Startup e A Lei Do Investidor Anjo
Startup e A Lei Do Investidor Anjo
Startup e A Lei Do Investidor Anjo
RIO DE JANEIRO
Junho – 2018
João Paulo Cardoso Bittencourt
2
JOÃO PAULO CARDOSO BITTENCOURT
Banca Examinadora
________________________________________
________________________________________
________________________________________
3
RESUMO
O desafio proposto pelo presente artigo visa compreender a aplicação da nova lei do
investimento-anjo em relação ao novo modelo de negocio empresarial denominado
startup. A cultura de inovação presenteia o direito com inúmeras novas realidades
socias, que demonstram a progressão do homem, as quais desafiam tanto o
judiciário quanto o legislativo. Tendo em vista o crescimento desse modelo de
empresa, bem como dessa prática de mercado, o legislativo brasileiro começa a se
movimentar, desse modo implementando novas práticas já existentes na América do
norte e Europa, para regular juridicamente, e consequentemente dar proteção legal
e segurança jurídica, a todos os que vivem nesse ecossistema novo e abrangente
entre empresas e obtenção de valores iniciais. Na tentativa de exemplificar essa
problemática, abordamos de modo simples e preciso, primeiramente, o que seria
startup no mundo e no Brasil, logo em seguinte definimos as suas características de
empresa. Na terceira etapa da presente, trazemos a premissa de que toda empresa
precisa de crédito para iniciar suas atividades e com isso um investidor se faz
necessário. Neste trabalho falamos de diferentes tipos de investidores, porém
trazemos o enfoque para o investidor anjo, que é o tema do nosso trabalho, o qual
foi implementado com a promulgação da Lei Complementar 155 de 2016, a qual
alterou significativamente questões como o tributo do simples nacional, e inovou
trazendo em lei a prática do investidor anjo, tal atuação empresarial há muito tempo
já era praticada pelo mercado se tornando em um costume empresarial, sendo
abordada no último capítulo.
4
ABSTRACT
The objective of this work is to comprehend the application of the new angel-
investment law related to the new business shape called Startup. The innovation
culture gives the law many new opportunities with brand new social realities that
show off men’s progression such as challenges for both the judiciary and the
legislature. Moreover, with this business model’s growth as well as its market
experience at the moment, the Brazilian legislature begins to shake and
consequently, there’s an implement of new practices that already exist in North
America and Europe, to legally regulate it and after that provide legal protection and
security to those who live in this new and wide ecosystem, obtaining initial values. In
addition, as an attempt to exemplify this problem, firstly we approach in a simple and
precise way what would become the Startup in the world and in Brazil. Secondly, it is
possible to define its company’s characteristics. Thirdly, the presupposition that every
company needs credit to begin its activities makes an investor essential. In this
project we deal with different types of investors but the focus is on our theme, the
angel-investor, which was a method implemented with the enactment of the
Complementary Law 155 of 2016. This Law significantly addressed issues such as
the tribute of the simple national and brought the Law Angel Investor to practice and
such business performance has been, for a long time already, practiced by the
market becoming a business habit, discussed in the last chapter.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................7
1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E CONCEITUAL DAS STARTUPS NO
EXTERIOR E NO BRASIL...........................................................................................9
1.1 ORIGEM E POPULARIZAÇÃO DO TERMO STARTUP NO EXTERIOR E NO
BRASIL.........................................................................................................................9
1.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DE STARTUP.............................................12
2. A FIGUTA DA STARTUP NO DIREITO PÁTRIO..................................................13
2.1 DO CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DE EMPRESA E EMPRESÁRIO..........13
2.2 MODELOS SOCIETÁRIOS..................................................................................15
2.3 MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE...............................17
3. DOS INVESTIMENTOS E INVESTIDORES..........................................................18
3.1 DO ACESSO AO CRÉDITO................................................................................18
3.2 DOS DIVERSOS TIPOS DE INVESTIMENTO....................................................20
3.3 LINHAS DE CRÉDITO ESPECIAS PARA MICRO EMPRESAS, EMPRESAS DE
PEQUENO PORTE E STARTUPS ............................................................................24
4 DO INVESTIDOR ANJO.........................................................................................29
4.1 O QUE É INVESTIDOR ANJO?...........................................................................29
4.2 LEI COMPLEMENTAR 155/2016 EM RELAÇÃO AO INVESTIDOR ANJO........32
CONCLUSÃO............................................................................................................39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................40
6
INTRODUÇÃO
7
pesquisa é qualitativa, uma vez que buscamos entender e o nicho do investidor anjo
em relação a startup e o seu método científico foi o indutivo.
Portanto, como objetivo, o presente trabalho visa estudar as relações
existentes entre os institutos citados, dentro de um ambiente acadêmico, buscando
compreender, de algum modo, os elementos que os interconectam e contribuem
para o avanço de novos modelos de negócios empresarias e os investimentos que
contribuem para sua existência.
Logo, esta pesquisa justifica-se pelo aumento da prática do investimento anjo
em startups dentro do Brasil. Iniciando assim novos empreendimentos com modelos
contratuais diferentes pela diferença do investimento que é recebido.
8
1. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E CONCEITUAL DAS STARTUPS NO
EXTERIOR E BRASIL
1.1Origem e Popularização do Termo Startup no Exterior e no Brasil
Ao traduzirmos startup, literalmente, do inglês para o português encontramos a
expressão: empresa no começo. E foi no vale do silício 1, no estado da Califórnia,
nos Estados Unidos, onde o fenômeno denominado startup iniciou. Deste lugar
nasceram empresas hoje consolidadas no mercado, mas que já foram uma startup é
o caso do Google, da Apple Inc. ou do Facebook.
Segundo Spencer E. Ante vice chefe de escritório do New York Corporate
Bureau do Wall Street Journal.:
“startup é um fenômeno organizacional recente que surge no epicentro do
mercado contemporâneo de capital de risco, nascido em território norte-
2
americano no pós-Segunda Grande Guerra .”
Com o fim da segunda Guerra Mundial, na segunda metade do século XX,
pesquisas e tecnologias que vinham sendo desenvolvidas nas universidades e em
instituições governamentais para serem usadas no campo de batalha tiveram que se
adequar ao novo momento de paz.
Assim o que fazer com inovações como osciladores de rádio ou a arpanet 3? A
solução para tal embate foi a reciclagem do material em favor das pessoas, e não
mais para ter vantagem na guerra, através da fabricação de novos produtos e
serviços voltados para o mercado consumidor os quais pela inovação trouxeram
facilidades ainda não usufruídas para os seus usuários, assim progressivamente
passou a transformar o nosso modo de viver. E isso fica evidente, atualmente,
quando usamos aplicativos como UBER, que é uma famosa startup, conhecida em
todo o mundo que propõe facilidade de locomoção por preço mais barato.
Surge, a partir disto, novas oportunidades para investidores financiarem novos
projetos assumindo os riscos; pesquisadores, os quais fizeram de suas pesquisas
um negócio, com ideias inovadoras tirarem do papel e executarem lançando novos
produtos no mercado; empresários com sede de novos negócios empreenderem; e
1
Polo tecnológico que ficou assim conhecido por causa do metal usado nos processadores de
computador.
2
SPENCER, Ante E. Creative Capital: Georges Doriot and the Birth of Venture Capital. Harvard
Business Press, 2008.
3
Grande berço desenvolvedor da internet, desenvolvida pelo departamento de Defesa dos Estados
Unidos, foi a primeira rede operacional de computadores à base de comutação de pacotes .
9
até mesmo os Estados os quais fomentam e se beneficiam com novas tecnologias e
empreendimentos.
