Economia Relações Internacionais e Sociedade 2007
Economia Relações Internacionais e Sociedade 2007
Economia Relações Internacionais e Sociedade 2007
Internacionais e
Sociedade
Perspectivas do Capitalismo Global
Projeto Editorial Praxis
http://editorapraxis.cjb.net
Editora Praxis
2007
Copyright do Autor, 2007
ISBN 85-99728-12-1
Conselho Editorial
Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior – UNESP
Prof. Dr. Ariovaldo de Oliveira Santos – UEL
Prof. Dr. Francisco Luis Corsi – UNESP
Prof. Dr. Jorge Luis Cammarano Gonzáles – UNISO
Prof. Dr. Jorge Machado – USP
Prof. Dr. José Meneleu Neto – UECE
Prof. Dr. Vinício Martinez - UNIVEM
Produção Gráfica
Canal6 Projetos Editoriais
www.canal6.com.br
E17
Economia, relações internacionais e sociedade: pers-
pectivas do capitalismo global / organização de: Fran-
cisco Luiz Corsi, José Marangoni Camargo, Marcos Pires
Cordeiro e Rosangela de Lima Vieira – Londrina: Praxis;
Bauru: Canal 6, 2007.
228 p. ; 21 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 85-99728-12-1
CDD 301
Giovanni Alves
apresentação
Economia, relações internacionais e sociedade
apresentação
Economia, relações internacionais e sociedade
dial. Neste livro, pelo menos dois autores – Francisco Corsi e Marcos Pires Cordeiro,
tratam diretamente das perspectivas da China no cenário mundial do século XXI.
Entretanto, embora a China como nova fronteira de modernização intensiva do ca-
pital, possa deslocar, pelo menos em termos econômicos, o poder hegemônico dos
EUA e da União Européia, a médio ou longo prazo, seu “modelo de desenvolvimento”
não rompe com o modo de reprodução do metabolismo social baseado, por um lado,
na sobreacumulação de valor e superexploração de trabalho vivo e, por outro lado,
na opção irremediável do desenvolvimento centrado no modelo energético vigente
(a queima de combustível fóssil). Portanto, o hiper-industrialismo do capital que se
desenvolve na China é deveras preocupante na perspectiva da ecologia humana (seja
no tocante ao caos climático, seja no tocante a desvalorização da força de trabalho).
O que significa que o século XXI, com certeza, tende a abrir novas (e espeta-
culares) perspectivas de desenvolvimento das contradições objetivas do capitalismo
global, não apenas com o protagonismo da China na economia política mundial, mas
com o surgimento na América Latina de novas experiências reformistas de cunho
nacionalista-democrático (um tema tratado, neste livro, pelos ensaios de Tullo Vi-
gevani e Marcelo Fernandes, um dos contundentes críticos do novo “populismo”
latino-americano). Hoje, a América Latina é o grande celeiro de novas experiências
de organização social contrárias às ortodoxias neoliberais. Por outro lado, ocorrem
novos fenômenos sócio-antropologicos da mais alta relevância, seja no campo da
intensificação de fluxos migratórios da força de trabalho, seja no campo dos mo-
vimentos sociais na cidade e no campo, sob o estigma da exploração e da exclusão
social, com destaque para o Brasil. Com certeza, os ensaios deste livro contribuem
para uma interpretação dos novos tempos do capitalismo global.
Referencias
MÉSZÁROS, István (2003) O Século XXI – Socialismo ou barbárie? Editora Boitempo, São Paulo.
SUNDARAM, J. e BAUDOT, Jacques (2007). Flat World, Big Gaps: Economic Liberalization, Globalization
and Inequality. Zed Books, New York.
10
Sumário
13 Capitulo 1
A economia mundial no período recente
Francisco Luiz Corsi
31 Capítulo 2
A globalização econômica: uma leitura conjuntural e estrutural
Rosângela de Lima Vieira
41 Capítulo 3
O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da
América Latina: 2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Marcos Cordeiro Pires
67 Capítulo 4
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
Juan Carlos Miranda Castillo
85 Capitulo 5
Os novos paradoxos latino-americanos
Tullo Vigevani
101 Capitulo 6
América latina: vulnerabilidade social,
instabilidade democrática e “neopopulismo”
Marcelo Fernandes de Oliveira
113 Capitulo 7
As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de Campinas nos séculos xix e xx
Paulo Eduardo Teixeira
11
127 Capitulo 8
Do rural ao urbano: Migrações Internas no Brasil no século XX
Odair da Cruz Paiva
137 Capitulo 9
Migraciones de trabajadores en Europa:
de la política estatal a la comunitária
José Blanes Sala
157 Capitulo 10
Processos de exclusão social no Brasil
Edemir de Carvalho
165 Capitulo 11
Direitos Humanos e luta pela igualdade
José Geraldo A. B. Poker
181 Capitulo 12
Evolução recente da ocupação agrícola no brasil
José Marangoni Camargo
195 Capitulo 13
Entre o local e o global: o Movimento dos Sem Terra,
a Via Campesina e a agricultura brasileira
Mirian Claudia Lourenção Simonetti
205 Capitulo 14
Algumas considerações sobre estratégias identitárias da
militância negra
Andreas Hofbauer
Capitulo 1
A economia mundial no
período recente
14
Francisco Luiz Corsi
PIB tinha sido de 4,9%. Na Europa Central e Oriental, a situação foi mais dramática
depois da dissolução da URSS. A região apresentou crescimento negativo de 3,2%
entre 1991 e 2000, enquanto que no período 1958-1973 tinha crescido 4,5%. Na Oce-
ania também observamos tendência ao baixo crescimento, com uma média anual
de 3,2% entre 1991-2000. A situação da África também não foge ao quadro geral;
o crescimento médio anual do PIB alcançou a cifra de 2,9% nos anos 1990, contra
um crescimento médio de 4,7% no período 1958-1973 (Gonçalves, 2002, p. 111). O
PIB latino-americano cresceu em média 5,5% por ano na década de 1960 e 5,6%
na década seguinte. Entre 1981 e 1990, esse incremento foi de 0,9%. Entre 1990 e
1997, o crescimento médio anual do PIB foi de 3,3% (Cano, 1999, p. 294-311). Porém,
a melhora observada na primeira metade da década de 1990 sofreu forte reversão.
De 1997 a 2002, quando a economia globalizada entrou em declínio, depois da crise
asiática seguida das crises russa, brasileira e argentina e do lento estouro da bolha
especulativa de Wall Street, segundo dados apresentados pela CEPAL, a economia
latino-americana encontra-se estagnada. No referido período, o PIB da região cres-
ceu em média 1%, enquanto o crescimento demográfico foi de 1,5% , o que acarretou
uma queda do PIB per capita de 1,45% no período. O caso mais grave foi o da Ar-
gentina, que, entre 1999 e 2002, teve uma retração de cerca de 20% do PIB, de 10,9%
só em 2002. Níveis comparáveis aos da Grande Depressão dos anos 1930 (CEPAL,
2003). Entre 1991 e 2003, o crescimento médio anual do PIB da América Latina e do
Caribe, segundo Singh (2005), foi de 2,8%.(Corsi, 2006, p. 24-25).
As causas do largo período de lento crescimento são complexas e polêmi-
cas. Fugiria do escopo dessas breves notas esgotar a questão. Chesnais (2005)
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A economia mundial no período recente
te o problema, embora as vozes discordantes tenham ganho cada vez mais espaço,
mesmo no interior das correntes ortodoxas, com o fracasso dos ajustes neolibe-
rais levados acabo por inúmeras economias periféricas. A obra Os malefícios da
globalização de Stiglits (2002) talvez seja o exemplo mais notório das crescentes
críticas a globalização nas correntes conservadoras. No campo da esquerda também
não há consenso.
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Francisco Luiz Corsi
Segundo Brenner (1999), a superprodução tem persistido, até hoje, devido a uma série
de fatores: 1- a existência de enormes montantes de capital fixos não totalmente de-
preciados em vários ramos de produção. Seria irracional destruir esse capital já pago
enquanto fosse possível auferir retornos razoáveis sobre o capital circulante. Desta
forma, as empresas não saem dos ramos em superprodução. 2- As grandes empresas
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A economia mundial no período recente
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Francisco Luiz Corsi
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A economia mundial no período recente
A Alemanha cresceu em média por ano 1,9% na década de 1990, os salários reais
subiram 0,95%( média anual), a produtividade do trabalho 1,7% e a taxa de desem-
prego situou-se em 8,2% ao longo do período(Brenner, 2003, p. 93; Corsi,2006).
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Francisco Luiz Corsi
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A economia mundial no período recente
virtude das altas taxas de juros, necessárias para atrair um volume crescente
de capitais para fecharem os também crescentes déficits em suas contas ex-
ternas. Os resultados de tudo isso, bastante visíveis no México, no Brasil e na
Argentina, foram a crescente vulnerabilidade das economias nacionais ante
as oscilações da economia mundial, o incremento da dependência em relação
ao capital estrangeiro e a estagnação econômica, que implica aumento do de-
semprego e deterioração da situação social de vastas parcelas da população.
A inconsistência da estratégia neoliberal ficou evidente já na crise do México
em 1994 e reforçada nas crises do Brasil e da Argentina a partir de 1998. Essas
crises, fruto em larga medida da própria instabilidade na economia mundial
decorrente dos voláteis fluxos de capitais especulativos, acabaram por poten-
ciar essa mesma instabilidade (Corsi, 2002, 2006).
O impacto dos crescentes déficits em transações correntes e as exporta-
ções de capitais dos EUA foram de grande importância para estimular as eco-
nomias asiáticas. Ásia passou incólume pela crise do México e continuou em
sua trajetória de elevado crescimento, baseada na superexploração da força de
trabalho, na introdução de tecnologia moderna, na sua forte articulação com a
economia norte-americana e em projetos de desenvolvimento que defendiam
uma estratégia voltada para as exportações e ampla ação estatal na economia.
A desvalorização do dólar, iniciada em 1985, beneficiou os países do Leste Asiá-
tico, que tinham atrelado suas moedas à norte-americana, ao propiciar grande
incremento de suas exportações, particularmente para os EUA. Também foram
beneficiados por vultosos investimentos estrangeiros, em busca de valorização
rápida do capital. Ante a valorização do yen imposta pelos EUA e contando com
amplo financiamento dos bancos de seu país, as grandes corporações japonesas
aprofundaram o movimento de expansão de suas empresas na região, em espe-
cial na Coréia e na China. A retomada da economia norte-americana puxou as
economias asiáticas, beneficiando sobretudo a China, que tinha desvalorizado o
yuan em 50% em 1994 e a partir daí manteve o câmbio estável (Corsi, 2006).
A exceção foi à economia japonesa, que permaneceu estagnada até 2003
em decorrência sobretudo da valorização do yen até 1995 e do estouro da bolha
especulativa com ações e imóveis em 1991, que expôs vulnerabilidade do setor
O PIB dos países em desenvolvimento da Ásia cresceu, entre 1987 e 1996, 7,8% ao
ano. Para o período 1997-2005, esse crescimento médio foi de 5,9% (FMI/perspec-
tivas de la economía mundial, 2005, p. 229).
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Francisco Luiz Corsi
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Francisco Luiz Corsi
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A economia mundial no período recente
as exportações como para seu imenso mercado interno? Várias análises apontam
nesse sentido, procurando mostrar que o eixo dinâmico da economia mundial se
situa nos EUA e nos países em desenvolvimento da Ásia.
Cabe observar que o crescimento verificado a partir de 2003 não se con-
centra mais em duas regiões, Leste da Ásia e EUA, como vinha ocorrendo até a
recessão de 2001/2002, e seus índices são semelhantes aos da chamada idade
de ouro do capitalismo. Entre 2003 e 2005, o incremento médio anual do PIB
da África foi de 4,8%, da Europa Oriental de 5,1%, do Oriente Médio de 5,9%
e da América Latina de 4,1%. Esta última região cresceu sobretudo devido a
forte elevação das exportações de bens primários, decorrentes sobretudo da
expansão chinesa (10,1% em média no referido período) e da onda de especu-
lação com commodites, processos que também impactaram as demais regiões.
