O Naufrágio Do Navio Haidar em Barcarena-Pa: Luciana Costa Braga Cruz
O Naufrágio Do Navio Haidar em Barcarena-Pa: Luciana Costa Braga Cruz
O Naufrágio Do Navio Haidar em Barcarena-Pa: Luciana Costa Braga Cruz
Rio de Janeiro
2018
“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001”.
1 INTRODUÇÃO
1
A barreira de contenção é utilizada para evitar o alastramento de óleo derramado e não para suportar
milhares de toneladas dos bois mortos, segundo alegado pelo MPF na petição inicial da Ação Civil
Pública que discutiu o caso.
10
2
O jornalista Lúcio Flávio Pinto, em seu blog, publicou artigo que atribui à disputa entre os dois maiores
jornais do estado do Pará, O liberal e Diário do Pará (o segundo de propriedade da família Barbalho) a
visibilidade dada ao naufrágio no porto de Vila do Conde. Segundo Pinto, O liberal tentou desgastar a
imagem de Helder Barbalho, que havia acabado de assumir a Secretaria Nacional dos Portos, com o
naufrágio em Barcarena. Disponível em: <https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2015/10/12/a-
tragedia-e-os-aproveitadores/>. Acesso em: 30 Ago 2017.
11
3
Os pescadores relatam que nos igarapés da cidade raramente conseguem pescar, de forma que
precisam, hoje em dia, navegar nos rios maiores e se afastar cada vez mais da cidade para conseguir
volume considerável de peixes. Essa situação tem sido centro das pautas dos pescadores, pois seus
barcos são muito pequenos e o distanciamento da cidade envolve riscos em razão da maior intensidade
dos movimentos de maré.
13
necessária para seu funcionamento, tal como o porto de Vila do Conde. Nos anos
seguintes outras indústrias se instalaram na cidade, além de empresas prestadoras
de serviços atraídas pelo complexo industrial. O porto passou por diversos projetos
de ampliação para atender à produção crescente das indústrias – ressalta-se,
também, a instalação de outros modais de transporte 4 -, além de ter diversificado as
cargas transportadas, passando a ser rota de exportação da produção das chamadas
commodities (soja, carne, minérios) no norte do país.
Com o olhar atento à cidade nas idas a Barcarena, a sede do município me
pareceu como muitas outras cidades do interior paraense de precária infraestrutura
urbana: paisagem com prédios de, no máximo, três andares; muitas casas de madeira
intercalando com casas de alvenaria; várias casas com pequenos comércios à frente;
muitos buracos nas ruas; ruas sem calçada; ônibus antigos; e muitas motocicletas e
bicicletas circulando. Ao me afastar mais da atual sede do município, passei pelo
bairro Vila dos Cabanos, planejado para receber os funcionários das empresas Albrás
e Alunorte - que atualmente não é tão diferente do restante da cidade -, onde pude
observar que: as casas possuem estética mais moderna, com terrenos maiores; ruas
com calçadas e algumas com canteiro central arborizado; e casas, em sua maioria,
utilizadas somente para moradia.
A caminho de Vila do Conde, a rodovia passa por amplos terrenos, onde as
empresas minero-metalúrgicas fazem o despejo de seus rejeitos. São as chamadas
“bacias de rejeitos”: imensos buracos supostamente impermeabilizados, onde são
depositados os sub-produtos não reutilizáveis do processamento de minérios, até
atingir sua capacidade, quando uma nova cova é aberta. Na estrada há muitos
outdoors de propaganda das indústrias, que apontam como aqueles minérios podem
ser utilizados em nossa vida cotidiana.
Em Vila do Conde há ruas de terra e as casas são bem mais simples. A praia
(que estava deserta durante todas as minhas visitas, talvez por ter ido em horário
comercial, em dias úteis, talvez pelo medo de contaminação que ainda afasta os
banhistas, segundo relato das barraqueiras entrevistadas) continua bonita, apesar de
ter, em meio à paisagem natural, vista para o imenso porto de Vila do Conde, onde
estão atracados navios de grande calado.
4
Além da ampliação do porto de Vila do Conde, a infraestrutura para transporte da produção foi
diversificada. Foram construídas estradas, minerodutos e portos privados.
14
5
Em consonância com a conceituação utilizada por Viegas (2006), disponível em:
<https://www.faneesp.edu.br/site/documentos/desigualdade_ambiental_zonas_sacrificio.pdf>. Acesso
em: 05 maio 2017
15
Ainda que o caso do naufrágio do navio Haidar represente apenas uma parcela
dos impactos ambientais nocivos verificados em Barcarena, entorno do complexo
industrial e da rota logística da produção de commodities na região, este evento
poluidor – de acordo com diversas perícias realizadas -, causou danos
desproporcionais aos moradores locais e foi considerado pelos órgãos fiscalizadores
como um incidente inédito6, ainda pouco estudado, o que torna a extensão e as
consequências ambientais, sociais e sanitárias dos danos pouco conhecida.
Ressalto que, em fevereiro de 2018 – já na reta final da escrita da presente
dissertação – foi denunciada, pela população local, a suspeita de vazamento de
rejeitos da empresa Hydro Alunorte, durante o período de chuvas intensas na região.
Essa suspeita desencadeou uma investigação maior sobre o descarte de rejeitos na
produção de alumina, tendo sido constatado: a existência de dutos clandestinos de
lançamento de rejeitos não tratados diretamente nas águas do rio, durante a inspeção
técnica coordenada pelo Ministério Público7; a presença de metais pesados em níveis
muito acima do permitido em legislação nacional nas águas (rios e igarapés) do
entorno das bacias de rejeitos, constatada por análise realizada pelo Instituto Evandro
Chagas8; e contaminação por metais pesados (cancerígenos) de 80% da população
testada pelo Laboratório de Química da Universidade Federal do Pará 9.
Ainda que seja impossível dissociar um caso do quadro geral de exposição à
poluição que caracteriza a história recente da cidade de Barcarena, e sua
configuração enquanto uma zona de sacrifício, nesta dissertação irei ater-me ao caso
do naufrágio do navio Haidar no Porto de Vila do Conde, buscando não o dissociar do
contexto mais amplo em que se somam diversas outras fontes de dano ambiental
oriundas de atividades industriais de grande potencial poluente.
Portanto, a partir desse estudo de caso, este trabalho pretende também
analisar as diversas estratégias de luta empreendidas pela população local, em busca
de proteção do Estado contra a exposição aos agravos ambientais que violam seus
6
Uma funcionária da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará relatou, na Ação Civil
Pública sobre o caso, que não há registro de outros naufrágios de navios de carga viva ancorados em
portos.
7
Para mais informações, ver:
<http://www.mppa.mp.br/index.php?action=Menu.interna&id=8871&class=N>.
8
Para mais informações, ver resumo dos relatórios de pesquisa em:
<http://www.iec.gov.br/portal/coletiva-hydro/>; <http://www.iec.gov.br/portal/coletiva-hydro-2/>; e
<http://www.iec.gov.br/portal/nota-2/>.
9
Para mais informações, ver: <http://www.ihu.unisinos.br/577849-mineradoras-do-para-degradam-
floresta-e-contaminam-populacao-com-metais-pesados-entrevista-especial-com-simone-pereira>.
16
10
“Afinal, uma condição alegada não constitui um problema social enquanto não for enunciada
publicamente como tal” (FUKS, 2001, p. 49)
17
globalizado – requerem o estudo das demais escalas, pois se inserem em uma rede
global e nacional de decisões políticas e econômicas, daí a tentativa de situar
Barcarena num contexto mais amplo. Segundo Brandão (2004), as decisões tomadas
fora do território implicam problemas que se materializam no espaço local, não sendo
possível abdicar de se debruçar sobre as diferentes escalas que permeiam essas
decisões – que configuram relações de poder multiescalares, pelas quais os
interesses das populações locais impactadas são preteridos. A intensificação das
relações econômicas globais, protagonizadas pelas empresas multinacionais e por
órgãos internacionais, não fazem desaparecer a necessidade de uma análise das
diversas escalas, ao contrário, complexificam as questões locais. Portanto, Barcarena
é simultaneamente um território local e global, pelas redes em que se insere, assim
como pelas redes que forma internamente.
No capítulo III faz-se uma revisão teórica da análise da degradação ambiental
através da perspectiva da justiça ambiental – conforme o entendimento de que os
problemas ambientais não se dissociam da desigualdade social verificada em uma
sociedade capitalista. Ademais, apresento a já mencionada Ação Civil Pública
proposta pelo Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual do Pará,
Defensoria Pública do Estado do Pará e Estado do Pará contra as empresas
envolvidas no naufrágio do navio Haidar. Não se trata de análise procedimental dos
atos realizados em juízo, mas de um estudo do acionamento dessa arena de disputas
– o Poder Judiciário - que torna pública certas demandas sociais. Buscamos também
entender quais são as implicações da utilização desse espaço de luta, que é ao
mesmo tempo legitimado e detentor de autoridade.
Por fim, no capítulo IV, apresento a perspectiva dos atingidos diretamente pelo
naufrágio, através de entrevistas realizadas em janeiro de 2016 e em fevereiro e
março de 2017 – alguns meses após o naufrágio e início da ação judicial e logo após
o acordo final no processo. A intenção de escutar os moradores locais sobre o
naufrágio se sustenta em razão do silenciamento que sofreram nesse processo,
18
11
Foucault analisa as práticas jurídicas enquanto forma que nossa sociedade definiu a verdade, partido
da seguinte hipótese: “A hipótese que gostaria de propor é que, no fundo, há duas histórias da verdade.
A primeira é uma espécie de história interna da verdade, a história de uma verdade que se corrige a
partir de seus próprios princípios de regulação: é a história da verdade tal como se faz na ou a partir
da história das ciências. Por outro lado, parece-me que existem, na sociedade, ou pelo menos, em
nossas sociedades, vários outros lugares onde a verdade se forma, onde um certo número de regras
de jogo são definidas – regras de jogo a partir das quais vemos nascer certas formas de subjetividade,
certos domínios de objeto, certos tipos de saber – por conseguinte, podemos, a partir daí, fazer uma
história externa, exterior, da verdade. (2002, p. 11)
19
1
Há diversos estudos já produzidos sobre a cidade de Barcarena, de forma que este capítulo intenta
fazer uma análise dos fatores que possibilitaram a conformação atual do município por meio da
sistematização dessas referências teóricas.
20
2
Escola para catequização das comunidades indígenas fundada pelos Jesuítas.
21
3
Informações encontradas no site da prefeitura municipal de Barcarena, disponível em:
<http://www.barcarena.pa.gov.br/portal/pagina?id=8&url=histria>. Acesso em 29 mar. 2017.
4
Há vários exemplos como esse no estado do Pará, como Alenquer, Bragança, Óbidos, Soure, Vigia,
entre outros.
5
Segundo Lago (2003), o Diretório dos Índios foi uma lei criada para extinguir a administração
eclesiástica dos aldeamentos e retirar dos missionários a tutela indígena. Essa lei foi editada em uma
conjuntura de centralização e fortalecimento do poder régio, na tentativa de diminuir a dependência de
Portugal em relação a Inglaterra. Assim, por meio da política pombalina e da lei do Diretório dos Índios
acusou-se os missionários de manterem os índios na ignorância, determinando-se a obrigação do
ensino da língua portuguesa, além da imposição de pagamento de dízimo pelos indígenas.
22
2.1.1 A Cabanagem
Aponta-se como origem do movimento da Cabanagem na Amazônia brasileira,
a partir dos anos de 1820, a chegada de ideais da Revolução Francesa – inclusive
através do Cônego Batista Campos 6 – em um momento de insatisfação de pequenos
proprietários de terras, divergências sobre a adesão da Província do Grão-Pará à
independência, disputas partidárias e conflitos entre proprietários de terras e
mocambos, segundo Hazeu (2015).
A Cabanagem captou as insatisfações de grupos que se encontravam mais
ou menos concentrados. Índios e mestiços se reuniam em cinco lugares
principais, e também nos lugares de reunião dos combatentes na região do
Conde, Beja e Barcarena; na região costeira de Vigia a Cintra; em algumas
partes da Ilha de Marajó; no Médio Amazonas e seus afluentes; e na quinta,
a região do Guamá, Moju, Acará e Capim, lugares de grandes plantações e
de concentrações de escravos (MARIN, 2000). (HAZEU, 2015, p. 77)
6
João Batista Gonçalves Campos foi um nome de destaque na Cabanagem, sendo definido por Ricci
(2007) como um: “liberal histórico, panfletário incendiário cassado e posto à beira do canhão por
portugueses, nos anos de 1820, tendo sido mandado ao exílio, voltado, tendo feito nova rebelião nos
anos 1830, quando foi novamente inocentado nos tempos de Feijó, na Corte”. O cônego era redator de
um periódico local chamado “O Paraense”, foi personagem importante para adesão da Província do
Grão-Pará à independência e sua morte é considerada como o estopim para a batalha de janeiro de
1835, quando o governador da Província Bernardo Lobo de Sousa foi morto e o primeiro governo
Cabano assumiu o poder.
7
Ricci (2007) ressalta sobre a caracterização do movimento cabano como patriota: “Eles se
autodenominavam ‘patriotas’, mas ser patriota não era necessariamente sinônimo de ser brasileiro.
