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EVISTA DO INSTI-

TUTO HISTORICO
E GEOGRAPHICO
DE SÃO PAULO
FUNDADO A 1.0.DE NOVEMBRO DE 1894

VOLUME XXV

1927

BENE GESTA PER ANHOS


ET POSSINT SERÂ
POSTERITATERUI.
O PRIMEIRO CENTENARIO
DA
FUNDAÇAO DA IMPRENSA PAULISTA
CONFERENCIA REALISADA A 7 DE FEVEREIRO DE 1927

POR

AFFONSO A. DE FREITAS
(SOCIO BENEMERITO DO INSTITUTO)
O PRIMEIRO CENTENARIO

FUNDAÇAO DA IMPRENSA PAULISTA


(Conferencia realisada no Instituto Historico a
i de fevereiro de 1927 pelo socio benemerito Af-
fonso A. de Freitas).

RECISAMENTE na data de hoje completam-se


cem annos que se imprimiu e circulou o primeiro
jornal paulista. Effectivamente, foi a 7 de feve-
reiro de 1827 que o dr. José da Costa Carvalho,
posteriormente marquez de Montalegre, com-
memorando a passagem do seu 3 1 . O anniversario
natalicio, fez circular o primeiro numero d'"0
Farol Paulistano" - primeiro jornal que se im-
primiu na primeira typographia installada em São Paulo.
Apparentemente, e si considerarmos as épocas em que
muitas das demais provincias do imperio entraram a usufruir
clas vantagens da imprensa local, São Paulo foi um retar-
datario nessa manifestação de progresso.
De facto, antecederam á nossa provincia na criação de
sua imprensa, não só a capital do paiz, que fez circular a
"Gazeta do Rio de Janeiro" a 10 de setembro de 1808, mas
ainda a provincia da Bahia publicando a "Idade d'Ouro" a
14 de maio de 1811 ; a de Pernamb~icocom a "Aurora Per-
nambucana" a 27 de março de 1821; a. do Maranhão com o
"Conciliador" a 10 de novembro do mesmo anno; a do Pará
com o seu "Paraense" em março de 1822; a de Minas Ge-
raes, com o "Compilador MineiroJ' a 13 de outubro de 1823;
a do Ceará com o "Diario do Governo do Ceará" em 1824
e, finalmente, a de Parahyba com a "Gazeta do Governo da
Parahyba do Norte" em 1826.
Mas não se conclua dessa circumstancia que São Paulo
não sentisse, de ha muito, necessidade de imprensa sua: povo
de cultura intellectual não inferior ás das demais províncias do
paiz, sentia elle tanto quanto estas a necessidade premente de
se expandir e de propagar seus ideaes transformando-os em
'opinião collectiva para fazel-os pesar sobre a marcha dos acon;
tecimentos publicos: na carencia de meios regulares de pu-
blicidade, o pendor jornalistico dos paulistas manifestava-se,
desde os tempos coloniaes, pelas esquinas das ruas e portas
das igrejas, erigidas praticamente em "Estatua de Pasqui-
no", e muitas vezes a população madrugadora lia, com intimo
gaudio, desabafos ferinos e criticas amargas aos actos dos
governantes e poderosos do momento, affixados pelo escuro
das noites garoentas.
Conta-nos o grande e saudoso historiador Antonio Piza,
pela carta do tyrannete Luiz Antonio de Sousa, de 3 de
julho de 1767 que, em certo dia, destinado ás orações de
sua excellencia o capitão general, no Recolhimento de Santa
Theresa, corajoso anonymo pregára á porta do templo viru-
lenta sátira taxando o poderoso sátrapa de "destruidor do
povo", o que não deixava de ser verdade e, além do mais,
chamando-o "Fidalgo de aldeia e de meia tigela", offensa
grave a quem se considerava grande senhor e concluindo
pelo desejo de vel-o a elle, capitão general, "posto não me-
nos que na forca" o que, a realizar-se, seria para o fidalgo
governador o supremo oppróbio.
Esta é a mais remota noticia que temos das sátiras
paulistas pre-imprensa. Não sabemos si D. Luiz conseguiu
ou não castigar os desassombrados mofineiros : o certo é que
o habito do desabafo em manuscriptos anonymos, na falta
de secçóes livres de jornaes, permaneceu em São Paulo.
attingido a culminancia do desembaraço na época da inde-
pendencia; as discussões, as sátiras em prosa e verso, os
doestos, ás vezes revestidos de espirito, quasi sempre ferinamen-
te grosseiros, fervilhavam nos pasquins que se multiplicavam
pelos muros da cidade e pelos humbraes dos templos.
Os originaes de duas dessas sátiras foram conservados e
pertencem presentemente ao archivo deste Instituto: nelles
os padres Ildefon~o Xavier Ferreira, Amara1 Gurgel, Ba-
zeiro, Paula Oliveira e o cirurgião-mór Candido Gomide,
pessoas proeminentes do tempo, apparecem cruelmente mal-
tratados.
São dois documentos escriptos em portuguez e epigra-
phados em latim: latim passavel, portuguez ruim.
Já por essa época São Paulo visivelmente se resentia
da falta de imprensa local e os paulistas obtiveram do prin-
cipe d. Pedro, quando daqui partiu em setembro de 1822.
a promessa de lhes enviar da Côrte orna pequena typogra-
phia para uso da provincia.
De facto, a 8 de janeiro do anno seguinte, foi á Junta
Directora da Typographia Nacional, expedida pelo Minis-
terio da Fazenda em nome do imperador, uma portaria or-
denando o encaixotamento de um dos seus antigos prélos,
com todos seus pertences e uma porção de letras sufficien-
tes para sua laboração para ser enviado tudo para São
Paulo e que ao mesmo tempo fossem contratados dois ha-
beis officiaes. um de composição e outro de impressão, com
declaração dos ordenados que deveriam vencer, attentas as
circumstancias da provincia para onde deveriam seguir.
A Junta Directora, desenvolvendo a boa vontade de-
monstrada pelo governo, manifestações de sympathia e inte-
'

resse que em breve espaço deviam esmorecer e para sempre


se extinguirem em relação a São Paulo, separou e encaixo-
tou um velho prélo de ferro fundido, do inventor Stanhope
e que na época, seria o que de melhor e mais perfeito exis-
tisse no Brasil si não estivesse estragadissimo pelo uso, na
idéia, diz a Junta em sua resposta ao governo, de que, exis-
tindo em São Paulo fabrica de fundição de ferro pudesse
elle servir de modelo e em tempo opportuno ser a Imprensa
Nacional supprida de prélos de ferro em substituição dos de
madeira ali existentes "já muito deteriorados e que cada dia
- iam sendo mais".
Haviam sido tambem contratados os artistas que deve-
riam montar e dirigir o estabelecimento com que a munifi-
cencia imperial dava mostras de pretender pagar a divida
contrahida com os paulistas pela acção decisiva de São Paulo
na rnodorrenta questão da fundação do Imperio pelos Bra-
ganças.
Os actos da Junta Directora attinentes aos aprêstos
para a remessa da typograpliia para São Paulo e o contrato
do pessoal para o mesmo fim tiveram plena approvação do
governo imperial que, por officio de 25 de fevereiro do
mesmo anno de 1823, determinou que tudo estivesse prom-
pto á espera do competente "aviso de embarque".
Com esta deliberação esgotou-se a boa vontade, aliás pre-
caria, como todos os factos o provam, do governo de S. M.
Imperial: tal "aviso" nunca foi expedido e todos os nego-
cios que poderiam redundar em beneficio de São Paulo fo-
ram, dahi por diante, votados ao esquecimento, e a beila
provincia que primeiro ouviu o brado da independencia e que
mais collaborou, pela acção poderosa de José Bonifacio, para
a realização do luminoso facto historico da nossa emanci-
pação politica, cahiu no ostracismo, ainda num periodo em
que sua representação nos altos cargos da adrninistraqáo
nacional parecia conferir-lhe as attribuições de arbitro dos
destinos da patria.
Após longos mezes de espectativa a Junta Directora re-
cebeu, não sabemos ' s i com surpreza, a honrosa visita do
titular a cujo Ministerio estavam affectos os negocios da
Imprensa Nacional, e delle ouviu a revogação verbal da or-
dem de remessa da typographia para São Paulo, assim como
'
a determinação do seu aproveitamento nas officinas da "Im-
prensa", sob pretexto de que necessario era o material para
os trabalhos da Assembléa Legislativa Constituinte que se
ia reunir.
Debalde o typographo Gaspar José Monteiro, contra-
tado para seguir para São Paulo, protestou em reiteradas
petiçóes ao imperador contra esse acto, e exigiu o cumpri-
mento do contrato que comsigo houvera firmado a Junta
em nome do governo.
Suas petições foram todas indeferidas após longa pere-
grinação pelos dominios da burocracia e depois de estygma-
tizadas por numerosos despachos prenhes de mau humor.
Igual sorte tiveram os pedidos e as informações dirigidas.
relativamente ao mesmo assumpto, pela junta governativa
de São Paulo e pelo primeiro presidente da provincia Lucas
Antonio Monteiro de Barros.
Este, que tomára posse do seu alto cargo a 1." de abril
de 1824, já a 11 de junho seguinte officiava a Mariano Pe-
reira da Fonseca, futuro marquez de Maricá e então tituIar
da pasta da Fazenda, por onde havia corrido todo o pro-
cesso da cedencia de uma typographia á provincia de São
Paulo, pedindo o cumprimento das promessas feitas pelo
governo, embora viesse o material typographico não mais
gratuitamente, mas a casta de particulares que se prompti-
ficavam a indemnisar o governo geral do justo valor do ma-
chinismo e pertences fornecidos.

"Sendo esta Provincia de São Paulo, diz o


"visconde de Congonhas do Campo nesse do-
"cumento, talvez a unica que ainda não tem na
"sua capital uma officina typographica, tão ne-
"cessaria para dar a devida extensão ás sciencias
"e fazer correr o flux da kivilização, eu não du-
"vido representar a V. Exca. para subir á Au-
"gusta Presença de S. M. o Imperador, afim de
"que se digne expedir as ordens necessarias para
"ser enviada quanto antes a esta cidade a' Im-
"prensa que já estava para isso destinada e prom-
"pta com todos os caracteres e seus pertences,
"e um impressor para seu estabelecimento e di-
"recção; e, quando não possa vir gratuita peço
"ao menos licença para a sua erecção á custa
"dos particulares que não duvidam subscreverem
"para um fim tão interessante".

O ministerio da Fazenda, esgotada sem duvida a série


de evasivas cortezmente possiveis nas respostas aos justos
reclamos de São Paulo, recolheu-se ao mutismo e sem res-
posta ficou o primeiro officio do benemerito mineiro que
com tanto interesse, zelo e patriotismo guiava os destinos
de São Paulo.
Mas o futuro visconde de Congonhas, energico e perse-
verante nas suas resoluções e nos seus intentos, não se deu
.por vencido com o silencio do governo geral, e a 11 de
.agosto, ainda do mesmo anno de 1824, de novo officia, desta
vez, porém, ao ministro do imperio o qual, de facto, era o
presidente do conselho, queixando-se de não ter obtido res-
posta do seu primeiro officio e reiterando o pedido de re-
messa da typographia.
Desta vez a mal ajustada engrenagem do pesado ma-
chinismo burocratico geral moveu-se, e alguma coisa se fez;
alguma coisa que si não teve a significação de um beneficio
aos Paulistas trouxe, entretanto, ao animo destes a con-
vicção de que da administração geral nada de bom deveriam
esperar.
Chegando ás mãos do Imperador o segundo officio do
presidente de S. Paulo, sua magestade determinou em pe-
remptorio despacho, a o ministro da Fazenda que remettesse
a typographia solicitada: - "Ao ministro da Fazenda que
remetta a typogr5phia; quanto ao impressor, pergunte-se
á Junta si tem quem vá" - tal foi o despacho indiscutivel,
claro, decisivo cm sua parte mais interessante, que obteve a
segunda petição do Congonhas do Campo.
Sem embargo da imperial determinação, jamais os Pau-
listas receberam a decantada typographia.
Sente-se dolorosa surpreza e verdadeiro pezar ao lêr-se
no processo dos papeis referentes a o fornecimento a São
Paulo de uma typographia, aliás qodestissima e organizada
de materiaes já extragados pelo muito uso, os despachos
sophisticos e dilatorios, trescalando a chicana, lançados por
altas cerebraçôes taes como a que se cl-iamou Mariano José
da Fonseca o qual nos apparece, entretanto. sempre justa e
igual atravez das "Maximas do Marquez de Maricá".
E não só a má vontade de Maricá veiu contrariar os
desejos e annullar as aspirações de São Paulo nesse nego-
cio de Imprensa: da leitura de quantos papeis relativos a o
assumpto nos chegaram ás mãos, transparece o pouco em-
penho dos dirigentes do primeiro imperio em se tornarem
agradaveis e em fazerem justiça aos Paulistas.
Tambem estes jamais se mostraram em demais confiari-
tes na promettida munificencia da magestade á sombra de
sua complacencia criada na verdejante collina do Ypi-
ranga, e nem esperaram que o famoso "prélo velho com a s
suas pertenças" chegasse a São Paulo para que tivesse este
seli orgam de publicidade.
Emquanto os governos provincial e geral proseguiam na
troca de papeis referentes a o assumpto e o compositor Gas-
par Monteiro, com uma energica e perseverança pouco vul-
gares na época, em pessoas de sua hiimilde condição scrcial,
reclamava reiteradamente dos poderes supremos tia nação
contra a falta de cumprimento do contrato que com elle hou-
vera o governo firmado, apparecia na capital da provincia
a primeira publicação periodica, manuscripta e em caracter
transitorio, mas verdadeiramente iim instrumento de infor-
tnação e de orientação da opinião publica.
Intitulava-se - "O Paulista" -: circulou em julho, ou
agosto de 1823: era bi-semanario e dirigido e redigido pelo
professor de grammatica latina e de rhetorica, Antonio Ma-
riano de Azevcdo Marques, o mestrinho.
Para garantir a vida d'"0 Paulista" foi, com o apoio
da alta' administração provincial, organizado um bem com-
binado plano de publicação e previamente tomado certo nu-
mero de assignaturas do jornal.
Tanto o plano como o projecto, distribuido por Aze-
vedo Marques, annunciando a organização desse plano, são
documentos dos mais interessantes para a historia da im-
prensa em São Paulo, pelo que não nos podemos furtar ac,
desejo de transcrevel-os na integra.

"Prospecto. - Tendo-se incumbido a redac-


"ção de um periodico regular, na forma do plano
"junto, ao autor da folha intitulada - "O Pau-
"lista" - este faz saber aos srs. subscriptores
"que começará desde já os seus trabalhos, fa-
"zendo apparecer ria segunda-feira. proxima, 22
"de setembro, o 1." numero do dito periodico com
"o mesmo titiilo que tinha. Como não é de sua
"habilidade, nem de seus conhecimentos, que são
"nenhuns, que elle espera objectos interessantes
"elle se offerece para inserir na dita folha toda
"e qualquer correspondencia que tiver por objecto
"a causa publica, com a condição, porém de lha
"remetteretn assignada e de ficar o original em
"seu poder para com elle se salvar, todas as re-
"zes que for demandado judicialmente. Adverte
"igualmente que ha de sempre separar similhantes
"correspondencias das outras, pelas quaes quizer
"ficar responsavkl por meio da nota seguinte: -
"O Redactor não fica responsavel pelo que se
11
segue.- Não se obriga, comtudo, a transcrever
16
qualquer peça insultuosa, ou se tendente a sa-
"tisfazer odios particulares, exceptos no caso de
"ter inserido anteriormente alguma coisa que di-
"rectamente accuse a algum individuo, pois nesse
"caso obriga-se por este a inserir a resposta a
"essas accusações em quaesquer termos que seja
"concebida. O .artigo 4." do plano junto fica todo
"a cargo do redactor, pois que elle se incumbe
"de dirigir os trabalhos das copias e por isso o s
"srs. subscriptores podem mandar procurar os
"numeros á casa do redaotor na rua de São
"Bento n. 79, devendo remetter, na fórma do
"plano, a importancia de um mez adiantado, ad-
"vertindo igualmente que cada 8 peças ordina-
"rias farão um mez. De resto o redactor protesta
"que o seu fim principal é conciliar os espiritos
"e fazer convergir todas as opiniões para este
"unico centro - Independencia e Monarchia
"Constitucional.
"Feliz elle si forem ouvidas as vozes com que
"bradar para reconduzir á paz e socego a sua
"querida patria. São ~ i u l o ,17 de setembro de
"1823.
"Plano de um estabelecimento patriotico
"para supprir a falta da typographia. - Como
"desgraçadamente não tem sido possivel a pro-
"vincia de São Paulo obter um prélo para se
"commdnicarem e disseminarem as idéias uteis
61
e as luzes tão necessarias num paiz livre, para
"dirigir a opinião publica cortando pela raiz os
"boatos que os malevolos não cessam de espa-
"lhar para conseguir seus fins occultos é mistér
"lançar mão do unico meio que nos resta. De-
"verá, pois, ser supprida a falta da typographia
"pelo uso de amanuenses, que serão pagos por
"uma sociedade patriotica, e aos quaes incumlle
"escrever o numero de folhas, que devem ser re-
"partidas pelos subscriptores no dia determinado
"para a sua publicação. 1 . O - Em consequencia.
"pois, deve haver um redactor que se encarregue
"de dar duas folhas cada semana, conforme o
"prospecto por elle apresentado; e supondo que
"este redactor ou redactores tomarão esse tra-
"balho sómente por patriotismo, trabalhará gra-
"tuitamente, e fica outrosim a seu cargo dirigir
"e applicar ao trabalho os amanuenses a quem
"se pagará por ajuste. 2." - Far-se-á uma
"subscripção de ,40 assignaturas sendo o preço de
"cada uma de 320 réis mensaes que serão pagos
"impreterivelmente - no dia 1." de cada mez ; e
"como não é possivel dar a cada subscriptor uma
"folha, serão distribuidas a cada 5 subscriptores
"uma folha repartindo-se os subscriptores em 8
"turnos, arranjando-se eni sociedades de 5, dos
"quaes um deve ficar encarregado de procurar
"em casa do redactor, ou onde a este aprouver,
"a folha que pertence ao seu turno e deixará de-
"clarado que recebeu a dita folha. Haverá, pois,
"em casa do redactor uma lista nominal dos
"subscriptores com a declaração dos turnos a
"que pertencem. 3.0 - Repartidos assim os
"subscriptores segue-se que deve o amanuense
"apromptar oito copias de cada folha a qual de-
"vendo ser de folha e meia de papel de peso.
"ou de uma folha de papel ordinario, receberá por
"cada folha 140 réis, que a razão de 16 folhas poi
"semana faz por mez a somma de 10$000,que
"serão pagos a um o« dois amanuenses coilfor-
"me o ajuste. 4." - Nomear-se-á um thesoureiro
"que receberá a quota de cada subscriptor e que
"pagará o ordenado ao ailianiieilse no fim de cada
i'mez, de que deve apresentar uma conta. assim
"como da despeza, etc. que fará com os 2$800
"que restam do total da subscripção, na casa onde
"torem distribuidas as folhas para chegar ao co-
"nl~ecimento dos subscriptores e ficar assim o
"dito thesoureiro a o abrigo de qualduer juizo
"avesso. Este thesoureiro póde ser o mesmo' re-
"dactor, querendo. - 5.0 Como é natural que
"mesmo na cidade e nas diversas villas haja mais
"subscriptores dever-se-ão augmentar as folhas
"na mesma razão de uma fol,ba para cada cinco
"subscriptores e augmentando-lhe assim a som-
"ma da subscripçáo póde augmentar-se o orde-
'i
nado ao amanuense ou crescer o numero delles
"6."- Depois de feita a subscripçáo e apresentado
"pelo redactor o prospecto da folha será tudo
"levado ao conhecimento do exmo. governo, para
"este autorizar unl similhante estabelecimento,
"que sendo desempenhado com a dignidade con-
"veniente será de grande vantagem para esta pro-
"vincia. São Paulo. 20 de setembro de 1823."

Voltemos ao "Farol I'aulistano": circulou o seu prl-


meiro numero pela manhan do dia 7 de fevereiro de 1827.
Imagine-se o alvorôto, a alegria, a satisfação dos paulistas
ao terem entre as mãos, diante dos olhos, o seu primeiro
jornal, -o seu acalentado sonho convertido em realidade!
Nos primeiros mezes de publicidade vinha "O Farol" a
lume apenas uma vez por semana, passando, porém, de junho
seguinte a bi-semariario : seus redactores primeiros foram o
dr. José da Costa Carvalho e Antonio Mariano de Azevedo
Marques, o fundador do jornal manuscripto "O Paulista" e
o mais graduado representante dessa dynastia de jornalistas
\
emeritos que poz a serviço da redacçáo do "Novo Farol" as
pennas brilhantes de José Xavier e Manoel Eufrasio de Aze-
vedo Marques e que fez tlo captiáo Joaquim Koberto o futi-

O primeiro prelo que fuiiccioiiou em São Paulo. Nelle foram im-


pressos o "Farol Paulistano", .'O Observador ~onsfitucioual>',o pri-
mitivo "Correio Paulistano", "O Novo Farol Paulistano", "O Paii-
lista e outros, tendo sido o ultimo a "Sentinella", do dr. João Men-
des de Almeida que circulou de 1876 a 1879.
Sua producçáo era de 26 exemplares por hora.

dador e , por muito tempo, redactor do moderno "Correio


Paulistano".
O primeiro compositor e impressor d'"0 Farol Paulis-
tano" foi o artista José Maria Rôa, hespanhol de origem.
que viveu bastante para ainda trabalhar, embora velho e de-
crepito, no actual "Correio".
"O Farol" era impresso em prélo de madeira, systema
dos mais primitivos; sua impressão, entretanto, era excel-
lente, como se verifica dos numeros ainda existentes, só
apresentando a inconveniiencia da morosidade, pois não per-
mittia a tiragem sinão de 25 exemplares por hora ou 225
por dia de 9 horas de trabalho.

Funccionamento do prjinitivo prélo que imprimiu em São Paulo,


(Caricatura do "Cahri50 por Angelo Agostini).
Nella o homem da manivela é representado pelo Cons. Carráo. o
das tintas pelo Cons. Gavião Peixoto e o impressor por JosL Bonifa-
cio, o moço.

O prélo actual do "Correio Paulistano" produz 60.000


exemplares de jornal em uma hora.
Do prélo primitivo possuimos uma pequena gravura que
foi por nós mandada ampliar.
"O Farol Paulistano" era de feição independente e
usava desassombradamerite do direito de critica; valeu-lhe
essa attitude a instauração, .em janeiro de 1829, de um pro-
cesso crime por abuso da liberdade de imprensa.
Nesse mesmo anno, em outubro, circula "O Observador
Constitucional" semanario' impresso na typographia d"'0
Farol" e segundo perioclico que, na ordem chronologica, se
imprimiu em São Paulo.

PrBlo Marinoni em que actualmente se imprime o "Correio Pau-


listano". Sua tiragem B de 60.000 exemplares por hora.
Compare-se essa producção com a do primitivo prPlo a qual não
excedia a 25 exemplares em igual espaço de tempo.

Era "O Observador" jornal de combate e de critica


vehemente: redigia-o o dr. João Baptista T>ibero Badaró.
Em setembro de 1830 o novo periodico entra em luta
contra a Sociedade PhiIantropica e contra o ouvidor Ja-
piassu', criticando a organização de urila e os actos de outro
e. corn a critica d'"0 Observador", a effervescencia das pai-
xões eleva-se a um grau que, aliás, os ataques do jornalista
não justificam, e formúla ameaças de brutal e cruenta vin-
gança contra a pessoa de Libero Badaró.
Este, avisado por amigos seus, dos odios que se accumu-
lavam e da tempestade que ameçava desabar sobre elle, corre
ás columnas do seu jornal e, no numero 85 de 17 de setembro
de 1830, lança longo e vigoroso artigo cheio de nobreza e
muito elevado pela linguagem, encerrando-o com os seguin-
tes topicos :
"Muito agradecemos a estes amigos; mas altarqente
declaramos que não temos o menor medo de similhantes
ameaças. Aconteça o que acontecer, a nossa vereda está
marcada e não nos desviamos della: não ha força no mundo
uue nos possa fazer dobrar, sinão a da razão, da justiça
e da lei.
Estamos em face do Brasil e para servil-o daremos por
bem empregada a vida. A opinião publica está bem fixa a
respeito de "certa gente"; qualquer attentado lhe será im-
putado, e ficarão com um critne a mais, sem que isso acabe
com os publicos escriptores."
A 20 de novembro seguinte, ás 20 e meia lioras, cáe
Libero Badaró traiçoeiramente varado por bala. Morre o
redactor d'"0 Observador" mas este não interrompe sua
yublicação (*), e a imprensa paulista, regada pelo generoso

( * ) Dois dias após a morte de Libero, a !22 d e Novembro, circnla o


n.O 103 d"'0hservador" ainda estampando varios artigos do mallogrado jor-
nalista e relatando, em artigo assignado -- "Dos Novos Redactores -, a
scena barbara do seu assassinato.
"Recolhia-se o dr. Badaro, diz o articulista, para siia iriorada, ás 10 hoias
"e meia da noite do dia 20 do correntqchegado ii porta deus avistou <leis
"homens sentados. Levantaram-se estes, e lhe disseram, que tendo-lhes o
"ouvidor da comarca (o infame Japi-Assu') feito uma injustiça Acerca de
"uma porção de farinha de trigo, queriam inserisse em sua folha Q Obser-
"vador Constitucional uma correspondencia a esse caso relativo. Respoii-
"deu-lhes o dr. Badaró que era mui tarde para averiguação do caso, e que
"assim houvessem de apparecer na segunda ou terça-feira. Afastarani-se
"os dois facinorosos, como que se queriam partir do lugar, e indo o dito
'.dr. Badaró para subir o degráu da porta lhe descarregaram em pouca d's-
"tancia uni tiro de pistola no haixo ventre, e desappareceram. Depois, ao
"fazer o corpo de deiicto, declarou o ferido serem os dois ntalvados Allemiíes,
sangue do fogoso publicista encorpa-se em frondejante ar-
vore pela multiplicidade de periodicos que se fundaram em
Sáo Paulo.
No momento o ouvidor Japi-Assu foi, pelo clamor pu-
blico, fortemente acusado como sendo o mandante do selva-
gem assassinato, chegando mesmo a ser pronunciado, como
tal, pela justiça publica: entretanto, os ataques que lhe di-
rigia Badaró pelas columnas d'"O Observador" não eram
tle molde a provocar represalias extremas. Criticando com
vehemencia, embora, os actos daqiiella auctoridade judiciaria
jamais cahiu o jornalista em excessos de linguagem capazes
de justificar desforços cruentos e menos ainda eliminat~rios
forçoso é, porém, confessar que "O Observador" não era
propriamente uma pomba sem fé1 e, si não chegou a desco-
medir-se contra Japi-Assú, outras campanhas emprehendeii
iilipriinindo-ll-ies desusada violencia em linguagem sem peias
Uma das victimas dessas aggressões virulentas foi o desem-
bargador Manoel da Cunha de Azeredo Coutinho Souza Chi-
çl-iorro e o artigo ultimo de ataque ao velho magistrado, vindo
a lume 11'"O Observador" 11." 37 de 8 de Março de 1830, beni
niostra o alto gráu de irritabilidade a que se elevava, em
dadas circumstancias, o animo combativo de Libero BadarG.

Náo pretendiamos, diz "O Observador", fal-


lar mais no ce1cDi.c CHICHOKKO, e sim entre-

" o que conheceu pela falla. Não admira que o monstro a quem o inferno
"siiggefiu estes crimes lançasse mão de tal gente, fezes da sociedade, donde
"sahiram. que repelle de si esses rlemeiitos de corrupção; colhe-os o nosso
"governo, a titulo de colonos, são-lhes precisas almas venaes, para substitiiir
' ' 0 5 braços africanos na agricultura, temos os braqos de assassinos.
"Aquelles que nos deviam defender parecem revoltados contra 116s: frr
'.ram conhecidos os assassinos, entretanto as autoridades dominam até qiie o
"povo paulistano amigo d a justiça e zeloso de seus direitos perseguiu os ho-
"micidas, occultos em casa do infame Japi-Assu', e os conduziu a prisxo.
"Deviam immediatamente as autoridades competentes p8r todos os meios para
"que aquelles homens não se evadissem; entretanto passaram-se 12 horas
<'sem que se procurassem os meios de conseguir os facinorosos, então o povo
"já maguado de que se esquecessem da lei, pediu, instou, r por si mesmo
-'offereceu-se para a execução da justiça.
"A voz publico, e as provas at6 aqui colhidas accusam o infame C. L.
gal-o ao bem merecido desprezo de que se faz
credor, porém, como o Telegrapho diz que este
heróe t e m 121.12 seu favor a opinião dos homens
scnsatos da Provincia de São Paulo, e do Impe-
rio: bom he, que digamos duas palavras Acerca
d'elle para que se persuada o servil Telegrapho
(Analysta de Minas) qual a opinião que gosa
n'esta Provincia o inco~nparavel Chichorro. Na
qualidade de Secretario do Governo (logar que
occupou á annos) respondão as raspadellas dos
livros, e o aviso pelo qual foi reprehendido infru-
ctiferamente, pois vergonha querer-nos persuadir
que he qualidade que S. S. não tem: no tempo
que exerceu o logar de Juiz de Fóra de Taubaté,
quiz-nos mimosear proclamando o absolutismo,
para o que convocou a Camara ; e foi tão feliz este
heróe, que sahio absolvido e o mais é, logo des-
pachado ouvidor para esta Cidade.
Quando he preciso indicar em São Paulo o
pessimo dos Magistrados, he o Chichorro, quando
se qiier indicar o homem sem vergonha, he Chi-
cl-iorro, quando se quer indicar o homem desmo-
ralisado he Chichorro, hum sevandija he Chichor-
ro, se se deseja hum'homem sem nenhuma som-
bra de virtudes he Chichorro; em huma palavra
"Japi-Assu', desse horrendo attentado. O coração desse monstro formado
"pela m ã o ' d a s furias, dominado por uma loucura sombria e furiosa, por
"uma ambicão de mercês sedenta era muito capaz de tal crime. No nume-
"ro seguinte daremos de tudo o que houver a tal respeito uma ampla noticia.
"O punhal dos assassinos tem dignamente ornado a mão desses mons-
"tros, que pretendem arrancar-nos a nossa liberdade, cevar sua ambição e
"orgulho nas mercês e honras, que um governo traidor tem prodigalisado
"aos inimigos das instituições juradas, e da reforma da administração pu-
"blica. Marcados pela opinião com a ferrete da infa~nia, fingem despre-
"zal-a; incensando unicamente as aras do poder e d a venalidade. O descre-
"dito geral tem para com o governo achado credito, e titulo de louvores. Pois
"nada valem e podem contra o clarão com que o facho da liberdade da im-
"prensa allumia seus vicios, as suas prevaricações; lancam mão de punhal
"homicida. Pensam assim os miseros suffocar as vozes da liberdade co-
" rajosa.
podemos afiançar ao servil Telegrapho, susten-
tado, protegido e redigido pelo J. J. Lopes, que
se alguma opinião tem o Chichorro nesta Pro-
vincia, he para com os Muleques, e não podia
deixar de assim ser, pois que, similis, similem
querit.
Prova-se tanto a opinião deste Chichorrão,
que nas ultimas nomeações populares que a pouco
acabamos, S. S. apenas contou hum magro voto,
bem duvida por mangação. Será isto força de
opinião? Responda Sr. servil Telegrapho. Quem
gosq da opinião dos homens sensatos não póde
obter nem o logar de bliguin? Venha Sr. Tele-
grapho; feiche os olhos e agarre no primeiro que
encontrar na rua e pergunte-lhe; quem he o chi-
chorro? Certamente hade ouvir huma bellissima
Ladainha, de tal freguez. Sr. Telegrapho se quer
fazer alguma fortuna, se quer grangiar alguma
opinião para 0 seu confrade, tome o nosso Con-
celho, vá para a Turquia, que de certo será alli
muito estimado de todos, porém no Brasil meu
rico Sr. absolutista. não faz colheitas, pois é bem
conhecidinho.
Que parelha bella de tres, piidia sahir da Pro-

"Escreverain Gazetas Analistas, Amigos da Verdade, escrevem Imparciaes,


"Amigos do Povo, Verdadeiros Patriotas; têm com inpunidade proferido as
"maiores brasfemias contra o systema jurado, têm vomitado o fel da calumnia
"contra os liberaes, qual delles foi até :igora assassinado? Nem um; porque
"os liberaes têm usado de modei.ação e tolerancia. Nas fileiras d ~ escri-
s
"ptores liberaes contam-se os benemeritos redactores da Malaaneta. do Dia-
rio de Pernambuco, da Abelha Pernambucana, do Observador Constitncional.
"cortados com o ferro dos assassinos; os liberaes têm esgotado o calix da
"paciencia e da amargura. Tremam de represalias. Tremam da hora fatal.
"Então todo o sangue desses monstros serã pouco para lavar a s nodoas do
"horror que tem manchado as paginas da nossa historia desde a memoranda
"epocha da nossa independencia. - Dos novos Redactores -".
Em sua edição n.0 112, de 24 de Dezembro de 1830. o Obeervadgr Consti-
tucional publica minuciosa biograpliia de 1,ibero BadarO, transcripta da
Astreia do Rio de Janeirb.
vincia de Minas, os CHICHORROS, TELEGRA-
P H O , e ASSIS L O R E N A ! ! ! ! ! !

No mesmo anrio em que é assassinado o redactor d'"0


Observador", apparecem o "Manual dos Brasileiros" e o
"Amigo das Letras", ambos redigidos por estudantes da Fa-
culdade de Direito e, no anno seguinte, 1831, o primeiro
"Correio Paulistano", "O Novo Farol Paulistano", "O Pau-
lista", e "A Voz Paulistana", este redigido por Bernardino
Ribeiro, Joaquim Antão Fernandes Leão e pelo cirurgião-
rnór Candido Gomide, uma clas victimas das verrinas de 1822.
Sendo insufficiente uma unica typographia para a impressão
dos jornaes que se iam criando, installa-se nova officina gra-
phica sob a denominação de "Typographia Patriotica" por
cer sido adquirida com numerario angariado por subscripção
publica, não demorando em surgir terceira typographia. moii-
tada com recursos fornecidos pelo então coronel Rafael To-
lias de Aguiar que, si não era rei, como por disfarçada iro-
iiia o chamavam, teve sempre gestos e attitudes de principe,
si tomarmos esse titulo por synonymo de cavalheirisnlo e de
rectidáo de caracter.
São Paulo desforrava-se do longo tempo que passara
iem imprensa.
Ao apparecimeilto da "Voz Paulistana" seguiu-se o do
" Federalista", o da "Revista Philomathica", do "Paulista
Official", do "O Justiceiro", este fundado e redigido por
padre Diogo Antonio Feijb, do "O Observador das Gale-
rias" e de numerosos outros. Pelo artigo de apresentação
d'"0 Observador das Galerias", cujo primeiro numero cir-
culou a 19 de janeiro de 1838, ficantos inteirados do elevado
conceito em que era ticla a imprensa pelos paulistas:
"E' a imprensa que fórma, que dirige a opinião liacio-
ilal, esta soberana dos Estados. a quem nenhum poder re-
siste. Ella é o unico contrapeso dos inconvenientes dos go-
vernos representativos. Bem que no sentir dos publicistas
modernos sejam os governos representativos os que mais
garantias offerecem a sociedade, comtudo nelles apparecem
partidos e facções que pretendem dominar; estas se arrogam
o exclusivo e intentam convencer que a sua opinião - a
opinião do seu partido - é a opinião nacional."
Em 1839 surge "O Pensador" primeiro jornal porno-
graphico que circulou em São Paulo. Entendamo-nos, entretan-
to, sobre o que se convencionou chamar pornographia em
1839. Pobre pornographia, acanhada e timida, com os seus
vestidos talares mal deixando vislumbrar tornozellos que não
eram bem o principio de umas pernas, como se sentiria ella
constrangicla e tomada de pejo ao ter de se defrontar com
o chamado rtzi artistico dos tempos que correm, nÚ desbriado,
impudico, lascivo, erotico, imperando não mais nas columnas,
esclusivamente, de um jornaleco obscuro e ignorado, porém,
nos bordeis lobregos e tamhem nos que o eufemismo bohe-
mio convencionou chamar "Pensões clzics", d'onde irrompeti
para o eclan, para o palco, para as platéas, para as ruas, para
os salões, infiltrando-se por toda a parte, numa desfaçatez
de meretriz desbragada.
A pornographia de 1839 quasi que poderia viver entre
collegiaes de hoje.. . Tomemos conhecimento de uma das
mais picantes pilherias d'"0 Pensador" :

"ANNUNCIO: - Mr. Toleiráo e Mme. Ex-


"travagancia promettem que nunca mais nas noi-
"tes de luar andarão a cava110 engarupados por
"causa de certos assobios, que lhes deram pas-
"sando unia destas noites pelo Cubatão onde dei-
"xaram a chave das aleluias".

E' dessa época o apparecimeilto d'"A Phenix", jornal


de linguagem violenta quando atacava a acção dos liberaes.
"A Phenix" era redigida pelos drs. Clemente Falcão de
Sousa (o velho) e José Joaquim Pacheco: para se aquilatar
da campanha por ella movida contra os adversarios politicos
basta reproduzir um pequeno trecho do artigo de critica ao
estabelecimento antecipado da maioridade de Pedro 11, in-
serido no seu numero 26, de 2 de dezembro de 1840.
"Conquistando o poder nas praças publicas e invocando
um nome sagrado para todos os brasileiros, proclamaram O
imperador maior, e apossaram-se do poder, fazendo da pessoa
do monarcha um monopolio e do cofre das graças uma moe-
da, com que pagam, não aos benenieritos servidores do Es-
tado, mas aos .seus partidistas, aos que mais suspeitas in-
fundem de antipathia as instituições monarchicas e, conside-
rando-se vencedores, soltaram estes homens contra os ver-
dadeiros amigos da ordem, o mesmo grito que outr'ora sol-
tara contra seus adversarios o feroz gaulês: V a e victis esse!
- Ai dos vencidos ! Ai dos monarchistas !"
Secundando a acção d"'A Phenix" publicava-se, contem-
poraneamente, "O Guarda Nacional Paulista", pequeno jor-
nal anonymo, de linguagem desbragada ás vezes e quasi sem-
pre violenta. . . para a época.
Este jornalsinho que apenas distribuiu 24 edições acre-
ditava-se grande £autor da quéda do Partido Liberal que
houvera estabelecido a maioridade: pelo menos é o que ra-
cionalmente se deduz do seu artigo de despedida do publico
a 20 de setembro de 1841.

"O Guarda Nacional" sahiu d'entre as


"fileiras .e seus camaradas quando viu a pa-
"tria prêsa destes fasciosos (os maioristas) a
"dignidade nacional prostituida por elles, a coroa
"imperial arrastada pelo lodo de sangue de seus
"irmãos nas campinas do Rio Grande do Sul. e
"calcada aos pks de abjectos caudilhos, e a co91~-
"tituiçâo despedaçada.
"Elle se constituiu em vedeta ou sentinella
"avançada, e cumprindo assim sua primeira mis-
"são definida no art. 1.O da lei de sua creação.
"Elle tem deste porto clamado pelas liber-
"dades publicas, pela sustentação da coroa brasi-
"leira e pela manutenção da lei fundamental, cuja
"defesa lhe foi commettida.
"Hoje, que o perigo deminuiu, que o monar-
"cha está livre da oppressão em que o tinham
"os conquistadores de julho, que o governo está
"desaffrontado e em estado de continuar J
"marcha legal, o "Guarda Nacional" vai entrar
"novamente nas linhas de seus irmãos d'armas
"até que novas necessidades reclamem a sua ap-
"parição. . . . . "

"O Guarda Nacional Paulista" atacava de preferencia


os Andradas, Antonio Carlos e Martim Francisco, aos quaes
chamava, entre muitas cousas feias, "eruditos do passado,
mas ignorantes no presente." Chamai , o Sr. Antonio Carlos,
diz o orgam saquarema em um dos seus artigos, chamai o
sr. Antonio Carlos a um exame de direito publico constitii-
cional ou de direito administrativo e vos desenganareis.
Obrigai o Sr. Martim Francisco a seis perguntas sobre
economia politica, sobre finanças e o reconhecereis perfeito
charlatão, que quando muito, devia servir para um collector
de fazenda.

"Fora disso nada mais achareis. E si os dois


,"Andradas fizeram alguma figura em 1822, si ga-
"nharam reputação, não foi isso sinão devido a
"não haver grande numero de homens de illus-
"tração e a não ser preciso para brilhar então,
"sinão o possuir algum talento declamatorio. Ora.
"este na verdade possuem os Andradas, do qual
"se serviram para enthusiasmar o povo, já muito
"devotado á causa de sua independencia."
Ainda bem que se não atreveram negar a eloquencia dos
Andradas.
Para revidar os ataques d"'A Phenix" e d'"0 Guarda
Nacional" no mesmo terreno em que este ultimo se collo-
cara, surgem dos arraiaes do partido liberal, "O Escandali-
zado", "O Escorpião" e a "Monarchia Constitucional" pe-
riodicos de circulação indeterminada, pequeninos de formato,
jornaes lilsectos como então se chamavam, mas por isso mes-
mo de ferrão agudo, penetrante e venenoso. . . . para o tempo.
Appareceu o primeiro numero d"'0 Escatldalisado" a 6
de dezembro de 1840. Sua epigraphe era: Abaixo o validis-
o . . . Abaixo n dictadzwtr dos dezlorisfns. . . . Iwzperc D.
Pedro I I .
u s motivos cle seu apparecimento vinham expressos no
seti bem lançado artigo-programma :

"Quando atrocissimas injurias e calumnias


"são lançadas com profusão sobre todos os ho-
"mens honrados e respeitaveis desta provincia
.'por meia duzia de espiritos mal intencionados é
"dever patriotico esmagar essas serpentes do
"sertão.. . . que acoutadas em nossa terra, que-
"rem com pestiferas baforadas denegrir a honra
''e probidade de nossos patricios, que sempre ti-
"veram o conceito de genuinos constitucionaes,
"amantes tla boa ordem e da monarcliia.
"Em verdade admira que alguns desses arri-
"bados aventureiros, que com insolencia desme -
"dida empregam todos os dicterios mais insul-
"tantes se atrevam a inculcar-se os amigos da
"ordem elles que náo ha dez annos procuraram
"a nossas vistas canonisar a unarchiu e a desor-
"devtz na terra da paz e da tranquillidade: admir.i
"que se não pegem na actualidacle de appellidar
"de inimigos e da monarchia acliielles que sou,
"beram conter nas raias do dever e da obediencia
"os taes arribados, liberacs exaltados, inimigos
"dos moderados e da monarchia, esses que dese-
"javam ver o throno por terra e installada a re-
"publica já e já.
"São estes os novos corifeus da ordem, que
"exhalando o pestifero veneno da calumnia, e o
"vapor infame das injtirias, querem conquistar as
"reputações firmadas dos cidadãos mais conspi-
"cuos de nossa terra. taes como os exmos. Sra.
"Andradas, que ntinca deram quartel á corrupção.
"á immoralidade e á especulaçóes lucrativas da
"facção da Plzeniz, que com a Paz na bocca, e a
"anarchia no coração pretende levar-nos ao pre-
"cipicio.
"O' vbs, especuladores.. ., traficantes de em-
"pregos piiblicos : ó vós, Gararda Nacional Pati-
"lista (de meia cara), calai essa bocca infernal.
"deixai os Paulistas em paz.. . . elles todos miii
"bem sabem, bem conl~ecemvossos intentos; ide
"pregar aos botucudos vobsas doutrinas pestife-
"ras. . . . derramai entre elles todo o fé1 dos vos-
"sos corações, e deixai-nos gosar a tranqitillidadc
"e socego que esperanios do actual governo, unico
"que poderá curar as profundas feridas feitas pelo
"envenenado punl~aldos devoristas.
"Combater, pois. com todas as forças os pla-
"nos dos especuladores e arribados, combater o
"validismo dos devorista>, sustentar o throno do
"Sr. D. Pedro 11, e a constituição do estado, eiq
' I
nossa missão.

E assim era toda a imprensa considerada vermelha, ru-


bra, de São Paulo no tormentoso momento politico de 1840.
Por ella calcula-se o que fosse a imprensa comedida, mo-
32 F U N D A ~ Ã ODA IMPRENSA BRASILEIR'~

derada, e o pavor que a todos infundiam os processos por


abuso de liberdade de imprensa.
E m 1842, redigido pelo deputado liberal dr. Joaquim
Antonio Pinto Junior, o "genistróque "de alcunha, apparece
o "Tebyreçá", obediente á direcção partidaria do brigadeiró
Tobias : seu programma estava perfeitamente definido na
imprecação estampada no alto de sua primeira pagina:
"Maldição aos traidores que compromettem o monarcha!
Maldição aos que se não levantarem para defender a liberdade
em perigo, e que não tomarem por divisa: - Constituição ou
Morte !"
"O Tebyreçá" era o expoente dos ideaes que lavaram o
partido liberal de São Paulo á revolução de 1842, e combatia
com violencia a acção do governo da Provincia, então exer-
cido por Costa Carvalho, o fundador da imprensa paulista.
No seu numero 18 de 13 de abril insere, sob o titulo: -
" O desfecho da crise approxima-se!. . . " um artigo violento
em que diz achar-se o Brasil á beira do abysmo e em plena
bancarrota. Referindo-se ao presidente assevera em lingua-
gem ci-na, não passar de um mentiroso o barão de Montalegre
e conclue affirmando que a "criação do Conselho d'Estado,
verdadeira oligarchia tyrannica, ,que poz em coacção O monar-
clia brasileiro, e que se erguerá sempre como tima barreira
insuperavel, entre o povo e o soberano, para dictar leis a
aii~bos,e governar o paiz a seu geito, acabou de uma vez coiii
a monarchia no Brasil; a lei das reformas judiciarias final-
iiieiite, que foi arrancada em um momento de delirio ao vota
de uma maioria obediente ao poder, acabou tambem com a
liberdade brasileira; deu garrote mortal no pacto fundameii-
tal da nossa associação ! ! ! . . .
Valeu-lhe esse artigo um processo. Comparecendo á pri-
meira audieiicia para que fora intimado afim de responder
pelo crime de abuso de liberdade de itiipreiisa, portou-se clu-
rante ella como si das suas columnas estivesse falando ao
povo. O promotor publico, dr. Francisco José de Lima, pro-
curando não azedar o caso, pede o minimo da penalidade em
que incorrera o "Tebyreçá" sob a justificativa de que "A li-
berdade de imprensa é como um passarinho em que é pre-
ciso pegar com muito cuidado, visto que apertando-se muito,
póde morrer !! !"
O jornal processado, glosando a phrase do accusador
publico, insere na sua edição immediata a seguinte satira
rimada :

"Olá sinhô promotô


Da Bahia Ioiôsinho ! !
Quero pedir-lhe um favô
Não martrate o passarinho ! ! ! .
J

H Y M N O DA BAHIAKADA

Os paulistas são captivo


São captivo dos bahiano.
Que d'elles podem dispo
Como sinhó soherano !

Bahia é cidade
Patllicéa é grota,
Viva Montalegre
Morra ,Patriota ! !

Iôió Barão é bahiano,


E' bahiano o Inspectô,
E' bahiano o Juiz c10 Civre,
E até mesmo o Promotô.

Rahia é cidade
Paulicéa é grota,
Viva Montalegre
Morra Patriota."
E "O Tebyreçá" não foi parar á cadeia porque a reiro-
lução, estalando dias depois em Sorocaha, iiiterrompeu a mar-
cha do processo e a propria publicação do jornal.

Piiito Juiiior o '.Genistró<l~ie"(Caricatura por Angelo Agostini).

Após "O Tebyreçá" appareceram naecapital, entre os


annos de 1848 - 1853, mais 33 periodicos, entre os quaes "O
Ypiranga" em 1849, o segundo da série dos periodicos desse
titulo que deveriam ser criados em São Paulo, todos porta-
vozes do partido liberal. "O Ypiranga" de 1849 foi criado
pelo brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e redigido pelos dr.
João da Silva Carrão, academicos Antonio Ferreira Vianna
e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, com a collaboração
do grande parlamentar Gabriel José Rodrigues dos Santos e
.de Francisco Ignacio Homem de Mello, o que equivale a af-
firmar ter sido um periodico muitissimo bem feito.
"O J7piranga" bateu-se valentemente contra o projecto
de elevação da Comarca de Corytiba á Provincia e curioso é
saber-se as razões em que se estribava para combater o des-
membramento da Provincia de São Paulo.
No seu numero 127 de 10 de setembro de 1850, dizia o
seguinte :
"Sabemos que a opinião, sobre a necessidade de elevar-se
a Comarca de Corytiba, á provincia é.alli geralmente profes-
sada, reputando a separação o unico meio que póde favorecer
Q seu engrandecimento."

"O actual atraso em que se acha, obriga a população a


pensar nas coisas que o podem produzir, e nos meios de ob-
vial-os. E supondo que,só da administração dependem os pro-
gressos sociaes, concluem que a proximidade do governo será
bastante para remover todos os obstaculos que se oppõem
ao seu engrandecimento. E' uma extraordinaria illusão. A
Provincia de S. Catharina, a do Espirito Santo e Rio Grande
do Norte não são inferiores em recursos naturaes á nova
Provincia do Paraná, só10 fertilissimo e outras condições que
a industria póde exigir para desenvolver-se ; e todavia estão
em espantoso atraso, apesar desses recursos, e apesar da pre-
sença da administração. Jamais elegem um candidato seu,
que represente as suas opiniões, os seus interesses, mas são
violentados a eleger os candidatos do governo, a supportar
as administrações imprudentes, cujos desregramentos não en-
contram opposição na fraquesa da população".
Em junho de 1854 circula o primeiro numero do actual
"Correio Paulistano", fundado, como é sabido, pelo capitão
Joaquim Roberto de Azevedo Marques e redigido pelo dr.
Pedro Taques de Almeida Alvim. Até então, haviam appa-
recido na capital da Provincia, nada menos de 63 periodicos,
dos quaes 39 politicos, 13 literarios, na sua quasi totalidade
redigidos por academicos, 1 de industria e agricultura, redi-
gido peIo dr. João da Silva Carrão, barão de Limeira e co-
nego Gonçalves de Andrade, 1 catholico, 5 de critica, 1 por-
nographico e 3 neutros.
Depois do "Correio" numerosos foram os jornaes que
se imprimiram na capital de São Paulo, principalmente redi-
gidos por estudantes: o decennio de 1854-1863 foi o periodo
aureo do jornalismo academico paulista : pertenceram a essa
época as pennas b r i l h ~ t e se as cerebrações privilegiadas de
Couto de Magalhães, Aureliano Tavares Bastos, Duarte de
Azevedo, Felix da Cunha, Bittencourt Sampaio. Homem de
Mello, Martim Francisco, Campos Salles, Florencio d'Abre«,
Aureliano Coutinho, Diogo de Vasconcellos, Rodrigo Octa-
vio, Joaquim Nabuco, Fagundes Varella, Pessanha Póvoa,
Xavier da Silveira, Theophilo Ottoni, Cesario Alvim, Range[
Pestana, Francisco Quirino dos Santos e outros muitos que
na vida pratica tiveram alta proeminencia justificando os
auspicios academicos.
A 7 de setembro de 1864 apparece o "Diabo Coxo", pri-
meiro jornal illustrado que se publicava em São Paulo: era
seu redactor artistico Angelo Agostini que iniciava sua vida
caricaturistica, e redactor Iiterario o já então popular Luiz
Gama.
Viveu pouco o "Diabo Coxo".
No anno seguinte, 1865, fundou-se o "Diario de São
Paulo", redigido, a principio, pelos drs. Delphim de Ulhôa
Cintra e Pedro Taques de Almeida Alvim, depois pelo dr.
João Mendes de Almeida e 'mais tarde pelo dr. Antonio
Prado, passando, a partir de 1869, á propriedade e redacção
do coronel Paulo Delphino da Fonseca.
Foi O "Diario" quem primeiro intercalou illustraçõei
nas columnas do jornalismo e quem, verdadeiramente, es-
tampou nessaas columnas a primeira caricatura.
publicada eni jornal diario de São Paulo. E' deseiiho do gravador
Henrique Schroeder e appareceu na secção "A Pacotilha" do "Diario
de Sáo Paulo" de 27 de Agosto de 1865. I
O redactor pedia aos seus jeitores que voltasseiii a caricatura de
bigodes para cima: nos, aos nossos, fazemos igual pedido.

Em 1866 apparece o "Cabriáo", semanario humoristico


illustrado por Angelo ,\gostini, que iielle se revela o grande
artista do lapis que sempre foi, e redigido pelos drs. Ame-
rico de Campos e Antonio Manoel dos Reis.
Ao "Cabrião" seguiram-se o "Polichinello"~ primoro-
samente illustrado por Huascar de Vergara ; ''O Coaracy",
redigido pelos drs. Americo Brasiliense, Americo de Cam-
pos, Diogo de Mendonça e Luiz Gama e illustrado pelo ar-
tista francez Langlois; e muitos outros entre os quaes a
actual "Platéa" em sua primeira phase de existencia, illus-
trada por Araujo Guerra.
O "Cabrião" mexia muito com os padres e frades, com
os partidos politicos e notadamente com os homens mais em
evidencia desses partidos.
No momento, o mais graduado chefe em actividade, do
partido conservador, tambem chamado "Cascudo", era o dr.
João Mendes de Almeida, que substituira, em influencia, o
dr. José Joaquim Pacheco, já então afastado da politica; ao
tempo, o dr. Antonio Prado, operoso deputado provincial e
brilhante redactor do "Diario de São Paulo" ainda não era
O poderoso chefe que havia de fundar e dirigir a "União

Conservadora". Entre os liberaes José Bonifacio, o moço,


realçava-se como uma das individualidades de maior proemi-
nencia.
Elle, João Mendes e Antonio Prado eram figuras quasi
obrigadas nas caricaturas de Agostini.
Para que se tenha conliecimento mais seguro de como
os primitivos jornaes ilustrados de São Paulo caricaturavam
a politica e os politicos, reproduzimos, a seguir, diversas
charges do "Cabrião" e uma, mais recente, d'"A Platéa".
José Bonifacio - A aguia do Partido Liberal - arrebatando a ser-
pente do despotismo. (Caricatura do Cabrião por Angelo Agostini).

Decididamente São Paulo tomára gosto pela imprensa.


Os jornaes multiplicavam-se e já então appareciam de todos
os matizes e de todos os crédos. . .
. Em 1868, apparece o primeiro jornal evangelico, - "A
Imprensa Evangelica'; -, transferido da Côrte onde fora
creado em 1862.
Em 1874 surge, sob a redacção de Lucio de Mendonça,
o - "Rebate" - primeiro orgam francamente republicano
que circulou na capital: depois vem - "A Provincia de São
Paulo" -, o grande orgam de publicidade que com o advento
da Republica tomou a denominação de - "O Estado de São
P d ~ l 0 ' ' -.
A colonia italiana que se avolumava em São Paulo sente
a necessidade de possuir um periodico em seu idioma, e O
O Partido Conservador, "cascudagem", festejaiido Lima victoria elei-
toral do seu chefe, dr. João Mendes de Almeida, na freguezia da Se.
(Caricatura do "Cabrião", por Angelo Agostini).

- "Echo d'ltalia" - vem a lume em 1882, seguindo-se-lhe,


em 1885, - "L'lmmigrante" - que desapparece no anno
immediato para dar logar a -- "Gli Italiani a1 Brasile" -,
seguindo-se a estes, muitos outros, entre os quaes o -
"Fanfulla" - em 1893 e - "1-a.Tribuna Italiana" -, tendo
"O Diario de são' Paulo", o "Cabriãa" e o "Correio I'aulistano" re-
presentados por Antonio Prado, Angelo Agostini e Joaquim Roberto
de Azevedo Marques fazendo o jogo da peteca. A peteca, no caso, era
o presidente da Provincia, desembargador Tavares Bastos que, repre-
sentando a liga progressista, resultante da fusão precaria do partido
liberal com o conservador náo conseguira, entretanto, agradar a ne-
nhum delles. (Caricatura do Cabrião, por Angelo Agostini).

a laboriosa colonia editado até o presente, cerca de 70 jor-


naes. As colonias hespanholas, franceza, allemã, syria, po-
laca e outras, tiveram e teem imprensa sua na capital.
Após o apparecimento d' - "O Estado de São Paulo"
h surgem, citando sómente os que subsistiram attingindo
a actualidade, o - "Diario Popular" - em 1884; - "A
Platéa" - em 1888; - "O Commercio de São Paulo" -
em 1893 e que desappareceu substituido pelo actual - "Jor-
nal do Commercio" - em 1916; - "O Combate" -, "A
Capitai" - em 1912; - "A Gazeta" - em 1906; a -, "Fo-
lha da Noite", -, - "A Folha da Manhã" -, - "O Diario
da Noite" -, o -- "São Paulo-Jornal" ---.
- "O Povo" -,
- "O Diario Paulista" -, - "A Ronda" - e outros, cada
qual com sua feição propria, constitiiindo, em conjuncto,

Campos Salles homenageado com uni banquete por amigos politicos,


mantem-se em reserva, - equilibrando-se numa linha de reticencias
- durante o agape lauto, s e m nada dizer sobre u politica do momen-
to. (Caricatura d'"A Platéa", por Aiaujo Guerra).

essa formidavel força que o abbade Sieyés affirmava ser o


- "sexto sentido do povo" - e Odilon Barrot, do alto da
tribuna franceza cliamára o - " 4 . O poder do Estado". -
NOTAS HISTORICAS DE ITU'
POR

JOAQUIM LEME DE OLIVEIRA CESAR


NOTAS HISTORICAS DE ITÚ (*I
I

FUNDAÇÃO DE ITO

O anno 1651, decimo primeiro do reinado de D.


João I,V, oitavo Duque de Bragança, foi povoado
o lugar em que assenta a cidade de Itú, por Do-
mingos Fernandes e seu genro Christovão De-
niz; estes, em 1653 alcançaram provisão de Ca-
pella Curada com o titulo de N. S. da Candelaria,
e sua população constava de 444 casaes. E m
1654 foi elevada a cathegoria de Villa, por Gon-

(') Em 1869 o iuustre quão modesto patricio Joaquim Leme de Oli-


veira Cesar publicou, enfeixado em opusculo de 76 paginas, este preciosis-
simo trabalho, resultante das pertinazes e bem succedidas pesquizas levadas
a effeito nos velhos archivos de Itu' pelo perseverante ituano, que os ex-
hauriu na documentação que importava 4 historia do torrão natal.
A edição das "Notas Historicas" distribuida pelo autor acha-se, de hn
muitas dezenas de annos, inteiramente exgottadas e o Instituto Historico
d e São Paulo, prestando grata hdmenagem a memoria da clarividente e
laborioso historiador maximo da bella cidade de Domingos Fernandes e
certo tambem de prestar serviço relevante aos estitdiosos d a Historia
Paulista, reproduz nestas paginas o magistral estudo, o mais completo,
minucioso e documentado sobre o historico dos primeiros tempos da cidade
de Itu' que até o presente tem vindo a lume. (N.d a Redacção).
salo Couraça de Mesquita, e á de Cidade por Lei Provincial
de 5 de fevereiro de 1842, bem assim as Villas de Sorocaba,
Campinas, Taubaté, Paranaguá e Curitiba, hoje capital da
provincia do Paraná. E' cabeça de comarca, e consta de Itú,
Sorocaba e S. Roque. Calcula-se a população do municipio
de 11 á 12 mil habitantes, inclusive a freguezia de Agua-
Chóca. Esta pequena povoação foi elevada a Freguezia a 15
de Maio de 1825.
. A cidade de Itú é illuminada a kerosene desde 7 de se-
tembro de 1864, a expensas do cofre municipal: eram verea-
dores desse quatriennio o Dr. Antonio Francisco de Pauta
Souza, Luiz do Amara1 Carvalho, Feliciano Leite Pacheco,
Joaquim Leme de Oliveira Cesar, Luiz Thomaz Nogueira da
Motta, Matheos Lourenço da Silva Paes, José de Campos
Leite e Luiz Pinto Flaquer.
H a na cidade os seguintes edificios publicas: - A casa
da Camara, que serve tambem para as sessóes do Jury, a
Igreja Matriz, conventos do Carmo e de S. Francisco, (orago
S. Luiz), capella de S. Francisco das Chagas, da Ordem 3.*,
capellas do Senhor Bom Jesus, de S. Kita, do S. Sepulcro, de
N. S. do Patrocinio, de S. João de Deos (na Misericordia),
de N. S. da Boa Morte (no antigo Seminario do Padre Cam-
pos), e do Sr. do Horto, no Asilo dos morpheticos..

CASA DA CAi1IAKA E CADBA

Nos primeiros tempos a casa de camara e cadêa, (da


qual poucos existirão que se recordem) éra um sobrado de
mesquinhas proporções, construido sobre esteios de orindiu-
va, com escada na frente em pleno ár, encostada á parede.
terminando em um pequeno patamar guarnecido de peitoril,
e dava ingresso a sala da camara. Era situada no fundo de
um pequeno largo, que servida tambem de açougue, e de mer-
cado, assistido pelo juiz almotacé, de uma especie de pulpito.
Essa casa em estado de ruina, e o referido largo, foram pos-
suidos por Caetano Novaes Portella que annexou-os ás suas
propriedades. Esse terreno é hoje quintal da casa do Dr.
João Dias Ferraz da Luz, no actual largo do Bom Jesus,
muito posteriormente aberto.
Com o producto da'casa velha mandou a camara cons-
truir os quartos da rua do Commercio, vulgarmente chama-
dos - "Casinhas", donde proveio o nome que outr'ora se
dava a esta r u a ; para esses quartos passaram os açougues,
e até hoje ahi se conservam. - A camara fazia suas sessões
por casas particulares, até que comprou o sobrado de Pedro
Gonsalez no largo da Matriz, (ignora-se a data) e apro-
priou-o, para Paço da Camara e Cadêa. - Foi ahi que a
camara composta dos vereadorei: Joaquim de Alrneida Sales,
Bernardino José de Senna hlotta, Joaquim Manoel Pacheco
da Fonseca e 1,ourenço de hlmeida Leite, recebeu o Decreto
de 13 de novembro de 1823, acompanhado do projecto de
constituição, para a camara sobre elle fazer as observaçóes
que lhes parecessem justas. Para esse fim a camara convo-
cou os homens notaveis, e d'entre elles norneoii uma com-
missão de dez membros, para estudar e apresentar suas re-
flexões a tão grave assumpto. Passado mais de um mez apre-
sentou a commissão o seu importante e extenso trabalho,
assignado: (*) *João Paulo Xavier, *José Galvão de Barros
França, *Diogo Antonio Feijó, José Rodrigues do Amara1
e Mello, Candido José de Senna Motta, Fernando Dias Paes
Leme, *Manoel Ferraz de Camargo, *Francisco Leite Ri-
beiro, Antonio Pacheco da Fonseca e João de Almeida Pra-
do. Destes só tres existem. - As observaçóes ao project*~
de constituição foram enviadas em Officio da camara, com
data de 1 . O de fevereiro de 1824, assignadas pelos supraditos
vereadores. - Muitas copias se tem pedido desse documento
celebre. - Por outro Alvará de 17 de março de 1823, foi

(*) Os nomes com signal são de sacerdotes.


concedido o titulo de "Fidelissima" á comarca de Itú: "por
se ter avantajado a outras povoações no denodo e patriotis-
mo."
Neste edificio ainda se passaram muitos actos de pa-
triotismo. . . e tambem quantas arbitrariedades !. . . Até que
na madrugada do dia 17 de novembro de 1847, a população
foi despertada por signal de rebate; - éra a cadêa que se
incendiava!. . . riunca se soube a origem do facto; feliz-
mente só havia um individuo soffrendo prisão leve.
Em consequencia deste desastre passaram a servir de
cadêa dous quartos do antigo açougue. A camara occiipou
algum tempo primeiro uma cela do convento do Carmo, e
depois o Seminario. A 12 de janeiro de 1848 participou do
incendio ao governo, e só em 4 de março de 1860, doze annos
depois, abriu a camara a primeira sessão na actual Casa da
Camara, ainda em obras.
A Casa da Camara é um edificio de arcliitectura vulgar,
com 22 janellas a roda, situada no largo do Carmo para onde
tem a frente, e alinhada pela rua do Commercio. Possue uma
prisão forte, raramente occupada. Na sala das sessões da
camara só ha de notavel o doce1 com a effigie de S. M. O Im-
perador, e o quadro que contem o mote por Elle feito em
25 de março de 1846, quando aqui esteve, e deu para glosar
a um moço, estudante de latim, Francisco de Paula Camargo,
que dedicára uma poesia á S. M.; e conserva-se rio Archivo
da camara o precioso autographo, que julgamos digno de
occupar um lugar nestas notas, reproduzido de uma copi:i
photographada do original.

O sincero acolhimento
Do fiel povo ituano
Gravado fica no peito
De seu grato soberano.
Nós abaixo assignados confirmamos que a
quadra supra foi composta por S. M. O Impe-
rador D. Pedro 2.0, nesta fidelissima Cidade de
Itú, na noite do dia 25 de Março de mil oito
centos e quarenta e seis.

José Carlos de Almeida Torres.


Manoel da Fonseca Lima e Silva.
José Manoel Carlos de Gusmão.
Nicoláo Pereira de Campos Vergueiro.
Barão de Antonina.
José Martins da Cruz Jobim.
Gabriel José Rodrigues dos Santos.
Joaquim Vieira de Moraes.
Bento Paes de Barros.
Francisco Antonio de Oliveira.
Antonio Paes de Barros.
Francisco Galvão de Barros França.
João Ribeiro dos Santos Camargo.
Joaquim Bento Raymundo de Souza.
Diogo José de Carvalho.
Manoel Martins de Mello.

O Dr. Gabriel José Rodrigues dos Saritos foi quem es-


creveu a authentica supra. S. M. O Imperador depois de ler
a glosa do moço Camargo, que era desfavorecido da fortuna,
perguntou-lhe o que queria, e este respondeu que queria ser
Padre. - E' hoje vigario da Freguezia de Agua Choca.

MATRIZ

A primeira matriz foi erecta em 1679, onde é hoje o


largo da actual, a qual foi edificada pelo Padre João Leite
Ferraz, tio do Padre Francisco Pacheco, benemerito ituano
de quem a seu tempo se dará noticia. O P.e João Leite era
pessoa abastada e empregou quasi toda a sua fortuna nas
obras da matriz e em esmolas aos pobres, com os quaes se
occupou até o fim da vida. Para dar começo a obra tratou
com José de Barros Dias, de Sorocaba. para levantar as
paredes piladas de terra de pedregulho, conduzida de umas
mil braças distante da Villa, de terrenos de sua propriedade,
pela quantia de 600$000 rs. O Empreiteiro veio de Sorocaba
com escravos, bois e carros, e cumpriu a empreitada. O P.e
João Leite mandou fazer as telhas em seu sitio a um quarto
de legoa da Villa, (pertencente depois a o Barão de ItÚ) e,
para transportal-as convidou o povo, e com o clero, em
forma de romaria, foram ao sitio, voltando cada um com as
telhas que podia carregar, até a obra. De então por diante
todos os domingos e dias santos o povo repetia essa ro-
maria até concluir a remoção das telhas.
Foi inaugurada a nova matriz em 1780, sendo vigario
collado o P.e José do Rego Castanho.
Antes que o P. João Leite promovesse a edificação da
iiova matriz, tentou transferir a povoação para o Salto nas
margens do rio Tietê, á 3 quartos de legoa, aonde julgava
preferivel o local. Itú, era o nome dado pelos indigenas á
catadupa que ali existe; é visitada pelos curiosos, que admi-
ram a natureza que ahi se ostenta magestosa. A transferen-
cia não se realiçou; a esse projecto se oppoz Caetano No-
vaes Portella, rico proprietario; houve demanda, e perdendo
o padre nos tribunaes do paiz, recorreu á rainha D. Maria I
em Portugal. Não obtendo solução alguma do recurso, tratou
da edificação da matriz.
A igreja é bem proporcionada, as obras de talha do
altar-mór e dos altares lateraes do arco cruzeiro são de bel-
lissimo gosto; a architectura romana ahi ostenta a sua ma-
gniíicencia, já pela harmonia ? elegancia de suas volutas,
como pela belleza dos seus arabescos. E' um specimen de ar-
chitectura que faz o amador contemplar satisfeito o talento
e bom gosto do artista; infelizmente não ha delle outra no-
ticia senão que chamava-se Guilherme e que fallecéra em
Jundiahy. As bellas imagens de N. S. do Rozario e de S. Mi-
guel, em vu1t.o natural, que occupam os altares lateraes, jul-
ga-se serem obras do mesmo artista. - H a no corpo da
igreja mais quatro altares: o de N. S. das Dores, de S. Ger-
trudes, e os de S. José, e do Coração de Jesus, que ficam fron-
teiros; e cada um delles de gosto diverso. Os dourados dos
tres altares principaes, e as pinturas do tecto da Capella-mór
indicam perfeito conhecimento da arte; - devido, segundo a
tradição, a o pincel de José Patricio da Silva, natural de
Santos; os grandes quadros que ornam o corpo da igreja,
Capella-mór e sacristia são devidos a habilidade de Jesuino
Francisco de Paula Gusmão, depois Padre Jesuino do Monte
Carmelo, de quem opportunamente daremos circumstancia-
da noticia. - Se estes quadros não podem ser comparados
com os dos eminentes artistas, é admiravel, todavia,
que, sem os estudos dos grandes mestres, e dos exem-
plos que nos deixaram por modêlo, Jesuino de Gusmão s6
provas de sua fecunda imaginação nos dá nas pinturas da Ma-
triz, Carmo, e Patrocinio. Por seu turno trataremos destas.
E m 1831 o Padre Elias do Monte Carmelo, digno filho
de Jesuino de Gusmão, auxiliado pelos Ituanos, fez construir
a torre no centro do frontespicio, prevendo a difficuldade
de ter duas, como desejava.
Por esse tempo foi restaurada toda a igreja interna e
externamente, inclusive as cadeiras fixas, a imitação da igreja
do Patrocinio. Dotou a torre de novos sinos e relogio, ci-
borio de ouro para o Sacrario, fornecendo as senhoras itua-
nas o precioso metal, que dispensavam de suas joias. - Dizia
o P. Elias: é uma pena, que as sagradas fórmulas estejam
depositada sem um vaso, do metal com que se adornam OS
cavallos ! -e não foi preciso mais para conseguir o seu fim.
O grande adro da frente do templo, é das pedras de lage,
com degráos a roda; destas lages são tambem calçados os
passeios lateraes das ruas principaes da cidade de Itú. E'
um especie de ardósia azulada, que se fende facilmente, e são
extrahidas das celebres pedreiras, da qual adiante se dará
uma breve noticia.
Finalmente, em 1833 inaugurou-se a matriz, completa-
mente restaurada. Os seis Lustres dos zimborios do corpo
da igreja, foram muito posteriormente doados. - Quanto sof-
freu, porém, o virtuoso P. Elias, para deixar-nos tantas pro-
vas de sua dedicação?!. . A tudo resistiu com admiravel resi-
gnação : quando alguma alma mesquinha se impacientava com
seus pedidos, e aconselhava que recorresse ao governo, elle
respondia: "Não o farei - onde ha bons christãos tambeni
ha bons templos ; não peço para mim !" - A satisfação que
sente o homem util, do bem que faz, é uma compensação das
ingratidões dos contemporaneos. - Ainda bem, que nos é
dado mencionar nestas Notas, mais de uma vez, o nome
deste distincto Ituano, e dizer com o poeta Luzitano:
Ditosa patria que tal filho teve!

CARMO E JAZIGO DA ORDEM TERCEIRA

Foram inuteis as deligencias empregadas para desco-


brir-se algum documento que revelasse a época em que se
erigiu a primeira Ermida de h'. S. do Carmo, que existiu
antes dos actuaes edificios da igreja e Convento. Os mais
antigos livros que poderiam esclarecer, achão-se inteiramente
inutilisados pelas traças, prova do abandono em que os ti-
nham. Pela éra 1765, esculpida no espaldar de pedra do lavi-
torio da Sachristia, se conclue que nessa época já existiam
'
esses edificios. E assim julgamos, que consistiam só na Ca-
pella-mór e sachristia; porque, em 26 de fevereiro de 1779,
14 annos depois, é que a Mesa deliberou que se fizesse a Ca-
pellada. Pelo que se conclue, que tratava-se de fazer então O
corpo da igreja.
A mais antiga data que se encontra de actos (la (3rd.
Terceira é de 1716; disto resulta, que a Ordem 3." de X. S.
do Carmo, conta mais de 150 annos em Itú.
E m 26 de janeiro de 1777, deliberou a Mesa que o I'ro-
ciirador promovesse a cobrança do que se devia á Ordem,
para se satisfazer o importe das 7 imagens para a procissão
do Triumpho, que estavam encommendadas á Pedro da Cu-
nha, do Rio de Janeiro. - Em 15 de agosto do mesmo anno
de 1779, sendo Sub-Prior da Ordem o P. João Leite Ferraz,
resolveram mandar fazer os seis altares para as imagens do
Triumpho, assim como as 7 charolas para as mesmas. Foi
contractado tudo com o mestre Miguel Francisco, pelo risco
que apresentou ; sendo (conserva-se os proprios termos) os
altares a duas dobras cada um, 1 charola grande por 4 dobras
menos 12 tostões (50$000), e seis charolas mais pequenas a
dobra cada uma, importando tudo em 280$400, em 3 paga-
mentos a praso de atino. Mas, passados tres annos, a 12 de
agosto de 1781, é que observaram que os altares "principia-
dos" não estavam em relação ás imagens; resolveram, por-
tanto, adpotar outro risco, que é o dos actuaes altares, a
80$000 rs. cada um, (hoje custariam 10 vezes mais) com praso
de anno e meio.
Tem lugar aqui a verificação de um facto. - Não se
menciona a vinda das imagens, lacuna proveniente da falta
de folha no velho livro. Mas, parece certo, que foi nesta
época que ellas chegaram; porque é então, avista dellas, que
reconheceram a desproporção dos altares e mudaram de pla-
no. Assim, no corrente anno de 1869, tem estas imagens 88
annos de existencia em Itú. Consta de assentos, que mal se
pódem ler, que o transporte das imagens, de Santos para
aqui, coube cada uma a 8 Irmãos 3.os, os quaes fornecera111
os carregadores pretos ou indios para trazerem-nas em rêde.
Toda a despesa do transporte montou á 15$000.
Resolveu a Mesa em 27 de julho de 1782, que, para maior
culto e honra de Deos e de Sua Mãi Santissima, fossem as
missas dos Sabbados, d'ali em diante, acompanhadas da mil-
sica de instrumentos, e a Ladainha e "Flos Carmeli" canta-
das depois da missa, para não ser mais cantochão; pelo que
se daria ao Mestre da Capella, da casa ou da Villa, a quantia
de dez mil réis - por anno.
A primeira procissão do Triumpho (que em Itú se faz
no Domingo de Ramos) teve lugar no anno de 1785, quatro
annos depois de cá estarem as imagens.
Correndo o anno de 1820, o Prior Frei Francisco do
Monte Carmelo observando que a Capella, commum com a
Ordem 3.", ameaçava ruiiia, sem poder remediar o mal, pro-
poz á Ordem de tomar a si a segurança da igreja, e em com-
pensação renunciava por parte do Convento a renda, que
fruia dos toques de sinos, quando exigido por Irmão Tercei-
ro. Convindo nisto a Ordem, mandou fazer os contrafortes
ou barbacans, dos quaes existem alguns além dos novos que
se fizeram ultimamente em 1861. Servem-se do mesmo tem-
pio os Frades e a Ordem, por concordata celebrada, quando
-
convidou-os a virem occupar o Convento, e então se estabe-
leceu a renda acima referida. Outr'ora o Convento possuia
por patrimonio duas florescentes fazendas, cujos doadores se
ignora: a denominada Fazenda-grande, e a de S. Miguel, com
Capella, e alguns casaes de escravos; destes, poucos restam
e vivem como libertos, e a renda limita-se actualmente nos
foros que ainda pagam os foreiros, que occupam uma área
mais ou menos, de 4 leguas por lados.
E m 1861, sendo eleito Procurador o Sr. Ten. Francisco
José d'Andrade, a Mesa o autorisou e elle cuidou logo na
edificação da actual torre, construida de tijolos no lugar da
velha, demolida em 1828 - com 9 annos apenas, com o pro-
ducto da subscripção que agenciou, e pelo desenho e direcçâo
de outro Irmão Terceiro que a isso se prestou generosa-
ment. E m 24 d março de 1862, deu-se começo ás obras,
e tal foi a actividade desenvolvida pelo Procurador, que a 14
de fevereiro de 1863 se collocou no apice da cupula o symbolo
da Redempção, em presença de numeroso concurso de curio-
sos, havendo-se antes recolhido no globo da base da cruz, a
Acta authentica dé toda a solemnidade, assignada pelo Padre
Comimssario, Ir. Prior, e todos os mais Irmãos e pessoas
distinctas que presentes se achavam, bem como as moedas
nacionaes de todos os valores, e tudo convenientemente acon-
dicionado.
No mesmo aiino de 1863, sexido reeleito o Procurador,
passou logo a fortificar novamente a igreja, restaurando-a
toda e addicionando os novos jazigos e jardim, aonde já se
dktinguem alguns tumulos: ao lado destes, se acha uma se-
piiltura com uma simples cruz por distinctivo, e ahi jaz se-
pultado o Ex. Sr. Conselheiro Antonio Francisco de Paula e
Souza, (*) que dous mezes antes se achava no fastigio do
poder, como tniiiistro de Agricultura, Commercio e Obras
Piiblicas ! - "Sic transit gloria mundi !"
As pilastras do portão das grades de ferro que fecham
o jardim são dois monótilhos de 18 palinos, extrahidos da
pedreira de Iages desta cidade, das quaes é lageado o mages-
toso ádro da Igreja, que abranje o jardim e a Capella dos
Jazigos, com 5Om,93 de exteiisão e 7m,26 de largo.
Finalmente, a 15 de outubro de 1863, inaughrou-se com
pomposa festa a Igreja do Carmo. - A Missa e a Oratoria,
que se cantaram nesse dia, foram expressamente compostas
pelo artista Elias Alvares Lobo, ituano distincto, e já muito
conhecido pelas suas bellas composições musicaes.
Não fecharemos este paragrapho sem reparar a falta de
mencionar o custo das 7 perfeitas imagens do Triumpho; esta
lacuna fez-nos compulsar outra vez o velho livro, e encon-
tramos, que a Ordem pagou por ellas 600$OOO rs. a o men-
cionado Pedro Antunes, em 1778.
A construcção da Capella dos Jazigos foi deliberada em
16 de julho de 1839, por proposta do Procurador José Ma-

(*) Os restos rnortaes do dr. Antonio F. de Paula Souza foram tras-


ladados para o cemiterio da Consolação, em S. Paulo, no anno de 1910.
Freitas.
-
noel Lobo; a obra foi interrompida por falta de dinheiro, até
que sendo eleito Procurador o Cirurgião-mór Francisco Ma-
riano da Costa, teve a dita de a concluir em 1842. O quadro
da resurreição de Lazaro, do altar, é trabalho do nosso pres-
timoso patricio Miguel Archangelo Benicio da Silva Dutra,
ha annos residente na cidade da Constituição.

O SEMINARIO DO P. CAMPOS

O finado Padre José de Campos Lara, piedoso e sabio


membro da Companhia de Jesus, de volta do seu exilio de
um quarto de seculo, formou uma chacara em um dos arra-
baldes de Itú, de onde era natural, a qual legou para o esta-
belecimento de um seminario para a educação de meninos
pobres, constando de um sobrado apropriado ao fini; com
uma capella annexa por acabar, que teria a invocação de hí.
S. do Bom Conselho, e um grande pomar, do qual restam
apenas 6 ou 8 frondosas jaboticabeiras, em ala a entrada da
rua fronteira a casa.
O Ir. Joaquim Francisco do Livramento, celebre pelos
seminarios que fundou em diversas provincias, destinados a
educação da infancia, estabeleceu o primeiro em 1822, apro-
veitando essa propriedade, segundo a intenção do doador,
que falleceu em 1816, sem poder realisar o seu plano.
0 s meninos, quando sahiam em corporação, trajavam
garnacha e roquete, capuz azul meia cor, e pendia do pescoço
uma fita azul-clara com uma medalha com o emblema do SS.
Sacramento. Na Capella do seminario, hoje com a invocação
de N. S. da Roa Morte, (*) existe um quadro com os meni-
nos vestidos como fica dito, adorando o Salvador do mundo,
figurado em um Pelicano. Pintou-o o nosso patricio Joaquim
José de Quadros, encommendado pelo Ir. Joaquini Francisco
do Iivramento; este, vendo regularisado o Seminario, en-
tregou a direcção ao P. Manoel da Silveira, e retirou-se para

(*) De N. S. do Bom Conselho, como atraz jA dissemos.


S. Paulo, no anno seguinte de 1823, aonde fundou o semi-
nario de S. Anna.
O Seminario do Padre Campos (ficou assim se cha-
mando o estabelecimento) prosperou por alguns annos, che-
gando a ter uma subvenção concedida pela Assembléa Pro-
vincial. Durante esses annos teve o seminario de passar sob
diversas directorias, e muitas completamente incapazes, até
que, negou-se a subvenção, e deixou de existir o Seminario,
o qual tinha o seu Oratorio em uma sala do edificio, com
todos os paramentos competentes.
A Capella conservou-se por mais de 60 annos, como dei-
xou o P. Campos; - até que em 1863, a Irmandade da Boa
Morte e Assumpção requereu ao Presidente da Provincia,
o Conselheiro Dr. P. Vicente Pires da Motta, que se lhe fi-
zesse entrega da Capella, que já ameaçava ruina, e de todos
os vasos e paramentos pertencentes ao extincto Seminario,
compromettendo-se a reparal-a, e usofruir com a invocação
de sua Padroeira. O Presidente concedeu, e ordenou ao Juiz
de Capellas que a empossasse por inventario, ficando a Ir-
mandade usofructuaria desses bens, pertencendo sempre a o
Seminario, caso se torne a abril-o outra vez.
Empossada a Irmandade desses objectos, começou logo
o incansavel zelador o Ir. Joaquim Januario do Monte Car-
melo, os reparos e outras obras que precisava a Capella; e
com caiim ueuicaqao se houve, que em 15 de Agosto do
mesmo anno de 1863, a Confraria fez a trasladação solemne
de sua Padroeira, com grande satisfação de todos, que viam
aproveitado um edificio julgado perdido.
0 P. Campos em seu testamento declarou ter passado es-
criptura de doação da dita chacara ao Ir. Joaquim Francisco
do Livramento, para nella fundar um Seminario, com o mes-
mo titulo de Senhora do Bom Conselho, (representada n'um
quadro vindo de Roma) no caso, porém, de deixar de existir
o Seminario, declarou que passaria a chacara a seu afilhado
Padre José Galvão de França, filho do Cap. Francisco Gal-
vão de França. Realisada a hypothese, o herdeiro fez valer
seu direito, e o~>portunametltefez doação de todo o predio
aos Reverendos Padres Jesuitas do Collegio de S. Luiz, actual-
mente no Convento dos Franciscanos, para lá edificaretn, 6
vontade, um Collegio proprio.
E m consequencia do que em 25 de dezembro de 1868, o
Rev. Reitor Padre M. Onorati celebrou uma concordata com
a Irmandade da Boa Morte, sobre o uso commum que fariam
da Capella, annexo a qual se edifica o novo, Collegio, ficando
aquella entre a nova e velha fabrica.

SANTA CASA I)E MISERICO'RDIA

A ideia de estabelecer um Hospital de Misericordia tem


mais de 30 annos.
Fallecendo em 1838 o Cap. Caetano Novaes Portella, le-
gou em testamento dous contos de réis, para a fundação de
uma Casa de Misericordia em I t ú ; e se em 2 annos não s e
desse começo a edificação, o legado passaria á S. C . de Mi-
sericordia de Santos. Ao findar o praso acordaram P. An-
tonio Joaquim de Mello (depois bispo), P. Elias do Monte
Carmelo e Joaquim Manoel Pacheco da Fonseca a promover
tima subscripção com aquelle destino, que elevou-se logo a
mais de 6 contos.
Comprado o terreno para a casa e cemiterio, deram
começo aos fundamentos, e ficaram com jús ao legado.
Nessa occasião estavam auzetltes os irmãos Major An-
tonio Paes de Barros, e Capitão-MÓr Bento Paes de Barro:
(depois Barão dc Piracicaba um e outro de Itú) mas quanda
regressaram foi-lhes apresentado a subscripção e assignaram
quantias maiores que as subscriptas. Então declarou o segun-
do, que essa ideia era sua favorita, e que podiam contar todos
os annos com igual quantia, em quanto durassem as obras,
que passaria a tomar sob sua especial protecção.
Animados com este valioso auxilio, mudou-se de plano,
deram maiores proporções ás obras, e em vez de casas ter-
reas projectou-se o nobre edificio que existe, e faria honrz
a qualquer cidade.
Aproveitaram-se da influencia e criaram uma irmandade
em 15 de Março de 1840, e elegeram Provedor ao Capitão
Mór Bento Paes de Barros, que foi reeleko até sua morte. -
E' notavel que o papel da subscripção e documentos primiti-
vos da S. C., desapparecessem. sendo baldadas as deligencias
para descobril-os.
O edificio tem 56 met. de frente, com a Capella de S.
João de Deos no centro, bella imagem, mandada vir de Ge-
nova, pelo muito respeitavel Frei Bartholomeu Marques, que,
como bernfeitor e zelador incansavel da Santa Casa, tem lugar
immediatamente depois do Barão de Itú, e, quanto permittem
a sua idade avançada e enfermidades, ainda é o seu maior cui-
dado, além da direcção de muitas alinas.
Na Capella repousam os restos mortaes do Ex. Barão de
Itú, e, póde-se dizer, o principal fundador da S. Casa; foi de-
pois da declaraçáo de sua decidida protecção, que tiveram as
obras effectivo andamento, sendo tal a confiança que ins-
piraram suas palavras, que descuidaram-se do papel da subs-
cripção! E m fim, a dedicaçiio do Ex. Barão fazia-o chamar
a S. C. sua - filha adoptiva - e assim foi, deixando em
testamento quanto tivessem de legitima seus filhos.
Não obstante envolver-se sempre em o manto da mo-
destia, não escapou a penetração do nosso Monarcha, quan-
do os Ituanos tiveram a dita de o gozarem em 1846; e tão
gravado ficou na memoria do Soberano o sympathico Capi-
tão-Mór Bento Paes de Barros, que, a o apresentar-se a Im-
perial approvação a lista dos que tinham de ser agraciados,
ordenou S. M. se incluisse nella o nome desse digno cidadão.
Infelizmente, a S. Casa e os pobres, perderam o seu mais
caridoso protector no dia 9 de fevereiro de 1858, um quarto
&hora depois do meio dia, em que sua alma subiu a mansão
dos justos, premio merecido pelas suas virtudes.
Succedeu-llie na Provedoria da Irmandade seu filho Dr.
Antonio Aguiar de Barros, na disputada eleição que se se-
guiu; o qual além de ser herdeiro e testamenteiro do finado,
queria tambem ser Provedor. Outros entendiam que, tentl.1
a Irmandade ou a S. Casa grande interesse nesse inventario,
outro deveria ser o Provedor. Narramos os factos simples-
mente.
Em 1861 foi eleito Provedor o Ex. Sr. Barão de Pira-
cicaba, para o seguinte triennio, e só houve outra eleição
'
em 13 de janeiro de 1867.
A Esperan~a,echo da opinião publica, ein varios artigos
clamou pela abertura do Hospital, até que o de 1." de Janeiro
tle 1867, produziu ser inarcada para as 3 horas da tarde do
dia 13, do mesmo mez, a eleição da nova Mesa. No dia e liora
clesignados, reunidos os Irmãos, novas difficuldades se apre-
sentam com visos de adiamento; mas, afinal, procedeu-se a
eleição, e sairam eleitos: Provedor, Frai-icisco de Assis Pa-
checo; Secretario, Cap. Agostinho de Souza Neves; The-
zoureiro, Coronel Francisco Pereira Mendes; Procurador.
Cap. Antonino Carlos de Camargo Teixeira; Irmãos de Mesa,
Dr. Q«eiróz Telles Junior, Dr. Elias Ant. Pacheco Chaves ;
Francisco Correa Pacheco; Major José Egydio da Fonseca;
Estanislau de C. Pacheco, e Joaquim Novaes Portella, e Ca-
pellão, o já ineiicionado F r . Bartholomeu Marques.
Tiveram então aildameilto as obras, e outros arranjos
ilecessarios para a abertura do Hospital, e a 12 de maio, as-
signou a Mesa o contracto para a vinda de quatro Irmãas
de S. José para o serviço das enfermarias, estando desde en-
tão promptas 3 Irmãas do Collegio do Patrocinio, que sul)-
1)riram até virem as que se mandou contractar na Europa.
No Domingo, 16 de Junho de 1867, solemnisou-se, com
toda a possivel pompa, a abertura do Hospital da S. Casa.
Na vespera illumiou-se o edificio, e tocou a banda de
musica, em quanto numeroso concurso de povo visitava a
casa.
No mesmo dia foram recebidos á porta do templo, pelos
membros da Mesa, a Camara Municipal, as autoridades todas,
e a Superiora do Collegio de N. S. do Patrocinio com suas
discipulas.
Cantou missa o Rev. Vigario P. Miguel Corrêa Pacheco,
o Rev. P. Ezechias Galvão da Fontoura o Evangelho, e a
Epistola o Rev. P. Francisco Galváo Paes de Barros ; pregou
o Rev. P. M. Frei Eugenio de Rumilly, digno Reitor do Se-
minario Episcopal de S. Paulo. Este ornamento da tribuna
sagrada, teve prêsa por mais de uma hora a attençáo do
auditorio, sem fatigal-o. - A' tarde desse dia voltaram todas
a s autoridades, como de manhã, e convidados á uma sala.
ahi se formou a Mesa e o Provedor declarou aberto o Hos-
pital da S. Casa; do que se lavrou a respectiva acta, assignada
pelos membros da Mesa e mais pessoas que presentes se
achavam á installação. Nessa occasião o Ex. Sr. Dr. Nebias
improvisou um discurso analogo a o objecto, depois um Ir.
da Mesa, Dr. Queiroz Telles Junior, agradeceu a todos a
aceitação do convite da Mesa, e exortou-os a envidarem os
esforços communç para a prosperidade deste estabelecimento
de caridade.
Finda a assignatura da Acta desceram todos á Capella
e teve lugar o "Te Deum" ; concluida a acção de graças, vol-
taram a sala e foi servido um excellente copo d'agua, reinando
muita alegria e satisíação.
Encetou-se a enfermaria com 4 doentes pobres, e tem
chegado até a mais de 26 por dia, entre pobres e pensio-
nistas.
Finalmente, a Irmandade tem desempenhado o seu dever
com a modica renda de seu patrimonio, que consiste nos
juros de 45:000$000 em apolices. que apenas dão por mez
225$000 réis. Ainda bem que tocou duas loterias a esta
Santa Casa; mas, quando isso se realisará?
Citaremos aqui alguns trechos de um relatorio, que o
Sr. Dr. João Dias Ferraz da Luz, (medico da S. C.). redigiu
com o membro da commissão externa da Camara municipal:
"A Santa Casa de Misericordia o mais authentico e expres-
sivo documento em favor da illustração e philanthropia desta
cidade, funcciona a cerca de dous annos, tendo já presta&
immensos serviços a mais de 200 enfermos pobres e pensio-
nistas que ali encontram excelente tratamento apar de todos
os soccorros espirituaes", - Mostrando a necessidade de
augmentar o pessoal do serviço diz: "Todo o trabalho pesa
sobre as Irmãas de S. José, sobre esses anjos de candura e
de paciencia, sobre essas heroicas de caridade e abnegação,
que coni zelo infatigavel, e com uma dedicação sem limites
não recuam diante de serviço algum, ainda mesma d'aquelles
que os nossos servos e escravos não fariam sem repugnancia;
a o excesso de trabalho, uma dellas, que era Regente, por
tal modo comprometteu a sua saude que difficilmente consi-
guirá se estabelecer.
Refere-se este facto, porque estas virtuosas Irmãas ainda
tem quem as odiem.
Finalmente, no dia 24 de Agosto do corrente anno de
1869 chegaram de uma cidade de França (Chambery) a s
quatro Irmáas contractadas para o Hospital, que possue hoje
um pessoal sufficiente. ,

HOSPICIO DE N. S. DAS MERCÊS

Esta Casa de Educandas foi fundada em 1824, pelo Rev.


P. Elias do Monte Carmelo, de quem já deu-se noticia, e
contem uma bonita Capella com aquella invocação. Este es-
tabelecimento foi destinado e serviu de abrigo ás meninas
pobres e desvalidas, que ahi recebiam a educação conveniente
ao seu estado, e exerciam todos os serviços domesticos, que
Ihes fossem uteis quando tleixassem o Asylo. A Casa tiãt~
tinha patrimonio; para mais bem satisfazer o seu fim a As-
sembléa Provincial lhe destinava uma dotação de um conto
de réis todos os annos, e era auxiliada de algumas esmolas.
Assim permaneceu alguns annos, sendo Capellão o fallecido
I). Joaquim Feliciano da Costa.
Suspensa essa dotação, cessou o caracter primitivo da
Casa, e ficaram recolhidas as senhoras idosas, que foram
mestras, e ahi falleceu a terceira Regente D. Maria Thereza,
irmãa do instituidor Padre Elias, com credito de muito vir-
tuosa.
As tres irmãas, as senhoras Carvalhos, idosas, e possui-
doras de uma fazenda e escravatura, aonde residiam retira-
das do mundo, resolveram dispor de tudo e recolherem-se
2 esta Casa.

Desembaraçadas, com a venda desses bens, repartiram


parte do producto com os parentes pobres, e reservaram 40
contos para patrimonio do Conventinho, que assim se ficou
chamando. Com o premio desse capital vivem ali 16 recolhidas,
inclusive algumas moças pobres, que foram abrigadas nesse
recolhimento, das seducções do mundo. E' actualmente Re-
gente D. Vicencia da Apresentação.
Das Senhoras Carvalho, falleceram duas, e a que resta
conta 77 annos.
Não se póde concluir, sem mencionar aqui o nome de
Henrique José de Araujo, rico negociante da praça do Rio,
já fallecido, que muitas doações valiosas fez aos templos de
Itú, desde o Seminario do P. Campos á cuja capella deu o calix
e custodia; ao Patrocinio, os damascos para os adornos das
tribunas e portas; e para esta Casa de Educandas concorreu
com dinheiro, que mandou ao P. Elias, o qual com a noticia
do seu fallecimento, fez-lhe exequias.
NOSSA SENHORA DO PATROCINIO

Não se póde historiar a fundação desta Igreja, sem re-


ferir a singular existencia do P. Jesuino do Monte Carmelo.
Vamos satisfazer um grato dever dando uma breve no-
ticia deste homem extraordinario, descrevendo em traços
largos os principaes factos de sua vida toda dedicada a o bem
de seus semelhantes e do publico.
Jesuino Francisco de Paula Gusmão, era natural de San-
tos, nasceu a 26 de março de 1764, pintor de profissão; veiu
em companhia de um carmelita nomeado Prior para o con-
vento do Carmo de Itú, e ahi residia empregado na pintura
da Igreja; a qual na restauração que ultimamente se fez, de
que já se deu noticia, foi toda destruida, para ficar em bran-
c o ; n'esse trabalho manifestou o talento artistico de que era
dotado. Seria longo descrever detalhadamente o plano que
delineou e executou. Todo o muro interior do templo era for-
rado de taboas, pintadas a oleo; e entre engenhosos arabes-
cos se viam santos e santas nos espaços symetricos que dei-
xavam; ao correr do eiltablamento no tecto, estavam os apos-
tolos e evangelistas, e no centro os emblemas da paixão em
uma série de medalhões. Do corpo da capella-mór desapparece-
rarn diversas passagens da Escriptura Sagrada, liv. 3." e 4 . O
dos Reis, relativas aos profetas Elias e Eliseu. Desta destriii-
ção escaparam e estão retocados alguns santos da Ordem
Carmelita, bem como as bellas pinturas do tecto. E m todo o
tempo que Jesuino de Gusmão trabalhou nesta decoração,
não recebeu seu salario, e quando concluiu empregou o pro-
ducto em paramentos novos que a Igreja precisava.
L l s affaveis maneiras e exemplar conducta de Jesuino de
Gusmão, fez que uma familia o solicitasse para fazer parte
della; depois de alguma exhitaçáo, casou em 17&5, com D.
Maria Francisca de Godoy, elle com 20 e ella com 18 annos
de idade. Viveu neste Estado pouco mais de 9 annos, e neste
tempo teve 5 filhos, sendo : Elias, aos 30 de dezembro de 1785,
morreu de 7 dias ; Maria Thereza a 2 de Julho de 1787; mor-
reu Regente das Educandas ; Elias, 2." do nome, a 13 de maio
de 1789. Foi o virtuoso P. Elias do Monte Carmelo, já co-
nhecido do leitor; Elizeu a 15 de outubro de 1790,. insigne
estatuario: entre as bellas imagens que deixou, ahi temos
á de N. S. do Patrocinio, e a de S. Jorge, que foi a uftima
de suas obras, em vulto natural. No coro de musica a sua
voz de baixo não teve imitador até hoje. O 5 . O filho, Simão,
nascido aos 27 de março de 1793, foi o P. Simão Stok do
Monte Carmelo, o ultimo dos seus filhos que subiu ao Céo,
depois de fazer os muitos reparos que já precisava a igreja
do Patrocinio, e guarnecido de casas o pateo, e nos deixar
muitas recordaçóes do seu engenho e talento artistico, que
bem se podia qualificar de encyclopedico. Como armador e
mestre de ceremonias ainda conservamos na memoria as pom-
posas festas dirigidas pelo P. Simão.
Apenas viuvo, em 13 de abril de 1793, Jesuino de Gus-
mão foi procurado com empenho para nova aliança, pelo
credito que gozou de bom marido, e não tendo ainda 30
annos; mas sua vocação chamava-o para outro mais nobre
estado o - Sacerdocio. - Por isso, para tirar toda a espe-
rança que ainda houvesse, mudou de traje, passando a usar
de habito de panno de algodão tinto de preto e cingido de
uma correia, e assim trabalhava e se apresentava em toda a
parte.
Concluidas as pinturas do Carmo e da Matriz, dirigiu-se
á Capital para estudar o que éra preciso para se ordenar, e
4 annos e 4 mezes depois de viuvo tomou ordens menores,
em 13 de setembro de 1797, e nesse mesmo anno tomou em
19 de noirembro a de Epistola, a 10 de dezembro a de Evan-
gelho, e a 23 do mesmo mez a de Missa. Desde as primeiras
ordens passou a assignar-se P. Jesuino do Monte Carmelo,
e celebrou a primeira Missa no dia de N. S. do Carmo, no
anno 1798. A primeira criança que baptisou, entra actualmen-
te nos 71 annos ; é a mui considerada Sra. D. Thereza de Je-
sus Xavier; foi a fonte mais abundante de noticias sobre o
P. Jesuino, que tivemos: solteira, ainda aproveita a sua ro-
bustez para exercer a sua caridade com o proximo.
O P. Jesuino meditava erigir um convento de freiras;
communicou a sua idéa, entre outras pessoas, ao P. Manoel
Ferraz de Camargo, homem abastado; este franqueando-lhe
os meios, parece ter-lhe feito modificar o plano, porque limi-
tourse a um templo, que ,em nada se parece a convento.
O P. Manoel Ferraz, para este fim fez doação ao P. Jesuino,
do engenho chamado do "TanqueJ', e os escravos respecti-
vos, e inda um terreno de 50 braças de frente, e mais de
200 de fundo, em que está situada a Igreja, e suas depen-
dencias. O P. Jesuino vendeu o engenho e escravos a Antonio.
Leite de Sampaio; com o capital produzido deu começo a fun-
dação da Igreja, sendo etle o architecto. Para se pilar os
muros serviram-se da terra, em grande parte produzida, d e
rebaixamento do terreno elevado, que ficava fronteiro as
obras, até ficar no suave declive que tem hoje o largo d e
Patrocinio, e ainda não foi bastante. P
Ao mesmo tempo que o P. Jesuino dirigia esses traba-
Ihos, de um singular estylo architectonico, tambem compu-
nha as musicas que se deveriam cantar nas festas que ia
instituir n'aquella Igreja, sendo as principaes a do Patroci-
nio e a do SS. Sacramento. Hoje seriam mui apreciadas essas
musicas, se um descuido inqualificavel não fosse causa de
desapparecerem. Ainda têmos saudosas recordações dos dias
de novenas, que consistíam em matinas e missa cantada de
manhã, e a tarde vespera e noverias de arrebatadoras musicas,.
todas á dous córos ; no 1." cantavamos a parte de Tiple, e nos.
causam, ainda hoje, agradaveis sensaçóes, quando recorda-
mos, principalmente o "Santa Maria succurre miseris!" A s
magestosas matinas da vespera, e missa do dia, são indiscripti-
veis ; e o mesmo diremos da procissão, da qual daremos logo
uma breve noticia, para mostrar a devoção e gosto das festas:
dessa época, muito differente da actual.
O P. Jesuino não gozou do prazer de ver realisado o
objecto do seu am6r e dedicação: a trasladação da imagem
de N. S. do Patrocinio, da Matriz ao seu novo templo -
depais de <poucos dias de enfermidade morreu a 2 de Junho
de 1819, ficando os Ituanos consternados com a surpresa
desta noticia. Contava 55 annos !
A seu respeito disse o P. Diogo A. Feijó, na sua oração
funebre: "Elle tem sido o credito de sua patria, a honra da
Provincia, a gloria e as delicias dos Ituanos".
O P. Simão Stok, seu 5 . O filho, foi que realisou a inaugu-
ração da Igreja, em novembro de 1820, com toda a pompa
possivel, e extraordinaria concurrencia das povoações visi-
nhas ! o q i e fez o P. Diogo dizer, na mencionada oração : "A
invenção e piedade d'aquelle sacerdote, chamou mil vezes ao
vosso paiz os povos circumvisinhos. Visteis com prazer, an-
nualmente, vossas casas atacadas de homens desconhecidos,
mas tornados vossos irmãos e amigos, presos pelos laços da
gratidão." I-
Resta descrever a procissão que todos os annos tinha
lugar no dia seguinte ao da festa, havendo de manhã missa
cantada. A' tarde tratava-se cedo da procissão, que tinha de
fazer extènso giro por ficar a igreja no extremo da po-
voação.
Formava-se ella de doze andores, que dispensamos re-
ferir as imagens que conduziam, com duas, á que menos le-
vava; atrás destes vinham tres carroças de 4 rodas, de uma
fórma singular e elegante, vestidas com o mesmo gosto d ~ s
andores, armados pelo P. Simão, que se servia dos damas-
cos, sedas, palmas, flores e fitas do modo que produzisse o
mais bello effeito. Essas carroças, que simulava-se serem
puxadas por anjos, que se infileiravam em uma longa fita
'azul, em proporção do seu tamanho, eram impellidas por pes-
soas occultas no corpo das carroças, e cujos pés algumas
vezes se viam. A entrada da procissão éra considerada o acto
o mais magestoso e solemne. Concentrava-se no largo o im-
menso povo no mais respeitoso silencio, esperando a entrada.
Duas baterias de grandes bombas prolongavam-se pelo largo,
e começavam a troar a vista dos primeiros andores que che-
gavam. Estes, entrando no largo iam formando alas, ate
que chegassem as carroças e tomavam o centro, e nessa or-
dem desciam para a igreja; a primeira carroça, a mais pe-
quena, trazia S. Anna, S. José e S. Joaquim; a grande im-
mediata conduzia a veneranda imagem de N. S. do Patrocinio,
no alto da carroça, dous anjos de vulto natural pegavam a bor-
dada capa, e outros mais pequenos formavam o cortejo em
duas filas, e o ultimo da proa tinha um estandarte com o
nome de "Maria" ; a ultima carroça trazia o menino "Jesus",
e seus anjos. De todo esse immenso cortejo, que sahira da
igreja, só as carroças tornavam a entrar. Os ando-
res recolhiam-se nos dous corpos de edificios lateraes da
igreja, para esse fim construidos. Desses dous corpos lateraes
ainda existe o da direita, que serve actualmente de escola das
meninas pobres externas do Collegio, e o outro demoliu-se, e
no seu luiar se eleva o edificio da instituição de mais bellos
e permanentes resultados, o Collegio dirigido pelas Irmãas
do S. José.
Para esta festa concorriam os Ituanos devotos de N. S.
do Patrocinio; manteve-se com o mesmo esplendor por al-
guns annos; mas, esses devotos foram desapparecendo, e a
proporção que a nova civilisação, que se chamou "Progres-
so", foi avançando, o espirito religioso e de devoção recua-
va; e ainda vivo o P. Simão, a festa do Patrocinio cessou, por
falta da costumada concurrencia; desde então limitou-se o
padre a conservação do templo; morreu elle, e, a não ser o
'
utilissimo destino que lhe deu o veneravel ituano, o bispo D-
Antonio Joaquim de Mello, a sua ruina seria certa. - Meu
Deos! quão transitorias são as coisas deste mundo!. . . Só
. .
Vós Sois infinito !. ,
Consagramos aqui algumas linhas em memoria do illustre
Padre Diogo Antonio Feijó, cujo nome está igualmente li-
gado ao Patrocinio, e era do numero dos que certo grupo
chamava "os padres do Patrocinio."
Sabe-se que elle residiu alguns annos em ItÚ, onde pos-
suia uma chacara, e foi Quem introduziu a cultura do chá,
dando elle o exemplo. Quando não estava na chacara residia
em uma casa do P. Elias, que ainda existe bem em frente a
igreja, em companhia deste e de outros padres. No pavimento
superior da casa dava lições de philosophia a alguns moços,
e ahi recebia as pessoas que iam gozar de sua interessante
companhia.
Nos ultimos annos de sua residencia em Itú, tomou
por sua devoção fazer annualmente a festa da Semana San-
ta inteira no Patrocinio, e elle mesmo tudo dirigia. O fundo
da capella-mór é semi-circular, com 8 columnas d'onde par-
tem arcos que terminam em zimborio, e todo o espaço é oc-
cupado pelo throno, que principia desde a banqueta do altar;
a imagem de Nossa Senhora ficava no 1.0 degrau do throno.
Dependia, portanto, de muita cêra para illuminal-o, pelo que
resolveu o P. Feijó mandar collocar as duas columnas que
existem aos lados de N. S. e suportam tarjas que terminam
no arco da frente do throno, que ficou com metade da que
tinha; os vãos que ficam aos lados das novas columnas
foram fechados com cortinas de damascos. Eis a origem d'a-
quellas alterações ao primitivo plano. Ultimamente um de-
voto mandou fazer o nicho em que actualmente está a ima-
gem.
Terminando a historia do passado e do presente da Igreja
de N. S. do Patrocinio, tão cheia de recordações, daremos
uma explicação aos que pódem julgar, que podia-se suppri-
mir algumas circumstancias que parecerão de pouc,o interes-
se. Mas, pensamos, que neste caso era melhor assim, do que
peccar por muito laconico. (*)

(') Este templo foi reformado ha poucos annos.


70 NOTASHISTORICAS
DE ITÚ

COLLEGIO DE N. S. DO PATROCINIO

- Este Collegio, que Itú se orgulha de possuir, foi esta-


belekido pelo Ex. bispo D. ~ n t o n i oJoaquim de Mello, de'sau-
dosa memoria, aproveitando a Igreja de N. S. do Patrocinio,
que lhe deu o nome ; foi coadjuvado nesse empenho pelo. Rev.
~VigarioP. Miguel Corrêa Pacheco, que julgou preferivèl ap-
plicar para esse fim o producto de uma subscripção, que agen-
ciára para a compra de um orgão, e montava a mais de quatro
contos. O Sr. bispo incumbiu ao Rev. P. M. Frei Eugenio,
Reitor do Seminario episcopal, de mandar vir de Chambery
. (França) as Irmãas de S. José, cuja especialidade é a educa-
ção de meninas. Ellas chegaram a 6 de outubro de 1858, reco-
lhendo-se provisoriamente no edificio de S. Casa, em quanto
- s e concluiam as acommodações no Patrocinio. O recebi-
mento que se Ihes fez foi esplendido; a maior parte do povo
foi espera-las a alguma distancia; apenas chegados os carros
, d o prestante Sr. Augusto Certain, que as conduzia, onde
estava o encontro, as Irmãas desceram e foram recebidas
com flores, lançadas por algumas meninas, que assim ma-
nifestavam o prazer que todos sentiam. Seguiram para o no-.
bre edificio da S. Casa, onde iam recolher-se'e fica logo a
entrada da cidade; ahi estava a rua literalmente cheia.
Rasoavelmente póde-se datar a existencia do Collegio,
desde 6 de outubro de 1858; pois logo em seguida começa-
ram os trabalhos das Irmãs com déz meninas. Este numero
*foi se elevando, até que se contava mais de 50, quando se
mudaram.
A 13 de novembro de 1859, dia de festa de N. S. do Pa-
trocinio, se achavam estabelecidas no proprio edificio.
A affluencia de meninas fez sentir-logo a necessidade de
augrnentar-se os commodos do Collegio. ~ b r i u - s e ,portanto,
nova subscripção, e, graças a munificencia das pessoas da
terra e algumas de fora, acrescentou-se ao edificio um raio
de sobrado de 36 metros; e assim ficou com sufficientes
commodos para aulas e outros misteres.
A 6 de abril do seguinte anno, exhibiram as alumnas, nos
exames qve tiveram lugar, o admiravel progresso, quer na
instrucção como nos trabalhos de prendas. A 9 houve a dis-
tribuição dos premios, a 60 ou 70 meninas. Em seguida se
franqueou a sala da exposição, toda ornada com os trabalhos
das meninas, constando de bordados de differentes especies,
flores em vasos de engenhoso artefacto, ramos, desenhos, etc.
que cobriam as mesas, dipostas convenientemente.

IGREJA DO SENHOR BOM JESUS

A Capella que existiu no logar da actual Igreja, éra tão


antiga como a primitiva povoação. O livro de receita e des-
pesa mais antigo da Capella tendo sido pasto das traças, inu-
tilisou-se; dos dous seguintes, é que se pôde tomar alguns
apontamentos ainda incompletos, porque o seu destino os
tornavam pouco ferteis em noticias.
A data mais antiga é de 1724, já então a povoação go-
zava ha 70 annos da categoria de villa, predicamento con-
cedido em 1654: é de crer, portanto, que a Capella existisse
muitos annos antes, juizo que se corrobora com o que se
segue.
A 11 de setembro de 1800, falleceu o vigario da Vara Dr.
Manoel da Costa Aranha, thesoureiro e protector da Capel-
Ia, e quem fez edificar a actua1 entre os annos de 1763 e
1765, inclusive o sobrado adjacente, destinado ao Capellão e
Zelador.
Seguiu-se c9mo Zelador o celebre Capitão-mór de Itú
Vicente da Costa Taques Goes e Aranha, (que notabilisou-se
na época dos capitães-móres) provido a 2 de ?março de
1801, por nomeação do Ouvidor Geral e Provedor da Co-
marca, que então éra a da capital, Dr. Joaquim Procopio
Picão Salgado. .Este, na deligencia que mandou proceder erti
1806 na administração da Capella, deixou escripto no respe-
ctivo termo: "Que a instituição da Capella excedia a memo-
ria dos homens, por isso que não existia padrão de sua fun-
dação; a tradição poréni diz, que esta igreja foi edificada
pelas oblaçóes do povo, na primeira origem ; e que a devoção
e zelo dos devotos tem reparado a sua fabrica.
"Que o encargo pio desta Capella, pela mesma tradição
constava, ser uma festividade ao Senhor Bom Jesus, no 1."
dia de janeiro annualmente.
"Que a Capella não pos,sue outro patrimonio que sua
fabrica, e um sobrado conjunto a igreja, com acommodaçóes
para a residencia de um Capellão ou Zelador.
"Que esta Capella recebia esmolas e oblaçóes dos fieis,
e com estes soccorros satisfazia o encargo pio, e entretinha
a culto divino."
Proveu que todos os annos se certificasse por um termo
passado em livro distincto, que o encargo pio foi satisfeito.
O Padre Joaquim José de Araujo, coadjutor, na certi-
dão que passou a 2 de janeiro de 1808, declarou que a festi-
vidade annual, que é de costume fazer ao Senhor Bom Je-
sus, ha annos é feita por juiz nomeado pelo Parocho, e na
falta deste por concurso dos devotos.
Até hoje se tem assim praticado, e sempre com a mes-
ma devoção e pompa.
Depois que falleceu o Capitão-mór em fevereiro de 1815,
tomou conta da Capella o Rev. Frei Pedro da Annunciação
Chaves, carmelita, que já residia no sobrado como Capellão.
Durante o tempo de sua administração entre OS annos
de 1815, á 1819, fizerão-se o retabulo, frontespicio e torre que
existem actualmente, demolindo-se o velho campanario em
setembro de 1815, e concluiram-se as obras em 1828.
Em 1843 fallecêu Frei Pedro, e succedeu-lhe como Ze-
lador o P. ~ e r o n i d oPinto Rodrigues. Pela morte deste pas-
sou a residir na casa da Capella o velho e respeitavel Rev.
P. Francisco Pacheco de Campos. Durante a sua adminis-
tração, fez na Capella quantos beneficios permittiam a sua
mediocre fortuna, e os auxilios que obtinha; é assim que dei-
xou forrado os corredores e a nova cupola da torre. Em-
fim, todo o seu prazer éra praticar o bem que podia. Mor-
reu em mui avançada idade, esteve mais de 20 annos de Ze-
lador.
Esta Capella goza de alguns privilegios concedidos pelo
Papa Pio VI, nos Breves de I.", 8 e 9 de janeiro de 1788, que
se vê em um quadro na sachristia.
No inventario que mandou proceder o Juiz Provedor de
Capellas Cap. Filippe de Campos, pela primeira e unica vez
se fez menção de um relicario, com forma de custodia, de
madeira e dourada, em um altar na sachristia, sem se dizer
0 que encerrava. O Rev. Vigario Miguel Corrêa Pacheco não
encontrando quem soubesse o que continha o relicario, re-
. solveu abri-lo. Admirado descobriu na custodia um relicario
com um pequeno objecto, e ligado a elle um papel impresso,
em latim, o qual vertido pelo m,esmo é o seguinte:
"A' todos e á cada um d'aquelles, áquem forem presen-
"tes estas nossas lettras, damos fé, e attestamos, que fizemos
"doação de uma particula do Véo da Bemaventurada Virgem
"Maria, extrahida de lugar authentico, posta em Relicario
"de prata de forma oval, encerrada em uma custodia, á qual
"é ligada por um fio de seda encarnado.
"Mandamos assignalar com o nosso pequeno sello, afim
"de que possa conservar a predicta reliquia em sua casa; dar
"á oQtros, collocar e expor á publica veneração dos fieis em
"qualquer Egreja, Oratorio ou Capella. E m cuja fé manda-
"mos expedir pelo nosso Secretario estas nossas lettras tes-
"temunhaes, sobscriptas pela nossa propria mão, e firmadas
"com o nosso sello. Dada em Roma aos 18 de novembro
"de 1792.
"Fr. X. Ep. Porph. Ant. Galanti Prosec.
E para que não tornasse a caliir no olvido a reliquia, o
mesmo Sr. Vigario resolveu mandar imprimir em pergaminho
o original e traducção do certificado, e posto em u p quadro
dourado collocou ao lado do altar em que está a reliquia.
Não consta quem fizera esse presente à Capella: presu-
me-se que fosse o mesmo P. Dr. Manoel da Costa Aranha,
que a edificou.
Depois da morte do P. Francisco Pacheco, ficou a Ca-
pella sem Zelador, por falta de um sacerdote que aceitasse o
encargo. Neste tempo o augrnento progressivo de meninos
no Collegio de S. Luiz, fazia sentir a necessidade de mais
commodos, solicitou-se esse recurso da autoridade compe-
tente, e ésta fez entréga ao R. P. Reitor, estando ambos os
edificios a pouca distancia. Desde então ahi tem residido um
ou mais Padres exercendo o seu sagrado ministerio,' e como
esta Capella é mais espaçosa ahi fazem todas as festas. As-
sim, é ella frequentada hoje como nunca foi, e mais bem
aproveitada.

