Projeto Oraçao para Um Pé-de-Chinelo

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Projeto Técnico

 
Oração 
Para um 
pé de chinelo 
de Plínio Marcos

uma parceria

CIA. CATA-VENTOS DE CULTURA

Universidade Federal do ACRE - UFAC


Projeto de Extensão “Laboratórios Experimentais de Artes Cênicas”

Cia. Tanto de Lá Quanto de Cá

Circulação 2017
Este espetáculo fez parte das atividades comemorativas
1935-2015 - Plínio Marcos 80 anos

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Dramaturgia

Após um latrocínio, fugindo de um esquadrão da morte formado por policiais,


o bandido Bereco procura abrigo no barraco do alcoólatra Rato, delator e
tuberculoso, e o encontra acompanhado pela prostituta Dilma. Bereco aposta, como
uma tábua da salvação, na possibilidade da uma rendição sem violência através dos
vínculos de delação que os policiais supostamente teriam com Rato. O medo e a
iminência da morte estabelecem um jogo desesperado pela sobrevivência destes
personagens à margem da sociedade. Encurralados pelo desespero e desconfiança
mútua, o espaço para a ação e os pactos tornam-se estreitos e movediços. Rato e
Dilma só querem sumir dali, enquanto esta é a única condição de sobrevivência para
Bereco. O espaço dos desesperados.

Toda força teatral de Plínio Marcos está presente nesse texto de 1969, que,
tantos anos depois, continua dolorosamente atual. A trama explora magistralmente o
desespero das personagens, atiradas a uma condição próxima à animalidade pela
ameaça de uma violência a que não podem resistir, e de que apenas esperam
conseguir esconder-se.

Escrito durante os piores anos da repressão, o texto expõe todos as


contradições do terror e principalmente toda a manipulação em torno do tema da
traição. O medo da delação envenena as relações entre as três personagens vivendo à
margem da sociedade.

“Oração para um Pé de Chinelo” foi criado na atmosfera da repressão política


dos anos 60, mas nos dias de hoje dialoga com outros tipos de violência, mais ou
menos sutis. Os noticiários mostram diariamente massacres e crimes de ódio,
xenofobia na Europa, destruição de obras de arte no Oriente Médio, intolerância
religiosa em toda parte.

Se ‘os homens’ da época de Plínio Marcos eram membros das forças de


repressão com licença para matar, hoje os agentes da violência são vários, mas
igualmente opressivos e aniquiladores. Se os marginais da época da ditadura
enfrentavam uma crise de confiabilidade, hoje os poderosos corruptos são traídos
pelos comparsas que optam pela delação premiada para se safar.

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O Autor

Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos, em 29 de Setembro de


1935, e faleceu em São Paulo, em 19 de Novembro de 1999. Filho de um
bancário (Armando) e de uma dona-de-casa (Hermínia), tinha 4 irmãos e
uma irmã,e​ terminou apenas o curso primário.

Foi ​funileiro​, quis ser ​jogador de futebol​, serviu na ​Aeronáutica e


chegou a jogar na ​Portuguesa Santista​, mas foram as incursões ao mundo
do ​circo​, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. ​Começou na
carreira artística como palhaço de circo, e também trabalhou nesse tempo
na TV-5, de Santos, como humorista e como palhaço Frajola, alcançando
grande popularidade. Já era apresentado nos shows como “o cômico mais
querido da cidade”, ou “​o cômico da televisão​”. Nessa época, é membro do
Clube de Poesia, do jornal O Diário, de Santos, tendo várias poesias
publicadas. Começa, também, a trabalhar ativamente no teatro amador
santista, tradicionalmente de boa qualidade. Em 58 e 59, trabalha com
sucesso como ator e/ou diretor em várias peças: ​Pluft, o Fantasminha​,
Verinha e o Lobo​, ​Menina Sem Nome​, ​A Longa Viagem de Volta,​ ​Escurial​,
O Rapto das Cebolinhas​, ​Jenny no Pomar​, ​Triângulo Escaleno​, ​Fando e
Lis​.
Depoimento de Plínio Marcos: “Houve um caso, em Santos, que me chocou
profundamente: um garoto foi preso por uma besteira e, na cadeia, foi
currado. Quando saiu, dois dias depois, matou quatro dos caras que
estavam com ele na cela. Fiquei tão chocado com esse negócio todo que
escrevi a ​Barrela​.” “Juro por essa luz que me ilumina que até então nunca
havia me ocorrido escrever uma peça, pois eu não conhecia as grandes
peças da dramaturgia nacional, nem universal. Conhecia as peças que
eram apresentadas no Pavilhão Liberdade: ​Paixão de Cristo​, ​O Mundo não
me Quis​, Rancho Fundo, O Ébrio​. Mas, o caso do garoto me comoveu
tanto, que eu, depois de andar uns tempos atormentado com a história, a
despejei no papel. “ (...)