Este sentimento fazia surgir no interior da Amazônia uma identidade comum entre povos de etnias e
culturas diferentes. Indígenas, negros de origem africana e mestiços perceberam lutas e problemas em
comum. Esta identidade se assentava no ódio ao mandonismo branco e português e na luta por direitos
e liberdade”
23
8
Félix Clemente Malcher era natural da cidade de Monte Alegre-PA, tendo se mudado ainda jovem
para região do Acará, onde se casou Rosa Maria Henriques de Lima, de família de descendência
portuguesa e herdeira de sesmarias. A partir de então tornou-se vereador em Belém e aliado do cônego
Batista Campos. Após a morte de Batista Campos, Malcher foi preso e a tomada da cidade de Belém
pelos cabanos, em 7 de janeiro de 1835, teve como objetivo, também, a sua libertação. Foi o primeiro
presidente cabano da Província, entretanto, sua ascensão ao poder culminou com a insatisfação de
seu Comandante de Armas Francisco Vinagre, de forma que os revolucionários cabanos se dividiram
e Felix Malcher foi deposto e posteriormente morto. (RICCI, 2007)
9
Francisco Vinagre assumiu a presidência da Província após a saída de Felix Malcher, de fevereiro a
agosto de 1835, quando resolveu deixar o governo com o emissário carioca Manuel Jorge Rodrigues,
que realizou uma eleição na qual foi eleito Ângelo Custódio, que tinha como base eleitoral a cidade de
Cametá, um reduto anticabano. Nessa nova conjuntura, Francisco Vinagre foi preso, o que fez emergir
um novo conflito, no qual seu irmão, Antonio Vinagre foi morto e Eduardo Angelim assumiu a
presidência da Província. (RICCI, 2007)
10
Eduardo Francisco Nogueira Angelim, era natural de Aracati-CE, mas jovem foi ao Pará, onde
arrendava terras de Félix Malcher (primeiro presidente cabano), na região do Acará (vizinha de
Barcarena). Foi o terceiro e último líder cabano a ocupar o posto de presidente da província e é descrito
por historiadores como religioso – a religiosidade foi artifício utilizado para aumentar sua autoridade -
que se pautava na hierarquia e ordem constitucional. Entretanto, seu governo, assim como dos outros
líderes, teve de enfrentar seus homens cada vez menos subordinados. Em maio de 1836 fugiu de
Belém no horário da chuva diária, para não ser percebido, só tendo podido retornar ao Pará em 1851,
onde viveu até 1882, em Barcarena. (RICCI, 2007)
24
justificativa de que a cidade não poderia crescer estando “escondida na curva do rio
Barcarena”, longe do trânsito marítimo. Em 1952 que a almejada mudança da sede
municipal foi obtida e passou a se localizar na margem esquerda do rio Mucuruçá,
após um parecer favorável do então diretor do IBGE, no qual se lia:
O progresso de Barcarena exige a mudança da sua atual sede municipal para
outro lugar que reúna condições indispensáveis ao desenvolvimento de sua
vida, onde haja facilidade de transporte e comunicações, quer interiores quer
exteriores. Situada como está no alto rio Barcarena sujeita a precariedade
dos meios de transporte da região, a atual cidade não pode atender aos
encargos administrativos da comuna entrevando por assim dizer seu próprio
desenvolvimento. (CONCEIÇÃO e GUIMARÃES, 1999, apud HAZEU, 2015,
p. 84)
11
“Tipos ideais”, para Weber (apud TRINDADE JÚNIOR, 2013) são uma idealização, uma
normatização da realidade, portanto não refletem a realidade tal como ela é.
12
Ex-presidente da Albrás, autor da publicação “A História da Albrás”.
28
calha do rio Trombetas - uma reserva de 500 milhões de toneladas de bauxita 13, a
qual representava um depósito cerca de cinco vezes maior que as reservas
descobertas no Brasil até então. Entretanto, o projeto de extração da reserva ficou
parado até 1974, com alegação de que havia muita oferta desse minério no mercado
internacional.
O projeto de exploração de bauxita no rio Trombetas se configurou, à época,
da seguinte forma: 41% pertencia a estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),
através da Mineração Rio do Norte (MRN), 10% pertencia a CBA do grupo Ermínio de
Moraes (único produtor nacional de alumínio do período) e o restante ficou com as
multinacionais Alcan e Alcoa. Assim, ficou garantido controle do projeto
majoritariamente nacional.
13
A bauxita é uma rocha encontrada geralmente próxima à linha do equador e lavrada a poucos metros
do solo.
14
“A matéria-prima necessária para produzir alumínio primário é o óxido de alumínio, também
conhecido como alumina. Trata-se de um pó branco produzido a partir do refino de bauxita. São
necessárias cerca de duas toneladas de alumina para produzir uma tonelada de alumínio pelo processo
de eletrólise”. Descrição do processo disponível no endereço virtual da empresa Hydro:
http://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/Produtos/Bauxita-e-alumina/. Acessado em 25 Jul.
2017.
29
15
COELHO, M. C. N. et al. Mineração de bauxita, industrialização de alumínio e territórios na Amazônia.
In: ALMEIDA, A. W. B. et al. Capitalismo globalizado e recursos territoriais: Fronteiras da acumulação
no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. p. 311-350.
31
16
Expressão foi utilizada por Teixeira (2008 apud PINTO, 2010) para designar as cartas através das
quais o governo brasileiro se comprometeu com tarefas difíceis de serem cumpridas na implantação
do projeto.
17
Para mais informações sobre a Hidrelétrica de Tucuruí, ver: TAVARES, Maria Goretti da Costa;
COELHO, Maria Célia Nunes; MACHADO, Lia Osório. Redes de distribuição de energia e
desenvolvimento regional na Amazônia Oriental. Novos Cadernos NAEA, v.9, n. 2, p. 99 – 134, 2006.
32
Elétricas do Norte do Brasil S.A. – foi criada para viabilizar a expansão de indústrias
eletrointensivas na região amazônica, tendo como um de seus objetivos a construção
da usina hidrelétrica em Tucuruí. Entretanto, os sócios japoneses do empreendimento
questionaram sua participação na construção da hidrelétrica, em razão do seu alto
custo e para firmar o negócio, o governo brasileiro eximiu a NAAC da participação nos
custos com a construção da usina.
Segundo Teixeira (2008 apud PINTO, 2010), na construção da hidrelétrica de
Tucuruí “o grande aliado era o fabuloso contrato turn key18 com a maior empreiteira
do país [Camargo Corrêa] que, de certa forma, garantia o fluxo de recursos. Mas,
talvez pela mesma razão, os custos da implantação estavam tendo um enorme
aumento, o que poderia trazer consequências para a tarifa de energia” 19.
Posteriormente, Albrás e Eletronorte fecharam contrato, pelo prazo de 20 anos,
através do qual, a energia elétrica seria fornecida a preços vinculados ao valor do
alumínio no mercado mundial e não em razão dos custos de produção e transmissão.
O contrato foi renovado em 2004, por mais 20 anos, após a realização de um
leilão pela Albrás, vencido pela Eletronorte, que fornece energia a 53 reais o
megawatt/hora. O novo acordo foi considerado, por analistas do setor, favorável às
duas partes, já que a Eletronorte não teria a quem vender a energia pela falta de linhas
de transmissão e a Albrás permaneceu pagando preço barato20. A Albrás, mediante
esse novo contrato, adiantou à Eletronorte 1,2 bilhão de dólares, a fim de amortizar a
situação financeira da segunda. Segundo Pinto (2004), a Eletronorte acumulava, no
período de realização do novo contrato, uma dívida de 5,6 bilhões de reais, que só
poderia ser amortizada se as duas maiores indústrias eletrointensivas – Albrás e
Alumar – pagassem 70 reais pelo megawatt/hora, entretanto, essa diferença é
embutida na tarifa do consumidor e paga pelo contribuinte.
Quanto ao porto em Vila do Conde, a extinta Portobrás, vinculada ao governo
federal, foi a responsável por sua construção em uma área de 430 ha a margem direita
do rio Pará. Foi inaugurado em 24 de outubro de 1985. Intentava-se, inicialmente,
atender às demandas de transporte da produção de alumínio, tendo capacidade de
18
Turn Key é expressão de designa contratos que abrangem no mesmo ajuste o projeto, a construção,
a montagem e a compra de equipamentos, de forma que, após seu cumprimento, só resta ao
contratante “ligar a chave do empreendimento”.
19
A construção da hidrelétrica de Tucuruí passou US$ 10 bilhões do orçamento.
20
Informação publicada em matéria do Jornal do Commercio. Disponível em:
<http://www.infomet.com.br/site/noticias-ler.php?bsc=ativar&cod=20505>. Acesso em: 04 jul 2017.
33
receber navios de grande calado. Tinha, à época de sua construção, capacidade para
receber 3 navios simultaneamente.
Portanto, sob a vigência do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) - e
do II Plano de Desenvolvimento da Amazônia - instituiu-se a Política dos Polos de
Desenvolvimento e o Programa Grande Carajás 21, período em que ocorreu a
instalação da Albrás (Alumínio Brasileiro S.A.) - para produção de alumínio, tendo sido
criada em 1975, através de uma joint venture22 e concluída sua instalação em 1984.
Em outubro de 1985 inaugurou-se a fase I da Albrás com capacidade para produção
de 160 mil toneladas de alumínio ao ano, enquanto a fase II só foi concluída em 1991,
quando também foi finalizado o processo de melhorias tecnológicas, o que pôde
ampliar a produção da fábrica para um patamar de 350 mil toneladas por ano.
21
Período de criação, ainda: do Programa de Integração Nacional, sob o qual foram construídos cerca
de 1.500 km de estradas na região; Programa de Redistribuição da Terra; e Programa de Polos
Agropecuários e Agrominerais da Amazônia.
22
Joint Venture é a forma de associação entre empresas para um determinado empreendimento, pela
qual nenhuma das envolvidas perde a identidade própria.
23
Informações sobre o processo produtivo do alumínio disponível em: <https://www.hydro.com/pt-BR/a-
hydro-no-brasil/Sobre-o-aluminio/como-o-aluminio-e-produzido/>. Acesso em: 10 maio 2017.
34
24
Nesse cenário, foi aprovada em 2013 uma nova lei que regulamenta o setor portuário no Brasil. Antes
da nova legislação ser editada, o setor portuário era tido como entrave ao desenvolvimento econômico.
De forma que a nova lei teve intenção de facilitar a criação de novos portos privados, dar maior agilidade
às transações, diminuir os custos e aumentar a eficiência dos portos. Para isso, os portos passaram a
ser arrendados como uma espécie de concessão de serviço público, com parâmetros de desempenho
e regulação tarifária. Além de não haver obrigatoriedade de pagamento de valor de outorga para
assunção de áreas. Essa nova legislação revela uma maior flexibilidade na regulação, característica
inconteste da dinâmica capitalista neoliberal. (FARRANHA; FREZZA e BARBOSA, 2015)
35
25
Produtora de alumina em São Luís-MA, sendo a Alcoa uma das empresas do consórcio.
26
MONTEIRO, Maurílio de Abreu; MONTEIRO, Eder Ferreira. Amazônia: os (des) caminhos da cadeia
de alumínio. Novos Cadernos NAEA. Belém, v. 10, n. 2, dez 2007. Disponível em: <
http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/99>. Acesso em 04 maio 2017.
27
MONTEIRO M. A.; MONTEIRO, E. F., em seu estudo sobre a flexibilização produtiva e resistência
dos trabalhadores da Albrás, demonstram que se verificou na década de 90 a diminuição do número
de trabalhadores vinculados a Albrás ao mesmo tempo em que há aumento da produtividade.
36
29
Assim dispõe o artigo 3º da referida Lei Complementar 87/96: “ Art. 3º O imposto não incide sobre:
I - operações com livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; II - operações e
prestações que destinem ao exterior mercadorias, inclusive produtos primários e produtos
industrializados semi-elaborados, ou serviços; III - operações interestaduais relativas a energia
elétrica e petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, quando
destinados à industrialização ou à comercialização; IV - operações com ouro, quando definido em lei
como ativo financeiro ou instrumento cambial; V - operações relativas a mercadorias que tenham sido
ou que se destinem a ser utilizadas na prestação, pelo próprio autor da saída, de serviço de qualquer
natureza definido em lei complementar como sujeito ao imposto sobre serviços, de competência dos
Municípios, ressalvadas as hipóteses previstas na mesma lei complementar; VI - operações de
qualquer natureza de que decorra a transferência de propriedade de estabelecimento industrial,
comercial ou de outra espécie; VII - operações decorrentes de alienação fiduciária em garantia,
inclusive a operação efetuada pelo credor em decorrência do inadimplemento do devedor; VIII -
operações de arrendamento mercantil, não compreendida a venda do bem arrendado ao arrendatário;
IX - operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de bens móveis salvados de
sinistro para companhias seguradoras. Parágrafo único. Equipara-se às operações de que trata o
inciso II a saída de mercadoria realizada com o fim específico de exportação para o exterior,
destinada a: I - empresa comercial exportadora, inclusive tradings ou outro estabelecimento da
mesma empresa; II - armazém alfandegado ou entreposto aduaneiro.” (grifo meu).
30
Foi aprovada Emenda Constitucional em 2003 que manteve o formato de repasse compensatório de
recursos aos estados até que seja aprovada nova lei complementar (art. 91, § 3º do ADCT). O estado
do Pará ajuizou, em parceria de outros 15 estados, Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão
requerendo que nova lei complementar regulando a questão seja editada. Em 30 de novembro de 2016,
o STF julgou procedente a ação e fixou o prazo de 12 meses para que o Congresso Nacional edite a
lei.
38
31
A abordagem acerca do processo de instalação das empresas Albrás e Alunorte é feita nessa
dissertação com intuito de apresentar as decisões que impulsionaram a formação do complexo
industrial de Barcarena, já que foram as empresas pioneiras a se instalarem na cidade e para as quais
construiu-se infraestrutura – que inegavelmente foi fator de atração de outras indústrias e empresas –
como o porto de Vila do Conde. Dessa forma, não se aterá, nessa dissertação, às instalações das
demais empresas no município, de forma que não se alongue em um debate que não é concretamente
o objeto desta pesquisa, mas que é mencionado, por ser essencial a compreensão da realidade e
complexidade da cidade de Barcarena.
32
Disponível em: <http://www.imerysnopara.com.br/pagina/?id=3&id_categoria=24>. Acesso em: 28
jul. 2017.
39
33
O termo acidente foi aqui utilizado para manter a informação como veiculada pelo MPF. Entretanto,
considero nesta dissertação que os danos ambientais causados dentro da margem de risco das
atividades industriais - e que geram lucros - não podem ser considerados acidentes.