HOSPITAL DOS LAZAROS

Este estabelecimento está situado á 1 kilometro, pouco


mais ou menos, á Oéste da cidade; foi fundado pelo beneme-
rito P. Antonio Pacheco e Silva, em principio do seculo
actual, sendo inaugurado em 1806. O Hospital é um espaçoso
edificio terreo, com acommodaçóes isoladas para os enfermos, ,
hortas e terrenos de cultura, onde os que podem plantam
ceraes.
A Ermida, com a invocação do Senhor do Horto, fica
fronteira ao hospital, alinhados ambos pela rua de S. Cruz,
com a esperança talvez, que ella se prolongasse até lá; mas
isso só se realisará, se por ahi passar o ramal da estrada de
ferro de Jundiahy á Itú, segundo a planta do Engenheiro
Bennaton.
Atraz da Ermida está o cemiterio dos morpheticos,. bento
a 20 de setembro de 1867, no mesmo lugar do antigo.
O patrimonio que o illustre fundador deixou a este'asylo
dos degraçados lazaros não é sufficiente hoje para forne-
cer o necessario aos enfermos que ahi sempre existiram: por
isso annualmente se consigna uma quota a seu favoi- no or-
çamento provincial.
E' de justiça que ainda dedique algumas linhas em me-
moria do benemerito Ituano, fundador do Hospital, o P. An-
tonio Pacheco e Silva.
Este digno sacerdote parochiou primeiro nove annos n a
hoje cidade do Portofeliz, em cujo tempo se edificou a actual
matriz, e ahi empregava a renda que resultava da igreja,
indo do sitio que possuia em Itú o necessario para sua ca'sa,
o que fez dizer voltando a esta: "Se não fiz mais, tambem
nada trago do que lá ganhei."
Aqui empregou o seu tempo e fortuna em fundar o Hos-
pital, sendo elle o capellão, doando para patrimonio um,i
estalagem e pastos annexos.
Finalmente, regulado tudo isso, pensou em dotar a cida-
de de Itú de agua potavel, construindo dous chafarizes, nos
largos do Carmo e da Matriz. Na execução deste projecto,
gastou o resto de sua fortuna e de seus dias. Contra todas
as manifestações contrarias, de almas egoistas, ensetou os
trabalhos, por elle mesmo dirigidos, e conseguiu encanar as
aguas que queria e fêl-as correr do largo do Carmo pela rua
abaixo, sendo presenceado por muita gente, ás quaes mos-
trava quanto póde a perseverança no trabalho, com o pro-
posito de deixar um grande beneficio a seu paiz. - Virtude
rarissima!. . . e de facto, não teve imitadores.- Veremos.
Resolvida a maior difficuldade, que éra o encanamento
d'agua, tratou de erigir o primeiro chafariz no largo do Car-
mo, e viu-o concluido. E r a um tanque de pedra de lage, do
qual um dos lados se elevava em frontespicio; no centro um
vaso da mesma pedra, com forma de pia, e pelo fuste subi-
ria a agua e esguicharia do centro da bacia e desta cahiria
por pequenas bicas no tanque. Ainda não estavam inteira-
mente concluidas estas obras quando foram interrom-
pidas, porque o seu director o P. AriQonio Pacheco
cahiu doente, e suas ,forças exhauridas n'essa direcção
ao só1 e chuva, com mais de 70 annos, não se resta-
beleceram, succumbiu, e morreu em 1829. - Fatal egoismo
dos homens! Nem ao menos souberam aproveitar o que es- I
.
tava feito!. . Tudo se abandonou, até o chafariz, que éra
um testemunho tacito desse inqualificavel procedimento, um
dia amanheceu arrazado! E' bem desagradavel esta refe-
rencia, mas é facto historico.
A ingratidão de seus contemporaneos, abreviou talvez a
sua existencia.
O Hospital ahi está para transmittir á posteridade o
F
nome desse illustre Itúano.
r

SANTA RITA

Em 1726 Mathias de Mello Rego obteve provisão do


Bispo do Rio de Janeiro D. Frei Antonio de Guadalupe para
com outros devotos erigirem uma Capella à S. Rita, nos ar-
rabaldes da Villa. Foi inaugurada a pequena capella em 1728.
Com alguns pequenos reparos conservou-se pelo espaço de
mais de 100 annos, até que o mui probo e respeitavel José
Francisco de Paula tomou a si o cuidado da capellinha com
notavel zêlo e por muitos annos, até findar seus dias em 15
de Outubro de 1858, na avançada idade de 80 annos e 5 me-
zes. O seu virtuoso filho P. Joaquim Feliciano da Costa, fal-
lecido a 19 de agosto de 1863, com 61 annos, ahi celebrava
ordinariamente suas missas ajudadas pelo seu velho pai. Foi
no tempo de sua gerencia que se fez o retabulo e douramen-
to. Quando o velho José Francisco mal podia cumprir sua
devoção, tomou conta da capelinha o prestante itúano Joa-
quim Januario do Monte-Carmello, á cujo zêlo e dedicação
se deve os melhoramentos que tem tido, inclusive os sinos,
que antes não passava de uma sineta. Em 1865, o Rev. P. M.
I
João Paulo Xavier empregou os donativos que tinha para
*
isso, na restauração da capella, levantando-a mais, e fez-se
o coro, frontespicio e campanario; tudo sob a direcção do
mesmo Sr. Joaquim Januario, actual zelador.
Esta Capella de S. Rita deu nome á rua.

CONVENTO DE S. LUIZ

Não ha memoria da fundação deste convento dos frades


Franciscanos: porém as fórmas e gosto da architectura do
velho edificio denotam ser de mui remota éra. Foi elle con-
firmado pelo Breve de Benedicto XIII, a 19 de setembro de
1721; mas, 25 annos antes, em 29 de abril de 1696, já se
havia colocado o Santissimo Sacramento na Capella de S.
Luiz; já a povoação contava então 45 annos, pelo que se
collige que o Mosteiro é coetaneo, e que cooperaria para a
concurrencia de povoadores nas proximidades do mesmo. Al-
guns restos de ossos hunianos, e vazos de argilla cozidos
contendo esqueletos, encontrados nas vizinhanças, em esca-
vaçóes que se faziam, examinados em um destes vasos, pare-
. cem autorisar esta conjectura.
A mesma falta se nota, quanto á época da edificação dos
raios angulares do mais novo convento, que se antepõe ao
velho, e pelo qual se cornmunica á antiga capella de S. Luiz.
Daremos uma succinta noticia deste Padroeiro do convento,
que será, talvez, desconhecido de muito dos leitores.
Luduvicus, ou Luiz, foi o primogenito do rei da Sicilia
Carlos segundo, e de Maria, rainha da Ungria. Na idade de
15 annos combateu com dous irmãos pela libendade de seu
pai, e em um dos combates cahiu prisioneiro do rei de Ara-
g ã o ; foram conduzidos em refem para Catalunha.
Então estudou sete annos sob a disciplina da Ordem de
S. Francisco, á qual veio a pertencer, renunciando para isso
o direito ao reino que por morgadio llie pertencia. Feito bis-
po de Tolosa, ainda moço, obteve licença do Papa Benedicto
VI11 para continuar a usar do habito, e seguir a regra de S.
Francisco. Tal foi este santo bispo, que se escolheu para pa-
droeiro do convento.
A altura e proporções da novo edificio indicam que sua
construcção é de mais de cem annos posteriormente a do ve-
lho convento, aonde existiam outr'ora muitos respeitaveis e
virtuosos frades. Mas ha bastante tempo, que este nobre edi-
ficio, elevado a custa dos Itúanos, não éra mais habitado por
elles, e que tambem os pobres deixaram de ter na portaria
- o pão de cada dia.
Felizmente, por uma disposição da Providencia, está o
ex-convento aproveitado com o importante Collegio de S.
Luiz, e que progressivamente prospera, apesar d a obstinada
opposição que soffreu, quando se pretendeu abril-o em 1866,
e como os factos manifestão as injustiças dessas aggres-
sões. ellas cessaram. I

ORDEM TERCEIRA D E S. FRANCISCO

A existencia dessa Ordem em Itú parece tão antiga


quasi como a primitiva povoação. No mais antigo livro das
Actas por eleições da Ordem, na primeira dellas escripta em
5 de setembro de 1697, ha esta nota no alto da folha: --
"Livro das eleições, que se fazem todos os anilos" pelo que
se colige, que outro livro existira das eleições dos annos an-
teriores, que não existe . O livro a que nos referimos serviu
até 1813, por conseguinte 116 annos; portanto, não é exa-
gerada a antiguidade que se lhe attribue. Possuia a Ordem
uma pequena Capella que se communicava por um arco com
a capella-mór de S. Luiz.
O primeiro inventario dos bens da Ordem 3." tem a
data de 18 de setembro de 1736. Em 1789 sendo Ministro o
Capitão Joaquim Duarte do Rego, se fez a encommenda das
imagens para a procissão de Cinza, a Pedro da Cunha, n a
Rio de Janeiro ; este morreu antes de concluil-as ; tiveram
então de effectuar novo contracto com os filhos para a con-
clusão dellas. - Em 1792 vieram as 9 imagens, despenden-
do-se com os indios que as conduziram da Villa de Santos
á esta 15$580 rs.
Em quanto se esperava pelas imagens, o mesmo Cap.
Duarte mandou vir de Lisboa as fazendas para as vestimen-
tas, inclusive 50 covados de velludo verde, importando tudo
em 42@290 réis.
Apenas chegadas as imagens, fizeram-se as respectivas
roupas e charolas para ellas; mas então notaram, que a pe-
quena Capella não acommodava esses objectos, e ainda me-'
.nos possivel era effectiiar-se a desejada procissão de Cinza
da pequena Capella de S. Luiz. Pelo que trataram logo da
* construcção de uma casa coberta com mil e cein telhas, para
se conservar as charolas, imagens e accessorios.
Em 1793,cuidou a Ordem 3.a na edificação da actual Igreja
de S. Francisco; reunidos os materiaes, principiou-se pela de-
n~oliçãoda velha capellinha. A primeira féria de abertura doç
alicerces foi paga em 11 de maio de 1794, sendo Ministro o
Capitão Manoel Pinto Ferraz. A mais avultada quantia of-
ferecida para essa obra é a de 1:200$000 rs. que deu Manoel
Vieira Pinto.- Ha uma falta de prestação de contas de 12
annos, de 17 de setembro de 1796, á 18 de setembro de 1808.
Na conta de 1809, pela primeira vez se falla na procissão de
Cinza; é de suppor que fosse a desse anno a primeira. A 8
de fevereiro de 1802 foi benta a Igreja, e duraram os traba-
lhos oito annos.
Em 1856 se deu principio ao forro do corpo da Igreja,
.sob a direcção do Procurador da Ordem Cap. Francisco. José
de Andrade, deixando-o pintado e dourado.
O Jazigo foi delineado pelo Ir. Dr. Antonio de Aguiar
Barros, e foi bento a 3 de maio de 1861. O retabulo é traba-
lh8 do entalhador Bernardino de Sena Reis e Almeida que o
concluio em 1865, é em 1866 foi dourado. O altar de N. S. da
Conceição mandou fazer, em 1800, o Cap. José Manoel de
Mesquita; o de S. Antonio em frente d'aquelle, ambos no
corpo da. Igreja, deve-se a o cuidado e deligencia do dis-
tincto Ten. Luciano Francisco de Lima, á cuja deligencia
tambem se deve o quadramento do largo de S. Francisco, e a
abertura da rua do mesmo nome.

Estão findas as - "Notas historicas" ; - o documento


necrologico, que lhe addiciopamos em seguida, inspira tanto
interesse que tem pedido muitas copias, pois recordam a
memoria de dous homens notaveis em suas especialidades: o
Padre Diogo Antonio Feijó e o Padre Jesuino do Monte Car-
melo, de quem se tratou nestas notas.

ORAÇAO F U N E B R E

RECITADA PELO PADRE DIOGO ANTONIO FEIJó, NO SEGUNDO


ANNIVERSARIO DA MORTE DO P . JESUINO DO MONTE CAR-
MELO, POR OCCASIAO DA TRASLADAÇAO DOS SEUS OSSOS
DA IGREJA DO CARMO, PARA A DO PATROCINIO, A 2 D E
JUNHO DE 1821.

Non recedet memoria ejus. (Ecclbs.)


Seu nome não cairá jhmais no es-
quecimento.

O malvado que, aproveitando-se das circumstancias fa-


voraveis a seus designios, tem espalhado a fama de suas acções
e de seu nome, parece disputar ao justo o privilegio da im-
mortalidade. O heróe que o mundo applaude, que era bem cre-
dor de sua execração; que de ordinario eleva o edificio de
sua gloria sobre as ruinas de seus semelhantes, atrahe com
tudo quasi sempre, os elogios e a admiração do seculo: a
posteridade parece empenhada em guardar a memoria de seus
feitos e seu nome. Mas, que differença entre a memoria do
justo, e do que o não é ! O primeiro é lembrado com dor e
saudade, o segundo com horror e indignação: um é sempre
lembrado para ser objecto de respeito e imitação: outro é
apontado algumas vezes somente para vergonha e confusão
do impio e do insensato.
Meus senhores, eu venho neste lugar santo, consagrar
louvores a um heróe em quem a religião tem reconhecido o
cunho de santidade. A cadeira da verdade veda ao orador
christão arriscar este tributo de justiça ao homem que rião
tem a seu favor os votos do' universo; mas a virtude tem
seus gráus, e a religião não prol~ibe fazer soar em seus
templos a voz do amor, da gratidão e da saudade.
O padre Jesuino ha dous annos cahiu ao seio da morte;
seus dias foram cortados de repente, elle desappareceu d'en-
tre nós; esta fatalidade ainda è para nós um sonho; não
podemos crer, que tal homem nos fosse roubado, mas é ver-
dade que o foi, porém sua memoria não será, seu nome não
cahirá jamais em esquecimento; o amor, a saudade e a gra-
tidão todos os dias no-lo fará reviver.
Senhores! aproveitemos esta lembrança, façamol-a fru-
ctifera, tornemos proveitosos nossos sentimentos ; e tomando
por modelo suas virtudes, aprendamos igualmente a conhecer
a triste sorte das cousas do mundo. Este é o meu destino, e
o objecto de vossas attenções.
Meus senhores! o reconhecimento não é um resultado
de cultura do espirito, é um sentimento irinato no homem,
seja qual for o seu estado; todos os povos em todas as ida-
des tem apresentado brilhantes exemplos desta verdade. Quan-
t o mais seus heróes se tem assignalado pelas virtudes so-
ciaes, mais tem sido credores de suas lagrimas e de seus
elogios. Monumentos de gloria se tem erigido á sua memo-
ria: ritos differentes se tem inventado para symbolisar a gra-
tidão, e transmittir á posteridade este tributo do merito e da
justiça. E' verdade, que o tempo estragador de tudo, tem
muitas vezes querido confundir as cinzas do justo com as d o
impio: tem-se queimado incenso tanto sobre o tumulo do
virtuoso, como do malvado. A vil adulação tem em diffe-
Tentes épocas levantado o seu throno a par da verdade, mas
aquella náo tem podido sustentar estes direitos usurpados;
quando estas surgindo por entre o erro, tem recebido os res-
peitos, e adoração de todos os seculos.
Nossos louvores tão puros hoje, como nossos sentimen-
tos, não são extorquidos, são livres, ainda que arrancados
pela força do amor e da gratidão. Quem haverá d'entre nós,
que não tenha retraçado vivamente em sua memoria os pri-
meiros passos daquelle heróe raro? Aquelle engenho vivo,
penetrante, atilado, talhado para melhores tempos ; e que nas-
cido em outra època mais feliz para a cultura das artes seria
capaz de propor modelos originaes ao gosto e ao bello?
Senhores! a quem se deve o brilhantismo de vossa pa-
tria? Quem espalhou entre vós tantos monumentos dessa
arte encantadora, que immortalisa os heróes, que salva do
esquecimento tantos personagens illustres, dando-lhes uma
especie de vida, fazendo-os, ainda mesmo em sombra, objecto
de adoração e respeito?
Na provincia inteira, ainda muito além, chegam com a
fama de seu nome as obras de seu genio. Elle tem sido o cre-
dito de sua patria, a honra da provincia, a gloria e as delicias
dos Ituanos. Ha muitos annos vosso nome é pronunciado com
respeito e inveja; ereis, e ainda sois apontados, como a pri-
meira Villa onde a magestade do culto, a pompa das festivi-
dades, o esplendor dos templos dão a conhecer vosso caracter
de religião e de grandeza.
A quem deveis esta gloria senão áquelle cujq memoria
saudosa desperta hoje as nossas lagrimas? Nascido para
ornamento da Igreja, seus cuidados, seus desvelos, todo o
seu gosto foi ornar os templos, fazel-os respeitaveis, inculcar
a magestade do lugar santo pelos objectos tocantes, que seu
zelo e sua piedade fazia nelle depositar. Aquella arte divina
de que elle possuia os segredos, e que manejava com tanta
,
destreza, tem assignalado os differentes períodos de sua pie-
dade para com Deos, e de seu amor para com vosco. Mil
vezes retumbavam em vossos templos sonoros écos de suaves
canções, que nos representavam ao longe esse prazer de que
o Senhor tem de inebriar seus escolhidos; que elevam o es-
pirito, e n'um santo enthusiasmo, faziam gozar de antemão
das doçuras da patria dos anjos. Mil vezes sua voz acompa-
nhou a producção de sua penna; e combinada a devoção.
com a melodia, o olhastes como a joia mais preciosa que en-
tão possuieis, o considerastes como o mais firme apoio d e
vossa patria.
Por toda parte se espalharam monumentos dos seus ta-
lentos! Quantos imitadores deixou elle?! A uns foi motivo
de emulação, i outros objecto de imitação!
Senhores ! o Padre Jesuino ,com o bom gosto introduziu1
estas maneiras dôceis e. atractivas, que humanisam os homens.
e os tornam mais sociaes. Este caracter duro e austero, filho
da probidade, mas que ao longe vos tornará suspeitosos, mo-
dificou-se.
A invenção e a piedade d'aquelle sacerdote chamou mil
vezes ao vosso paiz os povos circumvisinhos. Vistes com pra-
zer annualmente vossas' casas cheias de homens desconheci-
dos, mas tornados vossos irmãos e amigos, presos pelos laços
da gratidão. Augmentaram-se vossas relações; o commercio
prosperou; a civilisaçáo adquiriu um auge consideravel. To-
dos quantos aqui nos achamos desconhec'ia-mos vossa patria:
a alegria transbordava em nossos corações, invejava-mos a
vossa sorte; e sendo tudo devido ao P. Jesuino, o P. Jesuino
só por si era a festa, era a mola real do prazer, a pedra
preciosa que reflectia a nossos olhos, e que trazia as delicias
dos que o conhecião.
Na verdade, Senhores, um não' sei que, tinha aquelle sem-
blante de amavel a lisonjeiro, que atrahia, captivava e dôcc-
mente arrebatava os que o ouviam. Eu mesmo a primeira
vista senti os effeitos deste encanto; eu não me fartava de
!
vêl-o, de oiivil-o, de estar em sua companhia; eu contava por
uma felicidade ter parte em seu coração; este phenomeno
raro não foi encontro de amor ou inclinação, foi uma neces-
sidade de admirar, de amar a innocencia e a virtude. Todos que
o tem visto, que o tem tratado tem sentido iguaes effeitos.
Vos que tivestes a dita de o conhecer, não estaes como
ainda vendo aquelle rosto amavel e sereno, onde se achava
retratada a innocencia e alegria, companheira inseparavel da
virtude? Aquelle ar modesto e carinhoso, aquella gravidade
de semblante, aquellas maneiras respeitosas, que firmavão
seu caracter, ainda no meio das graças innocentes com que
elle fazia interessante e ao mesmo tempo gostosa companhia.
Ah! e que humildade t'ão rara em nossos dias! No seu
conceito elle era o mais criminoso dos homens: nem uma
acção fazia que para elle não fosse uma grave falta, um pen-
samento ligeiro parecia-lhe já um delicto. Tal éra a delica-
deza de sua consciencia, tal éra o temor com que servia o
Omnipoterite.
Christãos! vós bem sabeis que elle nada emprehendeu
que não fosse para agradar ao Soberano Bem-feitor, que
todas as suas acções se dirigiram a cumprir a lei do Cren~lor;
e para isto, como vivia elle desapegado do mundo! C:crno
nada éra capaz de prendel-o á estes bens falsos e caducos,
que cegam tanto os mortaes ! Uma pobreza voluntaria e vcr-
dadeiramente evangelica, foi a maxima constante aprendida
na escola do Salvador, que dentro do mundo o conservou
separado do mesmo mundo, vós bem o sabeis.
Ah! e o que direi eu de sua caridade, senhores, ainda
que ao Padre Jesuino faltassem estes conhecimentos que
fazem hoje a gloria do seculo, elle possuia os segredos da
verdadeira sabedoria. Elle não sabia ,fallar esta linguagem
de erudição e ordinariamente de vaidade, mas elle sabia obrar
como philosopho.
Elle não poderia entrar nas questões espinhosas da scien-
cia sagrada, mas elle conhecia perfeitamente a religião e a
praticava. A caridade, portanto, éra sua maxima: este princi-
pio de uma extenção infinita o ligava com todas as series de
entes do universo. Elle se considerava feito para todos.
Eis-aqui, meos senhores, o momento em que eu exijo
vosso reconhecimentq: a gratidão demanda a confissão de
tantos beneficios.
O Padre Jesuino apparece neste periodico de sua vida,
não já como um simples homem, gozando as vantagens da
sociedade, apenas occupado no pequeno recinto de sua casa,
empenhado nos interesses de sua familia. Verdadeiro philan-
thropo, as maximas sagradas do christianismo dão uma fir-
mesa inabalavel as propensões sociaes; elle apresenta-se qual
Apostolo, esquecido só de si e de seus commodos, tendo só-
mente diante de seus olhos a causa de Deos, e a da vossa sal-
vação.
Na cadeira da verdade, quantas vezes tomado de um santo
enthusiasmo ievahtou elle a voz para deprimir o vicio, para
atropelar as paixóes radicaes, que são a origem funesta de
tantos males. Mil vezes apresentou-vos o Evangelho desen-
volvido pelos oraculos da religião. i)doutrina de Jesus-
Christo vos foi prégada com força e com clareza. Mil vezes
vos abriu o quadro terrivel da ira do Omnipotente para por-
des termo a vossos errados projectos.
Quantas vezes não o vistes sentado no sagrado tribunal
da penitencia julgando as consciencias ? Com que promptidão
e ao mesmo tempo com que zelo, com que temor se não em-
pregou elle sempre neste importante, custoso e arriscado mi-
nisterio? Quantos peccados não se diminuirão, e quantas
conversões se não devem a sua caridade! A quem se deve
este grande numero de christãos, que frequentão nossos
templos, que fieis a seus deveres apresentão em particular
e em publico o verdadeiro caracter de discipulos de Jesus-
Christo, que dão gloria a Igreja, e exemplos aos relaxados,
que diariamente aterrão e confundem os libertinos, sendo sua
conducta uma calada reprehenção de sem escaodai~s,e da
vergonhosa deserção da bandeira do Crucificado? O P. Je-
suino póde bem chamar-se o Patriarcha destas creaturas con-
vertidas, destas almas fervorosas, que em tempos mais feli-
zes serão com melhor justiça avaliadas.
Quantos que jazem hoje no seio da morte não experimen-
taram sua caridade nos ultimos momentos sempre acompa-
nhadas de enjôo,, e do despreso ainda dos mesmos domes-
t i c o ~ ?Quantos ,não foram soccorridos por sua diligencia,
quando lutando com a pobresa, miseraveis, apenas faziam
chegar a seus ouvidos o surdo e fastidioso echo da necessi-
dade !
Senhores! por quantas maneiras difficeis não procurou
elle desenvolver sua caridade, que dissençóes não terminou,
que odios não aplacou ! que lagrimas não enxugou elle ! quan-
tos infelizes não encontravam nelle o remedio, ou a conso-
lação no meio de suas desgraças?
Este homem incansavel, activo, laborioso, procurou em
toda a sua vida reunir a virtude á magnificencia: sua pruden-
cia engenhosa vos conduziu, sem o attenderdes, por caminhos
sempre suaveis afim de alto interesse. - Este Templo é um
dos monumentos de sua piedade e devoção. Todo elle, póde
bem dizer-se, é obra de suas mãos. Ah! a que fim elle se
propoz! Ser louvada a Magestade do Omnipotente, de um
modo mais digno da Divindade, e attrahir-vos pela pompa
das solemnidades, que elle emprehendia apresentar neste lu-
gar santo, a entrardes nos mais verdadeiros sentimentos da,
religião que professaes. A gloria de Deos, e a vossa utilidade
foram sempre a mira de todas as suas acçóes e projectos.
Mas, senhores, este homem raro, este sacerdote zeloso,,
este pai da patria, vossa riqueza, vossa consolação, vossa glo-
ria, terminou seus dias. - Quando todos nós descuidados, não
nos lembravamos, que elle estava sujeito ao imperio da morte;
quando alegres contavamos com sua vida salva dos perigos,
que nos tinham, sete mezes antes, querido roubal-a, quando
todos descançavamos segliros a sombra do bem que gozava-
mos. Oh! Próvidencia adoravel! A morre .disfarçada em um
sonho benigno illudindo nossos desvêlos, repentinamente al-
çou a fatal fouce, e roubou-nos para sempre tão preciosa
vida ! ! !
Cada um de vós perdeu um amigo, cada familia perdeu
um pai: esta povoação perdeu um protector. O rico sentirá
sempre a falta de um ecônomo, que o obrigue a fazer justa
distribuição de seus bens. O pobre lamentará sempre a au-
zencia de um bemfeitor; sua miseria mesma fará cada dia
mais saudosa sua memoria.
Morreu, senhores, mas não sentiu as agonias do crimi-
noso; não experimentou o remorso que dilacera o culpado,
não sofreu o choque terrivel, partilha do peccador. Pagou o
indispensavel tributo imposto a especie humana, mas Deos
a quem eiie soube servir, isentou dos horrores inevitaveis a
tão doída separação. Nossas lagrimas derramaram-se: em
todas as casas os gemidos formavam a triste canção que an-
nunciava sua orfandade; todos entre suspiros quizeram veí-
com seus olhos, quizeram por si mesmos certificar-se de tão
funesta fatalidade.
Todos demos publico testemunho de nossa dor, f i e m o s
justa confissão de nossa perda. Eis-aqui, christãos, a sorte
das coisas deste mundo. O impio, o malvado, que serve de
flagello á sua patria, o cidadão improbo, que perturba a, so-
ciedade; este homem vive, mas o P. Jesuino morre! O ho-
mem que por parecer bem, mas que invejoso da gloria, que
não merece, disfarço debaixo de mysteriosas apparencias um
caracter detestavel, que exaspera a indignação dos que sabem
dar o seu justo valor á probidade e á virtude; este homem
vive, mas o P. Jesuino morre! O misanthropo que não se
communica com outros homens, senão debaixo das vistas .
do proprio interesse, incapaz do menor sacrificio a bem da
humanidade, este homem vive, mas o P. Jesuino morre! !
Providencia de meu Deos, eu vos adoro !!
Christãos, o justo não morre; separa-se de nós por um
castigo devido aos nossos crimes ; porque não sabemos agra-
decer ao Céo tão caro beneficio. Elle caminha para sua pa-
tria, vae receber a coroa da immortalidade; sua memoria é
eterna, seu nome é sempre lembrado com amor e com sau-
dade. O impio pelo contrario, se conserva para flagello de
sua patria, para pôr em confusão e desordem a sociedade,
para gerar mil descontentes, para fazer-nos porém abor-
recedores deste cháos sempre confuso, deste theatro de pai-
xões e de miserias. Sua vida termina-se com a gloria dos que
o detestam: sua memoria sepulta-se no mais ignominoso es-
quecimento ; e se é lembrado pelo estrondo de suas infamias,
é só para execração.
Alli o exemplo. Aquelles ossos são os restos do P. Je-
suino: são pó, são nada; mas para nós são uma preciosidade,
nós os respeitamos. Alli vemos os ultimos despojos de um
irmão que nos ajudava, de um Pai que ternamente nos ama-
va, d'um amigo que fazia a nossa consolação, de um sacer-
dote, que nos conduzia pela estrada da virtude, com a vóz e
com o exemplo. Sua memoria nos será sempre saudosa.
E vós columnas d'este Templo, paredes do Santuario,
que sois testemunhas dos nossos louvores, e ainda de nossas
lagrimas, guardai para transmittir á posteridade as illustres
acções deste sacerdote. Contae a cada homem que aqui entrar,
pela serie não interrompida dos seculos, que nós somos gra-
tos a seus beneficias, que fazemos justiça a seus merecimen-
tos, e que temos dado o exemplo da mais nobre gratidão.
E vós, sepultura feliz, conservae com cuidado essa joia
preciosa que nós te confiamos ; aqui viremos, nós e os nossos
vindouros, te pediremos contas do caro penhor que ahi de-
positamos. Sereis de hoje em diante o memorial perenne des-
se homem raro, cujo nome e virtudes, eternamente estarão
gravadas em nossa memoria.
E vós, senhores, a quem o amor, a gratidão e a saudade
ajuntou neste lugar a prestar os ultimos officios da Religião
e humanidade ao P. Jesuino, despedi-vos delle talvez para
sempre, mas em quanto viverdes orae por elle: aprendei neste
exemplo fatal, quanto são falsas nossas esperanças; que só
na patria dos justos deveremos pôr nossos cuidados e nossa
confiança. Trabalhae por serdes imitadores de suas virtudes ;
só assim escapareis a uma morte ignominiosa, e vosso nome
sobreviver& a vossa ruina.
Eu não afirmo que elle é um santo reconhecido por uma
autoridade l&itima: mas foi um homem de bem, um cidadão
honrado, engenhoso, habil, activo e laborioso; um christão
que apresenta em sua vida muitos rasgos de virtudes dignas
de serem imitados ; humilde, caritativo e piedoso ; será sempre
amado, em quanto no coração do homem não apagar-se o
instincto do reconhecimento e da gratidão; obterá sempre
o respeito da posteridade em quanto se souber avaliar o me-
recimento e a virtude.
Ministros do Senhor, continuai vossos suffragios, nós
vos acompanharemos; queremos ser com vosco testemunhas
d~ derradeiro acto, que em nome da Igreja ides praticar a
bem dessa alma. Nós, a borda da sepultura, attentos pela ul-
tima vez, saudaremos com nossas lagrimas os ossos desse
Sacerdote, que tanto amamos, e que merece tanto nossa
saudade e nosso respeito.

Disse.
HOMENAGEM
AO MAXIMO BEMFEITOR DE ITÚ

JOAQUIM BERNARDO BORGES


PELO

DR. JOSÉ DE PAULA LEITE DE BARROS


(SOCIO EFFECTNO E DIHECTOR THESOUREIRO
DO INSTITUTO)
HOMENAGEM AO MAXIMO BEMFEITOR DE ITU'

JOAQUIM BERNARDO BORGES '

Em sessão magna da Camara Municipal de Itu'


em 15 de novembro de 1921.

Exmo. Senhor P~esiden.te,Doz~tor


Prefeito Mz~jzicipal, Se~.thores Edis c
meus Senhores.

FAMOSO e genial dramaturgo philosopho, eme-


rito psychologo e profundo pesquisador dos se-
gredos da alma humana em seus mais intimos
refolhos, o immortal Guilherme Shakespeare, CO-
nhecedor das subtilezas da -mais aprimorada e
atilada dialectica, mestre em utilizal-a com su-
perior habilidade, atravez de uma personagem
criada pelo seu talento, em uma de suas obras
primas, emittiu conceito em completa ' discordancia, aliás,
com o motivo que dá causa a estarmos congregados hoje
nesta reunião, porquanto em o celebre discurso profe-
rido em defesa de Cesar assassinado, assim fallou: - Ami-
94 HOMENAGEM
A JOAQUIM BERNARDO
BORGES

gos, romanos e concidadãos, emprestai-me vossos ouvidos:


eu venho para enterrar Cesar, e não para louval-o. O male-
ficio que os homens fazem sobrevive a elles, o beneficio é
seguidamiente enterrado com seus ossos: assim seja para
com Cesar.
Mas, mau grado a opinião e indiscutivel autoridade do
citado poeta de mundial renome, talvez por isso mesmo, e
apesar da argucia e sagacidade de sua engenhosa argumen-
, tação e dos bem engendrados syllogisrnos e dedusidas illac-

qões, nós outros que aqui nos achamos reunidos somos guia- I

dos por um outro ideal; sentimento differente actúa sobre


nosso espirito, e eu, fazendo uso da palavra em nome da Ir-
mandade de Misericordia, n'esta solenne assembléa adrede
.convocada para o elevado fim de rendermos sincera, grata
e merecida homenagem á excelsa memoria do maior Bem-
feitor desta terra, pela fidalga doação feita a esta cidade
p o r intermedio da mencionada irmandade, para o fim espe-
cial de ser pela mesma fundado e mantido perpetuamente
um Instituto de Artes e Officios, que receberá seu nome,
destinado á instrucção dos filhos de I t ú ; nós outros, ruma-
mos orientados por outro norte, procurando attingir ideaes
oppostos, portanto impulsionados por sentimento diverso á
collimar outra mira, e porque enunciamos principios in-
ieiramente contrarios, seja-nos permittida paraphrasear s
discurso que o nobre triumviro Marco Antonio então di-
rigio ao povo romano, dizendo: - Amigos, ituanos e
concidadãos, emprestai-me vossos ouvidos: eu venho, não
para enterrar o nosso grande Bemfeitor, mas sim para lou-
val-o. O maleficio que os homens fazem deve desapparecer
com sua morte na tumba, emquanto que o bem por elles pra-
ticado deve perdurar para sempre de modo a perpetuar-lhes
a abençoada memoria: assim seja para com*Joaquim Ber-
nardo Borges. E eu, em minha fraqueza, sinto-me entre-
tanto, bastante forte' e alentado para bem cumprir esta obri-
gação, porquanto conto com vosso patrocinio, ao mesmo
tempo que peço o amparo de vossa benevolencia para sup-
prir minha deficiencia na melhor maneira de propagar, dif-
fundir, fazer ,conhecido e sublimar o acto de excepcional
transcendencia por elle praticado, e que tentarei fazer nas
linhas a seguir.

CAPRICHOS DA SORTE

No decorrer dos acontecimentos humanos, nem sempre


o engenho e a intelligencia, distribuidos com igualdade e har-
monicamente conjugados, subsistem ao mesmo tempo em
uma só entidade de maneira a augmentar-lhe a efficiencia e
energia, emquanto que Ò inverso é o que muitas vezes s e
dá, pois é cousa commum verificar-se o caso da influencia,
da acção poderosa da sorte ter intervenção de um modo posi-
tivo na vida, no destino, emfim, no desenvolvimento das ins-
tituições, quaesquer que ellas sejam.
Sem procurar, não obstante, determinar o motivo, desco-
brir a causa, é sufficiente constatar-se o phenomeno, e é o
quanto basta no nosso caso, porquanto innumeras vezes tem
acontecido de sem consulta previa ou sem ter sido feita sim-
ples indagação de ser um individuo possuidor das qualidades
precisas, de ser dotado dos attributos indispensaveis a um
dirigente de mediana aptidão administrativa, de maneira que
no desempenho de cargos em que se achar investido tendo
muitas occasióes de encontrar-se em difficuldade possa ao
menos cumprir com suas obrigaçóes senão com brilho, a o
menos com inteireza.
Com effeito, no commercio quotidiano da vida, duas cir-
cumstancias, ideaes ou estados d'alma se associam na forma-
ção do caracter, da personalidade moral do individuo: l.")
o desejo, a vontade de fazer o bem, de ser algo util á socie-
dade em que vive; 2 . O ) o conhecimento que tem da propria
fraqueza e sabendo não passuir os predicados precisos para
bem desempenhar as obrigaçóes que acaso venha a assu-
mir; mas, facto interessante, sente-se ao mesmo tempo in-
capaz de pronunciar a palavra não, por mais pesada que a
tarefa lhe pareça, porque tem o centro nervoso, séde da vo-
lição, dominado, inteiramente inhibido, como que subjugado
pelas solicitações de amigos de accentuada ascendencia sobre
seu espirito; mas, phenomeno não menos curioso dá-se en-
tão, tem plena certeza, convicção a mais firme de acertar,
de dar conta regular do encargo assumido porque conta por
companheiros de jornada amigos verdadeiros, de sabios con-
selhos, traquejados nos segredos da administração dos em-,
pregos para os quaes foram indicados, tendo dado provas
de honestidade, tino e previdencia, os quaes na destribuição
das recompensas merecem maior parcella de honraria do que
a o proprio chefe couber.
Em summario exame na já bastante longa e gloriosa
existencia desta, por muitos e justos titulos benemerita Ir-
mandade, com facilidade averigua-se que, por um desses ca-
prichos da sorte, como acima me referi, ao mais apagado de
seus dirigentes, e isto o digo com sinceridade, sem o minimo
laivo de falsa e'descabida modestia, ao actual que não possue
em egual gráu de intensidade os attributos que tanto orna-
ram e elevaram os nomes de seus grandes predessessores,
cujos manes venerandos e feitos beneficos jamais serão con-
sagrados como elles merecem, designou o destino, em seus
inescrutaveis arcanos, que a o ultimo coubesse a obrigação
de, por um periodo de tempo mais dilatado do que reservou
aos outros, quasi vinte cinco annos, um quarto de seculo,
superintendesse a vida desta pia Instituição, tendo desta arte
de participar juntamente comvosco de todas as phases e pe-
ripeciaçl porque ha ella passado nesse longo periodo; tremen-
- te de .pesar, com o coração franzido de dores quando se lhe
atltolham dias aziagos, prenhes de densas e negras nuvens,
prenuncio de grandes males que se comprazem em assentar
seus abarracamentos sobre esta terra para como que mais
a vontade, concretisadas nessas tremendas e mortiferas epi-
demias, dar arrhas, estimular o apetite, desses duendes male-
ficos que sentem delicia em aniquilar a vida provocando a
dor, avivando o soffrimento e parecendo tudo devastar; mas
por felicidade cabe a vez á promissora antithese, e como
muito bem affirma o adagio popular, não ha bem que sempre
dure, nem mal que não acabe; cessadas as borrascas, passa-
das as procelosas tempestades que parece tudo aniquilar,
desannuviam-se os horizontes, surgem tempos tranquilos pal-
pitando de alegria, de prazer, dias felizes infiltrando nos co-
rações o encanto de viver, e auras bonançosas pejadas de
suave perfume trazendo em suas azas invisiveis a centelha
divina que inflama a alma estimulando-a para praticar sem-
pre em maior escala a consoladora virtude de suavisar as
afflicçóes, especialmente daquelles que procuram abrigo de-
baixo deste tecto protector, onde mãos carinhosas, angelicas
e devotadas sacerdotisas do bem, não só curam as chagas
d o corpo, como mitigam as dores da alma. Convindo notar,
no entanto, que para assim procederem e bem cumprirem
tão nobre missão, é todavia mister que haja quem possua
bens de fortuna, saiba discernir, e tenha a nitida comprehen-
são dos deveres da verdadeira philaiitropia, que queira e
saiba que instituições ha que bem merecem e com as quaes
s e resolva repartir parte desses bens, de accordo com suas
posses a generosidade de cada qual.

AMIGOS E PROTECTORES

São nossos Protectores, verdadeiros Amigos da Santa


Casa, todos aquelles que cooperaram com seus haveres para
a prosperidade d'ella, almejando como recompensa o sentir
no intimo d'alma a mais doce e suave das sensações, a intima
satisfacçáo de poder realizar o cumprimento d'um acto ge-
neroso, o de soccorrer o seu semelhante quando prostado no
leito da dor maior necessidade tem de ser auxiliado, quer
physica, quer moralmente.
O numero desses protectores, para orgulho desta t e r r a
tradicional, com ufania o digo, o seu numero é grande, uma
brilhante cohorte que fariam inveja a muitas outras terras
que se presam de civilisadas, progressistas e cultivadoras dos
mais apurados principios ethicos.

O MAXIMO PROTECTOR

Os ultimos serão os primeiros; parece que este preceito


biblico fora propositalmente escripto para figurar em letras
de ouro na imponente fachada de vossa Santa Casa, de modo
a dar maior destaque, salientar em uma offuscante primazia
o acto da mais sublime generosidade do ultimo de seus Pro-
tectores, o maior de todos, o mais que Benemerito, Joaquim
Bernardo Borges, immortal no sensitivo coração ituano.

ALGUNS DADOS

Naquelle veloz, fugaz periodo da vida em que o espirlto


da criança começa a desabrochar a o sentir os primeiros ef-
fluvios da fantazia, e a existencia se lhe antolha um com-
plexo de illusões, um encadeamento de flores de variegadas
cores, desprendendo perfumes que embalsamando o ambiente
embriagam os sentidos, quando tudo é alegria, tudo pra-
zer, felicidade, quando a criança, com a mente ainda em for-
mação, não sabe aquilatar o que vale a responsabilidade,
ignora o que são as exigencias sociaes com seus enfadonhos
protocollos e descabidas formalidades, que são para muita
gente mais um tormento do que motivo de prazer, nesse doce
periodo, em minha primeira infancia, já algo distante por-
quanto são já passados mais de sessenta annos,-seis decadas,
coube-me por sorte conhecer a Joaquim Bernardo Borges.
e u mera criança, elle moço ainda mas já homem feito, e feito
para o trabalho, e realmente no trabalho.
Sua biographia, a historia de sua modesta vida durante
.o tempo em que viveu nesta terra, que elle amava como a
d o seu nascimento, é curta e muito simples, como simples
tem sido a vida do homem do trabalho em toda a parte, da-
quelle que pelo proprio esforço consegue fazer sua i ~ d e p e n -
dencia, quando não posição saliente na sociedade pelas suas
qualidades pessoaes, tão bem, qualificado na pitoresca lin-
guagem americana do norte - the self made man - o ho-
mem que se fez a si proprio, como é o caso de Joaquim
Borges, axioma que não carece de demonstração.

A TERRA DE SAO PAULO E O BANDEIRANTE


O exame ainda que perfunctorio da geographia topo-
graphica e geologica de São Paulo, mesmo a o mais mediano
observador, demonstra que a natureza, na formação desta
parte do continente, foi pouco prodiga, para não dizer-se
mesquinha, quiçá hostil, aos futuros habitantes da zona col-
locando a margem do oceano, a poucos kilometros da praia
a grande cordilheira, a conhecida serra do Paranapiacaba,
que corre de norte a sul em toda a extensão de seu terri-
torio, de varias centenas de metros de altura, ingreme, de
difficil accesso para ser transposta a o galgar-se o planalto
superior, que deu origem a um systema orographico sui ge-
neris, todo especial, que modificou o curso natural dos rios
fazendo-os correr da proximidade do mar em demanda
ao interior do paiz.
Parece que a natureza assim procedeu mui de proposito
levantando barreiras e empecilhos com o fito de tirar a pro-
va do valor, da resistencia dos filhos de São Vicente, oppon-
,do difficuldades e grandes obstaculos para o lado do mar, de
,certo modo isolando, denunciando vontade de segregar o ha-
bitante do interior do convivi0 civilisador das outras gen-
tes, que, mais felises, trem facil communicação maritima.
Mas, por isso mesmo, os proprios obstaculos como que
aguçaram os desejos, estimularam para a luta os filhos d e
Piratininga, essa raça forte que, por determinismo historico,
e não mero acaso, tinha uma missão a cumprir. '

Da união, do connubio das duas raças, da dos descobri-


dores e da aborigene, deriva, surge o audaz e valente ma-
meluco, que traz por herança atavica a valentia e tenacidade
do portuguez, de civilisação superior, e da mãe cabocla cr
instincto de liberdade, o amor da independencia, dando ori-
gem a o typo do bandeirante, audaz e ambicioso, valente e
tenaz, que criou o Brasil, segundo o testemunho insuspeito
do sabio Oliveira Martins, que assim se manifesta: "Do Bra-
sil, apenas descoberto, ninguem cura; são demais as terras
para tão pouca gente,, e o minotauro da India devora todas
as forças e absorve todas as cubiças.
O espirito gventureiro dos paulistas foi a primeira alma
da nação brasileira, e São Paulo, esse foco de lendas e tra-
dicções maravilhosas, o coração do paiz. Dahi partiu o movi-
,.> mento de occupação do interior dos sertões, dahi a coloni- .
saçáo se alongou para o sul, até o Paraguay, até ao Prata.
Os novos elementos que as minas traziam á imaginação
popular, creando um segundo cyclo de lendas maravilhosas,
e os caudaes de riqueza que a saca do ouro derramava na
população, coincidiam no sentido de lhe dar uma autonomia
que a immigração crescente assegurava: porque os recem-
vindos de Portugal fundiam-se, nacionalisavam-se, eram as-
similados, como o provam as nunierosas povoações, cujoc
nomes são nacionaes, não portuguezes."
A existencia dessa circumstancia, desses obstaculos na-
turaes, que por mais de uma vez tenho ouvido de respeitaveis ci-
dadãos, observadores e reflectidos pensadores, foram em
grande parte causa do apparecimento dos bandeirantes, crea-
ção nova, devido ao isolamento, a segregação a que foram
forçados pela natureza, com caracteristicos de cunho diffe-
rentes dos seus irmãos de identica estirpe.

FUNDAÇÃO D E ITU'

Nos primeiros annos do XVI seculo, embrenhando-se


atravez de densas florestas, penetrando o intimo de invios
sertões, avistou os campos de Pirapitinguy o destemido sertanejo
parnahybano Capitão Domingos Fernandes, trazendo por com-
panheiro de jornada seu genro Christovão Diniz: ahi, nesses
campos, fixou residencia.
Homem traquejado nas vicissitudes da vida sertaneja,
pratico e com certeza bom observador, não vacilou na ideia
de, nessas terras por elles descobertas, erigir seu lar, porquanto
i
reconheceu ser o clima ameno e salubre. e a terra fertil; tornori
difinitiva a firme deliberação de ahi permanecer, isto pelos
annos de 1610.
Com os recursds de que poude dispor fundou uma capel-
la sob a invocação de Nossa Senhora da Candelaria de Outú-
Guassú, nome este que se origina do termo indigena que si-
gnifica grande catadupa, ou salto, incidente que dá-se no rio
Tietê a seis kilometros de distancia do lugar.
Domingos Fernandes, oriundo de Parnzhyba, era filho
de Manuel Fernandes Ramos, natural de Moura, Portugal,
mas por sda mãe, Suzana Dias, era tataraneto do grande ca-
cique Tibiriçá, valente e fiel regulo que dominava todo o pla-
nalto ã e Piratininga, no tempo do seu descobrimento, e em
consequencia deste facto um verdadeiro e legitimo bandei-
rante, tão digno, tão destemido como os maiores desbrava-
dores do interior brasilico, até então quasi que inteiramente
desconhecido.
Muito bem inspirado andou este primeiro ituano em le-
vantar, de combinação com seu genro Christovão Diniz
Dias, a singela capella, a que ambos dedicaram grande cari-
nho e affeição, como vem provar seu testamento aberto a
24 de Janeiro de 1652, que assim reza: "a qual capella levan-
tamos por concerto que para isso fizemos, de sermos na dita
capella iguaes padroeiros, com o defunto Christovão Diniz
meu genro, e lhe deixarmos nossas terças .para augmento
de dita capella, a qual levantamos no Campo de Pirapitingu~,
á honra e invocação de N." Senhora da Candelaria, a qual
capella faço e constituo por herdeira do remanescente de
minha terça." Depois de fazer outras disposições, accrescen-
tou ainda: - "E declaro que isto ordeno d'este modo, por-
quanto, minha ultima e derradeira vontade, é que a dita ca-
pella se perpetue n'este Itú-Guassú e seu districto, onde está
levantada, na qual pretendo enterrar-me para ahi estarem
meus ossos esperando a universal resurreição no Dia de
Juizo. E assim por nenhum modo quero,, nem consinto, que
a dita capella e meus ossos sejam trasladados para nenhuma
parte fóra do lugar onde a dita capella agora está; salvo se,
pelos meus peccados, Deus ordenar que isto se torne a des-
povoar e então a poderão trasladar em tal caso, sendo toda
via os derradeiros que d'aqui se despirem."
Muito bem inspirado andou Domingos Fernandes em
fundar esta povoação que estava destinada a 'desempenhar,
no futuro, os mais brilhantes e arrojados commetimentos,
escrevendo com seus grandes feitos as mais bellas paginas
da historia de S. Paulo.
A capella serviu de nucleo para a nascente povoação,
que no decorrer dos annos foi crescendo com a vinda de
novos povoadores atrahidos pela fama da uberdade das ter-
ras virgens e do bom clima, e de tal modo prosperou a capella
que dentro de poucos decennios passou a ser o centro mais
importante do interior da Capitania.
Foi creada capella curada em 1644; foi elevada a fre-
guezia em 1653, e a villa pelo 55.0 capitão-mór Gonçalo Cou-
raça de Mesquita, a 18 de Abril de 1657, e cujo governo
durou de 1654 a 1660.
A villa de Itú foi levada á cabeça de comarca, 3."
creada na capitania, por alvará de 2 de Dezembro de 1811.
Foi elevada a cidade por lei provincial de 5 de Fevereiro
de 1842.
Pela parte preponderante que assumi0 no movimento
que trouxe como consequencia a independencia da nação,
convocando para aqui os representantes de todos os senados
das camaras do interior da Capitania, tomando a direcção
(tendo em arma mais de 3 mil infantes - segundo a tradi-
ção) e chefiando o movimento que culminou no brado do
Ypiranga pelo Principe Regente a 7 de Setembro de 1822,
acto que, se o Principe não praticasse, o povo de Itú estava
deliberado, arrostando todos os perigos, e custasse o que custas-
se, a levar a effeito, e tal foi a impressão produzida por
este facto authentico no espirito do cavalheiroso Principe,
que este, alem de outras manifestações publicas de reconheci-
mento aos relevantes serviços prestados por Itú em prol da In-
aependencia da nação concedeu-lhe, quando já então Imperador
e por decreto de 17 de Março de 1823, o titulo de Fidelissima.
Foi esta a cidade que Joaquim Bernardo Borges'esco-
lheu para sua moradia na nova ~ a t r i a .
Foi este o scenario que lhe reservou o destino para pôr
a prova o valor das faculdades de que seu espirito era dotado
offerecendo um campo adequado em que ellas pudessem cres-
cer, desenvolver e produzir.

Na mais central rua de Itú, a rua Direita, fazendo es-


quina com a rua hoje conhecida por rua 15 de Novembro,
existia em tempos idos um casebre, mas que com certeza
na época representava algum valor, e pertencia a familia de
Pedro Leme da Silva, genuino e legitimo ituano, nome que
devemos pronunciar com orgulho, veneração e o maximo
.acatamento.
Este pardieiro, vae-lhe a calhar o epitheto, passou pelas
mãos de varios proprietarios no correr dos annos, dentre os
quaes foi seu possuidor o Capitão-Mór Bento Paes de Bar-
ros, 1 . O Barão de Itú, um dos fundadores e primeiro Pro-
vedor pelo espaço de mais de 18 annos e grande protector
da Irmandade de Misericordia, que, homem de acção, bom
gosto e de recursos, poz abaixo a velha casa e no mesmo
local fez construir, para sua residencia, um bello e mages-
toso predio, que na verdade pouco desfructou, em pessda,
mas ahi ficou residindo sua veneranda viuva por muitos an-
nos, sendo sempre muito acatada e estimada pela sociedade
ituana, devido ás nobres qualidades que ornavam sua pessoa.
Por occasião do fallecimento da Senhora Baroneza de ItY,
em 1880 e poucos, seus herdeiros venderam o predio ao Dr.
Francisco Emygdio da Fonseca Pacheco, ituana dos mais dis-
tinctos, Provedor tambem por mais de 18 annos da Irmandade
de Misericordia, á qual prestou os mais relevantes e assigna-
lados serviços quando ainda a mesma dispunha de parca e
diminuta renda, sendo após seu fallecimento o predio ven-
dido ao Governo do Estado, que depois de pequena reforma
o destinou a um g ~ u p oescolar tendo sido dado a denomi-
nação de - "Convenção de Itú".
Narram as chronicas do tempo que, pelos annos de 1682,
sob o commando do Capitão-Mór Braz Mendes Paes, oriun-
d o de Sorocaba, partio de São Paulo em demanda do sertão,
chegando até os campos da Vaccaria, proxima as divisas do
Rio Grande do Sul de um lado, e o sul de Matto Grosso,
além do Paraná, de outro, um corpo de tropa com ordem de
manter a posse e dominio dessas terras: desse corpo fazia
parte Pedro Leme da Silva; o torto por alcunha, mas que
dotado de espirito arrojado, segundo affirma Azevedo Mar-
ques, - "era destemido e capaz para qualquer acção de teme-
ridade".
Neste sertáo, pois, achava-se a tropa de paulistas como
em arraial, esperando opportunidade para seguir o destino
que levavam em vista, quando inesperadamente 3ppareceu
um mestre de Campo Castelhano da provinçia do Para-
guay com seu troço de cavallaria forte de 300 soldírdos; corq ur-
banidade e occulta intenção cumprimentou aas paulistas,
presenteando ao Capitão-Mór com excellente herva chamada
Congonha. Deteve-se este Mestre de Campo com seu terço
alguns dias a distancia de um tiro de artilharia do arraial dos
paulistas. Entre castelhanos e paulistas se travou sociedade
urbana e civil, porque da parte destes se não tinha penetrado
o occulto fim do mestre de campo castelha~o,até que em
uma manhã com sufficiente numero de soldados 8 pé, e pro-
curando o chefe dos paulistas travou pratica sobre a vastidão
d'aquelles sertões e seus gentios, contra cujas forças trium-
phavam sempre QS paulistas.
Subtilmente foi o tal castelhano dispondo o seu discurso
ao Capitão-Mór e a alguns officiaes e soldados que se acha-
vam na pratica no numero dos quaes estava Pedro Leme.
Persuadio o dito mestre de campo que aquelle sertão era
todo elle conquista do rei seu amo como primeiro senhor
da provincia do Paraguay, por cuja razão não deviam os pau-
listas duvidar desta preferencia e que para todo o tempo
assim constar, era muito justo (visto achar-se n'aquella oc-
casião um e outro corpo postado no dito sertão) que as-
signasse o Capitão-Mór com seus officiaes e soldados um
termo d'este reconhecimento, que já trazia escripto, e apre-
sentou.-~.
Sem a menor repugnancia tomou da penna o simples e
material Capitão-Mór e assignou, fazendo o mesma os ou-
tros que alli se achavam até o numero de cinco, quanda pnfi:-
recido e repentinamente pegou Pedro Leme na sua qrma
de fogo e engatilhando-a, rompeu nestas palavras qve se
conservap cama tradição entre as antanhos moradores de
I t ú : - V." S." pelo poder com que se acha n'este lugar, será
senhor de minha vida, mas não de minha lealdade; estes cam-
pos são e sempre foram d'El-rei de Portugal meu senhor, e por
nós e por nossos avós penetrados, seguidos e trilhados quasi
todos os annos a conquistar barbaros gentios seus habita-
dores; o Snr. Capitão-Mór e mais senhores que têm as-
signado sem advertencia o contrario d'esta verdade, ou estão
abandonados como lesos, ou como temerarios, eu não, nem
os mais que aqui nos achamos, porque não havemos de as-
signar este papel.
A estas vozes e a este exemplo, já todo o corpo de pau-
listas tinha pegado em armas, com cujo brioso movimento
foi porém tão prudente o chefe da tropa castelhana, que sem
articular palavra retirou-se, e depois de ter dado alguns pas-
sos disse, muito despeitado, aliás, apontando ao brioso ituano:
Mirem e1 tuerto! E Pedro Leme, ouvindo o vituperio,
respondeu-lhe em.alta voz : - e coxo tambem.
Mas o que é certo, estando perfeitamente averiguado,
é que o termo não foi então assignado.
O tempo, que nunca se cança no seu perenne caminhar, des-
dobrou-se impassivel, e dous seculos eram então já passados
depois do brioso gesto do ignorado ituano naquelles campos ser-
tanejos, quando surgio á tona da discussão, por vezes irritante e
trazendo em seu bojo o espirito bellicoso, em effervescencia a
celebre questão de divisa entre o Brasil e a Argentina, sobe-
jamente conhecida pela questão das missões; e com um pouco
de raciocinio e de boa logica, ligando um facto ao outro, se
tirará a conclusão que a ausencia da existencia deste termo
deu ganho de causa ao Brasil ou pelo menos muito cooperou
para tal, cabalmente justificado pelo luminoso e justo laudo
superiormente proferido pelo grande Grover Cleveland, que
confirmou, de um modo claro e positivo, nosso indiscutivel
direito sobre aquellas lindas paragens, fazendo incorporar
ao patrimoni*~nacional os invejados e ricos territorios das
missões e vaccaria, herança que nossos avós, a custa de in-
gentes esforços, nos legaram.
Pedro Leme, era pai dos dous irmãos João e Lourenço
Leme da Silva, que foram nas novas minas de ouro de Cuya-
bá grandes potentados, e que durante muitos annos enche-
ram a historia de São Paulo com seus agigantados feitos,
para quem a fortuna teve as maiores fluctuações, periodos
de muita abastança, e momentos de extrema miseria, devido
as injustas perseguições desenvolvidas contra elles, pelos pouco
escrupulosos representantes na colonia e tambem, do, por sua
vez, assaz ganancioso Governo d a metropole.
Filho de uma época de civilisação ainda rudimentar,
Pedro Leme, de espirito rude e sem a necessaria cultura,
foi no entanto um patriota vidente, porquanto nesse remoto
sertão, sem recursos de qualquer especie, soffrendo em
todo seu rigor as intemperies do tempo, a mercê de tre-
mendos aguaceiros e sem abrigo, exposto aos tiaios causti-
cantes de um sol de fogo no grande sertão, rodeado de
animaes carniceiros e peçonhentos, enfrentando ferozes hor-
das de indomaveis selvicolas - os bellicosos Guaycurús, ou
indios cavalleiros, e, sobretudo, soldado sujeito á disciplina
ferrêa da época, sabendo poder ser passado pelas armas á
menor quebra do cumprimento de seus deveres militares,
de accordo com as leis e regulamentos em vigor, não tre-
pidou, não vacilou em offerecer, se preciso fosse, em holo-
causto no altar da patria sua vida para salvar a honra da
nação e seus ideaes. Foi sublime. Tem real merecimento, merece
especial menção.
Filho de illustrado engenheiro e eminente politico, Rio
Branco foi inegavelmente cerebração superior, sabendo desde
o berço aproveitar as lições e conselhos que um pae extre-
moso sabe incutir no espirito e coração do filho, especial-
mente quando este é possuidor de talento e vontade de saber.
Dotado de muito talento, residindo sempre em um meio
de superior cultura, Rio Branco, muito estudioso, notabi-
lissimo estadista, em seu amplo gabinete de trabalho prestoil
ao paiz os mais assignalados serviços que se podiam esperar
de sua previlegiada mentalidade. Foi, de facto, um grande brasi-
leiro que soube honrar a patria. Retirando-se algumas folhas
de louro da coroa que lhe orna a fronte, para serem espar-
zidas sobre o tumulo ideal do heroe ituano, em nada sua
incontestada gloria ficará desmerecida, no entanto que uma in-
justiça ficará reparada.
Mas Pedro Leme, sejamos justiceiros, mesmo em sua
rusticidade não pode temer um cotejo, foi um grande bra-
sileiro tambem, si bem que physicamente observado, um de-
feituoso porquanto além de zarolho, vesgo, - tuerto - em
idioma castelhano, era ainda coxo de uma perna, mas isto
não obstou que possuisse uma alma de escol de bandeirante
do mais fino quilate, vasada no molde do mais rutilo e pre-
cioso metal que é o patriotismo.
Uma boa parte, pelo menos, da gloria do laudo que
resolveu a questão das Missões pertence de pleno direito ao
obscuro heróe ituano; é a justiça da historia que assim o
reivindica.
Pedro Leme falleceu nesta cidade em 1717.
Honra e gloria ao seu nome, legitimo orgulho de Itú,
e que sua veneranda memoria e a narrativa de seus elevados
feitos, repetidas de geração em geração, sejam o fanal e o
santelmo que guiem os filhos desta terra na senda do ver-
dadeiro civismo e acrisolado amor da patria.
Todas as nações e todos os povos veneram suas reli-
quias e rendem culto com orgulho á memoria de seus gran-
des homens ; e, neste sentido, bem poucas terras, aliás, podem
se nivelar a esta que se ufana de possuir um brilhante ról
de grandes filhos, os quaes, nos diversos departamentos da
sciencia e postos sociaes teem sabido honrar o torrão natal.
Como os povos cultos, façamos, pois, a mais intensa e ar-
dente apologia, prestemos contentes digna 'bornenagem a
todos os grandes e illustres filhos de Itú, pois a todo o tem-
po é tempo de se reparar omissões commettidas, e, em re-
verente e enthusiastica saudação, concretisemos em um só
nome os nomes de todos elles, e, com a energia de que somos
capazes, e todos de pé, brademos: viva Pedro Leme.

EFFEITOS DA AFINIDADE

Foi com este povo ituano, genuino descendente dos des-


temidos bandeirantes, adornado das mesmas virtudes, quiçá
carregando iguaes defeitos, com quem Borges conviveu em
sua faina de commerciante, de homem do trabalho, com quem
travou relações muito intimas, com quem, encontrando iden-
tidade de sentir, irmanou-se, confundiu-se, amalgamou-se,
Qorque descobriu neste povo afinidade de pensamento, prin-
cipio~civicos e moraes, qualidades outras de nobreza sirni-
Ihantes ás suas que nem o tempo, nem a distancia conse-
guiram apagar de sua memoria.
Itú foi deveras sua segunda patria, que elle amou com
sinceridade como amou a do seu nascimento; que quanto
mais a ampulheta do tempo em seu incessante caminhar mais
o distanciava da terra e dos acontecimentos de que fora tes-
temunha, em que tomou parte, mais acrisoladas se lhe en-
tranhavam na alma a lembrança e as saudades desta terra
conde sentiu as primeiras illusões de homem, onde deixou
amigos, de onde levou reminiscencias indeleveis, que se con-
servaram sempre nitidas em seu coração, que, com toda a
certeza, nos momentos de ocio e nas horas de folga que os
negocios lhe dispensavam nos ultimos dias de sua vida, fa-
zendo um retrospecto do passado, quantas horas felizes te-
ria gozado recordando-se com agridoce saudade do longin-
quo preterito immerso nas brumas que os annos soem ac-
.cumular.

ALGUNS APONTAMENTOS

A sessenta annos atraz, em mil oitocentos e cincoenta


e poucos, éra da chegada de Joaquim Bernardo Borges a
esta terra, apesar do acervo de cabedal e predicados que
tivera opportunidade de reunir em seu precioso, rico e co-
pioso archivo de factos nobilitantes e gloriosos a seu haver,
o que era em seu aspecto physico e social a Fidelissima ci-
dade de I t ú ? Na mais acceitavel hypothese, não passava, não
era mesmo mais do que uma aldeia um pouco grande, de
certa vida intellectual e politica, ou um pouco mais, por libe-
ralidade, mas não podendo entretanto fugir ás contingencias
da época e do tempo, porquanto a propria provincia de São
Paulo era muitissimo pobre, dispondo de um orçamento me-
nos que modesto, hoje em dia. Para comprovar esta affir-
mação é sufficient'e o verificar-se que a renda municipal de
Itú para o anno financeiro de 1870, incluindo o actual muni-
cipio do Salto, que ainda não se havia desmembrado, foi or-
çada em rs. 12:435$048, quantia essa visivelmente insuffi-
ciente para satisfazer as não pequenas necessidades publicas.
Na verdade as ruas tinham os passeios bem calçados com
as conhecidas e providenciaes lages que fizeram o renome de
Itú, mas a parte central das mesmas era o que se podia
imaginar de mais primitivo em materia de calçamento, que
consistia em um amontoado de pedras toscas, brutas, sem o
minimo lavramento, juxtapostas umas ás outras offerecendo
o mais incommodo e torturante piso que a imaginação de
fecundo inquisidor poderia engendrar.
Illuminaçáo publica, nem noticia; a escuridão das ruas
era completa.
Nas noutes sem luar, era um espectaculo curioso e digno
de ser visto, cousa aliás sediça e muito usual, as familias
quando tinham de fazer suas visitas noturnas serem puxa-
das por um moleque que as guiava empunhando a tradicional
lanterna munida quasi sempre de vela de cebo, acontecendo
muita vez estarem as matronas refesteladas em cadeirinhas
carregadas pelos valentes hombros de dois robustos pretos.
A AGENCIA DO CORREIO E A IMPRENSA

A egreja do Bom Jesus é um dos templos mais antigos


da cidade: seu largo, no entanto, é o mais novo de quantos
existem na povoação (o actual largo foi feito por'iniciativa
d o intenigente advogado e politico ituano Tristão de Abreu
Rangel, que residia n'um predio á rua do Commercio co-
nhecido por grade de ferro e ainda existente, a custa de
subscripção popular pouco depois de 1840) ; era o largo do
Bom Jesus o unico arborisado da cidade, por dous renques
o u filas de altas, mui esguias e sibilantes casuarinas, umas
cinco ou seis de cada lado, ahi plantadas pelo já mencionado
Tristão Rangel com mudas que mandou vir da Corte.
A não ser em horas de missa nem viva alma ; era o exem-
plo da quietez e taciturnidade, excepto. porém, de cinco em
cinco dias quando muita gente se agglomerava á porta da
agencia do correio, situada em meio do largo, á esquerda de
quem desce, á espera da correspondencia condusida em mir-
rada mala postal bor um proprio ou estafeta na garupa do
animal que montava, e niais tarde, de 3 em 3 dias, na rabeira
d e um dos primeiros e primitivos trollys, conhecido vehiculo
d e recente introducção na provincia. A correspondencia de-
pois de verificada e conferida pelo agente Joaquim Leme
d e Oliveira Cesar, homem de cara rapada como os dandys
de hoje, sisudo, e poucas palavras e de relativa cu!tura, reda-
d o r e proprietario da "Esperança" hebdomadario, noticioso,
com os artigos bem lançados tratando de assumptos de inte-
resse municipal ou politico, e que com pouca falha sahia aos
domingos, distribuia a correspondencia e o jornal ao mesmo
tempo, porquanto funccionavam n'um só predio a agencia
postal, a redacção do jornal e t~pographia.
A egreja era de construcção antiga mas regularmente
acabada e conservada, com seu consistorio assobradado ao
lado da travessa, onde em bons aposentos residiram por bas-
tante annos dous virtuosos sacerdotes ituanos, O octage-
nario Padre Francisco Pacheco de Campos, e o seu parente,
bem mais moço, o Padre Jeronymo Pedroso de Barros, mais
tarde estimado conego da Sé de São Paulo. Como ainda
hoje, dava a egreja fundos para o theatro São Domingos,
edificio de boa construcção para a época, que tem sido tes-
temunha e depositario de muitas scenas intimas, v i v p emo-
ções, segredos e confidencias de pelo menos quatro gerações
desapparecidas na voragem insaciavel do tumulo.

UM AMIGO PATRAO

Seguindo-se pela rua do Commercio entre o largo do Bom


Jesus e rua 15 de Novembro, em meio do quarteirão, á m ã o
direita de quem sobe, estava situada a casa de negocio d o
velho ituano Manuel Joaquim Antunes Russo, mais conhe-
cido por Maneco Russo, alcunha que lhe provinha da cor
de seus cabellos chamados - Aço - pelo vulgo, um caso
bem definido de - albinismo.
E r a a casa commercial não só de maior movimento d e
Itú, como uma das primeiras do interior da provincia, por-
quanto tinha sortimento completo do que havia de melhor
em fazendas finas, modas, chapeos, armarinho, calçado's, lou-
ças, seccos e molhados, emfim tudo em alta escala, tendo
ainda em frente, do outro lado da rua, uma venda e padaria
annexa pertencentes ao mesmo proprietario.
Este, de mediana estatura, a cara rapada, algum tanto.
obeso, era o chefe da casa, e dotado de genio franco e ex-
pansivo, bastante considerado na sociedade ituana por s e r
bondoso e serviçal, de reconhecida honestidade em suas tran-
sacçóes commerciaes, e propenso á grandes lances de negocio.
Foi este cidadão o segundo patrão de Joaquim Ber-
nardo Borges, e com quem mais intimamente conviveu a
maior parte do tempo em que foi empregado, por quem na-
turalmente foi iniciado no segredo da vida comrnercial, do
quem recebeu o exemplo, bons conselhos e proveitosas lições
que muita influencia tiveram na formação de seu espirito
de homem de negocio.

UM PEQUENO EMIGRANTE

Filho legitimo de Antonio Borges e de sua mulher D.a An-


na Augusta, nasceu Joaquim Bernardo Borges na aldeia de
Vilamarim, Comarca de Mesãofrio, provincia de Traz os
Montes, Portugal, e ainda quasi uma criança, com a idade d e
15 annos pouco mais ou menos, deixou os lares paternos em
busca de fortuna, guiando o destino seus passos para Itú,
onde, em 1850 e poucos (não posso precisar o anno exacto),
empregou-se no commercio.
Foram seus primeiros patrões Emygdio Baptista Bue-
no e João Baptista de Macedo, aquelle brasileiro, natural
de São Sebastião, o segundo portuguez, homem do trabalho,
que aqui sempre residiu constituindo familia, sendo que sua
veneranda viuva ainda vive rodeada dos dignos filhos, dis-
tincto ornamento da sociedade ituana, os quaes em sociedade
abriram uma loja de fazendas, á rua Direita, n." 55, mas que
teve curta duração: viu-se Joaquim Borges na con-
tingencia de procurar novo patrão, mas guiado pelo boa
sorte e já com nome feito por sua capacidade e diligencia,
com facilidade encontrou emprego na mesma categoria de
caixeiro, e, com animo resoluto e vontade de trabalhar, pas-
sou-se para a casa commercial do bom ituano Manuel Joa-
quim Antunes Russo.
Fez rapida e brilhante carreira, porque recto cumpridor
de seus deveres e activo, subiu logo de posição e no conceito
do chefe, e pelos seus merecimentos passou a ser escolhido
para executar commissÓes outras para as quaes eram requi-
sitadas qualidades de confiança e aptidão, no cumprimento
das qcaes sahiu-se sempre galhardamente dando boa conta
dos negocios de que fâra encarregado.
A guerra da seccessão americana, provocada pela perti-
nacia dos estados sulistas em conservarem a escrqvidão em seu
territorio, em opposição ao firme proposito dos Estados do
norte, francamente abolicionistas, trouxe, como era inevi-
tavel, comp!eta desorganisação na lavoura e na vida dos es-
tados do sul, os maiores productores e exportadores de al-
godão do mundo, circumstancia que ainda mais se aggravou
m m o bloqueio effectivo de seus portos pela esquadra que se
collocou ao lado do governo legal ficando fiel ao presidente
Abrahão Lincoln.
Em consequencia desses acontecimentos, cessou por com-
pleto o commercio de exportação de algodão dos Estados
Unidos, que repercutindo com effeitos desastrosos nos gran-
des centros manufactureiros da Inglaterra produziu o que
elles bem apropriadamente denominaram - a fome do al-
godão, porque suas fabricas estiveram a ponto de serem fe-
chadas por falta absoluta de materia prima.
O governo da Inglaterra appellou para o patriotismo de
seu povo com o 'fim de conseguir o algodão preciso para sal-
var a riqueza da nação que então perigava; dentre estes me-
rece menção especial J. J. Aubertin, o pae do algodão, como
ficou sendo chamado, superintendente da São Paulo Railway,
que acabava de inaugurar seu trafego, e que se esforçou de-
votadamente pelo plantio em São Paulo da utilissima malvacea.
Homem observador, energico e operoso tomou comsigo
mesmo o firme compromisso de salvar a grande riqueza de sua
patria, para cujo fim teve a visão de, por sua vez, appellar
para a energia, para a capacidade producfora da gente pau-
lista; não foi em vão esse appello, porquanto logo na
segunda safra, a de 1868, o porto de Santos, sosinho, bateu
o resto do Brasil, exportando mais algodão do que todos os
portos do paiz reunidos, sendo salva a riqueza ingleza.
Influenciado pela iniciativa e conselhos de J. Aubertin
que mandou vir do estrangeiro grande porção de sementes
.c machinismos apropriados para o tratamento do algodão,
que vendia apenas salvando o custo, intensificou-se de um
modo assombroso a cultura do algodão herbaceo na provincia.
tornando-se Porto Feliz o seu maior centro productor.
Antunes Russo, emprehendedor como sempre,, não des-
prezou a occasião que se lhe deparou e aproveitou-a para
realisar negocios vantajosos, e assim augmentar seus ha-
veres; sem perder tempo inutilmente fez, incontinenti, partir
para aquella cidade o empregado que julgou idoneo, e Joa-
quim Bernardo Borges foi o escolhido, levando comsigo bom
sortimento de fazendas, com ordem para que uma vez vendi-
das fosse seu producto empregado na compra de partidas de
algodão.
Tiveram confirmação essas previsóes de Antunes Rus-
so, ,porquanto foram graAdes os lucros provenientes dessas
transacções.
Como coincidisse já possuir a este tempo algum capitaI
de seu, ganho a custa de assiduo trabalho e bastante econo-
mia, não hesitou Borges em dar-lhe identica applicação fa-
zendo compras de algodão por preços que offerecessem mas-
gens para lucros. Foi, nessas operações, bastante feliz, vendo
crescer seus capitaes.
Uma vez cessada a guerra nos Estados Unidos, voltou
o paiz a usufruir dos beneficios da paz, e tratando de refazer
os estragos produzidos pela guerra, com a assombrosa ca-
pacidade de trabalho peculiar ao americano, e ainda mais
agora munidos de apparelhos modernos que além de augmen-
tar a producçáo ainda cooperavam para baixar muito o custo
da mesma, cahiu em todo o mundo ,o preço do algodão, queda
que reflectiu de modo desastroso nos centros algodoeiros
de S. Paulo onde, além da escravidão que era a negação do
progresso, a cultura do algodão não estava de todo radicada
na provincia, trazendo como consequencia a baixa do pro-
ducto e diminuição da cultura; por esta causa viu-se Antunes
Russo na contingencia de ordenar a volta a Itú de Joaquim
Borges, que, aliás, ainda continuou como empregado da mes-
ma casa commercial, mas já então em categoria superior.
Passados, porém, alguns annos veiu Manuel J. Antunes
Russo a fallecer; em consequencia d'este facto retirou-se
Joaquim Borges da casa onde era empregado, e como já
tivesse accumulado algum capital iniciou commercio por con-
ta individual, ou em sociedade com outros. Abriu, á rua do
Commercio, baixos do sobrado de certo Sr. Ferrugem, 'velho
celibatario, uma casa de commissões e consignações, ao mes-
mo tempo comprando algodão, mas fazendo o forte de seu
negocio em grandes compras de todo o chá, que eram algu-
mas mil arrobas, produzidas em Sorocaba, Tietê, Capivary
e todo o colhido nos dois maiores centros de cultura; Porto
Feliz e Itíi.
Por um processo de seu conhecimento manipulava, se-
leccionava as diversas qualidades, enlatando-as separadamen-
te, e applicando envoltorios apropriados, exportava-os para
a capital, onde sendo artigo de primeira qualidade e bastante
acreditado, encontrava facil collocação, alcançando preços
compensadores.
De tal modo houve-se neste ramo de negocio que con-
seguiu fazer do mesmo quasi verdadeiro monopolio, vindo a
accumular d'esta arte um peculio bastante acima de cem
contos de réis.
Em 1875 deliberou liquidar sua casa de negocio de Itú,
o que uma vez feito passou-se para a Capital do Estado, de-
morando-se ahi sómente o tempo preciso para a boa appli-
cação de seu capital em predios e a juros.
Estando agora livre da trabalhosa vida de commekcian-
te, possuindo regular fortuna, e, sobretudo, com justa sau-
dade da velha progenitora e irmãos, as quaes, desde que para
o Brasil viera, não mais avistara, transferiu-se para Por-
tugal.
Na terra natal, uma vez chegado, fixou residencia defi-
nitiva na cidade do Porto, bastante proximo, aliás, da aldeia
onde nascera.
Emquanto residiu em Itu foi um verdadeiro apaixonado
pelas cousas do theatro; era assiduo frequentador do velho
São Domingos.
Conservou sempre profunda saudade, terno e affectuoso
reconhecimento a Itú, e as vezes que teve occasião de en-
contrar-se com pessoas idas de cá para Portugal, referia-se
a esta cidade e ao tempo que aqui passara com o maximo
carinho e gratidão.
E m nossa terra deixou solidas amisades, e muitos ami-
gos sinceros, dos quaes, a maior parte, não mais podem estar
presentes nesta reunião para prestarem-lhe a homenagem a
que tem direito.

O MAXIMO BEMFEITOR

Foi summamente grato a Itú, e o acto generoso, de


grande, de previdente, de elevada philanthropia que praticou,
colloca sua memoria a par dos maiores bemfeitores das duas
Americas.
Foi mais do que Benemerito, é um ituano immortal.
porque sua veneranda memoria se perpetuará pelos annos em
fóra nos corações, e pela bocca dos seus filhos em espirito,
os futuros educandos do Instituto de seu nome que aos mi-
lhares encarregar-se-hão, agradecidos, de proclamar a gran-
desa Calma, de louvar o grande Bemfeitor.
Tendo accumulado grande cabedal, nos ultimos annos
de sua longa existencia, é muito natural que Joaquim Ber-
nardo Borges, espirito afeito aos negocios, pensasse em bem
dispor, na melhor applicação a fazer de sua fortuna, mais
proveitosa e de reconhecida utilidade. Depois de maduramen-
te pensar tomou naturalmente uma firme resolução originada
em ter reconhecido no nosso povo as qualidades, que desejava,
de nobreza e honradez, de modo que seus ultimos desejos e
vontades fossem cumpridos com fidelidade, e assim pensando
muito espontaneamente confiou no caracter de legitimos
descendentes dos ituanos da velha tempera e, convicto, dele-
gou á actual geração tão elevada e honrosa tarefa.
E a nós ituanos que amamos com sinceridade esta terra,
conscientes da obrigação que assumimos, é mister que nos col-
loquemos a altura da honrosa missão, é preciso que saibamos
corresponder ao convite de cumprir com lealdade e firmeza
o dispositivo testamental, e isto para maior galardão d o
Magnanimo Doador, e, mais ainda, para acquisição de mais
um florão a ajuntar aos muitos titulos de benemerencia que
ennobrecem nossa amada Instituição, justo orgulho, bello
expoente do gráu de civilisação e de progresso a que attingiu
a culta sociedade da gloriosa terra da Convenção.
Ao terminar venho ainda, invocando vossa generosidade,
pedir um bill de indemnidade pelo abuso que hei commettido
occupando mais do que era licito um tempo assás precioso,
que, consciente mas forçado, roubei a outrem que com mais
direito e justiça deveria caber, aos privilegiados da na-
tureza pelo talento, alta cerebração e superior cultura, que
em rendilhadas e bem buriladas phrases do mais aprimorado,
castiço estylo e do mais puro vernaculo, poderiam e deveriam
mesmo ter sabido cantar as grandesas e passadas glorias d o
velho Itú com impeccavel elegancia, mais saber e profundos
conceitos; porém, ter mais carinho, cultivar mais amor, vo-
tar mais veneração, querer mais bem ás cousas e tradições
d'esta terra, eu vol-o affirmo com a maxima lealdade, nesta
desconchavada arenga, de palavra difficil e descolorida, tosca
e rude, sem bellezas de forma nem atavios que a tornem at-
trahente, eu vol-o affirmo, repito, não temer cotejo.
Ao meu coração de ituano não serão muitos os que con-
seguirão igualar em intensidade do mais puro e devotado
sentimento de apreço que lhe consagro.
Que Itú, em sua trajectoria atravez do espaço e do tem-
po, seja sempre estrella de primeira grandeza entre suas
irmãs que ornam esta bella região illuminada pelo imponente
Cruzeiro do Sul. E que propicias e bemfazejas auras a con-
I
ir duzam ao mais prospero e venturoso porvir, são os meus
b mais ardentes e sinceros anhelos.
VISITA AS NNDAÇÕES DA SOCIEDADE
ANONYMA INDUSTRIA DE SEDA NACIONAL
DE CAMPINAS
PARECER PELA COMMISSAO DO INSTITUTO
CONSTITUIDA DOS SRS. :

AFFONSO A. DE FREITAS - Relator.


Dr. JOSE TORRES DE OLIVEIRA
Dr. JOSE DE PAULA LEITE D E BARROS
Dr. EDMUNDO KRUG
JOÃO BAPTISTA DE CAMPOS AGUIRRA
ANTONIO DE GOES NOBRE
GERALDO RUFPOLO
MAJOR FIRMINO DE GODOY.
VISITA AS FUNDAÇÕES DA SOCIEDADE
ANONYMA INDUSTRIA DE SEDA NACIONAL
DE CAMPINAS
(Parecer lido pelo relator sr.
Affonso A. de Freitas).

CONVITE e por iniciativa do illustre societario


sr. dr. José de Paula Leite de Barros, o Instituto
Historico e Geographico de São Paulo, repre-
sentado pelos srs. Affonso A. de Freitas, drs.
José Torres de Oliveira, José de Paula Leite
de Barros, Edmundo Krug, João Baptista de
Campos Aguirra, Antonio de Góes Nobre, Ge-
raldo Ruffolo e Major Firmino de Godoy, visito11
o grande estabelecimento sericicola da Sociedade Anonyma In-
dustria de Seda Nacional, installada em Campinas.
O estabelecimento que ao Instituto foi dado conhecer
não é apenas uma fabrica de seda, porem verdadeira estação
esperimental destinada á creação e fixação de uma varieda-
de distincta da Bornbix rnori, o verdadeiro bicho da seda, que
se torne visceralmente indigena, com o objectivo, prestes a
ser attingido, de obter a segurança da producção typica e
indeficiente da materia prima, indispensavel a garantir a de-
finitiva formação da industria genuinam-ente nacional da
fabricação e tecelagem de seda, e de assegurar o conveniente
preparo dessa materia prima, para ser entregue ás manu-
facturas.
Sob esse aspecto e nesse proposito, que está sendo le-
vado a effeito com toda a efficiencia, a "Sociedade Industria
da seda nacional em Campinas", toma as proporções gran-
diosas de uma escola de elevado e sadio civismo: essa foi a
impressão indelevel e agradabilissima recebida pelos repre-
sentantes do Instituto Historico de tudo que viram e exami-
naram, a qual ficou fielmente registrada nas seguintes pala-
vras lançadas pela Commissão no livro de visitantes do mo-
delar instituto industrial :

"A industria paulista nos ultimos tempos do


"seu formidavel desenvolvimento, vinha-se cons-
<<
tituindo, com raras excepções, pela manufactura
(i em materias primas importadas, demonstração
"de um progresso mais ficticio que real e perdu-
"ravel. Felizmente a S. A. Industria de Seda Na-
"cional afastando-se da rotina condempavel, fun-
"da seu modelar estabelecimento fabril com o pre-
"liminar e patriotico cuidado de organizar e in-
"tensificar a producção indigena da materia pri-
"ma exigida pelos seus teares, radicando assim,
"definitiva e visceralmente á Industria Paulista
"o fabrico de tecidos de seda.
"O Instituto Historico de São Paulo, legi-
"timo depositario dos Fastos da Historia Paulista,
"registando a magnifica impressão colhida nesta
"visita, agradece a acção desenvolvida pela Socie-
"dade Anonyma de Seda Nacional em pró1 do en-
"grandecimento industrial e do renome que o sew
"patriotico emprehendimento emprestará ao Es-
"tado de São Paulo.

A visita ás fundações da Sociedade Anonyma evocou e


revivesceu na memoria dos membros do Instituto, todo o
esforço que os Paulistas vem desenvolvendo desde os pri-
meiros annos do seculo XIX, para crearem uma industria de
tecelagem de panno toda sua, pelo emprego da materia prima
indigena.
De principio, os innumeros teares, esparsos por toda a
província forneciam á estatistica numero relativamente ele-
vado de operarios tecelões, notando-se a particularidade de
ser tal mistér quasi exclusivamente exercido por mulheres:
dos 10.256 artifices tecelões que no anno de 1872 exerciam
sua actividade na provincia, 9.514 pertenciam ao sexo femi-
nino, não deixando tambem de merecer registo a circumstan-
cia de ser brasileira a quasi totalidade desse operariado, pois
dos 10.256 operarios apenas 248 eram extrangeiros.
O mais remoto esforço para creação de estabelecimen-
t o fabril de tecido, de apreciavel vulto em São Paulo, deu-se
em 1765, sob os auspicios do capitão general D. Luiz Antonio
de Souza Botelho Mourão, o qual, com o visivel intuito de
produzir manufactura para a exportação, pretendia fundar uma
fabrica de tecidos de algodão na villa de Santos, pondo tal
empenho nesse emprehendimento que determinou, por edita1
d e 7 de setembro daquelle anno, a isenção do serviço militar
em favor dos filhos do lavrador paulista, que annualmente,
entregasse 10 arrobas de materia prima aos teares do pro-
jectado estabelecimento.
Depois dessa primeira tentativa, a qual parece não ter
logrado o exito desejavel @esperado, sómente 48 annos de-
pois. em 1813, é que outras tentativas do mesmo genero foram
levadas a effeito com a fundação de uma fabrica nessa Ca-
pital, novo e patriotico esforço que, como o primeiro mallo-
grou-se totalmente após um periodo de actividade de cerca de
oito annos: (*) nova tentativa se verificou mais tarde com
a fundação de uma fabrica de berbutina, pelo coronel Antonio
Maria Quartim, sem melhores resultados que os da fundação
de 1813. Logo após, o Marechal José Arouche de Toledn
Rendon organiza a primeira Companhia para explorar a fa-

( * ) O seguinte documento, conservado inedito e desconhecido att? ago-


ra, nos informa, com minucia, o que foi o estabelecimento fabril fundado
em São Paulo no auno de 1813.
"Representa a V. Exa. Com todo Respeito Thomaz Rodrigues Tocha,
mestre fabricante de tecidos de seda e algodão, q'. havendo sido manda-
do pela Real Junta do Commercio p.a esta Capitania em 11 de Maio de
1813, munido de hua Carta Regia aqual se acha na secretaria deste gm
verno afim de ensinar, e fazer progressar as manufacturas da sua Arte; fez
o supe. isto mesmo publicou na sua chegada, e foi antáo q' apareceu o
Capm. João Marques Vieir4 de Castro, do Rio de Janeiro q' aqui se acha-
va dizendo-lhe qiieria d a r principio a huina fabrica de tecidos nesta ci-
dade, e Conxavando-se o ditto Capm. com o Supe. sea justaráo em pre-
zença do Exmo. Governo daquelle têmpo.
Principiando o supe. atravalhar com quatro tiares de 10, q' já se
achaváo feitos indeferentez tecidos de algodão, elogo emprincipio deste
tenro estabelecimento se auzentou o d.0 Capm. p.a a Capetania do Rio Gran-
de dizendo não sedemoraria mais que 6, ou 8 mezes dexando a fabrica em
mans de procuradores como bem o poderá dizer o Illm. Snr. Brig.0 Mel.
Roiz Jordáo p.* ser hum delles procurador, como já mais escrevesse nem
dezse providencias q'. fizecem adiantar aeste estabelecimento, só sim pas-
sado 6, ou 7 annos appareceu huma carta vinda do Rio de Janeiro, de hum
seu filho remetida ao Illmo. Sr. Brigadeiro assim em q' diz se lhe
remettão as fazendas q'. estiverem em ser, e a fabrica se avallie
p.a ser vendida com todo os seus pertences aqm. aquizer comprar, e se ihe
remetese o seu producto em letras.
A vista desta Carta resolveo-se o supe. a representar este acontecimen-
to a Sua Real Magestade e a Real Junta do Commercio do que resutoii ex-
pedir-se hun aviso ao Exmo. snr. Capm. Gal, João Carlos p.a que tomace de
baixo de suas especiais vista aquelle estabelecimento afim deq'. propa-
gace, e se não fixace a d.= fabrica, e se mais continha o ignora o mpe.
O Certo he q'. o Exmo. snr. Capm. Gal. passou a fazer huiria socieda-
de, qy. de bom grado a asertaráo mas como foce percizo pagar a quantia
emq'. foi a valiado a d.i fabrica, e não se sabia aquem; este s 6 tropesso
tem feito hum anno de demora.
Parece Exmo. Senhores q'. a vista da Carta q'. existe em poder do Illmo.
Snr. Brigadeiro Jordáo sepoderá resolver q'. hum estabelecimento tão Util
a Capitania, e a Nação e a onde a d o de obra he tao' varata, e tantos me-
ninos se podem aplicar se possa fazer e n t k g a d a d.a fabrica aos doies Socios
q'. bem a ser o Illmo. Sr. Marechal Inspector de Melicios e o Illmo. Sr.
Cel. Francisco Ignacio por tanto.
P. a V. Excia. Se digne deferir a sua custumada Justiça visto o reque-
rimento se encaminhar p.* tão bon fim. E. R. Mce., 28 de Julho de 1821.
Poravizo Regio de 31 de Julho de 41. O Sr. General tomou a si para que
não feixace o estabelecimento.
brica de tecidos de algodão que fundara em terrenos de sua
chacara, hoje bairro da Villa Buarque, empreza que teve
identico fim das anteriores.
Depois, seguiu-se largo espaço de tempo sem que novos
esforços fossem expendidos no sentido de se melhorar a in-
dustria de tecelagem ,a qual, entretanto, se intensificava, em-
bora comprimida nos moldes rotineiros, representados pelos
teares primitivos e avulsos, toscos apparelhos construidos
pelos proprios tecelões, até que a 2 de Agosto de 1852, inau-
gura-se em Sorocaba a fabrica a vapor de fiação e tecelagem
de algodão, fundada por Manoel Lopes de Oliveira.
v
A este estabelecimento, o primeiro que em São Paulo
teve existencia relativamente longa, seguiu-se a fundação da
fabrica São Luiz, de Itú, e a de outras, muitas outras, que
constituem hoje a formidavel industria paulista de tecidos de
alg&áo, representada por 77 estabelecimentos fabris de pri-
meira ordem e pelo respeitavel capital de 243.972:000$000,
empregando 41.608 artifices, 780.767 fusos e 23.390 teares,
com a producção annual no valor de 360.251 :242$000.
A fabrica de tecidos de Manoel Lopes de Oliveira, man-
teve-se em actividade até cerca do anno de 1870, fornecendo
os mercados de São Paulo e abastecendo, em parte, o do Rio
de Janeiro. Plenos feliz que Manoel Lopes foi o sorocabano
Francisco de Paula Oliveira e Abreu, o qual, pelos annos de
1850, empregando todos os seus haveres no plantio de cerca de
3.000 pés de amoreira e na creação da variedade - Cora, -
d o Bombix wzori, conseguiu, dois annos após, em 1852, conl
apparelhos primitivos e rudimentares por elle proprio cons-
truidos, fiar e tecer excellente panno de seda, do qual foram
remettidas amostras á Assembléa Provincial e ao governo
imperial, acompanhadas de pedido de auxilio e amparo á nas-
cente e promissora industria.
As petições de Oliveira e Abreu não tiveram solução al-
guma, nem mesmo merecendo as honras de discussão: parece
que o uso da seda e, consequentemente, seu fabrico, eram,
pelo espirito da época, considerados luxo dispensavel e talvez
mesmo condemnavel. Entregue aos seus proprios recursos
pecuniarios, o espirito emprehendedor do clarividente soro-
cabano teve de ceder ante a impossibilidade material de pro-
seguir no patriotico intento de dotar sua terra de uma nova
industria, que se tornaria genuinamente nacional pela proa
ducção da materia prima, e é com profunda tristeza que o
historiador vae encontrar o homem que primeiro delineou e
poz em começo de execução um ramo de actividade industrial
destinado fatalmente a se transformar numa das maiores fon-
tes de riqueza de São Paulo e do Brasil ; é com funda tristeza,
diziamos, que o historiador vae encontrar mais tarde Oli-
veira e Abreu, empregando sua actividade privilegiada no mis-
tér subalterno de medir retalhos de fazenda no balcão de sua
modesta loja de fazendas seccas da cidade de Sorocaba.
Secundando os esforços de Oliveira e Abreu, Piracicaba
tentou, ainda em 1852, a creação do bicho da seda com exem-
plares obtidos, ao que parece, em Sorocaba, e em 1876 novas
tentativas tiveram logar em Campinas; todas, porém, fra-
cassadas antes mesmo de ser iniciada a respectiva tecelagem.
Do patriotico tentamen de Francisco de Paula Oliveira
e Abreu, lastimavelmente fracassado, alguma cousa, entre-
tanto, permaneceu de util a São Paulo; permaneceu a amo-
reira que se tornou, por assim dizer, nativa e ficou o bicho da
seda - "genero cora, por certo a raça mais bella e rica",
o qual, abandonado á sua propria sorte, acclimou-se e se pro-
pagou fixando-se sem se degenerar, no territorio paulista
Foi esse bicho da seda - "que produz a seda amarella
em sua cor natural" - segundo affirmativa de Octavio Ne-
bias em 1852, que o Instituto de Sericicultura da Companhia
de Seda Nacional veio encontrar em diversos pontos do in-
terior do Estado e é sobre elle que o habil technico Sr. Pietro
Rosolen, director do referido Instituto, está desenvolvendo,
com a proficiencia que lhe é peculiar, uma série de expe-
riencias visando a obtenção e fixação de especie distincta e
superior: aliás, a seda produzida pelo Bombix encontrado
em São Paulo e que o Instituto de Sericicultura com muita
propriedade denominou - "super ouro Brasil", - é consi-
derada pela consistencia e pela extensão do fio, superior, e
muito apreciada na Italia.
Devemos consignar e esclarecer, prevenindo duvidas que
possam sugerir o espirito do leitor leigo no assumpto, que o
, bicho da seda encontrado em São Paulo pelo Instituto de
Sericicultura, nada tem de commum com o chamado "Bicho da
Seda nativo do Brasil", abundante em o nosso Estado, onde
é habitualmente encontrado em qualquer logar em que ve-
gete um pé de mamono branco. O bicho da seda importado
por Oliveira e Abreu e que deixou geração em São Paulo, é
uma variedade do bicho asiatico, productor verdadeiro da
seda, ao passo que o "bicho da seda do Brasil" é a Attacus
aurota, a bella Jequitinimú ou Jequitinibô, que produz a co-
nhecidissima lagarta verde-claro das nossas hortas e poma-
res, uma das quatro variedades a que o indigena chama Man-
dorová e o caboclo, Marandová.
Embora a Attacus pertença á familia das bombicideas, s
sua seda é de tal inferioridade que se torna inaproveitavel n o
estado selvagem, não nos parecendo aconselhavel qualquer
demorada tentativa que a melhore, pela perfeita e radical
acclimação já obtida do bombix mori.
A Sociedade Anonyma Industria de Seda Nacional, de-
senvolvendo fielmente o programma contido em seu proprio
-
titulo, praticar a industria de seda nacional, - estabelece,
sob as vistas e direcção de profissionaes da mais alta com-
petencia, um Instituto de selecção de raças e producção de
sirgo; - uma Inspectoria Agricola e mais tres secções des-
tinadas á fiação, torção e tecelagem da materia prima nacio-
nal, obtida pela acção conjuncta das duas primeiras secções..
INSTITUTO D E SERICICULTURA

O Instituto de Sericicultura é destinado principalmente


á formação de raças capazes de produzir materia prima uni-
forme, elastica, resistente, e, sobretudo remuneradora. Esse
resultado parece já ter attingido o Instituto, com o encontro
do bicho da seda introduzido em São Paulo, em 1850, por
Oliveira e Abreu, a que denominou - Super-ouro Brasil - e
pelo que, após demoradas pesquizas e experiencias, acaba de
isolar sob a denominação - Amarello-Brasil, - producto
do cruzamento do - Super-ouro Brasil - com uma das
raças importadas: dessa ultima variedade tem sido remet-
tidos ovulos para a Italia, de onde os criadores informam
estarem dispostos a adquirir todo a producção que delles
possa exportar São Paulo.
Nesta secção, os bichos da seda destinados á propaga-
ção da especie, são meticulosamente seleccionados e as res-
pectivas posturas, depois de soffreretn rigoroso exame bacte-
riologico, em que se eliminam as sementes atacadas de mo-
lestias, e depois de se submetterem á prolongada imbernação
em camara frigorifica, são remettidas, a titulo gratuito, aos
innumeros criadores do interior do Estado, dos quaes, mais
tarde, a Companhia adquire o producto, os casulos, certa de
sua superior qualidade e segura da uniformidade do seu typo,
antecipadamente fixados.
O Instituto, que no biennio de 1923-24, obteve a pro-
ducção ,toda distribuida aos criadores, de 12.800 grammas de
ovulos, conseguiu eleval-a, na safra actual. a 180.000 gram-
mas provenientes do cruzamento do - Super ouro Brasil -
e 60.000 de raças puras.

INSPECTORIA AGRICOLIZ

A Inspectoria Agricola, rigorosamente apparelhada para


. o fim a que se destinou, presta permanente assistencia aos
criadores do sirgo e orienta todo o ensino pratico, quereda
cultura da amoreira, quer da criação do bicho da sêda: em
1923-24 esta secção havia conseguido o plantio de meio mi-
lhão de amoreiras tendo obtido, até o anno presente, a ele- -
vação desse numero, já apreciavel, ao de cinco milhões de
pés, só no Estado de São Paulo.
A Idspectdria da Sociedade Industria da Seda, superin-
tende dentro do territorio paulista, na actualidade, 36 esta-
ções sericicolas e 60 pos'tos de sericiciiltura, estendendo tam-
bem sua actividade fóra do Estado, e mantendo-se em con-
tacto com criadores, principalmente dos Estados'sulinos.
Graças aos esforços intelligentemente orientados da Ins-
~ e c t o r i aAgricola, o numero de criadores do Bicho da seda
elevou-se em São Paulo, de 788, que era em 1923-24, a 6.000
no periodo actual, desenvolvendo-se parallelamente a pro-
dução do fio, que na primeira colheita attingiu apenas a 8.880
kilos e na ultima a 135.000.

SECÇÕES FABRIS

Integralmente installadas estas secções contam em pleno


e permanente funccionamento, na secção de fiação, 160 ba-
cias de 8 cabos e installaçóes accessorias, para desdobramento
e fiação dos casulos; na de torção movimentando continua-
mente 8.000 fusos com os respectivos rnachinismos accesso-
rios, e na de tecelagCm 45 teares, numero que em breve será
elevado a 100, pela montagem de mais 55 apparelhos, os
quaes acabam de ser importados pela Sociedade.
Além destas secçóes mantém o Estabelecimento um ga-
binete de experiencias e registo do gráu de resistencia do fio
a ser entregue aos teares.
Presentemente os casulos trabalhados nas secçóes de
fiação e torção fornecem toda materia prima exigida pelos
seus teares, dando sobras capazes de abastecer as tres deze-
nas de fabricas de tecelagem de seda-já existentes em nosso
Estado.
A Commissão do Instituto Historico e Geographico de
São Paulo, por tudo que viu e examinou em sua visita ao mo-
delar e grandioso estabelecimento de sericicultura de Campi-
nas, colheu a convicção de haver a Sociedade Anonyma In-
dustria de Seda Nacional em sua feliz e altruistica iniciativa,
creado as bases solidas e indestructiveis, da industria genui-
namente paulista da producção de seda nacional.
Nessa persuasão acredita cumprir apenas um dever, con-
signando nos annaes do Sodalicio, todos os agrade-
cimentos de São Paulo, a que fazem jús os clarividentes, be-
nemeritos e patrioticos organizadores da Sociedade Anony-
ma Industria de Seda Nacional, expressivo e luminoso ex-
poente da actividade e do genio creador paulista.
Encerrando esta ligeira resenha de sua viagem a Cam-
pinas, a Commissão agradece ao sr. dr. José de Paula Leite
de Barros e á digna directoria da "Companhia Paulista de
Estradas de Ferro" as gentilezas que lhe dispensaram, crean-
do a opportunidade de sua visita ao admiravel estabelecimentc
sericicola.

Sala das Sessões, em 5 de Outubro de 1927.

Affonso A. de Freitas - relator.


Dr. José Torres de Oliveira.
Dr. José de Paula Leite de Barros.
Dr. Ednzundo Krug.
Antonio de Góes Nobre.
Geraldo Ruf falo.
Major Firmino de G o d o ~ .
João Baptista de Canzpod Aguirre.
TATUHY ATRAVÉS DA HISTORIA
PELO

SOCIO EFFECTIVO

SENADOR LAURINDO DIAS MINHOTO


TATUHY ATRAVÉS DA HISTORIA

ORAM, certamente, os bandeirantes, na sua faina


de exploradores dos sertões e no interesse de des-
cobrir thesouros, os primeiros que, na sua passa-
gem para o Sul, aqui estiveram, afugentando os
indigenas que edificaram as suas tabus, no Cagua-
açU e no angulo formado pelos rios Sorocaba e
Tatuuvú ou Tatu-guaçú (hoje bairro da Barreira)
logares onde se encontraram cemiterios dos natu-
raes destas paragens.
Não encontrámos monumentos deixados por esses sertane-
jos que nos orientem sobre os primitivos habitantes do nossc
municipio.
Entretanto, scientes pelas informações do venerando an-
cião, de saudosa memoria, Francisco Pinto de Campos, (Chico
L'uciano) de que, ao redor da cruz lignea, que se conserva, em
seus campos, no planalto do Tatuhy-mirim e á margem esquer-
da do Vai-e-Vem, existiu uma povoação e que aquella cruz era
a do cemiterio, que se encontrava atras da respectiva Capella,
investigámos, com o maximo interesse e, em Azevedo Marques
(Chronologia Paulista) lemos que Paschoal Moreira Cabral, em
1680, com seu irmão, o alcaide Jacintho Moreira Cabral, acom-
panhou Frei Pedro de Souza nas exploraçóes do morro Araço-
yaba, em busca de metaes.
Os irmãos Cabral e mais Manoel Fernandes de Abreu c
hlartins Garcia Lumbria, autorisados por carta regia de 5 de
Maio de 1652, levantaram a fabrica de ferro do Ipanema, em
Araçoyaba, e, diz Azevedo Marques, Cabral fundou tambem z
povoação de ATossa Senhora de1 Popolo, que existiu no distri-
cto de Sorocaba e que, segundo a tradicção, deu origem á, ho-
je, cidade de Tatuhy.
Ora, onde seria essa povoação de Nossa Senhora de1 Po-
$010 de que não pudemos achar noticia, povoação do districto
de Sorocaba e que desappareceu, dando origem á cidade de
Tatuhy ?
Cada vez mais intrigados, por informações tão vagas e se-
dentos de descobrir a origem mais remota do nosso berço natal,
contintiamos as nossas pesquizas e fomos deparar, no dicciona-
rio Geographico de 1. C. R. Milliet de Saint Adolphe, com o
seguinte :
T A T U H O - Freguezia da provincia de São Paulo, n o
districto da cidade de Sorocaba." - " U m sitio agreste, chamado
Tatuhú, achava-se ermo de gente e de casas, no principio do sa-
culo e m que estanzos. Tendo-se fundado a fabrica de ferro de S.
João do Hipanema, alguns individuos se deterwtinuram a ir re-
sidir para aqt~ellesitio, resolutos a se entregar á agricultura.
Passados sete annos, uma ordem regia prohibio toda a especie
de agriculturação nas terras dadas á fabrica de ferro, e pelo
mesmo tlzeor todo o genero de negocio e de cortes de madeiras
por serem destinadas exclusivamente para alinzentar as forna-
Ihas da dita fabrica. Todos aquelles que não eram. empregados
nella foram obrigados a deixar aquelle sitio e a maior parte del-
Ees se aggregarão aos primeiros povoadores de Tatuhú. Infor-
mado o bispo de tal disposição regia, assentou que deveria des-
pojar do litzdo de parochia a igreja de um estabelecimento par-
ticular e transferil-o a uma capella que o povo havia erigido á
sua custa, no sitio e povoação de Tatuhú; em consequencia des-
ta determinação, foi a sobredita Igreja condec~lradaem 1818
com o titulo de parochia, com o nome de São João do Bemfica!!
Não resta duvida, portanto, que o São João do Bemfica
de 1818 é a mesma capella edificada por Paschoal Moreira Ca-
bral, depois de haver fundado a fabrica de ferro de São João
do Hipanema, e que elle, Cabral, denominou Nossa Senhora dei
pop010.
Esta verdade é atestada pela imagem de Nossa Senhora
existente na nossa igreja Matriz, a qual imagem traz nas costas
a data justamente de 1680 e não póde ser outra sinão a que Ca-
bral ~ollocouna sua capella de N . S . de/ Popolo e ex-São João
do Bemfica.
Entretanto, essa imagem, que é de N. S. do Carmo, parece
ter sido conduzida pelos frades para uma das suas habitações,
pois conhecemol-a, em oratorio particular, na chacara que foi
de Jeronymo Antonio Fiuza. (D. Cassemira), antigo nucleo dos
frades de Itú.
Tal é a origem remota de Tatuhy e tão afastada dos mais
antigos habitantes desta paragem, ainda vivos, que só alcança-
ram a velhissima cruz de cabreuva que, desde o desappareci-
mento do São João do Bemfica, se deixou ficar ali, resistindo
ás intemperies, aos fogos que devoram aqueiles campos annual-
mente, como para trazer aos vindouros a lembrança e o testernu-
nho do que fizeram os nossos antepassados.
Sobre esse madeiro, mandamos construir uma capellinha
tosca, em 1907, e celebrar ali uma missa campal e, desde então,
tem sido conservada.
Como vimos da nota tomada por Azevedo Marques, segun-
do a tradição, Nossa Senhora de1 Popolo teria dado origem 5
cidade de Tatuhy; porém, como? E' perfeitamente exacto e,
como já expuzemos, esta capella não poderia ser outra, sinão
aquella que, por occasião de ser condecorada com o titulo de
parochia, teve por seu padroeiro São João, titulo que trouxe de
São João do H i p a m a , sendo a parochia mudada com o proprio
padroeiro d'ali, para aqui.
A proposito da mudança da parochia do Hipanema para
os campos de Tatuhfi, encontram-se documentos no archivo do
bispado de Sorocaba e que esclarecem a disputa travada.
Em 19 de Agosto de 1817, foi desrnembrado de Sorocabn
o territorio de S. João do Hipanema e nelle creada uma paro-
chia, tendo por matriz a capella de S. João de propriedade da
fabrica de ferro.
Essa parochia continuou annexada á de Sorocaba, sem pa-
rocho, até 11 de Fevereiro de 1821.
O tenente coronel Frederico Luiz Guilherme de IVarnha-
gen, tendo noticia da creação da parochia, representou ao go-
verno sobre a inconveniencia que disso resultaria, mas D. João
VI, por alvará de 22 de Fevereiro de 1820, mandou conservar
a parochia no Hipanema.
Com a prohibição estaibelecida por Warnhagen de qual-
quer cultura ou corte de madeira, no Hipanema, os moradores
officiaram ao bispo. D. Matheus de Abreu Pereira, pedindo a
mudança da parochia. O bispo ordenou ao parocho de Soroca-
ba, Padre Antonio Ferreira Prestes, que fosse, em pessoa ao
Hipanema e convocando os seus visinhos, os consultasse sobre
o local para o qual deveria ser mudada a parochia, ponderando
lhes a impossibilidade de continuar em terreno particular ou do
Governo.
Foram accordes em que se mudasse para o bairro do Tatu-
hú do districto de Itapetininga, para o qual se promptificaram
a mudar-se, depois que se os indemnisassem dos sitios e terras
que occupavam. O bispo officiou nesse sentido á Mesa da Con-
sciencia e Ordens, mas o officio não deu resultado, porque con-
trariava a real resolu~ãode 22 de Fevereiro de 1820.
Tomando posse da parochia do Hipanema o seu primeiro
parocho padre Gaspar Antonio Malheiros, em 11 de Fevereiro
de 1821, recrudesceu a idea da mudança da parochia.
Tendo D. João VI seguido para Portugal, o povo do Hipa-
nema, aproveitando-se da sua retirada, voltou ao bispo D. Ma-
theus e lhe pediu a mudança da parochia, o que f ~ conce-
i
dido, dependendo de homologação do Governo de S. Paulo, <I
que foi alcançado, em 22 de Fevereiro de 1823.
De posse dessa ordem o padre Gaspar, em companhia do
director da Fabrica, e mais de cem pessoas vieram aos campos
de Tatuhú, onde escolheram o local para a construcção da egre-
ja matriz.
A falta de recursos, porem, e a acintosa má vontade dos
moradores de outros bairros, que haviam sido preteridos na es-
colha do local, acabaram por desanimar o padre Gaspar, obri-
gando-o a voltar para o Hipanema, deixando para tempo op-
portuno o inicio das obras.
Em 1825, em cumprimento de uma promessa o alferes
Raymundo José de Barros, que j5 tinha construido uma capel-
linha, nos campos de Campo Largo, cedeu-a para que se mudas-
se a parochia do Hipanema para ali, contanto que fosse a pa-
droeira N. S. das Dores, cuja imagem tinha em sua casa, o que
foi feito.
Os moradores de Tatuhú, não se conformando com a mu-
dança da parochia para o Campo Largo, retiveram a imagem
de S. João Baptista e a collocaram numa capellinha existente
nos seus campos, em signal de protesto e a baptisaram com c
nome de S. João do Bemdica para mostrar que ali ficava bem
S. João ou a parochia, e, até hoje, esses campos conservam o
nome de Bcrnfica. Emquanto isso se passava, em relação ao
nucleo de S. João do Bemfica, intrusos da grande sesmaria dos
frades de Itú, despeitados com aquella localisação, empregavam
esforços para que a povação e parochia fosse no bairro em que
hoje está Tatuhy e onde já tinham uma capellinha tosca e dahi
a represen,tação ao governo, para que fosse desapropriado o ter-
reno para o seu patrimonio e rocio, e venceram.
E como aconteceu que SQo João d o Remfica d w origem á
cidade de Tatuhy veremos com a documentação irrefutavel que
passamos a mencionar e a transcrever.
O mais remoto documento, que conseguimos descobrir,
foi a carta de sesmaria concedida, em 10 de Novembro de
1609 pelo onde da Ilha do Princi,pe, por seu procurador Tho-
mé de Almeida Lara, sendo aquelle donatario da capitania de
S. Vicente. Essa concessão foi feita a João de Campos e ao seu
.
genro Antonio Rodrigues e nella se lê: - . .seis legoas de ter-
ras, no districto da villa de Nossa Senhora da Ponte (Soroca-
ba) na paragenm denominada Ribeirão de Tatui, com todos os
campos e restingas para pastos de seu gado, como tambe~nT a -
tui-mirim thé o Canguerp, com a largura que tiver, com mais
trez legoas e m quadra no Tatuy-guassú e Canguary, trez legoas
para a banda do caminho de Intucatzi, seis legoas correndo pa-
raguary abaixo para a parte do Paranapanem, conz a condição de
pagar os disimos a Deus Nosso Senhor dos productos que del-
las colherem".
Este precioso documento está registrado no livro do tombo
do Hospicio do Carmo de Itú, por apresentação de frei Pedro
do Nascimento, como procurador da Provincia Carmelitana, :3
que quer dizer que os frades de Itú houveram taes terras, as-
sim como foi registrado no livro do respectivo cartorio, em So-
rocaba, folhas 36 e 67.
Comprehende todas as terras do Paiol, assim denominado,
posteriormente, porque era aqui o celeiro de todos os retiros
que consituiam a vasta propriedade agricola posteriormente.
Nos seus arredores estavam as sesmarias de Pederneiras
Pretas, tirada por Antonio Bicudo de Barros, em 19 de Julho de
1768, cuja carta assim começa : - "D. José, por graça de Deus
El-rei de Portugal e dos Algarves d'aquem e d'alem mar, e m
Africa, Senhor de Guiné e das Conquista, Navegação Conzmer-
c w Etiopia, Arabias, Persia, e da India. Faço saber.. ."
Na frente, estavam as sesmarias de Americo Ayres e Jos;
Estanislao de Campos, e Cel. Matheus da Silva ,Bueno (Pao
Papudo) e do lado opposto. a de Antonio Garcia Leal. Os fra-
des do Hospicio de Ytú tendo adquirido aqtiella sesmaria vie-
ram residir nestas paragens, parte, na casa que hoje é a séde
da fazenda de D. Ignez de Campos, portanto, proximo á fre-
guezia de São João do Bemfica, situada em suas terras; outro
grupo de frades se acommodou no casarão que existi0 no Sumi-
douro, em frente á Estação Sorocabana, casarão que todos nós
conhecemos e que foi transplantado, por José Innocencio da
Silva, para a Avenida Dr. Salles Gomes.
Como os frades não desfrutassem taes terras, arrendaram-
nas a Antonio Xavier de Freitas e J e r o n ~ , oAntonio Fiuza,
sertanejos que aqui se estabeleceram com outros que se torna-
ram intrusos na sesmaria, como acontecia sempre.
Estes pretenderam transferir a povoação de São João do
Bevnfica para o local em que está Tatuhy e aqui construiram
uma capellinha, coberta de folhas de indaiá em frente a casa em
que funcciona, hoje, a Agencia do Banco Commercial do Esta-
do de São Paulo, capella que tinha, nos fundos, e pequeno ce-
miterio, lá onde hoje se vê o jardim publico.
Levantada a Capella, solicitaram dos "Senhores do Gover-
no" a "demarcação de rocio para a povoação que projectavam
formar, como se verifica do seguinte documento:

111.0s e Ex.mos Senhores do Governo.

Dizem os abaixo assignados moradores da nova Freguezia


de N. Snra. da Conceiçam de Tatuhi do Termo da C.a de Ita-
pitininga, q. elles Supp.s se achão na triste circumstancia de
não terem Rocio e por isso privados de fazerem suas casas p.a
nellas se recolherem, em occasiam de acudirem os Officios Di-
vinos e curarem corporal e espiritualm.te seus enfermos: por
isso se recorrem a V. V. Exc.as se dignem m.dar que a Camara
daquelle Districto, ou p.r qualquer aüthoridade q.e seja, faça
demarcar o competente Rocio de um quarto de legua em quadra,
com cuja condição se conferem as sesmarias p.r tanto P. P. a
V. V. Excias. sejam servidas assim o m.dar; de que R. M. -
Ign.ço X.er Cezar, José Luciano Leite - Francisco Xavier -
Reginaldo Dias - José Maria de Camargo - Antonio Rodri-
gues da Costa - Antonio Rodrigues de Almeida - José Ro-
drigues Novaes - Pedro Rodrigues Machado - José Corr."
de Toledo - Antonio José de Proensa - Antonio Rodrigues
Bueno
, - João Rolim de Moura - Francisco José - Joaquim
Claro - José Lopes - José Joaq. m - Joaquim Glz. Fer-
reira Antonio José de Oliveira - Joaquim José da S." - An-
tonio Garcia Leal - Antonio Niemandes - J0aq.m Mor." de
Toledo - Antonio José de Oliveira - Joaq. m Azdo. Roiz e.-
J0aqu.m José - Ignacio Moura - Selso Antnes. - José Bue-
no - Bento Manoel - Theodoro José de Camargo - José
Enrique da Silva - Manoel (segue-se um nome illegivel) -
Pedro -1- Nunes - Manoel -1- Nogueira - José da -1- Arru-
da - João José de Oliveira - Antonio de Oliv. ra -José da -1-
Cruz Camargo - Pedro Manoel -1- de Proensa - Bartholo-
meu -1 - Maxado - Manoel -1- Joaquim - Joaquim -1- Antonin
- Salvador -1- Riber.0 - Luiz -1- Manoel - Manoel -1- Fran-
cisco - Francisco -i- Antonio - Joaquim -1- J.e de 0liv.ra -
Fernando -1- Leite - Salvador -1- de Jesus - João -1- Ray-
mundo - Antonio -1- Barboza - José Vasco - Eufrazio -1-
Martins - Manoel -i- Sutil - José -1- Mz. de Oliv. ra - José ,

-1- Nunes da S." - Antonio da Alm.da - Vicente -1- Floriaqu


Alz. - Ignacio -1- Mathias d'O1ivr.a - Joaquim -1- Maxadn
- José -1- Cubas do Amara1 - Fran.co -1- Nunes - Antonio
-1- da digo Antonio -1- José - Manoel -I- J0aq.m Per.a -
Joaq. m Antonio -1- da S." - Antonio -1- José - Faustino -1-
d'olivr."- Felisberto -1- Leite - Manoel -1- J.e de Campos
- Pedro -1- Gonsaltres - Antonio -1- Teles - José -1- Fer-
nandes - 1gn.cio -1- Rodrigues - Domingos -1- Per." - Lu-
ciano -!- da Motta - Salvador -)- Alvez - Feliciano -/- An-
tunes - Miguel -1- Ribeiro - Pedro -1- José - Francisco -1-
Leme da S." - Ignacio -1- Nunes da S." - Salvador -1- Lean
dro - Felisberto -1- de Oliver." - José -1- Antonio - José
-
-i- de Olivr." - Timotheo -I- Pereira Ignacio -1- Antonio-
José -1- Leme - Domingos -I- Paes - Fran.co -I- Ribr.O Lu-
ciano -1- Lopes - Antonio -]- de Lima - José -1- Alves -
Bernardo Gonsalves - Caetano -1- Domingues - Salvador -1-
Leme - João -1- Pires - Salvador -1- Gomes - João -1- Ribr."
Gertrudes Pineira Viuva - Antonio Ramos -1- da Roza -
Antonio -1- José de Olivr." - Americo -1- Dqarte - Manoel
-1- Gonsalves - Mel. -1- Paes - Antonio -1- Antunes - João
-1 - Paes - João José - 1 - da Costa - Tr.co de -1 - Paula - Ant.'
-1- Mel. Caetano -1- João Pulicarpio -1- J.e José -1- Ruf.O -
Raphael Antonio - Joaquim J.e dos -1- Santos - José -1- Gon-
salves - Salvador -1- Furtado - Manoel - 1 - Pompeo - José -1 -
Pompeo - Norberto Pires -1- da Veiga - Francisco -1- Pe-
droso de Ramos - Joaquim Rodrigues -1- Fogassa - Dionisio
Leme - Francisco Tavares - Ignacio -1- Nunes Maxado -
Joaquim -1- Antunes de Lara - José -1- Antonio Fiuza -
Fran.co Dias Ferreira - João -1- Manoel Fiuza"

Na parte superior deste documento, se leern os seguintes


despachos: - "Informe a Camara respectiva - Palacio do
Gov. de S.m Paulo 3 de Jan.ro de 1824. Souza Passos - Or-
nellas - Trancoso - Lima". "Responda o Mto. Rev.do Presi-
dente do Hospicio da Villa de Itú, visto pertencerem ao do O
Hospicio as terras em q. se pretendem estabelecer os Supp.tes
- Palacio do Gov." de S.m Paulo 6 de Março de 1824 - Souza
Passos - Ornellas - Lima."
a Os frades desgostosos com as lutas que se originaram, en-
tre os habitantes do Bemfica, que elles, frades, sustentavam, e
os intrusos e aforantes Xavier de Freitas, Xavier Cesar, Fiuza
c outros, não puderam tolerar o acto destes, requerendo ao go-
x r n o imperial a desapropriação de um quarto de legoa em
quadra, das suas terras, para.edificarem suas casas em que po-
dessem se recolher, qualndo quizessem assistir aos officios di-
vinos e- se desobrigar, desapropriação requerida, porque os fra-
,des só deram o logar á capellinha, não assim para construcções
de casas, porque aqui @o queriam arraial.
Encaminhados os papeis, os frades venderam ao Brigadei-
ro Manoel Rodrigues Jordão a sua sesmaria e se recolheram pa-
ra o Hospicio de Ytú.
E a desapropriação foi determinada, como se vê do valioso
documento que passamos a transcrever :
" D o m Pedro pela Graça de Deus e unanime Acclamação
dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo d o
Brasil: Faço saber a vós Officiaes da Camara de Villa de Ita-
petininga: Que sendo M e presente enz consulta da Mesa d o ,
Desemhargo do Paço o Officio do Presidente dessa Provincia
de dezenove de Fevereiro do anno proxinzo passado acompa-
rzhando o requerimento dos Moradores da Nova Freguezia de
Tatuhy queixando-se de que sendo ella estabelecida e m terras
pertencentes ao Hospicio do Carmo da Villa de Y t ú , o Presi-
dente do mesnzo Hospicio apenas déra o terreno indispensavel
para se levantar a Igreja Parochial, ficando assim o Povo sem
ter logar que podesse edificar suas casas tão necessarias para
se recolher nas occasiões e m que fosse cumprir os preceitos da
Igreja; p ~ d i n d o por consequencia que se mandasse demarcav
h u m quarto de legoa e m quadra para rocio da dita Freguezia, c
fim indicado; E visto o seu requerimento; as razões expendidar
pelo referido Presidente dessa Provincia no dito seu Officio
acompanhando as Actas que acerca de similhante objecto se la-
vrarão no Conselho da Presidencia da mesma Provincia; e bem
assim as respostas dadas por essa Camara e Presidente do refe-
rido Hospicio; a representação feita pelo Brigadeiro Manoet
Rodrigues Jordão e mais documentos que se juntaram; sobre
o que tudo foi ouvido o Desembargador Procurador da Coroa,
Soberania e Fazenda Nacional; H e i por bem conformando-me
com o Parecer da mencionada Consulta, por minha immediata
resolução de dezoito de Agosto d o mesmo anno proximo t a s -
sado que possa ter lugar a compra do quarto de legoa de que se
trata, ao Proprietario, que ora he, pelo preço e m que for esti-
mado por Louvados por parte do mesmo Proprietario e dessa
Camara, havendo attenção ao que foi vendida ainda de proxirílo
a extenção toda (corno dos mesmos documentos constava) para
V
ser pago rateadarnente por cada h u m daquelles com quem for
repartido, guardada n o rateio a proporção com respeito á quar.-
tidade individual da repartição. O que assim vos participa para
vossa intelligencia e governo."
" E ao Presidente dessa Provincia se expede egualmenk
ordem na data desta participando-lhe a sobredita Minha Impc-
ria1 Resolução ".
" O Imperador Constituicional e Defensor Perpetuo do
lmperio do Brazil o Mandou por S e u especial Mandado pelos
Ministros abaixo assignaZos do S e u Conselho e Seus Desembar-
gadores do Paço, Henrique Anastacio de Novaes a fez, no Rio
de Janeiro, no priwzeiro de Fevereiro de mil oitocentos e vinte e
seis, quinto da Independenda e do I.tnperio, José Caetano de
Andrade Pinto a faz escrever.
"Bernardino José da C.0 Guilaarães Mascarenhas, Dr. A n -
tonio José Miranda."
"Por imlnediata Resolução de S u a Magestade Imperial dc
18 de Agosfo de 1825, tomada e m Consulta da Mesa do Dr
sembg.0 do Paço e Desp.O da dita Mesa de 25 do nzesmo mez e
anno. " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .
" P . g. 80 rs. de sello
que fica 1anç.O n o
livro competente
Alnzeida ."
A duplicata deste documento foi enviada ao então Presiden-
te da Provincia de São Paulo, Barão de Congonhas do Campo
ao qual o Brigadeiro Jordão dirigiu a petição seguinte:
"Diz o Brigadeiro Manoel 'Rodrigues Jordão desta cidade
(a petição foi de S. Paulo) que elle Supp.O t e m noticia que S .
M. o Imperador por effeito da consulta da Mesa do Desembar-
go do Paço fora servido permittir e m Provisão de 1 . O de Feve-
reiro do corrente anno expedida a V . Exa. e Pr. V . Ex. manda-
da cumprir que se comprasse ao Supp. como legitimo Proprie-
tario da Fazenda de criar, e de culturas sita na nova Fregueziz
de Tatuhi, h u m quarto de legou e m quadra para rocio da men-
cionada F ~ e g na . ~ forma pedida pelos respectivos moradores,
a f i m de fazerem ali suas casas, onde se recolhão nas occasiões
e m que v e m cumprir os preceitos da Igreja sendo estimado o setc
valor por dozcs Louvados nomeados pelo Supp., e pela C a m a r ~
da Villa de Itapetininga, e m cujo Destricto fica a sobredita Fre-
guezia, com attenção ao preço porque o Supp. havia comprado
a pouco tempo a dita Fazenda para ser pago ao mesmo Supp.
pelos moradores, por quem for repartido a proporção da quan-
tidade de terreno, que a referida Camara consignar a cada huin
delles.
"Como porem se não faz necessaria a avaliação do indica-
do quarto de terreno, mas sómente a sua demarcação, visto que
o Supp. o cede gratuitamente com a clausula de ser fechado com
vallo de Lei á custa dos nzoradores por quem for repartido, a
fim de se evitar o prejuizo, que o Supp. viria a experimentar
nas criações daquella sua Fazenda ficando e m aberto o sobredi-
to quarto de terreno, e de virem arranxar-se e m as conferidas
dattas todos os intrusos que se acharem dispersos pela Mesma
Fazenda sem competente titulo, .e com manifesto prejuizo d~
Supp., enz cujos termos
" P . a V . Exa. se sirva mandar expedir ordem a respectiva
Camara, p.a q. precedendo a izoíweação de Louvados pela sua
parte e pela do Supp. se procera a devnarcação do s0bred.O quar-
to de terreno, e passe a repartil-o gratuitamente com a clausula
do fecho exigido pelo Supp., e de serem contemplados na ~ e p a r -
tigáo d'elle os diversos intrusos que estiverem dispersos pela Fa-
zendo do Swpp., de que vai ser desmembrado aquelle quarto, a
virein fazer o seu arranxamento no lugar que a mesma Camara
lhes consignar dentro do meslno quarto de terreno.
E. R. M."
Estando as cousas neste preposito, o Brigadeiro Jordão or-
torgou a procuração, que .abaixo vai transcripta e na qual se
corporisa a sua resolução :
"Manoel Rodrigues Jordão, Commendador da Ordem de
Christo e Brigadr." reformado dos Imperkes e Nacionaes Exer-
c i t o ~ ,etc.
"Pela prezente por miwt feita e assignada constituo por meus
procuradores na V.' e Termo de Itapt." aos Illums Sns. A l f r s
João Nepomuceno e Souza Cap.vn Mor Joaquim Vieira de Mo-
raes e Antonio Roiz, da Costa p." que qualquer delles por nzim
como se preze fora possa não só receber dos Snrs. Cap.m Jero
nimo Antonio Fiuza e Francisco Xavier de Freitas a m." fazen-
da de criar e cultura denominada Tatuhi e o mais que consta do
Inventario com que a tiverão arrendada do Hospicio do Carnro
(Ia V." de I t ú e m e pertence por compra que della fiz; outro
sim poderá e m particular, ou e m Leilão vender no todo, ou e m
parte as terras que da d." nz." Fazenda ficarem aquem do quar-
to de legou que da %.ma vai ser demarcado e desmembrado p.'
Rocio da respectiva Freg." seguindo-se evn tais divizoens de ter-
reno o que for deliberado por ditos meus procuradores, que de
qunnto assim venderem poderão assignar Escriptura Publica e
m.mo dar escripto de venda nu fórma da ley, satisfazendo os
co~.npradorese co9n.e Siza pois que tanto os autorizo e se nesta
faltar d g u a clausula das necessarias a d.O fim a dou p. decla-
rada como se della fizesse individual vnenção. S. Paulo 18 de
Jzdho de 1826.
Manoel Roiz Jordão
( C o m as armas do Imperio
P . g. 40 rs. de sello S. P. 1.O 19 de Julho de 1826.
Araujo-GodoiJJ
Autuados esses documentos, veio a Camara de Itapetinin-
ga fazer a medição a demarção pedidas, as quaes se effectuarani
pelo modo que se vê, no documento abaixo, e que constitue uma
joia de alto preço para a nossa historia e, em virtude do qual,
computamos desde então, 11 de Agosto de 1826, a nossa existen-
cia como data da fundação de Tatuhy, data que solemnisamou
agora, como seu primeiro centenario :
146 TATUHY
ATRAVÉS DA HISTORIA

"Termo de Divisão e Demarcação do Rocio.

