História HiSTORIOGRAFIA e Antiguidade Oriental PDF
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na Antiguidade Oriental
orientalista se pode dar por satisfeito . E que nem era sequer preciso
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1 0 G. VON RAD, Der Anfang der Geschichtsschreibung im alten Israel, em Gesammelte Studien
zum Alten Testament (TB 8), München 1961, p. 148.
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL 335
Que Israel foi pioneiro na tarefa de pensar e escrever história
tornou-se comunis opinio entre os especialistas do Antigo Testa-
mento . Mesmo os construtores das civilizações, bem mais
11
pp. 125-126: «Geschichte stezt Vergangenheit voraus; vergangen ist, was seine Wirksamkeit
verliert. In diesem Sinn kennt der hebräische Mensch kaum Vergangenheit oder Geschichte».
O u R . SMEND, Elemente alttestamentlichen Geschichtsdenkens (TSt. 95), Zürich 1968, p. 33: «Es fällt
nicht leicht, macht man sich von dem hier besonders leicht hineinspielenden Bedürfnis nach
Apologetik frei, der) Behauptung Vatkes zu widersprechen: 'Auf dem Standpunkt der eigentlich-
-historischen Betrachtung haben sich die Hebräer überhaupt nicht erhoben und kein Buch des
A. T.... verdient den Namen wahrer Geschichtsschreibung!'».
1 6 A. MALAMAT, Doctrines of Causality in Hittite and Biblical Histotriography, V T 5 (1955) 1:
A historiografia «was a literary genre is the Ancient Near East, apparently introduced by the
Hittites and brought to artistic perfection by the Israelites».
336 DIDÃSKALIA
outras épocas e outras culturas. Todos não somos demais para debater
questões tão complexas e tão fundamentais. Trata-se, efectivamente,
de saber como é que os antigos escritores lidaram com o passado, que
ideia tinham de «história» e do seu conteúdo, em que medida o seu
pensamento histórico foi afectado pelo mundo e mundividência
envolventes.
Nesta perspectiva irénica, hei por bem renunciar metodologica-
mente à definição de «história» e «historiografia» (com maior razão à de
«historiografia autêntica»). Proponho-me simplesmente captar as
grandes linhas do pensar histórico da Antiguidade Oriental, enquanto
veiculado em literatura de algum modo historiográfica. A esta
limitação de género literário (as lendas, os cânticos, os hinos e as
lamentações, os poemas e epopeias mitológicos, para não falar nos
oráculos proféticos de Israel, têm muito a dizer sobre a ideia de história
no Próximo oriente antigo, mas não cabem no espaço que me é dado) a
esta limitação de género literário, dizia, há que juntar a da cronologia:
terminus ad quem da digressão serão os meados do século VI a. C.. Em
breve estará em cena o império persa — uma viragem significativa na
história mundial — e um século mais tarde escreve Heródoto, «o pai da
história»... clássica, pelo menos.
I
Reconhecendo embora o carácter substancialmente homogéneo
da civilização mesopotâmica , afloro separadamente cada uma das
19
duas historiografias foi justificada a posteriori pelas observações de A. K. GRAYSON, Histories and
Historians of the Ancient Near East: Assyria and Babylonia, em Orientalia 4 9 (1980) 148.
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL 337
historiografias — a suméria e a acádica —, buscando a ideia de história
expressa em cada uma delas.
Os Sumérios deixaram-nos muitas referências históricas directas,
mas poucas criações literárias que possamos apelidar de «historio-
gráficas». As próprias fontes históricas não foram exaradas pelo desejo
de conservar para os vindouros a memória dos eventos. Sucede,
porém, o arquivista situar uma vez ou outra o facto na sua perspectiva
histórica, remontando às origens da situação presente ou confron-
tando-a com a passada. Assim na famosa inscrição de Entemena
(c. 2430) — o diferendo entre Umma e Lasgash por causa da fronteira
comum vinha de longe: já Mesilim, rei de Kish (mais de cem anos
antes) o tinha arbitrado . Ou ainda no não menos célebre texto da
20
Composta provavelmente em Nippur nos meados do século xxi a. C., só nos chegou
2 5
Provavelmente da mesma época (sec. xxi a. C.), embora a versão actual provenha de
2 6
Ur-Ninurta de Isin (1923-1896), J. KRECHER, O. c., p. 25. A Lista é uma obra historiográfica, cujas
fontes, oriundas de Kish, Uruk e outras cidades, terão sido elaboradas pelos redactores de
Nippur; cf. H . G . GÜTERBOCK, O. C.,pp. 7-8.
