Livro Rezende Final 15-02-2004
Livro Rezende Final 15-02-2004
Livro Rezende Final 15-02-2004
SERGIO M. REZENDE
Departamento de Fı́sica
Universidade Federal de Pernambuco
Bibliografia
XX-XXXX CDD-XXX
Í N D I C E
Prefácio viii
2.1OndasEletromagnéticas 28
2.2 Ondas El´asticas em Sólidos 34
2.3 Efeito Fotoelétrico - Ondas e Partı́culas 40
2.4 O Elétron como uma Onda - Princı́pio da Incerteza 46
2.5 Fônons e outras Excita¸cõesElementares 50
4.1BandasdeEnergiaemCristais 92
4.2 Condutores, Isolantes e Semicondutores 98
4.3MassaEfetiva 101
4.4 Comportamento dos Elétrons em T > 0 - Distribui¸cão de Fermi-Dirac 103
4.5 O Mecanismo da Corrente Elétrica em Metais 109
Capı́tulo 7. Transistores e
Outros Dispositivos Semicondutores 215
7.1OTransistor 217
7.2OTransistorBipolar 219
7.3 Correntes no Transistor Bipolar 225
7.4 AplicaçõesdeTransistores 237
7.5 Transistores de Efeito de Campo 241
7.6OTransistorMOSFET 251
7.7 Dispositivos de Controle de Potência: SCR e TRIAC 267
7.8CircuitosIntegrados 271
vii
10.1MateriaisDielétricos 465
10.2 Materiais Dielétricos para Opto-Eletrônica 484
10.3 Materiais para Mostradores e Telas de Vı́deo 493
10.4MateriaisSupercondutores 514
Prefácio
O livro tem caráter introdutório e não entra nos detalhes técnicos mais es-
pecı́ficos dos dispositivos e dos métodos de fabricação de materiais. Preferi sa-
crificar o detalhe em favor da abrangência, apresentando dispositivos e materi-
ix
Nesta segunda edi¸cão retirei a palavra Fı́sica do tı́tulo, pois percebi que
em algumas livrarias o livro n˜ao era colocado nas se¸cões de Engenharia, mas
apenas nas de Fı́sica. Em relação à primeira edição, a atual tem diversas novi-
dades, como exemplos numéricos em todos os capı́tulos, seções com material
novo, principalmente nos últimos cap´ıtulos, além de uma revisão completa do
texto, com melhoria de algumas explica¸cões e extensa corre¸cão de pequenos
erros.
É com satisfa¸cão que agrade¸co a colabora¸cão de v´arios colegas profes-
sores do Departamento de Fı́sica da UFPE, feita por meio de sugestões diver-
sas, crı́ticas e revisões de textos. Sou grato em particular a Anderson Gomes,
Antônio Azevedo, Celso Melo, Cid Ara´ujo, Fernando Machado, Flávio Aguiar
e José Marcı́lio Ferreira. Sou muito grato a Gilvani Holanda pelo compe-
tente e dedicado trabalho de digita¸cão, a Carlos Marrocos e Joaquim Antˆonio
Soares pela confec¸cão das figuras, a Jairo Coutinho, pelo belo trabalho de di-
agramação, e a meu genro, o artista pl´ astico Miguel Pach´a, que fez a capa
do livro. Minhas atividades de pesquisa, e portanto as condi¸cões para a re-
alização deste livro, n˜ao seriam possı́veis sem o apoio financeiro do CNPq,
FINEP, CAPES, MCT e da UFPE. Desde já deixo os agradecimentos anteci-
pados a todos aqueles que, futuramente, me enviarem crı́ticas e sugestões para
a melhoria do livro ([email protected]).
xi
O autor
Capı́tulo 1
1.3.1RedesCristalinas 9
1.3.2 Estruturas Cristalinas Simples 11
1.4.1Monocristais 14
1.4.2 CerâmicasVidros
e 17
1.4.3Polı́meros 19
1.4.4CristaisLı́quidos 20
1.4.5 Filmes Finos e Multicamadas 21
REFERÊNCIAS 25
PROBLEMAS 25
1
2 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
pastilha
tos de semicondutor.
de dimensões A fabricação
da ordem de dos circuitos
alguns micrˆometros (10integrados
−6
metros)com elemen-
deu srcem `a
tecnologia da microeletrônica. Com a crescente miniaturização dos compo-
nentes, surgiram na década de 1970 os microprocessadores, com os quais foi
possı́vel fabricar os microcomputadores. A produção de circuitos integrados e
microprocessadores cada vez mais r´apidos e com maior n´umero de elementos
está produzindo uma constante evolu¸cão na Eletrônica. Esta evolu¸cão provo-
cou uma enorme mudan¸ca nos costumes da sociedade, proporcionada pelos
modernos sistemas de comunica¸cão, a ampla utiliza¸cão dos computadores, a
automação dos meios de produ¸cão e os mais variados equipamentos utilizados
em nossa vida diária. Por esta razão, a Eletrônica tornou-se um dos principais
fatores de desenvolvimento do final do século XX e provavelmente continuará
com este papel no século que inicia.
Nesta área da F´ısica trabalham atualmente mais de 40% dos fı́sicos em todo o
mundo e a cada ano surgem novas linhas de pesquisa, impulsionadas pela des-
coberta de novas propriedades, novos fenômenos e novos materiais artificiais.
Estes, por sua vez, abrem o potencial para o desenvolvimento de novos dis-
positivos que encontram aplicações nos mais variados segmentos tecnológicos,
e cujo interesse econˆomico impulsiona as pesquisas b´asica e aplicada. Foram
as descobertas em Fı́sica da Matéria Condensada que possibilitaram o desen-
volvimento do transistor, dos circuitos integrados e de in´ umeros dispositivos
que revolucionaram a eletrˆonica e os computadores. Os lasers encontraram
inúmeras aplicações
comunicações naOs
ópticas. ind´ustria e na
materiais medicina novos
magnéticos e propiciaram o advento
aveis das
são os respons´ pela
melhoria de dispositivos e de processos de grava¸ cão, que estão tendo enorme
impacto nos meios de comunica¸cão e nos computadores.
Entretanto, não foi apenas por causa de sua importˆancia tecnológica que
a nova ´area se desenvolveu rapidamente. A enorme variedade de fenômenos
que os elétrons e os núcleos apresentam coletivamente em sólidos deu srcem
a descobertas fundamentais excitantes. Esta é uma das razões para que cerca
de 50% dos prêmios Nobel nos últimos 30 anos tenham sido dados a fı́sicos
que trabalharam nesta área. Foram eles J. Bard een, L.N. Coope r e J.R.
Schrieffer (1972 - teoria de supercondutividade), L. Esaki, I. Giaever e B.
Josephson (1973 - efeito de tunelamento em s´ olidos), P.W. Anderson, N.F.
Mott e J.H. Van Vleck (1977 - estudos de s´ olidos amorfos e propriedades
magnéticas da matéria), P. Kaptisa (1978 - estudos em baixas temperatu-
ras), N. Bloembergen, A.L. Schawlow e K.M. Siegbahn (1981 - espectroscopia
com lasers e de fotoelétrons), K.G. Wilson (1982 - teoria de grupo de renor-
malização e transições de fase), K. von Klitzing (1985 - efeito Hall quˆ antico),
G. Binning, H. Rohrer e E. Ruska (1986 - inven¸ cão do microsc´opio de tunela-
mento e do microsc´opio eletrônico), K.A. M¨uller e G. Bednorz (1987 - des-
coberta da supercondutividade em altas temperaturas, P. de Gennes (1991 -
estudos de polı́meros e cristais lı́quidos), B.N. Brockhouse e C.G. Shull (1994
- desenvolvimento de técnicas de espalhamento de nêutrons para o estudo de
materiais), D.M. Lee, D.D. Osheroff e R.C. Richardson (1996 - descoberta da
superfluidez em Helio 3), R.B. Laughlin, H.L. Stormer e D.C. Tsui (1998 -
descoberta de fluido quˆantico com excita¸cões de carga fracion´aria), e no ano
2000, Z.I. Alferov e H. Kroemer pelo desenvolvimento de heteroestruturas de
semicondutores, juntamente com Jack Kilby, um dos maiores responsáveis pela
invenção dos circuitos integrados. Assim, o prêmio Nobel de Fı́sica da virada
do milênio marcou a importância da área para o desenvolvimento da eletrônica.
Foi interessante, também, o fato de o prêmio Nobel de Quı́mica em 2000 ter
sido agraciado aos fı́sicos A. Heeger, A. MacDiarmid e H. Shirakawa, pela des-
Cap. 1 Materiais para Eletrˆonica 5
mecânica
outro quântica,
elétron um átomo
extra para de cloro,
completar com seus
sua terceira 17 elétrons,
“camada” tende ea tornar-se
eletrônica capturar
estável. Por outro lado, um ´atomo de sódio com 11 elétrons tende a perder seu
único elétron da terceira camada para que as duas camadas interiores formem
um núcleo fechado. Então, quando um átomo de cloro est´a próximo de outro
de sódio, este passa seu elétron para o de cloro, dando srcem a dois ı́ons
com cargas elétricas opostas, que se atraem devido à interação eletrostática.
Em outras palavras, os ´atomos de cloro e de s´odio juntos formam um sistema
que tem menor energia do que quando est˜ao long e um do outr o. Entre-
tanto, quando os dois ı́ons se aproximam muito, a repulsão entre os elétrons
mais externos faz com que a energia aumente impedindo uma maior apro-
ximação. A Fig.1.1 mostra a variação da energia de intera¸ cão entre os dois
ı́ons em função da distância entre eles. Quando os ı́ons estão muito afastados,
a energia eletrost´atica diminui com o aumento da distˆ ancia r, aproximada-
−
mente como (1/r). Por outro lado, quando os ı́ons est˜ao muito pr´oximos,
a energia cresce exponencialmente `a medida que a distˆancia diminui. Existe
6 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 1.1: Energia de interação efetiva entre um ı́on Na+ e um ı́on C− em função da
distância entre seus n´ucleos.
Figura 1.2: Ilustração esquemática dos quatro principais tipos de liga¸ cão em s´olidos:
(a) Ligação iônica; (b) Liga¸cão covalente; (c) Ligação molecular; (d) Ligação metálica.
A ligação molecular é bem mais fraca do que nos dois casos anteriores.
Ela resulta da atra¸cão entre dipolos elétricos formados nos átomos por um
pequeno deslocamento das camadas eletrˆonicas em rela¸cão aos n´ucleos, como
na Fig.1.2(c). Sólidos com esta liga¸cão têm ponto de fusão muito baixo, em
geral menor do que 10 K, como é o caso de cristais de gases solidificados, como
oxigênio, nitrogênio e outros gases inertes.
aGrande parte
estrutura dedos materiais
s´olidos usadosou
cristalinos nacristais.
fabricação
Um decristal
dispositivos eletrônicos
perfeito é aquele tem
que
tem um arranjo regular e periódico de átomos ou ı́ons, formado pela translação
repetitiva de uma célula unitária. O ordenamento regular dos ´atomos ou ı́ons
é o arranjo que minimiza a energia eletrostática total do conju nto. Por esta
razão, quando um material é fundido e depois resfriado lentamente, os átomos
ou ı́ons procuram as posições de menor energia e tendem a formar cristais.
Figura 1.3: (a) Cristal de cloreto de césio, CsC . A rede cristalina ´e c úbica simples. A
base tem um ı́on Cs+ na posi¸cão 000 e um ı́on C− em 12 12 12 . Note que os ı́ons estão
desenhados com tamanho pequeno para facilitar a visualiza¸ cão. Num cristal real os ı́ons
vizinhos tocam-se. (b) Célula unitária do CsC .
Cap. 1 Materiais para Eletrˆonica 9
Embora
nas o n´umero
14 tipos de estruturas
diferentes de redes de cristais em
critalinas sejatrês
muito grande, existem
dimensões, ape-
mostradas na
Fig.1.4. As redes são agrupadas em sete sistemas de acordo com o tipo da
célula unitária: triclı́nico, monoclı́nico, ortorrômbico, tetragonal, c´ubico, tri-
gonal e hexagonal. Na Fig.1.4 estão indicadas as rela¸cões entre os ˆangulos α,
β , γ e entre os comprimentos a, b, c das arestas da célula unitária. a, b, c
são chamados parˆ ametros da rede . As células unitárias mostradas na figura
são chamadas células convencionais. Elas são as mais f´aceis de serem visua-
lizadas mas não são necessariamente as menores que reproduzem a rede pela
translação repetitiva. As menores células unitárias que reproduzem a rede s˜ao
chamadas c´ elulas primitivas. A Fig.1.5 mostra os vet ores primitivos a , b ,
c da rede c´ubica de faces centradas (fcc) e da rede c´ubica de corpo centrado
(bcc).
Os planos e eixos que passam por pontos da rede cristalina são representa-
dos por três algarismos que caracterizam suas coordenadas, chamados ı́ndices
de suas. interseções
Miller
minar Para obtercomos os
ı́ndices
eixosdea,um
b, cplano é preciso
da célula inicialmente
unitária. deter-
As interseções
são então representadas por n´umeros p, q , r que exprimem suas coordenadas
pa, qb, rc naqueles eixos. Os ı́ndices de Miller h, k , são os menores n´umeros
inteiros na mesma propor¸cão de 1p , 1q , 1r . Para representar o plano, os ı́ndices
são colocados entre parênteses (hk ). O eixo perpe ndicular ao plano ( hk ) é
representado por [hk ].
Figura 1.4: Células unitárias das 14 possı́veis redes cristalinas em três dimensões.
Cap. 1 Materiais para Eletrˆonica 11
Figura 1.5: Vetores primitivos das redes c´ ubicas de face centrada e de corpo centrado.
Figura 1.6: Ilustra¸cão dos três principais planos e dos eixos de simetria de uma rede cúbica.
Figura 1.7: (a) Estr utura do cloreto de s´odio, NaC , que pode ser construı́da com duas
redes cúbicas de faces centradas, uma de Na + e outra de C − , deslocadas uma da outra de
meia diagonal do cubo. (b) Ilustração do cristal de NaC , no qual o tamanho dos ı́ons é
comparável à distância entre eles.
Cap. 1 Materiais para Eletrˆonica 13
para a eletrônica que têm a estrutura do NaC, como MgO (4,20 Å), muito
utilizado em componentes ´opticos, e o NiO (4,18 Å), empregado em disposi-
tivos de gravação magnética. Note que a Figura 1.7(a) é uma representação
simplificada da estrutura do NaC . Como as ´ultimas camadas eletrˆonicas de
ı́ons vizinhos estão muito próximas umas das outras, tudo se passa como se os
ı́ons vizinhos se tocassem, como ilustrado na Figura 1.7(b). O raio aparente
de cada ı́on é chamado raio iônico. No caso do NaC , o raio iˆonico do ı́on de
Na+ é 1,220 Å e o do C − é 1,595 Å. A soma desses dois raios iˆonicos é metade
do parâmetro de rede do NaC (5,63 Å).
Figura 1.8: (a) Célula unitária de sulfeto de zinco, ZnS. A rede também pode ser constru´ıda
por duas redes cúbicas de face centradas, uma de Zn e outra de S, deslocadas de um quarto da
diagonal do cubo: (b) Célula unitária da estrutura cristalina do diamante, na qual também
cristalizam os semicondutores Si e Ge.
14 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Å) e o InSb (6,49 Å), enquanto do tipo II-VI podemos citar CdS (5,82 Å) e
CdTe (6,48 Å).
1.4.1 Monocristais
Figura 1.11: Bastão monocristal de Si crescido pelo método de Czochralsky, com 10,2 cm
de diâmetro. A pastilha mostrada na fotografia é obtida pelo corte do bastão e processada
para fabricar uma célula solar (cortesia da Heliodinâmica).
Cap. 1 Materiais para Eletrˆonica 17
Figura 1.12: (a) Vista em duas dimens˜oes das liga¸cões atômicas num monocristal de SiO 2 ,
o quartzo. (b) Ilustra¸cão de um policristal. (c) Liga¸cões em SiO 2 amorfo, a sı́lica.
18 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
fundido).
na O caso do
forma amorfa, A 2 O3alumina,
chamada é semelhante
ou naao da sı́lica.
forma de umEle podechamado
cristal, ser encontrado
safira.
As cerâmicas também podem ser preparadas por sinteriza¸ cão. Neste pro-
cesso os constituintes do material na forma de p´ o são misturados e compacta-
dos com o formato final desejado. O material é então aquecido até próximo do
ponto de fusão e depois de resfriado resulta numa cerˆamica formada de gr˜aos
policristalinos com uma forte aderência entre si. Este é o processo usado para
fabricar objetos de cerˆamica de uso di´ario, como jarros, objetos de adorno,
etc. Quando a matéria prima é de alta qualidade e o processamento é feito
em condições muito controladas, obtêm-se as chamadas cerâmicas avançadas,
que encontram aplica¸cões diversas em eletrˆonica e em outros ramos da tec-
nologia. Atualmente é poss´ıvel fabricar partı́culas com dimensões na escala
nanométrica (1 nm = 10−9 m) com grande uniformidade de tamanhos, que ao
serem compactadas e processadas termicamente resultam em cerˆ amicas com
propriedades especiais para diversas aplicações.
1.4.3 Polı́meros
Figura 1.13: Cadeias de dois polı́meros comuns, (a) polietileno e (b) cloreto de polivinila
(PVC).
20 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Os cristais lı́quidos são materiais que têm uma estrutura molecular com carac-
terı́sticas intermediárias entre a ordem orientacional e posicional de longo al-
cance dos cristais e a desordem tı́pica dos lı́quidos e gases. Os cristais lı́quidos
também apresentam propriedades que não são encontradas nem em lı́quidos
nem em sólidos, tais como: forma¸cão de monocristais com a aplica¸cão de cam-
pos elétricos; atividade óptica muito maior que s´olidos e lı́quidos tı́picos e
controlável por campos elétricos; grande sensibilidade a temperatura que pode
resultar em mudanças de sua cor.
Figura 1.14 : Ilustração da orienta¸cão de moléculas nos seguintes sistemas: (a) lı́quido
isotrópico; (b) cristal lı́quido nemático; (c) cristal lı́quido smético A; (d) cristal lı́quido
smético C.
Cap. 1 Materiais para Eletrˆonica 21
posição formando
interesse uma
tecnológico multicamada,
é aquele formado ou
porsuper-rede. Umempregado
GaAs e A As, sistema denagrande
fabri-
cação de lasers semicondutores. Os cristais dessa s substâncias têm a mesma
estrutura cristalina do ZnS, com parˆametros da rede praticamente iguais, a =
5,65 Å. Por causa disto é possı́vel depositar epitaxialmente camadas atômicas
cristalinas da liga ternária Ga 1−x Ax As sobre um substrato cristalino de GaAs,
para construir artificialmente multicamadas, super-redes ou “poços quânticos”,
com concentrações x escolhidas. A Figura 1.16(a) ilustra uma multicamada
de GaAs e da liga (GaA )As empregada em lasers semicondutores. Estas
multicamadas também podem ser feitas por técnicas de epitaxia de feixe de
vapor (VPE), das quais a mais comum é a MOCVD (Metal-Organic Chemical
Vapor Deposition). A técnica de MBE também é utilizada para fazer muitos
outros tipos de multicamadas. A Figura 1.16( b) ilustra uma multicamada
REFERÊNCIAS
PROBLEMAS
1.1 Calcule o ângulo entre a direção [111] e o plano (001) numa rede cristalina
cúbica.
1.2 Calcule os cossenos diretores da dire¸cão [122].
1.3 Mostre, com um desenho claro, quais s˜ ao os vetores primitivos de uma
rede 3d tetragonal simples. Mostre porque n˜ao existe rede tetragonal de
faces centradas.
1.4 Silı́cio, o semicondutor mais importante da Eletrônica, cristaliza na es-
trutura do diamante, cuja célula unitária está mostrada na Fig.1.8. À
temperatura ambiente o parâmetro da rede é 5,42 Å. Sendo do grupo IV
da tabela peri´odica, o ´atomo de Si tem quatro elétrons de valência. Cal-
cule o n´umero total de elétrons de valência do Si por unidade de volume,
em cm −3 .
1.5 Assim como o Si, o germˆanio também cristaliza na estrutura do diamante,
com parâmetro de rede 5,65 Å. Sabendo que a massa atˆ omica do Ge é
72,59 (referida a massa de H), calcule a massa especı́fica do Ge em g/cm 3
e compare com o valor da tabela.
26 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS 51
PROBLEMAS 52
27
28 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
caracterı́sticas
portantes, comuns
vamos iniciarde qualquer
este capı́tuloonda. Para
revendo firmar alguns
as principais conceitos
ısticasim-
caracter´ das
ondas eletromagnéticas.
onde e H
E são os campos elétrico e magnético, respectivamente, B
e´ o vetor
Cap. 2 Ondas e Part´
ıculas na Matéria 29
2 ∂ 2 (r, t)
E
(r, t) µ 2
= 0. (2.5)
∇E − ∂t
Esta é a equação de ondas para um campo vetorial em três dimensões.
Ela relaciona a varia¸cão espacial do campo com sua varia¸cão temporal. Para
ondas planas propagand o na direção do eixo x de um sistema de coordenadas,
a equação reduz-se a
∂ 2 (x, t)
E 1 ∂ 2 (x, t) E
= 2 , (2.6)
∂x 2 v ∂t 2
√
onde v = 1/ µ. Uma das soluções da Eq.(2.6) é (Problema 2.3),
(x, t) = H
H 0 cos(kx − ωt) , (2.8)
ω c
vf = = , (2.10)
k n
√
onde n = (µ/µ0 0 )1/2 é o ı́ndice de refração do material e c = 1/ µ0 0
3, 0 108 m/s é a velocidade da luz. Não é difı́cil ver que no caso em que
×
asão
onda propaga
os da numa dire¸cão
propaga¸cão. qualquer,
Sua direção k é aos
é normal um planos
vetor cuja direção
de fase e seue m´
sentido
odulo
é relacionado com o comprimento de onda pela Eq.(2.9). Neste caso geral,
E(r, t) = 0 cos(k.r
E − ωt + φ) , (2.11)
0 cos(k.r
(r, t) = H
H − ωt + φ) , (2.12)
onde
0 = /µ
H
k
k × E 0 . (2.13)
Além da forma harmônica (2.11), é também muito util
´ representar os campos
na forma complexa, utilizando a identidade de Euler e iθ = cos θ + isenθ. Assim
o campo elétrico da Eq.(2.11) pode ser escrito como
E(r, t) = Re E
0
e i(k.r−ωt+φ)
. (2.14)
Uma delas é que qualquer variação do campo elétrico que ocorre na prática
pode ser decomposta em uma soma de ondas planas do tipo (2.11), através da
técnica de transformada de Fourier. A transformada de Fourier permite de-
compor qualquer forma de variação em ondas planas de diferentes freq¨uências
e vetores de onda. Por exemplo, vamos considerar um campo elétrico que varia
somente na direção x . Em um determinado instante, digamos t = 0, podemos
decompor este campo na seguinte forma:
∞
E(x, 0) = E
k e ikx dk (2.15)
−∞
onde ∞
1
E =
E(x, 0) e −ikx
dx . (2.16)
k
2π −∞
Figura 2.5: (a) Pulso de campo elétrico no espaço. (b) Amplitude da transformada de
Fourier do pulso mostrado em (a).
Figura 2.6: (a) Energ ia de intera¸cão efetiva entre dois ı́ons. (b) Sistema equivalente na
vizinhança de x = a.
V (u ) V (0) + 12 Cu 2
(2.19)
onde C = (d2 V/du 2 )0 é uma constante caracter´ ıstica da ligação entre os ı́ons.
Nesta aproximação, a for¸ca de intera¸cão entre os ı́ons é linear,
F (u ) = − dV
du
= −Cu , (2.20)
como ocorre num oscilador harmônico simples. Este resultado permite concluir
36 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
que os dois ı́ons ligados pela interação eletrostática, comportam-se como duas
massas ligadas por uma mola.
{
Fn = C (un+1 − u ) − (u − u )} = C (u − 2u
n n n−1 n+1 n + un−1 ) . (2.21)
Figura 2.7: (a) Modelo de cadeia monoatˆomica em equil´ıbrio. (b) Deslocamentos dos ı́ons
quando da passagem de uma onda longitudinal. (c) Deslocamentos numa onda transversal.
Cap. 2 Ondas e Part´
ıculas na Matéria 37
Assim, obtemos uma s´o equa¸cão para uk (t), a fun¸cão que exprime a
variação do deslocamento de qualquer ı́on no tempo. A variação no espa¸co,
devida ao car´ater coletivo do movimento, est´a contida em (2.23 ). Veja que
(2.24) é a equação de um oscilador harmˆonico simples, cuja solu¸cão é
v=
C/m a . (2.28)
Em geral v é da ordem de 104 m/s, isto é, 104 vezes menor que a veloci-
dade da luz. Para ondas de grande comprimento de onda, p odemos aproximar
a função deslocamento por uma fun¸cão contı́nua de x, u(x, t). Neste caso, é
poss´ıvel mostrar que a equação de u(x, t) é igual a equação de ondas para o
campo elétrico, Eq.(2.6) (Problema 2.5). Por outro lado, quando o compri-
mento de onda é pequeno, a natureza discreta da rede torna-se importante. A
onda com λ = 2a tem a m´axima freqüência de vibração. Fazendo ka = π em
(2.26) vemos que o m´aximo valor de ω é dado por (4C/m)1/2 . O valor desta
freqüência varia de um material para outro e está na faixa de 1 a 10 THz (1
THz = 10 12 Hz), que corresponde à região do infravermelho distante no espec-
tro eletromagnético (Problema 2.6).
Em um cristal qualquer h´a dois fatos que tornam o problema das ondas
elásticas mais complexo: o primeiro é que ele é tridimensional; o segundo é
que ele contém ı́ons diferentes. Este segundo fato traz uma caracter´ ıstica nova,
que pode ser entendida de maneira simples, no caso da cadeia unidimensional.
Se tivermos uma cadeia com dois tipos de ı́ons intercalados de massas m1
e m2 , ao escrevermos as equa¸ cões de movimento teremos duas equa¸cões da
forma (2.22), em vez de apenas uma, como no caso dos ı́ons iguais. Teremos
então duas solu¸cões para a freq¨uência de vibração e, conseq¨uentemente, dois
ramos na rela¸cão de dispersão. Sua forma está mostrada na Fig.2 .9. Neste
caso, as freq¨uências de vibração possı́veis do sistema formam duas bandas,
Cap. 2 Ondas e Part´
ıculas na Matéria 39
definidas pelos dois ramos da rela¸cão de dispers˜ao. Entre elas existe uma faixa
proibida, cuja largura depende da diferen¸ca entre as massas. Quando as duas
massas s˜ao iguais, a banda proibida desaparece, isto é, o ramo inferior na
≤ ≤ ≤ ≤
região 0 k π/ 2a e o ramo superior na regi˜ao π/2a k π/a compõem a
relação de dispers˜ao da cadeia monoatˆomica da Fig.2.8.
Figura 2.9: (a) Rela¸cão de dispers˜ao de ondas el´asticas na cadeia diatômica linear mostrada
em (b), com os ramos ac´ustico e óptico.
40 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 2.10: Curvas de dispers˜ao de ondas el´asticas em um cristal c´ubico diatômico, com
o vetor de onda na dire¸ cão de um eixo principal (L = longitudinal, T = transversal, O =
óptico e A = ac´ustico).
R
λ(r, t) = Re Ak ei(k.r−ωλt)
, (2.29)
dessas experiências ele observou que a descarga elétrica entre dois eletrodos
ocorria mais facilmente quando luz ultravioleta incidia sobre um dos eletrodos.
Mais tarde Lenard verificou que a descarga ocorria mais facilmente porque a
luz facilitava a emissão de elétrons da superf´ıcie do eletrodo, fenômeno que foi
posteriormente chamado de efeito fotoelétrico .
Figura 2.12: Variação da corrente fotoelétrica com a tensão aplicada, para dois valores de
intensidade da luz inci dente. A tensão V0 é independente da intensidade de luz, mas a
corrente de saturação é diretamente proporcional à mesma.
eV0 = hν −W 0 . (2.37)
h
V0 = (ν −ν )
c , (2.38)
e
Exemplo 2.1: Numa experiência de efeito fotoelétrico, o material do fotocatodo é o lı́tio, cuja
função t rabalho é 2,3 eV, e o comprimento de onda da luz usada para iluminar o fotocatodo é 300
nm. Determine: a) A freq¨uência de corte do l´ıtio; b) O potencial de retardo.
a) A relação entre a fun¸cão trabalho e a freq¨uência de corte é dada pela Eq. (2.36). Então,
−19
W0
νc =
h
2, 3 eV × 1, 6 × 10 coulomb
6, 63 × 10 34 joule-seg
−
5, 5 × 1014 Hz
46 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
ν=
c
=
3, 0 × 108 m/s = 10, 0 × 1014 Hz .
λ 300 × 10 9 m
−
Assim,
=
h
(ν νc ) =
6, 63 × 10 34 joule-seg
−
14
V0
e
− 1, 6 × 10 19 coulomb × 4, 5 × 10 Hz
−
= 1, 86 V
O fato dos
comprimento elétrons
de onda com
várias energias
ordens de dezenas
de grandeza de do
menor eV que
serem
o daondas, com
luz visı́vel,
tem uma importante aplica¸cão pr´atica. Quando um feixe de elétrons incide
sobre um material, a an´alise dos elétrons espalhados permite observar detalhes
muito menores do que se consegue com a luz visı́vel num microscópio óptico.
Este é o princı́pio básico de operação do microscópio eletrônico. No microscópio
óptico o observador vê a imagem do objeto ampliada por meio de lentes de
vidro, que proces sam a luz espalhada pelos detalhes do material analisado.
Como o comprimento de onda mı́nimo da luz visı́vel é da ordem de 3000 Å,
não é possı́vel distinguir detalhes com dimensões menores que este valor. Por
outro lado, como no microsc´opio eletrônico a onda utilizada é a de um feixe
de elétrons, é possı́vel observar detalhes com dimens˜ oes de alguns angstroms.
Neste caso, a imagem do objeto é formada por lentes magnéticas (campos
magnéticos produzidos por bobinas com formatos adequados) e convertida em
sinais elétricos por meio de detetores, de modo a ser observada na tela de um
computador.
48 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
A relação entre energia e comprimento de onda é dada pela Eq. (2.43). Então, T = h2 /2mλ2 .
Para o feixe de elétrons m = 9, 1 10−31 kg, logo,
×
6, 632 10−68 × −18
T = = 6, 0 × 10 J
2 9, 1 10−31 22 10−20
× × × ×
−18
6, 0 10 ×
= eV = 37 , 5 eV
1, 6 10−19
×
A velocidade é relacionada com a energia cinética por T = mv 2 /2. Portanto, a velocidade
dos elétrons é,
1/2
v = (2T /m)1/2 =
2 × 6, 0 × 10 18 −
= 3, 6 × 106 m/s
9, 1 × 10 31
−
−27
No caso do feixe de nêutrons, m = 1, 67 × 10 kg. Então,
2 −68
6, 63 10 −21
T = 2 × × × × × 10 20 = 3, 3 × 10
1, 67 10−27 22 −
J
1/2
2 × 3, 3 × 10 21 −
v = = 2, 0 × 103 m/s
1, 67 × 10 27−
xp , (2.45)
Figura 2.14: (a) Pacote de ondas que descreve o estado de uma partı́cula livre localizada
numa região do espa¸co. (b) Transformada de Fourier do pacote de ondas mostrado em (a).
50 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Veja que no caso de uma fun¸ cão de ond a plana como a da Eq. (2.44), o
momentum é bem determinado ( p = 0), em contrapartida x . →∞
Existe uma outra versão do princı́pio da incerteza, relativa à deter-
minação da energia do elétron E e o intervalo de tempo
t necessário para
medi-la. Segundo Heisenberg, se a medida é efetuada em um intervalo t
finito, existe uma incerteza E na determinação de E dada por
E t ≥ /2 . (2.47)
E = ω , (2.48)
p =
k , (2.49)
que são relações idênticas àquelas vistas anteriormente para ondas eletro-
magnéticas e para elétrons. As excitações num s´olido têm caráter de onda,
sendo portanto quantizadas. Os quanta das diversas ondas s˜ao chamados de
Cap. 2 Ondas e Part´
ıculas na Matéria 51
REFERÊNCIAS
A. Chaves, F´
ısica , Ondas, Relatividade e Fı́sica Quˆantica, Reichmann &
Affonso Editores, Rio de Janeiro, 2001.
R. Eisberg e R. Resnick, F´
ısica Quˆantica, Editora Campus, Rio de Janeiro,
1988.
G.R. Fowles, Introduction to Modern Optics , Holt, Rinehart and Winston,
New York, 1975.
D. Halliday, R. Resnick e J. Walker, Fundamentos da Fı́sica, Livros Técnicos
e Cientı́ficos, Rio de Janeiro, 1995.
PROBLEMAS
2.6 As vibrações da rede de um certo cristal podem ser descritas pelo modelo
unidimensional dado pela Eq.(2.22), com ´atomos de peso atˆomico 56 e
constante elástica C = 104 g/s2 : a) Calcule a velocidade de propaga¸cão
da onda el´astica na cadeia no limite de grandes comprimentos de onda,
λ a (ou ka 1), em cm/s, e compare com a velocidade da luz; b)
Calcule o valor m´aximo da freq¨uência de vibração da cadeia em rd/s e
em Hz.
2.7 A partir das medidas do efeito fotoelétrico mostradas na Fig.2.13: a)
Calcule a fun¸cão trabalho do s´odio, em eV; b) Calcule o potencial de
retardo V0 de uma célula com fotocatodo de sódio, iluminada por luz de
comprimento de onda λ = 350 nm.
2.8 Uma montagem de medida do efeito fotoelétrico utiliza uma célula com
fotocatodo de alumı́nio, cuja função trabalho é 4,2 eV. A luz ultravioleta
empregada tem comprimento de onda 180 nm: a) Qual é a freqüência
de corte do alumı́nio?; b) Qual o potencial de retardo do alumı́nio para
este comprimento de onda?; c) Calcule a energia cinética do elétron mais
rápido emitido; d) Qual é a energia do elétron no alumı́nio, que ao ser
emitido é o mais lento?
2.9 Um diodo emissor de luz de GaP emite luz de comprimento de onda 549
nm, com potência 1 µ W: a) Qual é a energia, em eV, dos fótons emitidos
pelo diodo? b) Quantos f´otons por segundo s˜ao emitidos pelo diodo?
2.10 Numa experiência de efeito fotoelétrico com um laser, luz de intensidade
1,0 watt e certa freq¨ uência, incide sobre um fotocatodo de lı́tio, cuja
função trabalho é 2,3 eV. a) Qual é o potencial de retardo para uma
freqüência cujo valor é o dobro da freqüência de corte? b) Suponha que a
cada dez fótons que chegam ao fotocatodo um elétron é emitido, e que o
potencial positivo aplicado entre anodo e catodo é tal que a corrente está
saturada. Calcule o valor desta corrente, em ampère.
