William Blake Romantismo
William Blake Romantismo
William Blake Romantismo
O conteúdo das obras é de responsabilidade exclusiva dos seus autores, a quem pertencem os
direitos autorais. Reserva-se ao autor (ou detentor dos direitos), a prerrogativa de solicitar, a
qualquer tempo, a retirada de seu trabalho monográfico do DUCERE: Repositório Institucional da
Universidade Federal de Uberlândia. Para tanto, o autor deverá entrar em contato com o
responsável pelo repositório através do e-mail [email protected].
THAÍS DE SOUSA CORSINO
WILLIAM BLAKE E O
ROMANTISMO INGLÊS
UBERLÂNDIA – MG
2014
THAÍS DE SOUSA CORSINO
WILLIAM BLAKE E O
ROMANTISMO INGLÊS
MONOGRAFIA apresentada a
Universidade Federal de Uberlândia –
Instituto de História – como requisito
parcial para obtenção do título de
Graduação em História.
UBERLÂNDIA – MG
2014
2014 CORSINO, Thaís de Sousa 1988-
William Blake e o Romantismo Inglês / Thaís Corsino -- 2014.
71 f.
BANCA EXAMINADORA
QUERO AGRADECER, em primeiro lugar, a Deus e aos espíritos de luz pela força
e coragem durante toda esta longa caminhada. Sei que nenhum projeto tem sucesso sem
o auxílio da espiritualidade.
Também não posso me esquecer das pessoas que estiveram ao meu lado
durante estes anos de formação, especialmente meus amigos Neander Silva, Gabriela
Guimarães, Carolina Ribeiro. Sei que várias outras pessoas contribuíram para tornar
esta jornada mais leve e fazer valer a pena, vocês estão todos no meu coração.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado dando todo o suporte
necessário. Obrigada avó Dalva e avô Jesus!
***
CAPÍTULO I
O MOVIMENTO ROMÂNTICO
[07]
***
CAPÍTULO II
WILLIAM BLAKE:
UM ESTUDO BIOGRÁFICO
[22]
***
CAPÍTULO III
CANÇÕES DA INOCÊNCIA E DA EXPERIÊNCIA
[46]
***
CONSIDERAÇÕES FINAIS [64]
E. P. Thompson
Introdução
1
PESAVENTO, Sandra J. História e Literatura: uma velha-nova história. In: COSTA, C. B. da;
MACHADO, M. C. T. (Org.). Literatura e história: identidades e fronteiras. Uberlândia: EDUFU,
2006, p. 12.
2
Introdução
homens, no decorrer dos tempos. Sendo assim, utilizamos como suporte teórico e
metodológico a perspectiva dos Estudos Culturais ingleses, que surgiu com maior
representatividade na Inglaterra dos anos 1950, tendo como uns de seus principais
expoentes Raymond Williams e Edward P. Thompson. Esta vertente, da qual
compartilhamos, pensa a cultura como a organização dos significados e dos valores de
um determinado grupo social e como um campo de luta onde eles possam ser
modificados a um mundo mais democrático.
2
GUINSBURG, J. Romantismo, historicismo e história. In: ______. (Org.). O Romantismo. São
Paulo: Perspectiva, 2005, p. 14.
3
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 01.
3
Introdução
*****
É importante destacar que foi dada uma atenção especial à análise formal das
poesias selecionadas, levando em consideração aspectos ligados à sua linguagem
específica. Para isso, foi realizado um levantamento bibliográfico de obras que
contemplam alguns pressupostos teóricos necessários à análise literária, dentre elas
podemos destacar o livro “Na sala de aula – Caderno de análise literária”, de Antonio
Machado.
Blake e interpretada por E. P. Thompson”. No decorrer desse projeto tomei contato com
parte da obra deste historiador inglês, principalmente de seu trabalho que objetiva
pensar a posição de Blake e o modo como a mente dele conheceu o mundo e o
transformou em literatura. Trata-se do livro “Witness Against the Beast: William Blake
and the Moral Law” que na verdade, constitui um capítulo, publicado pela primeira vez
em 1993, sobre seus estudos acerca do movimento romântico inglês da década de 1790.
5
Introdução
Por meio da análise destes poemas tentamos captar a forma como Blake
interpreta e reinterpreta a imagem de Cristo, para conciliá-lo com sua visão política.
Também percebemos a forma como a Revolução Industrial afetou a sociedade e o
espaço urbano, na visão do poeta.
6
CAPÍTULO I
O MOVIMENTO ROMÂNTICO
J. Guinsburg
Capítulo I:
O movimento romântico
DEFINIR O QUE É, ou o que foi o romantismo, não é algo simples e fácil. Dizer
que ele surgiu como uma tendência consciente e militante das artes na Grã-Bretanha,
França e Alemanha, por volta de 1800, e que foi precedido antes da Revolução Francesa
pelo “pré-romantismo” de Jean Jacques Rousseau, e pela intensa poesia dos jovens
poetas alemães,4 não é um equívoco, mas não chega a ser suficiente para nos dar uma
noção clara desse fenômeno histórico. J. Guinsburg nos diz que ele foi uma escola, uma
tendência, uma forma, um fenômeno histórico, um estado de espírito, tudo isso junto,
mas também cada item separado.5 É inegável que o que nos interessa particularmente
enquanto historiadores é seu aspecto designador de eventos socioculturais e emergência
histórica. Como elucida Guinsburg, o romantismo é muito mais que uma configuração
estilística, “... é também uma escola historicamente definida, que surgiu num dado
momento, em condições concretas e com respostas características à situação que se lhe
apresentou.”6 Além disso, e, sobretudo por isso, “é um fato histórico e, mais do que
isso, é o fato histórico que assinala, na história da consciência humana, a relevância da
consciência histórica. É, pois, uma forma de pensar que pensou e se pensou
historicamente.” 7
4
HOBSBAWM, E. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 358.
5
GUINSBURG, J. (Org.) O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 13.
6
Ibid., p. 14.
7
Ibid.
8
FALBEL, Nachman. Os fundamentos históricos do romantismo. In: GUINSBURG, J. (Org.). O
romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 23.
8
Capítulo I:
O movimento romântico
9
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Revolução Industrial e Capitalismo. São Paulo: Brasiliense,
1984, p. 7.
10
FALBEL, Nachman. Os fundamentos históricos do romantismo. In: GUINSBURG, J. (Org.). O
romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 26.
