Cartilha - Adoção Passo A Passo PDF
Cartilha - Adoção Passo A Passo PDF
Cartilha - Adoção Passo A Passo PDF
com
CARTILHA
SUMÁRIO
Apresentação
Introdução
• Como deve proceder a pessoa que deseja se inscrever como pretendente à adoção?
• É possível se inscrever em mais de uma Vara e em regiões que sejam distantes do endereço
de residência do adotante?
• Pode-se adotar por procuração?
• Qual é a função das entrevistas?
• Quais são os critérios de avaliação da aptidão para adoção?
• O candidato reprovado pode se inscrever novamente?
• Quais os motivos mais comuns para que a Vara encaminhe o pretendente para os grupos de
reflexão?
• Após ser considerado apto para adoção, quanto tempo leva até que o candidato encontre
uma criança/adolescente que se adapte ao seu perfil?
• Quais os requisitos para adoção internacional?
• Em que circunstâncias o adotando tem o direito de consentir ou discordar da adoção?
• Quem adota pode escolher a criança/adolescente que quer adotar ou é obrigado a aceitar
aquela que lhe destinam?
• Que procedimentos favorecem a constituição de vínculos afetivos entre o adotando e os
candidatos a pais adotivos?
• Como se dá a legalização da adoção?
• Quais são os custos financeiros para o processo de adoção?
• Qualquer pessoa pode ter acesso aos dados de um processo sobre adoção?
• A mulher que adota tem direito à licença maternidade?
• O homem que adota tem direito à licença paternidade?
CAP. V – Conversas e controvérsias
Dos muitos dramas vividos pelas crianças e adolescentes brasileiros, um deles passa ao largo do
olhar da mídia e da sociedade. Trata-se da realidade dos milhares de abrigos espalhados pelo país,
onde hoje se concentram cerca de 80 mil meninos e meninas à espera de uma família. Dar voz a
esses pequenos cidadãos é o principal objetivo da campanha Mude um Destino, da Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB). Uma das ferramentas deste projeto é esta cartilha, que tenta derrubar
mitos e esclarecer cada um dos passos para a adoção.
Diversos são os desafios. O maior deles é reduzir a distância entre os que desejam um filho e as
muitas crianças e adolescentes que buscam uma família. Muitas vezes, o grande obstáculo é a falta
de informação. Por isso a AMB reúne nesta publicação dados importantes sobre o que é a adoção,
quem pode ser adotado, quem pode adotar e os procedimentos até que o processo se concretize.
A campanha, no entanto, é mais ampla. Mais que promover a adoção, a AMB quer lançar luz sobre os
abrigos brasileiros. Até porque apenas uma pequena parte dos abrigados pode ser adotada. O que a
Associação deseja é promover a reinserção familiar desses meninos e meninas, quer em uma família
substituta ou em sua família original. Para tanto, conta com o engajamento de toda a sociedade na
discussão do problema e na busca por soluções.
GRUPO ACESSO – ESTUDOS, INTERVENÇÕES E PESQUISA SOBRE ADOÇÃO DA CLÍNICA
PSICOLÓGICA DO INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE
A palavra adotar vem do latim adoptare, que significa escolher, perfilhar, dar o seu nome a, optar,
ajuntar, escolher, desejar. Do ponto de vista jurídico, a adoção é um procedimento legal que consiste
em transferir todos os direitos e deveres de pais biológicos para uma família substituta, conferindo para
crianças/adolescentes todos os direitos e deveres de filho, quando e somente quando forem esgotados
todos os recursos para que a convivência com a família original seja mantida. É regulamentada pelo
Código Civil e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que determina claramente que a adoção
deve priorizar as reais necessidades, interesses e direitos da criança/adolescente. A adoção representa
também a possibilidade de ter e criar filhos para pais que não puderam ter filhos biológicos, ou que
optaram por ter filhos sem vinculação genética, além de eventualmente atender às necessidades da
família de origem, que não pode cuidar de seu filho.
