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Maria Beatriz Teles Campos

Canais Calcificados - Abordagem em Endodontia

Universidade Fernando Pessoa


Faculdade de Ciências da Saúde

Porto, 2016



Maria Beatriz Teles Campos

Canais Calcificados - Abordagem em Endodontia

Universidade Fernando Pessoa


Faculdade de Ciências da Saúde

Porto, 2016


Maria Beatriz Teles Campos

Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Trabalho apresentado à
Universidade Fernando Pessoa
como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Mestre
em Medicina Dentária.

_____________________


Resumo

A abordagem Endodôntica tem como grandes objetivos a manutenção funcional e


estética do dente no sistema estomatognático. O sucesso desta abordagem terapêutica
depende da realização eficiente da desinfeção, conformação e obturação do canal
radicular. Estas etapas podem tornar-se difíceis de realizar na presença de dentes
calcificados.

A localização e manipulação dos canais calcificados são considerados um grande


desafio durante a abordagem Endodôntica. Na tentativa de localização dos canais
podem ocorrer erros de procedimento, como perfurações, fraturas de instrumentos e
desvios do trajeto original do canal.

Atualmente, vários recursos clínicos são utilizados para auxiliar estes procedimentos,
como radiografias, microscópio operatório e o ultrassom.

A calcificação pode ser resultado do processo fisiológico de envelhecimento, ou da


deposição de dentina como mecanismo de defesa da polpa contra agentes agressores
externos.

Os dentes com calcificação não costumam apresentar sintomatologia, sendo o


diagnóstico muitas vezes acidental. Clinicamente, a coroa dentária apresenta coloração
alterada, e radiograficamente os canais apresentam os seus limites pulpares apagados,
revelando obstrução parcial ou completa da câmara pulpar e dos canais, devido à
deposição excessiva de dentina.

A abordagem apropriada para dentes calcificados pode ser um dilema para o clínico.
Esta deve ser feita a partir de decisão prudente entre a intervenção Endodôntica para o
dente envolvido e outras intervenções restauradoras estéticas disponíveis.


A maioria da literatura não apoia a intervenção Endodôntica a menos que seja detetado
patologia apical ou sintomatologia do dente envolvido. A observação e o exame
periódico do dente calcificado são as opções geralmente adotadas.


Abstract

The Endodontic approach has as major objectives the functional and aesthetic support
of the tooth in the stomatognatic system. The success of this therapeutic approach
depends in the realization of an efficient disinfection, constitution and filling of the
radicular canal. The accomplishment of those stages may become difficult in the
presence of calcified teeth.

The localization and manipulation of calcified canals are held as a great challenge
during the Endodontic approach. In the attempt of locating of the root canals there may
happen errors in the procedures, such as perforations, fractures of instruments, and
deflections in the original passage of the root canal. Nowadays, several clinical
resources are used in the aid of those procedures, such as radiographs, operating
microscope and Endodontic ultrasonic.

The calcification may be the result of a physiological process of aging, or the dentine’s
deposition as a defense mechanism of the pulp against aggressive external agents.

The teeth with calcification do not usually present symptomatology, rendering the
diagnosis usually accidental. Clinically, the tooth crown presents an abnormal color, and
in the x-ray the canals present faint pulpar boundaries, revealing partial or complete
obstruction of the pulpar chamber and canals due to the excessive exposure of the
dentine.

The appropriate approach for calcified teeth can be a dilemma for the clinician. It may
be done from a prudent decision between the Endodontic intervention for the given
tooth, or other recovering aesthetical interventions available.

Most of the clinical literatures do not support an Endodontic intervention, unless the
pathology or symptomatology of the involved tooth is detected. The observation and
periodic examination of the calcified tooth generally are the adopted option.


Dedicatória

«O homem, no desejo da imortalidade, renasce em seu sucessor.»

Á memória de um guerreiro, amado e respeitado por muitos...principalmente por


mim.

Manoel José Telles

(1926-2015)


Agradecimentos

Agradeço a colaboração inestimável de todos aqueles que, a seu modo, contribuíram


para a conclusão desta longa jornada.

Aos meus pais, Márcia e César, pelo amor incondicional, educação, segurança e
coragem. Pelo privilégio de me terem dado asas e raízes, a força para partir e um lugar
para onde voltar.

Aos meus avós, Telles e Djá, pela fé, sabedoria e lealdade. Por nunca terem permitido
que um mar entre nós fosse motivo de ausência.

Aos meus irmãos, Lucas e Henrique, pelo maior exemplo que são e dão, de seriedade,
esforço e dedicação.

Aos meus irmãos, João Miguel e Jessica Eliane, pela convivência e amparo do dia-a-dia.

À Margarida Leitão, por ter sido colega, amiga, família, apoio incansável desde o
primeiro dia. E que por mais difícil que fossem as circunstâncias, sempre teve paciência,
confiança e presente.

Aos meus amigos e colegas, Sara Pereira, José António, Eduardo Monteiro, Rui Costa,
Patrícia Oliveira, Raquel Rodrigues, Joana Eiró, Alexandra Arcanjo, Madalena Alves e
Cátia Couto, pelo companheirismo, carinho, autenticidade e amizade que
proporcionaram, fazendo este caminho mais leve e saudável.

Por fim ao meu orientador, Dr. Miguel Albuquerque Matos, por todo o conhecimento e
gosto que me transmitiu pela Endodontia, e ainda por me ensinar que a paciência, a
persistência e o esforço são a combinação imbatível para alcançar o sucesso.


“Quando tudo parecia perdido, lembrou-se da semente que precisou da violência da
chuva para se tornar flor”

- Lucas Odersvank


Índice

Introdução ....................................................................................................................... 1

Desenvolvimento ............................................................................................................. 4

Materiais e Métodos ....................................................................................................... 5

I. Complexo Pulpo-Dentinário....................................................................................... 5

1. Dentina .................................................................................................................... 7

2. Polpa Dentária ....................................................................................................... 8

3. Mecanismos de defesa do complexo pulpo-dentinário ..................................... 10

II. Tipos de calcificação ................................................................................................ 10

1. Calcificação Pulpar.............................................................................................. 13

2. Calcificação Distrófica ........................................................................................ 14

3. Calcificação Nodular ........................................................................................... 14

4. Calcificação Parcial ............................................................................................. 14

5. Calcificação Total ................................................................................................. 15

6. Metamorfose Calcificante ................................................................................... 16

III. Incidência ............................................................................................................... 17


IV. Métodos de Diagnóstico ......................................................................................... 18

1. Exame Clínico ..................................................................................................... 18

2. Exame Histológico .............................................................................................. 19

3. Testes Sensibilidade ............................................................................................ 19

4. Exames Radiográficos ........................................................................................ 23

V. Abordagem Terapêutica ........................................................................................... 23

1. Tratamento Endodôntico Não Cirúrgico ............................................................ 26

1.1. Cavidade de Acesso ....................................................................................... 26

1.2. Localização dos Canais Radiculares ........................................................... 28

1.3. Exploração e Negociação dos Canais Radiculares ..................................... 31

VI. Tratamento Endodôntico Cirúrgico ..................................................................... 34

VII. Considerações Estéticas ....................................................................................... 35

VIII. Complicações no Tratamento ............................................................................. 36

Conclusão ...................................................................................................................... 38

Referências Bibliográficas ........................................................................................... 39


