Artigo
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Examinada por:
_____________________________________________________
Professora Doutora Bruna Franchetto – PPGAS – MN/ UFRJ, Presidente
_____________________________________________________
Professora Doutora Cilene Aparecida Nunes Rodrigues – PUC/RJ
______________________________________________________
Professor Doutor Dennis Albert Moore – Museu Paraense Emílio Goeldi/ MCTI
_______________________________________________________
Professor Doutor Marcus Antônio Rezende Maia – FL/ UFRJ, Suplente
_______________________________________________________
Doutora Gélsama Mara Ferreira dos Santos, Suplente
Tenho que começar agradecendo aos ventos propícios que me fizeram cair
soprados pela força de Yube, que fui conhecer nas mãos dos meus queridos amigos
Fabiano Sales Txanabane Huni Kuĩ e da sua esposa, Silvia Ayani. Agradeço ao
outras terras, Kristine Stenzel; ao carinho que não mede esforços, aos conselhos de
apresentou aos meus irmãos de hoje e sempre: Thiago Coutinho e Glauber Romling.
Sem eles, meu mundo acadêmico seria um trabalho como outro qualquer, mas de
GELA em GELA, a família cresceu e o terreno vem dando cada vez mais frutos de
que vieram depois de mim: Juliana Tercciotti, minha irmã mais nova, companheira
dissertação; Marília Lott, vizinha de expresso com sintaxe e amiga sagaz nas
moitarás de escaladas por sintaxe com Andrew Nevins. Agradeço ao Rafael Nonato
Agradeço a Ingrid Weber por ter me incentivado a insistir no Acre e por ter me
Agradeço a Menĩ por ter me recebido com confiança e amizade na sua família
pioneira, mãe e filha amorosa, liderança forte. Agradeço aos Yawanawá da T.I. Rio
Gregório, que me receberam com afeto, me apresentaram para seu mundo e estão
sempre me ensinando sua língua e seus costumes com paciência e bom humor.
Agradeço especialmente aos caciques Biraci Brasil Nixiwaka e Joaquim Tashkã; aos
pajés Tatá e Yawarani, que contribuíram com muitas histórias e ensinamentos, aos
Fátima Sheki Teshke e Nani Kate Yuve, Olindina (Jôta), Gilberto, Isaías (Isá), Xiná,
Maria dos Anjos (Duza), Txanu e Huxahu, Misi e Marizete, Aldaíso Vinnya, Vadé,
Sapo, aos meus compadres Isabel e Milton, Inácio, Edna e Antônio Luis (Istuka),
Shaneihu e Mídia, Leda e Chicó e toda a família que me recebe na aldeia Matrinxã.
recebe na aldeia Nova Esperança: Putanĩ, Nawa Shahu, Ika Shahu e Sana.
principalmente a Thais, Dino, Net, Fabi, Cadu e Beta, Clau. Agradeço as Venusianas
e a Dri, Dani e Leila, as mulheres maravilhosas, que com muito amor me ajudaram a
bibliografia, principalmente Hein von der Voort, Julien Meyer e Kofi Yakpo.
Agradeço ao professor Marcus Maia pelas muitas ajudas dentro e fora do
Pilar Valenzuela, Antoine Guillaume, Rogério Ferreira, Joaquim Maná Huni Kuĩ,
David Fleck, Roberto Zariquey, Jose Ulloa, Emerson Carvalho, Aldir Santos de
Luis Miguel Rojas, Joel Zavala e o querido Vicente Rodriguez, companheiro de mar
muitas trocas de ideias dentro e fora de sala de aula; a Nina Topintzi por ótimas
aulas e muitos insights fonológicos, a Amy Rose Deal pela atenção e a bibliografia.
Agradeço aos amigos e mestres que me fazem ver a vida melhor: Felipe
Assad, que me ensinou a escalar; Julia Bertolini, que me trouxe para a yoga; e Fábio
família, que me recebeu com carinho nos meus momentos finais de redação da
dissertação. Agradeço aos amigos Kĩsêdjê Winti, Jamthô, Kawiri e Kamikiá pela
(Tom Zé)
RESUMO
Janeiro, 2013.
formal, com ênfase no padrão acentual e em sua interação com a estrutura e o peso
têm em comum seja um reflexo do fato de que estes casos estão sendo licenciados
family, spoken by approximately 160 people in the state of Acre, Brazil. First, the
sketch of the language. Based on data that has been collected in the context of the
formal perspective, focusing on stress patterns and their interaction with syllable
structure and weight. I also analyze nasalization, which is the main phonological
process in the language. Next, I focus on the morphology and structure of nominal
the syntactic behavior of nominal expressions. I describe the case system and argue
that the language has a tripartite alignment, exploring the possible syntactic analyses
features of the Panoan language family, that the surface morphology shared by
ergative, possessor, and certain oblique arguments reflects the fact that these cases
IRR irrealis
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 22
1.1 APRESENTAÇÃO 23
1.2.1 Território 25
1.3.2 O PRODOCLIN 40
1.4 METODOLOGIA 43
1.5 LÍNGUA 45
2 FONOLOGIA 58
2.1 INTRODUÇÃO 59
2.2 OS FONEMAS 60
2.3.3 Vocoides 68
2.4 ACENTO 70
2.5 NASALIZAÇÃO 75
3 AS EXPRESSÕES NOMINAIS 84
3.1 INTRODUÇÃO 85
3.2.1 Nomes 85
3.2.2 Determinantes 91
3.2.2.1 Demonstrativos 92
6 BIBLIOGRAFIA 149
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
texto que apesar do foco deste estudo recair sobre as expressões nominais, não
está restrito a elas. Ao tratar da fonologia dos nomes, também descrevo fenômenos
Gregório, onde este povo habita. Realizo um breve apanhado de sua organização
documentação que está sendo realizado atualmente. Por fim, apresento um esboço
padrão acentual e sua interação com a estrutura silábica. O foco da análise recai
elaborado por Paula (2004), e trato da estrutura silábica, com foco específico na
Yawanawá e sua interação com o peso silábico. Também analiso a nasalização, que
é um dos principais fenômenos fonológicos da língua. Por fim, proponho uma análise
dissertação.
intermediado por uma projeção nP; uma estrutura paralela a dos sintagmas verbais.
deverbais.
sintática que explique uma das principais características tipológicas das línguas
superfície que eles têm em comum seja um reflexo do fato de que estes casos estão
1.2.1 Território
1991, com área inicial de 92.859 hectares. Foi a primeira Terra Indígena a ser
da Justiça,
considerando que a Terra Indígena localizada no município de Tarauacá,
no Estado do Acre, foi identificada de conformidade com os termos do §
1° do art. 231 da Constituição Federal e inciso I do art. 17 da Lei n° 6.001,
de 19 de dezembro de 1973, como sendo tradicionalmente ocupada pelos
grupos indígenas Katukina e Yawanawá; (…) considerando que no prazo
de contestação fixado no art. 2°, § 8° e no art. 9° "caput", do Decreto n°
1.775/96, não houve qualquer manifestação quanto a caracterização da
terra indígena, resolve:5
Art. 1° Declarar de posse permanente dos grupos indígenas Katukina e
Yawanawá a Terra Indígena RIO GREGÓRIO, com superfície aproximada
de 187.400 ha (cento e oitenta e sete mil e quatrocentos hectares) e
perímetro também aproximado de 239 km (duzentos e trinta e nove
quilômetros).
são
as áreas habitadas em caráter permanente [pelos povos indígenas], as
26
FUNAI possa deliberar sobre a Terra Indígena. O resultado desse novo tratamento é
eles o da T.I. Rio Gregório. Algumas dessas T.I.s foram homologadas pela
das Nações Unidas pelo Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 – porém, não foi o
caso da T.I. Rio Gregório. Essa medida está sendo considerada ilegal e contestada
da T.I. – a área menor já homologada e a área maior que ainda aguarda decisão
destaque para a T.I. Rio Gregório. A figura 3 é o mapa detalhado da T.I. Rio
27
já foi homologada.
T.I.
Rio Gregório
Figura 2: Mapa das Terras Indígenas brasileiras com destaque para a T.I. Rio Gregório (FUNAI).
29
Figura 3: Mapa da T.I. Rio Gregório com destaque para a hidrografia (SEMA-AC).
30
porco do mato (yawa ‘queixada’, nawa ‘povo’) para representar sua forma de
dinâmica sociológica própria de muitos grupos Pano, que incluiu “alianças através de
Tarauacá, mas também Feijó, Sena Madureira, Cruzeiro do Sul e Rio Branco. O rio
Gregório é afluente do Juruá, rio que nasce no Peru, atravessa o estado do Acre e
Amparo e depois a aldeia Sete Estrelas, que é onde habitam alguns Katukina. A
os caciques das duas aldeias maiores, Mutum e Nova Esperança. Hoje, a liderança
da aldeia Mutum é exercida remotamente por Joaquim Tashkã Yawanawá, que vive
comandada pelo cacique Biraci Brasil Nixiwaka Yawanawá. Das aldeias menores,
Yawanawá do Rio Gregório), que foi a primeira associação, fundada em 1993. Essas
povo e pelas relações exteriores, sendo esta última atribuição a característica mais
marcante dos líderes yawanawá ao longo da história local. Segundo Erickson (1994,
p.251), “a política externa sempre constituiu (…) um domínio crítico na área pano,
Acre quanto com empresas privadas, mas atualmente, o turismo xamânico ganha
cada vez mais espaço e, certamente, é uma das principais fontes de recursos para
1
A bebida é produzida a partir do cipó conhecido como Uni (Banisteriopsis Caapi) e da folha
Ravanti (Psychotria viridis), utilizada em rituais tradicionais.
