A Lanterna
A Lanterna
A Lanterna
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Dos 90 títulos de livros anunciados, 33 estavam em português, 46 em italiano, 8 em espanhol e 3 em francês.
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Emulsão de Scott, de Scott & Bowne, de Nova Iorque; Engenho Stamato, de Raphael Stamato, do Rio de
Janeiro; Pasta Dentifrícia Carmeine eram alguns dos produtos anunciados. Havia a propaganda do jornal A Voz
do Trabalhador; da revista Novos Horizontes, do Rio de Janeiro; e das Escolas Modernas Nº 1 e Nº 2, de São
Paulo.
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A Lanterna, 5/9/1914, 26/9/1914 e 3/10/1914.
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A Lanterna, 22/8/1914 e 5/9/1914.
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eram, em sua maioria, imigrantes europeus. E para as camadas populares européias na época,
as diferenças regionais muitas vezes sobrepujavam as diferenças nacionais. Além disso, a
presença do trabalhador nacional se fazia cada vez mais visível. Por outro lado, a exploração
capitalista, as precárias condições de vida, moradia e trabalho, a discriminação e a violência
definiam a experiência da semelhança. Esta logo transformou-se em experiência de classe e
permitiu a construção de uma identidade também de classe, ao desenvolver “certas formas de
solidariedade [e] certa consciência de coletividade” (Toledo, 1993, p. 37-38).
Os anarquistas assumiram a liderança do movimento operário em São Paulo no início
do século XX. Segundo Edilene Toledo, podemos agrupar os libertários em duas “gerações”.
A primeira constituiu-se de grupos compostos majoritariamente de imigrantes e que se
organizaram, desde fins do século XIX, em torno de jornais em línguas estrangeiras e de vida
brevíssima. Tais grupos dedicaram-se à propaganda e às ações de rua em meio à intensa
repressão do Estado (Toledo, 1993). A segunda “geração” de militantes anarquistas – na qual
a publicação d’A Lanterna encontra-se inserida – foi marcada pelo surgimento de grupos que,
desde os anos iniciais do século XX, adotaram a estratégia de editar jornais em língua
portuguesa e de criar novos instrumentos de propaganda (bibliotecas, centros de estudo e
escolas) e novas práticas de difusão do ideário libertário (através de festas, de apresentações
teatrais e da literatura “útil”, isto é, engajada). Além disso, estes grupos decidiram alargar o
campo de divulgação das idéias anarquistas, ao buscar a adesão de outros segmentos sociais
além do operariado.
O Amigo do Povo foi o primeiro jornal libertário editado em São Paulo em língua
portuguesa e que atingiu certa regularidade na publicação. Foram 63 números entre 1902 e
1904, com periodicidade semanal ou quinzenal. O grupo editor era constituído por Neno
Vasco, Benjamin Mota, Alessandro Cerchiai e Oresti Ristori (Toledo, 1993).
Os temas do anticlericalismo, do antimilitarismo e de crítica à repressão também
estavam presentes n’A Voz do Trabalhador, órgão da Confederação Operária Brasileira
(C.O.B.) e publicação coeva d’A Lanterna5.
O jornal operário foi um produto cultural singular que apresentava estratégias de
circulação bem definidas. Um dos objetivos dos grupos editores era formar uma “comunidade
de leitores”, com a construção de redes de distribuição e multiplicação de discursos e de
solidariedade entre os trabalhadores. A imprensa operária enfrentava crônico problema de
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A Voz do Trabalhador foi publicado no Rio de Janeiro entre 1908 e 1915. Entre 1908 e 1909 houve 21 edições
e entre 1913 e 1915, 50 edições. Foi criado a partir de uma resolução do I Congresso Operário Brasileiro (1906)
para ser o órgão oficial da confederação operária, propondo-se a veicular notícias de todo o país e a criar canais
de diálogo com outros jornais. Cf. Giglio, 1995.
