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A Felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles

Ana Paula Sebe Filippo


Doutora em Filosofia do Direito e do Estado pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Professora de Filosofia do
Direito na Pós-Graduação “Stricto Sensu” da Universidade
Metropolitana de Santos e na Graduação da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo

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RESUMO ABSTRACT
O artigo proposto versa sobre a felicidade na Ética a The proposed article concerns the happiness in
Nicômaco de Aristóteles. Aristotle’s Ethics to Nicomaco.
A ética visa ao bem e ao maior dos bens, a felicidade Ethics aims at the good, and the supreme good
humana. A política tem por fim a felicidade de se which is human happiness. Politics ultimate goal is
viver junto. the happiness of living together.
Neste entrelaçar entre ética e política, verificar-se-á When ethics and politics intertwine what comes out
que o homem que não atingiu o conhecimento do is that the one who has not achieved the
sábio, alcançará a auto-suficiência na comunidade knowledge of the wise, will become self- sufficient
política, pois ele somente é verdadeiramente ele through the political community, since he is only
mesmo na e pela comunidade, estando aí a sua and truly himself in the community, there lying his
condição de “animal político”. status of “ political animal”.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Felicidade, Ética, Política, Virtude. Happiness, Ethics, Politics, Virtue.
Discorreremos, neste artigo, sobre a felici- o sábio não busca o saber, nem o ignorante,
dade na Ética a Nicômaco de Aristóteles. Iremos porque desconhece que lhe falta saber; o filósofo
buscar a etimologia de tal vocábulo para, em se- é o que anseia, que almeja a sabedoria, porque
guida, dissertarmos sobre a "eudaimonia" em sabe que não a tem. (cf. MARÍAS, 1989, p. 73).
Aristóteles. Em grego, é comum utilizar o vocábulo
Em grego, felicidade é designada por dois "eudaimonía" para designar "felicidade".
vocábulos - ou famílias de palavras - inteira- Significa ter um bom (eû) "daímon" , ter sorte,
mente diversas, provindas de duas raízes autô- prosperidade. Este é o sentido primeiro e básico
nomas, que se movem em contextos distintos. de "eudaimonía".
Tais raízes são "daímon" e "mákar", das quais se Aristóteles foi o filósofo grego que mais a
originam várias palavras. fundo se propôs esta questão, em várias obras,
É de se observar, entretanto, que, embora mas, especialmente, na Ética a Nicômaco, sobre-
sejam inteiramente distintas, estas raízes, mui- tudo nos livros I e X da referida obra. 2
tas vezes, no uso real, têm significações que se Logo no início da obra Ética a Nicômaco,
entrecruzam. Aristóteles (1996, p. 17) coloca a felicidade em
FILOSOFIA

