Tiago Rosa Da Silva
Tiago Rosa Da Silva
Tiago Rosa Da Silva
Dissertação
Pelotas, 2018.
2
Pelotas, 2018.
3
Data da Defesa:
Banca examinadora:
............................................................................................................................
Prof.ª Dra.
.......................................................................................................(Orientadora)
Doutora em ....................................pela Universidade .......................................
............................................................................................................................
Prof.ª Dra.
.............................................................................................................................
Doutora em .....................................pela Universidade .......................................
.............................................................................................................................
Prof.ª Dra.
.............................................................................................................................
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...........................................................................................................................
Prof. Dr.
...........................................................................................................................
Doutor em .....................................pela Universidade .......................................
...........................................................................................................................
Prof. Dr. .............................................................................................................
Doutor em .....................................pela Universidade .......................................
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos de Pelotas. Aos irmãos Caio e Alex, por dividirem por
um ano moradia comigo, aguentando minhas sucessivas crises de ansiedade. À
Natália Dias, pessoa maravilhosa e que sempre abre as portas de sua casa
quando vou a Pelotas. Ao Érico, Marcelo Felipeti e Allan Pereira, por dividirem
comigo conversas e também mesas de bar na úmida Pelotas. Vocês são demais.
Às minhas colegas historiadoras Fernanda Oliveira da Silva, Tairane
Ribeiro, Franciele Oliveira e Ângela Oliveira, por sempre me incentivarem nas
minhas aventuras dentro do campo de estudos do Pós-abolição e por trocarem
referências, fontes e compartilharem seus conhecimentos comigo.
Aos funcionários do Museu Dom Diogo de Souza por terem me recebido
de forma atenciosa e me auxiliado nas minhas pesquisas para o presente estudo.
Aos funcionários do Arquivo Público Municipal Tarcísio Taborda, por terem me
acompanhado durante muitas manhãs na minha busca incansável pelos sujeitos
negros nos acervos dos jornais.
A CAPES por ter financiado esta pesquisa integralmente.
Por último, gostaria aqui de registrar a mais profunda gratidão a minha
família “de casa”. Ao meu pai Edison Pinto da Silva, que através da sua labuta
incansável enquanto trabalhador da construção civil, pôde me dar as bases para
que eu conseguisse concluir meus estudos e hoje estar aqui, nessa nova etapa
da minha vida acadêmica. À minha mãe Eloá Rosa da Silva, pessoa que me
inspira diariamente com seus conselhos e que sempre fez de tudo que estivesse
ao seu alcance para que eu pudesse priorizar meus estudos. A vocês dois, não
há palavras que possam expressar o profundo amor, carinho e respeito que
tenho por vocês. Ao meu irmão Rafael, que hoje luta pela valorização do carnaval
negro lá nas bandas do Rio de Janeiro, pessoa que sempre esteve comigo e sei
que sempre estará. Ao meu irmão Diego, professor de educação física e de
música, que hoje divide o mesmo teto comigo e me ensina a cada dia a ser uma
pessoa melhor. À minha irmã Simone, professora exemplar e que compartilha
idas e vindas comigo para Pelotas nos dias de aulas na FAE. Gratidão por tudo,
eu amo muito vocês.
10
Resumo
ABSTRACT
Lista de ilustrações
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES................................................................................13
LISTA DE TABELAS.........................................................................................14
INTRODUÇÃO..................................................................................................17
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................163
ANEXOS..........................................................................................................168
LISTA DE FONTES..........................................................................................169
REFERÊNCIAS BOBLIOGRÁFICAS...............................................................171
17
INTRODUÇÃO
Desde criança, ouço dentro de casa referências sobre as festas que meus
pais frequentavam quando adolescentes, mas principalmente das famosas
festas no Clube Os Zíngaros. Era comum nas conversas em família ouvir
expressões como: “Bá! Muito arrastei pé no zingrão”, ou mesmo, “adorava
dançar ao som de Tony Tornado”. Tanto meu pai como minha mãe foram
associados do Zíngaros na década de 1960 e 1970, participando ativamente da
vida social da agremiação. Mesmo não ocupando cargos diretivos, ambos não
deixavam de ir às festas embaladas ao som de “discoteca” e diversas outras
baladas melódicas que propiciavam uma dança mais juntinha entre os casais,
ou como se refere o meu pai, “as danças em apenas uma lajota”.
Dentre tantas conversas e novos descobrimentos sobre as famosas
festas do “zingrão”, uma das coisas que mais me chamavam a atenção era o
fato de que ambos se referiam ao Zíngaros como um clube de negros. Como
assim um clube de negros? Ficava me questionando. Ao passo em que fui
crescendo, fui observando nas falas dos meus pais e alguns de seus amigos,
que na Bagé da década de 1970, negros não entravam em clubes como o
Comercial e o Caixeiral, sociedades estas que eram dirigidas por membros da
elite local da cidade. Sendo assim, pessoas negras se divertiam em espaços
criados por eles, como é o caso não somente do Zíngaros, mas de outras
agremiações que existiam na época, como o Palmeiras, o Saca-Rolhas e o
Aurora Social Clube.
A descoberta da existência de outros clubes “de negros” que existiam em
Bagé deixou-me com a curiosidade ainda mais aguçada, pois para além dos
clubes, haveriam outros espaços associativos de negros e negras na cidade?
No ano de 2011 ingressei no curso de História-Licenciatura da
Universidade Federal do Pampa, na cidade fronteiriça de Jaguarão. A partir de
então, nesse mesmo ano ingressei no Laboratório de História Social e Política
(LAHISP), momento no qual diversos debates foram realizados, dentre eles os
relativos à escravidão e a liberdade no Brasil e no Rio Grande do Sul. Dentro
desse laboratório, também foram realizadas oficinas de preservação e manuseio
de fontes históricas, no qual buscou-se instrumentalizar os gestores dos espaços
18
década de 1970, sobretudo nos seus anos finais, diz respeito ao fim de algumas
atividades do Clube Os Zíngaros e o início de um tempo de incertezas, pois a
década seguinte foi atravessada por sucessivas crises no âmbito do clube em
questão.
Mesmo sabendo que a academia já desconstruiu os postulados
“rankeanos” da escrita da história, cujo procedimento era o que relatar o que a
fonte mostra, tal qual está escrito no documento oficial (REIS, 1996), alguns
escritores e historiadores de Bagé ainda trilham um caminho próximo a essa
perspectiva de se escrever história. A preocupação destes gira em torno de uma
narrativa de história cujo objetivo é exaltar a figura de políticos importantes e
seus feitos, bem como sobre as efemérides da cidade, cujos protagonistas são
sujeitos da elite local. Ao observar essas narrativas, buscamos trilhar o caminho
oposto, ou seja, a de escrever uma história de Bagé cujos protagonistas sejam
sujeitos que estão à margem dessa narrativa “oficial”.
Para isso, buscamos influências na chamada História Social,
principalmente aquela que emergiu a partir dos anos de 1970 e que, como afirma
Mattos (1997, p. 84): [busca] “formular problemas históricos específicos quanto
ao comportamento e às relações entre os diversos grupos sociais”.
Procuramos evidenciar que a história de Bagé também foi forjada por
negros e negras, por pessoas tidas como comuns, por trabalhadores e
trabalhadoras cujas experiências foram negadas pela História “oficial” da cidade.
Nesse sentido, a contribuição do historiador E. P. Thompson é de grande valia
para o estudo que pretendemos desenvolver. Esse historiador, que pertenceu a
chamada Escola Marxista Britânica, juntamente com Eric Hobsbawm dentre
outros, trouxe para dentro da narrativa histórica a experiência de sujeitos
comuns. Crítico feroz do estruturalismo, sobretudo dos estudos de Althusser,
Thompson mostrou que para além das estruturas, os cientistas sociais deviam
atentar para a agência dos sujeitos e os diálogos entre ambos, propondo a noção
de experiência histórica. (THOMPSON, 1981). Nesse sentido, também é
importante destacar que o próprio conceito de classe vai ser (re)significado pelo
autor, pois se para os marxistas estruturalistas a classe “nascia”
automaticamente de um determinado modo de produção, agora ela passa a ser
observada do ponto de vista de sua formação histórica, ou seja, o fazer-se da
21
1 Sobre os estudos de Freyre analisando os jornais do século XIX, ver: FREYRE, Gilberto. O
Escravo nos Anúncios de Jornais Brasileiros do século XIX. Recife: Imprensa Universitária,
1963.
2 Esses jornais podem ser encontrados no site: http://afro.culturadigital.br/colecao/imprensa-
4 Sobre estudos que utilizam a metodologia da História Oral para analisar grupos étnicos-raciais
e protagonismos negros no Pós-abolição, ver: RIOS, Ana L. MATTOS, Hebe Maria. Memórias
do Cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2005.WEIMER, Rodrigo de Azevedo. Felisberta e sua gente: consciência histórica e
racialização em uma família negra no pós-emancipação rio-grandense. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2015. OLIVEIRA, Franciele Rocha de. Moreno rei dos astros a bilhar, querida União
Familiar: trajetória e memórias do clube negro fundado em Santa Maria, no pós-abolição. Santa
Maria: Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria, 2016. ESCOBAR, Giane. Clubes
sociais negros: lugares de memória, resistência negra, patrimônio e potencial. Dissertação de
mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em patrimônio cultural da Universidade
de Santa Maria, Santa Maria, 2010. MAGALHÃES, Magna Lima. Entre a preteza e a brancura
brilha o Cruzeiro do Sul: associativismo e identidade negra em uma localidade teuto-brasileira
(Novo Hamburgo-RS). Tese de doutorado em História. UNISINOS, 2010.
