Financiamento Da Educação - Limites e Avanços-Magna França

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FRANÇA (2016)

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO − LIMITES E AVANÇOS DO PLANO NACIONAL DE


EDUCAÇÃO (2014-2024)

M. FRANÇA*
Universidade Federal do Rio Grande do Rio Grande de Norte - UFRN.
[email protected]*

Artigo submetido em agosto/2016 e aceito em setembro/2016


DOI: 10.15628/holos.2016.4999

RESUMO
O financiamento da educação tem respaldo na que amplia a percentagem de aplicação do Produto
Constituição Federal de 1988, entre outras concernentes Interno Bruto – PIB, para 10%. O financiamento envolve
às fontes orçamentárias e de operação de crédito, os entes federados em regime de colaboração, e ação
principalmente, com os fundos contábeis. Dentre as supletiva-redistributiva da União e dos Estados, estando,
várias legislações, citam-se: Emenda Constitucional nº porém, condicionado à plena capacidade de atendimento
14/96, que imprimiu nova forma de redistribuição de e esforço fiscal dos entes federativos. O resultado da
recursos da União para os estados e municípios criando o análise dos dados mostra que os recursos existentes são
Fundef; LDB, Lei nº 9.394/96; Emendas Constitucionais nº escassos para o fortalecimento da gestão e
53/2006 e nº 59/2009, responsáveis pela criação do financiamento do PNE, sendo apresentados desafios para
Fundeb e pela ampliação do ensino obrigatório (4-17 angariar novas fontes de recursos, bem como
anos), respectivamente e a Lei n. 13005/2014 que implementar a Lei 12.858/2013 que destina 75% dos
aprovou o Plano Nacional de Educação (2014-2024). royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal
Integram o PNE eixos temáticos dentre eles o para a educação.
financiamento da educação, especificamente, a meta 20

PALAVRAS-CHAVE: Financiamento da educação, Fontes de recursos, PNE (2014-2024).

EDUCATION FINANCING – LIMITS AND ADVANCES OF NATIONAL PLAN FOR


EDUCATION (2014-2024)
ABSTRACT
Education financing is based on Constituição Federal specifically aim 20 that widen to 10 the percentage of
(1988), among other documents concerned to budget Gross Domestic Product (GDP) application. Financing
resources and credit operation, mainly to the accounting involves political units in collaboration system and
assets. Among many laws, there are: Constitutional redistributive and supplementary action from Union and
Amendment n. 14/96 that creates a new form of States. However, this is conditioned by capacity of
redistribution of resources from Union to the States and attending and fiscal efforts from political units. The result
cities with Fundef; LDB, Law n. 9.394/96; Constitutional of data analyze shows the resources are scarce to
Amendment n. 53/2006 and n. 59/2009 which creates reinforce manager and PNE financing, presenting some
Fundeb and improves compulsory education (4-17 years), challenges to gain new source of resources, as well as, to
respectively; and Law n. 13005/2014 that approve implement Law 12.858/2013 that send 75% of oil
Education National Plan – PNE (2014-2024). Some royalties and 50% of Social Asset from Pre-Salt to
thematic axes integrate PNE, as education financing, education.

KEYWORDS: Education financing, Source of resources, PNE (2014-2024).