Desta forma, pode-se dizer que o radical, conexão com o bem, afirmando: "Toda arte e
assim o designaríamos, é o sentido preponde- toda indagação e todo propósito, visam a algum
rante, mas não podemos descartar o uso real, bem; por isto foi dito acertadamente que o bem
linguístico que costuma ser lasso e variável, le- é aquilo que todas as pessoas visam".
vando, às vezes, num mesmo autor e, até, num Assim, não há divergência, quando se diz
mesmo texto, ao uso promíscuo das duas raízes. que a felicidade é o bem supremo, tanto para a
Assim, a distinção entre "daímon" e "mákar" multidão como para os distintos, os refinados.
não pode ser tomada literalmente e de maneira Diversas vezes, Aristóteles trata de massas e mi-
absoluta. norias (de forma literal "os muitos" e "os pou-
Um sistema de preferências é o que existe. cos"), mas aqui enuncia os refinados, ou seja,
Platão utiliza, com mais frequência, as palavras os que detêm certo saber ou polimento. Existe,
"makários" (feliz), "makária" ou "makariótes" deste modo, uma concordância global; porém,
(felicidade); já Aristóteles emprega muito mais quando se indaga sobre o que é a felicidade,
as que se originam de "daímon" como "eudaí- quanto ao conteúdo, iniciam-se as divergências
mon" (feliz) e "eudaimonía" (felicidade), embora entre o vulgo e os sábios.
use, também, aquelas designações (cf. MARÍAS, Uns acreditam que a felicidade consiste
1989, p. 73). no prazer, na riqueza ou nas honrarias; outros,
O termo "daímon" significa um deus, na privação. Em Aristóteles, tal conceito tem
primariamente, porém mais que um deus grande relevância: uma das dez categorias é a
individual, singular; melhor seria o emprego de "stéresis" ou privação. Esta significa alguém não
"théos", a deidade ou divino o que designaríamos ter algo que lhe cabe ou de que precisa. Não se
um "gênio" e, noutro sentido, demônio. 1 confunde com carência que é não ter algo. Assim,
No Banquete, Platão se indaga se o amor ou se não temos asas ou brânquias, somos carentes
"éros" é um deus e nega ao responder, afirmando delas e não privados; porém se há ausência de
que é "daímon mégas", um grande "daímon". um braço, estamos privados dele, daí a palavra
Para Sócrates, há um "daímon", um gênio que “maneta”. 3
o aconselha a fazer ou não as coisas. Assevera, Pode-se dizer, desta forma, que a "stéresis"
ainda, Platão que "éros" é um intermediário não é uma ausência qualquer, mas, sim, a falta
(metaxy) entre deus e o homem, que se parece daquilo que nos pertence ou nos é necessário.
com o filósofo, que é também um medianeiro A saúde para o doente, os bens necessários
entre o sábio e o ignorante: porque já o possui, para o pobre, o conhecimento para o ignorante
são privações. É de se observar, nestas situações,

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que a felicidade se identifica com as privações, com restrições bem perspicazes, dizendo que

FILOSOFIA
porém, quando temos tais condições, a impor- isso também acontece com a autarquia, pois o
tância disso se perde. bem perfeito parece ser suficiente. Não obstante,
O homem engaiolado sonha com a liber- não se entende por suficiente o viver, para si só,
dade e não se contém de felicidade, quando é uma vida sozinha, mas também para seus pais,
posto em liberdade. O que é livre não valoriza filhos, esposa e, de modo geral, para seus amigos
tal condição. e concidadãos, porque o homem é por natureza
Entretanto, existe outra noção essencial um animal que vive em sociedade. Considera-se
para os gregos e especialmente para Aristóteles: "suficiente“ o que por si só torna a vida desejá-
a autarquia. vel e não necessita nada” (MARÍAS, 1989, p. 77);
Esta vem a ser a suficiência, a condição de e acredita-se que esta é a felicidade.
bastar-se a si mesmo. 4 Entretanto, Aristóteles não se satisfaz com
Na obra em análise, Aristóteles (1996, p. 24) isto e procura saber qual a função do homem
a define ao dar a sua opinião sobre o que é a fe- para que haja, assim, maior possibilidade de
licidade. "(...) 'auto-suficiente' pode ser definido desvendar o que é a felicidade.
como aquilo que, em si, torna a vida desejável Faz-se necessário, para encontrarmos uma
por não ser carente de alguma coisa...” 5 resposta, determinar a função própria do ho-
Para o filósofo citado, a felicidade é algo fi- mem. Assim como para um flautista, um escul-
nal e auto-suficiente. tor ou qualquer outro artista e, em geral, para
Antes, porém, de adentrarmos neste tema, todos que têm uma atividade ou função, consi-
vejamos o que ele quis dizer ao discorrer sobre a dera o mesmo filósofo que o bem e a perfeição
felicidade como algo final. residem na função, o que, da mesma forma, se
Isto significa que a buscamos por ela mes- presume que o ser humano tem uma função
ma e não por outra coisa. própria, que pressupõe o uso da razão.
Ao dissertar sobre tal assunto, diz Portanto, esta função, enquanto tal, não é a
Aristóteles: atividade sensitiva comum aos animais, mas a
atividade racional.
"Parece que a felicidade, mais que qualquer Desse modo, o homem só encontrará a feli-
outro bem, é tida como este bem supremo, cidade se viver em conformidade com a razão;
pois a escolhemos sempre por si mesma, e
e esta vida é a virtude. A análise da felicidade
nunca por causa de algo mais, mas as honra-
é transformada também numa pesquisa da vir-
rias, o prazer, a inteligência e todas as outras
formas de excelência, embora as escolhamos tude. 6
por si mesmas (escolhê-las-íamos ainda nada Lembra-nos, ainda, o mesmo mestre, que a
resultasse delas), que escolhemo-las por causa felicidade necessita duma virtude perfeita e de
da felicidade, pensando que através delas se- uma vida inteira 7, pois uma andorinha não faz
remos felizes". (1996, p. 23)
o verão, assim como um só dia, ou um pequeno
espaço de tempo, não faz um homem bem-aven-
Conforme, ainda, nos assegura Aristóteles, turado e feliz. 8
múltiplos são os fins das atividades do homem Pode-se verificar que a duração e a perma-
e alguns deles são almejados com vista somen- nência são algo decisivo na cultura grega. É um
te a fins superiores. Assim, queremos ter saúde, ideal helênico a perenidade das coisas, tudo pas-
riqueza etc., pela satisfação e prazer que podem sa, tudo é efêmero, as coisas são e deixam de ser,
proporcionar. Há, porém, um fim supremo, um nascem e morrem; o grego luta para encontrar
fim que é almejado por si mesmo e não para um algo que perdure por toda a vida, que seja para
fim futuro. A felicidade, para Aristóteles, é este sempre. Algo passageiro não pode ser denomi-
fim. nado felicidade.
Prosseguindo, tal filósofo volta à autarquia, Aristóteles, dando continuidade à inves-

