encontramos: casais unidos
pelo sacramento do matrimônio, rodeados de ale-
grias, realizações, fragilidades, sofrimentos.
Já a oitava reunião aponta, de forma positiva e encora-
jadora, o carisma das Equipes de Nossa Senhora como
uma possibilidade real de se alcançar a santidade.
Na Reunião de Balanço propõe-se um olhar constru-
tivo sobre a caminhada pessoal, do casal e da equipe
em direção à santidade e à missão.
Eis, esquematicamente, para este ano equipista a
proposta das nove reuniões:

10
1 Santidade

Citações Bíblicas: Mateus 5, 43-48

Objetivos:
● Refletir sobre a vocação de todo ser humano de alcan-
çar a santidade como um dom de Deus e uma tarefa
de cada um.
● Reconhecer que a santidade, graça de Deus, está ao
alcance de todos – do “mais frágil” ao “mais forte”.
● Comprometer-se a fazer de sua vida um caminho de
santidade no contexto em que está inserido e com as
características do seu próprio ser.
● Compreender que ninguém se santifica sozinho, mas
em comunidade.

2 Caminho de santidade em casal

Citações Bíblicas: Gênesis 2, 18-24

Objetivos:
● Reconhecer o sacramento do matrimônio como um ca-
minho de santidade.
● Agradecer, como casal, pela conjugalidade que se cons-
trói nesta caminhada espiritual rumo à santidade.
● Comprometer-se como casal, um com o outro, no
aperfeiçoamento diário de seu caminho de santidade.

11
3 Fragilidades: cultura atual e
desigualdades sociais

Citações Bíblicas: Mateus 5, 1-12

Objetivos:
• Tomar consciência de que o caminho de santidade é
trilhado na concretude da vida, dentro de um contexto
cultural, socioeconômico e político específico.
• Identificar as fragilidades da cultura em contraponto
aos valores do Evangelho (as bem-aventuranças).
• Perceber que a vida de santidade é possível, apesar das
fragilidades de um mundo marcado por tantas desi-
gualdades entre pessoas e nações.

4 Inimigos da santidade:
gnosticismo e pelagianismo

Citações Bíblicas: Mateus 23, 13-15 . 23-28

Objetivos:
● Ter presente que a ação de Deus realiza a santificação
em nós.
● Reconhecer que a arrogância intelectual – gnosticismo
– e a prepotência farisaica – pelagianismo – são obstá-
culos no caminho de santidade.
● Reconhecer o gnosticismo e o pelagianismo como fra-
gilidades que muitas vezes nos afastam do nosso cami-
nho de santidade.

12
5 Oração: exigência de santidade

Citações Bíblicas: Mateus 6, 5-13

Objetivos:
● Compreender que não existe caminho de santidade
sem oração.
● Reconhecer que na oração e com a oração aprendemos
a servir o outro, caminhar na fé e fazer a vontade de
Deus.
● Comprometer-se com a vida de oração pessoal, conju-
gal e familiar.

6 Eucaristia: fonte de santidade

Citações Bíblicas: 1Coríntios 11, 23-26

Objetivos:
● Entender que a Eucaristia é o coração (o centro da vida)
da Igreja; que é a Eucaristia que faz a Igreja.
● Compreender que na Eucaristia estão o segredo e a for-
ça da santidade.
● Compreender que a Eucaristia não pode jamais ser se-
parada da vida concreta da pessoa, do casal, da família.
● Conscientizar-nos de que toda a nossa vida deve ser
eucarística.

13
7 Ser casal santo hoje

Citações Bíblicas: Tobias 8,1-9

Objetivos:
● Agradecer a Deus pela nossa vocação à santidade como
casal.
● Reconhecer que o caminho de santidade se constrói na
gradualidade.
● Entender que a santidade deve ser vivida hoje, no nosso
tempo, diante dos nossos desafios.

8 Espiritualidade conjugal:
contribuição específica das ENS
para a santidade do casal

Citações Bíblicas: Efésios 5, 21-33

Objetivos:
● Alegrar-se pela espiritualidade conjugal, caminho de
santidade do casal.
● Comprometer-se com a vivência do carisma das ENS.
● Reconhecer a importância do Sacramento da Ordem, e
do acompanhamento espiritual, no caminho de santi-
dade dos casais.

14
9 Balanço

Citações Bíblicas: Lucas 13, 6-9

Objetivos:
● Compartilhar e revisar o caminho de santidade pessoal
e do casal vivido ao longo do ano.
● Compartilhar e revisar a caminhada da equipe durante
este ano, e sua contribuição para a santificação de cada
casal equipista.
● Realizar na equipe uma revisão do ano que termina em
relação à mística dos PCE e da Partilha.
● Reconhecer que o chamado à santidade do casal está
intimamente ligado à missão.

c) Estrutura de cada Reunião


1) Objetivos
Para cada reunião são propostos alguns objetivos,
propósitos ou resultados que a equipe de base
deve alcançar ao seu final.
Os objetivos também ajudam na organização dos
conteúdos deste Tema de Estudo, de modo que
possa ser possível dinamizar ou motivar as reuni-
ões de equipe para serem uma verdadeira ecclesia.
2) Introdução geral
Cada reunião inicia-se com uma apresenta-
ção geral do tema que se pretende aprofundar.
Esta introdução procura estabelecer um paralelo
entre o pensamento do Papa Francisco e o do Pe.
Henri Caffarel sobre a santidade, naquele aspecto
particular que está sendo tratado.

15
3) Palavra de Deus5
Depois do texto bíblico escolhido para cada reunião,
segue uma pequena reflexão, sendo desejável que a
Palavra de Deus seja vivida intensamente no período
que antecede a reunião mensal propriamente dita.
Está sendo proposta a Leitura Orante da Palavra de
Deus, ou Lectio Divina, como um elemento funda-
mental da vida espiritual de todo cristão casado.
Em anexo existe uma breve explicação do signifi-
cado dos quatro momentos ou degraus da Leitura
Orante da Palavra de Deus, que são:
a) Leitura:
ler, estudar, familiarizar-se com o texto;
b) Meditação:
descobrir o que Deus tem a me dizer;
c) Oração:
entrar em diálogo e comunhão amorosa com Deus;
d) Contemplação:
pôr em prática a Palavra de Deus, descobrindo
um “jeito novo” de ser e assumir a vida (compro-
misso transformador), especialmente naquele mês.
4) Textos de apoio
São apresentados dois textos que representam o nú-
cleo central do tema de cada reunião: um do Papa
Francisco e outro do Pe. Caffarel, e que permitem per-
ceber a grande proximidade de seus pensamentos.
Precede uma pequena apresentação dos textos ofe-
5 - O texto de referência da Bíblia Sagrada utilizada nas diversas reuniões corresponde
à tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, 1ª edição, 2018.

16
recidos, com o propósito de iniciar um aprofunda-
mento da temática abordada em cada reunião.
5) Orientações para preparar a Reunião de Equipe
Antecedendo algumas sugestões para a reunião
mensal, são transcritas reflexões do Pe. Caffarel
a partir do texto Ecclesia, conferência dirigida a
casais responsáveis das ENS do Brasil, em 1957,
que propõe um “olhar teológico” sobre a reunião
de equipe.6
Trata-se de um texto de extrema relevância para o
Movimento das Equipes de Nossa Senhora e para
cada equipe em particular, na medida em que es-
tabelece as condições básicas para que a reunião
de equipe seja uma verdadeira comunidade reunida
em nome de Cristo, ou seja, uma “pequena Igreja”.
É importante recordar, de acordo com o Guia das
Equipes de Nossa Senhora, que a reunião de equipe
se desenvolve em cinco partes:
a) A refeição
b) A oração e meditação
c) A Partilha dos Pontos Concretos de Esforço
d) A coparticipação
e) A troca de ideias sobre o tema de reflexão
Esta ordem pode mudar, de acordo com a vontade
e/ou necessidade da equipe. Contudo, são partes
ou momentos que precisam ser vividos dentro de
uma única reunião de equipe, com o objetivo de
preservar e fortalecer a pedagogia do Movimento.

6 - Equipes de Nossa Senhora. Palestras e Conferências – Pe. Henri Caffarel. São


Paulo, Super-Região Brasil, 2017. Trata-se de uma edição especial que publica
pronunciamentos do Pe. Caffarel em suas visitas ao Brasil.

17
5.1 - Acolhida e Motivação Inicial
Para o início da reunião de equipe é oferecido um
pequeno texto de motivação, para ser lido, por
exemplo, pelo casal animador da reunião.
5.2 - Coparticipação
Para a coparticipação, como um momento forte de
ajuda mútua, são oferecidas algumas pistas – de ca-
ráter vivencial – para cada reunião.
O objetivo é refletir – e dar-se a conhecer – sobre fa-
tos relevantes que aconteceram na vida de cada um
dos equipistas ao longo do mês que passou.
5.3 - Oração e Meditação da Palavra de Deus
Para cada reunião é sugerido um texto bíblico, sobre
o qual, e a partir da Leitura Orante realizada, cada
um deverá fazer a sua meditação e oração pessoal.
Ao final da meditação sugere-se que seja feita a Ora-
ção Litúrgica, preferencialmente a do Salmo Respon-
sorial da missa do dia da reunião. Essa oração em
comum nos coloca em sintonia com toda a Igreja.
5.4 - Partilha
A cada mês será destacado um PCE para ser vivi-
do de um modo mais especial em casal ou como
equipista. Desse modo, ao final do ano, teremos
a oportunidade de aprofundar a vivência de todos
os PCEs, e ser mais capazes de acolher o Espírito
Santo que age em nós e nos faz crescer na espiritu-
alidade conjugal.
Destaca-se, também, uma frase do Pe. Caffarel ou
de algum outro Sacerdote Conselheiro Espiritual das
ENS a respeito deste PCE, como também se sugere
a leitura de um documento sobre o PCE destaca-

18
do, em geral disponível na biblioteca ou livraria da
­Super-Região ou Região ligada diretamente à ERI.
5.5 - Perguntas para a troca de ideias e experiências
Este momento não é para fazer reflexões teóricas
ou acadêmicas, porque a santidade é existencial, e
precisamos refletir em equipe como estamos confi-
gurando o nosso coração ao coração de Jesus Cristo
em nosso cotidiano.
Como a santidade é um caminho que se faz de for-
ma gradual, as perguntas foram elaboradas, na me-
dida do possível, para sugerir uma reflexão ao longo
das etapas de vida da pessoa ou do casal.
5.6 - Oração pela Canonização do Pe. Caffarel,
Magnificat e envio dos casais em missão
Concluindo a reunião, sugere-se que seja feita a ora-
ção pela canonização do servidor de Deus Pe. Henri
Caffarel (oração que se encontra em anexo), seguida
da oração do Magnificat e da bênção final.
A bênção no final da reunião é um ato de envio para
a missão e de despedida com as graças de Deus, que
é a Perfeição/Santidade que procuramos.
É de suma importância que todos retornem às suas
casas/famílias e ao convívio social, profissional e
eclesial com um compromisso, com esperança, com
a experiência de terem crescido na espiritualidade,
na fraternidade e com a decisão de ser testemunhas
do amor e da fidelidade de Deus.

19
Ressignificando Imagens
Quando estudamos as parábolas de Jesus e procuramos enten-
der cada uma delas, estamos, ainda que pertencentes a culturas
diferentes, procurando descobrir os pontos de semelhança entre
as situações da realidade e o significado espiritual. E Jesus quer ir
além, quer, através de uma história contada, apresentar uma ver-
dade singular, já que ainda não conhecemos completamente quem
é Deus e qual seu plano para nós. Para tanto, a Escuta da Palavra
aliada à linguagem da oração desperta-nos para a possibilidade da
Santidade, que jamais pode ser roubada ou afastada de nós cris-
tãos. Não desanimes, nos diz o Papa Francisco,”porque tens a força
do Espírito Santo para tornar possível a santidade”. (GE 15)
A imagem do 1º capítulo sugere a criação do primeiro casal,
Adão e Eva abrindo o caminho para nossa descendência
humana, e com este ato fazer-nos o convite para sermos Filhos
do Pai. ”Não é bom que o homem esteja só”. (Ge 2,18-24)
No 2º capítulo somos chamados à Santidade, deixando trans-
parecer que podemos participar do aconchego de um lar no
dia a dia e nos espelhar no exemplo da doação e santificação
de São José ao lado de Jesus Menino.
A possibilidade de Santidade, não como uma frágil meta visua-
lizada só no final de nossa existência, mas como um meio de
aperfeiçoamento cultivado diariamente, que nos faça abraçar
nossos entes queridos e aconchegá-los com o encanto e beleza
da história humana, é destacada no 3º capítulo.
Localizamos no 4º capítulo que a Palavra de Deus é Criadora, res-
ponde a nós todos com a primazia da Graça. Chama Santa Ana e
São Joaquim para participarem, também como criadores, do grande
mistério da Natividade, assegurando para a humanidade a certeza
de que na relação do amor entre o casal, encontra-se a Santidade.
No 5º capítulo o amor conjugal deve se estruturar na busca
de maior aproximação entre o casal e os dois com Deus. “Não
acredito na Santidade sem Oração”. (GE 147) Esta frase dita

20
pelo Papa Francisco é um alerta para nos dar credibilidade
nesta experiência. Momentos silenciosos de oração precisam
ser cultivados em solo firme, mas sempre acolhedor!
E no 6º capítulo, a chave é intensificar as qualidades positivas
desta experiência, através da Eucaristia, fonte inesgotável da
Santidade que nos impulsiona e nos completa como seres huma-
nos. Diz o Papa Francisco: “A Eucaristia ocupa um lugar central
na Igreja porque é precisamente ela que faz a Igreja”. (CCE 49)
O aspecto fundamental no 7º capítulo é afirmar que o sacra-
mento da Eucaristia, presente no matrimônio... é um dom
recebido de Deus para a santificação dos esposos (AL, 72) tor-
nando-os responsáveis um pelo outro. “Eis que estou convosco
todos os dias até o fim dos tempos”. (Mt 28,20)
No 8º capítulo a possibilidade de vida espiritual garante um
equilíbrio existencial, é realizada na Igreja, ativada ao lado do
outro e da comunidade. Desse modo, aproximamo-nos cada vez
mais de uma espiritualidade conjugal animada e iluminada pela
disponibilidade da Graça. Diz o Padre Caffarel: “A ciência e a
arte de se santificar no e pelo matrimônio... é a espiritualidade
conjugal”. (L' Anneau d' Or, 84)
A PEDRA Fundamental foi lançada, Deus criou o primeiro casal.
Adão e Eva não corresponderam, não entenderam a proposta da
santificação. Mas Deus enviou outros mensageiros que foram nos
preparando e traçando, ao longo da História, linhas de condutas
cristãs para assimilarmos enquanto pessoas, casal e comunidades.
Um aprendizado difícil, doloroso, mas vitorioso quando então nos
envia Jesus seu Filho que vem nos acompanhando espiritualmente
com mensagens, nos ajudando a vencer as diversas rupturas de
elos que nos unem uns aos outros e que frequentemente nos afas-
tam da reconciliação com nosso Pai. O reencontro com a alma rea-
liza o encontro com Deus e é desta experiência de contato que se
cria a possibilidade da Santidade. ”Pois esta é a vontade de Deus:
a vossa santificação”. (LG 39) A alma é a ponte pela qual se tem
acesso ao Espírito e coloca-nos de volta para casa , onde o poder
da beleza de uma vida cristã pode estar adormecido, mas "existem
belas e impetuosas forças dentro de nós" (São Francisco de Assis).
Maria Alice do Val Barcellos

21
William Blake
(1757-1827)

Adão e Eva
(O Anjo da presença divina
vestindo Adão e Eva com peles)

Inglês de origem, Blake nasceu em Londres em uma


familia de classe média. A Bíblia teve grande influên-
cia em sua personalidade, tornando-se fonte de inspi-
ração no seu trabalho como artista. Viveu muito for-
temente uma época marcada pelo Iluminismo e pela
Revolução Industrial, e logo cedo já conseguia enxer-
gar as injustiças sociais que começavam a aparecer
em suas obras. Ingressou na escola de desenho com
apenas 10 anos de idade e já iniciando uma produção
artística. Além de suas qualidades como impressor
e gravador, também desenvolveu seu lado poético,
quando então ilustrava seus próprios poemas. Foi um
dos ilustradores da obra de Dante Alighieri, A Divina
Comédia, divulgada no mundo todo. Pela sua histó-
ria é considerado um artista completo: poeta, pintor,
ilustrador, gravador, além de místico e revolucionário,
mas sempre profundamente religioso.
Capítulo
1
Santidade
Objetivos
• Refletir sobre a vocação de todo ser humano de al-
cançar a santidade como dom de Deus e tarefa de
cada um.
• Reconhecer que a santidade, graça de Deus, está ao al-
cance de todos – do “mais frágil” ao “mais forte”.
• Comprometer-se a fazer de sua vida um caminho de
santidade no contexto em que está inserido e com as
características do seu próprio ser.
• Compreender que ninguém se santifica sozinho, mas
em comunidade.

Introdução Geral
É lapidar esta frase do Pe. Henri Caffarel, referindo-se aos
objetivos das ENS: “As Equipes de Nossa Senhora têm
por objetivo essencial ajudar os casais a caminhar para
a santidade: nem mais, nem menos”.7
É como o Papa Francisco inicia sua Exortação Apostólica
Gaudete et Exsultate: “Deus quer-nos santos e espera que
não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e
indecisa”. (GE, 1)
Trata-se de um chamado a todos, sem distinção: “Pois esta
é a vontade de Deus: a vossa santificação”. 8

7 - Guia das Equipes de Nossa Senhora, 1ª edição de 2001, capítulo III –


A razão de ser das ENS.
8 - Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, nº 39.

24
A vocação à santidade, aspiração e desejo dos seguidores
de Jesus Cristo, decorre do desígnio e da graça de Deus,
uma vez que pelo batismo todos se tornam filhos de Deus e
participantes da natureza divina. Por isso, é necessário que
todo batizado – pela graça de Deus – guarde e aperfeiçoe
em sua vida a santidade que recebeu.9
Não é necessário que pensemos na santidade como um
conjunto de gestos extraordinários ou modos de agir inco-
muns, raros, distantes da vida das pessoas simples com as
quais convivemos.
Cada um de nós é chamado à santidade. Cada um é chama-
do à santidade no seu estado de vida. Cada um percorre um
caminho próprio e particular de santidade. É importante,
portanto, compreender que cada um tem seu próprio cami-
nho, único e irrepetível, de acordo com sua missão: seja a
pessoa individualmente ou o casal.
“Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com
pequenos gestos” (GE, 16), de amor e partilha, de doação, de
abnegação, de oração, de participação nos sacramentos, de
vida em comunidade, de testemunho, de cuidado do outro,
vivendo e realizando a mensagem de Jesus que Deus quer de
cada um ao longo de sua vida aqui no mundo. Tudo sendo
realizado a partir de um “espírito de santidade”, aberto à
ação sobrenatural que purifica e ilumina. (GE, 31)
A vocação de todo batizado à santidade está ligada a Cristo.
N’Ele tem seu fundamento e sua razão de ser, e somente
n’Ele pode ser adequadamente compreendida. Jesus Cris-
to é o protótipo, o paradigma, o critério e o parâmetro da
busca de santidade de cada cristão. Somos chamados a dei-
xar transparecer no dia a dia da nossa vida o rosto do Mes-
tre, isto é, a nos configurarmos a Ele.

9 - Idem, nº 40.

25
Capítulo
1
O Papa Francisco ressalta: “Não tenhas medo da santidade.
Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo con-
trário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te
criou e serás fiel ao teu próprio ser". (GE, 32)
E continua o Papa: “Não tenhas medo de apontar para mais
alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas
medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade
não te torna menos humano, porque é o encontro da tua
fragilidade com a força da graça. No fundo, (...) na vida
‘existe apenas uma tristeza: a de não ser santo’”. (GE, 34)10

Texto Bíblico
Mateus 5, 43-48
Ouvistes o que foi dito: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu
inimigo!" Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso
Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e
bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somen-
te aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os
publicanos o mesmo? E se saudais somente os vossos irmãos,
que fazeis de extraordinário? Não fazem os gentios o mesmo?
Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um e ao casal, durante o mês, a par-
tir do texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitu-
ra Orante da Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e
Contemplação, conforme esquema e perguntas apresen-
tados no Anexo 1. (p. 112-c)

10 - Nesta passagem, o Papa Francisco cita León Bloy, escritor católico francês em:
A Mulher Pobre (Régio Emília 1978), II, 375.

26
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. (Mt 5,48)
Cristo convida-nos a amar sem medida, que é a medida
do amor verdadeiro. Não o amor interesseiro, que usa de
uma “calculadora” para ver se vale a pena ajudar o outro.
Assim, a perfeição proposta por Jesus é o amor gratuito,
incondicional, magnânimo, e não o que convém por espe-
rar algo em troca.
Esta Palavra nos ensina que a fonte original e a medida da
santidade estão em Deus, porque só pelo amor divino é
que podemos ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito.
Como somos humanos, imperfeitos e pecadores, Jesus
nos pede a perfeição (a santidade) por meio da prática do
amor, amando nossos inimigos, orando por aqueles que
nos perseguem, sendo diferentes dos gentios e publica-
nos. Na verdade, devemos então amar sem distinção.
Na cruz, Jesus perdoou todos aqueles que tiraram sua
vida. Do mesmo modo, para sermos perfeitos, temos
que perdoar aqueles que tiram vidas; aqueles que co-
metem violências contra indefesos e inocentes; aqueles
que nos ofendem e nos tratam mal; aqueles que não
são gentis; aqueles que são indiferentes; aqueles que
nos prejudicam.
“Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece
em Deus e Deus nele”. (1Jo 4,16) De acordo com o Papa
Bento XVI, em sua Carta Encíclica Deus Caritas Est, “essas
palavras exprimem, com singular clareza, o centro da fé
cristã [...]”. (nº 1)

27
Capítulo
1
Por que será que Lucas, ao tratar do mesmo tema – o
amor aos inimigos –, substitui a expressão de Mateus:
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” pela:
“Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordio-
so”? (Lc 6,36)
Na verdade, é para nos mostrar que é na proximidade
compassiva com os pequeninos, os rejeitados e os pecado-
res que Jesus revela de maneira especial a “perfeição” e a
“santidade” de Deus como Pai. E nos convida a aprender
a agir no estilo do Pai e Dele mesmo, com a finalidade de
nos tornarmos “filhos do Pai que está nos céus”.
A santidade de Deus não é somente exemplo inspirador
para cada um de nós cristãos. Ela atua a partir do nos-
so interior quando traduzimos nossos gestos concretos de
amor e partilha, no cotidiano da vida, em favor do outro,
seja de alguém que nos ama ou de nossos inimigos.
Cristo nos sugere que o “caminho cristão” rumo à per-
feição, à santidade, é um caminho nunca acabado, e que
precisamos percorrê-lo com nossos olhos postos neste
Deus santo que nos espera no final de nossa viagem ter-
rena. Nunca seremos perfeitos igual a Deus. Contudo, o
chamado à perfeição deve ser o parâmetro a nos guiar em
nossa jornada rumo à pátria celeste.
Por isso, temos que pedir ao Senhor que derrame sobre
nós um “espírito decidido”, espírito que anime e santi-
fique, todos os dias, as nossas novas proposições, pois é
preciso decidir-se pela santidade todos os dias, escolhê-la
a cada dia.

28
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Com frequência somos levados a pensar que a santidade é
uma meta reservada a poucos escolhidos. A pergunta que
se coloca, então, é a seguinte: o que significa ser santo?
Quem é chamado a ser santo?
O Papa Francisco afirma que “não há nada de mais escla-
recedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu
modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a
simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou
as bem-aventuranças”.11 (GE, 63)
Para Jesus, “a palavra ‘feliz’ ou ‘bem-aventurado’ torna-se
sinônimo de ‘santo’, porque expressa que a pessoa fiel a
Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si
mesma, a verdadeira felicidade”. (GE, 64)
O papa Bento XVI, em uma de suas catequeses sobre a
santidade, diz que “a santidade, a plenitude da vida cristã,
não consiste em realizar empreendimentos extraordiná-
rios, mas em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios,
em fazer nossas as suas atitudes, pensamentos e compor-
tamentos. A medida da santidade é dada pela estatura que
Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Es-
pírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a sua”.12
Neste contexto, as bem-aventuranças são como que o “bi-
lhete de identidade do cristão”. Ser um bom cristão, que
procura viver uma vida santa, é fazer “aquilo que Jesus
disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está deli-
neado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar
transparecer no dia a dia da nossa vida”. (GE, 63)

11 - Cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23.


12 - Papa Bento XVI. A Santidade. Audiência Geral, Praça de São Pedro, 13 de abril
de 2011. In: https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2011/
documents/hf_ben-xvi_aud_20110413.html

29
Capítulo
1
Quando olhamos para a vida e obra do Pe. Caffarel,
vemos que ele tinha a santidade como uma exigência
pessoal, tanto para o serviço que realizava quanto para
sua vida espiritual.
Era um “sedento de Deus”.13 Esta sede do Deus vivo, que
era uma de suas obsessões, ele queria que os casais das
Equipes de Nossa Senhora também a tivessem e que fos-
sem verdadeiros “buscadores de Deus”, apaixonados por
Deus, para os quais Deus interessa acima de tudo, e que
sempre procurassem o essencial: Jesus Cristo.14
O que é, então, santidade? Como nos esclarece a Exortação
Apostólica Gaudete et Exsultate: (67-94)
• Ser pobre no coração: isto é santidade.

• Reagir com humilde mansidão: isto é santidade.

• Saber chorar com os outros: isto é santidade.

• Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade.

• Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.

• Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor:


isto é santidade.

• Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade.

• Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo


que nos acarrete problemas: isto é santidade.

13 - Jean Allemand. Henri Caffarel: um Homem Arrebatado por Deus. São Paulo,
ENS – Super-Região Brasil.
14 - Pe. Henri Caffarel. “Um amor que dá testemunho do Deus amor”, publicado em
Centelhas de sua Mensagem. São Paulo, ENS – Super-Região Brasil, p. 30.

30
Texto do Papa Francisco 15

“Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, re-


ligiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar
que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm
possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para
dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos
chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o
próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada
um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado?
Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado?
Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua
esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador?
Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu
trabalho a serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô?
Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem
Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando
pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pes-
soais”. (GE, 14)
“Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo
com pequenos gestos. Por exemplo, uma senhora vai ao
mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, come-
çam a falar e… surgem as críticas. Mas esta mulher diz para
consigo: ‘Não! Não falarei mal de ninguém’. Isto é um pas-
so rumo à santidade. Depois, em casa, o seu filho reclama
a atenção dela para falar das suas fantasias e ela, embora
cansada, senta-se ao seu lado e escuta com paciência e
carinho. Trata-se de outra oferta que santifica. Ou então
atravessa um momento de angústia, mas lembra-se do
amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé. Este é
outro caminho de santidade. Em outra ocasião, segue pela
estrada afora, encontra um pobre e detém-se a conversar
carinhosamente com ele. É mais um passo”. (GE, 16)
15 - Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do Santo Padre Francisco sobre a
chamada à santidade no mundo atual.

