Colocação Dos Pronomes Átonos

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LBIA MARA S.

SARAIVA

A COLOCAO DOS PRONOMES TONOS NA ESCRITA CULTA DO DOMNIO JORNALSTICO E NOS INQURITOS DO PROJETO NURC: UMA ANLISE CONTRASTIVA

BELO HORIZONTE FACULDADE DE LETRAS DA UFMG 2008

Lbia Mara S. Saraiva

A COLOCAO DOS PRONOMES TONOS NA ESCRITA CULTA DO DOMNIO JORNALSTICO E NOS INQURITOS DO PROJETO NURC: UMA ANLISE CONTRASTIVA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Estudos Lingsticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Lingstica. rea de Concentrao: Lingstica Linha de Pesquisa: Lingstica dos Gneros e Tipos Textuais Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos de Assis Rocha

Belo Horizonte Faculdade de Letras da UFMG 2008

Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras Programa de Ps-Graduao em Letras: Estudos Lingsticos

Dissertao intitulada A colocao dos pronomes tonos na escrita culta do domnio jornalstico e nos inquritos do Projeto NURC: uma anlise contrastiva, de autoria da mestranda Lbia Mara S. Saraiva, aprovada em 02 de setembro de 2008 pela banca examinadora constituda pelos seguintes professores:

Prof. Dr. Luiz Carlos de Assis Rocha Orientador

Prof. Dr. Mnica Guieiro Ramalho de Alkmim UFOP Titular

Prof. Dr. Maria Beatriz Nascimento Decat UFMG Titular

Prof. Dr. Evngela Batista Rodrigues de Barros PUC/MG Suplente

OBRIGADA

A Deus, pela supremacia de Sua oniscincia, onipresena e onipotncia com a qual me tem agraciado, desde sempre. Aos meus pais, por me terem apresentado o mundo, que ora ocupo. mezinha, perfeita em toda a sua plenitude, pelo exemplo de amor e f espontneos, que cuidou de mim em todos os momentos; ao meu pai, cujas presenas-distantes e distncias-presentes concedem-me fora para continuar e vencer, sempre... Ao vov Sebastio (in memoriam), de quem a lembrana presenteia-me com os sentimentos de perseverana e prudncia. vov Margarida, pelo carinho e pelos vrios Senhor Jesus que te abenoe!, porque Ele abenoou mesmo, vov! Ao Juninho, meu amor, que cumpre o papel de esposo-perfeito, por tudo o que constitumos. Ao meu querido tio Baltazar, por acompanhar com carinho e apoiar todos os meus projetos, e ao primo Joo Paulo, por encurtar os caminhos. Aos tios Drio e Delvando, pela fora de esprito, e ao primo George, pelas senhas. Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Rocha, orientador por que todos deveriam passar, por acreditar em mim e aprovar o projeto inicial desta pesquisa, pela confiana, competncia e compreenso com que me atendeu, e pelo seu ser profissional que no se desvincula de seu ser humano. Aos professores da FaLe, especialmente Beatriz Decat, pelas sugestes e pelo apoio incondicional (inclusive aqueles das madrugadas...), ao Prof. Dr. Luiz Francisco, atual coordenador do PosLin, pela solicitude e pelo carinho com que sempre me atendeu, Reinildes Dias, pela ateno carinhosa, quando falvamos da(s) segunda(s) lngua(s), e ao Prof. Rosalvo, por todas as filigranas. Aos professores da PUC Minas: Dr. Eduardo Soares, pela extenso dos atendimentos, iniciados em 2001..., Dr. Joo Henrique Totaro, por todas as correes inscritas no Manual, as quais me incentivaram a pesquisar os pronomes, e Dr. Evngela Barros, que me apresentou o Rochinha veja no que isso resultou... s colegas e amigas Thati Ane (minha consultora de todas as coisas, em todos os momentos), Maria Lucia e Margarete, que iniciaram comigo esta jornada por todas as conversas! Virgnia Prudente, pelo apoio virtual; Veneranda, pelo carinho dos bons agouros; ao Clemeson, que interrompeu o indispensvel ritual letrgico, por minha causa; e ao Paulo Biet, pelo coleguismo em L2.

Ana Karla (ela sabe por que) e ao seu pai, Sr. Derclio, pelas corridas. Carol Vilela, por todas as referncias e Bruna Karla (da convergncia), pela ajuda com os protocolos... Prefeitura Municipal de Betim, pela licena, principalmente Lala, Claudinha e Samara, pelo atendimento. Ao prof. Mrcio Gontijo, por toda a ajuda, enquanto diretor, quando iniciei este trabalho, e colega Mnica, que esteve torcendo por mim. Escola Estadual Professor Osvaldo Franco, nas pessoas de Csar, Neide, Regiane e Cristiano, equipe com a qual pude contar, em diversas circunstncias. Aos colegas Adilson e Hel, por me socorrerem quando precisei; ao colega e amigo Jefferson, pelas conversas, pelas revistas e por me conduzir, gratuitamente. Escola Municipal Jos Salustiano Lara, um obrigada especial Rosngela e Cirlei, Marlene, Silvaninha e aos colegas Luiz, Mara, Atade e Ana Lcia. A todos os meus alunos, queridos, que sempre me receberam com ateno e carinho, especialmente Sharlene, minha fiel monitora de todas as horas, e ao Jesse Braiam, por todas as perguntas. Biblioteca da FaLe, em especial aos funcionrios Rosngela e Jlio, pela presteza com que sempre me atenderam. Ao PosLin Geralda, Cida, Carol e Joyce , e ao CNPq, pelos apoios.

Apanhar, na seara dos clssicos, constantes nos fatos simples, quando uniformes. Quando, porm, contraditrios, ou divergentes, como generalizar em norma o que neles houver de comum e permanente? (A. de Sampaio DRIA, 1959. Prefcio.)

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo realizar uma anlise comparativa da colocao de pronomes tonos na escrita culta do domnio jornalstico atual e em inquritos do Projeto NURC/Norma Lingstica Urbana Culta, para verificar se h interferncias da lngua falada na lngua escrita. Foi tambm investigado o grau de coincidncia (ou no) entre os exemplos colhidos e as prescries gramaticais tradicionais, com vistas a identificar quais motivaes lingsticas justificariam suas respectivas ocorrncias. Os dados obtidos indicaram sinais de desaparecimento da colocao mesocltica e apontaram diferenas entre as duas modalidades pesquisadas (oral e escrita), atestando a preferncia pela colocao procltica em ambas as amostras, causada pela atrao vocabular. Alm disso, os resultados confirmaram a premente necessidade de uma reviso nas gramticas tradicionais quanto ao item colocao pronominal, em referncia ao portugus hodierno e ao ensino da norma culta no Brasil.

Palavras-chave: colocao pronominal, fala-escrita, gramtica, ensino.

ABSTRACT

This paper is a comparative analysis of the placement of unstressed pronouns in two types of formal texts: those that have been produced in the actual journalistic mastery and those produced by NURC Project to check interference of the spoken language in the written language. It was also investigated the coincidence degree (or not) among the caught examples and the traditional grammar prescriptions to identify which linguistic reasons justify their occurrences. The obtained data indicated signs of disappearance of the tmesis and pointed to differences between the two investigated modalities of language (oral and written) attesting preferences to proclisis in both kinds of samples, caused by vocabulary attraction. Moreover, the results confirmed the pressing need of a review in traditional grammars regarding pronoun placement, taking into account the current form of written Portuguese and to the teaching of the standard norm of the language in the Brazil as well.

Key-words: Pronouns, spoken-written, grammar, teaching.

LISTA DE QUADRO, TABELAS E GRFICOS

QUADRO 1 Os pronomes tonos ........................................................................................................... 15

TABELAS 1 Relao de suportes, quantidade e datas............................................................................. 62 2 Classificao: Corpus NURC............................................................................................. 68 3 Colocao nos dois corpora em relao GT.................................................................... 76 4 Casos de Prclise (dados escritos)...................................................................................... 79 5 Prclise (dados escritos) ..................................................................................................... 81 6 Prclise por pronome.......................................................................................................... 82 7 Critrios de nclise (dados escritos) .................................................................................. 83 8 nclise por pronome........................................................................................................... 85 9 Prclise por critrio (dados do NURC) .............................................................................. 91 10 nclise por critrio (dados do NURC) ............................................................................. 92

GRFICOS 1 Total de pronomes pesquisados.......................................................................................... 74 2 Pronomes pesquisados: total geral...................................................................................... 75 3 Total geral: escrita e fala de acordo com a GT................................................................... 75 4 Colocao Corpus escrito................................................................................................... 76 5 O Corpus Escrito & a GT................................................................................................... 77 6 Prclise de acordo com a GT.............................................................................................. 78 7 Prclise de acordo com a GT - %....................................................................................... 79 8 Prclise por critrio ............................................................................................................ 80 9 nclise por cada critrio gramatical ................................................................................... 83 10 nclise por pronome dados escritos .............................................................................. 84 11 Relao pronominal: Corpus escrito ................................................................................ 86 12 Porcentagem pronominal Corpus oral.............................................................................. 88 13 O Corpus Oral & GT........................................................................................................ 88 14 Prclise de acordo com a GT............................................................................................ 89

15 Prclise por critrio (dados orais)..................................................................................... 90 16 Prclise por pronome - dados falados (NURC)................................................................ 91 17 Critrios de nclise: dados orais ....................................................................................... 94 18 Mesclise: comparao entre corpora.............................................................................. 95 19 Prclise: comparao entre corpora ................................................................................. 96 20 nclise: comparao entre corpora .................................................................................. 96 21 Os Corpora & a GT........................................................................................................... 97

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SUMRIO

INTRODUO ....................................................................................................................... 12

CAPTULO 1 OS PRONOMES TONOS: OBJETO DESTE ESTUDO ...................... 15 1.1 Os oblquos tonos no quadro geral dos pronomes pessoais: localizao gramatical.......... 15 1.2 A histria da colocao: contextos e contradies ............................................................... 16 1.2.1 Como tudo comeou.......................................................................................................... 16 1.2.2 As sintaxes que se seguiram...............................................................................................23 1.2.3 Um pouco das contradies e dos problemas de ontem e hoje ......................................... 29 1.3 As regras de colocao pronominal em cinco gramticas selecionadas para esta pesquisa. 36 1.4 Demais estudos acerca dos tonos........................................................................................ 39 1.5 Em sntese............................................................................................................................. 44

CAPTULO 2 ABORDAGENS TERICAS ...................................................................... 46 2.1 Concepes de lngua e linguagem ...................................................................................... 46 2.2 Acerca da noo de texto como materializao lingstica.................................................. 48 2.3 O continuum fala-escrita....................................................................................................... 49 2.4 Sobre o conceito de norma utilizado neste trabalho............................................................. 52 2.5 Concernente aos gneros textuais (formais)......................................................................... 54 2.5.1 A questo do estilo ............................................................................................................ 57 2.5.2 Definies metodolgicas para este estudo....................................................................... 58

CAPTULO 3 CONSIDERAES METODOLGICAS ............................................... 61 3.1 Da constituio dos corpora ................................................................................................. 61 3.1.1 Quanto ao corpus de lngua escrita ................................................................................... 61 3.1.2 Quanto ao corpus de lngua falada .................................................................................... 65 3.2 Do processo de anlise ......................................................................................................... 69 3.2.1 Critrios ............................................................................................................................. 70

CAPTULO 4 ANLISE DOS DADOS OBTIDOS ........................................................... 72 4.1 Tratamento dos corpora: informaes genricas ................................................................. 72

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4.2 Dados obtidos: distribuio no quadro geral ........................................................................ 74 4.3 O corpus de lngua escrita: os textos jornalsticos e as regras da GT................................... 76 4.3.1 Os casos de prclise........................................................................................................... 77 4.3.2 Os casos de nclise ............................................................................................................ 82 4.3.3 O (nico) caso de mesclise .............................................................................................. 85 4.3.4 Algumas concluses .......................................................................................................... 86 4.4 O corpus de lngua falada: os inquritos do NURC segundo as prescries gramaticais .... 87 4.4.1 Ocorrncias proclticas ...................................................................................................... 88 4.4.2 Ocorrncias enclticas........................................................................................................ 92 4.4.3 Resultados.......................................................................................................................... 94 4.5 Os dois corpora: resultados contrastveis? .......................................................................... 95 4.5.1 Resultados: indicadores para o ensino............................................................................... 97

CONCLUSO........................................................................................................................... 99 REFERNCIAS ..................................................................................................................... 103

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INTRODUO

A questo da colocao pronominal tem sido foco de ateno de vrios estudiosos, que buscam compreend-la desde os seus usos mais antigos at os atuais, uma vez que os manuais que disso tratam no apresentam uma postura categrica sobre o assunto, ao contrrio, as alegaes so, por vezes, conflitantes. Qualquer consulente pode ter acesso s normas estabelecidas pela Gramtica Tradicional (doravante GT) e permanecer em dvida quanto colocao de um ou outro pronome em situaes diversas. Nesse sentido, muitas dvidas surgem sobre como efetuar essa colocao, em que momento priorizar a anteposio (A blindagem do veculo evitou que as balas o atingissem., Folha de S. Paulo, 31/12/07) ou a posposio (Grenouille passa a assassinar para roubar-lhes as emanaes., Veja, jan./2007) e, ainda, quando e como utilizar a construo mesocltica (... por serem inteis, transformar-se-o numa total aceitao., Estado de Minas, 05/08/07). Perguntas referentes colocao encltica so to freqentes quanto s que dizem respeito prclise. O critrio, fora reconhecer, diz respeito tosomente hiptese da atrao vocabular, sobre o que se faz pertinente interrogar: a) a atrao de partculas a causa que mais incute a colocao pr-verbal? b) E quando no h termos atratores, a nclise a posio a dar destaque ou a prclise segue como a preferncia corrente? c) Em contextos propcios para a mesclise, ela a colocao que ocorre ou os usurios esto dela se afastando? Se dela se afastam, que construo estar predominando em seu lugar? d) Todas as vezes em que h palavras atratoras a prclise que de fato ocorre? e) Na ausncia das expresses ditas atrativas, as posies usadas so a intra e a ps-verbal, ou permanece a anteposio? f) As trs formas de colocao previstas pela GT ocorrem tanto na escrita quanto na fala? Em que nvel textual e com que freqncia isso acontece? Para responder a essas e a outras questes, procedemos a uma pesquisa acerca da colocao dos tonos em textos considerados cultos, do domnio jornalstico, e em inquritos do Projeto NURC, que representa a fala culta da Lngua Portuguesa no Brasil. J est provado que as regras contidas nos compndios gramaticais so incoerentes e pautam-se em usos arcaicos, em textos literrios, que no podem servir como modelo para a sociedade atual, como nos diz Rocha (2002):

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Se a lngua literria se caracteriza pela ruptura, pela inovao e pela rebeldia, conclui-se que ela no pode servir de modelo para a chamada lngua padro, que essencialmente conservadora. [...] Tambm no faz sentido eleger a lngua literria dos sculos anteriores como modelo da lngua padro atual, como fazem as gramticas tradicionais. (p. 59-60).

Em razo disso, optamos por uma anlise em gneros nos quais acreditamos ser possvel encontrar um formato adequado ao que corresponde a norma culta deste pas, escrita e oral, na tentativa de contribuir para a caracterizao do que constitui o uso culto na atualidade, em termos de colocao pronominal. Buscamos, ainda, fornecer subsdios para o ensino de lngua, quanto a esse uso especfico, pois, se se faz necessrio possibilitar ao discente o conhecimento das diversas manifestaes lingsticas, a fim de ampliar sua competncia no trato com a Lngua Portuguesa, imprescindvel que isso se realize com base em usos autnticos e atuais. Queremos, com isso, contribuir com o ensino das duas modalidades de lngua, que, comumente, diferem-se do linguajar dos alunos. Sob esse prisma, adotamos, com Possenti (1996), sem qualquer dvida, o princpio (quase evidente) de que o objetivo da escola ensinar o portugus padro, ou, talvez mais exatamente, o de criar condies para que ele seja aprendido. Qualquer outra hiptese um equvoco poltico e pedaggico. (p. 17). Partindo do pressuposto de que nos corpora selecionados para esta pesquisa faz-se possvel encontrar usos regulares e sistemticos daquele fato lingstico, objetivamos analisar o comportamento dos tonos a fim de contribuir para a reviso, de uma forma geral, e para a prtica docente, no que respeita ao ensino do que pode vir a constituir o padro escrito e falado. Alm disso, investigamos se o que tem ocorrido na fala j se configura como uso, de fato, na escrita culta, no que tange colocao dos pronomes tonos, e se isso ocorre consoante os critrios tradicionais. Pretendemos verificar at que ponto os textos do domnio jornalstico podem servir como base para o ensino de lngua padro escrita e o Projeto NURC como ensino de fala culta. Desse modo, este trabalho constitui-se, fundamentalmente, de uma anlise sincrnica da colocao dos pronomes tonos em textos escritos e falados na linguagem culta, considerando-se o que propem as gramticas tradicionais a esse respeito. Acreditamos que a atrao vocabular, ainda que criticada por alguns autores, permanea como a motivao

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lingstica para a preferncia procltica, em ambos os corpora pesquisados, que a posio encltica esteja limitada aos usos da escrita, com pouca freqncia na lngua falada, e que a mesclise apresenta tendncias extino. Hipotetizamos, tambm, que os usos escritos, mais do que os orais, atestam maior concordncia com as regras da GT. Assim, este trabalho organiza-se da seguinte forma: No primeiro captulo, apresentamos o objeto deste estudo em seu contexto histrico e gramatical, apontando as contradies e os problemas que a literatura sobre ele delata, seguidos de um breve apanhado de algumas pesquisas realizadas no Brasil sobre o assunto, com base no que tecemos alguns comentrios. A seguir, no captulo dois, esboamos um pequeno resumo das teorias que circundam este trabalho, ressumando conceitos e terminologias que direcionam nosso processo de anlise. No terceiro captulo, descrevemos os passos desta pesquisa, caracterizando nossa amostra, bem como os critrios por ns utilizados durante o levantamento dos dados. O quarto captulo trata da anlise propriamente dita, em que testamos nossas hipteses e fazemos as devidas comparaes e/ou os confrontos necessrios. Por ltimo, apresentamos as ilaes s quais nossa anlise permitiu chegar, sobre toda a pesquisa realizada, em uma parte a isso destinada.

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CAPTULO 1 OS PRONOMES TONOS: OBJETO DESTE ESTUDO

Problema de lengua, problema de pasin. De veras, lo que excita a las gentes es el conflicto: el problema, a unos pocos. Yo quisera ahora ponerme a discurrir sobre el tema separando con cuidado de los valores y poderes afectados sus intereses tericos. El conflicto se vive, el problema se contempla. Ya la busca de las bases autnticas del problema es de por s placer y recompensa suficiente, aun descontando la ventaja prctica que se pueda derivar para nuestra actitud ante el conflicto. (Amado Alonso)

1.1 Os oblquos tonos no quadro geral dos pronomes pessoais: localizao gramatical

Vistos como objeto ou complementos, os pronomes pessoais do caso oblquo tono so assim situados pela GT:

QUADRO 1 Os pronomes tonos Pessoas 1 2 3 No singular me te se, lhe, o, a No plural nos vos se, lhes, os, as

Alguns desses pronomes assumem formas distintas, de acordo com os verbos que acompanham, a saber: Os pronomes o, a, os, as: associados a verbos terminados em -r,-s ou -z, e palavra eis = lo, la, los, las (formas antigas em que caem aquelas consoantes). Exemplo: Estimul-los a trabalhar (e pagar a eles por isso) uma medida correta. (Veja, jan./07). associados a verbos terminados em ditongo nasal (-am, -em, -o, -es) = no, na, nos, nas Exemplo: Repreendam-no caso o peguem no ato.

Esses pronomes so considerados formas prprias do objeto direto.

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Os pronomes lhe, lhes = formas prprias do objeto indireto. Exemplo: Este perodo lhe traz uma onda de relaxamento e tolerncia. (O Globo, 04/01/08).

Os pronomes me, te, nos e vos = podem empregar-se como objeto direto ou indireto. Exemplo: Isso nos leva a um corpo mais pesado e sinuoso. (Criativa, jan./07).

Podem, ainda, todos esses pronomes, assumir posio de sujeito (como no caso do infinitivo) e de reflexivos.

De um modo sinttico, podemos dizer que o emprego dos pronomes oblquos tonos, no quadro geral dos pronomes pessoais, tratado, pois, como funo de objeto, em que esses pronomes desempenham, ento, o papel de complemento. Todavia, ainda que parea claro e definido esse papel dos tonos, muitos so os questionamentos e contradies que os cercam, haja vista, conforme mencionado na introduo deste trabalho, a postura contraditria que as GTs sobre eles expem. Postura essa que remete aos primeiros indcios de normalizao desses pronomes, embutidos j em sua origem, conforme veremos a seguir o problema histrico.

1.2 A histria da colocao: contextos e contradies

1.2.1 Como tudo comeou

A histria da colocao pronominal parece remontar a oito sculos, aproximadamente, quando, no portugus antigo, foram observados traos de possveis regularidades, conforme estudos realizados por Huber (1986) e Silva (1989), por exemplo. Analisaram esses autores textos do portugus arcaico, o que resultou em compndios gramaticais. Nestes, se podem encontrar documentos, poesia e prosa medievais em que a colocao pronominal, assim como tantos outros itens, aparece em posies sistemticas, ao lado de suas variantes tambm freqentes. Baseando-se em textos produzidos em portugus a partir do incio do sculo XIII at o fim do XV, Silva (1989) elenca uma srie de casos em que os pronomes aparecem comumente em distribuies gramaticais no corpus analisado, apresentando uma descrio organizada dos fatos lingsticos, o que ela considerou como resultado de vrias sincronias

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(p. 44-5). Tudo isso forneceu elementos para uma tipologia dos textos escritos da poca. (SILVA, 1989, p. 22). Com um corpus representativo para uma gramtica do portugus arcaico, esta autora considerou, ento, como especificidades desse tipo de gramtica, o seguinte:

Um fato histrico aceitvel para estabelecer sincronias na histria de uma lngua, enquanto no se tenha estabelecido a cronologia relativa de fatos lingsticos que possam ser indicadores dessas sincronias. o que ocorre com a lngua portuguesa: a cronologia relativa dos fenmenos lingsticos est por ser feita. Nas gramticas histricas apenas se encontram informaes dispersas e determinadas assistematicamente de datao de certos fenmenos lingsticos. (SILVA, 1989, p. 37-8).

