Como Nos Veio A Bíblia - Edgar J.Goodspeed PDF
Como Nos Veio A Bíblia - Edgar J.Goodspeed PDF
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VEIO A BÍBLIA?
Edgar J. Goodspeed
INTRODUÇÃO
Convite de meu velho amigo, Dr. Lucius H. Bugbee, para preparar uma
série de lições sobre a formação, transmissão e tradução da Bíblia resultou num
curso de treze lições sob o título: “O Crescimento da Bíblia,” que aparece no
número de Outono da revista “The Adult Bible Class Monthly,” do ano de 1940.
O Dr. Bugbee e o Dr. Langdale generosamente propuseram que as lições fossem
agrupadas em um volume e eu acatei alegremente a sugestão.
Estes estudos não são uma tentativa para narrar como os diversos livros
da Bíblia foram escritos; mas somente como, uma vez escritos, eles vieram a
grupar-se e formar a grande biblioteca religiosa que conhecemos como o Velho e
Novo Testamentos, e os livros apócrifos, sua história através dos séculos até
nossos dias. Estas são questões que surgem em muitas mentes pensantes,
requerendo a melhor resposta que o saber pode encontrar. As respostas, tanto
quanto podemos dar, formam aquilo que me parece história muito interessante.
Edgar J. Goodspeed
B. P. Bittencourt
Capítulo I
OS LIVROS DA BÍBLIA
Devemos lembrar que um livro antigo era em forma de rolo – assim como
os judeus os fizeram, rolos de pele, polida de um lado no qual se escrevia. Estes
poderiam ser de comprimento quase inconveniente; a Jesus foi entregue na
sinagoga “o rolo do profeta Isaías,” e ele “encontrou o lugar onde estava escrito”
– coisa difícil de fazer na longa série de colunas daquele livro, cujo texto
impresso soma 125 páginas grandes e o rolo hebraico teria não menor número
de colunas, sem número para indicar capítulos, letras maiúsculas ou número de
colunas (pois não havia páginas) para auxiliar o leitor em sua procura.
QUESTIONÁRIO
6. Qual a mudança que Lutero fez à ordem dos livros do Velho Testamento?
Valiosos e apreciados como eram seus escritos, nada existe que possa
sugerir que eles foram recebidos como sagrados ou como Escritura, e depois da
morte de Isaías, que provavelmente foi martirizado quando Manassés, o rei
semi-pagão, subiu ao trono, não mais houve profecia em Judá. Os profetas eram
silenciados ou mortos. O culto de Jeová foi negligenciado e a religião entrou em
decadência.
Assim o Deuteronômio tornou-se a lei da terra. Este livro foi escrito nos
dias negros e idólatras de Manassés, por algum profeta, às escondidas do rei e
seus oficiais, e que não podendo pregar sua mensagem, escreveu-a na esperança
de que tempo viria quando em que ela poderia ser encontrada e observada. E
este profeta desconhecido veio a exercer grande influência na religião e na
literatura judaicas.
A lei alcançou sua estatura plena logo depois de 400 A.C., quando foi
outra vez ampliada pela combinação com história e legislação sacerdotal que
haviam nascido e crescido no século precedente. Levítico, o livro da lei
sacerdotal, foi a principal adição feita à lei, mas cada uma das partes da velha
coleção foi também enriquecida. O resultado foi um trabalho de magnífico
alcance e qualidade épicas. Foi um esboço de história, um registro do começo
das instituições e nações humanas, um sistema de culto de um manual de
religião e moral – tudo sintetizado num só corpo. Isto era o Pentateuco.
Os saduceus, tão bem conhecidos por nós, tal seu papel nos Evangelhos,
também aceitaram somente a Lei como Escritura. Os fariseus não ficaram só
nisso, pois sua devoção à Lei chegara até o fanatismo. Antes e depois de tocarem
uma cópia da Lei, deveriam lavar as mãos; pois pitorescamente diziam, a Lei
mancha as mãos. Este estranho tributo eles pagaram depois a toda a sua
escritura.
Nas velhas sinagogas judaicas havia uma arca ou armário para a guarda
do rolo da Lei, exatamente como existe hoje. Realmente não é demais o dizer-se
que a Lei ocupava o lugar e requeria a reverência dada a um ídolo num templo
pagão. A função primária da sinagoga era instruir na Lei.