9
Capítulo I:
O movimento romântico
das grandes fábricas e, assim, todos passaram a conviver com os frequentes acidentes de
trabalho e outros inúmeros fatores negativos, tais como a esgotante jornada de trabalho,
a disciplina intolerável, o pagamento de caros aluguéis e a inexistência de seguro para o
trabalho. “Muitos pais recusavam-se a permitir que seus filhos fossem remetidos às
fábricas nestas condições, porém, as aperturas financeiras levavam-nos a abandonar
qualquer tipo de restrição.”11
11
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Revolução Industrial e Capitalismo. São Paulo: Brasiliense,
1984, p. 76.
12
FALBEL, Nachman. Os fundamentos históricos do romantismo. In: GUINSBURG, J. (Org.). O
romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 35.
10
Capítulo I:
O movimento romântico
13
GUINSBURG, J.; ROSENFELD, Anatol. Romantismo e Classicismo. In: GUINSBURG, J. (Org.). O
romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 263.
14
NUNES, Benedito. A visão romântica. In: Ibid., p. 52.
11
Capítulo I:
O movimento romântico
15
NUNES, Benedito. A visão romântica. In: GUINSBURG, J. (Org.). O romantismo. São Paulo:
Perspectiva, 2005, p. 55.
16
VIZIOLI, Paulo. O sentimento e a razão nas poéticas e na poesia do romantismo. In: Ibid., p. 138.
17
Ibid., p. 139.
12
Capítulo I:
O movimento romântico
Creio que essa rápida passada pelos antecedentes do Romantismo foi suficiente
para nos fornecer uma compreensão mínima sobre o embate ideológico que
caracterizava a época. Isso torna possível direcionar nossa atenção ao romantismo
inglês, que apesar de estar associado a um “espírito de época”, possui características
próprias, se o compararmos às manifestações artísticas românticas de outros países.
O R OMANTISMO I NGLÊS
13
Capítulo I:
O movimento romântico
18
HOBSBAWM, E. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 359.
14
Capítulo I:
O movimento romântico
19
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Romantismo inglês: uma interpretação. Revista da FCSH, n. 1,
p. 12, 1980. Disponível em: <http://run.unl.pt/handle/10362/4212>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
20
Ibid., p. 13.
15
Capítulo I:
O movimento romântico
prefácio de Lyrical Ballads, sua intenção de criar uma poesia diferente de tudo o que
estava estabelecido até então. As suas experiências literárias tinham um objetivo e
seguiam métodos concretos que eles sabiam explicar. Wordsworth chegou mesmo a
declarar que havia a necessidade de reformar a poesia, onde o neoclássico, e sua
asfixiante artificialidade literária, seriam substituídos por “...uma poética que permitisse
ao homem novo formado pelos ideais revolucionários exprimir livremente os seus
sentimentos e esses ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.”21 E para tanto ele
defendia o uso de uma linguagem simples, sem artificialismos. Essa crítica não era
dirigida tão somente a chamada dicção poética, ela criticava o própria concepção
classicista de que deveria haver uma separação entre a vida quotidiana e o mundo da
poesia. Nessa necessidade de aproximação das formas de expressão da realidade com a
vida “real” percebemos um elemento comum a quase toda poesia romântica, “uma
sensação melancólica, de insatisfação, da nostalgia de uma idade de ouro inatingível, ou
porque se perdeu com a inocência ou porque as limitações humanas não permitem
alcançá-la.”22
21
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Romantismo inglês: uma interpretação. Revista da FCSH, n. 1,
p. 16, 1980. Disponível em: <http://run.unl.pt/handle/10362/4212>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
22
Ibid.
23
Ibid., p. 17.
16
Capítulo I:
O movimento romântico
Shakespeare foi canonizado, adotado com uma das máximas expressões da arte
teatral por, justamente, justificar as premissas defendidas pela geração de poetas e
escritores românticos. Os heróis shakespearianos eram palpáveis, tanto em suas
fraquezas quanto em suas qualidades podiam ser responsabilizados por seus destinos.
24
GUINSBURG, J.; ROSENFELD, Anatol. Romantismo e Classicismo. In: GUINSBURG, J. (Org.). O
romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 266.
17
Capítulo I:
O movimento romântico
Na segunda geração temos poetas mais universais. Todos foram liberais. Byron
foi à Grécia e lutou ao lado dos gregos no processo de independência deste país. Foi
sem dúvida o poeta que mais marcou seu lugar na vida social e literária da época.
“Byron transpôs para os seus heróis – Don Juan, Manfred, o corsário Conrad, Lara – a
sua maneira de ser, e, proscrito pela Inglaterra, conquistou a Europa, que imitou os seus
modos, as suas posições estudadas, a sua maneira de vestir e de se pentear.”25
SENTIMENTO X RAZÃO
25
GUINSBURG, J.; ROSENFELD, Anatol. Romantismo e Classicismo. In: GUINSBURG, J. (Org.). O
romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 21.
18
Capítulo I:
O movimento romântico
26
VIZIOLI, Paulo. O sentimento e a razão nas poéticas e na poesia do romantismo. In: GUINSBURG, J.
(Org.). O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 138.
27
Ibid.
28
Ibid., p. 139
29
Ibid., p. 140
19
Capítulo I:
O movimento romântico
forma, isso faz com que seu estudo teórico seja tão complicado, pois é difícil encontrar
uma unidade em meio a tantas diferenças. Sobretudo quando pensamos em sua
manifestação em diferentes países, e consequentemente, distintos processos históricos.
Ao retratar as mazelas e os vícios que encontra pela metrópole, Blake não está
preocupada com a forma, preocupação comum entre os neoclássicos. O objetivo de
Blake é utilizar uma linguagem simples, e para isso faz com que seus poemas beirem o
didatismo. No volume 1, de “A formação da classe operária”, Thompson afirma que:
30
THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa – A árvore da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2004, p. 53. V. 1.
20
Capítulo I:
O movimento romântico
devem andar sempre unidos, pois “sem contrários não há progressão”. Sobre esta obra,
Vizioli tece o seguinte comentário:
31
VIZIOLI, Paulo. O sentimento e a razão nas poéticas e na poesia do romantismo. In: GUINSBURG, J.
(Org.). O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 141-142.
21
CAPÍTULO II
WILLIAM BLAKE:
UM ESTUDO BIOGRÁFICO
Alfredo Bosi
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Na infância foi educado em casa pela mãe, Catherine, por isso pode ser
considerado quase um autodidata. Talvez isso justifique os inúmeros erros de ortografia
e gramática encontrados em seus primeiros manuscritos, os poemas que escrevia desde
os onze anos de idade. Com esta idade, devido ao empenho do pai em fazer com que o
32
Cf. ANGRILL, A. William Blake: Grandes Maestros de la Pintura. Barcelona: Altaya, 2002.
33
BLAKE, William. Erasmo textos bilingües: Cantos de inocencia y Cantos de experiencia. Barcelona:
Bosch / Casa Editorial, 1977, p. 21.