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1 INTRODUÇÃO
O financiamento da educação pública brasileira se situa no centro dos problemas e desafios
que se apresentam no Brasil. A educação é um dever do Estado, e a forma adotada no Brasil é a
federativa. A educação deve configurar uma unidade, tanto social como política dentro de seus
limites, possibilidades e recursos existentes, em todo Plano de Estado. Na questão social, o
interesse demanda em realizar as promessas e os valores a ela contemplados. Na política, justifica-
se pelo fato de, nos países federativos, ocorrer um equilíbrio entre unidade nacional e diversidade
regional. Nesse sentido, a obrigação, quanto ao financiamento do Estado para a educação pública
em todos os níveis e modalidades do ensino, fundamenta-se no fato de que a educação constitui
um direito social, universal, consequentemente, dever do Estado.
Visando garantir um direito social no sentido de contestar o mercado como bem absoluto,
propiciando realizações educacionais adotadas pelos entes federativos, no ordenamento jurídico
representado pelas Constituições Federais de 1934, 1961 e 1988, bem como na LDB, Lei nº
9.394/96, consagrou-se a ideia de um Plano Nacional de Educação − PNE (CURY, 2013).
No Brasil, essa prática tende a se repetir a cada dez anos, quando planos, especificamente,
os dois últimos tiveram respaldo legal, ou seja, o PNE de 2001-2010 pela Lei nº. 10.172/2001e o
novo Plano para o período (2014-2024), aprovado pela Lei nº. 13.005/2014.
Dourado (2014) esclarece que o novo PNE tem metas de garantir a universalização da
educação básica até 2016, ou seja, o acesso e aprovação com qualidade, cuja implementação
desmandará mudanças estruturais, sobretudo porque a desigualdade educacional se articula à
desigualdade social e exige atenção para a concentração de riquezas, o que implica em uma
reforma tributária.
O PNE foi um avanço envolvendo a mobilização das sociedades civil, política e do campo
educacional, cujas questões centrais constam no Documento-Referência da Conferência Nacional
de Educação − CONAE 2014. Esse Documento-referência suscitou o movimento de discussão
referente às diretrizes do novo PNE para a educação básica e superior, trazendo o debate político
e social sobre o sistema nacional de educação, assegurando a articulação entre os entes federados
e os setores da sociedade civil, cujos eixos temáticos têm como perspectivas: democratização,
universalização, qualidade, inclusão, igualdade, diversidade, valorização dos profissionais da
educação e o financiamento da educação, constituindo-se em um marco histórico para a educação
brasileira na contemporaneidade.
O PNE exige a vinculação de recursos, assim como, a ampliação da percentagem de
aplicação do Produto Interno Bruto – PIB, para 10%, impondo, como medida racional, a sua
maximização em função de sua aplicação final, ou seja, a universalização e a qualidade do ensino,
no caso específico, para a educação básica.
Com as oscilações entre mercado e o Estado mediadas pelas forças sociais presentes na
sociedade e com as promessas de maior investimento pela União visando minimizar as
desigualdades sociais, o novo PNE se articula num movimento de interação visando ao sistema
nacional de educação via regime de colaboração. E, como ampliação do direito subjetivo de todo
cidadão à educação propõe, na prática, políticas de colaboração e de cooperação entre os entes
federados para ampliação do financiamento e outras fontes de recursos financeiros.

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As manifestações foram importantes na tentativa de alcançar os 10% do PIB, citados na


