Esu O Principio de Tudo
Esu O Principio de Tudo
Esu O Principio de Tudo
Me chamo Daniela Issoálá, nome a mim dado por Oyá, em dezembro de 2015, quando
finalmente me entreguei ao candomblé de corpo e alma. Nascida na cidade de Salvador, vivi
aqui até os 21 anos, seguindo para a cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Lá, descobri
o meu caminho no candomblé.
Com formação em Licenciatura Plena em História e Especialização em História da
África e Cultura Afro-Brasileira, passei a pesquisar sobre o povo Djedje na cidade de
Cachoeira/Ba através dos terreiros Humpamy Huntológi e Seja Hundê e os candomblés locais
em 2007, até chegar nos caminhos do Nagô Vodum e Ketu através de minha Ìyà mi Gil Melo,
conhecida por todos da cidade como Ya Vaninha, no Ilé Axé Odelecy Dossorô Domin.
Com a direção de minha mãe Ya Vaninha, passei a estudar mais a fundo o candomblé,
os países africanos, as tradições do Brasil e da África, passei a compreender melhor a minha
religião. Por esta razão, os objetivos de escrever sobre os meus estudos são de auxiliar as
pessoas na desmistificação existente sobre o candomblé desde o período colonial, manter a
nossa cultura e tradição religiosa, além de esclarecer dúvidas de irmãos e irmãs de àse.
Atualmente, tenho o apoio de minha Íyá e do trabalho da Eleko Consultoria, criado
para ajudar as mulheres a alcançar seus objetivos.
Irmãos e irmãs, espero que este material possa ajuda-los no processo de estudo e
aperfeiçoamento sobre a nossa religião. Vamos unir nossas forças para que possamos manter
o legado a nós deixado.
Que Oyá abençoe a todos. Àse.
Dani Issoálá
Èsù, o princípio do mundo.
1
Um dos nomes dados pelo povo yorubá para classifica Deus, assim como o nome Olorun.
2
Local específico onde é realizada homenagens a ele.
o momento e que ele retornasse daqui a trinta para ver o que poderia ser feito. A insistência de
Orunmila era muito grande, todos os dias ele falava com Obatalá, até que Orunmila olhou
para ele e disse: - “Tudo bem Obatala, venha até aqui, coloque a mão sobre o Èsù Yangi e
assim que eu pronunciar algumas palavras, siga em direção a sua casa e tenha relações com
sua esposa, ela conseguirá engravidar.”
Assim foi feito e a esposa de Obatala, enfim, estava grávida. Após doze meses, a
criança nasce e Orunmila colocou o nome de Elegbara (Senhor do Poder). Mas algo estava
estranho naquela criança, assim que seu nome foi pronunciado, a mesma chorava
copiosamente e passou a dizer a seguinte frase a sua mãe: “Ìyà Íyá, ng o je eku3. Para
satisfazer a vontade de seu filho, sua mãe buscou todas as preás que existiam na cidade, mas
isso não foi o suficiente para saciar a fome de Elégbára.
Quando não havia mais preás, sua mãe buscou os dradúpedes, logo em seguida as aves
e até mesmo os peixes. Até que um dia, com muita fome, Yebìiru cantou para seu filho e ele a
devorou sem o menor ressentimento. Ao avistar aquela cena Orunmila, desesperado, foi
consultar o oráculo para saber o que fazer com seu filho e foi indicado que fizesse um ebó
para Elegbara com bode, quatorze mil cauris e uma espada. Foi dito a Orunmila que no
momento certo ele deveria usar a espada e parar o seu filho.
Assim fez Orunmila, preparou o ebó e, em sua casa, chamou por seu filho que chorava
de fome, de sua boca saía a seguinte frase: “Bába Bàba, ng ò je oo4. Seu pai cantou a canção
que Yebìiru cantava para Elegbara quando estava com fome e, neste momento, èsù avançou
para come-lo, mas Orunmila foi mais rápido e pegou a espada cortando èsù em 200 pedaços
que se espalhou pelos 9 cantos do Orun5.
Orunmila passou a perseguir èsù, cada vez que o encontrava cortava-o novamente em
200 pedaços que davam origem a outros èsùs. Cansado de ser perseguido por seu pai,
Elegbara propôs uma trégua e disse que a partir daquele momento, cada èsù seria uma
representação de Orunmila e tudo que foi engolido por ele será devolvido à terra através das
mãos do homens.