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tigação sobre a felicidade, coloca-nos outras podem acontecer com os descendentes do mes-
indagações: enquanto estivermos vivos, não mo. Certos descendentes podem ser bons e go-
poderíamos ser chamados de felizes? Como zar de uma vida adequada aos seus méritos, ao
enunciou Sólon: é preciso "ver o fim"? 9 Mesmo passo que o contrário pode ocorrer com outros.
que adotemos tal pensamento, pode um homem Acrescenta-se a isto, em termos de tempo,
ser verdadeiramente feliz após a sua morte? Isto que a distância entre os descendentes e ascen-
não é totalmente irreal, particularmente para o dentes iria crescendo de forma desmedida.
filósofo citado que define a felicidade como uma Surpreendente seria, desse modo, se os que
atividade? morrem fossem atingidos por esta inconstância
Se não designamos o indivíduo morto de de sorte e fossem ora felizes, ora não; também
feliz e, se Sólon não pretendeu aduzir isto, mas seria notável se as vicissitudes dos descendentes
que só quando o indivíduo está morto, pode, não tocassem a felicidade de seus antepassados,
com convicção, ser considerado feliz uma vez de certa maneira, e no decorrer de certo tempo.
que os males e infortúnios não o atingem mais, Voltemos ao nosso primeiro impasse, pois,
mesmo assim tal opção dá margem a discussões. talvez, por meio de uma análise do mesmo, nos-
FILOSOFIA

Isto porque se tem em mente que o mal, assim sa dificuldade possa ser solucionada.
como o bem, existem em relação tanto aos que Se o fim do homem tiver de ser visto para
morrem, como também em relação aos vivos, que somente então possamos congratular-nos
porém estes não têm consciência deles. 10 com ele por sua bem-aventurança, porém, não
Existe, ainda, aqui, uma questão, pois, em- por ser bem-aventurado, e sim por tê-lo sido an-
bora um indivíduo tenha percorrido a vida num teriormente, será contraditório certamente que,
estado de bem-aventurança, tendo uma morte no exato instante em que o mesmo se torna feliz,
condizente com a sua vida, vários infortúnios tal qualidade não lhe possa mais ser atribuída. 11