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL 339
Ningirsu; Inanna escolhe e abençoa Sargão e Akkad, sem mérito da
parte deste («A Maldição de Agade»). Só na explicação da ruína de
Akkad se introduz um princípio de racionalização: os deuses não agem
arbitrariamente; castigam pecados humanos.
Ocorre perguntar se isto reflecte a ideia especificamente suméria
de história. Numericamente é uma excepção. Quer-me parecer que
está aqui infiltrada uma concepção semítica. Por duas razões:
a) O pecado de Naram-Sin não é a única explicação de má sorte de
Akkad neste texto de díspares tradições, retocadas e combinadas . 27
sequência de tempos.
O rei e a sua relação com os deuses ocupam uma posição central
nesta historiografia: nas construções, nas reformas sociais, nas empresas
militares, no destino dos seus reinos. Muito cedo aparece a ideia das
dinastias. E uma concepção fundamental da «Lista de Reis» suméria é a
continuidade linear da realeza e das dinastias.
II
A primeira impressão que se colhe de Babilónios e Assírios é o
seu enorme interesse pelo passado. Três situações vitais estimularam a
pesquisa: a escola com a sua curiosidade e o seu conservadorismo, o
trono e o altar com as suas ânsias de fundamentar a legitimidade.
Os académicos das dinastias semíticas de Isin, Larsa e Babilónia
não se cansaram de copiar documentos históricos do velho e glorioso
império de Akkad. Na prestigiada academia de Nippur as inscrições
de Sargão e sucessores estavam mesmo à mão de semear, nas estátuas
do templo deEnlil. Foram copiadas «com um cuidado e fidelidade que
honrariam qualquer arqueólogo e epigrafista moderno» . 31
3 4 D . D . LUCKENBILL, O. C„ n , 3 5 7 .
3 5 C f . A . K . GRAYSON, O. C., p p . 1 4 9 - 1 8 8 .
Texto, transliteração, versão alemã e comentário em H . G . GÜTEBBOCK,
3 6 O. C.,
pp.45-57; versão francesa em R . LABAT e outros. Les religions du Proche-Orient asiatique. Textes et
traditions sacrés babyloniens-ougaritiques-hittites, Paris 1970, pp. 315-316.
. 3 7 E . A . SPEISES, O. C., p . 5 9 .
3 8 A . K . GRAYSON, u.c., p . 186.
342 DIDASKALIA
3 9 E . A . SPEISER, o. c . , p . 5 9 .
4 0 Designação porventura mais apropriada do que a de «pseudo-autobiografia», como lhe
chama A. K. GRAYSON, pp. 141,187-188. O primeiro estudioso a identificar e baptizar o
O. C.,
género naru-Literatur foi H. G. GÜTERBOCK, pp. 19,62-86 (textos, com transliteração, versão
O. C.,
alemã e comentário).
4 1 «Esteta» de Naram-Sin, da versão francesa de R . LABAT e outros, o. c., p. 3 1 2 . A versão
integral, ibid., pp. 3 0 9 - 3 1 5 , incorpora um texto que H . G . GÜTERBOCK, O. C., pp. 19, 2 0 , 6 5 - 6 9 ,
v
tratara como independente e para que propusera a designação de «Texto de Suili» (p. 19), do
nome da personagem principal, em substituição do título então usado, «O rei de Kutha». A o
género naru pertence ainda, segundo R . LABAT e outros, a famosa «Lenda do Nascimento de
Sargão», tão aparentada com a lenda do nascimento de Moisés (Ex 2) e que se pode ler nas
versões de R . LABAT e outros, o. c., p. 3 0 8 , J . B . PRITCHARD (ed.), o. c., p. 119 e, com comentário,
H . G . GÜTERBOCK, O. C., p p . 6 2 - 6 5 .