Este desempenho sugere uma mudança do padrão de crescimento da economia
mundial (FMI, 2006).
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Francisco Luiz Corsi
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A economia mundial no período recente
Referências
BIANCARELI, A M (2006) “Países emergentes e ciclos internacionais” In: Política econômica em foco.
N. 7 nov.2005/abr.2006. Campinas:IE-UNICAMP. www.eco.unicamp.br
BRENNER, R. (1999) - The economics of global turbulence. In: New Left Review, n. 229.
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Francisco Luiz Corsi
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SADER, E. (org.) – Contragolpes. São Paulo: Boitempo.
______ (2004 e 2005) - Anuario estadístico de América Latina y el Caribe. Santiago: CEPAL – www.
eclac.cl.
____________ (1998) - ‘Rumo a uma mudança total dos parâmetros econômicos mundiais dos
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CINTRA, M. A M. (2005) “A exuberante liquidez global”. In: Economia Política Global: análise
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___________ (2006) – “Economia do Capitalismo global: um balanço crítico do período recente”. In:
ALVES, G.; GONZALEZ, J L; BATISTA, R L (orgs.) – Trabalho e educação. Contradição do capitalismo
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FIORI, J. L. (org.) (1999) - Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes.
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economic cycles. www.imf.org
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A economia mundial no período recente
HOBSBAWM, E. J. (1995) - A era dos extremos. O breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Cia. das
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KRUGMAN, P. (1999) – Uma nova recessão? O que deu errado. Rio de Janeiro: Campus.
LEIVA, O C. (2005) – “Estados Unidos y China: locomotoras en la recuperación y las crisis cíclicas de
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Tendências, problemas e desafios. Buenos Aires: CLCS.
MEDEIROS, C.A (2004)“A economia política da internacionalização sob a liderança dos EUA: Alemanha,
Japão e China”. In: FIORI, J. L. (org.) (2004) O poder americano. Petrópolis: Vozes
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Capítulo 2
A globalização econômica:
uma leitura conjuntural e
estrutural
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Rosângela de Lima Vieira
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A globalização econômica: uma leitura conjuntural e estrutural
Um dos autores que nos fornece elementos para esta linha interpretativa
é Fernand Braudel, o historiador das diferentes temporalidades: longa, média e
curta durações. O corte temporal para estudo é dado a partir da especificidade
de cada fenômeno histórico, isto é, seu ritmo e velocidade de mudança. Enfim,
a noção de tempo equivale ao conceito de movimento: de mudança ou de não-
mudança. Devemos ainda lembrar que para ele a análise ideal de um processo
histórico deve propor uma dialética temporal, ou seja, buscar elementos dos três
diferentes cortes temporais em cada fenômeno estudado.
A longa duração, por exemplo, apresenta-se própria daqueles fenômenos
históricos que mudam muito lentamente e por permanecerem um longo perío-
do são chamados de estruturais. Na metáfora braudeliana estes são os alicerces
de uma casa; podem ser: a distribuição das terras, uma religião, o capitalismo,
etc. São “ ciclos longos, multisseculares” e “movimentos profundos”. (Braudel,
1989b, vol. 2, p. 7-8). Para ele “... entre o passado, mesmo longínquo, e o presente
nunca há ruptura total, descontinuidade absoluta...” (Braudel, 1985, p.53).
A globalização obviamente não foi tema de suas obras, contudo elas con-
têm contribuições tanto de caráter metodológico como de conteúdo para o estu-
do deste tema, visto como fenômeno de longa duração. É possível demonstrar,
no pensamento braudeliano, que existem elementos constitutivos da globaliza-
ção econômica presentes desde a gênese do capitalismo.
O capitalismo apresenta-se desde seus primórdios mercantis como uma
economia internacionalizada, ainda antes mesmo da chamada formação dos
Estados modernos. Em diversas passagens das principais obras de Braudel: O
Mediterrâneo e o mundo mediterrânico e Civilização Material, Economia e Capi-
talismo, expressões como “unidade marítima”, “tráfego mundial” e “economia
mundial” são recorrentes.
Braudel refere-se ao comércio de longa distância, sobretudo a partir do
século XVI. Este torna-se perceptível no mundo urbano, pois
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Rosângela de Lima Vieira
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A globalização econômica: uma leitura conjuntural e estrutural
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A globalização econômica: uma leitura conjuntural e estrutural
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Rosângela de Lima Vieira
Por sua vez, uma análise estrutural, isoladamente, pode transmitir a idéia
de não mudança, de uma história imóvel e sem sujeito. Um eterno continuum
em que não há nada de novo é obviamente inaceitável. Além disso, outros po-
deriam ver na análise estrutural uma leitura teleológica da história, própria da
modernidade, o que também não se apresenta mais como cabível em nosso tem-
po. Neste sentido recomenda-se lembrar que a construção do objeto de estudo
pelo historiador possui necessariamente alguns elementos como corte tempo-
ral, fontes e método de análise. O historiador com esses elementos constrói uma
interpretação lógica daquele processo histórico.
Enfim, é possível uma compreensão mais ampla do fenômeno da globali-
zação econômica a partir do diálogo entre as abordagens conjunturais e estru-
turais. Um exemplo claro é o fato de ambas contribuírem diferentemente para
o entendimento do capitalismo como um fenômeno supranacional. Enquanto
a análise estrutural mostra a internacionalização da economia capitalista an-
tes mesmo da formação de muitas das nações, a visão conjuntural demonstra
claramente o esforço das grandes transações capitalistas de se sobreporem aos
interesses dos Estados nacionais de hoje.
Portanto as abordagens da globalização econômica em conjunto podem
superar as dificuldades detectadas em cada uma delas utilizada isoladamente.
A idéia de que a globalização econômica, ainda que presente desde a gênese do
capitalismo, seja entendida como uma “lei natural” do capitalismo, como vi-
mos, deve ser recusada. Também negar a existência de elementos análogos à
globalização na conjuntura atual, nos séculos iniciais do desenvolvimento capi-
talista seria um desconhecimento histórico. Assim, uma concepção do processo
histórico com continuidades de longa duração e com mudanças conjunturais
parece mais adequada, além de ser mais profícua à complexidade do momento
em que vivemos.
Referências
CHESNAIS, François. A mundialização do capital. Trad. Silvana Finzi Foá. São Paulo: Xamã, 1996.
BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do capitalismo. Trad. Carlos da Veiga Ferreira. Lisboa: Teorema,
1985.
39
A globalização econômica: uma leitura conjuntural e estrutural
__________ . A identidade da França. Trad. Lygia Araújo Watanabe. Rio de Janeiro: Editora Globo,
1989b. 3 v.
__________ . O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Filipe II. 2a ed. Lisboa: Dom
Quixote, 1995a. 2 v.
__________ . Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV – XVIII. Trad. Telma Costa. 3
vols. São Paulo: Martins Fontes, 1995b (v. 1), 1996a (v. 2), 1996b (v. 3)
BUCK-MORSS. Susan. “The Post-Soviet Condition” in Islam, latinité, transmodernité. Rio de Janeiro:
Educam, 2005.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520 – as origens da globalização. Trad. Rosa Freire
D´Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. Edições Progresso, 1987.
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Capítulo 3
O impacto da presença
chinesa sobre o comércio
internacional da
América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Introdução
Ver: “China ultrapassa EUA como maior consumidor mundial”. BBCBrasil.com. Dis-
ponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2005/02/050217_
chinaeuacg.shtml. visitado em 17/02/2005.
O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
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Marcos Cordeiro Pires
América Latina se erige como segundo destino de las inversiones directas no finan-
cieras de China. Agência Xinhua. Disponível em: http://www.spanish.xinhuanet.
com/spanish/2006-04/26/content_246145.htm. Acessado em: 01;05;2006.
Ver Kerry Dumbaugh; Mark P. Sullivan,. “China’s Growing Interest in Latin Ameri-
ca”. Washington-DC. CRS Report for Congress. Order Code RS22119, April 20, 2005.
Disponível em: http://www.uspolicy.be/issues/china/china_usgreports.asp. visita-
do em 11/11/2005 e Peter Hakim. “Is Washington Losing Latin America?”. Foreign
Affairs. January/February 2006.
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O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Tal ameaça vale tanto para a competição no mercado local como para terceiros
mercados, já que produtores instalados no Brasil concorrem com os chineses nos
mercados norte-americano e europeu.
É importante frisar que Chile e Venezuela tiveram, durante o século XX, trajetórias
bastantes distintas, apesar de se configurarem como exportadores de matérias-pri-
mas (cobre o primeiro, petróleo o segundo). O Chile, pelo menos até 1973, foi um
dos países da região que mais avançou no processo de industrialização por substi-
tuição de importações, enquanto que a Venezuela negligenciou a montagem de uma
estrutura industrail mais ampla por conta das receitas obtidas com a exportação
de petróleo. O Chile, após o golpe de 11 de setembro de 1973, trilhou o caminho da
desindustrialização, priorizando a exportação de minérios e de artigos do chamado
“agronegócio”, enquanto que a Venezuela ensaiou um processo de modernização
após o Primeiro Choque do Petróleo, cujos resultados não permitiram ao país dimi-
nuir sua dependência do setor petrolífero.
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Marcos Cordeiro Pires
Merece destaque o estudo publicado pelo BID: CESARIN, Sergio; MONETA, Carlos
(ORG.). China e América Latina: nuevos enfoques de cooperación y desarrollo. Una
segunda Ruta de la Seda? Buenos Aires: BID/INTAL, 2005.
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O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Fonte: Statistical Communiqué of the People’s Republic of China on the 2005 National Economic and Social
Development. National Bureau of Statistics of China. February 28, 2006. Disponível em: http://www.stats.gov.
cn/english/newsandcomingevents/t20060302_402308116.htm. Acessado em 18/mar/2006.
(1) Associação dos Países do Sudeste Asiático, que engloba, entre outros, Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia,
Vietnam e Singapura.
(2) Estimativa. Toma-se por base o índice do incremento do intercâmbio entre Brasil e RPC em 2005. No caso,
25,2% para as exportações e 44,27% para as importações.
Outro aspecto a ser analisado sobre o comércio exterior, diz respeito à pauta
comercial da RPC. De acordo com a tabela 2, o país constitui um importante mer-
cado tanto para bens primários, notadamente matérias-primas, como para bens
industrializados, com destaque para equipamentos e materiais de transporte.
Outro aspecto relevante está no incremento do comércio, em termos gerais. Nes-
se ano, a RPC apresentou um crescimento de 28,4% nas exportações e 17,6% nas
importações. Quando se analisa cada uma das principais categorias, verifica-se
um maior aumento nas importações de bens primários (26,8%) do que de bens
manufaturados (15,4%). O inverso ocorre na pauta de exportação: enquanto que
as vendas de bens manufaturados subiram 29%, as vendas de bens primários su-
biram apenas 20,9%.
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O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
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Marcos Cordeiro Pires
É interessante observar que nem mesmo a disputa política entre Caracas e Washing-
ton refreou o intercâmbio comercial entre os países. Entre 2003 e 2005 o intercâmbio
comercial cresceu 103,2%, particularmente com a oferta de petróleo por parte da
Venezuela. Ver: GROOSCORS, Rafael E. Informe sobre el comportamiento de inter-
cambio comercial de Venezuela con el resto del mundo. VENAMCHAM. Disponível
em: http://www.venamcham.org/Zip/IC.pdf. Acessado em 22/04/2006.
