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4.

3 Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra


(com o Memorial do Convento na mão)

A visita ao Palácio Nacional de Mafra integra-se, curricular-

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mente, no estudo das unidades 2 e 3 do Módulo 4, conteúdos a
aprofundar de acordo com o Programa Oficial de História A, do
11.° ano.
Esta atividade ajudará os alunos a:
1. caracterizar o absolutismo joanino;
2. reconhecer na obra Memorial do Convento, de José
Saramago, a crítica à sociedade de ordens setecentista;
3. integrar a edificação do Convento de Mafra no contexto
económico da exploração do ouro brasileiro;
4. apreciar o património artístico representado pelo
Convento de Mafra;
5. descobrir o romance Memorial do Convento (se possível,
em interdisciplinaridade com Português);
6. salientar o papel do povo anónimo na construção da
História.
Vista do Palácio Nacional de Mafra

Nota: O Guião de visita foi elaborado em interação com o romance Memorial do Convento, que se cita. O número
das páginas citadas vai entre parêntesis para o caso de o professor querer alargar a citação.

A – Contexto histórico da construção do Convento de Mafra, ficcionado no


Memorial do Convento

1 O voto de um rei que o povo cumpriu


O romance de José Saramago, Memorial do Convento, começa com a história verídica
do voto de D. João V a um frade franciscano: “Prometo, pela minha palavra real, que farei
construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no
prazo de um ano a contar deste dia em que estamos, e todos disseram, Deus ouça vossa
majestade” (p. 14). Porém, torna-se um “ludíbrio” (p. 266) contar apenas a versão do rei,
e não a do povo que construiu o convento.
A palavra memorial significa o registo de factos memoráveis: ora, muito mais do que a
história de um rei de poder absoluto que se perpetua nos tempos através de uma obra
faraónica (ou, melhor dizendo, joanina), o Memorial do Convento é a história da gente
anónima que viveu nesse Portugal do século XVIII, que acompanhou procissões, que
se deleitou com touradas de morte, que gerou filhos e os perdeu em epidemias e que,
além de todos os seus afazeres, ainda construiu um convento: “Todos os homens são
reis, rainhas são todas as mulheres, e príncipes os trabalhos de todos” (p. 74). Busto de D. João V, por Alexandre Giusti

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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)

2 Um país pobre a nadar em ouro


A vontade de expansão dos franciscanos por meio de um convento em Mafra arrastava-se “desde mil
seiscentos e vinte e quatro, ainda estava o rei de Portugal um Filipe espanhol” (p. 25) e havia sido indeferida
em mil setecentos e cinco. Porém, não bastaria o pedido dos arrábidos para se chegar à construção de
um convento imenso como o que se erigiu. A promessa coincidiu com um dado económico fundamen-
tal: a exploração do ouro do Brasil que permitiu superar a crise financeira do século XVII e investir na
arte, tornada espelho e suporte do poder régio.
A Mafra chegavam os melhores artistas europeus. Do desafogo económico, que se prodigalizou em
dádivas aos grandes e em esmolas ao povo, brotou o cognome O Magnânimo. No Memorial do Con-
vento descreve-se como “el-rei, chegado a Mafra, se pôs, ele, a distribuir moedas de ouro, assim, com esta
mesma facilidade com que o contamos” (p. 138).
Critica-se, no romance, afinal, o (des)governo de Portugal sob a monarquia absoluta, um país que não
faz contas a despesas porque “está longe daqui o fundo dos nossos sacos, um no Brasil, outro na Índia,
quando se esgotarem vamos sabê-lo com tão grande atraso que poderemos então dizer, afinal estávamos
pobres e não sabíamos” (p. 293).