Por esta razão, èsù é sempre o primeiro a ser lembrado em qualquer fundamento
realizado nos terreiros de candomblé. Pois é ele que leva para Orunmila os anseios e
oferendas dos seres humanos, é ele que leva para os orisás o que cada filho pede ou que esteja
passando. Isso faz de èsù um protetor, aquele que protege e guia a quem sempre lembra dele e
3
“Mãe, mãe, quero comer preás”
4
“Pai, pai, quero come-lo”
5
Céu, mundo espiritual onde se encontram os orisás e desencarnados.
de seus feitos, sendo comum sua presença nas entradas dos terreiros para proteger a todos que
estão presente.
Este itan também mostra o poder da transformação e multiplicação que èsù possui.
Quando Orunmila saiu cortando Elegbara, ele passou a ter um total de 1201 pedaços
espalhados, por isso não existe uma quantidade mínima de èsù, mas sim diversos protótipos
do primeiro a ser criado no mundo espiritual.
Nos casos dos èsùs Bara, esses acompanham os orisás e tem a função específica de
cuidar, preservar o omo6 de cada divindade, é tido como um orisá também e podem ser os
donos do ori7 de um iniciado.
As qualidades mais comuns de èsù são:
Èsù Yangi: O primeiro a ser criado por Obatala. Representado nos assentamentos pela
pedra chamada laterita vermelha.
Èsù Agba ou Agbo: Ele é um dos mais velhos, faz parte das primeiras linhagens.
Èsù Igba Keta: Representa o barro junto aos elementos da criação, está ligado ao
número 3, a terceira cabaça onde guarda o barro.
Èsù Ikoita Meta: É ligado a encruzilhada
Èsù Okoto: Representa a evolução existente na terra, o caracol agulha é usado como
símbolo de sua existência.
Èsù Obassin: Cultuado em Ile Ife, tido como o amigo leal de Oduduwa na contrução
do Aiye8.
Èsù Odara: Lembrado no momento do sacrifício.
Èsù Ojise ebo: Ele leva a súplicas para Olodumare no momento da oferenda.
Èsù Eleru: Leva o carrego dos iniciados.
Èsù Elegbara: Tansforma o mal em bem, transforma as coisas.
Èsù Lonon: Senhor dos caminhos.
Èsù Inon: Está intimamente ligado ao Ipade, representa o fogo, as chamas. Por conta
disto, possui uma ligação com Osun e as mães ancestrais.
Èsù Elepo Pupà: Possui sua história ligada a um itan de Osala. Representa o azeite de
dendê.
Èsù Aladi: Também está ligado a um itan de Osala. Representa o carvão.
6
Filho ou filha
7
Orisá de cabeça, de frente.
8
Terra.
Èsù Bara: É o èsù do movimento do corpo humano, sendo assentado no momento da
iniciação junto com o ori e o orisá individual. É quem vigia os passos do iniciado para o orisá.
Èsù Odusô: É quem está presente no momento que o oráculo é consultado. Está
sempre a vigiar o babalawo para que o mesmo não minta.
Èsù Barabó: É o èsù da comunicação. Guardião das aldeias, casas, cidades, do àse e
do comportamento humano.
Existe outros qualidades de èsús, estes citados acima são os mais encontrados nos itans
que mostram a ligação desta divindade com os outros orisás. Existe um outro itan que fala
sobre a formação do mundo e a importância de reverenciar a èsù antes de qualquer
procedimento.
Quando Orunmila decidiu criar o mundo, chamou seu filho Obatala e designou a ele o
dever de seguir para um local chamado mar do Nada Ser com o auxílio dos outros orisás
funfun (vestem somente branco), dando-lhe em mãos um saco compondo os quatro elementos
da natureza: terra, água, fogo e ar. Este saco chamava-se saco da existência ou Ipo Ìwa. Antes
de seguir viagem, Obatala procurou o oráculo para saber que Odu os acompanhariam nesta
tarefa.
Ao consultar o oráculo, o babalawo9 informou a Obatala que Ejiogbe Meji10 seria o
seu caminho e que esse Odu significava o nascimento. Mas, para que tudo desse certo, seria
preciso fazer uma oferenda a Elegbara. Obatala negou-se a fazer a oferenda, achava que era
desnecessário ele, o filho de Olodumare, prestar reverência a èsù, no entanto, esquecera que
seu pai já havia determinado que ao consultar o oráculo, èsù deveria ser lembrado e
reverenciado.