31
Capítulo
1 Texto do Pe. Caffarel
A “tentação da santidade”.16
Proponho-me, pois, a dar-vos uma introdução à “espi-
ritualidade do cristão casado”. Mas, desde o início, rea-
firmemos que: não há várias santidades; há apenas uma
perfeição cristã. São Tomás de Aquino definiu-a assim:
“Todo ser é perfeito desde que atinja a sua finalidade, que
é a sua última perfeição; ora, a última finalidade da vida
humana é Deus e é a caridade que nos une a Ele, segundo
as palavras de S. João: ‘Aquele que permanece na carida-
de está em Deus e Deus nele’. É, pois, especialmente na
caridade que consiste a perfeição da vida cristã”. Para o
leigo, para o religioso, a santidade é a mesma, define-se
do mesmo modo.
Todo cristão – e, portanto, também todo cristão casado –
é chamado à perfeição.
No entanto, é necessário reconhecer que, quando tomam
consciência disso, os leigos entram por vezes em pânico
diante desta perspectiva da santidade. Nada é tão impres-
sionante [e reveladora deste pânico] como esta confissão
de Jacques Rivière: “Meu Deus, afasta de mim a tentação
da santidade. Não é para mim. Contentai-vos com uma
vida pura e paciente que eu farei todos os esforços para
vos dar. Não me priveis das alegrias deliciosas que conhe-
ci, que tanto amei, que tanto aspiro a reencontrar. Não
confundais. Eu não sou da espécie que precisas. Eu sou
casado e pai, sou escritor. Não me tenteis com coisas im-
possíveis. Perderia o meu tempo nisso – tempo que posso
empregar de outra forma ao teu serviço!”.

16 - Pe. Henri Caffarel. Por uma Espiritualidade do Cristão Casado. L’Anneau d’Or,
nº 84, 1958.

32
Orientações para Preparar
a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:

Quando em uma de suas casas se realiza a reunião mensal


e os casais, uns após os outros, entram na residência da-
quele que recebe, vocês têm aí uma convocação que pode
não ser mais do que uma reunião como qualquer outra,
ou que pode ser uma Ecclesia.

Se esta reunião é uma Ecclesia – e eu lhes direi dentro em


pouco quais as condições para que o seja –, então estes
poucos casais assim agrupados são, na verdade, uma cé-
lula da grande Igreja. Célula da grande Igreja que repre-
senta, como a imagem representa o original, a grande
convocação que é invisível. E não somente estes casais
assim reunidos representam a convocação invisível de
todos os fiéis, mas também a tornam presente, e é isto
que é preciso ser bem compreendido, é isto que faz vocês
perceberem o mistério: a grande convocação invisível é
tornada presente por estes poucos casais agrupados (ou
reunidos); o mistério da grande Igreja está presente na
pequena Igreja.

Acolhida e Motivação Inicial


Antes de iniciar a reunião de equipe, o Casal Animador da
Reunião poderá ler a seguinte motivação:

33
Capítulo
1
Ao iniciarmos nossa primeira reunião, devemos ter bem
presente que a santidade não é algo que nós procuramos,
que obtemos com as nossas qualidades e as nossas ca-
pacidades. A santidade é um dom que nos dá o Senhor
Jesus, quando nos toma consigo e nos reveste de si mes-
mo, quando nos torna como Ele.
A santidade é a face mais bela da Igreja: é viver em comu-
nhão com Deus, na plenitude da sua vida e do seu amor. A
santidade é um dom que é oferecido a todos; ninguém é ex-
cluído, pelo qual constitui o caráter distintivo de cada cristão.

Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar de forma simples e concreta pelo menos
um gesto ou atitude simples que tivemos (pessoal e/ou
do casal) e que contribuiu para o nosso caminho rumo
à santidade.

Leitura da Palavra de Deus e Meditação


Mateus 5, 43-48
Ver texto bíblico na página 26.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

34
Partilha
Devemos nos lembrar que na origem dos Pontos Concre-
tos de Esforço (PCEs) está a convocação do Senhor de
“sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. É o
apelo audacioso a ser radicalmente fiel a Deus, a andar
nos seus caminhos, a responder ao seu Amor. Portanto,
os PCEs constituem uma verdadeira pedagogia para a fe-
licidade, a santidade e o crescimento na vida espiritual do
casal cristão.
Vamos nos lembrar de que a vivência dos PCEs leva em
conta três linhas mestras sugeridas pela pedagogia do
Movimento das ENS:
• A gradualidade: querer (desejo de) progredir em seu
crescimento espiritual.

• A personalização: caminhada pessoal e em casal.

• O esforço: decisão de progredir, de subir degraus


continuadamente.

Pe. Caffarel dizia que a Partilha é um excelente momento


de purificação. É um gesto de sinceridade, de verdade,
que faz com que não haja mais engano de um para com
os outros. Quando estamos reunidos ao redor de Cristo e
em seu nome, nada mais somos do que pobres pecado-
res. É preciso, então, tirar a máscara; e é preciso deixar de
“bancar o esperto”; a nossa “partilha” tem uma virtude
muito salutar: ela coloca-nos numa atitude de pureza e
de humildade.

35
Capítulo
1
Afirma o Pe. Bernard Olivier:17
“A Partilha quer ser uma comunicação em profundidade
sobre a vida centrada sobre os PCEs. São justamente es-
ses pontos que são as vigas mestras da vida interior do
casal. É preciso, portanto, centrar a Partilha sobre esses
pontos, sabendo, porém, ultrapassá-los para comunicar
verdadeiras experiências de vida e para poder ajudar-se
mutuamente em profundidade. Não se deve, portanto,
contentar-se em dizer se observaram ou não os PCEs,
mas, partindo daí, fazer uma verdadeira partilha de vida”.

• Ao iniciarmos este novo ano equipista, cada um par-


tilhe com sua equipe o que significou a vivência dos
Pontos Concretos de Esforço (PCEs) neste mês que
passou ou no período de férias.

• Cada casal fale um pouco mais sobre como os PCEs


ajudam no crescimento da sua espiritualidade conju-
gal, como um caminho de santificação do casal.

Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é santidade, ou uma discussão acadêmica
de como cada um deve se comportar ou viver no seu
dia a dia para aperfeiçoar seu caminho de santidade.
Vamos conversar em equipe – como forma de entreajuda
– sobre como vivemos ou procuramos viver a santidade
no nosso cotidiano.
17 - Pe. Bernard Olivier foi Conselheiro Espiritual da ERI – Equipe Responsável
Internacional no período de 1986-1994. Coordenou um projeto sobre
Sexualidade Conjugal no âmbito do Movimento das ENS.

36
• Você, na sua juventude, alguma vez pensou que gosta-
ria de ser santo? Seja afirmativa ou negativa a respos-
ta, conte para sua equipe.

• E como namorados/noivos, vocês conversaram sobre o


matrimônio como um caminho de santidade? Se afirma-
tivo, o que e por que conversaram? Se não, o que es-
peravam viver no casamento?

• Com os desafios de hoje, a santidade ainda encontra


eco entre os jovens e adolescentes?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão


37
Murillo
Bartolomé Esteban Murilo (1617-1682)
La Sagrada Família del Pajarito
Nascido em Sevilha, na Espanha, Murillo pertencia a
uma família numerosa, mas logo cedo ficou órfão, sen-
do criado por sua irmã. Iniciou seus estudos artísticos aos
17 anos. Seu talento começa a aparecer em abordagens
bem realistas. Tornou-se um pintor de grande expressão
e um dos mais conhecidos de toda a Europa. Morreu
em Sevilha, aos 64 anos. Mais detalhes da vida de
Murillo podem ser encontrados no Livro Tema de
2019 – (Reconciliação, Sinal de Amor, pág. 111).
O título da obra em questão origina-se no detalhe
do passarinho que Jesus segura na mão. A cena é
um ambiente bem familiar da época, como se o
pintor retratasse a sua própria casa. Ausência de
elementos celestes ou divinos, como se costuma-
va apresentar em temas dessa natureza. Jesus
brincando é a figura principal, e é apresenta-
do sob uma luz intensa, provocando muitos
contrastes de luz e sombra. Acompanhado
pelo pai e pela mãe. José é retratado nesta
obra também como uma das principais fi-
guras da cena, e isso foi graças a um deba-
te teológico sobre o papel que José havia
desempenhado na vida de Jesus. Inicial-
mente, pensava-se que ele não tivesse
participado da educação de Jesus. No
entanto o tempo mostrou que ele teve
papel muitíssimo importante na vida
de Jesus e, como resultado, nessa
obra ele é representado como o pai
ideal, com um rosto inteligente, pa-
ciente e amoroso.
Capítulo
2 Caminho de
Santidade em Casal
Objetivos
• Reconhecer o sacramento do matrimônio como um ca-
minho de santidade.

• Agradecer, como casal, pela conjugalidade que se


constrói nesta caminhada espiritual rumo à santidade.

• Comprometer-se como casal, um com o outro, no


aperfeiçoamento diário de seu caminho de santidade.

Introdução Geral
O objetivo da vida conjugal, que une os corações de um
homem e de uma mulher que se amam pelo sacramento
do matrimônio, e que os une na unidade e na indissolu-
bilidade, “não é apenas (o de) viver juntos para sempre,
mas (o de) amar-se para sempre. [...] Só à luz da loucura
da gratuidade do amor pascal de Jesus é que parecerá
compreensível a loucura da gratuidade de um amor con-
jugal único e usque ad mortem” (até a morte).18

18 - Sínodo dos Bispos. A Vocação e a Missão da Família na Igreja e no Mundo


Contemporâneo. Relatório Final do Sínodo dos Bispos ao Santo Padre
Francisco. XIV Assembleia Geral Ordinária, nº 1.

40
O casal alcança pouco a pouco, dia a dia, com a graça de
Deus, sua santidade através da vida matrimonial e familiar,
enquanto participante da cruz de Cristo, que transforma
as dificuldades e os sofrimentos em oferenda de amor.
Os esposos tornam-se capazes de levar uma vida santa
pela graça de Deus.19
Pe. Caffarel dizia que “as graças do matrimônio serão
estéreis sem a cooperação dos esposos”, isto é, suas
riquezas espirituais ficam soterradas e improdutivas
quando o casal não coopera com as graças conjugais
recebidas de Deus pelo sacramento. Por isso, o caminho
de santidade do casal cristão é um “caminho do amor”,
em que os esposos se amam sempre mais e melhor. É a
graça de Deus que “convida ao melhor amor; e o me-
lhor amor abre-se mais largamente à graça de Deus”.20
Como afirma Pe. Olivier, “a comunhão profunda no
seio de um verdadeiro casal é, sem dúvida, uma das
experiências mais ‘gratificantes’ e das que mais con-
tribuem para o desabrochar do casal. É uma fonte de
grande felicidade”. 21
Portanto, a vida conjugal é um pacto de amor, com
elevado significado espiritual, em que cada cônjuge é
para o outro sinal e instrumento da proximidade do
Senhor, que não os deixa sozinhos neste caminho de
santidade. “Estou convosco todos os dias, até o fim
dos tempos”. (Mt 28,20)

19 - Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 49 § 2.


20 - Pe. Henri Caffarel. “Cooperação”. In: O Amor e a Graça, capítulo II – Grande é
esse mistério.
21 - Bernard Olivier. Amor, Felicidade e Santidade. Publicado pela Super-Região
Brasil, edição atualizada em 2010, p. 74.

41
Capítulo
2 Texto Bíblico
Gênesis 2,18-24

E o Senhor Deus disse:


“Não é bom que o homem esteja só. Vou providenciar
um auxílio que lhe corresponda”. Então, o Senhor Deus
modelou do solo todos os animais selvagens e todas as
aves do céu, e os trouxe ao homem para ver que nome
lhes daria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe
desse. E o homem deu nome a todos os animais domés-
ticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selva-
gens, mas não se encontrou para o homem um auxílio
que lhe correspondesse. Então, o Senhor Deus fez vir um
sono profundo sobre o homem, que adormeceu. Tomou
um lado dele e fechou a carne no seu lugar. E do lado
que formara do homem, o Senhor Deus formou a mulher
e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: “Desta
vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela
será chamada mulher, ela foi tirada do homem”. Por isso,
o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mu-
lher, e eles se tornarão uma só carne.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir
do texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura
Orante da Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Con-
templação, conforme esquema e perguntas apresenta-
dos no Anexo 1. (p. 162-c)

42
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá
à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. (Gn 2,24)

São Paulo VI, dirigindo-se aos casais das ENS, afirmou:


“É preciso recordar todos os dias esta primeira página da
Bíblia, se quisermos compreender o que é, o que deve ser
um casal humano, um lar”.22

Dizia ainda em sua reflexão: “Como a Sagrada Escritura


nos ensina, o matrimônio, antes de ser um sacramento,
é uma grande realidade terrestre. A união do homem e
da mulher difere radicalmente de todas as outras associa-
ções humanas e constitui uma realidade singular, ou seja,
a união fundada na doação mútua dos cônjuges: ‘E os dois
serão uma só carne.’ (Gn 2, 24)

Unidade, cuja indissolubilidade irrevogável é o selo coloca-


do sobre a união livre e mútua de duas pessoas que já não
são duas, mas uma só carne. (Mt 19,6) Esta unidade assu-
mirá uma forma social e jurídica por meio do matrimônio e
se manifestará por uma comunhão de vida, cuja expressão
fecunda é o dom carnal.

Com o matrimônio, os esposos exprimem uma vontade


de se pertencerem um ao outro para toda a vida, e de
contraírem, para este fim, um vínculo objetivo, cujas leis
e exigências, muito longe de serem servilismo, são uma
garantia e uma proteção, um verdadeiro amparo, como
vós próprios verificais nas vossas experiências cotidianas”.

22 - Discurso do Papa São Paulo VI aos Casais do Movimento Equipes de Nossa


Senhora. Roma, 4 de maio de 1970.

43
Capítulo
2
O Catecismo da Igreja Católica (CIC), ao afirmar que Deus
criou o homem e a mulher em perfeita igualdade, ensi-
na que foram criados e feitos um para o outro: “Criou-os
para uma comunhão de pessoas, na qual cada um dos dois
pode ser ‘ajuda’ para o outro, por serem ao mesmo tem-
po iguais enquanto pessoas (“osso de meus ossos...”) e
complementares enquanto masculino e feminino. No ma-
trimônio, Deus os une de maneira que, formando ‘uma só
carne’ (Gn 2,24), possam transmitir a vida humana: ‘Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra’ (Gn 1,28). Ao
transmitirem a seus descendentes a vida humana, o ho-
mem e a mulher, como esposos e pais, cooperam de forma
única na obra do Criador”. (CIC, 372)

Textos de Apoio
Apresentação dos textos
O matrimônio cristão é um sacramento de santificação mú-
tua para cada um dos cônjuges. Por isso, a vida conjugal é
um caminho de santidade, um meio original de santificação
para os cônjuges. O amor conjugal é purificado e santifica-
do em virtude do mistério da morte e ressurreição de Cristo,
dentro do qual se insere o matrimônio cristão, afirma São
João Paulo II.23
Não se pode falar em santidade na vida conjugal sem viver,
segundo o espírito de Cristo, a realidade que a constitui e
as exigências que traz consigo, o que significa dizer que do
sacramento do matrimônio derivam para os cônjuges tanto
o dom e a graça de Deus quanto a obrigação de viver no
dia a dia a santificação recebida por meio deste pacto ou
aliança de amor.
23 - Exortação Apostólica Familiaris Consortio (A Missão da Família Cristã no
Mundo de Hoje), nº 56.

44
O dom de Deus não se esgota na celebração do matrimô-
nio, mas acompanha os cônjuges ao longo de toda sua
existência, o que fez São João Paulo II afirmar que “quem
não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar
deveras um só dia”.24
O amor conjugal, que marca um estilo de vida, é uma exi-
gência interior, “é uma pertença do coração”, lá onde só
Deus vê. (cf. Mt 5, 28) Assim, “cada manhã, quando se
levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta decisão de
fidelidade, suceda o que suceder ao longo do dia. E cada
um, quando vai dormir, espera levantar-se para continuar
esta aventura, confiando na ajuda do Senhor”. (AL, 319)

Texto do Papa Francisco


Tudo o que foi dito não é suficiente para exprimir o Evange-
lho do matrimônio e da família se não nos detivermos par-
ticularmente a falar do amor. Com efeito, não poderemos
encorajar um caminho de fidelidade e doação recíproca se
não estimularmos o crescimento, a consolidação e o apro-
fundamento do amor conjugal e familiar. De fato, a graça
do sacramento do matrimônio destina-se, antes de mais
nada, “a aperfeiçoar o amor dos cônjuges”. [...] (AL, 89)

O cântico de São Paulo25 [...] permite-nos avançar para


a caridade conjugal. Esta é o amor que une os esposos,
amor santificado, enriquecido e iluminado pela graça do
sacramento do matrimônio. É uma “união afetiva”, espi-
ritual e oblativa, mas que reúne em si a ternura da ami-
zade e a paixão erótica, embora seja capaz de subsistir
mesmo quando os sentimentos e a paixão enfraquecem.
24 - São João Paulo II. Homilia da Eucaristia celebrada para as famílias em Córdoba, 8
de abril de 1987, durante sua viagem apostólica para o Uruguai, Chile e Argentina.
25 - 1Cor 13, 4-7.

45
Capítulo
2
O Papa Pio XI ensinava que este amor permeia todos os
deveres da vida conjugal e “detém como que o prima-
do da nobreza”. Com efeito, este amor forte, derramado
pelo Espírito Santo, é reflexo da aliança indestrutível en-
tre Cristo e a humanidade que culminou na entrega até
ao fim na cruz. “O Espírito, que o Senhor infunde, dá um
coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se
amarem como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge
assim aquela plenitude para a qual está interiormente or-
denado: a caridade conjugal”. (AL, 120)

O matrimônio é um sinal precioso, porque, “quando um


homem e uma mulher celebram o sacramento do matri-
mônio, Deus, por assim dizer, ’espelha-Se” neles, impri-
me neles as suas características e o caráter indelével do
seu amor. O matrimônio é o ícone do amor de Deus por
nós. Com efeito, também Deus é comunhão: as três Pes-
soas – Pai, Filho e Espírito Santo – vivem desde sempre e
para sempre em unidade perfeita. É precisamente nisto
que consiste o mistério do matrimônio: dos dois esposos,
Deus faz uma só existência”. Isto tem consequências mui-
to concretas na vida do dia a dia, porque, “em virtude do
sacramento, os esposos são investidos em uma autêntica
missão, para que possam tornar visível, a partir das rea-
lidades simples e ordinárias, o amor com que Cristo ama
a sua Igreja, continuando a dar a vida por ela”. (AL, 121)

Texto do Pe. Caffarel 26

A fonte do amor cristão não está no coração do homem.


Ela está em Deus. Para os esposos que querem amar, que

26 - Pe. Henri Caffarel. “Vocação do Amor”. Publicado originalmente no L’Anneu


d’Or, 1945. Publicado também em: Espiritualidade Conjugal – uma Palavra
Suspeita. Equipes de Nossa Senhora, Super-Região, Brasil. Encontra-se também
no Boletim dos Amigos do Pe. Caffarel, Boletim de Ligação, nº 8, janeiro de 2011.

46
querem aprender a amar cada vez mais, só existe um bom
conselho: procurem Deus, amem Deus, unam-se a Deus,
cedam-Lhe todo o espaço.
Quem se separa de Deus, perde o amor. Pelo contrário, este
cresce à medida que cresce o amor a Deus. A união conju-
gal vale, em qualidade humana e em qualidade de eternida-
de, o que vale a união dos esposos com Deus.
Quanto mais se abrirem ao Deus de amor, tanto mais rica
será a troca de amor entre eles. À sua frente existem pers-
pectivas infinitas: seu amor nunca deixará de crescer, visto
que podem unir-se mais totalmente ao dom de Deus. Se
quiserem que seu amor seja uma chama viva, sempre mais
alta, que amem cada dia mais a Deus.
É pela oração e pelos sacramentos que os esposos bebem
nas fontes da graça divina. A Penitência mantém a transpa-
rência dos seus corações, e o germe de fogo que a Eucaris-
tia deposita em cada um ilumina e aquece a vida conjugal.
O declínio de muitos amores explica-se pelo esquecimento
desse princípio fundamental, que é afastar-se de Deus e pe-
car contra Ele; é pecar contra o amor separando-se da fonte
do amor. Recusar-se a Deus é recusar ao cônjuge seu pão
cotidiano: o amor. Mente aquele que diz que tem estima
pelo amor enquanto despreza o amor.

Orientações para preparar


a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:
1ª Condição: A fé
Cristo, muitas vezes, pelas estradas que percorria, disse
ao doente, ao pecador que lhe pediam socorro: “Crês? Se
crês, ser-te-á feito na medida de tua fé”.

47
Capítulo
2
Quando vocês estão reunidos, à noite, em casa de um
equipista para a reunião mensal, escutem Cristo perguntar
a todos: “Credes? Será feito na medida da vossa fé”. De-
pende de sua fé que a reunião seja uma Ecclesia.
Daí a necessidade, muito importante, de fazer adquirir aos
membros de sua equipe esta visão de fé. Que não olhem a
sua reunião como um encontro qualquer, mas que, pouco
a pouco, tenham acesso a esta visão de fé de que falamos;
que tomem consciência desta misteriosa presença de Cris-
to entre eles.

Acolhida e Motivação Inicial


Ao iniciarmos nossa segunda reunião, que nos faz refletir
sobre o sacramento do matrimônio como um caminho de
santidade, tomamos consciência de que o amor conjugal é
que dá vida ao matrimônio e, portanto, à família.
Com este ato de amor nasce e se fortalece a doação recípro-
ca, esta entrega conjugal que é sustentada continuamente
pela seiva do amor total e único do casal.
Isto exige uma mudança diária do coração; exige que se
reaprenda no dia a dia o que é amar e o que é fazer feliz a
outra pessoa. Isto é espiritualidade conjugal.

Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, um gesto ou
atitude que tivemos, e que contribuiu para o nosso ca-
minho rumo à santidade em casal.

48
Leitura da Palavra de Deus e Meditação
Gênesis 2,18-24
Ver o texto bíblico na página 42.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

Partilha
• Os PCEs, ao serem assumidos e vivenciados pelo casal,
vão provocar um novo modo de pensar, sentir e agir,
criando nele algumas atitudes de vida. Essas atitudes
são essencialmente três:

a. Cultivar com assiduidade a abertura à vontade e ao


amor de Deus;

b. Desenvolver a capacidade para viver a verdade;

c. Aumentar a capacidade de encontro e comunhão.

• Estas são atitudes básicas para um cristão; mas nas ENS


revestem-se de um matiz de conjugalidade, pois são vi-
vidas a dois, em casal.

• Dentro deste espírito, cada um partilhe com a equipe o


que significou a vivência dos Pontos Concretos de Esfor-
ço neste mês que passou e como procurou viver as três
atitudes em relação aos PCEs.

49
Capítulo
2
• Se os casais desejarem saber um pouco mais sobre
como melhorar a vivência dos PCEs e realizar com mais
fidelidade a Partilha durante a reunião de equipe, pro-
curem ler o documento MÍSTICA DOS PONTOS CON-
CRETOS DE ESFORÇO E PARTILHA, disponível no site:
ens.org.br (Livraria).

O que é a Partilha?27

“A Partilha é o coração da Reunião de Equipe; é o momento


em que os casais, de coração aberto, partilham a sua cami-
nhada espiritual em clima de oração, de escuta fraterna e
em atitude de caridade, o que não exclui a exigência recí-
proca, o incentivo e a entreajuda.

A Partilha deve focalizar os esforços realizados e as atitudes


assumidas; não se trata de informar se temos feito ou não
o que é pedido, mas de partilhar as mudanças de atitude
em nossa vida espiritual, o modo como aconteceram e as
dificuldades encontradas para realizar estas mudanças”.

Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)

Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica so-


bre o que é santidade. Vamos conversar em equipe – como
forma de entreajuda – sobre como vivemos ou procuramos
viver a santidade em casal no nosso cotidiano.
27 - ENS. Tema de Estudo sobre a Reunião de Equipe. 5ª reunião: “O que é a
Partilha?”, maio de 2010.

50
• Como a chegada e o cuidado com os filhos influenciam
na busca e na vivência da santidade do casal?
• Os vários anos de casados – ou os poucos anos de ca-
sados – ajudam ou dificultam na vivência da santidade?
Quais são as principais dificuldades?
• A aposentadoria e o “ninho vazio”28 facilitam ou atra-
palham o anseio de viver a santidade em casal?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão


28 - A síndrome do ninho vazio é um processo natural da vida dos casais. Trata-se


da solidão física ou mental que atinge os pais quando os/as filhos/as deixam
seus lares. Os filhos crescem, deixam a família e vão viver sua vida. Se tornam
independentes e decidem morar sozinhos, seja porque vão casar, cursar uma
universidade ou buscar mais autonomia.

51
Gustav Klimt (1862-1918)

A Família
Klimt foi um pintor simbolista austríaco, líder do Movimento
da Secessão de Viena – grupo de artistas contrários ao aca-
demismo da pintura. Ele nasceu em Viena, Áustria Impe-
rial, filho de Ernest e Anna, o segundo de sete filhos.
Ingressou na Escola de Artes e Ofícios de Viena, aos 14 anos,
e em 1879, juntamente com outros, começa a auxiliar seu
professor na pintura de murais para o átrio do Museu de
História da Arte de Viena. Em 1880 recebe encomendas de
trabalhos, entre elas quatro alegorias para o Palácio Stu-
rany em Viena, as Termas de Karlsbad na Tchecoslováquia
e a decoração da Villa Hermès.
Em 1886, o estilo de Gustav começou a se diferenciar, ini-
ciando um processo de afastamento de todo o academismo
aprendido na escola. E assim, engajado numa nova pers-
pectiva, desenvolveu trabalhos de cunho decorativo, ga-
nhando grande visibilidade e sendo solicitado para decorar
prédios e instituições, como a decoração do teto e das esca-
darias do imponente Teatro Municipal de Viena.
Em 1894, recebeu a tarefa de pintar diversos painéis para o
auditório da Universidade de Viena representando as figu-
ras da Filosofia, Medicina e Jurisprudência.
Seus trabalhos mais famosos pertencem à “fase dourada”,
em que utiliza folhas de ouro e retrata principalmente mu-
lheres adornadas por pequenos objetos e formas geométri-
cas, como no “Retrato de Adele Bloch-Bauer” (1907) e “O
Beijo” (1907-1908), sua obra-prima.
Com seu estilo rebelde de viver, Gustav Klimt tornou-se
uma figura exótica, por muitos anos tentou, sem sucesso,
ser admitido na Academia de Arte de Viena, mas só em
1917 recebeu o devido reconhecimento. Faleceu em Viena,
em fevereiro de 1918.
Capítulo
3
FRAGILIDADES:
Cultura Atual e
Desigualdades Sociais

Objetivos
• Tomar consciência de que o caminho de santidade é
trilhado na concretude da vida, dentro de um contexto
cultural, socioeconômico e político específico.
• Identificar as fragilidades da cultura em contraponto
aos valores do Evangelho (as bem-aventuranças).
• Perceber que a vida de santidade é possível, apesar das
fragilidades de um mundo marcado por tantas desi-
gualdades entre pessoas e nações.