O termo startup foi mundialmente difundido com a Bolha da Internet, por volta
do ano de 1995, onde inúmeras empresas de Tecnologia da informação surgiram no
mercado internacional e levaram a maioria das bolsas internacionais à alta. Muitos
empreendedores com ideias inovadoras e promissoras, principalmente associadas à
tecnologia, encontraram financiamento para os seus projetos, que se mostraram
extremamente lucrativos e sustentáveis.
No Brasil, encontramos as primeiras Startups surgindo por volta de 1998,
durante a bolha da Internet global, mas depois da explosão poucos
empreendimentos continuaram de portas abertas, desde então quase não houve
movimentação no setor. Até que em 2009 a startup buscapé foi vendida para a
empresa Naspers4 atraindo olhares de investidores nacionais e estrangeiros,
dispostos a financiar empreendedores iniciantes em nosso solo. Esta operação
marcou o início de um novo olhar de interesse por Startups em todo o Brasil, o que
contribuiu para outros casos de sucesso5.
O conceito de startup passou a ser difundido no Brasil em 2011 6 e assim
viramos um estado em formação para as startups tendo em vista que mesmo com a
crise no setor econômico o empreendedorismo continua crescendo na forma de
startup. Segundo dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), que
representa as companhias do setor, em 2012, a entidade reunia 2.519 startups de
todo o país. Em 2016, esse número saltou para 4.273 empresas7.
Pesquisas concretas correlacionadas ao tema são escassas, porém um estudo
apontou que entre junho de 2014 e junho de 2015 as startups estruturadas no
mercado brasileiro movimentaram financeiramente R$ 784 milhões. O montante
representa crescimento de 14% a mais que o igual período de 2013 e 2014. Vale
4
CRUZ, Renato. O estadão de S. Paulo. 2009. Naspers compra o site buscapé. Disponível
em.<http://www.estadao.com.br/noticias/geral,naspers-compra-o-site-buscape,443208>
5
COZZI, Afonso (Coord.). Empreendedorismo de Base Tecnológica. Spin-off: criação de novos
negócios a partirde empresas constituídas, universidades e centros de pesquisa. Rio de Janeiro: Elsevier,
2008.
6
ECONÔMICO, Brasil. Startup: entenda o conceito e saiba como funciona o investimento. 2017.
Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2016-06-30/startup-conceito.html>
7
SCALZATETTO, Natália. Época negócios. Ecossistema para startups se fortalece no Brasil, mas
obstáculos permanecem. 2017. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2>
10
ressaltar que o crescimento ocorreu no período conturbado na economia e política
brasileira8.
Percebe-se, então, uma mudança de cultura em relação ao
empreendedorismo. Onde o início de um empreendimento, geralmente, se dava não
por uma oportunidade, mas sim por uma necessidade de alguém que estava sem
emprego, agora a ordem se inverte e passa-se a empreender não por falta de
opção, mas por oportunidade.
A última pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), publicada no
Brasil pelo Sebrae nos diz: empreendedores por necessidade decidem empreender
por não possuírem melhores alternativas de emprego, propondo-se criar um negócio
que gere rendimentos, visando basicamente a sua subsistência e de seus familiares.
No que concerne aos empreendedores por oportunidade, o GEM define-os como
capazes de identificarem uma chance de negócio ou nicho de mercado,
empreendendo mesmo possuindo alternativas concorrentes de emprego e renda9.
A mesma organização vai além e detalha: “No Brasil, o ano de 2016
apresentou uma melhora sutil se comparado a 2015 (56,5%), com o valor de 57,4%.
Portanto, a cada 100 empreendedores, 57 empreendem por oportunidade já a
proporção de empreendedores nascentes por necessidade diminuiu de 36% em
2015, para 25% em 201610.”
Apesar do crescimento empreendedor entre as startups no Brasil, de acordo
com a Fundação Dom Cabral11, a maioria delas chega a falência bem rápido.
Segundo números da instituição 25% das startups morrem com um tempo maior ou
igual a 1 ano e 50% morrem com um tempo maior ou igual a quatro anos.
Isso se deve a alguns fatores dentre eles a dificuldade de abrir empresas, obter
crédito, carga tributária pesada, conseguir alvará de funcionamento e etc. Porém o
que a pesquisa feita enfatiza como causa maior de mortandade é: “no momento da
sua concepção: o número de sócios envolvidos, o volume de capital que irá investir
8
ECONÔMICO, Brasil. Startup: entenda o conceito e saiba como funciona o investimento.2017.
Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2016-06-30/startup-conceito.html>
9
Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil : 2016 \ Coordenação de Simara Maria
de Souza Silveira Greco; diversos autores -- Curitiba: IBQP, 2017. Disponível em:
<http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/9040088db11a/7592.pdf>
10
Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil : 2016 \ Coordenação de Simara
Maria de Souza Silveira Greco; diversos autores -- Curitiba: IBQP, 2017. Disponível em:
<http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsfdd04262802/$File/7592.pdf>
11
ARRUDA, Carlos; NOGUEIRA, Vanessa; COZZI, Afonso; COSTA, Vinícius . Causas da mortalidade
das Startups brasileiras. O que fazer para aumentar as chances de sobrevivência no mercado?.Fundação
Dom Cabral. 2014. Disponível em: <https://www.fdc.org.br/blogespacodialogo/Documents/2014/causas_mortali>.
11
e o local onde terá sua empresa instalada no início de suas operações12.” Outro fator
determinante para a falência ou até mesmo a desistência em abrir o
empreendimento é o acumulo de burocracia para se começar um negócio no Brasil,
que demora 83 dias e necessita de 11 procedimentos distintos.
12
ARRUDA, Carlos; NOGUEIRA, Vanessa; COZZI, Afonso; COSTA, Vinícius. Causas da mortalidade
das Startups brasileiras. O que fazer para aumentar as chances de sobrevivência no mercado?.Fundação
Dom Cabral. 2014. Disponível em: <https://www.fdc.org.br/blogespacodialogo/Documents/2014/causas_mortali>.
13
GRAHAM, Paul. STARTUP = GROWTH. Disponível em: <http://www.paulgraham.com/growth.html>
14
O Que É uma Startup? Disponível em <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/o-que-
e-umastartup,616913074c0a3410VgnVCM1000003b74010aRCRD >.
15
RIES, Eric. Whatis a startup? Disponível em: < http://www.startuplessonslearned.com/2010/06/what-
is-startup.html >.
12
de software, hardware e serviços de TI como parte da solução
proposta16.”
Destrinchando os conceitos apresentados de startup ressalta-se que fora a
característica de ser escalável todas as outras apresentam divergências de opiniões.
Porém, com o estudo do tema percebe-se que para a maioria das autoridades
atuantes na matéria startup não está relacionada com o tempo de criação podendo
uma empresa com mais de cinco anos de idade continuar na mesma classificação,
embora Natalie Robehmed17 ateste em seu artigo “What is a startup?18”, publicado
na Forbes, que uma startup só pode ter até no máximo 3 anos, também não
necessariamente deve investir no setor tecnológico para adquirir tal característica.
A empresa precisa, para ser conceituada como startup, ser: escalável, ou seja,
atingir o crescimento rapidamente, tendo como objeto ideias inovadoras as quais
são colocadas em prática, não são apenas sonhos, capazes de preencher lacunas
existentes nos diferentes setores de prestação de serviços, comércio e os demais,
desenvolvida sob condições de risco tendo dois caminhos bem definidos ou rápida
prosperidade ou a falência e deve possuir uma filosofia diferente, uma cultura que
propicia um ambiente de trabalho agradável onde o lema é funcionários satisfeitos,
geram clientes satisfeitos, assim a empresa gera mais receita.