Então Obatala seguiu adiante com os outros orisás. Èsù acompanhava mais afastado
para não ser percebido, pois esperava a hora certa para agir diante a negligência de Obatala. O
caminho era longo, o sol escaldante, a quantidade de água e comida levada não era o
suficiente e em pouco tempo não supria mais as necessidades de todos presentes, um a um, os
orisás foram deixando Obatala para trás, até que ele se viu sozinho e seguiu com fome e com
sede. Foi neste momento que èsù mostrou o lado negativo de Ejiobe Meji.
Sem que Obatala percebesse, èsù avançou nos seus passos, pegou um pouco de pó
mágico que se encontrava dentro de uma das suas cabaças e jogou no chão fazendo surgir
9
Aquele que tem domínio sobre Ifa, sobre o oráculo yorubano.
10
Primeiro Odu do jogo de Ifa que representa a vida, o nascimento. Odu quer dizer destino, o caminho que te
acompanha com seu lado positivo e negativo. Dizem os babalawos que quem negativa o nosso destino somos
nós mesmos dependendo das escolhas que fazemos.
uma enorme palmeira no meio do deserto. Atordoado pela sede, Obatala correu em direção a
ela em busca de água, mas ao se aproximar da palmeira viu que o chão estava seco, porém a
sede o consumia e ele bateu com a ponta de seu cajado fazendo sair o líquido fermentado
chamado “emu”11, a qual Obatala a aparou em sua cabaça para matar a sua sede. A quantidade
de emu que ele bebeu foi tão grande, que acabou deixando-o embriagado e Obatala dormiu na
sombra da grande palmeira, deixando a mercê o Ipo Iwa.
Ao ter certeza de que Obatala estava adormecido, èsù pegou o saco da existência e
levou de volta a Orunmila. Nada escapava dos olhos e ouvidos do grande criador, inclusive a
verdade ou a mentira. Quando èsù chegou e se dirigiu a Orunmila, ele já sabia do acontecido,
sabia que isso havia sido uma armação entre èsù e Ododuwa, a irmã de Obatala, e que toda ta
armação só estava ocorrendo devido a oferenda de Elegbara não ter sido entregue como
determinado.
Mesmo sabendo de tudo, o grande criador deixou èsù contar o que havia acontecido e,
diante a falha de seu filho, mandou que sua filha, Ododuwa, seguisse com a missão. Ela
também buscou o oráculo para saber o Odu que a acompanharia e foi informada pelo
babalawo que o Odu Oyeku Meji12 seria a sua caminhada. Este Odu está ligado a morte e,
apesar de Oduduwa obter a vitória mais adiante, seria uma caminho de muita luta e
resistência. Ela também precisaria fazer uma oferenda a Elegbara para garantir o sucesso de
sua tarefa, diferente do irmão, a oferenda foi feita e Ésù se tornou o mais leal das divindades
acompanhando Oduduwa.
Por conta do Odu que a acompanhou, esta é a única divindade da formação do mundo,
da linhagem funfun (branco) que utiliza a cor preta representando Iku. Este itan mostra a
importância que é dada a èsù em todos os caminhos, sem ele não teríamos a proteção, a
diminuição das dificuldades, o próprio Orunmila reconhece a importância de oferecer
primeiramente a èsù para depois oferecer a ele. Ésù abre os caminhos.
Esta não foi a única vez que Obatala insistiu em não reverenciar Ésù. Há um itan que
explica o motivo de Aiyra13 carregar Oxalufan14 nas costas em rodas de candomblé. Um dia
Obatala decidiu visitar o seu amigo Sàngó em Oyo, como era de costume, seguiu em busca do
11
Bebida fermentada que possui grande teor alcoólico. Esta bebida tornou-se a proibida para os orisás funfun (do
branco).
12
Segundo Odu de Ifa, está ligado a Iku (morte), mostra um caminho difícil, de dores e sofrimentos, com muita
luta, mesmo que o resultado seja vitorioso.
13
Orisa que representa o fogo. Alguns dizem ser uma qualidade de Sàngó, mas Aiyra é um orisa específico que
foi um dos servos de Sàngó em Oyo.
14
Osala mais velho, anda curvado devido à idade avançada. No itan representado e cantado nas rodas de
candomblé, Aiyra e Osalufan fazem a reverência a este fato.
babalawo para consultar o oráculo que informou a necessidade de fazer uma oferenda a èsù
para garantir a tranquilidade do caminho, mas, mais uma vez, Obatala seguiu sem lembrar de
èsù e não realizou a entrega da oferenda.