Índice de Figuras

Figura 1: Radiografias periapicais do tratamento Endodôntico de um segundo molar


inferior direito com um nódulo pulpar. (Fotografia gentilmente cedida pelo Professor
Miguel Albuquerque Matos) ........................................................................................... 12

Figura 2: Radiografia periapical de um incisivo central superior esquerdo com


calcificação parcial canalar e lesão apical. (McCabe e Dummer, 2012) ........................ 20

Figura 3: Radiografia periapical de um incisivo central superior esquerdo com


calcificação total do canal radicular. (Silva e Muniz,
2007)……………………………….....................................................................................19

Figura 4: Desobstrução da calcificação a entrada do canal radicular. (Fotografia


gentilmente cedida pelo Professor Ângelo Menezes Freire) .......................................... 28

Figura 5: Localização, instrumentação e obturação de canais calcificados. (Fotografia


gentilmente cedida pelo Professor Ângelo Menezes Freire) .......................................... 31


Índice de Tabelas

Tabela 1: Dentes calcificados - Opções de abordagem (adaptado de McCabe e


Dummer, 2012) ............................................................................................................... 25


Abreviatura e Siglas

EDTA – Ácido Etilenodiamino Tetra-acético


TVCB – Tomografia Volumétrica Cone-Beam
2D – Duas dimensões
3D – Três dimensões
mm – Milímetros
% - Percentagem


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Introdução

O sucesso da terapia Endodôntica está dependente de diversos fatores, muitos destes


controláveis pelo clínico antes de iniciar o tratamento. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Preparações adequadas do dente a ser tratado são de grande importância para o sucesso
e obtenção de um procedimento relativamente sem complicações. (Cohen e Hargreaves,
2011)

A abordagem dos canais radiculares tem como finalidade a limpeza, desinfeção,


conformação e obturação do espaço anteriormente ocupado pela polpa. (Lopes e
Siqueira, 2015)

A limpeza e a conformação dos canais estão condicionadas pelo estado patológico da


polpa, dos tecidos perirradiculares e da anatomia radicular. (Lopes e Siqueira, 2015)

A complexidade da anatomia interna e a distribuição dos microrganismos consideram-se


constituir um grande desafio para o tratamento Endodôntico. (Cohen e Hargreaves,
2011)

O conhecimento sobre a formação, estrutura e função dos tecidos dentários, são


clinicamente importantes e frequentemente decisivos para a preservação dos dentes e de
um tratamento bem-sucedido. (Lopes e Siqueira, 2015)

Assim verifica-se que o conhecimento do complexo pulpo-dentinário com os aspetos


correlacionados a atividade clínica, auxiliam o profissional que deseja fundamentar em
bases biológicas os procedimentos da pratica clínica. (Lopes e Siqueira, 2015)


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

A polpa e a dentina formam uma autêntica unidade biológica, conhecida como


complexo pulpo-dentinário, pelos seus aspetos estruturais, embriológicos e funcionais.
(Leonardi, 2011)

A dentina é um tecido muito sensível aos estímulos externos recebidos pelas


terminações nervosas da polpa. (Leonardi, 2011)

Se estes estímulos não forem removidos, a polpa encaminhará para pulpites, necrose
pulpar, ou calcificação radicular. (Cohen e Hargreaves, 2011; Leonardi, 2011)

A Teoria Hidrodinâmica considera que os estímulos externos atuam na dentina


induzindo um movimento abrupto do fluido dentinário no interior dos túbulos
dentinários, em direção à polpa ou em direção à periferia. O rápido deslocamento do
fluido dentinário, ativa as fibras nervosas sensoriais da polpa e da dentina, provocando
dor. (Ginjeira et al., 2008; Lopes e Siqueira, 2015)

Uma agressão por trauma, pode originar uma resposta isquémica, que por sua vez pode
diminuir o suprimento neurovascular da polpa, ocasionando aumento de deposição de
dentina mineralizada dentro da cavidade pulpar. (Zuolo et al.,2010; Lopes e Siqueira,
2015)

Diversas classificações são utilizadas quando se avalia a dentina mineralizada, variando


de acordo com a estrutura, composição, tamanho e localização da deposição deste
tecido. (Zuolo et al., 2010)

A obliteração parcial ou total da cavidade pulpar por tecido mineralizado,


genericamente denominada de calcificação, representa um desafio para o clínico no
âmbito de localizar e trabalhar nos canais. (Zuolo et al., 2010)


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

O tema “Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia” foi escolhido com o


objetivo de compreender os vários processos que envolvem a deposição de tecido
mineralizado na câmara pulpar e nos canais radiculares, como também identificar os
seus aspetos clínicos, aspetos radiográficos, e opções de abordagem terapêutica.


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Desenvolvimento

Materiais e Métodos

De modo a realizar a revisão bibliográfica referente a abordagem em Endodontia de


Canais Calcificados presente nesta monografia, recorreu-se as bibliotecas da
Universidade Fernando Pessoa, e as seguintes bases de dados online: Researchgate,
PubMed, Scielo, Science Direct, e b-On.

Para a pesquisa bibliográfica foram selecionados 33 artigos científicos e 7 livros


publicados entre os anos de 2000 e 2016, utilizando as palavras-chave: “Calcified root
Canals”, “Calcific metamorphosis”, “calcific pulp obliteration”, “Pulp canal
obliteration”, com restrição bibliográfica aos idiomas Português, Inglês e Espanhol.


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

I. Complexo Pulpo-Dentinário

A dentina e a polpa dentária são tecidos que partilham a mesma origem embrionária,
mas que apresentam características diferentes. Pela sua íntima relação durante todo o
desenvolvimento e vida funcional do dente, estes dois tecidos são considerados como
uma estrutura integrada designada complexo pulpo-dentinário. (Lopes e Siqueira, 2015)

O complexo pulpo-dentinário encontra-se geralmente isolado do ambiente oral através


de um revestimento protetor natural. Na coroa, este revestimento protetor consiste no
esmalte, e na raiz, consiste em cemento. Quando este revestimento é perdido ou
danificado, o complexo pulpo-dentinário fica sujeito a exposição de agentes agressores.
(Lopes e Siqueira, 2015)

Todas as agressões impostas à dentina são repercutidas ao tecido pulpar, e a resposta da


polpa aos estímulos externos resultam em alterações fisiológicas refletidas na dentina.
(Cohen e Hargreaves, 2011)

1. Dentina

A dentina é um tecido mineralizado que envolve a polpa e que constitui as paredes da


câmara pulpar e do canal radicular, sendo assim considerado o maior volume da coroa e
raiz do dente. (Ferreira et al., 2007)

Na sua composição, a dentina, apresenta 70% de material inorgânico, maioritariamente


cristais de hidroxiapatite, 20% de matriz orgânica, maioritariamente colagénio, e 10%
de água. (Nanci, 2013)


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Na junção entre polpa e pré-dentina, localizam-se os odontoblastos, células


especializadas e responsáveis pela síntese dos diferentes tipos de dentina. A dentina do
manto, é a primeira dentina sintetizada pelos odontoblastos, localizando-se
inferiormente ao esmalte e cemento. (Lopes e Siqueira, 2015)

A pré dentina, consiste numa zona estreita não mineralizada, localizada entre a camada
odontoblástica e a dentina mineralizada. (Cohen e Hargreaves, 2011)

A dentina globular, é uma dentina mineralizada, que não se funde numa massa
homogénea. (Ferreira et al., 2007)

