Revista Luterana 1990
Revista Luterana 1990
Revista Luterana 1990
1990 NÚMERO 2
ÍNDICE
EDITORAIS
Nota do Editor ....................................................................... 136
Fórum ................................................................................... 137
ARTIGOS
A Teologia como Empreendimento Hermenêutico
Vilson Scholz ............................................................................ 141
A Consolação do Povo de Deus:
O Profeta Isaías Reestudado na IELB
Elmer Flor ................................................................................ 149
460 Anos da Confissão de Augsburgo
Martim C. Warth ........................ ,............................................ 169
A Doutrina da Justificação pela Fé
no Ensino de Jesus Cristo
Curt Albrecht .......................................................................... 173
135
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
EDITORIAIS
Nota do Editor:
ÓTIMO
A Revista "Ultimato" traz no seu número 205 de Junho de 1990
uma carta de um leitor da Inglaterra. O conteúdo desta carta é tão
significante que merece ser — ao menos em parte — aqui repetido: "BBC
de Londres. A BBC tem um programa de televisão todos os domingos às
18:40h, chamado "Songs of Praise". Cada vez uma igreja se apresenta e
canta de oito a dez hinos. É a igreja toda e não apenas o coral. Entre um
hino e outro, há uma pequena entrevista com um dos membros da igreja, o
equivalente a um testemunho de fé. De um modo geral é esta pessoa que
escolhe o hino seguinte. Ontem foi a vez da Westminster, com um grande
número de membros do Parlamento. Margareth Thatcher estava na terceira
fila de bancos e bem atrás dela o líder da oposição! Foi interessante ver os
deputados escolherem os hinos. A mesma BBC está monstrando aos
sábados uma série muito interessante de seis capítulos sobre missões. Já vi
os dois primeiros. O programa é muito completo..." (Daison Olzany
Silva, Sheffield, Inglaterra). — A gente fica pensando se seria totalmente
impossível que uma coisa semelhante pudesse acontecer em nossa igreja,
que gosta chamar-se "igreja cantante", aqui no Brasil. Não precisaria ser
em rede nacional. Será que não existem entre os nossos membros alguns
que pudessem se interessar por isso? Seria ótimo! — JHR
AS BÊNÇÃOS DO MASSACRE
Milhares de universitários chineses estão se convertendo ao
cristianismo depois do massacre da Praça da Paz Celestial no ano passado.
Há notícias dignas de crédito que mais de 10% deles tornaram-se cristãos
nos últimos meses. Um conferencista cristão da Universidade de Xiamen
informou que a qualquer hora que uma pessoa sair a passear pelo campus
se depararia com grupos de estudo bíblico. Uma igreja de Pequim tem
estado apinhada de estudantes. Outra de Fuzhon recebeu nada menos de
8.000 pedidos de informações enviados por universitários no segundo
semestre de 1989. A relação deste fervor religioso com o massacre da Paz
Celestial está no fato de que o Partido Comunista mostrou a sua face
iníqua. Além da decepção e revolta, o massacre pôs em dúvida a tese das
religiões e filosofias
TELL TUNEINIR
Apesar das "guerras e rumores de guerras", as escavações
arqueológicas nas regiões do Oriente Próximo prosseguem. Muito embora
empreendimentos arqueológicos sejam objeto de maior atenção na
Palestina, descobertas realizadas na Síria têm-se mostrado relevantes na
compreensão de hábitos e costumes que auxiliam na interpretação de
aspectos sociais, culturais e religiosos registrados na Escritura Sagrada,
especialmente no que respeita ao período patriarcal, como é o caso de
Mari, Nuzi, Pias Shamra (Ugarit), Ebla.
Com recursos financeiros provenientes do World Mission Institute
e com a anuência do Secretário Executivo da Área de Recursos Humanos
da IELB, Rev. Werner Sonntag, o signatário teve a oportunidade de, numa
breve interrupção nos estudos de pós-graduação no Concórdia Seminary,
integrar uma expedição arqueológica, em junho-julho do ano passado, para
Tell Tuneinir, nordeste da Síria, entre o Tigre e o Eufrates. Este projeto é
fruto de uma iniciativa conjunta do Concórdia Seminary de St. Louis,
Missouri, e da St. Louis Community College, na sua terceira temporada
numa região próxima a Padã-Harã. A equipe compunha-se, além dos
diretores Dr. Michael Fuller e sua esposa Neathery, de treze membros
dentre os quais o Dr. Horace D. Hummel e o Dr. Paul R. Raabe, ambos
professores de Antigo Testamento no Concórdia Seminary de St. Louis. Os
demais integrantes vieram de diversas instituições espalhadas em vários
estados norte-americanos.
Tell Tuneinir é um dos vários tells no vale do rio Kabhur (Habor)
que vêm sendo escavados nos últimos anos por grupos do mundo inteiro
preocupados com a decisão do governo sírio de construir uma represa
hidroelétrica na região que irá inundar os sítios arqueológicos em poucos
anos.
O rio Kabhur, um grande afluente do Eufrates, nasce nas fronteiras
da Turquia, a uns 80 quilómetros ao norte de Tell Tuneinir. O Kabhur é
mencionado três vezes na Bíblia (2 Rs
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IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
jornalista e aquele que lê o jornal. Aplicam-se igualmente na ieitura
bíblica.