“Para compreender Blake, homem – escreve Eliot – temos que nos perguntar sobre as circunstâncias
que permitiram a peculiar honestidade de sua obra, e as circunstancias que condicionaram suas
limitações. Entre as condições favoráveis devemos contar provavelmente com as duas seguintes: que
ao se dedicar desde muito jovem a aprender um ofício manual, não se viu obrigado a adquirir mais
instrução literária que a que ele pessoalmente requereu, nem adquirir por mais razão que o mero
desejo pessoal; e que como humilde gravador, não foram fornecidas nenhuma classe de oportunidades
para uma carreira jornalística e social”. [Tradução nossa]
23
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
34
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“A poesia de Blake tem a antipatia da alta poesia, daquela que, por um extraordinário trabalho de
simplificação, exibe a enfermidade essencial ou a intensidade da alma humana, e cuja honestidade
nunca existe sem uma grande realização técnica, descobridora de novas formas expressivas para o
aglomerado de ideias novas através das quais o poeta propõe uma releitura do universo e da própria
poesia”. [Tradução nossa]
24
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Tais fenômenos sobrenaturais eram ignorados por sua família36, mas Blake
quis compreender mais a fundo o que se passava com ele e por isso buscou trabalhos
sobre clarividência e hermetismo, temas que sempre foram recorrentes em suas leituras
e que de alguma forma influenciaram sua forma de ver o mundo e sua produção como
artista e escritor. Definitivamente, os momentos mais produtivos, em relação às suas
experiências sobrenaturais foram os que se encontrava em contato com a natureza, seja
em suas caminhadas pelo campo ou no período em que viveu em uma estância de
Felphan, Sussex (1800-1803), em recolhimento interior, enquanto era subvencionado
por vários mecenas.
35
BLAKE, William. Obra Completa en Poesía. Barcelona: Libros Río Nuevo, 1980, p. 9.
“Acreditou sempre (era homem pertinaz) que seu dever consistia em corrigir erros, assim tivesse que
discrepar com quem oficialmente os administravam e restaurar a concepção, que ele acreditava
autêntica de princípios julgava adulterados por obra de práticas religiosas e políticas viciadas pelo
dilatado abuso de insensíveis burocracias”. [Tradução nossa]
36
SARRIUGARTE, Iñigo. Las alucinaciones mentales de William Blake como Base de su Obra
Literaria y Artística: ¿Genialidad o Locura? Razon y Plabra, n. 40, Agosto/Septiembre 2004.
Disponível em: <http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n40/isarri.html>. Acesso em: 21 Ago.
2014.
37
BLAKE, 1980, op. cit., p. 8.
“Simplesmente teve numerosas visões: aos quatro anos Deus Pai aproximou a cabeça pela janela de
seu quarto e pouco mais tarde foi testemunha do funeral de uma fada, cujo corpo jazia sobre uma
pétala de rosa. Costumava conversar livremente com os espíritos (em especial os de Voltaire e Milton)
e não resultava raro que perdesse contato com as coisas terrenas. <O senhor Blake não me brinda
muito com sua companhia; passa muito tempo no paraíso>, dizia sua mulher”. [Tradução nossa]
25
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
que contrariava a arte inglesa dominante, ou seja, o retrato e a paisagem. Assim como
Blake, Fuseli também se sentia inspirado pelo poeta inglês John Milton e realizou obras
pictóricas, marcadas por uma visão fantástica. Sobre a imaginação e seu poder
libertador, Blake escreve:
Aos 25 anos, por meio do trabalho como gravador, Blake começou a ter uma
fonte de renda própria, o que permitiu com que se casasse com Catherine Boucher, filha
de um florista ambulante, em 1782. Catherine era analfabeta, mas Blake se dedicou a
ensiná-la. Além de instruí-la na leitura e escrita, lhe ensinou a arte da gravura e o
domínio de cor, sendo assim, aos poucos a transformou em sua colaboradora
profissional. A pesar da diferença intelectual existente entre os dois, a união duraria até
sua morte. Blake era partidário da poligamia, assim como Milton, mas em respeito à sua
esposa, não a praticou.
38
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“Se o espectador pudesse entrar no interior de uma dessas imagens de sua imaginação, se
aproximando a elas no carro de fogo de seu pensamento contemplativo… poderia converter em amiga
e companheira sua a uma daquelas imagens maravilhosas, que não cessam de lhe suplicar que
abandone as coisas mortais (como deve fazer); então seria capaz de ir ao encontro do Senhor dos ares,
e então se sentiria disfrutar da felicidade. [...] O mundo da imaginação é o mundo da eternidade. É o
seio divino ao qual todos iremos depois da morte deste corpo vegetativo. O mundo da imaginação é
infinito e eterno, enquanto que o mundo da geração e da vegetação é finito e temporal. Naquele
mundo eterno existem as realidades eternas de tudo, que nós vemos refletidas no espelho vegetal da
natureza. Todas as coisas, em suas formas eternas, estão compreendidas no corpo divino do Salvador,
o verdadeiro veio da eternidade, a imaginação humana”. [Tradução nossa]
26
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Dentre sua obra literária podemos destacar seus livros mais proféticos, são eles:
Urizen; O livro de Athania; O livro de Los; O canto de Los; Vala ou os quatro Zoas; e
Milton. O penúltimo é talvez o que carrega um tom mais dramático, não chegou a ser
gravado e seu manuscrito permaneceu perdido por longo tempo. O livro tem notável
influência da filosofia oriental e trata do destino do homem, que deve distanciar de sua
39
BLAKE, William. Erasmo textos bilingües: Cantos de inocencia y Cantos de experiencia.
Barcelona: Bosch / Casa Editorial, 1977, p. 23.
“A capacidade visionária de Blake pertence seguramente ao mesmo tipo de estado espiritual que o da
experiência mística que toma contato com a Unidade que existe sob a aparente diversidade de todas as
coisas. A tradicional via mística se converte, no caso de Blake, em atividade criadora, resultando tão
sagrada e inevitável como resultou aquela para os místicos religiosos. Energia, Imaginação e Natureza
constituem com uma trindade na que cada um dos três elementos são manifestação dos outros,
enquanto a Razão ofusca a faculdade visionária dos homens que em seu racionalismo não alcançam
ver além do mundo das aparências. [...] A árvore que faz saltar lágrimas de felicidade dos olhos de
alguns, não é para outros mais que um objeto verde no meio do caminho”. [Tradução nossa]
27
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
angústia contínua que o faz encarnar em distintos estados até encontrar sua verdadeira
unidade interior. Blake acreditava que levávamos o Universo em nós.
