VisitaMafra PDF
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Nota: O Guião de visita foi elaborado em interação com o romance Memorial do Convento, que se cita. O número
das páginas citadas vai entre parêntesis para o caso de o professor querer alargar a citação.
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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)
B – A visita
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chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira 6 Cozinha 12 Refeitório 18 Galilé
de vinte e dois de outubro do ano da graça de mil sete- 19 Adro
centos e trinta, quando el-rei faz quarenta e um anos
e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que Planta do Palácio Nacional de Mafra
em Portugal se levantaram […]” (p. 365).
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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)
1 A fachada
A visão exterior do monumento é esmagadora: ao centro, ergue-se a basílica com as suas torres sineiras e a cúpula
2 A galilé
Seguimos, com o olhar, os volteios
que os mármores policromos fazem
no chão: enlaçam-se o branco com o
amarelo, o vermelho, o azul, o cin-
zento e o preto. Quando levantamos
o olhar, impõe-se a presença das
esculturas de santos importadas de
Itália. Vimos quatro na fachada e
agora temos não menos do que
catorze! Saramago imaginou as está-
tuas conversando em círculo na vés-
pera do dia em que seriam colocadas
nos seus nichos:
Para termos uma ideia da importância que a escultura virá a assumir em Mafra, basta referirmos que, mais tarde, no
reinado de D. José I, será criada a Escola de Escultura de Mafra, dirigida por Alexandro Giusti. A coleção de arte sacra
do palácio exibe aos visitantes algumas das melhores produções da Escola de Mafra.
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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)
Entramos dentro da igreja com planta em cruz latina e caminhamos pela nave central. Chegados ao transepto, obser-
vamos a capela-mor. Por cima do altar, permanece o retábulo do pintor italiano Trevisani, pintura a óleo datada do
segundo quartel do século XVIII, que representa a Virgem mostrando o menino a Santo António. Olhemos ainda mais
acima e temos um crucifixo de jaspe com mais de quatro metros de altura. De cada um dos lados, varandas e colunas.
Se, no exterior, toda a vila de Mafra ressoava com os sinos, aqui, dentro da basílica, os fiéis podiam deleitar-se com os
concertos dos seis órgãos que D. João V encomendou na Itália. Deterioraram-se e aqueles que vemos, hoje em dia,
datam do reinado de D. João VI.
A basílica tem, ao todo, onze capelas. No cruzeiro da basílica (cruzamento da nave central com o transepto) olhemos
para o alto: deslumbre! Um zimbório com 65 metros de altura ilumina a igreja. Não estava completo no dia de anos do
rei: “a sagração é já no domingo e todos os cuidados e trabalhos serão poucos para dar à basílica um ar composto de obra
acabada, está concluída a casa da sacristia, mas sem reboco nas abóbadas, e, como ainda conservam o simples, se manda-
rão cobrir com pano de brim engessado, a fingir de guarnição de cal, para parecer com mais asseio, e à igreja, como falta o
zimbório, do mesmo modo se disfarçará a ausência” (p. 341). Tal como acontece na cúpula da basílica de São Pedro, em
Roma, e na da Catedral de Santa Maria das Flores, em Florença, foram construídas duas cúpulas concêntricas, com
espaço entre si. A cúpula de Mafra é rematada por um bloco com oito janelas redondas.
Se olharmos, neste momento, para a zona acima da porta de entrada, vemos a sala da Bênção que, tal como acontece
na Igreja de São Pedro, no Vaticano, tem janelas quer para o interior, quer para o exterior da igreja.
Saímos da basílica pelas naves laterais, protegidas por arcaturas, para vermos a fiada de capelas, três de cada lado.
Aqui existiam pinturas a óleo, como se descreve no romance aquando do dia da sagração: “Este foi o dia de se benzerem
as cruzes, os quadros das capelas, os paramentos e mais objetos de culto, e depois o convento e todas as suas dependên-
cias.” (p. 364). Porém, a deterioração fez com que se substituíssem as pinturas (algumas das quais se encontram no
palácio) por retábulos em mármore de Carrara esculpidos em baixo-relevo. Esta alteração data do tempo em que o
convento foi entregue aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, no reinado de D. José I. A Basílica é, assim, o melhor
local para estudar a escultura do século XVIII em Portugal.
4 O palácio
Sabemos que a intenção expressa por D. João V era a de construir um convento. No entanto, grande parte do edifício
destinava-se à estadia temporária da família real e do patriarca de Lisboa. É, pois, uma “casa de campo” do rei, não
muito distante de Lisboa, composta por 666 divisões! Estas ocupavam toda a fachada poente (excetuando a basílica
mas incluindo os dois torreões) e o terceiro piso das frentes norte, sul e parte da frente nascente. Focaremos a nossa
atenção nas seguintes:
Sala da Bênção
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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)
A varanda da janela central é feita de uma só pedra de “sete metros [de comprimento], três metros [de largura] e sessenta
Sala do Trono
3) Outras salas merecem, ainda, especial atenção: a Sala de Jantar ou Sala da Caça, repleta de troféus de caça nas paredes,
cadeiras e até no lustre; a Sala de Diana, também alusiva à caça; a Sala da Música e os oratórios reais.