34
Esses casos são aqui apresentados a fim de demonstrar a grande incidência de danos causados
pela empresa, mas só será feita análise do caso de conflito ambiental gerado pelo naufrágio do navio
Haidar, no Capítulo III.
35
Informações obtidas em notícia disponível no site do Ministério Público Federal:
<http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/mp-recomenda-suspensao-das-atividades-de-
mineradora-no-para>.
36
Informações disponíveis em: <https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/operacoes-no-
brasil/paragominas/>.
37
Porto fluviomarítico é aquele, que apesar de estar localizado em águas fluviais, atende a linhas
marítimas, de acordo com CDP (2015).
40
O porto de Vila do Conde conta, hoje, com doze berços onde atracam os navios
de grande calado. Atualmente, o governo do estado do Pará intenta executar um
projeto de ampliação do porto (no contexto da construção da Ferrovia Paraense),
através de uma Parceria Público-Privada, por meio do qual se aumentará o calado
dos canais que dão acesso ao rio Pará, como o do Quiriri e do Espadarte, que tem até
catorze metros de profundidade, a fim de que alcancem vinte metros38.
No Relatório da CDP 2015, verifica-se a variedade e capacidade de embarque
e desembarque atual do Porto de Vila do Conde, como segue: “A somatória do número
de embarcações do tipo ‘cargueiro’ e do tipo ‘graneleiro’ (411) representou
expressivos 33,77% de todos os atendimentos realizados no Porto de Vila do Conde
(1217).” (RELATÓRIO DE GESTÃO, 2015, p. 115).
38
Informações veiculadas no site da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração
e Energia. Disponível em: <http://sedeme.com.br/portal/estado-busca-competitividade-internacional-
para-porto-de-vila-do-conde-em-barcarena/>. Acesso em: 25 de jul. 2017.
42
Legenda: N – bandeira nacional; E – bandeira estrangeira; AP/AM – apoio portuário / apoio marítimo.
Fonte: Relatório de Gestão CDP 2015
embarcados, nesse ínterim, aproximadamente vinte e nove mil animais até 15 de abril
de 2016, data da finalização do referido relatório da CPD.
39
Informações disponíveis em: <https://portal.minervafoods.com/sobre-minerva-foods>. Acesso em: 17
jun 2018.
45
quanto ao uso ineficiente dos recursos alimentícios disponíveis. Esses fatores não
afetariam somente a produtividade, mas aumentam os riscos de doenças e pragas
animais transfronteiriças, da degradação dos recursos naturais e impactam nas
mudanças climáticas. (ATLAS DA CARNE, 2015)
Alguns dos principais impactos apontados pelo Atlas da Carne (2015) acerca
do aumento da produção e consumo de carne são: a volatilidade dos preços oferece
riscos às populações mais vulneráveis, quanto a segurança alimentar, podendo
intensificar a desnutrição crônica; altas taxas de desmatamento para criação animal,
estimando-se no Brasil 172 milhões de hectares de pastagens, além de 31 milhões de
hectares de plantação de soja, que está vinculada a produção de carne, utilizada como
ração para os animais até o abate; perda da diversidade genética dos animais;
contaminação do solo e da água; e uso intensivo de fármacos nos processos de
engorda e para erradicar doenças.
Quanto ao uso excessivo de fármacos, a Organização Mundial da Saúde tem
advertido que o uso de antibióticos na criação de animais para erradicar doenças e no
processo de engorda, pode nos levar a uma era pós-antibióticos. O uso excessivo dos
antibióticos possibilita que as bactérias desenvolvam resistência a determinado
fármaco, fazendo surgir as “superbactérias”. Os antibióticos utilizados nos animais
podem chegar até os humanos através da alimentação, mas também por meio de
esterco utilizado como adubo que contamina solo e águas. Estima-se que 80% de
todo o antibiótico utilizado nos Estados Unidos até 2009, tenham sido na produção
pecuária. (ATLAS DA CARNE, 2015)
O estado do Pará é o terceiro entre os maiores detentores de rebanhos bovinos
do país, com mais de vinte milhões de cabeças de boi, perdendo apenas para Mato
Grosso e Minas Gerais (CDP, 2015). Dessa forma, alia-se a grandeza do setor
pecuário no estado e a estrutura do porto de Vila do Conde para tornar Barcarena rota
da exportação de gado vivo. Belém-PA sedia a Associação Brasileira dos
Exportadores de Gado (ABEG), criada pelos quatro maiores exportadores de gado
vivo, quais sejam: Grupo Minerva Foods (proprietária dos bois que morreram no
naufrágio do navio Haidar), Agroexport, Boi Branco e Kaiapós Fabril, que juntas
representam 97% da exportação de gado vivo brasileira40.
40
CDP. Indicadores de Desempenho Operacional. Belém, 2015.
46
Segundo relatório da CDP (2015), a demanda de bois vivos ocorre por dois
motivos: países que abatem o animal de acordo com métodos específicos, em razão
de preceitos religiosos mulçumanos e judeus (como Turquia, Líbano, Jordânia e
Egito); e, quanto a exportação para Venezuela, por exemplo, além da destinação para
abate, há também demanda para reprodução.
Tabela 3 – Principais portos de destino de bois vivos saídos do porto de Vila do Conde
41
Pesquisa disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/pa/barcarena/panorama. Acesso em:
03/08/2017.
42
Ainda que o saneamento básico seja um problema de todo o estado do Pará e do Brasil, não se pode
desconsiderar que esses dados conflitam com o ideal de desenvolvimento e modernização propagado
a partir da formação do polo industrial em Barcarena.
43
Restringe-se aqui a verificação de índices básicos e oficiais da realidade desse município, sem se
ater a discussão mais aprofundada do que seria para aquela população considerado como melhoria da
qualidade de vida.
48
44
Informações disponíveis em: <https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/operacoes-no-
brasil/barcarena/>.
45
Informação disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/barcarena/panorama>.
51
46
Essas vantagens são elencadas em vídeo institucional do governo do estado sobre a construção da
Ferrovia Paraense, trecho da Ferrovia Norte-Sul que corta o território do estado do Pará. Disponível
em: <http://sedeme.com.br/portal/ferrovia-paraense/>. Acesso em: 01 Ago. 2017.
52
dos limites de aceitação dos riscos por essa população. (ACSELRAD e BEZERRA,
2010)
Em contexto de conflito socioambiental, percebe-se um deslocamento da
identidade para a escala local – em detrimento da identidade predominantemente
nacional -, que se potencializa quando associado ao processo de descentralização de
competências político-administrativas47. O conflito reforça o sentimento de
pertencimento ao território, o que mobiliza a população e situa os atores externos
como usurpadores. Os governos locais agem a partir de uma posição de ambiguidade,
pois almejam a implantação de empreendimentos que gerariam crescimento
econômico e ao mesmo tempo em que sofrem as pressões das reivindicações sociais
(LEITE e MONIÉ, 2014).
Esses processos se reforçam em uma lógica de competição dos lugares,
principalmente, na escala local. Harvey (2005) aponta que no contexto neoliberal, as
cidades passam a ser protagonistas do seu próprio desenvolvimento econômico, o
que fomenta incessantemente a tentativa de atrair capitais. A contradição está na
homogeneização das cidades – já que todas desejam atrair empreendimentos, muitas
vezes similares, e criam as mesmas estruturas mínimas para tal atração – e na
necessidade de diferenciação, pois cada cidade deve oferecer uma vantagem própria
para a instalação de empreendimentos – essa diferenciação garante vantagens
distintivas extraordinárias à acumulação de capital.
47
A Constituição Federal de 1988 tornou os municípios entes federados e ampliou suas competências.
54
1
Glacken (1967, apud PÁDUA, 2010, p. 83) observa que as concepções intelectuais sobre a natureza
no mundo ocidental só se voltaram para o tema da capacidade da ação humana de degradar o mundo
natural na modernidade. Anteriormente, os temas questionavam os sentidos e propósitos da natureza
e se a natureza influenciava a vida humana.
55
2
Acserad (2012) explica: A noção de “movimento ambientalista” tem sido evocada, no Brasil, para
designar um espaço social diversificado de circulação de discursos e práticas associados à “proteção
ambiental”, configurando uma nebulosa associativa formada por um conjunto diversificado de
organizações com diferentes graus de estruturação formal, desde ONGs e representações de
entidades ambientalistas internacionais a “seções ambientais” de organizações não especificamente
“ambientalistas” e grupos de base com existência associada a conjunturas específicas.
57
que se propõem a apresentar o caráter danoso da interação dos grupos sociais com
o meio e seus recursos naturais. Entretanto, os movimentos que pautam a questão
ambiental não convergem sobre quais seriam as possíveis soluções para a
problemática, nem convergem sobre o que se pretende resguardar ao preservar o
meio ambiente – a saúde e vida de populações afetadas pela poluição; a manutenção
do modo de produção capitalista, que necessita de recursos materiais, energéticos e
logísticos; ou, ainda, certos ambientes naturais que deveriam permanecer totalmente
intocados no que se refere a interação humana, a fim de que se preservem com certa
qualidade ecológica.
Desde o princípio, a questão ambiental esteve investida de distintos sentidos,
ora contracultural, ora utilitário. O primeiro constitui um movimento de
questionamento do estilo de vida que tem justificado o padrão dominante de
apropriação do mundo material – consumismo dito fordista, industrialização
químico-mecanizada da agricultura etc. O segundo, um sentido utilitário
protagonizado inicialmente pelo Clube de Roma, que, após trinta anos de
crescimento econômico nos países capitalistas centrais, preocupava-se em
assegurar a continuidade da acumulação do capital, economizando recursos
em matéria e energia. (ACSELRAD, 2010, p. 108)
produzida por uma fábrica de cimentos, que resultou no fechamento da fábrica após
o prefeito da cidade propor uma ação judicial alegando desobediência às
determinações municipais acerca da instalação da fábrica com filtros. O decreto foi
elaborado, então, para garantir ao governo federal o monopólio sobre o fechamento
de fábricas por razões ecológicas e de poluição.
Nesse sentido Alonso e Costa (2002) também apontam o papel de destaque
que grupos organizados, fora das esferas institucionais, assumem quando da
emergência da degradação ambiental enquanto problema social no Brasil:
O momento histórico em que a questão ambiental emerge no Brasil favorece
a forma de mobilização “movimento social”. A ditadura promoveu essa forma
de mobilização ao limitar os recursos institucionais tradicionais, inclusive os
partidos. Com a redemocratização, ocorrem mudanças. A ênfase da “Agenda
21”, documento resultante da Rio-92, em arenas locais e transnacionais e em
espaços públicos não-estatais, como fóruns para discussão da questão
ambiental, leva a escolha de “organizações não governamentais” como
estruturas de mobilização ideais, já que capazes de transitar nos dois níveis.
Esses fatores ajudam a explicar a fraqueza do partido verde no Brasil, vis-à-
vis as ONGs ambientalistas. (ALONSO e COSTA, 2002, p. 128 – 129)
agrida menos o meio ambiente – pontuando-se que só serão utilizáveis aquelas que
efetivamente garantirem as taxas de lucro. Portanto, a partir da crise ambiental, as
empresas enxergaram a possibilidade de inserir os recursos naturais na lógica de
mercado, transformando bens de uso comum em mercadorias.
Seguindo Huber (1985), vemos dois projetos centrais formando o coração da
reviravolta ecológica: a reestruturação dos processos de produção e de
consumo na direção de fins ecológicos. O primeiro projeto é o
desenvolvimento, inauguração e difusão de novas tecnologias mais
inteligentes do que as velhas, e que beneficiam o ambiente. Há uma mudança
das tradicionais “tecnologias de final de ponta” para tecnologias que
estabelecem processos limpos de produção. Microeletrônica, tecnologia
genética e novos materiais são vistos como tecnologias promissoras, por
desconectar o desenvolvimento econômico de insumos relevantes, do uso de
recursos e de emissões (Simonis, 1989), monitorando processos de produção
e consumo pelos seus efeitos sobre o ambiente (Huber, 1985). Esta mudança
deve levar a ecologização da economia, isto é, a mudanças físicas nos
processos de produção e consumo, e à possibilidade de monitorar esses
processos. Segundo, o conceito de modernização ecológica inclui
economização ecológica, colocando valor econômico sobre a terceira força
de produção: a natureza. Natureza e recursos ambientais devem readquirir
seu lugar nos processos econômicos e tomadas de decisão (Immler, 1989).
Como Simonis questiona: “Ao lado do trabalho e do capital, a natureza é o
verdadeiro fator de produção ainda dormente e explorado. Como pode ser
fortalecida a posição da natureza no jogo econômico? (p. 358). (MOL e
SPAARGAREN, 2002, p. 33 - 34)
3
Informações acerca do projeto de compensação ambiental em Paragominas disponível em:
https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/Imprensa/Noticias/2014/Biodiversidade-na-floresta-
tropical-do-Brasil/
64
4
Hydro assumiu o descarte de rejeitos irregularmente no rio Pará, através de notícia publicada em seu
site, contendo também pedido de desculpas e informe da expansão da auditoria interna para tratar do
caso: https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/Imprensa/Noticias/2018/alunorte/hydro-expande-
revisao-e-lanca-auditoria-apos-novo-descarte-de-agua-de-chuva-nao-tratada-na-alunorte/.
65
5
Disponível em: <https://www.barcarena.pa.gov.br/portal/noticia?id=754&url=prefeitura-apela-para-a-
consciencia-ambiental>. Acesso em: 15 jun 2018.
66
6
Antes da descoberta da destinação de rejeitos, a mídia já havia apontado a contradição do discurso
ambiental do governo norueguês, quando este criticou o Brasil pela extinção da Reserva Nacional do
Cobre e Associados (RENCA), enquanto área de preservação mineral. Em razão dessa extinção, o
governo da Noruega anunciou o corte de 200 milhões de reais que repassava ao Fundo Amazônia,
para preservação ambiental. Informações disponíveis em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
40423002>. Acesso em: 29 jul 2017.