Blake discordava do pintor Reynalds por este acreditar ser necessário aos
pintores e desenhistas copiar modelos. Sendo assim, afirmou:
Apesar de toda sua extensa obra, Blake sempre se sentiu incomodado pela
pobreza e pela falta de reconhecimento de seu trabalho. Seu pouco sucesso quando vivo
está relacionado, segundo seus biógrafos, à sua personalidade e à forma como era visto:
um lunático que conversava com árvores e que fora encontrado brincando de Adão e
Eva com sua esposa, ambos nus correndo pelo jardim. Contudo, seu pequeno círculo de
amizade o ajudava com as questões econômicas.
40
SANTOS, Alcides Cardoso dos. Visões de William Blake – Imagens e palavras em Jerusalém a
Emanação do Gigante Albion. Campinas: Editora Unicamp, 2009, p. 153.
41
BORGES, Jorge Luis. Curso de literatura inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 224.
28
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Ao relacionar a obra de Blake com outros autores, é possível notar que este
compartilhou várias ideias de seus autores favoritos, vale ressaltar que Blake mantinha
uma grande biblioteca em sua casa e dedicava a maior parte de seu tempo à leitura.
Entre suas fontes de inspiração estão Shakespeare, Dante, Milton, por mais que não
compartilhasse de sua atitude puritana e moralista; Jacob Boehme, Paracelso e
Emannuel Swedenborg.
Este último, poeta e filósofo sueco, não atraiu a atenção de Blake somente por
sua capacidade científica e filosófica, mas também por seu poder imaginativo e sua
doutrina espiritual baseada na manifestação de Deus e em sua suposta capacidade de se
comunicar com espíritos e anjos. Swedenborg foi responsável pela criação da “Nova
Igreja de Jerusalém”. Esta ramificação cristã da Igreja Católica se inspira nas obras
místicas de Swedenborg e tem como principal característica a afirmação da existência
de um mundo espiritual que penetra na matéria.
42
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 10.
43
BORGES, Jorge Luis. Curso de literatura inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 214.
29
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
44
BORGES, Jorge Luis. Un ensayo por Borges acerca de Swedenborg. Wedenborg. Disponível em:
<http://www.swedenborg.es/borges/borges.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“O céu e o inferno de sua doutrina não são lugares, ainda que as almas dos mortos que os habitam, e
de alguma maneira os criam, os veem como situados no espaço. São condições das almas,
determinadas por sua vida anterior. A ninguém está vedado o paraíso, a ninguém está imposto o
inferno. As portas, para dizer assim, estão abertas. [...] O Inferno é a outra cara do Céu. Seu inverso
preciso é necessário para o equilíbrio das duas esferas é requerido para o livre arbítrio, que sem trégua
deve escolher entre o bem, que emana do céu, e o mal que emana do inferno. Cada dia, cada instante
de cada dia, o homem trabalha sua perdição eterna ou sua salvação”. [Tradução nossa]
45
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 6.
30
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Este seu lado radical e revolucionário pode ser percebido em muitos de seus
trabalhados, inspirados na Revolução Francesa. Blake usou sua arte para combater o
Estado e a Igreja, que via como os símbolos da repressão e da corrupção. Os ideais de
liberdade e igualdade o atraíram e ele interpretou a luta revolucionária como um dos
46
SANTOS, Alcides Cardoso dos. Visões de William Blake – Imagens e palavras em Jerusalém a
Emanação do Gigante Albion. Campinas: Editora da Unicamp, 2009, p. 153.
47
SARRIUGARTE, Iñigo. Las alucinaciones mentales de William Blake como Base de su Obra
Literaria y Artística: ¿Genialidad o Locura? Razon y Plabra, n. 40, Agosto/Septiembre 2004.
Disponível em: <http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n40/isarri.html>. Acesso em: 21 Ago.
2014.
“O objetivo de toda mudança política e religiosa consiste na busca de um novo mundo baseado da
felicidade universal, cósmica e mística. De fato, participou em um círculo de políticos radicais entre
os quais figuravam William Godwin, Tom Paine e a primeira escritora feminista Mary
Wollstonecraft”. [Tradução nossa]
31
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Alcides Cardoso dos Santos, estudioso da obra de Blake no Brasil, afirma que
Ainda considerando o universo intelectual pelo qual Blake transitava por meio
de suas leituras, e que E. P. Thompson julgou ser de grande relevância para o
48
SANTOS, Alcides Cardoso dos. Visões de William Blake – Imagens e palavras em Jerusalém a
Emanação do Gigante Albion. Campinas: Editora da Unicamp, 2009, p. 145-146.
32
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
49
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“No caso da cabala, Blake parece ter herdado dela sua predileção pelas palavras-símbolos, dotadas de
poder místico e representante de uma potência imaterial. Saurat argumenta que Blake devia conhecer
a Cabala hebraica, muito difundida na Inglaterra através da publicação latina da Kabbala Denudata,
entre 1677 e 1684, e acrescenta como o indício mais notável a inclusão da chamada “Aos judeus”
entre os capítulos I e II de Jerusalém, onde há alusões evidentes a Adam Kadmon, o primeiro homem
dos cabalistas. Blake e a cabala coincidem, em primeiro lugar, na unidade originária do Homem e o
Universo, representada na Cabala por adam Kadmon e em Blake por Albión e por Jesus”. [Tradução
nossa]
33
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
sources which, very often, he may not have been aware of himself.
For it is necessary to define, first of all, an obscure antinomian
tradition; and then to define Blake’s very unusual, and probably
unique, position within it.50
50
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The
New Press, 1993, p. XIX.
“Eu estou perseguindo um inquérito sobre a estrutura do pensamento de Blake e do caráter de sua
sensibilidade. Meu objetivo é identificar, mais uma vez, a tradição de Blake, particularmente sua
situação interior, e as evidências, motivos e pontos nodais de conflito, o que indica sua posição e a
forma como o mundo se encontra em sua mente. Para tanto, isso envolve alguma recuperação
histórica, e atenção às fontes externas de Blake - fontes que, muitas vezes, podem ter sido não
conscientes para ele. Portanto, é necessário definir, em primeiro lugar, uma tradição antinomista
obscura; e, em seguida, definir a incomum, e provavelmente única, a posição de Blake dentro dele”.
[Tradução nossa]
51
Ibid., p. 10.
“'Antinomismo' foi, no século XVIII, tanto um termo de abuso como de precisão. Os ortodoxos
lançaram a acusação de antinomismo em seus adversários, muito mais que em outros tempos e
lugares, acusações de heresia, anarquismo, terrorismo ou libertinagem. E os objetos de abuso, muitas
vezes acabaram por ser inocente de tais intenções subversivas”. [Tradução nossa]
34
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
linguagem religiosa para expressar crenças subversivas. Além disso, sua devoção
religiosa, e nisso também coincide Blake, contradiz todas as crenças religiosas uma vez
que afirma ser a Igreja e o Estado “fonte de toda crueldade”.