QUESTIONÁRIO
2 As citações do Novo Testamento que aparecem nesta tradução não são uma tradução para o
português da versão americana de Goodspeed que aparece no texto original, mas citações da
versão portuguesa de João Ferreira de Almeida, Edição Revista (1951). (Nota do tradutor).
Capítulo III
A LEI E OS PROFETAS
Quando os judeus firmaram-se sobre a Lei como guia para sua vida social
e religiosa, eles já eram ricos em outros escritos e religiosos da melhor espécie.
Os grandes profetas literatos haviam falado e escrito – Amós, Oséas, Miquéias e
Isaías, no século oitavo; Sofonias, Naum, Habacuc e Jeremias, no século sétimo;
Ezequiel, Ageu e Zacarias, no sexto, e Malaquias, Obadias e Joel no quinto
século. A história do Reino, que nós conhecemos como os quatro livros de
Samuel e Reis, estavam já completos no século sexto e o livro de Juízes foi
completado no quinto.
Nalgum tempo entre 250 A.C. e 175 esta coleção de profetas foi formada e
chegou a ser reconhecida como autoridade, lado a lado com a Lei. Em
quatrocentos ou quatrocentos e cincoenta anos a Bíblia do judaísmo cresceu do
livro de Deuteronômio até à Lei e aos Profetas. Nos tempos de Jesus as lições de
ambos, da Lei e dos Profetas, eram lidas todos os sábados na sinagoga, e eram
traduzidas para o Aramaico para aqueles a quem o hebraico havia se tornado
língua morta. Mas os profetas jamais eram reconhecidos como iguais à Lei, pois
a Lei era traduzida verso por verso, mas os Profetas três de cada vez.
Não foi menos útil à vida espiritual dos judeus os livros de Samuel e Reis,
com o registro da experiência religiosa da nação e seus líderes – reis como Davi,
Ezequias e Josias, e profetas como Samuel, Elias e Eliseu. Estes livros, com
Josué e Juízes, eles denominaram de Profetas Anteriores.
A reverência com que agora são também tratados esses livros históricos
ilustra a satisfação piedosa com que os judeus, em sua presente e reduzida
posição política e econômica, olhavam para trás para os grandes dias da história
de sua nação, seu período heróico, quando ela possuía um lugar entre as nações
da terra, e tinha tais reis como Davi e Salomão.
Ele reuniu um círculo íntimo de discípulos ao redor de si, assim como fez
Isaías (Isaías 8.16), e aplicou ao povo judeu as palavras de desânimo e
repreensão que Isaías havia usado:
QUESTIONÁRIO
Os Salmos têm muito a nos contar a respeito das situações e períodos nos
quais apareceram, mas nosso principal interesse nos mesmos é como uma
expressão da vida pessoal religiosa – remorso, arrependimento, aspiração,
comunhão, esperança, fé, confiança. Não há livro na Bíblia tão querido ao
moderno adorador como o de Salmos. Qual o livro em todo Velho Testamento
que mais significa para sua própria religião do que este?
Entretanto eles chegaram a este total de várias maneiras, que podem nos
parecer estranhas. Às vezes eles contavam Rute como parte de Juízes, Neemias
como parte de Esdras, e Lamentações como parte de Jeremias. Samuel, Reis e
Crônicas naturalmente eram volumes separados. Os Doze Profetas Menores
formavam um livro ou rolo, como já vimos, e isto perfazia o total de vinte e
quatro livros. Ou outras vezes eles contavam o Cântico dos Cânticos, Rute,
Lamentações, Eclesiastes e Ester como um livro (pois eles poderiam todos ser
reunidos num simples rolo), e ainda alcançavam o mesmo total, que parecia ser
um ponto muito importante.
Ao tempo em que Josefus escreveu seus dois livros Contra Apia, pelos
fins do primeiro século depois de Cristo, este era o estado de desenvolvimento
das Escrituras judaicas. Josefus reconheceu cinco livros de Moisés, isto é, a Lei;
treze livros proféticos, enquanto “os restantes quatro livros contêm hinos a Deus
e preceitos para a conduta da vida humana” (1.8). Por este último ele
provavelmente quis dizer Salmos, Jó, Provérbios e Eclesiastes.
QUESTIONÁRIO
11. Qual o livro do Velho Testamento que fez a maior contribuição à religião
pessoal?