Introdução Geral
Vivemos hoje, em cada um de nossos países, uma realida-
de marcada por grandes mudanças que afetam profun-
damente a sociedade e suas instituições. São diversos os
fatores determinantes dessas mudanças, que acontecem
de forma cada vez mais vertiginosa em quase todos os
setores e que são comunicadas com grande velocidade a
todos os cantos do planeta.

54
Essas mudanças atingem as pessoas, as famílias e os ca-
sais, os seus valores, o seu estilo de vida, a sua maneira
de julgar as coisas e de se relacionar com Deus, com o
próximo e com a natureza.

Verifica-se, por exemplo, uma espécie de “nova coloniza-


ção cultural” pela imposição de culturas artificiais e com
tendências a impor uma cultura homogeneizada em to-
dos os setores da sociedade. “Essa cultura se caracteriza
pela autorreferência do indivíduo, que conduz à indife-
rença pelo outro, de quem não necessita e por quem não
se sente responsável. Prefere-se viver o dia a dia, sem
programas a longo prazo nem apegos pessoais, fami-
liares e comunitários. As relações humanas estão sendo
consideradas objetos de consumo, conduzindo a relações
afetivas sem compromisso responsável e definitivo”.29

O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelii


Gaudium (A Alegria do Evangelho), no capítulo IV, abor-
da a dimensão social da evangelização e afirma: “A ne-
cessidade de resolver as causas estruturais da pobreza
não pode esperar; e não apenas por uma exigência prag-
mática de obter resultados e ordenar a sociedade, mas
também para a cura de uma mazela que a torna frágil
e indigna e que só poderá levá-la a novas crises. [...] En-
quanto não forem radicalmente solucionados os proble-
mas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos
mercados e da especulação financeira e atacando as cau-
sas estruturais da desigualdade social, não se resolverão
os problemas do mundo e, em definitivo, problema al-
gum. A desigualdade é a raiz dos males sociais. (EG, 202)

29 - CELAM. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral


do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 13-31 de maio de 2007. Brasília:
Edições CNBB, 3ª edição, 2007, nº 46.

55
Capítulo
3
Como cristãos e discípulos de Jesus, temos que cuidar das
diferentes situações de fragilidade e vulnerabilidade hu-
manas, onde podemos reconhecer Cristo sofredor. Como
cristãos e discípulos de Jesus, somos convocados, na espe-
cificidade do papel que cada um ocupa na Igreja e na so-
ciedade, a respeitar e promover os direitos fundamentais de
cada ser humano, especialmente os direitos daqueles que
passam fome e sede, estão doentes e nus, são estrangeiros
ou migrantes, estão presos ou sofrem tortura, são excluídos
de uma educação adequada, são privados de um trabalho
digno ou forçados a trabalhar como escravos, sofrem de
abuso sexual, vivem à margem da sociedade e em condi-
ções desumanas.
O que Jesus Cristo mais buscou, quando esteve entre nós,
foi a felicidade das pessoas, anunciando-lhes o Reino de
Deus e sua presença entre nós, quando praticamos em nos-
so dia a dia as bem-aventuranças.
Somos chamados, pela nossa fé e testemunho, a contribuir
e a encorajar as pessoas no seu desejo de Deus e em sua
vontade de sentir-se plenamente parte de uma Igreja viva e
comprometida com os valores do Evangelho. No contexto
cultural atual, marcado por tantas desigualdades sociais, pre-
cisamos primeiramente nos reencantar com a beleza da vida
humana, do matrimônio cristão e da família e, consequente-
mente, reencantarmos o mundo com esses mesmos valores.
Eis o nosso desafio! Não tenhamos medo, saiamos...”

Texto Bíblico
Mateus 5, 1-12
Ao ver as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os
seus discípulos aproximaram-se dele. Então, abrindo a boca,
começou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres

56
no espírito, pois deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados
os que choram, pois eles serão consolados. Bem-aventura-
dos os mansos, pois eles herdarão a terra. Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão
misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, pois
eles verão Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz,
pois eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados
os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino
dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem
e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós
por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a
vossa recompensa nos céus, pois deste modo perseguiram
os profetas que vos precederam.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir do
texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura Orante da
Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Contemplação, confor-
me esquema e perguntas apresentados no Anexo 1. (p. 162-c)

Breve Reflexão ao Texto Bíblico


Bem-aventurados os pobres no espírito, pois deles é o Reino
dos Céus. (Mt 5,3)
O ser humano, sempre levado pelo desejo de ser autossu-
ficiente, cria, no decorrer da história, seus próprios modos
de viver, muitas vezes afastando-se do projeto do Criador.
Hoje, no mundo globalizado, vemos culturas que diminuem
o valor do matrimônio e da família. Percebe-se que muitos
costumes contrários à santidade nasceram dentro das pró-
prias sociedades ditas cristãs.

57
Capítulo
3
Ao tempo de Jesus, no seio da cultura do judaísmo, tam-
bém estavam presentes costumes contrários à santidade.
Nesse ambiente, Jesus inicia sua pregação que atrai mul-
tidões. Um dia, “subiu à montanha” e pôs-se a ensinar
à multidão reunida. E resume nas bem-aventuranças um
plano de santificação. Jesus é radical na sua proposta, mas
quem adere a ela, e se esforça em pô-la em prática, é feliz.
Ele nos apresenta a santidade como felicidade, a verdadei-
ra alegria do discípulo, alegria que se torna missão.
Muitas vezes podemos ler as bem-aventuranças perceben-
do nelas uma obrigação pesada, e não escutamos a pala-
vra “felizes”, nem os porquês da felicidade. O chamado de
Jesus que refletimos na primeira reunião, “sede perfeitos
como o Pai Celeste é perfeito” (MT 5,48), tem nas bem-
-aventuranças uma plataforma de ações para “tendermos
à santidade”. Na verdade, é uma proposta para termos
atitudes contra a cultura das várias formas do “politica-
mente correto”, um plano para “nadar contra a corrente”
dos comportamentos que esquecem Deus e os seus filhos.
São comportamentos inadequados, vestidos de roupagens
atraentes, que, se não houver vigilância, acabarão se tor-
nando o agir de muitos cristãos.
Ao “escutar” as bem-aventuranças, temos um conselho
do Papa Francisco: “Permitamos-Lhe (a Jesus) que nos
fustigue com as suas palavras, que nos desafie, que nos
chame a uma mudança real de vida. Caso contrário, a san-
tidade não passará de palavras”. (GE, 66)
O Papa Francisco, falando sobre os grandes problemas so-
ciais e econômicos do mundo hoje, em especial a fome e as
migrações dos que fogem da fome, das guerras e persegui-
ções, coloca as ações em favor dos necessitados como atos
de misericórdia, atos de amor, cujos primeiros beneficiados
são os que doam, são os que acolhem. E cita Santo To-
más de Aquino: “...a misericórdia, pela qual socorremos as

58
carências alheias, ao favorecer mais diretamente a utilidade
do próximo, é o sacrifício que mais agrada a Deus”. (GE, 106)
Este Evangelho convida a refletir sobre as desigualdades
existentes em nossa sociedade e como a Palavra de Deus,
diante dos fatos, ilumina a atitude de quem busca a san-
tidade; ilumina as ações de quem deseja estar em com-
panhia dos que receberão de Jesus o chamado: “Vinde
benditos de meu Pai”.
É importante viver em casal o espírito de pobreza. Quantas
desavenças, brigas e até separações de casais acontecem
por um apego excessivo ao dinheiro, ou pela sua falta!
Quanto sofrimento, quando não há mansidão no relacio-
namento diário do casal e deste com os filhos! Quanto
rancor e quantas brigas no casal e na família, se não reinar
entre eles um espírito de amor misericordioso e compassi-
vo com quem errou, capaz de perdoar! A felicidade passa
pela cruz, mas está além dela, como testemunha o próprio
Jesus Cristo.
Durante o mês podemos refletir, a cada vez, sobre uma
bem-aventurança, e meditar sobre como os cônjuges a
estão vivenciando, como casal, como pais, avós... como
membros de uma comunidade, como cidadãos da pátria...

Textos de Apoio
Apresentação dos textos

As bem-aventuranças estão no cerne da pregação de Jesus e


respondem ao desejo natural de felicidade. Como diz o Ca-
tecismo da Igreja Católica, “este desejo (de felicidade) é de
origem divina: Deus o colocou no coração do homem a fim
de atraí-lo a si, pois só ele pode satisfazê-lo”. (CIC, 1718)

59
Capítulo
3
Podemos então afirmar que as bem-aventuranças nos infor-
mam onde devemos olhar para descobrir os sinais da pre-
sença deste Reino de Deus no mundo em que vivemos e nos
falam da necessidade de cuidar do outro, principalmente
dos mais vulneráveis, de ser uma Igreja em saída, isto é,
ser um cristão e discípulo de Jesus que vai ao encontro do
irmão e da irmã feridos em sua dignidade, em seus direitos,
em sua natureza humana e divina.

O Papa Bento XVI sublinha muitas vezes, em seus escritos,


a relação que existe entre o amor e a verdade. O olhar só é
verdadeiro quando é um olhar de amor, e só é realmente de
amor se atende à verdade e à necessidade do outro.30

Os olhos dos que buscam a santidade veem as necessidades


dos pobres, dos sofredores, dos angustiados, dos mais vul-
neráveis, dos que vivem em condições desumanas. O Bom
Samaritano vê um homem caído à beira da estrada e en-
che-se de compaixão. O sacerdote e o levita não o veem
realmente. Veem um problema, alguém que talvez destrua
sua pureza ritual ou atrase o seu regresso à sua casa, para
junto de suas famílias.

Jesus, por meio das bem-aventuranças, nos coloca, desse


modo, “diante de escolhas morais decisivas. Convida-nos a
purificar nosso coração de seus maus instintos e a procurar
o amor de Deus acima de tudo. Ensina que a verdadeira fe-
licidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na gló-
ria humana ou no poder, nem em qualquer obra humana,
por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e as artes,
nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fon-
te de todo bem e de todo amor”. (CIC, 1723)

30 - Papa Bento XVI. Carta Encíclica Deus Caritas Est (sobre o amor cristão).

60
Texto do Papa Francisco
[...] Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser san-
to; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5,
3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que o bilhete de identi-
dade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre
“como fazer para chegar a ser um bom cristão”, a respos-
ta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo –
aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças.
Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chama-
dos a deixar transparecer no dia a dia da nossa vida. (GE, 63)
A palavra “feliz” ou “bem-aventurado” torna-se sinônimo
de “santo”, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e
que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a
verdadeira felicidade. (GE, 64)
Estas palavras de Jesus, não obstante possam até parecer
poéticas, estão decididamente na contracorrente ao que é
habitual, àquilo que se faz na sociedade; e, embora esta
mensagem de Jesus nos fascine, na realidade o mundo
conduz-nos para outro estilo de vida. As bem-aventuran-
ças não são, absolutamente, um compromisso leve ou su-
perficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito
Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da
fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho. (GE, 65)
Poder-se-ia pensar que damos glória a Deus só com o culto
e a oração, ou apenas observando algumas normas éticas
(é verdade que o primado pertence à relação com Deus),
mas esquecemos que o critério de avaliação da nossa vida
é, antes de mais nada, o que fizemos pelos outros. A ora-
ção é preciosa, se alimenta uma doação diária de amor.
O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os

61
Capítulo
3
propósitos de viver com generosidade e quando deixamos
que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos ir-
mãos. (GE, 104)
Pela mesma razão, o melhor modo para discernir se o nos-
so caminho de oração é autêntico será ver em que medida
a nossa vida se vai transformando à luz da misericórdia.
(...) A misericórdia “é a chave do Céu”. (GE, 105)

Texto do Pe. Caffarel


Cruz ou alegria?31
A geração a que pertencem reencontrou certos valores es-
senciais. As palavras que sem cessar retornam em conversas
e escritos dão testemunho disso: humanismo, alegria, amor,
equilíbrio, encarnação, desabrochar, etc.
Vocês fazem questão destes valores. Em primeiro lugar, para
vocês mesmos, mas também para os não crentes que os
cercam: vocês esperam que eles sejam seduzidos por esses
valores e que assim consigam, senão a sua conversão, pelo
menos a sua estima pelo cristianismo.
Não contesto que estes valores sejam autenticamente cris-
tãos, mas o apego ciumento, suscetível, exclusivo que por
eles têm muitos dos nossos contemporâneos parece-me
suspeito. Não dissimularia ele a recusa de outros valores
cristãos não menos autênticos, como a renúncia, a mortifi-
cação, a penitência, a cruz?

31 - Pe. Henri Caffarel. Carta Mensal francesa, nº 3, março de 1948. Este texto
também pode ser encontrado em Textos Escolhidos do Padre Caffarel, Tema
de Estudo de 2009, capítulo 4.

62
Não esqueçamos as palavras de Cristo: “Se alguém quer vir
após mim, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz
e siga-me” (Lc 9,23), nem as de São Paulo: “Os judeus pe-
dem sinais e os gregos andam em busca de sabedoria; nós,
porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus é
escândalo e para os gentios loucura.” (1 Cor 1, 22-23).
O equilíbrio cristão exprime-se pelo binômio paulino: Mor-
te-Ressurreição. Se eliminarmos ou subestimarmos um dos
dois termos, deformaremos a espiritualidade cristã.
Vocês estão certos em querer apresentar aos não crentes
a face alegre e forte do amor e da fé. Não esqueçam, con-
tudo, que a Paixão precede a Ressurreição, que a alegria é
fruto da Cruz. “Aquele que não toma cada dia a sua cruz”,
ou seja, aquele que não mortifica constantemente um ego-
ísmo sempre renascente, que não acolhe os sofrimentos,
pequenos ou grandes, como sendo meios de purificação,
não oferecerá jamais o espetáculo de um amor radiante, de
uma religião sedutora.”

Orientações para Preparar


a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:

2ª Condição: Ruptura
Quem diz Ecclesia, diz convocação: convocação de Deus,
chamamento aos seus.
Se vamos à reunião de equipe, é porque Deus, é porque
Cristo convocam. Ora, quem diz convocação, chamado, diz
também partida, ruptura com aquilo a que estamos ligados.

63
Capítulo
3
Quando Cristo passa e diz ao funcionário da alfândega
Levi: “Vem e segue-me!”, Levi deixa os seus companheiros
e segue a Cristo. [...]
Da mesma forma, não há reunião cristã que não deva ser
uma partida, uma ruptura com tarefas que, muitas vezes,
nos prendem um pouco longe de Deus. Uma ruptura, em
todo o caso, com preocupações que não são mais cabíveis
quando se está na assembleia cristã, ou, simplesmente,
uma ruptura com a casa e com os filhos. Ruptura exterior,
sim, mas que significa uma ruptura interior, que quer dizer
partir em direção a Deus, para conhecer a Deus, para dele
nos aproximarmos e, portanto, uma purificação. [...]
Acentuemos aqui que seria preciso que cada um dos mem-
bros da equipe tivesse a preocupação de levar para a reu-
nião uma alma disponível.

Acolhida e Motivação Inicial


Nossa terceira reunião trata de algumas fragilidades que
influenciam muitas pessoas em seu caminho de santidade:
a cultura atual e as desigualdades socioeconômicas injus-
tificadas em nossa sociedade. Na verdade, vivemos uma
mudança de época, que para muitos é um momento de
nos libertarmos de “apegos” que já não ajudam na vivên-
cia e na transmissão do Evangelho.
A mudança de época caracteriza-se por uma cultura glo-
balizada, permeada também pelo individualismo, consu-
mismo, pela transitoriedade e pela secularização, por meio
da qual a dimensão religiosa se desligou das instituições,
da tradição e das normas objetivas.
O Papa Francisco propõe na Gaudete et Exsultate uma in-
tegração da vida cristã em suas exigências de unidade de

64
vida com o Senhor (vida interior) com a prática das obras
de misericórdia e de promoção da justiça, pois o amor a
Deus nos remete, necessariamente, ao amor ao próximo.
Oração e obras de misericórdia são exigências imprescindí-
veis e inseparáveis da santidade de vida. A misericórdia é o
“coração pulsante do Evangelho”. (GE, 98)

Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante
o mês, as quais foram significativas para a vida de
cada um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, como con-
vivemos com valores culturais diferentes dos nossos,
e como esta convivência afeta nosso caminho rumo
à santidade.
• Podemos coparticipar, ainda, se, alguma vez, situa-
ções de privações econômico-sociais em casal e famí-
lia nos afastaram da Igreja e nos levaram ao questio-
namento da fé.

Leitura da Palavra de Deus e Meditação


Mateus 5, 1-12
Ver na página 56.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

65
Capítulo
3 Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
• De um modo especial, partilhe sobre a escuta da Pala-
vra de Deus. Como você se coloca em relação a Cris-
to neste momento da Escuta da Palavra de Deus? A
Palavra de Deus é a base da alimentação de sua vida
espiritual como casal cristão no seu dia a dia?
• Procure, neste mês, reservar mais tempo – do que o ha-
bitual – no seu dia a dia para criar silêncio, com o objeti-
vo de escutar o que o Senhor diz a você, ao seu cônjuge,
à sua família, à sua comunidade de fé. Esta relação com
Ele é o pilar de toda a nossa vida espiritual.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Escuta da Palavra de Deus no dia a dia,
procure ler o documento A ESCUTA DA PALAVRA DE
DEUS, disponível na livraria de sua Super-Região.

Afirma o Pe. Henri Caffarel 32

“Escutar não é apenas um assunto de inteligência. É nosso


ser inteiro, alma e corpo, inteligência e coração, imaginação,
memória e vontade, que deve estar atento à Palavra de Cris-
to, abrir-se a ela, ceder-lhe o lugar, deixar-se investir, invadir,
apoderar por ela, dando-lhe uma adesão sem reservas”.
“A ascese, no sentido da marcha em direção à santidade,
exige uma pesquisa ativa e perseverante de Deus, nomea-
damente pelo estudo das Escrituras. Ora, esse estudo tem
um espaço bem fraco na vida pessoal dos esposos, na vida

32 - ENS. A Escuta da Palavra de Deus. Publicado pela Super-Região Brasil, julho


de 2017, capítulo I, nº 3.

66
do lar, na vida de equipe. Doravante, há necessidade de se lan-
çar mais deliberadamente. Veremos então os milagres resultan-
tes da Palavra de Deus, porque ela é criadora: ela faz viver aque-
les que se abrem à sua virtude, ela faz surgir a alegria no lar”.

Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é santidade. Vamos conversar em equipe –
como forma de entreajuda – sobre como vivemos ou pro-
curamos viver a santidade no nosso cotidiano.
• O que mais lhe incomoda na cultura atual em seu caminho
de santidade? E o que mais aprecia ou ressalta de positivo?
• Quais são as desigualdades sociais mais visíveis no am-
biente em que vocês vivem no seu dia a dia? Acreditam
que elas representam um obstáculo para a santidade
destas pessoas imersas nesta realidade?
• O que vocês – como casal, como família, como co-
munidade eclesial – fizeram, até hoje, para ajudar a
reduzir estas desigualdades sociais? Podem citar algum
exemplo bem concreto de ajuda em caráter permanen-
te, e não apenas pontual, transitório?
• Você individualmente, ou como casal, testemunha seu
modo de vida cristão baseado nos valores do Evangelho?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel


Magnificat
Envio dos Casais em Missão

67
Giotto di Bondone
(1266-1337)

Joaquim e Ana – O Encontro no Portão Dourado


Giotto é originário de uma pequena aldeia perto de
­Florença, Itália, e de acordo com historiadores ele teria
começado a desenhar ainda aos 12 anos, quando era ape-
nas um pastor de ovelhas. O artista Cimabue, um dos
maiores pintores da Toscana, o teria visto desenhar e o
levou para ser seu aprendiz. Junto com este, Giotto pinta
as histórias de Isaac e inicia na Basílica de Assis a série
de afrescos sobre a vida de São Francisco. Ligado aos
franciscanos e pintando para eles, Giotto descobre no
santo um personagem de inesgotável riqueza espi-
ritual e em suas ideias uma confirmação de sua
própria visão de como deveria ser a pintura.
O drama da condição humana fascinou Giotto
durante toda a sua carreira e isso transpare-
ce no emprego constante de recursos cêni-
cos em sua pintura, como se cada quadro
fosse um palco em miniatura.
A história do casal Joaquim e Ana repre-
sentados nesta obra, que, embora fossem
devotados um ao outro, ficaram profun-
damente infelizes por não terem filhos,
o que eles entenderam como um sinal de
que deveriam ter sido rejeitados por Deus.
Um anjo informa Ana de sua concepção,
enquanto ao mesmo tempo pede que ela
encontre seu marido no portão da cida-
de em Jerusalém. No encontro, o casal se
abraça de alegria com a graça que lhes
seria concedida na forma de uma criança.
Capítulo
4
Inimigos da Santidade:
Gnosticismo e Pelagianismo

Objetivos
• Ter presente que a ação de Deus realiza a santificação
em nós.
• Reconhecer que a arrogância intelectual – gnosticismo
– e a prepotência farisaica – pelagianismo – são obstá-
culos no caminho de santidade.
• Reconhecer o gnosticismo e o pelagianismo como fra-
gilidades que muitas vezes nos afastam do nosso cami-
nho de santidade.

Introdução Geral
No capítulo II da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate,
o Papa Francisco reflete sobre duas falsificações da santida-
de que poderiam nos desviar do caminho: o gnosticismo
e o pelagianismo.33 O Papa refere-se a essas duas heresias

33 - O gnosticismo corresponde à visão de uma salvação meramente interior, talvez


de intensa união com Deus, “mas sem assumir, curar e renovar as nossas relações
com os outros e com o mundo criado”. Assim, torna-se difícil compreender o
significado da encarnação de Jesus Cristo, assumindo nossa vida, nossa história
para nossa salvação. O pelagianismo corresponde a um individualismo centrado
no sujeito autônomo, cuja realização depende somente das suas forças. “Nesta
visão, a figura de Cristo corresponde mais a um modelo que inspira ações
generosas, mediante suas palavras e seus gestos, do que Aquele que transforma a
condição humana”. Ver em: Congregação para a Doutrina da Fé. Carta Placuit
Deo sobre alguns aspectos da salvação cristã. Roma, fevereiro de 2018.

70
“que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo, mas
que continuam a ser de alarmante atualidade”. (GE, 35)

O Catecismo da Igreja Católica afirma que a santidade vem


da graça de Deus e ocorre graças à iniciativa da misericórdia
de Deus. É fruto e dom da graça na vida da Igreja.34

Isto significa que a santidade não é fruto de um esforço


próprio, não é uma montanha que é preciso escalar com as
próprias forças. Significa que não se pode implantar estra-
tégias ou programas pastorais para “produzir” santidade.
Significa, principalmente, que é o próprio Cristo que inicia
e aperfeiçoa a santidade em cada ser humano que a de-
seja fielmente. Por isso, a santidade é o tesouro da Igreja:
porque, se existem santos, significa que Cristo está vivo e
continua a operar neles, acariciando e mudando suas vidas,
e nós podemos ver seus efeitos.

E, por essa razão, também é verdade que as “propostas en-


ganosas” do pelagianismo e do gnosticismo representam
um obstáculo ao chamado universal a ser santos. Estas,
efetivamente, propõem de diferentes maneiras os antigos
enganos pelagiano ou gnóstico: isto é, ocultam ou anulam
a necessidade da graça de Cristo, ou esvaziam a dinâmica
real e gratuita de sua ação.

O Papa, ao final do capítulo II, pede para que seja o próprio


Senhor quem liberte a Igreja das novas formas de gnosti-
cismo e pelagianismo, que complicam e detêm tantos no
caminho “para a santidade.” (GE,62)

A santificação exige vencer muitos inimigos. A primazia da


Graça nos capacita a uma luta diária contra a arrogância e a
prepotência, pois não existe santidade sem a ação de Deus
e sem o combate espiritual.
34 - Catecismo da Igreja Católica, números 1987 a 2016.

71
Capítulo
4 Texto Bíblico
Mateus 23, 13-15 . 23-28

Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Fechais aos ou-


tros o Reino dos Céus, mas vós mesmos não entrais, nem
deixais entrar aqueles que o desejam. Ai de vós, escribas e
fariseus hipócritas! Percorreis terra e mar para ganhar um
só prosélito, e quando o conseguis, o tornais merecedor
da Geena, duas vezes mais do que vós.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da
hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os
ensinamentos mais importantes da lei, como o direito, a
misericórdia e a fidelidade. Isto é o que deveríeis praticar,
sem deixar aquilo. Guias cegos! Filtrais o mosquito, mas
engolis o camelo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais o copo e
o prato por fora, mas por dentro estais cheios de roubo e
intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o copo por
dentro, e ficará limpo também por fora.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois como sepul-
cros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro es-
tão cheios de ossadas e de toda podridão! Assim também
vós: por fora, pareceis justos diante dos homens, mas por
dentro estais cheios de hipocrisia e iniquidade.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir do
texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura Orante da
Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Contemplação, confor-
me esquema e perguntas apresentados no Anexo 1. (p. 162-c)

72
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
Em várias ocasiões, Jesus já se defrontara com fariseus e
escribas. Estes não aceitavam ações e ensinamentos de Je-
sus a favor dos pobres e doentes, principalmente as curas
em dia de sábado. Os escribas eram estudiosos das Sa-
gradas Escrituras, das quais se julgavam ser os fiéis intér-
pretes. Já os da seita dos fariseus eram zelosos pelo fiel
cumprimento das leis.
No texto proposto para Leitura Orante nesta reunião, Jesus
interpela diretamente esses dois grupos, lançando contra
eles “ais” que, mais do que condenar, eram exclamações
de dor, porque, com suas atitudes, como condutores re-
ligiosos, coibiam o povo de praticar a verdadeira religião,
tornando-a um peso para o povo e não uma ocasião de
louvor ao Senhor.
Pior, impunham excessivas leis e regras a cumprir, como se
somente delas dependesse a santidade, mas faziam “vis-
tas grossas” quanto à prática dos mandamentos da lei de
Deus, em especial o mandamento maior de “amar a Deus
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Há quem prega uma religião muito espiritual, sem consi-
derar a condição humana das pessoas, feitas de corpo e
espírito, condição dignificada pelo próprio Verbo de Deus,
que se fez homem, não para ajudar anjos, mas para liber-
tar os humanos do pecado (cf. Hb 2,15-16). São pessoas
sem humildade ou com falsa humildade que pretendem,
somente pelo estudo, desvendar os mistérios de Deus.
Pensam que é pelo conhecimento adquirido que serão sal-
vas, esquecendo a prática da caridade e da oração humil-
de. Pelo conhecimento intelectual julgam-se superiores ao
povo simples. Colocam-se de forma antagônica à simplici-
dade do Evangelho.