Ainda que a segunda metade do século XVII tenha visto as aspirações das
seitas radicais serem derrotadas, suas crenças foram preservadas e passadas de uma
geração para outra, mantendo os debates e discussões acerca da salvação da alma por
meio do exercício da consciência. Outras seitas radicais, como os Behmenists,
desenvolveram uma tradição literária e seguramente Blake teve acesso a estes
impressos, visto que toma emprestados os mesmos símbolos para manifestar sua visão
radical.
52
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The
New Press, 1993, p. 61.
“A visão de Cristo que vires/É o maior inimigo de minha visão .../Ambos leem a Bíblia dia e noite
/Mas tu lês negro onde eu leio branco”. [Tradução nossa]
53
Entendemos o conceito de classe conforme Thompson: um fenômeno histórico, que unifica uma série
de acontecimentos díspares e aparentemente desconectados, tanto na matéria-prima da experiência
como na consciência.
35
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
de Blake, ou seja, o ambiente em que ele vivia, percebemos que ao contrário da visão
que nos foi apresentada pelos biógrafos e estudiosos, William Blake não foi um homem
solitário em sua forma de pensar e expressar sua arte. O Blake que nos é apresentado
por Thompson, está integrado a um círculo de pessoas que partilhava das mesmas
crenças e rejeitavam os privilégios e a autoridade, sobretudo da Igreja e do Estado.
Nas décadas de 1780 e 1790, estas seitas radicais que estavam praticamente
escondidas devido à repressão, desde a Revolução Inglesa, floresceram novamente
devido à efervescência da Revolução Francesa e seu ideário de liberdade, igualdade e
fraternidade. Com a crise política, a dissidência religiosa passa a se tornar a base da
política revolucionária. O desejo de tomar parte no debate e na ação ardia nas pessoas.
54
THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa – A árvore da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2004, p. 53. V. 1.
36
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
alguns destes grupos, como foi o caso dos Quakers, aceitaram estes princípios a fim de
serem aceitos; porém, outros preferiram se rebelar. Neste contexto, rebelião significa
rejeitar o Iluminismo, ou seja, a ciência e a razão.
55
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“Para Blake, o Iluminismo – o poder da razão, escudada na tríade profana de Bacon, Newton e Locke
(deísmo, cientificismo, racionalismo), aos que se somavam outros apóstolos deste pensamento como
Descartes, Voltaire e Rousseau – constituía um desvio original, consistia em restabelecê-la mediante a
visão”. [Tradução nossa]
37
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Jerusalém. Um dos grandes debates que eram colocados nestas seitas e que também
influenciou Blake é a forma se entendia a divindade de Cristo. Teria Deus concedido a
sua divindade ou toda a humanidade era divina? Sobre esta questão Blake afirmou: “Ele
é o único Deus, e assim sou eu e você também”. Também encontramos esse tema no
poema “The Divine Image”:
56
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The
New Press, 1993, p. 150.
“Compaixão, Pena, Paz & Amor,/Todos lhes rezam no seu sofrimento;/E a estas virtudes de tanto
fulgor/Entregam o seu agradecimento./Compaixão, Pena, Paz & Amor/É Deus, nosso pai
adorado,/Compaixão, Pena, Paz & Amor/É o Homem, seu filho amado./Tem Compaixão humano
coração,/E tem a Pena uma face humana,/Amor, a forma divina de eleição/E a Paz, o traje que
irmana./Todo o homem, em todo o clima,/Que, com dor, reza como é capaz,/Reza à forma humana
divina,/Amor, Compaixão, Pena & Paz./A humana forma amar é um dever,/Para os ateus, os turcos,
os judeus;/Compaixão, Amor & Pena, haja onde houver,/Também é lá que encontrareis Deus”.
[Tradução nossa]
38
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
57
Ao fazer uso do termo Dissidência, Thompson se refere ao conjunto de seitas religiosas desvinculadas
da Igreja Anglicana.
58
THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa – A árvore da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2004, p. 53-54. V. 1.
39
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
classe dominante e à opressão. Podemos afirmar que a defesa e luta de Blake era por
liberdade, igualdade e fraternidade.
59
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“[…] a heterodoxia blakiana está bem distante do catolicismo dantesco (não tão ortodoxo como pode
parecer a simples vista, se recordarmos que em várias ocasiões Dante reformulou dogmas teológicos e
noções políticas para acomodá-los a sua cosmovisão particular). Não obstante, Blake foi um forte
admirador de Dante, ao grau de aprender italiano para poder lê-lo no original e conseguir indagar
melhor na essência da Divina Comédia, que teria de ilustrar de maneira peculiar durante os últimos
anos de sua vida. Isso obedece, seguramente, ao detalhe de ter observado nele e em sua obra a
dramática visão das paixões humanas e uma representação também visionária dos mundos espirituais,
tão familiar com a sua que Eliot denominou uma estrutura de mitologia, teologia e filosofia”.
[Tradução nossa]
40
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Gilchrist, entitulada “Vida de William Blake”. Mais tarde, autores consagrados como
Algernon Charles Swinburne, W. B. Yeats e T. S. Eliot também se dedicariam a
escrever sobre o poeta. Este último afirmou, em The Sacred Wood, que
Não é possível dissociar a poesia de Blake de sua obra como artista gráfico e
plástico, pois ambas as coisas são complementares. As imagens elaboradas para
acompanhar seus textos não devem ser consideradas como meras ilustrações.
60
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“A concentração resultante de um quadro de mitologia, teologia e filosofia é uma das razões pelas
quais Dante é um clássico e Blake só um poeta de gênio. [...] Blake estava dotado de uma capacidade
considerável para compreensão da natureza humana, com um apreciável e original sentido da
linguagem e da música da linguagem e com o dom de uma visão alucinada”. [Tradução nossa]
61
BLOOM, Harold. Cómo leer y por qué. Colômbia: Norma, 2000, p. 89.
“Por “visionário” entendo um modo de percepção pelo qual objetos e pessoas são vistos com uma
intensidade amplificada com indícios proféticos. Com frequência visionária, a poesia tenta domesticar
ao leitor para leva-lo a um mundo onde tudo o que olha tem uma aura transcendental”. [Tradução
nossa]
41
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
A maioria de suas pinturas, muitas delas criadas para ilustrar seus próprios
poemas, eram impressões feitas de placas de cobre que ele cauterizava por meio de um
método que lhe havia sido revelado através de um sonho e que ele denominou como
“gravura iluminada”. Ele e Catherine coloriam todas as impressões com aquarela, o que
fazia de cada impressão uma obra de arte única.