12. Qual era o conteúdo das escrituras judaicas assim como as arranjavam os
judeus?
OS APÓCRIFOS
Quais foram esses livros tão altamente estimados pelos cristãos por
tantos séculos, e que ainda fazem parte de qualquer edição Autorizada da
Bíblia?3
3 “Authorlzed Version” ou edição Autorizada da Bíblia em inglês é o nome dado às edições que se
Daniel foi também enriquecido por três adições – Susana, Bel e o Dragão
e o Canto das Três Crianças. Susana, conto de cores bem vivas, escrito para
afetar realmente o procedimento judicial judaico, era colocado no começo do
livro de Daniel a fim de penetrá-lo no leitor como um jovem de dons
extraordinários. Bel e o Dragão são duas histórias curtas com o propósito de
ridicularizar a idolatria. Ambos são claramente sugeridos pelas próprias
narrativas de Daniel.
Judite pode ser descrito como uma novela farisaica. A heroína observa a
lei relativa aos alimentos e purificações escrupulosamente, embora morta na
tenda do general inimigo, quando planejava assassiná-lo, como de fato o fez,
livrando assim seu povo de um grande perigo. A incongruência de sua
meticulosa observação de deveres religiosos com seu impiedoso assassínio de
um homem inconsciente é o que dá à história seu caráter peculiar e interessante
ao leitor moderno. Shakespeare colocou em suas filhas os nomes de Judite e
Susana.
sacramentos e outros ritos da Igreja Anglicana. Este livro é fruto dos talentos e esforços do
Arcebispo Thomas Cranmer (1489-1586) que preparou com material encontrado nos livros de
ritual em latim usados na Inglaterra antes da Reforma. (Nota do tradutor).
O Primeiro Livro dos Macabeus conta a história do esforço de um rei sírio
para obrigar os judeus a aceitarem o Helenismo,6 e a oposição foi oferecida
pelos judeus sob a liderança de Judas Macabeus e seus irmãos. Este livro narra
esta história até a fundação da chamada Casa dos Hasmoneus por Simeão, o
terceiro desses três grandes irmãos. Ele forma uma ligação inestimável entre o
Velho e o Novo Testamento, contando-nos uma história heróica. Escrito em
hebraico bem no começo do último século antes de Cristo, logo foi traduzido
para o grego. Quando o Evangelho de João fala-nos da festa da Dedicação ou
Rededicação (João 10.22), refere-se à celebração instituída por Judas Macabeus,
quando ele e seus seguidores haviam reconquistado o templo aos sírios e
recomeçado o oferecimento de sacrifícios no mesmo (I Macabeus 4.59).
6 Helenismo é o termo usado para descrever a velha cultura grega, que depois do tempo de
Alexandre, o Grande (356-323 A.D.), espalhou-se pelas terras ao oriente do Mediterrâneo. Essa
cultura em termos de língua e pensamento, chamou-se Helenismo. (Nota do tradutor).
regularmente de Roma como sendo Babilônia. Isto fazia parte do vocabulário
apocalíptico.
QUESTIONÁRIO
2. Em que lugar do cânon eles apareceram em grego, latim e nas mais antigas
Bíblias em alemão e inglês?
4. Qual a influência que sua ação teve sobre as Bíblias impressas em inglês?
Ele havia, entretanto, dito aos colossenses que tomassem a carta que ele
estava escrevendo a Laodicéa (provavelmente significando Filemon), e que
partilhassem a que lhes dirigia com os propósitos laodicenses (Colossenses
4.16). Isto naturalmente levaria à preservação dessas duas cartas no coração de
ambas as igrejas. O próprio Paulo foi quem tomou este passo no sentido de
reunir e preservar suas cartas, e o fez inconsciente naturalmente. Seu propósito,
ao convidar os colossenses a ler o que ele havia escrito a Filemon, foi o de fazer
com que o sentimento cristão das igrejas de ambos os lugares, Colossos e
Laodicéa, velasse pela segurança do foragido escravo Onésimo, que ele estava
assumindo a triste responsabilidade de enviar de volta a seu senhor Filemon.