A o s onze dias do me2 de Agosto de mil oitocentos e vinte e


seis annos nesta Freguezia de Tatuhy, thermo da Villa de Nossa
Senhora dos Prazeres de Itapetininga, Fidelissima Comarca de
Iiú e sendo ahy a Camara presente com os Louvados das p a r t ~ s
Piloto e ajuda9tte da Corda se deu principio a medição e demar-
cação do Kocio e pela Camara foi mandado que se fincasse huurt
Marco no logar denominado Capão Bonito aqueliz do Ribeirão
que serve de Aguada abaixo da Estrada que segue a Porto Felis
distante Braça e meia do Ribeirão se fincou h u m Marco de Pe-
dra conz duas testemunhas da a e s m a Pedra que hua Olha par~c
o Sul e outra para o Norte e depois de apregoado na foniza do
Estilo pelo Porteiro João José de Abreu, Mandou a Camera
que o Piloto que fizesse quadra e que seguice o vento qzte dece
e satisfazendo o Piloto seguice o R u m o do Sudueste e se vnedio
Yetecenfas e sincoenta Braças braceiras no fim das quais S e le-
vantou outro Marco de Pedra Com duas thestemunhas no Cam
po e Beira de h u m Capão e fazendo ali quadra e depois de apre-
goado na forma do Estilo seguio a Medição a Runto de Nordes-
te pplo qual se medio Setecentas e sincoenta no fim daqual Man-
dou a Ca*nera levantar h u m Marco de Pedra com duas theste-
nzunhas da Pedra ao pé de h u m Capão o qual sendo apregoado
na farwza do Estilo tnandarão seguice a Medição e que o Piloto
fizesse sobrequadra e satisfazendo o Piloto seguio a medição o
KUPROde Nordeste por onde sewtedio setecentas e sincoenta
Braças thé o corrigo a sima da casa do Roliw~a quem do corrigo
e m Cujo lugar mandou a Camera levantar h u 7 ~Marco de Pe-
dra com duas tlzestemunhas tambenz de Pedra distante do cor-
rigo Sinco Braças e Sendo apregoado pelo Porteiro na forma do
Estilo. e Deternqinou o Juiz Presidente e Offisiais da Camera
findace ali atnedição ficando por diviza pelo corrigo abaixo thé
o prirneiro hlarco donde se principiou a Medição e para Cons-
tar wtandou a Camera lavrar o presente thermo e m que essignão -
C o m os Louvados Piloto e ajudantes da Corda e para Constar
digo e26 Miguel Antonio de Almeida Escrivão que o Escrevi."

Mariano José de Oliveira


Francisco Alves de Medeiros
João Vieira de hfedeiros
Bento Vieira de Britto
Joaquim Vieira de Morais
Bento João de Souza
Joaquim gloz. Roiz.
Archangilo da Rocha e Castro
Francisco Antonio da Costa
João José de Abreu

Medido o perimetro, que ficou com a area de (750 x 750 +-


5,000 = 112 alqueires paulistas e 2.500 braças quadradas) 113
alqueires e meio, passou a camara a proceder ao alinhamento
de algumas ruas que, então, foram abertas, pelo modo abaixo.
attestado pelo documento que passamos para aqui, conservando
a sua ortographia:

"Tr.O do Arruamento

A o s doze dias do mez de Agosto de mil oitocentos e vinte


e seis nesta Villa alias nesta Freguezia de Tatuhy thermo do
T/illa de Nossa Senhora dos Prazeres de Itapetininga, Fidelis-
sima Comarca de I t ú e aposentadoria da Camera donde eu Es-
crivão de seu Cargo adiante nomeado m e achava e sendo ahv
presente o aRztador Juramentado Archangelo da Rocha e Cas-
tro se prossedeu no A4rruamento principiando a primeira que
passa pelo adro da Capela Rua do Comnzercio e a outra deno-
nzinada Rua Travessa assim mais outra Rua por detras deno-
mifzada Rua de baixo e outra Rua de sinza, e por esta forma ou-
verão por findo o aRuawento Com as legalidades de Direito e
para constar mandarão lavrar o presente thermo e m que assi-
glzão C o m o Arruador e u Migwel *Antonio de Almeida Escrivn,:.
que O Escrevy
Oliveira
Alves Brito
Archangelo da Rocha e Castro
Para satisfazer a curiosidade dos que nos lerem, damos
tamhem as custas que foram pagas ao pessoal dos trabalhos, con-
forme os autos dos quaes extrahimos taes documentos e perte~i-
cem ao cartorio do primeiro officiò de Itapetininga :
"Custas destes aatos P." o Juiz
Estada de 8 dias a 2$400 p.r dia
Ditas pa. os Vereadores A o Vereador tais
velho p.r 8 dias de estada a 1$200 A o verea-
dor enzprcstado
A o procurador do Co~zselho
P." o Escrivão
P." o Alcaide
C'ortz,O de 8 leguas de hida e volta
Estada de 6 dias $600
P." os Louvgdos
P." o Piloto
P." os ajudantes da Corda A m b o s a $306) por
dia

Convem que aqui fique consignado que as condições postai


pelo Brigadeiro Jordao, na sua doação, não foram observadas.
pois elle mesmo teve necessidade de mandar vallar o perimetro,
pelo seu procurador e administrador Antonio Rodrigues da
Costa, vallas que custaram a $080 á braça e que ainda existem,
ao redór da cidade.
A enxada, com que se abriram, pertence ao autor destas li-
nhas e fora feita em Itú. Pesa 2.260 grammas e mede 36 centi-
metros de altura por 32 de largura, na base.
Lançaram-se, assim, as bases para a fundação da cidade
de Tatuhy, e, desde então, começou a definhar o São João do
Bemfica, até o seu rapido desapparecimento, pois nenhum con-
temporaneo conheceu aqu'ella freguezia e parochia.
Por forqa da sua procuração, Antonio Rodrigues da Costa,
vendeu as terras, que ficaram ao lado direito do patrimonio, e
isoladas do Paiol a diversos, por escripturas, que se acham no
Cartorio do primeiro Tabellião de Itapetininga (então Miguel
Antonio de Almeida) no livro n. 10, em 10 de Agosto de 1826.
Foram compradores Francisco Xavier de Freitas e Jerony-
mo Antonio Fiuza das terras em que se acham os successores de
Francisco Pinto de Campos e João Vieira de Campos, até con-
finar com o rocio, comprehendendo as situações (casas) que
serviram de residencia aos dois grupos de frades, sendo que
uma dellas (séde da fazenda de D. Ignez de Campos) ainda existe.
Xavier de Freitas pagou 400$000 e Fiuza, 800$000 pelas
suas terras. José Maria de Camargo, avô do ex-vigario Conego
Climaco, comprou os fundos do Boqueirão por 150$000, Jose
Cubas do Amaral, Joaquim Nunes Bicudo e Floriano de Oli-
veira compraram tambem o sitio contiguo por 150$000 e Anto-
nio Rodrigues da Costa comprou o Caguassú e, hoje, campos
da Guardinha, por 300$000.
O campo a que deu o nome de Boqueirão, nome que atS
hoje, se conserva, ficou destinado para logradouro publico, por
simples autorização do Brigadeiro a Rodrigues da Costa, sem
que haja documento dessa concessão. Os descendentes de Anto-
nio Rodrigues da costa e os de Jeronymo Antonio Fiuza e Je-
ronymo Xavier de Freitas ainda conservam partes das terras
então adquiridas pelos seus bis-avós e ainda agora Theotonic,
Luciano de Campos, bis-neto destes, acaba de pôr á disposição
da respectiva Commissão o terreno de que quizer lançar mão.
para se elevar a capella, no local em que foi S. João do Bemfica.
. Pelo que diz respeito ao religioso, não havia aqui capella,
anteriormente, e o documento mais antigo que encontrámos é a
certidão seguinte :
A o primeiro de dezembro de 1822, nesta fre-
guezia de Tatuhy, e m hua Capella da Snra. do Car-
m o Baptisei e puz os santos oleos Q innocente Anto-.
nia, filha de José de Oliveira e sua mulher Anna
Maria: Foram padrinhos Manoel Paes e sua mulher
Anna Antunes atoradores e fregztezcs desta fregue-
zia, baptisada e m casa por mim mesmo e por necessi-
dade. Anacleto Dias Baptista."
E' interessante saber-se que, por alvará de 5 de Março de
1832, creou-se a parochia do Tatuhy, mas onde a igreja, parn
se celebrarem os of ficios divinos? !
Já vimos que, na ordem imperial, que mandou desapro-
priar o quarto de Iegua, para se edificar a cidade, se allega que
os frades de Itú apenas deram o terreno para se edificar a cn-
pclla (e esta foi feita e coberta de folhas de indaiá) e esta or-
dem é de Fevereiro de 1826. Que parochia é essa creada pel.3
alvará de Março de 1822 ? . ..
Ora, em 23 de Abril de 1822 o padre Medeiros deixo!i
aqui a segninte certidão :

"Certifico que vindo eu a esta nova freguezia


da Snra. da Conceição de Tatuhy a desobrigar o po-
vo della por falta de vigario e por estar pela mesma
causa encarregado da administração dos sacramen-
tos, e m hzta casa particular destinada para o culto
divino, - por não haver capella p~opria,- e atten-
dendo as necessidades deste poeo, administrei o sa-
crawzento do baptiswo, na fonna seguinte de que
pura a todo o tempo constar fiz este termo que assi-
gno, Tatuhy, 23 de Abril de 1822, o vigario cor. de
Itapetininga Francisco de Paula Medeiros".
Eis ahi a prova irrecusavel de que em Abril de 1822, não
havia cnp~llapropria e os officios,divinos eram feitos e m hua
casa particztlar. Esta casa era a antiga chacara de D. Casimiru,
viuva de Jeronymo Antonio Fiuza, junto ao "Sumidouro", em
frente á estação da "Sòrocabana", casa que chegou até os nos-
sos dias e que, como já expuzemos, foi removida para a Aveni-
da Dr. Salles Gomes pelo fallecido José Innocencio da Silva,
facto este não muito afastado.
Em 1823, 7 de Setembro, o padre Francisco Fernandes No-
vaes de Magalhães, então vigario de Tatuhy, fez o primeiro ca-
samento, sendo, nubentes Salvador José Alves e Anna Fran-
cisca, naturaes de Sorocaba. Onde foi a igreja em que este vi-
gario exercia o seu parochiato, sinão a primitiva capellinha?
E' verdade que outra não havia, pois a primeira matriz, que
aqui tivemos, foi edificada, em virtude da provisão seguinte :

" D o m Manoel Joaquim Gonçalves de Alidrade.


por mercê de Deus e confirmação da Santa S é Apos-
tolica, Bispo de S. Paulo e conselho de sua muges-
tade imperial, etc".
Aos que esta nossa provisão virem, saúde e
bençam enz o Senlzor. Fasemos saber que attenden-
do nós ao que por sua petição representarama os fre-
gueses da freguesia de Tatz~hydeste nosso bispado
havemos por bem pela presente conceder-lhes facul-
dade para que possam fundar, erigir e edificar u
sua Igreja Matriz, cotn a invocação de Nossa Se-
nhora da Conceição, co~ntantoque seja enz logar de-
cente alto e livre de humidade, desviado quanto
possa ser de logares immundos e sordidos e casas
particulares, e com ambito sufficiente para andarem
procissões, o qual logar será assignalado pelo muito
reverendo coadjutor da mesma freguesia a quem por
esta mesma damos comissão e observarão o que de-
termina (C. constituição do bispado e depois de acclr
bada se não poderá nella dizer missa, sem nova li-
cença nossa, para a qual procederá a informação do
lo.qar e capacidade de dita Igreja. Dada e m Sã,)
Paulo, sob nosso signal e'sello das nossas arwas aos
onze de Novembro de 1829.
E eu Padre Fernando Lopes de Camargo Es-
crivão Ajudante da camara de sua excellencia reve-
rendissima a escrivi. Manoel - Bispo. "
Esta igreja, que foi no logar em que esteve a nossa grande
penultima ou onde se acha a actual matriz, não passava duma
capella insignificante, como adeante veremos, e foi benta em 7
de Setembro desse mesmo anno, como attesta o AUTO DE
VISTORIA.
Assim, a primitiva capellinha, erguida pelos sertanejos, a
qual fazia frente para a rua hoje " 11 DE AGOSTO", não
passaria de edificação muito rudimentar, dessas que se cons-
tróem á beira dos caminhos, sem formalidade ou autorização ec-
clesiastica. Entretanto, teve o seu vigario? Não é possivel, tan-
to que, na Provisão acima, se menciona como Coadjutor e o pro-
prio padre Novaes de Magalhães era o encarregado dos officios
divinos, mas, suppomos, como coadjutor da parochia de Soro-
caba ou Itapetininga, cargo que deixou sómente em 1." de Fe-
vereiro de 1829, seguindo-se outro coadjutor, padre Manoel Tei-
xeira de Almeida, que obteve a provisão supra transcripta. N3.
Provisão acima, se vê que Tatuhy era Freguesia, em 1829, e
não Parochia.
O cemiterio era no actual largo da Matriz, 'que, então, fi-
cava atraz da capellinha primitiva e, só mais tarde, depois de se
construir a igreja, acima referida, pela Provisão, foi que -,e
creou o cemiterio, que ficava em frente ao Club Tatuhyense e
que servio até 1860.
Tambem se faziam enterramentos na igreja e os preços das
sepulturas eram: até as grades 1$200; das grades para cima,
2$000 e o vigario percebia meia libra de cera e $640 de acom-
panhàr o defunto.

T A T U H Y DISTRICTO

Tatuhy foi creado districto de Paz por alvará de 5 de Mar-


ço de 1822. E perguntaremos qual Tatuhy? A primitiva São
João do Bemfica de 1818 ou a Tatuhy actual?
Deante dos documentos irrefutaveis, que já temos transcri-
pto, não é possivel acceitar que Tatuhy actual fosse districto em
1822. No cartorio respectivo, o livro mais antigo, ali archivado,
traz, na sua primeira pagina, o termo de audiencia de 3 de De-
zembro de 1821 para o qual Theodoro Maria trazia citada a Ma-
ria de Souza, viuva de Felisberto Leite de Miranda e da qual
pretendia cobrar dez a sete mil reis de salarios que o fallecido
Felisberto ficou a dever-lhe.
Este termo está assignado pelo Juiz de Paz José Luciano,
tendo como escrivão José Rodrigues Novaes Pinheiro.
Ora, si Tatuhy, em 1826, pedia terreno para se edificar,
porque os frades do Convento do Carmo de Itú só deram o ns-
cessario estrz'ctamente para se erigir a capella, como poderia ser
districto em 5 de Março de 1822?!. .. Pelo termo de arruamen-
to, tambem se ve que as quatro ruas então alinhadas, o foram em
, campo aberto, em 12 de Agosto de 1826, Portanto, não compre-
hendemos como, em Tatuhy, poderia ter sido creado um distri-
cto de Paz em 1822 !
Em Tatuhy districto, povoação nascente, bem se poderia
ajuizar do que se passava, sem lavoura exportavel, sem vias de
communicação, e, sem commercio, de modo que um negociante,
em oito annos, consegui0 vender quatro contos de réis de fa-
zendas, armarinhos, ferragens, etc.
Em 1835, 31 de Julho, faleceu Jeronymo Antonio Fiuza.
um dos mais enthusiastas propulsores de Tatuhy, contando ape-
nas 56 annos de edade.
Novos elementos se foram aggregando a Tatuhy e Antonio
Rodrigues da Costa, que era natural de Porto-Feliz, poz esta
em communicação com Tatuhy, abrindo uma estrada, pelos cam-
pos do Bemfica, facilitando assim, o desenvolvimento das rela-
ções economicas e sociaes, pois que para Sorocaba já se encon-
travam picadões e caminhos, por onde só tropas arreadas faziam
transito, não se prestando para vehiculos.
Em 1838, 12 de Agosto, falleceu aos 60 mnos, Manoel Gar-
cia Leal, com 83 annos e, em 2 de Setembro, o tenente José Coe-
lho de Oliveira, pessoas de destaque e elementos de grande valor,
entre os trabalhadores pelo progresso local.
Em 1839, o padre José ~ o r b i r t ode Oliveira foi nomeado
vigario, enl substituição ao padre Almeida. Homem enthusiasta
pelos melhoramentos locaes, impulsionou, deveras, os animos,
de então e deu inicio á campanha pela libertação de Tatuhy e
I creação de municipio. Reformou a igreja levantada em 1829,
deixando o seguinte registro; - Notamdum. A Igreja constava
de quatro paredes deterioradas, e por isso, depois de minha t o s -
se, cuidei logo e m fazer o arco cruzeiro e parede que divide a
Capella-Mor; formou-se o Presbyterio, com tres degraos, U M
altar novo com sua banqueta, retabulo liso de taboas com duas
peanhas aos lados, cow nichos para imagens, sacrario e throno
com docel, tudo forrado com papel pintado de gosto e decencia;
forrou-se de estuque e assoalhou-se a cappela-Mar,- deixando
tres campas para sepulturas; ladrilhou-se e forrou-se de estuquz
a sachristia, e m que se abriu uma horta conservada para o thro-
no, collocando-se na mesma o pequeno altar que servio na Igre-
ja; fiz de novo a parede do frontespicio que estava arruinada e
outros muitos concertos. O Vigario Collado José Norberto de
Oliveira. "
Em 1841, já Tatuhy produziu para os cofres da Camara
de Itapetininga a fabulosa quantia de 96$560, arrecadação esta
considerada vultuosa, pelo que mais se accenderam os partida-
rios da creação do municipio de Tatuhy.
A revolução de 1842 veio refrear esse enthusiasmo, por-
que se dividiram os homens influentes, tomando uns o partido
de Raphael Tobias e outros se pronunciando, abertamente, em
campo pela causa legal.
Foi Tatuhy de grande destaque, na contra revolução, assim
como uma fracção consideravel dos seus homens prestantes met-
teu-se em campo, pro-revolução.
E se organisaram dois batalhões adversos, sendo o revolu-
cionario chefiado por Ignacio Xavier Cesar, com cerca de du-
zentos homens, tendo, como seus auxiliares, homens de valor,
como José Gurjão Baptista Aranha Cotrim, Bento Antunes de
Camargo, Apolinario José Rodrigues, Padre José Norberto de
Oliveira, Luiz de Abreu Castanho, Manoel Fidencio Padilha,
Antonio hianoel de Moraes, Theodoro José de Camargo, Jero-
nymo de Barros Lima, Ignacio José de Oliveira, Antonio Rodri-
gues da Costa, e Manoel José da Silva Pompeo.
E os preparativos bellicos iam num crescendo que impu-
nham a crença de que os revoltosos dominariam a situação,
quando Antonio Xavier de Freitas surgio á frente de um gru-
po de cerca de quinhentos voluntarios, que se aquartelaram na
chacara que foi dos frades, junto ao Sumidouro e fizeram dis-
persar os revoltosos, tomando conta da praça. Todos fugiram,
ficando só o Padre José Norberto, que residia na casa, em que
era sua chacara e, hoje, machina de beneficiar algodão do Sr.
Dr. Salles Gomes. O padre Norberto, depois de se .achar só, foi
obrigado a se retirar da praça, sendo encontrado e intimado pe-
lo povo, num Domingo, quando vinha celebrar missa e, de facto,
foi-se para Rio-Claro, depois para Santos, onde falleceu. Eram
legalistas auxiliares de Antonio Xavier de Freitas:
Antonio Ribeiro de Campos, Claudiano José de Proença.
José Martins Fiuza, Bernardino José de Toleds, João Carneiro
de Oliveira, José Ignacio da Silveira Garcia, Manoel Theodoro
de Camargo e Souza, Francisco Leite de Paula, Ignacio Pinhei-
ro de Camargo, João Henrique Teixeira, Padre Manoel Teixei-
ra de Alemida, João Correa de Moraes, Verissimo.José Coelho,
Francisco José Coelho, Manuel Paes de Almeida, e Jacintho da
Silveira Garcia. O Batalhão legalista compunha-se de activa e
reserva. Esta estava sob o commando do alferes José Maria de
Camargo Pires, tendo como seus auxiliares. Antonio Castanho
Fiuza, João Manoel Fiuza, Manoel Paes de Araujo Fiuza,
hlanoel Paes de Araujo, Ignacio Mendes de Almeida, Josl
Luciano Leite, Antonio José de Proença, Jeronymo de Proen-
qa, Ignacio Xavier de Freitas, Francisco Xavier de Camargo,
José Rodrigues Novaes Pinheiro, Joaquim de Almeida Leite,
José Pinto de Almeidã, Manoel Jacintho, todo3 homens de pres-
tigio e figuras de destaque que dominavam os seus subordinados.
Chegando esses factos ao conhecimento do Governo Pro-
visorio da provincia, instalado em Sorocaba, mandou Raphael
Tobiss uma escolta irrisoria de vinte homens para dispersar ou.
prender os legalistas de Tatuhy e, coqo era natural, esta escol-
ta foi recebida com todas as honras e recolhida presa ao quartel.
dos legalistas, o que irritou, devéras, a Rafael Tobias e o,ate-
morisou.
E não foi só. Chegaram aos ouvidos de Rafael Tobias as
intenções dos legalistas de Tatuhy, as quaes iam já em vias de
realidade: - elles, os legalistas, se aprestavam para marchar
contra Sorocaba e a execução desse plano estava imminente, q
que constituia sério perigo para a causa da revolução. Dahi as
providencias tomadas pelo Brigadeiro Rafael Tobias, como se
lêm nos tratados da historia de São Paulo.
Despachou elle (correios) portadores por todas as locali-
dades visinhas : - Porto-Feliz, Tietê, Itapetininga, e até Capi-
vary, pedindo forças armadas, para investirem contra Tatuhy,
pois só esta e V e n d a Grande lhe causavam insomnia.
A historia dessa revolução está cheia de episodios que se
deram, entre RaTael Tobias e os legalistas de Tatuhy, os quaes
eram a alma negra dos revolucionarios e precisavam+z ser extin-
ctos, como desejava o Brigadeiro.
Os voluntarios de Tatuhy se tornaram o terror, não só de
Rafael Tobias, como ainda de toda a provincia.
Foi, então, que elle o Brigadeiro requesitou forças, em Ca-
pivary, 1tú.e Porto-Feliz e Itapetininga para dar combate e ex- '
tinguir "essa canalha" que da insignificante freguezia de Tatzti
queria dominar toda a provincia (palavras textuaes). O chefe
de Capivary allegou, para não se arriscar, que tinha u m calo no
pé e não podia se loconzover, evasiva essa que foi commentada,
com irrisão, pelos revoltosos. Itapetininga, por sua vez, descul-
pou-se que não podia ficar com as suas forças enfraquecidas o a
desfalcadas, sob pena de ser atacada pelos legalistas d s Tatuhy,.
E ninguem ousou investir contra Tatuhy! As forças lega-
listas, ao contrario, avançaram contra Sorocaba e, chegadas ao
Hipanema, tomaram, de assalto, conta da praça, prendendo o
Capítão Bloem -e o artilheiro hespanhol José Antonio Pereira
continuando á investida contra Sorocaba, na qual penetraram
junto com Caxias, quando se dava o dialogo memoravel entre
este e o grandioso Feijó e quando Tobiaç .já se achava debaixo
da bica do engenho da fazenda Bom Retiro.
São sepultados Apollinario José Rodrigues, legalista, em 6
de Dezembo de 1842, com 84 annos, André de Almeida Falcão.
legalista, aos 75 annos, em 5 de Abril de 1842 e, em Porto Feliz,
Antonio Rodrigues da Costa, o demarcador do perimetro dc
Tatuhy.

TATUHY MUNICIPIO

Pela Lei n. 12, de 13 de Fevereiro de 1844, Tatuhy elevou-


se á Villa, sefido seus primeifos camaristas: Antonio José Lou-
renço, José Gurjão Baptista Aranha Cotrim, Bento Antunes de
Camargo, Alexandre José de Oliveira e Francisco Rodrigues
da Costa.
Tatuhy teve sua escola régia, sendo professor o capitão Jo-
sé Lisboa de Almeida, depois deputado provincial.
Havendo um pro-parocho de permeio, veiu substituir ao
padre Norberto, o padre Jesuino Ferreira Prestes, em 1844, e,
em Novembro de 1845, foi substituido pelo padre Antonio Ser-
vulo de Andrade.
Houve aqui agencia de collectoria de Itapetiningaa, que çe
suppõe ter passado para Tatuhy, em 1845.
Neste anno morreu, em Porto Feliz, o capitão Antonio Xa-
vier de Freitas que ali tinha ido se medicar.
Têm capital importancia os dados que nos fornece a Lei n.
314 de 16 de Março de 1846, que approva o orçamento para Q
anno financeir~a começar em 1." de Outubro e terminar a 30 de
Setembro de 1847.
Gratificação ao Secretario ................
Idem ao Porteiro .................. 20$000
Aluguel da casa que serve de cadeia ........ 16$240
Com obras publicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101$300
Luzes para a cadeia .................... 12$780
Despezas eventuaes, inclusive porcentagem ao pro-
curador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2$$000

258$326
Receita

Imposição de 160 réis sobre cabeça de rez cortada 6$000


Aferições, licença para folias e rendimentos de
aguardente ...................... 100$000
Multas diversas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90$000
................
Fôro dos terrenos do rocéo 2$000
Saldo existente ...................... 60$326

Em 1846, Abril, voltou para a parochia o Padre Jesuino.


Attendendo-se á boa vontade do velho Mathias ~lanklér,a
Camara hfunicipal mesma foi encorporada, em 18 de Julho
desse mesmo anno, marcar o terreno (35 braças de frente por
50 de fundo) que lhe concedeu para edificar a Santa Cruz, o
que Flankler realizou á sua custa, tomando-a sob a sua pro-
tecção.
Sua inauguração foi solemnissima : - Mathias Flankler,
á frente de centenas de homens, mulheres e creanças, conduzia
ás costas uma grande cruz, para collocar dentro da capella,
onde chegados, celebraram a primeira festa, prégando o padre
Jesuino.
Desde então, tem-se feito festas ali, em 3 de Maio, obri-
gação que Mathias Flankler se impoz, durante a sua existencia.
Luctava a pequena villa, sem vias de communicação e sem
correio que só houve em 1849.
Tinha, como seu mercado e ponto de soccorro Sorocaba,
que era intitulada - a Cidade.
Mais tarde, aperfeiçoaram-se as estradas para a Cidade,
Porto Feliz e Itapetininga, rasgando-se tambem em busca do
sertão.
Em 1849, o padre Demetrio Leopoldo Machado, veio de
Sorocaba, para tomar conta da parochia, trazendo para seu sa-
christão o menino Emygdio José da Piedade, que foi, final-
mente, deputado Estadoal.
Em 1850, Tatuhy teve a sua primeira banda de musica,
sendo organisada por Antonio Raphael Archanjo.
Tatuhy elevou-se a termo judiciario, em 1851, sendo pri-
meiro supplente de juiz municipal e de orphãos o capitão Ma.
noel Theodcro de Camargo e Souza que deferi0 juramento a
Manoel Boaventura Rodrigues de Oliveira, em 11 de Março
de 1852, para servir de escrivão e tabellião de notas, e a Camil-
10 Ferreira das Chagas, Cypriano José de Oliveira e José Hen-
rique Pereira, para officiaes de Justiça. Nesse mez, dia 30, o
Dr. Joaquim Octavio Nebias, juiz de Direito de Itapetininga,
e o promotor, Dr. Indalecio Randulpho Ferreira de Aguiar
vieram abrir a primeira sessão de juzy, nesta cidade, na casa
em que reside, hoje, Carlos Orsi, em frente ao oitão esquerdo
da egreja matriz.
Foram sorteados jurados: - 1 - Jacintho da Silveira
Garcia - 2 Elias de Padua e Mello - 3 - Antonio de Camar-
go Fiuza - 4 - Francisco de Paula Leite - 5 - Domiciano
da Silva - 6 - Francisco Antonio da Costa Carlos - 7 -
Joaquim de Almeida Leite - 8 - José Alves de Araujo - 9
- Agostinho Coelho de Oliveira - 10 - José Soares da Rosa
- 11 Antonio Vieira de Almeida - 12 José Rodrigues Novaes
Pinheiro.
Entrou em julgamento o réo preso José Machado, que foi
defendido pelo solicitador Constancio José Ferreira, sahindo ab-
solvido.

TATUHY F O I ELEVADA A' CATEGORIA D E CIDADE


P E L A L E I D E 20 D E J U L H O D E 1861.

No anno de 1862, aos 4 de Julho, deu-se o passamento de


Antonio de Camargo Fiuza, com 35 annos de edade, tendo
exercido diversos cargos e então era juiz de paz, e, em 1863,
aos 15 de Setembro, Ignacio Xavier Cezar que viveu 80 annoq.
Pela Lei n. 21 de 28 de Março de 1865, João Baptista Pe-
reira de Almeida foi provido no cfficio de Escrivão de Orphãos.
Neste anno, a 13 de Outubro, a nossa população teve o des-
gosto de perder o bondoso velho Mathias Flankler, que falle-
ceu na idade de 80 annos, sendo sepultado, a seu pedido, na
Capella de Santa Cruz.
Declarando-se a guerra contra o Paraguay, Tatuhy não
esperou que a sua cooperação fosse solicitada e tratou de dar
mão forte ao governo imperial e aqui se organisaram voluntario:
que partiram para os campos da luta e são elles:
Manoel Paulino da Silva Santos, Joaquim Bernardino da
Silva Santos, irmãos, filho do velho Bernardino José de Tole-
do, Nicoláo Molitor, M p o e l de Jesus, Ildeionso Antonio de
Moraes, Joaquim Frade Salvador Rufo, Luiz de Almeida, Ju-
ca de Senhorinha, Pedro Rodrigues de bloraes. Destes voltaram
os irmâos Santos, Molitor, Ildefonso, Almeida e Rodrigues de
Moraes, depois de extincta a campanha, deixando mortos pela
patria os seus demais companheiros de partida. Manoel Paulino
e Rodrigues de Moraes, vieram alferes.
Tatuhy não foi, portanto. indif f erente ao acontecimento
que por longos annos, flagellou o Brasil; cada victoria que no;
coroava era ruidosamente festejada pelos tatuhyanos.
Ein 1866, falleceram Bento Antunes de Camargo, 27 de Fe-
vereiro, de 70 alinos, e ao 35 de Agosto, Manoel Jacintho, le-
galista, coin 86 annos; em 1867, Francisco Leite de Paula, 29
de Janeiro, com 40 annos, Antonio Pereira de Almeida, 8 de
Junho, com 75 annos; em 1868, 6 de Julho, Joaquim de Almei-
da Leite, com 66 anos; Claudino José de Proença, com 50
annos, em 2 de Setembro; e 1869, 9 de Junho, com 70 annos,
Ignacio Xavier de Freitas, partidario e influentes, no tempo da
revolução.
Benzeu-se o cemiterio municipal em 23 de Junho.
Neste mesmo anno morreram os legalistas Antonio Cas-
.
tanho Fiuza, com 79 annos, em 14 de Setembro e, aos 8 de De-
zembro, Vicente Pinheiro Homem, com 85 annos.
Organizou-se, em 1871, sob a iniciativa e presidencia de
Francisco Carlos Baillot a Sociedade Recreio Dramatico, que
construiu o Theatro de S. João, que desappareceu, em terreno
obtido do governo pelo Conego Demetrio, então deputado pro-
vincial.
Eram membros da sociedade : Manoel José Coque (secreta-
rio), Thomaz Rodrigues de Camargo (thesoureiro), Rodrigo
Xavier de Campos, Leopoldino Rodrigues da Costa, Lourenço
Antonio de Lima, Manoel Eugenio Pereira, Conego Demetrio
Leopoldo Machado, Tristão Augusto Seabra, Hygino José Ri-
beiro, Joinville José Seabra e João Guedes Pinto de Mello.
Morre o chefe liberal Joaquim de Campos Camargo, com
74 annos, em 29 de Maio.
Em 13 de Janeiro de 1872, falleceu Martinho Guedes Pinto
de Mello, QI introductor da lavoura do algodão neste municipio.
Aos 6 de Novembro, com 72 annos, José Rodrigues Novaes
Pinheiro; em 15 de Dezembro, aos 42 annos, Jeronymo Xavier
de Freitas; aos 8 de Janeiro de 1873, com 53 annos, José de
Almeida Falcão ; aos 11 de Maio, com 90 annos, Domingos Soa-
res da Roza deixaram de existir, tendo prestado bons servi-
ços a Tatuhy.
Por decreto do governo imperial, de 11 de Outubro, Vicen-
te de Paula Gomes e Silva foi nomeado Tabellião e hmou pos-
se em 25 de Novembro.
O chefe liberal José da Roza Ferraz morre em 19 de Fe-
vereiro de 1875 ; em 28 de Maio, ás 5 horas da manhã. falleceu
o portuguez Antonio Dias Minhoto, siilcero amigo de Tatuhy e
de sua prosperidade. Nascido em Soutello, provincia do Minho,
em 20 de Novembro de 1824, vindo para o Brasil no brigue
T i f o , em 4 de Setembro de 1836, e aqui residente, desde 1849;
era pae do autor destas linhas. Joaquim Pinheiro do Amaral,
conservador, falleceu aos 31 de Dezembro, com 64 annos, c
João Rodrigues da Costa, liberal, com 65 annos, a 22 de Maio
de 1876.
Nesse mesnio anno, sepyltaram-se Antonio de Campos Bi-
cudo, 15 de Junho, Luiz de Souza Freire, 5 de Dezembro, am-
bos aos 70 annos, os quaes exerceram cargos publicos.

TATUHY COMAKCA

Tatuhy foi eivado a comarca em 7 de Mnio de 1S77 pela


Lei Provincial n. 26 sendo seu primeiro Juiz de Direito o Dr.
João Feliciano Costa Ferreira; Juiz Municipal, o Dr. Luiz Au-
gusto Ferreira e Promotor o Dr. Julio Xavier Ferreira. Foi
installada em 16 de Outubro.
O antigo escrivão de paz Justino Casemiro Cardoso (Jus-
tino Escrivão) falleceu em 24 de Dezembro, aos 70 annos.
Antonio Moreira da Silva, verdadeiro interessado pela pros-
peridade local, publicou em 29 de Agosto de 1878, o primeiro
jornal que aqui sahiu á luz - Progresso de Tatzhhy, que muito
concorreu para a intrucção e desenvolvimento material e moral
da nossa coinarca.
Morre, em 8 de Janeiro de 1879, com 60 annos, Gabriel
Antonio de Assumpçã~ que desempenhou cargos publicos.
Deu-se, em casa do Dr. João Feliciano da Costa Ferreira.
a sessão de installação da sociedade Gabinete de Leitura Tatu-
Izyense no dia 20 de Abril, ás 5 horas da tarde.
Foram socios fundadores: - Dr. João Feliciano da Costa
Ferreira, Dr. Julio Xavier Ferreira, Dr. Luiz Augusto Ferrei-
ra, Conego Demetrio Leopoldo Machado, Padre João Clima-
co de Camargo, Dr. Aureliano da Nobrega e Vasconcellos, An-
tonio Moreira da Silva, Tenente Francisco Xavier Taques Al-
vim, Vicente de Paula Gomes e Silva, Maximiano A u g u s t ~
,

Ferreira, illanoel Pedro da Cunha, Antonio Guedes de Freitas e


~~asconcellos, João do Sacramento Gomes, João Baptista Pe-
reira de Almeida e Manoel Pereira Barbosa. Sua primeira di-
rectoria foi assim eleita:
Presidente, Dr. João Feliciano da Costa Ferreira; vice-
presidente, Dr. Luiz Augusto Ferreira; thezoureiro, Antonio
Guedes de Freitas e Vasconcellos ; 1.O secretario, Antonio Mo-
reira da Silva; 2." secretario, Dr. Julio Xavier Ferreira.
Antes desta, outra sociedade houve que desappareceu.
Baixou ao tumulo, aos 60 annos, em 10 de Junho, Manoei
de Camargo Penteado, tendo servido em diversos cargos pu-
blico~.
A Camara Municipal, influenciada pelo capitão Antonio
de Oliveira Leite Setubal, contractou com Antonio Joaquim
Dias (de Sorocaba) a construcçáo de um mercado, que foi rea-
lisada em 24 de Dezembro.
Tatuhy estava em tempo de precisar dos serviços daquel-
les que se dedicavam sériamente pelo seu beneficio.
Entretanto, profunda tristeza se apoderou do espiritu pu-
blico, pelo fallecimento do Conego Demetrio Leopoldo Macha-
do, em 5 de Setembro de 1880.
Sacerdote cumpridor dos seus deverqs soube impor-se á es-
tima dos seus parochianos e a sua palavra e influencia eram
respeitadas, quer como particular, quer como vigario.
Chefe conservador, foi de um prestigio superior e inven-
civel, tendo sido nosso deputado na Assembléa Provincial.
Tatuhy muito lhe deve e as suas cinzas serão rodeadas de
veneração e reconhecimento por todo o filho desta cidade que
prezar o berço que o recebeu nascendo.
O seu eiiterramento foi o mais concorrido que aqui se tem
dado e o seu corpo jaz sepultado atraz do altar-mór da igreja
Matriz velha.
Succedeu-lhe o Conego João Climaco de Camargo.
Em 1881, sepultaram-se, a 17 de Janeiro, Manoel Paes de
Almeida, aos 78 annos, e Bernardino José de Toledo, aos 3 de
Agosto, com 68 annos. Foram conservadores, homens prestan-
tes e influentes no seu tempo.
O Tenente João Baptista de Oliveira Mattos, qiie foi auto-
ridade, por diversas vezes, entre nós, deixou de exIstir, aos 61
annos, em 20 de Abril de 1882. Tambem o fazendeiro João
Francisco Soares, o vulto mais influente e respeitado do bair-
ro da Quadra onde maior desenvolvimento teve a cultura do al-
godoeiro, succunibiu a 1." de Julho, com 69 annos.
E m 1883, 10 de Janeiro, falleceu Antonio Bueno ds Camar-
go Penteado, fazendeiro do municipio, que exerceu diversos,
cargos.
Por influencia e prestigio do deputado dr. Antoiiio José
Ferreira Braga foi consignada no orçamento da Assembléa Pro-
vincial uma verba de 16:000$000, para a construcção de uma
cadeia, o que tomou a seu cargo a Camara Municipal de que
era presidente o Capitão Leopoldino Rodrigues da Costa.
As difficuldades surgiram desde a escolha do terreno, sen-
do, finalmente, comprado a João Guedes Pinto de Mello, quasi
dois terços do actual Largo Municipal, e o restante á Fabrica
da igreja Matriz, pois era ahi em frente á esquina em que está
a casa do Conego Climaco, um velho cemiterio, donde os ossos
foram exhumados e removidos para o actual cemiterio.
E' nomeada, pelo Governo da Provincia, uma commissão,
constante do Conego João Climaco de Camargo, e coroneis Lu-
cio José Seabra e Bento Pires de Campos, para tratar das obras
da Igreja Matriz.
Em 18 de Outubro o Dr. Manuel Joaquim de Albuquerque
Lins, dá sua audiencia de Juiz de Direito, em seguida ao
Dr. João Feliciano da Costa Ferreira, fallecido em Sorocaba.
O Engenheiro Corner marcou o logar para a estação d:l
via ferrea Sorocabana, a 1470 metros da porta Matriz, no dia
25 de Janeiro de 1884.
Falleceu em 25 de Junho, José Bueno de Campos Boavão
(o Juca Boavão) com 46 annos, homem influente e respeitado
tendo occupado cargos publicos diversos.
No mesmo anno, no dia 9 de Agosto, ás 4 horas da tarde,
realizou-se a cerimonia da Collocaçáo da primeira pedra da egre-
ja Matriz actual.
Revestiu-se de toda a solemnidade, sendo presidida pelo co-
nego Climaco e o auto de assentamento lavrado pelo Tabelliric,
Paula Gomes.
'
Dentro da cavidade da pedra, foram guardados, ad perpe-
tuam. rei mewzoriay, os jornaes publicados em São Paulo, no dia
anterior, a saber: O Correio Paulistano, A Provincia de São
Paulo, Diario Mercaatil, Gazeta Liberal, Diario de São Paulo,
Gazeta do Povo, o n. 212 d'O Thabor e o n. 27 d'O Apostolo; o
Diario de Sorocnba e o n. 321 d'O Progresso de Tatuhy, de 2
de Agosto.
Juntamente foram postos os discursos proferidos, na oc-
casião, pelos Drs. Luiz Augusto Ferreira e Julio Xavier Fer-
reira, diversas moedas em cireulação, uma cedula de $500 e uma
noticia historica da cidade.
O capitão Porfirio José de Moura Negrão desce ao tumu-
10, com 53 annos, em 15 de Novembro, rodeado do respeito dos
tatuhyenses e deixando seu nome em livros, autos, protocollos e
papeis, como autoridade policial e juiz municipal que foi, du-
rante quasi toda a sua existencia aqui, onde exerceu real in-
fluencia no partido conservador; e assim tambem registrou-se
o obito de Salvador Rodrigues Leite, o homem que maior nu-
mero de construcções fez nesta cidade, si bem que de pequenos
valores ; com 74 annos, aos 8 de Janeiro de 1885.
Lançou-se a pedra inaugural da nova cadeia, em 2 de Mar-
ço ás 10 horas da manhã, para se dar começo á execução de
uma planta sui generis, fornecida pelo governo e que havia de
dar, em resultado, uma cadeia indecente, e fazer com que a Ca-
mara gastasse do seu cofre mais 6:000$000.
Esta cadeia foi demolida em 1910 e, por muito tempo, Ta-
tuhy se utiIisou de casas particulares para forum e prisões.
h?Zanoel Eugenio Pereira, intrepido e laborioso camarista,
soffreu opposição terrivel, e injuriosa mesmo, contra os seu5
actos e, entretanto muitos serviços de merecimento nos fez, es-
pecialmente concertos, abaúlamento e sargetas das ruas princi-
paes, morrendo aos 22 de Maio, com 47 annos.
O Dr. Miguel Bernardes Vieira de Amorim, Juiz de Di-
reito, successor do Dr. Lins, deu sua primeira audiencia a 17
de Setembro.
Francisco de Paula Pereira, que aqui foi autoridade e col-
lector, falleceu aos 45 annos, em 23 de Outubro.
Estavamos em momentos de prosperidades e conceber e
rea!izar uma idéa era questão de vontade.
Constituiam a directoria do Gabiucete de Leitura Tatuyen-
se: o Dr. Francisco de Salles Gomes, Tenente Antonio de Cer-
queira Cezar, Manoel Luiz da Silva Sá, Bento Pires de Cam-
pos Junior e Antonio de Amara1 Germano, que en~prehenderam
a construcção de um predio para nelle funccionar a sociedade.
0 s esforços com que luctava Bento Pires de Campos Ju-
nior, em pró1 das coisas de Tatuhy, conseguiram a doação de
um logar no Largo da Matriz, para alli se levantar o edificio
do Gabinete.
Foi a doaqão feita pelos srs. Gaspar Antonio de Oliveira
Bastos, Francisco Rodrigues Loureiro, Ernesto Rodrigues'Lou-
reiro, Alexandre Rodrigues Loureiro, Antonio Lustosa Perei-
ra braga, Luiz Pereira Cardoso Portugal, D. Bernardina de Se-
ile Portugal e os menores Eduardo, Rita e Adelia residentes
no Rio de Janeiro.
A escriptura que comprehende um predio velho em ruinas.
situado no Largo da Matriz, sob o n. 93, traz a data de 29 de
Dezembro de 1885 e acha-se registrada no Livro n. 4 antigo, ás
fls. 51, sob o n. 50, em 15 de Março de 1886.
Neste anno se fez o edificio, sob a fiscalisação particular
c10 thesoureiro da Sociedade, Manoel 1,uiz da Silva Sá.
Este predio, foi mais tarde, vendido, porque o gabinete,
tendo feito fusão com o Club Tatuhyense, passou-se para outro
predio mandado construir em maibres proporcóes.
O dr. José Joaquim Cardoso de Mello, Juiz de Direito,
nomeado em substituição ao Dr. Amorim, removido para Codó,
deu sua primeira audiencia, a 17 de Novembro de 1887.
Fallece Antonio de Padua Fiuza, com 73 ahnos, em 26 dt.
Dezembro, tendo prestado bons serviços a Tatuhy.
O sorocabano Antonio Rodrigues Pacheco Gato, aqui re-
sidente, desde muitos annos, emprehendeu e conseguiu edificar
a igreja do. Rosario, que teve inicio em 1888, em terreno com-
prado ao preto ~enedictoex-escravo de D. Anna Jacintha da
Rocha, medindo 17 metros de frente por 34 de fundo.
Obteve recursos com subscripções populares e fornecidos
pela respectiva irmandade de que era juiz Antonio da Silva
Telles que muito o auxiliou.
Em 12 de Maio, o dr. Antonio Candido de Almeida e Sil-
va, removido da Faxina para aqui occupar o cargo de Juiz de
Direito, deu sua primeira audiencia, substituindo o Dr. Cardoso
de Mello Junior que havia sido nomeado chefe de policia da
provincia.
Tatuhy, por intermedio do valente abolicionista Antonio
Moreira da Silva, com seus auxiliares, festejo'u, antes 'de 13 de
Maio a emancipação dos escravos do municipio.
A data gloriosa foi solemnisada, com enthusiasmo indes-
criptivel, sem grande prejuizo para os particulares, em vista do
que acima dissemos. A

E m 3 de Julho falleceu o mais antigo advogado deste foro,


Reginaldo Pereira Machado, e, em 30 de Agosto, José Alves dc
Araujo, que exerceu cargos publicas, por muitos annos.
O Bispo Dom Lino nomeia uma commissáo parochial, para
tratar das obras da igreja Matriz: Conego Climaco. Dr. Anto-
nio Candido de Almeida e Silva, Nicoláo Magaldi, João Felip-
pe de Barros e Francisco Baillot, em 4 de Julho.
Terminaram-se os muros, assentando-se o portão do Cemi-
terio Municipal.
Realiza-se, em 11 de Julho de 1888, o desideratum pelo
qual tanto se bateram os tatuhyanos: a inauguração da E. F.
Sorocabana, a qual tem constituido poderoso elemento para to-
dos os ramos da actividade social.
Tomou a direcção das obras da igreja do Rosario, aban-
donadas por molestia de Antonio Gato, Francisco Paschoal Bai-
lão que mandou fazer forro, soalho, altar e ladrilhar a sachristia

TATUHY REPUBLICANO
8
Por occasião da proclamação da Republica, nada houve de
extraordinario, nem digno de especial menção.
A indole do nosso povo e o espirito inclinado para o pro-
gresso e melhoramento de tudo, fizeram com que nenhuma per-
turbação da ordem se désse; ao contrario, tudo era esperado.
Confiante na propaganda promettedora e levado de seducção
agradabilissima, Tatuhy, si não acceitou de braços abertos a
nova fórma de governo, tolerou docemente que os republicanos
de então entrassem em exercicio.
Eramos ainda estudante e estavamos em São Paulo; não
presenceámos os factos que aqui fizeram as impressões do
acontecimento.
Na Secretaria da nossa Camara, nada consta a respeito;
alguem, por interesse ou descuido, não restituiu o livro das
actas desse tempo, que dali tirou.
Por tradição, sabemos que, ao receber a nova, reuniu-se 9
"Club Republicano" e aguardou a chegada de Antonio Morei-
ra da Silva, que se achava em Pereiras.
Este Club se compunha de: - Moreira da Silva, Joaquim
Olintho de Oliveira e Silva, José Pinto Moreira Drumond,
José Maria Pinto, José Samna, Francisco Carlos Baillot, João
Guedes Pinto de Mel10 e Manoel Augusto Galvão.
Estando presente, foi convidada a Camara para reunir-se
em sessão solemne, afim de entregar o governo municipal aos
republicanos.
Compunha-se ella dos vereadores abaixo :
Presidente, cap. Deolindo José da Rocha ; vice, Antonio Ri-
beiro de Almeida; Francisco Xavier de Almeida, Galdino An-
tonio da Silva, Raphael Caetano da Silva, Manoel Alves de
Araujo, Antonio iíe Cerqueira Cezar, Joaquim de Campos e
Candido Pinheiro de Camargo.
Effectuada a reunião, abriu-se a sessão, estando presentes
os Drs. Antonio Candido de Almeida e Silva, Juiz de Direito,
João Nogueira Jaguaribe, Juiz substituto, Antonio Moreira
Dias Junior, Promotor, os quaes se manifestaram em discur-
sos, após a allocuçáo de Moreira da Silva.
Depois do discurso final de Manoel Augusto Galvão, en-
cerrou-se a sessão, sahiGdo os republicanos e o povo em passea-
ta e estrepitosas festas pelas ruas.
Foi ás 7 112 horas que tudo se passou do que se lavrou
acta que desappareceu.
Ficou o municipio sem administração, até que, por decreta
do governo provisorio de São Paulo, em data de 28 de Janeiro
de 1890, foi nomeada uma intendencia constituida de Antonio
Moreira da Silva, Francisco Carlos Baillot, Nicoláo Magaldi,
José Pinto Moreira Drumond e Manoel Augusto Galvão que
não acceitou o logar.
Esta intendencia tomou posse, que lhe foi conferida pelo
vice - presidente da Carnara dissolvida, Antonio Ribeiro de
Almeida. a 1 . O de Fevereiro, ás 9 horas da manhan, estando pre-
sente o ex-vereador Antonio de Cerqueira Cezar sómente.
Dispensaram-se os empregados e nomearam-se outros.
Tal intendencia foi se reduzindo, pela retirada dos seus
membros, até que, por muito tempo, só Baillot administrava o
municipio.
Morre : Joaquim Manoel Fiuza (Nhò Quim Castanho) em
31 de Maio, aos 56 annos, tendo sido procurador da Camara e
agente do correio ; Firmino Xavier de Barros (Firmino Mimim)
aos 55 annos, em 22 de Setembro, tendo sido autoridade.
Benze-se a igreja do Rosario, em 10 de Novembro.
O anno de 1891, talvez effeito de nova phase governa-
mental, nada de novo produziu.
Em 1892, perdemos, em 10 de Janeiro, com 66 annos, An-
tonio Vieira de Moura e, a 7 de Fevereiro, aos 44 annos, o ca-
pitão Deolindo José da Rocha, depois de muitos serviços pres-
tarem a Tatuhy.
Foi em 21 deste mez que se reuniram José Sinisgalli, Fran
cisco de Almeida Tavares, Joaquim Jaauario Ribeiro, Pedro
Samuel Strambeck e Manoel Alves de Araujo, na casa deste,
para o fim de se tratar de. erigir uma capella de S. Roque, tendo
deixado de comparecer Luiz Antonio Coelho e Henriqiie
Jurgens.
A acta desta reunião foi lavrada pelo professor Antonio
Alves cle Camargo Caixeiro e assignada pelos membros pre-
sentes.
Tal emprehendimento, como todos aquelles que se come-
çam modestamente, não ficou em projecto.
Continuam os prejuizos com os obitos de: ~ a m i l l bFerreira
das Chagas, aso 76 annos, em 28 de Março, no seu posto de of-
ficial de justiça, desde 11 de Março de 1852.
Do mesmo modo, o anno de 1893 foi infeliz para esta
cidade.
Perdeu mais os esforços de tão distinctos trabalhadores
que succumhiram: Antonio Rodrigues Pacheco Gato, que exer-
ceu o cargo de fiscal, por longos annos, deixando seu nome na
igreja do Rosario, com 73 annos, em 14 de Janeiro; aos 6 de
Agosto, com 85 annos, Antonio Manoel Pedroso, o velho re-
volucionario de 1842; em 28 de Agosto, com 65 annos, Joaquim
Antonio Pereira Cotrim, que sempre foi homem de confianqa
para todos os cargos que desempenhou; em 16 de Novembro,
Antonio Alves de Camargo Caixeiro, com 39 annos, um dos
mais nobres ornamentos da nossa sociedade e fundador da es-
tação meterologica.
Por occasião da revolução de 1893, Tatuhy prestou opti-
rnos serviços á Republica. Foi aqui o ponto de desembarqu-
das tropas e munições, vindo estas, directamente, do Rio, pela
Central do Brasil, que, então, era de bitola egual. Foi comman-
dante da praça o dr. Carlos Garcia.
Aqui se preparavam as conducções, para que tudo fosse,
sem perda de tempo, ao Itararé. Organisou-se um batalhão pa-
triotico que não teve necessidade de prestar serviços. O cel.
Cornelio Vieira de Camargo salientou-se pelos esforços em-
pregados pela causa .publica, tudo providenciando, ao lado do
Dr. Carlos Garcia, pelo que recebeu o posto de major honora-
rio do exercito.
Em sessão da Camara Municipal de 3 de Junho, 1895, o
Intendente Joaquim de Paula Arruda propoz que se applicas-
sem sómente em concertos do theatro os 5 :000$000 fornecidos
pelo governo do Estado, para reparos dos predios damnificados
pelas forças que aqui se demoraram com destino para o Sul, o
que foi approvado.
Sabendo desta resolução o Grupo Dra~nlaatico Tata~hyense,
por intermedio do vereador Antonio Apollinario da Costa Ne-
ves, em sessão de 27 de Junho, levou á camara a idéa de se fun-
dar um novo theatro, em vez de concertar-se o antigo.
A Camara approvou por unanimidade de votos a indica-
ção do vereador Neves e nomeou as commissóes abaixo, para
Angariar donativos: - Cap. Antonio de Oliveira Leite Se-
tubal, Campos & Irmão, José Vieira, Rocha Leão & Comp,.
Mamede de Paula Pereira.
Promover leilões: Manoel 1,uiz da Silva Sá, Dr. Emilio Ri -
has, que foi depois substituido por José hlagaldi, Joquim Mi-
guel da Fonseca, Manoel Guedes Pinto de Mello.
Comr&ssão de obras: Joaquim de Paula Arruda, Dr. Salles
Gomes, Pharmaceutico Antonio F. Castro Pereira, Francisco
Xavier de Almeida, depois modificada assim;
Dr. Salles Gomes, Manoel Sá, Neves, Xavier de Almeida
e Carlos Frederico dos Santos.
Nesse mesmo dia (27 de Junho) a Camara teve conheci-
mento de que o Rev. Conego Climaco offerecia um terreno, no
largo Municipal, para a edificação do theatro, ao qual faz doa-
ção, como fez, e José Magaldi, compromettia-se a dar dois
lampeões para a frente do predio.
Assim se deu principio aos preparativos do novo theatro,
partindo a idéa do Grupo Dra?natico que então se compunha
de: - José Thornaz Corrêa Guimarães, José Marcellino Cava-
lheiro, Antonio Apollinario da Costa Neves, Laudelino Corrêa
de Moraes, Antonio Magaldi, Domingos Magaldi, Simeão Au-
gusto Sobral, Arthur Elesbão de Carvalho e Silva, Mario de
Azevedo, Augusto Hoffmann, Eugenio Frederico dos Santos
e Epaminondas de Campos.
Deve ficar patente que, em todos os serviços em beneficio
do theatro, Martiniano Rodrigues de Azevedo e Heleodoro
Kuntz estão á testa, agindo fortemente.
Foi encarregado da planta do edificio o agrimensor Au-
gusto Millet que a levantou gratuitamente.
Estas commissões não viram em obra sua o theatro que,
mais tarde, foi edificado sob a administração da Camara que
ali empregou dinheiro seu, tornando-se o actual theatro munici-
pal, tendo sido a planta de autoria do Dr. Samuel das Neves.
Em 12 de Julho, fallece, com 63 annos, Joaquim da Silva
Teixeira que exerceu a advocacia e muitos cargos publicos, além
do magisterio.
O Coronel Affonso de Camargo Penteado entendeu que
Tatuhy deveria ter uma casa de caridade e communicou ao Dr.
Salles Gomes a sua idéa e plano.
Puzeram mãos á obra e, aos 8 de Julho, ás 7 horas da tar-
de, no salão nobre do edificio do Gabinete de Leitura, sob a pre-
sidencia do Cap. Antonio de Oliveira Leite Setubal, secretarios
Eugenio Frederico dos Santos e José Thomaz Corrêa Guima-
rães; cento e seis pessoas assignararn a acta desta reunião, em
que se tratou da installação da Beneficencia Tatuhyense.
Elegeu-se tarnbem o primeiro Conselho Administrativo que
foi composto de Affonso de Camargo Penteado, Manoel Gue-
des Pinto de Mello, Manoel Luiz da Silva Sá, Antonio Apolli-
nario da Costa Neves e Eugenio Frederico dos Santos.
Suas enfermarias começaram a fuqccionar nos salões de
um edificio doado por Manoel Guedes e sua mulher, depois da
bençam do mesmo, no dia 1.O de Janeiro de 1896, ás 5 horas da
tarde, sendo officiante o Conego Climaco, na presença do Con-
selho Administrativo, e a acta lavrada pelo primeiro secretario e
assignada por oitenta e duas pessoas presentes.
Seus estatutos foram organisados pelos Drs. Salles Gomes.
Pedro Tavares, Pharmaceutico Antonio Francisco de Castro
Pereira e pelo autor destas linhas.
Concluem-se as obras de tijolos de Santa Cruz (paredes
lateraes, frontespicio è torre) de que foram empreiteiros Ger-
vasio Mugnaini e Justo de1 Santaro.
A commissão que angariou donativos e recursos para tal
serviço constava de: João Antonio da Costa, Francisco de Al-
meida Tavares e Januario Sitrangulo.
Era reconstrucção necessaria e urgente, pois que a parte
superior do edificio, trabalho mandado executar pelo Conego
Demetrio, em 1873, ameaçava ruinas.
Deve-se ponderar que soalho, escada e coro são melhora-
mentos feitos com esforços de Francisco Carlos Baillot e Car-
10s Stein e os sinos se devem á subscripção promovida por
Francisco Paschoal Bailão.
Deixam tambem os vivos: - o Capitão Joaquim Antonio
da Silva, devotado politico de quem se lançou mão tantas ve-
zes para cargos publicos, aos 70 annos, em 1 . O de Março de
1896; - Felisberto Pereira Peixoto, com 50 annos, deixando
um filho illustre para esta cidade, em 17 de Dezembro.
O armo de 1897, foi de maleficos resultados, ceifando vi-
das preciosas entre n ó s : - Joaquim Rodrigues de Oliveira TU-
pa, lhano, bondoso e prestante escrivão de paz, com 50 annas;
em 20 de Fevereiro, Antonio Albano de Oliveira Rosa, legalis-
ta influente, aos 87 annos, em 13 de abril; o capitão Leopoldino
Rodrigties da Costa, austero e cumpridor dos seus deveres, foi
ultimamente collector, com 61 annos, em 13 de Setembro. Era
neto de Antonio Rodrigues da Costa; o Capitão Antonio de
Oliveira Leite setubal,.com 57 annos, aos 27 de Dezembro, ten-
do sido autoridade policial, Juiz ikTunicipal e forte batalhador
no adeantamento iesta cidade.
Faziam parte da Camara Municipal, no triennio de 1896
a 1898, tendo-se retirado J. M. Fonseca Rosa, os seguintes se-
nhores: Dr. Francisco de Salles Gomes, Laudelino Corrêa de
Moraes, José Dionisio Ribeiro, Eugenio Pereira, Manuel Luiz
da Silva Sá, Mamede de Paula Pereira, Simeão Augusto So-
bral, Silverio Martins de Souza que foram autores do projecto
da canalização de agua potavel para a cidade e poseram em
pratica os trabalhos.
Era uma das mais urgentes providencias a darem-se, para
o complemento dos recursos naturaes da vitalidade do nosso po-
vo, pois que as aguas dos poços eram pessimas.
E', portanto, de razão que a cidade de Tatuhy não deixe ca-
hir no esiluecimento, os nomes daquelles senhores que souberani
vencer todas as difficuldades, para nos dar o que todas as nos-
sas Camaras não puderam conseguir.
E' nosso dever consignar, como testemunho de reconheci-
mento, que, para a execução destes trabalhos, muito concorreu
o Dr. Francisco de A. Peixoto Gomide' então vice presidente do
Estado, que se mostrára sempre proinpto, para agir em pró1 do
nosso bem estar.
O seu retrato a oleo occupa logar saliente na sala das ses-
sões da nossa municipalidade, que assim recorda aos posteros o
seu nome benemerito.
Morreu em 1898, Manuel Alves de Araujo, com 45 annos
aos 16 de Julho, um dos fundadores da igreja de S. Roque, e
Antonio Ribeiro de Almeida, com 58 annos, em 20 do mesmo
mez, antiquissimo guarda-livros e que desempenhou cargos pu-
blico~.
Como toda a cidade do interior não conta sinão
recursos, que não podem ser empregados em meios de diversões
populares, embora com fim indirecto de instrucção, Tatuhy não
tinha uma sociedade propriamente dessa especie.
Lembrou-se, então, Affonso Porto, um dos redactores dn
"Cidade de Tatuhy", nesse tempo, "O Trovão", de organisar
uma sociedade dansante e a sua resolução foi logo appoiada.
fundando-se o "Club Democrata Tatuhyense, com auxilio' de
um numero consideravel de socios.
A sua primeira directoria ficou assim constituida, em 16
de OiituLro de 1898, dia de sua fundação: - Capitão José Mar-
cellino Cavalheiro, Majr. Cornelio de Camargo, Alcibiades de
Campos, Antonio Apollinario da Costa Xeves, e Siineão Augus-
to Sobi-al.
A sua primeira partida deu-se a 7 de Janeiro do corrente
anno (1899).
Os seus estatutos foram elaborados pelo seu Orador Offi-
cial eleito que subscreve estes apontamentos historicos.
Aos 28 de Abril, fallece, em Sorocaba, com 78 annos, Joa-
quim Antonio Silverio, que aqui foi autoridade policial por
mais de 20 annos e que prestou á nossa população serviços inol-
vidaveis, quando flagellada pela variola.
i\
Aos 29 de Maio, com 54 annos, morre Cezario Lange A-
drien, Director do Grupo Escolar, homem de subido valor social.
Em 2 de Dezembro falleceram: Manuel Paulino da Silva
.Santos, alferes, por merecimentos nos campos do Paraguay c
tenente honorario do exercito, por Dec. do Gov. de 1894; Justo
Francisco Alves que, desde 24 de Setembro de 1884, servia de
I
of ficial de justiça.

ACTUALIDADE

P, cidade de Tatuhy está collocada a 600 metros acima do


nivel do mar, sobre terreno onduloso, occupando duas collina..
fronteiras que se tocam por planos mansamente inclinados ej-
tendendo-se pelos planaltos.
Cercada de vastos campos, gosa de uma perspectiva des-
lumbrante, deixando-se avistar, a olhos desarmados, da estaçá I
de Boituva e de perto de Cerquilho, na distancia de 30.000 me-
tros, mais ou menos.
Em posição de 23"-27'. Latitude S., 18."-24". Long". W do
Rio de Janeiro, ,em terreno secco e livre de residuos que pos-
sam infeccionar a athmosphera: é de salubridade inexcedivel.
Em caprichoso alinhamento, suas ruas e avenidas, forman-
do quadras, se dispõem quasi de N. a S. e de L. ao O., dando
logar a completa ventilação. Conta 1.600 casas dentro do peri-
metro urbano, distribuidas por 27 ruas, 2 avenidas e 13 praças,
a saber :

RUAS E PRAÇAS DA CIDADE

Ruas: 11 de Agosto - José Bonifacio - 15 de Novembro


- 1.w de Maio - Cel. Bento Pires - Prudente de Moraes -
Juvenal de Campos - Santa Cruz - 13 de Fevereiro - Ma-
neco Pereira - Brigadeiro Jordão - Cruzeiro - S. Bento -
Cap. Lisboa - Conego Demetrio - Cel. Aureliano - 13 de
Maio - Cel LuCio Seabra - Tamandaré - Santo Antonio -
7 de Abril - Republica - Humaytá - Beneficencia - Bo-
queirão - Prazeres.
Praças: - D. Lino - Sant'Anna - S. Bento - Santo
Antonio - Beneficencia - S. Martinho - Candido Motta -
Cel. Fernando Prestes - Martinho Guedes - Dr. Julio Pres-
tes- Mercado - S. Roque - Santa Cruz.
Avenidas: - Dr. Salles Gomes e Conego Climaco.
A edificaçáo já transpõe, em muito, o "quarto de legoa em
quadra" da doação feita pelo Brigadeiro Jordão, ampliando-se
pelos terrenos circumvisinhos e particulares.
Alén de numero exacto de casas que obtivemos dos lança-
mentos rnunicip~es,muitas outras se contam extranumerarias e
em construcção.
E' illuminada a luz electrica, por 50.000 velas, tudo a vol-
tagem de 220.
A cidade possue diversos edificios publicos e obras mu-
nicipaes, sociedades particulares e diversões; de tudo iremos
dando breve noticia especificadamente.

A IGREJA MATRIZ

Vasto e sumptuoso edificio construido todo de tijolos e


profundos alicerces de pedras; nelle se gastaram já 550.000 ti-
jolos, comprados em diversas olarias da cidade e mais todos
quantos foram obtidos por doações e os da igreja velha demoli-
da, 355 carradas de pedras e 8,000 saccas de cal.
Está pintado e prompto; elevam-se aos lados duas torres
que attingem a altura de 30 metros approximadamente, do solo
ás pontas das cruzes, junto de uma das quaes está um para-raios.
O instrumento deaque se lançou mão para calcular a altura
das torres accusou esse numero de metros, porém não é bas-
tante perfeito e póde haver differença.
Entretanto, medimos exactamente 17,80 da base da fresta
do sino grande ao solo.
A parede de frente (frontespicio) mede m. .1,15 e as late-
raes m. 0,80 de largura.
Nestas, ha 5 respiradouros de cada lado que dão a r para as
varandas inferiores e tambem 6 janellas para as superiores: na-
quellas, abaixo e acima do coro, encontram-se conductores de luz
para as escadas e 5 janellas que do coro dão para o largo.
Na base está o adro, tambem de tijolos, com tres degráos.
Dão entrada ao templo tres portas de frente, duas dos la-
dos e duas nos fundos.
A porta principal, toda de almofada, mede m. 2,30 de lar-
gura e abre-se sobre gonzos de ferro batido.
Desta porta qo arco do cruzeiro medem-se m. 29,50 por m.
19,70 de largo, entre muros, tendo o referido arco m. 12,90 de
alto por m. 6,05 de largo.
A área comprehendida entre os muros e sobre o soalho ao
rez do chão é de m. 581,15 metros quadrados e dá logar a 2.500
pessoas.
Aos lados, entendem-se as varandas superiores, com m. 4,:
de largura as quaes descançam sobre os muros lateraes e ar-
cadas internas de cada lado, que têm sobre si outras taritas c
apoiam-se sobre pilares quadrangulares de m. 1,10 em cada face.
distnnciaclos m. 3,40 um dos outros.
O cíiro, com 6,20 de largo, se sustenta sobre a parede de
frente e tres arcadas internas.
O forro central, em meia laranja, e de cainbotas e asseri-
ta-se sobre os muros internos.
Acham-se guarnecidas as varandas, coro e centro da igreja
de grades de madeira torneadas e envernisadas.
A architectura do edificio representa a singeleza rude de
Lim templo construido para vencer as intemperies e transpor al-
guns seculos, levando aos vindouros a lembrança do Conego Cli-
rnaco. dos membros das commissões parochias que o têm auxi-
liado, e dos seus bemfeitores.
Esta igreja encerra duas reliquias sacratissimas para nós,
tatuhyanos: é a primeira imagem venerada aqui pelos primi-
tivos povoadores dos nossos sertões - Nossa Senhora da Con-
ceição, trasida por Paschoal Moreira Cabra1 em 1680 e a ima-
gem de Nossa Senhora do Carmo, em cuja presença se fizeram
o primitivo baptismo e o primeiro casamento em casa particu-
lar, por falta de igreja.

SANTA CRUZ

Situada no logar mais elevado e pittoresco da cidade, o f .


ferece, em sua singeleza externa, um aspecto agradavel, avis-
tando-se dos cumes dos morros Araçoyaba, Rofete e Guarehy,
em distaiicia de cerca de oito legoas, com auxilio de apparelhos
communs.
Tem o corpo, frontespicio e torre feitos de tijolos e a ca-
pella mór antiga, de madeira e tijolos.
Sem architectura notavel, é bastante solida, espaçosa e
decente.
Mede 31 metros de comprimento da porta principal ao
fundo, por 10 metros de largura.
Nella se penetra por tres portas, sendo uma na frente e
duas nos fundos da parte principal.
Regularmente ornamentada, é um edificio que merece ser
visitado pelos nossos hospedes.

IGREJA DO ROSARIO

Construcção de madeira e tijolos, não se acha ainda aca-


bada, estando, porém, as obras da porção edificada em vias'&
conclusão.
Mede m. 13,70 de comprimento por m. 11.30 de largura e
deve ser trazida até ao alinhamento do pateo, augmentando-se-
lhe mais m. 13,20 de comprimento.
Dá entrada pela frente uma porta larga.
Dentro, tudo é modesto e demonstra falta de recursos am-
plos para sua ornamentação ; todavia, é sof frivel e nella se fa-
zem festas diversas e muito concorridas.
Situada num dos largos mais bonitos da cidade, ver-se-á fu-
turamente rodeada das melhores construcções que ainda mais
embellezarão os seus arredores.

CAPELLA D E S. ROQUE

Pequena, edificação elegante, de tijolos e solidez robusta,


é de uma apparencia risonha, si bem que situada em logar estrei-
to e o mais improprio que se poderia escolher numa cidade, onde
ha tantos largos e terrenos que se prestariam, com outras van-
tagens.
Atientou-se mais para as situações dos seus fundadores do
que para a commodidade publica e ornamentação da cidade.
Ainda não acabada, mede m. 15 de comprimento por m.
8,75 de largura, tendo na frente uma porta larga.
CLUB T A T U H Y E N S E

O Club Tatuhyense, a mais antiga sociedade recreativa de


Tatuhy, foi fundado em 16 de outubro de 1898, tendo dado a
sua festa inaugural a 8 de janeiro de 1899.
A 1." denominação que recebeu foi - a U B DEMO-
CRATA TATUHYENSE.
Até fins de 1900 marchou em franca prosperidade e ani-
mação, porém, começa a declinar em 1901 e a 1.O de fevereiro
de 1902 realizava-se o ultimo baile da decadente sociedade, sob
uma directoria composta exclusivamente de senhoras. Esta di-
rectoria, é preciso que se diga, muito se esforçou por suster a
quéda da associação, porém, a falta de frequencia dos socios ás
festas acabou por tornar de todo desinteressante a sociedade.
A causa do declinio do Club foi tão somente esta e não a falta
de recursos de ordem economica, pois, foi dissolvido com um
bom fundo de reserva.
Em janeiro de 1904 deu-se a reorganização da sociedade,
reerguendo-se mais- forte que nunca antes o fora, sendo eleita
uma directoria assim composta :
Presidente, capitão Costa Neves; vice-presidente, Renato
Mota; secretario, Major Martiniano José Soares; secretario,
Martiniano de Campos ; thesoureiro, Cel. Cornelio Vieira.
Daqui em diante a sociedade só progrediu, terminando por
fundir-se com o Gabinete de Leitura Tatuhyense, sociedade
scientifica e literaria, fundada em 20 de abril de 1879, cujo 1.O
presidente foi o dr. João Feliciano da Costa Ferreira.
O Gabinete de Leitura prosperou grandemente e por mui-
to tempo concentrou todo o movimento intellectual e social de
Tatuhy. Ao fundir-se com o Club Tatuhyense possuia um pa-
trimonio consideravel, inclusive uma bibliotheca composta de
691 obras com 1284 volumes. Havia, porém, alguns annos antes
da fusão que deixou de ser frequentado, estacionando-se com-
pletamente, entre outras causas por ter adoptado o criterio de
remissão de socios e prohibição de jogos licitos.
Dest'arte, tanto ganharam o Gabinete como o Club com a
fusão, pois a sociedade resultante, que adoptou a denominação
de - CLUB TATUHYENSE - reunindo os recursos de am-
bas as partes, predispunha-se a um futuro certo.
A escriptura da fusão das duas sociedades foi passada em
notas do 2." tabellião Firmo Vieira de Camargo a 3 de junho de
1911, pelo valor de rs. 34:245$774, sendo presidente do Tatu.
hyense o Sr. Mario Azevedo.
O 1." presidente da sociedade resultante foi o Sr. Antonio
A. da Costa Neves, a quem a associação deve inestimaveis
serviços.
O actual predio do Club, que foi construido especialmente
e é propriedade da associação, foi inaugurado, solennemente, s
25 de dezembro de 1913, tendo servido de paranympho o Club
\renancio Ayres, de Itapetininga.
A actual directoria acha-se assim constituida:
Presidente, Joaquim Assumpção Ribeiro; vice-presidente,
Flavio Vani; 1.O secretario, Carlos Orsi; 2 . O secretario, Ignacio
VilIa Nova ; thesoureiro, Octavio Corrêa de Toledo ; orador,
Nelson Eugenio Pereira.
A sociedade, actualmente, acha-se em alto grau de desen-
volvimento, sendo a sua situação financeira optima. Possue um
activo, que póde avaliar-se em cerca de cem contos de réis, em-
quanto o seu passivo consta sómente de 3 hypothecas, no valor
total de 17 contos de réis.
A ordem reinante no seio da sociedade é de molde a satis-
fazer, plenamente, e cada socio é um enthusiasta e trabalhador
em pró1 do bom nome do Club Tatuhyense, que faz inteiro jús á
elevada reputação de que goza.

HISTORICO DO C. R. 11 DE AGOSTO

No dia 14 de maio de 1916 reuniram-se, no Theatro S.


Martinho, ás 17 horas, varias pessoas destinctas do nosso meio
social com o fim previamente combinado de se fundar um club
recreativo familiar em nossa cidade.
Nesse dia, por acclamaqão, formaram a mesa, tendo como
secretario o professor Alcebiades Minhoto, sendo pelo mes-
mo explicados os fins dessa reunião.
Em virtude da avançada hora foi adiada para o dia 17
a reunião.
Então, ás 21 'horas, reunidos novamente distinctas pessoas,
ficou deliberada a fundação de um club sob o nome de "Recrea-
tivo 11 de Agosto" em homenagem á data da fundação de nos-
sa cidade.
Elegeram para directoria provisoria os senhores :
Pedro Holtz, presidente; Francisco Garcia, vice-presiden-
te; João Padilha, 1 . O secretario; João Pereira de Almeida, 2."
secretario: Antenor Dias da Silva, thesoureiro.
A 9 de julho, á rua General Carneiro 106, hoje 11 de Agos-
to, séde provisoria do club, reuniram-se os associados para ins-
tallação, discussão dos estatutos e eleição da 1." directoria.
Nessa occasião o sr. Pedro Holtz, presidente da directoria
provisoria, scientificou á assembléa que 'havia convidado para
presidir a sessão o sr. professor José Pereira de Almeida, que
expoz aos presentes a utilidade da aggremiação e os fins da re-
união.
Nessa assembléa foram approvados os estatutos da so-
ciedade.
A 30 de janeiro de 1917, a séde do club foi transferida para
o Largo da Matriz, predio então de propriedade do sr. major
Martiniano Soares.
No dia 4 de março, em assembléa geral foi approvada a
reforma dos Estatutos. Por acto da directoria do dia 31. de
maio foi arrendado o predio do major Martiniano Soares por
cinco annos.
Em 18 de Março, em sessão extraordinaria, o capitão Holtz
propoz que se convocasse uma assembléa geral para o fim de
se discutir a conveniencia da acquisição do predio, sendo essa
acquisição unanimememente aprovada por essa essembléa e no
da 17 de maio de 1918, foi adquirido o predio por 10:000$000.

MATADOURO MUNICIPAL

O Matadouro Municipal de Tatuhy é um dos mais moder-


nos do Estado não só pela sua concepção como tambem pelo
cuidado especial que mereceu no que respeita a hygiene.
Collocado num terreno de 11 alqueires, fóra do perimetro
urbano, á margem do Ribeirão da Cidade, é constituido por
uma série de edificios, cada um destinado a um fim diverso.
O accesso se dá por uma larga rua, passando pela frente de
dois edificios, um delles pertencente á administração e outro ao
ajudante do administrador.
A sessão dos porcos comprehende 6 pociIgas do typo mais
.moderno, possuindo, cada uma um apartamento destinado á se-
paração e exame dos porcos que devem ser abatidos. Esses apar-
tamentos estão ligados por um corredor que se communica com
o quadrado da matança. Dahi, por meio de trolys aereos, os por-
cos são levados para a secção da caldeira, raspagem e esquar-
tejamento.
A' cada pocilga corresponde um deposito de alimentos, d-
sorte que os proprietarios dos porcos podem tratar os seus ani-
maes, com muita independencia e segurança.
A secção do gado vaccum comprehende, além das manguei-
ras, para o registro dos anirnaes recolhidos ao pasto, o tronco
da matança, este já collocado dentro do edificio principal, e to-
do um apparelhaniento para o esquartejamento, pesagem e en-
trega dos quartos ao conductor.
O sangue é recolhido nos esgotos, e encaminhado para uma
fossa, onde é tratado para o emprego na agricultura.
O edificio principal possúe, além do salão da matança, cuj:1
capacidade é de 12 bois diarios, ao salão do administrador, ves-
tiario e deposito de instrumentos e 13' C.
Um outro edificio annexo é o dos depositos de couros sal-
gados, depositos em numero de quatro e dos tanques de preparar
as viceras.
Ha, ainda, um deposito de vehiculos com os quartos de ar-
reios e forragens.
Um pouco afastado, fica uma estação de monta, com loga-
res para suinos, touros, etc. com a sua competente secção de
forragens e mangueiras.
A agua é abundante em todas as dependencias, havendo
uma caixa de concreto elevada, com capacidade de 5.000 litros.
A conducção das carnes aos açougues é feita em caminhão
automovel e todos os serviços, quer de matança do gado, quer
de entrega, pertencem á Municipalidade.
Os pastos são fechados com cerca de arame e são amplos,
podendo conter até 50 rezes cada um.
O projecto e construcção pertencem ao Prefeito Munici-
páfDr. Norman Bernardes e toda a alvenaria foi fornecida pela
Olaria Municipal que é uma excellente fabrica de tijolos para
todas as obras da Municipalidade, achando-se annexo ao Mata-
douro. O custo total do Matadouro é de cerca de 100 contos de
réis e com a sua inauguração proxima, póde-se affirmar que
Tatuhy possuirá um dos melhores do Estado de São Paulo.
A sua renda está orçada em 24 contos.

CEMITERIO MUNICIPAL

Outr'ora distante e hoje muito proximo da cidade, carecen-


do de remoção, por isso; é vastissimo com area de 18.582 me-
tros quadrados, todo murado de tijolos, serviço este de que se
encarregou o coronel Bento Pires de Campos, no seu tempo de
camarista, o que foi executado debaixo de sua fiscalisação diaria.
Nelle penetra-se por um portão largo e pesadissimo que gi-
ra sobre carretilhas e trilhos, sendo as folhas de grades de fer-
ro suspensas em gonzos mettidos em pilares de tijolos que ter-
I
minam em arcada.
Dentro é. .. um cemiterio : palmeiras, tumulos riquissimos,
a cruz do pobre, a cova abatida do esquecido que ninguem cho-
ra e nada mais. . . '

CEMITERIO DO SS. SACRAMENTO

Dentro da cidade, atraz da igreja, murado de terra socada


e tijolos, está o antigo cemiterio da irmandade do Santissimo, em
abandono e reduzido a um capinzal, debaixo do qual estão as
cinzas de muitos que tudo fizeram por Tatuhy.
O ultimo cadaver que ali se enterrou foi o de Antonio Moli-
tor (Antonio Allemão) .
Algumas familias zelam particularmente dos tumulos em
que jazem os seus, arredando o capim e as silvas, emquanto que
de outras desappareceram as carneiras, os signaes, a lembrança,
as saudades e o nome, como sóem ser as coisas deste mundo.

ABASTECIMENTO D'AGUA

Não havendo agua em altura donde naturalmente podesse


correr para a cidade, fizeram-se duas reprezas no ribeirão, um
dos braços do dos "Fragas" á 4443 metros da parte mais alta
que domina as ruas.
Estas represas, com uma só bipartida, podem ser limpas,
sem que se interrompa o curso d'agua, pois que são inteiramen-
te separadas por um largo muro levantado entre as duas partes,
de cada uma das quaes as aguas veem distincta e naturalmente,
por manilhas de barro, para um pequeno poço de tijolos e
cimento.
E, como já dissemos, sendo esta posição inferior á da cida-
de, collocaram-se machinismos, elevadores e duplos, para o ca-
so de desastre num delles; duas bombas Worthigton, cada qual
com a respectiva caldeira podendo aspirar 7 litros d'agua por
/ '

segundo.
Esta agua é elevada a 3 metros de altura do poço e recalca-
da a mais 300 metros, num prolongamento de 900 metros de
tubo de ferro de 3 pollegadas.
Nesta extremidade está uma caixa, onde as aguas recebeni
o ar, depositam as areias e partem com quéda natural de m.
0,0003, por manilhas de barro, na distancia de 2337 metros, con-
tinuando a fornecer 7 litros por segundo e passando por 7 cai-
xinhas intermediarias.
Da oitava caixa parte o encanamento forçado, de ferro e 7
pollegadas em syphão invertido, prolongando-se por mais 1206
metros, até a caixa ou reservatorio collocado no ponto culminan-
te, donde a ramificação pela cidade.
Este reservatorio tem a capacidade para fornecer a cidade ;
é bem acondicionado, de maneira a estar. fóra do accesso de
periliciosos visitantes e da poeira.
O serviço está funccionando ha annos, sem o menor in-
cidente.
As obras foram examinadas pelo engenheiro dr. Antonio
Francisco de Paula Souza, convidado pela Camara Municipal, o
qual prestou-se gratuitamente fornecendo um bem elaborado
parecer que muito honra ao engenheiro executor dr. José Anto-
nio Barbosa.
Os trabalho foram executados sob as vistas do dr. Sai- '

les Gomes.
Sendo insufficiente a agua, por causa do augmento do seu
consumo, a Camara tem estudado e feito o projecto da tirada do
Rio Sorocaba, unico local que se encontra aquelle liquido, com
abundancia, para supportar os gastos do presente e pelo futuro
em fóra.
MUNICIPIO

Limites: - Ao N. com os de Pereiras e Tietê; a L., com


os de Porto Feliz e Campo Largo; ao S. e S. O., com o de Ita-
petininga; a 0. com os de Guarehy e Rio Bonito.
A sua area é de 905 kilometro quadrados.
População Municipal : - E' de 28.195 habitantes, inclusi-
ve a da cidade que é de 8.000 almas approximadamente.
Augmenta-se consideravelmente, quer com auxilio natural'
da procreação, quer pela immigração.
Aspecto geral: - O territorio do municipio é ondulado
sensiveImente, encontrando-se tambem grandes planaltos e no-
tando-se os morros de Capão Alto, Serrinha, morros da Bella
Vista, Morro Grande, Boa Vista, etc.
Cztrsos das aguas: - Formam 4 grandes bacias : a do Rio do
Peixe do Guarapó, do Tatuhy e a do Sorocaba, todas inclinadas
para a bacia do Tietê.
Pertencem á bacia do Rio do Peixe: o Rio Feio que nasce
nos Amaros e o rio Bonito que nasce no Bofete e divide do
nosso o municipio do mesmo nome.
O Guarapó, que nasce da Campininha, recebe pela margem
esquerda as agi-ias do Turvinho, Alleluia, engrossado pelos
Palmeiras e Barreiro, o Araçá; pela direita, o Moinho, Fragas
ou Rio das Pedras, Caguassú que, pela direita, toma o Bemfica.
O Rio de Tatuby nasce nas extremidades de Capão Alto e
recebe pela direita: o Jururu-mirim, Agua Branca, com Lagea-
dinho ; pela esquerda: o Ribeirão das Araras, Enxovia, Peder-'
neira, Barreiro, O'ntrada, Vai-e-Vem e Tatuhy mirim.
O Sorocaba que percorre as divisas do municipio cerca de
m. 22.000, recebe directamente o Ribeirão da Onça engrossado.
pela direita, com o Ribeirão de Dentro e pela esquerda, com r'
Passa Tres; o Guararapó, o Tatuhy e o Sarapuhy ou Sara puhu,
com a confluencia do Alambary, ao entrar em territorio Ts-
tuhyano.
CLIMA

E' quente e secco, durante o verão: frio e secco pelo in-


verno.
As chuvas começam, ordinariamente, em fim de Outubro,
diminuem em fim de Janeiro; appareciam em Dezembro e ter-
minavam em Março, sendo essa regularidade quasi inalterada.

FORÇAS PRODUCTORAS

(Natureza - Trabalho - Capital)


A natureza -é prodiga e produz assaz, mesmo sem
esforço.
As terras são de excellentes qualidades: - roxa, barrenta,
branca, maçapé, preta e arenosas, amarelas, pretas e vermelhas,
conforme os qualificativos que aqui se lhes dão e pelos quaes são
preferidas.
H a tambem a sangue-de-tatú e arenosa branca, ordinaria-
mente nos vastos campos de crear, onde verdeja o capim mimoso.
Sobrepujam em fertilidade todas as margens do Tatuhy,
Alleluia, Rio Feio, Conchas e Guararapó.
O Trabalho - é enorme e luta-se extraordinariamente, por
falta de braços. A nossa população é composta quasi toda de bra-
sileiros, havendo raros extrangeiros.
O Capital - é insufficiente, pois são conhecidos e erripre-
gados os instrumentos proprios para amanhar as terras cansa-
das e restituir-lhes a fertilidade.
Machinas de lavoura existem em abundancia e são adopta-
das á cultura ou industria.
Com o capital adequado e a prodigalidade da natureza tudo
suppre, mesmo a escassez de honestidade dos empregados jorna-
leiros, no trabalho.
H a o beneficio incalculavel da pequena lavoura generalisa-
da e mixta e o inconveniente extraordinario das grandes pro-
priedades incultas.
A predominante é a do algodoeiro; nos logares montanho
sos, é a do cafeeiro, especialmente pelos lados de Bella Vista e
Cezario Lange.
Em geral, cultivam-se canna de assucar, fumo e cereaes
em excessiva quantidade.

PRODUCÇAO E CONSUMO

E' enormissima a producção, não obstante, o que dissemos


sobre o trabalho e o capital.
As safras de algodão são abundantes, excepção do corren-
te anno, em que foi assás pequena.
A colheita de cereaes excede em muito ao consumo.
Ha excellente vinho, em pequena porção e super-abun-
dancia de fructas.
A creação do gado suino é superior e a do vaccum equi-
valente á procura.
H a producção de animaes cavallares, lanigeros, etc.

VIAS DE COMMUNICAÇAO

Tatuhy está a 182 kilometros da Capital do Estado, á qua:


se liga pela E. F. Sorocabana, e a 164 kilometros por estrada
de rodagem.
Dista de Guarehy e egualmente de Bella Vista 40 kilome-
tros e de Bofete 60 kilometros.
O municipio é servido por cerca de tresentos kilometros
de estradas de automoveis abertas e custeadas pela camara mu-
nicipal. Está ligado a todos os municipios, visinhos, por estra-
das boas, proprias para o transito de caminhões e automoveis.
A "Sorocabana" tem, na cidade, uma estação e no munici-
pio, a de Santa Adelaide e um posto telegraphico, no rio Tatuhy.

INDUSTRIA

A industria está regularmente desenvolvida, contando-se


as seguintes fabricas :
A fabrica de tecidos "S. Martinho", fundada em 1881 e
que começou a trabalhar em 1882.
Os eclificios de que se compõe esta fabrica, construidos jun-
to á cidade, tem de area 9.282 metros quadrados, sendo destes
occupados pelo edificio 5.192 assim distribuidos :
Edificio principal 4.170. Casa de tinturaria 895 e casa do
descaroçador 127 metros. Na frente da fabrica, acha-se recen-
temente construida uma torre a qual mede 35 metros de altura,
tendo tres andares, sendo o ultimo occupado por um grande re-
logio com quatro faces, medindo cada mostrador lm25 % de
circuinferencia. Estas construcções são de pedras, tijolos, ci-
mento, madeira e ferro, a coberta é de telha de argilla. O edi-
ficio principal devide-se em 15 compartimentos destinados aos
varios processos de fiação, engommagem, catadores, cardas.
teares e dobragem, a que dão luz e ventilação 210 janellas das
quaes as menores medem 240 centimetros de altura por 150 de
largura e as maiores 290 por 175.
A fabrica, que principiou a trabalhar com 54 teares, tem
hoje cerca de 300. A producção excede a um milhão e meio de
metros annualmente, de tecidos de diversas qualidades com<>
sejam :
Algodões brancos, grossos e finos, cassinetas, oxfords, ca-
semiras, riscados, cobertores, toalhas etc., sendo o maior consu
mo para este Estado.
A materia prima - algodão - é toda supprida pelo mu-
nicipio.
Einpregão-se na fabrica 264 pessoas, quasi todas filhas do
municipio e assim descriminadas: homens 60, mulheres 144, e
creanças 60. Despende-se mensalmente com ordenados, aos mes-
mos a quantia de rs. 15 :000$000, sendo 10 horas de trabalho
por dia.
Além desta fabrica, que pertence a Companhia Fiação e
Tecidos S. Martinho, ha outras sendo uma de Campos Irmãos,
e outra de Campos Warne e Cia., que passamos a noticiar:
CAMPOS IRMÃOS & CIA. - FABRICA "SANTA
CRUZ" - FIAÇAO E TECELAGEM DE
ALGODAO

A organização da sociedade commercial data de 3 de no-


vembro de 1890. Seu fim, ao principio, era explorar o commer-
cio de fazendas, armarinhos, modas, ferragens, etc., etc.
Os socios fundadores, foram Alcibiades Campos e Juvenal
de Campos, entrando o 1.O com o capital de rs. 2 :239$900 e o 2.O
com o de rs. 760$100.
, A razão social adoptada foi - "Campos & Irmão".
Estabeleceu-se a firma pela 1." vez na casa em que, actual-
mente, está estabelecida a firma Abbud & Filho. Mais tarde
mudou-se para o predio do major Lucio Seabra, de quem o
adquiriram Campos & Irmão por rs. 6:000$000, casa onde, hoje
reside o Sr. Carlos Orsi.
A 1." transacção da firma foi com o Sr. Antonio Cesar do
qual adquiriu um fundo de loja e respectivos moveis e utensi-
lios, no valor total de Sr. 8:800$000.
O socio Alcibiades Campos era o , p a r d a livros. O socio
Juvenal de Campos era o vendedor e comprador. Alcibiades
Campos tinha a profissão de guarda-livros da fabrica S. Marti-
nho, antes da fundação da sociedade; Juvenal de Campos era
jornaleiro e operario.
No 1.O balanço, ef fectuado em 31 de dezembro de 1891, o
lucro liquido da firma foi de rs. 19 :450$927.
A firma sempre marchou em franca prosperidade, dilatan-
do seus negocios. Assim é que ainda explorou uma fabrica de
bebidas, uma machina de beneficiar arroz e uma machina de be-
neficiar aÍgodão, comprando tambem estes productos em larga
escala.
Eram auxiliares da firma - Epaminondas de Campos,
Rodrigo de Campos J.or e Antonio de Campos, tendo-se retira-
do, mais tarde, os dois ultimo>, emquanto o primeiro se tornou
interessado, ficando modificada a razão social para "Campos
Irmãos", .no anno de 1900. Nesta firma collaborou tarnbem o
Sr. Martiniano de Campos, como interessado.
A 19 de setembro de 1908 inaugurava-se solennemente o
edificio da fiação de algodão sob a mesma ultima razão social
mencionada - Campos Irmãos, mas da qual já não fazia par-
te o socio Alcibiades Campos, que já por esse tempo se havia
retirado continuando como interessado Epaminondas de Cam-
pos e como auxiliar Martiniano de Campos e mais Mario de
Azevedo, que havia entrado recentemente.
Esta firma explorou até 1911 o fabrico de fios de algodão
e productos de malha. Neste mesmo anno voltou para a socie-
dade Alcibiades Campos e, então, resolveu a firma augmentar
sua fiação e montar uma secção de tecelagem, o que fez com
206 teares.
Em 23 de outrubro de 1917 a firma passou pelo duro golpe
de ver morrer o socio Juvenal de Campos, - fundador da Fa-
brica Santa Cruz.
Com isto organizou-se nova sociedade sob a firma de
"Campos Irmãos & Cia.", da qual ficaram fazendo parte o so-
cio remanescente Alcibiades Campos, Juvenal Campos Filho,
Epaminondas de Campos e Mario Azevedo, como solidarios, e
D.a Maria Teixeira de Campo, viuva do socio fallecido, como
commanditaria.
Actualmente, compõem a sociedade os seguintes socios: AI-
cibiades Campos, Juvenal Campos Filho, Mario Azevedo e D.a
Maria Odette de Campos Azevedo, como solidarios, e D.a Ma-
ria Teixeira de Campos, como commanditaria.
A Fabrica Santa Cruz é, hoje, um estabelecimento bem
montado. Possue optima fiação, uma importante secção de te-
celagem e todas as respectivas secções de preparação e aca-
bamento, com machinismos recentemente importados. Annexo
á fabrica funccionam tres machinas de beneficiar algodão e
tres linters. O algodão em caroço, antes de passar por estas ulti-
mas machinas, soffre um processo preparatorio de limpesa nu-
ma machina para esse fim especialmente importada. Além de
grandes depositos para tecidos manufacturados, algodão em ra-
ma, algodão em caroço, desperdicios, etc., conta a fabrica com
boas officinas mecanicas e de carpintaria com machinarios mo-
dernos e uma fundição, que funcciona ininterruptamente. TJlti-
mamente adquiriu no estrangeiro um motor RUSTON a 9ieo
para produzir força electrica, de 660 cavallos.
Mantem a fabrica um armazem de generos de primeira ne-
cessidade para venda exculsiva a seus empregados pelo preço
exacto de custo das mercadorias.
A installação de agua, que é um proprio da sociedade, está
em mais de 200 contos de réis. A agua consumida na fabrica é
captada em poço arteziano ultimamente aberto e conservada em
amplos reservatorios, cuja construcção obedece a todas as pres-
cripções da hygiene.
Para assegurar a saude de seus operarios possue a fabrica
um irreprehensivel serviço de esgoto.
Para diversão dos mesmos mantem um club, i.istallado em
bello predio construido especialmente, bem como uma escola pri-
maria a cargo de professora normalista secundaria, sendo as
despesas provenientes da manutenção da escola, fornecimento
dos objectos escolares aos alumnos, tudo custeado pela firma.
Esta escola vem funccionando desde abril de 1920 e o seu func-
cionamento foi autorizado pelo governo.

FABRICA FIAÇAO "SANTA ISABEL" D E CAMPOS


W A R N E & CIA.

O edificio desta fabrica, recem-construida occupa uma area


de 2 .O00 metros quadrados.
E' movimentada á forca electrica e se utiliza de machinis-
mos os mais modernos e aperfeiçoados, pois iniciou, ha pouco, o
seu movimento, que ainda não está completamente desenvolvido,
produzindo já cerca de 1 .O00 rolos de fios diariamente.
São seus proprietarios os srs. Epaminondas de Campos,
Martiniano de Campos, Rodrigues de Campos e Leo de O.
Warne.
FABRICA DE CHAPEUS

Funcciona, nesta cidade, uma fabrica de chapéus de pello.


com grande producção, pois têm tido muita acceitação os seus
optimos productos, de modo que não vence os pedidos de sun
grande f r~guezia,
E' de propriedade de Euclydes de Barros.
\

FABRICA DE PHOSPHOROS "PALMYRA" DE


VANNI, CAMPOS & CIA. LIMITADA

A' margem da E. de Ferro Sorocabana, no bairro do Bo-


queirão, em amplo terreno, ergue-se o magestoso edificio que a
firma Vanni, Campos & C. Ltda. destinou para nelle ser ins-
tallada a fabrica de phosphoros Palmyra.
O predio, construido com o maximo capricho, solido e vas-
to, destina-se a receber o dobro de machinas com que os pro.
prietarios iniciaram a fabrica.
Tem a firma of ficinas groprias de carpintaria e mecanic~,
, depositos para inflammaveis, reservatorios de agua, caldeira c
um desvio particular junto á Estrada de Ferro Sorocabana par;
facilitar a importação e exportação de mercadorias.
São socios da firma os seguintes srs.: Camillo Vanni, Jc-
venal Campos Filho e João Leite de Paula.

OUTRAS INDUSTRIAS

H a cerca de 20 fecularias, fabricas de oleo. sabão ; chapeus,


beneficio de algodão, café, irroz, torrefacções, ceramicas, p h o ~ .
phoros, ladrilhos, vassouras, lacticinios, etc.
Outras pequenas industrias se encontram, como sejam.
muitos engenhos de serra, fabricas de massas, licores, cervejas
arreios, meias, e of ficinas de diversos generos.
Relativamente ás industrias locaes, a Camara, no louvavei
intuito de protegel-as, decretou, em Outubro de 1924, e amplio4*
esta lei, em Janeiro de 1925 com o seguinte:
As industrias de chapéus de palha, feltro, etc., papel, carto-
nagem, phosphoros, gozarão de isençãÒ de impostos por 5 an-
nos, si o capital empregado for de 50:000$000 a 200:000$000.
Si superior a esta quantia, a isenção será de dez annos da data
do funccionamento. A creação do bicho da seda e as industrias
desta gosarão da isenção de impostos, durante dez annos.
L
As industrias de fiação e tecidos de algodão tambem terão
a isenção dos impostos durante dez annos.
Tatuhy, depois de Sorocaba, é a cidade do Sul do Estado
que conta maior numero de industrias de todas as qualidades e
proporções. A Camara e o sr. prefeito, dr. Norman Bernardes,
se interessam com especial carinho, pelo seu desenvolvimento,
tudo facilitando para a sua installação e custeio.

COMMERCIO

Tem soffrido seria paralysação devido ao estado anormal


do credito publico ; todavia, é menos máu do que nos logares em
que o commerciante é obrigado a ser capitalista para supprir a
lavoura, que só paga em ordens, depois da safra do café.
Nas casas de varejo não se encontra debito que attinja a
contos de réis, com promessa de pagamento na safra.
As vendas a retalho são feitas a dinheiro ou pequenos
prasos.
O credito dos nossos commerciantes, nos mercados de im-
portação, é firme e de inteira confiança.
Não se ouve tão pronunciada a grita por falta de dinheiro,
resultado, não do desapparecimento desta mercadoria interme-
diaria e szti generis, que não se consome, como erradamente
pensam.
Comprehendernos que ha simples retrahimento por falta
de credito proveniente da crise.
Entre nós, portanto, não impéra soberanamente esse fla-
gello.
O commercio dé transporte é bem movimentado.
e Tatuhy faz grande exportação de algodão bruto, descaroça-
do e em tecidos, café, aguardente, toucinho, cereaes, legumes,
fructas, aves, madeiras brutas, e serradas, productos cerami-
cos etc.
Importa generos que não produz ou que são insufficientes
para consumo.
Pelo mercado municipal, transitaram, no primeiro semestre
deste anno ; - 5.631 alqueires de feijão; - 8.583 de farinha
de milho; - 12.213 de milho; - 8.386 duzias de ovos e 15.531
frangos e gallinhas.
Em relação á farinha, a que passa pelo mercado é fabrica-
da pelos pequenos productores, a monjolo. Não estão computadas
as farinhas de milho, mandioca e gomma das fecularias innu-
meras, que exportam, directamente, em grandes porções e não
se vendem no mercado.
Assim tambem o commercio de café, aguardente, suinos e
gados diversos é consideravel e não podemos- colher dados, por
falta de tempo.
\

POVOAÇOES DO MUNICIPIO

O municipio conta ainda os districtos de Cezario Lange e


Quadra. ,

ESTADO' FINANCEIRO DA CAMARA MUNICIPAL.

O estado financeiro do municipio é o mais lisongeiro que


, se pode desejar.
Em 31 de Maio do corrente anno, eram o seu activo e pas-
sivo representados do modo seguinte :
Activo

Immoveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Machinismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Abastecimento de agua . . . . . . . . . . . . . .
Semoventes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Vehiculos e accessorios . . . . . . . . . . . . . .
Moveis e utensilios . . . . . . . . . . . . . . . .
Bens de estimativa . . . . . . . . . . . . . . . .
Porangaha c/- de porqo . . . . . . . . . . . . . .
Cesario Lange. idem . . . . . . . . . . . . . . . .
Auxilio ás estradas de rodagem e dividas
activas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Caixa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Somma .............. 1.235.550$851

Passivo

Emprestimos de 1911 . . . . . . . . . . . . . . . . 273 :958$650


Patrimonio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 4:290$95
4 1
Fornecedores diversos . . . . . . . . . . . . . . 17:301$25Q

Somma .............. 1.235 :550$851

ADMINISTRAÇKO MUNICIPAL

Camara : Presidente. Cap. Pedro Holtz ; vice. Narciso Pi-


res da Fonseca; prefeito. Dr . Norman Bernardes; vice. Nicolau
Sinisgali. Benedicto Mayer. Firmo Vieira de Camargo. Eucly-
des de Barros; secretario. João Pedro de Camargo.
.
Director e recebedor. Octaviano Macedo da Silva.
Auxiliares: Sylvino Stein. Antonio Minhoto Sobrinho. Be-
nedicto Rogado. Manoel da Silva Cardoso Filho.
Fiscal. José de Medeiros .
Administrador do Mercado, Francisco de Almeida Ca-
margo.
rOrçamento, 360 :000$000.

COLLECTORIA ESTADOAL

Em 1921 havia, no municipio, 1609 propriedades agricolas,


com um valor de -11 .O49 :010$000.
Em 30 de junho de 1926, havia 2160 propriedades, com o
valor de 15.O04 :800$000.
Caixa econowica: - H a 780 cadernetas num total de
1,124 :309$400.

INSTRUCÇAO PUBLICA

Temos a instrucção primaria regularmente diffundida.


O grupo esc~larda cidade funcciona sob disciplina recta e
harmonia de vistas entre Directores e Professores, esforçando-
se todos, com estimulo, para o preparo dos seus alumnos, con-
tando 20 classes, em 2 periodos.
O ensino comprehende todas as materias do programma
preliminar e está dividido por 4 annos.
Ha muitas escolas isoladas em bairros e 8 na cidade, tendo
escolas reunidas em Cezario Lange.

ESTAÇAO METEOROLOGICA

Existe uma na cidade e que funcciona regularmente.

Ha uma delegacia de terceira classe, na cidade e sub-dele-


gacias em todos os districtos.

THEATRO MUNICIPAL

Ainda não revestido, porém á espera dessa conclusão, é um


edificio surnptuoso pela sua architectura e majestade. Solida-
mente construido de tijolos, se ergue com a frente para a praça
ajardinada Martinho Guedes, com a imponencia dum edificio
que faz honra ás construcções do interior do Estado.
Offerecido ao governo do Estado para nelle se installar um
gymnasio, foi verificado que dá para quartoze salas amplas,
com as outras dependencias e mais duas salas que ficam no ter-
ceiro pavimento.
E' um predio que se avalia hoje, em 500:000$000.

GRUPO ESCOLAR

Occupa toda uma quadra e tem a frente voltada para a


praça Dr. Julio Prestes.
Sua edificação é solida e vasta e sua architectura não é feia;
ao contrario, bellissimo desenho, e seria um edificio elegante, si
não fosse muito baixo, relativamente á posição do terreno, pois
o edificio enfrenta a inclinação do solo.
Tem dez salões, e duas pequenas salas inuteis, em cada
canto, além de dois gabinetes, galpões, etc.
Frequentam vinte classes, em dois periodos.

CADEIA E FORUM

Construcçáo recente, sob o governo do Sr. dr. Altino Aran-


tes, sendo secretario da Agricultura o Sr. dr. Candido Motta, que
a mandou fazer.
Planta elegante, em sobrado, prisões bem arejadas e am-
plas, vasta sala de jury e audiencias e gabinetes diversos.
Occupa logar no centro da praça, "Candido Motta", osten-
tando, no seu salão principal, o retrato a oleo deste ex-secretario.
e o do Dr. João Feliciano da Costa Ferreira, primeiro juiz desta
comarca.

MERCADO MUNICIPAL

Está no centro do largo do mesmo nome e no.coração da


cidade.
Edificio novo, bem construido, tem a entrada principal por
um portão de ferro e, do mesma modo, a sahida correspondente
á edificaçáo, e quadrangular, com os quartos voltados para den-
tro do quadrado.
E' frequentadissimo e produz boa renda.

SANTA CASA DE MISERICORDIA

E' o maior edificio, desse fim, que se encontra no interior


do Estado, com amplas enfermarias e todas as dependencias pro-
prias para um estabelecimento desse genero, além de uma
capella regular, construida em separado do corpo principal.
Bella architectura, em vasto pateo, com a frente ajardinada
e os fundos destinados para arborisação, e qualquer outra cul-
tura e recreio dos convalescentes, corresponde a todas as exi-
gencias do serviço sanitario e hygienico e foi construido pela
planta confeccionada pelo Dr. Norman Bernardes, ex-Pre-
feito Municipal. I
Deve-se a construcçáo desse hospital ao Sr. Carlos Orsi,
pisesidente da sociedade, ao emprehender essa construcção, antes
de contar com os recursos necessarios, os quaes, só depois da
obra concluida, está sendo angariado por subscrip~ãopopular,
a qual, felizmente, está sendo bem acceita e concorrida.
BRIGADEIRO
MANOEL RODRIGUES JORDÃO
(ENSAIO BIOGRAPHICO)

POR

LAURINDO MINHOTO JUNIOR


BRIGADEIRO
MANOEL RODRIGUES JORDÃO
SUMMARIO: - Prefaciando.. .- O centenario de
Tatuhy. - A sua fundação. - Interferencia
de Jordão. - Sua arvore genealogica.- Sua
riqueza. - Sua vida militar. - Sua intimida-
de com D. Pedro I - Seu gráu de instrucção.
- Sua importancia politica. - O Governo
Provisorio. - O papel que Jordão nelle teve.
- A bernarda de Francisco Ignacio. - A
"fuga" e a prisão injusta do Brigadeiro. -
O sete de Setembro. - Sua morte.

PREFACIANDO..

Este ensaio, como se verá, é a simples expressão de uma


grande boa vontade das nossas forças, para a commemo-
ração do centenario de Tatuhy, para a lembrança de um
grande vulto credor de nossa gratidão e para trazer ao conhe-
cimento dos que o ignoram e que ignorar não devem, alguns
factos do nosso passado.
Escrevemos para o povo e disso fazemos a nossa desculpa
para as deficiencias deste ensaio. E nem nos atreveriamos, pou-
co preparado e edoso, a escrever' para aquelles que, mais sabios
e mais avançados nos annos, podessem vergastar-nos com ums
critica em nada zoila.
De mais a mais só tivemos algumas horas para dispor a
materia accumulada em tres mezes de trabalho, pelo que fazemos
unicamente uma relação dos factos de que temos sciencia, sem
commentario que, pelo seu interesse, amenise a gravidade
do assumpto.
E, quando outro valor não tenha, o que é certo, este esboço,
restar-nos-á a recompensa de poder dizer que elle é um repo-
sitorio dos documentos da vida do Brigadeiro, pois que outro
trabalho, o que é triste, não ha sobre a sua personalidade.

O CENTENARIO DE TATUHY
Hoje, onze de Agosto de 1926, festeja-se a grata passa-
gem dos cem primeiros annos da fundação da nossa cidade.
Entre tantas e tão justas solemnidades ccamemorativas
não se póde deixar de incluir aquella que o dever da gratidão
ordena que se faça: lembrar os homens que se tornaram merece-
dores da attenção dos seus posteros, pelo seu valor de qualquer
modo posto á prova e vencedor ; trazer a publico, para que sejam
venerados, na medida dos seus meritos, aquelles nossos antepas-
sados que se fizeram dignos da nossa attenção e da nossa me-
moria.
E' tempo de se fazer Historia.
Entre esses valorosos, a par de Moreira Cabral, forçosa-
mente deve figurar o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão. Ver-
se-á o motivo desta nossa asserção no correr deste ensaio.
Passemos aos factos.

SUA FUNDAÇAO
Varias versões tentaram fazer luz sobre o intrincado obs-
curo da nossa edade prehistorica.
Essas versões, umas còntradictorias, outras mais claras, bem
estudadas á luz ainda baça dos poucos documentos existentes.
se destroem, deixando intacta, uma só, que, pela commodidade,
pela maior clareza das suas explicações, tem maior acceitaçáo
e se tem de pé. ,.
Expomol-a, em poucas linhas, poique não nos cabe estu-
dal-a neste ensaio e porque ella vem descripta com todas as mi-
nucias possiveis, no historico tatuhyano, neste mesmo volume.
Paschoal Moreira Cabral, notavel paulista, fez diversas
explorações pelo interior do estado em descoberta de metaes.
Em 1680, com seu irmão o alcaide mór Jacintho Moreira Ca-
bral acompanhou frei Pedro de Souza na exploração do morro
Araçoyaba, sendo elle e o seu irmão autorisados por carta re-
gia de 5 de Maio de 1682 a levantar uma "fabrica de ferro"
em Araçoyaba. A este paulista se deve a fundação da capel-
ia da "Senhora de1 Populo", que existiu no districto de Soro-
caba e que, segundo a tradição, deu origem á hoje cidade de
Tatuhy. (1)
Em que sitio teria levantado Moreira Cabral a sua "Se-
nhora de1 Populo"?
MILLIET de Saint Adolphe solucciona a questão:
"Um sitio agreste chamado Tatuhú, achava-se ermo de gen-
"te e de casas, no principio do seculo em que estamos. Tendo-
"se fundado a fabrica de ferro de S. João do Hipanema, alguns
"individuos se determinaram a ir residir para aquelle sitio, re-
"solutos a se entregar a agricultura. Passados sete annos, uma
"ordem regia prohibio toda a especie de agriculturação nas ter-
"ras da fabrica de ferro, e pelo etc. Todos aquelles que não
"eram empregados della foram obrigados a deixar aquelle si-
"tio e a maior parte delles se agregarão aos primeiros povoado
"res de Tatuhú". Informado o bispo de tal disposição regi%
"assentou que deveria despojar do titulo de parochia a igreja
"de um estabelecimento particular e transferil-o á uma capella
"que o povo havia erigido á sua custa no sitio e povoação de Ta-
I<
tuhú: em consequencia desta determinação, foi a sobredita
"igreja condecorada em 1818, com o titulo de parochia, com o
"nome de "São João do Bemfica".
Esta capella de São João do Bemfica não póde ser senão
uma rotulação da "Senhora de1 Populo", pois que a imagem de

(1) Azevedo Marques. 2.O Vol., pag. 94. "Apontamentos Historicoa".


Nossa Senhora da Conceição, que é até hoje a padroeira de Ta-
tzthy e que traz fortemente sulcado n o seu pedestal a data d z
1680, não poderia deixar de ter sido retirada da "Senhora de1
Populo" e transportada para essa outra egreginha construida
pelos frades carmelitanos de Itú, "coberta dè folhas de indaiá".
em frente á actual Agencia do Banco Commercial, da qual nos
fala Saint Adolphe.
Quizeram os frades carmelitanos "transportar a povoação
de São João do Bemfica para o local em que está Tatuhy" e o
conseguiram.
Senão, como explicar o abandono da capella de São João
do Bemfica, da qual só resta hoje aquella cruz isolada e triste,
braços pendentes", resistindo ás intemperies, aos fogos que de-
voram aquelles campos annualmente"? A existencia da imagem
de Nossa Senhora,-datada de 1680 na capella erguida pelos fra-
des em 1818?
Tatuhjr absorveu São João do Bemfica.
E despresando outros pormenores secundarios, cheguemos
ao tempo em que os habitantes daquellas paragens de "Tatuy",
pertencentes ans frades carmelitanos requereram ao governo im-
perial, a desapropriação daquellas terras.
Encaminhados os papeis, comprou Manoel Rodrigues Jordão
aquellas terras, e, de posse dellas, foi attingido pelo decreto de
desapropriação de S. M. Imperial, em 18 de Agosto de 1825.