68
“[...] Não há ambiente sem sujeito – ou seja, ele tem distintas significações e
lógicas de uso conforme os padrões das distintas sociedades e culturas” (ACSELRAD,
2010, p. 108-109). Os movimentos que pugnam por justiça ambiental, diferentemente
daqueles chamados de consensualistas, não estabelecem uma relação de
contrariedade entre “natureza” e “humanidade”. Esses movimentos foram capazes -
exatamente por não dissociar o ambiente e seus recursos naturais dos sujeitos - de
perceber que certas práticas degradam mais os recursos naturais, de forma a
incompatibilizar a convivência entre empreendimentos poluentes e grupos sociais que
têm sua qualidade de vida afetada por danos ambientais, e que essas práticas tendem
a se localizar nas proximidades de grupos sociais mais pobres, não-brancos e com
menor capacidade de interferir nos processos de tomada de decisão.
A partir do entendimento que há diversas interações e significações do meio
ambiente e de seus recursos, de acordo com os modos de vida de grupos sociais
diversos, torna-se possível a percepção de que certas práticas contêm “externalidades
negativas” que impactam comunidades mais vulneráveis e que a busca por práticas
de fato sustentáveis – no sentido de possíveis de se manter no decorrer do tempo,
sem o esgotamento dos recursos naturais – deve considerar a capacidade de escolha,
não apenas da localização de certas atividades, mas de sua viabilidade e
necessidade. A essa capacidade de escolha, certos movimentos têm chamado de
72
A partir dos anos de 1980, nos Estados Unidos, surgem movimentos, que
Bullard (1993) chama de “grassroots environmental justice movement”, remetendo a
grupos de base comunitária (como um movimento de bairro, por exemplo), que
começaram a pautar discussões acerca da desigualdade ambiental. Esses grupos
inauguraram a discussão ambiental atrelada a questão da desigualdade, após
constatarem que os projetos ambientalmente nocivos - como um aterro sanitário - em
sua maioria se localizavam em bairros habitados por populações majoritariamente
negras, ou de outras minorias étnicas, como latinos, asiáticos e populações nativas
americanas remanescentes.
A constituição de um movimento afirmou-se a partir da experiência concreta
de luta inaugurada em Afton, no condado de Warren, na Carolina do Norte,
em 1982. Ao tomarem conhecimento da iminente contaminação da rede de
abastecimento de água da cidade caso nela fosse instalado um depósito de
policlorinato de bifenil, os habitantes do condado organizaram protestos
maciços, deitando-se diante dos caminhões que para lá traziam a perigosa
carga. Com a percepção de que o critério racial estava fortemente presente
na escolha de localização do depósito daquela carga tóxica, a luta
radicalizou-se, resultando na prisão de 500 pessoas. A população de Afton
era composta de 84% de negros; o condado de Warren, de 64% e o estado
da Carolina do Norte, de 24%. Face tais evidências estreitaram-se as
convergências entre movimento dos direitos civis e dos direitos ambientais.
(ACSELRAD, 2000, p. 2)
7
Disponível em: <http://mamnacional.org.br/mam/quem-somos/>. Acesso em 18 jun 2018.
73
critérios de renda, como foi verificado por esses movimentos de base, mas pela
incapacidade dessas comunidades não brancas e pobres de influenciar decisões
políticas, pela dificuldade de pressionar os tomadores de decisão, pela falta de
mobilidade espacial e, pela disponibilidade de terras baratas nessas áreas. Portanto,
pela ausência de poder social das minorias étnicas, causado por racismo estrutural e
institucional nos Estados Unidos.
O fator raça revelou-se mais fortemente correlacionado com a distribuição
locacional dos rejeitos perigosos do que o próprio fator baixa renda. Portanto,
embora os fatores raça e classe de renda tenham se mostrado fortemente
interligados, a raça revelou-se um indicador mais potente da coincidência
entre os locais onde as pessoas vivem e aqueles onde os resíduos tóxicos
são depositados. (ACSELRAD, 2002, p. 7)
8
Partindo do pressuposto de que não há ambiente sem sujeito, poderia se denominar os conflitos
formados em torno da questão ambiental de “conflitos ambientais” apenas. Entretanto, optou-se pela
utilização da expressão “conflitos socioambientais” para facilitar a compreensão da indissociabilidade
da questão ambiental e social.
76
impactam o meio ambiente com outras práticas que representam os modos de vida
de certo grupo social.
Tudo sugere que se trata do modo como se organizam as condições materiais
e espaciais de produção e reprodução da sociedade – mais especificamente,
como redistribuem-se no espaço distintas formas sociais de apropriação dos
recursos ambientais, e como, nessa distribuição, a permanência no tempo de
uma atividade, caracterizada por certas práticas espaciais, é afetada pela
operação de outras práticas espaciais. Ou seja, como para a expansão da
monocultura do eucalipto, perdem os quilombolas suas terras e fontes de
água; como, para a expansão da soja transgênica, são inviabilizadas as
atividades dos pequenos agricultores orgânicos; como, por causa da
produção de energia barata para as multinacionais do alumínio, perdem os
pescadores e ribeirinhos do Tocantins sua capacidade de pescar; como para
a produção de petroquímicos, perdem os trabalhadores sua saúde pela
contaminação por poluentes orgânicos persistentes. (ACSELRAD, 2010, p.
111)
3.6.1 O Naufrágio9
Em outubro de 2015, no píer 300 do porto de Vila do Conde, o navio de bandeira
libanesa Haidar Beirut, atracou para embarcar a carga de cinco mil bois vivos, noventa
toneladas de fardo de feno e cinquenta toneladas de fardo de arroz (para alimentação
dos bois durante a viagem), que seriam exportados para Venezuela. O embarque da
9
Os fatos narrados neste item têm fontes diversas, mas, em sua maioria, foram retirados das
alegações constantes em documentos oficias na Ação Civil Pública impetrada em decorrência do
naufrágio e de notícias da imprensa.
79
carga se iniciou por volta das 16 horas do dia 03 de outubro. Na madrugada do dia 6
de outubro, a embarcação começou a sofrer adernamento 10, inclinando-se em direção
ao porto, de forma que o comandante interrompeu o embarque por volta das 6 horas
e 30 minutos do mesmo dia, quando já haviam sido embarcados cerca de quatro mil
e novecentos bois.
Adernamento do Navio
10
Segundo definição do Dicionário Aurélio de Português Online, adernar significa: “Inclinar-se (o navio)
até a borda chegar à água”. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/adernar>. Acesso em 27
maio 2018.
80
No dia 08 foi proposto plano para destinação das carcaças que flutuavam no
rio, que no mesmo dia foi rechaçado – mesmo estando de acordo com legislação
ambiental11 e com recomendação constante no Relatório do Ministério do Meio
Ambiente - por não haver possibilidade de refrigeração temporária das carcaças pela
CDP, e por não haver forno capaz de realizar a incineração de bois inteiros. Portanto,
a proposta foi considerada inviável. No dia 09, ainda não tendo sido tomadas
providências para retirada das carcaças dos rios, nova vistoria foi realizada pela
Diretoria de Recursos Hídricos da SEMAS, a fim de averiguar a presença de rejeitos
do naufrágio no porto e no seu entorno.
Na madrugada do dia 12 a barreira de contenção - que não tem a finalidade de
contenção de grandes volumes, como o peso das carcaças dos bois, segundo alegado
pelo na petição inicial da Ação Civil Pública - se rompeu, de forma que se alastraram
pelo rio e para as praias, os bois, o óleo e o feno. A empresa de limpeza contratada
pela CDP contou 315 cadáveres dos bois nas praias, indício de que algumas carcaças
estavam saindo do navio, já que a contagem inicial era de 200 bois flutuando.
Óleo na areia da praia de Vila do Conde
11
Assim dispõe o artigo 11 da Resolução CONAMA nº 5: “Art. 11. Dentre as alternativas passíveis de
serem utilizadas no tratamento dos resíduos sólidos, pertencentes ao grupo ‘A’, ressalvadas as
condições particulares de emprego e operação de cada tecnologia, bem como considerando-se o atual
estágio de desenvolvimento tecnológico, recomenda-se a esterilização a vapor ou a incineração”.
83
ambiental; que se observasse que os níveis inferiores das covas deveriam manter
distância segura do mais alto nível do lençol freático; que verificasse se há algum
estudo realizado, referente ao lençol freático da área em questão, o que, em caso
positivo, deveria ser considerado, ainda que minimamente, tendo em vista a demanda
e a urgência que caso requeria; e, em caso negativo, deveria ser feito o referido
estudo, apresentando o relatório respectivo, no prazo máximo de 05 (cinco) dias, a
contar da data da notificação.
Foi recomendado, ainda, a impermeabilização das covas com material que
garantisse o confinamento do percolado (chorume), capaz de resistir à pressão a ser
exercida pelo peso dos animais, somado ao peso do solo a ser utilizado no
aterramento, encaminhando, diariamente, os relatórios das atividades realizadas, bem
como, na maior brevidade possível, apresentar, background e, posteriormente, o
plano de monitoramento do solo e lençol da área a ser utilizada.
Em 13 de outubro a população local realizou manifestação, através de
obstrução das vias do porto, se posicionando pela destinação dos cadáveres bovinos
dentro da área do porto, após ter sido cogitado que os bois fossem enterrados em
área habitada por uma comunidade tradicional, chamada de Pedral.
Nos dias seguintes houve discordância de posicionamento técnico acerca da
impermeabilização das covas que receberiam os bois entre SEMAS e IBAMA. O que
resultou em reunião para alinhamento dos posicionamentos, de forma que se
autorizou o uso das primeiras cavas, que foram instaladas sob condições precárias,
justificada pelo estado avançado de decomposição dos bois em terreno da CDP.
No dia 16 de outubro se iniciou a retirada o óleo que estava contido pela barreira
de proteção. No dia 18, a empresa Mamoet (contratada pela seguradora do navio) deu
início à retirada do óleo que se encontrava no interior da embarcação e das carcaças
bovinas que se espalharam, através de subcontratações que: lançaram novas
barreiras e recolheram o óleo contido na área entre o porto e as barreiras de
contenção; realizaram de serviços no casco do navio, através de mergulhadores;
contrataram balsa para armazenamento do óleo recolhido; e retiram os bois das
praias, realizaram abertura de cava, colocação dos restos de bois e fechamento das
trincheiras.
O trabalho de retirada do óleo só foi finalizado no final de novembro de 2015.
A destinação das carcaças de bois que chegam a costa foi realizada de forma
precária, conforme alegado pelo MPF na Ação Civil Pública (enterro em local
87
da proporção de danos causados por cada uma das partes envolvidas, de forma que
todos os réus poderiam responder pela reparação de forma integral nesta ação
judicial, ficando ressalvado o direito de regresso12 em face dos demais posteriormente.
É o que se chama de responsabilidade civil solidária.
Essa possibilidade se justifica pela necessidade de resposta rápida, no que se
refere a reparação de danos ambientais, pois os procedimentos de averiguação e de
delimitação de responsabilidade de cada agente envolvido podem ser complexos e
demorados. A demora para delimitação de responsabilidades pode significar a
irreversibilidade desses danos, tendo sido essa a argumentação utilizada pelos
autores na petição inicial. No processo do naufrágio, ainda que não tenha se
estabelecido a proporção de responsabilidade de cada um dos réus, a ação durou um
pouco mais de dois anos e só definiu indenizações, sem definir totalmente os
parâmetros de recuperação ambiental, já que o navio continua submerso no rio Pará,
aguardando a contratação de empresa especializada no serviço por meio de uma
licitação promovida pela CDP.
- Responsabilidade civil objetiva:
Os autores defenderam, ainda, a incidência da responsabilidade civil objetiva,
pela qual, atribui-se responsabilidade aos agentes praticantes da ação que causou o
dano, ainda que não se verifique a existência de culpa (imperícia, imprudência ou
negligência), dolo ou ilicitude. Portanto, para se configurar a responsabilidade de
determinado agente quanto a dano ambiental, basta que se comprove o nexo de
causalidade entre a atividade desenvolvida por esse agente e o dano ambiental, ou
seja, que se comprove que o dano foi causado pela atividade com risco inerente
exercida pelo agente, ainda que tenham sido respeitadas todas as normas de
segurança para evitar danos. Essa teoria se consagrou em razão da imprevisibilidade
das consequências das práticas de certas atividades.
Nesse sentido, respaldou-se na teoria do risco profissional, positivada no artigo
927, parágrafo único, do Código Civil, segundo a qual aqueles que se dediquem ao
exercício de atividade com habitualidade que, por sua natureza, implique risco a
outrem, devem responsabilizar-se, independentemente da culpa, pelos danos
causados. Esses argumentos foram reforçados por doutrina jurídica:
12
Direito daquele que respondeu pela condenação em sua totalidade de acionar os demais
responsáveis para cumprirem com as partes que lhes cabem da condenação, na proporção de sua
responsabilidade.
89
13
De acordo com a Resolução CONAMA 5/1993: “Classe A: resíduos que apresentam risco potencial
a saúde pública e ao meio ambiente devido a presença de agentes biológicos”; “Art. 10. Os resíduos
sólidos pertencentes ao grupo ‘A’ não poderão ser dispostos no meio ambiente sem tratamento prévio
que assegure:
a) a eliminação das características de periculosidade do resíduo;
b) a preservação dos recursos naturais; e,
c) o atendimento aos padrões de qualidade ambiental e de saúde pública.
Parágrafo único. Aterros sanitários implantados e operados conforme normas técnicas vigentes
deverão ter previstos em seus licenciamentos ambientais sistemas específicos que possibilitem a
disposição de resíduos sólidos pertencentes ao grupo ‘A’.
Art. 11. Dentre as alternativas passíveis de serem utilizadas no tratamento dos resíduos sólidos,
pertencentes ao grupo ‘A’, ressalvadas as condições particulares de emprego e operação de cada
tecnologia, bem como considerando-se o atual estágio de desenvolvimento tecnológico, recomenda-se
a esterilização a vapor ou a incineração.