Por outro lado, Marciano, o armador de navios do Ponto, que fez esforços
frenéticos para reavivar Paulo e atirar ao lado o Velho Testamento, em cerca de
140 A.D., preferiu Lucas aos outros evangelhos. Ele foi o primeiro homem que
tentou organizar uma escritura cristã, isto é, um corpo de escritos cristãos que
tomasse o lugar da Bíblia judaica no culto cristão. Marciano encontrou muitas
coisas no Velho Testamento que eram repugnantes ao seu senso de moral cristã,
e assim ele advogou o abandono das escrituras judaicas como um todo,
colocando em seu lugar no culto público uma coleção cristã, consistindo do
Evangelho de Lucas e dez cartas de Paulo. Ele alcançou grande sucesso em sua
reorganização de igrejas cristãs sobre esta nova base, mas finalmente suas
igrejas o consideraram herege. A Igreja estava muito ligada ao Velho
Testamento para abandoná-lo. Mas sua idéia de uma escritura cristã para ser
lida nas igrejas sobreviveu e auxiliou a formar o movimento por um Novo
Testamento poucos anos depois. Somente quando isto aconteceu, o Novo
Testamento foi colocado lado a lado com o Velho e não no lugar desse.
QUESTIONÁRIO
Isto deve ter tido lugar aproximadamente em 175 A.D., pois encontramos
este movimento em favor de uma organização refletido em três fontes
principais.
Primeiro, em Irineu, de Leão, que, cerca de 185 A.D., escreveu sua famosa
“Refutação ao Gnoticismo” (literalmente “Conhecimento assim falsamente
chamado”), cujo trabalho usualmente se intitula “Contra Heresias.”
Irineu veio de Éfeso, mas escreveu suas obras em Leão, na Gália. Com
Tertuliano, de Cartago, e outros líderes cristãos de seus dias, ele sentiu que a
esperança das igrejas estava no retorno de especulações e ismos
contemporâneos à fé dos apóstolos, e, como a única igreja no mundo ocidental
que poderia arrogar-se contato com eles era a igreja que estava em Roma, ele
apontou seu tipo de Cristianismo como o mais puro e o único a ser seguido pelas
igrejas do oeste. É interessante notar que homens tão distantes um do outro,
como Tertuliano no Norte da África e Irineu na Gália, ambos sentiram deste
modo, isto é, seguir a liderança da igreja de Roma ao decidir qual era o genuíno
Cristianismo. Isto leva-nos a pensar que novo movimento tinha sua fonte
naquela cidade.
Tertuliano escreveu seus livros, principalmente em latim, nas vizinhanças
de Cartago, o primeiro centro do Cristianismo latino, quase no fim do segundo
ou nos primeiros anos do terceiro século. Um fragmento curioso de escritos
cristãos chamado pelo nome de seu descobridor, o Fragmento Muratoriano, é
nossa terceira testemunha a respeito do aparecimento do Novo Testamento,
pois ele fornece uma lista dos livros cristãos que poderiam ser lidos
publicamente nas igrejas. Este fragmento de três páginas de um escrito cristão
primitivo, talvez obra de Vitor de Roma, no fim do segundo século, dá-nos a
lista aceita na própria Roma por volta de 200 A.D.
Por este tempo elas também foram unidas e encardenadas juntas numa
maneira excelente pela adição do segundo volume de Lucas, sob o nome de Atos
dos Apóstolos. Naturalmente isto clareava grandemente a relação histórica de
Paulo e suas cartas à narrativa do evangelho, mas Atos foi acrescentado menos
por seu interesse histórico, tão vivamente sentido, do que pelo serviço que este
livro poderia prestar ao atribuir à figura dos apóstolos, que agora assumiam
nova importância na controvérsia com as seitas, a decisão do que era genuíno
no Cristianismo ou não. Tudo que pudesse servir para ligar esta nova coleção de
escrituras com os apóstolos, os seguidores pessoais de Jesus, era muito
importante.