Meta 20, mas ainda insuficientes para garantir a destinação do total dos novos recursos à educação
pública.
Os aspectos jurídicos para o financiamento têm respaldo na Constituição Federal de 1988,
dentre outras, concernentes às fontes orçamentárias e de operação de crédito, principalmente,
com a política de Fundos contábeis. Dentre as várias legislações, citam-se as mais relevantes:
Emenda Constitucional nº 14/96, que imprimiu nova forma de redistribuição de recursos da União
para os estados e municípios; a LDB, Lei nº 9.394/96; a Lei nº 9.424/94 normatizando o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef); as
Emendas Constitucionais nº 53/2006 e nº 59/2009, responsáveis pela criação do Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb e pela
ampliação do ensino obrigatório da pré-escola ao ensino médio (4 a 17 anos, até 2016),
respectivamente.
O Fundeb é considerado pela política governamental o primeiro regime cooperativo
consolidado em âmbito de toda a educação básica. O segundo é o Piso Salarial Profissional Nacional
do Magistério − PSPN, tendo, como respaldo, a Lei nº. 11.738/2008, que, por sua vez, é originária
da Lei do Fundeb.
Ressalva-se que a EC nº 59/2009, além da exigência da ampliação da faixa etária
escolarizável (estratégia essa constatada no novo PNE), deixa explícito o comprometimento da
União com a universalização da educação básica, determinando, também, a redução, anualmente,
do percentual da Desvinculação das Receitas da União (DRU), sendo esses recursos
descentralizados para os estados e municípios, como forma de complementação, em face da
manutenção daquele nível de ensino.
O Fundeb cujos recursos estão sujeitos à redistribuição em função das matrículas constitui
um forte fator de indução ao regime de colaboração, sendo este o principal financiador da
educação básica. “É preciso, pois, buscar o equilíbrio federativo, por meio da prática de
solidariedade federativa, da preservação da igualdade de autonomias e da dosagem de recursos
distribuídos em face dos encargos atribuídos” (MARTINS, 2013).
É nesse contexto que se converge a análise deste trabalho, buscando apresentar reflexões
relacionadas às proposições de regime de colaboração e cooperação, fontes e recursos de
financiamento da educação básica e política dos Fundos, convergindo para os limites e avanços
quanto a financiamento das metas do Plano Nacional de Educação (2014-2024).

2 FONTES, RECURSOS E O REGIME DE COOPERAÇÃO


Pertinente à política de financiamento para a educação básica, prevalece a transferência
de recursos e de encargos da União para os municípios. Assim, vários mecanismos foram
instituídos, entre eles: a Lei de Ensino nº. 5.692, de 11.09.1971, art. 59, em que a transferência de
encargos tem, como ponto de partida, a Reforma de Ensino de 1º e 2º graus, a qual inscreveu a
descentralização administrativa da educação como estratégia política. Em seguida, a Constituição
Federal de 1988 e, logo após, vários dispositivos legais, dentre eles, a LDB, Lei nº 9.394/96.
A redefinição do papel do Estado, a partir da Constituição de 1988, impôs competências e
atribuições a União, Estados e Municípios. Esse aparato institucional imprime, particularmente, ao

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Município brasileiro, uma nova configuração, conclamando-o a estruturar seu próprio sistema de
ensino e a participar do regime da responsabilidade compartilhada – sistema político de
colaboração, Constituição Federal de 1988. Essa Constituição garantiu que a União deveria aplicar
18% de sua receita líquida de impostos em educação, cabendo aos Estados, Distrito Federal e
Municípios a aplicação de 25% da mesma base. Outra fonte de recursos é definida como Salário-
educação − uma contribuição social paga pelas empresas – que financia, também, a educação
básica.
No entendimento sobre o financiamento da educação pública, Abrahão (2005) esclarece
que, segundo as normas legais vigentes, deve ser efetivada pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal e pelos Municípios, que têm a responsabilidade e competência pela manutenção e
expansão do sistema de ensino.
A União deve aplicar recursos na implementação de alguns programas, que caracterizam
ações próprias, além de transferir recursos para os sistemas estaduais e municipais. Na composição
de suas receitas, os estados somam os recursos recebidos da União aos provenientes de suas
fontes, os quais são utilizados na manutenção e expansão de seus sistemas de ensino. Na
composição dos recursos destinados à manutenção e à expansão de suas redes de ensino, os
municípios recebem recursos da União e dos Estados, os quais são somados aos seus recursos
próprios.
Para resguardar o direito à educação, o Estado estabeleceu a estrutura e as fontes de
financiamento, ao determinar, em legislação, a vinculação de recursos financeiros para a educação,
contidas nas legislações citadas e em demais leis ordinárias.
Nesse contexto, a atual política de financiamento está imbricada nas relações federativas
entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Farenzena e Araújo (2005) argumentam que o
financiamento constitui uma espécie de linha de fronteira que demarca as possibilidades de
atuação dos entes federados e a amplitude de suas opções e estratégias na consecução de políticas
próprias ou de políticas de colaboração intergovernamental.
Rossinholi (2010), ao analisar a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, art. 2011),
entre outros elementos, diz que ela se caracterizou pela descentralização financeira,
representando um aumento da participação de estados e principalmente de municípios na
arrecadação tributária e na receita disponível, passando a ter a função redistributiva e supletiva,
visando garantir a equalização de oportunidades educacionais. Entretanto, cada esfera
administrativa possui atuação prioritária com as modalidades do ensino.
Os recursos vinculados constitucionalmente à Manutenção e ao Desenvolvimento do
Ensino (MDE) se originam de uma fatia da receita pública, de créditos operacionais e contribuições
sociais. Os recursos públicos são, na maioria, originários da receita de treze impostos conforme
demonstra Dourado (2006), sendo o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) aquele que
arrecada mais recursos direto para o Fundeb.
As receitas provenientes de transferências que tenham como origem os impostos devem
ser computados como se fossem impostos, para efeitos de vinculação. Assim, os estados e o
Distrito Federal devem adicionar à sua receita de impostos, transferências oriundas da União que
tenham como base os impostos. De igual modo, os municípios devem proceder, incorporando à
sua base de cálculo para MDE as transferências do estado e da União que tenham como origem os