26
CAPÍTULO 1
políticas. Claro, isso não é uma peculiaridade da cidade de Bagé, muito pelo
contrário, as demais cidades interioranas do estado do Rio Grande do Sul
também guardam características semelhantes.
Ao perceber tal fato, Gilberto Soares afirma que “há grandes lacunas na
história de minha cidade, entre as quais as festas do Saca-Rolha. Recuperá-las
seria uma sacada notável” (SOARES, 2015, p. 28). Pois o pontapé já foi dado,
caro Gilberto, e seus escritos estão incluídos nessa perspectiva de mostrar aos
moradores de Bagé e demais cidades interioranas que uma outra história pode
ser forjada. Uma história no plural, observando não só a elite presente nestes
espaços, mas sobretudo os demais sujeitos comuns que ajudaram a constituir o
tecido social destes lugares.
Ainda que as lacunas apontadas por Gilberto insistam em se fazer
presentes na historiografia sobre Bagé, principalmente no que diz respeito ao
protagonismo de negros e negras, o próprio autor acabou mostrando que uma
outra narrativa sobre a cidade pode ser construída. É nessa perspectiva que
buscamos discutir na presente dissertação, apontando os diversos mecanismos
acionados por sujeitos negros em Bagé no Pós-abolição através de seus
espaços associativos, a saber: imprensa, entidades carnavalescas e clubes
sociais.
Porém antes disso, no presente capítulo pretendemos observar como a
historiografia local acabou por invisibilizar a presença de negros e negras na
construção da história da cidade de Bagé.7 Houve, por parte de escritores e
historiadores locais, um empenho na construção de uma narrativa que buscou
dar conta de uma história dos grandes feitos de Bagé e suas figuras de destaque,
estes sendo, sobretudo, imigrantes europeus. Essa perspectiva de escrita da
história nos quais se enquadra SALIS (1955), LEMIESZEK (2000), LOPES
(2007), LEMIESZEK e GARCIA (2013), TABORDA (2015)8 se assemelha à uma
publicações na imprensa de Bagé e outras cidades do interior gaúcho entre 1939 e 1994, ano de
seu falecimento. Ver: TABORDA, Tarcísio Antônio da Costa. Bagé de ontem e de hoje:
coletânea de artigos publicados na imprensa (1939 – 1994). Bagé: Ediurcamp, 2015.
31
9 A ida de Dom Diogo de Souza para Montevidéu deu-se pelo fato desta cidade estar sitiada
pelas tropas de José Artigas, momento no qual as províncias do Rio da Prata passavam por
conflitos e guerras de independência. Nesse sentido, Dom Diogo de Souza, que havia assumido
a administração do Rio Grande de São Pedro do Sul, foi incumbido por Dom João VI a ir para
Montevidéu e ajudar o vice-rei do Rio da Prata Francisco Javier Elío, que havia se refugiado
naquela região. Para mais informações, ver: (TABORDA, 2015. p. 234).
32
10Segundo o historiador bageense Tarcísio Antônio Costa Taborda, ao sair de Bagé em direção
a Montevidéu no dia 17 de julho de 1811, o Marechal Dom Diogo de Souza deixou uma carta e
promulgou a lei nº 1, no qual deixava incumbido de chefiar o acampamento recém-criado o
tenente Pedro Fagundes de Oliveira. Sendo assim, para Taborda e demais historiadores locais,
essa carta configura-se como a certidão de nascimento de Bagé. TABORDA, Ibdem, p. 98-99.
33
11Fonte: Relatório do Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul - Joaquim
Antão Fernandes leão, 1859. Encontrada em: (http://www-
apps.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul) Acesso em 14/03/2017.
34
12 Diversos trabalhos sobre escravidão e liberdade vem sendo realizados tendo como lócus a
cidade fronteiriça de Jaguarão. Destaque para: CARATTI, 2010; ALADRÉN, 2012; MOREIRA,
2009.
35
Porém, o mesmo autor também afirma que na cidade de Bagé existia uma
parte significativa de grupos de trabalhadores negros escravizados que
realizavam trabalhos domésticos, não necessariamente ligados à produção
pecuária, como é o caso de cozinheiras e ofícios urbanos, como carpinteiros,
alfaiates, pedreiros e etc. (MATHEUS, 2016, p. 186).
Peço desculpas ao leitor por esse apanhado de números, porém, creio
que estes sejam importantes justamente para evidenciar que na Bagé
oitocentista a mão de obra negra escravizada foi utilizada de forma intensa pela
elite local, trazendo à tona dados que a historiografia sobre a história de Bagé
fez questão de silenciar.
Outro fator que deve ser levado em consideração quando abordamos a
escravidão em Bagé é a sua situação de região de fronteira. Bagé faz fronteira
com o Uruguai, o que, evidentemente, faz com que a dinâmica da escravidão
local seja diferente de outras regiões13. Nesse sentido, diversos estudos já vêm
demonstrando as particularidades das relações escravistas em regiões
fronteiriças na Província de São Pedro, tanto no que diz respeito a fugas de
trabalhadores escravizados como também em processos de escravização ilegal
entre o Brasil e o Uruguai14.
No que diz respeito às fugas em Bagé, infelizmente ainda são necessários
trabalhos mais específicos sobre a temática, mesmo hoje em dia sabendo que
abundam fontes primárias que o historiador pode se valer para apurar tais
empreitadas de trabalhadores negros no mundo da escravidão.
Em estudo realizado em 2015, pude observar a ocorrência de fugas no
município de Jaguarão através da análise de jornais. Por ser, assim como Bagé,
uma cidade de fronteira com o Uruguai, acabei encontrando diversos anúncios
de fugas para o país vizinho. Das 40 fugas encontradas nos periódicos, 20
tiveram como destino o solo Uruguaio (SILVA, 2015), corroborando a tese de
Petiz (2006), que afirmou que grande parte dos anúncios de fugas encontrados
nos jornais da Província de São Pedro eram de escravizados que foram para a
Banda Oriental. Assim, também pude mostrar que os jornais podem servir como
13 No Uruguai, o processo da abolição da escravidão ocorreu com dois decretos, sendo o primeiro
no ano de 1842 para a cidade de Montevidéu, e o segundo de 1846 para Cerrito e demais
localidades. Ver: CARATTI, 2010. p. 84.
14 Sobre as fugas de escravizados pelas fronteiras da Província de São Pedro, ver: PETIZ, 2006.
Para mais informações sobre o tráfico ilegal de escravizados pela fronteira, ver: LIMA, 2010.
37
ver: 1871: as prostitutas e o significado da lei. In: CHALHOUB, 2011, p. 189 – 201.
41
19TABORDA (2015) FAGUNDES (1995) SAIS (1955). Fim da escravidão em Bagé completa 130
anos sem comemorações. Matéria publicada em:
http://www.alternet.com.br/portal/2014/09/29/fim-da-escravidao-em-bage-completa-130-anos-
sem-comemoracoes/ (Acesso em 03/04/2017). GIORGIS, José T. A escravidão em Bagé.
Matéria publicada em: http://jornalminuano.com.br/VisualizarNoticia/14769/a-escravidao-em-
bage.aspx (Acesso em 03/04/2017). BOUCINHA, Cláudio Antunes. A abolição da escravatura
em Bagé. Texto publicado em: http://claudioantunesboucinha.blogspot.com.br/2010/07/abolicao-
da-escravatura-em-bage.html (Acesso em 03/04/2017).
45
século XIX - também se aplica para a localidade de Bagé, no qual o autor afirma
que “embora o surgimento da cidade [de Santa Maria] não esteja diretamente
relacionado ao regime escravista, sua história está intrinsicamente ligada à
utilização de indivíduos escravizados” (GRIGIO, 2016, p. 84).
Joseli Mendonça (2016), ao estudar a presença de africanos e seus
descendentes na cidade de Curitiba, também observou a invisibilidade em que
esses grupos foram colocados pelas narrativas históricas e espaços de
preservação de memória da cidade. Na cidade de Bagé ocorreu e ocorre o
mesmo, pois nesses espaços é visível a exclusão da presença de africanos e
seus descendentes. Em um pequeno local do museu Dom Diogo de Souza,
localizado na cidade de Bagé, existem algumas correntes que prendiam
trabalhadores negros escravizados, porém, nada sobre a escravidão negra
bageense é mencionado. Com isso, se criou na cidade uma memória e uma
identidade que atribuem à imigrantes o progresso local, seja no período imperial
como também no período republicano.
No mesmo sentido proposto por Mendonça (2016) numa perspectiva de
contribuir para uma história pública20, é de fundamental importância atentarmos
para as ações e contribuições de homens e mulheres negras na constituição da
cidade de Bagé, pois assim podemos tencionar as memórias oficiais da cidade
e trazer à tona outras perspectivas históricas do município, em que pese a
diversidade de sujeitos e a construção de múltiplas identidades locais, que não
só a de imigrantes europeus.
Esperamos que esse trabalho possa contribuir para pensar na
importância de territórios negros na cidade de Bagé, numa perspectiva que já
vem sendo construída em outras regiões do Rio Grande do Sul21, bem como em
20 O termo história pública proposto por Mendonça (2016) e utilizado aqui diz respeito aos
diálogos e relações “entre a produção acadêmica e não acadêmica do conhecimento histórico.