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O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
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O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Tabela 4 – Argentina: Balança Comercial por Tipo de Mercadoria. 2005 (em milhões
de US$)
2004*
Seccion de la nomenclatura arancelaria Exportación Importación
Saldo
FOB CIF
Total 34.550 22.445 12.105
Productos minerales 6.582 1.251 5.330
Productos de la industrias alimentarias, bebi-
5.443 308 5.135
das, vinagre, tabaco y sucedáneos
Productos del reino vegetal 5.493 388 5.106
Grasas y aceites 3.156 40 3.116
Animales vivos e productos del reino animal 2.515 104 2.411
Pieles, cueros y manufacturas 939 72 868
Metales comunes y sua manufactura 1.707 1.463 244
Madera, carbón vegetal, manufacturas de ma-
277 112 165
dera, corcho y de esparteria o cestaria
Perlas finas e cultivadas 142 30 112
Armas y municiones 9 6 4
Objetos de arte, de colección y antigüedades 3 1 2
Mercancias y productos diversos 215 280 -65
Manufacturas de piedra, yeso, cemento, simi-
125 208 -83
lares y manufacturas de vidro
Calzado 21 155 -134
Pasta de madera, desperdicios de papel y
484 663 -180
cartón
Materias textiles e sus manufacturas 463 761 -299
Instrumentos y aparatos de óptica, fotografia,
127 517 -389
cinematografia y sus accessorios
Plástico, caucho y sus manufacturas 1.128 1.640 -512
Material de transporte 2.103 3.616 -1.513
Productos de las industrias químicas y conexas 2.147 4.223 -2.086
Máquinas y aparatos, material eléctrico 1.058 6.361 -5.303
Transacciones especiales 414 238 176
* datos provisorios
Fonte: Elaborado a partir de IDEC. Disponível em http://www.indec.mecon.ar/default.htm. Acessado em
01/05/2006.
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Marcos Cordeiro Pires
11 A respeito das relações entre Argentina e China, ver: “Comércio bilateral Argentina-
China”. Centro de Estudios para la Producción, Secretaría de Industria, Comercio y
Pyme- Ministerio de Economía y Producción, Abril de 2005. Disponível em: http://
www.industria.gov.ar/cep/pancomexterior/actualidad%20comex/combi_arg_chi-
na.pdf.
55
O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Fonte: BCB Boletim/BP - BPN_SBC. Disponível em: www. ipeadata.gov.br. Acessado em 23/04/2006.
56
Marcos Cordeiro Pires
Fonte: Elaborada a partir de: Brasil - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. SECEX. Dados dis-
poníveis em http://www.desenvolvimento.gov.br.
12 A relação de acordos firmados entre Brasil e RPC desde 1975 até 2000 pode ser con-
sultada em: Embaixada da República Popular da China no Brasil. Disponível em:
http://www.embchina.org.br/por/zbgx/t150683.htm. Acessado em 18/03/2006.
57
O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
58
Marcos Cordeiro Pires
Fonte: Elaborada a partir de: Brasil - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. SECEX. Dados dis-
poníveis em http://www.desenvolvimento.gov.br.
59
O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
60
Marcos Cordeiro Pires
61
O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
Considerações Finais
15 TREVISAN, Cláudia. Indústria articula reação contra a China. Folha de São Paulo,
05/06/2005.
62
Marcos Cordeiro Pires
Referências
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O impacto da presença chinesa sobre o comércio internacional da América Latina:
2000-2005 (Venezuela, Argentina e Brasil)
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65
Capítulo 4
Desarrollo económico,
capital humano y política
educativa en Chile
Juan Carlos Miranda Castillo
I. Introducción
68
Juan Carlos Miranda Castillo
en una sociedad post industrial en constante riesgo, marcada por el signo del
miedo: mercados que se hunden; dominio de la carencia en la sobreabundancia;
gobiernos que tiemblan; y votantes indecisos que huyen (Beck, 1998: 11-14).
69
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
70
Juan Carlos Miranda Castillo
En este contexto, Chile, país que hemos considerado como caso de estudio
a los efectos de la presente investigación, se ha propuesto como desafío para los
próximos años: fomentar la educación en todos los niveles y promover el desar-
rollo integral de todas las personas a través de un sistema educativo que asegure
la igualdad de oportunidades, el aprendizaje activo y la calidad a todos los niños
con independencia de su edad y sexo, otorgándoles una educación humanista,
democrática y abierta al mundo, garantizando el derecho a la educación y velan-
do por el buen uso de los recursos públicos.
71
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
72
Juan Carlos Miranda Castillo
el país desde 1990; en tanto, la oposición está representada por una coalición
conservadora centro-derecha llamada Alianza por Chile y por varios partidos
minoritarios, incluidos el Comunista. Estos partidos minoritarios participan en
las elecciones representando los intereses de sus afiliados, aunque sin ninguna
representación parlamentaria por lo difícil que resulta a los partidos pequeños
elegir a sus candidatos bajo un sistema electoral binominal que es el que se
viene aplicando en Chile desde su promulgación en 1989. De esta forma se elige
al Presidente de la República, Senadores, Diputados, Alcaldes y Concejales. La
situación anteriormente descrita se produce porque se permite que un partido
con el 60% de los votos y otro partido con el 40% tengan la misma representaci-
ón en un distrito electoral.
Los derechos políticos y económicos están ampliamente garantizados por
un sistema judicial independiente, el cual está en proceso de modernización
(Nueva Reforma Procesal Penal) con el fin de hacer más expedito el acceso a la
justicia y reducir el tiempo de los procesos. Además, desde 1990 se han elimina-
do las restricciones a la libertad de prensa así como la censura cinematográfica
al tiempo que las libertades individuales han sido fortalecidas.
Para Navia (2001: 3) más que no presentar efectivamente a las mayorías, el siste-
ma binominal incentiva a los partidos a alejarse más que buscar el voto de cen-
tro. Los candidatos precisan sólo obtener un 33,4% (33,333333%+1 en estricto
rigor) de los votos para asegurarse un escaño en la Cámara de Diputados o en el
Senado, y por lo tanto cualquier esfuerzo adicional que hagan para superar esa
votación responde a incentivos externos y ajenos a los de la ley electoral, como
pueden ser una coalición de partidos políticos a través de pactos o subpactos
a la hora de competir. En suma, en el sistema electoral binominal basta con un
tercio de los votos para alcanzar el 50% de los escaños en cada distrito. Ade-
más, no refleja adecuadamente las preferencias del electorado, e incentiva la
polarización del espectro político, ya que resulta difícil a los partidos pequeños
obtener representación en el parlamento. Por tanto, en el sistema chileno para
ser elegido Diputado o Senador debe obtener el 34,4% de los votos, y para ser
electo Presidente de la República se requiere del 50%+1.
En el mundo contemporáneo, la democracia es el reconocimiento de la dignidad
de las personas humanas y es la forma de organización social y política que mejor
garantiza el respeto, el ejercicio y promoción de los Derechos Humanos, y más un, la
democracia, al igual que los hombres y las mujeres, siempre es perfectible. Abraham
Lincoln, en 1863, definió a la democracia como forma de gobierno, “el gobierno del
73
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
pueblo, por el pueblo y para el pueblo”. Desde una perspectiva histórica tiene su ori-
gen en el siglo V antes de Cristo, para designar la forma de organización política que
adopta la polis de Atenas, y etimológicamente, la palabra democracia se compone
de dos palabras griegas: Demos, que significa pueblo, población, gente y Kratos, que
significa poder, superioridad, autoridad.
74
Juan Carlos Miranda Castillo
75
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
Fuente: Elaboración propia sobre la base de los resultado presentado programa de las Naciones Unidas para el
Desarrollo (2004: 143).
76
Juan Carlos Miranda Castillo
El presupuesto del sector público es uno de los instrumentos más importantes a tra-
vés de los cuales se orienta y se enmarca la actividad del aparato del Estado. Es decir,
se asignan los recursos, obtenidos por la recaudación tributaria, para distribuir a
múltiples fines. De este modo, el presupuesto, afecta doblemente el bienestar de la
ciudadanía: directamente, asignando recursos para la satisfacción de necesidades
de la población incorporadas a las obligaciones o prioridades de las intenciones
públicas, e indirectamente, generando condiciones para un crecimiento estable y
sostenido, que facilite la inversión, el empleo y el mejoramiento en las condiciones
de vida (Albi y González-Páramo, 2000: 99).
77
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
78
Juan Carlos Miranda Castillo
Nota:
a
: Estimaciones preliminares.
b
: Variación en 12 meses hasta noviembre del 2005.
c
: Índice general de remuneraciones por hora.
d
: Variación promedio de enero a octubre del 2005, respecto del mismo período del año anterior.
e
:Una tasa negativa significa una apreciación real
f
:Datos anualizados hasta noviembre.
Fuente: Elaboración propia a partir (CEPAL, 2005: 115).
79
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
APEC (Foro de Cooperación Económica del Asia Pacífico), es una instancia que re-
úne a 21 economías, lo que permite incluir a Hong Kong y Taiwán. Estas, junto a
Australia, Singapur, EE.UU. y China, entre otros, se funda en 1989. Chile entra en
1994. Sus principios se resumen en tres pilares:
1) Liberalización del comercio y la inversión
2) Facilitación de estos, y
3) Cooperación técnica y económica
En la cumbre de 1994 en Bogor, Indonesia, se definieron metas para el 2010, en don-
de las economías desarrolladas deben estar completamente abiertas al comercio y
a la inversión. Mientras que aquellos países miembros en vías de desarrollo, tienen
plazo hasta 2020.
La OMC fue creada en 1995, vela por reglas de intercambio comercial entre 146 paí-
ses que son miembros. Esto da seguridad a los consumidores, productores y expor-
tadores porque implica una oferta segura y variada de bienes y servicios, y posibilita
que los mercados extranjeros estén abiertos. El gran sueño de la OMC es alcanzar un
mundo libre de aranceles y, en ese marco, grupos regionales como APEC se organi-
zan para que su intercambio comercial sea fluido.
80
Juan Carlos Miranda Castillo
81
Desarrollo económico, capital humano y política educativa en Chile
IV. Conclusiones
En este sentido, en el país debe aplicar la experiencia de los países que han
generado procesos de crecimiento sostenidos y debe apuntar a una combinación
de políticas públicas como efecto cruzado más bien heterodoxas. Debe promo-
ver inversiones en nuevos sectores, en una alianza estratégica entre el Estado y
los empresarios locales, e involucrarse en la innovación. Igualmente, debe tener
en cuenta los altos costos privados que dichas actividades originan, lo que en
muchas ocasiones conduce a que normalmente se concentren en sectores tra-
dicionales. El sector privado debe también incorporarse activamente y con me-
nores riesgos, en los nuevos procesos productivos. Así, los lineamientos básicos
para una agenda global deberían apuntar, tal y como ha quedado de manifiesto
en diversos informes del Senado de la República, y proponemos las siguientes
acciones hacia el pro crecimiento:
I. Avanzar hacia una segunda fase en el desarrollo exportador basado
en un mayor valor agregado.
II. Incorporar a la pequeña y mediana empresa en el desarrollo expor-
tador.
82
Juan Carlos Miranda Castillo
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84
Capitulo 5
Os novos paradoxos
latino-americanos
Tullo Vigevani
Aspectos gerais
Uma versão anterior deste texto foi publicada na Revista Política Externa de junho
de 2006.
Os novos paradoxos latino-americanos
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Tullo Vigevani
87
Os novos paradoxos latino-americanos
88
Tullo Vigevani
Ford, tiveram resultados concretos. Por isso, a utilização da Internet e dos meios
de comunicação mais modernos conflui com a valorização do tradicional.
Na Bolívia, esse sentir profundo de povos latino-americanos pareceu ma-
nifestar-se com mais intensidade nesses últimos anos, refletindo, com mani-
festações específicas, uma sensação de protesto contra a indiferença dos países
centrais e das elites locais. Há algo parecido na Venezuela, onde o apoio popular
que o governo Hugo Chávez desfruta sugere uma forma de protesto contra a in-
diferença. Políticas sociais parcialmente distributivas, quando possíveis, dão
sustentação a dirigentes carismáticos. As constantes mobilizações indígenas
no Equador devem ser vistas na mesma perspectiva: a busca do resgate da
dignidade, ainda quando não se traduzam em projetos políticos abrangentes.
