A Árvore Que Queria Ser Menino

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A árvore que queria ser menino

Era uma vez um grande Jatobá. Ele


tinha quase 200 anos e estava cansado.
Mais ainda era muito forte. A velha árvore
vivia no meio de um parque, próximo à
cidade. Já não dava tantas flores e frutos.
Mas seus galhos e folhas ainda faziam uma
sombra grande e seu tronco grosso só era
abraçado por aproximadamente 10
crianças.
Por falar em crianças, o velho Jatobá
adorava quando as crianças vinham sentar
em seu tronco, comer doces, sanduiches e
outras coisas. E quando saiam, vinham os
pássaros comer as migalhas. O velho Jatobá
também era apaixonado naquelas aves
todas que sentavam em seus galhos para
descansar, para fazer ninhos, para comer
seus frutos.
Havia um menino que o Jatobá
amava. Um menino que conseguia subir em
seu tronco e alcançar seus galhos. Mesmo o
tronco sendo muito alto, o danadinho tinha
encontrado uns buraquinhos bem
pequenos onde ele colocava os pés e ia
subindo, subindo, subindo. Só aquele
garotinho tinha coragem e esperteza pra
escalar o velho Jatobá. Por isso mesmo a
árvore o amava.
O pequeno menino tinha uma
cabeleira cacheada que balançava com o
vento, que caia nos olhos, que cobria seus
ombros. Na verdade, o menino queria ser
aquele Jatobá poderoso para ver tudo do
alto, para sentir o frescor da terra com suas
raízes, para sustentar pássaros e pássaros
em seus galhos. E a árvore desejava ser o
menino para correr pelos campos, para
pular o riacho, para gritar para o vento e
comer aqueles doces.
Um dia, com dó dos dois, o Criador
de todas as coisas permitiu que o desejo
deles se realizasse por um dia: permitiu que
o Jatobá acordasse no corpo do menino e o
menino acordasse no corpo da árvore.
A criança curtiu a vista de toda a
paisagem, o vento em suas folhas, os
pássaros em seus galhos e seu canto e a
árvore aproveitou cada minuto para correr
por todos os lugares. Gritou com o vento e
comeu tanto doce que teve uma baita dor
de barriga.
De noitinha, quando adormeceu, o
Jatobá voltou a ser árvore e a criança
voltou para seu corpo de menino. Eles, que
já eram amigos, ficaram mais unidos ainda.
Estavam sempre juntos, sempre que era
possível, pois vida de menino é difícil. Tem
que estudar, tem que obedecer um bocado
de regras. Mas sempre que era possível ele
corria para o tronco do seu velho amigo
Jatobá.
Depois daquele dia, as pessoas que
iam sempre ao parque perceberam que o
velho Jatobá estava cheio de flores. Parecia
mais novo, mais jovem. E o menino parecia
mais obediente, mais responsável, mais
organizado. A árvore ainda viveu meio
século. E o menino cresceu, casou,
envelheceu. E continuou comendo doces à
sombra do Jatobá.

Autora: Francimar Bezerra de Almeida


Ilustração: Eric Santana

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