INTERFERENCIA DE JORDÃO

O Brigadeiro Jordão, longe de exigir as quantias que o de-


creto de desapropriação lhe dava direito de receber, dirigiu ao
então presidente da provincia de São Paulo, Barão de Congo-
nhas, a petição abaixo, em que doava, generosamente, as terras,
sob a unica condição de serem feitas as divisas, entre as terras
que doava e as que conservava, pelos moradores beneficiados.
"Diz o Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão desta cidacie
"que elle tem noticia que S. M. o Imperador. . . fora servido
"permittir . . . que se comprasse ao Supplicante . . . hum quarto
"de legoa em quadra para rocio da mencionada Freguezia, etc.
"Como porém se não faz necessaria a avaliação do indicado
"quarto de terreno. . . visto que o Supp. o cede gratuitamente
"com a clausula de sei- fechado com vallo de Lei á custa dos
"moradores por quem for repartido, etc., etc.".
Nem isso fizeram os moradores. Poderia tomar Jordão me-
didas energicas a que tinha direito. Não o fez. Ordenou apenas
ao seu administrador e futuro senhor daquellas terras, Anton~o
Rodrigues da Costa, que construisse á sua custa o "Vallo da Lei".
Nasce d'aqui o reconhecimento que Tatuhy deve ao Briga-
deiro Jordão. Brotam d'aqui, do carinho com que Jordão ajudou
a erguer-se a povoação incipiente.
Nós que estudamos documentadamente a vida do Brigadei-
ro, que temos conhecimento da sua grande intimidade com D.
Pedro, quasi ousamos affirmar que o Brigadeiro, a vista do re-
querimento que pedia a desapropriação das terras dos frades
carmelitanos, comprou-as, não só para augmentar os seus do-
minios - pois que já possuia a fazenda do Paiol - mas tam-
bem para resolver, como resolveu satisfactoriamente, a pendencia.
Diz Jacintho Ribeiro, na sua "Chronologia paulista", pa
gina 218, que:
"tratou-se logo de fundar uma povoação; mas surgindo di-
"vergencias sobre a escolha do local, só foi resolvida a questãa
"quando o brigadeiro Manoel Radrigues Jordão, já então pos-
"suidor da fazenda do Paiol, adquiriu dos frades carmelitas
"grande parte dos campos de Bemfica, terreno em que está hoje
" edi f icada a cidade."
.
E' baseado nesse dever de gratidão dos tatuhyanos para
com o Brigadeiro que nos abalançamos a escrever-lhe a historia.
SUA ARVORE GENEALOGICA
Instruidos em Silva Leme, levantamos a arvore genealogi-
ca do Brigadeiro. Esta "arvore" apresenta deficiencias e omiç-
sões mas não nos é dado tempo para aperfeiçoal-a. E, como ha-
vemos de voltar ao assumpto mais longamente, aqui a damos
como a possuimos.
Maria Hyppolita Rodrigues de Almeida, casada com o cap. Francisco Pereira Mendes,
3 filhos.
Anna Vicencia, casada com o cap. Antonio da Silva Prado, em 1.as nupcias e em 2.as,-
com o seu cunhado Eleuterio da Silva Prado. Houvc filhos. 4
Francisca Emilia Jordão, casada com Estevam Cardoso Negreiros. Sem geração.
F
Tenente Ma-
noel Rodri-
Escholastica Jacintha Rodrigues Jordão, casada com Joaquim José de Moraes. Houve filhos.
Gertrudes Angelica Rodrigues Jordáo, casada com Antonio Pacheco da Fonseca, 5 filhos.
E 7

gues Jordão,
2 *.
Antonia Fausta Rodrigues Jordão, casada com o tenente Elias Antonio Pacheco da Silva. i.d!
casado com i
Houva filhos.
Anna Eu- IZ 4

...
I
Maria da Penha Z-
phrusina do ' Manoel Rodrigues z
o
Jordão . . . . . . . . . .
Amara1 Aderaldo Jordão n
r 3
Leonor
Amador Rodrigues Lacerda Jordão. Sem geração.

I
Brigadeiro Francisco Rodrigues Jordão T! i

Manoel Ro- ... n


drigues
Silverio Rodrigues
Jordão . . . . . . . . . .
Silverio Rodrigues Jordão
José Rodrigues Jordão
m
rn
C
4
Jordão
Alfredo Rodrigues Jordão
+
O
'1

A
a
E! -1
Frei Fer-
nando

Maria da Cu-
nha, casada,
2 filhos
, Anna Euphrosina .... 1I Raphael de Araujo Ribeiro
Maria de Assumpção
Anna
Amaro
Miguel - Jos6 Antonio - Lucrecia
$' 1
4
4

,,

0
Dentre os filhos de D. Gertrudes Angelica Rodrigues Jor-
dão, irmã do Brigadeiro destaca-se José\ Manoel da Fonseca, se-
nador do Imperio, deputado geral por São Paulo, casado em se-
gundas nupcias com a segunda Baroneza de Jundiahy.
O segundo filho do Brigadeiro, Amador Rodrigues La-
cerda Jordão, era o primeiro Barão de Rio Claro.
Frei Fernando, tio do Brigadeiro, pertencia á Ordem de
São Bento.
O Brigadeiro foi casado com Gertrudes Galvão de Moura
Lacerda; e seus filhos, o primeiro com D. Maria da Gloria Pra-
do; o segundo com Maria Hypolita, filha do Barão de Itapeti-
ninga; o terceiro com hlaria Guimarães; o quarto com Raphael
de Araujo Ribeiro.

SUA RIQUEZA

O Brigadeiro foi um dos homens mais ricos do seu tempo,


rico a ponto de supprir os cofres publicos em suas necessidades,
no governo provisorio de 1821, quando se deliberou.
"Que, sendo conveniente fazer-se no fim deste trimestre
"pagamento redondo e prompto a todos os filhos da folha, no
"caso que do recebimento das entradas que se esperão haja al-
"guma falha se offerelem os dois Deputados Senhor Brigadei-
"ro Manoel Rodrigues Jordão e Senhor Coronel Francisco Ig-
"nacio de Souza Queiroz a prehenchel-as, embolsando-se logo
Ir
á proporção do que for entrando". (2)
Temos ainda noticia de uma propriedade agricola do Bri-
gadeiro nas terras de Pindamonhangaba pelo documento abaixo
assignado por Manoel da Cunha dlAzeredo Coutinho Souza
Chichorro, Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca de São
Paulo, a 27 de Fevereiro de 1827:
"Ponho na Presença de V. Exa. o traslado do Auto de di-
"ligencia, e reconhecimento de estar dentro dos limites desta
"Provincia o lugar denominado Bahú, ou Pedra de Itajubá per-
(2) Acta da 3." sessão do Governo Provisorio, "Documentos, Interessan-
tes", vol. 2, pag. 10.
"tencente á Fazenda do Natal do Districto de Pindamonhanga-
"ba do que hoje he proprietario o Brigadeiro Miliciano Manoel
"Rodrigues Jordão, que por parte da Provincia de Minas Ge-
"raes se achava usurpado por Antonio Modesto; etc. etc."
Em 1825, os herdeiros de Ignacio Caetano, cujas terras
tantas demandas soffreram vendiam por 10:000$000 as suas
terras conhecidas por "Bom Successo" ao brigadeiro Jordão,
"cujo nome ficou ligado, na denominação "Campos do Jordão,
á grande parte da região campestre". (3).
A escriptura foi passada em São Paulo, em 29 de De-
zembro de 1824. (4)
E, além das terras do Paiol de que tratamos na parte da
fundação de Tatuhy, era da propriedade de Jordão a sua casa
de morada, em S. Paulo, situada no local em que hoje se eleva
o bello edificio do Mappim Stores, na então rua Martim Af-
fonso (hoje de S. Bento), sitio conhecido pela denominação de
"Quatro Cantos".
Já herdára o Brigadeiro de seu pae, o Tenente Manoel Ro-
drigues Jordão, regular fortuna adquirida no commercio de fa-
zenda e na compra do ouro, em Matto Grosso. Possuia tambem
uma chacara, nos terrenos hoje cortados pela rua da Fabrica,
em São Paulo, chacara
"cujos limites, de conformidade com o registro parochial
"de 10 de Dezembro de 1855, eram "pelo lado da cidade com o
"ribeirão Ypiranga, do outro com o Rio Tamanduatehy, por
"outro com o ribeirão do Moinho Velho e por outro com o -
"caminho de Santos". (5)
Voltando ao assumpto, como pretendemos, possivelmente
estamparemos um mappa de São Paulo conternporaneo de Jor-
dão, com a localisação de sua casa, além de um outro em que
estão inclusas as terras adquiridas aos herdeiros de Ignacio Cae-
tano.

(3) "Doc. Int.", vol. 11, pag. 489.


(4) "Doc. Int.", vol. 2, pag. 684.
(5) Dr. Affonso de Freitas, "São Paulo no dia 7 de Setembro", Re-
vista do Instituto, vol. 22, pag. 21.
,
SUA VIDA MILITAR

Pouco conseguimos saber desta face da vida do Brigadeiro.


Podemos apenas dizer que
"Manoel Rodrigues Jordão, filho do Alferes Manoel Ro-
"drigues Jordão, natural de S. Paulo, com 15 annos, assentou
"praça de Tenente a 28 de Abril de 1796, nomeado Capitão da
"1." Companhia a 18 de Janeiro de 1806, Tenente Coronel a 15
"de Novembro de 1808, aggregado ao Regimento por apostilla
"do General Horta, passando a effectivo no posto a 8 de No-
"vembro de 1812 e ef fectivo por decreto de 29 de Junho de
"1813. Foi por ordem do Coronel recrutar as praças da Com-
"panhia de Caçadores e acompanhou o mesmo Coronel a va-
"rias villas, quando foi nomeado Emissario da Contribuição Vo-
"luntaria que S. A. pediu aos povos desta Capitania".
E o dr. Antonio de Toledo Piza, estudando as causas e
consequencias da bernarda de Francisco Ignacio, diz que
"ficaram os paulistas sómente com dois homens de energia
"e de acção no governo da provincia: Martim Francis..~e o Bri-
"gadeiro Jordão, Q U E POSSUIA UM ALTO POSTO DA
'tMILICIA, MAS N A 0 COMMANDAVA CORPO AL-
"GUM NEM IilJNCA FORA MILITAR. D E PROFIS-
"SAO". (6)

S U A INTIMIDADE COM D. PEDRO

Amigo não só politico mas particular dos Andradas e de


D. Pedro, não teve Jordão difficuldades para a creação de uma
grande intimidade com o Principe, commungadores que erarn
ambos dos ideaes patrioticos da independencia.
Em suas visitas a S. Paulo hospedava-se D. Pedro official-
mente no palacio governamental mas, de facto, em casa de Jor-
dão. E na tarde de 7 de Setembro, quando entrou D. Pedro

(6) Livro Mestre do Regimento de Infantaria Miliciana de São Paulo.


em São Paulo, ruidosamente acclamado, era á sua direita que se
via o Brigadeiro.
Publicamos abaixo uma carta de D. Pedro a Martim Fran-
cisco, em que se revela melhor essa intimidade, pelo tratamento
de que lisa para com Jordão o nosso primeiro Imperador:
"Meu amigo. Hontem cheguei ao meio dia; foi (sic) rece-
"bido pelo Bispo q. me pareceu hum "Pião Zaroulho" e mais
"nada. Pelos papeis q. remeto verá q. me tenho portado com to-
"da a rigidez. Os marotos andam com medo e os bons conten-
"tes assim como O NOSSO JORDÃO e Cia. etc." (7)

S E U GRAO D E INSTRUCÇAO

~ u v i d a m b scom sobejas razões, a principio, da existencia dr


instrucção no Brigadeiro e expuzemos essas nossas duvidas a
um eminente historiador contemporaneo (8), em palestra que
com elle entretivemos.
Soubemos então, que Jordão gosava bem regular instrucçãa
para sua época. Ahi estava para attestal-o a redacção das "Ins-
trucções" que foram dirigidas aos deputados paulistas ás cor-
tes de Lisboa. Essa redacção muito bem feita é obra de Jordão,
indicado por José Bonifacio (9), que, sabio como foi, não iria
propor para uma obra de tal importancia e responsabilidade, de
que elle proprio foi o autor, um redactor menos preparado.
Outras provas conseguimos da instrucção do Brigadeiro.
Em 11 de Julho de 1821, por exemplo, resolvia o Governo Pro-
visorio que se ordenasse á'Junta da Fazenda apresentar "por es-
"cripto a sua opinião sobre todos os inconvenientes relativos B
"nova organisação dos Dizimos mandada estabelecer pelo de-
"creto de 16 de Abril de 1821". Desta commissão fez parte o
Brigadeiro.

(7) "O Senador Vergueiro", Djalma Forjaz, pag. 487. A 1.0 pessoa a
publicar esta carta, até então inedita, foi o incansavel Affonso Taunay, que
o fez pelo "Correio Pauiistaw".
(8) Dr. Affonso de Freitas, Presidente do Instituto Historico e Geogra-
phico de Sáo Paulo.
19) Actas do Governo Provisorio, sessão de 22-7-1821.
SUA IMPORTANCIA

Diante do que já dissemos e do que diremos mais que com-


provada está a innegavel importancia de Jordão. Apresentamos,
no entanto, rapidamente, alguma documentação para reforço 5
nossa af f irmativa.
Além de sua riqueza, da importancia de sua familia, d:i
consideração em que era tido por D. Pedro, da sua instrucção c
de seu merito de doador das terras em que se edificou Tatuhy,
podemos dizer muito ainda da grandeza do seu papel social e
politico.
Era Jordão, como já dissemos, membro do Governo Pro-
visorio de 1821, como deputado do Commercio, Foi elle aind.3
o ultimo Morgado de São Paulo por ter a lei portugueza de 18'21
extinguido esse titulo hereditario.
A lei de 20 de Outubro de 1823 creou o Conselho do Go-
verno, assembléa importantissima, cujos membros podiam se:,
em substituição, vice-presidente das provincias. Para essa alta
representação, ao lado de Vergueiro, de Arouche, de Feijó, de
Raphael Tobias de Aguiar, foi Jordão escolhido para a primeir;?
legislatura ( 1826-1829), fallecendo, no entanto, pouco tempo
apóz a eleição. Sabemos &da ser o Brigadeiro Commendador da
Ordem de Christo, pela procuração passada por elle a Antonio
Rodrigues da Costa e outros para a venda de sua fazenda do
Paiol. Diz a procuração e v seu cabeçalho: "Manoel Rodrigues
"Jordão, Commendador da Ordem de Christo e Brigadeiro rc-
"formado dos Imperiaes e Nacionaes Exercitos, etc."
Foi tambem o Brigadeiro Eleitor de Parochia, e gosava dz
grande influencia politica na capital, em Jundiahy e Itú. (10)
Podemos tarnbem citar dois valiosos depoimentos: o do dr.
Affonso de Freitas e o do dr. Affonso Taunay. Disse-nos mui-
to dessa importancia o primeiro em palestra e o segundo, em car-
ta que nos foi dirigida, affirmou ser Jordão um dos mas lidimos
precursores e batalhadores da nossa independencia.

(10) Azevedo Marques, op. cit.


O GOVERNO PROVISORIO

Installando-se em 1821 em todas as provincias brasileiras. go-


vernos provisorios que as regessem, deu-se em São Paulo a elei-
ção do seu Governo. Do que foi essa eleição, ou melhor, essa
acclamação em que se patenteou o prestigio colossal de José Bo-
nifacio, indicando ao Povo e Tropa os seus candidatos, que eram
unanime e ruidosamente acclamados, candidatos entre os quaes
collocou generosamente seus mais accerrimos inimigos, nos d i
conta minuciosamente Azevedo Marques.
Contentamo-nos aqui em transcrever o Auto de Vereança
Geral, lavrado no momento:
"Auto de Vereança Geral, e extraordinario da Camara fei-
"ta a Requerimento do Povo e Tropas desta Cidade e Termo.
"Aos 23 de Junho de 1821 nessa cidade de São Paulo, e Cazas
"de Camaras, Paços do Conselho della, onde forão vindos i )
"Doutor Juiz de Fora, Presidente Nicoláo de Serqueira Quei-
"roz, Vereadores actuaes, e o actual procurador, e assistindo o
"Povo, e as Tropas, pelos quaes forão convocados os ditos ex-
"tra ordinariamente para se proceder a formação de hum Go-
"verno provisorio, jurar as bases da Constituição, decretadas
"pelas Cortes de Lisboa, e observar religiosamente as Leis que
"garantem a segurança individual, a propriedade, e direitos dos
"cidadãos, jurarem .outro sim a obediencia ao Muito Alto e Po-
"deroso D. João VI Nosso Rey Constitucional do Reino Uni-
"do de Portugal, Erazil e Algarves, e á Sua Alteza Real o Prin-
"cipe Heredictario Regente do Reino do Brazil, e a Real Di-
"nastia da Serenissima Casa de Bragança, tudo na conformida-
"de do que Sua Alteza Real praticou de proximo nq Corte 4.3
"Rio de Janeiro, e Mandou praticar em todo o Reino do Brazil:
"e neste ajuntamento, e vereação forão nomeados por unanime
"acclamação do Povo, e Tropas, que se achão reunidos, e posta-
"das no Largo d'este Paços do Conselho : Para Presidente o Ilus-
trissimo e Excellentissimo Senhor João Carlos Augusto de Oye-
"nhausen; Para Vice Presidente o Conselheiro José Bonifacio
"de Andrada e Silva; Para Secretarios do Governo do Interior
"e Fazenda o Coronel Martim Francisco Ribeiro de Andrada;
"Para os Negocios da Guerra o Coronel Lazaro José Gonsalves;
"Para os da Marinha o Chefe d'Esquadra Miguel José d'olivei-
"ra Pinto; Para Deputados e Vogaes de Juncta, pelo Eccle-
"siastico o Reverendissimo Arcipreste Felisberto Gomes Jar-
"dirn, e o Reverendissimo Thezoureiro Mór João Ferreira de
"Oliveira Bueno, pelas Armas o Coronel Antonio Leite Pereira
"de Gama Lobo, e d Coronel Daniel Pedro Muller; pelo Com-
"mercio o Coronel Francisco Ignacio de Souza Queiroz, e o
"Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão ; pela Sciencia e Educação
"Publica o Reverendo Padre Mestre Francisco de Paula e Oli-
"veira, e o Professor André da Silva Gomes; Pela Agricultura
"o Doutor Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, e o Tenente
"Coronel Antonio Maria Quartim, dos quaes aos presentes se
"deo logo posse, e o juramento seguinte: Juro as Bazes da Cons-
"tituição Decretadas pelas Cortes geraes, e Extraordinarias, e
"Constituintes de Lisboa. Juro obediencia a Sua Magestade o
"Senhor D. João VI Rey de Portugal, Brazil e Algarves. "Ju-
"ro outrosim de vigiar pela exacta, e prompta execução das
"Leis existentes, de promover todo o bem d'esta Provincia em
"particular, e da Nação em geral, assim Deos me salve. E de-
"pois de findo este Acto de Vereaçáo, para constar mandará3
"lavrar este Termo em que esta Camara, e todas as Authorida-
"des, POVO e Tropas, presentes, assignarão, e eu João Nepomu-
"ceno de Almeida Escrivão da Carnara que o escrevi: "João
"Carlos Augusto de Oeynhausen, José Bonifacio de Andrada
"e Silva; Lazaro José Gonsalves; o Arcypreste da Cathedral
"Felisberto Gomes Jardim; o Thesoureiro Mór João Ferreira
"de Oliveira Bueno; Antonio Leite Pereira da Gama Lobo;
"Francisco Ignacio de Souza Queiroz ; Manoel Rodrigues Jor-
"dão ; Francisco de Paula e Oliveira ; André da Silva Gomes :
"Antonio Maria Quartim ; Nicolau de Serqueira Queiroz ; An-
"tonio Vieira dos Santos; João Franco da Rocha; José de Al-
"meida Ramos ; Amaro José de Moraes ; João Nepomuceno de
"Almeida.

O PAPEL QUE JORDAO NELLE T E V E

Importante papel desempenhou Jordão no seio do Governo


Provisorio não só pelo seu valor proprio e pela sua capacidade
intellectual, de que já tratamos, como tambem pelo seguinte:
José Bonifacio, Vice Presidente daquelle Governo, mas "presi-
dente de facto" (11) por ser o Director natural daquella as-
sembléa da qual era o mais sabio e o mais prestigiado, era quem
tomava quasi todas as iniciativas, quem fazia quasi todas as pro-
postas, já relativas á qualquer necessidade publica, já, princi-
palmente, .relativas á nossa independencia, seu ideal maximo e
sua maxima gloria.
E era natural que elle indicasse para o desempenho das
suas iniciativas alguem que, além de capaz, merecesse a sua in-
teira confiança, Jordão, por exemplo.
E no seio daquella assembléa nunca se atreveu adepto al-
gum do partido retrogado a travar debates com José Bonifacio.. .
Assim vemos Jordão varias vezes commissionado no desem-
penho de honrosas tarefas; vemol-o encarregado de apresentar
a S. A. Real como deputado daquelle governo, e lhe protestar
obediencia uma Carta em que se fazia o relatorio da installaçã.~
do "Novo Governo" (12). Mas tão necessaria era a presença
do brigadeiro naquelle gbverno que, por uma contra proposta era
elle substituido por Antonio Maria Quartim.
Vemol-o na commissáo encarregada de apresentar "a sua
opinião sobre todos os inconvenientes relativos á nova organisa-
ção dos dizimas". (13)
Vemol-o, secretariando as celebres "Instrtlcçóes aos depu-
tados paulistas ás Côrtes de Lisbôa. (14)

(11) Dr. Affonso de Freitas, op. cit.


(12) Actas do Governo Provisorio, vol. 2, pag. 7 .
(13) Actas do Governo Provisorio, vol. 2, pag. 18.
(14) Actas do Governo Provisorio, vol. 2, pag. 41.
A 1." de Setembro de 1821 ;
"foi nomeado hua commissão composta dos Senhores De-
"putados Manoel Rodrigues Jordão e Antonio Maria Quartim
"para examinarem a lista das pessoas que tem jurado, e'ver as
"que faltão para se lhes "Ordenar o fação em tempo prefi-
"xo". (15)
A 19 de Novembro do mesmo anno;
"nomeou-se huma commissão composta dos Senhores Bri-
"gadeiro Manoel Rodrigues Jordão, Coronel Francisco Ignacio
"de Souza Queiroz, Daniel Pedro Muller e o Ouvidor interino
"da Comarca para apresentar um Plano de melhoramento para
"o Theatro desta Cidade". (16)
A 29 de Dezembro do mesmo anno ainda era Jordão en-
carregado de
"examinar a Representação do Senhor Commendador Ma-
"noel da Cunha Azeredo Coutinho Souza Chichorro, Secretario
"do Expediente Geral do Governo sovre o Provimento dos Of-
"ficios de Justiça desta Provincia e percepção dos Emulumen-
"tos das provisões dos ditos Officios". (17)
Auxiliou ainda o Brigadeiro pecuniariamente o Governo de
que fazia parte, como se vê pela acta da terceira sessão.
Além disso, Martim Francisco e Jordão, "eram dois energi-
l "cos representantes do espirito paulista e dos sentimentos brasi-
"leiros" (18), emquanto que os seus outros companheiros de
partido e de Governo, á excepção de José Bonifacio, "não eram
homens de lucta" (191,o que quer dizer que áquelles dois pau-
listas e aos dois unicamente cabia a acç%ono seio daquelle go-
verno.
Tal é a verdade dessa nossa affirmativa que, na bernarda de
Francisco Ignacio, não se pediu a expulsão dos outros membros

(15) Actas do Governo Provisorio, vol. 2, pag. 48.


(16) Actas do Governo Provisorio, vol. 2, pag. 90.
(17) Actas do Governo Provisorio, vol. 2, pag. 103.
(18) Dr. Antonio de Toledo Piza. Rev. do Inst. Hist., vol. 10.
(19) Idem.
do partido liberal senão unicamente a de Jordão e de Martim
Francisco.
E de tal modo Jordão era o alvo dos seus inimigos - o
que lhe dá grande importancia - que era contra elle que Pe.
dro Taques, de trabuco na mão, excitava ovo nas ruas.

A BERNARDA D E FRANCISCO IGNACIO

Era o Governo Provisorio composto dos membros mais


grados dos dois partidos então em luta em São Paulo: o partido
Liberal, dos braileiros, dos que queriam, chefiados pelos An-
dradas, a nossa independencia e o Partido Retrogado, ou dos
portugueses, inimigos dos ideaes dos primeiros.
A existencia no Governo Provisorio de membros.do parti-
do Retrogado, explica-se unicamente pela alta visão politica de
José Ronifacio que, acclamado delirantemente pelo povo, aos
gritos de "Queremos vós, Senhor Conselheiro!" (20), poderia,
se quizesse, indicar á approvação do povo e da tropa ali reuni-
dos, sómente correligionarios seus. Começou indicando para pre-
sidente José Carlos Oyenhausen, seu acerrimo inimigo politico
e terminou collocando Pedro Muller e Francisco Ignacio na as-
sembléa, da qual sahiriam, um pouco mais tarde, compulsoria-
mente, Martim Francisco e Jordão, obrigados a isso pela ber-
narda provocada por aquelles mesmos, que só occupavam logar
no Governo Provisorio, pela generosidade e larga visão do sai
bio Conselheiro.
Estudando as causas da bernarda, com o seu brilhantismo
peculiar, o dr. Antonio de Toledo Piza escreveu, na Revista do
Instituto Historico e Geographico de São Paulo, vol. 10, um
esplendido trabalho.
Resumindo-o o mais possivel, data venia, tomamos a liber-
dade de trazer para estas columnas as ideias expendidas por
aquelle illustre historiador.
São cinco as causas por elle apresentadas:

(20) Azevedo Marques, op. cit.


a) Martim e Jordão "dois energicos representantes do es-
pirito paulista", propuzeram em sessão do governo que se pu-
blicasse um bando, ordenando que todos os milicianos que tives-
sem dado dinheiro aos officiaes para não irem na expedição da
Rio de Janeiro, viessem declaral-o para Ihes serem restituidas as
quantias pagas e, ainda receberem baixa do serviço da milicia co-
mo recompensa da denuncia. Esta proposta foi ferozmente com-
batida pelos extrangeiros do governo e pelo seu alliado Francis-
co Ignacio, que se apoiavam sobre o militarismo e por isso se jul-
gavam na obrigação de defender os- officiaes delinquentes e de
occultar a sua venalidade; porém Martim e Jordão tinham ma-
ioria na sessão, venceram e o bando foi publicado. Não convin-
do de modo algum a Francisco Ignacio que o bando surtisse ef-
feito, não lhes restava outro meio senão a de expulsão de Mar-
tim e de Jordão, para assim intimidar os seus quatro compa-
nheiros "que não eram homens de lucta."
b ) Havia em São Paulo dois Capitães, Antonio Cardoso
e Pedro Taqiies de Almeida Alvim, que desejavam a reforma
no posto de Major, ganhando em cathegoria e livrando-se do
serviço militar; desejava ainda Pedro Taques um habito de
Christo; contavam com o apoio de Francisco Ignacio; mas Jor-
dão e Martim a isso se opuzeram e derrotaram os seus planos.
c ) O mesmo Capitão Cardoso desejava para si e alguns
socios o monopolio do córte de rezes, offerecendo a carne a
1$200 a arroba, mas ainda teve pela frente Martim e Jor-
dão, que consideravam odioso o monopolio, porquanto a carne,
pelo corte livre, era vendida a $800 reis a arroba. Ainda mais:
contando certo com o privilegio, o Capitão Cardoso já tinha
comprado muito gado, abarrotando os seus curraes, emquanto
na cidade já se soffria-a falta de carne; porém Martim e Jor-
dão conseguiram do Capitão Antonio José de Oliveira Lima,
fornecedor de gado do Rio, que desviasse o seu commercio pa-
ra São Paulo e innundasse de gado o mercado paulista.
d) Francisco Alvares Ferreira do Amaral, ricaço, era accu-
sado de haver desfalcado o erario da Provincia em 8:000$000,
quantia que não repuzera por inepcia de José Carlos Oyenhau-
sen. Jordão, no cargo de thesoureiro, era-lhe um perigo constan-
te pelo que Ferreira do Amara1 se tornou um dos mais arden-
tes adeptos de Francisco Ignacio.
e ) O ouvidor Costa Carvalho, candidato á mão da sogra de
Francisco Ignacio, tivera com Martim Francisco, em a propria
casa deste, um serio attricto, por um negocio que realizara, al-
go mysterioso com um certo navio "Conceição Esperança". . .
Tambem, lendo-se as actas do Governo Provisorio, verifi-
ca-se a completa ausencia de debates naquella Assembléa em que
sempre reinou uma, pelo menos apparente, união de vistas. Ora,
si em relação dos serviços publicos havia boa vontade e concor-
dia entre os membros do governo, segue-se, logicamente, que a
bernarda foi uma genuina explosão de odios particulares, sem
proveito para o serviço publico, levada a effeito pelos portugue-
zes e semi-portuguezes contra os brasileiros e paulistas: Mar-
tim e Jordão. (Francisco Ignacio era paulista de nascimento,
mas portuguez de origem e de educação. Antonio Maria Quar-
tim era hespanhol; os outros eram portuguezes.)
Mais: S. A. Real havia, por motivos anteriores, ordenado a
Oyenhausen que fosse se apresentar no Rio de Janeiro.
Comprehenderam os portuguezes retrogados a rigeza do gol-
pe que se desferia contra elles e que só um movimento armado
poderia evital-o: a bernarda. Esta se fez exigindo o coronel
Francisco Ignacio, que a capitaneava, a retirada de Jordão e
Martim e a permanencia de Oyenhausen, que, como já dissemos,
havia sido chamado á Côrte pelo Principe.
Repelliu D. Pedro a injusta exigencia, mas Martim e Jor-
dão dimittiram-se expontanea e abnegadamente dos seus lugares.

A "FUGA" E' A PRISÃO DO BRIGADEIRO

Diz o dr. Antonio de Toledo Piza que Jordão, uma vez de-
mittido, retirou-se para Santos, "onde havia socego e seguran-
ça", emquanto Martim Francisco se deixava ficar em São Pau-
,lo até ser deportado para o Rio, a 30 de Maio, 7 dias depois de
apeado do Governo Provisorio.
Ignoramos, por emquanto, os motivos da ida de Jordão a
Santos, mas temos fortes razões para não acreditar que elle fu-
gisse, como o dá a entender, nas entrelinhas, o citado e illustre
autor, em busca de "socego e segurança".
Baseamo-nos para tal na innegavel coragem do Brigadeiro,
que já se achava em' São Paulo a 23 de Julho, sinão antes,
quando era agitadissima a situação politica.
Em testemunho dessa agitação perigosa invocamos algumas
provas, que passamos a expor.
O povo estava habilmente explorado contra Jordão; Pedro
Taques, "o desordeiro", sahiu á rua, a 23 de Maio, de trabuco
na mão, intimidando cidadãos liberaes e a excitar a população
contra Jordão; movimentavam-se tropas inconscientes, indigna-
das contra os chefes liheraes, como o Brigadeiro; casas eram va-
rejadas como a do Capitão Antonio Xavier Ferreira; Arouche
era ameaçado de morte, no caso de assumir a chefia da tropa ; na
sua ultima carta intima, conta o insuspeitissimo Coronel Fran-
cisco Ignacio que o Marechal Xavier de Almeida e Souza, ao
entrar na cidade, como emissario dos Andradas, teria sido insul-
tado pela populaça, si elle, Coronel, não o tivesse impedido. Este
ultimo facto é muito provavel "porque a cidade estava entre-
gue aos reacionarios (inimigos de Jordão) e corriam perigo real
i todos aqiielles que não commungavam com as ideias e os planos
dos retrogados. Pedro Taques e José Rodrigues andavam pela
* máangariando proselytos. Em Itú, centro armado do liberalis-
mo paulista, tambem foi insultado o Coronel Macedo, emissario
de João Carlos e Francisco Ignacio, e teria sido massacrado pe-
las mulheres, si não tivesse sido promptamente ,soccorrido por
Pedro de Brito de Caminha, commandante da força armads
local". (22)

(22) Dr. Antonio de Toledo Piza, op. cit.


L
b A INJUSTIÇA DE SUA PRISAO

Pois bem, foi nessa época agitadissima que Jordão se acha-


va em São Paulo, onde não havia "socego e segurança" e onde
era preso e desarmado, em companhia de Eleuterio da Silva
/
Prado (23), seu futuro cunhado.
Nos originaes das cartas de Francisco Ignacio, que com-
pulsamos no Instituto Historico e Geographico do Estado ae
S. Paulo, lemos que Jordão foi preso em companhia de Eleute-
rio da Silva Prado por "terem sido encontrados com uma pisto-
la carregada, tendo dito antes á patrulha que vinham sem armas".
Ora, a injustiça é flagrante. Andar-se armado numa occa-
sião agitada como aqiiella, sendo-se ainda mais, alvo dessa agi-
tação, era comesinha medida de prudencia. E, depois, o costu-
me da época.
E , Orientados pelo obsequioso dr. Affonso de Freitas, offere-
k cemos aqui uma irrefutavel prova de ser costume e necessidade
i da época, o andar-se armado. Esta prova é um trecho de uma
narrativa feita pelo padre Ildefonso Ferreira, dos factos passa-
dos na noite de 7 de Setembro de 1822.
"Eu era o escolhido para fazer essa acclamaçáo.
"Apezar das ideias tão justas, eu fiz minhas refleções. Não
"sabendo das relações intimas entre D. Pedro e seu pae D. João
"VI, a quem havia jurado com seu sangue nunca lhe ser infiel,
"temia que o principe não acceitasse, e então eu seria preso, co-
"mo revolucionario. Temia por outro lado o grupo dos Bernar-
"distas que poderiam gritar: - Fóra, fóra, e no meio do baru-
"lho apunhalar-me.
"Então os dois amigos e outros, armados (COMO TO-
"DOS ANDAVAMOS NESSE T E M P O ) me declararam que
<<
era mais certo que o principe acceitava o titulo de 1." Rei bra-

(23) Nota: "com esse nome existiam em S. Paulo, em 1822, dois mem-
bros da familia Prado; o Capitão M6r Eleuterio, de 56 annos de edade, tio
do Barão de Iguape, e Eleuterio, alferes da 2.8 Companhia de Ordenanças,
de 22 annos de edade". (Dr. Affonso de Freitas, op. cit. pag. 31).
<i
sileiro, e nelle creava nova dynastia, que eu não tivesse receio
"de ser apunhalado, porque primeiro seriam elles."
Tão profunda foi a injustiça dessa prisão que arrancou dc,
Coronel Anastacio Trancoso (24) o dito "de que a cidade esti-
va em completa anarchia e que ninguem já tin'a segurança pes.
soal." (25)

O 7 D E SETEMBRO

Fazendo o dr. Paulo do Valle a relação das pessoas que se


achavam com D. Pedro na Colina do Ypiranga, dá o Brigadeiro
e o Padre Merchior como presentes mas não fazendo parte 11
guarda, da qual todos eram, excepto os dois citados.
A presença do Brigadeiro no cortejo do principe, sem a com-
panhia de mais gente de São Paulo, - a qual tinha ido encon-
trar ,o principe no então largo da Forca - quasi nos leva J
affirmar que o Brigadeiro, sabedor da vinda do principe, seu
amigo intimo, foi, da sua chacara proxima, encontral-o particu-
larmente. (26)
Por um descendente de Jordáo (27) foi-nos dito que o
Brigadeiro fora encontrar-se com D. Pedro no Largo da Forca
de onde entrou na cidade á sua direita, estando á esquerda o
Barão de Iguape, Antonio da Silva Prado.
Esta asserção cáe diante do que diz claramente o dr. Paulo
do Valle.
O dr. Antonio de Toledo Piza, escrevendo sobre a Inde-
pendencia, não colloca o Brigadeiro entre as pessoas do cortejo

(24) Official de valor, muito elogiado pela sua disciplina, velho de 71


annos, e pertencente a uma antiga e illustre familia.
(25) Cartas de Francisco Ignacio.
(26) Chacara, "cujos limites", de conformidade com o registro Parochial
de 10 de Dezembro de 1855, eram "pelo lado da cidade o Ribeirão Ypiranga,
do outro com o Rio Tamanduatehy, por outro com o Ribeirão do Moinho
Velho e por outro com o - Caminho de Santos-". (Dr. Affonso de Frei-
tas, op. cit., pag. 21). '
(27) Geraldo Pacheco Jordão.
do principe, mas diz, adiante, que Jordão e o Padre Mclchior
presenciaram o grito historico.

Nada podemos averiguar sobre a morte do Brigadeiro, por-


que o tempo nos foi adverso.
e Sabemos apenas que foi em 1827, quando Conselheiro da
Provincia, com apenas 46 annos de edade, que esse vulto tão
digno quão esquecido da attenção da Historia, "desarmou sua
tenda dos arraiaes da vida e acampou-se na eternidade."
Tatuhy, no seu centenario, não podia deixar, como nãu
deixou. de prestar-lhe pequena mas sincera homenagem, pe!::
nossa penna humilde.
NO SUL DE MATTO GROSSO
VIAS DE COMMUNICAÇAO - VEHICULOS -TYPOS,
TERMOS. LINGUAGEM, COSTUMES DA
FRONTEIRA - UM POUCO DE
GEOGRAPHIA E HISTORIA.

(Notas colligidas pelo autor, durante o tempo em que no exer-


cicio da sua profissão, viveu alguns annos, nesse bello recanto
do Brasil )

CONFERENCIA REALISADA EM 21 DE MAIO DE 1928.

ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA,


paulista, da Capital, engenheiro civil; Men-
bro do Instituto Historico e Geographico de São
Paulo; Membro Titular e do Conselho Director do
Instituto de Engenharia de São Paulo; M. Am. Soc.
C. E. (Member American Society Civil Engineers) ;
F. R. S. A. (Fellow Royal Society Arts, London).
NO SUL DE MATTO GROSSO
OS CAMINHOS E OS VEHICULOS

O1 no anno do centenario que pela primeira vez sahi-


mos em direcção á Fronteira e travamos conheci-
mento com as estradas do sul do Estado de Matto
Grosso. Havia poucos annos que o primeiro auto-
move1 as havia trilhado rumando a Ponta Poran.
Antigamente, não existia propriamente uma
estrada, porque o "carreteiro" rumava a carreta
por aquelle mundo a fóra, segundo os seus conhe-
cimentos da zona. Sendo campo, quasi toda a região, mais ou
menos limpo, com alguns serrados ralos e capões de matto junto
aos corregos, cada qual procurava cortar caminho. Havendo
muito poucas areas aramádas, o carreteiro ficava obrigado so.-
mente aos váos para a travessia dos rios e tambem ás aguádas
para o pouso no fim da jornada, que regula de tres e meia :i
quatro leguas brasileiras.
Com o apparecimento do Ford foi que começaram a tirar
rumos direitos, cortar caminho, despontar cabeceiras com ats-
leiros e finalmente, as rodas do auto trilharam uma estrad-a que
em tempo secco permitte correr a vontade.
Anda-se leguas e mais leguas naquelle mar de verdura sem
avistar uma casa ou um viajante. As estradas, o quanto são boas
em tempo secco, podendo viajar-se livremente mesmo a noite,
são quasi que intransitaveis com as chuvas. Nessa época o mais
certd quando anoitece, é escolher logo o pouso.
Ha rectas de leguas de comprimento, e pouco a pouco, fo-
ram as distancias encurtando com a intelligencia dos "chauf-
feurs" que mais a meúdo iam fazendo essas viagens.
A sahida das cidades, encontra-se tantos caminhos, que pa-
rece um grande leque aberto com todas as varetas. São cami-
nhos conforme o rumo que o "navegante", fóra do porto tem
que tomar. Muita vez, quem não é pratico, passa ali um tempo
enorme, para traz e para deante, antes de acertar.
Estradas em que trafega, mais ou menos livre, um auto-
movel, são as que vão de Campo Grande 'á Ponta Poran, á En-
tre-Rios, Vaccaria, Dourados e Bella Vista.
As outras são "aventuradas", e já em 1924, Miranda á Be!-
i a Vista e Aquidauana-Nioac, eram feitas, na vasante dos rios
e do pantanal, com certa facilidade.

A CARRETA

Differente, muito differente da que nós Paulistas conhe-


cemos em nosso Estado. Rodas enormes, com raios como as car.
roças ; ferrádas com chapa lisa; não cantam como os nossos
carros; teem algumas dellas, eixos de ferro, fixos, outras teem-
n'o de páu, amarrádos á mesa com tentos de couro crú. E' incri-
vel, como assim apparelhadas ellas sustentam tamanhos pesos.
Seis e mais juntas de bois. A razão das rodas altas é por-.
que assim podem atravessar melhor os corregos cheios. Quantas
vezes as encontrámos parádas, mesa no chão, carga a beira da
estrada e o carreteiro trabalhando em apromptar um eixo novo,
com a madeira que leguas e leguas, foi buscar e trouxe de ar-
rasto com os bois.
E, quando veio a época da peste de cascos, ficavam, as ve-
zes, mezes inteiros naquelles campos infinitos, a espera que n
boiada arribasse, isto é, recuperasse forças. H a carreteiros que
se incumbem de um trafego regular, da Fronteira á Campo
Grande, e, possuindo varias carretas, viajam com toda a fa-
milia.
Uma, duas ou mais carretas constituem a sua habitação. A
cosinha é ao relento, no pouso, e á noite, quando o tempo está
firme, dormem em baixo do carro e as creanças dentro, sob o
toldo. Levam mantimentos, jacás com aves, enfim tudo para a
travessia de nunca menos de 18 dias; e, muita vez, para não
ter de ir longe a cáta de lenha, trazem de arrasto, galhos des ar-
vores seccas para o fogo.
Quasi sempre andam durante a noite ou pela madrugada
até esquentar o sol. Então, param, soltam a boiada e armam
o pouso.
Lá estam elles! Todas as carretas paradas com o cabe-
çalho quasi que sempre na direcção para onde estão de viagem.
O tripé aberto sobre o fogo sustenta o caldeirão. Comem xarqiie
e milho, e tomam matte em quantidade.
Os arreiros, tanto os garotos que puxam a guia, como os
demais, trabalham todos montados, e com aquellas varas com-
pridas e seus ponchos vermelhos, teem um aspecto singular.
Quando em caminho, é aqiielle cordão de carros, bois soltos
para a muda, cavallos, cachorros, e pouco a pouco, somem-se no
horizonte verde ou na baixada, mais verde ainda! Este typo de
carretas, é semelhante ao que se usa no Rio Grande do Sul, e
alguma vez encontra-se um carro mineiro. Esses cantam como
os nossos e teem rodas cheias e mesa baixa. Ha tambem a a r -
reta paraguaya, que trafega nessas estradas. No geral, ellas tra-
zem matte, couros seccos ou alfafa e levam de volta productos
nossos para o commercio de Pedro Juan Caballero ou Bella
Vista.
São completamente differentes das que acabamos de des-
crever. Teem toldo de zinco e algumas trazem um telhadinho
de capim muito bem feito, em vèz dos couros como usam os
nossos carros gauohos.
Os bois, são atrelados com a canga nos chiffres. Sobre
este ponto dizem nossos patricios carreiros, que o boi tem força
no peito e que o systema paraguayo quebra os chiffres. Os nos-
sos visinhos, por sua vez, dizem que do modo delles, o boi puxa
com a cabeça, erguida, não suffoca no sol quente e puxam os
dois iguaes.
Provavelmente em futuro não remoto, reunirse-á o con-
gresso dos carreteiros para decidir esse assumpto. O mais inte-
ressante do vehiculo paraguayo e que logo atrahe a vista de nós
brasileiros, é o modo pelo qual o carreiro guia, sentado com todo
conforto, dentro do carro.
Teem elles, no geral, umas 3 á 4 juntas. Preso por baixo
dos arcos, que formam o toldo ou tecto da carreta, collocam uma
vara ou mastro horizontal, comprido, donde pendem duas cor-
das que sustentam um ferro redondo que atravessa, no ponto
de equilibrio, uma vara muito longa. O cabo desta vara está
dentro do carro e a ponta, mais ou menos na altura das costas
dos bois da guia. Quando a vara é muito comprida, devido a
estarem atreladas, digamos 4 juntas de bois, a ponta é susten-
tada por um fio que é preso na ponta do mastro. Na altura de
cada junta, tem a vara, um ferro atravessado, que serve para
cotucar os animaes.
Usam pendurar uma porção de latas, chocalhos e cincer-
ros que saccodem. O carreiro, deste modo, com um pequeno bas-
tão toca os bois de couce e sem desperdicio de energia, pois que
a vara está sustentada no ponto de equilibrio, toca o resto da
boiada, sentado commodamente.
0 s fios desses mqstros são geralmente enfeitados de trapos
de cor, pennas, bandeirinhas etc. LTmfacto interessante é a quan-
tidade de quadrinhos de Santos collocados no interior dos car-
ros. Dizem, que as taes varas ferradas, são muito procuradas
pelos ráios durante as tempestades nos pousos em campo aberto,
e d'ahi a explicação dos quadrinhos.
Foram e serão por muito tempo ainda, esses bravos car-
reiros, verdadeiros soffredores de tantas provações, os abaste-
cedores do commercio e das populações dessa enorme região.

' O FORD

O Ford, digo bem e não o automovel, porque poderiam to-


mar qualquer outra marca desses vehiculos como o "heróe mu- ,
do" que auxilia o homem a levar a civilisação ao povoado lon-
ginquo. O Ford, portanto, e só ao Ford, devemos, nós Brasilei-
ros da nova geração, a facilidade de nos locomovermos em luga-
res até então quasi inacessiveis pela enorme distancia ou pela
forma fatigante da conducção.
Já dissémos uma vez, que o Ford e a fouce eram os des-
bravadores do sertão brasileiro no seculo actual, e quem como
nós, viajou dezenas de milhares de kilometros, nas estradas e
regiões que temos trafegado, estará de accordo comnosco. Anti-
gamente, era o telegrapho que levava a civilisação e o progres-
so á povoação distante, e, era a fouce e o machado que desbra-
vavam o sertão. Hoje, é o Ford que carrega os rolos de fio até o
ponto terminal da linha, para que então seja elle esticado, e foi
em Ford que os homens da fouce e do machado foram á picada
e por esta adentro, dia por dia, até ao termo do serviço.
Carro ideal pela sua simplicidade de manejo; leve, adapta-
vel a mil e iim recursos de momento ; economico no gasto de ga-
zolina, barato no seu custo inicial e em suas peças para concerto,
constitue sem duvida, em relação ao serviço que delle se obtem
o que ha de mais perfeito em locomoção pelo seu preço.
Xão queremos dizer com isso que outras marcas de auto-
moveis não venham mais tarde a trafegar essas estradás, mas o
que é certo, é que o Ford, sempre é o primeiro que apparece
no extremo do sertão, porque elle vae onde todos os outros vão
e nem todos os outros vão onde elle é capaz de ir.
Na viagem que fez o Dr. João Pandiá Calogeras, o minis-
tro que apparelhou o exercito de casas e de material, e, o unico
que se animou a ir até as fronteiras paraguayas, visitando a$
duas unidades que ali estacionam, o caminhão Ford que seguia
atraz da comitiva de autos, levando peças e gazolina, ao sahir
da balsa que faz a travessia do rio Miranda na estrada que vae
a cidade do mesmo nome, devido a uma manobra mal feita na
atracação, escorregou fóra do taboado e cahiu dentro do rio.
Nas margens ainda estava uma turma de indios terenas que ti-
nham vindo da aldeia do Bananal e de perto da estação de Tau-
nay com o fim de cumprimentar o general Rondon que vinha
em companhia do Ministro.
A demora do caminhão dentro d'agua foi por isso pequena,
porque um dos indios logo atirou-se ao rio e amarrou uma cor-
da no auto. Minutos depois era elle retirado, puxado pelos pulsos
fortes de uma porção de legitimos brasileiros. Meia volta de
manivela: elle tossiu. Mais umas quantas voltas e uns tantos
espirros, para logo em seguida, pegar a trabalhar como se nada
houvesse acontecido.
Valeu-lhe esta façanha o conceito emittido pelo meu caro
amigo Capitão Mario Pinto Peixoto :
"Em questão de resistencia, o Ford é o Zebu dos automo-
veis !"

PORTEIRAS

As estradas de que nos occupamos, tinham antigamente


porteiras de varas. E que varas! Cinco e as vezes seis grossos
madeiros pesados, e alguns cheios de nós.
Constituiam essas porteiras uma grande massada para 03
automoveis. De Campo Grande á Ponta Poran existiam nada
menos de quarenta e duas. Eram mais de duas horas perdidas
no "abre e fecha".
Aquellas que ficavam situadas perto das moradias dos do-
nos das terras, tinham que ser fechadas. . .
As outras, retiradas, separando pastos, pouco a pouco fo-
ram desapparecendo, porque os "chauffeurs" iam dando su-
misso ás varas.,Cada viagem carregavam uma e jogavam-n'a le-
guas longe. A madeira é escassa.. . e assim as porteiras foram
ficando sem varas e o dono teve que fazer ao lado dellas um
"mata-burro" ou então collocar duas solidas "bicas" de aroeira.
a
.Era este o unico meio de não ter o seu gado misturado com
o dos visinhos.
Lembramo-nos bem do que fez um fazendeiro com um
chauffeur da Companhia Constructora de Santos, logo que os
seus 20 caminhões começaram a trafegar levando materiaes para
a construcção dos quarteis de Ponta Poran e Bella Vista.
Era um preto uruguayo ; chamava-se Victor.
Tinha urna uruca formidavel o pobre. Era muito bem man-
dado e muito respeitador. Foi no caminho de Ponta Poran, na
cabeceira do S.to Antonio. Todos passaram, e lá vinha o Victor,
por ultimo. Não collocou as cinco varas da porteira, mas na
sua volta estava a sua espera, de carabina em punho, o dono
das terras. O preto teve que abrir e fechar a dita, cinco vezes
e foi então, mandado embora com a seguinte despedida:
- "Negro desgraçado, tu agora deve tê aprendido comn
se abre e como se fecha uma porteira de cinco vara!"
Victor, desde essa vez, foi um respeitador. . . dessa por-
teira.

BICAS

A madeira geralmente empregada na construcção desse sys-


tema de travessia de valos ou de corregos, é a aroeira, trazida
dos serrados. Lavrada á machado, ella fica como um côcho com
as extremidades abertas. E' collocada bem na bitola dos autos,
acavallo sobre o fosso, e o chauffeur practico entra nellas, sem
diminuir a marcha.
.
No principio. . muito "carter" foi partido nas bicas, que
estavam desbitoladas. Leva menos madeira do que os "mata-bur-
ros", não tem pregos, sendo a despeza do seu concerto, nulla.
No SULDE MATTOGROSSO
i i

OLHO D E BOI

Dão esse nome aos atoleiros que depois das chuvas ficam
seccos, só por cima, illudindo o chauffeur que não é vaqueano,
e que dirigindo o seu carro por ali, afunda até o eixo, e só con-
'
segue sahir, com o auxilio de muito esforço e estratagema ou
'com a sorte de ter perto, alguma junta de bois ou de ser puxado
por algum cavalleiro, que para isso ata o laço no eixo deanteiro
do carro, e amarrando a ponta na chincha dos arreios, dá de
esporas no animal, para que arraste o auto fóra do lamaçal.
Em Matto Grosso, ou melhor, no sul desse Estado, na zona
de campo, existem baixadas e tambem chapadões alagadiços. Em
geral o chão nesse lugares é de uma terra argillosa, amarella,
que em época de chuvas, torna-se um castigo para o viajante.
De Campo Grande á Ponta Poran, nos campos do Turvo e da
Jurema, como tambem perto de Bella Vista, ha lugares em que
um automovel tem que sahir fóra da estrada e passar por sobre
o campo, não podendo parar um instante, porque si o fizer, ato-
lará de tal fórma que só á boi poderá safar-se dali.
Qiiasi todas as cabeceiras são muito molhadas, e, quando se
as tem que despontar porque não se poude atravessar algum rio
cheio, tem-se que o fazer com muito cuidado.
O vaqueano conhece bem a vegetação e sabe onde o chão
é duro e firme.

E' por esse nome que é conhecido o cupim na zona sul do


Estado, onde quasi todos sabem falar o guarany. Tacurú, o
"bichinho patriota" como o chamava o tenente Odilon do 2 . O R.
C. U. com séde em Pirassununga, porque foi o "tacurú" que
auxiliou Edú Chaves a ser o primeiro a fazer o vôo São Paulo
Buenos Ayres, torcendo em conjunto com a "torcida" do povo
Sorocabano, o eixo do aeroplano do argentino Haines.
O "tacurú" é o espantalho dos chauffeurs em Matto Gros-
so. Existem duas qualidades de cupins: Um molle e outro du-
rissimo. Uma simples esbarradella num tacurú duro, quando
se atravessa um pedaço de campo com herva alta, quer dizer
um eixo torto ou um garfo quebrado. As vezes, quando se cor-
re com "tudo aberto", o grido de: Tacurú!! por algum dos
passageiros, é como si fosse no mar, durante a guerra européa,
a voz de "submarino a vista!".
O pessoal firma os pés adeante e segura-se, porque se 3
destreza de quem &ia não evitar o impacto.. . alguem atra-
vessará o parabrisa ou a capota.

O CHAUFFEUR

O homem que guia automovel em Matto Grosso é como


si fosse um piloto de terra. Tem que reunir tantas qualidades
a mais do que o chauffeur da cidade, que o torna um guiador
de primeirissima.
Tem que saber guiar; conhecer perfeitamente o motor e
seu funccionamento; saber montal-o e desmontal-o completa-
mente; ser intelligente para os recursos de momento, porque
não ha garagens nem officinas á mão; ser forte, saber jejuar;
ter boa orientação e esplendida memoria; ser bom andarilho;
saber nadar, etc. etc.
Chauffeurs de facto, em uma palavra, e quem viajar por
aquellas paragens com um Luiz dos Santos, um Minguito, um
Juvenal Paixão, um Zé Maria ou um bugre Osorio é que po-
derá concordar comnosco sobre o que dissémos acima. Não é
por ser nosso compadre, mas, todos os que por lá andaram o di--
zem : Luiz dos Santos (1) é o rei dos chauf feurs de Mattcr
Grosso. Nunca, pessoa alguma ficou na estrada indo com elle.
Além disso, foi o pioneiro das estradas de automovel no Sul de
estado.
RECURSOS DE CHAUFFEUR

Vamos relatar aqui, alguns dos muitos recursos de mo-


mento que vimos serem usados em Matto Grosso. NA FALTA

(1) Assassinado covardemente em 1926.


9.n- -."< r- i-'* w,J.-.--*.,- .i- 2 .-rr-r -
vrpri.w-,- - hi hi < w I?- -Tj, =-v

DE OLEO, uma vez que perdemos a lata que o continha, fomo3


obrigados a parar. Depois de uma caminhada de leguas, voltou
o nosso homem com alguns kilos de banha sem sal. Derretemol-a,
e foi nesse estado despejada no orificio do oleo. Assim conse-
guimos chegar ao Capão Bonito, a linda fazenda da Brazil Land
and Cattle Co., tendo durante a viagem nos deliciado com um
perfume adoravel de peixe frito. A cousa, era não parar o mo-
tor, para que a banha não endurecesse lá dentro.

F I O PARA LIGAÇÓES

Em caso de necessidade, sempre que houver perto, uma


cerca de arame, 8 só usar um alicate e a cousa está arranjada.

FORJA N O CAMPO

Certa vez, tendo-nos desviado por um caminho antigo, usa-


do pelas carretas da Companhia hlatte Larangeiras, quando tra-
fegavam para Porto Murtinho, caminho esse que estava de hs
muito abandonado e com herva crescida, démos uma formida-
vel "trombada" em um toco.
As duas rodas quasi se uniram. O eixo ficou como um arco
de bodóque e o mesmo aconteceu ao garfo. Para-brisa quebra-
do, gente ferida, enfim, essas cousas todas que todo mundo que
teve um encontro de automovel conhece perfeitamente.
Chovia bastante. Assim mesmo catámos uns gravetos e
logo que a chuva parou, auxiliados por um pouco de estopa
molhada em gazolina, conseguimos fazer um bello fogo. O eixu
foi collocado na forja de campo e batido sobre o mesmo toco
causador de todo esse trabalho, até que ficou mais ou menos
em condições.
O garfo foi endireitado á frio sobre o toco, e, depois de
varias horas de desmontagem e montagem, seguimos nosso ca-
minho.
GARFO DE PA4U

Outra occasião, foi um tacurú que partiu o tersor. Náo


perdemos mais do que umas seis horas. O nosso homem, fez um,
de pau, amarrádo com couro e lá vimos nós, por signal, que com
boa marcha.

TRAVESSIA DE RIOS

Quando os corregos ou rios não estão muito cheios e a agua


não chega até ao destribuidor passa-se bem. Si estão um p0uc.o
cheios mas são estreitos e o fundo não tem pedras grandes, em-
balla-se o carro e a cousa está do outro lado, depois de levantar
uma onda enorme em que os passageiros tem a sensação de es-
tarem em um submarino. E' necessario depois limpar o destri-
buidor e então continua-se a viagem. Quando os rios estão
cheios, ah! então a cousa é outra. Enquanto um dos viajantes
vae buscar alguma junta de bois no morador mais proximo, ou
uns dois ou tres cavallos, o chauffeur vae preparando o auto
para virar navio. Retira-se o carburador; tampa-se o orificio
do oleo ; retira-se as bobinas e a installação de fios e cabos ; tam-
pa-se bem a gazolina e passa-se, na cabeça toda a carga e as al-
mofadas. Chegados os animaes engata-se a corda ou laço no auto
e o chauffeur, ás vezes, com agua pela cintura e mãos no vo-
lante vae dirigindo até o outro lado.
Ahi vem á prova a qualidade essencial nos chauffeurs, 3
paciencia de seccar e montar tudo de novo.
Quantas vezes isso acontece nas epocas das chuvas no ca-
minho de Bella Vista ou de Nioac, e logo a seguir, duas ou tres
leguas adeante, se é obrigado a repetir a mesma opera@o! E a
descida da SERRA de Maracajú, para quem vae á Bella Vista?
Antes dos concertos e do desvio e dynamitação das grandes pe-
dras, feitos pela Companhia Constructora de Santos para me-
lhorar o transito de seus caminhões com materiaes para a cons-
trucção dos quarteis, a descida da Serra "BRABA" era uni
grande feito automobolistico.
Quem descia pela primeira vez, imaginava andar mais cin-
coenta leguas para voltar e não-subil-a, e quem a galgava um3
vez, empurrando o auto de meio em meio metro, calçando-o para 0

não disparar ladeira abaixo ou quebrar o carter nas pedras, de-


sejava nunca ter nascido e jurava nunca tornar a subil-a por
dinheiro algum. Das muitas vezes que por ali passámos, uma
unica vez, em tempo muito secco conseguimos galgal-a toda i
machina, com o carro aliviado de toda carga. Foi uma victoria I

POUSO NA VIAGEM

Quando as etapas certas para o pouso na casa dos conhe-


cidos, não podiam ser vencidas por algum motivo de ordem "ro- I
doviaria" ou "fordifera" o pouso éra feito. . . ali mesmo onde
a gente parava. Atolado, quebrado, sem peça sobrecellente, com
o tanque vazio, ali mesmo se ficava. Não vale a pena ficar zan-
gado. Cada qual tira a sua rede, se foi previdente em trazel-a,
e caso contrario dorme no auto com as pernas encolhidas. Quan-
do os passageiros são poucos ou o carro é particular, cochila-se
melhor. Mas, o Ford, ao menor movimento de qualquer dos oc-
cupantes, todo elle mexe, balança, faz barulho e accorda todos.
Basta uma pessoa tossir para que todos accordem, naquelle er-
mo, naquella solidão, sem mesmo o barulho do vento na folha-
gem, porque esta quasi não existe nos campos. Quando vem
logo apparecendo a luz do dia está todo mundo cançado de tanto
não dormir. Experimentamos de tudo nos "pousos ford" e o
melhor si se tem um bom pala, é deitar no estribo e fazer o pa-
ralama deanteiro de travesseiro e encosto. Fizemos, uma occa-
sião, bellissima viagem de inspecção ás obras dos quarteis da
Fronteira, viajando em um caminhão Ford. Foi em Julho de
1923. Eramos apenas tres pessoas: Capitão de engenharia Dr.
Pedro Loureiro Villaboim, nós e um chauffeur, o Ozorio, indio
terena ligitimo, que já havia servido como soldado no 10.6 R.
C. I. com séde em Bella Vista. Elle era conhecedor da zona e
"bicho taco" nos recursos de viagem; de constituição robustis-
sima e forte como um touro. A viagem foi longa. De Campo
brande á Ponta Poran, de Ponta Poran á Bella Vista e d'ahi :I
Miranda, cerca 710 kms. O caminhão tinha sido apparelhado
com um toldo; levavamos nossas camas de campo, que cabiani
perfeitamente bem dentro da carrosserie. Além disso carrega-
mos uma frigideira, uma chaleira, latas com mantimentos etç.
Sahimos de Campo Grande, pousamos na Esperança. E'
este lugar muito alto, e nos recordamos haver mostrado, quando
acon~panhámosos Drs. Altino Arantes e Alvaro de Carvalho
á fonteira, pés de café velhissimos, frondosos e em plena pro-
ducção.
Foi uma viagem estupenda e confortavel. Chamamos o nos-
so caminhão, que era o N. 20 da Companhia Constructora dc
Santos, o Pullman N. 20. De todos os pousos, um, nunca esque-
ceremos, foi o que fizemos na fazenda Esperança, que acima
enunciamos.
Chegados ali, á noite, encontrámos, tambem de pouso, um
camii~hácda Prophylaxia que vinha de Ponta Poran. Tiramos '
nossas redes e procuramos armal-as, uma ao lado da outra, de
um poste de cerca do mangueirão ao cajádo de traz do Ford.
O chauffeur dormiu dentro do carro. Fazia bom tempo e esta-
vamos sob a folhagem de uma enorme mangueira, junto a:,
quintal da fazenda.
Pela manhã o chauffeur levantou-se antes, e com a diffe-
rença de peso no Ford, tivemos um despertar forçado, mesm*,
um tanto brusco, porque o carro correndo para traz arriou as
duas redes até o chão. O Capitão Villaboim e nós, tivemos que
conformar-nos com essa maneira de sermos accordados e para
mostrar nosso bom humor assobiamos accompanhando o bando
dos viras, que rompeu de cima da arvore, o seu alegre canto co-
mo si fora uma vaia ao nosso tombo.

AS VIAGENS D E CAMPO GRANDE A PONTA PORAN


A estrada que vae de Campo Grande á Ponta Poran corre
quasi que toda ella pelo espigão. .Com pequeno desenvolvimento
e poucas obras de arte, poderia uma estrada de ferro ser cons-
I
t
t
truida unindo essas duas cidades á Noroeste do Brasil. Seria
quasi perpendicular á Fronteira, de forma que poderia prestar
k

i grandes serviços em caso de abastecimento de tropas.


I
I
Das tantas vezes que a percorremos de dia, á noite, com
E chuva, com tempo bom, fizémos com um velocimetro bem re-
i
gulado, um levantamento kilometrico, assignalando todos os
1 pontos importantes e de facil orientação, tendo fornecido copia
ao nosso distincto amigo major Antonino Menna Gonçalves, en-
genheiro militar e chefe do Estado Maior do general Nepomu-
ceno Costa, nessa occasião commandante da Circumscripção Mi-
litar de Rlatto Grosso.

KILOMETRAGEM DESDE OS QUARTEIS


ATÉ PONTA PORAN
Quarteis . . . . . .
Portão . . . . . . .
Bandeira . . . . . . em frente fazenda
Porteira da Bandeira . .
Ponte sobre o Anhanduhy corre para direita
Salto, Bais . . . . . á esquerda
Grande lagoa . . . . 9, $9

Mata-burro . . . . .
Grande recta . . . . .
Ponte Axihanduhy . . . corre para esquerda
Começa nova recta. . .
Termina . . . . . . serrado ambos lados
Mata-burro . . . . .
Nova recta até . . . .
De 29.600 até . . . . serrado á direita
Lagoinha, Clemente Pereira atravessa corrego
casa fazenda d direita
. . .
Varios capões de matto . filete d'agua
Porteira . . . . . . . . .
. . . .
Linha Teleg. Porteira . mata burro
. . . . . .
Atravessa L. T. . que segue rumo S. E.
para Rio Vaccaria
. .
Boliche Olhos dagua. Porteira Caminho Capão Bonito
Capáo de matto . . . . . . .
. .
Lagoa do Rego. capáo, porteira
Cabeceira da Onça . . . . . . Encruzilhada p. Vacc.
Porteira . . . . . .
. . .
Serrado, Cruz dos Bugres . . .
Agua d o Brejão . . .
. . . .
Rrejáo, Porteira, Cel. Porphyrio '. mata burro
Sidronio, mata burro . .. . .
Lagoa Valerio . . . .
. . .
Porteira e mata burro . .. . .
Encruzilhada S. Bento. . . . . porteira e mata burro
Agua da pedra . . . . . . .
Corrego S. Bento, bica . . . . atrav. Anhand. c. esq.
Fazenda S. Bento . . . . . .
Lagoa a esquerda . . . . . .
. .
Mata burro, capão a direita .
Porteira . . . . . .
. . . Acaba fazenda S. Bento
Lagoa 16 BC á esq.
Lagoa á direita . . . . . . .
Brilhante, bica . . . . . . . corre para a esquerda
Porteira, capões á esq. . . . .
Porteira, comefa cerca longa . .
.
Taquarussii, corre direita . . aff. Aquidauana
. .
Esperança, corre direita . .
. . .
Porteira e mata burro . .
A direita . . . . . . . . . Desvio para Dr. Ma-
chado
Cabeceira do Engenho . . . . .
Porteira e mata burro . . . .
Jurema, porteira e mataburro . .
Turvo, corre para direita . . . Porteira, mata burro
séde 4 direita
Olho dagua, porteira e m. b. . .
Começa cerca comp. Porteira . . mata burro
Porteira . . . . . . . . .
Porteira, continua cerca . . . .
Porteira. termina cerca . . . .
Capáo da Cab. S. Antonio, esq. . . tem .agua no capáo de
matto B direita
Porteira, cab. do Bugre . . . . .
Porteira . . . . . . . . .
Cabeceira do Chaleira . . . . . corre para direita
Porteira e mata burro . . . .
Lagoas do Passa 5. . . . . .
Corrego Passa 5 . . . . . . corre para esq. Port.
casa e pharm. A direita
Lagoa Feia á esquerda . . . 222.000
Porteira da Lagoinha . , . . 231.200 Tumulo alvenaria ti dir,
Começam areiões e serrado
Terminam areices e serrado
. .. 235.000
237.600
Cacimbinha, porteira . , . . 238.600 Vassorócas á esquerda
Cab. do Roncador, Rio Miranda 242.700 Vassorócas á direita
Encruz. para Bella Vista . . 255.500 Canto de cerca A esq.
A. Campos. Correio
Casa da Cab. do Apa . . . . 258.300
Porteira . . . . . . . . 262.400
Porteira . . . . . . . . 264.500
Cab. do Desbarrancado. . . 266.000
Porteira do Chiquilim . , . 268.300 a esq. corrego Dourados
Cagáo da cab. Donrados . . 276.500 i esquerda
Porteira do João Nunes . . . \
282.000
Casa i esquerda . . . . . 285.600
Agiia i esquerda . . . . . 288.700
Porteira da Estrella, Fronteira . 289.300
Porteira do Jango Trindade . 303.000 cerca á esq.
Cab. do Aquidabarn . . . . 309.500 á direita
Porteira do Ortiz . . . . . 316.700
Ponta Poran . . . . . . . 326.000

N. B. -A cabeceira do Appa, não é de facto a cabeceira desse rio


e sim do Samambaia. A cnl~eceira do Appa fica na Estrella.

PONTA PORAN A BELLA VISTA

Quem sahe de Ponta Poran vae pelo Estrella, ora em terras


brasileiras ora em territorio paraguayo até á cabeceira do Apa.
D'ahi toma o caminho para a serra. As estradas para Bella Vista
não são como as de Campo Grande para Ponta Poran. O terre-
no é mais ingrato. Uma vez baixada a serra, atravessa-se uma
quailticlade de rios, que em tempos de secca não dão o menw
trabalho, mas que na epoca das chuvas, constituem cada um dei-
les um serio atrazo á viagem, muitas vezes de dias. São esse.+
rios, qiiasi todos de pequena extensão, porem de grande capaci-
dade as cabeceiras que os alimentam, de modo que com uma pe-
quena chuva crescem espantosamente de volume. Todos são af-
fluentes do Apa. Si elle está baixo ou si as chuvas foram poiico
demoradas, baixam com facilidade, mas si no caso contrario, o
Appa está cheio pelas chuvas prolongadas, não tendo este caixa
suf ficiente para rapida vasão, succede que não raramente esses
corregos e rios se unem, formando enormes areas alagadas e
intransponiveis.
Existem algumas mattas em baixo da serra, e os campos
são quasi todos de grama. O gado é mais bonito durante o anno
todo, ao passo que em cima da serra soffre muito no inverno.
Para a cavalhada porem, a zona de baixo da serra, é trai-
çoeira, pois que de quando em quando a peste de cadeiras faz
estragos enormes. Entretanto, existem zonas em que ella não
apparece.
Da cabeceira do Apa vamos até a fazenda Lagoinha com
cerca de 3 e meia leguas de caminho. D'ahi até a serra temos
mais 1 legua. Da serra, que é toda coberta de vegetação espessa,
apezar da enorme quantidade de pedras, vae-se com mais unia
iegua até a ponte do corrego "LIMEIRA" que corre para 3
direita.
Dessa ponte até a que tem o nome de P O N T E HUN, que
quer dizer preto em guarany, temos mais uma e meia leguas
A fazenda do Sr. Clemente Barbosa fica distante d'ahi duas e
um quarto leguas, e com mais uma e um quarto atravessamos
o "Arroyo de OURO", que corre para a esquerda.
Deste corrego até a fazenda do Sr. Justino Leite temos
meia legua de caminho e desta até o BOJAGUA', que quer dizer
cobra cachorro em gtiarany, 2 1/4 leguas, tendo atravessado os
corregos da "VIUDA" "TAQUARUSSU" e "VAQUILHA"
Do Bojaguá até a ponte sobre o "SOMBRERO" temos mais
duas leguas e desta ponte até o váu da "MACHORRA" outras
2, e finalmente, d'ahi até BELLA VISTAluma legua.
Temos portanto que a chamada Cabeceira do Apa até
Bella Vista são 18 1/4 leguas que em tempo secco são percoi-
ridas em cerca de 4 1/2 á 5 1/2 horas e em tempo de chuva
em.. . varios dias, por atalhos, desvios etc. A comitiva do Sr.
Ministro Calogeras encontrou época excepcional, tendo feito o
percurso de Ponta Poran-Bella Vista em sete horas.

RELLA VISTA-NIOAC-AQUIDAUANA

Vindo de Bella Vista, logo depois da fazenda de Clemente


Barbosa chega-se ao rio MIRANDA, que estando com a*
baixa dá para ser atravessado á machina, grande parte, somente
'
os ultimos, 12 metros têm que ser atravessados "á muque" isto
é, virando as rodas á mão, segurando os raios. O leito deste rio
é muito pedregoso.
De Bella Vista á Aquidauana, via Nioac, calculam umas 43
leguas, sendo que de Nioac á Aquidauana são cerca de 18.
O caminho até Nioac não é muito trafegado, sendo intran-
sitavel no tempo das aguas, devido aos rios que não têm "cai-
xas" sufficientes para comportar esse colosso de agua que a
serra lhes fornece.
De Nioac á Aquidauna a estrada é boa, sendo trafegada
por autos quasi que em qualquer epoca, porque existe balsa so-
bre o rio Aquidauana. Uma vez atravessado o rio Miranda, com
pequeno percurso chega-se ao "CAVA". O proprio nome indi-
ca que as duas margens são muito ingremes. Tivemos muito
trabalho em passar o Ford, porque mesmo estando baixo o rio,
havia agua acima do destribuidor e só conseguimos subir a mar-
gem opposta com auxilio do moitão de cordas que previdente-
mente haviarnos trazido. Fizemos essa viagem em companhia dos
bons e leaes amigos Dr. Yeddo Fiuza e Sr. Antonio Palinieri,
respectivamente nosso engenheiro ajudante e almoxarife nas
obras dos quarteis de Matto Grosso, construidos pela Compa-
nhia Constructora de Santos, de quem eramos o 1 . O engenheiro.
inspector e chefe desse Sector.
Foi uma verdadeira odysséa. Depois de atravessarmos o
Cava, continuamos viagem até attingirmos ao "CANINDÉ",
que atravessamos tambem, á muque. A margem opposta é mui-
to ingreme e como a toceira em que amarrámos o moitão não
resistiu o peso do carro, quando este já estava quasi no topo,
voltou novamente para dentro do rio.
Depois de nova e estafante manobra, seguimos, para logo
adeante cahirmos num atoleiro do qual só sahimos depois de ar-
ranjar tres juntas de bois. Atolámos até o estribo, com as qua-
tro rodas ! Era epoca da peste de cascos e os bois estavam muito
fracos. Perdemos muito tempo nesse local, de modo que anda-
mos pouco e logo em seguida armamos pouso, no meio do campo
de uma fazenda.
Lembrámo-nos que haviamos passado uma agua, já estava
escuro, voltamos atraz para colher um pouco do precioso liquido
afim de preparar o nosso matte, tendo tambem bebido bons tra-
gos dessa agua. Pela manhã, ao partir, fomos verificar que logo
acima, estavam mortos dentro dagua, dois bois enormes! No
minimo, de um typho não vamos escapar, foi o nosso pensa-
mento. Mas qual, nem mesmo uma dor de cabeça. Proseguimos
viagem e pouco Mepois atravessamos o rio NIOAC, parte á mc-
tor e o resto no muque. Junto ao paredão de uma forte corre-
deira aproveitamos para nos banharmos, por signal que quazi
lá deixamos os ossos, querendo atravessar a corredeira, o que
finalmente conseguimos realisar, não sem grande esforço, pela
violencia da correnteza. Pouco depois de nos pormos em ca-
minho attingimos Nioac, a velha villa historica, hoje decadente,
com os seus edificios em ruinas, especialmente o velho quartel,
situado no grande largo em que foi collocado o monumento aos
heroes da Retirada da Laguna, construido pela Companhia Cons- \
tructora de Santos por incumbencia do Governo Federal, sen-
do ministro da Guerra o marechal Setembrino de Carvalho.
Continuando nosso caminho atravessámos o "URUMBEVA"
sobre uma ponte. A estrada continua por varios areiões, até
que chegamos ao CARANDASAL, um lugar que é s3 areia e
carandás, um verdadeiro panorama africano, desertos e oasis.
Dormimos enterrados em areia molle, exhaustos, sem agua:
maltratados por enxames de mosquitos enormes. Pela manhã a
sede era tanta que andámos meia legua á pé para beber um pouco
d'agua. Durante a noite, como estavamos á 6 leguas de Aqui-
dauana, o Juvenal, nosso chauffeur, foi á pé, buscar um ca-
. minhão de soccorro, porque o auto havia molhado a installaçáo
electrica e bobinas e não havia mais geito de pegar.
Animava o Juvenal na enorme caminhada, a certeza de que
logo depois teria bastante agua para beber!
Pela manhã, apezar de sermos menos ym do que na occa-
sião que tentamos desatolar o auto, conseguimos sahir de dentro
do areião. A fome, a sede e a vontade de chegar era muita. An-
damos mais um pouco e d'ahi por deante o Ford parou de u m
vez.
Felizmente estavamos em um laranjal! Tomamos café e
almoçamos laranjas, limas e goyabas. Por fim, chegou o cami-
nhão, e á tarde, depois de atravessar o Aquidauana sobre a bal
sa, fomos comer comida quente que ha quatro dias não co-
miamos.
O Fiuza foi de opinião de que o azar vinha d'uma mascotta
que encontramos e traziamos comnosco. Tratava-se de um enor-
me kágado que não sabemos como, desappareceu de dentro do
caminhão, quando estavamos ainda no laranjal.
Quasi que desde o Clemente até Aquidauana, é este trecho
de chão coberto de matto, havendo poucos campos, a não ser
depois que se atravessa o Nioac até attingir á povoação.

BELLA VISTA-MIRANDA

Convidados pelo Sr. Pylade Rebuá, illustre deputado ma-


togrossense, e pelo Sr. Francisco Rebuá, prefeito de Miranda,
nossos distinctos amigos, para que trilhassemos a estrada que
se projectava entre Bella Vista e Miranda, cerca de 43 leguas,
foi com prazer que nos puzémos a caminho, pois tinhamos eni
vista estudar um melhor roteiro para levar o material destinad:,
á construcção do quartel do 10.O Regimento de Cavallaria Inde-
pendente, localisado em Bella Vista. O caminho pela serra era
tão longo e tão difficil que talvez fosse essa uma solução, ou
então, para apressar a terminação das obras, poderíamos enviar
as cargas pelas duas vias.
Partimos de Bella Vista em direcção á Miranda. Iamos
quatro e o auto era o celebre Pulman n. 20: Capitão Villaboim,
um soldado conhecedor da zona, o chauffeur Ozorio e nós.
A estrada havia sido percorrida, em um trecho de Miranda
até perto do CORE' e tinham fincado balisas de páos roliços,
mas estas haviam sido derrubadas pelo vento ou pelo gado, e
nos campos a "batida" (rasto) estava quasi apagádo. O nosso
guia atrapalhou-se e só conhecia a estrada velha, de modo que
pouco nos adeantou, pois que as bicas mandadas collocar pelos
Rebuá, os homens do progresso e do desenvolvimento da zona,
pouco nos adeantaram até o Coré, porque não podemos desco:
brir onde ellas se eticontravam. Só aproveitamos o encurtamento
da estrada e as vantagens das bicas em outras viagens que rea-
lisamos. Passamos o "UARREIRO", o "PIRAPUCU" e fo-
mos dormir no "CORE"'. Na manhã seguinte nos mostraram n
bica sobre o Coré e podemos aproveital-a para ganhar tempo
na passagem desse corrego, pois de outra forma teríamos qiir
ficar ali mais de tres horas até conseguirnios varar as duas mar-
gens atoladiças.
Em um grande campo que atravessavamos, perdemos a ba-
tida. A niasséga era alta e como não sahira, descoberto, o sól,
eis-nos perdidos. Sabiamos pelo por do só1 onde ficava Miranda,
e á noite, pelo Cruzeiro, tambem nos orientámos no caso de ter-
mos de romper á pé, mas o que não sabiamos, era onde ficav?
o tal "SERRADINHO" que deviamos attingir. No dia seguili-
te, o sol nos mostrou a batida no campo, pois que o capim amac-
sado tem uma cor differente quando sob a luz forte, tornando-s,:
perceptivel, Entrámos no rasto e tocámos. A fome com o dia dc
atrazo já estava se fazendo sentir. O Villaboim já havia cobi-
çado um churrasco de uma vitella gorda que vimos no campo.
Para maior segurança, aconselhados pelo guia, entramos no ca-
minho velho e depois de subir uma serra medonha, fomos dar
na fazenda do Sr. Argemiro. Muito amavel, nos cedeu um bu-
gre para indicar o caminho atravez d'um campo onde havia
muita pedra por baixo do capim alto. Fomos muito devagarzi-
nho. O indio ia na frente. "Por aqui" dizia elle, "que já não
hái mai peda". Fizemos a manobra e. . . zás. Foi a conta. S6
faltava, com certeza aquella pedra! Capim alto, quasi todo de
mais de um metro ; a pedra, um pouco mais alta que o eixo ! Fe-
Iizmente iamos em marcha moderadissima.
Conseguimos ir adeante com uma roda, sem pneumatico e
muito torcida para dentro. Avançávamos muito vagarosamente,
até que afinal chegamos ao Serradinho, onde o Simplicio, nos
indicou o resto do caminho. Atravessamos então o "FORMO-
SO" e lindos campos, para irmos ter ao VICTORIO. Ahi, já
iamos com o garfo quebrado e quasi sem direcção. Encontramos
então, e que achado! O fbrd dos Rebuá, Francisco e Angelo,
que vinham ao nosso encontro. Deixamos o bugre Ozorio e o
soldado e passamo-nos para o double phaeton. Anoiteceu nos
campos do "BETIONE", uma grande fazenda do Governo.
Campos excellentes, mas acreditamos, que da area collossal que
era, pouco terá o governo quando der fé do tesouro que esti
abandonado. Está cheia de intrusos que queimam os campos e
estragam as mattas. Dormimos ahi mais uma noite que não fi-
gurava no programma, porque devido á escuridão não foi pos-
sivel encontrar o caminho que fraldeia o morro do Betione.
Só com o clarear do dia achamos o trilho atravez de Pan-
tanal que estava secco, podendo assim chegar ao rio Miranda,
que atravessamos em uma balsa de duas canoas.
Passa-se entãp perto da aldeia dos indios do Bananal, indios
Cadiuéos que o Serviço de Proteção ahi localisou, a cerca de 6
kilometros da estação de Taunay, da linha Noroeste, para depois
chegarmos finalmente á cidade de Miranda. Esta parte do pan-
tanal só serve como estrada na epoca da secca. A Commissão
Rondon estava levantando o nivel de accesso ao rio, realisação
esta que virá favorecer esta estrada, que sem duvida é a mais
rapida comn~unicaçãopara Bella Vista, porque a não ser o pe-
daço do pantanal, ella corre toda no espigão, despontando cabe-
ceiras, em terrenos firmes, livrando assim o viajante das trai-
çoeiras encostas que margeiam as nascentes. H a panoramas bela
lissimos e anda-se muitas vezes sobre pedra calcares. Fomos os
primeiros a fazer em automovel viagem completa pela estrada
nova.
Varias outras viagens, tivemos occasião de fazer, depois
desta, já como conhecedores ou vaqueanos dessa estrada, sendo
que uma dellas, ida e volta, em companhia do general Rondon.
Sahimos de Miranda ás 2 horas da tarde de uma quinta feira
e estavamos de volta a Miranda ás 11 da manhã do sabbado!
Com o general viaja-se tanto a noite como de dia. (Terei op-
portunidade de relatar esta viagem em outro trabalho).

O HOMEM - A LINGUA - A VIDA NA FRONTEIRA

Dos typos de brazileiro, o que predomina e logo se torna


evidente, pelo falar, pelo agir, por tudo emfim, é o "guasca".
GUASCA é o rio-grandense da fronteira. Todo habitante
do sul de Matto Grosso, se não fala correntemente o guarany,
fala um pouco, e se fez comprehender nessa lingua. Assim tem
que ser, porque quaii todo camarada das fazendas, campeiros,
carreiras, etc. são paraguayos.
Pela razão' que acima relatamos é que a linguagem esta
cheia de termos gaúchos, guaranys e castelhanos.
A vida da fronteira obedece portanto a uma confraterni-
sação de brasileiros e paraguayos que viajam livremente pelo
Brasil ou pelo Paraguay. Em Ponta Poran onde a fronteira é
secca, isto é, a linha divisoria passa pelo centro de uma rua,
Avenida Internacional, se vêm taboletas em portugues de um
lado e em castelhano do outro. Nas duas cidades, Pohta Poran e
Pedro Juan Caballero, os habitantes vivem a mesma vida, par-
tilham as mesmas alegrias e os mesmos pezares.
A hospitalidade dos habitantes do sul de Matto Grosso é
um facto. Quem ahi viaja sempre encontra um pouse, um tecto
onde abrigar-se. Dão o que teem e de accordo com os recursos
que possuem. Quem já é conhecido, então está feiiz: 6 da casa.
Passamos a relatar alguns apontamentos que tomamos sobre
os costumes, a linguagem, a hospitalidade, os recursos e a vida
da Fronteira.
O PEAO PARAGUAYO. (Peão quer dizer camarada).
Sobre o fundo verde do campo e O horizonte azul, lá está
um ponto vermelho. E' um paraguayo que vem vindo com o
seu "puitã". Quer isto dizer vermelho em guarany, mas tam-
bem se refere aos ponchos de baeta dessa cor, que elles usam.
Cavalga um bom animal.
Aquelle poncho é o seu sobretudo, sua capa de borracha
e o seu cobertor. Cabelleira comprida, um chapéo de palha, pe-
queno para a cabeça, seguro por um fio fino, quasi invisivel,
que passa por baixo do queixo.
Tez bronzeada, cabe110 preto, liso e grosso como os dos
nossos indios. Traja "Xiripá" que vem a ser uma especie de
fralda grande e larga, amarrada na cintura. A parte das per-
nas que sae fora do xiripá, apparece vestida pelas ceroulas. An-
da descalto, mas usa perneiras de couro muito macio e ajusta-
das nas pernas. Meio de banda, um avental de couro de cervo,
com franja, a que dão o nome de "tirador". Do lado da cintu-
ra um revolver 44, e a cinta cheia de balas. Um saquinho onde
leva milho, herva matte e um pedaço de xarque. As vezes, é
tudo quanto elle possue na vida, aqui110 que ali está! Tem-se
a impressão do homem livre. Elle é gentil e amavel ao trato.
Prefere trabalhar sempre montado. E' bem mandado, obediente,
forte por natureza.
44
E' o calibre que por muito tempo ditou ia lei e ainda con-
tinua a dital-a em muitos lugares, de accordo tom o seu para-
grapho unico. Como sabem atirar! Em dous annos foram mor-
h s 49 pessoas em uma cidade dnde estivemos. Cremos, que pou-
cos foram os que levaram mais de um tiro para embarcarem
desta para a melhor. (Ou peior, segundo o caso).
Felizmente os costumes teem sido muito modificados, e au-
toridades mais energicas e sensatas, teem posto paradeiro aos
abusos e tropelias, que eram quasi que diarios. Havia noites que
pareciam um constante festejar São João. Podemos entretanto
zsseverar que nunca soubemos de um assalto para roubar, ape-
zar de serem demasiadamente conhecidas as pessoas que viaja-
vam com enormes quantias, como eram as que mensalmente :i
Constructora pagava, quatrocentos a quinhentos contos. Chega-
mos tambem a outra conclusão : Não vale a pena carregar o peso
de um revolver e de 25 balas em uma cinta, com o fim de evi-
tar uma aggressão, pois que rarámente ella tem sido feita com
mais de uma bala, e quasi sempre. . . na cabeça !
E' interessante que nunca vimos pessoa alguma das que vi-
vem pelo nosso Far West, que atirasse como os cow boys ame-
ricano o fazem. Não, como os das fitas cinematographicas, mas
como os verdadeiros cow boys do Texas, de Arkansas, Arizona,
ou de Nevada.
Lá, quando um homem do campo compra uma arma, a pri-
meira cousa que faz é por fóra de funccionamento a mola que
trabalha o gatilho. Nenhum bom atirador-cow boy dá tiros pu-
xando o gatilho da arma. Todos elles usam o cão. Quando a arma
sae da sacóla para ser usada, especialmente entre homens que
sabem atirar, uma fracção de segundo que se pérca, vale a sal-
vação ou a perda da vida. Quem puxa o gatilho, por mais bran-
do que elle seja, não só perde tempo como treme a pontaria,
ao passo que soltar o cão da arma que está apoiádo no dedo
grande da mão com que se atira, é uma operação rapidissima.
Eis ahi uma cousa que pouca gente terá notado, mesmo muitas
que estiveram na America.

O CACHORRO

Este anima1 passa no campo a 'ser vegetariano l Sim senhor.


Come milho cosida e de carne elle só arranja o que caça ou al-
gum boi doente. Assim é que vimos certa vez enxotarem u m ca-
chorro gritando-lhe : " Sae vegetariano !" Coitado. Estava pelle
e -osso.

MEIA AGUA

Dizem que o guasca não passa sem um telhadinho de meia


agua. De facto, reparem na fronteira, que a casa do guasca por
mais arranjado que elle seja, dá um geitinho de ter sempre um
puchado com telhado "meia agua".

MORDEU NO F R E I O

Este é o dito gaúcho para dizer que o camarada está tiri-


rica ou deu o estrilo: "rabio-se". Mordeu no freio, damnou-se.
mas aguentou a piáda, a indirecta ou a desfeita que lhe foi feita,
sem retrucar.

MANGUEIRA GRANDE.. . POUCO GADO

Assim é que dizem elles com desconfiança do camarada que


conta grandezas, riquezas, propriedades, e quando se verifica,
o sujeito não tem nada. Mangueira grande.. . Pouco gado!

E N T R E BUYES NO HAY CORNADAS

Esta é a frase usada quando se referem a desavenças entre


os do mesmo partido, parentes etc. São todos estes ditos, como
se vê, do homem do campo, mas não deixam de ser interessan-
tes pela revelação de intelligencia que em cada um delles se as-
simila.
APURADO.. .

Logo que se chega a Matto Grosso, nota-se o vasto emprego


desta palavra. Todo o mundo está apurádo. Não é apurádo no
sentido de purificado, esmerado, aperfeiçoado como nós outros
o ,empregamos. E' o apurado do castelhano, que significa que
está com préssa para desempenhar alguma incumbencia. Certa
vez necessitavamos um portador afim de levar um recado. Elle
ia começar a fazer um grande cigarro de palha, desses em que
entre o tempo para confeccional-o e fumar, mata-se um bom
pedaço do dia. Offerecemos ao cidadão um nota de 5$000 para
que desempenhasse o serviço que necessitavamos, mas a resposta
foi: "Estou apurado hoje, não posso".
Acabou de fazer o cigarro, fumou-o todo e continuo ali até
o resto do dia, donde concluimos, que mesmo á voz de traba-
lho pago, elle estava sempre apurádo.

NAVEGAR

As carretas "navegam" de Campo Grande para Ponta Po-


ran e, de facto, o termo não é muito errado, porque quem "tir,i
rumos" no campo, com o fim de viajar, não faz nada mais do
que uma "navegação" naquelles immensos mares de verdura.

BOLICHO

Outro termo muito empregado em Matto Grosso para de-


signar qualquer casa de negocio, especialmente aquellas a beira
das estradas. Como se vê, é tirado do castelhano e usado corren-
temente na conversação entre matogrossenses.

ATACA

Diz-se aqui por exemplo: "Xê! O atolero da Djurema está


atacando os auto !" Achamos curiosissimo esse termo e ficamos
na duvida si elle terá sido tirado do italiano de "attacare" gru-
dar, Segurar, prender, ou si do proprio portugues no sentido de
ataque, luta entre o barro e as rodas do auto, naturalmente com
um vencedor, e testemunhada pela paciente ou impaciente tor-
cida dos passageiros. . .
PEDINDO UM AUTO!

"Então amigo, que tal está a estrada lá para baixo da ser-


ra?" - "Tá pediiiindo um auto !"
Pensará o leitor que está magnifica? Qual! Está, mas e
pedindo um auto para lá ficar enterrádo no barro.

A HOSPITALIDADE

Para falar sobre este assumpto tomaremos dois exemplos


que caracterisam a casa da fazenda brasileira e a hospitalidade
do fazendeiro mattogrossense. A fazenda São Bento, do coro-
nel Porphyrio de Brito e a fazenda Machorra do velho gaucho
Hortencio Escobar. Quem é que.passou uma vez que seja por
essas duas fazendas, sem que tenha conservado gravado na me-
moria a gentileza e a affabilidade das familias desses velhos
povoadores dessas zonas ?
Ali se descança da jornada; encontra-se um café quentinho,
um leite saboroso, umas laranjas doces, um queijo fresquinho,
um almoço ou um jantar á brasileira, uma rede branca para dor-
mir. . . saboreando antes uma palestra interessante sobre os tem-
pos passados, quando o coronel veio, inda muito pequeno, coni
seus paes, lá do interior de Minas Geraes, ou quando o velho
Escobar atravessou o Paraguay, vindo das cochilas do sul!
Não podemos deixar de mencionar tambem as casas de Ar-
thur Campos, gaucho até a raiz dos cabellos, morador na cabe-
ceira do Apa, agente do correio e estanceiro; e a casa do velho
paulista coronel Justina Leite, (1) que ha mais de 40 annos,
veio de Faxina para baixo da serra de Maracajú, a sete leguas
de Bella Vista, onde possue bellissimos campos de grama e gado
muito gordo. Casou-se com D. Anna Rosa, irmã de Clemente
Barbosa e da grande brazileira D. Senliorinha Lopes a esposa
do saudoso Guia Lopes.

(1) Fallecido em 1947.


Finalmente, não poderiamos terminar sem falar em Cle-
mente Barbosa ( 2 ) um dos mais velhos fazendeiros do Sul.
~escendetltedos velhos Barbosas, que encheram paginas de pa.
triotismo com os actos praticados na guerra de 65, e dissemi-
nados por todo o sul do estado de Matto Grosso. Foi o velho
Clemente, cunhado do Guia Lopes, José Francisco Lopes, por-
que era irmão de D. Senhorinha Maria da Conceição Lopes
Foi levado captivo pelas hostes paraguayas que invadiram o sul
da então provincia, e até hoje, para quem tiver o prazer de ou-
vil-o, fala com rancor dos maus tratos que lhe infligiram. O ve-
lho Clemente fornece um vasto numero de historias passadas
com elle e que são conhecidas por Matto Grosso afóra.
Clemente é riquissimo. Possue todo dinheiro em libras es-
terlinas, porque prefere trocar o producto da venda do gado,
por dinheiro certo, e que não perde valor. Clemente trata a to-
dos por "companheiro".
- Contam que quando o bispo D. Aquino, era presidente
do Estado, fez uma excursão tendo passado pela fazenda do nos-
so hamem. Elle lá estava á porta da casa, e com a familiaridade
de sempre, foi gritando ao bispo que chegavai "Apeie compa-
nhero I Apeie! eu já vi pela saia que voce é o bispo!"
- A noite, elle cedeu o catre de couro para o bispo, e fa-
zendo-lhe ver alguem, que havia oiitros padres sem cama, elle
retrucou: Qual, padre é peão de bispo; tem muito couro esten.
dido ahi no chão".
- Pela manhã alguem da comitiva, gabou as laranjas do
pomar, dizendo que er&mdoces e tão amarellinhas, ao que o nos-
so Clemente respondeu: "E' companhero, porque tem muita li-
bra enterráda nas raiz".
- Comprou elle umas terras e disseram-nos que emquanto
o negocio estava vae não vae, elle exclamou decididamente, que
só comprava com uma condição: Pagamento em libras e havia
de ser a 25$000 cada uma. Elle talvez as houvesse trocado a

(2) Covardemente degolado em 1928, por 12 bandidos assctltantes de sua


fazenda. Morreu dando provas da fibra mascula dos Barbozar.
muito menos do que isso, quem sabe ha quantos annos. O ven-
dedor que estava ao par do cambio, resingou um pouco e afi-,
nal. . . cedeu. Contam que só na dif ferença elle ganhou cerca
de oitenta contos, mas que Clemente Barboza, tambem ficou
satisfeito.
Uma vez, fomos forçados, devido a uma fortissmia chuva,
a pedir pouso na fazenda do Clemente. Ainda não o conhecia-
mos
Paramos o Ford na porteira e fomos até a casa, onde muito
gentilmente pedimos pousada. Como tinha elle sido victima de
muitos assaltos e roubos, e não nos conhecendo, disse muito sec-
amente, que podiarnos pousar, mas que seria lá em baixo do te-
Lheiro, onde estavam os carros, e si quizessemos. Passamos um
frio damnado e durante todo o tempo fomos contemplados com
o perfume intoleravel de uns couros crús que estavam espetádos
em varas, para secar.
De volta á Campo Grande, contámos o que nos succedera.
ao nosso compadre Luiz. Este deu boas gargaglhadas e nos dis-
se então, que o Cleme~tegostava de gente que falava com au-
toridade, que isso de pedir por favor e fazer cerimonia nâo era
com elle. Gostava de gente que ia chegando, entrando pela casa
a dentro, batendo-lhe nas costas e escolhendo cama ou local para
armar a rede.
Na proxima viagem, quando por lá passamos, puzémos em
pratica a licção recebida, e foi com grande satisfação que a vi-
mos confirmada. D'ahi por deante, Clemente ficou camarada.
Elle gostava de gente que falasse grosso !

CASA DE MATERIAL

Na fronteira, madeira não é material ! Casa de material sb


se chama as que têm alvenaria de tijolos ou pedra.
I
DINHEIRO

Em Ponta Poran como em Pedro Juan, corre dinheiro bra-


sileiro e paraguayo. Em Bella Vista já não se dá esse facto,
porque as duas povoações são separadas pelo rio Apa, e o lado
paraguayo é muito pequeno e despido de recursos. H a occasiões
em que a nota de menor valor que existe na praça é 5$000. O
troco é muito escasso. Um mil reis brasileiro, que hoje em dia
é quasi nada, vale 6 á 7 pesos paraguayos. Assim é que quando
se compra um chapéo ou algum nhanduty (nhandú é aranha, tv
C: trabalho tecido, donde nhandut) vem a ser a tão conhecida
renda guarany, um primor de paciencia) o brasileiro, que não
está acostumado, se espanta quanto lhe dizem o numero de pesos
que custa o objecto. E' peso que não acaba mais.

EGREJAS

H a ausencia completa de egrejas, tanto de um lado com:,


do outro. E' esse um facto, que infelizmente, impressiona pro-
fundamente o viajante que visita as duas povoações. Seria de
acreditar, que tão longe dos centros populosos houvesse neces-
sidade do conforto christão áquelles que passam por tão duras
~rovaçõese que na grandiosidade de tudo que lhes está ao re-
dór, podessem em uma egreja, agradecer ao Creador que cer-
tamente era tambem o Deus. de seus antepassados.
I

GENEROS NO COMMERCIO

Quasi tudo que existe a venda em ambos os lados, Brasil c


I'araguay, são exclusivamente productos brasileiros, paulistas
lia maior parte: phosphoros, banha, tecidos, conservas, ferra-
gens, perfumes, etc. Do lado paraguayo encontram-se muito
boas sedas, conservas, licores extrangeiros, ferragens e perfu-
mes extrangeiros. Muitas casas paraguayas se abastecem de tu-
.do via Campo Grande, que como sabemos está a 4 dias da ca-
pita1 paulista. Do Paraguay recebemos muito sal, alfafa e aguar-
dente. As tarifas e impostos são muito baixos, tudo lá, é apeza:
do numero de pesos, muito mais barata do que no Brasil.
Em Ponta Poran, uma cerveja Hamburgueza, da Antarcti-
ca, custa 2$500 a garrafa. E' uma barbaridade, mas quando o
camarada, tiver feito a viagem e ficar sabendo o que aquella gar-
rafinha andou até chegar lá. . . elle acha aqui110 baratinho !

UM POUQUINHO D E HISTORIA E GEOGRAPHIA

Pelo tratado da Triplice' Alliança firmado em 1 de Maio


1864 entre os plenipotenciarios do Brasil, Uruguay e Rep. Ar-
gentina, respectivamente Dr. D. F. Octaviano de Almeida Rosa,
Don Carlos de Castro e Don Rufino Elizalde, foram combinadas
varias medidas em seus 19 artigos, e no artigo 16 figura o se-
guinte :
"Com o fim de evitar discussóes e guerras que podem oc-
casionar as questões de limites, fica estabelecido que os alliados
exigirão do governo do Paraguay que em o tratado de limites
com seus respectivos governos se guardem as seguintes bases :
1. - A Rep. Argentina se dividirá da Rep. do Paraguay
pelos rios Paraná e Paraguay até a confluencia dos limites do
Imperio do Brasil, sendo estes sobre a margem direita do rio
Paraguay, a Bahia Negra.
2. - O Imperio do Brasil dividir-se-ha com a Rep. do Pa-
raguay, no lado do Paraná, pelo primeiro rio mais abaixo do
Salto das 7 Quedas, o qual segundo o recente mappa de MAN-
CHEZ, é o Ygurey, e da bocca do Ygurey seguindo o seu curso
rio acima até attingir suas nascentes.
Do lado da margem esquerda do Paraguay, pelo rio Apa.
desde a sua embocadura até suas nascentes. No interior, os
cumes das montanhas de MARACAJU; as vertentes para Éste
pertencem ao Brasil e as de Oeste ao Paraguay, traçando-se li-
nhas rectas tanto quanto seja possivel desde a dita serra ás nas-
centes do Apa e do Ygurey.
O TRATADO D E 9 D E JANEIRO D E 1872 f 'IXOU a
divisoria com o Paraguay, con~eçandono Salto Grande das 7
Quédas no rio Paraná, continuando pela serra de Maracajú até
serra Amambahy que defronta com as cabeceiras do Riacho
ESTRELLA, pelo qual desce até sua confluencia com o Apa
e por este abaixo até sua foz no Paraguay e por este, agua aci-
ma pela margem direita, ao desaguadouro Bahia Negra.

H E N R I Q U E MARTINS, lente cathedratico da Escola


Militar do Brasil, em sua Chorographia do Brasil 6.a Edição
adoptada no Gymnasio Nacional, na parte em que se refere a li-
mites com o Paraguay, diz:
"Pelos alveos do rio Paraná, na foz do Yguassu, até o Sal-
to Grande das 7 quedas; d'ahi pelo mais alto da serra de Ma-
racaju até onde ella finda; segue em linha recta ou que mais
se approxima pelos terrenos mais elevados até encontrar a serra
do AMAMBAHY; continua pelo mais alto desta serra até a
principal nascente d o rio Apa (Estrella) e pelo alveo deste até
sua foz no Rio Paraguay".
Como sabe todo mundo que viaja de Campo Grande para
Ponta Poran, o lugar chamado Cabeceira do Apa, onde existe
mesmo uma Agencia do Correio com esse nome, não é a cabe-
ceira do Apa, e sim do corrego SAMAMBAIA. A cabeceira do
Apa, fica no lugar conhecido por Estrella, onde existe uma por-
teira, do nosso lado uma casa de guarda, um marco desmoro-
nado e do lado paraguayo a casa dos Irmãos Quevedos.
Depois vem a cabeceira do Estrella e mais além, seguindo-se
em direcção a Ponta Poran, passa-se pela cabeceira do AQUT-
DABAM.
-DIZEM O S PARAGUAYOS, que a Commissão que
traçou os limites baseada na theoria de que o rio de maior volu-
me devia serFoApa, traçou o limite pelo ESTRELLA, ficando
elíes, prejudicados na area do territorio entre o Apa e o Estrella.
Ha uma confusão enorme nos mappas que temos, consul-
tado, sendo necessario que uma repartição official se incumba
de fiscalisar a confecção dessas cartas, que servem para dar mo-
tivos a interpretações erroneas, uma vez que não se tenha a mão
uma copia do texto do tratado de limites. Pelo Mappa da carta
Geographica organisado pela Commissão RONDON, parece, de
facto, que existe h ã o do lado paraguayo, pois que bem claro
vamos ler o nome do rio Apa correndo inteiramente em terri-
torio brasileiro, depois da desembocadura do Estrella e o limite
traçado claramente pelo rio Estrella.
Verificamos pelas palavras do tratado que está absoluta-
mente correcto. O ESTRELLA é limite do Brasil, como o 6
o Apa. E' preciso que se corrijam todos os mapas que dão só-
mente o Apa como limite fluvial, a menos que se queira chamar
o Estrella de Apa, mas neste caso o outro braço do rio, aquelle
que chamamos sempre de Apa e que corre em territorio brasi-
leiro, que nome terá?
No mappa que figura no livro de Virgilio Correa Filho
sobre o estado de hlatto Grosso, copia da Carta Synthetica de
Matto Grosso, feito em 1921 (diz-se) sob a direcção do Gal.
Candido Mariano da Silva RONDON, poderemos verificar que
acima do que figura como o rio .4pa, fazendo limite, existe ou-
tro, inteiramente em desaccordo com o mappa da carta GEO-
GRAPHICA DA COMMISSAO RONDON. Que rio serR
esse ?
- No mappa que figura no livro da RETIRADA DA LA-
GUNA o limite com o Paraguay ao sul, está feito pelo rio YGU-
R E Y e nãb pelo mais alto da serra Maracaju como reza o trata-
do, e no ponto que estamos discutindo, o rio ficou tambem den-
tro do Brasil e o limite está pelo ESTRELLA com o nome de
Apa-mi, quando o Apa-mi, já tivemos a occasião de atraves-
sal-o, sobre uma ponte, quando fizemos nossa excursão ao ponto
extremo a que attingiram nossos soldados da Retirada, fica a
alguns kilometros distante de Bella Vista paraguaya, portanto
no interior .do Paraguay. E' affluente da margem esquerda do
Apa, depois da confluencia deste com o Estrella, figurando nes-
se mappa, dentro do Brasil, com o Estrella.
O JORNAL DO BRASIL, organisou um mappa geral do
Brasil para commemorar o Centenario em 1922. O limite com
o Paraguay figura como sendo o Apa, que verdadeiramente está
dentro de territorio brasileiro e o Estrella esta todo em terri-
tòrio paraguayo, aliás como elles reclamam que deveria ser.. .
mas em desaccordo com o tratado de 1872.
Aqui mesmo, no Instituto temos o mappa de E. LE-
VASSEUR, Pariz 1904 e outro de 1886, em que os limites, sáo
pelo Iguatemi, em frente ao salto das Sete Quedas, pela cor-
dilheira AMAMBAHY, pelo rio Apa!!. . . Não dá o rio Eç-
trella e sim figura um Apa "de cima" dentro do Brasil.
Temos tambem a Carta da Viação Ferrea dos EE.
UU. do Brasil 1909 feita sob os cuidados do Dr. Miguel Calmon
du Pin e Almeida. Limites : Iguassú ; Paraná ; deixa o Igurey
dentro do Paraguay e passa entre PIRATY e IGUATEMY;
sóbe serra AMAMBAHY e pelo Apa abaixo sem figurar u
galho "Estrella". Nota-se que o Apa corre mais ou menos pa-
rallello aos parallellos, e depois pelo rio Paraguay até Puerto
Pacheco.
A Carta da Provincia de Matto Grosso, por ANTONIO
PIMENTA BUENO, de 1880, dá, correctamente o limite,
nesse ponto como sendo o Estrella e depois deste desaguar no
Apa, segue por esse abaixo, até o Paraguay. Figura tarnbem
correctamente um galho do Apa inteiramente dentro do Brasil.
Este mappa e o da Commissão Rondon, são os unicos que en-
contramos figurando como limites áquelles que estão determi-
nados no tratado de limites com o Paraguay, feito em 1872.
I

CONFRATERNISAÇAO

Como já tivemos occasião de dizer, as duas povoações vi-


vem muito amigas, sem entretanto perderem respectivamente c
seu cunho nacional. Ao contrario, cada qual se esmera em ser
o *que é.
Uma cousa notamos, e com pezar ; é que as escolas no lado
paraguayo são mais numerosas e muito mais frequentadas do
que as nossas. Em Bella Vista, segundo ali nos informaram.
houve um tempo em que não existia escola no Brazil! Tivemos
occasião de presenciar filhos de paraguayos, moradores em Bel-
Ia Vista brasileira atravessarem gratis nas canoas paraguayas do
rio Apa, para irem as aulas das escolas em Bella Vista para-
guaya. O governo do Paraguay prohibiu que se fale guarany no
exercito e nas escolas. Uma cousa se ngta no paraguayo, uma
vez que se está mais em contacto com esse povo valente. E' o seli
desmedido patriotismo e a sua resignação ao soffrimento. Ahi
está como prova o facto, de que entre elles só se fala o guara-
ny, e agora que é prohibido nas escolas, são as mães paraguayas
que ensinam aos seus filhos, para que elles nunca esqueçam e
nunca desappareça o idioma nacional, tão lindo,, tão masculo,
tão poetico, e no qual, em sua simplicidade e pobreza se podem
dizer cousas tão lindas.
Damos abaixo uma pequena resenha de palavras e phrases
guaranys mais necessarias para quem viaja pela Fronteira. A
lingua guarany é pobre em numero de palavras, a começar pela
contagem. Só contam em guarany até quatro, e dahi para deantc
usam os termos castelhanos, como tambern enxertam a conver-
sação com todas as palavras castelhanas que exprimem cousas
para as quaes não existem palavras em guarany.
A pronuncia gutural e nasal do som, por exemplo, da pa-
lavra - hy - (agua) é muito dificil, e só depois de muita pra-
tica se pode chegar a pronuncial-a correctarnente. Assim com!,
para nós é facil conhecer o hespanhol quando diz a palavra fa-
rinha, elles conhecem o extrangeiro pela terminação y ou hy.
Procuramos exprimir com nossas letras, o mais approxi-
mado possivel, a pronuncia das palavras em guarany, sendo que
o som gutural será representado por i pronunciado entre o u
e o a fechado.

O j tem a pronuncia hespanhola dessa letra.


Um - Peteín
Dois - Mocôin
Tres - Bojápuê
Quatro - Irundê
Sim - A'ê
Não - Ajaneri
Obrigado - Astimandevi
Não ha, não tem - Dai pôre
Não sei - Dai kuái
Senhor - Carái
Menina - Mitá nbáê
Mulher - Cunhã
Moça - Cunhãtáí
Como vae o senhor? - Báê tchápá réicô carái?
Vou bem e voce? - Aicô porá, andê ?
Bonito, bom - porá ou poran
Feio - Iváí
Muito - Itêrêí
Frio - R6 á
Quente, calor - Acíi
Doente - Acê
Branco, a - Morôtí
Preto, a - Hún
Vermelho, a - Puintã
Mentira - Japú
Esta bom, gostoso - Hé catú
Olhos rasgados - Sásóró
Negro - Cambá
Meu nego - Cêcamba
Mais ou menos - Vahi vahí
Vamos comer - Dgiá-á iácarú
, Eu quero - Ai potá
Quero fumar - Chê pitá
Fogo - T+tá
Na sua casa - Ndê óg apé
Vamos passeiar - Dgiá-á iaguátá
Talvez, quem sabe - Icatú
Vá passeiar - Terejió eguatá
Hontem - Cuê jé
Ante hontem - Cuê j é ambué
Atras - Cupé
Porco - Curé
Cachorro - Iá guá
Que já foi - Cuê
Hoje - Angé
Cuidado - Amangá
Cabeça - Acâ
Cabeça inchada - Acâ rúrú
Tens salero - Igiucu
Tens lindos olhos - Iporá ndêrqá
Bocca bonita - Ndêdgiorú iporã
Es linda - Ndê porá
Vamos para casa - Dgiá á ógape
Herva matte - Cá â
Matto - Cáu-i-pe
Chá de matte - Cá ê
Estou brincando contigo - Apocacê ndêrejê
Um pouquinho - Mi xi mí
A terminação - Mi corresponde á Inho, inha.

Damos aqui, para mostrar a doçura da lingua guarany O


que escutamos cantar em 7 de Março de 1923 em Pedro Juan

És tu rosada, fresca sonrrisa


Un aprasible Coenzbotá (Amanhecer, madrugada)
Y són tus labiós y tus mejillas
Un rosagante clave1 puintã. (Cravo vermelho)

T u faz sedefia amada mia


Es misterioso triste dási (Lua)
Tus ojos negros ipnotizantes
Tienen fulgores de1 Cuaraci (Sol)

Yo te amo tanto, bien de mi vida


Mi inolvidable Tupá s k i (Virgenzinha)
Ven a mis brazos, sé cariííosa
Que ya no puedo vivir sin ti.

Siernpre te busco com vano empeiío


En esas oras de Caárú (Cahir da tarde)
Quando, Mimosa, me modulabas
La cantilena Xe rôjayjú. (Eu te amo)

Recuerda niiía e1 pobre ausente


A este negrito Ndêraijújá (Este que te ama)
Que te ha dejádo toda llorosa .
En un temprano Coembotá. (Madrugada).
E X C U R S I O N A N D O ...
PELO

DR. AFFONSO DE FREITAS JUNIOR +

(SOCIO EFFECTIVO E ORADOR OFFICIAL DO INSTITUTO>


EXCURSIONANDO.. .
PRIMEIRA EXCURSÃO

(7 DE SETEMBRO DE 1926)

ANHAN clara de Setembro: nem fria, nem


quente; fresca, suave e aromatica como as ma-
nhans primaveris de nossa terra. A gaze tenuis-
sima da cerração matutina adelgaça-se, esbate-
se e somme, mostrando-se o céu de cor rosea-
azulado, ,dedavado, desbotado, como lilazes des-
abrochadas aos primeiros beijos do sol. A vista
espraia-se na contemplação da paysagem rebri-
Ihante como a de um esmalte de Limoges. A manhan é de
Setembro: de 7 de Setembro, data gloriosa que engalana a
alma brasileira e todas as cidades do paiz 0nd.e panejam ban-
deiras desfraldadas.
Inicia-se a excursão. O automovel ronca, buzina e parte.
Roda, corre, quasi voa.
A estrada, cor de ocre, 'serpenteia pela immmsidade verde
dos campos; sóbe as lombadas dos morros; desce os declives
das collinas; desenrola-se em aterros pelos tabuóes de aguas
1A encrespadas pelas virações; corta mattagaes sombrios, em-
b - maranhados e verdejantes, de velhas arvores esgalhadas e
musgosas onde zumbem mosquitos e tatalam enxames de bor-
boletas azues; atravessa clareiras, abertas como claraboias
t no recesso da matta, perfumadas pelo cheiro forte dos bal-
samos, dos oleos e das resinas vegetaes. Passa nas lufadas de
i vento a fragancia perfumosa, rescendida da matta, das flores
f roxas do manacá. Fréchas de luz riscam de ouro o ambito
verde-negro de verdura. Cuitelos fendem o espaço como re-
k lampagos. Resoa o canto longinquo (do Paulo-pires.
k A soberba vegetação, abundantissima em jacarandá-
i rosa, oleo-vermelho, sassafraz, cedro, jequitibá, canella de
veado, sucupira, aroeira rajada, crissiuma e páo d'alho, in-
i dica á vista atilada e experiente do caboclo, pela differença
i das especies arboreas, a qualidade superior da terra de cul-
tura. E' assim que Jéca conhece a terra - olhando a matta.
Jéca não percisa de analyse chimica ou geognostica.. .
E o auto trepidando, roncando, buzinando, em vertigi-
%

b
nosa carreira, vae "chispando" pela estrada a fóra. As pay-
sagens desfilam aos olhos do excursionista como em téla
cinematographica - rapidamente.
P. Ladeando a estrada, estirada nas elevaçóes do planalto,
dilatam-se campos akarellentos, cobertos de cupins e entou-
I
cerados de barbas de bode e indaiás. Descortinam-se, do es-
[ pigão, planicies verdes extensissimas e as mais longinquas
t raias do horizonte recortado pela linha sinuosa de montanhas
I violaceas.
I - A rgdovia sempre plana convida a corridas desenfrea-
i das. Não ha impecilhos. Rarissimas são as porteiras. Substi-
tuem-nas os mataburros de grade.
X
i Galgando distancias, em furiosa disparada, o auto abre
k caminho, fonfoneando, por entre povoados. Passa o primeiro.
, Piragibú de cima. (*) Rancharia de barro e sapé. Meia duzia

t >C') Piragilu' de Cima e Cajuru', povoados na comarca de So-


; rocaba.