Segundo Alcides Santos, o uso das placas de cobre também era uma forma
encontrada por Blake para manter o potencial desestabilizador de seus poemas
iluminados e também sua materialidade.
62
TAVARES, Enéias Farias. “The William Blake archive”: repensando o acervo físico e o arquivo
digital. Letras, Santa Maria, n. 46, Jun. 2013. Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-
2.2.2/index.php/letras/article/view/11728/7159>. Acesso em: 01 Ago. 2014.
63
SARRIUGARTE, Iñigo. Las alucinaciones mentales de William Blake como Base de su Obra
Literaria y Artística: ¿Genialidad o Locura? Razon y Plabra, n. 40, Agosto/Septiembre 2004.
Disponível em: <http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n40/isarri.html>. Acesso em: 21 Ago.
2014.
“A técnica se baseia em gravar na mesma placa o texto e as ilustrações. Em essência, era uma variante
da água-forte, porém, nesta técnica a impressão se realiza graças ao ácido que grava uma placa
metálica, na de Blake o procedimento de invertia e se empregava o ácido para gravar as partes vazias
e deixar o desenho em relevo. Posteriormente, as páginas eram retocadas a mão, com pincel e
aquarela, por isso cada cópia podia ter algumas diferenças com o resto”. [Tradução nossa]
42
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
64
SANTOS, Alcides Cardoso dos. Visões de William Blake – Imagens e palavras em Jerusalém a
Emanação do Gigante Albion. Campinas: Editora da Unicamp, 2009, p. 24-25.
65
BLAKE, William. Obra Completa en Poesía. Barcelona: Libros Río Nuevo, 1980, p. 11.
“Em abril de 1978, a Tate Gallery de Londre expôs (em comemoração aos 150 anos de sua morte)
uma mostra integrada por mais de trezentas obras, entre elas se incluíam pinturas, gravuras,
xilogravuras, impressões em cor e ilustrações para livros próprios e alheios. A oportunidade, que pode
aproveitar, se prestava para seguir os esforços de Blake sob uma espécie nova de expressão que, ainda
que parcialmente falida e incapaz de gerar uma corrente série de seguidores, impressiona por sua
variedade e chama a atenção sobre as múltiplas tentativas do gênio para encontrar o meio adequado a
um modo pessoal de sentir”. [Tradução nossa]
43
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
compasso em direção à escuridão. Como Blake criou seu próprio sistema teológico,
inventou uma metodologia para que pudesse ser mais bem compreendido, Urizen, por
exemplo, é o tempo.
Atualmente quem deseja pesquisar acerca de Blake e sua vasta obra, seja como
escritor, gravador ou pintor, conta com um arquivo digital completo, fruto de um
projeto acadêmico pioneiro. Os idealizadores desse projeto foram os acadêmicos Morris
66
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
“[…] a meu juízo, a dupla condição de poeta e pintor da qual gozava o cantor da inocência e da
experiência, antecessor em anos dos imaginistas e da grande relevância conferida por eles ao elemento
pictórico na lírica, pois seus poemas estão muito concentrados na imagem visual, e chegam, algumas
vezes a funcionar como sua própria ilustração”. [Tradução nossa]
44
Capítulo II:
William Blake: Um estudo biográfico
Eaves, Joseph Viscomi e Robert Essick. O objetivo foi reunir toda a produção que
estava dispersa em inúmeras publicações, que muitas vezes dissociavam o trabalho do
poeta e do artista. Além disso, foi feito um esforço no sentido de disponibilizar os textos
originais de Blake, sem as alterações que foram feitas na maioria das publicações.
*******
Tentamos por meio deste estudo biográfico responder as mesmas perguntas que
Thompson se colocou ao escrever sobre Blake: “Who was Blake? Where do we place
him in the intellectual and social life of London between 1780 and 1820? What
particular traditions were at work within his mind?”68 Entendemos que sem estes
esclarecimentos não é possível analisar sua obra, pois ela reflete o universo do autor,
como sujeito histórico, inserido em um determinado contexto.
67
TAVARES, Enéias Farias. “The William Blake archive”: repensando o acervo físico e o arquivo
digital. Letras, Santa Maria, n. 46, Jun. 2013. Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-
2.2.2/index.php/letras/article/view/11728/7159>. Acesso em: 01 Ago. 2014.
68
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The
New Press, 1993, p. XII.
“Quem era Blake? Onde é que vamos colocá-lo na vida intelectual e social de Londres entre 1780 e 1820?
Quais tradições particulares estavam em seu trabalho e dentro de sua mente?”. [Tradução nossa]
45
CAPÍTULO III
CANÇÕES DA INOCÊNCIA E
DA EXPERIÊNCIA
John Milton
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
69
Outro aspecto relevante desta obra é a visão religiosa de Blake, que aparece
pela primeira vez, visto que o primeiro e único trabalho anterior às Canções da
Inocência foi Esboços Poéticos, obra que reuniu poemas que foram escritos quando o
poeta tinha entre doze e vinte anos de idade. O aspecto místico, que se mistura à própria
religiosidade, que encontramos em sua escrita está relacionado com os seus sonhos
visionários, tal como abordamos no capítulo anterior.
69
http://www.gailgastfield.com/innocence/soi.html
47
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
70
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 4.
48
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
71
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 19.
“When my mother died I was very young,/And my father sold me while yet my tongue/Could scarcely
cry 'weep! 'weep! 'weep! 'weep!"/So your chimneys I sweep & in soot I sleep./There's little Tom
Dacre, who cried when his head/That curled like a lamb's back, was shaved, so I said,/Hush, Tom!
never mind it, for when your head's bare,/You know that the soot cannot spoil your white hair."/And
so he was quiet, & that very night,/As Tom was a-sleeping he had such a sight!/That thousands of
sweepers, Dick, Joe, Ned, & Jack,/Were all of them locked up in coffins of black;/And by came an
Angel who had a bright key,/And he opened the coffins & set them all free;/Then down a green plain,
leaping, laughing they run,/And wash in a river and shine in the Sun./Then naked & white, all their
bags left behind,/They rise upon clouds, and sport in the wind./And the Angel told Tom, if he'd be a
good boy,/He'd have God for his father & never want joy./And so Tom awoke; and we rose in the
dark/And got with our bags & our brushes to work./Though the morning was cold, Tom was happy &
warm;/So if all do their duty, they need not fear harm”.