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mesmos impostos. Consideram-se, pois, as alíquotas referentes à União (18%) e aos estados,
Distrito Federal e municípios (25%) que devem incidir sobre a receita líquida dos impostos.
As transferências de recursos são realizadas de uma esfera da administração para outra,
tendo como finalidade equalizar a capacidade arrecadadora e as responsabilidades na prestação
de serviços das diferentes esferas da Administração Pública. Os fundos de participação dos estados
e dos municípios são exemplos dessas transferências de recursos.
Além dos impostos próprios da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, ou
seja, tributo arrecadado diretamente por cada ente federado, existem outras fontes de captação
de recursos para a educação, provenientes de receita de transferências constitucionais e outras
transferências; contribuição do Salário-educação, outras contribuições sociais; receita de
incentivos fiscais e outros recursos previstos em lei.
Conforme Duarte (2005), o sistema de educação básica no Brasil pode ser caracterizado,
em linhas gerais, como um sistema público federativo que tem por suporte o financiamento fiscal
proveniente de fontes de receitas estaduais e municipais.
A estrutura de financiamento é complexa, com a ampliação dos recursos dependente do
crescimento da arrecadação proveniente de fontes do aparato fiscal específico e desigual dos
estados e municípios, com expressiva participação das transferências constitucionais obrigatórias.
Uma parcela expressiva provém de contribuição social já citada anteriormente, o Salário-educação.
De acordo com Castro e Sadeck (2003), representa aproximadamente 5,6% do total das receitas
vinculadas. Outra parte provém de operações de crédito com agências internacionais e, por último,
há fontes em que entram desde as aplicações financeiras do Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE) até os recursos arrecadados diretamente pelos sistemas de ensino (estaduais
e municipais) e pelas instituições vinculadas ao setor privado.
No Brasil, estudos sobre federalismo e direito à educação, na concepção de Cury, (2002)
apontam para a necessidade de aprofundar as análises sobre o modo de regulação das relações
intergovernamentais. Embora a previsão constitucional de lei complementar fixando normas para
a cooperação não tenha sido cumprida, o autor afirma que considera as reformas no financiamento
da educação básica, empreendidas a partir da EC nº. 14/1996, articulando meios e competências
desiguais.
Orientados pela norma legal, o regime de financiamento envolvendo os entes federados
deve se pautar pela colaboração, pela ação supletiva e distributiva da União e dos Estados,
estando, porém, condicionada à plena capacidade de atendimento ao esforço fiscal de Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.