Outro pressuposto, também partilhado por teólogos luteranos, é de
que a Escritura precisa ser lida dentro de seu contexto histórico. Não se
pode pensar que as palavras inspiradas são relevantes fora da história e da
cultura dos homens que as proferiram. Martin H. Franzmann nos lembra
que Jesus, cujas palavras foram todas proferidas "no poder do Espírito" (Lc
4.14,15), sempre falou em termos e imagens próximas à vida e relevantes
para seus ouvintes. O material de suas parábolas foi tirado do ambiente que
todo israelita conhecia: o jardim, a fazenda, a cozinha, a pescaria, senhores
e escravos, casamentos, banquetes, jejuns, tribunais, odres, remendos, o
rapaz que saiu de casa, a perigosa estrada de Jerusalém a Jericó. (2)
Existem, por outro lado, pressupostos que recebem uma ênfase
especial dos luteranos. Fazem parte de assim-chamada hermenêutica
especial. Não são aprendidos e praticados apenas naquelas quarenta e
poucas aulas de Hermenêutica Bíblica, senão que em todo o curso de
teologia.
Convém frisar que o objetivo maior é assimilar pressupostos, e não
tanto a exegese deste ou daquele texto. O objetivo maior do Seminário não
é o de ensinar como a Igreja Evangélica Luterana do Brasil ou sua
Comissão de Teologia interpretam este e mais aquele texto. Não queremos
aqui memorizar a exegese oficial. (Isto seria mais informação do que
formação.) Queremos, isto sim, (e este já é um importante princípio her-
menêutico), aprender a deixar a Escritura se interpretar a si mesma, por
entendermos que a chave da Escritura não é algo que a abre de fora para
dentro, mas é o próprio centro da Escritura, Jesus Cristo, se irradiando por
toda ela. Este princípio de que a Escritura se interpreta a si mesma, exige
que a estudemos cada vez mais a fundo, à base dos textos originais, sempre
relacionando os elementos ao centro cristológico.
De modo sucinto se pode dizer que o pressuposto básico é o de que
as Escrituras Sagradas, apesar de seu vasto conteúdo e da variedade pelas
encontradas, têm um cerne ou uma mensagem central, que é a voz de
Deus, dirigida a nós e a toda a humanidade em lei e evangelho. Como a lei
está a serviço do evangelho, e é anunciada em função deste, pode-se
também dizer que a mensagem central e definitiva que Deus tem para nós
na Escritura é a justificação pela fé (o evangelho). Para o luterano,
portanto, o centro da Escritura é Romanos 4, a justificação do ímpio,
gratuitamente, por causa de Cristo, mediante a fé. Para o luterano, teologia
é a devida aplicação deste núcleo ou centro a toda a Escritura.
Conclusão
NOTAS:
(1) THIESSELTON, A.C. "Explicar", Novo Dicionário Internacional de
Teologia do Novo Testamento, volume II, p. 180.
(2) FRANZMANN, M.H. "The Hcrmeneutical Dilemma: Dualism in
the Interpretation of Holy Scripture", Concórdia Theological
Monthly 36 (1965), 524.
(3) PREUS, J.A.O. "Chemnitz ou Law and Gospel", Concórdia Journal
15 (October 1989), 408-409.
(4) BOHLMANN, Ralph A. "Confessional Biblical Interpretation:
Some Basic Principies", Studies in Lutheran Hermeneutics. Ed. John
Reumann. Philadelphia, Fortress Press, 1979, p. 199.
(5) As Confissões Luteranas exercem a função hermenêutica de nos
conduzir para dentro da Escritura. Em razão disso, engana-se quem
pensa que somos uma igreja confessional em detrimento de igreja
bíblica. (Já houve quem dissesse que somos uma igreja do Catecis-
mo e não uma igreja da Bíblia.)
(6) FRANZMANN, "Seven Theses on Reformation Hermeneutics",
Concórdia Theological Monthly 40 (1969), 246.
(7) JOSUTTIS, Manfred. Gesetzlichkeit in der Predigt der Gegenwart,
p. 41.
BIBLIOGRAFIA:
BOHLMANN, Ralph A. "Confessional Biblical Interpretation: Some
Basic Principies", Studies in Lutheran Hermeneutics. Ed. John
Reumann. Philadelphia Fortress Press, 1979. P. 189-213.
BOUMAN, Herbert J.A. "Some Thoughts on the Theological Presupposi-
tions for a Lutheran Approach to the Scriptures", Aspects of Biblical
Hermeneutics: Confessional Principies and Practical Applications.
CTM Occasional Papers No. 1, p. 2-20.
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IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
sião. Deus o envia a Acaz em missão de confiança e segurança. Devia
acompanhá-lo seu filho Shear-Jashub, que significa "Um resto voltará",
nome simbólico que sugere tanto um castigo, como a recuperação ulterior.
A palavra é de esperança. Os planos inimigos não se realizarão. Os reinos
atacantes não têm legitimação divina. "Se o não crerdes, certamente não
permanecereis." (7.9) A profecia do Emanuel, Deus-Conosco, oferece a
Acaz um sinal que ele não quis aceitar. Emanuel foi o sinal da obra de
Deus para a redenção de seu povo, e é uma figura daquele em quem a
mensagem do Deus-Conosco se cumpre, a saber, no "descendente" que é
Cristo. "Na libertação da ameaça da guerra siro-efraimita, os crentes
experimentam a fiel direção de Deus, que continua sendo o seu consolo
também nos tempos de angústia que se seguem, até que culminem no
nascimento de Cristo."1 O alívio temporário do rei incrédulo e seu povo é a
introdução de um período de angústia ainda maior — a ameaça assíria.