De um lado, os lugares de produção de saber histórico se multiplicaram, indo além dos
departamentos e centros universitários. De outro, as numerosas contendas sobre a memória
coletiva e o dever de memória têm frequentemente colocado a disciplina histórica no centro de
debates públicos com amplas repercussões políticas e sociais. Tais fenômenos refletem-se na
vasta produção editorial, áudio visual, museológica, entre outras, que mobiliza saberes
históricos, articulando demandas por esse tipo de conhecimento vindas de diversos setores da
sociedade civil e do Estado” (FONTES, HEYMANN e MATTOS, 2014, p. 229).
21Sobre territórios negros na cidade de Jaguarão, ver: AL-ALAM, Caiuá Cardoso. LIMA, Andreia
da Gama. Territórios negros em Jaguarão: Revisitando o Centro Histórico. In: Ensino de
História no Cone Sul: patrimônio cultural, territórios e fronteiras. Porto Alegre: Evangraf, 2012.
46
22 Sobre a construção de projetos que buscam dar visibilidade a presença de africanos e seus
descendentes em Santa Catarina, visitar: http://santaafrocatarina.blogspot.com.br/p/blog-
page.html.
23 O termo estigmatizado é usado aqui no sentido conferido por Erving Goffman, no qual estigma
se caracteriza pela depreciação de alguém por este possuir características que outros grupos
julgam como não normais. As categorias criadas para estigmatizar pessoas fazem parte de uma
construção social, não sendo algo dado como de forma natural. GOFFMAN, Erving. Estigma:
notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução: Mathias Lambert. Data da
publicação original: 1891. Link do livro:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/92113/mod_resource/content/1/Goffman%3B%20Estig
ma.pdf Acesso em: 24/03/2017.
47
A citação acima deixa claro que o autor retrata uma Bagé como um lugar
onde não havia conflitos, contradições, embates entre diversos grupos sociais,
pois para Lemieszek, a cidade trilhava um caminho diferente do restante do país,
era um “oásis”, desabrochando para o mundo, no qual a integração comunitária
a tornava um lugar diferenciado. Porém, como veremos mais adiante, Bagé não
era um lugar sem conflitos, muito pelo contrário, pois o período pós-abolição
Cabe lembrar que a ciência sobre as raças da virada do século XIX para
o XX buscou, através de características fenotípicas, arranjar lugares sociais para
os negros e brancos. No Brasil ganharam força as obras de Nina Rodrigues, cujo
objetivo era o de mostrar que o atraso civilizatório do Brasil estava atrelado a
miscigenação, pois o negro possuía características fenotípicas de uma raça
inferior. Assim, Nina Rodrigues recorreu à Medicina e foi influenciado pelas teses
de Lombroso25, no qual buscava, através de análise de crânios e demais
características físicas e biológicas do negro, comprovar o quanto estes sujeitos
pertenciam a uma raça inferior e estavam predispostos ao crime, à selvageria e
a barbárie (RODRIGUES, 1982)
Também nesse sentido, Schwarcz (1993) aponta para a disseminação
das teorias raciais no Brasil na virada do século XIX para o XX. Para a autora,
tais teorias gestadas na Europa do século XVIII foram muito bem recebidas aqui
no Brasil e tiveram como veículos de disseminação diversos institutos e
associações, como o Instituto Histórico Brasileiro e faculdades de Medicina e de
Direito, por exemplo. Estas instituições colocavam a questão racial no centro do
debate e seus objetivos eram reforçar a cientificidade dessas teorias, para assim,
“explicar as diferenças e [justificar] as hierarquias” (SCHWARCZ, 1993, p. 65).
Ao descrever sujeitos negros atentando para estereótipos e suas
características físicas, Sais (1984) mostra-se dialogar com tais postulados
teóricos sobre a raça criado na Europa e importado e (re) estruturado em solo
brasileiro ainda no século XIX. Tais teorias também atentavam para caracteres
físicos dos negros – atrelado à questão moral e cultural- para buscar explicação
cientifica sobre o não progresso desses sujeitos, bem como sua pré-disposição
ao crime e a “vadiagem”.
Voltando a obra de João Coronel Sais, outra questão que nos chamou
bastante atenção foi a abordagem que o mesmo escritor fez do famoso Príncipe
Negro, cujo nome era Custódio Joaquim de Almeida. Vindo da África, o Príncipe
chegou por volta do ano de 1862 no Brasil, e como observa Pereira (2010):
Em terras sulinas o “Príncipe Custódio” ou Osuanlele Okizi
Erupe – nome africano que trazia e o vinculava a uma auto-
reivindicada origem nobre, morou em Rio Grande, Bagé e
Pelotas, onde teria chegado por volta de 1900. Dando
prosseguimento a sucessão de mudanças, em 1901 torna-se
O autor ainda conclui que após ter sido alforriado por sua má conduta, o
“príncipe negro resolveu afogar as suas mágoas no caminho tortuoso do vício”
(SAIS, 1984, p.60). Bem diferente dos argumentos de Sais (1984), Silva (2011b)
demonstra que Custódio não viera para o Brasil enquanto escravo, mas sim
como um sujeito livre. Sua vinda para o Brasil é uma questão que ainda guarda
alguns mistérios. Mesmo assim, sabe-se que Custódio era um homem que
pertencia a aristocracia de onde viera, falando fluentemente o inglês e o francês.
Possuía diversos cavalos de raças, dos quais ele mesmo se encarregava de
cuidar.
Sobre a importância de Custódio no que diz respeito às práticas religiosas,
Silva (2011) afirma que nas cidades em que passou “fundou centros para a
prática da religião africana, pois era um devoto do vodu Gum (ou do orixá Ogum).
Tornou-se também famoso como especialista no uso de ervas medicinais”
(SILVA, 2011b, p. 118). Assim, o príncipe negro acabou por se tornar uma
grande liderança étnico-racial, principalmente na cidade de Porto Alegre,
localidade onde morou por 34 anos, e como bem pontua Silva (2011b, p. 119):
[...]“aplicou seu prestígio e riqueza para melhorar as condições dos africanos e
de sua comunidade, num estado onde existia forte discriminação contra os
negros”. O príncipe Custódio acabou falecendo no ano de 1935 em Porto Alegre,
provavelmente com mais de cem anos de idade, fato que foi noticiado por
diversos órgãos da imprensa porto-alegrense da época.
Como escrito anteriormente, muitas publicações sobre Bagé e seus
personagens acabam ganhando uma forma quase que “viva” dentro da
52
CAPÍTULO 2
29 O Arauto, 26/04/1936, p. 1.
58
30A primeira edição do livro A integração do negro na sociedade de classes, escrito por Florestan
Fernandes, foi publicado no ano de 1964.
60
autores acabaram por “reificar” o negro, o tornando um ser passivo e que perdera
a sua capacidade de resistência ao regime escravista ao se aceitar como uma
simples mercadoria, perdendo assim a sua subjetividade e apenas reproduzindo
a lógica do sistema (CARDOSO, 1997).
A partir da década de 1980, a historiografia sobre a escravidão e a
liberdade ganha novos contornos dentro da academia. Assim, os estudos se
voltaram para entender os processos e as relações dos sujeitos na sociedade
escravista brasileira, buscando atentar para a complexidade dessas relações. O
trabalhador escravizado, que outrora foi apenas um coadjuvante em meio às
engrenagens do modo de produção escravista, passa então a ser o protagonista
da história.
Esta nova abordagem dos estudos sobre escravidão e liberdade no Brasil
foi muito influenciada pelos estudos da escola marxista britânica, principalmente
a partir dos estudos do historiador E. P. Thompson. Ao se preocupar com a
agência de pessoas comuns, suas narrativas acabaram por trazer à tona a
experiência de diversos sujeitos que outrora foram silenciados pelas
documentações oficiais e pelas análises marxistas estruturalistas, que voltavam
suas preocupações apenas para as estruturas (THOMPSON, 1981).
A partir disso, as pesquisas buscaram perceber a agência dos sujeitos
negros tanto no mundo da escravidão como também depois do fim do cativeiro,
mostrando os diversos e complexos caminhos percorridos por esses sujeitos na
tentativa de melhor viver, mesmo sob o jugo da escravidão. Práticas de
resistências foram atribuídas não somente às fugas, mas a outras características
como preservação da cultura linguística e religiosa; pela barganha; buscando
otimizar o tempo de trabalho e demais manobras que envolviam uma negociação
constante com o senhor (REIS e SILVA, 1989).
Rios e Mattos (2005) afirmam que essa revisão na produção
historiográfica sobre a escravidão e liberdade também fez com que houvesse a
necessidade de se formular novas questões nos estudos sobre o Pós-abolição,
no qual:
Esta mudança de perspectiva implicou uma abordagem das
sociedades pós-emancipação mais centrada na experiência dos
libertos, no estudo de suas aspirações e de suas atitudes em
face do processo emancipacionista e dos novos contextos
sociais por ele produzidos. Afinal, o escravo que emergia da
nova história social da escravidão era cada vez mais capaz de
61
31 Estudos sobre a Jamaica, Cuba, EUA e a África, podem ser lidos em: COOPER, Frederick,
HOLT, Thomas, SCOTT, Rebecca. Além da escravidão: investigações sobre raça, trabalho e
cidadania em sociedades pós-emancipação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
32 O manifesto de criação do GT Nacional Emancipações e Pós-abolição da ANPUH pode ser
imprensa negra do século XIX (1833 – 1899). Dissertação. (Mestrado em História), Brasília:
Universidade de Brasília, 2006. SANTOS, José Antônio dos. Prisioneiros da história:
trajetórias intelectuais na imprensa negra meridional. Tese (Doutorado em História), Porto
Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2011.PEREIRA, Amílcar Araújo.
