Morte Na Literatura Infantil
Morte Na Literatura Infantil
Morte Na Literatura Infantil
Rio de Janeiro/RJ
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
Rio de Janeiro/RJ
2013
L864 Lopes, Thais de Carvalho Rodrigues
Era uma vez o fim: representações da morte na literatura
infantil /
Thais de Carvalho Rodrigues Lopes. 2013.
79 f.
Orientador: Profº. Drº. Marcio Tavares d’ Amaral.
Aos meus pais, que me deram de estudar o que eu gosto. Mesmo não sendo
matemática. Sobretudo por jamais terem me negado um livro novo.
Aos professores que aceitaram participar desta banca: Teresa Bastos e Paulo Vaz.
Aos amigos que apoiaram essa pesquisa tão difícil, seja com indicações de livros,
dicas de título ou com um copo de cerveja. Em especial ao Otto, que me deu A psicanálise
dos contos de fada quando eu não sabia se cursava Produção Editorial ou Psicologia.
À Daniela Duarte, que no meu primeiro estágio me deixou pôr a mão na massa e
brincar de ser editora de infantis.
RESUMO
Esse trabalho vai tratar das representações da morte como tabu, como metáfora e como
finitude. A intenção é descobrir se é possível sugerir à criança que não há resposta para essa
pergunta ou se necessariamente é preciso apresentar uma metáfora para o fim. Foi feito um
panorama do surgimento da infância, das interpretações possíveis da finitude na filosofia e na
antropologia e do comportamento das crianças diante da morte. Para diferenciar as
abordagens existentes no mercado editorial, é questionado o valor literário de um livro
infantil. A pesquisa passa por diversos estilos de escrita comuns ao gênero, como os contos de
fada, os clássicos e os ilustrados, buscando as respostas que são oferecidas às crianças quando
um personagem morre em uma história.
ABSTRACT
This paper will discuss the representations of death as taboo, metaphor and finitude.
Its intention is to discover if it is possible to suggest to a child that there is no answer to this
question, or if we necessarily need to present a metaphor to the end. It has an overview of the
emergence of childhood, of the possible philosophical and anthropological interpretations on
finitude and of children’s behaviour when facing death. To distinguish the existing
approaches to the subject in the publishing market, it questions the literary value of a
children’s book. The research covers various writing styles that are common to this gender, as
fairy tales, classicals and picture books, searching for the answers that are offered to children
when a character dies in a story.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
7 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 58
ANEXOS.................................................................................................................................. 12
I) ILUSTRAÇÕES DE EDWARD GOREY PARA O ABECEDÁRIO THE GASHLYCRUMB TINIES. ......... 12
II) ILUSTRAÇÕES DE ¿QUIÉN COME A QUIÉN? ......................................................................... 13
III) SÉRIE DE TIRINHAS DE CALVIN AND HOBBES SOBRE O GUAXINIM...................................... 14
V) ILUSTRAÇÕES DE EL LIBRO TRISTE .................................................................................... 21
VI) ILUSTRAÇÕES DE O ANJO DA GUARDA DO VOVÔ ................................................................ 25
VII) ILUSTRAÇÕES FINAIS DE VOVÔ ....................................................................................... 27
VIII) POEMA CONCRETO DE LOVE THAT DOG .......................................................................... 28
X) ILUSTRAÇÕES DE MENINA NINA ......................................................................................... 31
11
1 Introdução
Entre os grandes mistérios da vida humana, a morte é sem dúvida o maior deles. Em
cada cultura há um mito do início e um mito do fim que tentam justificar essa existência
temporalmente limitada. A consciência e a capacidade de raciocínio humanas são complexas,
mas não conseguem explicar plenamente o que acontece quando se morre.
A humanidade encontrou quatro formas de traduzir sua angústia diante das incertezas:
a ciência, a filosofia, a religião e a arte. Nesse trabalho, serão trabalhadas todas elas de
maneiras distintas – a ciência como o filtro através do qual se observa tudo o que se vê na
sociedade ocidental (inclusive a morte e a infância); a filosofia como questionamento do que é
a morte, entendendo a sua importância ontológica para o ser humano e questionando o seu
valor de aniquilamento; a religião como metáfora; e a arte como facilitador da compreensão
infantil e adulta de que certas perguntas não têm resposta.
Era uma vez uma a infância e era uma vez a morte. Para o propósito desta pesquisa,
foram estudados dois momentos complementares - o fim e o começo. Serão analisadas as
mudanças no conceito de criança e morte através dos séculos, em um panorama da construção
da cultura da infância. Se hoje em dia se diz o que é ou não adequado aos pequenos, com base
em quê definem-se esses paradigmas? De que maneira é explicado o inexplicável? A literatura
infantil será o termômetro da relação da criança com a morte, desde os contos de fada até os
livros-imagem. A arte, com suas sutilezas, permite uma elaboração subjetiva de temas
difíceis, suavizando a sua abordagem. A hipótese que levanto é a de que certos livros, graças
à sua estética e seu valor literário, falam do indizível sem usar de metáforas confusas.
A pesquisa não deixou de lado as descobertas da pedagogia e da psicologia do
desenvolvimento. Compreende-se que a criança lê o mundo por outra perspectiva e, segundo
os cientistas, é incapaz de entender o conceito de finitude. No entanto, há experiências que
comprovam sua capacidade de intuir a morte, não como aniquilamento, mas como
acontecimento inevitável. A grande questão é que na infância os sentimentos não são
expressos da mesma maneira, pois não se conhece palavras o bastante para verbalizá-los –
inclusive, em certas circunstâncias, simplesmente não existem palavras. Seria necessário,
12
Infância e morte são duas palavras que não refletem, por conta de seu uso cotidiano, a
constante transformação que sofreram ao longo dos séculos. Ambos os conceitos serão
amplamente explorados neste trabalho, razão pela qual se faz necessária a compreensão de
seus significados históricos e contemporâneos.
A banalização do termo infância levou à crença de que as crianças sempre existiram
como sujeitos especiais, necessitando de cuidados extraordinários e proteção. Ao conversar
com um idoso, no entanto, percebe-se que nem sempre os pequenos foram poupados dos
esforços de trabalho e traumas psicológicos. Ao contrário, acreditava-se que a formação de
um adulto forte só era possível se fossem encaradas as dificuldades da vida desde cedo. Não à
toa Ariès fala da “descoberta da infância”, o momento em que os pequenos foram percebidos
como indefesos e a nostalgia adulta por esse período da vida fez com que se criasse a ideia de
preservação da inocência.
Da mesma maneira, a nossa postura diante da morte e a concepção do que ela
representa parecem ser inatas, quase instintivas. Não se pode perceber com clareza os limites
de própria cultura e os efeitos que tem em nossa postura no mundo. A morte é, no entanto, um
acontecimento, e a maneira como se lida com ela é muitas vezes determinada pela herança
cultural. Antropólogos e filósofos, pesquisadores dos ritos fúnebres e das crenças sobre o
além, trarão luz sobre esse evento tão banal e, ao mesmo tempo, tão macabro de nossas vidas:
o fim.
Houve um tempo em que a infância não existia. Não possuía valor suficiente para ser
separada das outras etapas da vida humana. O posicionamento do jovem no mundo mudou ao
longo dos séculos, acompanhando os passos da cultura. O surgimento da infância envolve o
reconhecimento de que esse período da vida tem um valor distinto dos outros, para quem a
vive e para quem já a viveu. É esse lugar de preservação da inocência que é recente.