2.11 Um elétron é descrito por uma função de onda na forma de um pacote
gaussiano dado, em t = 0, por
2 /2L2
ψ (x, 0) = A e −x eik0 x ,
< x2
>=
| ψ(x, 0) 2 (x
| −x 2
m ) dx
54 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
3.1.1 A Função
de
Onda 57
3.1.2 Operadores Quˆanticos 57
3.1.3 Valor Esperado de uma Grandeza 59
3.1.4 A Equa¸cãodeSchroedinger 60
3.3.1ElétronLivre 62
3.3.2 Elétron num PoçodePotencialInfinito 65
3.3.3 Barreira de Potencial-Efeito Túnel 69
REFERÊNCIAS 86
PROBLEMAS 87
55
56 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
pop = −i ∇ = −i
x̂
∂
+ ŷ
∂
+ ẑ
∂
. (3.6)
∂x ∂y ∂z
p −i ∇
E i∂/∂t
T 2
−( /2m)∇ 2
L −i r × ∇
Como foi dito anteriormente, quando um operador atua numa função de onda,
em geral o valor da grandeza associada n˜ ao aparece imediatamente. Neste
caso, o valor da grandeza n˜ ao pode ser determinado com precis˜ ao, ele tem
uma incerteza. Podemos, no entanto, calcular o valor mais provável, ou seja,
seu valor médio no sentido estatı́stico, chamado valor esperado.
o valor esperado < Q > de uma grandeza associada a um operador Qop e´ dado
por, ∞
< Q >= Ψ∗ Qop Ψdxdydz . (3.14)
−∞
De agora em diante vamos deixar de usar o ı́ndice “op” no operador para sim-
plificar
que tem,a para
notação.
cada A Eq.(3.16)V é, uma
potencial equação diferencial
uma infinidade de derivadas
de solu¸cões. parciais
As soluções para
cada problema s˜ao limitadas pelas condi¸cões de contorno que Ψ e ∂ Ψ/∂x de-
vem obedecer, bem como pela condição de normalização (3.2) que “amarra” as
amplitudes das funções de onda. A Eq. (3.16) tem outra caracterı́stica impor-
tante, ela é uma equação diferencial linear, pois os operadores e as fun¸ cões são
elevados à potência um. Uma propriedade importante das equações lineares é
que a superposi¸cão de duas ou mais de suas solu¸ cões, também, é sua solu¸ cão
(ver o Problema 3.1).
onde ψ (r) e φ (t) são funções apenas das vari´aveis r e t respectivamente. Subs-
tituindo (3.18) em (3.16) obtemos:
2 ∂φ (t) ψ (
2
− 2m ∇ ψ(r) φ(t) + V (r)ψ(r)φ(t) = i ∂t
r) . (3.19)
2
1
− 2
∇ ψ(r) + V (r)ψ(r
=
1
i
∂φ (t)
. (3.20)
ψ (r) 2m φ(t) ∂t
Veja que o lado direito de (3.20) n˜ ao depende de r, enquanto que o lado
esquerdo não depende de t. Em conseqüência, o valor comum dos dois lados
não pode depender de r ou de t , devendo então ser uma constante, que vamos
chamar de E . A equa¸cão obtida igualando o lado direito de (3.20) a E é,
dφ(t)
dt
= −i E φ (t)
. (3.21)
φ(t) = exp
− i
E
t . (3.22)
onde
2 2
H = − 2m ∇ + V (r) . (3.25)
é independente do tempo. Isto significa que se uma partı́cula tem num certo
instante uma fun¸cão de onda dada por uma autofun¸ cão do tipo (2.44), ela
permanece indefinidamente com a mesma fun¸cão. Dizemos que a partı́cula
nesta situação permanece num estado estacionário . Vamos agora utilizar a
equação de Schroedinger em algumas aplica¸cões simples.
−
Como φ (t) = exp( iEt/ ), a primeira parcela de (3.29) representa uma onda
plana propagando na dire¸cão de x positivo:
Ψ(x, t) = A e ikx−iωt . (3.31)
onde
√2mE
k= . (3.35)
vg = ∂ω .
∂k
k0
(3.36)
vpart = vg = k0 . (3.37)
m
p = m vpart = k 0 , (3.38)
V (x) =
0 0<x<L
(3.39)
∞ ≤
x 0 ; x ≥L
No intervalo 0 < x < L a equação é idêntica a do elétron livre, e portanto
sua solução é igual a (3.29),
ψ(x) = A e ikx + B e −ikx (0 < x < L ) , (3.40)
Figura 3.3: Funções de onda e correspondentes energias de uma partı́cula num po¸co de
potencial infinito, para os quatro primeiros valores do n´ umero quântico n.
´
Cap. 3 Mecˆanica Quˆantica: O Elétron no Atomo 67
Exemplo 3.1: Uma part´ ıcula está no estado fundamental num poço de potencial infinito de largura
L. Calcule: a) Os valores espe rados da posi ¸cão x e do momentum px ; b) Os desvios médios
quadráticos de x e de p x .
L π 2
A2 = 1 , logo A = .
π 2 L
O valor esperado de x é
∞ L L
π A2
x= ψ ∗ x ψ dx = A2 x sen 2
L
x dx =
2
x 1 − cos 2π
L
x dx
−∞ 0 0
Para calcular esta expressão usamos a seguinte integral que pode ser resolvida por partes,
1 x
x cos ax dx = cos(ax) + sen(ax) .
a2 a
Aplicando este resultado na integral definida e usando a = 2π/L, verificamos que a segunda
parcela da integral na expressão de x e´ nula. Assim,
L
A2 A2 L2 L
x= x dx = =
2 0 2 2 2
68 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Este resultado era, de certa forma, esperado, pois uma partı́cula que se movimenta livremente
entre x = 0 e x = L tem uma posi¸cão média em x = L/2.
O valor esperado do momentum é,
∞ L
∂ψ π π π
px = ψ∗ ( i )
− dx = −i A2 sen x cos x dx
−∞ ∂x 0 L L L
L
A2 π 2π
= −i sen x dx = 0
2 L 0 L
Este resultado também é natural, pois uma partı́cula que vai e volta dentro de uma caixa,
com energia constante, tem velocidade média nula.
b) O desvio médio quadrático de x é definido por
A2 L 2
=
2
x2 − L4 1 − cos 2π
L
x dx
0
O desvio médio quadrático do momentum pode ser calc ulado de maneira semelhante. O
resultado é,
2
π
∆p2x =
L
∆x ∆ px = 0, 18 π = 0, 57 .
onde
γ= 2m(V0 − E )/
. (3.48)
Veja que na Eq.(3.47) a primeira parcela é uma função que cresce expo-
nencialmente com x enquanto a segunda decai exponencialmente. Isto é uma
conseqüência do fato de a energia do elétron ser menor que a altura da barreira
o que mostra que existe uma certa probabilidade do elétron ser encontrado
na região 2. Este é um efeito puramente quântico, pois classicamente uma
partı́cula seria totalmente refletida por uma barreira do potencial maior do
que sua energia. Como ilustrado na Fig.3.5, ψ2 (x) decai exponencialmente
com x e podemos ter ψ 2 (x = a) > 0. Assim, se a barreira tiver uma espessura
finita a , a probabilidade do elétron atravess´
a-la será, aproximadamente,
2
|ψ (a)|
2 = e−2γa . (3.54)
´
Cap. 3 Mecˆanica Quˆantica: O Elétron no Atomo 71
Figura 3.5: Comportamento espacial da fun¸cão de onda para uma partı́cula sujeita a uma
barreira de potencial, como na Fig.3.4.
2
onde ω0 = k/m e´ a freqüência natural do oscilador. Verifique que as funções ψ0 (x) = A 0 e−ax
2
e ψ1 (x) = A1 x e−ax são autofunções da equa¸cão de Schroedinger para o oscilador harmˆ onico e
determine suas energias.
2
Cancelando o fator comum A0 e −ax obtemos,
2 2
m
a − 2 m a2 x2 + 12 m ω 02x2 = E .
Para que esta equa¸cão seja satisfeita para qualquer valor de x, é necessário que o termo em
x2 seja nulo. Isto permite obter o valor da constante a,
a = m ω0 .
2
Neste caso é preciso anular separadamente todos os termos com potências iguais de x. O
termo em x 3 leva ao mesmo valor de a obtido para o estado fundamental, enquanto o termo em x
dá,
2
a 3
E= 3 = ω0 .
m 2
Este é um resultado importante que mostra que os nı́veis de energia dos estados do oscilador
harmônico estão igualmente espaçados, com uma diferen¸ca entre dois n´ıveis consecutivos de ω0 .
´
Cap. 3 Mecˆanica Quˆantica: O Elétron no Atomo 73
+V (r ) R ΘΦ = E RΘΦ .
2
− R1 drd
−
r2
dR 1 d
senθ
dΘ
− 2m
r 2 [E − V (r)] = − senm θ
.
dr Θsenθ dθ dθ 2 2
(3.60)
A Eq.(3.59) pode ser resolvida por uma fun¸cão de ϕ , enquanto que a Eq.(3.60)
pode ser reescrita na forma
que também pode ser separada nas variáveis r e θ . Usando como constante de
separação ( + 1), obtemos as equa¸cões nas vari´aveis r e θ :
m 2 Θ
− sen1 θ dθd senθ
dΘ
+ = ( +1)Θ (3.61)
dθ sen2 θ
1 d
r2
dR
+
2m
[E − V (r)]R = ( + 1) rR . (3.62)
r2 dr dr 2 2
E= − 13n, 6 eV
2
. (3.68)
onde
Figura 3.7: (a) Representação de um “po¸co” de potencial ao qual um elétron está submetido
pelo núcleo de um ´atomo. (b) Diagrama de um modelo de caixa retangular de potenc ial que
se aproxima, grosseiramente, do potencial visto pelo elétron em torno de um núcleo.
os
Nquânticos Autofun¸ cões
¯
n m
3/2
Z
1 0 0 ψ100 = √1π a0 e−Zr/a 0
− 3/2
Z Zr
2 0 0 ψ200 = 4√12π a0 2 a0 e−Zr/ 2a 0
3/2
3/2
Z Zr
2 1 ±1 ψ21±1 = 8√1 π a0 a0 e−Zr/ 2a senθ e ±iϕ
0
− 3/2 2 2
Z
3 0 0 ψ300 = 81
√1
3π a0 27 18 Zr Z r
a +2 a
0
2 e−Zr/ 3a 0
√2 − Z
3/2
Zr Zr
3 1 0 ψ310 = 81
√π a0 6 a0 a0 e−Zr/ 3a cos θ 0
− 3/2
Z Zr Zr
3 1 ±1 ψ31±1 = 81
1 √π a0 6 a0 a0 e−Zr/ 3a senθ e ±iϕ 0
3/2
Z Z 2 r2
3 2 0 ψ320 = 81
√1 6π a0 a20
e−Zr/ 3a (3 cos2 θ
0
− 1)
3/2
Z Z 2 r2
3 2 ±1 ψ32±1 = 81
1 √π a0 a20
e−Zr/ 3a senθ cos θ e ±iϕ
0
3/2
3 2 ±2 ψ32±2 = 1
162
√π Z
a0
Z 2 r2
a20
e−Zr/ 3a sen2 θ e ±2iϕ
0
Veja que as fun¸cões de onda Ψ 200 , Ψ210 e Ψ21±1 são bastante diferentes
umas das outras mas têm a mesma auto-energia, pois todas têm n = 2. Os
estados com diferentes funções de onda que têm a mesma energia são chamados
degenerados. É comum encontrar solu¸cões da equa¸cão de Schroedinger que
são estados degenerados.
´
Cap. 3 Mecˆanica Quˆantica: O Elétron no Atomo 79
probabilidade
Para a função de
de encontrar
onda Ψ nmo ,elétron com a coordenada
esta densidade é dada porradial entre r3.16)
(Problema e r + dr.
P10 (r ) = e−2r/a0 r 2 ,
Figura 3.8: Densidade de probabilidade radial para o elétron num átomo de hidrogênio para
os valores de n e de indicados. Os triˆangulos indicam os valores médios de r [Eisberg e
Resnick].
´
Cap. 3 Mecˆanica Quˆantica: O Elétron no Atomo 81
que o elétron pode passar para um estado de maior energia p ela absor¸cão de
um fóton de freq¨uência ν , desde que a diferen¸ca entre as energias do estado
final f e do estado inicial i seja igual a energia do f´ oton, isto é,
Ef −E i = hν. (3.71)
Figura 3.11: Representação de transições com absorção ou emiss˜ao de fótons entre nı́veis de
energia do ´atomo de hidrogênio. As linhas diagonais mostram as transições poss´ıveis. Os
comprimentos de onda correspondentes estão indicados em Angstroms.
84 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Isto é uma regra de sele¸cão. Somente quando dois estados têm distribuições
±
de carga com orbitais diferindo de = 1, o campo elétrico consegue induzir
transição de dipolo elétrico entre eles. Por esta razão as linhas que indicam
as transições na Fig.3.11 s˜ao diagonais. Se o campo é linearmente polarizado,
outra regra de seleção é ∆m = 0. Mas se o campo é circularmente polarizado,
a regra é ∆m = 1.
±
Tabela 3.2: Tabela Periódica dos elementos. A nota¸cão espectroscópica indica o n´umero de
elétrons e os orbitais correspondentes das últimas camadas ocupadas.
REFERÊNCIAS
PROBLEMAS
Elétrons em Cristais
4.4 Distribuição
Comportamento dos Elétrons em T > 0
de Fermi-Dirac 103
REFERÊNCIAS 115
PROBLEMAS 116
91
92 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Elétrons em Cristais
Figura 4.1: Formação de bandas de nı́veis de energia devido à aproximação dos ´atomos em
um sólido.
(2s)2 (2p)6 (3s). Para uma distˆancia infinita, os nı́veis de energia de estados
equivalentes coincidem e são iguais aos de um ´ atomo isolado. À medida que
a distância diminui, os nı́veis se separam devido à interação com os vizinhos,
dando srcem à v´arias bandas de energia. Na distˆancia de separa¸cão atômica
de equil´ıbrio r = a, temos quatro bandas, cada uma correspondendo a um
estado orbital. É claro, então, que o n´umero de nı́veis em uma banda é igual
a 2(2 + 1)N sendo o número quântico orbital. Esta descrição do apareci-
mento das bandas de energia é extremamente simplificada e esconde algumas
caracterı́sticas essenciais dos estados eletrônicos. Na realidade, é a natureza
ondulatória dos elétrons nos cristais que dá srcem ` as bandas de energia, de
maneira análoga à formação dos vários ramos na relação de dispersão de ondas
elásticas, como aqueles da Fig.2.10.
Figura 4.2: (a) Energia poten cial V de um elétron ao longo do eixo x do cristal mostrado
em (b).
mesmo o mais simples, é complexa, vamos entender o que ocorre com um mo-
delo aproximado. No caso dos metai s alcalinos, como o s´odio, o elétron 3s
da última camada vê um potencial do núcleo muito blindado pelos elétrons
interiores, de modo que ele fica quase livre. Para este elétron podemos supor,
em primeira aproximação, que o potencial é um poço com paredes infinitas nas
superfı́cies do cristal e constante no seu interior, como na Fig.3.2. Neste caso,
como vimos na Se¸cão 3.2, as autofun¸cões do elétron são do tipo
Ψ(r, t) = A e i(k.r−ωt) , (4.1)
onde k é sujeito a condições do tipo (3.43). A rela¸ cão de dispers˜ao (4.2) est´a
representada pela curva tracejada na Fig.4.3. Entretanto, como o potencial
não é constante no interior do poço, sua pequena varia¸cão peri´odica altera a
propagação da onda de elétron (4.1) e conseqüentemente a relação de dispersão
(4.2). Esta altera¸cão pode ser compreendida em analogia com o efeito de uma
rede de difra¸cão. Considerando a periodicidade da rede em uma dimens˜ ao, as
ondas mais afetadas s˜ao as que têm vetor de onda satisfazendo a condição de
Bragg
2 a senθ = m λ = m 2π /k . (4.3)
As ondas que satisfazem a rela¸cão (4.3) s˜ao refletidas pela rede, dando
srcem a uma onda estacion´aria. Dependendo da configuração espacial da onda
Cap. 4 Elétrons em Cristais 95
Figura 4.3: Modifica¸cão da rela¸cão de dispersão pelo efeito do potencial periódico no modelo
de elétron quase livre.
estacionária em relação à rede, ela pode ter dois valores de energia. Assim,
nos pontos k = mπ/a, onde m é um inteiro positivo ou negativo, a curva
de dispersão quebra-se em duas. Isto dá srcem ` as linhas cheias da Fig.4.3,
que representam a rela¸cão de dispersão do elétron no potencial periódico. A
separação das linhas resulta em bandas, ou faixas, de energia para os estados
eletrônicos. Os elétrons só podem ocupar estados cuja energia est´ a em uma
das bandas da Fig.4.3.
Figura 4.4: (a) Ilus tração do deslocamento das bandas na segunda zona de Brillouin de
±2π/a. (b) Esquema de bandas reduzido `a primeira zona, resultante desse deslocamento.
Cap. 4 Elétrons em Cristais 97
elétron com vetor de onda k , π/a < k < 2 π/a, na segunda zona de Brillouin
tem energia em outra banda. Entretanto, se subtrairmos de k um vetor de
onda G = 2π/a, isto resultar´a num vetor de onda k = k G que, por causa
−
do resultado (4.5), tem efeito idêntico ao de k . Então é poss´ıvel transladar as
bandas no espaço de momentum de um m´ultiplo de G , isto é, n 2 π/a, de modo
a levar todas as bandas para a primeira zona de Brillouin. Esta opera¸cão,
mostrada na Fig.4.4 para as primeiras bandas, resulta no esquema de bandas
reduzido à primeira zona. Neste esquema fica evidente que n˜ao há estados
eletrônicos entre as bandas de energ ia. Por esta raz˜ao, as regi˜oes entre as
Para encerrar esta seção é importante chamar a atenção de que devido `as
condições de contorno nas superfı́cies do cristal, k não pode assumir qualquer
valor, ele varia discr etamente. Por isso o número de estados em cada banda é
finito. Se o n´umero de células unitárias no cristal é N , cada banda contém
2N estados eletrônicos, onde o fator 2 é devido aos dois estados poss´ıveis para
o spin. Este resultado vem da Eq.(3.43) generalizada para três dimensões. Em
uma dimensão, k pode assumir valores mπ/Na, onde N e´ o número de células
unitárias de comprimento a. Como m é um inteiro e positivo, entre 0 e π/a
há N valores diferentes para k , e, portanto, o n´umero de estados eletrˆonicos
em cada banda é 2N (Note que se deixarmos k assumir valores positivos ou
negativos, como é mais apropriado para uma onda progressiva como (4.1), é
preciso mudar as condi¸cões de contorno de modo que k = m 2π/Na, sendo m
inteiro positivo ou negativo).
Figura 4.5: (a) Prime ira zona de Brillouin de um cristal fcc; (b) Estr utura de bandas de
energia do cobr e fcc calc ulada teoricamente [B. Segal , Phys. Rev. 125, 109 (1962)]. A
energia de Fermi E F será definida na se¸cão 4.4.
Figura 4.6: Ocupação das bandas em isolante s (a) e em condutores (b). As regi˜oes hachu-
radas representam as faixas de energia ocupadas pelos elétrons.
última banda estar cheia ou n˜ao. Isto é devido ao fato do vetor de onda k ter
qualquer direção e das bandas serem simétricas, o que resulta em:
(4.6)
Σ k = 0
todos estados
de uma banda
Os isolantes, isto é, materiais que não conduzem corrente elétrica, são
cristais que têm a última banda compl etamente cheia. Nestes cristais, a
aplicação de um campo elétrico externo não pode alterar o momentum to-
tal dos elétrons que é nulo, pois todos estados disponı́veis estão ocupados.
Logo não há passagem de corrente elétrica quando o campo é aplicado. Ent˜ ao,
a condição necessária para um cristal ser isolante é que ele tenha um número
par de elétrons por célula unitária (a condi¸cão não é suficiente, como veremos
a seguir). A Fig.4.6(a) mostra uma possı́vel distribuição das ´ultimas bandas e
sua ocupação por elétrons num cristal isolante. O nı́vel de energia acima do
qual não há estados ocupados a temperatura T = 0 K é chamado n´ ıvel de
Fermi E . Na Se¸cão 4.4 discutiremos, em mais detalhe, o importante papel
que o nı́vel de Fermi desempenha nas propriedades dos sólidos.
chamadaEm um cristal
band a deisolante, somente
valência , está completamente T =0K
na temperaturacheia. a ´ultima
Quando banda,
a tempe-
ratura é maior que zero, elétrons da banda de valência podem ganhar ener-
gia térmica suficiente para atingirem a banda seguinte, chamada banda de
condução, que estava vazia a T = 0. A passagem de elétrons para a banda
de condução deixa na banda de valência estados que se comportam como por-
tadores de carga elétrica positiva, chamados buracos. Os elétrons na banda
de condução e os buracos na banda de valência produzem corrente elétrica
sob a a¸cão de um campo externo. A condutividade do material depen de do
número de elétrons que passam para a banda de condução, o que pode ser
calculado probabilisticamente, como veremos na próxima seção. Este n´umero
é tanto maior quanto maior for a temperatura e quanto menor for a ener-
gia que separa as duas bandas. Esta energia ´e representada por Eg , onde o
ı́ndice g vem da palavra gap, que significa intervalo, em inglês. (Por ser muito
simples e conveniente, a palavra gap j´a foi incorporada ao nosso vocabul´ario
técnico, da mesma forma que o spin). Os materiais que são isolantes a T = 0
Cap. 4 Elétrons em Cristais 101
F dx = vg dk .
Como dx = vg dt vem,
dk
F = . (4.8)
dt
Este resultado talvez já fosse esperado, pois sendo k o momentum do elétron,
(4.8) nada mais é do que a segunda lei de Newton. Entretanto, ele não deixa de
ser surpreendente, pois talvez esperássemos que o potencial da rede cristalina
tivesse um efeito mais dr´astico sobre o movimento do elétron. Vemos então
que a rede não afeta a forma da equa¸cão da variação do momentum. O que ela
altera é a dependência da energia com o momentum, que corresponde a mudar
a massa do elétron. Para mostrar isto exprimimos a aceleração do elétron, em
função de E e k a partir de (4.7):
dvg ∂ 2E ∂ 2 E dk
a= = −1 = −1 2
. (4.9)
dt ∂k∂t ∂k dt
Substituindo o valor de dk/dt de (4.8) obtemos
2
F= a . (4.10)
∂ 2 E/∂k 2
Lembrando que F = ma, vemos que sob a a¸cão de uma for¸ca externa o elétron
no cristal age semelhantemente a um elétron livre, porém com uma massa
efetiva 2
m∗ = . (4.11)
∂ 2 E/∂k 2
Este resultado também vale para um elétron livre. Neste caso, usando a rela¸cão
de dispersão (3.30) obtemos m∗ = m, ou seja, a massa efetiva é a própria massa
do elétron livre.
Cap. 4 Elétrons em Cristais 103
1
f (E ) = (4.13)
1 + e (E −EF )/kB T
que, substitu´
ıdo em (4.16), dá para a densidade de estados
3/2
1 2m
D (E ) = E 1/2 . (4.17)
2π 2 2
A partir de (4.19) obtemos ent˜ao o nı́vel de Fermi para uma banda parabólica
com N elétrons em T = 0,
2
EF = (3π 2 N )2/3 . (4.20)
2m
≤
Em T = 0 todos estados com energia E E F estão ocupados. Esses estados
são caracterizados por vetores de onda com m´odulo k kF , onde kF , dado
≤
por,
2 m EF
kF2 = 2
, (4.21)
Figura 4.11: (a) Superfı́cie de Fermi para um sistema de elétrons livres. (b) Superfı́cie de
Fermi (SF) e a primeira zona de Brillouin do cobre fcc.
Exemplo 4.1: O sódio cristaliza na estrutura bcc, tendo dois ´ atomos por célula unitária, cada um
com um elétron 3s. Sabendo que o parâmetro de rede do s´odio em T = 5K e´ 4,225 Å, calcule: a) A
energia de Fermi; b) a velocidade dos elétrons com energia no n´ıvel de Fermi, chamadavelocidade
de Fermi v F .
a) Para calcular a energia de Fermi, at ravés da Eq.(4.20), é preciso inicialmente calcular o número
de elétrons livres por unidade de volume. Havendo dois elétrons por célula unitária com
parâmetro de rede a,
2 2
N= 3 =
a 4, 2253 1024×= 2, 65 × 1022 cm −3
= 2, 65 × 1028 m
−3
.
5, 15 × 10 19 J
−
EF = = 3, 22 eV
1, 6 × 10 19 C
−
Logo
vF =
2EF
1/2
=
× 5, 15 × 10 19 1/2
2 −
m 9, 1 × 10 31
−
Exemplo 4.2: Calcule a energia total dos elétrons livres numa amostra de sódio de volume 1 cm 3 ,
em T = 0.
A energia dos elétrons por unidade de volume é a soma das energias dos elétrons livres, que
pode ser calculada usando (4.22),
U
= E dN = E f (E ) D(E ) dE .
V
Cap. 4 Elétrons em Cristais 109
U = 8, 19 × 109 × 10 −6
= 8, 19 × 103 J .
dv
a=
dt
= − me E ∗
. (4.23)
Este resultado significa que num cristal perfeito, o campo constante produz E
uma aceleração constante e portanto uma velocidade que aumenta linearmente
no tempo, v = at. A Eq.(4.23) implica também que, mesmo sem campo
externo, os elétrons podem ter velocidade constante e não nula. Isto resulta
do fato de que o estado estacion´ario do elétron no cristal sem campo externo
é uma onda plana, dada pela Eq.(4.5). Esta onda tem um momentum k , que
110 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 4.14: Ilustração do movimento de um elétron num sólido: a) Sem campo exte rno
aplicado, a velocidade média é nula. b) Na presença de campo elétrico, além do movimento
rápido e aleat´orio há um deslocamento contı́nuo que resulta numa corrente elétrica.
Como conseqüência de (4.24), cada elétron num estado k passa para outro
estado k + x̂δk x após um intervalo δt , resultando na ocupa¸cão de estados
mostrada na Fig.4.15(b). O resultado lı́quido é um momentum total N δk x por
unidade de volume, sendo N a concentração de elétrons na banda. Isto resulta
numa corrente elétrica na direção +x. Note que embora todos elétrons tenham
seus estados alterados pela ação do campo elétrico, são os estados pr´oximos da
superfı́cie de Fermi que contribuem para fazer a soma vetorial das velocidades
ser diferente de zero. Devido `as colisões, o deslocamento da esfera de Fermi
estaciona após um intervalo médio de tempo τ , chamado tempo de colisão. A
velocidade média resultante pode ser obtida a partir de (4.23) ou diretamente
de (4.24) usando v = k/m∗ . Esta velocidade média, chamada de velocidade
de deriva, é então
e τ E
vx = . (4.25)
m∗
112 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 4.15: (a) Os pontos representam estados ocupad os no espaço k no cristal n˜ao per-
turbado. O cı́rculo representa a interseção da esfera de Fermi com o plano k x ky . (b) Com
−
a aplicação de um campo elétrico na direção x os estados ocupados se deslocam de δk x
dado pela Eq.(4.24).
Esta equação tem a forma da lei de Ohm que relaciona a tens˜ ao aplicada V , a
corrente elétrica I e a resistência R
V =RI , (4.27)
Exemplo 4.3: Sabendo que o tempo de colis˜ao dos elétrons livres na prata à temperatura ambiente
é 3,8 10−14 s e que a concentra¸cão de elétrons livres é 5,86 1022 cm−3 , calcule: a) A resistência
× ×
de um fio de prata de se¸cão reta 0,1 mm 2 e comprimento 100 m; b) A corrente elétrica no fio quando
uma tensão de 1,6 V é aplicada nas extremidades; c) A velocidade de deriva dos elétrons na situa¸cão
do item b.
a) Para calcular a resistência é preciso inicialmente obter a condutividade, dada p ela Equação
Cap. 4 Elétrons em Cristais 115
(4.30),
σ= =
m∗ 9, 1 × 10 31
−
σ = 6, 26 × 107 (Ωm) −1
.
A resistência do fio é,
1 L 100 m
R= = = 16 Ω
σ A 6, 26 × 107 Ω −1
m−1 × 1 × 10 −7
m2
b) A corrente no fio é,
V 1, 6
I= = = 0, 1 A .
R 16
REFERÊNCIAS
PROBLEMAS
4.1 A prata cristaliza na estrutura fcc, tendo quatro ´atomos por célula
unitária, cada um deles com um elétron 5s. Sabendo que o parâmetro
de rede da prata é 4,086 Å, calcule a concentra¸cão de elétrons livres em
cm−3 .
4.2 Em primeira aproximação, a prata tem banda 5s parab´olica. Calcule seu
nı́vel de Fermi, EF , em eV, considerando que a massa dos elétrons livres
é igual à massa de elétron no vácuo.
4.3 A partir dos resultados dos Problemas 4.1 e 4.2, calcule: a) a velocidade
de Fermi vF dos elétrons com energia EF ; b) o comprimento de onda do
elétron movendo-se com a velocidade de Fermi e compare com a distância
entre os ´atomos ( 4 Å); c) Em qual temperatura a probabilidade de
encontrar elétrons com energia E = E F + 0, 1 eV é 10%.
4.4 Um metal tem nı́vel de Fermi E F = 1 eV. Fa¸ca um gráfico (de preferência
num computador) da fun¸cão de distribui¸cão de Fermi-Dirac f (E ) para
T = 5, 5 e 300 K.
4.5 Mostre que a probabilidade de um estado eletrˆonico de energia E = E F +
E estar ocupado é igual a probabilidade do estado com energia E =
EF −E estar vazio.
2
4.6 Num fio de cobre de se¸ cão reta 1 mm circula uma corrente de 10 A.
22 −3
Sabendo queOa nı́vel
calcule: a) concentra¸cão
de Fermi,denas
elétrons
mesmaslivres é N = 8, 5 do 10
×
aproximações cm ,
Problema
4.2; b) A velocidade de Fermi; c) A velocidade de deriva dos elétrons.
Compare com v F e interprete o resultado.
4.7 Sabendo que a resistividade do cobre à temperatura ambiente é 1, 7 10−8×
Ω m, utilize os dados e resultados do problema anterior para calcular: a)
O tempo médio de colisão dos elétrons; b) O livre caminho médio dos
elétrons.
Capı́tulo 5
Materiais Semicondutores
REFERÊNCIAS 162
PROBLEMAS 163
117
118 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Materiais Semicondutores
5.1 Semicondutores
também formado
estrutura cristalinapor
do um elemento
diamante. do tem
O Ge grupoestrutura
IV, o Ge,
de ebandas
que também tem aa
semelhante
do Si, porém com um gap menor, E g = 0,66 eV `a temperatura ambiente. Isto
faz com que suas propriedades elétricas sejam mais sensı́veis a mudanças de
temperatura do que em Si.
valência,
dos por elementos dos E
sendo o gap g = 1, 43 eV. H´a vários outros semicondu tores forma-
grupos III e V, chamados compostos III-V, como InSb
(Eg = 0, 18 eV), InP (1,35 eV) e GaP (2,26 eV), por exemplo. Também h´a
semicondutores compostos II-IV, como CdS (2,42 eV), PbS (0,35 eV), PbTe
(0,30 eV) e CdTe (1,45 eV), entre outros.
Ef −E = ±
i ω , (5.1)
kf − k = ±k
i , (5.2)
Figura 5.3: (a) Bandas de valência e de condução em semicondutor de gap direto. Neste
caso, a transição através do gap ocorre com a emissão de um fóton de freq¨uência ω g = E g /
e com vetor de onda desprezı́vel na escala da figura. (b) No semicondutor de gap indireto,
≈ ≈
a transição através do gap envolve um fóton de freq¨uência ω ω g e k 0 e um fˆonon de
freqüência Ω muito menor que ω g e vetor de onda k kZB , de tal forma a conservar energia
e momentum totais.
122 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Num semicondutor a uma temperatura finita, a excitação térmica faz com que
um certo número de elétrons passe da banda de valência para a de condu¸ cão.
Por conseguinte, se ele é submetido a um campo elétrico, as duas bandas con-
tribuem para a condu¸cão de corrente elétrica, pois ambas estão parcialmente
preenchidas. Os elétrons da banda de condução, sob a a¸cão do campo , sen-
E
tem uma força F = e e movem-se de acordo com a lei de Newton, com massa
−E
efetiva dada pela Eq.(4.11). Como os elétrons estão agrupados em torno do
mı́nimo da banda de condução, todos têm aproximadamente a mesma massa
efetiva,
2
m∗e = , (5.3)
(∂ 2 E/∂k 2 ) k=kmc
Figura 5.4: Movimento de elétrons na banda de valência: em (a) sem campo aplicado,
Σkc = 0. Em (b) e (c) com campo no sentido + x.
vazio deve estar no topo, como na Fig.5.4(a) para que a soma algébrica dos
momenta kx de todos elétrons seja nula. Após a aplicação do campo, todos os
elétrons tendem a deslocar-se no espaço E (k ) no sentido kx negativo, porque,
pela Eq.(4.8),
dkx
dt
= e x . − E (5.4)
dke dkb
Fe = = − . (5.6)
dt dt
dkb
+e =
E .
dt
buracos. Nas Figuras 5.1 e 5.2 vemos que tanto Si como GaAs têm duas bandas
de valência degeneradas em k = 0. Os buracos da banda de maior cur vatura
(maior módulo de ∂ 2 E/∂k 2 ) têm menor massa efetiva, sendo por isso chamados
buracos leves, enquanto os da banda de menor curvatura são chamados buracos
pesados. Devido `a multiplicidade de massas efetivas e também a divergências
nas medidas experimentais, os valores das massas encontrados na literatura
variam de uma fonte para outra, mesmo nos casos dos semicondutores mais
estudados, como Si, Ge e GaAs.
ke e ke , o momentum total antes e depois da absor¸cão do f´oton é nulo, ou
−
seja, ele é conservado.
n = p = ni , (5.8)
onde ni e´ na
calculada a concentração de portadores
pr´oxima seção. Qualquer que no semicondutor intrı́nseco,
seja o mecan ismo que
cãoserá
de cria¸ de
pares elétron-buraco, o processo não é estático, é dinâmico. Elétrons vão para
a banda de condu¸cão, deixando buracos na banda de valência, com uma certa
taxa g que representa o n´umero de pares gerados por unidade de volume e
por unidade de tempo. Simultaneamente elétrons recombinam com buracos
a uma taxa de recombina¸cão r . Isto é evidente no caso da excitação térmica.
No processo induzido opticamente isto também é verdade, pois enquanto a
absorção de fótons resulta na criação de pares, a recombinação produz emissão
de fótons. O fato é que, no regime estacionário, o número de pares é constante.
Isto requer que, para cada mecanismo de gera¸ cão e recombinação de pares, as
taxas de cria¸cão e de recombina¸cão sejam iguais, isto é,
r=g . (5.9)
Exemplo 5.1: Um feixe de laser de comprimento de onda 5145 Å com ´area 1 mm 2 e potência
10 mW incide num semicondutor, sendo totalmente absorvido em processo de gera¸ cão de pares
elétron-buraco ao longo de uma distância 100 µm. Supondo que a eficiência de conversão de fótons
cão de pares em cm −3 s−1 .
em pares elétron-buraco é 10 %, calcule a taxa de cria¸
Inicialmente é preciso calcular o número de f´otons por unidade de tempo no feixe de laser.
Usando (2.31), podemos determinar a energia de cada f´ oton,
−34
c 6, 63 × 10 J.s 3, 0 108 m.s−1
× × −19
hν = h = = 3, 86 × 10 J.