§ 1º Outros processos de tratamento poderão ser adotados, desde que obedecido o disposto no art. 10
desta Resolução e com prévia aprovação pelo órgão de meio ambiente e de saúde competentes.
§ 2º Após tratamento, os resíduos sólidos pertencentes ao grupo ‘A’ serão considerados ‘resíduos
comuns’ (grupo ‘D’), para fins de disposição final.
§ 3º Os resíduos sólidos pertencentes ao grupo ‘A’ não poderão ser reciclados.
92
14
Culpa in eligendo e culpa in vigilando são modalidades de culpa atribuídas ao contratante pelos danos
causados pelo contratado, decorrentes do dever de cuidado na escolha e na fiscalização do serviço
prestado.
94
já sofre com diversos danos ambientais, de forma que não seria possível dizer que os
danos verificados foram ocasionados pelo naufrágio.
Em sede de recurso de Agravo de Instrumento, a ré Minerva apresenta estudos
realizados por uma empresa contratada, alegando que os resultados fora do padrão
demonstram uma oscilação dentro do padrão no rio Pará, de forma que esses
resultados podem indicar a ausência de interferência do naufrágio sobre o meio ou
que as interferências já estariam sendo mitigadas naturalmente. Ademais, argumenta
que o esgotamento sanitário sem tratamento no rio Pará pode ser um dos fatores
causadores das variações de parâmetros obtidos nos estudos.
Alega, ainda, que não há fundamentos que justifiquem o bloqueio de bens, pois
os danos ambientais além de hipotéticos em sua extensão não autorizam a imposição
de dados meramente dedutivos, pois a análise da água do rio já vinha apresentando
resultados fora do padrão.
- A Norte Trading foi a empresa contratada para prestar o serviço de operador
portuário, que consiste em operar a movimentação e armazenagem das cargas em
transporte aquaviário, dentro do porto. Em sede de contestação, a ré alega que a
empresa não é responsável pelos danos causados pelo naufrágio pois não há nexo
de causalidade. Afirma que o trabalho da operadora portuária consiste em conduzir
os animais através do embarcadouro (um equipamento semelhante a uma gaiola) e
liberá-los na rampa de embarque, não entrando no navio, de forma que não se
responsabiliza pela arrumação da carga dentro do navio.
Ademais, a ré Norte Trading se pronunciou acerca do relatório de inspeção
judicial realizado durante o processo, alegando o caráter de ineditismo do incidente
no porto de vila do conde, baseado no discurso de funcionária da SEMAS durante a
visitação ao local do naufrágio. Portanto, não haveria previsão legal para sinistros
dessa natureza, tendo sido todas as exigências cumpridas pelas empresas envolvidas
e a atividade autorizada pelas autoridades competentes. Pelo que pediu a aplicação
da teoria da imprevisibilidade quanto a responsabilidade civil.
- No decurso do processo a ré CDP foi a única a cumprir, ainda que
limitadamente, algumas das decisões proferidas pelo juízo. Nas ocasiões em que não
cumpriu o determinado, alegou não haver verba disponível, por se tratar de sociedade
de economia mista, que necessita de aprovação para ampliação de verbas. CDP não
apresentou contestação, de forma que não discutiu o mérito das alegações dos
autores.
95
- Quanto às rés Tamara Shipping e Sleiman Co & Sons, estas só foram citadas 15
no processo no dia da realização da audiência que culminou com o acordo firmado. A
primeira se trata da empresa armadora e a segunda a proprietária do navio. Portanto,
a proprietária, Sleiman Co & Sons, colocou o navio sob responsabilidade da armadora
Tamara Shipping, para aparelhamento e navegação com fins comerciais. Tal
transação é comum no ramo de embarcações de transporte de carga.
A proprietária do navio e a empresa armadora são empresas estrangeiras, o
que dificultou o procedimento de citação - não havendo possibilidade de emissão de
carta rogatória16, pois o Líbano não possui tratado de cooperação com o Brasil.
Ademais, os advogados, indicados pelos autores como representantes legais das rés
no Brasil, quando finalmente citados - após tentativas de citação por outros meios -
alegaram que não representavam mais as rés e que, mesmo que ainda
representassem, os mandatos só abarcavam as ações criminais processadas na
justiça estadual, em Barcarena. Dessa forma, a proprietária no navio e a empresa
armadora só integraram a lide em fevereiro de 2018, o que foi considerado pelos
autores como manobra para não ingressar no processo, conforme declarado em
petição do Estado do Pará, na qual se afirma que tais rés tinham conhecimento da
Ação Civil Pública, pois participaram de reuniões no Ministério Público.
15
Citação é a primeira notificação endereçada à parte, na qual se informa a existência da ação.
16
O artigo 237, inciso II do Código de Processo Civil brasileiro dispõe que:
“Art. 237. Será expedida carta:
[...]
II - rogatória, para que órgão jurisdicional estrangeiro pratique ato de cooperação jurídica internacional,
relativo a processo em curso perante órgão jurisdicional brasileiro;”
96
de vista social ou ambiental. O juízo entendeu, ainda, que o caso tratado se refere a
“número restrito e identificável de beneficiários” e que “podem ser amparados pela
Defensoria Pública do Estado”. O MPF recorreu e a instância superior resolveu
sobrestar17 a decisão de primeiro grau, de forma que permaneceu a legitimidade dos
autores para tais pedidos.
- O juízo entendeu que os danos ambientais se enquadram entre aqueles em
que a responsabilidade dos causadores é objetiva e solidária, portanto independente
de verificação de culpa ou dolo, bastando a existência de nexo de causalidade entre
o dano e a atividade causadora do dano. Decidiu que, quanto à retirada dos animais
do interior do navio, estavam presentes os requisitos necessários para concessão da
tutela antecipada18. Decretou a multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
em caso de descumprimento da tutela antecipada, em 15 de fevereiro de 2016.
- Em 02 de março de 2016, determinou a intimação do MPF para adotar
medidas para obter informações que “potencializem o ânimo conciliatório da lide” 19
para concretização da retirada da embarcação e das carcaças, de forma que fixasse
prazos, condições e etapas, alegando que a legislação de Ação Civil Pública tem
“ânimo conciliatório” em todo seu texto – inclusive havendo previsão de que se firme
Termo de Ajustamento de Conduta20.
- Em audiência, realizada em 19 de abril de 2016, o MPF ponderou que a só a
Companhia Docas do Pará (CDP) adotou medidas de cumprimento da decisão liminar,
não possuindo mais recursos para finalização dos trabalhos e considerando que a
responsabilidade civil ambiental é solidária, requereu que fosse reconhecido o
descumprimento da liminar e aplicada de imediato a multa diária fixada em R$
17
A instância superior não chegou a decidir o mérito do recurso, em sede de urgência, decidiu-se
suspender a decisão de primeiro grau, até que o recurso fosse julgado em definitivo.
18
Tutela antecipada é a decisão – anterior a sentença - em que o juízo atende a pedido de urgência
feito pelo autor, quando as alegações forem verossímeis e haja perigo de irreversibilidade dos danos
se não reparados em caráter de urgência, conforme prevê o artigo 300 do Código de Processo Civil:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.
19
A expressão “potencializar o ânimo conciliatório da lide” é utilizada no meio jurídico para instigar as
partes da ação a se disponibilizarem a celebração de acordo.
20
Rodrigues (2002, apud VIÉGAS, PINTO e GARZON, 2014) define o Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) como: “[...] uma forma de solução extrajudicial de conflitos promovida por órgãos
públicos, tendo como objeto a adequação do agir de um violador ou potencial violador de um direito
transindividual (direito difuso, coletivo ou individual homogêneo) às exigências legais, valendo como
título executivo extrajudicial”. Para mais informações sobre TAC’s ver: VIÉGAS, Rodrigo Nuñes; PINTO,
Raquel Giffoni; GARZON, Luis Fernando Novoa. Negociação e acordo ambiental: o termo de
ajustamento de conduta (TAC) como forma de tratamento de conflitos ambientais. Rio de Janeiro:
Fundação Heinrich Böll, 2014.
97
10.000,00 (dez mil reais) a todas as rés, exceto a CDP. Ademais, requereu a intimação
de Tamara Shipping, Husein Sleiman e Minerva S/A, que, em razão de análise
preliminar do processo, serem as rés que possuem capacidade financeira para arcar
com as medidas urgentes de retirada da embarcação e das carcaças, a fim de que
efetuassem em dez dias depósito em conta a ser administrada pela CDP, da seguinte
forma: Tamara Shpping e Husein Sleiman 50% do valor (de acordo com plano já
apresentado nos autos pela CDP de US$ 15.700.000,00) e Minerva S/A os demais
50%. Ademais, requereu o aumento da multa para R$ 100.000,00 diários pelo
descumprimento da decisão.
Em razão desses pedidos, houve decisão, proferida no dia 15 de junho de
2016, afirmando que não havia necessidade de declaração do juízo acerca do início
da incidência da multa, pois esta já se aplicaria sozinha pelo simples descumprimento
da decisão liminar e aumentou o valor da multa diária para R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), em razão da inércia das rés em cumprir a decisão.
3.6.2.5 O acordo
O Ministério Público Federal protocolou petição em dezembro de 2017
requerendo que o juízo agendasse audiência de conciliação, ainda naquele ano,
alegando que as partes estavam em fase final de negociação para pôr fim a lide e
informou que todos os autores compareceriam independente de intimação. Em razão
disso a audiência foi marcada para o dia 18 de dezembro de 2017.
Nesta primeira audiência de conciliação compareceram todos os autores,
exceto a Defensoria do Estado do Pará. Quanto às rés, compareceram Norte Trading,
Global Agência Marítima, Companhia Docas do Pará – CDP, Minerva S/A.
Pelo decidido em primeira audiência, o acordo se encerraria em um valor total
de R$ 9.000.000,00 (nove milhões de reais), enquanto o valor da causa apontado na
petição inicial era de R$ 71.412.644,00 (setenta e um milhões, quatrocentos e doze
mil e seiscentos e quarenta e quatro reais). Encerrou-se a audiência sem
homologação do acordo, por ter se considerado que alguns pontos ainda
necessitavam de ajustes, de forma que a conciliação foi suspensa, sendo agendada
outra audiência para o dia 06 de fevereiro de 2018.
No dia 06 de fevereiro de 2018, estiveram presentes na audiência todos os
autores mais o Município de Barcarena, que ingressou na lide nessa ocasião, e todos
98
os réus, incluindo Tamara Shipping e Husein Sleiman, que até então não haviam sido
sequer citadas no processo. O acordo foi firmado segundo os seguintes termos:
- Quanto aos danos de natureza coletiva, as rés CDP e Tamara/Husein se
comprometeram a repassar, cada, o valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e
quinhentos mil reais) e a ré Norte Trading se comprometeu a repassar R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais), em 20/06/2018, à FASE (Federação de Órgãos para Assistência
Social e Educação) para a constituição de fundo de custeio de pequenos projetos
comunitários, nos municípios atingidos;
- O pagamento das rés CDP e Tamara/Husein, acima referido, será efetuado
em três parcelas de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), nas seguintes datas:
20/09/2018, 20/10/2018, 20/11/2018;
- Quanto aos danos individuais, Minerva S/A se comprometeu a repassar o
valor de R$ 4.500.000,00 (quatro milhões e quinhentos mil reais); CDP e
Tamara/Husein se comprometeram a repassar, cada, R$ 3.000.000,00 (três milhões
de reais); e Norte Trading se comprometeu a repassar R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais). Esses valores repassados ao Instituto Internacional de Educação
do Brasil (IEB) se destinará ao pagamento de indenizações às famílias atingidas pelo
naufrágio, ficando o recebimento dessas indenizações condicionado à desistência de
ações individuais;
- Sobre os valores mencionados acima, Minerva se comprometeu em repassar
no prazo de 15 dias úteis a contar da data de homologação do acordo; CDP e
Tamara/Husein se comprometeram a pagar em seis parcelas de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais), nas seguintes datas: 20/03/2018, 20/04/2018, 20/05/2018,
20/06/2018, 20/07/2018, 20/08/2018; Norte Trading se comprometeu a repassar o
valor em três parcelas de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), nas datas 20/03/2018,
20/04/2018, 20/05/2018.
- O acordo previu que os valores relativos a atingidos que não aceitem os
termos do acordo, assim como os valores que não puderem ser pagos por motivos de
força maior, serão restituídos aos réus compromitentes, descontados custos
administrativos;
- Tamara Shipping e Husein Sleiman, para fins desse acordo, foram
considerados como um único demandado e responsáveis solidariamente pelo
montante de R$ 4.500.000,00 (quatro milhões e quinhentos mil reais);
99
consensual com que se imbuíram as partes no presente caso, com vistas a solucionar
demanda nitidamente complexa”.
Ressaltou-se, na sentença, a estranheza da cláusula que condiciona a adesão
ao acordo, pelos réus Tamara Shipping e Husein Sleiman, a isenção de valores
atribuídos em sede criminal, que seria um evento futuro e incerto, mas considerou-se
que seria a solução mais adequada, por beneficiar as famílias afetadas e o meio
ambiente.
Nesta segunda audiência de conciliação não ficou expressa a divisão dos
percentuais de indenização para as famílias de acordo com a localidade da
comunidade em que moram. Entretanto, foi anexado termo de cooperação firmado
entre as partes e o Instituto Internacional de Educação do Brasil, no qual constavam
os seguintes termos: 50% do valor destinado à comunidade de Vila do Conde; 30%
destinado às comunidades Beja, Itupanema e Vila do Capim; e 20% a outras
comunidades - que não foram mencionadas expressamente.
Portanto, ao final o total pago foi R$ 13.700.000,00 (treze milhões de
setecentos mil), sendo R$ 3.050.000,00 (três milhões de cinquenta mil reais) para o
fundo destinado a pequenos projetos comunitários e R$ 10.650.000,00 (dez milhões
e seiscentos e cinquenta mil reais) destinados à indenização das famílias atingidas
pelo naufrágio. O valor total representa cerca de 20% do valor apontado na petição
inicial (R$ 71.412.644,00) como capaz de reparar os danos caudados pelo naufrágio.
casos complexos como o do naufrágio, em que não há uma relação equidade entre
os atores envolvidos no conflito.