O mundo negro: relações raciais e a constituição do movimento negro contemporâneo no
Brasil. Rio de Janeiro: Pallas; FAPERJ, 2013.
62
pelo fato de ser produzida pelos sujeitos negros. Tal imprensa, que surgiu em
diversos cantos do Brasil ainda no período da escravidão, mas que ganhou força
no Pós-abolição, é fundamental para entendermos os projetos políticos e as
aspirações de homens e mulheres negras, suas demandas e suas lutas por
reconhecimento e contra o racismo da sociedade brasileira.
Não podemos esquecer das fontes produzidas no âmbito dos clubes
negros espalhados pelo Brasil no Pós-abolição34, como atas de assembleias e
reuniões da diretoria, que são fontes importantíssimas para perceber quais as
discussões que os sujeitos negros realizavam, bem como quais eram as suas
percepções acerca da sociedade ao qual estavam inseridos e seus diálogos com
outras instituições, pois como bem observa Silva (2013, p. 1), as fontes
produzidas no âmbito dos clubes negros “são tidas enquanto constructos
narrativos culturais os quais necessitam ser analisados na sua historicidade”.
Dentre as diversas pesquisas que vem sendo realizadas dentro desse
campo de estudos ainda em construção, uma delas diz respeito às apropriações
das noções de raça pelos negros e negras, tanto em processos
emancipacionistas no século XIX bem como após o fim da escravidão enquanto
instituição. Para isso, é importante frisar qual é a noção de raça empreendida no
presente trabalho.
A noção de raça é tida como uma construção cultural que deve ser
analisada dentro do processo histórico. Isso quer dizer que o termo raça utilizado
pelos autores citados anteriormente não tem nada de fatores biológicos naturais
e determinantes em grupos humanos.
Na verdade, a raça nunca foi um fato biológico natural, nunca foi
comprovada cientificamente. Trata-se, na verdade, de uma
poderosa construção cultural, inventada nas metrópoles
europeias e reinventada em suas colônias para justificar e
naturalizar a dominação dos europeus sobre os não-europeus,
dos brancos sobre os não-brancos. O que torna bastante difícil
compreender a raça é o de que ela só existe enquanto um
componente das relações sociais, sendo identificável nas
diversas desigualdades – educacionais, profissionais, salariais e
muitas outras – existentes entre negros e brancos. A raça
existirá enquanto existirem diferenças sociais baseadas no fato
de que as pessoas possuam diferentes tons de pele (SILVA et
al., 2017, p. 94).
com as produções recentes sobre a temática, pensando este campo não apenas
como marco cronológico a partir do 13 de maio de 1888, mas sim como um
período no qual as relações sociais vão sofrer mudanças e demandar novas
ações e construções identitárias dos sujeitos negros imersos nesse processo.
Uma das estratégias utilizadas pelos sujeitos negros no Pós-abolição foi a
atuação por meio da imprensa. Através da constituição de periódicos dos mais
variados, a imprensa negra apareceu de norte a sul do Brasil, mostrando projetos
políticos, anseios, desejos e aspirações de negros na busca pela sua valorização
numa sociedade pautada pela racialização das relações sociais.
Essa imprensa também buscou desconstruir o estigma do negro enquanto
“raça inferior”, ao passo que procurou (re) significar a ideia de raça que era
comumente utilizada para inferiorizá-los. No Pós-abolição a cidade interiorana
de Bagé assistiu ao surgimento de uma gama de jornais produzidos por e para
os negros. Nesse sentido, o tópico a seguir tem como objetivo compreender as
principais características desses periódicos, buscando constituir um quadro da
imprensa negra na cidade de Bagé no Pós-abolição.
36As transcrições dos jornais pesquisados foram atualizadas para a gramática atual da língua
portuguesa.
70
negros de Bagé, denunciando toda e qualquer relação que fugisse dos padrões
pretendidos pelos redatores do mesmo.
Esse tipo de vigilância do comportamento de sujeitos negros, sobretudo
das mulheres, foi uma constante nos jornais da imprensa negra, pois vale
lembrar que no contexto em que tais periódicos ganharam força no Brasil, as
teorias raciais também estavam com força total. Dessa forma, o negro era visto
como uma raça inferior e atrasada culturalmente, motivo pelo qual o Estado
brasileiro fortaleceu, também, a vinda de imigrantes europeus. Ou seja, mostrar-
se disciplinado, organizado, era uma constante para os redatores da imprensa
negra, pois havia a necessidade de subverter todo o estigma que recaía sobre o
negro.
Observando alguns jornais da imprensa negra de São Paulo no Pós-
abolição, Domingues (2008) afirma que era papel dessa imprensa combater a
vadiagem e os vícios da comunidade negra, como é o caso do alcoolismo. Nesse
sentido, o autor assevera que para os redatores desses jornais “o negro deveria
ser trabalhador, honesto e cumpridor dos seus deveres, além de zelar pela moral
e pelos bons costumes” (DOMINGUES, 2008, p. 41).
Ao observar os jornais O Exemplo, de Porto Alegre e A Alvorada de
Pelotas, Oliveira (2017) também atentou para as colunas de fofocas presentes,
sobretudo, no segundo jornal, e também frisou o controle sistemático dos
redatores para com o comportamento das mulheres negras. No jornal A
Alvorada, ganhou destaque uma coluna chama Pesquei, cujo objetivo era o de
“vistoriar” e alertar a comunidade negra pelotense, sendo as mulheres as mais
atingidas, sobre o comportamento correto que se deveria ter. Essa coluna era
escrita pelo diretor do jornal, o Sr. Juvenal Penny, mas era assinada com o
pseudônimo de Dr. Pescadinha. Presente nas festas dos clubes sociais, eventos
culturais e nas ruas de Pelotas, Dr. Pescadinha foi responsável por publicar
diversas notas alertando sobre padrões de comportamento adequado, sempre
na busca por uma moral e disciplina de sujeitos negros de Pelotas.
Pesquisando o jornal O Succo da cidade de Santa Maria, Oliveira (2016)
também observou o rígido controle dos redatores para com o comportamento da
comunidade negra Santa-Mariense, sobretudo das mulheres, casos muito
semelhantes aos encontrados nos jornais da imprensa negra de Bagé.
71
Uma outra questão quem vem sendo debatida dentro dos estudos sobre
a imprensa negra no Pós-abolição diz respeito à instrução primária. Ao pesquisar
a imprensa negra meridional, Santos (2011) atentou para a importância conferida
por muitos redatores desses periódicos à alfabetização.
Aos negros, a instrução significava a possibilidade de superar as
condições de trabalhador braçal que remetia à escravidão,
também se abria a perspectiva de ocupar uma posição social
como “homem letrado”, que era um lugar social representado na
imprensa negra como intangível ao preconceito. A instrução
mostrava-se como um passaporte para a mobilidade social e
para o conhecimento dos direitos civis, descrita muitas vezes
como uma das estratégias políticas disponíveis aos negros
(SANTOS, 2011, p. 124).
Escrito por João dos Anjos, a pedido do jornal A Defeza, o editorial faz um
paralelo entre o saber ler e escrever com o saber sobre o direito. Ou seja, a partir
do momento em que os sujeitos negros tivessem acesso à alfabetização,
poderiam saber “o que e o por que” das coisas da vida e assim galgar uma
74
posição de vida mais digna. Ao afirmar sobre conhecer o direito, ou seja, sobre
questões jurídicas, podemos interpretar que ao ter acesso a instrução, negros e
negras teriam mais subsídios para lutar por uma vida mais justa pelos seus.
Ao observar a situação de vida dos negros no pós-guerra civil dos Estados
Unidos no século XIX, a intelectual e militante negra Angela Davis (2016) reforça
a importância conferida por sujeitos negros à alfabetização e como que esta era
responsável por uma consciência de luta. Para a autora, “as pessoas negras que
recebiam instrução acadêmica inevitavelmente associavam o conhecimento à
batalha coletiva de seu povo por liberdade” (DAVIS, 2016, p. 112). Mesmo se
tratando de um estudo voltado para a história dos Estados Unidos, a análise de
Davis (2016) é fundamental para observarmos que para os povos da diáspora
negra, privados do acesso à educação por longos anos, a instrução primária era
fator fundamental para uma emancipação coletiva e uma possível garantia de
ascensão social e de busca pela por cidadania.
Também chama a atenção o fato de os redatores d’A Defeza
identificarem-se enquanto pertencentes a raça etiópica, numa evidente menção
ao país que naquele contexto ainda mantinha um império sob a liderança de
Haile Selassie. Com isso, percebe-se toda uma valorização e positivação em
torno da construção de uma identidade do coletivo. Segundo Silva et. al., (2017):
[Raça etiópica é uma] expressão utilizada por negros e negras
em diferentes partes do continente americano. É uma referência
de positivação cujo significado estava em evocar o legado
histórico de independência da Etiópica, (um dos territórios
independentes mais antigos do continente africano) [...] (SILVA
et.al., 2017, p. 76).
37 Sobre a trajetória de Antônio Baobad, ver: LONER, Beatriz. Antônio: de Oliveira a Baobad.
In: DOMINGUES, Petrônio, GOMES, Flávio dos Santos. Experiências da emancipação:
biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1880-1930). São Paulo: Selo
Negro, 2011. p. 109-136.