Até meados do século XVIII, a única distinção entre crianças e adultos nas obras de
arte era o tamanho. A princípio, só se retratava a infância de figuras importantes da época:
Jesus, os santos, os príncipes. No traço dos pequenos, a musculatura e as expressões faciais
eram maduras, compondo a figura estranha de um homúnculo. Estas escolhas de estilo
14
refletiam a crença da época de que a criança nada mais era do que um adulto em tamanho
reduzido.
A duração da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do
homem ainda não conseguia bastar-se; a criança então, mal adquiria algum
desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e
jogos. De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem jovem,
sem passar pelas etapas da juventude. (ARIÈS, 1982, p. 3)
1
Tradução livre: a juventude não é mais que uma palavra.
2
Disponível em http://www.ted.com/ (acessado em 11 de novembro de 2013)
3
Domínio público. Disponível em http://www.literatureproject.com/peter-pan/ (acessado em 11 de novembro de
2013).
4
Comprova a ideia de que nos contos os personagens tem de ter apelidos ou nomes comuns – Johannes é a
16
importante da vida, se deve ser preservada, é necessário suavizar a entrada dos pequenos no
mundo da “gente grande”. A solução da sociedade disciplinar, que deixa seu rastro até os dias
de hoje, foi a criação de ambientes especializados para se viver a infância. Os familiares, os
professores, os médicos, os policiais... Todos precisariam estar preparados para lidar com essa
nova classe – a dos cidadãos mirins.
A separação dos mundos se tornou oficial em 1959, com a Declaração Universal dos
Direitos da Criança, que determinava que a criança devia ter proteção adequada e especial,
devido à sua imaturidade física e intelectual. A polêmica Declaração passou por inúmeras
reformas em Assembleias Internacionais até conseguir a adesão massiva que possui
atualmente. A principal razão da querela foram as variantes culturais dos direitos. Por
exemplo, a cláusula que defende a liberdade religiosa foi amplamente questionada por países
onde a religião é de suma importância no convívio cotidiano. Outro ponto em debate seria a
definição mesma da infância, como uma idade em que se carece de cuidados “tanto antes
como depois do nascimento”. Qual seria o princípio da infância? Um menino de 11 anos
precisaria dos mesmos cuidados extensivos que um bebê de 11 meses? A volatilidade na
definição de criança e das suas carências em um documento de importância mundial mostra
que o tema deve ser abordado com cautela, para não atropelar ideologias.
Os mais velhos com frequência finalizam discussões trazendo à tona a “inexperiência”
do jovem. A frase “um dia você vai entender” (BENJAMIN, 1987, p. 114) flui com tanta
naturalidade que às vezes nem é percebida como exercício de poder. No entanto, quem a
pronuncia sugere ter uma posição privilegiada na vida (a de quem “já sabe”). O velho sabe
mais, o jovem menos – logo, o velho sempre terá razão. Há um tom profético: o jovem
ouvinte necessariamente vai pensar como o locutor quando crescer. O que não está em pauta
para discussão para os mais velhos é o sentido da palavra “experiência”. Consideram-na de
seu domínio. É a regra de direito que usam para legitimar seu poder e proferir suas verdades
(FOUCAULT, 1982 , p. 179).
O poder adulto toma sua forma mais concreta nas instituições da escola e do hospital.
Na escola, o adulto-pedagogo tenta categorizar, classificar e prever a infância. Jean Piaget
dividiu-a em quatro estágios, delimitando as idades entre um e outro e explicando os
processos biológicos e psicológicos que influenciavam em cada período de desenvolvimento.
Piaget fez uma ponte entre a linguagem dos saberes acadêmicos e maduros, que o adulto
compreende, e os aprendizados cognitivos e primitivos, que o adulto esqueceu. Foi preciso
17
trazer para o olhar dos mais velhos essa questão tão óbvia, de que no passado eles também
foram vulneráveis e dependentes.
No hospital, a pediatria, a psicologia e a psicanálise ensinam os mais velhos a lidar
com os jovens. São as estratégias dos pais e dos médicos para entender esse estrangeiro, essa
potência de ser humano que é a criança. A palavra potência salienta que, embora sejam
humanos, os pequenos não tem o mesmo direito dos adultos. Foi descoberto pela medicina e
pelos pedagogos que até certa idade a criança não deve responder por si, porque não tem
noção completa de causalidade. Ou, no caso dos adolescentes, porque sofrem de impulsos
inconsequentes, vivem no hoje. A autoridade, nesses casos, é do “maior responsável” –
alguém com mais de 21 anos que tome conta da criança.
Em certo sentido, é possível dizer que a infância pertence a uma cultura diferente da
idade adulta – mesmo que criança e o adulto sejam ocidentais, brasileiros, cariocas, católicos
e de classe média. A cultura é outra porque seu repertório de signos é diferenciado. A base
comunicativa essencial da criança não é a verbal – mesmo quando aprende a fala e a escrita,
ela domina uma quantidade de palavras consideravelmente menor que a de um ancião do seu
mesmo grupo social. No âmbito da comunicação na linguagem oral-adulta, os mais jovens
tendem a ser desfavorecidos. No entanto, a comunicação da criança tem a vantagem de ser
mais direta, pois os jovens ainda não adquiriram critérios de adequação social – ou seja, não
vão deixar de dizer o que pensam ou de fazer perguntas inconvenientes para agradar o
interlocutor. O reconhecimento dessas peculiaridades da criança trouxeram consigo toda uma
cultura da infância que diverge da adulta.
Os pedagogos e psicólogos colaboraram em muito para a construção da cultura da
infância. Para potencializar o desenvolvimento da criança, o adulto a cerca de estímulos. Ao
seu redor, tudo deve ser colorido, musical, doce, moral e, sobretudo, divertido. Para todo lugar
adulto há o equivalente infantil, especializado na cultura da infância – um bom exemplo são
os restaurantes que servem um menu requintado para o adulto e bife com batatas fritas para a
criança. Nesse contexto, não surpreende que a morte – inevitável, imprevisível e inexplicável
– seja um tema tabu para se abordar com os pequenos. Não combina com nenhum dos
elementos básicos da cultura inventada para a infância.
O grande herói da cultura infantil, Walt Disney, transformou os macabros contos de
fadas em desenhos animados. Em seus filmes é autorizado matar a bruxa, mas os
protagonistas não têm o seu destino trágico original. Ninguém chora pela madrasta e, para
alívio do público, a Branca de Neve desperta com um beijo. A sereia Ariel não padece
18
abandonada pelo seu amor platônico como no conto original e o centenário estado de torpor
de Bela Adormecida não dura sequer um dia. A morte do vilão é justa, a do herói não passa de
um susto. Na literatura a tendência é a mesma, de superproteger a criança da dor e traduzir
todo e qualquer texto para a linguagem do politicamente correto. No entanto, autores recentes
têm se atrevido a reinventar esses paradigmas.
É importante esclarecer que a pre-sença, por definição, está sendo. Portanto, não haveria
maneira de só ser – como uma existência com princípio, meio e fim. O ser humano (da-sein
ou pre-sença) é um ente vivo e consciente da sua finitude, por isso está sendo – sua existência,
para ser plena, precisa do momento final da morte, que nunca será experimentado como
vivência. Isso porque, quando a morte chega, o indivíduo já não está vivo – não pode provar a
morte.