73
Capítulo
4
Outro elemento presente na Igreja nos dias atuais, que im-
pede a vivência autêntica da religião, é o que põe a salvação
na vontade humana. Considera que é pelo próprio esfor-
ço que a pessoa se salva, esquecendo o mistério da graça
misericordiosa de Deus e as próprias fragilidades humanas.
É uma atitude orgulhosa, semelhante à dos fariseus, que
impunham ao povo o cumprimento rigoroso das regras reli-
giosas, como se a salvação viesse da lei e não de Deus.

O cristão, com certeza, deve buscar conhecer mais a sua re-


ligião e esforçar-se na caminhada para a própria santidade,
mas reconhecendo humildemente o insondável mistério da
misericórdia de Deus, único que pode salvar e tornar santa
a pessoa humana.

Textos de Apoio
Apresentação dos textos
O Papa Francisco, no seu magistério ordinário, referiu-se
muitas vezes a duas tendências que representam os dois
desvios no caminho da santidade, e que se assemelham, em
alguns aspectos, a duas antigas heresias, isto é, o pelagia-
nismo e o gnosticismo.
Afirma o Papa: “Prolifera em nossos tempos um neo-pe-
lagianismo em que o homem, radicalmente autônomo,
pretende salvar-se a si mesmo sem reconhecer que ele de-
pende, no mais profundo do seu ser, de Deus e dos outros.
A salvação é então confiada às forças do indivíduo ou a es-
truturas meramente humanas, incapazes de acolher a novi-
dade do Espírito de Deus. Um certo neo-gnosticismo, por
outro lado, apresenta uma salvação meramente interior,
fechada no subjetivismo. Essa consiste no elevar-se ‘com o
intelecto para além da carne de Jesus rumo aos mistérios
da divindade desconhecida’. Pretende-se, assim, libertar a

74
pessoa do corpo e do mundo material, nos quais não se
descobrem mais os vestígios da mão providente do Criador,
mas se vê apenas uma realidade privada de significado, es-
tranha à identidade última da pessoa e manipulável segun-
do os interesses do homem”. [...]35
Pe. Caffarel, em seu texto a seguir, faz um alerta sobre o
perigo de um casal pertencer ao Movimento das Equipes de
Nossa Senhora. E qual seria este perigo, ou quais seriam estes
perigos? São vários: julgar que, por esta razão, ou seja, por
pertencer ao Movimento, o casal já esteja com a salvação
garantida; transformar sua pertença ao Movimento como um
fim em si mesmo; transformar os PCEs (as “obrigações”) em
fins e não em meios de felicidade e de santificação; acreditar
que ser casal cristão é praticar a “lei”, ou seja, os PCEs; julgar
que sua missão na Igreja se resume ao Movimento; conside-
rar que sua Equipe de Base “é um clã de justos e santos”, etc.
Em outro artigo, intitulado “Desconfiem do Afonso”, ressal-
ta que a ascese é indispensável para o casal das ENS. A fim
de evitar o farisaísmo, afirma que a oração tem que ter um
papel central na vida do casal. E, quanto ao Movimento,
ressalta que é extremamente perigoso um “agrupamento
religioso que não for uma escola de oração”; “não passa de
uma fábrica de fariseus”.36

Texto do Papa Francisco


De acordo com o Papa Francisco, ainda hoje os corações de
muitos cristãos, talvez inconscientemente, deixam-se sedu-
zir pelas seguintes propostas enganadoras. (GE, 35)

35 - Congregação para a Doutrina da Fé. Carta Placuit Deo sobre alguns aspectos
da salvação cristã. Roma, fevereiro de 2018.
36 - Pe. Henri Caffarel. Desconfiem do Afonso. Publicado na Carta Mensal
francesa, janeiro de 1958, e em Textos Escolhidos Padre Caffarel. Tema de
Estudo 2009, capítulo 4.

75
Capítulo
4 A) GNOSTICISMO ATUAL:
O gnosticismo supõe “uma fé fechada no subjetivismo,
onde apenas interessa uma determinada experiência ou
uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamen-
te confortam e iluminam, mas, em última instância, a pes-
soa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou
dos seus sentimentos”. (GE, 36)

a. Uma mente sem Deus e sem carne


Graças a Deus, ao longo da história da Igreja, ficou bem
claro que aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu
grau de caridade, e não a quantidade de dados e conhe-
cimentos que possam acumular. Os “gnósticos”, baralha-
dos neste ponto, julgam os outros segundo conseguem,
ou não, compreender a profundidade de certas doutrinas.
Concebem uma mente sem encarnação, incapaz de tocar
a carne sofredora de Cristo nos outros, engessada numa
enciclopédia de abstrações. Ao desencarnar o mistério,
em última análise preferem “um Deus sem Cristo, um
Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo”. (GE, 37)

b. Uma doutrina sem mistério


O gnosticismo é uma das piores ideologias, pois, ao
mesmo tempo que exalta indevidamente o conheci-
mento ou uma determinada experiência, considera que
a sua própria visão da realidade seja a perfeição. Assim,
talvez sem se aperceber, esta ideologia autoalimenta-se
e torna-se ainda mais cega. Por vezes, torna-se particu-
larmente enganadora, quando se disfarça de espiritua-
lidade desencarnada. Com efeito, o gnosticismo, “por
sua natureza, quer domesticar o mistério”, tanto o mis-
tério de Deus e da sua graça como o mistério da vida
dos outros. (GE, 40)
76
c. Os limites da razão
Com frequência, verifica-se uma perigosa confusão: jul-
gar que, por sabermos algo ou podermos explicá-lo com
uma certa lógica, já somos santos, perfeitos, melhores do
que a “massa ignorante”. São João Paulo II advertia, a
quantos na Igreja têm a possibilidade de uma formação
mais elevada, contra a tentação de cultivarem “um cer-
to sentimento de superioridade relativamente aos outros
fiéis”. Na realidade, porém, aquilo que julgamos saber
sempre deveria ser uma motivação para responder me-
lhor ao amor de Deus, porque ”se aprende para viver: te-
ologia e santidade são um binómio inseparável”. (GE, 45)

B) PELAGIANISMO ATUAL:
O gnosticismo deu lugar a outra heresia antiga, que está
presente também hoje. Com o passar do tempo, muitos
começaram a reconhecer que não é o conhecimento que
nos torna melhores ou santos, mas a vida que levamos. O
problema é que isto foi sutilmente degenerando, de modo
que o mesmo erro dos gnósticos foi simplesmente transfor-
mado, mas não superado. (GE, 47)

a. Uma vontade sem humildade


Quem se conforma a esta mentalidade pelagiana ou
semipelagiana, embora fale da graça de Deus com dis-
cursos suaves, “no fundo, só confia nas suas próprias
forças e sente-se superior aos outros por cumprir deter-
minadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um
certo estilo católico”. Quando alguns deles se dirigem
aos frágeis, dizendo-lhes que se pode tudo com a graça
de Deus, basicamente costumam transmitir a ideia de

77
Capítulo
4
que tudo se pode com a vontade humana, como se esta
fosse algo puro, perfeito, onipotente, a que se acrescen-
ta a graça. Pretende-se ignorar que “nem todos podem
tudo”, e que, nesta vida, as fragilidades humanas não
são curadas, completamente e de uma vez por todas,
pela graça. (...) (GE, 49)

b. Um ensinamento da Igreja frequentemente esquecido


Só a partir do dom de Deus, livremente acolhido e hu-
mildemente recebido, é que podemos cooperar com os
nossos esforços para nos deixarmos transformar cada
vez mais. A primeira coisa é pertencer a Deus. Trata-se
de nos oferecermos a Ele que nos antecipa, de Lhe
oferecermos as nossas capacidades, o nosso esforço,
a nossa luta contra o mal e a nossa criatividade, para
que o seu dom gratuito cresça e se desenvolva em nós:
“eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a
oferecerdes vossos corpos como sacrifício vivo, santo,
agradável a Deus” (Rm 12,1). Aliás, a Igreja sempre
ensinou que só a caridade torna possível o crescimen-
to na vida da graça, porque, “se não tiver amor, nada
sou” (1 Cor 13,2). (GE, 56)

c. Os novos pelagianos
Ainda há cristãos que insistem em seguir outro cami-
nho: o da justificação pelas suas próprias forças, o da
adoração da vontade humana e da própria capacida-
de, que se traduz numa autocomplacência egocêntrica
e elitista, desprovida do verdadeiro amor. Manifesta-se
em muitas atitudes aparentemente diferentes entre si:
a obsessão pela lei, o fascínio de exibir conquistas so-
ciais e políticas, a ostentação no cuidado da liturgia, da
doutrina e do prestígio da Igreja, a vanglória ligada à

78
gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas
de autoajuda e realização autorreferencial. É nisto que
alguns cristãos gastam as suas energias e o seu tempo,
em vez de se deixarem guiar pelo Espírito no caminho
do amor, apaixonarem-se por comunicar a beleza e a
alegria do Evangelho e procurarem os afastados nessas
imensas multidões sedentas de Cristo. (GE, 57)

d. O resumo da lei
Para evitar isso, é bom recordar frequentemente que
existe uma hierarquia das virtudes, que nos convida
a buscar o essencial. A primazia pertence às virtudes
teologais, que têm Deus como objeto e motivo. E, no
centro, está a caridade. São Paulo diz que o que conta
verdadeiramente é “a fé agindo pelo amor” (Gal 5,6).
Somos chamados a cuidar solicitamente da caridade:
“quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. [...]
Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da lei”
(Rm 13,8.10). “Amarás o teu próximo como a ti mes-
mo” (Gal 5,14). (GE, 60)

Texto do Pe. Caffarel:


“PERIGO”37
Por que entrar nas Equipes de Nossa Senhora é perigoso?
Quando ainda não tínhamos a Carta (Os Estatutos), as
equipes corriam o perigo que espreita todo Movimento
cuja mística não é alicerçada sobre obrigações (Pontos
Concretos de Esforço): os ânimos se inflamam no sopro
desta mística, mas a vida continua estagnada. Graças à
Carta, hoje os equipistas estão firmemente sustentados

37 - Editorial da Carta Mensal francesa, nº 3, ano XIII, dezembro de 1959.

79
Capítulo
4
pelas obrigações (PCEs). Mas, atenção para este novo pe-
rigo: esvaziar as obrigações de seu espírito. É preciso, de
fato, temer que a prática das obrigações se torne um fim,
um ideal, o máximo, e que pareça aos membros das equi-
pes de que a perfeição cristã consiste em cumprir as obri-
gações da Carta. Eles se considerarão perfeitos e dormirão
confortavelmente sobre o travesseiro da autossatisfação e
da consciência tranquila...
Recentemente, recebi uma carta provando-me que este
perigo não é ilusório. Ela vem de um casal de grande es-
tatura humana e espiritual. Eis o que ele me escreveu:
“Deixamos a nossa Equipe de Nossa Senhora depois de ter
feito parte dela por muitos anos. Sentíamo-nos sufocados:
tínhamos a impressão de que vivíamos em um mundo fe-
chado em seus pequenos problemas, em um mundo que
não queria ver as reais necessidades do ideal evangélico.
A observância da Carta tornava-se, em determinados dias,
como um biombo de hipocrisia que deixava que cada um
ficasse contente consigo mesmo de forma barata e fechas-
se os olhos e os ouvidos para todos os questionamentos
da sociedade atual”.
Da mesma forma, aconteceu comigo mais de uma vez, em
viagem, ouvir críticas relacionadas com uma equipe: acu-
savam-na de ser fechada, de constituir “o clã dos justos”,
a “seita dos puros”.
Eu sei que a maioria das equipes não merecem essas crí-
ticas. Mesmo assim, não posso deixar de me fazer essa
pergunta angustiante: Nossas equipes são elas formadoras
de cristãos, ou produzem fariseus? [...]
A finalidade (das equipes) é a vida cristã em sua ple-
nitude, assim como é definida na primeira página
da Carta: “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é
perfeito”.

80
Orientações para Preparar
a Reunião de Equipe
Reunião de Equipe como uma Ecclesia:
3ª Condição: Convocação em nome de Cristo
Notem bem o que diz Nosso Senhor. Ele não diz: “Quando
estais dois ou três reunidos, eu estou no meio de vós”,
mas Ele acentua: “Quando dois ou três estais reunidos em
meu nome”. Eis aí o fato importante. Convocados por Ele,
respondemos ao seu apelo, estamos ali em seu nome.
Por conseguinte, se vamos à reunião de equipe por causa
das boas amizades, das simpatias, não vamos em nome
de Cristo. E é por este motivo que, por vezes, equipes for-
madas com casais que não se conheciam têm uma ótima
partida: o que é que os reunia, senão esta vontade de en-
contrar Cristo?
E eis que no fim de um ano, dois anos, três anos, tais casais
já se conhecem muito bem, já houve o intercâmbio de nu-
merosos serviços: a amizade cresceu, o que é uma felicida-
de, mas por vezes esta amizade pode eliminar a intenção,
pode levar os casais a se encontrarem apenas porque são
ótimos amigos e, diante disto, não estão mais reunidos em
nome de Cristo e, diante disto, verifica-se nessas equipes o
que eu chamei tantas vezes: a tentação da amizade.
Cristo não pode agir com a mesma plenitude porque, pre-
cisamente, não é em primeiro lugar para Ele, para O en-
contrar, que os casais estão reunidos.
Daí a necessidade de purificar a intenção, de fortificar esta
intenção. É em nome de Jesus Cristo que viemos e pare-
ce-me que o papel do Conselheiro Espiritual e o papel do
Casal Responsável (de Equipe) são importantes para que
não haja uma queda de nível na reunião.

81
Capítulo
4 Acolhida e Motivação Inicial
Nossa quarta reunião trata de duas heresias antigas, que
continuam sendo dois sutis inimigos para se alcançar a san-
tidade, cujas propostas enganadoras, ainda hoje, talvez in-
conscientemente, seduzem muitos cristãos (talvez até casais
equipistas): o pelagianismo e o gnosticismo.
No pelagianismo, o homem busca salvar-se a si mesmo,
com suas próprias forças (e talvez confiando demais em
suas estruturas e estratégias), sem reconhecer que depende
de Deus e que necessita constantemente de sua ajuda, além
da relação com os outros. No neo-gnosticismo, a salvação
torna-se algo “meramente interior, fechada no subjetivis-
mo”, exaltando o intelecto para além da “carne de Jesus”.
Precisamos reconhecer que Jesus é Salvador: “Ele não se
limitou a mostrar-nos o caminho para encontrar Deus, isto
é, um caminho que poderemos percorrer por nós mesmos,
obedecendo às suas palavras e imitando o seu exemplo.
Cristo, todavia, para abrir-nos a porta da libertação, tornou-
-se Ele mesmo o caminho”.

Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.

• Coparticipar, de forma simples e concreta, gestos ou


atitudes que você tem ou teve, e que correspondem a
estes “inimigos sutis da santidade”.

82
Leitura da Palavra de Deus e Meditação
Mateus 23, 13-15 . 23-28
Ver na página 72.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

Partilha
• A prática dos PCEs, como uma mera formalidade ou
obrigação, não garante a santificação do casal. Tam-
bém é necessário sair em missão, e ser testemunha do
casamento e da família.

• Neste contexto, cada um partilhe com a equipe o que


significou a vivência dos Pontos Concretos de Esforço
neste mês que passou.

• Neste mês, cada casal dedicará especial atenção ao


Dever de Sentar-se.

• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como


melhorar o seu Dever de Sentar-se, procure ler o do-
cumento O DEVER DE SENTAR-SE, disponível no site:
ens.org.br (Livraria).

83
Capítulo
4 Afirma o Pe. Henri Caffarel 38

“No casal, onde não se arranja o tempo de parar para refle-


tir, muito frequentemente a desordem, material e moral, se
introduz e se instala insidiosamente; a rotina apropria-se da
oração em comum, das refeições e de todos os ritos familia-
res; a educação reduz-se a reflexos de pais mais ou menos
nervosos; a união abre brechas; notam-se estas deficiên-
cias, e muitas outras, não exclusivamente nos casais sem
formação, desconhecedores dos problemas da educação e
da espiritualidade conjugal, mas também nos casais que são
considerados como competências nas ciências familiares e
são-no de fato… teoricamente”.

Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)

Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica so-


bre o que é santidade. Vamos conversar em equipe – como
forma de entreajuda – sobre como vivemos ou procuramos
viver a santidade no nosso cotidiano.

• Vocês sabiam o que é o pelagianismo? Agora que sa-


bem, avaliem se têm tendência a buscar a santidade
confiando mais no próprio esforço do que na Graça.
• Como podemos nos pôr a serviço da Igreja e do Mo-
vimento das ENS com responsabilidade, exercitando a
humildade?
38 - ENS. O Dever de Sentar-se. Publicado pela Super-Região Brasil, 2017. Faz
parte da reflexão do Pe. Caffarel: “Um dever desconhecido”, de 1945.

84
• Vocês sabiam o que é o gnosticismo? Agora que sabem,
avaliem se colocam preceitos e regras acima do manda-
mento do amor misericordioso de Deus.
• Como podemos usar nosso raciocínio e nosso conheci-
mento para compreender e analisar, e não nos julgar-
mos “donos da verdade”?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão


85
Van Gogh (1853-1890)

A Sesta
Van Gogh foi um pintor holandês considerado uma das figuras mais
famosas e influentes da história da arte ocidental. Criou mais de
2 mil trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta
de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últi-
mos anos de vida.
Aos 16 anos, Van Gogh vai para Haia trabalhar com o tio numa im-
portante galeria que comercializava obras e livros. Viaja para Bru-
xelas, onde passa dois anos e em seguida vai para Londres, sempre
a serviço da galeria.
Em 1875, obtém sua transferência para Paris, onde julgava poder
libertar-se de todas as suas frustrações, mas não consegue se rela-
cionar bem com os clientes e é demitido.
De volta a Paris, época mais sociável do pintor, familiariza-se com
os impressionistas, Monet, Renoir e Pissarro, mais tarde se aproxi-
ma de Gauguin. A influência dos impressionistas e a sua admiração
pela arte oriental levaram Van Gogh a desenvolver um estilo pró-
prio. O artista chega a pintar nessa época perto de 200 quadros.
A tela do casal de camponeses deitado no feno, aqui apresentada,
expressa todo o lirismo e a inocência no merecido descanso do tra-
balho. Com grande delicadeza paisagística, esta pintura coloca as
figuras na simplicidade da vida rural. Com todos os objetos, botas,
ferramentas, animais, que compõem a paisagem do campo, deixan-
do entretanto destacado no alto a faixa de céu azul projetado ao
fundo que nos remete à relação do divino e do terreno.
Capítulo
5
Oração:
Exigência de Santidade

Objetivos
• Compreender que não existe caminho de santidade
sem oração.

• Reconhecer que na oração e com a oração aprende-


mos a servir o outro, caminhar na fé e fazer a vontade
de Deus.

• Comprometer-se com a vida de oração pessoal, conju-


gal e familiar.

Introdução Geral
O Papa Francisco coloca a oração constante como um re-
quisito essencial para a santidade. Afirma: “Não acredito
na santidade sem oração, embora não se trate necessaria-
mente de longos períodos ou de sentimentos intensos”.
Mas “o santo é uma pessoa com espírito orante, que tem
necessidade de se comunicar com Deus”. (GE, 147)

A medida da santidade é dada pela estatura que Cristo al-


cança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo,
modelamos toda a nossa vida sobre a sua. É ser conformes
com Jesus, também em relação à oração. Por isso, a oração
é uma aventura de fé, é uma relação de amor.

88
Os apóstolos viam Jesus rezando constantemente e ma-
nifestaram a Ele sua vontade de aprender a orar: Senhor,
ensina-nos a rezar. E Jesus não se recusou, não era ciu-
mento da sua intimidade com o Pai, pois veio precisa-
mente para nos introduzir nesta relação com o Pai. E as-
sim torna-se Mestre de oração dos seus discípulos, como
certamente quer sê-lo para todos nós. Também nós deve-
mos dizer: Senhor, ensina-me a rezar. Ensina-me.39

O Papa Francisco diz que não podemos rezar como os


pagãos ou como muitos cristãos que acreditam que rezar
é “falar a Deus como um papagaio”. “Não! Rezar faz-
-se com o coração, de dentro. Ao contrário – diz Jesus –
quando rezas, dirige-te a Deus como um filho ao seu pai,
o qual sabe do que precisas ainda antes que tu Lho peças
(cf. Mt 6,8). Poderia ser também uma prece silenciosa, o
‘Pai Nosso’: no fundo é suficiente pôr-se sob o olhar de
Deus, recordar-se do seu amor de Pai, e isto é suficiente
para sermos ouvidos”.

Quando pedimos “o pão nosso de cada dia”, pedimos


“a Deus que o ‘pão de cada dia’ não faça bem só ao es-
tômago, mas também à alma e ao coração. Isto é, que o
pão se possa revestir de um sentido tão humano que seja
divino. Que o que em cada dia vamos construindo tenha
um sentido transcendente e não seja apenas uma coisa
muda, que nada diz. Que o trabalho não seja apenas uma
atividade mecânica e obrigatória, mas que se pressinta
nele algo mais: o Amor de Deus, o coração de Deus, a
vida de Deus”.40
39 - Ver Catequeses do Papa Francisco sobre o Pai Nosso. In: https://w2.vatican.
va/content/francesco/pt/audiences/2018
40 - José Tolentino Mendonça. Pai Nosso que estais na Terra – o Pai Nosso aberto
a crentes e a não crentes. Paulinas Editora, 2014, pág. 51. O Arcebispo D. José
Tolentino Mendonça fez as meditações diárias no XII Encontro Internacional
de Fátima, e hoje exerce a função de arquivista e bibliotecário da Santa Sé.

89
Capítulo
5
Como afirma Dom José Tolentino Mendonça, “Jesus
não nos transmite fórmulas; Jesus introduz-nos numa
dimensão existencial e prática, dá-nos aceso a uma expe-
riência filial. Jesus não nos dá um saber. Dá-nos o sabor
de Deus. Um saborear”.41

Texto Bíblico
Mateus 6, 5-13

Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gos-


tam de orar nas sinagogas e nas esquinas das praças, em
pé, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo:
já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando orar-
des, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai
que está em segredo. E teu Pai, que vê o que está em
segredo, te retribuirá.

Quando orardes, não useis de muitas palavras como fazem


os gentios, pois eles pensam que à força de muitas pala-
vras serão atendidos. Não sejais semelhantes a eles, pois
vosso Pai sabe do que precisais, antes de lhe pedirdes.

Vós, portanto, orai assim:

Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, como no céu,
assim também na terra. O pão nosso de cada dia dá-nos
hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós per-
doamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em
tentação, mas livra-nos do mal.

41 - Idem, p. 103.

90
Leitura Orante da Bíblia
Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir do
texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura Orante da
Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Contemplação, confor-
me esquema e perguntas apresentados no Anexo 1. (p. 162-c)

Breve Reflexão ao Texto Bíblico


Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome.
(Mt 6,9)
Todos nós sabemos da necessidade da oração para fazer
o caminho da santificação. Jesus nos dá o exemplo, reti-
rando-se para a montanha onde, muitas vezes, passava a
noite em oração. Ele ensina que não devemos fazer como
os hipócritas, que rezam para aparentar ser o que não são,
ou como os gentios que multiplicam palavras, pensando
assim serem ouvidos pelos deuses. O discípulo de Jesus
reza com humildade, esconde-se no “seu quarto”, pois
somente Deus precisa ouvir seus pedidos.
Os discípulos de Jesus pedem-lhe que os ensine a rezar e Je-
sus lhes ensina a oração que chamamos de Pai Nosso. Quem
reza o Pai Nosso deve fazê-lo com a confiança de filho, cha-
mando Deus de Abba, “papai”. Mas, se a oração tem um
sentido vertical, eu e Deus, também tem significado horizon-
tal de amor fraternal. Deus não é só “meu”, e sim “nosso
papai”, Pai de todos os que são salvos por Jesus Cristo. Na
língua kirundi (do Burundi), “Pai Nosso” foi traduzido por
“Pai de todos nós” (Dawe wa twese), com o sentido de que
somos todos uma única família, filhos do Pai Eterno.

91
Capítulo
5
Nesta oração fazemos sete pedidos ao Pai. No primeiro, pe-
dimos que seu Nome seja santificado. Deus é santo, nenhu-
ma santidade lhe pode ser acrescentada. Santificar o Nome
de Deus significa honrá-lo, sacralizando o nosso agir e dan-
do-lhe graças. Os demais pedidos decorrem do primeiro.

“Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.


Rezamos para que a Terra se conforme ao Céu; para isso,
é preciso cumprir os mandamentos do amor, a fim de que
aconteça a grande família do Pai: “Aquele que fizer a von-
tade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão,
irmã e mãe”. (Mt 12,50)

Depois, pedimos o pão de cada dia. Se somos a família


do Pai, pedimos pelas necessidades materiais e espiritu-
ais de todos.

O pedido seguinte, “perdoai-nos...”, nos remete ao pró-


prio Jesus Cristo – Misericórdia do Pai – que veio para re-
dimir a humanidade. Pedimos perdão e também nos co-
locamos uma condição: “assim como nós perdoamos...”.
Saber receber e dar perdão é essencial para a convivência
humana, em especial no casal e na família. A Igreja ensi-
na: “O perdão se torna condição fundamental da recon-
ciliação dos filhos de Deus com o seu Pai, e dos homens
entre si”. (CIC, 2844)

Os dois últimos pedidos estão interligados: “Não nos dei-


xeis cair em tentação” e “livrai-nos do mal”. Somente
muita oração nos liberta da tentação e nos dá o discerni-
mento para agirmos corretamente, pois a tentação vem
de dentro de nós mesmos, como diz São Tiago Apóstolo:
“... cada qual é provado pela própria concupiscência, que
o arrasta e seduz”. (Tg 1,14)

92
Grande é Deus, que apesar de nossas fraquezas e peca-
dos, em Jesus Cristo nos santifica e nos torna seus filhos,
e se alegra quando conversamos a sós com Ele e O cha-
mamos de Nosso Pai.

Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Padre Caffarel escreve: “Um santo não é, acima de tudo,
como muitas pessoas imaginam, um campeão que realiza
proezas de virtude, façanhas espirituais. É, sobretudo, um
homem seduzido por Deus. E que entrega a Deus toda a
sua vida”.42
Incansavelmente, Pe. Caffarel fazia questão de destacar
que o Movimento das ENS é uma escola de formação na
vida cristã e, por isso mesmo, uma escola de oração, de
adoradores de Deus.
Fez, certa vez, uma reflexão sobre os 96 quartos de hora
que compõem um dia. E pediu para cada um contar como
distribuía seu tempo durante o dia: horas de sono, de tra-
balho (profissional ou doméstico), de refeições, de deslo-
camentos, de leitura de jornal, etc. E, por fim, o tempo
dedicado à oração. Pediu para comparar o tempo que era
dedicado a cada uma destas atividades diárias.
E pondera: se todas estas atividades são necessárias e vi-
tais, a oração não o é?
Chama atenção para o estado de “anemia espiritual” ou
para a “baixa resistência” na vida dos que pouco se de-
dicam à oração diária, e faz o seguinte alerta: “O cristão
que não dedica diariamente 10 a 15 minutos (1/96 avos do
42 - Pe. Henri Caffarel. L’Anneau d’Or, número especial 111-112, maio-agosto de 1963.

