Arquivos Uma Abordagem Inicial Sobre o Termo Usuário PDF
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Nem todo documento em meio digital é um documento de arquivo. Para este artigo o “documento em meio digital” deve ser
compreendido dentro do contexto arquivístico, ou seja, como documento gerado ou recebido por pessoa pública ou privada no
decorrer de suas atividades, somente acessíveis por um computador. Por não haver um consenso entre autores sobre o termo
para designar os documentos existentes em computadores e percebendo-se ainda as dificuldades impostas pela tradução do
termo, para fins deste trabalho, optou-se por utilizar o termo “documento em meio digital” por parecer, no momento, o mais
adequado. Seu significado é: documento fixado por meio de uma seqüência de bits, ou seja, cadeias de “0” e “1”, que equivalem
tanto aos impulsos eletrônicos quanto à configuração que o documento assume ao ser acessado.
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A gestão de documentos é entendida como “conjunto de medidas e rotinas visando à racionalização e eficiência na criação, tramitação,
classificação, uso primário e avaliação de arquivos”. CAMARGO e BELLOTTO (1996, p. 41). Complementando-se esta definição, para Silva e
Smit (2009, p.132) “Compreender que na gestão de documentos os objetivos e procedimentos são distintos para as diferentes fases do Ciclo
Vital é não considerar como estanques as fases clássicas dos documentos (corrente, intermediária e permanente), entendendo as fases como
integrantes de um mesmo processo, ou seja, a gestão de documentos no âmbito arquivístico não é restrita aos documentos em fase corrente e
intermediária, abrangendo também a fase permanente”.
Ainda, segundo Silva (2009, p.12-13), “Possivelmente influenciados pela tradição norte-americana, as definições de dicionários e lei no início da
década de 1990, para a expressão “gestão de documentos”, consideraram apenas procedimentos e operações técnicas nas fases corrente e
intermediária, desconsiderando a fase permanente dos arquivos. Publicações nacionais mais recentes ainda incorporam este conceito, mesmo
existindo algumas exceções no que se refere à legislação”.
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De acordo com Meirelles (1999, p.69) os agentes públicos “são todas as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício
de alguma função estatal. Os agentes normalmente desempenham funções do órgão, distribuídas entre cargos de que são titulares, mas
excepcionalmente podem exercer função sem cargo”.
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As discussões deste trabalho estão baseadas na dissertação de mestrado: SILVA, Denise de Almeida. Arquivo: o meio digital e os agentes
públicos. 2009. 144f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
mento tácito e explícito. O conhecimento tácito está Portanto, ao se considerar a gestão de conhe-
relacionado à capacidade intelectual desenvolvida para cimento, também se faz necessário esclarecer sobre
um trabalho. Neste caso, para Buckland (1991), a infor- o conhecimento de quem se está falando. Sendo o
mação do como fazer envolve uma operação cognitiva propósito deste artigo ressaltar a importância das
resultando num conhecimento sendo, portanto, intan- pessoas que trabalham com os documentos de uma
gível. O conhecimento explícito é um produto tangível, instituição para a concepção de sistemas informati-
expresso através de um código compartilhado por to- zados de gerenciamento arquivístico de documen-
dos, ou seja, existe uma re-elaboração da informação tos, primeiramente será feito um esforço no senti-
para que o conhecimento individual possa ser compar- do de estabelecer a caracterização destas pessoas,
tilhado. Nehmy e Paim (2003, p.291) concordam com a considerando as limitações deste artigo.