16
BRASIL. Programa Start-Up Brasil anuncia o lançamento de novos editais. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2014/05/programa-start-up-brasil-anuncia-o-lancamento-denovos-
editais-1>
17
Escritora da revista americana Forbes.
18
Robehmed, Natalie. 2013. Whatis a startup?. Disponível em:
<https://www.forbes.com/sites/natalierobehmed/2013/12/16/what-is-a-startup/#5c3af3e04044>.
19
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: editora Saraiva. 2010. 14º edição.
13
“[...]. É a empresa – e não o tipo de ato praticado pelo empresário – que dá
característica ao direito de Empresa. Dessa forma, submete-se ao regime
do Direito de empresa: toda atividade econômica, negocial, que se
apresente sob a forma de uma organização voltada para a produção ou
20
circulação de bens e serviços [...].”
O direito pátrio positivou o conceito de empresa no artigo 966 do código civil e
é neste que os doutrinadores apresentados acima embasam os seus dizeres, e este
na íntegra:
art. 966: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
21
serviços
Desse modo, Empresa é caracterizada por ser: atividade econômica, conjunto
de atos com o interesse de obter vantagem econômica (lucro); praticada de modo
organizado: estruturado entre pessoas e atividades a serem desenvolvidas,
escalonado entre os indivíduos; para a produção e/ou circulação de bens: o
instrumental ligado a realização da atividade, quando nos referimos a bens pode ser
tanto os materiais (coisa), quanto os imateriais como o direito das patentes, ou da
marca e etc.
Em resumo empresa é a atividade econômica organizada profissional para a
produção ou a circulação de bens ou serviços. Ressalta-se que a atividade, ainda
que tenha por objetivo venda de bens, mas que não tenha a intenção do lucro não
pode ser considerada como empresa, destaca-se aqui, como exemplo, os trabalhos
como bazar de igreja onde a intenção não é o lucro, a obtenção da vantagem
econômica propriamente dita.
Outra observação importante e se faz necessária são para os trabalhadores
autônomos, uma vez que estes não possuem os requisitos completos de modo a
caracterizar atividade de empresa pois pecam no sentido de não ter uma estrutura
organizada, com fins lucrativos e de prática reiterada, habitual da atividade. Por
outro lado, destaca-se que o empresário individual que trabalha sozinho, que é o
caso de muitos brasileiros donos da própria banca de jornal, pipoqueira, empadinhas
entre outros, possuem todos os requisitos para ser considerado como empresa,
pois, ainda que só, exercem atividade profissional, de modo reiterado, organizado e
20
GLADSTON, Mamede. Direito empresarial brasileiro: Empresa e atuação empresarial. São Paulo:
editora Atlas, 2010, 4º edição.
21
BRASIL. Leinº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Instituição do código civil. Disponível em:
<em.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>.
14
com a intenção de comercializar seus bens ou serviços obtendo lucro, se assim não
fosse o direito empresarial estaria enfadado a apenas regulamentar as empresas de
maiores dimensões, excluindo aqueles que de maneira pequena atuam com todos
os requisitos exigidos por lei preenchidos.
Após definido o que vem a ser empresa, fica a dúvida de quem seria então o
empresário? Empresário, é quem desenvolve atividade econômica organizada para
a produção ou circulação de bens ou serviços, é quem comanda a empresa.
Gladston Mamede conceitua a questão de maneira cirúrgica ao dizer que:
“[...]. É empresário, portanto, aquele que empreende, isto é, aquele que da
existência a empresa22[...].”
Empresário é aquele que assume a empresa, é o sujeito de direito, é quem
toma as decisões e a administra, é o seu titular, aquele que responde por ela.
Este pode ser tanto pessoa física, que exerce a atividade de maneira
individual, solitária; quanto uma pessoa jurídica, onde a atividade é exercida em
coletivo através da sociedade empresária composta por sócios os quais detêm as
quotas sociais ou ações a depender do tipo societário. Ressalta-se que os sócios, ao
contrário do senso comum, não são empresários, empresário é o titular da empresa
e, no caso, a sociedade empresária, conforme o artigo 982 do código civil 23.
22
GLADSTON, Mamede. Direito empresarial brasileiro: Empresa e atuação empresarial. São Paulo:
editora Atlas, 2010, 4º edição.
23
BRASIL. LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Instituição do código civil. Disponível em:
<.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>
24
Laboratório de Empresas Nascentes de Tecnologia da FGV
15
“Um ponto importante de ser ressaltado é que o sistema brasileiro não
oferece um tipo societário que se adeque a uma empresa que tem potencial
25
de crescimento rápido, mas ainda é pequena. ”.
Uma vez que a startup nasce com o objetivo de ser escalonada, ou seja,
crescer de modo rápido ao longo de sua existência o tipo societário acabará,
necessariamente, se alterando para um melhor enquadramento no ordenamento
jurídico, ou melhor funcionamento da mesma.
Começando pela EIRELI, que é indicada para iniciantes os quais não tem
sócios, nela o empreendedor poderá reger sua empresa individualmente, pois ele é
o único sócio da sociedade e detêm em suas mãos todo o capital social. Neste
molde, o patrimônio pessoal do empreendedor não se confunde com o de sua
empresa, uma vez que há separação entre os dois, consequentemente a
responsabilidade do empresário será limitada. Não há limite de faturamento mensal,
porém para a sua constituição a lei obriga que o capital social seja de, no mínimo,
100 (cem) vezes o salário mínimo vigente no país e deve ser totalmente
integralizado de fato, o que poderá ser um entrave. O titular deverá ser
obrigatoriamente pessoa física e não poderá possuir outra EIRELI.
A sociedade limitada é indicada para empreendedores que possuem sócios ou
receberão investimentos de terceiros e para realizar o pagamento do investido os
constituem sócios o que acarreta em recebimento de porcentagem do lucro obtido
no limite de sua quota neste segundo caso necessário é a ressalva de que mesmo
com quota social minoritária o investidor adquire direitos, mas também
responsabilidades. Os sócios serão responsabilizados no limite de suas quotas
sociais, mas respondem solidariamente na integração do capital social. Possui
personalidade jurídica e necessariamente deverá ter contrato social o qual define o
regramento geral entre os sócios como responsabilidades, proporção de quotas e
outras coisas mais, tal contrato deve ser registrado na junta comercial.
A sociedade anônima foi a primeira a ser positivada com a promulgação da lei
nº 6404 de 1976, trata-se de uma lei especial que detalha o regime jurídico a ser
seguido, mais complexa e custosa que os outros modelos, chama a atenção por
abrir um leque de opões maior quando o assunto é captação de recursos, uma vez
que admite a emissão de debêntures (o debenturista é uma espécie de credor da
25
De acordo com KALENA, Fernanda. Apud DA SILVA, Alexandre Pacheco. FGV CRIA
LABORATÓRIO DE NOVAS EMPRESAS DE TECNOLOGIA. Disponível em: <http://porvir.org/fgv-cria-
laboratorio-de-novas-empresas-de-tecnologia/20141112/>.
16
sociedade) e a abertura de capital acarretando na venda de ações na bolsa de
valores mobiliários. O Estatuto Social que pode ser constituído por instrumento
público ou privado, com ressalvas as previsões legais, é obrigatório e determinará
de modo preciso e completo a atividade e funcionamento da empresa. A
responsabilidade dos sócios será limitada e a divisão do capital em ações e não em
quotas.
A Sociedade em Conta de Participação tem o atrativo de funcionar como se
fosse um contrato de investimento, pois possibilita dois tipos de sócios o oculto e o
ostensivo, o primeiro, em regra, faz parte da sociedade para compor o capital social
e não aparece em relação a terceiros, não se obriga, não tem responsabilidades,
mas participa dos lucros e prejuízos, já o segundo é quem realiza a atividade
econômica, quem administra a empresa e é visto, assim é ele quem responde.
