EJA e Leitura de Mundo

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Sabe-se que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ainda é um grande desafio no Brasil.

Educar um adulto que não sabe ler ou escrever não é o mesmo que educar uma criança que não
sabe ler ou escrever, o adulto possui anos de vivência de mundo e isso não pode ser
desconsiderado durante o processo de ensino-aprendizagem.
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra” é uma frase muito forte de Paulo
Freire que aponta a necessidade de utilizar o mundo do estudante na aprendizagem. Veja bem,
quando um aluno estuda regiões na matéria de geografia ele sempre terá mais facilidade de
compreender a região que está inserido, pois vivência aquilo.
Quando tratamos da leitura do mundo na Educação de Jovens e Adultos a necessidade
dessa vivência é ainda maior, pois o aluno faz parte daquele contexto há bastante tempo e se o
tutor o utiliza no ensino a aprendizagem se torna mais fácil e a possibilidade de abandono do
curso é reduzida.
Se criarmos um paralelo entre leitura do mundo e letramento podemos visualizar de uma
forma mais clara. Uma pessoa letrada não necessariamente precisa ser alfabetizada, o indivíduo
letrado é aquele que possui conhecimento de mundo, aquele consegue contextualizar. Um
homem que nunca foi a escola, não é alfabetizado ou aprendeu as operações básicas de
matemática, trabalha em uma roça plantando milho e, por incrível que pareça, consegue efetuar
todas as contas necessárias para saber se sua produção foi bem ou mal. Esse homem não
aprendeu isso na escola, mas sim no mundo com sua vivência.
O público do EJA é, em sua grande maioria, como apontam os estudos de Julião, Beiral
e Ferrari (2017), formado de jovens que não conseguiram concluir o ensino médio ou
fundamental.

Outro dado fundamental que deve ser levado em consideração nesta discussão é que
a considerável diminuição no quantitativo de matrículas da EJA vem acompanhada
da mudança do perfil dos sujeitos demandantes. Ao contrário do que geralmente
acontecia décadas atrás, em que o público da EJA era majoritariamente de jovens e
adultos que não tinham acesso aos bancos escolares, hoje, cresce o número de jovens
e adultos que tiveram acesso a escola, porém, por motivos diversos, não conseguiram
permanecer nela. (JULIÃO, BEIRAL e FERRARI, p. 50, 2019).

Desta forma pode-se ver a necessidade de um ensino diferenciado, os alunos dessa


modalidade são diferentes um do outro, não é uma sala de aula do fundamental onde as crianças
estão aprendendo pela primeira algo totalmente novo como matemática ou biologia, esses
jovens saíram da escola por um motivo, e este motivo é importante, esses jovens já vivenciaram
alguma coisa que os afetou e atrapalhou seu rendimento escolar, como uma gravidez indesejada,
divorcio dos pais, problemas com sua sexualidade que o fizeram sair de casa, existem inúmeros
fatores que fizeram parte da vida desses estudantes e se o professor não conseguir compreende-
los, o ensino se tornará mais difícil e a cada dia menos alunos apareceram em sua sala de aula.
O docente precisa se adaptar a esse meio, embora o professor seja ensinado a transmitir
aquilo que aprendeu é de conhecimento geral que essa metodologia de ensino não se adequa
mais, os alunos podem buscar e vivenciar, e o professor deve guiar o estudante não podá-lo.
Ditar conhecimento não é um metodologia que serve nas classes do século XXI, e nunca será
uma boa metodologia para se aplicar em uma sala de aula de Jovens e Adultos. O professor
deve aplicar metodologias ativas onde o aluno participe da aula com seu conhecimento de
mundo, onde as pessoas presentes na sala possam discutir e dividir conhecimento, onde a leitura
de mundo seja vista antes da leitura da palavra.
Dessa forma é notório que o trabalho do professor da Educação de Jovens e Adultos não
é um trabalho fácil, este precisa não só aprender o conhecimento escrito, mas também o
conhecimento de mundo, a vivência do próximo, suas limitações e facilidades. O Professor da
EJA tem que estar aberto a conhecer e, não só, a transmitir conhecimento, pois a sala de aula é
o momento onde todos devem estar dispostos a aprender e a ensinar. Dessa forma o professor
deve levar para aula aquilo que os alunos estejam dispostos a estudar, aquilo que já faça parte
do dia a dia deles, pois trabalhar com algo que já conhece é menos assustador e traz para o
aluno uma sensação de pertencimento que irá auxiliar no processo de ensino-aprendizagem.

MOREIRA, R. M.; SOUZA, M. D. A. A leitura de mundo como ponto de partida para a


leitura da palavra: desafio da formação e prática de educadores de programas de
alfabetização de jovens e adultos. V Seminário Nacional – Formação de Educadores de Jovens
e Adultos. 13 a 15 de maio – Faculdade de Educação – UNICAMP, Campinas, SP.

JULIÃO, E. F.; BEIRAL, H, J, V.; FERRARI, G. M. As Políticas de Educação de Jovens e


Adultos na Atualidade Como Desdobramento da Constituição e da LDB. P O I É S I S –
REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, v.11, n. 19, p. 40 -
57, Jan/Jun 2017. UNISUL, Tubarão, SC.

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