Sobre o material que coletou, Silva declara que essa documentao escrita tambm anterior a uma normativizao, o que conduz diversidade no s ortogrfica como gramatical, j que, na ausncia de normas de uso explcitas, o que havia, ento, eram apenas diretrizes que conduziam a execuo da escrita e das cpias dos textos manuscritos, quer traduzidos, quer originariamente portugueses. Assim, quando falamos na construo de uma gramtica do portugus arcaico, entendemos por isso a depreenso, a partir da documentao disponvel, das regras que governam a organizao dos enunciados documentados. E essa organizao se refere, inclusive, colocao pronominal na escrita dos sculos XIII a XV, sobre o que a autora afirma que se est trabalhando com documentao escrita, em uma fase histrica em que no havia [sequer] normas ortogrficas gerais e obrigatrias. (SILVA, 1989, p. 41-2, 47). No quadro dos pronomes pessoais, Silva apontou as diversas formas da snclise pronominal no corpus analisado, considerando as trs posies em que os tonos se distribuem a propsito das mudanas fnicas. A partir da, listou os contextos e suas respectivas regras, ratificando a regularidade do uso desses pronomes j no portugus antigo. (SILVA, 1989, p. 213). Huber (1986), que realizou um estudo similar ao de Silva (1989), assim constatou acerca da snclise pronominal: Os pronomes-complemento tonos podem estar antes ou depois do verbo do qual dependem, pois, para esse autor, tm como conseqncia serem tonos, aparecem, portanto, imediatamente depois de uma palavra fortemente acentuada. A

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sua relao com algo precedente f-los deslocar-se o mais possvel para o comeo da frase.. Conclui esse autor que a posio dos tonos, como regra geral, a encltica, para o antigo sentimento da lngua. (HUBER, 1986, p. 177-8). Do estudo do corpus antigo, esse autor deduziu vrios casos de colocao, expondo diversos contextos em que cada caso se fazia comum, porm suas indicaes se referiam, por vezes, apenas ao que se fazia freqente nos documentos, independentemente de porqus. Citamos: No fcil explicar por que razo o pronome umas vezes se encontra depois do sujeito, outras depois do predicado. Talvez se encoste palavra de acento mais forte. (HUBER, 1986, p. 178). A, o autor j discutia alguns casos de contradio. Ao apontar os contextos de colocao encontrados no corpus, Huber assim fazia somente como uma descrio do que observara, sem nenhum tom prescritivo. Ou seja, ele no formularizou regras, apenas exibiu o comportamento dos tonos nos textos por ele analisados. Segundo Lobo, Lucchesi e Mota (1991) que nos permitem uma leitura de Huber (1986) e Silva (1989) , a norma observada em textos do portugus antigo coincide em grande parte com a norma contida nas gramticas, [contudo] perceber-se- na primeira uma maior flexibilidade na colocao pronominal. (p. 155). Isso porque, diferentemente do que ocorreu no portugus de Portugal, em que normalmente o pronome viria posposto ao termo ao qual se ligava, por dele fazer parte, no Brasil, o pronome tornou-se cada vez mais semitnico, no decorrer dos anos, deslocando-se, assim, para antes do verbo. (LOBO, LUCCHESI e MOTA, 1991). Sobre a evoluo do portugus, assim se manifesta Cunha (1976, p. 67): Era ainda no sculo XVI uma lngua de homens assentados, na frase pitoresca de Ferno de Oliveira; hoje, na elocuo europia, uma lngua acelerada, pelo obscurecimento das vogais pretnicas e postnicas. Isso fez com que

esse enfraquecimento das vogais em distribuio no-acentuada [fosse], ento, o principal fator para a fixao, no portugus europeu, do modelo de colocao pronominal contido nas gramticas, [j que], em Portugal, a pronncia tende a incorporar os pronomes oblquos ento, realmente tonos ao verbo, deles fazendo uma espcie de sufixos numa palavra morficamente complexa. A partcula pronominal tona encltica , ento, por assim dizer, um sufixo a mais, ao lado de sufixos temporais e modais, cuja insignificncia fontica no perturba seu alto valor semntico.. (LOBO, LUCCHESI e MOTA, 1991, p. 155).

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Explicam estes autores que no Brasil a situao foi inversa, pois, ao invs de ter ocorrido o enfraquecimento das vogais no-acentuadas, houve na pronncia brasileira o seu fortalecimento.. Logo, aqui, os tonos converteram-se, por assim dizer, em partculas semitnicas, e no realmente tonas. Fato que fez com que os pronomes fossem deslocados para antes do verbo, pela tendncia, na pronncia brasileira, de intensificao da primeira consoante do vocbulo fontico, que nele funciona como um corte na cadeia da fala.. (LOBO, LUCCHESI e MOTA, 1991, p. 155-6). Como se pode notar, algumas tendncias de colocao foram, de fato, encontradas em corpora antigos, mas isso precisava ser melhor estruturado, porque os textos no paravam de ser produzidos e sobre sua organizao muitas dvidas iam surgindo, das quais a questo da colocao pronominal no pde escapar. Em Figueiredo (1917), tudo comeou por causa de um soneto. Mais especificamente, devido a um verso: Um soneto pediste-me, criana. Pequena e aparentemente modesta esta frase, tanto por sua estrutura como por seu contedo, serviu de motivao para uma das primeiras sistematizaes das regras de colocao pronominal, formuladas por esse autor. Conforme Figueiredo, em 1899, aproximadamente, algum que sempre lhe consultava sobre o funcionamento da linguagem solicitou sua opinio acerca de alguns versos, inclusive esse, para o que o consultado emitiu o seguinte parecer: Tal verso no estava construdo portuguesmente, e que em portugus se deve dizer um soneto me pediste, ou pediste-me um soneto. (FIGUEIREDO, 1917, p. 15). Ou seja, Figueiredo privilegiou, na primeira opo, a posio procltica em relao ao sujeito nominal expresso e antecedido por um pronome, e, na segunda, a posio encltica em incio de orao, mesmo sem saber por qu. Declara Figueiredo que nas Gramticas nada se encontrava a respeito, o que lhe permitiu formular suas prprias regras, baseadas todas elas em escritos portugueses. Ao que tudo indica, a inteno do autor era regularizar a snclise pronominal no Brasil, assim como corrigir alguns erros no escrito portugus. Diz ele: Evidentemente, o assunto interessa especialmente ao Brasil; mas no se suponha que Portugal est isento de incorrees sobre a colocao de pronomes. (FIGUEIREDO, 1917, p. 17). Ainda que vejamos o trabalho desse autor como formulao de regras para a snclise pronominal, no bem assim que ele prprio o define, a saber:

No formulando propriamente regras sobre a matria, mas consignando os fatos, de que os gramticos, para doutrinamento dos estudiosos, facilmente

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deduziro o que regra, o que exceo ou anormalidade, e o que indiferente ou facultativo, distribuirei o trabalho documental em vrios captulos, consoante a vria categoria de vocbulos, locues e circunstncias, que influem na colocao de pronomes pessoais. (FIGUEIREDO, 1917, p. 135).

Para tanto, o autor analisou exemplos de entre os mais afamados escritores brasileiros, os modernos escritores portugueses e os mestres antigos. Entre os sculos XV e XVIII, foi considerado um total de quatorze obras, sendo uma de cada autor, as quais Figueiredo pesquisou registrando todas as passagens em que, por influncia de determinados vocbulos, locues ou circunstncias, h prclise ou nclise de pronomes atnicos. (FIGUEIREDO, 1917, p. 133-4). Como palavras atrativas, Figueiredo considerou: os adjetivos, as proposies negativas, os pronomes entre si, os advrbios, as conjunes, as preposies, o predicado composto e demais complementos (circunstanciais). Alm dessas, registrou como hipteses diversas da atrao que faz a colocao procltica e/ou encltica a influncia da distncia na interrupo da atrao, a atrao por natureza (especial), a entonao e a pausa, a inverso dos pronomes pessoais e a eufonia. Segundo o autor, a pouca discusso que havia sobre a colocao pronominal at aquele momento no condizia com a escrita corrente dos mestres antigos e modernos, o que justifica a anlise por ele realizada: Portanto, o processo definitivo, e talvez nico, para a soluo do problema, est na exibio e apreciao de fatos regulares e irregulares da lngua portuguesa. (FIGUEIREDO, 1917, p. 133). Sobre isso afirma:

Pareceu-me que uma dzia de escritores primaciais, antigos e modernos, portugueses e brasileiros, observados minuciosamente na maneira que usaram normalmente e anormalmente quanto disposio dos pronomes pessoais objectivos e terminativos, nos ter indicado, sem controvrsia possvel, o que, a tal respeito, e em portugus de lei, positivo e seguro, o que duvidoso ou incerto, e o que facultativo. (FIGUEIREDO, 1917, p. 133).

O autor denunciou, em sua obra, a ausncia de exatido nos manuais escolares da poca quanto a diversos fatos da lngua, inclusive os pronomes. Algumas vezes, questo de nomenclatura, outras, classificao, enfim, tarefa difcil era a de situar-se em meio desta

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babel. Ironicamente, Figueiredo delata a falta de univocidade entre diversos gramticos contemporneos seus:

... que a classificao das palavras, locues e complementos, tal como ela se consigna nas Gramticas escolares, em vez de rigoroso e demonstrado fundamento filolgico, tem geralmente por base o arbtrio, um determinado uso, uma praxe, seguindo cada Gramtica processos que divergem dos seguidos por outras. (FIGUEIREDO, 1917, p. 130).

Aponta, assim, Figueiredo, desacordos entre os textos dos escritores que tornavam complexa uma possvel preciso do comportamento de vrios aspectos da lngua, nesse caso, da colocao pronominal, para o que sugere: O mais simples, e talvez o mais conveniente, sobretudo nas escolas primrias, seria tornar a terminologia do vocabulrio portugus a menos numerosa possvel. (FIGUEIREDO, 1917, p. 131). De fato, as inmeras e diversas classificaes, terminologias, dificultam o entendimento e at mesmo uma melhor formalizao daquilo que realmente efetivo na lngua. Acerca de sua posio, esclarece o autor:

Mas eu no venho reformar as escolas e o ensino; e, para que melhor se entendam as relaes, que eu registro, entre os pronomes e as outras categorias de palavras, procurarei seguir, sem discusso, a mais generalizada nomenclatura gramatical, acostando-me preferentemente Nova Gramtica Portuguesa de A. A. Corteso (7. ed., 1907). (FIGUEIREDO, 1917, p. 131).

Apreciado por muitos, Figueiredo no pde deixar de replicar as inmeras crticas a ele feitas pelo ento professor e jornalista, Sr. Paulino de Brito, que contra as regras de colocao pronominal estabelecidas pelo autor muito contestou. Brito via essas regras como uma luva lanada aos publicistas brasileiros, e relutava em aceit-las, alegando ser as mesmas contrrias ao que de fato ocorria no Brasil. Alm disso, criticava tambm os autores analisados por Figueiredo, aludindo, inclusive, ausncia de Gonalves Dias em seus estudos,

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o que, para Brito, era uma contraveno. Mas segundo Figueiredo, essa acusao assim como as demais no se mostrava verdadeira, uma vez que:

As regras, que eu aventurei, e algumas das quais foram reforadas pelo prestigioso gramtico Joo Ribeiro, basearam-se exatamente, no s na maneira, de que em Portugal usaram e usam os mestres incontestados, representantes da ldima linguagem nacional, seno tambm na maneira, de que usam os bons escritores brasileiros, incluindo o citado Gonalves Dias. (FIGUEIREDO, 1917, p. 23).

Como prova disso, Figueiredo listou, no decorrer de seu livro, os exemplos de que se valeu para suas formulaes, acompanhados de seus respectivos autores e obras, portugueses e brasileiros, evidenciando que em sua grande maioria esses autores observavam as regras de colocao que ele j defendia. Tais regras diziam respeito, inclusive, atrao vocabular, assim como inteno e entonao, sendo estas duas ltimas consideradas, por diversas vezes, como exceo primeira. Isso pode explicar, por exemplo, a posposio do pronome ao verbo na presena de alguma palavra atrativa. Elucida o autor:

O que capital e meu principal escopo mostrar que, de acordo com os fatos incontestveis da lngua portuguesa, h vrias categorias de palavras e locues, que arrastam necessariamente consigo os pronomes pessoais objetivos e terminativos; como h outras, que normalmente os atraem, embora anormalmente se afastem deles com interposio do predicado; havendo outras ainda, as quais, mais ou menos indiferentemente, atraem ou no atraem os referidos pronomes. (FIGUEIREDO, 1917, p. 129-130).

Almejava Figueiredo que fossem observadas apenas as formas, mantidas pelos mestres contemporneos, baseadas na histria da lngua, na fatal e indispensvel evoluo da linguagem, e nos ditames inconcussos da cincia filolgica. (FIGUEIREDO, 1917, p. 72). Defendendo-se assim, o autor conseguiu desfazer os questionamentos suscitados por Brito, e ponderou:

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Eu no sei se isto dizer tudo com a clareza e o rigor que so de desejar. Estou desbravando terreno inculto, onde no achei antecessores, que me orientassem e me auxiliassem; e, alm de que certamente ainda no observei nem ponderei tudo, possvel que o alvio do arroteador no descubra todas as razes do escalracho que mina o terreno. Figura-se-me todavia que no trabalho inutilmente, porque os que vo passando pela estrada batida e clara, e disponham de brao mais robusto, nimo mais persistente, e esprito mais alumiado, talvez sintam a tentao de me ir no encalo, e talvez consigam levar ao campo das demonstraes filolgicas as observaes e os conceitos que eu vou formulando timidamente, sem desmedida f no xito evidente das minhas modestas convices. (FIGUEIREDO, 1917, p. 66-7).

E aqui estamos, a aceitar o desafio, indo no encalo de Figueiredo (1917) para tentar demonstrar o que tem sido observado na escrita e na fala formais do sculo XXI.

1.2.2 As sintaxes que se seguiram

Gis (1940) tambm destacou o difcil manejo com os pronomes tonos, na nossa lngua, em termos de colocao, considerando-a como instvel, mas com uma topologia [que] obedece a fatores de fcil percepo: a atrao, a distncia, a pausa (ou parada), a eufonia, a eustomia, a clareza. Para o autor, essa liberdade de colocao produz alternativas topolgicas que tornam a frase menos rgida, isto , mais plstica e malevel. (GIS, 1940, p. 94). Em termos de atrao, segundo Gis (1940, p. 99), o advrbio a palavra que mais atrai o pronome pessoal oblquo tono, de tal modo que, mesmo vindo aps o verbo, arrastar consigo o pronome, que dever, ento, pospor-se ao verbo. Defensor da posio encltica como regra geral em portugus, o autor diz ser a anteposio a mais enftica das formas sinclticas, fato pelo qual seu uso no deve ser mal empregado, tampouco excessivo, j que, conforme o autor, ela constitui exceo em portugus. Tanto que, se facultativa for a snclise pronominal, a nclise que, via de regra, dever prevalecer, na viso do autor. (GIS, 1940, p. 106). Sob uma perspectiva sintica, podemos dizer que esse autor estabelece, para o sinclitismo pronominal, um total de quinze casos de prclise, quinze de nclise e seis de mesclise sem considerarmos as demais notas e observaes , e um total de cinco colocaes facultativas. Vejam-se a seguir:

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A) Casos de prclise diante de: Palavra negativa Advrbio anteposto ao verbo Conjuno de 2 classe Pronome relativo Gerndio regido de em Tudo, todo(s), toda(s) Isto, isso, aquilo, este, esse, aquele Verbo proparoxtono Orao optativa Sujeito no determinado por artigo Verbo intercalado Verbo essencialmente pronominal, com sujeito claro Verbo no infinito pessoal Verbo no futuro do indicativo com sujeito claro Verbo no condicional imperfeito com sujeito claro

B) Casos de nclise diante de: Perodo iniciado por verbo Verbo no gerndio no regido de em Verbo no imperativo afirmativo com sujeito oculto Verbo no infinito impessoal regido da preposio a Advrbio depois do verbo Pausa depois do advrbio Pronome complemento pleonstico Locuo verbal infinitiva seguida de pronome, compl. do infinito Oraes interrogativas com o verbo no infinito impessoal Infinito impessoal determinado pelo artigo Advrbio eis Verbo no infinito impessoal, regido do auxiliar haver, seguido da preposio de Verbo no infinito impessoal apassivado pelo se, regido de outro verbo no modo finito Verbo no infinito impessoal em funo subjetiva a um verbo unipessoal

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Verbo isolado entre parnteses

C) Casos facultativos de nclise/prclise diante de: Conjuno de 1 classe (aditiva, alternativa, adversativa, continuativa, conclusiva) Infinito impessoal regido de qualquer preposio (exceto a) Verbo essencialmente pronominal com pronome-sujeito oculto Ausncia de qualquer fator determinante da prclise Ausncia de qualquer fator determinante da nclise

D) Casos de mesclise diante de: Futuro do indicativo Modo condicional No meio do tempo composto (Havia-me chamado) Entre um verbo no modo finito e outro no modo infinito, quando o pronome for sujeito do segundo Entre verbo no modo finito e o particpio presente Entre dois verbos distintos com regncia diferente, quando o pronome for objeto indireto do primeiro

Para embasar suas prescries, o autor em questo vale-se de documentos clssicos. Documentos esses colhidos de textos escritos por autores portugueses, especialmente literrios. Aps uma quantidade numerosa de notas adicionais acerca do assunto, Gis (1940) apresenta vinte exerccios, todos baseados em excertos literrios e at mesmo em poemas inteiros. Em 1959, Dria analisou obras de dez escritores, compreendidas entre os sculos XV e XX, estendendo assim tanto o perodo selecionado anteriormente por Figueiredo (1917) como a quantidade de ocorrncias de colocaes pronominais atnicas encontradas, ainda que, em sua grande maioria, Dria tenha considerado os mesmos escritores estudados por Figueiredo. De acordo com esse autor, diferentemente do que muitos j haviam postulado como o fez Gis, em 1940, que acabamos de ler , a posio predominante do pronome no a nclise, mas sim a prclise, determinada pela eufonia e pela a nfase e no pela atrao

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(como constatou FIGUEIREDO, 1917): O que est na ndole da lngua portuguesa a eufonia por princpio inspirador na colocao de pronomes. por eufonia que o pronome tono precede sempre o verbo.... (DRIA, 1959, p. 425). Nesse sentido, o autor critica a hiptese da atrao vocabular, pois, para ele, o que inspira em geral a colocao de pronomes a eufonia e a nfase, e no o imaginrio poder magntico de umas palavras sobre as outras.. (DRIA, 1959, p. 349). Ao final de seu estudo, Dria definiu doze constantes de colocao: trs de prclise, trs de nclise, quatro facultativas, entre prclise e nclise, e duas especficas, sendo uma preferncia de prclise e outra de mesclise em tempo futuro. Ei-las, pois: A) Constantes De prclise: 1. Diante dos verbos em modo finito 2. Com gerndio precedido da preposio em, de negativa, ou em locuo 3. Ao infinito de que o pronome tono seja sujeito (E com um punhal a cada um nos peitos os fez jurar...) De nclise: 1. Em incio de orao 2. Verbo no gerndio no precedido da preposio em, de negativa, ou em locuo 3. Na abertura de proposio no precedida de conjuno coordenada, no intercalada como explicativa em outra proposio, ou sem sujeito idntico ao da orao anterior

B) Indiferena: prclise ou nclise 1. Verbo no infinito regido de preposio 2. Verbo da orao principal imediatamente precedido de orao subordinada 3. Verbo que abra proposio, se precedido de conjuno coordenada, ou quando intercalada como explicativa em outra preposio, ou com sujeito idntico ao da orao anterior 4. Nas locues do verbo ser, sem regncia preposicional, complemento do verbo regente

C) Eufonia ou nfase:

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Prclise ao verbo no imperativo, ou no indicativo, presente, ou pretrito, sem negativa (clssicos modernos X clssicos antigos = nclise) Mesclise no futuro indicativo ou condicional

Pode-se dizer que Dria defendia o critrio da freqncia, digamos assim, porque acreditava ser esse aquilo que poderia tornar norma determinado fato lingstico, do mesmo modo que o carter eufnico e o enftico determinam, para esse autor, a preferncia por um uso especfico, em detrimento de outro:

o que cumpre em qualquer fato da lngua, como a colocao dos pronomes. Quando os fatos se repetirem na mesma cadncia, a lei gramatical o que houver entre eles de comum. Quando, por no se harmonizarem, forem os fatos passveis de generalizaes divergentes, o jeito, o tino, o bom gosto, se no bastar o senso comum, est na preferncia das formas predominantes em clareza e beleza. (DRIA, 1959, p. 9).

Logo, de acordo com esse autor, se no for por razes freqentes que determinada forma predomine na lngua, ser por algo que soe bem aos ouvidos. J para Ali (1996, p. 33), os pronomes tonos so regimens que se acostam diretamente ao verbo, por isso, ele os considera pospositivos, j que se encostam ao verbo, ou a outro vocbulo anterior, e declara:

Posposto ao verbo, o pronome tono ocupa lugar que na construo usual compete aos complementos, singularizando-se apenas por vir foneticamente unido ao verbo e a ele subordinado. Consideraremos portanto esta como a colocao normal. Antecipando-se porm ao termo regente, por solicitao de outro vocbulo, a que se submete e liga, haver o que eu chamarei uma deslocao, uma atrao puramente fontica. (ALI, 1996, p. 33).

O autor critica a forma como a atrao dos pronomes vista comumente. Para ele, trata-se de uma metfora, porque em todo o vocbulo da lngua no existe uma nica palavra dotada de fora imanente que determine a aproximao de outras palavras.. Ele contra,

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inclusive, a atrao dos pronomes pessoais em relao aos tonos, e, alegando que no na categoria gramatical que a atrao consiste, defende a atrao fontica. (ALI, 1996, p. 34, 36). Justificando sua postura quanto ao deslocamento do pronome por fora da pronncia, Ali apresenta diversos motivos, entre os quais a questo da necessidade. Ao que tudo indica, na viso desse gramtico, o pronome no se desloca porque atrado, mas sim, porque se faz necessria a sua aproximao a outro termo a fim de que lhe seja valorizada a pronncia:

Condio imprescindvel para que o pronome possa encostar-se a um termo anterior ao verbo constituir a frase um todo foneticamente unido, que no permita pausa entre o vocbulo a valorizar e o verbo, salvo aquela que naturalmente determinada pela intromisso de expresses mais ou menos longas. (ALI, 1996, p. 36).