32
ano recebe mais visitantes. Dentre eles estão representantes de outros povos
Yawanawá”.
segundo Ribeiro (2005, p. 105), foi João da Cunha Correia que deu início as
ocupações por brasileiros, tendo subido o Juruá e chegado até o Purus, entre 1857
e 1858.
extração do látex durante até vinte anos e foi este o extrativismo responsável pela
francês Constant Tastevin, da Ordem do Espírito Santo, que atuou do final do século
XIX até 1926 como missionário da Prelazia de Tefé na Amazônia brasileira, foi em
1833 que chegaram homens a foz do rio Gregório com o intuito de explorar o látex.
Em uma excursão apostólica ao rio Juruá, em 1898, ele relata o horror das
da Silva, em 1905. Segundo Aquino & Iglesias (1994) e Ribeiro (2005), Ângelo
grupos pano em seus seringais, dentre eles, os Yawanawá. Conta-se que o primeiro
separam os relatos coletados por Ribeiro (2005) e Carid Naveira (1999), mas
basicamente, a história conta que o menino Iva Stiho teria oferecido carne de caça a
um grupo de brancos chefiado por Ângelo Ferreira, que teria retribuído com
desconhecidos dos Yawanawá. Tanto Ribeiro quanto Naveira relatam que esse ato
ficado fora de casa vários dias para realizar o corajoso contato. Depois disso, o
menino tornou-se líder e mediador entre seu povo e os brancos, até sua morte em
1974. Ribeiro (2005, p.111) enfatiza a diplomacia das relações; segundo ela, “os
brancos, chefiados por Abel Pinheiro, primeiro senhor do seringal Ariranha no Alto
Diferente da violência das correrias sofridas pela maioria dos povos da região,
Povo Yawanawá, que Iva Stiho foi batizado Antônio Luis pelo padrinho Antônio
Carioca e convidado a se mudar com seu grupo para a sede do seringal Kaxinawá.
pajelança – segundo Ribeiro (2005), o líder Antônio Luis era um respeitado feiticeiro.
seringais, ter mantido “a chefia tradicional e com isto, uma maior integridade e
coesão, assim como uma população residente em uma mesma aldeia, maior do que
Erickson (1994), a respeito dos grupos pano em geral, Ribeiro (2005) enfatiza que o
momento presente.
Após a morte de Antônio Luis, em 1974, seu primogênito Raimundo Luis Tuĩ
Kuru assumiu a liderança do povo. Ele era filho de Angélica Katukina, que segundo
Ribeiro (2005), foi a mulher que adquiriu maior prestígio dentre as esposas do líder.
para cortar mais seringa era cada vez maior. Diferente do pai, Tuĩ Kuru teve sua
dispersão se deu, em grande parte, devido a disputas entre Raimundo Tuĩ Kuru e
contradições. Ao mesmo tempo em que o seu período de liderança foi marcado pela
desunião do povo, foi também neste período que os yawanawá se viram livres da
Gregório. Além disso, Tuĩ Kuru sempre foi considerado um grande conhecedor da
pouco antes da morte de Iva Stiho, chegando a abrir mão de duas esposas para
adequar-se a monogamia imposta por eles. Ribeiro (2005) explica que diferente dos
padres católicos que visitavam as aldeias, os pastores evangélicos viviam junto com
dos costumes evangélicos, que teve início no começo da década de 1970, durou
Foi assim que uma geração de jovens Yawanawá começou a entrar em contato com
movimentos sociais e o tiro dos missionários saiu pela culatra. Ribeiro (2005) aponta
a criação da FUNAI, o contato com a UNI (União Nacional dos Índios) e com
Aquino, Sales - o filho mais velho de Tuĩ Kuru - juntamente com os primos Biraci
missionários. Foi nessa mesma época que a CPI intermediava a criação das
preferida do cacique Antônio Luis, e até hoje lembrada como uma liderança feminina
torno da Assembleia Constituinte, junto com Aílton Krenak, então presidente da UNI.
Este período que sucedeu a expulsão dos missionários foi marcado por uma
recém demarcado terras indígenas, dentre elas a T.I. Rio Gregório, e Chico Mendes
havia sido assassinado logo após uma visita a sede da ONU nos EUA. A Amazônia
2
A CPI-Acre é uma organização não-governamental que foi fundada em 1979, em Rio Branco, cuja
missão é “apoiar os povos indígenas do Acre em algumas de suas lutas pela conquista e o
exercício de direitos coletivos – territoriais, linguísticos, socioculturais – por meio de ações que
articulem a gestão territorial e ambiental das terras indígenas, a educação intercultural e bilíngue e
as politicas públicas” (CPI/AC – Quem é a CPI/AC, 2012).
37
economia da comunidade indígena para que esta pudesse resistir aos apelos dos
dos missionários em 1987. Dentre as novas medidas adotadas pelo cacique, foi
ocorrido com Raimundo Luis, rompeu o elo mais forte de parentesco do líder Biraci,
38
casamento entre primos cruzados. Raimundo Luis fundou a aldeia Mutum e articulou
uma liderança paralela, aliando-se ao filho, Joaquim Tashkã, que era o principal
sua residência em Rio Branco. Assim como Biraci, vem investindo no turismo
Indígena Rio Gregório, sendo que destes, apenas 160 utilizam a língua de forma
ativa na vida diária da comunidade. Destes 160 falantes ativos, 82 têm mais de 45
monolíngues em língua portuguesa é de 308, sendo que dentre estes, 305 possuem
menos de 45 anos. Constatou-se que a língua yawanawá vem sendo cada vez
ramos da Linguística que lidam com dados de línguas pouco conhecidas, como a
Tipologia.
dos primeiros produtos apresentados pela equipe deste projeto foi um censo, que
formada por Maria Julia Kenemeni Yawanawá, Manoel Tikamatxuru da Silva Filho,
Marcos de Almeida Matos, Ingrid Weber, Thiago Coutinho Silva e Livia Camargo
Tavares.
1.3.2 O PRODOCLIN
quanto mais diversas quanto for possível, assim como sessões de elicitações de
indígenas sobre sua própria língua. Operamos com dois componentes básicos na
dos dados primários. Além da anotação, o tipo de informação mais primordial que
acompanha cada sessão produzida são os metadados referentes a ela, que incluem,
Atualmente graduada em Letras pela Universidade Federal do Acre, ela é uma das
filhas do falecido Raimundo Luis Tuĩ Kuru Yawanawá, que foi uma liderança
descrito na seção 1.3. Como professora da escola da aldeia Mutum, Júlia tomou
forma que possam ser transmitidos para as novas gerações. Seu pai foi a maior
que foi descrito e discutido nas seções anteriores deste capítulo. Essa questão vai
1.4 METODOLOGIA
itens lexicais, com sentenças exemplificando o uso de cada um, gravadas em áudio
registro das oficinas. Além disso, foi gerado um relatório de todo o trabalho realizado
transcrição e tradução das gravações coletadas. Além disso, foram gravadas mais
dez horas de situações de uso de fala. Um dos produtos deste projeto consiste na
contadas pelo recém-falecido Tuĩ Kuru Yawanawá, como uma forma de homenageá-
alimentam a base de dados, que cresce a cada dia, e assim, fica muito claro que a
exceção dos dados retirados das publicações Yawanawahãu Wixi, uma cartilha da
Referência Fonte
PRODOCLIN, 2010 Sessões de elicitação de dados realizadas com Maria de
processo de documentação.
1.5 LÍNGUA
ocidental, divididas em três países: Brasil, Peru e Bolívia. A população pano foi
(ERICKSON, 1994, p.4-5). Segundo Valenzuela (2003, p.41), a maior parte dos
também 'inimigo'. É provável que muitos desses nomes tenham sido atribuídos a
46
uma etnia por membros de grupos vizinhos. É provável que o nome 'Pano' seja
Yawanawá.
amazônico.
o pacavara, formam uma só família linguística” (GRASSIERE, 1890, p.438). Desde
então, outras classificações foram propostas, como a de Brinton (1891), que amplia
o número de línguas da família para dezoito, e Rivet & Tastevin (1927), que dividem
tradicionalmente aceita, mas segundo Valenzuela (2003, p.43), este autor foi muito
criticado por ter aplicado o método léxico-estatístico e por não ter disponibilizado os
(LOOS, 1999, p.226). Valenzuela (2003) alia uma avaliação das diferentes propostas
que ao menos seis agrupamentos diferentes devem ser postulados. Os nomes que a
(2003).
língua país
Amawaca Peru
Sharanawa/Shanindawa/Chandinawa/ Peru
Inonawa/ Marinawa
Yawanawa Brasil
Chitonawa Brasil
Yoranawa/Nawa/Parquenawa Peru
Moronawa Brasil
Mastanawa Peru
Loos (1999): subgrupo Chacobo
Valenzuela (2003): subgrupo Meridional
Chacobo
Arazaire Peru
Atsawaca Peru
Yamiaka Peru
Katukina/Camannawa/Waninnawa Brasil
Pakawara Bolívia
Nukaman Brasil
Valenzuela (2003):
Subgrupo Setentrional
Kulino Brasil
Kaxarari Brasil
Karipuna Brasil
Poyanawa Brasil
Tuxinawa Brasil
Matses/Mayoruna Brasil
Yamiaka
Atsawaka
Arazaire
verbos;
casos oblíquos;
língua foi realizada em 2004, por Aldir Santos de Paula. O seguinte esboço
grande corpo de conhecimento sobre gramática ao longo dos anos. Segundo Comrie
(1)
a) e-we vake
3
1S-PP(POSS) filho
'meu filho'
b) Tika-ne peshe
Tika-PP(POSS) casa
'casa do Tika.' (PRODOCLIN, 2010)
(2)
a) Ẽ mi-a pake-a.