“Escrevi em forma de diálogo, em forma de espetáculo de teatro, que era o


que eu mais conhecia, mas não me preocupei com os erros de português,
nem com as palavras. Imaginei o que se passara no xadrez antes, durante e
depois de o garoto entrar, coisas que eu conhecia bem de tanto escutar
histórias na boca da malandragem. E dei o nome de ​Barrela​, que é a borra
que sobra do sabão de cinzas e que, na época, era a gíria que se usava para
curra.”

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“Li a peça pra alguns companheiros do circo e naturalmente eles acharam
que eu tinha enlouquecido, se pensava que podia encenar uma peça com
aquela linguagem. Ficou por isso mesmo.” “Ninguém quis montar e eu
levei para a ​Pagu​, que achou meu diálogo tão poderoso quanto o do Nélson
Rodrigues. Ela, então, levou Barrela para o Pascoal Carlos Magno, que
estava realizando o Festival Nacional de Teatro de Estudante em Santos.
Então, ele fez um puta escarcéu, descobriu um gênio, essas coisas.” “... e no
final do festival falou para os jornais que fazia questão que os estudantes
montassem a peça.”

“Começamos a ensaiar no início do ano de 1959.” “Aí, eu é que fui dirigir,


eu que fiz um papel, eu que fiz o cenário, eu que fiz tudo.” [O texto foi
enviado para a Censura Federal, que o proibiu. A Patrícia Galvão
comunicou-se com o Pascoal Carlos Magno, uma espécie de ministro sem
pasta do Governo de Juscelino Kubitschek. Ele, então, enviou um
telegrama diretamente do gabinete do presidente dizendo para a polícia
reconsiderar a proibição da peça. E o texto foi liberado para uma
apresentação, no dia 1º de novembro de 1959, no palco do Centro
Português de Santos, ficando depois proibido pela Censura Federal por
vinte e um anos.”
Em ​1960​, com 25 anos, foi para São Paulo, onde inicialmente trabalhou
como ​camelô​. Depois, trabalhou em teatro, como ator (apareceu no
seriado ​O Falcão Negro da ​TV Tupi de São Paulo), administrador e
faz-tudo, em grupos como o Arena, a companhia de ​Cacilda Becker e o
teatro de ​Nydia Lícia​. A partir de ​1963​, produziu textos para a ​TV de
Vanguarda​, programa da ​TV Tupi​, onde também atuou como técnico. No
ano do ​golpe militar​, fez o roteiro do espetáculo ​Nossa gente, nossa
música​. Em ​1965​, conseguiu encenar ​Reportagem de um tempo mau,​
colagem de textos de vários autores, e que ficou apenas um dia em cartaz.
Em ​1968​, participou como ator da ​telenovela ​Beto Rockfeller,​ vivendo o
cômico motorista Vitório. O personagem seria ​repetido no cinema e
também na telenovela de ​1973​, ​A volta de Beto Rockfeller,​ com menor
sucesso. Ainda nos ​anos 1970​, Plínio Marcos voltaria a investir no teatro,
chegado ele mesmo a vender os ingressos na entrada das casas de
espetáculo. Ao fim da peça, como a de ​Jesus-Homem,​ ele subia ao palco e
conversava pessoalmente com a plateia.

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Na ​década de 1980​, apesar da censura do governo, que visava
principalmente aos artistas, Plínio Marcos viveu sem fazer concessões,
sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular.
Escreveu nos jornais ​Última Hora​, Diário da Noite, Guaru News, ​Folha de
S.Paulo​, ​Folha da Tarde​, Diário do Povo (Campinas), e também na revista
Veja, além de colaborar com diversas publicações, como Opinião, ​O
Pasquim​, Versus, ​Placar​ e outras.
Depois do fim da censura, Plínio continuou a escrever romances e peças de
teatro, tanto adulto como infantil. Tornou-se palestrante, chegando a fazer
150 palestras-shows por ano, vestido de ​preto​, portando um bastão
encimado por uma ​cruz​ e com aura mística de leitor de ​tarô​.
Plínio Marcos foi traduzido, publicado e encenado em ​francês​, ​espanhol​,
inglês e ​alemão​; estudado em teses de sociolinguística, semiologia,
psicologia da religião, dramaturgia e filosofia, em universidades do Brasil e
do exterior. Recebeu os principais prêmios nacionais em todas as
atividades que abraçou em teatro, ​cinema​, televisão e ​literatura​, como
ator, diretor, escritor e ​dramaturgo​.