Assevera o autor, ainda, que, se a pronncia do falar lusitano difere-se da nossa pronncia brasileira, no se faz possvel, ento, haver entre ns identidade de colocao. Portanto as regras devem ser tambm distintas, para uma e outra linguagem: Em Portugal fala-se mais depressa, a ligao das palavras fato muito comum; no Brasil pronuncia-se mais pausada e mais claramente. Em suma, a fontica brasileira em geral diversa da fontica lusitana. (ALI, 1996, p. 56-7). Sobre isso acrescenta Ali (1996, p. 58) que o fato de a colocao brasileira ser distinta da portuguesa no a torna errnea, a menos que os gramticos insistam em assim considerar, desconsiderando e temendo o processo de mutabilidade por que passa o idioma. Cita, para isso, o fillogo Sayce, que defende o costume como o nico critrio de correo da linguagem, que pode determinar o que certo e errado. Tece o autor diversos comentrios acerca das formas como as colocaes tm sido efetuadas, chegando a alcunhar uma delas de orgia de colocao, quando se trata do caso do infinitivo. Baseando-se em vrias obras literrias por ele analisadas, conclui, a respeito da nclise e da prclise, que ocorrem profusa e promiscuamente os dois modos de construir. Alm disso, pontua a liberdade, digamos assim, da anteposio e/ou da posposio como uma situao que carece de ser resolvida, no por imposies apenas, mas por anlises cuidadosas dos fatos. Diz o autor:

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Tais dvidas nunca foram satisfatoriamente resolvidas, graas facilidade com que certa regra cmoda, sem dvida, mas no derivada da observao escrupulosa dos fatos, conseguiu impor-se e dominar no esprito de gramticos pouco dados a investigaes. (ALI, 1996, p. 62).

Estaremos, aqui, pois, isso a investigar!

1.2.3 Um pouco das contradies e dos problemas de ontem e hoje

Quando o processo de formalizao das regras para a snclise pronominal foi iniciado por Figueiredo, ele fez questo de expor sua considerao pelos escritores brasileiros. Entretanto, no h dvidas de que tais regras, de um modo geral, foram fixadas com base no uso da lngua de Portugal, o que nos permite, aqui, uma crtica, pois que, como tambm j se sabe, h claras diferenas entre a lngua de Portugal e a do Brasil, em diversos aspectos, inclusive no caso da colocao pronominal. Vejamos isso nas palavras de Cunha (1975):

A colocao dos pronomes tonos no Brasil difere apreciavelmente da atual colocao portuguesa e encontra, em alguns casos, similar na lngua medieval e clssica. Em Portugal, esses pronomes se tornaram extremamente tonos, em virtude do relaxamento e ensurdecimento de sua vogal. J no Brasil, embora os chamemos de tonos, so eles, em verdade, semitnicos. E essa maior nitidez de pronncia, aliada a particularidades de entoao e a outros fatores (de ordem lgica, psicolgica, esttica, histrica, etc.), possibilita-lhes uma grande variabilidade de posio na frase, que contrasta com a colocao mais rgida que tm no portugus europeu. (CUNHA, 1975, p. 312).

Assim como Cunha (1975), Bechara (2001) e Ali (1927, apud BECHARA, 2001), Lima (2003b), Cegalla (2002) e Andr (1990), entre outros, tambm defendem a existncia de dessemelhanas entre o portugus de Portugal e o portugus do Brasil. Embora conscientes

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desse fato, esses mesmos autores mantm, em suas obras, inmeras prescries acerca da colocao pronominal estabelecidas ainda por Figueiredo, em 19091. No h dvidas de que ocorreram modificaes, das quais parece o incio datar de 1959, quando Dria efetuou o mesmo estudo que Figueiredo realizou em 1909, chegando, porm, a concluses diferentes, conforme verificamos no item anterior. Todavia, ainda que essas diferenas, alm de se referirem ao estabelecimento da posio considerada normal, apontaram um novo fator que poderia influenciar a preferncia procltica a eufonia , muitas das prescries atuais ainda se valem do critrio da atrao para o posicionamento dos tonos. Natural seria que, a partir de Dria (1959), no somente a natureza sinttica, como tambm o carter fontico-psicolgico passasse a determinar as posies dos pronomes tonos nas Gramticas, uma vez que esse autor explicitou os motivos de sua discordncia concernente s palavras que Figueiredo, em 1909, classificou como atrativas. Pretendia Dria justificar possveis ocorrncias proclticas na ausncia de palavras consideradas atratoras, ao invs das enclticas que Figueiredo defendia. Assim alegou esse autor:

Ora, se a prclise fosse conseqncia de atrao, onde no houvesse atrao, no haveria prclise. Mas, se ausentes as palavras que atraem, ainda se verifica a prclise, fora concluir que nenhuma relao de causalidade h entre a prclise e palavras que se dizem atrativas. (DRIA, 1959, p. 15).

Mas no foi isso que ocorreu. Em vez de tomarem partido, digamos assim, os gramticos insistiram, cada qual, em conservar um carter ou outro em suas inmeras prescries, fazendo permanecer a histrica contradio da colocao pronominal. Em um aspecto somente podemos dizer que os gramticos so unnimes: na censura contra a colocao desses pronomes em incio de perodo, conforme a Lei Tobler-Mussafia2 que foi, conseqentemente, apregoada por Figueiredo. Sobre essa colocao, declara Nascentes (1960):
1

Data referente primeira edio do livro O problema da colocao de pronomes, utilizado por ns, no decorrer deste trabalho, em sua terceira edio, datada de 1917. 2 Lei Tobler-Mussafia: generalizao proposta em 1875 por Alfred Tobler ao observar que as lnguas neo-latinas medievais no apresentam elementos tonos em incio da frase, em que a nclise se faz obrigatria. Probe, ento, um pronome cltico de aparecer em posio inicial de frase j que um elemento sem acento prprio no deve ocupar a primeira posio absoluta da sentena. (SOUSA, 2004, p. 26 e GALVES e ABAURRE, 1996).

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Neste particular, a lngua falada se divorcia da escrita, pois, ao passo que na fala a forma oblqua vem constantemente em primeiro lugar, os escritores, com exceo de um ou outro, mais jovem e desassombrado que os demais, evitam com o maior cuidado esta colocao. (p. 152).

Segundo ele, no h colocaes erradas, exceto as que raiarem pelo absurdo. H colocaes elegantes ou deselegantes, conforme o critrio de cada um. Critica, ainda, o autor, a falta de acordos, por assim dizer, entre os que do assunto tratam: Livros h e numerosos, a respeito do assunto; suas inumerveis regras apresentam apenas um resultado prtico: estabelecer a confuso na mente do leitor. (NASCENTES, 1960, p. 152-3). Todos os autores condenam, pois, a anteposio do pronome ao verbo em incio de perodo, como em: me desculpe... ento voc tem... voc tem pacincia (NURC/SA, D2, INQ. 98), afirmando ser a nclise a posio indicada para esse caso: bom... parece-me que o nome genrico de macacos ... naturalmente de uma expresso... vulgar pra abranger todos aqueles que tm algumas semelhanas... (NURC/RJ, D2, INQ. 374). Para os gramticos que consideram a hiptese da atrao vocabular como um fenmeno fontico-sinttico, a preferncia pela posio procltica atende a necessidades tambm eufnicas e enfticas e no apenas sintticas. Bechara (2001) quem declara:

Durante muito tempo viu-se o problema apenas pelo aspecto sinttico, criando-se a falsa teoria da atrao vocabular do no, do qu, de certas conjunes e tantos outros vocbulos. Graas a notveis pesquisadores, e principalmente a Said Ali, passou-se a considerar o assunto pelo aspecto fontico-sinttico. Abriram-se com isso os horizontes, estudou-se a questo dos vocbulos tonos e tnicos, e chegou-se concluso de que muitas das regras estabelecidas pelos puristas ou estavam erradas, ou se aplicavam em especial ateno ao falar lusitano. A Gramtica, alicerada na tradio literria, ainda no se disps a fazer concesses a algumas tendncias do falar de brasileiros cultos, e no leva em conta as possibilidades estilsticas que os escritores conseguem extrair da colocao de pronomes tonos... o problema questo pessoal de escolha, atendendo-se s exigncias da eufonia. (BECHARA, 2001, p. 587).

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Note-se que o autor, alm de enfatizar a questo eufnica, tambm critica a Gramtica Tradicional por se fundamentar na tradio literria, aparentando, com isso, tender a uma considerao do falar culto brasileiro, pelo que anuncia, acerca de sua obra: Daremos aqui apenas aquelas normas que, sem exagero, so observadas na linguagem escrita e falada das pessoas cultas. (p. 587). Resta-nos saber se essas normas so, a um s tempo, realmente comuns fala e escrita cultas. De maneira um tanto mais ousada, por assim dizer, ressalta Nascentes (1960, p. 152) que as formas oblquas dos pronomes pessoais colocam-se onde o escritor quiser, antes ou depois do verbo, [uma vez que] em todas as lnguas essas formas apresentam colocao natural, de acordo com o gnio das mesmas lnguas.. Ainda nessa mesma vertente, Dria (1959), valendo-se, inclusive, de exemplos portugueses, conclui:

Coloca-se o pronome antes do verbo regente, depois do verbo regido, ou entre um e o outro, conforme soe melhor, questo de eufonia, que afinal a suprema inspiradora na colocao de pronomes, [pois] fora da eufonia, tudo arbtrio hostil clareza e beleza do idioma. (p. 103 e 425).

Conforme a maioria dos autores pesquisados3 com exceo de Lima, que nada menciona acerca da mesclise , a colocao dos pronomes tonos possui trs formas de apresentao: 1. a procltica: ... eu gosto muito de moda... gosto de acompanhar moda... mesmo que eu no a siga... (NURC/RJ, DID, INQ. 317), 2. a encltica: ... ento ns tnhamos MUIto mais dificuldade... porque no tinha MUito meio de comunicao como o estudante tem hoje... ento a cultura da gente geral era/ tornava-se muito mais difcil (NURC/SA, DID, INQ. 231), 3. e a mesocltica: ... com o tempo, por serem inteis, transformar-se-o numa total aceitao. (Estado de Minas, 05 de agosto de 2007). Para a posio procltica, os gramticos em questo estabelecem, como Figueiredo (1917) e Dria (1959), um grupo de palavras que devem fazer com que o pronome seja

So eles: Ali, Almeida, Andr, Bechara, Cegalla, Cunha, Cunha & Cintra, Dria, Figueiredo, Gis, Lima e Nascentes.

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atrado. Entretanto, ressaltam que os termos atrativos apenas exercem tal funo em casos em que no haja pausa entre eles e o verbo, pois que, se assim o for, dever ocorrer a nclise. Importa questionar aqui os exemplos utilizados por esses gramticos, quando da prescrio da regra. Segundo Lima (2003a, p. 450), quando o sujeito substantivo ou pronome (que no seja de significao negativa) vier antes do verbo, assim nas oraes afirmativas como nas interrogativas, dever ocorrer a nclise. Mas, duas pginas depois, o autor prescreve (na letra e) a obrigatoriedade da prclise com advrbios e pronomes indefinidos, sem pausa, o que permite a dvida, em frases como: Naquele exato momento, algum (se?) aproximava (-se?) de nossa casa. Ora, sabe-se que o termo algum, exposto acima como sujeito, classificado como pronome indefinido e no possui significao negativa. Situao similar poderamos encontrar em: Durante a semana, ele (se) aproximou (se) do resultado, em que o pronome ele dentre muitos outros , classificado pela GT como pessoal reto, tambm no possui significao negativa. E ainda temos Gis (1940) que prescreve a prclise na presena desses pronomes, ao contrrio de Lima (1992a) que dita a posposio na presena de sujeito pronominal ou expresso por um substantivo antes do verbo. Diante de tantas contradies e complicaes, natural que surjam incertezas por parte dos consulentes desses gramticos. Obviamente, se se tomarem esses autores como referncia, no ser possvel definir uma regra precisa, da, talvez, o motivo de uma explicao de Lima (2003b) logo abaixo da regra: Motivos particulares de eufonia ou de nfase podem concorrer para a deslocao do pronome. (p. 450), o que contribui para uma maior insegurana, por assim dizer, do usurio da lngua. Na seqncia, h um outro tipo de exemplo de Ea de Queirs4 , em que o autor:

cumpre reconhecer, com Said Ali, que no h linha de demarcao rigorosa entre o termo comum e termo enftico. A noo predominante pode atribuir-se s vezes tanto ao sujeito como ao predicado ou algum complemento verbal. A colocao do pronome tono depende, em tais casos, to-somente da inteno e maneira de sentir da pessoa que fala. (LIMA, 2003a, p. 451).

_ Ah! o Melo conhece-os? exclamou Pedro. _ Sim, meu Pedro, o Melo os conhece.

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Agindo assim, o autor parece permitir o uso do pronome onde quer que seja. A liberdade tamanha, tanto quanto as inmeras regras que contra ela o prprio autor prescreve em outras passagens. Observa-se, outrossim, nas pregaes de Cegalla (2002) acerca da posio procltica diante de termos atrativos, uma das regras em que o autor pontua o rigor da prclise na presena de certos advrbios (letra d, p. 494), mas no explicita quais deles no so tidos como atrativos. O autor, inclusive, faz referncia s pginas em que trata dos advrbios, mas l se podem encontrar praticamente todos eles: devemos inferir, ento, que o gramtico no trabalha com todos os advrbios na seo a isso destinada? Estaria ele sugerindo uma busca, por parte do usurio, em outras obras? No se sabe. Sabe-se, apenas, que a regra no est clara, tampouco objetiva que o que procura, em termos prticos, qualquer escritor competente. Com efeito, merece realce a exposio de Cunha (1975, p. 306), no incio de sua discusso acerca da colocao pronominal, em que o autor exibe:

Em relao ao verbo, o pronome tono pode estar: a) encltico, isto , depois dele: O mar atira-lhe a saliva amarga. (C. Alves, OC, 75.) b) procltico, isto , antes dele: O cu lhe atira o temporal de inverno... (C. Alves, OC, 75.)...

Note que o autor simplesmente lana duas posies distintas para o mesmo pronome sem explicao alguma sobre o fato o que pode ser conferido da leitura completa sobre o assunto em sua Gramtica. Seria o caso de se considerar a questo fontica e/ou usual dessa posio? Atemo-nos a uma de suas consideraes finais:

Infelizmente,

certos

gramticos

nossos,

esquecidos

de

que

esta

variabilidade posicional, em tudo legtima, representa uma inestimvel riqueza idiomtica, preconizam, no particular, a obedincia cega s atuais normas portuguesas, sendo mesmo inflexveis no exigirem o cumprimento de algumas delas, que violentam duramente a realidade lingstica brasileira. (CUNHA, 1975, p. 312).

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Mais um caso de liberdade. Ser? Vlido pontuar, quanto posio encltica, que, mesmo que alguns dos autores consultados afirmem ser a nclise a posio normal assim como o fez Figueiredo (1917) , para o que pregam, a todo o momento, a posposio ou a no posposio em relao aos verbos, a maioria deles parece demonstrar preferncia pela posio procltica, como o faz Bechara (2001), por exemplo, que, j na primeira regra de colocao em relao a um s verbo em que prescreve a posposio quando do incio do perodo , observa:

Ainda que no vitoriosa na lngua exemplar, mormente na sua modalidade escrita, este princpio , em nosso falar espontneo, desrespeitado, e, como diz Sousa da Silveira, em alguns exemplos literrios, a prclise comunica expresso encantadora suavidade e beleza. (BECHARA, 2001, p. 588).

Fato curioso a esse respeito a afirmao de Cegalla (2002) que, ao contrrio da maioria dos outros gramticos em pauta, ressalta o carter eufnico e enftico da nclise e no da prclise. Para isso, o autor destina um tpico intitulado nclise eufnica e enftica, em que preceitua:

Em certos casos, a nclise justificada por exigncias da eufonia ou da nfase... Era verdade que Dom Augustin excedera-se um pouco. (Viana Moog); Acontecia s vezes que uma das guas xucras arrumava-lhe um coice. (Vivaldo Coaraci). (CEGALLA, 2002, p. 498).

Para Dria (1959), em contraposio a Cegalla (2002), a posio encltica como opo eufnica ou enftica refere-se aos clssicos antigos, visto que, na viso desse autor, a tendncia dos clssicos modernos a posio procltica. Todos os autores em discusso apresentam casos em que h liberdade para a posposio e/ou anteposio do pronome tono em relao ao verbo, fato mais corrente em locues verbais.

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Para onze dos doze autores aqui considerados, h unanimidade em considerar a colocao intraverbal com os tempos verbais futuro do presente e futuro do pretrito, desde que no haja termos atrativos, o que por imposio exigiria a prclise. Cegalla (2002) observa, inclusive, que:

A mesclise colocao exclusiva da lngua culta e da modalidade literria. Na fala corrente, emprega-se a prclise: Eu lhe direi a verdade. Eles se arrependero (ou vo se arrepender). Ela o chamaria de louco. Ao meio-dia, nos sentaramos mesa. (p. 496).

Da leitura, como aqui fizemos, de alguns estudiosos que constituram a histria da colocao, podemos perceber que as regras preconizadas pelos gramticos atuais (?) so praticamente as mesmas formuladas h sculos atrs, conforme nos acrescenta a sntese apresentada no item seguinte.

1.3 As regras de colocao pronominal em cinco gramticas selecionadas para esta pesquisa

Como base para este trabalho, tomaremos apenas cinco das gramticas consultadas, a fim de melhor estruturarmos nossa anlise. So elas as escritas por Cunha & Cintra (2001), Bechara (2001), Lima (2003b), Cegalla (2005) e Almeida (1995). Vale lembrar que esta anlise diz respeito to-somente s formas simples, isto , s colocaes com um s verbo, conforme costumam mencionar as gramticas tradicionais. Logo, sero apontadas somente as regras de colocao dessas formas, sem considerao das locues verbais e/ou das formas compostas. Importa dizer que optamos por aquelas formas e no por estas, pelo fato de terem, as ltimas, uma maior liberdade de uso, por assim dizer, respaldada pelas regras gramaticais. Para quatro desses autores, h trs posies que o pronome tono assume em relao ao verbo: a encltica, a procltica e a mesocltica. Apenas Lima no menciona a colocao intraverbal. Logo de incio, na seo que trata da colocao pronominal, Cegalla (2005), aps listar as trs posies assumidas pelos tonos, expe diversos contextos de prclise, alguns de

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mesclise e outros de nclise, justificando nossa preferncia procltica devido pronncia do Brasil. Para a posio procltica, a obrigatoriedade d-se diante de palavras que atraem o pronome, citadas assim pelo autor: de sentido negativo; pronomes relativos; conjunes subordinativas ainda que elpticas ; certos advrbios (sempre, j, bem, aqui, onde, mais, talvez, ainda, por que e como), desde que depois deles no haja pausa; pronomes indefinidos (tudo, nada, pouco, muito, quem, todos, algum, algo, nenhum, ningum, quanto); a palavra s, no sentido de apenas, somente, e as conjunes coordenativas alternativas ou... ou, ora... ora, quer... quer. Deve ser tambm de rigor a anteposio do pronome ao verbo nas oraes optativas, com sujeito antes do verbo; nas oraes exclamativas iniciadas por palavras ou expresses exclamativas e nas oraes interrogativas iniciadas por advrbio ou pronome interrogativo. A posio intercalada do pronome deve ocorrer nos futuros do presente e do pretrito, desde que no haja, antes do verbo, palavra que exija a anteposio. vedada, segundo o autor, a posposio ao futuro do indicativo e a mesclise restrita ao linguajar culto e modalidade literria, ao contrrio do falar corrente, em que se emprega a prclise. Como contextos de nclise, Cegalla (2005) aponta as oraes reduzidas de gerndio, excetuando-se essa colocao na presena de palavras atrativas e da preposio expletiva em, em que indica a prclise. O autor prescreve, ainda, a posio encltica em incio de frase, observando ser a anteposio permitida nesse contexto apenas na fala coloquial. Ademais, a nclise prevista nas oraes imperativas afirmativas, como tambm junto ao infinitivo noflexionado, precedido da preposio a (com os pronomes o, a, os, as). Se o infinitivo estiver flexionado e regido de preposio, deve ocorrer a prclise e, junto ao infinitivo impessoal regido da preposio para, a colocao se faz indiferente, antes ou depois do verbo, mesmo com o advrbio no. Na Gramtica de Cunha & Cintra (2001) a prclise de regra nas oraes: com as negativas no, nunca, jamais, ningum, nada, etc., sem pausa; iniciadas com pronomes e advrbios interrogativos; iniciadas por palavras exclamativas e nas que exprimem desejo (optativas); subordinadas desenvolvidas, mesmo com conjunes elpticas; e com o gerndio regido da preposio em. Segundo os autores, so de tendncia procltica, na lngua portuguesa: o verbo antecedido de certos advrbios (bem, mal, ainda, j, sempre, s, talvez, etc.) ou expresses adverbiais, sem pausa; a orao, invertida, iniciada por objeto direto ou predicativo; o sujeito, anteposto ao verbo, com o numeral ambos ou algum dos pronomes

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indefinidos (todo, tudo, algum, outro, qualquer, etc.); e as oraes alternativas. Se houver pausa, poder ocorrer a nclise. Com verbo no futuro do presente e do pretrito facultativo o uso da prclise ou da mesclise, assim como facultativa a nclise ou a prclise com os infinitivos soltos, ainda que haja a presena da negao. A, os autores destacam a tendncia encltica. Assim como a prclise, a nclise no pode ser usada com os particpios, mas de rigor com os pronomes os, as e com o infinitivo regido da preposio a. A posposio do pronome ao verbo obrigatria, em Cunha & Cintra (2001), quando a palavra atratora no se referir ao verbo. Bechara (2001) lista diversos contextos contra a posposio, deixando transparecer duas possibilidades de certa negao: ou como efeito de exceo s regras previstas para nclise, ou como regras apenas para a prclise. como se o gramtico estivesse alegando, ainda que considere a tendncia procltica: no utilize a nclise nesses contextos, apenas, mas sim, nos demais aqui no listados, ou: a nclise a posio normal do pronome, com exceo desses casos. Assim, segundo esse autor, o pronome tono no deve iniciar perodos, no deve ser posposto ao verbo flexionado em orao subordinada, a menos que se trate de oraes subordinadas coordenadas entre si, em que poder ocorrer a nclise na segunda orao subordinada. Se se intercalam palavras ou orao na subordinada, exigindo uma pausa antes do verbo, a posio encltica permitida. O pronome no deve ser posposto, tambm, a verbo modificado diretamente por advrbio, sem que haja pausa, indicada ou no por vrgula, ou a verbo precedido de negao. No sendo o pronome inicial, ele pode vir, inclusive, antes da palavra negativa. Caso ocorra a pausa naquele contexto, torna-se facultativa a prclise ou a nclise. No deve ser posposto o pronome com verbos no futuro do presente e do pretrito, e, mantendo-se os princpios acima, tem-se a opo de prclise ou mesclise. Por fim, a posposio, assim como a intercalao do pronome tono, vedada junto a verbo flexionado em orao iniciada por palavra interrogativa ou exclamativa. Conforme Lima (1992a), a nclise a posio normal do pronome, ainda que se faa obrigatria a prclise em alguns contextos, a saber: oraes interrogativas e subordinadas, exclamativas, negativas e optativas, alm dos advrbios e pronomes indefinidos que atraem o pronome, desde que no haja pausa, o que levar nclise. Para os infinitivos, a regra geral a posio encltica, ainda que o costume seja a preferncia procltica. Porm, se no flexionado o infinitivo e precedido de preposio ou palavra negativa, a colocao se torna

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facultativa. Para os pronomes o, a, os e as, diante de infinitivo regido da preposio a, a regra a posposio. Para colocaes com o gerndio, permanece a posposio como regra geral, e a anteposio se faz obrigatria se precedido for o gerndio da preposio em e de advrbio, sem pausa. Tambm se faz imposta a nclise no incio de perodo ou de oraes, a menos que estejam intercaladas, onde a prclise poder ocorrer. Na presena de sujeito pronominal ou expresso por um substantivo antes do verbo, a regra a posposio. Almeida (1995, p. 494), para quem os pronomes oblquos tonos atuam basicamente como complementos verbais, defende a eufonia como princpio motivador da colocao dos tonos e mantm a preferncia encltica como a posio normal do pronome, devido obedincia norma cannica (verbo-complemento). De acordo com o autor, usa-se, obrigatoriamente, a nclise em: incio de orao, em oraes reduzidas de gerndio, em oraes imperativas afirmativas e junto ao verbo do infinitivo, precedido da preposio a. Prescreve, como contextos de prclise, em que perdem, segundo o autor, alguns verbos, sua fora encltica: palavra de negao, pronomes relativo e indefinido, advrbios e conjunes subordinativas, oraes alternativas e gerndio precedido da preposio em, e com o verbo no infinitivo impessoal caso facultativo de prclise e/ou nclise. (p. 494-5, 498). Com os tempos verbais futuro do presente e do pretrito, deve ocorrer a colocao intraverbal, desde que no haja partculas que atraiam o pronome.