A dentina interglobular, é uma dentina não mineralizada ou hipomineralizada, que


circunda a polpa. (Ferreira et al., 2007)

A dentina peritubular, deposita-se no interior dos túbulos dentinários de forma


centripeta, lenta e gradual. É mais rígida e calcificada do que a dentina intertubular.
(Ferreira et al., 2007)

A dentina intertubular, é a dentina que compreende o maior corpo de dentina,


circundando a parte externa da dentina peritubular. Consiste num extenso número de
finas fibras de colagénio envolvidas numa substância amorfa. (Ferreira et al.,2007;
Cohen e Hargreaves, 2011)

A dentina secundária, é formada após a formação completa do dente, devido a uma


função pulpar fisiológica. (Cohen e Hargreaves, 2011)

A sua deposição causa uma diminuição progressiva do tamanho da câmara pulpar e do


numero de odontoblastos por mecanismos de apoptose. (Cohen e Hargreaves, 2011)


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

As alterações de espessura da dentina secundária podem ser controladas por


radiografias. (Lopes e Siqueira, 2015)

A dentina terciária, forma-se como resposta a estímulos externos, e pode ser também
designada por dentina reacional ou reparadora. (Ferreira et al., 2007)

Na sua constituição fazem parte células recém diferenciadas que se originam a partir de
células tronco mesenquimais da polpa, que substituem os odontoblastos originais
destruídos pelo estimulo agressor. (Lopes e Siqueira, 2015)

Outra dentina que aparece como resultado de lesões ou do processo fisiológico de


envelhecimento, é a dentina esclerótica.(Lopes e Siqueira, 2015)

A dentina esclerótica é caracterizada pela calcificação dos túbulos dentinários,


apresentando uma transparência consequente da diferença de índices refrativos dos
túbulos dentinários calcificados e dos túbulos dentinários normais adjacentes, quando
analisados pela luz transmitida. (Lopes e Siqueira, 2015)

As dentinas terciárias e esclerosadas podem ser mecanismo de defesa importantíssimos


para a defesa do complexo pulpo-dentinário contra agressões externas. (Lopes e
Siqueira, 2015)

2. Polpa

A polpa dentária é um tecido conjuntivo, que se apresenta contido entre as paredes de


dentina. É constituída por: nervos, vasos sanguíneos, fluido intersticial, odontoblastos,
fibroblastos e outros componentes celulares. (Chandra e Krishna, 2010)


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Anatomicamente, a polpa dentária, pode ser dividida como polpa coronária, que
representa a porção presente na câmara pulpar, e como polpa radicular, a porção de
polpa presente no canal radicular. (Lopes e Siqueira, 2015)

A polpa radicular conecta-se com o ligamento periodontal diretamente através dos


forâmenes apicais e laterais. Consequentemente os tecidos perirradiculares,
nomeadamente ligamento periodontal, osso alveolar e cemento, podem ser afetados por
qualquer alteração patológica no tecido pulpar. (Lopes e Siqueira, 2015)

A polpa apresenta várias funções:

• Produção de dentina para formação do dente;

• Nutrição para preservar a vitalidade dos elementos celulares;

• Sensorial para a perceção dos estímulos externo;

• Proteção e reparação contra os estímulos nocivos para o dente. (Chandra


e Krishna, 2010)

3. Mecanismos de defesa do Complexo Pulpo-Dentinário

A polpa e a dentina do dente funcionam como um sistema integrado, sendo que o


elemento essencial para o funcionamento deste sistema são os odontoblastos. (Cohen e
Hargreaves, 2011)

A proteção da polpa dentária é dependente da quantidade de dentina formada pelos


odontoblastos. Deste modo verifica-se na dinâmica integrada do complexo pulpo-
dentinário, que impactos sobre a dentina podem afetar os componentes da polpa e


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

consequentemente distúrbios na polpa dentária, vão interferir na quantidade e qualidade


de dentina produzida. (Cohen e Hargreaves, 2011)

As reações pulpares são observadas quando a barreira dentinária está suficientemente


permeável para possibilitar que bactérias ou suas toxinas atinjam a polpa. O complexo
pulpo-dentinário apresenta mecanismos de defesa contra agressões de origem:
biológica, térmica, química ou mecânica. (Abbot e Yu, 2008; Cohen e Hargreaves,
2011)

Estes mecanismos de defesa têm como objetivo manter a vitalidade do tecido e dos
odontoblastos, que são as primeiras células sensibilizadas pelo agente agressor. (Abbot e
Yu, 2008; Cohen e Hargreaves, 2011)

Para as agressões de origem biológica o complexo pulpo-dentinário reage como


mecanismo de defesa, com a deposição de dentina terciária, para as agressões químicas
reage com a deposição de dentina intratubular, e para as de origem mecânica reage com
inflamação e resposta humoral. (Abbott e Yu, 2008)

A agressão por trauma no complexo pulpo-dentinário pode resultar numa resposta


isquémica como mecanismo de defesa, que leva a uma diminuição do suprimento
neurovascular do tecido pulpar, e por consequência aumento de tecido mineralizado no
interior da cavidade pulpar e canais radiculares. (Lopes e Siqueira, 2015)

Essa formação progressiva de tecido duro no interior do sistema de canais radicular,


pode levar a sua obliteração parcial ou total, também designada por calcificação. (Cohen
e Hargreaves, 2011)


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

II. Tipos de calcificação

A deposição de tecido calcificado pode ser uma resposta fisiológica natural durante o
envelhecimento ou uma resposta de defesa a um estímulo agressor externo,
apresentando com ele uma íntima relação espacial, posicionando-se ligeiramente para
apical em relação à lesão. (Cohen e Hargreaves, 2011)

O tecido de calcificação encontra-se usualmente depositado a volta das fibras de


colagénio, detritos de células necróticas ou coágulos sanguíneos. (Cohen e Hargreaves,
2011)

A deposição de tecido calcificado causada por ataque bacteriano apresenta uma redução
inicial no espaço pulpar coronal que, posteriormente, poderá progredir para os canais
radiculares. A deposição de tecido calcificado causada por trauma, apresenta uma
redução de igual volume para a câmara pulpar e canais radiculares. (Cohen e
Hargreaves, 2011)

1. Calcificação Pulpar

A calcificação pulpar, consiste numa massa calcificada, que ocorre na polpa ou nas
paredes do espaço pulpar. (Ferreira et al., 2007)

Na polpa coronária, a calcificação geralmente tem tendência a apresentar-se de forma


discreta e concêntrica com pedras pulpares, ao contrário da polpa radicular, onde a
calcificação apresenta-se de forma difusa. (Lopes e Siqueira, 2015)

As principais causas da calcificação pulpar são maioritariamente desconhecidas, mas


sabe-se que podem desenvolver-se devido a cáries, medicações intracanalares, traumas
(extrusão, luxação lateral) e envelhecimento. (Deva et al, 2006; Lopes e Siqueira, 2015)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

A presença de mais que um nódulo pulpar no mesmo dente com características


histológicas diferentes leva a conclusão que os fatores etiológicos e patológicos na base
da formação de nódulos pulpares são múltiplos. (Deva et al, 2006)

Ao nível da câmara pulpar, pelo ponto de vista histológico e processo de formação,


estão descritos dois tipos de calcificação: os nódulos pulpares e os falsos nódulos
pulpares. (Deva et al, 2006)

Os nódulos pulpares representam massas calcificadas que aparecem na polpa dentária


frequentemente na vizinhança do forâmen apical. Apresentam uma estrutura bioquímica
e microscópica similar a dentina, sendo idêntica à razão de cálcio/fósforo. (Nanci, 2013)