1S.PP(ERG) 2S-ACC derrubar-PRF
'Eu te derrubei.'
3
Utilizo as glosas PP(ERG), PP(POSS) e PP(INS) para tratar da mesma posposição, que assume
diferentes funções.
52
(3)
a) Ẽ katsu rete-a.
1S.PP(ERG) veado matar-PRF
'Eu matei veado.'
b) Meshti reku-i.
lenha queimar-PROG
'A lenha está queimando. (PRODOCLIN, 2010)
ou orações relativas.
demonstrativos (proximal, médio e distal), que exerce tanto uma função pronominal
(4)
a) Na-hu atxi-na-i-me?
DEM.PROX-PL pegar-RECP-PROG-INT
'São esses que estão brigando?'
b) Ua kape ewa-pa.
DEM.DIST jacaré crescer-RES
'Aquele jacaré é grande.' (PRODOCLIN, 2010)
De acordo com o que se espera de uma língua com padrões de núcleo final,
os numerais cardinais em Yawanawá são modificadores que ocorrem em posição
pós-nominal, como vemos em (5).
(5)
a) katsu rave
veado dois
'dois veados'
b) shashu westi
canoa um
'uma canoa' (PRODOCLIN, 2010)
53
resultativo (6d).
(6)
a) peshe txaka
casa estragar-se
'casa ruim (estragada)'
b) peshe txaka-i
casa estragar-se-PROG
'A casa está ficando ruim (se estragando)'
d) vakehu ewa-pa
criança crescer-RES
'A criança está grande.' (PRODOCLIN, 2010)
etc. Enquanto uma relação de parte-todo pode ser expressa por um nome possuidor
(7)
a) katsu nami
veado carne
'carne de veado'
b) e-we kuka
1S-PP(POSS) tio.materno
'meu tio (materno)'
c) Tika-ne peshe
Tika-PP(POSS) casa
'casa do Tika' (PRODOCLIN, 2010)
(8)
a) Pixĩ vetxi usha.
esteira sobre dormir.PRF
'(Alguém) está dormindo sobre a esteira.'
(9)
a) Ẽ pi-ti wa-ma
1S.PP(ERG) comer-NMLZ.INS fazer.PRF-NEG
'Eu não fiz comida.'
55
forma que esta exposição pretende ser meramente descritiva. Vemos este padrão
nas sentenças em (10), nas formas iguais de ‘mulher’ como sujeito de verbo
intransitivo (10a) e objeto (10b), e sua marcação diferente como sujeito do verbo
transitivo em (10c):
(10)
a) Awĩhu itxu-a
mulher correr-PRF
'A mulher correu (fugiu).
(11)
a) Ẽ /Mĩ itxu-a.
1S/2S correr-PRF
'Eu corri.'/ 'Você correu.'
2 FONOLOGIA
2.1 INTRODUÇÃO
padrão acentual e sua interação com a estrutura silábica. Por se tratar de uma
apresentadas neste capítulo recai sobre os nomes, mas busco realizar um estudo
falantes que têm o Yawanawá como língua materna: dois homens e duas mulheres,
todos com mais de 40 anos. As gravações foram realizadas entre julho de 2010 e
inventário fonológico elaborado por Paula (2004); na seção 2.3, trato da estrutura
silábica, com foco específico na noção de peso e mora; na seção 2.4, apresento
dissertação.
4
Ver seção 1.4 para maiores informações.
60
2.2 OS FONEMAS
(2004). Este autor afirma ter aplicado a metodologia da fonêmica tradicional para
Segundo este autor, o fonema /β/ pode ser realizado foneticamente tanto
como a fricativa labial [β] quanto como a fricativa lábio-dental [f], em variação livre.
Observo, porém, que esta variação não-contrastiva ocorre apenas no caso de /β/
seguir uma consoante fricativa em posição de coda silábica, como em (1). Não
temos [f] em início de palavra e nem em posição de ataque silábico seguindo uma
(1)
a) [aʂ.'fa] → 'boca'
b) [rɨs.'f ĩ] → 'corda' (PRODOCLIN, 2010)
Outra observação importante é que a oclusiva glotal [ʔ] pode ocorrer no final
de palavras oxítonas seguindo vogais orais curtas (2). Este ambiente é previsível,
porém o processo não é obrigatório e varia entre falantes. Parker (1994, p.97)
61
(2)
a) [a.'kaʔ] ~ [a.'ka] 'socó'
b) [pi.'nuʔ] ~ [pi.'nu] 'beija-flor' (PRODOCLIN, 2010)
vocálicos orais. As vogais nasais são interpretadas por ele como sequências (Vn),
assim, a nasalidade vocálica seria decorrente do contato da vogal oral com uma
alta i ɨ u
média
baixa a
âmbito do PRODOCLIN, que o contraste entre vogais longas e curtas pode distinguir
(3)
a) [ã.'naː] → 'língua'
b) [ã.'na] → 'açacu'
c) ['uː.ni] → 'cipó'
d) [u.'ni] → chegar.PST.REM → 'chegou' (PRODOCLIN, 2012)
seções.
não ser por V, que pode constituir palavra mínima e ocorrer em início e final de
palavras (Paula, 2004, p.74). Proponho que V de fato possa constituir a palavra
mínima na língua, mas que, nesse caso, V é necessariamente uma vogal longa, o
que constitui uma sílaba pesada e atrai o acento. Discuto esta questão na próxima
seção, que trata do peso silábico. Além disso, diferentemente deste autor, não
(4)
a) hiana – [hĩ.'ã.na] → pegar.PRF.RECP → 'se casaram'
b) maina – [ˌmaː.i.'na] → 'magro' (PRODOCLIN, 2010)
consoante pode compor o ataque de uma sílaba. Vemos em (5) palavras com cada
(5)
/p/
#_a [pa'ni] 'rede'
#_ɨ [pɨ.'i] 'folha'
#_i [pi.'ti] 'comida'
#_u [pu.'ku] 'tripa'
V_V [pu.'pu] 'coruja'
/t/
#_a [ta.'ka] 'fígado'
#_ɨ [tɨ.'ʂu] 'pescoço'
#_i [ti.'pi] 'utensílio para aplicar rapé'
#_u [tu.'ɾu] 'círculo'
V_V [tɨ.'tɨ] 'gavião'
/k/
#_a [ka.'pa] 'quatipuru'
#_ɨ [kɨ.'ti] 'prato'
#_i [ki.'ʃi] 'coxa'
#_u [kus.'ku] 'urubu'
V_V [ka.'kã] 'abacaxi'
/m/
#_a [ma.'kɨ] 'piranha'
#_ɨ [mɨ.'tu] 'farinha'
#_i [mi.'si] 'peixe piau preto'
#_u [mu.'ti] 'pote'
V_V [i.'mi] 'sangue'
/n/
#_a [na.'pɨ] 'mosca'
#_ɨ [nɨ.'a] 'jacamim'
#_i [ni.'hu] 'escorpião'
#_u [nu.'ku] 'chegar'
V_V [nu.'nu] 'boiar'
/β/
#_a [βa.'kɨ] 'filho'
#_ɨ [βɨ.'ɾu] 'olho'
64
5
Não encontrado.
6
Não encontrado. Isso sugere que a fricativa palatal não ocorre antes da vogal alta central e que a
fricativa retroflexa não ocorre antes da vogal alta anterior. Ambas são restrições fonotáticas do
Proto-Pano (Shell, 1985).
65
pode ser ocupada pelas fricativas /s/, /ʃ/, e /ʂ/, precedendo um ataque silábico
formado por oclusiva, nasal, ou a fricativa bilabial. No corpus analisado, apenas /ʂ/
precede a fricativa labial /β/. O fonema /ʂ/ também precede a nasal /n/ mas não /m/,
e as oclusivas /k/ e /p/, mas não /t/. O fonema ʃ em coda interna pode preceder /k/, /t/
e /m/, mas não /p/. Já /s/ pode preceder /k/, /p/, /t/ e /m/, mas não foi encontrado
seguindo /n/.
analisado, /w/ ocorre seguindo a vogal /a/ e /j/ ocorre seguindo /a/ e /u/ em codas
7
Não encontrado. É também uma restrição fonotática do Proto-pano (Shell, 1985).
8
Não encontrado. É também uma restrição fonotática do Proto-pano (Shell, 1985).
66
de coda interna10.
(6)
/ʂ/
[aʂ.'fa] 'boca'
[huʂ.'ka] 'dor de cabeça'
[paʂ.'pa] 'sapinho verde'
[kɨʂ.'ni] 'barba'
/ʃ /
[huʃ.'ki] 'pênis'
[iʃ.'tĩ] 'estrela'
[kuʃ.'ma.ɾu] 'macucau'
/s/
[nis.'ti] 'ralador'
[kus.'ku] 'urubu'
[pas.'pi] 'ponta de lança'
[is.'mu.hu] 'macaco cairara'
/j/
[ˌnuj.na.'ma] 'inimigo'
['maj.na] 'da terra'
/w/
['tsaw.ti] 'banco' (PRODOCLIN, 2010-2012)
(7)
a) [a.'mɨ̃] 'capivara'
b) [i.ˌ ʃi.ʃĩ.'wã] 'surubim'
9
Paula (2004) afima que a nasal /n/ pode ocorrer na posição de coda interna, mas defendo, na seção 2.5, que
a nasalidade em sílabas internas seja decorrente de vogais nasais.
10
Paula (2004) afirma também que a fricativa /h/ pode ocorrer na posição de coda interna, porém, as duas
palavras apresentadas por ele (reproduzidas abaixo, como no original) parecem apresentar aspiração
fonética, cuja ocorrência varia entre falantes. Observo este fenômeno principalmente após vogais altas
seguidas da fricativa /ʂ/. Não há palavras que apresentem contraste entre /h/ e os demais fonemas em
posição de coda silábica.