A adoção jurídica, por si só, não pode garantir que uma adoção amorosa entre pais
e filhos se dê, o que nem mesmo a paternidade biológica garante. Mesmo assim,
no processo jurídico são tomadas algumas medidas na aposta de que uma adoção
mútua aconteça.
Sim, todos os vínculos jurídicos com os pais biológicos e parentes são anulados com a adoção, salvo os
impedimentos matrimoniais (para evitar casamentos entre irmãos e entre pais e filhos consangüíneos).
Cabe lembrar que o rompimento dos vínculos jurídicos não implica no rompimento com a história
anterior à adoção da criança/adolescente.
Segundo o ECA, em princípio, a adoção depende do consentimento dos pais ou dos representantes
legais de quem se deseja adotar e é uma decisão revogável até a publicação da sentença da adoção.
Mas o consentimento será dispensado se os pais da criança/adolescente forem desconhecidos ou
tiverem desaparecido, se tiverem sido destituídos do poder familiar, ou se o adotando for órfão e não
tenha sido reclamado por qualquer parente por mais de um ano.
Não, depois de dada a sentença da adoção pelo juiz, ela é irreversível, e a família biológica perde todo e
qualquer direito sobre a criança/adolescente. Mas a família biológica poderá ter sua criança de volta se a
sentença não tiver ainda sido dada e se, por ato judicial, provar que tem condições de cuidar de seu filho.
Sim, segundo o ECA, a adoção é irrevogável, mas os pais adotivos estão sujeitos à perda do poder
familiar, pelas mesmas razões dadas aos pais biológicos.
Sim, o poder familiar pode ser suspenso, ou extinto por ato judicial, mas isto ocorre apenas em
casos de falta gravíssima. São consideradas causas que levam à perda: castigar imoderadamente o
filho; deixar o filho em abandono; praticar atos contrários à moral e aos bons costumes, descumprir
determinações judiciais. A adoção extingue o poder familiar da família de origem do adotado.
A legislação é precisa quando afirma que pobreza e miséria não são motivos
suficientes para a destituição do poder familiar. Antes de sua destituição, políticas de
apoio à família devem ser praticadas e implementadas para evitar o rompimento de
vínculos entre pais e filhos.
É utilizada a expressão “adoção à brasileira” para designar uma forma de procedimento que
desconsidera os trâmites legais do processo de adoção. Este procedimento consiste em registrar
como filha biológica uma criança, sem que ela tenha sido concebida como tal. O que as pessoas que
assim procedem em geral desconhecem é que a mãe biológica tem o direito de reaver a criança se
não tiver consentido legalmente a adoção, ou se não tiver sido destituída do poder familiar. Sob esta
perspectiva, a tentativa de burlar uma etapa necessária para adquirir legitimidade jurídica, acreditando-
se ser o modo mais simples de se chegar à adoção, acaba por tornar-se a mais complicada.
É a adoção em que a mãe biológica determina para quem deseja entregar o seu filho. O ato de definir a
quem entregar o filho é chamado de “intuito personae”. Na maioria dos casos, a mãe procura a Vara da
Infância e da Juventude acompanhada do pretendente à adoção para legalizar uma convivência que já
esteja acontecendo de fato. É um tema bastante polêmico. Há juízes que entendem que a adoção pronta
é sempre desaconselhável, pois é difícil avaliar se a escolha da mãe é voluntária ou foi induzida, se os
pretendentes à adoção são adequados, além da possibilidade de uma situação de tráfico de crianças. Por
A expressão “adoção tardia” é usada para fazer referência à adoção de crianças maiores ou de
adolescentes. Remete à idéia de uma adoção fora do tempo “adequado”, reforçando assim o preconceito
de que ser adotado é prerrogativa de recém-nascidos e bebês. Essa expressão também nos remete
à idéia de um atraso, e subseqüentemente a uma urgência na colocação da criança/adolescente em
família substituta. O aspecto mais pernicioso do prolongamento da espera da criança por uma família
diz respeito ao período em que ela permanece em situação jurídica e familiar indefinida. Quando se
decide por sua adoção, proporcionar à criança tempo e espaço para o processamento psíquico destas
mudanças torna-se fundamental, pois as crianças maiores que esperam pela adoção trazem consigo
histórias de vínculos e rompimentos que merecem ser cuidadosamente observados.