De modo muito diferente, refletindo situações que não permitem comparações
simplificadoras, em vista da formação cultural dos povos, do estágio alcançado
por suas economias, da inserção no mundo, governos como os de Néstor Kirch-
ner, Lula da Silva e Tabaré Vasquez também refletem a busca de emergência de
grupos que estavam longe do poder, muitas vezes política e socialmente margi-
nalizados. Nos casos de Argentina, Brasil, Uruguai, além das citadas diferenças,
é importante registrar a existência de um aparelho estatal mais consolidado e,
não menos importante, experiências recentes de funcionamento democrático,
com institucionalidade provada por sérias crises políticas. Tem especificidades
o caso chileno, onde a estabilidade institucional e um sistema partidário mais
consolidado, tem evitado o surgimento de figuras extrapartidárias, de radical
ruptura com a história política anterior. De forma semelhante aos outros paí-
ses da região, a questão da desigualdade ganhou importância numa campanha
eleitoral, a de Michelle Bachelet, em que um governo socialista sucedeu a outro
do mesmo partido. O relatório de Latinobarómetro relativo ao período de 1995
a 2005 mostra que a adesão à democracia tem sido razoável na América Latina,
inclusive nos países onde as lideranças carismáticas ganharam importância,
como na Venezuela. Há um reconhecimento explícito de seu significado, ain-
da que os índices de indiferença sejam significativos. Em alguns países haveria
menor adesão. De todo modo, a adesão se demonstra pelo alto índice atribuído
à democracia entendida como sistema de eleições livres. Essa percepção tem se
mantido tendência estável ao longo dos anos, ainda que se reduzindo o reconhe-
cimento em alguns países, como o Peru.
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Os novos paradoxos latino-americanos
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Tullo Vigevani
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Os novos paradoxos latino-americanos
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Tullo Vigevani
Michels, no início do século XX, que estudou os partidos socialistas, e por Leon
Trotsky, em sua análise da burocratização stalinista. As estruturas envolviam
as pessoas e os símbolos erguidos pela emergência popular, e essas estruturas
acabaram erguendo-se acima da emergência. A globalização, a participação da
sociedade civil em escala mundial, os chamados valores politicamente corretos,
ainda que paradoxalmente, tudo contribui para que hoje, no século XXI, haja
uma forte atenção para o respeito às instituições. Assim como a democracia tem
sido o instrumento da emergência, a sua consolidação depende da continuidade
do interesse pela política de parte da população mas também do respeito pelas
instituições do estado de direito. A construção de instituições democráticas fortes,
entre elas a possibilidade de partidos representativos e de movimentos sociais, e o
estado de direito definirão se a emergência se consolida na plena vida democrática.
Nas últimas décadas, a experiência de países como Argentina, Brasil, Uruguai e
Chile sugerem haver razões para acreditar na consolidação da democracia. O
interesse pela política deve ter continuidade. A mobilização militante acontece
em momentos de grande tensão, mas não é continua.
O quarto ponto que incidirá no caráter do regime político é o da capa-
cidade de produzir resultados sociais e econômicos significativos. Democracia é
o governo do povo. Uma determinada população pode acreditar que o melhor
para si seja a autarquia, o isolamento ante o mundo externo. Tem o direito de
agir conforme essa convicção, eventualmente majoritária. A experiência do sé-
culo XX, até mesmo a dos países socialistas, indica que a desconexão, ainda que
parcial, diante da economia internacional pode trazer sérias conseqüências ne-
gativas para os Estados. Desconexão não significa falta de democracia. Depende
da concepção de mundo que cada povo tem. Parte das forças que têm impor-
tância na emergência das populações da América Latina busca a reconstrução
do mundo anterior, do mundo dos antepassados, de suas instituições. No caso
boliviano, a experiência mostrou que não foi suficiente a cidadania alcançada
em 1952; agora é necessária a construção da identidade índia da Bolívia. O mes-
mo vale para o Peru, sobretudo para o sul do país. O mesmo para o Equador e
para a Guatemala. Com as ressalvas que a questão merece, pode-se dizer que
não há reconhecimento – de parte das populações indígenas – dos Estados cria-
dos pela independência alcançada pelas oligarquias criollas no início do século
XIX. Coloca-se a possibilidade de fechar o ciclo de estrangeirização do índio,
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Os novos paradoxos latino-americanos
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Tullo Vigevani
95
Os novos paradoxos latino-americanos
anos de 1970 e 1980. Esse contexto não pode ser alterado a curto prazo como
resultado do surgimento de governos que recolhem, ou parecem recolher, o des-
contentamento popular. Joan Prats afirma que um dos desafios do novo gover-
no boliviano é o de impulsionar políticas de desenvolvimento sustentável com
eqüidade. Sabemos como isso é difícil, mesmo quando o grupo dirigente do Es-
tado dispõe da vontade de trabalhar nessa direção.
Na América Latina, encontramo-nos em situação onde pode se aplicar a
idéia de vulnerabilidade social elaborada pela Cepal (Comissão Econômica para
a América Latina e o Caribe, das Nações Unidas), para explicar as conseqüên-
cias sociais do modelo econômico prevalentemente vigente aplicado nas duas
últimas décadas. O conceito busca retratar a situação de precariedade econômi-
ca e social de boa parte da população latino-americana. Em razão do aumento
da pobreza e da indigência e, conseqüentemente da fome, do desemprego e da
informalidade no mercado de trabalho, aumentaram as condições sub-huma-
nas de existência na infância, piorou a concentração de renda e tornou quase
impossível a elevação das condições sociais.
Usando os conceitos de Emile Durkeim, essa situação parece dificultar a
manutenção da solidariedade mecânica, comprometendo a existência de soli-
dariedade orgânica na sociedade. A dificuldade ou a incapacidade do Estado e
da sociedade civil estruturada em promover a solidariedade produz em grupos
específicos novas formas de agregação social. Um dos aspectos visíveis é o au-
mento da violência aparentemente despolitizada em algumas áreas urbanas, o
mesmo se dando em algumas áreas rurais, e a questão do narcotráfico acaba
ganhando destaque, como é o caso de algumas regiões colombianas. Essas ma-
nifestações nem sempre têm semelhanças nos diferentes países, mas acabam
por incidir sobre a vida política dos Estados. E podem criar um caldo de cultura
favorável a situações localizadas de anomia. A expectativa que se forma, com o
surgimento de governos – ao menos inicialmente, com forte sustentação popu-
lar – é a da reabsorção dos sinais de anomia que se apresentam em diferentes
países. Esses sinais não significam oposição à democracia nem ameaças a ela,
mas sim o enfraquecimento de sua sustentação ativa, porque o Estado surge
como um aparelho sem capacidade de resolver problemas, crescendo as dife-
rentes manifestações de distanciamento em relação a ele. Governos como o de
Evo Morales criam a expectativa de adesão da sociedade ao Estado; podem, se
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Em conclusão
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Capitulo 6
América latina:
vulnerabilidade social,
instabilidade democrática e
“neopopulismo”
Marcelo Fernandes de Oliveira
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América latina: vulnerabilidade social, instabilidade democrática e “neopopulismo”
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Marcelo Fernandes de Oliveira
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111
Capitulo 7
Introdução
114
Paulo Eduardo Teixeira
115
As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de campinas nos séculos xix e xx
Cf. FABERMAN, Judith. Familia, ciclo de vida y economía doméstica. El caso de Sa-
lavina, Santiago Del Estero, en 1819. In Boletín del Instituto de História Argentina
y Americana “Dr. Emilio Ravignani”. Facultad de Filosofia y Letras Universidad de
Buenos Aires e Fondo de Cultura Economica. Tercera serie, n.12, II semestre, 1995,
p.36.
116
Paulo Eduardo Teixeira
Principais Raça
Localidades Branco Pardo Negro Total
Campinas 142 30 1 173
Itu 69 11 1 81
Jundiaí 46 22 2 70
1
8 Nazaré 38 17 55
2 São Paulo 31 13 3 47
9 Atibaia 33 4 37
Bragança 24 11 35
Parnaíba 15 10 25
Santo Amaro 18 5 23
TOTAL 416 123 7 546
117
As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de campinas nos séculos xix e xx
118
Paulo Eduardo Teixeira
CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito. 5.ª ed. São Paulo: Duas Cidades,
1979, p.76.
Cf. VELHO, Gilberto. Família e subjetividade. ALMEIDA, Angela Mendes...et al. Pen-
sando a família no Brasil: da colônia à modernidade. Rio de Janeiro: Espaço e Tem-
po: UFRRJ, 1987. p.82.
119
As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de campinas nos séculos xix e xx
Itu 9 6 14 12 6 13 21 81
Jundiaí 5 3 23 12 1 6 21 71
Nazaré 3 2 3 28 3 5 11 55
São Paulo 17 6 1 1 1 21 47
Atibaia 20 2 15 37
Bragança 3 5 7 5 5 3 7 35
Parnaíba 8 3 3 2 1 8 25
Sto Amaro 4 2 3 1 2 11 23
TOTAL 59 46 104 92 30 58 158 547
Estas idéias sugerem que enquanto havia terras disponíveis e de fácil aces-
so à população de outros lugares, estas, incentivadas por parentes ou amigos,
vinham e se instalavam, contribuindo assim com o crescimento de livres. Po-
rém, nos anos sucessivos, em que as grandes fazendas passaram a ocupar cada
vez mais espaço para ampliarem sua produção, e a importação de escravos se fez
120
Paulo Eduardo Teixeira
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As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de campinas nos séculos xix e xx
Fonte: RANGEL, Armênio Souza. Escravismo e riqueza: a formação da economia cafeeira em Taubaté (1776-
1836). São Paulo: IPE/USP, 1990, p. 44.
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Paulo Eduardo Teixeira
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As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de campinas nos séculos xix e xx
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Paulo Eduardo Teixeira
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As migrações internas em uma perspectiva histórica:
o caso de campinas nos séculos xix e xx
Considerações finais
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Capitulo 8
Do rural ao urbano:
Migrações Internas no Brasil no século XX
O título deste artigo nos remete à reflexão sobre um questão candente para a
compreensão da realidade brasileira contemporânea. O tema das migrações
internas passa a ser algo de relevância na literatura acadêmica e mesmo oficial a
partir dos anos 1950. Uma série de estudos provenientes principalmente da socio-
logia e da geografia e mesmo de caráter oficial , revelavam àquela época a necessi-
dade em se (re) conhecer um fenômeno que ganhava proporções até então desco-
nhecidas e que estava profundamente marcado pelo deslocamento de migrantes
oriundos do Nordeste para as grandes cidades do centro-sul, notadamente Rio de
Janeiro e São Paulo. Na filmografia brasileira do período Nicola D´aversa dirigiu a
película intitulada Seara Vermelha, filme que tratou das agruras da migração de
uma família nordestina para São Paulo.
Para se ter uma idéia da magnitude deste deslocamento, o Estado de São
Paulo recebeu ente 1827 e 1960, pouco mais 2 milhões e novecentos mil imigran-
Dentre eles, aponto apenas alguns dos de caráter oficial - exceção feita à menção do Bole-
tim de Geografia - e publicados na década de 1950. ALMEIDA, Vicente Unzer de. Migração
Rural-Urbana. Aspectos da convergência de população do interior e outras localidades para a
capital do Estado de São Paulo. Diretoria de Publicidade Agrícola, 1951; BARROS, Souza. Êxo-
do e Fixação. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1953; CAMARGO, J.F. de. Migrações
Internas e o Desenvolvimento Econômico no Brasil. In: Boletim de Geografia, 1958; FICHLO-
WITZ, Estanislau. Principais Problemas da Migração Nordestina. Rio de Janeiro: Ministério
da Educação e Cultura, 1959. Vale recordar que os Boletins do Departamento de Imigração
e Colonização da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo são, igualmente, lugar
privilegiado para se avaliar a reflexão oficial sobre a questão das migrações internas.