/t h pa/ 'preto'
/kakahma/ 'não quer ir' (Paula, 2004, p.84)
11
Ver seção 2.5 sobre nasalização.
67
c) ['kãj] 'araracanga'
d) [sa.'paj] 'perereca'
e) ['raw] 'remédio' (PRODOCLIN, 2010-2012)
Segundo Paula (2004), a coda final também pode ser ocupada pelas
fricativas /s/ e /ʃ/, mas nem o próprio autor e nem o corpus do projeto de
documentação apresentam palavras com o fonema /ʃ/ em posição de coda final. Ele
oferece apenas um exemplo de palavra com /s/ nesta posição (8a), que pode ser
uma instância de elisão da vogal átona final, se compararmos com (8b), retirada do
(8)
a) /tsanas/ 'cotiara'12
b) [tsa.'na.si] 'cotiara'
Segundo Loos (1999, p.231), é comum nas línguas pano que as vogais sejam
terceira sílaba átona aberta em final de palavra, que é justamente o que parece estar
ocorrendo no exemplo acima. Assim, parece correto afirmar que apenas as nasais e
pesadas, de acordo com sua estrutura interna. A mora (µ) é a unidade abstrata de
tempo que mede o peso silábico – as sílabas pesadas têm duas e as leves têm uma
(HAYES, 1989).
12
O exemplo foi mantido em seu formato original, como em Paula (2004, p.79).
68
ou seja, devem ter ao menos duas moras de duração. Nesta língua, uma sílaba
projeta duas moras se o núcleo for composto por uma vogal longa ou se tiver uma
projetam mora. Assim, proponho que a palavra mínima da língua consista em uma
vogal longa, que projeta duas moras: /aː/. Adoto o símbolo (Vː) para indicar que uma
(9)
a) ['aː] → DEM.MED
b) ['niː] → 'mata'
c) ['huː] → 'cabelo'
d) ['vi:] → 'carapanã'
e) [ ɨ̃ː] → '1S.PP(ERG)' (PRODOCLIN, 2010-2012)
vocálico.
2.3.3 Vocoides
Paula (2004, p.88) explica que “os glides e as vogais cognatas apresentam a
(10)
a) ai → [i.ˌna.mi.'tsaj] 'comerciante' [sa.'paj] 'perereca'
b) ia → [ni.'a] 'de pé' [pi.'a] 'flecha'
[ja.'pa] 'piaba' [ja.'ja] 'tia paterna'
c) aɨ → [sha.'ɨ] 'tamanduá-bandeira' [ta.'ɨ] 'pé'
d) ɨa → [ɨ.'a] '1S.ACC' [nɨ.'a] 'jacamim'
13
e) ɨi → [pɨ.'i] 'folha'
f) au → ['taw] 'paxiúba' ['tsaw.ti] 'banco'
g) ua →[tu.'a] 'sapo canoeiro' [tsu.'a.ti] 'cana de açúcar'
[wa.'ka] 'água' [wa.'si] 'capim'
h) ɨu → ['ɨ:.u] 'jia'
i) uɨ → [ni.'wɨ] 'vento' [wɨ.'tsa] 'outro'
j) iu → [ju.'ma] 'peixe' [tʃu.'ju] 'marianita' [ˌjuj.na.'hu] 'pássaros'
k) ui → [tuj.ku] 'macaco prego' [tʃu.'ju] 'marianita' [ˌjuj.na'hu] 'pássaros'
(PRODOCLIN, 2010-2012)
As vogais /a/ e /ɨ/ são sempre núcleos silábicos. Quando ocorrem adjacentes
a um núcleo, projetam outra sílaba. Já as vogais altas /i/ e /u/ podem constituir um
sílaba. Caso sejam curtas e ocupem posição adjacente a uma vogal nuclear, são
semivogal pós-nuclear, ele projeta uma mora e atribui peso a sílaba (11a), surtindo o
mesmo efeito que uma vogal longa no núcleo (11b). Caso ocorram precedendo o
13
A sequência /iɨ/ não foi encontrada. A mesma restrição ocorre no Proto-Pano. (Shell, 1985, p.93)
70
(11)
σ σ
µ µ µ µ
C V Aproximante C V
2.4 ACENTO 14
obrigatória. Proponho que em Yawanawá, temos pés moraicos, que podem ser
constituídos de uma só sílaba, caso ela tenha duas moras. O tipo de pé é indicado
palavras com número par de sílabas, que recebem acento na última sílaba (12e-g), e
se comprova nos trissílabos (13), que não recebem acento na sílaba final, pois esta
Palavras com quatro sílabas (12e-g) apresentam o acento primário na sílaba final e
(12)
a) [u.'wa] → flor
b) [ma.'pu] → cabeça
c) [ka.'tsu] → veado
d) [kus.'ku] → 'urubu'
e) [nu.ˌwɨ.ta.'pa] → 'muito gostoso'
f) [pa.ˌʂĩ.ni.'pa] → 'amarelo'
g) [va.ˌkɨ.na.'ti] → 'útero' (PRODOCLIN, 2010-2012)
considerar que a última sílaba forma um pé por si só, ou que a sílaba escapa a
para a direita. Assim, se considerarmos que a última sílaba de uma palavra com
número ímpar de sílabas forma um pé por si só, ela deve ser acentuada, pois o pico
porém, que a tendência da língua é não acentuar as últimas sílabas de palavras com
número ímpar de sílabas. Assim, temos um iambo seguido de uma sílaba que não
(13)
a) [ka.'ɾa.ta] → 'rim'
b) [ka.'ɾã.pa] → 'onça de igapó'
c) [na.'ka.ʃɨ] → 'cupim' (PRODOCLIN, 2010-2012)
Este padrão sugere que a língua Yawanawá não permite a formação de pés
degenerados. Como estou sugerindo que os pés são moraicos, isto quer dizer que
uma sílaba com apenas uma mora não pode formar um pé. Esta ideia vai ao
iambos. Em (14), temos uma primeira etapa (14a) em que o nome [a.'wĩ.hu] 'mulher'
(14)
a) [a.'wĩ] + [hu] → [a.'wĩ.hu] (µµ')µ
'esposa' NMLZ 'mulher'
'grande' é derivado de [ɨ.'wa] 'crescer'. Temos um iambo seguido de uma sílaba não-
(15)
a) [ɨ.'wa] + [pa] → [ɨ.'wa.pa] (µµ')µ
'crescer' RES 'grande'
vocálico e peso silábico sobre o padrão acentual da língua. Uma sílaba que tem uma
pé, é de se esperar que uma sílaba pesada receba acento (seja ele primário ou
secundário). Observo que isto realmente ocorre, e que o padrão iâmbico se mantém.
73
Este fato justifica a necessidade de considerarmos tanto moras quanto sílabas para
iâmbico.
presença de uma aproximante em posição de coda. Esta sílaba projeta duas moras,
acento secundário.
longo [iː] e portanto, projeta duas moras, formando um pé iâmbico. A segunda sílaba
(16)
a) * (atribuição de acento primário a nível da palavra)
[ µµ'][µ µ'] (formação de pés moraicos iâmbicos)
[ˌnuj.na.'ma] → 'inimigo'
Além disso, existem pares mínimos (17), que se distinguem pelo alongamento
projeta duas moras, por não possuir sílaba pesada. A palavra forma um pé iâmbico,
com acento primário na última sílaba. Já ['jãː.tã] 'segurou', tem um núcleo vocálico
longo na primeira sílaba, que portanto, projeta duas moras e forma um pé. Este é o
iâmbico. Já ['iː.tʃa] 'xingar' tem a primeira sílaba pesada, que forma o único pé
iâmbico completo e atrai o acento primário da palavra, sendo seguido por uma sílaba
átona.
(17)
raízes: ['tuj.ku] 'macaco prego' e [u.'ʂu.pa] 'branco'. Segundo Loos (1999, p.231), a
elisão de uma vogal átona final é um processo comum nas línguas pano. Aqui, elide-
fonológica com dois pés iâmbicos completos seguidos de uma sílaba monomoraica.
(18)
com uma relação estreita entre peso silábico e acento. Sílabas pesadas, ou seja,
75
padrão acentual da língua, já que vogais longas projetam duas moras e constituem
2.5 NASALIZAÇÃO
assimilação regressiva que espalha o traço [+nasal] de uma consoante a uma vogal
Mostro, porém, que o traço nasal se espraia para além do domínio da sílaba nestas
(19)
a) [ka.'pa] → [ka.'pã.wã]
'quatipuru' 'quatipuru grande'
b) [ku.'ma] → [kũ.'mã.wã]
'nambu' 'nambu grande'
c) [a.'ka] → [a.'kã.wã]
'socó' 'socó grande' (PRODOCLIN, 2010-2012)
Além disso, mostro em (20), que o traço nasal se espraia para a esquerda
estar se espraiando desde a coda ou desde o ataque da última sílaba até o núcleo
que espraia o traço para o núcleo da sílaba precedente. Em (20c-e), assim com em
76
traço nasal.
(20)
a) [kã.'mã] → 'cachorro'
b) [kã.'na] → 'arara canindé'
c) [ka.'kã] → 'abacaxi'
d) [pa.'hĩ.ki] → 'orelha'
e) [ɾa.'tũ.ku] → 'joelho' (PRODOCLIN, 2010-2012)
arquifonema /N/, que não tem ponto de articulação, e postula uma regra de
nasalização regressiva de coda para núcleo, seguida por uma regra de apagamento
da nasal em coda. Argumento que esta regra apresentada por Paula (2004) explica
a nasalização em final de palavra, mas mostro que temos uma consoante nasal
não pode ressilabificar e constituir o ataque da sílaba seguinte. Este autor apresenta
(21)
a) /u.a.kun.ɨ.ua/ → [ua'kũ ɨw'a] 16
favo mãe 'abelha'
b) /u.ʃin.u.ʃin/ → [ u.ʃĩ.u.ʃĩ]
vermelho vermelho 'vermelhão' (PAULA, 2004, p.103)
15
Ver na seção 2.3.1 as consoantes que podem ocorrer em posição de coda silábica.