É a família que passa a substituir a família biológica de uma criança/adolescente, quando esta não pode,
não consegue ou não quer cuidar desta criança. A família substituta pode ocupar o papel da família biológica
de forma efetiva e permanente, como na adoção, ou de forma eventual, transitória e não definitiva, como
na guarda e na tutela. A família substituta pode ser constituída por qualquer pessoa maior de 18 anos, de
qualquer estado civil, e não precisa obrigatoriamente ter parentesco com a criança.
O que é guarda?
A guarda é uma medida que visa proteger crianças e adolescentes que não podem ficar com seus
pais, provisoriamente, ou em definitivo. É a posse legal, que os cuidadores adquirem, a partir da
convivência com crianças/adolescentes. A guarda confere responsabilidade pela assistência material,
afetiva e educacional de uma pessoa até 18 anos de idade. É uma medida onde o poder familiar e
os vínculos com a família de origem ficam preservados. O guardião pode renunciar ao exercício da
guarda sem impedimento legal, diferente do que ocorre com a adoção. É concedida a abrigos, a
famílias guardiãs e a candidatos a pais adotivos, durante o estágio de convivência, até que a sentença
de adoção seja feita.
O que é tutela?
A tutela corresponde ao poder instituído a um adulto para ser o representante legal da criança ou adolescente
menor de 18 anos, na falta dos pais - devido à destituição do poder familiar ou falecimento -, para gerir a
vida e administrar seus bens.
O que é um abrigo?
A família guardiã é uma alternativa de convivência familiar desenvolvida como programa por algumas
prefeituras no Brasil. É uma prática muito comum em diversos países, também conhecida como família
acolhedora, família hospedeira, família de apoio. O objetivo dessa medida alternativa é fornecer uma família
substituta para crianças/adolescentes cujos pais estejam impedidos de conviver com seus filhos, provisória
ou definitivamente, evitando ou interrompendo a sua institucionalização em abrigos coletivos.
Nesses programas, tanto as famílias de origem como as eventuais famílias adotivas são acompanhadas
para promover o retorno da criança ou aproximá-la gradativamente da família adotiva. Dessa forma,
as crianças/adolescentes nunca deixam de estar sob os cuidados de uma família, seja enquanto
esperam pelo retorno à família de origem, ou enquanto aguardam por uma adoção, fazendo valer um
dos princípios fundamentais do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
É uma prática solidária de apoio afetivo às crianças/adolescentes que vivem em instituições de abrigo e
que não necessariamente estão à disposição para a adoção. Os padrinhos podem visitar seu afilhado no
abrigo, comemorar seu aniversário, levá-lo a passeios nos finais de semana, levá-lo para seus lares nas
férias, no Natal, orientar seus estudos. O apadrinhamento afetivo, como qualquer outra medida de proteção
à infância e à juventude, deve ser desenvolvida e cuidadosamente acompanhada, como um programa ou
projeto cuja iniciativa pode ser de Conselhos Municipais dos Direitos da Criança, de abrigos e instituições,
de Secretarias de Estado ou Município, Varas da Infância e da Juventude, Tribunais de Justiça etc., em
parceria com igrejas, universidades, organizações não-governamentais, associações de moradores,
empresas privadas, entidades ou associações nacionais e internacionais de apoio à infância etc.
Crianças e adolescentes com até 18 anos à data do pedido de adoção, cujos pais forem falecidos ou
desconhecidos, tiverem sido destituídos do poder familiar ou concordarem com a adoção de seu filho.
Maiores de 18 anos também podem ser adotados. Nesse caso, de acordo com o novo Código Civil, a
adoção depende da assistência do Poder Público e de sentença constitutiva.
O adotando deve ser pelo menos 16 anos mais novo que o adotante.
Segundo as orientações do ECA, só podem ser colocados à adoção aquelas crianças e adolescentes
para quem todos os recursos dos programas de atenção e apoio familiar, no sentido de mantê-los no
convívio com sua família de origem, se virem esgotados.