1.4 Demais estudos acerca dos tonos

Em 1981, Pereira analisou A variao na colocao dos pronomes tonos no portugus do Brasil, considerando dados de lngua falada informantes de escolaridades e sexos diferentes de vrias regies do Pas, principalmente do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de Alagoas e de lngua escrita: textos jornalsticos, crnicas e manuscritos de sculos anteriores. As amostras de lngua falada incluram informantes analfabetos e semiescolarizados e as de lngua escrita consideraram textos formais e informais. Divida em duas fases, a pesquisa de Pereira levou em conta tanto a atrao vocabular (como fenmeno sinttico), quanto a eufonia e a nfase (como fenmeno

fontico/psicolgico) como hipteses acerca da snclise pronominal. Esperava a autora um

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maior nmero de ocorrncias proclticas em dados de lngua falada e na escrita coloquial, e a ocorrncia das trs posies estabelecidas pela GT em dados de lngua escrita culta, apenas. Baseando-se na Teoria da Variao, a autora constatou, em seu estudo, a existncia da variao pronominal desde os sculos passados at os dias atuais, condicionada por fatores lingsticos e extralingsticos. Conclui Pereira (1981):

Os resultados obtidos com os dados de lngua escrita mostram que (...) a nica posio a dar demonstrao de desaparecimento a mesclise; a prclise e a nclise estiveram e continuam presentes. Sempre houve e ainda h, entretanto, a predominncia da prclise sobre a nclise... (...) Mediante a anlise realizada, verificamos que a variao na colocao dos pronomes tonos na modalidade de lngua falada quase no existe mais. A prclise o processo mais geral e a nclise encontra-se restrita a determinadas formas lingsticas cristalizadas. (p. 81-2, 118).

Alm disso, o trabalho de Pereira permitiu observar obedincia s regras da GT na escrita, o que, segundo a autora, faz com que a variao permanea. Outro trabalho que analisou a colocao dos tonos em contraposio a prescries da GT foi o realizado por Lobo, Lucchesi e Mota, publicado em 1991, como resultado parcial de uma verso intitulada Gramtica e Ideologia. Os autores investigaram a colocao desses pronomes junto a formas verbais simples em dezoito inquritos do Projeto NURC, das capitais Salvador e So Paulo, considerando as gramticas de Bechara (1982), Cegalla (1981), Cunha (1981), Cunha & Cintra (1985) e de Lima (1976). Foram considerados, na anlise, 09 inquritos de cada cidade, assim distribudos: um nmero de trs inquritos do tipo EF e seis do tipo DID do corpus de Salvador, e seis EFs e trs D2 do corpus de So Paulo. Encontraram os autores um total de 247 de ocorrncias no corpus, registrando-se os contextos em que prescrita a posio encltica pelas gramticas. Desse total, 174 ocorrncias so proclticas, isto , 70%, em mdia, e 73 encontram-se na posio ps-verbal, perfazendo uma mdia de 30% dos dados. Para a posio intraverbal no foi encontrado nenhum caso. Em contextos previstos para a prclise que predominou em 90% das ocorrncias totais , houve uma quase total consonncia entre os dados observados e as prescries gramaticais. (LOBO, LUCCHESI e MOTA, 1991, p. 150).

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Posto que grande parte das ocorrncias esteja em conformidade com as regras da GT, esses autores concluem que existe para a snclise pronominal uma significativa disparidade entre o modelo prescrito pelas gramticas normativas que aqui representam a norma padro e o modelo encontrado no corpus, aqui considerado como amostra da norma culta. (p. 153154). Tal concluso deve-se ao tratamento dado por esses autores aos conceitos de norma padro e norma culta, baseados na viso expressa por Coseriu (1961), na qual o padro compreenderia os modelos apresentados e prescritos pelas gramticas normativas e a norma culta compreenderia os modelos comuns fala das pessoas possuidoras da cultura do tipo formalizado, isto , a cultura sistematizada e difundida pelo sistema de educao formal. (LOBO, LUCCHESI e MOTA, 1991, p. 147-8). Na seqncia, temos o estudo de Lucchesi e Mota, em igual perodo, para o que foram considerados um total de 21 inquritos, doze da capital Salvador e nove de So Paulo, junto aos trs tipos de texto do Projeto: trs EFs, nove DIDs (Salvador) e seis EFs, trs D2 (So Paulo). Analisando as mesmas cinco gramticas do estudo anterior, sob os mesmos critrios, os autores encontraram, nas 988 ocorrncias, 88,9% de posio pr-verbal contra 11,1% de nclise. Sobre isso comentam:

Nos contextos sintticos em que as gramticas normativas prescrevem a nclise, os nmeros so expressivos e indicam uma desobedincia prescrio, na norma culta, em mais de 70% das ocorrncias. Sendo a anteposio do pronome tono ao verbo o procedimento lingstico normal entre os falantes cultos, nos contextos sintticos em que a gramtica refora essa colocao, os proclticos alcanam 97,3% das ocorrncias. (LUCCHESI e MOTA, 1991, p. 161).

Consideraram, ainda, em suas anlises, as variveis sociolingsticas naturalidade e faixa etria do informante e a categoria de texto (NURC), acerca do que deduziram: a) no h diferena marcante no comportamento lingstico dos falantes considerados cultos de Salvador e de So Paulo em relao snclise pronominal

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b) quanto mais idoso o falante, mais obediente regra ele se mostra, nesse caso especfico, maior o uso que ele faz da posio encltica, preconizada preferencialmente pelas gramticas c) entre os dilogos (DID e D2) os dados do corpus so semelhantes no tocante colocao pronominal, uma vez que no h diferena significativa nos percentuais de ocorrncia de nclise entre um ou outro tipo de inqurito d) em inquritos do tipo EF o percentual de uso da posio encltica, em conformidade com as gramticas analisadas, atinge o dobro do que ocorre nos dilogos. Numa vertente similar, temos a investigao de Rocha (1998) acerca da colocao pronominal em textos orais e escritos em comparao s regras da GT. Confrontando dois corpora, a autora hipotetizou a preferncia procltica, de um modo geral, considerando-se, inclusive, as variveis lingsticas e extralingsticas. O primeiro corpus o resultado de uma pesquisa de mestrado da prpria autora que analisou a snclise utilizada por estudantes pr-universitrios com idade entre 16 e 18 anos, e o segundo composto de entrevistas colhidas entre informantes com 30 a 45 anos, com curso superior completo, todos moradores da cidade de Alagoinha, Bahia. Tomando como base dados de lngua escrita um total de 256 versus lngua falada com um nmero de 461 , Rocha apanhou 717 dados no primeiro corpus, com 70 textos produzidos pelos informantes, entre narraes-descries e dissertaes, e dez horas de gravao de conversas informais. Foram encontradas, a, 448 ocorrncias proclticas e treze enclticas e nenhuma mesocltica nos dados de lngua falada, que foram os nicos considerados no trabalho que ora resenhamos, haja vista o paralelo que quis a autora estabelecer, com destaque, em corpora dessa modalidade. No corpus seguinte, a autora examinou sessenta minutos de gravao com 14 informantes, que resultaram em 1024 ocorrncias pronominais, sendo 979 proclticas, 43 enclticas e 02 mesoclticas. De toda a anlise, concluiu Rocha a preferncia pr-verbal que, de fato, aparece em altos percentuais, a saber: 97,18% no primeiro corpus e 95,60% no segundo, sendo gradativo o aumento da posio ps-verbal no segundo corpus (4,19%) em relao ao primeiro (2,82%). Silva (2002) tambm analisou a variao no posicionamento dos pronomes clticos em 150 textos escritos 30 jornalsticos e 120 redaes escolares da cidade de Juazeiro, Bahia, considerando fatores lingsticos e extralingsticos que estariam condicionando a preferncia procltica.

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Na crena de que os textos escolhidos refletiriam a norma padro, a autora buscou confrontar a posio dos clticos nesses textos com o que preconizam as gramticas sobre o assunto, a fim de estabelecer fatores que influenciam as ocorrncias pr-verbais e de verificar se h ou no mudana em curso na escrita padro da regio escolhida. Com um total de 433 ocorrncias de clticos junto ao verbo, a pesquisa de Silva firmou a preferncia procltica assim como a variao, em desacordo com as normas gramaticais nos textos selecionados, com um percentual de 74% sobre a colocao ps-verbal, e sinais de desaparecimento da interposio pronominal, com apenas um dado registrado. Salientou a autora uma maior importncia dos fatores lingsticos (ou internos) do que as variveis extralingsticas na concluso da anlise realizada. Os resultados sugerem, ainda, uma baixa freqncia dos pronomes em estudo, que esto mais prximos dos usos orais, naquela regio. Encerra Silva (2002):

Embora os estudos variacionistas venham contribuindo de forma significativa para o ensino da lngua, identificando as formas pouco usuais e quais as superadas, h necessidade de reviso das gramticas pedaggicas, principalmente com relao ao padro escrito da lngua ... (p. 147).

Ao estudar a norma escrita brasileira presente em textos jornalsticos e tcnicocientficos, Lima (2003c) encontrou um total de 620 pronomes tonos, sobre os quais ela teceu algumas consideraes, a saber: 1. a prclise a ordem com maior uso nos textos consultados 2. em sua quase totalidade, a colocao se faz em consonncia com as regras da GT 3. a mesclise colocao eventual em textos escritos formais e inusitada na fala comum.

De acordo com essa autora,

... devero ser eliminadas as regras que se baseiam no que no mais se usa de forma produtiva atualmente. O suprfluo est, por exemplo, na obrigatoriedade de emprego

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da mesclise, facilmente driblada por meio de recursos comuns. (LIMA, 2003c, p. 314).

Tema de um trabalho de monografia, a colocao intraverbal tambm foi analisada por Vilela (2004), dentro do quadro geral da snclise pronominal, que buscou determinar, principalmente em textos acadmicos, a freqncia, as estratgias de esquiva, como tambm a avaliao dos falantes em relao mesclise. Como corpus escrito, a autora examinou nove teses de doutorado sendo cinco da rea de Cincias Humanas e quatro de Cincias Exatas e uma dissertao de mestrado, desta ltima rea, todas compreendidas entre os anos 1990-2003 e defendidas no Brasil, a partir de 1996. Estendendo o corpus, Vilela verificou, outrossim, textos documentais e literrios de sculos anteriores: XVII a XIX. Quanto avaliao dos falantes, foram considerados, em duas fases de teste, grupos heterogneos, de informantes com faixa etria entre 15 e 56 anos, no geral, do Ensino Mdio ao Curso Superior. Com 1863 dados 1374 do corpus de textos cientficos e 489 do corpus antigo , os resultados confirmaram a baixa freqncia da posio intraverbal dos tonos (apenas 06 ocorrncias nos 10 textos cientficos = 5% do ndice de presena), que , por diversas vezes, substituda pela prclise, na presena de palavras atrativas. At mesmo pelos falantes a mesclise evitada e rejeitada, conforme avaliao que dela fazem, considerando-a uma construo pedante e formal. Segundo a autora, h manuais de redao que condenam o emprego da mesclise e at aconselham os redatores a se esquivarem dela. (VILELA, 2004, p. 117). Desse modo, os textos observados nesse trabalho refletem a diminuio da posio intraverbal na escrita formal, em que a prclise tem sido a preferida como estratgia de esquiva, sobre o que os falantes mostraram uma tendncia a estigmatizar a construo mesocltica, julgada por Vilela como um esteretipo lingstico, que assim desfecha seu estudo: a mesclise deixar de ser obrigatria, visto que o emprego do pronome oblquo tono, procltico aos verbos no futuro em incio de orao ou depois de pausa, passar a ser aceito como correto. (VILELA, 2004, p. 117, 119).

1.5 Em sntese

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Como se pode notar, diversos so os trabalhos que tratam da colocao dos tonos, e muitos outros poderiam ser aqui referenciados. Entretanto, optamos por mencionar apenas alguns dos que se guiam sob uma perspectiva anloga traada por ns, neste trabalho. Sob uma viso panormica do assunto colocao de pronomes tonos, podemos dizer que muitas so as contradies expressas desde as gramticas antigas at os estudos atuais. Para uns, a nclise predomina, segundo outros, a prclise a posio a dar destaque, alm das hipteses diversas acerca da interposio: sinais de desaparecimento ou restrita a textos especficos? Oscilam os estudiosos em firmar as hipteses da possvel (ou no) atrao vocabular que desloca (ou no) o pronome. Dividem-se, ainda, entre postulaes que permitem uma maior liberdade ou que restringem, por assim dizer, a colocao tanto na escrita quanto na fala, em seus nveis formais e informais. Tantos outros so os que vem a variao como caracterstica da escrita ou da fala, ou, ainda, das duas modalidades. Afinal, parece-nos evidente a complexidade do assunto, em seu estado de arte. O fato que, em termos prticos, no se tem um posicionamento claro e preciso do que constitui, por exemplo, a escrita e a fala cultas de todo o pas, a um s tempo, em termos de colocao. Os desacordos e as incoerncias so inmeros. Maiores, inclusive, daquilo que coabita o ambiente, ou os vrios ambientes da snclise pronominal. nesse sentido que se fazem justificveis os intentos deste trabalho que busca exatamente uma maior formatao daquilo que realmente constitui o portugus hodierno de nosso pas, no que respeita colocao pronominal em textos do nvel formal.

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CAPTULO 2 ABORDAGENS TERICAS

A evoluo de uma lngua no est ligada com exclusividade ao dos nveis e das foras que se verificam e desenrolam somente no mbito do fonema isolado ou de fonemas entre si, pois esta determinada, tambm, pelas leis e foras que partem das unidades superiores ao fonema (slaba, palavra, grupo fnico, frase)... (GUTIRREZ, 1966, p. 143-4)

Neste captulo, apresentaremos, brevemente, algumas noes que permeiam a pesquisa aqui realizada, para fazer ntida a vertente teortica que seguimos no decorrer de nossas especulaes, quando tratamos de conceitos comuns linha a que este trabalho est vinculada.

2.1 Concepes de lngua e linguagem

Temos clara aqui a natureza scio-cultural da linguagem e do sistema simblico que a lngua, considerando-se toda sua historicidade. Isso significa dizer que esses conceitos, para ns, esto inter-relacionados s prticas funcionais da comunicao verbal, em que a lngua o sistema e, a linguagem, o uso que dele se faz. Segundo nos diz Britto (2003, p. 35), a forma da linguagem objetivamente realizada ser diferente conforme o espao em que se d a interao. A lngua passa a ser vista, ento, como enunciao, discurso, no apenas como comunicao, que, portanto, inclui as relaes da lngua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que utilizada, com as condies sociais e histricas de sua utilizao. (SOARES, 1998, p. 59). Nessa mesma vertente, Bronckart (2006), citando Saussure (2002), reconhece o sistema lingstico como subordinado ao sistema social, que lhe assegura a continuidade:

somente o sistema de signos que se tornou coisa da coletividade que merece o nome de sistema de signos, que um sistema de signos [...]. Por isso, em nenhum momento, ao contrrio da aparncia, o fenmeno semiolgico, qualquer que seja ele, deixa fora de si o elemento da coletividade social: a coletividade social e suas leis so um dos elementos internos e no externos, esse o nosso ponto de vista. (Saussure, 2002, p. 289-290 apud Bronckart, 2006, p. 134).

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tambm assim que os PCN (2000) definem o termo lngua, como

um sistema de signos especfico, histrico e social, que possibilita homens e mulheres significar o mundo e a sociedade. [Por isso], aprend-la aprender no somente palavras e saber combin-las em expresses complexas, mas apreender pragmaticamente seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. (p. 20).

Cmara Jr. (2004), ao discutir a relao entre lngua e cultura, afirma ser a primeira parte da segunda: A LNGUA, em face do resto da cultura, o resultado dessa cultura, ou sua smula, o meio para ela operar, a condio para ela subsistir. E mais ainda: s existe funcionalmente para tanto: englobar a cultura, comunic-la e transmiti-la. (p. 290). Nem por isso, segundo o autor, deixa a lngua de ter seu carter independente, pois, ainda que seja parte da cultura, ela se destaca do todo e com ele se conjuga, pelo que inegvel que a lngua constitui uma estrutura autnoma em face da cultura global (...), o que permite o seu estudo estrutural, da sua forma. (p. 289, 292-3). Assim, como uma estrutura especialmente favorvel para ser depreendida e explicada, a lngua definida, portanto, como um modelo magnfico de estruturao cultural, com uma individualidade prpria, que deve ser estudada em si, pois que apresenta um progresso que o seu reajustamento incessante com a cultura, uma estrutura cultural modelo, que nos permite ver a estrutura menos ntida, imanente em outros aspectos da cultura. (CMARA JR., 2004, p. 293). Diante disso, entendemos no ser a lngua um bloco compacto e homogneo, ou apenas um cdigo, mas a vemos, sim, sob uma perspectiva enunciativa, que a constitui por meio de usos autnticos. E essa autenticidade se refere tanto ao seu funcionamento interacional, cognitivo, quanto estrutural, conforme salientou Costa Val (1996):

Nesses termos, considero adequadamente contemplada a inegvel dimenso estrutural da lngua: no se a reduz gramtica, mas, reconhecendo a realidade de sua configurao gramatical, compreende-se essa gramtica como sistematizao resultante do trabalho lingstico social e historicamente elaborado, que acaba por

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estabelecer regularidades de uso, nos nveis fonolgico, morfossinttico e textual, em termos formais, semnticos e pragmticos. (p. 90).

A ser assim, podemos afirmar que a lngua se constitui tanto por seu carter sistmico como processual, tendo em vista o fato de que a utilizamos como um sistema de regras que se encontra em um constante processo de transformao, a depender de suas situaes de uso, as quais condicionam seu funcionamento. Desse modo, compreende-se que trabalhar aspectos regulares que constituem a lngua, por assim dizer, consiste em um exame dos elementos que comporiam uma reflexo lingstica acurada, tal como sua gramtica como um sistema que permite a fixao de algumas regras. Trata-se, ento, de refletir sobre aquilo que permite a constituio da lngua em si, como tambm sua realizao em contextos de interao, como uma atividade de linguagem que se consubstancia ativamente, para o que citamos Bakhtin (1997), em que:

O estudo da natureza do enunciado e dos gneros do discurso tem uma importncia fundamental para superar as noes simplificadas acerca da vida verbal, a que chamam o fluxo verbal, a comunicao, etc., noes estas que ainda persistem em nossa cincia da linguagem. Irei mais longe: o estudo do enunciado, em sua qualidade de unidade real da comunicao verbal, tambm deve permitir compreender melhor a natureza das unidades da lngua (da lngua como sistema): as palavras e as oraes. (p. 287).

2.2 Acerca da noo de texto como materializao lingstica

Ao considerarmos a lngua como um processo ativo de comunicao verbal, estamos, automaticamente, aliando a noo de texto verbal dentro da Lingstica Textual a uma manifestao lingstica, em que o discurso escrito e/ou falado materializado. Assim,

o texto pode ser concebido como resultado parcial de nossa atividade comunicativa, que compreende processos, operaes e estratgias que tm lugar na mente humana, e que so postos em ao em situaes concretas de interao social. (KOCH, 2003a, p. 26).

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Na viso dessa autora, o sentido nocional de texto est intrinsecamente ligado atividade de interao social, em que se busca atingir um objetivo especfico em uma dada circunstncia. Como uma manifestao verbal constituda de elementos lingsticos selecionados e ordenados por seus interlocutores, o texto pode ser explicado no seu prprio processo de planejamento, verbalizao e construo. (KOCH, 2003a, p. 26-7). Maingueneau (2002), por sua vez, define texto como produes verbais orais ou escritas, estruturadas de forma a perdurarem, a se repetirem, a circularem longe de seu contexto original, como unidades verbais pertencentes a um gnero de discurso. (p. 57). Semelhantemente, Costa Val (2004) firma o conceito de texto como qualquer produo lingstica, falada ou escrita, de qualquer tamanho, que possa fazer sentido numa situao de comunicao humana, isto , numa situao de interlocuo. (p. 1). Valendo-nos desses autores, rejeitamos, aqui, a viso de um produto pronto e acabado e abordamos o texto como o correspondente emprico/lingstico de uma determinada ao de linguagem, dependente dos procedimentos que possibilitam sua existncia enquanto tal, como uma unidade comunicativa que . (BRONCKART, 2006, p. 139-140). Temos clara a idia de que um texto s um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global. (PCN, 2000, p. 21).