38 Sobre a Frente Negra Brasileira, ver: GOMES, Flávio dos Santos. Negros e política (1888 –
39Alguns diálogos entre jornais da imprensa negra brasileira com a imprensa negra norte
americana podem ser lidos em: PEREIRA, Amílcar Araújo. O mundo negro: a constituição do
movimento negro contemporâneo no Brasil (1970-1995). Tese de Doutorado. Programa de
Pós-graduação em História. Universidade Federal Fluminense (UFF). 2010.
79
41 Uma análise aprofundada sobre esse clube pode ser vista no capítulo 4 dessa dissertação.
83
42 Mais sobre essa entidade pode ser vista no capítulo 3 dessa dissertação.
43 Uma análise mais apurada dessa entidade pode ser lida no capítulo 3 dessa dissertação.
84
CAPÍTULO 3
44 Trecho do Poema escrito por Dorval Lamothe e dedicado ao Rancho Carnavalesco Vamos de
Qualquer Geito. (O Teimoso, 22/01/1928, p. 2).
45 Refiro-me, aqui, ao jornal de maior circulação e tiragem da cidade de Bagé na época, o Correio
do Sul.
46 (VELLOSO, 2003; ROSA, 2008).
86
o Estado buscou fazer do carnaval, tais grupos compostos por sujeitos negros
também o fizeram.
A partir disso, iremos observar os seguintes grupos carnavalescos negros
que acabaram se destacando no carnaval de rua de Bagé: Rancho Carnavalesco
Vamos de Qualquer Jeito; Rancho Carnavalesco Respinga; Cordão
Carnavalesco Adeantados; Bloco Carnavalesco Piratas do Amor e o Bloco
Carnavalesco Garotos da Batucada. Evidentemente que muitos outros blocos
compostos por sujeitos negros existiram na cidade, porém, nossa análise focará
nessas entidades pelo fato de aparecerem com destaque na imprensa local,
sobretudo nas páginas do jornal Correio do Sul entre as décadas de 1930 e 1940.
Também utilizaremos periódicos da imprensa negra de Bagé através dos
seguintes impressos: O Teimoso (1928); O Boato (1929); O Lampeão (1934); A
Tesoura (1935) e Socega Leão (1937). Como foi mencionado no capítulo anterior
desse trabalho, os periódicos da imprensa negra estavam atentos aos
movimentos burlescos das entidades carnavalescas locais e acabavam por
divulgar notícias desses grupos, mas também pelo fato de que existiram
entidades carnavalescas negras que chegaram a ter seus próprios impressos.
Para essa parte do trabalho, também utilizaremos a metodologia da
História Oral, através da qual foram realizadas entrevistas com sujeitos que
experienciaram o carnaval negro da cidade, sendo eles: Sr. Luís Barbosa da
Silva; Sra. Zoila da Silva Pinto e Sr. Vilmar Paiva dos Santos. Esses sujeitos
tiveram participação ativa em algumas das principais entidades carnavalescas
negras que serão analisadas no decorrer deste capítulo.
Porém, antes de adentrarmos nas características das entidades
mencionadas anteriormente, é importante apontar para alguns estudos que
focam no carnaval negro tanto em âmbito nacional como regional, pois estes se
destacam no sentido de apontar a importância de tais entidades negras e suas
influências nos períodos do reinado de Momo.
47 Uma análise mais apurada dessas entidades pode ser encontrada em SILVA (2011).
90
48No ano de 1937 o jornal Correio do Sul publicou a classificação das entidades que participavam
do concurso realizado pelo impresso, sendo que das doze entidades concorrentes, sete
desfilavam dentro do espaço do Clube Comercial de Bagé. (Correio do Sul, 07/02/1937, p. 6).
93
49Essa questão também é apontada pelo autor em: WEIMER, Rodrigo de Azevedo. Ser
“moreno”, ser “negro”: memórias de experiências de racialização no litoral norte do Rio
Grande do Sul no século XX. Est. Hist. Rio de Janeiro, vol. 26, nº 52, p. 409 – 428, 2013.
97
51 Uma análise sobre este clube será feita no capítulo 4 dessa dissertação.
52 Sobre a localização da sede do Qualquer Geito no mapa de Bagé, ver Anexo.
99
Teimoso que era dirigido pelo Club Carnavalesco As Teimosas e no ano de 1937
o impresso O 28 de Setembro, cuja direção estava a cargo das entidades Vamos
de Qualquer Geito e Blocos dos Cariocas.
Ao que tudo indica, no ano de 1937 o Vamos de Qualquer Geito obteve
destaque no carnaval de rua de Bagé, juntamente com o Cordão Respinga, como
mostra a notícia vinculada no jornal Correio do Sul:
EM PLENO REINADO DA FOLIA – Vários automóveis tomaram
parte nos corsos, bem como vários grupos populares, dos quais
se destacaram os cordões RESPINGA, apresentando um carro
alegórico e VAMOS DE QUALQUER GEITO que apresentou em
vários automóveis destoldados, a sua “rainha” acompanhada de
suas aias, com luzida guarda de honra e afinada banda de
clarins (Correio do Sul, 11/02/1937, p. 5).
Como deixa evidente a notícia acima, havia, nos dias destinados a Momo,
desfiles separados entre as entidades consideradas “populares” e as
consideradas “chics” no carnaval de rua de Bagé. Primeiramente desfilavam os
envolve a rixa de alguns blocos. Segundo o Sr. Luís, houve um desfile em que o
carro do Respinga foi “sabotado” por outras entidades:
Uma vez o Respinga ia desfilar, no tempo que fazia os carro
encima das carroça, diz que os nego botavam aste (sic) quando
foi, a carroça foi arrancar com o carro quebrou as roda (risos)
[...] ficaram no meio do caminho (...) faziam “trampa” um pro
outro né “tchê”? Tu vê que se existia coisa [...]54
54
Entrevista do Sr. Luís Barbosa da Silva concedida ao autor, no dia 18/03/2017.
55
Entrevista do Sr. Luís Barbosa da Silva concedida ao autor, no dia 18/03/2017.
103
indica davam a tônica do carnaval de rua de Bagé, ainda não haviam dado as
caras com seus ensaios e movimentos burlescos.
Esse fato nos chama atenção, principalmente por também ocorrer na
cidade de Pelotas e em Porto Alegre. Gill e Loner (2009) pesquisando alguns
clubes carnavalescos negros da cidade de Pelotas, apontaram que com a
configuração do Estado Novo, houve uma mudança nas regras de desfiles
populares na cidade. Assim, para desfiles nas ruas, como também para simples
reuniões associativas e recreativas, as entidades deveriam conseguir uma
permissão da polícia (GILL; LONER, 2009, p. 156). As despesas também
aumentaram nesse período, fazendo com que na cidade de Pelotas, no ano de
1937, cinco cordões negros não desfilassem, pois alegaram que não possuíam
verbas o suficiente para tal empreitada, julgando ser muito baixo o auxílio dado
pelo legislativo local.
Estudando o carnaval de Porto Alegre entre os anos de 1930 e 1940, Rosa
(2008) também observou que nos anos finais da década de 1930 o carnaval
porto-alegrense estava em declínio. Segundo o autor, com a instauração do
regime do Estado Novo, no ano de 1937, as relações entre os poderes públicos
com a imprensa sofreram alterações. Nos primeiros anos do novo regime, o
poder público não incentivou o carnaval, fazendo com que diversas entidades
enviassem cartas ao então prefeito de Porto Alegre, Loureiro da Silva, pedindo
auxílios.
Na cidade de Bagé o mesmo ocorreu no ano de 1938. As entidades
carnavalescas negras não deram o ar de seus desfiles nas ruas naquele ano,
alegando que eram “pesados emolumentos a que estão sujeitos, muito acima de
suas possibilidades” (Correio do Sul, 23/02/1938, p. 4).
A nota do Correio do Sul transcrita acima chama atenção para um detalhe
muito importante: a “súplica” dos redatores do jornal no que diz respeito às
entidades carnavalescas populares, deixando nítido a ideia de que sem aquela
“gente bamba” a festa do carnaval seria um fracasso.
As décadas de 1930 e 1940 foram muito significativas do ponto de vista
das apropriações do estado no que diz respeito aos festejos populares. Como
bem pontuou Velosso (2003), o governo Vargas se empenhou em utilizar a festa
do carnaval, por exemplo, como um canal de difusão de seu governo. Tal
situação se fez necessária, pois foi nesse contexto que o Estado brasileiro
106
Diferente das outras entidades negras até então encontradas nas fontes
pesquisadas, o bloco Piratas do Amor ocupava outros espaços, como é o caso
do churrasco e baile realizado nas dependências da sociedade Italiana de Bagé
no ano de 1942. Ocupar os salões da sociedade italiana57, essa que surgiu no
ano de 1871, denotava que os membros do referido bloco possuíam uma
articulação que extrapolava o próprio segmento negro da cidade. Pode-se atrelar
a isso os próprios cargos ocupados pelos sujeitos do bloco, pois como já foi
mencionado, a grande maioria eram funcionários públicos. Ter um cargo mais
estável poderia dar a possibilidade desses sujeitos negros circularem em outros
espaços e forjarem relações com setores mais elitizados da cidade.
60 Entrevista do Sr. Vilmar Paiva dos Santos concedida ao autor, no dia 10/05/2016.
111
62Termo que se refere a bateria do bloco, popularmente utilizada por pessoas ligadas ao
carnaval de Bagé.