Variam, em tamanho, de pequenas partículas microscópicas a grandes expansões que


podem ocupar toda a câmara pulpar. Adicionalmente, eles apresentam túbulos dentinário
formados por odontoblastos que fazem fronteira com a dentina no exterior. (Nanci,
2013)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Figura 1: Radiografias periapicais do tratamento Endodôntico de um segundo molar


inferior direito com um nódulo pulpar. (Fotografia gentilmente cedida pelo Profº Miguel
Albuquerque Matos)

Os nódulos pulpares podem ser únicos ou múltiplos em qualquer dente, podem inclusive
aparecer em todos os dentes de um individuo. (Nanci, 2013)

No âmbito de serem diagnosticados radiograficamente, os nódulos pulpares devem


apresentar um tamanho minimamente largo, e uma concentração suficiente de sais
minerais. (Deva et al., 2006)

A etiologia da sua formação ainda não é clara. Verificou-se que podem aparecer em
dentes aparentemente normais sem qualquer tipo de lesão, como seu mecanismo de

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

defesa devido a problemas de oclusão que conduziram a aparição de pressões oclusais


distintas em direção e força. (Deva et al., 2006)

Por outro lado, temos os falsos nódulos pulpares, que não apresentam túbulos
dentinários nem odontoblastos na sua periferia. A incidência da sua formação com o
envelhecimento e de sintomatologia é baixa. (Deva et al., 2006)

Considera-se a probabilidade destas formações calcificantes agirem como um corpo


estranho na câmara pulpar, induzindo sintomatologia inespecífica e de baixa
intensidade, que não chega muitas vezes a ser levada em consideração pelo paciente ou
profissional. (Deva et al., 2006)

Deste modo, a sua descoberta é feita na maioria dos casos de modo acidental,
maioritariamente em estudos histológicos do que radiográfico. (Deva et al., 2006)

Para serem evidenciados na radiografia os nódulos pulpares têm de ser grandes o


suficiente. (Deva et al., 2006)

A sua relevância clínica primária permanece na área de tratamento Endodôntico, uma


vez que as formações de dentina secundária e terciária influenciam o tratamento de
canais radiculares. (Oginni et al., 2009)

2. Calcificação Distrófica

As calcificações distróficas, são frequentemente encontradas nas paredes e vasos


sanguíneos. (Silva e Muniz, 2007)

Este processo inicia-se dentro da mitocôndria, devido ao aumento de permeabilidade da


membrana ao cálcio. Este processo resulta numa falha para manter ativos os sistemas de

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

transporte dentro das membranas das células. Por consequência, a degeneração das
células, serve como foco para iniciar a calcificação do tecido. (Silva e Muniz, 2007)

Normalmente os dentes apresentam alteração de cor que varia do castanho ao amarelo,


tornando os dentes mais saturados pela intensa deposição de dentina. (Silva e Muniz,
2007)

3. Calcificação Nodular

A calcificação nodular consiste numa alteração fisiológica relacionada a alterações


regressivas correspondentes à vacuolização dos odontoblastos com atrofia reticular e
calcificação pulpar. (Ferreira et al., 2007)

Os nódulos podem ou não incluir estrutura dentinária e podem encontra-se aderentes a


dentina, à parede da câmara ou no tecido pulpar. (Ferreira et al., 2007)

4. Calcificação Parcial

A calcificação parcial consiste na diminuição do lúmen do canal radicular e atrofia da


câmara pulpar pela formação de dentina terciária, resultante das alterações defensivas da
polpa. (Ferreira et al., 2007)

5. Calcificação Total

A calcificação total consiste na obstrução completa do sistema de canais radiculares. A


sua origem parece ser consequência de traumatismos de pequena intensidade. (Ferreira
et al., 2007)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

6. Metamorfose Calcificante

A metamorfose calcificante, também designada por obliteração canalar, é uma


consequência usual do traumatismo dentário. Considera-se que a metamorfose
calcificante desenvolve-se maioritariamente em dentes com histórico de concussão e
subluxação. (Cleen, 2002; Oginni e Adekoya-Sofowora, 2007)

Fatores como a extensão da luxação e o estágio da formação radicular vão influenciar a


frequência da metamorfose. (Cleen, 2002; Oginni e Adekoya-Sofowora, 2007)

Em dentes com a formação da raiz incompleta, o trauma resulta em rompimento dos


vasos de sangue que fazem suprimento sanguíneo do dente, produzindo a necrose
pulpar. O forâmen apical amplo permite ao tecido conjuntivo do ligamento periodontal
proliferar e substituir o tecido necrosado, trazendo com ele células capazes de se
diferenciar em cementoblastos e/ou osteoblastos. (Cohen e Hargreaves, 2011)

O exato mecanismo para a ocorrência desde fenómeno é desconhecido, pensa-se que o


controlo do suprimento sanguíneo para os odontoblastos é alterado resultando numa
formação descontrolada de dentina reparativa. (Haque e Hossain, 2010)

Outra teoria que existe, é que após um trauma no dente pode haver ocorrência de
hemorragia e formação de um coágulo de sangue no dente, sendo estes fatores um foco
para a calcificação subsequente. (Haque e Hossain, 2010)

Movimentos ortodônticos intrusivos são considerados ter um grande impacto no


suprimento sanguíneo da polpa e apical do dente. (Bauss et al., 2008)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

III. Incidência

A calcificação do tecido pulpar é uma ocorrência muito comum. Embora as estimativas


de incidentes do fenómeno variem, é certo dizer que um ou mais dos tipos de
calcificação estão presentes em, pelo menos, 50% de todos os dentes. (Zuolo et al.,
2010)

A necrose pulpar ocorre em 20% dos dentes detetados radiograficamente com


calcificação. (Sardhara et al., 2016)

A calcificação ocorre com maior frequência em pacientes idosos, dentes com cárie,
expostos a traumatismos, abfração ou abrasão, capeamento pulpar, pulpotomia,
desequilíbrio oclusal e procedimentos operatórios. (Lopes e Siqueira, 2015)

As calcificações também são consequências comuns após traumas oclusais, em alguns


tipos de cirurgia maxilar, e certos tratamentos ortodônticos. (Sardhara et al., 2016)

A aplicação de forças ortodônticas extrusivas favorece o aparecimento de nódulos


pulpares nos dentes em 20%. (Sardhara et al., 2016)

A formação de um nódulo pulpar é um complexo morfológico que necessita de um certo


tempo. Por esta razão, os nódulos pulpares podem aparecer em qualquer dente de arcada
dentária e em pacientes de diversas idades. (Deva et al., 2006)

Sendo que se verificou que a incidência dos nódulos pulpares aumenta com a idade, e
que quase 90% dos pacientes com nódulos pulpares estão acima dos 40 anos de idade.
(Deva et al., 2006)

No estudo de Deva et al. (2006), 70% dos casos de nódulos pulpares são evidenciados
principalmente ao nível dos molares maxilares e mandibulares. Considera-se que esta

16


Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

evidência se deve a grande incidência de câmaras pulpares largas, fortes pressões


oclusais, e lesões de cárie e periodontite, nesta área.