4) Aposentos reais. Os quartos dos reis situavam-se no terceiro piso do torreão sul (os quartos de D. Fernando constituem
a exceção à regra) enquanto os das rainhas se localizavam no torreão norte. Separava os monarcas a galeria da fachada
e a das frentes norte e sul. Em 1806-1807, estava próxima a invasão pelas tropas francesas, o príncipe regente D. João
VI e a família real passaram grande parte do tempo em Mafra, acabando, como sabemos, por partir para o Rio de
Janeiro, levando consigo grande parte da riqueza do palácio, talvez adivinhando que este iria servir de quartel-general
para os soldados franceses. O Paço Real assistiu, também, ao fim da monarquia em Portugal: aqui dormiu D. Manuel II
a última noite do seu reinado, antes de partir para o exílio, em Inglaterra. O palácio foi, então, transformado em museu.
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Guia de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)
5 O convento
A decisão de D. João V de que o Con-
vento de Mafra, em construção, fosse
ampliado para acolher 300 frades, em
vez dos 80 previstos, é tomada por um
capricho, no Memorial do Convento:
“Enfim o rei bate na testa, resplandece-lhe
a fronte, rodeia-o o nimbo da inspiração, E
se aumentássemos para duzentos o con-
vento de Mafra, quem diz duzentos, diz
quinhentos, diz mil […] Sejam trezentos,
não se discute mais, é esta a minha von-
tade” (pp. 291-292).
Sendo o monumento composto por
duas secções retangulares contíguas, o
convento integra-se naquela situada por Claustros do Convento de Mafra
detrás da basílica, para onde a obra se
teve de expandir à custa de duros trabalhos de rebentamento de pedra.
Trata-se da parte menos exuberante da obra joanina. O claustro (Jardim do Buxo) constitui um bom exemplo de como
a parte conventual da obra foi relegada para segundo plano, em favor do palácio.
O convento compreende as celas dos frades, a enfermaria, uma farmácia, a cozinha e a biblioteca. Estava incompleto
aquando do 41.° aniversário do rei (no Memorial do Convento refere-se que “antes da sagração se mudarão os noviços
para duas casas já construídas por cima da cozinha […]” (p. 342).
1) A biblioteca
No lado nascente, no
quarto piso, vale a pena
determo-nos na biblio-
teca. Esta sala de 86
metros de comprimento
só recebeu os livros no rei-
nado de D. Maria I.
Os mármores do pavi-
mento e as estantes, em
estilo rocaille (ou con-
cheado, dada a profusão
do motivo da concha
empregue neste estilo),
datam do reinado de D.
José I (arquiteto Manuel
NTEHA11CP © Porto Editora
Caetano de Sousa).
Era aqui, na biblioteca, que
os infantes praticavam um
divertimento inédito: cami-
nhar sobre patins.
Biblioteca do convento
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Guião de uma visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra (com o Memorial do Convento na mão)
As estantes, com medalhões que exibem os bustos de autores clássicos, albergam verdadeiras preciosidades, entre as quais
6 A Tapada Real
Este terreno com mais de 1000 hectares foi adquirido por D. João V nos anos 40 do século XVIII. Era utilizado como
reserva de caça (de javalis, gamos, aves), como local de passeio pelos seus pinhais e matos e como fonte de abasteci-
mento de água. No meio desta reserva natural podemos, ainda, encontrar o Chalê d’El-Rei de D. Carlos e D. Amélia.
Em conclusão: Depois da sagração, as obras continuaram sob a direção de Custódio Vieira, tendo terminado, oficial-
mente, em 1750, data da morte de D. João V. Apesar dos acrescentos em reinados posteriores, a obra de Mafra carac-
teriza-se pela unidade estilística. Resistiu ao terramoto de 1755 e às invasões francesas. De lá partiu a família real para
o Brasil e num dos seus quartos dormiu D. Manuel II a última noite do seu reinado e de oitocentos anos de monarquia.
Obra polémica pelo gigantismo, continua a dividir as opiniões de quem a visita: “montanhão de pedra” (p. 106) e
“bisarma” (p. 306) foram alguns dos epítetos que Saramago lhe atribuiu. Mas, no final de contas, dedicou-lhe 373 pági-
nas inesquecíveis, um monumento literário não menor do que o dito convento de que fez memória.
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