A existência completa, com princípio, meio e fim, é impossível, porque a pre-sença
própria já não está. Não saberá o que é estar morto. Deixará o status de estar sendo e apenas
será. O que apenas é deixa de ser pre-sença para ser ente. O cadáver portanto teria o mesmo
status ontológico de uma pedra, um cão, uma folha. É um ser, um ente, porque não possui o
movimento interno do devir. Ele é um cadáver e não se importa se deixará ou não de ser um
cadáver. Pode-se concluir, simplesmente, que a ausência de devir implica em ausência de
consciência. O ser apenas é porque não reconhece o seu devir.
O homem vivo reconhece-o. Sabe que sua existência é finita e por isso se aflige com a
vida. Essa aflição pode se manifestar de maneiras diversas, porém as duas formas mais
comuns de reação à consciência do fim são a angústia com a morte e o temor de deixar de
viver. É possível opor as duas sensações, definindo a primeira como uma vontade de “fazer
valer a pena” e a segunda como uma necessidade de se proteger do fim. Em essência, ambas
partem do desejo de combater a finitude, de se perpetuar. A diferença é que a angústia move –
é o desejo de se eternizar pelos seus atos, pela sua herança – e o temor paralisa – é o instinto
de preservação, de viver tantos anos quanto forem possíveis.
Nesse sentido, Heidegger (1993, p. 15) vai falar do homem como um ser-para-a-morte.
A pre-sença que está sendo está-para-a-morte. Seu devir é a sua própria aniquilação. Isso
significa dizer que algum dia se morre, mas ainda não é hoje. Ser-para-a-morte nos causa a
necessidade de imputar significado à vida (e mesmo à morte). Nos faz criar ritos, cultos,
cerimônias. O fato de que se vive para morrer é a razão mesma da existência da cultura
seus parentes? E para a sociedade como um todo? Como dizem adeus? Como justificam o fim
da vida? Philippe Ariès e José Carlos Rodrigues especializaram-se na temática da morte.
Como devir, como perda e como acontecimento. Anteriormente tratou-se do aspecto da
finitude como devir, mas para compreender o seu sentido de perda e de acontecimento é
necessário ir mais fundo na pesquisa desses autores.
José Carlos Rodrigues defende que a morte como perda só é sentida pelo humano
porque ele reconhece a sua individualidade. Se cada homem é único, o falecimento implica na
aniquilação da sua existência em sociedade, mesmo que, de acordo com as religiões, não
implique em sua aniquilação espiritual. Sendo a morte um acontecimento social, os processos
de luto e significação da morte variam de acordo com a cultura – os mitos de origem e fim
tem um impacto direto nesses rituais de adeus.
De extrema importância, comum às pesquisas dos dois autores, é a classificação em
dois tipos de morte, a boa e a má, que trocaram de significado ao longo dos anos. Ariès vai
batizar de morte domada aquela que oferece uma espécie de aviso prévio sintomático. Nesse
caso, entre o vivo e o morto há o status intermediário de moribundo, alguém tão próximo da
morte que pode reconhecer a inevitabilidade do seu próprio fim. Durante a Idade Média, esse
era o tipo de morte considerado bom, porque significava que tanto o morto quanto os seus
familiares teriam tempo de se preparar tranquilamente para a vida sem a sua presença.
É curioso que essa mesma descrição de morte domada seja hoje considerada como má
morte. O ideal tranquilizador no século XX e XXI, quando há hospitais, casas de repouso e
tempo limitado para dedicar aos convalescentes, é a morte súbita. É o “morrer dormindo” que
representa a inevitabilidade (es muss sein) e acalma a reação dos familiares. Se o indivíduo
morreu dormindo – e muitas vezes é acrescentado: “sem sentir” –, então morreu em paz. Na
Idade Média, esse tipo de morte seria razão de insônia. Morrer dormindo sem nem sentir, sem
ser avisado, sem ter tempo para preparar a família para a sua ausência. Mais para a frente, será
visto como as ideias de má e boa morte influenciaram a literatura infantil através dos séculos.
24 horas antes de sua morte, e o menino compareceu com apenas uma pecinha branca.
Incapaz de conter o avanço das vermelhas, jogou sua peça no chão e disse “o jogo acabou”.
Esse relato mostra como a criança cria metáforas lúdicas para a finitude. Em nenhum
momento o paciente mencionou a morte e só verbalizou sua frustração (“o jogo acabou”) no
último dia. Nos próximos pontos, serão relatadas duas experiências em sala de aula nos
Estados Unidos. A primeira conta a vivência de uma professora de jardim de infância após o
súbito falecimento de uma de suas alunas. A segunda vai mostrar que palavras as crianças
associam ao signo da morte.
Sua conversa com as crianças foi cautelosa. Ela esperou que durante a chamada algum
dos alunos apontasse a falta de Rachel e perguntasse porque ela não estava presente, mas isso
não aconteceu. Então os provocou, perguntando quem estava ausente, até que um dos alunos
mencionou o nome de Rachel. Com essa abertura, pôde revelar que Rachel não estava
presente porque tinha morrido. As reações que obteve com essa declaração seguem
enumeradas abaixo, por ordem cronológica. É importante ressaltar que a professora não
voltou a interferir no rumo das perguntas.
a) Alguém pergunta: “Por que?”;
b) Alunos levantam possibilidades: “Minha tartaruga morreu porque esquecemos de
pôr comida para ela”; “Meu cachorro comeu veneno e morreu”;
c) Um aluno pergunta: “Alguém atirou nela?”. Outro aluno responde: “Que bobagem,
quem iria atirar em uma menininha?”;
d) Contam histórias de sobreviventes: “Meu avô ficou doente mas não morreu”, “eu
engoli uma moeda e não morri”;
e) Alguém pergunta se Rachel vai voltar. A professora responde apenas que não.
f) Um aluno a contraria. “Meu irmão morreu e voltou, eu juro!”. Ninguém responde a
essa afirmação.
g) A mãe de uma das crianças aparece para uma visita. Todos querem contar ao
mesmo tempo e efusivamente que Rachel morreu. A professora interfere “essa não é a
maneira de dar esse tipo de notícia, assim ela [a mãe visitante] vai ficar magoada”.
h) Ciclo de frases sobre mães: “Minha mãe não quer que eu morra”. “A mãe da Rachel
chorou quando ela morreu?”. “Minha mãe sabe que a Rachel morreu?”;
i) A professora pergunta aos alunos se o nome da Rachel deve ser apagado da lista de
chamada. Os alunos respondem que não, deve ser mantido “em sua memória”.
A proposta não é analisar em profundidade a reação das crianças, mas tomar o
desenvolvimento desse debate como uma comprovação de alguns pontos importantes: as
crianças não compreendiam plenamente que a morte era um processo biologicamente
irreversível, não acreditavam que uma menininha poderia ser assassinada, precisaram associar
a morte a uma causa (a ideia de morte sem motivo é intolerável), já assimilaram de alguma
maneira as posturas socialmente esperadas diante de um falecimento (o nome de Rachel deve
ser mantido na lista de chamada “em sua memória”).