93
Capítulo
5
seu dia) a essa forma de oração, que chamamos de oração
interior, permanecerá infantil; ou melhor, definhará”.43
Pe. Caffarel vivia com exigência sua vida de oração; e dese-
java com insistência e exigência que assim fosse para todos
os casais equipistas, pois a oração é o local privilegiado de
encontro com Deus.

Texto do Papa Francisco


Por fim, mesmo que pareça óbvio, lembremos que a santi-
dade é feita de abertura habitual à transcendência, que se
expressa na oração e na adoração. O santo é uma pessoa
com espírito orante, que tem necessidade de se comunicar
com Deus. É alguém que não suporta asfixiar-se na ima-
nência fechada deste mundo e, no meio dos seus esforços
e serviços, suspira por Deus, sai de si erguendo louvores e
alarga os seus confins na contemplação do Senhor. Não
acredito na santidade sem oração, embora não se trate
necessariamente de longos períodos ou de sentimentos
intensos. (GE, 147)
Contudo, para que isto se torne possível, são necessários
também alguns tempos dedicados só a Deus, na solidão
com Ele. Para Santa Teresa de Ávila, a oração é “uma rela-
ção íntima de amizade, permanecendo muitas vezes a sós
com Quem sabemos que nos ama”. Gostaria de insistir no
fato de que isto não é dito apenas para poucos privilegia-
dos, mas para todos, porque “todos precisamos deste si-
lêncio repleto de presença adoradora”. A oração confiante

43 - Recomenda-se a leitura de Pe. Henri Caffarel. Sono, Trabalho, Refeição...


Oração... Carta Mensal francesa, novembro de 1952. Pode ser encontrado em:
Padre Caffarel – Profeta do Matrimônio.

94
é uma resposta do coração que se abre a Deus face a face,
onde são silenciados todos os rumores para escutar a voz
suave do Senhor que ressoa no silêncio. (GE, 149)
Neste silêncio, é possível discernir, à luz do Espírito, os cami-
nhos de santidade que o Senhor nos propõe. Caso contrá-
rio, todas as nossas decisões não passarão de “decorações”,
que, em vez de exaltar o Evangelho na nossa vida, acabarão
por o recobrir e sufocar. Para todo discípulo, é indispensá-
vel estar com o Mestre, escutá-Lo, aprender d’Ele, aprender
sempre. Se não escutarmos, todas as nossas palavras serão
apenas rumores que não servem para nada. (GE, 150)

Texto do Pe. Caffarel:


Se o Cristo está vivo em você, ele está lá orando44
Pois para o Cristo, viver é orar. Alcance-o, apreenda, apro-
prie-se de sua oração. Ou melhor – já que os termos que
acabei de usar são impositivos demais na sua atividade –,
deixe essa oração apanhar você, invadir você, elevar você
e levar você ao Pai. Não prometo que você a perceberá;
peço apenas que você creia nisso e que, durante a oração,
você lhe dê, você renove sua plena adesão. Deixe o espaço
para a oração, o espaço todo. Que a oração possa assumir
todas as fibras de seu ser, assim como o fogo penetra na
madeira e a deixa incandescente.
Orar é atender ao pedido que Cristo nos faz: “Empresta-me
tua inteligência, teu coração, todo o teu ser, tudo aquilo
que no homem é suscetível de se tornar oração, para que
eu possa fazer surgir de ti o grande louvor ao Pai. Terei eu

44 - Publicado em L’Anneau d’Or, maio-agosto de 1967. Pode ser encontrado


também em Padre Caffarel: Profeta do Matrimônio, capítulo 1.

95
Capítulo
5
vindo para outra coisa senão para acender o fogo na terra
e para que ele se comunique de um ao outro, transfor-
mando todas as árvores de floresta em tochas vivas? Esse
fogo é a minha oração. Consinta com o fogo”.
O Cristo está presente no pequeno batizado assim como
no grande místico. Mas a vida de Cristo num e noutro não
está no mesmo estágio de desenvolvimento. Se na alma
do recém-batizado já vibra a oração de Cristo, ela está ali
presente apenas em germe, um germe de fogo. Será ao
longo de toda a existência, na mesma medida de nossa
cooperação, que ela irá intensificando-se e, aos poucos,
tomando posse de todo o nosso ser.
Nossa cooperação consiste, em primeiro lugar, em aderir,
com o mais profundo do nosso querer, à oração de Cristo
em nós. Notem bem o sentido muito forte que eu dou
a essa palavra aderir; não designa um acordo mole, uma
aquiescência da boca para fora, mas um dom total, assim
como a acha de lenha que se entrega ao fogo para se tor-
nar, por sua vez, fogo.
Nossa cooperação consiste ainda em buscar com toda a
nossa inteligência de que é feita a oração de Cristo em nós
seus grandes componentes: louvor, ação de graças, oferen-
da, intercessão... a fim de assumi-los mais perfeitamente.

Orientações para preparar


a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:

4ª Condição: O auxílio fraterno


[...] unidos em Cristo, unidos pelo amor fraterno. Não
havendo amor fraterno, não há assembleia cristã; não há
amor cristão, deveria eu dizer.

96
A sua responsabilidade, penso eu, consiste em fazer todo o
possível para que haja este amor cristão, isto é, este amor
que não exclui ninguém, que derruba todas as fronteiras,
todas as barreiras. Amor cristão que leve a pôr tudo em
comum. Líamos há pouco: “Entre eles tudo era comum”.
Isto define a primeira Ecclesia apostólica e isto deve definir
as suas reuniões.
Já no plano material, este amor deve ser praticado. Se vo-
cês querem manter-se na linha dos primeiros cristãos, pa-
rece realmente impossível que se contentem com o auxílio
mútuo espiritual. Eles, os primeiros cristãos, nos deram
sem dúvida o exemplo deste auxílio mútuo material.
Entretanto, o essencial é evidentemente o auxílio mútuo
espiritual: é posto em prática na Partilha. Com efeito,
penso que a “Partilha” sobre as obrigações dos Estatutos
(Pontos Concretos de Esforço), quando é bem-feita e bem
compreendida, é um auxilio fraternal.
O auxílio mútuo manifesta-se ainda naquilo que chama-
mos de coparticipação (“pôr em comum”): das alegrias,
das tristezas, dos problemas da vida, das descobertas... de
toda a nossa vida, em suma. É para este ideal que é preciso
tender cada vez mais, sem o que não serão irmãos que se
amam, pois que guardam dentro de si aquilo que os inte-
ressa. Caso não se abram uns aos outros, não estarão na
reunião senão para trabalhar, quando muito, num plano
meramente intelectual.

Acolhida e Motivação Inicial


Ao iniciarmos nossa quinta reunião, que trata da oração
como um requisito essencial para a santidade, lembremos

97
Capítulo
5
a oração diária e permanente que é a vida do coração
novo, redimido por Jesus Cristo. Ela deve nutrir nossos co-
rações e nos animar a cada momento de nossa vida.
Na oração, nós abrimos a nossa alma ao Senhor a fim de
que Ele venha habitar em nossa fraqueza, transformando-a
em força para o Evangelho.
Num mundo em que corremos o risco de confiar somente na
eficiência e na força dos meios humanos, no consumismo, em
imagens e aparências, neste mundo somos chamados a redes-
cobrir e a testemunhar a força de Deus que nos comunica na
e pela oração, com a qual crescemos cada dia para conformar
a nossa vida com a de Jesus Cristo, nosso Mestre na oração.

Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, uma experi-
ência de vida em que a oração foi marcante e decisiva.

Leitura da Palavra de Deus e Meditação


Mateus 6, 5-13
Ver na página 90.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

98
Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
• Cada casal fale um pouco mais sobre como é feita a
Oração Conjugal, e sobre como ela ajuda no cresci-
mento da espiritualidade conjugal.
• Como sugestão concreta para este mês, propomos
que marido e mulher intensifiquem sua Oração Con-
jugal, para se aproximarem cada vez mais um do ou-
tro, e os dois com o Senhor.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Oração Conjugal no dia a dia, procure
ler o documento A ORAÇÃO CONJUGAL, disponível
no site ens.org.br (Livraria).

Afirma o Pe. Henri Caffarel: 45

“Se todos os casais cristãos estivessem convencidos da


importância da oração conjugal; se em todos esses lares
a oração conjugal fosse viva, haveria no mundo um pro-
digioso aumento de alegria, de amor e de graça”.
“Cristo está presente de maneira muito especial sem-
pre que o casal reza junto. Os esposos renovam não
apenas o seu sim a Deus, mas alcançam também uma
profundidade de união que provém expressamente da
união dos seus corações e das suas almas no Sacramen-
to do Matrimônio”.

45 - ENS. A Oração Conjugal. Publicado pela Super-Região Brasil, 2016.

99
Capítulo
5
“Quando rezamos juntos, formamos uma comunidade
orante. Não há melhor base para o nosso casamento e a
nossa família!”

Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)

Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica


sobre o que é santidade. Vamos conversar em equipe –
como forma de entreajuda – sobre como vivemos ou pro-
curamos viver a santidade no nosso cotidiano.

• Que lugar ocupa a oração em sua vida pessoal e de


casal? Pode explicar o tempo que a ela vocês dedicam
diariamente?

• Que tipo de oração costumam fazer, seja pessoalmen-


te ou em casal? Como é feita esta oração? Costumam
utilizar as orações já “prontas”?

• Vocês pensam ou têm alguma dúvida de que a oração


os levará à santidade? Falem um pouco sobre vossa
experiência atual de oração, e como ela evoluiu ao
longo do tempo.

100
Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão

101
Giacomo Palma
il Giovane (1548-1628)
A Eucaristia Adorada pelos Quatro Evangelistas
Foi um pintor italiano e um notável expoente da escola veneziana.
Giacomo nasceu em Veneza em uma família de pintores. Era filho de
Antonio Nigretti e sobrinho do pintor Palma Vecchio. Tornou-se o artis-
ta de maior influência de Veneza, firmando seu estilo e fama logo após
a morte do grande Tintoretto (1594).
Logo cedo seu talento é reconhecido pelo Duque de Urbino que o envia
para Roma por quatro anos para estudar, e nesse período adotou os
estilos do maneirismo de Tintoretto. Trabalhou muito tempo na antiga
oficina de Ticiano e, quando de sua morte, ele assume a finalização da
obra do mestre Ticiano – ”Pietá”.
Trabalhou ao lado de Veronese e Tintoretto nas decorações do Palácio
Ducal, onde conheceu a tradição veneziana. De 1580 a 1590, pintou ci-
clos de grandes telas para os edifícios sagrados (a sacristia de San Gia-
como dall'Orio, pintura aqui apresentada que tinha como foco princi-
pal ser um contraponto entre a ignorância e conhecimento, traçando
a história do Antigo Testamento, com episódios simbólicos do mistério
eucarístico da Páscoa judaica e da travessia do Mar Vermelho, até os
Evangelhos. Com destaque para a Eucaristia, que é apresentada no
centro e ao alto sob a forma de um imenso sol e protegida por quatro
colunas sobre o altar e cercada pelos quatro evangelistas.
Giacomo produziu uma série de pinturas religiosas e alegóricas que
podem ser encontradas em toda a Veneza.
Capítulo
6
Eucaristia:
Fonte de Santidade
Objetivos
• Entender que a Eucaristia é o coração (o centro da
vida) da Igreja; que é a Eucaristia que faz a Igreja.
• Compreender que na Eucaristia está o segredo e a for-
ça da santidade.
• Compreender que a Eucaristia não pode jamais ser
separada da vida concreta da pessoa, do casal, da
família.
• Conscientizar-nos de que toda a nossa vida deve ser
eucarística.

Introdução Geral
O Concílio Vaticano II afirmou que a Eucaristia é “fonte
e centro de toda a vida cristã”, na medida em que é a
união com a vida de Cristo, que transforma a vida do
homem. Portanto, na “santíssima Eucaristia está conti-
do todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio
Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens
a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo
Espírito Santo”.46

46 - Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, nº 11.

104
Receber Jesus Cristo na Eucaristia nos impele a nos trans-
formar n’Ele, a nos conformar com Ele, pois “quem come
a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim,
e Eu nele” (Jo 6,56).
Como afirma o Papa Francisco, “nutrir-se da Eucaristia
significa deixar-se transformar naquilo que recebemos”.
Por isso, cada vez que recebemos a Eucaristia, “asseme-
lhamo-nos mais a Jesus, transformamo-nos mais em Je-
sus”. Enfim, “tornamo-nos aquilo que recebemos”.47 A
Eucaristia é a fonte de nossa santidade.
A Eucaristia “está colocada no centro da vida eclesial”,
porque “a Igreja vive de Jesus eucarístico, por Ele é nutri-
da, por Ele é iluminada”.48 Como afirma o Papa Francis-
co, “a Eucaristia ocupa um lugar central na Igreja, porque
é precisamente ela que faz a Igreja“.49
É como sintetiza o Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia:
fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. Isto porque “a
Igreja vive da Eucaristia desde as suas origens. Nela, en-
contra a razão da sua existência, a fonte inesgotável da sua
santidade, a força da unidade e o vínculo da comunhão, o
vigor da sua vitalidade evangélica, o princípio de sua ação
de evangelização, a fonte da caridade e o impulso da pro-
moção humana, a antecipação da sua glória no banquete
eterno das núpcias do Cordeiro” (cf. Ap 19,7-9).50
Por isso que “o domingo é um dia santo para nós cató-
licos, pois ele é santificado pela celebração eucarística,
presença viva do Senhor entre nós e para nós. Portanto,

47 - Papa Francisco. Catequese sobre a Eucaristia, 21 de março de 2018. Site da Santa Sé.
48 - Papa João Paulo II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia – sobre a Eucaristia
na sua relação com a Igreja, nº 2 e 6.
49 - Discurso do Papa Francisco aos participantes na plenária da Pontifícia Comissão
para os Congressos Eucarísticos Internacionais, 27 de setembro de 2014.
50 - Sínodo dos Bispos. XI Assembleia Geral Ordinária. A Eucaristia: fonte e ápice
da vida e da missão da Igreja. Instrumentum Laboris, Prefácio.

105
Capítulo
6
é a missa que faz o domingo cristão. O domingo cristão
gira em torno da missa. Que domingo é, para o cristão,
aquele no qual falta o encontro com o Senhor?”51
Tudo isto é dom e tarefa; comungar o Cristo é uma gra-
ça, e assemelhar-se a Ele é uma tarefa. Eis a lógica mais
clara do caminho de santidade!

Texto Bíblico:
1 Coríntios 11, 23-26

De fato, eu recebi do Senhor o que também vos transmi-


ti: na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou
o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o
meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de
mim”. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também
o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu
sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em
memória de mim”. De fato, todas as vezes que comerdes
desse pão e beberdes desse cálice, proclamais a morte do
Senhor, até que ele venha.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir
do texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura
Orante da Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Con-
templação, conforme esquema e perguntas apresenta-
dos no Anexo 1. (p. 162-c)

51 - Papa Francisco. Catequese sobre a Eucaristia, 13 de dezembro de 2017. Site da Santa


Sé.

106
Breve Reflexão ao Texto Bíblico
De fato, todas as vezes que comerdes desse pão e beber-
des desse cálice, proclamais a morte do Senhor, até que
ele venha. (1Cor,11,26)
Os cristãos de Corinto haviam se desviado da boa conduta,
manchando a celebração da Ceia do Senhor com jantares
suntuosos de alguns, suscitando divisões entre eles. São
Paulo repreende aquela comunidade e reafirma o que já
lhes havia ensinado: que na Ceia do Senhor o pão e o
vinho são transformados (transubstanciados) no Corpo e
no Sangue do Senhor, como Jesus Cristo o disse e fez na
véspera da sua paixão e morte.
A instituição da Eucaristia é o ato culminante da missão
de Jesus Cristo: nela, Ele anuncia sua morte iminente para
a remissão dos pecados da humanidade: “Isto é o meu
corpo, que é entregue em favor de vocês”; “Este cálice é a
nova aliança ... garantida pelo meu sangue”. Mais do que
isso, Jesus anuncia a sua ressurreição: ao mandar repetir
o que ele mesmo está fazendo (“fazei isto em memória
de mim”), está mandando celebrar até o fim dos tempos
este mistério, no qual ele se faz vivo, em corpo e sangue:
“De maneira que, cada vez que vocês comem deste pão e
bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor,
até que ele venha”.
No Evangelho segundo Lucas (22,15), Jesus, ao celebrar a
sua última páscoa judaica, assim fala aos apóstolos: “Dese-
jei ardentemente comer esta páscoa convosco”, pois que
estava concluindo sua missão visível no meio da humani-
dade e em favor dela: dar a vida para remissão de todos os
pecados. Mais: realiza uma nova aliança com a humanida-
de, uma aliança definitiva, selada com o próprio sangue.
Porque seu amor é infinito, o desejo ardente de Jesus é dar

107
Capítulo
6
vida eterna a cada pessoa, pois com sua morte Ele vence o
pecado e com a sua ressurreição ele dá vida plena a quem
adere à sua pessoa. Jesus é e estabelece a nova Páscoa, a
páscoa da verdadeira vida, a vida eterna em Deus. Por isso
a Eucaristia é também um anúncio do banquete celestial
do “Cordeiro” no Reino do Céu.
Esse mistério é celebrado pelos cristãos desde os primeiros
dias da Igreja (cf. At 2,42) e, fiel à ordem de Jesus Cristo, a
Igreja continua a celebrá-lo até a sua vinda gloriosa no fi-
nal dos tempos (cf. CIC 1333). A Eucaristia torna presente
a morte e a ressurreição de Jesus Cristo e é a perfeita ação
de graças e louvor, pois é o próprio Filho que se oferece ao
Pai, pela ação do Espirito Santo que transforma o pão e o
vinho no corpo e sangue de Jesus.
Na Eucaristia, o pão e o vinho são de fato corpo e sangue,
por isso Jesus manda comer “deste pão” e beber “deste
cálice”. Ele mesmo o afirma: “Pois a minha carne é a co-
mida verdadeira, e o meu sangue é a bebida verdadeira”
(Jo 6,55). Entretanto, não é a razão que nos fará compre-
ender este mistério. Somente a fé pode aceitar esta ver-
dade da qual Jesus fala insistentemente no capítulo 6 do
Evangelho de João (cf. Jo 6, 26ss).
Quando recebemos o pão eucarístico, fazemos comunhão
com Jesus Cristo: “Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue vive em mim, e eu vivo nele” (Jo 6,56). A
Eucaristia revela o imenso amor de Deus por nós. Na Eu-
caristia, Jesus Cristo, o Santo, se une a nós pecadores,
quer viver em nós, para que vivamos nele e nos tornemos
santos. É na Eucaristia que o cristão encontra forças para
realizar em sua vida as bem-aventuranças, para cumprir o
mandamento cristão: “Eu lhes dou este novo mandamen-
to: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem
também uns aos outros” (Jo 13,34).

108
A Eucaristia é o sacramento da unidade e do amor. “Ó
sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da
caridade!” (CIC, 1.398), exclamava Santo Agostinho.
A Eucaristia é grande auxílio à vida conjugal, pois o ma-
trimônio é também sacramento de amor e de unidade;
por isso, o casal encontra nela a plenitude do amor para
viver plenamente o seu casamento. A Eucaristia celebra
e torna presente a definitiva e fiel aliança de Deus com a
humanidade e os casais testemunham esta aliança quan-
do vivem intensamente a aliança de amor e fidelidade
que um dia fizeram entre si. A Eucaristia une os fiéis a
Cristo e aos irmãos, quanto mais fortalecerá a união do
casal que busca a santidade.

Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Os textos selecionados do Papa Francisco e de Pe. Caffarel
não têm dúvida em afirmar que a Eucaristia é o centro e a
raiz da vida espiritual do cristão. É o alimento espiritual de
nossa caminhada para Deus. É o meio mais poderoso para
nossa santificação, pois pela Eucaristia nos unimos com o
“Santo” e somos nele transformados; assumimos a “ima-
gem e semelhança” do Senhor.
Na Eucaristia está o segredo da santidade. É esta união
com Jesus Cristo na Eucaristia que nos move e nos en-
coraja à santidade pessoal, conjugal e familiar, à vivência
comunitária de nossa fé e ao dinamismo apostólico.
É por isso que tanto o Papa Francisco quanto o Pe. Caffarel
insistem na participação frequente no mistério eucarísti-
co, pois é onde encontramos a energia espiritual que pre-
cisamos como discípulos missionários de Jesus Cristo no

109
Capítulo
6
cumprimento do preceito do amor. O convite é: sejamos
homens e mulheres eucarísticos.
Também nos lembram que a Eucaristia, para que seja re-
almente Eucaristia, não pode jamais ser separada da vida
concreta, do cotidiano da pessoa, do casal, da família. A
Eucaristia nos faz sair rumo à vida real, à vida humana,
em direção aos necessitados da sociedade, em direção ao
próximo. A Eucaristia também tem um caráter social. Ser
homem e mulher eucarísticos e comungar o Cristo é viver
como Ele viveu no meio dos homens.
Toda a vida de Jesus Cristo foi eucarística, pois realizou a
vontade do Pai oferecendo vida em abundância para todos.
A Igreja, que somos todos nós, possui a missão de conti-
nuar o projeto eucarístico de Jesus, e terminará sua missão
quando o mundo estiver eucaristizado.

Texto do Papa Francisco


A Eucaristia exige a integração no único corpo eclesial.
Quem se aproxima do Corpo e do Sangue de Cristo não
pode ao mesmo tempo ofender aquele mesmo Corpo,
fazendo divisões e discriminações escandalosas entre os
seus membros. Na realidade, trata-se de “distinguir” o
Corpo do Senhor, de reconhecê-lo com fé e caridade,
quer nos sinais sacramentais quer na comunidade; caso
contrário, come-se e bebe-se a própria condenação (1Cor
11,29). Este texto bíblico é um sério aviso para as famílias
que se fecham na própria comodidade e se isolam e, de
modo especial, para as famílias que ficam indiferentes aos
sofrimentos das famílias pobres e mais necessitadas. As-
sim, a celebração eucarística torna-se um apelo constante

110
a cada um para que “examine-se cada um a si mesmo”
(1Cor11, 28), a fim de abrir as portas da própria família a
uma maior comunhão com os descartados da sociedade
e depois, sim, receber o sacramento do amor eucarísti-
co que faz de nós um só corpo. Não se deve esquecer
que “a ‘mística’ do sacramento tem um carácter social”.
Quando os comungantes se mostram relutantes em dei-
xar-se impelir a um compromisso a favor dos pobres e
atribulados ou consentem diferentes formas de divisão,
desprezo e injustiça, recebem indignamente a Eucaristia.
Ao contrário, as famílias, que se alimentam da Eucaristia
com a disposição adequada, reforçam o seu desejo de
fraternidade, o seu sentido social e o seu compromisso
para com os necessitados. (AL, 186)
A comunidade é chamada a criar aquele “espaço teologal
onde se pode experimentar a presença mística do Senhor
ressuscitado”. Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eu-
caristia nos tornam mais irmãos e vão nos transformando
pouco a pouco em comunidade santa e missionária. (...)
(GE, 142)
A Palavra de Deus convida-nos, explicitamente, a resistir
“contra as maquinações do diabo” (Ef 6, 11) e a “apagar
todas as flechas incendiadas do Maligno” (Ef 6, 16). Não
se trata de palavras poéticas, porque o nosso caminho
para a santidade é também uma luta constante. Quem
não quiser reconhecê-lo, ver-se-á exposto ao fracasso ou
à mediocridade. Para a luta, temos as armas poderosas
que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na oração, a
meditação da Palavra de Deus, a celebração da missa,
a adoração eucarística, a Reconciliação sacramental, as
obras de caridade, a vida comunitária, o compromisso
missionário. (...) (GE, 162)

111
Capítulo
6 Texto do Pe. Caffarel:
O pão de cada dia52
[...] Um admirável privilégio vocês possuem, leigos do sé-
culo XX, do qual parece que não avaliam o preço: a possi-
bilidade de comungar todos os dias. (...)

Foi necessário que uma grande voz se elevasse, no princí-


pio deste século, a de Pio X. (...) Ele proclamou claramente
a toda a Igreja: “Quando o Cristo nos manda pedir nos-
so pão cotidiano, na oração dominical, devemos entender
por isso, e quase todos os Padres da Igreja assim o ensi-
nam, não tanto o pão material, mas o pão eucarístico que
deve ser recebido cada dia”. (...)

A Eucaristia tem um lugar central na vida cristã, mas ela


não deve ficar isolada dos outros elementos desta vida
cristã, dos quais uns lhe preparam o terreno e outros são
os seus frutos. Contentar-me-ei de mencionar três de in-
substituível importância: um conhecimento mais pro-
fundo da verdade da fé, especialmente por um contato
habitual com a Palavra de Deus; a oração: falo da oração
mental que se designa pelo termo de meditação; o amor
ao próximo, um amor ao mesmo tempo vivo e eficaz.
Vocês vão reclamar: “O senhor não sabe, não conhece a
nossa vida leiga” O que eu sei é que não há cristianismo
com abatimento. Conheço também alguns cristãos – per-
feitamente normais, eu lhes garanto – que acham que as
necessidades vitais do organismo espiritual, assim como
as do corpo, não podem ser negligenciadas sem perigo
grave. (...)

52 - Pe. Henri Caffarel. Editorial da Carta Mensal francesa, de março de 1958.


Publicado parcialmente em Textos escolhidos: Padre Caffarel. Tema de Estudo
de 2008/2009, capítulo 2.

112
Mas estou convencido de que se poderão esperar dias mag-
níficos para a nossa Cristandade se, enfim, se chegar a com-
preender que a missa e a comunhão de cada dia são o
regime normal do cristão; que, se dispensar deste conví-
vio sagrado sem razão, é prova de um incrível pouco caso
para com este dom prodigioso do amor divino: a Eucaristia.

Veremos, então, multiplicarem-se as vocações sacerdotais


e religiosas: alimentadas pela Eucaristia, as almas aspiram a
um dom cada vez mais total. Assistiremos, também, a uma
fecundidade inesperada de nossos movimentos católicos.
E o Sacramento do Matrimônio, “superativado” pelo seu
entroncamento com a Eucaristia, dará plenamente seus
efeitos de fidelidade, de pureza, de santidade conjugal.