λ 5145 10−10 m
×
O número de f´otons p or unidade de t empo é a razão entre a p otência do laser e a energia do
fóton,
P 10 10−3 W
×
hν
=
3, 86 10−19 J
× = 2, 59 × 1016 s −1
.
1 2, 59 1016 s−1
×
r=
10 1 −2
× 10 cm2 100 10−4 cm
× × = 2, 59 × 1019 cm −3 −1
s
Várias
dependem propriedades dos semicondutores,
fundamentalmente como dos
da concentração por portadores
exemplo a condutividade,
de carga elétrica.
Esta concentração depende do n´umero de estados disponı́veis para serem ocu-
pados e da probabilidade de ocupação de cada um. Vamos calcular esta concen-
tração num semicondutor intrı́nseco a uma temperatura T utilizando conceitos
apresentados no Capı́tulo 4. A probabilidade dos elétrons ocuparem um es-
tado de energia E é dada pela função de Fermi-Dirac f (E ), Eq.(4.13). Uma
dificuldade adicional nos semicondutores em rela¸cão aos metais é que o nı́vel
de Fermi EF não é conhecido, a priori , como veremos a seguir.
onde m∗c e m∗v são, respectivamente, as massas efetivas nas bandas de condução
e de valência.
3/2 ∞
2m∗c
=
1
e−(Ec −EF )/kB T
x1/2 e−x/a dx ,
2π 2 2 0
onde x ≡ (E Ec ) e a
− ≡ kB T . A integral definida pode ser calculada ana-
liticamente e seu valor é a3/2 π 1/2 /2. A concentração de elétrons na banda de
condução é então
130 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
onde
3/2
m∗c kB T
Nc = 2
. (5.17)
2π 2
D(E ) = Nc δ (E −E ) c . (5.18)
Esta equação significa que Nc faz o papel de uma concentra¸cão de estados to-
talmente localizados na energia E = E c . Também pode-se ver a concentra¸ cão
de elétrons n como sendo dada, aproximadamente, por uma concentração efe-
tiva de estados com valor constante N c entre Ec e E c + kB T e nula fora deste
intervalo.
(E −EF )/kB T
1 − f (E ) e .
Grandeza Ge Si GaAs
Tabela 5.2: Valores de grandezas impo rtantes em Ge, Si e GaAs a T = 300 K [Sze e
Streetman].
134 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Exemplo 5.3: Obtenha uma expressão numérica para a concentração de elétrons na banda de
condução de um semicondutor hipotético, intrı́nseco, com m∗c = m∗v = m0 e calcule seu valor para
Eg = 1, 0 eV e T = 300 K.
3/2
m0 kB
Nc = N v = 2 T 3/2
2π 2
3/2
9, 1 10−31 kg 1, 38 10−23 J/K
× × ×
=2 T 3/2
2 3, 14 1, 0542 10−68 J2 s2
× × ×
= 4, 83 × 1021 T 3/2 (kg s 2 /J)3/2 .
Para calcular o valor da exponencial, vamos exprimir a energia térmica em 300 K em unidades
de eV,
ni = 1, 12 × 1010 cm 3 −
Cap. 5 Materiais Semicondutores 135
Figura 5.9: Perturbação do esquema de energia causada por impurezas ou defeitos no cristal.
Alguns nı́veis de energia das impurezas estão nas faixas proibidas.
No caso das impurezas do grupo V, como As, quatro de seus cinco elétrons
de valência são utilizados na liga¸cão covalente com os ´atomos vizinhos de Ge
ou Si. O quinto elétron fica fracamente ligado ao átomo, que pode ser ionizado
termicamente a temperaturas relativamente baixas, como acima de 50 K. Com
a ionização o quinto elétron fica livre para se movimentar no cristal, o que
equivale a dizer que ele vai para a banda de condu¸ cão. Isto significa que
Cap. 5 Materiais Semicondutores 137
Silı́cio tem = 120 e maior massa efetiva, tendo portanto uma maior energia
de ionização (0,025 eV). Este é o valor de energia necessário para ionizar uma
asão chamados
taxa de nı́veis
de recombina¸ cão profundos. Estes nı́veis são
de pares elétron-buraco. Asutilizados para aumentar
concentrações utilizadas
variam de 10 14 cm−3 (1 parte em 10 8 , considerando 10 22 átomos por cm 3 ) a
1020 cm−3 (1 parte em 10 2 , que é muito forte).
Figura 5.13: Ilustração gráfica do cálculo das concentrações de portadores num semicondutor
tipo n.
lado, o n´umero de buracos diminui porque h´a mais elétrons para recombinar
com eles. O produto das concentrações de elétrons e buracos é obtido de (5.27)
e (5.28),
n0 p 0 = N c N v e−Eg /kB T . (5.29)
n0 p 0 = n 2i . (5.30)
p0 = − N2d
+
Nd
2
+ n2i . (5.36)
que é compat´ ıvel com (5.30) e (5.37). Tendo as relações (5.37) e (5.38) para
as concentrações de portadores, o nı́vel de Fermi pode ser determinado com as
Equações (5.27) ou (5.31). Por exemplo, substituindo (5.37) em (5.27) vem
N
EF = E c kB T n c . − (5.39)
Nd
n0 Nd+ Nd = 1016 cm 3 , −
2
p0 Nnid = 2, 25 × 104 cm −3
.
Comparando este resultado com a energia dada na Fig.(5.12), vê-se que neste caso o nı́vel de Fermi
está próximo e um pouco abaixo do nı́vel da impureza de As no silı́cio. Por outro lado com (5.40)
obtemos
EF = E i + 0, 34 eV .
Cap. 5 Materiais Semicondutores 143
Figura 5.14: Diagrama de energia do silı́cio: (a) Tipo n, com Nd = 1016 cm−3 impurezas
doadoras; (b) Tipo p, com N a = 1017 cm−3 impurezas aceitadoras.
2
n0 Nni
a
(5.41)
p0 N a (5.42)
Nv
EF = E v + kB T n (5.43)
Na
Na
EF = E i −k BT n . (5.44)
ni
144 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Exemplo 5.5: Calcule as concentrações de elétrons e buracos e a p osição do nı́vel de Fermi num
cristal de silı́cio com Na = 10 17 cm−3 impurezas de Ga, a T = 290 K.
p0 1017 cm 3 −
,
n0 2, 25 × 103 cm −3
.
Jn = σ n E , (5.45)
e2 n0 τ e
σn = , (5.46)
m∗e
146 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
E
Comparando (4.25), (5.46) e (5.47) vemos que a condutividade pode ser
escrita como,
σn = e n0 µ n , (5.48)
Por analogia ao que foi feito para os elétrons, vemos que densidade de
corrente de buracos é dada por
Jp = σ p E , (5.50)
e2 p0 τ b
σp = e p0 µ p = , (5.51)
m∗b
Exemplo 5.6: Calcule a resistividade do silı́cio em T = 300 K em duas situa¸ cões: a) Intrı́nseco;
b) Dopado com impurezas de As com concentra¸ cão N d = 2 1016 cm−3 .
×
a) No Si intrı́nseco a condutividade total é calculada com a Eq.(5.52), utilizando os parâmetros da
Tabela 5.2
σ = e(n0 µn + p0 µp ) = e ni (µn + µp )
= 1, 6 × 10 19 × 1, 5 × 1010 (1350 + 480) C cm
− −3
cm2 /V s
= 4, 39 × 10 6 (Ω cm) 1
− −
n0 Nd = 2 × 1016 cm 3 . −
Logo,
1
ρ= = 0, 31 Ω cm
3, 2
6
Veja que uma dopagem relativamente fraca (1 parte em 10 ) aumenta a resistividade do
silı́cio em quatro ordens de grandeza.
150 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 5.19: Efeito Hall num semic ondutor. A aplica¸cão de um campo magnético numa
barra com corrente resulta numa diferen¸ ca de potencial transversal VH que permite medir
a concentração de portadores.
Cap. 5 Materiais Semicondutores 151
campo elétrico transversal pode ser calculado considerando que a força total
sobre um buraco é dada por
F = q ( + v
E × B ) . (5.54)
E = −(v × B )
y y = v x Bz . (5.55)
Exemplo 5.7: Uma barra de silı́cio tipo p, com concentração de impurezas N a = 10 14 cm−3 , com
espessura d = 0, 5 mm, é usada como sensor Hall. Calcule a tens˜ao Hall para uma corrente de
prova de 100 mA quando o campo magnético é perpendicular ao plano da dimensão maior e tem
intensidade B = 10−1 T.
I/(d) I Bz
VH = Bz = =
e p0 e p0 d
−1
10 ×10−1
= = 1, 25 V .
1, 6 10−19 1014 106
× × × −3
× 0, 5 × 10
Este exemplo mostra que a tens˜ ao Hall tem um valor relativamente alto, para circuitos
eletrônicos, para um valor de campo tı́pico de laboratórios. Isto não ocorre em metais, porque a
concentração de elétrons livres ( 1022 cm−3 ) é muito maior do que em semicondutores.
∼
Figura 5.20: Ilustra¸cão das correntes entrando e saindo de uma regi˜ ao com volume A∆x de
carga.
154 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
1
2
e A p (x − ∆x/2) × τ1 ,
porque a corrente é a razão entre a carga total que atravessa a se¸ cão e o
intervalo de tempo, sendo a carga total igual à carga do buraco vezes o n´umero
de buracos. Para obter a densidade de corrente no plano x, é preciso subtrair
a contribuição dos buracos que est˜ao entre x e x + ∆ x e que cruzam o plano
−
x no sentido x, e dividir a diferen¸ca pela ´area A . O resultado é,
1 e p(x
2τ
− ∆2x ) − p(x + ∆2x ) .
dp(x)
Jpdif = e Dp − , (5.57)
dx
2
onde Dp = /2τ é o coeficiente de difusão dos buracos. A corrente de
difusão dos elétrons pode ser obtida do mesmo modo que a de buracos. Como
−
o elétron tem carga e, sua corrente de difusão é
dn(x)
Jndif = +e Dn , (5.58)
dx
Jpdif = −e D ∇p
p (5.59)
Jndif = +e D ∇n
n . (5.60)
Cap. 5 Materiais Semicondutores 155
Veja que
pelo a corrente
volume, lı́quida Idas
é a diferença quedensidades
entra no volume assinalado
de corrente em na
x figura,
e em dividida
x + ∆ x,
dividida por ∆ x,
I
=
J (x) − J (x + ∆x) .
A ∆x ∆x
∂ρ
= −
∂J x ∂Jy ∂Jz
+ +
,
∂t ∂x ∂y ∂z
ou
∇ · J = − ∂ρ
∂t
. (5.62)
ρ = e (p − n) . (5.63)
∇ · J = e ∂n
∂t
. (5.64)
Jn = e µn n + e Dn
E ∇n (5.66)
Jp = e µp p E − e D ∇pp , (5.67)
Para concluir esta seção, vamos obter uma importante relação entre o co-
eficiente de difusão e a mobilidade. Quando o semicondutor est´a em equil´ıbrio
térmico, sem campo externo, tanto a corrente de elétrons quanto a de buracos
devem ser nulas. Nesta situação se, devido ao movimento térmico, as cargas
produzirem uma varia¸cão em sua concentra¸cão, o campo elétrico por ela cri-
ado produzirá uma corrente de deriva que cancelar´a a corrente de difus˜ao. A
relação entre este campo interno e o gradiente de concentração em equil´ıbrio
E
pode ser obtida de (5.66) e (5.67) com Jn = Jp = 0. Como o campo elétrico é
o gradiente do potencial,
=
E −∇ φ , (5.69)
O nı́vel de Fermi não pode variar com a posi¸ cão pois o sistema está em
∇
ıbrio, logo EF = 0. Por outro lado, a energia de um elétron no po-
equil´
tencial elétrico φ é E = eφ. Isto significa que se o potencial elétrico variar
−
no espaço, os nı́veis e bandas de energia do elétron acompanham o potencial,
ou seja, Ei = e φ. Usando esta rela¸cão em (5.71) vem,
∇ −∇
Dp k B T
= . (5.72)
µp e
temperatura.
p = p0 + δp . (5.74)
∂δp
∂t = − δpτ , (5.75)
p
∂δp
∂t
= Dp ∇ δp − δpτ
2
p
. (5.79)
∇ δp = Lδp
2
2
, (5.81)
p
√
onde Ln = Dn τn e Lp = Dp τp são os comprimentos de difusão de
elétrons e buracos, respectivamente. A razão deste nome ficar´a clara com
o seguinte exemplo: considere uma barra de semicondutor semi-infinito, no
qual buracos s˜ao injetados uniformemente em x = 0 com uma taxa constante,
de modo que o excesso de concentra¸cão é mantido constante neste ponto,
δp(x = 0) = ∆ p. Os buracos injetados difundem ao longo da barra e recombi-
nam com elétrons. Isto resulta numa distribuição do excesso de concentra¸cão
ao longo da barra, caracterizado pela função δp (x). Para obter δp (x) utilizamos
Cap. 5 Materiais Semicondutores 161
d2 δp(x) δp
= 2 . (5.82)
dx2 Lp
Figura 5.22: Concentração de buracos resultante de um processo de inje¸ cão com taxa cons-
tante em x = 0.
162 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS
N.W. Ashcroft e N.D. Mermin, Solid State Physics, Holt, Rinehart and Win-
ston, New York, 1976.
A. Bar-Lev, Semiconductors and Electronic Devices, Prentice-Hall, New Jer-
sey, 1984.
D.A. Fraser, The Physics of Semiconductor Devices, Claredon Press, Oxford,
1983.
R.E. Hummel, Electronic Properties of Materials, Springer-Verlag, Berlin,
2001.
K. Kano, Semiconductor Devices, Prentice-Hall, New Jersey, 1998.
C. Kittel, Introduction to Solid State Physics , J. Wiley, New York, 1996.
PROBLEMAS
porquedeo condução
banda nı́vel de Fermi
do queno
da semicondutor
de valência, e no n pestá
tipotipo estámais
maispr´oximo
próximo da
da
banda de valência; b) Explique, qualitativamente, usando poucas palavras
e alguns gr´aficos, como o nı́vel de Fermi varia com a temperatura num
semicondutor tipo n .
5.13 Um termistor é um resistor cuja resistência varia com a temperatura.
Considere um termistor feito de sil´ıcio intrı́nseco, cuja resistência é 500 Ω
em T = 300 K: a) Supondo que a mobilidade não varia com a temperatura,
calcule a taxa de varia¸cão da resistência com a temperatura em torno de
300 K, expressa em Ω /◦ C; b) Qual é, aproximadamente, a resistência do
termistor em T = 320 K?
5.14 Uma barra de germˆanio tem comprimento 1 cm e se¸ cão reta quadrada
de lado 1 mm. (a) Calcule a resistência entre as duas extremidades da
barra a T = 300 K no caso do semicondutor intrı́nseco; b) Considere que
a barra foi dopada com uma certa concentra¸cão de impurezas doadoras
Cap. 5 Materiais Semicondutores 165
167
168 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 6.1: Etapas da fabric ação de um diodo de junção p-n com a tecnologia planar: (a)
pastilha de Si usada como substrato; (b) substrato com camada de Si epitaxial dopado com
impurezas tipo n; (c) camada ´oxida sobre o Si; (d) ilustra¸cão do processo de fotolitografia
para polimerizar certas regi˜oes da resina foto-resistiva; (e) difusão de impurezas tipo p
através da janela aberta no óxido; (f) estrutura completa do diodo de jun¸ cão com contatos
metálicos.
170 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
A polimerização,
aberturas de umaem certas regiões,
m´ascara colocadaé feita
sobrepor luz ultra-violeta
a resina, que passa
e que contém pelas
o desenho
desejado. A Fig.6.1(d) mostra a parte opaca da máscara evitando que a área na
qual se deseja fazer a difus˜ao seja exposta `a radiação ultravioleta. Em seguida
usa-se solvente para remover a resina da região não exposta e depois coloca-se
a pastilha num banho de ´acido, que corr´oi a camada de ´oxido na região onde
a resina foi rem ovida. Este processo abre uma janela na camada de ´oxido
através da qual é feita a difusão de impurezas tipo p (Fig.6.1e) num forno a
alta temperatura (da ordem de 1000◦ C). Finalmente, a estrutura é completada
com a deposi¸cão de filmes met´alicos para os contatos externos (Fig.6.1f).
pcomo na linhaunidimensional,
-n abrupta, cheia da Fig.6.2(a). A Fig.6.2(b)
que vamos mostra
considerar nestaoseção.
modelo da jun¸cão
Figura 6.2: (a) Variação da concentra¸cão de impurezas numa jun¸cão p-n. A linha trace-
jada representa a variação numa jun¸cão real enquanto a linha cheia representa uma jun¸ cão
abrupta ideal. (b) Modelo de jun¸cão abrupta unidimensional.
Figura 6.3: (a) Semicondutores p e n separados. (b) Carga, campo elétrico, potencial e
nı́veis de energia na região de carga espacial da jun¸cão p-n.
kB T nn0
V0 = n . (6.4)
e np0
Este resultado também pode ser obtido de (6.3) usando a lei de A¸cão das
Massas. As Eqs.(6.3) e (6.4) podem ser reescritas na forma
pp0 nn0
= = eeV0 /kB T . (6.5)
pn0 np0
Finalmente, utilizando relações obtidas no Capı́tulo 5, podemos exprimir o
potencial de contato em termos das concentrações de impurezas nos dois lados
da junção. No lado p , os buracos s˜ao os portadores majorit´arios e sua concen-
tração é, por (5.42), pp0 Na . Por outro lado, na região n, de acordo com
(5.38), p n0 n2i /Nd . Usando estes valores em (6.3) obtemos,
V0 k eT n NnN
B a
2
d
. (6.6)
i
V0 Ee − g kB T
e
NN
n c v
Na Nd
. (6.7)
Exemplo 6.1: Considere uma junção p-n de Si, tendo concentrações de impurezas N d = 1016 cm−3
e N a = 1018 cm−3 . Calcule o potencial de contato da jun¸cão em T = 300 K.
elétrico
da entrePara
jun¸cão. um ponto noolado
calcular p e outro
campo no lado
elétrico n , ambos
é preciso obterafastados da do
a variação regi˜ao
po-
tencial na regi˜ao de carga espacial, que por sua vez depende da distribui¸ cão
de cargas na regi˜ao. Em vez de resolver o problema completo autocons isten-
temente, vamos aproximar a distribuição de cargas por uma fun¸ cão simples e
calcular o campo e o potencial a partir dela. Para obter esta distribuição vamos
considerar o que acontece na regi˜ao de carga espacial, ilustrada na Fig.6.4(a).
Elétrons e buracos estão em trˆansito permanente, passando de um lado da
junção para outro. Alguns elétrons passam do lado n para o lado p por di-
fusão, recombinam com buracos ou s˜ao “empurrados” de volta para o lado n
pelo campo elétrico. O mesmo acontece com buracos do outro lado. Como
resultado, há poucos elétrons e buracos na região de carga espacial pois eles
são varridos de l´a pelo campo elétrico. Esta exaustão de cargas m´oveis da
região de carga espacial faz com que esta regi˜ao também seja chamada de de-
pleção (vem do inglês depletion). Desta forma, as cargas da regi˜ao são devidas
aos ı́ons das impurezas não compensadas, doadoras do lado n e aceitadoras
176 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Sendo
ver queaascarga igual ao
espessuras dasproduto
camadasdas˜ao
densidade de carga
relacionadas com pelo volume, é f´acil
as concentra¸cões de
impurezas por,
n Nd = pNa . (6.8)
E
onde 0 é uma constante de integração, que corresponde ao valor de em E
E −
x = 0. Como (x = p ) = 0, pois o campo é nulo fora da região de carga
espacial, 0 = eNa p /. De (6.10) vemos também que, em 0 < x < n ,
E
E (x) = eN x − E
d
0 , (6.12)
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 177
eNa p eNd n
E 0 =
=
. (6.13)
1 eNa 2
φ(x) = x + E 0 x+C ,
2
eNd 1
V0 = φ (n ) =
2
n =
2
E 0 . (6.16)
onde e´ dado por (6.19). Vê-se que a capacitância da jun¸cão varia inversa-
mente proporcional `a espessura da região de carga espacial. Como veremos
na próxima seção, pode ser alterado pela aplica¸cão de uma tens˜ao externa,
o que permite ent˜ao variar o valor de C .
Exemplo 6.2: Considere uma jun¸cão p-n de Si como a do Exemplo 6.1, tendo uma se¸ cão reta
circular de diˆametro 200 µm. Calcule: a) A espes sura da regi ˜ao de carga espacial; b) O campo
elétrico máximo; c) A capacitˆancia da jun¸cão.
−19
a) Para calcular a espessura , usamos a Eq.(6.18), com o valor da carga do elétron e = 1, 6 × 10
C, a permissividade do v´acuo = 8, 85 10−12 Fm−1 .
×
Da Tabela 5.2 temos a constante dielétrica /0 = 11,8, logo,
1/2
=
× 11, 8 × 8, 85 × 10 12 × 0, 85
2 −
1 1
1, 6 × 10 19−
1018 × 106 + 1016 × 106
12
− 1/2
2 × 11,1,86××8,1085 19× 10
−
× 1022
× 0, 85 = 3, 3 × 10 −7
m = 0, 33 µm
b) De (6.16) vem
c) Para calcular a capacitância usamos (6.20) com a área A = π R2 , sendo R = 10−4 m o raio da
seção circular.
C=
11, 8 × 8, 85 × 10 12 × 3, 14 × 10
− −8
= 9, 9 −12
× 10 F = 9,9 pF .
3, 3 × 10 7
−
Quando uma jun¸cão é polarizada, isto é, submetida a uma diferença de poten-
cial de um circuito externo, o equilı́brio é alterado resultando numa corrente,
cujo sentido depende da tens˜ao aplicada. A caracterı́stica essencial da junção
p-n é sua assimetria em relação ao sentido de aplicação da tens˜ao externa.
Tensões em sentidos diferentes produzem correntes com intensidades diferen-
tes. Isto pode ser compreendido exami nando o efeito da tens˜ao externa na
barreira de potencial.
Figura 6.5: Efeito de tensão externa na espessura da regi˜ao de carga espacial e na altura
da barreira de potenc ial: (a) situação em equilı́brio; (b) polarização direta; (c) polariza¸cão
reversa.
os portadores minoritários.
Para calcular a corrente total que atravessa a jun¸ cão podemos tomar
como base as correntes dos portadores minorit´arios nos dois lad os. Elas re-
sultam dos movimentos de difus˜ao dos buracos no sentido de p para n e dos
elétrons no sentido oposto. Para calculá-las é preciso inicialmente obter as
concentrações dos portadores. Para facilitar a nota¸cão vamos fazer uma mu-
dança de coordenadas: a coordenada no lado n da jun¸cão será representada
por x, sendo a srcem x = 0 na fronteira da regi˜ ao de carga espacial (plano
x = +n na Fig.6.4); no lado p representamos a coordenada por x no sentido
− x, sendo x = 0 o ponto x = p da Fig.6.4. Esta nota¸cão está mostrada na
−
Fig.6.6. De acordo com (6.5), a razão entre as concentra¸cões de equilı́brio de
buracos nos dois lados é
pp0
= eeV0 /kB T . (6.21)
pn0
pp(x = 0)
= ee(V0 −V )/kB T . (6.22)
pn (x = 0)
No caso da corrente de junção não ser muito elevada, as concentrações dos por-
tadores majoritários quase não variam em relação aos valores de equilı́brio
com a aplica¸cão da tens˜ao externa. Assim, pp (x = 0) pp0 . Fazendo esta
substituição em (6.22) e dividindo esta por (6.21) obtemos,
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 183
pn (x = 0)
= eeV/k B T . (6.23)
pn0
lizando (5.84),
δpn (x) = p n0 (e eV/k B T − 1) e −x/Lp
. (6.25)
Sendo A a em
de buracos áreaxda
= seção reta da jun¸cão, a intensidade de corrente de difus˜ao
0 é então,
Dp
Ipdif(0) = eA pn0 (e eV/k B T − 1) . (6.27)
Lp
mosregião
na entãode
obter I pela
carga soma Veja
espacial. das correntes
na Fig.6.6deque
deriva deaelétrons
como correntee total
de buracos
I não
varia ao longo de x, as correntes de deriva de elétrons no lado n e de buracos
no lado p , são dadas pelas diferen¸cas entre I e as correntes de difusão de bura-
cos e de elétrons, respectivamente. Assim, podemos calcular a corrente total
sem utilizar explicitamente as correntes dos portadores majoritários. Somando
(6.27) e (6.28) obtemos,
I = I s (e eV/k B T − 1) , (6.29)
onde
Dp D
Is = eA pno + n npo . (6.30)
Lp Ln
Dp Dn
vem
Is = eA n2i
+
. (6.31)
Lp Nd Ln Na
A Figura 6.7 mostra a curva I V dada pela Equa¸cão (6.29) com este
−
valor de Is . A parte (b ) da figura mostra uma regi ˜ao expandida em torno da
srcem. Vemos que para V = 0, 1 V a corrente j´a tem valor praticamente
−
igual a da satura¸cão reversa. Com polariza¸cão direta, V > 0, a corrente cresce
exponencialmente com V . A Fig.6.7(a) feita numa escala de corren te 10 5 vezes
maior apresenta um aspecto mais familiar da caracterı́stica I V da junção. −
Ela é fortemente assimétrica em rela¸ cão ao sentido de polarização. Com polari-
zação reversa a corrente é desprezı́vel comparada com a de polarização direta,
que é a caracterı́stica essencial do diodo. Um aspecto marcante da Fig.6.7(a)
é o aumento abrupto da corrente que ocorre num valor de tensão em torno de
0,3 V. Este aspecto da curva é simplesmente o resultado de um crescimento
exponencial de I com V . O valor da tensão crı́tica para o qual a corrente cresce
bruscamente depende fundamentalmente do semicondutor. Isto pode ser visto
substituindo (6.31) em (6.29) e usando a Eq.(5.23) para ni . Desprezando a
unidade em presença da exponencial em (6.29) obtemos,
I = eA
Dp
+
Dn
Nc Nv e(eV −Eg )/kB T . (6.32)
Lp Nd Ln Na
186 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 6.7: Caracterı́stica I -V de junção p-n ideal dada pela equa¸cão do diodo com Is =
0, 25 µA, valor adequado para uma junção de germˆanio. A curva em (b) é a mesma que em
(a), feita em escala ampliada para mostrar o comportamento em torno da srcem.
6.3 Heterojunções
Figura 6.8: Ilustra¸cão das fun¸cões trabalho nos diagramas de energia de um metal (a) e de
um semicondutor (b) separados.
188 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
cial. Contatos deste tipo s˜ao chamados ôhmicos, porque sua resistência não
depende do sentido da corrente.
E v = E − E − E
g2 g1 c . (6.34)
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 191
V0 = V 1 + V2 , (6.35)
Figura 6.13: (a) Circuito aproxim ado equivalente ao diodo de junção. A bateria produz a
tensão cr´ıtica E 0 e o resistor determina a inclina¸cão finita da caracter´
ıstica I -V , mostrada
em (b).
194 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 6.14: Aspectos fı́sicos comuns de diodos. (a) Baixa corrent e. (b) Corrente inter-
mediária. (c) Alta corrente.
O circuito equivalente da Fig.6.13(a) vale para tens˜ oes dc. Para tensão
alternada, de freq¨uência relativamente alta, é preciso considerar o efeito da
capacitância da junção. Quando a tens˜ao aplicada ao diodo varia bruscamente,
a carga na regi˜ao de deple¸cão não acompanha imediatamente. Isto limita a
resposta em freq¨uência do diodo. Este efeito pode ser representado por um
capacitor em paralelo com o circuito da Fig.6.13(a), cuja capacitˆ ancia é, em
parte, dada pela Eq.(6.20). Também contribui para a capacitância o atraso
no tempo do movimento de difus˜ao das cargas nas proximidades da jun¸ cão.
Os valores relativos da capacitˆancia de difus˜ao e da regi˜ao de carga espacial
dependem da geometria da jun¸cão e dos materiais que a formam.
Exemplo 6.3: Calcule as correntes de saturação e faça os gráficos I V de três diodos ideais, em T
−
= 300 K, um de Ge, um de Si e um de GaAs, considerando que t odos têm os seguintes parâmetros:
Na = 10 17 cm−3 ; N d = 1015 cm−3 ; A = 10−4 cm2 ; τ p = τ n = 0, 5 µs.
Utilizando os dados do diodo e os parˆ ametros da Tabela 5.2 convertidos para o Sistema
Internacional, temos para o diodo de Ge,
−19
Is =
1, 6 × 10 × 10 4 × 10 4 × (2, 5 × 1013 × 106 )2 × (50 × 10
− − −4
)1/2
A
(0, 5 × 10 6 )1/2 × 1015 × 106
−
−7
Is = 1, 0 × 10 A.
− − − −
Is = 1, 6 × 10 19 × 10 4 × 10 4 × (1,6 1/2
5 × 1010 × 106 )2 × (12, 5 × 10 4 )1/2
A
(0, 5 × 10 ) −
× 1015 × 106
−14
Is = 1, 8 × 10 A.
−19
1, 6 × 10 × 10−4 (107 106 )2
× × −4
× (10 × 10 )1/2
Is = A
(0, 5 10−6 )1/2 1015
× × × 106
−21
Is = 7, 2 × 10 A.
6.4.1 Aplicações
Figura 6.16: Ilustração da opera¸cão de um circu ito simp les retifi cador de meia-onda. A
tensão v (t) no secund´ario do transformador resulta na corrente i(t) no diodo e na carga. A
linha tracejada representa a forma de onda obtida com a adi¸ cão do capacitor ao circuito.
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 197
a condição para que isto ocorra é que a constante de tempo RC seja muito
maior que o perı́odo da tensão alternada.
Figura 6.17 : a) Onda senoid al de alta freq¨uência modulada por sinal senoidal de áudio.
A linha formada pelos valores de pico corresponde ao sinal de ´ audio. b) Sinal de ´audio
produzido pelo detetor de pico com diodo.
198 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Outra diferença entre o diodo Schottky e o de jun¸ cão p-n está no valor
ıtica E0 da caracter´
da tens˜ao cr´ ıstica I -V . Como vimos na S e¸cão 6.1, ela
resulta de uma combinação entre o valor da corrente de saturação I s e o efeito
do crescimento exponencial de I com V , dada pela Eq.(6.29). Num diodo
Schottky feito com um mesmo semicondutor e com a mesma ´ area que outro
diodo de jun¸cão p -n, a corrente de satura¸cão é muito maior no primeiro, pois
é devida a portadores majoritários. Como ilustrado na Fig.6.18 isto resulta
numa tensão crı́tica bem menor no diodo Schottky que no de jun¸cão p-n,
aproximando-o mais de um diodo ideal na polariza¸ cão direta.
tiver energia suficiente, sua colisão com a rede cristalina pode produzir um par
elétron-buraco, resultando na multiplicação por um fator dois no n´ umero de
portadores. Em seguida, o elétron criado é acelerado para o lado n, enquanto o
buraco é acelerado para o lado p . Se a tens˜ao reversa for suficientemente alta,
cada um deles produzir´a um par elétron-buraco, que por sua vez produzirão
outros pares, num processo de rea¸cão em cade ia. O valor de tens ão reversa
para o qual esta avalanche produz um brusco crescimento na corrente reversa
é a tensão de ruptura V R , cujo valor pode variar entre alguns volts e milhares
de volts.
Figura 6.20: a) Circuito regul ador com diodo Zener. b) Tensão variável na entrada.
c) Tensão constante na saı́da do regulador.
6.7.1 Varactor
As Eqs.(6.18) e (6.20) mostram que o diodo de jun¸cão p-n tem uma ca-
pacitância que varia com a tens˜ao da barreira de potencial. Considerando que
na polarização reversa com uma tens˜ao V o potencial da barreira é V + V0 , e
supondo que V V0 , a Eq.(6.18) d´a para a espessura da regi˜ ao de depleção
(Problema 6.4),
V 1/2 .
∝ (6.36)
Como conseqüência deste resultado e da Eq.(6.20), a capacitância da jun¸cão
varia com a tens˜ao reversa na forma
−1/2
C ∝V . (6.37)
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 203
O diodo t´unel é feito com uma junção p -n na qual, em certa faixa de tens˜ao
de polarização direta, a corrente é dominada pelo efeito de tunelamento de
elétrons através da barreira de potencial na junção. Como mostrado na Se¸cão
3.3.3, existe uma probabilidade finita para um elétron atravessar uma barreira
com potencial m´aximo maior que sua energia cinética. Este é o efeito túnel,
de natureza inteiramente quântica.
Como vimos na Se¸cão 6.2, a corrente numa jun¸cão p-n comum é devida
ao movimento de difus˜ao de portadores minorit´arios nos dois sent idos. Isto
resulta numa corrente que decresce exponencialmente com a tens˜ ao aplicada,
tendendo a zero quando V → 0. O diodo t´unel é feito com semicondutores
fortemente dopados nos dois lados da jun¸cão, o que resulta no tunelamento
direto de elétrons do lado n para o lado p, produzindo uma corrente maior que a
corrente de difusão quando V é pequena. Para que isto ocorra é essencial, como
veremos a seguir, que os dois lados da jun¸ cão estejam fortemente dopados.
Nesta situação as impurezas est˜ao muito afastadas umas das outras, de modo
que a interação entre elas é desprez´
ıvel. Quando a concentra¸
cão de impurezas é
da ordem de 1020 cm−3 ou maior, a interação entre elas deixa de ser desprez´ıvel.
Neste caso ocorre um fenˆomeno como aquele ilustrado na Fig.4.1, os nı́veis de
energia das impurezas deixam de ser discretos e passam a formar banda s.
Se as impurezas forem doadoras, elas formam uma banda de energia que se
superpõe a banda de condu¸cão, fazendo com que o nı́vel de Fermi esteja acima
do mı́nimo desta banda, EF > Ec . Em conseqüência, os estados de energia
acima de E c e abaixo de E F estão preenchidos com elétrons, mesmo em T = 0.
Os semicondutores
maneira análoga, umnesta situação s˜
semicondutor ao chamados
fortemente degenerados
dopado com impurezas n. Dep
tipo tipo
tem EF < Ev , de modo que os estados entre EF e Ev estão preenchidos com
buracos.
O diodo t´unel é feito com uma junção p-n de dois semicondutores de-
generados, cujo diagrama de energia est´a mostrado na Fig.6.21. Na situa¸cão
de equilı́brio, com tensão externa V = 0, o nı́vel de Fermi EF é o mesmo nos
dois lados da jun¸cão. Como E F > Ev no lado p e E F < E c no lado n , existem
estados preenchidos na banda de condução no lado n com energia próxima a de
estados vazios na banda de valência no lado p. Estes estados est˜ao separados
espacialmente pela espessura da região de depleção que, devido `a alta concen-
tração de impurezas é bastante estreita (veja a Eq.6.18). Como vimos na Seção
3.3.3, estados cheios separados de estados vazios por uma barreira de poten-
cial estreita e de altura finita, criam as condições favoráveis ao tunelamento de
elétrons. Quando V = 0, como vemos na Fig.6.21(a) n˜ao há estados cheios e
vazios exatamente com a mesma energia. Nesta situa¸ cão não há tunelamento
Figura 6.21: Diagramas de energia de uma jun¸cão p-n no diodo t´unel: a) V = 0, jun¸cão
em equilı́brio; b) V < 0, corrente de tunelamento no sentido reverso; c) V > 0, corrente de
tunelamento no sentido direto.