Considerando-se que esse episódio ocorreu há mais de trinta anos nos Estados Unidos,
é importante salientar as diferenças de resultado que haveria em um episódio semelhante no
24
Brasil e nos dias atuais. Ainda assim, as experiências relatadas no livro são válidas como
testemunho de uma abordagem justa e honesta da finitude com as crianças. A professora age
como catalisadora da discussão, mas não impõe ideologias religiosas ou ilusões fantasiosas
sobre o pós-vida. Não inventa respostas reconfortantes, mas também não obriga os meninos a
pensarem no impensável (quando um garotinho afirma que o irmão voltou a vida, não é
contrariado). As crianças debatem entre si quase que livremente - a exceção é o momento de
visita da mãe de uma aluna, em que a professora ensina como deve ser dada uma notícia ruim.
Esta experiência comprova que é possível discutir a morte com os mais jovens sem ser
condescendente ou excessivamente cauteloso. Comprova que eles criam suas próprias
proteções e buscam suas respostas de maneira autônoma. Cria uma nesga de esperança para
uma experiência estética com a finitude.
A morte é como uma longa viagem de avião quando o avião é derrubado e você
começa a caminhar 1000 milhas.
(quinto ano)
Oh! Tio Harry. Espero que esteja bem. Por favor esteja. Eu escuto você falando
através de mim. Fale. Sob o inferno ou sobre o céu. Deus está te alimentando?
Cresça bem e gordo. Não fique magro como o meu irmão
(segundo ano)
Eu queria poder falar com o meu avô. Ele está morto agora.
Eu quero falar com o meu avô agora. Sinto saudades.
Eu quero vê-lo agora, mãe.
(Eu sinto muitas saudades. Como ele pode estar morto agora?)
Eu nunca o verei agora.
Eu quero vê-lo agora, agora, agora.
Mãe, eu consigo vê-lo no faz-de-conta.
Aqui. Vovô, onde você está agora?
(segundo ano)
seu valor literário pela ironia ácida em crítica à superproteção da criança. Além disso, em uma
cultura em que a criança se veste de fantasma e cadáver para festejar o dia das bruxas, a morte
ganha uma conotação muito diferente da que se imagina no Brasil.
A árvore generosa passou pelo processo contrário. O livro já teve 5,6 milhões de
exemplares vendidos (cerca de 110 mil no Brasil), mas na época de seu lançamento foi
proibido de circular por incitar a raiva contra a indústria madeireira. Esses episódios
marcantes do mercado editorial comprovam que a noção do que é ou não infantil serve a
muitos interesses, desde os pedagógicos até os comerciais.
Terry Eagleton propõe que a literatura seja pensada não com base em seu caráter geral,
mas de acordo com o seu emprego da língua. A literatura consistiria em uma forma de
escrever em que se violenta organizadamente a linguagem comum – pensamento
compartilhado pelos formalistas russos. Descrever o banal com uma linguagem extraordinária
permitiria prender a atenção do leitor sobre temas que, no modo automático em que estava,
não perceberia. Nem todo desvio linguístico vai fazer literatura, mas toda leitura literária deve
ser uma experiência do sublime e um ato de desvelamento.
29
Eagleton abre espaço para uma visão de literatura como ponto de vista - o que se pensa
que ela é e o que de fato pode ser. A exemplo, há as antologias de cartas de pessoas famosas,
como as Cartas a um jovem poeta de Rilke. A proposta da carta não é fazer um livro, mas
conectar duas ou mais pessoas geograficamente afastadas. Contudo, sob a ótica atual de um
leitor qualquer (e não aquele a quem o texto foi destinado), uma carta pode adquirir valor
literário ao ser lida porque perde sua função prática e a experiência de leitura daquela
correspondência se torna apenas estética.
Pode-se simplificar o argumento de Eagleton em defesa da literatura na seguinte
fórmula: todo texto que não tem (ou que perdeu) uma função prática e ainda assim é lido.
Agregar valor literário é o mesmo que subverter a função de um texto – se alguém decidir ler
hoje os arquivos das finanças do Brasil colônia por curiosidade com a composição do texto,
então este texto se torna literário neste cenário. Toda arte é inútil, por isso provoca a sensação
de liberdade. A ausência de significados pré-concebidos permite ao leitor criar junto enquanto
lê – a literatura deve ser uma obra em progresso e o que o leitor escolher fazer dela.
O gênero de autoajuda não poderia ser literatura porque não oferece a liberdade
criadora e participativa ao leitor. Pelo contrário, seu texto é repleto de normas que devem ser
seguidas para uma suposta vida melhor. Existem respostas e, no geral, as palavras não são
complexas, de maneira que o interesse estético desse texto é pequeno. Sua função é prática – a
de ajudar. Portanto, nas definições de Eagleton, não poderia ser considerado literatura.
Raciocínio semelhante pode ser usado para se pensar o gênero infantil. Livros que
ensinam o alfabeto, a ordem dos números e o bom comportamento não teriam valor literário
porque também teriam um fim prático – o de educar. O livro pode catalisar a aprendizagem,
mas não deve ser destinado a educar, pois o processo de interpretação é parte da leitura e
pertence ao leitor. Mesmo Bruno Bettelheim, que não é crítico, mas psicólogo infantil,
defende a importância do valor literário para a experiência de leitura da criança.
Um livro que só aceita uma leitura não pode ser considerado literário e – recuperando o
raciocínio do capítulo anterior – não deve ser considerado infantil. Tanto a infância quanto a
literatura precisam de mais de um ponto de vista – sobretudo, precisam de criar o seu próprio.
30
secundária – texto diz uma coisa, imagem mostra outra), paralepses (paradoxos temporais),
prolepses (antevisões) e acronias (ausência de temporalidade). Essas possibilidades
cronológicas são especialmente interessantes quando o livro aborda a finitude - a
inevitabilidade do tempo – porque ampliam o universo de narrativas possíveis.
2
Disponível em http://www.ted.com/ (acessado em 11 de novembro de 2013)
32
tolerante. O espaço editorial pode ser uma possibilidade de conectar a criança com múltiplas
realidades.
No entanto, as estruturas narrativas dos cânones da literatura infantil, quando em
evidência, revelam uma repetição de padrão analisada por Peter Hunt (2010, p. 187) - as
histórias, por aventureiras que sejam, terminam no mesmo lugar em que começaram, criando
uma sensação de conforto e segurança. Peter Rabbit corre o risco de ser devorado como seu
pai ao desobedecer as ordens da mãe e entrar no jardim dos McGregor, mas ao chegar em
casa nada é comentado sobre o fato. Sua mãe está cozinhando e ele recebe uma colher de chá
de camomila. Assim como Alice, que acorda do sonho fantástico com o chamado de sua irmã,
que a acolhe e conforta até que se acalme. Em O Mágico de Oz, Dorothy retorna de Oz para
reencontrar sua família bem e feliz. Mesmo Maurice Sendak em Onde vivem os monstros cria
uma situação final de conforto para o retorno de seu protagonista, Max, que viajou por “quase
um ano inteiro” e encontra uma tigela de sopa quente à sua espera quando volta para casa.
Essas narrativas cíclicas de aventura criam a ilusão de que os personagens não mudam,
não sofrem conflitos internos após todas as vivências – algumas de muito risco. Alice é a que
mais se salva, pois de fato retorna perturbada pelo sonho. Peter Pan também oferece um final
mais condizente com o choque do retorno após uma vivência muito intensa. Apesar de
encontrarem a casa da mesma forma, os três irmãos não conseguem voltar a ser quem eram.