opinião de Nonaka e Takeuchi5 (1997 apud NEHMY; A denominação das pessoas que trabalham em
PAIM, 2003, p.291) quando estes afirmam que é possí- seu dia-a-dia com os documentos de uma entidade
vel a conversão desses tipos de conhecimento em um aparece muitas vezes na bibliografia relacionadas
conhecimento organizacional através de um ambiente ao termo “usuário”. Expressões como: “usuário
interativo em que a comunicação é a palavra-chave. prático” referenciada no Congresso Internacional
A produção do conhecimento em um ambiente de Arquivos, ocorrido em Londres, em 1980 (AL-
organizacional pode ser notada na massa documental BERCH FUGUERAS, 2003, p. 176); “usuários de
acumulada, contudo para este conhecimento ser apro- arquivo corrente”, aos quais estariam vinculados,
priado deve-se considerar a concepção de Menne-Ha- segundo Bellotto (2007, p. 42), produtores de do-
ritz (2000) cuja gestão do conhecimento possibilita a cumentos, profissionais da área jurídica e pesquisa-
representação de conceitos atrelados a determinadas dores administrativos; “usuários internos” os quais,
concepções de mundo e, por isso, o conhecimento de acordo com Tarraubella (1998, p.190-204) pos-
explícito é funcional apenas se estiver inserido em um suem uma coesão de interesses vinculados às ativi-
sistema capaz de controlá-lo, ou seja, se ele é utilizado dades dos órgãos e serviços da instituição gerando
dentro do mesmo ambiente em que foi apreendido e ao Arquivo demandas de qualquer nível adminis-
pelo mesmo código comum compartilhado. Este co- trativo e em qualquer parte do ciclo de vida dos
nhecimento organizacional não é inerte, sua aplicação documentos.
nas ações do cotidiano é que lhe confere o caráter Ao se recorrer a alguns dicionários arquivísticos
de repensar, de reavaliar, de redimensionar e mudar nacionais, percebeu-se que o termo usuário está atre-
aquilo que é necessário para aprimorar os métodos de lado àqueles que consultam arquivos permanentes,
trabalho de uma entidade. conforme exposto no Quadro 1, abaixo:
DICIONÁRIO DEFINIÇÃO
Associação dos Arquivistas Brasileiros (1990) Pessoa que consulta ou pesquisa documentos num arquivo
Camargo e Bellotto (1996) Pessoa que consulta ou pesquisa documentos num arquivo.
Pessoa física ou jurídica que consulta documentos de arquivo. Também chamada de con-
Arquivo Nacional (2005)
sulente, leitor ou pesquisador.
Cunha e Cavalcanti (2008) Pessoa que consulta os documentos de um arquivo. Erroneamente denominado leitor.
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NONAKA, K.;TAKEUCHI, H. Criação do conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de
Janeiro, Campus, 1997.
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O Dicionário de Cunha e Cavalcante (2008) não é exclusivamente arquivístico, abrangendo também a biblioteconomia. Contudo, a definição
dos verbetes vem acompanhada da sigla da área em que são utilizados e aqui somente mencionamos a definição referente à arquivística.
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De acordo com Meirelles (1999, p. 62) órgãos públicos “são centros de competência instituídos para o desempenho de funções estatais,
através de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa jurídica a que pertence”.
2.2 Do conhecimento dos agentes públicos ao cação, avaliação e descrição arquivística, considerando
conhecimento contido nos documentos a experiência dos agentes públicos nas atividades que
As percepções que os profissionais de um órgão desenvolvem, como também os termos que utilizam
público possuem em relação aos documentos em meio para denominá-las.
digital devem ser consideradas ao se elaborar sistemas Em projetos arquivísticos voltados para a pre-
informatizados. Ao Arquivo cabe o papel de elucidar servação do documento em meio digital, é possível
o caráter arquivístico destes documentos como tam- notar a vinculação da gestão do conhecimento à ges-
bém considerar o conhecimento tácito dos agentes tão de documentos, onde a natureza individual e in-
públicos sobre os documentos em meio digital. trospectiva da gestão do conhecimento encontra no
No Arquivo, esse valor agregado à informação, sistema de arquivo o apoio fundamental à dinâmica de
através da apropriação do conhecimento gerado so- aprendizagem organizacional:
bre ela é, para Santos (2007, p. 177), uma exigência Um arquivo constitui a camada base de conheci-
que se faz no presente ao arquivista. A valorização mento explícito organizacional, na medida em que
da informação como um recurso para a tomada de a informação sedimentada pela prática individual
decisões implica não apenas no oferecimento da in- e da instituição se encontre aí fixada. No entanto,
formação em seu estado bruto, mas sim da informa- isso tende a se verificar apenas quando a sua gestão
ção acompanhada dos produtos gerados pelo conhe- eficaz permitir torná-lo recurso efectivo (IAN/TT
cimento dos trabalhadores sobre ela. Assim, o papel e II, 2002, p. 4).