Como ele confiara nestes estrangeiros mais que no Senhor, a salvação
momentânea se tornaria em opressão. Acaz se tornaria vassalo de Tiglate-
Pileser e lhe pagaria pesados tributos. Este seria apenas o início de um
longo desfile de aflições que sobreviriam ao povo de Deus e em meio às
quais a atuação de Isaías teve seu difícil curso.
A presença da igreja no mundo sempre gerou conflitos e sempre
proveu bênçãos. A convivência dos crentes com os poderes deste século é
muito difícil, e em todos os tempos os filhos de Deus buscaram orientação,
junto a Ele em primeiro lugar, para o seu procedimento como cidadãos do
reino secular. 0 profeta Isaías ensina ao crente a não conformar-se com o
mundo em sua excessiva autoconfiança e em sua falta de fé na ajuda
divina. Diz textualmente a palavra do Senhor: "Ai dos... que executam
planos que não procedem de mim, e fazem aliança sem a minha aprovação,
para acrescentarem pecado sobre pecado." (30.1). Confira-se o que Paulo
diz em Rm 12.2. Os profetas, apóstolos e mensageiros de Deus todos os
tempos são acusados de pessimismo e falta de patriotismo por aqueles: que
preferem e proferem coisas aprazíveis (Mq 2.6-11). Miquéias foi
contemporâneo do início do ministério de Isaías. Fala ao mesmo contexto.
Se a política pró-Assíria foi condenada no capítulo 7, condena-se o outro
extremo no capítulo 30, a adesão pró-Egito. Estabelecer opções estanques
do tipo esquerda/direita, leste/oeste, terceiro/primeiro mundos, não condiz
com a missão da igreja, e qualquer tipo de radicalização, era favor de movi-
mentos humanos, e por isso eivados de tendências terrenas, por certo não
promove o evangelho. Permanecer na superficialidade das propostas
políticas, económicas e sociais, ou até mesmo apenas morais, ofusca o
aprofundamento da questão mais séria da fraqueza humana devido à sua
inimizade contra Deus. O
Os, profetas eram homens enviados por Deus e que declararam sua
vontade às nações, em especial a Israel. Foram homens de sua época, mas
falaram movidos pelo Espírito Santo. Por esta razão esperamos encontrar
em suas mensagens o elemento proclamador e também o preditivo.
Rejeitamos, posturas que se opõem a isto afirmando que os profetas
viveram no seu tempo, anunciaram a vontade de Deus às pessoas de seu
tempo e não tiveram qualquer comunicação direta e sobrenatural com
Deus. Por isso damos alto valor ao testemunho das Escrituras em questões
de autoria.
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pretensamente baseados nos profetas do AT falam palavras de homens,
estes anunciavam: "Assim diz o Senhor..." Os salvadores da pátria, em
nossos dias, apelam, para as massas, para que se insurjam contra a
dominação e que, em muitos casos, é verdadeira. Mas os profetas do AT
não apelavam para as massas, e aí está a grande diferença. Eles pregavam
uma revolução. Queriam que algo acontecesse, em primeiro lugar, no
indivíduo. Não apelaram às instituições e à sociedade em geral, de forma
demagógica. O processo de transformação da sociedade está
conceitualmente ligado à regeneração pessoal. 0 crescimento da igreja não
passa, necessariamente, por maiores construções melhor localização,
programas eficientes. Tudo isto pode ser transferido, descontinuado,
substituído. O que se necessita, também para a IELB, é o redirecionamento
dos corações e vontades individuais de seus membros em favor da causa
que não é sua, mas de Deus. Dele emana toda a força para o crescimento e
é dele que devemos esperar a bênção e o louvor, e não de homens,
dirigentes, instituições. O ministério de Isaías distinguiu-se por seu
devotamento à tarefa para a qual Deus o chamara , apesar de considerar-se
despreparado e indigno. Em tempos bons e maus ele proclamou, sem
hesitar, o que Deus tinha a dizer a seu povo. A fidelidade de Isaías pode
ter-lhe custado a própria vida. Seu ministério e sua mensagem são uma
bandeira a ser desfraldada nestes dois anos em que anunciaremos: Consolai
o meu povo!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
RIDDERBOS, J., Isaías — Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova
e Mundo Cristão, 1986, p. 103.
2
WARTH, Martim C, Filosofia da Educação Luterana. Igreja Luterana, Ano
46, 1987/1, Seminário Concórdia, p. 39.
3
BORNKAMM, Heinrich, Luther and the Old Testament. Philadelphia,
Fortress
4
Press, 1969, p. 219.
5
Ibid., p. 220.
6
Ibid., p. 90.
Livro de Concórdia, Catecismo Maior de Martinho Lutero, São Leo-
poldo/Porto Alegre, Sinodal/Concórdia, 1980, p. 453.
7
ARCHER JR., Gleason, Merece Confiança o AT? 2ª edição, São Paulo, Vida
Nova, 1979, p. 395.
8
DELITZSCH, Franz, Biblical Commentary on the Prophecies of Isaiah, Vol.
II, Grand Rapids, Eerdmans, 1953, p. 174.
9
NAUMANN, Martin. Messianic Mountaintops. The Springfielder, Vol.
XXXIX, Nr. 2, Set. 1975, p. 8.
10
SONNTAG, Werner, "Rumos da Educação Brasileira", Trabalho não
publicado, 1º Congresso Nacional de Educação Luterana, julho 1986, p. 7.
BIBLIOGRAFIA ADICIONAL
ALLIS, Oswald T. The Unity of Isaiah. Philadelphia. Presbyterian, 1950.