16
Mantenho o formato original de apresentação de dados deste autor.
77
não tem especificação de ponto de articulação. Teríamos que assumir, portanto, que
(22)
a) [i.'sĩ] + [pa] → [i.ˌsĩ. ni.'pa]
'doer' + RES → (pessoa/animal) 'valente'
(23)
a) [pa.'ʃĩ] + [ti] → [pa.'ʃĩ.ti]
'amarelo' + NMLZ.INS → 'urucum'
iniciado por consoante labial em que não ocorre a ressilabificação da coda nasal.
78
(24)
[ta.'pĩ] + [paj] → [ta.'pĩ.ˌpaj]
'aprender' DES → 'quer aprender' (PRODOCLIN, 2010)
duas sílabas nas línguas pano atuais. Perde-se a última vogal átona, e a consoante
apagamento. Alguns contextos, porém, mostram que esta terceira sílaba permanece
com um desses contextos em Yawanawá (ver exemplo 22). Veremos na seção 2.6
Shell (1985) mostra que algumas das palavras que apresento em (22) são
engatilhe o apagamento da coda vocálica da base. Nas línguas Pano atuais, são
de /pa/ a essas mesmas bases, por sua vez, não engatilharia este processo
fonológico.
também ocorra de forma semelhante. Assim, teríamos, de fato, uma coda nasal
espraiando seu traço para a vogal nuclear precedente, como propõe Paula (2004).
Porém, por ser oriunda do ataque de uma terceira sílaba cujo núcleo átono sofreu
17
O exemplo (6c) da seção 3.2.1 traz mais uma instância de sílaba latente.
79
apagamento, esta nasal tem ponto de articulação definido ao emergir nas formas de
(25)
[i.'nã] + [i.'tsa] + [aj] → [i.ˌnã.mi.'tsaj]
'dar' + ITR + NMLZ.AG → 'comerciante' (PRODOCLIN, 2012)
Em (26), vemos que não é o fato do sufixo em (25) ser iniciado por vogal que
exerce efeito sobre o ponto de articulação da nasal. Há sufixos iniciados por vogais
que engatilham a formação de uma terceira sílaba com ataque nasal coronal (26a,b).
(26)
a) [kã.'wã] + [i] → [kã.'wã.ni]
'passar' + PROG → 'passando'
dados. Parece necessário apenas acrescentar que as sílabas latentes são o local de
Essas sílabas átonas finais existem na forma subjacente das raízes, emergindo nas
formas de superfície apenas em alguns casos, como vimos nos exemplos (22-26).
Essas sílabas latentes com consoante nasal perdem a vogal átona final 18 e a nasal é
vocálico a esquerda.
18
Processo produtivo nas línguas pano, segundo Loos (1999, p.231). Na seção 2.4, mostro as
consequências desse processo fonológico sobre o padrão acentual.
80
mostro em (27), que são internas a uma raiz e não podem ser explicadas pela regra
acima. Nesses casos, não há um possível local de origem de uma nasal subjacente
(27)
a) [a.'jã.ʂi] → 'timbó'
b) [mã.'nĩ.a] → 'banana'
c) [pa.'hĩ.ki] → 'ouvido'
d) [ra.'tũ.ku] → 'joelho' (PRODOCLIN, 2010-2012)
nasal que ocupa o ataque silábico adjacente (seja a sílaba latente ou não); 2)
vocálica.
Valenzuela (2003) aponta que uma das características tipológicas das línguas
Proponho que o morfema em questão seja /nɨ̃/. Ao sufixar-se a uma base com
sílaba final átona, o sufixo forma uma nova sílaba acentuada, como vemos em (28).
19
A marcação de caso será analisada no capítulo 4.
81
(28)
a) ['Tiː.ka] → [ˌTiː.ka.'nɨ̃] nome próprio
b) [pa.'ja.ti] → [pa.ˌ ja.ti.'nɨ̃] 'abanador'
c) ['tuj.ku] → [ˌtuj.ku.'nɨ̃] 'macaco prego' (PRODOCLIN, 2010 – 2012)
Caso a base tenha a sílaba final tônica, a nova sílaba formada pelo sufixo /nɨ̃/
átona final, forçando o ataque nasal a ocupar a coda da sílaba anterior. Vimos na
seção sobre nasalização que este é um processo produtivo nas línguas pano.
Assim, temos os exemplos em (29), cujas formas de superfície têm a vogal final
nasalizada.
(29)
a) [ʂa.'ja] + [nɨ̃] → /ʂa.'ja.nɨ̃/ → [ʂa.'jã] nome próprio
b) [ka.ˌpa.ku.'ru] + [nɨ̃] → /ka.ˌpa.ku.'ru.nɨ̃/ → [ka.ˌpa.ku.'rũ] nome próprio
c) [Ta.'ta]+ [nɨ̃] → /Ta.'ta.nɨ̃/ → [Ta.'tã] nome próprio
d) [ja.'wa] + [nɨ̃] → /ja.'wa.nɨ̃/ → [ja.'wã] 'queixada'
e) [vɨ.'nɨ] + [nɨ̃] → /vɨ.'nɨ.nɨ̃/ → [vɨ.'nɨ̃] 'marido'
f) [Kã.ˌmã.ʂa.'ka] + [nɨ̃] → /Kã.ˌmã.ʂa.'ka.nɨ̃/ → [Kã.ˌmã.ʂa.'kã] nome próprio
(PRODOCLIN, 2010 - 2012)
No caso da base ter a sílaba final acentuada, porém com a posição de coda já
preenchida, o processo descrito acima é bloqueado e o sufixo /nɨ̃/ forma uma sílaba
(30)
(PRODOCLIN, 2010)
20
É importante notar que a oclusiva glotal, por ser inserida opcionalmente, em decorrência da
atribuição do acento, não faz parte da raiz e não afeta esse processo.
82
(31)
a) [tɨ.'tɨ] → [tɨ.'tɨ.pã] 'gavião'
b) [ka.'pɨ] → [ka.'pɨ.t ɨ̃] 'jacaré'
c) [ɾa.'βɨ] → [ɾa.'βɨ.tã] 'dois' (PRODOCLIN, 2010 – 2012)
mesma forma que em (29), a vogal final é apagada e o ataque nasal torna-se coda
(32)
a) [tɨ.'tɨ] → /tɨ.'tɨ.pa/ + /nɨ̃/ → /tɨ.'tɨ.pa.nɨ̃/ → [tɨ.'tɨ.pã] 'gavião'
b) [ka.'pɨ] →/ka.'pɨ.tɨ/ + /nɨ̃/ → /ka.'pɨ.tɨ.nɨ̃/ → [ka.'pɨ.t ɨ̃] 'jacaré'
c) [ɾa.'βɨ] → /ɾa.'βɨ.ta / + /nɨ̃/ → /ɾa.'βɨ.ta.nɨ̃/ → [ɾa.'βɨ.tã] 'dois'
foco no padrão acentual e sua interação com a estrutura silábica. Mostrei que a
estreita entre peso silábico e acento. Sílabas bimoraicas são pesadas, seja devido
coda, e formam pés iâmbicos. Além disso, vimos que uma série de processos
consoantes latentes em final de palavras, oriundas de uma terceira sílaba átona que
21
[f] alofone de /β/ seguindo consoante fricativa.
84
3 AS EXPRESSÕES NOMINAIS
3.1 INTRODUÇÃO
de um núcleo funcional D, intermediado por uma projeção nP; uma estrutura paralela
3.2.1 Nomes
fundamental que uma referência possa designar sempre a mesma entidade. Esta
definição vai ao encontro da noção apresentada por Givón (1984, p.51) e Payne
'alguns' e 'nenhum'. Além disso, este autor aponta que uma generalização
uma adposição.
ou outros nomes. A língua não apresenta artigos e os nomes nus são neutros em
relação a definitude. Isso quer dizer que a expressão nominal katsu que ocupa a
mostro a seguir.
(1)
a) Kamãshakã katsu rete-a.
Kamãshaka.PP(ERG) veado matar-PRF
'Kamãshaka matou veado.' / ' Kamãshaka matou o/um veado.'
(PRODOCLIN, 2010)
Yawanawá também são neutros para número. Isso quer dizer que a expressão em
(1a) tem ainda mais uma possibilidade de leitura, como vemos em (1b):
seção) como em relação a número. Como vimos em (1), os nomes ocorrendo sem
22
Esta generalização não parece se sustentar em Yawanawá. Mostro no exemplo (7) que o mesmo
marcador de pluralidade ocorre tanto em contexto nominal quanto em contexto verbal.
87
Corbett (2001, p.10) chama de general number esse tipo de sistema em que um
nome pode ser expresso sem fazer referência a número. Este autor mostra que a
língua cuchítica Bayso, por exemplo, tem três formas morfológicas diferentes para
denotar um nome comum: a forma genérica, a forma singular e a forma plural. Mas
sistemas com três formas morfológicas distintas como este não são comuns.
Por isso, a referência de katsu 'veado' em (1) é vaga em relação a número: pode
b) shashu → shashu-hu
canoa canoa-PL
'canoa' 'canoas'
c) Yawanawa-hu
Yawanawa-PL
'povo Yawanawá' (PRODOCLIN, 2010)
isu-hu itxu-i.
macaco.preto-PL correr-PROG
'Anta, veado, catitu, queixada; esses e os do alto, macacos pretos corriam.'