do arquivista não é vinculado apenas aos documentos
permanentes, mas também em documentos correntes Em resumo, a gestão do conhecimento e sua re-
e intermediários (SANTOS, 2007, p.184-185). lação com a gestão de documentos pode ocorrer de
Ao discutir os atributos de uma equipe especiali- duas formas distintas, mas complementares: a primei-
zada em informação, Davenport (2000, p. 141) aponta ra seria a de considerar o arquivo como repositório do
que os profissionais da informação, num futuro bre- conhecimento explícito de uma entidade; a segunda
ve, deverão agregar valor às informações fornecidas seria a apropriação e incorporação do conhecimento
às pessoas que procuram a entidade, desempenhando do agente público à gestão de documentos. A utili-
papéis diferentes dos atuais no sentido de “condensar, zação deste conhecimento institucional latente nos
contextualizar, aconselhar o melhor estilo e escolher documentos do Arquivo pode ser incorporado ao se
meios corretos de apresentação da informação”. Sob considerar o conhecimento tácito dos agentes públi-
esta ótica entende-se que no arquivo, se os princípios cos para a elaboração de instrumentos de gestão, ins-
arquivísticos forem seguidos para a organização da trumentos de pesquisa e para desenvolvimento de sis-
informação, o contexto de produção do documento temas informatizados de gerenciamento arquivístico
estará espelhado. Porém, nota-se a necessidade de ir de documentos, promovendo uma maior elucidação
além, pois os profissionais que utilizam os documen- dos vínculos existentes entre os procedimentos arqui-
tos em seu trabalho, na maioria das vezes, pouco en- vísticos e as práticas administrativas cotidianas.
tendem sobre organização dos documentos e os ins-
trumentos de gestão e pesquisa. 3. A ADOÇÃO DE CÓDIGOS
Para realização da gestão do conhecimento Valls INSTITUCIONAIS COMUNS: UMA FORMA
(2007, p.8) coloca que ela pode ser obtida através de DE CAPTAR O CONHECIMENTO DOS
vários caminhos como na coleta, no armazenamento, AGENTES PÚBLICOS
na recuperação e na distribuição de ativos tangíveis, Para a transformação do conhecimento tácito
como patentes, direitos autorais, documentos arqui- em conhecimento explícito e sua compreensão pelo
vísticos; na coleta, organização e disseminação de co- todo representado pela entidade, é necessário o esta-
nhecimentos intangíveis, como experiência individual belecimento de um código comum, uma linguagem.
e soluções criativas; na criação de um ambiente inte- Este código comum partilhado por aqueles que estão
rativo que possibilite a aprendizagem e o intercâmbio envolvidos com a entidade possibilita explorar o po-
do conhecimento internalizado pela entidade. Para a tencial do estoque informacional representado pelo
autora a gestão do conhecimento contribui para o pa- arquivo.
drão de excelência das organizações. No caso dos ar- Na visão de Smit (2005, p. 48) a linguagem uti-
quivos, definidos como repositórios de conhecimento lizada pelo Arquivo, entendido como um sistema de
explícito, a gestão do conhecimento pode ser utilizada informação, é manifestada de diferentes maneiras: a
no tratamento documental em atividades de classifi- linguagem adotada pelo arquivo, a linguagem presente
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Os autores que tratam das questões referentes à Linguagem utilizam o termo “usuário” o qual muitas vezes possui uma amplitude maior do que
a proposta neste artigo, contudo, o emprego do termo neste contexto não deixa de considerar o papel desempenhado pelos profissionais que
trabalham em seu dia-a-dia com os documentos para realização de atividades do órgão público, como é o caso do agente público aqui tratado.
de gestão, de instrumentos de pesquisa e sistemas in- de documentos. Como já dito anteriormente, a ges-
formatizados de gerenciamento arquivístico de docu- tão de documentos em uma instituição é um processo
mentos. amplo, no qual os agentes públicos atuam em partes
Se, por um lado, é preciso considerar termos desta gestão.