3 POLÍTICA DOS FUNDOS


A descentralização financeira dos recursos decorre da regulação política do sistema de
financiamento da Educação Básica. Segundo Duarte (2005), tem, como objetivo, a obtenção de
ganhos de eficácia e eficiência, no sentido de compatibilizar a expansão do atendimento com
restrição orçamentária. Nessa política de financiamento, a autonomia política dos sistemas locais
de ensino e das unidades escolares encontra-se circunscrita pelas dimensões da criação de Fundos
e programas destinados à efetiva organização e ao funcionamento do sistema educacional como
um todo.

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A proposição da política de Fundos está circunscrita à política de descentralização que vem


sendo delineada para a educação básica a partir da reforma educacional dos anos de 1990.
O eixo norteador dessa política está voltado para o acesso e permanência de estudantes à
educação básica, aliado a uma educação de qualidade, bem como à valorização dos profissionais
da educação.
Ressalva-se ser imprescindível a otimização de recursos, visto que significa criar condições
para uma maior eficiência e, em consequência, mais agilidade e transparência na prestação de
serviços públicos pelo Estado, presumindo, ainda, um efetivo envolvimento direto do poder local
na captação de recursos, no controle de gastos e na inspeção do cumprimento das metas
estabelecidas.
Nesse contexto, a reforma da educação proporcionou reformulações em bases legais,
começando pela alteração da legislação no que concerne ao financiamento da educação, com base
na Emenda Constitucional nº 14/96 (BRASIL, 1996) que cria o Fundef, antes constituído da
subvinculação do orçamento da educação advinda dos Estados, Municípios e Distrito Federal,
ficando a União encarregada de complementar, apenas, os Estados onde o Fundo não foi
suficiente. O Fundef − enquanto mecanismo de financiamento do Ensino Fundamental − alterou
os artigos 34, 208, 211 e 60 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), tendo sua
regulamentação ocorrida pela Lei nº 9.424/96 (BRASIL, 1996). A posteriori, é substituída pela
Emenda Constitucional nº 53/06 e pela Lei nº 11.494/07 que regulamentam o Fundeb.
O Fundeb conservou os mesmos mecanismos de captura e de redistribuição de recursos
instaurados pelo Fundo anterior. No entanto, ampliou significativamente a abrangência de
financiamento a todas as etapas e modalidades da educação básica, contando, para isso, com um
maior aporte de recursos decorrente da elevação do percentual subvinculado de um número maior
de impostos (BRASIL, 2007).
O referido Fundo tem vigência de 14 anos, ou seja, de 2006-2020, sendo sua implantação
gradativa com o crescimento dos percentuais dos impostos que já compunham o Fundef para
16,66%, 18,33%, e 20%, no primeiro, segundo e terceiro ano, respectivamente, ou seja, 2007 a
2009. Para os novos impostos incluídos, o percentual foi de 6,66%, 13,33% e 20%,
respectivamente. A lei estabelece que a porcentagem dos recursos para a formação do Fundo será
alcançada, paulatinamente, nos primeiros 3 (três) anos de vigência dos Fundos (BRASIL, 2007). A
partir de 2009, atenderia, integralmente, a toda a educação básica.
Compõem o Fundeb os impostos que já faziam parte da cesta do Fundef: o FPE, FPM, ICMS,
IPI-Exp e os recursos advindos da Lei Complementar nº 87/96, sendo acrescidos dos demais:
ITCMD, IPVA e ITR.
Vale destacar que o Fundeb, além de ter como função principal a universalização da
educação básica, trouxe avanço e conquista quanto à valorização do magistério, ao proporcionar
o Piso Salarial Profissional Nacional, aprovado pela Lei nº 11.738/08, estabelecendo o teto mínimo
para o professor, somente com magistério (nível médio) e normatizando a carga horária para
atividades extraclasses.