Desse modo a sociedade não tem personalidade jurídica e o contrato não é obrigado
a ser registrado existindo apenas entre os sócios. O empreendedor se beneficia
neste caso por adquirir investimento em sua empresa sem que o investidor se torne
de fato um sócio e tenha o poder de administrar a empresa ao seu lado
26
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
17
De acordo com a lei complementar em seu artigo 3º27, inciso I28, microempresa
é a empresa que possui faturamento bruto anual de até R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais). Continuando na lei especial em seu artigo 3º, inciso II29,
empresa de pequeno porte é aquela que tem o faturamento bruto anual superior a
R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) até o limite de R$ 4.800.000,0
(quatro milhões e oitocentos mil reais).
34
Sebrae Minas Gerais .Dicas de acesso ao crédito para pequenos negócios. 2017. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mg/artigos/dicas-de-acesso-ao-credito-para-pequenos-
negocios,d8dca4ce176b7410VgnVCM1000003b74010aRCRD>
35
Sebrae Minas Gerais .Dicas de acesso ao crédito para pequenos negócios. 2017. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mg/artigos/dicas-de-acesso-ao-credito-para-pequenos-
negocios,d8dca4ce176b7410VgnVCM1000003b74010aRCRD>
20
O sócio de acordo com Eduardo Goulart Pimenta36 está caracterizado quando:
“[...] . cada um deles integraliza suas respectivas quotas ou ações e, assim, se tem
constituído o capital social37[...]”, já o credor: “[...].está na contratação de
empréstimos – de curto, médio ou longo prazos para pagamento – no denominado
mercado financeiro, composto essencialmente, no polo credor, por instituições
bancárias38 [...].”
As duas formas têm diferentes tipos de custos e benefícios a serem
consideradas pelo empreendedor e este deve analisar minuciosamente o que será
mais benéfico para sua empresa. O primeiro, segundo o citado autor, se entrelaça
com: “[...] A captação de recursos através do lançamento de novas ações ou quotas
– e, em consequência, admissão de novos sócios – implica em alteração da
estrutura de controle e poder sobre a sociedade. A entrada de novos integrantes
modifica o percentual da participação de todos no capital social e, em virtude disso,
altera o exercício de certos direitos de sócio, principalmente no que diz respeito ao
percentual de cada nos lucros e nas deliberações sociais39[...].”. Já o segundo se
relaciona com: “[...]. A busca por dinheiro através de empréstimos contraídos no
mercado bancário impõe à sociedade/mutuária os encargos – essencialmente
constituídos por juros, correção monetária e garantias – exigidas, pelos bancos, para
a realização do contrato. O custo direto da captação de recursos no mercado
bancário está, por óbvio, nos encargos financeiros atrelados ao contrato40 [...].”.
Passado esta questão entramos na análise dos diversos tipos de investimento,
começando com os mais tradicionais: o empréstimo ou o financiamento. A grosso
modo, o empréstimo é conceituado por ser como uma compra de dinheiro. Ao fazer
um empréstimo em uma instituição financeira, o empreendedor compra uma quantia
de dinheiro que será devolvido com juros após um período. Nessa operação, o
banco lucra em dar o dinheiro que você necessita no presente, recebendo um valor
superior futuramente.
36
Autor do segundo capítulo do livro legal talk’s: startups à luz do direito brasileiro. Porto Alegre, Rs:
Editora FI. 2017.
37
BARBOSA, Anna Fonseca Martins; PIMENTA, Eduardo Goulart; FONSECA, Maurício Leopoldino da.
(Orgs.). Legal Talks: Startups à luz do direito brasileiro. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017.
38
BARBOSA, Anna Fonseca Martins; PIMENTA, Eduardo Goulart; FONSECA, Maurício Leopoldino da.
(Orgs.). Legal Talks: Startups à luz do direito brasileiro. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017
39
BARBOSA, Anna Fonseca Martins; PIMENTA, Eduardo Goulart; FONSECA, Maurício Leopoldino da.
(Orgs.). Legal Talks: Startups à luz do direito brasileiro. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017
40
BARBOSA, Anna Fonseca Martins; PIMENTA, Eduardo Goulart; FONSECA, Maurício Leopoldino da.
(Orgs.). Legal Talks: Startups à luz do direito brasileiro. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017
21
As duas principais características de um empréstimo são, primeiramente, que a
instituição financeira não sabe onde você utilizará o dinheiro e, quase sempre, não
há nenhum bem envolvido como garantia financeira. Aqui o único mecanismo de
segurança é um contrato celebrado entre você e o banco. Diferencia-se do
financiamento, pois esse é uma compra parcelada de um produto ou serviço certo,
tratar-se de uma ajuda para o pagamento de um bem ou serviço, e não somente um
montante pego emprestado sem nenhuma finalidade41, de acordo com o especialista
Edson Canal Girardi.
Existem várias formas de financiamento que são classificadas conforme o
prazo de vencimento: financiamento de curto prazo (o vencimento é inferior a um
ano, crédito bancário, linha de desconto, financiamento espontâneo) e financiamento
de longo prazo (o vencimento é superior a um ano, ampliações de capital,
autofinanciamentos, empréstimos bancários, emissão de títulos); segundo a
procedência: interna (fundos que a empresa produz através de sua atividade e que
são reinvestidos na própria empresa) ou externa (procedem de investidores, sócios
ou credores); segundo os proprietários: alheios (fazem parte do passivo circulante,
que em algum momento devem ser devolvidos, pois possuem data de vencimento,
créditos, emissão de títulos) ou próprios (não tem vencimento).
O “Love Capital” já mencionado neste trabalho consiste em amigos ou
familiares os quais investiram no negócio. A relação presente é personalíssima com
o empreendedor, este capital apesar de ser pouco mencionado é a turbina
propulsora de inúmeras startups, tendo em vista que os investidores do mercado
para controlar seus prejuízos não apóiam investimentos a quem tem idéias de risco
sem o comprovado sucesso. Assim resta ao futuro empresário pedir ajuda aqueles
que são mais próximos.
Temos também como forma de investimento em uma empresa o credor
individual, que é aquele que empresta dinheiro seu ao empreendedor e em troca
contrai crédito para com o empreendedor e este débito para com aquele, tudo isto
posto em contrato que deverá ser formalizado em cartório para uma maior proteção,
segurança jurídica. Esse tipo de investimento se assemelha ao Love capital, mas
41
Info escola. Financiamento. Disponível em: <https://www.infoescola.com/economia/financiamento/>
22
como contraponto inexiste relação pessoal com o investidor, o credor aposta no
empreendedor com a única intenção de lucro.
As Aceleradoras, segundo o site especialista na matéria Endeavor 42, São
fundos que trabalham com startups no momento da identificação da oportunidade de
negócio. Elas apóiam os empreendedores com capital inicial e também com gestão,
para que o negócio saia do papel. Para conseguir isso, as aceleradoras trabalham
muito com programas intensivos, que costumam durar em média 6 meses, ajudando
a estruturar, testar e acelerar o crescimento do seu negócio.
Apesar de, em geral, a faixa de investimento ser a mais baixa entre os capitais
de risco, as empresas buscam as aceleradoras principalmente pela vantagem de se
estar em um ambiente que possibilita a troca de conhecimento através do contato
com outras empresas que também estão começando. Se a sua empresa está neste
estágio, buscar uma aceleradora pode ser uma boa opção43.