Orientações para Preparar


a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:

5ª Condição: Escutar a Cristo


Por vezes, certos grupos de cristãos têm a tendência de
acreditar ser suficiente que haja amor e que o amor
é a caridade cristã. Mas não! Não haverá verdadeira-
mente assembleia cristã, senão quando escutarem o
Cristo presente. Amar-se é, sem dúvida, uma condição
indispensável. Mas amem-se para unir-se, e unam-se
para ouvi-lo.
Deus fala, Cristo fala, para convocar, sem dúvida, mas
também para dar a sua lei, para fazer compreender
seus pensamentos, para que, pouco a pouco, venha
a desabrochar a nossa fé, pois que a fé do homem é,

113
Capítulo
6
precisamente, como que o eco da Palavra de Deus. Daí a
necessidade de, nas nossas reuniões de equipe, dar lugar
à Palavra de Deus. É nessa ocasião que o sacerdote ocu-
pa inteiramente o lugar que lhe cabe; ele é então, como
o diziam os primeiros discípulos, “o ministro da Palavra”.
Ministro da Palavra, do mesmo modo que é Ministro da
Eucaristia. Ele lhes dá o Corpo Eucarístico de Cristo, ele
lhes dá a Palavra de Cristo que é uma outra maneira de
comunicar-lhes a vida de Cristo.
Ora, não se trata de ouvir esta Palavra com um ouvido
mais ou menos distraído, mas sim de escutar, no sentido
forte do termo. Dizem do rei Salomão que ele dirigia a
Deus esta oração: “Senhor, fazei-me um coração que
escute!” É com o coração que se escuta a Palavra de
Deus. Por isso mesmo, na oração da equipe, nas nos-
sas reuniões de equipe, fazemos questão que haja este
momento de silêncio em que, realmente, cada coração,
pouco a pouco, deixa penetrar em si a Palavra de Deus,
como a terra que recebe a chuvinha miúda que, lenta-
mente, a fecunda.
Não é somente a oração que lhes permitirá escutar a
Palavra de Deus, mas também a troca de ideias. Numa
reunião de equipe, a troca de ideias, não é ela, preci-
samente, esta procura em comum do pensamento de
Deus sobre as grandes realidades da família, da vida lei-
ga e sobre os seus problemas?

Acolhida e Motivação Inicial


Em nossa sexta reunião, vamos refletir sobre a Eucaristia,
que nos transforma e nos assemelha em quem recebemos:
Jesus Cristo. É a Eucaristia que nos torna mais fortes e san-
tos, e que nos leva a uma vida cheia de obras de caridade.

114
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante
o mês, as quais foram significativas para a vida de
cada um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, o que a
Eucaristia tem representado para você, individu-
almente, e como casal, ao longo dos anos. É mero
cumprimento de um preceito ou, de fato, tem sido
transformadora?

Leitura da Palavra de Deus e Meditação


1 Coríntios 11, 23-26
Ver na página 106.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.

• De um modo especial, partilhe sobre a Meditação da


Palavra de Deus. Quanto tempo do seu dia é dedicado
à Meditação e oração sobre a Palavra de Deus?

115
Capítulo
6
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Meditação da Palavra de Deus no dia
a dia, procure ler o documento MEDITAÇÃO DA
PALAVRA DE DEUS, disponível na livraria de sua
Super-Região.

Afirma o Pe. Henri Caffarel: 53

“Depois de vinte anos de ministério, creio poder afirmar


com segurança: o cristão que não dedica dez ou quinze
minutos do seu tempo (1/96 avos do seu dia) diariamente
a esta meditação, a que chamamos de oração interior, fi-
cará sempre infantil, ou pior, regredirá”.
Que, juntos (o casal), escutem Cristo. Para escutar Cristo,
podem começar a sua oração pela leitura da Bíblia para,
em seguida, meditar. E então, somente, após terem escu-
tado e compreendido, podem falar com Deus, falar-lhe es-
pontaneamente, expor-lhe os seus pensamentos e os seus
sentimentos com a simplicidade de uma criança.

Perguntas para a Reunião de Equipe


(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é Eucaristia e santidade. Vamos conversar em
equipe – como forma de entreajuda – sobre como vivemos
ou procuramos viver a santidade no nosso cotidiano a par-
tir da Eucaristia que recebemos.

53 - ENS. Meditação (Oração Pessoal). Publicado pela Super-Região Brasil, 2016.


Também: Pe. Caffarel. Carta Mensal francesa, novembro de 1952.

116
• Vocês já pensaram, alguma vez, na relação que existe
entre o Sacramento da Eucaristia e o Sacramento do
matrimônio? Como explicariam esta relação?
• Vocês saberiam explicar o caráter pessoal, eclesial e so-
cial da Eucaristia?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão

117
Felix Schadow (1819-1861)
Matrimônio de Sara e Tobias
Pintor de retratos e gêneros diversos, filho mais novo do escultor
Johann Gottfried, nasceu em Berlim. Cresceu convivendo com tra-
balhos e impressões artísticas na casa de seus pais, e logo teve um
desejo precoce de também se tornar um pintor. Ele foi estimulado
muito cedo por seu pai para o mundo da pintura. Desde pequeno
muitas vezes ficava no ateliê da rua Schadowstraße e aprendia
com seu pai, seus assistentes e alunos.
No início dos anos 40, ele foi para Dresden para estudar mais, onde
seu cunhado também o influenciou sobremaneira em trabalhos artís-
tico de grande elegância e graciosidade e em suas aulas de pintura.
Lá ele pintou alguns retratos e pequenas composições, entre elas "O
Casamento do Jovem Tobias e Sarah“, pintura aqui apresentada.
Seu pai fez algumas viagens a Leipzig e o levou consigo, onde es-
tudou com Julius Hübner durante o inverno de 1838/1839. Viajan-
do para Dresden, pintou um de seus principais trabalhos "Cristo,
Maria e Marta".
Felix casa-se com a bela Eugenie d'Alton e em maio de 1854 recebe
o privilégio de viajar para a Itália com o velho mestre da escultura,
Rauch, para comemorar o seu 79º aniversário. Em 1858, ele com-
pletou os quadros "O Adorno da Noiva" e "O Retorno do Mercado".
Uma de suas últimas pinturas de 1860 com motivo da comédia,
"Donna Diana", é adquirida pelo príncipe herdeiro da Prússia.
Um sofrimento pesado e demorado o levou ao leito dos doentes na
primavera de 1860. Morreu em Berlim em 25 de junho de 1861, e foi
enterrado nessa cidade, próximo ao túmulo de seu pai.
Capítulo
7
Ser Casal Santo Hoje
Objetivos
• Agradecer a Deus pela nossa vocação à santidade
como casal.
• Reconhecer que o caminho de santidade se constrói na
gradualidade.
• Entender que a santidade deve ser vivida hoje, no nos-
so tempo, diante dos nossos desafios.

Introdução Geral
São bem conhecidas as palavras do Papa Francisco, de que
não existe marido perfeito, esposa perfeita, cônjuges per-
feitos, casal perfeito, família perfeita; apesar disto, o Papa
ressalta que não é preciso ter medo da imperfeição, da fra-
gilidade, nem mesmo dos conflitos; é preciso aprender a en-
frentá-los de forma construtiva, a partir do amor, do diálogo,
da compreensão, da aceitação de cada um, do perdão.54
O amor conjugal verdadeiro não se impõe com dureza e
agressividade, mas com cortesia, com palavras generosas,
com diálogo, com o hábito de dar real importância ao ou-
tro, com alegria. Para que isso aconteça, são necessárias
três palavras-chave: “licença”, “obrigado”, “desculpa”.55

54 - Papa Francisco. Discurso no Encontro com as Famílias, Catedral de Nossa Senhora


da Assunção, Santiago (Cuba), terça-feira, 22 de setembro de 2015; Mensagem para
o XLIX Dia Mundial das Comunicações Sociais: Comunicar a família: ambiente
privilegiado do encontro na gratuidade do amor, 17 de maio de 2015.
55 - Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia do Papa Francisco sobre o amor
na família. Santa Sé, Roma, 19 de março de 2016 – Solenidade de São José, nº 133.

120
A Exortação Apostólica Amoris Laetitia nos apresenta o ma-
trimônio como uma vocação, na medida em que representa
um chamado específico para viver o amor conjugal – comu-
nhão de pessoas – como um sinal imperfeito do amor entre
Cristo e a Igreja. Este sacramento é um dom recebido de
Deus para a santificação e salvação dos esposos. (AL, 72)
Por isso, também, não é salutar apresentar o amor conju-
gal como algo “mágico” e perfeito – pois não existe casal
perfeito –, como o fazem “certas fantasias consumistas”,
privando deste modo todo o estímulo de crescimento do
casal em seu amor, relacionamento e crescimento espiri-
tual. Temos que ter em mente que o melhor ainda não
foi alcançado.
Diz o Papa Francisco: Como recordaram os bispos do Chi-
le, “não existem as famílias perfeitas que a publicidade
falaciosa e consumista nos propõe. Nelas, não passam os
anos, não existem a doença, a tribulação nem a morte. (...)
A publicidade consumista mostra uma realidade ilusória
que não tem nada a ver com a realidade que devem en-
frentar no dia a dia os pais e as mães de família”. É mais
saudável aceitar com realismo os limites, os desafios e as
imperfeições, e dar ouvidos ao apelo para crescer juntos,
fazer amadurecer o amor e cultivar a solidez da união, su-
ceda o que suceder. (AL, 135)
Da mesma forma, o Pe. Caffarel insiste que o amor conjugal
é uma fonte de graça, mas que não é propriamente o amor
conjugal que se torna sacramento; é o compromisso mútuo
e a união que se segue. O amor, contudo, é inspirador deste
compromisso e alma viva desta união conjugal. E concluiu:
o amor conjugal não é apenas santificado, como é santifi-
cante, quando os cônjuges compreendem que ele é uma
“obra comum”.

121
Capítulo
7
Assim, o amor conjugal nunca é um repouso, não é obra
de um dia, não é tarefa fácil. A santificação do casal “exige
dos esposos que não sejam preguiçosos”, que combatam
as tentações, o amor-próprio, o orgulho, aceitem as pro-
vações inerentes à vida conjugal e familiar, e façam que
sua vida de amor seja um constante louvor a Deus. Deste
modo, o amor conjugal é referência que nos ajuda a com-
preender o amor divino.56
A santificação do casal é um caminho comunitário, uma
responsabilidade recíproca, que se deve fazer a dois, pois é
uma missão divina recebida pelo sacramento do matrimônio.
É pelo sacramento do matrimônio que você – esposa e espo-
so – se torna responsável pela santificação de seu cônjuge.

Texto Bíblico
Tobias 8, 1-9
Quando terminaram de comer e beber, quiseram dormir.
Levaram o jovem e o acompanharam até o quarto. Tobias
então lembrou-se das palavras de Rafael, e retirou da sua
bolsa o coração e o fígado do peixe e os colocou sobre as
brasas do incenso. O odor do peixe manteve à distância
o demônio, e ele fugiu para as regiões mais remotas do
Egito. Rafael foi até lá, prendeu-o e logo voltou. Os outros
tinham saído e fecharam a porta do quarto. Tobias levan-
tou-se do leito e disse a Sara: “Levanta-te, minha irmã!
Oremos e supliquemos a nosso Senhor, para que nos con-
ceda misericórdia e saúde”. Ela levantou-se, e começaram
a orar e suplicar ao Senhor, para que lhes fosse concedida a
saúde. Esta foi a sua oração: “Tu és bendito, Deus de nos-
sos pais, e é bendito o teu Nome pelos séculos dos séculos.

56 - Pe. Henri Caffarel. “Vocação do Amor”. L’Anneau d’Or, 1945. Publicado em


Henri Caffarel. Espiritualidade Conjugal.

122
Bendigam-te os céus e toda a tua criação por todos os sé-
culos. Tu fizeste Adão e lhe deste como auxiliar e amparo
Eva, e de ambos surgiu a descendência humana. Foste tu
que disseste que não era bom o homem ficar só: Faça-
mos para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante. Agora,
não é por desejo impuro que me caso com esta minha
irmã, mas com reta intenção. Sê misericordioso com ela,
e concede-nos envelhecermos juntos”. Disseram ambos:
“Amém, Amém”, e dormiram a noite inteira.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir
do texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura Oran-
te da Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Contemplação,
conforme esquema e perguntas apresentados no Anexo 1.
(p 162-c)

Breve Reflexão ao Texto Bíblico


Para compreender o texto bíblico desta reunião é preciso
contextualizá-lo. Conta a história de duas famílias que, exi-
ladas e separadas geograficamente, apesar das múltiplas
adversidades por influência de um ambiente hostil, manti-
veram-se fiéis a Deus e às leis mosaicas, perseverantes na
prática da justiça e de atos de misericórdia. A estas famílias,
Deus é fiel, assistindo-as nas dificuldades, especialmente
enviando o Arcanjo Rafael para acompanhar e ajudar To-
bias na sua saga, até realizar o casamento com Sara, sua
parenta, ao que lhe dava direito à Lei do Levirato.57
57 - Preceito da lei mosaica, segundo a qual o indivíduo era obrigado a contrair
matrimônio com a cunhada que enviuvasse, para que assim não houvesse
descontinuidade na família e desta não saíssem os bens, além de que à viúva
fosse garantida a manutenção.

123
Capítulo
7
Tobias, embora sabendo que já sete maridos de Sara ha-
viam morrido na noite de núpcias, confia em Deus, pois
seu amor por Sara é sincero. Ele convida Sara para pedir a
Deus misericórdia e saúde.

A oração de Tobias é um louvor a Deus, recordando a cria-


ção do homem e da mulher como complementares um do
outro, para a perpetuação da espécie humana. Justifica
seu pedido, afirmando ser sua união com Sara motivada
não por luxúria ou desejo impuro, e sim por amor.

Hoje, “dispersos” pelo mundo, os cristãos sofrem múl-


tiplas pressões para paganizar seus costumes e fazer da
relação homem/mulher apenas uma satisfação luxuriosa,
esvaziando o casamento da sacralidade com que Deus o
revestiu desde o início, relação elevada a sacramento por
Jesus Cristo, que faz dos dois “uma só carne”, sinal vivo
da sua relação com a Igreja, o seu Corpo.

A atitude de Tobias de colocar a fidelidade a Deus como


mote primeiro do seu amor por Sara, e do consequente
casamento, faz refletir sobre a importância a ser dada ao
sacramento do matrimônio.

Hoje se “vende” felicidade de muitas formas atrativas,


mas que são passageiras. A felicidade duradoura o casal
a encontra no amor enraizado no amor de Deus. Tobias,
com seu amor fiel a Sara por amor a Deus, testemunhou
para o seu tempo a alegria de um casal temente a Deus.
O casal cristão hoje, que sobrepõe o amor-sacramento aos
valores do mundo, testemunha a alegria de quem põe a
sua esperança no Senhor.

124
Textos de Apoio
Apresentação dos textos
O Papa Francisco nos propõe alguns “segredos” ou pe-
quenas “regras”, que bem conhecemos, para nos santifi-
carmos em nosso dia a dia como casal, como pais, como
profissionais, como pessoas que vivem neste mundo atual.
Quando refletimos sobre o texto do Pe. Caffarel – santifica-
ção recíproca –, podemos perceber indicações semelhan-
tes para que um casal possa se santificar no seu cotidiano.
Ao refletir sobre o casal de Nazaré como um exemplo que
se propõe a todo casal cristão, que funda seu casamento em
Cristo e sobre a rocha que é Cristo, afirma que este é um
exemplo e, ao mesmo tempo, uma mensagem de esperan-
ça. “Se os esposos cristãos não se esquivarem da pedagogia
divina que age em sua vida, como agiu no casal Maria e
José, Deus os conduzirá ‘com mão forte e braço estendido’
até essa terra prometida, onde Ele os espera. O casamento
terá sido para eles um caminho de santidade”.58
Pe. Caffarel, em mensagem aos equipistas brasileiros,
para o EACRE de janeiro de 1958, ele insiste: “Meu con-
selho é o mesmo: máximo de mística e máximo de disci-
plina. O Brasil precisa de santos. É preciso que cada um
de vocês, a cada dia, procure a perfeição cristã para a
qual Cristo nos convidou. É preciso que vocês se ajudem
mutuamente a tender para essa perfeição”.
Dizia também o Pe. Caffarel que “uma das condições
para se entrar nas Equipes de Nossa Senhora é ter o de-
sejo de progredir espiritualmente – pessoalmente e em
casal”. Mas, porque sabe que este é um caminho difícil,

58 - Citado às páginas 65-66 – Padre Caffarel: Profeta do Matrimônio.

125
Capítulo
7
adverte logo em seguida: “Este desejo pode enfraquecer
e perder-se nas areias do hábito e da rotina. É indispen-
sável mantê-lo e renová-lo”.59
O caminho de santificação do casal e da família é um tra-
balho artesanal que se realiza nas inumeráveis luzes e som-
bras do cotidiano, lugar para amar de manhã à noite, assu-
mindo e ultrapassando as suas imperfeições próprias e dos
outros; uma realidade que se transforma ao longo da vida,
sem perder a sua própria essência; um compromisso defini-
tivo e duradouro que requer e provoca a união com Deus.

Texto do Papa Francisco 60

No capítulo IV da Gaudette et Exsultate, o Papa Francisco


apresenta algumas características da santidade no mundo
atual, que são “grandes manifestações do amor a Deus e
ao próximo”.

a. Firmeza, paciência e mansidão


A primeira destas grandes caraterísticas é permanecer cen-
trado, firme em Deus que ama e sustenta. A partir desta
firmeza interior, é possível aguentar, suportar as contrarie-
dades, as vicissitudes da vida e também as agressões dos
outros, as suas infidelidades e defeitos: “se Deus é por
nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31). Nisso está a fonte
da paz que se expressa nas atitudes de um santo. Com
base em tal solidez interior, o testemunho de santidade,
no nosso mundo acelerado, volúvel e agressivo, é feito de
paciência e constância no bem. (...) (GE, 112)

59 - Desejar, in: Carta Mensal francesa, novembro de 1948.


60 - Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do Santo Padre Francisco sobre a
chamada à Santidade no Mundo Atual. Santa Sé, Roma, 19 de março de 2018 –
Solenidade de São José.

126
b. Alegria e sentido de humor
O que ficou dito até agora não implica um espírito re-
traído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil su-
mido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria
e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os
outros com um espírito positivo e rico de esperança.
Ser cristão é “alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17),
porque, “do amor de caridade, segue-se necessaria-
mente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na
união com o amado. [...] Daí que a consequência da
caridade seja a alegria”. (...) (GE, 122)

c. Ousadia e ardor
Ao mesmo tempo, a santidade é parresia: é ousadia,
é impulso evangelizador que deixa uma marca neste
mundo. Para isso ser possível, o próprio Jesus vem
ao nosso encontro, repetindo-nos com serenidade
e firmeza: “não temais!” (Mc 6,50). “Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt
28,20). Estas palavras permitem-nos partir e servir
com aquela atitude cheia de coragem que o Espírito
Santo suscitava nos apóstolos, impelindo-os a anun-
ciar Jesus Cristo. Ousadia, entusiasmo, falar com li-
berdade, ardor apostólico: tudo isto está contido no
termo parresia, uma palavra com que a Bíblia expres-
sa também a liberdade de uma existência aberta, por-
que está disponível para Deus e para os irmãos (cf.
At 4,29; 9,28; 28,31; 2Cor 3,12; Ef 3,12; Heb 3,6;
10,19). (GE, 129)

d. Em comunidade
A santificação é um caminho comunitário, que se deve
fazer dois a dois. Reflexo disto temos em algumas
comunidades santas. Em várias ocasiões, a Igreja canoni-

127
Capítulo
7
zou comunidades inteiras, que viveram heroicamente o
Evangelho ou ofereceram a Deus a vida de todos os seus
membros. (...) De igual modo, há muitos casais santos,
onde cada cônjuge foi um instrumento para a santifica-
ção do outro. Viver e trabalhar com outros é, sem dúvi-
da, um caminho de crescimento espiritual. São João da
Cruz dizia a um discípulo: estás a viver com outros “para
que te trabalhem e exercitem na virtude”. (GE, 141)

Texto do Pe. Caffarel: 61

Santificação recíproca
É para com seu cônjuge que Deus quer, em primeiro lugar,
que você seja seu cooperador. [...] Quando um jovem ca-
sal toma a feliz e edificante iniciativa de assumir o encargo
espiritual mútuo dos esposos, não se trata, portanto, de um
luxo. É uma missão, uma missão divina. Pelo Sacramento do
Matrimônio, você se torna responsável pela santificação de
seu cônjuge, a exemplo de Cristo que se encarna e que se
constitui responsável pela salvação da humanidade.
Uma palavra que vocês conhecem bem sublinha essa mis-
são recíproca: “ministro”. Vocês são ministros não so-
mente no dia da celebração do matrimônio, mas, em outro
sentido, vocês o são, em verdade, cada dia. Um ministro
é uma pessoa que age, em uma determinada tarefa, em
nome de outra. Ou, mais exatamente ainda, é por meio de
quem essa outra pessoa age. No matrimônio, esse outro
é Cristo. Marido e mulher, vocês são encarregados pelo
Cristo de uma missão para com seu cônjuge. É uma obra
que Cristo quer realizar por você e com você junto àquele

61 - Pe. Henri Caffarel. “Missão Apostólica do Casal”. Parte II. Palestra


proferida por Pe. Caffarel em Itaici (São Paulo), em 1972, quando de sua
terceira e última visita ao Brasil. Publicado em: Palestras e Conferências do
Pe. Henri Caffarel, SR Brasil, 2017.

128
ou àquela que Ele lhe confiou. Ele quer se dar por cada
um que se dá ao outro, Ele quer que cada um O acolha ao
acolher o dom do outro.
Portanto, não se deve hesitar em usar a palavra forte “mi-
nistério” para caracterizar a sua vida conjugal. Assim como
se fala de ministério sacerdotal, deve-se falar de ministério
conjugal, único, original, insubstituível, recebido de Cristo.
Esse ministério não é somente um dever, é também um
poder e ainda uma graça. O dever de trabalhar na santi-
ficação de seu cônjuge; o poder dado por Cristo para este
trabalho; a graça, o auxílio de Cristo que nunca os deixará
sós nessa tarefa.
Entendam bem esse ministério, entendam como devem
trabalhar na sua santificação mútua. Não é como se fossem
dois pregadores que ficam edificando um ao outro fazen-
do sermões, mas é no exercício de sua própria vocação de
cônjuge e pais. Não se trata de fazer esforços para fazer o
bem para o outro, mas sim de se amarem, de se ajudarem
mutuamente, de amarem seus filhos e de assistirem um ao
outro no exercício da paternidade e da maternidade. [...]

Orientações para Preparar


a Reunião de Equipe
Reunião de equipe como uma Ecclesia:

6ª Condição: Responder a Deus

Escutar a Palavra de Deus, mas também responder-lhe, é a


sexta condição a satisfazer.
Deus fala e é normal que comecemos por escutá-Lo. E que
não sejamos como tantos cristãos que, desde o primeiro

129
Capítulo
7
momento em que se apresentam diante de Deus, logo se
põem a falar-lhe. E perguntamo-nos quando é que Deus po-
derá por sua vez lhes falar. Na realidade, Deus não lhes fala.
Escutemos em primeiro lugar Deus que fala e, em segui-
da, respondamos-Lhe. A resposta do homem à Palavra de
Deus é a sua fé. Infelizmente para nós, ocidentais do sé-
culo XX, a fé não é mais do que uma adesão do espírito,
ao passo que, em termos bíblicos, a fé é o impulso de uma
vida inteira, vivida segundo a Palavra de Deus. A fé nos
toma de Deus e nos entrega integralmente a Deus. [...]
O que me leva muitas vezes a perguntar a mim mesmo se
as nossas reuniões de equipe são verdadeiramente assem-
bleias cristãs, e se o Cristo está aí presente, é que não en-
contro nenhuma vibração da religião do Cristo nas poucas
fórmulas de oração que são pronunciadas em voz alta. É
verdadeiramente aí que o papel do Responsável e do Con-
selheiro Espiritual é importante para que, pouco a pouco,
tendo ouvido o Cristo que fala, a assembleia inteira lhe
apresente uma resposta que seja digna d’Ele.

Acolhida e Motivação Inicial


Iniciando nossa sétima reunião, vamos chamar a atenção
para o tema que nos é proposto: a santidade vivida em
casal. Ser casal santo, hoje, é um chamado e uma missão
que recebemos pelo sacramento do matrimônio; viver a
santidade dentro do casamento é para nós, casais equi-
pistas, uma exigência que nos é proposta pela pedagogia
utilizada no Movimento das ENS.
Portanto, quem recebeu o sacramento do matrimônio
tem, na vida com o seu cônjuge e com os seus filhos, ma-
téria-prima para uma vida de santidade.

130
Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, um gesto
ou atitude que tivemos em relação à busca da santida-
de do seu cônjuge.

Leitura da Palavra de Deus e Meditação


Tobias 8,1-9
Ver na página 122.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a vi-
vência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês que
passou.
• Neste mês, cada casal partilhe um pouco mais sobre
sua Regra de Vida. Sem precisar falar desta Regra de
Vida, partilhe como ela o ajudou no exercício de re-
conhecimento de que “somos de barro” nas mãos
de Deus e que precisamos continuar progredindo em
nossa vida cristã, conjugal e familiar para atingirmos a
perfeição-santidade que Ele quer de nós.

131
Capítulo
7
• Por isso, faça um esforço maior para neste mês propor
uma Regra de Vida nova ou rever a que já estabeleceu,
de modo que ela seja uma salvaguarda e um suporte
para crescer na espiritualidade conjugal.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como
melhorar sua Regra de Vida no dia a dia, procure ler o
documento A REGRA DE VIDA, disponível no site: ens.
org.br (Livraria).

Afirma o Pe. Henri Caffarel: 62

“O que a Carta vos oferece é um meio para progredir,


que detém entre nós um lugar de honra: é-vos pedido
que pareis periodicamente para colocar a vossa vida sob
o feixe luminoso da vontade de Deus, para verificar, com
lealdade e generosidade, de que maneira lhe sois fiéis,
para precisar quais as resoluções que vos permitirão cor-
responder melhor a essa vontade”.

Perguntas para a Reunião de Equipe


(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é santidade. Vamos conversar em equipe –
como forma de entreajuda – sobre como vivemos ou pro-
curamos viver a santidade no nosso cotidiano.
• Vocês já pensaram, alguma vez, que a vossa vivência
cotidiana em casal e em família, realizando tarefas sim-
ples, poderia levá-los à santidade?

62 - ENS. A Regra de Vida. Publicado pela Super-Região Brasil, 2017. Pe. Caffarel.
­L’Anneau d’Or, nº 87-88, 1959; Número especial “Mille foyers à Rome”.

