BARBIERI, Ricardo José-Para Brilhar Na Sapucaí PDF
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HIERARQUIA E LIMINARIDADE
ENTRE AS ESCOLAS DE SAMBA
AS ORGANIZAÇÕES
A primeira organização representativa das escolas de samba de que se tem no-
tícia foi a União das Escolas de Samba – UES, já em 1934. No ano seguinte foi oficializa-
do o reconhecimento dos desfiles das escolas de samba como atração turística da cidade
(CABRAL, 1996). Assim, já no Carnaval de 1935, temos o primeiro desfile organizado pela
UES, subvencionado pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Surgiram, em 1947, duas outras organizações: a Federação das Escolas de Samba
(reconhecida pelos órgãos oficiais) e a União Geral das Escolas de Samba (ligada ao Par-
tido Comunista Brasileiro); com a criação das duas novas entidades, a UES foi dissolvida
(FERREIRA, 2004).
Então, em 1952, as duas entidades se fundiram formando a Associação das Esco-
las de Samba do Carnaval do Rio de Janeiro – AESCRJ, que passou a administrar os desfi-
les e a congregar todas as escolas da cidade do Rio de Janeiro. A AESCRJ permaneceu à
frente do carnaval carioca até 1984, quando um grupo de gran-
6 Já em 1984, com a inau-
des escolas, até então pertencentes à Associação fundou a Liga
guração do sambódromo,
a Liesa torna-se impor- Independente das Escolas de Samba – Liesa (CAVALCANTI, 2006,
tante articuladora dos in- p. 43). Assim, a AESCRJ passou a administrar apenas os demais
teresses de controladores grupos do carnaval carioca. A Liesa, desde então, assumiu o con-
do jogo do bicho e admi- trole da organização do desfile das escolas de samba do Grupo
nistradora dos mais dife-
Especial,6 a primeira divisão do carnaval carioca.
rentes interesses referen-
tes às escolas de samba, Em 2008, um grupo de sete escolas pertencentes ao
como a comercialização Grupo de Acesso A, a segunda divisão do carnaval carioca, fun-
de discos e a distribuição dou a Liga das Escolas do Grupo de Acesso – Lesga, que passou
de direitos entre elas. O a coordenar todo o processo de organização do desfile do Grupo
sistema de venda de in-
de Acesso A. Assim, a AESCRJ deteve a organização apenas dos
gressos também é, des-
de então, controlado pela quatro grupos inferiores a esse. Após o Carnaval de 2010 as es-
Liesa e, nos últimos anos, colas da terceira divisão saíram da AESCRJ e juntaram-se às esco-
os quase 60 mil ingres- las da segunda divisão na Lesga.
sos, cujos preços variam
Sumarizamos essa estrutura competitiva do Carnaval
de dez a cinco mil reais,
têm esgotado em menos 2010 de acordo com alguns pontos que facilitarão a apresenta-
de uma semana. ção de nossos dados. Seguem-se os aspectos da organização das
escolas de samba que distinguem os graus hierárquicos entre si.
Inicialmente temos o nome dos grupos e da associação a que pertence. Essa de-
finição é de suma importância, pois cada um deles tem regulamento próprio ligado à
realização de seus desfiles. Simultaneamente, de acordo com os grupos, há diferentes lo-
calização e data dos desfiles. Temos ainda formas e valores de subsídio de acordo com o
50
60 Tabela 1: Número de escolas desfilantes
40 antes da inauguração do sambódromo
50
30 No. De escolas
40
20
30 No. De 80
escolas
10 70
20
0 60
10
32 50
39
46
53
60
67
74
81
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19
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0
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No. De escolas
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46
53
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10
files foi realizada pelos mesmos sites e rádios que participaram da cobertura do Grupo
Rio de Janeiro 2.
O último grupo na hierarquia competitiva das escolas de samba é o Grupo Rio de
Janeiro 4, no qual desfilam oito escolas. A última colocada deixa de desfilar entre as esco-
las de samba e fica obrigatoriamente licenciada da AESCRJ por um ano. A escola licencia-
da só pode voltar a desfilar novamente após quitar suas dívidas e provar o cumprimento
dos requisitos legais para uma agremiação recreativa. Os recursos nesse grupo são muito
mais reduzidos, a começar pela estrutura mínima de desfile, muito menor, cabendo ape-
nas um carro alegórico por escola, no máximo. Tem-se, aqui, situação simbolicamente in-
versa à do Grupo Especial, pois se trata do último grupo na hierarquia competitiva. Nele
são encenados tanto o surgimento como a decadência ou desaparecimento de escolas.
Nesse desfile a atenção causada é ainda menor que nos demais. Apesar do bom públi-
co presente, garantido especialmente pelos moradores da região, só a rádio comunitária
transmitiu o desfile, que mereceu a cobertura apenas dos sites OBatuque.com e Esqui-
na do Samba.
A situação de liminar é evidenciada de fato no Grupo de Avaliação. Os desfiles
acontecem logo após as apresentações das escolas da sexta divisão, mas o aparecimen-
to desse grupo é esporádico, e só quando alguma escola tem o pedido de filiação sub-
metido à avaliação pela AESCRJ o desfile, de caráter não competitivo, é realizado. Nes-
ta situação cada escola é avaliada como “aprovada” ou “reprovada”, de acordo com apre-
sentação de itens obrigatórios definidos em regulamento ocasional da AESCRJ.
CONCLUSÃO
A estrutura ritual do carnaval carioca é tema importante de pesquisa, pois evi-
dencia as múltiplas relações e posições ocupadas pelas escolas no processo ritual-com-
BIBLIOGRAFIA
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