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 205
Há vários mecanismos pelos quais a oscila¸cão no diodo Gunn pode ocor-
rer. Vamos considerar aqui apenas o modo de camada de dipolo, ou domı́nio,
que ocorr e em amostras relativamente longas. A Fig.6.25(a) ilustra uma
amostra de n-GaAs submetida a uma diferen¸ ca de potencial externa entre
os terminais negativo e positivo, respectivamente catodo e anodo. A amostra
tem elétrons na banda de condução, cujas cargas negativas s˜ao compensadas
pelas cargas positivas das impurezas doadoras ionizadas fixas na rede. Quando
a tensão externa é aplicada, os elétrons injetados através do contato metálico
do catodo criam uma camada de carga negativa, que juntamente com as im-
purezas positivas formam uma camada de dipolo elétrico, ou dom´ ınio . A
camada de dipolo provoca em torno dela uma brusca varia¸ cão do potencial e,
conseqüentemente, um pico de campo elétrico. O gradiente de campo exerce
uma força sobre a camada de dipolo, que se movimenta em dire¸ cão ao anodo.
A Fig.6.25(b) mostra o domı́nio via jando do catodo para o anodo, enquanto
a Fig.6.25(b) ilustra a varia¸cão do potencial resultante. Quando o domı́nio
atinge o anodo, um pulso de corrente é produzido no circuito exter no. Se a
tensão aplicada ao diodo tiver valor apropriado, o campo elétrico no domı́nio
estará na regi˜ao de resistência negativa, resultando em fornecimento energia
ao circuito externo. Se este for um circuito LC ou uma cavidade ressonante,
o pulso de energia tende a manter a oscila¸cão, desde que o tempo de trˆ ansito
Figura 6.25: Operação do diodo Gunn: a) ilustração da amostra de n-GaAs com uma camada
de dipolo viajando do catodo para o anodo; b) varia¸ cão do potencial elétrico na amostra
com a presen¸ca da camada de dipolo.
210 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS
Cambridge, 1980.
H.A. Loureiro e L.E.P. Fernandes, Laborat´ orio de Dispositivos Eletrˆo- nicos,
Guanabara Dois, Rio de Janeiro, 1982.
R.E. Hummel, Electronic Properties of Materials , Springer-Verlag, Berlin,
2001.
K. Kano, Semiconductor Devices, Prentice-Hall, New Jersey, 1998.
H.A. Melo e R.S. de Biasi, Introdu¸
c˜ao à Fı́sica dos Semicondutores, Edgard
Blücher, 1975.
J. Millman e C.C. Halkias, Eletrˆonica: Dispositivos e Circuitos , McGraw-
Hill, São Paulo, 1981.
K.K. Ng, Complete Guide to Semiconductor Devices , McGraw-Hill, New
York, 1995.
D.J. Roulston, An Introduction to the Physics of Semiconductor Devices ,
Oxford University Press, Oxford, 1999.
Cap. 6 Dispositivos Semicondutores: Diodos 211
York, 1978.
J.A. Zuffo, Dispositivos Eletrˆonicos, McGraw-Hill, São Paulo, 1976.
PROBLEMAS
6.1 Uma jun¸cão p-n de Ge tem em cada lado impurezas com concentra¸ cões
Nd = 1016 cm−3 e Na = 1018 cm−3 . a) Calcule as posi ções do n´ıvel de
Fermi em cada lado a T = 300 K, em rela¸ cão às bandas de valência e
de condução. b) Desenhe o diagrama de energia da jun¸cão em equilı́brio,
indicando os valores das energias relevantes, e a partir dele determine o
potencial de contato V 0 .
6.2 Calcule o campo elétrico máximo, a espessura da regi˜ao de depleção (em
µm) e a capacitˆancia da jun¸cão p-n do problema 6.1, considerando que
ela tem uma se¸cão circular de diˆametro 300 µ m.
6.7 Considere duas jun¸cões p-n abruptas feitas com semicondutores diferen-
tes, uma de Si e outra de Ge. Ambas têm as mesmas concentrações de
impurezas, Na = 1018 cm−3 e Nd = 1016 cm−3 , e a mesma se¸cão circular
de diâmetro 300 µm. Suponha também que os tempos de recombinação
são todos iguais, τp = τn = 1 µs. a) Calcule as correntes de satura¸cão
das duas jun¸cões em T = 300 K. b) Fa¸ca o gr´afico I - V , preferivelmente
com um computador, com V variando na faixa -1, +1 V e I limitado a
100 mA.
6.8 O campo elétrico de ruptura da junção de Si do Problema 6.7 é 106 V/cm.
Calcule a tens˜ao de ruptura da jun¸cão.
6.9 Numa junção p + n a concentração de impurezas do lado n e´ desprez´ıvel
−
comparada com a do lado p , de modo que n p. Considere uma jun¸cão
deste tipo com n muito menor que o comprimento de difusão de buracos
do lado n, Lp . Mostre que nesta junção polarizada diretamente, a corrente
de elétrons é desprezı́vel comparada com a de buracos e que o campo
elétrico no lado n, fora da regi˜ao de depleção, é dado aproximadamente
por
E (x) = k eT
B 1 pn (0)
n Nd + pn (x)
,
Transistores e Outros
Dispositivos Semicondutores
215
216 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
7.1 O Transistor
Figura 7.1: Sinais de entrada e de saı́da num dispositivo de amplificação, como um transistor.
elétrons do catodo para o anodo passando pela grade. Desta forma, um sinal
de tensão entre grade e catodo controla a corrente de saı́da no anodo, tornando
a válvula triodo um dispositivo ativo de controle. A partir da década de 1950,
as válvulas a v´acuo dos equipamentos eletrônicos foram gradualmente dando
lugar aos transistores e diodos semicondutores, chamados de dispositivos de
estado sólido.
os princı́pios
junção. de funcionamento
Os transistores de efeitoede
o campo
modelamento dos transistores
ser˜ao estudados bipolares
na se¸cão 7.5. de
E B SiO2
Metal
2 m p
m
n
20 m
p
Figura 7.2: Estrutura planar do transistor bipolar de junção com algumas dimensões tı́picas.
As letras E, B e C representam os terminais do emissor, da base e do coletor, respectivamente.
As distâncias indicadas representam espessuras tı́picas.
220 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
lado p que no lado n. Note que se a espessura da base fosse mui to grande, a
junção do coletor estaria isolada da do emissor e o sistema corresponderia a
dois diodos em série com polaridades opostas. Neste caso a corrente do coletor
seria muito pequena, dada pelo valor de satura¸cão reversa Is da Eq.(6.30) e,
portanto, independente da corrente do emissor. Entretanto, a espessura da
base é feita propositalmente pequena, menor que o comprimento de difusão
Lp de buracos na base. Desta forma, mesm o sendo portadores minorit´arios,
os buracos injetados na base n˜ao têm tempo de se recombinar completamente
com os elétrons, pois logo atingem a região de deple¸cão da jun¸cão do cole-
a espessura
que passam dada base
base muito
para o menor
emissorque Lp ; a segunda
constituindo é relativa
a corrente aos elétrons
I En (componente 7
na Fig.7.4); destas contribuições se subtrai uma terceira, ICn , produzida pelo
fluxo de elétrons gerados termicamente no coletor e que passam para a base
através da junção do coletor (componente 5 na Fig.7.4).
IE ,
IEp = γ IE , (7.2)
IC = γ B IE ≡αI E , (7.3)
IB =
IC
−IC =
1 −α I C ,
α α
ou então
IC = β IB , (7.4)
onde
α
β= (7.5)
1 −α
é o fatorıstico
caracter´ de amplificação ou ganho
de cada transistor, masde corrente
também . Este
varia comfator é um parâmetro
as tensões de pola-
rização das jun¸cões. Num bom tr ansistor, α 1 de modo que o fator β é
grande. A Eq.(7.4) exprime a caracterı́stica básica dos transistores no regime
linear. Ela mostra que através de variações numa pequena corrente de base, é
possı́vel controlar a varia¸cão na corrente muito maior que circula no coletor. A
explicação fı́sica da proporcionalidade entre as correntes de base e de coletor
é a seguinte. A corrente de coletor IC é formada basicamente pelos buracos
injetados na base pela corrente do emissor, e que atingem o coletor porque
não têm tempo de recombinar com elétrons na base, porque esta é muito
estreita (espessura muito menor que o comprimento de difus˜ ao dos buracos).
Portanto IC aumenta quando aumenta a corrente do emissor IE . A diferen¸ca
entre IE e IC é a corrente de base IB , que é formada principalmente pelos
elétrons que recombinam com os buracos injetados pelo emissor e que não
alcançam o coletor. Então, se a corrente de base I B varia, o número de elétrons
disponı́veis para recombinação varia, o que for¸ca IC a variar também, caso
224 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Exemplo 7.1: Um transistor p-n-p em regime estacionário tem as seguintes componentes das
correntes de emissor e de coletor: IEp = 10 mA, I En = 0,1 mA, I Cp = 9,98 mA, I Cn = 0,001 mA.
Calcule os parˆametros B, γ , α e β do transistor e a corrente de base nesta situação.
ICp 9, 98
B= = = 0, 998 .
IEp 10
IEp 10
γ= = = 0, 99 .
IEp + IEn 10 + 0, 1
α = 0, 99 × 0, 998 = 0, 988 .
α 0, 988
β= 1 − α = 1 − 0, 988 = 82, 33 .
A corrente de base pode ser calculada exatamente pela diferença entre as correntes de emissor
e de coletor,
Podemos também calcular IB usando as rela¸cões (7.4) e (7.5), onde (7.5) foi obtida despre-
zando a contribuição da corrente de satura¸cão para I C . O resultado é,
IC 9, 981
IB = = = 0, 121 mA .
β 82, 33
Este valor difere do anterior em 0,002 mA, o que corresponde a uma diferen¸ ca de apenas
1,7%.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 225
Dn E
nE eeVEB /kB T
IEn = e A
Ln E
−1 , (7.6)
onde A é a area
´ da seção reta do transistor, nE é a concentração de equilı́brio de
elétrons no emissor, DnE e LnE são o coeficiente e o comprimento de difus˜ao
respectivamente, e VEB e´ a tensão entre emissor e base. Do mesmo modo
podemos escrever a contribuição dos elétrons para a corrente de coletor,
ICn = −e A DLnC
nC
nC eeVCB /kB T
−1 , (7.7)
226 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 7.5: Modelo unidimen sional utilizad o para calcular as correntes no transistor p-n-p.
Note que as coordenadas x = 0 e x = estão nas extremidades das regi˜oes de deple¸cão das
junções do emissor e do coletor.
= p B eeVEB /kB T
δpn (x = 0) ≡ p E
−1 . (7.9)
p −p p .
C B E (7.12)
p E = C 1 + C2 ,
p C = C 1 e −/Lp + C2 e /Lp ,
das quais obtemos
p Ee/Lp pC
−
C1 = , (7.13)
2 senh(/Lp )
−/Lp
C2 =
p − p
C E e
, (7.14)
2 senh(/Lp )
δp(x) = p E
−
senh[( x)/Lp ]
, (7.15)
senh(/Lp )
Figura 7.6: Variação das concentrações dos portadores minoritários no transistor p-n-p com
polarização direta na jun¸cão do emissor e reversa no coletor. O valor de ∆ pC −
pB está
exagerado, pois p B ∆pE .
As componentes
são dadas pelos valoresdas
da correntes
Eq.(7.16) do
ememissor
x = 0 eede
x=coletor devidas aos buracos
, respectivamente,
Dp
IEp = I p (0) = e A (C −C ) , (7.17)
Lp 1 2
Dp
ICp = I p () = e A (C1 e −/Lp −C 2 e /Lp ) . (7.18)
Lp
IEp = e A
Dp
pE coth
− p csch
, (7.19)
C
Lp Lp Lp
ICp = e A
Dp
pE csch
− p coth
. (7.20)
C
Lp Lp Lp
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 229
IE = e A
Dp
p
eeVEB /kB T −1 coth
− eeVCB /kB T −1 csch
Lp B Lp Lp
DnE
nE eeVEB /kB T
+eA
− 1 , (7.21)
LnE
1 csch coth
IC = e ADp pB
Lp
eeVEB /kB T − Lp
− eeVCB /kB T −1 Lp
− e A DL nC
nC
nC eeVCB /kB T
− 1 . (7.22)
+ + ´
Exemplo
de seção A 7.2:
= 10−Um
3 transistor p -n-
cm2 ; espessura de Si=em
da pbase T =concentração
1 µm; 300 K tem asdeseguintes caracterı́sticas:
impurezas, no emissor N aEArea
=
1017 cm−3 , na base N d = 5 1015 cm−3 , no coletor N aC = 5 1017 cm−3 ; tempos de recombin ação
× ×
de portadores minorit´arios, no emissor e no coletor, τn = 0, 5 µs, na base τp = 1 µs. Calcule
as correntes no emissor e no coletor com a jun¸ cão emissor-base polarizada diretamente no regime
de plena condu¸cão, com VEB = 0,7 V, tendo a jun¸ cão coletor-base polarizada reversamente, com
VCB = - 10V.
Para calcular as correntes por meio das Equa¸ cões (7.21) e (7.22) é preciso, inicialmente,
calcular as concentrações dos portadores minoritários e os comprimentos de difus˜
ao. A concentra¸cão
de equilı́brio dos buracos na base é calculada com (5.38), sendo ni o valor dado na Tabela 5.2.
Usando unidades do SI temos,
Os comprimentos de difusão são calculados através de sua relação com o coeficiente de difusão
√
D e o tempo de recombinação τ , L = Dτ . Usando os valores de D no Si dados na Tabela 5.2 e
os valores de τ do enunciado, obtemos no SI,
Lp = 12, 5 × 10 4 × 1 × 10 6 1/2 = 3, 5 × 10 5 m = 35 µm ,
− − −
1/2
Ln = 35 × 10 4 × 0, 5 × 10 6
−
= 4, 2 × 10 5 m = 42 µm .
− −
Vemos então que /Lp 1 e portanto as fun¸cões hiperbólicas das equa¸cões (7.21) e (7.22)
podem ser substituı́das por suas expansões binomiais, com x = /L p ,
Finalmente, para comparar os valores relativos dos diversos termos das Equações (7.21) e
(7.22), é preciso calcular os valores das exponenciais contendo as tensões de polarização. Lembrando
que em T = 300 K a energia térmica é k B T = 0, 026 eV,
Vemos então que, como exp( eVEB /kB T ) 1, tanto em (7.21) quanto em (7.22), os termos
que não contêm este fator p odem ser desprezados. Então podemos escreve r,
IE = 1, 6 × 10 −19
× 10 7 × 12,
− 5 × 10
3, 5 × 10 5 −
× 4, 5 × 1010 × 4, 9 × 1011 × 35, 0095
4
−
= 1, 6 × 10 − 19
× 10 7 × 4,352××1010 5 × 2, 2 × 109 × 4, 9 × 1011
−
−
IC = 1, 6 × 10 −19
× 10 7 × 12,
− 5 × 10
3, 5 × 10 5
× 4, 5 × 1010 × 4, 9 × 1011 × 35, 9952
−
= 0, 44094 A .
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 231
Evidentemente, os valores das correntes do emissor e do coletor são muito próximos, como
era esperado. É importante notar que, se nas express˜oes de I E e de I C for usado apenas o primeiro
termo da expansão binomial da fun¸cão hiperbólica, e se a contribui¸cão I En for desprezada, as duas
correntes ficarão rigorosamente iguais. Portanto, como a diferença das duas correntes é a corrente
de base, é essencial usar nas expansões binomiais os dois primeiros termos. Vemos também que,
embora a contribuição dos elétrons gerados termicamente seja p equena, ela não deve ser desprezada
a priori, pois estando presente em I E mas não em IC , ela tem significado importante na diferen¸ ca
das duas correntes.
IB = I E −I = e A e e V EB /kB T
Dp
p coth
− csch L
+
D nE
n .
C
Lp B L LnE E
IB = e A e e V EB /kB T
Dp
pB tanh
+
D nE
nE
. (7.23)
Lp 2L p LnE
IB e A DL p
p
tanh
.
E
p 2Lp
mostracomparada
treita que para ter
comuma
Lp ,corrente IBconcentração
e com uma pequena deve-se fazer a base
de impurezas muito es-
relativamente
baixa de modo que o tempo τp seja longo.
Exemplo 7.3: Calcule a corrente de base no transistor do Exempl o 7.2, utilizando a Equa¸cão
(7.23), e compare com o valor obtido pela diferença entre I E e I C .
Substituindo em (7.23) os valores das grandezas do Exemplo 7.2 e usando tanh ( /2Lp )
(/2Lp ) vem,
IB = 1, 6× 10 19 × 10 7 × 4, 9 × 1011
− −
5 × 10 4 − −4
× 12,
3, 5 × 10 5
× 4, 5 × 1010 × 2 ×1 35 + 4,352××1010 5 × 2, 2 × 109
− −
= 1, 61 10−3 A = 1, 614 mA .
×
É interessante notar que, neste caso, a contribuição dos elétrons térmicos (IEn ) para a
corrente de base, dada pelo segundo termo da equa¸ cão acima, é maior que a contribuição dada pelo
primeiro termo. Num transistor p+ -n-p, com concentra¸cão de impurezas no emissor muito maior
que na base, n E é muito menor e o termo de recombinação predomina sobre I En .
O valor de I B obtido por meio da diferen¸ca entre as correntes calculadas no Exemplo 7.2 é
que é muito próximo do valor acima. Evidentemente, a diferença entre os dois valores resulta das
aproximações feitas nas fun¸cões hiperbólicas e nos arredondamentos numéricos.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 233
IEp 1 1
γ = I = 1 + I n /IEp = 1 +
E E DnE nE Lp
Dp p B LnE
tanh Lp .
Exemplo 7.4: Calcule o fator de amplifica¸cão do transistor p-n-p de silı́cio com os mesmos
parâmetros do Exemplo 7.2.
A diferença entre os dois valores decorre das aproximações feitas na dedu¸cão da Eq.(7.29) e
também dos arredondamentos numéricos.
7.3.4 ısticas I -V
Curvas Caracter´
onde
IEs ≡ e A LD p
p
pB
coth
Lp
+
e A DnE nE
Ln E
(7.32)
ICs ≡ e A LD p
p
pB
coth
Lp
+
e A DnC nC
Ln C
(7.33)
αN ≡ e AI DL p
Es
p
p
B
csch
Lp
(7.34)
αI ≡ e AI DL p
Cs
p
p
B
csch
Lp
. (7.35)
IC = α N IE − (1 − α N αI ) I Cs (e eVCB /kB T − 1) .
Analogamente, multiplicando (7.31) por α I e subtraindo de (7.30) obtemos
IE = α I IC + (1 −α N αI ) I Es (e eVEB /kB T − 1) .
Estas equações podem ser escritas na forma,
Figura 7.7: Curvas caracterı́sticas de transistor p-n-p: a) curvas com IE como parâmetro
usadas na configuração de base comum; b) curvas com parâmetro I B para configuração de
emissor comum.
Figura 7.8: a) Sı́mbolos dos transistores n-p-n e p-n-p utilizados em circuitos. b) Vista
externa de transistor de baixa potência encapsulado.
−
Esta equação é representada no plano IC VCE por uma reta, chamada reta de
carga. Para determinar sua posi¸cão basta obter os pontos de interse¸cão com
os eixos I C e VCE . É fácil ver na Eq.(7.39) que eles são dados por IC = E C /RC
e VCE = E C , como mostrado na Fig.7.9(b). O ponto de interse¸ cão da reta de
−
carga com a curva I C VCE do transistor, o ponto P da Fig.7.9(a), é a solução
da Eq.(7.39) e portanto o ponto de opera¸ cão do circuito. Dependendo da
região na caracter´ ıstica I -V onde o ponto est´a situado, assim como da forma e
amplitude do sinal v s de entrada, o transistor pode exercer diferentes funções.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 239
Figura 7.9: a) Circuito amplificador simples com transistor n-p-n na configuração de emissor
comum. b) Ilustra¸cão do método gráfico para determinação do ponto de opera¸cão.
sistorchave
Esta fazendo-o
podeoperar como
controlar umauma chave de
corrente quecoletor
ora está aberta,
muito oraque
maior est´aa corrente
fechada.
de base, desempenhando um papel semelhante ao de um relé eletromecânico,
porém com inúmeras vantagens. Como o relé tem partes móveis e usa con-
tatos mecânicos, ele é muito mais lento e tem durabilidade muito menor que
o transistor.
No transistor de efeito de campo de junção, que ser´a referido aqui por sua
abreviatura em inglês, JFET, uma tensão variável aplicada `a porta controla
a se¸cão reta efetiva de um canal semicondutor, por onde fluem portadores
majoritários. A Fig.7.11(a) mostra um corte da pastilha de semicon dutor de+
um JFET de canal n, no qual aparecem as regi˜ oes tipo n do canal e tipo p
das portas, bem como os contatos met´alicos da fonte (F), porta (P) e dreno
(D). Note que há duas regiões p + das portas, uma superior e outra inferior, que
são interligadas eletricamente. Devido a sua simetria, a estrutura com duas
portas é mais simples de ser analisada. Entretanto, é comum também fabricar
o JFET com apenas uma porta . O JFET de cana l p é inteiramente análogo
ao de canal n , tendo as regi˜oes p e n trocadas em rela¸cão às da Fig.7.11(a).
e também pela resistência do canal, que por sua vez depende da concentra¸ cão
de impurezas, do comprimento e da ´area efetiva da se¸cão reta do canal. Esta
área pode ser controlada pelo tamanho das regi˜ oes de deple¸cão das jun¸cões
p+ -n entre as portas e o canal, uma vez que nestas n˜ ao existem elétrons de
condução. Como a espessura da regi˜ao de deple¸cão depende da tens˜ao reversa
na jun¸cão, a corrente de dreno ID varia com a tens˜ao VP entre a porta e a
fonte. Desta forma a varia¸cão da corrente I D é controlada pela tensão V P .
onde a tensão reversa na jun¸cão V (x) é dada pela diferença de potencial entre
um ponto de abcissa x no canal e a porta, ou seja V (x) = φ (x) VP . Substi- −
tuindo (7.40) e (7.42) em (7.41), utilizando esta rela¸ cão para V (x) e fazendo
n Nd , obtemos:
2
1/2
dφ
ID −2 eN µ D a −
d n
eNd
(φ −V P)
dx
.
Figura 7.12: Varia¸cão da altura efetiva do canal para dois valores de tens˜ ao de dreno. Para
VD = V c + VP o canal sofre uma constri¸cão em x = L.
É preciso observar que esta expressão só vale se o canal estiver aberto em todos
os pontos, ou seja se V (x) < Vc . Como a tens˜ao reversa máxima na jun¸cão é
−
V (L) = VD VP , (7.46) só é v´alida para
VD −V ≤ V P c . (7.47)
Para tensões de dreno maiores que o valor dado por (7.47), a corrente
atinge uma satura¸cão, com valor igual ao obtido de (7.46) com V D VP = Vc . −
Observe também que normalmente a porta opera com tensão nula ou negativa
em relação a fonte, de modo que em todas as express˜oes acima VP 0.
≤
Exemplo 7.5: Considere um JFET de Si com Nd = 5 1015 cm−3 , Na = 1019 cm−3 , a = 1 µm,
×
L = 15 µm e D = 1 mm. Calcule os parˆametros G0 e Vc e fa¸ca as curvas ID VD para diversos −
valores de V P .
Como Na Nd , a espessura da regi˜ao de deple¸cão pode ser calculada por (7.42 ). Então,
usando os dados da Tabela 5.2 e os parˆ ametros do transistor em (7.44), vem,
−19
G0 =
2 e Nd µ n D a
=
2 × 1, 6 × 10 × 5 × 1015 × 106 × 1350 × 10 4 × 10 3 × 10
− − −6
L 15 × 10 6 −
G0 = 1, 44 10−2 Ω−1
×
Com (7.45) obtemos,
e Nd a 2 1, 6 × 10 19 × 5 × 1015 × 106 × 10
− −12
Vc = =
2 2 × 11, 8 × 8, 85 × 10 12 −
Vc = 3, 8 V
246 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
3/2
VD VD
|I | = G V
D 0 c
Vc
− 23 Vc
. (7.48)
Observe que para tens˜oes de dreno baixas, isto é, VD
Vc , o primeiro termo
em (7.48) domina o segundo, sendo ID | |
G0 VD . Esta é a região linear
da curva caracterı́stica com VP = 0 na Fig.7.13. A presen¸ca do termo com
potência 3/2 e sinal negativo em (7.48), faz com que a taxa de crescimento de
ID diminua com o aumento de VD . Fazendo a derivada de ID em relação a
| | | |
VD vem,
d ID | |
= G0 1 (VD /Vc )1/2 V =0 .
dVD
− P
(7.49)
IDsat = G 0 Vc /3 . (7.50)
Figura 7.14: Sı́mbolos de circuito dos transistores de efeito de campo (JFET) de canal n e
de canal p.
248 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
minais,
fonte parafonte, porta através
o dreno e dreno.de Os
ump canal
ortadores de carga majorit´
semicondutor, tipo narios fluem
ou tipo p. daO
controle da corrente é feito p or meio de uma tensão aplicada `a porta, que
controla a espessura do canal e portanto sua resistência. A diferença para o
JFET é que no MESFET o terminal metálico da porta est´a em contato direto
com o semicondutor do canal, formando uma jun¸ cão Schottky, em vez de uma
junção p-n. Como na barreira de potencial Schottky n˜ao há participação de
portadores minoritários, a resposta na varia¸cão de espessura do canal devido
à variação na tensão da porta, é mais rápida do que nas jun¸cões p -n. Por isso,
o MESFET é utilizado em aplicações de altas freq¨uências. Como o GaAs tem
maior mobilidade de elétrons do que Si, ele é o semicondutor mais utilizado
na fabricação de MESFETs.
qual os elétrons
através fluemsucessivos
de processos da fonte para o dreno. A estrutura dos contatos é feita
de fotolitografia.
pela mesma express˜ao (7.42) v´alida para o JFET. Como o potencial varia ao
longo do canal, a espessura da regi˜ao de depleção também varia, formando a
região triangular indicada pela ´area branca nas estruturas da Figura 7.15. O
cálculo da corrente no canal é feito exatamente como para o JFET, de modo
que a rela¸cão entre a corrente do dreno ID e as tens˜oes VP e VD da porta
e do dreno, é dada pela Equação (7.46). Assim, as curvas caracterı́sticas do
MESFET têm a mesma forma das curvas do JFET, mostradas na Figura 7.13.
Se uma tensão for aplicada entre dreno e fonte, em qualquer sentido, uma
das duas jun¸cões p-n estará polarizada diretamente, enquanto a outra ficar´ a
polarizada reversamente. Neste caso, se não houver tensão na porta n˜ao haverá
canal e, portanto, a corrente entre fonte e dreno será desprezı́vel devido à pre-
sença da junção reversa. Quando uma tens˜ao positiva é aplicada à porta, uma
camada de cargas negativas é induzida no semicondutor, em frente ao contato
metálico da porta. Esta camada de cargas proporciona um canal de condu¸ cão
entre fonte e dreno, resultando numa corrente que varia com a amplitude da
tensão da porta. Para compreender o mecanismo de aparecimento do canal
de condução é necessário analisar o comportamento das cargas no capacitor
formado pelo conjunto metal-óxido-semicondutor, chamado capacitor MOS,
o que faremos a seguir.
Figura 7.17: Diagramas de energia no capacitor MOS para diversos valores da diferen¸ ca de
potencial V aplicada entre o metal e o semicondutor (tipo p).
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 253
−
vemos que p cresce exponencialmente com a diferen¸ca Ei FF s . Assim, a
variação das energias mostradas na Fig.7.17(b) é consistente com a acumula¸
cão
de buracos no semicondutor na interface com o ´ oxido.
Este resultado mostra que a espessura da camada de deple¸ cão cresce com
Figura 7.18: Distribuição de carga num capacitor MOS ideal com semicondutor tipo p (canal
n), na aproximação de depleção. A linha tracejada indica a carga criada pela inversão quando
V > V c.
256 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Esta expressão também pode ser obtida pela associação em série dos capaci-
tores formados pelo isolante ( Ci ) e p elo semicondutor. Como a espessura
aumenta com V , a capacitˆancia C diminui com o aumento de V na regi˜ao
0 V
≤ ≤ Vc . Para V ≥ Vc o valor de C estabiliza em C min , como mostrado na
Fig.7.19. Com tens˜oes negativas há uma acumula¸cão de buracos na superfı́cie
do semicondutor, de modo que = 0 e C é devido ao capacitor formado
apenas pelo ´oxido dielétrico, C = Ci . Observe que quando a medida da ca-
pacitância é feita com freqüência muito baixa, tipicamente menor que 100 Hz,
a capacitância tende a aproximar-se do valor Ci , como mostrado pelas linhas
tracejadas da Fig.7.19 . O mecanismo responsável por este efeito é a geração
de portadores na regi˜ao de carga espacial. Quando a varia¸cão da tens˜ao é
muito lenta, a criação de pares elétron-buraco nesta região mascara a varia¸cão
da capacitância. Os buracos tendem a neutralizar as impurezas aceitadoras,
Figura 7.19: Variação da capacitância com a tens˜ao em capacitor MOS de canal n ideal. As
curvas tracejadas para V > V c são os resultados obtidos quando a medida de C é feita com
freqüências muito baixas (tipicamente menores que 100 Hz).
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 257
onde Qd é dado p or (7.60). Este resultado s´o vale para um capacitor MOS
ideal. Num capacitor real há dois efeitos que devem ser considerados no cálculo
de V c : as fun¸cões trabalho φ m e φs em geral s˜ao diferentes; existem cargas no
interior do ´oxido e na superfı́cie da interface semicondutor-óxido.
Figura 7.21: Variação da diferen¸ca das fun¸cões trabalho φ m = φ m −φs na interface A -Si
em função da concentra¸cão de impurezas [Sze].
Metal A A
g Au Cu
(eV)
eφm 4,1 5,1 5,0 4,7
Tabela 7.1: Funções trabalho de metais modificadas para o isolante SiO 2 [Sze].
260 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
no óxido e na interface pode ser representado por uma carga efetiva Q ox . Essa
carga produz uma diferença de potencial adicional no capacitor V ox = Qox /Ci ,
onde Ci é a capacitância do isolante.
A tensão cr´
ıtica calculada anteriormente é v´alida para a situação na qual,
com V = 0, as bandas do semicondutor têm curvatura nula. Como a diferença
das fun¸cões trabalho φms e a presença da carga Qox resultam numa tens˜ao
efetiva positiva V ox φms , a tensão externa que deve ser aplicada ao capacitor
−
para produzir inversão é menor do que V c obtido para o caso ideal, Eq.(7.61).
Assim, o valor da tens˜ao cr´ ıtica no caso geral é
Qd Q ox
Vc =
Ci
+ 2φF + φms
Ci
. − (7.62)
Este resultado mostra que para obter uma tens˜ao crı́tica pequena é
necessário fazer a capacitância Ci maior possı́vel. Isto requer uma espessura
do óxido isolante muito pequena, em geral da ordem de 0 , 1 µ m.
Exemplo 7.6: Calcule a tensão crı́tica de inversão Vc para um MOSFET de A -SiO2 -pSi com
d = 0, 1 µm, N a = 1015 cm−3 , com carga no ´oxido por unidade de área Qox /A = 8 10−8 C/cm2 , ×
sabendo que a constante dielétrica do óxido é 3,9.
A capacitância por unidade de ´ area é determinada pela espessura do óxido e por sua constante
dielétrica. Para SiO2 i = 3, 90 , logo
−12
Ci i 3, 9 × 8, 85 × 10
= =
A d 10−7
−4
3, 45 × 10 F/m2 .
Usando o valor φms = −0, 9 V da Fig.7.21 e substituindo os dados e parˆ ametros calculados em
(7.62) vem,
−4
1, 37 × 10 10 8 × 104
−
Vc =
3, 45 × 10 −4
− 0, 9 − 8 3,×45
+ 0, 56
× 10 4 −
= 0, 4 + 0, 56 − 0, 9 − 2, 3 = −2, 24 V .
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 261
Note que a inversão ocorre em baixos valores de tensão, que podem ser fornecidos p or peque-
nas baterias. Este fato é importante pois ele possibilita a operação de circuitos l´ogicos alimentados
por baterias em equipamentos port´ateis.
VP c = V c + VD . (7.63)
Note que na condi¸cão de inversão esta carga é igual àquela existente na região
de depleção, cujo valor na faixa dx é dQd = Q d dx/L. Qualquer acréscimo da
tensão resulta no aparecimento de uma carga negativa na camada de inversão,
cujo módulo é dQn = dQ dQd , uma vez que a carga na regi˜ ao de depleção
−
não aumenta além do valor dado por (7.60). Temos então
Ci Qd
dQn = [V + (Vox φms 2φF ) φ(x)] dx
− − − − dx .
L P L
Figura 7.25: (a) Circuito inv ersor N ÃO com par complementar de MOSFETs. (b) Curvas
caracter´ısticas para determinação dos pontos de opera¸cão.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 267
dos quais serão apresentados na seção 7.8.2. Quando os capacitores estão inter-
conectados adequadamente, a aplicação de um pulso de tens˜ao num capacitor
vizinho, produz nele um po¸co de potencial, para o qual o pacote de cargas é
transferido através do semicondutor. Desta forma é poss´ıvel deslocar o dı́gito
1 ao longo da série de capacitores, formando um dispositivo CCD, utilizado
para fabricar registros de deslocamento para computadores e em sensores de
imagem, apresentados na seção 8.4.4.
se ela é menor que o valor de ruptura, a corrente tem o valor de saturação re-
versa, que é muito pequeno. Este é o regime de bloqueio na polariza¸cão direta,
indicado na linha cheia da caracterı́stica I -V mostrada na Fig.7.27(a). Note
que se a tens˜ao externa é negativa, J1 e J3 ficam polarizadas reversamente, e
neste caso são elas que limitam a corrente ao valor de satura¸ cão, resultando
no regime de bloqueio reverso, indicado na curva I -V .
Figura 7.27: (a) Caracterı́stica I -V do SCR: a linha cheia vale para corrente de porta
nula; as duas linhas tracejadas correspondem a dois valores de corrente, sendo IP 2 > IP 1 .
(b) Sı́mbolo de circuito do SCR.
270 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
7.7.2 O TRIAC
O triodo para
controle para corrente
correnteac
alternada, ou TRIAC,
. Ele é formado como
por um o nome diz,com
semicondutor é uma
seischave de
regiões
de impurezas, constituindo dois SCRs conectados em paralelo e em sentidos
opostos. A estrutura do TRIAC e seu sı́mbolo de circuito est˜ao mostrados
na Fig.7.28. Na estrutura da Figura (a) podemos identificar claramente dois
dispositivos em paralelo, um formado pelas regi˜oes p1 n1 p2 n2 e outro
− − −
formado pelas regi˜oes n4 p1 n1 p2 . Sem a porta , eles s˜ao equivalentes
− − −
a dois diodos Schockey em paralelo e em sentidos opostos, cuja caracterı́stica
I -V é dada pela linha cheia da Fig.7.29. Esse dispositivo é chamado de diodo
bidirecional, ou diodo ac (DIAC). Ele pode conduzir corrente em qualquer dos
dois sentidos, desde que a tens˜ao externa atinja o valor de disparo VD . ±
O terminal da porta serve para disparar o TRIAC em qualquer dos dois
sentidos, por meio de pulsos de corrente. Se a tens˜ao entre anodo e catodo
for positiva, um pulso de corrente na porta dispara o SCR p1 n1 p2 n2 , − − −
produzindo uma corrente no sentido do anodo para o catodo. Por outro lado,
se a tensão for negativa, o disparo produzido pelo pulso de corrente na porta
faz o SCR p2 n1 p1 n4 conduzir no sentido do catodo para o anodo.