Os nódulos pulpares são maioritariamente observados nas câmaras pulpares, mas


também podem ser encontrados no canal radicular. Nestes casos aparecem como uma
pequena calcificação que pode ou não deformar o canal radicular, tornando-se uma
calcificação difusa difícil de diferenciar. (Deva et al., 2006)

Foram encontrados mais casos de nódulos pulpares de grande tamanho em dentes com
necrose pulpar do que em dentes vitais com processos de cavidades profundas ou com
periodontite. (Amir et al., 2001; Deva et al., 2006)

No entanto, é certo que a sua formação e desenvolvimento teve início na polpa viva,
sem saber exatamente como e em que grau o tecido pulpar foi afetado no momento em
que o processo de mineralização se iniciou. (Amir et al., 2001; Deva et al., 2006)

Usualmente dentes com metamorfose calcificante são dentes anteriores que estiveram
sujeitos ao trauma em idade jovem. (Amir et al., 2001; Deva et al., 2006)

IV. Métodos de Diagnóstico

A maior parte dos dentes com calcificação pulpar e/ou canalar são considerados
saudáveis e funcionais baseados na avaliação radiográfica, exame clínico, sinais e
sintomas. (Oginni, 2009)

Dentes com calcificação pulpar geralmente não costumam apresentar sintomas,


geralmente são diagnosticados acidentalmente com investigações clínicas ou
radiográficas. (Oginni, 2009).

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

1. Exame Clinico

No exame clínico as coroas dos dentes afetadas pelas transformações causadas por
calcificação podem mostrar uma coloração amarelada comparada ao dente normal
adjacente. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Esta coloração associada ao desaparecimento dos limites pulpares da câmara pulpar por
calcificação parcial ou total, observada no exame radiográfico, são dados que levam a
suspeita de presença de metamorfose calcificante da polpa. (Zuolo, 2010; Cohen e
Hargreaves, 2011)

No caso de cálculos pulpares, a dor e a sensibilidade são frequentemente presentes. E se


houver histórico de trauma, ocasionalmente o dente pode estar levemente solto ou
deslocado. (Haque e Hossain, 2012)

2. Exame Histológico

Nos cortes histológicos os nódulos pulpares tendem a aparecer como formações


calcificadas conjuntivas com estrutura não homogénea, de forma redonda ou oval, bem
delimitados do resto da estrutura pulpar, da camada de odontoblastos e dentina. Outros
apresentam-se de forma alongada e contornos irregulares. (Deva et al, 2006)

Dentro algumas áreas onde os nódulos pulpares tinham estado em contacto direto com
os odontoblastos, essas células apresentam uma reação de defesa com a síntese e
deposição de dentina em direção a câmara pulpar. (Deva et al, 2006)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

3. Testes de Sensibilidade

Em dentes calcificados a presença ou ausência de sintomas está dependente do estado


da mineralização do sistema de canais. (Malhotra e Mala cit in Fonseca, 2015).

Geralmente a resposta ao frio e ao quente tende a diminuir e a resposta aos testes


elétricos pode apresentar-se normal ou ausente, dependendo do estádio da calcificação.
Geralmente estes dentes não apresentam sensibilidade a percussão. (Malhotra e Mala
cit in Fonseca, 2015).

Na presença de calcificação canalar, é geralmente verificado que os testes de


sensibilidade não são fiáveis, sendo observado também que há diferença significativa no
teste elétrico pulpar entre dentes parcialmente calcificados e totalmente calcificados.
(Oginni et al. 2009)

A ausência de resposta positiva aos testes elétricos não implica necessariamente necrose
pulpar. (Oginni et al. 2009).

4. Exame Radiográfico

A interpretação radiográfica deve ser realizada minuciosamente, sendo de extrema


importância para a identificação de problemas, determinação do diagnóstico, e em todas
as fases do tratamento Endodôntico, nomeadamente planeamento, controlo intra-
operatório e avaliação dos resultados. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Para a avaliação da morfologia radicular e dos canais radiculares, várias técnicas têm
sido utilizadas: coloração dentária, radiografia digital e convencional, radiografia de
contraste e tomografia computorizada (Ingle et al., 2008)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

O seu diagnóstico de calcificação canalar é precoce, quando o dente apresenta obstrução


total do espaço pulpar coronário e/ou radicular, sem quaisquer vestígios das paredes
laterais nos exames radiográficos obtidos. (Munley, 2005)

Figura 2: Radiografia periapical de um incisivo central superior esquerdo com


calcificação parcial canalar e lesão apical. (McCabe e Dummer, 2012)

No exame radiográfico, o espaço pode parecer totalmente obliterado, mas ainda pode
haver tecido pulpar remanescente no canal. (Munley, 2005)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Figura 3: Radiografia periapical de um incisivo central superior esquerdo com


calcificação total do canal radicular. (Silva e Muniz, 2007)

Nas radiográfias convencionais, consegue-se detetar nódulos pulpares na câmara, ao


contrário das calcificações na raiz que usualmente só são detetadas durante a exploração
do canal radicular. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Estes dentes normalmente estão assintomáticos e radiograficamente sem patologia


apical. A radiografia pré-tratamento consegue evidenciar a entrada dos canais, e a
extensão da calcificação no sistema de canais radiculares no caso de esta ser quase total
ou total. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Yoshioka et al. (2004), mostraram que grande parte dos profissionais mostram
inabilidade para detetar mudanças de calcificação canalar. Os profissionais generalistas
estão mais preparados para detetar mudanças periapicais e calcificações canalares em
radiografias quando já está de natureza moderada a extensa, mas se essas mudanças
ainda são pequenas, são facilmente desapercebidas pelo profissional.

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Clinicamente, o diâmetro aparente radiográfico do canal nem sempre corresponde à sua


verdadeira largura. E a obliteração completa radiográfica do espaço do canal radicular
não significa necessariamente ausência do espaço da polpa ou do canal; na maioria dos
casos, um espaço de tecido pulpar no canal ainda é presente. (Munley e Goodell, 2005)

A radiografia bite-wing pode ser útil como um exame suplementar. Este exame
normalmente apresenta uma distorção menor da imagem devido à sua colocação
paralela e fornece uma informação importante sobre a coroa anatómica do dente.
Incluindo a extensão anatómica da câmara pulpar, a existência de cálculos pulpares ou
calcificações, qualquer evidência de terapia pulpar anterior. (Cohen e Hargreaves, 2011)

As radiografias convencionais representam uma imagem bidimensional (2D) de


estruturas tridimensionais (3D), deste modo não fornecem uma descrição precisa da
anatomia interna do canal radicular. (Tyndal e Rathore, 2008)

A grande vantagem da Tomografia Computorizada Cone Beam está na precisão


geométrica tridimensional que proporciona. (Tyndal e Rathore, 2008)

Quando os canais são identificados, mas estão submetidos a calcificação, o TVCB


mostrou-se uma ferramenta poderosa para avaliar o acesso da calcificação, contribuindo
assim para a determinação da sequência adequada do tratamento. (Randy et al., 2013)

As imagens TVCB permitem a visualização da profundidade das calcificações, guiando


o clínico para a correta localização, ângulo e profundidade para o acesso dos canais.
(Randy et al, 2013)

Segundo Randy et al. (2013) quando calcificações completas são detetadas, o TVCB
fornece informação crítica para que se decida preservar estruturas dentárias,
particularmente quando não existe patologia apical e o risco de expor um canal
completamente calcificado é injustificável.