As memórias se confundem e Miguel não vê mais o pai como antes (“ele não é tão grande
quanto o pirata que eu matei”). Ele não é mais um garotinho frágil e dependente e não pode
voltar para esse lugar.
3
Domínio público. Disponível em http://www.literatureproject.com/peter-pan/ (acessado em 11 de novembro de
2013).
33
Acredita-se que as amas de leite adaptavam os contos de acordo com o gosto dos
ouvintes – a versão do conto que chega até nós vem sendo alterada há 400 anos. Apesar de
haver passado tanto tempo, a maioria das características do conto se mantém, explicitando o
vínculo com a tradição oral camponesa. Alguns resquícios da oralidade são a repetição, o uso
de marcadores de fala (“ora”, “pois” e outros) e a simplicidade da narrativa, que não possui
detalhes descritivos dos cenários e dos personagens. Eis o exemplo de A princesa e o grão de
ervilha, um conto de duas páginas.
36
Era uma vez um príncipe que desejava para esposa uma princesa - mas devia ser
uma verdadeira princesa! Viajou, pois, por todo o mundo para achá-la. Princesas é
que não faltavam, mas todas tinham os seus senões, e ele nunca chegava a certificar-
se se eram de fato verdadeiras princesas, tais eram as falhas que sempre descobria
nelas. Voltou para casa triste e abatido. Queria tanto encontrar um princesa.
(ANDERSEN, 2002, p. 34.)
Não é novidade que a morte muitas vezes aparece em histórias infantis como um
elemento complementar de suspense e emoção. O acontecimento costuma ser reversível -
como a Chapeuzinho que é retirada da barriga do lobo, ou Branca de Neve desperta com um
beijo apaixonado. Ao longo da pesquisa, foram encontradas muitas dessas mortes
coadjuvantes, soltas na história sem o peso de uma causalidade ou de uma consequência.
Bettelheim ajudou a compreender que essas histórias não tratam da finitude, mas de ritos de
passagem subjetivos. Por essa perspectiva, a menina Chapeuzinho sai da barriga do lobo
como adolescente e Branca de Neve desperta do sono profundo transformada de plebeia em
princesa.
No entanto, há contos em que a morte é um momento de verdadeira confrontação com
o sentido da vida, inclusive servindo para registrar as crenças e os ritos fúnebres de uma
época. Serão estudadas aqui as versões de Hans Christian Andersen, escritas no século XIX.
Andersen foi escolhido para representar o gênero por ser lido mundialmente e por dar nome
ao prêmio mais importante da literatura infantil. Além disso, diferente dos irmãos Grimm e de
Perrault, os contos de Andersen são controversos, expondo maldade e tragédia de uma
maneira menos comedida. Em O rouxinol e em O companheiro de jornada, por exemplo, há
descrições bastante sórdidas dos momentos finais dos personagens moribundos, que hoje nos
parecem infelizes, mas na época em que foram escritos representavam a morte domada -
aquela que pode ser pressentida, a “boa morte” do século XIX (ver capítulo 1).
O pobre imperador já não podia mais respirar, sentia como se alguém estivesse
sentado em seu peito. Abriu os olhos e viu a Morte sentada sobre ele, tendo na sua
cabeça a sua coroa de ouro, em uma das mãos a sua espada de ouro, e na outra o
maravilhoso pendão imperial. Em roda, entre as dobras das grandes cortinas de
veludo, apareciam esquisitas cabeças, uma aglomeração de rostos, alguns
horrivelmente feios, outros de expressão muito branda. Eram todas as ações do
imperador, as boas e as más, que o fitavam na hora em que a morte lhe descia sobre
o coração. - O rouxinol (ANDERSEN, 2002, p. 232)
que suas ações em vida são contabilizadas. A maneira macabra como se apresenta o momento
da morte neste conto jamais seria aceita em uma leitura contemporânea desse texto para
crianças.
O pobre Johannes sentia profunda tristeza porque seu pai estava doente e não podia
mais viver. No pequeno quarto não havia ninguém além dos dois. A lâmpada, em
cima da mesa, estava para apagar-se, A noite avançava.
- Foste um bom filho, Johannes – disse o pai enfermo. – Deus Nosso Senhor,
certamente, há de te ajudar neste mundo... (idem, p. 62)
Cada vez que morre uma boa criança, um anjo de Deus desce à Terra, toma-a morta
em seus braços, abre as grandes asas branca, voa para todos os lugares de que a
criança gostou, e colhe um punhado de flores, e leva a Deus para que lá vicejem,
ainda mais lindas que na Terra. (ibidem, p. 221)
O conto em que a morte aparece mais explícita e teatral é, sem dúvida, A menina dos
fósforos, história de uma garotinha que vende fósforos à unidade na noite de Natal. Há aqui
um elemento que muda completamente a interpretação do leitor - Andersen descreve que, no
lugar do conto, o Natal acontece durante o inverno e há muita neve. Uma criança brasileira,
mesmo que entenda o que é ou tenha visto neve, não vai ler da mesma maneira o sofrimento
4
Comprova a ideia de que nos contos os personagens tem de ter apelidos ou nomes comuns – Johannes é a
versão dinamarquesa de João.
39
Quando raiou a manhã, muito fria, encontraram ali no cantinho, entre as duas casas,
a menina, com as faces coradas e um sorriso a brincar-lhe nos lábios. Estava morta,
gelada. Morrera de frio na última noite do ano velho. A aurora do Ano Novo
brilhava sobre o pequenino cadáver, que jazia com os fósforos nas mãos.
(ANDERSEN, 2002, p. 356.)
criança, o Príncipe existe. Então, quando se entrega a uma cobra venenosa para ser mordido,
ele morre de verdade. Há um poético diálogo entre o menino e o aviador, em que o Pequeno
Príncipe revela ter se deixado picar para abandonar seu corpo na Terra e voltar ao seu planeta.
Dedico este livro ao meu gato, Gatsi (1982-1996). Sei que hoje ele é o que sempre
quis ser... um cachorro rotwieller (sic).
É a história de dois avós que explicam aos netos o porquê de serem enrugados e sem
cabelo, contando as suas de crianças, adolescentes e jovens, até chegarem à velhice. Então
explicam que um dia vão cair mortos e voltar reciclados na forma de algum outro animal,
perguntando aos netos “o que vocês gostariam que a gente virasse?”. Ao passar a página
encontra-se outra vez a legião de frangos e pode se intuir o destino dos avós.
42
nasceu uma flor / as pulgas comeram a flor / a joaninha comeu as pulgas (a joaninha
é um animal muito apreciado pelos jardineiros porque protege as plantas...) / a
alvéola-branca comeu a joaninha / a raposa comeu a alvéola-branca / o lobo devorou
a raposa / e morreu (era muito velho)
ser compreendida por quem finda, mas se o morto já não tem experiência, então a morte é
apenas um acontecimento alheio a nós, vivos. Tratá-la como mistério é uma questão de
acreditar que essa dúvida não nos é prejudicial e aceitar a sua existência, afastando-a ou
fazendo-a presente de alguma maneira que nos seja proveitosa e saudável.
Mesmo demonstrando emoções, nenhum dos livros selecionados indica a via ideal para
lidar com o fim. Pelo contrário, tratam das experiências individuais e peculiares dos
personagens, que podem ser afastados da realidade do leitor se necessário. Ainda assim, todos
eles foram escritos para crianças. Já foi relatado o caso do menino argentino que não se
conformava com a partida do avô para o céu. A seguir será apresentada a história que o
ajudou a dormir outra vez.