Inconformado com a forma que Obatala o desprezava, èsù se peparou para aprontar
com o orisa funfun seguindo os seus passos. E lá seguiu Obatala com um saco contendo duas
mudas de roupa e uma sabão da costa para poder banhar-se durante o caminho, pois a
caminhada seria longa e certamente precisaria tomar banhos nos pequenos rios que
encontraria na sua jornada até o seu destino.
Logo no início da sua jornada, Obatala deparou-se com um menino que tentava
carregar um cesto cheio de carvão. Ao avistar o senhor funfun que caminhava, solicitou sua
ajuda para poder colocar o cesto em sua cabeça dizendo: “Hô meu velho, ainda bem que
apareceste. Minha mãe me aguarda para levar este cesto, ajuda-me a levantar para que eu
possa carrega-lo”. Prontamente Obatala ajudou a criança que, propositalmente, virou o cesto
em cima do orisa funfun sujando toda a sua roupa, era èsù na sua forma de Aladi. O menino
saiu correndo e rindo do feito que havia realizado.
Com resiliência e tranquilidade, Obatala seguiu para o rio, tomou seu banho e trocou
suas vestes. Agora estava novamente com sua roupa branca e alva, como era de seu costume.
No meio do caminho, outra criança se encontrava com dificuldade e solicitava a ajuda de
Obatala. O menino tentava suspender uma talha cheia de epo púpà15 e o orisa funfun foi
ajuda-lo. Este menino era èsù na forma de Eledo Púpà e, propositalmente, derramou a talha
com azeite nas vestes de Obatala e saiu a correr rindo do feito que havia realizado.
Mais uma vez foi preciso tomar um banho de rio e trocar suas vestes para que seguisse
seu caminho. Ainda era precisar muito até chegar ao reino de Oyo, porém, esta era a última
veste que Obatala trocara, pois as outras que estavam sujas foram deixadas nas margens do rio
que ele se banhou. Então o orisa continuou a sua caminhada.
Caminhar pela mata não era fácil. As roupas de Obatala estavam suadas, sujas, com o
aspecto de surradas, em nada lembrava aquele Obatala imponente que mantinha suas roupas
brancas como algodão, o cansaço já tomava conta dele quando avistou um cavalo branco. Ao
chegar perto do animal reconhecera que aquele cavalo foi um dos presentes dado a ele para
Sángò. Então, montou no animal para seguir a viagem, imaginou que o seu destino estaria
perto, mas foi surpreendido pelos servos de Sángò que o confundiram com um ladrão de
cavalos.
15
Azeite de dendê
Obatala foi preso, mal tratado, castigado e humilhado pelos servos, ninguém estava a
reconhecer aquele homem que falava o seu nome, mas ninguém acreditava. Em pouco tempo
o reino de Sángò passou a sofrer com a falta de chuvas, a terra estava ficando seca, os
alimentos começaram a ficar escasso, o reino estava entrando em ruína. Desesperado, Sángò
foi consultar o babalawo, este informou que uma injustiça estava ocorrendo, um homem
estava preso em seu reino injustamente.
Imediatamente Sángò correu para ver quem era aquele homem, reconheceu que se
trata de Obatala, mandou expulsar os homens que o prenderam e passou a tratar Obatala como
um rei, mandou fazer vestes novas, lhe entregou o melhor quarto dos aposentos, mandou
preparar a sua comida preferida, porém, os mal tratos haviam trazido danos irreparáveis,
envelheceste mais rápido e não tinha mais a agilidade para andar como antes.
Um dia, Obatala decidiu retornar ao seu reino, a cidade de Ifé. Para ajudá-lo, Sángò
mandou Aiyra acompanhasse o amigo e o carregasse nas costas quando ele se sentisse
cansado. Assim foi feito e Aiyra permaneceu na cidade de Ifé junto a Obatala, sendo tratado
como rei.
Mas esses não são os únicos itans que falam desta divindade. Ele possui ligação com
todos os orisás, absolutamente todos, pois ninguém chega aos orisás sem antes passar por ele.
Foi ele que descobriu o surgimento da sociedade secreta Gueledes16 criada pela Yaba Oba
para diminuir o poder masculino sobre elas.
Neste itan, èsù busca por Orunmila completamente assustado, informando o que ele
tinha visto no meio da mata em um local escondido e desconhecido para os aboros17. Ao
contar sobre a ave monstruosa a qual as mulheres estavam a chamar representando o poder
das Ayes, Orunmila, junto com èsù, chamou por Sàngo e pediu sua ajuda para enfraquecer a
sociedade feminina que as yabas haviam criado. Era preciso, apenas, que ele conquistasse o
amor de Oba, a mais difícil de todas as yabas, e de Oyá, só depois disso, Orunmila deixaria
livre para Sàngo a sua amada esposa, Osun.