49
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
[...] muitas dessas crianças eram vendidas pelos próprios pais, sendo
que quanto mais novas fossem mais alto seria o seu preço. Algumas
começavam a
trabalhar aos quatro ou cinco anos, mas a maior parte iniciava a
profissão entre os seis e oito anos de idade. A maioria desses meninos
era originária da classe trabalhadora, havendo também alguns filhos
ilegítimos de pessoas das classes média e alta. Vários deles eram
crianças das workhouses que as encaminhavam para este trabalho ao
mesmo tempo em que se viam livres da responsabilidade de sustentá-
las. Havia também aqueles que eram “alugados” por um tempo
determinado. Além disso, havia crianças que eram roubadas/raptadas e
aquelas que eram aliciadas para exercer a profissão.73
72
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 346. V.
2.
73
VIGÁRIO, Sílvia Manuela Pereira. Crianças sem Infância: O Trabalho Infantil na Indústria Têxtil e
os Limpa-Chaminés (1780-1878). 2004. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Letras e Ciências
Humanas, Universidade do Minho, Braga, 2004, f. 90-91.
74
THOMPSON, 2002, op. cit., p. 203.
50
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
imagens religiosas e não o cristianismo instituído; ainda não há uma percepção crítica
da realidade, como encontraremos posteriormente nas Canções da Experiência.
Na segunda estrofe do poema, Blake menciona que o cabelo de Tom Dacre foi
raspado. Tal fato era comum entre os limpadores de chaminés, pois assim não
acumulariam fuligem no cabelo. O uso de bonés também auxiliava estes meninos,
protegendo os olhos e a boca do contato direto com a fuligem.
O fato das crianças se banharem no rio pode ser entendido como uma
necessidade que eles tinham de se limparem de toda a fuligem e ferida. Sabe-se que
estes meninos, limpadores de chaminés, tinham uma higiene precária e raramente
trocavam suas vestes, desta forma, viviam extremamente sujos e o acúmulo de fuligem
somado aos tombos que tomavam durante o trabalho, resultavam em inúmeras feridas e
um aspecto extremamente sujo. Eram comum que dormissem sobre as fuligens retiradas
das chaminés.
75
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 53.
51
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
Vale ressaltar que este trabalho de limpador de chaminés era mal visto na
Inglaterra daquela época, pois quem se dedicava a esta tarefa normalmente eram
crianças ou então, moradores de rua.
76
Referência ao texto bíblico, especificamente o evangelho de João, no versículo 29 do capítulo 1.
77
GUINSBURG, J. (Org.). O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 266.
78
DUARTE, Flávia M. G. “Inocência” e “Experiência” na obra do poeta e gravador William Blake
(1789 – 1794): o Limpador de Chaminés como representação da sociedade industrial. Anais do XXVI
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA ANPUH: 50 anos, São Paulo, 17 a 22 de julho de 2011.
Disponível em: www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300847203_ARQUIVO_texto_
anpuh_2011.pdf. Acesso em: 21 Ago. 2014.
52
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
Até então, a resignação e a submissão eram para Blake a melhor forma de lidar
com os males que a sociedade impunha aos mais fracos, pois a verdadeira felicidade era
aquela que estava no reino dos céus, junto ao Cordeiro de Deus, que jamais abandonaria
aqueles que “foram bonzinhos”.
79
DUARTE, Flávia M. G. “Inocência” e “Experiência” na obra do poeta e gravador William Blake
(1789 – 1794): o Limpador de Chaminés como representação da sociedade industrial. Anais do XXVI
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA ANPUH: 50 anos, São Paulo, 17 a 22 de julho de 2011.
Disponível em: www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300847203_ARQUIVO_texto_
anpuh_2011.pdf. Acesso em: 21 Ago. 2014.
80
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 5.
81
BORGES, Jorge Luis. Curso de literatura inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 216.
53
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
82
82
http://matthewsalomon.wordpress.com/2007/11/28/william-blake-the-tyger/
54
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
83
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 27.
“Tyger Tyger, burning bright,/In the forests of the night;/What immortal hand or eye,/Could frame thy
fearful symmetry?/In what distant deeps or skies./Burnt the fire of thine eyes?/On what wings dare he
aspire?/What the hand, dare seize the fire?/And what shoulder, & what art,/Could twist the sinews of
thy heart?/And when thy heart began to beat,/What dread hand? & what dread feet?/What the
hammer? what the chain,/In what furnace was thy brain?/What the anvil? what dread grasp,/Dare its
deadly terrors clasp!/When the stars threw down their spears/And water'd heaven with their tears: Did
he smile his work to see?/Did he who made the Lamb make thee?/Tyger Tyger burning bright,/In the
forests of the night:/What immortal hand or eye,/Dare frame thy fearful symmetry?”
55
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
84
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del bardo. Agulha –
Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de 2009. Disponível em:
<http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2014.
85
BORGES, Jorge Luis. Curso de literatura inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 221.
56
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
sentidos seria purificando as “portas da percepção”, pois desta forma seríamos capazes
de ver as coisas como elas são: infinitas.
Blake, assim como Swedenborg, crê que para o homem se salvar é necessário
levar uma vida ética, porém vão mais além ao afirmar que também é importante que a
vida seja mentalmente rica, pois o Céu é muito mais complexo que a Terra e é preciso
estar preparado para o momento em que chegarmos lá. Ao afirmar “Despojai-os da
santidade e revesti-os da inteligência”, Blake está convidando o homem a se salvar pelo
intelecto.
Até aqui Blake coincide com o pensamento de Swedenborg, mas devido ao seu
sentimento estético, vai mais além e fala sobre uma salvação tripla. Ademais da ética e
da educação intelectual, o homem também precisa se salvar por meio da beleza, o
exercício da arte. Blake considera que Jesus foi um artista, pois se comunicava de forma
abstrata, por meio de imagens, metáforas e parábolas.
A visão do cristianismo que opõe alma e corpo, por acreditar que a primeira
está relacionada ao Céu (o Bem) e o segundo ao Inferno (o Mal) é totalmente
desacreditada por Blake, que via essa separação como o motivo da “queda” do homem.
86
BORGES, Jorge Luis. Curso de literatura inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 224.
57
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
[...] se alguma delas tivesse que ser rotulada de “boa”, não seria por
certo a alma, que, sede da Razão, é essencialmente reguladora e
restritiva, e sim o corpo, que, sede da Energia primitiva, é
fundamentalmente criador e prolífico. Por isso, Blake preferia colocar-
se ao lado do Inferno e da Energia, como, aliás, todos os grandes
artistas criadores...87
Outro poema que nos ajuda a compreender esta releitura da imagem de Cristo,
do Cordeiro para o Tigre é Londres.
88
87
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 6.