Do rural ao urbano:
Migrações Internas no Brasil no século XX
tes. Num tempo muito mais exíguo, qual seja, entre as décadas de 1930 e 1960
adentraram ao Estado de São Paulo aproximadamente 2 milhões e seiscentos
mil migrantes oriundos de praticamente todos os recantos do país mas, de for-
ma preponderante, provenientes do nordeste. Não existem estatísticas confiá-
veis a partir dos anos 1960, mas de certo, as migrações internas só demonstra-
ram sinais de arrefecimento a partir da década de 1990.
Tentar decodificar seus elementos constitutivos, implica num exercício com-
plexo dadas as implicações de caráter teórico, empírico e temático que conformam
a problemática das migrações internas em nosso país e também a multiplicidade
de variações possíveis e necessárias para uma compreensão que, mesmo assim,
será sempre parcial e provisória. Apontadas estas primeiras limitações da nossa
lógica formal na decodificação de um processo tão dinâmico, multifacetado e plu-
riforme como o das migrações, devemos ter a ousadia da escolha de um caminho
possível. Utilizando a alegoria da esfinge, “decifra-me ou te devoro” proponho
para esta nossa breve reflexão, pensar o tema a partir de três enfoques.
O primeiro deles buscará, nos elementos amplamente conhecidos sobre
a questão da migração rural-urbana, algumas das questões explicativas do
sentido autoritário da formação social brasileira, expresso particularmente na
relação entre os setores populares e sua inserção no território. O segundo enfo-
que procurará exercitar um outro olhar também necessário sobre as migrações
internas que continuaram durante todo o século XX e que conformaram uma
dinâmica rural-rural. Por fim, como terceiro enfoque, uma crítica à um senti-
mento que terá sido deixado pelos dois enfoques anteriores, qual seja, a idéia da
migração como trauma.
O primeiro enfoque parte de um diagnóstico amplamente conhecido. Os
censos populacionais produzidos em nosso país nos últimos 50 anos, apontam
para uma tendência crescente do peso da população urbana sobre a rural. O
marco de início deste processo - como já explicitado anteriormente - é também
relativamente consensual qual seja, a década de 1950. Àquela época, a popula-
ção rural representava 64% da população brasileira enquanto que os restantes
36% estavam nas cidades. O censo de 2000 contabilizou, por seu turno, 18,8%
de brasileiros vivendo em zonas rurais e 81,2% em zonas urbanas. Trata-se de
um fenômeno mundial, entretanto, tendo em vista o enfoque aqui proposto, não
vou tecer maiores considerações.
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Do rural ao urbano:
Migrações Internas no Brasil no século XX
Estado brasileiro manteve incentivos para que o campo continuasse a ser produtor
de mercadorias exportáveis como o algodão e o café. Sem apoio, grande parte da
população camponesa - em seus mais variados extratos e formas - não teve outra
alternativa senão migrar para as cidades e, dessa maneira, inserir-se nas ativida-
des urbano-industriais. Este tema é candente na literatura econômica brasileira e
cito aqui apenas uma referência, a obra já clássica de Francisco de Oliveira intitu-
lada A Economia Brasileira: crítica à razão dualista.
Em linhas gerais, esta é, nos limites de nossa reflexão, a explicação pos-
sível e mais amplamente conhecida para a mudança radical do perfil da popu-
lação brasileira nos últimos 50 anos. Assim, o que identificamos a partir dos
anos 1950, fazia parte de uma opção de modernização da economia que se as-
sentou, dentre outros elementos, na produção de uma massa de trabalhadores
à disposição do capital aplicado nas atividades industriais e urbanas. Por outro
lado, evidentemente, este processo se acirrou nos anos 1950 como resultado do
desenvolvimentismo de J.K. e também dos projetos de desenvolvimento imple-
mentados pelos governos militares.
Neste particular, os anos 1960 e 1970 foram expoentes importantes na
modernização da infra-estrutura do país. Construção de estradas e barragens
para usinas hidroelétricas - a Transamazônica e a Usina de Itaipú são, talvez
os exemplos mais emblemáticos - projetos de desenvolvimento agropecuário
e aberturas de frentes de expansão - como teremos oportunidade de abordar
mais adiante -interferiram diretamente no vivido de muitas populações rurais
no pais como um todo. Os estudos de José de Souza Martins e José Graziano da
Silva sobre a problemática agrária neste período, embora guardem diferenças de
método entre si, são referências obrigatórias.
A inserção destas populações no contexto urbano nos coloca ainda um
sub-tema dentro deste primeiro enfoque. A migração rural urbana explicita a
impossibilidade da permanência e reprodução de um modus vivendi camponês.
Se preferirmos, o ato de migrar, por si, já representa viver a exclusão, e funda-
mentalmente, a negação de direitos, de escolha e de autonomia. Estes elementos
constitutivos do migrar acompanharão as populações rurais em seu novo vivido
citadino. O vivido precário nas periferias e favelas das grandes e médias cidades
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Odair da Cruz Paiva
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Do rural ao urbano:
Migrações Internas no Brasil no século XX
CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril. São Paulo: Cia das Letras, 1996.
HARDMAN, Francisco Foot. Trem Fantasma. A modernidade na Selva. São Paulo:
Cia das Letras, 1988
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Do rural ao urbano:
Migrações Internas no Brasil no século XX
pelo programa Amaral Neto o Repórter - que encantava minha geração nos finais
de semana - compassava, por um lado, as necessidades de distensionamento so-
cial no campo com a abertura de frentes pioneiras em áreas consideradas vazias.
Uma nova reedição da Marcha para Oeste de Cassiano Ricardo esteve em curso.
Expulsos de suas terras, camponeses do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Para-
ná e São Paulo foram incentivados a adquirir terras em Mato Grosso, Goiás, Acre,
Rondônia e posteriormente Paraguai. A nova frente pioneira seguia o esteio dos
interesses da soja ou da busca ao Eldorado nas jazidas de Carajás.
Conflitos agrários entre camponeses expropriados que buscavam uma
nova reincorporação ao território e as comunidades indígenas, proliferaram so-
bre os olhos do Estado e do grande capital agropecuário. Este último aguardava
- tal como abutre - apenas a derrota física e financeira dos excluídos para se
apropriarem das terras e erigirem seus impérios sobre os cadáveres de cam-
poneses e índios. José de Souza Martins, Otávio Guilherme Velho ou Ariovaldo
Umbelino de Olivera foram muitos dos que a partir da sociologia ou geografia
iniciaram no final dos anos 1970 uma reflexão sobre esta questão13.
Nos anos 1980 e, pela primeira vez no século XX, um outro tipo de migra-
ção rural-rural se punha em curso. A luta pela reforma agrária, o surgimento
do MST e os ventos da democratização do Estado animaram a luta pelo reincor-
poração das territorialidades perdidas 14. O fracasso da experiência amazônica
serviu de incentivo para que muitos camponeses oriundos do sul do Brasil retor-
nassem, ao passo que muitos igualmente enfrentassem o desafio de permanecer
na terra. Para minha geração a Encruzilhada do Natalino foi emblemática neste
sentido. A dinâmica do regresso e a luta pela manutenção do camponês em seu
território animou um movimento migratório notadamente rural-rural que - ei-
vado pelo lema da luta pela reforma agrária - impôs e ainda impõe uma crítica
radical ao modelo de desenvolvimento econômico conservador e excludente vi-
gente em nosso país.
13 Há muitos trabalhos sobre este tema, cito a título de uma primeira aproximação:
MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil. Rio de Janeiro: Vo-
zes, 1986; GUILHERME VELHO, Otávio. Capitalismo Autoritário e Campesinato. São
Paulo: Difel, 1979 e OLIVERA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das Lutas no
Campo. São Paulo: Contexto, 1990
14 Ver: MARTINS, José de Souza. A Reforma Agrária e os Limites da Nova República.
São Paulo: Hucitec, 1986
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Capitulo 9
Migraciones de
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viajaban regularmente a sus países de origen para visitar a sus familias, ante el
miedo de perder el puesto, traen a sus allegados para vivir consigo. A este fenó-
meno se le denominó reagrupación familiar, y supuso una serie de consecuen-
cias sociales y económicas, así como jurídicas. En algunos países aparecen nor-
mas para los extranjeros y sus familias ya presentes, así como, en contrapartida,
también surgen regímenes jurídicos de extranjería muy restrictivos, incluyendo
rigurosas medidas de control de los nuevos flujos, como permisos de entrada,
residencia y empleo, o reglas para la expulsión.
Como apuntan ORAA ORAA, RUIZ VIEYTEZ y GIL BAZO, durante estos
años de cierre de fronteras surgen vías alternativas de entrada: la inmigración
clandestina y la solicitud del estatuto del refugiado, cuyo régimen resultaba mu-
cho más liberal. Por ello, resaltan estos autores, “(...) las solicitudes han aumenta-
do enormemente en la última década, encontrándose con procedimientos que no
estaban concebidos para gestionar tal cantidad de demandas. Las respuestas de
los gobiernos a esta situación es el endurecimiento de las legislaciones relativas al
asilo (no respetando en muchos casos el límite puesto por los derechos constitu-
cionales o por los instrumentos internacionales relativos a los derechos humanos),
que tiene como resultado un perjuicio para los legítimos destinatarios de las medi-
das de asilo, así como una deformación de la política migratoria.”
Los acontecimientos de la segunda mitad de la década de ochenta han sido
decisivos para configurar un panorama que perdura hasta el final del milenio.
FINOCCHIARO habla de un nuevo flujo migratorio, caracterizado por la plura-
lidad de orígenes de llegada (del Este europeo, sobre todo la ex-Yugoslavia; de
Asia; del medio Oriente; del Africa magrebina; etc.), aliado a una nueva expan-
sión del area comunitaria (lo cual no deja de ser un factor atractivo, correspon-
diéndose con un consecuente aumento del mercado de trabajo), y la aparición de
lo que él denomina “(...)della vera e propria xenofobia”.
ORAA ORAA, Jaime, RUIZ VIEYTEZ, Eduardo y GIL BAZO, María Teresa.“El extran-
jero ante el derecho” in El extranjero en la cultura europea de nuestros días. Universi-
dad de Deusto. Bilbao, 1997. pág.286.
FINOCCHIARO, Giuseppe. op. cit. pág.17.
Ver también: PANADERO MOYA, Miguel. “Las nuevas realidades de las migraciones
extranjeras en la Europa comunitaria.”in Migraciones extranjeras en la Unión Eu-
ropea. Ediciones de la Universidad Castilla-La Mancha. Cuenca, 1997. pág.17: “(...)
en los últimos años, los movimientos migratorios en Europa se han distanciado del
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Migraciones de trabajadores en Europa:
de la política estatal a la comunitária
Sin duda, para la caracterización de este nuevo flujo, han sido decisivos
también tanto el fin de la guerra fría como el paulatino incremento de las dife-
rencias económicas Norte-Sur.
Esta nueva onda coincide con un momento de recesión económica y altas
tasas de paro en el occidente europeo. Empiezan a crearse bolsas de margina-
lidad, el sector informal de la economía parece ir en aumento, así como la pre-
carización de las condiciones de trabajo. En fin, todo parece configurar, como
comentan ORAA ORAA, RUIZ VIEYTEZ y GIL BAZO, una “(...) amenaza al sis-
tema del bienestar europeo”.
Esta nueva onda migratoria dista mucho de parecerse a una invasión, o
incluso de amenazar los logros sociales obtenidos, pero el estado psicológico co-
lectivo del occidente europeo parece tener esta sensación en muchos sectores de
la sociedad. Los fenómenos del racismo y la xenofobia entre la población nativa
no han hecho sino crecer durante los últimos años. Si, por un lado, es eviden-
te que los recientes movimientos migratorios traen consigo un impacto de tipo
cultural y religioso, especialmente en todo lo que se refiere al Islam, cuya pene-
tración resulta obvia. También es verdad que, en algunos casos, Europa parece
reaccionar de una forma intolerante y abiertamente hostil.