Mãe adolescente (entre 12 e 17 anos) pode entregar seu filho para adoção sem o consentimento
de seus pais ou responsáveis?
Não, é necessária a autorização dos pais. Na falta destes, por morte ou paradeiro ignorado, será
necessária a anuência de um responsável (tutor, parente ou um curador nomeado pelo juiz).
O adotado passa a ter o sobrenome do adotante e, a pedido de qualquer um dos dois, poderá
ter mudado também o seu prenome. Pedidos de alteração do prenome devem ser avaliados
cuidadosamente para respeitar as peculiaridades de uma subjetividade que já está em constituição.
Quando um bebê nasce, ele recebe um nome. Esse nome fará parte de seu registro
civil e psíquico e será a marca da existência de um sujeito absolutamente singular. O
nome conta um pouco da história do sujeito. No mínimo, sua origem provém de uma
escolha de um dos pais ou familiares. Enfim, o nome é uma herança que a criança
porta, antes do encontro com quem a adotou. Mudar de nome não apaga no psiquismo
da criança marcas primitivas fundamentais que a constituem. Uma sugestão seria, em
vez de trocar o prenome da criança, optar pela adição de mais um nome, para marcar
um novo ponto de enlace e de identificação na constituição dessa subjetividade.
Não, pois muitas têm vínculos jurídicos com a sua família de origem e, por isso, não estão disponíveis
à adoção. Nesses casos, deve-se priorizar o retorno dessas crianças/adolescentes para o convívio
com sua família. Cabe lembrar que, segundo o ECA, a adoção só pode acontecer se a família de origem
for destituída do poder familiar, se os pais biológicos forem falecidos ou se forem desconhecidos
(situação em que a criança não tem um registro com o nome dos pais).
E se a criança tiver um registro com o nome de seus pais, e esses estiverem desaparecidos,
ela pode ser adotada?
Por que é mais difícil adotar um bebê do que uma criança já crescida?
Porque há menos bebês disponíveis para a adoção do que crianças já crescidas, e a maioria das
pretendentes deseja adotar bebês. Grande parte dos candidatos a pais adotivos manifesta o desejo
de adotar bebês meninas e brancas, sendo que as crianças em situação de adoção dificilmente
correspondem a essas características. Além disso, é preciso respeitar o tempo necessário para ocorrer
a destituição do Poder Familiar, que, apesar de ser um tipo de processo que tem preferência, deve
respeitar o direito de defesa dos pais, o que compreende examinar a resposta deles em relação ao que
se afirma em termos de abandono da criança ou adolescente, ouvir testemunhas, situação que pode
retardar o desligamento entre pais e filhos biológicos.
Um bebê encontrado em situação de abandono não está automaticamente disponível para adoção.
Nesse caso, o procedimento adequado é procurar os órgãos competentes (Delegacia, Vara da Infância e
da Juventude, Conselho Tutelar) para localizar os pais e saber se o bebê foi de fato abandonado. Mesmo
que isso tenha acontecido, seus pais biológicos ainda podem requerer o direito de paternidade.
Somente se os pais estiverem desaparecidos ou forem destituídos do poder familiar, por um
procedimento judicial, é que esse bebê poderá ser adotado. Deve-se considerar, ainda, que a pessoa
que o encontrou não terá garantia de poder adotá-lo. A Vara da Infância e da Juventude, que mantém
um cadastro de pessoas que estão aguardando a chegada de uma criança, é quem irá avaliar o que
será melhor para tal bebê.
A adoção por estrangeiros é uma medida excepcional e ela só será cogitada depois de esgotadas todas
as possibilidades de adoção da criança/adolescente por brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil.
Segundo o ECA, homens e mulheres, não importa o seu estado civil, desde que sejam maiores de 18 anos
de idade, sejam 16 anos mais velhos do que o adotado e ofereçam um ambiente familiar adequado.
Não podem adotar os avós e irmãos do adotando.
Pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas, com modestas, mas estáveis condições socioeconômicas
podem candidatar-se à adoção.
O ECA define apenas um critério objetivo do que seja um ambiente familiar inadequado para adoção:
presença de pessoas dependentes de álcool e drogas. Porém, na avaliação psicossocial realizada pela
equipe da Vara da Infância e da Juventude, é considerada uma ampla categoria de aspectos que dêem
indícios de um ambiente salutar para a criança/adolescente.
Sim, mas apenas se forem marido e mulher ou viverem em união estável, bastando que um deles
tenha 18 anos e seja comprovada a estabilidade familiar.
Sim, desde que o estágio de convivência com a criança ou adolescente tenha se iniciado durante o
casamento e desde que estejam de acordo quanto à guarda e às visitas.
Sim. O ECA não faz qualquer referência à opção sexual do adotante. A adoção será deferida desde que
apresente reais vantagens para o adotando e fundamente-se em motivos legítimos, e que o adotante
seja compatível com a natureza da medida e ofereça ambiente familiar adequado.
Não, já que a legislação brasileira não reconhece o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. No entanto,
no Brasil e no mundo, é cada vez mais crescente o número de pessoas de mesmo sexo que convivem
informalmente e que apenas um deles poderá pleitear a paternidade adotiva de uma criança/adolescente.
Casais que tenham uma união estável podem adotar filhos de seus parceiros desde que essas
crianças encontrem-se sem o reconhecimento de paternidade ou maternidade, ou quando o pai ou
mãe biológicos do filho do(a) companheiro(a) tiverem sido destituídos do poder familiar ou, ainda,
concordarem com a adoção, prestando depoimento judicial.
Sim. O procedimento é idêntico ao de uma adoção feita por brasileiro, desde que tenham visto de
permanência. Neste caso, não será necessária a inscrição na CEJA/CEJAI, que, como já dito, funcionam
junto aos Tribunais de Justiça de cada estado e do Distrito Federal.
Como deve proceder a pessoa que deseja se inscrever como pretendente a adoção?
Primeiramente, deve se dirigir ao Fórum de sua cidade ou região, com o seu RG e com um comprovante
de residência. Receberá informações iniciais a respeito dos documentos necessários para dar
continuidade ao processo. Após análise e aprovação dos documentos, entrevistas serão realizadas
com a equipe técnica das varas da Infância e da Juventude, que consiste de profissionais da área da
psicologia e do serviço social.
É possível se inscrever em mais de uma Vara e em regiões que sejam distantes do endereço
de residência do adotante?
Isto varia de estado para estado. O Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (SIPIA III),
que é um sistema nacional de registro e tratamento de informação, foi criado pelo Ministério da Justiça
para subsidiar a adoção de decisões governamentais sobre políticas para crianças e adolescentes,
garantindo-lhes acesso à cidadania no que diz respeito à colocação familiar, na forma de adoção, seja
por pretendente nacional ou estrangeiro. Sua implementação permitirá a necessária centralização de
dados em todo o território nacional.
Os candidatos reprovados estão subdivididos em dois grupos: inaptos e inidôneos. Os inaptos são
aqueles considerados insuficientemente preparados para a adoção. Estes poderão ser indicados
para alguns serviços de acompanhamento, apoio e reflexão para candidatos à adoção e poderão ser
reavaliados futuramente pela Vara. Já os inidôneos são aqueles que cometeram faltas ou delitos graves
Quais os motivos mais comuns para que a Vara encaminhe o pretendente para os grupos de
reflexão?
São vários. Por exemplo, os profissionais da Vara podem perceber que a expectativa do pretendente
à adoção é que o filho possa manter um casamento que está em crise. Outras vezes, os pretendentes
vivem um grande luto e imaginam que, pela adoção, este processo poderá ser atenuado. Às vezes,
ainda não se esgotaram todas as possibilidades do processo de gravidez, mas, pela ansiedade do
processo, o casal pensa que, adotando, consiga relaxar e, posteriormente, engravidar. Embora não
sejam necessariamente motivos impeditivos para se adotar, a cada caso, o psicólogo e a assistente
social avaliarão se é necessária uma maior reflexão sobre essa motivação.