Não se pode ignorar as limitações que os atores com menor força política e
econômica (como os movimentos sociais) enfrentam no judiciário, como: obstáculo da
linguagem, que torna necessária uma representação processual por um profissional
do campo; o desconhecimento das regras processuais que devem ser seguidas no
decurso de uma ação judicial pelos não-profissionais; além do obstáculo próprio de
um campo formado primordialmente por pessoas que têm origem nas classes
dominantes. Ainda assim, muitos movimentos têm recorrido ao judiciário, na tentativa
de diminuir as desigualdades, pelo caráter reparador que o campo jurídico proporciona
ou mesmo pela credibilidade que as demandas podem alcançar quando pleiteadas
perante uma arena pública, oficial e legítima.
Fuks (2001) afirma “afinal, uma condição alegada não constitui um problema
social enquanto não for enunciada publicamente como tal”. O mesmo autor, ao
analisar a disputa sobre a compreensão pública dos assuntos e dos problemas
sociais, ressalta que, quando os assuntos sociais se encontram nas arenas públicas,
ocorre uma interação permanente entre ação e debate.
Não se trata de processo regido por uma entidade abstrata chamada
“cultura”, nem ocorre em locais vagos tais como a “sociedade” ou a “opinião
pública”, mas emerge da disputa sediada em espaços específicos, entre uma
(virtual) pluralidade de versões, embora as condições diferenciadas de
participação impliquem vantagens para certos atores e o silêncio de outros.
(FUKS, 2001, p. 47)
práticas permaneçam, são cada vez mais obstaculizadas, como é o caso da pesca
nos cursos d’água contaminados.
Chama atenção... um aspecto particular da nossa realidade amazônica: a
coexistência de formas diferentes de produção, que foram caracterizadas
como sendo “tradicionais” e “modernas”... Os termos são ambíguos e sujeitos
a crítica, mas suficientemente claros para entender-se do que se trata (...)
Processa-se hoje, na Amazônia, o encontro ou, mesmo, o confronto de
modos de produção diferentes... Esse fenômeno, entretanto, está ocorrendo
diferentemente do processo que se verificou historicamente nos países
industrializados. O confronto de formas de produção diferentes na Europa
moderna, por exemplo, surgiu de dentro da própria sociedade; foi a partir da
crise da sociedade feudal que emergiu o modo de produção capitalista,
através de um processo de transformações técnicas, econômicas, sociais e
políticas geradas internamente. Já o confronto que está se verificando hoje
na Amazônia, entre formas sociais de produção, não se originou
endogenamente: procedeu de fora, pela imposição, pela invasão, pela
penetração violenta de um modo de produção que, por não ter sido gerado
internamente, não reflete o estágio de avanço coletivo das forças produtivas
da própria região. Daí seu caráter particularmente agressivo, destrutivo física
e culturalmente desarticulador, muitas vezes denunciado; daí, também, a
necessidade de se pensar, de se analisar esses problemas em termos
diferentes daqueles em que se tem refletido sobre a história da Europa ou da
América do Norte. (HÉBETTE, 1983, p. 169-170 apud TRINDADE JÚNIOR,
2013, p. 8)
1
Nome fictício.
109
projeto. Eu não sou contra o projeto, mas que viesse também ajudar dentro
daquele segmento que deveria ajudar. Eu vi uma audiência, que Deus me
livre, o pescador ia ter assistência, ia ser amparado. Que nada, não
aconteceu nada disso. Hoje nós temos esse prédio aqui [galpão onde
funciona a sede da cooperativa de pescadores] através de um crime que
aconteceu, de um pó preto que derramaram em cima da vila do conde. Todos
nós fomos prejudicados. Aí numa briga judicial e tudo, a Alunorte construiu
esse prédio aqui pra nós. Mas depois foi esquecendo, foi esquecendo. Deu o
prédio, mas não deu uma mesa, nada. Sabe o que eu penso, que a Alunorte,
quando construiu isso aqui, era pra ela ter administrado junto com a gente.
Ela não tem os administradores? “Olha, estamos fazendo um
empreendimento, vamos colocar um barco, mas vamos colocar uma pessoa
nossa pra administrar junto com vocês”.
2
Nahum (2006) define a política institucional praticada em Barcarena como conservadora, pois se
pauta em ações assistencialistas, de coerção da sociedade civil, de centralização do poder e de uso
do território como recurso para a manutenção de elites políticas dominantes nos cargos do executivo e
legislativo.
111
4.3 O Campo
3
Todos os nomes dos entrevistados foram trocados por nomes fictícios a fim de protegê-los de
possíveis represálias.
113
4.3.4 Metodologia
Os métodos de pesquisa utilizados foram: entrevistas semi-estruturadas com
moradores de Vila do Conde e lideranças sociais da cidade de Barcarena; participação
em audiências públicas; conversas informais com as lideranças locais; e
acompanhamento da cobertura na mídia de casos de danos ambientais na cidade de
Barcarena; além do já apresentado acompanhamento da Ação Civil Pública que
discutia o naufrágio.
Antes das entrevistas se iniciarem, eu me apresentava enquanto estudante de
mestrado, explicava de modo resumido do que se tratava minha pesquisa acadêmica
114
4.3.5 O naufrágio
Há inúmeros relatos sobre o naufrágio do navio Haidar no porto de Vila do
Conde, que podem ser encontrados com facilidade, como as matérias produzidas pela
117
a carne abatida estava cheia de remédios, o que poderia explicar a textura anormal,
não sendo apropriada para consumo.
Dona Selma defendeu que o porto, a proprietária da carga, ou qualquer das
empresas envolvidas, no momento do naufrágio, deveriam ter dado o gado para
população, já que os bois estavam morrendo afogados. Disse que a burocracia
dificultou o fornecimento do gado, pois os funcionários não sabiam o que fazer e
alegavam que necessitavam de muitas autorizações para tomar qualquer providência,
de forma que nada foi feito, tendo o gado todo morrido afogado e o navio afundou
completamente.
O posicionamento de Dona Selma acerca do abate dos bois pela população
diverge matérias jornalísticas e textos que circularam nas redes sociais da internet 4.
Criticou-se ferozmente o abate daqueles bois apanhados pelos moradores da região,
alegando-se que foram cenas incontestáveis de maus-tratos. Entretanto, ignorou-se
outro fato relevante daquelas cenas de abate, a pobreza de uma população vizinha a
empresas com lucros bilionários que exploram recursos naturais locais 5.
Quando perguntei sobre o naufrágio do navio Haidar ao seu Pedro, morador da
comunidade do Curuperé – próxima a Vila do Conde -, disse que os bois e o óleo
chegaram até o quintal de sua casa, onde passa o rio Pará. Relatou que quando os
bombeiros apareceram lá, ele entrou no rio numa profundidade em que a água
chegava até o peito, mais ou menos, lá mergulhou e com um facão cortou um
quadrado do fundo do rio, quando emergiu mostrou aos bombeiros uma substância
sólida e branca que se acumula, que acredita ser dos rejeitos da empresa Imerys, que
possui uma bacia de rejeitos bem próxima a sua casa.
4
Um texto, de autoria desconhecida - que foi compartilhado somente da página do facebook que tive
acesso 13.770 vezes - dizia: “Em 6 anos de trabalho como servidora do Ibama, este foi o pior dia da
minha vida... Do ser humano: descaso, negligência, crueldade, irresponsabilidade, covardia... Dos
animais: desespero, dor, vítimas agonizando. Os últimos bois vivos presos sob as grades da lateral da
embarcação foram deixados para morrer, só esperando a maré subir e afogar os remanescentes.
Ribeirinhos tentando matar os animais ainda vivos com facões, batendo em suas cabeças, e tentando
puxar os sobreviventes para água para afogá-los. Os únicos que conseguiram atravessar o rio foram
recebidos com a morte: ribeirinhos com facões em mãos. Empresas responsáveis suspendendo o
resgate, já tardio, das últimas vítimas. Corpo de bombeiros negando resgate. Vidas abandonadas. O
ser humano é a espécie mais podre da face da terra. PODRE. Alguém duvida que o inferno existe???
Hoje tive uma boa amostra dele bem debaixo dos meus olhos...”
5
A Hydro Alunorte, por exemplo, teve no último quadrimestre de 2017 lucro de 3,55 bilhões, em moeda
norueguesa. Informação disponível em: <https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-
brasil/Imprensa/Noticias/2018/quarto-trimestre-de-2017-alta-nos-precos-da-alumina-e-do-aluminio-
melhoram-os-resultados/>. Acesso em: 06 jun 2018.
119
Dona Tereza, uma barraqueira da praia de Vila do Conde contou que após o
naufrágio ficou tudo muito difícil, pois costumava ter muita clientela – contou que
chegava a ter sete ônibus de piquenique aos domingos na praia, vendia até vinte
caixas de cerveja e torcia para o fim de semana acabar para poder descansar.
Lamentou que agora a praia está vazia, ressaltando que quando vende bem, são
cerca de três caixas de cerveja.
Explicou que após o naufrágio o movimento caiu muito, por conta da divulgação
de que a água estava contaminada, mas ponderou que as outras praias das
proximidades não ficaram com essa fama mesmo sendo a mesma água. Disse que
inclusive Belém tem a mesma água, mas a fama de contaminada foi só para praia de
Vila do Conde.
Dona Rosa, barraqueira da praia de Vila do Conde relatou o naufrágio, em
entrevista realizada em fevereiro de 2016, da seguinte forma:
Eu tava lá embaixo, quando eu vi o pessoal começou a falar ‘olha Rosa, tu
não vai pegar boi?’. Eu disse ‘se eu tivesse canoa, eu já estava lá’, mas eu
120
Dona Ana contou que o óleo que se espalhou teve o seguinte tratamento:
esponjas eram jogadas, as esponjas se encharcavam com o óleo, pesavam e iam
para o fundo do rio. Disse acreditar que essas esponjas cheias de óleo no fundo do
rio é o que estava espantando os peixes da região. Relatou que teve cerca de oito
redes perdidas por causa do óleo, pois quando jogava, as redes voltavam cheias de
óleo e que não era mais possível utilizá-las, mesmo que fossem lavadas depois.
Os diversos relatos acerca do naufrágio do navio Haidar, ainda que com
enfoques diferentes – seja pela denúncia de contaminação pelas lideranças, seja pela
demonstração de pescadores e barraqueiras de que não puderam mais exercer suas
profissões da mesma forma, pela contaminação e pela visibilidade da contaminação
– apontam para os danos ambientais causados e os impactos que tais danos tiveram
em seus cotidianos. As declarações dos profissionais que dependem do rio em Vila
do Conde demonstram a vulnerabilidade em que se encontram, posto que confirmam
a poluição das águas, mas também apontam como a divulgação dessa poluição
continua a afetar suas atividades.
O mesmo foi relato por seu Pedro que mencionou que muitas coisas são
jogadas no rio que danificam o material de pesca. Explicou que eles sabem, quando
a rede se prende em algo no fundo do rio, do que se trata; se for galho, ao puxar a
122
rede o galho quebra e eles recuperam a rede, mas sendo outros materiais, como
pedaços de ferro, estes rasgam a rede. Contou de uma situação em que ele puxou a
rede com mais força, após ela se prender em algo, fazendo com que o barco quase
afundasse, porque entrou muita água ao virar.
Ademais, os pescadores apontam que pela escassez de peixes nos arredores
de Vila do Conde, o ideal seria navegar para mais longe para conseguir maior volume
de pesca, entretanto, utilizam pequenas embarcações, com as quais não conseguem
se afastar muito, conforme relata dona Ana:
Fica difícil pra a gente em embarcação pequena, porque aqui não tem mais
peixe, tem que ser lá pra baixo – do lado de Vigia pra baixo. Pra a gente fica
difícil no barquinho. Se fosse num barco grande, de cinco toneladas, que pare
de rede e tudo, seria bom, porque dava pra ir lá pra baixo mais um pouco.
Dona Rosa também afirmou: “Se a gente quer comer peixe, a gente atravessa
aquela baia, arriscando a nossa vida pra pegar peixe pra lá. Isso é verdade, cada vez
tá diminuindo [a quantidade de peixes]. Camarão é de ano a ano que pega. No final
de julho os camarões já tão indo embora”.
Dona Selma, sobre os impactos dos serviços de logística, que servem de
infraestrutura ao polo industrial, disse, em entrevista em 2016:
A gente já tinha uma perspectiva que isso [naufrágio] ia acontecer a qualquer
momento, porque o fluxo pra cá pros portos de Barcarena vem aumentando
muito rápido e não tem a malha viária. A questão desse transporte não foi
vista, não foi vista a questão da logística. Esse navio tava em teste, na
verdade, era pra 5.000 bois e botaram quase 6.000, então não aguentou. Na
verdade, a gente fazendo todo um estudo de plano de contingência, a gente
vê que não existem esses planos. O licenciamento portuário não existe uma
fiscalização rigorosa em cima, mesmo as autoridades sabendo que é uma
grande demanda que existe e não é monitorado e não é cobrado com rigor
essa fiscalização. Então existe uma liberdade, eles põem lá a quantidade que
der. O reflexo de tudo isso a gente vê no transporte da carga. O fluxo é muito
grande da exportação da soja, do gado e outros minérios que nós temos. A
rodovia é de via única e o que acontece é que já houve outros acidentes, só
que não deu uma proporção na mídia como deu esse agora. Já tombou
carreta.
Ana: a gente sai arredando com a rede, a gente pega galão de tinta. Já peguei
três galões, dois estavam cheios e outro já tinha furado. Peguei uma
furadeira. Meu irmão pegou um carro de mão.