As Incubadoras, segundo o site StartSe44, representam um modelo mais
tradicional de investimento a partir de um projeto ou uma empresa que tem como
objetivo a criação ou o desenvolvimento de pequenas empresas ou microempresas,
apoiando-as nas primeiras etapas de suas vidas. O processo de incubação inclui
ajuda com a modelagem básica do negócio, ajuda com técnicas de apresentação e
acesso a recursos de ensino superior, entre outros45.
O Venture Capital, segundo a Endeavor, apóia empresas de pequeno e médio
porte já estabelecidas e com potencial de crescimento. Com duração média de 5 a 7
anos, os recursos investidos financiam as primeiras expansões, levando o negócio a
novos patamares no mercado.
Há dois tipos de VCs: O VC early stage (estágio inicial) e VC later stage
(estágio final). O primeiro apóia empresas com até 4 anos de operação e
faturamento não superior a R$9 milhões. Já o VC later stage entra quando a
empresa já atingiu a fase de comercialização plena do produto e a sua rápida
expansão requer mais recursos. Além disso, esses dois tipos também trazem, em
42
Organização global sem fins lucrativos com a missão de multiplicar o poder de transformação do
empreendedor brasileiro.
43
Endeavor Brasil. Qual o melhor tipo de investimento para minha empresa. 2014 Disponível em:
<https://endeavor.org.br/qual-o-melhor-tipo-de-investimento-para-minha-empresa/>
44
Empresa que integra e agência startups no Brasil. Provendo tecnologias e serviços para informar,
educar e conectar as pessoas, para assim estarem preparadas a desenvolver e realizar negócios da Nova
Economia.
45
Redação StartSe. Conheça os tipos de investimento para startups. 2017. Disponível em:
<https://conteudo.startse.com.br/investidores/redacao/conheca-os-tipos-de-investimento-para-startups/>
23
geral, diferentes valores de capital investido, bem como buscam uma porcentagem
de participação média de diferentes faixas.
Assim, empresas investidas por VCs buscam principalmente apoio para ampliar
networking e conhecimento nos desafios de crescimento do negócio, como
planejamento de expansão (local e internacional), fusões e aquisições, etc46.
E por último temos o Private Equity (capital privado). O qual entra em cena
mais tarde na vida de uma empresa. Geralmente quando ela já está no mercado há
mais de 5 anos e consegue alcançar faturamentos anuais na casa das dezenas ou
centenas de milhões de reais. Por se tratar de investimentos altos – em média,
superior a R$30 milhões – o fundo também costuma tornar-se sócio majoritário do
empreendimento e até a indicar alguns diretores.
Há dois tipos de segmentos de private equity: o tradicional e o private equity
growth. No primeiro, o capital é destinado a alterações financeiras, operacionais ou
estratégicas, visando a um novo posicionamento da empresa no mercado aberto. Já
no private equity growth, o investimento é destinado à expansão da planta e/ou rede
de distribuição, capital de giro ou ainda para ser investido em comunicação,
marketing, etc47.
46
Endeavor Brasil. Qual o melhor tipo de investimento para minha empresa. 2014
Disponível em: <https://endeavor.org.br/qual-o-melhor-tipo-de-investimento-para-minha-empresa/>
47
Endeavor Brasil. Qual o melhor tipo de investimento para minha empresa. 2014
Disponível em: <https://endeavor.org.br/qual-o-melhor-tipo-de-investimento-para-minha-empresa/>
48
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
49
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
24
égide do Direito Privado[...].” trata-se de entidade dotada de personalidade jurídica
de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criada para a
exploração de atividade econômica, estando baseada na Carta Magna do país no
artigo 17352, preenchendo o requisito do relevante interesse coletivo. Tratando ainda
das empresas públicas seu foro processual, em regra, na Justiça Federal e a sua
forma jurídica pode ser qualquer uma legalmente admitida.
Fundado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
é um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo e, hoje, o principal
instrumento do Governo Federal para o financiamento de longo prazo e investimento
em todos os segmentos da economia brasileira53. Criado no governo de Juscelino
Kubitschek, em 20 de junho de 1952, pela lei no 1.628 sob o nome de Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE, com o objetivo de ser o órgão
máximo, formulador e executar da política nacional de desenvolvimento econômico.
Em 1971, tornou-se uma empresa pública, mudança essa que possibilitou além de
uma maior flexibilidade para contratação e operações de aplicação e captação de
recursos, uma maior autonomia política.
O apoio do BNDES ocorre por meio de financiamento a investimentos,
subscrição de valores mobiliários, prestação de garantia e concessão de recursos
não reembolsáveis a projetos de caráter social, cultural e tecnológico. O Banco atua
por meio de produtos, programas e fundos, conforme a modalidade e a
característica das operações.
Por ser uma empresa pública e não um banco comercial, o BNDES avalia a
concessão do apoio com foco no impacto socioambiental e econômico no Brasil.
Incentivar a inovação, o desenvolvimento regional e o desenvolvimento
54
socioambiental são prioridades para a instituição .
A Classificação de porte dos clientes permite uma atuação adequada às
características de cada segmento, através da oferta de linhas, programas e
50
O artigo na integra: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte
51
O inciso na integra: XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar,
neste último caso, definir as áreas de sua atuação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
52
O artigo na integra: Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei .
53
BNDES. Quem Somos. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/quem-somos>
54
BNDES. Quem Somos. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/quem-somos>
25
condições específicas. O apoio às micro, pequenas e médias empresas, por
exemplo, é considerado prioritário pelo BNDES, oferecendo condições especiais
com o intuito principal de facilitar o acesso destas empresas ao crédito.
A classificação de porte é realizada conforme a Receita Operacional Bruta
(ROB) das empresas ou conforme a renda anual de clientes pessoas físicas55.
A tabela56 abaixo, definida pelo faturamento bruto anual, facilita a visualização
e demonstra como a empresa se baseia para a distinção entre os portes de
empresa.
55
BNDES. Quem pode ser cliente. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/fina>
56
BNDES. Quem pode ser cliente. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/fina>
26
no volume de crédito ofertado pelo sistema bancário, que opera as linhas de crédito
disponibilizadas pelo BNDES57.
O BNDES vem desenvolvendo ações para simplificar, agilizar e ampliar o
acesso ao crédito das micro e pequenas empresas. Entre as diversas iniciativas
desenvolvidas, destaca-se o lançamento, em junho de 2017, do Canal do
Desenvolvedor MPME. Por meio dele, já foram realizadas mais de 25 mil
solicitações de financiamento, com efeito multiplicador de mais de 54 mil propostas
remetidas aos agentes financeiros repassadores. A maior parte do público que
acessa a ferramenta (95%) é formada por micro e pequenas empresários,
majoritariamente do setor de comércio e serviços58.
Em sua maioria, as linhas de financiamento do BNDES apresentam prazo de
pagamento longo, no geral, formado de um período de carência em que o financiado
paga apenas a taxa de juros sobre o montante total seguido do período de
amortização em que é pago o valor do empréstimo acrescido dos juros do período,
apresentam também, uma taxa de juros abaixo do preço de mercado, geralmente a
Taxa de longo prazo (TLP)59, a qual entrou em vigor esse ano, somado a um spread
(taxa na qual o BNDES se remunera), em casos financiamentos indiretos, existe o
spread da instituição financeira (Remuneração da Instituição Financeira
Credenciada).
Em 2018 o banco anunciou a implementação de novas condições de
financiamento contendo mudanças como: alongamento dos prazos máximos de
financiamento, cálculo dos limites de participação atrelados ao investimento total e
redução do spread básico. A diminuição dos spreads terá foco nos setores
prioritários, definidos a partir do processo de Reflexão Estratégica que está em curso
no Banco.