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4 O FINANCIAMENTO E ESTRATÉGIAS NO CONTEXTO DO PLANO NACIONAL DE


EDUCAÇÃO (2014-2024)
A luta pela vinculação de verbas públicas exclusivamente para a educação pública constitui
objeto de mobilizações da sociedade e está presente em todos os movimentos desde a década de
1930, ocorrendo, também, o embate de recursos entre educação pública versus educação privada,
fato esse acontecido no novo PNE, em face da exclusividade de verbas públicas para a educação
pública.
Saviani (2014), ao reportar sobre verbas públicas, afirma ser necessária a organização dos
educadores num grande movimento em defesa da escola pública para libertá-la da subordinação
ao mercado e da pressão dos interesses privados, sendo esse movimento histórico pela destinação
de verbas públicas exclusivamente para a educação pública, desejando que essas manifestações
sejam lutas vitoriosas.
Dourado (2014) alerta que, com o texto aprovado (PNE), não foi diferente, e a exclusividade
citada não logrou êxito. O referido autor chama a atenção junto à meta progressiva de
investimento na educação (ampliação do percentual do PIB), trazendo o conceito de público para
a:
Inclusão dos recursos direcionados aos programas de expansão profissional e
superior, inclusive na forma de incentivo – isenção fiscal, bolsas de estudos
concedidas no Brasil e no exterior, além dos subsídios a programas de
financiamento estudantil, financiamento de creche pré-escolas e educação
especial, na forma do art. 213 da Constituição Federal (DOURADO, 2014, p. 234).
Ademais, o autor argumenta que o Plano tem desafios e deve tornar-se um Plano de Estado
e que a sua efetivação deve intermediar o debate entre sociedade civil e sociedade política, não
esquecendo a disputa do setor privado, inclusive o financeiro, pelos fundos públicos. Mobilizações
devem acontecer para garantir a expansão pública, como por exemplo, “a educação básica,
predominantemente pública com a expectativa de que assim continue, a educação superior, com
a previsão de 40% de novas matriculas no segmento público” (DOURADO, 2014, p. 234).
Visando ao fortalecimento de sua gestão e financiamento, desafios são postos para o PNE
para atender à quantidade expressiva de jovens e adolescentes que ainda não têm acesso à escola
básica.
Conforme dados do IBGE/PNAD (2009) e Unicef (2012), o Brasil apresenta um total de
3.690.569 de jovens e adolescentes que não têm acesso à escola, sendo que, desse montante, a
maioria da parcela está na faixa etária de 15 a 17 anos, idade essa equivalente ao ensino médio.
Em segundo plano, observa-se a população de menor idade, ou seja, as crianças da educação
infantil de 4 a 5 anos. A população intermediária tem correlação com a idade dos alunos do ensino
fundamental (7 a 14 anos), o que comprova que ela se encontrava em sala de aula, no final da
década de 2000, ou seja, os 97%, conforme informações do Inep/MEC.
Observa-se, pois, que, apesar de o Brasil estar numa posição privilegiada quanto à
universalização do ensino fundamental, as taxas de frequência líquida mostram que o país ainda
está longe da universalização em relação às crianças de até 5 anos e os adolescentes de 15 a 17
anos, ou seja, na educação infantil e no ensino médio, respectivamente. Eles representam, hoje, o
maior contingente fora da escola.