Depois de eu comentar que tinha lido o acordo feito na justiça e que ainda havia
ficado pendente a retirada do navio, seu João comentou:
Pois é, isso é um absurdo. Cada tempo que vai passando fica mais difícil de
tirar esse navio, porque ele fica ali e a areia vai tomando conta, vai cobrindo.
É ferro, que contamina água. O navio é constituído de muitas coisas, que são
inflamáveis. Foi péssimo esse acordo. Eu pretendo ainda realizar umas
reuniões lá pra chamar atenção do povo, explicar pro povo. O povo, na
verdade, está feliz, achando que vai receber isso de uma vez. As lideranças
não explicaram pra eles como é o negócio. Eu vou fazer um quadro pra
explicar como vai funcionar, com o cálculo. Primeiro eu quero saber o número
total do Conde, quantos são os ribeirinhos, pra explicar pra eles, por que eu
fiz por alto. Aproximadamente, pelo que a dona Selma falou são umas 2000
pessoas lá do Conde. Então, nessa lista do conde - 50% de 7 milhões, são 3
milhões e 500 mil - (após fazer o cálculo no celular) dá R$ 1750, aí tu divide
isso por 6 parcelas, vai dar R$ 292 por 6 meses. É insignificante, não resolve
nada. Então quer dizer, é um prejuízo pra eles. Era preferível eles deixarem
correr o processo na justiça e ir fazendo pressão, inclusive na aqui [na sede
da] justiça federal. Se você coloca um processo na justiça e não vai pra cima,
não dá em nada. Primeiro, um advogado tem interesse no processo, acontece
que o advogado tem centenas, dezenas de processos, então ele não vai
priorizar só o seu. Ele tem que priorizar todos e ele acaba se atrapalhando.
Quando é um processo coletivo é mais fácil, porque você se mobiliza, faz
manifestação, faz um monte de coisas.
Não, poderia ser um acordo, mas um acordo que pelo menos [a indenização
fosse paga] de uma vez. E o valor, eu também achei insignificante, de 10
milhões, se o processo está em 300 e poucos milhões. Acho que cada uma
família dessa, no mínimo, teria que receber uns 10, 20 mil reais, porque aí já
dá pra comprar alguma coisa, ajudar fazer uma reforma na casa, alguma
coisa. E aí não tem nenhuma garantia, por esse acordo, de fazer uma perícia
nas pessoas pra ver se elas não estão com algum tipo de contaminação e
que preveja o tratamento delas. Não tem nada. E se alguém estiver doente.
Teve gente que comeu carne do boi vacinado. Imagina! Essas pessoas
podem estar doentes. Tomaram água contaminada, comeram peixe
contaminado, camarão contaminado. Esse dinheiro vai dar pra alguma coisa?
Eu fiquei muito triste, porque se eu tivesse lá essa coisa não teria acontecido.
Pelo menos teria recebido de uma vez. Faltou argumento. Veja bem, o
Ministério Público, juiz, eles já estão querendo se ver livres dos problemas.
Então, quanto mais resolver isso logo, pra eles é melhor. Então se espera da
gente e ele sabe que o povo não tem conhecimento. O juiz fala “olha”, os
caras falam “não dá pra pagar por isso, isso, isso, não temos condições, até
porque não tem provas de que as pessoas tão doentes, já acabou, a água já
levou tudo, não existe mais contaminação”, já tem um instituto aí, que é até
do estado, que fez uma perícia lá e disse que a água tá normal, não tem
problema nenhum. Do estado! Enquanto a Universidade fez lá [tenta lembrar
o nome do laboratório - LAQUANAM], da professora Simone, esse laboratório
fez perícia lá e constatou chumbo nas pessoas, bário, cádmio, constatou
alumínio, ferro, níquel e mercúrio, inclusive no cabelo. O Ministério [Público]
Federal tá entrando com uma ação pra cobrar esses danos, com base nesse
laudo. Eu tenho minha preocupação com relação a isso, deles ganharem ou
não, porque eu estive lá em Brasília, lá no Instituto de Perícia Científica da
Polícia Federal e onde nós fomos pra requerer que eles viessem fazer a
perícia, porque as empresas só respeitam e acatam os laudos feitos por esse
instituto. Aí nós solicitamos do MPF, do MPE, da Defensoria Pública do
Estado e da União e até hoje não conseguimos fazer a perícia. O que o
Evandro Chagas apresenta, o que a Universidade apresenta não vale nada,
as empresas questionam. Então teve muita gente que entrou com ação aí,
até individuais e não consegue. Então nós precisamos ser mais ousados,
sabe? Aí agora nós vamos partir pra isso, nós vamos fazer pressão.
Dona Selma também considera que o acordo feito não foi interessante, pois
quando se pensa o valor pago dividido pela população atingida - tendo sido
considerado atingidos tanto os moradores de Vila do Conde, quanto da Vila de Beja,
em Abaetetuba, até a Ilha das Onças, em Belém -, o valor se torna irrisório, ainda mais
porque foi previsto o pagamento em seis parcelas. Relata que a população aceitou de
imediato esse valor, porque muitos entenderam - contou que em um jornal a repórter
falou que o valor da indenização era de 13 milhões para cada comunidade atingida,
quando na verdade esse seria o valor total do acordo. Ressaltou que a população
acredita que receberá um valor maior, quando na verdade, pelos cálculos que eles
fizeram será algo em torno de 2 mil reais para cada família, parcelado em seis vezes.
Declarou, ainda, que defendia a ideia - que ela e seu João propuseram no início
do processo - como um acordo mais adequado, que seria: o pagamento de três
salários mínimos para cada família atingida mensalmente, a contar desde o dia do
125
naufrágio, até que se resolvesse a situação, pela retirada do navio, pela retirada dos
bois e pela constatação de que cessou a poluição decorrente desse incidente. Essa
proposta surgiu após experiência anterior de indenização parecida em um caso de
vazamento de rejeitos da empresa Imerys.
Os pescadores, dona Ana e seu Antonio, disseram também discordar do acordo
firmado na justiça, por considera-lo injusto, pois acharam o valor baixo e que ainda vai
ser parcelado. Além disso, discordam das listas de atingidos formuladas.
Seu Antonio considerou injusta a diferenciação do percentual de indenização
somente pelo local de moradia. Disse que achava que o correto seria que o Ministério
Público fizesse o levantamento dos atingidos e que considerasse como mais atingidos
aqueles que dependem do rio, que foi poluído em razão do naufrágio. Portanto,
deveriam ser considerados mais atingidos os pescadores e os barraqueiros da praia.
Seu Pedro disse também não concordar com o acordo na justiça, pois fizeram
uma classificação - reclamou que não aguenta mais essas classificações e cadastros
- e que por isso vai receber uma mixaria, se referindo aos percentuais da indenização
disponibilizados para cada área atingida, pois é morador do bairro de Curuperé, ao
lado de Vila do Conde.
6
Para acompanhamento do caso, acessar: <www.mpf.mp.br/pa/haidar>.
7
Pessoas que não constam em cadastros municipais, portanto, ainda não confirmadas para receber a
indenização.
126
lista não incluiu as famílias diferentes que moram na mesma casa, como, por exemplo,
a situação de um de seus filhos, que já é casado e tem filhos, mas mora na casa dela.
Nesse sentido, Mello (2016) aponta que a contagem oficial de “unidade familiar”
quando referente a certos grupos sociais não considera a pluralidade de arranjos
familiares, pois “uma casa comporta muitas famílias e uma mesma família distribui-se
por muitas casas”.
Dona Selma completou relatando que os frutos das árvores caem antes de
amadurecer, a mandioca queima embaixo da terra, e os peixes no rio diminuíram.
Seu Pedro relatou que a noite sai muita fuligem das chaminés das fábricas, que
às vezes cobre os móveis da casa de poeira, mas que as empresas alegam que a
fumaça que sai das chaminés é só vapor d’água. Disse, ainda, que gostaria de sair de
lá, porque não vê solução para a situação deles. Relatou que antes da chegada das
indústrias e da poluição, eles saiam para pescar e voltavam cedo porque tinha muito
peixe, além disso botavam muitos matapis8 e todos ficavam cheios de camarão e hoje
não tem mais camarão. Disse, também, que as plantas não são mais as mesmas, a
mangueira em frente de sua casa só dá só mangas pequeninas e o açaí, às vezes,
cai do cacho seco.
Dona Selma falando sobre o risco oferecido pelas bacias de rejeitos das
indústrias:
Existem bacias aqui (vocês viram, fizeram a matéria pela Record) que os
próprios peritos do ministério público federal já foram lá e já detectaram que
elas vão romper, qualquer hora dessa. Elas vão trincar. Aí tem morador no
lado. Nós temos essa bacia da Alunorte que é uma bacia enorme. Elas são
bacias de contenção, que a hora que isso romper é uma catástrofe, né? Da
última vez que vazou era umas 11 horas da noite, era onda de caulim nas
estradas. Sorte que tem igarapé, porque se ela desce de uma vez, tinha
matado todo mundo.
8
De acordo com definição do Dicionário Informal, Matapi: “Armadilha cilíndrica, confeccionada com tala
de miriti, utilizada para capturar camarão nos rios da Amazônia”. Disponível em:
<https://www.dicionarioinformal.com.br/significado/matapi/9954/>. Acesso em 03 jun 2018.
128
Seu Pedro, ao comentar sobre uma possível saída da Hydro de Barcarena após
a descoberta dos dutos clandestinos que despejavam rejeitos irregularmente no rio,
disse “pra mim não faz a menor diferença”, pois a empresa não teria oportunizado
nada de bom para sua família, portanto sua saída não seria sentida. Disse que sempre
130
teve o que comer e o que vestir antes das indústrias chegarem a Barcarena e que
continuaria assim.
Portanto, ainda que possa haver ameaça de deslocamentos – ou chantagem
locacional - pelas empresas, enquanto prática que submete áreas habitadas por
população pobre e não branca a convivência com o meio ambiente poluído, alguns
grupos sociais têm propensão de resistência maior, como os pescadores, que
dependem dos recursos naturais proporcionados pelos cursos d’água. Esse
posicionamento de maior resistência dos pescadores se verificou também na pesquisa
realizada por Raulino (2009):
Nos dois casos relatados acima – dos pescadores da AHOMAR, em Magé, e
o do Centro Comunitário, em São João de Meriti – nos quais os
representantes das instituições tiveram uma postura de maior resistência à
proximidade com os empreendimentos pesquisados, pode-se supor que o
discurso mais crítico que enunciaram estaria relacionado ao fato das
lideranças fazerem parte de instituições que se situam em locais onde a
carência de infra-estrutura urbana é maior e a possibilidade de emprego nos
empreendimentos pesquisados era remota ou vista como inexistente; ou
ainda de regiões onde os empreendimentos são vistos apenas como fonte de
riscos/danos, pois além da questão da baixa “empregabilidade”, estariam
prejudicando as fontes de subsistência dos integrantes das instituições
pesquisadas, além das empresas em questão não contribuírem para a
arrecadação de seus municípios, o que poderia se reverter em políticas
governamentais para as localidades. Resumidamente, estariam menos
sujeitos aos efeitos da “chantagem de localização”. (p. 125)
Seu João apresentou uma das pautas que eles têm tentado conseguir:
Nós temos trabalhado muito na criação dessa central de gerenciamento,
monitoramento e controle ambiental. Nós tivemos na Bahia no polo
petroquímico de Camaçari, que tem 60 indústrias, e ali tem uma empresa que
foi contratada pelas empresas localizadas lá, junto com o governo do estado
e do município, e lá eles fizeram uma organização e ali eles têm uma
organização feita entre eles, onde as empresas pagam o contrato dessa
empresa que faz o monitoramento, o controle, faz o tratamento dos resíduos
sólidos e líquidos. Então eles só soltam nas águas a água quando já está
131
Em uma das entrevistas realizada em 2018, seu João explicou mais sobre as
disputas que ocorrem dentro das discussões do Fórum Intersetorial:
No começo havia muito desconhecimento do papel do Fórum, sabia-se no
papel, mas [não se sabia] na prática como se dava isso. São três interesses
diferentes, então o interesse do poder público não é o mesmo das empresas,
que não é o mesmo da sociedade civil. Então, essas nossas diferenças são
debatidas lá e a gente tenta levar. Aquele que tem mais capacidade de
argumento, de convencimento - é por convencimento, não é por votação. Veja
bem, tem momentos em que o poder público, o que é mais fácil de acontecer,
se junta com as empresas, contra nós. Mas tem vezes, que a gente usa uma
estratégia de jogar as empresas de encontro ao poder público. Qual o
interesse do poder público com relação as empresas? Arrecadar imposto,
gerar emprego, porque gerar emprego, gera voto. Como nós temos
conhecimento de tudo isso, a gente quebra eles. Eles ficam sem força, sem
ação, da forma como a gente fala. É uma forma que não é muito ofensiva,
mas acaba sendo, né? E eles sentem. E as empresas, a gente sabe da
responsabilidade social delas, então a gente vai pra cima, cobra das
empresas o compromisso delas da responsabilidade social, porque na
133
Dona Selma relata que ela e seu João fazem uma luta em Barcarena por uma
via legítima, portanto, são contra o vandalismo, por isso, eles se envolvem e acreditam
no Fórum Intersetorial de Barcarena. Ponderou que os representantes da sociedade
civil no Fórum lutam através da argumentação para conquistar os pleitos de interesse
da sociedade civil. Entretanto, ressalta que é uma luta muito difícil, pois empresas e
governo se coligam, de certa forma, contra a comunidade, tornando muito difícil as
conquistas dentro desse espaço, ainda que eles acreditem que essa seja a forma
“correta” de luta.