Após ser considerado apto para adoção, quanto tempo leva até que o candidato encontre uma
criança/adolescente que se adapte ao seu perfil?
A adoção dependerá da concordância do adotando quando ele tiver mais de 12 anos de idade. Porém,
independentemente da idade, sempre que possível, deve-se considerar a opinião da criança ou
adolescente. É importante que se possa investir na formação de um vínculo afetivo entre a criança e
os candidatos a pais adotivos antes de concluído o processo de adoção. A aproximação gradativa e o
estágio de convivência, previsto no ECA, têm essa finalidade.
Quem adota pode escolher a criança/adolescente que quer adotar ou é obrigado a aceitar
aquela que lhe destinam?
O candidato deve ser o mais sincero possível ao explicitar suas expectativas e motivações em
relação à criança/adolescente que venha a adotar e quanto a suas restrições. Isto possibilitará que
os profissionais da Vara busquem encontrar um melhor arranjo possível, evitando desentrosamentos
entre crianças/adolescentes e seus futuros pais. Se o pretendente não aceitar adotar nenhuma das
crianças ou adolescentes que estão disponíveis para adoção, poderá optar por aguardar até que
apareça uma que melhor corresponda às suas expectativas e motivações.
A lei determina um estágio de convivência entre adotado e adotante, considerando-se que a separação
do ambiente anterior e a criação de novos vínculos demandam tempo. Especialmente quando a criança/
adolescente está há muito tempo institucionalizada, este tempo deverá ser ainda maior, pois ela
aprendeu a se reconhecer nesta instituição, com um sistema de regras, normas e valores específicos,
que são parte constituinte da sua subjetividade. É importante respeitar o tempo que ambos os lados,
criança e família, levarão para responder às diversas questões que poderão emergir nesse encontro.
Sendo lavrada a sentença, a criança/adolescente passará a ter uma certidão de nascimento na qual
os adotantes constarão como pais. O processo judicial será arquivado, e o registro original do adotado
será cancelado. Contudo, considerando-se que a história de uma criança não pode ser apagada, o
juiz autoriza ao adotado, a qualquer momento que este desejar, consultar os autos que tratam de sua
origem e de sua adoção. Na sua nova certidão de nascimento a criança passará a ter o nome escolhido
Não. O processo de adoção tramita em segredo de justiça. Apenas o adotado pode ter acesso às suas
informações, assim mesmo, somente após autorização judicial. Pais biológicos destituídos do poder
familiar não têm acesso a esse material.
Sim. A licença maternidade para mães adotivas, regida pela CLT, foi concedida após a entrada em
vigor da Lei 10.421/02. A mãe adotiva tem o direito à licença maternidade proporcional de 120 dias
no caso de adoção de criança de até 1 ano de idade; 60 dias no caso de adoção de criança a partir
de 1 ano até 4 anos de idade e 30 dias no caso de adoção de criança a partir de 4 anos até 8 anos.
O direito de salário-maternidade é estendido à mãe adotiva. Com relação à estabilidade de emprego,
que é concedida à gestante, não se aplica no caso de mãe adotiva.
Sim, de 5 dias.
Mesmo que a história da criança/adolescente comporte alguns aspectos dolorosos, é importante buscar
palavras que os ajudem a elaborar as experiências vividas. Isto tem um efeito organizador e estruturante
sobre o seu psiquismo. A história é uma trama de sentidos, e é por meio das palavras que seus pais
escolhem para se referir à sua história que a criança/adolescente transcende o vivido, o imediato e o
sensível. É também na circulação de palavras que uma relação de confiança vai sendo criada entre
pais e filhos. À medida que ela sente uma abertura para tal, que pode se reportar a antigas vivências, a
criança/adolescente tende a expressar o desejo de conversar com seus pais adotivos sobre sua história e
suas raízes. A criança possui um certo saber sobre elas, e precisa ser auxiliada para poder formular suas
questões. Portanto, é um processo fundamental para a construção de sua subjetividade.