− − −
Figura 7.28: Se¸cão reta da estrutura (a) e sı́mbolo de circuito (b) de um TRIAC.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 271
Figura 7.29: Curvas I -V para um TRIAC com três valores de corrente na porta.
por ambos.
catodo A corrente
se anula. noent
Ele pode dispositivo
ão deixarcessa quando
passar a tens˜ao
uma corrente entre anodo
alternada se fore
disparado duas vezes em cada ciclo.
Figura 7.30: Vista externa de alguns circuitos integrados: a) Circuito regulador de voltagem;
b) Envólucro de CI comum de dezesseis pinos; c) Pente de memóra de computador. A escala
da figura (c) é diferente das outras duas, pois o pente de memória tem dimensões fı́sicas bem
maiores que os outros dois.
Figura 7.31: Ilustra¸cão do método de isolamento com junções reversas: a) Substrato tipo p
com camada epitaxial tipo n; b) Canal de isolamento tipo p atingindo o substrato.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 275
Figura 7.33: Ilustra¸cão das etapas de fabrica¸cão de transistor n-p-n num circuito integrado.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 277
Figura 7.34: Ilustração de uma célula de memória de semicondutor formada por um tran-
sistor em série com um capacitor MOS.
Cap. 7 Transistores e Outros Dispositivos Semicondutores 279
Figura 7.35: Ilustração de parte de um circuito integrado de mem´ oria RAM formado por
um arranjo matricial de células de memória, cada uma contendo um transistor em série com
um capacitor MOS.
memórias
é um nomeROM usadotambém são do tipo
para designar RAM, cujos
memórias pois como vimos
endere¸ anteriormente,
cos podem ser aces-
sados aleatoriamente. Porém, o nome RAM é utilizado para os dispositivos
de acesso aleat´orio, tanto para gravação quanto para leitura das informa¸cões.
Nas memórias chamadas de EEPROM ( Electrically Erasable-Programmable
Read Only Memory) as informa¸cões são usadas somente para leitura, mas
podem ser gravadas ou apagadas eletricamente. Os outros principa is tipos de
memória ROM s˜ao: PROM ( Programmable Read Only Memory), que é um
dispositivo no qual a informa¸cão em cada célula é gravada de forma perma-
nente, por um processo tipo fusı́vel; EPROM (Electrically Programmable Read
Only Memory), é uma memória que utiliza dispositivos FAMOS nos quais as
informações são gravadas eletricamente. Esta é a memória mais comum para
armazenar a programação que dá a partida no processo de operação de um com-
putador, ou de outros equipamentos contendo micro-processadores, quando
eles são ligados. As informações na mem´oria EPROM podem ser apagadas
globalmente, isto é, em todos os endereços, por meio de radia¸cão ultra-violeta
282 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS
PROBLEMAS
7.6 Considere um transistor p+ -n-p+ simétrico, isto é, com todos parâmetros
do emissor iguais aos do coletor. a) Escreva as equa¸cões de Ebers-Moll
para o transistor. b) Obtenha a corrente I em função de V para o transis-
tor no circuito (a) da figura abaixo. c) Calcule VCB quando o transistor
está conectado como no circuito (b) da figura a seguir.
Materiais e Dispositivos
Opto-Eletrônicos
287
288 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Materiais e Dispositivos
Opto-Eletrônicos
Figura 8.1: (a) Sensibilidade relativa do olho humano em fun¸cão do comprimento de onda
da luz; (b) Varia¸cão do ı́ndice de refração de quartzo fundido com o comprimento de onda.
Figura 8.1(b) ilustra a dispersão óptica dos materiais transparentes, que é res-
ponsável pela separa¸cão do feixe de luz branca em v´ arias cores. O ı́ndice de
refração, definido no Capı́tulo 2, varia com o comprimento de onda da luz. Na
cor violeta (menor comprimento de onda) o ı́ndice de refração é maior, o que
resulta em maior desvio ao passar pelo prisma. Na cor vermelha o ı́ndice de
refração é menor e portanto o desvio é menor. A varia¸
cão do ı́ndice de refração
é devida às caracterı́sticas da interação da radiação com a matéria, que serão
estudadas na Seção 8.2.
Como veremos mais tarde, tanto ε quanto σ podem ser complexos. Fazendo
ε = ε + iε e σ = σ + iσ e igualando as partes reais e imagin´arias das duas
formas de N 2 (ω ) acima obtemos
n2 −κ 2
= ε − ωσ 0
(8.6)
σ
2nκ = ε + . (8.7)
ω 0
O campo elétrico da onda, dado por (2.14), passa a ser, com k na direção x,
E(x, t) = Re
E
0 e i ωc nx−iωt e− ωc κx
ω ω
= 0 cos
E nx − ωt e− c κx . (8.8)
c
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 293
Vemos então que o campo é descrito por uma função harmˆonica cuja
amplitude decai exponencialmente durante a propagação. Note que n , a parte
real de N (ω ), é a razão entre a velocidade da luz c e a velocidade de fase
vf = ω/k = c/n, e portanto é o próprio ındice
´ √ de refração. Somente no
caso de meios sem perdas ( κ = 0) temos n = ε, como definido na Eq.(2.10).
Esta relação mostra que em meio sem perdas, a intensidade de uma onda
harmônica plana é constante, ou seja, não varia no espa¸co nem no tempo. Ela
é proporcional ao quadrado da amplitude do campo elétrico e é igual a energia
média transportada, por unidade de área e por unidade de tempo. Em outras
palavras, a intensidade é a potência média por unidade de área. No Sistema
Internacional ela é expressa em W/m2 .
uma seção reta do feixe, por unidade de tempo e por unidade de ´ area é dado
por:
I
Φ= . (8.12)
ω
Veja que o número de fótons por unidade de tempo n˜ao varia ao longo do feixe
porque a amplitude é constante. Este resultado não vale para um material
com perdas, no qual N (ω ) tem partes real e imagin´aria. Neste caso, o c´alculo
do vetor de Poynting tem um complicador na defasagem entre os campos e E
H introduzida
intensidade de pela
uma parte
onda imagin´aria
com campo de N (pela
dado ω ). Eq.(8.8)
Porém, évaria
f´
acil no
mostrar
espa¸ que a
co da
seguinte forma (Problema 8.3),
ω
I (x) = I (0) e −2 c κx ≡ I (0) e −αx
. (8.13)
da onda. Como
intensidade, a amplitudecaracter´
o comprimento do campo elétrico
ıstico varia com
da penetração doacampo
raiz quadrada da
no material
é dado por,
2 c
δ= = . (8.15)
α ωκ
enquanto no material, suposto semi-infinito, ele é dado por (8.8) com (8.5),
ω
E =Ey 3 e i c N (ω)x−iωt .
E E E
Para obter 2 e 3 em fun¸cão de 1 é preciso aplicar as condições de
contorno em x = 0. A continuidade do campo elétrico tangencial em x = 0 d´a
E = E +E
3 1 2 . (8.16)
Figura 8.2: Ilustra¸cão das ondas incidente, refletida e transmitida (refratada) na superfı́cie
de um material.
296 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Exemplo 8.1: Uma onda eletromagnética de comprimento de onda 500 nm incide na superfı́cie
plana de uma amostra de semicondutor de CdTe intrı́nseco. Considerando que neste comprimento
de onda CdTe tem condutividade desprezı́vel e constante dielétrica com parte real ε = 8,9 e parte
imaginária ε = 2,3. Calcule: a) A velocidade de fase da radia¸cão no comprimento de onda dado;
b) O coeficiente de absor¸cão; c) A refletividade; d) A transmiss˜ao total de uma placa de CdTe com
faces paralelas e espessura 0,1 µm.
a) Para calcular a velocidade de fase é necessário relacionar o ı́ndice de refração n com as partes real
e imaginária da constante dielétrica. Fazendo σ = 0 e substituindo (8.7) em (8.6) obtemos a
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 297
equação para n,
2
ε
n2 − = ε ,
2n
n4 −ε
n2 − ε4 =0.
Logo
√1
1/2
n= 8, 9 + (8, 92 + 2, 32 )1/2 = 3, 01 .
2
Então
c 3 108 ×
vf =
n
=
3, 01
= 9, 97 × 107 m/s .
b) O coeficiente de extin¸cão é calculado por um procedimento análogo,
√12 −ε
1/2
κ=
+ (ε2 + ε2 )1/2 .
T = (1 − R)2 e −αd
= (1 − 0, 258)2 × e −9,55×0,1
= 0, 21 .
298 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
rede cristalina.
brações da rede,Como esta faixa
ou fˆonons, correspondede
só contribuem aomaneira
infravermelho distante, aspara
mais significativa vi-
as propriedades ´opticas nesta regi˜ao do espectro eletromagnético. No caso
de isolantes e semicondutores, os fˆonons dominam as propriedades ´opticas no
infravermelho. Entretanto, nos metais predomina a interação do campo com
os elétrons livres, fazendo com que a refletividade seja próxima de 1, como
veremos a seguir.
pode ser deduzido pela extensão dos conceitos apresentados na seção 4.5, para
campos variáveis
elétron, a equaçãonodetempo . Sendo
movimento e a for¸
−E
do elétron ca que o campo exerce sobre o
fica,
dv m −iωt
m
dt
+
τ
v= −E 0e , (8.23)
A substituição de (8.29) em (8.21) mostra que R 1. Este resultado ex-
plica porque os metais s˜ao refletores quase perfeitos de ondas eletromagnéticas
com freq¨uências abaixo do infravermelho. Eles não s˜ao refletores perfeitos
porque uma pequena fra¸cão da energia da onda penetra numa camada fina na
superfı́cie, sendo absorvida pelos elétrons livres e transformada em calor nos
processos de colis˜ao. Este é o efeito pelicular , caracterizado por um com-
primento de penetração δ (skin depth) da onda, dado pelo dobro do inverso
do coeficiente absorção. Substituindo (8.29) em (8.15) e usando c = (0 µ0 )−1/2
obtemos 1/2
c 2
δ= = . (8.30)
ωκ ωµ 0σ0
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 301
Figura 8.3: Refletividade da prat a: (a) Em fun¸cão da energia do f´ oton da onda eletro-
magnética incidente [H. Ehrenreich et al., Phys. Rev. 128, 1622 (1962)]; (b) Em fun¸cão do
comprimento de onda, em escala ampliada.
302 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
dadeesta
Por é alta em atoda
razão, a faixa
reflexão do vis´
ıveltem
cobre porém
umaé cor
maior no vermelho
alaranjada, do que no com
que contrasta azul.
o “prateado” da prata.
Exemplo 8.2: A concentra¸cão de elétrons livres na prata é 5, 86 1022 cm−3 e o tempo de colis˜ao
×
é 3, 8 10−14 s. Calcule: a) O comprimento de penetra¸ cão na prata de uma onda eletromagnética
×
com freqüência de microondas, ν = 1 GHz; b) O comprimento de penetra¸cão de um feixe de laser
de argônio com comprimento de onda λ = 514, 5 nm; c) A atenua¸cão sofrida pelo feixe de laser ao
atravessar um filme de prata de espessura 50 Å.
ωτ = 2π × 109 × 3, 8 × 10 −14
= 2, 38 × 10−3
.
Como ωτ 1, o comprimento de penetra¸cão pode ser calculado por (8.30). Usando o valor
da condutividade da prata calculada no Exemplo 4.3, σ0 = 6, 26 107 (Ωm)−1 , vem, ×
1/2 1/2
2 2
δ= ωµ0 σ0 = 2π × 109 × 4π × 10 7 × 6, 26 × 107
−
−6
δ = 2, 01 × 10 m = 2, 01 µm.
c 2π 3 108
× ×
ω = 2πν = 2π
λ
=
514, 5 10−9
× = 3, 66 × 1015 s −1
,
então
ωp2 = 1, 86 × 1032 s −2
.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 303
Logo ω p = 1, 36 1016 s−1 é maior do que ω, o que faz com que N 2 seja negativo e portanto
×
N e´ imaginário. De (8.31) vem
ωp2 1, 86 × 1032 − 1
N =i −1 =i ,
ω2 3, 662 × 1030
N = i 12, 9 .
δ=
c
=
3× 108
15
ωκ 3, 66 × 10 × 12, 9
−9
δ = 6, 35 × 10 m = 63 , 5 Å .
Isto significa que ao atravessar o filme de prata, a intensidade do feixe de laser diminui por
um fator 4,83. A atenua¸cão também pode ser expressa em decibéis,
A = 6, 84 dB .
Figura 8.4: (a) Vis˜ao clássica do efeito de campo elétrico externo sobre as cargas num
E
átomo; (b) Modelo simplificado de ´atomo sob a¸cão de campo elétrico.
proporcional
Eq.(8.23), `a velocidade
porém Γ não édo elétron. do
o inverso Eletempo
é semelhante ao pois
de colisão segundo termo
no caso pre-da
sente o elétron está ligado ao ´atomo. Finalmente, o terceiro termo é a força
restauradora da mola que simula a liga¸cão do elétron com o átomo. Sendo k a
constante da mola, esta for¸ca é kx, onde k = ω 02 m. A solu¸cão de (8.33) no
−
regime estacionário é
x(t) =
−E
e 0
e−iωt . (8.34)
m(ω02 ω 2 iωΓ)
− −
O deslocamento do elétron, dado por (8.34), produz no átomo um momento
−
de dipolo elétrico p = ex. Havendo no mater ial N átomos por unidade de
volume, a polariza¸cão (momento de dipolo elétrico por unidade de volume)
resultante é P = Nex. Lembrando a relação entre o vetor deslocamento, a
−
polarização e o campo elétrico, que define a permissividade,
D = 0 E +P ≡ ε E 0 , (8.35)
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 305
onde
Γ/2π
fL (ω ) = (8.40)
( ω0 − ω) 2 + (Γ/2)2
306 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
10 15
5 10
0 5
-5 0
Figura 8.5: Partes real e imaginária de ε(ω) = ε (ω) + iε (ω) no modelo cl´assico de um
elétron ligado com freqüência de ressonância ω 0 , para ω p = 0, 7 ω 0 , Γ = 0 , 05 ω 0 e ε ∞ = 2, 0.
n2 =
1
ε +
√ε 2 + ε2 (8.41)
2
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 307
κ2 =
1 −ε +
√ε2 + ε2
(8.42)
2
onda, é édesprezı́vel
mente, importanteem todaque
notar a faixa masde
o ı́ndice apresenta
refração um pico em
aumenta comω= ω 0 . uência
a freq¨ Final-
na região ω < ω 0 , como evidenciado na curva n(λ) para o quartzo, mostrada na
Fig.8.1(b). É isto que produz o fenˆomeno da dispers˜ao em materiais transpa-
rentes. Isto ocorre porque a freq¨uência de transição eletrônica desses materiais
está acima da faixa visı́vel.
Figura 8.6: (a) Variação do ı́ndice de refração n e do coeficiente de extin¸cão (ou amorteci-
mento) κ com a freq¨uência com os mesmos parâmetros usados na Fig.8.5. (b) Refletividade
calculada com a Eq.8.21.
308 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Exemplo 8.3: Um material dielétrico tem uma linha de absorção devido a um fˆonon no infraver-
melho, com freqüência angular ω 0 = 2 1014 s−1 , largura de linha Γ = 10 13 s−1 e com ω p = 0, 7 ω 0 .
×
Sabendo que ε ∞ = 2, 0, calcule o coeficiente de absorção e a refletividade do material para um feixe
de infravermelho com freqüência igual a do pico de absorção.
√12 √4 + 96 1/2
n= 2+ = 2, 45
κ= √12 −2 + √4 + 96 1/2 = 2, 0
α=
2 × 2 × 1014 × 2, 0 = 2, 67 × 106 m −1
3 × 108
−
(2, 45 1)2 + 2, 02 = 6, 10 = 0, 38
R= .
(2, 45 + 1)2 + 2, 02 15, 90
Note que os valores obtidos para ε, n, κ e R coincidem com os valores das Figuras 8.5 e 8.6
em ω = ω 0 . Observe na Figura 8.6 que o pico em R não ocorre exatamente em ω 0 .
−
onde ω12 = (E2 E1 )/. Com a d efini¸cão (3.14) pode-se escrever o valor
esperado de um operador qualquer F no estado (8.45) como
onde < F >1 e < F >2 são os valores esperados de F nos estados estacionários
1 e 2, que s˜ ao constantes. Se F e´ um operador hermiteano ψ2∗ F ψ1 dV =
310 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
∗
ψ1∗ F ψ2 dV = F12 eiϕ . Neste caso
| |
| |
< F (t) > = < F >1 + < F >2 + 2 F12 cos(ω12 + ϕ). (8.46)
Vemos então que se o elétron está num estado que é uma combinação
de estados com energias E 1 e E2 , o valor esperado de um operador varia har-
monicamente no tempo com freq¨uência angular ω12 = (E2 E1 )/. Pode-se −
mostrar, sem dificuldade, que a probabilidade de encontrar o elétron no estado
1, ou no estado 2, também varia harmonicamente no tempo com freqüência
ω12 . Dizemos que o elétron sofre transições de 1 para 2 ou vice-versa. Para
que um elétron que esteja inicialmente no estado 1, ou em 2, passe a sofrer
transições entre 1 e 2, é preciso ter uma ação externa que varia no tempo com
freqüência ω ω12 . Usando a mecˆanica quântica, mostraremos a seguir como
calcular a probabilidade de ocorrência dessas transições.
∗ +iEm t/
Multiplicando os dois lados `a esquerda por ψ m e , integrando no volume
e usando (3.13) que exprime a condi¸cão de normalização e ortogonalidade das
autofunções obtemos para os coeficientes a expans˜ao,
dam 1
=
an (t) e i(Em −En)t/
∗
ψm
H (t) ψ dV . (8.49)
n
dt i n
Como nenhuma aproximação foi feita até o momento, esta equação é inteira-
mente equivalente à equação de Schroedinger dependente no tempo. Ela é a
base da formula¸cão matricial da mecˆanica quântica. Agora vamos considerar
que a perturba¸cão é produzida por um campo harmônico com freq¨uência ω ,
de modo que,
H(t) = e−iωt .
H (8.50)
onde ω mn = (Em En )/ e mn
− Hé o elemento de matriz do operador H entre
os estados m e n , definido por
H
=
∗
ψm
H ψ dV . (8.52)
mn n
Figura 8.7: Transições eletrônicas em sistema de dois nı́veis, por absorção (a) e por emiss˜ao
(b) de fótons.
−
onde p y = ey é a componente y do operador momento de dipolo elétrico. De
acordo com a regra de ouro (8.53) as probabilidades de transi¸ cão, por unidade
de tempo, para o sistema passar do nı́vel 1 para o nı́vel 2, ou vice-versa, são,
2π 2
W12 = W 21 = E p212 D (E2 −E 1 = ω ) , (8.55)
Note que a potência absorvida por unidade de volume pode ser identificada
como dI/dx , uma vez que a intensidade da onda I é a potência transmitida
−
314 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
por unidade de ´area. Assim sendo, usando (8.11) e (8.14) na rela¸ cão dI/dx =
−P e observando que D(ω ) = D (ω )/, obtemos o coeficiente de extin¸cão
2π 2
κ= (N1 −N )p2 12 D (ω ) . (8.56)
n0
2 Γ
ε (ω ) = (N1 −N )p
2
2
12 , (8.57)
0 (ω21 − ω) 2 + (Γ/2)2
onde ω21 = (E2 E1 )/. Esta equação tem a mesma forma de (8.39) com ω21 no
−
lugar ω0 e 2(N1 N2 )p212 /0 lugar de ω p2 /4ω0 (veja Problema 8.8). Isto mostra
−
que o resultado cl´assico é consistente com o quântico, como foi antecipado.
Entretanto, há detalhes importantes do resultado quˆantico que não aparecem
no tratamento clássico. Da Eq.(8.57) conc luimos que para have r absor¸cão de
energia em transições eletrônicas entre dois nı́veis E 1 e E 2 é preciso que: 1) A
−
freqüência da radiação seja ω (E2 E1 )/; 2) A popula¸cão do nı́vel inferior
seja maior que a do nı́vel superior, ou seja, N1 N2 > 0; 3) O elemento de
−
matriz p12 do operador momento de dipolo elétrico entre os estados dos dois
nı́veis seja diferente de zero. Esta última condi¸cão d´a srcem ` as regras de
seleção para transição de dipolo elétrico que determinam quais transições
são poss´ıveis por absorção ou emiss˜ao de f´otons. Como foi menc ionado na
seção 3.4, as regras de sele¸ cão para transi¸cões no ´atomo de hidrogênio com
±
campo linearmente polarizado são ∆ = 1 e ∆m = 0 (Problema 8.10).
o momento de dipolo entre os dois estados for nulo, a transi¸ cão de 2 para
1 também pode ocorrer, mas neste caso, em vez de haver emissão do f´oton,
há emissão de fˆonon ou de alguma outra excita¸ cão elementar. Este tipo de
transição é chamada não-radiativa .
kf − k = ±k
i (8.59)
Figura 8.8: Absor¸cão de fótons em semicondutor de gap direto. O f´oton de mı́nima energia
que é absorvido tem freqüência ω g = Eg /.
densidades
ciente de estados
de absor¸ dadas por (5.12)
cão no semicondutor e (5.13),
de gap diretopode-se mostrar
varia com queuência
a freq¨ o coefi-na
forma,
α(ω ) (ω Eg )1/2 /ω ,
∼ − (8.60)
≥
para ω Eg e α(ω ) = 0 para ω < Eg . Este resultado, ilustrado na Fig.8.9,
mostra que o coeficiente de absor¸cão aumenta rapidamente com ω acima do
ıtico ω g = Eg /.
valor cr´
kf − k = k
i , (8.62)
onde os sinais + e −
em (8.61) correspondem, respectivamente, aos processos
com absorção e emissão de fˆonon. Note que no caso do processo com absor¸ cão
de fônon, a energia mı́nima do fóton necessária para produzir a transi¸ cão é
Eg Ω,
− enquanto no caso do processo com emissão de fˆonon a energia mı́nima
é E g + Ω. Entretanto, os semicondutores de gap indireto também podem ter
uma transição direta ( k 0) para um mı́nimo relativo da banda de condução,
com energia Eg + E , como ilustrado na Fig.8.10. Como a transi¸cão indireta
envolve três excitações elementares, ela tem probabilidade de ocorrência menor
que a direta, na qual os fˆonons não participam. Por esta raz˜ao, a combina¸cão
dos processos indireto e direto resulta num coeficiente de absor¸ cão que varia
com a freq¨uência como ilustrado na Fig.8.11.
( )
E ’
Eg
Figura 8.10: Transições eletrônicas do topo da banda de valência para dois mı́nimos da
banda de condução em semicondutor de gap indireto como Si. A transi¸ cão indireta envolve
fônons e tem energia E g . A transi¸cão direta tem energia E g + E .
Gax A1−x As, é poss´ıvel obter materiais com gaps variando continuamente em
Si i 1,12 1,11
Ge i 0,67 1,88
AN i 5,90 0,21
AAs i 2,16 0,57
GaN d 3,40 0,36
GaP i 2,26 0,55
GaAs
InP dd 1,43
1,35 0,86
0,92
InAs d 0,35 3,54
InSb d 0,18 6,87
CdS d 2,53 0,49
CdTe d 1,50 0,83
portanto o coeficiente
imaginária do ı́ndice dederefração
absorçãoé édesprezı́vel
desprez´ ıvel.e aNesta situa¸
componentecão real √
a componente
é n = ε,
que no caso da safira tem valor n = 1, 77. Com este valor de n , a refletividade,
dada por (8.21) é R = 0, 077, enquanto a transmiss˜ao em uma superf´ıcie é
T = (1 R) = 0, 923. Ocorre que o espec tro mostrado na Figura 8.12 foi
−
medido numa amostra na forma de uma placa fina, que reflete a onda nas duas
superf´ıcies. Por esta razão, a transmiss˜ao é dada por (1 R)2 = 0,85, que é
−
o valor observado na Figura 8.12. A presen¸ca de uma pequena quantidade de
impurezas de Cr3+ na safira produz duas bandas de forte absor¸cão, mostradas
na Figura 8.12(b). A banda de maior energia está no azul, centrada em λ = 400
nm (3,1 eV), e a de menor energia est´a na regi˜ao verde-amarelo, centrada em
λ = 550 nm (2,25 eV). A presen¸ ca destas bandas faz com que o cristal de
Cr3 :A2 O3 tenha uma cor vermelha, como ser´a explicado na pr´oxima seção.
Este cristal é o rubi, encontrado na natureza como uma pedra preciosa. O rubi
também pode ser crescido sinteticamente por meio das técnicas apresentadas
no Cap´ıtulo 1.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 321
Exemplo 8.4: Uma amostra de CdTe tem a forma de uma placa de faces paralel as, de espessura
0,3 µm com camadas anti-refletoras nas duas faces. Calcule a transmissão de um feixe de luz de
laser de He-Ne, comprimento de onda 632,8 nm que incide normalmente sobre a placa.
A energia do gap de CdTe dado na Tabela 8.1 é Eg = 1, 5 eV. As energias dos f´ otons
correspondentes aos dois comprimentos de onda são,
hc 6, 63 10−34 3 108
× × × −19
ω2 = = = 3, 14 × 10 J
λ2 632, 8 10−9 ×
ω2 =
3, 14× 10 19 −
1, 6× 10 19 = 1, 96 eV
−
ω1 = 1, 96 × 632,
500
8
= 2, 48 eV
Logo
1/2
α(ω2 ) = 9, 55 × 106 (1,(2,9648−−1,1,5)5)1/2632,
500
8
= 8, 28 × 106 m −1
−
um fóton de energia Ec Ea . Em (b) um elétron no nı́vel de impureza doadora
recombina com um buraco da banda de valência emitindo fóton de energia
Ed Ev .
−
Apesar do n´umero de impurezas num s´olido ser muito pequeno com-
parado com o dos ı́ons de cristal, os processos de emissão e absorção de f´otons
envolvendo nı́veis de impurezas são muito importantes, especialmente nos semi-
condutores de gap indireto. Isto é devido ao fato de que a função de onda de
um elétron ligado a uma impureza tem uma localização espacial ∆ x da or-
dem da distância interatômica a . Esta incerteza na posi¸cão do elétron resulta
numa incerteza no seu momentum ∆ p, dada por (2.46), ∆ x ∆ p /2. Sendo ≥
∆x a, a incerteza no vetor de onda do elétron é ∆k 1/2a, que cobre uma
∼ ∼
larga faixa da zona de Brillouin. Em conseq¨uência, as transições envolvendo
impurezas podem ocorrer por emissão ou absorção de fótons, sem a necessidade
da participa¸cão dos fˆonons para ajudar na conserva¸cão de mome ntum. Isto
torna estas transi¸cões muito mais eficientes do que as transi¸ cões interbanda
nos semicondutores de gap indireto . Devido à facilidade dos elétrons e bura-
cos se recombinarem por este processo de emiss˜ao de f´otons, as impurezas s˜ao
chamadas de centros de recombinação.
8.4 Fotodetetores
Fotodetetores são dispositivos que convertem luz num sinal elétrico. Existem
vários fenômenos que possibilitam a fabricação de um fotodetetor. O primeiro
a ter importˆancia tecnológica foi o efeito fotoelétrico, descoberto no final do
século XIX e estudado no Cap´ıtulo 2. Ele é a base da opera¸ cão das tradicionais
células fotoelétricas, feitas de um bulbo a v´
acuo contendo um fotocatodo e um
anodo, aos quais é aplicada uma tensão externa (positivo no anodo). Quando
os fótons incidem no fotocatodo, os elétrons emitidos pelo efeito fotoelétrico são
acelerados para o anodo produzindo uma corrente elétrica. Isto constitui uma
célula fotoelétrica simples. Com a colocação de eletrodos entre o fotocatodo
e o anodo é poss´ıvel multiplicar o número de elétrons e amplificar a corrente.
Este é o princı́pio de funcionamento das v´ alvulas fotomultiplicadoras, que são
324 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
I (x) = I 0 e −αx
Considerando que o semicondutor tem espessura tal que toda a radia¸ cão
é absorvida, a taxa de criação de pares elétron-buraco é determinada pela
intensidade inicial I 0 da luz. Logo, o n´umero de fótons absorvidos por unidade
de tempo e de ´area é dado por (8.12), Φ = I 0 /ω . Na realidade, sempre existe
algum processo de absorção que não resulta em criação de pares elétron-buraco.
Define-se a eficiência quântica de conversão η , como a raz˜ao entre o n´umero
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 325
Figura 8.15: Variação do coeficiente de absor¸cão α com o comprimento de onda para v´arios
semicondutores [Wilson e Hawkes].
8.4.1 Foto-resistores
G= ∆I .
egbd
Este resultado mostra que o ganho aumenta com o valor da tens˜ ao aplicada e
com a diminuição da distância entre os eletrodos. Evidentemente, os valores
de µn , µp e τr dependem do material utilizado.
forma de um disco com diˆametro que varia de alguns mm a v´ arios cm. So-
bre a pastilha é depositada uma camada policristalina do semicondutor foto-
sensı́vel (CdS, CdSe, PbS, InSb, Hgx Cd1−x Te, entre outros), e sobre ela um
filme metálico (A, Ag, ou Au) para forma r os eletrodos. O filme met´alico é
evaporado através de uma máscara que deixa a ´area exposta do material foto-
condutivo na forma de zig-zag. Isto resulta numa grande área de iluminação do
semicondutor, combinada com um pequeno valor da distˆ ancia entre os eletro-
dos, de modo a produzir um alto ganho G .
Figura 8.17: (a) Vista de cima do elemento fotocondutivo com o eletrodo metálico; (b)
Foto-resistor comercial tı́pico.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 329
ru´ıdo determina o nı́vel mı́nimo da radia¸cão que pode ser dete tada. No caso
dos foto-resistores e dos fotodiodos, a principal fonte de ruı́do é a geração
térmica de pares elétron-buraco. Como a probabilidade de geração térmica
é proporcional a exp( Eg /2kB T ) [Eq.(5.23)], o ruı́do depende do material
−
utilizado e da temperatura de opera¸ cão. Então, como os materiais usados
em fotodetetores de infravermelho têm energia do gap Eg menores que os do
vis´ıvel, seu ruı́do é maior. Para diminuir o ruı́do dos fotodetetores é comum
resfriar o elemento fotocondutivo. Isto pode ser feito eletricamente através de
compactos dispositivos termoelétricos, que facilmente produzem temperaturas
◦
redução −
da ordememderela¸cão ∼
30 Cà (ambiente
240 K).deEmbora
apenasesta temperatura
20%, o efeito norepresente uma
ruı́do é sensı́vel
devido à sua varia¸cão exponencial com 1 /T .
Figura 8.18: (a) Sı́mbolo de circuito do foto-resistor, ou LDR; (b) Circuito simples utilizado
para polarizar um LDR.
330 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
8.4.2 Fotodiodos
Fotodiodos são detetores de radiação nos quais o sinal elétrico é produzido pela
geração de pares elétron-buraco causada por absorção de fótons nas imediações
da região de depleção de uma jun¸cão p-n. Os elétrons e os buracos dos pares
criados pela radia¸cão são acelerados em sentidos opostos pelo campo elétrico
da junção. Como o campo tem sentido do lado n para o lado p , os buracos s˜ao
acelerados no sentido n p, enquanto os elétrons movem-se no sentido p
→ n, →
como ilustrado na Figura 8.19. Isto resulta numa corrente gerada pela radiação
no sentido n →p, que é o sentido reverso da corrente na junção. Uma grande
diferença dos fotodiodos para os foto-resistores é que neles a fotocorrente é
produzida sem a necessidade da aplica¸cão de uma tens˜ao externa.
A deteção da radia¸cão nos fotodiodos pode ser feita em dois modos dis-
Figura 8.19: Ilustração do processo de criação de pares elétron-buraco por absorção de fótons
−
na região de depleção de uma junção p n de um fotodiodo, seguida da aceleração das cargas
em sentidos opostos.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 331
I = I s (e eV/k B T − 1) − I
L . (8.72)
Vca =
kB T I
n L + 1 . (8.73)
e Is
Figura 8.20: Caracterı́stica I − V de uma junção p − n no escuro e sob ilumina¸cão, para dois
valores de potência de luz.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 333
Para fazer o fotodiodo atuar como fotodetetor, aplica-se uma tens˜ ao ex-
terna reversa que faz a junção operar no terceiro quadrante do diagrama I V , −
de modo que I Is IL . Se a tax a de ger a¸cão térmica de pares for muito
−
menor que a de absorção de fótons, a corrente de saturação reversa será despre-
zı́vel comparada com IL . Neste caso a corrente no fotodiodo será proporcional à
potência da radiação incidente na junção. Além da linearidade de sua resposta,
o fotodiodo tem outras vantagens em rela¸cão ao foto-resistor como detetor de
radiação. As mais importantes s˜ao a rapidez de resposta, melhor estabilidade
e maior faixa dinˆamica de opera¸cão. Em aplica¸cões que não necessitem de res-
posta muito
muito rápida,
simples, ele ainda
formado tem
apenas a vantagem
por de poder
uma pequena ser usado
resistência num circuito
de carga (de um
microamperı́metro, ou ligada a um voltı́metro eletrônico).
Figura 8.21: (a) Sı́mbolo de circuito do fotodiodo; (b) Circuito simples para uso do fotodiodo
como detetor de radia¸cão.
334 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
temente grande para assegurar que toda radia¸cão incidente no fotodiodo seja
absorvida.
Figura 8.24: (a) Modelo da estrutura do fotodiodo PIN; (b) Varia¸ cão do campo elétrico ao
longo do fotodiodo.
336 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Vm =
kB T
n
1 + ( IL /Is )
Vca − k eT n
B
1+
eVm
, (8.74)
e 1 + (eVm /kB T ) kB T
Im = I s
eVm eVm/kB T
e I
−
1
kB T
. (8.75)
L
kB T eVm
Como (8.74) é uma equação transcendental, não é possı́vel obter uma expressão
Figura 8.25: Determinação gráfica do ponto de opera¸cão de um circuito série célula solar-
resistência R L .
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 337
Figura 8.26: Estrutura de uma célula solar de Si retangular: (a) Corte transversal; (b) Vista
de cima.
338 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
amorfo,
como que es˜CdS,
GaAs ao mais
quebaratos que
são mais o monocristalino,
eficientes. e semicondutores
A fabricação III-IV,
de células solares mais
eficientes e de menor custo poder´a tornar a convers˜ao fotovoltaica de energia
solar uma tecnologia importante no Século XXI, principalmente em regiões de
grande insolação, como é o caso do Nordeste do Brasil.