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“Aos nossos assinantes”. A Lanterna, 19/9/1914.
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A Lanterna publicava “Os Comuneiros”, de Carlos Malato (1857-1938), anarquista espanhol.
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A reconstrução institucional da Igreja católica baseou-se na ampliação da quantidade de dioceses, na
“importação” de sacerdotes estrangeiros, na melhoria dos seminários, no aumento da disciplina interna do clero,
na criação de colégios para as elites brasileiras, nos primeiros ensaios de aproximação com as camadas populares
(por meio de estratégias educacionais e assistenciais, e da atuação nos círculos operários) e na formação de
intelectuais católicos.
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A lanterna, 29/8/1914.
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Edgard Leuenroth, Pedro Atallo, Helio Negro, Adelino Tavares Pinho, Florentino de Carvalho, José Oiticica,
Gigi Damiani, Tito Batini, Gil Souza Passos, Rodolfo Felipe, Marino Spagnolo, Antonio Avelino Foscolo, Jaime
Cubero, Gimenéz Moreno, Edgar Rodrigues, Oswaldo Salgueiro, Luca Gabriel e Venâncio Pastorini.
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Por motivos óbvios, era comum os artigos de jornais operários serem assinados com pseudônimos ou nomes
fictícios ou abreviados. Também percebemos tais fenômenos nas páginas d’A Lanterna.
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O professor Edmundo Rossoni, da Escola Racionalista da Liga dos Vidreiros, foi preso em outubro de 1909 e
expulso do país em dezembro do mesmo ano, conforme noticiou A Voz do Trabalhador (Giglio, 1995, p. 132).
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Na edição Nº 288 d’A Lanterna, de 15/4/1916, há um anúncio de divulgação da Escola Moderna Nº 1, com o
endereço na avenida Celso Garcia, 262, “no antigo Grupo Escolar”.
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Na edição Nº 295 [sic] d’A Lanterna, de 27/2/1915, há uma informação de que a Escola Moderna Nº 2 estava
instalada na rua Oriente, 166, no Brás.
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A Lanterna, 29/8/1914; 5/9/1914; 19/9/1914.
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A Lanterna, 22/8/1914.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Maria Aparecida Lima. O espírito da educação: Maria Lacerda de Moura (1918-
1935). São Paulo: [s.n.], 1995. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, USP.
FERREIRA, Maria Nazareth. A imprensa operária no Brasil, 1880-1920. Petrópolis:
Vozes, 1978.
GIGLIO, Celia M. B. A Voz do Trabalhador: sementes para uma nova sociedade. São
Paulo: [s.n.], 1995. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, USP.
JOMINI, Regina Celia M. Uma educação para a solidariedade: contribuição ao estudo
das concepções e realizações educacionais dos anarquistas na República Velha. Campinas,
SP: [s.n.], 1989. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, UNICAMP.
LUIZETTO, Flávio Venâncio. Presença do anarquismo no Brasil: um estudo dos
episódios literário e educacional. São Carlos: [s.n.], 1984. Tese de Doutorado. USP.
OLIVEIRA, José Eduardo M. V. de. O anticlericalismo na República Velha: a ação dos
anarquistas. São Paulo: [s.n.], 1996. Dissertação de Mestrado. FFLCH, USP
ROMERA VALVERDE, Antônio José. Pedagogia libertária e autodidatismo. Campinas,
SP: [s.n.], 1996. Tese de Doutoramento. Faculdade de Educação, UNICAMP.
SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
SOUZA, Wlaumir Doniseti de. Anarquismo, Estado e pastoral do imigrante: das disputas
ideológicas pelo imigrante aos limites da ordem: o caso Idalina. São Paulo: Edª da UNESP,
2000.
TOLEDO, Edilene. O Amigo do Povo: grupos de afinidade e a propaganda anarquista em
São Paulo nos primeiros anos deste século. Campinas, SP: [s.n.], 1993. Dissertação de
Mestrado. IFCH / UNICAMP.