Ao fazer isso, a disputa entre as mulheres pela atenção do tão charmoso rei, levaria ao
enfraquecimento da sociedade Gueledes, e os aboros garantiriam o seu domínio sobre o
mundo. Assim foi realizado com a ajuda de èsù.
16
Sociedade composta por líderes mulheres, comum na região da Nigéria, que cultua as mães ancestrais
chamadas de Iyamis Osorongas, três feiticeiras que tem o poder de tecer a vida, analisar e cortas o fio da vida
que nos leva a morte. Seus nomes não devem ser pronunciados, por isso são também chamadas de Ayes. Na
Nigéria, existe um festival anual dedicadas a elas, onde os homens são obrigados a usar roupas e máscaras
femininas para poder participar.
17
Orisás masculinos.
Há um outro itan que mostra a importância de èsù como o primeiro a ser lembrado
para garantir que os caminhos da prosperidade se façam sempre presente. Conta-se neste itan
que Èsù, Ogum e Osossi eram irmãos e viviam em um reino onde o rei estava chateado com
as turbulências causadas por èsù e decidiu puni-lo. Com receio do que poderia acontecer, seus
irmãos o aconselharam a fugir até que as coisas se acalmassem e o rei pudesse perdoá-lo.
Um dia, èsù decidiu visitar o reino para ver o que estava acontecendo pela cidade, para
não ser reconhecido usou um disfarce. Para seu espanto, ao chegar percebeu que seus irmãos
estavam sendo reverenciados e louvados, mas ninguém lembrava de sua existência. Para se
certificar de que não havia entendido errado, visitou o reino outras vezes complemente
disfarçado e então percebeu que era verdade, ninguém reverenciava a èsù, nem se quer
oferecia-lhe um alimento.
Inconformado com o que estava vendo, decidiu lançar sobre aquele reino que um dia
vivera toda a má sorte que um povo poderia sentir em sua existência. Desgraças e confusões
eram lançada por èsù para que todos lembrassem dele. Sem saber o que fazer, o rei proibiu as
festividades religiosas decidindo procurar um babalawo junto com os seus sacerdotes.
Ao jogar o oráculo, o babalawo informou que todas as mazelas ocorridas no reino
tinham como motivo o esquecimento do povo sobre a importância de èsù, que também era
necessário reverencia-lo. Para que tudo voltasse a tranquilidade de antes, seria preciso fazer
uma oferenda a èsù com um bode e sete galos, garantir que èsù iria receber os sacrifícios nas
festas religiosas primeiro do que os demais, também exigia que os primeiros cânticos fossem
entoados para ele, só assim as mazelas seriam retiradas do reino.
O rei e seus sacerdotes riam de tudo que o babalawo dizia fazendo pouco caso de èsù.
Para a surpresa de todos os presentes, ao tentarem se levantar viram-se presos as cadeiras, foi
então que perceberam o poder de èsù e a importância de que o primeiro sacrifício e os
primeiros cânticos entoados fossem dedicados a ele.
Èsù é movimento, o crescimento, o desenvolvimento, ele abre os caminhos para que
tudo ocorra sem transtorno, ele protege das mazelas da vida, ele traz a prosperidade. Deve
sempre ser colocado na entrada dos terreiros para ser o guardião da casa e seus filhos. Deve
sempre ser reverenciado antes de qualquer fundamento. Salve Èsù! Laroye!!!
CÂNTICOS E TRADUÇÕES
RODA DE ÈSÙ
5. E ELEGBARA, E ELEGBARA
ELEGBARA ÈSÙ ALÁYÉ
Que jamais eu veja sua briga, sua briga, senhor dos caminhos
Que jamais eu veja sua briga, sua briga, senhor dos caminhos.
Nós acordamos e cumprimentamos Barabó, meus respeitos, que vós não façais mal
Nós acordamos e cumprimentamos Barabó, meus respeitos,
Criança é ensinada que a Barabó se apresenta respeitos,
Ele é senhor da força, èsù dos caminhos.
14. BARA Ó BEBE TIRIRÍ LÓÒNÒN, ÈSÙ TIRIRÍ
BARA Ó BEBE TIRIRÍ LÓÒNÒN, ÈSÙ TIRIRÍ
Que o senhor não ponha fogo neles e que suas cabeças não vejam nossas brigas,
Não permitais que vejam nossas brigas.