Os dois seguem em diálogos filosóficos sobre o que vai existir depois que o pato
estiver morto. Passam semanas em que os dois seguem juntos, falando pouco, até que o pato
45
sente um vento frio e pede para a morte o aquecer. Quando o leitor vira a página, encontra a
morte sentada, admirando o pato estirado no chão sobre um fundo azul – completamente
destoante do restante do livro, amarelo (ver anexo IV). Pela ilustração, o pato parece flutuar,
mas o texto diz que ele está só deitado.
A morte então o carrega, com a tulipa na boca. Repousa seu corpo no rio e o observa
partir – em clara referência à tradição grega, segundo a qual os mortos eram depostos no rio
Lethe, que os carregava até a morada de Hades. A última página dupla se divide em amarelo e
azul, texto e imagem. A morte observa o rio que cresce. A página final retrata a morte entre
uma raposa e um coelho, fazendo alusões ao ciclo da vida e à cadeia alimentar.
Apesar de o livro falar do mistério da finitude de maneira inquietante e deixar claro
que ninguém tem respostas para o que vem depois da vida, ele explora uma zona de conforto
ao caracterizar o protagonista como um pato, permitindo que as crianças sintam empatia pelo
personagem ao mesmo tempo em que podem se distanciar dele e reconhecer que a história
não é realidade se não estiverem confortáveis com ela.
vácuo é complementada pelo texto da página, que diz “Ele não diz nada. Porque já não está
aqui”,
Não se revela por que Eddie morreu, nem o que aconteceu com ele após a sua morte.
Se por um lado o quadrinho em branco pode ser lido como a sua finitude, também possibilita
uma leitura de página nova, com espaço para uma história nova. E é mais ou menos o que
acontece, pois o livro assume o ponto de vista do pai, da falta que ele sente do filho. El libro
triste mostra que não é fácil seguir em frente, a cada página Rosen tenta vencer sua tristeza
monocromática sem muito sucesso. Tenta diversas alternativas, conversa com amigos, fica em
silêncio, faz “besteiras, como gritar no chuveiro, golpear uma colher na mesa ou inflar e
desinflar as bochechas”. A tristeza é retratada como um processo lento, pouco agradável às
outras pessoas, e Rosen precisa buscar maneiras de recuperar o interesse nas coisas.
Quando fala de suas pequenas alegrias, o livro ganha cores. Uma das coisas de que
Rosen mais gosta são os aniversários – não só os dele, mas também os dos outros. Para
ilustrar a beleza da festa, há uma página dupla cheia de gente, entre elas o autor (alegre), com
tortas repletas de velas na mesa. Ao passar a página, encontra-se Rosen sentado sozinho,
ligeiramente colorido pela luz de uma vela solitária, observando a foto de alguém que o leitor
não pode ver quem é. A página é repleta de silêncios: não tem texto e possui um imenso
espaço em branco. O livro termina dessa maneira, mostrando que talvez os aniversários
tragam lembranças difíceis (ver anexo 5).
El libro triste elabora sentimentos complicados e em uma primeira leitura pode
parecer deprimente. Sua narrativa é de uma solidão muito grande, mas perdoa o leitor que
também tem sentimentos reprimidos de raiva e tristeza. É um texto que abre espaço para uma
conversa que talvez de outra maneira não fosse possível, criando um canal de comunicação
com sentimentos que a criança muitas vezes aprende a repreender. A posição que o autor
assume diante da perda do filho, de incredulidade e raiva, pode ser comum à criança, que se
sente abandonada por quem morreu.
em que outros meninos tremiam. Também conta que, quando era criança, sempre passava
apressado pela estátua de um anjo na praça, mas essa declaração textual não tem nenhuma
relevância sem o suporte da imagem que a acompanha – em que o “espírito” do anjo sai da
estátua e passa a seguir o menino.
Nota-se logo que a relação entre o texto e as ilustrações é desigual e a narrativa visual
poderia existir independente da escrita – segundo a classificação explicada no capítulo 2, este
é um livro-imagem. Diferentemente da maioria do gênero, O anjo da guarda do vovô mostra
a passagem de tempo através das ilustrações. Essa escolha da autora simplifica a narração do
avô, que não possui data ou local de nenhum dos acontecimentos – o que seria de muito pouca
valia para uma criança que ainda não aprendeu História. São as ilustrações que revelam tudo
sobre o passado do velho: ele é alemão, lutou durante a segunda guerra, perdeu um amigo
judeu e passou fome em consequência da derrota de seu país.
A postura do anjo, que é desenhado como mulher, orienta a ação do desenho – ela
ajuda e protege o avô em todas as situações da sua vida, tapando os olhos de quem quer lhe
fazer mal e salvando-o da morte quando se arriscava demais. No entanto, a única menção a
esse anjo no texto é logo no início, quando o avô conta que ia apressado para a escola e
passava pela estátua de um anjo bem grande. Não se pode saber ao certo se o avô sabia da
existência do anjo da guarda – segundo o texto, parece que não. Mas em diversas ilustrações
eles trocam olhares.
O momento derradeiro do avô é representado no texto como se ele estivesse apenas
dormindo “Vovô ficou cansado e fechou os olhos. Eu saí sem fazer barulho”. A maneira
tranquila com que o neto relata essa despedida deixa dúvida – será que ele sabia que o avô
morreu? No quadro seguinte o menino está contente porque faz sol do lado de fora do
hospital. Na ilustração, essa sequência se dá com o anjo acariciando o rosto de olhos fechados
do avô e, na página seguinte, saindo atrás do neto, como se agora fosse olhar por ele.
O livro tem uma abordagem extremamente religiosa da vida, mas curiosamente neutra
diante da morte. Há um anjo da guarda que zela pelo homem vivo, mas quando o deixa
quando morre. Apesar da religiosidade, o livro consegue tratar a finitude como um mistério.
Não seria adequado a qualquer criança, de qualquer religião. Mas no universo das respostas
teológicas, é um livro que permite a dúvida.
48
5.4 Vovô
John Burningham, o autor, possui um trabalho interessante e peculiar com ilustrações.
Famoso por brincar com páginas duplas, em Vovô faz uma curiosa brincadeira com o tempo,
criando uma analepse – os tempos das páginas da direita, coloridas, podem ou não ser os
mesmos das páginas da esquerda, a lápis. Ao abrir o livro, o leitor mergulha nos diálogos
entre neta e avô, sempre curtos e simples. As falas da neta são escritas em itálico e as do avô
com o tipo regular. As imagens ocupam o maior espaço no livro, mas dependem do texto para
terem sentido - são as características de um livro ilustrado vistas no capítulo 2.
Ao longo das vinte e oito ilustrações que compõem a história, os únicos personagens
do tempo presente são avô e neta, e tem-se a certeza de que os dois possuem uma relação
muito próxima. Participam das mesmas atividades, compartilham memórias, projetos e
brincadeiras. Os desenhos da página esquerda, a lápis, sempre complementam o que acontece
no tempo presente da imagem à direita – são memórias do avô, que ele conta no presente; ou a
imaginação da menina; ou o lanche da tarde que eles vão fazer depois da praia. Pode-se dizer
que os desenhos a lápis representam ideias enquanto que os desenhos coloridos são
concretudes.