114
ajudava com os gastos das entidades eram setores do comércio local e pessoas
interessadas, principalmente através da utilização dos chamados “livros de
ouro”.
No que diz respeito aos desfiles, Sr. Luís relembra que naquela época as
entidades começavam a desfilar na Praça dos Desportos e iam até a Praça da
Matriz, onde se localiza a Igreja Matriz de São Sebastiao. Logo depois eles
retornavam e faziam o mesmo trajeto novamente. Muitas vezes depois de
findado o desfile nas ruas, os blocos também faziam incursões em clubes sociais
locais, como, por exemplo, para os salões dos clubes Zíngaros, Piratas do Amor
e do Clube Recreativo Palmeiras.
116
(Correio do Sul, 29/01/1953, p. 5). Mesmo assim, na maioria das vezes a verba
era curta e as entidades criavam outras estratégias para angariar fundos para o
período do carnaval, como é o caso dos já mencionados festivais e bailes
durante o ano.
Em 1953 a prefeitura se comprometeu em ajudar as entidades
carnavalescas locais, porém, o envolvimento do legislativo local para com o
carnaval é a partir de 1950, onde juntamente com setores da imprensa como a
Rádio Cultura e o jornal Correio do Sul, passam a serem os organizadores
“oficiais” do carnaval de rua de Bagé, responsáveis por montar a programação
dos dias destinados à Momo. Como exemplo, no carnaval de 1950 a
programação consistia em um desfile dos blocos inscritos a parir das 22 horas,
para em seguida desfilarem as rainhas do carnaval dos clubes sociais locais e
os vencedores do concurso realizado pela imprensa (Correio do Sul, 19/02/1950,
p. 5).
Ao mesmo tempo em que a prefeitura e setores da imprensa passaram a
ser os responsáveis pelo carnaval “oficial” de Bagé, nota-se que a delegacia da
cidade começou a fechar mais o cerco nos dias destinados ao carnaval.
Restrições a passeatas depois da meia noite, bem como ao uso de fantasias
“indecorosas” e a coleta de dinheiro passaram a serem proibidos pela delegacia
de polícia local. Para realizarem seus desfiles, as entidades teriam que estar com
a autorização em dia com o departamento de polícia da cidade. Ou seja, ao
mesmo tempo em que o poder municipal passa a organizar os festejos
carnavalescos na cidade, o mesmo acaba por buscar disciplinar os blocos,
colocando restrições aos desfiles. Se antes os integrantes de entidades
carnavalescas podiam varar a noite se divertindo nas ruas da cidade, a partir de
agora isso era proibido. Se outrora a prática da coleta de dinheiro através da
utilização de “livros de ouro” era legalizada – como bem pontuou o entrevistado
Luís Barbosa – agora estava proibida mediante condução à delegacia de polícia.
Talvez, consista aí, uma das causas do desaparecimento gradual de muitas
entidades carnavalescas negras de Bagé, como é o caso do cordão Respinga,
Adeantados, Vamos de Qualquer Geito entre outros.
Muitas entidades carnavalescas acabaram se ajustando às normas e
restrições impostas pelo delegado de polícia da cidade, como foi o caso do
Garotos da Batucada, que sobreviveu até meados dos anos 1960. A partir dos
118
CAPÍTULO 4
65 Alguns trabalhos recentes vêm dando conta de mostrar o agenciamento de mulheres dentro
dos espaços dos clubes negros. Nessa perspectiva, ver: LOPES, Taiane Naressi. Protagonismo
feminino entre regras e padrões: uma história das mulheres negras do Clube Social 24 de
Agosto. Jaguarão: Universidade Federal do Pampa, 2015 (Monografia de conclusão de curso em
Licenciatura em História). GOMES. Fabrício, Romani. Sob a proteção da Princesa e São
Benedito: Identidade étnica, associativismo e projetos num clube negro em Caxias do Sul (1934
– 1988). 2008 Unisinos. (Dissertação de Mestrado em História).
66 Como exemplo, no ano de 2012 o Clube Social 24 de Agosto, localizado na cidade fronteiriça
de Jaguarão, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio
Grande do Sul (IPHAE), como bem cultural do Estado, através da luta dos seus dirigentes e
comunidade externa, que realizou diversos atos a fim de patrimonializar o clube. Sobre a portaria
do IPHAE, Ver:
122
A mesma autora afirma que de 1872 até 1920, Porto Alegre viu o
florescimento de 72 entidades criadas pelos e para os negros. Estes clubes de
caráter diversos tiveram grande presença de sujeitos negros que faziam parte
da Irmandade Nossa Senhora do Rosário, mostrando, assim, a importante
atuação desta irmandade na valorização do grupo negro porto-alegrense, no
http://www.iphae.rs.gov.br/Main.php?do=BensTombadosDetalhesAc&item=43202. Acesso em
13/03/2018.
123
qual este grupo ampliou seus espaços de atuação forjando clubes sociais,
beneficentes, recreativos e também um jornal. A circulação destes sujeitos nos
mais variados espaços associativos buscava descontruir a ideia de que o negro
não sabia se organizar socialmente, bem como buscava positivar a sua imagem
numa sociedade pautada pela discriminação racial (SILVA, 2011).
A cidade de Pelotas também assistiu à criação de espaços destinados as
congregações religiosas negras. Silva (2011, p. 30) observou a existência da
Irmandade Nossa Senhora da Conceição; Irmandade de Nossa Senhora
Assumpção da Boa Morte e Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Tais
sociedades existiram em Pelotas durante o período da escravidão.
Matheus (2016) encontrou algumas referências sobre a Irmandade Nossa
Senhora do Rosário para a cidade lócus de nossa pesquisa – Bagé. Pesquisando
documentos do acervo do Museu Dom Diogo de Souza na referida cidade, dentre
os quais correspondências expedidas da câmara municipal de 1860, Matheus
(2016) encontrou indícios da autorização do Presidente da Província para a
aprovação da Irmandade, bem como a doação de um terreno pelo legislativo
local para a congregação (MATHEUS, 2016, p. 230). O autor também encontrou
informações sobre a Irmandade através do testamento de Maria Rosa Antônio
da Rosário. Liberta e natural da Bahia, em seu testamento ela deixou móveis
para Maximiano Domingos do Espirito Santo, este na condição de seu irmão na
Irmandade Nossa senhora do Rosário (MATHEUS, 2016, p. 230).
Com relação aos Clubes Sociais Negros, um dos mais antigos do país se
localiza na cidade de Porto Alegre. O clube Floresta Aurora foi fundado no ano
de 1872, principalmente com o objetivo de angariar fundos para pagar a
liberdade de homens e mulheres escravizados. Escobar (2010) afirma que este
clube foi fundamental dentro do cenário porto-alegrense, ajudando também nas
“despesas com funeral, defesa de direitos e na educação de seus associados,
atuando de forma incisiva na luta contra a escravidão e a discriminação racial”
(ESCOBAR, 2010, p. 59).
Além da capital Porto Alegre, como citado no caso da Irmandade do
Rosário fundada em 1786, mas estruturada em 1828, na cidade de Pelotas
também existiram diversos espaços associativos de negros ainda no século XIX.
Loner (2001, p. 448) observou a existência da Associação Lotérica Beneficente
Feliz Esperança (1877); Sociedade Beneficente Feliz Esperança (1880);
124
67 Os trabalhos sobre sociedades recreativas criadas por e para os negros vem buscando
abranger diversas localidades em diversos estados brasileiros. RIBEIRO, Jônatas Roque.
Associativismo, sociabilidade e liberdade: sociedades recreativas de negros e negras no pós-
emancipação em Minas Gerais. Anais do 7ª Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional. Curitiba, 2015. Link do texto:
http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/Textos7/jonatas_ribeiro.pdf. Acesso em
11/04/2017. DOMINGUES, Petrônio. Esses intimoratos homens de cor: o associativismo
negro em Rio Claro (SP) no pós-abolição. História Social. nº 19, segundo semestre de 2010. Link
do artigo: http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/318/274. Acesso em:
13/04/2017. ROSA, Júlio Cesar da. Vivências de mulatos e pretos em Laguna: solidariedades
e sociabilidades nos clubes Sociedade Recreativa União Operária e Literário Cruz e Souza (1903
– 1950). MÉTIS: história e cultura. V. 15, n. 30. Link do artigo:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/4592/pdf. Acesso em 13/04/2017.
125
68 A Frente Negra Brasileira surgiu em São Paulo em outubro de 1931 com os seguintes sujeitos
à sua frente: Arlindo Veiga dos Santos; José Correia Leite; Isaltino Veiga dos Santos; Gervásio
de Moraes e Jayme de Aguiar. Acabou por transformar-se em um movimento de massas,
congregando negros de diversos estados do país e possuindo filiais espalhadas por estados
brasileiros. Analisando o estatuto da FNB, Gomes (2005) afirma que a “ideia fundamental [da
FNB] era realizar a união política e social da Gente Negra Nacional, para a afirmação dos direitos
histórico da mesma, em virtude da sua atividade material e moral no passado e para
reivindicação de seus direitos sociais e políticos, atuais, na comunhão brasileira (GOMES, 2005,
p. 52).
127
70 Entrevista concedida pela Sra. Ieda Maria Santos Lisboa ao autor, no dia 04/10/2017.
133
fazendo com que sujeitos negros buscassem criar seus próprios espaços e forjar
lutas entre os seus, na tentativa, principalmente, de poder melhor viver.