Assim, as taxas cobradas pelo BNDES cairão de 1,7% ao ano para 0,9% a.a
em projetos nas áreas de segurança pública, inovação, meio ambiente, energia
solar, saneamento, tratamento de resíduos sólidos e qualificação profissional. Nos
57
BNDES. Acordo entre Sebrae e Bndes amplia acesso ao crédito para micro e pequenos
empreendedores. 2018. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/cont
58
BNDES. Acordo entre Sebrae e Bndes amplia acesso ao crédito para micro e pequenos
empreendedores. 2018. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/cont>
59
BNDES. Bndes anuncia novas condições de financiamento e define áreas prioritárias para o
desenvolvimento. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/conteudo/>
27
demais casos, os spreads podem chegar a até 2,1% a.a, com faixas intermediárias
de 1,3% a.a. e 1,7% a.a60.
Outra mudança relevante é o alongamento dos limites para estabelecimento de
prazos, tanto de carência quanto de amortização, que irá beneficiar, sobretudo, os
financiamentos a projetos de infraestrutura. Investimentos em ferrovias, rodovias,
hidrovias e mobilidade urbana poderão ter prazos de até 34 anos.
Há outras três faixas de prazo as quais podem chegar a até 24 anos, como
projetos de energias alternativas, portos, aeroportos, exportação e desenvolvimento
regional. Financiamentos a educação, saúde, segurança e telecomunicações, entre
outros, têm prazo de até 20 anos. Para capital de giro, o prazo máximo foi mantido
em 5 anos61.
No que diz respeito às linhas de crédito para MPEs, destacam-se o BNDES
Finame62 o qual financia a produção e aquisição de máquinas e equipamentos
nacionais credenciados no BNDES.
No que diz respeito ao capital de giro e investimentos como obras civis,
aquisição de máquinas e equipamentos novos ou usados, compra de insumos e
materiais, para microempreendedores, existe o programa de microcrédito do BNDES
para microempresas dispondo de financiamentos de até R$ 20 mil tanto para os
formais quanto para os informais63.
Como produto diferenciado, o BNDES apresenta ainda uma importante
modalidade de crédito rotativo exclusivo para Micro, pequenas e medias empresas,
Microempreendedores individuais, sindicatos e associações, o Cartão BNDES, que é
uma forma mais simples e rápida para conseguir financiamento, uma vez que
consiste em ser o crédito pré-aprovado para aquisição de bens e serviços
credenciados no portal de operações do cartão BNDES64. O empreendedor no uso
de seu cartão poderá financiar a aquisição de máquinas, equipamentos, bens de
produção, insumos, serviços entre outros.
60
BNDES. Bndes anuncia novas condições de financiamento e define áreas prioritárias para o
desenvolvimento. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/conteudo/>
61
BNDES. Bndes anuncia novas condições de financiamento e define áreas prioritárias para o
desenvolvimento. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/conteudo/>
62
BNDES. Como obter financiamento Finame. Disponível em:
<https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/finame/como-obter-inanciamento-finame/como-o>
63
BNDES. Microcredito empreendedor. Disponível em:
<https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/produto/bndes-microcredito-empreendedor>
64
BNDES. Cartão BNDES. Disponível em:
<https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/produto/cartao-bndes/!ut/p/z1/>
28
Essa linha merece um destaque especial por ser a única opção de crédito
rotativo e pré-aprovado do banco, assim, ao ter o crédito aprovado pela primeira vez,
o valor aprovado ficará sempre disponível para compra de equipamentos, desde que
não ultrapasse o limite pré-estabelecido. Os itens que podem ser adquiridos devem
estar cadastrados no BNDES, dessa forma o BNDES tem o papel de intermediar e
garantir a compra. Outro importante diferencial do Cartão BNDES é o fato de que,
além de proporcionar crédito imediato para as empresas, possibilita que as mesmas
empresas disponibilizem os seus produtos para comercialização, estimulando as
trocas.
Para finalizar as linhas de créditos disponibilizadas pela empresa, abordaremos
aquela que é específica para as startups. De acordo com a notícia publicada pelo
site do g1, o BNDES disponibilizou R$ 100 milhões de reais para investir em startups
brasileiras com alto potencial de crescimento. A instituição informa que o Fundo de
Coinvestimento Anjo contará com R$ 40 milhões do seu braço de participações
societárias, o BNDESPAR, e que os demais recursos serão levantados com outros
investidores.
Segundo a empresa, o alvo do projeto são startups com receita líquida anual
de até R$ 1 milhão e que atuem, principalmente, nos setores de agronegócio,
biotecnologia, cidades inteligentes, economia criativa, nanotecnologia, novos
materiais, saúde e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)65.
O fundo poderá investir até R$ 500 mil nessas empresas, desde que haja
investimento conjunto, na mesma proporção, de um investidor-anjo ou aceleradora,
esclareceu o banco em seu site.
4 DO INVESTIDOR ANJO
4.1 O que é um investidor anjo?
Por ser recente a nomenclatura, bem como a prática de um investidor anjo
existem pequenas contrariedades em conceitos fechados em relação ao tema. Para
Cristian Welsh Miguens66:
“o investimento anjo é uma forma de financiamento de startups feito
por pessoas físicas. Em geral, esses investidores são ex-executivos que
65
Reuters. BNDES lança fundo de R$ 100 milhões para investir em startups brasileiras. 2017
Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/pme/noticia/bndes-lanca-fundo-de-r100-milhoes-para-investir-
em-startups-brasileiras.ghtml>
66
Especialista em startups
29
reservam uma parte de suas economias para incentivar e apoiar o
empreendedorismo.
Portanto, a sua ação não se limita ao financiamento, mas também
envolve um acompanhamento da evolução do negócio e uma mentoria aos
empreendedores.
Em geral, os investidores anjos tornam-se sócios da startup durante o
tempo em que dure a sua ação, revendendo a sua participação para os
sócios originais após o empreendimento atingir um certo grau de
67
maturidade ”.
Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil, nos relata não apenas o conceito,
mas como e onde este veio a surgir:
“O termo “Investidor-Anjo”, originalmente Angel Investor ou Business
Angel, foi cunhado nos Estados Unidos, no início do século 20, para
designar os investidores que bancavam os custos de produção das peças
da Broadway, assumindo os riscos e participando de seu retorno financeiro,
bem como apoiando na sua execução. O conceito evoluiu para o
investimento efetuado por pessoas físicas, normalmente profissionais ou
empresários bem sucedidos, em empresas iniciantes (as startups),
fornecendo não somente capital financeiro, mas também intelectual,
apoiando o empreendedor com sua experiência e conhecimento. Por isso,
ficou conhecido como Smart-Money.
O Investidor-Anjo recebe, por seu investimento, uma participação
societária minoritária no negócio, e não assume posição executiva na
empresa, mas atua como um conselheiro orientando os empreendedores e
participando das decisões estratégicas da empresa, aumentando muito
suas chances de sucesso, bem como acelerando seu desenvolvimento.
O investimento-anjo em uma empresa é feito normalmente por um
grupo de 2 a 5 investidores, tanto para diluição de riscos como para o
compartilhamento da dedicação. Vale observar que a tendência mais atual e
eficiente para o investimento-anjo é a designação de um investidor-líder
(Lead Investor ou, se o seu investimento for apenas com trabalho,
como Deal Leader) que faça a pré-avaliação do projeto e a negociação com
o empreendedor, para que este seja então apresentado a outros
68
investidores-anjo (neste caso chamados seguidores ou followers) .”