I
i

h
de bibocas de lado a lado da estrada. Uma capellinha branca,
Um coreto enfeitado de bandeirolas de papel multicor. Uma
paineiro velha sorrindo em flores cor de rosa.. . Um carro
de bois, de roda quebrada, com um caboclo meio sentado,
meio de cócoras, picando o rolete de fumo. Caipirada de ar
aparvalhado espia da porta, espia da janella, espia atraz um
.
do outro. . Caipira não olha.. . espia ! Creanças matutas,
magricellas e atarantadas, agarram-se ás saias de chita das
mães. As mães fingem que não vêem.. . mas espiam "de
banda". A cachorrada ladrando dispara em corrida atraz di,
auto. Gallinhas voam em torvelinho esvoaçando pennas brancas
pelo ar. Porcos e leitões grunindo fogem do caminho. Cabras
espirrando e cabritos aos pinotes, trepam pelos barrancos ver-
melhos. Um gato magro, secco, arrepiado, gato de caboclo,
com o rabo espetado para o ar, atravessa a estrada como um
corisco.. . excomrnungando a sorte, maldizendo da vida!
E o auto roncando sempre. Roncando e ,"chispando".
Corre pelos campos. Passa o segundo povoado. Cajuru'. E'
como o primeiro. Ranchos caipiras, cachorros escanzelados,
gatos esfomeados, leitóesinhos chorões.. .
Numa volta de estrada surge inopinadamente um phan-
tasma.. . Um phantasma não. Um espantalho de tico-tico.. .
Tambem não. Um maturrango de barbicha esfarripada caval-
gando seu matungo! Alto como um arganaz, magro como
um arenque. Arqueia valentemente as compridas pernas pela
pança do cavallicoque. Não vá o lazarento passarinhá á pas-
sagem da bicha que vem "trovejando"!. . . Passa o auto
como uma bala levantando o poeirão da estrada. E somme o
Jéca "apurado7' com o tordio na nuvem de pó.
Do alto duma collina divisa-se o casario duma cidade.
E' Itú, Itú, a bandeirante. Itú, a fidelissima, Itú, a republi-
cana. Bem lhe assentam o gibão d'armas e o barrete phrygio.
Bem lhe condiz a divisa "Amplior et liberior per me Brasilia".
O auto atravessa a cidade que plange sonoramente pelos car-
rilhões das igrejas. Na placidez, na quietude, na tranquillidade
das ruas, dos casarões antigos de antigas rotulas, sente-se
a nostalgia revocativa de um passado longinquo.. . passado
envolto em nevoas de sonho, com bandeiras partindo para
o "Eldorado" e sinhús moças de mantilhas em preces genu-
flectidas deante de Nossa Senhora da Candelaria.. . Linda
e evocativa cidade ! Reliquia de tradições bandeirantes ! Velho
coração paulista palpitante e sonhador!
Aceleradamente segue o auto. Salto de Itú. Ann~incia-o
o estrondejar das aguas espumosas, branquejantes, turbilho-
cantes, precipitadas em avalanche na formidavel quéda. De-
pois, Indaiatuba. Depois, campos, novamente. Campos vas-
tissimos de jaraguá e catingueiro onde pascem nédias vaccas
com terneiros marnujantes. Voam anús pretos que assentam
balanceando nos chifres do gado deitado á sombra das canel-
leiras. Voam bandos de pintasilgos dos ingazeiros debruçados
á beira dos rios. Voam curiós buscando os brejaes. Extensos
renques de eucalyptos cortinam a estrada. Surgem as fazen-
das. Tapetes verdes de cafesaes marchetam-se de pontos bran-
cos das casas dos colonos. E' o ouro verde paulista.
Finalmente, Campinas.
Explendida cidade moderna! Tem aspectos de uma ca-
pital. Calçada, arborisada, com largas avenidas e um infinda-
vel numero de palacetes, bangalôs, edificios publicos, religio-
sos e de diversões, cada qual mais bello, mais amplo e mais
rico. Praças, parques e jardins, todos floridos. Estatuas de
bronze. Trafego intenso de bondes electricos, automoveis e
autos-viação como os de S. Paulo. Confeitarias e cafés dis-
tinctos. Movimento urbano tambem intenso. O do centro da
cidade assemelha-se algo ao de Santos. Transito continuo-
de familias, a pé, de auto, de bonde. E sempre elegantemente
trajadas. Trajadas ao rigor da moda. Moças. Muitas moças,
Louras umas, morenas outras. Todas bonitas. Seductoras,
Ah ! as moças de Campinas. . .
Precisamente ha dezeseis annos que não reviamos esta
cidade. Quanta transformação ! Seus bondinhos puxados a
burro, suas ruas desertas, suas casas antigas, seu a r provin-
.
ciano.. tudo são memorias do passado, aliás tão breve.
Hoje.. . é o que se vê. Uma cidade explendorosa!
Descia a tarde quando regressavamos da excursão. En-
cantadora excursão. Agradabil;ssimo passeio. Agradabilissimo,
tambem, porque não fez o auto nenhuma "barberagem" pelo
caminho. . .
SEGUNDA EXCURSÃO

(25 de Setembro de 1926)

Como um risco de lazulite na téla azulinea do céu, lapija-


se a serra de São Francisco, de cor azul ferrete. Sóbe o disco
solar na fimbria do horizonte innundando de luz, campos,
montanhas e cidades. Raia a manhan como uma flor rosea
desabrochada em perfumes aos beijos cálidos do sol.
Partem excursionistas de automovel para fruirem as bel-
lezas agrestes de nossas incomparaveis paysagens. Iniciada
em Sorocaba termina a excursão em Piracicaba, passando por
Itú, Campinas, Rebouças, Nova Odessa, Recanto, Villa Ame-
ricana e Limeira. Tres horas e meia de excursão. Tres horas
e meia de "volada" por excellentes estradas de rodagem.
Corre o auto em vertiginosidades de vôos com fumaças de
Rolls-Royce. . . Diverte-se em "dar poeira" aos outros pela
.
estrada. . Os de "lata" vão ficando na "rabeira". . . E o
auto, sempre em dianteira, em "chispada" satanica, O velo-
cirnetro vae marcando: setenta, oitenta, noventa kilome-
.
tros.. Corre nas curvas acotoveladas em sessenta! De re-
pente.. . cabriola, ziguezagueia como uma barata tonta. Pára
a machina. Estourou um pneumatico. Um agudissimo assobio
.
repercute no a r ! Não fora um assobio.. Era uma locomo-
tiva da Sorocabana que passava apitando. A "lataria" vae
desfilando de lado. Vae desfilando e os "chauffeurs" entre
risos zombeteiros perguntando - "Precisa alguma coisa 7 "
Mas o auto foi inventado p'ra correr e corre como uma ven-
tania desencadeada.
Vae-se transmudando rapidamente a paysagem. Scenas
imprevistas e scenarios subitos se succedem. Queimam-se
campos. Linguas rubras de fogo lambem as campinas rasas.
Novellos de fumarada branca espiralam para o alto. Os bem-
te-vis protestam alarmados em gritaria. Arvores meio car-
bonisadas levantam-se como esqueletos, como punhos aber-
.
tos que imprecam.. Num tronco carcomido martelIa um
pica-páo. pela porteira passa a caboclinha de vestido de chita
com um feixe de capororocas na cabeça. O pévinha trota na
frente de bocca aberta e lingua pendente.
' A estrada desenrola-se como uma serpentina, ora ama-
rella, ora vermelha, ora roxa. Passa entre tiguéras, roçadas,
potreiros, piquetes, restingas, capões e campos abertos. Can-
naviaes esverdeados ondulam ao sopro das aragens. Remuge
o vento nos leques dos coqueiraes. Figueiras ramalhudas en-
sombram o caminho de espaço a espaço. Na matta longinqua
ergue-se o jequitibá frondoso, altaneiro, gigantesco, domi-
nando a perspectiva. Ipês floridos de amarello, cor de canario
belga, matizam as paysagens verdes. Rolinhas em bandos le-
vantam o v60 na estrada.
Surge a rancharia caipira. Pelas cercas trepam cipós
de São João florescidos em cachos vermelhos. Os terreiros
enfeitam-se de gira-sóes amarellos, escandalosamente ama-
.
I-elos e escandalosamente grandes.. Florescem os papos d ~ ?
gallo, de cores berrantes, encarnadas, como caipira gosta. . ..
Estufam-se os perús entre patos, marrecos e gallinhas suras.,
Nosmastros de São João dependuram-se ramos seccos de
larangeira. A' porta de um dos ranchos de páu a pique e sapé,
o caipira pregou uma taboleta: e escreveu isto - "Ponto
chique"!. . . E' uma venda de caboclo perdida numa .encru-
zilhada. Algumas prateleiras e algumas garrafas. Tostões de
chumbo pregados no balcão. Copinhos e copazios de vidro
grosso enfileirados para os martell~sde geribita.
- Caipira, o que vende você ahi? I

- Muitas coisas, ué! Canninha, aguardente, pinga, ca-


chaça. . .
Continúa a corrida do auto cortando cafezaes, atraves-
safido fazendas, passando povoados.
Pela extensa ponte do rio Piracicaba o auto galga a ci-
dade. Terminara a excursão.. Interessante cidade a de Pira-
cicaba. Tem aspectos originaes e sobretudo um "ambiente"
que agrada, que attrahe, que encanta. Tudo concorre para
isso: as ruas bem calçadas, as casas bem construidas, as pra-
ças bem ajardinadas; a magestade do salto; a amenidade do
clima; a jovialidade, a alacrid'ade, a alegria, as exhuberancias
de graça e formosura e mocidade das moças estudantes.. .
E' um movimentar continuo de moças uniformisadas. Uni-
formes azul e branco, branco e verde, vermelho e branco.. .
Uniformisadas e sobraçando livros. Estudam nas escolas Nor-
mal, de Odontologia, de Commercio.
E' notavel a assiduidade das moças estudantes em visitas
á igreja matriz. São visitas constantes, a qualquer hora do
dia, em qualquer dia da semana. Certamente que alli vão im-
plorar o auxilio divino para os seus exames. Será? Um cu-
rioso entra na igreja a verificar. Lá estavam as moças re-
zando. Olha o curioso para o altar mór. Lá estava a imagem
do padroeiro. Era Santo Antonio!. .. Estiiva explicada a ro-
maria. . .
Encantadores os jardins da Escola Agricola! Plantas e
flores brasileiras de todas as qualidades. Dá gosto vel-as. São
cores animadas para serem contempladas pelas finas sensi-
bilidades estheticas.
Bello, tambem, o cemiterio! Tem a belleza serena das
coisas veneraveis. Tumulos de notavel riqueza artistica erifi-
leiram-se á sombra dos cypresres. Sambem alli rendera o
corpo á terra o grande p i n t ~ rdos bandeirantes. Informara o
zelador que sua tumba era singella. De facto o era. Sob um
doce1 de jasmineiro, uma lapide de marmore branco com esta
inscripção apenas - "Almeida Jor. - 1899".
Dalli, do alto daquelle cemiterio: dalli, de junto áquelle
jazigo que encerrava o grande coração do grande artista, des-
cortinava-se, lá embaixo, a cidade por elle tanto extremeci-
.
da.. E, naquella hora de crepusculo vespertino, hora de re-
pouso, hora de silencio, hora de tramonto, por entre as har-
monias da tarde que morria e os perfumes das flores de la-
rangeira dos pomares proximos, verido as névoas alvissimas
desdobradas longinquamente sobre a cidade, salpicada de pon-
tos luminosos das primeiras luzes, cuidava-se contemplar o
véu nupcial, de grinalda de estrellas: da noiva da collina.. .
e ~
CARIMBOS

MARCAS POSTAES NO BRASIL


PELO

DR. MARIO DE SANCTIS


SOCIQ EFFECTIVO DO INSTITUTO E 1 . O SECRF
TARIO DA SOCIEDADE PHILATELICA
PATJ1,ISTA
CARIMBOS E MARCAS POSTAES NO BRASIL
PELO

DR. MARIO DE SANCTIS


"Nos meios mais avançados 6 o carimbo objecto"
"das maiores attenções e preferencias."
Nova Monteiro.

I-
I
-
I~UMEROSOSi á se contam os estudiosos de ca-
rimbos, e marcas postaes, nos sellos ou nas so-
brecartas; e, na Europa, numerosas são as pu-
blicações e monographias a este respeito, tendo-
- -

se verificado que depois de uma primeira mono-


graphia, surgiu uma segunda, e assim por diante,
pois que todo especialista de um determinado
paiz, considera sello do correio e carimbos como
2 elementos inseparaveis. Os sellos representam o corpo
de nossas ~collecções;ps carimbos a sua alma.
No Brasil nada existe de semelhante - ao que nos cons-
ta - em nossa litteratura philatelica, que póde igualar-se
aos que temos visto com autoria dos nomes de Emilio Diena,
Leopoldo Rivolta, Vitozzi, Dr. N. (Nic. Castejlino), etc.
sobre os carimbos Estense, Parma, Lombardo-Veneto, Duas
Sicilias, Napoles, etc., etc., sem falar dos autores allemães.
No "Catalogo historico dos sellos typos do Brasil" edi-
tado pela SOCIEDADE PHILATELICA PAULISTA, sob
a competente direcção de J. Kloke, de passagem, trata-se do
argumento; e na "Revista Mensile de1 C. F. I." de Turim,
n. 6 do mez de Junho de 1921 - publicando alguns clichés
- tivemos ensejo, com poucas palavras, de chamar a atten-
ção dos especialisados, sobre este novo material, cujas pes-
quisas dariam campo a estudos importantissimos.
'
Até hoje não nos foi dado o prazer de ter visto uma
publicação completa a respeito; e nossa tarefa tornou-se
bastante dífficil, pois que ficamos quasi isolados. Pretendia-
mos conhecer alguns documentos; obter muito material que
esperamos conseguir; ouvir opiniões de philatelistas e
collecionadores antigos, para vermos si seria possivel or-
ganisar um trabalho o mais completo possivel sobre os ca-
rimbos usados no Brasil, mas foram debalde as nossas espe-
ranças. Portanto, sem pretenção alguma de dar a publicidade
o almejado trabalho completo, mas simplesmente com intuito
de estimular os philatelistas a cultivar este ramo da philatelia,
tambem aqui no Brasil, vamos dedicar nossa attenção aos
Carimbos, concorrendo com o nosso modesto contingente,
a tornar conhecido o que nos foi possivel pesquisar.
A administração do Correio Geral da Corte, estabelecida
em 14 de abril de 1798, e regulamentada em 1799, foi defini-
tivamente reorganisada por Decreto de 6 de Março de 1829,
e um Regulamento da mesma data foi approvado pela As-
sembléa Geral, em resolução sancionada em 7 de Junho de
1831. Havia 10 administrações subalternas e 26 agencias, em
todo o territorio da Provincia do Rio, mas não temos ele-
mentos de facto que nos authorisem a descrever quaes os
carimbos usados pelas agencias, au pelas administrações.
No pouco material colhido a custa de sacrificios e diffi-
culdades innumeras - (material, do qual damos para maio-
res esclarecimentos os clichés) temos encontrado pequenos.
carimbos, todos porém da Provincia de S. Paulo, com a sim-
ples legenda da localidade na sobrecarta.
Na ordem chronologica podemos dizer que o documento
mais antigo que' temos visto foi um carimbo vermelho com
a legenda

Pagou o porte do Correio


1802
S. PAULO
t
carimbo este que se encontra na Bibliotheca Nacional do Rio
de Janeiro, donativo do illustrado Dr. João Baptista da
Motta. Não podemos dar o cliché desta raridade, pois que
não foi possivel fazer ou obter uma photographia do mesmo.
Outro carimbo primitvo é de Taubaté: um circulo preto
de 2 cm. de diametro, rodeado por uma linha circular. No
centro vê-se a letra C, (quasi com apparencia de algarismo),
, que é a abreviação da palavra (Correio), e ao redor as pa-
lavras "DE TAUBATÉ" por cima, e 2 galhos entrelaçados
em baixo. (Fig. N. 1).
As letras todas resaltam em branco sobre o fundo preto.
A data, não podendo-o affirmar categoricamente, parece de
1818; tendo, o remettente, pago 60 réis pelo porte da carta.
Outro carimbo interessante é de S. PAULO, 4 cm. de
comprimento, letras de 8 mm. de altura, fechadas em curvas
sinuosas simmetricas. A carta é endereçada a Itú, appare-
cendo escripta a tinta, a data de 1825, (Fig. N. 2 ) e o porte
pago 20 réis.
O mesmo carimbo, temos em correspondencia de origem
PORTO FELIZ -, (rectangulo de 52 mm. de comprimento
x 8 mm. de altura; legenda rectilinea, em letras grandes
maiusculas) - com destino a Santos. Essa carta recebeu,
além da obliteração S. PAULO já descripta, outra, bem in-
teressante de YTU, c/ 28 mm. de comprimento x 13 mm.
de altura, letras maiusculas, fechadas em curvas sinuosas
simmetricas. Data: 24 de Novembro de 1825; e porte pago,
40 réis (Fig. N. 3).
Outro carimbo com legenda rectilinea, é de MOGI MI-
RIM, encontrado em correspondencia com destino a S. Paulo,
tendo a obliteração da agencia S. CARLOS - (hoje Cam-
pinas)- sem moldura, inscripção rectilinea em letras maius-
culas, com 4 cm. de comprimento x 112 de altura. Porte pago,
40 réis, (Fig. N. 4). Data de 1832.
Em quasi toda a correspondencia de 1825 em diante, que
tivemos occasião de examinar, os carimbos apresentam-se
mais ou menos iguaes, com legenda rectilinea, quasi todas
com moldura, julgando portanto que na provincia de S. Paulo,
o serviço da correspondencia devia ser regulado com ordens
superiores. E de facto na preciosa documeptação que nos foi
fornecida pelo Exmo. Snr. Dr. Affonso de Freitas, digno
presidente do Instituto EIistorico e Geographico de S. Paulo
temos encontrado um topico, que se não se relaciona com
detalhes sobre o assutnpto por nós tratado, é um valioso
auxilio para explicar alguns pontos do nosso estudo. Trans-
crevemos o documento historico citado: "Desde 25 de No-
vembro de 1824, Joaquim Floriano de Toledo, secretario do
Governo provincial (prov. de S. Paulo) havia baixado ins-
tri~cçóespara o funccionamento do Correio entre a cidade
de S. Paulo e as villas de Jundiahy, São Carlos (mais tarde
Campinas), Itu', Sorocaba e viceversa; sendo o porte, das
cartas remettidas, regulado pela seguinte tabella :

"até 4 oitavas de vinte leguas, pagava 20 réis


>>
17 >v
quarenta " " 40 "
I> >> 9,
sessenta " ' 60 "
>> 7. 1,
oitenta " ' 80 "
>> 7, 9,
cem " 100 "

No cliché da fig. N. 2, portanto, figura o porte de 20


réis, pago pelo facto de que a carta devia pesar 4 oitavas, e
a distancia calculada em 20 leguas.
Um outro carimbo da cidade de S. PAULO, menor que
o precedente, mais regular e sem pretenções de linhas geo-
metricas é de 1832: um rectangulo com 3 cm. de largo por 7
mm. de altura e letras de 4 112 mm. de alt. Na sobrecarta
existe outro carimbo que parece RIO JANEIRO, tendo
a carta paga 60 réis de porte. (Fig. N. 5).
O mesmo carimbo junto a outro de YTU', em czrta
endereçada a Santos, do anno 1835. (Fig. N. 6 ) .
Do anno 1835 e 1837, temos 2 sobrecartas cujo carimbo
de SANTOS em letras irregulares; encontram-se juntamente
com o carimbo S. PAULO, já descripto. (Fig. N. 7). Nesse
envelope ha vestigio de um carimbo: RIO D E JANEIRO,
rectilineo. A carta foi postada no Rio, onde pagou 120 réis
de porte. Recebeu os carimbos de transito em S. Paulo e
Santos, com destino a Buenos Aires, onde o desthatario pa-
\ gou 10 reales.
E emfim damos o cliché de uma sobrecarta cujo correio
remettente "Santos" applicou um carimbo que muitos col-
leccionadores já conhecem, e do qual nos haviamos noticias,
ha muitos annos, sem obter porém o original.
O carimbo bastante curioso é constituido pela figura ?e
um peixe, de 5 crn. mais ou menos de comprimento, colhcado
da esquerda para a direita, vendo-se claramente a legenda do
lugar de proveniencia SANTOS. A carta passou pelo correio
de S. Paulo, e recebeu ahi o carimbo caracteristico redondo:
ti,
i4

círculos concentricos, tendo a legenda SAO PAULO entre


s 2 circulos, sem data; o que constitue - não ha duvida -
ma raridade interessantissitna. Foi possivel determinar a
data da expedição : 9 de abril de 1842. Destino Sorocaba ; tendo
pago 40 réis de porte. (Fig. N. 8).
Mais 2 sobrecartas com o caracteristico peixe de SAN-
TOS: uma, postada em 1839, tendo pago 80 réis no Correio

de origem, e 10 reales no de destino, (Fig. N. 9) ; e outra,


postada no Rio, onde recebeu o bello carimbo RIO DE JA-
NEIRO, em 3 alinhamentos, (2 rectos e 1 curvo) enfeixado
na arêa de um circulo de 28 de diametro, sem data. Pagou
80 réis no correio de origem, recebeu o carimbo peixe de
Santos, em transito, com destino a Buenos Aires, onde foram
pagos 10 reales, pelo destinatario, (Fig. N. 10).

Na Fig. N. 11 vem reproduzida uma carta postada tio


Rio de Janeiro, em 31 de Outubro de 1839. Esse carimbo,
b e p caracteristico e interessante, duvidamos si pertencia ao
correio brasileiro ou com mais probabilidade ao consulado
inglez, que usava, tambem, carimbos menores, contendo a pre-
posição "de" entre as palavras1- "Rio" - e - "Janeiro". -

Na mesma disposição do carimbo supra referido conhecemos


o de PERNAMBUCO com a data 'AU - 25 - 1853.
Devemo's á nimia g'entileza do Dr. Ricardo D. Eliçak
a publicação desses clichés, cujos originaes formam material
da colleçção desse provecto e distincto philatelista sul ame-
ricano.
Estes carimbos, - e outros que por ventura poderão
apparecer mais tarde, - foram applicados pelos agentes do
correio, quer no recebimento quer na entrega das cartas, nas
cidades mais populosas da provincia de S. PAULO, sem noçáo
da maneira praticada nas cidades da Europa. E constituem
os primeiros specimens de carimbos antes da emissão do
nosso primeiro sello para porteamentó das cartas.
Na provincia de S. PAULO, além da administração cen-
tral, estabelecida na Capital da provincia, em uma das depen-
dencias do Palacio do Governo, existiam 51 agencias distri-
buidas pelas sédes dos seguintes Municipios : Santos, Cam-
pinas, Sorocaba, Mogy das Cruzes, Bragança, Araraquara,
Lorena, Arêas, São Roque, São Sebastião, Porto Feliz, Fran-
" ca, Jacarehy, Jundiahy, Constituição (Piracicaba), Iguape,
Cutia, Caraguatatuba, Atibaia, Itanhaem, Silveiras, Bananal,
Cananea, Parahybuna, Faxina, Capivary, Itu', Itapetininga,
Cunha, São José, Guaratinguetá, São José do Barreiro, São
Luiz, Ubatuba, Limeira, Casa Branca, Taubaté, Rio Claro,
Batataes, Pindamonhangaba, Parahybuna, Mogy-Mirim, Ta-
tuhy, Queluz, Cajuru', São João da Boa Vista, Pirapora
(Tieté), Xiririca, Brotas, Caçapava e Santa Branca.
Em 'maio de 1841, porem, já temos um primeiro d8-
cumento official que trata de carimbos nas cartas. De facto
o ministro dos Negocios do Imperio, snr. Candido José de
Araujo Vianna, no seu Relatorio, apresentado á AssemMéa
Legislativa reunida no mez de Maio de 1841 referiu que:

" . . . .achando muito conveniente que tanto


"para conhecimento da administração, como para
"conhecimento dos particulares, as cartas tenhão
"marcado-no sobrescripto o dia da sua- expedição,
"mandou o Governo por em pratica esta provi-
"dencia - (carimbar as cartas) - ordenando
"para isso a factura dos necessarios carimbos."
-'

Fig. N. 12-a

GERAL DA CORTE", e no centro, a data, disposta em forma


de cruz, como se vê no cliché (Fig. N. 12) ; cuja carta sahiu
c10 Rio com destino a Barbacena, ao endereço de José Bento
da Costa Azedias, um dos chefes da revolução de Minas no
anno 1842. (Informação que devemos por obsequio do dr.
Pedro Maçsena). A carta pagou o porte de 40 réis.
Esse carimibo circular (Fig. N. 12 e N. 12a) parece que
foi o typo mais em uso naquella época; e, provavelmente,

Fig. N. 13

foi o primeiro carimbo de cuja factura tratou'o Governo sob


o ministro Candido José de Araujo Vianna.
Da mesma época, porém de provincia differente, temos
visto outro carimbo circular - bem diverso do que fizemos
a breve descripção - com data 12 de Outubro de 1842 e le-
genda CORREIO DA BAHIA. (Fig. N. 13). Da mesma loca-
lidalde existe um carimbo maior, duplo circulo, com identica
legenda - CORREIO DA BAHIA -, data na área central,
em 3 alinhamentos. Dimensões 36 mm. x 26 mm. (Fig. N. 13a).
No correio geral dessa mesma provincia usou-se tambem um
carimbo duplo circulo, concentricos, com a legenda - COR-
REIO GERAL DA BAHIA -, sem data na área central.
Diam. 22 x 14, altura das letras 3 1/2 mm. (Fig. N. 13b).
Em S. Paulo tambem usou-se, no anno 1842, um carimbo
circular, grande, á data, com a legenda CORREIO GERAL
de S. PAULO. -

Fig. N. 13-a

Fig. N. 13-b

Esses carimbos, evidentemente, foram usados antes da


emissão dos primeiros sellos para porteamento das cartas,
no mesmo tempo em que autorisado pelo art. 17 da lei n. 243
de 30 de Novembro de 1841, o Governo decretava algumas
medidas para melhoramento da Administração dos Cor-
reios. -
E' provavel que appareçam outros exemplares, e nós jul-
gamos que devem existir, pois que em 19 de Maio de 1843,
quando o Governo Imperial deu ordem para proceder á im-
pressão dos primeiros sellos, o Ministro dos Negocios do
Imperio, Sr. José Antonio da Silva Maia, baixou outro De-
creto para completo cumprimento das disposições dos Regu-
lamentos N. 254 e N. 255 de 29 de Novembro de 1842. Entre
as instrucções a que se refere o Decreto de 19 de Maio de
1843, no artigo 14, encontramos:

"Emquanto se não apromptarem os carim-


"bos especiaes, de que trata o artigo 9 do De-
,"ereto N. 255, os carimbos de que ora usão a s
"administraçóes e agencias dos Correios, servi-
"rã0 tambem para inutilizar os sellos."

Documentação clara evidenciando a existencia de ca-


rimbos antes da emissão do sello, e o preparo de carimbos
especiaes para inutilizar os sellos.
O Sr. R. de Bellido, no "O Colleccionador de sellos".
N. 6, de 1." de Junho de 1897, teve opportunidade de annun-
ciar que possuia amostra dos carimbos usados antes do ap-
parecimento do sello "olho de boi", presenteados pelo sr.
Rogich, collega em philatelia. A offerta de facto devia ser
valiosa; e no decorrer das nossas pesquizas sobre "Carimbo$
do Brasil", tivemos a idéa de recorrer ao Sr. de Bellido para
tomar visão dos carimbos annunciados na sua Revista. In-
felizmente, este philatelista brasileiro tem perdido o que pos-
suia sobre o assumpto.
,
*

O Correio empregando nas cartas, ou nos sellos, as


marcas postaes e os carimbos, tem dois fins principaes: um
é fazer conhecer a data em que expede e recebe a corres-
pondencia; outro é impedir que o sello uma vez servido
possa ser novamente utilizado.
Em geral os Correios empregam differentes carimbos
! para cada uma destas operações.
No começo, este serviço de carimbar as cartas e inuti-
lisar os sellos foi feito a mão; mais tarde o emprego de
machinismos foi se desenvolvendo satisfactoriamente e geiie-
ralisou-se este metodo. O dr. Thomaz José Pinto de Cer-
queira, que foi Director Geral dos Correios desde 31 de Agosto
de 1850 até o anno 1865, teve opportunidade, em 1857, de
apresentar um Relatorio ao Conselheiro Marquez de Olinda,
Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Imperio,
e na pagina 21, refere o seguinte:

<<
. . .agora mesmo tive eu noticia da intro-
"dução no Correio de Londres de uma machina
"para carimbar a correspondencia, e já pedi a V.
"Ex."que se dignasse mandar vir o desenho, afim
"de ver se póde sêr aproveitada."

E' evidente que o methodo usado para carimbar as car-


tas nos Correios brasileiros, fosse insufficiente ao ponto de
chamar a attenção do Director Geral dos Correios.
Repetimos que, o Decreto que criou os primeiros sellos
do Brasil, forneceu tambem o modelo de carimbo postal que
devia ser usado; de facto no artigo 9 do Decreto N. 255 de
29 de Novembro de 1842, se releva o seguinte topico:

". ..antes da remc,~sadas cartas, o adminis-


"trador do Correio, mandará imprimir um carim-
"bo, que o inutilize, conforme moledo N. 2. Quan-
"do não seja esta operação praticada no Correio
"da remessa, o será na da entrega."

Temos pesquisado para encontrar o original do modelo


N. 2 a que se refere o Decreto supra, sendo infructiferas as
nossas diligencias; mas podemos considerar que devia ser o
da fig. N. 12, que é o typo de carimbo que se encontra nos
sellos da 1." emissão. 'dm carimbo circular de 32 mm. de dia-

Fig. N. 14

metro, dois circulos zoncentricos distanciados por um espaço


de 5 mm., com a legenda CORREIO GERAL DA CORTE

Fig. N. 15

entre os dois circuhs, e a data na arêa do circulo menor, na


mesma disposição da fig. N. 12 e N. 12a. O carimbo da fig.
N. 12 e 12a, continuou a ser usado tambem depois do appa-
recimento do sello.
Na mesma disposiçã,~do carimbo da fig. 14, temos
encontrado o carimbo com a legenda CORREIO DE SAN-
TOS, sendo porém seu diametro de 34 112 mm., (fig. N. 15).
Temos já transcripto o dispositivo do Ministro dos Ne-
g o c i o ~do Imperio, sr. Candido José de Araujo Vianna, quan-
do o Governo em 1841 pondo em pratica a providencia dc
mandar carimbar as cartas, ordenou para tal fim a factura
dos necessarios carimbos, e podemos affirmar que esses ca-
rimbos todos foram feitos na Casa da Moeda, result?ndo
esta informação dos Relatorios do Ministro da Fazenda dos
annos 1850 e 1851, que :

"...na Casa da Moeda fizeram-se gravuras


"em cobre e aço para Apolices, Letras, Sellos do
"Correio, Sineres e Carimbos."

O modo de carimbar as cartas e inutilisar o sello foi


preoccqpação de todos os Ministros do Imperio, e dos Di-
rectores do Correio Geral da Corte. O artigo 142 do Regu-
iamento de 1849, reza o seguinte:

"O carimbo das cartas assentará parte no


"papel do sobrescripto e parte no sello, de sorte
"que este não possa servir ao pagamento de ou-
"tro porte na forma do artigo 90 e 103 do Re-
"gulamento. O carimbo declarará a administração
"e agencia, o dia, mez e anno em que for lan-
"çado ; e quando lhe faltam todas ou algumas ies-
"tas especificaçóes, ou não baja carimbos, serão
"escriptos á mão."

Temos encontrado, de facto, no nosso material de es-


tudo, (fig. N. 42 e N. 46), sellos inutilisados a penna com
indicação da Agencia, data, dia, mez e anno na seguinte dis-
posição - "Correio da Onça" na margem superior de dois
sellos de 30 rs., olhos de gato, e - "6 de Maio de 1856"
na margem inferior dos mesmos (fig. N. 42).
Sendo Director Geral dos Correios o Sr. Luiz Plinio de
Oliveira (a quem se deve a reforma nos serviços do Cor-
reio), os carimbos para inutilisar os sellos foram encommen-
dados na Europa (Relatorio ao Ministro Dr. Antonio Fran-
cisco de Paula Souza; 15 de Maio de 1866; pag. 130). Po-
demos accrescentar que os carimbos foram feitos na França,
e todos elles do mesmo typo (fig. N. 16): 2 circulas concen-
tricos, o maior com 2 cm. de diametro, e o menor com 12
mm. - No espaço entre os dois circulos, no alto, o nome
da localidade, e uma pequena estrella, entre parenthesis, t.n:
baixo; e na arêa do circulo menor a data do dia, mez (em
letras), e o anno designado simplesmente com os dois ultimos
algarismos.
A nossa supposição de que os carimbos foram fabricados
na França é determinada pelo facto de ter encontrado esses

Fig. N. 16

carimbos com a legenda ST. PAULO (fig. N. 16), e a in- ,


dicação do mez com graphia franceza, assim: JANV. -
FEVR. - MARS. - AVR. e AVRIL - MAI. - JUIN. -
JUIL. - AOUT. - SEP. e SEPT. - OCT. -- e DEC.
(Fig. 16-A).,
O facto de ter encommendado os carimbos na Europa,
demonstra claramente a preoccupaçáo que teve o Sr. L. Plisir,
de Oliveira com o methodo de car-imbar, sendo o modo como
este serviço fazia-se nos Correios do Brasil, de forma que
deixava muito a desejar. Elle, além da uniformidade da taxa
de porte para todo o Imperio consellhava tambem a uni=
formidâde da carimbação nas cartas.
A legenda ST. PAULO, no anno seguinte foi modificada,
porém ficou vestigio da linha vertical do T, pois que se utilisoi*
da parte terminal dessa linha para servir de ponto á letra
S, tendo ficado o referido ponto mais alto do lugar onde
realmente deveria ser collocado. (Fig. N. 17).

Fig. h'. 17

Relatamos, a titulo de curiosidade que possuimos O ca-


rimbo ,40U., com a graphia AGU. (Fig. N. 18).

Fig. N. 18

Temos carimbos do Correio de Jundiahy, com a legenda


em francet, até 15 - SEPT. - 1883.
O carimbo de typo francez soffreu ajuste de toda forma;
e em Pernambuco (1876) trocaram a leg. FEVR. por FEB.".
Os sellos, pela maior parte, não eram obliterados; e, em
muitos casos, o eram imperfeitamente. 0 s meios mais aper-
feiçoados para se conseguir nesta parte um bom serviço, era
a machina para estampar a data e a origem da carta - (lugar
de proveniencia) - e obliterar ao mesmõ tempo os sellos,
como o Sr. L. Plinio de Oliveira havia observado no Correio
de Londres e de Paris: - (timbro duplo, methodo inglez;
o carimbo a bascule, methodo francez.) - Este director dos
Correios, teve sympathia pelo modo francez de carimbar, e
portanto encontramos os carimbos de losango e pontos (fig.
N. 19) e suas varias modalidades, das quaes existem innu-
meros specimens.
O carimbo (fig. N. 19) foi usado principalmente em:
Santos.

Fig. N. 19

Num dos "Relatorios" apresentados ao Ministro, o mes-


itlo Sr. L. Plinio de Oliveira, sempre guiado pela idéa de ca-
rimbar as cartas no melhor modo possivel, relatou quanto.
segue :

"O Regulamento ordena que o mesmo ca-


"rimbo que servir para marcar a data, sirva para
"inutilizar o sello, sendo posto de maneira que as-
"sente parte no sello e parte na correspondencia.
".Ha porém inconvenientes: é necessario o em-
"prego do carimbo tantas vezes quanto são os
"sellos, assentando sobre estes as letras daquelles
"a maior parte das vezes ficam illegiveis. e até-
"póde o carimbo ser facilmente obliterado, e o.
"se110 novamente empregado. Portanto ordenei
"que em roda dos carimbos, pelo lado exterior, se
"formasse uma serrilha, e que o empregado que
"puzesse o carimbo désse, em seguida, uma pan-
"cada com elle, de maneira que pegasse os sellos,
"e assim os inutilisasse. E m breve a serrilha gas-
"tou-se e nem se colhia mais a vantagem que se
"colheu. O administrador geral do Correio d a
"Corte mandou preparar um cylindro rolante á
66
maneira do que se usa em França; e recommen-
"dei tambem o uso de carimbos menores."

No nosso material de estudo, temos exemplares de sellos


francezes obliterados com o tal cylindro rolante, e temos
sellos brasileiros, obliterados assim da maneira como se usava
na França.
O typo de carimbo mais usado no Correio Geral da Corte,
foi o circular com 32 mm. de diimetro, 2 circulos concentri-
cos, e na area entre os 2 circulos a legenda CORREIO GE-
RAL DA CORTE, e na área do circulo menor as datas ; (fig.
N. 20). Porém, tendo o Sr. L. Plinio de Oliveira recommen--

Fig. N. 20

dado tambem o uso de carimbos menores, temos encontrado


um com a mesma legenda mencionada, porém, com 30 mm.
de diametro (fig. N. 21), e outro com 24 mm. de diametro
Fig. N. 21 Fig. N. 22

(fig. N. 22), nos quaes encontra-se, a mais, a palavra BRA-


ZIL, na parte inferior. Ainda ha outro menor sem a palavra
BRAZIL, e de 21 mm. de diametro, (fig. N. 23). Esses tres

Fig. S. 23

ultirnos carimbos devem ser os carimbos menores recommen.


dados por L. Pinto de Oliveira.
Outros carimbos circulares com a legenda cla localidade
e a data, os temos encontrado de proveniencia de Santa Ca-
tharina usado em 1860 (fig. N. 24), com 32 mm. de diame-

Fig. N. 24

tro, 2 circulos concentricos. Na área desses, a legenda COR-


REIO GERAL DE S. CATHERINA, e na área do circulo
menor as datas na mesma disposição da CORTE. Outro ca-
rimbo circular, com as letras nem todas iguaes e symmetri-
cas é o da cidade de MARIANNA (Minas) usado em 1865
- (fig. N. 25), com 34 mm. de diametro.

'Fig. N. 25

Carimbos circulares de dois circulos concentricos, que


differem porém dos mencionados temos o do CORREIO DE
CAMPINAS, cuja área do circulo menor é em branco (fig.
N. 26) ; e o de PORTO ALEGRE cuja área central é oc-
cupada pela palavra S U L - (fig. N. 27).

Outro carimbo circular de 37 mm. de diametro é o do


CORREIO DA CIDADE D E Y T V , cuja legenda está col-
locada no redor interno do circulo, e a data no meio, tendo
entre os algarismos do millesimo 1865 (18-65) uma flexa
(fig. N. 28). Temos visto e encontram-se espalhados no nosso
material de estudo, outros carimbos mais ou menos identicos
aos que temos mencionados com a legenda CORREIO DA
BAHIA - BRAZIL - com 30 mm. de diametro; - COR-
REIO GERAL DAS ALAGOAS - com 34 mm. de diame-
-
tro ; CORREIO GERAL DO MARANHÃO ; - CORREIO
-DA CIDADE DE LIMEIRA, etc., etc.

Fig. N. 28

Carimbos circulares com a simples indicação da Cidade


%ouvilla de proveniencia, cuja legenda occupa toda a área
.central do circulo, os encontramos além do mencionado (Fig.
N. 10) no: CORREIO do SERRO 1860 (fig N. 29), e VIL-

Fig. N. 29 ~ i g 30
.

LA D E LORENA (fig. N. 30), e o caracteristico carimbo de


ATIBAIA (fig. N. 49). Outros carimbos que não apresentam
a forma circular, e que constam da unica legenda da locali-
.dade com ornatos os encontramos, por exemplo, no da CI-
Fig. 31

DADE DE CAMPOS (fig. N. 31), e nos dois caracteristicos


carimbos de OLIVEIRA. Portanto, o tamanho, as dimen-
sões dos carimbos e a disposição da legenda e das datas \,a-
ria muito; e não é nossa intenção - (neste modesto trabalho
que trata dos carimbos em geral) - de publicar e descrever
os typos e as variedades das differentes procedencias, sendo
o carimbo circular.
O que, por emquanto, queremos apontar é a differença
de fórma, ou configuração geometrica, nos carimbos com a
simples legendzi da localidade, sem indicação da data; e os
carimbos unicamente para obliterar os sellos, sem legenda
alguma, chamados carimbos mudos, ou de rolha, (cortiça),
como são conhecidos entre os colleccionadores.
Dos carimbos com a legenda da localidade, sem outra
indicação de data, mez e anno, além dos exemplares de forma
circular já supra mencionados, encontramos a forma qua-
drada, a rectangular, nas suas varias dimensóes, a forma oval,
a elipsoide, o de forma de losango, etc., etc. Num primeiro
trabalho, por ser incompleto e cheio de falhas, não é possivel
fazer uma catalogação e classificação esmerada e completa,
portanto sem entrar em descripçóes detalhadas, damos aqui
os que fazem parte do nosso reduzido material de estudo
(figs. Ns. 32, 33 e 34). Figuram nos clichés Ns. 32, 33 e 34,
o s desenhos isolados de carimbos que se encontrarão nas
outros clichés que servem para illustrar o nosso trabalho n c
fim, e para orientar os que se dedicam a esse novo ramo da
philatelia nacional.

---i-
c t *a''~ r
-- -- -
Fig. 32
v - -

Além dos que damos os clichés, temos vistos outros ca-


rimbos, cuja forma differe pouco dos mencionados, com a
legenda "Villa de Queluz - Cuyabá - S. Paulo Iguape -
Agencia do Correio de VASSOURAS - Pouso Secco -
CANTAGALLO - Pouso Alto - Piracatii' - MACEDO
- Pelotas - Corrego Secco (nome antigo da Cidade de Pe-
-
tropolis) Arroja1 de Cocaes - Mangaratiba - Cidade de
Angra - Cidade da Estancia - Agencia do Correio de Que-
luz - Thesouraria do Correio da Côrte - Capivary Provin-
cia de São Paulo - Villa de Valença - Barra Mansa -

Fig. 33

Rezende - Curato de S. João Bapt. do Arrozal - Bemposta


- Villa de NIagé - Mar de Hespanha - Villa do Senhor
do Bom Fim da Chapada - Angra dos Reis - Villa da Praia
Grande (depois denominada Nictheroy) - Agencia do Arraval
de Saquarema - Barra de S. João - DEZENGANO -
S. José do Rio pieto - Ag. do Cor. de Madeira da Limeira
- Casa Branca - S. Vicente de Paulo - Laguna - P o w
Jesus de Itabapoanna - A. do C. de S. Sebastião - Sumi-
douro - Macacos (Barra do Pirahy) - S. José de Além
Parahyba - Estação de Cordeiro -
A. do C. de Maroim -
CARMO - Macahé - Campo Limpo - S. José de Leonissa
- S. José do Ribeirão - Recreio - Sapocaia Arrayal -

- --

m*e -
ã b d ~ * t h h ~ i r i m b ~ m s e a ~
E&.&
Fig. 34
f#4t

da Conceição - Capella - Una -- Ponte Nova - Jacarehy


- Villa de Lavras - Gr. Pará - Villa Diamantina - Ar-
rozal de S. Sebastião - Porto das Caixas - Ceará - Ci-
dade de Nictheroy - Villa do Cerro - Sorocaba - Araxá
- Correio de Ytu' - Correio de S. João da Boa Vista -
Correio de Caxias -N.va Friburgo - S. Anna do Paraizo
- Freguezia dos Mendes - N. S. do Desterro de.Quissaman
- Est. do Esteves - Araras - Iguassu' - Cabo Frio -
Freguezia de S. Bom Jesus do Monte Verde - Picada dos
Indios, etc.

A titulo de curiosidade relatamos o nome das Agencias


d e Correio da provincia do Rio no anno de 1840, aguardando
melhor occasião para obter, provavelmente, os respectivos
carimbos das localidades :

Villa de Rezende - Villa de ltaguahy' -


Cantagallo- S. João- do Principe - Valença -
Iguassu' - Pirahy - Vassouras - Cidade de
Cabo Frio- Villa Parahyba do Sul - Freguezia
do Paty do Alferes - Villa Nova Friburgo -
Villa de Maricá - Itaborahy - S. João da Barra
- Barra Mansa - Aldêa de S. Pedro - Arrayal
da Barra de S. João - Freguezia do Arrozal -
Villa de Santo Antonio de Sá - Villa de Magé,
e Freguezia de Mambucada.

Voltando a tratar do nosso asssumpto de carimbos, te-


mos eticontrado uma variedade enorme, infinita, de cores, na
tinta usada: além da preta, que é a mais commum, temos
visto a cor vermelha, principalmente nos carimbos de CABO
FRIO, com diversas matizes; a cor azul; a verde, muito
-
r a r a ; a violeta, etc. Não foi capricho dos empregados do
(Correio o uso de carimbos com tinta de cor; mas sim uma
resolução determinada pelas queixas frequentes de carimbar
com tinta preta um sello preto sendo motivo esse para que
não se leia a inscripção.

Um carimbo que achamos bem interessante, e pouco


commum, é o de forma de escudo araldico, de PernamSucc,

Fig. 35

usado eni 1844 e 1845 (fig. N. 35; e outros, tambem interes-


santes, de forma oval, os que foram usados, até 1861, pela
Villa de OLIVEIRA (fig. N. 36), que passou a Cidade de
Oliveira no anno de 1862 (fig. N. 37), nos quaes se veem dese-

,986f
Fig. 36 Fig. 37

nhados dois ramos de oliveira entrelaçados, sendo este ca-


rimbo pouco commum. Interessantissimos, tambem, os ca-
rimbos com o escudo e a coroa imperial, dos quaes conhece-
mos, até hoje, sómente tres typos: um do CORREIO de
7 - r i... , "

Fig. 38
PONTA GROSSA (fig. N. 38) do qual além da reconstrucçãs
nos nossos exemplares, temos visto o carimbo integro sobre
retalho de carta na preciosa collecçáo do Dr. Campos da Paz ;
e outro é do Correio de REZENDE. Mais um, com coroa.
imperial, é da Directoria Geral dos Correios. Em nenhum;
delles ha vestígio de data.

Outro elemento precioso na collecção do especialisado é


constituido pelo carimbo mudo ou de rolha, como tivemos
ensejo de dizer. Os carimbos mudos são tantos quantas as
localidades onde existia uma agencia de Correio; e apresen-
tam-se com as mais variadas e curiosas formas e desenhqs,
conforme o criterio esthetico, o capricho, ou os conhecimen-
tos geometricos do estafeta da agencia (Fig. N. 39 e fig.
N. 40). Querendo mencionar e publicar todos os carimbos
mudos que possuimos e que temos visto, procedendo com.
detalhes a descripção da forma, desenho e dimensões de cada

Fig. 40

um delle, e a tinta usada, não nos parece util - repetimos-


- numa publicação geral como a nossa, e portanto publi-
cando alguns clichés com poucos specimens, nosso fito prin-
cipal é querer orientar os que desejam dedicar-se a tal ge-
nero de collecção, e accrescentamos que nem sempre em de-
te.n,b&as ~ susado o mesmo carimbo de rolha;.
l o ~ I d foi
podendo-se verificar que no prazo de alguns mezes, talvez
por não ser utilizavel o primitivo carimbo mudo, o estafeta
preparara outro com desenho diverso.
E m agosto de 1884, porém, o Director Geral dos Cor-
reios quiz pôr termo ao inveterado abuso desses carimbos
de rolhas, cujos sellos obliterados podiam tornar a servir, e
providenciou para que daquella data em diante, a obliteragãr,
fosse feita exclusivamente com carimbos de data, tendo-se
tornado esta precaução estensiva a todas as Agencias. Esta
ordem não foi cumprida a risca, pois que encontramos aind-i
carimbos mudos até o anno de 1887 e 1588; alguns até a pro-
clamação da Republica, tornando-se uma bella curiosidade,
por exemplo, o carimbo de Pernambuco (fig. N. 41), ponti-
lhado em sellos do regi&en republicano.

Fig. 41

Chamamos esse carimbo pontilhado de Pernambuco, de


carimbo "conservador", pois que usado desde 1846, depois -Ia
emissão dos altos valores 'finclinados", - continuou appa-
recer nas séries seguintes; nos sellos da emissão de 1866 e
na successiva de 1876, o encontramos ainda nos sellos de
1852, na série Cruzeiro de 1890, e nos sellos de 1893; e em-
fim, temos exemplares de 100 réis, VITandenkolk da série de
1905, obliterados com esse mesmo carimbo.
Antes de terminar a nossa tarefa vamos dar uma breve
descripção do material que possuimos e sobre o qual temos
guiado as nossas pesquizas. . >
Fig. 42
*-. 7wmw v 7 - *- v m
.,- aT .-- -*=- *-. - .. -z .z-m --w -v* ,m * 7 7 - . m -,-. . . . * . - - --e
v

Fig. N. 42:

1) Carimbo losango de pontos, e uma estrella no meio:


.é constante na correspondencia de SANTOS; e, conforme
nos suggere o illustrado philatelista Nova Monteiro foi usado
tambem em outras administrações ou Agencias do Correio.
2) Dupla ellypse: Cidade de Oliveira; - OLIVEIRA,
superiormente na area das 2 ellypses, e 2 ramos de oliveira
entrelaçados na parte infer.; C.E abreviado, ao centro. 23
112 mm. x 20. Altura das letras : 3 mm.
3) Idem. Villa de Oliveira. Dim. da ellypse maior 23 112,
x 20; e da menor 14 mm. x 10 mm.
4) 0blitera60 a penna, com tinta preta de nitr. de
prata. Correio da Onça; e a data : 6 de maio de 1866.
5) Carimbo mudo, de Jequery.
6) Car. mudo de Mucury.
7) Car. mudo, a xadrez incompleto; e car. octangulo
,com os dizeres S. SEBASTIAO em 2 alinhamentos. O til,
está collocado sobre a letra 0. Dim. 26 mm. x 11 mm. Al-
tura das letras 3 mm.
8) Ellypse com os dizeres: S. JOAO DA BARRA, em
2 alinhamentos. Dim. 29 mm. x 13 mm. Altura das letras:
3 mm.
I
Fig. N. 43:

1) "Pindaminhangaba", prov. de São Paulo. Rectan-


gulo truncado por 2 arcos de circulo. Dizeres, em 3 alinha-
:mentes : "PINDAMI" - "NHAN" e "GABA". Dim. 29 mm.
x 28 mm. Altura das letras: 4 mm.
2) "Correio de Santos", prov. de São Paulo. Circulo
duplo; dizeres: CORREIO DE SANTOS na área dos 2 cir-
.culos, em letras do mesmo typo. Altura das letras: 3 mm.;
&ena área do centro, a data 24-6-1844, na disposição cara-
çteristica da época; typo de carimbo introduzido depois do
apparecimento dos sellos "olhos de boi". O diametro, porém,

é maior do carimbo circular usado na CORTE na mesma


época.

Fig. N. 44:

1) Carimbo losango, pontos e estrella; c/ carimbo du-


plo circulo, de proveniencia franceza ; dizeres : "SANTOS"
no alto, entre os 2 circulos. Altura das letras: 2 mm.; e a
data: 16 - MAR - 67, em 3 alinhamentos, na área do circulo
menor. Uma estrella entye parenthesis, em baixo. Diam. 22

mm. Distancia entre os circulos : 4 mm. Alt. das letras MAR,


2 112 mm., e dos algarismos : 3 mm. Diam. do circulo menor :
13 mm.

1) "Aldeia de S. Pedro", 'prov. do Rio de Janeiro. El-


lypse truncada por 2 arcos de circulo. Dizeres, com letras
ligeiramente irregulares, em 3 alinhamentos: "ALDEIA" -
"DE" "S. PEDRO". - "DE", em Ietras menores c / altura
de 4 mm., e as outras, alt. de 5 112 a 6 mm.
2) "Agencia do Cor. de Vassouras", prov. do Rio de
Janeiro. Ellypse, com os dizeres: "A. do C." - "DE" -

"VASSOURAS", em 3 alinhamentos; em arcos, nos alinha-


mentos sup. e infer. Diam.: 33 mm. x 14 mm. Alt. das letras:
2 mm.
324 CARIMBOS
E MARCAS POSTAES NO BRASIL

Fig. N. 46

1) "Pouzo Alto", provincia de Minas? Rectangulo


alongado, c/ os dizeres : POUZO ALTO, rectilineo. Dimens. :
44 mm. x 8 mm. Alt. das letras : 4 mm. (Este carimbo é em
tinta vermelha).
2) "Tamandua", inscripção rectilinea, c/ letras gran-
des, maiusc. Dimens.: 55 mm. x 7 112 mm. de altura.
3) Car. mudo a 8 raios, de Itu', prov. de S. Paulo. El-
lypse c/ os dizeres: CORREIO DE YTU', rectilineo; dim.
26 mm. x 3 mm. de altura. Diametro 37 mm. x 15 milli-
metros.
4) "Ponte Nova", inscripção rectilinea, em typo maiusc.,
fechado por quadro ornamentado de linhas sinuosas. Diam.
35 mm. x 14 mm. Altura das letras: 5 mm.
5) "Villa de Lavras", rectangillo alongado, truncado
c/ 2 arcos de circulo. Dizeres: "V. de LAVRAS", rectilineo,
sendo a letra V. apontada, da mesma altura da palavra LA-
VRAS, 6 mm. de alt.; e "DE" letras menores. 3 mm. de alt.
Dimens.: 48 mm. Diametro: 54 mm x 8 112 mm. (São João
Nepomuceno de Lavras).
6) "Correio de Maranháo", typo duplo circulo com 2Y
mm. de diametro. Dizeres "CORREIO DO MARANHÃO"
entre os 2 circulos, em letras maiusc. do mesmo tamanho, de
2 mm. de altura; na' área do circ. menor, a data.
7) "Jacarehy", prov. de S. Paulo. Ellypse c/ 32 mm.
de diam. x 14 mm. Dizeres: JACAREHY, em letras iguaes
c/ 3 mm. de altura.
8 ) "Jacarehy", id., inscripção rectilinea. c/ letras maiusc.
Dimens.: 55 mm. x 7 nim. de altura.
9) "Taubaté", prov. de S. Paulo; rectangulo c/ a le-
genda "TAUBATE" em letras maiusc. do mesmo typo. Di-
mens. 38 mm. x 8 mm. Alt. das letras: 6 mm. 0 s angulos do
rectang. ligeiramente arrendondados. Ao lado direito, á 6 112
Fig. 46
P

i mm. de distancia, a parte, a data: 24-4-1865. Algarismos de


3 mm. de altura.
10) "Taubaté", obliteração a penna.
i:
Fig. N. 47:

1) "S. João da Barra", já descripto. 1.") carimbo duplo


.
.circulo da CORTE, typo menor (com 29 mm. de diametro)

i' ao que foi usado depois da emissão dos "olhos de boi" Di-
zeres: "CORREIO GERAL DA CORTE", em letras do mes-
P
mo typo c/ 3 mm. de alt.; e a palavra "BRAZIL". Data, em
algarismos, na área do circulo menor, em 3 alinhamentos ;
o primeiro corresponde ao dia; o do centro, ao anno, sepa-
rado por uma linha; e o debaixo ao mez. Algarismos, 3 112
mm. de alt.
2) "Pindaminhangaba", já descripto, juntamente com
um carimbo da CORTE, circular, com os dizeres "CORREIO
GERAL DA CORTE", e 2 arcos separando as palavras
CORTE e CORREIO. Data, na área central, em 3 alinha-
mentos. Diam.: 28 mm.; alt. das letras 3 112 mm.
3) "C. do Serro". Circulo com 22 mm. de diametro,
na cuja área central encontram-se os dizeres "C. do SERRO"
em 3 alinhamentos. A letra "C" apontada no 1.O; "DO" no
2 . O ; e "SERRO", em arco, no 3.O. A legenda, a nosso vêr, é
"CORREIO DO SERRO", tendo porém nos contehta,
opinando ser : "CONCEIÇAO DO SERRO".
Fig. N. 48:

1) "'Marianna", proy. de Minas Geraes. Circulo duplo,


um pouco irregular c/ 34 mm. de diametro. Entre os 2 cir-

culo~,os dizeres: "CORREIO D E MARIANNA", letras de


3 mm. de altura. Na área do circulo menor (cujo diam. é de
22 112 mm.), a data em 3 alinhamentos.
2) "Corte". Duplo circulo, carimbo menor, c/ diam. 21
mm. Dizeres: CORREIO GERAL DA CORTE", e por baixo
a palavra "BRAZIL"; todas as letras c/ 2 mm. de alt., e na
área do circulo menor (19 mm. de diam.) a data em 3 alinha-
mentos. No segundo alinhamento que corresponde ao anno,
os algarismos 18 e 62, são separados pelas duas letras IM.
i Fig. N. 49:
I

1) ATIBAIA, prov. de S.-Paulo, mencionado na parte


geral, á pag. 302. E' um carimbo caracteristico circular; que,
I
A julgamos, fosse usado antes da emissão dos sellos. Não nos
i

--
Fig. 49

consta que tivesse sido apontado por outros estudiosos de


carimbos. O circulo com 22 mm. de diametro, encerra a le-
genda "ATIBAIA", disposta circularmente em letras gran-
des, maiusculas, com 7 mm. de altura. A separação entre a3
2 letras "A" (começo e fim da palavra Atibaia), é feito por
I
tima pequena cruz, cujos braços medem 3 mm.; e no centro,
ha um pequeno circulo de 6 mm. de diam.

Fig. N. 50:

1) Carimbo mudo, cujo desenho parece uma folha de


' palmeira, caracteristiço.
329

2 ) Fragm. do car. de COROA, da Directoria Geral dos


'reios, sem data.

3) "C. do Serro", já descripto.


4, 5 e 6 ) Marcas postaes c/ Nos. I.", 2." e 3.".

Fig.

1) SOROCABA, prov. de S. Paulo. Rectangiilo ?I on-


io 50 mm. x 10 mm., dizeres "SOROCABA", rectilirleo,
letras grandes, maiusculas. c/ 6 mm. de altura. Dimcens.
legenda 44 mm.
2) "CAPIVARI", prov. de S. Paulo. Rectangulo com
41 112 mm. x 12 mm. Dizeres : "CAPIVARI", rectilineo, em
letras grandes, maiusculas, c/ 6 mm. de altura. Dimens da
legenda 37 112 mm.

3) "CAPIVARI". Rectangulo com angulos ligeira-


inente arredondados e com dizeres: "CAPIVARI" - "21
DE 9" - "1852" - em 3 alinhamentos.
Fig. N. .52:

1) "UNA", prov. de Minas. Pequeno octangulo, c/ a le-


genda "UNA", letras de 5 mm. de altura. Dimens. 16 mm.
x 12 mm.

2) "CORTE" - Municipio neutro da Côrte - CapitaI


do Imperio. - Duplo circulo, 32 mm. de diametro, o circ.
maior; e 22 mm. o menor. Entre os 2 circulos os dizeres
"CORREIO GERAL DA COJi$TE7', com traço forte sepa-
rando as palavras "CORTE" e "CORREIO"; e na área do
332 CARIMBOS
E MARCAS POSTAES NO BRASIL

circulo menor, a data em 3 alinhamentos. E' o carimbo rren-


cionado, na parte geral.
3) "PATY DO ALFERES", prov. do Rio de Janeiro.
Inscripção rectilinea, letras iguaes, maiusculas, c/ 3 mm. de
altura. Dimens. 50 mm.
4) Car. mudo a xadrez.

Fig. N. 53:

1) Carimb. mudo ovoidal, c/ traços perpendiculares. bem


traçados e a igual distancia um do outro. Carimbo de bello
effeito.

- 2)1 . CORREIO
carimbo a circulo duplo da "CORTE", já descripto.
DE SANTOS. Carimbo de circulo duplo,
já descripto.

Fig. N. 54:
Y

L 1, 2 e 3) Carimbos já descriptos.
4) DIAMANTINA, prov. de Minas Geraes. Ellypse
i

P
alongado, formado de 2 traços parallelos, sendo o exterior
mais forte. Dizeres DIAMANTINA rectilineo em letras

iguaes, de 4 mm. de altura. Diam. 52 mm. por 14 112. Temos


outro exemplar identico, com dizeres "V; DIAMANTINA".
Fig. N. 55:
1) POUZO ALTO, já descripto.
2) CAMPINAS, prov. de S. Paulo. Duplo circulo c / 27
mm. de diametro o maior, e 17 mm. o menor. Entre os 2 cir-
c u l o ~ , os dizeres CORREIO DE CAMPINAS, em letras

iguaes, de 2 112 a 3 mm. de altura. Area do circulo menor sem


indicação de data, ou outra qualquer legenda.
Fig. N. 56

1) Carimbo com N.O 1.


2) "Sorocaba". Rectangulo alongado, cujos lados per-
p~ndicularessão ligeiramente dispostos a arcos. Dizeres SO-
ROCABA, rectilineo, em letras maiusc. c/ 5 mm. de altura.
Dimensões 30 mm. x 9 mm. Dimensão da legenda 24 mm.
3, 4 e 5) Carimbos c/ Ns.

6 ) BEMPOSTA. Ellypse, dimens. 35 mm. x 15 mm. Alt.


das letras: 5 mm.
7) YTÚ. Rectangulo, angulos arredondados.
8) RECIFE.
9) Fragm. de carimbo de Coroa, Directoria Geral dos
Correios.
10) Carimbo mudo. Bello carimbo, parecido a uma ven-
tarola; ou meia roda dentada.

Como addenda ao estudo dos "carimbos" devemos men-


cionar tambem as marcas postaes, principalmente as que fo-
ram usadas pelo Correio do Rio de Janeiro.
Tivemos em mão muitas cartas ou cartóes postaes, que
haviam um carimbo de numero

e do qual podemos hoje dar explicação, com a seguinte cir-


cular, encontrada no Archivo da Directoria Geral dos Cor-
reios: "Carimbos das cartas expedidas para as agencias su-
. "burbanas. - Directoria G. dos Correios em 29 de agosto
"de 1883. Portaria N." 1062 - A' 4." Secção :
"Determino que as cartas que foram expedidas para as
"agencias suburbanas, sejam carimbadas com a numeraçáo
"l.a, 2.a, 3.a, conforme a expedição da mala a que se referir.
"0 Direct. Geral."
Temos encontrado tambem o carimbo com N." 4, do qual'
iião faz menção, a circular supra referida.
Outras marcas postaes temos encontrado, pesquisando
entre o material que possuimos ou que foi posto á nosso dis-
posição e não podemos determinar exactamente as datas cer-
tas de seu apparecimento, como as que eram applicadas á s
cartas não franqueadas-até o anno 1889, data em que foram
emittidos e usados pela primeira vez, no Brasil, os sellos de
"Taxa-Devida".
0 s carimbos, cujos clichés reproduzimos

eram alxplicados, no tempo do Imperio até o anno 1889, ás


cartas não franqueadas, do mesmo modo que actualmente se
pratica com os sellos de Taxa Devida. Parece que o typo de
simples algarismos foi o primeiro a ser usado; e conhecemos
apenas os valores: 280, 340, 380 e 760. Mais tarde foi usado
o outro typo que distingue-se do primeiro pelas dimensões
do algarismo e pela abreviatura da palavra "Reis", que não,
existe no primeiro typo.
Os valores usados foram muitos ; temos visto os de : 100,
160, 200, 240, 320, 350; e temos informações .vagas que exis-
tissem tambem os valores 380, 400, 480, 520, 760, 920.

Porém, quando haviamos já preparado este modesto tra-


balho, o sr. Levy nos mostrou algumas cartas, de proceden-
cia differente, com destino ao Brasil, nas quaks temos visto
alguns carimbos, ou marcas, de algarismos, julgando' o sr. L.
Levy que não representasse uma mtilta a pagar, conforme
a nossa opinião, mas sim o porte da carta. Relatamos:

1.") uma carta de França (1863), via Southampton, para


S. Paulo, com carimbo vermelho "280".
2.") uma carta da Allemanha (1864), para o R. G. do
Sul, com carimbo vermelho "430".
3.") uma carta da Inglaterra (1866) via Bordeaux ( ? )
,

para o R. G. do Sul, com carimbo vermelho "300".


4.") uma carta de Hamburg (1856) via So«tliampton,
para o R. G. do Sul, com carimbo "960" e ao lado a tinta de
côr "4 p.".
5.0) uma carta de Paris (1864) para o R. G. do Sul,
via Bordeaux, com carimbo vermelho "560".
6 . ) outra carta de Paris (1866), via Southampton, para
V R. G. do Sul, com carimbo azul "840".

Não podendo, no momento, explicar esta diversidade de


cobrança de porte, deixamos aqui consignado estas notas,
para que outros mais entendidos possam dar informações so-
bre o assumpto.

Tendo encontrado diversas cartas de 1880 a 1886, cujo


sello ou parte do mesmo era obliterado com carimbo de le-
genda CORREIO URBANO, devemos relembrar que a exis-
tencia deste genero de correio, remonta ao tempo que não
existia o sello adhesivo. De facto, no Archivo, temos encon-
trado que. . ., "por resolução de

"12 de Julho de 1839 o Governo Imperial foi an-


"torisado a conceder carta de privilegio exclusivo
"ao cidadão Paulo Fernandes Vianna, para esta-
"belecer no Rio, os "CORREIOS URBANOS"
"de que tratava o Decreto de 9 de Setembro de
"1835.. . ", mas que - não sabemos por qual mo-
tivo - não teve execução.

No anno de 1845, tratou-se de pôr em pratica o ensaio


do CORREIO URBANO, e a experiencia mostrando a inuti-
lidade dos Correios Urbanos, cujo estabelecimento se ensaiou
no Correio da Côrte, foram supprimidos em Maio $e 1846.
(Relatorio dos Negocios do Imperio, apresentado pelo mi-
nistro Joaq. Marcelino de Brito). Nova creação do Correio
Urbano foi determinada pelo Regulamento N. 637, de 27 de
Setembro de 1849. - Entre os annos 1880 a 1886, apparece-
ram cartas com carimbo Correio Urbano, de .diversa feitura e
dimensões.

Depois da emissão dos sellos de Taxa-Devida, que logi-


camente deviam substituir as marcas postaes existentes, con-
tinuou-se applicar um carimbo com algarismos (quantia a
pagar) nas cartas, e as letras P. D. (porto deficiente), ou in-
sufficientemente franqueada.
Foi usado, e continua-se applicar, tambem um carimbo
com a letra T que indica deve ser taxada com multa a carta
no correio de destino.
Outros carimbos :

€3
DESCONHECIDO
SELLO
ARRANCADO

usam-se no Correio, para conhecimentos dos interessados.


Emfim existem outros carimbos de simples letras
I
V. verificado.
M. E. mal encaminhada.
U. H. ultima hora.
D. H. depois da hora.
A. R. aviso de recebimento.
M. P. mão propria.
E. C.?
D. P. depois da partida.
O carimbo "EXPRESSA", é applicado á correspondeii-
cia cuja entrega deve ser immediata. O art. 9 das Instriicções
para serviço de distribuição por expresso, mandados executar
pela portaria N. 539 de 30 de Setembro de 1890, reza o se-
guinte :
"A correspondencia expressa será assignalada, no lado
"do endereço pela palavra L'EXPRESSA" applicada por meio
"de carimbo, ou de penna; e, sempre que for possivel, com
"tinta encarnada."
E o art. 22: "Os carteiros expressos farão uso, no verso
"aos objectos ,as declaraçóes usuaes conforme o caso: Porta
"fechada; - Não ha quem receba; - Não quer receber; -
"Não mora; Mudou=se; - Morreu.''
r O carimbo "AVULSA" é applicado nas cartas, para in-
h ,
dicar que transitaram fora da maia, conforme manda o art.
913 das Instrucções de 12 de Abril de 1889.

Nada existe na nossa literatura philatelica que trata com


detalhes do argumento que por summa capita expuzemos; e
os estudos parciaes publicados por pliilatelistas extrangeiros,
que se têm occupado de sellos do Brasil, não poderão muito
servir a quem, entre nós, pretende especialisar-se; pois entre
elles se faz sentir tambem a grande difficuldade com que se
lucta nos estudos dessa natureza. E, repetimos, só com dif-
ficuldades de toda especie que se consegue reunir material
'
para a literatura philatelica, base de todos os trabalhos ; mór-
mente em nosso caso e nosso paiz onde existem philatelictas
que vivem subtrahindo com ciume inexplicavel os proprios
sellos ao estudo e á admiração dos que se interessam de di-
vulgarisar os thesouros da philatelia nacional.
Deixamos, porém, aqui consignados os nossos agradeci-
mentos aos srs. J. Kloke, Dr. L. F. Clerot, General-consul
Heinze, Sr. Marcello Dall'Ovo, Dr. Campos da Paz e Luiz
Levy, que puzeram á nossa disposição muito material de
estudo.
Deste esboço apenas, fazemos votos que outros mais
competentes se pronunciem a respeito, e possam contribuir
com outro material e maiores conhecimentos, á literatura phi-
latelica deste novo ramo da collecção brasileira.
ALGUMAS NOTAS GENEALOGICAS
DA

FAMILIA PAULA LEITE


(RAMO LOCALISADO E M IT6)
PELO

DR. JOSE' DE PAULA LEITE DE BARROS


(SOCIO EFFECTIVO E DIRECTOR THESOUREIRO
DO INSTITUTO)
ADVERTENCIA

QUANDO ainda residente e m It4, eg~zprehendi


e m meus molnentos de lazer, recolher e colligir
dados e apontamentos, rebuscando documentação q w
por ventura pudesse existir nos archivos locaes e to-
mando depoimentos pessoaes fidedignos aproveita-
veis á genealogia dos Paula Leite oriundos da velha
e tradicional terra da Convenção republicana, vamo
que é da arvore frondosa implantada na Capitania de
São Vicente ao alvorecer do seculo X V I pelos ir-
mãos Barros, Pedro V a z e Antonio Pedroso.
Meu intuito, levando a effeito tal estudo, era n
ic, exclusivamente, prestar pleito e homenagem de
veneração aos meus antepassados : jamais m e occor-
reu que este despretencioso e modesto trabalho, tra- '
çado sem pretenções literarias, mas organisado com
escrupuCosa fidelidade, pudesse vir a lume da publi-
cidade. Acontece, porem, que parentes e amigos
meus e tambem interessados e m estudos genealogi-
cos assediaram-me aconselhando a que desse divul-
gação á s minhas singelas notas, e foi assim quc ellas
apparecerar~z enfeixadas e w livro, e14z 1901.
Entregues ao prelo os originaes e m primeiro ras-
czdnho e, portanto, sem a indispensavel revisão; cor-
rendo a impressão longe de minhas vistas, acontecefc
ao meu wzodesto estudo o que fatalnzerzte deveria acon-
tecer: sahir inçado de erros graves que alteraram~z
profundamente a verdade historica, truncando não
raras vezes as linhas de ascendencia por ~vtintco~zs-
fatadas.
A o descobrir o s lapsos e as omissões que en-
feiavam o traballzo Srejudicando a verdade gencri
logica, tratei de recolher os exemplares já distribui-
dos, n o intento de os corrigir quando se wte depa-
Tasse opportunidade.
Ponderando nzellzor, entretanto, e com?.zo ficas-
sem. ainda e m circulação varios exemplares da com$-
denznada edição, pareceu-me 11zais curial refundir
m e u trabalho amizpliando-o tanzbefn com. infor1ize.s
colhidos posterzornzente á distribuição da edição pso-
visoria, a f i m de o entregar á publicidade e m edição
def initiva.
E' o qzte faço neste momento.

DR. JOSÉ DE PAULA L E I T E DE BARROS.


TITULO I

GERAÇÃO PORTUGUEZA

! - 1 -Pedro Vaz de Barros. Pedro Taques citado por Sii-


va Leme, affirma que Pedro Vaz de Barros e seu
irmão Antonio Pedroso de Barros, foram pessoas de
qualificada nobreza, e vieram para o Brasil providos.
o primeiro, em Ouvidor da Capitania de São Vicente,
e o segundo em Capitão-mór da mesma Capitania,
com clausula de, fallecendo Antonio Pedroso, accu-
mulasse o cargo de Capitão-mór governador o ouvi-
dor seu irmão, Pedro Vaz, ou fallecendo este fossem
os cargos accumulados por Antonio Pedroso, como
consta da carta patente passada em Lisboa em 1605,
com a qual tomou posse Antonio Pedroso na Camarn
de São Vicente, em 1607, e que se acha archivada nA
Camara de São Paulo.
Entretanto, Pedro Vaz de Barros já se havia
transferido para São Paulo muito antes d'aquella
época, pois consta ter exercido o cargo de Capitão-
mór governador cla Capitania pelos annos de 1602.
(Cartorio da Provedoria da Fazenda Real e Archivo
da Camara de São Paulo).
Pedro Vaz, bem como seu irmão Antonio, era
natural do reino do Algarve, donde se passou para
Lisboa, vindo em seguida para São Vicente.
Foi casado com Luzia Leme, filha de Fernão.
Dias Paes e de sua mulher Lucrecia Leme, natural
de São Vicente, esta, filha de Braz Esteves e de sua
mulher Leonor Leme, ambos naturaes da ilha da
Madeira.
Leonor era filha de Pedro Leme e de sua segun-
da mulher Luzia Fernandes, tambem naturaes da
mesma ilha. Pelo seu lado Fernão Dias Paes era fi-
lho de Pedro Leme e de sua primeira esposa Isabel
Paes, neto de Antão Leme, bisneto de Antonio Leme
e tataraneto de Martim Leme. Luzia Leme falleceu
em 1655, onze annos depois do marido, o qual mor-
reu em São Paulo a 28 de Março de 1644, com tes-
tamento. Teve do seu casamento oito filhos:
?- 1 - Valentinz Pedroso
de Barros. Marchou em 1639, em
soccorro de Pernambuco, então invadido pelos hol-
landezes, servindo na companhia do, mestre de cam-
po Antonio Raposo Tavares, o extraordinario ban-
deirante, no posto de Capitão. Tornou-se notavel
pelos seus feitos de guerra e casou-se na Bahia com
Catharina de Goes Siqueira de quem houve dois fi-
lhos, Fernando e João. O Capitão Valentim falleceu
em São Paulo em 1651.
Sua viuva contrahiu segundas nupcias com dom
João Matheus Rendon, indo o novo casal residir na
Ilha Grande.
2 -2 -Antonio Pedroso de Barros. E' o que segue.
2 -3 -Luiz Pedroso de Barros, como seu irmão Valentim,.
tambern marchou em defeza de Pernambuco em 1639,
debaixo do commando do insigne cabo de guerra,
Antonio Raposo Tavares levando em sua companhia
um contingente de indios de sua propriedade. Ca-
sou-se na Bahia com Leonor de Goes Siqueira e
Araujo, irmã de Catharina, já mencionada pelo seii
casamento com Valentim Pedroso.
Grande bandeirante, fez Luiz notaveis entrada5
no sertão. Estando certa vez destacado em Cuiabá,
foi pelo vice-iei do Perú solicitado para o auxiliar no
combate ás tribus de naturaes que, nas margens do
oceano Pacifico se haviam revoltado. Attendendo ao
pedido poz em pratica sua arte de guerra sertaneja
conseguindo em pouco tempo apaziguar a provincia
peruana, rumando em seguida, em viagem de retorno
para Matto-Grosso, não conseguindo, porem, alcan-
çal-o, porquanto veiu a fallecer, victimado por febres,
em pleno sertão dos Serranos, ainda em terras do
Perú, em 1662. Sua mulher I,eonor, falleceu em São
Paulo em 1699. Leonor teve, do seu casamento, duas
filhas :
1 - 1 -Maria de Araujo. Casou com Lourenço Cas-
tanho Taques, fallecido em 1708, filho de
outro de igual nome e de Maria de Lara.
I - 2 -Angela de Siqueira. Casou primeira ver
com Sebastião Fernandes Corrêa, e segun-
da vez com Pedro Taques de Almeida, ca-
valleiro fidalgo da Casa Real e Capitão-mór
governador.
Minha ascendente, tanto por meu pae como por
minha mãe, foi Leonor de Goes Siqueira senhora de
destaque pela educação e cultura de espirito bastante
elevadas, para a época, na sociedade paulistana. .
Foi a primeira senhora que, por saber ler e-es-
crever, assignou, de proprio punho, seu testamenh
em São Paulo, segundo segura informação.
2 - 4 - Pedro Vau d e Barros ( o PerÔ-guassú). Foi o fun-
dador e capitão-mór da actual cidade de São Roque.
onde possuiu enorme fazenda com cerca de 1200 in-
dios seus administrados. Gosou de grande tratamenrd
e muita riqueza: possuia baixelas de prata no peso
de muitas arrobas. A pedido do governador Alexan-
dre de Souza Freire, marchou, em Maio de 1671, em
soccorro da Bahia, que andava sendo devastada pelos
índios do Recoilcavo, demorando-se por lá cerca de
dois aimos ; fez milhares de prisioneiros que foram
repartidos entre os conquistadores seus sequazes. Foi,
talvez, o maior potentado de seu tempo na Ca-
pitania.
Falleceu em 1676, sem descendencia legitima dei-
xando, porem, nove bastardos, tidos de diversas in-
dias.
2- 5 - Fernão Paes de Barros. Teve fortuna e tratamento.
Foi casado com Maria de Mendonça, com quem vi-
veu em desharmonia, separando-se afinal. deixo:^
uma filha natural.
2 - 6 - Sebastião Paes de Barros. Notavel sertanista, inter-
nou-se no sertão do Tocantins e Maranhão como cabo
do governador Antonio de Albuquerque Coelho de
Carvalho. Foi casado com Catharina Tavares, e dei.
xou descendencia.
2 - 7 - Jeronywao Pedroso de Barsos. Morreu solteiro e sem
descendencia.
I - 8 - Lztcrecia Pedroso de Barros. Ultima filha de Pedro
O

Vaz e de Luzia Leme; foi casada com Antonio de


Almeida Pimentel, nobre fidalgo de linhagem. Dei-
xou uma filha. Maria de Almeida Pimentel.
NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA PACLA
LEITE 35:

P R I M E I R A GERAÇÃO P A U L I S T A

2 - 2 -Antonio Pedroso de Barros (sobrinho). Filho do


governador e capitão-mór de São Vicente, Pedro
Vaz de Barros e de sua mulher Luzia Leme, casou-s^
na matriz de São Paulo a 3 de Outubro de 1639, com
d. Maria Pires de Medeiros, filha do capitão Salva-
dor Pires de Medeiros e de sua mulher Mecia Fer-
nandes, tambem paulistas; bisneta de Salvador Pires
e de Maria Rodrigues, portuguezes; 3." neta de João
Pires, o gago, o qual veiu para São Vicente em 1532
com Martim Affonso de Souza.
Falleceu a 1." de Maio de 1651 e deixou, de seii
casamento com Maria Pires de Medeiros, 4 filhos le-
gitimo~:teve tambem 4 filhos bastardos. Do seu in-
ventario consta o arrolamento de 4 filhos: Pedro, de
idade de 7 annos; Ignez de 5 annos; Luzia, de 3 an-
nos e Salvador de 1. Attestou sua fortuna, antes de
pagas as dividas, Rs. 1 :275$151 e o monte a ser par-
tilhado Rs. 985$528.
3 - 1 -Pedro V a z de Barros. Casado com Maria Leite de
Mesquita. E' o que segue.
3 -2 - Salvador.
3 -3 - Ignez Pedroso de Barros.
3 -4 -Luzia Leme de Barros, casada com Manoel de Cam-
pos Bicudo.
3 -5 -Antonio Pedroso de Barros: casado com Maria Lei-
te de Proença - citado por Silva Leme.
a

S E G U N D A GERAÇÃO

, 3 - 1 -Pedro V a z de Barros, o neto. Foi grande proprieta-


rio e homem de tratamento, senhor da fazenda Ca-
taúna, a algumas leguas ao sul de S. Paulo, com mais
de seiscentos indios seus administrados.
Foi casado com Maria Leite de Mesquita, filha
unica de Domingos Rodrigues de Mesquita, natural
de Torre de Moncorvo, Portugal, e de Maria Leite,
irmã de Veronica Dias, neta de Pedro Dias Paes
Leme e de sua mulher Maria Leite, bisneta de Pas-
choal Leite Furtado e de sua mulher Isabel do Prado.
Foi Pedro Vaz ornado de nobres qualidades de
coração: falleceu em suas terras a 22 de Março de
1695, deixando de seu casamento os 16 filhos se-
guintes :
4 -1 -Beatriz de Barros Leite, casada com Manuel Corrêa
Penteado, minha ascendente pelo lado materno.
4 - 2 -Luzia Lente de Barros. Casada com Paschoal Leite
Furtado ; deixou descendencia.
4 - 3 -Isabel Paes. Casada com João Correa Penteado; dei-
xou descendencia.
4 -4 - Lucrecia Leme. Casada com José Correa Penteado ;
deixou descendencia.
4 - 5 -Maria Pires de Barros. Casada com Rodrigo Bicudo
Chassim ; deixou descendencia.
4 - 6 -Maria Leite Pedroso. Casado com Gaspar Correli
Leite ; deixou descendencia.
4 -7 -Domingos Rodrigues. Casado com Catharina de Al-
meida ; deixou descendencia.
4 - 8 - Antonio Pedroso de Barros. Casou duas vezes, dei-
xando descendencia do primeiro matrimonio.
4 -9 - João Leite de Barros. Casou com Anna Lopes Mo-
reira, filha de Gaspar de Godoy Collaço.
4 - 10 - Valentinz Pedroso de Barros. Casado com Escholas-
tica Furquim, assassinado n'um tumulto no sertão
de Pitangui; não deixou descendencia.
4 - 11-Jerony+no Pedroso de Barros. Grande faiscador de
ouro, foi um dos cavalheiros paulistas de maior res-
peito e opulencia de cabedaes que houve nas Minas.
Casou primeira vez com Anna Pires Moreira, e se-
gunda vez, em Minas, com Francisca Romeiro Ve-
lho Cabral. Deixou sete filhos do primeiro casamen-
to e tres do segundo.
4 - 12- José de Barros. Casou em 1719, an Itú, com Anna
Garcia de Campos, havendo dois filhos, mortos em
Cuyabá.
4 - 13 -Pedro Vaz de Barros. Casado com Gertrudes Ferraa
d'-4rruda.
E' o que segue.
.4 - 14 -Francisco Pedroso de Barros.
4 - 15 -Manuel Pedroso de Barros.
4 - 16- Padre Euzebio Pedroso de Barros; foi o testamen-
teiro de sua mãe.

T E R C E I R A GERAÇAO

4 - 13 - Pedro Vaz de Barros. Casou em Itú com Gertrudes


Ferraz d'Arruda, como se póde ver do archivo da
matriz de Itú, na certidão que transcrevo a seguir:
"Na era de mil sete centos e vinte, Pedro Vaz
de Barros, filho legitimo do defunto Pedro Vaz de
Barros e de Maria Leite de Mesquita, moradores nu
cidade de São Paulo, se recebeu em matrimonio com
Gertrudes d'Arruda, filha legitima do capitão Pedro
Dias Leite e Antonia d'Arruda, perante mim e RO-
drigo Bicudo, com João Paes Roiz, Maria Leite,
com Joanna Monteiro, todos moradores d'esta pro-
pria villa. Foram dispensados pelo Bispo do terceiro
gráo de consanguinidade. Em fé do que fiz este ter-
mo. aos sete dias de Fevereiro da sobredita era. F e l i ~
Nabor."
Gertrudes, era neta paterna de Manuel ferra^
de Araujo, natural do Porto, e de sua mulher Vero-
tiica Dias Leite; era ainda neta materna de Francir-
co d'Arruda e Sá e de Maria de Quadros.
Pedro Vaz foi [grande plantador de canna de as-
sucar e tambem faiscador de ouro em Cuyabá, onde
casou segunda vez com Margarida Bicudo de Carn-
pos. Não teve filhos do segundo casamento: do pri-
meiro, contrahido com Gertrudes dlArruda deixo2
tres filhos.
5 - 1 - Mathias Lcife d e Barros. Foi baptisado na matriz dc
Itú a primeiro de Março de 1721, sendo padrinhos
seus avós Pedro Dias Leite e Antonia d'Arruda.
Casou na matriz de Araçariguama em 1747 com Isa-
bel de Lara Collaço, filha de João de Godop Collaço
e de Isabel de 1,ara.
Deixou uma filha, Maria Leite de Mesquita.
5 - 2 - Maria Pires d e Barros. Casada em Itú com Agosti-
nho Soares, natural de Braga.

QUARTA GERAÇÃO

5 - 3 -Marcos Leite d e B a ~ ~ r o Nasceu


s. em Itú, como se
póde ver do assento seguinte :

"Marcos". - Marcos filho legitimo de Pe-.


dro Vaz de Barros e de Gertrudes de A r r u d ~
foi baptisado por mim com licença do Vigario
João; foram padrinhos Antonio Corrêa e Ve
ronica Dias, do que para constar fiz este asseii-
to aos Vinte e trez dias de Outubro de mil sere
centos e vinte e quatro. "André (10s Santos
Queiroz"-
Marcos Leite: casou-se, primeira vez, em Araçari-
guama em 29 de Agosto de 1747, com Maria de Lara,
de quem ficou viuvo com tres filhos - 1 - Jacintha
casada em 1780 em Itú com Thimotheo de Almeida
Lara, filho de Thomé de Lara Vidigal e Luzia da
Rocha; - 2 - Ignacia Leite casada em 1780 em
Itú com Antonio Leme de Alvarenga, filho de An-
tonio Leme de Miranda e Joanna de Almeida Leite;
3 - Bento, fallecido em 1793.
Casou-se segunda vez com Maria de Goes Cas-
tanho, como se verifica da certidão seguinte:

Parochia de N. S. da Candelaria de Itú.


Certifico que revendo os livros de assento de
casamentos desta parochia, em um delles á fo-
. lhas "96" encontrei o seguinte assento: Mar-
cos Leite e Maria de Goes: - Aos dois dias
do mez de Abril de mil sete centos e cincoenta
e cinco annos, de manhã, n'esta Igreja de N. S.
da Candelaria da Villa de Itú, feitas as denun-
ciações na forma do Sagrado Concilio Triden-
tino e Constituição do Bispado com provisãi,
do Excellentissimo Snr. Bispo D. Frei Ailtonio
da Madre de Deus Galvão, e sendo dispensa-
dos do terceiro. grau de consanguinidade, e sem
descobrir impedimento algum, em minha pre-
sença, digo, em presença de mim coadjutor d'es-
ta Matriz o Padre Manuel de Arruda e Sá, e
sendo presentes por testemunhas Antonio Fer-
raz de Arruda e Joseph de Barros, ambos casa-
dos e freguezes d'esta freguezia e pessoas de
mim conhecidas, se casaram em face da Igreja,
solemnemente por palavras de presente :
Marcos Leite de Barros, filho legitimo de
Pedro Vaz de Barros e Gertrudes de Arruda,
já defuntos, e viuvo que ficou de Isabel. de
Lara, digo Mecia de Almeida, natural e freguez
d'esta mesma freguezia, com Maria de Goes,
filha legitima de Thimoteo de Goes e sua mu-
lher Custodia Paes, já defuntos, natural e fre-
guez d'esta mesma freguezia; e não receberam
as bençams por ser em tempo prohibido, d u
que tudo fiz este assento, no mesmo dia, mez
e anno, e assignei junto as testemunhas nomea-
das.
O. P.e Manuel de Arruda e Sá, coad-
jutor.
Antonio Ferraz de Arruda
Joseph Gonsalves de Barros.
Receberam as bençaões.
Manuel de Arruda e Sá.
Nada mais se contem no dito assento.
Ita in fide Parochi.
Itú, 10 de Setembro de 1901.
O vigario Pe. Elisiario de Camargo Barros.".

Passou Marcos Leite a residir no sitio do Bana-


nal, a meia legoa abaixo do Salto de Itú, á margem
direita do rio Tietê, dedicando-se á vida da lavoura-
Tendo sido atacado de rheumatismo em alto
gráu, ficou finalmente paralytico em consequencia de
ankylose geral das juntas. e a tal estado o reduziu a
molestia que, quando tinha de se transportar da Fa-
zenda á sua residencia na yilla, á rua do Commercio,
no quarteirão abaixo da actual rua 15 de Novembro,
em cuja esquina está o "Club Recreativo Ituano" e.
em frente á redacção da "A Republica", acima d e
largo do Bom Jesus, o fazia em rêde aos hombroç
de seus poucos escravos e de seus filhos.
Falleceu em 1793 em ItÚ.
Teve Marcos Leite, de seu primeiro casamento,
tres filhos.
6- 1 -Jacyntha Leite de Barros. Casou em 1780 em I t ú
com Thimotheo de Almeida Lara, com geração.
6 -2 - Ignaciu Leite. Casada em 1780 em Itú com Antonio
Leme de Alvarenga.
6 -3 -~ e n t o Já
. fallecido em 1793.
Da segunda mulher, Maria de Goes Castanho,
teve
6 -4 -Francisco de Paula Leite de Barros. Casado com Ma-
ria Joaquina de Campos.
E' o que segue.
6 -5 - Alexandre Leite de Barros. Baptisado na matriz de
Itú a 1." de Março de 1761, casou em Sorocaba em
1794 com Thereza Maria de Almeida, filha de João
Bicudo de Almeida e de Maria Leite da Annuncia-
ção; deixou descendentes eni Capivary.
6- 6 -Manuela Leite de Barros. Casou em 1805, em Itii,
com ~ h t o n i ode Padua Castanho, filho de Joaquim
de Araujo Paes e de Agostinha de Barros, residentes
em Itú, para os lados do bairro do Caracatinga.
6 -7 -Pedro Vaz de Barros. Casou em 1800 em Itú com
Maria Rueno de Camargo: deixou um casal de filhos
fallecidos solteiros.
6- 8 - Gertrudes de Arruda Leite. Casou em 1776 em Itu,
com Antonio de Camargo Paes, filho de Matheus de
Camargo e Siqueira e de Maria Paes da Silva.
D'este casal descendem Dom José de Canlarga
Barros, primeiro bispo de Corityba, e posteriormente
bispo de São Paulo e o Padre ~ l i s i a r i ode Camargo
Barros em 1901, e por muitos annos, vigario de Itú.
6 -9 -Maria Clara. Espirito eminentemente -religioso, en-
trou para o convento em S. Paulo.
4 - 10 - Maria Pires. Com 40 annos de idade em 1813 ; mais
tarde casou e não deixou geração.
6 - 11 -Rosa de Canzpos. Casou-se em ItÚ, em 1812, corn
João da SiIveira Goulart, filho de Luiz da Silveira
Goulart e de Anna Ribeiro Pedroso, com geração.
6 - 12 - Anna d e Ca~gzpos.Ultima filha de Marcos Leite, ca.
sou-se com Manuel de' Campos.

b Q 7íINTA G E R A Ç Ã O
r

8 - 4 - Francisco de Paula Leite de Barros. Nasceu em ItC


como se verá do seguinte assento:

"Francisco - Aos quinze dias do mez de


Fevereiro de mil sete centos e sessenta e sete,
baptisei e puz os Santos oleos a Francisco, filho
de Marcos Leite de Barros e Maria de Goes
Castanho sendo padrinho Vicente Ferreira do
Amaral filho de José do Amaral Gurgel e Rita
de Arruda, casada, todos moradores d'esta vil-
la de Itú, do que fiz este assento que assignei
com a data referida.
O Coaj.tor Bern.0 dos Reis Barros".

Casou-se Francisco de Paula Leite de Barros


com Maria Joaquina de Campos, como diz o assento
seguinte :

"A vinte e seis de Fevereiro de mil sete


centos e noventa e sete n'esta Matriz de Itú
feitas as deligencias de estylo, não occorrendo
impedimento algum com provisão do Juiz da
.. Vara d'esta Comarca em minha presença e i ~ b
das testemunhas Manuel de Campos e Almeid-i
e Manuel de Campos Paes, receberão-se sole-
mnemente como marido e mulher, Francisco de
Paula Leite, natural d'esta villa, filho legitimo
de Marcos Leite de Barros e Maria de Goes
Castanho, naturaes desta villa, neto por parte
paterna de Pedro Vaz de Barros e Gertrudes
d'Arruda Leite, aquelle de São Paulo, esta
d'esta villa e pela materna de Themotheo de
Goes Castanho e Custodia Paes de Campos,
d'esta villa, filha legitima de José Joaquim de
Campos e de Maria Leite da Silva, neta por
parte paterna de João Leite de Almeida, dc
Guaratlnguetá, e Maria de Campos, d'esta vil-
Ia, e pela materna de Amador Bueno de Cn-
margo e Liberata Leite, aquelle de ,Parnahyba,
e esta d'esta villa, todos freguezes d'esta. Re-
ceberam as benções nupciaes. O vigario, JosC
do Rego Castanhov.

Residiu Francisco de Paula os primeiros annos


de sua vida em companhia de seus paes no sitio do
Bananal já atraz referido. Desejando ardentemente
casar-se com sua jovem visinha e parente, Maria Joa-
quina de Campos, filha unica do alferes José Joa-
quim' de Campos Leite, e como lhe faltasse a precisa
coragem para apresentar pessoalmente o seu pedido
de noivado, encarregou d'essa missão ao digno paren-
te e amigo commum de ambas as familias, o Padre
João Leite Ferraz, o maior potentado daquella zon3
sertaneja. Acceitando o bom Padre João Leite essa
incumbencia não quiz, todavia, leval-a a effeito sem
primeiro pôr á prova a sinceridade do pedido e co-
nhecer do gráu de verdadeira amizade consagrad;~
por Francisco á sua formosa prima e então exigiu
do pretendente o seguinte serviço, paga adiantada
de sua intervenção: ,

Eu, disse o bom Padre, tomei a deliberação de,*ao


concluir a Capella de Nossa Senhora do Monte Ser-
rat, collocar nella a imagem da padroeira que devera
ser esculpida no tronco do cedro de "muito boas
aguas" que existe á beira do tanque do sitio Grande
do bairro do Pirahy, de propriedade do nosso parente
João de Almeida Prado: si desejar que lhe encarni-
nhe a pretenção deverá primeiramente ir até o sitio
Grande e de lá me trazer um toro do cedro.
Si bem o encommendou o bom do padre, melhor
o executou o moço Paula Leite que, vencendo todas
as difficuldades, cortou, apoz enormes trabalhos e fa-
digas, abrindo caminho por paragens invias, acci-
dentadas e trouxe o toro de cedro entregando-o no
largo da Matriz de Itú onde residia o seu bom amigo
e protector; este, porem, não se mostrou ainda satis-
feito com as difficuldades tão galhardamente supe-
radas pelo seu jovem protegido e determinou que elle
fosse á villa de Parnahyba, ajustar e trazer-lhe de-
terminado santeiro, artista de fama, na época, no que
ainda foi incontinente obedecido, voltando dias de-
pois com o esculptm que deu começo e executou ma-
gistralmente a bella imagem que orna a modesta
igreja matriz do Salto.
Sendo, como foram, satisfeitas as provas de cons-
tancia e amor pelo jovem pretendente, é desnecessa-
rio accrescentar que o padre João Leite pediu e ob-
teve a mão da moça para o seu obediente protegido,
missão essa que se tornava de facil cumprimento por
ser o padre João, de facto, o tutor da moça, por-
quanto tendo José Joaquim, acompanhando o movi-
mento da epoca, seguido, logo depois do nascimento
de sua filha, para as minas de ouro de Cuyabá, não
mais voltou para junto da esposa e da unica filha,
sendo que em sua nova morada deixou não pequena
descendencia de filhos illegitimos; foi o padre João
Leite quem fez as vezes de bom pae e amigo da rno-
desta familia.
Em signal de gratidão e amisade, - Paula Leite
levou o reverendo João para padrinho de seu filho
primogenito - de nome Francisco.
Eis ahi o motivo porque a familia Paula Leite,
pronunciando com respeito e gratidão o nome do di-
gno padre João Leite Ferraz, tem especial veneração
pela imagem da Senhora do Monte Serrat, padroeirn
do Salto.
Tendo, em 1809, chegado a Itú a noticia do fal-
lecimento, em Cuyabá, do tenente José Joaquim,
para aquellas longinquas paragens transportou-se no
anno seguinte o seu genro Francisco de Paula Leite
de Barros, levando em sua companhia o seu primo-
genito, então de 12 annos de idade, com o fim de
levantar a herança que lhe competia visto ser elle
casado com a unica filha d'aquelle. Depois de peno-
sissima viagem de seis mezes pelos inhospitos sertões
do noroeste de São Paulo, Goyaz, Minas e Matto-
Grosso, chegou afinal a Cuyabá, onde veio a saber
que seu sogro morrera com poucos recursos, nada
deixando que compensasse os incommoõlos e despe-
sas da penosa viagem, a não ser uma immensa gleba
de terras no alto sertão, com sessenta legoas em
quadra, situada na longinqua povoação de Santa
Anna do Paranahyba, em Matto Grosso, terras das
quaes aventureiros norte americanos descobriram o
registro, feito em 1837, quando andavam na diligen-
cia de comprar grandes latifundios naquelle estado
brasileiro, e que foram encontradas inteiramente oc-
cupadas por intrusos.
São Paulo, entretanto, muito ganhou com esta
viagem porque Paula Leite trouxe d'aquelles sertões
a canna "cayana branca", como é ainda conhecida, e
a gramminha, vegetaes esses que provocaram verda-
deira revolução na vida agricola da antiga capitania,
mais tarde provincia de S. Paulo. As cinco ou seis
mudas da canna trazidas com cuidado e que puderam
conservar o poder germinador, plantou-as em sua
fazenda de Monte Serrat, municipio de Jundiahy,
onde está localisada actualmente a estação de igual
nome da Companhia de Estrada de Ferro ituaria; e
dessa fazenda a que dera o nome da Santa de sua
veneração, a que devia favores, desseminou-se a plail-
ta pelos lavradores visinhos com lucros realmente fa-
bulosos, porquanto a "canninha" até então utlica
empregada nas fazendas de Campinas, Itú e outras,
produzia em suas terras virgens e muito fortes ape-
nas 50 a 60 arrobas de assucar de má qualidade por
um quartel de planta, emquanto um quartel de terre-
no cultivado com a nova canna cayana produzia du-
zentas, trezentas, e ás vezes mais ahobas de boin as-
sucar. Paula Leite tinha grande pendor e inclina-
ção para os assumptos de construcção especialmentt:
de casa, por isso possuia os apetreohos e utensilios, na
época em uso, taes como (grossas cordas e cabos, moi-
tão, correntes e outros objectos mais, e toda a vez
que se lhe offerecia occasião utilisava-os com prazer.
Quando, em principias do passado seculo XIX, o
eminente filho da terra de Braz Cubas, padre Jesui-
no do Monte Carmelo, que no seculo se chamou Je-
suino Francisco de Paula Gusmão, tornando-se, pela
residencia, profunda e sinceramente ituano, planejori
e com prodigiosos esforços levou a effeito a cons-
trucção da notavel igreja de N. S. do Patrocinio, em
Itú, obra de grande arrojo e muita inspiração, encon-
trou a maior difficuldade para levantar e collocar em
.
seus respectivos logares as longas, grossas e pesadas
vigas e traves destinadas a supportar o grande esque-
leto superior do imponente templo: viu-se então na
necessidade de recorrer ao prestimo e habilidade, as-
saz conhecidos, de Francisco de Paula para a exe-
cução desse trabalho penoso e arriscado. Não foi
perdida essa invocação porquanto attendendo a esse
,pedido transferiu-se Francisco de Paula de sua fa-
zenda Monte Serrat, e m ' Jundiahy, temporariamen-
te, para Itú, trazendo comsigo escravos conhecedo-
res do officio e os precisos apparelhos, e sem re-
muneração alguma, trabalhando por espirito de pie-
dade e devoção, construiu todo o madeiramento do
bello templo e tambem do pequeno Convento que se
ergueu a seu lado, ampliado mais tarde, antes mes-
mo de findar o seculo XIX e onde muitas das netas,
bisnetas e tataranetas de Paula Leite irião beber a
instrucção e a sã moral, ignorando, aliás, que seu
avoengo alli dispendera boa dóse de energia e n5a
poupara esforços para o levantamento daquella casa
de piedade e educação o que, sem duvida, lhe confere
o titulo de cooperador na diffusão da instrucção da
mulher paulista atravez do notavel collegio erigido e
que veiu a ser o primeiro estabelecimento de educação
ás meninas que alli ainda funcciona e criado pelo
'bispo D. Antonio Joaquim de Mel10 em São Paulo.
As boas acções dão bons fructos.
Depois de uma vida longa, modesta e honrada,
morreu Francisco de Paula no anno de 1829. Sua
mulher Maria Joaquina, ap6s soffrer um insulto
apopletico, f alleceu em 1837.
Teve de seu casamento os sete seguintes filhos :
7 -1 -Frartcisco de Paula Leite de Barros. Casado em pri-
meiras nupcias com Leonor de Siqueira Pacheco, e
em segundas com Antonia Pacheco de Campos, so-
brinha d'aquella e minha madrinha de baptismo.
E' o que segue.
7 -2 -Maria Joaquina Leite de Barros, (a tia inhala). Foi
casada com Manuel Galvão de França. Residiram
durante os primeiros annos de consorciados na fa-
zenda de Monte Serrat, propdedade dos paes de
Maria. Posteriormente passaram a morar no munici-
pio de Monte-Mór (primitivamente chamado Agua-
Choca), onde dedicaram-se a lavoura de canna. Ma-
nuel Galvão e todos os filhos foram insignes e apai-
xonados caçadores, especialmente de veados. Homem
verdadeiro e sincero, foi Galvão sempre respeitado
na sociedade.
Houve este casal os 8 seguintes filhos.
1.O -João Galvão de Barros Leite. ( O Joanico). Ca
sou-se duas vezes com filhas de seu tio capitão
Candido Galvão, com descendencia.
2.O- Alferes Francisco Galvão de Barros Leite ( O
Chico). Homem honesto, sincero, verdadeiro :I
mais não ser, era politico apaixonado do
antigo partido conservador da monarchia, não
adherindo á republica até a sua morte, que teve
lugar em Itú, em casa de sua residencia no
Largo da Matriz, em 1.O de Março de 1892, vi-
ctimado pela febre amarella logo no começo da
primeira grande epidemia que assolou Itú na-
quelle anno, Foi um grande amigo de seus
amigos. Casou-se com sua prima irmã Gertru-
des Marcolina de Barros Leite (8 -4-adian-
te) filha de Francisco de Paula Leite de Bar-
ros e de Leonor de Siqueira Pacheco.
Foram lavradores de café no municipio
de Indayatuba. Nunca tiveram filhos, mas
educaram com desvelo mais de um sobrinho.
3 - Antonio Galvão de Barros Leite (o Maninho).
Casado e com descendencia.
4 - Manuel Galvão de Barros Leite (o Neco). Ca-
sado ; deixou descendencia.
5 - Maria Galvão de Barros Leite. Solteira.
6 - Gertrudes Galvão de Barros Leite. Casada com
Felippe de Campos Thebas; deixou descen-
dencia.
7 - Joaquim Galvão de Barros Leite. Casou-se com
sua parenta Francisca de Paula Leite de Bar-
ros (a Sinhara), filha do alferes Ignacio de
Paula Leite de Barros e de sua primeira mulher
Escholastica de Almeida Campos. Foram mo-
radores de Indayatuba ; com descendencia.
8 - Anna Gertrudes de Barros Leite. Foi a segunda
esposa do alferes Ignacio de Paula Leite de
Barros.
Mãe carinhosa, prototypo da virtuosa es-
posa, e madrasta exemplar.
Falleceu em Indayatuba em 1892, com des-
cendencia.
7 -3 -Josepha Maria Leite. Madrinha de meu pae, não, se
casou e falleceu em avançada idade, tendo sempre re-
sidido em companhia de seu irmão mais velho, Fran-
cisco de Paula Leite de Barros. Foi excessiva na pra-
tica da religião e muito caridosa.
7 -4 - Capitão José Joaquim Leite de Campos (o Jugica),
casou-se com sua prima Maria de Góes Castanho.
Residiu para os lados de Porto-Feliz, dedican-
do-se a honrada vida de lavrador: foi insigne caçaa
dor especialmente de veados. Deixou os seguintes
filhos :
1 -
Francisca. Casada com seu primo José de
Barros (o Jeca de Barros), com descendencia
grande.
2 - Galdinn Leite de Barros. Casado, sem filhos.
3 - Gaudio Leite de Barros. Casado com sua sobri-
nha filha de sua irmã Francisca, sem filhos.
4 - Tenente Brazilio Leite de Barros. Casado com
sua sobrinha Maria Leite de Barros, filha de
seu cunhado José de Barros, ella já fallecida
em 1897, deixando tres filhos, - Braulino,
Francisco e Maria.
5 - Joaquil9t Leite de Barros. Casou com sua so-
brinha filha de José de Barros.
6 - Maria Leite de Barros. Casou-se trez tezes, só
deixando uma filha de seu primeiro casamento,
a qual reside em Belem do Descalvado, casada
com Sergio de Arruda Campos, com geração.
- 5 - Capitão Manuel Leite de Barros (Maneco) . Mu-
dou-se para a fazenda das Anhumas, em Campinas,
onde se casou com Candida da Rocha Ferraz, filha
do sargento-mór José da Rocha Camargo e de Annz
Maria da Cunha. lntelligente e habil agricultor de
canna primeiro e, depois, de café, accumulou grande
fortuna. Morreu em avançada idade, deixando de seii
casamento os seis seguintes filhos :
1 - Capitão Antonio Leite de Barros. Casado com
Maria da Rocha, sua parenta: deixou distincta
descendencia de mui denodados defensores da
republica, em Campinas e são: Coronel Arthur
Leite de Barros, Ladislau Leite de Barros,
A~onsoLeite de Barros, Turibio Leite de Bar-
ros e mais quatro filhas. e
2 - Capitiio Elyseu Leite de Barros. Casado com
sua parenta Maria dos Santos Camargo, com
descendencia em Campinas.
3 - Coronel Oscar Leite de Barros. Casado duas
vezes; com descendencia em Jundiahy.
4 - Anzanda Leite de Barros. Foi casada com o
o coronel Luiz de Queiroz Telles, filho dos
Barões de Jundiahy - Antonio de Queiroz
Telles e de Leduina de Queiroz, importante
agricultor de boas fazendas de café em Jun-
diahy e em Ribeirão Preto; deixou este casal grande
-e diçtincta geração.
5 - A n n a Maria Ferra,-. - Vide capitão João Úl-
Almeida Sampaio, com quem foi casada.
6 - Maria Leopoldi~za Leiie. Casou-se em Campi-
lias Com Bernardo José de Sampaio; com des-
cendencia.
7 - 6 - Capitno Antonio Leite de B a r ~ o s .Casou-se com Ma-
ria Thereza Ferraz de Camar,go. Mudou-se para o
então sertão da Limeira alli abrindo lavoura de cafe
na qual deu provas de bom agricultor; gosou sempre
de muita consideração e respeito pelo seu trato ameno
e sizudo. Morreu muito moço, deixando os seguintes
filhos :
1 - Francisco Leite de Bavuos. Morreu solteiro.
2 - Antonio Olegavio de Barros (o tótó Leite).
Casou em primeiras nupcias, em Limeira, com
Lydia Vianna, sem filhos deste casamento.
Casou-se segunda vez com Maria de Sampaio,
filha de Domingos Dias Leme de Sampaio e de
Isabel Leite de Sampaio, deixando duas filhas.
1 - Olympia casada com o bacharel em direito Fa-
bio de Mendonça Uchôa.
2 - Alzira casada com Fernando Pacheco Chaves.
3 - Hypolito Leite de Barros. Casou-se trez veze:,
a primeira com uma filha de José Elias de A1
meida Prado, neta materna do Capitão José de
Almeida Prado; a segunda vez com uma se
nhora da Limeira; a terceira vez com sua pa-
renta, filha de José de Barros (Jeca de Barros;.
4 - Belisario Leite de Barros. Casado com sua so-
brinha, filha das primeiras nupcias de seu ir-
mão Hypolito ~ e i t ede Barros.
5 - Victor Leite de Barros. Casado na familia Si-
mões, importante fazendeiro em S. Carlos d o
Pinhal.
6 - Maria Angelica de Barros. Casou com o Capi-
tão Bento da Silveira Franco, filho do Alferes
Joaquim Franco de Camargo, de Limeira, com
geração.
7 - Lydia de Barros Leite. J á fallecida, foi casada
com Luciano Esteves dos Santos, portuguez,.
lavrador e capitalista, cidadão muito estimado
em Limeira ; deixou descendencia.
8 - 02ywipia Leite de Barros. Casada com Antonio
Monteiro, lavrador importante em Limeira, na-
tural de Portugal; deixou descendencia.

S E X T A GERAÇÃO

7 - 1 -Francisco de Pazcla Leite de Barros. Nasceu em


1798, como se verifica do assento seguinte: "Fran-
cisco - A vinte e um de Outubro de Mil sete centos
e noventa e oito annos o Rev.do Coadjutor Joa-
quim José de Araujo baptisou e poz os Santos
Oleos a Francisco, filho legitimo de Francisco de
Paula Leite e Maria Joaquina de Campos, sendo pa-
drinhos o Kev.do João Leite Ferraz e Maria de Goes
Castanho. O Vig. José do Rego Castanho."
Casou-se em primeiras nupcias com Leonor de
Siqueira Pacheco, como se vê do assento seguinte:
"Francisco de Paula Leite e D." Leonor de Si-
queira Pacheco - A dezeseis de Setembro de mil
oito centos e vinte e trez em presença do Rev.do Vi-
gario da Villa de Castro, Joaquim de Almeida Leite,
e das testemunhas o alferes Luciano Francisco Pa-
checo e Antonio de Padua Castanho, dispensados de
parentesco, receberão solemnemente por marido r
mulher Francisco de Paula Leite filho legitimo de
Francisco de Paula Leite e D. Maria Joaquina Bueno,
e D." Leonor de Siqueira Pacheco filha legitima do
Sargqnto-Mór Ignacio Xavier Paes de Campos e D."
Antonia Pacheco 'de Almeida; o contrahente é néto
por parte paterna de Marcos Leite de Barros e de
Maria de Goes Castanho, e por parte materna do al-
feres José Joaquim Leite de Campos e Maria Leite
da Silva; a contrahente é neta por parte paterna de
Antonio Pompeo Paes e Rita de Campos e por parte
materna de Lourenço de Almeida Prado e Maria de
Arruda : os contrahentes receberão as bençãos nu-
nciaes, do que para constar mandei lavrar este assento
que assignei com as testemunhas.
O vig. José Rodrigues Castanho.
Luciano Francisco Pacheco
Antonio de Padua Castanho".

Comprovado pelo assento a seguir verifica-se a


data do nascimento de D.a Leonor :
"Leonor - A dois de Fevereiro de mil sete cen-
tos e noventa e nove o .Rev.do Coadjutor Joaquim
José de Araujo baptizou e poz os Santos Oleos á
Leonor, nascida a vinte e dois de Janeiro proximo
passado, filha legitima do Tenente Ignacio Xavier
Paes e D." Antonia de Almeida Pacheco sendo pa-
drinhos Ignacio Dias Ferraz e D." Anna avier de
Proença.
O vig. José do Rego Castanho."

Sendo Francisco de Paula o filho mais velho,


aos doze annos de idade acompanhou seu pae em a
penosa viagem a cava110 atravez de invios sertões
até alcançar a villa de Cuyabá, nesse tempo pequeni-
na povoação de faiscadores de ouro, onde demora-
ram-se alguns niezes em preparativos para voltar.
tendo entrementes concluido o arrolamento dos pou-
cos haveres deixados por José Joaquim, sogro de uni
e avó de outro.
Havendo seu pae e meu bisavô comprado diver-
sas propriedades que reuniu em um só sitio a que dri:
o nome de Monte Serrat, e que ainda o conserva nci
municipio de Jundiahy, ahi continuou a residir at6
que, em sete de Julho de 1836, após o fallecimentc
repentino de sua esposa, trocou esta fazenda por
outra - a do Bom Retiro - no mutiicipio de I t i
onde passou a residir.
H o m e q de genio retrahido mas de grande força
de vontade. de estatura acima de mediana, thorax
amplo, bastante niusculoso e de membros athleticos.
poder-se-lhe-ia applicar o conheci,do aphorismo-Mens
sana in corpore sano -, porquanto nunca j,ogou, n á ~
fumou e nem jamais fez uso, mesmo moderadamente
de quaesquer bebidas alcoolicas; era o typo do homem
prudente, sisudo e honesto, soffrendo apenas de um
pouco de surdez do ouvido direito se me não falha
a memoria.
Em certa occasião, em palestra com o seu visi-
nho de lavoura, influente chefe politico e verdadeiro
t?zanda-chuva de Jundiahy, então major Antonio de
Queiroz Telles (depois cdronel e mais tarde barão dc
Jundiahy) fez a declaração de que, d'aquella data ein
diante, não mais acceitaria cargo ou emprego publico
qualquer que fosse. O senhor Queiroz respondeu en-
tão que não dependia da vontade d'elle, Paula Leite,
querer ou não acceitar empregos de representação.
porêm da dos eleitores os quaes poderiam impor-lhe
sua vontade e, como prova de sua affirmativa fel-o
eleger juiz de paz, empregando para isso toda sua
influencia. Paula Leite logo que soube do resultado
da eleição, e fiel á sua palavra, que considerava su-
perior a qualquer outro compromisso, montou a ca-
vallo, dirigiu-se á fazenda Bom Retiro que divisava
com Jundiahy mas pertencia a comarca de Itú, pro-
priedade do futuro senador do imperio Dr. José Ma-
nuel da Fonseca, genro do major Queiroz Telles e
propoz permutar as respectivas propriedades apesar
de ser o primeiro a reconhecer que a sua era superior
em qualidade á do Dr. José Manuel ; sendo acceita a
proposta, realisou o negocio: prejudicou-se finaucei
ramente mas cumpriu sua palavra.
A proposito deste facto, contou-me ultimamente
o venerando conego da Sé de São Paulo, Jeronymt,
Pedroso de Barros, filho de sua cunhada Antonia de
Almeida Pacheco e de Indalecio de Camargo Pentea-
do a seguinte anedocta: Depois que o tio Chico dc
Paula mudou-se do Monte-Serrat para o Bom Re-
tiro, pelo motivo de não querer acceitar o cargo de
juiz de Paz de Jundiahy, o seu visinho e amigo capi-
tão Francisco de Paula Ferraz de Sampaio (poste-
riormente sogro de dois de seus filhos (Francisco
8 - 2 e Antonio 8 - 3 ) foi visital-o em sua nova mo-
radia e gracejando disse: primo Chico de Paula, fui
juiz almotacé, juiz de paz, camarista, emfim, occupei
todos os empregos da republica sem incommodos de
outros e nem me ver forçado a mudar de residencia,
e o consegui mediante duas formulas de despacho
apenas. Como assim? perguntou o primeiro. Eu ex-
plico, respondeu o capitão Chico ~ a m ~ a i oQuande
:
me apresentavão requerimentos em bom papel alma-
ço, bem dobrado, em boa letra, sem borrões, perce-
bia logo tratar-se de pessoa distincta e si usáva ter-
mos respeitosos como "V." Senhoria, haja por bem
etc. etc.", o despacho não se fazia esperar e era quasi
sempre - <'Como requer"; mas quando se me apre-
s e n t a ~ ? requerimentos
~ em máo papel, má letra,
amarrotados, eu dizia com os meus botões: este su-
jeito é por certo, algum tratante e o "requeira em
termos -" era quasi sempre o despacho: dei-me
muito bem com esta regra.
Devido a austeridade de seu caracter e bom pro-
cedimento foi sempre bastante considerado na socie-
dade ituana. Muito religioso exerceu as mais culmi
nantes posições na então florescente irmandade da
ordem terceira do Carmo, tendo galgado o posto de
prior e definidor perpetuo, cargo este geralmente
muito almejado e difficilmente alcançado na epoca.
Dispunha de grande força muscular e de muito
arrojo o que, aliás deram causa á sua morte.
No outono de 1878, pouco depois de ter conclui-
do meu curso de estudos em Philadelphia, estando
em Paris, encontrei-me certa tarde, no Palais Royal,
com um amigo e por este fui apresentado a distincto
ituano actualmente ( 1901) senador federal por São
Paulo Dr. J. de Paula Souza antigo e conceituadcz
clinico em Itú; depois de manifestar a satisfação de
encontrar em paiz estrangeiro um conterraneo, en-
trou em conversação contando-me caso original que
se deu com o meu avô paterno.
Quando o carpinteiro, mestre Luiz Boa Vista,
disse-me elle, acabou de assentar o ultimo dos quatro
espigões na casa de sobrado que seu ancestral fez ,
construir na fazenda Bom Retiro, seu avô, calçado
de botas como era seu costume, caminhando sem
apoio algum, subiu por um espigão, atravessou pela
cumieira e desceu por outro espigão com grande es-
panto e admiração do mestre Luiz. Fallou-se disto
muito em Itú, principalmente porque pouco tempo
depois deste facto teve elle um tragico fim de vida.
Com certeza V. ignora este facto, por ser então muito
criança, concluiu o narrador. Respondi-lhe que eu
sabia do caso por ter ouvido meu pae contar, mas
ignorava que fosse do dominio publico o conheci-
mento de tal facto.
Este meu avô falleceu em a tarde do dia 23 de
Junho de 1863, vesperas do dia do popular São João,
victima de um terrivel desastre em sua fazenda Bom
Retiro.
Foi o caso que pretendendo elle dentro de pouco.
dar começo á safra de assucar do anno, mandou re-
formar seu eqgenho procedendo a concertos indis-
pensaveis nas respectivas moendas e cylindros. Uma
vez concluidos taes serviços, foi o machinismo posto
em movimento e para verificar do seu bom funccio-
narnento afoitamente subiu meu avô sobre as moen-
das. Infeliz, desta vez falseou um pé, calçado
que estava de tamancos, resultando cahir para o lado
do receptor da moenda, com o braço direito entre os
cylindros, que o colheram pela manga do paletot c
lentamente, começou o esmagamento do braço depois
de lhe ter separado a mão pelo punho.
Preso á engrenagem do engenho, cujo movi-
mento não fora possivel interromper a tempo de c
salvar, teve, entretanto, o meu mallogrado parente, a
força de animo e a calma sobrenatural de, á propor-
ção que seus ossos estalavam triturados pelo meca-
nismo inconscientemente assassino, de se despedir
da esposa dando-lhe ordens especialmente em relação
a sua ultima filha em vesperas da puberdade: ao ser
retirado do machinismo era já cadaver tendo sof frido
com o maior estoicismo e coragem as mais atrozes
dores que podião ser reservadas á um ente humano.
Sua primeira esposa e minha avó paterna ante-
cedeu a morte do marido 27 annos, como se verifica
pelo assento seguinte do archivo da matriz de Itú:
- "D.a Leonor de Siqueira - A sete de Julho
de mil oitocentos e trinta e seis, falleceu D.a Leonor
de Siqueira de trinta e cinco annos mais ou menos,
de molestia interna, repentinamentt, cazada COlKl
Francisco de Paula Leite, encommendada solemne-
mente, envolta no habito Carmelitano, sepultada no
Carmo. O Vig. Braz Lz~izde Pinna."
Tiveram d'esse casamento os seguintes cinco
filhos :
8 -1 -Alferes Ignacio tle Paula Leite de Barros. Nasceu a
28 de Junho de 1824, foi baptizado pelo padre José
Rodrigues Castanho a 10 de Julho do mesmo em
Itú, sendo padrinho seu avô paterno Francisco de
Paula Leite de Barros, madrinha sua avó materna
Antonia de Almei,da Pacheco, representada pai-
procuração na pessoa da filha Eulalia de Almeida
Campos (avó do finado bispo Don José de Camargo
Barros e do Vigario de Itú Elisiario de Camargo
Barros). Foi casado duas vezes, a primeira, com S L I ~
prima Escholastica de Almeida Campos (nhanhan) ,
filha do alferes Lourenço Xavier de Almeida Cam-
pos e de Umbelina de Campos, neta, tanto como o
marido, do sargento-mór Ignacio Xavier Paes de
Campos e Antonia de Almeida Campos. Casou-se se-
gunda vez com sua prima Anna Gertrudes de Barros
Leite, filha de Manuel Galvão de França e de Maria
Joaquina de Barros Leite. O alferes Ignacio de
Paula pertenceu ao partido conversador, era boa
prosa, bastante espirituoso, contando com graça
anedoctas e casos ás vezes picantes; amigo de bailes
era considerado excellente mestre sala; adorava a sua
farda de alferes da guarda nacional. Trabalhador,
amigo da verdade, foi lavrador no municipio de In-
dayatuba, onde por muitos annos foi chefe influente
do partido conservador da monarchia.
Deixou de seu primeiro casamento trez filhos:
I - Lourenço de Paztla Leite de Barros, fallecidn
em solteiro.
2 - Fraiicisca de Paula Leitc de Barros (sinhara),
casada com Joaquini Galvão de Barros Leite,
com descendencia.
3 - Capitão Iyfzacio de Paula Lcife de Barros ( o
Barrinhos) , fazendeiro em Indayatuba, passan-
do mais tarde a capitalista, bastante considerado
em sua terra natal onde tem occupado os ine-
lhores empregos.
De seu segundo casaniento teve o alferes
Ignacio os nove filhos abaixo.
1 - Dr. Francisco de Paula Leite de Barros. Em
vesperas de concluir seus estudos medicos em
Bruxellas, Belgica, foi forçado a regressar a
patria em virtude do precario estado de saude,
fallecendo em Indayatuba poucos dias após sua
chegada aos lares paternos. Moço de caracter
alevantado, intelligente, deixou muitos amigos
que sinceramente lamentaram sua morte pre-
matura.
2 - Tenente Col-onel Manuel de Paula Leite d d
Barros. Intelligente e dedicado lavrador de cafí.
em São João da Bocaina, comarca de Jahíi,
amigo da instrucção, tem feito mais de uma
viagem ao Prata e a diversos paizes da Europa.
Tem sido, alem de b o k amigo, excellente irmão,
sabendo guiar seus irmãos mais moços na senda
do trabalho e de todas as virtudes. Casou-se
com sua parenta Escholastica de Almeida Cam-
pos, filha de Antonio Lourenço de Almeids
Campos e de Maria Dias Ferraz; com dois fi-
lhos e duas filhas.
3 - Capitão Antonio de Paula Leite de Barros So-
brinho - Reunia a um espirito alegre e jovial
um verdadeiro culto á verdade, e grande dedi-
cação ao trabalho de sua excellente lavoura de.
café no Jahú, sendo considerado bom lavrador.
Casou-se com Umbelina de Almeida Campos
(Sinhara) , irmã de Escholastica, supra ; deixov
grande descendencia. .
4 - Maria de Paula Leite de Barros (nhazinha).
Foi casada com Lourenço Xavier de Almeida
Campos, fazendeiro no Jahú, com descendencia.
5 - Amador de Paula Leite de Barros. E' o typw
da sisudez; honesto, morigerado, é de uma li-
sura a toda prova em todas as suas manifesta-
ções de caracter. Agricultor adiantado é de ex-
cepcional dedicação á cultura de sua optimcr
lavoura de café no Jahú, onde reside habitual-
mente, e é muito considerado. Casou-se com
Maria das Dores de Almeida Prado, filha de
Claudio de Almeida Prado e neta paterna do
Major Francisco de Paula Almeida Prado, com
filhos.
6 - Itagyba de Paula Leite de Barros. Solteiro.
7 - Luiz de Paula Leite de Barros. Casado com
Francisca de Almeida Campos, com descen-
dencia.
8 - Anna Guaraciaba de Paula Leite. Casou-se com
João de Almeida Prado Neto, esposa dedicada
e mãe estqeinosa, com filhos.
9 - Ataliba de Paula Leite de Barros. Casou com
Maria de Carvalho, filha do coronel Pedro Ale-
xandrino de Carvalho, lavrador de café no
Jahú, com descendencia.
.8 - 2 - Tenente Coronel Francisco de Paula L ~ i t ede Barros
(tio Chico). Nasceu na fazenda Monte Serrat: foi o
unico de seus irmãos que foi baptisado na matriz de
Jundiahy. Antes de casar-se fez algumas viagens
ao Paraná negociando com tropas de besias bra-
vas. Foi casado a 17 de Janeiro de 1854 na matriz de
Itú com sua prima em segundo grau Maria de Al-
meida Sampaio (tiazinha), filha do Capitão Fran-
cisco'de Paula Ferraz de Sampaio e de Isabel de Al-
meida Prado, neta paterna de Vicente de Sampaio
Goes e de Francisca Soares de Araujo; bisneta de
José de Sarnpaio Goes e Anna Ferraz de Campos,
bisneta ainda de Domingos Dias Leme e D." Isabel
de Lara Moraes; neta pelo lado materno, do'sargen-
to-mór João de Almeida Prado e sua primeira mu-
lher Anna de Almeida Pedroso, bisneta de Lourenço
de Almeida Prado e Maria Ferraz de Arruda Pache-
co, esta filha de Antonio Ferraz de Arruda, por al-
cunha - o mucunã - por ser o maior lavrador c
proprietario de escravos e indios em Itú, n'aquellt
tempo, em sua fazenda do Pirahy.
Residiu sempre no municipio de Itú, onde dedi-
cou-se á dura vida de lavoura no bairro do Pedregu-
lho, cultivando primeiramente a canna de assucar,
depois o café, e nesse mister accumulando boa fortu-
na. Sempre recto e honesto foi bastante conceituado
na sociedade ituana, onde exerceu diversos cargos
de eleição popular.
Sendo sabedor que o instituto de D." Anna
Rosa, na capital do Estado, tinha ficado credor, por
herança, de uma divida feita a certa pessoa por seu
avò paterno, de combinação com sua madrasta e ir
mãos, depois do fallecimento de seu pae, procurou o
director d'aquelle estabelecimento, o honrado senador
do Imperio Francisco Antonio de Souza Queiroz
(depois barão de Souza Queiroz) e disse-lhe que
tendo seu finado pae ficado responsavel por uma di-
vida contrahida por seu avô, mas que por circums-
tancia independente da vontade de seu pae que não
a pudera pagar, elle, sua madrasta e seus irmãos vi-
nham pagal-a com os juros da lei, porquanto não
queriam que mancha alguma offuscasse o nome de
seus maiores.
Respondeu-lhe o velho e honrado senador que dc
facto havia entre os velhos documentos debaixo de
sua guarda, um relativo a divida ora lembrada, mas
que de ha muitos annos tinha ficado sem valor ern
virtude de prescripção legal ; ao que lhe foi pelo pri-
meiro respondido - para as pessoas honradas só ha
uma prescripção, e essa é a de saldar pagando atS c
ultimo vintem; e pagou integralmente a divida feita
pelo seu avô.
Falleceu em Itú em seu sobrado á rua do Carmo
hoje séde do Museu Historico do Estado, a 6 de Ju-
nho de 1894; sua mulher. Maria, falleceu a 4 de Ju-
nho de 1892.
Deixou os seis seguintes filhos:
1 - Francisco de Paula Leitc. Nasceu em 26 de
Seteiilbro de 1855. Fez estudos nos Estados
Unidos da America do Norte, deixando, toda-
via, de concluir a carreira de medicina, a que
dera preferencia, por grave incommodo de
saude que o forçou a voltar á patria antes de
diplomado. Possuindo boa e selecta bibliotheca,
applica seu tempo na leitura de bons livros e en-i
longas viagens de recreio e instrucção, tanto no
paiz, como no Paraguay, no Prata, no Egyptu,
Palestina, Grecia, Constantinopla, não lhe sendo
desconhecidos muitos paizes da velha Europa.
Celibatario por indole e talvez por calculo, pois
ás doçuras da vida de casado embora com a
consequente e inevitavel diminuição de liberda-
de individual decorrente do matrimonio, dá pre-
ferencia á vida livre e sem peias do solteiro; tem
sido, entretanto, um segundo e bom pae para
os seus sobrinhos orphãos de seu finado irmão
Amador.
2 - Amador de Paula Leite de Barros. Casou-se
em Itu, sua terra natal, em primeiras nupcias,
em Junho de 1884, com sua parenta Leticia
Ferraz de Camargo, filha de Francisco Ferraz
de Camargo e de Anna de Sampaio, neta pater-
na do capitão Manuel Ferraz de Camargo e de
Leocadia Ferraz, de Limeira, neta materna do
capitão Domingos Dias de Sampaio e de Isa-
bel Leite de Sampaio. Falleceu D." Leticia em
Itú em 1885, deixando de seu consorcio duas
filhas - Alipia e Maria Leticia. Casou-se em
segundas nupcias, em Porto Feliz, com Elvira
de Arruda Abreu, filha de Antonio Manuel de
Arruda Abreu e de Maria Antonia de Moraes
Dedicou-se á lavoura primeiramente. em Porto
Feliz e posteriormente em Dous Corregos,
onde veio a fallecer de febre amarella em 1897,
deixando deste segundo casamento um casal de
filhos - Maria e Francisco.
3 - Antonio Francisco de Paula Leite. Como seu
irmã6 Francisco, é celibatario, tem viajado ao
Prata, Egypto, Terra Santa, Turquia, Grecia e
a diversos paizes da Europa: amigo dos bons
livros, é possuidor de excellente cultura litte-
raria, e pratica boa musica.
4 - Leonor de Pazda Leite de Carnargo. Casada
com Augusto de Oliveira Camargo, filho de
Agostinho Rodrigues de Camargo e de Fran-
cisca de Oliveira Camargo. Foram importantes.
e adiantados lavradores de café em Indayatu-
ba e actualmente abastados capitalistas residen-
tes em S. Paulo.
5 - Isabel de Paula Leite de Barros. Não se casou:
vive em companhia de seus irmãos. Tem via-
jado pelo Egypto - Terra Santa, Constanti-
nopla, Athenas, Europa; visitou o Prata e a
America do Norte.
6 - Pedro de Paula Leite de Barros. Lavrador de
café, bem como industrial possuidor de duas
fabricas de tecidos de algodão em Itú. Foi ca-
sado com sua prima Maria de Paula Leite de-
Camargo filha de Francisco de Paula Leite de-
Camargo e de Elisa Galvão de Almeida, neta
paterna de Francisco de Paula Leite de Barros
e de sua segunda mulher Antonia Pacheco de
Campos, bisneta de João Bueno de Camargo~
e de Anna de Almeida Campos; neta materna
de José Galváo de Aimeida e de Maria Isabel
de Campos, com descendencia.
8 - 3 -Antonio de Paula Leite de Barros. Casado com Anna
de Almeida Sampaio.
E' o que segue.
8 -4 - Gertrud~sMarcolina de Barros Leite (Sinharinha).
Casou-se com seu primo o honrado lavrador de café
no municipio de Indayatuba, Francisco Galvão de-
Barros Leite, filho de Manuel Galvão de França e de
Maria Joaquina Leite de Barros. De alta moral, es-
posa modelo, possuia um magnanimo coração culti-
vando as mais peregrinas virtudes, reflexo de sua
alma pura e angelica, dedicou-se qual boa mãe com
toda a n~eiguicee desvelo na creação e educação de
seus sobriiihos orphãos de mãe, bem como na de di--
versos outros seus afilhados e parentes, que, agrade--
cidos lhes bemdizem o nome. Falleceu em Indayatu-
ba em 1892. Não deixou descendencia.
8- 5 -Antovzia de Paula Leite de Barros (tia moça). Ca
sou-se com Antonio Manuel da Fonseca. Falleceu
muito moça; esposa e mãe meiga e dedicada, deixou
de seu consorcio quatro filhos:
1 - Doutor José Manuel da Fonseca Barros, ba-
charel em direito pela academia de S* Paulo, .
de boa cultura litteraria, solida instrucção, e-
desenvolvida intelligencia. Capitalista, reside
em S. Paulo, e é casado com Genebra de Aguiar
Melchert, com descendencia.
2 - Leonor da Fonseca. Foi casada com Antonicl
Leite de Almeida Prado, com descendencia.
3 - Doutor Francisco de Paula da Fonseca Barros,
bacharel em direito, solteiro. Foi promotor
publico em Jundiahy e residiu algum tempo em.
Ribeirão Preto onde abriu banca de advogado;
era bastante conceituado pelo seu caracter e
possuidor de boa cultura: falleceu muito moço.
1 - Gertrudes da Fonseca Barros. Casou-se em
primeiras nupcias com o major Antonio da
Silveira Arruda, lavrador de café em Cabreuva.
Transferiu sua residencia para Botucatú, onde
perdeu o marido. Casou-se mais tarde com o-
ituano João Maciel de Almeida. Tem um filho
-Sebastião- do primeiro, e uma filha -
. Maria - do segundo casamento.
Filhos do segundo casamento de Francisco.
de Paula Leite de Barros e de D." Antonia de
Campos Pacheco.
8-6 -Francisco dc Yaula Leite Canlargo. Nasceu a 6 de-
Agosto de 1845 e casou-se a 31 de Março de 1876.
com Elisa Galváo de Alrneida. Foi importante lavra-
382 ~ O T A SGENEALOGSCAS DA FAMSLIti PAULALEITE

dor de café na fazenda Bom Retiro que em tempo


pertenceu a seu pae. Muito conceituado devido ao seti
trato ameno e simples e de reconhecida honradez. Ni-
miamente religioso, tinha, no entanto, alguma esqui-
sitice: dentre outras, por exemplo, sendo surdo, ou.
pelo menos inculcando-se como tal, mostrou-se sem-
pre apaixonado por passaros de gaiolas e os possuia
em bom numero e dos melhores, pelo prazer de os
ouvir, elle que era surdo. Apezar de tal surdez foi
um excelleilte caçador de inhambús e perdizes, e
nunca poude o sagaz macuco escapar de sua certeira
pontaria. Conversador de boa plana, sabia accrescen-
tar o celebre ponto ao conto, podendo ufanar-se de
ser especialista em narrar com chiste, frescura, graça,
e sabor. Falleceu em S. Paulo em Dezembro cle 1911.
Deixou os seguintes filhos:
1 - Maria Cai~didade Paula Leite. Foi casada com
seu primo Pedro de Paula Leite, já citado
atraz ;
2 - D. Ezdclidia de Pawla Leitc Ca;ilargo. Falleceu
solteira.
3 - Antottio de Paula Leite Cailzargo. Foi lavrador
de café e dedica-se hoje ao commercio. Estzí
casado com sua parenta Maria Leticia, filha tle
Amador de Paula Leite de Barros e de sua
primeira mulher Leticia, com filhos.
4 - Antonietta de Paula Leite Ca~izargo. Casada
com o bacharel em direito Octavio Corrêa
Galvão, coiil descendencia.
8 - 7 - Arma Maria de Cainargo. Varios anilos depois da
morte do pae casou-se em Itú com Luiz de Assis Pa-
checo, cultivador de café em Campinas. Esposa mei-
ga, foi mãe amantissima. Falleceli bastante moç:r
ainda. em 1884 na cidade de Itú, deixando seis filhos:
NOTASGEKEALOGICAS D4 FAMILIA PAULALEITE 383

1 - Francisco de Paula Pacheco. Dedicou-se, em


Campinas, á vida de lavrador e pelo seu cara
cter serio e honesto tem gozado de merecida
estima: foi casado com Celina Bueno Pentea-
do, com filhos.
2 - L u i z Assis Pacheco, honesto e trabalhador, de-
dica-se á vida do commercio. Casou-se em Cam-
pinas com Marion Souza Aranha, com filhos.
3 - Euclides de Assis Pacheco. Casou-se com Jen-
ny Fonseca, com uma filha.
, . 4 - Plinio de Assis Pacheco. Bacharel em direito,
com solido preparo scientifico, é actualmente
distincto promotor publico em Campinas : está
casado com Anezia Leite de Souza, com des-
cendencia.
5 - Elvira de Assis Pacheco. Solteira.
6 - Leticia de Assis Pacheco. Casou-se com o Dr.