B – A visita

SUGESTÃO: Audição prévia das sonatas para


cravo de Domenico Scarlatti. O músico italiano 3
era mestre da capela real e professor da infanta 1
D. Maria Bárbara. Enquanto personagem do
3 2 3 4 5
romance também é chamado, em tradução livre
e com ternura, Escarlate. Saramago descreve, 1
assim, a sua obra, que imaginou tocada nas mar- 3
gens do rio Caia: “[…] uma música delgadinha, 6
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suavíssima, um tilintar de sininhos de vidro e
prata, um harpejo às vezes rouco, como se a como- 10
ção apertasse a garganta da harmonia […]” 13
17 9
(p. 331).
14 14 8
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17 16 18 16 17

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1 Pátios do convento 7 Sala dos atos 13 Enfermaria


2 Jardins de buxo 8 Sala do capítulo 14 Claustros
3 Celas 9 Sacristia 15 Basílica
Vamos imaginar que somos parte do imenso povo 4 Salão 10 Pátios da basílica 16 Entradas para o palácio
que acorreu a Mafra no dia da sua sagração: “Enfim 5 Portaria-mor 11 Sala de profundis 17 Torreões
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chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira 6 Cozinha 12 Refeitório 18 Galilé
de vinte e dois de outubro do ano da graça de mil sete- 19 Adro
centos e trinta, quando el-rei faz quarenta e um anos
e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que Planta do Palácio Nacional de Mafra
em Portugal se levantaram […]” (p. 365).

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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)

1 A fachada
A visão exterior do monumento é esmagadora: ao centro, ergue-se a basílica com as suas torres sineiras e a cúpula

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imponente; de cada um dos lados, o corpo do edifício estende-se para terminar em torreões de quatro faces. No total,
a fachada virada a poente mede 232 metros de comprimento.
É visível a inspiração do ourives/arquiteto Ludovice na basílica de S. Pedro do Vaticano, pelo neoclassicismo assumido:
no pórtico, as colunas jónicas marcam o ritmo dos arcos e portas que acedem ao átrio ou galilé, enquanto o frontão
apresenta, no tímpano, imagens da Virgem com o Menino e Santo António (a quem o convento é dedicado), do mes-
tre escultor italiano Giuseppe Lironi.
Escutemos: somos recebidos por um concerto! Os dois carrilhões de Mafra, encomendados por D. João V aos melhores
artesãos de Antuérpia e Liège, tocam pela primeira vez a 22 de outubro de 1730. Subiremos, depressa, os degraus que con-
duzem ao vestíbulo, também chamado galilé.

2 A galilé
Seguimos, com o olhar, os volteios
que os mármores policromos fazem
no chão: enlaçam-se o branco com o
amarelo, o vermelho, o azul, o cin-
zento e o preto. Quando levantamos
o olhar, impõe-se a presença das
esculturas de santos importadas de
Itália. Vimos quatro na fachada e
agora temos não menos do que
catorze! Saramago imaginou as está-
tuas conversando em círculo na vés-
pera do dia em que seriam colocadas
nos seus nichos:

“O luar ilumina de frente as duas gran-


des figuras de S. Sebastião e S. Vicente,
as três santas no meio deles, depois
para os lados começam os corpos e os Galilé
rostos a encher-se de sombras, até ao
completo negrume em que se escondem S. Domingos e Santo Inácio, e, injustiça grave se já o condenaram, S. Francisco de
Assis, que merecia estar em luz plena, ao pé da sua Santa Clara […]” (p. 343) “Fosforeciam como sal. Apurando o ouvido,
percebia-se daquele lado um rumor de conversação, seria um concílio, um debate, um juízo, talvez o primeiro desde que par-
tiram de Itália, metidos em porões, entre ratos e humidades, atados violentamente nos conveses, porventura a última fala
geral que poderiam ter, assim à luz da lua, porque não tarda que sejam metidos em seus nichos […].” (p. 345).

Para termos uma ideia da importância que a escultura virá a assumir em Mafra, basta referirmos que, mais tarde, no
reinado de D. José I, será criada a Escola de Escultura de Mafra, dirigida por Alexandro Giusti. A coleção de arte sacra
do palácio exibe aos visitantes algumas das melhores produções da Escola de Mafra.