Mesmo tendo se posicionado contra o “vandalismo”, dona Selma relata
experiências de ações direta, tais como fechamento de vias, queimada de troncos na
frente das fábricas para impedir o funcionamento, em momentos que eles
consideraram que não havia como dialogar. Afirma que ela e seu João exercem um
papel com muita legitimidade. Essa legitimidade faz com que lideranças comunitárias
procurem por eles em diversos momentos para integrar outras pautas, mas ela
ressalta que tomam muito cuidado e costumam divergir dessas lideranças quando
eles percebem que as lideranças estão movidas por interesses próprios. Relata,
ainda, que muitas dessas lideranças tiveram formação política no projeto do IEB,
decorrente do TAC de vazamento da Imerys. Dona Selma defende que a partir do
momento em que as lideranças tomam conhecimento dos acontecimentos e pautam
as lutas representando uma comunidade, deveriam garantir os interesses da
comunidade como um todo e não interesses individuais.
Portanto, verifica-se que, apesar de reconhecer a dificuldade de obter
conquistas através do Fórum Intersetorial, dona Selma e seu João continuam
apostando nesta via de disputa, pois lhes garante legitimidade e transparência quanto
a sua atuação.
134
4.3.9.2 O remanejamento
Como já mencionado, há um Inquérito Civil processado administrativamente no
Ministério Público Federal que tem, como uma das questões discutidas, o
remanejamento de moradores de Vila do Conde e outros bairros do entorno, que não
desejam mais permanecer naquela área. Alguns dos entrevistados compõem o grupo
que deseja sair do entorno das fábricas. Seu João e dona Selma integram o grupo de
trabalho que auxilia o Ministério Público no seguimento do procedimento. Não será
aqui apresentada análise desse inquérito, por não ser objetivo desta pesquisa, mas
apenas demonstrar, através desse caso, a posição de alguns moradores de Vila do
Conde, que não acreditam mais ser possível conviver com tanta proximidade das
fábricas localizadas no município. Dessa forma, seu João relatou:
O que acontece: não existe mais condições de sobrevivência lá, por isso, eu
gostaria de estar lutando pela permanência do povo lá, lutando por estrutura,
como escola, posto de saúde, saneamento, urbanização, moradia, tudo isso.
Mas, infelizmente, eu tenho que estar lutando pra retirada do povo pra não
morrer. E aí, a gente quer uma indenização justa e a garantia de eles terem
um outro lugar. Essa tem sido a nossa luta. A gente tem sido questionado,
inclusive tem um holandês, não sei se tu conhece, aí da Universidade, um
professor, ele questiona a gente, porque ele defende isso, permanecer. Ele
acha que é possível desfazer tudo isso e ter um ambiente saudável. Só se
tirasse todas as fábricas. Não tem como, isso tinha que ser antes,
acompanhar quando eles fossem se implantar, fiscalizar, acompanhar
licitações, licenciamento, não fizeram isso no começo.
Dona Selma disse que a população que resta hoje em dia é muito pequena,
portanto, o poder das empresas em relação à população é muito discrepante. Pontuou
que a população que deseja sair de lá, quer que seja de uma forma justa, por isso o
procedimento que corre no Ministério Público Federal, de maneira que esses
moradores não sejam retirados como outros já foram anteriormente - de forma que
considera injusta, “sem pagar nenhum centavo pelas terras”. Portanto, no período das
últimas entrevistas, dona Selma disse que essa tem sido a luta deles, que se pague
um valor justo, pela metragem da terra que eles ocupam, além do pagamento das
benfeitorias.
O conflito se dá, nesse caso, em razão do valor de avaliação das áreas
ocupadas e suas benfeitorias, pela CODEC (Companhia de Desenvolvimento
Econômico do Pará), órgão de fomento de políticas para a industrialização. A CODEC
não considera muitos daqueles moradores como populações tradicionais, o que
também tem gerado conflito. Entretanto, dona Selma pondera que nem todos devem
ser considerados populações tradicionais, que é importante fazer a separação dos
135
que são ocupantes (que chegaram depois) e não são nascidos na terra, dos que são
populações tradicionais, já que ao se pedir que considere todas aquelas famílias
populações tradicionais ficaria mais difícil garantir que a CODEC pague o valor correto
da metragem da terra. Disse que estão travando essa luta no procedimento de
remoção para que não aconteça o que houve com muitas famílias, que foram
inteiramente remanejadas, sem um procedimento democrático, no qual elas fossem
ouvidas, consultadas e informadas sobre o procedimento de remoção.
Seu Pedro explicou que gostaria de sair do bairro do Curuperé, onde vive, ao
lado da fábrica da Imerys e próximo à Vila do Conde, por não acreditar mais ser
possível recuperar a natureza, após tantos anos de poluição, que seria impossível tirar
tudo que já foi jogado no rio Pará.
Entretanto, há aqueles que não desejam sair, como dona Tereza, barraqueira,
que disse acreditar ser preciso que as pessoas se empenhem em melhorar Vila do
Conde. Protestou dizendo que não aparece ninguém para investir no turismo na praia
de Vila do Conde, que as melhorias na barraca em que trabalha foram feitas por ela e
pelo marido. Disse que gosta de morar e trabalhar em Vila do Conde e me questionou
o que eu faria no lugar dela nessa situação, ao que eu respondi que não sabia, ela
retrucou que eu iria embora, que não iria ficar passando por isso, mas que ela não
pode ir embora, porque não tem para onde ir, aquela é a casa e o trabalho dela e que
gostaria de continuar lá, mas que as coisas melhorassem e que parassem de falar
mal de Barcarena e Vila do Conde.
dito logo em minhas primeiras conversas com os moradores da cidade. Ainda que eu
tentasse me ater ao caso do naufrágio - que a mim, naquele momento, parecia um
desastre sem precedentes -, as falas de meus interlocutores sempre eram
perpassadas por relatos de outros incidentes, além dos relatos acerca do impacto que
as empresas causam no cotidiano das comunidades, pela soma de danos ambientais
ao longo das últimas décadas. Conforme 9 dito por seu João:
Esse naufrágio foi de grande proporção que aconteceu, mas já vinham tendo
contaminações. Nosso ar, que tem 40 vezes acima do que é permitido pela
legislação ambiental, constatado por perícia feita pelo Instituto Evandro
Chagas. Nossas águas contem metais pesados, tem chumbo, tem bário, tem
alumina, tem também outros tipos de bactérias, tem nitrato.
9
Além dos demais relatos apresentados no item 4.6.7 deste capítulo.
10
Em julho de 2017, menos de um ano após o naufrágio do navio Haidar, o governo do estado do Pará
divulgou a intenção de ampliação do porto, o que seria justificado como uma demanda social e de
desenvolvimento: “O secretário Adnan Demachki observa que é urgente a ampliação do Porto de Vila
do Conde para o atendimento dos padrões internacionais de logística num resgate histórico de uma
demanda da economia do Pará. No passado a sociedade paraense culpou os políticos paraenses por
permitir que o minério da Vale fosse escoado pelo Maranhão, como se tivéssemos perdido para o
Estado vizinho o nosso minério e parte do desenvolvimento”. Disponível em:
<http://sedeme.com.br/portal/estado-busca-competitividade-internacional-para-porto-de-vila-do-
conde-em-barcarena/>. Acesso em 08 jul 2018.
138
nós, não deveria o Banco Mundial estar incentivando mais a migração de indústrias
poluentes para os países menos desenvolvidos?”11.
A divulgação de projetos de desenvolvimento na Amazônia, que busca legitimá-
los, foi atrelada a ideia de completo vazio demográfico ou da ideia de “muita terra para
pouco homem”, entretanto, o que se verifica na escolha locacional de projetos
potencialmente poluidores são lugares habitados por classes pobres e\ou minorias
étnico-raciais, que representam a camada social que não consegue interferir nos
processos políticos decisórios.
Viégas (2006) define algumas características que seriam comuns aos lugares
que se configuram como zonas de sacrifício, quais sejam: concentração de múltiplas
atividades ambientalmente agressivas; moradia de população de baixa renda e
minorias étnicas, que dispõem de menor capacidade de se fazer ouvir em espaços
públicos, de forma que têm dificuldade de resistir aos efeitos da distribuição desigual
dos danos ambientais; e desregulação ambiental e isenções tributárias, que buscam
atrair cada vez mais empreendimentos para o local, não importante quais os custos
sociais e ambientais da escolha locacional.
A explicitação de dados alarmantes de indignidade humana e falta de
infraestrutura urbana deveria direcionar para o local a prestação de serviços
públicos de saúde, educação, assistência social, saneamento e demais
medidas de contenção de riscos. Ao contrário, a precariedade social e
econômica potencializa a fragilidade política dessas populações e sobre elas
passam a ser depositados empreendimentos altamente perigosos, que por
sua vez, contribuirão para o agravamento dessa precariedade e da fragilidade
política, assim como para a completa e irresponsável degradação ambiental.
(PIRES; GUIMARÃES, 2016, p. 2)
11
ACSELRAD, Henri; BEZERRA, Gustavo das Neves. Desregulação, deslocalização e conflito
ambiental: considerações sobre o controle das demandas sociais. In: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno
de et al. Capitalismo globalizado e recursos territoriais. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. P. 179 – 209.
140
quando verificados, poderiam ter sido causados por qualquer dos empreendimentos.
As perícias, muitas vezes, não conseguem apontar com precisão quais fatos
desencadearam determinado dano ambiental, ou, quando é possível, muitas vezes o
dano é consequência de uma somatória de incidentes poluentes. A dificuldade de
atribuição de responsabilidade por níveis de poluição verificados em zonas de
sacrifício torna cobrança por reparação e indenização (até mesmo a
responsabilização criminal) também difícil, já que as empresas costumam não assumir
os danos e alegar que se trata de uma localidade onde se sediam diversas empresas
potencialmente poluidoras.
No caso do naufrágio do navio Haidar, as perícias verificaram a existência no
rio de certas substâncias em altas quantidades, assim como afirmaram que essa
presença tornava o ambiente inadequado para a vida marinha e tornava a água
imprópria para a utilização. Ademais, as perícias apontavam a decomposição dos bois
no fundo do rio como possível causa da presença em quantidades altas dessas
substâncias. Essas constatações periciais embasaram a defesa de que não seria
possível atribuir responsabilidade às empresas envolvidas na exportação de bois
vivos – mesmo após o naufrágio e permanência do navio e carcaças bovinas no rio
Pará – pela poluição alegada nos laudos, pois a cidade de Barcarena sedia diversos
empreendimentos que exercem atividades poluidoras.
142
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1
Entendendo o imperialismo capitalista “como uma fusão contraditória entre ‘a política do Estado e do
Império’ (o imperialismo como projeto distintivamente político da parte de atores cujo poder se baseia
no domínio de um território e numa capacidade de mobilizar os recursos naturais e humanos desse
território para fins políticos, econômicos e militares) e ‘os processos moleculares de acumulação do
capital no espaço e no tempo’ (o imperialismo como um processo político-econômico difuso no espaço
144
e no tempo no qual o domínio e o uso do capital assumem a primazia). Com a primeira expressão
desejo acentuar as estratégias políticas, diplomáticas e militares invocadas e usadas por um Estado
(ou por algum conjunto de Estados que funcionam como um bloco de poder político) em sua luta para
afirmar seus interesses e realizar suas metas no mundo mais amplo. Com essa última expressão,
concentro-me nas maneiras pelas quais o fluxo do poder econômico atravessa e percorre um espaço
contínuo, na direção de identidades territoriais (tais como Estados ou blocos regionais de poder) ou em
afastamento delas mediante as práticas cotidianas da produção, da troca, do comércio, dos fluxos de
capitais, das transferências monetárias, da migração do trabalho, da transferência de tecnologia, da
especulação com moedas, dos fluxos de informação, dos impulsos culturais e assim por diante.”
(HARVEY, 2005, p. 31/32)
145
2
A preservação de formas arcaicas da economia agrária é o que Francisco de Oliveira chamou de uma
“especificidade particular” do processo de industrialização brasileiro.
146
3
Para além da concepção marxista de acumulação primitiva, enquanto o momento do fim do modo de
produção feudal e início do sistema de produção capitalista, considera-se aqui a acumulação primitiva
como movimento constante do capitalismo, que continuamente expropria territórios, recursos e
conhecimentos de seus possuidores para sua inserção na lógica capitalista.
147
4
Artigo 225 da Constituição Federal de 1988, que assim dispõe: “Art. 225. Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações”.
5
“fluxos, transferências e interações físicas e materiais que concorrem no e ao longo do espaço de
maneira a garantir a produção e a reprodução social” (HARVEY, 1992 apud ACSELRAD, 2010)
149
REFERÊNCIAS
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no Brasil. In: CLACSO, Ecología política Naturaleza, sociedad y utopia, Buenos
Aires: 2002. p. 115 – 135.
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71.2015.4.01.3900. Juiz: Arthur Pinheiro Chaves (9ª vara de Belém), 2015.
COLE, Luke W.; FOSTER, Sheila R. The political economy of environmental racism:
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environmental racism and the rise of environmental justice movement. Nova Iorque,
New York University Press, p. 34 – 53, 2001.
FARRANHA, A. C.; FREZZA, C. S.; BARBOSA, F. O. A nova lei dos portos: desafios
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<http://www.scielo.br/pdf/rdgv/v11n1/1808-2432-rdgv-11-1-0089.pdf>. Acesso em:
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FUKS, Mario. Conflitos ambientais no Rio de Janeiro - Ação e debate nas arenas
públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. 244 p.
155
HARVEY, David. O Novo Imperialismo. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004. 196
p.
HEINRICH BÖL FUNDATION. Atlas da carne: fatos e números sobre os animais que
comemos. Rio de Janeiro: 2015.
VIÉGAS, Rodrigo Nuñes; PINTO, Raquel Giffoni; GARZON, Luis Fernando Novoa.
Negociação e acordo ambiental: o termo de ajustamento de conduta (TAC) como
forma de tratamento de conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll,
2014.
ZICA, João Paulo Uchoa. Um olhar deleuziano sobre os direitos humanos. 2013. 53
f. Monografia (Graduação em Filosofia) – Departamento de Filosofia, Universidade
de Brasília, Brasília, 2013.
160
ANEXOS
Anexo A – Fotos da Audiência Pública sobre o vazamento de rejeitos da empresa
Hydro Alunorte, realizada em 22 de março de 2018:
Denúncias em Cartazes
162
163
164