2.3 O continuum fala-escrita

A proposta de considerar a modalidade escrita como participante do corpus de anlise para se compreender como determinado aspecto da lngua se manifesta em instncias particulares d-se, por um lado, devido preocupao que h em se poder esclarecer, de fato, se o que se tem apresentado como variao na fala j se constitui como mudana na escrita. Por outro lado, essa proposta se justifica porque h, ainda, em meio sociedade letrada, certa cobrana em relao a alguns usos que se diferenciam em mbitos mais ou menos formais e/ou informais, alm daquilo que causa, por vezes, certo distanciamento entre as modalidades escrita e falada, mesmo se consideradas luz de um continuum. Tanto para Marcuschi (2003) como para Decat (2002), tais modalidades diferenciamse de acordo com seus usos em contextos variados, uma vez que derivam de prticas sociais, em condies especficas de produo. Por isso, faz-se necessrio

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... considerar as diferenas entre situao de fala e situao de escrita, ou seja, entre as condies de produo textual nos diferentes contextos de uso, ou nas diferentes prticas sociais (a famlia, o dia-a-dia, o telefonema, o escritrio, a escola, o trabalho, etc.) (DECAT, 2002, p. 92),

j que, para esta autora, ...as diferenas de uso vo levar a diferenas textuais. exatamente nesse mesmo sentido que Lemle (1984a) prope, para o sucesso do alfabetizador, a preciso de idias claras quanto relao entre lngua falada e lngua escrita, [uma vez que] a lngua escrita, na nossa sociedade complexa, uma entidade autnoma, diferente da lngua falada por quem quer que seja. (1984b, p. 81). Tambm Risso (1994), ao discutir as relaes entre lngua falada e lngua escrita, afirma que (LE para Lngua Escrita e LF para Lngua Falada)

regidas por um mesmo sistema lxico-gramatical, LE e LF organizam diferentemente os seus padres de construo, sempre a partir de especificidades de processamento, transmisso e recepo ajustadas a diferentes situaes

comunicativas e a diferentes condies de produo (p. 62).

Ou seja, h, de acordo com esta autora tanto para a lngua escrita, assim como para a lngua falada , perfis de organizao que as estilizam de acordo com o evento e/ou objetivo comunicativo a que se propem, haja vista que, nas duas modalidades, faz-se possvel

observar a manifestao da variao formal/informal... portanto, podemos ter uma LF formal (por exemplo, em certas entrevistas e conferncias) e uma LE informal (em cartas pessoais, bilhetes, em certas sees de revistas que procuram um toque de informalidade no dilogo com o leitor). (RISSO, 1994, p. 59).

Tratando dessa variao formal/informal, Britto (2003) pontua a questo da mudana de registro e declara:

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Neste sentido, a noo de registro fica mais bem estabelecida se for compreendida... como a expresso de mudana no uso da lngua conforme a situao. O registro de uma situao domstica ser diferente de uma conversao entre estranhos, que, por sua vez, ser diferente de uma situao de trabalho, que ser diferente de cerimnia religiosa. A diferena entre registros ocorre em todos os aspectos lingsticos prosdicos, lexicais e sintticos. (p. 33).

Para Koch (2003a, p. 77), fala e escrita constituem duas modalidades de uso da lngua. Embora se utilizem, evidentemente, do mesmo sistema lingstico, elas possuem caractersticas prprias. E, tomando-as ao longo de um contnuo tipolgico, reconhece:

O que se verifica, na verdade, que existem textos escritos que se situam, no contnuo, mais prximos ao plo da fala conversacional (bilhetes, cartas familiares, textos de humor, por exemplo), ao passo que existem textos falados que mais se aproximam do plo da escrita formal (conferncias, entrevistas profissionais para altos cargos administrativos e outros), existindo, ainda, tipos mistos, alm de muitos outros intermedirios. (p.78).

Sob o olhar dessa autora, fala e escrita possuem alguns traos que lhes so peculiares, sim, j que se realizam no decurso de acontecimentos por vezes distintos, pois a escrita o resultado de um processo, portanto esttica, ao passo que a fala processo, portanto, dinmica, o que no as torna dicotmicas. (p. 80). Conforme Gnerre (1985), o valor das produes lingsticas depende da adequao dessas ao contexto em que so produzidas e vale considerar, a, as influncias que ocorreram na histria da lngua e que foram determinantes para as diferenciaes lingsticas. Tais influncias tambm promoveram uma transformao da variedade lingstica em registro escrito e desse tradio gramatical, por isso possvel afirmar que a escrita foi e sempre ser diferente da fala. Para analisar a colocao dos pronomes tonos na modalidade escrita em contraposio ao seu comportamento no corpus de lngua falada, tomaremos como base o registro considerado formal, uma vez que todo linguajar, todo falar, todos os modos de escrita, toda comunidade lingstica tem sua norma.

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2.4 Sobre o conceito de norma utilizado neste trabalho


Quando o agente inexperiente, h todo interesse em que se inspire nos modelos existentes e que aprenda as regras de seu funcionamento. principalmente nessa perspectiva didtica que so teis as classificaes e as anlises propostas pelos pesquisadores: trata-se, portanto de conduzir os aprendizes a um domnio das regraspadro em uso, corrigindo eventualmente as produes que mostrarem falta desse domnio. (BRONCKART, 1999, p. 216)

Muita discusso h em torno do que se pode chamar de norma, na Lngua Portuguesa, o que acirrado quando se faz presente a denominao culta, razo pela qual consideramos oportuno explicitar o conceito com o que trabalhamos aqui. Para isso, tomaremos como base algumas definies de Faraco (2002), que, debatendo a questo da Norma-padro brasileira, afirma:

... numa sociedade diversificada e estratificada como a brasileira, haver inmeras normas lingsticas, como, por exemplo, a norma caracterstica de comunidades rurais tradicionais, aquela de comunidades rurais de determinada ascendncia tnica, a norma caracterstica de grupos juvenis urbanos, a (s) norma (s) caracterstica (s) de populaes das periferias urbanas, a norma informal da classe mdia urbana e assim por diante. (p. 38).

Uma vez que cada grupo social possui sua prpria norma, entendemos, com esse autor, que ... a norma, qualquer que seja, no pode ser compreendida apenas como um conjunto de formas lingsticas; ela tambm (e principalmente) um agregado de valores socioculturais articulados com aquelas formas. (p. 39). Por isso, haver tantas normas quantos grupos houver. Tendo em vista o fato de que lidamos, aqui, com corpora compostos por textos escritos e orais considerados cultos, isto , produzidos por pessoas escolarizadas, utilizaremos a expresso norma culta para caracteriz-los. Servindo-nos das acepes do autor em questo, estamos convictos de que essa expresso se refere ... norma lingstica praticada, em determinadas situaes (aquelas que envolvem certo grau de formalidade), por aqueles grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura escrita. (p. 40).

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Na viso de Faraco, a norma culta no pode ser confundida com o que ele considera norma padro, pois o padro jamais conseguir suplantar a diversidade, porque, para isso, seria preciso o impossvel (e o indesejvel, obviamente): homogeneizar a sociedade e a cultura e estancar o movimento e a histria. (p. 42). Isso porque Faraco associa norma padro GT, como um fenmeno relativamente abstrato, que teve o modelo lusitano de escrita como referncia e que diz respeito ao resultado de ... um processo fortemente unificador (que vai alcanar basicamente as atividades verbais escritas), que visou e visa uma relativa estabilizao lingstica, buscando neutralizar a variao e controlar a mudana... [como uma] norma estabilizada. (p. 40-3). De fato, a GT que tem servido de modelo para o padro de escrita, na Lngua Portuguesa, ainda que esta possua suas variaes formais e informais, tanto na escrita como na fala, alm de suas normas populares, designaes que nos permitem o seguinte esquema:

Lngua padro = Gramtica Tradicional = modelos de escrita

Lngua culta = utilizada por pessoas escolarizadas (3 grau)

Escrita ou Falada

Formal ou Informal

Formal ou Informal

Variedades populares = grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura oral

Desejamos frisar aqui nossa discordncia em ser a GT a representante do ideal a ser alcanado, ou o nosso padro de lngua, por se basear em textos literrios e no condizentes com nossa realidade (culta) atual. Defendemos, ento, que a lngua padro se espelhe, por assim dizer, na norma culta atual, considerando-se suas tendncias, motivo pelo qual, no decorrer deste trabalho, os termos padro, culto e formal, sero, por diversas vezes, abordados como sinnimos.

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2.5 Concernente aos gneros textuais (formais)


Puede hablarse de tipos especficos de realizacin de gneros del lenguaje cotidiano slo donde existan formas de intercambio comunicativo cotidiano que sean de algn modo estables, fijadas por el hbito y las circunstancias. [...] Cada situacin fija de la vida corresponde a una organizacin particular del auditorio y, en consecuencia, a un repertorio de pequeos gneros cotidianos. El gnero de la vida cotidiana se ubica siempre en el cauce del intercambio comunicativo social, y es el reflejo ideolgico de su tipo de estructura, su objetivo y su composicin social. (Voloshinov, 1993 [1930], p. 248-249)

comum, quando lemos ou produzimos um texto, sermos rodeados por questionamentos, que nos vm mente, tais como: Que texto esse?, ou, Que tipo de texto esse?, O que estou lendo?, Que tipo de texto devo produzir?. Normalmente, esses questionamentos so seguidos de outros, que costumam se referir ao contexto de produo e circulao dos textos, ao local onde so produzidos, ou onde iro circular. Pressupe-se que todo texto verbal encontra-se inserido em uma noo de gnero, isto , toda vez que nos comunicamos verbalmente estamos participando da produo de um gnero textual. Mas a definio desse termo no se afigura como uma tarefa simplista, ao contrrio, diversos so os autores que tm se empenhado em realiz-la. Tentaremos, ento, abordar algumas das muitas concepes que se nos apresentam, a fim de explicitarmos a perspectiva sob a qual esta pesquisa se realiza. Segundo Bakhtin (1997), pode-se dizer que a noo de gneros textuais est relacionada s diversas esferas da atividade humana, uma vez que so nas e das vrias utilizaes da lngua em que os enunciados se efetivam que surgem e se realizam esses gneros. Assim diz esse autor que os textos pertencentes a um mesmo gnero possuem, de certo modo, trs aspectos em comum: a temtica, que representa os temas e o tratamento mais usual dado a eles; a forma composicional, que diz respeito estruturao global e organizao em partes; e o estilo, que abrange as escolhas sintticas e lexicais, os recursos lingsticos mais habituais. Esse autor apresenta-nos duas noes de gneros textuais como o gnero de discurso primrio (simples) e o gnero de discurso secundrio (complexo), para o que explana:

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Os gneros secundrios do discurso o romance, o teatro, o discurso cientfico, o discurso ideolgico, etc. aparecem em circunstncias de uma comunicao cultural, mais complexa e relativamente mais evoluda, principalmente escrita: artstica, cientfica, sociopoltica. Durante o processo de sua formao, esses gneros secundrios absorvem e transmutam os gneros primrios (simples) de todas as espcies, que se constituram em circunstncias de uma comunicao verbal espontnea. Os gneros primrios, ao se tornarem componentes dos gneros secundrios, transformam-se dentro destes e adquirem uma caracterstica particular: perdem sua relao imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios... (p. 281).

Sobre isso, declara Rodrigues (2005) que

o papel da escrita indicado pelo autor na constituio dos gneros secundrios pode ser compreendido como uma das condies para o surgimento e o desenvolvimento das esferas sociais formalizadas, lugar de constituio dos gneros secundrios. (p. 169).

Os gneros textuais so assim (re)criados dentro de parmetros e so restritos tambm, pois h para eles limitaes. Logo, definem-se como a elaborao dos tipos relativamente estveis de enunciados pelas diferentes esferas de utilizao da lngua. (BAKHTIN, 1997, p. 279). O que configura um determinado gnero, ento, so tanto seus aspectos formais, assim como sua funcionalidade, haja vista o fato de que todo gnero possui tambm sua gramtica, isto , seu conjunto de regras subjacentes, o que faz com que o reconheamos como tal durante o processo de comunicao. Nessa perspectiva, temos a postura de Schneuwly & Dolz (2004), em que

o gnero, assim definido, atravessa a heterogeneidade das prticas de linguagem e faz emergir toda uma srie de regularidades no uso. So as dimenses partilhadas pelos textos pertencentes ao gnero que lhe conferem uma estabilidade de fato, o que no exclui evolues, por vezes, importantes. (p. 75).

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Ao tratar das formas estveis dos gneros, Bakhtin (1997) tece algumas consideraes acerca do que podemos chamar aqui de uma espcie de modelo de padronizao que temos em mente, quando da constituio de um gnero, o que viabiliza nossa comunicao, uma vez que se no existissem os gneros do discurso e se no os dominssemos, se tivssemos de cri-los pela primeira vez no processo da fala, se tivssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicao verbal seria quase impossvel. (p. 302). Ou seja, faz-se necessria certa padronizao para que possamos, inclusive, reconhecer um gnero em detrimento de outro, quando da exigncia de produes e/ou usos determinados como ocorre por diversas vezes na formulao de documentos ou de outros gneros consagrados tipicamente na escrita e tambm na fala, especialmente formais. Isso acontece com freqncia em redaes acadmicas, cientficas, etc. e tambm em situaes de fala em que algumas formas j se encontram padronizadas pelo falante, que as realiza consoante os usos costumeiros, por exemplo. Assim sendo, todos os nossos enunciados se baseiam em formas-padro e relativamente estveis de estruturao de um todo. (KOCH, 2003b, p. 54). E assim que os gneros vo sendo reconhecidos, praticados pela sociedade, que os legitima, a saber:

A prova da existncia desse modelo [comum, sancionado pelo uso] nas diferentes prticas de linguagem , precisamente, o fato de que o gnero imediatamente reconhecido como uma evidncia, pela maneira como se impe para aquele que se sente vontade na prtica em questo, como uma forma evidente que seu enunciado deve tomar salvo, bem entendido, se ele quiser, calculando conscientemente os efeitos possveis, suprimir as marcas do gnero, o que ser encarado como desvio, tanto por ele prprio quanto pelos outros atores da prtica visada. (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004, p. 74-75).

Em outras palavras, esses gneros textuais, resultantes de tendncias dominantes, so determinados pelas diferentes esferas sociais, as quais constituem esses modelos relativamente estveis. So como uma gramtica do discurso, pois possuem funcionamento social, sistematizao e estruturao, quando da sua organizao, e regras normativas. Assim como temos frases agramaticais, comumente assinaladas pelo asterisco (*), podemos ter tambm formaes discordantes de gneros, que podem decorrer de erros estruturais,

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organizacionais, como tambm de inadequaes, quando de seu (no) funcionamento em uma determinada instncia discursiva e/ou esfera social. Para alguns gneros, pesa mais o relativamente estveis, enquanto para outros, somente o estveis: tudo ir depender do contexto situacional de uso dos mesmos.

2.5.1 A questo do estilo

Muito do que se tem entendido como norma no passa, na verdade, de uma opo de estilo que se constitui em funo do prprio gnero textual. (BRITTO, 1997, p. 59)

H que se considerar, ento, a questo do estilo, que pode propiciar ou no a reflexo do individual quando do processo de produo de um determinado gnero, uma vez que o estilo est indissoluvelmente ligado ao enunciado e a formas tpicas de enunciados, isto , aos gneros do discurso. (BAKHTIN, 1997, p. 283). Segundo a leitura de Rodrigues (2005, p. 168), o estilo do gnero diz respeito ao uso tpico dos recursos lexicais, fraseolgicos e gramaticais da lngua.. Bakhtin diz serem menos favorveis ao estilo individual os gneros do discurso que requerem uma forma padronizada, enquanto os gneros literrios tendem mais a uma reflexo da individualidade: Na maioria dos gneros do discurso (com exceo dos gneros artstico-literrios), o estilo individual no entra na inteno do enunciado.. Ou seja, encontra-se pouca ou quase nenhuma individualidade em gneros do discurso formalizado, por assim dizer, j que possuem esses formas padronizadas um tanto exteriores ao indivduo, ao pessoal. (BAKHTIN, 1997, p. 283). No que ainda concerne s caractersticas regulares dos gneros textuais e de seus tipos, Bronckart (2006) destaca os processos de adaptao e de adoo quando da produo dos gneros de textos por seus agentes, e enuncia:

Para a implementao desses mecanismos [de adaptao e de adoo], esse agente necessariamente progride em seu conhecimento dos gneros que so adaptados a uma situao de interao, com o conjunto de restries lingsticas que lhes so prprias, ao mesmo tempo em que tambm aprende a gerenciar as indexaes sociais de que cada gnero portador; inscrevendo-se, assim, na rede de

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significaes cristalizadas nos modelos preexistentes e aprendendo a se situar em relao a eles. (p. 154).

Nesse sentido, temos que a padronizao dos gneros ocorre de acordo com seu uso e possui durao segundo o mesmo tambm. No pode ser essa padronizao simplesmente ignorada: ela existe, configura-se como fato nas relaes cotidianas.

2.5.2 Definies metodolgicas para este estudo

Com vistas a uma organizao terica que direcione este trabalho, conforme o objetivo em pauta: analisar como se comportam os pronomes tonos, em termos de colocao, em gneros escritos e orais da linguagem culta, sero consideradas, aqui, as acepes de Marcuschi (2002), quando do tratamento dos gneros textuais, definidos por ele

como uma noo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diria e que apresentam caractersticas sciocomunicativas definidas por contedos, propriedades funcionais, estilo e composio caracterstica... os gneros so inmeros. (p. 22-3).

Da mesma maneira, os tipos textuais, so considerados por esse autor como uma expresso que designa

uma espcie de construo terica definida pela natureza lingstica de sua composio (aspectos lexicais, sintticos, tempos verbais, relaes lgicas), em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dzia de categorias conhecidas como: narrao, argumentao, exposio, descrio, injuno. (p. 22).

Nessa abordagem, Marcuschi (2002) vale-se da

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expresso domnio discursivo para designar uma esfera ou instncia de produo discursiva ou de atividade humana. Esses domnios no so textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante especficos. Do ponto de vista dos domnios, falamos em discurso jurdico, discurso jornalstico, discurso religioso etc, j que as atividades jurdica, jornalstica ou religiosa no abrangem um gnero em particular, mas do origem a vrios deles. Constituem prticas discursivas dentro das quais podemos identificar um conjunto de gneros textuais que, s vezes, lhe so prprios (em certos casos exclusivos) como prticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. (p. 23-4).

Para haver a circulao do gnero, em seus variados tipos e domnios, necessrio que haja, tambm, um suporte que com isso contribua. Afirma Marcuschi (2003, p. 10) que todo gnero exige um suporte especial, atravs do qual a sociedade atingida, visto que, para que um (ou mais) gnero se materialize em um suporte definido, necessrio que haja um objetivo especfico para sua fixao em um formato delimitado. dessa maneira que esse mesmo autor define suporte de um gnero, como sendo

...um locus fsico ou virtual com formato especfico que serve de base ou ambiente de fixao do gnero materializado como texto. Numa definio sumria, pode-se dizer que suporte de um gnero uma superfcie fsica em formato especfico que suporta, fixa e mostra um texto. (p. 11).

Desse modo, entende-se, com o referido autor, que, para cada domnio discursivo, h determinados gneros que se fixam em suportes especficos , assim como determinados tipos que os compem, o que Bronckart (1999, p. 138) caracteriza como segmentos no nvel dos quais se podem identificar regularidades de organizao e marcao lingstica.. Cabe dizer que, segundo Marcuschi (2003), embora haja claras distines dentro de cada conjunto supracitado os gneros, os tipos, os domnios e os suportes , no se faz possvel estabelecer uma hierarquia; tudo ir depender dos propsitos de cada uso. Por isso, foram considerados, nesta pesquisa, gneros partcipes da atividade humana de comunicao, de acordo com suas configuraes no contexto de seus usos, como tambm sua funcionalidade em situaes particulares, uma vez que

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o estudo da natureza do enunciado e da diversidade dos gneros de enunciados nas diferentes esferas da atividade humana tem importncia capital para todas as reas da lingstica e da filologia. Isto porque um trabalho de pesquisa acerca de um material lingstico concreto a histria da lngua, a gramtica normativa, a elaborao de um tipo de dicionrio, a estilstica da lngua, etc. lida inevitavelmente com enunciados concretos (escritos e orais), que se relacionam com as diferentes esferas da atividade e da comunicao... (BAKHTIN, 1997, p. 282).

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CAPTULO 3 CONSIDERAES METODOLGICAS

A norma lingstica uma realidade que se constata atravs de pesquisas, e estas hoje se baseiam, como j vimos, no critrio de freqncia. O que freqente no uso de uma variedade da lngua que constitui a norma. [Chega-se] a isso pela observao, anlise e interpretao dos fatos. (SENA, 1986, p.75).

3.1 Da constituio dos corpora

Para empreendermos esta pesquisa sobre o comportamento dos pronomes tonos em textos escritos e falados considerados cultos, valemo-nos das prescries gramaticais sobre esse item lingstico, com vistas a verificarmos se h ou no interferncias da fala na escrita quanto colocao pronominal. Optamos por um cotejo entre duas modalidades de um mesmo registro o formal por entendermos, com Bechara (1986), que cada valor lingstico que a descrio cientfica depreende s se ope realmente a cada outro valor dentro de uma mesma lngua funcional. (p. 15). Queremos, com isso, contribuir com o ensino da Lngua Portuguesa e com a reviso, de um modo geral, referente ao uso formal de um determinado aspecto da lngua, por acreditarmos caber escola a faculdade de possibilitar ao aluno o conhecimento e a capacidade de lidar com as diversas manifestaes lingsticas, a fim de amplificar seus saberes acerca de sua lngua.