Uma imagem preto e branco em duas dimens˜ oes, estática como numa fo-
tografia, é formada por um grande número de pontos, ou pequenas áreas (pixel,
em inglês), cada um com uma cor que varia de branco a preto, passando por to-
das as grada¸cões de cinza. Quanto maior o n´umero de pixeis, maior a resolução
da imagem. Uma imagem em movimento, como no cinema ou na televis˜ao,
é formada por uma seqüência de imagens estáticas, que diferem pouco uma
da outra. Elas são mostradas uma ap´os a outra, com um intervalo de tempo
pequeno, de tal modo que o sistema de percep¸ cão humano tenha a sensa¸cão
de um movimento contı́nuo. A imagem na televisão é formada por 525 linhas
horizontais, com uma taxa de exibi¸cão das ima gens de 60 Hz. O sensor de
imagem é um dispositivo que produz um sinal elétrico correspondente a uma
imagem óptica. Ele é usado em câmaras fotográficas ou câmaras de vı́deo. O
sinal elétrico do sensor pode ser armazenado em forma anal´ogica ou digital,
ou transmitido através de cabos ou ondas eletromagnéticas. Um dos sensores
de imagem mais utilizados é o do tipo CCD.
A Figura 8.28(c) mostra a varia¸cão no tempo das tens˜oes nas três linhas
de fase, φ 1 , φ 2 e φ 3 . Elas s˜ao funções periódicas com dois valores, um alto e um
baixo, com perı́odo determinado pelo relógio do sistema. Todas têm a mesma
forma, porém a de φ2 está defasada de φ1 por um intervalo de tempo corres-
pondente a um terço do per´ıodo, enquanto φ 3 está defasada de φ 2 também por
um terço do perı́odo. A Fig. 8.28(c) mostra que no instante t1 , o potencial
φ1 é alto, enquanto φ2 e φ3 são baixos. Como a carga do elétron é negativa,
a energia potencial tem a forma de um po¸ co na regi˜ao do capacitor 1, o que
mantém o pacote de cargas naquela região, como ilustrado no diagrama de
cima da figura (b) . No instante t2 o potencial φ2 e´ alto, enquanto φ1 per-
manece alto, de modo que o po¸co de energia se estende ao capacitor 2, fazendo
com que a carga srcinal fique dividida entre os capacitores 1 e 2. No instante
t3 o potencial φ 1 é menor do que φ 2 , que permance alto, de modo que a maior
parte da carga passa para o capacitor 2, processo que é concluı́do quando o
potencial φ1 atinge o valor baixo enquanto φ2 permanece alto (instante t4 ).
Desta forma, em cada ciclo de varia¸cão das tensões, a carga passa de um ca-
pacitor para o vizinho, e assim sucessivamente até atingir a extremidade da
cadeia, dando srcem ao sinal de corrente correspondente ao pixel srcinal da
342 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
se estender
aumenta doainfravermelho
com temperatura doao material.
visı́vel, em torno
Para quede
umum
fiovalor
possade
serenergia que
suficien-
temente aquecido e emitir na regi˜ao visı́vel do espectro, ele deve ser feito de
material com alto ponto de fus˜ ao e colocado no v´ acuo, ou numa atmosfera
inerte, para n˜ao entrar em combustão. As lˆampadas incandescentes são feitas
com fios de tungstênio, aquecidos à temperatura de cerca de 6.200 ◦ C. Nesta
temperatura o pico do espectro de radia¸cão ocorre na regi˜ao visı́vel. Entre-
tanto, a maior parte da energia da corrente elétrica é convertida em calor
ou radiação infravermelha, fazendo com que a eficiência de conversão em luz
visı́vel seja muito baixa. Nas lâmpadas incandescentes comuns, apenas 13% da
energia elétrica são convertidos em energia luminosa. Além de ineficientes, es-
sas lâmpadas geram muito calor e têm resposta extremamente lenta. Durante
muitas décadas elas foram usadas em indicadores e mostradores de aparelhos
eletrônicos, mas a partir da década de 70 foram substituı́das por diodos emis-
sores de luz e outros dispositivos de estado s´ olido, como os mostradores de
cristal l´ıquido.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 343
Figura 8.31: Estrutura tı́pica de lâmpada LED utilizada em painéis de equipamentos eletro-
eletrônicos.
LEDs com as três cores básicas do espectro visı́vel, simulando uma fonte de
luz branca.
Figura 8.33: (a) Sı́mbolo de circuito do LED; (b) Circuito simples de alimentação.
Figura 8.34: Dois tipos de mostradores de LEDs: (a) Mostrador numérico de 7 segmentos;
×
(b) Mostrador alfanumérico de matriz 7 5.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 347
Os LEDs que operam no visı́vel são muito utilizados para fazer lâmpadas
indicadoras para painéis de equipamentos eletro-eletrônicos. Estas lâmpadas
são feitas com uma grande variedade de formatos e de cores. A Figura 8.31
mostra uma estrutura tı́pica de uma lâmpada de LED. O chip do LED é
montado sobre um dos pinos met´alicos utilizados como terminal ext erno. O
contato com o outro terminal ´e feito por um fio soldado no filme met´alico no
lado da janela do LED. O conjunto é encapsulado num plástico colorido, cuja
parte superior forma uma lente para colimar parcialmente a radia¸ cão.
Os LEDs que operam no vis´ ıvel também são muito utilizados atualmente
para fazer mostradores luminosos alfanuméricos. A Fig.8.34 mostra dois tipos
de mostradores muito comuns. Em (a) est´a apresentado o sistema de 7 seg-
mentos, utilizado para indicar os algarismos de 0 a 9. Cada segmento é for-
mado por um conjunto de LEDs, conectados em paralelo e encapsulados numa
mesma peça, de modo a produzir ilumina¸cão uniforme em toda sua extens˜ao.
A Fig.8.34(b) mostra a matriz de 7 ×5 LEDs individuais, que permite exibir
algarismos e letras, formando um mostrador alfanumérico.
348 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Como vimos na Se¸ cão 8.3, um sistema quˆ antico de dois nı́veis de energia,
E2 > E1 , com popula¸cões N2 e N1 , tem um coeficiente de absor¸cão dado por
(8.14) e (8.56),
ω 4πω 2
α = 2 c κ = n c 0 (N1 N2 ) p12 D (ω ) ,
− (8.76)
Figura 8.35: Espectro de emiss˜ao da luz de um laser de He-Ne mostrando os modos longi-
tudinais.
Os lasers operam em uma ou mais freq¨ uências dadas por esta relação e
que estão na faixa da curva de ganho do meio ativ o. Em geral os lasers operam
simultaneamente em vários modos da cavidade, chamados modos longitudinais,
cada um com largura de linha da ordem de alguns MHz, que é muito menor que
a largura da curva de ganho. Por exemplo, a curva de ganho do laser de He-Ne
tem uma largura de cerca de 1 GHz, que comporta 20 modos longitudinais
espaçados de 500 MHz, que é o valor obtido com (8.48) para uma cavidade
óptica com 30 cm de comprimento. A Figura 8.35 mostra um espectro tı́pico
de um laser de He-Ne.
Figura 8.36: Curvas de ganho de um laser para três valores da diferen¸ca de popula¸cão
−
∆N = N 2 N1 : ∆N3 > ∆N2 > ∆N1 .
terna, que pode ser uma lˆ ampada de flash de alta potência, para aumentar a
população de uma banda acima dos dois nı́veis de interesse. Este método de
excitação é empregado em lasers com materiais sólidos, como os de rubi, de
outros cristais ou de vidros dopados com impurezas apropriadas.
Nos lasers de sólidos com impurezas, também chamados lasers de estado sólido,
o meio ativo é um bastão de material cristalino transparente, ou de vidro,
dopado com ı́ons de impurezas cujos nı́veis de energia são adequados para
emissão estimulada. A cavidade óptica é, em geral, formada por dois espelhos
externos, sendo um deles totalmente refletor enquanto o outro transmite uma
pequena fração da radia¸cão incidente. É através do espelho parcial que uma
parte da energia da radia¸cão armazenada na cavidade passa para o exterior,
produzindo o feixe de laser. Os estados excitados das impurezas são p opulados
por bombeamento óptico, produzido por lˆampadas de flash ou por outro laser.
Figura 8.38: Arranjo utilizado em laser de rubi bombeado por lˆ ampada de flash.
354 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
alguns ms. Por esta raz˜ao, em vez de gerar uma radia¸ cão contı́nua, o laser
emite pulsos de luz com uma taxa de repeti¸cão determinada pelo circuito de
descarga. A escolha da taxa de repeti¸cão depende da capacidade de resfriar
o bastão de rubi. Este refriamento pode ser feito circulando ´ agua em contato
com o bastão, como mostrado na Fig.8.38. Note que nos atuais lasers de sólidos
com impurezas que empregam lˆampada de flash, ela n˜ao é enrolada em torno
do bastão, como no arranjo srcinal da Fig.8.38. Ela tem a forma de um tubo
cilı́ndrico, colocado paralelo ao bastão do s´olido, no interior de uma cavidade
metálica, de se¸cão elı́ptica, polida internamente. A lâmpada é colocada num
dos focos da
focalizada noelipse e o bast˜ ao no outro, de modo que a radia¸ cão do flash é
bast˜ao.
Nd-YAGo éfeixe
fazendo maispulsado
utilizado parapor
passar aplicações
um cristalna gerador
região vis´
deıvel. Isto harmˆ
segundo é conseguido
onico,
que converte a maior parte da radia¸cão em luz verde, com λ = 532 nm. (veja
Seção 10.2.2).
Figura 8.40: Esquema de bombeamento do laser de Nd-YAG com radia¸ cão cont´
ınua de um
laser de diodo.
356 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
cavidade devem ser externos ao meio ativo, pois o mecanismo requer a inserção
de um dispositivo no caminho do feixe no interior da cavidade.
Outro laser de estado sólido muito utilizado atualmente por conta de sua
versatilidade é o laser de titânio-safira (Ti3+ :A2 O3 ). Este laser pode oper ar
Nos lasers a gás, a emissão estimulada ocorre entre estados quânticos de átomos
ou moléculas, que são em geral excitados por meio de colis˜oes numa descarga
elétrica. A Figura 8.42 mostra os componentes básicos de um laser a g´ as.
A alta tensão aplicada aos eletrodos do tubo mantém uma descarga elétrica
no gás, que
formada porpo de estar
espelhos confinado
externos, ou circulando.doQuando
as extremidades a cavidade
tubo s˜ ao feitas com´optica
placasé
transparentes, inclinadas com ˆangulo de Brewster, para minimizar as perdas
por reflexão. Nos pequenos lasers a g´as, os espelhos s˜ao feitos internamente
nas próprias extremidades do tubo.
O laser de diodo semicondutor, mais conhecido como laser de diodo, é, de longe,
o mais importante para a opto-eletrônica. Enquanto todos os lasers menciona-
dos na seção anterior são grandes, dispendiosos e necessitam de potências sig-
nificativas para funcionar, o de semicondutor tem dimens˜ oes submilimétricas,
baixo custo e requer baixa potência de alimentação. Ele foi descoberto em
1962, porém foram necessários muitos anos de pesquisa e desenvolvimento para
que ele chegasse ao atual est´agio tecnológico. Os primeiros lasers eram forma-
dos de diodos de jun¸cão simples de GaAs e s´o operavam em temperatura de
hélio lı́quido (4,2 K) com correntes relativamente altas. No final da década de
1960 alguns laborat´orios conseguiram materializar propostas teóricas do russo
Zhores Alferov e do alem˜ao-americano Herbert Kroemer, que mostravam a
possibilidade de aumentar o ganho do laser com um confinamento de elétrons
e buracos em heterojun¸cões. Dentre os grupos que conseguiram fabricar lase rs
de heterojun¸cões operando `a temperatura ambiente, estava o do Laborat´orio
Bell, integrado pelo fı́sico brasileiro José Ripper Filho.
Figura 8.44: Diagramas de energia em jun¸cão p-n formada por semicondutores degenerados:
(a) Sem tens˜ao aplicada; (b) Com polariza¸cão direta; (c) Com tens˜ao suficientemente alta
para produzir inversão de popula¸cão na regi˜ao de transi¸cão.
Figura 8.46: Comportamento da potência luminosa emitida por um laser semicondu tor.
Quando a corrente I é maior que um valor cr´ıtico I c , a potência aumenta bruscamente (a)
e seu espectro torna-se estreit o (b).
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 363
Exemplo 8.5: Calcule o espa¸camento entre os modos longitudinais de um laser de diodo de GaAs,
com cavidade óptica de comprimento 1 mm.
λ c
L = mλ = m =m ,
n nν
∆ν =
3 × 108 = 8, 3 × 1010 Hz = 83 GHz .
3, 6 × 10 3
−
O laser de semicondutor formado por apenas uma jun¸ cão p-n, também
chamado laser de homojun¸cão, foi o primeiro a ser desenvolvido. Este tipo
de laser apresenta v´arios problemas, sendo os principais: sua corrente crı́tica
é alta; para evitar super-aquecimento ele deve ser colocado em baixas tempe-
raturas ou operar em modo pulsado; a largura espectral da radia¸ cão é grande
comparada com outros tipos de laser; a potência luminosa é pequena com-
parada com outros tipos de laser; como a radia¸ cão é emitida numa região de
espessura ( < 1 µ m) menor que o comprimento de onda, a difra¸cão é grande e
o feixe n˜ao sai coli mado. Vários desses problemas s˜ao contornados nos lasers
de heterojunções, descritos a seguir.
na faixa de 1-10 µ m. Desta forma, para que a taxa de emiss˜ ao de f´otons seja
maior que as perdas ´opticas e produzir a opera¸cão do laser, é necessário que a
corrente seja alta. Este fato é o maior responsável pela elevada corrente crı́tica
do laser de homojun¸cão, que é da ordem de 40-100 kA/cm 2 em jun¸cões de
GaAs à temperatura ambiente. Outro efeito que contribui para o alto valor da
corrente cr´
ıtica no laser de homojunção é a forte difração da luz. Ela faz com
que muitos fótons emitidos saiam da regi˜ao da junção, deixando de contribuir
para a emiss˜ao estimulada.
Nos lasers de heterojunções estes dois efeitos são muito menores, de modo
que as correntes crı́ticas são reduzidas em várias ordens de grandeza em relação
ao laser de homojun¸cão, situando-se na faixa de 100-500 A/cm 2 . Como vimos
na seção 6.3.2, numa heterojun¸ cão existe uma barreira de potencial devido
Figura 8.47: Estruturas de lasers de heterojunções: (a) heterojunção simples; (b) hetero-
junção dupla; (c) heterojunção dupla em geometria estriada.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 365
à diferença entre os gaps de energia dos dois lados. Isto permite construir
estruturas de heterojunções com barreiras de potencial que produzem confina-
mento de elétrons e buracos numa camada fina, com espessura da ordem de
0,1-0,5 µm. Ao mesmo tempo, como os ı́ndices de refra¸cão nos dois lados da
heterojunção são diferentes, devido também à diferença dos gaps de energia
dos semicondutores, há um confinamento dos f´otons emitidos. O aumento da
concentração de pares elétron-buraco e de fótons na mesma regi˜ao espacial,
resulta numa maior taxa de recombina¸cão e portanto numa menor corrente
cr´ıtica.
A diferença entre os ı́ndices de refração de GaAs e GaA As faz com que
os fótons emitidos na recombinação sejam refletidos na interface entre os dois
materiais, aumentando a taxa de emiss˜ao estimulada. A operação do laser
ocorre quando a corrente ultrapassa um certo valor crı́tico, com emissão de
fótons com energia aproximadamente igual a do gap de GaAs, Eg = 1, 43 eV.
Isto corresponde `a radiação no infravermelho pr´oximo, com comprimento de
366 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 8.48: Laser de diodo semicondutor com uma jun¸cão p-n de GaAs e uma hete-
−
rojunção de GaAs GaAAs: (a) modelo unidim ensional; (b) diagrama de energia em
equilı́brio; (c) diagrama de energia com polarização direta. As linhas tracejad as indicam
o nı́vel de Fermi. As bolas pretas representam os elétrons e as bolas brancas representam
os buracos.
Figura 8.49: Laser de diodo de heterojunção dupla: (a) modelo unidimensional; (b) diagram a
de energia com a jun¸cão p-n polarizada, ilustrando o movimento dos elétrons (bolas pretas)
e dos buracos (bolas brancas).
368 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Tabela 8.2: Faixas de comprimento de onda cobertas por diversas ligas usadas na fabrica¸cão
de lasers semicondutores.
E3
E2
Ec E1
Ev E1’
E2
’
E3
’
poço,
2 2
π
E1 = E c + . (8.80)
2m∗e 2x
Vemos
espessa, E1 seque no laser de
aproxima de heteroestrutura duplade
Ec e E 1 se aproxima com
E vuma camada
. Neste caso, de
os GaAs
efeitos
de confinamento s˜ao pequenos. A radiação laser tem freq¨uência dada pela
Equação (8.79) e largura de linha kB T /h. Por outro lado, se a espessura x é
pequena, de tal modo que E 1 Ec dado por (8.80) é comparável ou maior que
−
a energia térmica, a radiação tem largura de linha estreita e freq¨uência dada
pela diferença entre (8.80) e (8.81),
2 2
hν = Eg +
π
1
+
1
. (8.82)
22x m∗e m∗b
Exemplo 8.6: Calcule para um laser de po¸co quântico de GaAAs/GaAs(x )/GaAAs, a espessura
x para a qual: a) A energia E 1 Ec seja igual à energia térmica dos elétrons a` temperatura T = 300
K; −
b) A emiss˜ao do laser tenha comprimento de onda de 820 nm.
donde vem,
π
x = .
(2m∗e kB T )1/2
1, 05 × 10 34 × 3, 14
−
−8
x = = 1, 46 × 10 m.
(2 × 0, 068 × 9, 1 × 10 31 × 1, 38 × 10
− −23
× 300)1/2
˚
A espessura
energia E1 Eé centão
− maior146
que A. Camadas
a energia de GaAs
térmica, mais finas
e portanto resultam
têm efeito num de
quântico espaçamento de
confinamento.
b) A espessura x que resulta numa radia¸cão laser com energia de f´ oton hν é obtida a partir de
(8.82),
1/2
π 1 1
x = + ∗
21/2 (hν − Eg )1/2 m∗e mb
hc 6, 62 10−34 3 108
× × ×
hν = = eV ,
λ 820 10−9 1, 6 10−19
× × ×
hν = 1, 51 eV .
1/2
1, 05 × 10 34 × 3, 14
−
1 1
x = +
(2× 1, 28 × 10 20 × 9, 1 × 10
− −31
)1/2 0, 068 0, 5
x = 8, 86 × 10 9 m = 88, 6 Å .
−
Veja que, como o parˆametro de rede do GaAs é 5,65 Å, esta espessura da camada de GaAs
contém cerca de 16 células unit´
arias.
O advento das comunicações ópticas foi poss´ıvel não apenas pelo desenvolvi-
mento dos lasers semicondutores e fotodiodos, mas também das fibras ópticas.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 373
A idéia básica do uso de fibra ´optica como guia de luz é muito antiga. Um
feixe de luz num material transparente com ı́ndice de refração n 1 , incidindo na
interface com outro material de ı́ndice de refração n 2 < n1 , sofre reflexão total
se o ˆangulo de incidência θ1 (em relação a normal) for maior que um valor
cr´ıtico θc = arc sen ( n2 /n1 ). Assim, um feixe pode propagar no inte rior de
um cilindro maciço, sofrendo reflexões sucessivas na superf´ıcie interna e sendo
guiado ao longo do cilindro. Fibras ´opticas de vidro ou pl´astico transparentes
são usadas como guias de onda de luz para aplica¸ cões simples desde a década
de 1930. Todavia, somente a partir da década de 1970 foram desenvolvidas
fibras de sı́lica (SiO2 ) com baixas perdas, possibilitando guiar feixes de luz a
grandes distâncias.
A Figura 8.51 mostra a se¸cão de uma fibra ´optica e os dois perfis comuns
de ı́ndice de refração. Na fibra com perfil em degrau , tanto o núcleo como a
casca são homogêneos, de modo que n 1 e n2 não variam com o raio. Suas prin-
cipais aplicações são em iluminação e sistemas de imagem. Na fibra com perfil
gradual, o ı́ndice de refração do n´ucleo varia com o raio, n 1 (r), enquanto que
a casca é homogênea. Uma forma muito comum é a parabólica, na qual n1
diminui a partir do eixo com o quadrado do raio. O material b´asico usado
para a fabrica¸cão de fibras ´opticas é a sı́lica fundida. A varia¸ cão no ı́ndice
de refração é obtida no processo de fabricação através de dopagens adequadas
com diversos materiais, tais como GeO 2 , P2 O5 , B2 O3 , etc. A prote¸cão da fibra
óptica é feita por meio de um revestimento plástico.
Figura 8.51 : (a) Se¸cão de uma fibra óptica mostrando o n´ucleo, a casca e o revestimento;
(b) perfil de ı́ndice de refração em degrau; (c) perfil gradual.
Essas soluções
vistos como ondascorrespondem
propagantesa modos discretos
ao longo do eixode
dapropaga¸cão,
fibra e modosque
de podem ser
onda esta-
cionária na seção transversal. Os modos de onda estacion´aria são semelhantes
às funções de onda de uma partı́cula num poço de potencial, como na Fig.3.3,
com um certo n´umero de máximos e de nulos do campo ao longo do diˆametro.
Quanto maior a raz˜ao diˆametro/comprimento de onda, maior o n´ umero de
máximos. Na visão simplificada da ´optica geométrica, cada modo de onda
estacionária corresponde a um ˆangulo diferente de propaga¸cão dos raios. Ve-
mos então que quanto maior o diˆametro da fibra, maior o n´umero de modos
diferentes que podem propagar. Numa fibra de perfil em degrau, com diâmetro
do núcleo de 125 µ m, podem propagar milhares de modos no comprimento de
onda de 0,85 µ m. Uma fibra deste tipo é chamada multimodo. As fibras que
permitem propagar apenas um modo s˜ao chamadas monomodo. A varia¸cão
transversal do campo eletromagnético numa fibra monomodo se assemelha à
função de onda do modo n = 1 na Fig.3.3. As fibras monomodo têm n ´ucleo
com diâmetro de cerca de 5-10 µ m e casca com diˆametro 125 µ m.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 375
Figura 8.52: Ilustra¸cão da propaga¸cão da luz em fibras ´opticas: (a) perfil em degrau;
(b) perfil gradual.
Figura 8.53: Atenuação da luz em fibra ´optica de sı́lica em função do comprimento de onda.
segundaO primeiro
metade sistema comercial
da década de comunica¸cão
de 1980, operando comóptica
lasersfoi
deimplantado na
semicondutor
de GaAs, com comprimento de onda em torno de 800 nm, a uma taxa de
repetição de 45 Mb/s. Como a atenua¸cão das fibras nesta regi˜ao era alta,
cerca de 2 dB/km, havia a necessidade de colocar repetidores a cada 10 km de
distância. Os repetidores utilizados naquela época eram baseados em amplifi-
cadores eletrônicos, portanto eles tinham que detetar o sinal ´optico, amplificar
o sinal elétrico e depois modular um novo feixe de laser. Na década de 80 foram
desenvolvidos sistemas operando em torno de 1300 nm, em que as fibras tinham
atenuação de cerca de 0,6 dB/km. Eles empregavam lasers de semicondutor
de InGaAsP, podendo operar com até 2 Gb/s e com uma distância de 44 km
entre repetidores, que usavam amplificadores ´optico-eletrônicos. Mais tarde
foram desenvolvidos sistemas para 1550 nm, em que as fibras têm atenuação
de 0,2 dB/km, podendo transmitir a distˆancias de 70 km sem a necessidade
de repetidores. Estes sistemas utilizam lasers de diodo de InGaAsP com uma
concentração maior de In, operando com até 4 Gb/s.
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 377
Figura 8.55: Elementos básicos de um sistema de CD: (a) Vista do disco óptico; (b) Ilustração
das covas nas trilhas e da focaliza¸cão do laser de leitura; (c) Vista lateral das covas através
de corte do disco ao longo de uma trilha.
380 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS
PROBLEMAS
8.1 Mostre, a partir das equa¸cões de Maxwell, (2.1)-(2.4), que num meio de
condutividade σ e sem carga elétrica ( ρ = 0), o campo elétrico variando
somente na direção x é descrito pela equação de onda (8.1).
Cap. 8 Materiais e Dispositivos Opto-Eletrˆonicos 381
8.2 a) Mostre que numa onda plana senoidal com campo elétrico de ampli-
E
tude 0 propagando num dielétrico com ı́ndice de refração n, o vetor de
Poynting é dado pela equação (8.10). b) Calcule a intensidade da luz num
feixe de laser com diˆametro 1 mm e potência média 10 W. c) Calcule o
E
valor de 0 no feixe de laser do item b.
8.3 Mostre que numa onda plana senoidal com campo elétrico dado pela
Eq.(8.9), a variação de intensidade no espa¸co é dada por (8.14).
8.4 a) Verifique que o comprimento de penetra¸cão δ , dado pel a Eq. (8.30),
tem a unidade do metro no Sistema Internacional. b) Calcule o valor de
δ para a freq¨uência ν = 10 THz, da regi˜ ao infravermelho. c) Verifique
que a freqüência de plasma, dada pela Eq.(8.32), tem a unidade rd/s. d)
Calcule ωp para o cobre em Hz e em eV.
8.5 O ı´ndice de refração complexo de germˆanio para um feixe de luz de com-
primento de onda de 400 nm é dado por N = 4,14 + i 2,221. Calcule: a) A
velocidade de fase da luz; b) O coeficiente de absor¸ cão; c) A refletividade.
8.6 Calcule a transmiss˜ao total de uma amostra de germˆ anio na forma de
uma placa de faces paralelas e espessura 50 nm de um feixe de luz de
comprimento de onda de 400 nm.
8.7 A largura de linha de uma absor¸cão é definida como a diferença entre as
duas freqüências para as quais a absorção é metade do valor máximo na
ressonância. Mostre que para a fun¸cão Lorentziana (8.40) a largura de
linha é igual a taxa de amortecimento Γ.
8.8 Na comparação das equações (8.57) e (8.38), é necessário que (N1 −
N2 )p212 /0 tenha a mesma dimens˜ao que ωp2/ω0 . Mostre que isto é ver-
dadeiro.
8.9 A partir da constante dielétrica para um sistema de dois nı́veis com linha
Lorentziana, dado por (8.57), calcule o coeficiente de absor¸cão α, em
cm−1 , no pico da linha, para os seguintes valores: ν0 = 3 10 14 Hz,
×
N2 0, N1 = 1018 cm−3 , Γ = 3
× 103 s−1 , p = e a0 , onde e e´ a carga do
elétron e a 0 o raio de Bohr.
8.10 Um átomo de hidrogênio está num campo eletromagnético linearmente
polarizado com f´otons de energia igual a separa¸ cão dos nı́veis n = 1 e
n = 2. Usando as autofun¸cões da Tabela 3.1, mostre que s´o há transição
de dipolo elétrico do estado n, , m = 1, 0, 0 para o estado 1, 1, 0.
8.11 Considere um foto-resistor para o infravermelho com dimensões 30 1 × ×
0, 1 mm 3 , feito de Ge intrı́nseco, com tempo de recombinação τr = 10−6 s,
submetido a uma tensão de 10 V. a) Calcule a variação de corrente nos ter-
minais, produzida por uma varia¸cão de 1 mW na intensidade de uma ra-
diação de λ = 1.100 nm distribuı́da uniformemente na superf´ıcie, sabendo
382 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Materiais e Dispositivos
Magnéticos
9.2.3Paramagnetismo 396
9.3 Materiais Magnéticos 400
383
384 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS 459
PROBLEMAS 460
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 385
Inglaterra e Henry nos Estados Unidos, descobriram que um campo vari´ avel
podia induzir uma corrente elétrica num circuito. No final do Século XIX
estes três fenômenos eram perfeitamente compreendidos e já tinham inúmeras
aplicações tecnológicas, das quais o motor e o gerador elétrico eram as mais
importantes. A invenção da lˆampada incandescente, associada ao desenvolvi-
mento dos geradores elétricos, proporcionou uma revolução nos costumes da
sociedade. Por outro lado, a introdu¸cão do motor elétrico na indústria e nas
oficinas revolucionou as atividades industriais e de serviços.
onde o somat´orio é feito sobre todos os pontos i nos quais h´a dipolos de mo-
mento µi , no interior de um volume V . V é escolhido suficientemente grande
para que haja uma boa média macroscópica, porém pequeno em relação ao
tamanho da amostra para que M represente uma propriedade magnética lo-
cal.
Φ=
da
B · (9.2)
s
=H
B + 4 πM
. (9.4)
388 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
grandeza
razão eH,
adimensional.
entre B A permeabilidade magnética µ e´ definida através da
B =µ H . (9.6)
2 4
B tesla (T) = Wb/m gauss (G) 1 T = 10 G
µ N/A2 adimensional
χ adimensional adimensional
Tabela 9.1: Unidades das grandezas magnéticas nos Sistemas Internacional (SI) e Gaussiano
(CGS).
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 389
Diamagnéticos
•• Ferromagnéticos
Paramagnéticos
• Ferrimagnéticos
• Antiferromagnéticos
Diamagnetismo é o tipo mais fraco de resposta magnética de um sistema
e é caracterizado por uma susceptibilidade negativa e da ordem de grandeza
de 10 −5 . A srcem do diamagnetismo est´ a na variação do momentum angular
orbital dos elétrons induzida pela aplicação do campo externo. A explicação
clássica deste fenômeno vem da lei de Lenz, pela qual uma varia¸cão de campo
magnético resulta numa corrente elétrica induzida que tende a se opor a esta
variação, isto é, criando um campo oposto ao aplicado. Este fenômeno ocorre
em qualquer átomo. Mas como ele é muito fraco, só aparece quando no mate-
rial não há dipolos magnéticos permanentes que produzem efeitos muito mais
pronunciados. Os materiais diamagnéticos são aqueles que não possuem dipo-
los magnéticos permanentes, ou seja, são aqueles cujos ´atomos ou ı́ons têm
390 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
camadas eletrônicas completas. Este é o caso dos gases nobres, He, Ne, Ar,
Kr, Xe. É também o caso dos sólidos com liga¸cão iônica, cujos ´atomos trocam
elétrons para ficarem com suas últimas camadas completas, tais como NaC ,
KBr, LiF e CaF 2 . Como o diamagnetismo é uma propriedade muito fraca dos
materiais, seu estudo n˜ao será aprofundado aqui.
A partir deste resultado, pode-se mostrar (Problema 9.1) que num átomo
hidrogenóide, no qual h´a apenas um elétron fora da última camada completa,
o orbital eletrˆonico é um auto-estado de L2op e de Lzop . Na realidade isto s´o é
verdade se o spin do elétron for ignorado. As equações de autovalores são
onde gs 2. A diferen¸ca dos fatores g orbital e de spin é uma das manifestações
da srcem n˜ao-clássica do spin.
392 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
O movimento do elétron em torno do núcleo faz com que ele sofra a a¸cão
de um campo magnético, resultante da transformação (relativ´ ıstica) do campo
eletrostático do referencial do n´ucleo para o seu referencial. A intera¸cão do
momento magnético do spin com este campo dá srcem ` a chamada interação
spin-órbita. Por causa dessa interação a fun¸cão de onda eletrˆonica deixa de
ser uma autofun¸cão de L z e S z separadamente. Ela passa a ser autofun¸cão de
Jz , onde
Jop = Lop + S
op (9.14)
Quando o ´atomo ou o ı́on tem vários elétrons fora da última camada com-
pleta, seu comportamento magnético é determinado pelas propriedades desses
elétrons. Isto porque numa camada cheia, os elétrons ocupam orbitais com to-
dos valores de m possı́veis, positivos e negativos, bem como todos os valores
de m s possı́veis. Desta forma, o momentum angular total da camada fechada
é nulo, sendo portanto nulo seu momento magnético. A maneira pela qual
os elétrons externos ocupam os orbitais para formar o estado fundamental é
determinada pelas condi¸cões de mı́nima energia. Essas condições são dadas
pelas regras de Hund , enunciadas da seguinte forma:
O ı́on Mn2+ é formado pela perda de dois elétrons 4s enquanto que Fe3+ é
formado pela perda de dois elétrons 4s e um 3d. A distribui¸cão dos cinco
elétrons 3d é determinada da seguinte maneira:
Regra 1: ms= 1/2 1/2 1/2 1/2 1/2 → S = 5/2
Regra 2: m=
2 1 0 -1 -2 L=0
→
Regra 3: J = S + L = 5/2
ao 6 S5/2 .
O estado fundamental desses ı́ons é ent˜
e −21
(CGS) µB = = 9, 27 × 10 G cm3
2mc
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 395
e −24
(SI) µB = = 9, 27 × 10 A m2 (9.16)
2m
J (J + 1) + S (S + 1) − L(L + 1)
g= 1+ . (9.17)
2J (J + 1)
9.2.3 Paramagnetismo
x = N µB B
2
M Nµ B ,
kB T
onde NJ (J + 1) g 2 µ2B
C= (9.25)
3k B
Exemplo 9.1: Considere um material com rede c´ubica simples, com parâmetro de rede a = 2, 5 Å,
tendo J = 1 e um momento 2 µB por célula unitária. Calcule: a) A magnetização de satura¸cão; b)
A susceptibilidade em T = 300 K.
a) Para calcular Ms com (9.23), é preciso inicialmente calcular N . Como foi dad o o momento
por célula unitária, N = 1/a3 é o número de momentos por unidade de volum e. Usando
µB = 9, 27 10−21 erg/G, temos no sistema gaussiano,
× 2 × 9, 27 × 10 21 = 1, 19 × 103 G
−
Ms = .
2, 53 × 10 24
−
2 × 22 × 9, 272 × 10 42 −
−3
χ= = 1, 06 × 10 .
2, 53 × 10 24 × 300 × 1, 38 × 10
− −16
em T = 0, indica que a origem dos momentos é a mesma nas duas classes. En-
tretanto, como muitos materiais ferromagnéticos têm à temperatura ambiente,
magnetização da mesma ordem que em T = 0, deve haver uma interação entre
seus momentos que tende a mantê-los alinhados. Os materiais que têm uma
forte interação entre os momentos magnéticos estão apresentados na pr´oxima
seção.
Vários metais de elementos do grupo de transi¸ cão do ferro, como ferro, nı́quel
e cobalto, puros ou em ligas com outros elementos, apresentam uma alta mag-
netização à temperatura ambiente quando submetidos a um pequeno campo
externo. Estes materiais são chamados ferromagnéticos . A propriedade que
eles têm de serem atraı́dos pela magnetita é conhecida há milênios. Porém,
somente no final do Século XIX foram feitas medidas quantitativas das pro-
priedades magnéticas destes materiais. Na metade do Século XX, descobriu-
se que v´arios materiais que se supunha serem ferromagnéticos, na realidade
são ferrimagnéticos. Estas duas categorias de materiais têm propriedades
magnéticas semelhantes e encontram várias aplicações na eletrônica.
No final do século XIX, Pierre Curie verificou que a magnetização dos mate-
riais ferromagnéticos diminui com o aumento da temperatura e torna-se nula
acima de um certo valor Tc , chamado de temperatur a de Curie. Atualmente
sabe-se que, localmente, em pequenas regiões chamadas domı́nios, os materiais
ferromagnéticos apresentam magnetização finita mesmo sem campo externo.