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Justificativa

As peças de Plínio Marcos atingem o leitor e/ou espectador como estilete: ao mesmo
tempo, provocam repulsa e despertam uma angústia solitária, a necessidade urgente
de intervenção. O terror e a piedade no grau mais absoluto; diálogos exatos, crus,
ferinos, explosões de ódio e violência incontidos, humilhações, provocações
sadomasoquistas, rastejamento abjeto de humilhados e ofendidos, círculos de tensão
entre algozes e vítimas que intercambiam seus papéis; relações de poder
estabelecidas confusamente num emaranhado de seres ignorados pelos “cidadãos
contribuintes”, uma fauna de alcaguetes, prostitutas, homossexuais, cafetões e
cafetinas, policiais corruptos, desempregados, prisioneiros assassinos, loucos, débeis
mentais, meninos abandonados: seres jogados em cena sem nenhuma cortina de
fumaça. Em seus escritos, ele procura denunciar e contestar o modelo capitalista de
produção e consequentemente o próprio regime militar, instituído no país em 1964.
Por isso, Plínio Marcos foi um dos autores mais perseguidos de sua época, quando a
liberdade de expressão e a democracia foram extirpadas para dar lugar a um regime
ditatorial opressor. A simples menção a seu nome já era sinônimo de problema. A
censura federal, por exemplo, o via como um maldito, pornográfico e subversivo. Na
sociedade, ele se tornou figura polêmica porque punha em discussão o “excluído
social” e outros aspectos pouco discutidos durante a ditadura militar, quando ter
liberdade de expressão era muito arriscado, por isso era um ato de coragem.
Plínio Marcos escrevia conforme o que via na sociedade e o que vivenciava em sua
vida, trafegando por “esse Brasil polimorfo, tônico e teimoso, subjugado pelas
diferenças sociais, pela miséria, pelo abandono, um mundo de excluídos, mas que se
conta por milhões” (MOSTAÇO in: MAIA, CONTRERAS e PINHEIRO, 2002: p. 10).

Nas suas peças, avultam como temas a solidão e a decadência humana, o círculo
vicioso da tortura mútua e a absoluta falta de sentido nas vidas degradadas, o beco
sem saída da miséria e a violência, a superexploração do trabalho humano e a morte
prematura como horizonte permanente. Sobressaem, portanto, sujeitos sociais
distintos, marcados pela tragédia individual e coletiva, que circulam pelo espaço
urbano. Os personagens subvertem até certo tipo de teatro engajado em voga nos
anos de 1960 e 1970, pois não veiculam, em regra, uma mensagem otimista ou
positiva quanto à possibilidade de se ter alguma esperança de mudança social. O que
importa é subsistir, seja como for: sem solidariedade de classe, sem confiança no
próximo. Seus personagens se debatem num mundo que não oferece vislumbre de
redenção; estão envolvidos em situações mesquinhas e sórdidas, em que a luta pela
sobrevivência e pelo dinheiro não tem dignidade; via de regra, enveredam para a
marginalidade mais violenta a fim de atingir seus objetivos (Ver PARANHOS, 2007).

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A CIA

A Cia Tanto de Lá Quanto de Cá, nasceu da idéia de três atores apaixonados pela arte
teatral, Venicio Toledo, Daya de Souza e Yuri Montezuma. O nome da companhia se
deve ao fato dos fundadores serem de três estados, São Paulo, Acre e Mato Grosso.
Mais tarde iriam se integrar ao grupo outros acreanos, um peruano, um carioca, e
hoje gente de outros estados e nacionalidades vem se acercando, e brevemente vai
estar nos ajudando a quebrar mais barreiras geográficas e a realizar plenamente a
proposta de TEATRO de FRONTEIRAS que é o motor do trabalho do grupo.

O primeiro trabalho a ser desenvolvido pelo grupo foi o estudo e ensaio do texto
infantil “O Menino Nuvem”, que teve projeto aprovado no edital de pequenos apoios,
financiado pelo estado do Acre, através da fundação Elias Mansour.

Depois de quase cinco meses de ensaios intensos, o grupo realizou curta temporada
de seu 2​o espetáculo “Oração para um Pé-de-Chinelo” em dezembro de 2015, no
Teatro Recreio, em Rio Branco AC. Foram seis apresentações com lotação da casa
100% vendida.

Em 2016, após a substituição de dois dos membros fundadores no elenco, iniciamos


uma segunda temporada do espetáculo, apresentando nosso trabalho em al​g​uns
municípios acreanos e na cidade boliviana fronteiriça, Cobija, pelo Edital Jamaxi
Cultural, da Fundação Elias Mansour em parceria com o Ministério da Cultura. Em
seguida, já no início de 2017, fomos classificados para o Festival Internacional de
Teatro e Performance de Chancay, no Peru, onde realizamos uma apresentação e
uma oficina de direção teatral. Recentemente estivemos também em uma temporada
de quatro semanas no Cine-Teatro Recreio, numa excursão por cidades bolivianas e
em apresentações em escolas e em eventos na universidade.

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Ficha Técnica

Elenco:
Lília Pontes
Anderson Assef
Yuri Montezuma

Direção
Flávio Lofêgo Encarnação

Produção
Cia. Tanto de Lá Quanto de Cá

Direção de Arte
Allana Khristie

Duração: 50 minutos
Inadequado para menores de 12 anos

Na internet:
http://youtu.be/mQYc35ilvSo
http://www.facebook.com/tantodelaquantodeca/

Contatos:
+55 (68) 99981 7046
[email protected]

www.ciadeteatro.com

Endereço para correspondência:


Rua Pera, 197 - Jardim Tropical
Rio Branco AC
69.901-236

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