COMPUTACAO
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RESUMO
ABSTRACT
Desde os anos de 1990 que a Computação Gráfica (CG) é conteúdo obrigatório nos cursos de
arquitetura e urbanismo no Brasil. De lá para cá o ensino das disciplinas ligadas à CG tem
passado por um processo de mudança significativa, que vai, como assinala Nadelli (2006), do
ensino de ferramentas gráficas computacionais de substituição dos recursos tradicionais de
desenho dos projetos de arquitetura, para a aplicação de recursos que podem auxiliar a
idealização do projeto.
A mudança no paradigma do ensino de CG está associada à própria mudança do ensino de
projeto. Tradicionalmente o ensino de CG nas disciplinas ministradas nas grades curriculares
dos cursos de arquitetura e urbanismo objetiva instrumentalizar os alunos nas técnicas de
desenho arquitetônico assistido por computador e de modelagem tridimensional. Nessas, a
disciplina aborda alguns dos conteúdos curriculares da área de representação gráfica,
principalmente ligados às disciplinas de desenho arquitetônico, perspectiva e geometria
descritiva. Neste caso, o processo de projeto continua sendo previamente concebido na
prancheta e a apresentação emprega o recurso das técnicas de desenho e modelagem
tridimensional no computador.
Todavia, várias experiências têm proposto novas maneiras de ensino de computação
gráfica para arquitetos. Vicent (2004), por exemplo, propõe uma abordagem diferenciada,
baseada em alguns dos paradigmas tradicionais de projeto, compondo uma abordagem
investigativa para essa disciplina, contemplando alternativas de estudos de volumetria, já no
computador. Em outro exemplo, Ando (2006) tem usado a computação gráfica tridimensional
para o ensino de arquitetura, por meio do processo da simulação do processo de construção
do edifício, em sala de aula.
Essas experiências têm mostrado a necessidade de mudança nas disciplinas de ensino de
computação para arquitetura e urbanismo. Nesse sentido, esse artigo objetiva mostrar uma
experiência didática de ensino de Computação Gráfica Digital desenvolvida numa disciplina
anual (a ementa da disciplina propunha instrumentalizar o aluno com técnicas de desenho
assistidas por computador – esse é um hábito ainda comum em diversos cursos de arquitetura
e urbanismo no país), durante o ano letivo de 2006, na Universidade Federal de Alagoas
(UFAL), e propõem mudanças no ensino da disciplina, procurando aproximar ao ensino de
projeto de arquitetura.
A hipótese inicialmente levantada foi que o uso da Computação Gráfica Tridimensional
(CG3D) poderia servir como um instrumento eficiente de auxílio ao processo de projeto, se
comparada a Computação Gráfica Bidimensional (CG2D). Para a comprovação da hipótese
comparou-se o ensino da CG2D (tradicional), com o ensino da CG3D aplicada ao processo de
projeto. Assim, dividiu-se a disciplina em duas etapas. Estas se apresentam como dois
modelos distintos de ensino de CAD. Em seguida as etapas são confrontadas. Na primeira
etapa a disciplina seguiu o modelo que fora amplamente difundido na cultura do ensino de
arquitetura na década de 90, e, que ainda fazia parte da práxis da disciplina de computação, na
UFAL. A partir do ensino dos principais comandos do AUTOCAD, os acadêmicos foram
capacitados para o desenho de uma residência unifamiliar. A reprodução da estrutura e do
desenho seguiu o modelo tradicional de ensino da CG2D, reproduzindo a metodologia de
desenho à mão no desenho digital. Na segunda etapa da disciplina trabalhou-se com a CG3D,
por meio do uso da tecnologia BIM (Building Information Modeling), com o programa
ARCHICAD.
Esta mudança permitiu vincular atributos aos objetos representados no projeto, e, estimulou
aos alunos a começarem a refletir sobre os componentes e partes constituintes do edifício, haja
vista, neste processo, o desenvolvimento do desenho deixa de ser abstrato e passa a estar
vinculado à realidade arquitetônica, transformando-se num processo de montagem (virtual) dos
componentes da construção, em três dimensões. Dessa forma, aproxima-se da realidade e
torna a geração de plantas baixas, cortes, fachadas e relatórios de quantitativos, algo
automático. Nesta etapa, foi possível refletir sobre o projetar na arquitetura.
Por fim, o trabalho mostra as principais vantagens e desvantagens do uso da CG3D,
comparada à CG2D, na representação do objeto construído e na concepção do artefato
arquitetônico.