4 2 C o m o os anais assírios são cronologicamente posteriores aos hititas, põe-se a questão de
dependência. A GOETZE, (n. 13), pp. 181-182, observa que os anais assírios incorporam
O. C.,
motivos mítico-épicos estranhos à mitologia hitita e que, em última análise, poderiam remontar
aos Hurritas; H . G . GÜTERBOCK, p. 98 deixa a questão em aberto; A. K. GRAYSON,
O. C., p. O. C.,
III
Em matéria de produção historiográfica e de ideia de história o
vale do Nilo parece ter sido quase tão sáfaro como os desertos que o
circundam. Certamente não faltou trabalho arquivístico ou 48
interesse antiquário pelo passado , para não falar nas longas listas de
49
nos estar a ouvir um eco: os antigos Egípcios «não puderam ter tido
uma ideia de história comparável nalgum sentido ao que a expressão
significa para pensadores da era presente, ou talvez dos últimos dois mil
e quatrocentos anos» . 53
5 2 ' E v TOÎVUV TO\STCJ1 TC5 xpóvc.j TETpáxtç ëXeyv èÇ 7)0éwv TÓv fiXtov àvacrriivat
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TA xarà TOÙÇ 0avàTouç.
5 3 L . BULL, O. C„ p . 3 2 .
5 4 Versão inglesa e m j . B . PRITCHARD (ed.), o. c., p. 230.
5 5 Versão inglesa ibid., pp. 232-233.
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL 345
asiático (rei dos Hicsos) e a um negro (rei da Núbia)» — e descreve
brilhantemente o conselho de Estado e as guerras de libertação. Os
chamados «Anais de Tutmés III», depostos ante o deus Amon no
templo imperial de Karnak, oscilam entre a transcrição dos diários de
campanha (relatos em primeira pessoa, ordens secas aos soldados) e a
descrição primorosa dos acontecimentos. E chegamos à obra
historiográfica por excelência do Império Novo e de toda a literatura
egípcia: o «Boletim» e o «Poema» sobre a batalha de Cades, no
Orontes . Mas que estranha historiografia, mesmo no apogeu.
56
5 6Introdução e versão inglesa em M . LICHTHEIM, Ancient Egyptian Literature, II: The New
Kingdotn, Los Angeles/London 1976, pp. 57-78.
5 7Apelando para a conclusão negativa do egiptólogo americano, H . GESE, O. p. 128
C.,
as an Integration of Society and Nature, Chicago/London 1965 , pp. 7-11, onde se contrapõem
5
as concepções egípcia e mesopotâmica da realeza através da arte de cada uma das civilizações.
6 5 C . DBSROCHES-NOBLECOURT, «A pintura egípcia», em J . PIJOAN, História da Arte, I, trad.,
Lisboa 1972, pp. 117-118.
6 6 Cf. J. VERCOUTTER, Fischer Weltgeschichte, II, 310.
C o m H. A. HOFFNER, Histories and Historians of the Ancient Near East: The Hittites, em
6 7
Orientalia 49 (1980) 283 considero hititas os súbditos de uma sequência de reis começada com
Anitta de Kussar (c. 1750) e terminada com Suppiluliuma II (c. 1200).
Prosseguia há mais de cem anos a exploração científica das antigas civilizações do
6 8
Egipto (desde 1798) e da Mesopotâmia (a partir de 1843) quando a missão arqueológica alemã,
chefiada por H. Winckler, descobriu a antiga capital do império hitita (Hattusa) em Boghazküy,
com seus arquivos. A exploração arqueológica de Winckler (1905-1913) foi mais tarde
continuada pelas de K. Bittel (1931-1937; 1952). O checo B. Hrozny, que levou a cabo e
decifração da língua hitita (1915), dirigiu escavações arqueológicas em Kültepe/Kanesh (1925),
retomadas pelo turco T. Ozgiiç em 1948.