67
MIGUENS, Cristian Welsh. Você sabe o que é um investidor anjo?. 2017. Disponível em:
<https://exame.abril.com.br/pme/voce-sabe-o-que-e-um-investidor-anjo/>
68
SPINA, Cassio. Afinal o que é Investimento-Anjo?. 2012. Disponível em:
<https://endeavor.org.br/afinal-o-que-e-investimento-anjo/>
30
A organização Anjos do Brasil69, conceitua do seguinte modo:
“O Investimento Anjo é o investimento efetuado por pessoas físicas
com seu capital próprio em empresas nascentes com alto potencial de
crescimento (as startups) apresentando as seguintes características:
1. É efetuado por profissionais (empresários, executivos e
profissionais liberais) experientes, que agregam valor para o empreendedor
com seus conhecimentos, experiência e rede de relacionamentos além dos
recursos financeiros, por isto é conhecido como smart-money.
2. Tem normalmente uma participação minoritária no negócio.
3. Não tem posição executiva na empresa, mas apóiam o
empreendedor atuando como um mentor/conselheiro.
*O Investimento com recursos de terceiros é chamado de "gestão de
recursos". É efetivado por fundos de investimento e similares, sendo uma
modalidade importante e complementar a de Investimento Anjo,
normalmente aplicado em aportes subsequentes.
O Investidor Anjo é normalmente um (ex-)empresário/empreendedor
ou executivo que já trilhou uma carreira de sucesso, acumulando recursos
suficientes para alocar uma parte (normalmente entre 5% a 10% do seu
patrimônio) para investir em novas empresas, bem como aplicar sua
experiência apoiando a empresa. Importante observar que diferentemente
que muitos imaginam, o Investidor-Anjo normalmente não é detentor de
grandes fortunas, pois o investimento-anjo para estes seria muito pequeno
para ser administrado.
Importante observar que o investimento anjo não é uma atividade
filantrópica e/ou com fins puramente sociais. O Investidor Anjo tem como
objetivo aplicar em negócios com alto potencial de retorno, que
consequentemente terão um grande impacto positivo para a sociedade
através da geração de oportunidades de trabalho e de renda. O termo "anjo"
é utilizado pelo fato de não ser um investidor exclusivamente financeiro que
fornece apenas o capital necessário para o negócio, mas por apoiar ao
empreendedor, aplicando seus conhecimentos, experiência e rede de
70
relacionamento para orientá-lo e aumentar suas chances de sucesso .”
Observando os conceitos apresentados, concluímos que o investidor anjo
poderá ser pessoa física, jurídica ou fundo de investimento, apesar dos conceitos
descritos não trazerem essas opções não há nada na lei nenhum impededimento,
inclusive em recente boletim informativo divulgado pelo Sebrae tanto a pessoa
69
Anjos do Brasil é uma organização sem fins lucrativos com a missão de fomento ao investimento anjo e
apoio ao empreendedorismo de inovação brasileiro.
70
SPINA, Cassio. O que é um investidor anjo. Disponível em: <http://www.anjosdobrasil.net/o-que-
eacute-um-investidor-anjo.html>.
31
jurídica quanto os fundos são reconhecidos como investidores anjo 71 , que investem
em microempresas ou de pequeno porte através de um contrato de participação, ou
seja, em troca de participações nos lucros.
71
SEBRAE. Boletim informativo. Disponíel em:
<https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/RN/Anexos/LEI_COMPLEMENTAR_N_155_BOLETIM_I
NFORMATIVO.pdf>.
32
II - não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em
recuperação judicial, não se aplicando a ele o art. 50 da Lei no 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil;
III - será remunerado por seus aportes, nos termos do contrato de
participação, pelo prazo máximo de cinco anos.
§ 5˚ Para fins de enquadramento da sociedade como microempresa
ou empresa de pequeno porte, os valores de capital aportado não são
considerados receitas da sociedade.
§ 6˚ Ao final de cada período, o investidor-anjo fará jus à
remuneração correspondente aos resultados distribuídos, conforme
contrato de participação, não superior a 50% (cinquenta por cento) dos
lucros da sociedade enquadrada como microempresa ou empresa de
pequeno porte.
§ 7˚ O investidor-anjo somente poderá exercer o direito de resgate
depois de decorridos, no mínimo, dois anos do aporte de capital,
ou prazo superior estabelecido no contrato de participação, e seus haveres
serão pagos na forma do art. 1.031 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 - Código Civil, não podendo ultrapassar o valor
investido devidamente corrigido.
§ 8˚ O disposto no § 7o deste artigo não impede a transferência da
titularidade do aporte para terceiros.
§ 9˚ A transferência da titularidade do aporte para terceiro alheio à
sociedade dependerá do consentimento dos sócios, salvo estipulação
contratual expressa em contrário.
§ 10. O Ministério da Fazenda poderá regulamentar a tributação
sobre retirada do capital investido.
Art. 61-B. A emissão e a titularidade de aportes especiais não
impedem a fruição do Simples Nacional.
Art. 61-C Caso os sócios decidam pela venda da empresa, o
investidor-anjo terá direito de preferência na aquisição, bem como
direito de venda conjunta da titularidade do aporte de capital, nosmesmos te
rmos e condições que forem ofertados aos sócios regulares.
Art. 61-D. Os fundos de investimento poderão aportar capital
como investidores-anjos em microempresas e empresas de pequeno
72
porte .
Antes de analisarmos os regramentos se faz necessária a observação de que o
investidor anjo já existia antes mesmo da lei. O foco desse investimento sempre
72
BRASIL. LEI COMPLEMENTAR Nº 155, DE 27 DE OUTUBRO DE 2016. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp155.htm>
33
foram as startups e as startups sempre buscaram esse investimento. Estes dois se
casam. A grande diferença com a promulgação do diploma legal é que o investidor
anjo não poderá mais receber percentual da empresa como contrapartida pelo seu
dinheiro investido e isso acarretará em profundas mudanças como passaremos a
expor.
Em seu primeiro dispositivo (Art. 61-A) a lei define quais são as empresas e as
respectivas áreas que poderão ser atingidas pelo investidor anjo, além de afirmar
que este não mais integrará o capital social, coisa que, na prática, era visto com
frequência. Sendo assim, as microempresas ou empresas de pequeno porte, são as
únicas que poderão buscar a ajuda do investidor anjo (Art, 61-A e Art 61-D),
excluindo, então, os outros portes de empresas, as quais não poderão se beneficiar
com o contrato de participação (Art. 61-A, § 1˚) inovação da lei.
Pela lei a finalidade do investidor anjo deverá ser de fomentar a inovação e
financiar investimentos produtivos (Art.61-A).
O principal tema da lei é o contrato de participação, como todo contrato é um
acordo de vontades (Art. 61-A, § 1˚), que poderá ser celebrado tanto por pessoa
física quanto por pessoa jurídica (Art. 61-A, § 2˚). Esse mecanismo, oferecido pela
lei, faz com que o investidor fique de fora da parte societária da empresa, assim não
tem poder de decisão da empresa, dando ampla liberdade para o empresário reger
aquilo que é seu. O investidor não será considerado sócio e não terá direito de gerir
ou de votar na administração, a constituição do objeto social será exercida
unicamente pelos sócios regulares. (Art. 61-A, § 3˚, §4, inciso I).
Antes da lei o investidor anjo, além de receber parte das ações da empresa,
como forma de pagamento pelo seu investimento, tinha função mais atuante, não só
como administrador, mas como mentor, com o advento da lei essa função, ao menos
legalmente, foi extinta.
Tratando o tema a Endeavor aprofunda a questão quando diz que a lei gera
benefícios para o empreendedor e o investidor, a distinção entre investimento-anjo e
participação societária se faz importante, uma vez que o investidor-anjo não se torna
sócio da empresa. Essa distinção representa uma importante garantia para os
investidores. Como são apenas investidores, eles não são responsáveis pelas
obrigações da empresa. Para o empreendedor, o fato de o investimento anjo não ser
34
considerado participação societária garante que o controle societário da startup
continuará em suas mãos73.