3 A Basílica de Nossa Senhora e de Santo António de Mafra


D. João V fez coincidir a sagração da basílica com o dia do seu quadragésimo primeiro aniversário, que calhava a um
domingo de 1730. Esta decisão obrigou a recrutamentos forçados de mão de obra, concentrando em Mafra cerca de qua-
renta mil trabalhadores que Saramago compara a “um gigantesco dragão deitado, respirando por quarenta mil foles” (p. 344).

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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)

Entramos dentro da igreja com planta em cruz latina e caminhamos pela nave central. Chegados ao transepto, obser-
vamos a capela-mor. Por cima do altar, permanece o retábulo do pintor italiano Trevisani, pintura a óleo datada do
segundo quartel do século XVIII, que representa a Virgem mostrando o menino a Santo António. Olhemos ainda mais
acima e temos um crucifixo de jaspe com mais de quatro metros de altura. De cada um dos lados, varandas e colunas.
Se, no exterior, toda a vila de Mafra ressoava com os sinos, aqui, dentro da basílica, os fiéis podiam deleitar-se com os
concertos dos seis órgãos que D. João V encomendou na Itália. Deterioraram-se e aqueles que vemos, hoje em dia,
datam do reinado de D. João VI.
A basílica tem, ao todo, onze capelas. No cruzeiro da basílica (cruzamento da nave central com o transepto) olhemos
para o alto: deslumbre! Um zimbório com 65 metros de altura ilumina a igreja. Não estava completo no dia de anos do
rei: “a sagração é já no domingo e todos os cuidados e trabalhos serão poucos para dar à basílica um ar composto de obra
acabada, está concluída a casa da sacristia, mas sem reboco nas abóbadas, e, como ainda conservam o simples, se manda-
rão cobrir com pano de brim engessado, a fingir de guarnição de cal, para parecer com mais asseio, e à igreja, como falta o
zimbório, do mesmo modo se disfarçará a ausência” (p. 341). Tal como acontece na cúpula da basílica de São Pedro, em
Roma, e na da Catedral de Santa Maria das Flores, em Florença, foram construídas duas cúpulas concêntricas, com
espaço entre si. A cúpula de Mafra é rematada por um bloco com oito janelas redondas.
Se olharmos, neste momento, para a zona acima da porta de entrada, vemos a sala da Bênção que, tal como acontece
na Igreja de São Pedro, no Vaticano, tem janelas quer para o interior, quer para o exterior da igreja.
Saímos da basílica pelas naves laterais, protegidas por arcaturas, para vermos a fiada de capelas, três de cada lado.
Aqui existiam pinturas a óleo, como se descreve no romance aquando do dia da sagração: “Este foi o dia de se benzerem
as cruzes, os quadros das capelas, os paramentos e mais objetos de culto, e depois o convento e todas as suas dependên-
cias.” (p. 364). Porém, a deterioração fez com que se substituíssem as pinturas (algumas das quais se encontram no
palácio) por retábulos em mármore de Carrara esculpidos em baixo-relevo. Esta alteração data do tempo em que o
convento foi entregue aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, no reinado de D. José I. A Basílica é, assim, o melhor
local para estudar a escultura do século XVIII em Portugal.

4 O palácio
Sabemos que a intenção expressa por D. João V era a de construir um convento. No entanto, grande parte do edifício
destinava-se à estadia temporária da família real e do patriarca de Lisboa. É, pois, uma “casa de campo” do rei, não
muito distante de Lisboa, composta por 666 divisões! Estas ocupavam toda a fachada poente (excetuando a basílica
mas incluindo os dois torreões) e o terceiro piso das frentes norte, sul e parte da frente nascente. Focaremos a nossa
atenção nas seguintes:

1) Sala da Bênção. Aqui encontramo-nos, já, em território secular, porém,


os mármores policromos e as pilastras dóricas remetem-nos para a
ornamentação da basílica. As duas frentes da sala reforçam essa
ambivalência entre o sagrado e o profano: das três janelas que dão
para a basílica o rei podia assistir à missa, enquanto das três outras
que dão para o terreiro podia o monarca, ou o patriarca, mostrar-se ao
povo em toda a sua magnificência: “Eram cinco horas quando o
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patriarca começou a missa de pontifical […] dali subiu à tribuna da casa


de Benedictione para lançar a bênção ao povo que esperava cá fora,
setenta mil, oitenta mil pessoas, que num grande sussurro de movimentos
e vestes se derrubaram de joelhos no chão, momento inesquecível, por
muitos anos que eu viva […]” (p. 366).

Sala da Bênção

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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)

A varanda da janela central é feita de uma só pedra de “sete metros [de comprimento], três metros [de largura] e sessenta

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e quatro centímetros [de espessura]” (p. 253): partindo destes simples dados, Saramago construiu uma jornada épica
descrevendo a viagem da pedra entre Pero Pinheiro e Mafra sobre um carro gigante, “espécie de nau da Índia com
rodas” (p. 249), puxado por duzentas juntas de bois.
No final da travessia: “Quando entraram no terreiro, foi como se estivessem chegando duma guerra perdida, sujos, esfarra-
pados, sem riquezas. Toda a gente se admirava com o tamanho desmedido da pedra, Tão grande. Mas Baltasar murmurou,
olhando a basílica, Tão pequena.” (p. 274)
De facto, pequena, se comparada com os quase quatro hectares de obra construída. E, afinal, para quê este esforço? Para
que, nos nossos dias, um guia do monumento diga aos visitantes que “o peso da pedra da varanda da casa a que se cha-
mará de Benedictione é de trinta e um mil e vinte quilos, trinta e uma toneladas em números redondos, senhoras e senhores
visitantes, e agora passemos à sala seguinte, que ainda temos muito que andar.” (p. 254) A História é um esforço da imagi-
nação e não só uma série de factos. Imaginemos, pois, esses homens que trouxeram a pedra, pois que do rei D. João V
temos o busto no centro da sala para supor as feições (realizado por Alexandro Giusti no reinado de D. José I).

2) Sala de Audiências ou Sala do Trono. Nesta sala o


rei receberia as figuras de maior destaque da
sociedade absolutista. Observem-se as
pinturas murais, de inícios do século XIX:
Domingos António de Sequeira pintou os
quadros com cenas de guerra e as alegorias às
sete virtudes morais. Cirilo Wolkmar Machado
pintou a Alegoria do Olimpo presente na
abóbada (na Sala das Descobertas e na Sala
dos Destinos podem observar-se outros
trabalhos seus).

Sala do Trono

3) Outras salas merecem, ainda, especial atenção: a Sala de Jantar ou Sala da Caça, repleta de troféus de caça nas paredes,
cadeiras e até no lustre; a Sala de Diana, também alusiva à caça; a Sala da Música e os oratórios reais.

4) Aposentos reais. Os quartos dos reis situavam-se no terceiro piso do torreão sul (os quartos de D. Fernando constituem
a exceção à regra) enquanto os das rainhas se localizavam no torreão norte. Separava os monarcas a galeria da fachada
e a das frentes norte e sul. Em 1806-1807, estava próxima a invasão pelas tropas francesas, o príncipe regente D. João
VI e a família real passaram grande parte do tempo em Mafra, acabando, como sabemos, por partir para o Rio de
Janeiro, levando consigo grande parte da riqueza do palácio, talvez adivinhando que este iria servir de quartel-general
para os soldados franceses. O Paço Real assistiu, também, ao fim da monarquia em Portugal: aqui dormiu D. Manuel II
a última noite do seu reinado, antes de partir para o exílio, em Inglaterra. O palácio foi, então, transformado em museu.