7 Manuscrito Chester Beatty é um papiro encontrado no Egito e adquirido por Mr. Chester
Beatty; exceção feita ao manuscrito 957, é o mais antigo original conhecido. Contém partes do
Velho e do Novo Testamento. É a mais sensacional descoberta no campo da crítica textual e teve
lugar no inverno de 1930-31. Estudado em detalhes, foi publicado na Inglaterra por Sir. Frederic
O. Kenyon. (Nota do tradutor).
Enquanto o conflito com os cismáticos por volta de 175 A.D. levou o
Cristianismo ocidental a organizar seus escritos cristãos baseados na autoridade
apostólica para situar-se ao lado da Bíblia judaica é evidente que muitos dos
livros que ele aceitou na nova coleção haviam estado em uso pelos cristãos há
muito tempo, e haviam encontrado um lugar de utilidade indispensável na vida
das igrejas. O que era feito agora era principalmente reconhecer o lugar que as
grandes cartas de Paulo e os Quatro Evangelhos haviam já conseguido na estima
e serviço cristãos. Estes grandes corpos de obras cristãs são agora reunidos e
suplementados por Atos dos Apóstolos, duas ou três cartas gerais e um ou dois
apocalipses.
Estes são os livros que o Cristianismo romano, lado a lado com o gaulês e
o norte-africano, agora se propunham a aceitar como autoridade no que era
cristão e apostólico, e para ser lido no culto público ao lado do Velho
Testamento grego. Neste período, o último quartel do segundo século, o nome
de “Novo Testamento” (literalmente “Pacto ou Concerto”), descrito por
Jeremias e aplicado na Epístola aos Hebreus à religião cristã (8.8-12), começou
a ser usado em relação a este novo corpo de escrituras cristãs, enquanto às
escrituras judaicas chamavam-se Velho Testamento. Teoricamente eles eram
iguais como autoridade religiosa, mas não praticamente, pois como Harnack
uma vez mostrou, o Velho Testamento é sempre interpretado para concordar
com o Novo, nunca o Novo com o Velho.
QUESTIONÁRIO
8. Como pode ser isto comparado à posição dos cristãos egípcios daquele
tempo?
10. Como os líderes cristãos encontraram lugar para sua nova escritura ao lado
de sua velha Bíblia grega?
CAPITULO VIII
8 “Erudito” é usado aqui para traduzir o vocábulo inglês “scholar.” (Nota do tradutor).
9 Católico no sentido de universal. (Nota do tradutor).
o ponto de vista do Apocalipse e do Evangelho de João, ou ser capaz de escrever
ambos os livros. Estudos modernos concordam com ele plenamente, e não tenta
fazer dos dois livros a obra do mesmo João. Mas a igreja oriental sentia que se o
Apocalipse não era obra de um apóstolo, não deveria pertencer ao Novo
Testamento.
Que essas obras curiosas tiveram seus advogados cerca do ano 300 A.D. é
visto pela lista de livros da escritura copiados no manuscrito de Clermont que
contém as cartas paulinas, atualmente na Biblioteca Nacional em Paris. O
manuscrito foi escrito no sexto século, mas a lista deve ter sido copiada de um
muito mais velho, pois ela inclui Barnabé entre as epístolas católicas e coloca no
fim do Novo Testamento o Pastor de Hermas, os Atos de Paulo e o Apocalipse
de Pedro. O mesmo conceito egípcio de inspiração que havia ampliado as
escrituras judaicas no Egito pela incorporação dos Apócrifos às mesmas, estava
presente trabalhando para um maior Novo Testamento do que seria permitido
pela Igreja de Roma. Temos visto como Clemente de Alexandria, cerca de 200
A.D., acrescentou Hebreus às cartas de Paulo, e aceitou o Apocalipse de Pedro e
o Pastor de Hermas ao lado do Apocalipse de João; ele também aceitou a Carta
de Clemente e a Epístola de Barnabé em sua lista de Epístolas Católicas;
também citou a Pregação de Pedro e o Ensino dos Apóstolos como escrituras –
fazendo um Novo Testamento de trinta livros. Assim, desde o primeiro
aparecimento de uma escritura cristã no Egito, ela possuiu uma lista realmente
inclusiva.
Era seu costume enviar uma carta por ocasião da Páscoa às igrejas de sua
diocese, e em 367 A.D. o assunto tratado em sua carta dizia respeito aos livros a
serem lidos na Igreja. Sua lista de livros do Novo Testamento é como a que
temos hoje. Mas ele acrescenta o Ensino dos Apóstolos e o Pastor de Hermas,
como excelente leitura para o povo recebendo preparação e instrução cristã para
ingressar na igreja. Ele menciona cinco livros que conhecemos como apócrifos e
também bons para esse propósito – a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de
Sirac, Ester (com as adições gregas), Judite e Tobias.
