Abordagem Funcional
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Defini��o negativa
Uma vez que � dif�cil obter um conceito sobre o que � a m�sica, alguns tendem a
defini-la pelo que n�o �:
A m�sica n�o � uma linguagem normal. A m�sica n�o � capaz de significar da mesma
forma que as l�nguas comuns. Ela n�o � um discurso verbal, nem uma l�ngua, nem uma
linguagem no sentido da lingu�stica (ou seja uma dupla articula��o
signo/significado), mas sim uma linguagem peculiar, cujos modos de articula��o
signo musical/significado musical v�m sendo estudados pela Semi�tica da M�sica.
A m�sica n�o � ru�do. O ru�do pode ser um componente da m�sica, assim como tamb�m �
um componente (essencial) do som. Embora a Arte dos ru�dos teorizasse a introdu��o
dos sons da vida cotidiana na cria��o musical, o termo "ru�do" tamb�m pode ser
compreendido como desordem. E a m�sica � uma organiza��o, uma composi��o, uma
constru��o ou recorte deliberado (se considerarmos os elementos componentes do som
musical). A oposi��o que normalmente se faz entre estas duas palavras pode conduzir
� confus�o e para evit�-la � preciso se referir sempre � ideia de organiza��o.
Quando Var�se e Schaeffer utilizam ru�dos de tr�fego na m�sica concreta ou algumas
bandas de Rock industrial, como o Einst�rzende Neubauten, utilizam sons de
m�quinas, devemos entender que o "ru�do" selecionado, recortado da realidade e
reorganizado se torna m�sica pela inten��o do artista.
A m�sica n�o � totalizante. Ela n�o tem o mesmo sentido para todos que a ouvem.
Cada indiv�duo usa a sua pr�pria emotividade, sua imagina��o, suas lembran�as e
suas ra�zes culturais para dar a ela um sentido que lhe pare�a apropriado. Podemos
afirmar que certos aspectos da m�sica t�m efeitos semelhantes em popula��es muito
diferentes (por exemplo, a acelera��o do ritmo pode ser interpretada frequentemente
como manifesta��o de alegria), mas todos os detalhes, todas as sutilezas de uma
obra ou de uma improvisa��o n�o s�o sempre interpretadas ou sentidas de maneira
semelhante por pessoas de classes sociais ou de culturas diferentes.
A m�sica n�o � sua representa��o gr�fica. Uma partitura � um meio eficiente de
representar a maneira esperada da execu��o de uma composi��o, mas ela s� se torna
m�sica quando executada, ouvida ou percebida. A partitura pode ter m�ritos gr�ficos
ou est�ticos independentes da execu��o, mas n�o �, por si s�, m�sica.
Defini��o social
Por tr�s da multiplicidade de defini��es, se encontra um verdadeiro fato social,
que coloca em jogo tanto os crit�rios hist�ricos, quanto os geogr�ficos. A m�sica
passa tanto pelos s�mbolos de sua escritura (nota��o musical), como pelos sentidos
que s�o atribu�dos a seu valor afetivo ou emocional. � por isso que, no ocidente,
nunca parou de se estender o fosso entre as m�sicas do ouvido (pr�ximas da terra e
do folclore e dotadas de uma certa espiritualidade) e as m�sicas do olho (marcadas
pela escritura, pelo discurso). Nossos valores ocidentais privilegiam a
autenticidade autoral e procuram inscrever a m�sica dentro de uma hist�ria que a
liga, atrav�s da escrita, � mem�ria de um passado idealizado. As m�sicas n�o
ocidentais, como a africana apelam mais ao imagin�rio, ao mito, � magia e fazem a
liga��o entre a potencialidade espiritual e corporal. O ouvinte desta m�sica, bem
como o da m�sica folcl�rica ou popular ocidental participa diretamente da express�o
do que ouve, atrav�s da dan�a ou do canto grupal, enquanto que um ouvinte de um
concerto na tradi��o erudita assume uma atitude contemplativa que quase impede sua
participa��o corporal, como se s� a sua mente estivesse presente ao concerto. O
desenvolvimento da nota��o musical e a constitui��o artificial do sistema de
temperamentos consolidou na m�sica, o dualismo corpo-mente t�pico do racionalismo
cartesiano. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo a m�sica popular
ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu � sistematiza��o, na qual se mant�m
at� hoje.