já utilizados, por outro lado existe a necessidade da No intuito de analisar como estas pessoas são
conscientização de que o trabalho dos agentes públi- consideradas nos projetos e iniciativas que tratam da
cos faz parte de um contexto maior, que possui regras preservação do documento em meio digital ao elencar
e conceitos próprios, relacionados à instituição a qual requisitos ou expor diretrizes para o desenvolvimento
estão vinculados. O desafio colocado para gestão de de sistemas informatizados, foram selecionados cinco
documentos é o de compatibilizar esta multiplicidade projetos internacionais (InterPARES - International
de linguagens considerando o conhecimento que os Research on Permanent Authentic Records in Eletro-
agentes públicos já possuem e os procedimentos ar- nic Systems; MoReq - Modelo de Requisitos para a
quivísticos, ou seja, utilizar a gestão de conhecimento Gestão de Documentos Eletrônicos; Siade - Sistemas
atrelada às questões trazidas por uma aproximação de de Informação de Arquivo e Documentos Eletrôni-
linguagens, tendo em vista os princípios arquivísticos cos) e dois nacionais (Conarq - Conselho Nacional
e sem desconsiderar que pessoas participam de todos de Arquivos; Instrução Normativa n. 1 APE/SAESP
esses processos. - Arquivo Público do Estado de São Paulo/ Sistema
de Arquivos do Estado de São Paulo ) de acordo com
4. OS AGENTES PÚBLICOS EM PROJETOS a disponibilidade de suas publicações, para sistema-
ARQUIVÍSTICOS RELACIONADOS À tizar os termos e conceitos relacionados às pessoas
PRESERVAÇÃO DO DOCUMENTO EM que participam do gerenciamento de documentos em
MEIO DIGITAL meio digital nos sistemas informatizados e para uma
A atuação dos agentes públicos em setores cuja posterior reflexão sobre suas respectivas definições.
atribuição específica é relacionada apenas à gestão de No quadro abaixo, para melhor compreensão, é
documentos como em expedientes, protocolos e ar- apresentada a sistematização destas nomeações e suas
quivos, torna mais evidente a relação com a gestão respectivas definições:
Profissionais de arquivo e pro- Pessoas que devem fazer parte da elaboração de sistemas informatizados e
tocolo de projetos de digitalização de documentos
Instrução Normativa
n°. 1 APE/SAESP Pessoas que possuem acesso ao sistema informatizado de acordo com seu
Usuário
(SÃO PAULO, 2009) perfil
mento que envolve a complexidade das funções que de documentos, nesta parte do artigo são analisados
exercem e responsabilidades nas quais estão envolvi- e discutidos os dados de um estudo exploratório9 que
dos nas diversas fases da gestão de documentos. versa sobre a forma como os gestores compreendem
Nenhuma das iniciativas prevê o levantamento o documento em meio digital que está inserido nas
e a adoção da percepção dos agentes públicos. Presu- rotinas administrativas.
me-se que eles são os “usuários” que têm acesso ao O citado estudo foi realizado no segmento da
sistema após seu desenvolvimento, de acordo com seu administração pública representado pela Universidade
perfil e, portanto, de acordo com seu nível de acesso. de São Paulo, escolhida pela relevância e reconheci-
A pluralidade de profissionais presentes em cada mento diante da comunidade arquivística brasileira,
um dos projetos não significa dizer que está assegu- por suas iniciativas relacionadas aos arquivos.
rado o acesso à informação de um documento, sendo Os dados foram coletados por meio da análise
apenas constatações que podem contribuir para po- documental e aplicação de questionários. A análise
tencializar o acesso à documentação. documental levantou nas Tabelas de Temporalidade
No escopo deste artigo, a utilização de um sis- de Documentos da Universidade de São Paulo os do-
tema informatizado que busque a preservação do do- cumentos produzidos/recebidos, em 1996, quando
cumento em meio digital ao longo do tempo deve ser se deu a primeira experiência arquivística envolven-
uma das preocupações relativas à administração pú- do os agentes públicos da Universidade de São Pau-
blica no sentido de garantir a prova de suas ações no lo que atuam em diferentes procedimentos da gestão
futuro, como também garantir o cumprimento de de- de documentos. Já os questionários foram utilizados
veres e o respeito aos direitos dos cidadãos. Contudo, como uma forma de expor as percepções dos agen-
para além da utilização destes sistemas é preciso levar tes públicos que atuavam na área em 2008, sobre a
em consideração que pessoas, no caso específico des- inserção dos documentos em meio digital nas rotinas
te trabalho, os agentes públicos, exercem papéis ativos administrativas, após 11 anos da primeira experiência
ao integrar o processo da acumulação dos documen- arquivística representada pela publicação das Tabelas
tos de arquivo. Mesmo que a tecnologia proporcione de Temporalidade de Documentos.