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Isto porque não nos dispomos a designar samente nos capítulos 6-8, Aristóteles faz a últi-

FILOSOFIA
felizes os que vivem frente às alterações da sorte ma ponderação sobre a felicidade, dizendo que
e porque a felicidade, de acordo com Aristóteles, a mesma não é um hábito nem uma disposição e
é algo perene e não facilmente sujeito a modi- sim uma atividade.
ficações, ao passo que a roda da fortuna pode, O estagirita usa três conceitos o que se faz
muitas vezes, dar uma reviravolta completa na necessário diferenciar: "poíesis" é produzir,
vida de tal homem. fabricar, atividade que se encerra numa obra
Realmente, não há dúvida de que, se tivés- ou produto; "práxis", trata-se de uma atividade
semos de observar tais variações, designaríamos cuja finalidade não é algo diferente dela mas
muitas vezes tal homem de feliz hoje e de des- ela mesma, não uma obra ou "érgon" e sim a
venturado logo após, transfigurando-o numa "enérgeia", como ocorre com quem toca flauta ou
espécie de camaleão, ou numa casa edificada com o governante; "theoría", uma terceira forma
sobre areias movediças. de atividade, uma variação da "práxis", significa
Não seria um equívoco deixar-nos levar pe- visão ou o visto, por exemplo, uma procissão. É
las contingências de um homem? A vitória ou a costumeiro, em nossas línguas, opor a teoria à
ruína independem dos favores da fortuna, po- prática - os pedantes que desconhecem o grego
rém a vida do homem, como enunciou Aristó- preferem dizer "práxis" -, porém, no filósofo
teles, também deve contar com os mesmos. Na enunciado, não se contrapõem: a "práxis" mais
verdade, o que nos leva à felicidade são nossas prática de todas é a "theoría". E a razão é,
atividades conformes à excelência, e as ativida- novamente, a suficiência: o governante precisa
des opostas nos levam a situações contrárias. da cidade para governar, não dispondo dela,
Segundo o mesmo filósofo não poderá exercer sua atividade. A theoría,
contrariamente, não requer nada; o indivíduo
"O homem feliz, portanto, deverá possuir o cuja práxis é a theoría é auto-suficiente, não
atributo em questão 12 e será feliz por toda a necessita de nada fora de si, é uma atividade
sua vida, pois estará sempre ou pelo menos
"divina", os deuses a têm. 14
frequentemente, engajado na prática ou na
A auto-suficiência será por conseguinte,
contemplação do que é conforme à excelência.
Da mesma forma ele suportará as vicissitudes alcançada nessa vida, a contemplativa, com efei-
com maior galhardia e dignidade, sendo como to, a mais elevada para o sábio 15, que dispensa
é, 'verdadeiramente bom e irrepreensivelmen- qualquer participação na ação política. Então, a
te tetragonal". 13 (ARISTÓTELES, 1996, p. 21) felicidade a que o homem visa tem sua plenitu-
de no pensamento puro.
O prazer está vinculado à vida que acom- Nota-se, desse modo, que uma parte fun-
panha a excelência. Conseqüentemente, esta é a damental da ética, até mesmo a mais elevada, é
real atividade do homem; e qualquer atividade apolítica.
é seguida e laureada pelo prazer. Tal prazer im- No entanto, aquele que ainda, não atingiu o
plica no equilíbrio, na moderação, na "ataraxia", conhecimento do sábio, alcançará a auto-sufici-
cujo conceito é utilizado também por Aristóte- ência na comunidade política, pois ele somente
les, termo que se costuma designar por “meio é verdadeiramente ele mesmo na e pela comu-
termo”, ou seja, o que é distante dos extremos. nidade, estando aí a sua condição de “animal
Este filósofo é cauteloso em asseverar que político”.
esta "ataraxia" não consiste em falta de emoção O princípio da vida social está em que o ho-
ou de coragem: é a medida em tudo isso. O ho- mem não se basta a si mesmo por não prover,
mem que a possui é senhor de suas emoções, sozinho, às suas necessidades e não poder, por
não se altera, ou seja, não se converte em outro, si, isto é, fora da disciplina imposta pelas leis e
estando apto à vida feliz. pela educação, atingir a virtude.
No livro X da Ética a Nicômaco, mais preci- Assim, toda cidade tem um objetivo alta-