Ainda que porventura só um décimo das suas composições literárias contenha
6 9
narrativas históricas e não um quarto, como supõe E. LAROCHE, Catalogue des textes hittites. Paris
1971 (duzentos e vinte «textes historiques» em oitocentas e trinta e três entradas); cf. H . A.
2
HOFFNER, O. C., p . 2 8 4 .
348 DIDASKALIA
7 0 Não está suficientemente provado que o «sentido histórico» dos Hititas seja de atribuir à
simbiose entre os Hatitas autóctenes e os imigrados Hititas, contra A. KAMMENHUBER, Die
hethitische Geschichtsschreibung, em Saeculum 9 (1958) 146; considerar a historiografia hitita como
produto do chamado espírito indo-europeu «ist jedenfalls lediglich mit Hilfe kräftiger Vorurteile
und Unkenntnis aufrechtzuerhalten» (H. CANCIK,Wahrheit... [n. 14], p. 148); cf. H. A. HOFFNER,
o. c., p. 322.
7 1 H . G. GÜTERBOCK, Die historische Tradition un ihre literarische Gestaltung bei Babyloniern
uni Hethitern, II, Z A 4 4 (1938) 1 4 1 - 1 4 4 : «Anitta hätte also von der Assyrern nur den Rahmen der
königlichen Bau- oder Weihinschrift lernen können, hätte aber dank der den Hethitern eigenen
erzählerischen Begabung seine Lehrmeister übertroffen. Das ist zwar nicht undenkbar, aber auch
nicht gerade wahrscheinlich» (p. 142). Estudos publicados desde 1951 levaram, porém, À
conclusão de que se trata de facto de uma composição do Reino Antigo e o próprio GUterbock se
vergou aos argumentos em favor da autenticidade (OLZ, 1956, col. 5 1 8 ); cf. A. KAMMENHUBBR, 2
7 8 C f . H . CKNCIK,Wahrheit... p. 61.
7 9 Versão inglesa em J . B . PRITCHARD (ed.), o. c., pp. 394-396.
8 0 Embora muitas passagens justifiquem estas designações correntes, o texto é para H .
GESE, O. c., p. 139 uma «autobiografia na forma de um decreto real»; mas, na opinião de H.
CÀNCIK,Wahrheit... p. 65, pertence mais propriamente ao género literário dos documentos de
fundação e doação.
350 DIDASKALIA
irresponsabilidade total . 82
V
Emergindo timidamente do colapso definitivo dos Hititas e do
ominoso entardecer do Império Novo dos Egípcios, Israel parecia
destinado a epígono serôdio e inglório das civilizações pré-clássicas.
Que se havia de esperar daqueles grupelhos seminomádicos e semi-
-selvagens arribados às montanhas agrestes de Canaã pelos fins do
pode deixar de estranhar esta ausência de Deus. Mas, afinal, Deus está
lá e... conduz a história (2 Sam 11, 27; 12, 24; 17, 14). Como'
Imperceptivelmente, por meio das causas segundas.
Isto não é apenas uma nova concepção teológica. E também uma
nova concepção da história, devolvida à inteira responsabilidade do
homem. Quem assim pensa e escreve quebrou definitivamente as
9 7 R . SMBND, Elemente alttestamentlichen Geschichtsdenkens (n. 15), pp. 10-23.
9 8 L . ROST, Die Überlieferung von der Thronnachfolge Davids ( B W A N T III/3), Stuttgart
1926, p. 83 = ID., Das kleine geschichtliche Credo und andere Studien zum Alten Testament,
Heidelberg 1965, pp. 191-192: «Lieblingsstück der Exegeten», com aspas no original. Citarei
doravante segundo a reimpressão.
9 9 Ibid., p. 244.
>0° H . CANCIK, Grundzüge... p. 106.
G. VON RAD, Der Anfang... p. 185.
354 DIDASKALIA
Book of Genesis remains vivid and memorable to this day, the reason is not metely the content
of the tales but, in large measure as well, the matchless way in whicht J has told them».