(Shenipahu Puyai Hunihu)
88
próprios (2c), animados (2a,c,d) ou inanimados (2b). Vemos ainda que este morfema
(3)
a) Kamãshakã katsu rave rete-a.
Kamãshaka.PP(ERG) veado dois matar-PRF
'Kamãshaka matou dois veados.'
também podem receber os sufixos aumentativo -wã (4) e diminutivo -xta (5).
(4)
a) peshe → peshe-wã
casa casa-AUM
'casarão'
b) kamã → kamã-ne-wã
cachorro cachorro-LAT23-AUM
'cachorrão'
23
Em (4b-c), temos uma sílaba latente. Ver seção 2.5.
89
c) iyã → iyã-ne-wã
lago lago-LAT-AUM
'lago grande'
d) Niwe-wã-ne peshe pake-a.
vento-AUM-PP(ERG) casa cair-PRF
'A tempestade derrubou a casa.'
(5)
a) kamã → kamã-xta
cachorro cachorro-DIM
'cachorrinho'
c) Peshe-xta tsau-a.
casa-DIM sentar-PRF
'Havia uma casinha.' (Shenipahu Tua Yuxĩhu)
(6)
a) A yuina peshe nemeri ni-a.
DEM.MED pássaro casa debaixo estar.em.pé-PRF
'O pássaro está embaixo da casa.'
24
Por considerar a marca de ergativo uma posposição, como discuto no capítulo 4, não defino
como uma característica dos nomes poderem receber morfemas referentes a marcação de caso.
90
nomes massivos. Segundo Payne (1997, p.41), essa distinção se dá entre nomes
que podem ser contados e nomes que se referem a substâncias como água, areia,
westirasi 'alguns'. Da mesma forma, o nome contável manĩa 'banana' toma o mesmo
quantificador em (7b). Já em (7c), o quantificador rave 'um pouco' ocorre com os
nomes massivos waka 'água' e maxi 'areia'. Em (7d), vemos que o quantificador de
nomes contáveis não é compatível com nomes que denotam substâncias como
seção, mostro que são os demonstrativos e não os artigos que exercem a função de
3.2.2 Determinantes
seguinte estrutura:
funcionais, dos quais D seria o mais alto, projetando o sintagma determinante DP. A
uma discussão introduzida por Chomsky (1970, p.198), que afirma que “a gama de
3.2.2.1 Demonstrativos
nominal, exercendo a função de pronome de terceira pessoa. São três formas, que
(9)
b) A tsuati tsu-i.
DEM.MED cana.de.açúcar secar-PROG
'Essa cana está murchando.'
93
c) Ua kape u-i.
DEM.DIST jacaré vir-PROG
'Aquele jacaré está vindo.' (PRODOCLIN, 2010)
Estes exemplos mostram que, apesar do Yawanawá ser uma língua que
pronome de terceira pessoa. Isto só ocorre no caso do demonstrativo ser o único
ocorrendo com o pronome da mesma forma que co-ocorrem com os nomes plenos.
expressões nominais como '*este ele' ou '*aquela ela' são agramaticais. Esta é uma
das motivações para postular que tanto pronomes pessoais quanto demonstrativos
simplificada de uma expressão nominal com nome pleno e a figura 7, com pronome:
Figura 6: Expressão nominal com nome pleno. Figura 7: Expressão nominal com pronome.
94
intransitivo.
a) Ẽ nuku-a / itxu-a.
1S.NOM chegar-PRF / correr-PRF
'Eu cheguei.' / 'Eu corri.'
c) A nuku-a / itxu-a.
DEM.MED.NOM chegar-PRF / correr-PRF
'Ele(a) chegou.' / 'Ele(a) correu.'
primeiro lugar, vemos que não existem, em Yawanawá, formas morfológicas que
argumental do verbo. Dixon (1994, p.71) chama essa divisão de split-S, uma cisão
recebendo papel temático alto (agente) (Cf. ADGER, 2003). Em (11), vemos que
abordadas no capítulo 4.
(10a,b) com (11a,b), repetidos abaixo como (12a,b) e (13a,b) vemos que as formas
(12)
a) Ẽ mia/ a / matu/ atu kux-a.
1S.PP(ERG) 2S / 3S/ 2PL / 3PL .ACC bater-PRF
'Eu bati em você/ nele/ em vocês/ neles'.
97
(13)
a) Ẽ nuku-a / itxu-a.
1S.NOM chegar-PRF / correr-PRF
'Eu cheguei.' / 'Eu corri.'
quer dizer que é o objeto de uma construção transitiva que apresenta a mesma
nome próprio Tika aparece sem qualquer marca morfológica como objeto (14c) e
como sujeito intransitivo (14b), enquanto que recebe o sufixo -ne quando ocorre
(14)
a) Tika-ne yawa rete-a.
Tika-PP(ERG) queixada.ACC matar-PRF
'Tika matou o/um queixada.'
b) Tika itxu-a.
Tika.NOM correr-PRF
'Tika correu'
três formas distintas para sujeitos transitivos, objetos e argumentos únicos de verbos
98
assim como os nomes plenos, uma referência estável, a primeira e segunda pessoa
terceira pessoa do plural apresenta características dos dois sistemas e será tópico
de discussão do capítulo 4.
predicados podem receber flexão de aspecto, podem ter sua valência aumentada
predicado estativo yuxtu 'ser torto' sem qualquer morfologia sufixal, denotando o
99
predicado paxtu 'ser surdo' denotando um estado presente, enquanto que em (15d),
ensurdecimento.
(15)
a) Na peshe yuxtu.
DEM.PROX casa ser.torto
'Esta casa é torta.'
c) A paxtu.
DEM.MED ser.surdo
'Ele é surdo.'
d) A paxtu-a. / A paxtu-i.
DEM.MED ser.surdo-PRF / DEM.MED ser.surdo-PROG
'Ele ficou surdo.' / 'Ele está ficando surdo.'
(PRODOCLIN, 2012)
(16)
a) Peshe ku-a.
casa queimar-PRF
'A casa queimou.' / 'A casa está queimada.'
b) Peshe ku-i.
casa queimar-PROG
'A casa está queimando.'
c) Na peshe txaka27.
DEM.PROX casa estragar-se.PRF
'Essa casa é ruim (estragada).'
d) Na peshe txaka-i.
DEM.PROX casa estragar-se.PROG
'Essa casa está se estragando.'
(PRODOCLIN 2012)
generalização possível é que os verbos que denotam processos com causa interna
podem receber este sufixo. Vemos, por exemplo, em (17a), que o predicado
se preta. É desta forma que se deriva a expressão 'cor preta', uma noção adjetival
27
Proponho que esta forma é derivada de uma operação de sufixação do morfema de aspecto
perfeito -a, seguida de uma redução, já que a uma base tem -a como vogal final. O mesmo ocorre
com a base ewa em (16f). Ver o mesmo processo ocorrendo com base terminada em i, seguida do
sufixo -i de aspecto progressivo no exemplo (26e) da seção 3.4.
101
em quantidade'.
(17)
a) Isã txeshe-pa.
patoá amadurecer-RES
'O patoá é/está preto.'
b) Peshe txeshe-pa.
casa amadurecer-RES
'A casa é preta.'
c) Peshe ewa-pa.
casa crescer-RES
'A casa é grande.'
-wa, como vemos em (18). Em (18a), vemos o predicado estativo yuxtu 'ser torto'
tomando um argumento a mais, como consequência de um aumento de valência.
(18)
a) Ẽ na peshe yuxtu- wa.
1S.PP(ERG) DEM.PROX casa ser.torto-TR
'Eu fiz essa casa ficar torta.'
102
intensificação -tapa, como vemos em (19). Este sufixo pode ocorrer mesmo com
predicados estativos que não podem tomar flexão de aspecto (19d,e), e que
poderiam, portanto, ser confundidos com nomes. Nomes não recebem este sufixo.
(19)
a) Vari txi-tapa.
sol esquentar-INTS
'Está muito calor.
b) Mã hui-tapa
2.PL sujo-INTS
'Vocês estão muito sujos.'
d) A keya-tapa.
DEM.MED ser.alto-INTS
'Ele é muito alto.'
e) A maina-tapa.
DEM.MED ser.magro-INTS
'Ele é muito magro. (PRODOCLIN 2011)
(20)
a) Ẽ txaka-pa tsãi-tiru.
1S.PP(ERG) estragar-se-RES falar-IRR
'Eu falo muita besteira (coisas ruins).'
b) Keya nuku-a.
ser.alto chegar-PRF
'Chegou (alguém) alto.'
c) Shua pake-a.
ser.gordo.PRF cair-PRF
'O gordo caiu.' (PRODOCLIN 2012)
Em (21a), mostro que que o predicado estativo paxtu 'ser surdo' deve estar
sentença. No caso de receber aspecto perfeito, só pode ter a leitura verbal (21b).
(21)
a) Paxtu-pã nika-ma.
ser.surdo-RES.PP(ERG) ouvir-NEG
'O surdo não ouviu.'
b) Paxtu-a nika-ma.
ser.surdo-PRF ouvir-NEG
'Ficou surdo e não ouviu.' (PRODOCLIN, 2012)
que são formas derivadas de verbos com características ora nominais, ora adjetivais.