132
• Vocês consideram que o vosso matrimônio é realmen-
te um caminho de santidade em casal? Está sendo um
caminho fácil ou difícil?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão

133
John Faed (1819-1902)

Póstumo e Imogênia
(uma cena de Cymbeline de Shakespeare)

John Faed, o filho mais velho de James e Mary Faed, era


um pintor escocês, assim como seu irmão. Frequentou
a Escola Paroquial de Girthon. Faed pintou principal-
mente cenas religiosas, literárias e históricas e foi um
membro ativo da comunidade em sua cidade natal,
Gatehouse of Fleet, na Escócia. Ele ajudou a conceber e
desenvolver uma série de projetos comunitários, como
a torre do relógio e a prefeitura. Suas pinturas, popu-
lares na Inglaterra vitoriana, podem ser encontradas
em coleções públicas e privadas, incluindo a Galeria
Nacional da Escócia.
Quando jovem, demonstrou excepcional talento artís-
tico como retratista. Apesar das objeções de seu pai
em relação à carreira artística, Faed se mudou para
Edimburgo em 1839 para frequentar a Academia de
Curadores, onde estudou desenho e pintura de figuras
humanas. Faed escolheu muitas cenas de Shakespeare
e da Bíblia, mas acabou se especializando em assuntos
escoceses, como os populares romances de Sir Walter
Scott. Foi eleito membro da Academia Real Escocesa
em 1847. Esteve no Oriente Médio, onde viveu por 4
meses colecionando vários adereços para incorporar
em seus quadros bíblicos e orientais.
Faed também teve seguidores nos Estados Unidos. Seu
Retrato de George Washington fazendo a saudação em
Trenton foi tão popular que foi selecionado para ilus-
trar um artigo sobre o presidente na Revista de Histó-
ria Americana em 1880.
Capítulo
8
Espiritualidade Conjugal:
Contribuição Específica das ENS
para a Santidade do Casal
Objetivos
• Alegrar-se pela espiritualidade conjugal, caminho de
santidade do casal.
• Comprometer-se com a vivência do carisma das ENS.
• Reconhecer a importância do Sacramento da Ordem, e
do acompanhamento espiritual, no caminho de santida-
de dos casais.

Introdução Geral
Nos vários escritos do Padre Caffarel, lemos com insistência
que “estar no Movimento (das ENS) é procurar Cristo e, en-
contrando-O, segui-Lo com toda a determinação”. Assim,
o objetivo nº 1, para utilizar a expressão do fundador, é a
união com Cristo.63 Diz com impressionante acuidade: “A
única intenção verdadeira (para se entrar nas ENS), a que
corresponde à finalidade das equipes, é a vontade de co-
nhecer Deus melhor, de O amar melhor, de O servir melhor.
Vem-se para as equipes por Deus e fica-se nelas por Deus.
O motivo da entrada e da permanência nas equipes é reli-
gioso, ou seja, diz respeito a Deus”.64

63 - Cf. Que vindes fazer nas equipes? in: Carta Mensal francesa, novembro de 1948.
64 - Por Deus, in: Carta Mensal, dezembro de 1962.

136
É o que podemos ler nas primeiras linhas do Guia das ENS:
“Os casais cristãos, unidos pelo sacramento do matrimô-
nio, são chamados a seguir o Cristo no caminho do amor,
da felicidade e da santidade. As Equipes de Nossa Senhora,
dom do Espírito Santo, são oferecidas aos casais do mundo
inteiro para ajudá-los a desenvolver e a viver a sua espiritu-
alidade conjugal”.65
Portanto, aí encontramos a contribuição específica das ENS
no caminho de santidade do casal. Em sua pedagogia e mís-
tica são estabelecidas algumas “regras”, “obrigações” ou
“pontos concretos de esforço” a fim de guardar a fidelida-
de e unidade à inspiração original (carisma) do Movimento
e à sua “internacionalidade” (para casais do mundo todo),
e que dizem respeito aos leigos casados, que receberam o
sacramento do matrimônio.
Conduzir cada casal unido pelo sacramento do matrimônio
a transformar em Cristo a sua vida conjugal e familiar é cla-
ramente a intuição de base do nosso Movimento.
O que é a espiritualidade conjugal? Como nos responde Pe.
Caffarel: é “a arte de viver no casamento o ideal evangéli-
co que Cristo propõe a todos os seus discípulos”.66 Ou, a
ciência e a arte de se santificar no e pelo matrimônio é a
espiritualidade conjugal.
A espiritualidade conjugal não é constituída pela soma de
duas espiritualidades, do marido e da esposa; a espirituali-
dade conjugal não exclui, de forma nenhuma, a espiritua-
lidade pessoal de cada um dos cônjuges; a espiritualidade
conjugal é um caminho a dois para chegar à santidade
com a força da graça de Deus, no cotidiano do casal e
na sua vida guiada pelo amor; portanto, a espiritualidade
conjugal não pode ser uma soma do potencial espiritual de
65 - ENS. Guia das Equipes de Nossa Senhora, Introdução.
66 - Henri Caffarel. Viens et Suis-Moi. Carta Mensal francesa, Ano XVI – nº 2 –
novembro 1962.

137
Capítulo
8
cada um dos cônjuges, mas uma possibilidade de multipli-
cação deste potencial espiritual.
Para nós equipistas, praticar a espiritualidade conjugal con-
siste em viver a ação sacramental, ou seja, fazer agir o sa-
cramento do matrimônio por gestos, palavras e atos espe-
cíficos do amor natural que une o casal; a espiritualidade
conjugal é essencialmente uma existência sacramental de
duas pessoas – homem e mulher – apaixonadas por Cristo
e unidas pelo sacramento do matrimônio para viver um ca-
minho de santidade.
É importante destacar a presença do Sacerdote Conselheiro
Espiritual nas ENS. Ele faz parte do carisma do Movimento e
seu papel é ajudar os casais a serem fiéis a esse carisma. Ele
exerce na equipe de base seu ministério pastoral e espiritu-
al: ensinar, santificar, reger. O SCE participa de uma equipe
para ajudar os casais em sua santificação.67

Texto Bíblico:
Efésios 5, 21-33
Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo. As
mulheres o sejam aos maridos, como ao Senhor, pois o
marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a
cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual ele é o Salvador. Por
outro lado, como a Igreja se submete a Cristo, que as mu-
lheres também se submetam, em tudo, a seus maridos.
Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também
amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela
palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele
quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem
ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito. É assim
que os maridos devem amar suas esposas, como amam seu
67 - ENS/ERI. O Padre Conselheiro e o Acompanhamento Espiritual nas Equipes
de Nossa Senhora. Paris, março de 2017. (disponível no site da ERI)

138
próprio corpo. Aquele que ama sua esposa está amando a
si mesmo. Ninguém jamais odiou sua própria carne. Pelo
contrário, alimenta-a e a cerca de cuidado, como Cristo faz
com a Igreja; e nós somos membros do seu corpo! Por isso,
o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mu-
lher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande –
eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja. Enfim, cada
um de vós também ame a sua esposa como a si mesmo; e
que a esposa tenha respeito pelo marido.

Leitura Orante da Bíblia


Propomos a cada um, e ao casal, durante o mês, a partir do
texto bíblico, seguir os quatro degraus da Leitura Orante da
Bíblia – Leitura, Meditação, Oração e Contemplação, confor-
me esquema e perguntas apresentados no Anexo 1. (p. 162-c)

Breve Reflexão ao Texto Bíblico


Aquele que ama sua esposa está amando a si mesmo
São Paulo, na Carta aos Efésios, fala da grande obra de
amor que Jesus Cristo realiza pela Igreja, pela humanida-
de. Ele olha para Jesus Cristo glorioso no céu, mas fala do
mistério de Jesus agindo na Igreja, para nela reunir toda a
humanidade num único “povo de Deus”. A meta é levar to-
dos ao conhecimento do mistério de Cristo e do mistério da
Igreja, para que todos cheguem à plenitude de vida em Cris-
to (cf. Ef 1, 9; 1, 22; 3, 17b-19; 4, 13). Para que tal se rea-
lize, o cristão deve converter-se, tornar-se “homem novo”
em Cristo (cf. Ef 4, 22-24). O capítulo 5, no qual se insere
o texto em reflexão, começa assim: “Sejam imitadores de
Deus, como filhos queridos. Vivam no amor, assim como
Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós...” (Ef 5,1).

139
Capítulo
8
É nesse contexto que deve ser lido o texto epigrafado: Olhan-
do para a meta, a perfeição em Cristo, mas sabendo que há
uma longa estrada a percorrer, para cujo caminho Paulo faz
um ensinamento comportamental: à imitação de Cristo.
“Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo” é
um ensinamento dirigido a todos os cristãos. Aqui pode-
-se olhar para Cristo, que foi submisso à vontade do Pai,
ou para Maria, que se coloca como escrava de Deus. Essa
submissão não é um rebaixamento, e sim um ato de amor;
é disponibilidade para o serviço aos irmãos.
É este também o sentido de as mulheres serem “submissas
a seus maridos”. Embora influenciado pela cultura da épo-
ca, quando as mulheres eram consideradas propriedades
dos seus maridos, Paulo eleva essa submissão, dando-lhe
um sentido de servir amando. Também sob influência da
cultura de então, Paulo dá várias atribuições ao marido:
a ele cabe amar a sua mulher como Cristo amou a Igreja,
cuidar dela, nutri-la, amá-la como a seu próprio corpo e
ser capaz de “morrer” por ela.
Na verdade, todas essas obrigações são mútuas: marido e
mulher devem se amar e servir um ao outro. Assim, ambos
devem proceder à imitação de Jesus Cristo, que deu sua
vida para purificar e santificar a Igreja, “para apresentar a
si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou
qualquer outro defeito, mas santa e imaculada” (5, 27; cf.
Ap 19, 7-8).
Aqui se assenta a razão principal da espiritualidade conju-
gal: Cristo quer que sua esposa, a Igreja, seja toda santa,
e para tanto lhe dá as graças no seu tempo. Também ma-
rido e mulher devem se amar mutuamente, auxiliando-se
concretamente um ao outro, para que ambos, como “uma
só carne”, cresçam em santidade, e alcancem a meta: a
plenitude em Cristo. Eis o “grande mistério”.

140
É importante observar o sentido de “carne”. Não se trata
de carne de açougue, mas corpo carnal vivo. “O Verbo
se fez carne” significa que Deus, puro espírito, se fez um
ser humano, que veio santificar também o corpo humano.
Sendo “uma só carne”, o casal se torna a união de duas
vidas, vidas de corpo e espírito. Como Cristo se fez corpo
humano vivo para salvar a humanidade, também marido
e mulher, com seu corpo e seu espírito, devem ser instru-
mento de salvação um para o outro, no amor mútuo, uni-
do ao amor de Cristo pela sua Igreja. Toda a ação de Jesus
Cristo se funda no amor de Deus, que deseja a felicidade
para a humanidade. Também o casal encontra no amor a
razão do agir de ambos a serviço da felicidade (santidade)
um do outro.

Textos de Apoio
Apresentação dos textos
Na origem da espiritualidade conjugal há um apelo de
Cristo ao casal, e por isso, assim escreve Pe. Caffarel, ci-
tando um jovem camponês, interlocutor seu: “Para nós, os
esposos, a nossa vocação é caminhar juntos para Cristo,
um e o outro, um com o outro, um pelo outro”.68
A fonte do amor cristão, afirma também o Pe. Caffarel,
“não está no coração do homem. Está em Deus. Para os
esposos que querem amar, que querem aprender a amar
cada vez mais, há um único bom conselho: procurem
Deus, amem Deus, sejam unidos a Deus, deixem-Lhe todo
o espaço”.69 Deus está na origem do amor do casal, mas
é também o seu termo. O amor vem de Deus e vai para
Deus; Deus é o alfa e o ômega do amor conjugal.
68 - Henri Caffarel. “Por uma espiritualidade do cristão casado”.
In: Espiritualidade Conjugal, p. 38.
69 - Henri Caffarel. Lotissements. L’Anneau d'Or, no 35, setembro-outubro 1950,
p. 310 a 311 [1- p. 4] Ver também: O Amor e a Graça, capítulo I, p. 28-29.

141
Capítulo
8
Como podemos observar nos textos a seguir, a vivência
da espiritualidade conjugal equivale a cristianizar toda a
vida do casal e fazer resplandecer a glória de Deus em
suas vidas, pois é uma comunhão sobrenatural, um vínculo
habitado pelo Espírito Santo. Na intimidade do amor con-
jugal está presente a Trindade, fazendo-se presente neste
“templo da comunhão matrimonial”. Como afirma o Papa
Francisco, “a espiritualidade matrimonial é uma espiritua-
lidade do vínculo habitado pelo amor divino”.70
Como nenhum casal é uma realidade perfeita, e “confec-
cionado” de uma vez para sempre, o desafio de viver a
espiritualidade conjugal representa este requisito, esta ne-
cessidade de um progressivo amadurecimento em sua ca-
pacidade de amar em duas dimensões: humana e espiritual.

Texto do Papa Francisco


O capítulo IX da Amoris Laetitia é dedicado, pelo Papa Fran-
cisco, a apresentar alguns traços da espiritualidade conjugal
e familiar. Afirma que, “várias décadas atrás, o Concílio Va-
ticano II, a propósito do apostolado dos leigos, punha em
realce a espiritualidade que brota da vida familiar. Dizia que
a espiritualidade dos leigos ‘deverá assumir características
especiais’ próprias, nomeadamente a partir do ‘estado do
matrimônio e da família’, e que os cuidados familiares não
devem ser alheios ao seu estilo de vida espiritual. Por isso,
vale a pena deter-nos brevemente a descrever algumas ca-
racterísticas fundamentais desta espiritualidade específica
que se desenrola no dinamismo das relações da vida fami-
liar”. (AL, 313)

70 - Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia, nº 315.

142
a. Espiritualidade da comunhão sobrenatural
A presença do Senhor habita na família real e concreta,
com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propó-
sitos diários. Quando se vive em família, é difícil fingir e
mentir, não podemos mostrar uma máscara. Se o amor
anima esta autenticidade, o Senhor reina nela com a sua
alegria e a sua paz. A espiritualidade do amor familiar
é feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus
tem a sua própria habitação nesta variedade de dons e
encontros que fazem maturar a comunhão. Esta dedica-
ção une “o humano e o divino”, porque está cheia do
amor de Deus. Em suma, a espiritualidade matrimonial
é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor di-
vino. (AL, 315)

b. Unidos em oração à luz da Páscoa


Se a família consegue concentrar-se em Cristo, Ele unifica
e ilumina toda a vida familiar. Os sofrimentos e os proble-
mas são vividos em comunhão com a cruz do Senhor e,
abraçados a Ele, pode-se suportar os piores momentos.
Nos dias amargos da família, há uma união com Jesus
abandonado, que pode evitar uma ruptura. As famílias
alcançam pouco a pouco, “com a graça do Espírito Santo,
a sua santidade através da vida matrimonial, participando
também no mistério da cruz de Cristo, que transforma as
dificuldades e os sofrimentos em oferta de amor”. Por
outro lado, os momentos de alegria, o descanso ou a fes-
ta, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma par-
ticipação na vida plena da sua Ressurreição. Os cônjuges
moldam, com vários gestos quotidianos, este “espaço te-
ologal, onde se pode experimentar a presença mística do
Senhor ressuscitado”. (AL, 317)

143
Capítulo
8
c. Espiritualidade do amor exclusivo e libertador
No matrimônio, vive-se também o sentido de perten-
cer completamente a uma única pessoa. Os esposos
assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gas-
tar-se juntos, e assim refletem a fidelidade de Deus.
Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é
uma “exigência interior do pacto de amor conjugal”,
porque, “quem não se decide a amar para sempre, é
difícil que possa amar deveras um só dia”. Mas isto
não teria significado espiritual se fosse apenas uma lei
vivida com resignação. É uma pertença do coração, lá
onde só Deus vê (cf. Mt 5,28). Cada manhã, quando
se levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta de-
cisão de fidelidade, suceda o que suceder ao longo do
dia. E cada um, quando vai dormir, espera levantar-se
para continuar esta aventura, confiando na ajuda do
Senhor. Assim, cada cônjuge é para o outro sinal e
instrumento da proximidade do Senhor, que não nos
deixa sozinhos: “Eu estarei sempre convosco, até o fim
dos tempos”. (AL, 319)

d. Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo


“Os esposos cristãos são cooperadores da graça e tes-
temunhas da fé um para com o outro, para com os
filhos e demais familiares”. Deus convida-os a gerar
e a cuidar. Por isso mesmo, a família “foi desde sem-
pre o ‘hospital’ mais próximo”. Prestemo-nos cuida-
dos, apoiemo-nos e estimulemo-nos mutuamente, e
vivamos tudo isto como parte da nossa espiritualidade
familiar. A vida em casal é uma participação na obra
fecunda de Deus, e cada um é para o outro uma per-
manente provocação do Espírito. O amor de Deus ex-
prime-se “através das palavras vivas e concretas com
que o homem e a mulher se declaram o seu amor con-

144
jugal”. Assim, os dois são entre si reflexos do amor
divino, que conforta com a palavra, o olhar, a ajuda, a
carícia, o abraço. Por isso, “querer formar uma família
é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a co-
ragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com
Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de cons-
truir um mundo onde ninguém se sinta só”. (AL, 321)

Texto do Pe. Caffarel 71

Espiritualidade Conjugal:
A ciência e a arte de se santificar no e pelo sacerdócio é a
espiritualidade sacerdotal. A ciência e a arte de se santifi-
car no e pelo matrimônio é a espiritualidade conjugal.
Trata-se de cristianizar toda a vida familiar. Primeiro, pes-
quisar o sentido cristão de todas as realidades familiares
e de se questionar: “No fundo, qual é o pensamento de
Deus sobre o amor, sobre a paternidade e a maternidade,
a sexualidade, a educação, sobre todas as grandes reali-
dades do lar?” E não apenas descobrir, mas ainda querer
realizar a ideia de Deus em todos esses campos.
É preciso ainda pesquisar o que se gosta de chamar de um
estilo cristão de família: o estilo cristão das relações entre
pessoas, entre os esposos, entre pais e filhos, entre pais
e avós, entre a família e os amigos; um estilo cristão do
contexto: da casa, das refeições, das despesas; um estilo
cristão das atividades cotidianas: o trabalho, o lazer, o le-
vantar-se, o deitar-se, as vigílias, a hospitalidade.
Como fazer para que tudo isso seja cristão, pareça cristão,
que tudo isso reverbere a luz da graça de Cristo?

71 - Pe. Henri Caffarel. Publicado em L’Anneau d’Or, nº 84. Encontra-se também publicado
em: Padre Caffarel – Profeta do Matrimônio, capítulo IV, Tema de Estudo 2009.

145
Capítulo
8
Um estilo cristão dos dias: o domingo não se vive como o
sábado, o sábado como a quinta-feira, a quinta-feira como
os outros dias da semana; um estilo cristão nos grandes
eventos: o nascimento, a enfermidade, as provações, o ca-
samento, a morte... Viver de maneira cristã esses aconte-
cimentos. E tudo isso “para que Deus seja glorificado em
todas as coisas”, como dizem os beneditinos.
Finalmente, a família não sendo isolada na cidade e na
Igreja, essa espiritualidade conjugal e familiar é também
a espiritualidade do engajamento da família nas tarefas
humanas e nas tarefas eclesiais.

Orientações para Preparar


a Reunião de Equipe
Reunião de Equipe como uma Ecclesia:

7ª Condição: União com a Igreja


Teria eu terminado? Não! Resta-me falar-lhes ainda de uma
condição. O fervor de uma pequena reunião de cristãos,
o fervor da própria oração, não realiza necessariamente
uma autêntica assembleia cristã. Esta reunião poderia não
ser mais do que uma seita. E quantas seitas, com efeito,
deram o exemplo de grande fervor. Mas Cristo nelas não
estava presente. Não eram uma Ecclesia. Qual a razão? É
porque não viviam tudo isto dentro da Igreja. E aí vocês
têm a última condição sobre a qual chamo a sua atenção.
Se a minha mão é cortada, separada de meu corpo, minha
mão perece; se o ramo é quebrado da árvore, o ramo apo-
drece. Se a pequena Ecclesia é cortada da grande Ecclesia,
a pequena Ecclesia não é mais uma Ecclesia, mas apenas
uma reunião qualquer.

146
É preciso que na pequena Ecclesia a alma da grande Ec-
clesia se encontre toda, vibrando. É bem por isso que nos
Estatutos das Equipes de Nossa Senhora acha-se escrito:
“Evocam-se na oração, para adotá-las, as grandes inten-
ções da grande Igreja”.
Em uma palavra, se a pequena Ecclesia não lançar raízes
na Igreja, não passará de uma seita. Todo o seu sentido lhe
vem da sua relação com a Igreja e, quando falo da Igreja,
eu penso naquela da terra, mas penso também na do céu.

Acolhida e Motivação Inicial


Ao iniciarmos nossa oitava reunião, que nos apresenta a
espiritualidade conjugal como uma contribuição específi-
ca das ENS para o caminho de santidade do casal cristão,
vimos que é Cristo, pelo sacramento do matrimônio, que
vem selar a união entre duas pessoas – um homem e uma
mulher. Cristo não só estará junto na vida deste casal,
como estará neles, pela sua graça.
Espiritualidade conjugal é a ciência e a arte de se santifi-
car no e pelo matrimônio. Esta é a função primordial do
nosso Movimento das ENS: ajudar o casal a se santificar
no e pelo matrimônio.

Coparticipação
• Comentar em equipe as experiências vividas durante o
mês, as quais foram significativas para a vida de cada
um em particular ou do casal.
• Coparticipar, de forma simples e concreta, um gesto ou
atitude que tivemos para fortalecer nossa espiritualida-
de conjugal.

147
Capítulo
8 Leitura da Palavra de Deus e Meditação
Efésios 5, 21-33
Ver na página 138.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

Partilha
• Cada um partilhe com a equipe o que significou a
vivência dos Pontos Concretos de Esforço neste mês
que passou.
• É muito possível que, até o presente momento, o ca-
sal já tenha participado de um Retiro nesse ano equi-
pista. Do contrário, programe-se e participe do pró-
ximo Retiro.
• Neste momento, partilhe a importância que o Retiro
tem para vocês.
• Se o casal desejar saber um pouco mais sobre como me-
lhorar sua participação em um Retiro, procure ler o docu-
mento O RETIRO, disponível no site: ens.og.br (Livraria).

Afirma o Pe. Henri Caffarel 72

“De tempos em tempos, a nossa fé esmorece e é pelo


efeito do sopro da Palavra de Deus que ela desperta,

72 - ENS. O Retiro. Publicado pela Super-Região Brasil, 2017. Ver também em:
Carta Mensal francesa, n° 5, fevereiro de 1960.

148
se robustece, readquire vida. É no Retiro que se torna possí-
vel abrirmo-nos, nós mesmos, ao sopro da Palavra de Deus”.

Perguntas para a Reunião de Equipe


(Troca de ideias sobre o tema)
Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica
sobre o que é santidade. Vamos conversar em equipe –
como forma de entreajuda – sobre como vivemos ou pro-
curamos viver a santidade no nosso cotidiano.
• O que é – para vocês – a espiritualidade conjugal, ob-
jetivo do nosso Movimento das ENS? Como vocês a
vivem no dia a dia como casal e em família?
• Vocês acreditam que as ENS representam uma ajuda
importante em vosso caminho de santidade? De que
forma?

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão

149
Balanço
Balanço
Objetivos
• Compartilhar e revisar o caminho de santidade pesso-
al e do casal vivido ao longo do ano.

• Compartilhar e revisar a caminhada da equipe duran-


te este ano, e sua contribuição para a santificação de
cada casal equipista.

• Realizar na equipe uma revisão do ano que termina


em relação à mística dos PCE e da Partilha.

• Reconhecer que o chamado à santidade do casal está


intimamente ligado à missão.

Como o nome revela, o BALANÇO é uma reunião de ava-


liação e de projeção sobre aspectos da vida de cada ca-
sal, e especialmente da vida de equipe, que precisam ser
fortalecidos, preservados ou, caso necessário, corrigidos.

Texto Bíblico
Lucas 13, 6-9

O agricultor, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda


este ano. Vou cavar em volta e pôr adubo.
E Jesus contou-lhes esta parábola: Certo homem tinha
uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar

151
figos, mas não encontrou. Então disse ao agricultor: Já faz
três anos que venho procurando figos nesta figueira e
nada encontro. Corta-a! Para que ela ocupa inutilmente
o terreno? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda
este ano. Vou cavar em volta e pôr adubo. Pode ser que
venha a dar fruto; caso contrário, tu a cortarás.

Reflexões a partir da Palavra de Deus


O texto acima conta uma parábola simples. Alguém tem
uma figueira plantada no meio de sua vinha, um lugar
privilegiado, pois a vinha era plantada em terra boa. De-
pois de crescida, quando deveria produzir, por três anos
o proprietário não encontrou frutos nela. Manda cortá-
-la, pois está ocupando um lugar sem produzir; está dan-
do prejuízo. O agricultor, entretanto, pede que a deixe
ainda por um ano, tempo que vai afofar a terra em volta
e adubá-la; talvez ela ainda produzirá frutos.
Esta parábola está inserida, no Evangelho segundo Lucas,
num contexto de conversão e escatologia. Jesus fala da
necessidade de conversão, de estar preparado tanto para
o fim da vida terrena individual como para a segunda vin-
da de Cristo: ninguém sabe o dia, mas esse dia chegará.
A parábola é um alerta, mas também uma esperança.
A figueira representa cada pessoa humana e também
pode representar uma comunidade, um movimento (ou
uma Equipe de Nossa Senhora). O dono da vinha é o
Pai. Cada pessoa é plantada em terra boa, no meio da
preciosa vinha do Pai, a Igreja. O Agricultor, Jesus Cristo,
tem cuidados especiais com cada um, dá graças especiais
a cada pessoa, movimento, etc. a fim de que produza

152
frutos bons para o “Dono da vinha”. Mesmo assim, há
uma “figueira” que só ocupa espaço na vinha, suga
egoisticamente a fertilidade da terra, obstaculizando o
bom desenvolvimento da vinha à sua volta e causando
prejuízos.
Apesar disso, essa “figueira” é muito especial: o Dono da
vinha se preocupou com ela, mas por muito tempo ela
não produziu frutos, e o tempo final chegará de surpresa.
O texto, intencionalmente, não diz se, depois do reforço
na adubação, irrigação etc., a figueira deu ou não frutos.
O final dessa parábola está em cada pessoa humana, até
o final dos tempos. O resultado está no esforço individual
de cada pessoa. Deus sempre disponibiliza a graça, mas
deixa a pessoa livre para servir-se desse “adubo”.
O final de ano equipista é sempre propício para verificar
como a “figueira” está produzindo frutos. O solo onde a
figueira da parábola estava plantada era bom, pois ficava
no meio da vinha; mesmo assim, ela não produzia.
Talvez, apesar da “terra fértil”, também o casal e a equipe
não estejam dando bons frutos. Talvez estejam conven-
cidos de que se bastam a si mesmos, ou que já são bons
o suficiente; talvez, inconsciente e comodisticamente, di-
gam: “ser mais santo atrapalha”; por isso, também não se
preocupam com quem está à sua volta na vinha do Senhor.
A parábola é um convite misericordioso de Deus à con-
versão, neste caminho de busca da santidade. O casal
cristão sabe que é fraco, que sozinho não vai dar frutos
bons; por isso conta com o “Agricultor”. Jesus Cristo,
Misericórdia do Pai, está sempre disponível, insistindo
mesmo para dar-lhe os dons do Espírito Santo, para que
produza frutos de santidade.

153
Texto do Pe. Caffarel

”Cansei-me para encontrar Deus”73

Ano Novo. Primeira reunião de uma equipe veterana.


Na ordem do dia: balanço sobre os resultados no ano
anterior; previsões para o ano em curso; “estado de saú-
de” da equipe.