a cada dia um aumento da capacidade de armazena- O objetivo desta pesquisa foi o de compreender
mento e recuperação de informações, desconsiderar da inserção do documento em meio digital na admi-
que são pessoas que mantêm estes processos implica nistração pública por meio das percepções dos agen-
em gerar um fator complicador ao se implantar a ges- tes públicos permite, levando-se em consideração as
tão de documentos em uma entidade. limitações de um estudo exploratório, a fim de ressal-
Pensar os agentes públicos apenas por seu nível tar a importância das impressões e conhecimento da-
de acesso ao sistema é limitar o próprio funcionamen- queles que trabalham no dia-a-dia com os documen-
to do sistema, que pode ser potencializado ao se in- tos, para implantação ou aprimoramento da gestão de
corporar terminologias e conhecimentos das pessoas documentos em sistemas informatizados.
envolvidas na produção, guarda, trâmite e preservação
dos documentos de acordo com sua função no órgão 5.1 Análise das Tabelas de Temporalidade de
público. O sistema é uma ferramenta para se aprimo- Documentos
rar a gestão de documentos. A utilização dessa fer- A elaboração das Tabelas de Temporalidade,
ramenta só atinge seu objetivo se utilizada de forma publicadas em 1997, contou com a participação de
adequada pelos agentes públicos. agentes públicos que passaram por treinamentos re-
ferentes aos arquivos, à avaliação de documentos e à
5. ESTUDO EXPLORATÓRIO: A elaboração das próprias Tabelas.
PERCEPÇÃO DO GESTOR DE Interessante notar que os documentos relaciona-
DOCUMENTOS SOBRE O DOCUMENTO dos ao meio digital (203 no total) possuem expressões
EM MEIO DIGITAL que os acompanham para identificá-los como distintos
Como forma de fortalecer a importância da in- dos documentos em papel. Dentre as expressões cons-
clusão das percepções dos agentes públicos na gestão tam: sistema informatizado, registro eletrônico, banco
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Nem todas as questões presentes no estudo exploratório são apresentadas neste artigo por estarem vinculadas às temáticas distintas das
questões aqui trabalhadas, interessando apenas aquelas cujo alcance ilustram a abordagem deste trabalho. O estudo completo encontra-se
em SILVA, 2009.
de dados, suporte informatizado, automatizado. Quan- 47 pertencentes a comissões setoriais e 3 à área ad-
do não eram acompanhados destes termos, possuíam ministrativa por demonstrarem interesse em assuntos
um asterisco que no rodapé da página indicava que o relacionados ao documento em meio digital. Os pri-
documento encontrava-se em suporte informatizado. meiros contatos iniciaram-se em setembro de 2008 e
a tabulação dos dados ocorreu em dezembro de 2008.
Na questão que indagava “considerando os
documentos armazenados em um computador, dos
termos abaixo, qual seria a melhor opção para em-
pregarmos no cotidiano administrativo?” as respostas
distribuíram-se da seguinte forma:
Dentre as respostas que afirmaram haver dife- A análise dos dados das questões apresentadas
renças entre o documento digital e o documento di- revela que a informática facilitou as atividades do
gitalizado estão: cotidiano administrativo, otimizando o tempo e pro-
- “o documento digital pode ser alterado e o docu- movendo eficiência, por outro lado, observa-se a des-
mento digitalizado não”; confiança quanto ao documento produzido em meio
- “Administração diferencia, pois é necessária a assi- digital por sua facilidade em sofrer alterações e por
natura”; não possuir legislação que o ampare. A necessidade
- “o documento digital não é de confiança”; de assinatura também parece ser uma das principais
- “documento digital é original e o digitalizado, não”. dificuldades em aceitar o documento em meio digital.