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mente moral, ideia reiterada, muitas vezes, na que a atividade peculiar do homem é um certo modo
Política de Aristóteles. Acrescente-se a isso que de vida, e o mesmo é formado de uma atividade ou
de ações da alma que fazem supor o uso da razão, e a
a conduta do indivíduo apenas seria boa, em função peculiar do homem bom é a prática da bonda-
geral, com o amparo das leis da cidade que im- de ou ter ações que revelam tal condição, se qualquer
põem as regras e enunciam um poder coercitivo atividade é bem realizada de acordo com a forma de
excelência a apropriada). Vale repetir, o bem é agir em
na ausência da virtude. Como afirma Gabriel
conformidade com a excelência, se há mais de uma
Chalita (2003, p.42): “(...) a política visa infundir excelência, de acordo com a melhor e mais completa
um determinado caráter nos cidadãos, de modo entre elas. ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo:
a garantir que a comunidade viva de maneira Nova Cultural Ltda, 1996, p. 24.
justa e que todas as pessoas possam ser felizes
7. Transformações e causalidades ocorrem por toda a
individualmente ou como partes de uma unida- vida e pode acontecer que o mais próspero seja aco-
de maior”. metido por enormes calamidades ao ficar velho. Pría-
Reciprocamente, a virtude dos legisladores mo, rei de Tróia no período da guerra com os gregos,
poderia ser chamado de feliz? Obteve enorme poder,
se faz necessária para propor boas leis à cidade. muitas coisas boas lhe ocorreram, durante muito tem-
Existe, portanto, um entrelaçar entre ética e po foi feliz, porém nós sabemos como terminou Tróia.
FILOSOFIA

política.
8. Aristóteles usa, na frase citada, as duas versões he-
lênicas de felicidade ( makárion kai eudaímonia).