BOHREN, Rudolf. Prophet in Durftiger Zeit. Neukirchen, Neukirchener
Verlang, 1969.
CROATTO, J. Severino. Isaias — O Profeta da Justiça e da Fidelidade.
São Paulo, Imprensa Metodista, 1989.
GILBERT, Martin. Atlas de la Historia Judia. Jerusalém, La Semana, 1978.
GOTTWALD, Norman. A Light to the Nations. An Introduction to the Old
Testament. New York, Harper, 1959.
I.
Havia uma tremenda pressão sobre os luteranos, ou protestantes,
como eram chamados a partir do protesto dos estados e príncipes
evangélicos na dieta de Espira em 1529 contra a proibição de pregar e
ensinar a doutrina cristã. A dieta de Espira havia concluído que se
respeitasse a resolução da dieta de Worms, onde Lutero fora condenado. A
pressão foi enorme da parte do império, orientado pela igreja de Roma.
Mas havia outras pressões, como a de Zwínglio e seus teólogos do
sul. Em 1529 aconteceu também o colóquio de Marburgo em que Zwínglio
queria impor sua interpretação da Santa Ceia. Lutero disse que não podia
haver união: "Não!, vocês têm um outro espírito!". Mas teses preparadas
por Lutero para Schwabach, Marburgo e Torgau, se não chegaram, a unir
luteranos e calvinistas, preparou todo o material teológico para a Confissão
de Augsburgo.
Havia também a pressão da ignorância religiosa que Lutero
combateu. Solicitou a colegas que preparassem pequenos livros de
instrução. Como não fizeram Lutero mesmo publicou os dois catecismos
de 1529. Tudo isso estava modificando a
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IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
perspectiva do povo, dos sacerdotes, dos pastores e dos governantes. O
império ficou preocupado e lançou um último desafio: Apresentem esta
doutrina nova para ser julgada e destruída! Carlos V queria um reino
universal com, uma só fé.
Mesmo assim havia ainda a pressão dos prelados da igreja de Roma
que não queriam que a doutrina fosse ouvida. Bastava implementar a
condenação de Worms, acabar com a heresia e eliminar os protestantes um
por um. Acharam que, com as ameaças, os luteranos não viriam a
Augsburgo. Mas o eleitor da Saxônia João, o Constante veio com os
teólogos luteranos. Lutero havia ficado em Coburgo, sob proteção especial.
Como o imperador ainda estava em Innsbruck, descansando da viagem
penosa, os luteranos que haviam chegado em maio começaram a pregar nas
igrejas de Augsburgo. Cada vez mais igrejas se abriam e solicitaram a
palavra clara dos luteranos. Haviam sido caluniados de pregarem contra
Cristo, Deus e a virgem Maria. Não era verdadeiro. Carlos V veio
depressa para iniciar a dieta.
No meio desta situação de pressão soa clara a mensagem de Jesus:
"Se vós permanecerdes na minha palavra... a verdade vos libertará". Lutero
conhecia a liberdade em Crisito. Sabia que havia liberdade e justificação
somente pela graça (sola gratia), somente pela fé (sola fide). Isto foi
pregado e colocado claramente nos artigos de fé da 'Confissão de
Augsburgo.
Mas os prelados não queriam que fosse proclamado. O imperador,
atendendo a esses apelos de Roma, só queria receber o documento para
pensar. Seria o fim do documento. Os príncipes insistiram que fosse lido de
público. Era o dia de São João. Só o conseguiram para ser lido no dia
seguinte, sábado, numa sala pequena para 200 pessoas. No dia 25 de junho
de 1530 estavam a postos: Dr. Brucck tinha a cópia em latim, Dr. Beyer
tinha a cópia em alemão. O imperador só queria que fosse lido em latim
para o povo não entender. Os príncipes insistiram: essa era terra alemã e
devia ser lido em aleimão. Finalmente o Dr. Beyer conseguiu ler em
alemão em voz alta e pausada, das 15h às 17h, a Confissão de Augsburgo
para todo o povo de milhares que estava no pátio pudessem todos ouvir. Na
liberdade cristã puderam confessar a sua fé pela qual empenhavam a sua
própria vida!
Quando Dr. Eck foi perguntado se podiam refutar a confissão,
disse: "Pelos pais, sim; não pela Escritura." Então disse um conde da
Baviera: "Então eles estão dentro da Escritura e nós fora!" Este era o
princípio da liberdade cristã: somente a Escritura (sola Scriptura). Nenhum
outro senhor, nem pais,, nem concílios, nem decretos papais. Esta era
também a liberdade da igreja. Agora havia somente um único Senhor, o
Senhor certo: solas Christus! Esta é a verdadeira liberdade: "Se vós
perma-
JESUS E A DOUTRINA DA FÉ
1. Jesus confessou a sua fé, a sua confiança na palavra de Deus do
AT e não fez Deus de mentiroso na prática, quando tentado por
Satanás: Mt 4.1-11; Lc 4.1-13.
2. Jesus pregou arrependimento e fé no evangelho: Mc 1.15b.
3. Jesus disse que a fé justifica, salva, dá a vida eterna e produz
nova vida espiritual: Mt 9.2,22; Mc 5.34; 10.52; 16.15,16; Lc
8.12,48; 18.13,14a,42; Jo 3.15,16,18.36a; 5.24; 6.40,47; 7.38;
8.31,32; 11.25,26; 20.29.
