Cartilha de Antropoloia
Cartilha de Antropoloia
Cartilha de Antropoloia
Bernardino Ferreira, Cássia Ellen Gomes da Silva e Mickelle Niccolly Cordeiro de Santana
Sumário e ideias:
É interessante citar que o artigo 42, destinado ao perfil dos adotantes, nunca fez
referência à orientação sexual daqueles que desejam adotar. O que houve, a partir de 2009,
com a promulgação da Lei nº 12.010, foi a exigência da união estável ou casamento em
contextos de adoções conjuntas, o que excluia os casais homoafetivos até o ano de 2011. Mas
tendo em vista a inconstitucionalidade presente no estatuto, a justiça ainda proporcionava,
mesmo com dificuldades, a adoção por parte de casais homossexuais até a garantia por lei,
que só foi possível a partir do ano de 2015.
Como foi desenvolvido, é direito de toda criança e adolescente viver dentro de um seio
familiar, mas hoje, no presente dia 31/07/2023, o Brasil possui mais de 30 mil crianças em
casas de acolhimento, das quais 4.349 estão disponíveis para adoção e 5.373 estão em
processo de adoção. Os dados também apontam que existem mais de 35 mil pretendentes à
adoção, número que ultrapassa em muito a quantidade de crianças disponíveis. Mas se a
discrepância é tão grande, por que ainda há disponibilidade de crianças e adolescentes?
O processo de adoção é extremamente burocrático, o que é justificável, tendo em vista
a seriedade do ato. O menor deve ser acolhido por um lar estruturado e que irá garantir seus
direitos e demandas. Mas além disso, há uma exigência, por parte dos adotantes, de perfil
físico e psicológico, o que exclui uma parte considerável das crianças e adolescentes dentro
do sistema adotivo e proporciona que o número de menores fora de um núcleo familiar seja
grande e estagnado.
2.1. Quem são as crianças na fila de adoção e o perfil ideal exigido pelos adotantes.
Adoção tardia é aquela caracterizada pelo fato de a criança a ser adotada ter mais de
dois anos. A partir dessa idade, há um protocolo diferente da maioria das outras vezes, pois já
pode ser levado em consideração o desejo da criança e suas opiniões a respeito da situação em
que está envolvida. Existem diversas peculiaridades a serem exploradas diante desse viés,
principalmente em relação aos desafios característicos desse tipo de adoção.
Um dos principais obstáculos a serem pontuados é a animosidade com a qual os pais
precisam lidar, muitas das vezes sem esperar por essa reação. É comum que, com a intenção
de testar o novo ambiente no qual está inserida, a criança ou adolescente passe por momentos
de “birra”, e coloque os pais em uma espécie de prova, para ver o que acontecerá. De acordo
com Weber (1998), isso ocorre pelo medo de abandono que muitas vezes faz parte da
bagagem, o que faz com que o filho teste um comportamento agressivo. Ele quer ver se,
mesmo nas situações difíceis, os pais irão ou não desistir dele, e essa insegurança é mais
comum nas adoções tardias. E é devido a dificuldade de adaptação e criação de laços afetivos,
que o interesse por crianças acima de 2 anos é gradativamente diminuído.
Como foi visto, crianças e adolescentes indígenas, pretos e amarelos são os menos
preferidos pelos adotantes que fazem exigência étnica, o que é um reflexo de como essas
identidades foram construídas. O conceito moderno de raça é historicamente recente, surge
com a invasão do continente americano e carrega um estigma negativo para aqueles que não
são brancos. Foi instituído pelos europeus e brancos, com aparato religioso e pseudocientífico,
que as etnias indígenas, pretas e amarelas são primitivas e inferiores. Tal dinâmica foi
responsável pela escravização, servidão, genocidio e exclusão dos grupos citados, e foi dentro
desse contexto de desigualdade que o Brasil teve sua identidade nacional construída. O ódio e
a aversão a grupos minoritários continuou persistente dentro da nação brasileira e essa
problemática do sistema adotivo é mais uma prova e consequência disso.
Outro evento histórico que pode ser citado é o processo de embranquecimento que
aconteceu no Brasil. Durante os séculos XIX e XX, houve a popularização da teoria do
darwinismo social, que classificava e pregava que determinadas raças/etnias eram inferiores e
que a civilização seria inerente aos brancos. Com base nisso, na sociedade brasileira, houve a
estimulação da miscigenação das populações pretas e indígenas com brancos, pois
acreditavam que a "superioridade" branca iria prevalecer aos traços e raças "negativas" e
“primitivas”. Dessa forma, era (e ainda é) mais vantajoso para as pessoas miscigenadas se
associarem à branquitude. O Brasil virou um Estado-nação dentro desse contexto e ele pode
explicar a melhor aceitação dos pardos em relação a pessoas pretas e indígenas.