Autores como Medeiros (2008) e Pires (1996) mostram que em língua portuguesa,
de dois nomes sem qualquer marca morfológica, como vemos em (22). Na literatura
DRYER, 2007). Payne (1997) aponta que a forma mais comum dos nomes
mas que existem construções em que um sintagma nominal modifica um nome sem
(22)
a) venu sheta
pássaro bico
'bico do pássaro'
b) ni vimi
mata fruta
'fruta da mata'
c) resfĩ shui
nariz buraco
'narina'
d) teshu shau
pescoço osso
'clavícula'
e) pahĩki nami
orelha carne
'lóbulo da orelha'
Em (23), vemos que uma série de outras relações semânticas, como posse,
alomorfe -we.
(23)
a) Tika-ne peshe pake-a
Tika-PP(POSS) casa cair-PRF
'A casa do Tika caiu.'
b) yawã rua
queixada.PP(POSS) chefe
'Chefe dos queixadas (povo Yawanawá)'
28
De acordo com as regras acentuais da língua, o sufixo -ne pode se reduzir a uma nasal e tornar-se
a coda da sílaba anterior. Ver seções 2.5 e 2.6.
106
Yawanawá que são inerentemente possuídos. São os nomes 'mãe', 'pai', e 'irmão' ou
'irmã' (neutro para gênero). Esses nomes,como vemos em (24), são raízes que não
(24)
a) e-wa
1S-mãe
'minha mãe'
b) a-wa
DEM.MED-mãe
'mãe dele(a)'
c) a-pa
3S-pai
'pai dele(a)'
d) mi-venanea
2S-irmão
'seu irmão' / 'sua irmã'
e) E-venanea shetxi.
1S-irmão rir.PROG 30
'Meu irmão / minha irmã está rindo. (PRODOCLIN, 2012)
29
Existe variação. Também encontramos as formas nuke ewa/epa 'nossa mãe/ 'nosso pai' e mĩ
ewa/epa 'sua mãe'/ 'seu pai'.
30
Esta forma é derivada de uma operação de sufixação do morfema de aspecto progressivo -i,
seguida de uma redução, pois a uma base tem -i como vogal final. No exemplo (16c) da seção 3.3,
o mesmo tipo de processo ocorre com o morfema de aspecto perfeito -a.
107
Adger (2003, p.219) explica que da mesma forma que VP é selecionado por
de nP também recebe o papel temático de agente (Cf. Baker, 1988). Certos autores
sintagma posposicional que se adjunge a nP. Uma evidência para motivar esta
(25)
Na nuke wixi
DEM.PROX 1PL.PP(POSS) escrita
'Esta nossa escrita.' (Yawanawahãu Wixi)
108
expressão nominal “the emperor's every wish” (Cf. ADGER, 2003, p.212). A
3.5 NOMINALIZAÇÃO
com semântica de agente, como mostro mais adiante; e o sufixo -ti, que forma
(26)
a) pi-ti
comer-NMLZ.INS
'comida'
b) mane-ti
tocar-NMLZ.INS
'instrumento musical' (ou dispositivo reprodutor de som; ou gravador)
c) paya-ti
abanar-NMLZ.INS
'abanador'
d) kuxa-ti
bater-NMLZ.INS
'terçado'
e) tua-ti
coar-NMLZ.INS
'coador'
109
f) wixa-ti
arranhar/escrever-NMLZ.INS
'caneta' ou 'caderno'
g) tsau-ti
sentar-NMLZ.INS
'banco'
h) naxi-ti
banhar-NMLZ.INS
'banheiro' (PRODOCLIN, 2010)
sintagma verbal, pois como vemos em (27), é possível ter um argumento interno
yuina (27a), mamã (27b) e wixi (27c). Em (27a-b), temos construções em que dois
nomes justapostos apresentam uma interpretação de construção de cópula, sem um
(27)
a) Pia-hĩ yuina rete-ti
flecha-ENF caça matar-NMLZ.INS
'A flecha serve para matar caça.' lit. 'A flecha é um instrumento de matar caça.'
c) wixi-tapi-ma-ti peshe
escrever-aprender-CAUS-NMLZ.INS casa
'escola' lit. 'casa de fazer aprender a escrever'
(Name Awea?)
110
verbal (VP). Este VP, por sua vez, concatena-se a um núcleo funcional v, que se
modificador do nome casa, núcleo do sintagma nominal, mas não tenho evidências
sintáticas para mostrar que tipo de relação se estabelece entre essas duas
(28)
(29)
a) manakati tsek-ai
dente arrancar-NMLZ.AG
'dentista'
111
c) tari shew-ai
roupa tecer-NMLZ.AG
'costureira'
e) iwi me-ai
madeira mexer-NMLZ.AG
'carpinteiro'
f) Tika wixi-tapi-mai.
Tika escrever-aprender-CAUS.NMLZ.AG
'Tika é professor'
(PRODOCLIN, 2012)
como em (29f).
motiva a existência da projeção funcional nP. Mostrei ainda que é possível derivar
we learn much more of human interest about how people think and feel and act
by reading novels or studying history than from all of naturalistic psychology,
and perhaps always will; similarly, the arts may offer appreciation of the heavens
to which astrophysics cannot aspire.
(Noam Chomsky)
114
4.1 INTRODUÇÃO
vP.
uma das principais características tipológicas das línguas Pano. Proponho que a
morfologia de superfície que eles têm em comum seja um reflexo do fato de que
seguir, nas formas iguais do nome próprio Tika como sujeito de verbo intransitivo
115
(1b) e objeto (1c), e sua marcação diferente como sujeito de verbo transitivo (1a):
(1)
a) Tika-ne yawa rete-a.
Tika-PP(ERG) queixada matar-PRF
'Tika matou o/um queixada.'
b) Tika itxu-a.
Tika correr-PRF
'Tika correu.'
traço [+participante] são realizados em uma só forma em posição de sujeito, seja de
(2)
a) Ẽ /Mĩ yawa rete-a.
1S/2S queixada matar-PRF
'Eu matei um/o queixada.' / 'Você matou um/o queixada.'
b) Ẽ /Mĩ itxu-a.
1S/2S correr-PRF
'Eu corri.' / 'Você correu.'
d) Ẽ /Mĩ a kux-a.
1S/2S DEM.MED bater-PRF
'Eu bati nele/nela.' / 'Você bateu nele/nela.'
e) A itxu-a.
DEM.MED correr-PRF
'Ele/ela correu.'
(PRODOCLIN, 2010 - 2012)
Os dados acima podem sugerir que o Yawanawá tem dois sistemas de caso
referentes a terceira pessoa. Isso indicaria que a atribuição de caso varia de acordo
do plural parece sugerir uma situação diferente. Em (3a), vemos que a forma
onde o pronome demonstrativo toma a forma distinta a-hu como sujeito intransitivo.
(3)
a) A-hãũ epe shewa-kãn-i.
DEM.MED-PL.PP(ERG) palha tecer-PL-PROG
'Elas estão tecendo palha.'
b) A-hu ve-kãn-i.
DEM.MED-PL vir- PL-PROG
'Eles/ Elas estão vindo.'
c) Ẽ atu kux-a.
1S 3PL.ACC bater-PRF
'Eu bati neles.' (PRODOCLIN, 2010 – 2012)
É comum encontrar línguas ergativas com este tipo de cisão, que foi descrita
por Silverstein (1976) como uma hierarquia nominal. As expressões nominais mais
marcação de caso com três formas distintas para sujeito transitivo, objeto e sujeito
Comrie (1991)31 mostra que uma cisão muito semelhante ocorre na língua
Comrie (1991) sugere que as gramáticas das línguas australianas devem seguir a
marcação de caso que ocorra em uma expressão nominal é carregada para todas as
nomes neutros, tenham formas morfológicas idênticas nos três casos. Apenas em
pronomes, mas não para nomes plenos. Em inglês, a mesma forma morfológica her
pessoa, enquanto a forma masculina exibe uma forma morfológica distinta para cada
com o tipo de expressão nominal não apenas em Dyirbal, mas em uma série de
31
Goddard (1982) também propõe que a maioria das línguas australianas tem três categorias de
caso, descartando a ideia bastante comum de que uma língua australiana típica apresenta dois
sistemas de caso coexistentes.
32
Exemplo retirado de Arregi & Nevins (2012, p.2).
119
línguas da família Pama Nyungan, dentre elas Djapu, Kugu Nganhcara e Margany.
Apesar disso, a atribuição de caso é uniforme, com ergativo sendo atribuído aos
com o ergativo quando são pronomes. Sendo assim, argumento que da mesma
forma que o Dyirbal, o Yawanawá tem três casos distintos. Os dados apresentados
em (3) são uma evidência ainda mais forte para esta ideia, pois se considerarmos
que a língua tem dois casos distintos para nomes e pronomes, seria necessário
1992; BITTNER & HALE, 1996; entre outros). Translinguisticamente, há duas formas
de sentenças transitivas. Como a língua não dispõe de morfologia que faça distinção
entre essas duas formas (exceto na terceira pessoa do plural), elas assumem uma
122
forma default, rotulada como absolutiva. Uma evidência que corrobora esta ideia é o
um argumento absolutivo por sentença, já que o caso está sendo atribuído pelo
núcleo T. Por outro lado, quando o absolutivo é apenas um default morfológico que
(4)
Kapakurũ a pia inã.
Kapakuru.PP(ERG) DEM.MED flecha dar.PRF
'Kapakuru deu uma flecha para ele.' (PRODOCLIN, 2011)
traço [+participante], este argumento ocorre em sua forma acusativa , como vemos
(5)
Kapakurũ ea pia inã.