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IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
4. Taxativamente Jesus afirmou que a falta de fé, a incredulidade
condena: Jo 8.24.
5. Jesus lamentou a incredulidade das pessoas: Lc 9.41-18.8;
24.25; Jo 4.48; 5.38,44-47; 6.36; 8.45,46; 10.25,26,38'.
6. Ele, algumas vezes, repreendeu a pequenez da fé dos
discípulos e de outros: Mt 8.26a; 16.8; 17.20; Mc 5.40-Lc
8.25; Jo 1.50; 3.12; 6.64.
7. Jesus perguntou pela fé nele a dois cegos e, diante da
afirmativa, curou-os (Mt 9.28,29); exortou Jairo a crer
somente (Mc 5.36; Lc 8.50); exortou também os discípulos
a terem fé em Deus (Mc 11.22-24; Jo 6.29.35; 11.15,40,42;
12.30,44,46; 14.1,10,11,29; 16.31; 20.27c) e levou pessoas a
confessarem sua fé nele (Jo 9.35-38; 11.27; 20.28).
8. O Senhor Jesus também elogiou a grande fé do centurião de
Cafamaum (Mt 8.10,13) e da mulher cananéia (Mt 15.28).
9. Jesus perdoou os pecados ao paralítico por causa da fé deste
(Mt 9.2; Mc 2.5).
10. Jesus afirmou que pequeninos crêem nele (Mt 18.6; Mc 9.42).
11. Jesus disse que tudo é possível ao que crê (Mc 9.23); que o Pai
ama a quem crê nele, em Jesus (Jo 16.27); que, crendo,
recebe-se o que se pede em oração (Mt 21.22) e que ele
mesmo intercedeu pelos crentes (Jo 17.8,20,21).
12. Os discípulos e outros muitos creram em Jesus (Jo 2.11,22,23;
4.39-42; 11.45).
II
CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
01. Parece da mais alta importância enfocar o episódio da tentação
de Jesus pelo diabo do ponto-de-vista da justificação pela fé. Porque se
Eva fez Deus de mentiroso (Cfe. I Jo 1.10; 5.10b) ao não acreditar naquilo
que Deus dissera (Gn 2.16,17 c 3.1-6), então Jesus, ao contrário de Eva,
manteve Deus como verdadeiro, porque se firmou na palavra de Deus
escrita no AT (Mt 4.4,7,10). Jesus CREU na veracidade da palavra de
Deus. Não pecou. Fez a vontade de Deus sempre e perfeitamente. Logo, foi
justificado (no sentido de que se manteve justo) pela sua fidelidade (=
pístis) a Deus (Is 53.9b; I Pe 2.22. Confessou sua fé em Deus, vivendo
fielmente a Deus (como Deus e para Deus).
CONCLUSÃO
A doutrina da justificação pela fé no ensino de Jesus Cristo é um
fato patente, central, inequívoco. Parabéns para quem percebeu e percebe
isso claramente! Paulo, Lutero, Walther perceberam isso. Por isso que
foram grandes arautos do evangelho e servos fiéis a Cristo Jesus.
Quem não percebe a centralidade da doutrina da justificação pela fé
no ensino de Jesus e em toda a Escritura, fatalmente inventará uma religião
legalista à base do "não manuseies isto, não proves aquilo, não toques
aquiloutro" (Cl 2,21).
Hans Horsch
Texto
185
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
nessa ocasião (é agora o serviço dos cristãos!); Jesus deitado na
manjedoura (!); paz entre Deus e os homens, II Co 5.18,19.
Vers. 15-20: Os pastores reagem às palavras do anjo, depois que os
anjos se ausentaram deles: "Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos
que o Senhor nos deu a conhecer". Os pastores viram e divulgaram. Foram
evangelizados pelos anjos e agora eles evangelizam seus semelhantes!
Todos, os ouvintes ficaram admirados. Maria meditou e guardou todas
estas palavras no coração dela (convém analisar bem os verbos synte-léo e
symbállo = bewahren, zusammentragen). Os pastores voltaram
"glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto".
Lucas 2.25-38
30 de Dezembro de 1990
Ênfase
Texto
Os anjos já haviam cantado o seu Glória in excelsis; Mana, o seu
Magnifcat; Zacarias, o seu Benedictus; e, agora, na primeira parte do
Evangelho, Simeão canta o seu nunc dimittis: "Agora, Senhor, despede em
paz o teu servo... porque os meus olhos já viram a tua salvação..." Este
cântico é entoado no templo do Senhor enquanto "o homem justo e
piedoso" (v. 25) segura em seus próprios braços e aperta contra o seu peito
o maior presente de Deus: o Emanuel! Nossa tentação é trabalharmos mais
sobre este primeiro bloco (v. 25-35) do Evangelho. Mas sendo bastante
conhecido, vamos examinar mais de perto a segunda parte — menos
"considerada ou prezada".
Além do idoso Simeão, também uma senhora idosa encontra-se no
templo em Jerusalém — a viúva Ana. Está com 84 anos. Mas "não deixava
o templo". Era profetisa, como o foram Débora (Juízes 4.4), Hulda (2 Reis
22.14) e outras. 0 sacerdócio/ministério é uma instituição "normal" e
contínua de Deus na igreja; a profecia, porém, é um chamado "especial" de
Deus para uma missão específica por tempo limitado.
Ana encontrava-se no templo por uma vida inteira. Mas para quê?
com que finalidade ou objetivo? que queria e fazia aqui na casa do Senhor?