88
http://secondfloorsceance.tumblr.com/post/48204509294/mareecee-william-blake-london-songs-of
58
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
Londres pode ser interpretado como um poema denúncia, visto que o olhar
ingênuo, tal como vimos em O Limpa-Chaminés, nas Canções da Inocência, dá espaço
a um olhar crítico. Através de sua leitura temos uma visão realista e até chocante das
chagas da sociedade em que Blake vivia. O poeta expressa todo seu inconformismo,
enquanto descreve sua cidade, que, ao mesmo tempo, pode ser interpretada como a
descrição da própria condição humana.
59
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
para compreendê-lo. O poeta mostra a sua indignação perante a igreja, que é cúmplice
na exploração das crianças e, a hipocrisia em torna da sexualidade, aonde o casamento
vai de mãos dadas com a prostituição e doenças venéreas.
Num primeiro momento Blake é observador “Eu nos rostos encontro vou
notando/Sinais de fome e dor, sinais de enfado”. A partir da segunda estrofe ele deixa
de “ver” para “ouvir” – “Ouço nos gritos que adultos dão, /E nos gritos de medo do
inocente,/Em cada voz...”. Tal mudança acarreta numa relação diferente entre o poeta e
o meio urbana, que parece estar mais próximo.
[…] the passage from sight to sound has an effect of reducing the
sense of distance or of the alienation of the observer from his object of
the first verse, and of immersing us within the human condition
through which he walks […].91
90
THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa – A árvore da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2004, p. 196. V. 1.
91
Id. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The New Press, 1993,
p. 187
“[...] a transição da visão para o som tem um efeito de reduzir o sentimento de distância ou de
alienação do observador de seu objeto no primeiro verso, e nós somos imersos na condição humana
através da qual ele caminha […]”. [Tradução nossa]
60
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
formais. Thompson também propôs uma interpretação irônica desta palavra ao afirmar
que:
92
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The
New Press, 1993, p. 177.
“[...] Uma declaração oficial de liberdade é, simultaneamente, uma negação dessas liberdades às
outras pessoas. Uma lei oficial é algo dado ou concedido; é de grande valia para um grupo com
alguma autoridade em particular; não é reivindicada como um direito. E as liberdades (ou privilégios)
conquistadas por pessoas com interesse comum, companhia, corporação ou até mesmo nação exclui os
outros do desfrute destas liberdades. Esse tipo de declaração oficial é, em sua natureza, excludente”.
[Tradução nossa]
61
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
Thompson nos mostra que Blake, ao escrever o verso “As algemas forjadas
pela mente” sugere que
[…] The ‘mind forg’d manacles’, then are those of deceit, self-
interest, absence of love, of law, repression and hipocrisy. [...] they
bind the minds not only of the opressors but also of the opressed;
moreover, they are self-forged. […].94
*****
93
PAINE, Thomas. Direitos do Homem. Tradução de Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2005, p. 222-223.
94
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law. New York: The
New Press, 1993, p. 184.
“Essas “algemas forjadas pela mente” são compostas pela derrota, o interesse egoísta, a ausência do
amor, a lei, a repressão e a hipocrisia, além disso, elas aprisionam não apenas as mentes dos
opressores, como também dos oprimidos, sendo auto forjadas”. [Tradução nossa]
62
Capítulo III:
Canções da Inocência e da Experiência
95
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C. Ismael, 1986,
p. 07.
63
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
William Blake
Considerações Finais
Acreditamos que o estudo a seu respeito, sobretudo de sua obra como escritor e
poeta, é de grande contribuição para os estudos históricos no que se refere à “dupla
revolução inglesa”; as transformações em decorrência da Revolução Industrial. A leitura
crítica de “Canções da Inocência e da Experiência” nos fornece uma ferramenta mais
para compreender o impacto político, econômico e principalmente, social. Como as
pessoas vivenciaram essas mudanças? Como a repressão foi interpreta?
Nesta monografia objetivamos lançar luz à vida e à obra de Blake, por meio de
um balanço historiográfico. Não pretendemos nenhum ineditismo, todas as discussões
colocadas foram apontadas anteriormente pelos autores com que trabalhamos. O que
65
Considerações Finais
Mostramos que a discussão acerca da relação entre sentimento e razão deve ser
cuidadosa, pois ao identificarmos o neoclassicismo com a razão em oposição ao
romantismo com o sentimento, incorremos em um erro bastante comum de alguns
estudiosos que desconsideram que os dois elementos estão de mão dadas, e que
nenhuma escola literária pode se ausentar de algum destes elementos. Desta forma, o
que diferencia o neoclassicismo do romantismo é a ênfase que dão a um ou outro.
Outra questão importante que abordamos foi a forma como Blake, assim como
outros escritores românticos, lidou com as transformações do ambiente urbano. O
66
Considerações Finais
poema Londres, analisado no terceiro capítulo, exemplifica a visão que foi construída
pelo poeta acerca dos dois movimentos paralelos – desenvolvimento industrial e
econômico, ao lado de pobreza e mazela humana. Blake criticou ferozmente o advento
desse modelo de crescimento que ele pôde acompanhar de perto, visto que passou toda
sua vida na capital inglesa.
67
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Referências Bibliográficas
BLAKE, William. Obra Completa en Poesía. Barcelona: Libros Río Nuevo, 1980.
BORGES, Jorge Luís. Curso de literatura inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CURBELO, Jesús David. William Blake: apuntes para tratar de visionar la voz del
bardo. Agulha – Revista de cultura, Fortaleza / São Paulo, n. 67, Janeiro/ Fevereiro de
2009. Disponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/ag67blakex.htm>. Acesso em:
21 Ago. 2014.
http://matthewsalomon.wordpress.com/2007/11/28/william-blake-the-tyger/
http://secondfloorsceance.tumblr.com/post/48204509294/mareecee-william-blake-
london-songs-of
http://www.gailgastfield.com/innocence/soi.html
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Romantismo inglês: uma interpretação. Revista da
FCSH, n. 1, 1980. Disponível em: <http://run.unl.pt/handle/10362/4212>. Acesso em:
21 Ago. 2014.
TAVARES, Enéias Farias. “The William Blake archive”: repensando o acervo físico e o
arquivo digital. Letras, Santa Maria, n. 46, Jun. 2013. Disponível em:
<http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/letras/article/view/11728/7159>.
Acesso em: 01 Ago. 2014.
THOMPSON, E. P. Witness Against the Beast: Willian Blake and the moral Law.
New York: The New Press, 1993.
VIZIOLI, Paulo. (Org.). William Blake: Poesia e Prosa Selecionadas. São Paulo: J. C.
Ismael, 1986.
70
Referências Bibliográficas
71