Ela é chamada magnetização espontânea e resulta de uma forte interação entre
momentos vizinhos que tende a mantê-los alinhados. A forma qualitativa da
variação da magnetização espontânea M com a temperatura está mostrada na
Figura 9.4. Em T = 0, M tem valor igual ao da magnetiza¸cão de satura¸cão,
Ms , porque todos momentos est˜ ao alinhados. À medida que a temperatura
aumenta, M diminui gradualmente devido `a agita¸cão térmica dos momen-
tos. Em T > Tc , a energia térmica predomina sobre a energia de ordena-
mento, de modo que o material passa a ter comportamento paramagnético,
com M = 0. A Figura 9.5 apres enta a vis˜ao clássica do comportamento dos
momentos magnéticos nestas três faixas de temperatura.
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 401
Tabela 9.2: Dados de alguns materiais ferromagnéticos no sistema CGS. Para obter o valor
de µ 0 M no SI basta multiplicar o valor de 4 πM por 10 −4.
402 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 9.5: Vis˜ao clássica dos momentos magnéticos num material ferromagnético em três
faixas de temperatura.
M = N µB tanh
µB λM
. (9.28)
kB T
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 403
Figura 9.6: Solu¸cão gráfica da Eq.(9.28) para a magnetização espontânea em quatro valores
de temperatura.
Esta é uma equação transcendental, que não tem solução geral anal´ıtica, mas
que po de ser resolvida numericamente ou graficamente. A Figura 9.6 ilustra
as solu¸cões de (9.28) para a magnetiza¸ cão espontânea em quatro valores de
temperatura. A curva representa a função M (x) dada pela Eq.(9.21), enquanto
as retas representam a fun¸cão M = k B Tx/µ B λ nas diversas temperaturas.
Para T = T 1
T c , a solu¸cão de (9.28) é o ponto 1, interseção da curva
com a reta correspondente a T1 , que tem baixa inclina¸cão. Neste ponto a
magnetização espontânea
que a medida que tem um
T aumenta, valor pr´oximo
a inclinação da retada satura¸cão
aumenta M s . É fácil
e portanto o valorver
de M diminui, como no ponto 2 da Fig.9.6. Este comportamento est´a em
acordo com o resultado experimental da Fig.9.4. A temperatura de Curie é
aquela na qual a reta tangencia a curva M (x), pois é o menor valor de T para
o qual M = 0 (ponto 3 da figura). Evidentemente, para T > Tc , a solu¸cão
permanece no ponto 3 e portanto M = 0.
Nµ2B
Tc = λ .
kB
404 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 9.7: Ilustração da srcem da intera¸ cão de intercˆambio. As direções dos spins de-
pendem da distribui¸cão espacial de carga (fun¸cão de onda espacial) dos elétrons dos ı́ons
vizinhos.
mas não para metais. Nos metais é preciso considerar o fato de que os elétrons
ocupam estados em bandas de energia, e não nı́veis discretos em ı́ons locali-
zados. No caso dos metais de elementos do grupo de transi¸cão do ferro, as
bandas importantes são aquelas associadas aos nı́veis 3d e 4s. A banda 4s é a
dos elétrons quase livres, responsáveis p ela maior parte da condut ividade. A
banda 3d é a do magnetismo, pelas mesmas razões discutidas na se¸cão 9.2.1.
Na verdade, as curvas E (k ) correspondentes às bandas 3d e 4s se interceptam,
como mostrado na Figura 9.8 (a). Como resultado, existe uma mistura de
estados 3d e 4s e a curva da densidade de estados tem a forma mostrada na
Figura
em 9.8 (b) . Devido
temperaturas `a interação
menores que Tc ade intercˆambio
energia de um entre os spins
elétron eletrˆonicos,
no estado k com
o spin para cima é menor que a energia de um elétron no mesmo estado k
mas com o spin para baixo. Como resultado, a banda de densidade de esta-
dos separa-se em duas, uma com menor energia que a outra, como indicado
na Fig ura 9.8(b). Como os estados s˜ao ocupados até o nı́vel de Fermi, a
banda com menor energia fica com mais estados ocupados que a outra. Isto
resulta, em alguns metais do grupo 3d, num momento magnético total p or
átomo diferente de zero, o que d´ a srcem a uma magnetiza¸ cão espontânea e
comportamento ferromagnético. Este é o caso de Fe, Co e Ni, que têm aT = 0
momentos 2, 22µB , 1, 72µB e 0, 16µB por ´atomo, respectivamente. Apesar das
srcens do momento magnético nos metais e nos isolantes serem diferentes, as
propriedades magnéticas macroscópicas podem ser tratadas da mesma forma
nos dois tipos de materiais.
Figura 9.8: Ilustração das ´ultimas bandas de energia nos metais do grupo de transi¸ cão do
ferro: (a) Curvas E (k) para T > T c ; (b) Ocupa¸cão dos estados em T < T c .
408 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
distribuição
são de spins
semelhantes opostos
as dos uns aos outros,
ferromagnetos. Duasmas v´arias deimportantes
propriedades suas propriedades
de al-
guns ferrites d˜ao a eles grande importˆancia tecnológica. São elas a rapidez da
resposta da magnetiza¸cão e a alta resistividade. Esta ´ultima permite que
eles sejam usados em aplica¸cões de altas freq¨uências, inclusive na faixa de mi-
croondas, porque não desenvolvem correntes parasitas, ou de Foucault, que são
responsáveis pelo aquecimento e perda de energia nos metais ferromagnéticos.
A B
Fe3+ Ni2+ 3+
Ferrite de Nı́quel
1,0 1,0 A 0,4 Fe0,6
O4
com Alum´ ınio
Momento Magnético = 8 2 µB ( 5/2 1 0, 6 5/2) = 0
× ×↓ ↑ ↑ ×
Veja que com a substituição de uma pequena fração de ferro por alum´ınio,
a magnetização é cancelada. Com a substitui¸
cão de uma fração menor podemos
obter uma magnetização com qualquer valor entre 0 e 16 µ B por célula unitária.
Os ferrites são cerâmicas, que têm grande dureza e alto ponto de fusão.
Eles são geralmente usados na forma policristalina. A preparação de ferrites
começa com a mistura de partı́culas finas dos vários óxidos metálicos, que en-
tram em sua composi¸cão, na propor¸cão desejada na forma final do material.
Essa mistura é aquecida a temperaturas da ordem de 1000 ◦ C com o objetivo
de homogeneizar os ´oxidos. Ela é então novamente moida e o p´o resultante
é pressionado para ficar com a forma desejada. Finalmente ela é aquecida a
uma temperatura pouco abaixo do ponto de fus˜ao (1200-1500 ◦C), adquirindo
a forma p olicristalina densa. Esses passos têm durações que variam de ma-
terial para material e seus detalhamentos constituem segredos industriais dos
fabricantes. O desenvolvimento desses processos foi feito durante décadas de
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 411
minimizada
varia com a forma¸cão
gradualmente. de uma
Esta camada camada onde
é chamada a orienta¸cão
parede de dom´ dos,momentos
ınio ou parede
de Bloch. A Figura 9.13 ilustra uma parede de 180 ◦ , separando dois domı́nios
cujas magnetizações tem sentidos opostos. Como a orientação dos momentos
pode variar facilmente, as paredes dos domı́nios têm grande mobilidade. Essas
paredes têm espessuras tipicamente da ordem de 1.000 a 10.000 Å. A largura
dos domı́nios varia desde alguns µm até vários mm ou cm, dependendo das
caracterı́sticas do material e do campo externo aplicado. A Figura 9.14 ilustra
o comportamento dos domı́nios numa situação idealizada. Quando o campo é
nulo, formam-se domı́nios, como em (a), que resultam em magnetização total
nula. Quando um pequeno campo é aplicado ao longo da barra, há um desloca-
mento das paredes dos domı́nios para diminuir a energia Zeeman. O tamanho
dos domı́nios magnetizados no sentido do campo aumenta, enquanto os de sen-
tido oposto ficam menores. Como resultado, a barra passa a ter magnetiza¸ cão
total ao long o do camp o, como most rado em (b). Um aume nto do camp o
produz um deslocamento maior das paredes e também rotação dos dom´ınios
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 413
Figura 9.14: Comportamento dos domı́nios magnéticos numa barra de material ferro-
magnético submetida a um campo externo.
414 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
material. Finalmente, com valores mais elevados de campo, ocorre rota¸ cão de
domı́nios até a saturação completa da magnetiza¸cão em tod o o material. A
Figura 9.15(b) mostra o comportamento da magnetiza¸ cão M com a varia¸cão
do campo H após o material ter sido saturado. Quando H diminui, M não
retorna pela mesma curva do material virgem, por causa das rota¸ cões e deslo-
camentos irreversı́veis dos domı́nios. Em consequência, mesmo com H = 0,
Figura 9.17: Processo de magnetiz ação dc com polarização ac: (a) Trajet´oria de M no plano
−
M H ; (b) Curva de magnetização remanente em função de H dc , na qual n˜ao existe o ciclo
de histerese.
416 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
histerese.
uma Este processo
magnetização permiteao
proporcional magnetizar
campo dcum material
, numa certa ferromagnético
faixa de campo comem
torno da srcem. Isto n˜ ao é poss´ıvel de ser feito sem a polariza¸ cão ac por causa
do efeito de histerese.
Figura 9.18: Ciclos de histereses de materiais magnéticos: (a) Materiais duros, ou ı́m˜as
permanentes; (b) Materiais moles, ou permeáveis; (c) Materiais intermediários para gravação
magnética.
onde, no CGS, −∇ · −
qm = =
4π Mdv da
4π M· (9.39)
s
representa os dipolos magnéticos não compensados, no interior da superfı́cie S.
No SI a expressão de qm é a mesma de (9.39) sem o fator 4π . Embora os dipolos
magnéticos sejam produzidos por correntes elétricas, qm e´ matematicamente
equivalente à carga magnética, ou monopolo magnético. Com isto, a Eq.(9.38)
é análoga à lei de Gauss da eletrostática. No caso da geometria da Figura
9.19, a superfı́cie utilizada para a aplicação de (9.38) é a de um cilindro com
bases paralelas `a superfı́cie plana do material. Como a magnetização é M em
z < 0 e nula em z > 0, de (9.39) obtemos qm = 4πM A, onde A e´ a área da
base do cilindro. Os monopolos est˜ao distribuı́dos na superf´ıcie, com densidade
superficial de carga magnética σ m = q m /A = 4πM . Tudo se passa ent˜ao como
se a descontinuidade de M na superfı́cie produzisse monopolos magnéticos. A
superf´ıcie para a qual M é dirigido tem monopolos positivos, e faz o papel do
pólo norte (N) do ı́mã. Supondo que a outra extremidade do ´ımã (pólo Sul)
está muito distante, o campo H criado pela densidade de carga σm e´ análogo
ao campo elétrico criado por um plano de cargas elétricas. A aplicação de
(9.39) ao cilindro da Figura 9.19 d´a, no CGS,
entre os dois p´olos) é a soma dos campos criados pelas duas superfı́cies de
monopolos, ou seja, pelos polos norte e sul do ı́mã. Então, na regi˜ao central
do entreferro, o vetor indu¸cão magnética e o vetor intensidade de campo são
aproximadamente uniformes, com módulos B = H = 4πM no sistema CGS.
Por outro lado, no interior do ı́mã e próximo às superf´ıcies, B = 4πM e H = 0.
Tabela 9.3: Principais propriedades de materiais duros, usados como ı́mãs permanentes, a
temperatura ambiente (Hummel).
422 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
3
Ferro Fe 5 ×10 21,5 1 ,0 10
3
Aço carbono Fe-C(0,05) 5 ×10 21,5 1 ,0 10
3
Aço silı́cio Fe-Si(3), C(0,005) 7 ×10 19,7 0 ,5 60
5
Permalloy 78Ni,22Fe 10 10,8 0 ,05 16
Sendust 85Fe, 10Si, 5A 104 10,5 - 80
5
Mumetal 77Ni, 16Fe, 5Cu, 2Cr 10 6,5 0,05 62
3 8
Ferrite Mn-Zn 50Mn, 50Zn 2 ×10 2,5 0,1 10
Tabela 9.4: Propriedades de alguns materiais de alta permeabilidade. µmax é o valor máximo
−
da permeabilidade da curva B H .
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 423
hexagonais
(Y (estrutura do BaFe 12 O19 , os espinelios (MFe 2 O4 ) e as granadas
3 Fe5 O12 ), cuja resistividade é bastante alta. As principais aplicações desses
materiais são em transformadores e indutores de alta freq¨ uência utilizados
em equipamentos eletrônicos, dispositivos de microondas usados em telecomu-
nicações e em radar, bem como em cabe¸cotes de gravação magnética.
Figura 9.22: Circuito magnético usado para gerar um campo magnético no entreferro pro-
porcional a corrente i.
η pela razão entre o fluxo existente no entreferro e seu valor m´ aximo poss´ıvel,
que seria obtido com R n = 0. Vemos ent˜ao que a eficiência é dada por
Re
η= . (9.47)
Re + Rn
Exemplo 9.2: Considere um ı́mã permanente de alnico e um eletromagneto com n´ ucleo de ferro,
ambos com a forma das Figuras 9.20 e 9.22, com seção reta circular de diâmetro 10 cm, comprimento
médio total 100 cm e espaçamento do entreferro 2 cm. Considerando que o enrolamento tem 800
espiras, calcule a corrente que deve passar no enrolamento para que o campo magnético no entreferro,
num ponto pr´oximo do centro da superfı́cie, tenha no eletromagneto o mesmo valor que no ı́mã.
Usando para µ o valor da permeabilidade m´axima do ferro, dado na Tabela 9.4, obtemos o
valor da corrente que produz um campo igual ao do ı́mã permanente, no SI,
i=
H ( µ 0 /µ + d)
=
9, 95 × 105 (1/5000 + 0, 02) = 25, 12 A .
N 800
de 60. Graças
magnéticas, ao desenvolvimento
os equipamentos da microeletrˆonica
de gravação e `adeevolução
e de reprodu¸cão áudio e das fitas
de vı́deo
tornaram-se muito populares a partir da década de 70.
Figura 9.23: Elementos básicos de um sistema tradicional de grava¸ cão e reprodu¸cão com
fita magnética.
428 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 9.24: Ilustração do campo magnético criado por uma magnetização que varia
senoidalmente ao longo da fita.
de v´ıdeo. A gravação pode ser feita em fita ou em disco, tanto na dire¸ cão
longitudinal quanto perpendicular. A gravação magnética digital é largamente
utilizada em computadores. No entanto, ela está sendo cada vez mais empre-
gada na gravação de sinais de ´audio e de vı́deo digitalizados.
Figura 9.25: Geometria utilizada para calcular os campos criados por uma fita magnética.
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 431
Esta equação deve ser resolvida para as três regiões da Figura 9.25, sendo
a solu¸cão final determinada pelas condi¸cões de contorno nas superfı́cies em
y = δ/ 2. Na regi˜ao 1 a densidade magnética ρm é dada por (9.37) aplicada
±
a (9.51),
−
ρm = M0 cos kx . (9.54)
δ
2
≤y ψ2 (x, y ) = − M2k (1 − e
0 −kδ
) cos kx e −k(y−δ/2) (9.64)
y ≤ − δ2 ψ3 (x, y ) = − M2k (1 − e
0 −kδ
) cos kx e k(y+δ/2) . (9.65)
Hy = ∓ M2 0
(1 −e −kδ
) cos kx e −k(±y−δ/2) , (9.69)
Figura 9.26: Ilustração do fluxo criado pela fita magnética na cabeça de leitura.
434 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Este magnetiza¸
pela resultado mostra
cão da que
fita aé tens˜ ao elétrica
um sinal produzida
alternado, defasadonadecabeça
90 ◦ dadecorrente
leitura
senoidal de gravação. A amplitude da tens˜ao de saı́da depende da freqüência
do sinal, da velocidade da fita, da magnetiza¸ cão remanente e da largura da
trilha de gravação.
Exemplo 9.3: Calcule a amplitude do sinal de saı́da de um cabe¸cote de leitura de uma fita
magnética com freqüência de áudio de 1 kHz, tendo os seguintes parˆ ametros: N = 20, η = 1,
µ0 M = 0, 5 T, v = 0, 1 m/s, L = 1 mm, δ = 10 µm e d = 0.
O número de onda de um sinal de 1 kHz gravado numa fita com velocidade v = 0, 1 m/s é
dado por (9.50),
2πf 2π 103
×
k=
v
=
0, 1
= 6, 28 × 104 m −1
.
V = N η µ0 M L v 1 − e kδ
−
4 −5
= 20 × 1 × 0, 5 × 10 3 × 0, 1 × 1 − e
− −6,28×10 ×10
= 4, 66 × 10 4 V = 0, 466 mV .
−
vı́deo,Os
osmeios particulados
cartões de plástico s˜
ouaodeutilizados para recobrir
papel˜ao usados as fitasaplicações,
em in´umeras de ´audio eede
os
discos flexı́veis de computadores. Eles também são usados nos discos rı́gidos,
porém estão sendo gradualmente substituı́dos por filmes finos metálicos. Os
meios particulados são preparados por processos semelhantes ao de fabrica¸cão
de tintas empregadas para pintar paredes, madeira, telas artı́sticas, etc. Qual-
quer tinta é formada por part´ıculas s´ olidas diluı́das e em suspensão num meio
lı́quido, constitu´ıdo de solventes, diluentes e secantes adicionados a um agluti-
nante. As partı́culas sólidas são os pigmentos coloridos que d˜ao cor a tinta,
enquanto o aglutinante pode ser resina orgânica natural, artificial ou óleo. De-
pois que a tinta é espalhada na superfı́cie a ser pintada, ocorre o processo de
secagem, no qual alguns componentes do lı́quido evaporam e outros reagem
quimicamente no aglutinante. Após a secagem, os pigmentos coloridos s˜ ao
fixados na camada de aglutinante que cobre a superfı́cie. No caso do meio
magnético, o aglutinante é um polı́mero e as partı́culas s˜ ao feitas de ´oxidos
ou metais magnéticos, formando o que pode ser chamado de tinta magnética.
436 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
O sentido
Este da mudança
fenômeno, chamadoda polarização
efeito depende do sentido
Kerr magneto-óptico, daa magnetiza¸cão.
permite leitura do sinal
gravado através dos seguintes passos: o laser emite um pulso que passa por um
polarizador e incide no meio magnético; o feixe refletido atravessa o espelho
parcial e o analisador, sendo convertido em sinal elétrico no fotodiodo. Como
a polarização do feixe refletido depende do sentido da magnetiza¸ cão na região
do foco da lente, a intensidade da luz ap´os o analisador varia, dependendo se
o bit gravado for 0 ou 1. A vantagem desta tecnologia em relação à gravação
magnética convencional é a maior capacidade de armazenamento. Isto resulta
do fato da ´area de focaliza¸cão da lente ser muito menor que a ´ area mı́nima
necessária para gravar e reproduzir um sinal com cabeçotes indutivos. Os dis-
cos magneto-ópticos são feitos de filmes finos ou multicamadas de ligas que
apresentam forte efeito magneto-óptico e que produzem magnetização perpen-
dicular ao filme. Os materiais mais utilizados nos filmes s˜ao ligas binárias ou
ternárias de metais de transi¸ cão 3d e terras raras, tais como GdCo, GdFe,
TbFe, DyFe, GbTbFe e TbDyFe.
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 439
custo emcompactos.
ópticos rela¸cão aos dispositivos de discos magnéticos flexı́veis e de discos
magneto-resistência
turas e multicamadas gigante estimulou
magnéticas, as resultou
o que pesquisasnacientı́ficas emdenanoestru-
observação in´umeros
outros fenômenos nos quais as propriedades de transporte s˜ao controladas
pelo spin do elétron. Em conseqüência, vários dispositivos eletrônicos inteira-
mente novos foram desenvolvidos, dando srcem a um novo ramo da tecnologia
chamado de spintrônica, ou magneto-eletrônica
temperatura ambiente.
Quando uma onda eletromagnética penetra num meio magnético, seu campo
magnético interage com os momentos magnéticos microscópicos. No caso do
meio ser condutor e espesso, a amplitude da onda decai rapidamente devido
ao efeito pelicular, de modo que o efeito magnético é pequeno. No entanto, se
o meio é isolante, a atenuação é pequena e a interação magnética produz um
grande efeito na polariza¸cão da onda. É por isto que os materiais magnéticos
usados em microondas s˜ao ferrites isolantes. Para calcular a resposta em altas
freqüências, consideramos inicialmente um meio infinito de ferrite, submetido
. Na situa¸cão
a um campo magnético estático H de equilı́brio, os momentos µ
dos dipolos magnéticos ficam alinhados com H , pois esta é a situação na qual
a energia, dada pela Eq.(9.8), é mı́nima. O torque que o campo exerce sobre
o momento é dado por (no SI):
τ = µ 0 µ × H . (9.73)
onde gµ B
γ= (9.76)
dM
= −γ
µ0 M × H . (9.77)
dt
dmx dmy
dt
= −γ µ 0 my H ,
dt
= γ µ0 m x H . (9.79)
−iωm y = ω0 m x −γ µ 0 M z hx . (9.86)
= χ h
m · , (9.87)
mx
hx
m
= h = , (9.88)
my hy
onde
ωM ω0
χxx (ω ) = χ yy (ω ) = (9.90)
ω02 ω 2
−
ωM ω
χyx (ω ) = −χ xy (ω ) = i ω02 ω 2− , (9.91)
sendo ωM ≡
γµ 0 Mz γµ 0 M . Note que no sistema gaussiano, ωM = γ 4πM ,
pois µ0 = 1 e 4 π é o fator que entra na relação entre a permeabilidade e a
susceptibilidade, Eq.(9.7). Este resultado mostra que num ferrite, a aplica¸ cão
de um campo de rf na direção x, produz componentes de rf da magnetização
tanto na direção x quanto na direção y . Do mesmo modo, um campo hy produz
componentes mx e my . Isto é devido ao fato de que o movimento natural de
M é a precessão em torno do eixo z . Assim, a aplica¸cão de um campo hx ou hy
produz o movimento de precess˜ao, e em conseq¨uência componentes mx e my .
e h não é um escalar, mas sim um tensor.
Por esta razão, a relação entre m
χyx = −χ =i
− ω− ω
M
(9.93)
xy 2
ω − ω − iω Γ
0
2
0
Figura 9.31: Partes real (a) e imaginária (b) de χxx em função do campo H para ω/2π = 2, 8
GHz, ω M /γ = 3 kG e ∆ H = Γ/γ = 200 Oe.
campo para os quais χ xx tem metade do valor de pico é chamada largura de
linha da ressonância. É fácil verificar que a largura de linha ∆ H é relacionada
com a taxa de relaxa¸cão por
∆H = Γ/γ . (9.94)
onde
µ± = µ 0 (1 + χxx ∓ iχ xy ) (9.98)
h± (0, t) = Re x̂ h0 ± ŷ i h2
2
0
e−iωt =
h0
= x̂
2
cos ωt ± ŷ h2 0
sen ωt . (9.102)
h± (d, t) = Re
x̂
h0
± ŷ i h2 0
eik
±
d−iωt
. (9.103)
2
onde
km = (k + + k − )/2 (9.106)
e
θ = (k − −k +
) d/ 2 . (9.107)
Exemplo 9.4: Considere uma radiação de microondas com freq¨ uência 9,4 GHz propagando ao
longo do campo H num ferrite com M = 250 emu/cm 3 , g = 2, ∆ H = 50 Oe e = 40 . Calcule o
coeficiente de absorção da onda para H = 2, 5 kOe, considerando: a) Onda circularmente polarizada
no sentido +; b) Onda circularmente polarizada no sentido . −
a) Os vetores de onda para as polariza¸cões circulares + e incluindo a relaxação magnética são
−
dados pela Eq. (9.101), com a substitui¸ cão de ω 0 por ω 0 iΓ/2, −
1/2
ωε 1/2 ωM
k± = 1+ .
c ω0 ω iΓ/2
± −
A introdução do termo imagin´ario nessa equa¸cão faz com que o vetor de onda tenha uma
componente imaginária, que produz atenua¸cão na onda. Para calcular a parte imagi nária é
preciso trabalhar com o número complexo no interior da raiz quadrada, o que leva a expressões
grandes para o caso geral. Para simplificar as contas, vamos obter os valores numéricos
das grandezas ω0 , Γ e ωM , dadas por (9.81), (9.94) e ωM = γ 4πM (no CGS). Como essas
grandezas aparecem numa fração, vamos deixar explı́cito o fator 2π que relaciona a freqüência
angular com a freq¨uência. Usando o sistema CGS vem,
× 2, 8 × 106 × 2, 5 × 103 = 2π × 7, 0 GHz ,
ω0 = γ H = 2π
Γ0 = γ ∆H = 2π× 2, 8 × 106 × 50 = 2 π × 0, 14 GHz ,
ωM = γ 4πM = 2π × 2, 8 × 106 × 4π × 250 = 2π × 8, 8 GHz ,
452 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Vemos então que o termo imagin´ ario no denominador da expressão de k± é muito menor
que o termo real. Podemos então utilizar a expansão binomial para obter as partes real e
imaginária da raiz quadrada. Multiplicando ωM pelo fator 4 π, apropriado ao sistema CGS,
vem,
1/2
ω ε1/2 ωM
k± = 1+
c (ω0 ± ω) [1 − Γ/2(ω0 ± ω)]
1/2 1/2
ω εc 1+
ωM
(ω0 ω)± 1+
iΓ
2(ω0 ω)
±
ω ε1/2 ωM iΓ
1+ 1+ .
c 2(ω0 ± ω) 2(ω0 ± ω)
Logo, a parte imagin´aria é,
1/2
ωM Γ
k± ω εc (ω0 ω)2
± .
De acordo com (8.13), o coeficiente de absor¸ cão é o dobro da parte imaginária de k, portanto,
± ω ε1/2 ωM Γ
∝ = .
c 2(ω0 ω) ±
Substituindo os valores das grandezas, vem,
∝ ±
=
2π × 9, 4 × 109 × 41/2 8, 8 × 0, 14 = 3, 93 1, 23 .
3 × 1010 (7, 0 ± 9, 4)2 (7, 0 ± 9, 4)2
unidade opera eficientemente apenas numa estreita faixa de freq¨ uências, cuja
largura depende das caracterı́sticas do ferrite e da geometria do dispositivo.
A onda que entra na porta 1 passa pela placa resistiva sem atenua¸ cão,
pois tem campo elétrico perpendicular ao plano da placa (no guia retangular,
o campo elétrico tem a direção da dimensão menor e o campo magnético tem a
direção da dimensão maior), e portanto n˜ao produz corrente no plano. Como
Figura 9.33: Sı́mbolos de circuito de dispositivos não-rec´ıprocos: (a) Isolador; (b) Circulador
de 4 portas; (c) Circulador de 3 portas.
454 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 9.38: Diagramas esquem´aticos de filtros de YIG: (a) Um est´agio; (b) Dois est´agios.
458 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 9.39: Curva de resposta de um filtro de YIG de dois est´ agios (A. Belfort de Oliveira,
Tese de Mestrado, Departamento de Fı́sica da UFPE, 1981).
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 459
REFERÊNCIAS
PROBLEMAS
9.3 Um
H = átomo
2 kOe. com S = a1/freq¨uência,
Calcule 2 e L = 0 éem colocado
GHz, num campo
do fóton magnético
emitido pela
transição de dipolo magnético entre os dois estados de spin no campo.
9.4 Uma substˆancia paramagnética é formada por 4 1022 cm−3 ı́ons
×
magnéticos com S = 2 e L = 0. Calcule a susceptibilidade magnética
da substância em T = 4 K e T = 300 K.
9.5 O ferro cristaliza na estrutura bcc, com parˆ ametro de rede a = 2, 87 Å.
Sabendo que o momento magnético do ferro é 2,22 µ B por átomo, calcule
sua magnetização de satura¸cão e compare com o valor da Tabela 9.2.
9.6 Sabendo que o ferro tem temperatura de Curie T c = 1.043 K, calcule seu
campo molecular e a constante de intercˆambio J1 .
9.7 Um ı́mã permanente tem a forma de um bastão cilı́ndrico de diâmetro
2 cm e comprimento 10 cm, com uma magnetização uniforme, paralela ao
eixo, de valor 4πM = 15 kG. Calcule o campo criado pelo ı́mã em pontos
ao longo de seu eixo, distantes 1 mm, 10 mm e 50 mm de uma das bases
do cilindro.
9.8 Umı́mã permanente tem a forma de um disco fino, com magnetiza¸ cão M
uniforme e perpendicular ao plano. Calcule os campos B eH num ponto
externo ao disco, pr´oximo à superf´ıcie do pólo norte. Localize o ponto de
operação do ı́mã na curva da Figura 9.21.
9.9 Um eletromagneto tem um circuito magnético como o da Figura 9.22,
tendo um n´ucleo cilı́ndrico de diâmetro 10 cm, comprimento 120 cm e
entreferro 5 cm. Sabendo que o n´ucleo é de ferro e que o enrolamento
tem 200 espiras, calcule o campo em ponto próximo do centro da superf´
ıcie
do entreferro, produzido por uma corrente de 10 A.
9.10 Mostre que as fun¸cões ψ1 , ψ2 e ψ 3 dadas pelas Equa¸cões (9.63) e (9.65)
satisfazem a equa¸cão de Poisson (9.53) para o potencial magnético na
geometria da Figura 9.25, que representa uma fita magnética com um
sinal senoidal gravado.
Cap. 9 Materiais e Dispositivos Magnéticos 461
463
464 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
REFERÊNCIAS 531
PROBLEMAS 532
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 465
forma, mesmo sem produzir corrente elétrica, esses materiais apresentam uma
resposta ao campo elétrico. Eles são chamados materiais dielétricos, e en-
contram várias aplicações especı́ficas na eletrônica.
p = q d . (10.1)
Figura 10.1: Orienta¸cão dos dipolos microsc´opicos sob a a¸cão de um campo elétrico.
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 467
onde o somat´orio é feito sobre todos os pontos i nos quais h´a dipolos mi-
croscópicos, no interior de um volume V . Como no caso magnético, V é
escolhido suficientemente grande para que ha ja uma boa média macroscópica,
porém pequeno em relação ao tamanho da amostra, de modo que P repre-
sente uma propriedade local. P está relacionado com o vetor campo elétrico
e o vetor deslocamento D
Eunidades. através de relações que dependem do sistema de
No Sistema Internacional,
D = E + P ,
0 (10.3)
contribuição dos elétrons, dada por (8.36), seja máxima na regi˜ao vis´
ıvel, ela
ainda é significativa em freqüências mais baixas. Como a contribuição iônica
soma-se à dos elétrons, χ não passa por zero na regi˜ao do infravermelho, como
mostrado na Fig. 10.2.
estaum
há tendência
momentoseja em parte
resultante nacontrabalançada pelo efeito da agita¸cão térmica,
dire¸cão do campo.
10.1.2 Capacitores
P = ρ , P da = ρ dv . (10.11)
∇· − p
S · − p
0
E·
da = (ρ + ρp )dv = q t . (10.13)
S
Baquelite 4,8 12
Mica 5,4 160
Óxido de alum´ınio (A2 O3) 10
Óxido de tˆantalo (Ta2 O5 ) 28 100
Óxido de Titˆanio (Ti O3 ) 94 6
Papel 3,5 14
Porcelana 6,5 4
Quartzo fundido (SiO2 ) 3,8 8
Teflon(PFTE) 1,9 60
R = sT +d E (10.15)
E
onde T é a tensão aplicada ao material (força por unidade de área), é o campo
aplicado, P é a polarização induzida e R é a deformação por unidade de com-
primento resultante. As constantes d, s e χ são parâmetros caracter´ ısticos de
cada material. A constante d é a que caracteriza a piezoeletricidade, pois rela-
ciona a polarização induzida com a tensão mecânica aplicada, ou a deformação
produzida por um campo elétrico aplicado. Como R e´ adimensional, d tem a
unidade inversa do campo elétrico, m/V no SI, ou cm/statvolt no CGS. Na rea-
lidade, cada material tem várias constantes piezoelétricas d αβγ , relacionando a
polarização induzida na dire¸cão α com a componente β γ do tensor que carac-
teriza a tens˜ao mecânica (força por unidade de ´area). Como α pode assumir
3 valores e βγ pode assumir 3 ×
3 valores, o tensor piezoelétrico pode ter 27
−12
Material d (10 m/V) ε
Piezoelétricos genuı́nos
Quartzo (SiO2 ) -2,3 4,5
Turmalina -3,7 6,3
KDP (KH 2 PO4 ) 21 40
Ferroelétricos
Titanato de b´ario (BaTiO 3 ) 390 2.900
PZT (Pb 0,5 Zr0,5 TiO3 ) 370 1.700
Tabela 10.2: Valores das maiores componentes do tensor constante piezoelétrica e constante
dielétrica de materiais piezoelétricos importantes.
476 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 10.7: (a) Transdutor piezoelétrico de PZT; (b) Utilização do transdutor para gerar
uma onda de ultrassom.
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 477
Figura 10.8: (a) Sı́mbolo de circuito de cristal oscilador de quartzo; (b) Circuito elétrico
equivalente.
p = P s a 3 = 0, 26 × (4 × 10 −10
)3 = 1, 66 × 10−29
Cm .
Como a carga total dos ı́ons de Ba2+ e Ti4+ no interior da célula é 6e, este momento de dipolo é
resultante de um deslocamento dado por
p 1, 66 10−29
×
δ= = m 0, 17 Å ,
6e 6 1, 6 10−19
× ×
Note que o deslocamento é muito menor que as dimensões da célula.
Figura 10.10: Célula unitária do BaTiO3 , com a indicação do deslocamento dos ı́ons positivos
que produz o momento de dipolo elétrico.
Figura 10.11: Ciclos de histerese de materiais ferroelétricos: (a) ciclo retangular observado
em cristais; (b) ciclo alongado em cerˆamicas policristalinas alinhadas.
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 481
10.1.5 Eletretos
Figura 10.13: Ilustração de alguns tipos de eletretos. Em (a) e (b) a superfı́cie de baixo está
metalizada.
eletrostáticos
sensı́veis e sãopara microfones.
produzidos Os microfones
a custo muito baixo.deConseq¨uentemente,
eletreto s˜ ao pequenos,
elesmuito
estão
substituindo com grande vantagem os microfones magnéticos tradicionais uti-
lizados em telefones e em equipamentos de áudio diversos, e encontrando novas
aplicações. A Figura 10.14 mostra a se¸cão transversal de um microfone de ele-
treto simples. Ele consiste de um diafragma forma do por um filme de teflon
(FEP ou PTFE) com espessura da ordem de 20 µm, tendo a superf´ıcie superior
∼
coberta por um filme metálico (espessura 500-1000 Å). O filme de teflon, con-
tendo carga superficial como na Figura 10.13 (a), é montado sobre uma placa
metálica, apoiado sobre espa¸cadores que deixam uma camada de ar com certa
espessura. Quando uma onda de som atinge o diafragma, produz neste uma
deflexão que faz variar a espessura da camada de ar. Assim, o campo elétrico
existente entre o filme e a placa met´alica produz uma varia¸cão na tens˜ao de
saı́da proporcional à deflexão no diafragma. Com algumas modifi cações em
relação ao esquema da Fig.10.14, os microfones de eletreto adquirem maior
estabilidade e melhor resposta de freq¨uência.