Na década de 1940, a cidade de Bagé fervilhava de associações negras,
principalmente as de cunho carnavalesco. Nos períodos do reinado de Momo,
eram muitas as entidades carnavalescas negras que colocavam seus blocos nas
ruas e em muitos casos davam a tônica do carnaval de rua da cidade. Mas além
dessas entidades, também havia a circulação de periódicos escritos por e para
as coletividades negras de Bagé, como é o caso do jornal O Palmeira, cuja uma
pequena trajetória já foi esboçada no capítulo segundo dessa dissertação.
A referência ao nome “Palmeira” foi encontrada nas pesquisas no ano de
1913, quando da fundação do time de futebol Sport Club Palmeira, que naquela
época estava sob a liderança do Sr. Delfino Menezes. Já na década de 1920,
encontramos além do time, um grupo de amadores que se organizava em torno
do Grêmio Dramático Palmeira, realizando diversos espetáculos para a
sociedade negra bageense. É dessa mesma década, mais precisamente do dia
1º de janeiro, que aparece na cena da imprensa de Bagé o periódico O Palmeira,
também na liderança de Delfino Menezes.
No ano de 1948, surge na cena social/recreativa em Bagé a Sociedade
Recreativa Palmeiras, um clube composto por famílias negras e que possuía sua
sede social na Rua José Otávio, no centro da cidade. Ao analisarmos o nome do
clube em questão, logo vem à mente a semelhança com as outras entidades
elencadas anteriormente, sendo o time de futebol, o grêmio dramático e o jornal.
Porém, até o presente momento não temos como saber se o clube fundado em
1948 tem alguma relação com as outras entidades, ou se tem nas mesmas, o
seu embrião. Até porque, no ano de 1949 e 1952, em pleno funcionamento do
clube recreativo, o jornal O Palmeira noticiava questões relativas ao Clube Os
Zíngaros e outros clubes carnavalescos da cidade em seus eventos sociais,
deixando de noticiar questões relativas ao Palmeira.
Já o jornal A Alvorada, importante periódico negro da cidade de Pelotas,
possuía um correspondente em Bagé e nos anos finais da década de 1940
passou a cobrir as atividades realizadas pelo Palmeiras.
E é justamente pelo referido jornal, que temos acesso a uma matéria cujo
título é “nasceu uma sociedade”, fazendo alusão ao surgimento do Club
Palmeiras na cidade de Bagé. Nessa matéria, o jornal afirma que uma das
134
Samba Palmeira
Sim, aceitamos o convite especial
Está legal, é uma brincadeira
Vamos cantar o samba
Que fizemos pr’á o Palmeira.
Compomos este samba
Com o nome da sociedade
E não achemos difícil
Porque é uma realidade,
O Sr. Nicolau Rosa
Que também tem seu lugar
Salve, salve, salve, salve,
73 A Alvorada, 19/03/1949, p. 3.
136
Imagem 11: Maria Joana, Miss Palmeiras, década de 1950. (Acervo de Suely
Cardoso).
p. 2). Agradeço a Profa. Dra. Fernanda Oliveira da Silva por compartilhar o excerto do referido
jornal.
82 Criada no ano de 1883, essa sociedade tinha como objetivos reunir artistas (artífices de
diversas profissões), além de prestar a esses trabalhadores diversos auxílios, como os relativos
a doença e funeral. (LOPES, 2007, p. 90). No ano de 1919, a Sociedade Protetora dos Artistas,
juntamente com a União Operária e a Liga Operária de Bagé, assinou uma petição pela jornada
de oito horas e por melhores condições de trabalho, em decorrência da Conferência Geral do
Trabalho, que se realizou em Washington, capital dos EUA. (A Razão, 26/09/1919, p. 8).
Periódico encontrado no site: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em
13/02/2018.
141
3 - Sociedade 4 – Professor
Recreativa Os (década de 1940)
Zíngaros 5 – Maestro/Diretor
4 - Instituto Musical (1950)
Santa Cecília
5 - Jazz Vitória
89 Zingariano ou Zingariana é um termo utilizado por alguns membros do Zíngaros para se referir
às pessoas que frequentavam o clube.
90 Entrevista concedida pela Sra. Ieda Maria dos Santos Lisboa ao autor, no dia 19/09/2017.
91 Estatutos da Sociedade Recreativa Os Zíngaros. p. 19.
148
espaço no decorrer do ano. Fica evidente que tais tarefas desempenhadas pelas
mulheres reproduzem as que as mesmas praticam em casa, porém, em alguns
espaços negros, essas tarefas extrapolam às do âmbito doméstico.
Esse detalhe foi bem apontado por Silva (2017), que ao analisar a atuação
de mulheres negras nos clubes na fronteira Brasil/Uruguai no Pós-abolição,
observou que houve momentos em que as mesmas desempenharam funções
majoritariamente masculinas, como é o caso da coleta de fundos para a
construção da sede própria do clube Fica Ahí da cidade de Pelotas. Já
especificamente sobre a atuação de mulheres negras nos clubes uruguaios, a
referida autora afirma que:
As mulheres negras, muitas das quais com profissões ligadas às
lides domésticas e poucos anos de estudo, residentes em Melo
ou em Montevidéu, com as raízes bastante sólidas no Centro
Uruguay, tinham na cor da pele e na experiência coletiva do
clube a identificação de um projeto político comum em prol da
raça, que incluía homens e mulheres. As formas como as
mulheres negras se colocaram e foram colocadas não permitem
observá-las a priori como à margem, fosse do próprio clube,
fosse das demais organizações negras em que se inseriam e
mesmo da sociedade de uma forma geral. Os condicionamentos
existiam, afinal, é nítido que elas criaram suas sub organizações,
como o vocábulo já adverte, em decorrência de não poderem
fazer-se presentes nos órgãos deliberativos dos conrazaneos.
Ora, em não podendo lá estar nada mais plausível que compor
os seus próprios órgãos e por meio deles dialogar com aqueles
que elas consideravam seus iguais. (SILVA, 2017, p. 219).
92Consiste em um traje de gala, em que o homem deve vestir um terno preto com gravata
borboleta e as mulheres vestidos com muito brilho.
149
Imagem 14: Ieda Maria dos Santos Lisboa. Rainha do carnaval do Clube Os
Zíngaros, 1959. (Acervo da Sociedade Recreativa e Cultural Os Zíngaros).
93Livro de atas de Assembleia, Conselho e Diretoria do Clube Fica Ahí P’ra Ir Dizendo, anos
1947 a 1956. Ata nº 446, de 07/04/1949. Acervo do NDH – UFPel.
154
94No ano de 1937, o jornal da imprensa negra O 28 de Setembro anunciou o seguinte evento
em suas páginas: “O festival do Grêmio Dramático José do Patrocínio que levará à cena o drama
em 3 atos, intitulado “A Hora do Operário”, que tomarão parte os seguintes amadores: Delfino
Menezes; Oscar Camargo; Luiz Couto; Paulino Ximendes; Amazonas Bittencourt; Heitor Alves;
Anselmo Couto; Helio Paraíso; José Machado; José M. de Lima e diversas senhorinhas do nosso
escol social. ” (O 28 de Setembro, 14/ 11/1937, p. 2). Esse espetáculo teatral, protagonizado por
pessoas negras, demonstra que a experiência enquanto trabalhadores/operários estava
presente nas ações culturais de muitos grupos negros. O teatro foi uma das ferramentas
acionadas pelos grêmios dramáticos compostos por negros para expressarem suas vivências e
suas lutas em prol da classe trabalhadora.
155
Além do time do América, outro que realizou excursões foi o Sport Club
Niterói, cuja liderança estava a cargo do Sr. Arideu Monteiro, importante quadro
do Clube Zíngaros e que esteve também a frente da elaboração do primeiro
estatuto da referida sociedade. No ano de 1940, os quadros do Niterói foram a
Porto Alegre disputar um jogo amistoso contra o time do Clube Floresta Aurora
(Diário de Notícias, 03/12/1940, p. 9). Cabe lembrar que o Floresta Aurora é a
sociedade negra mais antiga do Rio Grande do Sul e uma das mais antigas do
Brasil, sendo a sua criação datada de 1872 (ESCOBAR, 2010; SILVA, 2017).
As articulações dos membros do Zíngaros, que como já vimos extrapolava
os limites do município de Bagé, também ficam evidentes quando nos propomos
a observar a campanha para a sede própria, que foi lançada no ano de 1949,
como mostra a notícia abaixo vinculada no periódico O Palmeira:
CAMPANHA DA SEDE PRÓPRIA – A diretoria desta sociedade
também, deu início a uma grande campanha, em prol de sua
156
“[...] era uns nego rico, rapá, tudo metido a rico”.98 Na sequência, ao ser
questionado sobre como eram as relações entre o depoente e Oscar Camargo
– pois os mesmos desfilaram no mesmo bloco – Sr. Luís afirma que naquele
contexto, “nego rico não se misturava com nego pobre”.99 Ou seja, as narrativas
do Sr. Luís sugerem haver uma distância e uma hierarquia baseada na classe
social entre pessoas negras, o que também era critério de exclusão de
determinados espaços criados por membros do mesmo grupo. Mas também, é
importante ressaltar que nem sempre essas hierarquias prevaleceram, pois
como foi apontado anteriormente, o próprio Sr. Luís, operário e de condição
financeira modesta, fez parte dos quadros do Bambas da Cidade, no qual uma
das lideranças era Oscar Camargo. Mesmo assim, em muitos casos, como já
vem sendo apontado por alguns historiadores que se dedicam a estudar as
relações entre pessoas negras e seus espaços associativos no Pós-abolição,
haviam hierarquias e fronteiras nítidas no qual a cor da pele e a classe social
eram requisitos para a exclusão de grupos de pessoas negras de determinados
espaços, mostrando um processo de racialização entre os próprios negros.