Então o avô adoece. “Hoje o Vovô não pode sair para brincar”. O texto aparece sem
itálico, anunciando que a frase é do avô, e não da neta. Na ilustração a lápis da página
esquerda há uma bolsa de água quente, termômetro e remédios sobre uma bandeja que flutua
(não é carregada por ninguém, não está apoiada em lugar nenhum). Na página esquerda, o avô
está sentado em uma poltrona com um cobertor sobre as pernas, a cores. Aqui a lógica de
ideias e concretudes é rompida, não se pode mais identificar a relação exata entre os desenhos
a lápis e a cores. Ao virar a página, o avô parece se recuperar. A relação entre as imagens
volta a ser como antes – a neta sugere que viajem à África e na página da esquerda aparece
um barco, ou seja, o desenho a lápis ilustra um projeto futuro, uma ideia.
Na próxima virada de página não há texto. A neta foi desenhada na esquerda, a lápis,
fitando a poltrona vazia que está na direita, a cores. Há um imenso silêncio na relação da
menina com essa ausência. A página final do livro, logo depois desta dupla, é uma grade
incógnita. Vê-se o sol baixo e uma menina de cabelos compridos empurrando um bebê em um
carrinho. Nas palavras de Peter Hunt, “a vida continua? Ou será a infância do avô?” (HUNT,
2010, p. 264.)
49
I don’t understand
the poem about
the red wheelbarrow
and the white chickens
and why so much
depends upon
them.
(27 de setembro)
So much depends
upon a blue car
splattered with mud
speeding down the road5
(4 de outubro)
A professora pergunta a Jack por que ele escreveu sobre um carro azul enlameado e
ele responde que ninguém perguntou o porquê de o poeta ter escrito sobre as galinhas. O
caderno torna-se, então, um espaço de desabafo criativo e catarse, onde Jack pode escrever
sobre o que quiser, sem ser questionado. O elemento do carro reaparece muitas vezes, sempre
tomando a forma de outra poesia.
5
Tradução livre: Eu não entendo/o poema sobre/o carrinho de mão/e as galinhas brancas/e por que
tanto/depende/deles.
Tanto depende/de um carro azul/salpicado de lama/acelerando pelo caminho.
51
I don’t want to
write about that blue car
that had miles to go
before it slept,
so many miles to go
in such a hurry.6
(17 de outubro)
Ao longo dos exercícios de poesia, surgem mais pistas do que aconteceu com o
cachorro de Jack. Havia um carro sujo de lama. Mais à frente descobre-se que havia uma rua.
6
Tradução livre: O que houve com/o poema sobre o bosque nevado/que você leu hoje?
Por que a pessoa não/continuou andando se tinha/tantas milhas para andar/antes de dormir?
E por que eu tenho que contar mais/sobre o carro azul/salpicado de lama/acelerando pelo caminho?
Eu não quero/escrever sobre aquele carro azul/que tinha tantas milhas para andar/antes de dormir/tantas milhas
para andar/com tanta pressa.”
7
Tradução livre: E os outros cachorros/nas gaiolas/serão mortos/se ninguém os escolher.
52
No dia 14 de março, a professora apresenta o poema “Love that dog” de Walter Dean Myers,
que deixa Jack maravilhado. Ele escreve contando que roubou o livro da professora para
copiar o poema, que pendurou em seu quarto. Explica que gostou do poema porque Myers
fala com o filho como o pai de Jack fala com ele, e também porque era com essa saudação8
que ele cumprimentava seu cachorro Sky9 (é apenas nesse momento que é revelado o nome do
cão).
No dia 14 de maio, Jack escreve para a professora um poema que ele mesmo digitou
no computador. O nome do poema é “My sky” e descreve o exato momento da morte do
cachorro – Jack estava brincando com amigos na rua, o seu pai chegou do trabalho e o
cumprimentou e as crianças maiores gritaram que vinha um carro
so fast
so many miles to go
it couldn’t even stop
and
Sky
was just there
in the road
lying on his side
with his legs bent funny
and his side heaving
and he looked up at me
and I said
‘Sky! Sky! Sky!’
and then my dad
was there
and he lifted Sky
out of the road
and laid him on the grass
and
Sky
closed his eyes
and
he
never
opened
them
again
ever.10
8
Em inglês: hey there!
9
Em português: Céu.
10
Tradução livre: tão rápido/tantas milhas para andar/e/Sky/estava lá/na rua/deitado de lado/com as pernas
dobradas esquisito/suas costelas arfando/e olho olhou para mim/e eu disse/Sky! Sky! Sky!/e então meu
pai/estava lá/e tirou o Sky/do meio da rua/e pôs ele sobre a grama/e/Sky/fechou os olhos/e/ele/nunca/abriu/os
olhos/de novo.
53
Vovó Vivi estava esperando a quinta neta quando se foi. E a esperava com tantos
sonhos quantos os de Verônica, sua nora, mãe de Manuela que, numa das ilustrações
do livro, está no colo da avó, num milagre que só a literatura – ainda que não seja
maior do que a vida – pode tornar real. Pra terminar a história da história (...) quero
falar da inquieta experiência que foi ilustrar o livro (...) limpar as manchas das
minhas tintas, dos meus velhos ecolines, para pintar os cenários da minha própria
vida.
O livro é iniciado pela visão de Nina, recém-nascida, ainda dentro do berçário. Nas
páginas seguintes, a ilustração mostra a família e o crescimento da menina. O texto às vezes é
dividido em estrofes, tem rimas e é recheado de aliterações (“Vovó Vivi vai viver uma nova
vida”; “Vovó é uma vocação irresistível de avó.”). Na página dupla 20 e 21, Ziraldo desenha
com realismo os retratos de viagem com sua esposa, que Nina – com traços de quadrinho –
observa em um álbum (ver anexo X). É o único momento em que há alguma menção ao autor,
para quem reconhece o seu rosto. Na página 25 percebe-se que haverá um ponto de virada:
E o dia amanheceu / mas vovó não apareceu / para o café da manhã. / Vovó não
estava lá / pra fazer a vitamina / que dividia com a Nina. / O que houve com a vovó?
/ Meu Deus do Céu, o que houve? / Estão batendo tão forte, / estão chamando tão
alto: / ‘Vovó Vivi, abre a porta!’ / E a vovó não responde. (ZIRALDO, 2012, p. 26)
55
Quando a porta / do seu quarto / foi aberta / finalmente / com força e ansiedade, / lá
dentro, vovó dormia / serena como viveu.
Vovó dormia para sempre (idem, p. 27)
Nina então aparece na página seguinte inteira, como se fosse vista em contra-plongé.
Parece crescida e se quesiona. Quer saber para onde a avó foi e como vai crescer em um
mundo onde Vivi não está mais. O narrador consola a menina, dizendo que às vezes é preciso
afogar nas lágrimas a dor que não se entende.
Adiante, na dupla página 32-33, há outro espaço de silêncio. O lado par vem em
branco e o ímpar possui apenas um pequeno bloco de texto. O narrador diz para Nina ter
calma, pois há duas razões para não chorar. Virando a página, o leitor depara com uma
colorida ilustração sobre a primeira dessas razões - se não existir mais nada “além desse sono
que vovó está dormindo” (ZIRALDO, 2012, p. 35) a Nina deve se tranquilizar porque a avó
não sofre, está sonhando, e vai ver a neta crescer no seu sono. Passando a página descobre-se
a segunda razão para Nina não chorar. Se depois desse sono há um outro mundo, nesse caso a
avó verá a neta crescer do Céu, pois vai virar um anjo. A ilustração é de Nina em pé sobre a
cama, acenando sorridente para cima. E o narrador conclui:
Desde o princípio deste trabalho, definiu-se literatura como uma escrita sem propósito.