A segurança jurídica que a lei trouxe para os investidores e empresários não
para aqui, como os anjos não serão constituídos sócios, não terão seus patrimônios
afetados em caso de desconsideração da personalidade jurídica, recuperação
judicial ou falência, inclusive segundo a lei para eles
não se aplicando o art. 50 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil
(Art. 61-A, §4, II). Dessa forma o anjo não assume as responsabilidades nem arca
com as consequências que um sócio tem dentro da empresa.
Sem a lei muitos magistrados vinham indicando o patrimônio do Investidor
para garantir alguma obrigação contraída pela empresa. Seja remuneração ao
trabalhador, penhora em razão de títulos de créditos ou execução fiscal.
Contudo, apesar de estimular o mercado e trazer proteção jurídica para os
anjos, há quem discorde dessa previsão argumentando que isso deveria ser
negociado no "Contrato de Participação" celebrado entre o investidor e os sócios
da empresa. Interpretam nessa linha de pensamento Luciano Velasque Rocha e
Ricardo Ryohey L. Watanabe, que argumentam tendo como base o modelo norte
americano:
"Ao afastar do Investidor-anjo a possibilidade de se vincular à
empresa como sócio ou de ter voto na administração da startup, o
legislador se afastou do modelo norte-americano, no qual a perspectiva
de participação societária é um grande atrativo desse modelo de
negócios – basta lembrar que o controvertido investidor norte-americano
Peter Thiel investiu US$ 500 mil no Facebook poucos meses após a
incorporação da companhia em troca de 10,2% de participação, hoje
74
centenas de vezes mais valiosa que o investimento inicial ."
Ao tratar de prazos vemos que o Contrato de Participação poderá ter vigência
máxima de até 7 anos (Art. 61-A, §1). Além disso, o anjo poderá ser remunerado por
um prazo máximo de 5 anos, devendo a sua remuneração, em cada período, ser
menor do que 50% dos lucros auferidos pela empresa (Art. 61-A, §4, III e §6)
73
FILHO, Renato Giovanini. Nova lei de investimento ano o que ela pode fazer pela sua empresa. 2017.
Disponível em: <https://endeavor.org.br/nova-lei-de-investimento-anjo-o-que-ela-pode-fazer-pela-sua-empresa/>
74
REVISTA, Empresa Brasil. Mini reforma Trabalhista Abre Caminho para a retomada da Economia.
Brasília: ed. CACB, Ano 14, n. 139, Fev 2017. Disponível em:
<http://cacb.org.br/downloads/revistas/Empresa_Brasil_n139.pdf>
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A lei também traz o período mínimo para o resgate do que foi investido sendo
de 2 anos, este valor será vedado caso ultrapasse o anterior investido corrigido
monetariamente (Art. 61-A, §7). O objetivo da medida é garantir um mínimo de
estabilidade ao empreendedor, impedindo que o dinheiro investido migre a qualquer
momento para outro negócio
O investidor anjo para reverter o que foi investido em lucro ainda terá a
possibilidade de passar a titularidade do seu contrato social a terceiro alheio, mas,
em regra, depende do consentimento dos sócios. Em caráter de exceção o
contrato pode dispor de cláusula contratual, que deverá ser expressa, estipulando
a não necessidade do consentimento dos sócios para alienação do contrato a
terceiros (Art. 61-A, §8 e §9).
Além disso, caso os sócios optem por vender a firma, o Investidor-anjo terá
direito de preferência em sua aquisição, bem como direito a alienar a titularidade
do seu aporte de capital, desde que em igualdade de condições com os que foram
ofertados aos sócios do empreendimento (Art. 61-C).
Alei mostra com clareza que o capital investido nesse regime não
contabilizará como receita para fins de enquadramento da sociedade como
microempresa ou empresa de pequeno porte (Art. 61-A, §5), nem integrará o seu
capital social (Art. 61-A). Então, as empresas de pequeno porte e microempresas
poderão continuar no regime tributário do simples nacional, mesmo com os
investimentos feitos pelos anjos. As empresas permanecerão no regime o qual é
mais benéfico (Art. 61-B).
A Lei é nova e boa. No entanto, é preciso ressaltar que, sendo uma lei nova,
ainda não há muitas decisões judiciais sobre as regras nela previstas e pode haver,
em alguns casos, dúvidas sobre como a lei será interpretada.
O último tema que deve ser tratado e que pode gerar algum questionamento
será a questão da tributação a ser aplicada à remuneração do investimento-anjo. A
lei diz que o Ministério da Fazenda poderá regulamentar a tributação sobre retirada
do capital investido, (Art. 61-A, §10) e isso foi feito através da INSTRUÇÃO
NORMATIVA RFB Nº 1719, DE 19 DE JULHO DE 2017.
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O Sebrae divulgou recente boletim informativo75 que contêm de maneira
simples e sucinta os principais regramentos trazidos pela lei:
VIGÊNCIA A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2017 2 – O
INVESTIDOR-ANJO
O investidor-anjo não será considerado sócio, nem terá direito à
gerência ou voto na administração da empresa.
Será remunerado por seus aportes pelo prazo máximo de 5 (cinco)
anos, correspondente aos resultados distribuídos, não superior a 50%
(cinquenta por cento) dos lucros.
Somente poderá exercer o direito de resgate depois de decorridos 2
anos do aporte (ou prazo superior previsto no contrato), com haveres pagos
na forma do art. 1.031 do Código Civil.
A ME ou EPP poderá admitir aporte de recursos que não integrarão o
capital social.
Com a finalidade de fomento à inovação ou investimentos produtivos,
com vigência de até 7 anos.
O Investidor-Anjo poderá ser pessoa física, pessoa jurídica ou um
fundo de investimento.
A atividade do objeto social só poderá ser exercida pelos sócios
regulares.
O aporte poderá ser transferido para terceiros, mas dependerá do
consentimento dos sócios quando o terceiro for alheio à sociedade.
O Ministério da Fazenda regulamentará a tributação sobre a retirada
dos aportes.
A emissão e titularidade dos aportes não impedem a fruição do
Simples Nacional (regulamentação do CGSN).
O investidor-anjo terá preferência em eventual venda da empresa.
Portanto, com tudo que foi exposto consideramos que a lei veio em bom
momento. O mercado brasileiro de startups ganha espaço com o passar dos dias, e,
para esse mercado, a prática do investimento anjo é uma constante. Regrar quem
seria esse investidor, bem como seus limites, poderes e afins, era algo necessário a
ser feito pelo legislativo.
As startups por serem, no geral, pequenas ou micro empresas serão
beneficiadas diretamente com a promulgação da nova lei. Resta saber se na prática
tal lei será observada, obedecida pelo mercado, pelo ecossistema das startups.
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SEBRAE. LEI COMPLEMENTAR Nº 155, DE 27 DE OUTUBRO DE 2016 ORIENTAÇÕES. Disponível
em:<https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/RN/Anexos/LEI_COMPLEMENTAR_N_155_BOLETI
M_INFORMATIVO.pdf>
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Esse modelo de empresa é novo e ainda carece de uma regulamenteção no direito
que o enquadre com exatidão.
A promulgação da LC 155/2016 já foi um grande avanço para esse nicho, pois
regulamentou uma das práticas mais habituais por quem investe em startups. Nossa
torcida é que o legislativo aí não pare e positive o novo modelo de empresa e as
mudanças que ele trouxe para todo o mercado empresarial.
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CONCLUSÃO
39
REFERÊNCIAS
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