De suas diversas atividades ou condutas, queremos nos deter nestas:
Disposição
A serva do Senhor vivia na casa do Senhor
B. Contexto
A oitava de Natal que inclui a circuncisão de Jesus, celebrada no
Ano Novo, passou. Entre o período de Natal e a Epifania há uma grande
correlação, porque a igreja oriental celebrava o Natal no dia de Epifania.
Mais tarde a igreja do ocidente começou a celebrar o seu próprio dia do
Natal no dia 25 de dezembro. Epifania, como um segundo festival, foi
aceito no 4º século por ambas as igrejas. A ênfase foi dada à visita e
adoração dos magos. Como Cristo veio no Natal "aos seus" que não o
receberam, Epifania é sua manifestação ao mundo todo, simbolizado pelos
magos do oriente. Assim os luteranos também adotaram Epifania como um
festival de missão mundial. Luz é o tema das orações de Epifania,
lembrando a estrela que guiou os magos a Jesus. Hoje a luz da fé guia: pelos
olhos da fé podemos ver o Rei. É o final do advento em que o Rei Messias é
apresentado às nações. É lembrada a parusia final em que o Rei se
manifestará em glória. O Intróito usa o salmo 72, o salmo Real ou salmo
dos 3 reis, em que se menciona o tributo e a adoração de reis (vers. 10 e 11).
A resposta dos reis é alegria, adoração e louvor pela manifestação do
Senhor: há luz e presentes (Is 60.1-6).
C. Texto
V. 1 — Jesus nasceu em Belém da Judeia. Mateus enfatiza que é na
Belém, cidade de Davi, pois a Escritura diz que o Cristo seria da
descendência de Davi (Mq 5.1-14; Jo 7.42). Era no tempo de Herodes o
Grande (37-4 AC), que deve ser distinguido de outros Herodes
mencionados na Escritura. (Herodes Antipas era seu filho e foi tetrarca da
Galileia e Peréia de 4 AC a 39 AD; este casou com Herodias, sua cunhada,
e matou João Batista; Pilatos lhe enviou Jesus. Herodes Agripa I é neto do
primeiro, foi rei na Judeia de 37 a 44 AD; matou Tiago e pôs Pedro na
prisão; um anjo o matou. Herodes Agripa II, seu filho, foi também rei da
Judeia; Paulo se defende diante dele.) Herodes o Grande era idumeu, não
judeu. Era sem moral, matando a esposa, 3 filhos, a sogra, cunhado, tio,
além das crianças de Belém. Construiu muitos teatros, anfiteatros,
monumentos, altares pagãos, j fortalezas; inclusive fez a reconstrução do
templo de Jerusalém, iniciado no ano 20 AC e terminado em 64 AD. — A
origem dos magos do oriente continua um enigma. Oriente pode ser Arábia
(de Sabá, SI 72.10; Is 60.6), Mesopotâmia, Babilónia, Pérsia, on-
Martim C. Warth
O texto
As palavras de Jesus "Mulher, que tenho eu contigo" (v. 4) parecem
ser ásperas. Não conhecemos, porém, o tom com, que foram proferidas.
Provavelmente com ternura. A mesma expressão "Mulher" Jesus usou na
cruz, ao dirigir-se a Maria, dizendo-lhe que o apóstolo João passaria a ser
considerado seu filho (19.26). O que Jesus quis em Cana, foi desfazer
qualquer impressão como se ele precisasse receber ordens ou diretrizes de
seres humanos, nem mesmo de sua mãe. Ele somente cumpria
197
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
Jesus fala sobre os mistérios do Reino de Deus por meio de uma
parábola, a do semeador. A comparação apresenta quatro tipos de solo e
como estes reagem à semente, à Palavra de Deus (Lc 8.11). O primeiro
tipo de solo são aqueles ouvintes que estão à beira do caminho, são
ouvintes somente. Não há nenhuma oportunidade de a Palavra iniciar uma
influência salvífica neste caso. A semente foi lançada no coração, mas
antes que os ouvintes possam crer e ser salvos, o diabo arrebata-lhes do
coração a palavra.
O segundo, são todos aqueles ouvintes que têm apenas uma capa,
uma cobertura superficial de cristianismo. Para estes, a religião é um mero
incidente em suas vidas, são capazes de mudar sua confissão (de fé) assim
como mudam suas roupas. Não há um conhecimento doutrinário profundo
e suas raízes não estão firmemente ligadas à Escritura.
O terceiro, são aqueles ouvintes em cujos corações a semente
encontra um lugar próprio e adequado para se instalar. Porém, a
preocupação com as riquezas e os prazeres da vida, os sufocam, não
permitindo que sua fé "preocupada" produza frutos maduros.
Gradativamente, o amor ao dinheiro e aos prazeres do mundo vão se
instalando, até que a última centelha de fé seja extinguida, de forma quase
imperceptível.
Somente o quarto e último grupo de ouvintes, cujos corações foram
devidamente preparados pela pregação da lei, recebe a semente
adequadamente. A palavra que ouviram, eles a retiveram em seus corações
e a ela se apegaram firmemente e desta forma puderam produzir frutos
agradáveis a Deus, com perseverança.
Como o próprio Jesus explica (V. 9-15), o Reino de Deus não vem
a este mundo de uma forma espetacular, mas vem numa palavra simples e
frágil, que pode ser pisada e devorada (V. 5), queimada (Mt 13.6; V. 6) e
ainda, sufocada (V. 7). Mas este "fracasso" da palavra indica que o
problema está no solo, e não no semeador, ou mesmo na semente. O
homem é responsável quando confrontado com a Palavra de Deus e
culpado quando deixa de aceitá-la. Contudo, há um aviso muito claro no
fim desta parábola "quem tem ouvidos para ouvir, ouça" (V. 8) (Cf. Mt
22.4,6 e 23.37; At 7.51).