José Frederico de Borba distincto professor na


Escola de Pharmacia de S. Paulo, com geração.

SETIMA GERAÇÁO

8 - 3 - Antonio de Paula Leite de Barros. Nasceu na fazen-


da Monte-Serrat, municipio de Jundiahy, a 30 de
Junho de 1829, sendo baptisado a dezoito de Agosto
do mesmo anno, pelo padre Francisco de Novaes (era
vigario então o padre Francisco Emygdio de Toledo'
na igreja do B m Jesus, de Itú, que na cçcasião es-
tava servindo de matriz, porquanto achava-se a ul
tima soffrendo concertos e impadida de ser uti-
lisada, sendo padrinho seu tio materno alferes Lou-
renço de Almeida Campos e madrinha sua tia patei-
na D. Josepha Maria Leite.
Aos dez annos de idade mudou-se com toda 3
falililia da fazenda Monte-Serrat, de Jundiahy, para
a do Bom Retiro, nas divisas mas pertencente a ItU,
onde se fez homem.
Casou-se a 17 de Janeiro de 1854, na matriz de
Itú com sua prima em segundo gráo Anna de Al-
meida Sampaio, sendo celebrante o padre José Joa-
quim de Quadros Leite emquanto o vigario, padre
Braz 1,uiz de Pinna na mesma hora e em outro altar
por sua vez fazia o casamento de Francisco e Maria,
irmãos dos noivos, meus paes. Foram testemunhas
do acto, por parte da noiva, seu tio materno, major
Francisco de Paula Almeida Prado, e pela parte do
noivo o seu irmão mais velho, Ignacio de Paula Leite
de Barros.
Minha mãe nasceu na antiga fazenda do "Bar-
reiro7', patrimonio da familia desde varias gerações,
a 3 de Março de 1833. Foi baptisada na matriz de
Itú a dois de Abril de mil oito centos e trinta e trez,
pelo padre Braz Luiz de Pinna, sendo padrinho An-
tonio Ferraz de Arruda, que passou a assignar, mais "
tarde, Antonio de Almeida Prado e madrinha a Co-
roa de Nossa Senhora das Dores.
Efa minha mãe a terceira dentre os sete filhos
de Francisco de Paula Ferraz de Sampaio e de Isa-
bel de Almeida Prado; neta paterna de Vicente de
Sampaio Goes e de Francisca Soares de Araujo;
bisneta de José de Sampaio Goes e de Anna Ferraz
de Campos ; tataraneta de André de Sarnpaio Botelha
e de Ignacia de Goes: era ainda bisneta de Domingos
Dias Leme e de Isabel de Lara Moraes; tataraneta do
capitão-mór de Jundiahy José Dias Ferreira e de
Maria Leme do Prado, sendo que este era por sua
vez genro de outro capitão-mór de Jundiahy Antonio
da Costa Reis, casado com Faschoa Leme do Prado.
Pelo lado materno era minha mãe neta de João de,
Almeida Prado e de Arina de Almeida Pedroso; bis-
neta de Lourenço de Almeida Prado e de Mari;t
Ferraz de Arruda Pacheco; tataraneta de João da
Cunha Almeida e de Maria da Silva Furquim; era
ainda pelo lado materno bisneta de João de Almeicki
Pedroso e de Isabel Caetana do Pilar Loureiro da
Silva; tataraneta de João de Almeida Pedroso e de
Gertrudes Ribeiro, e ainda tataraneta de Antonio
Loureiro da Silva e de Anna de Almeida.
Meus honrados paes começaram sua simples e
modesta vida de lavradores de canna de assucar no
logar conhecido por - pasto de baixo - parte da fa-
zenda Barreiro, em Jundiahy, propriedade de meus
avós Sampaios. Sempre respeitados e estimados de
seus visinhos e parentes alli permaneceram até a
anno de 1859, quando se transferiram para Porto
Feliz, levando já comsigo todos os filhos excepto a
ultima, Maria Luiza, que nasceu posteriormente em
Itú.
Compraram meus paes, da familia Pinto Ferraz,
em Porto Feliz, a fazenda de terra roxa de nome -
Engenho d'agoa - situada á margem direita do len-
dario Tietê a uns seis kilometros acima da cidade,
pela quantia de trinta contos de reis. Ahi em sua nova
moradia continuaram a mesma vida de honrados e
dedicados lavradores, sempre bemquistos e respeita-
dos por todos os habitantes d'aquella velha e hospi-
taleira cidade, tão oheia de nobres tradições que en-
chem as mais brilhantes paginas dos tempos heroicos
que produziram os destemidos bandeirantes paulistas.
Era embarcando em suas enormes mas frageis canoas,
no Porto Geral, em frente a nossa casa da cidade,
que bandeirantes desciam aguas tieteenses abaixo em
busca, atravez do invio sertão, do indio selvagem, do
ouro e do desconhecido, tão cheio de aventuras, das
quaes a maior e mais patriotica foi, sem duvida, a di-
386 NOTASGENEALOGICAS DA F A M I L I A PAULA
LEITE

latação do territorio brasileiro ás grandio'sas propor-


ções em que se cohserva.
Meu pae exerceu, a contento, diversos cargos
publicos, já de nomeação do governo, tanto do ex-
tincto imperio, como do republicano, já tambem de
eleição popular. Pertenceu ao antigo partido conser-
vador no imperio, até que em 1887 em companhia de
seus dois irmãos mais velhos, Ignacio e Francisco,
filiou-se ao novo partido republicano então em activ.:
propaganda em São Paulo.
Muito caridosa, minha mãe foi excessivamente
4
religiosa, applicando sua vida no cumprimento exacto
de seus deveres domesticas, e na creação dos filhos
pelos mais rígidos principios da moral christã, da
qual deu sempre nobre exemplo; como esposa foi de-
dicada e virtuosa, como mãe amorosa idolatrava os
filhos, sabendo cumprir com dignidade e singelesa a.;
obrigaçóes da verdadeira dona de casa, sempre afa-
vel, sempre boa e, tambem, sempre energica.
De paciencia e resignação evangelicas, deu
disso provas, porquanto soffreu horrivelmente pelo
longo periodo de mais de dez annos uma serie d?
tumores de origem diabetica a ponto de quasi ficar
aleijada do braço direito, e que afina1 a levaram a
sepultura, sempre crente, sempre muito conforma-
da, sem que sua religiosidade fosse abalada por
tamanhas provações, sem que seus labios deixassem
ouvir palavras que não fossem a confirmação dos no-
bres sentimentos que lhe inundavam a alma caridosa.
meiga e .profundamente crente.
Depois de cumprir todos os preceitos da igrejcr,
tomados todos os sacramentos, em seu juizo o mais
perfeito, com a consciencia a mais tranquilla e pura,
despediu-se de um por um de todos que lhe eram ' .
caros, e, na cidade de Porto Feliz, antes de meio dia, a
primeiro de Setembro de 1886, entregou sua alma
candida e pura ao creador. Conduzido seu corpo para
Itú, terra de seus avós e de sua especial predilecçáo
na vida, foi seu corpo dado a sepultura no dia imme-
diato, no cemiterio municipal extra-muros. Morreu
aos 53 annos, cinco mezes e vinte oito dias de idade.
Paz, muita paz á sua alma.
Meu pae teve uma viuvez bastante longa.
Durante este não curto periodo de separação da
boa esposa, passou cerca de seis annos ainda dirigin-
do e tomando conta da antiga fazenda, Engenho
d'agoa, até que em 1892 transferiu a mesma aos dois
filhos mais moços - Francisco e Carlos - só entáo
retirando-se para Itú onde foi residir em sua casa de
sobrado situada no largo da matriz, a penultima
do lado de cima do largo e a direita de quem sobe,
casa que vinha de herança de seus sogro< tendo por
companheira nos tediosos dias de viuvez sua ultima
filha, Maria Luiza: só então poude gosar, já em
avançada idade, o descanço a que tinha pleno direito.
Foi sempre morigerado, de costumes muito simples,
muito dedicado ao trabalho e gosou de boa saude até
o ultimo mez de sua longa existencia de oitenta
annos e meio de idade. Possuidor de um espirito de
moço, e de excellente saude physica só nos ultimos
dias de vida veio a soffrer de cataractas não chegan-
do a ser operado por haver fallecido antes que a mo-
lestia permittisse intervenção cirurgica. Ein casa de
minha propriedade na cidade de Itu, á rua do Com-
mercio n . O 15,após um mez de atacado por erysipelas,
entregou sua alma ao creador, rodeado dos filhos,
em seu perfeito juizo e confortado em suas crenças.
na quarta-feira de manhã no dia vinte e seis de Ja-
neiro de mil novecentos e dez.
388 NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA LEITE
PAULA

Viveu aitenta annos seis mezes e vinte sete dias,


sobrevivendo, portanto, á venerada esposa, vinte e
trez annos quatro mezes e vinte e cinco dias. Em
urna só tumba repousam os dois entes queridos.
Alem de Francisco, Leonor, Maria, Isabel e
João que falleceram em pequenos, nasceram-lhes o s
seguintes filhos :

OITAVA GERAÇÃO

9-1 -3osé de Paula Leite de Barros, ( o juca). Segundo


filho do casal, nasci na quarta-feira, 12 de Dezembro
de 1855, na fazenda do Barreiro, propriedade d e
meus avós maternos. Fui baptisado na matriz d e
ItÚ a seis de Janeiro de 1856 pelo padre José Joa-
quim de Quadros Leite, o mesmo que effectuou o ca-
samento de meus paes, e foi meo padrinho de chris-
ma, sendo meo padrinho de baptismo meo avô pater-
no, Francisco de Paula Leite de Barros, servind~
sua segunda esposa, Antonia Pacheco de Campos,
de minha muito amada madrinha. Aprendi as primei-
ras lettras na casa paterna juntamente com meu
irmáo Antonio, tendo por mestres João Mendes de
Campos Leite e João Ferraz de Sampaio. Depois de
ter estudado por quatro annos no velho collegio dos
jesuitas no convento de São Francisco, posterior-
mente devorado por incendio, estabelecimento que
funccionou em Itú por mais de meio seculo, fui resi-
dir na fazenda Engenho d'agoa, em Porto Feliz, com
meus paes.
Em 18 de Junho de 1874 segui para os Esta-
dos-Unidos da America do Norte, passando a fre-
quentar o departamento medico da Universidade de
Pennsylvania, na cidade de Philadelphia, onde diplo-
mei-me a 15 de Março de 1878. Frequentei em se-
guida os hospitaes de Paris, como externo, e voltei
ao Brasil em 1879.
Casei-me na cidade de Araras, na casa de resi-
dencia de minha sogra Carolina Amelia de Ckmugo,
situada no Largo da Matriz fazendo esquina na rua
Albino Cardozo (me0 sogro) no sabbado, 20 de Se-
tembro de 1879, com Clara Alves Franco, sendo ce-
lebrante o padre Joaquim Franco de Camargo, tio
materno da noiva: foram testemunhas, da noiva, seu
irmão Joaquim Alves Franco e minha Francisco de
Paula Leite de Barros, meo tio. Depois de casado fi-
xei residencia em Itú, morando no largo da matriz,
casa de meus paes, passando em 1882 a residir á rua
do Comrnercio n." 45, casa por mim construida: clini-
quei nesta cidade por espaço de quatro annos, tendo
exercido os cargos seguintes : representante do par-
tido republicano de Itú nas convenções annuaes reali-
sadas na capital da provincia desde 1881 até a pro-
clamação da Republica; membro do directorio do
partido republicano por vinte cinco amos, antes e de-
pois da proclamação da republica; supplente de juiz
de direito da antiga comarca especial de Itú ; primeiro
juiz de paz no triennio de 1893-18%; presidente da
Camara Municipal de I t Ú no triennio de 1896-1899;
coronel commandante superior da guarda nacional
da antiga comarca de Itú; zelador do hospital de
Morpheticos, e desde Fevereiro de 1897 até agora
(Setembro de 1928) provedor da Irmandade de San-
ta Casa de Misericordia de Itú; membro do conselho
fiscal da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro;
membro do conselho fiscal da Companhia Paulista
de Seguros; membro do conselho fiscal da Compa-
nhia Iniciadora Predial; secretario geral da Socieda-
de Paulista de Agricultura ; socio thezoh-eiro do Ins-
tituto Historico e Geographico de S. Paulo, socio do
Instituto Historico do Ceará e, finalmente, membro
da directoria da Companhia Paulista de Estradas de
Ferro. Desde 1904 transferi minha residencia para a
Capital do Estado, adquirindo o sobrado do Largo
da Republica n." 42, esquina da rua Vieira de Car-
valho.
Nasceram-me os seguintes treze filhos:
10 - 1 - Claro, nascido em Araras.
10 - 2 -Anna, nascida em Araras.
10- 3 -Albino, nascido em Itú.
10 -4 - Carolina, nascida em Itú : casou-se em S.
Paulo, na casa da praça da Republica, 42,
com Antonio ~ o k ~ de e oSouza Queiroz,
filho de Antonio de Souza Queiroz e de
D. Vitalina Pompeo de Souza Queiroz,
com um filho, José Gustavo de Souza
Queiroz, applicado alumno do gymnasio
de São Bento, desta capital.
10 -5 - José, nascido em Itú.
10-6 -Maria José, nascida em Itú.
10 - 7 -Antonio, nascido em Araras.
10-8 - Luiza, nascida em Itú.
10 -9 - Cinira, nascida em Itú.
10 - 10-Joanna, nascida em Itú.
10 - 11 - Bonifacio, nascido em Araras.
10- 12- Vasco, nascido em Itú.
10 - 13 -Josephina, nascida em Araras. Casou-se
com o Dr. Eugenio Nogueira Ferraz,
medico formado na primeira turma sa-
hida da academia de medicina de Sã:,
Paulo em 1918, filho de João Nogueira
Ferraz e de D. Antonia de Almeida Sal-
les, com quatro filhinhos - Clara, Eu-
genio, Luiza e Carlos.
9 -2 -Antonio de Paula Leite de Barros. Nasceu em Itú.
na rua da Palma, a 17 de Abril de 1858. Foi sempre
meu companheiro de brinquedos infantis, de apren-
dizagem de primeiras lettras e de collegio, onde de-
notou boa vocação para a musica. Casou-se a 5 d l
Julho de 1882, em Campinas, com Albertina de Al-
meida Sampaio, filha de tio João de Almeida Sam-
paio e de Anna Maria Ferraz. Dedicou-se desde a
mocidade a ardua vida de lavoura, primeiramente
plantando canna de assucar na fazenda Vargeni
Grande, em Porto ~ e l i i ,mais tarde cultivando café
no bairro do Rio das Pedras, em Piracicaba, para
onde se transferira, voltando por ultimo a Itú onde
f ixau residencia definitiva, já então capitalista.
Occupou com distincção tanto em Porto Feliz,
como em Piracicaba muitos cargos publicos de no-
meação do governo e de eleição popular, taes como
membro do directorio do partido, presidente da
Camara Municipal, e tenente coronel da guarda na-
cional.
Falleceu em Itú a 19 de maio de 1923, sabbado,
com 65 annos um mez e dois dias de idade.
De seu casamento nasceram-lhe os seguintes
filhos :
10- 1-João de Paula Leite de Barros, colletor
federal.
10-2 -Maria Carmelina, dactylographa em S .
Paulo.
10 - 3 - Lauvo de Paula Leite de Barros, diplo-
mado pela Escola Normal de Piracicaba,
proprietario do primeiro tabellionato de
Piracicaba. Casou-se com Heminia de
Aguiar Whitaker, tambem normalista poi
Piracicaba. com filhos.
10 - 4 -Albertina de Paula Leite de Barros, nor-
malista pela escola de Piracicaba. Ca-
sou-se com José Barbosa Ferraz, fazen-
deiro em Lençóes, com filhos.
10- 5 -Brenno de Paula Leite de Barros, tanl-
bem diplomado pela escola de Piracicaba.
Caçou-se com Ruth Bueno agente do
b a t m commercial de S. Paulo em Pira-
juhy, com filhos.
10-6 -Antonio de Paula Leite de Barros, diplo-
mado pela escola de Piracicaba, empre-
gado no London and South America
Bank, em São Paulo.
9 - 3 -Capitão Francisco de Paula Leite de Sanipaio. Nas-
ceu a 11 de Julho de 1860. Aprendeu as primeiras
lettras juntamente com o mano Carlos tendo por mes-
tres Bento Galváo de França e João Ferraz de Sam-
paio. Frequentou, em Itú, no edificio novo hoje ser-
vindo de quartel a um batalhão do exercito nacional,
o collegio dos jesuitas, presentemente extincto. Foi
por muitos annos lavrador de café em Capivary, onde
ainda reside. Casou-se em Porto Feliz, a 3 de Março
de 1888 com sua prima em terceiro gráu, Maria da
Conceição Sarnpaio, filha de Vicente de Sampaio
Góes e de sua segunda mulher Gertrudes Angelica
Rodrigues, filha de Anna Eufrosina da Cunha e de
José Rodrigues do Amara1 Mello, irmão do beneme-
rito ituano Dom Antonio Joaquim de Mello, primei-
ro brasileiro que sentou-se na cadeira episcopal de
São Paulo, possuidor de alta mentalidade e reforma-
dor do clero paulista.
Tem exercido com hombridade diversos cargos
publicas, tanto em Porto Feliz como em Capivary.
Teve os seguintes filhos:
10 - 1 -Francisco;
10 - 2 - Lupercio;
10 -3 -Judith casada com o professor normalis-
ta Manuel Vaz de Toledo, de Capivary,
com um filho;
10-4 -Antonio de Paula Leite Sampaio, diplo-
mado pela escola normal de Piracicaba:
casou com Rita de Toledo, empregado
no London Sr South American Bank;
10 - 5 -Benedicto de Paula Leite Sampaio: casa-
do com Clarinda Vaz de Toledo, diplo
mado em Piracicaba, professor em grupo
escolar de Capivary ;
10 - 6 - José de Paula Leite Sampaio : casado
com Rosa de Mel10 Aimé, funccionari~ .
da Companhia Paulista de Estradas de
Ferro ;
10-7 --Mario de Paula Leite Sampaio: empre-
gado no Banco Noroeste de S. Paulo.
10 -8 -Accacio de Paula Leite Sampaio empre-
gado no B a n c o C o m m e r c i a l de S.
Paulo ;
10 - 9 - Jandy - menor.
9 -4 - Carlos de Paula Leite de Barros. Nasceu em ItÚ a
10 de Abril de 1862.
Casou-se no Salto de Itú a 26 de .Julho de 1892.
com Ottilia de Camargo Penteado, filha de Indalecio
de Camargo Penteado e de Balbina de Castro. Como
seus irmãos, dedicou-se a lavoura, primeiramente em
Porto Feliz, depois em Belem do Descalvado, pas-
sando a residir, mais tarde, em ItÚ. Fez uma apro-
veitosa viagem a diversos paizes de Europa, com
bastante leitura, especialmente de obras historicas.
Falleceu em Itú a 19 de Agosto de 1925: viveu
sessenta e quatro annos, quatro mezes e nove dias.
Teve do seu casamento os seguintes filhos:
I 0 - 1 - Maria José : casada com José de Toledo
Piza, natural de Capivary, diplomado
pela Escola de Piracicaba e residente em
Itú, onde se dedica ao çommercio; com
duas filhas.
10- 2 -José de Paula Leite de Barvos: casado
com Benedicta de Toledo Rodrigues,
empregado na lavoura; com um casal de
filhos.
10 -3 - Leonor : solteira, nascida em Porto Feliz.
10 -4 - Carlos de Paula Leite de Barros, empre-
gado no commercio em São Paulo.
10- 5 -Antonio de Paula Leite de Barros: casa-
do com Leonor de Aguiar Whitaker, em-
pregado no commercio, em Itú.

1
10- 6 -Alice
10 - 7 -Helena menores
10 - 8 - Ottilia
9 - 5 - Anna de Paula Leite de Barros: nasceu a 25 de
Agosto de 1868. Casou-se em Porto Feliz, a 15 de
Janeiro de 1895 com seu parente José Rodrigues de
Arruda, filho de Evaristo Rodrigues Leite e de Anna
Honorata de Arruda, neto paterno de José Rodri-
gues Leite - o Zuza -, notavel politico de seu tem-
po em Porto Feliz, primo de minha avó Leonor, e de
sua mulher Gertrudes de Almeida Leite, neto mater-
no de José Manoel de Arruda Abreu e de sua pri-
meira mulher Honorata de Campos Mello, todos
porto-f elisenses ; lavrador de café, residiu José Ro-
drigues alguns annos em Bocaina, comarca de Jahú,
mudando-se mais tarde para Piracicaba onde foi co-
lhido pela morte em 1918.
Intelligente, possuidor de boa cultura literaria e
de decidida vocação para advocacia, de caracter sisu-
do e honrado, foi exemplar chefe de familia: Dei-
xou os seguintes filhos :
10 - 1 -José Rodrigues Leite; nasceu em Port.2
Feliz, diplomado pela Escola de Piraci-
caba, actualmente professor em grupo es-
colar de Itú.
10 -2 - Maria da Conceição Rodrigues nasceu em
Porto Feliz, é diplomada pela Escola
Normal de Piracicaba e casada com
Leopoldo Rodrigues de Anuda : lecciona
em grupo escolar de Itú.
10- 3 -Cyro Rodrigues de Arruda.
10 -4 -Paulo Rodrigues de Arruda.
10- 5 -Maria Luiza de Arruda, diplomada peh
Escola de Piracicaba: lecciona em Itú.
-
10 6 -Benedicto
-menores
10 -7 -Zuleide
9 -6 -Maria Luiza de Paula Leite de Barros, ultima filha
do casal; nasceu em o sobrado do largo da Matriz,
em Itú, a 18 de Setembro de 1872. Educada no anti-
go collegio do Patrocinio de Itú, não se casou e foi,
at6 o momento de sua morte, occorrida a 3 de Outii-
bro de 1902, em Itú, na mesma casa onde nascera,
companheira dedicada do nosso velho pae. A exem-
plo de nossa saudosa mãe, nas horas que lhe permit-
tiam os affazeres dornesticos, o culto á musica e ás
boas amisades, dedicava-se aos actos piedosos e de
religião.

SAMPAIO BOTELHO

Teve começo esta illustre familia em S. Paulo


nos tres irmãos, todos meus ascendentes : I - Fran-
cisco de Arruda e S á ; - I1 André de Sampaio e
Arruda; - I11 Sebastião de Arruda Botelho, na-
turaes da Villa da Ribeira Grande, ilha de São Mi-
guel, archipelago dos Açores, filhos de Gonçalo V ~ L
Botelho e de Anna de Arruda, ambos naturaes da
mesma ilha; segundo Silva Leme remonta sua ori-
gem pelos seus quatro costados a uma era longinqua,
anterior mesmo a da fundação da monarchia portu-
gueza.
Alem destes tres irmãos acima citados, que pas-
saram a S. Paulo em 1654, mais tarde veio um so-
brinho-neto dos mesmos, que foi capitão-mór de Itú,
Manuel de Sarnpaio Pacheco, ainda tambem meu as-
cendente, o qual casou primeira vez com Barbara de
Souza Menezes, fallecida em 1716 em Itú, donde era
natural, tendo casado ahi em 1710. Deste casamentu
nasceu Maria Pacheco de Souza Menezes, fallecida
em 1766, casada em Itú com o sargento-mór Antonio
Ferraz de Arruda, de quem foi primeira mulher:
elle fallecido em ItÚ em 1774, filho de Pedro Dias
Leite e de Antonia de Arruda, casados em Parnahy-
ba em 1692. Antonia de Arruda era filha de um dos
tres irmãos Arrudas, o Francisco de Arruda e Sá,
fallecido em Parnahyba em 1684, casado em S. Paulo
com Maria de Quadros, natural de São Paulo, filha
de Bartholomeu de Quadros e de Isabel Bicudo de
Mendonça, ambos paulistanos.

6
André de Sampaio Arruda, o segundo dos tres
irmãos supra, casou-se em 1665 em Parnahyba com
Anna de Quadros, filha de Bartholomeu de Quadros
e de Isabel Bicudo. Falleceu André de Sampaio em
1719 em Itú, com testamento, em que declarava ser
filho de Gonçalo Vaz Botelho e de Anna de Arruda.
Deixou, nascidos em Parnahyba, oito filhos que
cresceram, a saber :
2 - 1 -José de Sampaio Arruda.
2 - 2 - Antonio de Arruda Sampaio.
2 - 3 - André de Arruda.
E' o que segue.
2 -4 -Francisco de Sampaio Botelho.
2 - 5 - Maria de Arruda.
2 -6 - Rosa de Arruda.
2 -7 - Isabel de Arruda.
2 - 8 -Anna de Arruda.

PRIMEIRA GERAÇÃO PAULISTA

2-3 - Capitão André de Sampaio Botelho foi primeiro ca-


sado com Maria Leite da Escada, fallecida em Ara-
çariguama em 1726, e sepultada na capella-mór da
Igreja de Parnahyba, filha de Manuel Corrêa Pen-
teado e de Beatriz Leite de Barros, ambos de S.
Paulo: foi Maria da Escada minha ascendente por
ser bisa-avó de Anna de Almeida Pedroso, primeira
mulher de João de Almeida Prado, avó de minha
mãe. Segunda vez casou André de Sampaio com
Ignacia de Goes, filha de José de Barros Bicudo
Leme e de Ignacia de Goes Castanho Taques. Teve
da primeira mulher 8 filhos :
2 -1 -Pedro Vaz Celestino.
3 -2 -Francisco de Sampaio.
3 -3 -João Leite Penteado.
3 -4 -Antonio Rodrigues Leite de Sampaio.
3 -5 -Gregorio Dias de Sarnpaio.
3 -6 -Gertrudes Ribeiro, minha ascendente pelqs Almeida
Prado.
3 - 7 - Maria Dias de Sampaio.
198 NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA LEITE
PAULA

3 - 8 - Quiteria de Sampaio, ultima da primeira mulher.


Teve André de Sampaio da segunda mulher -
Ignacia de Góes.
3 - 9 -José de Sampaio Góes.
E' o que segue:
2 - 10 - Elias de Sampaio Ferraz.
3 - 11 - Padre Bernardo de Sampaio.

SEGUNDA GERAÇÃO P A U L I S T A
,
3 - 9 - José de Sampaio Góes. Casou segunda vez em 1756
em Itú com Anna Ferraz de Campos, filha de Pedro
Dias Ferraz e de Maria Paes de Campos, neta pa-
terna de Manuel Ferraz de Araujo e de Veronica
Dias Leite, e neta materna de João Paes Rodrigues
e de Margarida Antunes Bicudo. Residiram em Itú
e tiveram os filhos sqguintes:
4 - 1 - Capitão Vicente de Sanapaio Góes.
E' o que segue :
4- 2 -Antonio de Sampaio Góes. Casou em 1795 em Itíl
com Anna Bueno de Barros.
4 - 3 -José de Sampaio Góes.
1-4 -Francis'-o de Sanzpaio Góes. Casou em 1806 na villa
de São Carlos. (Campinas) com Francisca da Silva
Ferraz.

TERCEIRA GERAÇÁO

4- 1 - Capitão Vicente de Sa~zpaio Góes. Natural de Itii,


casou em Jundiahy com Francisca Soares de Araujo,
filha do Sargento-mór Domingos Dias Leme que foi
casado com Isabel de Lara Moraes em 1767 em Soro-
caba, fallecida em Jundiahy em 1792, filha de L u i ~
Castanho de Almeida e de Francisca Soares de
Araujo.
Domingos Dias Leme era filho de Maria Leme
do Prado que foi casada com o capitão-mór de Jun.
diahy José Dias Ferreira, natural de Portugal, e Ma-
ria Leme do Prado, filha de Paschoa Leme do Prado
que foi casada com o tambem capitão-mór de Jun-
diahy Antonio da Costa Reis. Falleceu Paschoa Leme
em Jundiahy em 1745.
Depois de casado, Vicente de Sampaio, abrii:
lavoura no municipio de Jundiahy em terras perten-
centes a seus sogros, no lugar conhecido por Barrei-
ro, Sesmaria da Lagoa, onde fixou residencia e per-
maneceu dedicando-se a agricultura emquanto foi
vivo, continuando sua viuva, Francisca Soares de
Araujo, senhora dotada de grande energia e alto des-
cortino administrativo a dirigir a lavoura por elle
deisada: em sua fazenda nasceram seus onze filhos.
e n'ella actualmente, neste anno de 1928, tem sua
magnifica cultura de café, muito bem tratada, o ba-
charel em direito José Henrique de Sampaio, bisneto
de Vicente de Sampaio Góes.
Teve os seguintes filhos :
5 - 1 -José de Sampaio Góes. Casado em 1810 com Annn
Joaquina de Barros: falleceu José de Sampaio em
1817, e teve dois filhos:
1 - Francisco de Saw~paioBarros. Casado;
2 - Vicente de Saluzpaio Góes, que casou em se-
gundas nupcias com Gertrudes Angelica Ro-
drigues, filha de José Rodrigues do Amara1
Melio e de Anna Eufrosina da Cunha. Vicente
de Sampaio Góes foi pae de Maria da Concei-
ção casada com meu mano Francisco.
5 - 2 -Manuel Soares de Sa~lzpaio- o Maneco. - Casadc.
5 - 3 -Elias de Sampaio Góes. Casou com Maria Dias d e
Almeida Prado.
5 -4 -Francisco de Paula Ferraz de Sampaio.
E' o que segue.
5 -5 - Vicente. Falleceu solteiro.
5 -6 -Mathilde Soares de Sampaio. Casou em 1831 com
Lourenço de Almeida Prado, com um unico filho,
Carmillo : residia em Piracicaiba.
5 - 7 -Francisca de Sampaio. Casou com Luiz Antonio Leite.
5 - 8 -Maria Leme de Sampaio. Foi a primeira mulher de
Elias Galvão de França, casados em Itú em 1832,

, com geração.
- 9 -Isabel Soares. Casou-se com seu primo irmão José.
de Sarnpaio Bueno.
5 - 10 -Domingos Dias Leme de Sampaio. Casou-se com
Isabel de Almeida Leite, com grande geração.
5 - 11 -Anna Ferraz de Campos. Casou com Francisco de
Sampaio Penteado, com geração.

Q U A R T A GERAÇÃO

5 -4 -Francisco de Paula Ferraz de Sampaio.


De actividade febril, quasi morbida, não dispu-
nha o capitão Chico Sampaio (como era conhecido)
de um momento de socego, fazendo tudo ás pressas,
sendo mesmo incapaz de tomar sua modesta refei-
ção calmamente interrompendo-a uma e mais vezes,
ora para ralhar com um moleque peralta que Ihe pas-
sava proximo, ora para dar novas ordens a um escravo
em serviço, ora, emfim, para assumptar do que se
estava passando. Magnifico e excellente cavalleiro.
foi bom acertador de animaes ; sportman, organisava
e corria cavalhadas, diversão muito em voga n'aquel-
les tempos, quasi sempre tirando as argollinhas que
eram os primeiros e mais difficeis premios por todos
almejados.
Em certa occasião, tendo seu pae precisão de.
fazer remessa de algum dinheiro a um capitalista re-
sidente na cidade (era o nome que se dava á capital
da provincia) para liquidar certo negocio, encontrou
relutancia e receio por parte de alguns dos filhos que
estavam junto a si de fazerem a viagem ; então recla-
mou o velho a presença do Chico: chamem o Chico,
que é mais gente que vocês. Elles, obedecendo, foram
ter á residencia, que era proxima do irmão, e lhe
transmittiram o recado do pae.
Francisco, logo que recebeu o recado, prepn-
rou-se, montou a cava110 e apresentou-se ao pae, de
quem recebeu instrucções a respeito do que tinha a
fazer, e em seguida poz-se em marcha para São
Paulo, onde chegou no dia immediato, pela manh5.
Em continenti procurou o capitalista a quem fez
sciente do motivo que o levara a sua presença: esta-
vam a fazer a conta dos juros quando foram cha-
mados para almoçar; o capitalista, interrompendo o
serviço, convidou-o a compartir da refeição.
Acceitarei o seu almoço, respondeu o Chica
com todo seu nervosissimo, mas pague-se primeira-
mente da divida de meu pae, pois que não fiz viagem
apressada de 15 leguas para vir alcançar seu almoço,
mas sim para ver o nome de meu pae livre da res-
ponsabilidade &o seu debito.
Casou em Itú na casa de seu cunhado Francisco
de Almeida Prado, a rua do Carmo, predio esse em
que actuaImente acha-se installado o museu republi-
cano historico, com Isabel de Almeida Prado, que até
então assignava-se Isabel Caetana de Almeida, em
lembrança de sua avó materna Isabel Caetana do.
Pilar Loureiro da Silva, mulher de João de Almeida
Pedroso, de Sorocaba, como se vê do assento seguin-
te: "Revendo o livro de casamentos do anno de 1828,
da Parochia de Itú, a fls. 3 verso se encontra o assen-
to do teor seguinte: Francisco de Paula Ferraz e D.
Isabel Caetana de Almeida. Aos vinte e nove de Julho
de mil oito centos e vinte oito nesta Matriz em minha
presença, e das testemunhas João Tibirissa, solteiro.
e Manuel Ferraz cazado, freguez de Jundiahi se re-
ceberão solemnemente por marido, e mulher Fran-
cisco de Paula Ferraz, e Isabel Caetana de Almeida,
dispensados dos impedimentos em quarto gráo dupli-
cado, e no quarto gráo mixto ao terceiro, tudo pcr
consanguidade, receberão as bençoins nupciaes d i
que fis este termo, que assignei com as testemunhas.
O Vig.O Francisco Enqgdio de Toledo. João Tibi-
riça de Pirafininga".
Foi muito trabalhador e constante lavrador de
canna de assucar na fazenda Barreiro, e ao cabo de
muitos annos logrou accumular boa fortuna.
Victima de um insulto cerebral com derrama-
mento, soffreu por alguns annos de uma hemipkgia
com paralysia completa de um lado do corpo: em
consequencia de nova crise veio a fallecer em Itú no
dia desesete de Maio de 1858, sendo sepultado no
jasigo do Convento do Carmo. Não deixou testa-
mento.
Teve sete filhos.

Q U I N T A GERAÇÃO
6 - 1 - Capitão JoZa d e Almelda Snnzpaio. Lavrador clr
café ein fazenda annexa á do Barreiro. Foi çasaclo
em Campinas com Anna Maria Ferraz, filha de
Manuel Leite de Barros e de Candida da Rocha
Ferraz, teve oito filhos:
1 - Malzuel Leite de Barros Salapaio, bacharel
em direito. Casou-se com Hortencia de Medei-
ros ,e falleceu sem filhos.
2 - Candida de Barros Sampaio. Enviuvando de
Francisco Pereira Bueno, casou segunda vez
com o Dr. William John Sheldon, distincto e
notavel engenheiro da São Paulo Railway
Company, com um casal de filhos vivos do se-
gundo marido.
3 - Albertina de Almeida Sampaio. Foi casada c o n
meu irmão Antonio.
4 - Lourenço de Alulzeida Sawzpaio. Casado com
Vitalina Fonseca, natural de Campinas.
5 - Ubaldina de A111~eidaSawzpaio. Foi casada com
Jorge Vaz Guimarães, diplomado na escola
normal da capital, e honesto e intelligente tabel-
lião publico de Itú, com dois filhos.
6 - Isabel de Alnzeida Sa~qzpaio. Casada com Luiz
Henrique Levy, conceituado negociante err,
São Paulo.
7 - João de Alf+zeida Sanzpaio, solteiro.
8 - Antonio de Alwteida Salqzpaio. Fallecido em
solteiro.
6 -2 -Maria de Almeida Sampaio, já atraz referida. Foi
casada cam meu tio Francisco de Paula Leite de
Barros.
6 -3 - Anna, minha adorada mãe.
6 -4 -José de Alwzeida Salapaio ( o tio Jeca) . Intelligente e
reconhecidamente bom lavrador de café, dirigiu a fa-
zenda Ribeirão - de sua propriedade, no municipio
de Jundiahy; exemplar chefe de familia, amigo da
instrucção, apesar de ter fallecido ainda bastante
moço, soube encaminhar os filhos na cultura da boli
sciencia. Foi casado com sua parenta Antonia d?
Campos Mesquita, filha de José Manuel de Mesquita
e de Gertrudes de Almeida Campos, com nove filhos.
1 - Rita de Mesquita Sampaio, solteira.
2 - Isabel de Almeida Sampaio. Casada com o Dr.
Francisco de Almeida Prado, com selecta gera-
ção.
3 - José Henrique de Sa.mpaio. Bacharel em direi-
to pela academia de São Paulo, espirito ponde-
rado, estudioso, possuidor de bella cultura
scientifica: é lavrador de café na fazenda Bar-
reiro, antiga herdade da familia. E' casado com
sua prima Leandrina da Fonseca, filha do fi-
nado ex-senador do Estado, Dr. Francisco
Emygdio da Fonseca Pacheco e de Anna de
Vasconcellos Almeida Prado.
4 - Geraldo de Mesquita Sampaio. Foi lavrador
de café, casou-se com Ismenia de Souza Quei-
roz, com geração.
5 - João Baptista de Mesquita Sampaio. Lavrador
de café. Casou-se com Anna Candida Leite,
filha de João Baptista Correa de Sampaio e de
Guiomar Correa Pacheco, com uma filha,
Toty, casada com o Dr. Aureliano Fonseca,
medico.
6 - Alfredo de Mesquita Sampaio. Solteiro.
7 - Maria do Carmo de Mesquita Sampaio. Viuv:i
do Dr. Octavio Paes de Barros, casada em
segundas nupcias com Maytre.
8 - Dr. Roberto de Mesquita Sampaio. Engenhei-
ro, formado na America do Norte e adiantado
lavrador de café: casado com Noemia de Sal-
les Romeiro, com grande geração.
9 - Mathilde de Mesquita Sampaio. Casou-se com
seu primo Jorge de Campos Mesquita, com ge-
ração.
6-5 -Francisco de Paula Ferraz de Sampaio (o tio
nhônhô). Era um moço bastante intelligente, de eslpi-
rito elevado e folgasão : foi lavrador de canna, fez
proveitosa viagem por diversos paizes da Europa e
falleceu solteiro e ainda muito moço.
h -6 - Mariana de Almeida Sampaio. Falleceu muito moça,
em Itú, victimada por febres: foi casada com o ma-
jor Salvador de Queiroz Telles, filho dos barões de
Jundiahy, havendo desse matrimonio dois filhos.
1 - Antonio de Almeida Queiroz Telles, moço
honesto e trabalhador, solteiro.
2 - Jesuina de Queiroz, viuva do Dr. José Evaris-
to Monteiro, residente em São Paulo, grande
protectora da infancia desvalida.
6-7 -Antonio de Almeida Sampaio, ultimo filho. Foi
casado com Maria Vaz Guimarães, filha de Antonio
Vaz Guimarães, natural de Portugal: residiu em Ca-
breuva, onde possuia lavoura de café. Teve os se-
guintes filhos :
1 - Francisco de Paula Ferraz de Sampaio. Com-
merciante em Itú, tendo sido antes lavrador
em Cabreuva, casado duas vezes.
2 - Laura de Sampaio. Casada com Alonso Rodri-
gues de Vasconcellos.
3 - Isabel de Aimeida Sampaio. Casada com seu
tio materno Francisco Vaz Guimarães.
4 - Auta de Sampaio. Casou-se tres vezes;
5 - Pacifico de Almeida Sampaio, pharrnaceuticc
diplomado e negociante em Itú.
6 - Hortencia de Almeida Sampaio, já fallecida,
deixando dois filhos. Foi casada com o enge-
nheiro electricista Scovell Escobar.
7 - Antonio de Almeida Sampaio, casado.
ALMEIDA PRADO

Henrique da Cunha e sua mulher Filippa Gago


foram passageiros da primeira leva de povoadores
na frota de Martim Affonso de Souza que aportoil
a S. Vicexite em 1531 quando a mesma rumava para
i, norte de volta da digressão aos mares do sul. Per-
tencia elle a illustre casa dos Cunhas a qual tem sua
origem para muito alem do anno mil de nossa era.
Sua mulher Filippa Gago era proxima parenta do
primeiro Capitão-mór governador loco tenente do
donatario da Capitania de São Vicente - Antonio
de Oliveira, de reconhecida nobreza, cavalleiro f idal-
go da casa de el-rei dom João 111. Vastissima e mui-
to espalhada no territorio paulista é a boa descenden-
cia do casal Henrique da Cunha e Filippa Gago, pois
que n'elle vão entroncar os Cunhas, Almeidas
Prado, Alvares Cardoso, Francos de Camargo, alem
de outras familias tambem qualificadas por outros
appellidos conhecidos. Cinco são os filhos deste casal,
1- 1 -Isabel da Cunha.
1- 2 -Maria da Cunha.
1- 3 - Martha da Cunha.
1 -4 - Henrique da Cunha Gago.
E' o que segue.
1- 5 -João da Cunha Gago.

P R I M E I R A GERAÇAO P A ULISTA

1 -4 -Henriqzte da Cunha Gago (o velho). Nasceu em


1560 nas proximidades de Santos, passando depois a
residir em Piratininga onde falleceu. Foi casado tres
vezes : a primeira vez com Isabel Fernandes, falleci-
da em 1599, filha do capitão Salvador Pires e de sul
mulher Mecia Fernandes - a Mecia - Assú -
neta do desterrado Antonio Rodrigues e de Antonia
Rodrigues e bisneta, portanto, do maioral Piqueroby.
Casou segunda vez com Catharina de Unhatte e ter-
ceira vez com Maria de Piiía. Teve da primeira
mulher :
2 - 1 -Henrique da Cunha Gago ( o moqo).
E' o que segue.
2 - 2 -João Gago da Cunha.
2 - 3 - Manuel da Cunha Gago.
Da segunda mulher teve :
2 -4 - Christovão da Cunha Unhatte.
2 - 5 - Antonio da Cunha Gago ( o gambeta).
2 -6 - Francisco da Cunha.
2 -7 - Maria da Cunha.
2 - 8 - Filippa da Cunha Gago.

SEGUNDA GERAÇÃO

2 - 1 -Henrique da Cunha Gago - o moço -. Quando


falleceu sua mãe em 1599 tinha elle seis annos de
idade. Foi casado primeira vez com Maria de Frei-
tas, fallecida em S. Paulo em 1629, filha do Capitão
Sebastião de Freitas, cavalleiro fidalgo da casa real
portugueza e de sua mulher Maria Pedroso. Casou
segunda vez com Maria Vaz Cardozo. Na bandeira
sob o commando do capitão Francisco Bueno esteve
no sertão em 1637 juntamente com seus irmãos, Ma-
nuel da Cunha e Francisco da Cunha, e foi inventa-
riado em 1665 em São Paulo. Teve da primeira
mulher :
3 - 1 -Henrique da Cunha Gago.
3 - 2 -Antonio da Cunha.
408 NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA PAULA
LEITE

3 - 3 -Isabel da Cunha.
3 -4 -João da Cunha Lobo.
E' o que segue.
? - 5 - Manuel da Cunha Gago.
3 -6 - Mecia da Cunha Gago.
3 -7 -Anna da Cunha.
3 -8 -Salvador da Cunha Lobo.
Da segunda mulher :
3 -9 - Antonio da Cunha Cardoso.
3 - 10 - Manuel da Cunha Cardoso.
3 - 11-Marianna da Cunha.
3 - 12 -Anna Maria da Cunha.
3 - 13 - Francisca Cardoso.
C - 14 - Isabel Fernandes.

T E R C E I R A GERAÇÁO

3-4 -João da Culzha Lobo. Foi casado com Fillippa de


Almeida Prado, filha de Miguel de Almeida Miran-
da, natural de Portugal, e de Maria do Prado. Fal-
leceu João da Cunha Lobo em S. Paulo com testa-
mento em 1681. Deixou os seguintes filhos:
'4 - 1 - Maria de Freitas.
4.- 2 - Anna da Cunha.
4 -3 -Isabel da Cunha.
4 -4 - Catharina de Almeida.
4 - 5 - Filippa de Almeida.
4 -6 -João.
4 - 7 -Henrique.
4 -8 - Miguel de Almeida Prado, que é o que segue.
QUARTA GERAÇAO

4- 8 -Miguel de Almeida Prado. Em 1681, tendo apenas


23 annos de idade, segundo declarou seu pae em tes-
tamento, fez sua primeira entrada no sertão levando
comsigo 8 negros, uma negra e tres escopetas, para
aprisionar indios; casou em 1687, em São Paulo,
com sua parenta Maria de Camargo, filha do capitãc
Marcellino de Carnargo (o tigre) e de Mecia Fer-
reira Pimentel de Tavora, teve :
-5 - 1 -João da Cunha Almeida.
E' o que segue.
5 -2 -Mecia Ferreira de Ajmeida.
.5 -3 - Marcellino de Almeida Camargo.

Q U I N T A GERAÇAO

.5 -1 -João da Cunha Almedda, que tambem assignava João


de Almeida Camargo. Casou com Maria da Silva
Furquim, filha de Claudio Furquim de Abreu, sar-
gento-mór dos auxiIiares, e de Leonor de Siqueira c
\
Albuquerque, com dois filhos :
16 - 1 -Claudio Furquim de -4bncidn. que foi casado com
Anna Vieira da Silva.
6 - 2 - Ouvidor Lourenço de Almeida Prado.
E' o que segue.

SEXTA GERAÇÃO

4i - 2 - Ouvidor Lourenço de Almeida Prado. Nasceu em S.


Paulo em 1732 e casou em 1756, em Itú, com Maria
de Arruda Pacheco, fallecida em 1794 naquella villa,
410 NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA PAULALE~TE

filha do sar.gento-mór Antonio Ferraz de Arruda ( o


mucunã), fallecido tambem na referida villa em 1774,
onde havia-se casado, em primeiras nupcias, no anno
de 1727, com Maria Pacheco de Menezes, fallecida
em 1767, neta paterna de Pedro Dias Leite e de sul
segunda mulher Antonia de Arruda e Sá, neta ma-
terna do capitão-mór de Itú Manuel de Sampaio Pa-
checo e de sua primeira mulher Barbara de Souza
Menezes.
Teve os seguintes filhos:
7 - 1 -Maria Furqziii~l,casada em 1775 com Ignacio Leite
Penteado.
7 - 2 -Antonia Paclzeco de Alnzeida, casada com o sargen-
to-mór Ignacio Xavier Paes de Campos, avós ma-
termos de meu pae, por çerem aquelles, paes de mi-
nha avó paterna, Leonor de Siqueira Pacheco. Igna-
cio Xavier falleceu na villa de Itú a 13 de Janeiro de
1823 sem testamento, e sua esposa Antonia Pacheco
de Almeida em fins de 1824 na mesma fidelissima
villa de Itú.
7 - 3 - Leonor de Almeida Prado. Casou em Itú com José
de Campos Paes, irmão do sargento-mór Ignacio
Xavier, acima mencionado.
7 - 4 - Anna de Jesus Maria. Foi freira no Convento de
Santa Thereza em São Paulo.
7 - 5 -João
ambos fallecidos em pequenos.
7-6 -João

S E T I M A GERAÇÃO

7-7 -João de Al91zeida Prado. Nascido em Itú, capitão-


mór, cavalleiro do Habito de Christo, cognominado
a columna de Itú por serviços prestados: foi casado
primeira vez em Sorocaba com Anna de Almeidn
Pedroso, filha de João de Almeida Pedroso ( o rui-
vo) e de Gertrudes Ribeiro, neta materna do sar-
gento-mór de Sorocaba, Antonio Loureiro da Silva.
natural de Vallongo, Portugal, e de Anna de Almei-
da Leme. Casou segunda vez com Anna Brandina
de Lara Góes e Aranha, filha do capitão-mór de Itii
Vicente da Costa Taques Góes e Aranha e de Alda
Brandina de Cerqueira Mello. Foi proprietario da
fazenda - Sitio Grande - situada no bairro do P e -
dregulho, residindo na villa, no Largo da Matriz, na
segunda casa a esquerda de quem desce.
Falleceu em 20 de Dezembro de 1835 em Itu.
Teve da primeira mulher dez filhos :
8 - 1 - Capitão Francisco de Almeida Prado. Casado duas
vezes.
8-2 -Maria de Almeida Prado. Casada com Bernardo
Luiz Gonzaga Góes e Aranha.
8 - 3 -Elias de dl~meidaPrado. Casou com Maria Rita Mo-
rato do Canto.
8-4 -Lourenço de Almeida Prado. Casou com Mathilde
Soares de Sampaio.
1- 5 -João Tibiriçá de Piratininga. Nasceu em Sorocaba
em 1802, e casou em Itú, em 1828, com Maria An-
tonia de Camargo.
8- 6 -José de Alnzeida Prado (o tio jica). Casou com Es-
cholastica de Almeida Leite.
8- 7- Antonio de Almeida Prado por algum tempo assi-
gnou Antonio Ferraz de Arruda. Recebeu as primei-
ras ordens sacras, mas abandonando os estudos casou
com Maria Leite de Araujo, sem geração. Foi padri-
nho de baptismo de minha mãe.
8-8 - A n n a de Almeida Prado. Casou com o sargento-mór
Fernando de Almeida Leite.
S-9 -Isabel de Almeida Prado, minha avó materna.
E' o que segue.
8- 30-Antonia de Almeida Prado. Foi casada, primeiro*
com Joaquim Ferraz de Almeida, e segunda vez com
Joaquim Pires de Campos; ultima filha do primeiro.
matrimonio. Do segundo casamento teve João de
Almeida Prado.
8- 11 - Tenente Vicente de Almeida Prado. Casou com An-
tonia de Alrneida Pacheco.
8 - 12 -Major Francisco de Paula Almeida Prado. Casou
primeiro com Isabel de Almeida Campos e segunda
vez com Anna Joaquina Ferraz; foi prestigioso chefe
do partido conservador no tempo da monarchia; era
padrinho de casamento de minha mãe.
8- 13 -Lourenço de Almeida Prado. Casou em Porto Fe-
liz com Francisca Eufrosina Correa de Moraes.
8- 14 - Capitão João de Almeida Prado. Casou, tambem e m
Porto Feliz com Carolina Ferraz do Amaral, insi-
gne genealogista.
8 - 15 -Pedro de Almeida Prado. Falleceu solteiro.
F1- 16 -Alda Brandina de Almeida Prado. Foi a primeira
mulher de Francisco de Assis Bueno.
8- 17 -Leonor de Almeida Prado. Foi a segunda mulher de-
Francisco de Assis Bueno.
8 - 18- Anna Brandina de Almeida Prado. Casou com An-
tonio Leite de Almeida Prado.
8- k9- Gertrudes de Almeâda Prado. Casou-se com Vicente
de Sampaio Góes.
8 -20 - Thereza de Almeâda Prado, ultima filha de João de
Almeida Prado e de sua segunda mulher. Casou-se
com José de Sampaio Góes.
OITAVA GERAÇÃO

8 - 9 -Isabel de Almeida Prado. Nasceu em Itú, como se


verifica pelo assento seguinte: "Revendo o livro de
Baptisados do anno de 1809, da Parochia de Itú, a
fls. 23, encontra-se o assento do teor seguinte: "Isa-
bel" - "Aos vinte e cinco de Janeiro de mil e oito
centos e nove nesta Matriz com minha licença Ba-
ptisou, e poz os Santos Oleos o Reverendo Jesuinn
do Monte Carmello a Isabel innocente de oito dia.;
filha do Tenente João de Almeyda Prado e de Dona
Anna de Almeyda. Foram padrinhos o Tenente
Custodio Manuel Alves e sua mulher Dona Anna
Maria Cordeira, desta Villa. O Vig.O José do Rego
Castanho."
Minha avó Isabel, até a data de seu casamento,
a 29 de Julho de 1828, assignava-se Isabel Caetana
de Almeida, em homenagem á memoria da avó ma-
terna - Isabel Caetana do Pilar Loureiro da Silva,
mulher de João de Almeida Pedrmo, naturaes de SO-
rocaba.
Não fazendo boa camaradagem com sua madras-
ta, passou a morar em companhia do irmão mais
velho, o capitão Francisco de Almeida Prado, em
cuja casa, situada na rua do Carmo, em Itú, se casou
com Francisco de Paula Ferraz de Sampaio, seu pa-
rente e natural de Jundiahy. Esta casa é situada na
rua do Carmo, sobrado de ampla, solida e imponente
construcção, de propriedade de seu irmão Francisco-
e que, por herança, passou a pertencer a dois dos
filhos mais moços - José de Vasconcellos de Al-
meida Prado e Carlos de Vasconcellos de Almeida
Prado que nella residiam. Ainda em vigencia do do-
minio destes moços, reuniu-se nessa casa a primeira
assemblta regular para o fim de ser creado e orga-
. /
nisado o partido republicano paulista com o con.
curso dos adeptos da ideia esparsos pela provincia.
Essa assemblêa teve lugar a 17 e 18 de Abril de 1873,
e passou a ser conhecida na historia por - Conven-
qão de Itú - Mais tarde foi este predio adquirido
por meu tio paterno, Francisco de Paula Leite de
Barros, para sua residencia de cidade, e depois de
sua morte coube em partilha a tres de seus filhos :-
Francisco, - Antonio e Isabel de Paula Leite de
Barros, que ahi residiram por alguns annos, ven-
dendo-o posteriormente ao governo do Estado,
cluando presidente o Doutor Washington Luis,
Depois de soffrer pequena reforma, nelle foi ins-
tallado o museu republicano historico de São Paulo,
onde com cuidado são conservadas veneradas reli-
quias do nosso passado republicano.
Era minha avó uma senhora energica e activa,
e algo voluntariosa; de facil decisão, resolvia as ques-
tões de que era forcada a tratar, com promptidão e
desembaraço natural, sem grande esforço. Dotada de
elevado tino administrativo geriu com acerto seus
não pequenos haveres, especialmente durante o pe-
riodo de doze annos que tanto durou sua viuvez,
tendo, nessa ardua tarefa a coadjuvação de seus
filhos notadamente no que respeitava á administra-
ção da fazenda Barreiro, uma das maiores da zona
quanto á producção de assucar, aguardente, e ce-
reaes.
A exemplo de outros membros da familia tinha
o espirito religioso bastante desenvolvido. Nos ulti-
mo$ annos de vida soffreu de diabetes, aliaz moles-
tid mui commum em sua familia ; falleceu em Itú no
dia primeiro de Maio de 1870, sendo sepultada no ja-
zigo do Convento do Carmo, de cuja Congregaçã.3
era devotada irmã terceira. Segundo declarou se71
filho mais velho, e inventariante João de Almeida
Sampaio, não deixou testamento: como herdeiros
ficaram seis filhos e tres netos, filhos de uma sua
filha fallecida, por quem elles representão, cujos
nbmes, idades, estados, adiante serão declarados.

T I T U L O I1

ALVARES CARDOSO

Os diversos grupos de familias tratados neste


estudo teem radicação profunda e remota na genealo-
gia de nossa terra.
Quando Martim Affonso de Souza, em sua arri-
bada de volta da digressão aos mares procelosos dos
pampas, ao entrar na bahia a que dera o nome de São
Vjcente, a Engá-guassú dos aborigenes, no anno de
1532, com o proposito firme e deliberado de nessas
plagas dar começo a uma povoação que servisse de
nucleo a futura colonia, já encontrara ahi morandq
a bastantes annos João Ramalho e Antonio Rodri-
gues, naufragos ou degradados, ou cousa que o valha,
casados, o primeiro com Bartira, filha de Tibiriçá,
maioral ou cacique de Piratininga, e o segundo com
filha de Piqueroby maioral tambem mas de Tumiarú,
fronteiro a S. Vicente e ambos com grande numero
de filhos. Dentre os componentes da primeira turma
de colonos trazidos pelo Capitão-mór Martim Af fon-
so vieram, alem de outros, João do Prado e sua es-
posa Filippa Vicente acompanhados tambem de fi-
lhos. Estes ligaram-se pelos laços do matrimonio aos
meios sangues filhos e filhas de Isabel Dias casada
com João Ramalho, e de Antonia Rodrigues mulher
de Antonio Rodrigues, deixando grande e robusta
prole, conhecida em nossa historia pelo cognome d:
-416 NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA. LEITE
PAULA

mamelucos, gente forte, audaz, sem temor, que pelo


entrelaçamento com os novamente chegados de Por-
tugal foram os ancestraes dos valentes, invictos ban-
deirantes, os verdadeiros descobridores desta terra,
que fizeram o maior Brasil, e que, sem noção do pe-
rigo, em luta com o indio bravio, e com o desconhe-
cido que é o maior dos perigos, arrostando as intem-
peries, emprehenderam sobrehumanas emprezas que
parecem insuperaveis aos mais energicos povos de
nossos dias, empurrando para alem os inimigos hes-
panhoes, e plantando na raiz dos Andes e nas mar-
gens do Rio da Prata as Iindes de nossa patria, an-
nullando irrevogavelmente as clausulas do tratado de
Tordesilhas.
Desse tronco pujante de seiva, vigoroso, enrija-
do pela acção que se chama - Bandeirismo -, rami-
f icam-se as antigas f amilias paulistanas.
Desses indomaveis guerrilheiros e sertanistas de
escol, descendem os não menos indomitos filhos dos
Cubas, Pretos, Tenorios, Cunha Gagos, Jorges Ve-
lhos, Raposos Tavares, Zunegas, Ponces de Leon,
Vaz de Barros, Araujo Ferraz, Pires de Campos,
Arrudas Botelho, Falcão, os Lemes, Camargos, Bor-
bas, Cabeças de Vacca, Martins Bonilha, Amador
Bueno o acclarnado, Bartholomeu Bueno da Silva -
o Anhanguera e um sem numero de outras iguaes,
que seria fastidioso innumerar ; uns, caçadores de in-
dios, outros, faiscadores do ouro e descobridores de
minas, e todos dilatadores desse immenso territorio
que é hoje o Brasil.
Embrenhando-se no escuro do desconhecido, de-
vassando e senhoreando interminos e inhospitos ser-
tões tudo fizeram pela grandeza da Patria, mas de
tudo, pouca noticia escripta nos legaram : assenta-
mentos de baptismo, de casamento e de obito, alguns
testamentos laconicos e inventarios deficientes n 1

sentido de orientar o investigador moderno no conhe


cimento dos seus formidaveis feitos. são as fontes
quasi unicas pelas quaes teremos de aquilatar do
esforço sobrehumano, heroico, inacreditavel, despen-
dido pelo primitivo paulista para nos legar L pritria
incommensuravelmente grande de que hoje nos orgii-
lhamos.
Dessa raça bandeirante de abnegados descende-
mos nós, velhos paulistas.
Albino Alves Cardoso, meu sogro descende, pelo
lado paterno, segundo o linhagista Silva Leme, de
Domingos Luiz (o carvoeiro de alcunha) natural de
Marinhota, freguezia de Santa Maria da Carvoeira,
fallecido com testamento em S. Paulo em 1615, filho
de Lourenço Luiz e de Leonor Domingues, naturaes
de Portugal. Foi fundador da capella de N. S. da
Luz no sitio do Guarepe, antes erecta por elles no
logar chamado - Piranga - e que em 1603 foi no-
vamente mudada para a paragem onde hoje existe o
recolhimento da Luz.
Foi casado, primeiro com Anna Camacho, que
falleceu com testamento de mão commum em 1613,
em São Paulo. filha de Jeronymo Cortes e D.. . . . . .
Camacho; por esta, neta de Bartholomeu Camacho e
de Catharina Ramalho; por esta, bisneta de João Ra-
malho e de Isabel Dias, e ainda por esta terneta (10
regulo Tibiriçá.
De seu casamento com Anna Camacho, deixoii
Domingos Luiz os sete filhos seguintes:

1- 1 - Ignez Camacho.
1 -2 - Leonor Domingues.
1 -3 - Domingas Luiz.
1 -4 - Bernarda Luiz.
1 -5 - Domingos Luiz.
1 -6 -Antonio Lourenço.
E' o que segue.
1 - 7 -Miguel Luiz.

SEGUNDA GERAÇÃO

1 -6 -Antonio Lourenço. Filho de Domingos Luiz, foi


casado primeiro com Marina de Chaves, fallecida
em 1615; e segunda vez com Isabel Cardoso, falle-
cida em 1661, filha de Gaspar Vaz Guedes e d?
Francisca Cadoso. Falleceu Antonio Lourenço em
1658.
Teve da primeira mulher quatro filhos :
2 -1 - Maria Leme de Chaves.
L -2 -Antonia de Chaves.
2 -3 - Anna de Chaves.
2 -4 - Domingos Luiz Leme.
Da segunda mulher, Isabel Cardoso, os se-
guintes :
2 - 5 - Antonio Lourenço Cardoso.
2 -6 -Antonio Cardoso.
2 - 7 - Manuel Cardoso.
2 -8 - Gaspar Vaz Cardoso.
2 -9 - Capitão Feliciano Cardoso.
2 - 10 - Mecia Cardoso.
E' o que segue.
2 - 11 - Francisca Cardoso.
2 - 12 - Anna Maria da Luz.
NOTAS GENEALOGICAS DA FAMILIA PAULA
LEITE 419

T E R C E I R A GERAÇÃO

2 - 10 - Mecia Casdoso. Foi primeiro casada com Gabriel An-


tunes Maciel, fallecido em 1649: casou segunda vez
com Francisco da Fonseca Aranha. Teve Mecia
Cardoso do primeiro marido os filhos seguintes:
3 - 1 - João Antunes Maciel.
3 - 2 - Gabriel Antunes Maciel.
3 - 3 - Maria da Luz Cardoso.
3 -4 -Antonio Antunes Maciel.
Do segundo marido teve :
3 - 5 - Isabel Cardoso.
3 - 6 - Margarida Cardoso da Fonseca.
3 - 7 - Francisca Cardoso.
E' o que segue.
3 - 8 - Salvador da Fonseca.

QUARTA GERAÇÁO

3 - 7 -Francisca Cardoso. Foi casada com Manud Alvares


Rodrigues, natural da freguezia de São Nicolau,
Porto, fallecido com testamento em 1730 em S.
Paulo, filho de Francisco Alvarez e de Maria Rodri-
gues, teve deste casamento os filhos seguintes:
4 - 1 - Frei Joaquim de Jesus Maria, monge de São Bento.
4 - 2 -Francisco Alvarez falleceu solteiro em 1730.
4 - 3 - Capitão Antonio Alvarez Cardoso.
E' o que segue:
4 -4 - Gertrudes Lourença.
4 - 5 - Maria Clara da Luz.
4-3 -Cap. Antonio Alvarez Cardoso. Foi casado com
Anna Ribeiro da Luz, fallecida em 1738, filha do
Cap. Francisco Cubas de Mendonça e de Anna Ri-
beiro da Luz. Antonio Alvarez esteve nas minas de
.4juruoca, nas do Paranapanema, e finalmente, nas
de Goyaz, levando comsigo um escravo de seu pae,
pratico em mineração de ouro. Em Goyaz extrahiu
ouro de que enviou 50 oitavas a seu pae para ven-
del-as e entregar o producto a seu irmão frei Joa-
quim.
Falleceu Antonio Alvarez em caminho de Goyaz
em 1734. São os seguintes os filhos:
5 - 1 -Antonio Alves Cardoso.
5 - 2 - Anna Ribeiro Cardoso.
5 -3 - Ignacio Alvares Cardoso.
E' o que segue.
5 -4 - Francisco.
5 -5 -Francisca Cardoso Bueno.

S E X T A GEKAÇÃO

5 -3 -Ignacio Alvares Cardoso, casou em 1750, em Ati-


baia, com Maria de Godoy Moreira, filha de Baltha-
sar de Godoy Moreira e de Rosa da Rocha. Deixo&
sete filhos :
C - 1 -José de Godoy Preto.
6 -2 -Francisco AlvesCardoso.
6 -3 -Gertrudes AlvesCardoso.
6 -4 -Anna Alves de Godoy.
- 5 - Manuel Alves Cardoso.
6 -6 -Joaquim Alves Cardoso.
E' o que segue :
t -7 - Ignacio Alves Cardoso.

S E T I M A GERAÇÃO

6 -6 -Joaquim Alves Cardoso casou em 1788, em Atibaia,


com Anna Francisca Bueno, filha de Joaquim Bueno
de Azevedo e Mecia Ferreira de Carnargo.
Falleceu Joaquim Alves em 1809, e teve seis
filhos :

7 - 1 -Joaquim Alves Cardoso.


E' o que segue :
7 -2 - Francisco Alves Cardosa.
7 -3 -José Alves Bueno.
7 -4 -Antonio Alves Cardoso.
7 -5 - Mecias.
7 -6 -Theodoro.

OITAVA GERAÇÃO

7 - 1 -Joaquim Alves Cardoso. Nasceu como se vê do se-


guinte assento, em Atibaia : - "Certifico que reven-
do o livro n.O 5 de assentamentos de Baptisados per-
tencente á parochia de Atibaia, encontrei ás folhas
67 v. o do theor seguinte: "Joaquim" - Aos quatro I
de Junho de mil sete centos e noventa e um, nesta
Matriz de Atibaia, baptisei e puz os santos oleos ao
innocente Joaquim, filho de Joaquim Alves e de sua
mulher Xnna Francisca Bueno, do bairro do Campo
Largo; neto paterno de Ignacio Alves e de sua mu-
lher Maria de Godoy, naturaes todos desta villa;
neto materno de Joaquim Bueno de Azevedo, natural
de Juquery, e de sua mulher Messia Ferreira de
Camargo, natural desta freguezia: foram padrinhos;
Joaquim Bueno e sua mulher Alcira ou Alzira Fer-
reira, todos desta freguezia. O Pe. José Francisco
Aranha de Camargo".
Casou Joaquim Alves Cardoso, primeira vez em
1810, em Atibaia, com Manuela Miquelina Dultra,
filha de João Francisco Dultra, natural de Portugal,
e de Anna Francisca de Oliveira.
Casou segunda vez em 1819 em Bragança com
Joaquina Maria de Oliveira, filha do alferes Joaquim
Franco de Camargo e de sua primeira mulher Maria
Rosa de Oliveira, filha de João Francisco Dultra c
de Anna Francisca de Oliveira, acima citados, con-
tando Joaquina apenas doze annos de idade, como se
verifica pelo assento seguinte : "Certifico que reven-
do o livro n.O 5 de Baptisados pertencente á parochia
de Atibaia, encontrei ás folhas 194 o do theor se-
guinte: - Joaquina - Aos vinte e oito de Maio de
mil oito centos e sete, nesta Matriz de Atibaia, o
Rvmo. Coadjutor Pe. Fructuoso José Forquim, ba-
ptisou e poz os santos oleos a innocente Joaquina,
filha de Joaquim Franco de Camargo e de sua mu-
lher Maria Rosa: foram padrinhos o Capitão Igna-
cio Franco de Camargo, casado, e Anna Francisca,
mulher do Tenente João Francisco Dultra, todos
moradores no bairro do Rio Abaixo, e freguezes
desta villa. - O Pe. Francisco Ferreira".
Atacado por uma incidiosa af fecçáo cardiaca,
Joaquim Alves Cardoso veiu a fallecer de uma syn-
cope não obstante todos os esforços empregados para
o salvar, não lhe valendo, entretanto, nem os seus re-
cursos pecuniarios, que eram grandes, nem a sciencia
medica do dr. Carlos Engler, talvez o mais afamada
clinico da época, então residente em Itú.
Seus despojos tiveram sepultura na igreja do
Convento de N. S. do Carmo de Itú.
Teve da primeira mulher 4 filhos:
8 - 1 -Maria Miquelina Dultra. Casou em 1832, em Ati-
baia, com Carlos Julio Joly, filho de Francisco Joly
e de Olympia Boisvert, naturaes do Dauphiné; Fran-
ça, com tres filhos:
1 - Eugenio Joly. Casou com Maria Carolina Fran-
co, com oito filhos ;
2 - Affonso Emilio Joly. Casou com Maria *da
Conceição Cardoso, com seis filhos :
3 - Julio Joly. Casou com Olympia Moreira Lima,
com quatro filhos.
8 - 2 -Antonio Alves Cardoso. Casou tres vezes: com um
filho do primeiro casamento, quatro do segundo, e
uma filha do terceiro.
8 - 3 -Anna Miquelina Dultra. Casou primeiro com Lou-
renço Antonio Leme, e segunda vez com Francisco
Bueno de Aguiar. Teve do primeiro marido duas fi-
lhas, e do segundo tres filhos.
8 - 4 -João Alves Cardoso. Casou-se com Anna Francisca
do Carmo, com seis filhos.
Da se,gunda mulher teve Joaquim Alves 10 filhos r
8 - 5 -Manuel Alves Cardoso. Casou com sua sobrinha
Maria Alves, teve oito filhos :
1 - Lourenço Alves Cardoso,
2 - Lydia Alves,
3 - Joaquim Alves Cardoso,
4 - Maria Alves,
5 - Eliséa Alves,
6 -
Anna Miquelina Alves; casou primeiro com
. 424 NOTASG E N E A L ~ I C A SDA FAMILIA PAULALEITE

meu cunhado Joaquim Alves Franco, segunda


vez casou com José Alves Barreto - Visconde
de Nova-Granada, natural de Portugal,
7 - Antonio Alves Cardoso,
8 - Sebastião Alves.
6- 6 - Constança Alves. Casou com Antonio Moreira Lima.
'Teve nove filhos :
1 - Olegario Moreira Lima. Casou com minha
cunhada Maria das Dores Lima, viuva de sezi
tio paterno Antonio Alves Galvão, com 3 filhos;
José, Albino e Maria Rita.
2 - Olympia Moreira.
3 - Horacio Moreira Lima. Casado com Maria
Rocha, com uma filha.
4 - Franci.sca'Moreira Lima.
5 - ~iizilia Moreira Lima. Casou duas vezes.
6 - M a x h a Moreira. Casou com o Dr. José Ma-
chado Pinheiro Lima, natural do Paraná, mi-
nistro do tribunal de Justiça de São Paulo.
7 - Joaquina Moreira. Casou com Gabriel José Ra-
drigues de Castro.
8 - Ernygdio Moreivn Liwza. Casou coiii l l a r i a
Bueno de Aguiar.
9 - Maria Antonia. Casou com o Dr. Vicente Ma-
chado Pinheiro Lima, ex-senador federal pelo
Paraná.
8 - 7 -Albino Alves Cardoso.
E' o que segue.
8- 8 -Antonio Alves Galvão (Galváo por promessa ao
beato frei Galvão) Casou com minha cunhada Maria
das Dores, com um casal de filhos.
1 - Benedicfa. Foi casada com o bacharel em direi-
to João Ferreira de Mel10 Nogueira.
2 - Tranquilino A l v a Galvão. Casou com Antonia
Moreira Lima, com quatro filhos. .
8-9 -Elisa Franco Cardoso. Casou com Francisco Jose
de Camargo Andrade (chico gordo) de Campinas,
com um filho Joaquim.
8 - 10 -João Alves Cardoso. Casou com sua sobrinha Fran-
cisca Moreira Lima.
8- 11 - Carolina Alves. Foi primeira mulher de Francisco
Lourenço da Rocha, com geração.
8 - 12 -Mariu Alves. Foi segunda mulher de Francisco
Lourenço da Rocha.
8- 13 - Tobias Franco. Casou com Maria dos Anjos La-
cerda, com geração.
8 - 14 -Anna Alvcs. Foi primeira mulher de Bento da Sil-
veira Franco.

N O N A GERAÇÃO

8 - 7 -Albino Alves Cardoso. Natural de Bragança. Ca-


sou-se com sua tia materna, como se verá pela cer-
tidão seguinte: - Certifico que revendo os lança-
mentos de casamentos d'esta parochia de Limeira en-
conteri o seguinte bem e fielmente aqui copiado :
"Albino Alves Cardoso e Carolina Amelia de
Jesus" - Aos seis dias de Junho de mil oito centos e
cincoenta n'esta Matriz de Limeira, por provisão do
muito alto Reverendo Vigario Capitular, dispensados
no segundo grau e no quarto, ambos de consangui-
nidade em linha transversal cumpridas as penitencias
e sem mais impedimento algum em minha presença e
das testemunhas Antonio Moreira Lima e Bento de
Lacerda Guimarães, pelas cinco horas da tarde se
receberão em matrimonio por palavras de presente
Albino Alves Cardoso, natural e freguez de Bragan-
ça filho legitimo de Joaquim Alves Cardoso e Joa-.
quina Maria de Oliveira, e Carolina Amelia de Jesus
natural e fregueza desta, filha legitima do alferes
Joaquim Franco de Camargo e de D. Maria Louren-
ça de Moraes; e logo na mesma occasião receberão
as bençãos nupciaes. Do que para constar fiz este as-
sento. O Vig.O José Gomes Pereira da Silva.
Depois de casado passou Albino Cardoso a diri-
gir a fazenda de seus paes em Bragança, onde se
conservou apenas pelo espaço de um anno.
Homem de estatura regular, algum tanto gordo
e de constituição forte, ambicioso de indole e dedica-
do ao trabalho, não trepidou em tomar decisão es-
colhendo no sertão um dos melhores terrenos do
grande latifundio de propriedade de seu sogro e avô,
no bairro das Araras, para ahi abrir lavoura de café,
e fel-o escolhendo as margens d'um regato conhecido
pelos sertanejos pelo nome de "Corrego fundo", ter-
reno coberto de espessa e magnifica matta virgem
sobre um solo de superior terra roxa. Em Agosto
de 1851, isto é, um anno após seu casamento, dei-
xando a gerencia da fazenda dos paes, transferia sua
moradia para o grande sertão, onde fez um rancho
coberto de sapé e iniciou sua lavoura plantando, de
começo, cerca de 3.000 pés de café, e deu á nova mo-
radia o nome de São Bento. Aconteceu porem que es-
tando os tenros pés de café muito bem nascidos e em
magnificas condições, sobreveio um inverno rigoroso
trazendo como consequencia grandes geadas que quei-
maram as tenras plantas.
Desacoroçoado pelo ef f eito pernicioso do meteo-
ro, abandonou sua lavoura e passou então a residir
com o sogro e a administrar a fazenda a este perten-
cente no bairro do Monte Azul em Limeira. Entre-
tanto, no fim de um anno de ausencia veio a saber.
que os pequenos cafeeiros que julgava mortos pelas
geadas estavam ao contrario viçosos e reconstituidos,
si bem que perdidos no matto. Espirito forte e capaL
de luta, não vacilou em voltar ao seu rancho de São
Bento e de novo dedicar-se com a alma cheia de co-
ragem e confiança a cultivar com carinho as planti-
nhas que lhe acenavam um futuro promissor, não só
tratou com desvelo os primitivos cafeeiros, como es-
tendeu muito mais sua nascente lavoura com novas e
maiores plantações. No correr de poucos annos ob-
teve a justa recompensa dos seus esforços, pelas vul-
tuosas colheitas que lhe proporcionava seus cafezaes,
tornando-se um dos grandes proprietarios da zona.
Já possuidor de bastantes recursos dotou a fazenda
dos mais aperfeiçoados apparelhos da epaca, entre
outros adquirindo um locomovel a vapor de força d e
- oito cavallos que foi, aliás, a primeira rnachina deste
genero que fora conduzida para alem de Cam,pinas. Na
edificação da séde da fazenda não poupou sacrificim
dotando-a das precisas dependencias e do confortcr
desejado. Ficava a séde do seu estabelecimento agri-
cola á distancia de cerca de dois kilometros da futura
estação de São Bento que a Companhia Paulista faria
construir 26 annos depois. Espirito- progres~ista foi
grande apologista do desdobramento da via-ferrea
Paulista para alem de Campinas, e tanta certeza tinh?
das vantagens de tal emprehendimento, que se fel.
grande accionista da então nove1 empreza. Não tevc
infelizmente o immenso prazer de assistir a inaugura-
ção do trafego da estrada na terra de sua residencia,
melhoramento pelo qual tanto se batera : falleceu
antes que tão auspicioso acontecimento se desse. Foi
um dos fundadores da povoação de Araras, a que de-
dicava grande affeição, deixando em seu testamento,
como prova desse seu sentimento, a quantia de vinte
contos de reis para o inicio das obras da nova matriz
que todos desejavam fosse construida e cujas obras
uma vez começadas com geral e efficaz apoio de todos
os seus habitantes, no fim de quatro annos de inces-
santes trabalhos estavam concluidas, ostentando-se
nas linhas architectonicas de notavel belleza e na ma-
gnificencia de um dos mais severos templos do inte-
rior de São Paulo.
Falleceu meu sogro em Araras em uma pequena
casa já não mais existente em terrenos que passaram
a pertencer a sua viuva, á rua Albino Cardoso, no
dia 10 de Novembro de 1875, em consequencia de
prolongada molestia cardiaca, da mesma natureza da
que victimou seu pae.
Sua esposa, que passou a assignar-se Carolina
Amelia de Carnargo, era uma dentre os dezoito filhos
do alferes Joaquim Franco de Camargo e de sua se-
gunda mulher Maria Lourença de Moraes, citada
mais adiante.
De seu casamento teve Albino Cardoso os qua-
tro filhos que chegaram a maior idade, que são os
seguintes :
9 - 1 -Maria das D o r e s Alves Li7ul.a. Casou-se primeira vez
com seu tio paterno Antonio Alves Galvão, fallecido
em Araras em 1874, e segunda vez com seu primo
irmão Olegario Moreira Lima, natural de Itatiba.
pessoa distincta, exemplar chefe de familia, lavrador
adiantado, sincero e bom amigo. Apaixonado pela
sport venatorio mantinha habitualmente em sua gran-
de fazenda - Bom Jesus, em Araras, cerca de oi-
tenta cães de caça entre perdigueiros, paqueiros,
queixada, veadeiros e até quatieiros, todos amestra-
dos e para cuja acquisição jamais fazia questão de
preço.
Teve Maria das Dores de seu primeiro casâ-
mento dois filhos :
10-1 -Renedicta Alves Galvão. Foi casada com o bacharel
em direito João Ferreira de Mello Sogueira, distin-
cto cidadão e intelligente advogado. Benedicta falle-
ceu em Lisboa, legando para a irmandade de miseri-
cordia de São Paulo quantia superior a mil contos
de reis, com condição porem de fundar em Araras,
sua terra natal, um orphanato com o nome de Santo
Antonio (nome de seu pae) destinado a receber me-
ninas orphãs e pobres de sua terra; a Irmandade de
Misericordia está cumprindo esse compromisso.
10- 2 - Tranquilino Alves Galvão. Foi casado com Anto-
nia Moreira Lima, meia irmã de seu padrasto Ole-
gario Lima, com filhos.
4 - 2 - Joaquim Alves Franco. Foi casado com sua prima
Anna Miquelina Alves Cardoso, filha de Manuel Al-
ves Cardoso. Falleceu em 1888 sem geração.
9 - 3 - Joaquina Alves Franco. Casou-se com Januario de
Oliveira Camargo, natural de Itú, residiu os primei-
ros tempos em terras da fazenda São Bento, proprie-
dade de seus paes, no lugar conhecido por sesmaria,
mudando em seguida para Santa Rita do Passa Qiiâ-
tro, veiu a fallecer em Pirassununga em 1878, onde
foi enterrada, e o marido em Campinas em 1883, com
quatro filhos :
10- 1 - Benedicta Alves de Oliveira. Foi casada com seu pa-
rente Vicente Ferrer Franco, com um filho Sylvio; *
todos tres já fallecidos.
10-2-Eudoxia Alves de Oliveira. Casada com Dr. Theo-
doreto do Nascimento, residente no Rio de Janeiro,
com filhos.
1 0 - 3 -Albino Alves Cardoso. Foi casado e falleceu sem
filhos.
10 -4 -Agostilzho Rodrigues de Caitzargo. Falleceu na Suis-
sa, onde estava completando sua educação com cerca
de dezoito annos de idade.
4 -4 -Clara Alves Franco. Nasceu na casa velha da fazen-
da de São Bento, onde presentemente reside o admi-
nistrador da fazenda, e foi baptisada em Limeira.
como se verifica do seguinte assento :
"Certifico que revendo os livros dos baptisados
desta freguezia de N. S. das Dores de Limeira, em
um d'elles, livro 9 fl. 31 se encontra o assento do
theor seguinte: Aos tres de Maio de mil oito centos
e sessenta e tres, nesta matriz de Limeira, o Reveren-
do Padre João Alvares solemnemente baptisou :I
Clara de mez e meio de idade filha legitima de Albi-
no Alves Cardoso e de Carolina Amelia de Jesus.
Foram padrinhos Francisco Antonio Leite e sua mu-
lher Flora Candida de Almeida Lara. O Vigario
Antonio Manuel de Camargo".
Prima irmã de sua madrinha, foi educada no
collegio Florence, de Campinas. .Casou-se em o prc-
dio de residencia de sua mãe, no logar da Matriz em
Araras, fazendo esquina com a rua Albino Cardoso.
no sabbado, 20 de Setembro de 1879, com o Dr. Josf.
de Paula Leite de Barros. Era esposa virtuosa e mãe
amantissima, tendo sido sempre filha mui dedicada:
primava pela sua modestia, grande amor ao trabalho,
e pelo espirito de bem entendida caridade.
Uma adldenda dolorosa : N'uma manhã ensola-
rada do mez de Julho, neste anno de 1928, n'umx
sexta-feira, ás oito horas e cinco minutos da manhã.
em nossa casa de residencia sita á Praça da Re-
publica n." 42, na cidade de São-Paulo, rodeada de
todos os entes queridos e parentes proximos, e tam-
bem de seus estimados serviçaes - Maria Damazia,
portugueza, que a aconupanhava a quinze annos; de
Rozaria Martins, hespanhola, que a servia a doze
annos; do homem de cor, coração bondoso, dedica-
do, paciente e honesto chauffeur a dez annos, Pau-
lino Corrêa; com a idade de sessenta e cinco annos,
tres mezes e dezeseis dias de uma vida modestissi-
ma, inteira e completamente empregada no rigoroso
cumprimento de irreprehensivel dona de casa exem-
plar, praticando sempre a virtude, como filha e como
esposa; mãe estremosa, alma caritativa, sem osten-
tação; de quarenta e oito annos, nove mezes e deze-
seis dias de casada da mais exemplar vida de felici-
dade conjugal, sof f rendo de uma insuf ficiencia re-
nal chronica de ha varios annos, porem victimada
por uma grippe de apenas seis dias de duração, dei-
xou de existir, abrindo no velho coração de setenta
e dois annos de seu inseparavel companheiro de qua-
renta e nove annos da mais perfeita, intima e since-
ra convivencia e do mais puro sentimento de amor
reciproco uma chaga viva que nunca mais será
curada.

FRANCO DE CAICTARGO

Remonta ao mais longinquo passado a origem


do appellido Leme na capitania de São Vicente. Se-
gundo opinião de abalisados linhagistas, tiveram co-
meço as pessoas deste nome em Pedro Leme, filho
de Antonio Leme, natural da ilha de São Vicente,
Madeira, que em 1550 já morava na capitania, tend:,
casado com Luzia Fernandes, cle cujo matrimonio
houvera a filha Leonor Leme que, em companhia d«
pae já viera casada com Braz Teves, mudado no Bra-
sil por Esteves. Teve Leonor Leme cinco filhos:
1 - 1 - Pedro Leme.
E' o que segue.
1- 2 -Matheus Leme.
1-3 -Aleixo Leme.
!-4 -Braz Esteves Leme.
1 - 5 - Lucrecia Leme.

PRIMEIRA GERAÇÃO P A U L I S T A

1 - 1 -Pedro Leme. Nasceu na villa de São Vicente entre


1560 e 1570. Era homem de nobreza, e pertenceu a
governança da terra. Foi primeiro casado com Hele-
na, filha de João do Prado (de Olivença) e de Filip-
pa Vicente, vindos na primeira leva de povoadores
trazida por Martim Affonso de Souza em 1532. Ca-
sou segunda vez com Maria de Oliveira.
Teve da primeira mulher Helena Vicente:
,- I - Lucrecia Leme.
2 - 2 - Braz Esteves Leme.
L - 3 - Matheus Leme do Prado.
2 - 1 - Pedro Leme do Prado.
2- 5 - Domingos 'Leme da Silva.
2 - 6 -Aleixo.
2 - 7 -João Leme do Prado
2 - 8 - Helena do Prado
2 -9 - Filippa do Prado
E' o que segue.
Da segunda mulher teve :
2 - 10 - Maria de Oliveira.

SEGUNDA GERAÇÃO

2 - 9 - Filippa do Prado. Foi casada com João de Santa


Maria, secretario de Dom Francisco de Souza gover-
nador geral do Brasil em 1699. Teve:
.,- 1 -Joanna do Prado.
E' o que segue :
3 -2 - Marianna do Prado
3 -3 - Helena do Prado
3 -4 - Pedro Leão de Santa Maria
3 -5 -Antonio do Prado Santa Maria
3 -6 -Domingos Leme da Silva
3 -7 -João do Prado Santa Maria
3-8 -D.. . . . . . . . . . . . . .

TERCEIRA GERAÇÃO

3 - 1 -Joanna do Prado. Foi casada com João da Costa,


teve :
4- 1 -Isabel da Costa Santa Maria que foi casada com o
capitão Lourenço Franco Viegas, filho de Lourenço
Franco Viegas e de Francisca Coitado.
Lourenço Franco Viegas, fallecido em S. Paulo
em 1700, era natural da villa de Portel, comarca de
Evora, Portugal; serviu honrosos cargos em S.
Paulo onde foi juiz ordinario e mereceu uma carta
firmada pelo punho do rei em que este agradecia os
serviços prestados na Capitania. Foi distincto militar
em sua terra conforme sua fé de officio, serviu em
Mourão, Villa Nova de Alfreno, na tomada do forte
de Telena a margem do Guadiana, em Campo Maior,
em Elvas. Veio para o Brasil onde serviu como alfe-
res com o capitão Fernão Telles de Menezes. Esteve
na Bahia, e serviu na guerra até ser conseguida a
restauração de Pernambuco do poder do inimigo hol-
landez. Teve oito filhos:
5 - 1 - João Franco Viqgas
5 -2 - Catharina Franco do Prado
-
5 3 - Lourenço Franco do Prado
E' o que segue.
5 -4 -Joanna do Prado
5 -5 -Ignez Franco
5 -6 - IsabelFranco Viegas
j- 7 - Maria Franco do Prado
5 -8 -Josepha Franco do Prado

QUARTA G E R A ~ Ã O

5 - 3 - Lourenço Franco do Prado foi morador por algum


tempo nas minas de Pitanguy, logo em seguida ri
sua descoberta, tendo sido eleito juiz na epoca de sua
elevação a villa. Falleceu em Conceição dos Guaru-
lhos em 1772 na avançada idade de noventa e um
annos. Foi casado duas vezes; a primeira vez com
Anna Peres Pedroso, filha de Domingos Pedroso e de
Maria Peres da Silva, por esta neta de Alonso Peres
Calhamares e sua mulher Maria da Silva; a segunda
vez com Catharina de Lemos de quem não deixoir
geração: teve da primeira mulher:
G - 1 - João Franco Viegas
E' o que segue.
6 - 2 - Maria Franco do Prado
6 - 3 - Antonia.
C - 4 - Capitão Miguel Fvanco do Prado.

Q UIiVTA GERAÇÃO

6.- 1 -João Fraftco Vicgcs. Foi baptisado em 1711 e n ~Ati.


baia, onde casou-se com Maria cle Souza, filha de
José de Souza, portuguez, e de Anna Maciel da
Gama. Foi Joáo Franco Viegas pessoa de veneração,
respeito e autoridade na freguezia de S. Joáo de ,4ti-
baia, onde exerceu o cargo de vereador da primeira
camara municipal em 1769. Falleceu em 1792 com 81
annos de idade, e teve :
7 - 1 - Crispim da Silva Franco.
E' o que segue.
7 -2 - Bartholomeu Franco de Azevedo.
7- 3 -Maria Franco de Souza.
7 -4 -José Franco do Prado.
7 -5 - Anna Franco.
7 -6 -Lourenço Franco l'iegas.

S E X T A GERAÇÃO

7-1 - Crispim da Silva Franco. Capitão de milicia, foi bap-


tisado em 1741 em Atibaia, ahi casando-se q u a t r ~' ~
vezes: primeira vez com Isabel Cardoso da Silveira,
fallecida em 1778 com 31 annos de idade, filha de
Peúro Ortiz de Camargo e de Catharina Rodrigues
Garcia; segunda vez em 1779 na mesma villa com
Gertrudes Alves Cardoso ; terceira vez com Gertru-
des Maria Franco, em 1799; e quarta vez com Ma-
ria Joaquina Franco.
Teve da primeira mulher oito filhos:
8 - 1 -Maria Gertrudes Franco.
8 - 2 - Capitão Ignacio Franco de C a ~ ~ a r g o .
E' o que segue.
8 -3 -Anna Franco.
8 -4 -Francisco da Silva Franco.
8 -5 -João Baptista Franco.
8 -6 -José Maria Franco.
8 -7 -Joaquim da Silva Franco.
8 -8 -Mecia da Silveira Franco.
Da segunda mulher:
8 - 9 - Salvador do Nascimento Franco.
8 - 10 - Ignacio José da Silva.
Da terceira mulher :
8 - 11 - IlJarin da Silveira Franco.
8 - 12 - Agina Gertrudes Franco.
8 - 13 - Antonio da Silveira Franco.
I!- 14 - Maria Rita.
Da quarta não consta geração.

SETIMA GERAÇÁO

S -2 - Cap. Iynacio Franco de Camargo. Foi baptisado em


1764 em Atibaia, e falleceu em 1833. A exemplo do
pae tambem foi casado quatro vezes A primeira em
1783 na freguezia de Jaguary (depois villa de Bra-
gança) com Gertrudes de Godoy Moreira, filha de
João Pires Pimentel e de Anna de Godoy; segunda
vez casou em 1799 com Escholastica Maria Bueno;
terceira vez com Anna Maria da Conceição; e quar-
ta vez com Francisca Maria Penteado.
Teve da primeira mulher Gertrudes de Godoy :
9 -1 - A~ltlaPires Pimentel.
9 -2 - João Franco de Canzargo.
9 -3 - José Pires Pimentel.
9 -4 - A~jtonioPires de Godoy.
4 -5 -Maria Franco. Casada com Antonio Correa de La-
cerda.
9 -6 - Alferes Joaquim Franco de Carnargo.
E' o que segue.
9 -7 -Isabel.
Da segunda e da terceira não deixou geração.
Da quarta teve :
9 -8 -Maria. Casada com Joaquim Estevão.
9 - 9 - Anna Franco Penteado.

O I T A V A GERAÇAO

9 - 6 -Joaquim Franco de Cawargo. Natural de Atibaia,


como se verifica do seguinte assento: Certifico que
revendo o livro n.O 5 de assentamentos de baptismos
pertencente a parochia de Atibaia, encontrei a fls 15
v. o do theor seguinte: Joaquim - Aos trinta e um
de Outubro de mil sete centos e oitenta e quatro,
n'esta Matriz de Atibaia, baptisei e puz os Santos
oleos á Joaquim, filho de Ignacio Franco e de sua
mulher Gertrudes Pires, naturaes desta villa, netcl
por parte paterna de Crispim da Silva Franco e Isa-
bel da Silveira, naturaes desta villa, e pela materna
de João Pires, natural de Santo Amaro, e de Annã
de Godoy, natural desta villa. Foram padrinhos : José
Franco do Prado e Francisca Cordeira, todos desta
freguezia, moradores do Rio Abaixo, do que fiz este
assento que assignei. O Pe. Manuel Jacintho de S.
Paio.
Foi primeiro casado em 1806 em Atibaia com
Maria Rosa de Oliveira, filha de João Francisco
Dultra, natural de Portugal, e de Anna Francisca.
Casou segunda vez em Atibaia em 1814 com Ma-
ria Lourença de Moraes, filha de Lourenço Franco.
da Rocha e Rita de Cassia Moraes, falleceu em Li-
meira a vinte e um de Fevereiro de 1869.
Em seguida ao primeiro casamento, em Atibaia,
dedicou-se a vida de lavrador no bairro do Rio Abai-
xo, para mais tarde exercer a profissão de tropeiro
ou .negociante de animaes, profissão esta seguida
por grande numero de moços desse tempo, os quaes
para fazer suas compras dirigiam-se ao sul da Capi-
tania em territorio que mais tarde formou a quarta
comarca, e em 1853 passou a ser provincia com o
nome de Paraná, desmembrada então de S. Paulo,
transformado em estado do mesmo nome em 1889
quando da proclamação da Republica. Nesta região.
muito fertil e coberta de extensos pinheiraes e im-
mensas campinas, a industria da criação de animaes
foi exercida com proveito desde sua descoberta e po-
voamento. Nos campos de Guarapuava, Corityba, Ja-
guariahiva, Ponta Grossa, por toda a parte, era in-
tensa a criação de cavallos e muares e lá os negocian-
tes, tropeiros, realisavam grandes compras para re-
vender, tangendo grandes lotes de animaes para S.
Paulo, magnifico mercado importador e ao mesmo
tempo exportador.
Tendo ficado viuvo da primeira mulher, o alfe-
res Franco contrahiu segundo casamento em 1814,
ainda em Atibaia, com sua parenta Maria Lourença
de Moraes, filha do alferes Lourenço Franco da Ro-
cha e de Rita de Cassia Moraes.
Tomou então o proposito de dedicar-se inteira-
mente á vida de lavoura, e com esta deliberação, in-
telligente e observador que era, dirigiu seus passos
para o afamado sertão conhecido pelos primitivos
abridores por Satuhiby onde de pouco havia sido eri-
gida utna capella sob a invocação de Nossa Senhora
das Dores, m&s tarde mudada para Limeira. Com-
prou ahi uma grande gleba de optima terra roxa toda
coberta de luxuriante e soberba matta virgem e abriu
lavoura de canna.
Reconhecendo porem mais tarde que a nova la-
voura de café ha pouco introduzida na provincia of-
ferecia mais vantagem, abandonou elle inteiramente
a cultura da canna.
Tendo auferido bons lucros de sua lavoura, in-
telligentemente applicou-os na compra de maior quan-
tidade de terras,, chegando a possuir varios milhares
de alqueires, e onde poude localisar a maior parte de
seus dezoito filhos. Gosou de merecido respeito e
muita consideração, tendo sido influente e acatadc
chefe do antigo partido conservador de Limeira no
tempo do imperio, e occupado com distincção todos os
cargos, quer electivos, quer de nomeação. Acha-se se-
pultado na terra a que dedicou o melhor de sua acti-
vidade. Falleceu a 29 de Dezembro de 1861.
De seu primeiro casamento teve:
10 - 1 - Candida Franco de Ca~gzargo.Foi casada com Emyg-
dio Justino de Almeida Lara, com quatro filhas:
1 - Ambrosina. Casada com Antonio Morato de
Carvalho, com geração em Piracicaba;
2 - Flora de Alweida Leite. Casada com Francisco
Antonio Leite, madrinha e padrinho de minha
esposa, foram honrados e diligentes fazendei-
ros de café em Araras, com os seguintes filhos:
1 - Francisco José Leite, meu compadre, casado
com Virginia Afeyer Leite, opulento fazendeiro
no noroeste do Estado.
2 - João Baptista Leite, já fallecido. Foi casado
com Maria Meyer Leite.
3 - Antonio José Leite, casado com Sebastiana
Morato de Carvalho.
4 - Maria Leite Cunha, foi casada com Ciaudino
Cunha.
5 - Candida Leite, foi casada com Antonio de
Araujo Cintra.
43-0 NOTASGENEALOGICAS DA FAMILIA PAULA
LEITE

6 - Anna Leite, casou com o doutor em medicina


Perminio de Abreu Lima e Figueiredo.
7 - Dornitilla Leite, casou com Antonio Augusto
dos Santos, do alto commercio de Santos, com
dois filhos e uma filha.
3 - Adelaide. Casada com Ismael Morato de Car-
valho, com 7 filhos.
4 - Idalina, casada com João Morato de Carvalho,
sem geração.
10 - 2 -Joaquina Maria de Oliveira. Nasceu em Atibaia,
conforme se verifica do seguinte assentamento. -
Certifico que revendo o livro n.O 5 de assentamento
de Baptisados pertencente á parochia de Atibaia, en-
contrei ás folhas 194 o do theor seguinte: "Joaquina
- Aos vinte e oito de Maio de mil oito centos e sete,
nesta Matriz de Atibaia, o Revmo. Coadjutor Pe.
Fructuoso José Furquim baptisou e poz os Santoç
oleos a innocente Joaquina, filha de Joaquim Fran-
co de Camargo e de sua mulher Maria Rosa.
Forão padrinhos o capitão Ignacio Franco de
Camargo, casado, e Anna Francisca, mulher clo Te-
nente João Francisco Dultra, todos moradores no
bairro do Rio Abaixo e freguezes desta villa Pe.
Francisco Ferreira".
Casou-se em 1819 em Atibaia com Joaquim ,\I-
vares Cardoso, já descripto em Alvares Cardoso.
10 - 3 - Mathilde Franco. Casou-se com José Lourenço da
Silveira, filho de Lourenço Franco da Rocha e de
Rita de Cassia.
10 -4 - João Franco da Si1vei1.a. Casou-se com Rita Ferraz
de Campos, filha de Manuel Ferraz de Campos e de
sua 1." mulher Anna Bueno de Camargo, com duas
filhas.
Da segunda mulher teve o alferes Franco os se-
guintes filhos :
3 0 - 5 -AIiguel da Silveira Franco. Casou com sua prima Ju-
liana, com tres filhos.
10 - 6 -Maria Jacintha. Casou-se com José Ferraz de Cam-
pos Junior com geração.
10 - 7 - Rita Franco. Casou primeiro com seu tio materno
Lourenço Franco, e segunda vez com Joaquim Claro
de Abreu; teve do primeiro marido seis filhos, e do
segundo tambem seis filhos.
10-8 - Francisca Franco. Casou com Antonio Manuel de
Abreu, com 10 filhos.
10 -9- Clara Franco. Crisou com seu primo irmão José de
Lacerda Guimarães, mais tarcle barão cle Arary, com
doze filhos.
10-10 -José da Silveira Fra~tco, (inho Franco). Casou pri-
meiro com sua prima irmã Mathilde filha de João
Franco de Camargo e de Gertrudes Franco Cardoso,
casou segunda vez com Escholastica Pires de Camar-
go, de Itatiba, com uma filha do primeiro e um casal
do segundo casamento.
10-11 -Coronel Bento da Silveira Franco. Casou primeirc,
com sua sobrinha Anna filha de Joaquim Alves Car-
dozo e de Joaquina Maria de Oliveira, segunda vez
casou com Maria Angelica de Barros, filha de An-
tonio de Paula Leite de Barros e de Maria Thereza
Ferraz de Camargo: teve, porem, filhos só do segun-
do matrimonio em numero de 8.
10- 12- Padre Joaquim Franco de Calnargo. Nascido a pri-
meiro de Janeiro de 1826 e fallecido conego da Sé de
São Paulo a 9 de Março cle 1909.
10-13 - Manoela de Cassia Franco. Casou com seu primo
irmão Bento de Lacerda Guimarães, mais tarde ba-
rão de Araras : falleceu em Nictheroy de febre ama-
rella, com 14 filhos.
10-14- Esclzolartica Franco, tia Elá, uma das mais velhas,
casou com Joaquim José de Araujo Vianna, natural
de Vianna do Castello, Portugal, com 11 filhos.
10 -15 - Carolina A~~wlia de Ca~zargo. Minha sogra ; nasceu
em Limeira, como se vê do seguinte assento:
"Carolina - A trinta de Novembro de mil oito
centos e trinta e trez baptizei e puz os Santos oleos ri
Carolina de oito dias, filha do Alferes Joaquim Fran-
co de Camargo e de sua mulher Dona Maria Louren-
ça, forão padrinhos José Ferraz de Campos e sua
mulher Dona Maria Jacyntha da Silveira, desta fre-
gciezia. O vig. J.e Joaquim de Campos Leite.
D.8 Carolina casou-se a seis de Junho de 1850 ás
5 horas da tarde em Limeira com seu sobrinho Albino
Alves Cardoso.
Foi uma senhora de uma dedicação ao trabalho
fóra do commum e de uma robustez em circumstan-
cias iguaes. De temperamento caridoso quasi sem li-
mites, em sua vida particular era modesta a mais não
ser, de maxima dedicação á sua egreja de N. S. do
Patrocinio de Araras, á qual alem dos vinte contos de
reis deixados em testamento por seu finado marido.
fez doações de maior quantia, já durante a constru-
cção, já em valiosas alfaias. Após prolongada enfer-
midade, na avançada idade de setenta e oito annos
completos, consolada em suas profundas crenças reli-
giosas, na fazenda de São Bento, Araras, aberto por
ella e marido ha sessenta annos, em seu proprio qual--
to de dormir da casa de residencia, na manhã do dia
3 de Dezembro de 1911, tendo á cabeceira a Clara,
ultima, restante, de seus filhos e mais do neto Albino
de Camargo, ella tambem ultima dos dezoito irmãos,
entregou sua alma ao creador. Repousa no cemiterio
de Araras ao lado do marido, alli descagando a 36
annos e 19 dias.
10-16 -Lourenço Franco da Rocha, (dedico), casou com
sua sobrinha Anna Eliza Franco, com seis filhos.
10-17- Anna Joaquina Franco. Falleceu solteira, em avan-
çada idade.
10-18- Candida Franco. Foi a primeira mulher de Joaquim
Ferreira de Camargo Andrade, de Campinas, mais
tarde barão de Ibitinga, com gerasão.
TITULO I

Ramo Almeida Prado

Henrique da Cunha
Filippa Gago

Henrique da Cunha Gago


Isabel Fernandes

Henrique da Cunha Gago


Ramo Sampaio Botelho Maria de Freitas

Gonçalo Vaz Botelho


Anna de Arruda
I João da Cunha Lobo
Filippa de Almeida Prado

I André de Sampaio Arruda


Anna de Quadros
Miguel de Almeida Prado
Maria de Camargo

André de Sampaio Botelho João da Cunha Almeida


Ignacia de Góes Maria da Silva Furquim

José de Sampaio Góes Lourenço de Almeida Prado


Anna Ferraz de Campos Maria Ferraz de Arruda Pa-
checo
I
I
Vicente de Sampaio Gbes João de Almeida Prado
Francisca Soares de Araujo Anna de Almeida Pedrozo

Francisco de Paula Ferraz de


Sampaio Isabel de Almeida Prado

I I
Anna de Almeida Sampaio
NOTAS Á MARGEM
DO ESTUDO

"A IMPRENSA PERIODICA"


POR

AFFONSO A. DE FREITAS
(SOCIO BEKEhlERITO)

P6S a publicação do nosso estudo - "A Im-


prensa Periodica de São Paulo" - enfeixada
no volume XIX da "Revista do Instituto His-
torico", tivemos opportunidade de registrar no-
vos informes, resultantes de posteriores inves-
tigações que, si não corrigem, certamente am-
pliam e completam noticias daquelle estudo;
dahi a resolução nossa de inserir taes informes
nas columnas da mesma "Revista" que deu acolhida a "A Im-
prensa".
"Notas á Margem" chama-se esse punhado de informações
porque, realmente, esta nova publicação sobre os jornaes paulis-
tanos será apenas a transcripção das notas que paulatinamente
iamos traçando ás margens do exemplar d'"A Imprensa Perio-
dica de São Paulo" que, por memoria desse nosso trabalho, con
servamos nas estantes de nossa Bibliotheca.
Comecemos :
O OBSERVADOR PAULISTANO - Ao que escreve-
mos sobre este periodico, ás paginas 70 - 73 da "A Imprensa"
acompanhadas de um fac-simile, d'"0 Observador" n." 436.
anno V, de terça-feira, 19 de Abril de 1824, acostamos a se-
guinte nota:
- FeijÓ redigiu tambem "O Observador", mas o principal
redactor foi sempre o dr. Manoel Joaquim do Amara1 Gurgei,
conego e, posteriormente, director da Academia de São Paulo.
O primitivo titulo do jornal era - "O Observador das Ga-
lerias" - e o seu primeiro numero distribuido a 19 de Janeiro
de 1838. Encerrada a sessão desse anno da Assembléa Proviri-
cial. passou o periodico a denominar-se, do seu n." 34, distrihui-
do a 18 de maio daquelle anno, em diante, - " O Observador
Paulistano" -, titulo que conservou até seu desapparecimento,
coni a distribuição do n.O 439 em 2 de Maio de 1842.
Collaboraram por algum tempo nX'O Observador", em 1838,
os l~achareisDaniel Augusto Machado e Agostinho José d'Oli-
veira Machado.
O NOTICIADOR - Semanario liberal, de combate, fun-
dado e redigido pelo fogoso orador e politico dr. Gabriel José
Rodrigues dos Santos até 28 de Agosto de 1840 em que assu-
mitldo o cargo de secretario do governo provincial deixou a re-
"dacção do jornal, segundo se verifica da seguinte declaração
inserta na edição daquella data:

"Declaração - O abaixo assignado, tendo lar-


gado a parte que tinha na redacção do "A~oticiador",
julga conveniente fazer esta declaração; e aproveita
esta occasião para agradecer os testemunhos de bene-
volencia que lhe manifestaram os assignantes desta
folha. São Paulo, 28 de Agosto de 1840. - Dr. Ga-
briel José Rodrigues dos Santos".
Com a retirada do dr. Gabriel, da redacção, passou esta a
cargo do dr. Joaquim Antonio Pinto Junior, outro jornalista de
pulso e que contou sempre, não só com a collaboração, do jovem
secretario da Provincia como dos padres Arriara1 Gurgel e Feijó.
O Noticiador cessou de circular a 17 de Novembro de 184.0,
tendo iniciado sua publicação a 20 de Maio de 1838.
No seu ultimo numero do mez de Agosto "O Noticiador?'
inseriu, enviada da Côrte pelo seu correspondente alli, a narra-
tiva dos prodromos da declaração da maioridade, uma das mais
brilhantes e, por certo, mais minuciosa que tem vindo a publico
sobre o assumpto : transcrevendo-a, na integra, julgamos prestar
serviço relevante aos estudiosos da nossa historia politica.