Por este tempo já o Novo Testamento havia sido traduzido para o latim, e
em 382 A.D., Jerônimo, o grande erudito da igreja do ocidente, começou sua
revisão. Ele visitou o oriente, e passou grande parte de seu tempo na Palestina,
trabalhando sobre o Velho Testamento. Conhecia bem as dúvidas que haviam
prevalecido no ocidente sobre a inclusão da carta aos Hebreus entre as de Paulo,
mas ele a incluiu em sua edição revista do Novo Testamento Latino, embora
observasse que “era costume dos latinos não aceitarem isso.”
QUESTIONÁRIO
Já vimos que a versão grega das Escrituras hebraica havia sido a Bíblia da
Igreja Primitiva. Ela já continha dez livros que não se encontravam na Bíblia
judaica da Palestina, mas que surgiram entre os judeus do Egito, que também
haviam produzido a versão grega da Bíblia hebraica. Estes livros que mais tarde
vieram a ser chamados apócrifos, não estavam separados do resto da Bíblia
grega, mas espalhados entre seus livros.
“Nyl yee deme, that yee be not demede, for in what dome yee demen yee
schulen be demede” (Mat. 7.1-2). “I am a verrey vyne, and my fadir is an
erthe tilier” (João 15.1). “Sue yee charite” (1 Cor. 14.1). “Men of Athenes,
by all thingis I se yiou as veyne worschipers” (Atos 17.22). “Bilevest thou
kyng agripa to prophetis? I woot for thou bilevest” (Atos 26.27).
“Bretheren nyl yee be made chyldren in wittis, but in malice be ye litil,
fosothe in wittis be yee parfite” (I Cor. 14.20).
10 Estes exemplos de Wyclif foram deixados no corpo desta tradução para dar idéia, àqueles que
conhecem bem inglês, de quão arcaico era o inglês de Wyclif. (Nota do tradutor).
cobrindo esta ou aquela parte do texto, não há evidência de nenhuma tradução
completa anterior a Wyclif, e a evidência de traduções parciais não é suficiente.
Este silêncio dos manuscritos é fortemente corroborado pela expressa proibição
por uma autoridade da igreja depois de outra das traduções em inglês. Através
da convocação de Oxford, em 1408, o Arcebispo Arundel expressamente proibiu
a tradução de Wyclif, e o prefácio do Novo Testamento de Rheims (católico)
admite francamente que tais traduções não haviam sido previamente
permitidas.
Wyclif foi auxiliado em sua tradução por seu aluno, Nicolau Hereford,
que traduziu a maior parte do Velho Testamento. Os seguidores de Wyclif
percorreram o país lendo a nova Bíblia ao povo que não poderia lê-la por si
próprio; estes eram os Lolardos, cujo trabalho, embora sofrendo perseguição
cruel e freqüente, agiu por um século e meio e auxiliou a preparar a Inglaterra
para a Reforma.
Lutero fez seguir sua tradução do Velho Testamento com uma tradução
do Velho Testamento hebraico em quatro partes. Estas eram publicadas em
intervalos, à medida que eram completadas. Enquanto isso a tradução alemã do
Novo Testamento estava circulando aos saltos e pulos, indo de edição em
edição. Diz-se que oitenta e cinco edições vieram à luz entre 1522 e 1533, ou
antes que a Bíblia toda fosse terminada.
A tradução de Lutero foi tão bem feita que veio a servir como base do
alemão como linguagem literária; sua Bíblia é considerada como o começo da
literatura alemã. Ela assentou tão alto o padrão de tradução que por séculos
nenhum outro esforço foi feito para traduzir a Bíblia em alemão; isto parecia
supérfluo. Mesmo dentro dos últimos cincoenta anos, que testemunharam
grande número de esforços para traduzir o Novo Testamento Grego em inglês
vulgar, os esforços para uma tradução moderna alemã para o vernáculo têm
sido poucos e infrutíferos.
Hoje dificilmente se pode encontrar uma Bíblia inglesa que possa ser
tomada pela mão e que seja publicada do outro lado do mar, que inclua a Bíblia
inteira, Velho Testamento, Apócrifos e Novo Testamento. A Imprensa das
Universidades de Cambridge e de Chicago são os únicos editores meus
conhecidos que possuem tais edições. E, quer queiramos ou não, os apócrifos
formam parte integrante da história da Bíblia inglesa, desde Coverdale até à do
Rei Tiago, e para qualquer estudo literário, estético ou religioso da Bíblia, eles
são indispensáveis.