El capítulo 5 del sondeo de opinión Eurobarómetro 47.1 de 1997 se refiere
a los inmigrantes de origen no europeo. Su presencia se considera beneficiosa
en los países de la Unión Europea por el 40% de los interrogados, pero el 48%
opina que sería mejor estar sin ellos (contra el 40% que se había pronunciado
en este sentido en 1988). Un 37% de la población piensa que los inmigrantes
extracomunitarios legalmente establecidos que se quedan sin empleo deberían
ser reenviados a sus países de origen, y un 21,5% creen que deberían ser todos
repatriados sin más, incluso los hijos nacidos en la UE. El dossier llega a la con-
modelo conocido de las décadas pasadas. Su origen está, sobre todo, en países del
Tercer Mundo. A pesar de las medidas restrictivas implantadas por los respectivos
Gobiernos de la CE, el flujo de entradas es difícilmente contenible y sus componen-
tes han venido a engrosar mayoritariamente el conjunto de población ilegalmente
establecida en el interior de la Comunidad.”
ORAA ORAA, Jaime; RUIZ VIEYTEZ, Eduardo y GIL BAZO, María Teresa. op. cit.
pág.286.
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José Blanes Sala
clusión de que el miedo al paro y el pesimismo ante el futuro son los factores
clave para el desarrollo de los sentimientos racistas.
A todo esto, si en un primer momento los diversos Estados cierran unilate-
ralmente las fronteras y empiezan a adoptar legislaciones de control restrictivas,
considerando la cuestión como de competencia exclusiva, al llegar a la década de
los noventa el enfoque político y jurídico empieza a cambiar de forma radical.
Efectivamente, como dice LANFRANCHI, la cuestión interesa -y mu-
cho- a la construcción europea. La consecución de un mercado común que
se apoya en el libre ejercicio de las actividades económicas, la evolución hacia
un mercado único que supone la desaparición de sus fronteras interiores, el
nacimiento de una Unión política y consecuentemente, con un alargamiento
de competencias, sobretodo en el campo social, el conjunto de estas realiza-
ciones, no podían permanecer indiferentes ante la movilidad de la mano de
obra de países terceros.
Tal mudanza se viene produciendo de manera lenta y sumamente caute-
losa. Todavía hoy muchos sectores consideran que el control de movimientos
de personas, la entrada en el territorio nacional y el acceso al empleo por parte
de los extranjeros forman parte de las prerrogativas indisolubles de un Estado
soberano.
Lo cierto es que, por otro lado, los cambios introducidos en las legislacio-
nes nacionales muchas veces muy divergentes entre ellas, crean el temor por
parte de los Estados miembros de que las restricciones en el acceso a los países
del entorno tengan como consecuencia una mayor afluencia de inmigrantes ha-
cia aquellos países con una legislación más permisiva10. De forma que, además
del recelo mutuo, ante los logros del mercado interior comunitario, cada vez era
más evidente la necesidad de que hubiese una política europea coordinada.
El tema empezó a debatirse en el foro de las instituciones europeas. Al-
gunos Estados realizaron por su cuenta, al margen del control comunitario,
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que finalice el período de los cinco años, con el fin de poder aplicarla de forma
inmediata una vez transcurrido dicho período.
Se hacen dos excepciones a los plazos y procedimientos propuestos:
• Por un lado, el modelo uniforme de visado y la lista de los terceros paí-
ses cuyos nacionales tengan la obligación de ser titulares de visado para
cruzar la frontera exterior deben ser adoptados a partir de la entrada en
vigor del Tratado, por el procedimiento habitual de mayoría cualificada
(arts. 67 3. y 62 2. b. i y iii TCE);
• Y por otro, las normas para un visado uniforme y los procedimientos
y condiciones para la expedición de visados por los Estados miem-
bros, tras el período de 5 años, no necesitan aguardar una decisión del
Consejo para seguir automáticamente el procedimiento de mayoría
cualificada del art. 251 TCE (arts. 67 4. y 62 2. b. ii y iv TCE).
Con base en estas disposiciones el Consejo ha adoptado el Reglamento CE
539/2001, de 15 de marzo de 200118, por el que se establece la lista de terceros
países cuyos nacionales están sometidos a la obligación de visado, así como otra
lista de terceros países cuyos nacionales están exentos de esta obligación siem-
pre que la duración de su estancia no supere los tres meses.
No obstante, con razón comenta JIMENEZ PIERNAS19, que la ausencia de
una coordinación efectiva entre los Estados miembros viene posibilitando que
un extranjero consiga un visado en un consulado tras haber sido rechazado en
otro u otros; de ahí que ahora se persiga el objetivo de crear un visado común
con un banco de datos común que combata con eficacia el visa shopping, o lo que
es lo mismo, seguir avanzando en la comunitarización de esta política pública,
con el fin evitar que los visados de corta duración se conviertan en un aliviadero
para la inmigración ilegal.
En este sentido, vienen siendo adoptadas por el Consejo una serie de me-
didas importantes para la expedición de visados: Reglamento CE 789/2001, de
24 de abril de 200120, por el que el Consejo se reserva competencias de ejecución
en relación con determinadas disposiciones detalladas y procedimientos prác-
ticos de examen de solicitudes de visado; Reglamento 790/2001, de 24 de abril
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cuales hasta este momento mal se hacía mención en el mismo derecho originario.
Derechos sobre los cuales será necesario determinar con precisión su alcance y su
contenido jurídico.
Si, como reconoce ESPADA RAMOS, hasta Amsterdam “la situación legal
es de cierto reconocimiento de “beneficios” y no de “derechos” para los traba-
jadores no comunitarios, en el contexto de los principios jurídicos formales y
sustantivos del Derecho comunitario”34, a partir de Amsterdam, aunque aún de
forma inconcreta y ambigua, se empieza a hablar de derechos.
Y en segundo lugar, porque el Tratado habla de protección a estos dere-
chos, lo cual entraña la creación de un sistema jurídico que garantice su respeto
y aplicación.
En los artículos mencionados el contenido de los derechos se centra so-
bretodo en la obtención de la residencia por parte de los extracomunitarios sea
a través de visados de larga duración o de permisos de residencia, o bien incluso
sobre el cambio de residencia para otros Estados miembros.
Sin embargo, el artículo 63 TCE hace una importante excepción: “Las me-
didas adoptadas por el Consejo en virtud de los puntos 3 y 4 no impedirán a
cualquier Estado miembro mantener o introducir en los ámbitos de que se trate
disposiciones nacionales que sean compatibles con el presente Tratado y con los
acuerdos internacionales”. De este modo se mantiene la competencia concur-
rente a pesar de la ‘comunitarización’ de la materia.
En esta materia, a pesar de la excepción mencionada prevista en el Tra-
tado, el Consejo Europeo de Tampere, realizado en 1999, deja clara la opinión
mayoritária de los Estados miembros al pronunciarse a favor de una armoniza-
ción de las legislaciones relativas a las condiciones de admisión y de residencia
de los nacionales de terceros países, a partir de una gestión eficaz de los flujos
migratórios. Para tal, se considera oportuna una política más enérgica en mate-
ria de integración dirigida a la fijación de derechos y obligaciones similares a los
de los nacionales de los Estados miembros de la UE y a favorecer paralelamente
la no discriminación y la puesta en práctica de medidas de lucha contra el racis-
mo y la xenofobia.
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Para concluir este apartado, a fin de obtener una visión completa de las
disposiciones de Ámsterdam hay que tener en cuenta la presencia de varios pro-
tocolos anexos al Tratado que completan lo mencionado hasta ahora.
En primer lugar, el protocolo por el que se integra el acervo Schengen38 en
el marco de la Unión Europea, en lo que se refiere a la supresión gradual de los
controles de las fronteras comunes entre los Estados miembros de la Unión y los
terceros Estados miembros del ‘espacio Schengen’.
En segundo lugar, otros dos protocolos relativos a la posición específica
respecto a la JAI del Reino Unido e Irlanda, por un lado, y de Dinamarca, por
otro.
A este respecto, GONZALEZ SANCHEZ39 explica con pertinencia que la
existencia del Acuerdo Schengen y de los protocolos indicados implica una di-
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ceros países que residan legalmente en los Estados miembros, así como en una
prevención de la inmigración ilegal y de la trata de seres humanos y una lucha
reforzada contra ambas. Así como tampoco hay novedades en las medidas pro-
puestas que ya se vienen concretando desde Amsterdam.
Eso sí, se hace hincapié en la posibilidad de celebrar acuerdos para la readmisión
de nacionales de terceros países en sus naciones de origen o procedencia y el derecho de
los Estados miembros a establecer volúmenes de admisión.
Por ese motivo, no parece tan descabida la opinión, un tanto cuanto escépti-
ca, de PEDROL y PISARELLO al afirmar que “conociendo el historial de la Unión
en matéria de políticas migratórias cuesta realizar una lectura inocente de estas
previsiones. ¿Cómo confiar, en efecto, en una política que sobredimensiona el
papel de la lucha contra la inmigración clandestina (ficheros Eurodac, Acuerdos
Schengen, Europol, coordinación para la vigilancia de frontera, sanciones para los
transportistas, políticas comunes de readmisión, expulsión, repatriación) y presta
escasa atención a las políticas de integración política, social y laboral de los recién
llegados? ¿Qué esperar de un texto parco y contenido en materia de derechos que
sin embargo se preocupa en recordar que la Unión celebrará acuerdos de readmi-
sión con los países de procedencia de los flujos migratórios, a fin de facilitar las
medidas de expulsión y repatriación de extranjeros ilegales?”46
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Capitulo 10
Edemir de Carvalho
A globalização, como fenômeno global, faz com que os chamados bens du-
ráveis de consumo, dentro dos quais se incluem os aparelhos de televisão,
rádios, vídeos, computadores transformaram-se em bens de consumo de mas-
sa, desejados, em escala planetária, por todos os grupos sociais, independente
de seus níveis de renda.
A globalização é talvez um processo de unificação dos mercados mundiais
ou a integração dos povos, de suas economias, constituindo-se em requisitos
básicos e necessários para que haja sempre o progresso da produção global em
todas as economias, além de propiciar constantemente espaços interativos para
a troca de idéias, transmissão tecnológica e mercados transacionais proporcio-
nando, invariavelmente, o desenvolvimento e a construção do mundo neste sé-
culo XXI.
Podemos observar que a expansão da globalização ocorre nos decênios
dos anos 90 de maneira bastante acelerada, devido o grande avanço tecnológi-
co ao que se refere principalmente à área das comunicações, nas indústrias de
transformação (reguladas pela automação). Hoje com o advento dos sistemas de
transmissão de dados e informações através da internet é possível sabermos o
que está ocorrendo de forma simultânea, qualquer tipo de atividade, seja de or-
dem econômica, política ou social, até mesmo os acontecimentos sem relevância
do mundo, do planeta.
Conforme colocado anteriormente, está claro que a globalização tem a
pretensão de ser hegemônica, uma vez que sua presença se faz obrigatória em
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Edemir de Carvalho
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Processos de exclusão social no Brasil
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Edemir de Carvalho
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Processos de exclusão social no Brasil
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Capitulo 11
166
José Geraldo A. B. Poker
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beriana. Na teoria de Weber, Habermas (1997b, p. 197 - 198) identifica três tipos
de racionalidade: a racionalidade instrumental (técnica, adequação fins e meios),
a racionalidade valorativa (escolha dos fins) e a racionalidade científica.
Apreciando a teoria weberiana, Habermas salienta que a racionalidade do
Direito tornou-se fundamental para a construção das instituições típicas da so-
ciedade ocidental. O Direito possibilitou à civilização ocidental desenvolver saídas
para as limitações lógicas-organizacionais presentes nas formas tradicionais de
dominação ao conseguir afirmar a legalidade como fundamento de legitimidade.