3.1.1 Quanto ao corpus de lngua escrita

Retiramos, para a realizao deste trabalho, dados de textos veiculados em suportes que representam publicaes de grande circulao e importncia nacionais. Iniciamos nossa pesquisa com um total de 10 ttulos peridicos, mas fechamos com um nmero de 06, para no deixar desproporcional a quantidade de dados em relao amostra de lngua falada. Em vista disso, buscamos selecionar, no caso das revistas, ttulos que se referiam a diferentes pblicos, com nmeros de tiragens significativos, quais sejam, as Revistas Veja (grande nmero de tiragens), Superinteressante (pblico-alvo especialmente juvenil) e Criativa (pblico-alvo especialmente feminino). Em relao aos jornais, elegemos aqueles que

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apresentam nmeros de tiragens expressivas, com uma ampla variedade de gneros representantes da lngua culta: Estado de Minas, Folha de S. Paulo, e O Globo. Investigamos as revistas dos meses de janeiro e agosto do ano de 2007, que perfizeram um total de 13 edies. Entre os jornais, consideramos diferentes meses, a saber: o jornal Estado de Minas dos meses de janeiro e agosto do ano de 2007, o jornal Folha de S. Paulo dos meses de dezembro do ano de 2007 e janeiro do ano de 2008, e duas edies do jornal O Globo do ms de janeiro do ano de 2008, o que resultou em 06 edies. A tabela seguinte ilustra esses dados:

TABELA 1 Relao de suportes, quantidade e datas Ttulos dos Peridicos Revista Veja Revista Superinteressante Revista Criativa Jornal Estado de Minas Quantidade e Tipo de Edies pesquisadas 09 (impresso e on line) 02 (impresso e on line) 02 (impresso e on line) 02 (impresso e on line) Datas pesquisadas janeiro e agosto/2007 janeiro e agosto/2007 janeiro e agosto/2007 dia 1de janeiro e dia 5 de agosto/2007 dia 31 de dezembro/2007 e dia 31 de janeiro/2008 dias 4 e 31 de janeiro/2008 -

Jornal Folha de S. Paulo Jornal O Globo Total

02 (impresso e on line) 02 (impresso e on line) 19

Ao contrrio das outras duas revistas pesquisadas, que possuem edies mensais, a Revista Veja publicada semanalmente, o que gerou um nmero de exemplares excedente ao das demais, ainda que tenha sido considerado o mesmo perodo, conforme nos mostra a tabela acima. Por serem peridicos dirios, selecionamos, entre os jornais, dois exemplares de cada ttulo, pois isso j representava uma quantidade de textos considervel, alm do que percebemos um estilo similar entre a linguagem dos dois tipos de peridicos tanto os jornais como as revistas representam o domnio jornalstico, j que possuem objetivos comuns, como a informatividade, por excelncia. Nesses suportes, procuramos examinar os textos escritos no registro formal, que consideramos aqui como gneros textuais formais (ou gneros da linguagem culta), impressos

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e on line, participantes do domnio jornalstico. Por termos claro o fato de que esse domnio abriga uma srie de gneros de diferentes tipos e registros, procedemos a uma anlise apenas daqueles que retratam a linguagem da revista e do jornal, de acordo com a norma culta. So eles: as notcias, as reportagens, os editoriais, as matrias assinadas por articulistas que representam a opinio do jornal, etc. No foram pesquisados textos propagandsticos, tampouco as entrevistas, as cartas de leitores, os horscopos, etc., por fazerem parte do que representa a escrita informal, mais passvel a no observncia dos padres tradicionais, uma vez que possuem outros objetivos, que no o meramente informacional, fugindo, portanto, ao escopo desta pesquisa. Decidimos analisar a mdia impressa e a on line porque espervamos encontrar o mesmo estilo de escrita em ambos os tipos de publicao, uma vez que muitos jornais e revistas so praticamente reproduzidos na internet, e porque no poderamos simplesmente ignorar a nova era da comunicao, que o meio eletrnico. A escrita miditica, em dias atuais, no se resume mais ao impresso, ela ocorre quase que na mesma medida no meio on line, e assim, tambm, que seus usurios-leitores tm acesso aos textos atuais. Importa declarar que a escolha daqueles gneros no se fez por meio de acepes normativas, tampouco preconceituosas. Ocorre que, conforme comentrios anteriores, acreditamos que para o estudo da norma culta deve ser levado em considerao o uso de textos nessa norma, considerando-se a situao em que foram produzidos. Como presumimos certa regularidade na escrita dos gneros selecionados, compreendemos que os mesmos podem servir a esse fim: ao estudo da norma culta, de maneira proveitosa, segundo defende Possenti (1996, p. 41): Haveria certamente muitas vantagens no ensino de portugus se a escola propusesse como padro ideal de lngua a ser atingido pelos alunos a escrita dos jornais ou dos textos cientficos, ao invs de ter como modelo a literatura antiga.. Inegvel o fato de que a literatura antiga no tem se mostrado como participante do dia-a-dia da maioria dos alunos, como sujeitos educandos que dedicam, comumente, uma minscula parte do tempo escola, propriamente dita. Tambm no parece fazer, esse tipo de literatura, parte da rotina diria do cidado comum, por no o representar tampouco o envolver em suas aes cotidianas. Por isso, no se considera plausvel um ensino de Lngua Portuguesa que, a fim de facultar a prtica da escrita formal, tome como base textos literrios antigos. Sugere-se, para isso, que sejam utilizados textos da mdia impressa e on line atuais que podem ser vistos, facilmente, como integrantes do mbito social meios de comunicao altamente acessveis.

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Torna-se importante ressaltar, que, h muito, os gneros jornalsticos encontram-se inseridos na sociedade, pois que

a escola recebe crianas que, desde cedo, convivem com a linguagem escrita em diversos suportes, dentre eles, os jornais. Mesmo que as interaes sejam limitadas..., esse veculo de comunicao est presente no dia-a-dia do cidado que vive na zona urbana, seja por curiosidade para ler uma manchete, seja para procurar emprego ou algo para comprar e vender... Por prioridade aos fatos sociais que ocorrem em determinada sociedade, o jornal constitui excelente material didtico para o ensino de leitura e produo de texto. (SOUZA, 2002, p. 58).

Veculos de variados gneros, os jornais, assim como as revistas, podem ser vistos como elementos tambm sociais, haja vista que constituem o mundo discursivo do cotidiano social. Ademais, alguns desses suportes os que circulam mais freqentemente na esfera social parecem apresentar certas regularidades quando lanam mo de determinados gneros, no registro formal, como aparentam os gneros citados, nos quais se acredita que podem ser encontradas representaes da norma culta escrita. Esses gneros so assim considerados por Pinto (2004, p. 284), como

... artefatos textuais ritualizados que estabelecem uma forma de contrato de leitura entre jornal/jornalista e leitores. O leitor, ao manusear um jornal, sabe de antemo onde localizar o texto (ou os textos) que lhe interessa e, ao l-lo, aceita implicitamente as normas estabelecidas por esse contrato socialmente aceito.

Ou seja, tidos como ritualizados em um contrato de leitura, os gneros jornalsticos parecem estar, ento, sujeitos a regras e regulamentos que os constituem em sua materializao, neste caso, escrita, sobre o que declara Rodrigues (2005):

Entre o processo da produo e o da interpretao dos enunciados na comunicao jornalstica, h o espao do trabalho de mediao da esfera jornalstica, que regulamenta as diferentes interaes nesse espao, filtra, interpreta (impe um acento de valor) e pe em evidncia os fatos, acontecimentos, saberes, opinies etc. que faro parte do universo temtico-discursivo jornalstico. O trabalho

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de seleo e diviso desse universo em cadernos, sees, rubricas e suplementos j um ato temtico, estilstico e composicional, pois esse ato de segmentao, alm de selecionar e rotular o que pode fazer parte de cada caderno, seo, um ndice de produo e interpretao indispensvel dos enunciados individuais e dos gneros. (p. 170-1).

Por suas peculiaridades de formas e funes (PINTO, 2004, p. 293), assim como por seus usos rotineiros, esses gneros so vistos como textos da vida diria com padres sciocomunicativos caractersticos (MARCUSCHI, 2003, p. 16-7) que habitam,

organizadamente, o meio social. Para analisarmos a colocao pronominal nos textos em questo, servimo-nos da orao, como unidade da lngua, considerando-se sua natureza gramatical [que] tem fronteiras, um acabamento, uma unidade que se prendem gramtica, segundo Bakhtin (1997, p. 297). Sob esse aspecto, abordamos (assim como o fez SILVA, 2002) apenas a estrutura superficial linear da lngua, valendo-nos da posio de Perini (1998), quando alega que qualquer descrio sinttica, mesmo analisando a estrutura profunda, tem como um de seus objetivos produzir o trao da estrutura superficial. (p. 18). 3.1.2 Quanto ao corpus de lngua falada:

Nossa amostra de lngua falada foi composta pelos inquritos do Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma Lingstica Urbana Culta), implantado no Brasil a partir de 1969, [o qual] visa a proceder descrio dos padres reais de uso na comunicao oral adotados pelo estrato social composto por indivduos de escolaridade superior. (MOTA e ROLLEMBERG, 1994, p. 11). Ou seja, nesse projeto podemos encontrar exemplos do que constitui a lngua falada culta no Brasil. Vinculado ao Proyecto de Estudio Coordinado de la Norma Lingstica Culta de las Principales Ciudades de Iberoamrica y de la Pennsula Ibrica, o Projeto NURC contou com a colaborao de diversos pesquisadores, entre eles, Nelson Rossi, coordenador geral do Projeto no Brasil em vrios perodos, o qual sugeriu que

diferentemente do que se havia determinado para os outros pases fossem cinco as cidades selecionadas, escolhendo-se entre as fundadas no sculo XVI Recife, Salvador, Rio de Janeiro, So Paulo ou no sculo XVIII Porto Alegre , com

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populao aproximada de um milho de habitantes ou mais e distribudas harmoniosamente por nossa extenso territorial mais densamente povoada, com o que se teria uma amostra relativa a uma populao urbana estimada em 1969 para doze milhes e meio de habitantes aproximadamente, o equivalente a cerca de um stimo da populao do pas naquela ocasio. (MOTA e ROLLEMBERG, 1994, p. 12).

Vejamos, sinteticamente, os seis objetivos aprovados, em reunio nacional, para este Projeto no Brasil: 1. possibilitar o estudo da modalidade oral culta da lngua em seus mais variados aspectos 2. ajustar o ensino da lngua portuguesa a uma realidade lingstica concreta 3. estabelecer a norma culta real 4. fornecer subsdios cientficos para o ensino da lngua 5. detectar as normas tradicionais vivas e as j superadas 6. corrigir distores do sistema tradicional da educao brasileira O Projeto constitui-se de informantes de trs faixas etrias distintas, de ambos os sexos: 1- de 25 a 35 anos, 2- de 36 a 55 anos e 3- de 56 anos em diante. So esses informantes: todos nascidos na cidade em estudo ou que tenham nela residido desde os 5 anos de idade moradores da cidade h pelo menos trs quartas partes de sua vida os que cursaram na cidade o 1 e o 2 grau possuidores do curso superior completo filhos de falantes nativos de lngua portuguesa (de preferncia nascidos na cidade em questo). Seu corpus dividido em trs categorias de texto diferentes, a saber: EF (Elocues em situaes formais, doravante EFs = aulas, conferncias), DID (Dilogos entre informante e documentador) e D2 (Dilogos entre dois informantes). Segundo Preti e Urbano (1986-1990, p. 142),

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O Projeto NURC representa uma notvel mudana de rumo dos estudos dialetolgicos: deixou-se de privilegiar o falar residual de pequenas comunidades e partiu-se para a linguagem padro das grandes comunidades urbanas. No mundo latino-americano, aparentemente foi Jos Pedro Rona (1958) o primeiro a reclamar a necessidade de um novo tipo de Dialetologia, que explorasse as relaes entre lngua culta e ideal de lngua. Ele hipotetizou que na Europa o ideal da lngua coincide com a lngua culta, enquanto na Amrica esses conceitos se afastam, expondo-se o nvel superior fala popular, dialetando-se mais acentuadamente que na Europa.

Tendo em vistas essas consideraes, procedemos, aqui, ao mesmo tipo de anlise que fizemos com a lngua escrita, agora em alguns inquritos desse Projeto, em que buscamos exemplos de prclise, mesclise e nclise em transcries das cinco cidades que o constituem, com suas respectivas categorias textuais, levando em conta, em cada texto pesquisado, as faixas etrias e o sexo dos informantes. Almejvamos um corpus balanceado, no somente em relao ao corpus de lngua escrita, mas tambm s diversas variveis de que se constituem os inquritos coletados. Entretanto no nos foi possvel o equilbrio entre as cidades, tampouco entre as categorias estudadas, porque ainda h grande parte do material a ser publicada e alguns exemplares de difcil acesso. Sendo assim, buscamos eliminar as variveis sexo e faixa etria, e tentamos equiparar, com o maior nmero de coincidncias que nos foi permitido, a quantidade de inquritos por cidade pesquisada, junto s suas respectivas categorias. Mas como no nosso objetivo, aqui, possveis confrontos entre as variveis, procuramos manter correspondncias apenas entre a quantidade de dados coletados, j que se fazem, esses, representantes da norma culta de todo o pas. Visualizemos isso na tabela abaixo, na pgina seguinte:

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TABELA 2 Classificao: Corpus NURC

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Com um total de 68 inquritos, conseguimos equilibrar os dados de lngua falada com os de lngua escrita, coletados em 19 edies peridicas. Isso porque cada inqurito aparece, comumente, em nmeros de pginas inferiores quantidade de pginas que possui cada edio jornalstica. Na anlise desse corpus de lngua falada, apoiamo-nos na definio de unidade de anlise proposta por Ataliba Teixeira de Castilho (apud GALEMBECK e GOSUEN, s.d.), como uma unidade discursiva (U.D) que compreende

um segmento de texto caracterizado semanticamente por preservar a propriedade de coerncia temtica da unidade maior, atendo-se como arranjo temtico secundrio ao processamento informativo de um subtema, e formalmente por se compor de um ncleo e de duas margens, sendo facultativa a figurao destas.

Isso porque a frase, enquanto unidade caracterstica da lngua escrita, nem sempre se aplica fala, dadas as particularidades dessa forma de realizao lingstica (pausas, truncamentos, repeties, anacolutos, falsos comeos, falta de limite entre os enunciados). (GALEMBECK e GOSUEN, s.d.). Ademais, entendemos com Koch (2003a) que o texto falado ... tem uma estruturao que lhe prpria, ditada pelas circunstncias scio-cognitivas de sua produo e luz dela que deve ser descrito e avaliado. (p. 81).

3.2 Do processo de anlise

A coleta dos dados foi feita medida que esses apareceram no texto, conforme a sua ordem de ocorrncia, com levantamentos qualitativos e quantitativos. Subseqentemente, passamos anlise de cada corpus, em relao s regras da GT. De posse dessa anlise, fizemos a comparao entre a amostra de texto escrito e a do Projeto NURC, que representa a lngua falada, para verificarmos se h ou no semelhana entre a colocao nos gneros selecionados, escritos e orais, considerando, para isso, os critrios descritos nas gramticas tradicionais para conferir se ocorre variao ou no. Considerando, aqui, o arrazoado: o uso que legitima a norma, procuramos observar de que maneira os pronomes tonos tm-se apresentado na linguagem culta escrita

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em contraposio falada e se o que caracteriza a sua freqncia refere-se ou no norma tradicional.

3.2.1 Critrios

Ainda que alguns gramticos apresentem contextos e prescries similares, podemos perceber a existncia de vrias diferenas e mesmo contradies entre eles, fato que dificulta listar as regras sumariamente. Todavia, para a realizao deste trabalho, houve a necessidade de uma categorizao dos contextos determinados e/ou permitidos para cada colocao, com o fito de verificar como tm ocorrido as snclises pronominais nos corpora pesquisados, se elas esto ou no em consonncia com os ditames tradicionais, ou se se apresentam de forma(s) distinta(s) e quais motivaes lingsticas nos servem de justificao. Para tanto, estabelecemos determinados ambientes em que se espera que ocorram as trs colocaes bsicas: a prclise, a nclise e a mesclise. Tais ambientes foram delimitados de acordo com as prescries gramaticais encontradas em maior nmero, entre os cinco autores escolhidos, isto , aquelas que nos parecem mais comuns tanto na escrita como na fala. Isso porque, como se trata da fala culta, acreditamos ser mais coerente analis-la sob as mesmas prescries acerca da escrita, tambm culta, para, inclusive, conferirmos o grau de coincidncia (ou no) entre uma modalidade e outra, j que se encontram, essas duas modalidades, no mesmo tipo de registro o formal. Pontuamos, ento, que nos valemos dos mesmos contextos para analisarmos tanto os dados de lngua escrita como da falada, com exceo de apenas um, aquele em que a anteposio vedada em incio de orao ou perodo, por ser esse, alis, um contexto respaldado entre os gramticos, quando se trata da lngua falada. Mas no podemos deixar de observar a forma como os especialistas se referem a esse contexto, pois, para eles, o pronome inicia perodo ou orao na lngua falada informal, diferente da pesquisada por ns. Tal observao permite-nos inferir que, se forem encontrados exemplos desse tipo em nossos dados, no poderemos consider-los consoantes com as regras gramaticais. Uma ltima observao a respeito dos critrios de anlise: em casos considerados facultativos pelos gramticos selecionados, optamos por mencion-los nas duas colocaes em questo. Considerando-se o fato de que pesquisamos apenas as formas simples de colocao (conforme explicitado no item 1.3 do captulo 1 deste trabalho), aquelas com apenas um verbo, utilizaremos, como critrio de anlise, os seguintes contextos:

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A) Para a colocao procltica: 1. verbo precedido de palavras atratoras (negaes, pronomes, conjunes

subordinativas, advrbios no separados por pausa, conjunes coordenativas alternativas, frases exclamativas, oraes inversas, gerndio precedido da preposio em, infinitivo pessoal e impessoal precedido de preposio) 2. verbos no futuro do pretrito e do presente

B) Para a colocao encltica: 1. verbo iniciando perodo ou orao assindtica 2. quando no houver palavras ou expresses de valor atrativo 3. na presena de pausa entre o verbo e o termo antecedente que provoque a prclise 4. pronomes o, a, os, as com verbo no infinitivo regido da preposio a 5. demais oraes reduzidas de gerndio sem a preposio em 6. verbo no imperativo afirmativo 7. verbo precedido unicamente por conjuno coordenativa 8. verbo imediatamente precedido por sujeito nominal 9. verbo infinitivo impessoal regido ou no da preposio para

C) Para a colocao mesocltica: 1. com verbos no futuro do pretrito e do presente, na ausncia de palavra atrativa

Sob as perspectivas explicitadas acima, buscamos analisar vrios exemplos de prclise, mesclise e nclise para verificar se h atrao de partculas ou no, e se nos corpora escolhidos empregada uma modalidade lingstica padronizada, que pode contribuir para a caracterizao da norma culta escrita deste pas. Ou seja, procuramos observar, em amostras em reais condies de funcionamento, se o que constante nesses gneros jornalsticos admite intervenes sintticas das construes da lngua falada, no que concerne colocao pronominal: at que ponto esses textos constituem base para o estabelecimento da lngua padro escrita. Apresentados os passos da execuo desta pesquisa, passamos ao captulo referente ao tratamento dos dados, seguido da anlise dos resultados obtidos.

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CAPTULO 4 ANLISE DOS DADOS OBTIDOS

O sistema lingstico do Portugus, como entidade social que , deve, pois, ser objeto de um trabalho persistente de sistematizao objetiva, coerente e uniforme, alicerado numa atitude cientfica de anlise dos fatos gramaticais, sem o qual o ensino da nossa gramtica continuar sendo deficiente e improdutivo. (HAUY, 1994, p. 4).

4.1 Tratamento dos corpora: informaes genricas

De acordo com o que propomos em nossa metodologia, consideramos a anlise baseada em alguns critrios gramaticais l selecionados por ns. Devido extenso vocabular dos mesmos, optamos por graf-los numrica e abreviadamente, registrando-os do seguinte modo:

Prclise - critrios: 1. Palavras Atrativas = AV (de acordo com as prescries gramaticais) 2. Casos de verbos no futuro do pretrito e do presente = PVF (PVF Sim = conforme a GT: diante de palavras atrativas, em que o verbo no esteja em incio de orao e nem depois de pausa & PVF No = em desacordo s regras da GT: incio de orao e depois de pausa) 3. Ausncia de palavras ou expresses de valor atrativo = devido a outros fatores lingsticos (em desobedincia GT = P X GT)

nclise - critrios:

1. verbo iniciando perodo ou orao assindtica = VIP/OA 2. quando no houver palavras ou expresses de valor atrativo = S/At 3. na presena de pausa entre o verbo e o termo antecedente que provoque a prclise = Pausa 4. pronomes o, a, os, as com verbo no infinitivo regido da preposio a = Prep. -a5. demais oraes reduzidas de gerndio sem a preposio em = ORG 6. verbo no imperativo afirmativo = VIA 7. verbo precedido unicamente por conjuno coordenativa = CC

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8. verbo imediatamente precedido por sujeito nominal = SN 9. verbo infinitivo impessoal regido ou no da preposio para = Inf. Imp. Para a amostra de dados orais, consideramos um critrio a mais: Critrio 10 = Casos de nclise em desacordos com a GT = Enc. X GT. Esse critrio foi mencionado apenas nessa amostra porque todos os casos de nclise encontrados no corpus escrito apresentam-se de acordo com as regras gramaticais. Havamos mencionado, ainda na metodologia, o critrio verbos no futuro do pretrito e do presente, na ausncia de palavra atrativa para a colocao mesocltica. Entretanto, aps a anlise de todos os corpora, constatamos apenas 01 caso dessa colocao registrado na amostra de lngua escrita, razo pela qual decidimos no inclu-lo nos critrios gerais, apenas analis-lo separadamente, com a propriedade que lhe cabe. Assim, cada nmero representa o seu critrio respectivo, abreviado, como motivaes lingsticas para a ocorrncia de cada colocao, em acordo e/ou desacordo com as regras gramaticais. No caso dos critrios estabelecidos para a prclise, h uma correspondncia de concordncia/discordncia em relao GT em cada um deles. Ou seja, o prprio nmero do critrio j diz se a colocao classificada ocorre ou no conforme o que prescreve a GT. Avultamos, ainda, que o critrio de nmero 2 do caso procltico foi subdivido em duas partes Sim & No porque apresentado na GT como caso facultativo, passvel de mesclise tambm, a depender da presena ou ausncia de termos atratores. Desse modo, quando a prclise ocorria nesse caso por motivos de atrao ou no meio da orao, era considerada como 2 Sim, por ser pela GT amparada. Mas quando ocorria em incio de orao, ou depois de pausa, era a colocao procltica registrada como 2 No, j que contrariava as regras gramaticais que, nesse caso, pregam a mesclise pela proibio de oraes iniciadas pelos tonos (conforme a generalizao da Lei Tobler-Mussafia) e pela no ocorrncia destes depois de pausa. Pontuemos outra informao: para uma maior exatido de nossa anlise, trabalhamos com nmeros redondos, isto , desconsideramos as casas decimais, salvo em relaes percentuais. Convm destacar, ainda, que em todas as publicaes do Projeto NURC so apresentadas as normas junto aos sinais utilizados na transcrio de seus materiais. Todavia no nos cabe aqui reproduzi-las por completo, ainda que as tenhamos considerado no decorrer de nosso estudo. Fazemos meno apenas a uma delas, que teve interferncia direta em nossa anlise: o sinal de reticncia, que, segundo Castilho e Preti (1986), indica qualquer tipo de pausa.. Embora haja controvrsias em relao forma como esse sinal utilizado durante as

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transcries, adot-lo foi visto como uma soluo evidentemente discutvel, mas a que se chegou por uma medida de economia no trabalho, dada a dificuldade em se cronometrar as pausas.. Alm disso, o clculo aproximado (pausa longa/mdia/breve) tornou-se impraticvel, gerando discusso e dvida, no s pela subjetividade, mas tambm pela influncia que a lngua escrita e a sua pontuao tradicional exercem sobre o transcritor. (p. 9).