Dentre as respostas que afirmaram não existir Enquanto garantias de estabilidade do docu-
diferenças entre o documento digital e o digitalizado mento em meio digital não forem estabelecidas e a
estão: legislação já existente não for divulgada e aplicada,
- “Ambos são configurados para receber ou não alte- grandes obstáculos ainda estarão no caminho da ad-
rações. Serão armazenados na forma de arquivos”; ministração pública. Alguns agentes públicos refe-
- “Somente o meios são diferentes”; rem-se à utilização de chaves públicas e políticas de
- “possuem a mesma importância. O documento di- segurança, contudo, isto também pode inviabilizar a
gitalizado é garantido pelo papel”. execução de atividades, uma vez que o modelo funcio-
A questão “em sua opinião, na Administração na desde que a outra pessoa também disponha dessa
Pública, um documento em meio digital possui a mes- tecnologia para acessar o documento e também poder
ma credibilidade que um documento em papel?” teve utilizá-lo ou modificá-lo quando necessário.
como respostas: Por meio da contabilização dos dados apresenta-
dos pelas questões e da análise da TTD é perceptível,
que mesmo no intervalo de 11 anos, assuntos refe-
rentes ao documento em meio digital ainda procuram
respostas.
Possivelmente as flutuações terminológicas e a
dificuldade em estabelecer conceitos por parte da bi-
bliografia estejam refletidas nas dúvidas que pairam
sobre o documento em meio digital para os agentes
públicos. A dificuldade em encontrar a estabilidade
para os documentos em meio digital, também parece
afetar sua credibilidade.
A pouca divulgação da legislação existente rela-
cionada ao documento em meio digital afeta as per-
As respostas positivas atrelam a credibilidade à cepções atuais, cuja percepção de sua credibilidade
criação de uma legislação, ao uso da infra-estrutura aparece atrelada ao aspecto legal. Interessante notar
de chaves-públicas, ao uso do e-mail para tomada que também existe uma grande vinculação à idéia de
de decisões, a utilização de recursos informáticos que para que o documento tenha validade, ele preci-
para garantia de autenticidade e segurança do docu- sa necessariamente ser resguardado pela legislação no
mento. Aspectos arquivísticos também foram con- sentido de que para ser um documento arquivístico o
siderados: documento deva ser primeiramente legal, quando na
- “Desde que esteja em ambiente arquivisticamente realidade muitos documentos gerados pela adminis-
seguro”; tração não possuem o embasamento legal, mas sim
- “Desde que o documento seja exato, autêntico, ve- a qualidade de valor probatório da realização de uma
rídico e formal”. atividade.
As respostas negativas utilizaram como justifica-
tiva a falta de assinatura no documento em meio digi- 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
tal, a facilidade de alteração e a falta de legislação que A gestão de conhecimento é uma forma da área
ampare a utilização do documento em meio digital: de arquivos abordar tanto a questão dos documen-
- “Tem que ter assinatura”; tos como base do conhecimento explícito de uma
- “Não há amparo legal”; instituição, como também se revela um meio para
- “Facilidade de manipulação da informação”. compreender quem são as pessoas e quais papéis elas
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e os agentes públicos. 2009. 144 f. Dissertação Geral da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,
(Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes, Brasil
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. e-mail: [email protected]
Esta é uma obra de referência obrigatória, não apenas por seus aportes originais e múltiplos, mas também pela
quantidade de reflexões e questionamentos que se abrem em decorrência de suas conclusões. É suporte para a
sala de aula, visto que discute conceitos que ajudam a consolidar a ciência Arquivística. Para a pesquisa,
porque ao fazê-lo, sob análise e metodologia científicas, junto com suas conclusões apresenta novos
questionamentos que, ao que me consta, o autor já está abordando. Para a profissão, porque não deixa à
margem questões menos atrativas, mais complicadas, mas absolutamente imprescindíveis, as legais.
Maria Paz Martín-Pozuelo, Madri/Espanha, 2010.