(SILVA, 2013, 2017; ROSA, 2014).
Com relação a Ivoncléo, ao ter experiências em outros países e em outros
estados do Brasil, o mesmo buscou referências novas para levar para o Zíngaros
assim que retornou ao clube nos anos finais da década de 1960. Com isso,
acabou por ser eleito presidente da sociedade e renovar seu quadro diretivo.
Apaixonado por carnaval, buscou colocar o Zíngaros no seio dos desfiles
carnavalescos de rua novamente, porque até aquele momento o carnaval era
festejado somente no âmbito do espaço do clube.
A década de 1970 marca uma nova etapa e a criação de outros projetos
elencados pelo Zíngaros, como é o caso da criação da Academia de Samba Os
Zíngaros e um time de futebol, cuja liderança do último ficou a cargo do sócio
remido Vanderlei Barbosa da Silva.
O carnaval passa então a ser uma das principais estratégias empregadas
pelo Zíngaros na sua atuação em Bagé, momento no qual a entidade passa a
ganhar ainda mais visibilidade. Outros clubes negros usaram o carnaval como
98 Entrevista concedida pelo Sr. Luís Barbosa da Silva ao autor, no dia 27/04/2017.
99 Ibdem.
160
estratégia para (re) significar seus ares e projetos de atuação em suas cidades,
como foi o caso do Sport Club Gaúcho de Caxias do Sul.
Gomes (2008) aponta que a partir da década de 1960 o carnaval passa a
ser uma das principais estratégias de atuação do referido clube. Surgida
inicialmente enquanto Bloco carnavalesco, Os Protegidos da Princesa irão
ganhar diversos concursos do carnaval de rua de Caxias, aumentando, assim,
as arrecadações e os fundos do clube. Sendo assim, posteriormente a entidade
irá criar uma escola de samba com o mesmo nome do bloco mencionado
anteriormente, no qual irá cair nas graças da população de Caxias, exibindo
espetáculos por diversos anos nas ruas da cidade. Percebe-se, assim, que a
escola de samba do clube Gaúcho se tornou o projeto mais significativo daquela
instituição, substituindo o futebol como forma de interação com os outros
(GOMES, 2008, p. 88).
Assim que concorreu pela primeira vez nos desfiles das escolas de samba
de Bagé em 1973, a escola do Zíngaros obteve o primeiro lugar, ficando na frente
161
100 Uma reportagem sobre o concurso Boneca Café do Brasil pode ser lida em:
https://revistaraca.com.br/concurso-bonequinha-do-cafe/. (Acessado em 22/03/2018).
162
CONSIDERAÇÕES FINAIS
fazendo com que ainda nos dias atuais muitas pessoas se identifiquem com
essas assertivas históricas.
Como ficou evidente, a escravidão desempenhou um papel significativo
na cidade, fomentando a economia local e gerando riquezas para a região da
campanha. Ao passo que isso ocorria, diversos trabalhadores negros
escravizados buscavam lutar contra as estruturas de uma sociedade escravista,
seja na tentativa de fugas, bem como nas tentativas de insurgências e demais
estratégias de resistências cotidianas a escravidão.
Já no alvorecer da República, a historiografia local seguiu a silenciar a
atuação desses sujeitos, preocupados, acima de tudo, em retratar homens e
mulheres negros de forma estigmatizada e caricata, reforçando estereótipos
racistas e cujas construções remontam ao século XIX. Sabemos que essa
invisibilidade na história de negros e negras fez parte de uma agenda de
pesquisadores (OLIVEN, 1996). Porém, o que buscamos mostrar nesse capítulo,
foi de que está mais do que na hora de atentarmos para a experiência de
pessoas negras em Bagé, seja nos anos em que vigorou a escravidão e
atravessando o período Pós-abolição.
No segundo capítulo a proposta foi a de observar as experiências de
jornais produzidos por e para pessoas negras em Bagé, atentando para as
notícias que eram vinculadas em suas páginas e os projetos políticos
encabeçados pelos seus redatores. Percebemos que assim como em outras
regiões do Estado do Rio Grande do Sul e mesmo do Brasil, a imprensa negra
de Bagé também estava preocupada em construir uma ideia de moral e disciplina
em torno da figura do sujeito negro, sobretudo das mulheres do grupo através
de uma intensa vigilância e controle de suas atitudes.
Essas questões, como foi apontado no decorrer da dissertação, devem
ser analisadas sob a ótica de busca de afirmação, levando em consideração que
o contexto de surgimento desses jornais estava carregado pelas construções
das teorias raciais e que buscavam inferiorizar o segmento negro através de
discursos científicos. Através da análise da imprensa negra de Bagé, ficou
evidente que além de buscarem construir uma identidade negra de base racial,
tais jornais foram também os responsáveis por pautar diversos projetos políticos
afim da ascensão social de homens e mulheres negras, como é o caso da
importância conferida a instrução primária e a alfabetização, questões
165
levantadas por muitos jornais negros espalhados pelo Brasil e que denota uma
problemática intrínseca do Pós-abolição.
Através de alguns jornais da imprensa negra bageense, também
tivemos contato com diversas outras associações negras que protagonizaram
múltiplas ações na cidade, como é o caso dos times de futebol da raça que
disputavam a Liga de Futebol 13 de Maio, competição que reunia somente
equipes formadas por jogadores negros. Além de times de futebol, encontramos
diversas referências a entidades dramáticas, mostrando que homens e mulheres
negras de Bagé estavam forjando diversas ações culturais/sociais na cidade.
Outra questão levantada pelo presente estudo diz respeito a importante
atuação de entidades carnavalescas negras em Bagé, sobretudo a partir dos
anos de 1930 e 1940. Nesse contexto de tentativa de se criar um sentimento de
unidade nacional propagado pelo Estado na figura de Getúlio Vargas e com
amplo apoio de intelectuais e instituições públicas e privadas, o carnaval passou
a ser visto como a síntese da festa popular brasileira. Ao percorrermos as
experiências de diversos ranchos, cordões e blocos carnavalescos negros da
cidade, notamos que estes se aproveitaram da conjuntura e ocuparam os
espaços públicos das ruas de Bagé, mostrando toda uma organização frente à
outras entidades e dando a tônica do carnaval bageense. Porém, como a
presente pesquisa demonstrou, algumas entidades carnavalescas organizavam
atividades para além do período do carnaval, principalmente na tentativa de
angariar fundos para seus cofres.
A cidade de Bagé foi observada nessa dissertação atentando para uma
localidade cujas relações sociais eram balizadas por critérios raciais. Com isso,
diversos espaços da cidade eram segregados e às pessoas negras era proibido
o acesso. Para além de alguns espaços públicos da cidade, como calçadas e
estabelecimentos comerciais, os processos de racialização também estavam
presentes nos clubes e espaços festivos da cidade. Proibidos de frequentarem
determinados clubes, homens e mulheres negras criaram os seus espaços, no
qual a utilização da ideia de raça também se fez presente, como foi o caso do
concurso carnavalesco organizado pelas Teimosas e que teria a participação
somente dos cordões da raça.
Ao analisar as experiências dos clubes negros de Bagé – espaços
racializados e de resistência negra por excelência – acabamos encontrando uma
166
diz respeito ao Sr. José Moraes de Lima, que entre os anos de 1930 e 1940
circulou em sete associações de Bagé.
No clube Palmeiras, fundado no final da década de 1940 por sujeitos
negros que já haviam frequentado outros espaços associativos de negros da
cidade, como é o caso do próprio clube e bloco do Zíngaros, foi criada uma
biblioteca e um departamento cultural. Essas preocupações denotam que além
de serem espaços meramente recreativos, muitos clubes negros estavam
engajados em lutas políticas para o fortalecimento da raça. Mostrar-se
organizados, disciplinados, era fundamental na busca pela desconstrução de
estigmas que atribuíam a esses trabalhadores negros a incapacidade de se
organizar enquanto coletividade.
Às angustias expressas no primeiro capítulo dessa dissertação pelo
escritor negro Gilberto Alves Soares, sobre as lacunas existentes nas histórias
de negros e negras de Bagé, tentamos, na medida do possível contribuir para
minimizá-las.
168
ANEXOS
Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Bag%C3%A9,+RS/@-
31.3276975,-
54.1093968,1364m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x950675847493ab7d:0x667e
3efbe8e31985!8m2!3d-31.3301424!4d-54.1004622 (Acesso em 31/05/2018).
169
LISTA DE FONTES
Censos demográficos
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http://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477).
Acesso em 15/03/2017.
Recenseamento Geral do Brasil. (1º de setembro de 1940). Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), Rio de Janeiro, 1950. pp. 307.
Entrevistas
Sr. Ivoncléo Monteiro – Entrevista concedida ao autor, no dia 16/05/2016.
Sr. Luis Barbosa da Silva – Entrevista concedida ao autor, no dia 18/03/2017.
Sr. Vilmar Paiva dos Santos – Entrevista concedida ao autor, no dia
10/05/2016.
Sra. Ieda Maria dos Santos Lisboa – Entrevista concedida ao autor, no dia
04/10/2017.
Sra. Zoila da Silva Pinto – Entrevista concedida ao autor, no dia 19/09/2017.
171
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