Disposição
A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA ■
Lucas 9.28-36
10 de Fevereiro de 1991
Leituras
Texto
Vs. 28-31 — A doutrina bíblica da divindade de Cristo expõe
claramente o fato de que Deus só pode ser achado em Cristo, e que não se
encontra necessariamente com o homem em tabernáculos, templos ou
montes santos. Esta última é uma visão bitolada e até mesmo supersticiosa
de como encontrar-se com Deus. A busca do homem sempre será vã e
enganosa. É Deus quem prepara a cena e é ele quem promove o encontro.
"O propósito de orar" foi cumprido com sobras, pois o encontro de Jesus e
seus discípulos com dois personagens cúlticos do AT veio confirmar a sua
divindade na presença de testemunhas: Moisés, no monte Sinai, recebeu os
Dez Mandamentos e viu a glória de Deus "como quem vê aquele que é
invisível" (Hb 11.27);
Disposição Homilética
Mestre, bom é estarmos aqui!
1. Para que vejamos a tua glória
2. Para que louvemos o teu nome
3. Para que façamos a tua vontade.
Na transfiguração do Senhor, seus crentes devem reconhecer:
1. A unidade e conexão da antiga e da nova aliança de Deus
2. A presença, entre eles, dos reinos da graça e da glória
3. Seu corpo terreno e a glória a ser neles revelada.
Elmer Flor
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Mateus 11.20-30
13 de Fevereiro de 1991
Observação: O sincretismo religioso é uma triste realidade em nosso
país. Qualquer pregador que se levanta con-
Hans Horsch
Marcos 12.1-12
24 de Fevereiro de 1991
A. Assunto Geral
B. Contexto
Jesus usou muitas parábolas para as suas pregações. São histórias
da vida comum que servem como ilustrações para uma verdade espiritual.
Às vezes a forma é de pequenas semelhanças, de comparações, de
analogias ou de provérbios em uso. Geralmente têm um ponto específico
de importância. Muitas vezes os detalhes não são dados com um
significado especial. Os sinóticos dão umas 30 parábolas, enquanto que
João apresenta outras figuras de linguagem. Algumas parábolas escondiam
verdades dos que não criam em Jesus, incentivando os discípulos a pes-
quisarem melhor o seu sentido (Lc 8.9).
C. Texto
Martim C. Warth
■
Sugestão de tema:
■
Curt Albrecht
DOMINGO DE RAMOS
João 12.12-24
24 de Março de 1991
Leituras
O SI 24 prenuncia a vinda do Rei da glória e estabelece condições
para recebê-lo: o limpo de mãos e puro de coração. Os resultados são
abençoadores: bênção, justiça, salvação. No AT este salmo lembrava a
vinda da arca a Jerusalém, enquanto que no NT projeta a entrada na Nova
Jerusalém, pelas doze portas (Ap 21.12). A leitura do AT é reconhecida
como uma profecia desta entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e de
como ele vem: justo e salvador, humilde, pacificador, vitorioso. A epístola
é texto clássico para descrever os estados de humilhação e exaltação de
Cristo. Destaca a humilhação por livre decisão de Jesus e, como
consequência de sua exaltação, o nome, o poder e a glória que lhe são
próprios. A exaltação de Cristo requer a terra a seus pés a confessar-lhe o
nome.
Texto
Uma vez que o relato da entrada de Jesus em Jerusalém aparece nos
evangelhos sinóticos, João pretende completá-lo com detalhes que não
foram ainda apresentados.
28 de Março de 1991
A. Assunto Geral
■
B. Contexto
D. Disposição
Endoenças pode ser mal entendido, se se tratar de "indulgências". É
tempo de humildade e vida cristã de serviço ao próximo. É tempo de
arrependimento. As causas estão em Cristo: sua humilhação até à morte
nos dá vida.
217
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
O SENHOR E MESTRE NA FORMA DE SERVO
1. Para nossa justificação.
a. Filipenses 2 mostra a humilhação: segundo a natureza
humana Jesus tinha a "forma de Deus", mas aceitou a
"forma de servo" para poder morrer e nos salvar.
b. Pedro aprende que precisa ser lavado: a fé perdoa pela
graça e pela fidelidade de Cristo.
c. Mesmo lavado todo em Cristo há necessidade de um la-
va-pés: em arrependimento e fé está a perfeição do cris
tão (Apologia da Confissão de Augsburgo IV, 353).
2. Para nossa santificação.
a. O Mestre e Senhor lava os pés dos discípulos: um gesto de
amor e humildade, como nosso representante.
b. Cristo dá um exemplo (v. 15): os discípulos são convida
dos ao amor e ao serviço em humildade.
c. O serviço ao próximo acontece nas ordens sociais: família,
governo, igreja, onde cada um tem sua vocação.
— são serviços simples ou importantes
— são serviços em nome de Jesus
— são as "batalhas de Cristo" no mundo (Apologia IV, 189-194).
d. Quinta-feira Santa inicia o sacrifício de Jesus para nos
redimir e nos comprar para si. Deus nos dê a fé e o amor
que ele nos conquistou. A verdadeira humildade consiste
em aceitarmos este presente do único Senhor e Mestre.