"Amigo, diz o correspondente d' "O Noticia-


dor", vou lhe contar miudadamente'os successos dos
dias 22 e 23. Nesta exposição achará desalinho;
porém muita verdade; porque como testemunha oc-
cular sei tudo quanto se passou.
O povo se hia todos os dias persuadindo, que a
imperio se dissolvia debaixo da pessima administra-
ção que o guiava, e pouco a pouco eu me fui conven-
cendo disto. A guerra do Sul se eternisava, as revol-
tas se reproduzi50 por todas as partes, os dinheiros
publicos se dissipavão, a divida recrescia, a banca-
rota se approximava, todas as ambições se desen-
cadeavão, o paiz perdia a moralidade, e a discordia
civil levantava o collo petulante, no meio da publica
desordem, e isto a ponto tal, que os homens mais co-
rajosos e bem intencionados ião desacoroçoando do
futuro do paiz.
Neste estado de coisas os meus amigos propu-
zerão no senado a lei de maioridade ; esposei a causa
da maioridade, e ao depois, quanto mais a exami-
nava, tanto mais a achava justa, patriotica, salvado-
ra; o paiz precisava de um governo de prestigio, o
da regencia era despresado, e para arrastar uma exiç-
tencia miseravel, mister lhe erão diarias, e vergonho-
sas transações com os membros da camara dos depu-
tados, que exercitavão a mais immoral oligarchia.
A lei proposta no senado sobre a maioridade, foi
regeitada sem discussão. Os deputados que não que-
rião a maioridade, propuzerão na camara uma lei,
que aparentando promover, e apressar a maioridade,
de facto a impossibilitava, ou a addiava para longo
tempo; este projecto foi pelo meu lado bem comba-
tido; seu dono o retirou, e nós supposemos por a!-
guns momentos, que ia-mos triumphar, assim náo
aconteceu, porque o malicioso governo, que não que-
ria perder o mando lançou mão de todas as trapassas
parlamentares para impedir a realisação do anhela3
nacional, então já fortemente pronunciado.
O campo da discussão era fatal ao governo,
porque a opposição batia aos seus oradores da ma-
neira a mais victoriosa; e o recurso da votação seria
para o governo a sentença de sua morte, pois tendo
principiado a opposição com 12 deputados em 37, es-
tava em maioria agora.
O governo cego de ambição, nem reconhecia a
vontade publica, nein se atrevia a imitar o desinte-
resse de Feijó; e para perpetuar-se no mando cha-
mou a Vasconcellos para a pasta do imperio; este
homem perfido fez o plano de um golpe de estado.
resolveu que o tutor do Imperador seria demittido,
e que o Congonhas do Campo levaria o Sr. D. Pedrd
I1 para Santa Cruz ; que a camara dos deputados, 0 1 1
a assembléa geral fosse addiada, que 7 deputados, e
4 senadores fossem presos, e mandado para fóra d~
imperio. Com isto contava o Vasconcellos perpetuar
a minoridade do Imperador, livrar-se de seus ant:i-
gonistas, e perpetuar-se no poder.
O projecto de lei sobre a maioridade devia dis-
cutir-se no dia 22 do mez p. p. e Vasconcellos gover-
nando no dia 21, e sem nós o sabermos, se prepa-
rava para tudo. A cidade ficou toda trancada de pi-
trulhas de militares, e de policia desde 21 ao meio
dia: não se via se não rondas de cavallaria, e de in-
fantaria se encontrando, e parados pelas esquinas;
parecia que a cidade estava para ser accommettida
por inimigos. Os municipaes permanentes estavão no
quartel, com os cartuxos na patrona, para occorrer
a qualquer novidade ; toda a força de linha foi col-
locada nos arsenaes de marinha, e da guerra, na Con-
ceição, e nos diversos quarteis da cidade.
O commandante geral da guarda nacional foi
chamado e por ordem do governo, intimou a todos
os coroneis chefes de legiões, commandantes de cor-
pos, e companhias, que não se arredassem de casa,
e que dormissem com os cornetas em quarteis, par.1
tocar a chamada á primeira ordem.
O governador das armas teve ordem de ir pcs-
tar-se com uma força na Guarda-velha, e vigiar a
segurança publica. Desta maneira o governo tinha á
sua disposição um exercito de sete mil homens, para
apparecer, como por encanto, ao primeiro grito.
A opposição percebia todo esse movimento, bem
conhecia que as disposições erão contra ella; estavso
todos persuadidos de que o governo não se limitava
a uma simples demonstração, não poderia só inti-
midar mas commetter algum attentado.
Na noite de 21 para 22 o Andrada Machado
teve aviso de todo o plano - adcliamentos de cam:l-
ras, prisões de deputados, que serião praticadas de-
pois do encerramento, e na noite seguinte, sem que
o povo percebesse etc., etc., etc.
Este illustre brasileiro não dormio mais, parti-
cipou aos companheiros, e preparou-se. No dia se.
p i n t e , a opposição levando comsigo o que tinha de
mais valor, e menor volume, e que pudesse dar algum
dinheiro na prisão, ou em qualquer parte apresento1:-
se muito cedo na camara; os contrarios appareceráo
reverberantes de alegria ; as galerias, corredores, ave-
nidas, e a rua até o largo do paço estava cheia de
gente, que vinha assistir o desenlace daquelle drama,
que ameaçava terminar em tragedia.
A opposição passou palavra aos companheiros
para ninguem responder aos contrarios se não quaG-
do elles apresentassem razões novas, e isso mesmo.
com toda a moderação, afim de se não empenhar al-
guma discussão tumultuaria que justificasse o addia-
mento, e prisões de deputados; communicou-se ao
povo as intenções do governo, e a necessidade em quc
havia de não justificar suas malvadezas.
Entrando-se na ordem do dia votou-se sem dis-
cussão, e no meio da maior calma o requerimento
que pedia urgencia em favor do projecto da maiori-
dade, venceu-se a urgencia por 60 contra 30; P. o
t celebre P . rio-se muito, e fez zombaria da oppo-
sição. (1).
Passou-se a discutir o projecto da maioridade.
tres oradores do lado contrario pedirão a palavra, e
provacarão terrivelmente a opposição; os doestos
fervião, mas ella respondia; mostrava uma contineii-
cia nobre, calma, que os intimidava; as galerias es-
tavão em silencio de tumulos, parecia que ninguem

(1) Dr. Joaquim José Pacheco: foi por muitos anuos chefe ostensivo do,
partido conservador da Provincia de São Paulo mercê do prestigio que lhe
emprestava o apoio de Carneiro de Campos, Barão de Iguape, Barão de Tie-
tê e Silveira d a Mota, até que em 1851, com a presideucia Nabuco e retrahi-
mento do apoio daquelles iiifluentes representantes das verdadeiras for-
ças eleitoraes conservadoras de São Paulo, cahiu para não mais se levantar,
àesapparecendo definitivamente do scenario politico.
respirava ; debalde tentárão os regentistas ver se pro-
movião algum rompimento ; a opposiçáo conhecia seti
plano, e seu intento: emfim não houve r k e d i o se
não mandarem á mesa o decreto do addiamento, por
motivo de perturbações, no meio da mais serena
sessão; aqui principia a crise, e o drama a tender ao
seu desfexo.
No momento em que o secretario lia o titulo do
ministro Bernardo Pereira de Vasconcellos, Anto-
nio Carlos bradou do seu assento - Ladrão m ó r d o
imperio; - quando o secretario chegou ao ponto do
decreto em que se dava por motivo do addiamento
a perturbação e desordem em que se achava a cania-
ra, voses geraes dos deputados, e espectadores prc-
nunciavão - calunznia, calumnia, traição, traiçiicr.
vamos para o campo da honra - enfio A. Machado
pediu a palavra, fez uma pequena fdla, que acabou
com um protesto, e appello ao campo; no momento
em que elle tinha o braço na acção de quem presta o
juramento, o povo todo das galerias, e os deputados
do seu lado estenderão os braços da mesmo maneira ;
quando elle interpoz o protesto, um brado geral dos
legisladores, e o do povo respondeu - protestamos,
protestamos; - quando elle pronunciou - vamos
para o campo! está feixada a tribuna, vamos para o
campo! - e principiarão a sair.
Fallarão mais outros deputados, porém Antonio
Carlos acabou de electrisar tudo, levantando-se para
sair, e gritando - quem é brasileiro siga comigo
parn o campo da honra! -A este tempo o senador
José Bento entrou gritando pelo salão que estavão
traidos, e que fossemos para o campo, onde muitos
senadores nos esperavão no paço do senado.
Não tendo mais tribuna, vendo em perigo a Pes-
soa do Monarcha, a monarchia, a integridade do ini-
perio, e tudo, não exitamos, jogamos nossa vida na
praça publica, e arrojamos na mais audaciosa em-
presa contra um governo armado, e apercebido ; sai-
mos pela rua da cadêa dando vivas a maioridade, e
abaixo o governo illegal, intruso, e usuypador, e câ-
minhamos, com o povo para o campo; erão 11 horas
e meia da manhã.
Pela rua se nos forão agregando alguns grupos,
e alguns militares; as patrulhas nos deixarão passar.
nos acompanharão, e fraternisarão com nosco. Sai-
mos no largo da Carioca, rua do Piolho, largo do
theatro, rua dos Siganos, e desembarcamos no cam-
po no meio de vivas ao imperador, e abaixo a cama-
rilha. Quando iamos pelas ruas parecia que eramos
um povo immenso; mas saindo no campo de San-
t'Anna, e então vendo bem o nosso grupo, conhece
mos que eramos apenas 800 ou mil pessoas, todas
desarmadas; então comparando com as forças que
o governo tinha á sua disposição pudemos avaliar a
altura do perigo, mas já não era tempo; e então re-
dobramos de energia, certo que só uma audaciosa
magnanimidade é que póde fazer milagres nestas
horas supremas.
Era meio dia, e já o governo postava suas for-
ças em posição que cortava nossa communicação cor2
a quinta da Boa-vista, e dirigia um destacamento
de cavallaria para dissipar a reunião; o povo, os es-
tudantes de medicina farão encontral-as, e as forças
fraternisarão, e ficarão á nossa disposição; mas era-
mos poucos, e o governo podia mandar um forte
destacamento; felizmente Vasconcellos não esperou
tanta audacia de nossa parte; é homem egoista não
póde comprehender, que profundas, fortes, e gene-
rosas convicçóes fanatisão os homens.
Declararão-se as camaras em seisão permanen-
te, mandou-se uma representação ao imperador, le-
vada por nove membros, em que ião os dois Andra-
das e Vergueiro: partio a commissão, e nós ficamos
substituindo com coragem a falta da força. Pela umn
hora da tarde a passo dobrado, e musica veio para
o campo o corpo completo da academia militar tra-
zer-nos seu apoio; erão dois bellos canhões e 100
tiros de metralha, uma boa infanteria de rapazes,
mas muito destros e dispostos a morrer pela maio-
ridade, a chegada foi brilhante; d'ahi a pouco apon-
tou o batalhão de guardas nacionaes de Santa An-
na, com o seu juiz de paz; os alzimnos da escola mi-
litar assistirão a artilheria, a infanteria se poz em
linha estendida de atiradores, e mandarão siber com
que vistas vinha o batalhão, e o commandante res-
pondeu - que erão brasileiros ; - chegarão em mar-
cha grave, collocarão-se a direita dos escolares, abri-
rão fileiras, tirarão as barretinas, e proclamarão a
maioridade ; d'ahi a pouco foi chamado o governador
das armas, que compareceu e intimou-se-lhe em no-
me do monarcha, e do paiz adherisse a causa, elle
adherio.
O Lazaro, commandante geral da guarda nacio-
nal, os chefes dos corpos, tudo veio apresentar-se, 5
de tal sorte que as 4 horas da tarde o governo não
tinha mais uma bayoneta em pé a seu favor; as mes-
mas guardas do ex-regente permanecerão por orderri
da assembléa, para livral-o de algum insulto.
O campo está coberto de soldados, e de povo, e
no meio de tudo isto reinava a ordem mais completa,
nem um empurrão, nem uma descompostura; então
o governo, em sessão permanente na casa do regen-
te, teve que fugir; Vasconcellos foi para o quarteI
dos permanentes; mas achando-os promptos par2
vir para o campo, foi esconder-se em casa de um
medico; Pedro de Araujo Lima, e Rodrigues Tor-
res forão atirar-se aos pés do imperador, ainda acha--
rão a commissão na quinta; o imperador disse 3
commissão - que para obviar o derramamento de
sangue de seus patricios acceitaria o governo, - e
ordenou a Pedro de Araujo Lima que revogasse o
decreto do adiamento d'assembléa e que a convo-
casse para o dia seguinte. A commissão chegou com
esta resposta no meio dos vivas á maioridade, e já
acharão-nos senhores da força publica; então resol-
veu-se que se mandasse exigir de Pedro de Araujo
Lima o decreto da convocação para ficar em poder
dos presidentes das duas camaras, e estes executa-
rem no dia seguinte; veio o decreto. Resolveu-se
mais que fosse uma grande guarda pernoitar na
quinta, para guardal-a; mas o Sr. D. Pedro I1 dei-
xou d'ella só 12 officiaes; abraçou aos outros, e
disse - que não era preciso guardas no meio de seus
patricios.
Resolvemos passar a noite no campo, e não dis-
solvermos-nos se não depois de estar o monarcha no
throno; erão 10 horas da noite quando o Sr. D. Pe-
dro 11, sabendo desta ultima resolução, mandou 0
Almirante Taylor dizer á reunião, que estava penho-
rado por tantas demonstrações do amor de seus pa-
tricios.
Temiamos ainda um assalto de forças, que se
podessem desembarcar de nossa marinha militar, e
fortalezas, e tudo havia de receiar de Vasconcellos;
todavia pelas 2 horas da noite o mesmo Taylor nos
veio assegurar que nem um brasileiro da marinha mi-
litar deixaria de apoiar a entrega do governo a S. M.
I.. então dormimos debaixo do céo em uma das mais
bellas noites, em que o mesmo céo ostentava todo r,
luxo de suas brilhantes estrellas.
A aurora do dia 23 veio illuminar o mais bello
panorama; era um povo immenso, um exercito de
mais de sete mil homens que se levantava da relva
em que se tinha bivacado para exigir de seus tyran-
nos a entrega do seu monarcha legitimo, e desejadc.
Tudo o mais. e nomeação do ministerio consta dos
jornaes.
A's 10 horas reunio-se de novo todos os depu-
tados, e senadores no senado; a acclamação da
maioria, e o juramento do imperador foi feita pelas
3 e meia horas da tarde; distinguirão-se bem os de-
putados e senadores que chegavão, d'aquelles que
operavão a revolução; aquelles vinhão limpos, e co-
rados, estes estavão pallidos, tresnoitados, barbas
grandes, e roupa coberta de suor, de pó, e até de
lama das ruas; mas todos estavamos alegres; os Pa-
checos e outros que taes não comparecerão, e ainda
remungão contra o acto, mas lá comsigo, e entre
seus consocios.
Eu fico em pé, mas estragado de saude, tendo
passado mais de 60 horas sem comer e sem dormir.
e com o coração servindo de campo onde luctavão ao
mesmo tempo todas as paixões, e as emoções as mais
prófundas. Depois de feita a revolução, e depois de
passado o perigo é que eu me lembrei que era casa-
do, que tinha filhos, e netos, e hoje mesmo me ad-
miro de que eu fosse capaz de tanto atrevimento,
mas o facto é que a politica como a religião fana-
tisa aos homens.
Aconteceu com o nosso partido genuino o que
acontece a todo o partido moral, e composto de ho-
mens reunidos pela força de profundas convicções ;
na hora do extremo perigo ninguem faltou, não tive-
mos um covarde, um judas, um desertor. Os tres VP-
lhos (Andradas e Vergueiro) que honrão nossa ter-
ra, a terra dos paulistas cobrirão-se de gloria, e assim
como o A. Machado que é hoje o ido10 do povo flu-
minense, mas a José Bento Leite Ferreira de Mello
toca o maior quinhão de honra.
Agora meu amigo, o que nos resta é reunirmos
todos os nossos exforços para sustentar ao nosso jo-
vem monarcha, e fazermos todos os sacrificios para
promover a paz publica, e sustentar a integridade do
imperio; e vamos a ver o que fazem esses bandos de
especuladores, nossos inimigos que nos calumniavão
com o epitheto de republicanos; vamos a ver quem
trabalha mais pela monarchia, paz, e ordem publica.
Rio de Janeiro 1.O de Agosto de 1840.

O ESCANDALISADO. - Ao registro deste jornal ás


pajginas 79 dX'A Imprensa" juntamos em "Nota" o seu artigo
de apresentação :

"Quando atrocissimas injurias e calumnias são


lançadas com profusão sobre todos os homens hon-
rados e respeitaveis desta provincia por meia duzia
de espiritos mal intensionados, é dever patriotico es-
magar essas serpentes dos sertões. . ., que acoutadas
em nossa terra, querem com pestiferas baforadas de-
negrir a honra e probidade de nossos patricios, que
sempre tiveram o conceito de genuinos constitucio-
naes, amantes da boa ordem e da monarchia."
"O Escandalisado" veiu a lume para combater
a acção do "Guarda Nacional Paulista" redigido
pelos drs. Joaquim José Pacheco e Clemente Falcão,
os quaes procuravam denegrir e annular o prestigio
dos Andradas, então na direcção do paiz em conse-
quencia da declaração da maioridade do imperador.

O GUARDA NACIONAL PALTLISTA. - Aos infor-


mes publicados n"'A Imprensa" ás paginas 79, sobre este jor-
nal, juntamos agora os seguintes esclarecimentos :
O "Guarda Nacional" era redigido pelo dr. Joaquim Jose
Pacheco, em discomedida linguagem, e combatia desabridamen-
te o ministerio Andrada e o governo da Provincia. Sua divisa
era : "Abaixo o scepticismo ! abaixo a dictadura financeira !
Viva o Imperador, a Constituição, o acto addicional e sua inter-
pretação !".
O "Guarda Nacional" cessou sua publicação no dia 30 de
Setembro, após a queda do partido liberal, explicando seu desap-
parecimento nos seguintes termos :

" "O Guarda Nacional" sahiu d'entre as filei -


ras de seus camaradas quando viu a patria presa
destes facciosos (os maioristas) a dignidade nacio-
nal prostituida por elles, a corôa imperial arrastada
pelo lodo de sangue de seus irmãos nas campinas do
Rio Grande do Sul, e calcada aos pés de abjectos
caudilhos e a constituição despedaçada.
Elle se constituiu em vedeta ou sentinella avan-
çada, e cumprindo assim sua primeira missão defi-
nida no art. 1.O da lei de sua creação.
Elle tem deste posto clamado pelas liberdades
publicas, pela sustentação da corôa brasileira, e pela
manutenção da lei fundamental, cuja defesa lhe foi
commettida.
Hoje que o perigo diminuiu, que o monarcha
está livre da oppressão, em que o tinham os conquis-
tadores de Julho, que o governo está desaffrontado
"A IMPRENSA PERIODICA"
- 7
"c$ !
e em estado de continuar sua marcha legal, o "Guar-
da Nacional" vae entrar novamente nas linhas de
seus irmãos d'armas até que novas necessidades re-
clamem a sua apparição . .."

Presumpção e agua benta. . .

O E S C 0 RPI-40. - Jornal mordaz e satyrico, publicado


na typographia Costa Silveira, á rua S. Gonçalo, hoje Marechal
Deodoro, n." 14. O primeiro numero d9"0 Escorpião" veio a
lume em 31 de Agosto de 1841. (Egydio Martins, - Jornaes e
jornalistas - artigo publicado na Rev. do Instituto Historico de
S. Paulo, tomo XVI, fls. 117).
A estes informes, incluidos ás paginas 80 d'"A Imprensa".
juntamos, á margem, o seguinte

PROGRAMMA D'"0 ESCORPIAO"


Eleições provinciaes

"Está emfim chegada a quadra das eleições, e


é justo que o nosso Escorpião vá mordendo nos fa-
tuos, que presumem-se com direito a polleiro no sa-
grado recinto da representação provincial. Eleito-
res, hoje mais que nunca, cumpre fazer uma esco-
lha, que vos possa ser util para o futuro: hoje que
o Brasil, ameaçado tão de perto pelo hediondo mons-
tro da anarchia, está em risco imminente de desmo-
ronar-se; hoje que a monarchia periga com as insi-
diosas intrigas dos especuladores de Março; hoje,
finalmente, que as maiores calamidades pesam sobre
a nossa patria infelkz, a eleição de uma assernbléa
provincial é por certo, de toda a ponderação, e póde
importar, ou a creacção de um elemento vigoroso,
que resista ás machinações de um governo corrom-
pido, que por ventura pretenda opprimir-nos, ou en-
tão uma corporação venal e corrompida, que se
curve humildemente aos acenos de qualquer agente
do poder. Meditae profundamente na escolha que
tendes de fazer, e não vos deixeis levar pelo mes-
quinho interesse do partido, que por muitas vezes
cega, e fascina os eleitos do povo. Eleitos! A con-
fiança que em vós depositou esta provincia, vos im-
poem a rigorosa obrigação de eleger para deputados
homens de merito reconhecido e de coragem civica
para arrostar os perigos que ameaçam a provincia e
o Brasil inteiro, homens de toda a probidade, e inca-
pazes de abandonareva as fileiras dos antigos da pro-
vincia para se incorporare~staos traidores e escravos
d o poder. E vacilareis um momento na escolha? Será
muito difficil decidir entre os Tobias, Franças, San-
tos, - e os Pachecos, Carvalhos e Falcões?
Ah! Paulistas, eleitores paulistas, hoje mais do
que nunca vossa missão é sagrada! ! Meditae, me-
ditae na escolha que tendes a fazer, e seja a futura
assembléa provincial um baluarte inexpugnavel a
cuja vista tremam os traidores que machinam a rui-
na da patria !"

O FUTURO. - Orgam saquarema já registrado e descri-


pto na "A Imprensa", onde o leitor tem opportunidade de aqui-
latar da veia humoristica do jornal da opposição ao partido libe-
ral: com a seguinte transcripção que fazemos, a seguir, da cor-
respondencia distribuida com a edição de 23 de Fevereiro de
1847, ficar-se-; conhecendo do gráu de virulencia empregado
em seus ataques aos adversarios politicos.
No avulso que acompanhava a citada edição, assignado pelo
dr. Francisco José Corrêa, da villa do Principe, pretendia este
fazer o "retrato fiel" do dr. João da Silva Carrão, concluindo
sua formidavel objurgatoria, depois de chamar ao illustre poli-
fico - "hypocrita." e "Judas", com os seguintes topicos:

"Em outra occasião desceremos a analyse da


conducta politica do Sr. Carrão, e então nos esfor-
çaremos a dar uma idéa das gentilezas, que praticou
em 1842 na Corte, ora beijando os degráus das esca-
das dos ministros, ora presenteando as maiores in-
fluencias do partido da ordem, e se não que o diga o
Sr. Souza Martins, e depois da dissolução da cama-
ra regressando a esta provincia denunciou (segundo
consta) a uma alta personagem da Corte todos 05
passos do partido a que diz pertencer (nós duvida-
mos se o tem) até escrevendo para Corytiba, que ia
ser despachado pelo Exmo. Sr. Paulino José Soares,
Juiz de direito d'esta comarca, pelas grandes reve-
lações, que tinha feito, e finalmente para mostrar-
mos, que em tudo o Sr. Dr. Carrão prima tocaremos
na traição (consta) fez ao digno Dr. Falcão não
sendo até certo ponto isento do bote da vibora 3
muito probo e integerrimo cidadão, o Dr. Raphael
de Araujo Ribeiro."

Fecha a - Correspondencia - o seguinte periodo:

"Felicitamos ao Futuro por ser redigido por


tão habeis collaboradores, que s'esforção pela publi-
cidade dos desvarios do partido dominante, a fazer
ressurgir pela energia de sua penna viril dias mais
ditosos, que nos fação esquecer os soffrimentos com
que ha perto de tres arinos temos luctado: a empre-
za é digna de quem defende a Monarchia Constitu-
cional !
Villa do Principe, 26 de Setembro de 1846. -
Dr. Francisco José Corrêa".
No Cartorio do 2." Officio Civel de São Paulo, appenso ai>
processo crime movimentado pelo dr. Carrão contra o dr. Cor-
rêa: maço n." 2, 1847, existe um exemplar da - Corresponden-
cia - de 26 de Setembro.
Redigiram "O Futuro" os clrs. Joaquim José Pacheco, Cle-
mente Falcão (o velho) e Francisco Peixoto Gomide.

O S A Q U A R E M A . - No registro que fizemos deste pe-


riodico ás paginas 95 d"'A Imprensa" cingimo-nos exclusiva-
mente no estudo congenere de Lafayette por não termos avista-
tado, assim como aquelle operoso e illustrado pesquisador, ne-
nhum exemplar siquer, daquella publicação.
Transcrevemos então, de Lafayette, a seguinte nota, que lhe
fora fornecida por Antonio de Toledo Piza.

"Em 1849 publicou-se em São Paulo O Snqtta-


reina, que devia ter sido orgam do partido conserva-
dor. Não sei quando appareceu, quando morreu, nem
quem era o seu redactor. Tenho um supplemento do
jornal, que nada esclarece a respeito".

Posteriorniente, reveilclo jornaes antigos, que até então não


me tinham vindo ás mãos, conseguin~osreunir novos informei
os quaes, si não completam, pelo menos ampliam a noticia for-
necida pelo illustre e beiledictino organisador dos "Documentos
Interessantes".
O Saquarelila foi redigido pelo clr. Peixoto Gomide, o pri-
meiro desse nome, segundo se deprehende da seguinte noticia
estampada n' "O Conservador" 11." 1 de 26 cle Abril de 1849 :

"O dr. Peixoto Gomide. - Como correligio-


narios e amigos faltariamos a um dever sagrado, se
tendo de escrever o 1.O numero d'este jornal não
commemorassemos com sincera dor a morte desse
nosso prestante alliado. Um serviço importantissimo
havia elle presta ao partido publicando com outros
amigos que hoje o choram, o Futuro e logo depois,
O Saquartma. Foi nos dias aziagos do dominio bru-
tal de nossos adversarios, que elle fundou aquelle
jornal, e no fim de quasi cinco annos de ostracismo
não é pequeno esforço levantar a voz contra os de-
lirios de dominadores tão impios".

O CONSERVADOR - Ao registro deste periodico, ás


paginas 98 d'"A Imprensa" addicionamos as seguintes notas que
dizem bem do juizo que da imprensa contemporanea fazia o
I: :sso orgam do partido conservador paulista.

Do "prospecto" do 1". numero do Conservador extrahimo5


os seguintes periodos :

"Escrever para o publico é talvez hoje uma ta-


refa desacreditada !
De intuição eminentemente civilisadora da hu-
manidade tem-se convertido a imprensa periodica em
instrumento de propaganda revolucionaria em todo O
mundo. E os resultados funestos que o jornalismo
europeu tem colhido de sua acção viva e incessante
sobre a espirito dos povos, parece que tem servido
de licção aos revolucionarios da nossa terra, porque
estes mais que nunca vão se tornando malignos imi-
tadores d'aquelles.
A imprensa é escandalosa, dizem alguns, e por
isso mesmo perdeo a sua virtude! Sim, a imprensa
é escandalosa, porque ella tem descido á lama mais
podre da personalidade, os caracteres mais puros são
os que tem contra si mais paginas de vituperios, e
de injurias torpes: a difamação tem-se tornado um
officio ou profissão directa, ou indirectamente lu-
crativa, porque a difamação atroz e cynica tem-se
tornado um titulo de habilitação dos neophitos do
partido revolucionario ! E o que é mais para lamentar
até a mocidade ás vezes illustrada, cuja intelligencia
virgem devera descobrir outros alvos para sua am-
bição, cujo coração isento das feridas do resentimen-
to e do odio só devera inspirar o escrupulo das ag-
gressões gratuitas, atira-se a esse officio, que de-
grada, e a esterelisa ! Isso bem revela o vicio da nossa
educação, e a profundidade do precipicio moral em
que está a nossa sociedade, ainda na sua nascença;
mas ha no estado da nossa imprensa mal mais di-
recto e mais proximo - e esse é a sua tendencia
eminentemente revolucionaria.

E' ainda do n." 1 d' "O Conservador" a seguinte noticia:-

"O DEPUTADO DA MORTE"

"Foi necessario que a mão de um assassino ar-


rancasse a vida ao dr. Macedo, para que o Sr. Ga-
hriel tomasse assento na Assembléa Provincial. Foi
mister que a febre - farrapa - levasse ao tumulo
o Dr. Peixoto Gomide para que o Sr. Gabriel rece-
hesse o diploma de deputado geral. Só as facadas, e
a febre poderão dar ao Sr. Gabriel um assento no
parlamento; e é por isso que com razão lhe charn5.o
- o deputado da morte".

O primeiro numero d' "O Conservador" circulou a 26 de


Abril de 1850, porem, estampado, por equivoco, em seu cabe-
çalho, a data de 26 de Abril de 1849.
Mais tarde passou "O Conservador" a ser impresso na ty-
pograpHia da Viuva Sobral, como pudemos verificar pelo n." 44
de 13 de Novembro de 1850 que juntamente com o n." 1 nos
veiu ás mãos.

O PAULISTA. - Lafayette, obra citada, indica o appare-


cimento de um jornal com esse titulo em 1855; nada pudemos
saber relativamente a tal publicação, - foi o que escrevemos
relativamente a este jornal ao registal-o em "A Imprensa". So-
bre elle, posteriormente, colhemos d'"0 Ypiranga" de 21 de
A4brilde 1855, as seguintes informações:

" O Pazilista. No dia 18 do corrente appareceu


uma folhinha, não periodica, pois publica-se sem de-
terminação, como declara o seu frontispicio, com o
titulo - Paulista. - Diz: "Dedicado sem reservz
á causa do partido saquarema, entendemos que sem
infan~ianão poderiamos deixar de romper um si-
lencio, cuja continuação envolverá a total ruina do
partido saquarema e o triumpho dos especuladores.
que tendo combatido por honras e emolumentos, pen-
são estarem seguros de suas posições e impacien-
tão-se para relegar ao socego e á apathias da vida
material os membros menos proeminentes do partido
que lhes servio de escola".
Ainda bem! Confessa que os chefes desse par-
tido em vez de tratar do bem do paiz, combaterão
por honras e emolumentos. Os chefes são que repre-
sentam o partido; que melhor comprehendem e ex-
primem os seus dogmas e os dirigem: um partido
é politi.camente o que são os seus chefes. Logo, o
partido sacluarema foi sempre nesta provincia, coma
o descrevia o partido liberal. E que defeza vem fa-
Ler o tal P a ~ l i s t a !Repetir as accusações esmiga-
doras, que agora estão radicadas na consciencia
publica! Isto é judiação!
Assim como a medicina é impotente para res-
taurar vida em um corpo que entrou em decompo-
sição, a politica não tem meios para fazer virar um
partido que por vicios se desorganisa.
Por ora é filho de pae incognito. Parece que c
um rabbino, pois vem defender a indefensavel lcz
antiga, como os judeus, e com capa de interessar-se
pela lei nova! Deus queira que não seja algum filho
de Rebecca, pois que então estamos todos mal, tanti,
saquaremas que lhe não obedecem, como os liberaes.
As suas exterioridades mostrão que foi circurncisa-
do. Tem horror á vida material; e não encontraou-
tra, não material, senão a politica! E' outra judia-
ção!
H a tantas vidas não ~lzateriaes, a que o rab-
bino podia applicar-se. Se é judeo, como parece, en-
tão não é Paulista, porque felizmente, não ha na pro-
vincia familia dessa raça proscripta; e por isso me-
lhor seria que se empregasse na medicina, pois que
temos muita falta de medicos, e nessa profissão, se
tem talento, poderá fazer muito bem tratando de
enfermos. Para a politica af firmamos que não tem
geito, porquanto falta-lhe o sentilnento da naciona-
lidade, que o extrangeiro nunca adquire, por mais
longa que seja a sua residencia no paiz.
A inspiração philantropica dictou a Horacio
esta verdade de todos os tempos e de todos os lu-
gares.
Coelum non assimum mutante transmare cu-
munt. Temos muitos Paulistas saquaremas que tra-
tem dos interesses politicos de seu partido, os quaes.
com o sentimento da nacionalidade conhecem, pro-
movem e defendem seus interesses com o adequado
proveito.
Não temos em numero sufficiente homens que
tratem da medicina, e para isso não se precisa de
sentimento de nacionalidade, como para a politica.
A' medicina, pois, Sr. pseudo paulista, que é vida
não material e activissima".

No mesmo n.", sob o titulo - Pequenas Distracções - en-


contra-se: "A mão extrangeira alçou-se entre nós - apparecêo
o Paulistinha! E' periodico de origem ingleza e promette de-
fender os interesses do partido Saquarema", etc., etc., e o arti-
guete termina com o seguinte conceito: "O Paulistinha é de boa
raça, tem a quem sahir !".
O Paulista era redigido pelo medico escossez dr. Ricardo
Cumbleton Daunt.

O F U T U R O - Revista literaria fundada pelo 5.O annista


de Direito João Raptista Pereira com a collaboração de Jose
Bonifacio de Andrada e Silva e do academico Francisco Ignacio
Homem de Mello, posteriormente Barão Homem de Mello. Teve
vida ephemera o - Futuro, - extinguindo-se no mesmo anno
de sua fundação, com a formatura do seu fundador. O Dr.
Baptista Pereira foi o autor do Codigo Penal Brasileiro, ainda
vigente, e administrou a Provincia de São Paulo no periodo de
5 de Fevereiro de 1878 a 12 do mesmo mez do anno seguinte.

O RAIO. - Jornal de combate, de redacção anonyma, po-


rem, obediente, como na época geralmente era sabido, á orienta-
ção de Martim Francisco, Paulo do Valle e de outros chefes do
partido liberal, parecendo que não era extranho á sua redacção
o dr. Joaquim Antonio Pinto Junior.
O Raio publicava-se indeterminadamente na typographia
Imparcial. rua do Ouvidor n." 46: o primeiro numero circulou
na segunda-feira, 14 de Março de 1858, tendo por epigraphe a
seguinte quadra :
"Fulmino a lethal malediciencia
Castigo o crime que se ostenta ufano.
Da Divida Vontade altivo fructo
Puno o insolente e poupo o insano".

Era este o programma d' "O Raio":

"Quem diz o que quer


Ouve o que não quer.

O Raio tem por missão exclusiva fulminar os


que deslembrados do fim nobre e elevado que tem
a preencher a imprensa, profanam a tribuna univer-
sal tornando-a vil e infame pelourinho onde açoitam
os mais dignos e nobres caracteres.
O Raio irá fulminando um por um esses inso-
lentes rapazolas ávidos de enxergarem em seres
desafeiçoados vicios horrorosos, como se seus horro-
rosos vicios fossem susceptiveis de transportação; OS
mares recuariam espavoridos para não conduzirem
tantas infamias, tantas patifarias, que attestam (1
gráu de degradação a que podem chegar as fraque-
zas humanas.
Quereis ter companheiros para vos consolar nas
desgraças mas por mais que queiraes não os encon-
trarei~,porque vós sois inimitaveis !
Miseraveis insensatos, não podeis conseguir por-
que acima de tudo está a verdade, e sua luz não pode
ser of f uscada.
Insensatos ! Arripiai, já e já carreira, senão !. . .
iremos referindo ao publico os vossos males.
Não nos defenderemos de vossas infamias e
nojentas accusações, porque ellas obedecem a irres-
sistivel lei da gravitaçáo, e por isso não podem subir,
mas vos atacaremos fortemente para punir as vossas
imprudencias, as vossas infames calumnias - e pois
o Raio tem a fazer uma obra de caridade castigando
OS que commettem erros".

O Raio promettia poblicar uma - Galeria contemporanea


- enl que appareceriam os retratos,

"1.O do Totó Jundiahyano - 2." do Decurião


- Santista - 3." do Fidalguista Santamarista - 4."
do Pedro Malazartes - 5." do Juca Pintor - 6."
do Philosopho de Mogy - 7." do Scipião Africano
- 8." do prelado do Elesbão - 9." do Croso Anas-
phalt - 10." do lulú pintasilgo - 11." do Xico triste
- 12." do poeta Santa Cruz, e outros que se forem
tornando dignos de figurarem na nossa Galeria".

O Raio já no 1." numero publicou o "Retrato" do commen-


dador Antonio de Queiroz Telles Junior, mas foi logo proces-
sado por esse politico que, mui justamente se julgou alvejadc
em sua honrabilidade pelos conceitos emittidos na verrina.
O Raio atacava furiosamente o Barão de Guaratinguetá,
então deputado provincial pelo partido conservador, e o seu 1."
numero apparece cheio de - "Poesias do nauseabundo e asque-
roso fantasma de Guaratinguetá, orador cavernoso de Guiné,
promotor Baracuhy, padrinho de baptismo de Africano, e outras
condecorações, que logo sahirão".

Motte

D'Apparecida o patrão
Conhecido por pinorio,
Para chamar-se barão
Sumio o preto Gregorio.

Nhô Anhanguéra q. gloze nhô Martiniano.


Formato: 20 X 30 com 4 paginas a duas columnas.
EXERCICIOS L I T E R A R I O S DO C L U B S C I E N T I -
FICO - Lafayette, obra citada, que affirma ter sido um dos
redactores dos Exercicios, o dr. Theodomiro Alves Pereira, mi-
neiro, de Diamantina, e autor do romanceto - Genesco. - Por
nossa vez pouco temos a accrescentar aos informes de Lafayette.
Apenas conseguimos averiguar a existencia do Club Scientif ico
e do seu orgam na imprensa em 1867, com a sua directoria e
redacção, - foi o que escrevemos n' "A Imprensa". Posterior-
mente conseguimos reunir novos informes que a seguir reprodu-
zimos :
O "Club Scientifico" foi fundado a 25 de Julho de 1858
tendo por presidente honorario o dr. José Vieira Couto de Ma-
galhães e 1.O presidente effectivo o acaden~icoJoão Carlos de
Araujo Moreira.
No anno seguinte 1859 o "Club" resolve sobre a publica-
ção de um jornal e o 1.O n.O dos "Exercicios Literarios" appare-
ce em Agosto desse mesmo anno inserindo artigos e poesias dr
Theodomiro Alves Pereira, João Carlos de Araujo Moreira,
Martim Pereira e João Soares. Os "Exercicios" eram publi-
cação mensal, terido o 2." n . O circulado em Setembro e o 3." em
Outubro: com as ferias escolares suspendeu a publicação para
reapparecer eni Abril de 1860 com a distribuição do n. 4. O n."
5 foi distribuido em Julho, o 6.O em Outubro ainda de 1860 e
o 7." em Agosto de 1861.
O "Club Scientifico" e o seu orgam na imprensa, os "Exer-
cicios" ainda viviam em 1867 mas nós só possuimos o conhe-
cemos os 7 mencionados nuineros.
Alem dos nomes já citados escreveram nos "Exercicios"
os academicos José Ignacio de Macedo, Couto de Magalhães,
Fortes, Antonio Gonçalves Chaves Junior. Luiz Pereira Bar-
retto, então estudante de medicina em Bruxellas, Americo Lohq
e Baptista Pinto.
Dimensões e formato: fasciculos de 20 X 13 com 20 pa-
ginas a uma columna o 1.0, 24 o segundo, 36 o terceiro, 20 r:
quarto, 30 o quinto, 32 o sexto, e 24 o setimo.
"A IMPRENSA PERIODICA"

Em 1865 pertencia á directoria do "Club Scientifico" o,


estudante José Maria da Silva Paranhos Junior, posteriormente
Barão do Rio Branco.

REVISTA LITTERARIA PAULISTANA. - No Ca-


talogo da Bibliotheca Francisco Ramos Paz, ás paginas 162, en-
contramos o seguinte registro, por onde verificamos haver exis-
tido em São Paulo um periodico daquelle titulo: - "Revista
i,itteraria Paulistana". Jornal de instrucção e recreio. Publica-se
nos dias 5 e 20 de cada mez. Anno I. Tomo I. São Paulo. Typo-
graphia Imparcial de J. R. de Azevedo Marques. 1860 in-4.O.

REVISTA D A ASSOCIAÇÃO RECREIO INSTRUC-


TIVO. - Publicação mensal da associação academica "Recreio
Instructivo" redigida em seu segundo anno pelos estudantes Do-
mingos Ramos de Mello Junior, Jorge Frederico Muller, Fran-
cisco Pedro de Miranda e Castro, Joaquim Xavier da Silveira,
Olympio Conrado Niemeyer, Antonio Manoel Fernandes e Pe-
dro Vicente de Azevedo, com a collaboração de Fagundes Va-
rella e Francisco d'hssis Furtado de Mendonça Junior.
Ao que escrevemos nX'A Imprensa" occorre-nas accres-
centar os seguintes informes :
Foi nesta "Revista" que Fagundes Varella publicou, em
Julho de 1861, anno 1.O, n." 1, a poesia - "Vem" ! dedicada "a
R. . . ", que outra não era sinão a celebre mundana Ritinha So-
rocabana, fascinante rainha da Paulicéa brejeira de 1860-1870,
poesia que nas "Obras Completas" apparece desdobrada em
duas sob as epigraphes: "A uma mulher": "O Vagalume" no
numero 2, distribuido em Agosto seguinte: "Palavras de um
louco", primeiras paginas em prosa que conhecemos de Varella,
no n.O 3 de Setembro: "Tristezas", poesia, no n. 4, anno 2."
de 11 de Maio de 1862: "Acusmatas", paginas em prosa que
se não deve confundir com o poema do mesmo titulo mais tarde
publicado pelo poeta, no n." 6 de Julho de 1862.
Destes trabalhos, "Acusmatas" e "Palavras de um louco"
náo apparecem nas "Obras Completas", assim como a phanta-
sia em prosa "Ruinas da Gloria", dada a lume em 1862 no
"Correio Paulistano". A poesia "Tristezas" foi reproduzida
sem modificações e as bellissimas estrophes d'"0 Vagalume"
sof f reram modificações na edição definitiva.
Esta mimosa poesia, recitada apor Varella em suas serena-
tas pelas varzeas do Pary em companhia do musicista Emilio
do Lago, sonhador e poeta, de Henrique Levy, eximio clarine-
tista, de Luiz Gama, de Americo de Campos, Huascar de Ver-
gara, artista do lapis, e de Ferreira de Menezes, o sublime fo-
lhetinista, constituia-se primitivamente de seis estrophes apenas
e foi remodelada nas "Obras Completas" como se vê das se-
.guintes quadras :

A tribu das mariposas,


Das mariposas azues,
Segue teus gyros no espaço
Astro de pallida luz.

São ellas flores sem tige


Tu és estrella sem céo,
Procuram ellas as luzes
T u buscas da noite o véo.

(Da "Revista" n.O 2, anno 1.". Agosto de 1861).

A tribu das mariposas


Ilas mariposas azues,
Segue teus gyros no espaço,
Mintosa gotta de luz.

São ellas flores em hastea


T u és estrella sem céo,
Procuram ellas as chammas,
Tu buscas da sombra o véo.

(Das "Obras Completas").

ORDEM.-"Sem outra qualquer informação affirma La-


fayette, obra citada, ter apparecido em São Paulo um periodico
com esse titulo; nada conseguimos esclarecer a respeito," foi o
que escrevemos n"'A Imprensa". A esta pequena referencia po-
demos juntar hoje, com segurança, os esclarecimentos seguintes:
A "Ordem" era jornal politico, orgam de espirito conser-
~ a d o r ,redigida pelos academicos J. M. A. Ledo. redactor-che-
fe, e M. F. Correia, bacharel J. M. da Luz, J. N. da Silva Filho,
A. J. R. Torres e C. J. R. Torres redactores. Era impresso na
typographia do "Constitucional" á rua da Gloria n.O 9 e sua
assignatura custava 5$000 por 20 numeros.
A "Ordem" era de publicação semanaria, distribuindo-se
ás 2as. feiras: o 1.O numero circulou a 2 de Junho de 1862 e o
ultimo a 13 de Outul~rodo mesmo anno.
Formato : 25 X 35, a tres columnas.

ARCHIVO L I T T E R A R I O E ARCHIVO JURIDICO


LITTERAKIO. - (:Vide esses titulos ás paginas 179 e 203
da "In~prensaPeriodica") .
Archivo Litterario e Archivo Juridico Litterario não são
dois jornaes distinctos como o suppoz Lafayette e já havia
sahido a lume "A Imprensa Periodica de São Paulo", quando
o acaso me f'ez chegar ás mãos o V I fasciculo do Archivo Litte-
rario correspondente ao mez de Setembro de 1867 e impresso
na typographia do "Ipiranga" á rua do Ouvidor n.O 48: por
esse fasciculo chega-se á evidencia que a publicação iniciada em
1865, e irregularmente distribuida até Setembro de 1867, con-
"A IMPRENSA PERIODICA" 475

servou seu primitivo titulo até esse citado mez, passando de


Outubro seguinte em diante, a circular com o titulo - "Archivo
Juridico Litterario". - A propria edição de Setembro deveria
ter circulado sob a nova epigraphe, assim não acontecendo por-
que com a primitiva denominação já existiam diversas paginas
impressas ha muito tempo: - A "Revista" deste mez, diz a
redacção referindo-se ao citado fasciculo n." 6, sae com o titulo
de Archivo Juridico Litterario, por existirem paginas impres-
sas a muito tempo ainda com esse nome".
Assim, pois, é fóra de duvida que o Archivo Litterario por
nós registrado em 1867 sob n." 150 ás paginas 179 e 203 da
"Imprensa" são uma e a mesma publicação apenas tendo havidci
em sua ultima phase ligeira modificação no titulo tornando-o,
aliás, mais concetaneo com o programma da publicação.
O intervallo entre a distribuição do V e V I fasciculos foi
longo tendo o n." 5 circulado provavelmente em principios de
1866. Não sabemos ao certo a data da publicação desse fasci-
culo, em todo o caso foi antes de Abril de 1866, como se deduz
de uma carta de agradecimento endereçada á redacção pelo
Barão Homem de Mello, a 22 de Abril de 1866 e publicada no
n.O V I de Setembro de 1867, carta essa que teria sido estampada
no numero anterior si este tivesse vindo a lume depois de Abril
de 1866. Ainda mais: a propria redacção do "Archivo" affirma
pela rutila prosa de Americo de Campos na chronica com que
fecha o fasciculo de Setembro, ter sido "de longos mezes" o
retardamento da publicação do n.O VI.

"O "Archivo" reapparece. Suppunham-no mor-


to e sepultado mas apenas dormia. De como esse
dormir teve boas razões de ser, embora dormir de
longos mezes e seu tanto igual ao que se lê em
contos de fadas, é assumpto que não cabe ao chro-
nista, mas é de muito peso e muito de ser levado
em conta de justificação aos redactores".
Em 1867 o escriptorio do "Archivo" era á rua do Carmo.
n." 53, residencia particular de João Cesario dos Santos, para
onde devia ser endereçada toda correspondencia do periodico:
o n.O avulso deste custava 2$000 e a assignatura, por trimestre,
3$000 para a Capital e 4$000 para fóra da Capital.
O fasciculo VI appareceu com 60 paginas, numeradas de
223 a 282, encerrando e seguinte s u m a r i o :
Victor Cousin - Historia da philosophia do seculo XVIII
- trabalho escripto pelo senador Firmino Silva, em 1835, e
offerecido á redacção do "Archivo" pelo Sr. João Julio dos
Santos.
José de Alencar - Iracema, por José Ignacio Gomes Fer-
reira de Menezes.
Amores de u m aoluntario - romance (Continuação) pelo
dr. Ramos Figueira.
D o Patrio Poder em relação aos bens adventicios do filho
(Estudo do Direito Civil) por A. Candido da Cunha Leitão.
Por causa de uma caixa de charutos, narrativa (continua-
ção) pelo dr. Galvão Bueno.
Carta dirigida ao sr. João Cesario dos Santos, membro da
R e d a ç ã o Geral do Archivo Litterario - por F. I. M. Homem
de Mello.
N u v e m Branca - Poesia por Carlos A. Ferreira.
O Guerrilheiro - Poesia por Salvador de Mendonça.
Visão Nocturna - Poesia pelo dr. Paulo Egydio de Oli-
veira Carvalho.
Chronica - Pelo dr. Americo de Campos.
A direcção intellectual do "Archivo" sub-dividia-se em Re-
dacção Geral - Commissão de Direito - e - Commissão de
Litteratura as quaes em 1867, estavam assim organisadas :

Redacção Geral
Dr. Manoel Antonio Duarte de Azevedo.
Dr. José Maria Correia de Sá e Benevides.
''A IMPRENSA PERIODICA"

Dr. Carlos Mariano Galvão Bueno.


Dr. Americo Brasilio de Campos.
João Cesario dos Santos.

Commissão de Direifo

Dr. Sá e Benevides - Presidente.


Candido Leitão.
José Francisco Diana.
José Rubino de Oliveira.
-4ureliano Carvalho Bulhão.

Commissão de Litteraf ui-a

Dr. Galvão Bueno - Presidente.


Dr. Paulo do Valie.
Ubaldino Fontoura.
Didimo Junior.
Bacharel Salvador de Mendonca.

Tambem collaboraram no "Archivo" entre outros, os drs.


Antonio Carlos R. de Andrada Machado e Silva, Sayão Lobato,
Antonio da Silva Prado, Antonio Joaquim Ribas, Carlos Fer-
reira, Francisco I. M. Homem de Mello, Francisco Quiriní,
dos Santos, Cons. José Bonifacio, J. V. Couto de Magalhães,
José Maria Lisboa, Joaquim Roberto Filho, Martinho Prado
Junior, etc., etc.
Dimensões e Formato: 16 X 25 com 40 a 60 paginas a
uma columna.

O PAGE'. - Pequeno jornal de combate redigido pelo


dr. Joaquim Antonio Pinto Junior ; teve vida ephemera sendo1
logo substituito pelo Lidador.
Quando publicamos "A Imprensa" registamos este jornal
com o titulo "Velho Pagé" confiados na seguinte nota da
" Chronica Litteraria tle 1866" :

"Os indigenas deixavam na pia o nome pagã<


e as aguas lustraes communicavam um nome civi-
lisado com a fé dos christãos: é o que succedeu com
o "Lidador", outr'óra velho Pagé . . ."

Posteriormente á publicação desta nota, encontramos no


"Diario de S. Paulo" de 17 de Julho de 1866, o seguinte ari-
nuncio :

O Pagé

"Vende-se no escriptorio do "Diario" á 200 rs. pagos


adiantadamente", d'onde concluimos ser este - O Pagé - o
verdadeiro titulo do jornal citado ás paginas 189 de nosso tra-
balho.
O Pagé, não o "Velho Pagé" como mal informados escre-
vemos, parece ter apparecido na l.Bquinzena do mez de Maio
de 1866 segundo se deprehende da seguinte noticia inserta no
"Diario de São Paulo" de 14 de Maio daquelle anno:

"Acabamos de ler o 1." numero do Pagé e exul-


tamos de prazer contemplando a maneira energica
porque o espirito publico começa a erguer-se contra
esta nefanda situação.
Prasa aos céus que o "Pagé" possa sustentar-
se emquanto o paiz reclamar o valioso apoio de tãu
valente lidador, e as bençãos dos amigos da liberda-
de são de victoriar as pennas robustas que se con-
sagrão ao serviço da Patria".

Ainda sobre o "Pagé" encontramos a noticia da "Opinião


Liberal", transcripta pelo "Diario de São Paulo" de 12-6-1866:
"Publicou-se em São Paulo um novo jornal
politico - O Pagé. - Vem lá do interior das mat-
tas com a aljava carregada de settas e muitas dellas
ervadas.
Não vem triste com um Pagé das Mattas de
Goyar, vaticinando desgraças e chorando sobre a
ruina da tribu; traz erguida a fronte e o cocar mul-
ticor lhe tremúla com audacia no alto da cabeça.
O Pagé mostra na linguagem que é guerreiro
acostumado aos combates da imprensa.
De São Paulo não nos vem só o sr. Paula e
Souza, vem-nos tambem O Pagé. Ainda bem!"

O LIDADOR. - Pequeno jornal da opposição ao Go-


verno do dr. Tavares Bastos; appareceu em substituição ao -
O Pagé.
A's notas inseridas n' "A Imprensa" sobre este jornal ac-
crescentamos agora a seguinte noticia dada pelo ('Diario de
São Paulo", de 7 de Outubro de 1866.

"Acaba de sahir do prelo da typographia do


"Diario dge São Paulo" um jornal politico intitulado
"O Lidador". Pela sua pro~fissãode fé, consignada
nas primeiras linhas, se deprehende que se tem
mais um pujante paladino que vem á arena defender
os principias liberaes tão maculados pelos homens
do poder. No primeiro numero apreciamos a sua
linguagem independente, a phrase correcta, florida,
a uncção e a verdade transpirando de todas as
linhas, o que nos faz crer uma longa vida. Prasa
aos céus que "O Iidador" caminhe impavido por
sobre esses preconceitos estupidos que soem appa-
recer desde que se trata de fulminar, ou antes, faze:
a luz sobre as mazellas do govérno e patentear ao
povo as evoluções acrobaticas de certos galopins po-
liticos de nossa boa terraJ'.

E' ainda do "Diario de São PauloJ' de 13 de Outubro de


1866, a seguinte noticia:

"Ahi temos o "Lidador", folha de crenças ro-


bustas, de convicções sãs e reflectidas no constante
revolutear das crises, das facções politicas que se
propõe a sustentar illesas as ideias de um grande
partido - o liberal - hoje fraccionado pela deser-
ção de tantos chefes.
Saudemos, pois, a apparição desse pharol da li-
berdade que illuminará aos ignorantes, estigmati-
sará os renegados, receberá de braços abertos os sol-
dados que em torno delle se gruparem.
E' s6 o campeão: mas em seu peito brota o
amor da patria, em sua alma a vontade energica dos
grandes caracteres e as suas ideias sáo puras como
é o mél que transborda das nossas palmeiras do de-
serto. E' um brado de indignação atirado á face de
um povo livre que se vae deixando escravisar pela
sua indolencia, e voluntario curva a fronte para pas-
sar sob as forcas caudinas que lhe impedem os pre-
tendidos dominadores da situação".

E' do "Lidador" de 24 de Novembro de 1866, o seguinte


artigo do Dr. Joaquim Antonio Pinto Junior :

"O dia do voto nacional é o dia da liberdade;


o juizo do povo. é o juizo de Deos. Os grande3
abatem-se ; os pequenos erguem-se ; as urnas trans-
formão-se aos olhos do homem livre no sagrado al-
tar da igualdade humana.
Compatriotas! o voto é a vida, porque elle re-
presenta a ideia; a ideia é a luz, porque ella espan-
cou as trevas do despotismo; a luz, é a liberdade,
porque illuminou á noute da escravidão; a liberdade
é o verbo da redempção, escripto no topo do Cal-
vario !
Em nome da ideia, da luz, da liberdade e da.
redempção votae pela gloria da Patria e pela honra
do Pavilhão Nacional !
Votae pela libertação do Brasileiro sujeito á chi-
bata; votae pela emancipação dos servos que a iro-
nia denomina - guardas nacionaes - votae pela
pureza das urnas, abastardadas pela mão dos oli-
garchas; votae pela independencia do magistrado;
pelo decoro dos parlamentos e pela dignidade dos
governos.
Votae em favor de todas as liberdades e contra
todos os privilegias.
Compatriotas! O Decreto de 12 de Maio de
1863 foi escripto no Estandarte Nacional, em meio
das acclamações do povo: saudou-o em derredor do
Throno a voz da Nação levantada como um só
homem contra. . .
Entre a vida e a morte; entre a luz e as trevas;
entre a liberdade e a escravidão; entre o movimento
e a immobilidade, náo ha escolha.
Compatriotas ! Votae com os liberaes !
Estas forão as palavras memorandas que uma
das nossas illustrações dirigi0 ao povo em dia so-
lemne, em dia de eleição.
Pois bem; o dia em que o povo soffre, o dia
em que a guarda iiacional se acha vilipendiada, o dia
em que nem o lar domestico seja respeitado, é o dia
e m que o povo levanta-se como U ~ sZó homem con-
tra a insolencia daquelles que o opprimem.
Não basta aconselhar o povo para obter glorias
na luta eleitoral, é mister aconselhal-o, quando elle
desvaira, quando o soffrimento o priva da razão
calma, quando, á borda de um abysmo, o querem
precipitar nelle.
Concidadãos, as nossas leis estão violadas, os
nossos direitos despresados, as nossas mais sagradas
garantias postergadas até por agentes da policia!
E' mister calma porque aquelles que têm por
si a razão e o direito não se deixão arrastar ao abys-
mo pelos pescadores de aguas turvas.
O governo por um lado fere a dignidade &a
guarda nacional, por outro lado os agentes da po-
licia invadem em pleno dia o lar domestico correndo
atraz das victimas que pretendem recrutar, e que
investem com a primeira casa que encontrão para
escapar dos algozes.
Não é mister manifestações ostensivas; o di-
reito de accusar os que abusão pertence a qualquer
cidadão, e elles erão accusados.
A guarda nacional designada (floucos ou mui-
t o s ) está em marcha para Santos, corramos a pre-
senciar o seu embarque.
Não acreditamos em traição, e menos ainda em
algemas, mas, se qualquer desses factos se realizar,
aquelle que vos dirige a palavra estará em Santos
ao vosso lado para aconselhar-vos o cumprimento
do dever, ou para ajudar-vos a resistir a qualquer
violencia.
Está sem effeito a reunião popular annunciada
para hoje".

A RESINA. - Sob essa epigraphe encontramos o seguin-


te annuncio no "Diario de S. Paulo" de 17 de Julho de 1866:
"Publicar-se-ha d'ora em diante todos os do-
mingos enriquecida com ricas e espirituosas gravu-
ras, artigos e noticias curiosas etc., desta cidade etc.
Vende-se no escriptorio do "Diario" a $ 2 0
por exemplar pagos no acto da entrega".

O M O S A I C O . - Encontramos no "Diario de São Pau-


io" de 22 de Julho de 1866 a segt~intenoticia:

" O Mosaico", jornal critico e litterario. Bre-


vemente apparecerá o 1." numero e franqueia duas
columnas á quem quizer escrever; podendo ser en-
viados os artigos ao editor do mesmo jornal na ty-
pographia Litteraria, á rua do Imperador n.O 24.

S E N T I N E L L A DO QUARTEL. - Sob esta epigraphe


encontramos a seguinte noticia no "Diario de São Paulo" de
11 de Dezembro de 1866 :

"Vae sahir á luz um jornal novo intitulado a


- Sentinella do Quartel - que tem por fim advo-
gar os direitos dos soldados, tratar das designações,
recrutamento e, com especialidade, fiscalisar os ne-
gocio~do quartel, taes como rancho, trem, pagado-
ria, etc. Poderá se occupar tambem de algumas ou-
tras ninharias desta illustre capital. Assigna-se a
3$000 por serie de 12 numeros, pagos adiantada-
mente nesta typographia".

Não sabemos si a "Sentinella do Quartel" chegou a cir-


cular, pois della não conseguimos obter mais noticias.
"A IMPRENSA PERIODICA"

A INDEPENDENCIA. - Jornal politico e litterario re-


digido por Castro Alves, Ruy Barbosa, Martim Cabral, Carva- ,
lho Moreira, Pimenta Bueno e outros.
Em additamento ao que escrevemos sobre este jornal ás
paginas 202 d' "A In~prensa"occorre-nos inserir ligeiras notas
biographicas do illustre e mallogrado Martim Cabral Moreira
dos Santos, paulista de Pindamonhangaba e uma das maiores
esperanças da fulgurante geração academica de que era astro
de primeira grandeza ao lado de Castro Alves e Ruy Barbosa.
Martim Cabral Moreira dos Santos, formou-se pela nossa
Faculdade de Direito em 1869 e falleceu a 18 de Dezembro de
1871. Era um talento destinado a renome nacional si não fosse
tão cedo roubado á Patria.
Sua producção litteraria desappareceu nas edições perdidas
dos periodicos acadeinicos em que collaborou. "Grande bolide
fulgurante que se perdeu no horizonte da tribuna brasileira"
no dizer insuspeito de Ruy Barbosa, só o discurso por elle pro-
ferido por occasião das festas promovidas no theatro São José,
na Capital, em homenagem aos voluntarios paulistas que vol-
tavam do Paraguay é que chegou até nós.
A seguir, reproduzimos a brilhante oração:

" Voluntarios Paulistas" - Nós estamos aqui


para vos saudar, para saudar essas blusas modestas
onde dormiram nossas vidas e viveu a nossa Patria !
O peso de vossas glorias é demasiado para este povo
- é necessario repartil-as com a Patria, repartil-as
com a posteridade! Hoje nós brasileiros, nós os
paulistas podemos morrer porque sobre nossos tu-
mulos a posteridade ha de ver de pé, vossas esta-
tuas, - as estatuas da immortalidade!
A auréola do triumphador brilha tanto em vos-
sas frontes que ella apagaria a luz de nossos olhos.
Vêde essa. multidão brilhante que se debruça
sobre as galerias e com respeito méde as vossas
frontes; vêde este povo que se levanta com uma sO
voz e enche a immensidade com seus vivas; escutae
voluntarios; todos os labios estalam em vossas faces
o beijo da gratidão como os vossos labios estalaram
na bandeira da Patria o beijo da Victoria!
Contemplando-vos face a face nos lembramos
da campanha, desse abysmo onde parecia que iam
naufragar nossas vidas, nossas tradicções, e nos-
sas esperanças: desse vulcão as lavas da tyrannia
se alimentaram por tanto tempo com o sangue das
victimas; desse oceano onde naufragos da tormenta
eram os martyres da bravura!
A historia dessa campanha teve momentos hor-
riveis! Quantas vezes no meio do Campo não oscil-
lou o pendulo da vida parecendo estacionar? ! Quan-
do o toque da corneta para apressar vossos golpes
estalava como um grito de maldição em vossos ou-
vidos, parecia se ouvir no meio daquelle rumor con-
fuso este echo triste: - "Ai dos vencidos !". . .
Quando as balas percorriam vossas fileiras como
linguas de fogo que tudo iam incendiar era em vos-
sos corações que refluia todo o sangue da Patria;
vossas bayonetas se elevavam no ar e equilibravam
a vida; vossos braços se estendiam como para raios
no meio dessa tempestade de fogo e em quanto a
Morte se victoriava sobre milhares de cadaveres, o
patriotismo soprava em vossos folegos a vida dos
heróes !
E depois. . . quando o canhão emmudecia re-
ceando despertar aquelles. bravos; quando a Morte
vestida de sangue fazia sua retirada sinistra, nas
ondas de fumo que iam-se dissipando pouco a pouco
então sobre cada bravo que morria havia um sol-
dado que chorava! Oh! como deviam ser tristes es-
486 "A IMPRENSA PERIODICA"

sas noutes em que a unica estrella que brilhava era


uma lagrima !
Voluntarios Paulistas! nós saudamos essas es-
trellas que cahiram de vossos olhos.
Voluntarios! Hoje o que vos resta? Essa ban-
deira que envelheceu no meio de vossa bravura que
por onde passava conquistava coroas de triumpho,
está fechada com os sete sellos do governo!. . .
Vosso batalhão vae ser dissolvido - vossas fileiras
vão ser retalhadas! Dispersos aqui, separados além,
tranquilisae-vos voluntarios ; vós haveis de estar to-
dos unidos em uma só imagem no coração do Povo:
nesse altar hade haver uma saudação eterna ao pa-
triotismo que nos salvou em tantas batalhas; a cons-
tancia que vos legou a palma do heroismo e ao
heroismo que vos deu a chave da immortalidade.
E quando, voluntarios, tiverdes de despir vos-
sas blusas para ganhar com o suor do trabalho :,
pão que não podestes ganhar com o sacrificio de
vosso sangue; sacudi bem sobre a cabeça de vossos
filhos a poeira dessas blusas e dizei-lhes: - her-
deiros da victoria e da immortalidade - eis aqui
o resto do patriotismo ! ! !
Mas é cedo! Esta multidão ainda quer prestar
as ultimas homenagens a essas fardas onde se aquar-
tellou o patriotismo; a essas fardas que salvaram
a dignidade de uma Nação, a vida sem futuro de
um soldado! Escutae voluntarios paulistas; este Po-
vo vae rolar no espaço seus applausos:
- Vivam os voluntarios Paulistas ! ! !"

O TEMPO. - Jornal politico. Publicava-se uma vez por


semana na typographia de Candido Silva, á rua da Consolação
I!." 67. Obedecia á mesma orientação d' " O Anhanguera" mas
"A IMPRENSA PERIODICA" 487

a sua linguagem era menos virulenta tornando supportavel a


leitura. O primeiro numero circulou na terça-feira, .7 de Setem-
bro de 1869 parecendo não ter a publicação ido alem do 2."
numero.
Dimensões e Formato - 21 X 30 com quatro paginas a
duas columnas.

O GRITO DO P O V O . - Eis como nos conta Hippolyto


da Silva a origem do apparecimento deste jornal:
"Poucos dias depois de proclamada a abolição do captivei-
ro, e ainda sob a impressão da campanha que obtivera triumpho
completo a 13 de Maio de 1888, fui á casa onde residia meu
companheiro de luctas, o prof. João Vieira de Almeilda, á rua
Santa Ephigenia, 14.
Que faremos agora? Descançar armas? Essa é a opinião
do Antonio Bento.
Que eu não acceito.. . Que nós não acceitamos!
Está visto! A questão social está resolvida. Resta-nos ?
questão politica. . .
Que é preciso reviver!
Que é preciso agitar ! A campanha abolicionista, pela no-
breza de seus intuitos, suffocou, em parte, a propqganda pela
Republica. E o terceiro reinado ahi vem. - .
Impreterivelmente. O imperador está por pouco!
Pobre velho ! E si elle morre na Europa. . .
E' preciso que ponhamos entraves ao advento do terceiro
reinado. A campanha republicana tem vivido até agora no ter-
reno doutrinario. E' o Qriintino no Paiz, o Pestana na Provi~t-
cia, o Aristides no Popular, e. . . a critica alegre de jornaes
neutros, feita pelos republicanos de coração! Isto só não basta.
E' preciso dirigir o ataque á Instituição, preparar o espirito
publico, fazer a propaganda nos quarteis.. . E, sobretudo, com-
bater pelo ridiculo o principe consorte, de modo a tirar-lhe as
velleidades de governo quando o velho succumbir.
Está visto. Rien n'est sacro pour u n sapeur. Mãos á obra!
Uma semana depois, apparecia o 1.O numero do Grito do
'Povo. Estavamos a 10 de Junho de 1888".

A A M E R I C A I L L U S T R A D A era a propria
A T A R D E I L L U S T R A D A , por nós registrada sob o n."
655 que mudou de titulo em Agosto de 1897, conforme o
"Expediente" seguinte, estampado n' "A Tarde Illustrada" de
. de Julho de 1897, anno 3 . O numero 7.
1O
"A Tarde Illustrada" é delicada revista do talentos0 Ra-
Qhael Gondry, vae do proximo numero em diante, passar por
uma importante reforma cujo plano não desenvolvemos aqui
para não deixar em curiosidade o espirito dos nossos distinctos
leitores.
E' sabido - e nunca fizemos segredo disso - que a "Tar-
de" tem assignantes em todo o Brasil, e por isso mesmo sua
redacção resolveu publical-a duas vezes por mez mudando-lhe
o nome para: America Illustrada, titulo mais vasto e mais com-
pativel com a circulação de nosso periodico.
Para que os leitores não fiquem por demais curiosos e
mesmo, para evitar que perguntas chovam interminaveis na
nossa redacção, suspendemos um pouco o veusinho que encobre
a surpresa preparada aos olhos dos nossos leitores, revelamos-
lhe, que, entre as modificações porque vae passar a "Tarde"
sobresae o augrnento de suas paginas que serão em numero de
16. A collaboração da "America" será a mesma da "Tarde" fi-
cando, porem, sua direcçáo confiada ao criterio de uma das mais
elegantes pennas da nova geração das letras patrias, o conheci-
do jornalista Arthur Guaraná.
A "America" continua como propriedade do antigo doi10
da "Tarde" unico responsavel pela parte financeira da folha,
que, digamos de passagem, é a mais lisongeira possivel. A parte
technica da "America" continúa a cargo do conhecido gravador
sr. Kruger sendo a imprensa confiada ás magnificas officinas
typographicas dos laboriosos profissionaes srs. Gerke & Cia.

A MENSAGEIRA. - revista dedicada á mulher brasi-


leira, e dirigida pela escriptora e poetisa d. Presciliana Duarte
de Almeida: publicava-se aos dias 15 e 30 de cada mez.
Preço de assig-natura, 12$000 por anno; numero avulso
1$000.
Endereço, rua dos Estudantes n.O 23 até o numero 23, an-
no I.", de 15 de Setembro de 1898, e do numero 24 até o 36,
anno 11, a 15 de Janeiro de 1900, rua de Santa Ephigenia,
n.O 57.
Formato in-8.", de 16 paginas a duas columnas cada
numero.
O primeiro numero, anno primeiro, appareceu a 15 de Ou-
tubro de 1897.
A Mensageira desappareceu com a distribuição do n.O 36
em 15 de Janeiro de 1900: nella collaboraram Silvio de Almei-
da, João Vieira de Almeida, Julio Cesar da Silva, Amadeii
Amara1 e d. d. Adelina Lopes Vieira, Julia Lopes de Almeida,
Zalina Rolim, Aurea Pires, Francisca Julia da Silva, Amelia
de Oliveira, Maria Clara da Cunha Santos, Ibrantina Cardona,
- Ignez Sabino, Maria Juçá e Delminda Silveira.
O Instituto Historico de São Paulo possue uma collecção
completa d"A Mensageira".

VIDA E LUZ. - Revista de pedagogia, sciencias, letras


e artes. Director-chefe, Duilio Ramos e Director-secretario Je-
remlias Sandoval. Iniciou a publicação em Junho de 1910.
Collztboradores : Carlos Escabar, Spencer Vampré, Leo-
pol'do de Freitas, Torres Range1 Pestana, Alfredo de Assis.
ICené Barreto, Atugasmin Media, Jsabel Serpa, Plinio Ayrosa
e outros.
Dimensões e formato: -Folhetos de 2 6 x 1 8 cms. com
32 paginas e duas columnas.
Parece-nos que foram publicadas apenas tres edições.

GRAVOCHE. - Semanario illustrado, humoristico e lit-


terario, dirigido por Baby de Andrade, que mais tarde gran-
geou larga notoriedade na direcção do "Parafuso", e dirigido
pelo dr. Theophilo de Andrada.
A' esta pequena nota sobre o "Gravoche", inserida ás pa-
ginas 771 d"A Imprensa" juntamos mais os seguintes infor-
mes :
O 1.0 numero do "Gravoche" foi distribuido a 9 de Março
de 1912, apparecendo essa data na pagina de frontespicio, em-
bora na respectiva capa veja-se gravada a data de 9 de Março
de 1911.
Em nota diz "Gravoche" na citada edição:

"Porque aflparecemos. - Num momento de


rebellião, nós formamos uma parede e nos desag-
gregamos de um chistoso semanario desta capital.
Resolvemos agir por nós mesmos, continuando uma
orientação que foi nossa e bem acceita pelo publico ;
vamos procurar com os mesmos esforços, a reinte-
gração de um direito, que nos assiste porque já foi
um direito por nós conquistado: palmas, confiança
e popularidade.
Oxalá que sejamos felizes - Oxa. respondeu o
nosso padrinho".

O semanario a que se refere a nota era o "Pirralho" do


qual Baby e Theophilo acabavam de se separar.
RELAÇAO
D A S

SESMARIAS CONCEDIDAS NA COMARCA


DA CAPITAL
ENTRE OS

A N N O S D E 1559 A 1820
PELO

SR. JOÃO BAPTISTA DE CAMPOS AGUIRRA


(SOCIO EFFECTIVO DO INSTITUTO)
R E L A Ç Ã O

SESMARIAS CONCEDIDAS NA COMARCA


DA CAPITAL
ENTRE OS

ANNOS DE 1559 A 1820

AS LETRAS MAIUSCULAS REPRESENTAM OS CONCESSIONARIOS


DE SESMARIAS.- AS MINUSCULAS OS CONFRONTANTES,
ANTIGOS POSSEIROS
A NUMERAÇAO REPRESENTA A ORDEM DE CONCESSAO
NOME LUGAR

AFFONSO SARDINHA . . . . JURUBATUBA RIO .


Cara,pocuhiba . . .
>>
Vida1 (Herança) . . Guaxinduva . . . .
Agostinho Machado Oliveira (Cap.) . Ressaca . . . . .
>P
Pereira da Silva . . . . Caminho de Goyáz . .
AGOSTINHO PEREIRA DA SILVA JUQUERY GUASSU' .
27 71 11 >> >> >>
. .
> ' Mirim . .
Alberto de Oliveira Lima . . . . Guaxinduva . . . .
ALEIXO JORGE . . . . . AJUA SERRA DO
ALEIXO LEME . . . . . . . JURUBATUBA RIO
>> >>
. . . . . . . >> >>

ALEXANDRE BARRETO D E LI-


MA (CEL.) . . . . . . . CASSAQUERA . . .
>> >> >> 19 >9
Caminho Velho Santos .
Alvaro da Costa . . . . . . . Minas do Geraldo . .
ALVARO REBELLO . . . . . GUARAPIRANGA . .
99 1>
. . . . . Maquiribú Rio . . .
" Rodrigues . . . . . . Moinho Velho . . .
ALVARO RODRIGUES DO PRADO IBIAMBURA . . .
19 >I 17 >>
Taquaratipi . . . .
Amador Bueno . . . . . . . Juquery Rio . . . .
AMADOR BUENO . . . . . . SÃO MIGUEL . . .
AMADOR GOMES SARDINHA . . CAUCAIA . . . .
79
Medeiros . . . . . . Sto. André a S. Paulo .
AMADOR MEDEIROS (1) . . . TAMANDUATIBA RIO
' 9 >I
. . . . . Ypiranga . . . . .
AMARO L E I T E MOREIRA . . . . SUINANDY . . . .
Sitio Velho . . . .
AMARO RODRIGUES SEPULVEDA CAUCAIA . . . .
ANDRE' FERNANDES . . , . M'BOY MIRIM . . .
>>
Gonçalves . . . . . . Cabussu' Rio . . . .
1, >>
. . . .
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

LAPA
>>

Parnahyba
Santo Amaro (Medição)
Parnahyba
PARNAHYBA (Confirm.)
PARNAHYBA
>>

>>

JUQUERY

SÃO BERNARDO
>> >>

Guarulhos
GUARULHOS
¶>

Santo Amaro
SANTO AMARO
Sto. Amaro (Ibiambura Rio)

PENHA
SANTO AMARO
São Bernardo
SÃO BERNADO

PARNAHYBA
>>

SANTO AMARO
SANTO AMARO
C96 RELAÇÃOD 4 S SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

NOME LUGAR

André Gonça'lves Cadaval . Itacolomim Cotia . .


ANNA LEONISIA FORTES BUS-
TAMANT SA* . . CAPOABA ITAHIN .
Anna Maria de Siqueira . . . . . Tietepuera . . . .
Anna Maria Xavier Pinto Silva (Her.) Capoaba Itahin . . .
ANNA P A E S DE BARROS . . . ITACOLOMIM . . .
" 'Pereira Tapera de . . . . Hiapuhá . . . . .
" Pere-ira (successores) . . . Guayauna Cabeceiras .
ANNA TENORIA . . . . . . MBOI MIRIM . . .
ANTONIA PINHEIRA RAPOSA . NHADIPAHIBA . .
ANTONIA RODRIGUES . . . . MBOI MIRIM . . .
Appolonia Maria do Pillar . . . . São Pedro . . . .
ANTONIO BLANCO (2) . . . . S ANTO AMARO
ANTONIO CAMACHO . . . . . CABUSSU' RIO . .
Antonio da Cunha Abre u. . . . Juquery Mirim . . .
ANTONIO DA CUNHA CARDOSO . CAUCAIA . . . .
r> >> >, 1> . Maquirovy .Rio . . .
>>
Fernandes Nunes . . . Ypiranga . . . . .
>> 79 37
. . . . " Campo do.
" F o r t e s Bustamante Sá
Leme (Dr.) . . . . . . . Guaxinduba e Japi . .
Antonio Bustamante Sá Leme (Dr.) . Capoaba Itahin . . .
1,
Freitas Branco . . . . . . Tijucussú . . . . .
" Francisco Andrade (Herd.) . ' Bom Successo Capella .
>>
Gonçalves . . . . . . . Moinho Velho . .
" Leme (Herdeiros) . . . . . . Caucaia . . . .
>? >> >>
. . . . . . . >> . . . . .
>9
" T a p e r a de Antonio . . . . . . >,

Macedo . . . . . . . . Carapocuhiba . . . . .
ANTONIO MADUREIRA . IBITIRATIN . . .
ANTONIO NASCIMENTO (ILHEO) Sta. ANNA FAZENDA
Nunes Pinto .
I>
Iibaguassutyha Rio . .
>> >> 99
, . . . Ihaguassutemirim . .
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

121 1780 Cotia

PARNAHYBA

Parnahyba
COTIA

Penha
SANTO AMARO
PARNAHYBA
SANTO AMARO
Juquery (Cantareira)

Parnahyba
GUARULHOS
>>

134 1797 Parnahyba


>>
135 1802
125 1782 São Caetano
133 1788 Parnahyba
100 1728 Santo Amaro
96 1727 Cotia
>>
98 172s
>>
102 1732
>>
5 1580
3000 3000 31 29- 4-1638 GUARULHOS
137 7- 1 - 1 8 1 9 DIVISAS CERTAS
55 1640
55 1aT!
NOME LUGAR

ANTONIO NUNES PINTO . . . MBOI M I R I M CAB. .


>>
Oliveira . . . . . . Grande Rio . . . .
Pedroso . . .
17
. . . Carapocuhiba . . . .
>> >>
. . . . . . Rio Juquery . . . .
ANTONIO P I N H E I R O DA COSTA . COUROS RIO DOS .
>> >> >> >> Grande Rio . . . .
ANTONIO P I N T O (TABELL.IÃ0
SANTOS) (3) . . . . . . CAPÃO . . . . .
ANTONIO PINTO . . . . . . 9 >
. . . . .
>> 7,
. . . . . . Piratininga Estrada . .
11
" (Aterrado de . Olho d'Agua . . . .
ANTONIO P I R E S . . . . . . . J U Q U E R Y RIO . .
>> >>
. . . . . . >,
. .
>>

ANTONIO P I R E S D E AVILLA (4) CASSAQUERA . . .


>> >> 99 >> Couros Rio dos . .
Grande Rio . . ' .
Itororó Barra do . .
Ei Riricasam Rib. . .
ANTONIO P O M P E U ALMEIDA . ARICANDUVA CAB. .
>>
Prado Cunha . . . . TietêRio. . . . .
ANTONIO PRADO CUNHA . . . URURAHY LAGOA .
Antonio Preto . . . . . . . . Anha . . . .
ANTONIO P R E T O . . . . . . . EMBYASABA .
>7 >>
. . . . . . Tarnandaty Rio -
>> >>
. . . . . . Tatiayra Tapera.
" ' Raposo Tavares (Herança) . Nhadipahiba . .
1, " Silveira (Tte.-Gen.) . Pernaguá Rio .
ANTONIO R A P O S O S I L V E I R A
(Tte. General) . . . . . . TIETEPUERA .
ANTONIO R A P O S O S I L V E I R A
(Tte. General) . . . . . . Teipigica . . .
Antonio Rodrigues de Alrneida . . . Ypiranga . . .
>> >> >> >> Estrada Ypiranga
v . .

>> >>
Ribeiro . . . . Rio Juquery . .
I .A>*
2
.
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

1500 1500 55 3- 2-1640 SANTO A M A R 0


126 1782 São Bernardo
11 1600 Cotia
49 1639
3000 3000 99 26- 1-1728 SÃO BERNARDO
>>
99 1728 "

S. PAULO
7 > 1>

Santo Amaro

S. BERNARDO (Orig.) 1.
>> >>

PENHA
>>

P E N H A (ORIGINAL)
N. S. do O
N. S . DO O
97 Y j >> 9,

Parnahyba
Camara

600 600 %O 5- 8-1710 CAMARA


500 RELAÇÃO
DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

NOME LUGAR

Antonio Rodrigues Siqueira (Herd.) . Guaxinduva . . . .


" Santos . Itahin Capoaba . . .
" Váz de Oliveira . Mandaqui . . . .
" " Pinto Ribeiro (Herd ) . . São Pedro Cantareira .
>> 77
Y?
" (Herd.) . Itahin Capoaba . . .
BALTHAZAR CORREA . . . . MINAS DO GERALDO
BALTHAZAR REIS . MBOI RIO . . . .
Barbara Paes de Queiróz . Juquery Mirim . . .
BARTHOLOMEU FERNANDES DE
FARIA (5) . . . . . . . IARAIBATITUVA RIO
BARTHOLOMEU FERNANDES D E
FARIA . . . . . . . ,. Ypiranga Campos dc .
BARTHOLOMEU BUENO . . . SÃO MIGUEL . . .
7 9
" (Velho) . Juquery Rio . . . .
BARTHOLOMEU B. PEDROZO . JUQUERY MIRIM .
>> >> 7
. . Chrystaes . . . . .
DEFRONTE DA IGRE-
BEATRIZ DINIZ . . . . . . J A PARNAHYBA .
>>
. . . . . .
>,
Juquery Rio . . . .
BELCHIOR D E BORBA . . . . BUTUAPORA . . .
BELÇHIOR DE BORBA P A E S . . SOROCAMERIM . .
BELCHIOR D E BORBA P A E S . . ,>
. . . .
BELCHIOR DA COSTA . . . . PARNAHYBA . . .
BENTO D E BARROS . . . CABUSSU' . . . .
BENTO ORTIZ D E LIMA . . . GRANDE RIO . . .
BENTO RODRIGUES BARBOZA . ALVARENGAS . .
17 >> 3,
JURUBATYBA RIO .
BERNARDO JOSE' DA CUNHA . TREMEMBE' . . .
BERNARDO DE QUADROS . . . GEROBATY RIO . .
BRAZ CARDOZO . . . . . . JUQUERY R I O . . .
Braz do Prado . . . . . . . Caucaia . . . . .
BRAZ RODRIGUES ARZÁO (Cap.) TRAICAO RIBEIRÃO .
. . >> 99 Y> >>
IBERABA RIO . . .
BRAÇAS N." ANNO LUGAR ACTUAL

Parnahyba
>9

Sant'Anna
Juquery
Parnahyba
GUARULHOS
SANTO AMARO
Parnahyba' '

SÃO BERNARDO

>? >>

PENHA
PARNAHYBA
99

PARNAHYBA

COTIA
COTIA (Confirmação)
PARNAHYBA

SÃO BERNARDO
SAO BERNARDO
>f >>

SANT'ANNA
SANT'ANNA

Cotia
SANTO AMARO
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

220 220 88 23= 9-1723 LUZ (Confirmada)


88 1723 "

60 1640 Santo Amaro


>>
60 1640 "
4500 4500 60 3=10=1640 SANTO A M A R 0
60 1640
58 - -1640 Santo Amaro

COTIA
Parnahyba
PARNAHYBA
Capital
Penha
Parnahyba
Cotia
COTIA
Cotia
São Caetano
Santo Amaro
>> >>

Juquery
JASAGUA'
14. S. DO O'
Santo Amaro
>J
>' .
Parnahyba

Capit a1
PARNAHYBA
Cotia
Capital
304 RELAÇÃO
D A S . SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

NOME LUGAR

DOMINGOS FERNANDES P I N T O GUARAMISIS T A P E -


E FILHOS . . . . . . . RA . . . . .
GUARAMIMIS TAPE*
Domiygos Garcia . . . . . . . . RA . . . . .
" Gomes Albernáz (Padre) . Traição Cabeceiras . .
" José de Mel10 (Ilheo) . Barro Branco Est. . .
DOMINGOS JOSE' D E M E L L O SANT'ANNA FAZEN-
(ILHEO) . . . . . . . . DA . . . . . . .
Domingos Luiz Grou (Frei) . . . Carapocuhiba . . .
>>
Marques . . . . . . Jaratibuc'u . . . .
DOMINGOS MARTINS . . . . MANAQUY R I B E I R A 0
DOMINGOS DA SILVA . . . . RIO JUQUERY . .
DOMINGOS DA SILVA L E M E . . JAGUAPORERUBA. .
19 >> >> >>
. . Taquatira Ribeirão . .
DUARTE JOSE' VÁZ MIRAND.4 E
HORTA (CNG.) . . . . . GRANDE RIO . . .
ESTEVAM AFFONSO (CAP.) . . GRANDE RIO . .
>> Raposo . . . . . . Aricanduva Cabec. . .
Eva Antonia Leme (Herdeiros) . . Caucaia . . . . .
FABIÃO RODRIGUES MARQUES . JARAGUA' E JACA-
BUSSU' . . . .
F E L I X MACHADO JACOME CARAGUATATIBA .
FERNÃO DIAS . . . . . . . CARAPOCUHIBA . .
Fructuoso Furquim de Campos . . São Pedro . . . .
FRANCISCO ALVES CORRÊA . . GERABATY R 1 0 . .
FRANCISCO ALVARENGA . . . GERABATYBA RIO . \i

F R A N C I S C O FERNANDES OLI-
VEIRA . . . . . . . . O L H O D'AGUA . .
F R A N C I S C O FERNANDES OLI-
VEIRA . . . . . . . . Jaribatubucú Rio . .
Francisco Ferreira Sá (Mestre Campo) Hiapuhá . . . . .
Francisco Figueiredo . . . . . . Ajuá Serra do . . .
> 1
Figueiró . . . . . . Juquery Rio . . . . .
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL.

44 1639
68 1769 Santo Amaro
73
137 1819 "

x37 7- 1-1819 CAPITAL


11 1609
109 1739 Santo Amaro
1500 1500 20 1-7-1612 SANT'ANNA
1500 1500 49 6- 8-1639
600 500 67 26- 3-1661 PENHA
>3
67 1661

4500 24000 136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO


136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO
40 1639 Penha
102 1732 Cotia

74 25- 4-1705 N. S. DO O'


3000 3000 86 7- 7-1722 COTIA
11 26- 1-1609 COTIA
119 1774 Juquery (Cantareira)
1500 1500 23 9- 6-1619 JURUBATUBA
3000 3000 22 19- 2-1617 JURUBATUBA

800 800 106 17- 2=1739 SANTO A M A R 0


>
1 " (Olho d'A-
106 1739 gua . . . . . .
81 1717
24 --I621
59. l64C
NOME , LUGAR

FRANCISCO FONSECA FALCÃO JUQUERY C A M P O S


DO . . . . .
FRANCISCO FONSECA FALCÃO
(CAP.) . . . . . . . . . J U Q U E R Y RIO . .
FRANCISCO JOSE' SAMPAIO P E I -
XOTO . . . . . . . . . CASSEA . . . . .
FRANCISCO LEANDRO TOLEDO
RENDON . . . . . . . . ITAHIN CAPOABA .
Francisco Moilteiro de Gouvêa . . . S. Pedro Cantareira .
FRANCISCO NUNES D E SIQUEIRA SEPETIVA . . .
>? 77 97 7>
Ubuhatibaia Rio . . .
1
Paiva . . . . . . Cap. . . .ri Ribeirão . .
71 >>
. . . . . . Conceição Villa da . .
TAQUOTAQUISSETY-
FRANCISCO PAIVA . . . . . BA . . . . .
77
Pinheiro Sepeda . . . Rio Verde . . . .,
>>
Pires Tapera de . . . Rocio Camara . . .
>, Rodrigues . . . . . Cabussú Rio
>> 77
. . . . . . >>

N. S. CONCEIÇÃO AL-
FRANCISCO RODRIGUES . . . DEIA . . . . .
Yl >> (Sapateiro) Juquery Campos do .
11 77
Velho . Guarulhos . . . .
>> >> >7
. . Jarapebica. . , . .
FRANCISCO RODRIGUES VELfIO J U Q U E R Y RIO . .
S E P E T I B A (GUARU-
FRANCISCO RODRIGUES VEL,HO LHOS) . . . .
S E P E T I B A (GUARU-
>7 1> 11
LHOS) . . . .
7,
Rondon (Don) . . . J U Q U E R Y RIO. . .
J U Q U E R Y CAMPOS
FRANCISCO SIQUEIRA . . . . DO . . . . .
>> 9 >
. . . . . Tu'. S. Concenção Aldeia
7)
Velho de Moraes . . Aricanduva Campos do .
RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL 507

BRASAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

JUQUERY

PARNAHYBA
Jucluery
GUARULHOS
>>

Santo Amaro
>> 9,

SANTO A M A R 0
Penha
Capital

GUARULHOS

Juquery Rio

GUARULHOS

99

Parnahyba

Penha
Guarulhos
NOME LUGAR

Francisco Velho de Moraes . . . Castelhanos Tapera. .


7> 77 77 77
. . - Guapeninduba . . .
FRANCISCO VELHO D E MORAES
(6) . . . . . . . . . . MOÓCA RIBEIRÃO .
FRANCISCO VELHO D E MORAFS Pequery Campos do .
SÃO P E D R O CANTA=
FRANCISCO XAVIER PEDROSO . REIRA . . . .
97 77 9,
. . Campos do Juquery . .
, " Souza (Herd.) Grande Rio . . . .
71
" Váz Guaxinduva . . . .
. . .
Garcia Rodrigues . . . . . . . Jeribatiba Rio . . .
-7t
" Velho . . . . . Iguabaputiva Rio . .
Jabucaguera . . . .
GARGIA RODRIGUES VELHO . . J U Q U E R Y RIO . .
Gaspar Conqueiro (Cap.) . . . . Caucaia . . . . .
GASPAR CONQUEIRO . . .CAUCAIA . . . . .
GASPAR CUBAS . . . . . . A N H A . . ..
77 >>
. . . . . . . Moóca Ribeirão . . .
GASPAR GOMES . . . . . ,. CUBATÃO A S. PAULO
Sopi.. . .eri Rio . . .
JARYBATIBA (STO.
GARCIA RODRIGUES VELHO . . AMARO) . . .
SANTA FE' MINAS
GASPAR SARDINHA . . . . . DE . . . . .
GASPAR SARDINHA DA SILVA . J U Q U E R Y RIO . .
Gerlado Corrêa . . . . . . . Minas do Geraldo . .
Geraldo Corrêa . . . . . . . Minas do Geraldo . .
GERAL CORREA SOARES . . . MAQUERUBI CAMPO
Gonçalo Madeira . . . . . . . Anhangabahu' . . .
>> 7, . . . . . . . Cabussú . . . . .
" Mendes Peres . . . . .
GONÇALO VOGADO . . . . . JERABATY RIO . .
Gregorio Corrêa de Sá . . . . . Ajuá Serra do . . .
GREGORIO FAGUNDES . . . . GUARAPIRANGA .
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

64 1642 Guarulhos
64 1642 Moóca

1200 1200 64 - -1642


64 1642 Moóca

JUQUERY
>>

São Bernardo
Parnahyba
Jurubatuba
Santo Arnaro
>> >>

Santo Amaro
SANTO A M A R 0
N. S. DO O'

SÁO BERNARDO'
12 >>

77 12-12-1707 JURUBATUBA

Guarulhos
Guarulhos
GUARULHOS
Capital

Gtiarulhos
JURUBATUBA
Juquery
GUARULHOS
510 RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

NOME LUGAR

GREGORIO FAGUNDES . . . . J U Q U E R Y DO ....


>> >>
. Maquirubú Rio . . .
Henrique da Cunha . . . . . . Caucaia . . . . .
IGNACIO D E AZEVEDO SILVA
(PADRE) (7) . . . . . . MATTO ESCURO .
IGNACIO D E AZEVEDO SILVA
(PADRE) . . . . . . . Rio Tietê . . . . .
Ignacio Dias . . . . . . . . Mandaqui . . . .
" Francisco . . . . . . São Pedro (Cantareira)
" Xavier Almeida Lara (Tte.) . Ypiranga . . . .
>> >f >> >> I>
" Campos do .
IGNEZ MONTEIRO . . . . . J U Q U E R Y RIO . .
IGNEZ MONTEIRO . . . . . JUQUERY . . . .
>>
Pedrosa . Jaraguá . . . . .
Indios Garomemis . . . . . . Jarapebica . . . .
>>
Ibatata . . . . . . . Uvutantan . . . .
INDIOS ALDEIA P I N H E I R O S URU-
RAY . . . . . . . . . CARAPOCUHIBA .
Indios São João . . . . . . . Cotia . . . . . .
MINAS D E D. ANTO=
INNOCENCIO FERNANDES . . . NIO . . . . .
INNOCENCIO P R E T O . . . . . JACURI RIO . . .
Iria Ferreira . . . . . . . . Rocio Camara . . .
IZABEL DE ALMEIDA (VIUVA
JOSE' S. NUNES) (8) . GUAXINDUVA . . .
Izabel de Arruda . . . . . . . Jundiauvira Serra . .
" Duarte . Anlia . . . . . . . . .
JARAGUA' e JACA-
IZABEL RODRIGUES . . . . . BUSSU' . . . .
>> 27
. Tietê Rio . . . . .
IZIDORO TINOCO D E S A (Cap.Mor) AJUA' . . . . .
MARAJAHI MERIN-
JACYNTHO RIBEIRO . . . . . DIBA. . . . .
Jaques Feliz (Herdeiro) . Juquery Rio . . . .
BRAÇAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

1500 1500 61 7- 9-1641


30 1638 Guarulhos
>>
69 1682

118 12- 2-1770 BELEMZINHO

118 1770 Sant'Anna


>>
113 1747
119 1774 Juquery
127 1782
131 1786
1500 1500 54 14-12-1639
3000 3000 59 1-11-1640
72 1702 N. S. DO O'
35 1638 Juquery Rio
3 1566 Pinheiros

18000 18000 5 12-10-1580 COTIA


>>
91 1725

50 7- 8-1639 PARNAHYBA
1500 1500 52 24- 9-1639
7 1598 Capital

3000 3000 132 13-10-1786 PARNAHYBA


>>
132 1786
12 1609 N. S. DO O'

74 25- 4-1705 N. S. DO O'


76 1707 Penha
26 7-10-1630 A MESMA N." 24

27 2- 6-1635 SÃO BERNARDO


59 1640
NOME LUGAR

Jeronymo Corrêa Meira . . . . . Itacolomim . . . .


>I
Fernandes de Lima . . . Tremembé . . . .
>>
Pinheiro . . . hlandaqui . . . .
Jorge Corrêa . . . . . . . . Rio Juquery . . . .
>>
Garcia . . . . . . . . Suinandy (Parnahyba) .
" Moreira . . . . . . . Carapucuhiba . . .
17 >>
. . . . . . . . Ypiranga . . . . .
,> >>
. . . . . . . . Rocio Camara . . .
JORGE MOREIRA . . . . UVUTANTAN . . .
JORGE MUNIZ T E L L E S FRANÇA
HORTA (CNG) . . . . . . GRANDE RIO . . .
Jorge Pires . . . . . . . . Caucaia . . . . . .
Joaquim de Godoy . . . . . . Juquery Guassú . . .
. JOAQUIM D E MIRANDA . . . GRANDE R 1 0 . . .
Joaquim Pereira (Indio) . . . . Chiqueiro . . . .
JOAQUIM P E R E I R A (INDIO) . . SÃO LOURENÇO . .
>>
Soares . . . . . . Juquery Mirim . . .
João de Araujo . . . . . . . Hiapuhá . . . . .
" Bicudo Espirito Santo . . . . Aricandiba Rio . . .
JOÃO BICUDO E S P I R I T O SANTO GUAYAUNA RIO CAB.
>> >> 9, >>
Rio Verde . . . .
>>
Borralho . . . . . . . Carapucuhiba . . .
JOÃO CARLOS LOBO . . . . . GRANDE RIO . . .
" Chaves Leme . . . . . . Tietê Rio . . . . .
>3
Costa . . . . . . . . Minas do Geraldo . .
" DinizAlvarez. . . . . . Palmares Rincão . .
JOÃO DINIZ ALVARES . . . . RIO GRANDE . . .
João Leite Garcez (Herança) . . . Guaxinduva . . . .
JOÃO LOBO D E FARIA . . . . IARAIBATITUVA .
JOÃO MICEL VALENTE . . . . AJUA' S E R R A . . .

" Moreira . Cotia e Capivary .


>>
Moura . . . . . . . . Itahim e Capoava . .
BOM SUCCESSO CA-
BRAÇAS N." ANNO LUGAR ACTUAL

Cotia
Sant'Anna
>> >I

Parnahyba
>>

Cotia

Capital
PINHEIROS

SÃO BERNARDO
Santo Amaro
Parnahyba
SÃO BERNARDO
Itapecerica
ITAPECERICA
Parnahyba

Penha
PENHA
>>

Cotia
S Ã O BERNARDO
Penha
Guarulhos
Suo Bernardo
SÃO BERNARDO
Parnahyba
SÃO BERNARDO
JUQUERY (A MESMA
N . O 26
Cotia
Parnahy ba
NOME LUGAR

JOÃO D E MOURA L E I T E . . . PELLA . - . .


JOÃO NOGUEIRA D E P A Z E S . . MINAS DO GERALDO
JOÃO PEDROZO DA CUNHA . . JUQUERY MIRIM .
" Pinto Range1 . . . . . . PEQUENO RIO . .
" Pires de Tapera de . . . . Rocio Camara . . .
" Ramalho . . . . . . . Carapocuiba . . . .
" Rocha do Canto . . . . . Itahim Capoaba . . .
1,
Rodrigues . . . . . . . Inhoaiva . . . . .
JOÃO RODRIGUES D E OLIVEIRA CAPÃO . . . . .
>> >> >Y >>
. . Tamanduatehy Rio . .
>> ,, " Siqueira . Guaxinduba . . . .
" Sant'Anna . . . . . . Mboy Rio . . . .
" Soares Tapera de . . . . Rocio Camara . . .
JOAO VIDAL D E SIQUEIRA . . HIAPUHA' . . . .
CAMINHO D E SAN-
JOSE* ALVARES PIMENT'EL . . TOS . . . .
>> >>
. * .
>>
Grande Rio . . . .
" Antonio de Lacerda (Cap.) . Guaxinduba e Japi ..
>>
" da Silva . . . . . Tietequera Rio . . .
,, Camargo . . . . . . . Ressaca . . . . .
JOSÉ D E CAMARGO P A E S . . . ITACOLOMIM . . .
" Costa (Ilheo) . . . . . . . Mandaqui Cercado . .
SANT'ANNA FAZEN=
J O S É DA COSTA (ILHEO) . . . DA . . . . .
" Ignacio Ribeiro Ferreira (Dr.) Tamanduatehy Rio . .
9, >> >2 >> >>
Tijucussu . . . . .
J O S É IGNACIO RIBEIRO F E R = MOINHO VELHO
REIRA (DR.) . . . . . . CORREGO . . .
JOSÉ JACOME D E AZEVEDO . . CAMINHO D E ITU' .
JOSÉ JOAQUIM MIRANDA HORTA
DEZEMBF . . . . . . . GRANDE RIO . . .
J O S É LADEIRA SALDAVARES . COTIA . . . . .
" Maria Tavares . . . . . Cururu Bairro . . .
" Marianno de Oliveira . . . Guaxinduva . . . .
BRAÇAS Nan ANNO LUGAR ACTUAL

PARNAHYBA
GUARULHOS
SÃO BERNARDO
>> >>

Capital

Parnahyba
São Bernardo
CAPITAL
44

Parnahyba
Santo Amaro
Capital

103 15- 3-1735 SÃO BERNARDO


" >>
103 '1735
135 1802 Parnahyba
118 1770 Belemzinho
122 1780 Santo Amaro
750 3000 121 7- 2-1780 COTIA
137 1819 Santo Amaro

137 7- 1-1819
125 1782 Ipiranga
>>
125 1782

,>
126 20- 2-1782
200 200 95 1- 9=1727 COTIA

136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO


3000 3000 91 20- 7-1725 COTIA
135 1802 Parnahyba
>7
135 1802
NOME LUGAR

José Marques . . . Tremembé . . . .


José de Moraes Cunha . . . Jaguara Obú . . .
>> 93 , I
. . . Paciencia Matto da . .
JOSÉ DE MORAES CUNHA . T A P E R A GRANDE .
JOSÉ ORTIZ D E CAMARGO JUQUERY . . . .
' Pires . . . . . . Guayauna Cabeceiras do
" Silva Padre . . . . Ypiranga . . . .
>I >f >>
. . . . >'
Campos do .
" Silva Krito . . . . >'
Corrego . .
>>
" Bueno . . . . Cassea . . . . .
YPIRANGA CABECEI=
JOSÉ DA SILVA GOES . . RAS . . . . .
" Simóes de Oliveira . . Guaxinduba . . . .
" Soares Vida1 (Alferes) .
>>
. . . . .
" Souza Nunes (Cap.) . . >>
. . . . .
JOSÉ DE SOUZA NUNES (CAP.) (9) GUAXINDUVA . .
>> >> >> >> >>
>?
e Japi
7, >> >> 79 >>
Jundiavira Serra do . .
" Váz de Carvalho (Dr.) . . Baruery Rio . . . .
CAMPO DO YPIRAN-
JOSÉ VAZ D E CARVALHO (DR.) GA . . . . .
>> 7, 7> >> >9
Gupe Rio . . . . .
JOSÉ VAZ D E CARVALHO (DR.) ITAQUI . . . . .
LAZARO RODRIGUES P I Q U E S . YPIRANGA . . .
Luiz Alvares . . . . . . . . Caucaua . . . . .
LUIZ FURTADO . . . . . . N. S. DA CONCEIÇÁO
LUIZ GRÃ F R E I (CIA. DE J E S U S ) PIRATININGA RIO .
>> >7 9' >> >> 9,
Jerebatiba . . . .
" Soares Ferreira . . . . . Curahapucú Poço . .
LUIZ SOARES FERREIRA . . . JARAGUA' . . . .
9, >> >>
. . . . Moinho Velho Rib. .
>> >> >>
. . . . Cachoeira Grapde . .
" Torres (Successores). . . . Maquerubi Campo . .
RELAÇÃOD.4S SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL 517

BRAÇAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

Sant'Anna
Guarulhos
>>

GUARULHOS
JUQUERY
Penha
Ypiranga
>>

Juquery

YPIRANGA
Parnahyba
>>

>>

PARNAHYBA (A MES-
MA N. 132)
Parnahyba
Parnahyba

Parnahyba
PARNAHYBA

Santo Amaro

Jurubatuba (Caminho Novo)


Tietê Rio
N. S. DO O'
>I >I >> >>

Guarulhos
I 8 RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL
. m

NOME LUGAR

Margarida de Oliveira . . . . . Pinheiros Caminho . .


GUARAMIMIS TAPE-
MARGARIDA RODRIGUES e outros RA . . . . .
MARIA ALVARES (VIUVA D E MA-
NOEL EIANES) . . . . . SÁO MIGUEL . . .
Maria Alvares . . . . . . . . .
>> >>
. . .
>> >>
. . . . . . . .
MARIA APRESENTAÇÁO FRANÇA
E HORTA . . . . . . . GRANDE R 1 0 . . .
Maria Benta Rodrigues de Athayde . Guaxunduba e Japi . .
MARIA GASCIA L E M E . . . . MANDAQUI . . .
3,
Lara Leite . . . . . . Bom Successo Capella .
>>
Leite . . . . . . . João Souza Porto . .
2 >
. . . . . . . .
>> Pequery . . . . .
MARIA LEITE . . . . . . . TATUAPE' . . . .
" Leme (Herdeiros) . . . . Caucaia . . . . .
MARIA NERY . . MBOI M I R I M . . .
>>
Pinta . Itacolomim . . . .
GUARAMIMIS T A P E -
MARIA RODRIGUES . . . . . RA . . . . .
y > >> (Viuva André
Burgos) . Rocio Camara . . .
MASIANNO CARMO FRANÇA
HORTA . . . . . . . GRANDE RIO . . .
M A S T I M GARCIA . . . . . MBOI RIO . . . .
Martim Rodrigues . . . . Butuapora . . . .
MARTIM RODRIGUES . . MBOI M I R I M . . .
Santo Amaro . . .
r, Paes Linhares . . Sorocamirim Rio . .
Martinho Alvares . . . . . . . Chiqueiro. . . . .
M A T H E U S D E CAMARGO . . . AGUASAY RIO . .
>9,
" Figueiredo1
Hiapuhá . . . . .
BRAÇAS N.O ANNO LUGAR ACTUAL

84 1721 Capital

3000 3000 13 16- 9-1609 PENHA


>>
18 1611
>>
19 1611

SÃO BERNARDO
Parnahyba
SANT'ANNA
Parnahyba
Tatuapé
>>

Cotia
SANTO AMARO
Cotia

3000 3000 44 4- 7-1639 GUARULHOS

7 1598 Capital

SÃO BERNARDO
SANTO AMARO

SANTO AMARO
" . >>

Cotia
29

Itapecerica
PARNAHYBA
NOME LUGAR

MATHEUS LUIZ GROU . . . . JUQUERY MIRIM RIO


>> >> >>
. . . . Y> >> >>

PEDRAS RIO (S. BER-


MATHEUS P E R E I R A DE SOUZA . NARDO . . . .
>> >> >> >>
. Caminho Santos . . .
MauriciodeCastillio. . . . Ypiranga Cabeceiras .
7> >> 19 . Gerobaty Rio . . .
N. S. DA CONCEIÇÃO
MIGUEL DE ALMEIDA . . . . ALDEIA . . . .
" Borges (Indio) . . . . Chiqueiro . . . . .
.>
MIGUEL BORGES (IN=
D10) e outros . . . . . . . . S. LOURENÇO . . .
MIGUEL GARCIA CARRASCO . . MBOI RIO . . . .
SESMARIA DA CAMA-
MOSTEIRO DE SÃO BENTO . . RA . . . . . .
2 > >f >> >1
. . Caminho Santos . . .
>> >> >> 1>
. . Grande Rio . . . .
Manoel Alves Rodrigues . . . . Guaré . . . . . .
MANOEL ANTUNES . . . . . GUARULHOS . . .
MANOEL ARZÃO . . . . . . BUTUAPORA . . .
MANOEL DE CAMPOS (CAP.) . . SOROCAMIRIM . .
>> >> >> ,
J
. . u n a Rio . . . . .
>>
Cardoso de Moraes . . . Cassea. . . . . .
7)
Corrêa Lemos . . . . Itahin Capoaba . . .
" Fernandes Oliveira (Herd.) Iyapira . . . . .
MANOEL FERNANDES OLIVEIRA
(HERD.) . . . . . . . . JARATIBUCU' . . .
Manoel Fernandes Velho . . . . Tietê Rio . . . . .
" Ferreira Costa Zanzalá . . Pedras Rio das . . .
MANOEL FERREIRA COSTA ZAN-
ZALA' . . . . . . . . PEQUENORIO. . .
Manoel Ferreira Netto (Herança) . Guaxinduba e Japi . .
>
3
" souto . . . e
Itahin Capoaba . . .
MANOEL GARCIA . . . . . . JUQUERY R I O . . -
RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL 521

BRAÇAS NeO ANNO LUGAR ACTUAL

i08 26- 2-1739 SÃO BERNARDO


108 1739
" >>

92 1726
34 1638 Jurubatuba

25 15-11-1625 GUARULHOS
138 1820 Itapecerica

138 18- 8-1820 ITAPECERICA (Original)


38 9-10-1628 SANTO AMARO

ANHANGABAHU'
São Bernardo
>> >>

Lúz
GUARULHOS

PARNAHYBA
Y >

Juquery
Parnahyba
Santo Amaro

1500 1500 109 3- 3-1739 SANTO AMARO


76 1707 Penha
94 1727
. * . . Bernardo
São

3000 3000 94 27- 8-1727 SÃO BERNARDO


135 1802 Parnahyba
134 1797 YY

3000 3000 29 12- 1-1638


NOME LUGAR

ARICANDUVA CABE-
MANOEL GOES e outros . . . . CEIRAS . . . .
MANOEL GOMES D E SA' . - . CAUCAIA . , . .
MANOEL GOMES D E SA' . . . CAUCAIA . . . .
>> Jacome Vieira (Herança) . Mandaqui . . . . .
>>
Tosé da Encarnação . . Tremembé . . . .
77
Lourenço de Andrade . . Ibiambura Rio . . .
>>
Luiz (Herdeiros) . . . Lúz Capella da . . .
>
Mendes de Almeida . .
9 Apotratiaia Morro do .
MANOEL MENDES D E ALMEIDA CAUCAIA . . . .
MANOEL MENDES D E ALMEIDA CAUCAIA . . . .
>> >> >7 79
Sorocamirim . . . .
17
Pinto . . . . . . . Capão . . . . . .
>>
Preto . . . . . . . Jucuri Rio . . r .
MANOEL P R E T O . . . . . . TAMANDUATE-
HY RIO . . .
7J
Rego Cabra1 . . . . . Bom Successo (Capella)
7>
Ribeiro . . . . . . Caucaia . . . . .
>>
Rodrigues de Goes . . . Pequeno Rio . . . .
>>
Siqueira (Indio) . . . . Chiqueiro . . . . .
MANOEL SIQUEIRA (INDIO) . . SÁO LOURENÇO . .
>>
Souza Dias . . Mandaqui . .
Nuno Váz (Herdeiros) . . . . . Caucaia . . . . .
.
Paschoal Fernandes de Sampaio . Crystaes . . . . .
PASCHOAL FERNANDES D E SAM.
PAIO . . . . . . . . . JUQUERY MIRIM. .
Paula da Costa . . . . . . . Caraguatatuba . . .
PAULA JOSEPHA . . . . . . GRANDE RIO . . .
Paula Gonçalves ........... Olho D'Agua . . . .
PAULA GONÇALVES . . . . . SANTO AMAR0 . .
>>
Pereira . . . . . . . Juquery Rio . . . .
Pedro Alves . . . . . . . . Rocio Camara . . .
" Dias . . . . . . . . Manaquy Ribeirão . .
PEDRO DIAS . . . . . . . CARAPOCUHIBA . .
BRAÇAS N. ANNO LUGAR ACTUAL

PENHA
COTIA
COTIA
Sant'Anna
Sant'Anna
Santo Amaro

Cotia
COTIA
COTIA
79

Capital

CAPITAL
Parnahyba
Santo Amaro
São Bernardo
Itapecerica
ITAPECERICA (Original)
Sant'Anna
Santo Amaro
Parnahyba
PARNAHYBA (CONFIR-
MAÇÃO)
Cotia
SÃO BERNARDO
Santo Amaro

Capital
Sant'Anna
COTIA
NOME LUGAR

PEDRO DOMINGUES . . . . . CAUCAIA . . . .


>3 >>
. . . . . . . Mboi Mirim Cab. . .
P E D R O DOMINGUES . . . . . SANTO A M A R 0 . .
" Fernandes Aragonez . - . Rio Juquery . . . .
P E D R O FERNANDES . . . . . MBOI M I R I M . . .
PEDRO D E GOES RAPOSO . . . AJUA' SERRA DO. .
>)
" Mattos . . . . . Aricandiba Rio . . .
>>
" Moraes . . . . . Juquery Rio . . . .
>> >>
" Dantas . . . Marajahi Mirindiba . .
>>
" Nunes . . . . . . Ypiranga Campo do .
PAULO P E R E I R A . . . . . . RIO JUQUERY . . .
PEDRO DA ROCHA SOUZA (CAP.) ITACOLOMIM . . .
>>
" Silva . . . . . . Paiva Ribeirão do . .
P E D R O DA S I L V A . . . . . . SANTA FE' MINAS DE
ARICANDUVA CABE-
PEDRO TAQUES . . . . . . CEIRAS . . . .
POLYCARPO JOAQUIM OLIVEI= GUAXINDUVA E
RA (CEL.) . . . . . . . J A P Y . . . . .
POLYCARPO JOAQUIM OLIVEI-
RA (CEL.) . . . . . . . Japy . . . . . .
POLYCARPO JOAQUIM OLIVEI-
RA (CEL.) . . . . . . . Jundiavira . . . .
POLYCARPO JOAQUIM OLIVEI-
RA (CEL.) . . . . . . . . Pirapora . . . . .
POLYCARPO JOAQUIM OLIVEI-
RA (CEL.) . . . . . . . Santa Quiteria . . .
Raphael Antonio Barros (Padre) . Barro Vermelho Rib. .
9, 9, >> >>
. Pinhal . . . . . .
>> 9, >I >>
. Sorocabussú Rio . . .
R A P H A E L A N T O N I O BAR-
R O S (PADRE) . SOROCAMIRIM RIO
Raphael Costa . Guaxinduba . . . .
RECOLHIMENTO NOSSA SENHO-
RA DA LUZ . LUZ CAMPOS DA .
BRASAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

SANTO AMARO
Santo Amaro
SANTO AMARO

SANTO A M A R 0
JUQUERY

São Bernardo
#

RIO JUQUERY
COTIA
Santa Fé Minas de

600 6000 40 30-1-1639 PENHA

9000 3000 135 27- 2-1802 PARNAHYBA

135 1802 J>

116 1767 Cotía


3,
116 1767
116 1767 "

3000 3000 116 8- 1-1767 COTIA


135 1802 Parnahyba
NOME LUGAR

RECOLHIMENTO NOSSA SENHO-


RA DA LUZ . . . . . . Guaré. . . . . .
RECOLHIMENTO NOSSA SENHO-
RA DA LUZ . . . . . . Lúz Capella . . . .
Rita Antonia da Silva Serra . . . Bom Successo Capella .
ROCIO DA CAMARA . . . . . YPIRANGA . . . .
ROCIO DA CAMARA . . . . . CIDADE . . . . .
>> 19 >>
. . . . . Tamanduatehy . . .
Rodrigo Bicudo da Silva (Herança) . Juquery Mirim . . ,
,Roque Soares Medella (Sarg. Mór) . Caraguatativa . . .
ROQUE SOARES MEDELLA (SAR-
GENTO M6R) . . . . CAPIVARY E COTIA .
Rosa Dias Ferreira . . . . . . Cururú Bairro . . .
Salvador d e o l i v e i r a . . . . . . Hiapuhá . . . . .
1,
" Paiva . . . . . . Juquery . . . . .
77
Pires . . . . . . . >>
Rio . . . .
>>
'> (Herdeiros) . . .
>> >>
. . . .
>>
" Medeiros . . . . >> >>
. . . .
SEBASTIÃO BICUDO DE SIQUEIRA SEPETIVA . . . .
>>
Fernandes Preto . . . Juquery Mirim Rio . .
>>
Freitas. . . . . . Ajuá Serra do . . .
>> >>
. . . . . . Juquery Rio . . . .
SEBASTIÁO PEDROSO . . . . JUQUERY RIO . .
SILVESTRE DA SILVA CARNEIRO CAUCAIA . . . .
I> >> >> >>
Utatyaia Morro . . .
JUQUERY E, JUQUE-
SIMÁO BORGES (MOÇO) . . . RY MIRIM . . .
>> >>
. . . Mont Serrat . . . .
>>
Costa . . . . . . . . Minas Geraldo . . .
Suzana Dias . . . . . . . . Juquery Rio . . . .
THEREZA DE PAULA FERNAN-
DES (9) . . . . . . . . RESSACA . . . .
THOME' ALVES FURTADO (SAR-
GENTO M 6 R ) . . . . . . MOINHO VELHO . .
BRAÇAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

84 1721 "
133 1788 Parnahyba
7 28- 2-1598
84 25-3-1721
7 1598
112 1745 Parnahyba
85 1721 Cotia

13-11-1721 COTIA
1802 Parnahyba
1717
1642
1639
1640
1640
28- 871640 GUARULHOS
1639
1621 Juquery
1640
6- 8-1639
17- 1-1728 COTIA (JUQUERY)
>>
1728

1500 1500 60 17-11-1640 JUQUERI MIRIM RIO


60 1640 Juquery
41 1639 Guarulhos
15 1610 Parnahyba
SANTO AMARO (MEDI-
500 1500 122 7- 6-1780 ÇÃO)

2250 1500 100 9- 3-1728 SANTO AMARO


NOME LUGAR

THOME' ALVES FURTADO (SAR-


GENTO M 6 R ) . . . . . . Jerobatiba Rio . . .
Thomé Martins . . . . . . . Jaguapereruba . . .
" Rodrigues da Silva . . . . Pequery . . . . .
>> >7 >> >>
. . . . João Souza. Porto do .
THOME' RODRIGUES DA SILVA TATUAPE' . . . .
Tristão de Oliveira . . . . . . Batuapora . . . . .
Vicencia da Costa . . . . . . . Juquery Rio . . . .
VICENCIA DA COSTA. . . . . JUQUERY R I O . . .

FIM

(1) Amador de Medeiros, por morte deste passou a pertencer a seu


genro Miguel Ayres Maldonado (Juiz Ordinario), que, a 24 de Abril de 1637,
fez doação ao Mosteiro de São Bento. O Governo Imperial adquiriu, por es-
criptura publica de 5 de Julho de 1877, e creou os nucleos coloniaes São
Caetano e São Bernardo.
(2) Antonio Blanco, Archivo Publico Rio de Janeiro.
(3) Antonio Pinto, a mesma sesmaria de N. 104 concedida a João Ro-
drigues de Oliveira, em 1735, que mandou demarcar e confirmar em Lisboa.
(4) Antonio Pires de Avilla, deu o seu nome ao Ribeirão Pires, em São
Bernardo.
RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

BRAÇAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

100 1728 Jurubatuba


67 1661 Penha
79 1710
79 1710 Belenzinho (Rio Tietê)
1500 1500 79 10- 7-1710
43 1639
17 1610 Parnahyk
1500 1500 15 22- 3-1610 PARNAHYBA

FIM

( 5 ) Bartholomeu Fernandes de Faria. Esta sesmaria, de duas leguas em


quadra, abrange a actual povoação de São Bernardo, os Meninos, Curral
Grande, Curral Pequeno, Cabeceiras do Ypiranga e Guacury.
(6) Francisco Velho de Moraes. Esta sesmaria foi inventariada por mor-
te de sua mulher Dona Francisca da Costa Albernáz, volume 18, folhas 18,
e por sua morte, volume 19, folhas 363.
(7) Ignacio de Azevedo Silva, (padre) constituiu patrimonio da igreja
Nossa Senhora da Conceição, da qual era protector.
(8) Izabel de Almeida, (viuva de José de Souza Nuues), sesmaria con-
cedida a seu marido em 1769, tornou a requerer e m 1786.
(9) Thereza de Paula Fernandes, (medição), esta sesinaria pertenceu
ao padre Domingos Gomes Albernaz, actual sitio Ressaca.
SESMARIAS CONCEDIDAS NA COMARCA
DA CAPITAL

INDICE DOS LUGARES A Q U E FAZEM REFERENCIAS


A S CONCESSõES D E SESMARIAS, COM O S S E U S
PROPR'ETARIOS E POSSEIROS
AS LETRAS MAIUSCULAS REPRESENTAM OS CONCESSIONARIOS
DE SESMARIAS.- AS MINUSCULAS OS CONFRONTANTES,
AhTiGOS POSSEIROS
A NUMERAÇÃO REPRESENTA A ORDEM DE CONCESSAO

ANNOS D E 1559 A 1820


LUGAR NOME

AGUASAY RIO . . DIOGO DA SILVA P A R E S . . . .