QUESTIONÁRIO
13 Kenyon, Frederie, Handbook to the Textual Criticism of the New Testament (Grand Rapids,
A obra de Almeida foi coroada com a última revisão da Bíblia por uma
comissão que trabalhou no Rio de Janeiro desde 1945, sob os auspícios da
Sociedade Bíblica do Brasil.
QUESTIONÁRIO
Somente alguns anos depois que surgiu a tradução do Rei Tiago (1611),
foi trazido a Londres (em 1628) um manuscrito grego da Bíblia que fez profunda
impressão sobre os eruditos Ingleses. Ele foi enviado ao rei Carlos I pelo
Patriarca de Constantinopla, Cirilo Lucar, e continha o Velho Testamento na
versão grega dos Setenta junto com o Novo Testamento Grego. Ele foi chamado
Codice Alexandrino, ou manuscrito Alexandrino. Foi escrito no século quinto, e
sua grande antigüidade chamou a atenção para o tipo de texto que ele continha.
Ele é agora um dos principais tesouros do Museu Britânico.
Em 1755 João Wesley publicou sua tradução do Novo Testamento. Ela foi
intitulada: “O Novo Testamento com notas, para homens incultos que conhecem
somente sua língua materna.” Este tem alcançado grande influência,
especialmente entre wesleyanos ingleses. Em 1789-91 Gilbert Wakefield, um
erudito de Cambridge, publicou uma tradução vigorosa. O Arcebispo Newcome
publicou uma nova versão em Dublin, em 1796.
perto do mar Morto donde saíram, na primavera de 1947, os chamados Rolos do Mar Morto.
Mas as descobertas de manuscritos nos vários e diferentes campos já têm
alcançado efeitos profundos sobre as traduções do Novo Testamento que elas
requerem um especial capítulo neste estudo.
QUESTIONÁRIO
Isto teve lugar a cerca de 12 quilômetros de Jericó, nas ruínas antigas chamadas Khirbet
Qumran. Nesta caverna de Qumran teve lugar uma das mais notáveis descobertas arqueológicas
do século. Antigos manuscritos, datando do segundo ou, pelo menos, do primeiro século antes
de Cristo continham um Manual de Disciplina de antiga organização monástica dos Essênios,
fragmentos de alguns livros do velho Testamento, entre eles, um manuscrito do livro de Isaías
que contribuiu grandemente para o estudo do texto desse livro, sendo o mais antigo manuscrito
conhecido atualmente. Outras descobertas posteriores de um sem número de pequenos
fragmentos, ainda não totalmente estudados e inéditos, certamente trarão grande colaboração e
crítica textual do velho e Novo Testamentos. (Nota do tradutor).
CAPÍTULO XII
Parece muito pouco provável que tal desejo pudesse ser realizado, mas é
uma realidade que os papiros gregos estão já começando a vir à luz das areias do
Egito, e estas descobertas, que desde estão têm corrido como verdadeira
enchente, têm mostrado que o jovem professor de apenas trinta e quatro anos
estava realmente certo. Ele estaria, de fato, maravilhado da profundeza da
verdade de sua observação.
Pois os papiros gregos são em mais que noventa e cinco por cento não-
literários; eles são documentos da vida ordinária: fatos, arrendamentos,
contratos, censuras, notícias, cartas, convites, registros, listas – toda e qualquer
espécie de negócios e bilhetes privados que alguém possa imaginar e mais uma
centena de coisas que ninguém pode imaginar, tudo escrito em grego familiar,
língua de cada dia, o grego vernacular dos tempos do Novo Testamento.
QUESTIONÁRIO
3. Que descobertas dos séculos dezoito e dezenove têm lançado novas luzes
sobre o Velho Testamento?
6. Que novas versões do Velho Testamento apareceram nos últimos vinte e cinco
anos?17
8. Que valores particulares possuem estas versões modernas que não pertencem
também às versões padrão?
9. Que sugerem eles como atitude geral para com a Bíblia hoje em dia?
REVISÃO E SUMARIO
Por outro lado João 3.16 aparece na versão do Rei Tiago exatamente
como estava na “Bishops’ Bible” e na Grande Bíblia.
QUESTIONÁRIO