484 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Estes dois efeitos têm uma forte analogia com o efeito piezoelétrico, estudado
na seção anterior. Quando um campo elétrico macroscópico é aplicado a um
material dielétrico, ele atua nos momentos de dipolo elétrico, podendo produzir
efeitos macroscópicos. A a¸cão do campo nos dipolos iˆ onicos resulta numa
deformação da rede cristalina, e portanto no efeito piezoelétrico inverso. Por
outro lado, a a¸cão do campo nos dipolos eletrˆ onicos, produz uma altera¸cão
na constante dielétrica óptica do material, dando srcem ao efeito eletro-
óptico. Esta alteração tem srcem principalmente na varia¸ cão dos nı́veis de
energia eletrônica produzida pelo campo externo, conhecida como efeito Stark.
Esta
vimosvariação resulta8,numa
no Capı́tulo esta mudança da constantedas
depende diretamente dielétrica
energiasóptica,
das pois como
transições
eletrônicas.
∆
1
=r E (10.19)
ε
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 485
∆n = − 12 n r E
3
. (10.20)
Os principais
piezoelétricos, devido cristais
à questãoeletro-ópticos
da simetria, j´asão também A
mencionada. os Tabela
principais
10.3
apresenta os ı́ndices de refração e os valores das maiores compoentes do ten-
sor eletro-óptico de alguns desses materiais. No caso de LiNbO 3 , n = 2, 29 e
r = 3, 26 10−11 m/V para luz visı́vel no comprimento de onda λ = 633 nm.
×
Por conseguinte um campo E
= 10 V/m aplicado neste material produz uma
mudança no ı́ndice de refração de apenas ∆ n = 1, 96 10−4. Apesar de ×
pequena, esta varia¸cão é suficiente para produzir efeitos macroscópicos que
possibilitam a construção de dispositivos eletro-´opticos.
∆
1
=pR (10.21)
ε
∆n = − 12 n 3
pR . (10.22)
Material n p
Tabela 10.4: Índice de refração médio e principal constante fotoelástica na regi˜ao vis´ıvel em
alguns dielétricos.
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 487
para o quartzo, vale para outros mate riais. Isto significa que o efeito eletro-
óptico direto, produzido pelas variações da estrutura eletrônica causadas pelo
campo elétrico, é maior que o efeito indireto, resultante da combinação da
piezoeletricidade e da fotoelasticidade.
P = 0 χ(1) + χ(2) 2
+ χ(3) 3
E E E + · ·· , (10.24)
Figura 10.15: Ilustra¸cão do desvio da linearidade da polariza¸ cão para campos intensos em
cristal sem simeria de inversão.
Figura 10.16: (a) Guia de onda de luz em lˆamina de material dielétrico ou semicondutor;
(b) ilustração de métodos usados para acoplar luz externa com o guia de onda.
dos e à tensão aplicada. É fácil ver que o valor do produto LV necessário para
que ∆ φ seja igual a π radianos é,
λd
(L V )π = . (10.28)
n3 r
Exemplo 10.2: Calcule a tens˜ao que deve ser aplicada entre os eletrodos distantes d = 7µm, num
modulador de fase eletro-´optico de LiNbO 3 , com um guia de Ti:LiNbO 3 .
1, 5 10−6 7 10−6
× × ×
(L V )π = 0, 032 Vm = 32 Vmm .
2, 23 31 10−12
× ×
Este resultado significa que para um modulador com 8 mm de comprimento dos eletrodos, uma
tensão de 4 V é suficiente para produzir uma mudança de fase de π .
Figura 10.18: Vista de cima de modulador de amplitude eletro -óptico com interferˆometro
Mach-Zehnder.
2 = 1 + 1 e i∆φ .
E E E
Como a potência na sa´ıda é proporcional a 2 2∗, pode-se mostrar (Problema
EE
10.5) que a transmissão do dispositivo, definida como a raz˜ao entre a potência
de sa´ıda e a potência de entrada T = P 2 /P1 , é dada por
1 + cos ∆ φ
T = , (10.29)
2
mais curtos d˜ao sensação de que a imagem pisca, como num estrobosc´ opio
enquanto tempos mais longos resultam num borr˜ao, pois uma nova imagem é
formada antes que a anterior desapareça. Os materiais cerâmicos fosforescentes
empregados em telas de vı́deo são chamados genericamente de fósforos, por
conta do sentido literal da palavra, eles acendem quando excit ados. Eles s˜ao
compostos fosfatos, ´oxidos, tungstatos, sulfatos e sulfitos de diversos metais,
como zinco e c´admio, isolantes ou semicondutores, dopados com impurezas
de elementos de transi¸cão do ferro ou de ter ras raras. S˜ao as impurezas que
formam os estados metaest´aveis envolvidos nas transi¸cões luminescentes. A
ecomposição
portanto a quı́mica determina
aplica¸cão a persistência e o espectro de emissão de luz,
do f´osforo.
cria um campo horizontal, que produz a deflex˜ ao vertical. Nas bobinas são
aplicadas tensões que produzem correntes variando no tempo com a forma de
dente de serra, mostrada na Figura 10.20. Esta forma de onda faz o feixe varrer
a tela num sentido, e retornar rapidamente no sentido oposto. A aplica¸ cão si-
multânea de tensões nos dois pares de bobinas faz o ponto luminoso percorrer a
tela nas direções horizontal e vertical, porém, a cada varredura vertical corres-
pondem muitas varreduras horizontais, como ilustrado na Figura 10.21(a). O
ponto luminoso descreve um movimento de zig-zag, da esquerda para a direita
na direção horizontal, e de cima para baixo na direção vertical. O padrão tradi-
cional mais utilizado emprega 525 linhas horizontais que formam um quadro da
imagem. Para produzir uma imagem em movimento s˜ao utilizados 60 quadros
por segundo. Desta forma, a freq¨uência de variação da onda dente de serra da
corrente nas bobinas de deflex˜ao vertical é 60 Hz, enquanto a da corrente de
×
deflexão horizontal é 525 60 Hz = 31,5 kHz .
Figura 10.21: Ilustra¸cão do processo de varredura em telas de vı́deo: (a) Nos cinescópios o
ponto luminoso descreve um movimento de zig-zag; (b) Nas telas de estado sólido, os pixeis
são acesos em seq¨uência, da esquerda para a direita, de cima para baixo.
498 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
em três intervalos iguais, cada um para uma das três cores, seguindo a ordem
vermelho, verde e azul. Este sinal é decodificado no receptor, de modo que a
informação sobre a intensidade de cada cor é processada, gerando um sinal de
tensão que atua no canhão eletrônico correspondente.
positivos com o da Figura 10.22, cada um com um f´ osforo de uma cor b´asica.
Dentre os materiais mais utilizados est˜ao ZnS:Mn, ZnS:C ou CaS:Eu para o
vermelho, ZnS:Tb ou SrS:Ce para o verde e Ga 2 S3 :Ce, SrS:Eu ou SrS:Ag para o
azul. A intensidade da luz emitida por cada dispositivo é controlada pela taxa
de repetição dos pulsos da tens˜ao aplicada durante o intervalo correspondente
no sinal de vı́deo. Combinando-se as intensidades da emissão nos dispositi-
vos das três cores básicas, é possı́vel obter qualquer cor do espectro vis´
ıvel.
A tela é formada por centenas de milhares de pixeis, um ao lado do outro,
dispostos em linhas e em colunas, formando um quadro como ilustrado na
Figura 10.21(b). A imagem é produzida acendendo-se os pixeis em seqüência,
através de um processo de varreduras horizontal e vertical, seguindo o mesmo
padrão descrito anteriormente para os cinesc´opios. A aplicação da tensão em
cada dispositivo é feita através de uma malha de eletrodos de endere¸camento,
ilustrada esquematicamente na Figura 10.23, também fabricada com técnicas
de filmes finos usando máscaras apropriadas.
Figura 10.23: Malha de eletrodos utiliz ada para aplicar as tensões nas células dos pixeis nas
telas de estado sólido.
Como vimos na Se¸cão 1.4.4, os cristais lı́quidos são formados por moléculas
alongadas, orientadas aproximadamente ao longo de uma mesma dire¸cão,
porém sem ocupar posições fixas e podendo fluir como num lı́quido. O que
caracteriza o cristal lı́quido e o distingue de um lı́quido comum, é o fato de
502 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 10.26: Ilustração das posi¸cões e orienta¸cões das moléculas de certa substância em
três faixas de temperatura, caracterizando as fases sólida, cristal l´ıquido e lı́quida.
Figura 10.27: Varia¸cão do parâmetro de ordem de uma substˆancia com fase cristal lı́quido
com a temperatura.
Figura 10.28: Ilustração da orienta¸cão das moléculas de um cristal lı́quido numa célula de
E E E
LCD: (a) = 0; (b) > c .
ambos os tipos o cristal lı́quido tem a função de alterar uma ilumina¸cão ex-
terna, que pode ser do ambiente, de uma lˆampada ou de um LED. O LCD de
reflexão utiliza luz frontal, enquanto o de transmiss˜ao utiliza luz trase ira. O
dispositivo consiste de uma camada de cristal lı́quido, com espessura da or-
dem de 10 µm ou menos, colocado entre duas lˆaminas transparentes de vidro
ou plástico, seladas nas extremidades, formando uma célula fechada. Nas su-
perf´ıcies das lâminas depositam-se filmes condutores transparentes, como ITO,
que permitem criar um campo elétrico através do cristal lı́quido. O efeito do
LCD sobre a luz externa é produzido pelas moléculas do cristal lı́quido, cuja
orientação pode ser alterada pelo campo elétrico produzido pelas malhas con-
dutoras nas duas lˆaminas.
Os materiais orgˆanicos são aqueles que têm em sua estrutura básica átomos
de carbono e de hidrogênio. O mundo vegetal e o mundo animal são formados
por compostos orgˆanicos produzidos pela natureza. No Século XX a tecnologia
de fabricação de materiais orgˆanicos artificiais foi desenvolvida, possibilitando
a produ¸cão comercial de uma grande variedade de materiais para diversas
aplicações. Atualmente mais de dois milhões de materiais orgˆanicos são co-
nhecidos. Eles podem ser agrupados em duas grandes categ orias, materiais
poliméricos e materiais não-poliméricos.
Os materiais poliméricos, comumente chamados plásticos, têm uma
enorme variedade de aplica¸cões em nossa vida diária. Como apresentado na
seção 1.4.3, os polı́meros consistem de moléculas com estrutura em cadeias lon-
gas, formadas pela repetição de unidades mais simples, chamad as monômeros.
Estas cadeias s˜ao facilmente formadas por ´atomos de C e de H, e por isso os
polı́meros são em geral materiais orgˆanicos. A riqueza dos polı́meros decorre
do fato de que pequenas altera¸cões na constitui¸cão dos monˆomeros resultam
em profundas modifica¸cões em suas propriedades fı́sico-qu´ ımicas. Embora os
pol´ımeros possam ser sintetizados a partir de uma grande variedade de matérias
primas, os processos de fabrica¸ cão mais econˆomicos são baseados na trans-
formação de derivados do petr´oleo. É por isto que o contı́nuo surgimento
de novos materiais pl´asticos após a segunda grande guerra est´ a associado `a
evolução da ind´ustria petroquı́mica.
Os materiais
são isolantes poliméricos
elétricos. utilizadoseles
Na eletrônica nossão
setores tradicionais
essenciais para adafabricação
indústria
de partes e pe¸cas diversas, tais como: capas de fios e cabos elétricos; su-
portes isolantes; caixas de equipamentos; botões; teclas; e inv´olucros diver-
sos. Como os pl ásticos tradicionais s˜ao isolantes, causou grande surpresa na
década de 1970 a descoberta de novos polı́meros condutores de eletricidade,
tendo propriedades elétricas que se assemelham às de metais, de semicondu-
tores ou mesmo de supercondutores. Estes materiais também são conheci-
dos como polı́meros não-convencionais. Recentemente estes materiais encon-
traram aplica¸cões inusitadas na eletrˆonica, e diversos dispositivos de condu-
tores orgânicos já são fabricados comercialmente. A possibilidade de obter
materiais de uso pr´atico, combinando propriedades elétricas tı́picas de mate-
riais inorgânicos com certas caracterı́sticas de plásticos, como a flexibilidade
mecânica e a transparência óptica, tem motivado uma grande atividade de
pesquisa na ´area de polı́meros condutores. Vários dos desenvolvimentos re-
centes nesta ´area devem-se a descobertas e contribui¸cões cientı́ficas de Alan
508 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Em contraste com a forte coes˜ ao ao longo das cadeias, a liga¸ cão entre
cadeias vizinhas é fraca, sendo do tipo molecular. Por esta razão, os pl´asticos
comumente utilizados são feitos com as cadeias entrela¸cadas, de modo a pro-
duzir resistência uniforme ao longo de todas as direções. No entanto, para
aplicação em eletrˆonica, é importante que o material tenha a maior ordem
estrutural possı́vel. Isto pode ser obtido através de estruturas policristalinas,
como aquela ilustrada na Figura 10.31. O material é formado por conjuntos
ordenados de cadeias poliméricas, separados por regiões amorfas.
cis e trans, mostradas na Figura 10.32. Como as duas formas têm f´ormulas
omeras. Na forma trans, os ´atomos de
qu´ımicas idênticas, elas são chamadas isˆ
H são ligados aos ´atomos de C alternadamente, em lados opostos da cadeia,
enquanto na forma cis os átomos de H ligados a carbonos vizinhos com ligações
duplas estão no mesmo lado da ca deia. Com isto, os ´atomos vizinhos de H estão
mais próximos entre si na forma cis do que na forma trans. O poliacetileno é
normalmente sintetizado na forma cis. O aquecimento em 150 ◦ C por alguns
minutos produz a isomerização e transforma a forma cis na configuração trans.
Figura 10.33: Bandas de energia em poliacetilen o trans-(CH)x para diferentes distâncias das
ligações C-C ( d1 ) e C=C ( d2 ): (a) d 1 = d 2 = 1, 39 Å; (b) d 1 = 1, 43 Å, d 2 = 1, 36 Å; (c) va-
lores reais, d 1 = 1, 54 Å, d 2 = 1, 34 Å[P.M. Grant e I.P. Batra, Solid State Communications,
29, 225 (1979)].
Figura 10.35: Estruturas qu´ ımicas dos monômeros de dois polı́meros semicondutores impor-
tantes: (a) polianilina; (b) poli-fenile novinileno (PPV). Em (b) as letras C e H indicativas
dos átomos são omitidas para simplificar a nota¸cão.
alumı́nio, conhecida por AQ. Ele pertence a uma classe de compostos conhe-
cidos como de molécula pequena, porque ela contém um número de ´atomos
muito menor que na maioria dos compostos orgânicos. Sua molécula é formada
por um grupo A O3 N3 , cercado por seis anéis de benzeno, alguns incompletos.
O AQ é preparado na forma de pequenos cristais, dispostos em camadas, apre-
sentando propriedades de condução e de eletroluminescência semelhantes as do
PPV. Uma das vantagens dos materiais orgˆanicos sobre os inorgˆanicos é que
eles podem ser depositados na forma de filmes com estrutura ordenada sobre
uma grande variedade de substrat os. A fabricação de dispositivos com mate-
riais orgânicos
poliméricos, quetem baixo ser
podem custo e pode ser
enroladas feita sobreem
e utilizadas lˆ aplicações
aminas de substratos
inusitadas.
Uma desvantagem dos materiais orgˆanicos é a baixa mobilidade dos elétrons.
Ela é da ordem de 1 cm2 /Vs nos melhores filmes orgˆanicos, que é muito baixa
em comparação com os valores 103 106 cm2 /Vs caracter´
− ısticos dos semicondu-
tores inorgânicos. Isto resulta em baixa velocidade de resposta dos dispositivos
de condutores orgˆanicos.
telas planas
câmaras de mostradores
digitais e aparelhos ´opticos
de vı́deo pequenos,
miniatura.usados
Neste em telefones
segmento elescelulares,
venceram
a corrida tecnológica contra os mostradores de cristais lı́quidos porque emitem
luz diretamente, tendo maior brilho e maior ˆangulo de vis˜ao.
Figura 10.38: Variação da resistividade de Y 1 Ba2 Cu3 O7 com a temperatura medida por
Chu et al. [Physical Review Letters, 58, 908, 1987)].
Elementos metálicos
A 1,1 0,1 160 16.000
Sn 3,9 0,3 340 2.300
Pb 7,2 0,8 370 830
Nb 9,5 2,0 400 380
Ligas e compostos bin´arios
Nb0,3 Ti0,7 9,2 140 600 450
Nb3 A 17,5 325 - -
Nb3 Sn 18,1 240 800 35
Nb3 Ge 23,2 380 - -
Óxidos cuprosos de alta Tc
YBa2 Cu3 O7 92 ∼1.500 4.000 ∼10
Bi2 Ca2 Sr2 Cu3 O10 110 ∼1.000 ∼6.000 ∼10
T2 Ca2 Ba2 Cu3 O10 > 110 > 1.100 ∼1.600 ∼13
Tabela 10.5: Parâmetros de alguns materiais supercondutores. Os valores de Hc , λL e
ξ foram medidos em temperaturas pr´oximas de 0 K. Os parˆ ametros dos óxidos cuprosos
dependem das condições de prepara¸cão.
Cap. 10 Outros Materiais Importantes para a Eletrˆonica 517
é
Figura 10.39: Ilustração do efeito Meiss ner numa esfera superc ondutora. O campo B
expulso do interior da esfera em T < T c .
Figura 10.41: Comportamento do campo magnético em supercondutor tipo II nas três fases
magnéticas.
520 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 10.42: Variação dos campos crı́ticos com a temperatura em supercondutores t´ıpicos:
(a) Pb, tipo I; (b) Nb 3 Sn, tipo II.
que os tipo I.
Os valores de campo crı́tico apresentados na Tabela 10.5 são v´alidos
para temperatura nula. Na realidade, os campos Hc , Hc1 e Hc2 variam com
a temperatura. Quanto maior T , menor o valor do campo necess´ ario para
destruir a supercondutividade. Este fato está evidenciado na Figura 10.42,
que mostra diagramas de fase para supercondutores tı́picos tipo I e tipo II.
equação de Maxwell (2.4). Considerando o campo est´atico ( ∂ D/∂t = 0) e a
= µ0 H
relação B , válida para o campo microsc´opico, obtemos:
2
∇×∇× + µ 0 ns q B
B =0 . (10.37)
m
∇ B = λ1
2 2
L
B
(10.38)
onde 1/2
m
λL = (10.39)
µ0 ns q2
os elétronsdetêm
formação umcarga de mesmo
par requer sinal e portanto
a existência sofrem repuls˜
de uma interação ao eletrostática,
atrativa, proveniente a
de algum outro mecanismo. Utilizando a teoria quˆantica, Cooper mostrou em
1956, que a interação entre elétrons e fônons numa rede cristalina pode produzir
uma interação atrativa entre elétrons e resultar na formação de pares. A Figura
10.44 ilustra como isto é possı́vel. Quando um elétron desloca-se numa rede
cristalina em equil´ıbrio (T = 0 K), os ı́ons da rede ao seu redor são perturbados
ligeiramente, devido à interação eletrostática. Assim, ao chegar num certo
ponto, o elétron e1 atrai momentaneamente os ı́ons vizinhos. Isto produz uma
onda de vibração da rede, ou seja, um fˆonon. Esta onda propaga na rede e pode
produzir, em outro p onto, um deslocamento dos ı́ons no sentido de criar um
potencial atrativo para outro elétron e2 . Se a energia deste par for menor que
a dos dois elétrons independentes, eles formarão um estado ligado, chamado
par de Cooper. O tamanho deste par é caracterizado por uma distˆancia ξ ,
chamada comprimento de coerência . Como os elétrons que participam
deste processo s˜ao aqueles que est˜ao próximos da superf´ıcie de Fermi, tendo
524 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Figura 10.44: Ilustra¸cão da interação atrativa entre dois elétrons através da perturbação da
rede cristalina. Este é o mecanismo básico para a forma¸cão dos pares de Cooper.
10.5. Por outro lado, os supercondutores tipo II têm ξ ≤λL , porque neste
caso o campo penetra no material em distˆ ancias maiores que a extens˜ao do
estado supercondutor. Assim, o material é caracterizado por regiões normais,
na forma de cilindros de raio ξ , atravessadas por linhas de campo, que s˜ao os
vórtices. Este é o caso dos compostos binários e dos supercondutores de alta
Tc , listados na Tabela 10.5. Note que apesar de ser um metal simples, Nb tem
comportamento mais próximo de supercondutor tipo II.
Consideremos agora uma junção NIS formada por um metal normal (N),
separado de um supercondutor (S) por meio de uma fina camada isolante (I),
como ilustrado na Figura 10.47(a). Se a camada de isolante tiver espessura
da ordem de 100 Å ou maior, a barreira de potencial impede a passagem de
elétrons do lado N para o lado S, e vice-versa. Entretanto, se a camada for
∼ −
suficientemente fina ( 10 20 Å), existirá uma probabilidade significativa
para a passagem de elétrons de um lado para outro por meio do efeito túnel.
Porém, para que isto ocorra é necessário haver estados ocupados, de um lado, e
estados desocupados do outro lado, com a mesma energia. Como pode ser visto
na Figura 10.47(b), isto n˜ ao acontece no equilı́brio. É preciso então aplicar
uma diferença de potencial V na junção, em qualquer dos dois sentidos, para
fazer o diagrama de energia de um lado subir, ou descer, em rela¸ cão ao outro,
de um valor eV . Assim, somente quando V ≥ Eg /e a corrente de tunelamento
I aumentará significativamente. A variação de I com V na junç˜ao NIS est´a
mostrada na Figura 10.47(c).
Figura 10.47: Jun¸cão NIS: (a) modelo unidimensional; (b) diagramas de energia no metal e
no supercondutor; (c) caracter´ −
ıstica I V da junção.
junção em relação ao outro. Para V = 0,1 mV, a freq¨uência dada por (10.44)
é 48,36 GHz, que está situada na regi˜ao de microondas.
10.4.4 Aplicações
supercondutores
fio com ele
é muito pequena, um pgrande
ode sern´umero de espiras.
percorrido por uma Como a resistência
corrente do
elevada para
gerar um campo intenso, sem muito aquecimento. As bobinas supercondutoras
são utilizadas em eletromagnetos de laborat´orios, em equipamentos médicos
de tomografia por ressonˆancia nuclear magnética e em motores e geradores
elétricos especiais de grande potência. Em geral elas são feitas com fios mul-
tifilamentares de Nb-Ti ou de Nb 3 Sn que têm campos crı́ticos Hc2 de 150 e
240 kOe, respectivamente, e corrente crı́tica da ordem de 105 A/cm2 . As bobi-
nas supercondutoras s˜ao feitas rotineiramente para campos na faixa 100-200
kOe. Elas operam mergulhadas num banho de hélio lı́quido, para manter a
temperatura baixa e assegurar que o fio permane¸ ca na fase supercondutora.
Por esta razão, os equipamentos que usam bobinas supercondutoras s˜ ao volu-
mosos e de alto custo. Os supercondutores de alta T c ainda não são utilizados
nestas aplicações porque são quebradiços, e portanto de difı́cil manuseio para
fazer enrolamentos. Além disso, na forma cerˆamica eles n˜ao têm corrente
crı́tica suficientemente elevada.
530 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
em baixa temperatura.
As junções de supercondutores também têm aplicação potencial na
eletrônica. A junção Josephson, com a caracter´ ıstica I V da Figura 10.48,
−
apresenta um comportamento com dois estados distintos de corrente: I 0
para V < Eg /e; I = 0 para V > E g /e. Nas jun¸cões feitas com supercondutores
tradicionais, o chaveamento de um estado para o outro é muito rápido, com
intervalos de tempo de picosegundo (10−12 s), e com dissipa¸cão de potência da
ordem de pW. Estas caracterı́sticas tornam as junções Josephson muito atra-
tivas para aplicações digitais, em circuitos l´ogicos e em mem´orias de computa-
dores rápidos. Novamente, a maior dificuldade desta tecnologia é a necessidade
de operação em baixas temperaturas.
Figura 10.49: Dispositivo SQUID: (a) esquema da liga¸ cão das jun¸cões Josephson;
(b) Variação da corrente com o fluxo magnético que atravessa o dispositivo.
onde Φ0 é o quantum de fluxo dado por (10.32). Este resultado mostra que
quando o SQUID é submetido a um campo magnético, a corrente varia peri-
odicamente, passando por m´aximos consecutivos `a medida que o fluxo passa
por m´ultiplos do quantum Φ 0 . Então, por meio de um circuito contador di-
gital pode-se contar o n´umero de m´aximos que a corrente atravessa e assim
determinar o fluxo final. Vemos pela Eq.( 10.45) que se o circuito tiver ´area
1 cm2 , o campo correspondente a um quantum Φ 0 será B 2 10−7 gauss.
×
Este valor extremamente pequeno (o campo magnético da Terra é cerca de 0,5
gauss) possibilita que o SQUID seja usado para medir campos magnéticos com
grande sensibilidade e precis˜ao. Os magnetômetros de SQUID s˜ao utilizados
rotineiramente em equipamentos cientı́ficos, médicos e industriais.
REFERÊNCIAS
Berlin, 1983.
L. Solymar and D. Walsh, Lectures on the Electrical Properties of Materials,
Oxford University Press, Oxford, 1993.
R. Syms and J. Cozens, Optical Guided Waves and Devices , Mc Graw-Hill,
New York, 1992.
A. Yariv, Quantum Electronics, J. Wiley, New York, 1989.
PROBLEMAS
Apêndice A
Ψ(t) =
an (t)ψn e −iEn t/ , (A.1)
n
onde ωmn = (Em En )/. Note que este resultado é exato, pois nenhuma apro-
−
ximação foi feita até o momento. O problema é que a Eq.(A.2) não pode ser
resolvida analiticamente de maneira exata. Para resolvê-la aproximadamente,
empregamos teoria de perturba¸cão. Para isto consi deramos que o Hamilto-
niano de excita¸cão no tempo é pequeno comparado com o estático, isto é,
H H 0 . Assim, os coefi cientes an (t) podem ser expandidos em série de
potências
an = a(0) (1) (2)
n + an + an + ,··· (A.3)
(0) (1)
onde an é o valor que an teria se = 0, an é o termo de primeira ordem
H
(2)
em , a n é o termo de segunda ordem, etc.
H
536 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
· · · = i1
ȧ(0) (1) (2)
m = ȧm + ȧm +
a(0) (1) (2)
n + an + an + ··· H
mn e i(ωmn−ω)t .
n
(A.4)
−i
ȧ(1)
m =
a(0)
n H
mn (t) ei(ωmn−ω)t
n
i
ȧ(2)
m = − a(1)
n H
mn (t) ei(ωmn−ω)t
n
..
.
i
ȧ(s)
m = − a(s−1)
n H
mn (t) ei(ωmn−ω)t . (A.5)
n
(0)
A solução de ordem zero é obtida da primeira equação, a m = constante.
Isto significa que se n˜ao houver perturbação, o sistema permanecerá no estado
estacionário em que estiver sido colocado inicialmente. Supondo que ele esteja
inicialmente no estado n temos
a(0)
n = 1
a(0)
m = 0 , m=n . (A.6)
ȧ(1)
m = −iH
mn ei(ωmn−ω)t . (A.7)
i(ωmn−ω)t
= −i
−1
H e −1 . (A.8)
mn
ωmn ω −
Sendo Ψ m Ψ∗m a densidade de probabilidade de encontrar o sistema no
estado m, pode-se ver que a probabilidade do sistema sofrer transição do estado
n para o estado m é dada por,
(1) 2 4 |H |
mn
2 sen2 [ 12 (ωmn ω )t]
−
|a |
m =
2 (ωmn ω )2 − . (A.9)
Como sabemos que a largura de linha de transi¸ cão não é nula, vamos
considerar que n e m são na realidade dois grupos de estados. Assim, a pro-
babilidade do sistema ser encontrado no grupo de estados m é,
+∞
sen2 [ 12 (ωmn ω )t]
−
(1) 2
|a | =
4
|H | 2
D(ωmn) dω mn , (A.10)
m mn
2 −∞ (ωmn ω )2−
onde D (ωmn) é a densidade de estados associada aos dois grupos de estados m
e n . Note que a fun¸cão de ω mn entre os colchetes tem valor t 2 /4 para ω mn = ω .
Quando ω mn se afasta de ω , ela oscila com uma amplitude decrescente devido
ao aumento do denominador. É fácil ver que a largura de linha desta função em
torno de ω mn = ω é da ordem de 2π/t. Então, após um tempo t relativamente
grande, a função entre os colchetes tem largura pequena na regi˜ ao ωmn
ω . Assim, a densidade de estados pode ser considerada aproximadamente
constante D (ωmn = ω ) nesta região, podendo ser retirada da integral. Usando
a integral definida +∞
sen2 (xt/2) πt
dx = , (A.11)
−∞ x2 2
obtemos
2
(1) 2 2π |H |
mn
|a |m =
2
D(ωmn = ω )t . (A.12)
Constantes Fı́sicas e
Tabela de Conversão de Energia
Constantes Fı́sicas
1
Hz cm eV J K Oe
Para converter o valor de uma grandeza expressa na unidade da coluna à esquerda, para a unidade corres-
pondente a uma das colunas, multiplique pelo valor da linha e coluna correspondentes.
∗
Calculado com γ = 2, 8 MHz/Oe
540 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Apêndice C
541
542 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
Coeficiente, D
de absorção, 294
de amortecimento, 293 DAC, 338
de difusão, 134, 154 Davisson, Germer e Thomson, 47
de Broglie, Louis, 46
extinção, 293, 314
De Forest, Lee, 2
Hall, 151
de Gennes, P., 4
Coletor, Defasador, 490
corrente de, 221 Densidade de estados, 105, 129, 526
de transistor, 219 Diamagnetismo, 389
Comprimento de, Difusão, equação da, 156, 160
coerência, 523 Diodo,
difusão, 160 de barreira de Schottky, 198
London, 522 de junção, 192
onda, 30 emissor de luz, 342
penetração, 300 equação do, 184
Comunicações ópticas, 372 Gunn, 207
túnel, 203, 204
Concentração de portadores, 126, 141
válvula, 2
Condutores, 99
varactor, 202, 203
Conservação de, Zener, 201, 202
carga, 155 Dipolo,
energia, 120 elétrico, 466
momentum, 121 magnético, 387
Constante dielétrica, 291, 305, 314 Disco óptico, 378
Contato ôhmico, 149, 190 Disco magnético, 426
Continuidade de carga, equação de, 155 Dispositivos eletro-ópticos, 489
Cooper, L.N., 4, 521 Dom´ınio,
Corrente cr´ıtica de, de dipolo, 209
magnéticos, 411
laser de semicondutor, 364 parede de, 412
supercondutor, 529
Dreno de JFET, 241
Corrente de,
Drude, modelo de, 299
condução, 110, 145
DVD, 378
deriva, 110, 145
difusão, 152, 154
escuro, 331 E
saturação de JFET, 246
saturação reversa, 185 Ebers-Moll, equações de, 235
Efeito,
Cristal, 14
elasto-óptico, 485
Cristal lı́quido, 20, 501
eletro-óptico, 484
mostrador de, 503 Faraday, 454
Cristal, crescimento de, 15 fotoelástico, 485
Curie, Pierre, 400, 473 fotoelétrico, 41
constante de, 399 Hall, 151
lei de, 398 Josephson, 528
temperatura de, 400, 479 Kerr magneto-óptico, 438
´Indice Anal´itico 543
Efeito, Fator,
Meissner, 517 de transporte da base, 222
pelicular, 300 giromagnético, 443
Stark, 484 Fermi,
túnel, 71, 527 nı́vel ou energia de, 99, 103, 105, 139
Zener, 200 superf´ıcie de, 106
Eficiência, velocidade de, 107, 114
de cabeça de gravação, 424 vetor de onda de, 106
de injeção do emissor, 223
Fermi-Dirac,
quântica, 324
distribuição de, 104
Einstein, 42
relação de, 158 Fermi-Dirac, distribuição
Ferrimagnetismo, 389, 408de, 103
ELD, 498
Eletrônica, 1 Ferrite, 408
Eletreto, 481 dispositivos de, 452
microfone de, 483 Ferromagnetismo, 389, 400
Eletroluminescência, 315, 494 Fibra óptica, 373
Emissão, Filme fino, 21
espontânea, 314, 348 Filtro de YIG, 456
estimulada, 349 Fı́sica da Matéria Condensada, 3
Emissor, Fı́sica do Estado Sólido, 3
comum, corrente de, 236, 238 Fluorescência, 494
corrente de, 220 Fluxóide, 518
de transistor, 219 Fluxo magnético, 387
Energia de, Fonte de JFET, 241
elétron, 46, 63, 94, 104, 110 Forma de linha, 305
fóton, 43
Lorentziana, 306, 311
Fermi, 99
Fônon, 51
impureza, 136
Fosforescência, 494
Epitaxia de,
fase lı́quida (LPE), 17 Fósforo, 495
feixe molecular (MBE), 22 Fóton, 43
Esaki, L., 4 Fotônica, 290, 377
Estado, Foto-resistor, 326
estacionário, 62 Fotocondutividade, 326
fundamental, 67, 76, 78 Fotocondutivo, modo, 331
Fotodetetor, 323
Fotodiodo, 330
F de avalanche, 335
Faixa proibida, 97 Fotoelétron, 41
Faraday, 385 Fotolitografia, 170
lei de, 434 Fotoluminescência, 315
rotação de, 449 Fototransistor, 335
Fator, Fotovoltaico, modo, 331
de amplificação, 223 Freqüência de plasma, 301
de Landé, 395 Função de onda, 48, 57
de transferência de corrente, 223 Função trabalho, 44, 187
544 Materiais e Dispositivos Eletrˆ onicos
G Inversão,
de população, 349
Gap, em capacitor MOS, 251
de energia, 100, 118 Isolador,
direto, 121 de ferrite, 453
indireto, 122 magneto-óptico, 454
Giaever, I., 4 Isolantes, 99
Gravação magnética, 425
cabeça de, 427 J
de áudio, 428
JFET, 241
de vı́deo, 429
digital, 429 Josephson,
Junção, B., 4, 528
materiais para, 435
de supercondutores, 526
Gravação magneto-óptica, 439
Josephson, 528
Gross, Bernard, 482 metal-semicondutor, 188
Gunn, J.B., 207 Junção p-n, 168
em equil´ıbrio, 175
H polarizada, 180
Hall, E.H., 151 K
Hartree, D.R., 84
Heeger, A., 4, 507 Kamerlingh Onnes, 514
Heisenberg, 45, 49, 56, 404 Kaptisa, P., 4
HEMT, 250 Kilby, Jack, 4, 272
Henry, 386 Kittel, 421
Hertz, 40 Kroemer, H., 4, 359
Heterojunção, 186
de semicondutor, 190
L
Homojunção, 186
Hund, regra de, 392 Largura de linha, 306, 448
Laser, 348
I a gás, 357
de argônio, 358
Ímã permanente, 386, 437 de CO 2 , 359
Implantação iônica, 135 de diodo semicondutor, 359
Impureza, 135, 139 de He-Ne, 358
aceitadora, 137 de heterojunções, 363
doadora, 137 de Nd-YAG, 354
Índice de refração, 30, 291 de po¸co quântico, 368
Índices de Miller, 9 de rubi, 353
Injeção de, de sólidos com impurezas, 353
buracos, 159, 181, 225 de Ti:safira, 356
elétrons, 158 Laughlin, R.B., 4
portadores, 158 LCD, 503
Interação de intercˆambio, 404 LDR, 326
Interação radiação-matéria, 290, 298 LED, 343
Interferômetro Mach-Zehnder, 491 orgânico, 513
´Indice Anal´itico 545