NOTAS 9. No final da Tragédia de Sófocles, Édipo Rei, o


Corifeu pronuncia-se de igual forma: “Vede bem,
1. Há ainda o adjetivo "daimónios", em modo neutro habitantes de Tebas, meus cidadãos! Este é Édipo,
"zó daimónion", o demoníaco. decifrador dos enigmas famosos; ele foi um senhor
poderoso e por certo o invejastes em seus dias
2. Tal conceito tem grande relevância na Grécia, pois passados de prosperidade invulgar. Em que abusos
a noção de "agathón" está intimamente conectada à de imensa desdita ele agora caiu! Sendo assim,
realidade, ao que designará o "ón", o ente. Ser e ser até o dia fatal de cerrarmos os olhos não devemos
bom estão estreitamente ligados. Para Platão, a ideia dizer que um mortal foi feliz de verdade antes dele
do Bem, a ideia suprema, está “além da substância cruzar as fronteiras da vida inconstante sem jamais
ou essência”. MARÍAS, Julián. A Felicidade Humana. ter provado o sabor de qualquer sofrimento! (grifo
Trad. de Diva Ribeiro de Toledo. São Paulo: Duas ci- nosso). SÓFOCLES. A Trilogia Tebana: Édipo-Rei,
dades, 1989, p 74. Édipo em Colono, Antígona. Trad. Mário Gama Cury.
8ª ed, Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 1998, p. 96.
3. Existem vocábulos que indicam privações na lín-
gua: coxo, cego, surdo, mudo. 10. Exemplificando: honrarias e desonra e a boa ou
má sorte dos filhos e, de um modo geral, dos descen-
4. Define-se substância como aquilo que é suficiente, dentes.
contrariamente ao acidente que é considerado aquilo
que precisa de substância para existir. 11. Epicuro faz um raciocínio análogo ao discorrer so-
bre a morte: não devemos temer a morte pois, quando
5. Autarquia ou autarcia é “ a condição de auto-sufici- estamos, ela não está e, quando ela está, não estamos.
ência do sábio para quem ser virtuoso basta para ser A Carta sobre a Felicidade: A Meneceu. Trad. Álvaro
feliz, segundo os cínicos (DIÓ..L., VII, 11) e os estóicos Lorencini e Enzo Del Carrotore. São Paulo: UNESP,
(ibid., VII, 1, 65)”. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário 1997, p. 29.
de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª. ed., São Paulo:
Martins Fontes, 1998, verbete autarquia. 12. Vale dizer, a permanência na prática de atividades
conformes à excelência.
6. Assim, se a atividade da alma por via da razão e
conforme a mesma é a função peculiar do homem e, se 13. Tais expressões foram extraídas do poema de Si-
enunciarmos que “uma pessoa” e “uma pessoa boa” monides referido e analisado por Platão no Protágo-
tem uma mesma atividade, explicitando: um citarista ras, 339B; "tetragonal" parece que quer dizer "quatro
e um bom citarista etc., sendo aí os atributos referen- vezes reto" (reto na acepção de honesto) ou "quatro
tes à excelência adicionada ao nome da atividade (a vezes perfeito". ARISTÓTELES, op. cit., p. 21.
atividade de um citarista é tocar cítara, e a de um bom
citarista é tocá-la bem). Se este é o fato (e asseveramos 14 Deus é "noéseos néesis", pensamento do pensa-

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mento, e no homem a que mais se assemelha a isso. ______. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi.

FILOSOFIA
MARIÁS, Julián. A felicidade humana, p. 79. 2ª. ed., São Paulo: Martins Fontes,1998.
15. Há um elo entre o filósofo (o sábio) e a felicidade, ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo: Nova
pois ele busca desvendar e cria uma sabedoria, um Cultural, 1996.
conhecimento que aponte os verdadeiros caminhos ______. A política. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2ª.ed.,
para a felicidade. A filosofia é uma disciplina dire- São Paulo: Martins Fontes, 1998.
cionada a preocupar-se com a felicidade dos homens. BOSCH, Philippe van den. A filosofia e a felicidade.
Filosofia significa em grego “amor pela sabedoria” Trad. Maria Ermentina Galvão. São Paulo: Martins
e "sophia", a sabedoria, quer dizer, originalmente, o Fontes,1998.
método da felicidade, e "methodos" significa cami- CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética.
nho. Em sentido estrito, a sabedoria é uma técnica da Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
felicidade. BOSCH, Philipe van den. A filosofia e a PLATÃO. O banquete. Trad. Albertino Pinheiro.
felicidade. Trad. Maria Ermentina Galvão. São Paulo: Bauru: Edipro, 1996.
Martins Fontes, 1998, p.17. MARIÁS, Julián. A felicidade humana. Trad. Diva
Ribeiro de Toledo. São Paulo: Duas cidades, 1989.
SÓFOCLES. A trilogia tebana: Édipo- rei, Édipo em
Colono, Antígona. Trad. Mário da Gama Kury. 8ª.
REFERÊNCIAS ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1998.
WOLF, Francis. Aristóteles e a política. Trad. There-
ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia. 5ª. ed., za Cristina Ferreira Stummer, Lygia Araújo Watana-
Lisboa: Editorial Presença, 1991. be. São Paulo: Discurso Editorial, 1999.

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