Mas o próprio tema, “representações da morte”, parece contradizer essa definição, pois se os
livros são sobre morte eles teriam o propósito de comunicá-la. O capítulo anterior reforçou
que há uma variedade de meios de representação e de literaturas possíveis em que a morte
acontece e tem impacto no texto, mas não é o único motivador para que a leitura aconteça. A
diferença entre os livros com o propósito de tratar da morte e os que simplesmente tratam é
mais ou menos a mesma que um livro de autoajuda ensinando a superar o luto e o Apanhador
no Campo de Centeio, onde a morte precoce de Allie é ressentida por Holden e trabalhada
implicitamente ao longo de todo o livro.
Os contos de fada nos trouxeram a certeza de que um texto sofre influências diretas
dos valores de uma época, além de terem marcas características da cultura em que estão
inseridos. Isso não significa que não possam ou não devam ser lidos no mundo inteiro, mas
que seu entendimento pode ser diferente de acordo com o contexto do leitor. A representação
da morte neles se dá majoritariamente com um tom religioso ou através de um premonição do
fim, aos moldes da morte domada da Idade Média.
O Pequeno Príncipe e Caindo Morto, exemplos utilizados para falar da morte como
metáfora, ilustraram uma variedade de representação da abordagem muito comum e
geralmente aplicada com crianças, em que o autor cria eufemismos e simbolismos para o ato
de morrer. Ambos os livros tem qualidades no texto maiores do que o tema da finitude,
portanto esse não é o motivador exclusivo da leitura –segundo a definição do capítulo 2, é
possível considerá-los literários. O simbolismo tem, portanto, licença poética, mas pode
confundir a criança – como no caso do menino de Buenos Aires.
No capítulo seguinte foi explorado outra abordagem, a da morte como mistério.
Podemos ainda falar de uma subdivisão nesse grupo, os livros que representam a finitude
como ausência – no caso de El libro triste e Vovô, nos quais a morte foi ilustrada,
respectivamente, como um quadro em branco e uma poltrona inabitada. Confessar para a
criança que nós também não sabemos o que acontece com quem morre é frequentemente
desencorajado, já que a criança não compreenderia a não-existência. Uma experiência
cotidiana me exemplificou o contrário. Uma criança de 5 anos, durante uma brincadeira,
disse-me com tranquilidade que não poderíamos ser amigos para sempre porque quando ele
57
fosse “velhinho” eu não ia mais existir. Este menino há um ano perdeu a avó que “foi para o
céu”, mas compreende sem traumas a ideia de não-existência.
Foram analisados livros cuja simplicidade esconde um vasto leque de interpretações e
significados. Livros em que não há narração textual para guiar a interpretação da morte (Fico
à espera, Vovô), outros em que não há ilustração para suavizar o impacto das palavras (Love
that dog). Houve ainda exemplos em que a relação entre palavra e imagem transcendia
qualquer elaboração verbal que pudesse ser feita na análise – esta, por sinal, foi a maioria dos
casos exemplificados. Mas se foi defendida a ideia da linguagem simples e não-verbal da
criança, como se pode supor que ela tem a capacidade de intuir tantos significados? É
importante salientar que usimples não quer dizer simplória.
Questões parecidas são suscitadas pela poesia infantil. Essa é uma das áreas mais
discutíveis da escrita para criança: existe algo semelhante? A resposta convencional
pode ser a de que a poesia para crianças é uma contradição em termos; de que as
crianças, em virtude de ser crianças, são incapazes de apreciar a profundidade e a
sutileza que concorrem para a composição de poesia. (HUNT, 2010, p. 263)
A análise dos livros infantis mostrou como a ideia de adequação à criança varia de
acordo com a época em que a obra é publicada. O livro infantil tende a representar
comportamentos socialmente aceitáveis – por isso, quando um personagem fica triste ou
retraído, parece sinalizar que esse comportamento é normal às vezes e que não há problema se
nos sentirmos assim de vez em quando. Se a literatura quer se apresentar como via alternativa
para a autodescoberta e o autodesenvolvimento, é preciso que ofereça histórias diferentes em
que o leitor pode se identificar. Mais ainda, histórias com as quais o leitor possa não se
identificar na medida certa, no sentido de querer ler para imergir em uma situação diferente
das que já conhece e que lhe são permitidas.
A finitude e outros tabus, quando abordados de maneira literária, podem deixar o lugar
do proibido. A literatura precisa quebrar os paradigmas que ela mesma constrói de tempos em
tempos se pretende aumentar a riqueza dos catálogos infantis nacionais. Deve-se aproveitar
esta brincadeira de cruzar a linha do real e da fantasia sem riscos – assim, a criança pode tanto
se identificar com o personagem (“é assim mesmo que eu me sinto”) quanto negar sua
verossimilhança se discordar do comportamento, se estiver assustada, ou se não estiver pronta
para encarar o que sente. É ela quem decide no que quer ou não acreditar. Afinal, é só uma
história.
58
7 Referências
ANDERSEN, Hans Christian. Contos de Andersen. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ARIÈS, Philippe. História da Morte no Ocidente. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 2001.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
BAUER, Jutta. O anjo da guarda do vovô. 1 ed. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 23 ed. São Paulo: Paz e Terra,
2009.
BOURDIEU, Pierre. “La jeunesse n’est qu’un mot” IN Questions de Sociologie, Éditions de
Minuit, 1984, ed. 1992, pág. 143-154.
CALI, Davide; BLOCH, Serge. Fico à espera. 1. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
CARROLL, Lewis. Alice’s adventures in wonderland and through the looking glass. Nova
Iorque: Random House, 1992.
CREECH, Sarah. Love that dog. 1 ed. Nova Iorque: HarperCollins Children’s Books, 2001.
CROOK, Sarah Sheets et al. Children and Dying. New York, Health Sciences Publishing
Corp., 1974.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura. 4. ed. São Paulo: Martins Editora, 2006.
ERLBRUCH, Wolf. O pato, a morte e a tulipa. 1 ed. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
59
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo: parte II. 3. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1993.
HUNT, Peter. Crítica, teoria e literatura infantil. 1 ed. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
LISPECTOR, Clarice. A mulher que matou os peixes. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
MIZIELINSKA, Aleksandra; MIZIELINSKI, Daniel. 1 ed. Barcelona: Libros del Zorro Rojo,
2010.
NIKOLAJEVA, Maria; SCOTT, Carole. Livro ilustrado: palavras e imagens. 1 ed. São Paul:
Cosac Naify, 2011.
PISANTY, Valeria. Cómo se lee un cuento popular. 1 ed. Barcelona: Aidós, 1995.
RODRIGUES, José Carlos. O Tabu da Morte. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006.
ROSEN, Michael; BLAKE, Quentin. El libro triste. 1 ed. Barcelona: Ediciones Serres, 2004.
RUDOLPH, Marguerita. Should the children know? Nova Iorque: Schocken Books, 1978.
SENDAK, Maurice. Onde vivem os monstros. 1 ed. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
SILVERSTEIN, Shel. A árvore generosa. 1 ed. São Paulo: Cosac Naify, 2013.