Esse artifício tornou possível a edificação de instituições sociais e políticas que fun-
cionam mediante a burocracia, quer dizer, o conjunto formado por um quadro de fun-
cionários que cumprem determinadas tarefas seguindo regras que lhes são impostas. A
burocracia garante a igualdade à medida que permite a distribuição impessoal do Direito,
e esta é a marca própria das instituições da sociedade ocidental, incluindo o Estado, que
para Weber também é uma instituição.
No entanto, apesar de a definição de Weber abranger aspectos importantes,
como a extensão da razão do campo do conhecimento para a aplicação, decorren-
do disto a organização de regulamentos e instituições, a definição não é suficiente
para deslocar a centralidade da razão, que continua sendo um predicado exclusivo
do sujeito, que pode fazer suas escolhas orientado pela racionalidade, pela afetivi-
dade ou pelas tradições.
Não é essa a racionalidade observada por Habermas como componente intrín-
seco da ação comunicativa. A racionalidade centrada no sujeito não seria suficiente
para possibilitar a busca de soluções adequadas aos problemas decorrentes da glo-
balização num contexto de multiculturalidade. Para tanto, não basta a oferta do Di-
reito na forma institucional da impessoalidade, e emanado das instâncias do Estado.
Trata-se de algo para além disso: da possibilidade de produção de novos tipos de
Direito, provenientes dos espaços democráticos instituídos dentro da sociedade para
esse fim, adequados à convivência na diversidade e que sejam correspondentes às
delimitações propostas pelos Direitos Humanos, para não permitir inferioridades.
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vimentos sociais, de Tilman Evers (1984). A polêmica incidiu sobre dois pontos
fundamentais: a utilização da nomenclatura novos movimentos sociais, e a
proposição de uma forma alternativa de tratamento para um velho objeto: a
possibilidade de observar os movimentos sociais, sobretudo os chamados no-
vos, como resultantes da tentativa de afirmação de identidades, quer dizer, de
valores e representações compartilhado por determinado grupo de pessoas, que
faz deste ethos um forte elemento de mobilização e definição de projetos de luta
política.
As consequências da proposição logo apareceram. De imediato, abriu-se
um caminho para que os movimentos sociais pudessem ser compreendidos
como algo mais complexo, algo mais do que atores sociais reunidos por reivin-
dicações vinculadas exclusivamente aos interesses econômicos. Mais ainda, a
mudança de enfoque permitiu melhor entender a racionalidade contida nos mo-
vimentos sociais. Para além da instrumentalidade dos interesses econômicos,
pode-se perceber orientações puramente valorativas nas demandas, algumas
delas derivadas de componentes irracionais, provenientes da religião ou outras
motivações de ordem tradicional. Constatou-se que fatores valorativos podem
ser transformados em elementos de mobilização e levados a se constituir sob
a forma da racionalidade necessária a substanciar estratégias de luta política.
Dentro desse enfoque, a luta pela terra organizada pelo Movimento dos Traba-
lhadores Rurais Sem Terra (MST) é um bom exemplo.
É precisamente isto que alguns pesquisadores estão identificando nos mo-
vimentos sociais atuais. Lutas sindicais, movimentos pela igualdade entre gê-
neros, movimentos étnico-raciais, movimentos ambientalistas, todos eles tra-
zem consigo a dualidade de serem a um só tempo movimentos que pretendem
conquistas econômicas e valorativas, cuja racionalidade incorpora não apenas a
legitimação pela formulação de ideologias, mas avança pelo terreno do Direito,
sobretudo pelo campo dos Direitos Humanos.
Nesta perspectiva, a legitimidade para as pretensões em grande parte ad-
vém de institutos jurídicos e princípios normativos constitucionais típicos das
sociedades ocidentais, tais como a igualdade e a dignidade. Na conjuntura
atual, movimentos sociais se formam quando sujeitos identificam a ocorrência
de uma injustiça que os envolve direta ou indiretamente. A justificativa de ser
vitima de injustiça tornou-se imprescindível ao Movimentos Sociais, tanto que
os interesses puramente econômicos têm de ser expressos mediante este signo.
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Direitos Humanos e luta pela igualdade
Referências
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Capitulo 12
Introdução
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Tabela 1 – Área plantada e variação da área plantada por culturas entre anos agrí-
colas selecionados
Área plantada (1000 ha)
Produtos Variação 2000/01 Variação 2003/04
1990/91 2000/01 2003/04
e 1990/91% e 2000/01%
Soja 9.743 13.970 43,4 21.244 52,1
Milho 1ª safra 12.652 10.546 -16,6 9.457 -10,3
Feijão1ª safra 1.881 1.285 -31,7 1.371 6,7
Algodão 1.939 868 -55,2 1.069 23,0
Arroz 4.233 3.249 -23,3 3.598 10,7
Milho2ª safra 800 2.426 203,5 3.668 51,2
Trigo 2.146 1.710 -20,3 2.727 59,5
Feijão 2 e 3ª safras 3.624 2.594 -28,4 2.886 11,3
Total das lavouras 51.800 51.600 -0,4 60.640 13,1
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ocupação agrícola sofreu uma redução de mais de 18% entre 1993 e 2004, resul-
tante da implantação de um modelo baseado na grande propriedade altamente
tecnificada e elevada escala de produção.
Fonte: Pnads/IBGE
(1) Exclui-se a Região Norte, porque a Pnad até 2003 não estimava a população rural ocupada nesta região.
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Referências
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193
Evolução recente da ocupação agrícola no brasil
SORJ, B. - Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro, Zahar, 1980.
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Capitulo 13
E ste texto analisa a inserção política do Movimento dos Sem Terra do Brasil
ao movimento social Via Campesina. A temática é relevante visto que a
Via Campesina se constituiu num movimento internacional que congrega or-
ganizações camponesas e comunidades indígenas, com o objetivo de promover
as relações econômicas de igualdade e justiça social, a preservação da terra, a
soberania alimentar e a igualdade baseada na produção. A vinculação ao movi-
mento internacional permite a participação do MST nas ações e debates sobre
as questões mais amplas que afetam o campesinato no Brasil e, em diferentes
lugares do mundo.
A pesquisa verificou que o movimento de luta pela terra, seja por suas
ações nos assentamentos de reforma agrária, onde ocorrem práticas de resistên-
cia aos processos de dominação locais, seja através de sua inserção nas questões
políticas mais amplas, cujos temas extrapolam os limites nacionais, praticam
ações de oposição ao processo de globalização capitalista.
O processo atual de mundialização se cartografa pelo embate entre o pro-
cesso de globalização e às vezes despercebidas manifestações locais. Vivencia-
se uma condição planetária pontuada por intervenções locais, regionais, cujas
intensas variações determinam a imbricação do local e global. O lugar se recria
na articulação do mundial. Do lugar fluem as diferenças e ao lugar reflui simul-
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com ela um aumento significativo dos movimentos sociais rurais em luta pela
terra ou por melhores condições de trabalho, dentre ele o MST.
A organização do MST resultou do processo de resistência às mudanças po-
líticas e econômicas operadas no país nas últimas décadas e, decorreu da junção
de várias lutas pontuais ocorridas por todo país em fins da década de 70. Sua arti-
culação se deu através do apoio político do clero progressista, que disponibilizou
sua infra-estrutura e auxiliou na articulação das lideranças e seus encontros. Em
1984, realizaram o 1º Encontro Nacional dos Sem terra de onde surgiu o movi-
mento institucionalizado e onde definiram suas primeiras diretrizes políticas,
bem como a definição do seu nome – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
terra. Desde então, o MST criou um espaço comunicativo e organizativo tais como,
encontros ou congressos locais, estaduais e nacionais, onde definem suas diretri-
zes políticas, seus princípios e ações. (Simonetti: 1999)
Constitui-se de uma população heterogênea que reúne camponeses com
pouca terra e seus filhos, camponeses sem terra, assalariados do campo e outras
categorias de trabalhadores rurais ou urbanos. Integram-no também intelec-
tuais, técnicos, professores e ex-integrantes do clero católico. Dentre os vários
grupos sociais em luta pela terra no país, o MST se diferencia deles devido a sua
prática territorial. A maior parte dos movimentos sociais constituídos em torno
da luta pela terra se esgota a partir da conquista da terra ou do fim do conflito. O
MST tem gerado um processo de (re)territorialização de trabalhadores nas ter-
ras conquistadas, que tem gerado continuadamente novas demandas baseadas
na tríade ocupação/acampamento/assentamento. (Simonetti: 1999)
Desde o momento de sua gestação até hoje a luta pela terra vem sendo cons-
tituída por ações que visam a impulsionar a reforma agrária e a ocupação tem sido
o instrumento destas ações. A ocupação tem resultado no acampamento, que é a
materialização dos sujeitos em ação, em luta. O assentamento representa o resulta-
do do processo, a terra conquistada - a apropriação do território capitalista aquele
sob hegemonia capitalista que é apropriado pelos camponeses. A apropriação do
território, materializada no assentamento, não esgota o processo de luta. Desdo-
bra-se em outras lutas para a conquista de crédito, infra-estrutura e demais con-
dições necessárias para viabilizar a produção e a vida nos assentamentos, como
escola para as crianças, postos de saúde, cooperativas, associações etc. Assim, os
camponeses continuam vinculados ao MST, mesmo depois de assentados, tanto
para possibilitar as diversas lutas nos assentamentos, quanto outras lutas mais
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a Via Campesina e a agricultura brasileira
Referências
GOHN, Maria da Glória Movimentos sociais no início do Século XXI - Antigos e novos atores. Petrópolis.
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Entre o local e o global: O Movimento dos Sem Terra,
a Via Campesina e a agricultura brasileira
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MST Mapa do site do Movimento dos trabalhadores rurais sem terra. http://www.mst.org.br/mst/ 2006.
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Capitulo 14
Andreas Hofbauer
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Algumas considerações sobre estratégias identitárias da militância negra
grafia tem chamado de “imprensa mulata”. Ela destaca dois jornais editados no
Rio de Janeiro (“O homem de Côr”; mais tarde chamado de “O mulato ou o homem
de Côr” e “O crioulinho”; ambos fundados em 1833). A novidade destes jornais foi,
segundo esta historiadora, exatamente a preocupação em denunciar o preconceito
contra “pessoas de cor”. A estratégia para combater a discriminação e conquistar
respeito na sociedade teria sido a defesa da cidadania de todos os homens livres
(Azevedo, 2005, p. 303). Para exemplificar esta atitude, Azevedo analisa a capa do
primeiro número do “O homem de Côr”. A primeira página deste jornal apresen-
tava o trecho da Constituição de 1824 que definia os direitos civis e políticos dos
cidadãos brasileiros e, numa coluna ao lado, lia-se um ofício do presidente de Per-
nambuco que condenava a miscigenação e sugeria, entre outras coisas, a criação
de batalhões segundo cores de pele. O artigo que segue critica veementemente esta
posição. A base da argumentação é a própria Constituição que, como ressalta o
redator, não distingue “o roxo do amarelo, o vermelho do preto” (idem, 303, 304).
Azevedo chama ainda a atenção para a atuação política de um “homem de
cor”, Francisco Gê Acayaba Montezuma (1794-1870), deputado constituinte baia-
no e posteriormente deputado no Rio de Janeiro, que, como outros não-brancos
livres da época, denunciava os maus tratos que os negros e mulatos sofriam nos
EUA. Em seu livro A liberdade das repúblicas (1834) critica a visão do presidente
Jefferson, segundo a qual “as duas raças branca e de cor, não podem viver juntas,
e igualmente livres na Republica Federativa dos Estados Unidos”, para lhe opor
a Constituição brasileira que “nenhuma distincção faz do homem branco, e do
Homem de cor: todos são filhos do Pai: todos são igualmente Cidadãos do Estado;
todos gozão dos mesmos Direitos”. Diferentemente da república norte-americana,
a monarquia brasileira “nada recea da mais illimitada IGUALDADE perante a Lei”
(apud Azevedo, 2005, p. 309,310).