2.1.3. O capacitismo.
2.1.4. O estigma em volta da criança e adolescente portador de hiv.
2.2. Quem são os adotantes?
2.2.1. O grande impacto da legalização da adoção por casais do mesmo sexo e o empecilho da
homofobia.
Muito mais do que assumir uma pessoa em um ato jurídico, é necessário amor para
poder adotar. De forma bastante enxuta, desde que o casal homossexual se encaixe nos
requisitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (nos quesitos sociais e psicológicos), eles
estarão livres para participar do processo de adoção.
No Brasil, apenas em 2011 foi reconhecida a união estavel entre duas pessoas do
mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e somente dois anos depois o casamento
se tornou legal. Acontecimentos recentes que tornam a adoção um tópico ainda muito novo,
mas que apresentam dados maravilhos desde do reconhecimento da adoção entre pessoas do
mesmo sexo em 2015 pelo STF.
Em algumas partes do globo, assim como no Brasil, os adotantes estão se tornando
mais frequentes entre os casais homoafetivos do que os héteros. No Mato Grosso (MT), por
exemplo, o número de adotados cresceu 34% em apenas um ano e isso, é claro, se torna
bastante promissor.
Sabemos que o casal que faz parte da comunidade LGBTQIA + sofre bastante com as
discriminações que vem quando se agrega um novo integrante na família, principalmente por
questões conservadoras. Mas é justamente por isso que a rede de apoio para a(s) criança(s) é
muito importante, assim como para os pais.
3. O serviço social na adoção frente às problemáticas apresentadas. O que fazemos, com quem
e como trabalhamos.
1- “Cor branca ou parda. Discutiram sobre a questão da cor considerando adotar uma
criança que tenha um fenótipo semelhante ao deles. O requerente se considera pardo e
a requerente branca. Temem sobre as questões que teriam que enfrentar socialmente
ao adotarem uma criança negra e acreditam que não estariam preparados para lidar
com tais questões na sociedade, mas sabem que terão que lidar com as questões da
adoção, quando a criança for contestada e procuram se preparar para tal”.
2- “Quanto à cor, mudaram o item indiferente para cor branca e parda, embora a
requerente tenha ascendência negra (sua bisavó) querem uma criança cuja
característica seja próxima ao casal. O requerente não tem negros na família, gostaria
que a criança fosse mais próxima da aparência da família da esposa - “se consideram
morenos”. Refletimos e esclarecemos aos requerentes o fato de “pardos” descenderem
de negros, além de refletimos sobre como lidariam com a questão de adoção
interracial. O casal demonstra compreender a reflexão e mantém o perfil de criança
branca e parda”.
3- “Cor branca ou parda. Desejam uma criança que seja próxima da realidade deles,
pois preocupam-se com a discriminação que podem vir a sofrer. Alison se reconhece
como pardo e a irmãs também, por isso optam por criança branca ou parda. Tendo em
vista apontamentos sobre a questão no estudo psicológico, propomos que os
requerentes aprofundassem sobre questões referentes ao tema, o que foi aceito por
eles.”
Ao lidar com a adoção de crianças negras, o assistente social deve ser sensível às
questões culturais, raciais e étnicas, promovendo a preservação da identidade cultural da
criança e buscando um ambiente que valorize sua herança.
Referências:
FURTADO, Thiago Sereno. Adoção no Brasil: conheça as dificuldades para adotar uma
criança. Sereno Advogados e Associados. Disponível em:
<https://serenoadvogados.adv.br/as-dificuldades-para-adocao-no-brasil/>. Acesso em:
30/07/2023.
RAMOS, Ana Lúcia Oliveira. ESSA SIM, ESSE NÃO... RACISMO ESTRUTURAL NO
PROCESSO DE ADOÇÃO. 2020. Programa (Pós Graduação em Serviço Social e Políticas
Sociais) - Pós-Graduação de Serviço Social e Políticas Sociais - UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SÃO PAULO, 2020.
Weber, L. N. D. (1998). Famílias adotivas e mitos sobre o laço de sangue. Jornal Contato
CRP, 8(79). Recuperado em http://www.nac.ufpr.br/
wp-content/uploads/2016/07/1996_Familias_ adotivas_e_mitos_sob_relacoes_de_sangue.pdf
SILVA, Luana Andrade; MESQUITA, Danielisson Paulo De; CARVALHO, Beatriz Girão
Enes. Investigando o processo de adoção no Brasil e o perfil dos adotantes. Revista de
Ciências Humanas, Ano da Publicação. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-
4582.2010v44n1p191/14439. Acesso em: 30 jul. 2023.
FALCÃO, Cassia Luana Santos Costa; SOUZA, Marcycléia da Silva Holanda. Adoção e
Serviço Social: atuação do/a assistente social nos processos de adoção de crianças e
adolescentes. 2022. TCC (Graduação) - Faculdade de Serviço Social, Universidade Federal de
Alagoas.