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL 355
seminómadas, é adiada era quatrocentos anos para caber em sorte ao
povo das doze tribos.
A «História Deuteronomista» , se é verdade que o problema de
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plano executado por homens livres sob a alta direcção de Deus, que até
escreve direito por linhas tortas (Gn 50, 20). O historiador moderno
apreciará sobretudo dois traços: a profanidade dos escritores
salomónicos e a preocupação de objectividade dos Deuterono-
113
mistas . 114
1 0 9 H. Cancie, Grundzüge... p. 4 0 .
1 1 0 R . Smend, Elemente... p. 27.
1 1 1 H . W . W o l f f , Das Kerygma
des deuteronomistischen Geschichtswerks, em Gesammelte
Studien zum Alten Testament (TB 22), München 1964, pp. 308-324.
1 1 2L. D b l e k a t , Tendenz und Theologie in der David-Salomo-Erzählung, em Das ferne und
nahe Wort (Feztschrift flir Leonard Rost), B Z A W 105, Berlin 1967, p. 28: os pontos fulcrais da
História da Sucessão «erklären nicht, warum die Herrschaft fest in Salomos Hand lag, sondern
lassen diese Tatsache vielmehr als unerklärlich, als ein Ärgernis erscheinen. Eben dies ist offenbar
die Absicht der Erzählung».
1 1 3Salientada por E. M e y e k , Geschichte des Altertums, II, 2 , pp. 2 8 5 - 2 8 6 : «(Es) zeigt sich
3
hier in geradezu groteskerWeise die in der Weltgeschichte waltende Ironie, dass diese durch und
durch profanen Texte (História da Sucessão) dem Judentum und dem Christentum als heilige
Schriften gelten...»
O Deuteronomista raras vezes toma a palavra. Prefere deixar falar as antigas tradições,
1 1 4
ainda que opostas às suas ideias fundamentais. Assim, narra sem objecção e sem crítica vários
actos de culto fora de Jerusalém, sobretudo antes de Salomão construir o templo: em Silo (1 Sam
1-2), em Gabaon (1 R e 3), em Ofra (Jz 6,11-24). Cf. M. N o t h , O. C., pp. 95,106-107.
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL 357
VI
Dentro dos seus condicionalismos culturais, a começar pela
mundividência teológica, o Próximo Oriente antigo produziu não só
documentação histórica mas elaborações historiográficas baseadas em
fontes. Se esse é dificilmente o caso de Mesopotâmios e Egípcios, os
Hititas e sobretudo os Israelitas souberam criar obras literárias em que
os eventos do passado revivem nas suas complexas determinantes
políticas, sociais, familiares, humanas e religiosas. Não foram
sociedades fechadas em pensar mágico ou mítico, cúltico ou cíclico.
O que H. Cancik afirma para o 2.° milénio a. C. é mais exacto para
Israel do 1.° milénio: «Em determinados círculos destas sociedades, nas
diversas culturas com força diversa, vivia uma consciência histórica que
se articulou em várias formas de historiografia» . 115
1 1 6 H . Cancik,Wahrheit..., p. 51.
1 1 6 Cf. supra, n. 3.
1 1 7 E m Gnomon 44 (1972) 207, citado cm H. Cancik, Grundzüge... p. 69, n. 9.
1 1 8 H . Strasburges, o. C., p p . 5 4 , 7 0 - 7 1 .
1 1 9Ibid., p. 70: «Von einem echten Primat der theologischen Geschichtsschreibung kann
man, wenn ich nicht irre, nur bei Herodot sprechen; der erste Historiker ist in dieser Hinsicht
zugleich der letzte Repräsentant des archaischen Zeitalters».
358 DIDASKALIA
atenuada e humanizada.
Resta ver aonde a evolução vai dar e se a filosofia, a teologia, a
história ou a sociologia prevalecerão na interpretação das acções
humanas. Facto é que a teologia da história se manteve por bons quatro
milénios. A filosofia da história, sua sucessora, parece não chegar aos
quatro séculos... 124