4.2 Dados obtidos: distribuio no quadro geral

Foram coletados 8642 exemplos de colocao pronominal nos dois tipos de corpora pesquisados, dos quais 4311 referem-se aos textos escritos e 4331 aos textos orais. Desse total geral, 6932 ocorrncias representam a colocao procltica, 1709 a encltica e 01 a mesocltica, dados que nos indicam a preferncia procltica, a permanncia, ainda que em parte, da posio encltica e grande tendncia de desaparecimento da construo mesocltica na lngua culta oral e escrita, como ilustram os grficos:

GRFICO 1
Total de pronomes pesquisados

8649 7688 6727 5766 4805 3844 2883

6.932

1.709
1922 961 0 PRCLISE MESCLISE NCLISE

75

GRFICO 2
PRONOMES PESQUISADOS TOTAL GERAL 19,78%

0,01% PRCLISE MESCLISE NCLISE

80,21%

Os resultados confirmam nossas hipteses acerca das trs posies dos tonos: a prclise a posio a dar destaque na fala e na escrita, de um modo geral, a nclise, ainda que pouco utilizada no texto oral, permanece como uma opo de colocao no texto escrito, e a mesclise tem sido evitada, de fato, tanto pela escrita como pela fala culta brasileiras. Em relao ao que prescreve a GT para a colocao pronominal, temos, nos dois corpora pesquisados, uma proporo de 76% de dados concordantes com a GT, que significa um total de 6580 exemplos, contra 24% em desacordo, igual a 2062 dados. Esses valores tambm ratificam nossas hipteses aventadas quanto sistematicidade gramatical com que os tonos so utilizados em textos formais, de um modo geral, conforme nos diz o seguinte grfico:

GRFICO 3
TOTAL GERAL ESCRITA E FALA - DE ACORDO COM A GT

24%

GT NO GT SIM

76%

76

Considerando ainda a concordncia ou no com a GT, conforme cada colocao, temos a seguinte tabulao:

TABELA 3 Colocao nos dois corpora em relao GT


COLOCAO Prclise Mesclise nclise TOTAL QUANTIDADE 6932 1 1709 8642 GT NO 2059 0 3 2062 GT SIM 4873 1 1706 6580

A seguir, discutiremos os resultados por corpus analisado.

4.3 O corpus de lngua escrita: os textos jornalsticos e as regras da GT

Conforme dissemos, 4311 o nmero representativo dos dados de lngua escrita. Desses, obtivemos 3009 casos proclticos, o que corresponde a 69,80% do total, 1301 ocorrncias enclticas, 30,18% de todos os casos, e 01 exemplo de mesclise, que representa 0,02% dos dados. Em grfico, obtemos esta viso:

GRFICO 4 Colocao Corpus escrito

30,18%

PRCLISE MESCLISE NCLISE 0,02% 69,80%

Ao confrontarmos esses dados com o que prescreve a GT, em termos de colocao pronominal, temos a seguinte proporo:

77

GRFICO 5
O Corpus Escrito & a GT

22,95%

De acordo Contra 77,05%

Na seqncia, veremos esses resultados analisados de acordo com cada colocao.

4.3.1 Os casos de prclise

Dos 3009 casos proclticos, 2020 esto de acordo com as regras gramaticais, isto , 67% do total. Os 33% dos casos que se apresentam contra as prescries da GT, equivalentes a 989 ocorrncias, so colocaes proclticas que se fazem em contextos onde a nclise e/ou a mesclise so prescritas. Observemos um exemplo colhido na Revista Criativa, em uma matria assinada por uma articulista: Num mundo em que os amores parecem mltiplos e descartveis, me comover para sempre essa reflexo. (agosto, 2007, n 220). Note-se que o pronome aparece diante de verbo futuro, depois de pausa, ou seja, em um contexto em que a GT prev a posio intraverbal. Examinemos outros exemplos encontrados, em que os pronomes aparecem proclticos em contextos para os quais a GT prega a nclise: Um pouco irritado com o assdio da mdia diante de sua movimentada vida sentimental, ele admite que, dessa vez, os flashes lhe foram teis (Jornal Estado de Minas, 05 de agosto de 2007); O vinho que escolhemos estava em falta. O garom nos indicou outro, aceitamos. (Jornal O Globo, 31 de janeiro de 2008);

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frica

se

transformou

num

Vale do

Silcio

pr-histrico. (Revista

Superinteressante, janeiro, 2007, n 235).

Tantas outras situaes similares foram encontradas, em que a prclise aparece forada, digamos assim, por outras motivaes lingsticas, que no a atrao. De todo modo, ainda que isso acontea em nmeros significativos, a maioria dos casos em que ocorreu a anteposio do pronome ao verbo respaldada pela GT. Curioso o fato de esses manuais tradicionais insistirem em propagar a nclise como a posio normal. Note-se o grfico referente ao nmero de casos proclticos em relao GT:

GRFICO 6
PRCLISE de acordo com a GT

3010 2709 2408 2107 1806 1505 1204 903 602 301 0 NO

2.020

989

SIM

Isso em porcentagens assim fica:

79

GRFICO 7
PRCLISE de acordo com a GT - %

33%

NO SIM 67%

Atemo-nos para a seguinte tabela, em que fizemos a distribuio dos casos de prclise, por critrio, em relao GT:

TABELA 4 Casos de Prclise (dados escritos)


CRITRIO 1 - (AV) Atrao Vocabular 1989 TOTAL 2 -(PVF) Pronomes com verbos no Futuro 73 3009 3 - (P X GT) Pronomes X Gramtica 947 989 3009 2020 NO SIM GT

Conforme a leitura da tabela, vemos que a atrao vocabular, representada pelo nmero 1, impera entre os casos de prclise, seguida da desobedincia regra cannica, representada pelo nmero 3, deixando em ltimo o critrio referente a verbos no futuro, o de nmero 2. Aqui, mais uma vez, temos outra hiptese confirmada: a atrao vocabular permanece como um recurso que predomina nos contextos de colocao procltica, uma motivao lingstica importante, como tambm o a preferncia brasileira que induz, digamos assim, o escritor a antepor o pronome ainda que no haja termo que o atraia. Talvez, com o passar do tempo, venhamos ter uma preferncia procltica simplesmente por razes de legitimidade no uso, para o que assim, porventura, possamos declarar: a prclise a posio preferida na nossa lngua devido grande quantidade de seu uso na escrita culta do pas. uma hiptese que os dados nos permitem levantar:

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GRFICO 8
PRCLISE POR CRITRIO

3010 2580 2150 1720 1290 860 430 0 1 - AV 2 - PVF 3 - P X GT

1.989

947

73

Devemos pontuar, ainda, a questo do caso de nmero 2. Como ele foi por ns subdividido, para contabilizarmos sua ocorrncia em relao GT, cabe, aqui, uma discusso parte. Conforme dissemos na introduo deste captulo, o critrio de nmero 2 diz respeito colocao procltica ao verbo em tempo futuro. Como a mesclise , por vezes, a indicada em tempos de futuro, separamos os exemplos em que a prclise se realizava no futuro em consonncia com as regras gramaticais e os exemplos em que isso acontecia em desacordo prescrio da GT, onde, ento, a prclise ocorre em lugar da imposio mesocltica. Reparemos nos seguintes exemplos: 1. Uma misso fundamental da cincia da informao ser reter trabalhadores atuando em casa, sem deslocamentos. Ainda assim, o transporte de massa deve ser multiplicado. Se o mercado no faz polticas pblicas, quem as far? (Folha de S. Paulo, 31 de dezembro de 2007) 2. Mas, aos poucos, se desenvolveria um sistema de leis hbrido. (Revista Superinteressante, janeiro, 2007, n 235).

No primeiro exemplo, temos um caso em consonncia com as regras da GT, do critrio de nmero 2, j que o pronome tono em sua forma as aparece imediatamente depois do pronome interrogativo, que o atrai, ao contrrio do segundo exemplo, do qual a GT discorda: alm de ocorrer depois de pausa, o pronome se aparece junto ao verbo no futuro, situao propcia para a posio intraverbal. A seguir, a diviso dos dados encontrados em tabela:

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TABELA 5 - Prclise (dados escritos)


CRITRIO 2 - PVF GT No 41 56,2% Sim 32 43,8% TOTAL 73 100%

Segundo nos mostra a tabela acima, h uma maior porcentagem de discordncia desse critrio em relao GT, o que significa um grande nmero de usos proclticos em contextos previstos para a construo mesocltica. Ou seja, evitando a mesclise, os escritores optam pela anteposio. Mas no podemos deixar de mencionar, ainda, a pequena porcentagem que a esse critrio foi reservada, pois, entre os trs critrios, o caso de prclise junto a verbos no futuro ocorreu com menor freqncia: seria o caso de dizermos que o verbo no futuro tem tido sua utilizao restringida a alguns poucos contextos, isto , est esse caso caminhando para uma possvel tendncia de diminuio quanto colocao em textos escritos? Tudo indica que sim, porm no temos dados suficientes para firmar uma possvel variao com a devida preciso. Quanto preferncia procltica em relao a cada um dos pronomes, temos notadamente sua utilizao destacada com o pronome se, que aparece procltico ao verbo 2461 vezes diante das 3009 ocorrncias gerais no corpus escrito, o que representa 81,79% da amostra procltica nesse corpus. J o pronome te simplesmente no ocorre nos dados de texto escrito e o vos aparece uma nica vez, em um Ensaio do colunista Roberto Pompeu de Toledo, na Revista Veja: Eu vos direi, no entanto, que, quando acaba a esperana, junto com ela acaba a coisa qual a esperana se destinava. (agosto, 2007, n 2022). Consideramos esse caso como obediente s regras gramaticais, j que nos critrios estabelecidos por ns o sujeito pronominal atrai o pronome, ao contrrio do que diz o gramtico Lima, o qual, para este caso, prescreve a posio encltica. Como ilustrao desses casos, segue a tabela:

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TABELA 6 Prclise por pronome


PRONOMES me te se o(s) a(s) lhe(s) nos vos Total geral PRCLISE 87 0 2461 268 120 72 1 3009 % 2,89 0,00 81,79 8,91 3,99 2,39 0,03 100,00

Importa deixar claro que, ainda que essa caracterizao no seja alvo de nossa pesquisa, no pudemos deixar de mencionar esses dados, pois que se destacaram durante o processo de nossa investigao. Passemos agora anlise da colocao encltica.

4.3.2 Os casos de nclise

O total de 1301 ocorrncias enclticas encontradas no corpus escrito apresentou obedincia s regras da GT. Dessa anlise, pudemos depreender que, ainda que utilizada em menor freqncia do que a prclise, a nclise permanece como um recurso de que se valem os escritores cultos, conforme provam os exemplos seguintes: No derrube a auto-estima de um desempregado. Ajude-o a se levantar. (Criativa, janeiro, 2007, n 213) Em algumas ou muitas dcadas, o Brasil vai no s crescer, mas tornar-se socialmente mais justo, no precisando se embalar nos duvidosos indicadores de poder de compra que tendem a ocultar nossas visveis e constrangedoras carncias? (Folha de S. Paulo, 31 de dezembro de 2007) Use a sua capacidade de persuaso para convenc-la das suas boas intenes. (O Globo, 31 de janeiro de 2008)

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Colocou as obras em ordem e acrescentou-lhes captulos e comentrios. (Superinteressante, janeiro, 2007, n 235).

Para analisarmos essa colocao, valemo-nos dos nove critrios explanados no incio deste captulo. Assim, cada critrio, selecionado entre 1 e 9, diz respeito a um contexto apontado pelos manuais gramaticais. A tabela seguinte expe a freqncia da utilizao de cada critrio, qual seja, de cada contexto gramatical, segundo o total de dados colhidos:

TABELA 7 Critrios de nclise (dados escritos)


1 VIP/OA 468 2 S/At 340 3 Pausa 0 4 Prep. -a43 CRITRIO 5 6 ORG 66 VIA 14 7 CC 95 8 SN 81 9 Inf. Imp. 194

TOTAL 1301

Como mostra a tabela, o critrio de nmero 1, referente posposio em incio de perodo ou orao assindtica, o maior motivador da colocao encltica, seguido do critrio 2, que prev a nclise na ausncia de palavras ou expresses atrativas. Importa notar, ainda, que, para o critrio de nmero 3, sobre nclise em situaes de pausa entre o verbo e o termo antecedente que pode provocar a prclise, no houve uma ocorrncia sequer. Isso nos permite inferir que, de fato, a colocao procltica a que tem ocorrido depois de pausa. Leiamos a relao percentual no grfico abaixo:

GRFICO 9

NCLISE POR CRITRIO GRAMATICAL

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

35,99% 26,14% 14,95% 0,00%


1VIP/OA 2 - S/At 3Pausa

3,28%

5,10%

1,05%
6 - VIA

7,27%

6,22%
8 - SN 9 - Inf. Imp.

4 - Prep. 5 - ORG -a-

7 - CC

84

Em relao ao tipo de pronome no uso encltico, temos um uso destacado do pronome se, assim como o tivemos em relao prclise, que aparece 873 vezes na amostra aqui analisada. o grfico seguinte que nos esclarece isso:

GRFICO 10
NCLISE POR PRONOME - DADOS ESCRITOS
1400 1200 1000 800 600

873

368
400 200

18
0 me

0
te se o(s) a(s)

35
lhe(s)

7
nos

0
vos

Assim como nos dados de prclise, na anlise da posposio no encontramos ocorrncias com o pronome te e, diferentemente do (nico) exemplo que tivemos com o pronome vos, procltico, aqui isso no ocorreu. Talvez por remeter, essa construo, a um uso excessivamente erudito, que a torna restrita a poucas situaes que no se referem propriamente ao domnio jornalstico aqui analisado. Esse fato comprova, ento, que tal pronome no se faz comum na escrita culta de nosso portugus atual. Vejamos a seguir a porcentagem de uso relativa a cada pronome tono:

85

TABELA 8 nclise por pronome


PRONOMES me te se o(s) a(s) lhe(s) nos vos Total geral NCLISE 18 0 873 368 35 7 0 1301 % 1,38 0,00 67,10 28,29 2,69 0,54 0,00 100,00

Discutida a anteposio, apresentemos o singular exemplo mesocltico.

4.3.3 O (nico) caso de mesclise

Nos 4311 casos de tonos no corpus escrito, apenas um exemplo utilizou a construo intraverbal do pronome, o que significa 0,02% do total. Caso que se mostrou raro, a mesclise que encontramos apareceu em uma coluna do Jornal Estado de Minas, escrita por Da Januzzi, na seo Bem Viver5: Se aceitarmos essas fases e sentimentos, se os expressarmos sem neg-los, com o tempo, por serem inteis, transformar-se-o numa total aceitao. (05 de agosto de 2007).

Note-se que a colunista obedece regra da GT que prega a interposio com o futuro depois de pausa, sem a presena de termo atrativo. Entretanto este foi o nico caso em que essa regra foi observada e tambm aceita. Isso porque, quando no desobedecida, ela simplesmente evitada, conforme vimos na anlise da anteposio. O que estamos querendo
5

A princpio, no havamos selecionado esta seo como participante do corpus de nossa pesquisa. Mas, de posse desse dado, optamos por analis-la, j que se apresenta no estilo culto e parece, ao que tudo indica, referirse a um gnero assim considerado, qual seja, um tipo de artigo de auto-ajuda.

86

dizer com isso que a autora do exemplo no se importou em utiliz-la, nem se preocupou em dela se esquivar. Porm, como este um caso isolado entre as demais colocaes que encontramos, podemos afirmar que a mesclise tem sido evitada, quando no, usada com muita parcimnia. O grfico exibe isso com clareza:

GRFICO 11
Relao pronominal: Corpus escrito

1301 PRCLISE MESCLISE NCLISE 1 3009

4.3.4 Algumas concluses

A excelncia da palavra, como instrumento de comunicao entre os homens, obriga seleo pela clareza e elegncia. O motivo lgico da clareza e o motivo literrio da beleza indicam a preferncia. (A. de Sampaio DRIA, 1959. Prefcio.)

Depois de realizado o estudo da colocao em textos escritos formais, pudemos perceber com clareza a sistematicidade do uso dos tonos em relao GT. Alm disso, os dados so claros e indicam o que de fato se configura como uso fluente, como uso moderado e como uso restrito. Apontam, ainda, uma variao, mesmo que sistemtica, do uso procltico e uma tendncia mudana, isto , extino do uso mesocltico. A opo procltica em casos em que a mesclise a prescrita leva-nos a crer que o que vemos aqui como variao pode vir a se constituir como mudana, pois, de to freqente, esse uso pode se consignar na escrita de tal modo que assim permanea e, de fato, substitua a interposio. Ainda assim, podemos firmar a pouca desobedincia gramatical em relao s regras (critrios) expostas no incio deste captulo, pois, quando ocorreu, foi tambm de modo

87

sistemtico, como nos exemplos com verbos no futuro, permitindo-nos ratificar, aqui, a hiptese aventada de que nos corpora escolhidos empregada uma modalidade lingstica padronizada, que pode contribuir para a caracterizao da norma culta escrita neste pas. Aqui, vale uma citao de Perini (1985) quanto ao uso de textos jornalsticos no ensino de lngua culta:

Ora, examinando esses textos, encontraremos uma grande uniformidade gramatical: no s as formas e as construes encontradas nos jornais e revistas so as mesmas dos compndios e livros cientficos, mas tambm no se percebem variaes regionais marcadas: um jornal de Recife usa sensivelmente a mesma lngua de um jornal de Porto Alegre ou de Cuiab. Isto , existe um portugus-padro altamente uniforme no Pas; e podemos contar encontr-la nos textos jornalsticos... claro que tambm encontramos obras literrias escritas estritamente segundo esse padro; mas no podemos contar com isso a priori: muitas obras literrias fogem a ele, utilizando variedades coloquiais ou mesmo pessoais. Sou de opinio de que os dados que fundamentaro a gramtica devem ser retirados desse padro tcnicojornalstico. (p. 86-7).

4.4 O corpus de lngua falada: os inquritos do NURC segundo as prescries gramaticais

Coletamos um nmero de 4331 dados de pronomes tonos na lngua falada, representada, aqui, pelos inquritos do Projeto NURC. Desse total, 3923 dizem respeito colocao procltica, isto , a 91% dos dados totais. Os outros 408 dados representam a colocao encltica, com 9% dos dados totais. No foi encontrado nenhum caso de mesclise no corpus de lngua falada, o que firma nossa hiptese sobre sinais de seu total desaparecimento nessa modalidade ilustra o seguinte grfico:

88

GRFICO 12
Porcentagem pronominal Corpus oral 9% 0% Prclise Mesclise nclise

91%

Em comparao s regras da GT, observamos a seguinte proporo:

GRFICO 13
O Corpus Oral & a GT

24,77%

De acordo Contra 75,23%

Apresentemos, agora, os resultados por colocao.

4.4.1 Ocorrncias proclticas

Considerando os resultados de prclise paralelos s regras da GT, temos, entre os 3923 exemplos, 2853 casos em consonncia com as regras e 1070 exemplos discordantes. Logo, a maioria dos casos realiza-se em obedincia prescrio gramatical, a saber:

89

GRFICO 14
PRCLISE de acordo com a GT

27% NO SIM 73%

Alm de ser a posio a dar destaque, conforme j prevamos em nossas hipteses, a anteposio tem sido realizada observando as regras da GT na fala culta, segundo nos dizem estes exemplos: no, tu vs, por exemplo, o peixe, peixe aqui no Rio Grande eu tenho impresso que se come peixe, exclusivamente na Semana Santa, porque um, um dogma, o padre mandou, seja l o que for n (rudo de microfone) na Semana Santa, mas no hbito gacho come(r), come(r) peixe. (PA, D2, INQ. 291)6 primeira coisa, o primeiro ponto, o homem simplesmente adquire a informao, se ele armazenou aquilo, e devolve da mesma maneira como ele a recebeu, ele no fez nenhum trabalho (PA, EF, INQ. 278) ... a minha irm... essa que voc conheceu agora... sai tambm s seis e meia S VEZES eu a vejo de manh... (RE, D2, INQ. 174).

Entre as 1070 ocorrncias que se mostraram discordantes das regras gramaticais, observamos contextos diversos em que o pronome simplesmente aparece anteposto ao verbo, sem nenhum termo atrativo prximo ou mesmo distante dele (sem pausa): Eu, por exemplo, me lembro da minha classificao. A minha classificao era... eh... professor universitrio-Qumica... (SA, DID, INQ. 283) e ah:: o pessoal se incomodou e chamou o MEU marido de grosseiro... (PA, DID, INQ. 45)

As referncias dos dados de lngua falada, corpus do Projeto NURC, seguem esta ordem: 1- Estado, 2Categoria Textual, 3- Inqurito (nmero).

90

tambm quanto ao processo e quase que sem maior discriminao, se realiza a anlise e a sntese (PA, EF, INQ. 278).