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

A Tomografia Volumétrica Cone-beam não deve ser vista como substituta da radiografia
convencional, mas como um adjuvante diagnóstico. (Cohen e Hargreaves, 2011)

A vantagem das radiografias convencionais é que elas permitem a visualização da


maior parte das estruturas numa imagem única. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Embora possa mostrar maiores detalhes em muitos planos de visão, a TVCB também
pode deixar de fora detalhes importantes se o “corte” não estiver na área da condição
patológica existente. (Cohen e Hargreaves, 2011)

V. Abordagem Terapêutica

O sucesso do tratamento Endodôntico depende de várias etapas realizadas com êxito,


particularmente, o diagnóstico pulpar e periodontal, anatomia, preparação, desinfeção e
obturação canalar. (Sherwood, 2012)

O tratamento convencional dos canais radiculares geralmente apresenta alto índice de


sucesso igual para os casos relativamente simples, como também para os casos mais
difíceis. .(Cohen e Hargreaves, 2011; Shweta et al., 2016)

No entanto, em situações que as calcificações bloqueiam o acesso ao canal, o


tratamento Endodôntico é muitas vezes fracassado.(Cohen e Hargreaves, 2011; Shweta
et al., 2016)

Segundo McCabe (2011) a necrose pulpar e a doença periodontal não são complicações
frequentes em dentes com calcificação, não sendo necessário o tratamento Endodôntico
na maior parte das vezes em dentes calcificados.

Por outro lado, Oginni et al. (2009), considera que as transformações de calcificação
notadas na radiografia sugerem que o dente deve ser tratado Endodonticamente, uma

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

vez que é esperada uma necrose pulpar por infeção secundária, e a terapia Endodôntica
deve ser realizada enquanto os canais tem largura o suficiente para serem
instrumentados.

Pallippurath et al. (2015) descreveram quatro opções possíveis para abordagem dos
dentes com calcificação, estas são:

1- Esperar e observar

2- Abordagem não cirúrgica

3- Abordagem cirúrgica

4- Abordagem não cirúrgica seguida de abordagem cirúrgica.

A escolha da abordagem a realizar é dependente do estado canalar e periapical do dente


afetado. Quando o dente está assintomático e com mais três quartos do dente com
obstrução pulpar, nenhuma intervenção é indicada, sem ser a monitorização radiográfica
periódica. (Pallippurath et al., 2015)

Por outro lado, se o dente se apresentar sintomático à sensibilidade, percussão, e ou


com lesão periapical associada, está recomendada a intervenção terapêutica para
eliminar o foco de infeção. (Pallippurath et al., 2015)

A intervenção pode ser feita com o tratamento Endodôntico não cirúrgico, mas em caso
de impossibilidade de localizar o canal ou persistência de infeção, a cirurgia
endodôntica é recomendada. (Pallippurath et al., 2015)

A cirurgia Endodôntica pode ser a única alternativa possível diferente de extração do


dente, quando o tratamento convencional não cirúrgico fracassa. Apesar de sua

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

importância não poder ser subestimada, há uma falta na literatura sobre o tratamento
ideal de dentes mostrando sinais calcificação. (Tavares, 2012)

Tabela 1: Dentes calcificados - Opções de abordagem (adaptado de McCabe e


Dummer, 2012)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

1. Tratamento Endodôntico Não cirúrgico

O Tratamento Endodôntico Não cirúrgico tem como objetivo curar ou prevenir


periodontites periradiculares, tratando a polpa e o sistema de canais radiculares, de
modo que se possa restabelecer a estética e função do dente. (Cohen e Hargreaves,
2011)

Durante a tentativa de instrumentação de canais calcificados, é comum observar-se


calcificação em qualquer nível do espaço canalar. (Gutman e Lovdah, 2012)

Estudos histológicos revelam que as calcificações raramente são completas até ao ápice.
Assim o prognóstico do tratamento Endodôntico vai depender da integridade dos
tecidos pulpares e periapicais no lado apical da zona obstruída. (Gutman e Lovdah,
2012)

1.1. Cavidade de Acesso

A preparação da cavidade de acesso no dente, permite a localização, limpeza,


modelagem, desinfeção, e obturação tridimensional do sistema de canal radicular.
(Cohen e Hargreaves, 2011)

A execução incorreta desta etapa em termos de posição, profundidade, ou extensão irá


dificultar a obtenção de resultados satisfatórios no tratamento. (Cohen e Hargreaves,
2011)

A limpeza adequada do espaço Endodôntico, é um dos principais fatores a levar em


conta, deve ser a mais rigorosa possível. É necessário a remoção completa do teto da
câmara pulpar, permitindo assim a remoção de detritos, tecido pulpar, calcificações. O
fracasso desta fase leva a contaminação do sistema radicular e descoloração do dente.
(Castellucci, 2005)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

A cavidade de acesso em dentes com calcificação pulpar normalmente é a parte crítica


do tratamento. Deverá ser realizada cuidadosamente e de forma lenta, tendo sempre em
conta a diferenciação de cor de dentina na região.(Santos et al., 2013)

Por vezes é necessário realizar um aumento no tamanho da abertura coronária nos


dentes anteriores e na parede mesial nos posteriores para melhorar a visualização da
câmara pulpar, reduzindo a possibilidade da perfuração com a utilização de
instrumentos cortantes, nomeadamente brocas esféricas com ponta ativa, na procura dos
canais. (Lopes e Siqueira, 2015)

A diminuição da câmara pulpar é um aspeto importante a ser considerado em pacientes


com idade avançada. Em caso de calcificação pulpar, a cirurgia de acesso coronário
apresentará maior dificuldade, e a realização do acesso com imprudência poderá resultar
em perfurações do dente em questão. (Santos et al., 2013)

Nos incisivos centrais, incisivos laterais e caninos, a cavidade de acesso é geralmente


realizada no centro da superfície palatina da coroa, com a penetração da broca a
aproximadamente 45 graus em relação ao longo eixo do dente. (Amir et al., 2001)

No entanto, numa câmara pulpar calcificada a penetração continua feita com o ângulo
de 45 graus em relação ao longo eixo acabará por passar inteiramente sobre o canal e
resultar em perfuração da superfície radicular. (Amir et al., 2001)

Para prevenir este acidente, após a penetração de 3 a 4 mm da broca, esta deverá ser
rotacionada o mais paralelo possível ao longo eixo do dente. (Amir et al., 2001)

Se a preparação de acesso permanece bem centrada, ao longo do eixo do dente e


limitada inicialmente ao nível da junção amelocementária, a entrada dos canais
radiculares torna-se mais fácil de localizar. (Sardhara, 2016)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Uma vez que a cavidade de acesso tenha sido preparada segundo as guias anatómicas
para o dente em questão, o uso do microscópio operatório e ultrassom são de importante
utilidade para o auxilio na remoção dos pequenos blocos de dentina. (McCabe, 2006)

Figura 4: Desobstrução da calcificação à entrada do canal radicular. (Fotografia


gentilmente cedida pelo Professor Ângelo Menezes Freire)

1.2. Localização dos canais radiculares

A iluminação e a magnificação do campo operatório são de grande utilidade no


procedimento clínico para desobstrução em casos de canais calcificados. Permitem
determinar a posição da câmara pulpar, a distinção entre a dentina radicular, o solo da
câmara pulpar e os depósitos calcificados. (Zuolo,2010)

A transiluminação é uma técnica que permite a visualização de orifícios estreitos de


canais radiculares e outras condições clínicas. Consiste em empregar uma luz intensa