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Guia de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)

5 O convento
A decisão de D. João V de que o Con-
vento de Mafra, em construção, fosse
ampliado para acolher 300 frades, em
vez dos 80 previstos, é tomada por um
capricho, no Memorial do Convento:
“Enfim o rei bate na testa, resplandece-lhe
a fronte, rodeia-o o nimbo da inspiração, E
se aumentássemos para duzentos o con-
vento de Mafra, quem diz duzentos, diz
quinhentos, diz mil […] Sejam trezentos,
não se discute mais, é esta a minha von-
tade” (pp. 291-292).
Sendo o monumento composto por
duas secções retangulares contíguas, o
convento integra-se naquela situada por Claustros do Convento de Mafra
detrás da basílica, para onde a obra se
teve de expandir à custa de duros trabalhos de rebentamento de pedra.
Trata-se da parte menos exuberante da obra joanina. O claustro (Jardim do Buxo) constitui um bom exemplo de como
a parte conventual da obra foi relegada para segundo plano, em favor do palácio.
O convento compreende as celas dos frades, a enfermaria, uma farmácia, a cozinha e a biblioteca. Estava incompleto
aquando do 41.° aniversário do rei (no Memorial do Convento refere-se que “antes da sagração se mudarão os noviços
para duas casas já construídas por cima da cozinha […]” (p. 342).

1) A biblioteca

No lado nascente, no
quarto piso, vale a pena
determo-nos na biblio-
teca. Esta sala de 86
metros de comprimento
só recebeu os livros no rei-
nado de D. Maria I.
Os mármores do pavi-
mento e as estantes, em
estilo rocaille (ou con-
cheado, dada a profusão
do motivo da concha
empregue neste estilo),
datam do reinado de D.
José I (arquiteto Manuel
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Caetano de Sousa).
Era aqui, na biblioteca, que
os infantes praticavam um
divertimento inédito: cami-
nhar sobre patins.
Biblioteca do convento

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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)

As estantes, com medalhões que exibem os bustos de autores clássicos, albergam verdadeiras preciosidades, entre as quais

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uma primeira edição de Os Lusíadas, 22 incunábulos, cadernos de música e dois forais de D. Manuel I. No total, são 40 000
livros que os investigadores podem consultar. Uma curiosidade: a biblioteca é habitada por morcegos que contribuem para
a conservação dos livros: é que a sua dieta diária inclui os parasitas que roem papel. Abençoados morcegos conventuais!
Já não há frades em Mafra desde 1834, pois os liberais decretaram a extinção das ordens religiosas em Portugal. O Real Con-
vento de Mafra passou, então, a fazer parte da Fazenda Nacional. A igreja passou, também, para o Estado e serve de paró-
quia à vila de Mafra.
Atualmente, o espaço do convento é sede da Escola Prática de Infantaria.

6 A Tapada Real
Este terreno com mais de 1000 hectares foi adquirido por D. João V nos anos 40 do século XVIII. Era utilizado como
reserva de caça (de javalis, gamos, aves), como local de passeio pelos seus pinhais e matos e como fonte de abasteci-
mento de água. No meio desta reserva natural podemos, ainda, encontrar o Chalê d’El-Rei de D. Carlos e D. Amélia.

Em conclusão: Depois da sagração, as obras continuaram sob a direção de Custódio Vieira, tendo terminado, oficial-
mente, em 1750, data da morte de D. João V. Apesar dos acrescentos em reinados posteriores, a obra de Mafra carac-
teriza-se pela unidade estilística. Resistiu ao terramoto de 1755 e às invasões francesas. De lá partiu a família real para
o Brasil e num dos seus quartos dormiu D. Manuel II a última noite do seu reinado e de oitocentos anos de monarquia.
Obra polémica pelo gigantismo, continua a dividir as opiniões de quem a visita: “montanhão de pedra” (p. 106) e
“bisarma” (p. 306) foram alguns dos epítetos que Saramago lhe atribuiu. Mas, no final de contas, dedicou-lhe 373 pági-
nas inesquecíveis, um monumento literário não menor do que o dito convento de que fez memória.

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