Para ilustrar esse problema cultural da representa��o das obras musicais pelo
ouvinte, o music�logo Jean-Jacques Nattiez (Fondements d�une s�miologie de la
musique 1976) cita uma hist�ria relatada por Roman Jakobson em uma confer�ncia de
G. Becking, linguista e music�logo, pronunciada em 1932 no C�rculo Lingu�stico de
Praga:
Um ind�gena africano toca uma melodia em sua flauta de bambu. O m�sico europeu ter�
muito trabalho para imitar fielmente a melodia ex�tica, mas quando ele consegue
enfim determinar as alturas dos sons, ele est� certo de ter reproduzido fielmente a
pe�a de m�sica africana. Mas o ind�gena n�o est� de acordo pois o europeu n�o
prestou aten��o suficiente ao timbre dos sons. Ent�o o ind�gena toca a mesma �ria
em outra flauta. O europeu pensa que se trata de uma outra melodia, porque as
alturas dos sons mudaram completamente em raz�o da constru��o do outro instrumento,
mas o ind�gena jura que � a mesma �ria. A diferen�a prov�m de que o mais importante
para o ind�gena � o timbre, enquanto que para o europeu � a altura do som. O
importante em m�sica n�o � o dado natural, n�o s�o os sons tais como s�o
realizados, mas como s�o intencionados. O ind�gena e o europeu ouvem o mesmo som,
mas ele tem um valor totalmente diferente para cada um, porque as concep��es
derivam de dois sistemas musicais inteiramente diferentes; o som em m�sica funciona
como elemento de um sistema. As realiza��es podem ser m�ltiplas, o ac�stico pode
determin�-las exatamente, mas o essencial em m�sica � que a pe�a possa ser
reconhecida como id�ntica.
� Nattiez
Hist�ria da m�sica
Ver artigo principal: Hist�ria da m�sica
A hist�ria da m�sica � o estudo das origens e evolu��o da m�sica ao longo do tempo.
Como disciplina hist�rica insere-se na hist�ria da arte e no estudo da evolu��o
cultural dos povos. Como disciplina musical, normalmente � uma divis�o da
musicologia e da teoria musical. Seu estudo, como qualquer �rea da hist�ria �
trabalho dos historiadores, por�m tamb�m � frequentemente realizado pelos
music�logos.[5] Na idade m�dia, foi uma disciplina obrigat�ria do Quadrivium que,
junto com o Trivium, compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais.[6]
Em 1957 Marius Schneider escreveu: �At� poucas d�cadas atr�s o termo �hist�ria da
m�sica� significava meramente a hist�ria da m�sica erudita europeia. Foi apenas
gradualmente que o escopo da m�sica foi estendido para incluir a funda��o
indispens�vel da m�sica n�o europeia e finalmente da m�sica pr�-hist�rica."
Teoria musical
Ver artigo principal: Teoria musical
Teoria musical � o nome que � dado a qualquer sistema destinado a analisar,
compreender e se comunicar a respeito da m�sica. Assim como em qualquer �rea do
conhecimento, a teoria musical possui v�rias escolas, que podem possuir conceitos
divergentes. Sua pr�pria divis�o da teoria em �reas de estudo n�o � consenso, mas
de forma geral, qualquer escola possui ao menos:
Na base da m�sica, dois elementos s�o fundamentais: O som e o tempo. Tudo na m�sica
� fun��o destes dois elementos. � comum na an�lise musical fazer uma analogia entre
os sons percebidos e uma figura tridimensional. A sinestesia nos permite "ver" a
m�sica como uma constru��o com comprimento, altura e profundidade.
Cada som tocado em uma m�sica tem tamb�m seu timbre caracter�stico. Definido da
forma mais simples o timbre � a identidade sonora de uma voz ou instrumento
musical. � o timbre que nos permite identificar se � um piano ou uma flauta que
est� tocando, ou distinguir a voz de dois cantores. Acontece que o timbre, por si
s�, � tamb�m um conjunto de elementos sequenciais e simult�neos. Uma s�rie infinita
de frequ�ncias sobrepostas que geram uma forma de onda composta pela frequ�ncia
fundamental e seu espectro sonoro, formado por sobretons ou harm�nicos. E o timbre
tamb�m evolui temporalmente em intensidade obedecendo a uma figura chamada
envelope. � como se o timbre reproduzisse em escala temporal muito reduzida o que
as notas produzem em maior escala e cada nota possu�sse em seu pr�prio tecido uma
melodia, um ritmo e uma harmonia pr�prias.
Segundo o tipo de m�sica, algumas dessas dimens�es podem predominar. Por exemplo, o
ritmo bem marcado e fortemente peri�dico tem a primazia na m�sica tradicional dos
povos africanos. Na maior parte das culturas orientais, bem como na m�sica
tradicional e popular do ocidente, � a melodia que representa o valor mais
destacado. A harmonia, por sua vez, � o ideal mais elevado da m�sica erudita
ocidental.
Estes elementos nem sempre s�o claramente reconhec�veis. Onde estar� o ritmo ou a
melodia no som de uma serra el�trica inclu�da em uma can��o de rock industrial ou
em uma composi��o eletroac�stica? Mas se considerarmos apenas o jogo dos sons e do
tempo, a organiza��o do sequencial e do simult�neo e a sele��o dos timbres, a
m�sica nestas composi��es ser� t�o reconhec�vel quanto a de uma cantata barroca.