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

pela lateral do dente, aumentando consideravelmente a capacidade de diagnóstico e


tratamento do clínico. Um dente saudável irá apresentar um índice de transmissão de luz
maior do que em caso de dente com cárie ou cálculos. Se uma luz intensa for aplicada a
um dente, e toda a luz externa for reduzida, essas entidades clínicas vão aparecer como
áreas escuras nítidas numa estrutura clara. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Soluções como o hipoclorito de sódio a 5% podem ser utilizadas para a identificação do


canal calcificado. O teste da bolha ou teste do champanhe, consiste em colocar 5% de
hipoclorito de sódio dentro da câmara pulpar sobre o canal calcificado. O contacto do
hipoclorito com o tecido pulpar remanescente resulta num conjunto de bolhas que
emergem da oxigenação do tecido, indicando o local onde se encontra o canal
calcificado. (Johnson, 2009; Tavares, 2012)

O uso de magnificação auxilia a visualização do conjunto de bolhas, sendo também


necessário como guia durante todo o procedimento. (Johnson, 2009; Tavares, 2012)

Os instrumentos de ultrassom desempenham um papel cada vez mais importante no


tratamento Endodôntico. Estes instrumentos apresentam um método para corte de
tecidos dentários duros e materiais restauradores utilizando oscilações piezo-eléctrico.
Como o campo operatório é limitado, o uso de alta ampliação e iluminação adequada é
essencial durante o uso desses instrumentos. (Silva e Muniz, 2007)

Uma variedade de modelos de ponta de ultrassons está disponível, e variam em


complexidade de curvas simples para curvas multianguladas. Os ultrassons permitem a
desobstrução conservadora dos canais radiculares, sem precisar a destruição da estrutura
radicular. Também são úteis para realizar o desgaste compensatório dentinário, uma vez
que proporcionam cortes mais precisos no tecido. (Silva e Muniz, 2007)

O uso de agentes quelantes são uma ótima ferramenta para conseguir uma adequada
instrumentação do canal calcificado e obter um correto comprimento de trabalho dos
canais. (Cohen e Hargreaves, 2011)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

O grau em que estes agentes facilitam a negociação e preparação dos canais continua
desconhecida. Isto porque há dificuldade em providenciar uma quantidade suficiente do
quelante para o canal radicular, e também porque há diferenças da estrutura entre a parte
media, coronal e apical da dentina. A dentina apical é frequentemente mais esclerosada.
(Cohen e Hargreaves, 2011)

A solução liquida ETDA é recomenda para a identificação da entrada dos canais


calcificados. (Cohen e Hargreaves, 2011)

O ETDA em gel e o peróxido de hidrogénio são recomendados para lubrificar os canais,


facilitando a ação e movimento dos instrumentos manuais nos canais calcificados e
atrésicos. A sua ação quelante age sobre os cristais de hidroxiapatite produzindo o
amolecimento da dentina. (Maekawa et al., 2009)

As características anatómicas do solo da câmara pulpar, nomeadamente as mudanças de


cor do solo, são ferramentas essenciais para a localização dos orifícios canalares, e nesta
medida devem ser preservadas o máximo possível. (Amir et al., 2001)

A dentina calcificada apresenta diferenças clínicas da dentina original. Pode apresentar-


se mais translúcida com características vítreas, com textura rugosa e irregular ou mais
esbranquiçada preenchendo os espaços dos sulcos no solo da câmara pulpar. Essa
diferença de cor cria uma distinta junção onde a parede e o solo da polpa se encontram.
Os orifícios canalares são localizados nessas junções. (McCabe, 2006; Zuolo, 2010)

O explorador endodôntico DG16 é outro instrumento muito importante para a


localização da entrada do canal radicular. (McCabe, 2006)

Para minimizar o risco de perfuração é importante confirmar, radiograficamente e com o


localizador eletrónico apical, a localização do canal. (Amir et al., 2001)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Figura 5: Localização, instrumentação e obturação de canais calcificados. (Fotografia


gentilmente cedida pelo Professor Ângelo Menezes Freire)

1.3. Exploração e negociação dos canais radiculares

Após a localização da entrada do canal, deve-se alargar o terço coronal do dente de


modo a aumentar a sensação táctil e melhorar a penetração dos instrumentos. (Amir et
al., 2001)

As limas manuais K são suficientemente flexíveis para negociar canais calcificados.


Considera-se que a lima K 10 é muito larga e a 6 muito frágil para aplicar pressão

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

apical. A lima de escolha para iniciar a negociação do canal calcificado é a lima K


8.(Amir et al., 2001)

As limas devem ser introduzidas dentro do canal com o auxílio de um agente quelante e
movimentos de “vai-e-vem”, seletivamente circunferenciais com pressão lateral. Este
procedimento vai permitir realizar o alargamento do canal e possibilitar o acesso para a
introdução de brocas e limas de maior calibre. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Outros instrumentos também podem ser utilizados como brocas esféricas com diâmetro
ISO 0,5mm, de haste longa, de aço inoxidável, empregadas em baixa rotação, ou
unidades de ultrassom com pontas especiais desenvolvidas para o desgaste da dentina e
de interferências anatómicas. (Lopes e Siqueira, 2015)

As pontas de ultrassom são menores e mais seguras e que as brocas, portanto a dentina
pode ser removida em incrementos menores e com maior controle. (Lopes e Siqueira,
2015)

Durante a abordagem terapêutica deverá ser realizada irrigação abundante com


hipoclorito de sódio 3% a 5% de modo a potencializar a dissolução de detritos
orgânicos, lubrificar o canal e manter os fragmentos de dentina e de calcificação em
solução. (Gutmann e Lovdahl, 2012)

O processo de calcificação geralmente ocorre na direção coronal-apical, desta forma,


quando é localizada e entrada do canal, o instrumento tende a progredir mais facilmente
até ao término do canal. (Amir et al., 2001; Torabinejad et al., 2009)

A técnica crowndown é recomendada para a progressão do instrumento pelo canal e sua


conformação, uma vez que oferece um aumento na sensação táctil e melhor penetração
apical. A esta técnica pode ser associada a brocas gate-glidden, limas manuais, ou limas
de sistemas rotatórios. (Amir et al., 2001; Torabinejad et al., 2009)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Durante a penetração do terço apical, uma lima de aço inoxidável nº 10 ou 15,


suavemente, pré curvadas, deve ser usada para penetrar alem do terço médio. Com leves
movimentos circulares nos sentidos horário e anti-horário, deve-se avançar com o
instrumento mais de 1 a 2 mm para dentro do canal. O espaço recém-penetrado é
preenchido pelo instrumento até que ele mesmo deslize facilmente e alcance o nível
desejado no canal. (Gutmann e Lovdahl)

Quando o comprimento de trabalho estimado do dente é alcançado, uma lima k 8 deve


ser utilizada até uma k10 até 1 mm aquém desse comprimento. Nesse momento com o
instrumento no canal realiza-se a verificação radiográfica do comprimento de trabalho.
(Gutmann e Lovdahl, 2012)

O uso de radiografias e o do localizador eletrónico do ápice são importantes para


determinar o comprimento de trabalho do canal. No caso das radiografias
convencionais, a visualização pode ser mais difícil em razão de as limas serem muito
finas. (Gutmann e Lovdahl, 2012)

Após obter as informações do comprimento, a remoção das limas deverá ser feita com
uma força de rotação suavemente, em vez de fazer tração com força diretamente, para
evitar fraturas. (Gutmann e Lovdahl, 2012)