A cabeça entre as mãos, os olhos pregados no forro, os


dedos coçando os cabelos, mãos no bolso – cada qual
se posta na atitude familiar que provoca a eclosão dos
pensamentos profundos... para a grande troca de ideias.

Alguém observa: “Está baixando o ‘tônus’ de nossa equi-


pe”. Esta afirmação suscita desde logo veemente dis-
cussão, ao cabo da qual se conclui que não é exata a
assertiva, se se considerar o conjunto das atividades de-
senvolvidas, o saldo dos resultados obtidos.

Mas, certa dúvida permanece. Não se teria perdido


um pouco do entusiasmo inicial, que era o entusiasmo
da descoberta?

Lembro-me bem – diz um: com que alegria, depois de


cada reunião, voltávamos para casa! Tudo era radiante!
Tínhamos a impressão de termos entrevistado o pensa-
mento de Deus acerca do Amor, da paternidade, do sexo,
da educação... Que perspectivas iluminantes! Havíamos
descoberto que o nosso casamento não era viela estreita

73 - Lettre Mensuelle, ano VIII, no 1, outubro 1954 – Je me suis fatigué pour trouver
Dieu. Publicado no Brasil, "Raízes do Movimento, Carta Mensal, n° 469,
fevereiro/março de 2013; Carta Mensal, n° 1, ano III, março 1955.

154
de garagem, mas verdadeira estrada real que nos conduz
a Deus; que o mistério do Amor nos leva em cheio ao
mistério de Cristo e da Igreja!

Tal testemunho é realmente revelador. O entusiasmo, o


verdadeiro entusiasmo, é efeito da descoberta.

Convido-vos, pois, a meditar um pouco. Se o entusiasmo


cristão estiver afrouxando em vossa equipe, entre os seus
membros, não será porque se perdeu o espírito da desco-
berta? E mais. Por que se perdeu tal espírito?

Para descobrir, é preciso procurar; para procurar, é preciso


ter o desejo de encontrar; para desejar encontrar, é preciso
que se creia que existe alguma coisa a encontrar.

Acreditais que existe ainda alguma coisa por encontrar,


ou sois como aqueles cristãos que, tendo adquirido algu-
mas noções sobre a grandeza do casamento, julgam do-
minar completamente este “grande mistério”? – usando
da expressão de São Paulo; que, tendo assistido a algumas
conferências e participado de alguns retiros, se contentam
com aquilo que ouviram, deixando aos outros as “inson-
dáveis riquezas de Cristo” – como diz também São Paulo.

Se acreditais que muito existe ainda por encontrar – nunca


se acaba de desvendar, aliás, a verdade infinita – estais
também possuídos do desejo de encontrar? Sois famintos
de luz? A inapetência espiritual é doença muito comum
entre os cristãos. Não têm fome e por isso pouco comem
e o que comem pouco aproveitam. A saúde espiritual re-
conhece-se por um sinal: pela fome de conhecimento de
Deus, de seu pensamento, de sua palavra.

155
E se tendes fome de Cristo, de fato O procurais? Consa-
grais ao menos um momento todos os dias para ler as Es-
crituras? Sabeis reservar, em vossas vidas sobrecarregadas,
algum tempo para aprofundar a vossa fé?

Lemos no livro dos Provérbios: “Cansei-me para encontrar


Deus”. E vós?

Estudais o tema mensal com o espírito de descoberta de


que vos falei? Vossa troca de ideias nas reuniões é mera
discussão intelectual ou busca solícita de verdades de
que se tem necessidade vital? Sabeis que vosso assistente
(Conselheiro Espiritual) não é somente o despenseiro dos
sacramentos de Cristo, mas também da Palavra de Deus?
Recorreis a ele nas reuniões tanto quanto seria de desejar?

Proponho-vos estas questões e vos peço: sobre elas refleti


honestamente. Porque vossa vitalidade cristã delas depen-
de. E não há vitalidade cristã sem uma fé viva, constante-
mente alimentada por novas descobertas.

Reunião de Equipe como uma Ecclesia:

[...] para que uma reunião de cristãos seja uma Ecclesia,


há várias condições a satisfazer, dizia Pe. Caffarel. Há uma
mística da Ecclesia que é preciso adquirir [...]. [...]

Estou convencido de que a qualidade e a irradiação das


suas reuniões de equipe serão seriamente aumentadas
este ano se, de reunião em reunião, os seus encontros se
tornarem verdadeiras Ecclesias!

156
Partilha
A Partilha, como vimos ao longo de nossas reuniões nes-
te ano equipista, tem por objetivo ser uma comunicação
em profundidade sobre a vida do casal, centrada sobre
os Pontos Concretos de Esforço (PCEs). Estes PCEs são
as colunas ou as vigas mestras da vida interior do casal
pertencente às ENS, ou seja, da espiritualidade conjugal.

É preciso, por isso mesmo, em nossas reuniões mensais,


para que ela seja uma verdadeira Ecclesia, centrar a Parti-
lha sobre esses PCEs, sabendo, porém, ultrapassá-los para
comunicar as verdadeiras experiências de vida do casal e
para que os casais, juntamente com o Conselheiro Espiri-
tual, possam ajudar-se mutuamente em profundidade.

Na Partilha não se deve, portanto, contentar-se em dizer


se o casal observou ou não os PCEs, mas, partindo daí,
fazer uma verdadeira partilha de vida espiritual.

Quanto ao casal:

• Como o casal sentiu seu progresso espiritual durante


esse ano?

• De que maneira os PCEs ajudaram o casal nesse pro-


gresso espiritual?

• Que PCEs provocaram mudança de atitude significati-


va na vida de cada um, individualmente e como casal?

• Você conseguiu aprender e a realizar a Leitura Orante


da Palavra de Deus? Conte um pouco como foi esta
experiência ao longo deste ano equipista.

157
Quanto à equipe:

• Como vocês avaliam a qualidade da Partilha na reu-


nião de equipe durante esse ano?

• Que contribuição vocês receberam dos outros casais?

• Como o Conselheiro Espiritual pôde contribuir para o


crescimento da equipe?

Quanto ao Movimento:

• O Movimento (em nível de Setor, Região, Província,


Super-Região e Internacional) ofereceu oportunida-
des de formação em relação à compreensão da místi-
ca dos PCEs e da Partilha? Quais? Como vocês apro-
veitaram essas oportunidades de formação?

Perguntas para
a Reunião de Equipe
(Troca de ideias sobre o tema)

Neste momento, não nos é pedida uma reflexão teórica


sobre o que é santidade. Vamos conversar em equipe –
como forma de entreajuda – sobre como vivemos ou pro-
curamos viver a santidade no nosso cotidiano.

• O que mais o tocou – ou foi de real proveito no cres-


cimento de sua espiritualidade conjugal e da santifica-
ção do casal – em cada um dos capítulos deste Tema
de Estudo?

158
• Os textos do Pe. Caffarel, utilizados neste Tema de Es-
tudo, possuem uma distância de mais ou menos 50 a
70 anos em relação aos escritos atuais do Papa Fran-
cisco. O que você achou da atualidade do pensamento
do Pe. Caffarel em relação à santidade do casal? Re-
presenta, ainda hoje, uma contribuição à teologia do
matrimônio?

• Sua equipe tomou consciência, durante o ano, de


que quando se reuniu a cada mês era uma verdadeira
­Ecclesia que estava reunida? Explique.

Oração Litúrgica
(Salmo Responsorial – conforme sugerido na página 18 - 5.3)

Oração pela Canonização do Pe. Caffarel

Magnificat

Envio dos Casais em Missão


159
Anexos
Anexo I
Como fazer a Leitura Orante da Bíblia
Lectio Divina – Os quatro degraus

a. Reflexões do Papa Bento XVI74

O Papa Bento XVI, por diversas vezes ao longo de seu


pontificado, assegurou que é indispensável que cada cris-
tão escute a Palavra de Deus para poder anunciá-la, e
recordou que a Igreja Católica vive do Evangelho e se
rejuvenesce constantemente nele. Para ele, “a Igreja não
vive de si mesma, mas sim do Evangelho e se orienta sem-
pre e constantemente nele. É algo que cada cristão deve
levar em conta e aplicar a si mesmo: só quem escuta a
Palavra pode chegar a ser anunciador”.
E continua o Papa Bento XVI: “Igreja e Palavra de Deus
estão unidas inseparavelmente. A Igreja vive da Palavra
de Deus e a Palavra de Deus ressoa na Igreja, em seu en-
sino e em toda sua vida”.
E ressaltou: “Se se promover esta práxis com eficácia, es-
tou convencido de que produzirá uma nova primavera
espiritual na Igreja. Como ponto firme da pastoral bíbli-
ca, a Lectio Divina tem que ser impulsionada, inclusive
mediante novos métodos, atentamente ponderados, de
acordo com os tempos”.

74 - Papa Bento XVI. Lectio Divina com os Seminaristas, 12 de fevereiro de 2010;


Encontro com os Párocos da Diocese de Roma Lectio Divina, 18 de fevereiro de
2010; Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini, do Papa Bento XVI.

161
“Devemos exercer a Lectio Divina, escutar nas escrituras
o pensamento de Cristo, aprender a pensar com Cristo,
a pensar o pensamento de Cristo e, desta maneira, ter os
pensamentos de Cristo, ser capazes de dar aos demais
também o pensamento de Cristo e os sentimentos de
Cristo”, disse o Papa Bento XVI.

b. Origens da Lectio Divina

Se a Leitura Orante da Bíblia remonta aos primeiros cris-


tãos, o primeiro a utilizar a expressão Lectio Divina foi Orí-
genes (aproximadamente 185-254), teólogo, que afirmava
que para ler a Bíblia com proveito é necessário fazê-lo com
atenção, constância e oração.
Mais adiante, a Lectio Divina converteu-se na coluna ver-
tebral da vida religiosa. As regras monásticas de Pacômio,
Agostinho, Basílio e Bento fariam dessa prática, junto ao
trabalho manual e à liturgia, a tripla base da vida monástica.
A sistematização da Lectio Divina em quatro degraus pro-
vém do século XII. Por volta do ano 1150, Guido, um mon-
ge cartuxo, escreveu um livro intitulado “A escada dos
monges”, onde expunha a teoria dos quatro degraus: a
leitura, a meditação, a oração e a contemplação. “Essa é
a escada pela qual os monges sobem desde a terra até o
céu”, afirmava.

c. Como fazer a Lectio Divina


Os quatro degraus

Os quatro degraus da Lectio Divina são:


a leitura, a meditação, a oração e a contemplação.

162
1º) Leitura: “O homem é aquilo que ele lê”
O primeiro passo é a escolha do texto bíblico. Escolhido
o texto, comece a leitura, leia quantas vezes for neces-
sário até que a Palavra de Deus ressoe dentro de você
e te absorva para dentro Dela. É na leitura que o texto
sagrado começa a se realizar; a Palavra que está sendo
lida com fé se atualiza naquele momento.
Perceba também do que se trata no texto. O que este
trecho diz? De quem está falando? A quem está sendo
dirigido? No próximo degrau, que é a meditação, você
traz o texto para a realidade que você vive hoje.
Escreva em poucas palavras o que você percebeu do
texto até este momento. Por exemplo: no texto de hoje
Jesus está visitando uma casa, e já pode fazer uma pre-
ce: Jesus visita também minha casa.

2º) Meditação: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”


A tarefa da meditação é refletir sobre o texto que
você acabou de ler. O Espírito Santo tem algo único
para revelar sobre esta passagem para você. À medi-
da que acontece a leitura, como já foi dito, a Palavra
de Deus se atualiza, torna-se concreta, real e transfor-
madora. Depois de ler repetidas vezes se questione: o
que Deus diz de único para mim, de forma pessoal,
neste texto? Qual será minha resposta diante do que
Deus me diz?
Escreva a parte do texto que mais chamou sua atenção.
Através da Palavra de Deus, o Senhor nos faz uma visi-
ta amorosa, muitas vezes Ele exorta, chama a retomar
o caminho e consola.
Escreva o fruto de sua meditação.

163
3º) Oração: “A oração é um caminho seguro para a
santificação”
Quem ora assiduamente com a Palavra de Deus perce-
be que Alguém vem ao seu encontro. Concretamente,
na oração devemos responder o que o texto lido e me-
ditado nos leva a dizer a Deus.
Pode louvar, agradecer, suplicar ou interceder; enfim, é
hora especialmente de pedir que a graça aconteça e seja
abundante. Que a Palavra venha a cumprir sua missão.
As Sagradas Escrituras dizem: “…a palavra que minha
boca profere não volta sem ter produzido seu efeito,
sem ter executado a minha vontade e cumprido sua mis-
são…” (Is 55,10-11). A oração é a resposta ao que Deus
falou na leitura e na meditação. O que Deus falou? Qual
a sua resposta?
Escreva sua oração.

4º) Contemplação: “Contemplar é entrar em solidão,


parar e tão somente olhar para Deus”
Depois de ler, meditar e orar com a Palavra é hora de
saborear.
A contemplação leva o orante a uma quietude sabo-
rosa e tranquila, a um repouso do ser e do fazer, a
uma experiência profunda do Deus verdadeiro que
revela sua face amorosa e próxima. Para alcançar a
contemplação é preciso insistir. Contemplar é dom e
é graça.
Escreva se durante a contemplação a ação de Deus
visitou você.

164
“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a
criatura.” (Mc 16,15)
Por último é hora de tornar a oração eficaz, testemu-
nhando com atitudes as mudanças que a Palavra de
Deus provocou em sua vida.

165
Anexo II

Carta de Fátima 2018


Queridos casais equipistas e Conselheiros Espirituais das
Equipes de Nossa Senhora:

Ao concluir este XII Encontro Internacional com o cora-


ção transbordando de alegria, sentimos o desejo de per-
petuar e multiplicar tudo o que vivemos nestes dias tão
intensos e enriquecedores. Estamos todos contagiados
pela imensa riqueza do nosso carisma de espiritualida-
de conjugal, pela mística da unidade vivida ao redor de
Cristo, que nos convoca no meio da riqueza da nossa
diversidade a caminhar juntos na fidelidade ao essencial.
Levamos no coração a graça de ter sentido na “Reconci-
liação, Sinal de Amor” o profundo significado da nossa
filiação divina e da sua gratuidade.

O que vivemos nesta semana intensa e ao mesmo tempo


curta, pois não gostaríamos que terminasse, não pode ficar
como uma recordação, mas deve permanecer uma fonte
de luz que, com as nossas obras, continuaremos a alimen-
tar e a irradiar, multiplicando-a à nossa volta com todos
aqueles que não puderam viver diretamente esta graça.

É agora o momento oportuno, em que estamos com o


coração aberto e disposto a transmitir-lhes o discerni-
mento que nos levou ao fim deste caminho e ao início
de mais uma nova etapa. Servirá como inspiração para

166
começarmos a traçar o nosso roteiro de vida em sintonia
com o caminhar da Igreja, com fidelidade às nossas fon-
tes e na mística da nossa adesão total a Cristo e à nossa
Mãe Maria, que nos conduz e nos encoraja.

No mundo de ontem e de hoje, sempre houve luzes e


sombras. Em contraste com as sombras que se escon-
dem, hoje há também muitas luzes e sinais de esperança
de que somos chamados a erguermo-nos porque “nin-
guém acende uma lâmpada e depois a cobre com uma
vasilha ou a esconde debaixo da cama; ao contrário, co-
loca-a num lugar alto a fim de que todos os que entram
vejam a sua luz” (Lucas 8, 16-18).

O caminho do projeto de vida que as equipes nos pro-


põem baseia-se nesta enorme graça que nos foi conce-
dida: o carisma da espiritualidade conjugal que passa
para nós, homens e mulheres imperfeitos que, ao aderir-
mos a este dom, manifestamos os nossos próprios pontos
fortes e também as nossas fragilidades, uma vez que so-
mos portadores de luzes e sombras, para nunca perder-
mos a capacidade de discernimento e autocrítica. Como
nos recorda o Papa Francisco, se fizermos uma analogia
com a família das ENS, “não existe família perfeita, mas
há que não ter medo da imperfeição, da fragilidade, e
nem sequer dos conflitos” durante os quais não podemos
nunca perder a nossa mística, nem o sentido de colegiali-
dade para discernir sobre a vontade de Deus.

Se à nossa volta existem sombras, não é por terem sido


causadas por outros, mas porque nós mesmos não es-
tamos irradiando luz suficiente para iluminá-las. É por
isso que hoje mais do que nunca as Equipes de Nossa
Senhora têm um papel concreto e um dever que devemos

167
assumir. Parafraseando o Papa Francisco no EG nº171: Hoje
a Igreja e o mundo precisam de nós, casais das Equipes de
Nossa Senhora, para que, através da nossa formação e da
nossa experiência de acompanhamento, do nosso conheci-
mento de um modo de proceder onde reina a prudência, a
capacidade de compreensão, a arte de esperar, a docilidade
ao Espírito, nos ajudemos entre todos a defender as ovelhas
a nós confiadas dos lobos que tentam desgarrar o rebanho.

Durante os últimos anos no Movimento, temo-nos pre-


parado para “SER”, para compreender a riqueza do nos-
so sacramento e da nossa conjugalidade, formando-nos,
fundamentando a nossa fé e “VENDO”, tomando cons-
ciência do papel missionário que a Igreja nos pede. Esta
cronologia de caminhada é a mesma que ocorre na vida
do discípulo, e tem uma ordem lógica que nós não deve-
mos alterar. O “SER” como Cristo – em função da nova
natureza que começa com a experiência do encontro –
leva-nos a “VER” a vida com os olhos de Cristo e este
modo de ver evangélico nos levará, se o permitirmos, a
viver, ou, o que é a mesma coisa, a “AGIR” como Cristo.

Evitando o risco de cair numa espiral de repetição, se


ficarmos parados rodando no nosso próprio eixo, neste
novo período da vida do Movimento que começa a partir
do XII Encontro Internacional e seguindo a mesma dinâ-
mica do crescimento do discípulo, a orientação geral que
hoje propomos e que guiará nossa caminhada continuará
a ser um convite para agir, tornando concreta a nossa
Vocação e Missão e fazendo viver em nós o seguinte cha-
mamento: “NÃO TENHAM MEDO, SAIAMOS…”

Este chamamento estará iluminado por dois textos bíbli-


cos que nos acompanharão nesta etapa do caminho:

168
1 º “Não tenhas medo, porque estou con-
tigo, não te aflijas porque sou o teu
Deus. Eu te darei forças e ajudarei…”
(Is 41,10). É uma promessa que nos dá
coragem a dar o passo que nos afasta das nos-
sas seguranças, mas que ao mesmo tempo nos
reveste de uma autoridade que não vem de
nós mesmos, mas da confiança n'Aquele que
nos chama e a quem nós queremos imitar.

2 º “Tira as sandálias dos pés, porque o lu-


gar onde estás é sagrado”: (Ex 3,5) que
nos permitirá recordar sempre que, nesta
“saída” que empreendemos, não somos su-
periores a ninguém, mas apenas instrumen-
tos da misericórdia de Deus, de modo que
todas as terras em que pisemos, e todas a re-
alidades que enfrentemos, serão abordadas
como lugares santos de evangelização onde
Deus está presente, embora em circunstân-
cias difíceis que não consigamos entender.

Neste caminhar ao lado da Igreja “em saída” reforçaremos


este espírito e esta nova dinâmica missionária a que o Papa
Francisco nos convida, sempre com o objetivo de ajudar a
descobrir e a viver a verdadeira natureza do amor humano,
discernindo, acolhendo e acompanhando através da nossa
especificidade e sempre fiéis ao nosso carisma.

Neste discorrer vamos ter como apoio e referência o novo


documento “VOCAÇÃO E MISSÃO” que, no limiar do ter-
ceiro milênio, a Equipe Responsável Internacional distribuiu
neste encontro, apresentando uma visão do passado, pre-
sente e futuro do nosso Movimento, de forma a podermos:

169
1. Discernir sobre os desafios à nossa volta a que
poderemos dar resposta como Movimento

“O que eu peço a Deus é que o vosso amor cresça


cada vez mais em conhecimento verdadeiro e em
discernimento”. (Fil 1:9)

Ao assumir o Movimento com uma clara consciência


do sentido real da sua missão na Igreja e no mundo,
sentimos que o nosso objetivo, aquele que o nosso ca-
risma nos aponta, é não só a procura da espiritualida-
de conjugal e do sentido sacramental do matrimônio
(onde obviamente não devemos deixar de trabalhar,
uma vez que faz parte da nossa essência e é um verda-
deiro “catalisador” do nosso sentido de missão), como
também a promoção de uma consciência e de um es-
pírito missionário em cada membro, em cada equipe.

A espiritualidade não é sinônimo de passividade, nem


a espiritualidade se constrói afastando-se do mundo.
Em sua recente Exortação Apostólica Gaudete et Ex-
sultate, o Santo Padre Francisco expressa claramente o
seguinte: (GE 26) “Não é saudável amar o silêncio e
evitar o encontro com o outro, desejar o descan-
so e rejeitar a atividade, procurar a oração e me-
nosprezar o serviço. Tudo deve ser aceito como
parte da própria existência no mundo, e integra-
do no caminho de santificação. Somos chamados
a viver a contemplação no meio da ação, e santi-
ficamo-nos no exercício responsável e generoso
da nossa própria missão”.

Para este efeito e sem qualquer prejuízo para a liber-


dade e iniciativa pessoal dos membros das equipes, as
ENS são chamadas a pesquisar, apoiar e encorajar, não

170
através de iniciativas isoladas, mas com nossa estrutu-
ra organizacional e de animação, programas específi-
cos de acompanhamento de casais em situações cau-
sadas pelo mundo de hoje. Esta é a nossa fortaleza e a
contribuição concreta que podemos oferecer à Igreja
e ao mundo de hoje.

2. Dar um novo impulso e um novo espírito na difusão


do Movimento em conformidade com a realidade
das mudanças que devemos identificar

“Simão respondeu-lhe: Mestre, trabalhamos toda


a noite e não pescamos nada, mas porque tu pe-
des, lançarei de novo as redes”. (Lucas 5,5)

No âmbito da Nova Evangelização, é importante dar a


conhecer as riquezas do matrimônio cristão no maior
número possível de países. Nas ENS sabemos bem
como a pedagogia das Equipes de Nossa Senhora e
a vivência do nosso projeto de vida faz evoluir de um
modo positivo a relação homem-mulher em qualquer
contexto geográfico.

Neste desejo de expansão, que com o esforço e a per-


severança de todos permitiu alcançar maravilhosos
frutos, não podemos deixar de pensar e trabalhar sem
mencionar duas palavras chave: interculturalidade e
inculturação. A primeira, para entender que somos di-
ferentes, pensamos de maneira diferente e vimos de
culturas diferentes que devemos entender e aceitar.
A segunda, para não esquecer que a nossa formação,
a nossa pedagogia e todos os elementos que nos cons-
troem, sem perder a fidelidade à sua origem, devem

171
ser aproveitados e adaptados a cada cultura a partir da
compreensão do seu pensamento, das suas expectati-
vas e das suas necessidades.

O nosso campo de missão na difusão do Movimento


deve também olhar para aquele sul que o anjo do Se-
nhor indicou a Filipe, “levanta -te e dirige-te para o
sul, pelo caminho de Jerusalém a Gaza, que está
deserto”(Atos 8, 26), sem cair na tentação da eficácia
dos números, para que todos os casais do mundo, seja
qual for o seu estatuto, situação ou origem, possam
conhecer o dom e a graça que nos foi confiada.

3. E praticar sempre “a arte do acompanhamento”

“Finalmente, tenham todos o mesmo modo de pen-


sar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente,
sejam misericordiosos e humildes”. (1 Pedro 3,8)

A palavra acompanhar, como insiste o Papa Francisco,


é a chave do nosso olhar para fora. O documento
­“VOCAÇÃO E MISSÃO” explica: Nas equipes estamos
já iniciados nessa arte, que implica acolhimento, escuta,
compaixão, encorajamento, paciência, discernimento,
reciprocidade… Somos chamados pela Igreja a acom-
panhar os momentos de maior fragilidade: o caminho
para um compromisso sério e duradouro; os primei-
ros anos da vida matrimonial; as fases de crises e difi-
culdades; as situações complexas derivadas de fracassos,
abandonos e incompreensões. Necessitamos, cada
vez mais, nos “especializarmos” na arte do acompa-
nhamento de todas as realidades que, dada a especi-
ficidade da nossa espiritualidade conjugal, podemos

172
trazer à Igreja, que necessita hoje, mais do que nunca,
de discípulos missionários formados, campo em que
nas Equipes de Nossa Senhora jamais deixaremos de
concentrar os nossos esforços. Como sempre, no nos-
so agir, confiemos na nossa Mãe Maria, intercessora e
guia no caminho que nos leva a poder ser como San-
ta Madre Teresa queria, esse lápis nas mãos de Deus,
pronto a escrever o que Ele quiser.

Que assim seja.

Tó e Zé Clarita e Edgardo
Moura Soares Bernal Fandiño
Responsáveis Internacionais Responsáveis Internacionais
2012-2018 2018-2024 

173
Anexo III

Oração pela Canonização


do Pe. Caffarel

Deus nosso Pai,


pusestes no fundo do coração
de vosso servo Henri Caffarel
um impulso de amor que o ligava
sem reservas a vosso Filho
e o inspirava a falar d’Ele.
Profeta para o nosso tempo,
ele mostrou a dignidade e a beleza
da vocação de cada um,
conforme a Palavra de Jesus
dirigida a todos: “Vem e segue-me”.
Ele tornou os esposos entusiastas
da grandeza do sacramento do matrimônio,
que significa o mistério de unidade
e de amor fecundo entre Cristo e a Igreja.
Mostrou que sacerdotes e casais
são chamados a viver a vocação para o amor.

174
Orientou as viúvas:
o amor mais forte que a morte.
Levado pelo Espírito,
conduziu muitos fiéis pelo caminho da oração.
Arrebatado por um fogo devorador,
era habitado por Vós, Senhor.
Deus nosso Pai,
pela intercessão de Nossa Senhora,
pedimos que apresseis o dia
em que a Igreja há de proclamar
a santidade de sua vida,
para que todos encontrem
a alegria de seguir Vosso Filho,
cada um segundo sua vocação no Espírito.
Deus nosso Pai, invocamos o Padre Caffarel para...
(especificar a graça a pedir)
Amém.

Oração aprovada por Dom André Vingt-Trois – Arcebispo de Paris.


“Nihil obstat”: 4 de janeiro de 2006 – “Imprimatur”: 5 de janeiro
de 2006.

No caso de obtenção de graças com a intercessão do Padre


­Caffarel, entrar em contato com o casal representante da Asso-
ciação dos Amigos do Padre Caffarel.

No Brasil: [email protected]

175
“Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a Igreja
se dedique a promover o desejo da santidade. Peçamos ao
Espírito Santo que infunda em nós um desejo intenso de
ser santos para a maior glória de Deus; e animemo-nos uns
aos outros neste propósito. Assim, compartilharemos uma
felicidade que o mundo não poderá tirar-nos”. (GE, 177)

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