AGUASAY RIO . . M A T H E U S D E CAMARGO . . .
Aiapi . . . . . . . Companhia de Jesús . . . . . .
AJUA' SERRA DO . ALEIXO J O R G E . . . . . . .
I> ,, >> Francisco Figueiredo . . . . . .
>> 19 >> Gregorio Corrêa de Sá . . . . .
IZIDORO TINOCO DE SA' (CAP.
AJUA' . . . . . . MÓR) . . . . . . .
AJUA' S E R R A DO . JOÃO MICEI, VALENTE . . . .
AJUA' S E R R A DO . P E D R O DE GOES RAPOSO . . .
Sebastião de Freitas . . . . . .
ALVARENGAS . . . BENTO RODRIGUES BARBOSA .
Anha . . . . . . . . Antonio Preto . . . . . . . -
ANHA.. . . . . . . GASPAR CUBAS . . . . . .
Izabel Duarte . . . . . . . .
Anhangabahú . . . . Gonçalo Madeira . . . . . . .
ANHANGABAHU' . . MOSTEIRO D E SÃO BENTO . .
Apotratiaia Morro do . Manoel Mendes de Almeida . . .
Aricandiba Rio . . . João Bicudo Espirito Santo . . .
>> >>
. . . Pedro Mattos . . . . . . . .
ARICANDUVA CABE=
CEIRAS . . . . ANTONIO P O M P E U ALMEIDA .
ARICANDUVA CABE=
CEIRAS . . . . Estevam Raposo . . . . . . .
ARICANDUVA CABE-
CEIRAS. . . . MANOEL GOES . . . . . . .
ARICANDUVA CABE-
CEIRAS . . . . P E D R O TAQUES . . . . . .
Aricanduva Gampos do . 1:rancisco Velho de Moraes . . . .
Barro Branco Estrada . Domingos José de Mel10 (Ilheo) . .
Barro Vermelho Rib. -. Raphael Antonio Barros (Padre) . .
Baruery Rio . . . . José Váz de Carvalho (Dr.) . . .
Bom Successo Capella . Antonio Francisco Andrade (Herd.) .
BRAÇAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

1500 1500 105 29- 9-1736 PARNAHYBA


1500 1500 105 29- 9-1736 PARNAHYBA
71 1698 Cotia
3000 3000 24 3- 2-1621 JUQUERY
>>
24 1621
>>
24 1621

MESMA N.o 24
MESMA N.o 26
JUQUERY
>>

SÃO BERNARDO
N. S. DO O'
N. S. DO O'
>> >> >> >>

Capital
SESMARJA CAMARA
Cotia
Penha

6000 6000 40 30- 1-1639 PENHA

6000 6000 40 30- 1-1639 PENHA

6000 6000 40 30- 1-1639 PENHA


64 1642 17

137 1819 Sant'Anna


1I6 1767 Cotia
130 1786
133 1788 Parnahyba
534 DAS SESMARIAS
RELAÇÃO CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR

BOM SUCCESSO CA-


PELLA . JOÃO MOURA L E I T E . . . .
BOM SUCCESSO CA=
PELLA . Maria de Lara Leite . . . . . .
BOM SUCCESSO CA=
PELLA . Manoel do Rego Cabra1 . . . . .
BOM SUCCESSO CA-
PELLA . . . . Kita Antonia da Silva Serra
BUTUAPORA . . . BELCHIOR D E BORBA .
19
. . . >> >> >>

9,
. . . Martin Rodrigues . . .
BUTUAPORA . . . MANOEL ARZÃO . . .
19
. . . Tristáo de Oliveira . . .
Cabussú Rio . . . . André Gonçalves . . . .
>> 79
. e . .
>7 >>
. . . .
CABUSSU' RIO . . . ANTONIO CAMACHO . .
CABUSSU' . . . . BENTO D E BARROS . .
Cabussú Rio . . . . Francisco Rodrigues . . .
>> >>
. . . . >> >9
. . .
>> 9t
. . . . Gonçalo Madeira . . . .
CACHOEIRA GRANDE Luiz Soares Ferreira . . .
Cahi Rio . . . . . Calixto Motra . . . . .
Caminho Cubatão a S.
Paulo . . . . . . GASPAR GOMES . . . . . .
Caminho de Goyaz . . Agostinho Pereira da Silva . . . .
CAMINHO D E ITU' . JOSE' JACOME D E AZEVEDO . .
CAMINiiO D E SANTOS JOSE' ALVARES P I M E N T E L . .
9, >> >>
Matheus Pereira de Souza . . . .
Mosteiro de São Bento . . . . .
Cap.. .. r y Ribeirão . . Francisco de Paiva . . . . . . .
Cap.. . . r y Rio . . . Calixto Motta . . . . . . . .
CAPÃO . . . . . ANTONIO P I N T O (Tab. em Santos)
Capão . . . . . . >> 99
. . . . . .
>I
. . . . . . Clara Parente . . . . . . . .
BRAÇAS N. ANNO LUGAR ACTUAL

PARNAHYBA

>>

>r

DIVISA MOGY

Divisa Mogy

Jaraguá N. S. do O'
Santo Amaro

SÃO BERNARDO
Parnahyba
COTIA
SÁO BERNARDO
>> 99

>> >>

Santo Amaro
9 > ¶>

São Paulo (A MESMA


37 " N." 104)
9, >>
536 RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR NOME

CAPÃO . JOÃO RODRIGUES D E OLIVEIRA


>>
. Manoel Pinto . . . . . . . . .
ANNA LEONIZA FORTES BUSTA-
CAPOABA E ITAHIM MANTE SA' . . . . . . .
Anna Maria Xavier Pinto da Silva
(Herdeira) . . . . . . .
Antonio Fortes Bustamante Sá e Leme
(Dr.) . . . . . . . . .
CARAGUATATIBA F E L I X MACHADO JACOME . .
>9
Paula da Costa . . . . . . .
Roque Soares Medella (Sarg.O hlór) .
. . .
Carapocuiba Affonso Sardinha . . . . . . .
. . .
>>
Antonio de Macedo . . . . . .
>>
. . . 1 >
Pedrozo . . . . . . .
CARAPOCUIBA . COMPANHIA D E J E S U S . . . .
>>
Domingos Luiz Grou (Cia. Jesús) .
CARAPOCUHIBA . FERNÃO DIAS . . . . . . .
INDIOS ALDEIA P I N H E I R O S E
CARAPOCUHYBA . . URURAY . . . . . . .
>>
. . Jorge Moreira (Cap.) . . . . . .
>7
. . João Borralho (Cap.) . . . . .
11
. a. , " Ramalho . . . . . . .
CARAPOCUHYBA . . P E D R O DIAS . . . . . . .
CASSAQUERA . . . ALEXANDRE BARRETO LIMA .
CASSAQUERA . . . ANTONIO P I R E S DE AVILLA . .
Cassea . . . . . . . Custodio Corrêa de Moraes . . . .
FRANCISCO JOSE' SAMPAIO P E I -
CASSEA . . . . . XOTO . . . . . . . . .
>>
. . . . . José da Silva Bueno . . . . . .
Cassea. . . . . . Manoel Cardoso de Moraes . . .
Castelhanos Tapera . . Francisco Irelho de Moraes . . . .
Caucaia . . . . . . Antonio Leme (Herdeiros) . . . .
>>
. . . . . >> 99 >>
. . . .
9,
. . . . . >> >>
Tapera de . . . .
BRAÇAS N.O ANNO LUGAR ACTUAL

104 22- 5-1735 SÃO PAULO (Confirmada)


104 1735 " 9,

3000 3000 134 5- 5-1797 PARNAHYBA

COTIA
>>

Lapa
Cotia
>>

COTIA
Santo Amaro
COTIA

COTIA
>>

>>

19

COTIA
SÃO BERNARDO
S. BERNARDO (Original)
Juquery

3000 3000 123 13- 9-1782 JUQUERY


>>
123 1782
123 1782 Juquery
64 1642 Mooca
96 1727 Cotia
>>
98 1728
>>
102 1932
LUGAR NOME

Caucaia . . . . . Rráz do Prado (Herdeiros) . . . .


>>
. . . . . Eva Antonia Leme (Herdeiros . . .
77
. . . . .
CAUCAIA . . . . MANOEL GOMES DE SA' . . .
CAUCAIA . . . . MANOEL GOMES DE SA' . . .
CAUCAIA . . . . MANOEL MENDES D E ALMEIDA
CAUCAIA . . . . MANOEL MENDES DE ALMEIDA
CAUCAIA . . , . SILVESTRE DA SILVA CARNEIRO
CAUCAIA . . . . ANTONIO DA CUNHA CARDOSO .
>>
. . e . Henrique da Cunha . . . . . .
CAUCAIA . . . . AMAR0 RODRIGUES SEPULVEDA
CAUCAIA . . . . CALIXTO DA MOTTA E OUTROS
>>
. . . . Cornelio Arzão . . . . . . .
Damiáo Simões . . . . . . .
17

1'
- . . . .
. e . .

Gaspar Conqueiro (Cap.) . . . .


CAUCAIA . . . . GASPAR CONQUEIRO . . . .
97
. . . . Jorge Pires . . . . . . . .
>9
. . . . Luiz Alvares . . . . . . . .
>7
. . . . Manoel Ribeiro . . . . . . . .
>>
. . . . Nuno Vaz . . . . . . . . .
CAUCAIA . . . . PEDRO DOMINGUES . . . . .
CAUCAIA . . . . AMADOR GOMES SARDINHA . .
Chiqueiro . . . . . Joaquim Pereira (Indio) . . . .
>>
. . . . . Martinho Alvares . . . . . . .
>>
. . . . . Miguel Rorges (Indio) . . . . .
7>
. . . . . Nanoel de Siqueira (Indio) . . . .
Chrystaes . . . . . Eartholomeu Bueno Pedroso . . .
. . . . . Paschoal Fernandes de Sampaio . .
CIDADE . . . . . ROCIO CAMARA . . . . . .
CONCEIÇÃO ALDEIA
N.S. . . . . . FRANCISCORODRIGUES. . . .
CONCEIÇÃO ALDEIA
N.S. . . . . . Francisco Siqueira . . . . . .
BRAÇAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

Cotia
19

>>

COTIA
COTIA
COTIA
COTIA
COTIA (ORIGINAL)
GUARULHOS
>>

SANTO AMARO
SANTO AMARO
2, >>

SANTO AMARO
3, >>

SANTO AMARO
>> 9,

Itapecerica
>>

1500 1500 25 15-11-1625 GUARULHOS


LUGAR NOME

CONCEIÇÃO ALDEIA
N.S. . . . . . MIQUEL D E ALMEIDA . . . .
Conceição Villa Caminho Calixto da Motta . . . . . . .
9> >> >>
Francisco de Paiva . . . . . .
CONCEIÇÃO N. SE=
NHORA . . . . LUIZ F U R T A D O . . . . . . .
Cotia Indios São João . . . . . . .
COTIA JOSE' LADEIRA SALVADORES .
COTIA E BARUERY
RIBEIRA0 . . . CARLOS MORAES PEDROSO (Cap.)
Cotia e Baruery Ribeirão Diogo Tavares (Cap.) (Herd.) . . .
Cotia e Capivary . . João Moreira . . . . . . . .
ROQUE SOARES D E M E D E L L A
COTIA E CAPIVARY . (SARGENTO MÓR) . . . .
COUROS RIO DOS . ANTONIO P I N H E I R O DA COSTA .
>> >> >>
Antonio Pires de Avilla . . . . .
Curahapucú Poço . . Luiz Soares Ferreira . . . . . .
Cururú Bairro . . . José Maria Tavares . . . . . .
9, >7
. . . Rosa Dias Ferreira . . . . . .
D. ANTONIO MINAS
D E . . . . . . INNOCENCIO FERNANDES . . .
Ei Siricasam Ribeiráo . Antonio Pires de Avilla . . . . .
EMBYSABA . . . . ANTONIO P R E T O . . . . . .
Geraldo Minas do. . . Alvaro da Costa . . . . . . .
GERALDO MINAS DO BALTHAZAR CORREA . . . .
>> ,> >>
Geraldo Corrêa . . . . . . .
". ,, >> >> >>
. . . . . . .
GERALDO MINAS DO GONÇALO M E N D E S P E R E S . .
>7
João da Costa . . . . . . . .
GERALDO MINAS DO JOÃO NOGUEIRA D E P A Z E S . .
>> >> >>
Simão da Costa . . . . . . .
Grande Rio . . . . Antonio de Oliveira . . . . . .
,, >>
. . . . " Pinheiro da Costa . , . .
!7 >>
. . . . " Pires de Avilla . . . . .
RELAÇÃODAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL 541

BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

GUARULHOS
Itanhaem
" (Alem S. Amaro)

SANTO A M A R 0

Cotia

S Ã O BERNARDO
>> >>

Tietê Rio
Parnahyba
>>

PARNAHYBA
São Bernardo
N. S. DO O'
Guarulhos
GUARULHOS
>>

GUARULHOS
>>

GUARULHOS
>>

São Bernardo
>> >>
LUGAR* NOME

GRANDE RIO . . . BENTO ORTIZ D E LIMA . . .


DUARTE JOSE' VAZ MIRANDA E
GRANDE RIO : - . HORTA (CNG) . . . . .
GRANDE RIO .' . . ESTEVAM AFFONSO (CAP.) . .
>> >
. . . Francisco Xavier de Souza (Herd.) .
J O R G E MUNIZ T E L L E S FRANÇA
GRANDE RIO . . . HORTA (CNG) . . . . . .
GRANDE RIO . . . JOAQUIM D E MIRANDA . . .
GRANDE RIO . . . JOÁO CARLOS LOBO . . . . .
GRANDE RIO . . . JQÃO DINIZ ALVARES . . . .
José Alvares Pimentel . . . . .
JOSE'JOAQUIM MIRANDA HORTA
GRANDE RIO . . . (DEZBO.) . . . . . . . .
MARIA APRESENTAÇÃO FRANÇA
GRANDE RIO . . . E HORTA . . . . . . .
MARIANNA CARMO FRANÇA E
GRANDE RIO . . . HORTA . . . . . . . .
>7 >>
. . . Mosteiro de São Bento . . . . .
GRANDE RIO . . . PAULA J O S E P H A . . . . . .
Guapeninduba . . . Francisco Velho de hiIoraes . . . .
GUARAMIMIS T A P E -
R A . . . . . . DOMINGOS FERNANDES . . .
GUARAMIMIS T A P E - DOMINGOS FERNANDES PINTO E
R A . . . . . . FILHOS . . . . . . . .
GUARAMIMIS T A P E =
R A . . . . . . Domingos Garcia . . . . . . .
GUARAMIMIS TAPE- MARGARIDA RODRIGUES E OU-
R A . . . . . . TROS . . . . . . . . .
GUARAMIMIS T A P E -
R A . . . . . . MARIA RODRIGUES E OUTROS .
GUARAPIRANGA . . ALVARO R E B E L L O . . . . .
GUARAPIRANGA . . GREGORIO FAGUNDES . . . .
Guarulhos . . . . . Francisco Rodrigues Velho . . . .
GUARULHOS . . . MANOEL ANTUNES . . . . .
BRAÇAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

126 7- 3-1782 SÃO BERNARDO

4500 24000 136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO


136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO
126 1782 " 37

136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO


136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO
136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO
107 21- 2-1739 SÃO BERNARDO
"
103 1735 39

136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO

136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO

136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO


126 1782 " 21

4500 24000 136 19- 2-1811 SÃO BERNARDO


64 1642 Mooca

3000 3000 44 4- 7-1639 GUARULHOS


1500 1500 30 10- 4-1638 GUARULHOS
1500 1500 30 10- 4-1638 GUARULHOS
>>
46 1639
3000 3000 46 11- 7-1639 GUARULHOS
j41 RELAÇAODAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR NOME

GUARE' . . . . . CAETANO SOARES VIANNA . .


>>
. Manoel Alves Rodrigues . . . . .
>>
. Recolhimento Xossa Senhora da Lúz .
Guaxinduva . . . . Affonso Vida1 (Herança) . . . .
>>
. Alberto Oliveira Lima . . . . .
>>
. Antonio Rodrigues Siqueira (Herd.) .
>>
. Clemente da Costa . . . . . .
I>
. Francisco Xavier Váz . . . . .
IZABEL ALMEIDA (VIUVA D E
GUAXINDUVA . . . JOSE' SOUZA) . . . . .
>>
. João Leite Garcez (Herança) . . .
I>
. . . " Rodrigues de Siqueira . . . .
>>
e Japi José Antonio Lacerda (Cap.) . . .
>>
. . . " Mariano de Oliveira . . . .
>>
. . . " Simóes de Oliveira . . . . .
3,
. . . " Soares Vida1 (Alfrs.) . . . .
>>
. . . " Souza Nunes (Cap.) . . . .
GUAXINDUVA . JOSE' SOUZA N U N E S (CAP.) . .
>>
. Raphael da Costa . . . . . . .
>>
e Japi Antonio ~ o r t e Bustatnante
c de S á . .
>
9 >> >>
Carlos Pedroso de Araujo (Her.) . .
>> >> 99
Diogo Coutinho de Mello . . . .
9, >> >>
José de Souza Nunes . . . . . .
>> >> >>
Maria Benta Rodrigues de Andrade .
>> >> J>
Manoel Ferreira S e t t o (Herança) .
POLYCARPO JOAQUIM OLIVEI-
GUAXINDUVA e JAPY RA (CEL.) . . . . . . .
Guayauna Cabecei~asdo -4nna Pereira (Successores) . . .
GUAYAUNA RIO . . JOÃO BICUDO ESPIRITO SANTO .
Guayauna Cabeceiras do José Pires . . . . . . . . .
Gupe Rio do . . . . " Váz de Carvalho (Dr.) . . .
Hiapuhá . . . . . Anna Pereira Tapera de . . . . .
Francisco Ferreira de Sá (Mestre
>>
. . . . . Campo) . . . . . . . .
BRAÇAS Nao ANNO LUGAR ACTUAL

LUZ
91

a>

Parnahyba
>>

PARNAHYBA
>,

>?

Yf

>>

)>

>?

79

PARNAHYBA
77

11

>>

19

Y?

>>

>9

9000 9000 135 27- 2-1802 PARNAHYBA


83 1717 Penlia
83 20-9-1717 PENHA
83 1717 93

130 1786 Parnahyba


81 1717
LUGAR NOME

Hiapuhá . . . . . . João de Araujo . . . . . . .


HIAPUHA' . . . . JOÃO VIDAL D E SIQUEIRA . . .
>>
. . . . Rlatheus de Figueiredo . . . . .
>>
. . . . Salvador de Oliveira . . . . . .
BARTHOLOMEU FERNANDES FA=
IARAIBATITUVA RIO RIA . . . . . . . . .
IARAIBATITUVA RIO JOÃO LOBO DE FARIA . . . .
Ibaguassutyba Rio . . Antonio Nunes Pinto . . . . . .
Ibaguassutemirim . . >> >3 >>
. . . . . .
Iberaba Rio . . . . Bráz RodriguesArzão (Cap.) . . .
IBIAMBURA . . . ALVARO RODRIGUES DO PRADO
>>
Rio . . Damião Simóes . . . . . . .
79 >>
. . Manoel Lourenço de Andrade . . .
IBIRATIN . . . . ANTONIO MADUREIRA . . . .
IBOTURUSSÚ MORRO CATHARINA CAMACHO . . . .
Iguabaputiva Rio . . . Garcia Rodrigues Velho . . . . .
Inhoaiva . . . . . João Rodrigues . . . . . . .
Itacolomim . . . . André Gonçalves Cadaval . . . .
ITACOLOMIM . . . ANNA P A E S DE BARROS . . .
>>
. . . Convento do Ctirmo . . . . . .
>>
. . . Jeronymo Corrêa Meira . . . . .
ITACOLOMIM . . . JOSE' DE CAMARGO PAES (CAP.)
.
1,
. . Maria Pinta . . . . . . . .
ITACOLOMIM . . . PEDRO DA ROCHA SOUZA (CAP.)
Itacurutiba . . . . Francisco Jorge . . . . . . .
MATHEUS NUNES DE SIQUEIRA
ITACURUTIBA . . . (PADRE) . . . . . . . .
Itahin Capoaba . . . Antonio dos Santos . . . . . .
Itahin Capoaba . . . Antonio Váz Pinto Ribeiro . . . .
FRANCISCO LEANDRO TOLEDO
ITAHIN CAPOABA . RENDON . . . . . . .
I> >>
João de Moura . . . . . . .
9, >>
" da Rocha Canto . . . . .
>> >> Manoel Corrêa de Lemos (Cap.) . .
BRAÇAS Na0 ANNO LUGAR ACTUAL

SÃO BERNARDO
SÃO BERNARDO

Santo Amaro
SANTO A M A R 0
I> >>

GUARULHOS
PARNAHYBA
Santo Amaro
São Bernardo
Cotia
COTIA
>>

COTIA
>>

COTIA
Penha

ZOA 5- 9-1668 PENHA


134 1797 Parnahyba
>>
134 1797

3000 3000 134 5- 5-1797 PARNAHYBA


>>
134 1797
>>
134 1797
>>
134 1797
LUGAR NOME

ITAHIN CAPOABA . Manoel Ferreira Souto . . . . .


ITAQUI . . . . . JOSE' VAZ D E CARVALHO (DR.)
Itororó Barra do . . . Antonio Pires de Avilla . . . . .
Iyapira. . . . . . Manoel Fernandes Oliveira (Herd.) .
Jabucaguera . . . . Garcia Rodrigues Velho . . . . .
JACURI RIO . . . INNOCENCIO PRETO . . . . .
3, >>
. . . . Manoel Preto (Caminho de . . .
JAGUAPORERUBA . DOMINGOS DA SILVA LEME . .
>>
Thomé Martins . . . . . . .
Jaguará Obú . . . . José de Moraes Cunha . . . . .
Japy . . . . . . Polycarpo Joaquim de Oliveira . . .
Jaraguá . . . . . Ignez Pedrosa . . . . . . . . .
JARAGUA' . . . . LUIZ SOARES FERREIRA . . .
JARAGUA' E JACA=
BUSSU' . . . . IZABEL RODRIGUES . . . . .
JARAGUA' E JACA=
BUSSU' . . . . FAEIÃO RODRIGUES MARQUES .
Jarapebica . . . . Frailcisco Rodrigues Velho . . . .
.>
. . . . Indios Garomenis . . . . . . .
Jaratibucú . . . . Domingos Marques . . . . . .
Jaribatubucú Rio . Francisco Fernandes Oliveira . . .
MANOEL FERNANDES D E OLI=
JARITIBUCU' . . . VEIRA (HERD.) . . . . .
João Souza Porto Rio
Tietê . . . . . Maria Leite . . . . . . . .
João Souza Porto Rio
Tietê . . . . . Thomé Rodrigues da Silva . . . .
Jundiauvira Serra . . Izabel Arruda . . . . . . . .
,, " do . José Souza Nunes (Cap.) . . . .
9,
. . Po~lycarpoJoaquim de Oliveira (Cel).
Juquery Rio . . . . Amador Bueno . . . . . . .
>> >>
. . . . Antonio Pedroso . . . . . . .
JUQUERY R I O . . . ANTONIOPIRES . . . . . .
,, >,
. . . . . . .
BRAÇAS N.O ANNO LUGAR ACTUAL

Parnahyba-
PARNAHYBA
São Bernardo
Santo Amaro
1) 7,

PENHA
>>

Guarulhos
Parnahyba
N. S. DO O'
N. S. DO O'

74 25- 4-1705 N. S. DO O'


35 1638 Juquery Rio
11 >>
35 1638
109 1739 Santo Amaro
106 1739 " >>

1500 1500 109 3- 3-1739 SANTO A M A R 0

79 1710 Tatuapé

79 1710 Belemzinho
132 1786 Parnahyba
117 1769 1>

>>
135 1802
54 1639
49 1639
1500 1500 54 14-12-1639
61 1640
LUGAR NOME

JUQUERY R I O . . . >?
Rodrigues Ribeiro . . .
>> >>
. . . Bartliolomeu Bueno (Velho) . . .
JUQUERY R I O . . . BRAZ CARDOSO . . .
JUQUERY R I O . . . DIOGO MASTINS . . . . . .
JUQUERY R I O . . . DOMINGOS DA SILVA . . . .
>> >>
. . . Francisco Figu&r,ó . . . . . .
FRANCISCO FONSECA FALCÃO
JUQUERY RIO . (CAP.) . .
JUQUERY RIO . FRANCISCO RODRIGUES VELHO,
JUQUERY RIO . LiARCIA RODRIGUES VELHO . .
JUQUERY RIO . GASPAR SARDINHA DA SILVA .
JUQUERY RIO . GREGORIO FAGUNDES . . . .
JUQUERY RIO . IGNEZ MONTEIRO . . . . .
JUQUERY RIO. IGNEZ MONTEIRO . . . . .
>7 >> Jacques Felix (Herdeiro) . . . .
JUQUERY RIO . JOSE' ORTIZ D E CAMARGO . .
JUQUERY RIO MANOEL DA COSTA . . . . .
JUQUERY RIO PAULO PEREIRA . . . . . .
>> >> Pedro Fernandes Aragonez . . . .
3> >> " Moraes . . . . . . .
>, >> Salvador de Paiva . . . . . .
>> >> >>
Pires . . . . . . .
91 1,
>>
" Herdeiros de . . .
>, 29
>>
" de Medeiros . . .
99 9,
Sebastião de Freitas . . . . . .
JUQUERY RIO SEBASTIÃO PEDROZO . . . .
FRANCISCO DA FONSECA FAL-
JUQUERY CAMPO DO CÃO . . . . . . . . .
I7 >> >I
Francisco Rodrigues (Sapateiro) . .
JUQUERY CAMPO DO FRANCISCO D E SIQUEIRA . . .
>> >> ¶ > >>
Xavier Pedrozo . . .
Juquery Caminho Velho Custodio de Paiva . . . . . .
JUQUERY RIO . . BEATRIZ DINIZ . . . . . .
>> >>
. . Francisco Rondon . . . . . .
BRAÇAS NP ANNO LUGAR

1500 1500 42 5- 4-1639


42 1639
1500 1500 42 5- 4-1639
119 1774
10 1608 N. S. do O'
17 1610 Parnahyba
JY
61 1641
\

552 RELAÇÃO DAS SESMARIAS


CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR NOME

JUQUERY RIO . . Jorge Correa . . . . . . . .


>> >>
. . Suzana Dias . . . . . . . .
>> >>
. . Vicencia da Costa . . . . . .
JUQUERY RIO . . VICENCIA DA COSTA . . . .
JUQUERY GUASSU' . AGOSTINHO P E R E I R A DA SILVA
JUQUERY GUASSU' . AGOSTINHO P E R E I R A DA SILVA
>> >>
Joaquim de Godoy . . . . . .
>>
Mirim . . Agostinho Pereira da Silva . . . .
>> >>
. . Antonio da Cunha Abreu . . . .
>> >>
. . Barbara Paes de Queiroz . . . .
BARTHOLOMEU BUENO PEDRO-
JUQUERY MIRIM . SO . . . . . . . . . .
Joaquim Soares . . . . . . .
JUQUERY MIRIM . JOÃO PEDROZO DA CUNHA . .
JUQUERY MIRIM . MATHEUS LUIZ GROU . . . .
>> 91 9> >> >>
. . . .
PASCHOAL FERNANDES SAM-
JUQUERY MIRIM . PAIO . . . . . . . . .
7, >>
Rodrigo Bicudo da Silva (Herança) .
Sebastião Fernandes Preto . . . .
JUQUERY E JUQUE-
RY MIRIM . . . SIMÃO BORGES (o MOÇO) . . .
JURUBATUBA RIO . AFFONSO SARDINHA . . . .
>> >>
ALEIXO L E M E . . . . . . .
,> >> >> >>
. . . . . . .
Bento Rodrigues Barboza . . . .
JURUBATUBA RIO . BERNARDO DE QUADROS . . .
>> 97
Calixto Motta . . . . . . . .
JURUBATUBA RIO . FRANCISCO ALVES CORREA . .
JURUBATUBA RIO . FRANCISCO ALVARENGA . . .
97 >>
Garcia Rodrigues . . . . . . .
JURUBATUBA RIO . GARCIA RODRIGUES VELHO . .
JURUBATUBA RIO . GONÇALO VOGADO . . . . .
>> Y>
Luiz da Grã Frei (Cia. Jesus) . . .
RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL 553
- e
BRAÇAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

Parnahyba
>>

>>

PARNAHYBA
PARNAHYBA (bnfirm.)
PARNAHYBA
11

>>

>>

>>

3000 112 28- 3-1745 PARNAHYBA


97 1727 17

3000 ' 97 12-11-1727 PARNAHYBA


1500 45 4- 7-1639 PARNAHYBA
>>
60 1640

(Confirm.)

17-11-1640
3-11-1617. LAPA
19- 2-1617
1619
1725
1638
164b
1619
19- 2-1617
554 RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR NOME

Jurubatuba . . . . Mauricio de Castilho . . . . . .


12
. Thomé Alves Furtado (S. Mór) . .
LUZ Capella . . . . Manoel Luiz (Herdeiros) . . . .
RECOLHIMENTO NOSSA SENHO-
LUZCAPELLA . . . RA LUZ . . . . . . . . .
RECOLHIMENTO NOSSA SENHO-
RA LUZ . . . . . . . .
MANAQUY R I B E I R A 0 DOMINGOS MARTINS . . . .
>> >> Pedro Dias . . . . . . . .
Mandaqui. . . . . Antonio Váz de Oliveira . . . .
. . . .
>>
. Ignacio Dias . . . . . . . .
>>
. . . . . Jeronymo Pinheiro . . . . . .
"Cercado . . José da Costa (Ilheo) . . . . .
MANDAQUI . . . . MARIA GARCIA L E M E . . . .
>>
. . . . Manoel Jacome Vieira (Herança) . .
>>
. . . . >>
Souza Dias . . . . . .
Maquiribú Rio . . . Alvaro Rebello . . . . . . .
Maquirovy Rio . . . Antonio da Cunha Cardoso . . . .
MAQUERUBI CAMPO GERALDO CORRÊA SOARES . .
> Rio . . 3
Gregorio Fagundes . . . . . .
>,
Campo . Luiz Torres (Successor) . . . .
MARAJAHI MERIN-
DIBA . . . . . JAÇYNTHO RIBEIRO . . . . .
MARAJAHI MERIN-
DIBA. . . . . Pedro de Moraes Dantas . . . .
IGNACIO DE AZEVEDO SILVA
MATTO ESCURO . . (PADRE) . . . . . . .
MBOI RIO . . . . BALTHAZAR DOS REIS . . . .
>> >>
. . . . João Sant'Anna . . . . . . .
MBOI RIO . . . . MARTIM GARCIA . . . . . .
MBOI RIO . , . . MIGUEL GARCFA CARRASCO . .
MBOI MIRIM . . . ANDRE' FERNANDES . . . .
MBOI MIRIM . . . 4NNA TENORIA . . a . r n . .

MBOI MIRIM . . . ANTONIA RODRIGUES . . . .


BRAÇAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

34 1638 Jurubatuba
>>
100 1728
84 1721

SANT'ANNA
>> >>

SANT'ANNA
>> >f

Guarulhos

GUARULHOS
>>

SÃO BERNARDO

BELEMZINHO
SANTO AMARO
19 >>

SANTO AMARO
SANTO AMARO
SANTO AMARO
SANTO AMARO
SANTO AMARO
LUGAR NOME

MBOI MIRIM . . . MARIA NERY . . . . . . .


MBOI MIRIM . . . MASTIM RODRIGUES . . . .
MBOI MIRIM . . . PEDRO FERNANDES . . . . .
MBOI MIRIM CABE=
CEIRAS . . . . ANTONIO NUNES PINTO . . .
MBOI MIRIM CABE=
CEIRAS . . . . Pedro Domingues . . . . . . .
MOINHO VELHO JOSE' IGNACIO RIBEIRO F E R =
CORREGO . . REIRA (DR.) .
Moinho Velho Ribeirão LuizSoaresFerreira. . . . . .
>> >> >>
Alvaro Rodrigues . . . . . .
Antonio Gonçalves . . . . . .
THOME' ALVES FURTADO (Sarg.
MOINHO VELHO,. . Mór) . . . . . . . . .
Mont Serrat . . . Simão Borges . .
Mooca Ribeirão . . Diogo Rodrigues Salamanca . . .
MOOCA RIBEIRA0 . FRANCISCO VELHO D E MORAES
j Y 1,
Gaspar Cubas . . . . . . . .
NHADIPAHIBA . . ANTONIA PINHEIRA RAPOSA .
Antonio Raposo Tavares (Herança) .
Olho d'Agua . . . . " Pinto (Atterrado de . . .
FRANCISCO FERNANDES DE OL,I=
OLHO D'AGUA: . *. VEIQA . . . . . . . .
Paula Gonçalves .
Paciencia Matto . . . José de Moraes Cunha . . . . .
~ ã i v aRibeirão do . . Pedro da Silva . . . . . . .
Palmares Rincão . ' . . João Diniz ~ l v a r e ' s . . . . . .
P A R N A H Y B A DE=
FRONTE IGREJA . BEATRIZ DINIZ . . . . . .
PARNAHYBA . . . BELCHIOR DA COSTA . . . .
PEDRAS RIO DAS . . MATHEUS P E R E I R A D E SOUZA .
>> >i >>
. . Manoel Ferreira Costa Zanzalá . .
Pequeno Rio . , . , João Pinto Range1 . a - . . . .
BRAÇAS NS0 ANNO LUGAR ACTUAL

1500 3000 62 29-11-1642 SANTO AMARO


1500 3000 62 29-11-1642 SANTO AMARO
1500 3000 62 29-11-1642 SANTO AMARO

1500 1500 55 3- 2-1640 SANTO AMARO

124 20- 2-1782 YPIRANGA


72 1702 N. S. do O' (Guassucihi)
100 1728 Santo Amaro
100 1728
" >>

2250 1500 100 9- 3-1728 SANTO AMARO


60 1640 Juquery
64 1642 Capital
1200 1200 64 - -1642
64 1642
75 10- 4-1638 PARNAHYBA
,,
75 1638
106 1739 Santo Amaro

800 800 106 17- 2-1739 SANTO A M A R 0


>> >>
106 1739
110 1741 Guarulhos
28 1637 Santa Fé Minas de
107 1739 São Bernardo

3000 3000 15 22- 3-1610


3000 3000 17 26-12-1610
1500 1500 108 26- 2-1739 SÃO BERNARDO
94 1727 " >>

>>
94 1727 "
LUGAR NOME

PEQUENORIO. . . MANOEL F E R R E I R A COSTA ZAN-


ZALA' . . . . . . . . . . .
>>
. . .
>> hlanoel Rodrigues de Goes . . . .
Pequery . . Maria Leite . . . . . . . .
>>
. . . . . Thomé Rodrigues da Silva . . . .
>> Campos do . Francisco Velho de Moraes . . . .
Pernaguá Rio . . . . Antonio Raposo Silveira (T. General)
Pinhal . . . . . . Raphael Antonio de Barros (Pe) . .
Pinheiros Caminho dos . Margarida de Oliveira . . . . .
Pirapora . . . . . Polycarpo Joaquim Oliveira (Cap.) .
Piratininga Estrada . . Antonio Pinto . . . . . . . .
PIRATININGA RIO . LUIZ GRÁ F R E I (CIA. D E J E S U S )
Ponte Grande Caminho . Caetano Soares Vianna . . . . .
Ressaca . . . . . Agostinho Machado Oliveira (Cap.) .
>7
. . . . . José de Camargo . . . . . . .
T H E R E Z A D E PAULA FERNAN-
RESSACA . . . . DES . . . . . . . . .
Rocio Camara . . . Domingos Barbosa . . . . . .
>> >>
e . . Francisco Pires Tapera de . . . .
Iria Ferreira . . . . . . . .
Jorge Moreira . . . . . . . .
" Soares Tapera de . . . . .
Maria Rodrigues (Viuva de André
Burgos) . .
Pedro Alves . . . . . . . .
A N T O N I O DO NASCIMENTO
SANT'ANNA (Fazenda) (IEHEO) . . . . . . . .
DOMINGOS JOSE' D E M E L L O
SANT'ANNA (Fazenda) (ILHEO) . . . . . . . .
SANT'ANNA (Fazenda) JOSE' DA COSTA (ILHEO) . . .
SANTA FE' MINAS D E GASPAR SARDINHA . . . . .
SANTA FE' MINAS D E P E D R O DA S I L V A . . . . . .
Santa Quiteria . . . Polycarpo Joaquim Oliveira (Cel.). .
BRAÇAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

SÃO BERNARDO
>> >>

Tatuapé

Mooca

Cotia
Capital
Parnahyba
Capital

Lúz
Santo Amaro
Santo Amaro
SANTO A M A R 0 (MEDI.
ÇÃ0)
Capital
>>

>>

>>

>>

137 7- 1-1819 CAPITAL


137 7- 1-1819 SANT'ANNA
1000 1500 28 27- 8-1637
1000 1500 28 27- 8-1637
135 1802 Parnahyba
LUGAR NOME

SANTO AMARO JUN-


TO A FREGUEZIA ANTONIO BLANCO . . . . .
SANTO AMARO JUN-
TO A FREGUEZIA Cornelio Arzão . . . . . . .
SANTO AMARO JUN-
TO A FREGUEZIA hfartim Rodrigues . . . . . .
SANTO AMARO . . PAULO GONÇALVES . . . . .
SANTO AMARO . . PEDRO DOMINGUES . . . . .
Santo André a S. Paulo Amador de Medeiros . . . . . .
SÃO LOURENÇO . . JOAQUIM PEREIRA (INDIO) . .
SÃO LOURENÇO . . Miguel Borges (Indio) . . . . .
SÃO LOURENÇO . . MANOEL DE SIQUEIRA (INDIO) .
SÃO MIGUEL . . . AMADOR BUENO . . . . . .
SÃO MIGUEL . . . BARTHOLOMEU BUENO ....
MARIA ALVARES (VIUVA MA-
>> >9
. . . NOEL EIANES . . . . . .
São Miguel . . . . Maria Alvares . . . . . . . .
" Pedro (Cantareira) Appolonia Maria do Pillar . . . .
>> >> 19
Antonio Váz Pinto Ribeiro (Herd.) .
Fructuoso Furquim de Campos . .
Francisco Monteiro de Gouvêa . .
SÃO PEDRO (CANTA-
REIRA) . . . . FRANCISCO XAVIER PEDROSO .
SÃO PEDRO (CANTA-
REIRA) . . . . Ignacio Francisco . . . . . .
SEPETIVA (GUARU-
LHOS) . . . . FRANCISCO NUNES DE SIQUEIRA
SEPETIBA . . . . FRANCISCO RODRIGUES VELHO
>>
. . . . >> >> >>

SEPETIVA . . . . SEBASTIÃO BICUDO DE SIQUEIRA


Sitio Vermelho . . . Amaro Leite Moreira . . . . .
Sopi. . .eri Rio . . . Gaspar Gomes . . . . . . .
Sorocabussú Rio . . . Raphael Antonio de Barros (Pe.) .
SOROCAMIRIM . . BELCHIOR D E BORBA P A E S . .
BRAÇAS NP ANNO LUGAR ACTUAL

São Bernardo
ITAPECERICA (Original)
ITAPECERICA (Original)
ITAPECERICA (Original)
PENHA
PENHA
PENHA

Penha ,
Juquery
>>

99

97

JUQUERY

GUARULHOS
GUARULHOS
>>

GUARULHOS
Parnahyba
São Bernardo
Cotia
COTIA
LUGAR NOME

SOROCAMIRIM RIO . .
BELCHIOR D E BORBA P A E S .
>> 7>
Martim Paes Linhares . . .
. .
,> >> 79
, . . ,
97 ,7
.
SOROCAMIRIM . . MANOEL D E CAMPOS (CAP.) . .
>>
Mendes de Almeida . . .
RAPHAEL ANTONIO DE BARROS
SOROCAMIRIM RIO . (PADRE) . . . . . . .
SUINANDY . . . . AMAR0 L E I T E MOREIRA . . .
>>
. . . . Jorge Garcia . . . . . . . .
Taiquatira Ribeirão . . Domingos Silva Leme . . . . .
TAMANDATIBA RIO . AMADOR D E MEDEIROS . . .
Tamandaty Rio . . . . Antonio Preto . . . . . . .
>> >7
. . . Convento de São Bento . . . . .
>> >>
. . . João Rodrigues de Oliveira . . . .
77 >>
. . . José Ignacio Ribeiro Ferreira (Dr.) .
TAMANDATY RIO . MANOEL P R E T O . . . . . .
>> >t
I. Rocio da Camara . . . . . . . . .
TAPERA GRANDE . JOSE' MORAES CUNHA . . . .
Taquaratipi . . . . Alvaro Rodrigues do Prado . . .
TAQUIQUESSETUBA. CUSTODIO D E PAIVA . . . .
TAQUATAQUISSETY-
B A . . . . . . FRANCISCO D E PAIVA . . . .
Tmatiayra Tapera . . . Antonio Preto . . . . . . .
Tatuapé Ribeirão . . João Leite . . . . . . . . .
TATUAPE' . , . . MARIA L E I T E . . . . . . .
7 9
Ribeirão . Matheus Nunes de Siqueira (Padre) .
TATUAPE' . . . . THOME' RODRIGUES DA SILVA .
Teipigica . . . . . Antonio Raposo Silveira (T. General)
Tietê Rio . . . . . " Prado da Cunha . . . .
79 1,
. . e . . Claudio Furquim . . . . . . .
19 >f
. . . . . Ignacio Azevedo Silva (Padre) . .
>> 79
. . . . . Izabel Rodrigues . . . . . . .
>> >>
. . . . . João de Chaves Leme . . . . .
>, 97
. . . . . Manoel Fernandes Velho . . . .
BRAÇAS ANNO LUGAR ACTUAL

4500 4500 COTIA


,>

PARNAHYBA
Cotia

COTIA
PARNAHYBA
>>

Penha
SÃO BERNARDO
N. S. do 10'
São Caetano
Capital
Ypiranga
CAPITAL

GUARULHOS
Ibiambura Rio
JARAGUA'

SANTO A M A R 0
N. S. do O'
Penha

Penha

Penha
31

Belenzinho
Penha
19
564 RELACÃODAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR NOME

Tietepuera . &lnilaMaria de Siqueira . . . . .


ANTONIO R A P O S O SILVEIRA
TIETEPUERA . . . (TTE. GENERAL) . . . .
Tietepuera Rio . . . José Antonio da Silva (Alfrs.) . .
Tijucussú . . . . . Antonio de Freitas Branco . . . .
JOSE' IGNACIO RIBEIRO F E R R E I =
TIJUCUSSU' . . .
TRAIÇÃO CAB. RIBEI=
RÃO . . . . . BRAZ RODRIGUES ARZÃO (CAP.)
TRAIÇÃO CAB. RIBEI=
RÃO . . . . . Domiilgos Gomes Albernaz (Padre) .
TREMEMBE' . . . BERNARDO JOSE' DA CUNHA .
>7
. . . Jeronymo Fernandes de Lima . . .
3 >
. . . José filarques . . . . . . . .
>>
. . . l\laiioel Jost. da Encarnação . . .
Ubahatibaia Rio. ., . Francisco Nunes de Siqueira . . .
Una Rio . . . . . Manoel tle Campos (Cap.) . . . .
URURAHY LAGOA . ANTONIO DO PRADO CUNHA . .
Utatyaia Morro . . . Silvestre da Silva Carneiro . . . .
Uvutantan . . . . Indios Ibatata t . . . . . . .
UVUTANTAN . . . JORGE MOREIRA . . . . . .
Verde Rio . . . . . Francisco Pinheiro Sepeda . . . .
>f >>
. . . . . João Bicudo Espirito Santo . . .
Ypiranga . . . . . Amador de Medeiros . . . . .
>>
. . . . . Antonio Fernandes Nunes . . . .
" Campo do . . 9 >> >>
. . . .
>>
. . . . . " Rodrigues de Almeida . .
7f
. . . . . Ignacio Xavier ~ l r n e i d aLara (Tte.) .
Yt
. . . . . Jorge Moreira . . . . . . . .
>>
. . . . . José da Silva (Padre) . . . . .
YPIRANGA . . . . LAZARO RODRIGUES P I Q U E S .
YPIRANGA CABECEI-
RAS . . . . . JOSE' DA S I L V A GOES . . . .
N." ANNO LUGAR ACTUAL

80 5- 8-1710
118 1770 Belemzinho
125 1782 São Caetano

125 20- 2-1782 YPIRANGA

68 11- 2-1675 SANTO A M A R 0

¶> >>

SANT'ANNA
>> 9 >

?> >>

>> >>

Guarulhoç
Parnahyba
P E N H A (ORIGINAL)
Cotia
Pinheiros
PIN-HEIROS
Penha
>>
566 RELAÇÃODAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL

LUGAR NOME

YPIRANGA CABECEI=
RAS . . . . . Mauricio de Castilho . . . . .
Ypiranga Campo do. . Bartholomeu Fernandes de Faria . .
>> >f 19
. . .
Ignacio Xavier Almeida Lara (Tte.)
17 >> 19
. . José da Silva (Padre) . . . . .
YPIRANGA (Campo do) JOSE' VAZ D E CARVALHO (DR.)
YPIRANGA (Campo do) Pedro Nunes . . . . . . . .$
>>
Corrego . José da Silva Brito . . . . . .
97
Estrada do Antonio Rodrigues Medeiros . . .
YPIRANGA RIO . . ROCIO DA CAMARA . . . . .
RELAÇÃO DAS SESMARIAS
CONCEDIDAS NA CAPITAL 567

BRAÇAS NeO ANNO LUGAR ACTUAL


DISCURSO DE P O S S E
PROFERIDO E M SESSÃO DE 5 DE JULHO
DE 1928.

POR

AMADEU DE QUEIROZ
BRASILEIRO, DE MINAS GERAES, MEMBRO EFFECTIVO
DO INSTITUTO, BELLETRISTA E HISTORIADOR
DISCURSO DE POSSE

Exmo. Sr. Presidente,


Illustres consocios,
Meus senhores.

O entrar neste recinto, dois sentimentos me dominam,


um de reconhecimento pela honra de me assentar
a vosso lado - honra que me foi concedida pela
gene~osidadedo meu distincto amigo e nosso il-
lustre presidente, e pela vossa benevolencia. . . O
outro, o da certeza de que nada mereço e de que
nenhum trabalho vos posso apresentar que me re-
commende . O primeiro sentimento,$ todo intimo,
me impõe a gratidão e o dever de vos apresentar os meus sin-
ceros agradecimentos e o segundo de esforçar-me no sentido
de, em qualquer tempo, corresponder á vossa espectativa.
Os trabalhos que aqui se executam, na reconstituição his-
torica de nossa terra, exigem obreiros de todas as caeegorias,
c m o acontece na construcção dos grandes edificios, onde os
architectos planejam, os artistas executam e os serventes tra-
balham na materia informe das argamassas; porisso, embora
o meu nenhum valor me diga que aqui não é o meu logar,
âcceito o que me não pertence por direito, para obedecer a de-
slgnios mais elevados que os meus e as ordens dos que me
devem dirigir.
Deante de vós, cultores da historia - o grande genero
literario que Cicero chamou: testemunho do tempo, luz da ver-
dade, escola da vida - sinto me animarem as esperanças e
os ardores da minha mocidade e dominar-me então o desejo
sincero de vos pedir orientação e estimulo para vos auxiliar
na grande obra de reconstrucção historica integral de nossa
patria. . . E essa reconstrucção é uma necessidade imperiosa
e urgente - o Brasil precisa, quanto antes, ser revelado pela
sua historia detalhada com firmeza, fixada no seu tempo e na
sua grandeza ; precisa ser levantado no conceito de seus filhos
pelo que fizeram, por nós, os antepassados.. . Urge que se
levante uma barreira contra a sanha de humilhação e de ridiculo
que move a literatura ligeira, a imprensa vulgar e a eloquencia
leviaila dos que só vêem a inferioridade e atraso na nosso vida
social.
A nossa historia, infelizmente, não está feita de todo; os
seus factos e os seus personagens ainda não foram reconsti-
tuidos definitivamente; nada se tendo feito, portanto, sobre a
nossa individualidade e, de nenhum modo demonstrado o nosso
valor - cada qual, que escreve, cria o que entende, inventa,
falseia uma ve~daide apenas revelada - ao sabor do sezi ca-
racter, conforme o seu optimismo, o seu pessimismo, o seti
despeito, ou a sua leviandade. Dahi os falsos historiadores, os
falsos romancistas, os professores falsos e os jornalistas peri-
gosos. Uns exaltam, engrandecem, outro amesquinham e ridi-
cularisam; alguns vertem contra o mundo social todo o fel da
sua hypocondria, a atra-bilis do seu despeito, geradora dum
palavriado resumbrante a sarcasmo e que mal dissimula a ancia
pela notoriedade!. . . Dahi os livros de historia fraudulenta, de
ficção naturalista absurda, onde os personagens, desvirtuados
e deslocados do seu tempo e de seu meio, ficam reduzidos no
conceito do leitor; annullados irremediavelmente pela impressão
que delles recebem aquelles que, por meio de taes livros, ad-
quirem os seus primeiros conhecimentos historicos e sociaes.. .
E esses livros, que já não são poucos - pela sua natureza,
pelo seu genero literario adoptado, pelo escandalo que resum-
bram - têm entrada facil onde nenhum livro verdadeiro jamais
logrou entrar. ..
Estas idéas que me occorrem e a impressão que me ficou
de leituras meditadas e o muito que tenho observa&, aqui me
trazem a clamar contra um crime que está impune, um crime
de lesa-patria, commettido pelos moços, pela nobresa da vida,
pela alma generosa dos que são grandes porque são puros.. .
São elles, os que dirigirão depois - aquelles que malsinam,
que aviltam com as ironias e deshonram com o ridiculo, uma
patria que é sua; patria nova que se Ihes conchega pela necessi-
dade de amparo e pelo desejo de aprender.. . E o que elles,
então, praticam com ella é tão perverso como se zombassm
da ingenuidade das crianças, ou do soffrimento dos doentes!
Poderão contestar-me com a conhecida divisa da comedia
-O Ridendo - de Santeuil, poderão demonstrar que ella é
um principio ou uma verdade : mas se o for. só poderá ser per-
cebida pelos espiri~osapurados, capazes de comprehendel-a e
de sentir as agulhadas deprimentes da ironia - excellente arma
de combate para com ella se trucidarem, uns aos outros, os
nossos literatos divulgadores, mas nunca para ser voltada contra
t r ignorancia, a ingenuidade ou a doença do homem trabalhador
da nossa terra.
Aos moços que nos julgam, nada lhes agrada, tudo é futil,
irrisorio e inferior na sociedade brasileira onde o homem é qua-
si sempre imbecil e a mulher algumas vezes impudica e carola.
Se os nossos patricios revelam costumes, seguindo os impulsos
peculiares aos homens de todas as partes e de todos os tempos
- são macacos; se obedecem naturalmente á propria orientação
- são bobos; se favorecidos pela fortuna que aqui se adquire
como nos contos das Mil e uma noites - são ridiculos caipiras-
ricos. . . Os nossos habitos em familia e na sociedade; os nossos
trabalhos ; a nossa literatura; os nossos esportes ; as nossas es-
colas; a nossa politica; a nossa musica e o nosso theatro; todas
2s consequencias do progresso ou da vida moderna, que são,
afinal, de todas as terras, peculiares aos homens todos, porque
são da humanidade - aos seus olhos se transformam em de-
feitos unicamente nossos e dahi resulta sahirem elles a repetir
que só nós imitamos, só nós copiamos, só nós não temos capa-
&dade, nem arte, nem sciencia, nem moral.. .
Aonde estão os homens de espirito severo e com prestigio
necessario para mostrarem aos moços onde está o Brasil que
todos procuram, que todos idealisam e que ninguem diz como
é ou como deve ser? Serão os velhos, com o prestigio dos seus
cabellos brancos, com a visão limitada pela desesperança do
tempo, os que têm de dizer, aos moços, que o Brasil é muito
forte, muito são e muito original!. . . Serão elles, os que se
cncontrarn á margem do caminho da vida, os que têm de dizer
aos que passam: - "a nossa patria não revela só aviltamento
de caracter, miseria physialogica e imbecilidade ridicula!" Por-
que não hão de sentir, os viandantes do futuro, este sopro vital
que nos anima, ou essa rajada de progresso e de coragem que
desvenda o segredo da nossa f o ~ ç acomo natura e do nosso
destino como raça? !
Ninguem Ihes terá dito ainda que a nossa nacionalidade
sc fez pelo impulso formidavel do meio - na solidão das
brenhas e nos burgos exilados da civilisação?. . . Mas elles sa-
bem tudo isso e devem sentir mais que nós, apenas não se de-
tiveram na meditação e se deixaram arrastar pela furia da no-
toriedade ou pela ancia juvenil de ver realisado num lustro a
obra que só os seculos podem realisar!. . .
0 s tempos são sempre novos para todas as nações e a
Brasil começa agora a ser conhecido e explorado nas suas ver-
dadeiras riquezas e na sua verdadeira força; não as falsas ri-
quezas do urbanismo cosmopolita; do caipirismo feito arte,
criando as escolas complicadas dos escriptores indecisos, nem
da mythologia truncaida dos sacys e dos caaporas, mas da pu-
jança de uma coragem que, a ferro e fogo, enfrenta a selva-
geria das selvas e planta e colhe e edifica cidades da noite para
.
o dia.. a riqueza da raça que se accentua nos seus caracteristi-
cos originarios e, pouco a pouco, vae levantando a nação na
grandeza do paiz . . .
Muito se teria a dizer sobre a obra de descredito e ridiculo
oue se criou contra a desconhecida patria, mas a nossa intenção
rião é abusar da vossa'paciencia e generosidade, fazendo o his-
torico completo ou minucioso deste momento infeliz que tanto
custa passar; a nossa intenção é apenas assigna'lar uma ten-
dencia, de resto muito cmmentada, e felizmente muito con-
demnada por todos que sabem ler, sabem meditar e sabem de-
duzir; queremos só resumir, em dois factos, essa tendencia
generalisada entre os nossos literatos actuaes - a infezada
tendencia de humilhar e deprimir tudo que é nosso.. . Quere-
mos lamentar a popularidade que alcançou certo personagem,
em má hora criado, porque tem sido a nossa vergonha, e pro-
testar contra a divulgação pouco authentica dos nossos homens
do passado grandes figuras historicas - com astucia arrancadas
do seu tempo e do seu meio, ridiculamente desfiguradas e por
fim transformadas em personagens inverosimeis de romance
vendavel . . .
A historia do homem que passou, assim como a historia
do seu tempo e do seu meio, se reconstitue graças á curiosidade
insaciavel do historiador; pelo seu poderoso eçpirito de inves-
tigação alliado á rara intelligencia - força que mantem as
qualidades moraes que lhe são imprescindiveis - o amor da
verdade e o culto da justiça.
-4 paciencia e dedicação, energias que alentam o trabalho
ria investigação de todas as fontes da historia: - livros, do-
cumentos publicos, tradições oraes, inscripção, medalhas, etc.
- são os mais poderosos auxiliares d'aqudles que assumem,
perante a patria, o compromisso tremendo de escrever a sua
t~istoria.. . E o historiador, amparado pela verdade, pela justiça
e f,ontalecido pela meditação, produz a sua obra onde predomina
a feição contemporanea, onde se desenham as physionomias
dos personagens que, por fim, se movimentam e readquirem a
sua paixão, seus costumes e as suas virtudes.
E assim o personagem historico vive de vida intensa, de-
marcada pelos acontecimentos notaveis que fixaram a sua época
e pela minudencia das suas memorias escriptas.. . a sua vida
É dissecada, fibra por fibra, pelos historiadores; estabelece-se
a influencia que exerceram sobre a sua época; frisam-se-lhes
os caracteristicos minuciosamente, tanto da intelligencia como
dos sentimentos e do corpo; anndam-se os seus gestos habi-
tuaes, os seus tiques, suas phrases; tudo quanto lhe diz res-
peito, emfim, é registrado no formidavel trabalho da recons-
trucção historica. . . E ao paciente labor do homem tenaz, cal-
mo e alheio ás vaidades, que é o historiador - os personagens
historicos se criam, se integralisam e se mantêm atravez dos
tempos. . .
Ora, esse personagem, feito pedaço a pedaço, advinhado
lia sua psychologia, tem de failar no seu tempo e de agir no seu
meio; e recompor o tempo e o meio são outros exhaustivos
trabalhos do historiador que os estudará tambem, em todos os
seus detalhes, e os advinhará por fim, para tirar a prova da
verdade integral do personagem reconstituido. . .
Se assim 6, pois, meus senhores - cabe aqui muito bem
o meu protesto contra os romances que, geitosamente, se vão
insinuando como historioos, conquistando assim a admiração dos
que ignoram a nossa verdadeira historia e foram attrahidos
pelo prestigio de escatidalosos typos femininos, m~liciosamente
explorados em proveito da notoriedade, etc.. . .
0 s trabalhos literarios, no entanto, não devem ser feitos
e publicados unicamente com o intuito de satisfazer a vaidade
de seus auctores e muito menos para auxiliar a sua ambição
pecuniaria, mas se forem produzidos com essas inconfessaveis
intenções, os nosso's escriptores terão de offerecer sempre mer-
cadoria falsificada e mal acabada, de accordo com as exigencias
do mercado, constituido por um publico ignorante e apressado.. .
Escrever alguem fraudulentamente, em rico estylo, é uma co-
vardia af rontosa.
H a pouco tempo se publicou um livro, genero romance
historico, onde o seu auctor vulgarisou á sua moda, segundo o
seu gosto, conforme o seu interesse, empolgante periodo da
nossa historia. O poeta que já fizera poesia lyrica pastoril
pouco authentica, fez-se historiador e habituado ás ligeiresas
da verso irresponsavel fez historia consoante. . . E esse livro.
sobre o qual é preciso que se reflicta, deixa indiscutivelmente
120 espirito do leitor ignorante uma idéa ridicula e mesquinha
do que foram alguns dos nossos grandes homens do impaio. . .
Utilisa-se, o auctor, dos nossos personagens e desenha-os, como
se disse - mesquinhos e ridiculos - sem attentar na verdade
cio que dles foram, mas conforme as conveniencias de um suc-
cesso de livraria.. . E emquanto o Patriarcha é exhibido como
um cafageste; Chalaça como o primeiro homem dum reinado e
Lsma Pompadour sertaneja é explorada no seu nome lendario
e na sua conducta, em proveito de uma publicação literaria, o
leitor incauto, ignorante, mas curioso por saber o que fomos,
adquire falsos conhecimentos historiccvs, formando para sem-
pre falsissimo juizo sobre os nossos homens publicos do passa-
do, e ainda sobre o meio em que elles viveram e fiwram a nossa
~ndependenciapolitica.. . Dos estudos e das investigações para
a feitura desse romance, que foi a industria principal do seu
auctor, resultaram uns folhetins sobre o mesmo ausumpto -
uma especie de sub-produoto, como se diria em linguagem de
iabrica, que devia ser rejeitado porque levam ainda o seu leito1
inexperienk por veredas incertas, que não chegam a conclusões
lisonjeiras á verdade historica. . .
A historia exige do historiador muita consciencia, a par
do sacrificio total da vaidade propria; muita sinceridade, muita
ponderação e muitissima perspicacia e astucia para que possa
ser advinhado o romance empolgante que ella encerra. . . O
romance historico deve ser historicamente localisado, desenvol-
ver-se no seu tempo e o seu autor só poderá fazel-o contem-
poraneo, no seu modo de contar, no seu estylo individual, nun-
ca, porém, modernisando os personagens, os seus costumes e
2 sua linguagem.

Esse livro, pois, é um elemento de descredito para o passa-


do; não ensina como verdade incontestavel, não emociona cano
ficção romantica, mas deixa no espirito dos que o procuram,
attrahidos pelo seu titulo, a impressão de que o Brasil, nesse
tempo, foi dirigido por uns patifes soltos e sem contas a dar. . .
Vejamos agora o outro elemento de menospreso, injuria e
rebaixamento de nossa terra que é o genero literario chamado
- regionalismo, - muito explorado a proposito de tudo e mui-
tas vezes, sem nenhum proposito. . .
O naturalismo, adaptado á literatura, quer seja no roman-
ce, no conto ou no verso, sendo executado pela consciencia do
escriptor, nascido da sua observação exacta e da sinceridade
da sua revelação é, incontestavelmente, uma contribuiçáo his-
torica porque reproduz exactamente uma época e estuda os ho-
mens nos seus habitos, nas suas virtudes, no seu ridiculo, na
sua politica, nos seus sentimentos religiosos, no seu estado de
civilisação, emfim. E como esses personagens não se podem rea-
lisar individualmente, embora existam na sociedade, se trans-
formam, naturalmente, em ficção - passam a ser imaginarios
- mas de facto existem numa época e num meio e vivem de
vida real, historica, revelada pelo escriptor em todas as suas
minudencias.
Esse genero está sendo largamente explorado no Brasil;
os livros se succedem, ou autores (se revelam inesperadamente,
mas todos trabalham da mesma maneira, isto é, photographando
npenas, porque a sua obra é só photographia sem cor, sem alma
F sem o sentimento da vida. 0 s seus personagens quando, acaso,
?e movimentam são ainda cinematographicos - reaes mas es-
curos; vivendo de vida unica, buscando uma intenção, uma
razão de ser, o que jamais conseguem porque foram copiados
cio natural. Dessa arte de photographia nasce, logicamente, um
estylo de precisão, com o qual o autor movimenta a sua figura
e age com ella; com o seu estylismo engana o leitor e ri, por
conta propria, da inutilidade e estupidez da sua criatura.. . ri
sozinho para lhe dar vida e contagiar o leitor do mesmo espas-
mo. Dahi resulta, infelizmente, uma literatura que não é de
critica nem de humor, mas de troça e de debique. Em geral,
esses escriptores de bom estylo adquirem, desde logo, a fama
de engraçados e observadores; o seu talento engenhoso e astuto,
sabe dar o cunho de realidade a personagens ingenuos, inuteis
ou estapafurdios que se movem, com notavel naturalidade, no
meio indiscutivelmente real e banal. . . E é porisso que muita
gente acredita em taes autores, o que, afinal, se explica e se
justifica, porque a mentira delles é pregada com muita verdade
Entre os nossos livros dessa natureza existe um cuja fi-
gura principal é uma photographia - o Géca Tatú. Este per-
sonagem não foi Criado, o seu autor apanhou-o em flagrante,
num instantaneo bem detalhado da sua Kodak magica ; revelou-o
aos seus patricios e estes, sem mais analyses, se enthusiasma-
ram definitivamente com a verosimilhança do modelo.. . O
Géca é um crime commettido por um intdkctual de cumplici-
dade com um patriota. O primeiro, em represalia a um incendio
que lhe destruiu as mattas, foi buscal-o á beira de um corrego,
photographou-o e o levou depois, arrastado á força para a arena
de um circo de cavallinhos, cujas archibancadas o receberam
ás gargalhadas!. . . Nesse trabalho, o intellectual se viu seria-
mente embaraçado pela relutancia do doente miseravel que não
podia caminhar, mas o segundo - o patriota - com intuitos
ardilosamente eleitoraes e para provocar a risota, o que sempre
toi uma das grandes sati~~façóes da sua vaidade, empurrou de
sima vez, com a brutalidade de algoz, o misero padecente! E
hoje, esse typo de doente abandonado, de ignorante marasmado,
lerdo e boçal, em vez de provocar a nossa repulsa ou commi-
seração, passou a ser a figura symbolica, da nossa iniciativa e
dc nosso patniotismo! N o entanto, o Gka-symbolo nacional-
C: um individuo raro entre os nossos homens do campo, onde
n Brasil progride, onde se planta e se colhe, onde se cria e de
onde vem a nossa fartura e a nossa riqueza.. . é um typo qui:
existe isoladamente, um aqui, outro ali, mas isso apenas nas
zonas de progresso paralysado e de terra exhaurida.. . O Géca
6 quasi uma ficção muito bem ageitada pelo talento literario
para ser impingida como personagem authentico e vulgar; e é
porisso que não pode, de mado nenhum, ser a imagem do nosso
trabalhador do matto, nem tão pouco - imbecil como foi pin-
tado - a do eleitor nacional! O resumo de tudo, emfim, e o
ciue ê penoso verificar-se é que o photographador do Géca o
ermou cavalleiro da mamparra, cobriu-o com o manto vistoso
do seu estylo - o que lhe escondeu as doenças e a miseria -
e assim fez delle um palhaço, a custa do qual, muito brasileiro,
ctê hoje, se diverte -- pelos livros, nos thleatros, nos jornaes
e nas canções, sem ter apparecido, um, ao menos, que se lem-
brasse de recolher o imbecil enfermo a um hospital de caridade
e que apontasse, ao publico, o livro onde a sua lamentavel his-
toria em má hora foi escripta. . .
Livros como esse, no são fadados a existir sem-
I r e porque ha nelles photographias de scenarios e costumes de
nossa época; livros que, volvidos os seculos, poderão ser bus-
cados pelos pesquisadores da historia como fonte de informa-
ções do seu tempo; livros nocivos não obstante, porque são
falsos quanto ao homem como elemento social e inferiormente
orientados quanto ao patriotismo, pois semeiam o descredito e
o ridiculo, destroem a confiança, espalhando o desanimo e crian-
do, por fim, a idéa falsa pelos seus assumptos inverosimeis e
pela sua psychologia arrevezada.
O s aventureiros audaciosos, os dissimulados falsificado-
ies que aqui aportaram, vindos de todas as partes do mundo,
e aqui permanecem, prosperam em fortuna e renome, abusando
das nossas leis, da nossa boa fé e da nossa hospitalidade, nunca
provocaram as phrases habeis, ironicas, condemnatorias dos
nossos escriptores.. . Os defeitos reaes da nossa sociedade, os
ridiculos de ilossos costun~es,a prosapia e a singeleza, a ve-
lhacaria e a burrice da nossa élite, jamais mereceram de taes
escriptores as zombarias mordentes com que elles tratam os
caipiras ignorantes e os abandonados da civilisação que, incons-
cientemente, vão passando deante da sua objectiva de photo-
graphos apressados. . .
O Géca e o seu autor se tornaram celebres, mas nós não
tios conformamos com o delicto commettido e nem nos sub-
mettemos ás tyrannias do talento dictador. Acima de tudo está
3 verdade serena, nascida da observação meditada e da tole-
rancia philosophica.. . Nós não temos nem talento, nem habi-
lidade, nem tempo e nem idade para as grandes lutas do es-
pirito; somos sós e sem forças necessarias para arrancar a pra-
ga que deitou fundas raizes no conceito nacional, mas se não
110s faltassem essas qualidades, todo o nosso esforço, todas as
nossas aptidões seriam applicadas no combate sem treguas a
esse typo de cretino parasitado, para lhe destruir, definitiva-
mente, a popularidade. Mas incitamos os moços, incitamos os
fwtes ao combate - pelo patriotismo, pela grandeza da terra
tão nova e tão vigorosa - na certeza de que não lhes falta
vem talento, nem tempo, nem habilidade, nem força e nem co-
lagem para matar de um só golpe o Géca imbecil e doente.. . O
Géca cuja agonia, não obstante, começará no dia em que alguem
venha demonstrar que elle merece muito mais uma lagrima de
commiseração, que esse sorriso ridicuIarísador e trocista que
o persegue, desde quando, maldosamente, o arrastavam do seu
barranco para o circo da ironia nacional.. .

A obra da reconstituição historica é urgente porque só ella,


determinando definitivamente os valores do passado, influencia-
rá poderosamente sobre o presente e poderá, assim, suster a
marcha afoita dos literatos, disfarçados em historiadores e na-
furalistas, que vão pelo seu caminho ás cegas, sem norte nem
intenção. Mas a obra de reconstrucção não se faz num dia;
muito trabalho, muito tempo custará o restabelecimento da ver-
dade integral! Embora! ella ha de se fazer porque os verdadei-
ros historiadores existem, não descansam e os institutos náo
morrem e vão reunindo e perpetuando os esforços dos que tra-
balham com verdade e consciencia pela patria commum. . . E eu
sei que todos que aqui trabalham fazem-no animados por esses
nobres ideaes; sei que a norma desta casa é a honesitidade lite-
raria e que os principias, as idéas e as convicções que aqui se
agitam, não são as daquelle historiador de que fala Luciano:
- sem pahia, sem pantido e sem crença.. . E eu sei que :i
obra de reconstrucção que é o meu desejo vehemente, está se
fazendo, pouco a pouco, continuamente e porisso aqui fico, para
vos auxiliar cun~prindoas vossas ordens, obedecendo a vos-
sa sabia direcção, no desejo sincero de concorrer comvosco
para a revelação da patria que foi e será grande, hoje, infeliz-
mente, ridicularisada e apresentada ao mundo, pelos scientistas
suspeitos, como um vasto hospital!
Trabalhemos, pois, conscienciosamente, para que se fiq~ie
sabendo com verdade, o que é e o que foi o brasileiro.

A. D E QUEIROZ.
BENEDICTO CALIXTO
TRAÇOS BIOGRAPHICOS

POR

JULIO CONCEIÇÁO
MEMBRO BENEMERITO DO INSTITUTO
BENEDICTO CALIXTO

S S E notavel pintor nasceu na Villa de Conceição


[de Itanhaern, Estado de São Paulo, em 14 de Ou-
tubro de 1853. Foram seus paes João Pedro de
- - Jesús e D. Anna Gertrudes Soares de Jesús: (Vide
"GENEALOGIA PAULISTANA" de Dr. Gon-

-
zaga Leme, Vol. 11, titulo "Lemes", pragrapho
6." em diante, e "CHRONOLOGIA PAULIS-
TA", de Jacyntho Ribeiro, vol. 11, pagina 268 e
seguintes). Casou-se em 14 de Maio de 1877, na mesma Villa
de Conceiç50 de Itanhaem, com D. Antmia Leapoldina de
Araujo, havendo desse consorcio 3 filhos: Fantina, Sizenando
c Pedrina; deixa os irmãos Capitão João Pedro de Jesús, con-
siderado publicista, sob o pseudonymo de JORGE DE MEL-
L O ; Joaquim P d r o de Jesús ; D. Maria Izabel dos Santos,
viúva, e D. Amelia de Jesús.
Ainda crança, em Itanhaem, demonstrau gosto accentuado
para o desenho e para a pintura, Especialisando-se, mais tarde,
na arte da pintura, tornou-se. conhecido em São Paulo e em
Santos, onde então residiu. Um dos trabalhos de maior desta-
que na primeira phase de sua vida artistica, foi a pintura do
tecto do Theatro Guarany, de Santos, construido em 1881, pelo
engenheiro Dr. GarCia Redondo. Até então, os seus trabalhos
eram simplesmente de curioso, fructo espontaneo de uma na-
tural vocação.
O Dr. Garcia Redondo, satisfeito com a pintura executada
no theatro, communicou ao Visconde de Vergueiro, que se
achava em Paris, as aptidões do jovem artista. O Visconde de
Vergueiro, brasileiro de linhagem digna, illustre e magnanimo,
convidou, ás expensas suas, Benedicto Calixto para estudar de-
senho e pintura na grande Capital. Sendo acceito o convite,
sua partimda deu-se no mesmo anno, 1881. Lá, em Paris, estu-
dou na Acade9nie Julicn, tendo como professores Goustave
Iioulanger, membro do Instituto ,de França, Lefèvre e Robert
Fleury. Estudou paisagem com o professor Sansgerock e fre-
q~~entou, durante um anno, an*es de ser matriculado na Aca-
íiemia, o atelier do professor Jean François Raffaelli.
Na Academia, foi logo para o curso de modelo vivo e com-
posição; no segundo anno obteve o 2." lugar em um concurso
de pintura historica; um dos seus quadros, "LOIN DU
FOYER", exposto na Academia, conquistou muitos elogios,
em aula, dos professores Boulanger e Lefèvre, que eram dos
mais severos julgadores.
Desde 1885, após a sua volta da Europa, produziu muitos
quadros. de variados generos, que são, aliás, bem conhecidos
no Paiz e no extrangeiro. Tendo nascido e vivi'do sempre no
littoral, foi o "pintor c10 mar"; é consideravel o numero incom-
paravel de marinhas por elle deixado. Foi um estudioso da
nossa historia e amanbe das nossas tradições, dedicando-se á
pintura antiga, de costumes regionaes, e, ultimamente, á pinltu-
ra sacra. As suas principaes producções são :

QUADROS HISTORICOS
"Fundação de S . Vicente" - Museu Paulista ; "Naufra-
gio do Syrio c ultiwtos momentos de D. /osé de Camarg.o Bar-
ros" - Palacio da Curia - São Paulo; " A Caminho de Pira-
tininga" - Palacio da Conceição, Rio de Janeiro; " A Frota
de Martinz Affonso no porto das Náus" - Museu Naval, Rio
de Janeiro; "Anchieta escrevendo sobre a areia o seu poema á
Virgem Santissima" - Collegio de I t ú ; "Pedro Corrêa e o seu
ca~ninhode Dainasco" - Igreja de Santa Cecilia, São Paulo;
"Martyrio e morte de Pedro Corrêa e seu covnpanheiro" -
Igreja de Santa Cecilia, São Paulo; " A fundação da Villa de
Santos" - Palacio da Bolsa, Santos; " A visão dos Hollande-
ues" - Convento 'da Penha, Victoria, Estado do Esp. Santo;
" O milagre da secca" - Convento da Penha, Victoria;
" A chegada de Frei Palacios" - Convento da Penha, Victoria;
" A Gruta de Frei Palacios" - Convento da Penha, Victoria;
" O Padre Bartholomeu de Gus~não, o Voador" - Camara
Municipal $de Santos ; "Do~izingosJorge Velho", "Anchieta".
"Pedro Prinzeiro" e "José Bonifacio" - Museu Paulista;
" B r a z Cubas" - Camara Municipal de Santos ; "Martinz A f -
fonso de Souza" - Camara Municipal de São Vicente; " N a
cabana de Pindabussú", esboceto - Familia B. Calixto; " A n -
clzieta e Cunhanzbeba", esboceto - Familia B. Calixto; " A n -
tiga Casa do Conselho" - São Sebastião; "Porta Monumen-
tal"; "Velho Solar dos Regos Baldayas; "Velho Convento de
São Francisco, em São Sebartião"; "Ruinas do Fórte do Ara-
~ á "- São Sebastião ; "Marechal Olyntho", ultimo governa-
dor da praça de Santos - x x x ; " O Poço de Anchieta", eun
Itanhaem - Familia B. Calixto; "Ruinas da Igreja de Anchie-
ta", em Itanhaem - x x x ; "Itaguira - Fonte dos frades", em
Itanhaem - Familia B. Calixto; "Rzcinas do Convento de N .
4
S. da Conceição", em Itúmhaem - x x x ; "Ruinas do Fórte de
Cabedello", Parahyba do Norte - Instituto Historico e Geo-
graphico de S. Paulo; "Epopeia dos Bandeirantes", Compsi-
ção para um grande vitral do Palacio da Bolsa, em Santos;
"Naufragio" - C. Escobar; "VC11zo solar de Frei Gaspar" e
"Ritinas da capella Frei Gnspnr" - Instituto Historico e Geo-
graphico de S. Paulo.
QUADROS D E GENERO

"Longe do Lar" - Visconde de Vergueiro; "Revoadas de


Maio - xxx ; " O Ea~alzgelho nas Selvas" - Familia B. Ca-
lixto; " O s Falquejadores", premiado na Exposição de São
Luiz - Pinacotheca do Estado do Pará; " A Folia do Divitio"
- Dr. José Carlos de Macedo Soares, São Paulo; "Passari-
nlzando" e "Ar~+tandoa arapuca" - Prefeitura do Pará;
"Panora.ruza do Porto de Santos" - Associação Commercial de
Santos; "Inundação do Braz" - Museu Paulista; "Santos a
v01 d'oiseaux", (premiado com medalha de ouro na Exposição
Nacional de Bdlas Artes, do Rio de Janeiro - Companhia
Docas de Santos ; "Santos e m 1822" e Santos enz 1922" -
Palacio da Bolsa, Sauitos; "Antiguidades" - Centro de Scien-
cias, Letras e Artes, Campinas; "O T i o Clemente" - xxx.
"Leitura" - x x x ; "Velha Capella de São Gonçalo", São
Sebastião - Familia B. Calixto; "Ponta2 da Cruz", São Se-
bastião - x x x ; "Antigo Aqueducto", São Sebastião - xxx;
DESDOBRAMENTO DA T E L A SANTOS D E 1822, COM
O S SEGUINTES QUADROS:
"Ranclzo Grande" - "Terceira Igreja e Hospital da Mise-
rzcordia", "Quatro cantos e casa das Beatas", "Largo da Ma-
triz", "Collegio e Qzmrteis", "Pateo da Cadeia", "Casa do
Colzsclho", "Pelouri~zlzo e Arsena.! de Marilzha", "Fórte de
Itapenza", "Porto do Bispo", "Casa do Trem", "Capella de
Santa Catharina", "Casa fórte do tempo de Martint A f f o n s o
enz São Vicente", "Ruinas da Capella das Neves", "Ruinas
da Capella de Frei Gaspar", "Fazenda do Acarahú", "Aspecto
do Porto de Santos" - Camara Municipal de Santos; "O por-
to de Santos, antes do caes" - Benjamin de Mendonça;
"Praia do Consudado", onde se observa o antigo mercado, as
longas pontes de embarque e desembarque (anteriores á W-
trucção do caes, (da estrada de ferro inglezã, da Mesa de Ren-
dwi e das principaes firmas oommerciaes - Zerrenner, B u l m
8: Cia., Augusito Leuba & Cia. e outras)- offerecido por Julio
Conceição á C a m r a Municipal de Santos; "Capella da Graça"
- Arcebispo D. Duarte Lespddo, São Paulo; "Canto de
Praia", onde, em 1532, desembarcou Martim Af fosso - x x x ;
"Porto das Názls" - x x x ; "Porto Tzt~~ayarú" - xxx ; "Carro
d & boi" (2) - Farnilia Calixto; "Convento de N . S . da Con-
ceição" - Itanhaem - xxx; "Praia de Perzihybe e Traba-
liio de Saneaniento" - 1902 - offerecido pelo auctor a Julio
C'onceição; "O vulcão em Santos", no Macuco, Setembro de
1896 - Francisco Andrade; "O carro de boi" - familia B.
Calixto; " E v a no Paraiso" - Julio Conceição.
Transformou-se em primoroso desenho o plano delineado
pelo Presidente da Sociedade Protectora dos Animaes de San-
tos e São Vicente, afim de que pudesse ser perpetuada no brm-
ze a placa commernorativa (do 7.0 centtmario de São Francisco
de Assis, affixada no Convento de Santo Antonio do Vallongo,
em Santos, a 4 de Outubro de 1926.

QUADROS E PAINEIS SACROS

"Clzristo no Horto" - Consistorio da Irmandade dos


Passos, Santos ; " O Calvario", grande pailzel - Irmandade dos
Passos, Convento do Carmo, Santos; " A Vida e o Martyrio
de Santa Cecilia", com os seguin~esquadras: " O Baptis~zode
S . Valeria.rzon, " A apparição do anjo do Senhor", "Santa Ce-
cilia recebendo o véo", " O Martyrio e morte de Santa Ceci-
l~a", " O S fuizeraes nas Cataculutbas" - Igreja de Santa Ceci-
lia, São Paulo; " O s Papas Marfyres", 12 paineis - Igreja
de Santa Cecilia, São Paulo; " O s prinzeiros Martyres e os
Bispos de São Paulo", 30 paineis - Igreja de Santa Cecilia,
São Paulo; "Annunciação da Virgetiz", " O Calvario" -
Igreja de Santa Ephigenia, São Paulo; " O s peregrinos de
Ewm%nwn,- Igreja de Santa Ephigenia, São Paulo; "A Vida
G Martyrio de São Sebastião", com os seguintes quadros: "São
Sebastião restitúe a fala á neophita Zoé", São Sebastião o de-
f cnsor glorioso da Igreja", "A Co~~zmunlzãodos Martyres",
" O Interrogatorio", " A Privzeira Corôa de Martyrio", " A Se-
gunda Corôa de Martyrio", - Cathedral de Ribeirão Preto-
" A Ceia" e " O Lavapés" - Igreja Matriz do Amparo; "To-
hias e o Anjo", - Palacio Eipiscopai de São Carlos; " A Ca-
ininho de E.Intnaus", " O s pri~meirosMartyres da Eucharistia",
-, Igreja da Consolação, São Paulo; "Elias", "Ezequiel",
" O s doze apostolos", " O Baptisi~zode Jesús", - Igreja ma-
triz de Catandúva; "Pedro recebe do Divino Mestre o poder
t?spiritual da Igreja", "Paulo curado da cegueira por Ananias",
- Palacio do Cardeal, Rio de Janeiro; " A vida e nzartyrio de
São João Baptista", com os seguintes quadros: " S ã o João
Baptista o precursor", " S ã o João Baptista apostrophando H e -
rodcs", " A degollação de São João Baptista", " S ã o Pedro",
" S ã o Paulo", "Visitação", "Apparição do anjo a S ã o
2acharias", " A catninlzo de Eqnwcaus", " A traasfiguração",
"Annuncinção", " A descida da Cruz", "Nossa Senhora da
Conceição", "Chrhrto no Horto", Igreja Matriz de São João
da Bocaina; "A ceia de Erul..Inaus", "Aroé", "Melchizedeck",
-- Cathedral de Santos; " S ã o Affonso", - Convento dos Pa-
dres Redemptoristas da Apparecida; " V i a dolorosa" - Pala-
cio do Cardeal, Rio 'de Janeiro; "Quo Vadis Domine?" - Pa-
lacio do Cardeal, Rio de Janeiro; "Elias", "Eliseus", "Bea-
tus", "Notzius Alvares Pereira", "Santus Albertus" - C m
vento do Carmo, Santos; "Santa Thereza ouvindo a leitura da
vida dos santos", "Safzta Thereza letzdo para seus irwãos a vi-
da dos Jovens ~fzartyres","Santa Thereza e seu irmão e m bus-
ca do lutartyrio", "Santa Thereza e seu irmão, ernzitões",
"Santa Thereza orando na sepultura de sua ~nãe","Santa The-
?r-a entrando, aos 20 annos, para o convento das Carmelitas",
composição dos paineis para serem executados em azulejos, so-
bre a infancia de Santa Thereza de Jesús - Mosteiro do mes-
mo nome, São Paulo ; "Anchieta", "Manoel da Nobrega",
" Leo9zardo Nunes", composição dos vitmes para o Convento
de Itanhaern.
Benedicto Calixto, além de lecçionar particularmente, oc-
cupou, com grande brilho, a cadeira de professor na Escola
de Commerçio "José Banifacio", em Santos, e, ultimamente,
foi convidado para uma das cadeiras de professor da Escola
de Bellas Artes de São Paulo. Distinguiu-se como historiador :
escreveu artigos em jornaes, publicou memorias historicas so-
bre São Paulo, Santos, São Vicente, Itanhaem e littoral Pau-
lista, que estão transcriptas na Revista do Instituto Historico
e Geographico de São Paulo e na Revista Ido Museu Paulista.
Deixa, ainda, em seu archivo particular, outros trabalhos iné-
ditos, que ccvnstitúem copiosas fontes de informações sobre
nossa terra. As principaes publicações foram as seguintes : "A
Villa de Itanhaew" - mmographia; " A Igreja e o Convento
de N . S. da Conceição de Itanhaenz" - mem'oria historica; " A
Villa de Santo André da Borda do Cmtzpo e a priwzitiva povoa-
~ ã ode Piratininga", - estudo historico - Revista do Insti-
tuto Historico e Geographico de São Paulo; " O Padre Bartho-
lomeu - o voador - e a sua epoca", estudo historico - Re-
vista do Instituto Historico e Geographico de S. Paulo; "O
Padre Jesuino do Monte Carmello" - biographia; " O s pri~zi-
i-vos indios e os indios nzansos do nosso littoral, os Caiuás"
- Revista do Instituto Historico e Geagraphico de São Paulo:
" O s Sambaquis do littoral de São Vicente" - Revitsta do%u-
seu Paulista; "O Gm'to do Ypiranga", a proposito d o quadro
de Pedro Americo - Revista (do Centro de Sciencias, Letras
e Artes de Campinas; "A fortaleza de Cabedello", memoria
historica - Revista do Instituto Historico e Geographico de
São Paulo e da Parahyba do Norte; "Notas de Archeologia
Paulista", "Capitania de Itanhaem", memoria historica - Re-
vista do Instituto Historico e Geograiphico de São Paulo;
"Frei Gaspar, a fazenda do Acarahú, a capella e noticias ge-
nealogicas da fawilia de Frei Gaspar" - Revista do Instituto
Historico e Geographico de São Paulo; " O s privlzitivos aldea-
nzentos indigenas de Itanhae~a"; "Collectanea de docztmentos
nntigos sobre Santos, São Vicente c Ifirnhaenz; " O s Gdeões do
corsario Edztardo Feston no polpto de Santos"; "Santos e S ã o
Vicente saqueados por piratas"; " O s Izollandezes no Porto de
Santos EPFZ 1615"; "Histork de u m retabulo antigo"; " A s ar-
$?:asda cidade de Santos"; " A parochia de Itanlaaem"; "Chro-
nicas e tradições"; " A povoação da cidade de Santos, seus
fundado~es,seus edificios c instituições, segundo as chronicas
e tradições"; " O sertão e as wzinas"; "Rdiquias lzistoricas de
São Vicente"; " O s sambaquis de Itanlzaem e Santos", " A v e s
dc arribação" - Revista do Museu Paulista; " A r t e classica",
slras har~noniasnaturaes, a antlzropologia e a geometria appli-
cadas no estudo das Z>rllas artes; "Braz Cubas"; "Capitanias
Pazllistas"

Além destes trabalhos, publicou uma serie de contos e me-


niorias historicas, çob o titulo " C O S T U M E S DE M I N H A
TERRA". A maior parte d'elles têm sido louvados e transcri-
ptos em outros de homens de letras e de historiadores bem
conhecidos. Hajam vista, as bellas referencias que, sobre suas
producçóes, fez o conselheiro Ruy Barbosa em discurso profe-
rido n'um dos theatros de Santos.
Benedicto Calixto era socio honorario do Instituto Histo-
rico e Geographico de São Paulo, do Centro de Sciencias, Le-
tras e Artes de Campienas e (de quasi t,odos os Institutos con-
generes do Brasil. Ha cerca de I annos foi agraciado por Sua
Santidade o Papa Pio XI, com a Cruz da Ordem de São Syl-
vestre, sendo-lhe a respectiva commenda entregue, festivamen-
te, no dia 8 de Dezembro de 1924, em Canceição de Itanhaem.
pelas mãos de Frei Mauricio Lans, !da Ordem Carmelitana.

Benedicto Calixto, em busca de melhoras para sua saúde.


veio a fallecer de uma pertinaz arterio-esclerose, ein São Paulo,
,i Rua Ministro Godoy N . O 77-A, residencia de seu filho Si-
zenando Calixto, ás 3 horas da tarde do dia 31 de Maio de
1927. No dia sqguinte, foi sepultado em Santos, no Cemiterio,
do Paquetá, em jazigo perpetuo, offertado pela nossa Munici-
palidade. Mas, Benedicto Calixto, amantissimo da familia, de
viver modesto em extremo, coração sensivel ás agruras alheias,
infatigavel luctador, não logrou adquirir fortuna, apesar da sua
immensa bagagem de trabalhos, aqui mencionados, fóra outros
de menor importancia. Como accmtece com todos os artistas,
e tambem com a quasi totalitdade dos inventores, terminou seus
dias, sinão em f ranciscana pobreza, sem apreciavel compensa-
ção pecuniaria para. os caros descendentes. Os haveres accumu-
lados para a velhice são relativamente pequenos, pois era obri-
gado ainda ao labutar diario até os ultimos dias dos seus 71
annos de vida ! Sof f reu elle varias desillusões com exposições
de pi~ntura,visto que não lograram successo devido da parte
úo nosso publico, senão no culto Estado do Pará. Os quadros
de Calixto não eram extrangeiros.. . Aqui registramos as pa-
lavras intimas que sempre rel>etiaiuos: "Calixto, você precisa
tilorrer para que seus trabalhos sejam merecidamente valorisa-
tios". E. de facto, bem cedo, o scenario se transforinou: hoje
OS seus quadros já são procurados com empenho, a Camara
Municipal de Santos cogita de levantar, á sua memoria, um
inonumento na praça publica, e o mesmo está acontecendo com
ieferencia á Camara Municipal de São Vicente. Emfitn, os ho-
mens de merecimento, como em quasi toda parte, porém muito
accentuadanlente entre nós, conquistam o clevido valor só post
?:rortein.. .
DISCURSO PROFERIDO
NA

S E S S Ã O M A G N A
DE
1." DE NOVEMBRO
PELO

DR. AFFONSO DE FREITAS JUNIOK


(ORADOR OFFICIAL)
DISCURSO PROFERIDO NA SESSÁO MAGNA
DE 1." DE NOVEMBRO PELO DR. AFFONSO
DE FREITAS JUSIOR, Orador of f icial.

Exmo. Sni. Presidente. Siirs. Consocios.

dia d,e hoje nesta casa é o das commemoraçóes.


Duas são d a s . Uma, a da fundação, ha 33 an-
nos, do Instituto Historico e Geographico de São
Paulo. Oatra, a de preito á memoria dos conso-
cios fallecidos no decorrer do anno social. Dez
consocios deixaram o convivio desta casa chama-
dos a outro convivio - o da Casa do Senhor.
Partiram pelas regiões claras do firmamento até o
seio infinito do Creador, (deixando irradiantes no ambiente
deste cenaculo, como perfumes suavissimos de saudade, as lem-
branças queridas de seus vultos. Partiram sob bençams de
Deus e 'da patria, da familia e de amigos, dos homens e com-
patricios. Partiram como as revoadas (de avesinhas migradoras
que buscam outras paragens, quando o por do sul tinge de roxo
a barra do céu, nas derradeiras horas d o dia, á approximação
da invernia. Para commemorar a partida desses que se foram,
em viagem eterna, com a serenidade dos justos e confiança dos
crentes, reunimo-nos hoje, orvalhando de lagrimas as flores
violaceas nascidas dos seus sepulcros como o rocio das alvora-
das de novembro rorejadas sobre as campas dos finados. Do-
bram sinos em nossos corações. Sobem preces aos céus como
perfumes volatilizados das flores guarnecedoras dos seus tumu-
los, fieis amigas a guardarem o sacrario dos sarcophagos, em-
hellezando-os, enfeitando-os, aromatizando-os de esperanças
roseas. Mors ultinm ratio. A morte é a razão final de tudo.
?\'Ias resta-nos a saudade dos mortos. Lembremo-nos dos au-
sentes. Commemoremd-os. 0 primeiro a deixar-nos foi o

D R . DOAIINGOS JOSE' N O G U E I R A J A G U A R I B E
Era cearense. Nascera em Fortaleza a 2 de Novembro de
1848, fallecendo em S. Paulo, a 14 de Novembro de 1926, aos
78 annos de edade. Era filho dos viscondes de Jaguaribe, an-
tiga e distincta familia dos primeiros tempos do Imperio. Foi
casado em primeiras nupcias com D. Marcolina Ferraz de
Campos, deixando descendencia, e em segundas nupcias com D.
Maria Martins, não t'mdo havido prole deste consorcio. For-
mou-se com distincção pela Faouldade de Medici'na do Rio de
Janeiro. Foi medico; exerceu a clinica, a principio, em Limeira
c Rio Claro e depois em S. Paulo. Foi politico; eleito deputado
. geral pelo Ceará, cujo mandato renunciou, foi ainlda depois,
deputado á assembléa legislativa da então Provincia de S. Pau-
lo. Foi escriptor; e escreveu sobre assumptos medicos, histori-
cos. geographicos, de lavoura e pecuaria. A elle, juntamente
com Antmio Piza e Eçtevam Leão Bourroul, deve-se a inicia-
tiva da fundação deste Ilnstituto. Presidiu o 3 . O Congresso
Brasileiro de Geographia reunido nesta capital em 1910.
Foi o dr. Domingos Jqguaribe um espirito ávido de todas
as boas innovaçóes politicas e scientificas concebidas pela in-
telligencia humana. Por occasião da propaganda republicana foi
ardoroso propagandista. O problema da dirigibilidade dos ba-
lóes tambem o empolgou fazendo-o publicar interessantes es-
tudos technicos. Poréni, o que maior notoriedade lhe valeu, a
par de grande sympathia papular pebs beneficios trazidos, foi
o seu trabalho clinico baseado em estudos de hypnotismo e sug-
gestão, operado no Instituto Psycho-Physiologico de S. Paulo,
fundado em Maio de 1901.
Estavam, nessa época, muito em voga esse estu'dos no
mundo scientifico europeu. No Congresso Internacional de
Hypnotismo, realisado em Paris em 1900, o nosso extincto'
confrade presi'diu a sexta sessão, na qualidade de president
d'honneur, idado p a n d e relevo á sua adtuaqão ao M o dos mais
nataveis vultos hypnologistas. taes como Voisin, Bérillon, Lieu-
geois, Bernheim, Azam, Raymond, Binet, Paul Richer, Beau-
~ i s ,Maguin, Robin, Colas, Durand de Gros, Charles Richet,
Legrain, Jules Soury, Jof f roy, Crookes, Sphel, Herrero, Lom-
hroso, hiorselli e Tamburini. Degladiavam-se então as duas
grandes escolas hypnoticas: a de Paris, chefiada pelo immortal
Charcot, doutrinando que o hypnotismo era uma neurose ex-
perimental, uma forma de hysteria, e a de Nancy, de que era
adepto Jagmribe, e chefiada por Bernheim, tendo como l e m a
- a suggestáo é a chave do hypnotismo.
Conseguiu o dr. Domingos Jaguaribe por meio destes pro-
cessos clinicos effectuar numerosas curas, especialmente dos
dipsomaiios, cujos tratamentos gratuitos, visando a classe dos
c:esherdados da fortuna, 'encheu-lhes a vida de novas alegrias
e os corações de preces pela alma de seu inesq~~wivel bemfeitor.

COROATEL AhTTOhTIO LUDGERO DE S O U Z A


E CASTRO

Nasceu em Iguape la 26 de Março de 1856 e falleceu aos


70 annos de idade, em Campos lde Jordáo, no dia 20 de No-
zembro de 1926. Pertencia a illustre familia paulista. Era f i l h ~
dc antigo chefe do partido liberal, commeodador Joaquim de
Souza Castro, neto do fi(da1go capitão Joaquim Pereira do
Canto, bisneto do guarda-mór Joaquim Alves de Arruda Alvim
600 D ~ s c c ~ sPROFERIDO
o NA SESSÃOh f . 4 ~ ~ ~

e sobrinho de Pedro Taques de Almeida Alvim, que tomou


parte na "berilarda" de 1823. Foi casado com Dona Francisca
de Souza e Castro, deixanldo descendencia.
No inicio de sua carreira foi promotor publico em Iguape
e Castro e depois secretario (de Policia no Estado do Paraná.
Redigiu o jornal de combate "Liberal", em Curityba, e tam-
h a n o "Locom&iva" e "Iguapense" quando dirigiu a politica
de sua terra natal. Foi advogado provisioilado nas comarcas
'de Iguape, Xiririca e Itapetininga e escrivão do Tribunal de
Justiça deste Esta'do e mais tarde escrivão privativo do segundo
officio civel. Quando o colheu a morte era presidente da Caixa
Economica Federal desta Capital, cargo que sempre exerceu
com o zelo, competencia e proficiencia que lhe eram peculiares.
Escreveu o saudoso varão interessante trabalho para os profis-
siaiiaes do foro o "Consultor Civil", além de varias conferen-
cias proferidas neste Instituto, onde eram ouvidas com attençáo
c prazer pelos consocios que hoje d,eploram a perda do seu ve-
nerando amigo e saudoso cmpanheiro de torneios de intelli-
gencia.

BENEDICTO OCTAVIO D E OLIVEIRA

Nascido no sitio das Palmeiras, em Cainpinas, a 20 de No-


vembro de 1871, falleceu nesta mesma cidade a 6 de Janeiro
de 1927, aos 55 annos. Foi poeta, prosador, dramaturgo e his-
toriador. Foi um i n t e l l e a t d que se fez por si. E r a filho d o seu
proprio esforço. Pobre nasceu e pobre morreu, mas, dentro de
sua pobreza, sem poder cursar academias ou escolas superiores,
revelou-se uma mentalidalde potente, um vencedor na vida. Co-
meçou sua carreira como principiaram os maiores vultos da li-
teratura nacional - foi modesto typographo. Trabalhou, a
principio, na "Gazeta ,de Campinas", dirigida por Carlos Fer-
reira, em redor de quetn se congraçou a mais fina roda litera-
ria cornposta das pennas adamantinas de Julio Ribeiro, Miran-
da Azevedo, Julio Mesquita, João Vieira de Almeida, Hypoli-
to da Silva, Thomaz Alves, Julia Lopes de Almeida e Alfredo
Pujoil, e mads tarde a o "Correio de Campinas", redactorido
por Henvique de Barcellos. Escreveu comedias de parceria coni
Alberto Faria e dramas com René Barreto, tendo sido aquellas
representadas no Theatro S. Carlfos, em beneficio da fundação
do Lyceu Salesiano "N. S. Auxiliadora". Traduziu "A prin-
ceza distante" e "Os romanescos" de Rostand. "Os degraus
de um thrmo", "Odio de r w " e "Decadencia" eram ramaúi-
çes de sua lavra e bem assim os poemetas "Medieval",
"D. Branca" e "Mane, Thecel, Fares", obras de subido valor
liierario. F'oi funccionario da Companhia Paulista de Estradas
de Ferro e secretario da Camara Municipal de Campinas onde
prestou relevantes serviços. Pertencezi ao "Centro de Sciencias.
Letras e Arte", em cuja revista patenteou o profundo amor
que votava á sua patria e á sua terra natal, czijas glorias decan-
tou com os fulgores de seu talento.

DR. C A R L O S AUGUSTO P E R E I R A G U I M A R Ã E S '

Nasceu a 15 de Janeiro de 1862 em Parahybuna, neste


Estado, e falleceu a 20 de Fevereiro de 1927, nesta capital,
an 65 annos. Foram seus paes o desernbargador dr. Francelizio
Adolpho Pereira Guilmarães e D. Antonia Margarida Muniz
Barreto Guimarães. Do seu aasamento com D. Eliza Muniz de
Souza faúleceram tdos os seus filhos. Do çegundo matrimmio
com D. Maria Engler Guimarães deixou descendencia.
Formou-se pela Faculdade de Direito de S. Paulo em
i883, sendo nomeado promotor publico de Jundiahy, indo de-
pois advogar em Itatiba. Foi juiz de direito em Jundiahy, Mo-
cóca e Campinas e, ainda nesta cidade, mais tarde, presidente
da Camara Municipal. Ingressaido na politia foi eleito deputado
em 1898 e presidente & Camara Estadual no anno seguinte.
No governo de Albuquerque Lins f o i secretaria do Interior,
exercendo, tambem, por quasi um amo, interinamente a pasta
da Fazenda. Eleito vice-presidente do B ~ para
o o quatrien-
nio 1912-1916, assumiu a preçildencia de S. Paulo, no impedi-
mento do conselheiro Rdíigues Alves, por enfermo, gwm-
mndo c e r a de 15 mezes, desde Outubrio de 1913 aité Janeiro
de 1915. Foi tambem director do Banco de C o m e r c i o e Indus-
tria de S. Paulo e presidente da Estrada d5e Ferro de Matto
Grosso.
Era o dr. Carlos Gziimarães o que se chama um paulista
de velha tempera. E m todas as variadas posições que occupou
era sempre o mesmo homem - modesto e bom, attencioso,
lhano, cortez, justiceiro e tolerabnte : porisso foi sempre mui-
tissimo estimado die todos que o conheceram, grangeando-lhe
essa estima largo circulo de amigos devotados. Ainda mesmo
na presidencia do Estado não alterava, o illustre paulista, os
seus habitos de modestia e simplicildade, fazlendo diariamemte
c habitual percurso a pé de sua casa, nas proximidades do Lar-
go Paysandú, ao centro da cidade. E m todos os cargos que
occupou demonstrou sempre muita competencia e tino admi-
nistrativo. De sua gestão na pasta do Interior ficou-lhe a causa
publica a dever innumeros beneficias, capazes de por si sós
assignalarem a capacidade de um *administrador. A reforma da
Escola Polytechnica, a fundação de escolas normaes primarias
e secundarias e de cursas nocturnos e profissionaes e a creaçãc
de varias c/entenas de escolas primarias foram a longa serie de
seus serviços publicos, além de outros excellentes, prestados co-
1110 competente financista que fora.

A sua morte representou uma grande perda para a publica


administração.

D R . AUGUSTO OLYIIIPIO V I V E I R O S DE C A S T R O

Nasceu em S. Luiz do Maranhão a 27 de Agosto de 1867.


fallecendo a 14 de Abril de 1927, em S. Paulo, onde se encon-
trava de volta de uma estação de aguas que fizera em Lindoya.
Morreu aos 59 annos. Foram seus paes o conselheiro Augusto
Olyrnpio Gomes de Castro, proeminente politico do imperio e
D. Anna Rosa Viveiros de Castro. Era viuvo e deixou descen-
dencia. Diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife em
1888. Iniciou sua carreira de magistrado como juiz municipal
de S. Maria Magdakna, no Estado do Rio, ascendendo depois
a ministro do Tribunal de Contas, lente da Faculdade de Di-
reito da Universidade do Rio de Janeiro e finalmente ministro
do Supremo Tribunal Federal, posto este em que o surprehen-
deu a morte. Escreveu oibrals de notavel valor juridico,
taes como, "Estudo de Direito Publico", "Tratado de Admi-
iiistração e Direito Administrativo", "Tratado de Impostos",
"A questão social", "O contrabando" e "Os delictos contra a
honra da mulher". Ainda "O Estado do Maranhão" e "Contos
cor de rosa" e muitas conferencias, entre as quaes, "O direito
de greve e suas limitações", "O divorcio é anti-social", "Cm-
ceito juridico da liberdade", "O ministro Pedro Lessa", "O
sequestro dos bens pertencentes aos subditos amigos" e "O
Fico". Publicou uma serie de artigos sobre a independencia
nacional nas "Vozes de Petropolis", consideradas pelo conde
de Affonso Celso o melhor que se tem escripto sobre o
assumpto.
Viveiros de Castro deu o maior realce e lustre á magistra-
tura brasileira não só pelo seu immenso saber juridico e scien-
tifico como, tarnbem, pela pureza de seu caracter e recto espi-
rito de justiça. Foi abalisado tratadista de direito administra-
tivo, mas, não obstante, sua penna versava os assumptos mais
varios. Era um polygrapho. Representou com brilhantismo O ,

Brasil no Primeiro Congresso de Sciencias Administrativas,


reunido em Bruxellas em 1910, tendo sido distingui'do com O
titulo de seu "presidente de honra".
Viveiros de Castro honrou, dignificou e prestigiou a toga
do magistrado brasileiro.

D R . M A R T I M F R A N C I S C O R I B E I R O DE
A N D R A D A FILHO

Nasceu em S. Paulo a 11 de Fevereiro de 1853 e falleceu


no Rio de Janeiro a 20 de Abril de 1927, aos 74 annos. Era
filho do ,politico do mesmo nome ,do tempo do imperio e de
D. Anna Bemvinda Bueno de Andrada. Foi casado com D.
IIasula Ribeiro de Andrada. Formou-se em direito em 1875 em
S. Paulo. Foi deputado provincial, geral e federal n o actual re-
gimen, senador ao Congresso Paulista em 1892, secretario da
Fazenda deste Estsdo e presidente d a Provincia do EspiRto
Santo. Foi advogadlo, politico e publicista, deixando selecta ba-
gagem literaria. São seus principaes trabalhos "Os precursores
da Independencia", "Propaganda separatista", "Americo de
Campos", "Guanarapes", "Manifesto Maçonico", " C a r t a a r e -
ta", "Contribuindo", "Rindo". Collaborou nlo "Correio Paulis-
tano" e "Diario Poipular" desta capital e "Cidade do Rio",
"Correio da Tarde" e "Gazeta da Tarde" na capital da Re-
publica.
Herdeiro de um nome gloriosissimo na historia do Brasil,
Martim Francisco (soube conserval-o com o mesmo brilho que
lhe deram seus antepassados. Era uma personalidade original.
Intelligencia viva, brilhante e penetrante. A sua palavra, quer
falada, quer escripta, refledt2a sempre seu espirito ferinamente
ironico, esfusiante de vel-ve demolidora, sarcastica e mordaz.
Tanto nos torneios da imprensa como' nos prelios da tribuna
judiciaria ou parlamentar, era adversario temivel pela argucia
dos .~mceitos,pela comibatividade de animo e, sobretudo, pela
cpportunida~de,atilanmto e dextreza com que sabia explorar
o ridiculo dos antagonistas, 'dos factos e das coisas. Era um
Andrada authentico. Até na independencia de caracter. Mas.
a par dessa tempera de tão rija energia, agasalhavam-se em
seu coração as mais puros sentimentos de bondatde, altruismo
e generosidade. Sua vida foi exemplo de civismo e bem amar
a patria, que elles, os Andradas, amaram e serviram como não
sr pode amar e servir melhor!

D R . C'ARLOS D E C A M P O S
Nascido em Campinas a 6 de Agosto d e 1866, do consor-
cio do eminente estadista Bernardino de Campos e de D. Fran-
ciçca Duarte de Campos, falleceu em São Paulo a 27 de Abril
de 1927 aos 60 annos. Foi casado com a virtuosa Sra. D. Maria
Lydia de Souza Campos 'deixando descendencia. Fez seus cur-
sos primario e secundario em Amparo, no Collegio Internacio-
nal de Campinas e no Collegio Morton desta Capital. Bachare-
lou-se em sciencias juridicas e çociaes em 1887 pela Faculdade
de Direito de S. Paulo. Em 1891 iniciou sua carreira publica
como intendente da cigdade de Amparo. Nesse mesmo anno foi
eleito deputado estadual, e em 1896 foi secretario da Justiça no
governo de Campos Salles. Voltando novamente á Camara dos
Deputados, em 1907, foi presidente da mesma até 1915, quando
foi eleito senador estadual e tambem chamado a occupar o pm-
to de membro da Commissão Directora do Partido Republicano
Paulista. Em 1918 foi eleito deputado federal sendo "leader"
da maioria no ,governo Epitacio Pessoa, e, finalmente, a 1." de
Maio de 1924 empossado na presidencia do Estado de S. Paulo
em cujo posto falleceu.
Teve o dr. Carlos de Campos uma personalidade complexa.
Foi advogado, orador parlamentar, politico, musico e jornalis-
ta. E .em qualquer dessas modalidades era sempre uma figura
ditstincta. Como advogado tutelou causas de grande importan-
cia e realce no foro; como orador a sua palavra era sempre
acatada, não só pelos primores de que s e revestiam como, tam-
lm, pelo criterio com que sabia dirigir as questões mais diffi-
ceis em debates; como politico e, principalmente como admi-
nistrador, as grandes iniciativas do seu governo foram paten-
teadas em obras de vulto, taes corno a remodelaçáo da Soroca-
bana, a defesa do café, a campanha contra a broca, as questões
attinentes á ímmigração e colonisação; como musico deixou
composiçóes de finissimo lavor, reveladoras da sua formosa or-
ganisação artilstica e, como jornalista, foi por dilatados annos
o elegante, o terso, o castiço manejador do idioma patrio nas
columnas do "Correio Paulis~tano".
Distinguiam ainda o dr. Carlos de Campos uma extrema
sympathia dimanada cla sua bondade pessoal, do seu genio na-
turalmente delicado, affavel, gentil e acolhedor.
EENEDZCTO CíZLIXTO DE JESUS
Nascido e m Itanhaem a 14 de Outubro de 1853, do con-
sorcio de João Pedro de Jesus e de D. Anna Gertrudes de
Jesus, falleceu em S. Paulo a 31 de Maio de 1927, aos 73 an-
nos. Foi casado com a sra. D. Antonia de Araujo Jesus dei-
xando ldescendencia.
Desde menino revelou decidida vocação para a *pintura,
aprendendo-a com os recursos de seus proprios dotes naturaes,
por lhe faltarem por completo meios pecuniarios para cursar
escolas profissionaes adeqaadas a esses estudos. Não obsitante,
apresentou-se em publico pela primeira vez, em 1881, com uma
exposição de quadros, ralhada em uma sala do "Correio Pau-
listano", merecendo francos encomios e expressivas demonstra-
~ õ e sde animação pelas qualidades artisticas reveladas. Foi en-
tão contractado pelo dr. Garcia Redondo, engenheiro cmstru-
ctor do Theatro Guarany, de Santos, para decorar o tecto desse
theatro. Querendo o visconde de Vergueiro amparar essa vaca-
ção que desabrochava tão auspiciosarnente, convidou Benedicto
Calixto a seguir os estudos de pintura sob suas expensas, em
Paris, para onde partiu Calixto e m Janeiro de 1883, aos 29
annos de idade. Matriculou-se o jovem artista na Academia
Julien, tendo como professores Robert Fleury, Boulanger, Le-
fèvre e Bouguereau, conl os quaes obteve rapidos progressos,
tanto que conseguiu o segundo premio com sua tela "Unla sce-
na do diluvio" no concurso de esquisses de themas hisitoricos.
Mas, Calixto não pode aturar Paris. Era impassdvel viver lon-
ge d a familia. Torturava-lhe o coração a saudade da patria. E
Calixto voltou depois de uma anno apenas crie estadia na cidade
luz, bem a contragosto de seus amigos e protectores. Apezar
de tão breves estudos em um curso regular de pintura, Calixto
continuou a fazer progressos em sua arte, tornando-se depois
c grande pintor marinhista de inconfundivel destaque entre a
constellação de notaveis artistas brasileiros. Cultivou todos os
generos de pintura, mas, aquelle em que primou foi a marinha.
Pintou-a com primorosa ~echtiim,finissima ductibilidade colo-
ristica e expressão flagrante da paysagem. Dava-lhe alma, vicla
e sentimento. Imprilmia seu estylo personalissimo na maneira
por que pintava. Ninguem o sobreexcedeu nesse genero no
Brasil. Foi um grande artista. Não ha recanto do littoral pau-
lista que não merecesse o carinho do seu pincel. E como ers
um apaixonado estudioso da historia, reviveu em suas telas as
paginas gloriosas do nosso passado, povoando as praias san-
tistas e as regiões serranas de vultos heroicm das primeiros
dias de nossa nacionalidade. Dahi a factura dos lindos e sug-
gestivos quadros "Partida da frota de Estacio de Sá", "Em
caminho de Piratininga", "Fundação de S. Vicente", "Funda-
ção da villia de Santos". Dedica-se tambem á pintura. sacra.
Seus paineis embellezam ais igrejas de Santa Cecilia, Conso-
lação, Santa Ephigenia e cathedral de Ribeirão Preto. São in-
numeros as seus quadros esparsos por varios Estados do Bra-
sii. A Pinacotheca e o Museu paulistas possuem em suas gale-
rias magnificas telas de Calixto. Foi, tambem, Benedicto Ca-
lixto um esforçado historiador. A Revista deste Instituto guar-
da interessantissimos trabalhos seus sobre a capitania de
Itanhaem.
Calixto foi um artista originalmente brasileiro. Desde sua
obra pidorica até seu ffeitúo physico e moral e m camcteris.ti-
camente paulistas. Tinha aspectos typicos do nosso caboclo.
Porisso foi elle uma figura. de irradiante sympathia. E' impos-
sivel recordarmos-lhe o vulto sem uma funda emoção de sau-
dade. Amou a familia e a patria coin todas as véras de sua
alma. Si não pôde viver no extmngeiro foi por soffrer-lheç
a ausencia. Da sua Itanham podia !dizer com Holrãcio, quando
se referia ás campinas de Tarento, Milzi praeter omnes ángulzts
ridet. Este canto de terra me sorri mais do que qualquer outro.

D R . A N T O N I O DE Q U E I R O Z T E L L E S

Nascido em Jundiahy a 21 de Setembro de 1849, falleceu


em S. Paulo a 20 de Junho de 1927, aos 77 amos de idade.
Era o venerando ancião ligado por laços de parentesco a fami-
lias das mais antigas e tradicionaes paulistas. E r a filho dos Ba-
rões de Japy e neto dos de Jundiahy, sendo casado com a Sra.
dona Anna Emilia Fonseca de Queiroz e deixando uma filha
adoptiva.
Concluidos seus preparatarios na antiga Escola Militar,
matriculou-se na Universidade de Syracusa, recebendo então di-
ploma de engenheiro civil. De volta a S. Paulo, foi deito
deputado á Assernbléa Provincial, porém, com o advento da re-
publica, abandonou a politica para dedicar-se exclusivamente á
lavoura.

CAPISTRANO DE ABREU

Nasceu tio Ceará a 23 de Outubro de 1853 e falleceu no


Rio de Janeiro a 13 de Agosto de 1927, aos 73 a m o s de idade.
Foi casado e deixou descendencia. Estudou humanidades em
sua prwimia natal, donde partiu para o Rio de Janeiro, sendo
ahi professor no Collegio Aquino e official da Bibliotheca Na-
cional, cujo lo,gar obteve por concurso. Egualmente conseguiu.
por concurso, a cadeira de Historia do Brasil no Collegio Pedro
11, em 1880, logrando o primeiro lugar na disputa com valioso
competidor, leccionando essa materia até 1889, época em que
foi posto em disponibilidade devido á e h n q ã o dk mesma
cadeira. Foi collaborador <demuitos jornaes cariocas e publimi
oi>ras do mais alto valor, taes como " O Brasil no seculo XVII",
"O Descobrimanto do Brasil pelos portuguezes", "Capi$ulos de
Historia Colonial, 1500-18009', "Rã-txa-hu-ni-ku-ê", texto,
grammatica e vocabulario caxiumás, "Geographia Physica, de
Waipaeus, refundida e condensada, ccm~a collaboração d e ou-
tros'', "Geographia geral" de W. Sellin, traduzida e muito
augmentada, "Viagem pelo Brasil" de W. Smith, traducção do
ii~glez,"Introducçáo" ás notas sobre Parahyba, de Irineu C.
P. Joffely, e "E~studo sobre Raymundo da Racha Lima". E m
jornaes e revistas publicou "Perfis juvenis", "Casemiro de
Al~reu", "Junqueira Freire", "José de Alencar", "A lingua
clos bacaerys", "Dois clocumentos", sol~reos caxicianás, além
de muitos outros.
Deante do monumento de saber que é a bagagem scienti-
fica e historica de Capistrano de Abreu, legada a seus conci-
dadão~,pode-se-lhe applicar as palavras da d e de Horacio, pa-
ra serem inscriptas nesse mesmo bronze0 monumento - No12
onznis móriar. Não morrerei de todo. Algo meu sobreviverá.
De facto, sua obra é imperecivel. E é imperecivel porque foi
construida sobre as bases da probidade scientifica nas pesqui-
sas, nos rebuscamentos, nas analyses das fontes historicas. Es-
creveu, certa vez, o sabio historiador. estas palavras a propo-
sito doutro luminar das investigações da historia patria: "Para
julgar Varnhagen com justiça deve-se comparal-o com os an-
tecessores e successores. Daquelles, apenas Southey é confron-
tavel. Dos succeswres, os melhores limitam-se a reduzir á ]e.
nha os jequitibas derribados pelo filho de Sorocaba". A elle.
Gpistrano, p d m o s applicar çeus proprios conceitos tão cheios
de verdade e justiça. Tal como Porto Seguro, foi Capistra-
no de Abreu um valente derribador d a jequitibás que os his-
toriadores improvisados deqgailham, convertendo em lenha ma-
gnifica madeira de lei.
Desde muito moço revelou Capistrano forte pendor para
os estudos que lhe grangearam indiscutivel autoridade e justi-
ficado renome; já em 1884, portanto, aos 31 annos de idade,
quando regia a cadeira de Histwia do Brasil no Collegio Pedro
11, era, segundo a opinião segura e insuspeita de Julio Ribeiro,
- "a maior gloria do mgisterio official brasileiro". De in-
telligencia arguta, paçiencia benedictina e perseverança rara, o
grande historiador, com taes predicados, vencia sempre os óbi-
ces e difficuldades que nas pesquisas se lhe antolhassem. Indice
seguro do criterio, do escrupulo e do esforço que dispendia,
C o seu monumental estudo da lingua dos Caxiuanás "rã-txa-
hu-ni-ku-ê" precioso trabalho, que nos foi dado ler, em exem-
plar que ostenta e m sua primeira pagina a seguinte dedicatoria,
em letra meuda mas perfeitamente legivel : - "A Affonso de
Freitas lembrança dos encantadores dias da Paulicéa - C.
Abreu ". '

Sem embargo da aridez clas estudos a que se dedicava, era


a convivencia de Capistrano agradavel, simples e singela. Sem-
pre bem disposto, gracejador, finamente gracejador, incapaz de
malicias que offfendessem susceptibili~dades, bastava ao mestre
meia hora de palestra para converter o seu interlocutor em ami-
go dedicado. E' que, ao graicejar, conhecia elle o segredo de
alolle atqzbe fachtuutz de Horacio.
Basta a referencia do seguinte facto para realçar a joviali-
dade do seu temperamento.
Era em 1916. Gpistrano visitava Conceição de Itamhaem.
lam em sua companhia, de S. Paulo, Alfredo de Toledu, Gen-
til de Moura e Affonso de Freitas, tenldodse-lhe reunido em S.
Vicente, Benedicto Calixto. Este, que já tinha em mãos o seu
magnifico estudo sobre a Capitania de Itanhaem, e grande ad-
mirador da figura luminosa de Padre Anchieta, ia pelo caminho
rememorando ao mestre a indivildualibde do grande thauma-
turgo da America; esta parede, dividida por annosa figueira
que lhe nasceu no amago, foi ajudada levantar por Anchieta;
alli, junto a Itaipús, existiu sempre um rancho que era o pouso
de Anchieta; esta praia foi palmilhada innumeras vezes por
Anchieta em suas digressões e jornadas.. . e assim chegou a
caravana a Itanhaem onde almoçou. Finda a refeição W i s -
trano indagou si no local existia agencia d o Correio. Existia
sim, affirmou promptamente Calixto. O mestre sacou então do
bolso um cartão postal, já sellado e escreveu - Vieira Fazenda
(vulgo Tapéra) - Rio. De Itanhaem onde Anchieta jamais
perdeu as botas enviam muito saudar - Capistrano de Abreu.
Com elle assiparam o cartão Toldo, Freias e Gentil. Calixto
recusou-se; assignar uma declaração de que Anchieta nunca
perdeu as botas em Itanhaem? Nunca! Seu Calixto, Anchieta
usava botas? interrogou Capistrano. Não, responde Calixto,
usava alpercatas. Ora, retruca Capistrano, si usava alpercatas
jzmais poderia perder as botas !. . . E Calixto foi convencido e
assignou o cartão.

Eis, senhores consocios, em rapido bosquejo, os perfis dos


nossos queridos confrades desapparecidos da vida, mas, nem
porieso, deslembrados em nossa immorredoura saudade. Re-
pouso para as suas almas.
INDICE

Pags.
O Primeiro centenario da Fundação da Imiprensa Paulista,
par Affonso A. de Freitas. . . . . , . . . .
Notas historicas de Itú, por Joaquim Leme de Oliveira Cezar
Homenagem ao maximo bem feito^ de Itú, pelo dr. José de
Paula Leite de Barros. . . . . . . . . . .
Visita ás fundações da Sociedade A. I. de Seda Nacional d e
Campinas, par Affonso A. de Freitas . . . . . .
Tatuhy atravez da Historia, pelo senador Laurindo Dias
Minhoto. . . . . . . . . . . . . . . . .
O Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão pelo dr. Laurindo
Minhoto Junior. . . . . . . . . . . . . .
No Sul de Matto Grosso, pelo dr. Armando de Airruda Pereira
.
Excursionando.. p e b dr. Affonso de Freitas Junior . . .
Carimbos e marcas postaes no Brasil pelo dr. Maria de Sanctis
Algumas notas geneaLogicas da familia Paula Leite, pelo dr,
José de Paula Leite .de Barros . . . . . . . .
Notas á margem do estudo "A Imprensa Periodica" por Af-
fonso A. de Freitas. . . . . . . . . . . .
Relação das sas~mmariasconcedidas na comarca da Capital entre
os annos de 1559 a 1820, pelo sr. João Baptista de
Campos Aguirra . . . . . . . . . . . . .
Discurso de Posse proferido na sessão de 5 de Julho de 1928
pelo Sr. Amadeu d e Queiroz . . . . . . . . .
Benedicto Calixto, traços biographicos por Julio Conceição .
Discurso proferido na sessão magna de 1." de Novembro de
1927, pelo orador official dr. Affonso de Freitas Junior

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