Segredos sobre a história e a origem da criança/adolescente adotivo podem produzir que tipo
de conseqüências?
Quando os pais adotivos se sentem impedidos de falar à criança sobre a história anterior à convivência
com eles, algo aí acaba lhe sendo transmitido: que este é um tema proibido, censurado. Acontece que este
não é um tema qualquer. Toda criança, de diferentes maneiras, pergunta sobre sua filiação, sua origem e
busca entender “de onde vêm os bebês?”, base para outras e infinitas pesquisas humanas. Se sobre sua
origem a criança recebe um grande silêncio ou então respostas que são muito vagas, ela interpreta que
há uma determinação a ser cumprida: cale-se e não pergunte. Mas sua obediência não se fará sem um
preço a pagar, podendo comprometer o seu processo de aprendizagem e a sua vida imaginativa. Uma
das maiores dificuldades que alguns pais adotivos costumam sentir sobre a conversa com seus filhos
adotivos é a de aceitar a idéia de que há aspectos importantes em sua história dos quais eles não fizeram
parte ou desconhecem. O medo de que o filho sofra a partir do que se conversa também pode ser gerador
de dificuldades. Algumas vezes os pais adotivos também necessitam e merecem ser auxiliados por
profissionais a colocar em palavras por que essa sua função pode lhes parecer tão penosa.
Este é um dos temas que mais preocupa os pais adotivos. Não há um momento ideal. Porém, quanto
mais cedo se puder falar sobre este assunto, mais natural vai lhe parecendo a sua condição e mais
possível será o estabelecimento de uma relação com o adulto fundamentada na confiança. Não
deveria existir um relato sobre a origem, feito de uma só vez. É interessante ter em mente que em
cada idade, em cada momento de sua constituição psíquica, a criança vai formulando sentidos novos
e cada vez mais complexos, que exigirão novas perguntas e também outras respostas. Cada pai ou
mãe deve encontrar o seu modo de ir narrando a história sobre as origens para seu filho, que seja
condizente com a idade da criança, com sua linguagem e com a cultura familiar. É imprescindível
que os pais não aguardem até que a criança tenha a iniciativa de perguntar. É verdade que existe um
saber inconsciente, por parte da criança, sobre suas origens. As marcas das vivências anteriores à
adoção de alguma forma se expressam a partir do que apreende, do que escuta e do que não se fala
no ambiente familiar.
Esta é uma expressão tão recorrente entre pais adotivos que seria impossível desconsiderá-la. Contudo,
quando for utilizada, deve ser esclarecida de que a criança é filha do coração dos pais adotivos, pelo amor
que lhe dedicam, mas que foi gerada na barriga de outra mãe. Como para qualquer criança, em idade e
momento oportunos, o papel do pai nas explicações sobre como nascem os bebês deve ser acrescentado,
garantindo-se uma versão para a história de sua origem no âmbito da sexualidade humana.
O que fazer quando a história da criança é desconhecida?
Este pode ser um fator complexo e angustiante, tanto para os pais, quanto para o filho adotivo. Como já
foi exposto, pode haver legalmente a possibilidade de recuperação, se não em sua íntegra, pelo menos
parte desta história. Quando por algum motivo esta história se perdeu, há um vazio a ser preenchido,
tanto pelo filho, quanto pelos pais, mesmo que seja para conversar sobre o pouco que se sabe, sobre
o que não se sabe, sobre as angústias do conhecido e do desconhecido, sobre a tristeza do abandono,
sobre a alegria do encontro. Pode-se tentar preencher as lacunas existentes lançando-se suposições
sobre o ocorrido a partir de pequenos indícios, fragmentos do que foi vivido, sonhos e fantasias, na
restauração/construção compartilhada desta história. Se este processo gerar muita ansiedade para
pais e filhos, eles poderão recorrer a profissionais especializados no assunto ou a grupos de reflexão.
Nestes grupos, o contato com pessoas que possuam problemáticas semelhantes possibilita a troca de
experiências e a reflexão sobre fantasias, ansiedades, preconceitos, mitos e segredos.
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