Kapakuru.PP(ERG) 1S.ACC flecha dar.PRF
'Kapakuru me deu uma flecha.' (PRODOCLIN, 2011)
casos nominativo e acusativo. Por não se tratar de um caso estrutural, isso significa
123
que a segunda propriedade das línguas ergativas proposta por Deal (2012, p.2) – a
por Dixon (1994). Como discutido na seção 3.2.2.2, esta cisão se dá com base na
O Yawanawá não é uma língua que apresenta este tipo de cisão na marcação
de caso. A cisão que encontramos na marcação dos sujeitos intransitivos não está
devemos perguntar que caso está sendo atribuído ao argumento único de uma
124
nominativo. Uma evidência para esta ideia são os verbos que exibem alternância
Construções intransitivas, porém, são ambíguas. A sentença (6b) tem duas leituras
porém, só há uma leitura possível, equivalente a segunda leitura de (6b), com elisão
do argumento externo.
(6)
a) A-tũ ea nuku-a.
DEM.MED-PP(ERG) 1S.ACC encontrar-PRF
‘Ele(a) me encontrou.’
b) A nuku-a.
DEM.MED.NOM chegar-PRF ‘Ele(a) chegou.’
DEM.MED.ACC encontrar-PRF ‘(Alguém) encontrou ele(a).’
c) Ẽ nuku-a.
1S.PP(ERG) encontrar-PRF ‘Eu encontrei (alguém).’
1S.NOM chegar-PRF ‘Eu cheguei.’
d) Ea nuku-a.
1S.ACC encontrar-PRF
‘(Alguém) me encontrou.’ (PRODOCLIN, 2012)
está relacionada a natureza do núcleo funcional v que eles selecionam. Folli &
125
que não desempenha nenhum dos dois papéis. Em (7), mostro as estruturas das
(7)
a)
126
b)
c)
127
d)
traço de caso não valorado, mas encontra ambos os argumentos interno e externo
com os seus traços de caso já checados. A derivação segue sem ser afetada,
segundo Pesetsky & Torrego (2001) e Svenonius (2001), que argumentam que o
concatenado como irmão de VP não introduz argumento externo e não atribui caso
ausência engatilha e (7c), apesar das duas formas serem concatenadas na mesma
posição sintática. Como mostrei na seção 4.2, as formas nominativa (7d) e acusativa
construções transitivas.
morfologicamente (elsewhere item) é utilizada apenas quando não existe uma forma
mais específica disponível (HALLE & MARANTZ, 1993). Arregi & Nevins (2012)
que façam distinção entre esses dois casos. A inserção desta forma é bloqueada
quando há um traço de nominativo, pois este caso dispõe de uma forma morfológica
[+participante] com traço de caso acusativo ( ea /mia), enquanto que e/mĩ seriam
(atũ).
estrutura em (7c-d), com seu argumento único recebendo caso nominativo do núcleo
disso, esses argumentos não apresentam marcação que os diferencie dos sujeitos
mostro que não é possível ter marca de caso ergativo no único argumento de um
(8)
a) A tupĩk-a.
DEM.MED.NOM nadar-PRF
'Ele(a) nadou.'
b) Ẽ/Mĩ tupĩk-a
1S/ 2S.NOM nadar-PRF
'Eu nadei.'/ 'Você nadou.'
c) Tika tupĩk-a
Tika.NOM nadar-PRF
'Tika nadou.'
d) *A-tũ tupĩk-a
DEM.MED-PP(ERG) nadar-PRF
130
e) A-tũi aj tupĩ-ma.
DEM.MED-PP(ERG) DEM.MED nadar-CAUS
'Ele fez ele (outro) nadar.' (PRODOCLIN, 2010)
Assim, vemos que a terceira propriedade das línguas ergativas, como descrita
por Deal (2012) - uma cisão que diferencia a marcação de caso nos sujeitos
intransitivos de acordo com a estrutura argumental dos verbos - de fato, não está
ativa em Yawanawá.
mostrei que o “absolutivo” é atribuído por dois núcleos funcionais distintos. Também
mostrei que verbos intransitivos não têm argumentos ergativos. Isso dá conta da
acusativo na superfície. Os dados que ilustram este sistema estão copiados abaixo –
em (9a) o sujeito transitivo [-participante] ocorre com a marca de caso ergativo -ne e
em (9b-c), o mesmo nome aparece sem marcação morfológica (Ø) em sua forma
(9)
b) Tika itxu-a.
Tika correr-PRF
'Tika correu'
d) Ẽ yawa rete-a.
1S.PP(ERG) queixada matar-PRF
'Eu matei o/um queixada.'
e) Ẽ itxu-a.
33
1S.NOM correr-PRF
'Eu corri.'
f) A-tũ ea kux-a.
DEM.MED-PP(ERG) 1S.ACC bater-PRF
'Ele(a) me bateu.' (PRODOCLIN, 2010 - 2012)
33
Ver figura 8, que explica sincretismo morfológico entre os casos nominativo e ergativo para os
pronomes com traço [+participante].
132
(10)
a) A-haũ epe shewa-kãn-i.
DEM.MED-PL.PP(ERG) palha tecer-PL-PROG
'Elas estão tecendo palha.'
b) A-hu ve-kãn-i.
DEM.MED-PL.NOM vir- PL-PROG
'Eles estão vindo.'
c) Ẽ atu kux-a.
1S.NOM 3S.ACC bater-PRF
'Eu bati neles.' (PRODOCLIN, 2010 - 2012)
dizer que esses casos são marcados com o mesmo morfema 34, como vemos em
instrumental oblíquo.
(11)
a) Tika-ne Paulo-ne manakati tsek-a.
Tika-PP(ERG) Paulo-PP(POSS) dente puxar-PRF
‘Tika arrancou o dente de Paulo.’
34
Aqui, é glosado como PP(POSS) o mesmo morfema que Valenzuela (2003) chama de ‘genitivo’.
Mostro as motivações para essa escolha na seção 4.6.
133
para dar conta das múltiplas funções do morfema -ne. Dados de diversas línguas
Como nas línguas Pano, uma relação estreita entre construções de posse e
apontam Markman & Grashchenkov (2012). Dixon (1994, p.57) também mostra que
línguas de Papua; e no tibetano clássico e moderno. Além disso, Legate (2008) cita
autores como Pray (1976), Anderson (1977) e Garret (1990), que propõem que os
indicando uma possível relação sintática entre eles. Já em Kuikuro (Karib), o mesmo
forma morfológica.
baseiam-se nas ideias de Markman & Grashchenkov (2012), Woolford (1997, 2006)
e Legate (2008).
(12)
agente.
135
atribuição de papel temático, concordo com Legate (2008) que v marca seu
especificador como agente. Markman & Grashchenkov (2012), por outro lado, citam
uma série de autores que, assim como eles, argumentam que as línguas ergativas
não dispõem de um núcleo funcional v que seja temático: Nash (1996); Johns
em (13).
(13)
por P.
4.5 CONCORDÂNCIA
entre o sujeito transitivo e o verbo. Como mostrei na seção 4.2, existe um morfema
plural é -hu (14c,d), que é o mesmo marcador que pluraliza nomes, como vimos na
(14)
a) A-haũ epe shewa- kãn-i.
DEM.MED-PL.PP(ERG) palha tecer-PL-PROG
'Elas estão tecendo palha.'
b) A-hu ve-kãn-i.
DEM.MED-PL vir- PL-PROG
'Eles/ Elas estão vindo.'
137
d) Westi pi-a-hu.
um comer-PRF-PL
'Comeram uma só (banana).'
expus acima explicando que o sujeito ergativo é incorporado pela posposição núcleo
(15)
como marcador de caso no nome, como uma só palavra fonológica, e b) os traços Φ
(phi) do nome são incorporados pelo núcleo P e, portanto, projetados ao nível PP,
PF. Assim, durante a derivação sintática, os traços Φ dos nomes não estão visíveis
o primeiro problema com a análise em questão, pois não seria possível extrair N de
(16)
139
Portanto, parece que uma análise mais pertinente seria que a posposição
pela posposição, mas sim a valoração dos traços Φ da posposição pelo núcleo D
(17)
140
porém, que a operação concebida por eles para dar conta da concordância em
da operação Agree.
fato de que estes argumentos são licenciados pela mesma posposição, apesar de
(19).
um DP, como posposicional “ergativo” e copia seus traços Φ, que são projetados ao
(18)
temático de agente, não podendo ser ocupada por um possuidor (Cf. BAKER, 1988).
O argumento possuidor teria origem em uma projeção acima de nP, porém abaixo
uma projeção funcional PossP que seleciona nP e é selecionada pelo núcleo D (Cf.
marcadas pelo mesmo caso posposicional que marca os sujeitos ergativos. Assim,
(19)
a) Na nuke wixi
DEM.PROX 1PL.PP(POSS) escrita
'Esta nossa escrita.' (Yawanawahãu Wixi)
adjunge a projeção funcional nP. É devido a esta proposta que a glosa PP(POSS)
que adoto difere da glosa 'genitivo' adotada por Valenzuela (2003). O argumento
possuidor recebe caso posposicional e não caso genitivo, que seria um caso
estrutural.
recebem o mesmo caso posposicional que esses argumentos. Da mesma forma que
(20).
144
(20)
Por fim, mostrei as estruturas sintáticas paralelas dos TPs e DPs e propus
são licenciados pela mesma posposição. A diferença sintática entre eles é o fato
família linguística Pano. Esta ideia corrobora propostas de Shell (1985) e Valenzuela
(2003) entre outros, que mostram um sistema tripartite em certas áreas do Proto-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
147
inicialmente, esta se propõe a ser a primeira etapa de um estudo teórico amplo, que
da elisão de sílabas átonas finais podem explicar a alomorfia dos sufixos de caso
um caso adposicional.
Raimundo Luis Tuĩ Kuru, que possibilitará a realização de estudos teóricos sobre
gramática descritiva, que por sua vez, servirá de base para os estudos sobre classes
análises teóricas para outras línguas desta família. A análise da marcação de caso
referência.
150
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