A diminuição do volume do espaço pulpar, verificada nas radiografias, principalmente


nas áreas mais próximas à coroa e em regiões mais apicais, não é uma contraindicação
para a terapia Endodôntica convencional. No entanto, é necessária atenção adicional
durante os procedimentos clínicos como pré-alargamento e pré-curvatura de
instrumentos manuais. (Cohen e Hargreaves, 2011)

Se a calcificação não poder ser removida, o tratamento cirúrgico ou a extração podem


ser consideradas, particularmente se está presente lesão periradicular. (Cohen e
Hargreaves, 2011)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

VI. Tratamento Endodôntico Cirúrgico

A abordagem cirúrgica deve ser considerada em casos onde se observou a persistência


de sintomas ou doença periapical, dificuldades, acidentes e fracassos durante o
tratamento Endodôntico não cirúrgico ou retratamento. (Carrotte, 2005)

Várias modalidades cirúrgicas podem ser utilizadas, e todas elas oferecem uma
abordagem direta ao ápice radicular. Estas modalidades podem ser: curetagem com
alisamento apical, apicectomia, apicectomia com retrobturação, apicectomia com
retroinstrumentação e retrobturação e obturação do canal simultaneamente. (Orso e
Filho, 2006)

No caso de dentes calcificados, a cirurgia Endodôntica pode ser opção terapêutica


primária. A decisão para esta abordagem deverá ser feita após o estudo e planeamento
detalhado do caso com o auxílio de múltiplas radiografias e a ponderação da
possibilidade de preservação dente com estabelecimento de selamento apical. (Cohen e
Hargreaves, 2011)

A evolução científica e da técnica da cirurgia Endodôntica tradicional, elevou os índices


de sucesso da cirurgia Endodôntica, passada a designar-se por microcirurgia
Endodôntica, de 60% para níveis acima dos 90%. (Pereira, 2013)

A microcirurgia Endodôntica combina a magnificação e a iluminação proporcionada


pelo microscópio com uso de micro-instrumentos, permitindo preparações apicais
conservadoras e obturações apicais precisas, obtendo maior sucesso mecânico e
biológico no tratamento. (Castro e Grisales, 2015)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

VII. Considerações Estéticas

A dentina é a responsável pela cor branco-amarelada do dente. Esta coloração está


dependente do grau de mineralização da dentina, da idade do individuo, e de pigmentos
endógenos e exógenos. (Lopes e Siqueira, 2015)

A cor do dente pode modificar apresentando-se mais escurecido, quando: a polpa perde
vitalidade, após a extirpação pulpar, com a medicação usada durante o tratamento
Endodôntico, com as hemorragias pulpares pós traumatismo, como sequela durante o
tratamento Endodôntico ou fratura. (Lopes e Siqueira, 2015)

O primeiro procedimento a realizar num dente que apresente descoloração é determinar


a sua causa. O exame clínico, os exames radiográficos, a transiluminação, e os testes de
sensibilidade pulpar são apropriados para determinar a vitalidade do dente. (Oginni et
al, 2009; Haywood e DIAngeils,2010)

A intensa deposição de dentina verificada na calcificação canalar, normalmente provoca


uma alteração de cor, que varia do castanho ao amarelo, causando um escurecimento do
dente. (Silva e Muniz, 2007)

Os dentes com esta condição geralmente não apresentam sintomatologia nem aspetos
radiográficos indicativos de alterações periapicais, sendo que maior problema recai
sobre a estética, um dos fatores de maior desconforto a muitos pacientes, principalmente
em dentes anteriores. (Silva e Muniz, 2007)

Vários tratamentos são propostos individualmente ou combinados para restaurar com


uma cor aceitável descolorações em dentes calcificados, estes podem ser
branqueamento externo, branqueamento interno, restaurações extracoronárias parciais
ou totais. (Haywood e DIAngeils, 2010)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

O tratamento Endodôntico pode ser associado a estas opções caso o dente não esteja
vital, com sintomatologia e/ou com lesão apical. (Haywood e DIAngeils,2010; McCabe
e Dummer, 2011)

VIII. Complicações no tratamento

De acordo com a American Association of Endodontists, os dentes calcificados estão na


categoria de alta dificuldade de tratamento, e consideram que é um desafio a obtenção
de resultados positivos até mesmo para profissionais experientes. (American
Association of Endodontics, 2005)

O excesso de zelo ou tentativas inapropriadas para localizar os canais radiculares podem


conduzir a sérios erros e complicações no tratamento Endodôntico. (Amir et al., 2001;
Cohen e Hargreaves, 2011)

A taxa de falha no tratamento Endodôntico não cirúrgico de canais calcificados está


entre 10 a 19%, sendo aconselhado a examinação clínica e radiográfica periódica. (Amir
et al., 2001; Cohen e Hargreaves, 2011)

As complicações mais evidentes no tratamento destes canais são: a excessiva remoção


de estrutura dentária, a perfuração, e a fratura de instrumentos (McCabe e Dummer,
2011)

O uso do microscópio operatório e ultrassom são úteis e seguros para a remoção das
calcificações, reduzindo o risco de perfurações. No caso de comunicação com o tecido
periodontal, a reparação deverá ser realizada imediatamente. (McCabe, 2006; Cohen e
Hargreaves, 2011)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Os instrumentos devem ser avançados gradualmente, limpos e inspecionados cada vez


que são retirados do canal, e não devem ser reinseridos se a sua integridade for
questionável. (Gutman e Lovdah, 2012)

Amir et al. (2001) verificou que a resseção de uma raiz num sistema de canais
calcificados pode deixar detritos de tecido necrosado em contacto com os tecidos
periradiculares, resultando numa inflamação cronica e consequentemente falha do
tratamento.

A prevenção é o melhor método para evitar erros durante a preparação dos canais
calcificados. (Amir et al., 2001)

Conhecimento, experiência e formação profissional são de extrema importância, como


também o monitoramento de alguns princípios básicos, tais como a obtenção de um
desgaste compensatório adequado, uso de irrigação abundante e quelantes. (Amir et al.,
2001)

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

Conclusão

A terapia Endodôntica abrange desafios que se apresentam desde o desenvolvimento de


um correto diagnóstico e seguem durante todos os procedimentos clínicos. As
calcificações representam um destes desafios.

A calcificação do sistema de canais radiculares caracteriza-se pela deposição do tecido


duro no espaço canalar, obstruindo-o parcialmente ou totalmente.

Clinicamente observa-se descoloração da coroa clínica, e ausência de sintomatologia.

É indicada a realização de exames clínicos, radiográficos, e teste de sensibilidade para


verificar a existência de alterações apicais.

Quando é diagnosticada a calcificação, surge a dúvida da altura em que se deve abordar


o dente Endodonticamente.

Há autores que acreditam que a intervenção profilática tem que ser realizada antes que a
calcificação não permita e dificulte a negociação. Outros acreditam que a abordagem
deverá ser feita no momento em que o dente apresente sinais e sintomas.

Os dentes calcificados usualmente apresentam problemas com a localização e


negociação do canal radicular.

O uso de ultrassons, iluminação e magnificação, associados a um cuidadoso exame


clínico e radiográfico, permitem ao clínico atuar em segurança.

A tecnologia associada ao conhecimento cientifico e a abordagem terapêutica


conservadora endodôntica, permitem a otimização e a manutenção dos resultados
positivos do tratamento.

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Canais Calcificados – Abordagem em Endodontia

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