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Outras informações sobre as regiões e estados deixam claro que, no Rio Grande do Sul,
(Região Sul) 98,8% das crianças e dos adolescentes de 7 a 14 anos estão na escola. Nas regiões
Norte e Nordeste, os estados do Pará, Rio Grande do Norte, Amazonas e Alagoas, os números
representam percentuais em torno de 96,7%, 96,7%, 96,5% e 95,2%, respectivamente, sendo, pois,
os mais baixos do país.
Informações do Inep/MEC (2012) mostram a evolução da aplicação do PIB nacional no gasto
em educação: em 2000, foram aplicados 3,90%; em 2006, subiu para 4,30%; em 2011, foi a 5,30%,
encerrando-se 2012 com 5,50%. Quando se analisa o ensino por modalidade − fundamental, médio
e superior − verifica-se que a União tem acrescido sua participação em todos os períodos citados,
mantendo um equilíbrio proporcional. Análise preliminar aponta que, com os recursos, hoje,
existentes, mesmo considerando a projeção, o investimento em Educação, para os próximos 10
anos, não será suficiente para se alcançar o patamar de 10%, preconizada na Meta 20 do PNE
(2014-2024), tornando-se viável novas fontes de recursos.
Mediante esse cenário, é preciso questionar e defender mais recursos para a educação, de
forma descentralizada, a exemplo dos Fundos. Os Fundos e a relação com as fontes de recursos, a
estrutura de financiamento da educação são fortemente baseados em impostos, que são recursos
gerais tomados à sociedade. Isso significa que uma parcela expressiva dos recursos, principalmente
de estados, Distrito Federal e municípios, é proveniente da arrecadação tributária, sobretudo, em
razão da vinculação de impostos.
O PNE deve sustentar, politicamente, a proposta de uma educação básica de qualidade,
com responsabilidade comum aos entes federativos, referendado pela Meta 20, indicando um
percentual de 10% do PIB até o final de sua vigência, devido: a) a um Sistema Nacional Articulado
de Educação; b) ao financiamento à educação que deve tomar como referência o CAQ em face dos
custos dos alunos; c) à ampliação dos gastos públicos com educação de 5.2% em 2012, para 10%
do PIB até o final de sua vigência; d) à complementação da União para o Fundeb aos estados e
municípios alcance o patamar de 1% do PIB; e) à implementação da Lei nº 12.858/2013 que destina
75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação e, d) à criação da
lei de Responsabilidade Educacional1. Essas percentagens de recursos e procedimentos são
fundamentais para o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação (2014-2024).
Complementando, considerando a necessidade de universalização da educação básica, os gastos
e os limites que as unidades federativas têm com a educação, Dourado (2014, p. 245) esclarece
sobre a “necessidade de rediscutirmos a Lei de Responsabilidade Fiscal dentro de uma perspectiva
de reforma tributária, em uma perspectiva mais ampla e se não avançarmos em face ao Fundeb
vai ser muito difícil cumprir as metas do Plano”.
As proposições adotadas constituem-se em estratégias para a implementação de políticas
de Estado para a educação nacional, em consonância com as lutas históricas e debates

1
A educação tem uma dinâmica própria que não se coaduna com o espirito e a letra da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), pois, os gastos com pessoal têm, compreensivelmente, um peso maior, não podendo se enquadrar no milite
máximo dos 60%. É preciso encarar com cuidado o enunciado da estratégia 20.11 do PNE que determina a aprovação,
no prazo de um ano, da Lei de Responsabilidade Educacional (LRE). {...}A ideia que tende a prevalecer é tomar a LRF
como referência para a elaboração da LRE, o que, aliás, corresponde às pressões do mercado com as quais estão
alinhadas as entidades privadas no campo da educação e que vêm exercendo uma influência cada vez maior na
formulação e execução da política educacional, tendo em vista o Movimento “Todos pela Educação” (SAVIANI, 2014,
p. 245-6).

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democráticos construídos pela sociedade2, movimentos sociais e pelo governo, na garantia da


educação como bem público e direito social, resultando, assim, na participação e na cooperação
federativa com regime de colaboração.
Notas