Martim C. Warth
SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO
João 18.1 — 19.1-42
29 de Março de 1991
■
Ênfase
Com inconfundível clareza, todos os quatro textos apontam para o
Cristo na cruz, lembrando as causas, os sofrimentos e a consequência
daquele chocante quadro no Calvário da Sexta-
Contexto
Toda a Escritura, direta ou indiretamente, coloca e destaca
0 acontecimento da Sexta-Feira Santa como o centro da reden
ção humana — como o mais alto e sofrido resgate pago por
alguém! O salmista olha para o futuro e apresenta as palavras
que o Crucificado exclama no alto da cruz: "Deus meu... por
que me desamparaste?" (SI 22). Isaías, sete séculos antes, pa-
rece encontrar-se sob a cruz e faz a mais completa, emocionante
e profunda descrição do significado de Cristo estar na cruz do
centro: "Era desprezado... tomou sobre si nossas enfermida
des!" (Is 53). Paulo olha para trás, um fato já consumado, e
destaca em sua mensagem: "Deus estava em Cristo reconcilian-
do..." (2 Co 5). O Evangelho do dia é longo: são dois capítulos
num total de 82 versículos. Se a leitura de todo o texto fosse
feita corrida no culto público, com os ouvintes de pé, talvez a
mensagem não seria compreendida. Com criatividade, o pastor
poderá fazer com que todos recebam o real benefício. Os orga-
nizadores da perícope colocaram os 82 versículos porque neles,
João, o evangelista, consegue apresentar o quadro mais comple-
to sobre a paixão e morte do Crucificado. Das chamadas "sete
palavras da cruz", três aparecem em João (Lc 23.34; 23.43; Jo
19.17; Mc 15.34; Jo 19.28; Jo 19.30; Lc 23.46).
Texto
Disposição
Em cultos especiais, a disposição (sermão) também pode ser
especial e há bem maior flexibilidade. É o que faremos hoje. Nosso texto
— do qual é extraído o tema — quase servirá como "'texto referência",
pois na Sexta-Feira Santa o povo de Deus sempre de novo deseja ouvir os
principais fatos/verdades que aconteceram/cumpriram neste dia em que o
maior Benfeitor é transformado no pior Malfeitor para sofrer as piores de
todas as mortes (qualquer outro sermão, por melhor que possa ser, não
significa nada). Segue — das muitas que elaboramos — uma disposição
com sugestão para o sermão de Sexta-Feira Santa:
Introdução
Leopoldo Heimann
Sugestão de tema:
A Ressurreição de Cristo.- um acontecimento de Reflexão e
Alegria para nós.
Acir Raymann
Sugestões:
A qloriosa manifestação de Jesus a seus discípulos
1. traz paz
2. traz alegria
3. leva à conversão
Ou
A mensagem pascoal de Jesus: Paz seja
convosco!
1. alegra os discipulos
2. dá-lhes o poder do Espirito Santo
3. leva o incrédulo Tomé à fé verdadeira.
Walter O. Steyer
■
O texto: "Eu sou o bom pastor". Quem é este "eu sou"? Aqui fala o
próprio Deus (Gn 15.7; 17.1; 28.13; Ex 3.14ss). É ele que tem compaixão
do seu povo (cf. Ez 34.11-16; Is 40.11;). O povo do Senhor necessita de
líderes capazes para apascentar o rebanho. Esta é a vontade de Deus. Neste
sentido Jesus, o filho de Deus, veio cumprir a sua missão. Perante ele, o
bom pastor, os falsos modelos são desmascarados.
"O mercenário foge, porque é mercenário". O mercenário é um
pastor temporário e contratado. Trabalha somente pelo salário. Sua
motivação é outra. Ele não mostra, os mesmos cuidados do bom pastor.
Falta-lhe o interesse, pois, o rebanho não é de sua propriedade. No
momento da crise ou do perigo o mercenário foge.
"O bom pastor dá a vida pelas ovelhas" (cf. v. 11 e 15). O bom
pastor conhece o seu rebanho. Isto significa, que o pastor se preocupa e
sente, no seu íntimo pensar, o que se passa no rebanho. Sabe, que o
rebanho necessita dele. As ovelhas conhecem e ouvem a sua voz. Sua
voz é orientação, pois transmite
O texto
Tudo indica que a segunda parte do v. 23 se refere ao tempo após a
ressurreição, quando os discípulos não precisariam mais receber
ensinamentos da parte de Jesus. É uma alusão à
A ASCENSÃO DO SENHOR
Mateus 28.16-20
9 de Maio de 1991
Leituras
De acordo com o SI 110, o Messias é Sacerdote e Rei. No nome
Melquisedeque encontra-se o significado original do "Rei de Justiça", do
Rei que se vitoria sobre os inimigos e confirma a aliança com o seu povo.
A direita do Senhor da glória é o lugar que Cristo ocupa, quando sobe ao
céu corporalmente. Na Epístola, o Apóstolo Paulo refere um trecho do
SI 68.18, que
Assunto
Ely Prieto
243
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 2/1990
coisas" que Deus acrescenta a quem "busca em primeiro lugar o Reino e
sua justiça". A teologia da cruz lhe informa que esta realidade presente não
é a final. Por essa razão o cristão precisa guardar uma "distância interna"
das "coisas", sem contudo desprezá-las como dádivas de Deus para o
caminho atual. O estudo do professor Loewenich, apesar das lacunas, é
altamente provocante e merece o lugar que ocupa entre os estudos
clássicos sobre Lutero.
Martim C. Warth
Curt Albrecht