Para esses casos, a GT prega a colocao encltica. Pautando-nos nos 3 critrios que estabelecemos para a anlise da colocao procltica, temos a seguinte distribuio:

GRFICO 15
PRCLISE por critrio (dados orais)

3928 3437 2946 2455 1964 1473 982 491 0 1 - AV 2 - PVF 3 - P X GT

2820
1 - AV

1070 33

2 - PVF 3 - P X GT

Podemos notar, segundo o grfico, que o critrio de nmero 2 representa uma pequena parcela da quantidade de ocorrncia em relao aos demais, o que indica, mais uma vez, menor freqncia de uso de tonos com verbos no futuro. Como os critrios 1 e 3 j falam por si, referindo-se obedincia ou no s regras da GT, respectivamente, entendemos que, no mbito da colocao procltica, na lngua falada culta, h grande concordncia com a GT (critrio 1), um nmero considervel de discordncia (critrio 3) e pouca utilizao dos tonos em contextos em que aparecem verbos no futuro, assim como naqueles em que a mesclise tambm uma opo (casos facultativos), de forma tal que todos os 33 casos referentes ao critrio 2 esto de acordo com a GT. A prxima tabela atesta esses dados:

91

TABELA 9 Prclise por critrio (dados do NURC)


CRITRIO 1 AV (Atrao Vocabular) 2 PVF (Pronomes c/ Verbos no Futuro) 3 Pronomes X GT Total QTDE. 2820 33 1070 3923 % 72 1 27 100

Como todos os exemplos do critrio de nmero 2 esto de acordo com o que prescreve a GT referente colocao com verbos no futuro, no se fez necessrio aqui subdividi-lo, como o fizemos na anlise do corpus escrito. Ilustram os seguintes exemplos: mas::... preenchidas as condies legais... o fundo de garantia justamente assegura... ao empregado que se retira... um:: certo::... ressarcimento... no ? que pelo menos durante algum tempo lhe permitir a::... a subsistncia... (SP, DID, INQ. 250) no adianta saber a lei, eu quero sabe(r) aplica(r) na hora e a j vem o caso, os advogados que me ajudem agora, , mais do que nunca, preciso fazer uma anlise da situao, no se poderia fazer uma aplicao, o a advogado perdendo de ser solicitado, agora, no exato momento, no adianta nada fazer uma, no se faria uma aplicao sem um estudo do caso, no isso? (PA, EF, INQ. 278). Observando os dados colhidos em relao ao tipo de pronome, temos, sobremaneira, o uso do pronome se, assim como ocorreu na amostra de texto escrito. Nos inquritos por ns analisados, esse pronome apareceu 2388 vezes contra ao no aparecimento do vos, por exemplo, que deu mostras de extino na lngua falada culta: GRFICO 16
PRCLISE POR PRONOME - DADOS FALADOS (NURC)

3928 3437 2946 2455 1964 1473 982 491 0 me

2388 1203 46
te se

59
o(s) a(s)

58
lhe(s)

169
nos

0
vos

92

Finda essa posio, falemos sobre o caso encltico.

4.4.2 Ocorrncias enclticas

Referente a 9% dos dados orais, os 408 casos de posposio foram analisados de acordo com os 10 critrios expostos no incio deste captulo. Lembrando que o ltimo critrio foi criado para este caso especfico, em que encontramos dados discordantes da GT, ao contrrio do que ocorreu na amostra de lngua escrita, temos a seguinte tabulao: TABELA 10 nclise por critrio (dados do NURC)
CRITRIO 1 - VIP/OA 2 - S/At. 3 Pausa 4 - Prep. -a5 ORG 6 VIA 7 CC 8 SN 9 - Inf. Imp. 10 - Enc. X GT TOTAL QTDE 213 107 8 4 8 0 41 1 23 3 408 % 52,21 26,27 1,91 0,96 1,91 0,00 10,06 0,32 5,74 0,63 100,00

Conforme ilustra essa tabela, apenas trs casos apareceram discordantes em relao s regras da GT, representados, aqui, pelo critrio 10. Exemplo: di! diretor:: do patrimnio... e isso... n? E ento a gente:: quando tem tambm... esses encontros que chamam-se regionais... porque teve esse encontro mundiAL n? (PA, DID, INQ. 45)

Curiosa a maneira como a informante fez a colocao do se, desrespeitando o critrio por ns arrolado como a motivao mais influente para a colocao procltica, que a atrao vocabular. Chamou-nos a ateno principalmente pelo fato de a prclise ter sido a preferida mesmo em contextos propcios para nclise, em toda a anlise e, surpreendentemente, depararmo-nos com colocaes enclticas em contextos previstos para prclise. Outro caso interessante foi o estabelecido como critrio 6, do qual no tivemos uma amostra sequer. Talvez o encontrssemos em outros inquritos, j que, nos 68 pesquisados por

93

ns, localizamos apenas 408 ocorrncias enclticas que nos permitiram nmero insuficiente para deduzirmos alguma tendncia de mudana, por exemplo. Mais uma vez reina o critrio de nmero 1 sobre os demais, como o foi na anlise do corpus escrito, permitindo-nos inferir observncia regra que probe a colocao dos tonos em incio de perodo ou orao assindtica, sobre o que citamos estas passagens: ... Napuolione Buonaparte... era em italiano... e a... partindo dessa certido de batismo... a me dele era uma italiana... dona Letcia Bonaparte... todo um temperamento... do sul da Itlia mesmo... quando Napoleo deu a mo pra ela beijar... depois de coroado... que que ela fez? deu-lhe uma mordida na mo... onde j se viu filho... a:... me... o filho... a me... quer dizer... beijar o f/ ela deu... ele deu... a mo ... dona Letcia... deu e fez dona Letcia... levar a mo para ele beijar... no ? ela a... dona Letcia resistiu ao poder... ela no ia beijar a mo do filho... porque o filho que beija a mo da me... deu-lhe uma mordida na mo... e ela era italiana temperamental... (RJ, EF, INQ. 382) tinha-se esperanas...em que dona Ana Cndida tendo assumido a procuradoria geral do Estado...em ela sendo mulher...que ela defendesse um pouco mais a:: a classe no? (SP, D2, INQ. 360) ah::...ah na/ no a testei com::...como::normalmente se faz n? submet-la...a::a uma psicloga e tudo o mais...mas...pelo que ela...diz e pelo que... como ela::...leva a vidinha dela talvez ela se encaminhe para isso a no ser que haja outras aberturas hoje eu estive vendo...um livro...editado pelo::...Instituto Roberto Simonsen...vocs conhecem?... (SP, D2, INQ. 360).

A seguir, o grfico que desenha estes dados:

94

GRFICO 17
CRITRIOS DE NCLISE: DADOS ORAIS

413 354 295 236 177 118 59


8 4 8 0
6 - VIA 7 - CC

213

107 41 1
8 - SN 9 - Inf. Imp.

23 3
10 - Enc. X GT

0
1VIP/OA 2 - S/At 3Pausa 4 - Prep. 5 - ORG -a-

Como no obtivemos exemplo algum da construo mesocltica, passaremos aos resultados desta anlise.

4.4.3 Resultados

A anlise da colocao pronominal em inquritos do Projeto NURC permite-nos, de um modo geral, constataes similares s que tivemos acerca do corpus escrito, pois a colocao procltica permanece como a preferncia da lngua, seguida de algumas poucas ocorrncias da construo encltica, sem nenhum dado mesocltico. De igual modo, percebemos certa sistematicidade na colocao dos tonos no texto oral culto, ainda que se apresentem, em relao a cada caso especfico, como caractersticas particulares da fala, maiores discordncias da GT. Como exemplo disso, temos as colocaes enclticas. Com esses resultados, acreditamos que, se algum registro deve servir ao estudo das formalidades orais, com fins pedaggicos, este deve se pautar em amostras de lngua falada culta, em suas reais condies de funcionamento, para o que temos, aqui, os inquritos do Projeto NURC, que nos permitem a clareza daquilo que se faz corrente na fala de pessoas cultas, isto , escolarizadas. assim que Silva (1995) v esse projeto, como um divisor de guas, como modelo para o ensino de normas cultas, motivo pelo qual

95

Espera-se, portanto, que em futuro no longnquo, o NURC venha a fornecer as bases para novas gramticas pedaggicas fundadas nos usos reais variveis de falantes de nvel mximo de escolaridade, sem que se desconsiderem as especificidades da escrita, para que se supere a defasagem da tradio normativoprescritiva e para que os professores disponham de instrumentos de trabalho de maior eficcia. (p. 43).

4.5 Os dois corpora: resultados contrastveis?

Feitas as investigaes de cada corpus, chegamos concluso de que lngua escrita culta e lngua falada culta aduzem diferenas e similaridades quanto colocao pronominal. Apresentando, as duas modalidades, casos mais concordantes do que discordantes, de um modo geral, em relao GT, mostram-se concordantes tambm no que diz respeito ao uso da mesclise: em ambos os corpora, essa colocao tende extino:

GRFICO 18 Mesclise: comparao entre corpora

0
MESCLISE EM DADOS ESCRITOS MESCLISE EM DADOS FALADOS

Ainda que se valham de uma mesma preferncia procltica, as duas modalidades expem contextos e estilos distintos em relao a essa preferncia, de sorte que na lngua falada a prclise praticamente a eleita, j que alcana 91% de todas as colocaes analisadas. Assim, a nclise deixa mostras de rarssima utilizao nessa modalidade de lngua, ao contrrio do que ocorre na escrita, em que essa colocao ainda possui seu espao. A diferena est tambm na porcentagem quanto preferncia procltica, j que na escrita atinge

96

69,80% contra os 30,18% de casos enclticos, os quais, na fala, representam apenas 9% dos dados. Os grficos seguintes mostram as comparaes de prclise e de nclise, respectivamente, em cada corpus:

GRFICO 19 Prclise: comparao entre corpora

6942 6408 5874 5340 4806 4272 3738 3204 2670 2136 1602 1068 534 0

3923 3009

PRCLISES EM DADOS ESCRITOS

PRCLISES EM DADOS FALADOS

GRFICO 20 nclise: comparao entre corpora

1710 1425 1140 855 570 285 0 NCLISES EM DADOS ESCRITOS NCLISES EM DADOS FALADOS

1301

408

Quanto colocao em ambas as modalidades em relao GT, os dados exibem resultados prximos, a saber:

97

GRFICO 21
Os Corpora & a GT

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% De acordo Corpus Escrito De acordo Corpus Oral Contra Corpus Escrito Contra Corpus Oral

77,05%

75,23%

22,95%

24,77%

Por tudo isso, entendemos que, de um modo geral, as duas modalidades pesquisadas esto interligadas, de tal forma que parece haver interferncias mtuas, j que a escrita parece tender a um uso que a fala j consagrou, como o caso da anteposio, assim como ambas quase no se valem mais da construo mesocltica. Mas como a modalidade escrita possui alguns perfis que a estilizam assim como a fala , compreendemos que o uso ainda considervel da nclise diz respeito a especificidades dessa modalidade.

4.5.1 Resultados: indicadores para o ensino

Com base neste estudo, indicamos que a prclise deve ser amplamente estudada, exemplificada no ensino de lngua culta, assim como os usos enclticos devem ser bem entendidos, para que fique bem claro onde e como dele se valer. Quanto mesclise, ainda que seja apresentada aos alunos, como questo de curiosidade, digamos assim, deve ser apontada como um caso que tende a obliterar-se, ou seja, no se faz muito indicada em usos correntes, j que os representantes da lngua culta de nosso pas dela praticamente no se utilizam. Cabe dizer, ainda, que deve estar claro para o discente que existem modalidades e registros de lngua distintos, e que suas relaes podem assim ser traadas:

Lngua escrita culta aproxima-se da Lngua falada culta

98

& Lngua escrita informal aproxima-se da Lngua falada informal

Isso deve estar explcito tambm em relao ao perfil de organizao de cada uma dessas modalidades, junto aos seus respectivos registros: se o objetivo tratar do estilo culto, que isto seja feito de acordo com o que o representa, seja na fala ou na escrita, para, inclusive, esclarecer aquilo do que se constitui um determinado registro.

99

CONCLUSO

Paradoxo que constante nas lnguas de grande difuso, como o caso do portugus, mas que existe em qualquer lngua histrica: a necessidade social de unificao, padronizao, em face da realidade heterognea. A heterogeneidade dialetal pode ser mais ou menos intensa e extensa, mas existe em qualquer lngua historicamente homognea; por outro lado, a necessidade da unificao, a histria tem demonstrado, se faz essencial pelo menos nas sociedades complexas e letradas ocidentais. (SILVA, 1995, p. 11).

Os resultados da anlise aqui realizada foram claros: de fato, em termos de colocao pronominal, a prclise abrange o uso mais freqente, tanto na escrita quanto na fala, a nclise tende a usos restritos na escrita e a uma diminuio considervel na fala, a mesclise, por fim, est praticamente inutilizada. Quanto ao que prope a GT, as comparaes mostraram claramente que h pouca discordncia em relao s regras, ainda que algumas de suas prescries no estejam sendo respeitadas, ou tenham sido abolidas do uso, como o caso da anteposio sem a presena de termo atrativo e a obrigatoriedade da posio intraverbal em incio de orao ou depois de pausa. De todo modo, podemos deduzir a validez dos corpora aqui propostos para o ensino de lngua culta, oral e escrita, uma vez que verificamos sistematicidades com relao ao aspecto aqui estudado. Rocha (2002) quem comprova estas palavras:

Parece no haver dvida de que a chamada lngua padro existe. [Logo] a fixao das regras que caracterizam o portugus padro deve tomar como base o conjunto dos textos redigidos nessa lngua padro, ou seja, os textos da linguagem burocrtica, administrativa, tcnica, cientfica, etc. importante que se leve em considerao aquilo que freqente nesses textos, [pois] caracterizam o que se pode chamar de lngua padro do portugus contemporneo e desses tipos de texto que devem ser extradas as abonaes que serviro de base para fixao das regras gramaticais que descrevero a lngua culta escrita do portugus do Brasil. (p. 53, 63 e 67).

Entendemos que toda lngua, ainda que apresente caractersticas regulares, de uma forma ou de outra, passa por estgios de evoluo, como afirma Bagno (2000) verba volant,

100

scripta manent, ou seja, ainda que sofra modificaes ao longo do tempo, a escrita, por evoluir de forma mais lenta, possui realizaes mais fixas do que a fala. Destinada a contribuir para os estudos lingsticos da colocao pronominal, esta pesquisa permitiu ratificar hipteses de vrios estudiosos quanto sugesto de uma gramtica e de um ensino de lngua que se baseie na linguagem dos jornais e revistas, como o fizeram Perini (1985), Sena (1986), Possenti (1996), Rocha (2002), Lima (2003c), Marques (2005), Mendes (2006), entre outros. A esse respeito, indica Neves (2003): temos de ir da lngua da linguagem para o padro (isto , do uso para a norma), e no do padro para a linguagem e para a lngua, pois os padres no se impem ao uso, mas, pelo contrrio, os usos estabelecem padres. (p. 22, 34). assim que atribumos aos corpora aqui examinados a legitimidade do uso. No que concerne ao tratamento dado aos gneros, percebemos o quanto os orais e de usos informais tm sido abordados por alguns estudiosos. Consideramos a importncia desses gneros. Porm nossa preocupao se referiu especialmente conduta dos gneros da linguagem culta, escritos e orais, haja vista que, por mais necessrio que seja o estudo dos gneros mais prprios, ou mais comuns na fala coloquial, no podemos negar a importncia do exame da escrita e da fala cultas, tanto em anlises tericas como no trabalho prtico em sala de aula. Atentemos para o seguinte depoimento, extrado de uma tese de doutorado de Iveuta Lopes (2004, p. 98, apud MARCUSCHI, 2005, p. 28):

Quando ns vivia l no interior num tinha assim esse negcio de ter tanto papel pra ta em dia, no. Aqui tudo que se vai fazer tem de ser documentado. uma comprinha besta de nada, pra marcar consulta, pra se ver se consegue os documentos dessas casa. Eu num conto o tanto de vez que j pediram documento pra fazer esses tal de cadastro, de luz de gua. A gente fala, mas a palavra tem vez que s vale se for num papel. Com isso eu num vou me acostumar nunca. Mas tem os menino a que quem ajuda fazer essas coisa. 7

Depoimento de um senhor considerado analfabeto.

101

Logo, configura-se como dever do professor ensinar a esses menino, ao menos, tanto ler como produzir textos de variadas formas, pois, em algum momento, eles precisaro disso, como diz Marcuschi (2005, p. 28): Segundo observa Gunther Kress (2003, p. 85), tudo indica que numa sociedade altamente letrada como a nossa, o conhecimento dos gneros da escrita inescapvel. Partir daquilo que os alunos j sabem para trabalhar o que eles no sabem , de fato, uma estratgia consideravelmente proveitosa. O que no se pode permitir que o ensino pare por a. necessrio expandir o conhecimento desses alunos para alm daquilo que eles j dominam. Caso contrrio, no teria sentido freqentar a escola. Como os alunos j chegam escola falando, entendemos ser dever do professor, partindo do que, previamente, esse aluno j conhece, ensin-lo a trabalhar, a desenvolver, o mximo possvel, suas atividades orais. De igual modo, o profissional do ensino no pode negar ao sujeito aprendiz as inmeras maneiras de se valer da escrita, de conduzi-la, de us-la, tambm, a seus propsitos, para o que enuncia Koch (2003, p. 56): O problema, portanto, saber como se articulam as diversas prticas de linguagem com a atividade do aprendiz. A esse respeito, Koch declara que Schneuwly & Dolz (1994)

hipotetizam que atravs dos gneros vistos como formas relativamente estveis tomadas pelos enunciados em situaes habituais, entidades culturais intermedirias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das prticas de linguagem que essas prticas se encarnam nas atividades de aprendizagem, justamente em virtude de seu carter intermedirio e integrador. Por isso, eles so um termo de referncia intermedirio para a aprendizagem, uma mega-ferramenta que fornece um suporte para a atividade nas situaes de comunicao e uma referncia para os aprendizes. (KOCH, 2003, p. 56).

Para o aluno que j sabe falar (e mesmo escrever um pouco), certamente, o processo da produo escrita considerado um tanto mais difcil, porque se apresenta como algo novo. Ainda que nossos alunos sejam bombardeados, diariamente, por um sem-nmero de gneros escritos, de diversos estilos, a dificuldade de produo principalmente na linguagem formal ainda notvel em nossa sociedade. Leiamos isso nas palavras dos prprios estudantes:

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_ A gente LER jornais e revistas todos os dias, uma coisa, professora. Agora, da, PRODUZIR um texto, como uma notcia, ou um anncio, outra BEM diferente! Principalmente quando a senhora pede para fazer na linguagem formal, igual a gente l nas revistas, sem ser a parte mais informal essa a mais fcil de fazer igual, porque parece muito com a que a gente fala aqui. Agora, escrever e apresentar trabalho parecido com o que o povo do Jornal Nacional faz MUITO mais difcil! Ah!, se !... 8

o que dizem, diariamente, nossos alunos. E damos-lhes inteira razo: no tarefa fcil a produo de um texto escrito (ou mesmo uma apresentao oral formalizada). Por isso nossa preocupao com a escrita, mais precisamente, a escrita formal, j que esta a modalidade aparentemente menos praticada, menos dominada pelos sujeitos educandos. Valemo-nos, aqui, de uma passagem dos PCN, que diz: Tomar a lngua e o que se tem chamado de lngua padro como objetos privilegiados de ensino-aprendizagem na escola se justifica, na medida em que no faz sentido propor aos alunos que aprendam o que j sabem. (2000, p. 30). Isto posto, compreende-se que tomar os gneros jornalsticos da linguagem culta como base para o ensino da lngua padro significa partir da realidade especialmente lingstica em que se encontra o sujeito aprendiz, oferecendo-lhe a oportunidade de lidar com o que, de fato, perpassa o seu cotidiano, assim como o da sociedade em geral. Desse modo, pode-se considerar o que /est como uso real da lngua escrita e falada retratada no Projeto NURC cultas na sociedade, uma vez que utilizam textos atuais e partcipes desse universo.

Comentrios genricos de alunos do Ensino Fundamental e Mdio de escolas pblicas.

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_____________. A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro: corpus compartilhado. Elocues formais; Dilogos entre dois informantes; Dilogos entre informante e documentador. s.l. s.d. No prelo. _____________. A linguagem falada culta na cidade de Salvador: corpus compartilhado. Elocues formais; Dilogos entre dois informantes; Dilogos entre informante e documentador. s.l. s.d. No prelo. _____________. A linguagem falada culta na cidade de So Paulo: corpus compartilhado. Elocues formais; Dilogos entre dois informantes; Dilogos entre informantes e documentador. s.l. s.d. No prelo. _____________; PRETI, Dino (Org.). A linguagem falada culta na cidade de So Paulo: materiais para seu estudo. v. 1 Elocues formais; v. 2 Dilogos entre dois informantes; v.3. Dilogos entre informantes e documentador. So Paulo: T.A. Queiroz. 1986-1987. CEGALLA, Domingos Paschoal. Novssima gramtica da lngua portuguesa: com numerosos exerccios. 45. ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002. COSTA VAL, Maria da Graa. Entre a oralidade e a escrita: o desenvolvimento da representao de discurso narrativo escrito em crianas em fase de alfabetizao. 1996. Tese (Doutorado) Faculdade de Educao, UFMG, Belo Horizonte. ____________. Texto, textualidade e textualizao. In: Pedagogia Cidad. Cadernos de Formao Lngua Portuguesa. So Paulo: UNESP, v. 1, 2004, p. 1-22. CRIATIVA. So Paulo, edio impressa de janeiro de 2007. ____________. So Paulo, edio on line de agosto de 2007. CUNHA, Celso Ferreira da. Gramtica da lngua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1975. ____________. Lngua portuguesa e realidade brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976. ____________; CINTRA, Lindley. Nova gramtica do portugus contemporneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. DECAT, Maria Beatriz Nascimento. Fala, escrita e gramtica. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.10, n. 2, p. 83-105, jul./dez. 2002. DRIA, Antonio de Sampaio. Sintaxe de pronomes. So Paulo: Cia Editora Nacional, 1959. ESTADO DE MINAS. Minas Gerais, edio impressa de 01/01/2007. ____________. Minas Gerais, edio on line de 05/08/2007. FARACO, Carlos Alberto. Norma-padro brasileira: desembaraando alguns ns. In: BAGNO, Marcos. (Org.). Lingstica da Norma. So Paulo: Edies Loyola, 2002. p. 37-61.

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