5 REFLEXÕES FINAIS
O financiamento da educação pública brasileira se situa no centro dos problemas e desafios
que se apresentam no Brasil em face da implementação de políticas públicas. A educação é um
dever do Estado, e a forma adotada no Brasil é a federativa. Nesse sentido, a obrigação, quanto ao
financiamento do Estado para a educação pública, em todos os níveis e modalidades do ensino,
fundamenta-se no fato de que a educação constitui um direito social, universal, portanto, dever
do Estado.
“Algumas iniciativas podem se constituir em elementos mobilizadores, no sentido de
edificar mecanismos mais claros e pactuados entre os entes federados para a definição e
implementação de políticas públicas” (CABRAL NETO, 2014, p. 5), sendo, no nosso entendimento,
contemporizadas pela legislação citada e, no atual contexto, com o Plano Nacional de Educação.
O PNE constitui-se em uma ferramenta política e institucional para superar, com recursos
e investimentos, obstáculos visando promover a qualidade e a quantidade da oferta de um serviço
público estratégico para o projeto republicano da nação brasileira, pela via do regime de
colaboração entre os entes federativos, com recursos públicos para uma educação pública.
O alcance das metas contidas no PNE, bem como em planos estaduais e municipais,
depende de políticas, legislação, investimentos e gestão de recursos adequados.
A discussão de mais investimentos na educação passa por um debate, também, sobre o
condicionamento da Lei de Responsabilidade Fiscal quando determina o mínimo de 60% de gastos
com pessoal. Várias estratégias do PNE dependem de mais recursos humanos qualificados e piso
salarial condizente ao educador. Na concepção de Araújo Filho (2014), enfrentam-se muitas
dificuldades com o limite imposto pela LRF sobre a folha salarial. Ocorre a redução do quadro de
pessoal efetivo nos estados e municípios, aumento de contratações temporárias com salários
menores, redução dos percentuais na carreira profissional dos professores (licenciatura e pós-
graduação), em função dos limites dessa Lei e do controle pelos tribunais de contas dos estados.
O autor argumenta que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação defende a
retirada da educação dos limites impostos pela LRF, em face do atendimento às demandas e à
melhoria do piso salarial e da infraestrutura das escolas.
A mobilização política da sociedade civil, a regulamentação legal pelo poder legislativo dos
aspectos demandados pelo PNE − instância de cooperação federativa, lei de responsabilidade
educacional e vinculação de recursos da exploração de recursos naturais − e a atuação
administrativa e financeira dos gestores governamentais, inerentes às premissas e metas do Plano

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A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) − compreende que a qualidade da educação se
apoia nos eixos financiamento, valorização profissional, gestão democrática e avaliação institucional, reafirmando a
perspectiva de que o PNE deva focar políticas públicas para atender a esses requisitos, para a educação básica, em
cada região do País (BRASIL, 2013).

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Nacional de Educação, imprimem novo alento à superação dos desafios históricos da educação no
Brasil (universalidade, gratuidade e qualidade). Resta o desafio para que os atores elencados
assumam seus papéis e efetivem suas atribuições, principalmente o investimento em educação de
acordo com a meta 20 do PNE. Esses interlocutores, segundo Dourado (2014), devem contribuir
de maneira propositiva para transformar, de fato, o PNE em um Plano que assuma o epicentro das
políticas educativas, traduzindo aquilo que tanto anseia a sociedade – mais oportunidades
educacionais e mais qualidade.
O investimento de recursos públicos constitui um dos pontos principais para se obter uma
educação pública de qualidade, considerada um direito de todos.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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com alguns países da OCDE e América Latina. In: Políticas públicas de regulação: problemas e
perspectivas da educação básica. Educação e Sociedade. Revista de Ciências da Educação. São
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2. ARAÚJO FILHO, Heleno. PNE 2014-2024: desafios para a educação brasileira. Entrevista.
Revista Retratos da Escola. CNTE. Brasília, vol. 8, n. 15, jul/dez/2014.
3. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em
1988, com alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais. Brasília: Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008.
4. BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá
nova redação aos artigos 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao art. 60
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, 2006a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc53.htm>. Acesso em:
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FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; altera a
Lei no 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis n os 9.424, de 24 de
dezembro de 1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004; e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/index.php/fundeb-legislacao>.
Acesso em: 23 maio 2011.
6. BRASIL. Lei nº 11. 738, de 16 de Julho de 2008. Regulamenta a alínea "e" do inciso III do caput
do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que institui o piso salarial
profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica.
Disponível em:
<http://www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?numlink=1-98-24-2008-07-16-
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