Aliás, Azevedo vê na atuação daqueles homens de cor, livres e libertos,
que se empenharam, na década de 1830, em defender a igualdade formal para
todos os brasileiros livres, um primeiro passo para a construção do mito do
paraíso racial. Evidentemente não foi apenas este grupo responsável pela con-
solidação deste ideário. Num outro artigo, Azevedo já tinha apontado para
a importância do discurso dos abolicionistas norte-americanos, que teriam
“usado” o Brasil como um contra-exemplo positivo para criticar e atacar –
com mais legitimidade moral – a situação discriminatória nos EUA. E, em
pouco tempo, mais especificamente, a partir de 1860, esta visão idealizadas
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Andreas Hofbauer
das relações entre senhores e escravos no Brasil teria sido incorporada no dis-
curso dos abolicionistas locais (Azevedo, 2003, p. 161).
De acordo com Azevedo, a aposta da elite negra na primeira parte do século
XIX teria sido a de que, com o decorrer do tempo, mais e mais escravos poderiam
adquirir o status de livre e, com isto, conquistar os direitos plenos de cidadania.
Agora, a defesa da Constituição de 1824 implicava também a defesa das bases eco-
nômica e política da monarquia que eram o latifúndio e a instituição da escravi-
dão. Azevedo argumenta, portanto, que o reverso da estratégia de luta desta elite
mulata (negra) contra a discriminação e por plenos direitos de cidadão era uma
atitude que não tocava no direito da posse de escravos e visava àquilo que a autora
chama de “não reconhecimento público das raças” (Azevedo, 2005, p. 312). Aze-
vedo caracteriza esta postura, que induziu a prática de não se referir à cor daquele
que conseguiu “passar” para o mundo “dos de cima” (idem, p. 312, 313), como
um anti-racismo universalista de inspiração liberal que não atingia a população
escrava. Não falar das raças, das diferenças de cor, opor-se a qualquer menção às
raças e à cor em textos legais era uma espécie de estratégia que tinha como objeti-
vo conquistar os mesmos direitos dos cidadãos brancos.
Em artigo recente (2005/2006), a historiadora Hebe Mattos chega a uma
conclusão semelhante: Ela descreve o “silêncio sobre a cor” como símbolo da cida-
dania naquele período, uma atitude que teria sido construída nas “lutas anti-ra-
cistas do século XIX, que combatiam as hierarquias de cor entre a população livre”
(Mattos, 2005/2006, p. 111). Segundo Mattos, toda uma geração de intelectuais
negros teria sido formada a partir deste liberalismo anti-racista. Para a autora,
esta atitude – “a ética do silêncio sobre as cores” – criou um beco sem saída, já que
na época todo não-branco, mesmo aquele que era dono de escravos, dependia de
um reconhecimento público de sua condição de “livre”. É que, na prática, precisa-
va da proteção de um senhor influente que comprovasse o seu status de livre, caso
contrário podia correr o risco de ser re-escravizado. Percebe-se, portanto, que, na
prática, no imaginário das pessoas, a cor (“raça”) continuava (como continua ain-
da hoje) funcionando como um fator (argumento) que tinha o poder simbólico de
discriminar e de excluir.
Quero agora revisitar a década de 30 do século XX, quando o país, sobretudo
o Sudeste, foi envolvido por uma primeira onda de modernização no âmbito da
produção capitalista que fez crescer certas indústrias e estimulou migrações de
áreas rurais para centros urbanos. Em busca de emprego, muitos negros fixar-se-
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Algumas considerações sobre estratégias identitárias da militância negra
FNB deveriam também constituir “a defesa acérrima das nossas tradições totais,
dentro da civilização ocidental” (AvdR, n° 49, 1935).
Assim, explica-se também a postura dos frentenegrinos em relação àquilo
que hoje entendemos como “cultura negra” (afro-brasileira). Sabe-se que os líde-
res faziam campanhas para afastar os seus afiliados do batuque, da macumba etc.
E, para isto, usavam, por vezes, uma linguagem que – segundo os padrões atuais
– poderia ser avaliada como “discriminatória”. Ao comentar os atos comemorati-
vos do 13 de Maio (Dia da Abolição) de 1933, A Voz da Raça formulou seu protesto
contra o “péssimo costume de certos festeiros em instituírem o samba, o batuque,
na frente das igrejas onde a nossa gente negra inconsciente é tratada a cachaça,
para no fim surgir toda sorte de escândalos que envergonharia a própria pena si
tentássemos descrevê-las”. E o autor do artigo reclama: “(...) é preciso acabar com
o bombo e o pandeiro porque isso por aí é um toque de guerra contra os frentene-
grinos” (AvdR, nº 10, 1933). Este tipo de apelo repete-se também num editorial do
jornal (29/06/1935): “homens de cor, quase na sua maioria, ainda continuam in-
diferentes ao desenvolvimento moral e intelectual da nossa raça, entretidos talvez
com coisas fúteis, como as danças exóticas – congo, samba, fox, etc.” (apud Do-
mingues, 2005, p. 226). Mais de uma vez os redatores d´ A Voz da Raça chegam a
responsabilizar os próprios negros pela situação precária em que se encontram: “O
que mais tem prejudicado a raça negra no Brasil, na sua marcha para o progresso”,
explica o artigo, “não é o que pensamos, EM PARTE, o descaso dos responsaveis
pelos destinos da patria, não. Os únicos culpados são os próprios negros que ainda
não sabem ser disciplinados, para o seu próprio bem. Sem disciplina, o homem é
como navio sem bússola: no mar ao sabor da tormenta” (AvdR, nº 12, 1933).
Queria ainda, neste contexto, chamar a atenção para uma outra questão. A
idéia da “democracia racial” não foi, durante muito tempo, alvo de crítica e de
ataques dos movimentos negros. Até o grande líder Abdias do Nascimento, que
militou em vários grupos (fundou o Teatro Experimental do Negro) e seria um
dos responsáveis pela disseminação de idéias pan-africanistas no Brasil, via ini-
cialmente na “democracia racial” um ideário que seria compartilhado por todos
os brasileiros e que valia a pena ser defendido. Numa Declaração de Princípios
emitida pelo Teatro Experimental do Negro, o Brasil é caracterizado como “uma
comunidade nacional onde têm vigência os mais avançados padrões de democra-
cia racial, apesar da sobrevivência, entre nós, de alguns restos de discriminação”.
E afirma-se ainda que “[é] desejável que o governo brasileiro apóie os grupos e
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20 e 30, as reflexões dos militantes do MNU partem de uma crítica ao regime polí-
tico-econômico do país. Não se concebe mais o próprio negro como “culpado” pela
sua situação desprivilegiada: ao entender o sistema capitalista como o responsável
pela miséria e pela marginalização de grande parte da população, a questão da
discriminação racial passa a ser tratada como um fenômeno diretamente ligado
à exploração da mão-de-obra negra, ao “sistema econômico explorador” e/ou à
“civilização branco-européia”.
Uma das primeiras ações do MNU voltava-se contra as comemorações do
13 de Maio – Dia da Abolição, que era ainda muito festejado pelos frentenegri-
nos, – porque entendia-se que o ato formal da abolição em nada mudou a situação
dos negros. Ao proclamar o dia da morte de Zumbi “Dia Nacional da Consciên-
cia Negra” buscava-se criar não apenas uma nova data simbólica da liberdade,
mas também um símbolo essencialmente negro. Como outra bandeira de luta o
MNU escolheu o ataque à “democracia racial”. Da mesma maneira que Florestan
Fernandes, os militantes têm argumentado que a noção da “democracia racial”
encobre a realidade discriminatória. Observa-se, portanto, que no discurso do
movimento negro ocorreu uma mudança substancial no que diz respeito à ava-
liação da relação entre população negra e projeto nacional. O MNU não esconde
sua relação conflituosa com as instituições do Estado e com a Igreja Católica. Di-
ferentemente da perspectiva nacionalista da FNB, o novo movimento busca agora
fortalecer laços com outros grupos diaspóricos e aposta na articulação de redes
negras transnacionais.
Mais recentemente, a partir da década de 1990, podemos perceber que a
argumentação de orientação marxista perde importância nas análises do MNU
e de outros grupos políticos negros. Um documento deliberado no X Congresso
Nacional do MNU (1993) revela bem esta tendência: “Para o MNU, RAÇA é o de-
terminante principal da classificação social de grupos e indivíduos no interior
da sociedade”. E continua: “No limite, é a Raça que permite entender melhor a
natureza das relações de classe em sociedades multirraciais, bem como os dese-
quilíbrios sócio-econômicos a nível regional e a distribuição de poder decorrente
destes arranjos” (Jornal Nacional do MNU, nº 22, 1993, p. 6, 7).
Em alguns textos, opõe-se explicitamente o projeto dos militantes negros
à “civilização branca”. Diferentemente da FNB, que se via como parte da “civi-
lização ocidental”, busca-se aqui um rompimento com a “civilização branca”. E
alguns militantes reivindicam explicitamente que se abandone modelos analíticos
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marxistas para poder desenvolver uma “maneira negra de fazer política”. Escreve
Josafá Mota, militante de Pernambuco no órgão oficial do MNU: “O povo brasi-
leiro não passa fome; quem passa fome é parte desse povo, que somos nós, a civi-
lização negra. A outra parte, a branca, só a provoca. [...] Temos que entender que
somos legítimos representantes de nossa civilização, [e] que o Movimento Negro
não irá a lugar algum sem incorporar na sua prática a filosofia libertadora do Pan-
Africanismo (...) (Jornal Nacional do MNU, nº 18, 1991, p.11 - 1991).
Neste contexto, em que se busca fundamentar um “projeto político do povo
negro para o Brasil, do ponto de vista do povo negro” ocorre, portanto, mais uma
reavaliação fundamental, a qual refere à importância, ao papel das tradições cul-
turais negras no processo histórico do Brasil. Esta reavaliação já teve início, no
mínimo, em meados do século XX, mas é agora que ela se transforma em bandeira
política do movimento e se traduz em primeiras conquistas legais. Uma vez que a
“cultura negra” é interpretada como baluarte de resistência contra quase quinhen-
tos anos de opressão, a nova militância elabora estratégias que visam a defender
as diferentes tradições culturais negras (assim, os militantes empenham-se, por
exemplo, na defesa do candomblé contra os ataques das Igrejas Pentecostais e na
luta dos remanescentes dos quilombos por seus títulos de terra). A África ganha
grande importância simbólica, diferentemente da década de 1930 quando os fren-
tenegrinos voltavam, de certo modo, as costas a este continente.
Percebe-se, portanto, que os novos movimentos negros dos anos 1970, 1980
e 1990 já não defendem a “assimilação” e “aculturação”. A busca de delimitação
reflete-se também na criação de uma nova estética. Inspiradas em modelos afri-
canos e norte-americanos, são lançadas novas modas de roupa e, sobretudo, de
cortes de cabelo. No lugar das “cabelisadeiras” dos anos 30, surgem salões espe-
cializados em “cabelo afro” e tranças e penteados “rastafari”. Além disso, propõe-
se dar um nome africano aos filhos, em vez de batizá-los com nomes cristãos. Para
facilitar a escolha, foram elaboradas listas (publicadas em revistas e cadernos) que
indicam a origem e ainda a pronúncia correta dos nomes.
Penso que, na luta recente contra a discriminação racial, podemos destacar
dois marcos, que constituem também duas conquistas importantes. Em primeiro
lugar, a Constituição de 1988, que definiu o racismo como um crime inafiançável
e imprescritível e reconhece (artigo 68) aos remanescentes das comunidades de
quilombos a propriedade definitiva de suas terras (atribuindo ao Estado o dever
de lhes emitir os títulos respectivos). Um segundo grande marco foi certamente
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Algumas considerações sobre estratégias identitárias da militância negra
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Algumas considerações sobre estratégias identitárias da militância negra
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