2 Desenvolvimento do Trabalho
Figura 2:Animação e tempo real ajudam a compreender os sistemas dos edifícios – sejam
eles: a estrutura, os vêdos, as esquadrias, as circulações (escadas, rampas, elevadores).
Para verificar se os alunos pretendem continuar desenvolvendo seus projetos com o uso da
CG3D perguntou-se se os alunos terão interesse em desenvolver os trabalhos das disciplinas
de projeto, nos demais semestre, em 2D ou preferirão em 3D.
Para 85% dos alunos entrevistados a idéia é de permanecer trabalhando com a CG3D
(Figura 3). Apenas 5% dos alunos entrevistados pretendem desenvolver seus projetos usando-
se a CG2D.
Embora os dados apresentados acima mostrem uma melhoria significativa na compreensão
do espaço, quando se utiliza a CG3D, acredita-se que o principal instrumento de mudança na
postura de como se trabalho o projeto está associada à própria metodologia do projeto. Mesmo
observando a preferência dos alunos em trabalhar o projeto em 3D, pela facilidade de
compreender as nuances do projeto arquitetônico, a mudança de postura, da abordagem
bidimensional para a tridimensional, só poderá ocorrerá quando a CG3D for introduzida já no
processo de idealização do projeto, auxiliando na concepção do artefato arquitetônico e não
apenas na sua representação.
3 Considerações Finais
É importante destacar que essa experiência desenvolvida durante o ano letivo de 2006 foi
pontual e representou um momento específico de mudança programática do ensino
computação para o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFAL. A necessidade de cumprir as
exigências de uma ementa existente (atualmente já alterada) e a intenção de trabalhar o
projeto assistido por computador, dentro de novos paradigmas (já empregados em diversas
universidades), serviu como um meio propício para a implementação da experiência
comparativa.
Para os alunos a experiência também foi importante, abrindo seus horizontes, pois eles
puderam confrontar duas formas de trabalhar a computação gráfica em arquitetura: uma que
usa programas de CAD tradicionais em 2D (principalmente o AUTOCAD) e que é amplamente
difundido nos escritórios de arquitetura da região; e, outra, que utiliza a CG3D, empregando
esta como um instrumento de representação e de investigação das soluções de projeto, pouco
utilizada por escritórios locais, mas, com forte aceitação entre os alunos.
Por fim, constatou-se que: (1) a CG3D melhora a compreensão da arquitetura, não apenas
enquanto produto, mas como processo de construção do edifício; (2) existe um aumento
significativo na capacidade de visualização espacial dos estudantes, quando se passa a
aprender usando a CG3D, comparada a CG2D.
Os resultados mostram que: (a) a CG3D é um instrumento importante para o ensino do
desenho arquitetônico, visualização do espaço e dos sistemas construtivos do edifício
(estruturas, vêdos, esquadrias, etc.); (b) a possibilidade de andar pelo edifício virtual e de
decomposição imediata de seus componentes é um instrumento eficiente para o ensino da
arquitetura; (c) o uso da CG3D como instrumento de auxílio ao desenvolvimento do projeto
envolve uma mudança no processo de projeto, incorporando a CG3D, já nas etapas
investigativas de projeto.
Agradecimentos
Referências
[1] ANDO, Naomi; YAMAHATA, Nobuhiro. "Application of 3-D Computer Graphic Models for
the Education of Building Systems". Anais do 12º International Conference on Geometry
and Graphics, Salvador, Bahia, UFBA, 2006.
[2] Bassalo, José Maria. O Computador sobre a prancheta: reflexão sobre a utilização da
informática na concepção dos espaços arquitetônicos. Palestra proferida em 28/09/95, por
ocasião da IV SEMANA DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS, realizada
pela Universidade da Amazônia - UNAMA, em Belém-Pará. Disponível em:
http://www.amazon.com.br/~jbassalo/. Acesso em: 10 ago. 2007.
[3] NARDELLI, E. O Estado da Arte: Conheça alguns dos Trabalhos Apresentados no 24o
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p.77-79, 2006.
[4] RODRIGO, Lagos et. all. "Interacción de Medios Análogo-Digitales em Procesos de
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[5] STEELE, James. Arquitectura y revolución digital. México, Ediciones Gustavo Gilli,
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[6] VICENT0, Charles. "Projeto Arquitetônico e Computação Gráfica: Processos, Métodos e
Ensino". Anais do VIII Congresso Ibero-Americano de Gráfica Digital. São Leopoldo,
Rio Grande do Sul, UNISINOS, 2004, p 89-90.